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Pascoal Bié

(Organizador)

Fa c u l d a d e
d e Direito

CO L EC TÂNEA DE
L E G I S L A Ç Ã O

A D M I N I S T R AT I VA

Map u to, 202 0


5
FIC H A T ÉC N IC A
Titulo: Colectânea de Legislação Administrativa
Organizador: Pascoal Bié
Edição: Faculdade de Direito da Universidade Eduardo
Mondlane
Apoio técnico: Wilda Alberto Ngovene
Produção gráfica: Miguel Junior
N.º de Registo: 10315/RLINICC/2020
Local de edição: Maputo
Data de edição: Agosto de 2020
As Colectâneas de Legislação constituem um ponto de partida dentro do
novo desafio da Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane
(FDUEM) na sua transformação para uma Faculdade de Investigação.
Esta iniciativa é louvável em todas vertentes porque, por um lado, a
divulgação de instrumentos legislativos agrupados numa colectânea do saber
jurídico específico vão permitir e facilitar o conhecimento e o estudo do Direito
pelos vários intervenientes no sistema jurídico, económico e social. Por outro
lado, vai permitir a divulgação da legislação das áreas vitais do cidadão e com
este conhecimento elevar a cultura jurídica e o fortalecimento do Estado de
Direito Democrático.
A divulgação das normas e do conhecimento jurídico é um corolário
plasmado na visão e missão da Faculdade de Direito da UEM, uma instituição
vocacionada para o ensino, investigação e extensão. Com esta Colectânea
alargam-se os horizontes, ou seja, as fontes do Direito moçambicano,
permitindo aos destinatários destes instrumentos um melhor conhecimento e
análise sobre os pressupostos e a racionalidade de cada uma destas normas e
saber jurídico.
Constata-se que entre a produção legislativa e o conhecimento desta
pelo cidadão existe um vazio comunicativo, num país em que as normas tem
escassa difusão e onde a informação não chega aos seus destinatários, quer por
falta de instrumentos e meios de comunicação, quer pelo crónico problema de
iliteracia. Daí, a sua vasta e conveniente divulgação impõe-se como uma
necessidade absoluta.
Uma boa norma não funciona se, porventura, não for conhecida. A norma
desconhecida é ineficaz. O desenvolvimento do Direito numa sociedade não
depende só da boa norma e nem de boas instituições, mas sobretudo do
conhecimento destas pelos cidadãos. Uma norma não conhecida, não só seria
ineficaz, mas tornar-se-ia uma fonte de injustiça.
A Coletânea de Legislação que agora se dá à estampa foi elaborada com
base na escolha criteriosa de materiais que seriam de grande importância e
utilidade, como material de apoio e instrumentos operativos de trabalho, para
os estudantes de Direito, os operadores judiciais, ou seja, os profissionais de
Direito e os cidadãos interessados nestas matérias.
A presentes Colectânea responde a uma das exigências dos Centros de
Investigação e Extensão da Faculdade de Direito quanto à disponibilização de
instrumentos jurídicos ao serviço da comunidade académica e da sociedade em
geral. Dentro deste espirito académico, a Faculdade de Direito da UEM, no
âmbito da sua missão e visão vai através destas plataformas, electrónica e
imprensa, colocar com mais frequência os resultados das suas pesquisas
científicas, assim como o desenvolvimento de actividades conducentes à
sensibilização e desenvolvimento da cultura jurídica moçambicana.
Em nome da Comunidade Académica da Faculdade de Direito da UEM e
em meu nome próprio aqui fica o nosso agradecimento e reconhecimento ao
organizador desta colectânea que contou com o apoio técnico da estudante
Wilda Ngovene, pelo esforço abnegado e merecido e por colocar à disposição
do público estas fontes de conhecimento jurídico que certamente contribuirão
para o desenvolvimento do Direito em Moçambique.
Henriques José Henriques
Director da Faculdade de Direito da UEM
NORMAS E PRINCÍPIOS DE FUNCIONAMENTO DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA ..................................................................................................................... 3
Lei n.º 7/2012, de 8 de Fevereiro – Aprova as Normas de Organização e
Funcionamento da Administração Pública ...................................................... 4
Lei n.º 14/2011 de 10 de Agosto – Regula a formação da vontade da
Administração Pública, estabelece as normas de defesa dos direitos e
interesses dos particulares, e revoga a reforma Administrativa Ultramarina
(RAU) e o Decreto-Lei n.º 23229, de 15 de Novembro de 1933 ................. 39
Lei n.º 10/2017 de 1 de Agosto – Aprova o Estatuto dos Funcionários e
Agentes do Estado ............................................................................................. 93
Decreto n.º 5/2018 de 26 de Fevereiro – Aprova o Regulamento do
Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado .............................. 150
Lei n.º 18/2014 de 27 de Agosto – Autoriza Governo a aprovar o regime
jurídico relativo à contratação de cidadãos de nacionalidade estrangeira
para a Função Pública ...................................................................................... 185
Lei n.° 12/2011 de 21 de Julho – Autoriza Governo a aprovar o regime
jurídico relativo à contratação de cidadãos de nacionalidade estrangeira
para a Função Pública ..................................................................................... 203
Decreto-Lei n.º 2/2011 de 19 de Outubro – Definição do regime jurídico das
condições relativas à contratação de cidadãos de nacionalidade
estrangeira para a prestação de serviços na Função Pública .................. 205
Lei n.º 26/2014 de 23 de Setembro – Aprova o regime jurídico do exercício
do direito de petição, queixa e reclamações .............................................. 209
Decreto nº 30/2001 de 15 de Outubro (Derrogado pela Lei n.º 16/2012 de
14 de Agosto) – Aprova as Normas de Funcionamento dos Serviços da
Administração Pública e revoga o Decreto n.º 36/89, de 27 de Novembro
.............................................................................................................................. 217
Lei n.º 3/2018, de 19 de Junho – Estabelece os Princípios e Regras
Aplicáveis ao Sector Empresarial do Estado .............................................. 246
Decreto n.º 10/2019de 26 de Fevereiro – Aprova o Regulamento da Lei que
Estabelece os Princípios e Regras Aplicáveis ao Sector Empresarial do
Estado ................................................................................................................ 263
Decreto 12/2015 de 10 de Junho – Estabelece Normas e Critérios Gerais de
Organização dos Ministérios, ao abrigo das Bases Gerais da Organização e
Funcionamento da Administração Pública, aprovadas pela Lei n.º 7/2012
de 8 de Fevereiro; ............................................................................................ 284
Lei n.º 16/2012 de 14 de Agosto - Aprovação da Lei de Probidade Pública,
a qual estabelece as bases e o regime jurídico relativo à moralidade
pública e ao respeito pelo património público, por parte do servidor
público ............................................................................................................... 303
Decreto n.º 24/2020 de 30 de Abril – Cria a Inspecção Geral da
Administração Publica .................................................................................... 333
Resolução n.º 25/2020 de 19 de Junho – Aprova o Estatuto Orgânico da
Inspecção Geral da Administração Publica ................................................. 345
CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO ................................................................... 359
Lei n.º 7/2014 de 28 de Fevereiro – Regula os Procedimentos Atinentes ao
Processo Administrativo Contencioso, revoga a Lei n.º 9/2001, de 7 de
Julho e os artigos 106 e 107 da Lei n.º 2/97, de 18 de Fevereiro ............ 360
Lei n.º 24/2013 de 1 de Novembro – Regula a Organização e o
Funcionamento do Tribunal Administrativo, dos tribunais administrativos
de categoria provincial e do Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo
e revoga a Lei n.º 25/2009, de 28 de Setembro ........................................ 426
Lei n.º 7/2015, de 6 de Outubro – Altera e Republica a Lei n.º 24/2013, de
1 de Novembro, que regula a Organização e o Funcionamento do Tribunal
Administrativo, dos tribunais administrativos de categoria provincial e do
Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo e revoga a Lei n.º 25/2009,
de 28 de Setembro........................................................................................... 436
Lei n.º 23/2013, de 1 de Novembro – Regula a Organização, composição e
funcionamento do Conselho Superior da Magistratura Judicial
Administrativa e revoga a Lei n.º 9/2009, de 9 de Março ........................ 446
Lei n.° 9/2018, de 27 de Agosto Define a organização, composição,
funcionamento e competências dos Tribunais Fiscais e revoga a Lei n.º
2/2004, de 21 de Janeiro ................................................................................ 457
Lei n.° 4/2018, de 9 de Julho – Define a organização, composição,
funcionamento e competências dos Tribunais Aduaneiros e revoga a
anterior Lei dos Tribunais Aduaneiros (Lei n.º 10/2001, de 7 de Julho) 469
CONTROLO DA LEGALIDADE DAS RECEITAS E DESPESAS PÚBLICAS .... 481
Lei n.º 14/2014 de 14 de Agosto – Concernente à organização,
funcionamento e ao processo da Secção de Fiscalização das Receitas e das
Despesas Públicas, bem como ao Visto do Tribunal Administrativo,
tribunais administrativos provinciais e da Cidade de Maputo ................. 482
Lei n.º 8/2015, de 6 de Outubro – Altera e republica a Lei n.º 14/2014, de
14 de Agosto, concernente à organização, funcionamento e ao processo
da Secção de Fiscalização das Receitas e das Despesas Públicas, bem
como ao Visto do Tribunal Administrativo, tribunais administrativos
provinciais e da Cidade de Maputo............................................................... 523
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA
__________

Havendo necessidade de estabelecer as bases gerais da Organização e


Funcionamento da Administração Pública, a Assembleia da República, ao
abrigo do disposto na alínea r) do n.º 2 do artigo 179 da Constituição,
determina:

CAPÍTULO I
Disposições gerais

SECÇÃO I
Definições, objecto e âmbito

ARTIGO 1
(Definições)

Os termos usados na presente Lei constam do Glossário, em anexo, que dela


faz parte integrante.

ARTIGO 2
(Objecto)

A presente Lei estabelece os princípios e normas que definem as bases


gerais da Organização e Funcionamento da Administração Pública.

ARTIGO3
(Âmbito de aplicação)

1. A presente Lei aplica-se aos órgãos e instituições da Administração


Pública, nomeadamente da Administração directa e indirecta do Estado,
incluindo a sua representação no estrangeiro, das autarquias locais e das
demais pessoas colectivas públicas.
2. Em relação às regras de funcionamento dos órgãos da Administração
Pública, a presente Lei é apenas aplicável ao que não estiver especialmente
no regime do Procedimento Administrativo.
3. A presente Lei aplica-se, com as necessárias adaptações, à organização
dos serviços de apoio técnico e administrativo dos órgãos do poder
legislativo, do poder judicial, do Conselho Constitucional, do Provedor de
Justiça, Comissão Nacional de Eleições e das Assembleias Provinciais.
SECÇÃO II
Princípios da Organização da Administração Pública

ARTIGO 4
(Princípios da Organização da Administração Pública)

A organização da Administração Pública obedece, entre outros, aos


seguintes princípios:
a) desconcentração e descentralização;
b) desburocratização e simplificação de procedimentos;
c) unidade de acção e poderes de direcção do Governo;
d) coordenação e articulação dos órgãos da Administração Pública;
e) fiscalização e supervisão através de órgãos administrativos;
f) supervisão da Administração Pública pelos cidadãos;
g) modernização, eficiência e eficácia;
h) aproximação da Administração Pública ao cidadão;
i) participação do cidadão na gestão da Administração Pública;
j) continuidade do serviço público;
k) estrutura hierárquica;
l) responsabilidade pessoal.

ARTIGO 5
(Desconcentração)

1. A desconcentração determina a transferência originária ou delegação de


poderes, dos órgãos superiores da hierarquia da Administração Pública para
os órgãos locais do Estado ou para os funcionários e agentes subordinados.
2. A delegação de poderes deve resultar expressamente da lei.

ARTIGO 6
(Descentralização)

1. Descentralização é o processo de criação pelo Estado de pessoas


colectivas públicas menores.
2. A descentralização implica que a prossecução do interesse geral possa ser
encarregue a outras pessoas colectivas públicas diferentes do Estado-
Administração.

ARTIGO 7
(Desburocratização e simplificação de procedimentos)

A desburocratização e simplificação de procedimentos determinam a


adopção de modelos organizacionais que permitem a articulação da
Administração Pública, nomeadamente através do estabelecimento da
estrutura integrada, a atribuição de competências aos órgãos, funcionários
e agentes subordinados, a criação de balcões únicos de atendimento e
outras formas de articulação orgânica.
ARTIGO 8
(Unidade de acção e poderes de direcção do Governo)

A unidade de acção e direcção do Governo assenta, entre outros, nos


seguintes pressupostos:
a) poder de direcção dos órgãos do Governo, sem prejuízo da autonomia
das entidades descentralizadas;
b) coordenação e articulação dos órgãos da Administração Pública;
c) solidariedade governamental;
d) controlo através da supervisão hierárquica e da tutela administrativa e
financeira;
e) fiscalização do Governo sobre as entidades privadas que prestam serviço
público.

ARTIGO 9
(Coordenação e articulação dos órgãos da Administração Pública)

1. A coordenação administrativa, exercida em todos os níveis da


Administração, implica que a organização da Administração Pública seja
orientada de modo a permitir a planificação articulada.
2. Para efeitos do disposto no número anterior, aplicam-se os seguintes
instrumentos de articulação e coordenação:
a) Programa Quinquenal do Governo, Plano Económico e Social e Orçamento
do Estado;
b) outras políticas Públicas;
c) planos estratégicos;
d) planos de actividades ou outras informações de cada sector;
e) balcões de atendimento único e outras modalidades de unificação de
procedimentos administrativos;
f) Outros instrumentos de planificação ou de coordenação.

ARTIGO 10
(Fiscalização e supervisão através de órgãos administrativos)

A fiscalização e supervisão através dos órgãos e serviços da Administração


Pública baseiam-se no controlo hierárquico, na tutela administrativa e
financeira, nas inspecções, auditorias e na prestação de contas.

ARTIGO 11
(Supervisão da Administração Pública pelos cidadãos)

1. A supervisão da Administração Pública pelo cidadão, por meio da


participação individual ou colectiva, é exercida nos processos de
planeamento, acompanhamento, monitoramento e avaliação das acções de
gestão pública e na execução das políticas e programas públicos, visando o
aperfeiçoamento da gestão pública, à legalidade, transparência,
efectividade das políticas públicas e à eficiência administrativa.
2. São formas de supervisão pelo cidadão, entre outras:
a) participação em consulta ou audiência pública;
b) elaboração de relatórios e estudos independentes;
c) exercício do direito de petição ou de representação;
d) denúncia de irregularidades;
e) exercício das garantias administrativas e jurisdicionais;
f) actuação do interessado nos processos administrativos;
g) participação em órgãos colegiais da Administração Pública.
3. Os órgãos da Administração Pública organizam formas de interacção e
articulação com o cidadão e a sociedade civil.
4. As instituições públicas devem dispor de livro de reclamações e caixa de
sugestões e, sempre que possível, de uma linha verde gratuita e terminais
electrónicos, através dos quais os cidadãos possam interagir com os
dirigentes, avaliar os serviços prestados, e apresentar petições, queixas,
reclamações ou sugestões com vista à melhoria de serviço.
5. As instituições da Administração Pública abrangidas pela presente Lei
disponibilizam, de acordo com as suas condições, uma página electrónica,
com os dados e procedimentos relevantes, nomeadamente:
a) os diplomas legais que regulam a sua organização, funcionamento e
formas de relacionamento com o cidadão;
b) os planos de actividades sectoriais e os respectivos relatórios de
actividades;
c) os modelos de requerimentos e outros formulários em uso na instituição,
bem como instruções ao cidadão sobre o procedimento administrativo;
d) as formas de contacto entre os cidadãos e os dirigentes;
e) carta de serviço com a indicação da visão, missão, valores e padrão de
qualidade de serviços prestados pela instituição;
f) outra informação julgada relevante.

ARTIGO 12
(Modernização, eficiência e eficácia da Administração)

1. A Administração Pública moderniza os serviços, tendo em conta os


avanços da ciência e tecnologia, a evolução económica, social e cultural do
país.
2. A eficiência da administração pública impõe que os órgãos e serviços se
organizem e actuem de modo economicamente mais vantajoso para a
Administração, mas sem prejuízo da satisfação do interesse geral.
3. A eficácia da Administração Pública pressupõe o esforço para a
consecução dos resultados ou programas estabelecidos.
ARTIGO 13
(Aproximação da Administração Pública ao cidadão)

1. A Administração Pública organiza-se de modo a que os órgãos e serviços


públicos estejam ao dispor do cidadão a partir da unidade territorial mais
periférica, sem prejuízo de abaixo desta serem organizadas outras formas de
prestação de serviço.
2. Para além do disposto no número anterior, a aproximação do administrado
implica a criação de órgãos, serviços ou procedimentos que permitem a
articulação e interacção directa entre a Administração e o cidadão,
permitindo a sua auscultação, a canalização de petições, queixas,
reclamações ou sugestões.
ARTIGO 14
(Participação do cidadão na gestão da Administração Pública)

1. Os órgãos colegiais da Administração Pública promovem a integração da


sociedade civil interessada na sua composição.
2. Para os efeitos do disposto no número anterior, são considerados
membros da sociedade civil os representantes de associações, sindicatos,
organizações não governamentais ou quaisquer outras formas de
organização colectiva legítima, cujo objecto esteja relacionado com as
atribuições de determinado órgão ou instituição da administração pública.
3. O disposto nos números anteriores não é extensivo aos partidos políticos.

ARTIGO 15
(Continuidade do Serviço Público)

A organização da Administração Pública deve garantir, através dos seus


órgãos, funcionários e demais agentes que o serviço público não seja
interrompido em virtude da indisponibilidade de quem tenha o dever legal
de o prestar.

ARTIGO 16
(Estrutura hierárquica)

1. Sem prejuízo de outras formas de organização, os órgãos e serviços da


Administração Pública estruturam-se na base da hierarquia administrativa.
2. A hierarquia administrativa compreende os poderes de autoridade e de
direcção dos superiores hierárquicos sobre os órgãos, funcionários e demais
agentes subalternos, dispondo aqueles da faculdade de inspeccionar,
supervisionar e impor disciplina, podendo:
a) dar ordens e instruções aos subordinados, nos termos e limites da lei
relativa ao serviço;
b) solicitar informações, directamente ou por intermédio de serviços
apropriados, de todos os actos e factos ocorridos no desempenho dos
serviços sob sua direcção;
c) confirmar, rever, modificar, suspender ou revogar os actos administrativos
praticados pelos subordinados, com fundamento na sua ilegalidade ou
inconveniência;
d) aplicar, nos termos da lei, sanções disciplinares contra os subordinados.

ARTIGO 17
(Responsabilidade pessoal)

1. Os titulares dos órgãos da Administração Pública, os seus funcionários e


demais agentes respondem civil, criminal, disciplinar e financeiramente
pelos actos e omissões ilegais que pratiquem no exercício das suas funções,
sem prejuízo da responsabilidade solidária do Estado, nos termos da
Constituição e demais legislação aplicável.
2. Para a efectivação da responsabilidade pessoal, a Administração Pública
pode recorrer à contratos-programas e ao estabelecimento de mecanismos
de gestão orientados para consecução de resultados.
3. Sem prejuízo das normas de controlo administrativo interno, a
responsabilidade financeira é efectivada pelos Tribunais Administrativos.

SECÇÃO III
Princípios de funcionamento da Administração Pública

ARTIGO 18
(Princípios de funcionamento)

A Administração Pública deve, no seu funcionamento, obedecer os


seguintes princípios:
a) legalidade;
b) prossecução do interesse público;
c) igualdade e proporcionalidade;
d) justiça e imparcialidade;
e) ética e boa fé;
f) colaboração da Administração com os Administrados;
g) participação dos administrados;
h) decisão;
i) responsabilização da Administração Pública;
j) fundamentação dos actos administrativos;

k) transparência;
l) gratuitidade;
m) acesso à justiça e ao direito.

ARTIGO 19
(Princípio da legalidade)

1. A Administração Pública deve actuar em obediência à lei e ao direito,


dentro dos limites e fins dos poderes que lhes estejam atribuídos por lei.
2. Os poderes da Administração Pública não devem ser usados para a
prossecução de fins diferentes dos atribuídos por lei.

ARTIGO 20
(Princípio da prossecução do interesse público)

A Administração Pública prossegue o interesse público, sem prejuízo dos


direitos e interesses dos cidadãos protegidos por lei.

ARTIGO 21
(Princípio da igualdade e da proporcionalidade)

1. Nas suas relações com os particulares, a Administração Pública não deve


privilegiar, beneficiar, prejudicar, privar de qualquer direito ou isentar de
qualquer dever jurídico nenhum cidadão por motivo de ascendência, sexo,
cor, raça, origem étnica, lugar de nascimento, estado civil, religião,
convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica ou
condição social.
2. As decisões da Administração Pública em desrespeito a direitos
subjectivos ou interesses legítimos dos cidadãos só podem afectar essas
posições em termos adequados e proporcionais aos objectivos a realizar.

ARTIGO 22
(Princípio da justiça e da imparcialidade)

No exercício da sua actividade, a Administração Pública deve tratar de forma


justa e imparcial todos os que com ela entrem em relações jurídicas
administrativas.

ARTIGO 23
(Princípio da Ética e boa fé)

No desempenho da actividade administrativa, e em todas as suas formas e


fases, a Administração Pública e os administrados devem actuar e relacionar-
se de acordo com os valores e regras da boa-fé, integridade, lealdade e
honestidade.

ARTIGO 24
(Princípio da colaboração da Administração com os administrados)

1. No desempenho das suas funções, a Administração Pública e os cidadãos


devem actuar em estreita cooperação recíproca, devendo em termos
particulares:
a) prestar as informações orais ou escritas, bem como os esclarecimentos
solicitados, desde que não tenham carácter secreto, confidencial ou restrito;
b) apoiar e estimular todas as iniciativas socialmente úteis dos cidadãos,
receber as suas informações e considerar as suas sugestões.
2. A Administração Pública é responsável pelas informações prestadas por
escrito aos cidadãos, mesmo que não sejam obrigatórias.

ARTIGO 25
(Princípio da participação dos administrados)

A Administração Pública deve promover a participação e defesa dos


interesses dos cidadãos, na formação das decisões que lhes disserem
respeito.

ARTIGO 26
(Princípio da decisão)

Os órgãos administrativos devem decidir sobre todos os assuntos da sua


competência que lhes sejam apresentados pelos cidadãos, designadamente
os que lhes disserem directamente respeito e, ainda, os relativos a quaisquer
petições, representações, queixas, reclamações ou recursos apresentados
em defesa da legalidade ou do interesse geral.
ARTIGO 27
(Princípio da responsabilização da Administração Pública)

A Administração Pública responde pelos actos ilegais dos seus órgãos,


funcionários e agentes no exercício das suas funções de que resultem danos
a terceiros, nos mesmos termos da responsabilidade civil do Estado, sem
prejuízo do respectivo direito de regresso, nos termos da lei.

ARTIGO 28
(Princípio da fundamentação dos actos administrativos)

A Administração Pública tem o dever de fundamentar os seus actos


administrativos que impliquem designadamente o indeferimento do pedido
ou a revogação, a alteração ou a suspensão de actos administrativos
anteriores.

ARTIGO 29
(Princípio da transparência)

1. O princípio da transparência significa a obrigatoriedade de dar


publicidade da actividade administrativa.
2. Na Administração Pública é obrigatória a adopção de um comportamento
que não oferece, directa ou indirectamente, vantagens a terceiros, nem
solicitar, nem prometer e afectar para benefício próprio ou de outrem
tratamento favorável sobre os serviços a prestar.

ARTIGO 30
(Princípio da gratuitidade)

1. O procedimento administrativo é gratuito, excepto nos casos em que leis


especiais imponham o pagamento de taxas, emolumentos ou de despesas
efectuadas pela Administração.
2. Nas situações de comprovada insuficiência económica, a Admini stração
isenta o interessado do pagamento das taxas, emolumentos ou dos custos
referidos no número anterior.

ARTIGO 31
(Princípio do acesso à justiça e ao direito)

Aos cidadãos é garantido o acesso à jurisdição contenciosa administrativa,


para a obtenção da fiscalização judicial dos actos da Administração Pública,
bem como para a tutela dos seus direitos ou interesses legítimos, nos termos
da legislação do processo administrativo contencioso.
CAPÍTULO II
Administração Directa do Estado

ARTIGO 32
(Administração Directa do Estado)

1. A Administração Directa do Estado compreende os serviços públicos


directamente prestados pelos órgãos do Estado, os órgãos centrais,
independentes, locais e os de representação do Estado no estrangeiro.
2. A Administração Directa do Estado apresenta as seguintes
especificidades:
a) a unicidade e origi nalidade;
b) a territorialidade e atribuições múltiplas;
c) a organização em Ministérios, Comissões de natureza interministerial, e
pluralidade de órgãos e serviços públicos;
d) a estrutura hierárquica.

ARTIGO 33
(Classificação dos Órgãos)

1. Os órgãos da Administração Directa do Estado podem ser singulares,


quando integrados por um único titular, ou colegiais, quando compostos por
mais de um titular.
2. Os órgãos colegiais são compostos pelo elenco dos membros legalmente
definido e são presididos por um deles, podendo ser indicado um secretário,
salvo os casos indicados por lei.
3. Os órgãos colegiais reúnem-se, periodicamente, nos termos da lei.
4. Os órgãos da Administração Directa do Estado podem, ainda, ser:
a) executivos, quando disponham, primacialmente, de poderes de decisão
ou de execução das decisões;
b) consultivos, quando as suas competências são de natureza opinativa ou
de emissão de pareceres, mediante solicitação;
c) fiscalizadores, quando controlam as actividades de outros órgãos,
funcionários, agentes ou pessoas jurídicas.
5. As funções dos órgãos referidos nas alíneas a) e b) do número anterior
podem ser combinadas ou exclusivas.

CAPÍTULO III
Administração Central do Estado

SECÇÃO I
Disposições gerais

ARTIGO 34
(Definição e objectivos)

1. São órgãos centrais do Estado os órgãos de soberania, o conjunto dos


órgãos governativos e as instituições a quem cabe garantir a prevalência do
interesse nacional e a realização da política unitária do Estado.
2. Aos órgãos centrais compete, de forma geral, as atribuições relativas ao
exercício da soberania, a normação das matérias do âmbito da lei e a
definição das políticas nacionais.
3. São da exclusiva competência dos órgãos centrais, nomeadamente, a
representação do Estado, a definição e organização do território, a defesa
nacional, a ordem pública, a fiscalização das fronteiras, a emissão da moeda
e as relações diplomáticas.

ARTIGO 35
(Âmbito da Administração Central do Aparelho de Estado)

1. Os órgãos da Administração Central do Aparelho de Estado constituem


instrumento unitário do poder para a direcção, planificação e controlo da
acção governamental.
2. A Administração Central do Estado integra os órgãos administrativos
centrais e os órgãos independentes, exercendo as suas competências em
todo o território nacional.

ARTIGO 36
(Classificação dos órgãos da Administração Central do Aparelho de
Estado)

1. São órgãos da Administração Central do Aparelho de Estado, o


Presidente da República, o Conselho de Ministros, a Presidência da
República, os Ministérios, as Comissões nacionais com natureza
interministerial.
2. Os órgãos da Administração central do Aparelho do Estado abrangem
ainda os órgãos independentes referidos no artigo 50 da presente Lei.
3. Os quadros de pessoal dos órgãos centrais são aprovados em diploma
específico do Governo ou do órgão elegível em que este delegar.

SECÇÃO II
Órgãos Administrativos Centrais

SUBSECÇÃO I
Presidente da República

ARTIGO 37
(Definição)

1. O Presidente da República é o Chefe do Governo.


2. O Presidente da República zela, no exercício das suas funções
constitucionais, pelo funcionamento correcto dos órgãos do Estado.
3. O Presidente da República dispõe do Conselho de Estado e do Conselho
Nacional de Defesa e Segurança como seus órgãos de consulta nas
matérias definidas na Constituição da República.
4. No exercício das suas funções constitucionais, o Presidente da República
é assistido pela Presidência da República.
ARTIGO 38
(Presidência da República)

1. A Presidência da República é o órgão central do Aparelho de Estado que


assiste o Presidente da República no exercício das suas funções.
2. Incumbe à Presidência da República apoiar directamente o Presidente da
República no exercício das suas funções na qualidade de Chefe de Estado,
Chefe do Governo e de Comandante - Chefe das Forças de Defesa e
Segurança, bem como nas suas relações com outras instituições do Estado,
forças políticas, sociedade civil e com outras entidades a nível internacional.
3. A organização, funcionamento e competências da Presidência da
República são definidas pelo Presidente da República.

SUBSECÇÃO II
Governo

ARTIGO 39
(Definição)

1. O Governo da República de Moçambique é o Conselho de Ministros.


2. O Governo é o órgão central da Administração Pública, com funções de
decisão, execução e controlo a nível nacional.
3. No exercício das suas funções, o Conselho de Ministros é assistido pelo
Secretariado do Conselho de Ministros.
4. É da exclusiva iniciativa legislativa do Governo a matéria respeitante à sua
própria organização, composição e funcionamento.

ARTIGO 40
(Primeiro - Ministro)

O Primeiro-Ministro assiste e aconselha o Presidente da República na


direcção do Governo e exerce as competências definidas na Constituição e
na lei.

ARTIGO 41
(Secretariado do Conselho de Ministros)

1. O Secretariado do Conselho de Ministros é o órgão encarregue de prestar


o apoio técnico, administrativo e material à actividade do Governo, preparar
e acompanhar a execução do seu calendário de actividades e organizar a
agenda de trabalhos do Conselho de Ministros.
2. A organização e funcionamento do Secretariado do Conselho de Ministros
são regulados por diploma específico.
ARTIGO 42
(Gabinete do Primeiro - Ministro)

1. O Gabinete do Primeiro - Ministro é o órgão de apoio directo ao Primeiro


- Ministro na realização das suas funções.
2. A estrutura, organização e funcionamento do Gabinete do Primeiro -
Ministro são definidos por diploma específico do Primeiro - Ministro.

SUBSECÇÃO III
Ministérios

ARTIGO 43
(Definição)

1. O Ministério é o órgão central do Aparelho de Estado que assegura a


realização das atribuições do Governo decorrentes da Constituição da
República.
2. O Ministério é criado, modificado e extinto pelo Presidente da República.
3. O Ministério é dirigido por um Ministro, que pode ser coadjuvado por um
ou mais Vice - Ministros.
ARTIGO 44
(Princípios organizacionais e de funcionamento)

Para além dos princípios gerais, a organização dos Ministérios obedece aos
seguintes princípios específicos:
a) adequação da estrutura à missão, garantindo a justa proporção entre a
estrutura operativa e a estrutura de apoio com vista à consecução dos
objectivos;
b) desconcentração, que impõe o equilíbrio adequado entre serviços
centrais e locais, visando a prestação de um serviço de qualidade e a
necessidade de aproximar os serviços ao cidadão;
c) especialização de funções, determinando a agregação de funções
homogéneas do ministério por serviços preferencialmente de média ou
grande dimensão, com competências bem definidas, de acordo com o
princípio da segregação de funções, com vista à responsabilidade pelos
resultados e à promoção da desburocratização;
d) coordenação e articulação, que impõe a necessidade de assegurar a
existência de circuitos de informação e comunicação simples e coerentes;
e) eficiência organizacional, garantindo que o desempenho das funções
comuns, seja atribuído a serviços já existentes em cada ministério, não
determinando a criação de novos;
f) simplificação de procedimentos, impondo-se reduzir o número de níveis
hierárquicos de decisão ao mínimo indispensável à adequada prossecução
dos objectivos do serviço;
g) modificabilidade dos serviços públicos, privilegiando face à emergência
de novas atribuições, a reestruturação dos serviços existentes sem prejuízo
da criação de novos.
ARTIGO 45
(Estrutura interna dos ministérios)

1. A organização dos Ministérios baseia-se em áreas de actividade e é


estruturada em órgãos e serviços.
2. Os Ministérios dispõem, necessariamente, dos seguintes órgãos colegiais:
a) Conselho Coordenador, com função de coordenação, planificação e
controlo da acção governativa do Ministério com os demais órgãos centrais
e locais do Estado;
b) Conselho Consultivo, com função de análise e emissão de pareceres sobre
questões fundamentais da actividade do Ministério, das instituições
subordinadas e tuteladas;
c) Conselho Técnico, com função consultiva no domínio de matérias técnicas
a cargo do Ministério.
3. De acordo com a especificidade de cada Ministério, os respectivos
estatutos orgânicos poderão estabelecer outros tipos de órgãos colegiais.
4. Com observância dos princípios estabelecidos na presente Lei, os
Ministérios organizam-se em:
a) Direcções Nacionais ou Direcções, que se estruturam em Departamentos
e Repartições;
b) Inspecções sectoriais, podendo nos casos de Ministérios com atribuições
horizontais ter Inspecções - Gerais;
c) Gabinetes que integram serviços de apoio técnico ou consultivo;
d) Gabinete do Ministro;
e) Departamentos autónomos.
5. Os quadros de pessoal de cada Ministério estabelecem o número de
lugares a ocupar por funcionários em obediência aos princípios definidos na
presente Lei e demais legislação aplicável.
6. As demais matérias relativas à organização e funcionamento dos
Ministérios serão reguladas por diploma específico.
ARTIGO 46
(Atribuições)

1. O estabelecimento das atribuições e áreas de actividade dos Ministérios é


da competência do Presidente da República.
2. Compete ao Conselho de Ministros aprovar os Estatutos Orgânicos,
podendo delegar esta competência num órgão a ele subordinado.

ARTIGO 47
(Estatuto Orgânico)

1. O Estatuto orgânico de cada Ministério integra as respectivas atribuições


e áreas de actividade, que correspondem à sua missão e define a estrutura
orgânica necessária ao seu funcionamento.
2. O Estatuto Orgânico é complementado por regulamentos internos
aprovados nos termos da lei.
SECÇÃO III
Órgãos Centrais Independentes

ARTIGO 48
(Natureza)

1. São órgãos centrais independentes do Governo os órgãos administrativos


criados como tal pela Constituição e demais leis.
2. Os órgãos centrais independentes, no desempenho das suas funções,
observam a Constituição e as leis e regem-se pelos princípios de
independência, imparcialidade e transparência.
3. Os órgãos centrais independentes exercem funções consultivas, de
controlo, de supervisão, administrativas ou mistas.
4. A composição, organização e funcionamento dos órgãos centrais
independentes são fixados por lei específica.
ARTIGO 49
(Princípios Gerais)

1. Os membros e os titulares dos órgãos independentes são designados


segundo o estabelecido na Constituição e na lei e podem integrar
individualidades provenientes da sociedade civil, quando se tratar de órgãos
colegiais.
2. Os membros ou titulares dos órgãos independentes são inamovíveis e não
são responsabilizados pelas opiniões que emitem no âmbito do exercício das
suas funções, salvo os casos previstos na lei.
3. Para garantir a sua isenção e imparcialidade, os titulares dos órgãos
independentes observam as normas sobre incompatibilidades, bem como
códigos de ética e conduta aplicáveis aos titulares de cargos públicos.

ARTIGO 50
(Classificação dos órgãos independentes)

1. São órgãos independentes, as comissões nacionais independentes, o


Provedor de Justiça, os conselhos superiores e outras entidades assim
classificadas por lei.
2. As comissões nacionais independentes gozam de autonomia
administrativa e funcional em relação aos demais órgãos da Administração
Pública central e local.
3. Os conselhos superiores são órgãos administrativos que podem dispor de
competências de gestão, disciplina ou consulta nas respectivas áreas de
actuação, cuja organização e funcionamento são reguladas por legislação
específica.
4. A competência para aprovação das normas regulamentares de
organização e funcionamento dos órgãos e serviços de apoio dos órgãos
centrais independentes compete ao Governo ou ao órgão em que este
delegar, salvo legislação em contrário.
CAPÍTULO IV
Serviços Públicos

SECÇÃO I
Disposições Gerais

ARTIGO 51
(Natureza)

1. Os serviços públicos são as unidades orgânicas criadas no seio das


instituições públicas, sem prejuízo de poderem existir serviços públicos
organizados em unidades orgânicas autónomas.
2. Os serviços públicos são criados por um acto de autoridade pública.
3. Os serviços públicos integram a orgânica dos órgãos centrais, locais e
externos do Estado, bem como a orgânica das autarquias locais e demais
pessoas colectivas públicas.
4. Os serviços públicos são estabelecidos e organizados tendo em atenção
as funções para as quais são criados, nomeadamente:
a) Serviços executivos;
b) Serviços de controlo, auditoria e fiscalização;
c) Serviços de coordenação;
d) Serviços técnicos.
5. Os Serviços Públicos são centrais, locais ou externos e o seu
funcionamento depende de funcionários e agentes do Estado.
6. A organização dos serviços públicos pode combinar as funções num único
serviço, prevalecendo para efeitos de classificação o serviço cujas funções
forem mais predominantes.

ARTIGO 52
(Serviços executivos)

Os Serviços Públicos executivos garantem a prossecução das políticas


governamentais da responsabilidade da Administração Pública, prestando
serviços no âmbito das suas atribuições ou exercendo funções de apoio
técnico, nos seguintes domínios:
a) concretização das políticas definidas pelo Governo;
b) prestação de serviços directos ao cidadão e demais entidades;
c) implementação do plano e programa do sector;
d) estudos e concepção ou planeamento;
e) gestão de recursos organizacionais;
f) relações internacionais.

ARTIGO 53
(Serviços de controlo, auditoria e fiscalização)

1. Os serviços de controlo, auditoria e fiscalização exercem funções


permanentes de acompanhamento e de avaliação da execução de políticas
governamentais, podendo integrar funções inspectivas ou de auditoria, com
vista a zelar pelo subsistema de controlo interno.
2. Quando a função dominante seja a inspectiva, os serviços de controlo,
auditoria e fiscalização designam-se inspecções-gerais, inspecções
sectoriais, inspecções provinciais ou inspecções distritais, quando se trate,
respectivamente, de serviços centrais ou provinciais e distritais.

ARTIGO 54
(Serviços de coordenação)

1. Os serviços de coordenação promovem a articulação em domínios onde


esta necessidade seja permanente.
2. Os serviços de coordenação realizam as seguintes actividades:
a) harmonizar a formulação e execução de políticas públicas da
responsabilidade do Governo;
b) assegurar a utilização racional conjugada e eficiente de recursos na
Administração Pública;
c) emitir pareceres sobre as matérias que, no âmbito da sua acção
coordenadora, lhes sejam submetidas.
3. A organização, funcionamento e natureza dos serviços de coordenação
são definidos por Diploma do órgão que os criar ou estatuto orgânico da
entidade de que fazem parte, podendo neste caso ser intra ou
interministeriais.

ARTIGO 55
(Serviços Técnicos)

1. Os serviços técnicos executam actividades predominantemente técnicas,


observando normas ou procedimentos de carácter técnico, que exigem
formação técnica especializada, nomeadamente no âmbito das operações
materiais da administração pública.
2. Os serviços referidos no número anterior exercem as seguintes
actividades:
a) prestar serviços de natureza técnica;
b) propor a adopção de procedimentos técnicos a observar numa
determinada área de actividade da Administração Pública;
c) elaborar estudos e planos técnicos;
d) propor novos modelos de funcionamento no âmbito da modernização da
Administração Pública;
e) exercer outras funções técnicas que lhes forem cometidas.

SECÇÃO II
Organização interna dos Serviços Públicos

ARTIGO 56
(Organização Interna)

1. A organização interna dos serviços é adequada às respectivas funções e


obedece a uma estrutura hierarquizada que pode ser combinada com a
organização horizontal de funções.
2. Na adopção do modelo estrutural misto, o diploma de criação do serviço
distinguirá as áreas de actividade por cada modelo adoptado.
3. A estrutura dos serviços deve sempre privilegiar o aumento da eficácia,
produtividade e eficiência no seu desempenho e na sua gestão, bem como a
racionalização dos recursos humanos.

ARTIGO 57
(Estrutura hierarquizada e organização horizontal dos serviços)

1. A estrutura interna dos serviços públicos, hierarquizada ou horizontal, é


constituída por unidades orgânicas.
2. A estrutura interna das unidades orgânicas, quando aprovada por
regulamento interno, é modificada por decisão do dirigente do respectivo
serviço.
3. A modificação a que se refere o número anterior visa assegurar a
permanente adequação do serviço às necessidades de funcionamento e
optimização dos recursos, tendo em conta uma programação e controlo
criteriosos dos custos e resultados.
4. A organização horizontal traduz-se na especialização dos serviços em
tarefas, matérias ou actividades a realizar pelas unidades orgânicas, desde
que multidisciplinares, cabendo a sua direcção a um único dirigente.

SECÇÃO III
Criação, modificação e extinção de Serviços Públicos

ARTIGO 58
(Conteúdo dos diplomas)

1. A criação e modificação dos Serviços Públicos é aprovada por Diploma


específico o qual contém:
a) a designação do serviço;
b) a identificação das respectivas funções;
c) a organização interna.
2. A extinção dos serviços públicos é determinada pela entidade que os criar.

ARTIGO 59
(Modificação e extinção de serviços públicos)

1. Quando a finalidade de um serviço se encontre esgotada ou quando se


verifique que o mesmo prossegue missões complementares, paralelas ou
sobrepostas às de outros serviços, o órgão competente deve propor,
consoante os casos, a sua modificação ou extinção.
2. As propostas referidas no número anterior contêm o fundamento das
situações respeitantes ao esgotamento da finalidade do serviço em causa e
das relativas à prossecução de missões complementares, paralelas ou
sobrepostas às de outros serviços.
3. Os diplomas a que se refere o presente artigo estabelecem as regras de
sucessões de direitos e obrigações e determinar a reafectação dos
correspondentes recursos financeiros e organizacionais, bem como a
colocação e afectação dos recursos humanos, nos termos da lei.
ARTIGO 60
(Racionalização de serviços)

1. Não podem ser criados novos serviços da Administração directa do Estado


cujas missões sejam ou possam ser prosseguidas por serviços já existentes.
2. As funções dos diferentes serviços e seus departamentos devem permitir
a identificação de responsabilidades por resultados nos vários níveis
hierárquicos ou nas diferentes áreas de actividade.

CAPÍTULO V
Entidades temporárias

ARTIGO 61
(Entidades criadas para execução de missão temporária)

1. A prossecução de missões temporárias, que não possam ser desenvolvidas


pelos serviços existentes, pode ser cometida a entidades temporárias,
criadas pelo Conselho de Ministros.
2. As entidades temporárias têm uma duração limitada e objectivos
definidos em contratos - programa, estatutos e em outros documentos, e
dependem do apoio logístico de secretariados ou de outros serviços
executivos.
3. As entidades temporárias devem recorrer, preferencialmente, à
mobilidade dos funcionários pertencentes aos quadros dos serviços e
organismos da Administração Pública.
4. O acto de criação de entidades temporárias deve indicar o órgão a que
estas se subordinam.

CAPÍTULO VI
Representação da administração do estado no estrangeiro

ARTIGO 62
(Âmbito)

1. A representação do Estado ou dos seus interesses no estrangeiro abrange


todas as suas representações no exterior.
2. As representações diplomáticas e consulares do Estado no exterior
subordinam-se ao Ministério que superintende a área da política externa.

ARTIGO 63
(Formas de Representação)

1. São formas de representação do Estado moçambicana no exterior:


a) Missões Diplomáticas;
b) Missões Consulares e especiais.
2. As Missões Diplomáticas podem ser:
a) Embaixadas ou Altos Comissariados;
b) Representações Permanentes;
c) Delegações Permanentes.
3. As Missões Consulares podem ser:
a) Consulados Gerais;
b) Consulados;
c) Agências Consulares.
4. Os interesses do Estado moçambicano poderão ser também
representados por um Cônsul Honorário.

CAPÍTULO VII
Administração Local do Estado

SECÇÃO I
Disposições Gerais

ARTIGO 64
(Âmbito)

1. Os órgãos locais do Estado exercem as suas funções nas províncias,


distritos, postos administrativos, localidades e povoações.
2. A divisão administrativa determina o limite territorial das competências
dos órgãos locais do Estado.

ARTIGO 65
(Funções dos órgãos locais do Estado)

Os órgãos locais do Estado têm a função de representação do Estado ao


nível local para a administração e o desenvolvimento do respectivo território
e contribuem para a unidade e integração nacionais.

ARTIGO 66
(Organização e funcionamento)

1. A organização e funcionamento dos órgãos locais do Estado regem-se por


legislação específica, observando os princípios estabelecidos na
Constituição e na presente Lei.
2. Os órgãos locais do Estado observam o princípio da estrutura integrada
verticalmente hierarquizada, sempre que a conveniência do serviço o
determinar.
CAPÍTULO VIII
Descentralização

SECÇÃO I
Disposições Gerais

ARTIGO 67
(Espécies de descentralização)

1. A descentralização compreende as seguintes espécies:


a) Autarquias Locais;
b) administração Indirecta do Estado;
c) instituições públicas do ensino superior;
d) associações públicas.
2. A Administração Indirecta do Estado compreende o Banco de
Moçambique, os institutos públicos, as fundações públicas, os fundos
públicos e o sector empresarial do Estado nos termos definidos na presente
Lei.
3. A administração indirecta do Estado pode abranger as instituições de
investigação científica, sem prejuízo destas adoptarem outra forma de
organização.

ARTIGO 68
(Limites da descentralização)

A Constituição da República, as atribuições e poderes concedidos por lei,


bem como os direitos subjectivos e interesses legítimos dos particulares
limitam a descentralização.

ARTIGO 69
(Controlo administrativo e superintendência)

1. O instrumento de controlo do exercício da administração descentralizada


é a tutela administrativa e financeira.
2. Com excepção das autarquias locais, as entidades descentralizadas
podem ser objecto de superintendência por parte do Governo.

SECÇÃO II
Poder local

ARTIGO 70
(Autarquias Locais)

1. As autarquias locais são pessoas colectivas públicas, dotadas de órgãos


representativos próprios, que visam a prossecução dos interesses das
populações respectivas, sem prejuízo dos interesses nacionais e da
participação do Estado.
2. As autarquias locais desenvolvem a sua actividade no quadro da unidade
do Estado e organizam-se com pleno respeito da unidade do poder político
e do ordenamento jurídico nacional.

ARTIGO 71
(Organização e funcionamento)

1. A organização e funcionamento das autarquias locais regem-se por


legislação específica, observando os princípios estabelecidos na
Constituição e na presente Lei.
2. As Autarquias locais podem criar empresas e outros organismos de
administração indirecta, nos termos a regular em legislação específica.

SECÇÃO III
Administração Indirecta do Estado

SUBSECÇÃO I
Disposições Gerais

ARTIGO 72
(Administração indirecta do Estado)

A administração indirecta do Estado compreende o conjunto das instituições


públicas, dotadas de personalidade jurídica própria, criadas por iniciativa
dos órgãos centrais do Estado para desenvolver a actividade administrativa
destinada à realização dos fins estabelecidos no acto da sua criação.

ARTIGO 73
(Autonomia)

Sem prejuízo das restrições estabelecidas por lei, as pessoas colectivas


criadas no âmbito da administração indirecta do Estado podem gozar de
autonomia administrativa, financeira, patrimonial e técnica.

ARTIGO 74
(Âmbito da Administração Indirecta do Estado)

1. A administração indirecta do Estado compreende:


a) Banco de Moçambique;
b) os institutos públicos;
c) fundações públicas;
d) fundos públicos;
e) o sector empresarial do Estado.
2. A categoria de institutos públicos abrange quaisquer entidades públicas
dotadas de personalidade jurídica, desde que não integradas noutras
categorias de pessoas colectivas previstas na presente Lei.
ARTIGO 75
(Objectivo)

1. A Administração indirecta do Estado promove a transferência das


responsabilidades do Estado para entes menores de modo a tornar o
exercício da actividade administrativa mais eficaz, eficiente e menos
oneroso.
2. O disposto no número anterior implica que a criação de uma pessoa
colectiva integrada na administração indirecta do Estado tenha como
consequência a racionalização dos recursos humanos, financeiros e materiais
do Estado na medida em que as actividades do Estado são devolvidas para
o novo ente.

ARTIGO 76
(Capacidade jurídica)

1. As pessoas colectivas integradas na Administração Indirecta do Estado


dispõem de capacidade jurídica pública.
2. Excepcionalmente, as pessoas colectivas públicas praticam actos de
gestão privada na medida do necessário à prossecução das suas atribuições.

ARTIGO 77
(Princípio da especialidade)

As pessoas colectivas integradas na Administração Indirecta do Estado só


podem dispor de poderes públicos, de direitos e assumir deveres
estritamente necessários para a realização do interesse que lhes for
cometido por lei.

SUBSECÇÃO II
Banco de Moçambique

ARTIGO 78
(Definição)

1. O Banco de Moçambique é o Banco Central da República de Moçambique.


2. O Banco de Moçambique é uma pessoa colectiva de direito público,
dotada de autonomia administrativa e financeira.

ARTIGO 79
(Regime Especial)

A organização, natureza e funcionamento do Banco de Moçambique rege-


se por lei própria e pelas normas internacionais a que a República de
Moçambique esteja vinculada e lhe sejam aplicáveis.
SECÇÃO III
Institutos Públicos

SUBSECÇÃO I
Disposições Gerais

ARTIGO 80
(Institutos públicos)

1. Os institutos públicos são pessoas colectivas de direito público, dotadas


de personalidade jurídica própria, criadas com o fim de realizar as
atribuições fixados no acto da sua criação.
2. Os institutos públicos podem dispor de autonomia administrativa e
financeira, nos termos da lei.

ARTIGO 81
(Tipos de institutos públicos)

1. De acordo com as funções principais que desempenham, os institutos


públicos podem ser, nomeadamente:
a) institutos reguladores;
b) institutos de gestão;
c) institutos fiscalizadores;
d) institutos de infra-estruturas;
e) institutos de normalização;
f) institutos de prestação de serviços.
2. Sem prejuízo do princípio da especialidade, o disposto no número
anterior não obsta a que num mesmo instituto possam ser combinadas
várias funções.

ARTIGO82
(Criação)

1. A criação de institutos públicos, no âmbito da Administração Indirecta do


Estado, compete ao Conselho de Ministros, sob proposta do Ministro que
superintende a área de actividade do instituto a criar.
2. O acto de criação dos institutos públicos define as atribuições, os órgãos,
bem como a espécie de autonomia reconhecida ao instituto e o respectivo
regime orçamental.
3. O Conselho de Ministros aprova os estatutos orgânicos dos institutos
públicos, podendo delegar esta competência, excepto as competências
definidas no número anterior.

ARTIGO 83
(Pressupostos de criação)

1. A criação dos institutos públicos só pode ter lugar quando a prestação do


serviço em regime de administração directa não seja viável, quanto a custos
e eficácia, e se demonstre, por estudos técnicos, que eles podem dispor de
autonomia administrativa e financeira.
2. O disposto no número anterior não obsta a que, quando devidamente
justificado, possam ser criados institutos públicos que apenas gozem de
autonomia administrativa, desde que comprovadamente se demonstre que
a sua não criação possa causar grave prejuízo ao interesse público.

ARTIGO 84
(Princípios de gestão dos institutos públicos)

1. Os institutos públicos devem observar os seguintes princípios de gestão:


a) prestação de um serviço aos cidadãos de acordo com padrões de
excelência exigidos por lei a toda a administração pública;
b) garantia de eficiência económica nos custos suportados e nas soluções
adoptadas para prestar esse serviço, sendo obrigatória a fundamentação
expressa da oportunidade económica de qualquer decisão cuja execução
implique despesa pública do instituto;
c) gestão por objectivos devidamente quantificados e avaliação periódica
em função dos resultados, a serem fixados obrigatoriamente em planos de
actividades ou contratos - programa e cujo controlo obedece às regras de
tutela e supervisão;
d) observância dos princípios gerais da actividade administrativa,
constantes da lei do procedimento administrativo e demais normas
aplicáveis.
2. Os institutos públicos criados a partir de uma área de actividade
directamente prestada pelo Estado ou autarquia local implicam
necessariamente a devolução de poderes e a transferência dos recursos
humanos, materiais e financeiros da entidade que prestava o serviço em
causa.
3. Os órgãos de direcção dos institutos públicos devem assegurar que os
recursos públicos de que dispõem são administrados de uma forma eficiente
e sem desperdícios, devendo sempre adoptar ou propor as soluções
organizativas e os métodos de actuação que representem o menor custo na
prossecução eficaz das atribuições públicas a seu cargo.

ARTIGO 85
(Atribuições)

Os institutos públicos prosseguem fins específicos, devendo ter uma


vocação especializada, a fixar no acto da sua criação.

ARTIGO 86
(Capacidade jurídica)

Os actos praticados pelos órgãos dos institutos públicos são, regra geral, de
gestão pública, excepto se outra qualificação resultar da lei ou da própria
natureza do acto.
ARTIGO 87
(Regime jurídico)

1. O regime de organização, funcionamento, controlo dos institutos e seu


relacionamento com outros sujeitos de direito é regido pela presente Lei e
demais legislação aplicável e é sempre de direito público.
2. Ao pessoal dos institutos públicos aplica-se o regime jurídico da função
pública, sendo, porém, admissível a celebração de contratos de trabalho que
se regem pelo regime geral sempre que isso for compatível com a natureza
das funções a desempenhar.

ARTIGO 88
(Regime de controlo)

O regime de controlo dos institutos públicos consiste na tutela


administrativa e financeira do Governo e a fiscalização pelos tribunais
administrativos.

SUBSECÇÃO II
Tutela e superintendência dos institutos públicos

ARTIGO 89
(Princípio geral)

1. Os institutos públicos são objecto de tutela e superintendência a exercer


pelo Ministro ou outro órgão que superintende a principal área de
actividade do instituto.
2. A tutela e a superintendência, no domínio financeiro, são exercidas pelo
Ministro que superintende a área das Finanças.
3. No exercício da tutela e superintendência, o Ministro de tutela ou outro
órgão de tutela observam os seguintes princípios:
a) o princípio da legalidade da tutela, só podendo exercer os poderes de
tutela nos casos e na forma prevista na lei ou nos estatutos;
b) a autonomia administrativa dos institutos públicos, não devendo decidir
em substituição dos órgãos do ente tutelado, senão nos casos devidamente
autorizados por lei.

ARTIGO 90
(Âmbito da tutela)

A tutela administrativa pode ser exercida sobre os actos e os órgãos dos


institutos públicos, desde que os poderes estabelecidos não restrinjam
injustificadamente a autonomia do instituto.
ARTIGO 91
(Tipos de tutela)

1. A tutela pode ser integrativa, inspectiva, revogatória, sancionatória e


substitutiva.
2. A tutela integrativa consiste no poder do órgão tutelar aprovar,
homologar, modificar ou ratificar os actos praticados pelo órgão tutelado.
3. A tutela inspectiva compreende o poder do órgão tutelar de realizar
acções de inspecção, fiscalização ou auditoria dos actos praticados pelo
órgão tutelado.
4. A tutela revogatória compreende o poder de revogar ou extinguir os
efeitos dos actos inconvenientes e ou ilegais praticados pelo órgão
tutelado.
5. A tutela sancionatória compreende o poder de efectivar a
responsabilidade disciplinar relativamente aos órgãos da pessoa colectiva
tutelada.
6. A tutela substitutiva consiste no poder do órgão de tutela de, em casos
excepcionais, substituir-se ao órgão tutelado para prática de actos por este
omitidos.
7. O exercício do poder de tutela pode resultar na destituição dos órgãos
ou dos titulares dos institutos públicos.

ARTIGO 92
(Superintendência)

1. O Ministro ou outro órgão de tutela, com observância da autonomia dos


institutos públicos, pode dirigir orientações, emitir directivas ou solicitar
informações aos órgãos dirigentes dos institutos públicos sobre os
objectivos a atingir na gestão do instituto e sobre as prioridades a adoptar
na respectiva prossecução.
2. Compete ao Ministro ou outro órgão de tutela, no seu domínio específico,
proceder ao controlo do desempenho dos institutos públicos, em especial
quanto ao cumprimento dos fins e dos objectivos estabelecidos e quanto à
utilização dos recursos humanos e materiais postos à sua disposição.

ARTIGO 93
(Subordinação institucional)

1. Os serviços personalizados do Estado, quando por opção estatutária não


disponham de plena autonomia administrativa e financeira, subordinam-se
ao Ministério a que estão adstritos ou ao órgão para que a lei remeter.
2. São serviços personalizados do Estado, os que, pertencendo à orgânica
de um Ministério, o Conselho de Ministros decide conceder-lhes
personalidade jurídica.
3. O âmbito da subordinação a que se refere o presente artigo deve ser
expressamente previsto nos estatutos e não deve limitar, em absoluto, a
autonomia administrativa do serviço personalizado.
ARTIGO 94
(Institutos de regime especial)

1. Gozam de regime especial, na estrita medida do necessário à sua


especificidade:
a) os institutos gestores de fundos públicos de segurança social ou outros
tipos de institutos, naquelas matérias em que por imposição de convenções
internacionais devam seguir outras modalidades de organização,
funcionamento e relacionamento;
b) o órgão executivo central do Sistema Estatístico Nacional quando tenha
natureza de instituto público.
2. A tutela administrativa sobre os institutos de regime especial é de
legalidade e de mérito.
3. O regime especial dos institutos públicos é definido em legislação
específica.

SECÇÃO III
Fundações Públicas

ARTIGO 95
(Definição)

As fundações públicas são pessoas colectivas de direito público, criadas pelo


Conselho de Ministros, destinadas a gerir, no interesse geral, património ou
fundos públicos.

ARTIGO 96
(Natureza)

1. As fundações públicas adoptam sempre a natureza de institutos públicos,


devendo na sua denominação apresentar menções que permitam a sua
distinção dos restantes tipos institucionais.
2. Quando a Fundação tenha por objectivo a satisfação complementar de
necessidades de ordem económica, social e cultural de seus membros,
funcionários e agentes da Administração Pública, adopta a forma de Serviços
Sociais.

ARTIGO 97
(Regime Jurídico)

O regime O regime jurídico de criação, organização e tutela das fundações


públicas é, com as necessárias adaptações, o dos Institutos Públicos.
ARTIGO 98
(Requisitos de criação)

A criação das fundações públicas é independente da dotação inicial do


património, recursos materiais ou financeiros que constituem o seu
substrato.

ARTIGO 99
(Pessoal)

Ao pessoal das fundações públicas aplica-se o regime jurídico da função


pública, sendo, porém, admissível a celebração de contratos de trabalho que
se regem pela lei do trabalho e demais legislação aplicável sempre que isso
for compatível com a natureza das funções a desempenhar.

SECÇÃO
Fundos Públicos

ARTIGO 100
(Fundos públicos)

Os fundos públicos são pessoas colectivas de direito público, criadas por


decisão do Conselho de Ministros, destinadas a angariar e gerir, no interesse
geral, recursos financeiros a empregar no desenvolvimento de determi nadas
áreas de interesse público.

ARTIGO 101
(Unicidade)

Os fundos públicos obedecem ao princípio da unicidade, estando proibida a


existência de mais do que um fundo numa mesma área de serviço público e
para a prossecução da mesma finalidade.

ARTIGO 102
(Regime jurídico)

1. O regime jurídico de criação, organização e tutela dos fundos públicos é,


com as necessárias adaptações, o dos institutos públicos.
2. Ao pessoal dos fundos públicos aplica-se o regime jurídico da função
pública, sendo, porém, admissível a celebração de contratos de trabalho que
se regem pela lei do trabalho e demais legislação aplicável sempre que isso
for compatível com a natureza das funções a desempenhar.
CAPÍTULO IX
Sector Empresarial do Estado

ARTIGO 103
(Âmbito)

Integram o sector empresarial do Estado todas as unidades produtivas ou


comerciais que são exclusiva ou maioritariamente participadas pelo Estado
e que adoptam a forma de organização e funcionamento empresarial.

ARTIGO 104
(Objectivos)

O sector empresarial do Estado garante:


a) o exercício de actividades nas áreas consideradas estratégicas,
nomeadamente económicas nos ramos de indústria, mineração, energia,
hidrocarbonetos, turismo, transporte e do comércio ou;
b) a obtenção de níveis adequados de satisfação das necessidades da
colectividade, bem como a promoção do desenvolvimento segundo
parâmetros exigentes de qualidade, economia, eficiência e eficácia,
contribuindo igualmente para o equilíbrio económico e financeiro do
conjunto do sector público.

ARTIGO 105
(Regime jurídico)

1. As empresas que integram o sector empresarial do Estado regem-se pelo


direito privado, salvo no que estiver especialmente regulado na lei das
empresas públicas, bem como nos diplomas legais que aprovarem os
respectivos estatutos.
2. O sector empresarial do Estado está sujeito às regras gerais da tributação
e às regras da concorrência no mercado.
3. As empresas participadas pelo Estado estão sujeitas ao regime jurídico
comercial, laboral e fiscal, ou de outra natureza, aplicável às empresas
privadas.

ARTIGO 106
(Remissão)

O Sector Empresarial do Estado rege-se por legislação específica,


observando o disposto na presente Lei.
CAPÍTULO X
Associações Públicas

SECÇÃO I
Disposições gerais

ARTIGO 107
(Âmbito)

1. A administração autónoma associativa compreende as associações


públicas que integram pessoas singulares e as associações de entidades
públicas.
2. Podem ser criadas associações públicas que integram pessoas singulares
e pessoas colectivas públicas e privadas em simultâneo.

ARTIGO 108
(Atribuições)

As atribuições das Associações Públicas, que são sempre relativas à


prossecução do interesse público, são fixadas por lei e são sempre de
natureza pública.

ARTIGO 109
(Natureza jurídica)

1. As associações públicas de entidades privadas são pessoas colectivas de


direito público, autónomas do Estado, que representam os interesses
públicos pertencentes aos associados.
2. Quando a associação é representativa de uma profissão, adopta a forma
de ordem profissional.
ARTIGO 110
(Princípios gerais)

Na sua organização e funcionamento, as associações públicas devem


observar os princípios seguintes:
a) princípio da autonomia e independência dos poderes do Estado;
b) articulação e coordenação com as entidades estatais;
c) unicidade, sendo proibida a existência de mais de uma associação pública
por cada área de interesse público ou área profissional;
d) respeito pelos direitos fundamentais e liberdades dos membros, sem
prejuízo de que quando se trate de ordens profissionais a inscrição
condiciona o exercício da profissão;
e) formação democrática dos órgãos;
f) proibição de exercício de funções que nos termos da Constituição e das
Leis correspondem a atribuições sindicais.
ARTIGO 111
(Criação e extinção das associações públicas)

As associações Públicas são criadas e extintas por acto legislativo, aprovado


pela Assembleia da República, que adopta em simultâneo os respectivos
estatutos.

ARTIGO 112
(Capacidade jurídica)

1. As associações Públicas dispõem de capacidade jurídica pública


necessária à prossecução dos interesses a seu cargo, podendo no domínio
da gestão pública, praticar actos administrativos, celebrar contratos
administrativos e aprovar regulamentos administrativos.
2. Os actos praticados pelos órgãos das associações públicas, em matéria de
gestão pública, adoptam a natureza de acto administrativo nos termos
regulados pelo regime do procedimento administrativo e demais legislação
aplicável.

ARTIGO 113
(Poder disciplinar)

Na sua área de actuação, as associações públicas dispõem de poderes


disciplinares cujos actos administrativos são impugnados, nos termos gerais.

ARTIGO 114
(Regime jurídico)

1. As associações públicas regem-se pelo direito público, no que se refere


aos actos de gestão pública.
2. No que se refere aos actos de gestão privada, as associações públicas
regem-se pelo regime geral das associações.

ARTIGO 115
(Autonomia)

As associações públicas dispõem de autonomia administrativa, financeira e


patrimonial e prosseguem os seus fins de forma independente da entidade
que os institui.

ARTIGO 116
(Controlo)

1. As associações públicas estão sujeitas ao controlo exercido pelos seus


membros, através dos órgãos sociais apropriados bem como à tutela
administrativa do Estado.
2. As delibrações dos órgãos sociais das associações públicas são
impugnadas nos termos gerais.

SECÇÃO II
Organização interna das associações públicas

ARTIGO 117
(órgãos sociais)

1. Os órgãos sociais das associações públicas são estabelecidos por lei e, nos
casos das ordens profissionais, as associações deverão necessariamente
dispor de órgão de disciplina e controlo do exercício da profissão.
2. As associações públicas que não sejam ordens profissionais, poderão
adoptar os órgãos previstos no regime geral das associações do direito
privado.

ARTIGO 118
(Modo de designação)

Os titulares dos órgãos sociais das associações públicas são designados por
via de eleições democráticas entre os seus membros, podendo os
respectivos estatutos estabelecer os requisitos e perfil dos candidatos.

ARTIGO 119
(Remissão)

No que não estiver previsto na presente Lei, as associações públicas regem-


se pelos respectivos estatutos e, subsidiariamente, pelo regime dos
institutos públicos ou regime geral das associações consoante se tratar de
matéria de gestão pública ou de gestão privada.

CAPÍTULO XI
Instituições Públicas do Ensino Superior e de Investigação Científica

SECÇÃO I
Instituições Públicas do Ensino Superior

ARTIGO 120
(Tipos)

As instituições públicas do ensino superior, que fazem parte da


Administração Pública autónoma, são as Universidades, os Institutos
Superiores, as Escolas Superiores, os Institutos Superiores Politécnicos, as
Academias ou outras que forem assim classificadas pela lei do ensino
superior.
ARTIGO 121
(Natureza jurídica)

1. As instituições públicas do ensino superior são pessoas colectivas de


direito público, dotadas de autonomia científica, pedagógica, administrativa
e financeira, nos termos da lei.
2. As instituições públicas do ensino superior gozam ainda de poder
disciplinar sobre o seu pessoal.

ARTIGO 122
(Princípios gerais)

As instituições públicas do ensino superior regem-se pelos princípios


seguintes:
a) democracia e direitos humanos;
b) igualdade e não discriminação;
c) valorização dos ideais da pátria, ciência e humanidade;
d) liberdade de criação cultural, artística, inovação, investigação científica e
tecnológica;
e) autonomia;
f) participação no desenvolvimento económico, científico, social, cultural do
país, da região e do mundo.

ARTIGO 123
(Regime jurídico)

As instituições públicas do ensino superior regem-se pela Lei do Ensino


Superior e legislação complementar.
SECÇÃO II
Instituições públicas de Investigação Científica

ARTIGO 124
(Tipos)

As instituições públicas de investigação científica, compreendem estações,


laboratórios, centros e institutos, de acordo com a legislação de criação das
instituições de investigação científica.

ARTIGO 125
(Natureza)

1. As instituições públicas de investigação científica são pessoas colectivas


de direito público dotadas de autonomia científica, administrativa e
financeira.
2. As instituições públicas de investigação científica gozam ainda de
autonomia disciplinar sobre o seu pessoal.
ARTIGO 126
(Regime jurídico)

1. As instituições públicas de investigação científica regem-se por legislação


específica.
2. No exercício das suas actividades as instituições públicas de investigação
regem-se pelos princípios estabelecidos no artigo 123 da presente Lei.

CAPÍTULO XII
Disposição Final

ARTIGO 127
(Entrada em vigor)

A presente Lei entra em vigor 180 dias depois da sua publicação.


Aprovada pela Assembleia da República, aos 19 de Dezembro de 2011.
A Presidente da Assembleia da República, Verónica Nataniel Macamo
Dlhovo.
Promulgada em, 18 de Janeiro de 2012.
Publique-se.
O Presidente da República, Armando Emílio Guebuza.

ANEXO
GLOSSÁRIO

Para efeitos da presente Lei, entende-se por:


A Actos de gestão privada - são os actos jurídicos praticados pelas entidades
abrangidas pela presente lei, no exercício da sua capacidade jurídica privada
e, por isso, regulados pelo direito privado.
Administração directa do Estado - compreende o conjunto de entidades
administrativas destituídas de personalidade jurídica, que exercem
actividade administrativa integradas no seio da pessoa colectiva Estado -
Administração.
Administração indirecta autárquica - é constituída pelas entidades
administrativas dotadas de personalidade jurídica e criadas pelas Autarquias
Locais para a prossecução necessária de uma determinada finalidade pública
de interesse local.
Administração indirecta do Estado - é o conjunto das entidades
administrativas institucionalmente descentralizadas, dotadas de
personalidade jurídica própria, criadas pelo Estado para a prossecução
necessária de uma determinada finalidade de interesse público.
Administração Pública - conjunto de órgãos e serviços públicos que
asseguram a realização de actividades administrativas visando a satisfação
de necessidades públicas.
Atribuições - o fim ou os fins da pessoa colectiva.
C Competências - conjunto de poderes conferidos aos órgãos, funcionários
ou agentes da pessoa colectiva.
D Descentralização - processo de criação pelo Estado de pessoas colectivas
públicas menores.
Desconcentração - a outorga pela lei ou mediante delegação de
competências aos órgãos, funcionários e agentes subalternos.
Devolução de poderes - o sistema em que alguns interesses públicos do
Estado, ou de pessoas colectivas de população e território, são postos por
lei a cargo de pessoas colectivas de fins singulares.
E Estado – Administração - corresponde ao Estado como pessoa colectiva
pública, dotada de personalidade jurídica com capacidade para adquirir
direitos e assumir deveres decorrentes de relações ou situações jurídicas.
I Instituto de Gestão - institutos públicos encarregues de gerir fundos
públicos com vista à realização de determinado fim de interesse público.
Instituto de infra - estruturas - institutos públicos de construção ou gestão
de obras públicas.
Instituto de prestação de serviços - os institutos públicos que realizam
actividades de satisfação directa das necessidades públicas.
Instituto fiscalizador - os institutos públicos que exercem o controlo sobre
as actividades de outros entes públicos ou privados.
Instituto Regulador - os institutos públicos dotados de poderes públicos de
aprovação de actos normativos aplicáveis a outras entidades públicas e
privadas.
L Linha verde - canal de comunicação por via telefónica ou outro meio de
comunicação que permite o contacto entre o cidadão e a Administração
Pública.
O Órgão - centro institucionalizado de competências integrando uma
determinada pessoa colectiva pública, sendo central quando as
competências abrangem todo o território nacional ou local quando as
competências se limitam a uma circunscrição administrativa territorialmente
delimitada.
Órgão independente - órgão da Administração Pública não subordinado ao
Governo, sujeitando-se apenas à Constituição e à lei.
Originalidade - a titularidade de atribuições por decorrência directa da lei,
conferida aos órgãos da administração directa do Estado.
P Pessoa colectiva pública - pessoa jurídica criada para a prossecução
necessária do interesse público, dotada de personalidade jurídica, titular de
direitos e deveres públicos em nome próprio.
S Serviço público - organizações de meios humanos e materiais, integrados
no seio das pessoas colectivas públicas, encarregues de executar
materialmente a actividade administrativa.
Superintendência - poder de orientação ou de definição de políticas a serem
observadas pelas pessoas colectivas que fazem parte da administração
indirecta ou autónoma.
Subordinação institucional - forma de controlo das pessoas colectivas
públicas, que consiste na relativa limitação da sua autonomia.
T Tutela administrativa - dentro dos casos e limites expressamente previstos
na lei, é o poder de interferência na gestão de uma pessoa colectiva pública,
exercido por órgãos de uma outra pessoa colectiva pública, com o fim de
assegurar a legalidade e/ou o mérito das decisões, bem como a disciplina
dos órgãos do ente tutelado.
Tutela de legalidade - aferição da conformação legal dos actos praticados
pelo órgão tutelado.
Tutela de mérito - aferição do mérito dos actos praticados pelo órgão
tutelado.
U Unicidade - existência singular de uma determinada entidade ou órgão
administrativo.
Havendo necessidade de consolidar o quadro jurídico do procedimento
administrativo, através da adequação dos instrumentos legais vigentes às
exigências actuais de racionalização, de maior participação dos
administrados no processo de tomada de decisão, de aprofundamento das
garantias dos particulares face à actuação da Administração Pública e de
transparência da acção administrativa, nos termos da alínea r) do n.º 2 do
artigo 179 da Constituição, a Assembleia da República determina:

CAPÍTULO I
Disposições gerais

ARTIGO 1
(Definições)

Os termos usados na presente Lei constam do Glossário, em anexo, que dela


faz parte integrante.

ARTIGO 2
(Objecto)

A presente Lei tem por objecto regular a formação da vontade da


Administração Pública e estabelecer as normas de defesa dos direitos e
interesses dos particulares.

ARTIGO 3
(Âmbito de aplicação)

1. A presente Lei aplica-se aos órgãos e instituições da Administração Pública


que, no exercício da actividade administrativa de gestão pública,
estabeleçam relações com os administrados, bem como aos actos em
matéria administrativa praticados pelos órgãos do Estado que, embora não
integrados na Administração Pública, exerçam funções materialmente
administrativas.
2. Esta Lei é ainda aplicável aos actos praticados por entidades
concessionárias, no exercício de poderes de autoridade.
3. Os preceitos desta Lei podem ser mandados aplicar por lei à actuação dos
órgãos das instituições particulares de interesse público.
4. Os princípios gerais da actividade administrativa definidos na presente Lei
aplicam-se a toda a actuação da Administração, mesmo que seja de natureza
técnica ou de gestão privada.
5. As normas desta Lei relativas à organização e à actividade administrativas
aplicam-se a todas as actuações da Administração no âmbito da gestão
pública.
6. Os preceitos da presente Lei aplicam-se subsidiariamente a
procedimentos especiais, sempre que não impliquem redução das garantias
dos administrados.
CAPÍTULO II
Princípios da actuação da Administração Pública

ARTIGO 4
(Princípio da legalidade)

1. A Administração Pública deve actuar em obediência à lei e ao direito,


dentro dos limites e fins dos poderes que lhe estejam atribuídos por lei.
2. Os poderes da Administração Pública não devem ser usados para a
prossecução de fins diferentes dos atribuídos por lei.
3. Os actos administrativos praticados em estado de necessidade, sem
observância das regras estabelecidas pela presente Lei, são válidos, desde
que os seus resultados não pudessem ter sido alcançados de outro modo.
4. Nos casos referidos no número anterior, os lesados têm direito a ser
indemnizados nos termos gerais da responsabilidade da Administração
Pública.
5. O estado de necessidade é verificado no momento da decisão de se
sacrificar um direito ou interesse protegido por lei a fim de prevenir o perigo
de lesar um direito ou interesse superior.

ARTIGO 5
(Princípio da prossecução do interesse público)

A Administração Pública prossegue o interesse público, sem prejuízo dos


direitos e interesses dos administrados protegidos por lei.

ARTIGO 6
(Princípio da igualdade e da proporcionalidade)

1. Nas suas relações com os particulares, a Administração Pública não deve


privilegiar, beneficiar, prejudicar, privar de qualquer direito ou isentar de
qualquer dever jurídico o administrado por motivo de ascendência, sexo,
cor, raça, origem étnica, lugar de nascimento, estado civil, religião,
convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica ou
condição social.
2. As decisões da Administração Pública em desrespeito a direitos
subjectivos ou interesses legítimos dos particulares só podem afectar essas
posições em termos adequados e proporcionais aos objectivos a realizar.
3. A proporcionalidade implica que, de entre as medidas convenientes para
a prossecução de qualquer fim legal, os agentes da Administração Pública
devem adoptar as que acarretem consequências menos graves para a esfera
jurídica do administrado.

ARTIGO 7
(Princípio da justiça e da imparcialidade)

1. No exercício da sua actividade, a Administração Pública deve tratar de


forma justa e imparcial todos os que com ela entrem em relações jurídicas
administrativas.
2. A imparcialidade impõe que os titulares e os membros dos órgãos da
Administração Pública se abstenham de praticar, ordenar ou participar na
prática de actos ou contratos administrativos, designadamente de tomar
decisões que visem interesse próprio, do seu cônjuge ou de quem viva em
união de facto, parente ou afim, bem como de outras entidades com as quais
possa ter conflitos de interesse, nos termos da lei.

ARTIGO 8
(Princípio da boa - fé)

1. No desempenho da actividade administrativa, e em todas as suas formas e


fases, a Administração Pública e os administrados devem actuar e relacionar-
se de acordo com as regras da boa- -fé.
2. Para o efeito do disposto no número anterior, deve ponderar- -se os
valores fundamentais do direito, relevantes em face das situações
consideradas e, em termos especiais, a confiança suscitada na contraparte
pela actuação em causa e o objectivo a alcançar com a actuação realizada.

ARTIGO 9
(Princípio da colaboração da Administração com os administrados)

1. No desempenho das suas funções a Administração Pública e os


administrados devem actuar em estreita cooperação recíproca, devendo em
termos particulares:
a) prestar informações orais ou escritas, bem como esclarecimentos
solicitados, desde que não tenham carácter secreto, confidencial ou restrito;
b) apoiar e estimular todas as iniciativas socialmente úteis dos
administrados, receber as suas informações e considerar as suas sugestões.
2. A Administração Pública é responsável pelas informações prestadas por
escrito aos administrados, mesmo que não sejam obrigatórias.

ARTIGO 10
(Princípio da participação dos administrados)

A Administração Pública deve promover a participação e defesa dos


interesses dos administrados, na formação das decisões que lhes disserem
respeito.

ARTIGO 11
(Princípio da decisão)

1. Os órgãos administrativos devem decidir sobre todos os assuntos da sua


competência que lhes sejam apresentados pelos administrados,
designadamente os que lhes disserem directamente respeito e, ainda, os
relativos a quaisquer petições, representações, queixas, reclamações ou
recursos apresentados em defesa da legalidade ou do interesse geral.
2. Não há dever de decisão quando, há menos de um ano, contado desde a
prática do acto até à data da apresentação do requerimento, o órgão
competente tenha praticado um acto administrativo sobre o mesmo pedido
formulado pelo mesmo administrado e com os mesmos fundamentos.

ARTIGO 12
(Princípio da desburocratização, eficácia e da eficiência)

A Administração Pública deve ser estruturada e funcionar de modo a


aproximar os serviços as populações e de forma não burocratizada, com a
finalidade de materializar a celeridade, a economia no uso de recursos
disponíveis para maximizar os resultados e a eficiência das suas decisões.

ARTIGO 13
(Princípio da responsabilização da Administração Pública)

A Administração Pública responde pelos actos ilegais dos seus órgãos,


funcionários e agentes no exercício das suas funções de que resultem danos
a terceiros, nos mesmos termos da responsabilidade civil do Estado, sem
prejuízo do respectivo direito de regresso, nos termos da lei.

ARTIGO 14
(Princípio da fundamentação dos actos administrativos)

A Administração Pública tem o dever de fundamentar os seus actos


administrativos que impliquem, designadamente o indeferimento do pedido
ou a revogação, a alteração ou a suspensão de actos administrativos
anteriores.

ARTIGO 15
(Princípio da transparência)

1. O princípio da transparência significa a obrigatoriedade de dar


publicidade da actividade administrativa.
2. Os actos administrativos dos órgãos e de instituições da Administração
Pública, designadamente os regulamentos, as normas de procedimento e de
processo são publicados de modo tal que os administrados possam saber,
antecipadamente, as condições jurídicas em que podem efectuar os seus
interesses e exercer os seus direitos.
3. Os órgãos da Administração Pública estão sujeitos à fiscalização e
auditoria periódicas pelas entidades competentes.
4. Na Administração Pública é obrigatória a adopção de um comportamento
que não ofereça, directa ou indirectamente, vantagens a terceiros, nem
solicitar, nem prometer e aceitar-se para benefício próprio ou de outrém
tratamento favorável sobre os serviços a prestar.
ARTIGO 16
(Princípio da gratuitidade)

1. O procedimento administrativo é gratuito, excepto nos casos em que leis


especiais imponham o pagamento de taxas, emolumentos ou de despesas
efectuadas pela Administração.
2. Nas situações de comprovada insuficiência económica, a Administração
isenta o interessado do pagamento das taxas, emolumentos ou dos custos
referidos no número anterior.
3. A insuficiência económica pode ser provada por qualquer meio idóneo,
designadamente, o atestado da situação económica emitido pelo órgão da
administração competente.
4. A documentação a que se refere o número anterior deve mencionar
expressamente que se destina a instruir um pedido de isenção de taxas,
emolumentos ou custos administrativos.

ARTIGO 17
(Princípio de acesso à justiça e ao direito)

Aos administrados é garantido o acesso à jurisdição contenciosa


administrativa, para a obtenção da fiscalização judicial dos actos da
Administração Pública, bem como para a tutela dos seus direitos ou
interesses legítimos, nos termos da legislação do processo administrativo
contencioso.

CAPÍTULO III
Garantias dos Administrados e da Administração Pública

ARTIGO 18
(Garantias dos administrados)

1. São garantias dos direitos das pessoas singulares ou colectivas as


seguintes:
a) o requerimento;
b) a reclamação;
c) o recurso hierárquico;
d) o recurso hierárquico impróprio;
e) o recurso tutelar;
f) o recurso de revisão;
g) a queixa;
h) a denúncia;
i) a petição, queixa ou reclamação ao Provedor de Justiça;
j) o recurso contencioso.
2. O recurso contencioso segue os termos estabelecidos na Lei do Processo
Administrativo Contencioso.
ARTIGO 19
(Garantias da Administração Pública)

São garantias da Administração Pública, designadamente:


a) o privilégio de execução prévia;
b) a obrigatoriedade da apresentação imediata do funcionário ou agente da
Administração Pública ao respectivo superior hierárquico para efeitos de
entrega do serviço a seu cargo, por motivo da cessação da relação de
trabalho, transferência, destacamento, licença de longa duração ou quando
tenha de ser sujeito à privação de liberdade;
c) o direito de regresso em caso de indemnização a terceiros pelos danos
causados por actos ilegais dos funcionários ou agentes da Administração
Pública, no exercício das suas funções;
d) o poder de execução coerciva dos actos administrativos definitivos e
executórios.

CAPÍTULO IV
Órgãos da Administração Pública

SECÇÃO I
Enunciação

ARTIGO 20
(Órgãos da Administração Pública)

Constituem órgãos da Administração Pública, para os efeitos da presente


Lei:
a) os órgãos do Estado que exerçam funções administrativas;
b) os órgãos das autarquias locais;
c) os órgãos dos institutos públicos, das empresas públicas, das associações
públicas e das fundações públicas, no exercício de competências
administrativas.

SECÇÃO II
Órgãos colectivos

ARTIGO 21
(Presidente e secretário)

1. Quando a lei não disponha de forma diversa, cada órgão administrativo


colectivo tem um presidente e um secretário, a eleger pelos membros que o
compõem.
2. Compete ao presidente do órgão colectivo, além de outras funções que
lhe sejam conferidas, abrir e encerrar as reuniões, dirigir os trabalhos e
assegurar o cumprimento das leis e a regularidade das deliberações.
3. O presidente pode, ainda, suspender ou encerrar antecipadamente as
reuniões, sempre que circunstâncias excepcionais o justifiquem, por decisão
devidamente fundamentada, que deve constar da acta da reunião.
4. O presidente, ou quem o substituir, pode impugnar contenciosamente e
requerer a suspensão jurisdicional da eficácia das deliberações tomadas pelo
órgão colectivo a que preside, desde que as considere ilegais.

ARTIGO 22
(Substituição do presidente e secretário)

1. Excepto disposição legal em contrário, o presidente e o secretário de


qualquer órgão colectivo são substituídos, respectivamente, pelo vogal mais
antigo e pelo vogal mais recente no exercício das respectivas funções.
2. Caso os vogais possuam a mesma antiguidade, a substituição faz-se pelo
vogal mais velho e pelo mais jovem, respectivamente.

ARTIGO 23
(Reuniões ordinárias)

1. Na ausência de norma legal ou de deliberação do órgão, compete ao


presidente a fixação dos dias e horas das reuniões ordinárias.
2. Todas as alterações relativas ao dia e hora fixadas para as reuniões devem
ser comunicadas a todos os membros do órgão colectivo, de forma a garantir
o seu conhecimento seguro e atempado.

ARTIGO 24
(Reuniões extraordinárias)

1. As reuniões extraordinárias realizam-se através de convocação do


presidente, salvo disposição especial em sentido diverso.
2. O presidente é obrigado a proceder à convocação sempre que, pelo
menos, um terço dos vogais o solicite por escrito, indicando o assunto que
desejam ver debatido.
3. A convocatória da reunião deve ser feita para um dos dez dias seguintes
à apresentação do pedido, mas sempre com uma antecedência mínima de
quarenta e oito horas relativamente à data da reunião extraordinária.
4. Da convocatória devem constar, de forma expressa, clara e especificada,
as matérias que constituem objecto de análise na reunião.

ARTIGO 25
(Ordem do dia)

1. A ordem do dia de cada reunião é fixada pelo presidente que, salvo


disposição especial em contrário, deve incluir nela as matérias, que para esse
fim lhe forem indicadas por qualquer vogal, desde que sejam da
competência do órgão e o pedido seja apresentado por escrito, com uma
antecedência mínima de cinco dias relativamente à data da reunião.
2. A ordem do dia deve ser entregue a todos os membros com a
antecedência de, pelo menos, quarenta e oito horas no concernente à data
da reunião.
ARTIGO 26
(Objecto das deliberações)

Só podem ser objecto de deliberação as matérias incluídas na ordem do dia


da reunião, excepto se, tratando-se de reunião ordinária, pelo menos dois
terços dos membros reconhecerem a urgência de deliberação imediata
sobre outras matérias.

ARTIGO 27
(Reuniões dos órgãos)

1. As reuniões dos órgãos administrativos não são públicas, excepto


disposição da lei em contrário.
2. Quando as reuniões tenham de ser públicas, deve ser dada a devida e
precisa publicidade aos dias, horas e locais da sua realização, para o
conhecimento dos interessados com uma antecedência de, pelo menos,
quarenta e oito horas.

ARTIGO 28
(Inobservância das disposições sobre a convocação de reuniões)

A inobservância das disposições sobre a convocação de reuniões pode ser


considerada sanada quando todos os membros do órgão compareçam à
reunião e não se oponham à sua realização.

ARTIGO 29
(Quorum)

1. Os órgãos colectivos apenas podem funcionar e deliberar, em primeira


convocação, quando esteja presente a maioria do número legal dos seus
membros com direito de voto.
2. Quando a lei não disponha de forma diferente, não comparecendo o
número de membros exigido, é convocada nova reunião, com o intervalo de,
pelo menos, vinte e quatro horas, podendo o órgão funcionar e deliberar
desde que esteja presente um terço dos membros com direito de voto, em
número não inferior a três, o que deve constar, expressa e claramente, da
convocatória.

ARTIGO 30
(Obrigatoriedade de voto)

É obrigatória a votação de todos os membros dos órgãos colectivos que


estejam presentes à reunião e não se encontrem impedidos de intervir, salvo
disposição expressa em sentido contrário.
ARTIGO 31
(Formas de votação)

1. As deliberações são tomadas por votação nominal, devendo votar, em


primeiro lugar, os vogais e, no fim, o presidente, exceptuada disposição legal
de sentido diverso.
2. São tomadas por escrutínio secreto as deliberações que envolvam a
apreciação do comportamento ou das qualidades de qualquer pessoa.
3. Verificando-se dúvidas sobre a qualificação das deliberações referidas no
número anterior, o órgão colectivo delibera sobre a forma de votação.
4. Sempre que exigida, a fundamentação das deliberações tomadas por
escrutínio secreto deve ser feita pelo presidente do órgão, após a votação,
tendo presente a discussão que a tiver precedido.
5. É vedada a presença, no momento da discussão e da votação, dos
membros do órgão que se encontre ou se considere impedido.

ARTIGO 32
(Maioria exigível nas deliberações)

1. As deliberações são tomadas por maioria absoluta de votos dos membros


presentes na reunião, excepto nos casos em que, por disposição legal, se
exija maioria qualificada ou se mostre suficiente maioria relativa.
2. Se for exigível maioria absoluta e esta não se verificar, nem houver
empate, procede-se imediatamente a nova votação e, se aquela situação se
mantiver, a deliberação é adiada para a reunião seguinte, na qual basta a
maioria relativa.

ARTIGO 33
(Empate na votação)

1. Ocorrendo o empate na votação, o presidente tem voto de qualidade,


excepto nos casos de a votação ter sido efectuada por escrutínio secreto.
2. Havendo empate em votação por escrutínio secreto, procede- -se,
imediatamente, à nova votação e, se o empate se mantiver, é adiada a
deliberação para a reunião seguinte.
3. Se, no caso do número precedente, o empate se mantiver na primeira
votação dessa reunião, procede-se a votação nominal.

ARTIGO 34
(Acta da reunião)

1. É lavrada acta de cada reunião, a qual deve conter um resumo de tudo o


que nela tiver ocorrido, indicando, fundamentalmente, a data e o local da
reunião, os membros presentes, as matérias apreciadas, as deliberações
tomadas e a sua forma, bem como o resultado das respectivas votações.
2. As actas são lavradas pelo secretário e colocadas à aprovação de todos
os membros no final da respectiva reunião ou no início da seguinte, sendo
assinadas, após a aprovação, pelo presidente e pelo secretário.
3. Nos casos em que o órgão assim o delibere, a acta é aprovada, em minuta,
logo na reunião a que disser respeito.
4. As deliberações dos órgãos colectivos só podem ser dotadas de eficácia
depois de aprovadas as respectivas actas ou depois de assinadas as minutas,
nos precisos termos do número anterior.

ARTIGO 35
(Registo na acta do voto de vencido)

1. Os membros do órgão colectivo podem fazer constar da acta o seu voto


de vencido e os motivos que o justificam.
2. Todos aqueles que ficarem vencidos na deliberação tomada e procederem
ao registo da respectiva declaração de voto na acta ficam isentos da
eventual responsabilidade.
3. Tratando-se de pareceres a dar a outros órgãos administrativos, as
deliberações são, sempre, acompanhadas das declarações de voto
efectuadas.

SECÇÃO III
Competência

ARTIGO 36
(Irrenunciabilidade e inalienabilidade)

1. A competência é definida por lei ou por regulamento e é irrenunciável e


inalienável, sem prejuízo do disposto relativamente à delegação de poderes
e à substituição.
2. Os órgãos da Administração Pública têm o poder de praticar os actos
administrativos decorrentes das funções e atribuições definidas nos seus
estatutos e regulamentos.
3. É nulo todo o acto ou contrato que tenha por objecto a renúncia à
titularidade ou ao exercício da competência dada aos órgãos
administrativos, sem prejuízo da delegação de poderes e figuras afins.

ARTIGO 37
(Momento da fixação da competência)

1. A competência fixa-se no momento em que tem início o procedimento,


sendo irrelevantes as modificações de facto que ocorram posteri ormente,
excepto os casos de o órgão territorialmente competente passe a ser outro,
circunstância em que o processo deve ser-lhe remetido oficiosamente.
2. São, igualmente, irrelevantes as modificações de direito, a não ser que seja
extinto o órgão a que o procedimento estava adstrito, se deixar de ser
competente ou se lhe for atribuída a competência de que anteriormente
estivesse carecida.
ARTIGO 38
(Questões prejudiciais)

1. Se a decisão final depender da resolução de uma questão que seja da


competência de outro órgão administrativo ou dos tribunais, deve o órgão
competente para a decisão final suspender o procedimento administrativo
até que o órgão ou o tribunal competente se pronunciem, excepto se da não
resolução imediata da matéria em causa advierem graves prejuízos.
2. Cessa a suspensão:
a) Quando, dependendo a decisão da questão prejudicial da formulação de
pedido pelo interessado, este não o apresentar perante o órgão
administrativo ou o tribunal competente, dentro dos trinta dias seguintes à
notificação da suspensão;
b) Quando o procedimento ou o processo instaurado para conhecimento da
questão prejudicial estiver parado, por culpa do interessado, por mais de
trinta dias;
c) Quando, por circunstâncias supervenientes, a falta de resolução imediata
da matéria em apreço causar graves prejuízos.
3. No caso de não ter sido declarada a suspensão ou se esta cessar, o órgão
administrativo conhece das questões prejudiciais;
no entanto, a respectiva decisão não produz quaisquer efeitos fora do
procedimento em que for proferida.

ARTIGO 39
(Conflitos de competência territorial)

Em caso de dúvida sobre a competência territorial, a entidade que decidir o


conflito designa como competente o órgão cuja localização oferecer, de
acordo com as circunstâncias, maiores vantagens para a boa resolução da
matéria em causa.

ARTIGO 40
(Controlo de competência)

1. Antes de tomar qualquer decisão, o órgão administrativo deve assegurar-


se de que é competente para conhecer da questão.
2. A incompetência deve ser suscitada oficiosamente pelo órgão
administrativo e pode ser deduzida pelos interessados.

ARTIGO 41
(Apresentação de requerimento a órgão incompetente)

1. Sempre que o administrado dirigir requerimento, petição, reclamação ou


recurso a órgão não competente em razão da matéria, este emite despacho
a mandar remeter o expediente ao órgão competente, com conhecimento
do interessado.
2. Se o órgão for incompetente em razão da hierarquia, este deve
oficiosamente remeter o expediente ao órgão competente e informar desse
procedimento ao interessado.
SECÇÃO IV
Delegação de Poderes, Substituição e Acumulação de Funções

ARTIGO 42
(Delegação de poderes)

1. Os órgãos administrativos normalmente competentes para decidir em


determinada matéria podem, sempre que para tal estejam habilitados por
lei, permitir, através de um acto de delegação de poderes, que outro órgão,
funcionário ou agente pratique actos administrativos sobre a mesma
matéria.
2. Através de um acto de delegação de poderes, os órgãos administrativos
competentes para decidir em determinada matéria podem sempre permitir,
independentemente de lei de habilitação, que o seu imediato inferior
hierárquico, adjunto ou substituto pratiquem actos de administração
ordinária nessa matéria.
3. O disposto no número anterior aplica-se, igualmente, para a delegação de
poderes dos órgãos colectivos nos respectivos presidentes, excepto
verificando-se lei de habilitação específica que estabeleça uma particular
distribuição de competências entre os diversos órgãos.

ARTIGO 43
(Subdelegação de poderes)

Excepto disposição legal em contrário, o delegante pode autorizar o


delegado a subdelegar.

ARTIGO 44
(Requisitos do acto de delegação)

1. No acto de delegação ou subdelegação, o órgão delegante ou


subdelegante deve especificar os poderes que são delegados ou
subdelegados ou quais os actos que o delegado ou subdelegado pode
praticar.
2. Os actos de delegação e subdelegação de poderes são publicados no
Boletim da República 1.ª Série, e de órgãos autárquicos, no boletim da
autarquia, devendo ser, também, afixados nos lugares apropriados, nos
casos de inexistência do Boletim.

ARTIGO 45
(Menção da qualidade de delegado ou subdelegado)

O órgão delegado ou subdelegado deve mencionar essa qualidade no uso


da delegação ou subdelegação de poderes.
ARTIGO 46
(Poderes do delegante ou do subdelegante)

1. O órgão delegante ou subdelegante pode emitir directivas ou instruções


vinculativas para o delegado ou subdelegado sobre o modo como devem ser
exercidos os poderes delegados ou subdelegados.
2. O órgão delegante ou subdelegante tem o poder de avocar, bem como o
poder de revogar os actos praticados pelo delegado ou subdelegado ao
abrigo da delegação ou subdelegação, sem prejuízo do disposto no n.º 2 do
artigo 136.

ARTIGO 47
(Extinção da delegação ou subdelegação)

A delegação e a subdelegação de poderes extinguem-se:


a) Por revogação do acto de delegação ou subdelegação;
b) Por caducidade, proveniente de se terem esgotado os seus efeitos ou da
mudança do titular do órgão, funcionário ou agente delegante ou delegado,
subdelegante ou subdelegado.

ARTIGO 48
(Substituição e acumulação)

1. Exceptuado o disposto em lei especial, nos casos de ausência, falta ou


impedimento do titular do cargo, a sua substituição cabe ao substituto legal
ou, na sua falta, ao órgão, funcionário ou agente designado pelo substituído.
2. O exercício de funções em substituição ou acumulação de funções
abrange os poderes delegados ou subdelegados no titular.

SECÇÃO V
Conflitos de Jurisdição, de Atribuições e de Competência

ARTIGO 49
(Competência para a resolução dos conflitos)

1. Os conflitos de jurisdição entre os órgãos de soberania são resolvidos pelo


Conselho Constitucional, nos termos da lei.
2. Os conflitos de competências entre Ministérios são dirimidos pelo
Presidente da República.
3. Os conflitos de jurisdição entre os órgãos da Administração e um Tribunal
são resolvidos pelo tribunal competente, nos termos da lei.
4. Os conflitos de atribuições são resolvidos pelo Tribunal Administrativo e
pelos tribunais administrativos, mediante recurso contencioso, quando
envolvam órgãos de pessoas colectivas diferentes.
5. Os conflitos de competência são resolvidos pelo órgão de menor
categoria hierárquica que exerça poderes de supervisão sobre os órgãos
envolvidos.
ARTIGO 50
(Resolução administrativa dos conflitos)

1. A resolução dos conflitos de competência pode ser solicitada por qualquer


interessado, mediante requerimento fundamentado dirigido à entidade
competente para a decisão do procedimento, e deve ser oficiosamente
suscitada pelos órgãos em conflito, logo que dele tenham conhecimento.
2. O órgão competente para a resolução deve ouvir os órgãos em conflito,
se estes ainda não se tiverem pronunciado, e proferir a decisão, no prazo de
trinta dias.

SECÇÃO VI
Garantias de Imparcialidade

ARTIGO 51
(Impedimentos)

1. O titular de órgão, funcionário ou agente da Administração Pública não


pode intervir em procedimento administrativo, ou em acto ou contrato de
direito público ou privado em que a Administração Pública faz parte, nos
seguintes casos:
a) Quando nele tenha interesse, por si, como representante ou como gestor
de negócios de outra pessoa;
b) Quando, por si, ou como representante ou gestor de negócios de outra
pessoa, nele tenha interesse o seu cônjuge, algum parente ou afim em linha
recta ou até ao 2.° grau da linha colateral, bem como qualquer pessoa com
quem viva em economia comum e ou união de facto, nos termos da lei;
c) Quando, por si, ou como representante de outra pessoa, tenha interesse
em questão semelhante à que deva ser decidida, ou quando tal situação se
verifique em relação à pessoa abrangida pela alínea anterior;
d) Quando tenha intervindo no procedimento como perito ou mandatário ou
haja dado parecer sobre questão a resolver;
e) Quando tenha actuado no procedimento como perito ou mandatário o seu
cônjuge, parente ou afim em linha recta ou até ao 2.° grau da linha colateral,
bem como qualquer pessoa com quem viva em união de facto;
f) Quando contra ele, seu cônjuge ou parente em linha recta esteja intentada
acção judicial proposta por interessado ou pelo respectivo cônjuge;
g) Quando se trate de recurso de decisão proferida por si, ou com a sua
intervenção, ou proferida por qualquer das pessoas referidas na alínea b) ou
com intervenção destas;
h) Quando se trate de questão relativa a um particular que seja membro de
uma associação de defesa de interesses económicos ou afins, da qual
também faça parte o titular do órgão, funcionário ou agente;
i) Quando nele tenha interesse uma sociedade em cujo capital tenha, por si
ou conjuntamente com as pessoas referidas na alínea anterior uma
participação.
2. Excluem-se do disposto no número anterior as intervenções que se
traduzam em actos de mero expediente, designadamente actos
certificativos.
ARTIGO 52
(Arguição e declaração do impedimento)

1. Sempre que se verifique causa de impedimento em relação a qualquer


titular de órgão, funcionário ou agente administrativo, deve o mesmo
comunicar imediatamente o facto ao respectivo superior hierárquico ou ao
presidente do órgão colectivo de que seja titular, consoante os casos.
2. Enquanto não for proferida a decisão definitiva ou praticado o acto,
qualquer interessado pode requerer a declaração do impedimento,
especificando as circunstâncias de facto que constituem a respectiva causa.
3. Cabe ao superior hierárquico ou ao presidente do órgão colectivo
conhecer da existência do impedimento e declará-lo no prazo de oito dias,
ouvido o titular do órgão, funcionário ou agente.
4. Se o impedimento for do presidente do órgão colectivo, a decisão do
incidente compete ao próprio órgão, sem intervenção do presidente.

ARTIGO 53
(Efeitos da arguição do impedimento)

1. O titular do órgão, funcionário ou agente deve suspender a sua actividade


no procedimento a partir da comunicação referida no n.º 1 do artigo anterior
ou do conhecimento do requerimento constante no n.º 2 do mesmo preceito,
até à decisão do incidente, a menos que se verifique ordem escrita em
contrário do respectivo superior hierárquico ou deliberação em contrário do
órgão colectivo.
2. Os impedidos nos termos do n.º 1 do artigo 51 devem tomar as medidas
que forem inadiáveis em caso de urgência ou de perigo, as quais devem ser
ratificadas pela entidade que os substituir.

ARTIGO 54
(Efeitos da declaração do impedimento)

1. Declarado o impedimento do titular do órgão, funcionário ou agente, é o


mesmo substituído imediatamente no procedimento pelo respectivo
substituto legal, excepto no caso do superior hierárquico daquele decidir
avocar o assunto.
2. Sendo órgão colectivo, se não houver ou não puder ser designado
substituto, o órgão funciona sem a presença do membro impedido.

ARTIGO 55
(Fundamentos da escusa e da suspeição)

1. O titular de órgão, funcionário ou agente deve pedir dispensa de intervir


no procedimento quando ocorra circunstância pela qual possa com natural
razoabilidade suspeitar-se da sua isenção ou da rectidão da sua conduta e,
principalmente:
a) Sempre que, por si ou como representante de outra pessoa, nele tenha
interesse parente ou afim em linha recta ou até ao 3.º grau da linha colateral,
ou tutelado ou curatelado dele ou do seu cônjuge ou daquele que viva em
união de facto, nos termos da lei;
b) Sempre que o titular do órgão, funcionário ou agente ou o seu cônjuge,
ou a pessoa com quem viva em união de facto, ou algum parente ou afim na
linha recta, for credor ou devedor de pessoa singular ou colectiva com
interesse directo no procedimento, acto ou contrato;
c) Sempre que tenha havido lugar ao recebimento de dádivas, antes ou
depois de iniciado o procedimento, pelo titular do órgão, funcionário ou
agente, seu cônjuge, ou quem viva em união de facto, parente ou afim em
linha recta;
d) Quando houver inimizade grave ou grande intimidade entre o titular do
órgão, funcionário ou agente, ou o seu cônjuge ou que viva em união de
facto e a pessoa com interesse directo no procedimento, acto ou contrato.
2. Com fundamentos semelhantes aos do n.º 1 do presente artigo e até ser
proferida decisão definitiva, pode qualquer interessado opor suspeição a
titulares de órgãos, funcionários ou agentes que intervenham no
procedimento, acto ou contrato.
3. O pedido de dispensa e o requerimento de suspeição devem indicar com
precisão os factos que os justifiquem.
4. O funcionário ou agente da Administração Pública é sempre ouvido sobre
os requerimentos de suspeição contra ele deduzidos.

ARTIGO 56
(Pedido)

1. Nos casos contemplados no artigo anterior, o pedido deve ser dirigido à


entidade competente para dele conhecer, indicando com precisão e clareza
os factos que o justifiquem.
2. O pedido do titular do órgão, funcionário ou agente apenas é feito por
escrito quando assim for determinado pela entidade a quem for dirigido.
3. Sempre que o pedido seja feito por interessados no procedimento, acto
ou contrato é sempre ouvido o titular do órgão, o funcionário ou o agente
visado.

ARTIGO 57
(Decisão sobre a escusa ou suspeição)

1. A competência para decidir a escusa ou suspeição cabe:


a) Ao superior hierárquico ou ao presidente do órgão colectivo;
b) Ao próprio órgão, sem intervenção do presidente, se se tratar de
impedimento deste.
2. A decisão é proferida no prazo de dez dias.
3. Verificando-se a procedência do pedido, aplica-se o regime previsto nos
artigos 53 e 54.

