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Ebook - Direito Eleitoral - Guia prático do Contencioso Judicial Eleitoral 1

Sumário

INTRODUÇÃO ............................................................................................. 3

A IMPARCIALIDADE DOS AGENTES DA JUSTIÇA ELEITORAL .................... 5

O PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA NO PROCESSO ELEITORAL .................. 7

A IMPOSSIBILIDADE DE AUTOCOMPOSIÇÃO NOS PROCESSOS


ELEITORAIS ................................................................................................. 10

OS NEGÓCIOS JURÍDICOS PROCESSUAIS NO CONTENCIOSO ELEITORAL 12

AS AÇÕES NO CONTENCIOSO ELEITORAL ................................................ 15

AS PRINCIPAIS ESPÉCIES DE AÇÕES ELEITORAIS ...................................... 18

OS DESAFIOS NA ADVOCACIA ELEITORAL ................................................ 24

CONHEÇA O CURSO DE DIREITO ELEITORAL ............................................ 31

CONHEÇA O IDP LEARNING ...................................................................... 32

CONHEÇA AS REDES SOCIAIS DO IDP ONLINE ......................................... 33

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Introdução

Todos nós sabemos que o Estado possui o controle da atividade juris-


dicional. A jurisdição, em nosso sistema, desempenha um papel fundamen-
tal quando se trata da aplicação das normas eleitorais e da responsabiliza-
ção das pessoas.

A palavra “jurisdição” é oriunda do latim “juris + dictio”, que nada mais


é do que “dizer o Direito”.

Sendo assim, a jurisdição refere-se à função do Estado de analisar e


decidir, de maneira definitiva, sobre situações e conflitos que lhe são apre-
sentados, levando em consideração as normas jurídicas aplicáveis.

Nesse contexto, o processo é uma ferramenta legítima utilizada pelo


Estado para exercer seu poder.

É através do processo que são protegidos bens e direitos, especial-


mente aqueles considerados fundamentais.

No Estado Democrático de Direito, o processo tem como objetivo pro-


porcionar uma tutela jurisdicional justa. Isso é alcançado por meio da par-
ticipação igualitária das partes envolvidas.

Para isso, é necessário garantir o contraditório efetivo, proporcionan-


do uma oportunidade justa, equilibrada e proporcional para as partes par-
ticiparem na formação da decisão final.

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No contexto do contencioso eleitoral, é importante ressaltar que não
podemos falar propriamente em uma disputa de interesses (ou litígios)
como ocorre no Processo Civil tradicional.

Isso se deve ao fato de que, no Direito Eleitoral, o réu não tem a op-
ção de satisfazer a vontade (ou melhor, a pretensão) do autor fora do pro-
cesso. Há pouco ou nenhum espaço para a autonomia privada.

Vale dizer que a aplicação das normas eleitorais ocorre necessaria-


mente por meio do processo. Conforme exposto, o processo é o instru-
mento necessário para a aplicação do Direito, seja para a imposição de
sanções ou responsabilização no âmbito eleitoral.

Neste ebook, quero te apresentar a prática do contencioso judicial


eleitoral, apresentando uma visão panorâmica dos conceitos e dicas práti-
cas para aqueles que atuam no Processo Eleitoral.

Vamos começar?

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Para que se possa afirmar a existência de uma ordem jurídica justa,
é imprescindível garantir a imparcialidade do órgão judicial.

É dizer, as decisões judiciais não podem ficar sujeitas a subjetivismos,


conveniências ou a diversos interesses. O juiz, como sujeito processual,
posiciona-se entre as partes envolvidas.

O Direito Eleitoral incorpora disposições destinadas a assegurar, de


forma efetiva, a imparcialidade de seus agentes, uma vez que se reconhe-
ce que a simples regulamentação não é suficiente.

Consequentemente, juízes (conforme estabelecido no artigo 95, pa-


rágrafo único, III, da Constituição Federal), membros do Ministério Público
(de acordo com o artigo 128, § 5º, II, e, da CF) e servidores da Justiça Eleito-
ral (conforme o artigo 366 do Código Eleitoral) são proibidos de se envol-
ver em atividades político-partidárias ou exercê-las.
Alinhado a isso, o Código Eleitoral estabelece restrições relacionadas ao
parentesco no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral e dos Tribunais Regio-
nais Eleitorais.

Conforme o artigo 16, § 1º, do CE, é proibido que façam parte do Tri-
bunal Superior Eleitoral cidadãos que tenham entre si parentesco até o 4º
grau, mesmo que por afinidade.

Essa mesma restrição é aplicada aos membros dos Tribunais Regio-


nais Eleitorais, conforme previsto no artigo 25, § 6º do CE.

Ainda, o artigo 36, § 3º, I, do Código veda a nomeação de candidatos,


seus parentes até o segundo grau, incluindo os parentes por afinidade,
bem como o cônjuge, para compor uma Junta Eleitoral.

Tais regras demonstram a importância que o Código Eleitoral deu à


imparcialidade, de modo a buscar uma decisão justa e livre de subjetivis-
mos.

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No âmbito do direito processual civil, o juiz deve decidir sobre o méri-
to dentro dos limites estabelecidos pelas partes, sendo-lhe vedado conhe-
cer de questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte
(art. 141 do CPC).

Além disso, o juiz não pode proferir uma decisão diferente daquela
pedida pelas partes, nem condenar a parte em quantidade ou objeto dife-
rentes do que foi demandado. É o que dispõe o art. 492 do CPC.

Por consequência, o pedido formulado pelo autor é a condição e o


limite para a prestação jurisdicional, de modo que a sentença não pode
ficar aquém, fora ou além das questões suscitadas.

No entanto, o princípio da congruência no processo jurisdicional elei-


toral possui um sentido diferente.

Devido à sua natureza eminentemente pública, não é exigida uma


correspondência exata entre o pedido formulado na petição inicial e a sen-
tença.

Nesse contexto, a correlação é estabelecida entre os fatos narrados


na petição inicial e o conteúdo da decisão judicial que analisa o mérito do
caso.

Os fatos descritos na petição inicial representam a causa de pedir e,


com base neles, o órgão judicial aplica as sanções previstas em lei, mesmo
que não tenham sido requeridas ou tenham sido requeridas de forma in-
suficiente na petição inicial.

Na verdade, a congruência no âmbito eleitoral tem um sentido seme-


lhante ao do processo penal. Isso porque, no processo penal, a correlação
entre a acusação e a sentença significa que deve haver identidade entre o
objeto da imputação e o objeto da sentença.

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É dizer, o acusado deve ser julgado, seja condenado ou absolvido,
pelos fatos descritos na denúncia ou queixa.

Da mesma forma, no processo eleitoral, o autor delimita apenas a


causa de pedir, ou seja, o fato eleitoral merecedor de reprimenda.

O enquadramento jurídico do fato e a dosimetria da pena são defini-


dos pela lei, e cabe ao juiz revelar seu conteúdo.

Portanto, pode-se afirmar que a correlação no processo jurisdicional


eleitoral consiste na ligação entre a delimitação fática apresentada na pe-
tição inicial (ou seja, a causa de pedir) e o que será apreciado pelo juiz ao
analisar o mérito.

Nesse sentido, a jurisprudência já firmou o entendimento de que, no


campo do processo eleitoral, os limites do pedido são estabelecidos pelos
fatos imputados na petição inicial, aos quais a parte demandada se defen-
de, e não pela classificação legal atribuída pelo autor (TSE - Ag. no 3.066/
MS - DJ v. 1, 17-5-2002, p. 146).

Essa interpretação também é reforçada pela Súmula 62 do TSE, que


estabelece que: “Os limites do pedido são demarcados pelos fatos impu-
tados na inicial, dos quais a parte se defende, e não pela capitulação legal
atribuída pelo autor”.

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Outro tema de grande relevância no Direito Processual Eleitoral diz
respeito à possibilidade de aditamento ou alteração da causa de pedir.

O Código de Processo Civil, em seu artigo 329, dispõe que o autor poderá:

até a citação, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir,


independentemente de consentimento do réu;

até o saneamento do processo, aditar ou alterar o pedido e a cau-


sa de pedir, com consentimento do réu, assegurado o contraditó-
rio mediante a possibilidade de manifestação deste no prazo míni-
mo de 15 dias, facultado o requerimento de prova suplementar.