ARTIGO 58
(Sanção)

Os actos ou contratos em que tiverem intervindo titulares dos órgãos,


funcionários ou agentes impedidos são anuláveis nos termos gerais de
direito, excepto se outra sanção estiver particularmente prevista.
CAPÍTULO V
Interessados

ARTIGO 59
(Intervenção no procedimento administrativo)

1. Todos os administrados têm o direito de intervir pessoalmente no


procedimento administrativo ou de nele se fazer representar ou assistir,
incluindo por meio de advogado, técnico jurídico ou assistente jurídico.
2. A capacidade de intervenção no procedimento, salvo disposição especial,
tem por base e por medida a capacidade de exercício de direitos de acordo
com a lei civil.
3. Ao suprimento da incapacidade é aplicável a legislação civil.

ARTIGO 60
(Legitimidade)

1. Têm legitimidade para iniciar o procedimento administrativo e para


intervir nele os titulares de direitos subjectivos ou interesses legalmente
protegidos lesados pela actuação administrativa, bem como as associações
e as fundações que tenham por fim a defesa desses interesses, no âmbito
das decisões que no processo forem ou possam ser tomadas.
2. Consideram-se, ainda, dotados de legitimidade para a protecção de
interesses difusos:
a) os cidadãos a quem a conduta administrativa cause ou possa
previsivelmente causar prejuízos relevantes em bens fundamentais como a
saúde pública, a habitação, a educação, o património cultural, o ambiente, o
ordenamento do território e a qualidade de vida;
b) os residentes na circunscrição administrativa ou autárquica em que se
localize um bem do domínio público afectado pela acção da Administração.
3. Para defender os interesses difusos de que sejam titulares os residentes
em determinada circunscrição têm legitimidade as associações e as
fundações dedicadas à defesa de tais interesses e os órgãos autárquicos da
respectiva área.
4. Não é possível a reclamação ou o recurso daqueles que, sem reserva,
aceitaram, expressa ou tacitamente, um acto administrativo após a sua
prática.
CAPÍTULO VI
Procedimento administrativo

Secção I
Generalidades

Artigo 61
(Impulso)

O procedimento administrativo começa por iniciativa da Administração ou a


requerimento dos interessados.

ARTIGO 62
(Comunicação aos interessados)

1. O início do procedimento por iniciativa da Administração é comunicado às


pessoas cujos direitos ou interesses legalmente protegidos possam ser
lesados pelos actos a praticar no procedimento e que possam ser desde logo
identificadas.
2. Cessa o dever de comunicação referida no número anterior nos casos em
que a lei a dispense e naqueles em que a mesma possa prejudicar a natureza
secreta ou confidencial da matéria, como tal classificada nos termos legais,
ou a oportuna adopção das providências a que o procedimento se destina.
3. A comunicação deve indicar a entidade que ordenou o início do
procedimento, a data em que o mesmo começou, o serviço por onde o
mesmo corre e o seu objecto.

ARTIGO 63
(Princípio do inquisitório)

Os órgãos administrativos, ainda que o procedimento seja instaurado por


iniciativa dos interessados, podem proceder às diligências que considerem
convenientes para a instrução, mesmo sobre matérias não mencionadas nos
requerimentos ou nas respostas dos interessados, e decidir coisa diferente
ou mais ampla do que a requerida, sempre que o interesse público assim o
exigir.

ARTIGO 64
(Dever de celeridade)

Os órgãos administrativos devem providenciar pelo rápido e eficaz


andamento do procedimento, recusando e evitando tudo o que não for
pertinente ou dilatório, ordenando e promovendo tudo o que for necessário
à continuação do procedimento e à justa e oportuna decisão.
ARTIGO 65
(Audiência dos interessados)

Em qualquer fase do procedimento, podem os órgãos administrativos


ordenar a notificação dos interessados para, no prazo que lhes for fixado, se
pronunciarem sobre qualquer questão.

ARTIGO 66
(Deveres dos interessados)

1. Os interessados têm o dever de não formular pretensões ilegais, não


articular factos contrários à verdade, nem requerer diligências dilatórias.
2. Os interessados têm, também, o dever de prestar a sua colaboração para
o conveniente esclarecimento dos factos e a descoberta da verdade
material.
CAPÍTULO VII
Direito dos interessados à informação

ARTIGO 67
(Direito à informação)

1. Os administrados têm o direito de ser informados pela Administração


Pública, sempre que o requeiram, sobre o andamento dos procedimentos em
que sejam directamente interessados, bem como o direito de conhecer as
resoluções definitivas que forem tomadas.
2. As informações a prestar abrangem a indicação do serviço onde o
processo se encontra, os actos e diligências praticados, as deficiências a
suprir pelos interessados, as decisões adoptadas e quaisquer outros
elementos solicitados.
3. Não podem ser prestadas informações sobre peças ou elementos:
a) Que, nos termos legais, estejam classificados como secretos ou
confidenciais, enquanto tal classificação não for retirada pela entidade
competente;
b) Cujo conhecimento pelos interessados possa comprometer o fim principal
do procedimento ou direitos fundamentais de outras pessoas.
4. As informações solicitadas ao abrigo deste preceito devem ser fornecidas
no prazo máximo de dez dias.
5. A recusa da prestação de informações é sempre fundamentada e, se o
interessado o solicitar, prestada por escrito.

ARTIGO 68
(Consulta do processo e passagem de certidões)

1. Os interessados têm direito de consultar o processo do qual não constem


documentos classificados, ou que revelem segredo comercial ou industrial
ou segredo relativo à propriedade literária, artística ou científica.
2. Os interessados têm o direito, através do pagamento das quantias que
forem devidas, de obter certidão, reprodução ou declaração autenticada dos
documentos que constem dos processos a que tenham acesso.
3. Depende de autorização específica a passagem de certidões que versem
sobre:
a) Correspondência oficial;
b) Informações relativas a assuntos de serviço dadas por funcionários,
excepto se o pedido se destinar a procedimento civil ou criminal em virtude
das mesmas informações;
c) Informações pedidas por funcionários sobre outros funcionários, excepto
se autorizados pelo funcionário a que se referem;
d) Quaisquer peças de processo disciplinar, de inquérito ou de sindicância
em fase de instrução;
e) Assuntos relativos à investigação ou diligência policial.

ARTIGO 69
(Certidões independentes de despacho)

1. Os funcionários ou agentes competentes são obrigados a passar aos


interessados que o requererem, certidão, reprodução ou declaração
autenticada de que constem, conforme o pedido, todos ou alguns dos
seguintes elementos:
a) A data de apresentação de requerimentos, petições, queixas, recursos ou
documentos semelhantes;
b) O conteúdo desses documentos ou a pretensão neles solicitada;
c) O andamento que tiveram ou a situação em que se encontram;
d) A resolução tomada ou a falta de resolução.
2. O dever determinado no número precedente não abrange os documentos
classificados ou que revelem segredo comercial ou industrial ou segredo
relativo à propriedade literária, artística ou científica.
3. As certidões são passadas no prazo máximo de dez dias, contados a partir
da data de entrada do pedido.

ARTIGO 70
(Extensão do direito de informação)

1. Os direitos referidos nos artigos 67 e 68 são extensivos a quaisquer


pessoas que demonstrem ter interesse legítimo no conhecimento dos
elementos que pretendam.
2. O exercício dos direitos a que alude o número anterior depende de
despacho do dirigente do serviço, lançado em requerimento escrito,
instruído com os documentos probatórios do interesse legítimo invocado.
CAPÍTULO VIII
Notificações

ARTIGGO 71
(Dever de notificar)

É obrigatória a notificação aos interessados dos actos administrativos que:


a) Decidam sobre quaisquer pretensões por eles formuladas;
b) Imponham deveres, sujeições ou sanções, ou causem prejuízos;
c) Criem, extingam, aumentem ou diminuam direitos ou interesses
legalmente protegidos, ou afectem as condições do seu exercício.
ARTIGO 72
(Dispensa de notificar)

1. É dispensada a notificação dos actos que sejam praticados oralmente na


presença dos interessados e sempre que o interessado, através de qualquer
intervenção no procedimento, revele perfeito conhecimento do conteúdo
desses actos.
2. Nos casos prevenidos no número anterior, os prazos cuja contagem se
devesse iniciar com a notificação, começam a correr no dia seguinte ao da
prática oral do acto ou no dia seguinte àquele em que ocorrer a intervenção
do interessado no procedimento.

ARTIGO 73
(Conteúdo da notificação)

É obrigatório constar da notificação o texto integral do acto administrativo,


a identificação do procedimento administrativo, incluindo a indicação do
autor do acto e a respectiva data, o órgão competente para apreciar a
impugnação do acto e o prazo para tal efeito.

ARTIGO 74
(Prazo das notificações)

Sempre que não exista prazo especial, o prazo para a notificação do acto
administrativo é de oito dias.

ARTIGO 75
(Forma das notificações)

1. As notificações devem ser feitas pessoalmente ou por ofício, nota,


telegrama, telex, telefax, ou por telefone, de acordo com as possibilidades e
as conveniências.
2. No caso de qualquer das mencionadas formas de notificação pessoal se
revelar impossível ou, ainda, se os interessados a notificar forem
desconhecidos ou em número tal que inviabilize tais formas de notificação,
procede-se à notificação edital, afixando-se editais nos locais habitualmente
usados para o efeito e publicando-se anúncios em dois dos jornais mais lidos
do local da residência ou da sede dos notificados.
3. Sendo a notificação feita por telefone, a mesma é confirmada por uma das
outras formas previstas no n.º 1, no dia útil imediato, sem prejuízo de a
notificação se considerar feita na data da primeira comunicação.
CAPÍTULO IX
Prazos e dilações

ARTIGO 76
(Prazo para conclusão do procedimento)

1. O procedimento deve ser concluído no prazo de vinte e cinco dias, a menos


que outro prazo decorra da lei ou seja imposto por circunstâncias
excepcionais.
2. O prazo referido no n.º 1 pode ser prorrogado por um ou mais períodos,
até ao limite de mais vinte e cinco dias, por autorização do dirigente máximo
do serviço ou do órgão colectivo competente, tendo em conta,
fundamentalmente, a complexidade do procedimento ou a necessidade de
fazer intervir outras entidades.
3. A inobservância dos prazos previstos nos números anteriores deve ser
justificada pelo órgão responsável, perante o dirigente máximo do serviço
ou perante o órgão colectivo competente, nos cinco dias seguintes ao termo
de tais prazos.
4. Os interessados devem ser informados da justificação para a não
conclusão do procedimento nos prazos legais e, sendo previsível, da data
em que a resolução definitiva é tomada.
5. A informação referida no número anterior deve ser feita no prazo de dez
dias, a contar do termo do prazo para a conclusão do procedimento.

ARTIGO 77
(Prazo geral)

1. Na ausência de disposição especial ou de fixação pela Administração, o


prazo para os actos a praticar pelos órgãos administrativos é de quinze dias.
2. É, também, de quinze dias o prazo para os interessados requererem ou
praticarem quaisquer actos, promoverem diligências, responderem sobre as
matérias acerca das quais se devam pronunciar ou exercerem outros poderes
no procedimento.

ARTIGO 78
(Contagem dos prazos)

À contagem dos prazos são aplicáveis as seguintes regras:


a) Não se inclui na contagem o dia em que ocorreu o evento a partir do qual
o prazo começa a correr;
b) O prazo é contínuo e começa a correr independentemente de quaisquer
formalidades;
c) O termo do prazo que se verifique em dia em que o serviço não esteja
aberto ao público, ou não funcione durante o período normal, transfere-se
para primeiro dia útil seguinte.
ARTIGO 79
(Dilação)

1. A dilação tem lugar quando se deve atender à distância e à facilidade de


comunicações e nos seguintes termos:
a) Quinze dias, se os interessados residirem ou se encontrarem fora da área
da sede onde se localiza o respectivo serviço;
b) Trinta dias, se os interessados residirem ou se encontrarem no
estrangeiro.
2. Quando, por motivos de força maior, se registe grave perturbação nos
meios de comunicação com o lugar onde deve ser feita a diligência e ainda
quando as circunstâncias locais tornem, mesmo normalmente,
extremamente demoradas e difíceis as comunicações, pode o órgão
competente, no seu justo critério, ampliar os prazos referidos no número
anterior na medida em que, fundadamente, o julgue necessário.
3. Se se verificar a fixação da dilação, os prazos constantes da lei para o
procedimento administrativo iniciam apenas depois de decorridos os prazos
da dilação fixados.

CAPÍTULO X
Marcha do procedimento

SECÇÃO I
Início

ARTIG 80
(Requerimento)

1. Exceptuados os casos em que a lei admite o pedido de forma verbal, o


requerimento dos interessados deve ser formulado por escrito e deve, entre
outros elementos que se mostrarem necessários, conter:
a) A designação do órgão administrativo a que se dirige;
b) A identificação do requerente, indicando o nome, estado civil, profissão
e domicílio habitual;
c) A exposição dos factos em que se apoia o pedido e, sendo possível, os
respectivos fundamentos de direito;
d) A indicação do pedido, em termos concretos, claros e precisos;
e) A data e a assinatura do requerente, ou de outrem, a seu pedido, se o
mesmo não souber ou não puder assinar.
2. Em cada requerimento não pode ser formulado mais de um pedido, salvo
se se tratar de pedidos alternativos ou subsidiários.
3. O requerimento e todos os documentos subsequentes são redigidos em
termos correctos, claros, concisos e corteses e dirigidos à entidade a que se
destinam de harmonia com a legislação vigente.

ARTIGO 81
(Formulação oral do requerimento)

Sempre que a lei admita a formulação verbal do requerimento, é lavrado


termo para esse efeito, o qual deve conter as menções a que se referem as
alíneas a) a d) do n.º 1 do artigo anterior, deve ser datado e, depois, assinado
pelo requerente e pelo agente que receba o pedido.

ARTIGO 82
(Reconhecimento de assinatura)

1. A assinatura do interessado constante do requerimento pode ser


reconhecida gratuitamente nas repartições públicas onde deva ser entregue,
mediante a apresentação do respectivo bilhete de identidade, ou outro
documento de identificação oficial, cujo número fica registado no
documento do pedido.
2. É dispensado o reconhecimento de assinatura quando o interessado seja
funcionário ou agente do serviço onde apresenta o requerimento.
3. Aplica-se o disposto no número anterior ao interessado que tiver a
assinatura reconhecida em documento anterior relativo ao mesmo assunto
no mesmo serviço.

ARTIGO 83
(Documentos subsequentes)

Na tramitação do expediente os particulares podem, no seu interesse,


submeter outros documentos relevantes sobre o assunto até decisão final.

ARTIGO 84
(Deficiência do requerimento inicial)

1. Quando o requerimento inicial não contenha o disposto no artigo 80, o


requerente é convidado a suprir as deficiências existentes que o órgão
administrativo identificar como tal.
2. Independentemente do disposto no número anterior, os órgãos e agentes
administrativos devem procurar suprir as deficiências dos requerimentos de
modo a evitar que os interessados sofram prejuízos em virtude de simples
irregularidades ou de simples imperfeições na formulação dos pedidos.
3. São indeferidos liminarmente os requerimentos que não contenham a
identificação do requerente e aqueles cujo pedido, após convite para
aclaração, continue ininteligível.

ARTIGO 85
(Apresentação dos requerimentos)

1. Os requerimentos devem ser apresentados aos serviços dos órgãos a que


são dirigidos.
2. Os requerimentos dirigidos aos órgãos centrais podem ser apresentados
nos serviços locais desconcentrados do mesmo ministério ou instituição ou
organismo, quando os interessados residem na área da competência destes.
3. Sempre que os requerimentos sejam dirigidos a órgãos que não
disponham de serviço local correspondente na área de residência do
requerente, aqueles podem ser apresentados às secretarias distritais, de
posto administrativo ou de localidade.
4. Os requerimentos apresentados nos termos dos números anteriores são
remetidos aos órgãos competentes pelo registo do correio no prazo de cinco
dias após o seu recebimento, com a indicação da data em que este ocorreu,
bem como de qualquer informação ou parecer pertinentes, se necessários.
5. Independentemente do disposto nos números anteriores e exceptuada
qualquer disposição em sentido contrário, os requerimentos e demais
documentos dirigidos a órgãos administrativos podem ser remetidos pelo
registo do correio.

ARTIGO 86
(Apresentação de documentos em representações diplomáticas ou
consulares)

1. O requerimento pode, igualmente, ser apresentado nos serviços das


representações diplomáticas ou consulares situadas em país onde residam
ou se encontrem os interessados.
2. As representações diplomáticas ou consulares remetem os requerimentos
aos órgãos a quem sejam dirigidos, indicando a data em que ocorreu o
recebimento.

ARTIGO 87
(Conferência de fotocópias)

1. A conferência de fotocópias pode ser feita gratuitamente nos serviços da


Administração Pública onde devem ser apresentadas sempre que seja
mostrado, simultaneamente, o original do respectivo documento.
2. O funcionário que confirmar a autenticidade da fotocópi a deve declarar
por escrito que confere com o original, datar e assinar.

ARTIGO 88
(Registo de apresentação de requerimentos)

1. A apresentação de requerimentos, qualquer que seja o modo por que se


efectue, é sempre objecto de registo, que deve mencionar o respectivo
número de ordem, a data, o objecto do requerimento, o número de
documentos juntos e o nome do requerente.
2. Os requerimentos são registados segundo a ordem da sua apresentação,
considerando-se simultaneamente apresentados os recebidos pelo correio
na mesma distribuição.
3. O registo é anotado nos requerimentos, mediante a indicação do
respectivo número e data, com a rubrica do agente que a ele procedeu.

ARTIGO 89
(Recibos)

1. De todo o documento apresentado nos serviços da Administração Pública


por particular, é passado o respectivo recibo, quando solicitado ou aposta,
no duplicado ou fotocópia, a declaração de recepção do original, a data e a
assinatura do funcionário que o recebeu.
2. É obrigatoriamente passado o recibo de quaisquer pagamentos
efectuados.
3. Os serviços da Administração Pública devem criar condições necessárias
para que os pagamentos das taxas sejam efectuados directamente pelos
interessados mediante depósito bancário, salvo nos casos em que não
existam instituições bancárias.

ARTIGO 90
(Questões prejudiciais)

1. O órgão administrativo, logo que estejam apurados os elementos


necessários, deve conhecer de qualquer questão que prejudique o
desenvolvimento normal do procedimento administrativo ou impeça a
tomada de decisão sobre o seu objecto e, designadamente, das questões
relativas à incompetência do órgão administrativo, à caducidade do direito
que se pretende exercer, à ilegitimidade dos requerentes e
extemporaneidade do pedido.
2. Sempre que o órgão administrativo entenda que qualquer das questões
enunciadas no número anterior é susceptível de obstar ao conhecimento do
objecto do procedimento, o interessado deve ser informado sobre o sentido
previsível da decisão e seus fundamentos e pode pronunciar-se sobre a
questão no prazo de dez dias.

ARTIGO 91
(Acto definitivo)

1. Um pedido decidido definitivamente pela Administração Pública não pode


ser submetido a nova apreciação e despacho sem que o interessado
apresente novos fundamentos de facto ou de direito em que se apoie o novo
pedido.
2. A submissão de pedido sobre uma questão decidida em definitivo sem
apresentação de novo fundamento de facto ou de direito dá lugar ao
indeferimento liminar do mesmo.

SECÇÃO II
Instrução e Pareceres

ARTIGO 92
(Prazo para instrução)

1. Todo o expediente deve ser apresentado a quem tem competência para


decidir, acompanhado das informações ou pareceres necessários à decisão
final do assunto, no prazo máximo de dez dias contados a partir da data da
sua entrada no serviço competente, salvo se outro prazo estiver legalmente
fixado.
2. O não cumprimento do prazo referido no número anterior deve ser
justificado perante o superior hierárquico respectivo.
3. Não se inclui, no prazo a que se refere o n.º 1 do presente artigo, o período
de tempo indispensável à realização de diligências de natureza externa
necessárias à prática do acto.
4. Na hipótese prevista no número anterior, os serviços devem informar os
interessados do andamento das diligências, quando solicitados.

ARTIGO 93
(Preparação da decisão)

1. Todos os assuntos submetidos à decisão devem ser acompanhados de


informação escrita elaborada pelo funcionário ou agente competente do
serviço, contendo, entre outros, os seguintes elementos:
a) O resumo da matéria sobre a qual versa a questão a ser despachada, se
esta não estiver já previamente resumida;
b) A menção das disposições legais aplicáveis ou sugestão sobre a forma de
suprir a sua omissão, designadamente, resumindo os precedentes de
resolução de situações análogas;
c) Indicação dos aspectos sobre os quais deve incidir a resolução e proposta
de decisão;
d) Data e assinatura do informante.
2. A falta dos requisitos especificados no n.º 1 do presente artigo é
equiparada à falta de informação.
3. Quando o assunto submetido a despacho esteja constituído em processo
do qual já conste informação completa, o agente competente para
despachar pode limitar-se a confirmar aquela, entendendo-se como tal a
aposição de simples “Visto e Concordo” ou meramente “Concordo”.
4. Durante a fase de instrução dos assuntos só pode ser dado conhecimento
aos interessados das formalidades ou exigências legais a cumprir ou
completar e das dúvidas levantadas pela pretensão e que se torna necessário
esclarecer ou completar
ARTIGO 94
(Direcção da instrução)

1. A direcção da instrução cabe ao órgão competente para a decisão,


excepto o disposto nos diplomas orgânicos dos serviços públicos ou em
preceitos especiais.
2. O órgão competente para a decisão pode delegar a competência para a
direcção da instrução em subordinado seu, salvo nos casos em que a lei
imponha a sua direcção pessoal.
3. O órgão competente para dirigir a instrução pode encarregar subordinado
seu para a realização de diligências instrutórias específicas.
4. Nos órgãos colectivos, as delegações previstas no n.º 2 podem ser
conferidas a membros do órgão, funcionário ou a agente dele dependente.

ARTIGO 95
(Factos sujeitos a prova)

1. O órgão competente deve procurar averiguar todos os factos cujo


conhecimento seja conveniente para a justa e rápida decisão do
procedimento, podendo, para o efeito, recorrer a todos os meios de prova
admitidos em direito.
2. Não carecem de prova nem de alegação os factos notórios bem como os
factos de que o órgão competente tenha conhecimento por causa do
exercício das suas funções.
3. O órgão competente deve fazer constar do procedimento os factos de que
tenha conhecimento por causa do exercício das suas competências.

ARTIGO 96
(Ónus da prova)

1. Compete aos interessados provar os factos que tenham alegado,


independentemente do dever atribuído ao órgão competente nos termos do
n.º 1 do artigo anterior.
2. Os interessados podem juntar documentos e pareceres ou requerer
diligências de prova úteis para o esclarecimento dos factos interessantes
para a decisão.
3. As despesas que resultem das diligências de prova são suportadas pelos
interessados que as tiverem requerido, sem prejuízo do disposto no n.º 2 do
artigo 16.

ARTIGO 97
(Solicitação de provas aos interessados)

1. O órgão que dirigir a instrução pode determinar aos interessados a


prestação de informações, a apresentação de documentos ou coisas, a
sujeição a inspecções e a colaboração noutros meios de prova.
2. Quando seja necessária a prestação de informações ou a apresentação de
provas pelos interessados, são estes notificados para o fazerem, por escrito
ou oralmente, no prazo e condições que forem fixados.
3. É legítima a recusa às determinações previstas no número anterior,
sempre que a obediência às mesmas:
a) Envolver a violação de segredo profissional;
b) Implicar o esclarecimento de factos cuja revelação esteja proibida ou
dispensada por lei;
c) Importar a revelação de factos puníveis, praticados pelo próprio
interessado, pelo seu cônjuge ou por quem viva em união de facto, por seu
ascendente ou descendente, irmão ou afim nos mesmos graus;
d) For susceptível de causar dano material ou não material ao próprio
interessado ou a alguma das pessoas referidas na alínea anterior.

ARTIGO 98
(Falta de prestação de provas)

1. No caso de os interessados regularmente notificados para a prática de


qualquer acto previsto no n.º 2 do artigo 97, não derem cumprimento à
notificação, pode proceder-se a nova notificação ou prescindir-se da prática
do acto, consoante as circunstâncias aconselharem.
2. A falta de cumprimento da notificação é livremente apreciada para efeitos
de prova, conforme as circunstâncias do caso, não dispensando o órgão
administrativo de procurar averiguar os factos, nem de proferir a decisão.
3. Sempre que as informações, documentos ou actos solicitados ao
interessado sejam necessários à apreciação do pedido por ele feito, não é
dado andamento ao procedimento, disso se notificando o administrado.
ARTIGO 99
(Realização de exames e outras diligências)

1. Quando seja necessário proceder a exames, vistorias, avaliações ou outras


diligências semelhantes que não possam ser directamente realizadas por
serviços públicos, o órgão que dirigir a instrução pode nomear peritos.
2. Quando sejam nomeados peritos, de acordo com o previsto no número
anterior, podem os interessados indicar os seus em número igual ao da
administração e formular quesitos ou indicar pontos para aqueles se
pronunciarem.
3. O órgão que dirigir a instrução pode excluir do objecto da diligência os
quesitos ou pontos indicados pelos interessados que não se mostrem
necessários à decisão ou tenham por objecto matéria de carácter secreto ou
confidencial.
4. A forma de nomeação de peritos e a sua remuneração são fixadas por
diploma próprio, aplicando-se, subsidiariamente, o disposto no Código de
Processo Civil e na legislação relativa às custas no contencioso
administrativo e no Código das Custas Judiciais.

ARTIGO 100
(Informações, pareceres e despachos)

1. As informações, pareceres e despachos devem ser, sempre que possível,


exarados nos documentos em que se encontra a matéria a que respeitam.
2. As informações, pareceres e despachos dados em separado devem ser
seguidamente enumerados e datados dentro de cada serviço, indicando-se
sempre o respectivo número no documento a que respeitam e elaborando-
se com as suas cópias, volumes anuais.
3. As informações, pareceres e despachos devem ser datados e assinados
pelos seus autores.

ARTIGO 101
(Espécies de pareceres)

1. Os pareceres são obrigatórios ou facultativos, consoante sejam ou não


exigidos por lei, e são vinculativos ou não vinculativos, conforme as
respectivas conclusões tenham ou não de ser seguidas pelo órgão
competente para a decisão.
2. Excepto disposição expressa em contrário, os pareceres referidos na lei
consideram-se obrigatórios e não vinculativos.

ARTIGO 102
(Forma e prazo dos pareceres)

1. Os pareceres devem ser sempre fundamentados e concluir de modo


expresso e claro sobre todas as questões indicadas na consulta.
2. Na ausência de disposição especial, os pareceres são emitidos no prazo
de dez dias, salvo quando o órgão competente para a instrução fixar,
fundamentadamente, prazo diverso.
3. Sempre que um parecer obrigatório e não vinculativo não seja emitido
dentro dos prazos previstos no número anterior, pode o procedimento
prosseguir e vir a ser decidido sem o parecer, excepto disposição legal
expressa em contrário.

ARTIGO 103
(Relatório do instrutor)

Quando o órgão instrutor não for o órgão competente para a decisão final,
elabora um relatório no qual indica o pedido do interessado, resume o
conteúdo do procedimento e formula uma proposta de decisão, sintetizando
as razões de facto e de direito que a fundamentam.

SECÇÃO III
Decisão e Extinção do Procedimento

ARTIGO 104
(Causas de extinção)

O procedimento extingue-se pela tomada da decisão final, bem como por


qualquer dos outros factos previstos nesta Lei.

ARTIGO 105
(Decisão final expressa)

1. Na decisão final expressa, o órgão competente deve resolver todas as


questões pertinentes suscitadas durante o procedimento e que não hajam
sido decididas anteriormente.
2. A decisão final do expediente deve ocorrer no prazo máximo de quinze
dias, contados a partir da data da sua apresentação a despacho.

ARTIGO 106
(Comunicação do despacho)

1. A comunicação do despacho é obrigatória e deve ser apresentada por


escrito aos interessados, com observância do disposto no artigo 75.
2. A comunicação do despacho a particulares faz-se por transcrição ou por
extracto do seu conteúdo, nos termos do artigo 73.
3. A comunicação de informações ou pareceres só pode ser feita se isso for
expressamente determinado no despacho.
4. Quando nas comunicações se faça referência a disposições de carácter
normativo, é obrigatório transcrever a parte que é relevante ou anexar-se
fotocópia do documento que a consubstancia.
5. A consulta do processo pelo particular interessado, quando admissível, só
pode ser feita dentro do horário de trabalho e no local de serviço e em caso
algum dispensa a comunicação referida no n.º 1 do presente artigo.
ARTIGO 107
(Deferimento tácito)

1. Se a decisão não for proferida no prazo estabelecido por lei, as


autorizações ou aprovações solicitadas apenas se consideram concedidas
nos casos em que leis especiais prevejam o deferimento tácito.
2. Quando a lei não fixar prazo especial, o prazo de produção do deferimento
tácito é de vinte e cinco dias, a contar da formulação do pedido ou da
apresentação do processo para esse efeito.
3. Os prazos previstos nos números anteriores suspendem-se sempre que o
procedimento estiver parado por motivo imputável ao interessado.
4. Findos os prazos referidos no número anterior sem que tenha sido tomada
decisão, o órgão competente deve confirmar o deferimento tácito obtido.
5. É nula e de nenhum efeito qualquer outra decisão tomada na mesma data
ou em data posterior à confirmação da autorização tácita obtida nos termos
do n.º 1 do presente artigo.
6. Para efeitos do disposto no n.º 1, a Administração Pública deve, por
diploma próprio, aprovar a lista dos assuntos sujeitos a deferimento tácito e
estabelecer os respectivos prazos para a sua efectiva produção.

ARTIGO 108
(Indeferimento tácito)

1. Independentemente do disposto no artigo anterior, a falta, no prazo fixado


para a sua emissão, de decisão final sobre pretensão dirigida a órgão
administrativo competente confere ao interessado, salvo disposição em
contrário, a faculdade de presumir indeferida essa pretensão, para poder
exercer o respectivo meio legal de impugnação.
2. O prazo a que se refere o número anterior é, salvo o disposto em lei
especial, de vinte e cinco dias.
3. Os prazos referidos no número anterior contam-se, na falta de norma
especial:
a) Da data da entrada do requerimento ou petição no serviço competente,
quando a lei não imponha formalidades especiais para a fase preparatória da
decisão;
b) Do termo do prazo fixado na lei para a conclusão daquelas formalidades
ou, na falta de fixação, do termo dos três meses seguintes à apresentação da
pretensão;
c) Da data do conhecimento da conclusão das mesmas formalidades, se essa
for anterior ao termo do prazo aplicável, de acordo com a alínea anterior.

ARTIGO 109
(Efeitos da falta de despacho)

1. Expirados os prazos para a conclusão do procedimento pode o interessado


requerer, dentro de sessenta dias subsequentes, certidão de despacho ou da
omissão de despacho.
2. Decorrido o prazo de dez dias contados a partir da data da entrada do
pedido de certidão sem que esta seja fornecida, presume-se, para efeitos de
impugnação, indeferida a petição inicial de cujo despacho se solicitou
certidão.
ARTIGO 110
(Outras causas de extinção do procedimento)

1. O procedimento extingue-se quando os interessados, mediante


requerimento escrito, desistam do procedimento ou de alguns dos pedidos
formulados, ou renunciem aos seus direitos ou interesses legalmente
protegidos, excepto se a desistência ou a renúncia não forem permitidas por
lei ou se a Administração Pública entender que o interesse público exige a
sua continuação.
2. O órgão competente para a decisão deve declarar o procedimento extinto:
a) Quando por causa imputável ao interessado este esteja parado por mais
de seis meses, excepto se houver interesse público na decisão do
procedimento;
b) Quando a finalidade a que este se destinava ou o objecto da decisão se
revelarem impossíveis ou inúteis.
3. A deserção prevista na alínea a) do número anterior não extingue o direito
que o particular pretendia fazer valer.

ARTIGO 111
(Falta de pagamento de taxas, emolumentos ou despesas)

1. O procedimento extingue-se, ainda, pela falta de pagamento, no prazo


devido, de quaisquer taxas, emolumentos ou despesas de que a lei faça
depender a realização dos actos do procedimento.
2. Exceptua-se do número anterior, o disposto no n.º 2 do artigo 16.
3. Os interessados podem obstar à extinção do procedimento se realizarem
o pagamento em dobro da quantia em falta nos dez dias seguintes ao termo
do prazo fixado para o seu pagamento.

CAPÍTULO XI
Actividade administrativa

SECÇÃO I
Regulamento

ARTIGO 112
(Âmbito de aplicação)

As normas do presente capítulo aplicam-se a todos os regulamentos da


Administração Pública.

ARTIGO 113
(Pedidos)

1. Os interessados podem apresentar aos órgãos competentes pedidos em


que solicitem a elaboração, modificação ou revogação de regulamentos, os
quais devem ser devidamente fundamentados.
2. A não fundamentação, nos termos do artigo anterior, impede o
conhecimento dos respectivos pedidos.
3. O órgão regulamentar competente deve informar aos interessados do
destino dado aos pedidos feitos, como, ainda, dos fundamentos da posição
que tomar em relação a cada um deles.

ARTIGO 114
(Projecto de regulamento)

Qualquer projecto de regulamento é acompanhado de uma fundamentação,


da qual consta obrigatoriamente a indicação das normas legais e
regulamentares vigentes sobre a matéria, bem como dos estudos, pareceres,
informações e demais elementos que tenham servido de base à sua
elaboração.

ARTIGO 115
(Audiência dos interessados)

1. Se o regulamento contiver a imposição de deveres, sujeições ou encargos,


e sempre que a tal não se oponham motivos de interesse público que, de
qualquer modo, devem ser sempre fundamentados, o órgão regulamentar
competente deve ouvir, em princípio, sobre o respectivo projecto, as
entidades representativas dos interesses afectados, se existirem.
2. No preâmbulo do regulamento deve mencionar-se as entidades ouvidas.

ARTIGO 116
(Apreciação pública)

1. Sempre que a natureza da matéria o permita, o órgão competente deve,


em regra, submeter a apreciação pública, com o fim de recolha de sugestões,
o projecto de regulamento, o qual é, para o efeito, divulgado.
2. A apreciação pública pode ser feita, entre outros que se mostrem
adequados, por via de reunião, seminários, conferências, teleconferências e
com recurso às demais tecnologias de informação e comunicação.
3. Os interessados devem dirigir, por escrito as suas sugestões ao órgão com
competência regulamentar, dentro do prazo de trinta dias, a contar da data
da efectiva publicação do projecto de regulamento.
4. No preâmbulo do regulamento faz-se, igualmente, menção de que o
respectivo projecto foi objecto de apreciação pública, sempre que tal
ocorrer.

ARTIGO 117
(Regulamentos de execução e revogatórios)

1. Os regulamentos necessários à execução das leis em vigor não podem ser


objecto de revogação global sem que a matéria seja, simultaneamente,
objecto de nova regulamentação.
2. Nos regulamentos faz-se sempre menção especificada das normas
revogadas.

CAPÍTULO XII
Actos administrativos

Secção I
Validade do Acto Administrativo

ARTIGO 118
(Condição, termo ou modo)

Os actos administrativos podem ser sujeitos a condição, termo ou modo, a


menos que estes elementos acessórios sejam contrários à lei ou ao fim a que
o acto se destina.

ARTIGO 119
(Forma dos actos)

1. Os actos administrativos devem ser praticados por escrito, desde que


outra forma não seja particularmente prevista por lei ou imposta pela
natureza e circunstâncias do acto.
2. Relativamente aos actos de órgãos colectivos, a forma escrita só é
obrigatória quando a lei expressamente a determinar no entanto, os actos
não submetidos a forma escrita devem constar sempre da respectiva acta,
sem o que não podem produzir efeitos.

ARTIGO 120
(Indicações obrigatórias)

1. Independentemente de outras referências particularmente exigidas,


devem sempre constar do acto:
a) A indicação da autoridade que o praticou;
b) A menção da delegação ou subdelegação de poderes, quando tal se
verifique;
c) A identificação completa do destinatário ou destinatários;
d) A enunciação dos factos ou actos que lhe deram origem, desde que
relevantes;
e) A fundamentação, quando exigível;
f) O conteúdo ou o sentido da decisão e o respectivo objecto;
g) A data da sua prática;
h) A assinatura do autor do acto ou do presidente do órgão colectivo donde
provenha.
2. Todas as indicações exigidas no número anterior devem ser enunciadas
de forma clara, precisa e completa, de modo a poderem determinar-se
inequivocamente, o seu sentido e alcance e os efeitos jurídicos do acto
administrativo.
ARTIGO 121
(Dever de fundamentação)

1. Independentemente dos casos em que a lei particularmente determine,


devem ser fundamentados os actos administrativos que, total ou
parcialmente:
a) Neguem, extingam, restrinjam ou afectem, por qualquer modo, direitos ou
interesses legalmente protegidos, ou imponham ou agravem deveres,
encargos ou sanções;
b) Decidam reclamação ou recurso;
c) Decidam em contrário de pretensão ou oposição formulada por
interessado;
d) Decidam em sentido inverso de parecer, informação ou proposta oficial;
e) Decidam diferentemente da prática habitual seguida na resolução de
casos semelhantes, ou na interpretação e aplicação dos mesmos princípios
ou preceitos legais;
f) Impliquem a revogação, a modificação ou a suspensão de acto
administrativo anterior.
2. Exceptuada disposição legal em contrário, não carecem de ser
fundamentados os seguintes actos:
a) Cessação de exercício de funções de direcção, chefia, confiança ou
equiparadas;
b) Homologação de deliberações tomadas por júris;
c) Ordens legítimas dadas pelos superiores hierárquicos aos seus inferiores
em matéria de serviço e na forma legal.

ARTIGO 122
(Pressupostos da fundamentação)

1. A fundamentação deve ser expressa, através de resumida exposição dos


fundamentos de facto e de direito da decisão, podendo consistir em simples
declaração de concordância com os fundamentos de anteriores pareceres,
informações ou propostas que constituem, neste caso, parte integrante do
respectivo acto.
2. É equiparada à falta de fundamentação a adopção de fundamentos que,
por obscuridade, contradição ou insuficiência, não esclarecem
concretamente a exacta motivação do acto.

ARTIGO 123
(Fundamentação de actos orais)

1. A fundamentação dos actos orais abrangidos pelo n.º 1 do artigo 121 que
não constem de acta, deve, a requerimento dos interessados e para efeito
de impugnação, ser reduzida a escrito e comunicada integralmente àqueles,
no prazo de quinze dias, mediante a expedição de ofício sob registo do
correio ou de entrega de notificação pessoal, a cumprir no mesmo prazo.
2. O não exercício pelos interessados da faculdade constante do número
anterior não afecta os efeitos da eventual falta de fundamentação do acto.
SECÇÃO II
Eficácia do Acto Administrativo

ARTIGO 124
(Norma geral)

1. O acto administrativo produz os seus efeitos desde a data em que for


praticado, excepto quando a lei ou o próprio acto lhe atribua eficácia
retroactiva ou diferida.
2. Para os efeitos do disposto no número anterior, o acto considera-se
praticado logo que estejam preenchidos os seus elementos essenciais e ou
acessório, conforme os casos, não obstando à sua perfeição, para esse fim,
qualquer motivo determinante de anulabilidade.

ARTIGO 125
(Eficácia retroactiva)

1. Estão dotados de eficácia retroactiva:


a) Os actos administrativos meramente interpretativos de actos anteriores;
b) Os actos administrativos que executem decisões dos tribunais, anulatórias
de actos administrativos, excepto se forem actos renováveis;
c) Os actos administrativos a que a lei atribua tal efeito.
2. Para além dos casos referidos no número anterior, o autor do acto
administrativo apenas pode atribuir-lhe eficácia retroactiva:
a) Quando a retroactividade seja favorável para os interessados e não lese
direitos ou interesses legalmente protegidos de terceiros, desde que, à data
a que se pretende fazer valer a eficácia do acto, já existissem os
pressupostos justificativos da retroactividade;
b) Quando estejam em causa decisões revogatórias de actos administrativos
tomadas por órgãos ou agentes que os praticaram, na sequência de
reclamação ou recurso hierárquico;
c) Nos casos em que a lei o permitir.

ARTIGO 126
(Eficácia futura ou diferida)

O acto administrativo tem eficácia futura ou diferida:


a) Quando estiver sujeito a aprovação;
b) Quando os seus efeitos ficarem sujeitos a condição suspensiva ou termo
suspensivo;
c) Quando os seus efeitos, pela natureza do acto ou por disposição legal,
dependerem da verificação de qualquer requisito que não respeite à
validade do próprio acto.
ARTIGO 127
(Publicidade obrigatória)

1. Apenas é obrigatória a publicidade dos actos administrativos quando


determinada por lei.
2. A falta de publicidade dos actos, quando legalmente exigida, implica a sua
ineficácia.
3. Sempre que a lei determinar a publicação do acto mas não regular os
respectivos termos, deve a mesma ser feita no Boletim da República, 2.ª
Série, no prazo de trinta dias, e conter todos os elementos referidos no n.º 1
do artigo 120 da presente Lei, devendo, quando possível, os fundamentos da
decisão constar da publicação, ainda que por extracto.

ARTIGO 128
(Eficácia dos actos constitutivos de deveres ou encargos)

1. Os actos que tenham por objecto deveres ou encargos para os


administrados e não se encontrem sujeitos a publicação começam a produzir
efeitos a partir da sua notificação aos destinatários, ou de outra forma do
seu conhecimento oficial, ou do começo de execução do acto.
2. Presume-se o conhecimento oficial sempre que o interessado intervenha
no procedimento administrativo e aí revele perfeito conhecimento do
conteúdo do acto.
3. Considera-se, apenas, para os fins do disposto no n.º 1, começo de
execução o início da produção de quaisquer efeitos que atinjam os
destinatários.

SECÇÃO III
Invalidade do Acto Administrativo

ARTIGO 129
(Actos nulos)

1. São nulos os actos a que falte qualquer dos elementos essenciais ou para
os quais a lei imponha expressamente essa forma de invalidade.
2. Constituem, fundamentalmente, actos nulos:
a) Os actos inquinados de usurpação de poder;
b) Os actos que careçam de fundamentação nos termos do n.º 1 do artigo 121
da presente Lei;
c) Os actos estranhos às atribuições dos ministérios ou das pessoas
colectivas constantes do artigo 20 da presente Lei, em que o seu autor se
integre;
d) Os actos cujo objecto seja impossível, ininteligível ou constitua um crime;
e) Os actos que ofendam o conteúdo essencial de um direito fundamental;
f) Os actos praticados sob coacção física ou moral;
g) Os actos que careçam em absoluto de forma legal;
h) As deliberações dos órgãos colectivos que forem tomadas
amotinadamente ou com inobservância do quórum ou da maioria legalmente
exigidos;
i) Os actos que ofendam os casos julgados;
j) Os actos consequentes de actos administrativos anteriormente anulados
ou revogados, desde que não haja contra-interessados com interesse
legítimo na manutenção do acto consequente.

ARTIGO 130
(Regime da nulidade)

1. Independentemente da declaração de nulidade, o acto nulo não produz


quaisquer efeitos jurídicos.
2. A nulidade é invocável a todo o tempo por qualquer interessado e pode
ser declarada, também, a todo o tempo, por qualquer órgão administrativo
ou por qualquer tribunal.
3. O disposto nos números anteriores não exclui a possibilidade de
atribuição de determinados efeitos jurídicos a situações de facto
decorrentes de actos nulos, por força do mero decurso do tempo, de acordo
com os princípios gerais de direito.

ARTIGO 131
(Actos anuláveis)

São anuláveis os actos administrativos praticados com ofensa dos princípios


ou normas jurídicas aplicáveis e, no caso de violação, não esteja prevista
outra sanção.

ARTIGO 132
(Regime da anulabilidade)

1. O acto anulável pode ser revogado nos termos precisos do artigo 137 da
presente Lei.
2. O acto anulável é susceptível de recurso para os tribunais, nos termos da
legislação reguladora do Processo Administrativo Contencioso e da
Legislação Orgânica do Tribunal Administrativo e dos tribunais
administrativos.

ARTIGO 133
(Ratificação, reforma e conversão)

1. Os actos nulos ou juridicamente inexistentes não são susceptíveis de


ratificação, reforma e conversão.
2. Aplicam-se à ratificação, reforma e conversão dos actos administrativos
anuláveis as normas que regulam a competência para a revogação dos actos
inválidos e a sua tempestividade.
3. Verificando-se a incompetência, o poder de ratificar o acto compete ao
órgão competente para a sua prática.
4. A menos que se tenha verificado alteração ao regime legal, os efeitos da
ratificação, reforma e conversão retroagem à data dos actos a que se
referem.
SECÇÃO IV
Revogação do Acto Administrativo

ARTIGO 134
(Impulso procedimental)

Os actos administrativos podem ser revogados por iniciativa dos órgãos


competentes, ou a pedido dos interessados, mediante reclamação ou
recurso administrativo.

ARTIGO 135
(Actos insusceptíveis de revogação)

1. São insusceptíveis de revogação:


a) Os actos nulos;
b) Os actos anulados contenciosamente;
c) Os actos revogados com eficácia retroactiva.
2. Podem ser objecto de revogação, com eficácia retroactiva, os actos cujos
efeitos tenham caducado ou se encontrem esgotados.

ARTIGO 136
(Revogabilidade de actos válidos)

1. Os actos administrativos válidos são livremente revogáveis, salvo nos


seguintes casos:
a) Quando a sua irrevogabilidade resultar de vinculação legal;
b) Quando forem constitutivos de direitos ou de interesses legalmente
protegidos;
c) Quando deles resultem para a Administração obrigações legais ou direitos
irrenunciáveis.
2. Os actos constitutivos de direitos ou interesses legalmente protegidos são
revogáveis na parte em que sejam desfavoráveis aos interesses dos seus
destinatários, bem como quando todos os interessados dêem a sua
concordância à revogação do acto e não se trate de direitos ou interesses
indisponíveis.

ARTIGO 137
(Revogabilidade de actos anuláveis)

1. Os actos administrativos anuláveis só podem ser revogados com


fundamento na sua invalidade e dentro do prazo do respectivo recurso
administrativo contencioso ou até à resposta da entidade recorrida.
2. Se houver prazos diferentes para o recurso administrativo contencioso,
atende-se ao que terminar em último lugar.
ARTIGO 138
(Competência para a revogação)

1. Excepto disposição especial, são competentes para a revogação dos actos


administrativos, além dos seus autores, os respectivos superiores
hierárquicos, desde que não se trate de acto da competência exclusiva do
inferior hierárquico.
2. Os actos administrativos praticados por delegação ou subdelegação de
poderes podem ser revogados pelo órgão delegante ou subdelegante, bem
como pelo delegado ou subdelegado enquanto vigorar a delegação ou
subdelegação.
3. Os actos administrativos praticados por órgãos sujeitos a tutela
administrativa só podem ser revogados pelos órgãos tutelares nos casos
expressamente permitidos por lei.

ARTIGO 139
(Forma dos actos de revogação)

1. Excepto disposição especial, o acto de revogação deve revestir a forma


legalmente determinada para o acto revogado.
2. O acto de revogação deve revestir a mesma forma que tiver sido utilizada
na prática do acto revogado, quando a lei não estabelecer forma alguma
para este, ou no caso de o acto revogado possuir forma mais solene que a
legalmente fixada.
3. Aplicam-se à revogação as formalidades exigidas para a prática do acto
revogado, excepto quando a lei disponha de forma diferente.

ARTIGO 140
(Efeitos da revogação)

1. A revogação de actos administrativos apenas produz efeitos para o futuro,


excepto o disposto nos números que se seguem.
2. A revogação tem efeito retroactivo quando se fundamente na invalidade
do acto revogado.
3. O autor da revogação pode, no próprio acto, atribuir-lhe efeito retroactivo
desde que seja favorável aos interessados e no caso de todos os
interessados terem concordado expressamente com a retroactividade dos
efeitos e estes não respeitem a direitos ou interesses indisponíveis.

ARTIGO 141
(Efeitos repristinatórios da revogação)

A revogação de um acto revogatório só produz efeitos repristinatórios se a


lei ou acto de revogação o determinarem expressamente.
ARTIGO 142
(Rectificação dos actos administrativos)

1. Os erros de cálculo e os erros materiais verificados na expressão da


vontade do órgão administrativo, quando manifestos, podem ser
rectificados, a todo o tempo, pelos órgãos competentes para a revogação
do acto.
2. A rectificação pode ter lugar oficiosamente pelos órgãos competentes ou
a pedido dos interessados, tem efeitos retroactivos e deve ser feita sob a
forma e com a publicidade utilizadas para a prática do acto rectificado.

SECÇÃO V
Execução do Acto Administrativo

ARTIGO 143
(Executoriedade)

1. Os actos administrativos são executórios, desde que se mostrem aptos


para a produção dos seus efeitos.
2. O cumprimento das obrigações e o respeito pelas limitações que derivam
de um acto administrativo podem ser impostos coercivamente pela
Administração sem recurso prévio aos tribunais, desde que a imposição seja
feita pelas formas e nos termos admitidos por lei.
3. O cumprimento das obrigações pecuniárias resultantes de actos
administrativos pode ser exigido pela Administração, mediante o regime
jurídico previsto na presente Lei, relativo à execução para pagamento de
quantia certa.

ARTIGO 144
(Actos não executórios)

Constituem actos não executórios:


a) Os actos com eficácia suspensiva;
b) Os actos de que tenha sido interposto recurso com efeito suspensivo;
c) Os actos sujeitos a aprovação;
d) Os actos confirmativos de actos executórios.

ARTIGO 145
(Suspensão da eficácia do acto administrativo)

A eficácia do acto administrativo pode ser suspensa pelos órgãos


competentes para a sua revogação e pelos órgãos que exercem a tutela
administrativa a quem seja dado tal poder e ainda pelos tribunais
competentes no âmbito da legislação do processo administrativo
contencioso e da legislação relativa ao Tribunal Administrativo e aos
tribunais administrativos.
ARTIGO 146
(Legalidade da execução)

1. Exceptuados os casos de estado de necessidade, os órgãos da


Administração Pública não podem praticar nenhum acto ou operação
material de que resulte limitação de direitos subjectivos ou interesses
legítimos dos particulares, sem terem praticado previamente o acto
administrativo que fundamente tal actuação.
2. Na execução dos actos administrativos devem, na medida do possível, ser
utilizados os meios que, garantindo a realização integral dos seus objectivos,
envolvam menor prejuízo para os direitos e interesses dos administrados.
3. Os interessados podem impugnar, administrativa e contenciosamente, os
actos ou operações de execução que excedam os limites do acto exequendo.
4. São igualmente susceptíveis de recurso contencioso os actos ou
operações de execução arguidos de ilegalidade, desde que esta não seja
consequência da ilegalidade do acto exequendo.

ARTIGO 147
(Notificação da execução)

1. A decisão de proceder à execução administrativa é sempre notificada ao


seu destinatário antes do respectivo início.
2. O órgão administrativo pode fazer a notificação da execução
conjuntamente com a notificação do acto definitivo e executório.
3. Devem constar da notificação as cominações em que o notificando incorre
em caso de incumprimento de ordem que lhe seja transmitida através da
notificação.

ARTIGO 148
(Limitação de embargos)

Não são admitidos embargos administrativos ou judiciais em relação à


execução coerciva dos actos administrativos, sem prejuízo do disposto na
lei em matéria de suspensão da eficácia dos actos.
ARTIGO 149
(Objectivos da execução)

A execução pode ter por fim o pagamento de quantia certa, a entrega de


coisa certa ou a prestação de um facto.
ARTIGO 150
(Execução para pagamento de quantia certa)

1. Sempre que, por força de um acto administrativo, devam ser pagas a uma
pessoa colectiva pública ou por ordem desta, prestações pecuniárias, segue-
se, na falta de pagamento voluntário no prazo fixado, o processo de
execução fiscal nos termos da respectiva legislação.
2. Para o efeito, o órgão administrativo competente emite, nos termos legais,
uma certidão, com valor de título executivo, que envia, juntamente com o
processo administrativo, à direcção dos serviços de finanças respectiva.
3. Tem lugar o processo referido no n.º 1 do presente artigo sempre que, na
execução de actos fungíveis, estes forem realizados por pessoa diversa do
respectivo responsável.
4. No caso previsto no número anterior, a Administração pode optar por
realizar directamente os actos de execução ou por encarregar terceiro de os
praticar, ficando todas as despesas, incluindo indemnizações e sanções
pecuniárias, á expensas do obrigado responsável.
ARTIGO 151
(Execução para entrega de coisa certa)

Se o obrigado não fizer a entrega da coisa que a Administração devia


receber, o órgão competente procede às diligências necessárias para a
tomada da posse administrativa da coisa devida.

ARTIGO 152
(Execução para prestação de facto)

1. Sendo a execução para prestação de facto fungível, a Administração


notifica o responsável para proceder à prática do acto devido, fixando um
prazo razoável para o cumprimento respectivo.
2. Se o obrigado responsável não cumprir dentro do prazo fixado, a
Administração pode optar por realizar a execução directamente ou por
intermédio de terceiro, ficando neste caso todas as despesas, incluindo
indemnizações e sanções pecuniárias, á expensas do obrigado.
3. As obrigações positivas de prestação de facto não fungível só podem ser
objecto de coacção directa sobre as pessoas obrigadas nos casos
expressamente previstos na lei, e sempre com observância dos direitos
fundamentais dos cidadãos e do respeito pela pessoa humana.

CAPÍTULO XIII
Impugnações

SECÇÃO I
Aspectos Gerais

ARTIGO 153
(Norma geral)

1. Os particulares têm o direito de requerer a revogação ou a alteração dos


actos administrativos, nos termos da presente Lei.
2. O direito referido no número anterior pode ser exercido por:
a) Reclamação para o autor do acto;
b) Recurso para o superior hierárquico do autor do acto, para o órgão
colectivo de que este seja membro, ou para o delegante ou subdelegante;
c) Recurso para o órgão que exerça poderes de tutela ou de
superintendência sobre o autor do acto;
d) Recurso de revisão.
3. É assegurado aos cidadãos interessados o direito do recurso contencioso
fundado em ilegalidade de actos administrativos, desde que prejudiquem os
seus direitos.
4. A impugnação contenciosa segue os termos estabelecidos na lei do
processo contencioso administrativo.

ARTIGO 154
(Fundamentos da impugnação)

Excepto preceito em contrário, as reclamações e os recursos podem ter por


fundamento a ilegalidade, a inconveniência ou a inoportunidade do acto
administrativo impugnado.

ARTIGO 155
(Legitimidade)

1. Dispõem de legitimidade para reclamar ou recorrer os titulares de direitos


subjectivos ou interesses legítimos que se considerem lesados pelo acto
administrativo.
2. Igualmente, possuem legitimidade para a protecção de interesses difusos:
a) Os cidadãos aos quais a conduta administrativa cause ou possa
previsivelmente causar prejuízos relevantes em bens fundamentais como a
saúde pública, a habitação, a educação, o património cultural, o ambiente, o
ordenamento do território e a qualidade de vida;
b) Os residentes na circunscrição administrativa ou autárquica em que se
localize um bem do domínio público lesado por comportamento da
Administração.
3. Com a finalidade de defender os interesses difusos de que sejam titulares
os residentes em determinada circunscrição administrativa ou autárquica,
estão dotadas de legitimidade as associações afectas à defesa desses
interesses e os órgãos autárquicos da respectiva área.

ARTIGO 156
(Aceitação do acto)

Não podem reclamar nem recorrer aqueles que, sem reserva aceitaram,
expressa ou tacitamente, um acto administrativo após a sua prática.

SECÇÃO II
Reclamação

ARTIGO 157
(Princípio geral)

1. Pode reclamar-se de qualquer acto administrativo, excepto disposição


legal em contrário.
2. Não é possível reclamar-se de acto que decida anterior reclamação ou
recurso administrativo, a não ser com fundamento em omissão de pronúncia.
ARTIGO 158
(Prazo da reclamação)

Salvo o disposto em lei especial, a reclamação deve ser apresentada no


prazo de quinze dias a contar:
a) Da notificação do acto;
b) Da data em que o interessado tiver conhecimento do acto.

ARTIGO 159
(Efeitos da reclamação)

1. A reclamação não tem efeito suspensivo, exceptuando os casos em que a


lei disponha em contrário ou quando o autor do acto, oficiosamente ou a
pedido dos interessados, considere que a execução imediata do acto causa
prejuízos irreparáveis ou de difícil reparação ao seu destinatário.
2. A suspensão da execução a pedido dos interessados deve ser requerida à
entidade competente para decidir no prazo de cinco dias, a contar da data
em que o processo lhe for apresentado.
3. Na apreciação do pedido deve verificar-se se as provas revelam uma
probabilidade séria de veracidade dos factos alegados pelos interessados,
devendo decretar-se, em caso afirmativo, a suspensão da eficácia.
4. O disposto nos números anteriores não prejudica o pedido de suspensão
de eficácia perante o Tribunal Administrativo e os tribunais administrativos,
nos termos da Lei do Processo Administrativo Contencioso, bem como da
Lei Orgânica da Jurisdição Administrativa.

ARTIGO 160
(Suspensão do prazo)

1. A reclamação suspende e interrompe os prazos de interposição de recurso.


2. O prazo de interposição de recurso começa a contar a partir da data da
notificação da decisão da reclamação.

ARTIGO 161
(Prazo para a decisão)

Salvo o disposto em legislação especial, o prazo para o órgão competente


apreciar e decidir a reclamação é de dez dias, contados a partir da data da
sua apresentação a despacho para tal efeito.
SECÇÃO III
Recurso Hierárquico

ARTIGO 162
(Objecto)

Podem ser objecto de recurso hierárquico todos os actos administrativos


praticados por órgãos sujeitos aos poderes hierárquicos de outros órgãos,
desde que a lei não exclua essa possibilidade.

ARTIGO 163
(Âmbito)

No recurso hierárquico podem ser apreciados tanto a ilegalidade como a


inconveniência ou a inoportunidade do acto recorrido.

ARTIGO 164
(Prazos de interposição)

1. O recurso hierárquico de actos nulos ou juridicamente inexistentes pode


ser interposto a todo o tempo.
2. O recurso de actos anuláveis é interposto no prazo de noventa dias, salvo
o caso de indeferimento tácito, em que o prazo é de um ano.

ARTIGO 165
(Interposição)

1. O recurso hierárquico interpõe-se por meio de requerimento no qual o


recorrente deve expor todos os fundamentos do recurso, podendo juntar os
documentos que tenha por convenientes.
2. O recurso é dirigido ao mais elevado superior hierárquico do autor do
acto, excepto se a competência para a decisão se encontrar delegada ou
subdelegada.
3. O requerimento de interposição do recurso pode ser apresentado ao autor
do acto ou à autoridade a quem o mesmo seja dirigido.

ARTIGO 166
(Efeitos)

1. O órgão competente para apreciar o recurso pode revogar a decisão, ou


tomá-la quando o autor do acto o não tenha feito.
2. O recurso hierárquico suspende a eficácia do acto recorrido.
ARTIGO 167
(Notificação dos contra-interessados)

Interposto o recurso, o órgão competente para dele conhecer deve notificar


aqueles que possam ser prejudicados pela sua procedência para alegarem,
no prazo de quinze dias, o que tiverem por conveniente sobre o pedido e os
seus fundamentos.

ARTIGO 168
(Intervenção do autor do acto)

1. Após a notificação a que se refere o artigo anterior ou, se a ela não houver
lugar, logo que interposto o recurso, começa a correr um prazo de dez dias,
dentro do qual o autor do acto recorrido se deve pronunciar sobre o recurso
e remetê-lo ao órgão competente para dele conhecer, notificando o
recorrente da remessa do processo.
2. Quando os contra-interessados não tenham deduzido oposição e os
elementos constantes do procedimento demonstrem suficientemente a
procedência do recurso, pode o autor do acto recorrido revogar, modificar
ou substituir o acto de acordo com o pedido do recorrente, informando da
sua decisão o órgão competente para conhecer do recurso.

ARTIGO 169
(Rejeição do recurso)

O recurso deve ser rejeitado nos seguintes casos:


a) Quando o acto impugnado seja insusceptível de recurso;
b) Quando o recorrente não tenha legitimidade;
c) Quando o recurso seja interposto fora do prazo;
d) Quando ocorra qualquer outra causa que impeça o conhecimento do
recurso.

ARTIGO 170
(Decisão)

1. O órgão competente para conhecer do recurso pode, sem submissão ao


pedido do recorrente, exceptuadas as excepções previstas na lei, confirmar
ou revogar o acto recorrido, se a competência do autor do acto recorrido
não for exclusiva, pode também modificá-lo ou substituí-lo.
2. O órgão competente para decidir o recurso pode, se for o caso, anular, no
todo ou em parte, o procedimento administrativo e determinar a realização
de nova instrução ou de diligências complementares.

ARTIGO 171
(Prazo para a decisão)

1. Sempre que a lei não fixe prazo diferente, o recurso hierárquico deve ser
decidido no prazo de quinze dias, contado a partir da apresentação do
processo ao órgão competente para dele conhecer, nos termos do disposto
no n.º 1 do artigo 168 da presente Lei.
2. O prazo referido no número anterior é elevado até ao máximo de trinta
dias quando haja lugar a realização de nova instrução ou de diligências
complementares.

SECÇÃO IV
Recurso Hierárquico Impróprio, Recurso Tutelar e Recurso de Revisão

ARTIGO 172
(Recurso hierárquico impróprio)

1. O recurso hierárquico diz-se impróprio quando interposto para um órgão


que exerça poder de supervisão sobre outro órgão da mesma pessoa
colectiva, fora do âmbito da hierarquia administrativa.
2. Nos casos expressamente previstos na lei, também cabe recurso
hierárquico impróprio para os órgãos colectivos em relação aos actos
administrativos praticados por qualquer dos seus membros.
3. Aplicam-se ao recurso hierárquico impróprio, as disposições reguladoras
do recurso hierárquico, com as devidas adaptações.

ARTIGO 173
(Recurso tutelar)

1. O recurso tutelar tem por objecto actos administrativos praticados por


pessoas colectivas públicas sujeitas a tutela ou superintendência.
2. O recurso tutelar existe, apenas, nos casos expressamente previstos na lei
e tem, excepto norma em contrário, carácter facultativo.
3. O recurso tutelar apenas pode ter por fundamento a inconveniência ou a
inoportunidade do acto recorrido nos casos em que a lei determine a tutela
de mérito.
4. A modificação ou substituição do acto recorrido só é possível se a lei fixar
poderes de tutela substitutiva e no âmbito de tais poderes.
5. Aplicam-se ao recurso tutelar as normas reguladoras do recurso
hierárquico, na parte em que não contrariem a natureza própria daquele e o
respeito devido à autonomia da entidade tutelada.

ARTIGO 174
(Recurso de revisão)

1. A revisão de decisão administrativa pode ser requerida até cento e oitenta


dias, contados da data em que o interessado obteve o conhecimento dos
novos factos que servem de fundamento.
2. Se for competente o órgão a quem é dirigido o pedido referido no número
anterior, verifica se as circunstâncias indicadas no requerimento são
realmente novas e se ele está devidamente instruído.
3. Antes da decisão, o pedido é objecto de informação dos serviços,
podendo ser submetido a parecer jurídico ou de qualquer órgão consultivo
reputado idóneo por aqueles.
ARTIGO 175
(Petição, queixa ou reclamação ao Provedor de Justiça)

1. Os cidadãos, individual ou colectivamente, podem apresentar petições,


queixas ou reclamações por actos ou omissões dos poderes públicos ao
Provedor de Justiça, que as aprecia, sem poder decisório, dirigindo aos
órgãos competentes as necessárias recomendações para prevenir e reparar
as injustiças.
2. A actividade do Provedor de Justiça pode, ainda, ser exercida por
iniciativa própria, nos casos de violação dos direitos, liberdades e garantias
fundamentais dos cidadãos e é independente dos meios graciosos previstos
na Constituição da República e na lei.
3. O direito referido no n.º 1 do presente artigo é extensivo aos estrangeiros
apátridas, quando se trate de defesa dos seus próprios direitos ou interesses.
4. A petição, queixa ou reclamação ao Provedor de Justiça é exercida nos
termos da legislação relativa ao âmbito de actuação, ao estatuto, às
competências e ao processo de funcionamento do Provedor de Justiça.

CAPÍTULO XIV
Contrato administrativo

ARTIGO 176
(Conceito de contrato administrativo)

1. Contrato administrativo é o acordo de vontades pelo qual é constituída,


modificada ou extinta uma relação jurídica administrativa.
2. Constituem contratos administrativos, designadamente, os contratos de:
a) Empreitada de obras públicas;
b) Concessão de obras públicas;
c) Concessão de serviços públicos;
d) Concessão de uso privativo do domínio público;
e) Concessão de exploração de jogos de fortuna ou azar;
f) Fornecimento contínuo;
g) Prestação de serviços para fins de imediata utilidade pública.

ARTIGO 177
(Uso do contrato administrativo)

Os órgãos administrativos, na prossecução das atribuições da pessoa


colectiva em que estão integrados, podem celebrar contratos
administrativos, a menos que outra coisa resulte da lei ou da natureza das
relações a fixar.

ARTIGO 178
(Poderes de supremacia da Administração)

Excepto nos casos em que outra coisa resulte da lei ou da natureza do


contrato, a Administração Pública pode:
a) Modificar, unilateralmente, o conteúdo das prestações, desde que seja
mantido o objecto do contrato e o seu equilíbrio financeiro;
b) Mirigir o modo de execução das prestações;
c) Rescindir, unilateralmente, os contratos por imperativo de interesse
público devidamente fundamentado, sem prejuízo do pagamento de justa
indemnização;
d) Fiscalizar o modo de execução do contrato;
e) Aplicar as sanções relativas à inexecução do contrato.

ARTIGO 179
(Modalidades de contratação)

1. Salvo regime especial, nos contratos que tenham em vista associar um


particular ao desempenho regular de atribuições administrativas, o co-
contratante deve ser escolhido por concurso público, concurso com prévia
qualificação, concurso limitado, concurso em duas etapas, concurso por
lances, concurso de pequena dimensão e ajuste directo.
2. Ao concurso público devem ser admitidas todas as entidades que
satisfaçam os requisitos gerais estabelecidos por lei.
3. O concurso com prévia qualificação é a modalidade de contratação
restrita e específica, na qual intervêm os concorrentes que tenham sido
qualificados em fase preliminar à apresentação de suas propostas.
4. O concurso limitado é a modalidade de contratação baseada no valor do
contrato e destinado a determinadas pessoas.
5. O concurso em duas etapas é a modalidade de contratação em que os
concorrentes oferecem, na primeira fase, proposta técnica inicial e, na fase
seguinte, proposta técnica definitiva e a proposta de preço.
6. O concurso de lances é a modalidade de contratação para aquisição de
bens e serviços comuns de disponibilidade imediata, na qual a disputa entre
interessados é feita por meio de propostas de lances sucessivos em acto
público.
7. O concurso de pequena dimensão é a modalidade de contratação cuja
estimativa de preço seja inferior a um limite determinado por lei e restrito a
determinados destinatários.
8. O ajuste directo é a modalidade de contratação aplicável sempre que se
mostre inviável ou inconveniente a contratação em qualquer das outras
modalidades definidas na presente Lei.
9. O procedimento para a contratação em cada uma das modalidades
previstas na presente Lei é regulado por diploma específico.

ARTIGO 180
(Natureza obrigatória de concurso público)

Exceptuado o disposto nas normas que regulam a realização de despesas


públicas ou em legislação especial, os contratos administrativos devem,
como regra, ser precedidos de concurso público.

ARTIGO 181
(Forma dos contratos)

Os contratos administrativos devem ser sempre celebrados por escrito,


excluídos os casos em que a lei fixe outra forma.
ARTIGO 182
(Invalidade dos contratos)

1. Os contratos administrativos são nulos ou anuláveis, nos termos do


presente Diploma, quando forem nulos ou anuláveis os actos administrativos
determinantes da sua celebração.
2. Aplicam-se a todos os contratos administrativos as normas do Código Civil
relativas à falta e vícios da vontade.
3. Independentemente do disposto no n.º 1, à invalidade dos contratos
administrativos aplicam-se as seguintes regras:
a) Quanto aos contratos administrativos com objecto passível de acto
administrativo, o regime de invalidade do acto administrativo estabelecido
no presente Diploma;
b) Quanto aos contratos administrativos com objecto passível de contrato
de direito privado, o regime de invalidade do negócio jurídico previsto no
Código Civil.

ARTIGO 183
(Actos interpretativos)

1. Os actos administrativos que interpretem cláusulas contratuais ou que se


pronunciem sobre a respectiva validade não são actos definitivos e
executórios.
2. Na falta de acordo das partes, relativamente a actos interpretativos de
cláusulas contratuais, a Administração Pública só pode obter os efeitos
pretendidos através de acção judicial.
3. O disposto nos números anteriores não prejudica a aplicação das
disposições gerais da lei civil relativas aos contratos bilaterais, a menos que
tais preceitos tenham sido afastados por vontade expressa dos contraentes.

ARTIGO 184
(Execução coerciva)

A execução coerciva das prestações vencidas só pode proceder através da


acção judicial, salvo disposição legal contrária.
ARTIGO 185
(Arbitragem)

É admissível o recurso à arbitragem, nos termos da legislação da orgânica


da jurisdição administrativa e do processo contencioso administrativo.

ARTIGO 186
(Execução forçada)

A execução forçada das prestações contratuais em falta só pode ser


prosseguida através do Tribunal Administrativo e dos tribunais
administrativos, excepto dispositivo legal em sentido contrário.
CAPÍTULO XV
Diposições finais

ARTIGO 187
(Arquivos)

A organização dos arquivos da Administração Pública é regida por


legislação específica no âmbito do Sistema Nacional de Arquivos do Estado.

ARTIGO 188
(Revogação)

É revogada a Reforma Administrativa Ultramarina (RAU) aprovada pelo


Decreto-Lei n.º 23229, de 15 de Novembro de 1933.

ARTIGO 189
(Regulamentação)

Compete ao Conselho de Ministros regulamentar a presente Lei.

ARTIGO 190
(Entrada em vigor)

A presente Lei entra em vigor 180 dias após a sua publicação.


Aprovada pela Assembleia da República, aos 20 de Abril de 2011.
A Presidente da Assembleia da República, Verónica Nataniel Macamo
Dlhovo.
Promulgada em 12 de Julho de 2011.
Publique-se.
O Presidente da República, Armando Emílio Guebuza
ANEXO
GLOSSÁRIO

Para efeitos da presente Lei, entende-se por:


A Acto Administrativo - decisão de um órgão da administração que, nos
termos de direito público, visa produzir efeitos jurídicos numa situação
individual e concreta.
Acto administrativo definitivo e executório - decisão com força obrigatória
e dotada de exequibilidade sobre um determinado assunto, tomada por um
órgão de uma pessoa colectiva de direito público.
Acto fungível - aquele que pode ser praticado por pessoas diferentes do
devedor, sem prejuízo do interesse daquele que tem o respectivo direito a
tal coisa, sendo infungível o acto que só pode ser praticado por determinada
pessoa, por esta reunir as habilidades necessárias para tal efeito.
Agente - cidadão contratado ou designado nos termos da lei ou por outro
título diverso, ao de funcionário, para o desempenho de certas funções na
Administração Pública.
C Competência - conjunto de poderes funcionais necessários e aptos para
exercer uma função.
Competência do órgão da pessoa colectiva pública - conjunto de poderes
funcionais dado por lei a cada órgão para desenvolver os fins (atribuições)
das pessoas colectivas em que se encontre integrado.
Condição - cláusula acessória dos actos e contratos que ocorre quando se
subordina a um acontecimento futuro e incerto a produção dos seus efeitos
jurídicos (condição suspensiva) ou a sua destruição (condição resolutiva).
Conversão - acto administrativo pelo qual se aproveitam os elementos
válidos de um acto ilegal para com eles compor um outro acto que seja legal.
Correspondência classificada - a que contém dados ou informações de valor
cuja divulgação não autorizada ponha em causa, prejudique, contrarie ou
perturbe a segurança do Estado.
Curatelado - aquele que se achar sujeito à curatela, que constitui um instituto
jurídico destinado à assistência a determinadas pessoas maiores, declaradas
inabilitadas por causa de anomalia psíquica, surdez - mudez ou cegueira,
entre outros motivos.
D Diligências dilatórias - aquelas que têm por finalidade retardar ou demorar
ou adiar um determinado processo.
Direito subjectivo - todo o poder dado pelas normas jurídicas a toda e
qualquer pessoa que tenha a necessária capacidade de prosseguir os seus
interesses certos e determinados quando e como entender convenientes,
sendo que o elemento definidor da titularidade do direito subjectivo é o
interesse do seu titular.
E Eficácia diferida - traduz-se numa produção de efeitos decorrente de
demora de determinado acto ou que terá lugar num momento posterior.
Estado de necessidade - situação em que a Administração Pública impõe ou
procede à execução oficiosa, mesmo sem notificar ou consultar os
interessados sobre os aspectos negativos ou prejudiciais que poderão recair
sobre o seu património.
F Funcionário - cidadão nomeado para lugar do quadro de pessoal e que
exerce actividades nos órgãos centrais e locais do Estado.
I Impugnação judicial - recurso de um acto administrativo para o Tribunal
Administrativo e para os tribunais administrativos.
Indeferimento liminar - decisão sobre um certo pedido expresso num
requerimento sem mais formalidades essenciais, negando o pedido.
Indeferimento tácito - presunção legal da negação do pedido dada por meio
de omissão de prática de um acto administrativo por um órgão competente,
dentro do prazo legalmente estabelecido para o efeito.
Inquinado - infectado, manchado, contaminado de um vício, isto é, de algo
de errado e grave para o Direito Administrativo.
Interesses difusos - interesses que são atribuídos por lei a uma certa
colectividade ou a um agrupamento de pessoas com determinadas
características, designadamente os habitantes e contribuintes de uma dada
circunscrição territorial, para exercerem a acção popular contra
comportamentos que vão afectar os direitos e interesses dessa colectividade
ou comunidade.
M Modo - cláusula acessória típica, mediante a qual se estabelece os
encargos que irão recair sobre todos quantos vão benefi ciar de um
determinado acto ou contrato jurídico.
P Poder de execução forçada - capacidade legal de executar actos
administrativos definitivos e executórios, mesmo perante a contestação ou
resistência física dos destinatários.
Privilégio de execução prévia - poder ou capacidade legal de executar actos
administrativos definitivos e executórios, antes da decisão jurisdicional
sobre o recurso interposto pelos interessados.
Procedimento administrativo - sucessão ordenada de actos e formalidades
com vista a formação e manifestação da vontade da Administração Pública
ou à sua execução.
Processo administrativo - conjunto de documentos que traduzem actos e
formalidades que constituem o procedimento administrativo.
R Ratificação - Confirmação - acto administrativo mediante o qual o órgão
competente ratifica um acto anterior mediante a sua confirmação.
Ratificação - Sanação - acto administrativo pelo qual o órgão competente
decide sanar um acto inválido anteriormente praticado, suprindo a
ilegalidade que o vicia.
Reclamação - impugnação de um acto administrativo ou decisão perante o
respectivo autor, visando a sua revogação ou alteração.
Rectificação - acto administrativo através do qual se procede à correcção de
erros de nomes, números, de qualidades, de localização ou outros,
produzindo a rectificação efeitos a partir da data da prática do acto
rectificado.
Recurso contencioso - impugnação jurisdicional de um acto administrativo
arguido de vício determinante da sua nulidade, anulabilidade ou inexistência
jurídica.
Recurso de revisão - impugnação de um acto administrativo quando se
venham a verificar factos supervenientes ou surjam meios de prova
susceptíveis de demonstrar a inexistência ou inexactidão de factos que
influíram na decisão.
Recurso hierárquico ou gracioso - meio de impugnação de um acto
administrativo praticado por um subalterno, perante o respectivo superior
hierárquico, a fim de obter a revogação ou a substituição do acto recorrido.
Recurso hierárquico impróprio - meio de impugnação de um acto
administrativo praticado por um órgão de certa pessoa colectiva pública
perante outro órgão da mesma pessoa colectiva que, não sendo superior do
primeiro, exerça sobre ele poderes de supervisão.
Recurso tutelar - impugnação de um acto administrativo ou decisão de um
órgão de Administração Pública de uma entidade autónoma, nomeadamente
de uma autarquia local perante o órgão responsável pela tutela
administrativa dessa entidade autónoma.
Reforma - acto administrativo pelo qual se conserva de um acto anterior a
parte não afectada de ilegalidade.
Regime jurídico - conjunto de princípios, regras e formalidades essenciais
que devem ser observados na prossecução de um determinado interesse
público ou direito.
Repristinação - renascimento de uma lei ou uma norma jurídica revogadas
como efeito directo e necessário da revogação ou da caducidade da lei ou
norma que a revogara.
T Termo ou prazo - cláusula acessória típica em que a lei determina o período
de tempo em que o acto ou contrato podem produzir os seus efeitos.
Titulares - todos aqueles que, nos termos da lei, podem dispor ou exercer as
suas funções, por serem detentores de um determinado cargo.
U Usurpação de poderes - traduz-se no facto de uma autoridade
administrativa praticar um acto que cabe nas atribuições (fins) dos órgãos
judiciais ou de um órgão legislativo.
Havendo necessidade de aperfeiçoar os princípios e normas que regem as
relações jurídico-laborais do funcionário e agente do Estado, nos termos do
disposto na alínea r), do n.º 2, do artigo 179 da Constituição da República, a
Assembleia da República, determina:
Artigo 1. É aprovado o Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado,
abreviadamente designado por EGFAE, anexo à presente Lei, que dela faz
parte integrante.

Art. 2. É revogada a Lei n.º 14/2009, de 17 de Março, e demais legislação que


contrarie a presente Lei.
Art. 3. Os termos usados na presente Lei constam do Glossário em anexo,
que dela faz parte integrante.
Art. 4. Compete ao Conselho de Ministros regulamentar a presente Lei no
prazo de 180 dias, após a sua publicação.
Art. 5. A presente Lei entra em vigor 180 dias, após a sua publicação.
Aprovada pela Assembleia da República, aos 27 de Abril de 2017. — A
Presidente da Assembleia da República, Verónica Nataniel Macamo Dlhovo.
Promulgada, aos 1 de Agosto de 2017.
Publique-se.
O Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi.
Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado

CAPÍTULO I
Objecto, Âmbito e Princípios

SECÇÃO I

ARTIGO 1
(Objecto)

O presente Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado,


abreviadamente designado por EGFAE, estabelece as normas jurídicas
aplicáveis à relação de trabalho entre o Estado e seus funcionários e agentes.

ARTIGO 2
(Âmbito de aplicação)

1. O presente EGFAE aplica-se aos funcionários e aos agentes do Estado que


exercem actividade na Administração Pública no País e nas representações
do Estado moçambicano no estrangeiro.
2. A presente Lei aplica-se, com as necessárias adaptações, aos funcionários
e agentes que exercem actividade nos serviços de apoio técnico e
administrativo da Presidência da República, da Assembleia da República,
dos Tribunais, do Ministério Público, do Conselho Constitucional, do
Gabinete do Provedor de Justiça, da Comissão Nacional de Eleições, das
Assembleias Provinciais e demais instituições públicas criadas nos termos da
Constituição ou da lei, que não estejam sujeitos a um regime especial.
3. É aplicável aos funcionários e agentes da administração autárquica, o
regime dos funcionários e agentes do Estado.

ARTIGO 3
(Qualidade de funcionário e agente do Estado)

1. É funcionário do Estado, o cidadão provido para o quadro de pessoal, que


exerce actividades nos órgãos centrais e locais do Estado, referido no artigo
2 do presente EGFAE.
2. É agente do Estado, o cidadão contratado ou designado nos termos do
presente Estatuto ou por outro título não compreendido no número 1, do
presente artigo, para o desempenho de certas actividades nos órgãos
centrais e locais do Estado, referido no artigo 2 do presente EGFAE.

ARTIGO 4
(Regime subsidiário)

O presente EGFAE aplica-se subsidiariamente, com as necessárias


adaptações, ao funcionário e agente do Estado sujeito a estatuto específico.

SECÇÃO II
Princípios gerais

ARTIGO 5
(Legalidade)

1. No exercício das suas funções na Administração Pública, o funcionário e


agente do Estado estão sujeitos exclusivamente ao serviço do interesse
público, vinculados à Constituição da República e demais legislação
aplicável.
2. O funcionário e agente do Estado devem ter uma conduta responsável e
ético-profissional, actuar com legalidade e justiça no respeito pelos direitos,
liberdades e interesses legalmente protegidos dos cidadãos e de outras
pessoas colectivas públicas e privadas.

ARTIGO 6
(Isenção e imparcialidade)

1. No exercício das funções públicas, o funcionário e agente do Estado


actuam com isenção e imparcialidade, estando sujeitos ao regime de
impedimentos e suspeições previsto na lei.
2. O acesso à Função Pública, a promoção, progressão e mudança de
carreira profissional não podem ser prejudicados em razão da cor, raça,
sexo, deficiência física, origem étnica, lugar de nascimento, religião, grau
de instrução, posição social, estado civil dos pais, profissão, opção política,
opção político-partidária, e obedecem estritamente aos requisitos de
mérito e capacidade dos interessados.
3. A imparcialidade impõe que o funcionário e agente do Estado se
abstenha de praticar, ordenar, influenciar ou participar na prática de actos
ou contratos, nomeadamente de tomar decisões que visem interesse
próprio, do seu cônjuge ou de pessoa com quem viva em união de facto,
parente ou afim, bem como de outras entidades com as quais possa ter
conflitos de interesse, nos termos da lei.

ARTIGO 7
(Incompatibilidades)

1. A qualidade de funcionário e a de agente do Estado é incompatível com o


exercício de outras actividades profissionais, designadamente:
a) As declaradas incompatíveis por lei;
b) As que possam comprometer o interesse público ou a imparcialidade
exigida no exercício de funções públicas;
c) As actividades profissionais que tenham horário coincidente com o do
serviço público em que o funcionário ou agente do Estado esteja a realizar
actividade.
2. O funcionário e agente do Estado observam as incompatibilidades, os
impedimentos e as suspeições declaradas por lei.

ARTIGO 8
(Probidade)

O funcionário e agente do Estado observam os valores de boa administração


e honestidade no desempenho das suas funções, não podendo solicitar ou
aceitar, para si ou para terceiro, directa ou indirectamente, quaisquer
presentes, empréstimos, facilidades ou quaisquer ofertas que possam pôr
em causa a liberdade da sua acção, a independência do seu juízo e a
credibilidade e autoridade da Administração Pública, dos seus órgãos e
serviços.

ARTIGO 9
(Exclusividade)

1. O exercício de funções públicas obedece ao princípio de exclusividade.


2. Só é permitido o exercício simultâneo de funções, em mais de um órgão
ou instituições do Estado pelo mesmo funcionário, quando fundada no
interesse público e autorizada por dirigente competente, verificada uma das
seguintes circunstâncias:
a) Inerência de funções;
b) Actividade de carácter temporário e compatível;
c) Funções de docência, investigação ou produção cultural, de horários
compatíveis ou compensáveis;
d) Outras circunstâncias determinadas por lei.
CAPÍTULO II
Constituição da Relação de Trabalho no Estado

SECÇÃO I
Modalidades

ARTIGO 10
(Constituição da relação de trabalho)

1. A relação de trabalho entre o Estado e o cidadão constitui-se através de


nomeação ou de contrato, sujeitos a visto do tribunal administrativo
competente e à publicação no Boletim da República.
2. Havendo dispensa legal do visto, há lugar à anotação do tribunal
administrativo competente.
3. É nulo e de nenhum efeito o provimento que não observe os
procedimentos de concurso, nos casos em que a lei o exija.
4. Todo aquele que no exercício das suas funções der lugar a provimento
contrário à lei incorre em responsabilidade disciplinar, sem prejuízo do
procedimento criminal, se ao caso couber.

ARTIGO 11
(Quadro de pessoal)

1. O quadro de pessoal indica o número de lugares por cargo de direcção,


chefia e confiança, por carreiras ou categorias profissionais necessários para
a realização das atribuições, competências e funções dos órgãos e
instituições da Administração Pública.
2. Os órgãos centrais, provinciais e distritais do Aparelho do Estado, as
instituições da administração indirecta do Estado e as autarquias locais
dispõem de um quadro de pessoal próprio.

ARTIGO 12
(Pessoal de carreira)

1. A realização de actividades profissionais correspondentes a necessidades


permanentes é assegurada por pessoal provido em regime de carreira.
2. Excepcionalmente, as actividades profissionais referidas no número 1 do
presente artigo podem ser exercidas por pessoal provido em regime de
contrato:
a) na Presidência da República;
b) na Assembleia da República;
c) nas carreiras de professores e de profissionais de saúde;
d) outros, nos termos a regulamentar.
3. Os contratos referidos no n.º 2 do presente artigo são celebrados por
tempo determinado, com duração não superior a 5 anos renováveis uma vez,
nos termos a regulamentar.
SECÇÃO II
Nomeação, posse e transferência

ARTIGO 13
(Requisitos gerais para nomeação)

São requisitos gerais de nomeação para lugares do quadro de pessoal do


aparelho do Estado:
a) nacionalidade moçambicana;
b) registo de identificação tributária;
c) idade igual ou superior a 18 anos;
d) sanidade mental e capacidade física compatível com a actividade que vai
exercer na Administração Pública;
e) não ter sido aposentado ou reformado;
f) situação militar regularizada;
g) habilitações literárias mínimas do segundo grau de nível primário do
Sistema Nacional de Educação ou equivalente, ou habilitações
especificamente exigidas no respectivo qualificador profissional.

ARTIGO 14
(Instrução do pedido de admissão)

1. O pedido de admissão é instruído com os seguintes documentos:


a) certidão de registo de nascimento ou fotocópia de Bilhete de Identidade;
b) certificado das habilitações literárias exigidas para o provimento no lugar;
c) certidão do registo criminal;
d) certidão de aptidão física e mental para o exercício da actividade;
e) duas fotografias tipo passe;
f) comprovativo de inscrição ou cumprimento do serviço militar;
g) outros documentos, exigidos nos termos da lei.
2. No acto de candidatura, podem ser dispensados documentos necessários
à demonstração de factos relevantes para a admissão, nos termos a
regulamentar, sem prejuízo da junção posterior dos mesmos.

ARTIGO 15
(Nomeação)

1. A nomeação para o quadro de pessoal do aparelho do Estado confere a


qualidade de funcionário.
2. A nomeação produz efeitos a partir da data do visto do tribunal
administrativo competente.
3. A nomeação para o ingresso é provisória e tem carácter probatório,
durante os dois primeiros anos de exercício de funções.
4. Completado o tempo previsto no n.º 3, a nomeação converte-se
automaticamente em definitiva, salvo se ao longo dos primeiros dois anos
houver manifestação em contrário ou a obtenção de avaliação de
desempenho de classificação inferior a regular.
5. A nomeação definitiva não carece de visto do tribunal administrativo
competente, estando sujeita à anotação.
6. Nos casos em que a nomeação é precedida de contrato ou nomeação
interina, o tempo de serviço prestado nestas situações conta para efeitos de
nomeação definitiva.
7. A nomeação para o quadro de pessoal do aparelho do Estado é por tempo
indeterminado.

ARTIGO 16
(Posse)

1. A nomeação para as categorias e carreiras profissionais e/ou para o


exercício de funções no aparelho do Estado, bem como a contratação,
implicam o dever de tomar posse.
2. A posse é conferida, em acto solene, pelo dirigente competente, na
presença de funcionários e demais agentes do Estado do sector onde o
empossando vai desempenhar as suas funções.
3. A tomada de posse confere ao funcionário ou agente do Estado o direito
de receber o vencimento.
4. Salvo os casos previstos na lei, a falta ou recusa de visto do tribunal
administrativo competente e a falta de publicação no Boletim da República
impedem o funcionário ou agente provido de tomar posse e/ou de iniciar o
exercício de funções.

ARTIGO 17
(Prazo)

1. O prazo para o acto de posse é de 30 dias, contados a partir da data em


que o visado foi notificado por escrito.
2. O prazo do acto de posse pode ser prorrogado por decisão do dirigente
competente por sua iniciativa ou a pedido do visado.
3. A não comparência na data marcada para a tomada de posse sem justa
causa, implica a revogação da nomeação ou a rescisão do contrato,
decorrido que esteja o prazo de dez dias para a justificação.
4. No caso referido no n.º 3, o funcionário ou agente fica impedido de ser
provido em qualquer quadro de pessoal da Administração Pública durante
um ano, contado a partir do termo do prazo para a justificação.

ARTIGO 18
(Vínculo laboral irregular)

1. Sempre que se constate situação de exercício de actividades sem visto do


Tribunal Administrativo, o órgão competente deve imediatamente
determinar a interrupção de actividades e da remuneração do agente que se
encontre nesta situação.
2. A aquisição da qualidade de agente do Estado sem visto do tribunal
administrativo competente é imputável aos serviços competentes da
Administração Pública, quando o agente irregular esteja de boa-fé.
3. A Administração Pública responde solidariamente pelos prejuízos
causados ao agente irregular de boa-fé, sem prejuízo do direito de regresso
contra o funcionário ou agente que, por acção ou omissão, tenha dado lugar
ao início irregular de actividades.
4. O funcionário ou agente irregular que tenha exercido de boa-fé e com
conhecimento e sem oposição do superior hierárquico, tem direito à
remuneração pelo tempo de serviço prestado.
5. Para efeitos do disposto nos números anteriores, é agente irregular de
boa-fé, aquele que tenha adquirido tal qualidade nos termos do
procedimento legal de provimento e, que no momento do início da
actividade, não conhecia e nem podia conhecer as irregularidades do seu
provimento.

ARTIGO 19
(Mobilidade)

Por determinação do Presidente da República, do Presidente da Assembleia


da República, do Primeiro-Ministro, acordo entre dirigentes de órgãos
centrais e locais ou decisão da entidade que superintende a área da Função
Pública, pode efectuar-se mobilidade de funcionários no quadro de pessoal
do aparelho do Estado, sem prejuízo dos direitos adquiridos.

ARTIGO 20
(Nomeação interina)

1. Pode ser provido interinamente para o lugar vago em virtude do titular se


encontrar em situação de inactividade ou actividade fora do quadro que
implique suspensão do vencimento.
2. O funcionário interino goza, a título precário, dos direitos e regalias
inerentes ao lugar provido.
3. Na nomeação interina tem preferência o funcionário aprovado em
concurso válido para o lugar a prover, segundo a ordem constante da
classificação final.
4. Em caso de inexistência de funcionários nas condições referidas no
número 3, o provimento interino privilegiar o funcionário com maior
antiguidade, desde que tenha boas informações de serviço.
5. A nomeação interina é temporária e não pode exceder dois anos
consecutivos.
6. A nomeação interina produz efeitos a partir da data do visto do tribunal
administrativo competente.
7. Da nomeação interina é lavrado o termo de início de funções, não
carecendo de posse.
8. Findos os dois anos, sem que o titular retome as suas actividades, o lugar
é declarado vago e preenchido pelo funcionário interino, observando -se
com as necessárias adaptações, as exigências relativas ao procedimento de
admissão.
9. Quando o funcionário interino não possa preencher o lugar ou renuncie,
seguem-se as regras de admissão ao lugar preenchido interinamente.
SECÇÃO III
Contratos

ARTIGO 21
(Contratos)

1. Os órgãos e instituições do Estado podem celebrar contratos por tempo


determinado, com regime próprio e com dispensa dos requisitos das alíneas
e) e f) do artigo 13 do presente EGFAE.
2. O contrato referido no n.º 1, produz efeitos a partir da data do visto do
tribunal administrativo competente, salvo os casos de urgente conveniência
de serviço, previsto na lei.
ARTIGO 22
(Encargos com os contratos)

Os encargos com os contratos são suportados pela respectiva verba do


fundo de salários, inscrita no Orçamento do Estado ou nos orçamentos
próprios das instituições ou organismos da Administração Pública dotados
de autonomia administrativa e financeira.

CAPÍTULO III
Regimes Especiais de Actividade

ARTIGO 23
(Regime especial de actividade)

1. O funcionário com nomeação definitiva pode exercer temporariamente


determinadas funções em regime especial.
2. O regime especial de actividade compreende qualquer das seguintes
situações:
a) destacamento;
b) comissão de serviço;
c) substituição;
d) acumulação de funções.
3. Qualquer das situações previstas no regime especial é determinada pelas
necessidades do serviço e consentimento do funcionário.
4. A nomeação para o exercício de funções em qualquer das situações
previstas no n.º 2 do presente artigo beneficia do regime de urgente
conveniência de serviço, nos termos da lei e é objecto da publicação no
Boletim da República.

ARTIGO 24
(Destacamento)

1. O destacamento consiste na designação do funcionário, por iniciativa de


serviço e no interesse do Estado, para exercer actividade ou função fora do
quadro de pessoal da Administração Pública.
2. Excepcionalmente, a lei pode prever o destacamento para o exercício de
funções no quadro de pessoal da Administração Pública.
3. O regime de destacamento tem a duração de 3 anos, prorrogáveis uma
única vez por igual período.
4. A prorrogação aludida no n.º 3 do presente artigo deve ser sempre no
interesse e iniciativa da Administração Pública.
5. No caso de designação de funcionário para o exercício de funções
executivas em órgãos estatutários de instituições públicas, o regime de
destacamento tem a duração do mandato, sendo a iniciativa de prorrogação
da entidade competente para nomear.
6. Havendo destacamento dentro do quadro de pessoal da Administração
para o exercício de função de direcção, chefia e confiança, este finda com a
cessação do exercício do respectivo cargo.
7. Esgotado o período de destacamento, o funcionário regressa ao seu local
de proveniência no Aparelho do Estado.
8. O destacamento não prejudica os direitos adquiridos na sua qualidade de
funcionário do Estado.

ARTIGO 25
(Comissão de serviço)

1. A comissão de serviço consiste na nomeação do funcionário para exercer


cargos de direcção, chefia ou de confiança.
2. O não exercício da comissão de serviço por um período de 365 di as
implica a sua cessação.
3. O Estado pode com fundamento na conveniência de serviço dar por findo
o exercício de funções do funcionário em comissão de serviço, a qualquer
momento.

ARTIGO 26
(Substituição)

1. A substituição consiste na nomeação de um funcionário para exercício de


funções de direcção, chefia ou de confiança, por ausência ou impedimento
temporário do titular, por período não superior a 365 dias.
2. O Estado pode a qualquer momento, mediante motivos ponderosos, dar
por findo o exercício de funções em regime de substituição, podendo
nomear outro funcionário pelo lapso de tempo remanescente.

ARTIGO 27
(Acumulação de funções)

1. A acumulação de funções consiste no exercício simultâneo, pelo mesmo


funcionário de dois cargos de direcção ou chefia, idênticos ou do mesmo
grupo salarial, por ausência ou não provimento do titular de um deles, por
um período não superior a 180 dias.
2. Decorrido o período referido no n.º 1, o funcionário cessa acumulação de
funções devendo-se nomear o titular para o lugar, em comissão de serviço.
CAPÍTULO IV
Situação do Funcionário em Relação ao Quadro

ARTIGO 28
(Situação do funcionário em relação ao quadro)

O funcionário, do quadro do pessoal, pode encontrar-se numa das seguintes


situações:
a) actividade no quadro;
b) actividade fora do quadro;
c) inactividade no quadro;
d) inactividade fora do quadro;
e) supranumerário.

ARTIGO 29
(Actividade no quadro)

Considera-se em actividade no quadro o funcionário provido, desde que se


verifique uma das seguintes circunstâncias:
a) desempenhar efectivamente as suas funções;
b) encontrar-se na situação de férias ou de faltas;
c) encontrar-se no regime especial de comissão de serviço, substituição ou
acumulação de funções;
d) encontrar-se em gozo de licença de parto, paternidade, luto, casamento,
bodas de prata ou de ouro.

ARTIGO 30
(Actividade fora do quadro)

Considera-se em actividade fora do quadro o funcionário que estiver numa


das seguintes situações:
a) trabalhador-estudante a tempo inteiro;
b) licença especial;
c) prestação de serviço militar efectivo normal;
d) doença por período superior entre 30 a 180 dias;
e) em regime de destacamento.

ARTIGO 31
(Inactividade no quadro)

Considera-se em situação de inactividade no quadro, o funcionário que


transitoriamente não exerça as suas funções, por um dos seguintes motivos:
a) gozo de licença registada, para acompanhamento de cônjuge em missão
de serviço no estrangeiro ou para o exercício de funções em organismos
internacionais por período até 365 dias;
b) doença por período superior a 180 até 365 dias;
c) situação de prisão preventiva;
d) situação de cumprimento de uma medida de segurança ou pena privativa
ou não privativa de liberdade.
ARTIGO 32
(Inactividade fora do quadro)

Considera-se em inactividade fora do quadro, o funcionário que se encontre


numa das seguintes circunstâncias:
a) gozo de licenças para acompanhamento de cônjuge em missão de serviço
no estrangeiro ou para exercício de funções em organismos internacionais
por período superior a 365 dias;
b) situação de regime especial de assistência;
c) doença por período superior a 365 dias;
d) gozo de licença ilimitada;
e) desligado do serviço para efeitos de aposentação;
f) cumprimento de uma medida de segurança ou pena privativa ou não
privativa de liberdade de prisão superior a 365 dias.

ARTIGO 33
(Supranumerário)

Considera-se supranumerário o funcionário que se encontre em exercício


efectivo de funções e aguarda a abertura de vaga no quadro por motivo de:
a) ter regressado após termo de situação de destacamento ou de qualquer
das licenças referidas no artigo 32 do presente Estatuto;
b) ter sido promovido durante a prestação do serviço militar efectivo
normal;
c) supressão ou compressão de estrutura orgânica.

ARTIGO 34
(Efeitos do regime de inactividade)

1. Os direitos atribuídos nos termos do presente EGFAE são reduzidos ou


cessam quando o funcionário se encontrar em regime de inactividade.
2. O funcionário que se encontre na situação de desligado do serviço para
efeitos de aposentação, tem direito a receber subsídio não inferior à
remuneração que receberia se se mantivesse em exercício de funções, até à
fixação da pensão de aposentação, nos termos da lei.
3. Nos restantes casos de inactividade ou actividade fora do quadro não
previstos no regime especial, cessam temporariamente os direitos do
funcionário, nos termos da lei.
4. O funcionário retoma a plenitude dos seus direitos ao reiniciar as funções,
findas as situações referidas nos artigos anteriores.
CAPÍTULO V
Carreiras Profissionais e Funções

ARTIGO 35
(Ingresso)

1. O ingresso no Aparelho do Estado faz-se no nível mais baixo da respectiva


carreira por concurso, salvo as excepções definidas por regulamento.
2. Excepcionalmente, havendo ponderosas razões de interesse público,
pode ser dispensado o concurso de ingresso em determinadas carreiras
profissionais correspondentes a áreas vitais, ou quando seja manifesto que
o número de candidatos disponível é inferior às necessidades do quadro de
pessoal.
3. Compete ao Conselho de Ministros definir as carreiras profissionais
referidas no número anterior e definir o procedimento de ingresso com
dispensa de concurso.

ARTIGO 36
(Promoção)

1. A promoção é a mudança para classe ou categoria seguinte da respectiva


carreira e opera-se para o escalão e índice a que corresponde o vencimento
imediatamente superior.
2. A promoção depende de concurso, tendo em conta a experiência e
desempenho do funcionário e demais exigências legais, nos termos
constantes em regulamento.
3. No caso em que o número de lugares for superior ao número de
candidatos, pode ser dispensado o concurso, sem prejuízo da observância
dos demais requisitos.
4. A participação em concurso de promoção é obrigatória para os
funcionários de classe ou categoria inferior da mesma carreira que
preencham os requisitos exigidos.

A progressão faz-se pela mudança de escalão dentro da respectiva faixa


salarial, dependendo da experiência do funcionário no escalão, do mérito do
funcionário e demais exigências legais, nos termos a regulamentar.

ARTIGO 38
(Mudança de carreira profissional)

1. A mudança de carreira profissional faz-se por concurso, estando


condicionada à existência de vaga e ao preenchimento de requisitos
exigidos por lei.
2. A mudança de carreira profissional aplica-se quando o nível académico ou
técnico-profissional tenha sido obtido em área de formação enquadrada nas
necessidades actuais da instituição em que o funcionário presta serviço.
3. O concurso pode ser dispensado quando o número de lugares for superior
em relação aos candidatos, nos termos do regulamento próprio.
ARTIGO 39
(Princípios)

1. No processo de recrutamento, selecção, classificação ou graduação dos


candidatos devem ser observados os seguintes princípios:
a) liberdade de candidatura, no caso de concurso de ingresso ou de mudança
de carreira profissional;
b) divulgação prévia dos métodos de selecção a utilizar e do programa de
provas;
c) objectividade no método e critérios de avaliação;
d) igualdade de tratamento;
e) neutralidade na composição do Júri;
f) direito a reclamação e recurso;
g) gratuidade do concurso.
2. Aos membros do Júri do concurso aplica-se o regime de impedimentos e
suspeições previstos na lei.

ARTIGO 40
(Desistência e renúncia)

1. O candidato a concurso de ingresso ou mudança de carreira pode


manifestar por escrito o interesse em desistir da vaga antes da publicação
dos resultados do concurso no Boletim da República.
2. O candidato admitido pode renunciar ao lugar para que concorreu, desde
que ainda não tenha sido notificado para tomada de posse.

ARTIGO 41
(Funções de direcção, chefia e confiança)

1. As funções de direcção, chefia e de confiança são exercidas em comissão


de serviço e só podem ser preenchidas com obediência às exigências e
demais requisitos referidos nos respectivos qualificadores profissionais e
demais legislação aplicável.
2. As funções de direcção, chefia e confiança constam de legislação
específica.

CAPÍTULO VI
Deveres

ARTIGO 42
(Deveres gerais do funcionário e agente do Estado)

São deveres gerais do funcionário e agente do Estado:


a) respeitar a Constituição da República, as demais leis e órgãos do poder
do Estado e outras entidades públicas;
b) participar activamente na edificação, desenvolvimento, consolidação e
defesa do Estado de direito e democrático e no engrandecimento da pátria;
c) dedicar-se ao estudo e aplicação das leis e demais decisões dos órgãos
do poder de Estado;
d) defender a propriedade do Estado e a de outras entidades públicas e zelar
pela sua conservação;
e) assumir uma disciplina consciente por forma a contribuir para o prestígio
da função de que está investido e o fortalecimento da unidade nacional;
f) respeitar as relações internacionais estabelecidas pelo Estado e contribuir
para o seu desenvolvimento;
g) promover a confiança do cidadão na Administração Pública, na sua
justiça, legalidade e imparcialidade;
h) não praticar desvio de fundos no Estado;
i) não apresentar documentos falsos a instituição.