O aditamento ou a alteração da causa de pedir depende da iniciativa


da parte requerente ou do órgão do Ministério Público que atue no pro-
cesso como fiscal da ordem jurídica.

É dizer, o juiz não pode tomar tal iniciativa, ou seja, não pode agir de
ofício, pois isso violaria o princípio da demanda ou dispositivo, além de
comprometer a imparcialidade.

Todavia, considerando que na esfera eleitoral as ações têm prazos


curtos para serem exercidas, é importante verificar se em relação ao “novo
fato” que se pretende agregar à causa de pedir não ocorreu decadência ou
prescrição.

Em relação ao “fato” que a parte requerente deseja incluir/alterar, é


necessário que a demanda ainda possa ser ajuizada de forma útil.

É dizer, não se poderia admitir o aditamento ou a modificação da


causa de pedir se a ação eleitoral não puder mais ser exercida em rela-
ção ao fato em questão, seja devido à ocorrência de decadência, seja pela
prescrição.

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Sabe-se que o Estado tomou para si o poder de dizer o direito, e isso
se dá por meio da atividade jurisdicional.

De fato, atualmente é grande o número de judicialização dos con-


flitos. Todavia, essa não é a única forma de se chegar a uma solução que
busque a paz social, de forma que, fala-se muito na autocomposição.

Na Justiça Eleitoral, por exemplo, a autocomposição pode ocorrer de


forma extraprocessual (fora do âmbito de um processo) ou endoprocessu-
al (dentro de um processo).

Geralmente, a finalidade da autocomposição é tratar da situação


conflituosa ou do direito material discutido no processo.

No Código de Processo Civil de 2015, há um forte incentivo à auto-


composição, com o objetivo de simplificar e reduzir formalidades.

Inclusive, o próprio artigo 3 do CPC determina que o Estado promo-


verá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos.

No entanto, de acordo com o artigo 6º da Resolução TSE nº 23.478/2016,


“as regras relativas à conciliação ou mediação previstas nos artigos 165 e
seguintes do Novo Código de Processo Civil não se aplicam aos casos elei-
torais”.

Isso significa que, na Justiça Eleitoral não é admitida a autocomposi-


ção.

Entre os fundamentos para a proibição da autocomposição na esfe-


ra eleitoral, argumenta-se sobre a natureza especial dos bens envolvidos
nessa área.

Por não se tratarem de bens privados e disponíveis, as partes ge-


ralmente não podem transigir ou chegar a um acordo em relação a eles,
sendo necessária a estrita observância da legalidade.

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Nessa perspectiva, o processo jurisdicional eleitoral se destaca como
um instrumento necessário para a aplicação da lei, imposição de sanções
e responsabilização de agentes ou beneficiários de irregularidades eleito-
rais.

Atualmente o argumento da indisponibilidade dos bens está cada


vez menos sustentável.

Isso ocorre porque o ordenamento jurídico prevê várias hipóteses


de transação e negociação envolvendo bens considerados indisponíveis.
Algumas dessas hipóteses são:

transação penal prevista nos artigos 72 e 76 da Lei nº 9.099/95;

acordo de não persecução penal (ANPP) previsto no artigo 28-A


do Código de Processo Penal (incluído pela Lei nº 13.964/2019);

acordo de não persecução cível (ANPC) previsto no artigo 17-B,


§ 1º, da Lei nº 8.429/92 - Lei de Improbidade Administrativa
(com a redação dada pela Lei nº 14.230/2021).

Nesse contexto normativo, a proibição absoluta da autocomposição


na esfera eleitoral parece inadequada.

É verdade que existem situações em que a negociação não é possível,


como nos casos em que acarretam a aplicação de sanções como cassação
de registro ou mandato, ou a definição do tempo de inelegibilidade.

No entanto, há outras situações em que a utilização de técnicas de


autocomposição, tanto judiciais quanto extrajudiciais, é bem-vinda.

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Outro tema de grande relevância prática para o estudo do contencio-
so eleitoral é a (im)possibilidade de negócios jurídicos processuais, assun-
to muito debatido por grandes processualistas da atualidade.

Em linhas gerais, o negócio jurídico processual é fundamentado na


autonomia privada e tem como objetivo a auto regulação de interesses
dentro do processo.

É uma estrutura legal, geral e abstrata pela qual as partes definem,


com certa margem de liberdade, o conteúdo de uma situação ou relação
jurídica que se torna obrigatória para elas.

O escopo da convenção processual abrange as situações ou relações


diretamente relacionadas ao próprio processo.

No Direito Processual Civil há diversos exemplos de negócios proces-


suais. Vejamos alguns deles que fazem parte do cotidiano forense:

A eleição negocial do foro O calendário processual (art. 191,


(art. 63 do CPC/2015) §§ 1.º e 2.º, do CPC/2015)

O calendário processual O acordo para a suspensão do


(art. 191, §§ 1.º e 2.º, do processo (art. 313, II,
CPC/2015) do CPC/2015)

O negócio tácito de que a causa tramite em juízo relativamente


incompetente (art. 65 do CPC/2015)

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Todavia, tais regras no contencioso eleitoral não são admitidas.

Na forma do artigo 11 da Res. TSE no 23.478/2016: “Na Justiça Eleito-


ral não é admitida a autocomposição, não sendo aplicáveis as regras dos
arts. 190 e 191 do Novo Código de Processo Civil”.

O fundamento para tal posicionamento é que na esfera do conten-


cioso eleitoral, o processo é sempre indispensável para efetivar a aplicação
da lei, responsabilizar indivíduos e impor sanções decorrentes de irregula-
ridades.

Na prática, é dizer que a intervenção judicial contribui para a consoli-


dação da legitimidade dos resultados eleitorais.

Todavia, vale ressaltar que, embora seja razoável proibir a aplica-


ção do instituto do negócio processual conforme previsto no art. 190 do
CPC/2015, não haveria problemas em estabelecer, por acordo mútuo, um
“calendário para a prática dos atos processuais, quando for o caso” (art.
191, caput, do CPC/2015).

Na prática, estamos falando de um instituto com a finalidade de de-


finir uma programação para a realização dos atos processuais.

Ademais, sendo o caso, esse calendário nasceria como um resultado


de consenso entre o juiz e as partes, e não é imposto pelo órgão judicial
responsável pelo caso.

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Visto algumas características do contencioso eleitoral, é hora de apro-
fundarmos nos estudos das ações eleitorais.

A ação é considerada um direito fundamental e abstrato.

Uma vez que o Estado detém o monopólio da jurisdição, não é pos-


sível excluir a possibilidade de submeter “lesões ou ameaças a direitos” à
apreciação do Poder Judiciário.

Isso significa dizer que as pessoas têm o direito fundamental de pro-


por uma ação e obter um pronunciamento oficial do Estado-juiz em relação
à pretensão apresentada, mesmo que esse pronunciamento seja negativo.

Todavia, quando se observa o contexto dos ilícitos eleitorais, perce-


be-se que existe uma relação intrínseca entre o ilícito eleitoral e a ação, de
modo que, a responsabilização por um ilícito só pode ocorrer por meio de
ações e procedimentos específicos.

É exatamente o que diz o Tribunal Superior Eleitoral. Vejamos:

Na seara eleitoral, em matéria de processo,


vigora o princípio da tipicidade das ações
eleitorais, fixadas em numerus clausus, cada
uma com suas especificidades quanto a
tempo, modo e espectro de legitimação,
impondo-se o exercício do controle
jurisdicional na estrita conformidade do
prescrito no arcabouço normativo.

TSE – Pet no 060073463/DF


Decisão Monocrática da Min. Rosa Weber, de 18-7-2018

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Em regra, as ações eleitorais têm em comum o fato de seguirem o
procedimento estabelecido no artigo 22 da Lei Complementar nº 64/90.

O rito do art. 22 da LC nº 64/90, originalmente concebido para a


chamada Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) por abuso de poder.

Com o passar do tempo, esse procedimento passou a ser adotado


por outras ações eleitorais posteriormente.

Essas ações desempenham um papel fundamental no Direito Elei-


toral, pois são os principais meios de responsabilização por infrações no
processo eleitoral.