ARTIGO 43
(Deveres especiais do funcionário e agente do Estado)

1. São deveres especiais do funcionário e agente do Estado:


a) cumprir as leis, regulamentos, despachos e instruções superiores;
b) cumprir exacta, pronta e lealmente as ordens e instruções legais dos seus
superiores hierárquicos, relativas ao serviço;
c) respeitar os superiores hierárquicos tanto no serviço como fora dele;
d) dedicar ao serviço a sua inteligência e aptidão, exercendo com
competência, abnegação, zelo e assiduidade e de forma eficiente as funções
a seu cargo, sem prejudicar ou contrariar de qualquer modo o processo e o
ritmo do trabalho e a produtividade e as relações de trabalho;
e) exercer as funções em qualquer local que lhe seja designado;
f) não se apresentar ao serviço em estado de embriaguez e ou sob efeito de
substâncias psicotrópicas e alucinogénias;
g) apresentar-se ao serviço e em todos os locais onde deve comparecer por
motivos de serviço, com pontualidade, correcção, asseio e aprumo e em
condições físicas e mentais que permitam desempenhar correctamente as
tarefas;
h) prestar contas do seu trabalho, analisando-o criticamente e desenvolver
a crítica e autocrítica;
i) manter sigilo sobre os assuntos de serviço mesmo depois do termo de
funções;
j) não recusar, retardar ou omitir injustificadamente a resolução de um
assunto que deva conhecer ou o cumprimento de um acto que devia realizar
em razão do seu cargo;
k) zelar pela conservação e manutenção dos bens do Estado e demais
entidades públicas que lhe estão confiados;
l) pronunciar-se sobre deficiências e erros no trabalho e informar sobre os
mesmos ao respectivo superior hierárquico;
m) guardar e conservar a documentação e arquivos segundo os regimes
estabelecidos, remetendo às entidades competentes a documentação de
valor histórico;
n) não se ausentar, sem autorização superior, para o estrangeiro e para fora
da província, durante o período laboral, excepto no período de férias ou dias
de descanso;
o) concorrer aos actos e solenidades oficiais convocados pelas autoridades;
p) manter-se no exercício das suas funções, ainda que haja renunciado o seu
cargo, até que o seu pedido seja decidido;
q) dar exemplo de obediência pelas instituições vigentes e de respeito pelos
seus símbolos e autoridades representativas;
r) manter relações harmoniosas de trabalho com todos os funcionários,
criando um ambiente de estima e de respeito mútuo no trabalho, sem quebra
do rigor, da disciplina e de exigência no cumprimento das obrigações
funcionais;
s) não agredir, injuriar ou desrespeitar qualquer cidadão ou outro
funcionário no local de serviço ou por causa dele;
t) combater todas as manifestações de racismo, tribalismo, regionalismo,
discriminação com base no sexo, filiação partidária, departamentalismo e
outras formas de divisionismo;
u) cumprir integralmente a missão confiada em país estrangeiro e regressar
ao país após o seu cumprimento;
v) informar os dirigentes, funcionários com funções de direcção, chefia
sempre que tenha conhecimento da prática ou tentativa de prática de acto
contrário à Constituição da República, às leis, decisões do Estado,
regulamentos e instruções;
w) adoptar um comportamento correcto e exemplar na sua vida pública,
pessoal e familiar de modo a prestigiar a dignidade da função e a sua
qualidade de cidadão;
x) usar com correcção o uniforme previsto na lei, quando o houver.
2. Constituem ainda deveres especiais do funcionário e agente do Estado:
a) respeitar as normas que regulam o processo de admissão, mobilidade,
progressão e promoção do funcionário;
b) não praticar actos administrativos que privilegiem interesses estranhos
ao Estado em detrimento da eficácia dos serviços;
c) não se servir das funções que exerce em benefício próprio ou em prejuízo
de terceiros;
d) não se deslocar para o estrangeiro em missão de serviço sem autorização
superior expressa;
e) não exercer outra função ou actividade remunerada sem prévia
autorização;
f) promover a confiança do cidadão na Administração Pública, atendendo
pontualmente e com isenção;
g) não assediar material, moral ou sexualmente no local de trabalho ou fora
dele, desde que interfira na estabilidade, no emprego ou na progressão
profissional da parte assediada.

ARTIGO 44
(Ordens e instruções ilegais)

1. O dever de obediência não inclui a obrigação de cumprir ordens e


instruções ilegais.
2. São consideradas ordens ou instruções ilegais as que:
a) ofendem directamente a Constituição da República;
b) sejam manifestamente contrárias à lei;
c) provenham de entidade sem competência para o efeito;
d) impliquem a preterição das formalidades legais;
e) tenham sido dadas em virtude de qualquer procedimento doloso ou
errada informação.
3. Sempre que o funcionário ou agente do Estado considerar que
determinada ordem ou instrução é ilegal, ou que do seu cumprimento pode
resultar perigo de vida ou danos, deve de imediato, dar conhecimento por
escrito, ao seu superior hierárquico, sob pena de ser solidariamente
responsável.
4. Havendo ordem excepcional, que tenha sido dada verbalmente, pode o
funcionário ou agente do Estado solicitar que, para a salvaguarda da sua
responsabilidade, lhe seja transmitida por escrito.
5. Se o pedido não for atendido dentro do tempo em que, sem prejuízo, o
cumprimento da ordem possa ser demorado, o subordinado guardará
consigo os termos exactos da ordem recebida, a remessa do pedido para a
transmissão por escrito e a não satisfação deste, executando seguidamente.
6. Se for ordenado o seu imediato cumprimento, o pedido da respeitosa
representação é feito logo que a ordem for executada, no prazo de 24 horas.
7. Não há dever de obediência sempre que o cumprimento da ordem ou
instrução implicar a prática de um crime.

ARTIGO 45
(Deveres específicos dos dirigentes)

1. Os dirigentes do Estado são responsáveis pela eficiência e eficácia da


direcção e do trabalho desenvolvido nos respectivos serviços e pela
execução da política de gestão de recursos humanos.
2. Os dirigentes do Estado estão sujeitos aos seguintes deveres específicos:
a) respeitar e cumprir a Constituição da República e as demais leis;
b) cumprir e fazer cumprir os instrumentos de planificação, nomeadamente,
o Programa do Governo, o Plano Económico e Social e outros instrumentos
programáticos;
c) assegurar que os bens do Estado sob sua responsabilidade sejam
administrados de forma eficiente e eficaz;
d) velar pela eficiência e eficácia da acção administrativa desenvolvida pelos
seus subordinados, combatendo o burocratismo e lutar pela aplicação de
métodos científicos de trabalho, dirigindo e organizando convenientemente
o sector, equipamento e documentação a seu cargo;
e) promover a formação contínua dos funcionários seus subordinados de
modo a contribuir para a sua auto-realização e garantir uma melhoria
constante da prestação de serviços;
f) respeitar o subordinado dentro e fora de serviço;
g) aplicar métodos colectivos de direcção de trabalho e praticar o diálogo
com os seus subordinados visando o melhoramento das condições de
serviço e promovendo a sua integração nos processos de desenvolvimento
institucional;
h) não utilizar o poder conferido pela função nem a influência dele derivado
para obter vantagens pessoais, proporcionar favores ou benefícios
indevidos a terceiros;
i) combater todas manifestações de abuso de poder, nepotismo,
patrimonialismo, clientelismo e todas as demais condutas que constituam ou
traduzam desigualdade ou favoritismo no tratamento em relação aos
funcionários;
j) controlar os actos dos funcionários que lhe estão subordinados de modo
a prevenir a prática de actos de corrupção e exercer acção disciplinar
quando a ela houver lugar;
k) avaliar o desempenho e classificar o serviço prestado pelo funcionário e
agente do Estado e seus subordinados, com justiça nos períodos
determinados por lei;
l) assegurar que os actos praticados pelo funcionário subordinado estejam
de acordo com a lei e com os direitos e liberdades dos cidadãos;
m) adoptar medidas que tornem a Administração Pública mais simples e
célere, incluindo o recurso às tecnologias modernas;
n) prestar contas do seu trabalho, nos termos da lei;
o) guardar sigilo profissional sobre assuntos de serviço, mesmo após a
cessação da função;
p) comportar-se, na sua vida pública e privada, de modo adequado à
dignidade e prestígio da função que exerce;
q) apresentar a declaração dos seus bens patrimoniais, nos termos da lei.

ARTIGO 46
(Respeito pela precedência)

1. O funcionário e agente do Estado nas suas relações profissionais respeitam


as precedências estabelecidas pela respectiva hierarquia funcional.
2. No caso de igualdade de hierarquia funcional, a antiguidade na função é
fundamento de precedência.

CAPÍTULO VII
Direitos

ARTIGO 47
(Direitos gerais do funcionário e agente do Estado)

1. Constituem direitos gerais do funcionário:


a) exercer as funções para que foi nomeado;
b) receber o vencimento e outros suplementos legalmente estabelecidos;
c) beneficiar de condições adequadas de higiene e segurança no trabalho,
nos termos fixados em diploma específico;
d) participar no respectivo colectivo de trabalho;
e) ter um intervalo diário para descanso;
f) ter descanso semanal;
g) gozar férias anuais e licenças nos termos do presente EGFAE e demais
legislação;
h) ser avaliado periodicamente pelo seu trabalho com base em critérios
justos de desempenho nos termos a regulamentar;
i) ser notificado da certidão de contagem de tempo de serviço para
aposentação de 5 em 5 anos;
j) participar em cursos de formação profissional e de elevação da sua
qualificação;
k) concorrer a categorias ou classes superiores dentro da sua carreira
profissional, bem como a outras carreiras profissionais em função do
preenchimento dos requisitos, da experiência e dos resultados obtidos na
execução do seu trabalho;
l) ser tratado com correcção e respeito;
m) ser tratado pelo título correspondente à sua função;
n) gozar de honras, regalias e precedências inerentes à função;
o) ser reconhecido pelos bons serviços prestados, nomeadamente através
de distinções e prémios;
p) beneficiar de ajudas de custo ou ter alimentação e alojamento diários em
caso de deslocação para fora do local onde normalmente exerce as suas
funções por motivo de serviço;
q) ter transporte para si e para os familiares a seu cargo e respectiva
bagagem em caso de colocação, de transferência por iniciativa do Estado e
da cessação normal da relação de trabalho com o Estado, nos termos do
presente EGFAE;
r) beneficiar de um subsídio de adaptação, fixado por Conselho de Ministros,
por período de três meses, em caso de transferência por iniciativa do Estado
para fora do local onde normalmente presta serviço;
s) gozar de assistência médica e medicamentosa para si e para os familiares
a seu cargo, nos termos da legislação específica;
t) ser aposentado e usufruir da respectiva pensão nos termos da lei;
u) apresentar a sua defesa antes de qualquer punição, salvo as excepções
previstas no n.º 2, do artigo 110 do presente EGFAE;
v) dirigir-se à entidade imediatamente superior sempre que se sentir
prejudicado nos seus direitos;
w) beneficiar de regime especial de assistência por acidente em missão de
serviço, nos termos a regulamentar;
x) beneficiar de medidas adequadas para que os portadores de doença
crónica gozem dos mesmos direitos e obedeçam aos mesmos deveres dos
demais funcionários, nos termos a regulamentar;
y) exercer a liberdade sindical nos termos da legislação aplicável.
2. Ao agente do Estado são reconhecidos os direitos previstos no número
anterior, com excepção das alíneas k), q) e r), do mesmo número salvo nos
casos previstos no presente EGFAE.
3. O funcionário ou agente do Estado portador de deficiência goza dos
mesmos direitos e obedece aos mesmos deveres dos demais funcionários e
agentes do Estado no que respeita ao acesso ao emprego, formação e
promoção profissional, bem como as condições de trabalho adequadas ao
exercício de actividade socialmente útil tendo em conta as especificidades
inerentes à sua capacidade de trabalho reduzida, exceptuando-se o previsto
na alínea k) do n.º 1 do presente artigo, no caso do agente.

ARTIGO 48
(Prescrição dos direitos emergentes da relação de trabalho com o Estado e
outros entes públicos)

1. Todo direito resultante da relação de trabalho com o Estado ou outro ente


público e da sua violação ou cessação prescreve no prazo de um ano,
contado a partir da data da cessação da relação laboral, salvo o que estiver
especialmente regulado em legislação especial.
2. O prazo de prescrição suspende-se, quando o funcionário ou agente do
Estado, o Estado ou outro ente público, tenha proposto aos órgãos
competentes uma acção ou recurso ao tribunal administrativo competente
pelo incumprimento ou violação do vínculo de trabalho.
3. O prazo de prescrição é suspenso igualmente, por um período de 30 dias,
quando o funcionário ou agente do Estado tiver apresentado, por escrito,
reclamação ou recurso hierárquico junto de entidade competente.
4. Os prazos a que se refere o presente artigo são contados em dias
consecutivos de calendário, nos termos da lei.

ARTIGO 49
(Documento de identificação)

1. O funcionário e agente do Estado têm direito a documento de


identificação que constitui elemento de prova da sua qualidade de
funcionário ou agente do Estado, assim como da função que exerce.
2. A situação de aposentado deve ser averbada no documento de
identificação do funcionário ou agente do Estado.

ARTIGO 50
(Direitos especiais da funcionária e da agente do Estado)

1. São assegurados à funcionária e agente do Estado, durante o período da


gravidez e após o parto, os seguintes direitos:
a) não realizar, sem diminuição da remuneração, trabalhos que sejam
clinicamente desaconselháveis ao seu estado de gravidez;
b) não prestar trabalho nocturno, excepcional ou extraordinário, ou ser
transferida do local habitual de trabalho, a partir do terceiro mês de
gravidez, salvo a seu pedido ou se tal for necessário para a sua saúde ou a
do nascituro;
c) manutenção dos direitos inerentes à função ou cargo que exerça durante
o período de gestação.
2. Após a licença de parto, a funcionária ou agente do Estado pode
interromper, diariamente, o trabalho por um período não superior a uma
hora, para aleitamento da criança, até 365 dias, salvo se, por parecer clínico,
outro tempo for estipulado.

ARTIGO 51
(Direitos e regalias em comissão de serviço)

Os direitos e regalias do funcionário em comissão de serviço são objecto de


regulamentação específica.

ARTIGO 52
(Outras regalias)

Outras regalias são reguladas pelo Conselho de Ministros por legi slação
específica.

CAPÍTULO VIII
Remuneração

ARTIGO 53
(Componentes da remuneração)

A remuneração do funcionário ou agente do Estado é constituída por:


a) vencimento;
b) suplementos.

ARTIGO 54
(Vencimento e suplementos)
1. O vencimento constitui a retribuição ao funcionário ou agente do Estado
de acordo com a sua carreira, categoria ou função, como contrapartida pelo
trabalho prestado ao Estado e consiste numa determinada quantia em
dinheiro paga em período e local certos.
2. Todo o funcionário e agente do Estado em regime idêntico de prestação
de serviço têm direito a receber vencimento igual por trabalho igual.
3. Constituem suplementos ao vencimento os abonos e subsídios atribuídos
ao funcionário e agente do Estado, de carácter permanente ou não, nos
termos constantes de regulamento específico.

ARTIGO 55
(Regime excepcional)

1. O funcionário que tenha exercido uma ou várias funções em comissão de


serviço por período mínimo de dez anos, seguidos ou interpolados, pode
adquirir o direito ao vencimento correspondente à:
a) função mais elevada, se a tiver exercido, durante pelo menos 5 anos;
b) qualquer função que, não sendo a mais elevada, tenha exercido por um
período mínimo de 3 anos.
2. Para as situações previstas nas alíneas a) e b) do n.º 1 é necessário que se
tenha avaliação de desempenho positiva nos últimos dois anos de exercício
da função.
3. A atribuição do vencimento a que se refere o número 1 não abrange os
aposentados e, é feita nos termos a regulamentar.
4. O exercício da função prestada em regime de substituição conta para
efeitos do disposto no n.º 1 do presente artigo.
5. O disposto no presente artigo não é aplicável:
a) aos gestores de empresas e institutos públicos ou de outras instituições
ou unidades de execução de projectos regidas por legislação específica;
b) às funções não integradas no Sistema de Carreiras e Remuneração em
vigor na Função Pública.

ARTIGO 56
(Suplemento de trabalho em condições excepcionais)

1. Quando os interesses do Estado assim o exijam, podem ser definidos locais


ou actividades em relação aos quais é abonado um suplemento por virtude
de condições e riscos especiais de trabalho, traduzidos por particular
desgaste físico ou psíquico em razão da natureza do trabalho ou do local.
2. Os locais e actividades bem como o suplemento referidos no número 1 são
definidos em regulamento.

ARTIGO 57
(Remuneração do funcionário destacado)

1. O destacamento confere o direito à remuneração pelo cargo que o


destacado for a desempenhar.
2. Nos casos em que a remuneração do cargo exercido em destacamento
seja inferior à remuneração certa que corresponde ao funcionário destacado,
na respectiva classe ou categoria, aquele aufere a remuneração
correspondente ao seu escalão e classe ou categoria.
3. Em qualquer dos casos referidos nos números anteriores, a remuneração
do funcionário destacado constitui encargo do organismo em que se
encontra a prestar serviço.

ARTIGO 58
(Remuneração por interinidade)

O funcionário interino tem direito a receber a remuneração correspondente


à categoria ou classe para que foi nomeado interinamente.

ARTIGO 59
(Remuneração por substituição)

O desempenho de uma ocupação por substituição confere o direito a


receber o vencimento da ocupação, sempre que se trate de período igual ou
superior a 30 dias.

ARTIGO 60
(Remuneração por acumulação de funções)

O funcionário que acumule funções tem direito a receber, para além do


vencimento correspondente à sua ocupação e enquanto durar a acumulação,
um suplemento correspondente a 25% do vencimento da ocupação.

ARTIGO 61
(Remuneração em período de formação)

O funcionário em actividade que seja seleccionado para frequentar cursos


de formação ou de aperfeiçoamento técnico-profissional, reciclagens ou
estágios, realizados em território nacional ou no estrangeiro tem direito a
uma remuneração fixada em diploma específico.

ARTIGO 62
(Remuneração do funcionário estudante)

É fixada em legislação especial a remuneração do funcionário que, em


obediência aos planos de formação do seu organismo, se encontrar a
frequentar um curso de formação em território nacional ou no estrangeiro.

ARTIGO 63
(Remuneração por trabalho nocturno)

1. Para efeitos de remuneração considera-se trabalho nocturno o que for


prestado no período compreendido entre as 20 horas de um dia as 6 horas
do dia seguinte.
2. As condições para a sua realização e remuneração são reguladas nos
termos de legislação especial.
ARTIGO 64
(Remuneração por trabalho extraordinário)

1. É autorizada a remuneração por trabalho extraordinário, quando se


verifiquem motivos ponderosos para a sua realização.
2. Não há lugar ao pagamento de horas extraordinárias ao funcionário que
exerça cargo de direcção, chefia ou confiança.
3. A prestação de horas extraordinárias é re1munerada na base da tarifa
horária que corresponder ao vencimento do funcionário ou agente do
Estado.
4. A autorização da realização de horas extraordinárias remuneradas
compete aos dirigentes dos órgãos centrais, aos Governadores Provinciais,
aos Administradores Distritais e outros dirigentes indicados na respectiva
legislação, para os funcionários que lhes são subordinados, mediante
proposta prévia devidamente fundamentada.

ARTIGO 65
(Remuneração por trabalho em regime de turnos)

1. Considera-se trabalho em regime de turnos, todo aquele que for prestado


em regime de escalonamento em virtude da exigência de funcionamento do
serviço durante as 24 horas do dia.
2. As condições para a sua realização e remuneração são objecto de
regulamentação específica.

ARTIGO 66
(Subsídio em prisão preventiva)

1. Aos familiares do funcionário ou agente do Estado em prisão preventiva é


pago um subsídio cujo regime consta do regulamento próprio.
2. Cessando a prisão preventiva e não havendo lugar à acusação, o
funcionário ou agente do Estado retoma retroactivamente a sua
remuneração por inteiro, deduzindo-se o valor dos subsídios eventualmente
pagos à família.
3. O pagamento do subsídio cessa logo que for deduzida e recebida a
acusação pelo tribunal ou nos casos de evasão do funcionário ou agente
detido.
4. O funcionário ou agente do Estado absolvido retoma retroactivamente a
sua remuneração por inteiro, deduzindo-se o valor dos subsídios
eventualmente pagos à família.
CAPÍTULO IX
Formação

ARTIGO 67
(Objectivos)

1. O funcionário e agente do Estado desenvolve através de um processo de


formação e aperfeiçoamento as suas qualidades técnico-profissionais.
12. A frequência de cursos de formação por funcionário ou agente do Estado
previamente seleccionados é obrigatória.

ARTIGO 68
(Bolsas de estudo)

1. Os serviços do Estado, nos termos fixados no regime próprio, podem


atribuir bolsas de estudo polo respectivo desempenho.
2. O funcionário bolseiro deve, concluída a sua formação, prestar trabalho
ao Estado, por um tempo mínimo correspondente ao período da duração da
bolsa.

CAPÍTULO X
Avaliação de Desempenho

ARTIGO 69
(Avaliação de desempenho)

1. A avaliação de desempenho do funcionário e agente do Estado é


sistemática e periódica nos termos do regulamento próprio.
2. O desempenho positivo constitui para o funcionário ou agente do Estado
pressuposto essencial para o acesso aos direitos.
3. A avaliação de desempenho de “Mau” tem as seguintes implicações:
a) tratando-se de titular de cargo de direcção ou chefia, cessa as funções;
b) tratando-se de funcionário de nomeação provisória, é dispensado dos
quadros do Estado, sem direito a qualquer indemnização;
c) tratando-se de agente do Estado, extingue-se a relação laboral por
rescisão do contrato;
d) tratando-se de um funcionário de nomeação definitiva é passível de um
procedimento disciplinar.
4. É passível de procedimento disciplinar, o responsável que por negligência
não proceda a avaliação do funcionário e do agente do Estado.
CAPÍTULO XI
Férias, Faltas e Licenças

SECÇÃO I
polo Férias

ARTIGO 70
(Direito à férias)

O funcionário ou agente do Estado tem direito, em cada ano civil, a 30 dias


de férias, nos termos do regulamento próprio.

ARTIGO 71
(Remuneração por férias não gozadas)

1. No ano em que o funcionário ou agente do Estado preveja a cessação da


relação laboral deve requerer férias correspondentes aos meses de trabalho.
2. Em caso de cessação da actividade do funcionário ou agente do Estado
que não seja possível prever, nos termos do número 1, e não resultante de
processo disciplinar, este tem direito a receber remuneração
correspondente ao período de férias não gozadas e proporcional ao tempo
de serviço prestado.

SECÇÃO II
Faltas e abandono de lugar

ARTIGO 72
(Faltas)

1. Considera-se falta ao serviço a não comparência do funcionário ou agente


do Estado durante o período normal de trabalho a que está obrigado, bem
como a não comparência em local a que deva deslocar-se por motivo de
serviço.
2. As faltas podem ser justificadas ou injustificadas.
3. O tratamento a ser reservado às faltas justificadas e injustificadas é
objecto de regulamentação.
ARTIGO 73
(Abandono de lugar)

Presume-se abandono de lugar a ausência do funcionário ou agente do


Estado do seu local de trabalho, sem justificação, por período superior a 45
dias seguidos ou 60 dias interpolados durante o mesmo ano civil.
SECÇÃO III
Licenças

ARTIGO 74
(Tipo de licenças)

1. Os funcionários tem direito às seguintes licenças:


a) por doença;
b) de parto;
c) de paternidade;
d) de casamento, bodas de prata e de ouro;
e) por luto;
f) para o exercício de funções em organismos internacionais;
g) para o acompanhamento do cônjuge colocado no estrangeiro;
h) registada;
i) especial;
j) ilimitada.
2. A concessão das licenças constantes das alíneas g), h) e i) do número 1,
depende da prévia ponderação de conveniência de serviço.
3. O agente do Estado beneficia das licenças das alíneas a), b), c), d) e e) do
número 1, do presente artigo.

ARTIGO 75
(Licenças)

1. A licença por doença é concedida pela Junta de Saúde por períodos até
30 dias, prorrogáveis por períodos sucessivos, ou sob parecer clínico até
oito dias.
2. A licença de parto consiste na concessão à funcionária ou agente do
Estado parturiente, de 90 dias, acumuláveis com as férias, podendo iniciar
20 dias antes da data provável do parto.
3. A licença de parto referida no número anterior aplica-se também aos casos
de parto a termo ou prematuro, independentemente de ter sido nado vivo
ou morto, cujo período de gestação seja igual ou superior a sete meses.
4. A licença de paternidade consiste na concessão, ao pai, de uma licença de
sete dias, seguidos ou interpolados, nos 30 dias contados a partir da data do
nascimento do filho.
5. A licença de paternidade estabelecida no número 4 é concedida por 60
dias quando se verifique morte, ou incapacidade física ou psíquica da
progenitora, devendo a capacidade ser comprovada pela junta de saúde.
6. A licença de casamento, bodas de prata ou de ouro é concedida a
requerimento do funcionário ou agente do Estado visado, e tem a duração
de 10 dias de calendário.
7. Por motivo de morte de familiar, o funcionário ou agente do Estado tem
direito a uma licença de luto, cujo período é estabelecido em razão do grau
de parentesco, nos termos a regulamentar.
8. A pedido de funcionário de nomeação definitiva, desde que haja interesse
do Estado, pode ser concedida licença para o exercício de funções em
organismos internacionais.
9. Quando o funcionário for colocado no estrangeiro por período de tempo
superior a 90 dias ou indeterminado, em missão de representação de
interesses do Estado ou em organismos internacionais, o respectivo cônjuge,
caso seja funcionário, tem direito à licença para acompanhamento de
cônjuge colocado no estrangeiro sem direito a vencimento.
10. Ao funcionário de nomeação definitiva pode ser concedida licença
registada até 180 dias prorrogáveis até 365 dias, invocando motivo
justificado e ponderoso.
11. A licença referida no número 10 pode ser concedida duas vezes
intercaladas por período não inferior a cinco anos de prestação de serviço
efectivo na Administração Pública.
12. A requerimento do funcionário de nomeação definitiva, pode ser
concedida uma licença especial sem vencimento para frequência de
estágios, cursos de pós-graduação, mestrado e doutoramento, até a duração
do respectivo curso prorrogáveis pelo tempo julgado necessário.
13. A licença ilimitada pode ser concedida a pedido do funcionário de
nomeação definitiva.

ARTIGO 76
(Dispensa)

Os pressupostos da dispensa e seus efeitos são objecto de regulamentação.

CAPÍTULO XII
Distinções e Prémios

ARTIGO 77
(Distinções e prémios)

Ao funcionário ou agente do Estado são atribuídas distinções e prémios,


pelo cumprimento exemplar das suas obrigações, elevação da eficiência do
trabalho, melhoria da qualidade de serviço e trabalho prolongado e
meritório, inovações laborais e outros méritos, nas seguintes modalidades:
a) Distinções
i) apreciação oral;
ii) apreciação escrita;
iii) louvor público;
iv) inclusão do nome do funcionário em livro ou quadro de honra;
v) atribuição de condecorações;
vi) concessão de diploma de honra;
vii) outras distinções estabelecidas em legislação aplicável.
b) Prémios
i) preferência na escolha para cursos de formação e de reciclagem e outras
formas de valorização;
ii) atribuição de prendas materiais e prémios monetários;
iii) promoção por mérito.

ARTIGO 78
(Competência)

A competência e os critérios para atribuição de distinções e prémios


referidos no artigo 77 do presente Estatuto são objecto de regulamento
próprio.
CAPÍTULO XIII
Deslocações

ARTIGO 79
(Motivos)

1. As deslocações são determinadas pelos seguintes motivos:


a) colocação;
b) mobilidade;
c) missão de serviço;
d) doença comprovada por atestado médico ou Junta de Saúde;
e) concursos;
f) outros motivos.
2. As deslocações referidas no número 1 conferem ao funcionário ou agente
do Estado o direito ao abono de passagens, salvo nos casos de mobilidade
a pedido do funcionário.
3. As deslocações efectuadas nos termos da alínea c), do n.º 1 do presente
artigo conferem o direito a ajudas de custo nos termos do regulamento
próprio.
4. As deslocações por motivo de colocação e mobilidade conferem o direito
ao abono de passagens para a família, desde que viva na dependência
exclusiva do funcionário ou agente do Estado.
5. Para efeitos do número anterior entende-se por família:
a) cônjuge incluindo os que se encontram em união de facto;
b) descendentes menores do casal, incluindo os enteados e adoptados;
c) ascendentes do casal a seu cargo;
d) descendentes maiores incapazes a seu cargo.
6. Em relação aos familiares previstos nas alíneas c) e d) do n.º 5, deve ser
comprovado através de atestado, emitido pela estrutura administrativa do
local de residência, que vivem em comunhão de mesa e habitação.
7. Na mobilidade por conveniência de serviço do funcionário cujo cônjuge
ou a pessoa com quem vive em união de facto é também funcionário deve
igualmente ser assegurada a mobilidade deste, nos termos da lei.

ARTIGO 80
(Acompanhamento por familiar em caso de doença)

1. Nas deslocações por motivo de doença do funcionário ou agente do


Estado ou de qualquer dos membros do agregado familiar previstos no n.º
5, do artigo 79 do presente EGFAE, quando por parecer da Junta de Saúde
ou clínico deva ser acompanhado por elemento de família, a passagem deste
também corre por conta do Estado.
2. Os casos de óbito de funcionário ou agente do Estado são tratados de
acordo com as normas a regulamentar incluindo a situação que envolva a
transladação.
ARTIGO 81
(Classes em viagem)

O funcionário ou agente do Estado e os seus familiares viajando por via


aérea, marítima ou terrestre, têm direito a ocupar determinadas classes,
segundo a hierarquia, nos termos do regulamento próprio.

ARTIGO 82
(Conversão de passagens em combustível)

Nos casos em que o funcionário ou agente do Estado pretenda utilizar


viatura própria pode ser fornecido combustível consoante a média do
consumo por quilómetro da sua viatura até ao seu destino e vice-versa.

ARTIGO 83
(Passagens para familiares por morte do funcionário ou agente do Estado
em missão de serviço)

Em caso de morte de funcionário ou agente do Estado, resultante de


acidente em missão de serviço fora do local do domicílio oficial, constitui
encargo do Estado:
a) o abono das passagens para o agregado familiar, em número a
regulamentar;
b) as despesas resultantes da transladação do corpo.

ARTIGO 84
(Bagagem)

Em caso de colocação ou mobilidade por iniciativa do Estado, o funcionário


tem direito a transporte de bagagem, nos termos do regulamento próprio.

CAPÍTULO XIV
Liberdade Sindical e Greve

ARTIGO 85
(Liberdade sindical)

A criação, modificação e extinção de sindicato, união, federação ou outras


formas de associações sindicais e profissionais na Função Pública, bem como
as respectivas garantias de independência e autonomia, relativamente ao
Estado, aos partidos políticos, às instituições e confissões religiosas, com
vista à promoção da estabilidade laboral e na resolução de conflitos entre o
Estado e o funcionário ou agente do Estado são regulados por lei.
ARTIGO 86
(Greve)

O exercício do direito à greve pelo funcionário e agente do Estado é


regulado por lei e assenta no respeito pelo princípio da continuidade e
qualidade da prestação do serviço público.

CAPÍTULO XV
Responsabilidade Disciplinar

SECÇÃO I
Disposições gerais

ARTIGO 87
(Princípios gerais)

1. O funcionário ou agente do Estado que não cumpre ou que falte aos seus
deveres, abuse das suas funções ou de qualquer forma prejudique a
Administração Pública está sujeito a procedimento disciplinar ou à aplicação
de sanções disciplinares, sem prejuízo de procedimento criminal ou cível.
2. A principal finalidade da sanção é a educação do funcionário ou agente
do Estado para uma adesão voluntária à disciplina e para o aumento da
responsabilidade no desempenho da sua função.
3. A falta de cumprimento dos deveres por acção ou omissão dolosa ou
culposa é punível ainda que não tenha resultado prejuízo ao serviço.

ARTIGO 88
(Exclusão de responsabilidade disciplinar)

1. É excluída a responsabilidade disciplinar do funcionário ou agente do


Estado que actue no cumprimento de ordens ou de instruções emanadas de
legítimo superior hierárquico, em matéria de serviço, se delas tenha
reclamado ou exigido a sua transmissão ou confirmação, por escrito.
2. Considerando ilegal a ordem recebida, o funcionário ou agente do Estado
faz menção desse facto ao reclamar ou ao pedir a sua transmissão ou
confirmação, por escrito.
3. Quando a ordem seja dada com menção de cumprimento imediato, a
comunicação do funcionário ou agente do Estado é efectuada após a
execução da ordem.
4. Cessa o dever de obediência, sempre que o cumprimento das ordens ou
instruções implique a prática de crime.

ARTIGO 89
(Prescrição do procedimento disciplinar)

1. O direito de instaurar o processo disciplinar prescreve passados três anos


sobre a data em que a infracção tiver sido cometida.
2. Suspende o prazo de prescrição a instauração do processo disciplinar, de
inquérito, de sindicância ou de averiguação, mesmo que não tenha sido
instaurado o procedimento disciplinar contra o funcionário ou agente do
Estado a quem a prescrição aproveita, caso se venha a apurar infracção de
que seja autor.
3. Constituindo infracção disciplinar simultaneamente infracção criminal, o
direito de instaurar o procedimento disciplinar prescreve no prazo previsto
em legislação penal para a prescrição do procedimento criminal.

SECÇÃO II
Sanções disciplinares

ARTIGO 90
(Tipo de sanções disciplinares)

1. As sanções disciplinares aplicáveis ao funcionário e agente do Estado são


as seguintes:
a) advertência;
b) repreensão pública;
c) multa;
d) despromoção;
e) demissão;
f) expulsão.
2. Não é lícito aplicar a título de sanção disciplinar qualquer outra medida
que não esteja prevista no número 1, sem prejuízo dos efeitos acessórios
consagrados no artigo 103 do presente Estatuto.

ARTIGO 91
(Conteúdo das sanções disciplinares)

1. As sanções disciplinares consistem no seguinte:


a) Advertência – crítica formalmente feita ao infractor pelo respectivo
superior hierárquico;
b) Repreensão pública – crítica feita ao infractor pelo respectivo superior
hierárquico, na presença dos funcionários ou agentes do Estado do serviço
onde o infractor esteja afectado;
c) Multa – desconto de uma importância correspondente ao vencimento do
funcionário ou agente do Estado pelo mínimo de cinco e máximo de 90 dias,
graduada conforme a gravidade da infracção, que reverte para os cofres do
Estado. O desconto em cada mês é efectuado nos vencimentos do infractor,
não podendo exceder um terço do seu vencimento;
d) Despromoção – descida para a classe ou categoria inferior no primeiro
escalão da faixa salarial pelo período de seis meses a dois anos;
e) Demissão – afastamento do infractor do aparelho do Estado, podendo ser
readmitido decorridos quatro anos sobre a data do despacho punitivo,
desde que cumulativamente:
i) haja vaga no quadro de pessoal;
ii) haja disponibilidade orçamental;
iii) se prove que através do seu comportamento se encontra reabilitado.
f) Expulsão – afastamento do infractor do aparelho do Estado, podendo ser
readmitido decorridos oito anos sobre a data do despacho punitivo, desde
que cumulativamente:
i) haja vaga no quadro de pessoal;
ii) haja disponibilidade orçamental;
iii) se prove que através do seu comportamento se encontra reabilitado.
2. O funcionário demitido ou expulso ou agente com contrato rescindido por
motivos disciplinares não havendo vaga na instituição anterior pode
concorrer para ingresso noutras instituições públicas.
3. Se a sanção da alínea d), do número 1 recair em funcionário de categoria
ou classe insusceptível de despromoção, a pena é graduada para a sanção
imediatamente superior ou inferior, consoante as circunstâncias agravantes
ou atenuantes fixadas no respectivo processo disciplinar.
4. O funcionário expulso ou demitido pode requerer a aposentação desde
que tenha, pelo menos, 15 anos de serviço no Estado.
5. O funcionário demitido ou expulso, não podendo reingressar no Aparelho
do Estado, pode solicitar a transferência dos descontos para aposentação
efectuados para outro sistema de segurança e previdência a que se
encontrar vinculado.

SECÇÃO III
Infracções e sanções

ARTIGO 92
(Advertência)

A sanção de advertência recai em faltas que não tragam prejuízo ou


descrédito para os serviços ou para terceiros.

ARTIGO 93
(Repreensão pública)

1. A sanção de repreensão pública é em geral aplicada às infracções que


revelam falta de interesse pelo serviço.
2. É nomeadamente aplicável ao funcionário e ao agente do Estado que:
a) não cumpra exacta, pronta e lealmente as ordens e instruções legais dos
seus superiores hierárquicos, relativas aos serviços, desde que não resulte
em descrédito ou prejuízo para os serviços ou terceiros;
b) durante o mês, se ausente ou falte ao serviço até 24 horas de trabalho
sem justa causa;
c) não acate as regras das instituições vigentes, ou não manifeste a
deferência devida aos seus símbolos e autoridades representativas;
d) sem motivo justificado, não participe nos actos e solenidades oficiais para
que tenha sido convocado;
e) assuma um comportamento indisciplinado nas relações de trabalho, se
sanção mais grave não couber;
f) deixe de prestar contas do seu trabalho ou não o analise criticamente
desenvolvendo crítica e autocrítica;
g) assuma um comportamento incorrecto na sua qualidade de cidadão;
h) falte ao dever de manter relações harmoniosas de trabalho e não crie um
ambiente de estima e respeito mútuo;
i) falte ao serviço sem justificação até cinco dias seguidos ou oito dias
interpolados durante o ano civil.

ARTIGO 94
(Multa)

1. A sanção de multa é aplicável ao funcionário e ao agente do Estado no


caso de negligência ou falta de zelo no cumprimento dos deveres.
2. É nomeadamente aplicável ao funcionário e ao agente do Estado que:
a) não zele pela conservação e manutenção dos bens do Estado que lhe
estão confiados;
b) exerça outra função ou actividade remunerada sem prévia autorização;
c) esbanje ou permita esbanjamento, não usando racionalmente e com
austeridade os meios humanos, materiais e financeiros disponíveis;
d) retarde ou omita injustificadamente a resolução de um assunto ou a
prática de um acto em razão da sua função, ou ainda se recuse a fazê-lo;
e) guarde ou conserve de forma inconveniente livros, documentos e outro
material a seu cargo, violando instruções ou ordens superiores ou que não
lhes dêem o devido destino;
f) falte ao serviço sem justificação aceitável até 15 dias seguidos ou
interpolados durante o ano civil;
g) não use com correcção o uniforme prescrito na lei;
h) não se apresente ao serviço limpo, asseado e aprumado.

ARTIGO 95
(Despromoção)

1. A sanção de despromoção é aplicável ao funcionário que revele


incompetência profissional culposa de que resultem prejuízos para o Estado
ou para terceiros e nos casos de violação de deveres profissionais
fundamentais e negligência grave.
2. Considera-se incompetência profissional culposa o exercício de forma não
eficiente das funções, com prejuízo ou criação de obstáculos ao processo e
ritmo de trabalho, à eficiência e relações de trabalho.
3. É nomeadamente aplicável ao funcionário que:
a) não respeite os superiores hierárquicos, tanto no serviço como fora dele;
b) tolere manifestações de tribalismo, regionalismo e racismo;
c) não se apresente com pontualidade, correcção, asseio e aprumo nos locais
onde deva comparecer por motivo de serviço;
d) se apresente em estado de embriaguez ou sob efeitos de substâncias
psicotrópicas e alucinogénias no local de trabalho, se pena mais grave não
couber;
e) assedie moral, material ou sexualmente os seus colegas;
f) deixe de informar os dirigentes da prática ou tentativa de prática de
qualquer acto contrário à Constituição da República ou princípios definidos
pelo Estado de que tenha conhecimento;
g) falte sem justificação aceitável ao serviço até 30 dias seguidos ou 45 dias
interpolados durante o ano civil;
h) se sirva das suas funções ou invoque o nome do órgão, estrutura, dirigente
ou superior hierárquico para obter vantagens, exercer pressão ou vingança;
i) não aceite exercer funções em qualquer lugar para onde seja designado;
j) pratique nepotismo, favoritismo, patrimonialismo e clientelismo na
admissão, promoção ou movimentação de pessoal;
k) pratique actos administrativos que privilegiem interesses estranhos ao
Estado em detrimento da eficácia dos serviços;
l) não atende o cidadão com civismo e respeito;
m) pratique actos ou omissões que, de forma determinante, concorram para
o início de actividades de agentes cujo ingresso não tenha sido precedido
de publicação em Boletim da República, salvo os casos previstos na lei.

ARTIGO 96
(Demissão)

1. A sanção de demissão é aplicável nos seguintes casos:


a) procedimento atentatório ao prestígio e dignidade da função;
b) incompetência profissional grave, designadamente ignorância
indesculpável, inaptidão, erro indesculpável, bem como reiterado
incumprimento de leis, regulamentos, despachos e instruções superiores.
2. É nomeadamente aplicável ao funcionário que:
a) reiteradamente não cumpra exacta, pronta e lealmente as ordens e
instruções dos seus superiores hierárquicos relativas aos serviços;
b) divulgue ou permita a divulgação de informação classificada que conheça
em razão do serviço;
c) abandone injustificadamente o local ou sector de trabalho, recusando
enfrentar riscos ou dificuldades resultantes do próprio trabalho ou local;
d) negligencie a missão que lhe tiver sido confiada em País estrangeiro ou
não regresse logo após o cumprimento da missão;
e) falte ao serviço sem justificação aceitável até 45 dias seguidos ou 60 dias
interpolados, durante o mesmo ano civil;
f) viole regras relativas ao conflito de interesses, quando se trate de
funcionário ou agente que não exerça função de direcção, chefia ou
confiança;
g) pratique actos ou omissões que, de forma determinante, concorram para
o início de actividades de funcionário ou agente cujo ingresso não tenha sido
precedido de visto do tribunal administrativo competente, salvo os casos
previstos na lei.

ARTIGO 97
(Expulsão)

A sanção de expulsão é aplicável ao funcionário que:


a) atente contra a unidade nacional;
b) atente contra o prestígio ou dignidade do Estado;
c) agrida, injurie ou desrespeite gravemente qualquer cidadão ou
funcionário ou agente no local de serviço ou fora dele por assunto
relacionado com o serviço;
d) incite o funcionário e agente à indisciplina, à desobediência às leis e
ordens legais superiores ou provoque o não cumprimento dos deveres
inerentes à função pública;
e) viole o segredo profissional ou confidencialidade de que resultem
prejuízos materiais ou morais para o Estado ou para terceiros;
f) pratique ou tente praticar desvio de fundos ou bens do Estado;
g) se sirva das suas funções para solicitar ou receber dinheiro ou promessa
de dinheiro ou qualquer vantagem patrimonial, que não lhe seja devido para
praticar ou não praticar um acto que implique violação dos deveres a seu
cargo;
h) viole regras relativas ao conflito de interesses, quando se trate de
funcionário ou agente que exerça função de direcção, chefia e ou confiança;
i) abandono de lugar.

ARTIGO 98
(Graduação das medidas disciplinares)

1. Para efeitos de graduação das medidas disciplinares deve-se ponderar a


gravidade da infracção praticada, a importância do prejuízo causado e, em
especial, as circunstâncias em que a infracção foi cometida, o grau de
culpabilidade e a conduta profissional do funcionário.
2. A infracção considera-se particularmente grave sempre que a sua prática
seja reiterada, intencional e provoque prejuízo ao Estado ou à economia
nacional ou, por qualquer forma, ponha em causa a subsistência da relação
do trabalho com o Estado.

ARTIGO 99
(Circunstâncias atenuantes)

1. São circunstâncias atenuantes as seguintes:


a) a confissão espontânea da infracção;
b) a reparação espontânea dos prejuízos causados;
c) o comportamento exemplar anterior à infracção;
d) a falta de intenção dolosa;
e) a prestação de serviços relevantes ao Estado;
f) ausência de publicidade da infracção;
g) os diminutos efeitos que a falta tenha produzido;
h) todas aquelas que revelarem diminuição de responsabilidade.
2. Sempre que num processo disciplinar seja fixada qualquer das atenuantes
enumeradas no n.º 1, pode ser aplicada ao infractor a pena mais baixa desse
escalão ou a pena mais grave do escalão imediatamente inferior.

ARTIGO 100
(Agravantes)

1. São circunstâncias agravantes:


a) a acumulação de infracções;
b) a reincidência;
c) a premeditação;
d) a gravidade da infracção.
2. A categoria, classe ou função do infractor, de acordo com o seu nível
hierárquico, constitui circunstância agravante especial do dever de não
cometer a infracção ou de obstar a que ela fosse cometida.
3. Sempre que num processo disciplinar seja fixada qualquer das agravantes
referidas no n.º 1 é aplicada ao infractor a pena mais grave desse escalão ou
a pena mais baixa do escalão imediatamente superior.

ARTIGO 101
(Danos)

Se da infracção disciplinar advierem danos materiais ou prejuízos


mensuráveis nos bens do Estado em consequência de dolo, imprudência,
falta de destreza ou negligência do funcionário ou agente do Estado, deve
ser participado, no que respeita aos danos ou prejuízos, ao Ministério Público
para efeitos de instauração do competente procedimento civil ou criminal,
conforme ao caso couber.

ARTIGO 102
(Acumulação, reincidência e premeditação)

1. Há acumulação de infracções quando duas ou mais infracções são


cometidas na mesma ocasião ou quando uma é cometida antes de ter sido
punida a anterior.
2. Há reincidência quando a infracção for cometida antes do fim do
cumprimento da sanção anterior, desde que se trate de infracção a que seja
abstractamente aplicável a mesma sanção.
3. Há premeditação quando o desígnio é formado pelo menos 24 horas antes
da prática da infracção.

ARTIGO 103
(Efeitos acessórios das sanções)

1. A multa implica, para todos os efeitos legais, a perda de antiguidade


correspondente ao dobro do número de dias da pena aplicada.
2. A despromoção implica:
a) a perda de tempo de serviço correspondente para efeitos de admissão ao
concurso de promoção;
b) a proibição de progredir, ser promovido, mudar de carreira ou ser
admitido a concurso durante o período de cumprimento da respectiva pena;
c) a cessação de funções, quando incida sobre funcionário que esteja em
exercício de funções em comissão de serviço.
3. A demissão implica:
a) o desconto de 365 dias na antiguidade para a fixação da pensão de
aposentação;
b) na readmissão, o tempo de inactividade não é contado para nenhum
efeito, iniciando-se nessa data a contagem de tempo exigido para efeitos de
férias e admissão a concurso.
4. A expulsão implica:
a) o desconto de 730 dias na antiguidade para fixação da pensão de
aposentação;
b) na readmissão o tempo de inactividade não é contado para nenhum
efeito, iniciando-se nesta data a contagem de tempo exigido para efeitos de
férias e admissão a concurso.

ARTIGO 104
(Execução das sanções)

1. A sanção torna-se definitiva depois de decorrido o prazo de recurso


legalmente estabelecido no número 1, do artigo 123 do presente EGFAE, sem
que o mesmo tenha sido interposto ao órgão competente.
2. No caso das penas de demissão e expulsão, o arguido mantém-se afastado
do exercício do cargo sem vencimentos, a partir do dia imediato àquele em
que tomar conhecimento do despacho punitivo, até que a sanção se torne
definitiva ou até decisão final, se tiver interposto recurso.
3. O provimento ao recurso no caso referido no número 2 implica a retomada
imediata das funções e o abono dos vencimentos retroactivamente a partir
da data do afastamento.

ARTIGO 105
(Registo de sanções, competência e fundamentos para cancelamento de
registo)

1. Exceptuando a advertência, todas as sanções devem constar do registo


biográfico do funcionário.
2. O registo da sanção cumprida pode ser cancelado do assento do registo
biográfico com excepção das penas de demissão e expulsão.
3. O cancelamento da sanção é decidido pelo dirigente com competência
para nomear, sob proposta do dirigente do colectivo de trabalho do
funcionário punido, fundamentada na efectiva regeneração, dedicação ao
trabalho e comportamento correcto durante dois anos.
4. O cancelamento elimina do assento do registo biográfico do funcionário
a menção da infracção e da respectiva sanção.

ARTIGO 106
(Sanção única)

1. A nenhum arguido é aplicada mais de uma sanção pela mesma infracção


disciplinar.
2. Sempre que haja vários processos disciplinares a correr contra o mesmo
funcionário ou agente, são todos, depois de instruídos, apensos ao mais
antigo para apreciação e decisão conjunta.

SECÇÃO IV
Processo disciplinar

ARTIGO 107
(Obrigatoriedade de processo escrito)

1. A aplicação de sanção disciplinar a um funcionário ou agente do Estado é


apurada em processo disciplinar escrito.
2. As sanções de advertência e repreensão pública podem não depender de
processo, podendo, no entanto, promover-se a audiência e defesa do
arguido.
3. A requerimento oral ou escrito é lavrado auto de diligências referidas no
n.º 2 na presença de, pelo menos, uma testemunha indicada pelo arguido.
4. Desejando apresentar a sua defesa por escrito, nos termos referidos nos
n.ºs 2 e 3 do presente artigo, o arguido tem o prazo de 48 horas.

ARTIGO 108
(Início do processo disciplinar)

1. O processo disciplinar inicia-se por ordem do dirigente e em resultado da


participação ou conhecimento directo da infracção.
2. As participações ou queixas verbais são reduzidas a auto escrito pelo
funcionário que as receber.
3. Sempre que a participação ou queixa apresentada se mostrar com
fundamento para procedimento disciplinar, o dirigente deve designar para
instrutor funcionário de igual ou superior graduação do que a do arguido,
bem como o respectivo escrivão.
4. Ao instrutor e escrivão aplica-se o regime de impedimentos e suspeições
previsto na lei.
5. Sempre que necessário para apuramento da verdade, o instrutor pode
requisitar a quaisquer serviços públicos, autoridades administrativas e
policiais, informações e elementos de prova material.

ARTIGO 109
(Forma do processo)

1. O processo disciplinar é sempre sumário e deve ser conduzido de modo a


levar ao rápido apuramento da verdade material, empregando todos os
meios necessários para a sua pronta conclusão.
2. Sempre que os actos contrários à disciplina praticados pelo funcionário
ou agente do Estado acusado constituem crimes ou causem prejuízo para o
Estado ou a terceiros, devem ser tiradas cópias do processo e remetidas às
autoridades competentes para o início de procedimento criminal ou civil.

ARTIGO 110
(Suspensão do arguido)

Nas infracções a que for aplicável pena de demissão ou expulsão e desde


que haja fortes indícios de culpabilidade, com a notificação da nota de
acusação o arguido pode ser preventivamente suspenso do serviço sem a
perda dos seus vencimentos, pelo período máximo de 60 dias, sempre que
a sua presença na instituição possa prejudicar o decurso normal do processo
disciplinar.
ARTIGO 111
(Competência para suspender)

São competentes para suspender:


a) as Entidades nomeadas pelo Presidente da República;
b) o Secretário - Geral;
c) o Secretário Permanente de Ministério;
d) o Director - Geral;
e) o Inspector – Geral;
f) o Director Nacional;
g) o Secretário Permanente Provincial;
h) o Director Provincial;
i) o Administrador de Distrito;
j) o Secretário Permanente Distrital;
k) o Chefe de Posto Administrativo;
l) o Chefe de Localidade;
m) outras entidades com competência para nomear ou indicados na
respectiva legislação.

ARTIGO 112
(Instrução do processo)

1. A instrução do processo disciplinar inicia com a notificação do despacho


que designa o instrutor e termina dentro de um prazo de 45 di as.
2. Este prazo pode, em casos devidamente justificados, ser prorrogado por
mais 15 dias.
3. Quando a complexidade da instrução determine a realização de
peritagens, deslocações prolongadas ou por exigência de comunicações, o
prazo estabelecido anteriormente pode ser prorrogado pelo dirigente por
sua iniciativa ou a requerimento do instrutor, no prazo não superior a 45
dias.
4. A prorrogação do prazo indicado no número 3 deve ser comunicada ao
arguido.
5. Decorridos 150 dias, desde o início do procedimento disciplinar sem que
o processo tenha sido encerrado, extingue-se o poder disciplinar da
Administração Pública.

ARTIGO 113
(Audiência)

No início da instrução, o instrutor notifica o participante, o presumível


infractor, testemunhas e outros declarantes para ouvi-los sobre os factos
constantes do auto de participação, queixa ou denúncia.

ARTIGO 114
(Notificação do arguido)

1. Deduzida a acusação, é entregue pessoalmente ao arguido a nota de


acusação a qual averba o seu recebimento na cópia a juntar ao processo,
com a sua assinatura e data, devendo a cópia desta ser entregue ao órgão
sindical do serviço em que o funcionário presta actividade no caso deste,
estar inscrito.
2. Não se conhecendo o paradeiro do arguido a notificação é feita atrav és
de editais, no local do serviço ou publicados nos jornais de maior circulação
e rádios.
3. O edital é dado a conhecer ao órgão sindical do local de trabalho, caso
exista.

ARTIGO 115
(Defesa do arguido)

1. O arguido tem o prazo de 15 dias, a contar da data da entrega da nota de


acusação, para apresentar, querendo, a sua defesa por forma escrita ou oral,
devendo esta última ser reduzida a auto escrito que é lido na presença de
duas testemunhas e assinado por todos os intervenientes.
2. Findo o prazo referido no n.º 1 do presente artigo a cópia do processo é
remetida ao órgão sindical a que o arguido está filiado para, querendo, emitir
seu parecer e remeter ao instrutor no prazo de cinco dias.
3. O parecer do órgão sindical não é vinculativo sendo que a sua ausência
não constitui impedimento do curso normal do processo disciplinar e nem
consubstancia causa de invalidade do mesmo.
4. Quando o termo do prazo referido no n.º 1 do presente artigo se verifique
em dia em que o serviço não esteja aberto ao público, ou não funcione
durante o período normal, transfere-se para o primeiro dia útil.
5. Da nota de acusação deve constar, obrigatoriamente e de forma clara, o
prazo para arguido apresentar, querendo, a sua defesa escrita ou oral, a
infracção ou infracções de que é acusado, a data e local em que foram
praticadas e outras circunstâncias pertinentes, bem como as circunstâncias
e agravantes se as houver e ainda a referência aos preceitos legais
infringidos e as sanções aplicáveis.
6. Durante o prazo referido no n.º 1, o processo é facultado ao arguido, que
o pode consultar durante as horas de expediente na presença do instrutor
ou do escrivão.

ARTIGO 116
(Independência do processo disciplinar)

Sem prejuízo do que decorre do regime da comunicabilidade das provas, o


procedimento disciplinar é independente dos processos-crime e cível, para
efeitos de aplicação das sanções disciplinares.

ARTIGO 117
(Causas de nulidade do processo disciplinar)

1. O processo disciplinar é nulo nos seguintes casos:


a) não ter sido dado conhecimento da nota de acusação ao arguido, por via
de notificação pessoal ou edital sempre que for caso disso;
b) falta de indicação da infracção ou infracções de que é acusado, da sanção
aplicável e do prazo de que dispõe o arguido para exercer o seu direito de
defesa;
c) falta de audição do arguido;
d) prescrição do direito de exigir a responsabilidade disciplinar decorridos
os prazos indicados n.º 5 do artigo 112.
2. Exceptuam-se do disposto no número 1, não dando lugar à nulidade
insuprível, os casos em que:
a) tendo sido entregue ao arguido a nota de acusação, este não exerça o seu
direito de defesa, no prazo legal estabelecido para o efeito;
b) seja certificada e testemunhalmente comprovada a impossibilidade de
localização para efeitos de entrega da nota de acusação, nos termos do
artigo 114 do presente EGFAE;
c) seja certificada e testemunhalmente comprovada a recusa, por parte do
arguido, de receber a nota de acusação nos termos do artigo 114 do presente
EGFAE.

ARTIGO 118
(Fases do processo)

1. O processo disciplinar compreende entre outras as seguintes fases:


a) auto de declaração do participante ou queixoso, ou documento
equiparado a participação;
b) nomeação do instrutor;
c) audiência do presumível infractor;
d) elaboração da nota de acusação;
e) defesa do arguido;
f) junção de registo biográfico;
g) elaboração de relatório final do instrutor com proposta fundamentada da
decisão a tomar;
h) despacho de punição ou absolvição, lavrado pelo dirigente competente;
i) notificação do despacho punitivo ou absolutório ao arguido.
2. De acordo com a natureza e complexidade outros actos podem tornar-se
necessários:
a) auto de declaração de testemunhas eventualmente indicadas pelo
participante ou pelo arguido;
b) efectivação de diligências referidas pelo arguido ou que o instrutor julgue
convenientes;
c) auto de acareação;
d) peritagem.

ARTIGO 119
(Infracção directamente constatada)

1. O superior hierárquico que presenciar directamente a infracção cometida


pelo subordinado, toma de imediato as providências aconselháveis e
articula, dentro de 72 horas, para a elaboração da nota de acusação de que
entrega cópia ao arguido, o qual pode responder, querendo, dentro do prazo
máximo de 48 horas.
2. Se o arguido apresentar rol de testemunhas ou requerer alguma diligência
é nomeado um instrutor do processo.
ARTIGO 120
(Conclusão do processo)

1. Concluída a instrução, o instrutor faz imediatamente o relatório final,


completo e conciso, donde conste a existência concreta da infracção, sua
qualificação e gravidade, bem como a sanção aplicável devendo, no caso de
concluir ser infundada a acusação, propor o arquivamento do processo e
providenciar o procedimento criminal contra o participante em caso de
litigância de má-fé.
2. O dirigente que mandou instaurar o processo disciplinar decide no prazo
de 45 dias a contar da recepção do processo disciplinar.
3. A decisão que recai sobre o processo é fundamentada e toma sempre em
conta as circunstâncias agravantes e atenuantes fixadas.
4. Se a sanção aplicável não estiver dentro da sua competência, o dirigente
que mandou instaurar o processo remete seguidamente o respectivo
processo ao dirigente competente, pela via hierárquica.
5. A decisão final do processo disciplinar é tomada no prazo de 45 dias a
contar da data de recepção do processo disciplinar referido no n.º 2.

ARTIGO 121
(Notificação da decisão e sua execução)

1. A decisão final é, por norma, notificada ao arguido nos próprios autos,


devendo aquele declarar por escrito que tomou conhecimento, datando e
assinando, após o que, decorrido o prazo legal de recurso hierárquico sem
que este seja interposto, a decisão é executada.
2. Na inviabilidade do preceituado no n.º 1, a decisão é notificada ao arguido
através do seu local de trabalho, mediante remessa de certidão do despacho
punitivo.

ARTIGO 122
(Competência para aplicação da sanção)

1. Todo o dirigente é competente para aplicar as sanções de advertência e


repreensão pública ao funcionário e agente que lhes estão subordinados.
2. São competentes para aplicar a sanção de multa ao funcionário e agentes
que lhes estão subordinados:
a) a nível central, os Directores de Serviços Centrais e Chefes de
Departamentos;
b) a nível local, Directores Provinciais, Delegados Provinciais, Delegados
Regionais e Chefes de Posto Administrativo.
3. São competentes para aplicação da sanção de despromoção ao
funcionário que lhe está subordinado:
a) a nível central: titulares de instituições da Administração Indirecta,
Inspectores - Gerais, Directores Nacionais e equiparados;
b) a nível local: os Secretários Permanentes Provinciais e os Secretários
Permanentes Distritais.
4. A sanção de demissão e expulsão só podem ser aplicadas pelos dirigentes
que têm competência para nomear, sem prejuízo de aplicar todas as
restantes sanções disciplinares.
5. Nas autarquias locais, a aplicação de sanções disciplinares compete ao
Presidente do Conselho Municipal ou de Povoação ou outro dirigente
indicado na respectiva legislação.

SECÇÃO V
Recurso e revisão

ARTIGO 123
(Recurso)

1. Da sanção cabe recurso para o dirigente imediatamente superior àquele


que puniu, a interpor no prazo de 20 dias, contados a partir da data da
tomada de conhecimento do respectivo despacho, mediante apresentação
de requerimento, donde constem as alegações que fundamentam o pedido.
2. Findo o prazo de 25 dias, sem que haja despacho, o recorrente pode
recorrer dessa falta ao dirigente imediatamente superior àquele a quem
recorreu e, não sendo atendido, ao Ministro, Governador Provincial ou
Administrador Distrital, conforme os casos.
3. Na falta de despacho, por dolo ou culpa, dentro do prazo legal, pode o
Ministro, Governador Provincial ou Administrador Distrital determinar o
procedimento disciplinar.

ARTIGO 124
(Sanção injusta)

Se do processo resultar que a injustiça da sanção teve origem na


inexactidão intencional ou culposa de informações ou declarações
deturpadas, procede-se disciplinarmente contra o autor das mesmas, sem
prejuízo da responsabilidade criminal que possa ser exigida.

ARTIGO 125
(Suspensão da execução da sanção)

A interposição de recurso sobre as sanções de multa, despromoção,


demissão e expulsão suspende o cumprimento da pena aplicada.

ARTIGO 126
(Consulta do processo)

Para alegações de recurso pode o arguido consultar o respectivo processo


disciplinar durante as horas de expediente, na presença do funcionário que
tem o processo a sua guarda mediante a autorização do superior hierárquico.
ARTIGO 127
(Revisão)

1. É permitida a revisão dos processos disciplinares quando se venham a


verificar factos supervenientes ou surjam meios de prova susceptíveis de
demonstrar a inexistência dos factos que decisivamente influíram na
punição.
2. A revisão do processo disciplinar é feita dentro do prazo de 90 dias a
contar da data em que o requerente tem conhecimento dos factos ou
meios de prova supervenientes referidos no número 1.
3. A revisão é requerida ao dirigente com competência para nomear.
4. Para interposição do pedido de revisão pode o infractor consultar o
respectivo processo durante as horas de expediente na presença do
funcionário que tem o processo a sua guarda e mediante autorização do
dirigente competente.

ARTIGO 128
(Reintegração)

Se, em virtude de decisão de autoridade estatal ou de sentença proferida


por tribunal competente, o funcionário deva ser reintegrado ou reassumir as
suas funções com ou sem reparação dos seus vencimentos não abonados, ou
deva receber vencimentos que com tempo respectivo hajam sido declarados
perdidos, o tempo correspondente é contado para efeitos de aposentação,
desde que o mesmo satisfaça os encargos devidos, nos termos a
regulamentar.

SECÇÃO VI
Inquérito e sindicância

ARTIGO 129
(Processos de inquérito e de sindicância)

1. As entidades cuja nomeação é da competência do Presidente da


República, os Secretários –Gerais, Secretários Permanentes, Inspectores-
Gerais e Directores Nacionais, bem como titulares de instituições da
Administração Indirecta do Estado podem ordenar inquéritos ou
sindicâncias aos serviços deles dependentes.
2. No âmbito das autarquias locais, a competência referida no número 1 é
exercida pelo Presidente do Conselho Municipal ou de Povoação ou outro
órgão ou funcionário indicado em legislação aplicável.

ARTIGO 130
(Processo de inquérito)

1. O inquérito tem por fim apurar factos relativos ao procedimento do


funcionário ou agente do Estado.
2. Concluído o inquérito no prazo que houver sido determinado pelo
dirigente respectivo, é elaborado o competente relatório, o qual serve de
base para procedimento disciplinar, se houver lugar.
3. Caso não existam provas indiciárias ordena-se, por despacho
fundamentado, o seu arquivamento.
4. O prazo referido no n.º 2 do presente artigo pode ser prorrogado, se a
complexidade do processo o aconselhar.

ARTIGO 131
(Processo de sindicância)

1. A sindicância destina-se à averiguação geral sobre o funcionamento dos


serviços.
2. Após a conclusão dos trabalhos, o sindicante elabora relatório, no qual
formula propostas concretas sobre o funcionamento dos serviços para seu
melhoramento, se for caso disso, cabendo ao respectivo dirigente a tomada
de medidas reputadas necessárias.
3. Se da sindicância se apurar matéria disciplinar, o dirigente manda extrair
certidões das respectivas peças e determina a instauração do competente
processo disciplinar.

CAPÍTULO XVI
Garantias de Legalidade, Inspecção e Impugnação dos Actos dos
Funcionários

ARTIGO 132
(Garantias jurídicas de legalidade)

Constituem garantias jurídicas de legalidade, entre outras, as seguintes:


a) o controlo dos órgãos estatais superiores sobre a actividade dos órgãos
inferiores;
b) a inspecção, apoio e controlo por parte da Administração Pública e da
Procuradoria-Geral da República;
c) o direito dos cidadãos e dos diferentes órgãos e entidades com existência
legal de se queixarem da violação dos direitos ou interesses protegidos por
lei, impugnando a validade dos actos administrativos;
d) a queixa ao Provedor de Justiça.

ARTIGO 133
(Direito de impugnar)

Os cidadãos e os diferentes órgãos ou entidades com existência legal podem


impugnar os actos do funcionário ou agente do Estado sempre que da
violação de algum dos princípios da legalidade resultar violação dos seus
direitos ou interesses tutelados por lei.
ARTIGO 134
(Regime de invalidade)

1. Consideram-se nulos os seguintes actos:


a) os inquinados de usurpação de poder;
b) os que careçam de fundamentação;
c) os estranhos às atribuições dos ministérios ou das pessoas colectivas
constantes em que o seu autor se integre;
d) cujo objecto seja impossível, ininteligível ou constitua um crime;
e) os que ofendam o conteúdo essencial de um direito fundamental;
f) os praticados sob coacção física ou moral;
g) os que careçam em absoluto de forma legal;
h) as deliberações dos órgãos colectivos que forem tomadas com
inobservância do quorum, das normas de funcionamento ou da maioria
legalmente exigida;
i) os que contrariem os casos julgados;
j) os resultantes de actos administrativos anteriormente anulados ou
revogados, desde que não haja contra-interessados com interesse legítimo
na manutenção do acto consequente;
k) os como tal definidos nos termos do presente EGFAE e demais legislação
aplicável.
2. Independentemente da declaração de nulidade, o acto nulo não produz
quaisquer efeitos jurídicos.
3. A nulidade é invocável a todo o tempo por qualquer interessado e pode
ser declarada, também, a todo o tempo, por qualquer órgão administrativo
ou tribunal.
4. O disposto nos números anteriores do presente artigo, não exclui a
possibilidade de atribuição de determinados efeitos jurídicos a situações de
facto decorrentes de actos nulos, por força do mero decurso do tempo, de
acordo com os princípios gerais de direito.
5. São anuláveis os actos administrativos praticados com ofensa aos
princípios ou normas jurídicas aplicáveis e, no caso de violação, não esteja
prevista outra sanção.
6. O acto anulável pode ser revogado nos termos do presente artigo.
7. O acto anulável é susceptível de recurso para os tribunais, nos termos da
legislação reguladora do Processo Administrativo Contencioso e da
Legislação Orgânica do Tribunal Administrativo e dos tribunais
administrativos.

ARTIGO 135
(Normas de impugnação)

A impugnação dos actos do funcionário ou agente do Estado pode ser feita


por:
a) reclamação para o dirigente que praticou o acto;
b) impugnação, por via hierárquica ou judicial.
ARTIGO 136
(Alteração dos actos)

1. Os actos não constitutivos de direitos podem ser rectificados, suspensos


ou revogados pelo funcionário ou agente do Estado que os praticou ou pelos
seus superiores hierárquicos, por iniciativa própria.
2. Os actos manifestamente ilegais ou outros, ainda que constitutivos de
direitos, podem ser rectificados, suspensos ou revogados nos termos do n.º
1, desde que não tenham produzido efeitos.

ARTIGO 137
(Prazo de reclamação)

1. O prazo para a reclamação é de 10 dias, a contar da data do conhecimento


da decisão, salvo prazo específico definido no presente EGFAE e na demais
legislação aplicável.
2. A entidade reclamada tem o prazo de cinco dias para decidir.
3. Se a decisão for desfavorável, o reclamante pode ainda impugnar
hierarquicamente nos termos do artigo 141.

ARTIGO 138
(Impugnação hierárquica)

1. A impugnação dos actos do funcionário ou agente do Estado, por via


hierárquica, é dirigida à entidade hierarquicamente superior àquela cuja
decisão se pretende impugnar.
2. O prazo para impugnar hierarquicamente a decisão é de 30 dias, a contar
da data do seu conhecimento, salvo prazo específico definido no presente
EGFAE.

ARTIGO 139
(Formalidades do requerimento de impugnação)

O requerimento de impugnação deve conter:


a) a identificação completa e residência do requerente;
b) a decisão que se impugna;
c) a indicação do direito ou interesse protegido por lei que foi violado.

ARTIGO 140
(Efeitos da impugnação)

A impugnação suspende a execução da decisão, salvo se lei especial


determinar procedimento contrário.
ARTIGO 141
(Impugnação judicial)

Pode ser interposto recurso para o tribunal administrativo competente, com


fundamento na sua invalidade, nos termos da lei do contencioso
administrativo.

ARTIGO 142
(Interposição de recurso)

O recurso considera-se interposto mediante apresentação do requerimento


referido no artigo 142 do presente EGFAE.

ARTIGO 143
(Inadmissibilidade de recurso)

Das decisões que sejam reprodução de decisões anteriores, quando se trate


do mesmo assunto e do mesmo impetrante ou exponente que não foram
objecto de impugnação tempestiva e sob a forma devida, não há lugar a
recurso.

CAPÍTULO XVII
Cessação da Relação de Trabalho no Aparelho do Estado

ARTIGO 144
(Cessação da relação de trabalho)

1. A relação de trabalho no aparelho do Estado cessa por morte,


aposentação, exoneração, demissão ou expulsão e, pela perda do requisito
geral constante da alínea a), do artigo 13 do presente EGFAE.
2. O contrato de trabalho extingue-se pelo seu cumprimento, denúncia,
rescisão, revogação ou morte.
3. O funcionário cuja avaliação de desempenho durante o período de
nomeação provisória tenha sido negativa é dispensado sem direito a
qualquer indemnização.

ARTIGO 145
(Exoneração)

1. A exoneração pode ser por iniciativa do Estado ou do funcionário.


2. A exoneração por iniciativa do funcionário deve ser antecedida de aviso
prévio de 60 dias.
3. O funcionário exonerado pode ser readmitido nos seguintes termos:
a) tratando-se de exoneração por iniciativa do Estado, a qualquer momento;
b) tratando-se de exoneração a pedido do funcionário, passados quatro anos
sobre a data da sua exoneração.
4. O funcionário exonerado pode requerer a aposentação desde que tenha,
pelo menos, 15 anos de serviço no aparelho do Estado.
ARTIGO 146
(Exoneração por iniciativa do Estado)

1. A exoneração por iniciativa do Estado só pode ter lugar nos casos em que,
por motivos de reestruturação dos serviços, o funcionário não possa ser
reintegrado em algum lugar vago no aparelho do Estado.
2. A exoneração nos termos do presente artigo é precedida de parecer de
legítimo comité sindical do serviço em que o funcionário presta actividade
e dá direito a uma indemnização corresponde a dois meses de remuneração
certa por cada ano de serviço ou fracção de tempo correspondente.
3. O parecer referido no n.º 2 é dispensado quando não haja legítimo comité
sindical no serviço em que o funcionário presta actividade.

ARTIGO 147
(Rescisão da relação contratual)

1. A rescisão da relação contratual pode revestir as seguintes formas:


a) por acordo entre as partes;
b) por acto unilateral do dirigente do respectivo serviço ou organismo, com
fundamento em justa causa, comprovada em processo disciplinar;
c) a pedido do contratado, devidamente fundamentado em justa causa;
d) por decisão do tribunal administrativo competente.
2. Entende-se por justa causa para efeitos de rescisão, por parte do Estado,
qualquer motivo que constitua infracção disciplinar grave nos termos gerais
ou ainda a manifesta incompetência do contratado apurado em processo de
avaliação.
3. O agente do Estado que teve contrato rescindido por motivos
disciplinares pode voltar a ser contratado, passados 8 anos após a medida
disciplinar.

CAPÍTULO XVIII
Previdência Social

SECÇÃO I
Aposentação

ARTIGO 148
(Direito à aposentação)

A aposentação constitui garantia social que o Estado reconhece aos seus


funcionários e agentes, em situações previstas no presente EGFAE, desde
que tenham satisfeito ou venham a satisfazer os encargos para pensão de
aposentação.
ARTIGO 149
(Determinantes da aposentação)

1. São determinantes da aposentação, o despacho:


a) que confirma o parecer de incapacidade emitido pela Junta Nacional de
Saúde;
b) pelo qual se reconhece o direito à aposentação, quando requerida.
2. O parecer da incapacidade emitido pela Junta Nacional de Saúde não é
determinante da aposentação, devendo ser homologado pela entidade
competente, nos termos da lei.

ARTIGO 150
(Tempo de serviço)

1. Para efeitos de aposentação é contado todo o tempo de serviço ao qual


o funcionário ou agente do Estado tenha satisfeito ou venha a satisfazer os
encargos respectivos.
2. O tempo de serviço a considerar para a fixação da pensão de
aposentação não pode ser inferior a 15 anos, devendo o funcionário ou
agente do Estado satisfazer os encargos relativos ao tempo em falta para
completar aquele mínimo.
3. As faltas injustificadas e o tempo de serviço descontado como efeito de
penas disciplinares não são contados para efeitos de aposentação.

ARTIGO 151
(Aquisição do direito)

1. Tem direito à aposentação o funcionário ou agente do Estado, seja qual


for a forma de provimento ou natureza da prestação de serviço, desde que
satisfaça os seguintes requisitos:
a) tenha satisfeito ou venha a satisfazer os encargos para a pensão de
aposentação;
b) tenha completado qualquer dos seguintes requisitos:
i. 35 anos de serviço;
ii. 60 ou 55 anos de idade, consoante sejam do sexo masculino ou feminino,
respectivamente e que tenha prestado pelo menos 15 anos de serviço;
iii. tenha pelo menos 15 anos de serviço quando julgados absolutamente
incapazes.
2. O facto determinante da aposentação fixa o regime jurídico e a ele se
reporta o cálculo do tempo de serviço e da respectiva pensão.

ARTIGO 152
(Modalidades)

A aposentação pode ser obrigatória, voluntária ou extraordinária.


ARTIGO 153
(Aposentação obrigatória)

A aposentação é obrigatória quando se verifique por limite de idade ou


determinação da lei.

ARTIGO 154
(Limite de idade)

1. Para efeitos de aposentação obrigatória, o limite de idade é fixado em:


a) 65 anos para o funcionário de sexo masculino;
b) 60 anos para o funcionário de sexo feminino.
2. O limite de idade pode ser prorrogado anualmente até ao limite máximo
de cinco anos, por interesse do serviço, anuência do funcionário e parecer
favorável da Junta Nacional de Saúde e mediante anotação anual da
prorrogação pelo tribunal administrativo competente.

ARTIGO 155
(Aposentação voluntária)

A aposentação é voluntária quando requerida pelo funcionário ou agente do


Estado que preencha cumulativamente os seguintes requisitos:
a) tenha satisfeito ou venha a satisfazer os encargos para a pensão de
aposentação;
b) tenha completado:
i. 35 anos de serviço;
ii. 60 ou 55 anos de idade, consoante seja do sexo masculino ou feminino,
respectivamente e pelo menos 15 anos de serviço prestado.

ARTIGO 156
(Aumento do tempo de serviço para efeitos de aposentação)

1. Os veteranos da Luta de Libertação Nacional, os que prestaram serviço no


exército colonial e os combatentes pela democracia e defesa da soberania,
têm direito a um acréscimo de 100% na contagem de tempo de serviço
correspondente ao período de engajamento.
2. O funcionário de nível superior afecto nos distritos por um período igual
ou superior a sete anos, seguidos ou interpolados, beneficia de acréscimo de
30% sobre este tempo de serviço para efeitos de aposentação.
3. Compete ao Conselho de Ministros definir os critérios e procedimentos
para aplicação do disposto no número 2 do presente artigo.
4. O tempo de serviço prestado pelo funcionário em zonas infectadas pela
doença de sono é acrescido de 30%.

ARTIGO 157
(Desconto para a compensação de aposentação)

O funcionário e o agente do Estado descontam do seu vencimento para a


compensação da pensão de aposentação.
ARTIGO 158
(Encargos sobre tempo não descontado)

1. Os encargos correspondentes a tempo de serviço que, por qualquer


motivo, não tiver sido oportunamente contado podem ser satisfeitos
directamente e a pronto pelo interessado, ou por meio de descontos nas
remunerações ou pensões que auferirem no momento do pedido de
contagem, não podendo neste caso o fraccionamento ser superior a 120
prestações mensais seguidas.
2. Caso a prestação seja de quantitativo superior à quota normal do desconto
para a compensação de aposentação do interessado, é permitido um número
maior de prestações desde que sejam, pelo menos, de momento igual à
mesma quota.
3. No caso do funcionário já se encontrar desligado do serviço para efeitos
de aposentação, a importância em dívida é descontada na primeira pensão
que lhe for abonada ou nas pensões seguintes até perfazer o total devido,
salvo pedido de maior desconto, este não pode exceder 15% da importância
da pensão mensal.
4. Os encargos a que se refere o presente artigo são calculados sobre a
remuneração actual das categorias ou classes em relação às quais é
requerida a contagem.
5. Caso a categoria ou classe em relação à qual é requerida a fixação de
encargos tenha sido extinta, é considerada para este efeito a remuneração
de categoria equiparada e se não existir, a remuneração efectivamente
recebida no período em questão.
6. Fixados os encargos relativos ao tempo em que o funcionário ou agente
do Estado não descontou para aposentação, o referido tempo é considerado
para o cálculo da pensão de aposentação, quando se trate de desligados do
serviço ou para pensão de sobrevivência.

ARTIGO 159
(Formalidades para contagem de tempo de serviço)

O tempo de serviço conta-se:


a) por certidão de efectividade passada pela entidade competente;
b) pela publicação oficial no Boletim da República da contagem de tempo.

ARTIGO 160
(Descontos para a pensão de aposentação)

1. O funcionário e o agente do Estado é obrigado a descontar para a pensão


de aposentação 7% sobre o vencimento que competir à categoria, classe ou
função que exerçam, acrescido de suplementos certos e permanentes, se a
eles houver lugar salvo o que estiver previsto em legislação específica.
2. A partir do mês seguinte àquele em que o funcionário completou 35 anos
de serviço efectivo, deixa de ser devido o desconto referido no número 1 do
presente artigo.
3. Nos casos em que o funcionário ou agente do Estado solicitar a sua
aposentação com vencimento superior aquele sobre o qual tenha efectuado
descontos, deve-se fixar encargos adicionais nos termos a regulamentar.
4. Para efeitos do disposto no número 3 do presente artigo os respectivos
serviços devem emitir declaração comprovativa de que o funcionário
completou 35 anos de serviço para efeitos de aposentação.
5. O Estado contribui para a pensão de aposentação nos termos a
regulamentar.

ARTIGO 161
(Isenção de encargos)

Está isento de encargos para efeitos de aposentação o tempo não


descontado referente a:
a) tempo de engajamento na Luta de Libertação Nacional, até 7 de Setembro
de 1974;
b) tempo de cumprimento do Serviço Militar Obrigatório;
c) tempo ao serviço no exército colonial;
d) tempo de engajamento na luta pela democracia e defesa da soberania;
e) outro tempo que, por determinação legal, tiver sido ou for isento de
satisfação de encargos.

ARTIGO 162
(Pedido de aposentação)

A aposentação voluntária é concedida a requerimento do funcionário ou


agente do Estado o qual deve indicar os factos que fundamentam o seu
pedido.

ARTIGO 163
(Instrução e apresentação do processo de aposentação)

1. Para a instrução do processo, o funcionário fica obrigado a apresentar,


dentro do prazo de 180 dias, prorrogáveis até 365 dias por motivo
devidamente justificado, contado da data do conhecimento do facto ou acto
determinante da aposentação, os seguintes documentos:
a) certidão ou fotocópia autenticada pelos respectivos serviços do
documento donde conste o facto ou acto determinante da aposentação;
b) documento donde conste o último cargo exercido;
c) sendo exactor de Fazenda, o documento demonstrando de que se
encontra quite com o Estado;
d) certidão de efectividade ou de contagem de tempo.
2. A não apresentação dos documentos, dentro do prazo por falta ou
omissão do interessado, implica suspensão da remuneração em relação ao
período decorrido entre o seu termo e o da entrega dos documentos em
falta.
3. Com a entrega dos documentos é reiniciado o abono da remuneração
referida no número 2 do presente artigo a partir da suspensão, até a data do
visto do tribunal administrativo competente sobre o despacho que fixa a
pensão.
ARTIGO 164
(Apresentação oficiosa dos documentos)

Os sectores competentes para a gestão de pessoal devem oficiosamente


fazer juntar ao processo de aposentação os documentos referidos nas
alíneas a) e b) do n.º 1 do artigo 163, bem como desenvolver todos os
esforços no sentido de que a apresentação e elaboração dos restantes
documentos e a decisão sobre o processo se façam no tempo mínimo
indispensável.

ARTIGO 165
(Fixação da pensão)

A fixação da pensão é da competência do Ministro que superintende a área


das finanças, podendo delegar, para os órgãos provinciais que
superintendem a área das finanças ou para outra entidade pública tutelada
pelo Ministro que superintende a área de finanças.

ARTIGO 166
(Início de abono da pensão de aposentação)

A pensão é abonada a partir da data do visto do tribunal administrativo


competente e constitui encargo da verba própria inscrita no orçamento do
Estado, sem prejuízo da publicação do despacho em Boletim da República.

ARTIGO 167
(Cálculo da pensão)

1. A pensão de aposentação é fixada obedecendo a seguinte fórmula:


sendo “R” a remuneração auferida no momento em que ocorre o facto
determinante da aposentação e sendo “A” igual ao número de anos ao
serviço completo até ao limite máximo de 35 anos.
2. O cálculo da pensão dos funcionários que no momento da aposentação se
encontrar em regime de destacamento ou comissão de serviço há mais de
dois anos, tem como base o vencimento auferido em regime de
destacamento ou comissão de serviço, salvo, se o mesmo preferir que o
cálculo da pensão tome como base a sua situação na carreira ou categoria.
3. Quando a situação em regime de destacamento ou comissão de serviço
for inferior a dois anos, o cálculo da pensão tem como base a média
aritmética das remunerações auferidas nos últimos dois anos.
4. Se a média aritmética das remunerações dos últimos dois anos se mostrar
superior à referida no n.º 1 do presente artigo, é aquela computada para o
cálculo da pensão.

ARTIGO 168
(Aposentação extraordinária)

1. A aposentação extraordinária é aquela que decorre de uma ou mais


circunstâncias alheias à vontade tanto do funcionário ou agente do Estado
como do próprio Estado, de que resulte a incapacidade mensurável, total ou
parcial, do funcionário ou agente do Estado continuar a prestar serviço,
resultante de:
a) doença grave e incurável contraída em virtude das funções exercidas;
b) acidente em serviço de que resulta na incapacidade permanente de
prestar serviço;
c) ferimento em combate, na defesa da Pátria ou na prevenção ou combate
às calamidades naturais, bem como em acções de salvamento de vidas
humanas ou na defesa da legalidade de que resulte incapacidade
permanente;
d) diminuição física ou mental decorrente de militância na clandestinidade,
na Luta de Libertação Nacional ou em combate na defesa da Pátria.
2. Dependendo do grau de desvalorização da capacidade de trabalho, a
incapacidade classifica-se em ligeira e grave, nos termos a regulamentar.

ARTIGO 169
(Penhorabilidade da pensão)

A pensão de aposentação só pode ser penhorada nos mesmos termos em


que podem ser as remunerações.

SECÇÃO II
Pensão de sobrevivência

ARTIGO 170
(Pensão de sobrevivência)

1. Por morte do funcionário ou agente do Estado com direito à aposentação


e que tenha prestado, pelo menos cinco anos de serviço e suportado os
respectivos encargos, ou já aposentado, é atribuída uma pensão de
sobrevivência aos seus herdeiros, a requerimento destes.
2. Consideram-se herdeiros para efeitos do presente EGFAE:
a) o cônjuge sobrevivo incluindo os que se encontravam em união de facto;
b) os cônjuges divorciados ou separados judicialmente de pessoas e bens
com benefício de pensão de alimentos fixada ou homologada judicialmente;
c) os filhos ou adoptados solteiros, menores de dezoito anos ou, sendo
estudantes, até 22 ou 25 anos, quando frequentem com aproveitamento, o
ensino médio ou superior ou equiparado e os que sofrem de incapacidade
total ou permanente para o trabalho, bem como os nascituros.
3. Os netos podem ser herdeiros desde que se verifiquem as condições
estabelecidas na alínea c) do n.º 2 e sejam:
a) órfãos de pai e mãe;
b) órfãos de um dos progenitores e cujo outro progenitor não tenha meios
para prover ao seu sustento;
c) órfãos de mãe, cujo pai sofre de incapacidade permanente e total para o
trabalho e vice-versa;
d) aqueles cujos pais se encontrem ausentes em parte incerta e não
provejam ao seu sustento.
4. Os ascendentes que viviam a exclusivo cargo do falecido funcionário ou
agente do Estado quando os seus rendimentos não ultrapassem o salário
mínimo, podem ser considerados herdeiros.
SECÇÃO III
Subsídio por morte

ARTIGO 171
(Subsídio por morte)

1. Os familiares a cargo do funcionário ou agente do Estado têm direito a


receber, por sua morte, um subsídio equivalente aseis meses de
remunerações próprias do cargo ou função que exercia no momento do
falecimento, para além do vencimento e outros suplementos por inteiro do
mês em que ocorrer o óbito.
2. O disposto no número anterior é extensivo aos familiares do funcionário
ou agente do Estado aposentado.
ARTIGO 172
(Abono do subsídio)

1. O subsídio por morte é abonado à pessoa da família a cargo do funcionário


ou agente do Estado, previamente indicada por ele em declaração
depositada nos respectivos serviços.
2. Na falta, extravio ou inoperância de tal declaração liquida-se de acordo
com a seguinte ordem de precedência:
a) ao cônjuge sobrevivo, se não houver separação judicial ou de facto,
incluindo o que se encontrava em união de facto;
b) ao mais velho dos descendentes em linha recta do grau mais próximo;
c) a um dos ascendentes em linha recta do grau mais próximo.

SECÇÃO IV
Pensão de sangue

ARTIGO 173
(Pensão de sangue)

1. Constitui-se o direito à pensão de sangue quando se verifica o falecimento


do funcionário ou agente do Estado, em que a morte resulte de:
a) ferimentos ou acidente ocorrido por ocasião de serviço e em
consequência de desempenho dos seus deveres profissionais;
b) no combate a quaisquer epidemias de moléstia infecciosa, quando
resultante de doença contraída por actividades profissionais,
nomeadamente em contacto com matérias tóxicas, bacteriológicas,
desinfectantes, radioactivas e ionizantes.
2. A pensão de sangue é igualmente atribuída a herdeiros do funcionário ou
agente do Estado desaparecido em campanhas ou em actos com elas
relacionadas.

ARTIGO 174
(Extinção do direito)

Sem prejuízo do que a lei dispõe sobre os herdeiros, a qualidade de


pensionista extingue-se:
a) com a morte do pensionista;
b) quando deixe de se verificar qualquer dos requisitos condicionadores da
atribuição do direito à pensão.
SECÇÃO V
Pensão por serviços excepcionais e relevantes prestados ao País

ARTIGO 175
(Constituição do direito)

1. A prestação por serviços excepcionais relevantes ao País dá direito à uma


pensão ao funcionário ou agente do Estado e seus herdeiros.
2. A pensão por serviços excepcionais e relevantes prestados ao País é
atribuída nos termos a regulamentar.

ARTIGO 176
(Extinção do direito)

Sem prejuízo do que a lei dispõe sobre os herdeiros, a qualidade de


pensionista extingue-se com a morte do pensionista.

SECÇÃO VI
Segurança social

ARTIGO 177
(Articulação dos sistemas)

1. É garantida a articulação entre a segurança social obrigatória do s


trabalhadores por conta de outrem ou por conta própria e da previdência
social dos funcionários e agentes do Estado.
2. Na passagem do trabalhador de um sistema para o outro, cada um dos
sistemas assume a respectiva responsabilidade no reconhecimento de
direitos, nos termos a regulamentar.

ARTIGO 178
(Disposições finais e transitórias)

Enquanto não entrar em vigor a legislação relativa ao seguro de saúde


continua a ser aplicado o regime de assistência médica e medicamentosa.

Anexo
Glossário

A
Abandono do lugar – é a ausência do funcionário e agente do Estado,
legalmente provido, do seu local de trabalho, sem justificação, por período
superior a 45 dias seguidos ou 60 sessenta dias interpolados durante o
mesmo ano civil.
Administração directa do Estado – compreende o conjunto de entidades
administrativas destituídas de personalidade jurídica que exercem
actividade administrativa integradas no seio da pessoa colectiva Estado –
administração.
Administração indirecta do Estado – conjunto de entidades administrativas
institucionalmente descentralizadas, dotadas de personalidade jurídica
própria, criadas pelo Estado, para a prossecução necessária de uma
determinada finalidade de interesse público.
Administração Pública – conjunto de órgãos e serviços públicos que
asseguram a realização de actividades administrativas visando a satisfação
de necessidades públicas.
C
Colocação – afectação de um funcionário ou agente do Estado para prestar
serviço num local determinado que lhe seja designado.
D
Dirigente do Estado – entidade nomeada pelo Presidente da República, pelo
Conselho de Ministros, pelo Primeiro-Ministro e o funcionário que exercem
funções de direcção, chefia e confiança.
E
Estado-Administração – corresponde ao Estado como pessoa colectiva
pública, dotada de personalidade jurídica, com capacidade para adquirir
direitos e assumir deveres decorrentes de relações e situações jurídicas.
F
Função Pública – competência, atribuição ou encargo para o exercício de
uma determinada função no interesse público, da colectividade ou da
Administração.
M
Missão de serviço – é a situação em que os funcionários e agentes do Estado
do Estado se encontram a prestar acidentalmente os trabalhos fora do seu
local habitual do serviço por um período até 30 dias, nos órgãos centrais e
locais do Estado, nas instituições da administração indirecta do Estado e nas
representações do Estado no estrangeiro.
O
Órgãos do Estado – centros institucionalizados de competências integrando
uma determinada pessoa colectiva pública, sendo central quando as
competências abrangem todo o território nacional ou local quando as
competências se limitam a uma circunscrição administrativa territorialmente
delimitada.
P
Progressão – é a mudança dum escalão inferior para um escalão seguinte
mediante a permanência mínima de 2 e máximo de 4 anos, e ter avaliação
anual positiva e a disponibilidade de cabimento orçamental.
Promoção – é a mudança para classe ou categoria seguinte da respectiva
carreira e opera-se para o escalão e índice a que corresponde o vencimento
imediatamente superior, completado o tempo mínimo de 2 e máximo de 5
anos na mesma classe ou categoria.
S
Suspeições – situação em que o dirigente, funcionário ou agente do Estado
não possa agir com imparcialidade e isenção na práctica de determinado
acto administrativo.
N.B.: Fica sem efeito a publicação inserida no 2.º Suplemento ao Boletim da
República n.º 119 de 1 de Agosto de 2017.
Havendo necessidade de regulamentar a Lei n.º 10/2017, de 1 de Agosto, que
aprova o Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado, ao abrigo da
alínea f) do n.º 1 do artigo 204, da Constituição da República, o Conselho de
Ministros decreta:

ARTIGO 1

É aprovado o Regulamento do Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do


Estado, abreviadamente designado por REGFAE, em anexo, fazendo parte
integrante do presente Decreto.

ARTIGO 2

É revogado o Decreto n.º 62/2009, de 8 de Setembro, e demais normas que


contrarie o presente Decreto.

ARTIGO 3

O presente Decreto entra em vigor na data da sua publicação.


Aprovado pelo Conselho de Ministros, aos 30 de Janeiro de 2018.
Publique-se.
O Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário.
Regulamento do Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado

CAPÍTULO I
Disposições gerais

ARTIGO 1
(Objecto)

O presente Decreto tem por objecto regulamentar a Lei n.º 10/2017, de 1 de


Agosto, que aprova o Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado.

ARTIGO 2
(Regime subsidiário)

O presente REGFAE aplica-se subsidiariamente, com as necessárias


adaptações, ao funcionário e agente do Estado sujeitos a estatuto
específico.

CAPÍTULO II
Constituição da relação de trabalho no Estado

ARTIGO 3
(Constituição da relação de trabalho)

A constituição da relação de trabalho entre o Estado e o cidadão referida no


Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado é antecedida de
abertura de concurso, salvo os casos em que a lei o dispensa.

ARTIGO 4
(Regulamento de concurso)

O Regulamento de concurso para as carreiras de regime geral e especial é


objecto de regulamentação específica.

ARTIGO 5
(Instrução do pedido de admissão)

1. No acto da candidatura aos concursos de ingresso são dispensados os


seguintes documentos:
a) Certidão de registo criminal;
b) Certidão de aptidão física e mental para o exercício da actividade;
c) Comprovativo de inscrição ou cumprimento do Serviço Militar;
d) Duas fotografias do tipo passe;
e) Fotocópia da Declaração do Número Único de Identificação Tributária
(NUIT).
2. Os documentos referidos no n.° 1 do presente artigo são solicitados aos
candidatos aprovados no concurso para efeitos de instrução do processo do
seu provimento.
3. A falta de entrega de documentos, a entrega de documentos fora do
prazo, a entrega de documentos falsos, a entrega de documentos
incompletos, implica a reprovação do candidato.
4. O prazo para a entrega dos documentos referidos no número 1 do presente
artigo é de 30 dias a contar da data da publicação dos resultados.
5. É proibida a realização de testes de HIV/SIDA aos candidatos a vaga na
função pública sem o seu consentimento.
6. O disposto no presente artigo aplica-se igualmente aos concursos de
contratação.

ARTIGO 6
(Contratos)

1. A Presidência da República pode celebrar contratos, com dispensa de


concurso por um período até cinco anos, podendo ser renovados por igual
período uma única vez para lugares de assessoria e apoio geral previstos no
respectivo quadro de pessoal.
2. A Assembleia da República e o Gabinete do Primeiro Ministro podem
celebrar contratos com dispensa de concurso, por um período até cinco anos
podendo ser renovados por igual período uma única vez para o pessoal da
área de apoio nas residências oficiais e protocolares previstos nos
respectivos quadros de pessoal.
3. Para as carreiras de professores e profissionais de saúde podem ser
celebrados contratos, antecedidos de abertura de concurso público, por um
período até cinco anos podendo ser renovados por igual período uma única
vez previstos nos respectivos quadro de pessoal.
4. Os contratos celebrados a luz do presente artigo não conferem aos
agentes a qualidade de funcionários do Estado.
5. O contrato é celebrado por escrito e deve constar o seguinte:
a) Nome do dirigente com competência para contratar e do agente do
Estado;
b) Actividade a realizar, a remuneração, a duração, os deveres e direitos do
agente do Estado;
c) Data e as assinaturas do dirigente com competência para contratar e do
agente do Estado;
d) Outros elementos julgados pertinentes.

ARTIGO 7
(Competência)

1. São competentes para celebrar contratos os dirigentes com competência


para nomear e outros indicados em legislação específica.
2. São igualmente competentes as entidades às quais forem delegadas
competências para celebrar contratos.

ARTIGO 8
(Tomada de posse)

1. A notificação do funcionário, para tomada de posse, é feita através de


chamada telefónica, por edital a ser publicado no jornal de maior circulação,
na vitrina da instituição, na página de internet da instituição ou na rádio.
2. O prazo para tomada de posse, pode ser prorrogado a pedido do visado
até o máximo de 30 dias.
3. O pedido de prorrogação do prazo para tomada de posse, é submetido 10
dias antes do termo do prazo de 30 dias estabelecido no Estatuto Geral dos
Funcionários e Agentes do Estado.
4. Os funcionários que gozam do regime de urgente conveniência de serviço
podem tomar posse, e entrar em exercício e receber vencimentos antes do
visto do Tribunal Administrativo.
5. Havendo necessidade imperiosa de assegurar os serviços públicos, o
funcionário ou agente do Estado pode tomar posse e exercer as suas
actividades, após o visto do Tribunal Administrativo competente do
documento de provimento, sem prejuízo de posteriormente vier a ser
submetido a publicação no Boletim da República.

ARTIGO 9
(Início de actividades e compromisso de honra)

1. O início de actividades conta-se a partir da posse, salvo quando for


expressamente determinado em momento anterior.
2. No acto da posse, deve ser lido o respectivo auto e o empossado deve
prestar compromisso de honra.
3. O compromisso de honra obedece à seguinte fórmula:
a) Para as entidades nomeadas pelo Presidente da República:
“Eu, (nome) juro, por minha honra, servir fielmente o Estado e a pátria
moçambicana e dedicar todas as minhas energias ao serviço do povo
moçambicano no exercício das funções que me são confiadas pelo
Presidente da República”.
b) Para os restantes funcionários:
‘’Eu, (nome) juro, por minha honra, servir fielmente o Estado e a pátria
moçambicana e dedicar todas as minhas energias ao serviço do povo
moçambicano no exercício das funções e tarefas que me são conferidas por
lei”.
4. Cabe ao dirigente com competência para nomear ou a quem este
designar, conferir posse e enunciar os principais direitos e deveres do
empossado.
5. O auto de posse deve constar de livro próprio com termo de abertura e
encerramento e as folhas devem ser numeradas e rubricadas.
6. O auto de posse é assinado pelo dirigente que preside o acto, pelo
empossado e pelo funcionário do Estado que o elaborou.
7. Após a tomada de posse o funcionário ou agente do Estado assina o termo
de início de actividades.

ARTIGO 10
(Urgente conveniência de serviço)

1. Excepcionalmente, a eficácia dos actos e contratos sujeitos à fiscalização


prévia da jurisdição administrativa pode reportar-se à data anterior ao visto,
desde que declarada por escrito pelo membro do Governo ou entidade
competente a urgente conveniência de serviço e diga respeito a:
a) Nomeação de magistrados judiciais e do Ministério Público, secretários
permanentes dos ministérios, directores nacionais, secretários permanentes
provinciais, administradores distritais, secretários permanentes distritais,
chefes de posto administrativo das autoridades civis, do pessoal técnico-
profissional de saúde de nível básico, médio e superior, professores de
qualquer nível ou categoria, pessoal técnico profissional agrário de nível
básico, médio e superior, recebedores, tesoureiros, oficiais de justiça e
assistentes de oficiais de justiça, pessoal afecto aos serviços prisionais, ao
censo populacional e ao serviço de eleições;
b) Nomeação para o exercício de funções em regime especial de actividades,
nomeadamente, comissão de serviço, destacamento, substituição e
acumulação de funções;
c) Contratos que prorrogam outros anteriores permitidos por lei desde que
as condições sejam as mesmas;
d) Contratos de qualquer natureza decorrentes de caso fortuito ou força
maior.
2. Os funcionários e agentes do Estado referidos no número anterior podem
tomar posse, entrar em exercício e receber vencimentos, antes do visto e
publicação no Boletim da República.
3. Os processos em que tenha sido declarada a urgente conveniência de
serviço são enviados ao Tribunal Administrativo competente nos 30 dias
subsequentes à data do despacho de autorização, sob pena de cessação dos
respectivos efeitos, salvo motivos ponderosos que o mesmo Tribunal avalia.

ARTIGO 11
(Nomeação definitiva)

1. A conversão da nomeação provisória em definitiva, produz efeitos a partir


da data em que o funcionário completa dois anos de exercício de suas
actividades.
2. O dirigente competente exara despacho de nomeação definitiva no prazo
de 15 dias, contados a partir da data da conversão da nomeação provisória
em definitiva, e submete ao Tribunal Administrativo competente, para
efeitos de anotação.
3. O despacho de nomeação definitiva é enviado à Imprensa Nacional, nos
30 dias subsequentes à sua recepção do tribunal administrativo competente,
para efeitos de publicação.
4. A não observância dos prazos estabelecidos nos n.ºs 2 e 3 do presente
artigo é passível de procedimento disciplinar ao funcionário ou agente do
Estado a quem couber a respectiva responsabilidade.
ARTIGO 12
(Impedimentos à nomeação definitiva)

1. A conversão automática da nomeação provisória em definitiva não tem


lugar quando haja manifestação em contrário de uma das partes ao longo do
período da nomeação provisória.
2. A manifestação em contrário deve constar de documento escrito e
devidamente fundamentado.
3. Constitui impedimento para a nomeação definitiva a obtenção, na
avaliação de desempenho, de classificação inferior a “regular”.
4. Nos casos referidos no número anterior o funcionário é dispensado, sem
processo disciplinar, em qualquer altura do provimento provisório, sem
direito a indemnização.
CAPÍTULO III
Quadro de Pessoal

ARTIGO 13
(Conteúdo)

1. O quadro de pessoal é um instrumento de planificação e controlo dos


recursos humanos que indica o número de unidades por funções de direcção,
chefia e confiança, e por carreiras ou categorias profissionais necessárias
para a prossecução das atribuições dos órgãos e instituições da
Administração Pública.
2. O quadro de pessoal identifica as carreiras e funções adequadas à
prossecução dos objectivos de cada sector ou serviço.
3. A dotação de efectivos do quadro de pessoal referido no número anterior
é fixada por carreira e por função em comissão de serviço.
4. Nas carreiras de regime especial diferenciado, o quadro de pessoal
referido no número anterior indica o número de lugares correspondentes a
cada uma das categorias das referidas carreiras.
5. A dotação do quadro de pessoal referido nos números precedentes
contempla a execução dos mecanismos de promoção, progressão e
mudança de carreira profissional.

ARTIGO 14
(Tipo de quadros)

1. A nível dos órgãos centrais do Estado funciona o quadro de pessoal


central, que integra as carreiras de regime geral, específicas e especial e as
funções de direcção, chefia e confiança de nível central.
2. O quadro de pessoal provincial abrange as carreiras do regime geral,
específicas e especial e as funções de direcção, chefia e confiança de nível
provincial.
3. O quadro de pessoal distrital abrange as carreiras de regime geral,
específicas, e especial e as funções de direcção, chefia e confiança de nível
distrital.
4. O quadro de pessoal das instituições de administração indirecta do Estado
abrange as carreiras de regime geral, específicas, especiais e as funções de
direcção, chefia e confiança.
5. O quadro de pessoal das autarquias locais abrange as carreiras de regime
geral, específicas, especiais e as funções de direcção, chefia e confiança.

ARTIGO 15
(Aprovação dos quadros de pessoal)

1. A aprovação e a alteração dos quadros de pessoal central são feitas nos


termos legalmente estabelecido ouvido o Órgão Director Central do Sistema
Nacional de Gestão de Recursos Humanos.
2. Os quadros de pessoal dos órgãos centrais do aparelho do Estado são
aprovados pelo órgão competente nos termos da legislação aplicável.
3. Compete ao Ministro que superintende a área da função pública, aprovar
os quadros de pessoal dos órgãos locais do Estado, sob proposta do
Governador Provincial ou Administrador Distrital conforme o tipo de quadro,
ouvido o Ministro que superintende a área das finanças.

ARTIGO 16
(Metodologia para elaboração dos quadros de pessoal)

A metodologia para elaboração dos quadros de pessoal é aprovada nos


termos legalmente estabelecidos sob proposta do Órgão Director Central do
Sistema Nacional de Gestão de Recursos Humanos.

ARTIGO 17
(Gestão de recursos humanos)

Compete, respectivamente, aos dirigentes dos órgãos centrais, provinciais e


distritais, secretários permanentes de ministérios, secretários permanentes
provinciais e distritais a gestão dos quadros de pessoal central, provincial e
distrital.

CAPÍTULO IV
Regimes especiais de actividade

ARTIGO 18
(Medalidade)

1. O funcionário do Estado com nomeação definitiva pode exercer


temporariamente funções em regime especial de actividade,
designadamente:
a) Destacamento;
b) Comissão de serviço;
c) Substituição;
d) Acumulação de funções.
2. Findas as situações de regime especial referidas no n.º 1 do presente
artigo, o funcionário do Estado deve proceder a passagem de pastas,
restituição da habitação, material, equipamento e meios da instituição no
prazo de 30 dias.

ARTIGO 19
(Destacamento)

1. O destacamento consiste em regra, na designação do funcionário por


iniciativa de serviço e no interesse do Estado, para exercer actividade ou
função fora do quadro de pessoal da Administração Pública.
2. O destacamento é decidido por despacho do dirigente competente para
nomear.
3. O despacho do dirigente referido no número anterior, depois de ter sido
visado pelo Tribunal Administrativo competente, é bastante para a tomada
de posse do funcionário destacado, sem prejuízo da publicação no Boletim
da República.
4. O regime do destacamento tem duração de 3 anos prorrogáveis uma única
vez por igual período, sem prejuízo da duração do mandato, devendo ser
sempre no interesse e iniciativa da Administração Pública.
5. Em caso de prorrogação do destacamento é aberta a respectiva vaga no
quadro de pessoal.

ARTIGO 20
(Comissão de serviço)

1. A comissão de serviço consiste na nomeação do funcionário para exercer


cargo de direcção, chefia ou de confiança na instituição que está vinculado.
2. O exercício de funções em comissão de serviço fora da instituição a que o
funcionário está vinculado, só pode ocorrer por via de destacamento.
3. O destacamento para o exercício de funções em comissão de serviço
dentro do quadro de pessoal da Administração Pública implica provimento
e posse no lugar do quadro de pessoal conservando o funcionário a sua
carreira ou categoria no quadro de origem, sendo pago pelo organismo onde
exerce funções.
4. Finda a comissão de serviço nos termos referidos no artigo anterior, o
funcionário destacado regressa à sua anterior condição na sua instituição de
origem.

ARTIGO 21
(Substituição)

1. A substituição consiste na nomeação de um funcionário para exercício de


funções de direcção, chefia ou de confiança, por ausência ou impedimento
temporário do titular, por período não superior a 365 dias.
2. A designação para substituição recai prioritariamente no substituto legal.
3. O funcionário só pode substituir o titular duma função desde que reúna os
requisitos exigidos pelo qualificador profissional dessa função ou exerça
função imediatamente inferior.
4. Excepcionalmente, não existindo no serviço funcionário que satisfaz os
requisitos referidos nos números anteriores, pode a designação recair em
funcionário de outro quadro de pessoal do aparelho do Estado, a decidir
discricionariamente pelo dirigente com competência para nomear ou seu
delegado expressamente autorizado.
5. Findo o período de substituição o dirigente competente faz cessar o
funcionário substituto e nomea um novo titular em regime de comissão de
serviço.

ARTIGO 22
(Acumulação de funções)

A acumulação de funções consiste no exercício simultâneo, pelo mesmo


funcionário de dois cargos de direcção, chefia ou de confiaça, idênticos ou
do mesmo grupo salarial, por ausência ou não provimento do titular de um
deles, por período não superior a 180 dias findo o qual cessa e é nomeado o
titular em regime de comissão de serviço.
ARTIGO 23
(Efeitos do regime especial de actividade)

1. Durante o exercício de funções, em regime especial de actividade, o


funcionário é autorizado a candidatar-se a concursos de promoção e de
mudança de carreira profissional, beneficiar de progressão e frequentar
estágios de aperfeiçoamento no seu quadro de origem e correspondentes à
sua categoria ou classe.
2. Findas as situações que determinaram o regime especial de actividade o
funcionário regressa ao respectivo quadro de origem, e à situação anterior,
retomando o vencimento e regalias inerentes à categoria de que é titular.

ARTIGO 24
(Nomeação interina)

1. O funcionário do Estado nomeado interinamente recebe o vencimento


correspondente à classe/categoria e escalão do funcionário cuja vaga
ocupa.
2. O tempo de serviço prestado interinamente conta para todos os efeitos
legais.
3. O tempo prestado em regime de interinidade por período igual ou
superior a um ano conta como tempo prestado na carreira, reduzindo para
um ano o tempo de permanência na classe de Estagiário.
4. Na nomeação interina não há lugar à promoção ou progressão na
classe/categoria e escalão em que o funcionário está nomeado
interinamente.
5. Quando, em virtude da promoção e progressão no lugar de origem, o
funcionário ficar integrado em escalão com vencimento superior ao que lhe
é devido como interino, passa a ser remunerado pelo índice correspondente
ao escalão do lugar de origem.
6. A nomeação interina não implica posse mas deve ser lavrado o termo de
início de funções.

CAPÍTULO V
Remuneração do funcionário e agente do Estado

ARTIGO 25
(Remuneração)

1. A remuneração do funcionário é constituída pelo vencimento e


suplementos.
2. O vencimento constitui a retribuição ao funcionário ou agente do Estado,
de acordo com a sua carreira, categoria ou função, como contrapartida pelo
trabalho prestado ao Estado e consiste numa determinada quantia em
dinheiro paga em período e local certos.
3. Todo o funcionário e agente do Estado em regime idêntico de prestação
de serviço tem direito a receber vencimento igual por trabalho igual.
ARTIGO 26
(Remuneração por substituição)

1. O desempenho de uma função por substituição confere o direito a


perceber o vencimento da ocupação substituída sempre que se trate de
período igual ou superior a 30 dias consecutivos.
2. O funcionário substituto tem direito ao abono da totalidade do
vencimento da função incluindo os subsídios inerentes à função.

ARTIGO 27
(Remuneração por trabalho extraordinário)

1. A remuneração de horas extraordinárias não deve ultrapassar um terço do


seu vencimento base mensal.
2. Para efeitos de pagamento de horas extras, o serviço requisitante deve:
a) Propor ao dirigente com competência para autorizar, indicando a
necessidade do serviço, os nomes dos funcionários ou agentes do Estado
que vão efectuar as horas extras e as respectivas carreiras e/ou categorias;
b) Controlar o trabalho por eles executado e as respectivas horas e,
mensalmente, elaborar um mapa de horas extras que é remetido ao
processador de salários.

ARTIGO 28
(Regime excepcional)

1. A atribuição do vencimento em regime excepcional é feita por despacho


do Ministro que superintende a área da função Pública, mediante pedido
formulado pelo funcionário do Estado interessado.
2. O pedido referido no número anterior é dirigido ao Ministro que
superintende a área da função pública, devendo ser acompanhado de
seguintes documentos:
a) Proposta do dirigente do órgão central ou local com competência para
nomear da instituição onde o funcionário do Estado está afecto;
b) Fotocópia de bilhete de identidade do funcionário do Estado;
c) Fotocópia da Declaração do Número Único de Identificação Tributária
(NUIT);
d) Fotocópia de despachos de nomeação e cessação, de funções exercidas
em comissão de serviço, visados e anotados respectivamente, pelo Tribunal
Administrativo competente;
e) Fotocópia de fichas de avaliação de desempenho dos últimos dois anos
de exercício da função não inferior a “regular”;
f) Declaração de cabimento orçamental, emitida pela entidade que
superintende a área das finanças.
3. Em caso do funcionário encontrar-se em exercício de funções em
comissão de serviço, deve-se fazer menção desse facto, na proposta referida
na alínea a) do n.º 2 do presente artigo.
4. O pedido referido no n.º 2 do presente artigo é remetido à entidade que
superintende a área das finanças para efeitos de emissão de parecer sobre o
cabimento orçamental.
5. No caso de confirmação da existência de cabimento orçamental, a
proposta é remetida ao Ministro que superintende a área da função pública
acompanhada da declaração de cabimento orçamental.
6. A declaração de cabimento orçamental é dispensada nos casos em que o
funcionário se encontre em exercício da função na qual pretende fixar o
vencimento excepcional.
7. O despacho de atribuição de vencimento excepcional é publicado em
Boletim da República.
8. O funcionário a quem for atribuído o vencimento excepcional nos termos
do Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado, pode voltar a
requerer uma nova fixação, em consequência de exercício de nova função,
desde que esta implique o incremento salarial.

ARTIGO 29
(Interrupção ao pagamento do vencimento excepcional)

O funcionário que, tendo fixado o vencimento excepcional, vier a se


beneficiar de mudança de carreira que implique o incremento salarial
superior ao vencimento fixado, passa auferir o vencimento na carreira ou
categoria.

ARTIGO 30
(Gratificação de chefia)

1. Quando se verificar que o vencimento da função é igual ou inferior ao


vencimento auferido pelo funcionário designado para o seu exercício, é
abonada uma gratificação de chefia correspondente a 25% do vencimento
base que o funcionário aufere.
2. O funcionário que tiver auferido a gratificação de chefia, por período
mínimo de 10 anos, seguidos ou interpolados, pode adquirir o direito à
mesma.
3. A fixação de gratificação de chefia obedece os procedimentos referidos
no artigo 28 do presente regulamento, com as necessárias adaptações.

CAPÍTULO VI
Formação

ARTIGO 31
(Objectivos)

A formação destina-se a capacitar os funcionários e agentes do Estado para


melhorar o desempenho de suas actividades no sector.
ARTIGO 32
(Bases de formação)

Na formação dos funcionários e agente do Estado toma-se por base o seu


nível escolar e a qualificação técnico ou profissional.

ARTIGO 33
(Planos de desenvolvimento dos recursos humanos)

1. Os sectores devem possuir planos de desenvolvimento de recursos


humanos a curto, médio e longo prazos, tendo em conta as suas
necessidades.
2. O Sistema de Formação em Administração Pública concebe e implementa
princípios, objectivos, programas, mecanismos e instrumentos que
assegurem o desenvolvimento contínuo dos funcionários e agentes do
Estado , conferme os casos.

ARTIGO 34
(Acompanhamento na formação)

A formação dos funcionários e agentes do Estado é da responsabilidade do


respectivo dirigente, designadamente, nos seguintes aspectos:
a) Acompanhamento e direcção do processo de trabalho de modo a habilitar
o funcionário e agente do Estado a desenvolver permanentemente as suas
capacidades profissionais;
b) Avaliação do trabalho com vista a uma selecção criteriosa daqueles que
devem frequentar cursos de formação profissional ou outros para elevação
das suas qualidades profissionais;
c) Correcta colocação nas tarefas para que adquiram a qualificação e
experiência, bem como garantia de que os funcionários e agentes do Estado
a seleccionar para os cursos de formação preencham os requisitos pré-
estabelecidos para a frequência dos mesmos.

CAPÍTULO VII
Férias, faltas, dispensa e licenças

SECÇÃO I
Férias

ARTIGO 35
(Gozo de férias)

1. As férias são concedidas ao fim de 12 meses de prestação de serviço


ininterrupto sendo posteriormente concedidas por cada ano civil.
2. O gozo de férias não prejudica o direito às remunerações próprias do
cargo ou função.
3. As férias comportam 30 dias de calendário e só podem ser interrompidas
por motivos imperiosos de serviço.
4. As férias podem ser gozadas em dois períodos a pedido do interessado.

ARTIGO 36
(Plano de férias)

1. Até 30 de Outubro de cada ano as unidades orgânicas elaboram e aprovam


o plano de férias para o ano seguinte, de acordo com o interesse dos serviços
e do interessado, sem prejuízo de se assegurar o regular funcionamento dos
serviços.
2. Aos cônjuges incluindo para as situações de união de facto que trabalhem
no mesmo sector deve-lhes ser concedida a faculdade de gozar férias
simultaneamente.
3. Na marcação das férias nos meses mais pretendidos deve beneficiar-se
aos interessados que não gozaram nos referidos meses nos 2 anos
anteriores.

ARTIGO 37
(Adiamento das férias)

1. Por necessidade de serviços inadiáveis, a instituição pode adiar o início do


gozo total ou parcial de férias até ao período máximo de noventa dias.
2. O adiamento referido no número anterior é comunicado ao funcionário ou
agente do Estado abrangido, bem como ao órgão sindical existente na
instituição, com antecedência mínima de sete dias antes do início das férias.

ARTIGO 38
(Acumulação de férias)

1. O direito de gozo de férias caduca no final do ano civil a que respeita, salvo
se por motivo de imperiosa necessidade de serviço, não tiverem sido
gozadas nesse ano ou no ano seguinte, podendo ser acumuladas até ao
máximo de 60 dias.
2. Pode ser permitido, a pedido do funcionário ou agente do Estado, a
acumulação de 15 dias por cada ano civil, tendo como limite 2 anos
consecutivos.
3. As férias acumuladas são, obrigatoriamente, gozadas no ano em que
perfazem os 60 dias, não devendo transitar para o ano seguinte.

ARTIGO 39
(Antecipação das férias)

A pedido do funcionário ou agente do Estado podem ser excepcionalmente


concedidas férias antecipadas quando os motivos alegados sejam
considerados relevantes e o funcionário ou agente do Estado possua
avaliação de desempenho não inferior a regular nos últimos dois anos.
ARTIGO 40
(Remuneração por férias não gozadas)

1. No ano em que o funcionário ou agente do Estado preveja a cessação da


relação laboral, deve requerer as férias correspondentes aos meses de
trabalho.
2. Em caso de cessação da actividade do funcionário ou agente do Estado
que não seja possível prever, nos termos do número anterior e não resultante
de processo disciplinar, este tem direito a receber a remuneração
correspondente ao período de férias não gozadas, sendo proporcional ao
tempo de serviço prestado.

SECÇÃO II
Faltas e Dispensa

ARTIGO 41
(Contagem de faltas)

1. As faltas contam-se por dias inteiros de trabalho.


2. Os atrasos na entrada do serviço são acumulados até completarem um dia
de falta justificada ou injustificada averbando-se em conformidade.
3. Considera-se atraso, o não cumprimento por parte do funcionário ou
agente do Estado do horário de entrada estabelecido na instituição ou em
legislação.

ARTIGO 42
(Faltas justificadas)

1. Além das relativas às licenças, podem ainda ser justificadas as seguintes


faltas:
a) Exames escolares;
b) Participação em actividades desportivas ou culturais;
c) Tratamento ambulatório, realização de consultas médicas e exames
complementares de diagnóstico;
d) Consultas pré-natais;
e) Acidente em serviço ou doença profissional;
f) Prestação de provas de concurso;
g) Cometidas por dispensa;
h) Por motivos ponderosos não imputáveis ao funcionário ou agente do
Estado.
2. Podem igualmente ser justificadas as faltas dadas pelo funcionário ou
agente do Estado acompanhante aquando do internamento de menores nos
hospitais ou de familiares quando determinado pelos estabelecimentos
hospitalares incluindo o acompanhamento de menores para consultas
médicas.
3. São equiparadas a faltas por doença as dadas ao abrigo do n.º 2 do
presente artigo.
ARTIGO 43
(Faltas por motivo de exames escolares)

1. O funcionário ou agente do Estado estudante a tempo parcial e no período


pós-laboral tem direito a faltar durante a realização de provas de exames,
mediante a apresentação ao seu superior hierárquico do calendário das
referidas provas de exames.
2. Em caso das faltas referidas no número anterior, o funcionário ou agente
do Estado mantém todos os direitos inerentes ao cargo ou função que
desempenha.

ARTIGO 44
(Faltas por motivo de participação em actividades desportivas ou culturais)

1. São consideradas justificadas, as faltas referentes à participação em


actividades desportivas ou culturais, desde que solicitadas pelas entidades
competentes e autorizadas pelo respectivo superior hierárquico.
2. Durante o período de faltas referidas no número anterior o funcionário ou
agente do Estado mantém todos os direitos inerentes ao cargo ou função
que desempenha.

ARTIGO 45
(Faltas injustificadas)

1. São consideradas injustificadas, todas as faltas não previstas nos artigos


anteriores.
2. A ausência do funcionário ou agente do Estado do seu local de trabalho
após a assinatura do livro de ponto, sem autorização, corresponde à falta
injustificada.

ARTIGO 46
(Consequência da falta injustificada)

1. A falta injustificada implica, para além do procedimento disciplinar que


possa caber, a perda do vencimento correspondente e de 3 dias na
antiguidade.
2. As faltas injustificadas seguidas ou interpoladas até 5 dias dão lugar a
procedimento disciplinar.

ARTIGO 47
(Desconto das faltas nas férias)

1. Não são descontadas nas férias as seguintes faltas dadas no ano civil
anterior:
a) Até à apresentação à Junta de Saúde;
b) As faltas resultantes de acidente em serviço;
c) As justificadas por doença ou resultantes da situação de licença por
doença até 30 dias;
d) Por motivo de prestação de serviço militar;
e) Um dia por cada doação de sangue.
2. O desconto de faltas justificadas por doença ou resultantes da situação de
licença por doença por período superior a 30 dias nunca priva o funcionário
ou agente do Estado do gozo de 7 dias de férias.

ARTIGO 48
(Dispensa)

1. Considera-se dispensa a ausência autorizada do funcionário ou agente do


Estado dos serviços por um período não superior a 72 horas mensais.
2. A pedido do funcionário ou agente do Estado pode ser concedida uma
dispensa nos termos do número anterior para tratar assuntos pessoais.
3. O pedido de dispensa é concedido pelo superior hierárquico da unidade
orgânica onde o funcionário ou agente do Estado está afecto, na ausência
deste, pelo superior hierárquico directo do funcionário ou agente do Estado.
4. As dispensas referidas no presente artigo são descontadas nas férias.
5. As dispensas cuja duração for inferior a da jornada laboral são acumuladas
até perfazerem 8 horas correspondentes a jornada laboral.

SECÇÃO III
Licenças

ARTIGO 49
(Licença por doença)

1. Durante o período de licença por doença, o funcionário ou agente do


Estado mantém o direito aos vencimentos resultantes da carreira, categoria
ou função que exerce até ao máximo de 6 meses.
2. Findo o período referido no n.º 1 do presente artigo, o funcionário agente
passa à situação de incapacidade temporária devendo auferir em 75% das
respectivas remunerações.
3. Volvidos 365 dias e prologando-se a doença do funcionário ou do agente
do Estado, este passa à situação de incapacidade fora do quadro.

ARTIGO 50
(Doenças)

1. O funcionário ou agente do Estado suspeito de sofrer de doenças


pulmonares obstrutivas crónicas, doenças crónicas não transmissíveis,
doenças de insuficiência renal crónica, doenças auto imunes, doenças de
fórum psiquiátrico e psicológico, devem ser presentes à Junta de Saúde por
iniciativa dos serviços, dos hospitais ou centros de saúde.
2. As faltas dadas até à decisão da Junta de saúde são:
a) Caso a doença não seja confirmada, justificadas em relação ao período em
que o funcionário ou agente de Estado esteve afastado do serviço;
b) Caso seja confirmada, consideradas como parte integrante do regime
especial de assistência.
3. São abrangidos pelo regime especial de assistência o funcionário ou
agente do Estado portador de doenças referidas no n.º 1 do presente artigo
bem como o de HIV/SIDA.
4. É expressamente proibido submeter qualquer funcionário ou agente do
Estado aos testes de HIV/SIDA, sem o seu expresso consentimento.

ARTIGO 51
(Regime especial de assistência)

1. O regime especial de assistência aplicável nos casos referidos no artigo


anterior, compreende:
a) A dispensa total dos serviços;
b) O pagamento das despesas de deslocação dentro do país para local
diferente do da sua residência para efeitos de tratamento e internamento,
quando indicado pela Junta de Saúde;
c) A manutenção dos direitos inerentes à sua carreira ou categoria.
2. Nos casos em que a Junta de Saúde o declare necessário, pode o dirigente
do órgão central e local, em relação ao funcionário ou agente do Estado que
lhe é subordinado, autorizar o abono de um subsídio até 30% do seu
vencimento.

ARTIGO 52
(Termo do regime especial)

1. A situação de regime especial de assistência não pode ser superior a 2


anos.
2. Findo o período referido no número anterior , o funcionário ou agente do
Estado passa à situação de aposentado.

ARTIGO 53
(Acidente em missão de serviço)

O regime especial de assistência referido no artigo 51 do presente


regulamento é extensivo ao funcionário ou agente do Estado acidentado em
missão de serviço, desde que a culpabilidade do acidente não lhe seja
imputada.
ARTIGO 54 (Passagem para familiares por morte do funcionário ou agente
do Estado em missão do serviço)
Em caso de morte de funcionário ou agente do Estado, resultante de
acidente em missão de serviço fora do local do domicílio oficial, constitui
encargo do Estado:
a) Quando o funeral se efectuar na região de ocorrência, o abono das
passagens para os familiares, até ao máximo de cinco;
b) Optando os familiares pelo funeral no domicílio do funcionário ou agente
do Estado falecido, as despesas resultantes da transladação do corpo.
ARTIGO 55
(Licença por luto)

1. Por motivo de morte de familiares nos termos do Estatuto Geral dos


Funcionários e Agentes do Estado, são concedidas licenças até:
a) 6 Dias de calendário por motivo de falecimento do cônjuge incluindo a
união de facto, pais, padrasto, madrasta, sogros, filhos, irmãos, enteados,
genros e noras;
b) 2 Dias de calendário em caso de falecimento de avós, netos, cunhados,
tios, primos e sobrinhos do primeiro grau.
2. Ao período previsto nas licenças referidas no número anterior que
implicam a deslocação do funcionário ou agente do Estado de uma província
para a outra são acrescidos no máximo 5 dias referentes a viagem de ida e
volta conforme a distância e o meio de transporte a ser usado.
3. A justificação, através de certidão de óbito, passagens de ida e volta ou
guia, conforme os casos, é efectuada logo que o funcionário ou agente do
Estado se apresente ao serviço.
4. Nos casos em que o funcionário ou agente do Estado se faz transportar
numa viatura particular, o mesmo deve ser portador de uma guia passada
pelos serviços devidamente carimbada pelas secretarias provinciais ou
distritais mais próxima do local da realização das cerimónias fúnebres.
5. Na situação de licença por luto, o funcionário ou agente do Estado mantém
todos os direitos inerentes ao cargo ou função que desempenha.

ARTIGO 56
(Licença para o exercício de funções em organismos internacionais)

1. Ao funcionário de nomeação definitiva pode ser concedida licença para o


exercício de funções em organismos internacionais.
2. A concessão da licença por período superior a 1 ano implica a abertura de
vaga.
3. O período de licença não dá direito à percepção da remuneração,
interrompe a contagem de tempo para efeitos de aposentação, promoção,
progressão e mudança de carreira profissional.
4. Findo o exercício de actividade, o funcionário requer ao dirigente
respectivo o regresso a actividade, no prazo de 30 dias a contar da data do
termo da situação.
5. O não cumprimento do disposto no número anterior o funcionário incorre
um processo disciplinar.
6. No caso de ter sido preenchida a respectiva vaga, o funcionário é
integrado na situação de supranumerário, com todos os direitos inerentes ao
funcionário do quadro.
7. Se durante o decurso da licença se verificar a reestruturação ou extinção
da instituição na qual o funcionário estava vinculado e o reingresso deste
não possa ter lugar, o processo individual é remetido a entidade que
superintende a área da função pública, após o regresso, a quem compete
determinar a instituição em que é colocado.
ARTIGO 57
(Licença para o acompanhamento do cônjuge colocado no estrangeiro)

1. A licença para acompanhamento do cônjuge colocado no estrangeiro é


concedida pelo dirigente competente, a requerimento do interessado
devidamente fundamentado.
2. A concessão da licença por período superior a 1 ano implica a abertura de
vaga.
3. O período de licença não dá direito à percepção da renumeração e
interrompe a contagem de tempo para efeitos de aposentação, promoção,
progressão e mudança de carreira profissional.
4. A licença pode iniciar-se em data posterior ao do início de funções do
cônjuge no estrangeiro, desde que o interessado alegue conveniência nesse
sentido.
5. O regresso do funcionário a efectividade de serviço pode ser antecipado
a seu pedido.
6. Finda a missão do cônjuge no estrangeiro, o funcionário requer ao
dirigente respectivo o regresso a actividade, no prazo de 30 dias a contar
da data do termo da situação.
7. O não cumprimento do disposto no número anterior o funcionário incorre
um processo disciplinar.
8. No caso de ter sido preenchida a respectiva vaga, o funcionário é
integrado na situação de supranumerário, com todos os direitos inerentes ao
funcionário do quadro.
9. Se durante o decurso da licença se verificar a reestruturação ou extinção
da instituição na qual o funcionário estava vinculado e o reingresso deste
não possa ter lugar, o processo individual é remetido a entidade que
superintende a área da função pública, após o regresso, a quem compete
determinar a instituição em que é colocado.

ARTIGO 58
(Licença registada)

1. Ao funcionário de nomeação definitiva pode ser concedida licença


registada até 6 meses prorrogáveis até 1 ano, invocando motivo justificado
e ponderoso.
2. A licença referida no número anterior pode ser concedida duas vezes,
intercalada por período não inferior a 5 anos.
3. O pedido de prorrogação é submetido 30 dias antes do término da licença.
4. Se o funcionário que requerer a licença registada for exactor de fazenda
deve provar pelos meios legais que se encontra quite com o Estado.
5. A concessão da licença implica:
a) Que o respectivo tempo não conta para efeito algum;
b) A suspensão da remuneração;
c) Que durante o seu gozo, o funcionário não pode exercer qualquer
actividade na função pública, nem exercer ou invocar direitos fundados na
situação anterior;
d) A não abertura de vaga no quadro de pessoal podendo, no entanto, o seu
lugar ser provido interinamente até ao regresso do referido funcionario;
e) O termo da licença registada inicia a contagem do direito a férias.
5. Finda a licença, o funcionário requer por escrito o seu reingresso aos
serviços, no dia seguinte ao término da licença sob pena de ser considerado
em falta.

ARTIGO 59
(Licença ilimitada)

1. A licença ilimitada é concedida por tempo indeterminado a pedido do


funcionário de nomeação definitiva, implicando:
a) Tempo de licença não dá direito à percepção da remuneração e
interrompe a contagem de tempo para efeitos de aposentação, promoção e
progressão na carreira profissional;
b) Durante o gozo da licença, o funcionário não pode apresentar-se a
concurso, ser promovido ou exercer qualquer actividade na função pública,
nem exercer ou invocar direitos fundamentados na situação anterior;
c) Abertura de vaga no quadro de pessoal a que o funcionário pertence.
2. Se o funcionário que requerer a licença ilimitada for exactor de Fazenda
deve provar pelos meios legais que se encontra quite com Estado.
3. Esta licença é concedida de forma intercalada por período não inferio r a
cinco anos.
4. A licença ilimitada pode cessar a requerimento do interessado, após o
período mínimo de 1 ano naquela situação, reingressando no quadro e na
respectiva carreira, classe e escalão ou categoria profissional desde que haja
disponibilidade de vaga.
5. Decorrido 1 ano após o pedido de reingresso, sem existência de vaga, o
funcionário passa à situação de supranumerário, devendo exercer funções
não inferiores à carreira, classe e escalão ou categoria profissional que lhe
estiver atribuída.
6. No caso daquela carreira ou categoria não constar da nomenclatura
aprovada para o aparelho do Estado, é colocado em carreira ou categoria
profissional equivalente, mas nunca superior.
7. O funcionário que cessa a situação de licença ilimitada fica obrigado a
exercer a sua actividade no local que lhe for designado, de acordo com os
interesses e necessidades do serviço.
8. O funcionário na situação de licença ilimitada pode beneficiar do direito à
aposentação, desde que se encontrem satisfeitos os requisitos exigidos.
9. Por morte do funcionário na situação de licença ilimitada, com direito à
aposentação, os seus herdeiros têm direito à pensão de sobrevivência, nos
termos da legislação aplicavél.
10. O cálculo da pensão de aposentação ou de sobrevivência é reportado ao
vencimento da carreira, categoria, classe e escalão do funcionário no
momento da aposentação ou da morte.
11. No caso da carreira ou categoria já não constar da nomenclatura aprovada
para o aparelho do Estado, a remuneração a considerar é o que estiver
atribuído à carreira ou categoria equivalente.

ARTIGO 60
(Licença de paternidade)

1. A licença de paternidade consiste na concessão, ao pai de uma licença de


7 dias, seguidos ou interpolados, nos 30 dias contados a partir da data do
nascimento.
2. A licença de paternidade referida no número anterior é concedida por 60
dias quando se verifique morte ou incapacidade física e psíquica da
progenitora, devendo a incapacidade ser comprovada pela Junta da Saúde.
3. A paternidade é comprovada através de assento de nascimento, boletim
de nascimento ou outro documento idóneo emitido por autoridade
administrativa ou comunitária e é apresentado até 10 dias após o término da
licença sob pena das faltas serem consideradas injustificadas.

ARTIGO 61
(Licença de parto)

1. A licença de parto consiste na concessão a funcionária ou agente do


Estado parturiente de 90 dias, acumuláveis com as férias, podendo iniciar
20 dias antes da data provável do parto.
2. A licença de parto referida no número anterior aplica-se também aos casos
de parto atermo ou prematuro, independentemente de ter sido nado vivo ou
morto, cujo período de gestação seja igual ou superior a 7 meses.
3. Para efeitos dos n.ºs 1 e 2 do presente artigo a data de parto é
demonstrada através da apresentação no local de trabalho de um
documento emitido pela unidade hospitalar, autoridade administrativa ou
comunitária até 30 dias subsequentes.

ARTIGO 62
(Prestação de serviço militar efectivo normal)

1. O funcionário ou agente do Estado interrompe suas actividades na


instituição a que está vinculado, para prestar serviço militar efectivo normal,
mediante apresentação do documento oficial que comprove a sua
incorporação.
2. Concluída a prestação de serviço militar efectivo normal, o funcionário ou
agente do Estado tem o prazo de 30 dias para se apresentar a instituição a
que está vinculado, sob pena de ser considerado em falta.
3. O funcionário ou agente do Estado que optar em permanecer no serviço
militar efectivo normal comunica a instituição a que está vinculado no prazo
referido no número anterior do presente artigo para efeitos de mobilidade
ou rescisão de contrato conforme se trate de funcionário ou agente do
Estado.
4. A interrupção das actividades referida no n.º 1 do presente artigo implica
a abertura de vaga.
5. O período de prestação de serviço militar efectivo normal dá direito ao
funcionário do Estado à percepção da remuneração, contagem de tempo
para efeitos de aposentação, promoção, progressão e mudança de carreira
profissional durante os primeiros 2 anos.
6. O Período de prestação de serviço militar efectivo normal confere ao
agente do Estado o direito à percepção da remuneração e contagem de
tempo para efeitos de aposentação durante os primeiros 2 anos, sem
prejuízo da validade do contrato.
7. O incumprimento do disposto nos n.ºs 2 e 3 implica a suspensão dos
direitos referidos no número anterior do presente artigo.
8. Nos casos em que a incorporação do funcionário ou agente do Estado para
prestação de serviço militar efectivo normal ocorra a seu pedido os direitos
referidos no n.º 5 do presente artigo são assegurados pela entidade que
superintende a área da defesa nacional.
9. A instituição a que o funcionário ou agente do Estado está vinculado
solicita durante o periodo referido no n.º 5 do presente artigo o ponto de
situação do cumprimento do serviço militar efectivo normal.

CAPÍTULO VIII
Colocação, mobilidade, missão de serviço, doença e concurso

ARTIGO 63
(Colocação)

Entende-se por colocação a afectação de um funcionário ou agente do


Estado na prestação de serviço num local determinado que lhe seja
designado.

ARTIGO 64
(Mobilidade)

1. Entende-se por mobilidade a afectação de um funcionário de nomeação


definitiva, por determinação ou acordo entre os dirigentes dos órgãos
centrais e locais, a tarefas em local diferente daquele em que se encontra a
prestar serviço.
2. A mobilidade deve ter em conta as necessidades de serviço, o
desenvolvimento do carácter unitário nacional do aparelho do Estado e a
formação do funcionário do Estado.
3. A mobilidade pode também ter lugar a pedido dos funcionários ou por
permuta entre eles desde que sejam apresentados motivos relevantes
devidamente justificados e quando tal não cause transtorno ao normal
funcionamento dos serviços.

ARTIGO 65
(Mobilidade a pedido ou por conveniência de serviço)

1. A pedido do interessado ou por conveniência de serviço, a mobilidade


pode efectuar-se de um sector para outro, mediante acordo entre os
respectivos dirigentes dos órgãos centrais ou, tratando-se de funcionários
do quadro de órgãos locais, por decisão do Governador Provincial ou
administrador distrital.
2. A mobilidade de funcionário, entre os quadros central, e local, fica
condicionada à existência de vaga e disponibilidade orçamental e à prévia
concordância do dirigente do órgão central, ou local para onde essa
transferência seja pretendida.
ARTIGO 66
(Mobilidade nos quadros)

1. No acto da mobilidade de funcionário do Estado nos termos do Estatuto


Geral dos Funcionários e Agentes do Estado deve ser indicada a carreira ou
categoria em que o funcionário será enquadrado na instituição para onde é
transferido.
2. No caso referido no número anterior o funcionário deve reunir os
requisitos constantes do qualificador profissional da respectiva carreira ou
categoria.

ARTIGO 67
(Direitos adquiridos)

Nos termos do Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado,


constituem direitos adquiridos todos aqueles estritamente ligados a carreira
ou categoria do funcionário do Estado, nomeadamente, vencimento base e
bónus especial.

ARTIGO 68
(Permanência mínima)

Salvo casos excepcionais, nenhum funcionário pode ser afectado em local


diferente por iniciativa dos serviços sem que decorram 2 anos contados a
partir da data da sua última mobilidade.

ARTIGO 69
(Deslocações em missão de serviço)

As deslocações em missão de serviço são todas aquelas que, por exigência


de serviço, o funcionário ou agente do Estado realiza, temporariamente,
para fora do seu local de trabalho.

ARTIGO 70
(Autorização para deslocação do funcionário ou agente do Estado)

1. A deslocação do funcionário ou agente do Estado por motivo de serviço,


está sempre dependente de autorização do dirigente competente.
2. Exceptua-se do disposto no número anterior a deslocação de magistrados
judiciais ou do Ministério Público e dos oficiais de justiça para missões
específicas de justiça.

ARTIGO 71
(Deslocações por doença)

1. A deslocação por motivo de doença do funcionário ou agente do Estado,


ou de qualquer dos membros do agregado familiar, referidos no Estatuto
Geral dos Funcionários e Agentes do Estado, tem lugar em função do parecer
da Junta de Saúde e, nos locais onde não exista, por parecer clínico.
2. A deslocação por parecer clínico circunscreve-se ao território da província
onde o funcionário ou agente do Estado se encontra colocado.

ARTIGO 72
(Deslocações por motivo de concursos)

As deslocações por motivo de concursos são aquelas que o funcionário


efectua a fim de ser presente a concursos de promoção.

ARTIGO 73
(Deslocações por outros motivos)

As deslocações por outros motivos verificam-se por necessidade de


participar em acções de formação, seminários, colóquios e estágios.

ARTIGO 74
(Passagens)

1. As deslocações efectuadas nos termos dos artigos 63, 69 e 73 do presente


Regulamento conferem ao funcionário ou agente o direito ao abono de
passagens.
2. O disposto no número anterior não se aplica nos casos referidos no n.º 3
do artigo 64, do presente Regulamento, caso em que elas ocorrem por conta
do mesmo.

ARTIGO 75
(Apresentação de relatório)

Após o termo da deslocação e dentro do prazo de 7 dias é apresentado um


relatório circunstanciado das actividades desenvolvidas pelo funcionário ou
agente do Estado.

CAPÍTULO IX
Prova de vida

ARTIGO 76
(Realização)

O funcionário e agente do Estado são chamados a apresentar-se


periodicamente nos pólos de registo para efeitos de prova de vida, com vista
a garantir maior controlo e actualização dos dados no Sistema Electrónico
Nacional de Gestão de Recursos Humanos do Estado abreviadamente
designado por e-SNGRH.
ARTIGO 77
(Locais de realização)

A prova de vida decorre em todo o país, nos órgãos centrais, locais do


aparelho do Estado, através dos pólos de registo devidamente identificados,
na entidade que superintende a área da função pública e nas secretarias
provinciais e distritais.

ARTIGO 78
(Periodicidade)

1. A prova de vida é feita anualmente.


2. Cada funcionário ou agente do Estado presta a prova de vida durante o
mês do seu nascimento.

ARTIGO 79
(Documentos necessários)

1. Para a realização da prova de vida, o funcionário e agentes do Estado


devem estar munido de:
a) Número Único de Identificação Tributária (NUIT);
b) Título de provimento ou despacho com o último acto administrativo ou
contrato válido visado pelo Tribunal Administrativo;
c) Bilhete de identidade ou carta de condução ou passaporte;
d) Certificado de habilitações literárias;
e) Outros.
2. Para efeitos do disposto na alínea b) do n.º 1 do presente artigo entende-
se por acto administrativo a promoção, progressão ou mudança de carreira
profissional.
3. No caso do funcionário não se ter beneficiado de nenhum acto
administrativo, durante um período superior a 5 anos, o gestor de recursos
humanos do respectivo sector, faz uma nota explicativa acompanhada dos
documentos referidos no n.º 1 do presente artigo e remete a entidade que
superintende a área da função pública, nas secretarias provincial e distrital,
respectivamente.

ARTIGO 80
(Tipos e abrangência de prova de vida)

1. A prova de vida é presencial e consiste na captação e leitura de dados


biométricos para serem conferidos no Sistema Electrónico Nacional de
Gestão de Recursos Humanos do Estado.
2. Excepcionalmente, a prova de vida pode ser não biométrica, nos casos em
que haja impossibilidade de captação das características fisiológicas únicas
usadas para identificação do funcionário e agente do Estado pelo Sistema:
a) Por inexistência destas nos dedos ou por ilegibilidade;
b) Por falta de dedos nas mãos.
3. Nas situações referidas na alínea a) do n.º 2 do presente artigo deve ser
apresentado um documento médico que confirme a inexistência de
impressões digitais.
4. A prova de vida pode ocorrer, excepcionalmente, de forma não presencial,
no caso em que o funcionário ou agente do Estado esteja ausente, por
motivos devidamente justificados, devendo no entanto regularizar a sua
situação mediante a realização da prova de vida presencial nos doze meses
subsequentes.
5. Para efeitos do número anterior do presente artigo, compete ao
respectivo gestor de recursos humanos submeter a entidade que
superintende a área da função pública, as secretarias provinciais ou
distritais, conforme os casos, os seguintes documentos:
a) Despacho de nomeação para o exercício de funções fora do território
nacional;
b) Contrato de formação, em caso de bolsa de estudos;
c) Declaração ou junta médica, em caso de doença.
6. Os documentos referidos n.º 5 do presente artigo são acompanhados
pelos documentos referidos no artigo 79 do presente Regulamento.

ARTIGO 81
(Responsabilidade na organização do processo da prova de vida)

1. É da responsabilidade dos sectores que superintendem as áreas da função


pública e das finanças, garantir:
a) A disponibilidade e operacionalidade da plataforma informática;
b) A formação dos formadores e brigadistas do processo de realização da
prova de vida;
c) O suporte técnico nos casos de avarias e qualquer anomalia técnica e
tecnológica no decurso do processo.
2. O sector que superintende a área da função pública garante a divulgação
e mobilização do funcionário e agente do Estado de todos os órgãos e
instituições do Estado, para a realização da prova de vida no período
estabelecido no artigo 77 do presente regulamento.

ARTIGO 82
(Efeitos da não realização da prova de vida)

1. O funcionário ou agente do Estado que não realizar a prova de vida no


período estabelecido, a sua remuneração é suspensa até à data da realização
da mesma, sem prejuízo da aplicação de outras medidas determinadas em
processo disciplinar.
2. A suspensão da remuneração pode ser levantada mediante motivos
devidamente justificados, nomeadamente:
a) Nos casos de formação no exterior – com a apresentação dos documentos
referidos no n.º 5 do artigo 79 do presente Regulamento;
b) Nos casos de doentes impossibilitados de se deslocar até aos pólos de
registo – com a apresentação dos documentos referidos no n.º 5 do artigo
79 do presente Regulamento;
c) Outros motivos não previstos neste artigo e cuja valoração cabe a
entidade responsável pela prova de vida.
3. Para os casos da não realização da prova de vida, o funcionário e agente
do Estado tem um período de 3 meses para a sua regularização, findo qual
o Estado reserva-se o direito de aplicar medidas disciplinares e
administrativas.
ARTIGO 83
(Reposição da remuneração suspensa)

A reposição da remuneração suspensa, por falta de realização da prova de


vida, produz efeitos retroactivos a partir do mês da suspensão.

CAPÍTULO X
Responsabilidade Disciplinar

SECÇÃO I
Princípios gerais

ARTIGO 84
(Participação)

1. Todos os que tiverem conhecimento de que um funcionário ou agente do


Estado praticou infracção disciplinar devem participá-la ao superior
hierárquico do arguido.
2. A participação ou queixa é imediatamente remetida à entidade
competente para instaurar o processo disciplinar, quando se verificar que
não possui tal competência a entidade que recebe a participação ou queixa.
3. Quando o participante seja funcionário ou agente do Estado, a entidade
competente instaura processo disciplinar sempre contra o participante
quando for infundada e dolosamente apresentada.
4. O funcionário ou agente do Estado autor da participação feita de boa-fé
não pode ser, de qualquer modo, prejudicado.

ARTIGO 85
(Nomeação do Instrutor e Escrivão)

1. Pode ser nomeado para instrutor um funcionário de serviço diferente


daquele a que pertença o arguido, de categoria ou classe igual ou superior
à dele, ou um funcionário nas mesmas condições solicitado a outro sector.
2. O instrutor pode requerer a designação de escrivão, caso não tenha sido
nomeado pela entidade que o nomeou instrutor quando a complexidade do
processo o requeira, bem como solicitar a colaboração de técni cos.
3. As funções de instrutor e de escrivão preferem a quaisquer outras que o
funcionário tenha a seu cargo, podendo determinar-se que fique
exclusivamente adstrito à instrução do processo, se assim a complexidade
do mesmo o aconselhar.

ARTIGO 86
(Instrução do processo)

1. O instrutor faz autuar o despacho com o auto de notícia, participação ou


queixa e procede, em seguida à investigação:
a) Ouvindo o participante, as testemunhas por este indicadas e as demais
que julgar necessárias;
b) Realizando exames e outras diligências que julgue necessárias para se
apurar a verdade e juntando o registo biográfico do arguido;
c) Ouvindo o arguido sempre que entender conveniente, podendo acareá-lo
com as testemunhas ou com o participante.
2. Durante a fase de instrução do processo pode o arguido requerer a
realização de diligências consideradas essenciais para o apuramento da
verdade, incluindo a audição de testemunhas.
3. O instrutor pode indeferir as diligências requeridas quando julgue
suficiente a prova produzida ou considere que a diligência não tem relação
com a infracção de que venha acusado.
4. As diligências a realizar fora da localidade onde ocorre o processo
disciplinar podem ser requisitadas por nota, à autoridade administrativa
local.
5. Quando o arguido seja acusado de incompetência profissional, pode o
instrutor convidá-lo a executar quaisquer trabalhos segundo um programa
traçado por dois peritos, que depois emitem a sua opinião sobre as provas
prestadas e a competência do arguido.
6. Os peritos referidos no número anterior são indicados pela entidade que
tiver mandado instaurar o processo disciplinar ou pelo instrutor e os
trabalhos a fazer pelo arguido consistem em tarefas que habitualmente são
executadas por funcionário ou agente do Estado da mesma categoria ou
carreira e serviço.

ARTIGO 87
(Responsabilização)

1. O instrutor deve informar por escrito a entidade que o designou e ao


arguido, a data em que dá início à instrução do processo.
2. Incorre na pena de multa se pena maior não couber, o instrutor que não
promova diligências, não cumpra decisões superiores ou não observe
prescrições legais de que resulte a caducidade do procedimento disciplinar.
3. Incorre na pena de multa, se pena maior não couber, o superior hierárquico
que não tome decisão no prazo de 45 dias a contar da data da recepção do
processo disciplinar.
4. As penas referidas nos n.ºs 2 e 3 do presente artigo são aplicadas mediante
instauração prévia de processo disciplinar.

ARTIGO 88
(Suspeição do instrutor e do escrivão)

O arguido pode requerer a suspeição do instrutor ou do escrivão do


processo disciplinar com base em qualquer dos seguintes fundamentos:
a) Quando o instrutor ou escrivão tiver sido directa ou indirectamente parte
da infracção;
b) Quando o instrutor ou escrivão ou seus cônjuges, parentes ou afim em
linha recta ou até 2.º grau da linha colateral, bem como qualquer pessoa com
quem viva em economia comum, tenha interesse no assunto da infracção;
c) Quando o instrutor ou escrivão ou seu cônjuge, algum parente ou afim em
linha recta ou até ao 2.º grau da linha colateral for credor ou devedor do
infractor;
d) Quando o instrutor ou escrivão ou seu cônjuge ou parente em linha recta
haja recebido dádivas do infractor, antes ou depois do cometimento da
infracção;
e) Se houver inimizade grave ou grande intimidade entre o arguido e o
instrutor ou escrivão ou entre qualquer destes e o participante ou o
ofendido;
f) Outros previstos na legislação aplicável.

ARTIGO 89
(Medidas preventivas)

Cabe ao instrutor tomar as medidas apropriadas para que não se possa


alterar o estado dos factos e dos documentos ou livros em que se descobriu
ou se presume existir irregularidade, nem que se possa subtrair as provas
desta.

ARTIGO 90
(Apresentação de defesa)

1. A resposta à nota de acusação é assinada pelo arguido e é apresentada no


local onde o processo tiver sido instaurado.
2. Na resposta, o arguido deve expor com clareza, os factos e as razões da
sua defesa.
3. O instrutor inquire até três testemunhas indicadas pelo arguido por cada
facto.
4. Com a resposta, o arguido pode apresentar o rol das testemunhas, juntar
os documentos e requerer as diligências que julgue apropriadas para
esclarecer a verdade.
5. Se a resposta revelar indícios de nova infracção ou traduzir se em nova
infracção dela se extrai certidão, que tem o valor de participação para
efeitos de outro processo disciplinar.

ARTIGO 91
(Produção da prova)

1. O instrutor pode indeferir as diligências requeridas, por decisão


fundamentada, quando a considere manifestamente dilatória ou
desnecessária.
2. Pode ainda o instrutor recusar a audição de testemunhas quando julgue
suficientemente provados os factos alegados pelo arguido.
3. Finda a produção de prova oferecida pelo arguido, pode ser ordenada
diligência complementar, quando se repute indispensável para o
esclarecimento da verdade.

ARTIGO 92
(Extinção do Processo)

O exercício do poder disciplinar da Administração Pública extingue-se


decorridos 150 dias após a data de início do procedimento disciplinar sem
que o processo tenha sido encerrado.
ARTIGO 93
(Intervenção de advogado)

O arguido pode, querendo, ser assistido por advogado mediante


apresentação da procuração, para preparar a sua defesa por escrito, as
reclamações, os recursos e pedidos de revisão em autos de processo
disciplinar, podendo para o efeito consultar o processo disciplinar durante
as horas de expediente, na presença do funcionário a quem o processo esteja
a sua guarda mediante a autorização do superior hierárquico.

SECÇÃO II
Dos prazos

ARTIGO 94
(Prazo para instrução do processo)

1. A instrução do processo disciplinar inicia com a notificação do despacho


que designa o instrutor e termina dentro de um prazo de 45 dias.
2. Este prazo pode, em casos devidamente justificados, ser prorrogado por
mais 15 dias.
3. Quando a complexidade da instrução determine a realização de
peritagens, deslocações prolongadas ou por exigência de comunicações, o
prazo estabelecido anteriormente pode ser prorrogado pelo dirigente por
sua iniciativa ou a requerimento do instrutor no prazo não superior a 45 dias.
4. A prorrogação do prazo indicado no n.º 3 do presente artigo é comunicado
ao arguido.

ARTIGO 95
(Notificação do arguido)

1. Deduzida a acusação, é entregue pessoalmente ao arguido a nota de


acusação a qual averba o seu recebimento na cópia a juntar ao processo,
com a sua assinatura e data, devendo a cópia desta ser entregue ao órgão
sindical do serviço em que o funcionário presta actividade no caso deste,
estar inscrito.
2. Não se conhecendo o paradeiro do arguido a notificação é feita através
de editais no local de serviço e publicado nos jornais de maior circulação e
nas rádios.
3. O edital é dado a conhecer ao órgão sindical do local de trabalho, caso
exista.

ARTIGO 96
(Defesa do arguido)

1. O arguido tem o prazo de 15 dias, a contar da data da entrega da nota de


acusação, para apresentar, querendo, a sua defesa por forma escrita ou oral,
devendo esta última ser reduzida a auto escrito que é lido na presença de
duas testemunhas e assinado por todos os intervenientes.
2. Findo o prazo referido no número anterior do presente artigo a cópia do
processo é remetida ao órgão sindical a que o arguido está filiado para,
querendo, emitir seu parecer e remetê-lo ao instrutor no prazo de 5 dias.
3. O parecer do órgão sindical não é vinculativo sendo que a sua ausência
não constitui impedimento do curso normal do processo disciplinar nem
consubstancia causa de invalidade do mesmo.
4. Quando o termo do prazo referido no n.º 1 do presente artigo se verifique
em dia em que o serviço não esteja aberto ao público, ou não funcione
durante o período normal, transfere-se para o primeiro dia útil.
5. Da nota de acusação deve constar, obrigatoriamente e de forma clara, o
prazo para o arguido apresentar, querendo, a sua defesa escrita ou oral, a
infracção ou infracções de que é acusado, a data e local em que foram
praticadas e outras circunstâncias pertinentes, bem como as circunstâncias
atenuantes e agravantes se as houver e ainda a referência aos preceitos
legais infringidos e às sanções aplicáveis.
6. Durante o prazo referido no n.º 1 do presente artigo, o processo é
facultado ao arguido, que o pode consultar durante as horas de expediente
na presença do instrutor ou do escrivão.

ARTIGO 97
(Conclusão do processo)

1. Concluída a instrução, o instrutor faz imediatamente o relatório final,


completo e conciso, de onde conste a existência concreta da infracção, sua
qualificação e gravidade, bem como a sanção aplicável devendo, no caso de
concluir ser infundada a acusação, propor o arquivamento do processo e
providenciar o procedimento criminal contra o participante em caso de ter
feito a participação de má-fé.
2. O dirigente que mandou instaurar o processo disciplinar decide no prazo
de 45 dias a contar da data da recepção do processo disciplinar.
3. A decisão que recai sobre o processo é fundamentada e toma sempre em
conta as agravantes e atenuantes fixadas.
4. Se a sanção aplicável não estiver dentro da sua competência, o dirigente
que mandou instaurar o processo remete seguidamente o respectivo
processo ao dirigente competente, pela via hierárquica.
5. A decisão final do processo disciplinar é tomada no prazo de 45 dias a
contar da data de recepção do processo disciplinar referido no n.º 2 do
presente artigo.

SECÇÃO III
Decisão e sua execução

ARTIGO 98
(Decisão)

1. Antes da decisão final, o dirigente competente pode solicitar ao superior


hierárquico do arguido a emissão de informação ou parecer sobre aspectos
especificados e determinantes para a decisão, o qual é emitido no prazo de
10 dias.
2. A decisão do processo sempre fundamentada quando não esteja
concordante com a proposta apresentada no relatório pelo instrutor.

ARTIGO 99
(Pluralidade de arguidos)

Quando vários funcionários ou agentes do Estado, embora de diversas


unidades orgânicas pertençam ao mesmo serviço ou sector, sejam co-
arguidos do mesmo facto ou de factos entre si conexos, a entidade
competente para punir o funcionário ou agente do Estado de maior carreira
ou categoria decide relativamente a todos os arguidos.

ARTIGO 100
(Tramitação)

Se for concedida a revisão, é o incidente de revisão apenso ao processo


disciplinar, nomeando-se instrutor diferente do primeiro, que fixa ao
requerente prazo de 10 dias para responder, querendo, por escrito à
acusação constante do processo a rever.

ARTIGO 101
(Efeitos da revisão em relação ao cumprimento da pena)

A revisão do processo não suspende o cumprimento da pena.

ARTIGO 102
(Efeitos da revisão do processo)

1. Julgando-se procedente a revisão, a decisão é revogada ou alterada.


2. A revogação produz os seguintes efeitos:
a) O cancelamento do registo da pena no processo individual do funcionário
ou agente do Estado;
b) A anulação dos efeitos da pena.
3. São respeitadas as situações criadas a outros funcionários pelo
provimento nas vagas abertas em consequência da pena imposta, mas sem
prejuízo da antiguidade do funcionário do Estado punido à data da aplicação
da pena.
4. Em caso da revogação ou alteração da pena de expulsão, o funcionário
tem direito a ser provido em lugar de categoria ou classe de carreira igual
ou equiparada ou, não sendo possível, à primeira vaga que ocorrer na
categoria ou classe da carreira correspondente, exercendo transitoriamente
funções fora do quadro até à sua integração neste.
5. O funcionário punido tem direito, em caso de revisão procedente, a
retomar a sua carreira, devendo ser consideradas as promoções e
progressões que não se efectivaram por efeito de punição.
ARTIGO 103
(Registo do processo)

O número do processo é obrigatoriamente posto na capa do respectivo


processo e registado em livro próprio, do qual consta igualmente a
identificação da carreira ou categoria do arguido, a infracção indiciada e
posteriormente a decisão final do dirigente.

SECÇÃO IV
Sindicância e inquérito

ARTIGO 104
(Processo de sindicância)

1. No início do processo da sindicância, o sindicante deve, por anúncio ou


edital a afixar em local próprio, convidar toda a pessoa que tenha razão de
queixa ou reclamação contra o regular funcionamento dos serviços
sindicados, à apresentar-se a ele ou submeter a queixa por escrito, devendo
esta conter os elementos de identificação do queixoso.
2. Concluída a sindicância, o sindicante tem o prazo de 15 dias para elaborar
o relatório e remetê-lo à entidade que a ordenou, podendo ser prorrogado
por um máximo de 5 dias, pela entidade que ordenou a sindicância.
3. O dirigente que mandou instaurar a sindicância e decide no prazo de 10
dias a contar da data da recepção do relatório.

ARTIGO 105
(Processo de inquérito)

1. No início do processo de inquérito o dirigente respectivo designa o


inquiridor com vista a apurar os factos relativos ao procedimento do
funcionário ou agente do Estado.
2. Concluído o inquérito, o inquiridor tem o prazo de 15 dias para elaborar o
relatório e remetê-lo à entidade que o ordenou, podendo ser prorrogado por
um máximo de 5 dias, pela entidade que ordenou o inquérito.
3. O dirigente que mandou instaurar o inquérito decide no prazo de 10 dias
a contar da data da recepção do relatório, e deve:
a) Mandar instaurar o respectivo processo disciplinar havendo matéria para
o efeito;
b) Mandar arquivar caso não existam provas indiciárias, por despacho
fundamentado;
c) Ordenar outras medidas que julgar pertinentes.
CAPÍTULO XI
Cessação da relação de trabalho no Estado

ARTIGO 106
(Exoneração por iniciativa do funcionário)

1. O pedido de exoneração por iniciativa do funcionário é apresentado


mediante requerimento dirigido à entidade competente para nomear.
2. A exoneração produz efeitos a partir da data da notificação do despacho
que a concede.
3. Antes da notificação do despacho de exoneração, o funcionário não pode
abandonar o serviço, sob pena de ser considerado em faltas injustificadas.

ARTIGO 107
(Exoneração por iniciativa do Estado)

1. O Estado pode exonerar, por sua iniciativa o funcionário do Estado, com


aviso prévio de 90 dias, desde que essa medida se funde em motivos de
reestruturação dos serviços, e desde que não possa ser reintegrado em
algum lugar vago no aparelho do Estado.
2. O aviso prévio é comunicado por escrito ao funcionário abrangido e ao
legítimo comité sindical do serviço em que o funcionário presta actividade.
3. A exoneração referida no n.º 1 do presente artigo é precedida de parecer
de legítimo comité sindical do serviço em que o funcionário preste
actividade no prazo de 10 dias, após o recebimento da respectiva
notificação.
4. Enquanto não for pago o valor da indemnização, a exoneração por
iniciativa do Estado não produz efeitos.

ARTIGO 108
(Denúncia)

A denúncia consiste na notificação, por uma das partes contratantes da


intenção de não renovação do contrato celebrado, devendo ser
fundamentada e determinada:
a) Pelo dirigente do respectivo sector ou organismo com competência para
nomear, mediante aviso prévio de 60 dias relativamente ao termo do
contrato;
b) Pelo agente, mediante aviso prévio de 60 dias, relativamente ao termo
do contrato;
c) Fora dos casos referidos nas alíneas anteriores, a cessação do contrato de
prestação de serviços a termo certo, a entidade contratante comunica
antecipadamente por escrito, ao agente, no prazo mínimo de 60 dias, a
intenção da não renovação do mesmo.
ARTIGO 109
(Rescisão)

1. A rescisão consiste na cessação unilateral ou bilateral do contrato antes


da data prevista para o seu término podendo revestir as seguintes formas:
a) Acordo mútuo;
b) Acto unilateral do dirigente do respectivo serviço ou organismo, com
fundamento em justa causa comprovada em processo disciplinar;
c) Pedido do agente, devidamente fundamentado em justa causa, devendo
do indeferimento haver lugar a recurso para o Tribunal Administrativo.
2. Entende-se por justa causa, como fundamento de rescisão por parte do
Estado, qualquer motivo que constitua infracção disciplinar nos termos
gerais, ou ainda a manifesta incompetência do agente apurado em processo
de avaliação de desempenho.
3. Entende-se por justa causa, como fundamento de rescisão por parte do
agente a falta de pagamento da remuneração por um período mínimo de 3
meses.

ARTIGO 110
(Efeitos da extinção da relação contratual)

À extinção da relação contratual aplica-se o disposto no n.º 2 do artigo 18 do


presente Regulamento, para além dos demais efeitos previstos na legislação
aplicável e no contrato.
Havendo necessidade de estabelecer o quadro jurídico para o exercício da
liberdade sindical na Administração Pública, nos termos do n.º 4 do artigo
86 da Constituição, a Assembleia da República determina:
CAPÍTULO I
Disposições Gerais

ARTIGO 1
(Definições)

Os termos usados na presente Lei constam do glossário, em anexo, que dela


faz parte integrante.
ARTIGO 2
(Objecto)

A presente Lei estabelece o quadro jurídico para o exercício da liberdade


sindical na Administração Pública.
ARTIGO 3
(Âmbito)

A presente Lei abrange os funcionários e agentes do Estado, no activo ou


aposentados, que prestam serviço na Administração directa e indirecta do
Estado e nas autarquias locais, nos termos do regime do Estatuto Geral dos
Funcionários e Agentes do Estado.

ARTIGO 4
(Instituições não abrangidas)

É regulado por lei especial o exercício da liberdade sindical para o


funcionário ou agente do Estado que se encontre numa das seguintes
situações:
a) dirigente superior do Estado e ou entidade nomeada pelo Presidente da
República;
b) exercício de cargos de direcção;
c) exercício de cargos de chefia;
d) exercício de cargos de confiança;
e) exercício de cargos e funções e carreiras diplomáticas nas forças
paramilitares, incluindo os guardas e ou fiscais florestais;
f) exercício de funções e de inspecção;
g) exercício de funções na Presidência da República;
h) exercício de funções nas Forças Armadas de Defesa;
i) exercício de funções nas forças policiais;
j) exercício de funções nos serviços de migração;
k) exercício de funções nos serviços penitenciários;
l) exercício de funções nos serviços de salvação pública;
m) exercício de funções nas magistraturas;
n) exercício de funções na entidade encarregue de administração e cobrança
dos impostos internos e do comércio externo;
o) exercício de funções nos serviços de prevenção e combate às
calamidades naturais;
p) no gozo de licença ilimitada e registada.

CAPÍTULO II
Finalidade, Direitos e Garantias Fundamentais

ARTIGO 5
(Finalidade da liberdade sindical)

O exercício da liberdade sindical na Administração Pública visa assegurar a


participação dos funcionários e agentes do Estado na defesa e
desenvolvimento dos seus direitos e interesses sócio-profissionais.

ARTIGO 6
(Princípios fundamentais)

O exercício da liberdade sindical obedece aos seguintes princípios


fundamentais:
a) constitucionalidade, que impõe a obediência, o respeito pela Constituição
da República e das leis e pelas normas do Direito Internacional vigente na
ordem jurídica moçambicana;
b) diálogo, assente no primado da participação e colaboração como forma
de relacionamento entre as associações sindicais e a Administração Pública;
c) continuidade, que implica a salvaguarda do carácter ininterrupto de
prestação e da qualidade dos serviços públicos;
d) ética, que impõe observância dos valores de deontologia profissional e
das boas práticas;
e) independência, que assegura a organização e funcionamento das
associações sindicais livre da interferência do Estado, partidos políticos,
igrejas e confissões religiosas;
f) democrático, que preconiza que a organização e funcionamento das
associações sindicais são inclusivos e participativos.

ARTIGO 7
(Direitos)

1. Os funcionários e agentes do Estado abrangidos pela presente Lei têm os


seguintes direitos:
a) participar na constituição de associações sindicais;
b) filiar-se ou não em associação sindical;
c) renunciar a qualidade de membro da associação sindical.
2. Constituem direitos dos membros das associações sindicais:
a) exercer a actividade sindical nos termos da lei e do respectivo estatuto;
b) manter a qualidade de membro nos termos definidos nos estatutos;
c) renunciar a qualidade de membro junto do sindicato;
d) participar na eleição dos titulares dos corpos directivos;
e) candidatar-se para os corpos directivos.
3. O exercício do direito à greve pelos funcionários e agentes do Estado é
regulado por lei específica.
ARTIGO 8
(Garantias fundamentais)

Constituem garantias fundamentais do exercício da liberdade sindical pelos


funcionários do Estado:
a) não serem privados do exercício de qualquer direito ou liberdade por
estarem ou não filiados em associação sindical, salvo nos casos previstos na
presente Lei;
b) desenvolver a actividade sindical nas respectivas instituições nos termos
da presente Lei;
c) não sofrer desconto por via de retenção na fonte à favor da associação
sindical sem a sua autorização.
CAPÍTULO III
Organização Sindical

Secção I
Constituição de associações sindicais

ARTIGO 9
(Constituição)

1. A assembleia constituinte da associação sindical deve ser convocada com


ampla publicidade, nos serviços e nos meios de comunicação social, com a
indicação do local, da hora e do objecto, com antecedência mínima de pelo
menos quinze dias.
2. As deliberações respeitantes à constituição da associação sindical, a sua
organização, aprovação e alteração dos respectivos estatutos, devem ser
tomadas por maioria qualificada dos participantes e em escrutínio secreto.
ARTIGO 10 (Personalidade jurídica)
1. A associação sindical adquire personalidade jurídica pelo registo no órgão
que superintende a área da Função Pública.
2. O requerimento de registo da associação sindical é instruído com os
seguintes documentos:
a) acta da assembleia constituinte;
b) estatutos da associação sindical;
c) certidão negativa da sua denominação;
d) lista nominal dos filiados com a indicação da instituição em que presta
serviço, data de nascimento, local de residência, número do bilhete de
identidade e do cartão de trabalho e assinatura dos filiados reconhecida
notarialmente;
e) documento comprovativo da publicação da convocatória da assembleia
constituinte.
3. O requerimento referido no número anterior pode ser remetido através
das Secretarias provincial, distrital ou de posto administrativo.
ARTIGO 11
(Sede)

As associações sindicais têm a sua sede em território nacional, sem prejuízo


da sua representação no estrangeiro.

Secção II
Funcionamento e organização

ARTIGO 12
(Funcionamento do sindicato)

As associações sindicais regem-se pelos princípios de organização e gestão


democrática e baseiam-se na activa participação dos seus membros em
todas as suas actividades, observando os princípios fundamentais
consagrados na presente Lei e na demais legislação aplicável.

ARTIGO 13
(Liberdade de organização)

1. As associações sindicais aprovam os seus estatutos e regulamentos,


elegem livremente os seus representantes e formulam o seu programa de
actuação.
2. O Estado, os partidos políticos e instituições religiosas não devem
interferir na organização e direcção das associações sindicais.
3. As associações sindicais podem estabelecer, livremente, relações de
cooperação e amizade com outras instituições nacionais e internacionais
congéneres, ou filiar-se nelas.

ARTIGO 14
(Legitimidade processual)

A associação sindical tem legitimidade para demandar na Administração


Pública e tribunal competente, nos termos da lei, na defesa dos seus direitos
e dos interesses sócio-profissionais dos seus associados.

ARTIGO 15
(Regime aplicável ao sindicato)

1. A associação sindical rege-se pela presente Lei, pelos respectivos


estatutos e demais legislação aplicável.
2. O estatuto da associação sindical deve conter nomeadamente os
seguintes elementos:
a) a denominação, a sede e o âmbito;
b) a forma de aquisição e perda da qualidade de associado;
c) os direitos e deveres dos membros da associação;
d) o sistema de quotizações;
e) o regime disciplinar dos seus associados;
f) a composição, a forma e periodicidade de eleição, o funcionamento da
assembleia-geral e dos corpos directivos;
g) o regime da administração financeira e patrimonial;
h) a criação e o funcionamento de secções ou delegações ou outras formas
de organização democrática descentralizada;
i) o processo de alteração dos estatutos;
j) a extinção, dissolução, liquidação e o destino do respectivo património.
3. O processo de colecta de quotas da associação sindical pode assumir as
formas de entrega individual do associado, da retenção na fonte pela
Administração Pública mediante declaração expressa e revogável do
associado, ou qualquer outra forma a serem estabelecidas por mecanismos
específicos.

ARTIGO 16
(Órgãos sindicais)

1. As associações sindicais têm, além de outros que possam estar previstos


nos respectivos estatutos, os seguintes órgãos:
a) assembleia geral;
b) órgão executivo;
c) órgão de fiscalização.
2. Os titulares dos órgãos referidos no número anterior são eleitos
periodicamente nos termos previstos nos respectivos estatutos, não
podendo estes em nenhum caso fixar uma periodicidade superior a 5 anos.

ARTIGO 17
(Extinção)

1. As associações sindicais podem ser extintas nos termos definidos nos


respectivos estatutos ou por decisão judicial.
2. A decisão judicial de extinção das associações sindicais é proferida em
acção movida pelo Procurador da República do correspondente escalão
territorial, com fundamento em:
a) existência, por tempo superior a um ano, de um número de funcionários e
agentes do Estado inferior ao exigido para a constituição da associação
sindical;
b) na declaração de insolvência;
c) na constatação de ser o seu fim real ilícito ou contrário a moral pública,
ou ainda ser o seu fim real diferente do fim declarado nos respectivos
estatutos;
e
d) outras circunstâncias previstas na Lei.
Secção III
Titulares de cargos sindicais

ARTIGO 18
(Cargos sindicais)

1. A designação dos titulares dos cargos sindicais, bem como as suas


competências, duração do mandato e condições de acesso constam dos
respectivos estatutos.
2. Só podem ser designados para o exercício de cargo sindical os associados
que, nos termos da lei, tenham a qualidade de funcionário.

ARTIGO 19
(Incompatibilidades)

A situação de titular de cargo sindical é incompatível com os seguintes


cargos:
a) deputado da Assembleia da Republica e membro de Assembleia
Provincial;
b) membro da Assembleia da Autarquia local, quando estejam em
representação de partidos políticos;
c) cargo político-partidário.

ARTIGO 20
(Exercício de cargos sindicais)

1. Os titulares de cargos sindicais tem o direito de exercer a sua actividade


sindical nas respectivas instituições, sem prejuízo do funcionamento normal
destas.
2. A Administração Pública garante a estabilidade ao emprego do titular de
cargo de direcção ou representação de entidade sindical durante o
respectivo mandato, salvo em situação de cometimento comprovado de
infracção disciplinar.
3. O disposto no número anterior aplica-se aos candidatos aos cargos
referidos, a partir da aceitação da sua candidatura.
4. O exercício de cargos sindicais não impede o desenvolvimento técnico
profissional do funcionário.
5. O pedido de ausência da instituição onde o funcionário ou agente do
Estado se encontra vinculado para exercício da actividade sindical deve ser
formulado pelo dirigente sindical ao respectivo dirigente da Administração
Pública.
6. A transferência do seu local de trabalho no Aparelho do Estado, dos
funcionários exercendo cargos de direcção e chefia no sindicato, é
precedida de comunicação, com antecedência mínima de 15 dias, ao
respectivo órgão sindical.
7. O disposto no número anterior não se aplica quando a transferência
resulta directamente da nomeação do funcionário para o exercício de
funções em comissão de serviço, que beneficie do regime de urgente
conveniência de serviço.
ARTIGO 21
(Identificação dos dirigentes eleitos)

1. A identificação dos dirigentes eleitos das associações sindicais, bem como


a correspondente acta de eleição, devem ser remetidas ao órgão que
superintende a Função Pública do nível correspondente.
2. A nível local a identificação referida no número anterior é remetida às
Secretarias provincial e ou distrital.
3. A identificação dos dirigentes dos comités sindicais eleitos pela respectiva
assembleia é dada a conhecer ao dirigente máximo do serviço ou estrutura
administrativa em que esteja implantada.

CAPÍTULO IV
Exercício da Actividade Sindical

ARTIGO 22
(Local de exercício da actividade sindical)

1. O dirigente competente da instituição pode colocar à disposição do


comité sindical, desde que o requeira, um local para o exercício da
actividade sindical, desde que estejam verificados os seguintes
pressupostos:
a) disponibilidade de instalações;
b) salvaguarda da estabilidade e continuidade da prestação dos serviços
públicos.
2. O Comité sindical pode afixar, no interior dos serviços e em local
disponibilizado para o efeito pelo dirigente competente, textos,
convocatórias, comunicações ou informações respeitantes a vida sindical e
aos interesses sócio-profissionais dos funcionários e agentes do Estado, bem
como proceder a sua distribuição.
3. Nas instituições em que a complexidade dos serviços o justifique, ou que
compreendam instituições subordinadas e tuteladas dispersas localmente,
pode constituir-se mais do que um comité sindical.

ARTIGO 23
(Reuniões nos locais de trabalho)

1. No exercício da actividade sindical os funcionários e agentes do Estado


podem reunir-se nas suas instituições de trabalho, fora do horário normal de
expediente.
2. Para efeitos do disposto no número anterior, as associações sindicais
podem usar, mediante autorização do dirigente competente, os recursos
patrimoniais da instituição pública estritamente necessários para a
realização da reunião.
3. A realização de reuniões nas instituições deve ser comunicada ao
dirigente competente do nível correspondente, com antecedência mínima
de quarenta e oito horas, incluindo a data e a hora.
4. Os sindicatos respondem civilmente pelos danos causados ao património
do Estado no exercício das suas actividades, quando os prejuízos resultem
de inobservância do dever de zelo no uso e conservação dos bens que hajam
sido confiados.
ARTIGO 24
(Crédito de horas)

1. Os titulares dos órgãos sindicais beneficiam de um crédito de até 2 horas


mensais para o exercício da actividade sindical.
2. Excepcionalmente, por acordo colectivo podem ser estabelecidos
períodos superiores ao fixado no número anterior.

ARTIGO 25
(Licença para o desempenho de funções sindicais)

1. À requerimento da associação sindical interessada, pode ser concedida


uma dispensa a funcionários com nomeação definitiva para exercerem
cargos sindicais.
2. O requerimento referido no n.º 1 deste artigo é instruído com declaração
expressa do funcionário manifestando o seu acordo, contendo
reconhecimento da assinatura.
3. A dispensa é concedida pelo dirigente competente para nomear e
caracteriza-se por:
a) ter a duração de 3 anos, renováveis por um período adicional não superior
a 2 anos;
b) não abrir vaga no quadro de pessoal de origem, nem prejudicar a normal
progressão, promoção e mudança de carreira do funcionário, podendo o seu
lugar ser preenchido interinamente;
c) não auferir quaisquer remunerações no órgão ou instituição de origem.
4. Findo o período referido na alínea a) o funcionário é obrigado a regressar
ao quadro de origem.
5. A dispensa caduca quando o funcionário cessa o exercício do cargo
sindical.
6. O tempo de licença só conta para efeitos de aposentação se o funcionário
fizer os respectivos descontos.

ARTIGO 26
(Meios de trabalho)

A associação sindical pode, em coordenação com os seus parceiros, adquirir


meios de trabalho visando o exercício pleno da sua actividade.
CAPÍTULO V
Negociação Colectiva

Secção I
Disposições gerais

ARTIGO 27
(Negociação colectiva)

1. A Administração Pública e as associações sindicais privilegiam o diálogo


social como meio de participação dos funcionários e agentes do Estado no
processo de definição de condições de trabalho, formulação de políticas
públicas e defesa dos interesses sócio-profissionais.
2. O diálogo referido no número anterior concretiza-se através da
negociação colectiva e de consulta e opera-se no quadro da legislação em
vigor.

ARTIGO 28
(Ciclo negocial)

1. As negociações colectivas de carácter geral que envolvam o Governo têm


lugar ordinariamente, de cinco em cinco anos, podendo ser iniciadas
negociações com carácter extraordinário, sempre que circunstâncias
excepcionais o exijam e sem prejuízo do carácter permanente do processo
de consulta.
2. As negociações colectivas que tenham como objecto o ajustamento ou
aumento do vencimento ocorrem anualmente.
3. As negociações colectivas ocorrem no período compreendido entre
Fevereiro e Abril do ano em que tenham lugar, devendo os pontos de agenda
estar acordados entre as partes, antes deste período.

ARTIGO 29
(Objecto da negociação colectiva)

1. A negociação colectiva tem como objecto:


a) remunerações;
b) assistência médica e medicamentosa;
c) regime de faltas e licenças;
d) horário de trabalho;
e) trabalho extraordinário;
f) trabalho noturno;
g) condições de higiene, prevenção dos riscos profissionais e segurança no
trabalho.
2. Por iniciativa do Conselho de Ministros, atentas as circunstâncias do caso,
podem ser submetidas à negociação as matérias previstas no artigo 30 e
outros assuntos relativos à relação laboral.
ARTIGO 30
(Matérias de consulta)

1. São matérias de consulta as seguintes:


a) regime disciplinar
b) formação e aperfeiçoamento profissionais;
c) aposentação, pensões e segurança social;
d) concursos de ingresso, promoção e mobilidade dos funcionários;
e) carreiras, avaliação de desempenho e classificação profissional;
f) processo de ratificação das convenções da Organização Internacional do
Trabalho e demais organismos internacionais.
2. A consulta opera-se no processo de formulação, implementação e
avaliação das políticas, estratégias e diplomas legais relativos às matérias
referidas no n.º 1.
3. Por iniciativa do Conselho de Ministros, atentas as circunstâncias do caso,
podem ser submetidas à consulta outras matérias relativas à relação laboral.

ARTIGO 31
(Sujeitos do processo negocial)

1. São sujeitos do processo negocial a associação sindical e o órgão da


Administração Pública do nível, área ou sector correspondente.
2. Os sujeitos do processo negocial podem acordar na designação de um
porta-voz.
Secção II
Estruturas representativas dos funcionários e agentes do Estado

ARTIGO 32
(Estruturas representativas dos funcionários e agentes)

1. As associações sindicais podem estruturar-se em delegado sindical, comité


sindical, sindicato, união, federação e confederação.
2. Nas instituições ou sectores em que não haja órgão sindical, o exercício
dos direitos sindicais compete ao órgão sindical imediatamente superior.

ARTIGO 33
(Representantes das associações sindicais)

1. Consideram-se representantes legítimos das associações sindicais:


a) os membros dos respectivos órgãos sindicais portadores de credencial
com poderes bastantes para negociar e participar;
b) os portadores de mandato escrito conferido pelos órgãos sindicais do
qual constem expressamente poderes para negociar e participar.
2. A revogação do mandato só é eficaz após comunicação aos serviços
competentes da Administração Pública.
ARTIGO 34
(Responsabilidade das associações sindicais)

Para além das atribuições referidas nos artigos 36 e seguintes, as


associações sindicais têm os seguintes deveres:
a) promover junto dos funcionários do Estado a cultura de trabalho,
produtividade, profissionalismo e respeito pelos princípios e regras
deontológicas;
b) colaborar com a Administração Pública na implementação dos programas,
planos, políticas e estratégias de desenvolvimento;
c) contribuir para uma cultura de manutenção de paz e de concórdia;
d) zelar pela conservação e manutenção dos bens da Administração Pública
que lhe hajam sido confiados.

ARTIGO 35
(Delegado sindical)

1. Os delegados sindicais têm a mesma competência dos comités sindicais.


2. Os delegados sindicais são designados e destituídos nos termos dos
estatutos dos respectivos sindicatos, em escrutínio directo e secreto.

ARTIGO 36
(Comité sindical)

1. A associação sindical pode constituir-se em comité sindical quando este


representar um mínimo de dez funcionários e agentes do Estado do
respectivo sindicato.
2. Compete ao comité sindical, nomeadamente:
a) representar os funcionários e agentes do Estado na celebração de
acordos, na discussão e solução dos problemas sócios–profissionais do seu
local de trabalho;
b) representar o sindicato junto do dirigente competente da instituição.
3. O disposto na alínea a) do número anterior aplica-se apenas a negociações
que incidam sobre matérias da competência do dirigente da instituição ou
que visem assegurar a implementação de diplomas legais ou acordos
colectivos vigentes.
4. Os membros do comité sindical são eleitos em reunião dos funcionários e
agentes do Estado membros do respectivo sindicato, expressamente
convocada para o efeito, de entre os funcionários e agentes da instituição
ou unidade orgânica.
5. O número de membros do secretariado do comité sindical é fixado nos
estatutos do respectivo sindicato, não podendo, em todo caso, ser superior
a três.
6. O sindicato comunica ao Estado ou dirigente competente da instituição, a
identificação dos membros do comité sindical eleito.
ARTIGO 37
(Sindicato)

1. A associação sindical pode constituir-se em sindicato quando seja


representativa de um número de funcionários e agentes não inferior a 5% do
total dos funcionários e agentes do Estado.
2. São atribuições do sindicato:
a) promover e defender os interesses dos funcionários e agentes do Estado
que exerçam a mesma profissão ou que se integrem no mesmo ramo, sector
ou área de actividade ou actividade afim;
b) representar os funcionários e os agentes do Estado nos processos de
consulta;
c) prestar serviços de apoio económico, jurídico, social e cultural aos seus
associados;
d) celebrar acordos de cooperação com organizações congéneres nacionais
e internacionais;
e) representar os funcionários e os agentes do Estado na celebração de
acordos, na discussão e solução dos problemas sócios–profissionais do seu
local de trabalho.
3. O disposto na alínea a) do número anterior aplica-se apenas a negociações
que incidam sobre matérias da competência do dirigente da instituição ou
que visem assegurar a implementação de diplomas legais ou acordos
colectivos vigentes.

ARTIGO 38
(União)

1. A associação sindical pode constituir-se em união quando seja


representativa de pelo menos 35% do universo dos funcionários e agentes
do Estado da respectiva província.
2. São atribuições da união:
a) representar os funcionários e agentes do Estado junto do Governo nos
processos de negociação e de consulta de carácter sectorial, salvo quando
a confederação correspondente tenha avocado a matéria;
b) representar os sindicatos da mesma profissão ou mesmo ramo de
actividade nas confederações;
c) prestar serviço de apoio às associações suas filiadas;
d) celebrar contratos e prestar serviço de apoio às associações suas filiadas;
e) deliberar em nome das associações filiadas, a adesão junto da respectiva
federação;
f) estabelecer relações de cooperação com outras uniões nacionais ou
internacionais.
2. O disposto na alínea a) do número anterior aplica-se apenas a negociações
que incidam sobre matérias da competência do Governador Provincial ou
que visem assegurar a implementação de diplomas legais ou acordos
colectivos vigentes.
ARTIGO 39
(Federação)

1. A associação sindical pode constituir-se em federação quando seja


representativa de pelo menos 35% do universo dos funcionários e agentes
do Estado da respectiva profissão ou ramo de actividade.
2. São atribuições da federação:
a) deliberar sobre a adesão nas confederações;
b) representar os sindicatos da mesma profissão ou mesmo ramo de
actividade nas confederações;
c) prestar serviços de apoio às associações filiadas;
d) representar os funcionários e agentes do Estado junto do Governo nas
negociações de carácter sectorial, salvo quando a Confederação
correspondente tenha avocado a matéria.
2. Quando a intervenção da Federação nos termos da alínea d) do número
anterior tenha um alcance provincial, deve incidir sobre matérias da
competência do Governador Provincial ou que visem assegurar a
implementação de diplomas legais ou acordos colectivos vigentes.

ARTIGO 40
(Confederação)

1. A associação sindical pode constituir-se em confederação quando seja


representativa de pelo menos 35% do universo dos funcionários e agentes
do Estado existentes.
2. São atribuições da confederação:
a) promover e defender o interesse dos funcionários e agentes do Estado
associados, junto do Governo;
b) propor directamente ao Governo, após consulta às associações sindicais,
filiados ou não, alterações à legislação laboral vigente no Aparelho do
Estado;
c) representar as associações sindicais em qualquer negociação com os
representantes do Estado;
d) estabelecer relações de cooperação com organizações internacionais
congéneres;
e) celebrar contratos e prestar serviço de apoio as organizações filiadas.

Secção III
Estruturas representativas da Administração Pública

ARTIGO 41
(Competências)

1. Os órgãos da Administração Pública assumem compromissos colectivos


no quadro das suas competências fixadas por lei.
2. A competência para representar a Administração Pública nos processos
de negociação e de consulta pode ser delegada.
3. Sempre que os compromissos a serem assumidos transcendam a
competência do órgão da Administração Pública, deve este remeter a
decisão ao órgão competente nos termos da lei.
ARTIGO 42
(Representante da administração directa do Estado)

1. Os representantes da administração directa do Estado nos processos de


negociação colectiva e de consulta que revistam carácter geral ao nível
central são o Ministro que superintende a área da Função Pública, que
coordena, e o Ministro que superintende a área das finanças.
2. O representante da administração directa do Estado nos processos de
negociação colectiva e de consulta que revistam carácter sectorial é o
Ministro que superintende o sector.

ARTIGO 43
(Representante da administração directa do Estado a nível local )

1. O representante da administração directa do Estado nos processos de


negociação e de consulta a nível da província é o Governador da Província.
2. O representante da administração directa do Estado nos processos de
negociação e de consulta que revistam carácter distrital é o Administrador
de Distrito.

ARTIGO 44
(Representante da administração indirecta do Estado)

O representante da administração indirecta do Estado nos processos de


negociação colectiva e de consulta é o dirigente indicado na respectiva
legislação orgânica e na demais legislação aplicável.

ARTIGO 45
(Representante da autarquia local)

O Representante da Autarquia local nos processos de negociação colectiva


e de consulta é o Presidente do Conselho Municipal ou de povoação.

Secção IV
Processo negocial

ARTIGO 46
(Iniciativa do processo negocial)

1. A iniciativa para a negociação colectiva pode ser tanto da confederação


como da Administração Pública.
2. O processo de negociação inicia-se com a apresentação da proposta dos
assuntos a discutir.
3. O processo negocial não é público.
ARTIGO 47
(Prazo de resposta)

1. As entidades destinatárias da proposta devem responder nos vinte dias


imediatos a recepção daquela, salvo se prazo diverso tiver sido estipulado
pelas partes.
2. Da resposta pode constar a contraproposta dos pontos a serem objecto
de negociação.

ARTIGO 48
(Fundamentação da proposta)

1. A proposta de negociação colectiva deve ser fundamentada.


2. Quando a proposta versa sobre matérias com impacto orçamental, o
proponente deve, na fundamentação ponderar sobre:
a) a evolução dos índices dos preços ao consumidor e o poder de compra
dos funcionários e agentes do Estado;
b) a capacidade económica dos serviços, instituições ou institutos públicos;
c) o volume das receitas do Estado;
d) os aumentos dos encargos com remunerações complementares.

ARTIGO 49
(Negociações)

1. Nas negociações com o Governo participam todas as confederações


interessadas, desde que estejam legalmente registadas nos termos da
presente Lei.
2. As partes devem fixar, por protocolo escrito, o calendário, a agenda a
prioridade da negociação.
3. Antes do início das reuniões negociais os representantes das partes são
obrigados a identificar-se, sendo obrigatório que na mesa das negociações
as associações sindicais estejam representadas pelo dirigente do respectivo
órgão executivo e, na sua impossibilidade, por quem este mandatar.

ARTIGO 50
(Princípios de ética e de boa-fé)

1. No decurso das negociações as partes devem pautar pelos princípios de


ética e boa-fé, respondendo atempadamente às propostas e
contrapropostas a respeito do protocolo pré estabelecido.
2. Os representantes das partes podem fazer as necessárias consultas ao
órgão competente do serviço e aos funcionários e agentes do Estado
interessados, sem que isso implique a suspensão ou interrupção do curso das
negociações.
3. A Administração Pública e os organismos sindicais estão sujeitos ao dever
de sigilo relativamente às informações recebidas sob reserva de
confidencialidade.
4. O dirigente da Administração Pública pode recusar-se a facultar quaisquer
informações definidas por lei como informação classificada.
ARTIGO 51
(Acordo final)

1. A Administração Pública deve assegurar que o acordo final seja celebrado


com a confederação de maior expressão e representatividade numérica.
2. O acordo final das negociações deve ser reduzido a escrito, com indicação
das partes celebrantes, área e âmbito de aplicação, data em que foi obtido
e entrada em vigor.
3. Os órgãos da Administração Pública celebram acordos cujas matérias e
efeitos se enquadram no âmbito das respectivas competências fixadas por
lei.
4. Os acordos celebrados nos termos da presente Lei, incidindo sobre
matérias de carácter geral e ou remuneratório, são directamente enviados
ao Conselho de Ministros para efeitos de homologação, após o que tem a
obrigatoriedade geral.

ARTIGO 52
(Constituição de comissões)

Para interpretar normas ou disposições e outros instrumentos de


regulamentação colectiva de trabalho, os acordos colectivos devem prever
a constituição de comissões formadas por igual número de representantes
de entidades signatárias.

CAPÍTULO VI
Resolução de Conflitos Colectivos

ARTIGO
(Princípio fundamental)

1. A Administração Pública e as associações sindicais privilegiam a resolução


de conflitos colectivos de trabalho pela via da conciliação, mediação e
arbitragem, sem prejuízo de outros mecanismos previstos na legislação
aplicável.
2. Os conflitos colectivos de trabalho que resultem da celebração ou revisão
de um acordo devem ser solucionados, tanto quanto possível, nos termos do
disposto no número anterior.

ARTIGO 54
(Regime aplicável à conciliação e mediação)

A conciliação e a mediação seguem o regime da lei geral de conciliação e


mediação, com as necessárias adaptações.
ARTIGO 55
(Arbitragem)

Os órgãos da Administração Pública e as associações sindicais podem


celebrar convenções de arbitragem, que seguem o processo definido na Lei
do Processo Administrativo Contencioso.

ARTIGO 56
(Contencioso)

Os contenciosos entre os sindicatos e a Administração Pública, no domínio


da interpretação e aplicação dos acordos colectivos, são dirimidos pelo
Tribunal Administrativo, pelos tribunais administrativos provinciais e da
Cidade de Maputo.

CAPÍTULO VII
Disposições Finais

ARTIGO 57
(Direito de associação profissional)

Todos os funcionários e agentes do Estado, à excepção dos referidos nas


alíneas d) e e) do artigo 4 da presente Lei, podem, querendo, constituir
associações sócio-profissionais e nelas se filiarem.

ARTIGO 58
(Entrada em vigor)

A presente lei entra em vigor 90 dias após a sua publicação.


Aprovada pela Assembleia da República, aos 26 de Junho de 2014.
A Presidente da Assembleia da República, Verónica Nataniel Macamo
Dlhovo.
Promulgada em 14 de Agosto de 2014.
Publique-se .
O Presidente da República, Armando Emílio Guebuza.

ANEXO
Glossário

Para efeitos da presente Lei entende-se por:


a) Acto ilícito – é uma acção ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência que contraria a lei e que viole o direito causando dano a outrem,
ainda que exclusivamente moral.
b) Administração Pública - é o conjunto de órgãos centrais e locais do
Estado, autarquias locais e institutos públicos.
c) Agente do Estado – cidadão contratado ou designado nos termos da lei
ou por outro título, mas que não seja nomeado para os quadros de pessoal
dos órgãos centrais e locais do Estado, para o desempenho de certas funções
na Administração Pública.
d) Arbitragem - acontece quando a Administração Pública e ou os Sindicatos
não aceitam a proposta do mediador, recorrendo as partes a qualquer
momento do decurso das negociações, ao processo de arbitragem do qual
resultam decisões de carácter obrigatório.
e) Bons costumes – é o conjunto de regras éticas aceites pelas pessoas
honestas, correctas, de boa fé, num dado ambiente e num certo momento.
f) Confederação geral - associação de federações e ou uniões nacionais de
sindicatos.
g) Comité intersindical - órgão intermédio dos comités sindicais da
organização dos funcionários e agente da Administração Pública em cada
unidade orgânica.
h) Comité sindical - órgão de base da organização dos funcionários e agente
do Estado em cada instituição ou unidade orgânica.
i) Conciliação – é uma forma de resolução de controvérsias na relação de
interesses, administrada por um mediador investido de autoridade pelas
partes, a quem compete aproximá-las, controlar as negociações, sugerir e
formular propostas e apontar vantagens e desvantagens.
j) Delegado sindical – é o órgão representativo dos funcionários e agentes
do Estado em instituições cujo o quadro de pessoal não ultrapasse 30
funcionários.
k) Dirigente da Administração Pública - funcionário ou agente da
administração pública com funções de direcção ou chefia na estrutura
administrativa.
l) Estrutura administrativa - unidade orgânica da Administração Pública que
integra certo número de funcionários e agentes do Estado.
m) Federação – associação de sindicatos da mesma profissão ou do mesmo
ramo de actividade.
n) Funcionário do Estado – cidadão nomeado para lugares do quadro de
pessoal e que exercem actividades nos órgãos centrais e locais do Estado.
o) Mediação - envolve duas ou mais partes, constitui um mecanismo de
resolução de conflitos e problemas e acontece quando as partes estão
disponíveis/predispostas a dialogar para encontrar uma solução para o
referido problema, mas que para tal aconteça, necessitam da assistência de
uma terceira parte que seja imparcial e neutra.
p) Negociação colectiva - negociação efectuada entre as associações
sindicais e a Administração Pública das matérias relativas ao Estatuto Geral
dos Funcionários e Agentes do Estado e nos regulamentos em vigor na
Administração Pública.
q) Porta-voz – é a pessoa encarregue de comunicar publicamente as
conclusões e o andamento do processo negocial.
r) Sindicato - associação permanente de funcionários e agentes da
Administração Pública para defesa e desenvolvimento dos seus direitos e
interesses sócio-profissionais.
s) União – associação de sindicatos de base provincial.
Havendo necessidade de redefenir o regime jurídico relativo à contratação
de cidadãos de nacionalidade estrangeira para a Função Pública, ao abrigo
do disposto no n.º 3 do artigo 179 conjugado com o artigo 180, ambos da
Constituição, a Assembleia da República determina:

ARTIGO 1
(Objecto)

É autorizado o governo a aprovar o regime jurídico relativo à contratação


de cidadãos de nacionalidade estrangeira para a Função Pública.

ARTIGO 2
(Sentido)

O regime jurídico define os princípios gerais e as normas da contratação


entre os órgãos e instituições do Estado e os cidadãos de nacionalidade
estrangeira, a estabelecer no âmbito da implementação dos Acordos de
Cooperação ou a pedido dos demais interessados.

ARTIGO 3
(Extensão)

A autorização legislativa conferida nos termos da presente Lei tem a


seguinte extensão:
a) estabelecer que a contratação de cidadãos de nacionalidade estrangeira
para a Função Pública só pode ocorrer quando comprovada, por concurso
público, a inexistência ou insuficiência de moçambicanos com qualificações
e experiência profissional requeridas;
b) definir as condições jurídicas de contratação de cidadãos de
nacionalidade estrangeira, tendo em conta o actual quadro de
desenvolvimento sócio-económico do país;
c) definir os conteúdos das cláusulas que as partes contratantes devem
incluir na celebração de contratos de trabalho com cidadãos de
nacionalidade estrangeira;
d) estabelecer que os contratos celebrados com cidadãos de nacionalidade
estrangeira seguem o regime de ocupação exclusiva, exceptuando o
exercício de actividades de docência e pesquisa nas instituições do Estado,
mediante solicitação da entidade interessada e anuência da entidade
contratante;
e) estabelecer as sanções a aplicar pelo incumprimento das cláusulas
contratuais, assim como o seu reflexo na eficácia global do contrato;
f) estabelecer a obrigatoriedade da indicação da fonte de financiamento,
incluindo as regras de remuneração;
g) enquadrar os contratos por celebrar com cidadãos de nacional idade
estrangeira no regime geral da fiscalização prévia no Tribunal
Administrativo e estabelecer o mecanismo de urgente conveniência de
serviço, nos termos previstos em legislação específica;
h) definir os órgãos e as instituições do Estado com competênci a para
celebração e cessação dos contratos com cidadãos de nacionalidade
estrangeira;
i) determinar que a avaliação de desempenho dos contratos estrangeiros
segue o mesmo regime aplicável aos funcionários e agentes do Estado;
j) estabelecer o regime subsidiário.

ARTIGO 4
(Duração)

A presente Autorização Legislativa tem a duração de 180 dias, contados a


partir da data da sua entrada em vigor.
ARTIGO 5
(Entrada em vigor)

A presente Lei entra em vigor na data da sua publicação.


Aprovada pela Assembleia da República, aos 5 de Maio de 2011.
A Presidente da Assembleia da República, Verónica Nataniel Macamo
Dlhovo.
Promulgada em 4 de Julho de 2011.
Publique-se.
O Presidente da República, ARMANDO EMÍLIO GUEBUZA.
Havendo necessidade de redefinir o regime jurídico das condições em que
os cidadãos de nacionalidade estrangeira podem ser contratados para
prestação de serviços na Função Pública e dadas as exigências do actual
quadro de desenvolvimento jurídico, económico e social do país, o Conselho
de Ministros ao abrigo do disposto no artigo 1 da Lei n.° 12/2011, de 21 de
Julho, decreta:

ARTIGO 1
(Objecto)

O presente Decreto-Lei visa estabelecer o regime jurídico das condições


relativas à contratação de cidadãos de nacionalidade estrangeira para a
prestação de serviços na Função Pública moçambicana.

ARTIGO 2
(Âmbito de aplicação)

1. O presente Decreto-Lei é aplicado aos cidadãos de nacionalidade


estrangeira que exercem actividades remuneradas na Função Pública, no
âmbito da implementação dos Acordos de Cooperação incluindo os
contratos de prestação de serviços celebrados a título individual.
2. Ficam porém, fora do âmbito do presente Decreto-Lei os casos
decorrentes da implementação de projectos específicos, estabelecidos no
âmbito de Acordos de Cooperação.

ARTIGO 3
(Condições de contratação)

1. A vinculação de cidadãos de nacionalidade estrangeira para o exercício de


actividades na Função Pública, é feita mediante contrato de prestação de
serviços por tempo determinado, pelo período até 5 anos, podendo ser
renovado por uma única vez por igual período, mediante a avaliação do seu
desempenho e necessidade do serviço.
2. Excepcionalmente, por imperiosa e justificada necessidade de serviço, a
entidade contratante pode, caso a caso, prorrogar a duração do contrato
referido no número anterior por um período suplementar até 5 anos.
3. As cláusulas estabelecidas nos contratos de prestação de serviços devem
regular a actividade do contratado e as condições específicas do trabalho.
4. Independentemente da sua renovação, o contrato de prestação de
serviços do cidadão de nacionalidade estrangeira não se converte em
contrato por tempo indeterminado e em nenhuma circunstância confere ao
contratado a qualidade de funcionário do Estado.
5. Os cidadãos de nacionalidade estrangeira a contratar nos termos do n.° 1
do artigo 2 do presente Decreto-Lei devem enviar à parte contratante, para
que esta se pronuncie antes da sua entrada no país e da celebração do
contrato, os seguintes documentos:
a) Fotocópia de Passaporte;
b) Declaração que atesta não ter antecedentes criminais;
c) Declaração de Aptidão Física e Mental;
d) Certificado de Habilitações Literárias do último grau adquirido; e
e) Curriculum Vitae.
6. Para efeitos do visto do Tribunal Administrativo, o contratado deve juntar
ainda a fotocópia autenticada do Passaporte e a Certidão de Equivalência
emitida pelo Ministério da Educação.

ARTIGO 4
(Conteúdo do contrato)

O contrato de prestação de serviços, datado e assinado pelas partes


contratantes deve, entre outras, conter as seguintes cláusulas:
a) Identificação das partes;
b) Objecto do contrato;
c) Local de trabalho;
d) Duração do contrato;
e) Direitos e obrigações das partes;
f) Remuneração, forma de pagamento e fonte de financiamento.

ARTIGO 5
(Direito de preferência)

1. A contratação de cidadãos de nacionalidade estrangeira para a prestação


de serviços na Função Pública, só pode ter lugar quando comprovada por
concurso público a inexistência de quadros nacionais com qualificações e
experiência profissional requeridas ou quando o seu número seja
insuficiente.
2. Excepcionalmente, com fundamento na urgente necessidade de serviço
declarada por um membro do governo, pode a contratação prescindir do
concurso público.

ARTIGO 6
(Regime de exclusividade e sanções)

1. Os contratos de prestação de serviços celebrados nos termos do presente


Decreto-Lei, são de regime de ocupação exclusiva, sendo interdito o
exercício de qualquer forma de actividade privada ou aceitação de
remunerações para além das que forem estabelecidas pela legislação em
vigor para o regime de ocupação exclusiva, exceptuando o exercício de
actividades de docência e pesquisa nas instituições do Estado, mediante
solicitação da entidade interessada e anuência da entidade contratante.
2. A violação do disposto no número anterior é susceptível de
responsabilidade disciplinar.
3. As medidas disciplinares nos termos do presente Decreto-Lei podem
resultar na aplicação de sanções que podem ser de multa que vai de cinco a
dez salários do seu vencimento, graduada em função da gravidade da
infracção e/ou reincidência, ou a rescisão imediata do contrato.
ARTIGO 7
(Remuneração)

1. As remunerações e demais regalias definidas pela entidade contratante,


mediante parecer favorável do Ministro que superintende a área das
Finanças, devem constar do próprio contrato.
2. As remunerações pagas aos cidadãos de nacionalidade estrangeira na
Função Pública devem ser fixadas em moeda nacional, salvo se os Acordos
de Cooperação estabelecerem moeda diferente.
3. A remuneração dos contratos individuais celebrados fora do âmbito dos
Acordos de Cooperação segue o regime estabelecido pelo Sistema de
Carreiras e Remuneração em vigor na Função Pública.
ARTIGO 8
(Fiscalização prévia)

Os contratos de prestação de serviços celebrados com cidadãos de


nacionalidade estrangeira nos termos do presente Decreto-Lei estão sujeitos
à fiscalização prévia do Tribunal Administrativo, porém, beneficiam da
urgente conveniência de serviço, nos termos estabelecidos em legislação
específica.

ARTIGO 9
(Competência para celebração de contratos)

Compete aos dirigentes dos órgãos centrais, provinciais e aos titulares das
instituições dotadas de autonomia administrativa e financeira celebrar os
contratos de prestação de serviços nos termos do presente Decreto-Lei.

ARTIGO 10
(Encargos do contrato)

Os encargos com os contratos de cidadãos de nacionalidade estrangeira na


Função Pública, são suportados pela respectiva verba de fundo de salários,
inscrita no Orçamento do Estado, doações, receitas próprias ou consignadas
das instituições da Administração Pública dotadas de autonomia
administrativa e financeira, salvo se os Acordos de Cooperação
estabelecerem forma diferente.

ARTIGO 11
(Gestão e avaliação dos contratados)

1. A gestão dos processos, o exercício do poder disciplinar e a avaliação do


desempenho dos contratados são da competência dos respectivos órgãos
onde estiverem afectos.
2. A avaliação de desempenho dos cidadãos de nacionalidade estrangeira
contratados é feita nos termos previstos pelo Sistema de Gestão de
Desempenho na Administração Pública e, subsidiariamente, pelo regime
estabelecido pelos Acordos de Cooperação.
ARTIGO 12
(Rescisão)

1. A rescisão consiste na cessação unilateral ou bilateral do contrato antes


da data prevista para o seu término podendo revestir as seguintes formas:
a) Acordo mútuo;
b) Acto unilateral do dirigente do respectivo serviço ou organismo, com
fundamento em justa causa comprovada em processo disciplinar;
c) Pedido do contratado, devidamente fundamentado em justa causa.
2. Entende-se por justa causa, como fundamento de rescisão por parte do
Estado, qualquer motivo que constitua infracção disciplinar nos termos
gerais, ou ainda a manifesta incompetência do contratado apurado em
processo de avaliação de desempenho.
3. A rescisão do contrato é da competência das entidades referidas no artigo
9 do presente Decreto-Lei.

ARTIGO 13
(Disposições finais)

1. Para efeitos de cadastro, as instituições contratantes devem registar os


cidadãos de nacionalidade estrangeira contratados no âmbito do Sistema
Electrónico de Pessoal (e-Sip).
2. As relações de trabalho com cidadãos de nacionalidade estrangeira
estabelecidas nos termos do presente Decreto-Lei, em tudo que estiver
omisso são aplicáveis subsidiariamente, as disposições relativas aos deveres
gerais dos funcionários e agentes do Estado, previstas no Estatuto Geral dos
Funcionários e Agentes do Estado e demais legislação aplicável.
3. No acto de renovação dos contratos de prestação de serviços celebrados
ao abrigo do Decreto-Lei n.° 17/75, de 9 de Outubro, aplica-se o disposto no
n.° 5 do artigo 3 do presente diploma.

ARTIGO 14
(Revogação)

É revogado o Decreto-Lei n.° 17/75, de 9 de Outubro.


Aprovado pelo Conselho de Ministros aos, 30 de Agosto de 2011.
Publique-se.
O Presidente da República, Armando Emílio Guebuza.
Havendo necessidade de proceder à revisão da Lei n.º 2/96, de 4 de Janeiro,
para adequá-la ao novo quadro jurídico-constitucional e legal, nos termos
do artigo 179 da Constituição, a Assembleia da República determina:

CAPÍTULO I
Princípios gerais

ARTIGO 1
(Âmbito)

1. O direito de apresentar petições, queixas e reclamações perante


autoridade competente para exigir o restabelecimento de direitos violados
ou em defesa do interesse geral é exercido nos termos da presente Lei.
2. São regulados por legislação especial:
a) a impugnação dos actos administrativos, através de reclamação ou de
recurso hierárquico e tutelar;
b) o direito de petição, queixa e reclamação ao Provedor de Justiça;
c) o direito de petição, queixa e reclamação das organizações de moradores
perante as autarquias locais.

ARTIGO 2
(Conceitos)

1. Para efeitos do que se estabelece na presente Lei, entende-se por petição,


a apresentação de um pedido ou de uma proposta, a um órgão de soberania
ou a qualquer autoridade pública, no sentido de que tome, adopte ou
proponha determinadas medidas.
2. Entende-se por queixa, a denúncia de qualquer inconstitucionalidade ou
ilegalidade, bem como do funcionamento anómalo de qualquer serviço, com
vista à adopção de medidas contra os responsáveis.
3. Entende-se por reclamação a impugnação de um acto perante órgão,
funcionário ou agente que o praticou.

ARTIGO 3
(Petição, queixa e reclamação para aprovação de diploma legal)

Os interessados, por petição, queixa e reclamação podem apresentar


propostas às entidades competentes com iniciativa de Lei, para elaboração
de diplomas legais.

ARTIGO 4
(Cumulação)

O direito de petição, queixa e reclamação é cumulável com a utilização de


outros meios legais de defesa de direitos ou de interesse legítimos e o
disposto na presente Lei não prejudica o que se estabeleça em legislação
específica.

ARTIGO 5
(Titularidade)

1. O direito de petição, queixa e reclamação constitui prerrogativa dos


cidadãos moçambicanos e não pode ser proibido, impedido, limitado ou
dificultado no seu exercício por qualquer autoridade pública ou entidade
privada.
2. O direito de petição, queixa e reclamação é extensivo aos estrangeiros e
apátridas quando se trate da defesa dos seus próprios direitos ou de
interesses legalmente protegidos, perante instituições moçambicanas.
3. O direito de petição, queixa e reclamação pode ser exercido a título
individual ou colectivamente.
4. O direito de petição, queixa e reclamação abrange igualmente quaisquer
pessoas colectivas legalmente constituídas.
5. O direito de petição, queixa e reclamação diz-se exercido colectivamente
quando o é por mais de uma pessoa, através de um único instrumento.
6. O direito de petição, queixa e reclamação diz-se exercido pela pessoa
colectiva quando apresentado por uma pessoa colectiva em representação
dos interesses da pessoa colectiva ou de um ou vários dos seus membros.

ARTIGO 6
(Garantias)

Ninguém pode ser prejudicado ou privado dos seus direitos ou de qualquer


forma lesado em virtude do exercício do direito de petição, queixa e
reclamação.