As principais ações eleitorais são:

Ação de investigação judicial Ação por captação ou gasto ilí-


eleitoral por abuso de poder cito de recursos para fins elei-
(LC no 64/90, arts. 19 e 22) torais (art. 30-A da LE)

Ação por captação


Ação por conduta
ilícita de sufrágio
vedada (art. 73 da LE)
(art. 41-A da LE)

Há uma dica prática relevantíssima para você que deseja atuar no


contencioso eleitoral.

Não rara às vezes, no âmbito do Direito Processual Eleitoral, o termo


“representação” é frequentemente utilizado como sinônimo de “ação”.

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Quando empregada no direito processual eleitoral, a representa-
ção pode significar um ato escrito dirigido a um órgão da Justiça Eleitoral,
no qual se solicita a intervenção jurisdicional devido à ocorrência de um
fato ilícito.

O direito de apresentar uma representação decorre diretamente


do direito constitucional de ação, que é público, subjetivo e abstrato, de
acordo com a teoria atualmente adotada.

Em relação às ações acima citadas, a distinção técnica entre elas


ocorre por meio de seus elementos essenciais, que são as partes envol-
vidas, a causa de pedir e o pedido.

É evidente que a diversidade da causa de pedir e do pedido tam-


bém indica a diferença nos efeitos produzidos.

Nome da ação Fundamento legal Objeto Bem tutelado

Cassação de registro Legitimidade,


AIJE por abuso LC no 64/90, normalidade e
ou diploma e inelegibi-
de poder arts.19 e 22 lidade por oito anos sinceridade
das eleições

Ação por capta- Negação de diploma


Higidez da
ou sua cassação;
ção ou uso ilícito LE, art. 30-A (indireto – inelegibilida-
campanha e
de recurso para igualdade
de por oito anos, LC no
na disputa
fins eleitorais 64/90, art. 1o, I, j)

Cassação de registro
Ação por ou diploma e multa;
Liberdade
captação ilícita LE, art. 41-A (indireto – inelegibilida-
do eleitor
de por oito anos, LC no
de sufrágio
64/90, art. 1o, I, j)

Cassação de registro
Ação por Igualdade de
LE, arts. 73, 74, ou diploma e multa;
chances na disputa
conduta (indireto – inelegibilida-
e moralidade
75, 77 de por oito anos, LC no
vedada administrativa
64/90, art. 1o, I, j)

Cabe ressaltar que todas essas ações têm como causa de pedir o ilícito eleitoral.

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Assim, se nós considerarmos apenas o objeto, não há diferença
substancial entre elas. Isso porque, em todas, busca-se a cassação do
registro ou a perda do diploma.

A inelegibilidade é apenas o objeto principal da AIJE por abuso de


poder (LC no 64/90, art. 22, XIV).
Nas demais ações, sua imposição é uma consequência (como um efeito
secundário ou externo) da decisão de cassação do registro ou do diplo-
ma, conforme estabelecido na regra de extensão prevista na alínea j, I,
art. 1o, da LC no 64/90.

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Os advogados que atuam com o direito eleitoral podem enfrentar
uma série de problemas práticos em sua atuação.

Conselho #1
Os prazos eleitorais

Para começar, os prazos para o manejo das ações eleitorais são


muito curtos.

A pressão do tempo pode ser intensa, especialmente durante perí-


odos eleitorais movimentados, exigindo um planejamento cuidadoso e a
capacidade de trabalhar sob pressão para cumprir os prazos processuais
e evitar a perda de oportunidades ou recursos legais.

Além disso, os advogados também precisam estar atentos a possíveis


alterações nos prazos e nas normas eleitorais, para que possam ajustar
sua estratégia e tomar as medidas adequadas de forma oportuna.

Na prática, os advogados que desejam atuar no direito eleitoral pre-


cisam lidar com prazos curtos para apresentação de ações, documentos,
recursos e impugnações, o que requer uma gestão eficiente do tempo.

Conselho #2
Complexidade normativa

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Além da Constituição Federal e do Código Eleitoral, existem diver-
sas leis, resoluções, instruções normativas e jurisprudências que regula-
mentam o processo eleitoral.

Lidar com essa extensa rede normativa e entender sua aplicação


prática pode ser um desafio para os advogados que pretendem atuar no
direito eleitoral.

Eles precisam estar constantemente atualizados sobre as mudan-


ças na legislação e nas interpretações dos tribunais, para garantir que
estejam fornecendo aconselhamento jurídico preciso e eficaz aos seus
clientes.

Além disso, a interpretação e a aplicação da legislação eleitoral po-


dem variar em diferentes jurisdições e tribunais, o que requer um conhe-
cimento aprofundado e uma análise cuidadosa do caso em questão.

A complexidade normativa do Direito Eleitoral exige dos advogados


habilidades de pesquisa jurídica avançada e capacidade de análise crítica
para interpretar corretamente as normas e argumentar de forma convin-
cente em defesa dos interesses de seus clientes.

Conselho #3
Fiscalização e compliance

Outro desafio enfrentado pelos advogados atuam no direito eleito-


ral diz respeito à fiscalização e ao cumprimento das normas eleitorais.

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Em um cenário político complexo e dinâmico, é fundamental para
os advogados assegurar que as campanhas e as ações dos candidatos
estejam em conformidade com as leis eleitorais.

A fiscalização eleitoral abrange uma série de aspectos, como o fi-


nanciamento de campanhas, a propaganda eleitoral, a arrecadação e os
gastos de recursos, entre outros.

Os advogados devem acompanhar de perto as atividades dos can-


didatos e partidos políticos para garantir que eles estejam agindo de
acordo com as regras estabelecidas.

Isso envolve a análise minuciosa de documentos, prestação de con-


tas, verificação da origem dos recursos, acompanhamento das despesas
realizadas e garantia de transparência nas ações eleitorais.

Além disso, a implementação de programas de compliance eleitoral


é uma preocupação crescente para os advogados nesta área.

Os programas de compliance visam estabelecer diretrizes internas


para prevenir a ocorrência de condutas ilícitas, corrupção, abuso de po-
der e outras práticas irregulares durante o processo eleitoral.

Os advogados devem auxiliar seus clientes na criação e implemen-


tação de políticas internas, códigos de conduta e controles internos que
promovam a ética e a conformidade com as normas eleitorais.

Eles devem estar atualizados sobre as constantes mudanças na le-


gislação eleitoral, as decisões dos tribunais e as orientações dos órgãos
reguladores.

Para enfrentar esse desafio, os advogados que atuam no direito


eleitoral devem investir em capacitação constante, manter-se atualiza-
dos com as melhores práticas de compliance eleitoral.

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Conselho #4
Judicialização e contencioso eleitoral

A judicialização é um dos principais problemas práticos enfrenta-


dos pelos advogados especialistas em direito eleitoral.

Esse fenômeno ocorre quando questões relacionadas às eleições e


ao processo eleitoral são levadas ao Poder Judiciário para decisão, trans-
formando o ambiente eleitoral em um palco de disputas judiciais.

Essas disputas podem envolver questões complexas e controver-


sas, exigindo dos advogados um conhecimento aprofundado do sistema
jurídico-eleitoral e uma análise cuidadosa dos aspectos legais e jurispru-
denciais envolvidos.

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A judicialização das eleições traz consigo uma série de questões prá-
ticas, como prazos processuais, produção de provas, sustentações orais,
recursos e medidas cautelares.

Os advogados que pretendem atuar no campo do direito eleitoral


devem estar preparados para atuar de forma ágil e eficiente perante os
tribunais eleitorais, apresentando argumentos sólidos e fundamentados
para defender os interesses de seus clientes.

Além disso, a judicialização também pode gerar instabilidade e in-


certezas no processo eleitoral, uma vez que as decisões judiciais podem
impactar diretamente os resultados das eleições.

Por consequência, os advogados devem acompanhar de perto as


decisões dos tribunais, as jurisprudências e os entendimentos vigentes,
para que possam orientar seus clientes de forma adequada e estratégica.

POR: MANASSÉS LOPES


Manassés Lopes é advogado, parecerista e professor universitário. Faz
parte do programa de pós-graduação lato sensu do IDP Online e tem
pesquisas com ênfase em Direito Privado e Processual Civil. Para co-
nhecê-lo melhor, siga-o no Instagram @profmanasseslopes
e acompanhe seu perfil no LinkedIn.

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