ARTIGO 7
(Abuso do direito)

Sem prejuízo das garantias previstas na Lei, o peticionário incorre em


responsabilidade criminal, disciplinar ou civil, quando aja de forma ilegal e
abusiva.

ARTIGO 8
(Dever de exame e de comunicação)

1. O exercício do direito de petição, queixa e reclamação obriga a entidade


destinatária a receber e examinar as petições, queixas e reclamações, bem
como a comunicar por escrito as decisões que forem tomadas.
2. O erro na qualificação da modalidade do direito de petição, queixa e
reclamação, de entre as que se referem no artigo 2, não justifica a recusa da
sua apreciação pela entidade destinatária.
ARTIGO 9
(Universalidade e gratuitidade)

A apresentação de petição, queixa e reclamação constitui um direito


universal e gratuito e não pode, em caso algum, dar lugar ao pagamento de
quaisquer taxas.

ARTIGO 10
(Informalidade)

1. O exercício do direito de petição, queixa e reclamação não está sujeito a


qualquer processo específico, devendo, no entanto conter:
a) a narração precisa dos factos;
b) a data da ocorrência;
c) a identidade do agente que praticou ou omitiu os actos pertinentes à
petição, queixa e reclamação;
d) a identificação da instituição em que se verificaram os factos objectos da
petição, queixa e reclamação;
e) os elementos de prova existentes.
2. Quando o cidadão não saiba ler e escrever, pode exercer o direito de
petição, queixa e reclamação perante o agente receptor, que deduz a
declaração a escrito, sendo uma cópia entregue ao peticionário, depois de
recebida pelo destinatário.
3. Em caso de:
a) petição, queixa e reclamação colectiva, é exigível a identificação e
assinatura de todos os interessados;
b) petição, queixa e reclamação em nome colectivo, a identificação e
assinatura de pelo menos dois dos interessados.
c) petição, queixa e reclamação de pessoa colectiva, a identificação da
pessoa que, nos termos dos estatutos tenha competência para a representar.

CAPÍTULO II
Modo de tramitação

ARTIGO 11
(Apresentação)

1. As petições, queixas e reclamações são apresentadas nos serviços das


entidades a quem são dirigidas, podendo também ser enviadas por via
postal, fax ou correio electrónico que é obtido junto da entidade onde se
pretenda enviar a petição.
2. Quando as petições, queixas e reclamações sejam dirigidas à instituição
do Estado que não disponha de serviços no local de residência do
peticionário, podem ser entregues nas secretárias dos órgãos locais do
estado mais próximas.
3. Os cidadãos moçambicanos ou estrangeiros residentes no estrangeiro
podem depositar as suas petições, queixas e reclamações nas
representações diplomáticas e consulares de Moçambique.
4. As petições, queixas e reclamações entregues nos termos do n.º 2 devem
ser remetidas à instituição destinada no prazo não superior a quinze dias.
ARTIGO 12
(Apreciação preliminar)

1. As petições, queixas e reclamações são objecto de uma apreciação


preliminar para avaliar a sua admissibilidade.
2. A entidade destinatária convida o peticionário a completar a petição,
queixa e reclamação apresentada no prazo de 30 dias, quando:
a) aquele não se mostre correctamente identificado na petição, queixa e
reclamação e não menção do seu domicílio;
b) o texto seja incompreensível ou não especifique o objecto da petição,
queixa e reclamação.

ARTIGO 13
(Tramitação)

1. A entidade destinatária da petição, queixa e reclamação deve responder


num prazo não superior a 45 dias após a recepção.
2. Se a entidade destinatária carecer de realizar diligências junto de outras
instituições ou pessoas, o prazo da resposta pode ser ajustado por mais
quinze dias não prorrogáveis, devendo o peticionário ser informado desta
necessidade.
3. Se a entidade destinatária se julgar incompetente para conhecer do
objecto de petição, queixa e reclamação, remete de imediato à entidade
competente informando do facto o peticionário.
4. Em qualquer momento da tramitação da petição, queixa e reclamação, é
permitido ao peticionário e à entidade destinatária a resolução de
diligências que visem a correspectiva conciliação, estando na
disponibilidade de ambas as partes a faculdade de fixação dos termos e
condições das medidas conciliatórias, correcção dos efeitos que derem
origem ao processo petitório.

ARTIGO 14
(Indeferimento liminar)

A petição, queixa e reclamação é liminarmente indeferida quando se mostre


que:
a) a pretensão é ilegal;
b) põe em causa decisões judiciais ou questiona actos administrativos
insusceptíveis de recurso;
c) carece de fundamento;
d) decorreu o prazo legal de prescrição do direito que é objecto da petição.
ARTIGO 15
(Desistência)

1. O peticionário pode, a todo o tempo, desistir do pedido, mediante


requerimento escrito apresentado perante a entidade destinatária, salvo se
estiver em causa um interesse público.
2. Quando se trate de:
a) petição, queixa e reclamação colectiva, é exigível a identificação e
assinatura de todos os interessados;
b) petição, queixa e reclamação em nome colectivo, é exigível a
identificação e a assinatura de todos os representantes dos interessados;
c) petição, queixa e reclamação de pessoa colectiva, é exigível a
identificação da pessoa que, nos termos dos estatutos, tenha competência
para a representar.
3. Se for aceite o requerimento, declara-se finda a petição e procede-se ao
seu arquivamento.

CAPÍTULO III
Petições dirigidas à Assembleia da República

ARTIGO 16
(Forma de apresentação)

1. As petições, queixas e reclamações são endereçadas, por escrito, ao


Presidente da Assembleia da República e apreciadas pela Comissão de
Petições, Queixas e Reclamações.
2. Quando o cidadão não saiba ler e escrever, pode exercer o direito de
petição, queixa e reclamação perante o agente receptor, que deduz a
declaração à escrito sendo uma cópia entregue ao peticionário, depois de
recebida pelo destinatário.
3. As petições, queixas e reclamações podem ser entregues na Secretaria da
Assembleia da República, nas Delegações do Secretariado Geral da
Assembleia da República e nas Secretarias dos órgãos locais do Estado mais
próximas ou a um Deputado da Assembleia da República.
4. O autor da petição, queixa e reclamação deve estar perfeitamente
identificado, sob pena de não atendimento, podendo o Presidente da
Comissão de Petições, Queixas e Reclamações mandar notificar o
interessado para fornecer os elementos complementares de identificação.
5. As petições, queixas e reclamações que digam respeito à administração
pública podem ser recebidas pela Comissão de Petições, Queixas e
Reclamações e esta pode conhecer e resolver a questão ou remeter a outros
órgãos ou instituições do Estado.
6. As petições, queixas e reclamações que digam respeito à administração
da justiça são recebidas e remetidas ao Procurador-Geral da República pelo
Presidente da Assembleia da República.
ARTIGO 17
(Competência da Comissão de Petições, Queixas e Reclamações)

1. São domínios da competência específica da Comissão de Petições,


Queixas e Reclamações, exceptuando os que dizem respeito à administração
pública e à justiça, entre outros os seguintes:
a) petições;
b) queixas e reclamações;
c) elaborar periodicamente um relatório de análise do grau de satisfação das
preocupações expressas pelos cidadãos por via das petições enviadas à
Assembleia da República.
2. Quando as petições, queixas e reclamações se refiram a questões em
tramitação judicial ou que tenham transitado em julgado, a Comissão
endereça a matéria ao Procurador-Geral da República, solicitando uma
informação sobre a sua decisão.
3. Quando as petições, queixas e reclamações requeiram pareceres das
demais comissões, estes são requeridos.
4. No caso das petições, queixas e reclamações que digam respeito à
administração pública submetidas à Assembleia da República, a Comissão
de Petições, Queixas e Reclamações pode ouvir os peticionários e as
entidades envolvidas e posteriormente submeter o caso ao Provedor de
Justiça.

ARTIGO 18
(Não caducidade)

As petições queixas e reclamações não apreciadas na legislatura em que


foram apresentadas não carecem de ser renovadas na legislatura seguinte.

ARTIGO 19
(Conclusões do exame)

1. A Comissão de Petições, Queixas e Reclamações, findo o exame, apresenta


um relatório analítico ao Presidente da Assembleia da Republica propondo
o tratamento a dar a cada petição, queixa e reclamação, a saber:
a) o envio a outras instituições competentes em razão da matéria, para
tomada de decisões;
b) propostas concretas das providências a serem tomadas por outras
instituições ou pela Assembleia da República;
c) o seu arquivamento com conhecimento ao peticionário.
2. No caso da alínea a) a instituição competente deve informar à Comissão
no prazo de 30 dias, das decisões que venha a tomar ou das diligências que
estejam em curso.
3. As petições, queixas e reclamações não são sujeitas à votação, mas
qualquer Deputado pode, com base nas mesmas, exercer a iniciativa de lei
ou outras iniciativas nos termos do Regimento.
4. O peticionário toma conhecimento da deliberação do Plenário da
Assembleia da República sobre o seu caso através de uma notificação na
qual se esclarece quais os passos subsequentes nos casos das alíneas a) e b)
do n.º 1.
ARTIGO 20
(Audições)

1. Recebida e apreciada a petição, a Comissão de Petições, Queixas e


Reclamações deve proceder a audição ao peticionário, às entidades visadas
e outras que se acharem pertinentes.
2. Nas audições devem estar presentes os peticionários e os responsáveis
máximos das entidades convocadas, podendo estes fazer-se acompanhar de
pessoas que julgarem necessárias.
3. Tratando-se de pessoas colectivas ou de petição em nome colectivo,
podem fazer-se representar por seus representantes legais ou indicar no
máximo 5 assinantes da petição para participar.
4. A falta de comparência injustificada, a recusa de depoimento ou não
cumprimento das diligências ordenadas pela Comissão, constituem crime de
desobediência previsto e punido nos termos da lei.
5. Verificando-se a situação prevista no n.º 4, a Comissão de Petições,
Queixas e Reclamações participa ao Presidente da Assembleia da República
para os devidos efeitos.
6. A falta de comparência injustificada do próprio peticionário pode
determinar o arquivamento da petição.

ARTIGO 21
(Informação ao plenário)

1. Em cada sessão da Assembleia da República é apresentada uma


informação sumária sobre as petições, queixas e reclamações que tenham
dado entrada, bem como do tratamento que tenham merecido.
2. O debate da informação da Comissão de Petições, Queixas e Reclamações
é público.
3. A Comissão de Petições, Queixas e Reclamações pode apresentar a
informação à porta fechada quando nela haja matéria que ponha em causa a
honra e o bom nome das pessoas, bem como o segredo de justiça e segredo
do Estado.

ARTIGO 22
(Publicidade)

A resolução que aprova o relatório da Comissão de Petições, Queixas e


Reclamações deve ser publicada no Boletim da República.

CAPÍTULO IV
Disposições finais

ARTIGO 23
(Regulamentação complementar)

1. O Governo define normas de organização para o aparelho de Estado e


serviços no âmbito do exercício do direito de petição, queixa e reclamação
no prazo de sessenta dias, a contar da data da publicação da presente Lei.
2. As demais instituições públicas devem organizar-se de forma a garantir o
objectivo referido no número anterior.

ARTIGO 24
(Revogação)

É revogada a Lei n.º 2/96, de 4 de Janeiro.

ARTIGO 25
(Entrada em vigor)

A presente Lei entra em vigor na data da sua publicação.


Aprovada pela Assembleia da República aos 11 de Agosto de 2014. — A
Presidente da Assembleia da República, Verónica Nataniel Macamo Dlhovo.
Publique-se.
Promulgada em 9 de Setembro de 2014.
O Presidente da República, Armando Emílio Guebuza.
A criação duma Administração Pública ao serviço do desenvolvimento
harmonioso do País, das necessidades dos cidadãos e da sociedade em geral
deve ser uma das preocupações permanentes da modernização
administrativa, preconizada no programa do Governo, consubstanciada pela
aproximação da Administração aos utentes, pela prestação de melhores
serviços, pela simplificação dos procedimentos e ao aumento da qualidade
da gestão e funcionamento do aparelho administrativo do Estado.
Convindo introduzir as medidas que visem atingir os objectivos referidos, ao
abrigo do disposto na alínea e) do n.º 1 do artigo 153 da Constituição, o
Conselho de Ministros decreta:

ARTIGO 1

São aprovadas as Normas de Funcionamento dos Serviços da Administração


Pública que constam em anexo ao presente Decreto e que dele fazem parte
integrante.

ARTIGO 2

É revogado o Decreto n.º 36/89, de 27 de Novembro.

ARTIGO 3

O presente decreto entra em vigor três meses após a sua publicação.


Aprovado pelo Conselho de Ministros Publique-se O Primeiro-Ministro,
Pascoal Manuel Mocumbi.
Normas de Funcionamento dos Serviços da Administração Pública

CAPÍTULO I
Disposições gerais

ARTIGO 1
(Definições)

Para efeitos do presente diploma, estabelecem-se as seguintes definições:


a) Acto administrativo definitivo e executório: decisão com força obrigatória
e dotada de exequibilidade sobre um determinado assunto, tomada por um
órgão de uma pessoa colectiva de direito público;
b) Agente: funcionário ou outra pessoa que por vínculo legal exerça
actividade na Administração Pública;
c) Impugnação judicial: recurso de um acto administrativo para o Tribunal
Administrativo;
d) Indeferimento liminar: decisão sobre um certo pedido expresso num
requerimento sem mais formalidades essenciais, negando o pedido;
e) Indeferimento tácito: presunção legal da negação do pedido dada por
meio de omissão de prática de um acto administrativo por um órgão
competente;
f) Poder de execução forçada: capacidade legal de executar actos
administrativos definitivos e executórios, mesmo perante a contestação ou
resistência física dos destinatários;
g) Privilégio de execução prévia: poder ou capacidade legal de executar
actos administrativos definitivos e executórios, antes da decisão
jurisdicional sobre o recurso interposto pelos interessados;
h) Procedimento administrativo: sucessão de actos e formalidades
ordenadas com vista à formação, expressão e realização da vontade da
Administração Pública;
i) Processo administrativo: conjunto de documentos que traduzam actos e
formalidades que constituam o procedimento administrativo;
j) Reclamação: impugnação de um acto administrativo ou decisão perante o
respectivo autor, visando a sua revogação ou alteração;
k) Recurso contencioso: impugnação jurisdicional de um acto administrativo
definitivo e executório arguido de vício determinante da sua nulidade,
anulabilidade ou inexistência jurídica;
l) Recurso de revisão;
impugnação de um acto administrativo quando se venham a verificar factos
supervenientes ou surjam meios de prova susceptíveis de demonstrar a
inexistência ou inexactidão de factos que influíram na decisão;
m) Recurso hierárquico ou gracioso: impugnação de um acto administrativo
ou decisão perante o superior hierárquico do respectivo autor, com
fundamento na ilegalidade ou na mera injustiça do acto impugnado;
n) Recurso tutelar: impugnação de um acto administrativo ou decisão de um
órgão de Administração Pública de uma entidade autónoma, nomeadamente
de uma autarquia local, perante o órgão responsável pela tutela
administrativa dessa entidade autónoma;
o) Regime jurídico: conjunto de princípios, regras é formalidades essenciais
que devem ser observadas na prossecução de um determinado interesse
público ou direito.

ARTIGO 2
(Objecto)

O presente diploma estabelece o regime jurídico do funcionamento dos


serviços da Administração Pública.

ARTIGO 3
(Âmbito de aplicação)

1. As presentes normas de funcionamento dos serviços da Administração


Pública aplicam-se aos órgãos e instituições da Administração Pública que
no desempenho das respectivas funções se relacionem com particulares,
pessoas singulares ou colectivas.
2. Para os efeitos do presente diploma, são órgãos ou instituições da
Administração Pública, aquelas que desempenhem funções administrativas
do Estado, tais como:
a) Os órgãos centrais e locais do aparelho do Estado e instituições
subordinadas ou dependentes;
b) Os institutos públicos: institutos de investigação científica e tecnológica
e as demais instituições autónomas, tuteladas pelos órgãos do Estado;
c) Os órgãos e institutos das autarquias locais.

CAPÍTULO II
Princípios da actuação da Administração Pública

ARTIGO 4
(Princípio da Legalidade)

1. No desempenho das respectivas funções, os órgãos da Administração


Pública obedecem ao princípio da legalidade administrativa.
2. A obediência ao princípio da legalidade administrativa implica,
necessariamente, a conformidade da acção administrativa com a lei e o
direito.
3. Os poderes dos órgãos da Administração Pública não poderão ser usados
para a prossecução de fins diferentes dos atribuídos por lei.
4. Os actos administrativos praticados em estado de necessidade com
preterição das regras estabelecidas neste diploma são válidos, desde que os
resultados não pudessem ter sido alcançados de outro modo.
5. Os lesados terão direito a ser indemnizados nos termos gerais da
responsabilidade civil do Estado.
6. O estado de necessidade é verificado no momento da decisão de se
sacrificar um direito ou interesse protegido por lei a fim de prevenir o perigo
de lesar um direito ou interesse superior.

ARTIGO 5
(Princípio da prossecução do interesse público e protecção dos direitos e
interesses dos cidadãos)

Os órgãos da Administração Pública, observando o princípio da boa-fé,


prosseguem o interesse público, sem prejuízo dos direitos e interesses dos
particulares protegidos por lei.

ARTIGO 6
(Princípio da justiça e da imparcialidade)

1. No exercício das suas funções e no seu relacionamento com as pessoas


singulares ou colectivas, a Administração Pública deve actuar de forma justa
e imparcial.
2. A imparcialidade impõe que os titulares e os membros dos órgãos da
Administração Pública se abstenham de praticar ou participar na prática de
actos ou contratos administrativos, nomeadamente de tomar decisões que
visem interesse próprio, do seu cônjuge, parente ou afim, bem como de
outras entidades com as quais possa ter conflitos de interesse, nos termos
da lei.
ARTIGO 7
(Princípio da transparência da Administração Pública)

1. O princípio da transparência implica a publicidade da actividade


administrativa.
2. Os actos administrativos dos órgãos e de instituições da Administração
Pública, nomeadamente os regulamentos, normas e regras processuais, são
publicados de tal modo que as pessoas singulares e colectivas possam saber
antecipadamente, as condições jurídicas em que poderão realizar os seus
interesses e exercer os seus direitos.
3. Os órgãos da Administração Pública estão sujeitos a fiscalização e
auditoria periódicas pelas entidades competentes.

ARTIGO 8
(Princípio da colaboração da Administração com os particulares)

1. No desempenho das suas funções, os órgãos e instituições da


Administração Pública colaboram com os particulares, devendo
designadamente:
a) Prestar as informações orais ou escritas, bem como os esclarecimentos
que os particulares lhes solicitem;
b) Apoiar e estimular as iniciativas dos particulares, receber as suas
informações e considerar as suas sugestões.
2. A Administração Pública é responsável pelas informações prestadas por
escrito aos particulares, ainda que não obrigatórias.

ARTIGO 9
(Princípio da participação dos particulares)

Os órgãos e instituições da Administração Pública promovem a participação


das pessoas singulares e colectivas que tenham por objecto a defesa dos
seus interesses, na formação de decisões que lhes disserem respeito.

ARTIGO 10
(Princípio da decisão)

1. Os órgãos da Administração Pública devem decidir sobre todos os


assuntos que lhes sejam apresentados pelos particulares.
2. Se um assunto for apresentado a um órgão não competente em razão da
matéria, este emitirá um despacho a mandar remeter o expediente ao órgão
competente, com conhecimento do interessado.
3. Se o órgão for incompetente em razão da hierarquia, este deverá
oficiosamente remeter o expediente ao órgão competente e informar desse
procedimento ao interessado.
ARTIGO 11
(Princípio da celeridade do procedimento administrativo)

O procedimento administrativo deve ser célere, de modo a assegurar a


economia e a eficácia das decisões.

ARTIGO 12
(Princípio da fundamentação dos actos administrativos)

A Administração Pública deve fundamentar os seus actos administrativos


que impliquem designadamente o indeferimento do pedido ou a revogação,
alteração ou suspensão de outros actos administrativos anteriores.

ARTIGO 13
(Princípio da responsabilidade da Administração Pública)

A Administração Pública responde pela conduta dos agentes dos seus


órgãos e instituições de que resultem danos a terceiros, nos mesmos termos
da responsabilidade civil do Estado, sem prejuízo do seu direito de regresso,
conforme as disposições do código civil.

ARTIGO 14
(Princípio da igualdade e da proporcionalidade)

1. Nas suas relações com os particulares, os órgãos da Administração Pública


regem- se pelo princípio da igualdade dos cidadãos perante a lei e da
proporcionalidade dos meios.
2. É vedado aos órgãos e instituições da Administração Pública privilegiar,
prejudicar, privar de qualquer direito ou isentar de qualquer dever jurídico
um cidadão por motivo da sua cor, raça, sexo, origem étnica, lugar de
nascimento, estado civil dos pais, situação económica, posição social,
filiação partidária ou religiosa.
3. A proporcionalidade implica que, de entre as medidas convenientes para
a prossecução de qualquer fim legal, os agentes da Administração Pública
deverão adoptar as que acarretem consequências menos graves para a
esfera jurídica do particular.
CAPÍTULO III
Garantias dos particulares e da Administração Pública

ARTIGO 15
(Garantias dos particulares)

São garantias dos direitos das pessoas singulares ou colectivas, as seguintes:


a) O requerimento;
b) A reclamação;
c) O recurso hierárquico;
d) O recurso tutelar;
e) O recurso da revisão;
f) O recurso contencioso.

ARTIGO 16
(Garantias da Administração Pública)

São garantias da Administração Pública, designadamente:


a) O privilégio da execução prévia dos actos definitivos e executórios;
b) A obrigatoriedade da apresentação imediata do funciona no da
Administração Pública ao respectivo superior hierárquico para efeitos de
entrega do serviço a seu cargo, por motivo da cessação da relação de
trabalho, transferência, destacamento, licença de longa duração ou quando
tenha de ser sujeito à privação de liberdade;
c) O direito de regresso em caso de indemnização a terceiros, pelos danos
causados por actos dos agentes da Administração Pública no exercício das
suas funções;
d) O poder de execução forçada dos actos administrativos definitivos e
executórios.

CAPÍTULO IV
Garantias de imparcialidade

ARTIGO 17
(Impedimentos)

Derrogado pela Lei n.º 16/2012 de 14 de Agosto

ARTIGO 18
(Arguição e declaração do impedimento)

Derrogado pela Lei n.º 16/2012 de 14 de Agosto

ARTIGO 19
(Efeitos da arguição e declaração de impedimento)
Derrogado pela Lei n.º 16/2012 de 14 de Agosto

ARTIGO 20
(Escusa e suspeição)

Derrogado pela Lei n.º 16/2012 de 14 de Agosto

CAPÍTULO V
Competência e delegação

ARTIGO 21
(Competência)

1. Os órgãos da Administração Pública têm os poderes e autoridade para


praticar actos administrativos decorrentes das funções e atribuições
definidas nos seus estatutos e regulamentos.
2. Os agentes da Administração Pública têm o poder de praticar os actos
administrativos decorrentes das actividades contidas nos respectivos
qualificadores de carreiras profissionais e, em especial, das relativas às
funções e atribuições do órgão em que estão afectos, bem como cumprir as
directivas e instruções superiores e exercer os poderes que lhes sejam
conferidos por delegação.

ARTIGO 22
(Delegação de competência)

1. Os órgãos e os agentes da Administração Pública competentes para


decidir determinadas matérias podem, nos limites da lei, delegar os poderes
delegáveis a outros órgãos ou agentes de escalão inferior para a prática de
actos administrativos sobre as mesmas matérias.
2. O acto de delegação de poderes deve conter os poderes que se delega e
especificar aqueles que, com a anuência do delegante, poderão ser
subdelegados.
3. O órgão delegado ou subdelegado deve mencionar tal qualidade no uso
da delegação ou subdelegação.

ARTIGO 23
(Publicidade do acto de delegação ou subdelegação)

O acto de delegação ou de subdelegação de poderes está sujeito à


publicação no Boletim da República e divulgação por outra forma em uso na
área do delegante e do delegado ou afixação em lugares habituais.
ARTIGO 24
(Poderes do delegante)

1. O órgão ou agente da Administração Pública delegante ou sub delegante


pode emitir directivas ou instruções vinculativas para o delegado ou
subdelegado sobre o modo como devem ser exercidos os poderes
delegados ou subdelegados.
2. O órgão ou agente da Administração Pública delegante ou sub delegante
tem o poder de avocar e de revogar os actos praticados pelo delegado ou
subdelegado ao abrigo da delegação ou subdelegação.

ARTIGO 25
(Substituição ou acumulação de funções)

O exercício de funções em substituição ou acumulação de funções abrange


os poderes delegados ou subdelegados no titular.

ARTIGO 26
(Extinção da delegação)

A delegação e a subdelegação de poderes extinguem-se:


a) Por revogação do acto de delegação;
b) Por mudança dos titulares do órgão ou agente delegante ou sub
delegante;
c) Por caducidade, quando se tenham esgotado os efeitos pretendidos.

CAPÍTULO VI
Organização dos serviços

SECÇÃO I
Generalidades

ARTIGO 27
(Organização)

1. Os serviços públicos devem estar convenientemente identificados e conter


afixada a localização dos seus órgãos ou unidades orgânicas.
2. O público deverá ser atendido em local devidamente organizado e
identificado.

ARTIGO 28
(Assiduidade e pontualidade)

1. Para o registo da assiduidade dos funcionários haverá em cada local de


trabalho um livro de ponto de modelo uniforme, com as folhas numeradas e
rubricadas pelo funcionário de chefia competente, que assinará também os
termos de abertura e de encerramento do livro, no qual cada funcionário
rubricará o nome no espaço para o efeito assinalado, no início e fim de cada
período de trabalho;
2. No início de trabalho o livro do ponto será recolhido pelo funcionário para
o efeito designado e entregue ao superior hierárquico.
3. O funcionário que se apresentar ao serviço após a hora do início do
trabalho deverá apresentar-se ao superior hierárquico e justificar o atraso,
competindo a este registar no livro do ponto o período de atraso.
4. Os atrasos são acumulados até completarem um dia de falta justificada ou
injustificada, averbando-se em conformidade.
5. Será marcada falta injustificada ao funcionário que, depois de assinar o
livro do ponto, se ausentar do local de trabalho sem autorização.
6. As faltas injustificadas carecem de confirmação do superior hierárquico
do funcionário que as marcou, com excepção das que foram marcadas por
directores nacionais, provinciais e distritais, administradores de distrito,
chefes de posto administrativo ou dirigentes de instituições subordinadas
ou dependentes.
7. O livro do ponto poderá ser substituído por uma forma de registo
mecânico ou electrónico, que assegure a verificação do cumprimento do
horário e a assiduidade.

ARTIGO 29
(Dispensa de assinatura do livro do ponto)

1. Poderão ser isentos da assinatura de livro do ponto os funcionários ou


agentes que exerçam funções de direcção ou chefia e outros que pela
natureza do trabalho ou especificidade técnica o justifiquem.
2. Os dirigentes competentes de cada sector determinarão, por ordem de
serviço, as funções e técnicos isentos da assinatura do livro do ponto.

SECÇÃO II
Horário de trabalho

ARTIGO 30
(Jornada laboral)

1. A duração semanal de trabalho nos serviços abrangidos pelo presente


diploma é de 40 horas, distribuídas de 2." feira a 6.a feira, das 7.30 às 15.30
horas.
2. O período de trabalho diário será interrompido, escalonadamente, entre
as 12.00 e às 14.00 horas, por um intervalo de descanso de duração não
superior a 30 minutos que, para todos os efeitos, se considera tempo de
trabalho, a fim de garantir a continuidade de prestação do atendimento do
público.

ARTIGO 31
(Regime especial)

Sempre que as características de penosidade e perigosidade decorrentes da


actividade exercida o justifiquem, podem ser fixados, após concordância do
Ministro da Administração Estatal, regimes de duração semanal inferior ao
previsto no artigo anterior.

ARTIGO 32
(Descanso semanal)

1. A semana de trabalho é, em regra, de 5 dias.


2. Os funcionários têm direito a um dia de descanso semanal, acrescido de
um dia de descanso complementar, que, em princípio, devem coincidir com
o domingo e sábado respectivamente.
3. Os dias de descanso referidos no número anterior podem deixar de
coincidir com o domingo e o sábado tratando-se de pessoal:
a) De serviços autorizados a encerrar a sua actividade noutros dias da
semana;
b) Necessário para assegurar a continuidade de serviços que não possam ser
interrompidos;
c) De serviço de limpeza ou encarregado de outros serviços preparatórios e
complementares que devam necessariamente ser efectuados nos dias de
descanso do restante pessoal;
d) De inspecção de actividades que não encerram ao sábado e domingo.
4. A adopção do regime previsto no número anterior é determinado pelo
dirigente respectivo.

ARTIGO 33
(Excepções)

1. A jornada laborai referida no artigo 30 do presente diploma não abrange


os horários dos serviços essenciais a seguir mencionados:
a) As bibliotecas e museus públicos;
b) Os cemitérios;
c) Os estabelecimentos de ensino;
d) Os estabelecimentos hospitalares e institutos de medicina legal;
e) Os mercados e demais serviços de abastecimento;
f) Os serviços alfandegários e de migração de fronteiras;
g) Os serviços de bombeiros e ambulâncias;
h) Os serviços de laboração contínua;
i) Os serviços de recolha e tratamento de lixo;
j) Os serviços prisionais, de investigação criminal, com excepção dos
sectores administrativos.
2. Aos serviços essenciais é aplicável o disposto nos nºs 3 e 4 do artigo
anterior.
3. O horário de trabalho para os serviços essenciais será fixado pelo
dirigente respectivo não devendo ultrapassar as 40 horas semanais.
4. Poderão ser considerados outros serviços essenciais, para efeitos do
presente artigo, mediante proposta dos respectivos sectores e aprovação
do Ministro da Administração Estatal.
ARTIGO 34
(Trabalho por turnos)

1. O trabalho por turnos é aquele em que, por necessidade do regular e


normal funcionamento do serviço, há lugar à prestação de trabalho em pelo
menos dois períodos diários e sucessivos, sendo cada um de duração não
inferior à duração média diária do trabalho correspondente a cada grupo
profissional.
2. A prestação do trabalho por turnos deve obedecer às seguintes regras:
a) Os turnos são rotativos estando o respectivo pessoal sujeito à sua
variação regular;
b) Nos serviços de funcionamento permanente não podem ser prestados
mais de seis dias consecutivos de trabalho;
c) As interrupções a observar em cada turno devem obedecer ao princípio
de que não podem ser prestadas mais de cinco horas de trabalho
consecutivo;
d) As interrupções destinadas ao repouso e refeição, quando não superiores
a trinta minutos, consideram-se incluídas no período de trabalho,
e) O dia de descanso semanal deve coincidir com o domingo, pelo menos
uma vez em cada período de quatro semanas;
f) Salvo casos excepcionais, como tal reconhecidos pelo dirigente do serviço
e pelos interessados, a mudança de turno só pode ocorrer após o dia de
descanso;
g) Ao dirigente do serviço compete fixar o início e o termo dos turnos
aprovados, bem como estabelecer as respectivas escalas.

ARTIGO 35
(Isenção de horário)

1. Gozam de isenção de horário de trabalho os funcionários que exerçam


funções de direcção de nível igual ou superior a Director Nacional e Director
Provincial e respectivos adjuntos.
2. A isenção de horário não dispensa a observância do dever geral de
assiduidade nem o cumprimento de duração semanal de trabalho legalmente
estabelecida.

ARTIGO 36
(Ajustamento de horário)

Os Governadores Provinciais, tendo em conta as condições específicas de


cada província, obtida a concordância do Ministro da Administração Estatal,
podem determinar, para o aparelho de Estado na província, ajustamentos do
horário previsto no presente Decreto, sem prejuízo do número total de horas
nele fixado e da distribuição dessas horas por cinco dias da semana.
SECÇÃO III
Atendimento do Público

ARTIGO 37
(Recepção)

1. Os serviços de recepção e de acendimento do público devem estar abertos


durante toda a jornada laborai.
2. O público deve ser atendido com urbanidade,diligência e zelo, para o
prestígio da autoridade do Estado e da Função Pública de que o funcionário
ou agente se encontram investidos.
3. As informações devem ser claras, completas e precisas, com observância
dos preceitos legais, de forma a facilitar a solução das demandas do público.
4. Os dirigentes devem designar um funcionário conhecedor da estrutura
dos respectivos serviços e das competências genéricas e com qualificação
em atendimento do público que encaminhe os interessados e preste as
primeiras informações.
5. Sempre que as condições o permitam devem ser criadas condições de
acessibilidade aos locais de atendimento do público a pessoas portadoras
de deficiência física.

ARTIGO 38
(Informações)

1. As informações solicitadas por escrito pelo público devem ser respondidas


pelo mesmo meio, devendo os pedidos conterem, para além da identificação
completa dos peticionários, o respectivo domicílio.
2 Todas as informações que pela sua complexidade técnica careçam de
maior ponderação ou que não seja possível de satisfazer por circunstâncias
diversas deverão ser submetidas ao superior hierárquico.

ARTIGO 39
(Vitrinas ou quadro)

No espaço de recepção ou atendimento devem ser afixadas:


a) A informação sobre os locais onde são tratados os diversos assuntos;
b) A tabela das taxas dos serviços;
c) A indicação dos números de telefone para atendimento do público;
d) As minutas e os modelos de requerimentos e declarações.

ARTIGO 40
(Ordem de atendimento)

1. Quando as circunstâncias o justificarem, deve ser instalado um sistema de


atendimento do público em função da ordem de chegada.
2. O público deve ser atendido em balcões desprovidos de "guichets" 3.
Sempre que possível o atendimento deve ser personalizado, isto é, em
secretária individual.
ARTIGO 41
(Identificação do funcionário)

1. Os funcionários devem, no exercício das suas funções e no respectivo local


de trabalho, ostentar um crachá.
2. O crachá deve conter o emblema da República ou logótipo, a designação
do sector e o nome, o número e a fotografia do funcionário, bem visíveis.
3. Compete ao Conselho Nacional da Função Pública regulamentar sobre as
características do crachá.

ARTIGO 42
(Prioridade no atendimento)

1. No atendimento têm prioridade os idosos, os doentes, as mulheres


grávidas, e as pessoas portadoras de deficiência ou acompanhadas de
crianças de colo e, ainda, outros casos específicos com necessidade de
atendimento prioritário.
2. Os portadores de convocatória têm prioridade no atendimento junto do
respectivo serviço público que as emitiu.

ARTIGO 43
(Recepcionistas)

Os funcionários responsáveis pelo atendimento do público, presencial ou


por telefone, devem ter uma formação específica no domínio das relações
públicas e nas áreas de trabalho do respectivo serviço, de forma a ficarem
habilitados a prestar as informações solicitadas ou encaminhar o cidadão
para as respectivas unidades orgânicas.

ARTIGO 44
(Linha do público)

1. Os serviços da Administração Pública deverão dispor de uma ou mais


linhas telefónicas para uso exclusivo do público, designadas por linhas verde
2 As linhas verde devem ser instaladas de modo a não permitir a realização
de chamadas internas ou para o exterior, garantindo assim a sua total
disponibilidade para o público.
3. A existência destas linhas deve ser divulgada por todos os meios, devendo
constar obrigatoriamente das listas telefónicas.

SECÇÃO III
Sugestões e reclamações

ARTIGO 45
(Livro de sugestões e reclamações)

1. Os serviços da Administração Pública ficam obrigados a adoptar um livro


de sugestões e reclamações nos locais onde seja efectuado atendimento do
público, devendo a sua existência ser divulgada aos utentes.
2. O livro de sugestões e reclamações referido no número anterior só pode
ser utilizado depois de autenticado mediante os termos de abertura e de
encerramento, a rubrica das folhas e a sua numeração.
3. No termo de abertura deve fazer-se menção do número de ordem e do
destino do livro, bem como do serviço ou organismo a que pertence.
4. A autenticação do livro compete ao secretário permanente, director
provincial, administrador de distrito ou chefe de posto administrativo,
competência que pode ser delegada nos dirigentes das instituições
subordinadas.
5. O livro de sugestões e reclamações, de modelo anexo, deve ter 3 cópias
destacáveis, em cores diferentes, de tipo autocopiativo.

ARTIGO 46
(Tratamento)

1. Ao reclamante deve ser entregue uma cópia da reclamação ou sugestão.


2. As reclamações devem ser respondidas ao reclamante no prazo máximo
de 30 dias pelo serviço reclamado sobre o andamento dado ao assunto.
3. Após a leitura das reclamações ou sugestões o dirigente da unidade
orgânica respectiva deve tomar as medidas que forem da sua competência
para sanar as irregularidades confirmadas e encaminhar às entidades
competentes as que ultrapassam a sua competência.

ARTIGO 47
(Sugestões entregues a nível local)

1. Cópia de cada sugestão ou reclamação apresentada nas repartições locais


dos órgãos da Administração Pública será remetida, através da unidade
orgânica dos recursos humanos e por via hierárquica, ao director provincial
que superintende ou tutela a área respectiva, indicando-se as medidas
tomadas ou as propostas de medidas a tomar.
2. O director provincial apresentará ao secretário permanente, sínteses
mensais das sugestões e reclamações recebidas, indicando as medidas
tomadas ou as propostas de medidas a tomar.
3. Uma cópia será remetida ao administrador distrital, o qual elaborará e
enviará ao governador da província, sínteses mensais das sugestões e
reclamações recebidas, indicando resumidamente as medidas tomadas ou as
propostas de medidas a tomar.
4. O governador provincial enviará trimestralmente ao Ministro da
Administração Estatal, o resumo das sugestões e reclamações recebidas,
realçando as medidas adoptadas ou propostas.

ARTIGO 48
(Sugestões entregues a nível central)

1. Cópia de cada sugestão e reclamação apresentada a órgãos centrais e


instituições a eles subordinadas será reportada ao director do órgão, para
tomada de medidas.
2. O Director deverá apresentar ao Secretário Permanente, quinzenalmente,
a síntese das sugestões e reclamações e as medidas tomadas e propostas.
3. Sem prejuízo de informação periódica ao Ministro, o Secretário
Permanente elaborará um resumo trimestral a enviar ao Ministro da
Administração Estatal, contendo as sugestões e reclamações recebidas e
apreciadas, as medidas adoptadas e as propostas.

ARTIGO 49
(Reclamação oral)

O cidadão que não saiba ou não possa escrever na língua oficial pode utilizar
gratuitamente os serviços dum funcionário ou de qualquer outra pessoa para
formular a sua sugestão ou reclamação por escrito.

ARTIGO 50
(Fiscalização)

Serviços de inspecção devem obrigatoriamente analisar os livros de


sugestões e reclamações e verificar as medidas tomadas.

ARTIGO 51
(Informação ao Governo)

O Ministro da Administração Estatal apresentará ao Conselho de Ministros,


periodicamente, informação escrita sobre as sugestões e reclamações
recebidas e tratadas.

CAPÍTULO VII
Formalidades do Procedimento Administrativo

SECÇÃO I
Generalidades

ARTIGO 52
(Início do procedimento)

1. O procedimento administrativo inicia oficiosamente ou a pedido


formulado por particular em documento escrito.
2. O pedido inicial será formulado em requerimento que, entre outros,
deverá conter:
a) A designação do órgão a que se dirige;
b) A identificação do requerente pelo nome, estado civil, profissão e
domicílio habitual;
c) A indicação dos factos em que se baseia o pedido e, se possível, os
fundamentos de direito;
d) A indicação clara e precisa do pedido;
e) A data e assinatura do requerente.
3. Cada requerimento incidirá exclusivamente sobre um pedido, salvo se se
tratar de pedidos alternativos ou subsidiários.
4. O requerimento e todos os documentos subsequentes serão redigidos em
termos correctos, claros, concisos e corteses e dirigidos à entidade a que se
destinam de harmonia com a legislação vigente.

ARTIGO 53
(Reconhecimento de assinatura)

1 A assinatura do interessado nos documentos a que se refere o artigo


anterior poderá ser reconhecida gratuitamente nas repartições públicas
onde devam ser entregues mediante a apresentação do respectivo bilhete
de identidade, ou outro documento de identificação oficial, cujo número
ficará registado nos documentos em anotação.
2. É dispensado o reconhecimento de assinatura, quando o interessado seja
funcionário do serviço onde apresente o documento.
3 O disposto no número anterior é também aplicável ao interessado que tiver
a assinatura reconhecida em documento anterior respeitante ao mesmo
assunto no mesmo serviço.

ARTIGO 54
(Documentos subsequentes)

Na tramitação do expediente os participares poderão, no seu interesse,


submeter outros documentos relevantes sobre o assunto até decisão final.

ARTIGO 55
(Entrega dos documentos)

1. Os documentos deverão ser entregues na repartição competente da


Administração Pública, salvo o disposto nos números seguintes ou outra
disposição da lei.
2. Os documentos dirigidos aos órgãos centrais poderão ser apresentados
aos serviços provinciais ou distritais, correspondentes.
3. Quando os documentos sejam dirigidos a órgãos que não disponham de
serviço local correspondente na área de residência do requerente, podem
aqueles ser apresentados às administrações do distrito.
4. Os documentos apresentados nos termos dos número antecedentes serão
remetidos aos órgãos competentes, acompanhados de informação ou
parecer pertinente, se for o caso, no prazo máximo de dez dias.
5. Os serviços da Administração Pública remeterão oficiosamente todo o
expediente e correspondência que lhes for indevidamente endereçada, para
os serviços e entidades competentes, informando os interessados se
relevante.
ARTIGO 56
(Conferência de fotocópias)

1. A conferência de fotocópias pode ser feita gratuitamente nos serviços da


Administração Pública onde devam ser entregues, desde que seja exibido
simultaneamente o original do documento.
2. O funcionário que confirmar a autenticidade da fotocópia deve declarar
por escrito que confere com o original, assinar e datar.

ARTIGO 57
(Recibos)

1. De todo o documento apresentado nos serviços da Administração Pública


por particular, será passado o respectivo recibo, quando solicitado ou
aposta, no duplicado ou fotocópia, a declaração de recepção do original, a
data e a assinatura do funcionário que o recebeu.
2. Será obrigatoriamente passado o recibo de quaisquer pagamentos
efectuados.
3. Os serviços da administração pública devem criar condições para que os
pagamentos das taxas sejam efectuados directamente pelos cidadãos
através de depósito bancário.

SECÇÃO II
Tramitação e decisão

ARTIGO 58
(Prazo para despacho)

1. Todo o expediente deverá ser apresentado a quem tem competência para


decidir, acompanhado das informações ou pareceres necessários à decisão
final do assunto, no prazo máximo de dez dias contados a partir da data da
sua entrada no serviço competente, salvo se outro prazo estiver legalmente
fixado.
2. O não cumprimento do prazo referido no número anterior deve ser
justificado perante o superior hierárquico respectivo.
3. Não se inclui, no prazo a que se refere o n.º 1 do presente artigo, período
de tempo indispensável à realização de diligências de natureza externa
necessárias à prática do acto.
4. Na hipótese prevista no número anterior, os serviços deverão informar os
interessados do andamento das diligências, quando solicitadas.
5. O expediente deverá ser despachado no prazo máximo de 15 dias,
contados a partir da data da sua apresentação a despacho.

ARTIGO 59
(Indeferimento tácito)

A falta de decisão final sobre a pretensão dirigida a um órgão administrativo


competente no prazo fixado no artigo anterior, equivale a indeferimento do
pedido, para efeitos de impugnação.
ARTIGO 60
(Deferimento tácito)

Legislação específica estabelecerá os casos de deferimento tácito.

ARTIGO 61
(Preparação de despacho)

1. Todos os assuntos submetidos a despacho deverão ser acompanhados de


informação escrita elaborada pelo funcionário competente do serviço,
contendo entre outros os seguintes elementos:
a) O resumo da matéria sobre a qual versa a questão a ser despachada, se
esta não estiver já previamente resumida;
b) A menção das disposições legais aplicáveis ou sugestão sobre a forma de
suprir a sua omissão, designadamente, resumindo os precedentes de
resolução de situações análogas;
c) Indicação dos aspectos sobre os quais deve incidir a resolução e proposta
de decisão;
d) Data e assinatura do informante.
2. A falta dos requisitos especificados no n.º 1 do presente artigo é
equiparada a falta de informação.
3. Quando o assunto submetido a despacho esteja constituído em processo
do qual já conste informação completa, o agente competente para
despachar pode limitar-se a confirmar aquela, entendendo-se como tal a
aposição de simples "Visto e Concordo" ou meramente "Concordo.
4. Durante a fase de instrução dos assuntos só pode ser dado conhecimento
aos interessados das formalidades ou exigências legais a cumprir ou
completar e das dúvidas levantadas pela pretensão e que se torna necessário
esclarecer ou completar.

ARTIGO 62
(Informações, pareceres e despachos)

1. As informações, pareceres e despachos devem ser, sempre que possível,


exarados nos documentos em que se encontra a matéria a que respeitam.
2. As informações, pareceres e despachos dados em separado devem ser
seguidamente enumerados e datados dentro de cada serviço, indicando-se
sempre o respectivo número no documento a que respeitam e elaborando-
se com as suas cópias, volumes anuais.
3. As informações, pareceres e despachos devem ser datados e assinados
pelos seus autores.

ARTIGO 63
(Comunicação do despacho)

1. A comunicação do despacho é obrigatória e deve ser apresentada por


escrito aos interessados.
2. A comunicação do despacho a particulares faz-se por transcrição ou por
extracto do seu conteúdo.
3. A comunicação de informações ou pareceres só pode ser feita se isso for
expressamente determinado no despacho.
4. Quando nas comunicações se faça referência a disposições de carácter
normativo, é obrigatório transcrever a parte que é relevante ou anexar-se
fotocópia do documento que a consubstancia.
5. A consulta do processo pelo particular interessado, quando admissível, só
pode ser feita dentro do horário de trabalho e no local de serviço e em caso
algum dispensa a comunicação referida no n.º 1 do presente artigo

ARTIGO 64
(Certidões)

1. A requerimento dos interessados podem ser passadas certidões sobre


actos que não revistam a natureza de informação classificada.
2. Depende de autorização específica a passagem de certidões que versem
sobre:
a) Correspondência oficial;
b) Informações relativas a assuntos de serviço dadas por funcionários,
excepto se o pedido se destinar a procedimento civil ou criminal em virtude
das mesmas informações;
c) Informações pedidas por funcionários sobre outros funcionários excepto
se autorizadas pelo funcionário a que se referem;
d) Quaisquer peças de processo disciplinar, de inquérito ou de sindicância
em fase de instrução;
e) Assuntos relativos a investigação ou diligência policial.
3. Independentemente do despacho e a requerimento do interessado,
podem ser extraídas certidões narrativas donde constem:
a) A data de entrada de requerimentos, petições, queixas ou recursos;
b) O andamento que tiverem.
4. As certidões serão passadas no prazo máximo de dez dias, contados a
partir da data de entrada do pedido.

ARTIGO 65
(Efeitos da falta de despacho)

1. Expirados os prazos referidos no artigo 58 poderá o interessado requerer,


dentro de sessenta dias subsequentes, certidão de despacho ou da omissão
de despacho.
2. Decorrido o prazo de dez dias contados a partir da data da entrada do
pedido de certidão sem que esta seja fornecida, presume-se, para efeitos de
impugnação, indeferida a petição inicial de cujo despacho se solicitou a
certidão.

ARTIGO 66
(Acto definitivo)

1. Um pedido decidido definitivamente pela Administração Pública não pode


ser submetido a nova apreciação e despacho sem que o interessado
apresente novos fundamentos de facto ou de direito em que se apoie o novo
pedido.
2. A submissão de pedido sobre uma questão decidida em definitivo sem a
apresentação de novo fundamento de facto ou de direito dá lugar ao
indeferimento liminar do mesmo.

ARTIGO 67
(Admissibilidade da revisão do processo)

1. A revisão de decisão administrativa pode ser requerida até noventa dias


contados da data em que o interessado obteve o conhecimento dos novos
factos que servem de fundamento
2. Se for competente o órgão a quem é dirigido o pedido referido no número
anterior verificará se as circunstâncias indicadas no requerimento são
realmente novas e se ele está devidamente instruído 3 Antes da decisão o
pedido é objecto de informação dos serviços, podendo ser submetido a
parecer jurídico ou de qualquer órgão consultivo reputado idóneo por
aqueles

ARTIGO 68
(Impugnação judicial)

O recurso contencioso segue os termos estabelecidos na lei do processo


contencioso administrativo.

SECÇÃO III
Correspondência

ARTIGO 69
(Comunicação escrita)

1. A correspondência oficial entre repartições e entre estas e os particulares


terá a forma de ofício e de nota.
2. O ofício será usado em correspondência endereçada a dirigentes de
órgãos centrais do aparelho do Estado, Governadores Provinciais,
Embaixadores, Reitores de Universidade ou, ainda, outras entidades e
individualidades. O ofício é redigido de forma cerimoniosa e pessoal.
3. A nota constitui o meio normal de comunicação escrita.
4. A correspondência pode ainda revestir a forma de:
a) Acta — instrumento que contém o registo de factos ou ocorrências
importantes para a Administração Pública;
b) Certidão ou certificado — instrumento que comprova o que consta de
assentamento ou de processo;
c) Circular — acto de correspondência oficial dirigido a diversos
destinatários tratando de assunto de interesse amplo;
d) Edital — instrumento que comunica matéria de interesse administrativo
geral,
e) Guia de remessa — instrumento que se destina ao envio de documentos
ou material.
f) Informação — instrumento que proporciona os esclarecimentos
necessários para emitir parecer ou despacho referente a determinado
assunto;
g) Informação proposta — instrumento que proporciona factos, dados e
fundamentos necessários para emitir parecer ou despacho referente a
determinado assunto;
h) Memorando — instrumento de comunicação escrita simples sem
formalismo pode ser utilizada de um nível hierárquico inferior para um nível
superior ou entre os níveis hierárquicos idênticos;
i) Ordem de serviço — instrumento que contenha determinações concretas
para o serviço emitidas pelo dirigente respectivo com efeitos meramente
internos;
j) Parecer — acto pelo qual se emite opinião técnica sobre determinado
assunto;
k) Relatório — descrição analítica de factos, conclusões e propostas.
5. O Conselho Nacional da Função Pública aprovará os modelos de
correspondência da Administração Pública.

ARTIGO 70
(Caracterização)

1. Os impressos ou papel para a correspondência devem conter, o emblema


da República ou logótipo ou sigla da instituição, a> designação oficial do
serviço, os números de telefone e de telefax e o endereço postal e de correio
electrónico 2 Na correspondência oficial, os órgãos centrais e locais do
aparelho do Estado utilizarão obrigatoriamente o emblema da República 3
Nos impressos referidos no número anterior o emblema da República de
Moçambique terá uma só cor ou as cores definidas por lei 4. Na
correspondência deve sempre identificar-se o funcionário ou titular do
órgão subscritor da mesma e a qualidade em que o faz.
5. A identificação faz-se mediante assinatura ou rubrica, com indicação do
nome, função, categoria ou carreira.

ARTIGO 71
(Elaboração)

A correspondência deve ser redigida de forma correcta, clara, concisa e


cortês, tratando apenas de um assunto e obedecendo aos seguintes
requisitos:
a) Conter a indicação do destinatário;
b) Ser datada e referenciada com o correspondente número do numerador
geral do respectivo serviço;
c) Conter a sigla ou código e o número de ordem do sector que a elaborou;
d) Ser elaborada com cópias necessárias para o copiador, arquivo e
expedição aos destinatários;
e) Conter a indicação da entidade ou entidades a quem o assunto deve ser
levado a conhecimento;
f) Conter, se for caso disso, o número do processo a que respeita, a
referência ou aditamento do documento a que se reporta;
g) Conter as iniciais de quem a minutou e dactilografou ou digitou e indicar
o número de anexos, se for caso disso. Quando a correspondência não for
destinada aos órgãos de Administração as iniciais constarão apenas das
cópias;
h) Conter, na última página,,a assinatura do funcionário que a subscreve e
selo branco ou carimbo do serviço, bem como a indicação dactilografada,
ou digitada, da sua função e nome com a respectiva categoria ou carreira,
devendo as restantes serem numeradas e rubricadas.

ARTIGO 72
(Excepção)

Exceptuam-se do disposto nos artigos antecedentes, os casos


expressamente estatuídos por regulamento próprio do serviço cujo trabalho
se reveste de especificidade própria, bem como a correspondência cifrada.

ARTIGO 73
(Classificação)

1. A correspondência oficial classifica-se, quanto à natureza da informação


contida, em normal e classificada.
2. A correspondência classifica-se ainda, quanto à brevidade no seu
tratamento em muito urgente, urgente e normal.
3. A classificação da correspondência é efectuada pela entidade que a
subscreve.

ARTIGO 74
(Urgência da correspondência)

1. Sempre que a urgência do serviço o exija, poderão ser utilizados meios de


comunicação à distância, como fax, rádio, telefone ou quaisquer outros
meios convencionados para o efeito.
2. Nos casos em que se justifique a utilização da via oral, telefónica ou rádio,
o conteúdo da comunicação efectuada deverá ser de imediato confirmada
por escrito.

ARTIGO 75
(Correio electrónico)

1. Os serviços e organismos da Administração Pública devem disponibilizar,


sempre que possível, um endereço de correio electrónico para efeito de
contacto por parte dos cidadãos e de entidades públicas e privadas e
divulgá-lo de forma adequada, bem como assegurar a sua gestão.
2. A correspondência transmitida por via electrónica tem o mesmo valor da
trocada por outras vias, devendo ser-lhe conferida, pela Administração e
pelos particulares, idêntico tratamento.
3. A aplicação do princípio referido no número anterior abrange a
correspondência que solicite ou transmita informações, exceptuando-se os
documentos que impliquem a assinatura reconhecida ou autenticação de
documentos.
4. Os serviços da Administração Pública devem criar condições para garantir
a segurança da informação transmitida e recebida através do correio
electrónico.
ARTIGO 76
(Registo da correspondência)

1. Toda a correspondência e documentos dirigidos a um serviço serão na


altura da sua recepção registados no livro de entrada, onde será escrito o
número de ordem e data de entrada, o número de referência, a data do
documento, a sua proveniência, resumo da matéria, destino e a classificação
do arquivo.
2. Todo o expediente será carimbado com a data da sua entrada e deste
carimbo constará o número de ordem, a classificação de arquivo e a rubrica
do encarregado do registo.
3. Nos serviços, sem prejuízo das especificidades técnicas da função,
existirão obrigatoriamente os seguintes livros:
a) Livro de registo de correspondência entrada;
b) Livro de registo de requerimentos entrados;
c) Protocolos;
d) Livros para correspondência classificada.
4. Todos os livros em utilização nos serviços deverão conter termo de
abertura e encerramento e todas as folhas numeradas e rubricadas pelo
Chefe do respectivo sector.
5. Os modelos dos livros são aprovados pelo Ministro da Administração
Estatal, à excepção dos previstos na alínea d) do n.º 3 do presente artigo,
que são aprovados pela Comissão Nacional para Implementação das Normas
do Segredo do Estado (CPISE).

ARTIGO 77
(Registo informatizado da correspondência)

Sempre que as circunstâncias o permitam, o registo e circulação da


correspondência poderá ser feita por sistemas informatizados.

ARTIGO 78
(Correspondência postal)

1. Toda a correspondência postal será enviada sob registo.


2. A expedição da correspondência destinada a cidadãos ou pessoas
colectivas de direito privado será feita com aviso de recepção sempre que a
sua importância o justifique ou exista prazo de entrega, nomeadamente
quando se tratar de notificações.

ARTIGO 79
(Entrega de correspondência)

A entrega de correspondência fora dos casos mencionados no artigo


anterior é feita ao seu destinatário através do protocolo ou guia de remessa,
devendo em qualquer dos casos ser rubricado e datado por quem os
recebeu.
ARTIGO 80
(Sigilo profissional)

1. O dever de guardar sigilo obriga os funcionários a não divulgar por


qualquer forma factos e informações relativos ao serviço ou conhecidos por
motivo deste, independentemente da sua classificação.
2. A correspondência entrada em todos os serviços públicos ou neles
existentes é exclusivamente destinada ao conhecimento dos funcionários
que devem tratar os assuntos nela versados.
3. A comunicação do seu conteúdo a particulares ou a outros funcionários
que não intervenham profissionalmente nos respectivos assuntos constitui
infracção ao dever de sigilo, punível disciplinarmente, sem prejuízo da
responsabilidade civil ou criminal a que der origem.

SECÇÃO IV
Correspondência classificada

ARTIGO 81
(Definição)

Correspondência classificada é a que contém dados ou informações de valor


cuja divulgação não autorizada ponha em causa, prejudique, contrarie ou
perturbe a segurança do Estado.

ARTIGO 82
(Classificação)

A correspondência classificada, quanto à natureza da informação contida no


contexto da confidencialidade, classifica-se em: segredo de Estado, secreto,
confidencial e restrito.

ARTIGO 83
(Definição das classificações)

Para efeitos do artigo precedente, entende-se por:


a) Segredo de Estado — a informação cuja divulgação, não autorizada,
origine danos excepcionalmente graves ao Estado;
b) Secreto — a informação cuja divulgação, não autorizada, origine danos
graves ao Estado;
c) Confidencial — a informação cuja divulgação, não autorizada, origine
danos na produção, bens ou serviços;
d) Restrito — a informação cuja divulgação, não autorizada, origine danos
no normal funcionamento do Estado.
ARTIGO 84
(Classificador de informações)

Todas as instituições devem ter um classificador de informações de acordo


com as suas especificidades, tomando em consideração o que está definido
no artigo anterior.
ARTIGO 85 Competência para classificar
1. A classificação de qualquer informação é da responsabilidade da entidade
que a subscreve, que determinará o grau correspondente, de acordo com a
classificação estabelecida na instituição.
2. Sempre que a instituição receptora de uma informação admita que o grau
de classificação atribuído é insuficiente deverá chamar a atenção da
entidade de origem.

ARTIGO 86
(Registo da correspondência classificada)

1. Em todos os serviços da Administração Pública deve existir uma Secretaria


de Informação Classificada (SIC).
2. O registo da recepção, circulação, arquivo, reprodução, destruição e
expedição da correspondência classificada é feito de acordo com as normas
estabelecidas pela Comissão Nacional para Implementação das Normas do
Segredo do Estado.

ARTIGO 87
(Urgência da correspondência)

Na transmissão da correspondência através dos meios de comunicação à


distância referidos no artigo 74 das presentes normas, deverá ser utili zada
linguagem cifrada.

ARTIGO 88
(Correio classificado)

1. Todas as instituições devem enviar à Comissão Nacional para a


Implementação das Normas do Segredo do Estado (CPISE) a
correspondência classificada com vista à sua expedição inter-provincial por
forma a poderem beneficiar de condições eficazes de segurança.
2. A expedição da correspondência classificada para o estrangeiro é feita
através de organismo competente.

ARTIGO 89
(Sanções por infracção às normas da SIC)

1. A infracção das normas de segurança estabelecidas para as Secretarias de


Informação Classificada é passível de sanção disciplinar independentemente
de dela ter resultado o extravio ou indevida divulgação, sem prejuízo de
responsabilidade civil ou criminal, se a ela houver lugar.
2. Toda a infracção das normas de segurança estabelecidas para as
Secretarias de Informação Classificada será imediatamente comunicada ao
dirigente do respectivo serviço, à Comissão para a Implementação das
Normas do Segredo Estado e ao serviço donde era proveniente o
expediente.

SECÇÃO V
Arquivo

ARTIGO 90
(Organização)

1. O arquivo será organizado a nível de serviços, competindo aos respectivos


dirigentes determinar o seu funcionamento de acordo com um guia
classificador devidamente aprovado, de forma a facultar com eficiência,
simplicidade e rapidez a obtenção de informação ou consulta.
2. A adopção de meios electrónicos para processamento de dados será feita
sem prejuízo do sistema manual de arquivo do expediente.
3. O arquivo divide-se, de acordo com a frequência de consulta dos
documentos que o compõem, em:
a) Corrente, constituído por conjunto de documentos em curso e de consulta
frequente;
b) Intermediário, constituído por conjunto de documentos com pequena
frequência de consulta ou que aguardam destino final em depósitos de
armazenagem temporária.
4. O arquivo intermediário, com regulamento próprio, será criado por
diploma conjunto do Ministro da Administração Estatal e do Ministro
respectivo.

ARTIGO 91
(Processo)

1. Em cada processo serão arquivados por ordem cronológica apenas os


documentos que digam respeito à mesma pessoa ou ao mesmo assunto.
2. Da documentação respeitante a mais de um processo serão extraídas
cópias ou fotocópias para distribuição pelos vários processos a que digam
respeito, indicando-se nelas o processo em que se encontra arquivado o
original.

ARTIGO 92
(Informação classificada)

1. Sempre que um documento sujeito às regras do sistema de informação


classificada interesse a determinado processo, far-se-á neste constar por
anotação a natureza, número, data, proveniência ou destino desse
documento.
2. Logo que perca a natureza de informação classificada, o documento
deverá ser incorporado no respectivo processo.
ARTIGO 93
(Processos Individuais)

1. Os processos individuais são numerados e descritos em ficheiros por


ordem alfabética, devendo conter todos os dados e documentos
respeitantes ao funcionário e à sua carreira.
2. Sem prejuízo da organização dos processos individuais os dados dos
funcionários devem constar do Subsistema de Informação de Pessoal (SIP)
criado pelo Decreto n.° 15/98, de 31 de Março.

ARTIGO 94
(Responsabilidade e utilização do arquivo)

1. São responsáveis pela planificação, ordem, segurança e actualização do


arquivo o funcionário dele encarregado e a entidade que nele superintender.
2. O funcionário responsável pelo arquivo só poderá facultar o exame dos
processos arquivados às pessoas que a eles devam ter acesso em razão das
suas funções.
3. O exame de processos em arquivo será feito mediante requisição
autorizada.
4. A entidade que superintende no arquivo pode, excepcionalmente,
autorizar o exame de processos a outras pessoas, mediante pedido
fundamentado.

ARTIGO 95
(Arquivo Intermediário)

Decorridos dez anos sobre a data do último documento dos processos ou,
antes disso, quando se presuma que já não venham a ser movimentados, far-
se-á a sua remessa aos arquivos intermediários devidamente relacionados e
com a indicação nas respectivas fichas do arquivo dos serviços, de "processo
findo", data e número da relação com que foram enviados.

ARTIGO 96
(Arquivo histórico)

1. Decorridos dez anos de permanência nos arquivos intermediários, os


documentos serão objecto de uma avaliação com vista a determinar-se o seu
destino.
2. A avaliação a que se refere o número anterior é da competência de
comissões técnicas compostas pelo Director do Arquivo Histórico de
Moçambique, ou seu Delegado, que as preside, por representantes dos
serviços donde são provenientes os documentos, bem como por
profissionais da área jurídica e outros especialistas cuja colaboração se
considere indispensável.
3. Os critérios de avaliação serão divulgados e levarão em conta os prazos
prescricionais legais e o carácter probatório e informativo dos documentos,
fazendo recair a eliminação, de preferência, sobre as cópias, duplicados e
textos com equivalentes recapitulativos.
4. Os documentos anteriores à data da independência nacional devem ser
remetidos para o Arquivo Histórico de Moçambique.

CAPÍTULO VIII
Indumentária e Fardamento

ARTIGO 97
(Princípio Geral)

1 Os funcionários ou agentes do Estado devem apresentar-se


adequadamente vestidos.
2. Tendo em conta as especificidades do respectivo sector, cada órgão
central do Estado regulamentará, ouvidos os Ministros da Administração
Estatal e do Plano e Finanças, sobre o fardamento dos seus funcionários.

ARTIGO 98
(Obrigatoriedade do fardamento)

1. Estão sujeitos a uso obrigatório de fardamento durante o período de


trabalho os seguintes funcionários:
— condutores de automóveis;
— contínuos;
— empregados de armazém.
— estafetas;
— guardas;
— operador de reprografia;
— operários;
— recepcionistas;
— serventes.
2. Não é permitida a utilização do fardamento fora das horas normais de
trabalho, sem prejuízo da sua utilização, quando tal se justifique, durante o
trajecto de e para o serviço.
3. Os utentes dos fardamentos deverão obrigatoriamente usá-los completos
e em bom estado de limpeza e conservação.
4. A limpeza e conservação será feita pelos utentes.

ARTIGO 99
(Fardamento gratuito)

1. Aos funcionários referidos no artigo anterior será atribuído fardamento


gratuito de que ficarão fiéis depositários até ao termo da duração prevista.
2. O fardamento dos funcionários abrangidos pelo disposto no n.º 2 do artigo
97 poderá ser atribuído a título gratuito ou parcial ou inteiramente
suportado pelo funcionário, de acordo com o que constar do respectivo
regulamento.
ARTIGO 100
(Substituição e devolução do fardamento)

1. Os funcionários sujeitos a uso obrigatório de fardamento e aos quais este


tenha sido atribuído a título gratuito, podem ser obrigados a fazer a sua
substituição, no todo ou em parte, quando por motivos estranhos ao
exercício das suas funções o tornem incapaz de ser utilizado sem
desprestígio do serviço a que pertencem.
2. No caso do funcionário entrar no gozo de licença prolongada que implique
suspensão de vencimentos ser transferido ou cessar a relação de trabalho
com o Estado deverá devolver o fardamento que lhe tenha si do atribuído.
ARTIGO 101
(Tipo, modelo)

Compete ao Conselho Nacional da Função Pública aprovar o regulamento


sobre a utilização dos fardamentos referidos no artigo 97 e os respectivos
modelos.

CAPÍTULO IX
Disposições transitórias

ARTIGO 102
(Lista dos casos de deferimento tácito)

Todas as instituições do Estado deverão submeter aos órgão competentes,


no prazo de sessenta dias a contar da data da entrada em vigor do presente
diploma, uma lista, a ser publicada no Boletim da República, dos assuntos
que em função dos estatutos e regulamentos específicos considerem
susceptíveis de merecer o tratamento de deferimento tácito.

ARTIGO 103
(Divulgação dos casos de deferimento tácito)

No período referido no artigo anterior as instituições da Administração


Pública deverão divulgar os casos em que a lei prevê deferimento tácito.
CONSULTAR ANEXO NO TEXTO INTEGRAL – IMAGEM
Havendo necessidade de estabelecer o quadro legal para o Sector
Empresarial do Estado, nos termos do disposto no número 2, do artigo 99 e
do número 1, do artigo 179, ambos da Constituição da República, conjugado
com o artigo 106 da Lei n.º 7/2012, de 8 de Fevereiro, que aprova a Base da
Organização e Funcionamento da Administração Pública, a Assembleia da
República determina:
CAPÍTULO I Disposições Gerais
Secção I Objecto, âmbito e definição
ARTIGO 1
(Objecto)

A presente Lei estabelece os princípios e regras aplicáveis ao sector


empresarial do Estado.

ARTIGO 2
(Âmbito de aplicação)

1. A presente Lei aplica-se a todo o sector empresarial do Estado,


abreviadamente designado por SEE.
2. O sector empresarial do Estado é constituído pelo conjunto das unidades
produtivas e comerciais do Estado, organizadas e geridas de forma
empresarial, integrando as empresas públicas e as empresas exclusivas ou
maioritariamente participadas pelo Estado.

ARTIGO 3
(Definições)

Os termos usados na presente Lei constam do Glossário, em anexo, que dela


é parte integrante.

Secção II
Princípios de funcionamento

ARTIGO 4
(Direito aplicável)

O sector empresarial do Estado rege-se pelo direito privado, pelas normas


da presente Lei, pelos diplomas legais de criação, de constituição e demais
legislação aplicável.
ARTIGO 5
(Personalidade e capacidade jurídicas)

As empresas que integram o sector empresarial do Estado são dotadas de


personalidade e capacidade jurídicas, com autonomia administrativa,
financeira e patrimonial
ARTIGO 6
(Princípios orientadores)

O sector empresarial do Estado rege-se pelos seguintes princípios:


a) Legalidade;
b) Prossecução de interesse público;
c) Integridade, ética e boa-fé;
d) Responsabilização da administração pública;
e) Transparência financeira e prestação de contas;
f) Economicidade, racionalidade de recursos e de boa governação;
g) Imparcialidade e meritocracia.

ARTIGO 7
(Função accionista do Estado)

1. Para efeitos da presente Lei, entende-se por função accionista do Estado,


o exercício dos poderes e deveres inerentes a gestão e coordenação das
empresas do sector empresarial do Estado.
2. A função accionista do Estado nas empresas que integram o sector
empresarial do Estado é exercida pela entidade que gere e coordena o
sector empresarial do Estado.
3. O exercício da função accionista compreende:
a) representar o Estado nas Assembleias Gerais;
b) acompanhar e supervisionar a gestão de todas as empresas do sector
empresarial do Estado;
c) elaborar relatórios consolidados sobre o desempenho do sector
empresarial do Estado;
d) adquirir e alienar, em representação do Estado, participações no capital
de sociedades e subscrever quaisquer outras participações financeiras, nos
termos da legislação aplicável;
e) designar e destituir os membros dos órgãos sociais.

ARTIGO 8
(Criação e competências da entidade)

1. É criada a entidade de gestão e coordenação do sector empresarial do


Estado.
2. São, em particular, competências da entidade gestora do sector
empresarial do Estado gerir e coordenar o sector empresarial do Estado.
3. Os poderes de gestão referidos no número 2, do presente artigo
compreendem:
a) controlar o desempenho económico-financeiro das empresas do sector
empresarial do Estado;
b) gerir as participações sociais e financeiras do Estado;
c) assegurar a implementação da Política e Estratégia do sector empresarial
do Estado;
d) propor programas de investimentos para o sector empresarial do Estado;
e) promover o desenvolvimento do capital humano do sector empresarial do
Estado;
f) propor instrumentos legais para o sector empresarial do Estado;
g) desenvolver acções de coordenação e assessoria relativa à gestão das
participações sociais;
h) elaborar estudos que visam a reestruturação das empresas do sector
empresarial do Estado;
i) outras competências nos termos da legislação aplicável.
4. Compete ao Conselho de Ministros definir a natureza, a organização, o
funcionamento e as competências da entidade gestora do sector empresarial
do Estado.

ARTIGO 9
(Funções das empresas do sector empresarial do Estado)

São funções das empresas do sector empresarial do Estado, nomeadamente:


a) implementar as estratégias traçadas pelo Governo para o sector
empresarial do Estado;
b) prestar serviços e actividades de interesse público;
c) desenvolver actividades comerciais, cuja viabilidade esteja comprovada
em estudos previamente desenvolvidos;
d) contribuir para o erário público.

CAPÍTULO II
Organização, Funcionamento e Competências

ARTIGO 10
(Órgãos estatutários)

1. Constituem órgãos estatutários das empresas:


a) a Assembleia Geral;
b) o Conselho de Administração;
c) o Conselho Fiscal;
d) as comissões especializadas.
2. A forma de funcionamento, a composição e a indicação dos membros dos
órgãos estatutários regem-se por regulamento específico.

ARTIGO 11
(Assembleia Geral)

A Assembleia Geral é o órgão deliberativo das empresas do sector


empresarial do Estado.
ARTIGO 12
(Competências da Assembleia Geral)

Compete à Assembleia Geral apreciar e deliberar sobre:


a) os planos plurianuais de actividade;
b) os planos anuais de actividades e os respectivos orçamentos;
c) os relatórios de gestão e as contas do exercício;
d) o parecer do Conselho Fiscal;
e) o relatório do Auditor Interno;
f) o relatório do Auditor Externo;
g) a gestão de risco fiscal;
h) o Contrato - Programa;
i) o pacote remuneratório e outras regalias dos titulares dos órgãos
estatutários, podendo delegar a apresentação e análise de propostas numa
comissão especializada;
j) o pacote remuneratório dos trabalhadores da respectiva empresa;
k) a política de dividendos;
l) as normas específicas de aquisição de bens e serviços e de abate do
património da empresa detida exclusivamente pelo Estado;
m) a ratificação da indicação do auditor externo;
n) o Regimento Interno do Conselho de Administração e os limites de
autorização de despesas e contracção de obrigações;
o) a aplicação de resultados de cada exercício económico;
p) outros assuntos que lhe sejam cometidos por lei, pelo Estatuto e demais
legislação aplicável;
q) o relatório das comissões especializadas;
r) qualquer outro assunto que o Conselho de Administração julgue
pertinente submeter à Assembleia Geral.

ARTIGO 13
(Conselho de Administração)

1. O Conselho de Administração é o órgão de gestão da empresa, constituído


por um número ímpar de membros, sendo um deles o Presidente.
2. Os membros do Conselho de Administração da empresa são designados
por mandato individual de quatro anos, podendo ser renovável.
3. A forma de designação dos membros do Conselho de Administração é
regulada pelo Conselho de Ministros.

ARTIGO 14
(Competências do Conselho de Administração)

Sem prejuízo do estabelecido na legislação aplicável, o Conselho de


Administração goza de poderes necessários para assegurar e controlar a
gestão corrente e o desenvolvimento da actividade da empresa, cabendo-
lhe nomeadamente:
a) implementar as políticas de gestão da empresa;
b) gerir os meios humanos, materiais e financeiros, respeitando a missão da
empresa;
c) elaborar e submeter à deliberação da Assembleia Geral, os planos de
actividade anual, plurianual e os respectivos orçamentos;
d) elaborar e submeter à deliberação da Assembleia Geral o relatório de
actividades e contas e a proposta de aplicação de resultados acompanhado
do parecer do Conselho Fiscal e do Relatório do Auditor Interno, do
Relatório do Auditor Externo e gestão de risco fiscal;
e) aprovar o Regulamento Interno da Empresa;
f) aprovar o quadro de pessoal da empresa;
g) constituir mandatários, definindo expressamente os seus poderes;
h) exercer quaisquer outras funções que lhe sejam cometidas por lei e pelos
Estatutos.

ARTIGO 15
(Competências do Presidente do Conselho de Administração)

Compete ao Presidente do Conselho de Administração:


a) executar e fazer cumprir a lei, as orientações estratégicas relativas à
gestão empresarial e da Assembleia Geral;
b) convocar e presidir as reuniões do Conselho de Administração e assegurar
o seu funcionamento;
c) coordenar a elaboração do plano anual, plurianual de actividades e
orçamento da empresa;
d) representar a empresa em juízo ou fora dele, activa e passivamente;
e) designar o seu substituto, de entre os membros do Conselho de
Administração, no caso de ausências ou impedimentos;
f) exercer quaisquer outras funções que lhe sejam cometidas por lei ou pelos
Estatutos.

ARTIGO 16
(Conselho Fiscal)

1. O Conselho Fiscal é o órgão de fiscalização da empresa, composto por três


membros, sendo um presidente e dois vogais, dos quais um contabilista ou
auditor certificados.
2. Os membros do Conselho Fiscal são designados pela Assembleia Geral.
3. As atribuições do Conselho Fiscal podem ser exercidas por uma firma de
auditoria ou contabilidade, distinta do auditor externo.
4. O mandato dos membros do Conselho Fiscal da empresa é de três anos.

ARTIGO 17
(Competências do Conselho Fiscal)

Sem prejuízo do estabelecido na legislação aplicável, ao Conselho Fiscal


compete:
a) examinar periodicamente a contabilidade da empresa e a execução do
orçamento;
b) analisar o relatório e contas da empresa e emitir parecer sobre os
mesmos;
c) acompanhar a execução dos planos de actividade anual e plurianual e
orçamento;
d) pronunciar-se sobre o grau de cumprimento do Contrato -Programa;
e) verificar se os actos dos diferentes órgãos da empresa estão conforme a
lei, estatutos e demais normas aplicáveis;
f) pronunciar-se sobre os relatórios da auditoria interna;
g) exercer quaisquer outras funções que lhe sejam cometidas por lei ou pelos
estatutos da empresa.

ARTIGO 18
(Comissões especializadas)

As Comissões especializadas são órgãos independentes do Conselho de


Administração que asseguram, de entre outras, o cumprimento das boas
práticas de gestão e governação corporativa das empresas do sector
empresarial do Estado, em matérias de remunerações, regalias, auditoria,
controlo interno, conformidade e gestão de risco.
CAPÍTULO III
Gestão

ARTIGO 19
(Responsabilidade civil, penal e disciplinar)

1. As empresas do sector empresarial do Estado respondem civilmente


perante terceiros pelos actos ou omissões dos seus administradores, nos
mesmos termos em que os comitentes respondem pelos actos ou omissões
dos comissários, nos termos da lei geral.
2. Os titulares dos órgãos de gestão das empresas respondem civilmente
pelos prejuízos causados resultantes do incumprimento dos seus deveres
legais ou estatutários.
3. O disposto nos números 1 e 2 do presente artigo não prejudica a
responsabilidade disciplinar e/ou penal que incorram os titulares dos órgãos
das empresas do sector empresarial do Estado.

ARTIGO 20
(Gestores Públicos)

1. São Gestores Públicos os membros dos órgãos de administração, com


funções executivas nas empresas do sector empresarial do Estado.
2. A forma de selecção, as atribuições, as condições de exercício do cargo e
o regime jurídico aplicável, regem-se pelo Estatuto do Gestor Público e por
outra regulamentação específica.

ARTIGO 21
(Contrato - Programa)

1. O Contrato - Programa é um acordo celebrado entre o Governo e a


empresa do sector empresarial do Estado que visa garantir a cobertura dos
custos da componente social do serviço público a prestar, a ser aprovado
pelo Ministro que superintende a área de finanças.
2. O Contrato - Programa deve conter a fixação dos critérios de
determinação de subvenções do Orçamento do Estado e sua correlação com
os objectivos e metas programadas.
ARTIGO 22
(Estatuto de utilidade pública)

1. À empresa que explore serviços públicos e assegure actividades de


interesse público, pode ser atribuído pelo Conselho de Ministros, o estatuto
de utilidade pública e concedidos privilégios especiais.
2. Os critérios e condições de atribuição do estatuto de utilidade pública e
de privilégios especiais referidos no número 1, do presente artigo, são
regulados pelo Conselho de Ministros.

ARTIGO 23
(Sujeição às regras de concorrência)

1. As empresas que integram o sector empresarial do Estado sujeitam-se às


regras gerais de livre concorrência.
2. O disposto no número 1, do presente artigo, não prejudica a criação de
regimes derrogatórios especiais, devidamente justificados, sempre que a
aplicação das normas gerais de concorrência sejam susceptíveis de frustrar,
de direito ou de facto, as missões confiadas às empresas do sector
empresarial do Estado incumbidas da gestão de serviços de interesse
público ou que apoiem a gestão do património do Estado.

ARTIGO 24
(Controlo financeiro e gestão de risco)

1. As empresas do sector empresarial do Estado estão sujeitas ao controlo


financeiro, ao controlo interno, à auditoria externa e à gestão de risco, nos
termos a regulamentar.
2. O controlo financeiro compreende, designadamente, a análise da
sustentabilidade e a avaliação da legalidade, da economia, da eficiência, da
eficácia da gestão e das medidas concretas de prevenção e gestão de risco
fiscal e dos limites de endividamento.
3. No âmbito do controlo e supervisão financeira, as empresas devem
submeter o relatório do desempenho económico e financeiro à entidade que
gere e coordena o sector empresarial do Estado.

ARTIGO 25
(Aquisição de bens e serviços)

A aquisição de bens e serviços por empresas do sector empresarial do


Estado rege-se por concurso público e nos termos a regulamentar nos
estatutos da empresa, devendo observar de entre os demais princípios de
direito público aplicáveis, os seguintes:
a) legalidade;
b) economicidade;
c) proporcionalidade;
d) prossecução do interesse público;
e) transparência;
f) publicidade;
g) concorrência;
h) imparcialidade;
i) responsabilidade;
j) celeridade.
ARTIGO 26
(Endividamento)

1. Sem prejuízo das competências específicas do Ministro que superintende


a área de finanças, o endividamento ou a assunção pelas empresas do sector
empresarial do Estado de responsabilidades de natureza similar, incluindo a
emissão de títulos de dívida comercial, deve ser aprovado pela Assembleia
Geral.
2. Excepcionalmente, o endividamento a curto prazo destinado ao apoio à
tesouraria é aprovado pelo Conselho de Administração.
3. Os termos e condições para endividamento, de médio e longo prazo,
regem-se por regulamentação específica.

ARTIGO 27
(Instrumentos de gestão)

1. As empresas do sector empresarial do Estado devem, no âmbito da sua


gestão, adoptar, entre outros, os seguintes instrumentos:
a) Plano de negócios;
b) Plano anual de actividade e orçamento;
c) Orçamento anual de exploração para as empresas públicas;
d) Matriz de desempenho económico-financeiro, que prevê os objectivos e
metas da empresa;
e) Política anti - corrupção;
f) Código de Ética;
g) Manual de Procedimentos Administrativos e Financeiros.
2. Os instrumentos de gestão referidos no número 1, do presente artigo, são
aprovados pela Assembleia Geral.
ARTIGO 28
(Auditoria)

1. A empresa do sector empresarial do Estado deve criar um órgão de


auditoria interna.
2. As contas das empresas do sector empresarial do Estado devem ser
obrigatoriamente objecto de auditoria externa, a ser feita por auditores
independentes, sem prejuízo das competências próprias do Conselho Fiscal
e do órgão de auditoria interna.

ARTIGO 29
(Relatório e Contas)

1. As empresas devem elaborar anualmente o Relatório e Contas do exercício


auditadas e submeter à aprovação da Assembleia Geral, dentro dos prazos
legais.
2. O Relatório e Contas deve conter:
a) o balanço e contas consolidadas, sempre que aplicável;
b) o relatório de actividades;
c) a demonstração de fluxo de caixa;
d) a demonstração de resultados;
e) a demonstração das variações dos capitais próprios;
f) as notas às demonstrações financeiras;
g) o parecer do Conselho Fiscal;
h) o relatório de gestão de riscos;
i) o relatório do Auditor externo.
3. A empresa que, por razões determinadas pelo tipo de actividade que
exerce, tenha sido autorizada, nos termos da legislação fiscal aplicável, a
adoptar período anual diferente, deve apresentar demonstrações financeiras
intercalares que permitam a elaboração das demonstrações financeiras
agregadas do sector empresarial do Estado.
4. Após aprovação, o Relatório e Contas devem ser publicados nos jornais
de maior circulação e/ou na página do sítio da Internet da empresa, até 30
dias a contar da data de aprovação pela Assembleia Geral.
5. O disposto no presente artigo não prejudica qualquer das disposições da
legislação fiscal aplicável.

ARTIGO 30
(Consolidação das contas)

1. A entidade gestora do sector empresarial do Estado deve apresentar e


publicar o balanço económico-financeiro consolidado.
2. Para o efeito do número 1, do presente artigo, as empresas devem
submeter à entidade gestora do sector empresarial do Estado os relatórios
e contas anuais.

ARTIGO 31
(Regime laboral)

Aos trabalhadores das empresas que integram o sector empresarial do


Estado é aplicável a Lei do Trabalho.

ARTIGO 32
(Destacamento)

1. Podem exercer funções nas empresas do sector empresarial do Estado, em


regime de destacamento, funcionários do aparelho de Estado, nos termos do
Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado e demais legislação
aplicável.
2. Os funcionários destacados nos termos do número 1 do presente artigo
não podem ser prejudicados nos seus direitos inerentes ao quadro de
origem.
ARTIGO 33
(Regime fiscal)

Às empresas que integram o sector empresarial do Estado aplica-se o regime


fiscal geral.

ARTIGO 34
(Contabilidade)

A contabilidade das empresas que integram o sector empresarial do Estado


deve ser organizada nos termos do Plano Geral de Contabilidade e demais
legislação aplicável.

ARTIGO 35
(Tribunal competente)

1. Salvo o disposto no número 2, do presente artigo, compete aos tribunais


judiciais o julgamento de todos os litígios em que sejam parte as empresas
do sector empresarial do Estado, incluindo as acções para efectivação da
responsabilidade civil por actos dos seus órgãos, bem como a apreciação da
responsabilidade civil dos seus titulares para com as respectivas empresas.
2. As empresas que integram o sector empresarial do Estado podem, para
efeitos de resolução de litígios, recorrer à arbitragem, nos termos da
legislação aplicável.

CAPÍTULO IV
Empresas Públicas

ARTIGO 36
(Definição)

Empresa pública é a entidade detida exclusivamente pelo Estado.

ARTIGO 37
(Criação e estatutos)

1. São requisitos para a criação de uma empresa pública, a prossecução de


objectivos estratégicos ou estruturantes.
2. A Empresa Pública é criada pelo Conselho de Ministros que aprova os
respectivos estatutos.
3. A empresa pública deve adoptar uma denominação que reflicta o objecto
da sua actividade, seguida das palavras, Empresa Pública, ou das iniciais, E.
P.
ARTIGO 38
(Património)

1. O património da empresa pública é constituído pelos bens e direitos


recebidos ou adquiridos para o exercício da sua actividade, que os
administra, observando a legislação aplicável.
2. A empresa pública administra, ainda, os bens do domínio público do
Estado afectos às actividades a seu cargo, devendo manter o respectivo
cadastro actualizado.
3. Pelas dívidas da empresa pública respondem apenas os activos que
integram o respectivo património, desde que não sejam do domínio público.

ARTIGO39
(Capital estatutário)

1. O capital estatutário da empresa pública, bem como as condições da sua


realização, são fixados pelo respectivo decreto de criação.
2. As dotações adicionais e outras realizações patrimoniais do Estado e das
demais entidades públicas destinadas a reforçar os capitais próprios das
empresas públicas devem ser escrituradas, nos termos a regulamentar.

ARTIGO 40
(Receitas e rendimentos)

Constituem receitas e rendimentos da empresa pública:


a) as receitas resultantes da sua actividade;
b) os rendimentos dos activos sob sua administração;
c) o produto da alienação de bens próprios e da constituição de direitos
sobre eles;
d) as comparticipações e as dotações do Estado ou de outras entidades
públicas;
e) as doações, heranças, legados, rendimentos ou outras que lhe forem
consignadas por lei.

ARTIGO 41
(Extinção)

1. A extinção de uma empresa pública pode visar a reorganização das


respectivas actividades, mediante a sua cisão ou a fusão com outras, ou
destinar-se a pôr termo a tais actividades, sendo então seguida da liquidação
do respectivo património.
2. A extinção de empresa pública é determinada por decreto do Conselho
de Ministros.

ARTIGO 42
(Fusão)

1. Duas ou mais empresas públicas podem fundir-se numa só.


2. A fusão pode realizar-se por incorporação de uma ou mais empresas
noutra, para a qual se transferem globalmente os patrimónios daquelas, ou
mediante a criação de uma nova empresa, que recebe o património das
empresas fundidas, com todos os direitos e obrigações que as integram.
3. Compete ao Conselho de Ministros aprovar a fusão das empresas públicas.
4. O decreto que aprova a fusão de empresas públicas deve determinar as
alterações a introduzir nos Estatutos da empresa incorporante ou aprovar os
Estatutos da nova empresa resultante da fusão.

ARTIGO 43
(Cisão)

1. Uma empresa pública pode ser extinta e o seu património dividido,


podendo, cada uma das partes resultantes da cisão, vir a constituir uma nova
empresa pública, salvo se outro destino for determinado.
2. A cisão da empresa pública é determinada por decreto do Conselho de
Ministros, devendo indicar os bens, os direitos e as obrigações da empresa
cindida que se transferem para a nova ou novas empresas.

ARTIGO 44
(Personalidade das empresas em liquidação)

Decretada a extinção da empresa pública, esta mantém a sua personalidade


jurídica para efeitos de liquidação até à aprovação final das contas de
liquidação e após a observância do disposto nos artigos 57 e 58 da presente
Lei.

ARTIGO 45
(Nomeação de liquidatários)

O Decreto que extingue a empresa pública e determina a sua liquidação deve


nomear os liquidatários com poderes necessários para liquidar o património
da empresa extinta, incluindo os de venda de bens imobiliários sem
precedência de qualquer autorização, respeitado que seja o destino
assinalado a todos ou alguns bens pelo diploma de extinção.

ARTIGO 46
(Verificação do passivo)

1. O Decreto de extinção da empresa pública deve fixar o prazo, não superior


a quatro meses, durante o qual os credores da empresa podem reclamar os
seus créditos.
2. Os credores devem ser avisados da liquidação por anúncios publicados
num dos jornais de maior circulação no País, ou ainda, se os seus créditos
constarem de quaisquer livros ou documentos da empresa ou forem de outro
modo conhecidos os respectivos endereços, por carta registada com aviso
de recepção.
3. Os liquidatários devem elaborar uma relação dos créditos reclamados,
graduados em conformidade com a lei geral, que deve estar patente para
exame dos credores, durante o prazo marcado pelos liquidatários, mas
nunca inferior a 20 dias.
4. Os credores cujos créditos não hajam sido reconhecidos pelos
liquidatários e incluídos na relação referida no número 3, do presente artigo,
ou que não hajam sido graduados em conformidade com a lei, podem
recorrer aos tribunais comuns para fazer valer os seus direitos.
5. No caso de o tribunal reconhecer os direitos invocados pelos credores,
devem os liquidatários introduzir na relação por eles elaborada as
correspondentes alterações.

ARTIGO 47
(Realização do activo)

1. Compete aos liquidatários realizar o activo, vendendo os bens que não


sejam do domínio público e, procedendo à cobrança dos créditos da
empresa.
2. No Decreto que determina a extinção e liquidação da empresa pública,
podem ser indicados os bens ou direitos cuja titularidade o Estado reserve
para si ou afecte a outros destinos, os quais devem ser avaliados, ficando o
Estado obrigado a restituir ao património em liquidação a importância
determinada pela avaliação, podendo ainda fazer-se a compensação com
créditos do Estado graduados em primeiro lugar.
3. A avaliação a que se refere o número 2, do presente artigo, pode ser feita:
a) por um avaliador independente indicado pela Assembleia Geral, mediante
concurso;
b) por uma comissão constituída por três membros, sendo dois designados
pela Assembleia Geral e o outro pelos credores.

ARTIGO 48
(Pagamento aos credores)

1. Finda a verificação do passivo e realizado o activo da empresa pública,


devem os credores ser pagos de acordo com a graduação de créditos,
estabelecida nos termos da lei.
2. Mostrando-se insuficiente o produto da realização do activo para
pagamento aos credores comuns, estes devem ser pagos de forma rateada.
3. Se, após o pagamento de todo o passivo relacionado, for apurado um
saldo, este deve ser entregue ao Tesouro do Estado, se o diploma de
extinção não tiver atribuído outro destino.
4. Encerradas as operações de liquidação, devem os liquidatários apresentar
as respectivas contas para aprovação da Assembleia Geral.

ARTIGO 49
(Força executiva dos documentos)

Os documentos emitidos pela empresa pública, em conformidade com a sua


escrita, servem sempre de título executivo contra quem se mostrar devedor,
para com a referida empresa.
CAPÍTULO V
Empresas Participadas

ARTIGO 50
(Definição)

1. Considera-se empresa participada pelo Estado a sociedade constituída nos


termos do Código Comercial e assume a forma de sociedade anónima ou por
quotas.
2. A empresa participada pode ser:
a) exclusivamente participada pelo Estado;
b) maioritariamente participada pelo Estado;
c) minoritariamente participada pelo Estado.
3. A presente Lei não se aplica à forma de participação prevista na alínea c),
do número 2 do presente artigo.
ARTIGO 51
(Constituição de sociedades e aquisição de participações)

Compete ao Conselho de Ministros autorizar a constituição de sociedades e


aquisição de participações, mediante estudo de viabilidade técnica,
económica, financeira, social e ambiental.

ARTIGO 52
(Património)

1. O património da empresa participada pertence à sociedade e é constituído


pelos bens e direitos recebidos ou adquiridos para o exercício da sua
actividade, que os administra, observando a legislação aplicável.
2. Pelas dívidas da empresa participada respondem apenas os activos que
integram o respectivo património, na proporção da participação accionista.

ARTIGO 53
(Capital social)

O capital social da empresa participada, bem como as condições da sua


realização, são fixados nos estatutos da sociedade.

ARTIGO 54
(Dissolução)

A dissolução da empresa participada pode acontecer, de entre outros, nos


seguintes casos:
a) deliberação dos sócios;
b) suspensão da actividade por um período superior a três anos;
c) decisão da autoridade competente, quando a sua constituição dependa
da autoridade governamental para funcionar;
d) fusão com outras sociedades;
e) falência;
f) sentença judicial.

ARTIGO 55
(Personalidade das empresas em liquidação)

Decretada a dissolução e liquidação da empresa participada, esta mantém a


sua personalidade jurídica, para efeitos de liquidação até à aprovação final
das contas de liquidação e após a observância do disposto nos artigos 42 e
43 da presente Lei.

ARTIGO 56
(Nomeação de liquidatários)

Os accionistas devem nomear liquidatários com poderes necessários para


liquidar o património da empresa dissolvida, incluindo os de venda de bens
imobiliários, respeitado que seja o destino assinalado a todos ou alguns
bens pela deliberação da Assembleia Geral.

ARTIGO 57
(Verificação do passivo)

1. A deliberação da Assembleia Geral da empresa participada deve fixar o


prazo, não superior a dois meses, durante o qual os credores da empresa
podem reclamar os seus créditos.
2. Os credores devem ser avisados da liquidação por anúncios publicados
num dos jornais de maior circulação no País, ou ainda, se os seus créditos
constarem de quaisquer livros ou documentos da empresa ou forem de outro
modo conhecidos os respectivos endereços, por carta registada com aviso
de recepção.
3. Os liquidatários devem elaborar uma relação dos créditos reclamados
graduados em conformidade com a lei geral, que deve estar patente para
exame dos credores durante o prazo marcado pelos liquidatários, mas nunca
inferior a 20 dias.
4. Os credores cujos créditos não hajam sido reconhecidos pelos
liquidatários e incluídos na relação referida no número 3, do presente artigo,
ou que não hajam sido graduados em conformidade com a lei, podem
recorrer aos tribunais comuns para fazer valer os seus direitos.
5. No caso de o tribunal reconhecer os direitos invocados pelos credores,
devem os liquidatários introduzir na relação por eles elaborada as
correspondentes alterações.

ARTIGO 58
(Realização do activo)

Compete aos liquidatários realizar o activo, vendendo os bens e procedendo


à cobrança dos créditos da empresa.
ARTIGO 59
(Pagamento aos credores)

1. Finda a verificação do passivo e realizado o activo da empresa, devem os


credores ser pagos de acordo com a graduação de créditos, estabelecida
nos termos da lei.
2. Mostrando-se insuficiente o produto da realização do activo para
pagamento aos credores comuns, estes devem ser pagos de forma rateada.
3. Se, após o pagamento de todo o passivo relacionado, for apurado um
saldo, este deve ser entregue aos accionistas, na proporção da sua
participação social, se a deliberação da dissolução e liquidação não tiver
atribuído outro destino.
4. Encerradas as operações de liquidação, devem os liquidatários apresentar
as respectivas contas para aprovação da Assembleia Geral.

CAPÍTULO VI
Disposições Finais e Transitórias

ARTIGO 60
(Regulamentação)

Compete ao Conselho de Ministros regulamentar a presente Lei, no prazo de


180 dias, após a data da sua publicação.

ARTIGO 61
(Regime transitório)

As empresas têm um prazo de 180 dias para conformarem-se com as


disposições da presente Lei, a contar da data da publicação do respectivo
regulamento.

ARTIGO 62
(Transformação das empresas estatais)

Compete ao Conselho de Ministros transformar as actuais Empresas Estatais


em Empresas Públicas ou Empresas Participadas pelo Estado.

ARTIGO 63
(Norma Revogatória)

São revogadas a Lei n.° 2/81, de 30 de Setembro, que cria as Empresas


Estatais, a Lei n.º 6/2012, de 8 de Fevereiro, Lei das Empresas Públicas e
demais legislação que contrarie a presente Lei.
ARTIGO 64
(Entrada em vigor)

A presente Lei entra em vigor 180 dias, após a sua publicação.


Aprovada pela Assembleia da República, aos 4 de Abril de 2018.
A Presidente da Assembleia da República, Verónica Nataniel Macamo
Dlhovo.
Promulgada, aos 11 de Junho de 2018.
Publique-se.
O Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi.
Havendo necessidade de regulamentar o regime jurídico aplicável ao Sector
Empresarial do Estado, aprovado pela Lei n.º 3/2018, de 19 de Junho, ao
abrigo do artigo 60 da mesma Lei, o Conselho de Ministros decreta:

ARTIGO 1

É aprovado o Regulamento da Lei n.º 3/2018, de 19 de Junho, que Estabelece


os Princípios e Regras Aplicáveis ao Sector Empresarial do Estado, em
anexo, que é parte integrante do presente Decreto.

ARTIGO 2

O presente Decreto entra em vigor na data da sua publicação.


Aprovado pelo Conselho de Ministros, aos 12 de Fevereiro de 2019.
Publique-se.
O Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário.
Regulamento da Lei que Estabelece os Princípios e Regras Aplicáveis ao
Sector Empresarial do Estado.

CAPÍTULO I
Disposições Gerais

SECÇÃO I
Objecto e âmbito

ARTIGO 1
(Objecto)

O presente Regulamento estabelece as normas que visam assegurar a


implementação da Lei n.º 3/2018, de 19 de Junho, que estabelece os
princípios e regras aplicáveis ao Sector Empresarial do Estado.

ARTIGO 2
(Âmbito de Aplicação)

O presente Regulamento aplica-se a todo o Sector Empresarial do Estado,


abreviadamente designado por SEE, nos termos definidos na respectiva Lei.
SECÇÃO II
Empresas do Sector Empresarial do Estado

ARTIGO 3
(Definição)

Constituem empresas do Sector Empresarial do Estado, todas unidades


produtivas e comerciais do Estado, organizadas e geridas de forma
empresarial, integrando as empresas públicas e as empresas exclusivas ou
maioritariamente participadas pelo Estado.

ARTIGO 4
(Constituição de empresas)

1. A constituição de empresas do SEE carece de autorização do Conselho de


Ministros, sob proposta do ministro que superintende a área de economia.
2. A autorização referida no número anterior é concedida mediante parecer
da entidade que gere e coordena o SEE, fundamentado em estudo de
viabilidade técnica, económica e financeira.
3. O Ministro que superintende a área de economia fixa, por Diploma
Ministerial, os parâmetros a utilizar para efeitos de determinação da
viabilidade económica e financeira da empresa a constituir, com base em
indicadores objectivos e quantificáveis, tendo em conta a actividade
específica a desenvolver.

ARTIGO 5
(Aquisição e alienação de participações sociais)

1. A aquisição ou alienação de participações sociais pelas empresas do SEE


carece de autorização do Conselho de Ministros, sob proposta do Ministro
que superintende a área de economia.
2. Para efeitos do disposto no n.º 1 do presente artigo, o pedido de
autorização deve ser acompanhado por um estudo demonstrativo do
interesse e da viabilidade da operação pretendida.
3. A autorização a que se refere o n.º 1 do presente artigo é antecedida de
parecer prévio da entidade que gere e coordena o SEE.

ARTIGO 6
(Falta de autorização)

1. A falta da autorização referida no artigo anterior do presente Regulamento


determina a nulidade de todos os actos ou negócios relativos à constituição
de empresas e à aquisição ou alienação de participações sociais.
2. Os casos de nulidade previstos no número anterior determinam
responsabilidade civil, penal e financeira a que haja lugar, nos termos da
legislação aplicável.
CAPÍTULO II
Organização, Funcionamento e Competências

SECÇÃO I
Assembleia Geral

ARTIGO 7
(Natureza, composição e competências)

1. A Assembleia Geral é o órgão deliberativo das empresas do SEE.


2. A Assembleia Geral é constituída pelos detentores do capital estatutário.
3. Para além do disposto no n.º 2 anterior, nas Assembleias Gerais das
empresas públicas participam os representantes dos ministérios ou
entidades que superintendem o sector de actividade que integra o objecto
da empresa, a serem indicados pelo ministro do sector.
4. As competências da Assembleia Geral são as previstas na Lei n.º 3/2018,
de 19 de Junho, e nos estatutos da empresa.

ARTIGO 8
(Funcionamento)

1. A Assembleia Geral reúne-se ordinariamente duas vezes ao ano, para


deliberar sobre:
a) Questões estratégicas da empresa;
b) Plano anual de Actividades e Orçamento;
c) O Relatório e Contas;
d) A aplicação de Resultados;
e) A eleição e destituição dos membros dos órgãos estatutários, sem
prejuízo do disposto no n.º 1 do artigo 12;
f) Outras matérias que sejam especialmente atribuídas por lei e pelos
estatutos, e que não estejam por disposição legal ou estatutárias
compreendidas na competência de outros órgãos da empresa.
2. Sempre que se mostre necessário, a Assembleia Geral, pode reunir
extraordinariamente para deliberar sobre matérias de interesse dos
accionistas ou da empresa.
3. A Assembleia Geral pode deliberar sobre a propositura de acções de
responsabilidade contra os membros do Conselho de Administração e sobre
a destituição daqueles que a Assembleia Geral considere responsáveis por
actos ou omissões que tenham causado danos à empresa, mesmo quando
esta matéria não conste da ordem de trabalhos.
4. As reuniões da Assembleia Geral são convocadas pelo Presidente da
respectiva Mesa, nos termos e nos prazos fixados estatutariamente, com a
excepção da convocatória para a primeira Assembleia Geral, que cabe aos
sócios.
5. Se o Presidente da Mesa não convocar a reunião da Assembleia Geral,
quando deva legalmente fazê-lo, pode o Conselho de Administração, o
Conselho Fiscal ou os sócios que a tenham requerido, convocá-la
directamente.
6. As restantes normas relativas ao funcionamento da Assembleia Geral
constam dos estatutos da empresa.
SECÇÃO II
Conselho de Administração

ARTIGO 9
(Natureza e composição)

1. O Conselho de Administração é o órgão de gestão da empresa.


2. Este órgão será constituído por um número ímpar de membros, com um
máximo de sete membros, sendo um deles o Presidente.
3. O Conselho de Administração é executivo, podendo integrar membros não
executivos.
4. O número de membros do Conselho de Administração, incluindo o
Presidente, varia em função da natureza, dimensão e complexidade da
empresa.
5. Compete à entidade que gere e coordena o SEE determinar o número de
membros do Conselho de Administração de cada empresa.

ARTIGO 10
(Eleição)

1. Os membros do Conselho de Administração são eleitos em Assembleia


Geral, sob proposta dos accionistas ou detentor do capital estatutário,
harmonizado com os sectores afins.
2. Exceptua-se do disposto no número anterior, o Presidente do Conselho de
Administração da Empresa Pública.

ARTIGO 11
(Mandato)

1. Os membros do Conselho de Administração são designados por mandato


individual de quatro anos, podendo ser renovável.
2. O mandato dos membros do Conselho de Administração inicia com a
tomada de posse.
3. Sem prejuízo do disposto no n.º 1 do presente artigo, outro prazo mais
curto pode ser fixado pelo termo de posse, em situaçoes de substituição,
intervenção, conveniência de serviço, de entre outras.
4. Os membros do Conselho de Administração, com funções executivas e
não executivas nas empresas do SEE, devem assinar com a entidade que
gere e coordena o SEE o contrato de mandato inerente às funções que
exercem.

ARTIGO 12
(Funcionamento do Conselho de Administração)

1. O Conselho de Administração reúne mensalmente e sempre que se mostrar


necessário, quando convocado pelo Presidente ou por solicitação de dois
dos seus membros.
2. As convocatórias são feitas por escrito, devendo incluir a ordem de
trabalhos e todos os elementos de suporte necessários.
3. O Conselho de Administração reúne-se na sede da empresa, podendo,
sempre que o Presidente o entender conveniente, reunir em qualquer outro
local, dentro do território nacional.
4. O Conselho de Administração delibera estando presente mais de metade
dos seus membros, sendo as respectivas deliberações tomadas por maioria
de votos dos membros presentes.
5. As deliberações do Conselho de Administração são tomadas de forma
colegial, tendo o Presidente do Conselho de Administração voto de
qualidade.

ARTIGO 13
(Presidente do Conselho de Administração)

1. O Presidente do Conselho de Administração da Empresa Pública é


executivo, sendo nomeado pelo Conselho de Ministros, sob proposta do
ministro do sector de actividade em que a empresa se insere, ouvido o
ministro que superintende a área de economia.
2. O Presidente do Conselho de Administração da Empresa Participada é
executivo, sendo eleito pela Assembleia Geral.
3. O Presidente do Conselho de Administração assina o contrato de gestão
com a entidade que gere e coordena o SEE ou com os accionistas, em nome
do Conselho de Administração.

ARTIGO 14
(Competências do Presidente do Conselho de Administração)

Compete ao Presidente do Conselho de Administração:


a) Executar e fazer cumprir a Lei, as orientações estratégicas relativas à
gestão empresarial e da Assembleia Geral;
b) Avaliar o desempenho dos membros do Conselho de Administração, em
função das metas previamente estabelecidas;
c) Convocar e presidir as reuniões do Conselho de Administração e assegurar
o seu funcionamento;
d) Coordenar a elaboração do plano anual, plurianual de actividades e
orçamento da empresa;
e) Representar a empresa em juízo ou fora dele, activa e passivamente;
f) Designar o seu substituto, de entre os membros do Conselho de
Administração, no caso de ausências ou impedimentos;
g) Exercer quaisquer outras funções que lhe sejam cometidas por lei ou pelos
Estatutos.

SECÇÃO III
Conselho Fiscal

ARTIGO 15
(Fiscalização)

1. A fiscalização da empresa compete a um Conselho Fiscal ou uma


sociedade de auditores de contas.
2. Um dos membros do Conselho Fiscal deve ser auditor de contas
ajuramentado.
3. A natureza, composição e designação dos membros do Conselho Fiscal
das empresas do SEE, bem como as respectivas atribuições, constam da Lei
n.º 3/2018, de 19 de Junho.
4. No exercício das funções, os membros do Conselho Fiscal das empresas
do Sector Empresarial do Estado observam-se as incompatibilidades e
impedimentos previstos na legislação aplicável.
5. Os membros do Conselho Fiscal devem possuir comprovados
conhecimentos e experiência nas áreas de contabilidade e auditoria, gestão
de empresas e ou jurídicas.

ARTIGO 16
(Funcionamento)

1. O Conselho Fiscal reúne-se ordinariamente, pelo menos uma vez por


trimestre e extraordinariamente sempre que convocado pelo seu Presidente,
por sua iniciativa, por solicitação da maioria dos seus membros ou a pedido
do Conselho de Administração.
2. Os membros do Conselho Fiscal, por iniciativa própria, podem solicitar ao
Presidente do Conselho de Administração, a sua participação nas reuniões
do Conselho de Administração ou convocá-lo para obter os esclarecimentos
pertinentes.
3. As deliberações do Conselho Fiscal são tomadas por maioria dos votos
expressos, desde que esteja presente a maioria dos membros em exercício
incluindo o Presidente, tendo este, voto de qualidade.
4. O parecer do Conselho Fiscal relativamente a conformidade do Relatório
e Contas do exercício deve ser assinado por todos os membros, expressando
o seu posicionamento.

CAPÍTULO III
Gestão

SECÇÃO I
Contrato-Programa

ARTIGO 17
(Objecto)

1. O contrato-programa é um acordo celebrado entre o Governo e a Empresa


do SEE, que visa garantir a cobertura dos custos da componente social do
serviço público a prestar, a ser aprovado pelo ministro que superintende a
área de finanças.
2. Cabe à empresa do SEE apresentar à entidade gestora e coordenadora do
SEE a proposta de contrato-programa, para sua apreciação, harmonizado
com o sector ou entidade em que a actividade se insere, devendo ser
submetida à assinatura do Ministro que superintende a área de finanças, no
início do exercício económico.
ARTIGO 18
(Disposições Obrigatórias)

1. O contrato-programa deve, de uma forma geral, conter a fixação dos


critérios de determinação de subvenções do Orçamento do Estado e sua
coordenação com os objectivos e metas estabelecidas.
2. O contrato-programa deve conter, especificamente, de entre outras, as
seguintes disposições:
a) Identificação das partes outorgantes, cargo que ocupa e instituições que
representa;
b) Objecto do contrato;
c) Período de vigência, que não deve ser superior a quatro anos;
d) Missão, objectivos, princípios gerais de actuação e orientações
estratégicas da empresa;
e) Indicação das metas a serem alcançadas no período de vigência do
contrato e dos indicadores de cumprimento de tais metas;
f) Fontes de financiamento do projecto;
g) Mecanismos de prestação de contas;
h) Obrigações das partes, incluindo as obrigações financeiras do Estado
naquelas situações em que as empresas tenham que desenvolver actividades
não sustentáveis;
i) Penalização relativa ao incumprimento das metas;
j) Outras informações que se julgarem relevantes, relacionadas com a
actividade da empresa.
3. As empresas devem reportar anualmente à entidade que gere e coordena
o SEE a implementação do Contrato-programa e/ou sempre que se
verifiquem alterações significativas do seu desempenho.

ARTIGO 19
(Aditamento)

1. Pode ocorrer o aditamento ao contrato-programa por decisão das partes,


com vista ao ajustamento à conjuntura económica e financeira, tendo em
conta a evolução real dos pressupostos assumidos e por outros motivos
ponderosos devidamente fundamentados.
2. É vedada a modificação do objecto do contrato-programa.

SECÇÃO II
Regras de Concorrência

ARTIGO 20
(Sujeição às Regras de Concorrência)

1. As empresas que integram o SEE sujeitam-se às regras gerais de livre


concorrência.
2. O disposto no número anterior não prejudica a criação de regimes
derrogatórios especiais com vista a garantir a sustentabilidade, conteúdo
local e soberania.
3. Os regimes derrogatórios especiais serão adoptados casuisticamente e
devem ser observados os procedimentos previstos na Lei n.º 10/2013, de 11
de Abril, que estabelece o regime jurídico da concorrência no exercício das
actividades económicas.

SECÇÃO III
Instrumentos de Gestão

ARTIGO 21
(Adopção)

1. As empresas do sector empresarial do Estado devem, no âmbito da sua


gestão, adoptar, entre outros, os seguintes instrumentos:
a) Plano de negócios;
b) Plano anual de actividades e orçamento;
c) Orçamento anual de exploração para as empresas públicas;
d) Matriz de desempenho económico-financeiro, que prevê os objectivos e
metas da empresa;
e) Política Anticorrupção;
f) Código de Ética;
g) Manual de Procedimentos Administrativos e Financeiros.
2. Os instrumentos de gestão referidos no n.º 1 do presente artigo são
aprovados pela Assembleia Geral.

ARTIGO 22
(Articulação)

1. Sem prejuizo do disposto na alínea a) do n.º 3 do arti- go 7 da Lei n.º


3/2018, de 19 de Junho, os instrumentos de gestão previstos nas alíneas a),
b) e c) do n.º 1 do artigo 21 do presente Regulamento, devem ser articulados
e harmonizados com os ministérios sectoriais onde as empresas se
encontram inseridas.
2. A articulação e a harmonização referidas no número anterior devem ser
prévia à realização da Assembleia Geral.

SECÇÃO IV
Controlo Financeiro e Prestação de Contas

ARTIGO 23
(Mecanismos de Controlo)

1. As empresas do SEE estão sujeitas ao Controlo Financeiro, Controlo


Interno, Auditoria Externa e Gestão do Risco.
2. As empresas do SEE devem adoptar procedimentos de controlo interno e
auditoria interna que assegurem um nível alto de qualidade e fiabilidade e
regularidade das contas e demais informação financeira.
ARTIGO 24
(Controlo Financeiro)

1. As empresas do sector empresarial do Estado devem elaborar os


instrumentos de controlo financeiro e submeter anualmente à entidade que
gere e coordena o sector empresarial do Estado e ao Ministro sectorial,
nomeadamente os seguintes documentos:
a) Os planos de actividade anuais e plurianuais;
b) Orçamentos anuais, incluindo a estimativa das operações financeiras com
o Estado;
c) Plano anual de endividamento;
d) Relatórios financeiros, incluindo o Balanço, a Demonstração de
Resultados e o Mapa do Fluxo de Caixa acompanhados dos respectivos
anexos e do relatório do órgão de fiscalização;
e) Relatórios do Conselho de Administração, que deve incluir dentre outras:
i) a análise das actividades realizadas, relatando a forma como foram
atingidos os objectivos da Empresa;
ii) nível de execução orçamental;
iii) execução do contrato-programa;
iv) informação detalhada dos emprestimos, incluindo os termos dos
empréstimos, credor, maturidade.
f) Quaisquer outras informações e documentos solicitados para o
acompanhamento da situação e da empresa e da sua actividade com vista
designadamente a assegurar a boa gestão dos fundos públicos e a evolução
da sua situação económico-financeira.
2. Os documentos referidos no número anterior deverão ser enviados ao
Ministro que superintende a área de finanças, para a sua aprovação no prazo
de 30 (trinta) dias após a sua recepção.
3. Os documentos a que se referem as alíneas a) e b) do n.º 1 anterior, devem
ser elaborados e submetidos à aprovação do Ministro que superintende a
área de finanças até 20 de Dezembro do ano anterior a que dizem respeito.
4. Os documentos a que se referem as alíneas c) e d) do n.º 1 anterior, devem
ser elaborados e submetidos à aprovação do Ministro que superintende a
área de finanças até 31 de Março do ano seguinte.

ARTIGO 25
(Controlo Interno)

1. As empresas do sector empresarial do Estado devem ter,


obrigatoriamente, um sector de controlo interno, sem prejuízo das
competências próprias do Conselho Fiscal e de outros sectores de controlo
interno e externo.
2. Ao sector de controlo interno cabe, em geral, fazer o controlo dos
procedimentos institucionais internos, cabendo-lhe, em particular:
a) Analisar processos, rotinas, organização do trabalho e controlos
operacionais, visando identificar oportunidades para melhorar a
produtividade e eficiência do trabalho, através de sugestões e orientação às
diversas áreas da empresa;
b) Verificar os livros contabilísticos, fiscais e auxiliares da empresa,
examinando os registos efectuados, para apurar a correspondência dos
lançamentos com os documentos que lhes deram origem;
c) Investigar as operações contabilísticas e financeiras realizadas,
verificando cheques, recibos, facturas, notas fiscais e outros documentos,
para comprovar a exactidão das mesmas;
d) Analisar os custos dos impostos, visando identificar oportunidades para
redução da carga tributária;
e) Orientar e supervisionar a movimentação de materiais e os inventários
para confronto dos dados físicos com os controlos internos e a
contabilidade;
f) Orientar e supervisionar a realização de auditorias na área operacional,
verificando os registos do quadro de pessoal, rotinas e procedimentos,
fazendo as recomendações necessárias para melhor produtividade do
trabalho e qualidade do serviço;
g) Preparar relatórios parciais e globais das auditorias sobre os
procedimentos realizados, assinalando as eventuais falhas encontradas e
certificando a real situação patrimonial, económica e financeira da empresa,
para fornecer a seus dirigentes ou acionistas os subsídios contabilísticos
necessários à tomada de decisões;
h) Orientar e supervisionar a realização de auditorias específicas para apurar
possíveis irregularidades contabilísticos ou nos procedimentos internos da
instituição;
i) Orientar e supervisionar a realização de inventários de stocks, fazendo o
confronto do stock físico com os registos contabilísticos, visando a
elaboração de balanços, e identificação e correcção de irregularidades ou
divergências;
j) Analisar os custos de manutenção e de transporte, avaliando a sua
compatibilidade com a utilização dos equipamentos e volume dos serviços
prestados.

ARTIGO 26
(Auditoria Externa)

1. As contas das Empresas do SEE devem ser obrigatoriamente objecto de


auditoria externa por auditores independentes, sem prejuízo das
competências próprias do Conselho Fiscal e do órgão de auditoria interna.
2. A contratação de auditores externos pelas empresas do SEE é por
concurso Público, devendo obedecer os procedimentos de contratação
definidos no presente regulamento.
3. As empresas do SEE podem ser auditadas pelo mesmo auditor externo,
por um período não superior a 4 (quatro) anos consecutivos.
4. Sem prejuízo da auditoria externa, a Assembleia Geral pode estabelecer
ou adoptar outros tipos de auditoria.

ARTIGO 27
(Gestão de Risco)

1. A entidade gestora e coordenadora do SEE define os mecanismos de


controlo dos riscos das empresas e garantir a sua monitoria.
2. As empresas do SEE são responsáveis por prover informações sobre os
riscos à entidade que gere e coordena o sector empresarial do Estado e
garantir a prevenção e a mitigação da ocorrência dos riscos económicos-
financeiros entre outros, os seguintes:
a) Riscos Financeiros e Cambiais inerentes ao empreendimento;
b) Riscos Fiduciários, decorrentes da indevida utilização de recursos
financeiros disponibilizados para aplicação na empresa;
c) Riscos de Insustentabilidade da dívida da empresa;
d) Riscos Fiscais, decorrentes da sonegação e evasão fiscais ou da assunção
e gozo das prerrogativas não previstas na legislação fiscal vigente aplicável,
e) Riscos operacionais e corporativos.

ARTIGO 28
(Relatório e Contas)

1. Nos termos do artigo 29 da Lei do Sector Empresarial do Estado, as


empresas devem elaborar anualmente o relatório e contas do exercício ,
auditadas e submeter à aprovação da Assembleia Geral até 31 de Março de
cada ano.
2. O relatório e contas do exercício deve conter:
a) Balanço e contas consolidados, sempre que aplicável;
b) Relatório de actividades;
c) Demonstração de fluxo de caixa;
d) Parecer do Conselho Fiscal;
e) Relatório de gestão de riscos;
f) Relatório do auditor externo.
3. A empresa que, por razões determinadas pelo tipo de actividade, tenha
sido autorizada, nos termos da legislação fiscal aplicável, a adoptar período
anual diferente, deve apresentar demonstrações financeiras intercalares que
permitam a elaboração das demonstrações financeiras agregadas do sector
empresarial do Estado.
4. Após aprovação, o relatório e contas devem ser publicados num dos
jornais de maior circulação e na página do sítio da Internet da empresa, até
30 (trinta) dias a contar da data de aprovação pela Assembleia Geral.
5. O disposto no presente artigo não prejudica qualquer das disposições da
legislação fiscal aplicável.

ARTIGO 29
(Consolidação de Contas)

1. As empresas devem apresentar, à entidade que gere e coordena o SEE as


contas consolidadas das suas participações sociais e financeiras anualmente.
2. As empresas que integram o SEE devem, para efeitos de relato, submeter
à entidade que coordena e gere o SEE demonstrações financeiras
consolidadas, numa base anual.
3. A entidade que gere e coordena o SEE deve consolidar as contas e
demonstrações financeiras das empresas do SEE, incluindo o risco fiscal e
outros riscos associados, e submeter ao Tribunal Administrativo dentro do
prazo legalmente estabelecido.

ARTIGO 30
(Endividamento)

1. Sem prejuízo das competências específicas do Ministro que superintende


a área de finanças, o endividamento ou a assunção pelas empresas do sector
empresarial do Estado de responsabilidades de natureza similar, incluindo a
emissão de títulos de dívida comercial, deve ser aprovado pela Assembleia
Geral, mediante parecer prévio do Tesouro Público.
2. O endividamento ou a assunção pelas empresas do sector empresarial do
Estado de responsabilidades de natureza similar, deve observar os
procedimentos relativos à emissão e gestão da dívida pública e das garantias
pelo Estado, aprovados pelo Decreto n.º 77/2017, de 28 de Dezembro, e
demais legislação aplicável sobre a matéria.
3. Compete à entidade que gere e coordena o SEE enviar no início de cada
ano financeiro ao Ministério que superintende a área das Finanças a proposta
dos limites de endividamento do SEE, para efeitos de harmonização prévia
com o Tesouro Público.
4. Excepcionalmente, o endividamento a curto prazo destinado ao apoio à
tesouraria é aprovado pelo Conselho de Administração, obedecendo a
práticas prudentes de gestão de caixa.
5. As empresas do SEE devem ter uma política de endividamento de curto,
médio e longo prazos, aprovada pela Assembleia Geral, da qual constem,
mas não se limitando, os seguintes aspectos:
a) Plano de endividamento numa base anual com base em indicadores
prudentes de solidez financeira;
b) Matriz de endividamento;
c) Limites de endividamento;
d) A estrutura das fontes de financiamento e sua aplicação;
e) Níveis de autorização e responsabilidade;
f) A viabilidade económica do financiamento.
6. Os aspectos mencionados no número anterior devem ser comunicados,
anualmente, pela entidade que gere e coordena o SEE ao Ministério que
superintende a área das Finanças.
7. O endividamento ou a assunção pelas empresas do sector empresarial do
Estado de responsabilidades de natureza similar deve ter em vista a
realização de despesas de investimento.
8. O pedido de autorização de contração de dívida ou de responsabilidades
de natureza similar deve ser acompanhado por:
a) Identificação do credor;
b) Termos e condições propostas;
c) O montante e a finalidade da operação;
d) Descrição do Projecto;
e) Impacto económico e/ou social do Projecto;
f) Estudo de pré-viabilidade económico-financeiro.
9. A reestruturação das dívidas das empresas do SEE está sujeita a
aprovação pela Assembleia Geral, com a prévia autorização do Ministério
que superintende a área das Finanças.

ARTIGO 31
(Investimentos)

1. Os investimentos das empresas do SEE são aprovados pela Assembleia


Geral.
2. Sempre que o investimento das empresas do SEE for destinado a Projectos
Públicos e que envolva capitais alheios, deve obedecer os critérios
estabelecidos pelo Comité de Coordenação e Selecção de Projectos
Públicos, previsto no Decreto n.º 77/2017, de 20 de Dezembro.
SECÇÃO VI
Aquisição de Bens e Serviços

ARTIGO 32
(Regimes de Contratação)

Na aquisição de bens e serviços por empresas do SEE aplicam--se os


seguintes regimes:
a) Geral;
b) Especial;
c) Excepcional.

ARTIGO 33
(Regime Geral)

O regime geral para a aquisição de bens e serviços pelas empresas do sector


empresarial do Estado é o Concurso Público.

ARTIGO 34
(Regime Especial)

1. A empresa do SEE pode adoptar o regime especial nas seguintes


condições:
a) Contratação decorrente de tratado ou de outra forma de acordo
internacional entre Moçambique e outro Estado ou organização
internacional, que exija a adopção de regras específicas;
b) Contratação realizada no âmbito de projectos financiados, com recursos
provenientes de financiamento ou doação oriundos de agência oficial de
cooperação estrangeira ou organismo financeiro multilateral, quando a
adopção de normas distintas conste, expressamente, como condição do
respectivo acordo ou contrato.
2. A adopção do Regime Especial na contratação carece de aprovação prévia
da Assembleia Geral.

ARTIGO 35
(Regime Excepcional)

A Entidade Contratante pode adoptar o regime excepcional em situações de


força maior e quando não seja possível realizar o concurso público, devendo
informar à Assembleia Geral da empresa.

ARTIGO 36
(Documentos do Concurso)

A empresa do sector empresarial do Estado deve fornecer aos concorrentes,


os documentos de concurso que são constituídos por:
a) Programa do Concurso;
b) Cadernos de encargos;
c) Projecto;
d) Requisitos de qualificação dos concorrentes.

ARTIGO 37
(Objecto das Contratações)

1. As contratações referidas no presente Capítulo, tem como objecto:


a) O fornecimento de bens e serviços;
b) A prestação de locação;
c) A empreitada de obras;
d) Os serviços de consultoria e concessões.

ARTIGO 38
(Língua)

1. Os documentos que compõem o processo de aquisição de bens e serviços


devem ser redigidos em língua portuguesa.
2. A empresa do sector empresarial do Estado pode, simultaneamente,
divulgar o anúncio e documento de concurso em língua portuguesa e em
outra língua, prevalecendo sempre a documentação em língua portuguesa.
3. À excepção dos números anteriores do presente artigo, a empresa do
sector empresarial do Estado pode divulgar o anúncio e documentos do
concurso, simultaneamente em língua portuguesa e outra em outra língua,
distinta da portuguesa, desde que devidamente fundamentada a sua razão.
4. Os contratos redigidos em língua diferente da portuguesa devem ser,
obrigatoriamente, traduzidos para a língua portuguesa, por tradutor oficial.

ARTIGO 39
(Procedimentos)

1. Cada empresa do SEE deve elaborar o Regulamento específico de


aquisição de bens e serviços a ser aprovado pela Assembleia Geral, no prazo
de 90 (noventa) dias a contar da entrada em vigor do presente Regulamento.
2. Os procedimentos e requisitos de aquisição constam do regulamento
específico de aquisição de bens e serviços de cada empresa, a ser aprovado
pela Assembleia Geral, no prazo de 90 (noventa) dias a contar da data da
entrada em vigor do presente Regulamento.
CAPÍTULO IV
Empresas Públicas

ARTIGO 40
(Definição)

Empresa Pública é a entidade detida exclusivamente pelo Estado.

ARTIGO 41
(Criação e Estatutos)

1. São requisitos para criação de uma empresa pública, a prossecução de


objectivos estratégicos ou estruturantes.
2. A empresa pública é criada por Decreto do Conselho de Ministros que
aprova os seus estatutos.
3. A empresa pública deve adoptar uma denominação que reflicta o objecto
da sua actividade, seguida das palavras Empresa Pública ou das iniciais E.P.
4. A constituição da Empresa Pública deve ser registada na competente
conservatória de registo, no prazo de 30 (trinta) dias a contar da data da
respectiva publicação no Boletim da República.

ARTIGO 42
(Capital estatutário)

1. O capital estatutário da empresa pública, bem como as condições da sua


realização, são fixados pelo respectivo Decreto de criação.
2. As dotações adicionais, a incorporação de reservas e outras realizações
patrimoniais do Estado e das demais entidades públicas destinadas a
reforçar os capitais próprios das empresas públicas devem ser escrituradas
nos termos da legislação aplicável.

ARTIGO 43
(Extinção)

1. A extinção da Empresa Pública é da competência do órgão que a criou,


mediante o competente diploma legal.
2. A extinção da E.P. pode visar a sua cisão, fusão com outras ou destinar-se
a pôr termo às suas actividades, sendo então seguida da liquidação do
respectivo património.

ARTIGO 44
(Fusão)

1. Duas ou mais E.P. podem fundir-se numa só, nos termos previstos na Lei
n.º 10/2013, de 11 de Abril.
2. A fusão pode realizar-se por incorporação de uma ou mais empresas
noutra, para a qual se transferem globalmente o património daquelas, ou
mediante a criação de uma nova empresa que recebe o património das
empresas fundidas com todos os direitos e obrigações que as integram.
3. O diploma legal que aprova a fusão da E.P. deve determinar as alterações
a introduzir nos estatutos da empresa resultante da fusão.

ARTIGO 45
(Cisão)

1. Uma E.P. pode ser extinta e seu património dividido, podendo cada uma
das partes resultantes, vir a constituir uma nova EP, salvo se outro destino
for determinado para as partes resultantes.
2. Pode ser destacada parte do património duma E.P. para constituir uma
nova empresa, ou para integração em empresas já existente.
3. O diploma que determina a cisão por extinção ou subdivi são dos
patrimónios deve indicar os bens e as dívidas da empresa cindida, que se
transferem para a nova ou novas empresas.

ARTIGO 46
(Personalidade das Empresas em Liquidação)

Decretada a extinção da Empresa Pública, esta mantem a sua personalidade


jurídica para efeitos de liquidação até a aprovação final das contas de
liquidação e após a verificação do Passivo e realização do Activo.

ARTIGO 47
(Nomeação de Liquidatários)

1. O Decreto que extingue a Empresa Pública e determine a sua liquidação


deve nomear liquidatários, com poderes necessários para liquidar o
património da empresa extinta, incluindo os de venda de bens imobiliários
sem precedência de qualquer autorização, respeitado que seja o destino
assinalado a todos ou alguns bens pelo diploma de extinção.
2. Os antigos administradores da empresa pública devem estar disponíveis
para prestar os esclarecimentos e as informações que os liquidatários
necessitarem.

ARTIGO 48
(Verificação do Passivo)

1. O diploma de extinção deve fixar o prazo, não inferior a 4 (quatro) meses,


durante o qual os credores da empresa podem reclamar os seus créditos.
2. Os credores devem ser avisados da liquidação por anúncios publicados
num dos jornais de maior circulação nos país, ou ainda, se os seus créditos
constarem de quaisquer livros ou documentos da empresa ou forem de outro
modo conhecidos os respectivos endereços, por carta registada com aviso
de recepção.
3. Os liquidatários devem elaborar uma relação dos créditos reclamados em
que estes estejam graduados em conformidade com a lei geral, relação essa
que deve estar patente para exame dos credores durante um prazo marcado
pelos liquidatários mas nunca inferior a 20 (vinte) dias.
4. Os credores cujos créditos não hajam sido reconhecidos pelos
liquidatários e incluídos na relação referida no número anterior, ou que não
hajam sido graduados em conformidade com a lei, podem recorrer aos
tribunais comuns para fazer valer os seus direitos.
5. No caso de o tribunal reconhecer os direitos invocados pelos credores,
devem os liquidatários introduzir na relação por eles elaborada as
correspondentes alterações.
ARTIGO 49
(Realização do Activo)

1. Compete aos liquidatários realizar o activo, vendendo os bens que não


sejam do domínio público e procedendo à cobrança dos créditos da
empresa.
2. No decreto que determina a extinção e liquidação da empresa podem ser
indicados os bens ou direitos cuja titularidade o Estado reserve para si ou
afecte a outros destinos, os quais devem ser avaliados, ficando o Estado
obrigado a restituir ao património em liquidação a importância determinada
pela avaliação, podendo ainda fazer-se a compensação com créditos do
Estado graduados em primeiro lugar.
3. A avaliação a que se refere o número anterior pode ser feita:
a) Por um avaliador independente indicado pela Assembleia Geral, mediante
concurso;
ou
b) Por uma comissão constituída por 3 (três) membros, sendo 2 (dois)
designados pela Assembleia Geral e o outro pelos credores.

ARTIGO 50
(Pagamento aos Credores)

1. Finda a verificação do passivo e realizado o activo da empresa pública,


devem os credores ser pagos de acordo com a graduação de créditos
estabelecida nos termos da Lei.
2. Mostrando-se insuficiente o produto da realização do activo para
pagamento aos credores comuns, estes devem ser pagos de forma rateada.
3. Se, após o pagamento de todo o passivo relacionado, for apurado um
saldo, este deve ser entregue ao Tesouro do Estado, se o diploma de
extinção lhe não tiver atribuído outro destino.
4. Encerradas as operações de liquidação, devem os liquidatários apresentar
as respectivas contas para aprovação da Assembleia Geral.

ARTIGO 51
(Património)

1. O património da Empresa Pública é constituído por todos os bens e direitos


recebidos ou adquiridos para o exercício da sua actividade, podendo
administra-lo e dele dispor livremente, sem sujeição à disciplina jurídica ou
domínio privado do Estado.
2. Além de bens e direitos do seu património, a Empresa Pública administra
os bens e direitos do domínio público do Estado afectos às actividades a seu
cargo, devendo manter o cadastro actualizado.
3. Os bens do domínio público referidos no número anterior são inalienáveis
e impenhoráveis.
4. Os bens do domínio público da Empresa Pública e dispensáveis à sua
actividade, podem ser abatidos do respectivo cadastro, após aprovação da
entidade governamental que superintende a área do Património sob
proposta da referida empresa, sufragada pela entidade de gestão e
coordenação do sector empresarial do Estado.
5. Pelas dívidas da Empresa Pública responde apenas o seu património
privativo.
6. Considerando a natureza das suas actividades e a prossecução do
interesse público, as empresas públicas podem ter áreas de jurisdição
correspondente ao domínio público com prerrogativas de licenciamento e
concessão a título precário de bens móveis e imóveis que se encontrem
dentro das respectivas áreas.

ARTIGO 52
(Força Executiva dos Documentos)

Os documentos emitidos pela empresa pública, em conformidade com a sua


escrita, servem de título executivo contra quem se mostrar devedor para
com a referida empresa.

CAPÍTULO III
Empresas Participadas

SECÇÃO I
Definição, Capital Social e Dissolução

ARTIGO 53
(Definição)

1. Considera-se empresa participada pelo Estado a sociedade constituída nos


termos do Código Comercial e que assume a forma de sociedade anónima
ou por quotas.
2. A empresa participada pode ser:
a) Exclusivamente participada pelo Estado, quando o Estado é único
accionista;
b) Maioritariamente participada pelo Estado, quando o Estado detém mais
de cinquenta por cento do capital social;
c) Minoritariamente participada pelo Estado, quando o Estado detém abaixo
de cinquenta por cento do capital social.
3. O presente Regulamento não se aplica à forma de participação prevista
na alínea c) do n.º 2 do presente artigo.

ARTIGO 54
(Capital Social)

O capital estatutário da empresa participada, bem como as condições da sua


realização, são fixados nos Estatutos da empresa.
ARTIGO 55
(Dissolução)

1. Sem prejuizo do previsto na Lei n.º 3/2018, de 19 de Junho, a dissolução e


liquidação da empresa participada pode acontecer, também, nos seguintes
casos:
a) Pelo decurso do prazo de duração;
b) Pelo não exercício de qualquer actividade por período superior a 12
(doze) meses consecutivos, não estando a sua actividade suspensa nos
termos do Código Comercial;
c) Pela extinção do seu objecto;
d) Pela ilicitude ou impossibilidade superveniente do seu objecto se, no
prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, não for deliberada a alteração do
objecto;
e) Por se verificar, pelas contas do exercício, que a situação líquida da
sociedade é inferior à metade do valor do capital social;
f) Nos demais casos previstos na legislação comercial.
2. Qualquer credor ou Ministério Público tem legitimidade para requerer ao
Tribunal que declare a dissolução da empresa com base em qualquer facto
dela determinante ainda que tenha havido deliberação dos sócios a não
reconhecer a dissolução.
3. Os demais procedimentos relativos ao processo de dissolução e
liquidação da Empresa Participada são regulados pelo Código Comercial,
pelos diplomas legais de constituição e demais legislação aplicável.
4. Compete a entidade que gere e coordena o sector empresarial do Estado
a gestão das participações minoritárias do Estado.

SECÇÃO II
Estatuto de Utilidade Pública

ARTIGO 56
(Atribuição)

À empresa que explore serviços públicos e assegure actividades de interesse


público, pode ser atribuído pelo Conselho de Ministros, o estatuto de
utilidade pública e concedidos privilégios especiais.

ARTIGO 57
(Elegibilidade e Requisitos)

São elegíveis ao estatuto de utilidade pública as empresas públicas, as


empresas exclusiva ou maioritariamente detidas pelo Estado e que
demonstrem possuir os requisitos de qualificação jurídica, económico-
financeira, técnica e regularidade fiscal.
ARTIGO 58
(Qualificação Jurídica)

1. Para efeitos do presente Regulamento, a qualificação jurídica afere-se pela


apresentação dos seguintes documentos:
a) Certidão do registo comercial actualizado;
b) Estatuto da empresa;
c) Declaração da empresa requerente de que a empresa ou os seus gestores
não se encontram em qualquer das situações previstas no artigo 61 do
presente regulamento;
d) O requerimento dirigido ao Ministro que superintende a área de Finanças,
acompanhado de certidão de registo comercial ou documento equivalente,
certidão de registo criminal dos gestores.
2. Sempre que aplicável, devem ser apresentados documentos
comprovativos do preenchimento de outros requisitos estabelecidos em
legislação específica para o desempenho da actividade objecto de pedido
de atribuição de Estatuto de Utilidade Pública.

ARTIGO 59
(Qualificação Económico-Financeira)

A qualificação económico-financeira afere-se pela apresentação dos


seguintes documentos:
a) Relatório e contas dos últimos 3 (três) anos;
b) Declaração de que não há pedido de falência ou concordata.

ARTIGO 60
(Qualificação Técnica)

A Qualificação Técnica afere-se pela apresentação dos seguintes


documentos:
a) Memória descritiva da actividade de interesse público a desenvolver,
indicando os recursos humanos, materiais e financeiros a serem afectos a tal
actividade;
b) Alvará ou documento equivalente.

ARTIGO 61
(Regularidade Fiscal)

A Regularidade Fiscal do requerente afere-se pela apresentação dos


seguintes documentos:
a) Certidão de quitação fiscal;
b) Certidão de Segurança Social.

ARTIGO 62
(Impedimentos para atribuição de Estatuto de Utilidade Pública)

Constituem impedimentos para a atribuição do Estatuto de Utilidade


Pública, os seguintes:
a) A empresa ter sido condenada, por sentença judicial transitada em
julgado, por qualquer delito que ponha em causa a sua idoneidade
empresarial;
b) A empresa tenha defraudado o Estado ou esteja envolvida em falências
fraudulentas de empresas ou ainda em processo de falência.

CAPÍTULO IV
Disposições Finais e Transitórias

ARTIGO 63
(Regime Transitório)

1. As empresas que integram o SEE à data de entrada em vigor do presente


Regulamento, têm o prazo de 180 (cento e oitenta) dias a contar da data da
sua publicação, para se conformarem com as suas disposições.
2. A Entidade de gestão e coordenação do sector empresarial do Estado,
mencionada no n.º 1 do artigo 8 da Lei n.º 3/2018, de 19 de Junho, é o Instituto
de Gestão das Participações do Estado (abreviadamente designado por
IGEPE).
Havendo necessidade de complementar e aperfeiçoar as normas e critérios
de organização dos Ministérios, ao abrigo do n.º 6 do artigo 45 da Lei n.º
7/2012, de 8 de Fevereiro, o Conselho de Ministros decreta:

CAPÍTULO I
Disposições gerais

ARTIGO 1
(Objecto)

O presente Decreto estabelece as normas e critérios gerais de organização


dos Ministérios.

ARTIGO 2
(Âmbito)

O presente Decreto aplica-se a todos os ministérios, sem prejuízo de normas


específicas aplicáveis a determinados Ministérios.

ARTIGO 3
(Princípios de Organização dos Ministérios)

1. A organização do Ministério observa os princípios e normas que definem


as Bases Gerais da Organização da Administração Pública e demais
legislação aplicável.
2. A organização do Ministério assenta na racionalização da estrutura e
obedece, entre outros, aos seguintes princípios específicos:
a) Adequação da estrutura à missão;
b) Desconcentração;
c) Descentralização;
d) Especialização em funções;
e) Coordenação e articulação;
f) Eficiência organizacional;
g) Simplificação de procedimentos;
h) Modificabilidade dos serviços públicos.

ARTIGO 4
(Adequação da estrutura à missão)

1. A adequação da estrutura à missão implica a justa proporção entre a


estrutura operativa e a estrutura de apoio com vista à consecução dos
objectivos do Ministério.
2. A estrutura do Ministério e as funções das unidades orgânicas do
Ministério devem ter em conta que a sua responsabilidade principal consiste
na definição, fiscalização, monitoria e avaliação de políticas públicas entre
outras responsabilidades estabelecidas por lei.
3. A estrutura do Ministério e as funções das unidades orgânicas devem ser
as que se mostrem adequadas e estritamente necessárias à prossecução das
atribuições e ao exercício das com-petências definidas no respectivo
Decreto Presidencial e noutra legislação aplicável.
4. Para efeitos do disposto no número um do presente artigo entende-se por
estrutura operativa a vocacionada à realização das funções que concorrem
de forma directa e imediata para a realização das atribuições e ou
competências do Ministério.
5. Para efeitos do disposto no número um do presente artigo, entende-se
por estrutura de apoio a vocacionada à realização de funções que concorrem
de forma indirecta e ou mediata para a realização das atribuições e ou
competências do Ministério.

ARTIGO 5
(Desconcentração)

1. A desconcentração impõe o equilíbrio adequado entre serviços centrais e


locais encarregues das mesmas funções, visando a prestação de um serviço
de qualidade e a necessidade de aproximar os serviços ao cidadão.
2. A estrutura e funções das unidades orgânicas do Ministério devem
respeitar o quadro de competências transferidas por lei para os órgãos
locais.

ARTIGO 6
(Descentralização)

1. A organização do Ministério toma em conta o quadro de atribuições e


funções conferidas às instituições da administração indirecta do Estado e às
autarquias locais.
2. Às unidades orgânicas do Ministério não podem ser conferidas funções
que, nos termos da lei, estão atribuídas à instituições da administração
indirecta do Estado.

ARTIGO 7
(Especialização em funções)

1. A especialização em funções determina a agregação de funções


homogéneas do ministério por serviços, preferencialmente de média ou
grande dimensão, com funções devidamente definidas, de acordo com o
princípio de segregação de funções, com vista à responsabilidade pelos
resultados e à promoção de desburocratização.
2. Na definição das funções das unidades orgânicas podem ser conjugadas
funções de diferente natureza, se tal for determinado pelo princípio da
racionalização das estruturas.
ARTIGO 8
(Coordenação e articulação)

A coordenação e articulação impõem a necessidade de assegurar a


existência de circuitos de informação e comunicação simples e coerentes.

ARTIGO 9
(Eficiência organizacional)

1. A eficiência organizacional impõe que o desempenho das funções comuns


seja atribuído a unidades orgânicas já existentes em cada ministério, não
determinando a criação de novas unidades orgânicas.
2. As unidades orgânicas são criadas quando estejam cumulativamente
reunidos os seguintes requisitos:
a) A natureza, frequência e complexidade das funções que lhe forem
expressamente conferidas o justificarem;
b) Exigência de um volume de recursos humanos e materiais que exijam
direcção, coordenação e supervisão específicas.

ARTIGO 10
(Simplificação de procedimentos)

A simplificação de procedimentos impõe a redução do número de níveis


hierárquicos de decisão ao mínimo indispensável à prossecução das
atribuições e competências do Ministério e ou funções da unidade orgânica.

ARTIGO 11
(Modificabilidade dos serviços públicos)

1. A modificabilidade dos serviços públicos traduz-se em privilegiar, face à


emergência de novas atribuições e ou competências, a reestruturação das
unidades orgânicas existentes, sem prejuízo da possibilidade de criação de
novas.
2. A definição de novas atribuições ou competências apenas implicará a
criação de novas unidades orgânicas se tal se mostrar estritamente
necessário para a prossecução eficiente daquelas.

CAPÍTULO II
Organização do Ministério

Artigo 12
(Organização do Ministério)

1. A Organização do Ministério baseia-se nas respectivas áreas de actividade


e é estruturada em órgãos colegiais e serviços.
2. Para efeitos do número anterior, entende-se por serviços as unidades
orgânicas integradas na estrutura do Ministério.
3. Para efeitos do n.º 1 do presente artigo, são órgãos colegiais os compostos
por mais de um titular.

ARTIGO 13
(Estatuto Orgânico)

1. O Estatuto orgânico estabelece o sistema orgânico e os órgãos colectivos


do Ministério, tendo em conta, entre outros, os seguintes factores:
a) Natureza, atribuições e competências do Ministério definidas no
respectivo Decreto Presidencial e demais legislação aplicável;
b) Existência de instituições de administração indirecta encarregues de
atribuições e ou competências da responsabilidade do Ministério;
c) Programa Quinquenal do Governo vigente no momento da aprovação do
Estatuto Orgânico;
d) Experiência anterior de funcionamento do Ministério;
e) aspectos relevantes do contexto político, social e económico
f) Estimativa de funcionários e agentes do Estado e recursos materiais e
financeiros necessários e disponíveis;
g) Políticas e estratégias aplicáveis ao sector.
2. O Estatuto Orgânico especifica de forma expressa os seguintes elementos:
a) Natureza do Ministério;
b) Atribuições, competências e áreas do Ministério;
c) Unidades orgânicas do Ministério, suas funções e respectiva direcção;
d) Instituições tuteladas pelo respectivo Ministro e ou subor-dinadas ao
Ministério;
e) Órgãos colectivos do Ministério, sua natureza, funções, composição e
periodicidade das sessões;
f) Regime básico de aprovação do regulamento interno, indicando-se o
prazo e órgão competente para o aprovar nos termos previstos no n.º 3 do
artigo 15 do presente Decreto;
g) Regime de aprovação do quadro de pessoal do Ministério, indicando-se o
órgão competente para o aprovar e o prazo para submissão da proposta nos
termos previstos no n.º 3 do artigo 16 do presente Decreto.
3. As instituições tuteladas e ou subordinadas são as como tal definidas por
decreto do Conselho de Ministros ou por outro órgão competente, nos
termos da lei, para as criar.
4. Compete ao Conselho de Ministros aprovar o Estatuto Orgânico do
Ministério, podendo delegar esta competência na Comissão Interministerial
da Administração Pública.

ARTIGO 14
(Revisão do Estatuto Orgânico)

1. O Estatuto Orgânico do Ministério pode ser revisto, mediante proposta do


respectivo Ministro, sempre que haja motivo justificado e ponderoso para o
efeito, designadamente:
a) Redefinição das atribuições ou competências do Ministério;
b) Aprovação de Programa Quinquenal do Governo ou de outras políticas e
estratégias com especial impacto na missão do Ministério;
c) Descentralização e desconcentração de competências;
d) Criação de instituições da Administração Indirecta;
e) Outros motivos ponderosos ou fundamentos de facto e ou de direito que
justifiquem a revisão.
2. A criação de uma nova instituição da administração indirecta do Estado
implica necessariamente a revisão do Estatuto Orgânico do Ministério,
sempre que as atribuições e ou competências da instituição criada se
enquadrem nas atribuições e competências do Ministério.
3. A revisão referida no número anterior implica a supressão ou adequação
da correspondente unidade orgânica do Ministério.

ARTIGO 15
(Regulamento Interno)

1. O Regulamento Interno estabelece a estrutura interna das unidades


orgânicas do Ministério, previstas no respectivo Estatuto Orgânico, tendo
em conta, entre outros os seguintes factores:
a) Estatuto Orgânico do Ministério;
b) Políticas e estratégias gerais e ou sectoriais;
c) Recursos financeiros disponíveis no orçamento do Estado;
d) Estimativa de recursos humanos necessários;
e) Outros aspectos relevantes.
2. O Regulamento Interno especifica por unidade orgânica, entre outros, os
seguintes elementos:
a) As unidades orgânicas internas, suas funções e direcção;
b) Competências, composição e periodicidade do colectivo da unidade
orgânica.
3. Compete ao Ministro aprovar o Regulamento Interno do respectivo
Ministério no prazo de sessenta dias a contar da data da publicação do
Estatuto Orgânico, ouvido o Ministro que superintende a área da função
pública e o Ministro que superintende a área das Finanças.
4. Para efeitos do disposto no número anterior, o Parecer dos Ministros que
superintendem as áreas da função pública e das finanças é conjunto,
devendo ser emitido no prazo de 25 dias a contar da data da recepção da
proposta de Regulamento Interno.

ARTIGO 16
(Quadro de pessoal)

1. O quadro de pessoal do Ministério é um instrumento de planificação e


controlo dos recursos humanos que indica o número de lugares por funções
de direcção, chefia e confiança e por carreiras ou categorias profissionais
necessárias para a prossecução das suas atribuições e competências.
2. O quadro de pessoal do Ministério é proposto ao órgão competente
dentro do prazo de noventa dias a contar da publicação do respectivo
estatuto orgânico, tendo em conta, entre outros, os seguintes factores:
a) O Estatuto orgânico e o regulamento interno do respectivo Ministério;
b) A disponibilidade financeira para despesas com pessoal;
c) A experiência anterior de preenchimento e gestão de quadro de pessoal
do Ministério, caso exista.
3. A criação de uma nova instituição da administração indirecta do Estado
implica necessariamente a revisão do quadro de pessoal, sempre que as
atribuições, competências e objectivos da instituição criada coincidirem
com as atribuições, competências e objectivos pré-existentes no Ministério.
4. A revisão referida no número anterior deve ser proposta pelo respectivo
Ministro ao órgão competente no prazo de trinta dias a contar da publicação
do Estatuto Orgânico da instituição da Administração Indirecta do Estado e
implica a transferência de lugares do quadro de pessoal do Ministério para o
quadro de pessoal da instituição criada.
5. Salvo disposição legal em contrário, compete ao Conselho de Ministros
aprovar o quadro de pessoal do Ministério, podendo delegar esta
competência na Comissão Interministerial da Administração Pública.

ARTIGO 17
(Análise funcional)

1. O Ministério deve realizar análises funcionais periódicas, nos termos de


metodologia aprovada pelo Conselho de Ministros ou outro órgão em que
este delegar.
2. Para efeitos do número anterior, considera-se análise funcional o processo
sistematizado que visa, entre outros:
a) Analisar as atribuições e competências dos Ministério e das instituições
públicas a ele vinculadas, de modo a poder responder em alto grau às
prioridades, políticas e desafios prementes do sector;
b) Identificar áreas onde existam sobreposições com outros sectores;
c) Identificar oportunidades de ganhos em termos de eficiência na alocação
e utilização de recursos humanos e financeiros, tomada de decisões e
sistemas de informação e comunicação;
d) Melhorar a prestação de serviços e a formulação de políticas;
e) Garantir que as funções do Ministério sejam desem-penhadas ao nível
administrativo apropriado;
f) Aumentar a eficiência e a eficácia dos serviços prestados ao cidadão pelo
sector;
g) Propor as bases para a reestruturação ministerial.
3. O Relatório da análise funcional do Ministério é aprovado pelo Conselho
de Ministros ou outro órgão em que este delegar, com uma periodicidade
máxima de dez anos.

CAPÍTULO III
Estrutura do Ministério

ARTIGO 18
(Tipologia de Unidades orgânicas dos Ministérios)

1. O Ministério organiza-se em:


a) Inspecções Sectoriais;
b) Direcções Nacionais;
c) Direcções;
d) Gabinetes;
e) Gabinete do Ministro;
f) Departamento Central Autónomo.
2. Os Ministérios com atribuições e competências horizontais ou transversais
podem ter Inspecções-Gerais, sem prejuízo de estas, por decreto do
Conselho de Ministros ou decisão de outro órgão competente, poderem se
constituir em instituições tuteladas.
3. Ao nível local, os Ministérios com funções não abrangidas pela Lei dos
órgãos locais do Estado organizam-se de acordo com a estrutura dos
Governos Provinciais e ou Distritais.
4. A estrutura do Ministério que superintende a área da política externa
integra as Representações do Estado no exterior.

ARTIGO 19
(Inspecção-Geral)

1. A Inspecção-Geral exerce funções inspectivas internas e externas ao


respectivo ministério, de natureza horizontal ou transversal, podendo
abranger vários sectores da Administração Pública e ou privada.
2. As funções inspectivas de natureza interna exercidas pela Inspecção-Geral
são, entre outras, as previstas no artigo 28 do presente Decreto.
3. A Inspecção-Geral é dirigida por um Inspector-Geral, podendo ser
coadjuvado por um Inspector-Geral Adjunto.
4. Nos casos em que a Inspecção-Geral seja tutelada, a estrutura do
respectivo Ministério não integra uma Inspecção Sectorial.
5. A organização e direcção da Inspecção-Geral constituída em instituição
tutelada consta dos respectivos diploma legal de criação, estatuto orgânico
e demais legislação aplicável às instituições da Administração Indirecta do
Estado.

ARTIGO 20
(Inspecção Sectorial)

1. A Inspecção Sectorial exerce funções com natureza vertical, as quais se


circunscrevem ao respectivo ministério, aos órgãos locais do Estado que
exercem funções do sector, às instituições subordinadas e tuteladas pelo
respectivo Ministro e a outros domínios estabelecidos nos termos da lei.
2. A Inspecção Sectorial é dirigida por um Inspector-Geral Sectorial,
podendo ser coadjuvado por um Inspector-Geral Sectorial Adjunto.

ARTIGO 21
(Direcção Nacional)

1. A Direcção Nacional é constituída para prosseguir funções de âmbito


nacional inerentes às áreas do Ministério como tal definidas no respectivo
Decreto Presidencial.
2. Para efeitos do disposto no n.º 1, são funções inerentes às áreas do
Ministério as que concorrem de forma directa e imediata para a realização
das atribuições e ou competências previstas no respectivo Decreto
Presidencial ou noutra legislação aplicável.
3. A Direcção Nacional é dirigida por um Director Nacional, podendo ser
coadjuvado por um Director Nacional Adjunto quando o volume e
complexidade de trabalho o justifiquem.
4. Excepcionalmente, o Director Nacional pode ser coadjuvado por dois
Directores Nacionais Adjuntos, quando o volume e complexidade de
trabalho o justifiquem e a Direcção Nacional preencha um dos seguintes
requisitos:
a) Estar integrada em Ministério com funções não abrangidas pela Lei dos
órgãos locais do Estado;
b) Estar integrada em Ministério com atribuições e compe-tências inerentes
à manutenção da soberania nacional.
5. O disposto no n.º 1 do presente artigo não implica que a prossecução de
funções inerentes ás áreas do Ministério sejam necessariamente
responsabilizadas a uma Direcção Nacional.

ARTIGO 22
(Direcção)

1. A Direcção é constituída para prosseguir funções de âmbito interno que


concorrem de forma indirecta ou mediata para a realização das atribuições
e ou competências do Ministério previstas no respectivo Decreto
Presidencial ou demais legislação aplicável.
2. A Direcção pode realizar mais de uma das funções comuns e ou das
funções que concorrem de forma indirecta ou mediata para a realização das
atribuições e ou competências do Ministério quando estejam reunidos os
seguintes requisitos cumulativos:
a) Se justifique por razões de racionalização de recursos humanos e
financeiros do Estado;
b) Seja compatível com a eficiência e eficácia na realização daquelas
funções;
c) Não afecte a prossecução das atribuições e competências do respectivo
Ministério.
3. Excepcionalmente, a Direcção pode realizar funções inerentes á área fim
do Ministério quando reúna cumulativamente os seguintes requisitos:
a) Exercer funções de alcance central;
b) Possuir volume e complexidade de trabalho que o justifiquem.
4. A Direcção é dirigida por um Director Nacional.
5. Excepcionalmente, o Director Nacional referido no número anterior pode
ser coadjuvado por um Director Nacional Adjunto, quando o volume e
complexidade de trabalho o justifiquem e a respectiva Direcção preencha
um dos requisitos seguintes:
a) Estar integrada num Ministério com pensões não abrangidas pela Lei dos
órgãos locais do Estado;
b) Estar integrada num Ministério com atribuições e competências inerentes
à manutenção da soberania nacional;
c) Congregar duas ou mais das funções indicadas no artigo 26 do presente
Decreto.

ARTIGO 23
(Gabinete)

1. O Gabinete é constituído para prosseguir funções de assessoria e estudos


de natureza técnica de carácter especializado, quando o volume e
complexidade do trabalho o justifiquem.
2. O Gabinete é dirigido por um Director Nacional.
ARTIGO 24
(Gabinete do Ministro)

1. O Gabinete do Ministro é constituído para prosseguir funções de apoio


técnico, administrativo e protocolar ao Ministro, ao Vice-Ministro e ao
Secretário Permanente.
2. São funções do Gabinete do Ministro, entre outras, que constem do
Estatuto Orgânico ou da demais legislação aplicável:
a) Organizar e programar as actividades do Ministro, Vice-Ministro e
Secretário Permanente;
b) Prestar assessoria ao Ministro e Vice-Ministro;
c) Prestar assistência logística, técnica e administrativa ao Ministro, Vice-
Ministro e Secretário Permanente;
d) Proceder ao registo de entrada e saída da correspondência, organizar a
comunicação dos despachos aos interessados e o arquivamento dos
documentos de expediente do Ministro e Vice-Ministro;
e) Proceder a transmissão e o controlo da execução das decisões e
instruções do Ministro e Vice-Ministro;
f) Assegurar a triagem e dar celeridade ao expediente dirigido ao Gabinete
do Ministro;
g) Organizar as sessões dos colectivos do Ministério e as demais reuniões
dirigidas pelo Ministro;
h) Exercer as demais funções que lhe sejam acometidas nos termos do
Estatuto Orgânico do Ministério e demais legislação aplicável.
3. O Gabinete do Ministro é dirigido por um Chefe de Gabinete do Ministro.

ARTIGO 25
(Departamento Central Autónomo)

1. O Departamento Central Autónomo é constituído para prosseguir as


funções comuns e demais funções que concorrem de forma indirecta ou
mediata para a realização das atribuições e ou competências do Ministério.
2. O Departamento Central Autónomo pode realizar uma ou mais das
funções indicadas no n.º 1 do presente artigo, quanto tal se justifique por
razões de racionalização de recursos humanos e financeiros do Estado, seja
compatível com a eficiência e eficácia na realização daquelas funções e não
afecte a pros-secução das atribuições e competências do respectivo
Ministério.
3. O Departamento Central Autónomo é dirigido por um Chefe de
Departamento Central Autónomo.
4. Para efeitos do disposto no presente Decreto, entende-se por
Departamento Central Autónomo aquele cujo titular responde
directamente ao respectivo Ministro.
CAPÍTULO IV
Funções comuns dos ministérios

ARTIGO 26
(Enumeração)

1. Sem prejuízo de funções específicas desenvolvidas em cada Ministério, os


Estatutos Orgânicos devem compreender e enquadrar funções comuns aos
Ministérios.
2. Para efeitos do disposto no número anterior, são funções comuns dos
Ministérios as seguintes:
a) Inspecção;
b) Gestão de Recursos Humanos;
c) Estudos e Planificação;
d) Administração e Finanças;
e) Tecnologias de Informação e Comunicação;
f) Assessoria jurídica;
g) Cooperação Internacional;
h) Gestão documental;
i) Gestão e execução de aquisições e contratos;
j) Comunicação e Imagem;
k) Outras que como tal sejam definidas pelo Governo ou outro órgão
competente.

ARTIGO 27
(Regime geral de organização das funções comuns)

1. Salvo disposição legal específica, as funções comuns são prosseguidas por


unidades orgânicas constituídas em Departamento Central Autónomo.
2. Excepcionalmente, as funções comuns podem ser prosseguidas por
unidade orgânica constituída em Direcção, quando o volume e
complexidade de trabalho o justifiquem e preencha um dos seguintes
requisitos:
a) Estar integrada em Ministério com funções não abrangidas pel a Lei dos
órgãos Locais do Estado;
b) Estar integrada em Ministério com atribuições e competências inerentes
à manutenção da soberania nacional;
c) Congregar duas ou mais das funções indicadas no artigo 26 do presente
Decreto.
3. A prossecução das funções comuns por unidade orgânica constituída em
Direcção está ainda condicionada à verificação das exigências específicas
previstas neste Decreto para a função concreta em apreço.

ARTIGO 28
(Inspecção)

1. São funções de inspecção, entre outras que constem de Estatuto Orgânico


ou demais legislação aplicável:
a) Realizar de forma periódica, planificada ou por determinação superior,
inspecções aos órgãos do Ministério e às instituições subordinadas ou
tuteladas;
b) Fiscalizar a correcta administração dos meios humanos, materiais e
financeiros postos à disposição das instituições subordinadas ou tuteladas;
c) Prestar informações sobre as condições de funcionamento, de
organização e de eficiência das áreas inspeccionadas e propor as devidas
correcções;
d) Realizar inquéritos e sindicâncias por determinação superior;
e) Efectuar estudos e exames periciais;
f) Elaborar pareceres ou relatórios informativos no âmbito das suas
atribuições;
g) Comunicar o resultado das inspecções às entidades inspeccionadas em
conformidade com o princípio do contraditório.
2. As funções de inspecção são asseguradas por uma Inspecção Sectorial,
sem prejuízo do disposto no n.º 2 artigo 18 do presente Decreto.

ARTIGO 29
(Gestão de recursos humanos)

1. São funções essenciais de Gestão de Recursos Humanos, entre outras que


constem do Estatuto Orgânico do Ministério e demais legislação aplicável:
a) Assegurar o cumprimento do Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes
do Estado e demais legislação aplicável aos funcionários e Agentes do
Estado;
b) Elaborar e gerir o quadro de Pessoal;
c) Assegurar a realização da avaliação do desempenho dos funcionários e
agentes do Estado;
d) Organizar, controlar e manter actualizado o e-SIP do sector, de acordo
com as orientações e normas definidas pelos órgãos competentes;
e) Produzir estatísticas internas sobre recursos humanos;
f) Implementar e monitorar a política de desenvolvimento de recursos
humanos do sector;
g) Planificar, coordenar e assegurar as acções de formação e capacitação
profissional dos funcionários e agentes do Estado dentro e fora do país;
h) Implementar as actividades no âmbito das políticas e Estratégias do HIV
e SIDA, Género e Pessoa Deficiente na Função Pública;
i) Implementar as normas e estratégias relativas à saúde, higiene e segurança
no trabalho;
j) Assistir o respectivo dirigente nas acções de diálogo social e consulta no
domínio das relações laborais e da sindicalização;
k) Implementar as normas de previdência social dos funcio-nários e agentes
do Estado;
l) Gerir o sistema de carreiras e remunerações e benefícios dos funcionários
e agentes do Estado;
m) Planificar, implementar e controlar os estudos colectivos de legislação.
2. Para além do disposto no n.º 2 do artigo 27 do presente Decreto,
excepcionalmente as funções de gestão de recursos humanos podem ser
prosseguidas por uma Direcção quando o quadro de pessoal do Ministério
preveja um número igual ou superior a 500 funcionários do Estado e a
complexidade da sua gestão o justifique.
3. Excepcionalmente, nos casos referidos no número anterior, pode se prever
um Director Nacional Adjunto para coadjuvar o respectivo Director Nacional,
quando o volume de recursos humanos e os desafios da sua gestão o
justifiquem.
ARTIGO 30
(Estudos e planificação)

São funções essenciais de estudos e planificação, para além das que constem
do Estatuto Orgânico e demais legislação aplicável:
a) Sistematizar as propostas de Plano Económico Social e programa de
actividades anuais do Ministério;
b) Formular propostas de políticas e perspectivar estratégi as de
desenvolvimento a curto, médio e longos prazos;
c) Elaborar e controlar a execução dos programas e projectos de
desenvolvimento do sector, a curto, médio e longo prazos e os programas
de actividades do Ministério;
d) Elaborar, divulgar e controlar o cumprimento das normas e metodologias
gerais do sistema de planificação sectorial e nacional;
e) Dirigir e controlar o processo de recolha, tratamento, análise e inferência
da informação estatística ;
f) Proceder ao diagnóstico do sector, visando avaliar a sua cobertura, a
eficácia interna e externa bem como a utilização dos recursos humanos,
materiais e financeiros do mesmo.

ARTIGO 31
(Administração e Finanças)

1. São funções essenciais de administração e finanças entre outras que


constem do Estatuto Orgânico e demais legislação aplicável:
a) Elaborar a proposta do orçamento do Ministério, de acordo com as
metodologias e normas estabelecidas;
b) Executar o orçamento de acordo com as normas de despesa internamente
estabelecidas e com as disposições legais;
c) Controlar a execução dos fundos alocados aos projectos ao nível do
Ministério e prestar contas às entidades interessadas;
d) Administrar os bens patrimoniais do Ministério de acordo com as normas
e regulamentos estabelecidos pelo Estado e garantir a sua correcta
utilização, manutenção, protecção, segurança e higiene;
e) Determinar as necessidades de material de consumo corrente e outro, e
proceder à sua aquisição, armazenamento, distribuição e ao controlo da sua
utilização;
f) Elaborar o balanço anual da execução do orçamento e submeter ao
Ministério das Finanças e ao Tribunal Administrativo.
2. Para além do disposto no n.º 2 do artigo 27 do presente Decreto,
excepcionalmente as funções de administração e finanças podem ser
prosseguidas por uma Direcção quando o Ministério tenha sob sua gestão
volume de recursos financeiros e natureza e dimensão de infra-estruturas
que o justifiquem.

ARTIGO 32
(Tecnologias de Informação e Comunicação)

São funções de tecnologias de informação e comunicação entre outras que


constem do Estatuto Orgânico e demais legislação aplicável:
a) Coordenar a manutenção e instalação da rede que suporta os sistemas de
informação e comunicação ao nível central e provincial e estabelecer os
padrões de ligação e uso dos respectivos equipamentos terminais;
b) Propor a política concernente ao acesso, utilização e segurança dos
sistemas e tecnologias de comunicação no sector;
c) Elaborar propostas de planos de introdução das novas tecnologias de
informação e comunicação no sector;
d) Conceber e propor os mecanismos de uma rede informática no sector para
apoiar a actividade administrativa;
e) Propor a definição de padrões de equipamento informático hardware e
software a adquirir para o Ministério e suas instituições subordinadas e
tuteladas;
f) Administrar, manter e desenvolver a rede de computadores do Ministério;
g) Gerir e coordenar a informatização de todos os sistemas de informação
do Ministério e suas instituições subordinadas e tuteladas;
h) Orientar e propor a aquisição, expansão e substituição de equipamentos
de tratamento de informação;
i) Participar na criação, manutenção e desenvolvimento de um banco de
dados para o processamento de infor-mação estatística;
j) Propor a formação do pessoal do Ministério na área de informática e
tecnologias de informação e comu-nicação;
k) Coordenar a instalação, expansão e manutenção da rede, que suporte os
sistemas de informação locais, estabelecendo os padrões de ligação e uso
dos respectivos equipamentos terminais;
l) Promover trocas de experiências sobre o acesso e utilização das novas
tecnologias de comunicação e informação.

ARTIGO 33
(Assessoria jurídica)

1. São funções de assessoria jurídica, para além de outras que constem de


Estatuto Orgânico e demais legislação aplicável, as seguintes:
a) Emitir pareceres e prestar demais assessoria jurídica;
b) Zelar pelo cumprimento e observância da legislação aplicável ao sector;
c) Propor providências legislativas que julgue necessárias;
d) Pronunciar-se sobre o aspecto formal das providências legislativas das
áreas do Ministério e colaborar no estudo e elaboração de projectos de
diplomas legais;
e) Emitir parecer sobre processos de natureza disciplinar, regularidade
formal da instrução e adequação legal da pena proposta;
f) Emitir parecer sobre processos de inquérito e sindicância e sobre
adequação do relatório final à matéria investigada;
g) Emitir parecer sobre as petições e reportar aos órgãos competentes sobre
os respectivos resultados;
h) Analisar e dar forma aos contratos, acordos e outros instrumentos de
natureza legal;
i) Assessorar o dirigente quando em processo contencioso administrativo.
2. As funções de assessoria jurídica são asseguradas por um Gabinete.
ARTIGO 34
(Cooperação Internacional)

1. São funções de cooperação internacional, para além de outras que


constem de Estatuto Orgânico e demais legislação aplicável, as seguintes:
a) Propor programas, projectos e acções de cooperação internacional;
b) Coordenar e monitorar a execução de programas, projectos e acções de
cooperação internacional;
c) Promover a adesão, celebração e implementação de Convenções e
acordos internacionais;
d) Participar, quando solicitado, na preparação de convenções e acordos
com parceiros de cooperação;
e) Criar e gerir uma base de dados dos compromissos internacionais
atinentes às atribuições e competências do Ministério.
2. As funções referidas no n.º 1 do presente artigo são exer-cidas em
articulação com o Ministério que superintende a área de cooperação
internacional.

ARTIGO 35
(Gestão Documental)

São funções de gestão documental, para além de outras que constem de


Estatuto Orgânico e demais legislação aplicável, as seguintes:
a) Implementar o Sistema Nacional de Arquivo do Estado;
b) Criar as Comissões de Avaliação de Documentos, nos termos previstos na
lei e garantir a capacitação técnica dos seus membros e dos demais
funcionários e agentes do Estado responsáveis pela gestão de documentos
e arquivos;
c) Organizar e gerir os arquivos correntes e intermediários, de acordo com
as normas e procedimentos em vigor;
d) Avaliar regularmente os documentos de arquivo e dar o devido destino;
e) Monitorar e avaliar regularmente o processo de gestão de documentos e
arquivos do Estado na instituição, incluindo o funcionamento das Comissões
de avaliação de documentos;
f) Garantir a circulação eficiente do expediente, o tratamento da
correspondência, o registo e arquivo da mesma.

ARTIGO 36
(Gestão e execução de aquisições)

1. As funções de gestão e execução de aquisições compreendem todas as


fases do ciclo de contratação, desde a planificação até a recepção de obras,
bens ou serviços execução pontual do contrato.
2. As funções de gestão e execução de aquisições constam de legislação
específica.
ARTIGO 37
(Comunicação e Imagem)

São funções de comunicação e imagem, para além de outras que constem


de Estatuto Orgânico e demais legislação aplicável, as seguintes:
a) Planificar e desenvolver uma estratégia integrada de comunicação e
imagem do Ministério;
b) Contribuir para o esclarecimento da opinião pública, assegurando a
execução das actividades da Comunicação Social na área da informação
oficial;
c) Promover, no seu âmbito ou em colaboração com os demais sectores, a
divulgação dos factos mais relevantes da vida do Ministério e de tudo quanto
possa contribuir para o melhor conhecimento da instituição pela sociedade
moçambicana;
d) Apoiar tecnicamente o Ministro na sua relação com os órgãos e agentes
da Comunicação Social
e) Gerir actividades de divulgação, publicidade e marketing do Ministério;
f) Assegurar os contactos do Ministério com os órgãos de comunicação
social.
g) Promover a interacção entre os públicos internos;
h) Promover bom atendimento do público interno e externo;
i) Coordenar a criação de símbolos e materiais de identidade visual do
Ministério.

CAPÍTULO V
Órgãos Colectivos

ARTIGO 38
(Enumeração)

1. O Ministério dispõe necessariamente dos órgãos colegiais seguintes:


a) Conselho Coordenador;
b) Conselho Consultivo;
c) Conselho Técnico.
2. De acordo com a especificidade, o estatuto orgânico do Ministério pode
estabelecer outros órgãos colegiais, suas competências, composição e
periodicidade das sessões.

ARTIGO 39
(Conselho Coordenador)

1. O Conselho Coordenador é um Órgão Consultivo dirigido pelo Ministro,


através do qual coordena, planifica e controla a acção governativa do
Ministério, com os demais órgãos Centrais e Locais do Estado.
2. São funções do Conselho Coordenador, entre outras que constem do
Estatuto Orgânico do Ministério ou demais legislação:
a) Coordenar e avaliar as actividades das unidades orgânicas centrais e
locais e das instituições tuteladas e subordinadas, tendentes à realização das
atribuições e competências do Ministério;
b) Pronunciar-se sobre planos, políticas e estratégias relativas às atribuições
e competências do Ministério e fazer as necessárias recomendações;
c) Fazer o balanço dos programas, plano e orçamento anual das actividades
do Ministério;
d) Promover a aplicação uniforme de estratégias, métodos e técnicas com
vista á realização das políticas do sector;
e) Propor e planificar a execução das decisões dos órgãos centrais do Estado
em relação aos objectivos principais do desenvolvimento do Ministério.
3. O Conselho Coordenador tem a seguinte composição:
a) Ministro;
b) Vice-Ministro;
c) Secretário Permanente;
d) Inspector-Geral ou Inspector-Geral Sectorial;
e) Directores Nacionais;
f) Assessores do Ministro;
g) Inspector Geral Adjunto ou Inspector-Geral Sectorial Adjunto;
h) Directores Nacionais Adjuntos;
i) Chefe do Gabinete do Ministro;
j) Chefes de Departamentos Centrais;
k) Dirigentes provinciais da área do Ministério;
l) Titulares das Instituições tuteladas e Subordinadas e respectivos adjuntos
nos termos definidos no Estatuto Orgânico do Ministério.
4. Podem ser convidados a participar no Conselho Coordenador, em função
da matéria, técnicos e especialistas com tarefas a nível Central e Local do
Estado, bem como parceiros do sector.
5. O Conselho Coordenador reúne, ordinariamente, uma vez por ano e,
extraordinariamente, quando autorizado pelo Presidente da República.

ARTIGO 40
(Conselho Consultivo)

1. O Conselho Consultivo é dirigido pelo Ministro e tem por função analisar e


emitir pareceres sobre questões fundamentais da actividade do Ministério,
das Instituições Subordinadas e Tuteladas.
2. São funções do Conselho Consultivo, entre outras que constem do
Estatuto Orgânico do Ministério ou de demais legislação aplicável:
a) Pronunciar-se sobre planos, políticas e estratégias relativas às atribuições
e competências do Ministério e controlar a sua execução;
b) Pronunciar-se sobre o orçamento anual do Ministério e respectivo balanço
de execução;
c) Estudar as decisões dos órgãos superiores do Estado e do Governo
relativas ao sector;
d) Controlar a implementação das recomendações do Conselho
Coordenador;
e) Pronunciar-se, quando solicitado, sobre projectos de diplomas legais a
submeter à aprovação dos órgãos do Estado competentes;
f) Pronunciar-se sobre aspectos de organização e funcionamento do
Ministério.
3. O Conselho Consultivo tem a seguinte composição:
a) Ministro;
b) Vice-Ministro;
c) Secretário Permanente;
d) Inspector-Geral ou Inspector-Geral Sectorial;
e) Directores Nacionais;
f) Assessores do Ministro;
g) Inspector Geral Adjunto ou Inspector-Geral Sectorial Adjunto;
h) Directores Nacionais Adjuntos;
i) Chefe do Gabinete do Ministro;
j) Chefes de Departamentos Centrais Autónomos;
k) Titulares executivos das instituições tuteladas e subordi-nadas nos termos
definidos no Estatuto Orgânico do Ministério.
4. O Ministro pode, em função da matéria agendada, dispensar das sessões
do Conselho Consultivo os membros referidos nas alíneas g), h), j) e k).
5. Podem participar nas sessões do Conselho Consultivo, na qualidade de
convidados outros especialistas, técnicos e parceiros a serem designados
pelo Ministro, em função das matérias a serem tratadas.
6. O Conselho Consultivo reúne ordinariamente de quinze em quinze dias e
extraordinariamente sempre que o Ministro o convocar.

ARTIGO 41
(Conselho Técnico)

1. O Conselho Técnico é o órgão de carácter consultivo convocado e dirigido


pelo Secretário Permanente, resguardada a prerrogativa do Ministro, sempre
que entender, dirigi-lo pessoalmente e tem função consultiva no domínio de
matérias técnicas a cargo do Ministério.
2. São funções do Conselho Técnico, entre outras que constem do Estatuto
Orgânico do Ministério ou demais legislação aplicável:
a) Coordenar as actividades das Unidades orgânicas do Ministério;
b) Analisar e emitir pareceres sobre a organização e programação da
realização das atribuições e competências do Ministério;
c) Analisar e emitir pareceres sobre projectos do Plano e orçamento das
actividades do Ministério;
d) Apreciar e emitir pareceres sobre projectos de relatório e balanço de
execução do plano e orçamento do Ministério;
e) Harmonizar as propostas dos relatórios do balanço periódico do Plano
Económico e Social.
3. O Conselho Técnico tem a seguinte composição:
a) Secretário Permanente;
b) Inspector-Geral ou Inspector-Geral Sectorial;
c) Directores Nacionais;
d) Assessores do Ministro;
e) Inspector-Geral Adjunto ou Inspector-Geral Sectorial Adjunto;
f) Directores Nacionais Adjuntos;
g) Chefe do Gabinete do Ministro;
h) Chefes de Departamentos Centrais autónomos.
4. Podem participar nas sessões do Conselho Técnico, na qualidade de
convidados, os titulares das instituições tuteladas e subordinadas e
respectivos adjuntos, bem como outros técnicos, especialistas e entidades a
serem designadas pelo Secretário Permanente, em função das matérias a
serem tratadas.
5. O Conselho Técnico reúne uma vez por semana e extraor-dinariamente
sempre que necessário.
CAPÍTULO VI
Estrutura Interna das Unidades Orgânicas do Ministério

ARTIGO 42
(Consagração)

A estrutura interna da unidade orgânica é prevista no Regulamento Interno.

ARTIGO 43
(Estrutura das Unidades Orgânicas)

1. A Inspecção Sectorial, a Direcção Nacional e a Direcção podem estruturar-


se em:
a) Departamento Central Não Autónomo, dirigido por um Chefe de
Departamento Central não Autónomo;
b) Repartição Central, dirigida por um Chefe de Repartição Central.
2. Os Departamentos e Repartições referidos no número anterior são criados
em número estritamente necessário para a realização das funções definidas
no Estatuto Orgânico para a respectiva unidade orgânica e subordinam-se
directamente ao titular da mesma.
3. O Gabinete e o Gabinete do Ministro não dispõem de estrutura interna.
4. O Departamento Central Não Autónomo pode estruturar-se em
Repartição Central Não autónoma, em número estritamente necessário para
a prossecução das funções confiadas ao Departamento.
CAPÍTULO VII
Disposições finais e transitórias

ARTIGO 44
(Ajustamento do Estatuto Orgânico e quadro de pessoal)

1. O Ministério cujo Estatuto Orgânico e ou quadro de pessoal contrarie o


presente Decreto deve submeter a necessária proposta de revisão no prazo
de noventa dias a contar da entrada em vigor do presente decreto.
2. O Ministério cujo Regulamento Interno contrarie o presente Decreto deve
aprovar a revisão do respectivo Regulamento Interno no prazo de sessenta
dias a contar da entrada em vigor do presente Decreto.
3. No caso em que se torne necessária a revisão do Estatuto Orgânico nos
termos do número um do presente artigo, o prazo para revisão do
Regulamento Interno é o previsto no n.º 3 do artigo 15 do presente Decreto.

ARTIGO 45
(Secções Centrais)

São extintas as Secções Centrais existentes à data da entrada em vigor do


presente Decreto, sem prejuízo da continuidade da realização das funções
que lhe estavam atribuídas.
ARTIGO 46
(Entrada em vigor)

O presente Decreto entra em vigor na data da sua publicação.


Aprovado pelo Conselho de Ministros, aos 19 de Maio 2015.
Publique-se.
O Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário.
O exercício de funções na administração pública exige a probidade e
respeito da ética.
Convindo sistematizar as normas que consagram os deveres, as
responsabilidades e as obrigações dos servidores públicos para assegurar a
moralidade, a transparência, a imparcialidade e a probidade públicas, a
Assembleia da República, ao abrigo da alínea r) do n.º 2 do artigo 179 da
Constituição, determina:

CAPÍTULO I
Disposições gerais

SECÇÃO I
Princípios gerais

ARTIGO 1
(Objecto)

A presente Lei estabelece as bases e o regime jurídico relativo à moralidade


pública e ao respeito pelo património público, por parte do servidor público.

ARTIGO 2
(Âmbito de aplicação)

1. As disposições da presente Lei aplicam-se a todo o servidor público sem


prejuízo de normas especiais que regem para certas categorias o exercício
de cargo público.
2. São, igualmente, abrangidas pela presente Lei as autoridades de entidades
não públicas, singulares ou colectivas, circunstancialmente investi das de
poderes públicos.

ARTIGO 3
(Conceito de servidor público)

1. Considera-se servidor público a pessoa que exerce mandato, cargo,


emprego ou função em entidade pública, em virtude de eleição, de
nomeação, de contratação ou de qualquer outra forma de investidura ou
vínculo, ainda que de modo transitório ou sem remuneração.
2. Entende-se como sinónimos de servidor público os termos funcionário,
agente do Estado, empregado público, agente municipal ou qualquer outro
termo similar, que se utilize para referir-se à pessoa que cumpre funções em
entidade pública.
3. Para efeitos da presente Lei, são servidores públicos as seguintes
entidades:
a) Juízes e magistrados do Ministério Público de todos os tribunais, sem
excepção;
b) Juiz do Conselho Constitucional;
c) Governador e Vice-Governador do Banco de Moçambique;
d) Presidente da Autoridade Tributária;
e) Reitor e Vice-Reitor de universidades públicas e estabelecimentos de
ensino superior;
f) Embaixador;
g) Presidente da Comissão de Eleições, a todos níveis;
h) Cônsul;
i) Secretário-Geral;
j) Inspector de Estado;
k) Secretário Permanente, a todos níveis;
l) Director-Geral;
m) Director Nacional e Director Nacional Adjunto ou equiparado;
n) Director do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral, a todos
níveis;
o) Directores Provinciais e Distritais e Directores Provinciais e Distritais
Adjuntos;
p) Funcionário e agente do Estado;
q) Gestor público;
r) administrador designado por entidade pública em pessoa colectiva de
direito público ou em sociedade de capitais públicos ou de economia mista;
s) gestores, responsáveis e funcionários dos tribunais e das procuradorias;
t) gestores de finanças e património público;
u) gestores, responsáveis e funcionários ou trabalhadores dos institutos
públicos, dos fundos ou fundações públicas, das empresas públicas e das
empresas participadas pelo Estado;
v) titulares dos órgãos e funcionários ou trabalhadores das autarquias locais,
membros das assembleias municipais, membros das assembleias provinciais,
das associações públicas e das entidades que recebam subvenção de órgão
público;
w) titulares responsáveis e funcionários ou trabalhadores das instituições de
utilidade pública;
x) gestores responsáveis e trabalhadores de empresas privadas investidas
de funções públicas mediante concessão, licença, contrato ou outros
vínculos contratuais;
y) funcionários públicos e trabalhadores do sector público - administrativo
e empresarial, integrados na administração directa ou indirecta do Estado
ou administração autónoma do Estado;
z) elementos da Força e Segurança e das Forças Paramilitares a todos os
níveis;
aa) Director de Divisão.

ARTIGO 4
(Titular ou membro de órgão público)

Para efeitos da presente Lei, é titular ou membro de órgão público aquele


que exerce um dos seguintes cargos políticos:
a) Presidente da República;
b) Presidente da Assembleia da República;
c) Primeiro-Ministro;
d) Deputado da Assembleia da República;
e) Provedor de Justiça;
f) Ministro;
g) Vice-Ministro;
h) Presidente da Assembleia Provincial;
i) Governador Provincial;
j) Presidente da Assembleia Municipal ou de Povoação;
k) Presidente do Conselho Municipal ou de Povoação;
l) Administrador Distrital;
m) Vereador do Conselho Municipal ou de Povoação;
n) Chefe de Posto Administrativo;
o) Chefe de Localidade;
p) Chefe de Povoação;
q) os demais cargos políticos que venham a ser criados.

ARTIGO 5
(Princípios e deveres éticos)

1. A designação para um cargo público por eleição, por nomeação ou por


contrato, implica a estrita observância da Constituição e da legalidade, bem
como dos princípios e deveres de ética profissional que garantem o prestígio
dos cargos e das entidades neles investidos.
2. O exercício da função pública deve orientar-se para a satisfação do bem
comum que é seu fim último e essencial.
3. No exercício das suas funções, o servidor público tem sempre presente os
valores sociais da paz, segurança, liberdade e justiça.
4. O servidor público deve inspirar confiança nos cidadãos para fortalecer a
credibilidade da instituição que serve e dos seus gestores.

SECÇÃO II
Deveres éticos do servidor público

ARTIGO 6
(Princípios éticos)

O servidor público, além dos deveres gerais contidos na Constituição, e sem


prejuízo do que dispuser legislação específica, pauta a sua actuação pelos
seguintes deveres e princípios éticos:
a) não discriminação e igualdade;
b) legalidade;
c) lealdade;
d) probidade pública;
e) supremacia do interesse público;
f) eficiência;
g) responsabilidade;
h) objectividade;
i) justiça;
j) respeito pelo património público;
k) reserva e discrição;
l) decoro e respeito perante o público;
m) conhecimento das proibições e regimes especiais aplicáveis;
n) escusa de participação em actos em que incorra num conflito de interesse;
o) declaração de património;
p) parcimónia;
q) competência.
ARTIGO 7
(Dever de igualdade)

O servidor público exerce o seu cargo no respeito estrito pelo dever de não
discriminar, em razão da cor, raça, origem étnica, sexo, religião, filiação
política ou ideológica, instrução, situação económica ou condição social e
pelo princípio da igualdade de todos perante a Constituição e a lei.

ARTIGO 8
(Dever de legalidade)

1. Na sua actuação o servidor público observa estritamente a Constituição e


a lei.
2. No exercício das suas funções, o servidor público executa, com lealdade,
as missões e tarefas definidas superiormente, no respeito escrupuloso da lei
e das ordens legítimas dos superiores hierárquicos.

ARTIGO 9
(Dever de probidade pública)

O servidor público observa os valores de boa administração e honestidade


no desempenho da sua função, não podendo solicitar ou aceitar, para si ou
para terceiro, directa ou indirectamente, quaisquer presentes, empréstimos,
facilidades ou quaisquer ofertas que possam pôr em causa a liberdade da
sua acção, a independência do seu juízo e a credibilidade e autoridade da
administração pública, dos seus órgãos e serviços.

ARTIGO 10
(Dever de supremacia do interesse público)

O servidor público, no respeito dos direitos e interesses legalmente


protegidos coloca o interesse público acima de qualquer outro.

ARTIGO 11
(Dever de eficiência)

O servidor público desempenha as tarefas inerentes ao respectivo cargo com


mérito, brio, eficiência, esmero e profissionalismo, observando as seguintes
regras:
a) usar o tempo de trabalho na forma mais produtiva possível;
b) utilizar as formas mais eficientes e económicas de realizar as tarefas e
melhorar os sistemas administrativos;
c) conservar os bens que integram o património do Estado e de terceiros
que estejam sob sua guarda e entregá-los quando for o caso;
d) usar correctamente os bens, procurando retirar de cada um o máximo de
rendimento.
ARTIGO 12
(Dever de responsabilidade)

O servidor público deve actuar com sentido de dever para o cumprimento


do fim público da instituição que serve.

ARTIGO 13
(Dever de objectividade e interesse público)

1. O servidor público deve sempre emitir juízos objectivos e abster-se de


participar em qualquer decisão sob violência moral.
2. O servidor público exerce as suas funções e prossegue a sati sfação dos
interesses gerais dos cidadãos.

ARTIGO 14
(Dever de justiça)

O servidor público desenvolve as actividades inerentes à sua função com a


devida ponderação, garantindo justiça nas decisões que toma para a
resolução das pretensões ou interesses legítimos dos cidadãos.

ARTIGO 15
(Dever de respeito pelo património público)

1. O servidor público não deve usar o património público para fins pessoais,
bem como praticar actos que lesem ou que sejam susceptíveis de reduzir o
seu valor.
2. O servidor público não deve desviar, apropriar, esbanjar ou delapidar os
bens que tenha à sua guarda.
3. O servidor público deve conservar os bens públicos, devendo abster-se
de utilizar instalações, bens móveis e serviços em benefício particular.
4. No exercício das suas funções o servidor público deve agir com equilíbrio,
ponderação, moderação, cautela e precaução na utilização dos recursos
postos à sua disposição.

ARTIGO 16
(Dever de reserva e discrição)

Sem prejuízo do direito dos cidadãos à informação, o servidor público usa


da maior reserva e discrição em relação a factos e informações de que tenha
conhecimento, no exercício ou por causa do exercício das suas funções,
mesmo após a cessação de funções.
ARTIGO 17
(Dever de decoro)

1. O servidor público deve observar perante o público, no serviço ou fora


dele, conduta correcta, digna e decorosa, de acordo com a sua hierarquia e
função, evitando condutas que possam minar a confiança do público na
integridade do funcionário e da instituição que serve.
2. O servidor público deve respeitar e ser cortês no trato com os usuários do
serviço, seus superiores, subalternos e colegas.

ARTIGO 18
(Dever de conhecimento das proibições)

O servidor público deve conhecer as disposições legais e regulamentares


sobre impedimentos, incompatibilidades e proibições, e qualquer outro
regime especial que lhe seja aplicável, e assegurar-se de cumprir com as
acções necessárias para determinar se está ou não abrangido pelas
proibições neles estabelecidas.

ARTIGO 19
(Dever de escusa)

O servidor público deve abster-se de participar em qualquer processo


decisório, incluindo na sua fase prévia de consultas e informação, na qual a
sua vinculação com actividades externas seja ou possa ser afectada pela
decisão oficial, possa comprometer seu critério ou dar azo, com natural
razoabilidade, a dúvidas sobre a sua imparcialidade.

ARTIGO 20
(Dever de declaração de património)

O servidor público, ao assumir o cargo deve declarar, sob juramento, os seus


rendimentos e interesses patrimoniais, antes da tomada de posse, assim
como suas modificações durante o mandato, nos termos do capítulo III da
presente Lei.

ARTIGO 21
(Dever de parcimónia)

No exercício das suas funções o servidor público deve agir com equilíbrio,
ponderação, moderação, cautela e precaução na utilização dos recursos
postos à sua disposição.
ARTIGO 22
(Dever de Competência)

No exercício das suas funções o servidor público deve assumir o mérito, o


brio e a eficiência como critérios mais elevados de profissionalismo público.
ARTIGO 23
(Tempo de decisão)

1. O servidor público deve tomar a decisão no tempo requerido para a sua


adequada realização, com respeito aos prazos legais.
2. Na prossecução do interesse público, o servidor público deve tratar os
assuntos com diligência, evitando demoras e atrasos injustificados na
decisão, na resposta ou na comunicação da petição, solicitação ou
requerimento.
3. Constitui falta grave, passível de responsabilidade disciplinar e civil do
servidor público:
a) retardar ou deixar de praticar, injustificadamente, actos em condições
normalmente exigidas;
b) revelar factos relacionados com procedimentos ou processos em
apreciação, salvo nos casos de cumprimento do princípio do arquivo aberto;
c) recusar ou retardar a divulgação de actos públicos susceptíveis de
publicidade.

SECÇÃO III
Proibições gerais

ARTIGO 24
(Proibições)

Sem prejuízo das proibições que outras leis estabeleçam para casos
específicos, e do que dispõe o presente capítulo, as proibições fi xadas na
presente Lei, aplicam-se a todo o servidor público.

ARTIGO 25
(Proibições durante o exercício do cargo)

Durante o exercício da função é proibido ao servidor público:


a) usar o poder oficial ou a influência que dele deriva para conferir ou
procurar serviços especiais, nomeações ou qualquer outro benefício pessoal
que implique um privilégio para si próprio, seus familiares, amigos ou
qualquer outra pessoa, mediante remuneração ou não;
b) emitir normas em seu próprio benefício;
c) usar o título oficial, os distintivos, papel timbrado da instituição, ou o
prestígio dela para assuntos de carácter pessoal ou privado;
d) usar os serviços de pessoal subalterno, assim como os serviços que a
instituição presta, para benefício próprio, de familiares ou amigos, salvo as
regalias a que tem direito;
e) participar em transacções financeiras utilizando informação privilegiada,
não pública, e que tenha obtido em razão do cargo ou função;
f) aceitar pagamento ou honorários por discurso, conferência ou actividade
similar para o qual tenha sido convidado a participar na sua qualidade de
agente público;
g) levar a cabo trabalhos e actividades, remuneradas ou não, fora do seu
emprego, que estejam em conflito com os seus deveres e responsabilidade
ou cujo exercício possa dar lugar, com natural razoabilidade, a dúvidas sobre
a imparcialidade na tomada das decisões, salvo excepções admitidas por lei;
h) recolher ou solicitar, directa ou indirectamente, nas horas de trabalho,
contribuições ou quotizações de outros serviços públicos para qualquer fim;
i) recolher ou solicitar, directa ou indirectamente, contribuições ou
quotizações de outros servidores com o fim de obsequiar ou oferecer a um
superior;
j) actuar como agente ou advogado de uma pessoa em reclamações
administrativas ou judiciais contra a entidade que serve;
k) solicitar a governos estrangeiros ou a empresas privadas, colaboração
especial para viagens, bolsas de estudo, hospedagem, ofertas em dinheiro
ou outras liberalidades semelhantes, para seu próprio beneficio, seu
cônjuge, irmão, ascendente e descendentes, em qualquer grau da linha recta
ou para terceiro, salvo quando tal pedido resulte do exercício da função ou
cargo;
l) auferir benefícios à margem daqueles a que tenha legalmente direito e
utilizar abusivamente, para fins particulares seus ou de terceiros, os meios
que lhe estão confiados para o cumprimento das suas funções,
designadamente fundos orçamentais, viaturas de serviço, fotocopiadoras,
telefones, computadores, fax, scanners e demais equipamentos;
m) contratar para assessor, consultor ou adido de imprensa, trabalhadores,
colaboradores que prestam serviços num órgão de comunicação social.

ARTIGO 26
(Relação com terceiros)

Sem prejuízo do que se dispõe no Capítulo II sobre o Sistema de Conflitos


de Interesses, na sua relação com terceiros ou com os clientes ou usuários
do sector público, é proibido ao servidor público:
a) efectuar ou patrocinar para terceiros, trâmites ou gestão administrativa,
que se encontrem ou não a seu cargo, fora dos casos normais da prestação
do serviço ou actividade, de forma que a sua acção implique uma
discriminação a favor de terceiros;
b) dirigir, administrar, patrocinar, representar ou prestar serviços,
remunerados ou não, a pessoas físicas ou jurídicas, que gerem ou explorem
concessões ou privilégios da administração ou que tenham sido seus
provedores ou contratantes;
c) receber, directa ou indirectamente, benefícios originados em contratos,
concessões ou franquias, celebrados ou outorgados pela administração;
d) solicitar ou aceitar, directamente ou por interposta pessoa, presentes,
doações, favores, gorjetas ou benefícios de qualquer tipo, de pessoas que
procurem acções de carácter oficial em virtude do benefício concedido, o
que se presume, quando o benefício se dê em razão do cargo que se
desempenha, nos termos estabelecidos no capítulo II;
e) solicitar serviços ou recursos especiais para a instituição, quando eles
comprometam ou condicionem de alguma forma a tomada de decisões;
f) manter vínculos que signifiquem benefícios e obrigações com entidades
directamente fiscalizadas pela entidade oficial em que presta serviços, até
um ano após a cessação da relação de trabalho;
g) efectuar ou patrocinar para terceiros, trâmites ou gestão administrativa
directamente a seu cargo, até um ano após a cessação da relação de
trabalho.

ARTIGO 27
(Proibições durante o horário de trabalho)

No local de trabalho e durante as horas normais de expediente é proibido ao


servidor público:
a) realizar trabalhos pessoais ou outros alheios à sua responsabilidade;
b) adoptar condutas ou acções inoportunas e perturbadoras do ambiente
laboral;
c) promover actividades partidárias, políticas e religiosas.
ARTIGO 28
(Proibições no uso de bens)

É proibido ao servidor público:


a) usar os bens materiais e equipamento da instituição para fins pessoais;
b) usar as instalações físicas para algum outro propósito que não seja
consecução do fim público que compete à instituição;
c) usar equipamento do escritório e demais bens públicos, para assuntos
distintos do seu trabalho oficial;
d) utilizar, indevidamente, os veículos, combustível, ferramentas e
sobressalentes do veículo, atribuídos ao servidor público conforme as regras
específicas da instituição.

SECÇÃO IV
Ética

SUBSECÇÃO I
Disposições Gerais

ARTIGO 29
(Normas de conduta ética)

O titular ou membro de órgão público deve exercer as funções que


correspondem ao seu cargo, de acordo com o disposto na presente Lei, e
sem prejuízo do que se dispõe em estatuto próprio.

ARTIGO 30
(Princípios gerais)

1. O titular ou membro de órgão público cumpre funções destinadas a


satisfazer o interesse público e a realização do bem comum pelo que, no
exercício das suas prerrogativas, o interesse público prevalece sempre sobre
os interesses pessoais, políticos ou de qualquer outra natureza.
2. No exercício das suas funções o titular ou membro do órgão público tem
sempre presentes os valores sociais da paz, segurança, liberdade e justiça.

SUBSECÇÃO II
Deveres especiais

ARTIGO 31
(Deveres éticos)

São deveres éticos do titular ou membro de órgão público:


a) exercer a função com probidade;
b) depositar a declaração ajuramentada sobre a inexistência de
incompatibilidades ou impedimentos para o exercício do cargo, até 30 dias
após a tomada de posse;
c) abster-se de invocar a sua qualidade para realização dos seus interesses
pessoais e privados, incluindo as actividades profissionais a favor de
terceiros;
d) abster-se de participar na discussão e deliberação de assuntos nos quais
tenha interesse particular susceptível de causar um conflito de interesses+
nos termos do Capítulo II da presente Lei.

SUBSECÇÃO III
Proibições

ARTIGO 32
(Proibições)

1. Sem prejuízo das proibições gerais, é proibido ao titular ou membro de


órgão público:
a) exercer o mandato em benefício próprio ou outorgar-se, directa ou
indirectamente, algum benefício;
b) receber remunerações de outras instituições públicas ou empresas em
que o Estado tenha participação, seja em forma de salário, senhas de
presença ou honorários.
c) celebrar directa ou indirectamente, ou por representação, contrato algum
com a administração pública ou autárquica, ou com empresas em que tenha
participação o Estado;
d) discriminar, na selecção, qualquer pessoa, em razão da sua filiação
política ou partidária, salvo, no caso de nomeação, tratando-se de pessoal
de confiança;
e) nomear ou propor a nomeação de familiares para a instituição pública ou
instituições dependentes do titular ou do membro de órgão público;
f) utilizar ilegalmente recursos públicos para a promoção pessoal, ou do
partido político a que pertence.
2. Entende-se que contrata de forma indirecta quem, ocupando algum
desses cargos nas empresas co-contratantes do Estado, seja cônjuge ou
pessoa que viva como tal, irmão, ascendente ou descendente do titular ou
membro de órgão público.
3. Não se consideram, na previsão da alínea b) do n.º 1 do presente artigo, as
remunerações que provenham de direitos adquiridos de pensão de reforma
ou de sobrevivência, de previdência e segurança social, de vencimentos, de
ordenados por funções ou cargos exercidos anteriormente e de docência,
bem como de outros de propriedade intelectual.

CAPÍTULO II
Conflito de interesses

SECÇÃO I
Sistema de conflito de interesses

ARTIGO 33
(Conflito de interesses)

Ocorre conflito de interesses quando o servidor público se encontra em


circunstâncias em que os seus interesses pessoais interfiram ou possam
interferir no cumprimento dos seus deveres de isenção e imparcialidade na
prossecução do interesse público.

ARTIGO 34
(Objecto do sistema de conflito de interesses)

1. O objecto do sistema de conflito de interesses é promover a confiança


pública sobre a integridade da actuação pública e sobre o processo de
tomada de decisões pelos servidores público, mediante o estabelecimento
de normas e procedimentos que têm por finalidade assegurar que actuem
de acordo com os valores do primado da lei, da ética, justiça, do respeito
pelos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos, probidade e
profissionalismo.
2. O regime do sistema de conflito de interesses estabelece, ainda, normas
que identificam as circunstâncias em que ocorre o conflito de interesses, as
normas de gestão desses conflitos, as garantias administrativas, judiciais e
políticas aplicáveis ao servidor público e aos cidadãos em geral, bem como
o respectivo regime sancionatório.

ARTIGO 35
(Efeitos do conflito de interesses)

O servidor público deve abster-se de tomar decisões, praticar qualquer acto


ou celebrar contrato sempre que se encontre em qualquer circunstância que
configure conflito de interesses ou que possa criar no público a percepção
de falta de integridade na sua conduta.
SECÇÃO II
Tipos de conflito de interesses

ARTIGO 36
(Categorias)

1. O conflito de interesses abrange os seguintes tipos ou categorias:


a) relações de parentesco e de afinidade;
b) relações patrimoniais;
c) ofertas e gratificações;
d) uso ilegítimo da qualidade de agente público em benefício próprio;
e) a situação de ex-titular ou membro de órgão público.
2. Ainda que a presente Lei não se refira expressamente a alguma situação
correspondente a qualquer dos tipos ou categorias referidas no número
anterior, o servidor público deve suscitar a dúvida perante a Comissão de
Ética do sector, nos termos desta Lei ou, na sua ausência, perante os
respectivos superiores hierárquicos sempre que, potencialmente, os seus
interesses possam conflituar com os da entidade pública ou serviço no qual
se encontra.

ARTIGO 37
(Relações de parentesco e de afinidade)

1. Existe conflito de interesse decorrente de relações de parentesco quando


o servidor público tenha de tomar decisões, praticar um acto ou celebrar um
contrato em que nele tenha interesse financeiro ou de qualquer outra
natureza:
a) o seu cônjuge, qualquer que seja o regime de bens, ou pessoa com quem
viva como tal;
b) um ascendente ou descendente em qualquer grau de linha recta;
c) qualquer parente até ao 2.º grau da linha colateral;
d) afins de linha recta, até ao 2.º grau;
e) os filhos adoptivos.
2. O disposto no número anterior é ainda aplicável naqueles casos em que
os interesses, embora não financeiros, possam influenciar a isenção e
imparcialidade de quem deva tomar a decisão.

ARTIGO38
(Excepções)

As situações referidas no artigo anterior não impedem que o servidor


público seja professor de qualquer dos parentes ou afins ou que lhes possa
prestar cuidados de saúde.
ARTIGO 39
(Relações patrimoniais)

Para efeitos da presente Lei, considera-se existirem relações patrimoniais


passíveis de criarconflito de interesses quando o servidor público:
a) seja titular ou representante de outra pessoa em participações sociais ou
acções em qualquer sociedade comercial, civil ou cooperativa, que tenha
interesse numa decisão, negócio ou qualquer outro tipo de relação de
natureza patrimonial, com a entidade a que pertence e que tenha interesse
na decisão a tomar;
b) exerça actividade profissional liberal ou de outra natureza que se
relacione directamente com o órgão ou entidade na qual preste serviços;
c) preste serviços, ainda que eventuais, a empresa cuja actividade seja
controlada, fiscalizada ou regulada pelo ente ao qual o agente se encontra
vinculado;
d) por si, ou por interposta pessoa, singular ou colectiva, exerça uma
actividade profissional de assessoria ou de mandatário sob dependência de
serviços de entidades privadas ou particulares, em assuntos em que deva
intervir ou haja intervido em razão da sua qualidade de servidor público;
e) tenha uma relação de negócios ou exerça actividades que, directa ou
indirectamente, impliquem a manutenção de uma relação de prestação de
serviços com pessoa física ou jurídica que tenha interesse na decisão do
agente ou do órgão colegial a que pertence;
f) seja credor ou devedor de pessoa física ou jurídica que tenha interesse na
sua decisão ou na do órgão colegial a que pertence.

ARTIGO 40
(Enriquecimento ilícito)

1. Constitui acto de improbidade pública conducente ao enriquecimento


ilícito obter qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida, em virtude do
cargo, do mandato, da função, da actividade ou do emprego do servidor
público.
2. Para efeitos do número anterior consideram-se de improbidade pública,
nomeadamente os seguintes actos:
a) receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou
qualquer outra vantagem económica, directa ou indirecta, a título de
comissão, percentagem, gratificação ou de presente de quem tenha
interesse, directo ou indirecto, que possa ser atingido ou amparado por
acção ou omissão decorrente das atribuições do servidor público;
b) obter vantagem económica, directa ou indirecta, para facilitar a aquisição,
a permuta ou a locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação de
serviços pela entidade pública por preço superior ao valor de mercado;
c) obter vantagem económica, directa ou indirecta, para facilitar a alienação,
a permuta ou a locação de bem público ou o fornecimento de serviço pela
entidade pública por preço inferior ao valor do mercado;
d) utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos
ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de
entidade pública, bem como o trabalho de servidores públicos, empregados
ou terceiros contratados por entidade pública;
e) obter vantagem económica de qualquer natureza, directa ou indirecta,
para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de
narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qualquer outra actividade
ilícita ou aceitar promessa de tal vantagem;
f) obter vantagem económica de qualquer natureza, directa ou indirecta,
para fazer declaração falsa sobre medição ou avaliação em obras públicas
ou qualquer outro serviço ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou
característica de mercadorias ou bens fornecidos a qualquer entidade
pública;
g) adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, cargo, emprego
ou função pública, bens de qualquer natureza cujo valor seja
desproporcional à evolução do património ou à renda do servidor público;
h) aceitar emprego ou exercer actividade de consultoria para pessoa física
ou jurídica que tenham interesse susceptível de ser atingido ou amparado
por acção ou por omissão decorrente das atribuições do agente público,
durante a actividade;
i) obter vantagem económica de qualquer natureza, directa ou
indirectamente, para omitir acto de ofício, providência ou declaração a que
esteja obrigado;
j) integrar, no seu património, de forma ilícita, bens, rendas, verbas ou
valores pertencentes ao acervo patrimonial de entidade pública;
k) usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores integrantes do
acervo patrimonial de entidade pública;
l) obter vantagem económica para intermediar a disponibilização ou a
aplicação de verba pública de qualquer natureza.

ARTIGO 41
(Ofertas ou gratificações não admissíveis)

1. O servidor público não deve, pelo exercício das suas funções, exigir ou
receber benefícios e ofertas, directamente ou por interposta pessoa, de
entidades singulares ou colectivas, de direito moçambicano ou estrangeiro.
2. São incluídas na proibição estabelecida no número anterior todas as
ofertas com valor superior a um terço do salário mensal do titular de cargo
político ou servidor público, pago pela entidade pública para que presta
serviços, seja, nomeadamente em:
a) moeda nacional ou estrangeira;
b) bens móveis de qualquer natureza, tais como mobiliários,
electrodomésticos, jóias e outro tipo de artefactos;
c) bens imóveis ou em quaisquer serviços de reparação dos imóveis do
agente público, bem como o seu arrendamento;
d) viaturas, embarcações ou quaisquer meios de transporte;
e) férias pagas;
f) quaisquer tipo de ofertas ou vantagens.
3. É ainda vedado ao servidor público receber qualquer tipo de oferta,
independentemente do seu valor, de quem tenha interesse numa decisão
que ele, o agente, venha a tomar sobre determinado assunto.
4. O disposto no presente artigo é ainda aplicável aos casos em que seja
oferecido ao servidor público alguma hospitalidade, cortesia, ou qualquer
tipo de ofertas.
5. As ofertas que, pela sua natureza e valor pecuniário, sejam susceptíveis
de comprometer o exercício das suas funções com a lisura requerida e sejam
lesivas à boa imagem do Estado.
6. Em caso de dúvida sobre se determinada oferta, gratificação ou
hospitalidade constitui uma circunstância de conflito de interesses, o
servidor público deve comunicar o facto à Comissão de Ética do sector ou,
na sua falta, ao superior hierárquico.

ARTIGO 42
(Ofertas e gratificações admissíveis)

É permitido ao servidor público o recebimento de ofertas nas seguintes


situações:
a) quando elas se destinem a serem integradas no património do Estado ou
de qualquer entidade pública com autonomia patrimonial, sem prejuízo de
que, se tais ofertas forem de valor superior a 200 salários mínimos, elas não
ocorram nos 365 dias anteriores ou posteriores àqueles dentro dos quais os
órgãos da entidade beneficiária devam praticar algum acto que produza
efeitos na esfera de quem as oferece;
b) ofertas que se enquadrem na prática protocolar e não sejam lesivas à boa
imagem do Estado e demais pessoas públicas;
c) os presentes por ocasião de datas festivas, nomeadamente aniversário,
casamento, festas religiosas, desde que não ultrapassem os limites
estabelecidos na presente Lei.

ARTIGO 43
(Uso ilegítimo da qualidade)

Considera-se uso ilegítimo da qualidade de servidor público e gerador de


situação de conflito de interesses:
a) o aproveitamento da função pública para ganhos individuais;
b) o uso de informação privilegiada ou classificada em proveito próprio ou
de terceiros, enquanto tal informação se mantiver inacessível à generalidade
do público;
c) uso dos bens públicos em proveito individual, salvo os casos devidamente
previstos na lei;
d) uso do período de trabalho ou de duração de mandato público para obter
vantagens pessoais, nomeadamente prestação de actividades, remuneradas
ou não remuneradas, fora da Administração Pública;
e) praticar acto em benefício de interesse de pessoa jurídica em que o
agente participe como sócio ou membro, bem como em benefício de
qualquer das pessoas abrangidas pelo regime de conflito de interesse em
razão das relações de parentesco;
f) qualquer tipo de contrato, assuntos, operação ou actividade, em que se
aproveite de tal circunstância para preparar ou facilitar qualquer forma de
participação directa ou por interposta pessoa;
g) actuar, a qualquer título, como assessor, consultor, mandatário ou
intermediário de interesses privados junto da entidade pública a que está
vinculado ou com que esta tenha relações de dependência hierárquica ou de
tutela.
ARTIGO 44
(Prevenção de aproveitamento ilegítimo)

Sem prejuízo das limitações impostas aos ex-servidores públicos e de outros


casos previstos na presente Lei ou outra legislação, nenhum servidor público
pode, durante o período em que mantiver o vínculo com qualquer entidade
pública:
a) fazer, a título privado, apresentações públicas, pronunciamentos, publicar
livros ou escritos sobre matérias relativas à instituição em que serve sem
fazer menção de que as suas ideias não representam necessariamente as da
entidade para que trabalha;
b) fazer o endosso ou publicitação em benefício de um produto, serviço ou
empresas, incluindo para benefício de familiares e amigos ou para pessoa
com que o agente tenha relações associativas em organizações cívicas,
excepto os casos em que tais circunstâncias resultem da natureza das
funções do agente;
c) criar a impressão no público de que a instituição em que serve aprova ou
faz endosso das suas actividades privadas ou intervenções de cidadania;
d) fazer uso de papel oficial ou fazer menção do seu cargo público em cartas
de recomendação para emprego a favor de terceiros, excepto nos casos em
que os beneficiários tenham tido relações profissionais na entidade pública
ou tal candidatura se destine a ocupar vaga em instituições públicas;
e) fazer uso do seu cargo público para induzir qualquer outro cidadão,
incluindo seus subordinados, a conceder-lhe qualquer benefício financeiro
ou de qualquer outra natureza para si próprio ou para terceiros com quem
tenha relações.
SECÇÃO III Conflito de interesses após cessação de funções

ARTIGO 45
(Deveres antes de deixar cargo público)

Enquanto mantiver vínculo com qualquer entidade pública, ainda que esteja
em processo de desvinculação, o servidor público deve:
a) evitar que os seus planos de vida pós-emprego ou ofertas de emprego
possam afectar a sua integridade;
b) informar, por escrito, à Comissão de Ética ou, na sua ausência, ao seu
superior hierárquico, qualquer oferta de emprego capaz de colocar-lhe numa
situação de potencial conflito de interesse antes e depois da cessação das
funções.

ARTIGO 46
(Deveres específicos do ex-servidor público)

1. Depois de cessar as funções públicas, o servidor público está, a todo o


tempo, proibido de:
a) actuar em forma tal que obtenha da sua antiga instituição vantagens
indevidas para si ou para terceiros;
b) participar em qualquer procedimento negocial, contratual ou de outra
natureza, com a instituição pública em que serve, a favor de si próprio ou em
representação de terceiros, desde que nele tenha intervido como
funcionário, perito ou conselheiro;
c) fazer uso, em proveito próprio ou de terceiro, de informação classificada
relativa à entidade para qual tenha trabalhado ou que durante o período de
serviço tenha tido com ela relações de subordinação ou tutela.
2. No período de 2 anos, contados da data de cessação de funções públicas,
qualquer que seja a causa, o ex-servidor público está proibido de:
a) prestar qualquer tipo de serviço à pessoa física ou jurídica com quem
tenha estabelecido relacionamento relevante em razão do seu cargo ou
emprego anterior;
b) aceitar cargo nos órgãos sociais, de avençado ou prestador de serviço
liberal com pessoa física ou jurídica cujo objecto social ou de actividade
esteja relacionado com o seu anterior cargo ou emprego;
c) fazer negócios para si ou intermediação de negócios a favor de terceiros
com a entidade pública em que prestou serviços.

ARTIGO 47
(Obrigações do servidor público ao cessar funções)

1. Após cessar funções o servidor público deve estar disponível para a


passagem de pastas.
2. O servidor público deve, no prazo máximo de 30 dias, proceder à
restituição da habitação, do material, do equipamento e dos meios da
instituição que, por força da função, estiveram ao seu dispor.

SECÇÃO IV
Garantias de integridade

SUBSECÇÃO I
Princípios gerais

ARTIGO 48
(Responsabilidade individual)

É da responsabilidade individual do servidor público fazer a identificação e


gestão das situações pessoais de conflito de interesses.

ARTIGO 49
(Responsabilidade institucional)

1. Constitui responsabilidade institucional de todas as entidades públicas


garantir a difusão e o conhecimento das normas de conduta junto dos seus
agentes, bem como do público em geral.
2. Constitui ainda responsabilidade pessoal dos dirigentes superiores das
instituições públicas pôr em prática políticas, procedimentos e sistemas de
apoio aos servidores públicos sobre a forma de identificação e gestão dos
conflitos de interesses.
SUBSECÇÃO II
Comissões de ética pública

ARTIGO 50
(Comissão central de ética pública)

1. É criada a Comissão Central de Ética Pública – CCEP com as seguintes


atribuições:
a) administrar o sistema de conflitos estabelecido na presente Lei;
b) estabelecer regras, procedimentos e mecanismos que tenham em vista
prevenir ou impedir eventuais conflitos de interesses;
c) avaliar e fiscalizar a ocorrência de situações que configurem conflito de
interesses e determinar medidas apropriadas para a sua prevenção e
eliminação, incluindo a apresentação de queixas ou participação criminal
junto ao Ministério Público;
d) orientar e coordenar a acção das Comissões de Ética Pública;
e) orientar e dirimir dúvidas e controvérsias acerca da interpretação das
normas que regulam os conflitos de interesses, estabelecidas na presente Lei
e noutras leis, sem prejuízo das competências próprias dos tribunais sobre a
matéria;
f) receber e dar andamento às denúncias públicas relativas a situações de
conflitos de interesses, devendo deliberá-las ou remeté-las aos órgãos
competentes para promover procedimento disciplinar ou criminal;
g) garantir a protecção dos denunciantes de conflitos de interesses, de
acordo com o regime geral de protecção das testemunhas, vítimas,
denunciantes e outros operadores processuais;
h) divulgar e promover os princípios e deveres éticos do servidor público;
i) submeter, para decisão do governo e para os efeitos de aplicação desta
Lei, na sua alínea q) do artigo 4, os demais cargos políticos que venham a
ser criados.
2. A Comissão Central de Ética Pública é constituída por nove membros, três
designados pelo Governo, três pela Assembleia da República e três pelos
Conselhos Superiores das Magistraturas, para um mandato de três anos
podendo apenas ser reeleitos por mandatos intercalados.
3. A presidência da CCEP é exercida de forma rotativa, por cada um dos
designados de cada um dos poderes, para um mandato anual. A sua eleição
cabe aos pares.

ARTIGO51
(Outras comissões de ética)

1. Nos órgãos centrais do Estado, nas instituições subordinadas ou sob sua


tutela, nas instituições autónomas, empresas públicas ou de capitais
públicos, existem Comissões de Ética Pública – CEP que, sob orientação e
coordenação da Comissão Central de Ética Pública, garantem e fiscalizam a
aplicação das normas do sistema de conflitos de interesses.
2. As Comissões de Ética Pública são constituídas por 3 pessoas, duas eleitas
pelos funcionários da instituição ou empresa pública, cujos nomes estão
sujeitos à homologação pelo dirigente máximo da instituição, a quem cabe
designar uma terceira pessoa como presidente da Comissão.
3. Se o dirigente objectar uma, ou ambas as pessoas propostas, escolhe os
substitutos de entre 3 suplentes igualmente propostos pelos funcionários.
ARTIGO 52
(Requisitos)

1. Os membros da CCEP são designados de entre cidadãos moçambicanos


de reconhecido mérito moral e de elevada idoneidade e integridade e que
não se encontrem abrangidos pelas alíneas c) e d) do n.º 2 do presente
artigo.
2. Os membros das CEP devem reunir os seguintes requisitos:
a) ser funcionário há pelo menos 5 anos;
b) haver-se destacado no serviço por mérito, sentido de responsabilidade,
eficiência e bom trato nas relações humanas;
c) não ter sofrido sanções disciplinares nos últimos cinco anos;
d) não ter sido condenado por crime culposo em violação dos deveres da
função pública, ou outro delito de carácter doloso.

ARTIGO 53
(Gratuitidade)

O exercício do cargo de membro da Comissão Central de Ética e das


Comissões de Ética Pública é de carácter gratuito, podendo ser dispensado
do seu trabalho normal pelo tempo requerido para cumprir com os deveres
inerentes ao cargo, sempre que se mostre necessário.

ARTIGO 54
(Denúncia e arguição do conflito de interesses)

1. Qualquer cidadão interessado pode requerer à Comissão de Ética Pública


ou ao superior hierárquico do agente público em causa a declaração de
existência de conflito de interesses, enquanto não for proferida a decisão ou
não for praticado o acto ou celebrado o contrato.
2. O requerimento nos termos do número anterior suspende todo o
procedimento até decisão da Comissão de Ética Pública ou do superior
hierárquico.
3. Se o interessado constatar a existência do conflito de interesses após a
tomada de decisão, a prática do acto ou a celebração do contrato, pode
recorrer do acto nos termos gerais.

ARTIGO 55
(Articulação)

A Comissão Central de Ética Pública e as Comissões de Ética Públicas


transmitem oficiosamente ao Gabinete Central de Combate à Corrupção –
GCCC e aos Gabinetes Provinciais de Combate à Corrupção – GPCC todas as
suas deliberações sobre casos confirmados de conflito de interesses,
independentemente de configurarem ou não crime de corrupção.
SECÇÃO V
Conflito de interesses público

ARTIGO 56
(Conflito de interesses na actividade pública)

1. Quando o titular ou membro de órgão público apresente projecto de lei


ou intervenha em quaisquer trabalhos deve, previamente, declarar a
existência de interesse particular, na matéria em causa.
2. São, designadamente considerados como causas de um eventual conflito
de interesses:
a) ser titular ou membro de órgão público, cônjuge ou seu parente, ou afim,
em linha recta ou até ao segundo grau da linha colateral, ou pessoa com
quem viva em economia comum, titular de direitos ou parte, em negócio
jurídico cuja existência, validade ou efeitos se alterem em consequência
directa da decisão;
b) ser titular ou membro de órgão público, cônjuge ou parente ou afim em
linha recta ou até ao segundo grau da linha colateral, ou pessoa com quem
viva em economia comum, membro de órgão social, mandatário, empregado
ou colaborador permanente de sociedade ou pessoa colectiva de fim
desinteressado, cuja situação jurídica possa ser modificada por forma
directa pela decisão.
3. A declaração referida no número anterior pode ser feita na primeira
intervenção do titular ou membro de órgão público, ou antes do
procedimento ou actividade em causa.

CAPÍTULO III
Declaração de património

SECÇÃO I
Sistema de declaração de bens

ARTIGO 57
(Declaração de património)

O exercício de funções públicas está sujeito a declaração dos direitos,


rendimentos, títulos, acções ou de qualquer outra espécie de bens e valores,
localizados no país ou no estrangeiro, conforme modelo a ser aprovado nos
termos do artigo 89, que constituem o património privado das entidades
adiante indicadas, e nos termos que se seguem.

ARTIGO 58
(Entidades sujeitas à declaração de património)

Estão sujeitos à declaração de rendimentos e bens patrimoniais, as seguintes


entidades:
a) titulares de cargo político providos por eleição ou nomeação;
b) juízes e magistrados do Ministério Público, sem excepção;
c) gestores e responsáveis da Administração Central e Local do Estado;
d) membros do Conselho de Administração do Banco de Moçambique;
e) administradores do Banco de Moçambique;
f) quadros de direcção da Autoridade Tributária;
g) gestores do património público afecto às Forças Armadas e à Polícia,
independentemente da sua qualidade;
h) gestores e responsáveis dos institutos públicos, dos fundos ou fundações
públicas, das empresas públicas e os gestores públicos das empresas
participadas pelo Estado;
i) membros da Assembleia Provincial.

ARTIGO 59
(Conteúdo da declaração)

1. A declaração, além dos dados pessoais de identificação, deve conter de


forma discriminada, todos os elementos que permitam uma avaliação
rigorosa do património e rendimentos do declarante e do seu cônjuge, ou
pessoa que com ele viva em situação análoga à de cônjuge, filhos menores
e dependentes legais, e organiza-se em duas partes, nos termos dos números
seguintes.
2. A Parte I da declaração contém os dados pessoais de identificação do
declarante e do seu cônjuge, ou pessoa que com ele viva em situação
análoga à de cônjuge, filhos menores e dependentes legais.
3. A Parte II contém os elementos, ordenados por grandes rubricas, que
permitam uma avaliação rigorosa do património e rendimentos do
declarante e do seu cônjuge, ou pessoa que com ele viva como tal, filhos
menores e dependentes legais, no momento em que é prestada a declaração,
existentes no país ou no estrangeiro, designadamente os seguintes:
a) o património imobiliário, quotas, acções ou outras partes sociais do
capital de sociedades civis ou comerciais, de direitos sobre barcos,
aeronaves ou veículos automóveis, direitos de uso e aproveitamento de
terra, superior a um hectar, carteiras de títulos, contas bancárias a prazo,
aplicações financeiras equivalentes e desde que superior a 100 salários
mínimos da função pública, contas bancárias à ordem e direitos de crédito,
no País ou no estrangeiro;
b) a descrição do respectivo passivo, designadamente em relação ao Estado,
às instituições de crédito e quaisquer empresas no País ou no estrangeiro;
c) a menção de cargos sociais que exerçam ou tenham exercido nos dois
anos que precedem a declaração, em empresas públicas ou privadas e em
organizações nacionais ou internacionais no País ou no estrangeiro;
d) a indicação do rendimento colectável bruto, para efeitos do Imposto
sobre Rendimento de Pessoa Singular, bem como dos demais rendimentos
isentos ou não sujeitos ao mesmo imposto.
4. A declaração exigida nos termos do presente artigo deve integrar, além
do património dos cônjuges, ou da pessoa com quem o declarante viva como
tal, o dos filhos menores ou incapazes, ou outros dependentes legais.
5. A declaração abrange os elementos referidos nos números anteriores,
ainda que produzidos, constituídos, recebidos, exercidos ou prestados fora
do País.
6. Os elementos referidos nos números anteriores devem ser descritos de
forma a darem a conhecer, com clareza, a sua natureza, situação,
identificação, proveniência, montante, valor, entidades emitentes,
depositárias, credoras ou devedoras, e demais informações que, em cada
caso, possam ser relevantes.
ARTIGO 60
(Forma da declaração)

1. A declaração efectuada em impresso de modelo anexo à presente Lei é


prestada sob compromisso de honra pelo declarante.
2. Quando ambos os cônjuges, ou pessoas que vivam em situação análoga à
de cônjuges, estiverem obrigados a apresentar declaração, pode ser
prestada uma única declaração, nos termos dos números anteriores, por eles
assinada.

SECÇÃO II
Depósito, fiscalização e registo

ARTIGO 61
(Entidades depositárias)

1. A entidade depositária das declarações de bens é a Procuradoria-Geral da


República, a todos os níveis.
2. O Procurador-Geral da República, o Vice-Procurador-Geral da República,
os Procuradores-Gerais-Adjuntos e magistrados do Ministério Público
depositam as respectivas declarações de bens no Tribunal Administrativo.

ARTIGO 62
(Actualização da declaração)

1. A declaração de património e rendimentos é actualizada anualmente e no


caso de não haver lugar a qualquer actualização deve declarar-se esse facto.
2. O servidor público, apresenta no mesmo prazo, declaração actualizada,
sempre que ocorra a sua recondução, reeleição, ou renovação do vínculo
que obriga à declaração.
3. No prazo de sessenta dias, a contar da cessação das funções que
determinaram a apresentação da declaração inicial, deve ser apresentada
uma declaração final, actualizada, reflectindo a evolução patrimonial no
decurso do mandato a que respeita.

ARTIGO 63
(Avaliação, fiscalização e instrução)

1. O representante do Ministério Público junto da entidade depositária,


fiscaliza e avalia todo o sistema de declaração de património e rendimentos,
dispondo de livre acesso às mesmas.
2. As entidades públicas podem, sempre que considerem necessário,
requerer à Procuradoria-Geral da República ou a Procuradoria Provincial,
conforme o caso, a fiscalização ou avaliação específica relativamente a
declaração de património de qualquer servidor público do respectivo sector
ou área de jurisdição.
3. Sempre que as entidades indicadas no número anterior considerem existir
indícios bastantes de crime ou de violação da presente Lei, instauram o
competente processo.

ARTIGO 64
(Comissão de Recepção e Verificação)

1. Em cada uma das entidades depositárias referidas no artigo 61, existe uma
Comissão de Recepção e Verificação encarregada de receber as declarações
e de proceder à verificação da sua conformidade com as pertinentes
disposições da presente Lei.
2. Em função da verificação a Comissão emite, se for o caso, notificações aos
declarantes para correcção de erros, irregularidades, ou suprimento de
omissões, e autua as declarações em processo próprio, organizado para cada
declarante.
3. Cada Comissão de Recepção e Verificação integra quatro funcionários de
comprovada idoneidade e é presidida por um quinto de hierarquia mais
elevada.

ARTIGO 65
(Registo)

1. A apresentação das declarações é registada em livro próprio, contendo


termos de abertura e de encerramento, assinados pelo Presidente da
Comissão de Recepção e Verificação que rubrica todas as suas folhas
devidamente numeradas.
2. Ao registo averba-se:
a) o nome do declarante, ou declarantes, a entidade onde presta funções e
a indicação do cargo ou função que exerce;
b) a data da apresentação da declaração;
c) a menção do número do respectivo processo.
3. Do registo deve constar:
a) a nota identificativa das actualizações da declaração;
b) a nota identificativa de decisões proferidas sobre omissão, irregularidade,
imprecisão ou inexactidão das declarações, bem como de qualquer outro
facto relevante;
c) a nota do requerimento de acesso, consulta efectuada, com identificação
do consulente e motivo da consulta.
4. A Comissão de Recepção e Verificação mantém devidamente actualizado
um ficheiro onomástico dos processos individuais, de modo a permitir a fácil
localização dos mesmos.
5. Em cada entidade depositária os membros da Comissão de Recepção e
Verificação são os únicos a ter acesso interno aos processos, sem prejuízo
das regras de confidencialidade estabelecidas na presente Lei.
SECÇÃO III
Consulta pública

ARTIGO 66
(Legitimidade para acesso)

Além dos membros da Comissão de Recepção e Verificação, e sem prejuízo


do princípio de confidencialidade estabelecido na presente Lei, tem
legitimidade para o livre acesso aos processos de declaração:
a) o declarante;
b) as autoridades judiciárias;
c) o Gabinete Central e Provincial de Combate à Corrupção;
d) os órgãos e autoridades de investigação criminal;
e) qualquer pessoa, singular ou colectiva, nos termos dos artigos 68 e
seguintes da presente Lei.

ARTIGO 67
(Consulta pública e divulgação)

1. O acesso ao livro de registo e à Parte I das declarações é livre.


2. Qualquer pessoa que justifique ter interesse relevante no respectivo
conhecimento pode requerer às entidades depositárias, consulta à Parte II
da declaração de património depositada ao abrigo da presente Lei.
3. O requerimento referido no número anterior, e quando se trate de pedido
de qualquer das entidades indicadas na alínea e) do artigo anterior, é dado
a conhecer ao declarante a fim de este, querendo, contestar o pedido de
acesso, no prazo de três dias.
4. A Comissão de Recepção e Verificação, no prazo de três dias, submete o
requerimento, devidamente informado, ao dirigente da instituição
depositária que decide, em igual prazo, e notifica o requerente e o
declarante da decisão tomada.
5. Em caso de indeferimento o requerente pode recorrer da decisão para o
Conselho Constitucional, que decide em última instância.

ARTIGO 68
(Forma de acesso)

O acesso às declarações, ao livro de registo e aos processos referidos nos


artigos anteriores, faz-se nos seguintes termos:
a) mediante consulta directa nas instalações das entidades depositárias, com
a necessária reserva, e durante as horas de expediente;
b) em casos devidamente justificados, através da passagem de certidões ou
fotocópias autenticadas dos elementos que as integram.

ARTIGO 69
(Confidencialidade)

1. Não é permitida a difusão ou divulgação do conteúdo da Parte II das


declarações.
2. A difusão, divulgação ou publicação, no todo ou em parte, do conteúdo
da Parte II da declaração de património faz incorrer o infractor na pena de
três dias a 6 meses de prisão, sem prejuízo da indemnização a que houver
lugar.
3. No caso de se desconhecer o responsável directo pela publicação referida
no número anterior, responde pessoalmente, nos termos do mesmo número,
o director ou o Presidente do Conselho de Administração do órgão de
comunicação social.
4. Os elementos da declaração obtidos com violação do disposto no artigo
68 não fazem prova contra o declarante, sendo nulas as provas assim
obtidas.

CAPÍTULO IV
Sanções I

SECÇÃO I
Violação e incumprimento

ARTIGO 70
(Violação do procedimento de acesso)

Quem, aproveitando-se das funções ou do cargo que, a qualquer título,


exerce ou detém, facilitar, permitir ou autorizar o acesso às declarações de
património ou aos respectivos processos, violando as condições e
procedimentos legais, é punido com a pena de prisão de 1 mês a 2 anos e
multa correspondente a dois vencimentos.

ARTIGO 71
(Entrega da declaração fora do prazo legal)

A falta de entrega da declaração, no prazo legal, é sancionada com multa de


montante correspondente ao dobro da remuneração mensal do titular do
cargo público, e determina a suspensão do pagamento da remuneração até
ao cumprimento da obrigação de entrega da declaração em falta.

ARTIGO 72
(Falta e incumprimento)

1. Quando se verifique falta de entrega da declaração ou omissão de


elementos que dela devam constar, estabelecidos nos artigos 59 e 62 da
presente Lei, as entidades depositárias notificam o faltoso para, no prazo de
10 dias, sanar o incumprimento.
2. Continuando a verificar-se o incumprimento, e decorrido o prazo a que se
refere o número anterior, a entidade depositária manda extrair certidão do
facto e remete ao Ministério Público para procedimento criminal.
3. A persistência no incumprimento da obrigação, após o decurso do prazo
estabelecido no n.º 1, constitui crime de desobediência punível com pena de
demissão, com inibição de assumir cargos ou funções durante cinco anos.
ARTIGO 73
(Preenchimento fraudulento da declaração)

O preenchimento fraudulento das declarações referidas nos artigos 59 e 62


ou a omissão fraudulenta de dados que devam constar dessas declarações,
são sancionados com pena de demissão, com inibição de assumir cargos ou
funções durante cinco anos, sem prejuízo de responsabilidade civil e
criminal.
ARTIGO 74
(Prevaricação)

O servidor público que, contra o que esteja legalmente estatuído, conduza


ou decida um processo em que intervenha, no exercício das suas funções,
com a intenção de prejudicar ou beneficiar alguém, é punido com prisão de
seis meses a dois anos.

ARTIGO 75
(Denegação do poder disciplinar)

O servidor público que, no exercício das suas funções, se recuse a exercer o


poder disciplinar que lhe caiba, nos termos das suas competências, é
destituído da função, sendo lhe aplicada multa correspondente.

ARTIGO 76
(Não acatamento ou recusa de execução de decisão judicial)

O servidor público que, no exercício das suas funções, não acate ou se


oponha à execução de decisão judicial transitada em julgado, que lhe caiba
por dever de cargo, é punido com prisão e multa correspondente.

ARTIGO 77
(Violação de normas de execução do plano e orçamento)

O servidor público a quem, por dever do seu cargo, incumba o cumprimento


de normas de execução do plano ou do orçamento e, voluntariamente, as
viole é punido com pena de prisão, quando:
a) contraia encargos não permitidos por lei;
b) autorize ou promova operações de tesouraria ou alterações orçamentais
proibidas por lei;
c) dê ao dinheiro público um destino diferente daquele a que esteja
legalmente afectado.
ARTIGO 78
(Enriquecimento sem causa)

O servidor público que, no exercício das suas funções, aproveitando-se de


erro de outrem, receba, para si ou para terceiro, taxas, emolumentos ou
outros valores não devidos ou superiores aos devidos, é punido de acordo
com o valor indevidamente recebido, nos termos da legislação penal.
ARTIGO 79
(Emprego de força pública contra a lei)

O titular de cargo de responsabilidade que, sendo competente em razão das


suas funções para requisitar ou ordenar o emprego de força pública,
requisitar ou ordenar esse emprego para impedir a execução de alguma lei,
mandado regular de justiça ou de ordem de autoridade pública é punido com
pena de prisão.
Artigo 80 (Abuso de poder)
O titular de cargo de responsabilidade que, abusando dos poderes que a lei
lhe confere ou violando os deveres inerentes às funções ou por qualquer
fraude obtenha, para si ou para terceiro, um benefício ilegítimo ou cause
prejuízo a entidade pública ou privada é punido com prisão e multa
correspondente, se pena mais grave não couber por força de outra
disposição legal.

ARTIGO 81
(Denúncia caluniosa)

Quem participar ou denunciar falsamente, com a intenção de comprometer


ou de lesar a consideração e o bom nome do denunciado ou com
negligência, é punido com prisão de três a 18 meses, sem prejuízo de
indemnizar o lesado pelos danos materiais, morais ou à imagem que haja
provocado.

ARTIGO 82
(Responsabilidade civil)

1. O Estado e as demais pessoas colectivas públicas, através dos seus órgãos


ou serviços a que esteja vinculado o servidor público, respondem
solidariamente com este pelas perdas e danos causados a terceiros.
2. As pessoas colectivas públicas gozam do direito de regresso contra o
servidor público, pelas indemnizações pagas nos termos do número anterior.
3. A absolvição pelo tribunal criminal não extingue o dever de indemnização,
que pode ser pedida em tribunal cível.

ARTIGO 83
(Exclusão da responsabilidade disciplinar)

1. É excluída a responsabilidade disciplinar do servidor público que actue no


cumprimento de ordens ou de instruções emanadas de legítimo superior
hierárquico, em matéria de serviço, se delas tenha reclamado ou exigido a
sua transmissão ou confirmação.
2. Considerando ilegal a ordem recebida, o servidor público faz menção
desse facto ao reclamar ou ao pedir a sua transmissão ou confirmação.
3. Quando a ordem seja dada com menção de cumprimento imediato, a
comunicação do servidor público é efectuada após a execução da ordem.
4. Cessa o dever de obediência sempre que o cumprimento das ordens ou
instruções implique a prática de crime.

ARTIGO 84
(Excepções)

Sem prejuízo do disposto no n.º 2 do artigo 90, observam-se regimes


próprios estabelecidos ou que vierem a ser estabelecidos nos respectivos
estatutos, relativamente ao Presidente da República, aos Deputados da
Assembleia da República, aos Juízes e aos Magistrados do Ministério
Público.

SECÇÃO II
Sanções

ARTIGO 85
(Anulabilidade e nulidade dos actos)

1. Sem prejuízo da aplicação de outras sanções, os actos ou contratos


celebrados em violação do regime de conflito de interesses ou de quaisquer
normas de conduta, estão sujeitos a anulação, a requerimento dos
interessados.
2. Quando o conflito de interesses resulte de relações de carácter
patrimonial, nos termos definidos na presente Lei, ou nos de qualquer outra
legislação que estabeleça normas de conduta, os actos ou contratos
celebrados são nulos e de nenhum efeito.

ARTIGO 86
(Responsabilidade civil)

1. Nos casos em que, da violação de normas de conflitos de interesses


resultarem prejuízos para a entidade pública ou para terceiros, o agente do
Estado que lhes deu causa responde nos termos da responsabilidade civil
extracontratual.
2. O disposto no número anterior não afasta a responsabilidade solidária do
Estado e o respectivo direito de regresso.

ARTIGO 87
(Sanções disciplinares)

Sem prejuízo de aplicação em regime de concurso, de outro tipo de sanções


disciplinares, a violação das regras relativas aos conflitos de interesse
constitui infracção disciplinar de:
a) prática de procedimento atentatório ao prestígio e dignidade da função,
se for cometida por servidor público que não exerça nenhum cargo de chefia
é sancionada com a pena de demissão;
b) prática de actos atentatórios ao prestígio ou dignidade do Estado ou da
entidade pública para que presta serviços, se cometida por servidor público
titular de algum cargo de chefia e é sancionada com pena de expulsão.

ARTIGO 88
(Sanções penais)

Se os actos praticados pelo servidor público em violação do regime do


conflito de interesses configurarem crime, é punido nos termos previstos no
Código Penal ou legislação específica.

CAPÍTULO V
Disposições finais

SECÇÃO I
Disposições finais

ARTIGO 89
(Modelo de declaração e regulamentação)

Cabe à Comissão Central de Ética Pública submeter à decisão do Governo o


Modelo de Declaração a que se refere o artigo 59, bem como o que se
mostrar necessário para o cumprimento do que dispõem a Secção II do
Capítulo IV, até sessenta dias após a entrada em vigor deste código.

ARTIGO 90
(Revogação)

1. São revogados:
a) os artigos 3, 6, 7 e 8 da Lei n.° 4/90, de 26 de Setembro;
b) o artigo 7, da Lei n.° 21/92, de 31 de Dezembro;
c) a Resolução n.° 10/97, de 29 de Julho;
d) os artigos 3 e 5 e os números 2, 3, 4, 5, 6 e 7 do artigo 7, da Lei n.° 7/98,
de 15 de Junho;
e) os artigos 17, 18, 19 e 20, do Decreto n.° 30/2001, de 15 de Outubro;
f) o número 1 do artigo 7, do Decreto n.° 28/2005, de 23 de Agosto;
g) o artigo 4 da Lei n.° 6/2004, de 17 de Junho;
h) o artigo 27 da Lei n.° 6/2006, de 2 de Agosto.
2. Consideram-se ainda revogadas todas as demais disposições contrárias à
presente Lei.
ARTIGO 91
(Entrada em vigor)

A presente Lei de Probidade Pública entra em vigor 90 dias após sua


publicação. Aprovada pela Assembleia da República, aos 11 de Maio de 2012.
A Presidente da Assembleia da República, Verónica Nataniel Macamo
Dlhovo.
Promulgada em 13 de Julho de 2012.
Publique-se.
O Presidente da República, ARMANDO EMÍLIO GUEBUZA.
Havendo necessidade de adequar a Inspecção-Geral da Administração
Pública à dinâmica actual decorrente da reforma e desenvolvimento da
Administração Pública e garantir que a actividade inspectiva seja mais
actuante, integrada e sustentável, ao abrigo do disposto na alínea b) do n.º
4 do artigo 45 da Lei n.º 7/2012, de 8 de Fevereiro, o Conselho de Ministros
decreta:

ARTIGO 1
(Criação)

É criada a Inspecção-Geral da Administração Pública, abreviadamente


designada por IGAP e aprovado o Regulamento da Actividade da Inspecção-
Geral da Administração Pública, em anexo, que é parte integrante do
presente Decreto.

ARTIGO 2
(Natureza)

A IGAP é uma instituição pública dotada de personalidade jurídica e de


autonomia administrativa que assegura o cumprimento das normas que
regem a organização e o funcionamento da Administração Pública.

ARTIGO 3
(Âmbito e sede)

1. A IGAP exerce a sua actividade em todos os órgãos e serviços da


Administração Pública directa e indirecta, incluindo nas entidades
descentralizadas e nas missões diplomáticas e consulares da República de
Moçambique no estrangeiro
2. A IGAP tem a sua sede na Cidade de Maputo, sendo representada, ao nível
local, por delegações provinciais que funcionam sob orientação e
coordenação do Inspector-Geral da Administração Pública.

ARTIGO 4
(Tutela)

1. A IGAP é tutelada pelo Ministro que superintende a área da função pública.


2. O âmbito tutelar compreende o exercício da tutela integrativa, inspectiva
e revogatória sobre a IGAP.
3. O exercício da tutela referida no número anterior, compreende, dentre
outras, as seguintes competências:
a) aprovar os planos estratégico e operacional da IGAP;
b) aprovar o plano anual de actividades e o respectivo orçamento;
c) acompanhar e avaliar os resultados da actividade da IGAP;
d) autorizar a celebração de acordos com parceiros de cooperação, nos
termos da lei;
e) suspender, revogar e anular, os actos praticados pela IGAP que violem a
lei;
f) propor a nomeação do Inspector-Geral e do Inspector-Geral Adjunto da
Administração Pública ao órgão competente;
g) homologar o relatório de contas;
h) aprovar o Regulamento Interno e outros instrumentos específicos;
i) nomear os Directores de Serviço Central da IGAP, Chefes de Departamento
Central autónomo da IGAP e Delegados Provinciais, bem como exercer o
poder disciplinar sobre os mesmos.

ARTIGO 5
(Atribuições)

São atribuições da IGAP:


a) a fiscalização e inspecção de todos os órgãos e serviços da Administração
Pública directa e indirecta, incluindo as entidades descentralizadas, as
missões diplomáticas e consulares da República de Moçambique no
estrangeiro;
b) a fiscalização da aplicação do Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes
do Estado, dos estatutos orgânicos dos órgãos centrais, dos órgãos locais
do Estado, das entidades descentralizadas, dos institutos, fundos públicos e
das fundações públicas e outra legislação aplicável;
c) a fiscalização dos actos administrativos praticados pelos servidores
públicos;
d) a promoção do respeito da legalidade na Administração Pública;
e) a realização de auditorias administrativas, no âmbito da verificação da
eficácia dos sistemas e práticas de organização estrutural e gestão de
recursos humanos;
f) a verificação da legalidade dos procedimentos administrativos no âmbito
das contratações públicas;
g) a monitoria e tratamento de petições tramitadas na Administração
Pública.

ARTIGO 6
(Competências)

1. São competências da IGAP:


a) exercer a inspecção e fiscalização da actividade dos órgãos e serviços da
Administração Pública directa e indirecta, das entidades descentralizadas,
incluindo as missões diplomáticas e consulares da República de Moçambique
no estrangeiro;
b) fiscalizar a legalidade da organização e do funcionamento das instituições
públicas;
c) fiscalizar a implementação de planos, programas e políticas aprovados
pelo governo;
d) fiscalizar o cumprimento dos planos de acção, no âmbito da
implementação da Estratégia da Reforma e Desenvolvimento da
Administração Pública;
e) fiscalizar a aplicação do Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do
Estado, do respectivo Regulamento, do Regulamento do Subsistema de
Carreiras e Remuneração e de outra legislação aplicável, na gestão de
recursos humanos do Estado;
f) fiscalizar a aplicação dos estatutos orgânicos dos órgãos centrais, órgãos
locais do Estado, das entidades descentralizadas, dos institutos públicos,
dos fundos públicos e das fundações públicas;
g) verificar a legalidade dos actos administrativos praticados pelos
servidores públicos;
h) fiscalizar a implementação de planos de desenvolvimento nos órgãos e
serviços da Administração Pública, das entidades descentralizadas, dos
institutos públicos, dos fundos públicos e das fundações públicas;
i) garantir o cumprimento de normas na Administração Pública e nas
entidades descentralizadas, nos institutos, fundos públicos e fundações
públicas;
j) fiscalizar a gestão dos recursos humanos, materiais e financeiros das
instituições subordinadas e tuteladas pelo Ministério da Administração
Estatal e Função Pública;
k) emitir pareceres sobre a conta de gerência do Ministério da Administração
Estatal e Função Pública e das instituições subordinadas e tuteladas;
l) realizar inquéritos e sindicâncias determinados por entidade competente;
m) monitorar o cumprimento das recomendações deixadas pelas missões de
fiscalização, inspecção e de auditorias administrativas e de outras entidades;
n) elaborar relatórios de petições e monitorar o seu tratamento;
o) realizar, em coordenação com as outras inspecções administrativas
sectoriais e das entidades descentralizadas, dos institutos, dos fundos
públicos e das fundações públicas, acções de natureza educativa e
preventiva em matéria de organização e funcionamento dos serviços
públicos;
p) promover acções de divulgação de legislação aplicável no exercício da
actividade de fiscalização e inspecção administrativa.
2. Compete, ainda, a IGAP supervisar as actividades das Delegações
Provinciais, sem prejuízo da coordenação com outras entidades afins.

ARTIGO 7
(Direcção)

A IGAP é dirigida por um Inspector-Geral da Administração Pública,


coadjuvado por um Inspector-Geral Adjunto da Administração Pública,
ambos nomeados pelo Primeiro-Ministro, sob proposta do Ministro que
superintende a área da função pública.

ARTIGO 8
(Competências do Inspector-Geral da Administração Pública)

Compete ao Inspector-Geral da Administração Pública:


a) representar a Inspecção Geral da Administração Pública em juízo e fora
dele;
b) propor estratégias e implementação da acção inspectiva de acordo com
a lei e políticas do Governo;
c) elaborar e submeter à aprovação do Ministro que superintende a área da
função pública o programa, o plano, o orçamento e o relatório anual de
actividades;
d) prestar contas, periodicamente, sobre a execução das atividades da IGAP
ao Ministro que superintende a área da função pública;
e) planificar e coordenar a realização de actividades de inspecção e de
fiscalização;
f) ordenar e dirigir a realização de todas actividades desenvolvidas no
quadro das atribuições e competências da IGAP;
g) assegurar a uniformização de critérios nas acções inspectivas e de
fiscalização;
h) submeter a conta anual de gerência às autoridades competentes;
i) propor ao Ministro que superintende a área da função pública, a nomeação
dos Directores de Serviço Central, Chefes de Departamento Central
autónomo e Delegados Provinciais;
j) nomear os Chefes de Departamento Central e de Repartição Central;
k) nomear os Chefes de Departamento Provincial e de Repartição Provincial,
sob proposta do Delegado Provincial;
l) gerir os recursos humanos, materiais, patrimoniais e financeiros da IGAP;
m) avaliar o desempenho dos funcionários e agentes do Estado da IGAP;
n) exercer o poder disciplinar aos funcionários da IGAP, nos termos da lei;
o) promover o intercâmbio com organismos congéneres nacionais e
estrangeiros;
p) ordenar a realização de despesas;
q) admitir, nomear e contratar funcionários e agentes do Estado que se
mostrem necessários para prossecução das atribuições da IGAP, nos termos
da lei;
r) exercer outras competências superiormente incumbidas.

ARTIGO 9
(Competências do Inspector-Geral Adjunto da Administração Pública)

Compete ao Inspector-Geral Adjunto da Administração Pública:


a) coadjuvar o Inspector-Geral da Administração Pública no exercício das
suas competências;
b) substituir o Inspector-Geral da Administração Pública nas suas ausências
e impedimentos;e
c) exercer as demais actividades superiormente incumbidas.
ARTIGO 10 (Órgãos)
São órgãos da IGAP:
a) Conselho de Direcção;
b) Conselho de Inspectores-Gerais;
c) Conselho Consultivo.

ARTIGO 11
(Conselho de Direcção)

1. O Conselho de Direcção é o órgão de consulta e de apoio do Inspector-


Geral da Administração Pública.
2. O Conselho de Direcção tem as seguintes competências:
a) avaliar e pronunciar-se sobre a gestão corrente da IGAP;
b) pronunciar-se sobre os planos de actividade e orçamento da IGAP;
c) acompanhar e avaliar as actividades desenvolvidas pela IGAP;
d) participar na elaboração do relatório balanço de actividades da IGAP.
3. O Conselho de Direcção tem a seguinte composição:
a) Inspector-Geral da Administração Pública;
b) Inspector-Geral Adjunto da Administração Pública;
c) Directores de Serviço Central;
d) Chefes de Departamento Central Autónomo.
4. Podem ser convidados a participar no Conselho de Direcção, em função
da matéria a tratar, outros quadros.
5. O Conselho de Direcção é convocado e presidido pelo Inspector-Geral da
Administração Pública e reúne-se, ordinariamente, de quinze em quinze dias
e, extraordinariamente, sempre que se mostre necessário.

ARTIGO 12
(Conselho de Inspectores Gerais)

1. O Conselho de Inspectores Gerais é o órgão de consulta e de coordenação


em matérias de fiscalização e inspecção administrativa do Estado.
2. O Conselho de Inspectores Gerais tem a seguinte composição:
a) Inspectores-Gerais;
b) Inspectores-Gerais Sectoriais.
3. Podem ser convidados a participar nas sessões do Conselho de
Inspectores Gerais, em função da matéria, outras entidades.
4. O Conselho de Inspectores Gerais é convocado e presidido pelo Inspector-
Geral da Administração Pública e reúne, ordinariamente, uma vez por ano e,
extraordinariamente, sempre que se mostre necessário.

ARTIGO 13
(Conselho Consultivo)

1. O Conselho Consultivo é o órgão de coordenação e avaliação das


actividades de fiscalização e inspecção.
2. O Conselho Consultivo tem as seguintes competências:
a) pronunciar-se sobre planos e estratégias relativas as atribuições e
competências;
b) coordenar e avaliar o cumprimento do plano anual de actividades e
orçamento da IGAP e das Delegações provinciais;
c) pronunciar-se sobre planos, estratégias de actuação e procedimentos da
atividade inspectiva e de fiscalização, bem como propor melhorias;
d) partilhar conhecimentos, experiências e boas práticas, no âmbito da
actividade de fiscalização e inspecção;
e) controlar a implementação das recomendações do Conselho Consultivo.
3. O Conselho Consultivo é composto pelos seguintes membros:
a) Inspector-Geral da Administração Pública;
b) Inspector-Geral Adjunto da Administração Pública;
c) Directores de Serviço Central da IGAP;
d) Delegados Provinciais;
e) Chefes de Departamento Central Autónomo.
4. Podem ser convidados a participar no Conselho Consultivo, em função da
matéria a tratar, outros quadros.
5. O Conselho Consultivo é convocado e dirigido pelo Inspector-Geral da
Administração Pública e reúne-se, ordinariamente, uma vez por ano e,
extraordinariamente, sempre que se mostre necessário.
ARTIGO 14
(Regime de Pessoal)

O pessoal da IGAP rege-se pelo regime jurídico da função pública, sendo


admissível a possibilidade de celebração de contratos de trabalho que se
regem pelo regime geral, sempre que for compatível com a natureza das
funções a desempenhar.

ARTIGO 15
(Remuneração)

Sem prejuízo dos direitos adquiridos, o regime remuneratório aplicável ao


pessoal da IGAP é o dos funcionários e agentes do Estado.

ARTIGO 16
(Orçamento)

Para o exercício das suas atribuições, a IGAP dispõe de orçamento próprio,


inscrito no orçamento do Estado.

ARTIGO 17
(Receitas)

Constituem receitas da IGAP:


a) orçamento do Estado;
b) doações e outros fundos.

ARTIGO 18
(Despesas)

São despesas da IGAP:


a) as remunerações dos seus funcionários e agentes do Estado;
b) os encargos resultantes do exercício das suas atribuições e competências;
c) os custos de aquisição, manutenção e de conservação de bens,
equipamentos ou serviços;
d) outros encargos, nos termos da legislação aplicável.

ARTIGO 19
(Estatuto Orgânico)

Compete ao Ministro que superintende a área da função pública, submeter a


proposta de Estatuto Orgânico à aprovação pelo órgão competente, no
prazo de 60 (sessenta) dias a contar da data da publicação do presente
Decreto.
ARTIGO 20
(Transição de recursos)

1. Os recursos humanos, materiais e patrimoniais do Ministério da


Administração Estatal e Função Pública adstritos à área de inspecção,
transitam para a Inspecção-Geral da Administração Pública.
2. Os recursos humanos, materiais e patrimoniais adstritos às Inspecções
Administrativas Provinciais transitam para as Delegações Provinciais.

ARTIGO 21
(Revogação)

É revogado o Decreto n.º 12/2009, de 1 de Abril, e todos os actos normativos


que contrariam o presente Decreto.

ARTIGO 22
(Entrada em vigor)

O presente Decreto entra em vigor na data da sua publicação.


Aprovado pelo Conselho de Ministros, aos 21 de Abril de 2020.
Publique-se.
O Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário.
Regulamento da Actividade da Inspecção-Geral da Administração Pública

CAPÍTULO I
Disposições gerais

ARTIGO 1
(Objecto e Âmbito)

1. O presente Regulamento tem por objecto definir os princípios e as normas


que regulam o exercício da actividade de fiscalização e inspecção
administrativa pela Inspecção Geral da Administração Pública (IGAP), em
todos os órgãos e serviços da Administração Pública, directa e indirecta,
incluindo as entidades descentralizadas e nas missões diplomáticas e
consulares da República de Moçambique no estrangeiro.
2. Excluem-se do âmbito de aplicação do presente Regulamento as demais
inspecções, designadamente;as inspecções de finanças, técnicas, sectoriais,
judiciárias, paramilitares e outras inspecções especializadas.

ARTIGO 2
(Natureza da actividade de fiscalização e inspecção)

A IGAP exerce uma acção de natureza educativa e preventiva,


providenciando informações e aconselhamento técnico, bem como a
divulgação e esclarecimento de normas que regulam a organização e o
funcionamento da Administração Pública.
ARTIGO 3
(Coordenação)

1. A coordenação compreende:
a) o controlo estratégico e transversal, exercido pela Inspecção-Geral de
Finanças (IGF) e pela Inspecção-Geral da Administração Pública (IGAP);
b) o controlo sectorial, exercido pelas inspecções-gerais e sectoriais de cada
órgão central.
2. A coordenação institucional entre a Inspecção-Geral da Administração
Pública e o Governo efectua-se através do Ministro que superintende a área
da função pública.

CAPÍTULO II
Mecanismos de Actuação

ARTIGO 4
(Tipos de Inspecção)

1. O exercício da actividade de fiscalização e inspecção administrativa


realiza-se através de inspecção ordinária ou extraordinária.
2. A inspecção ordinária é aquela que se realiza no quadro do plano de
actividade de fiscalização e inspecção administrativa, devendo ser
comunicada à entidade visada, com uma antecedência mínima de 7 dias.
3. A inspecção extraordinária é aquela que se realiza, sem comunicação a
entidade visada, por determinação do Inspector-Geral da Administração
Pública, em cumprimento de comandos do Governo ou em resultado de
queixas, denúncias e reclamações de outras entidades.

ARTIGO 5
(Queixas, denúncias, reclamações e exposições)

1. As queixas, denúncias, reclamações e exposições dirigidas à IGAP


constituem fontes para o exercício da actividade inspectiva.
2. As queixas, denúncias, reclamações e exposições dirigidas à IGAP, são
liminarmente, arquivadas se os seus autores não estiverem devidamente
identificados ou as mesmas carecerem de fundamento.
3. As queixas, denúncias, reclamações e exposições referidas no número 1,
quando preencham elementos de natureza criminal são remetidas ao
Ministério Público.
4. O resultado da apreciação das queixas, denúncias, reclamações e
exposições é notificado aos respectivos autores, bem como as entidades
directamente interessadas.
ARTIGO 6
(Princípios)

O Inspector da IGAP, na sua actuação, orienta-se, sem prejuízo dos demais


princípios que regulam a actividade da Administração Pública, pelos
princípios da legalidade, de isenção, de imparcialidade, da integridade, de
independência técnica e do contraditório.

ARTIGO 7
(Garantias de actuação)

Ao inspector da IGAP no exercício das suas funções e desde que


devidamente identificado, goza de:
a) livre acesso aos locais de fiscalização e inspecção;
b) facilidades na realização da acção de fiscalização e inspecção;
c) facilidades na reprodução de documentos e informações em poder da
entidade inspeccionada;
d) requisitar às autoridades policiais e administrativas a colaboração
necessária ao exercício das suas funções.

ARTIGO 8
(Responsabilidades)

O Inspector e o técnico da IGAP, respondem disciplinar, civil e criminalmente


pelos seus actos ou omissões, quando se prove terem actuado
deliberadamente para criar danos ao Estado ou a terceiros, ou tirar proveito
a seu favor ou a favor de terceiro.

ARTIGO 9
(Dever de colaboração)

1. As entidades objecto de acção de fiscalização e inspecção têm a obrigação


de facilitar ou proporcionar o acesso e fornecer todos os elementos e fonte
de informação necessários, incluindo exemplares de instruções
administrativas emanadas de entidades públicas.
2. A IGAP tem a faculdade de solicitar a outros órgãos de controlo interno e
as demais entidades da Administração Pública, a designação de pessoal
técnico especializado para participar em diligências inspectivas.
3. A recusa de colaboração ou obstrução na actuação da IGAP, constitui
infracção susceptível de responsabilização disciplinar, civil ou criminal, nos
termos da lei.

ARTIGO 10
(Dever de participação)

1. O Inspector da IGAP tem a obrigação de participar às autoridades


competentes, consoante os casos, os factos apurados no exercício das suas
funções de fiscalização e inspecção que sejam passíveis de procedimento
disciplinar, civil ou criminal.
2. O Inspector da IGAP deve informar aos respectivos superiores
hierárquicos sempre que tenham conhecimento ou fundada suspeita de
prática de quaisquer irregularidades.

CAPÍTULO III
Procedimentos nas acções de fiscalização e inspecção

ARTIGO 11
(Despacho e ordem de serviço)

1. As acções de fiscalização e inspecção, levadas a cabo pela IGAP são


instauradas com base no despacho do Inspector-Geral da Administração
Pública.
2. As acções de fiscalização e inspecção que resultem do plano de
actividades instaurados pelo Delegado Provincial.
3. A ordem de execução do despacho da entidade referida no número 1 deve
conter a indicação do tipo, âmbito e objecto de acção à efectuar, o seu início
e término e a composição da equipa.
4. O original da ordem de serviço é entregue ao inspector que chefia a
equipa, ficando uma cópia da mesma no respectivo processo e a outra no
arquivo da IGAP.

ARTIGO 12
(Identificação do inspector)

1. No exercício das suas funções o inspector da IGAP é portador do cartão


de identificação oficial e de uma credencial, devidamente assinada pelo
Inspector-Geral da Administração Pública ou pelo Delegado Provincial.
2. Na credencial referida no número anterior deve constar:
a) o despacho que a ordenou;
b) o âmbito e objectos da acção;
c) a composição da equipa.

ARTIGO 13
(Relatório)

1. Finda acção de fiscalização e de inspecção, o inspector que chefia a equipa


elabora o relatório preliminar no prazo de 15 dias úteis.
2. O relatório deve conter:
a) o objecto da acção;
b) a referência expressa ao despacho ou a ordem de serviço que a determina;
c) a indicação sumária das diligências realizadas;
d) a narração dos factos apurados;
e) a indicação das disposições legais aplicáveis;
f) a identificação dos responsáveis pelas ilegalidades detectadas;
g) as conclusões de facto e de direito;
h) a indicação das medidas necessárias para a reposição da legalidade.
3. O relatório de acção de fiscalização e inspecção obedece a estrutura
constante do Manual de Procedimento de Actividade de Fiscalização e
Inspecção Administrativa.
4. O resultado final das acções de fiscalização e inspecção é comunicado as
partes interessadas.

ARTIGO 14
(Prazo do exercício ao contraditório)

1. O prazo para o exercício do direito ao contraditório é de 30 dias úteis,


contados a partir da data de recepção do relatório preliminar, findo o qual é
produzido o relatório final.
2. Compete ao Inspector-Geral da Administração Pública, autorizar a
prorrogação do prazo referido no número anterior, mediante solicitação,
fundamentada do interessado.

ARTIGO 15
(Eficácia)

1. A IGAP no exercício das suas competências realiza acções de monitoria


para avaliar o grau de cumprimento das recomendações emanadas pelos
órgãos de controlo interno e de outras entidades.
2. Sem prejuízo do dever da IGAP proceder a monitoria das recomendações,
as entidades visadas devem enviar, no prazo de 45 dias contados a partir da
recepção do relatório final, informações sobre o grau de cumprimento das
mesmas.
3. A não observância do disposto no número anterior constitui infracção
susceptível de responsabilização disciplinar, nos termos da lei.

CAPÍTULO IV
Deveres, direitos e incompatibilidades

ARTIGO 16
(Deveres especiais)

O Inspector da IGAP, para além de outros deveres especiais previstos em


legislação especifica, obriga-se a:
a) adoptar um comportamento que garanta o prestígio e a dignidade da
função que exerce;
b) proceder em serviço de forma irrepreensível, isenta e agir com descrição;
c) desempenhar com zelo e dedicação as tarefas que lhe são incumbidas;
d) guardar sigilo sobre todos assuntos que tome conhecimento no exercício
ou por causa do exercício das suas funções, mesmo depois do termo das
mesmas, sob pena de procedimento disciplinar, civil ou criminal, nos termos
da lei;
e) não utilizar as suas influências para obter vantagens pessoais,
proporcionar favores ou benefícios indevidos a terceiros ou as entidades
inspeccionadas;
f) exercer funções em qualquer local que lhe seja designado.
ARTIGO 17
(Direitos)

1. O Inspector da IGAP no desempenho das suas funções, para além de outros


previstos na lei geral, tem os seguintes direitos:
a) cartão de identificação oficial do Inspector;
b) passaporte de serviço;
c) subsídio de risco, nos termos da lei;
d) protecção especial para sua pessoa, cônjuge, descendentes e seus bens
sempre que ponderosas razões de segurança o justifiquem.
2. O Estado garante assistência e patrocínio judiciário ao inspector arguido
em virtude de factos praticados no exercício efectivo da função, bem como
ao funcionário e agente do Estado que se encontre naquelas circunstâncias,
em resultado de colaboração prestada à IGAP.

ARTIGO 18
(Impedimentos e incompatibilidades)

1. O Inspector da IGAP está sujeito ao regime geral de impedimentos e


incompatibilidades aplicáveis aos servidores públicos.
2. Ao Inspector da IGAP é especificamente vedado à:
a) executar quaisquer acções de natureza inspectiva ou disciplinar em que
seja visado parente ou afim em qualquer grau de linha recta ou até ao
terceiro grau da linha colateral;
b) exercer quaisquer actividades a favor de entidades sobre as quais tenha
realizado, nos últimos 2 anos, acções de natureza inspectiva ou disciplinar.
3. O Inspector da IGAP deve, por meio de requerimento fundamentado,
declarar ao Inspector-Geral da Administração Pública, no prazo de 48 horas,
os impedimentos que sobre ele recaem, ou em virtude da verificação ou
conhecimento de alguma das circunstâncias mencionadas nas alíneas a) e b)
do número 2 do presente artigo.
4. Excepcionalmente, o Inspector-Geral da Administração Pública, pode
autorizar que o inspector da IGAP exerça actividades de investigação e de
docência.
Havendo necessidade de aprovar o Estatuto Orgânico da Inspecção Geral
da Administração Publica criada pelo Decreto n.º 24/2020, de 30 de Abril,
no uso das competências delegadas pelo Conselho de Ministros, nos
termos do disposto no número 1 do artigo 1 da Resolução n.º 30/2016, de
31 de Outubro, a Comissão Interministerial da Reforma da Admi -nistração
Pública delibera:
ARTIGO 1

É aprovado o Estatuto Orgânico da Inspecção Geral da Administração


Pública (IGAP), em anexo, que é parte integrante da presente Resolução.

ARTIGO 2

Compete ao Ministro que superintende a área da Função Pública, aprovar o


Regulamento Interno da IGAP no prazo de sessenta dias, após a publicação
da presente Resolução.

ARTIGO 3

Compete ao Ministro que superintende a área da Função Pública submeter a


proposta de Quadro de Pessoal da IGAP à aprovação pelo órgão
competente, no prazo de noventa dias, após a publicação do presente
Estatuto Orgânico.

ARTIGO 4

A presente Resolução entra em vigor na data da sua publicação.


Aprovada pela Comissão Interministerial da Reforma da Administração
Pública, aos 8 de Maio de 2020.
Publique-se.
O Presidente, Carlos Agostinho do Rosário.
Estatuto Orgânico da Inspecção Geral da Administração Pública

CAPÍTULO I
Disposições Gerais

ARTIGO 1
(Natureza)

A Inspecção Geral da Administração Pública, abreviadamente designada por


IGAP é uma instituição pública dotada de personalidade jurídica e de
autonomia administrativa que assegura o cumprimento das normas que
regem a organização e o funcionamento da Administração Pública.
ARTIGO 2
(Âmbito e sede)

1. A IGAP exerce a sua actividade em todos os órgãos e serviços da


Administração Pública directa e indirecta, incluindo nas entidades
descentralizadas e nas missões diplomáticas e consulares da República de
Moçambique no estrangeiro.
2. A IGAP tem a sua sede na Cidade de Maputo, sendo representada, ao nível
local, por delegações provinciais que funcionam sob orientação e
coordenação do Inspector-Geral da Administração Pública.

ARTIGO 3
(Tutela)

1. A IGAP é tutelada pelo Ministro que superintende a área da função pública.


2. O âmbito tutelar compreende o exercício da tutela integrativa, inspectiva
e revogatória sobre a IGAP.
3. O exercício da tutela referida no número anterior compreende, dentre
outras, as seguintes competências:
a) aprovar os planos estratégico e operacional da IGAP;
b) aprovar o plano anual de actividades e o respectivo orçamento;
c) acompanhar e avaliar os resultados da actividade da IGAP;
d) autorizar a celebração de acordos com parceiros de cooperação, nos
termos da lei;
e) suspender, revogar e anular, os actos praticados pela IGAP que violem a
lei;
f) propor a nomeação do Inspector-Geral e do Inspector--Geral Adjunto da
Administração Pública ao órgão competente;
g) homologar o relatório de contas;
h) aprovar o Regulamento Interno e outros instrumentos específicos; e
i) nomear os Directores de Serviço Central da IGAP, Chefes de Departamento
Central autónomo da IGAP e Delegados Provinciais, bem como exercer o
poder disciplinar sobre os mesmos.

ARTIGO 4
(Atribuições)

São atribuições da IGAP:


a) a fiscalização e inspecção de todos os órgãos e serviços da Administração
Pública directa e indirecta, incluindo as entidades descentralizadas, as
missões diplomáticas e as delegações do Estado moçambicano no
estrangeiro;
b) a fiscalização da aplicação do Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes
do Estado; dos estatutos orgânicos dos órgãos centrais; dos órgãos locais
do Estado; das entidades descentralizadas; dos institutos; fundos públicos e
das fundações públicas e outra legislação aplicável;
c) a fiscalização dos actos administrativos praticados pelos servidores
públicos;
d) a promoção do respeito da legalidade na Administração Pública;
e) a realização de auditorias administrativas, no âmbito da verificação da
eficácia dos sistemas e práticas de organização estrutural e gestão de
recursos humanos;
f) a verificação da legalidade das contratações públicas;
g) a monitoria e tratamento de petições tramitadas na Administração
Pública.

ARTIGO 5
(Competências)

1. São competências da IGAP:


a) exercer a inspecção e fiscalização da actividade dos órgãos e serviços da
Administração Pública directa e indirecta, das entidades descentralizadas,
incluindo as missões diplomáticas e delegações do Estado moçambicano no
estrangeiro;
b) fiscalizar a legalidade da organização e do funcionamento das instituições
públicas;
c) fiscalizar a implementação de planos, programas e políticas aprovados
pelo governo;
d) fiscalizar o cumprimento dos planos de acção, no âmbito da
implementação da Estratégia da Reforma e Desenvolvimento da
Administração Pública;
e) fiscalizar a aplicação do Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do
Estado, do respectivo Regulamento, do Regulamento do Subsistema de
Carreiras e Remuneração e de outra legislação aplicável, na gestão de
recursos humanos do Estado;
f) fiscalizar a aplicação dos estatutos orgânicos dos órgãos centrais, órgãos
locais do Estado, das entidades descentralizadas, dos institutos públicos,
dos fundos públicos e das fundações públicas;
g) verificar a legalidade dos actos administrativos praticados pelos
servidores públicos;
h) fiscalizar a implementação de planos de desenvolvimento nos órgãos e
serviços da Administração Pública, das entidades descentralizadas, dos
institutos públicos, dos fundos públicos e das fundações públicas;
i) garantir o cumprimento de normas na Administração Pública e nas
entidades descentralizadas, nos institutos públicos, fundos públicos e
fundações públicas;
j) fiscalizar a gestão dos recursos humanos, materiais e financeiros das
instituições subordinadas e tuteladas pelo Ministério da Administração
Estatal e Função Pública;
k) emitir pareceres sobre a conta de gerência do Ministério da Administração
Estatal e Função Pública e das insti-tuições subordinadas e tuteladas;
l) realizar inquéritos e sindicâncias determinados por entidade competente;
m) monitorar o cumprimento das recomendações deixadas pelas missões de
fiscalização, inspecção e de auditorias administrativas e de outras entidades;
n) elaborar relatórios de petições e monitorar o seu tratamento;
o) realizar, em coordenação com as outras inspecções administrativas
sectoriais e das entidades descentralizadas, dos institutos públicos, dos
fundos públicos e das fundações públicas, acções de natureza educativa e
preventiva em matéria de organização e funcionamento dos serviços
públicos;
p) promover acções de divulgação de legislação aplicável no exercício da
actividade de fiscalização e inspecção administrativa.
2. Compete, ainda, a IGAP supervisar as actividades das Delegações
Provinciais, sem prejuízo da coordenação com outras entidades afins.
CAPÍTULO II
Sistema Orgânico

ARTIGO 6
(Órgãos)

São órgãos da IGAP:


a) Conselho de Direcção;
b) Conselho de Inspectores Gerais;e
c) Conselho Consultivo.

ARTIGO 7
(Conselho de Direcção)

1. O Conselho de Direcção é o órgão de consulta e de apoio do Inspector-


Geral da Administração Pública.
2. O Conselho de Direcção tem as seguintes competências:
a) avaliar e pronunciar-se sobre a gestão corrente da IGAP;
b) pronunciar-se sobre os planos de actividade e orçamento da IGAP;
c) acompanhar e avaliar as actividades desenvolvidas pela IGAP;
d) participar na elaboração do relatório balanço de acti -vidades da IGAP.
3. O Conselho de Direcção tem a seguinte composição:
a) Inspector-Geral da Administração Pública;
b) Inspector-Geral Adjunto da Administração Pública;e
c) Directores de Serviços Centrais;
d) Chefes de Departamento Central autónomo.
4. Podem ser convidados a participar no Conselho de Direcção, em função
da matéria a tratar, outros quadros.
5. O Conselho de Direcção é convocado e presidido pelo Inspector-Geral da
Administração Pública e reúne-se, ordinariamente, de quinze em quinze dias
e, extraordinariamente, sempre que se mostre necessário.

ARTIGO 8
(Conselho de Inspectores Gerais)

1. O Conselho de Inspectores Gerais é o órgão de consulta e de coordenação


em matérias de fiscalização e inspecção administrativa do Estado.
2. O Conselho de Inspectores Gerais tem a seguinte composição: a)
Inspectores Gerais;e
b) Inspectores Gerais Sectoriais.
3. Podem ser convidados a participar nas sessões do Conselho de
Inspectores Gerais, em função da matéria, outras entidades.
4. O Conselho de Inspectores Gerais é convocado e presidido pelo Inspector-
Geral da Administração Pública e reúne-se, ordinariamente, uma vez por ano
e, extraordinariamente, sempre que se mostre necessário.
ARTIGO 9
(Conselho Consultivo)

1. O Conselho Consultivo é o órgão de coordenação e avaliação das


actividades de fiscalização e inspecção.
2. O Conselho Consultivo tem as seguintes competências:
a) pronunciar-se sobre planos e estratégias relativas as atribuições e
competências;
b) coordenar e avaliar o cumprimento do plano anual de actividades e
orçamento da IGAP e das Delegações provinciais;
c) pronunciar-se sobre planos, estratégias de actuação e procedimentos da
actividade inspectiva e de fisca-lização, bem como propor melhorias;
d) partilhar conhecimentos, experiências e boas práticas, no âmbito da
actividade de fiscalização e inspecção;
e) controlar a implementação das recomendações do Conselho Consultivo.
3. O Conselho Consultivo é composto pelos seguintes membros:
a) Inspector-Geral da Administração Pública;
b) Inspector-Geral Adjunto da Administração Pública;
c) Directores de Serviço Central da IGAP;
d) Delegados Provinciais; e
e) Chefes de Departamento Central Autónomo.
4. Podem ser convidados a participar no Conselho Consultivo, em função da
matéria a tratar, outros quadros.
5. O Conselho Consultivo é convocado e dirigido pelo Inspector- -Geral da
Administração Pública e reúne-se, ordinariamente, uma vez por ano e,
extraordinariamente, sempre que se mostre necessário.

ARTIGO 10
(Direcção)

A IGAP é dirigida por um Inspector-Geral da Administração Pública,


coadjuvado por um Inspector-Geral Adjunto da Administração Pública,
ambos nomeados pelo Primeiro- -Ministro, sob proposta do Ministro que
superintende a área da função pública.

ARTIGO 11
(Competências do Inspector-Geral da Administração Pública)

Compete ao Inspector-Geral da Administração Pública:


a) representar a Inspecção Geral da Administração Pública em juízo e fora
dele;
b) propor estratégias e implementação da acção inspectiva de acordo com
a lei e políticas do Governo;
c) elaborar e submeter à aprovação do Ministro que superintende a área da
função pública o programa, o plano, o orçamento e o relatório anual de
actividades;
d) prestar contas, periodicamente, sobre a execução das actividades da
IGAP ao Ministro que superintende a área da função públ ica;
e) planificar e coordenar a realização de actividades de inspecção e de
fiscalização;
f) ordenar e dirigir a realização de todas actividades desenvolvidas no
quadro das atribuições e compe-tências da IGAP;
g) assegurar a uniformização de critérios nas acções inspectivas e de
fiscalização;
h) submeter a conta anual de gerência às autoridades competentes;
i) propor ao Ministro que superintende a área da função pública, a nomeação
dos Directores de Serviço Central, Chefes de Departamento Central
autónomo e Delegados Provinciais;
j) nomear os Chefes de Departamento Central e de Repar-tição Central;
k) nomear os Chefes de Departamento Provincial e de Repartição Provincial,
sob proposta do Delegado Provincial;
l) gerir os recursos humanos, materiais, patrimoniais e financeiros da IGAP;
m) avaliar o desempenho dos funcionários e agentes do Estado da IGAP;
n) exercer o poder disciplinar aos funcionários da IGAP, nos termos da lei;
o) promover o intercâmbio com organismos congéneres nacionais e
estrangeiros;
p) ordenar a realização de despesas;
q) admitir, nomear e contratar funcionários e agentes do Estado que se
mostrem necessários para prossecução das atribuições da IGAP, nos termos
da lei; e
r) exercer outras competências superiormente incumbidas.

ARTIGO 12
(Competências do Inspector-Geral Adjunto da Administração Pública)

Compete ao Inspector-Geral Adjunto da Administração Pública:


a) coadjuvar o Inspector-Geral da Administração Pública no exercício das
suas competências;
b) substituir o Inspector-Geral da Administração Pública nas suas ausências
e impedimentos;e
c) exercer as demais actividades superiormente incumbidas.

CAPÍTULO III
Estrutura e Funções das Unidades Orgânicas

ARTIGO 13
(Estrutura)

A IGAP tem a seguinte estrutura:


a) Serviços Centrais de Fiscalização e Inspecção dos Órgãos Centrais;
b) Serviços Centrais de Fiscalização e Inspecção dos Órgãos Locais e
Entidades Descentralizadas;
c) Gabinete Jurídico;
d) Departamento de Administração e Finanças;
e) Departamento de Recursos Humanos;
f) Departamento de Planificação e Cooperação;
g) Departamento de Tecnologias de Informação e Comunicação; e
h) Repartição de Aquisições.
ARTIGO 14
(Serviços Centrais de Fiscalização e Inspecção dos Órgãos Centrais)

1. São funções dos Serviços Centrais de Fiscalização e Inspecção dos Órgãos


Centrais:
a) executar o plano anual de actividades de fiscalização e inspecção dos
órgãos centrais do Estado; missões diplomáticas e delegações do Estado
moçambicano no estrangeiro;
b) verificar se a gestão de recursos humanos nos órgãos centrais, nas
missões diplomáticas e delegações do Estado moçambicano no estrangeiro
é feita em conformidade com o Estatuto Geral dos Funcionários e agentes
do Estado, respectivo regulamento e demais legislação aplicável;
c) aferir a legalidade dos processos de admissão, contratação e remuneração
do pessoal;
d) verificar se o estatuto orgânico, o quadro de pessoal e o regulamento
interno estão sendo implementados em conformidade com o previsto na lei;
e) aferir o grau de cumprimento do Plano de Desenvolvimento de Recursos
Humanos na Administração Pública;
f) analisar e avaliar o cumprimento dos procedimentos da administração e
gestão dos recursos humanos, financeiros, e patrimoniais afectos as
unidades orgânicas, instituições subordinadas e tuteladas do Ministério da
Administração Estatal e Função Publica;
g) emitir parecer sobre as contas anuais de gerência do Ministério da
Administração Estatal e Função Publica e das Instituições subordinadas e
tuteladas;
h) fiscalizar o tratamento de petições na Administração Pública;
i) elaborar relatórios periódicos sobre petições tramitadas na Administração
Pública;
j) realizar inquéritos e sindicâncias, elaborar pareceres e instruir os
respectivos processos no âmbito das suas competências;
k) fiscalizar e avaliar o cumprimento dos objectivos e metas previstas nos
Planos de acção, no âmbito da implementação da Estratégia da Reforma e
Desenvolvimento da Administração Pública;
l) verificar a legalidade dos actos administrativos praticados por servidores
públicos nos órgãos centrais;
m) aferir a legalidade dos processos de contratação de empreitadas de
obras públicas, fornecimento de bens e prestação de serviços ao Estado;
n) monitorar o grau de cumprimento das recomendações deixadas pela IGAP
e por outros órgãos de controlo interno, externo e de outras entidades;
o) avaliar o grau de implementação do Sistema Nacional de Arquivos do
Estado; e
p) exercer outras actividades que lhe sejam superiormente incumbidas.
2. Os Serviços Centrais de Fiscalização e Inspecção dos Órgãos Centrais são
dirigidos por um Director dos Serviços Centrais, nomeado pelo Ministro que
superintende a área da função pública sob proposta do Inspector-Geral
Administração Pública.

ARTIGO 15
(Serviços Centrais de Fiscalização e Inspecção dos Órgãos Locais e
Entidades Descentralizadas)
1. São funções dos Serviços Centrais de Fiscalização e Inspecção dos Órgãos
Locais e Entidades Descentralizadas:
a) executar o plano anual de actividades de fiscalização e inspecção dos
órgãos locais e entidades descentralizadas;
b) verificar se a gestão de recursos humanos nos órgãos locais e nas
entidades descentralizadas é feita em conformidade com o Estatuto Geral
dos Funcionários e agentes do Estado, respectivo regulamento e demais
legislação aplicável;
c) aferir a legalidade dos processos de admissão, contratação e remuneração
do pessoal;
d) realizar inquéritos e sindicâncias, elaborar pareceres e instruir os
respectivos processos no âmbito das suas competências;
e) verificar se o estatuto orgânico, o quadro de pessoal e o regulamento
interno estão sendo implementados em conformidade com o previsto na lei;
f) aferir o grau de cumprimento do Plano de Desenvolvimento de Recursos
Humanos dos órgãos locais e entidades descentralizadas;
g) fiscalizar e avaliar o cumprimento dos objectivos e metas previstas nos
Planos de acção, no âmbito da implementação da Estratégia da Reforma e
Desenvolvimento da Administração Pública nos órgãos locais e entidades
descentralizadas ;
h) verificar a legalidade dos actos administrativos praticados por servidores
públicos;
i) aferir a legalidade dos processos de contratação de empreitadas de obras
públicas, fornecimento de bens e prestação de serviços ao Estado;
j) avaliar o grau de cumprimento de planos de desen-volvimento e de
ordenamento territorial;
k) monitorar o grau de cumprimento das recomendações deixadas pela IGAP
e por outros órgãos de controlo interno, externo e de outras entidades nos
órgãos locais e entidades descentralizadas;
l) avaliar o grau de implementação do Sistema Nacional de Arquivos do
Estado; e
m) exercer outras actividades de fiscalização e inspecção que lhe sejam
superiormente incumbidas.
2. Os Serviços Centrais de Fiscalização e Inspecção dos Órgãos Locais e
Entidades Descentralizadas são dirigidos por um Director dos Serviços
Centrais, nomeado pelo Ministro que superintende a área da função pública
sob proposta do Inspector-Geral Administração Pública.

ARTIGO 16
(Gabinete Jurídico)

1. São funções do Gabinete Jurídico:


a) assessorar a direcção da IGAP em matérias de natureza jurídica;
b) prestar apoio jurídico na elaboração de projectos de regulamento,
circulares e outros instrumentos normativos;
c) prestar apoio jurídico na análise de processos administrativos da IGAP;
d) elaborar pareceres sobre petições que dão entrada na IGAP;
e) elaborar projectos de minutas de acordos, protocolos ou contractos a
serem celerados pela IGAP com outras entidades;
f) organizar um banco de dados de legislação relevante para a prossecução
das atribuições da IGAP; e
g) exercer outras actividades que lhe sejam superiormente incumbidas.
2. O Gabinete de Jurídico é dirigido por um Chefe de Departamento Central
autónomo nomeado pelo Ministro que superintende a área da função pública
sob proposta do Inspector-Geral da Administração Pública.

ARTIGO 17
(Departamento de Administração e Finanças)

1. São funções do Departamento de Administração e Finanças:


a) zelar pelo cumprimento das leis, regulamentos e outras normas sobre
administração financeira;
b) elaborar a proposta de orçamento da IGAP assegurando a legalidade e
eficiência na realização das despesas;
c) gerir o orçamento da IGAP de harmonia com as normas e procedimentos
aplicáveis;
d) gerir e garantir a conservação do bens materiais e patrimoniais da IGAP;
e) conferir, classificar e processar os movimentos contabilísticos, relativos
às receitas e despesas da IGAP;
f) elaborar relatórios de prestação de contas sobre a execução financeira e
patrimonial da IGAP;
g) assegurar a implementação do Sistema Nacional do Arquivo do Estado;
h) efectuar a gestão orçamental através do SISTAFE e assegurar a legalidade
e eficiência na realização das despesas da IGAP;
i) inventariar os bens patrimoniais da IGAP de acordo com a legislação em
vigor;
j) gerir o sistema de remunerações e benefícios dos funcionários e agentes
do Estado afectos a IGAP;
k) elaborar o balanço anual da execução do orçamento e submeter as
entidades competentes;
l) prestar apoio técnico e logístico a IGAP;
m) coordenar a organização de eventos promovidos pela IGAP;
n) assegurar a realização dos procedimentos inerentes às deslocações e
viagens dos funcionários da IGAP; e
o) exercer outras actividades que lhe sejam superiormente incumbidas.
2. O Departamento de Administração e Finanças é dirigido por um chefe de
Departamento Central Autónomo, nomeado pelo Ministro que superintende
a área da função pública, sob proposta do Inspector-Geral da Administração
Pública.

ARTIGO 18
(Departamento de Recursos Humanos)

1. São funções do Departamento de Recursos Humanos:


a) assegurar o cumprimento do Estatuto Geral dos Funcionários e agentes
do Estado e respectivo regulamento e demais legislação aplicável;
b) planificar, controlar e implementar normas de gestão de recursos
humanos;
c) elaborar e gerir o quadro de pessoal;
d) organizar, controlar e actualizar os dados necessários para alimentação
do subsistema de informação e recursos humanos da IGAP;
e) garantir o controlo da pontualidade, assiduidade e efectividade dos
funcionários e agentes do Estado afectos a IGAP;
f) organizar, controlar e actualizar o arquivo dos processos individuais dos
funcionários e agentes do Estado afectos à IGAP;
g) implementar e controlar a política de desenvolvimento de recursos
humanos da IGAP;
h) planificar, coordenar e assegurar as acções de formação e capacitação
profissional dos funcionários e agentes do Estado afectos a IGAP;
i) assegurar, de acordo com as normas legais as progressões e promoções
dos funcionários e agentes do Estados afectos a IGAP;
j) assegurar a realização da avaliação do desempenho dos funcionários e
agentes do Estados afectos a IGAP;
k) planificar, programar e executar actividades de recru-tamento, selecção
e afectação de pessoal afectos a IGAP ;
l) preparar todos os actos administrativos de gestão de recursos humanos
da IGAP;
m) organizar, controlar e manter actualizado o e-SIP do sector, de acordo
com as orientações e normas definidas pelos órgãos competentes;
n) planificar, implementar e controlar os estudos colectivos de legislação
sobre a Administração Pública; e
o) coordenar as actividades no âmbito das Estratégias do combate ao HIV e
SIDA, do Género e da Pessoa Portadora de Deficiência, na IGAP.
2.O Departamento de Recursos Humanos é dirigido por um Chefe de
Departamento Central autónomo nomeado pelo Ministro que superintende a
área da função pública sob proposta do Inspector-Geral da Administração
Pública.

ARTIGO 19
(Departamento de Planificação e Cooperação)

1. São funções do Departamento de Planificação e Cooperação:


a) coordenar o processo de planificação da IGAP;
b) elaborar a proposta do Plano Económico Social e monitorar a sua
implementação;
c) elaborar o relatório balanço do Plano Económico Social;
d) elaborar, em coordenação com outras unidades orgânicas, a proposta do
plano de actividades e orçamento;
e) participar na elaboração de políticas e estratégias de desenvolvimento;
f) elaborar relatórios de actividades dos programas de cooperação, no
âmbito das suas atribuições;
g) organizar um banco de dados sobre a cooperação, no âmbito das
atribuições da IGAP;
h) recolher e sistematizar a informação estatística da actividade de
fiscalização e inspecção;
i) monitorar e avaliar o impacto dos programas de fisca-lização e inspecção
na melhoria dos serviços prestados;
j) participar na elaboração de projectos da IGAP;
k) mobilizar recursos materiais e financeiros para a implementação de
projectos da IGAP;
l) exercer outras actividades que lhe sejam superiormente incumbidas.
2. O Departamento de Planificação e Cooperação é dirigido por um chefe de
Departamento Central autónomo nomeado pelo Ministro que superintende a
área da função pública, sob proposta do Inspector-Geral da Administração
Pública
ARTIGO 20
(Departamento de Tecnologias de Informação e Comunicação)

1. São funções do Departamento de Tecnologias de Informação e


Comunicação:
a) assegurar a implementação da Política de Informática do Governo;
b) elaborar e propor a estratégia de TICs da IGAP e respectivo plano
operacional e garantir a sua implementação;
c) planificar o desenvolvimento do sistema de tecnologias de informação e
comunicação da IGAP;
d) promover e massificar o uso racional das TICs na IGAP, incluindo a
operacionalização do email do governo e outras plataformas informáticas ao
abrigo da Lei das Transacções Electrónicas;
e) conceber e propor a implantação de infra-estrutura de rede informática
da IGAP para apoiar a actividade de fiscalização e inspecção administrativa;
f) garantir a manutenção da infra-estrutura de rede informática que suporta
os sistemas de informação, comunicação e imagem da IGAP ;
g) identificar e propor a implementação de sistemas de informação e base
de dados informatizados;
h) orientar e propor à aquisição, expansão e substituição de equipamentos
de TICs;
i) elaborar normas técnicas relativas ao acesso, utilização dos sistemas de
informação na IGAP;
j) implementar mecanismos de segurança cibernética;
k) propor a formação contínua e regular do pessoal na área de tecnologias
de informação e comunicação;
l) promover trocas de experiências sobre o acesso, utilização de tecnologias
de informação, comunicação e imagem da IGAP; e
m) exercer outras actividades que lhe sejam superiormente incumbidas.
2. O Departamento de Tecnologias de Informação e Comunicação é dirigido
pelo Chefe de Departamento Central Autónomo nomeado pelo Ministro que
superintende a área da função pública, sob proposta do Inspector-Geral da
Administração Pública.

ARTIGO 21
(Repartição de Aquisições)

1. São funções de Repartição de Aquisições:


a) dirigir o processo de aquisição de bens e serviços para o correcto
funcionamento da IGAP;
b) efectuar o levantamento das necessidades de contratação de
fornecedores de serviços e bens para a IGAP;
c) planificar o pacote de contratações anuais da IGAP;
d) preparar os documentos de concursos;
e) apoiar e orientar as demais áreas na elaboração do catálogo contendo as
especificações técnicas e outros documentos de contratação;
f) prestar assistência técnica ao júri de concursos e zelar pelo cumprimento
de procedimentos pertinentes;
g) exercer outras actividades que lhe sejam superiormente incumbidas.
2. A Repartição de Aquisições é dirigida por um Chefe de Repartição,
nomeado Inspector-geral da Administração Pública.
CAPÍTULO IV
Representação local da Inspecção Geral da Administração Pública

ARTIGO 22
(Delegação Provincial)

1. A Inspecção Geral da Administração Publica a nível local é representada


por uma Delegação Provincial.
2. A Delegação Provincial da IGAP é dirigida por um Delegado Provincial
nomeado pelo Ministro que superintende a área da função pública, sob
proposta do Inspector-Geral da Admi-nistração Pública.
3. A estrutura da Delegação Provincial consta do Regulamento Interno da
IGAP.

ARTIGO 23
(Subordinação)

A Delegação Provincial da IGAP subordina-se centralmente à Inspecção


Geral da Administração Publica e funciona sob orientação e coordenação do
Inspector-Geral da Administração Pública a quem lhe presta contas pelas
suas actividades, sem prejuízo de articulação e cooperação com outras
entidades na província.

ARTIGO 24
(Funções da Delegação Provincial)

São funções da Delegação Provincial da IGAP:


a) prosseguir as atribuições, competências e actividades da IGAP ao nível da
Província
b) inspeccionar e fiscalizar o cumprimento da legislação;
c) garantir a execução dos planos de actividade e orçamento da Delegação
Provincial e apresentar relatórios periódicos às entidades competentes
sobre o seu comprimento;
d) aplicar instruções e orientações técnico-metodológicas definidas pela
Inspecção-Geral e sem prejuízo das determinações do âmbito provincial;
e) prestar informações e apresentar relatórios periódicos de actividades
inspectivas e propor melhoria da execução das atribuições e competências
da Inspecção;
f) articular e coordenar com outras instituições do Estado para a eficácia da
actividade inspectiva na Província; e
g) realizar outras actividades que lhe sejam superiormente determinadas nos
termos do presente Estatuto e demais legislação aplicável.

ARTIGO 25
(Competências do Delegado Provincial)

Compete ao Delegado Provincial:


a) velar pela organização e funcionamento da delegação;
b) representar a delegação provincial na respectiva área de jurisdição;
c) propor ao Inspector-Geral da Administração Pública o plano de acções
inspectivas na respectiva área de jurisdição;
d) articular e coordenar com outras entidades locais, no desempenho das
actividades de fiscalização e inspecção na respectiva área de jurisdição;
e) elaborar e submeter relatórios mensais e anuais de actividade para o
Inspector-Geral da Administração Pública;
f) garantir a implementação de normas de gestão de recursos humanos,
financeiros, materiais e patrimoniais afectos a delegação; e
g) exercer outras competências superiormente incumbidas.

CAPÍTULO V
Regime de Pessoal, Remuneratório e Orçamental

ARTIGO 26
(Regime de Pessoal)

O pessoal da IGAP rege-se pelo regime jurídico da função pública, sendo


admissível a possibilidade de celebração de contratos de trabalho que se
regem pelo regime geral, sempre que isso for compatível com a natureza das
funções a desempenhar.

ARTIGO 27
(Remuneração)

Sem prejuízo dos direitos adquiridos, o regime remuneratório aplicável ao


pessoal da IGAP é o dos funcionários e agentes do Estado.

ARTIGO 28
(Orçamento)

Para o exercício das suas atribuições, a IGAP dispõe de orçamento próprio,


inscrito no orçamento do Estado.

ARTIGO 29
(Receitas)

Constituem receitas da IGAP:


a) orçamento do Estado;e
b) doações e outros fundos.

ARTIGO 30
(Despesas)

São despesas da IGAP:


a) as remunerações dos seus funcionários e agentes do Estado;
b) os encargos resultantes do exercício das suas atribuições e competências;
c) os custos de aquisição, manutenção e de conservação de bens,
equipamentos ou serviços;e
d) outros encargos, nos termos de legislação aplicável.
Havendo necessidade de simplificar os procedimentos atinentes ao processo
administrativo contencioso, nos termos da alínea r) do n.º 2 do artigo 179 da
Constituição, a Assembleia da República determina:

CAPÍTULO I
Disposições gerais

ARTIGO 1
(Âmbito)

1. A presente Lei regula os processos da jurisdição administrativa.


2. Para efeitos da presente Lei, consideram-se processos da jurisdição
administrativa aqueles que correm termos nos tribunais administrativos
provinciais, no Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo, na Primeira
Secção e na Primeira Subsecção da Secção de Contas do Tribunal
Administrativo e têm como objecto relações jurídicas previstas no artigo 3
da presente Lei.
3. A presente Lei aplica-se, igualmente, ao processo de fiscalização prévia,
através do visto, nos tribunais administrativos de província e no Tribunal
Administrativo da Cidade de Maputo.

ARTIGO 2
(Direito aplicável)

O processo na jurisdição administrativa rege-se pela presente Lei, pela Lei


Orgânica do Tribunal Administrativo, pela Lei Orgânica da Jurisdição
Administrativa e, supletivamente, pelo disposto na lei de processo civil e
outras disposições gerais, com as necessárias adaptações.

ARTIGO 3
(Objecto da jurisdição administrativa)

A jurisdição administrativa tem por objecto:


a) assegurar a tutela efectiva de direitos e interesses legalmente protegidos
das pessoas nas relações sujeitas ao Direito Administrativo que estabeleçam
com pessoas colectivas públicas ou sujeitos privados;
b) fiscalizar o respeito efectivo pelos princípios e normas constitucionais,
legais e regulamentares a que se encontra sujeita a Administração Pública e
reparar a sua violação;
c) dirimir conflitos entre pessoas colectivas ou órgãos da Administração
Pública;
d) dirimir conflitos entre interesses públicos e privados.
ARTIGO 4
(Tutela jurisdicional efectiva)

1. O princípio da tutela jurisdicional efectiva compreende o direito de obter,


em prazo razoável, uma decisão judicial que aprecie, com força de caso
julgado, cada pretensão regularmente deduzida em juízo, bem como a
possibilidade de a fazer executar e de obter as providências cautelares,
antecipatórias ou conservatórias, destinadas a assegurar o efeito útil da
decisão.
2. A todo o direito subjectivo público ou interesse legalmente protegido
corresponde um meio processual próprio destinado à sua tutela jurisdicional
efectiva.

ARTIGO 5
(Pressupostos processuais)

O exercício dos meios processuais da competência do Tribunal


Administrativo, dos tribunais administrativos provinciais e do Tribunal
Administrativo da Cidade de Maputo depende dos pressupostos
estabelecidos na presente Lei e, subsidiariamente, nas normas do processo
civil.

ARTIGO 6
(Competência)

1. A competência do Tribunal Administrativo, dos tribunais administrativos


provinciais e do Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo é de ordem
pública e o seu conhecimento precede o de qualquer outra matéria.
2. O Plenário do Tribunal Administrativo conhece apenas de matéria de
direito, à excepção dos casos em que julga em segunda ou primeira e única
instância.

ARTI5GO 7
(Petição a tribunal incompetente)

1. Quando, na ordem jurisdicional administrativa, a petição seja dirigida a


tribunal administrativo incompetente, este, declarada a incompetência,
ordena a remessa oficiosa do processo ao Presidente da Primeira Secção do
Tribunal Administrativo, no prazo de cinco dias, e a notificação do
recorrente e dos recorridos, se for caso disso.
2. O Presidente da Primeira Secção designa, por despacho fundamentado, a
jurisdição competente, no prazo de cinco dias.
3. No caso em que, a pedido de uma parte ou oficiosamente, o presidente de
um tribunal administrativo, antes da distribuição do processo, verifica a
existência de razões objectivas susceptíveis de pôr em causa a
imparcialidade do tribunal, este procede à remessa do processo ao
Presidente da Primeira Secção do Tribunal Administrativo, que designa a
jurisdição para conhecer deste.
4. Tratando-se de uma outra ordem jurisdicional, pode o demandante,
declarada a incompetência, requerer, no prazo de quinze dias, contado do
trânsito em julgado da decisão que declare a incompetência, a remessa do
processo ao tribunal em que a acção devia ter sido proposta com indicação
do mesmo.
5. Nos casos referidos nos números anteriores, a petição considera-se
apresentada na data do primeiro registo de entrada.

ARTIGO 8
(Patrocínio)

1. É apenas obrigatória a constituição de advogado nos processos cujo


conhecimento compete à Primeira Secção, à Secção de Contas em matéria
de fiscalização prévia, através do visto, ou ao Plenário do Tribunal
Administrativo.
2. Os órgãos administrativos podem ser patrocinados nos processos
administrativos por advogado constituído expressamente para o efeito.

ARTIGO 9
(Poderes processuais)

A autoridade recorrida e o recorrente estão em igualdade no exercício de


poderes processuais.

ARTIGO 10
(Prazos)

Com excepção dos relativos a actos de secretaria, são de cinco dias os


prazos judiciais de mais curta duração que não se encontrem expressamente
fixados na presente Lei.

ARTIGO 11
(Processos urgentes)

1. Correm em férias para além de outros por lei


qualificados de urgentes, os processos relativos:
a) ao recurso contencioso de actos administrativos referentes à formação
dos contratos de empreitada de obras públicas, de fornecimento contínuo e
de prestação de serviços para fins de imediata utilidade pública;
b) à intimação para informação, consulta de processo ou passagem de
certidão;
c) à suspensão de eficácia dos actos administrativos e das normas;
d) à intimação para um comportamento;
e) à produção antecipada de prova;
f) às providências cautelares não especificadas.
2. Os actos de secretaria nos processos referidos no número anterior são
praticados com a maior brevidade possível, e com precedência sobre
quaisquer outros.
ARTIGO 12
(Documentos e informações)

1. Nos processos em que intervenham os órgãos, funcionários e agentes da


Administração Pública, bem como os particulares, devem facultar
prontamente os documentos que lhes sejam solicitados e, igualmente, as
informações pedidas.
2. Sem prejuízo do que esteja especialmente legislado, a formação de
julgamento aprecia, livremente, para efeitos probatórios, as consequências
das condutas que infrinjam o disposto no número anterior.

ARTIGO 13
(Distribuição no Tribunal Administrativo)

1. Para efeitos de distribuição na Secção do Contencioso Administrativo, há


as seguintes espécies de processos:
a) recursos jurisdicionais;
b) recursos de decisões arbitrais;
c) recursos contenciosos;
d) acções;
e) processos de impugnação de normas;
f) conflitos de competência entre tribunais administrativos provinciais;
g) processos urgentes;
h) outros processos.
2. No Plenário são as seguintes as espécies de processos:
a) recursos directamente interpostos em primeira e em única instância;
b) conflitos;
c) processos urgentes;
d) outros processos.

ARTIGO 14
(Distribuição nos tribunais administrativos provinciais e do Tribunal
Administrativo da Cidade de Maputo)

Para efeitos de distribuição nos tribunais administrativos provinciais e do


Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo, há as seguintes espécies de
processos:
a) recursos contenciosos;
b) acções;
c) processos de impugnação de normas;
d) processos urgentes;
e) outros processos.

ARTIGO 15
(Limites da distribuição)

1. A distribuição no Plenário e na Primeira Secção do Tribunal Administrativo


bem como nos tribunais administrativos provinciais e no Tribunal
Administrativo da Cidade de Maputo é feita entre os juízes das respectivas
jurisdições.
2. Ao Presidente do Tribunal Administrativo não são distribuídos processos.

ARTIGO 16
(Prevalência da justiça material)

A jurisdição administrativa competente conhece do fundo da questão


sempre que do alegado se possa depreender a intenção do demandante, não
podendo abster-se de julgar a pretexto da falta ou obscuridade da lei, da
falta de provas ou de outro qualquer motivo que não estiver taxativamente
previsto por lei.

ARTIGO 17
(Citações e notificações)

1. Na petição deve o autor, não sendo órgão da Administração, designar


domicílio na sede do Tribunal Administrativo, do tribunal administrativo
provincial ou do Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo onde possa,
por si ou por intermédio do seu mandatário, receber as citações e
notificações necessárias.
2. Faltando a designação de domicílio, não tem seguimento o recurso ou a
acção e, se no domicílio indicado não for encontrada a pessoa que receba as
citações ou notificações, faz-se estas nos termos das normas do processo
civil.
3. A citação ou notificação da autoridade pública, quando for parte no
processo, é feita por ofício;
a recepção deste é acusada nas quarenta e oito horas que se seguirem ao
recebimento.
4. As restantes citações e notificações são feitas nos termos das normas do
processo civil.

ARTIGO 18
(Questão prejudicial)

1. Quando o conhecimento do objecto do processo dependa de decisão de


questão da competência de outro tribunal, pode a jurisdição administrativa
competente sobrestar na decisão até que o tribunal competente se
pronuncie.
2. A inércia dos interessados relativamente à instauração ou ao andamento
do processo respeitante a questão prejudicial, durante mais de três meses,
determina a cessação da suspensão do processo administrativo contencioso,
decidindo-se a questão com efeitos a ele restritos.
ARTIGO 19
(Incidente de falsidade)

Quando seja arguida a falsidade de qualquer documento em processo


pendente no Tribunal Administrativo, no tribunal administrativo provincial e
no Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo, o relator toma as
necessárias providências para instrução e julgamento, nos termos do artigo
360 e seguintes do Código de Processo Civil.

ARTIGO 20
(Competências do relator)

1. Compete ao relator, sem prejuízo dos casos em que se encontra


especialmente previsto:
a) ordenar ou deprecar as diligências instrutórias bem como de prova que
julgue necessárias;
b) deferir os termos do processo e prepará-lo para julgamento;
c) ordenar, quando seja imposta por lei, ou decidir a apensação dos
processos;
d) rejeitar liminarmente os requerimentos e incidentes de cujo objecto não
deva tomar-se conhecimento;
e) declarar, quando seja imposta por lei, ou decidir a suspensão da instância;
f) julgar os incidentes.
2. O relator pode, por despacho fundamentado:
a) rejeitar liminarmente o recurso que manifestamente não seja da
competência da jurisdição administrativa;
b) rejeitar o recurso quando o pedido é manifestamente errado;
c) decidir sobre os pedidos manifestamente ininteligíveis;
d) rejeitar o recurso quando, tendo sido convidado a suprir ou corrigir
deficiências ou irregularidades, num prazo a ser fixado pelo relator, o
recorrente não se conformar com as diligências solicitadas;
e) julgar extinta a instância por deserção, desistência ou impossibilidade
superveniente da lide;
f) rejeitar liminarmente o recurso quando a petição seja inepta;
g) rejeitar liminarmente o recurso quando haja falta de personalidade ou
capacidade jurídica do recorrente;
h) rejeitar liminarmente o recurso quando haja falta de objecto;
i) rejeitar liminarmente o recurso quando o acto administrativo recorrido
seja irrecorrível;
j) rejeitar liminarmente o recurso quando o recorrente é ilegítimo;
k) rejeitar liminarmente o recurso quando a coligação dos recorrentes é
ilegal;
l) rejeitar liminarmente o recurso quando haja caducidade do direito ao
recurso;
m) rejeitar liminarmente o recurso quando haja ilegalidade da cumulação de
impugnações;
n) rejeitar imediatamente o pedido de suspensão de eficácia de actos
administrativos quando enferme de deficiências ou irregularidades.
3. Cabe reclamação, no prazo de cinco dias, para a conferência dos
despachos do relator proferidos nos termos do n.º 1 do presente artigo, com
excepção dos de mero expediente.
4. Cabe recurso, no prazo de cinco dias, para a formação de julgamento dos
despachos do relator proferidos nos termos do n.º 2 do presente artigo.
5. O relator elabora a minuta do projecto de acórdão a ser comunicado à
formação de julgamento.

ARTIGO 21
(Intervenção de técnicos)

Quando num processo se devam resolver questões que exijam


conhecimentos especializados, pode a jurisdição administrativa
competente, oficiosamente ou a requerimento de qualquer das partes,
determinar a intervenção de técnicos cujos pareceres são juntos aos autos.

ARTIGO 22
(Processo pronto para julgamento)

No Tribunal Administrativo, nos tribunais administrativos provinciais e no


Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo, o respectivo secretário
judicial apresenta aos presidentes das respectivas jurisdições, incluindo o da
Primeira Secção do Tribunal Administrativo, no final de cada sessão, o
suporte documental ou informático destinado ao registo dos processos
considerados prontos para julgamento para que, ouvidos os juízes,
determinem quais os que constituirão a tabela da sessão seguinte.

ARTIGO 23
(Intervenção do Ministério Público as conferências)

Quando não intervenha no processo como demandante ou demandado, mas


apenas na defesa da legalidade ou na promoção da realização do interesse
público, o representante do Ministério Público no Tribunal Administrativo
assiste às conferências e é ouvido na discussão.

ARTIGO 24
(Cumulação de pedidos)

1. Qualquer que seja a jurisdição administrativa competente, pode cumular-


se:
a) o pedido de anulação ou declaração de nulidade ou inexistência de um
acto administrativo com o pedido de indemnização de perdas e danos que,
pela sua natureza, devam subsistir mesmo em caso de reposição da situação
actual hipotética obtida através do provimento do recurso;
b) o pedido de declaração da ilegalidade de uma norma com o pedido de
indemnização de perdas e danos que, pela sua natureza, devam subsistir
mesmo em caso de reposição da situação actual hipotética obtida através
do provimento do recurso;
c) o pedido de anulação ou declaração de nulidade ou inexistência de um
acto administrativo com o pedido de anulação ou declaração de nulidade de
contrato cuja validade dependa desse acto;
d) o pedido de anulação ou declaração de nulidade ou inexistência de um
acto administrativo com o pedido de reconhecimento de uma situação
jurídica subjectiva;
e) o pedido de anulação ou declaração de nulidade ou inexistência de um
acto administrativo com o pedido de condenação da Administração ao
restabelecimento da situação que existiria se o acto não tivesse sido
praticado;
f) o pedido de condenação da Administração à prática de um acto
administrativo legalmente devido com qualquer dos pedidos mencionados
nas alíneas anteriores;
g) qualquer pedido relacionado com questões de inter-pretação, validade
ou execução de contratos com a impugnação de actos administrativos
praticados no âmbito da relação contratual.
2. Nas hipóteses previstas nos números anteriores, aplicam-se as normas que
regulam os correspondentes meios processuais quando se não revelem
incompatíveis com as aplicáveis à tramitação do recurso contencioso ou das
acções.
3. No caso de absolvição da instância por ilegal cumulação de pedidos,
podem ser apresentadas novas petições, no prazo de trinta dias, a contar do
trânsito em julgado, considerando-se estas apresentadas na data de entrada
da primeira, para efeitos da tempestividade da sua apresentação.

ARTIGO 25
(Notificação das decisões)

A notificação das decisões das jurisdições administrativas deve ser feita


mediante a entrega de cópia dactilografada, devendo constar da mesma a
possibilidade de impugnação e os prazos respectivos, se for caso disso, sob
pena de ineficácia.

ARTIGO 26
(Publicidade das decisões)

Dos acórdãos do Tribunal Administrativo é enviada cópia dactilografada à


Imprensa Nacional, para publicação, no mês imediato ao da sua data.

ARTIGO 27
(Certidões)

A passagem de certidões obedece ao regime da lei de processo civil.

ARTIGO 28
(Baixa na distribuição)

1. Sem prejuízo do disposto na lei de processo civil, importa baixa na


distribuição a apensação de processo a outro distribuído a juiz diferente.
2. Nos casos de baixa na distribuição para apensação, o processo que
transite para novo juiz é carregado a este na espécie devida, quando a
apensação se fundamente em conexão ou dependência entre os actos
impugnados ou em unidade de processo instrutor.
ARTIGO 29
(Afectação a novo juiz)

1. Cada juiz que seja nomeado para o quadro do Tribunal Administrativo, dos
tribunais administrativos provinciais e do Tribunal Administrativo da Cidade
de Maputo sucede nos processos distribuídos ao juiz cuja vaga vá ocupar,
salvo se já tiver recebido a sua parte de processos, por despacho dos
presidentes do Tribunal Administrativo, do tribunal administrativo provincial
ou do Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo, respectivamente.
2. No caso previsto na última parte do número anterior, os processos
distribuídos ao juiz cuja vaga seja provida são distribuídos por determinação
do respectivo presidente pela forma mais equitativa.
3. A redistribuição provisória por substituição prolongada do relator cessa
com o termo do seu impedimento ou com o preenchimento da sua vaga,
salvo quanto aos processos já inscritos para julgamento.
4. Em casos de urgência, o relator é provisoriamente substituído pelo
primeiro adjunto.

ARTIGO 30
(Turnos de juízes)

No Tribunal Administrativo, nos tribunais administrativos provinciais e no


Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo funcionam, durante as férias,
um turno de juízes em cada período, aos quais compete conhecer dos
processos que devam correr em férias.

ARTIGO 31
(Actos dos magistrados e do cartório)

1. A tramitação dos processos nas jurisdições administrativas pode ser,


sempre que possível, efectuada informaticamente, devendo as disposições
da presente Lei relativas a actos dos magistrados e do cartório ser objecto
de adaptações práticas que se revelem necessárias.
2. Salvo nos casos em que, nos termos da presente Lei, as mesmas possam
ser efectuadas por correio electrónico, o disposto no número anterior não se
aplica às citações e noti-ficações das partes e dos mandatários judiciais.
3. Para efeitos do disposto no n.º 1, as peças processuais e os documentos
apresentados pelas partes em suporte de papel são digitalizados pelo
cartório.
4. Sem prejuízo do disposto nos números seguintes, os documentos que
possam ser digitalizados podem ser apresentados através de correio
electrónico ou de outro meio de transmissão electrónica de dados, podendo
as partes ser dispensadas de remeter à jurisdição o respectivo suporte de
papel e as cópias dos mesmos.
5. O disposto nos números anteriores não prejudica o dever de exibição dos
originais das peças processuais e dos documentos juntos pelas partes
através de correio electrónico ou de outro meio de transmissão electrónica
de dados, sempre que o relator ou o presidente da formação de julgamento
a determine, nos termos da presente Lei.
6. O disposto nos n.ºs 3 e 4 não se aplica ao documento comprovativo do
pagamento das custas judiciais, bem como ao documento comprovativo da
concessão de apoio judiciário ou de pedido de apoio judiciário requerido,
mas ainda não concedido, os quais devem ser remetidos à jurisdição, nos
termos da presente Lei.
CAPÍTULO II
Recursos contenciosos

SECÇÃO I
Disposições gerais

ARTIGO 32
(Natureza e objecto dos recursos contenciosos)

Os recursos contenciosos são de mera legalidade e têm por objecto a


declaração de anulabilidade, nulidade e inexistência jurídica dos actos
recorridos, exceptuada qualquer disposição em contrário.

ARTIGO 33
(Actos recorríveis)

1. Só é admissível recurso dos actos definitivos e executórios.


2. O não exercício do direito de recurso de acto administrativo não impede,
no entanto, a impugnação contenciosa de actos de execução ou de aplicação
daquele acto.

ARTIGO 34
(Fundamentos do recurso)

Constitui fundamento próprio do recurso contencioso a ofensa, pelo acto


recorrido, dos princípios ou normas jurídicas aplicáveis, designadamente:
a) a usurpação do poder;
b) a incompetência;
c) o vício de forma, neste se englobando a falta de funda-mentação, de facto
ou de direito, do acto administrativo e a falta de quaisquer elementos
essenciais deste;
d) a violação da lei, incluindo-se a falta de respeito pelos princípios da
igualdade, da proporcionalidade, da justiça e da imparcialidade e, ainda, o
erro manifesto ou a total falta de razoabilidade no exercício de poderes
discricionários;
e) o desvio de poder.

ARTIGO 35
(Actos nulos e anuláveis)

1. São nulos e de nenhum efeito, podendo a qualquer tempo e por qualquer


interessado ser invocada a sua nulidade, os actos recorríveis quando
envolvam usurpação de poder, incompetência, violação da lei ou falta de
fundamentação.
2. São anuláveis os actos recorríveis que envolvam vício de forma ou desvio
de poder.

ARTIGO 36
(Efeitos do recurso)

1. O recurso contencioso não tem efeito suspensivo do acto recorrido.


2. O recurso contencioso tem, porém, efeito suspensivo da eficácia do acto
recorrido quando, cumulativamente, esteja em causa apenas o pagamento
de quantia certa, de natureza não sancionatória, e tenha sido prestada
caução por qualquer das formas admitidas nos termos do Código de
Processo Civil.

SECÇÃO II
Prazos do recurso

ARTIGO 37
(Prazos)

1. O recurso de actos nulos ou juridicamente inexistentes pode ser exercido


a todo o tempo.
2. O recurso de actos anuláveis é interposto no prazo de noventa dias, salvo
os casos de indeferimento tácito em que o prazo é de trezentos sessenta e
cinco dias.
3. É, igualmente, de trezentos sessenta e cinco dias o prazo quando seja
recorrente o Ministério Público.
4. À fixação do termo são aplicáveis, em caso de dúvida, as seguintes regras:
a) se o termo se refere ao princípio, meio ou fim do mês, entende-se como
tal, respectivamente, o primeiro dia, o dia 15 e o último dia do mês;
se for fixado no princípio, meio ou fim do ano, entende-se, respectivamente,
o primeiro dia do ano, o dia 30 de Junho e o dia 31 de Dezembro;
b) na contagem de qualquer prazo não se inclui o dia, nem a hora, se o prazo
for de horas, em que ocorrer o evento a partir do qual o prazo começa a
correr;
c) o prazo fixado em semanas, meses ou anos, a contar de certa data, termina
às 24 horas do dia que corresponda, dentro da última semana, mês ou ano,
a essa data;
mas, se no último mês não existir dia correspondente, o prazo finda no último
dia desse mês;
d) é havido, respectivamente, como prazo de uma ou duas semanas o
designado por oito dias ou quinze dias, sendo havido como prazo de um ou
dois dias o designado por 24 ou 48 horas;
a) o prazo que termine em sábado ou domingo ou dia feriado transfere-se
para o primeiro dia útil;
aos domingos e dias feriados são equiparados às férias judiciais, se o acto
sujeito a prazo tiver de ser praticado em juízo.
ARTIGO 38
(Início da contagem dos prazos de recurso)

1. A contagem do prazo para interposição de recurso não tem início


enquanto o acto não comece a produzir efeitos e sempre que a publicação
ou a notificação, quando obrigatórias, não dêem a conhecer o sentido, o
autor e a data da decisão.
2. A contagem do prazo para interposição de recurso de acto expresso
inicia-se a partir da publicação, quando esta seja obrigatória, ou da efectiva
notificação, no caso inverso.
3. A contagem do prazo para interposição de recurso de acto expresso, cuja
publicação e notificação não sejam obrigatórias ou se achem legalmente
dispensadas, inicia-se a partir:
a) do dia da prática do acto, quando seja um acto, oral praticado na presença
do interessado;
b) do dia do conhecimento efectivo ou presumido do acto ou do início da
sua execução, nos restantes casos;
c) relativamente aos actos que constituam deveres ou encargos para os
particulares e não estejam sujeitos a publicação, começam a produzir efeitos
a partir da sua notificação aos destinatários, ou de outra forma de
conhecimento oficial pelos mesmos, ou do começo de execução do acto;
d) para os efeitos da alínea anterior, presume-se o conhecimento oficial
sempre que o interessado intervenha no processo e aí revele conhecer o
conteúdo do acto;
e) para os fins do disposto na alínea b), apenas se considera começo de
execução o início da produção de qualquer efeito que atinja os destinatários.
4. A contagem do prazo para interposição do recurso de indeferimento
tácito tem lugar a contar do termo do prazo concedido ao órgão
administrativo para a prática do acto.
5. O disposto nos n.ºs 1 e 2 não prejudica a faculdade de o interessado
interpor recurso, antes da publicação ou notificação do acto, se tiver sido
iniciada a sua execução.
6. A rectificação dos actos administrativos ou da sua publicação ou
notificação não dá lugar ao início de contagem de novo prazo para a
interposição de recurso, salvo quando incida em aspectos relevantes para a
recorribilidade de tais actos.

ARTIGO 39
(Conteúdo da publicação ou notificação)

1. Para os efeitos de recurso, a publicação e a notificação devem indicar:


a) o autor do acto e, sendo este praticado por delegação ou subdelegação
de competência, a qualidade em que decidiu, mencionando-se os despachos
de delegação ou subdelegação e do local da respectiva publicação;
b) o sentido e a data da decisão.
2. Os fundamentos da decisão devem constar da notificação e, sempre que
possível, da publicação, ainda que por extracto.
ARTIGO 40
(Suspensão da contagem dos prazos, publicação ou notificação
insuficientes)

1. A contagem do prazo para interposição de recurso suspende-se nos


períodos em que, por decisão administrativa, o acto se torne ineficaz.
2. Se a publicação ou a notificação não contiver a fundamentação integral
da decisão e as demais indicações referidas no artigo anterior, pode o
interessado, no prazo de trinta dias, requerer à entidade que praticou o acto
a notificação das que tenham sido omissas ou a passagem de certidão ou
fotocópia certificada que as contenham.
3. Se o interessado usar da faculdade mencionada no número anterior, fica o
prazo suspenso, a partir da data da apresentação do requerimento,
contando-se o prazo para o recurso a partir da notificação ou entrega da
certidão ou fotocópia autenticada.
4. A apresentação do requerimento previsto no n.º 2 do presente artigo pode
ser provada por duplicado do mesmo, com o registo de entrada no serviço
que procedeu à publicação ou notificação ou por outro documento
autêntico.

ARTIGO 41
(Impugnação de acto tácito)

O deferimento ou indeferimento tácito de petição ou requerimento dirigido


a delegante ou subdelegante é imputável, para efeitos de recurso
contencioso, ao delegado ou subdelegado, mesmo que a este não seja
remetida a petição ou requerimento, atendendo-se à data da respectiva
entrada para os fins do artigo antecedente.

SECÇÃO III
Recorribilidade dos actos

ARTIGO 42
(Actos de execução ou aplicação)

1. Os actos de mera execução ou aplicação de actos administrativos são


irrecorríveis.
2. Exceptuam-se do disposto no número anterior:
a) os actos de execução que excedam os limites do acto exequendo;
b) os actos de execução arguidos de ilegalidade, desde que esta não seja
consequência da ilegalidade do acto exequendo;
c) os actos que não tenham sido legitimados por acto administrativo prévio
e praticados em estado de necessidade.

ARTIGO 43
(Recorribilidade de indeferimento tácito)

1. A recorribilidade do indeferimento tácito cessa quando o acto expresso


seja publicado, nos casos de publicação obrigatória, ou notificado ao
interessado.
2. Cessa, ainda, a mencionada recorribilidade quando o interessado opte
pela propositura de acção para reconhecimento de direito ou interesse
legalmente protegido nos termos da presente Lei.

SECÇÃO IV
Legitimidade

ARTIGO 44
(Legitimidade activa)

Têm legitimidade para interpor recurso contencioso os que se considerem


titulares de direitos subjectivos ou interesses legalmente protegidos que
tivessem sido lesados pelo acto recorrido, quando tenham interesse directo,
pessoal e legítimo na interposição do recurso e, ainda:
a) o Ministério Público;
b) os titulares do direito de acção popular;
c) as pessoas colectivas, mesmo em relação aos actos lesivos dos direitos ou
interesses que a elas cumpra defender;
d) os presidentes e membros dos órgãos colegiais em relação aos actos
praticados pelo órgão respectivo;
e) as autarquias locais, mesmo em relação aos actos que afectem o âmbito
da sua autonomia.

ARTIGO 45
(Presunção de legitimidade activa)

A intervenção no procedimento administrativo onde tenha sido praticado o


acto recorrido constitui mera presunção de legitimidade no recurso
contencioso.

ARTIGO 46
(Aceitação do acto)

1. É inadmissível o recurso por parte de quem, sem reserva, total ou parcial,


tenha aceitado, expressa ou tacitamente, o acto, após a sua prática.
2. A aceitação tácita traduz-se na prática espontânea sem reserva de facto
incompatível com a vontade de recorrer.
3. A reserva consiste em declaração escrita dirigida à entidade que tenha
praticado o acto.
4. A execução ou acatamento por funcionário ou agente de acto de que seja
destinatário não se considera aceitação tácita do acto executado ou
acatado, salvo quando dependa da vontade do executante a escolha da
oportunidade da execução.
Artigo 47
(Coligação)

Podem coligar-se vários interessados quando recorram do mesmo acto ou,


com os mesmos fundamentos de facto e de direito, de actos contidos
formalmente num despacho ou outra forma de decisão únicos.

ARTIGO 48
(Acção popular)

Consideram-se titulares do direito de acção popular, para efeitos de


interposição de recurso contencioso de actos lesivos de interesses difusos
ou outros interesses públicos, aqueles que, como tal, sejam definidos por lei
especial.

ARTIGO 49
(Legitimidade passiva)

Têm-se como entidade recorrida o órgão que tenha praticado o acto, ou que,
por alteração legislativa ou regulamentar, lhe tenha sucedido na respectiva
competência, salvo quando pertença à mesma pessoa colectiva ou mesmo
ministério.

ARTIGO 50
(Contra-interessados)

Têm legitimidade para intervir no processo, como contra-interessados,


todos aqueles a quem o provimento do recurso possa afectar directamente.

ARTIGO 51
(Assistentes)

1. No recurso podem intervir como assistentes as pessoas, singulares ou


colectivas, que demonstrem ter um interesse idêntico ao do recorrente, ao
da entidade recorrida ou ao dos contra-interessados, ou com ele conexo.
2. A intervenção do assistente pode ter lugar até à fase das alegações,
devendo aceitar o processo no estado em que se encontre, achando-se a sua
posição subordinada à do assistido, não modificando os direitos deste para
livremente confessar ou desistir com as legais consequências.
SECÇÃO V
Marcha do processo

ARTIGO 52
(Apresentação da petição)

1. Os recursos contenciosos são interpostos pela apresentação da respectiva


petição na secretaria da jurisdição a que é dirigida.
2. A petição pode, ainda, ser enviada, sob registo do correio, à secretaria da
jurisdição a que é dirigida, considerando-se apresentada na data daquele
registo.
ARTIGO 53
(Requisitos da petição)

1. Na petição de recurso, que reveste a forma articulada, deve o recorrente:


a) designar a formação de julgamento da respectiva jurisdição a que o
recurso é dirigido;
b) indicar a sua identidade, residência ou sede, bem como dos contra-
interessados a quem o provimento do recurso possa directamente
prejudicar, requerendo a sua citação;
c) identificar o acto recorrido e o seu autor, indicando, se for caso, o uso de
delegação ou subdelegação de poderes;
d) expor com clareza os factos e as razões de direito que fundamentam o
recurso;
e) apresentar, de forma clara e sucinta, conclusões, indicando, com precisão,
as normas ou princípios que considere infringidos, bem como os direitos
violados;
f) formular o pedido ou os pedidos;
g) indicar os factos cuja prova pretende efectuar;
h) requerer os meios de prova que entenda necessários, referindo-os,
especificadamente, aos factos em causa;
i) indicar os documentos que, obrigatória ou facultativamente, acompanham
a petição;
j) indicar o escritório ou o domicílio do signatário da petição na sede do
tribunal para efeitos de notificação, não sendo o Ministério Público.
2. O recorrente pode estabelecer entre os fundamentos de recurso uma
relação de subsidiariedade.

ARTIGO 54
(Recusa da petição pela secretaria)

1. A secretaria recusa o recebimento da petição inicial, indicando por escri to


o fundamento da recusa.
2. A recusa da petição pela secretaria tem os efeitos e conse-quências que
lhe correspondem na lei processual civil.
ARTIGO 55
(Instrução da petição)

1. Independentemente das formalidades exigidas por lei especial, são


obrigatoriamente, juntos à petição:
a) documento comprovativo do acto recorrido;
b) todos os documentos necessários à demonstração da verdade dos factos
alegados, exceptuados aqueles que fazem parte do processo administrativo
instrutor;
c) rol de testemunhas, sempre que seja requerida a prova testemunhal,
indicando-se os factos a que cada testemunha deve depor;
d) procuração forense ou equivalente;
e) duplicados legais.
2. Quando o recurso tenha por objecto um indeferimento tácito, junta-se à
petição o duplicado ou fotocópia do requerimento sem decisão, no qual
tenha sido passado recibo pelo órgão administrativo onde foi apresentado
o original ou, na sua falta, qualquer documento comprovativo da entrega do
requerimento.
3. Tratando-se de recurso que tenha por objecto um acto oral, a respectiva
prova deve advir dos factos alegados ou de documentos juntos de onde se
possa inferir que esse acto foi efectivamente praticado.
4. Se o recurso tiver por objecto um acto materialmente inexistente, o
recorrente deve juntar, quando os haja, documentos comprovativos da
aparência desse acto e dos seus efeitos lesivos.
5. Quando a interposição de recurso tenha sido antecedida de pedido de
notificação ou passagem de certidão ou fotocópia certificada, nos termos
previstos no artigo 106 da presente Lei, seguido ou não de intimação, a
petição deve ser instruída com os respectivos documentos comprovativos.
6. No caso de o recorrente, por motivos justificados, não tiver podido obter
alguns dos documentos com que a petição deve ser instruída, deve
especificar em que consistem tais documentos e solicitar a fixação de um
prazo razoável para a sua junção.

ARTIGO 56
(Cumulação de impugnações)

1. O recorrente pode cumular a impugnação de actos que estejam, entre si,


numa relação de dependência ou conexão.
2. Não é admissível a cumulação:
a) quando seja apresentada em termos subsidiários ou alternativos;
b) quando a competência para conhecer as impugnações pertença a
tribunais diferentes.

ARTIGO 57
(Despacho liminar)

Autuada a petição e feito o preparo ou decorrido o respectivo prazo, quando


aquele seja devido, o processo é concluso ao relator para proferir o
despacho liminar.

ARTIGO 58
(Rejeição liminar)

1. O recurso é liminarmente rejeitado quando a petição seja inepta.


2. O recurso é ainda liminarmente rejeitado quando seja manifesta a
verificação de circunstâncias que obstem ao seu conhecimento,
designadamente:
a) a incompetência da jurisdição;
b) a falta de personalidade ou capacidade judiciária do recorrente;
c) a falta do objecto do recurso;
d) a irrecorribilidade do acto recorrido;
e) a ilegitimidade do recorrente;
f) a ilegalidade da coligação dos recorrentes;
g) o erro na identificação do autor do acto recorrido, ou a falta de
identificação dos contra-interessados a quem o provimento do recurso
possa directamente prejudicar, quando o erro ou a falta sejam indes-
culpáveis;
h) a ilegalidade da cumulação de impugnações;
i) a caducidade do direito do recurso.

ARTIGO 59
(Rejeição por ineptidão da petição e por erro ou falta de identificação)

1. Diz-se inepta a petição:


a) quando falte ou seja ininteligível a indicação do pedido ou da causa de
pedir;
b) quando o pedido esteja em contradição com a causa de pedir;
c) quando se cumulem pedidos substancialmente incom-patíveis.
2. Verificando-se a rejeição liminar por ineptidão da petição ou por
verificação da circunstância prevista na alínea g) do n.º 2 do artigo anterior,
pode o recorrente apresentar nova petição, no prazo de quinze dias,
contados da notificação da decisão de rejeição ou, quando tenha recorrido
desta decisão sem êxito, da notificação que lhe seja feita da entrega do
processo na jurisdição recorrida.
3. O novo recurso considera-se apresentado na data em que teve lugar a
primeira petição.

ARTIGO 60
(Invocação indevida de delegação)

Ocorrendo a rejeição de recurso interposto de acto praticado, invocando-se


delegação ou subdelegação de poderes, com fundamento na inexistência,
invalidade ou ineficácia destas ou por não abrangerem a prática do acto,
pode o recorrente usar o meio administrativo necessário à recorribilidade
contenciosa do acto, no prazo de trinta dias, contados do trânsito em
julgado do despacho de rejeição.

ARTIGO 61
(Rejeição por ilegal coligação)

Sendo o recurso rejeitado por ilegal coligação dos recorrentes, estes podem
interpor novo ou novos recursos, no prazo de trinta dias, contados do
trânsito em julgado do despacho, considerando-se as respectivas petições
apresentadas na data da entrega da primeira.
ARTIGO 62
(Rejeição por ilegal cumulação)

1. A ilegalidade da cumulação de impugnações, que advenha da


incompetência para o conhecimento das impugnações por tribunais de
categoria diferente, não impede o prosseguimento do recurso em relação a
impugnação para cujo conhecimento o tribunal seja competente.
2. De qualquer modo, rejeitado o recurso ou prosseguindo nos termos do
número anterior, pode o recorrente usar da faculdade prevista no artigo
antecedente.

ARTIGO 63
(Despacho de regularização)

1. Verificando-se que a petição ou a sua instrução contêm deficiências ou


irregularidades, o recorrente é notificado para as suprir ou corrigir, num
prazo a ser fixado pelo relator.
2. No despacho de regularização o relator indica as deficiências ou
irregularidades a suprir ou corrigir.
3. Quando, tendo sido convidado a suprir a omissão, o recorrente que tenha
requerido prova testemunhal, não apresente o rol de testemunhas ou não
indique os factos a que devem depor, fica impedido de fazer tal prova.
4. Exceptuando-se o disposto no número antecedente, a falta de suprimento
ou correcção das deficiências ou irregularidades apontadas no despacho
tem como efeito a rejeição do recurso.

ARTIGO 64
(Citação do recorrido)

1. Não sendo rejeitado o recurso, é citado o recorrido para contestar, no


prazo de vinte dias.
2. Da citação deve constar informação sobre as prescrições constantes dos
artigos 66 a 68.

ARTIGO 65
(Contestação)

1. Na contestação o recorrido deve deduzir, de forma articulada, toda a


matéria relativa à defesa, indicar os factos cuja prova pretende fazer, juntar
todos os documentos destinados a demonstrar a verdade dos factos
alegados e, ainda, sendo o caso, apresentar o rol de testemunhas ou requerer
outros meios de prova.
2. A falta de apresentação do rol de testemunhas ou da indi-cação dos factos
a que elas devem depor impede o recorrido de fazer tal prova.
ARTIGO 66
(Falta de contestação ou de impugnação)

A falta de contestação ou de impugnação implica a confissão dos factos


alegados pelo recorrente, excepto quando estejam em manifesta oposição
com a defesa considerada no seu conjunto, não seja admissível confissão
sobre eles ou resultem contraditados pelos documentos que constituem o
processo administrativo instrutor.

ARTIGO 67
(Remessa do processo administrativo)

1. Com a contestação, ou no respectivo prazo, o recorrido é obrigado a


remeter ao tribunal o original do processo administrativo e todos os demais
documentos relacionados com a matéria do recurso, que ficam apensos aos
autos como processo instrutor.
2. Encontrando-se o processo administrativo já apenso a outros autos, o
recorrido deve dar a conhecer ao tribunal esse facto.
3. O original do processo administrativo pode ser constituído apenas por
fotocópias autenticadas e devidamente ordenadas através de justificação
fundamentada do recorrido com base em prejuízo considerável para o
interesse público.
4. Se o processo não for remetido ao tribunal, sem justificação, ou não venha
a ser substituído por fotocópias, o tribunal intima o recorrido para remeter
o seu original.
5. O não cumprimento da intimação, sem qualquer justificação ou com
justificação julgada inaceitável, constitui crime de deso-bediência
qualificada, conduz o recorrido à responsabilidade civil e disciplinar,
constitui o tribunal na faculdade de aplicar, com as devidas adaptações, a
medida compulsória prevista para obter a execução das decisões
jurisdicionais e não impede o prosseguimento do recurso.
6. No caso do n.º 5 inverte-se o ónus da prova que recaía sobre o recorrente
relativamente aos factos cuja prova, sem o processo administrativo, se torna
impossível ou de considerável dificuldade.
7. A inversão do ónus de prova não prejudica o exercício dos poderes do
relator em ordenar as diligências de prova que entenda pertinentes para a
justa decisão da causa.

ARTIGO 68
(Citação dos contra-interessados)

Junta à contestação do recorrido, ou expirado o seu prazo e apensado o


processo administrativo, ou findo o prazo fixado na intimação prevista no
artigo anterior, os contra-interessados são citados para contestar no prazo
de vinte dias.

ARTIGO 69
(Contestação dos contra-interessados)

É aplicável à contestação dos contra-interessados o disposto para a


contestação do recorrido e para a sua falta, com as devidas adaptações.
ARTIGO 70
(Visto inicial do Ministério Público)

1. Decorridos os trâmites relativos à remessa do processo administrativo, ou


havendo contra-interessados, juntas as contes-tações, ou findo o respectivo
prazo, os autos são continuados com vista, por oito dias, ao Ministério
Público, excepto nos recursos por ele interpostos.
2. No seu visto inicial, o Ministério Público pode suscitar a regularização da
petição inicial e, em geral, todas as questões que afectem o prosseguimento
do recurso, bem como emitir parecer sobre as que sejam suscitadas na
resposta ou nas contestações.

ARTIGO 71
(Dedução da reconvenção)

1. A reconvenção deve ser expressamente identificada e deduzida


separadamente no articulado da contestação, expondo-se os fundamentos e
concluindo-se pelo pedido, nos termos das alíneas d) e f) do n.º 1 do artigo
53, devendo figurar com autonomia suficiente para permitir ao recorrente a
clara compreensão do que contra si vem deduzido.
2. O reconvinte deve, ainda, declarar o valor da reconvenção;
se o não fizer, a contestação não deixa de ser recebida, mas o reconvinte é
convidado a indicar o valor, sob pena de a recon-venção não ser atendida.

ARTIGO 72
(Resposta à contestação e reconvenção)

1. À contestação pode o recorrente responder, se for deduzida alguma


excepção e somente quanto à matéria desta;
a resposta à contestação serve também para alterar a causa de pedir ou
pedido ou para o recorrente responder à matéria da reconvenção, mas não
pode opor nova reconvenção.
2. Se o recurso for de simples apreciação negativa, a resposta à contestação
serve para o recorrente impugnar os factos constitutivos que o recorrido
tenha alegado e para alegar os factos impeditivos ou extintivos do direito
invocado pelo recorrido.
3. O prazo para a resposta é de dez dias subsequentes à notificação
efectuada ou se, no caso de reconvenção, o recorrente tiver deduzido
alguma, pode o recorrido responder à matéria da modificação ou defender-
se contra a excepção oposta à reconvenção.
4. A resposta referida no número anterior é apresentada dentro de cinco dias
a contar daquele em que for ou se considerar notificada a apresentação da
resposta à contestação.

ARTIGO 73
(Efeitos da falta de resposta)

A falta dos articulados referidos nos artigos 71 e 72 ou a falta de impugnação,


em qualquer deles, dos novos factos alegados pela parte contrária tem o
efeito previsto no artigo 66 da presente Lei.
ARTIGO 74
(Deficiências ou irregularidades da petição)

1. Concluso o processo, o relator, oficiosamente ou por alegação do


recorrido, dos contra-interessados, pode ainda ordenar a notificação do
recorrente para, num prazo julgado razoável, suprir ou corrigir deficiências
ou irregularidades da petição, observando-se, com as devidas adaptações,
o disposto quanto ao despacho de regularização.
2. Consideram-se sanados, no caso de não terem fundamentado a rejeição
liminar do recurso, o erro na identificação do autor do acto recorrido ou falta
de identificação dos contra-interessados quando o verdadeiro autor do acto
tenha apresentado resposta ou -tenha remetido o processo administrativo
instrutor, ou os contra-interessados tenham, entretanto, requerido a sua
intervenção no recurso.

ARTIGO 75
(Aproveitamento do processado)

Não se mostrando lesados os poderes processuais das partes nem


comprometida a justa decisão da causa, o relator pode dispensar a repetição
de diligências que viessem a ser determinadas pelo suprimento ou correcção
das deficiências ou irregularidades da petição.

ARTIGO 76
(Questões que obstem ao conhecimento do recurso)

O recorrente é ouvido, em prazo fixado pelo relator, sobre outras questões


suscitadas, oficiosamente ou por alegação do recorrido, dos contra-
interessados que impeçam o conhecimento do recurso.

ARTIGO 77
(Conhecimento do pedido)

Resolvidas as questões que obstem ao conhecimento do recurso e devendo


este prosseguir, quando se afigure possível ao relator conhecer do mérito
do recurso, sem necessidade de produção de prova, este elabora o projecto
de acórdão e ordena, após recepção do parecer do Ministério Público, a sua
remessa com o respectivo processo, à formação de julgamento, num prazo
de dez dias.

ARTIGO 78
(Alteração do requerimento de prova)

Não ocorrendo o caso descrito no artigo anterior, ordena-se a notificação do


recorrente, do recorrido e dos contra-interessados para, no prazo de cinco
dias, usarem da faculdade de alterar o requerimento de prova, desde que
essa alteração seja justificada pelo conhecimento superveniente de factos
ou documentos relevantes.
ARTIGO 79
(Produção de prova)

1. Requerida a alteração de prova, ou findo o respectivo prazo, procede-se à


produção de prova.
2. É competente para a sua recolha o relator, bem como o presidente do
tribunal administrativo indicado pelo relator, no caso de as diligências de
prova terem de ser efectivadas fora da área da jurisdição competente e,
neste último caso, por deprecada.
3. O prazo para a recolha de prova é de trinta dias, prorrogável por mais
quinze, devendo o juiz deprecado informar o tribunal da não possibilidade
de observar tais prazos, o que determina o relator nova prorrogação nos
termos julgados convenientes.
4. As entidades competentes para recolha de prova devem limitar a sua
produção aos factos que considerem relevantes para a decisão da causa e
sejam susceptíveis de prova pelos meios requeridos.

ARTIGO 80
(PROVA TESTEMUNHAL)

1. As testemunhas são inquiridas pelo relator, sendo aplicável aos


depoimentos, com as devidas adaptações, o disposto no Código de Processo
Civil.
2. Não é admissível o depoimento de parte.
3. As testemunhas são ouvidas por deprecada pelo Presidente do Tribunal
Administrativo Provincial quando residentes fora da capital do País.

ARTIGO 81
(Alegações facultativas)

1. Terminada a produção de prova, caso o relator repute essencial para o


apuramento da verdade, o recorrente, o recorrido e os contra-interessados
podem ser notificados para alegações facultativas.
2. O prazo para alegações facultativas é de dez dias contados, para o
recorrente, da notificação e, para a entidade recorrida e contra-interessados,
do termo do prazo do recorrente e da enti-dade recorrida, respectivamente,
e corre simultaneamente para todos os contra-interessados.
3. O recorrente pode alegar novos fundamentos do seu pedido, desde que
se trate de conhecimento superveniente, podendo ainda os restringir
expressamente.
4. No caso previsto no número precedente é obrigatória a formulação de
conclusões, que devem abranger as da petição que o recorrente queira
manter.
5. O convite feito ao recorrente é notificado ao recorrido, que pode
responder ao aditamento ou esclarecimento que ele apresentar.
6. O recorrido e os contra-interessados podem suscitar, nas alegações, novas
questões que impeçam o conhecimento do recurso.
ARTIGO 82
(Visto final e parecer do Ministério Público)

1. Logo que concluída a instrução do processo, o relator elabora o projecto


de acórdão.
2. Produzido o projecto de acórdão, o relator ordena que o processo vá ao
Ministério Público para dar parecer sobre a decisão final a proferir num prazo
de dez dias.
3. No seu parecer, o Ministério Público pode:
a) deduzir excepções ou suscitar novas questões que obstem ao
conhecimento do recurso;
b) pronunciar-se sobre questões que não tenha suscitado;
c) arguir fundamentos não invocados pelo recorrente no âmbito definido
pelos factos aduzidos ao processo, independentemente da caducidade do
direito de arguição;
d) dar parecer sobre a decisão final a proferir.

ARTIGO 83
(Garantia do contraditório)

1. Sempre que o recorrido, os contra-interessados nas alegações ou o


Ministério Público no seu parecer suscitem novas questões que obstem ao
conhecimento do recurso, o recorrente é notificado para se pronunciar, no
prazo de cinco dias.
2. No caso da alínea b) do n.º 3 do artigo 82 da presente Lei, o recorrido e
os contra-interessados são notificados para se pronunciarem, no prazo de
cinco dias.

ARTIGO 84
(Conclusão ao relator)

Concluso o processo ao relator, este pode ainda suscitar questões que


obstem ao conhecimento do recurso ou proceder às diligências que julgue
necessárias.
ARTIGO 85
(Tramitação subsequente)

1. Pronto para julgamento, o relator ordena a comunicação do processo à


formação de julgamento.
2. O processo sobe para a formação de julgamento com o parecer do
Ministério Público.
3. Uma cópia do processo, do parecer do Ministério Público e do projecto de
acórdão elaborado pelo relator é distribuída, ao mesmo tempo, a cada juiz
da formação de julgamento.
4. A distribuição referida no número anterior pode ser feita por via
electrónica pelos serviços do tribunal.
5. Quando os juízes membros da formação de julgamento entenderem
necessário realizar-se qualquer diligência, o presi-dente da referida
formação ordena ao relator do processo a que proceda à sua realização num
prazo por ele determinado.
ARTIGO 86
(Prazo para julgamento)

1. Nos tribunais administrativos provinciais e no Tribunal Administrativo da


Cidade de Maputo, a formação de julgamento profere sentença no prazo de
quinze dias, contados a partir da remessa do processo à referida formação
de julgamento.
2. Na Primeira Secção e no Plenário do Tribunal Administrativo, a respectiva
formação de julgamento profere sentença no prazo de trinta dias, contados
a partir da remessa do processo à referida formação de julgamento.
3. Os prazos referidos nos números anteriores são suspensos até a conclusão
das diligências ordenadas nos termos do n.º 5 do artigo 85.
4. Os juízes da formação de julgamento que não cumpram com os prazos
estabelecidos nos n.ºs 2 e 3 do presente artigo perdem o direito aos
subsídios de desempenho pelo incumprimento de metas a fixar pelo Tribunal
Administrativo.
5. No caso de morosidade judicial indevida, o Estado tem a obrigação de
indemnizar as partes que sofrerem prejuízos pelo funcionamento defeituoso
do serviço de justiça, nos termos gerais da responsabilidade civi l
extracontratual.

ARTIGO 87
(Ordem do conhecimento das questões)

1. No acórdão, a formação de julgamento começa por solucionar as questões


que obstem ao conhecimento do recurso e que tenham sido suscitadas nas
alegações, no parecer do Ministério Público ou pelo relator, ou cuja decisão
tenha sido relegada para final.
2. Não havendo lugar a questões que obstem ao conhecimento do recurso,
a formação de julgamento conhece, em primeiro lugar, dos fundamentos que
conduzam à declaração de nulidade ou inexistência jurídica do acto
recorrido e, depois, dos fundamentos que possam determinar a sua
anulação.
3. Nos referidos grupos, a apreciação dos fundamentos é feita pela seguinte
ordem:
a) no primeiro grupo, a ordem dos fundamentos cuja procedência determine,
segundo o prudente critério da formação de julgamento, mais estável ou
mais eficaz tutela dos direitos subjectivos ou interesses lesados;
b) no segundo grupo, a ordem indicada pelo recorrente, quando estabeleça
entre os fundamentos apresentados uma relação de subsidiariedade ou, na
sua falta, a que advenha da regra constante da alínea anterior.
4. Invocando o Ministério Público novos fundamentos de anulação do acto,
é observada, na ordem de apreciação dos fundamentos alegados, a regra
constante da alínea a) do número antecedente.
5. A procedência de um dos fundamentos não prejudica a apreciação de
outros, na ordem prevista, quando a formação de julgamento, considerando
a eventualidade de renovação do acto recorrido, o entenda necessário para
melhor tutela dos direitos ou interesses do recorrente.
6. A errada qualificação pelo recorrente dos fundamentos do recurso não
impede o seu provimento com base na qualificação que a formação de
julgamento entenda adequada.
ARTIGO 88
(Diferimento do acórdão)

1. Não sendo possível lavrar-se o acórdão na sessão em que seja julgado o


recurso, o resultado do que se tenha vencido é anotado no suporte
documental ou informático adequado e datado e assinado pelos juízes
vencedores e vencidos.
2. O juiz que tenha tirado o acórdão lavra a decisão, a qual, sem prejuízo do
resultado ser imediatamente publicado na jurisdição competente, incluindo
o site da respectiva jurisdição, é lida em conferência na sessão seguinte e aí
datada e assinada pelos juízes intervenientes, quando se achem presentes.
3. O relator integra a formação de julgamento, assiste às sessões e vota.

ARTIGO 89
(Conteúdo do acórdão)

O acórdão deve mencionar o recorrente, o recorrido e os contra--


interessados, resumir, com clareza e precisão, os fundamentos e conclusões
úteis da petição, da resposta e das contestações, ou alegações, especificar
os factos provados e concluir pela decisão final, devidamente
fundamentada.
ARTIGO 90
(EFEITO DO ACÓRDÃO)

Exceptuando os casos em que a formação de julgamento decida em


contrário, o acórdão que anule acto administrativo aproveita a todos os
titulares de direitos subjectivos ou interesses legalmente protegidos que
tenham sido lesados pelo acto anulado mesmo quando dele não tenham
recorrido.
ARTIGO 91
(Publicidade do acórdão de provimento)

1. O acórdão transitado em julgado, que conceda provimento a recurso de


acto que tenha sido objecto de publicidade, é publicitado, por ordem da
jurisdição competente, pela mesma forma e no mesmo local em que o haja
sido o acto recorrido.
2. A publicidade tem lugar por extracto, enviado pela secretaria, no prazo
de oito dias, contados do trânsito em julgado, do qual conste a indicação da
jurisdição que proferiu o acórdão, do recorrente, da entidade recorrida e do
local onde foi publicado e do sentido e data da decisão.
SECÇÃO VI
Modificação e extinção da instância

ARTIGO 92
(Eficácia retroactiva da revogação)

1. Se, na pendência do recurso, for praticado um acto revogatório do acto


recorrido, com efeitos retroactivos, acompanhado de nova regulamentação
da situação, pode o recorrente requerer que o processo prossiga tendo por
objecto o acto revogatório, com a faculdade de alegação de novos
fundamentos e de diferentes meios de prova, sempre que:
a) o requerimento seja apresentado no prazo para a interposição do recurso
do acto revogatório e antes do trânsito em julgado da decisão que julgue
extinta a instância;
b) a jurisdição seja competente para o conhecimento do recurso do acto
revogatório.
2. O disposto no número anterior é também aplicável quando o acto
recorrido seja alterado ou substituído por outro com os mesmos efeitos.
3. O trânsito em julgado da decisão que julgue extinta a instância não impede
a recorribilidade contenciosa do acto revogatório, nos termos gerais.

ARTIGO 93
(Eficácia não retroactiva da revogação)

1. Sempre que a revogação do acto recorrido não tenha efeitos retroactivos,


o recurso segue os seus termos tendo em vista a obtenção de decisão
anulatória dos efeitos produzidos, desde que estes continuem a afectar a
esfera jurídica do recorrente e sejam susceptíveis de cessar pela reposição
da situação actual hipotética obtida através do provimento do recurso.
2. Quando a revogação seja acompanhada de nova regula-mentação da
situação, o recorrente, independentemente do prosseguimento do recurso
em relação aos efeitos produzidos, goza da faculdade prevista no artigo
antecedente.
3. É também aplicável o disposto nos números anteriores, com as devidas
adaptações, quando o acto recorrido seja alterado ou substituído por outro
sem efeitos retroactivos.

ARTIGO 94
(Prática de acto expresso ou seu conhecimento posteriores à interposição
de recurso de indeferimento tácito)

1. Quando, na pendência de recurso de indeferimento tácito, seja praticado


acto expresso que não satisfaça, ou não satisfaça integralmente, os
interesses do recorrente, pode este requerer que o recurso siga os seus
termos, tendo por objecto o acto expresso, com a faculdade de alegação de
novos fundamentos e de oferecimento dos diferentes meios de prova,
sempre que:
a) o requerimento seja apresentado no prazo de quinze dias, contado da
publicação obrigatória ou da notificação do acto expresso, considerando-se
como tal, quando a notificação não tenha sido efectuada anteriormente, o
conhecimento obtido através do recurso contencioso;
b) a jurisdição seja competente para o conhecimento do recurso do acto
expresso.
2. É também aplicável o disposto no número anterior quando o acto expresso
tenha sido praticado em data anterior à interposição do recurso de
indeferimento tácito e publicado ou notificado, ou por qualquer outra forma
conhecido do recorrente, em data posterior àquela interposição.
3. A não apresentação do requerimento previsto na alínea a) do n.º 1 não
impede a recorribilidade contenciosa do acto expresso, nos termos gerais.

ARTIGO 95
(Apensação de recursos)

1. É admissível a apensação de recursos quando:


a) o acto recorrido seja o mesmo;
b) os actos recorridos estejam formalmente contidos num despacho ou outra
forma de decisão únicos e sejam impugnados com os mesmos fundamentos
de facto e de direito.
2. A apensação só pode ser requerida quando os recursos a apensar não
tenham ultrapassado a fase dos articulados e não ocorra motivo especial que
a torne inconveniente.
3. Os recursos são apensados ao que tenha sido interposto em primeiro
lugar, considerando-se, como tal, o de numeração inferior.

ARTIGO 96
(Prosseguimento de recurso a requerimento do Ministério Público)

O Ministério Público pode requerer, assumindo a posição de recorrente, o


prosseguimento de recurso a que tenha sido posto termo por decisão ainda
não transitada em julgado, fundada em desistência ou em outra causa
impeditiva do seu conhecimento conexionada com o recorrente.

ARTIGO 97
(Causas de extinção da instância)

Constituem causas de extinção da instância do recurso contencioso:


a) o julgamento;
b) a deserção;
c) a desistência;
d) a impossibilidade ou inutilidade superveniente da lide;
e) o compromisso arbitral, nos termos admitidos por lei.

ARTIGO 98
(DESERÇÃO)

1. Constituem fundamentos da deserção do recurso:


a) o não pagamento do preparo inicial, quando devido;
b) quando esteja parado, por inércia do recorrente, durante mais de
trezentos sessenta dias;
c) quando decorrer mais de trezentos sessenta dias sem que o recorrente
promova os termos de incidente com efeito suspensivo, excepto no caso de
conhecimento de qualquer questão prejudicial da competência de outra
jurisdição.
2. À contagem dos prazos previstos nas alíneas b) e c) do número anterior é
aplicável o disposto no n.º 4 do artigo 38 da presente Lei.

ARTIGO 99
(Forma de desistência)

A desistência pode ser efectuada por requerimento, por documento


autêntico ou por termo no processo.
ARTIGO 100
(Impossibilidade ou inutilidade superveniente da lide)

São causas de extinção da instância por impossibilidade ou inutilidade


superveniente da lide:
a) a revogação do acto recorrido sem que tenha havido lugar a aplicação
dos artigos 92 e 93;
b) a prática de acto expresso ou o seu conhecimento posteriores à
interposição de recurso de indeferimento tácito sem que tenha havido lugar
a aplicação do disposto no artigo 94;
c) em geral, a ocorrência de qualquer facto superveniente que prejudique ou
inviabilize a reposição da situação actual hipotética obtida através do
provimento do recurso.

CAPÍTULO III
Impugnação de normas

SECÇÃO I
Disposições gerais

ARTIGO 101
(Natureza e finalidade da impugnação de normas)

1. A impugnação de normas tem por finalidade a declaração de ilegalidade,


com força obrigatória geral, de normas emitidas no desempenho da função
administrativa.
2. Ficam excluídas do regime de impugnabilidade regulado no presente
capítulo as situações previstas na alínea a) do n.º 1, do artigo 244 da
Constituição da República, na parte aplicável.

ARTIGO 102
(Efeitos de declaração de ilegalidade)

1. A declaração de ilegalidade de uma norma produz efeitos desde a data da


sua entrada em vigor.
2. Quando razões de equidade ou de interesse público de excepcional
relevo, devidamente fundamentadas, o justifiquem, a jurisdição competente
pode reportar os efeitos da declaração à data do trânsito em julgado da
decisão ou a momento anterior.
3. A retroactividade permitida pelos números anteriores não afecta os casos
julgados nem os actos administrativos consolidados na ordem jurídica,
excepto quando a jurisdição competente decida em contrário com
fundamento no facto de a norma respeitar a matéria sancionatória e ser de
conteúdo menos favorável ao particular.
4. A declaração de ilegalidade de uma norma determina a repristinação das
normas que ela haja revogado, excepto quando tenha entretanto ocorrido
outra causa de cessação da sua vigência.

SECÇÃO II
Pressupostos processuais

ARTIGO 103
(Legitimidade e prazo)

A declaração de ilegalidade pode ser pedida a todo o tempo por quem se


considere lesado pela aplicação da norma, ou possa, presumivelmente, vir a
sê-lo.

SECÇÃO III
Marcha do processo

ARTIGO 104
(Tramitação)

1. O processo de impugnação de normas segue os termos do processo de


recurso contencioso de actos administrativos.
2. No despacho que ordene a citação do autor da norma, o relator manda
publicitar, no local utilizado para dar publicidade à norma, anúncio do
pedido de declaração da sua ilegalidade a fim de permitir a intervenção no
processo de eventuais interessados.
3. A intervenção prevista no número anterior é admissível até ao início da
fase de alegações.
4. É ordenada a apensação dos processos relativos à mesma norma, excepto
quando o seu estado ou outra razão especial a torne inconveniente.

ARTIGO 105
(Decisão)

1. A jurisdição competente pode decidir com fundamento na ofensa de


princípios ou normas jurídicas diversos daqueles cuja ofensa tenha sido
invocada.
2. A decisão de provimento é integralmente publicitada por ordem da
jurisdição competente, pela mesma forma e no mesmo local em que o haja
sido a norma impugnada.
3. É aplicável à publicidade da decisão, com as necessárias adaptações, o
disposto no n.º 2 do artigo 83 da presente Lei.
CAPÍTULO IV
Intimação para informação, consulta de processo ou passagem de certidão

ARTIGO 106
(Pressupostos)

1. Para permitir o uso de meios administrativos ou contenciosos ou a


concretização do direito de acesso à informação, devem as autoridades
administrativas competentes facultar a consulta de documentos ou
processos e passar certidões, a pedido do interessado ou do Ministério
Público, no prazo de dez dias, excepto em caso de matérias secretas ou
confidenciais.
2. Consideram-se matérias secretas ou confidenciais aquelas em que a
reserva se torne absolutamente necessária, para a prossecução de interesse
público relevante, como sejam questões no âmbito da defesa nacional,
segurança interna e política externa ou para a tutela de direitos
fundamentais dos cidadãos, particularmente o respeito pela intimidade da
sua vida privada e familiar.
3. A indicação do fim para que se destina a consulta de docu-mentos ou
processos e certidões deve constar dos respectivos pedidos.

ARTIGO 107
(Prazo)

A intimação deve ser pedida ao tribunal no prazo de vinte dias contado da


ocorrência do primeiro dos seguintes factos:
a) decurso do prazo, contado da data de apresentação da pretensão, sem
que o órgão administrativo a satisfaça;
b) recusa expressa de satisfação da pretensão;
c) satisfação parcial da pretensão.

ARTIGO 108
(Suspensão de prazos)

1. Os prazos para o uso dos meios administrativos ou contenciosos


suspendem-se desde a data da apresentação do requerimento de intimação
até ao trânsito em julgado da decisão de indeferimento ou ao cumprimento
da que o defira.
2. O efeito suspensivo mantém-se quando o interessado peça a subsequente
intimação e, cessa:
a) com o cumprimento da decisão que defira o pedido de intimação ou com
o trânsito em julgado da que o indefira;
b) com o trânsito em julgado da decisão que extinga a instância por
satisfação da pretensão na pendência do pedido de intimação.
3. Não se verifica o efeito suspensivo quando a jurisdição competente para
o conhecimento do meio processual contencioso que venha a ser usado pelo
interessado julgue que o pedido constituiu expediente manifestamente
dilatório.

ARTIGO 109
(Tramitação)

1. Apresentado o pedido, o relator manda citar o órgão administrativo para


contestar no prazo de dez dias.
2. Apresentada a resposta ou findo o prazo para o efeito e concluídas as
diligências que se mostrem necessárias, a jurisdição competente decide.

ARTIGO 110
(Decisão)

1. O prazo para o cumprimento da intimação deve constar da decisão.


2. Incorre no crime de desobediência qualificada e, ainda, em
responsabilidade civil e disciplinar, a autoridade que não cumprir a decisão
proferida.

CAPÍTULO V
Acções

SECÇÃO I
Disposições comuns

ARTIGO 111
(Espécies de acções)

As acções têm por objecto, fundamentalmente, o julgamento de questões


sobre:
a) contratos administrativos;
b) responsabilidade da Administração ou dos titulares dos seus órgãos,
funcionários ou agentes, por prejuízos decorrentes de actos de gestão
pública, incluindo acções de regresso;
c) reconhecimento de direitos ou interesses legalmente protegidos;
d) determinação da prática de actos administrativos legalmente devidos;
e) outras relações jurídicas administrativas controvertidas a que a lei faça
corresponder acções do contencioso administrativo.

ARTIGO 112
(Prazos)

Exceptuando o disposto nos artigos 117, 121 e 126 da presente Lei e em lei
especial, as acções podem ser propostas a todo o tempo.
ARTIGO 113
(Tramitação)

As acções seguem os termos dos recursos de actos administrativos, salvo o


disposto em lei especial.

ARTIGO 114
(Sentença)

Na sentença que julgue procedentes as acções mencionadas nas alíneas a),


b), d) e e) do artigo 111 da presente Lei, a jurisdição competente condena
na realização da prestação devida ou especifica os actos e operações que
devem ser praticados de modo a assegurar a tutela do direito ou interesse
em litígio e determina o prazo em que devem ter lugar.

SECÇÃO II
Acção sobre contratos administrativos

ARTIGO 115
(Finalidade e cumulação de pedidos)

A acção sobre contratos administrativos tem por finalidade dirimir litígios


sobre interpretação, validade, formação ou execução dos contratos
administrativos, incluindo a efectivação de responsabilidade civil contratual.

ARTIGO 116
(Legitimidade)

1. A acção sobre interpretação dos contratos pode ser proposta pelos


sujeitos da relação contratual e, na estrita medida em que se relacione com
a respectiva validade ou execução, pelas entidades referidas nos números
seguintes.
2. A acção sobre validade, total ou parcial, dos contratos pode ser proposta:
a) pelos sujeitos da relação contratual;
b) pelo Ministério Público;
c) pelos que, tendo legitimidade para interpor recurso contencioso de um
acto administrativo relativo à formação do contrato, o tenham feito, na
estrita medida em que a decisão então proferida lhes tenha sido favorável;
d) pelas pessoas singulares ou colectivas titulares ou defensoras de direitos
subjectivos ou interesses legalmente protegidos aos quais a execução do
contrato considerado inválido cause, ou possa previsivelmente, causar
prejuízo.
3. A acção sobre execução dos contratos pode ser proposta:
a) pelos sujeitos da relação contratual;
b) pelo Ministério Público, quando se trate da execução de cláusulas
contratuais estabelecidas no interesse geral da comunidade;
c) pelas pessoas singulares ou colectivas titulares ou defen-soras de direitos
subjectivos ou interesses legalmente protegidos, em função dos quais as
cláusulas contratuais tenham sido estabelecidas.
ARTIGO 117
(Prazos)

O direito de acção sobre validade dos contratos para cuja propositura


tenham legitimidade as entidades referidas nas alíneas b) a d) do n.º 2 do
artigo antecedente caduca nos seguintes prazos:
a) cento e oitenta dias, contados do conhecimento do conteúdo do contrato,
mas nunca depois de decorridos mil e noventa e cinco dias, desde a sua
celebração, nas hipóteses previstas nas alíneas b) e d);
b) cento e oitenta dias, contados do trânsito em julgado da decisão de
anulação ou de declaração de nulidade ou inexistência jurídica de acto
administrativo relativo à formação do contrato, na hipótese prevista na
alínea c).

ARTIGO 118
(Recurso de actos destacáveis)

1. A propositura das acções sobre contratos administrativos não obsta ao


recurso contencioso de actos administrativos relativos à formação e
execução do contrato.
2. O pedido de anulação ou de declaração de nulidade ou inexistência
jurídica de actos administrativos relativos à formação e execução do
contrato pode ser deduzido, inicial ou supervenientemente, em acção sobre
contratos administrativos quando aquele pedido e os formulados nos termos
do n.º 1 estejam entre si numa relação de prejudicialidade ou de dependência
ou quando a procedência de todos os pedidos dependa essencialmente da
apreciação dos mesmos factos ou da interpretação e aplicação das mesmas
normas jurídicas ou cláusulas contratuais.

SECÇÃO III
Acções para a efectivação de responsabilidade civil extracontratual

ARTIGO 119
(Legitimidade)

As acções para efectivação de responsabilidade civil extracontratual podem


ser propostas por quem se considere ter sofrido prejuízos decorrentes de
actos de gestão pública.

SECÇÃO IV
Acções para reconhecimento de direitos ou interesses legalmente
protegidos

ARTIGO 120
(Pressupostos e finalidades)

1. As acções para o reconhecimento de um direito ou interesse legalmente


protegido podem ser propostas quando não tenha havido lugar a prática de
um acto administrativo, nem um indeferimento tácito, e não se pretenda a
determinação da prática de qualquer acto administrativo, tenha por
finalidade a declaração do conteúdo de uma relação jurídica administrativa
controvertida, designadamente o reconhecimento:
a) de um direito fundamental face à Administração;
b) de um direito ao pagamento de uma quantia certa em dinheiro;
c) de um direito a entrega de coisa certa;
d) de um direito a uma prestação de facto.
2. Podem também ser propostas as acções referidas no número anterior
quando tenha havido lugar a uma operação material ou a um acto
administrativo nulo ou juridicamente inexistente de que não tenha sido
interposto, em qualquer dos casos, recurso contencioso.

ARTIGO 121
(Prazo)

Verificando-se um indeferimento liminar do qual não tenha sido interposto


recurso jurisdicional e, sendo previsível que da procedência da acção
resultem directamente prejuízos para terceiros, o direito de acção caduca no
prazo de trezentos sessenta dias, a contar da data da notificação do
indeferimento.
ARTIGO 122
(Legitimidade)

As acções contempladas nesta secção podem ser propostas por quem


invoque a titularidade ou interesse a reconhecer, e devem ser intentadas
contra o órgão competente para praticar os actos administrativos ou para
determinar as operações decorrentes do reconhecimento do direito ou
interesse ou impostos pelo reconhecimento deste direito ou interesse de
cuja titularidade o autor se arroga.

ARTIGO 123
(Cumulação de pedidos)

Pode cumular-se com o pedido de reconhecimento de um direito ou


interesse legalmente protegido:
a) o pedido de indemnização por perdas e danos derivados da violação ou
do não reconhecimento do direito ou interesse em causa;
b) o pedido de condenação na realização da prestação devida ou na prática
de acto devido, dentro dos prazos fixados pela decisão, dos actos e
operações necessárias para assegurar a tutela do direito ou interesse em
causa.
SECÇÃO V

Acção para determinação da prática de actos administrativos legalmente


devidos

ARTIGO 124
(Pressupostos)

1. A acção para determinação da prática de actos administrativos legalmente


devidos pode ser proposta quando:
a) tenha havido lugar a um indeferimento tácito;
b) tenha sido praticado um acto administrativo de recusa de prática de acto
de conteúdo vinculado;
c) tenha sido praticado um acto administrativo de recusa de apreciação de
pretensão.
2. A acção prevista no número anterior apenas pode ser proposta quando do
indeferimento tácito ou do acto administrativo praticado não tenha sido
interposto recurso contencioso.

ARTIGO 125
(Finalidades)

1. A acção para determinação da prática de actos administrativos legalmente


devidos tem por finalidade a condenação da Administração Pública na
prática do acto omitido ou recusado.
2. Nas hipóteses de indeferimento tácito de pretensão cuja decisão
envolvesse o exercício de discricionariedade ou o preenchimento valorativo
de conceitos jurídicos indeterminados e de recusa de apreciação de tal
pretensão, a finalidade da acção prevista no número anterior restringe-se à
condenação na prática de acto expresso para que a Administração Pública
disponha de margem de livre apreciação.
3. Na hipótese prevista no número anterior, pode, contudo, a decisão,
quando as circunstâncias o justifiquem, formular directivas de juridicidade
do processo valorativo e cognoscitivo que conduz ao acto administrativo,
sem fixar o seu concreto conteúdo.

ARTIGO 126
(Prazo)

1. Quando tenha havido lugar a um indeferimento tácito e se preveja que da


procedência da acção resultem directamente prejuízos para terceiros, o
direito de acção caduca no prazo de trezentos e sessenta cinco dias, cuja
contagem se inicia no termo do prazo previsto no n.º 4 do artigo 39 da
presente Lei.
2. Quando tenha sido praticado um acto administrativo de recusa da prática
do acto pretendido pelo particular, o direito de acção caduca nos termos
previstos para o recurso contencioso de indeferimento tácito e o início da
contagem do prazo para o respectivo exercício tem lugar nos termos
previstos para o recurso contencioso de acto expresso.
ARTIGO 127
(Legitimidade)

À legitimidade na acção para determinação da prática de actos


administrativos legalmente devidos é aplicável, com as necessárias
adaptações, o disposto nos artigos 44 a 51 e, nas hipóteses previstas no
artigo antecedente, na alínea g) do n.º 2 do artigo 58 e no artigo 59, todos
da presente Lei.

ARTIGO 128
(Cumulação de pedidos)

Qualquer que seja a jurisdição competente, pode cumular-se com o pedido


de determinação da prática de um acto administrativo legalmente devido, o
pedido de indemnização de perdas e danos decorrentes da não prática
tempestiva do acto omitido ou recusado.

ARTIGO 129
(Garantia contra a inexecução)

Como garantia contra a inexecução ilícita da prática de actos administrativos


legalmente devidos, são aplicáveis as medidas compulsórias previstas na
Secção IV do Capítulo IX da presente Lei.

SECÇÃO VI
Acções não especificadas

ARTIGO 130
(Finalidade)

A acção não especificada tem por finalidade ser empregue sempre que
nenhum dos meios processuais principais específicos assegure uma tutela
efectiva em face das circunstâncias do caso.

ARTIGO 131
(Tramitação)

Regem-se pelo disposto no artigo 113 da presente Lei quaisquer acções


pertencentes ao processo administrativo e não especialmente reguladas.
CAPÍTULO VI
Meios processuais acessórios

SECÇÃO I
Suspensão de eficácia de actos administrativos

ARTIGO 132
(Requisitos)

1. A suspensão de eficácia dos actos administrativos é concedida pela


jurisdição competente, quando se verifiquem os seguintes requisitos:
a) a execução do acto seja susceptível de causar prejuízo irreparável ou de
difícil reparação para o requerente ou para os interesses que com o recurso
pretenda acautelar;
b) a suspensão não represente grave lesão do interesse público
concretamente prosseguido pelo acto;
c) do processo não resultem fortes indícios de ilegalidade do recurso.
2. Quando o acto tenha sido declarado nulo ou juridicamente inexistente,
por decisão pendente de recurso jurisdicional, a suspensão de eficácia
depende apenas da verificação do requisito previsto na alínea a) do número
anterior.
3. Para a concessão da suspensão de eficácia de acto de natureza
sancionatória, não é exigível a verificação do requisito da alínea a) do n.º 1.
4. Não sendo dado como verificado pela jurisdição competente o requisito
da alínea b) do n.º 1, a suspensão de eficácia pode ser concedida desde que,
preenchidos os restantes requisitos, sejam desproporcionadamente
superiores os prejuízos que a imediata execução do acto cause ao
requerente.
5. Verificados os requisitos previstos no n.º 1 ou na hipótese prevista no
número anterior, a suspensão não é concedida quando os contra-
interessados façam prova de que dela lhes resulta prejuízo de mais difícil
reparação do que o que resulta para o requerente da execução do acto.

ARTIGO 133
(Acto já executado)

1. A execução do acto não impede a suspensão da sua eficácia quando se


mostre que dela pode advir para o requerente ou para os interesses que este
defenda ou venha a defender utilidade relevante no que respeita aos efeitos
que o acto ainda produza ou venha a produzir.
2. Concedida a suspensão ou recusada com fundamento no disposto no n.º 5
do artigo anterior, podem o recorrente e os contra-interessados requerer o
julgamento urgente do recurso, reduzindo-se os prazos para metade.

ARTIGO 134
(Momento e forma do pedido)

1. A suspensão de eficácia é pedida, por uma só vez, em requerimento


próprio a ser apresentado:
a) antes da interposição do recurso;
b) juntamente com o recurso;
c) na pendência do recurso;
2. O pedido de suspensão é apresentado, conforme os casos, na instância
para o conhecimento do recurso contencioso.

ARTIGO 135
(Conteúdo do pedido)

1. O pedido a solicitar a suspensão de eficácia deve conter a identidade,


residência ou sede do requerente, bem como as dos contra-interessados a
quem a suspensão de eficácia do acto possa directamente prejudicar,
identificar o acto e o seu autor e especificar, de forma articulada, os
fundamentos do pedido, juntando os documentos que entenda necessários
e, quando a suspensão tenha sido pedida previamente à interposição do
recurso, fazendo prova do acto, nos termos do artigo 53 da presente Lei.
2. Sendo o requerimento apresentado na pendência do recurso, o requerente
deve, ainda, identificar o respectivo processo.
3. Quando haja contra-interessados, o requerente deve juntar os
correspondentes duplicados do requerimento e mais um.

ARTIGO 136
(Identificação dos contra-interessados)

1. Não conhecendo o requerente a identidade, residência ou sede dos contra-


interessados, deve requerer, previamente, certidão do processo
administrativo de onde constem aqueles elementos de identificação.
2. A certidão referida no número anterior deve ser passada no prazo de vinte
e quatro horas pelo órgão administrativo competente.
3. Quando a certidão não seja passada, o requerente junta ao requerimento
de suspensão de eficácia duplicado do requerimento dirigido ao órgão
administrativo, acompanhado do respectivo recibo de entrega e indica a
identidade e residência ou sede dos contra-interessados que conheça.
4. Quando haja lugar à aplicação do disposto no número anteri or, a
secretaria, logo que registe a apresentação do requerimento, apresenta-o ao
relator, a fim de mandar notificar o órgão administrativo para, no prazo de
três dias remeter a certidão requerida.
5. O incumprimento da notificação prevista na parte final do número anterior
sem qualquer justificação ou com justificação julgada inaceitável, constitui
crime de desobediência qualificada, faz incorrer o infractor na
responsabilidade civil e disciplinar a que haja lugar e constitui o tribunal na
faculdade de aplicar, com as necessárias adaptações, a medida compulsória
prevista para obter a execução de decisões jurisdicionais.

ARTIGO 137
(Autuação, rejeição e tramitação processual)

1. Pedida a suspensão de eficácia antes da interposição do recurso e


transitada em julgado a decisão sobre a suspensão, o processo é apensado
ao recurso que se encontre ou venha a encontrar-se pendente;
nos restantes casos o pedido é autuado por apenso.
2. Quando o requerimento ou a sua instrução enfermem de deficiências ou
irregularidades formais, o pedido é ime-diatamente rejeitado.
3. Sem prejuízo do disposto no número anterior, o relator pode mandar citar,
simultaneamente, o requerido e os contra--interessados, quando os haja,
para responderem no prazo de cinco dias, remetendo-lhes os duplicados
juntos pelo requerente.
4. Havendo lugar à aplicação do disposto no n.º 4 do artigo anterior, a
secretaria só cumpre as citações após a resposta do órgão administrativo ou
o termo do respectivo prazo.
5. Na falta de resposta do órgão administrativo, o relator manda citar os
contra interessados indicados pelo requerente.
6. A citação dos contra-interessados que sejam incertos quer pela falta de
resposta do órgão administrativo, quer por ser desconhecida a respectiva
residência ou sede, é feita por edital, afixado na jurisdição competente, na
data do cumprimento das restantes citações, e por publicação de anúncios.
7. Quando a suspensão tenha sido pedida na pendência do recurso, o órgão
administrativo e os contra-interessados que já tenham sido citados para o
recurso são chamados ao processo por notificação.
8. A intervenção de qualquer interessado que não tenha recebido a citação
pode ter lugar até à conclusão do processo ao relator para efeitos de
submissão à conferência.

ARTIGO 138
(Suspensão provisória)

1. O órgão administrativo que haja recebido a citação ou notificação não


pode iniciar ou prosseguir a execução do acto, ficando, logo, adstrito à
obrigação de impedir, com urgência, que os serviços competentes ou
interessados procedam ou continuem a proceder à execução.
2. Exceptuam-se do disposto no número anterior os casos em que o órgão
administrativo reconheça, fundamentadamente, grave urgência para o
interesse público na imediata execução.
3. O reconhecimento previsto no número anterior é ime-diatamente
comunicado à jurisdição competente.

ARTIGO 139
(Execução indevida)

1. É indevida a execução que se inicie ou prossiga sem que tenha sido


fundamentada nos termos do n.º 2 do artigo anterior ou quando julgadas
improcedentes pela jurisdição competente as razões em que se fundamenta.
2. O requerente pode pedir à jurisdição competente, onde penda o processo
de suspensão de eficácia, e até ao trânsito em julgado da decisão sobre o
pedido da suspensão, a declaração de ineficácia, para efeitos de suspensão,
dos actos de execução indevida.
3. O incidente referido no número anterior é processado nos autos de
suspensão de eficácia.
4. Pedida a declaração de ineficácia dos actos de execução indevida, a
jurisdição competente notifica o órgão administrativo para se pronunciar, no
prazo de cinco dias.
5. A decisão é proferida pelo relator.
ARTIGO 140
(Responsabilidade do órgão, seu titular, funcionário ou agente)

Pela execução indevida, o órgão e os respectivos titulares, funcionários ou


agentes incorrem no crime de desobediência qualificada e ainda em
responsabilidade civil e disciplinar, nos termos do artigo 202 da presente
Lei.

ARTIGO 141
(Tramitação subsequente do processo)

1. Na falta de contestação do órgão administrativo ou de alegação de que a


suspensão de eficácia do acto causa grave lesão do interesse público, a
jurisdição competente considera verificado o requisito previsto na alínea b)
do n.º 1 do artigo 132, excepto quando, atentas as circunstâncias do caso,
seja manifesta ou ostensiva essa grave lesão.
2. Juntas as respostas ou findo o prazo para o efeito, o relator manda
submeter o processo à conferência na sessão imediata.

ARTIGO 142
(Decisão e seu regime)

1. Quando considere manifesta a existência de obstáculo ao conhecimento


do pedido, a decisão pode ser proferida apenas pelo relator.
2. A suspensão pode ser sujeita a termo ou condição.
3. A decisão que suspenda a eficácia é urgentemente notificada ao órgão
administrativo para cumprimento.
4. A decisão que suspenda a eficácia deve ser imediatamente cumprida.
5. Para efeitos de disposto no número anterior, o órgão administrativo
competente não pode iniciar ou continuar a execução do acto, deve impedir,
com urgência, que os serviços ou os interessados procedam ou continuem a
proceder à execução e fica constituído na obrigação de tomar as diligências
necessárias à neutralização da execução já realizada e à eliminação dos
efeitos já produzidos.
6. A suspensão subsiste, salvo determinação em contrário, até ao trânsito
em julgado da decisão do recurso contencioso.
7. Quando pedida antes da interposição do recurso contencioso, a suspensão
de eficácia caduca com o termo do prazo para interposição de recurso de
actos anuláveis sem que esta tenha tido lugar.

ARTIGO 143
(Suspensão de eficácia de normas)

1. A eficácia de normas contidas em regulamento administrativo susceptíveis


de impugnação nos termos da presente Lei pode ser suspensa.
2. À suspensão de eficácia prevista no número anterior é aplicável o disposto
nesta secção com as necessárias adaptações, designadamente as seguintes:
a) a referência ao recurso contencioso é substituída por referência à
impugnação de normas;
b) a referência à declaração de nulidade ou de inexistência jurídica do acto
administrativo é substituída por referência à declaração de ilegalidade da
norma;
c) a referência ao órgão administrativo é substituída por referência ao autor
da norma;
d) os contra-interessados são citados contando-se o prazo para contestação
da data da publicação.
3. Quando seja pedida previamente a apresentação do pedido de declaração
de ilegalidade da norma, a suspensão caduca no prazo de trinta dias,
contados do trânsito em julgado da decisão sem que aquela apresentação
tenda tido lugar.

SECÇÃO II

Intimação a órgão administrativo, a particular ou a conces-sionário para


adoptar ou abster-se de determinada conduta

ARTIGO 144
(Pressupostos)

1. Quando os órgãos administrativos, os particulares ou os concessionários


violem normas de direito administrativo ou deveres decorrentes de acto ou
contrato administrativo ou quando a actividade dos primeiros e dos últimos
viole um direito fundamental ou ainda quando, em ambas as hipóteses, haja
fundado receio de violação, pode o Ministério Público ou qualquer pessoa a
cujos interesses a violação cause ofensa digna de tutela jurisdicional, pedir
à jurisdição competente que os intime a adoptar certo comportamento ou a
abster-se dele com o fim de assegurar, respectivamente, o cumprimento das
normas ou deveres em causa ou respeito pelo exercício do direito.
2. O pedido pode ser apresentado antes ou na pendência do uso do meio
processual administrativo ou contencioso adequado à tutela dos interesses
a que a intimação se destina e, constitui incidente quando o referido meio
tenha a natureza de processo contencioso.
3. Quando os interesses que se pretendam tutelar pelo pedido de intimação
sejam susceptíveis de defesa através do meio da suspensão de eficácia, não
pode ser apresentado pedido de intimação.

ARTIGO 145
(Tramitação)

1. Apresentado o pedido, o relator ordena a citação do requerido para


contestar, no prazo de dez dias.
2. Quando o pedido seja apresentado na pendência do processo
contencioso, o requerido, que já tenha sido citado naquele processo, é
chamado ao incidente por notificação.
3. Seguidamente e, concluídas as diligências que se mostrem necessárias, a
jurisdição competente decide.
4. Em caso de excepcional urgência, o relator pode, em despacho
fundamentado, encurtar o prazo referido n.º 1 do presente artigo, bem como
dispensar a audiência do requerido.
5. Tendo em conta a complexidade da matéria controvertida, o relator pode,
em qualquer fase do processo, determinar que passem a seguir-se os termos
do recurso contencioso de actos administrativos, mantendo-se a natureza
urgente do processo.

ARTIGO 146
(Decisão provisória)

1. Havendo dispensa da audiência do requerido, a decisão da jurisdição


competente é tida como provisória, só se convertendo em definitiva na falta
da oposição prevista nos números seguintes.
2. O requerido pode deduzir oposição à decisão provisória, no prazo de dez
dias a contar da notificação, apresentando duplicado para entrega ao
requerente.
3. Excepto quando a decisão provisória tenha por objecto o respeito pelo
exercício de um direito fundamental, a oposição tem efeito suspensivo da
intimação.
4. Ouvido o requerente em prazo a fixar, tendo em conta a urgência do caso
e concluídas as diligências que se mostrem necessárias, a jurisdição
competente conhece dos fundamentos da oposição, proferindo, em seguida,
decisão final sobre o pedido de intimação.

ARTIGO 147
(Conteúdo da decisão)

Na decisão, deve a jurisdição competente especificar o comportamento ou


a abstenção a adoptar, o responsável ou responsáveis por estes e, quando o
deva fazer, o prazo para o respectivo cumprimento.

ARTIGO 148
(Caducidade da intimação)

1. A intimação caduca quando:


a) tendo o requerente feito uso desse meio, o correspondente processo
esteja parado durante mais de noventa dias, por negligência sua em
promover os respectivos termos, ou os de algum incidente de que dependa
o andamento do processo;
b) no meio processual referido na alínea a), recaia decisão desfavorável ao
pedido do requerente que não seja impugnada no prazo legal, ou não seja
susceptível de impugnação;
c) mencionado meio processual finde por extinção da instância e o
requerente não instaure novo processo, quando a lei o permitia, dentro do
prazo fixado para o efeito;
d) se extinga o interesse que o pedido de intimação visava tutelar.
2. A adopção do comportamento ou da respectiva abstenção pelo requerido
extingue, por satisfação integral, o interesse que o pedido de intimação
visava tutelar sem necessidade de declaração pela jurisdição competente.
3. Tendo caducado a intimação, é o requerente, que não tenha agido com a
prudência normal, responsável pelos danos causados ao requerido.
ARTIGO 149
(Tramitação do pedido de caducidade)

1. A caducidade da intimação é declarada pela jurisdição competente a


pedido fundamentado de qualquer interessado ou do Ministério Público,
excepto no caso previsto no n.º 2 do artigo anterior.
2. Apresentado o requerimento, o relator ordena a notificação do requerente
da intimação, com a entrega do respectivo duplicado, para contestar no
prazo de dez dias.
3. Concluídas as diligências que se mostrem necessárias, a jurisdição
competente decide.

SECÇÃO III
Produção antecipada de prova

ARTIGO 150
(Pressupostos)

Quando haja justo receio de vir a tornar-se impossível ou muito difícil o


depoimento de certas pessoas ou a verificação de certos factos por meio de
prova pericial ou de inspecção, podem o depoimento, o arbitramento ou a
inspecção realizar-se antes de instaurado o processo.

ARTIGO 151
(Forma e conteúdo do requerimento)

1. O pedido é feito em requerimento a apresentar com tantos duplicados


quantas as pessoas a notificar.
2. O requerente deve justificar sumariamente a razão da antecipação da
prova, mencionar com precisão os factos sobre que esta há-de recair,
especificar os meios de prova a incidir, identificar as pessoas a serem
ouvidas, se for caso disso, e indicar claramente o pedido e os fundamentos
do processo a instaurar, bem como a pessoa ou o órgão em relação aos quais
se pretende fazer uso da prova.

ARTIGO 152
(Tramitação)

1. A pessoa ou órgão indicados no n.º 2 do artigo anterior são notificados


para intervir nos actos de preparação e produção da prova, ou para deduzir
oposição, no prazo de três dias.
2. Quando se trate de incapazes, incertos ou ausentes é notificado o
Ministério Público.
3. A jurisdição competente decide, no prazo de três dias.
4. Caso a notificação referida no n.º 1 não possa ser feita a tempo de, com
grande probabilidade, se realizar a diligência requerida, a pessoa ou órgão
indicados são imediatamente notificados da realização da diligência,
podendo requerer, no prazo de cinco dias, a sua repetição, se esta for
possível.
ARTIGO 153
(Pedido em processo pendente)

O disposto nesta secção é aplicável, com as necessárias adaptações, ao


pedido de antecipação de prova em processo já instaurado.

SECÇÃO IV
Providências cautelares não especificadas

ARTIGO 154
(Pressupostos)

Em caso de fundado receio de que uma actividade administrativa cause


lesão a um direito ou interesse legalmente protegido, o Presidente da
jurisdição competente pode, perante simples requerimento do interessado
e desde que não exista uma decisão administrativa prévia ou um meio
processual específico susceptível de assegurar uma tutela efectiva em face
das circunstâncias do caso, ordenar qualquer medida útil, sem prejudicar o
julga-mento do mérito ou a execução de decisões administrativas.

ARTIGO 155
(Tramitação)

1. No Plenário e na Primeira Secção do Tribunal Administrativo:


a) apenas é admitida prova documental e testemunhal;
b) os depoimentos são prestados perante o relator e reduzido a escrito.
2. É aplicável à decisão que decrete a providência, com as necessárias
adaptações, o disposto nos n.ºs 3 a 6 do artigo 142 da presente Lei.
3. A providência decretada não pode ser substituída por caução.

ARTIGO 156
(Garantia contra a inexecução)

Como garantia contra a inexecução ilícita das providências decididas pela


entidade competente são aplicáveis as medidas compulsórias previstas na
Secção IV do Capítulo IX da presente Lei.
CAPÍTULO VII
Conflitos de jurisdição entre as secções e de competência entre órgãos

SECÇÃO I
Conflitos de jurisdição entre as secções de uma jurisdição

ARTIGO 157
(Pressupostos)

A resolução de conflitos de jurisdição entre secções de uma jurisdição pode


ser pedida por qualquer interessado ou pelo Ministério Público em prazo
igual ao previsto para interposição de recursos contenciosos, contado da
data em que se torne irrecorrível a última das decisões e é decidida pelo
Plenário do Tribunal Administrativo.

ARTIGO 158
(Resposta)

O recurso interposto da decisão referida no artigo antecedente não dá


direito a resposta por parte de qualquer secção em conflito.

ARTIGO 159
(Conteúdo da decisão)

1. A decisão que resolva conflito, além de especificar a secção que deve


exercer a jurisdição, declara a nulidade dos actos ou das decisões da outra
secção em conflito.
2. Quando razões de equidade ou de interesse público especialmente
relevante fundamentadamente o justifiquem, a decisão pode excluir da
declaração de nulidade os actos preparatórios.

SECÇÃO II
Conflitos de competências entre órgãos de pessoas colectivas de direito
públicos

ARTIGO 160
(Pressupostos)

A resolução de conflitos de competências entre órgãos de pessoas


colectivas de direito públicos diferentes rege-se pelas normas específicas do
recurso contencioso, com as seguintes especificidades:
a) os prazos são encurtados para metade, com arredondamento por defeito;
b) o autor do primeiro acto é chamado ao processo, na fase da resposta da
entidade recorrida e no mesmo prazo, para se pronunciar;
c) apenas é admissível prova documental;
d) não são admissíveis alegações.
ARTIGO 161
(Decisão provisória)

Quando da inacção das autoridades em conflito possa resultar grave


prejuízo, o relator submete a questão à conferência na primeira sessão para
que o Plenário do Tribunal Administrativo designe a autoridade que deve
exercer provisoriamente a competência em tudo o que seja urgente.

ARTIGO 162
(Conteúdo da decisão)

1. A decisão que resolva conflito, além de especificar a autoridade que deve


exercer a competência, declara a nulidade dos actos ou das decisões da
outra autoridade em conflito.
2. Quando razões de equidade ou de interesse público especialmente
relevante fundamentadamente o justifiquem, a decisão pode excluir da
declaração de nulidade os actos preparatórios.
CAPÍTULO VIII
Recursos jurisdicionais

SECÇÃO I
Disposições gerais

ARTIGO 163
(Princípio de impugnabilidade)

As decisões jurisdicionais do Tribunal Administrativo, dos tribunais


administrativos provinciais e do Tribunal Administrativo da Cidade de
Maputo, incluindo as proferidas no âmbito do processo executivo, são
impugnáveis por meio de recursos, nos termos previstos no presente
capítulo.
Artigo 164 (Inadmissibilidade de recurso)
1. Não é admissível recurso:
a) dos acórdãos do Plenário do Tribunal Administrativo;
b) dos acórdãos da Primeira Secção do Tribunal Administrativo em matéria
de facto quando julgue em segunda instância;
c) dos acórdãos da Secção de Contas do Tribunal Administrativo em matéria
de fiscalização prévia, quando julgue em segunda instância;
d) das decisões que resolvam conflitos de jurisdição e competência.
2. As decisões dos tribunais administrativos provinciais e do Tribunal
Administrativo da Cidade de Maputo que tenham sido objecto de recurso na
Primeira Secção só admitem recurso em matéria de direito para o Plenário
do Tribunal Administrativo.
SECÇÃO II
Recursos de apelação e de agravo

ARTIGO 165
(Legitimidade)

1. Podem recorrer a parte ou interveniente no processo que fique vencido,


a pessoa directa e efectivamente prejudicada pela decisão judicial
impugnada e o Ministério Público.
2. Em processo de recurso contencioso, tem ainda legitimidade para
impugnar a decisão final de provimento o recorrente que tenha ficado
vencido relativamente a fundamento cuja procedência pudesse assegurar
tutela mais eficaz dos direitos ou interesses lesados pelo acto recorrido.

ARTIGO 166
(Interposição de recurso)

1. Os recursos das decisões jurisdicionais dos tribunais administrativos


provinciais e do Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo interpõem-se,
directamente ou sob registo do correio, junto da Primeira Secção do Tribunal
Administrativo por meio de requerimento que inclua ou junte a respectiva
alegação do recorrente e no qual se indica a espécie de recurso interposto.
2. Podem os mesmos ser apresentados na secretaria do tribunal
administrativo de província onde tem o escritório ou domicilio o recorrente.
3. No caso previsto no número anterior, a secretaria do tribunal
administrativo procede ao registo da apresentação do recurso e remete-o
sob registo do correio, à secretaria da Primeira Secção do Tribunal
Administrativo.
4. Na hipótese antecedente, o recurso considera-se apresentado na data em
que teve o seu registo na secretaria do tribunal administrativo de província
ou sob registo do correio.

ARTIGO 167
(Prazo de interposição)

O prazo para a interposição dos recursos é de trinta dias, contados da


notificação da decisão.

ARTIGO 168
(Citação dos recorridos)

São citados todos os recorridos para apresentar alegações, no prazo de


trinta dias.
ARTIGO 169
(Efeitos e regime de subida)

1. Os recursos têm efeito suspensivo da decisão judicial impugnada.


2. Nos processos urgentes, os recursos sobem nos próprios autos, quando
estejam findos no tribunal, ou em separado, na hipótese contrária.
3. O recurso da decisão de suspensão da eficácia de actos administrativos
ou de normas não tem efeito suspensivo.

ARTIGO 170
(Cópia da decisão impugnada)

Os recursos são acompanhados de cópia dactilografada da decisão


impugnada.

ARTIGO 171
(Questões prévias)

O recorrente é notificado para se pronunciar, no prazo de oito dias, sobre as


questões prévias de conhecimento oficioso que tenham sido suscitadas pelo
recorrido, nas suas alegações.

ARTIGO 172
(Poderes do relator)

Para além do conhecimento, na parte aplicável, das matérias previstas no


artigo 16, compete ainda ao relator alterar a espécie, o regime de subida e
os efeitos que hajam sido atribuídos ao recurso.
ARTIGO 173
(Poderes de cognição da Primeira Secção do Tribunal Administrativo)

1. O recurso de apelação tem efeito devolutivo.


2. Quando a decisão judicial impugnada seja nula, compete ao tribunal
administrativo reformá-la em conformidade com o julgado.
3. Nos recursos de decisões proferidas em processos urgentes não se aplica
o disposto no número anterior, devendo a Primeira Secção do Tribunal
Administrativo decidir, quando possível, sobre o mérito da causa.
4. Baixando os autos, a jurisdição competente mantém ou reformula a
decisão sobre o pedido cumulado, em conformidade com o julgado no
pedido principal.

ARTIGO 174
(Tramitação dos recursos em processos urgentes)

1. Os recursos de decisões proferidas em processos urgentes são interpostos


mediante requerimento que inclua ou junte a respectiva alegação, no prazo
de dez dias.
2. Os recursos previstos no número anterior são alegados pelos recorridos,
em prazo igual ao do recorrente para interpor recurso.

SECÇÃO III
Recurso com fundamento em oposição de acórdãos

ARTIGO 175
(Normas aplicáveis)

O processo de recurso com fundamento em oposição de acórdãos rege-se


pelas normas específicas do recurso contencioso com as devidas
adaptações.

ARTIGO 176
(Pressupostos)

1. Há lugar a recurso com fundamento em oposição de acórdãos de qualquer


formação de julgamento que em relação ao mesmo fundamento de direito e
na ausência de alteração substancial da regulamentação jurídica, perfilhem
solução oposta à de acórdãos de outra formação.
2. Considera-se recorrido na presente secção, a parte beneficiária do
acórdão recorrido.

ARTIGO 177
(Prazo e alegação)

1. O prazo para interposição de recurso com fundamento em oposição de


acórdãos é de dez dias.
2. No requerimento de interposição do recurso, o recorrente identifica o
acórdão relativamente ao qual alegue estar em oposição a decisão
impugnada e a ele junta documento comprovativo do seu teor e trânsito em
julgado e, bem assim, a alegação do recurso relativamente à existência da
invocada oposição e ao mérito da causa, com tantos duplicados quantos os
recorridos.

ARTIGO 178
(Rejeição do recurso)

O recurso é rejeitado quando o requerimento não respeite o disposto no n.º


2 do artigo anterior ou não se verifiquem os restantes pressupostos
processuais.
ARTIGO 179
(Termos ulteriores)

Quando o recurso tenha que prosseguir, o recorrido é notificado para


apresentar a sua alegação, no prazo de dez dias, o qual é simultâneo quando
haja mais recorridos.

SECÇÃO IV
Recurso de revisão

ARTIGO 180
(Fundamentos do recurso)

A decisão transitada em julgado só pode ser objecto de revisão nos


seguintes casos:
a) quando se mostre, por sentença criminal transitada em julgado, que foi
proferida por prevaricação, concussão, peita, suborno ou corrupção do
relator ou de algum juízes que na decisão intervieram;
b) quando se apresente sentença já transitada que tenha verificado a
falsidade de documento ou acto judicial, de depoimento ou das declarações
de peritos que possam, em qualquer dos casos ter determinado a decisão a
rever;
a falsidade de documento ou acto judicial não é, todavia, fundamento de
revisão, se a matéria tiver sido discutida no processo em que foi proferida a
decisão a rever;
c) quando se apresente documento de que a parte não tivesse
conhecimento, ou de que não tivesse podido fazer uso, no processo em que
foi proferida a decisão a rever e que, por si só, seja suficiente para modificar
a decisão em sentido mais favorável à parte vencida;
d) quando tenha sido declarada nula ou anulada, por sentença já transitada,
a confissão, desistência ou transacção em que a decisão se fundasse;
e) quando seja nula a confissão, desistência ou transacção, por violação dos
poderes dos mandatários judiciais ou dos representantes das pessoas
colectivas, sociedades, incapazes e ausentes sob reserva dos casos em que
a sentença foi notificada pessoalmente ao mandante e ele não recorrer no
prazo legal;
f) quando, tendo corrido a acção e a execução à revelia, por falta absoluta
de intervenção do réu, se mostre que faltou a sua citação ou é nula a citação
feita;
g) quando seja contrária a outra que constitua caso julgado para as partes,
formado anteriormente.
ARTIGO 181
(Prazo de interposição)

1. O direito de recurso de revisão caduca decorrido o prazo de noventa dias,


contado, conforme os casos, desde o trânsito em julgado da decisão em que
se funde o pedido de revisão ou desde o momento que se tenha obtido o
documento ou se tenha tido conhecimento do facto que lhe serve de
fundamento.
2. Quando a revisão seja pedida pelo Ministério Público, o prazo previsto no
número anterior é de cento e oitenta dias.
ARTIGO 182
(Local para a interposição)

O requerimento é apresentado na secretaria da jurisdição onde se encontre


o processo em que foi proferida a decisão a rever e dirigido à jurisdição que
a proferiu.

ARTIGO 183
(Legitimidade)

Têm legitimidade para pedir a revisão aqueles contra quem tenha sido ou
esteja em vias de ser executada a decisão a rever, os que tenham ou, com
legitimidade, pudessem ter recorrido do acto sobre o qual recaiu a decisão
e o Ministério Público.
Artigo 184 (Forma e instrução do requerimento)
O requerimento é elaborado com os requisitos e os duplicados exigidos para
a petição de recurso contencioso de acto administrativo e instruído com
certidão de teor da decisão a rever e com os demais documentos necessários
à justificação do pedido.

ARTIGO 185
(Tramitação)

1. O requerimento é autuado por apenso ao processo a que respeita, e é


enviado à jurisdição a que seja dirigido o recurso.
2. A jurisdição competente decide se o recurso deve ou não prosseguir,
analisando a sua conformidade com o disposto nos artigos 180 a 183.
3. Quando o recurso haja de prosseguir, é ordenada a citação das entidades
e dos particulares interessados que, conforme os casos, tenham ou
devessem ter sido citados para o processo em que foi proferida a decisão a
rever.
4. O processo segue, ulteriormente, os termos previstos para aquele em que
foi proferida a decisão a rever.

ARTIGO 186
(Julgamento)

1. Julgada de novo a questão, é mantida ou revogada a decisão judicial


impugnada.
2. Da decisão cabem os recursos de que fosse susceptível a decisão judicial
impugnada.
CAPÍTULO IX
Processo executivo

SECÇÃO I
Disposições gerais

ARTIGO 187
(Cumprimento espontâneo)

1. As decisões do Tribunal Administrativo, dos tribunais administrativos


provinciais e do Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo, quando
tiverem transitado em julgado, devem ser cumpridas pelos órgãos
administrativos.
2. O cumprimento consiste na prática de todos os actos jurídicos e operações
materiais que sejam necessários, conforme os casos, à reintegração efectiva
da ordem jurídica violada e à reconstituição da situação actual hipotética.
3. O prazo de cumprimento espontâneo é de sessenta dias, contados a partir
do trânsito em julgado da decisão.
4. Na ausência de norma específica, o cumprimento deve ser ordenado pelo
órgão que tenha praticado o acto recorrido ou, tratando-se de acções ou
outro meio processual, pelo principal órgão dirigente da pessoa colectiva
pública em causa ou por aquele que tenha ficado concretamente obrigado
pela decisão.
5. Quando a entidade recorrida tenha extraído de acto juridicamente
inexistente consequências lesivas dos direitos subjectivos ou i nteresses
legalmente protegidos do recorrente, a decisão que declare aquela
inexistência é cumprida nos termos do número anterior.

ARTIGO 188
(Causa legítima de inexecução)

1. Apenas constitui causa legítima de inexecução a impos-sibilidade absoluta


e definitiva de execução e o grave prejuízo para o interesse público no
cumprimento da decisão.
2. A causa legítima de inexecução pode respeitar a toda a decisão ou a parte
dela.
3. A invocação de causa legítima de inexecução, sob pena de não ser
reconhecida, deve ser fundamentada e notificada ao interessado, com os
respectivos fundamentos, no prazo previsto para o cumprimento da decisão.
4. Não pode ser invocada causa legítima de inexecução das decisões cuja
execução se traduza no pagamento de quantia certa, nem grave prejuízo
para o interesse público no cumprimento das que defiram as seguintes
espécies de pedidos:
a) suspensão da eficácia dos actos administrativos e das normas emitidas no
desempenho da função administrativa;
b) produção antecipada de prova;
c) intimação a autoridade administrativa para facultar a consulta de
documentos ou processos ou passar certidões com a finalidade de permitir
aos requerentes o uso de meios administrativos e contenciosos;
d) intimação a órgão administrativo, a particular ou concessionário para
adoptar ou se abster de determinada conduta, com a finalidade de assegurar
o cumprimento de normas de direito administrativo;
e) declaração de ineficácia, para efeitos de suspensão, dos actos de
execução indevida;
f) decretamento de providências cautelares não especificas.

ARTIGO 189
(Tribunal competente)

1. Cabe à jurisdição competente conhecer e decidir os pedidos de execução


das suas decisões.
2. A execução contra particulares para pagamento de quantia certa segue os
termos do processo de execução fiscal.
3. As execuções contra particulares para fins diferentes dos previstos no
número anterior seguem os termos das correspondentes execuções em
processo civil.

SECÇÃO II
Execução para pagamento de quantia certa

ARTIGO 190
(Disposição preliminar)

1. Consistindo a execução no pagamento de quantia certa, o órgão


competente apenas não a ordena quando invoque, fundadamente, falta de
verba ou cabimento orçamental.
2. Quando a obrigação do órgão administrativo não sej a certa, exigível ou
líquida, aplica-se, com as necessárias adaptações, o disposto nos artigos 802
a 810 do Código de Processo Civil.

SECÇÃO III
Execução para entrega de coisa certa ou prestação de um facto

ARTIGO 191
(Requerimento)

1. Quando a execução consista na entrega de coisa certa ou na prestação de


um facto e o órgão administrativo não cumpra integralmente a decisão no
prazo legal, o interessado pode pedir à jurisdição competente a sua
execução.
2. O requerimento deve ser apresentado no prazo de trezentos e sessenta e
cinco dias contado a partir do termo do prazo para o cumprimento ou da
notificação da invocação de causa legítima de inexecução e, quando não
tenham sido fixados na decisão, especificar os actos e operações em que, no
entender do interessado, a execução deve consistir.
3. Quando o órgão administrativo tenha invocado causa legítima de
inexecução, o interessado deve indicar ainda no requerimento as razões da
sua discordância e juntar cópia da notificação daquela invocação.
4. Quando concorde com a invocação de causa legítima de inexecução, o
interessado pode pedir, em idêntico prazo a fixação de indemnização,
seguindo-se imediatamente os trâmites previstos no artigo 192 da presente
Lei.

ARTIGO 192
(RESPOSTA)

1. Apresentado o requerimento, que é autuado por apenso aos autos em que


foi proferida a decisão, e feito o preparo devido, é ordenada a notificação
do órgão administrativo para, no prazo de dez dias, cumprir a decisão ou
responder o que se lhe oferecer.
2. Na sua resposta, o órgão administrativo pode invocar, pela primeira vez,
a existência de causa legítima de inexecução e deve fazê-lo sempre que
pretender a manutenção da invocação que previamente tiver feito.

ARTIGO 193
(Réplica)

1. Quando, na resposta, o órgão administrativo invoque, pela primeira vez, a


existência de causa legítima de inexecução, o interessado é notificado para,
no prazo de dez dias, replicar.
2. Quando concorde com a existência de causa legítima de inexecução, o
interessado pode pedir, em idêntico prazo, a fixação de indemnização,
seguindo-se imediatamente os trâmites previstos no artigo 196 da presente
Lei.

ARTIGO 194
(Tramitação subsequente)

1. Juntas a resposta e a réplica, ou findos os respectivos prazos, a jurisdição


competente ordena as diligências instrutórias que se mostrem necessárias.
2. A decisão é proferida, conforme os casos, no prazo máximo de dez dias.

ARTIGO 195
(Conteúdo da decisão)

1. Na decisão, verificada a possibilidade de execução, a jurisdição


competente, quando tal tenha sido invocado pelo órgão administrativo,
decide se ocorre grave prejuízo para o interesse público no cumprimento da
decisão.
2. Quando declare não existir causa legítima de inexecução, ou quando esta
não tenha sido invocada, a jurisdição competente, quando não tenham sido
fixados na decisão, especifica os actos e operações em que a execução deve
consistir e os respectivos prazos, declarando nulos os actos praticados em
desconformidade com a anterior decisão.
3. Quando esteja pendente recurso contencioso dos actos previstos na parte
final do número anterior, é feita a sua apensação aos autos, previamente à
decisão, para efeitos da declaração de nulidade.
4. Quando a jurisdição competente declare a existência de causa legítima de
inexecução, o interessado pode pedir, até ao trânsito em julgado da decisão,
a fixação de indemnização.

ARTIGO 196
(Fixação de indemnização quando se verifique causa legítima de
inexecução)

1. Pedida a fixação de indemnização com fundamento em incumprimento da


decisão por causa legítima de inexecução, a jurisdição competente ordena a
notificação do órgão administrativo e o interessado para, no prazo de quinze
dias, acordarem no respectivo montante.
2. O prazo previsto no número anterior pode ser prorrogado quando haja
fundadas expectativas de que o acordo se venha a concretizar em momento
próximo.
3. Quando não haja lugar a acordo é aplicável, com as necessárias
adaptações, o disposto no artigo 193 da presente Lei.
4. O processo finda quando, entretanto, tenha sido proposta acção de
indemnização com o mesmo objecto, ou a jurisdição competente para que
ele remeta as partes, por considerar a matéria de complexa indagação.
5. Quando o órgão administrativo não ordene o pagamento devido no prazo
de trinta dias contado do acordo ou da notificação da decisão que o fixe,
seguem-se os termos do processo executivo para pagamento de quantia
certa.

SECÇÃO IV
Garantias contra a inexecução ilícita

ARTIGO 197
(Medida compulsória para obter a execução)

1. Quando, por qualquer forma, a jurisdição competente para a execução


tome conhecimento de que a decisão não foi cumprida, pode aplicar uma
medida compulsória ao titular do órgão administrativo competente para
ordenar o seu cumprimento.
2. A medida compulsória consiste na responsabilização pessoal do seu
destinatário para entrega, por cada dia de atraso no cumprimento da
decisão, de uma quantia cujo montante varia entre 25% e 100% do salário
mínimo nacional mais elevado no momento da sua aplicação.
3. Quando o órgão administrativo competente para ordenar o cumprimento
da decisão seja colegial a medida compulsória não é aplicada aos membros
que tenham votado a favor daquele cumprimento pontual e tenham feito
registar em acta esse voto, nem àqueles que, encontrando-se ausentes da
votação, tenham comunicado por escrito ao presidente a sua vontade no
sentido do cumprimento.
ARTIGO 198
(Aplicação da medida compulsória)

A medida compulsória pode ser aplicada:


a) quando a execução consista no pagamento de quantia certa, desde o
termo do prazo para cumprimento da decisão sem que tenha havido
invocação de falta de verba ou cabimento orçamental;
b) quando a execução consista na entrega de coisa certa ou na prestação de
um facto, desde o termo do prazo para cumprimento da decisão sem que
tenha havido invocação de causa legítima de inexecução e, tenha ou não
havido tal invocação, desde o trânsito em julgado da decisão proferida em
processo executivo ou naquele pelo qual as partes tenham optado ou para
o qual tenham sido remetidas pela jurisdição competente para a execução,
quando tal execução tenha verificado a possibilidade de execução da
anterior decisão ou tenha fixado indemnização.

ARTIGO 199
(Cessação da medida compulsória)

1. A medida compulsória cessa:


a) quando a execução consista no pagamento de quantia certa e haja
pagamento integral respectivo;
b) quando a execução consista no pagamento de quantia certa com a
invocação de falta de verba ou cabimento orçamental ou com a emissão pelo
Cofre do Tribunal Administrativo da respectiva ordem de pagamento;
c) com a invocação, antes ou no decurso do processo executivo, de causa
legítima de inexecução decidida em processo executivo ou naquele pelo
qual as partes tenham optado ou para o qual tenham sido remetidas pelo
tribunal competente para execução.
2. A invocação de causa legítima de inexecução referida na alínea c) do
número anterior só faz cessar a medida compulsória se for decidida por
sentença transitada em julgado que declare a impossibilidade de execução
da sentença exequenda, mas sem fixar indemnização a favor do exequente.
3. O disposto na alínea c) do n.º 1 do presente artigo faz ainda cessar a
medida compulsória se for decidida por sentença transitada em julgado que
declare a impossibilidade de execução da sentença exequenda, fixando a
indemnização a favor do exequente com os fundamentos na alínea b) do n.º
1 do presente artigo.
4. A medida compulsória cessa ainda quando o cumprimento da decisão não
possa ser ordenado pelo seu destinatário em virtude de suspensão ou
cessação das respectivas funções.
5. Antes da aplicação da medida, a jurisdição competente ouve, pelo prazo
de oito dias, o órgão administrativo competente.
6. A decisão de aplicação da medida fixa o seu montante diário, indica a data
a partir da qual produz efeitos, específica os nomes dos seus destinatários e
é-lhes imediatamente notificada.
7. A liquidação global das quantias devidas a título de medida compulsória
é efectuada pela jurisdição competente após a sua cessação.
8. As quantias devidas a título de medida compulsória consti tuem receitas
consignadas à dotação anual previstas no n.º 1 do artigo 191 da presente Lei.
ARTIGO 200
(Suspensão da medida compulsória)

A medida compulsória suspende-se quando a execução consista no


pagamento de quantia certa e se invoque a falta de verba.

ARTIGO 201
Inexecução ilícita das decisões do Tribunal Administrativo)

1. Excepto quando ocorra falta de verba ou cabimento orçamental ou, por


concordância do interessado ou declaração da jurisdição competente, seja
verificada a existência de causa legítima, a inexecução de decisão proferida
pela jurisdição competente transitada em julgado constitui facto ilícito e
produz os seguintes efeitos:
a) qualquer acto que desrespeite a decisão ou cuja execução conduza a
idêntico resultado é nulo;
b) a pessoa de direito público em causa e os titulares dos seus órgãos,
funcionários, agentes ou representantes a quem o facto seja imputável são
solidariamente responsáveis pelos prejuízos causados ao interessado;
c) os titulares dos órgãos, funcionários, agentes e repre-sentantes
responsáveis pelo facto ilícito incorrem em responsabilidade disciplinar, nos
termos dos respectivos estatutos.
2. Constitui crime de desobediência qualificada:
a) o facto de o titular do órgão competente para a execução actuar com
intenção de não dar cumprimento à decisão nos termos fixados pela
jurisdição competente, sem invocação, conforme os casos, de falta de verba
ou cabimento orçamental ou de causa legítima de inexecução;
b) o não agendamento da questão pelo presidente do órgão colegial.
3. À fixação de indemnização, para os efeitos do disposto na alínea b) do n.º
1, é aplicável o regime constante do artigo 196.

CAPÍTULO X
Arbitragem

SECÇÃO I
Disposições gerais

ARTIGO 202
(Âmbito da jurisdição arbitral)

O tribunal arbitral pode ser constituído para o julgamento de questões que


tenham por objecto:
a) contratos administrativos;
b) responsabilidade civil extracontratual da Administração Pública ou dos
titulares dos seus órgãos, funcionários ou agentes por prejuízos decorrentes
de actos de gestão pública.
ARTIGO 203
(Convenção de arbitragem)

1. Por convenção de arbitragem entende-se quer o compromisso arbitral


pelo qual as partes se obrigam a submeter à arbitragem um litígi o actual,
como a cláusula compromissória pela qual as partes se obrigam a submeter
à arbitragem os litígios eventuais emergentes de uma determinada relação
jurídica no âmbito de cognição da jurisdição arbitral, nos termos do artigo
anterior.
2. A convenção de arbitragem deve ser reduzida a escrito.
3. Considera-se reduzida a escrito a convenção de arbitragem constante ou
de documento assinado pelas partes, ou de troca de cartas, telex, telegramas
ou outros meios de telecomunicação de que fique prova escrita, quer esses
instrumentos contenham directamente a convenção, quer deles conste
cláusula de remissão para algum documento em que uma convenção esteja
contida.
4. O compromisso arbitral deve determinar com precisão o objecto do
litígio;
a cláusula compromissória deve especificar a relação jurídica a que os litígios
respeitem.
5. A convenção de arbitragem pode ser revogada, até à pronúncia da decisão
arbitral, por escrito assinado pelas partes.
6. É nula a convenção de arbitragem celebrada com violação do disposto
nos n.ºs 2 e 3 do presente artigo.
7. A convenção de arbitragem não impede as partes de solicitar à jurisdição
administrativa competente a efectivação de meios processuais acessórios.

ARTIGO 204
(Incompetência de outros tribunais)

O recurso ao tribunal arbitral exclui o recurso a outros tribunais que, quando


solicitados, se devem declarar incompetentes salvo, o disposto em matéria
de recursos da sentença arbitral.

ARTIGO 205
(Encargos do processo)

1. A remuneração dos árbitros e dos outros intervenientes no processo, bem


como a sua repartição entre as partes, deve ser fixada na convenção de
arbitragem ou em documentos posteriores subscritos pelas partes.
2. Nos casos em que as partes não tenham fixado os encargos referidos no
n.º 1, compete ao tribunal arbitral determiná-los, tendo em conta,
nomeadamente a complexidade do processo, o tempo despendido, situação
económica dos litigantes e o valor da causa.
SECÇÃO II
O tribunal arbitral

ARTIGO 206
(Composição do tribunal)

1. O tribunal arbitral pode ser constituído por vários árbitros em número


ímpar.
2. Se o número de membros do tribunal arbitral não for fixado na convenção
de arbitragem ou, em escrito posterior assinado pelas partes, nem deles
resultar, o tribunal é composto por três árbitros.
3. Os árbitros devem ser pessoas físicas plenamente capazes.

ARTIGO 207
(Designação dos árbitros)

1. Sem prejuízo do disposto no artigo 208, na convenção de arbitragem ou


em escrito posterior por elas assinado, devem as partes designar os árbitros
que constituem o tribunal, ou fixar o modo por que são escolhidos.
2. Se as partes não tiverem designado os árbitros nem fixado o modo da sua
escolha, e não houver acordo entre elas quanto a essa designação, cada uma
indica um árbitro, cabendo aos árbitros assim designados a escolha dos
árbitros que devem completar a constituição do tribunal.
3. A designação pode ser requerida passado um mês sobre a comunicação
prevista n.º 1 do artigo 206, ou no prazo de um mês a contar da designação
do último dos árbitros a quem compete a escolha, no caso referido no
número anterior.
4. Se não houver acordo das partes quanto à designação referida no número
anterior, cabe ao Presidente do Tribunal Administrativo designar o árbitro
ou árbitros para completar a constituição do tribunal arbitral.
5. As designações feitas nos termos dos números anteriores não são
susceptíveis de impugnação.

ARTIGO 208
(Liberdade de aceitação e escusa)

1. Ninguém pode ser obrigado a funcionar como árbitro;


mas, se o encargo tiver sido aceite, só é legítima a escusa fundada em causa
superveniente que impossibilite o designado de exercer a função.
2. Considera-se aceite o encargo sempre que a pessoa designada revele a
intenção de agir como árbitro ou não declare, por escrito dirigido a qualquer
das partes, dentro dos dez dias subsequentes à comunicação da designação,
que não quer exercer a função.
3. O árbitro que, tendo aceitado o encargo, se escusar injustificadamente ao
exercício da sua função responde pelos danos a que der causa.
ARTIGO 209
(Impedimentos, escusas e recusa)

1. Aos árbitros não indicados pelas partes é aplicável o regime de


impedimentos e escusas estabelecidos na lei de processo civil para os juízes.
2. Os árbitros que se considerem abrangidos por qualquer causa de recusa
devem informar as partes e apenas podem aceitar a sua missão com o acordo
destas.
3. A parte não pode recusar o árbitro por ela designado, salvo ocorrência de
causa superveniente de impedimento ou escusa, nos termos do Código de
Processo Civil para os juízes.

ARTIGO 210
(Constituição do tribunal arbitral)

1. A parte que pretenda resolver o litígio no tribunal arbitral deve comunicar


esse facto à parte contrária.
2. A comunicação é feita por carta registada com aviso de recepção.
3. O requerimento deve indicar a convenção de arbitragem e precisar o
objecto do litígio, se nele não resultar já determinado da convenção.
4. Se às partes couber designar um ou mais árbitros, o requerimento contêm
a designação do árbitro ou árbitros pela parte que se propõe instaurar a
acção, bem como o convite dirigido à outra parte para designar o árbitro ou
árbitros que lhe cabe indicar.

ARTIGO 211
(Substituição dos árbitros)

Se algum dos árbitros falecer, se escusar ou se impossibilitar


permanentemente para o exercício das funções ou se a designação ficar sem
efeito, procede-se à sua substituição segundo as regras aplicáveis à
nomeação ou designação, com as necessárias adaptações.

ARTIGO 212
(Presidência do tribunal arbitral)

1. Sendo nomeados vários árbitros, estes, por maioria, elegem entre si o


presidente, a menos que as partes tenham acordado noutra solução, por
escrito, até à aceitação do primeiro árbitro. Não havendo consenso é
designado o mais idoso.
2. Compete ao presidente do tribunal arbitral preparar o processo, dirigir a
instrução, conduzir os trabalhos das audiências e ordenar os debates.
3. O presidente do tribunal designa, se julgar conveniente, um secretário,
que pode ser um dos árbitros.
ARTIGO 213
(Impossibilidade da determinação do objecto do litígio)

Não havendo acordo das partes sobre a determinação do objecto do litígio,


no prazo referido no n.º 3 do artigo 207, cabe ao tribunal arbitral defini -lo.

SECÇÃO III
O processo arbitral

Artigo 214
(Regras de processo)

1. Na convenção de arbitragem ou em escrito posterior, até à aceitação do


primeiro árbitro, podem as partes acordar sobre as regras de processo a
observar na arbitragem, bem como sobre o lugar onde funciona o tribunal
arbitral.
2. Se as partes não tiverem acordado sobre as regras de processo a observar
na arbitragem e sobre o lugar de funcionamento do tribunal arbitral, cabe a
este defini-las, por escrito.

ARTIGO 215
(Princípios fundamentais a observar no processo)

Em qualquer caso, os trâmites processuais da arbitragem devem respeitar os


seguintes princípios fundamentais:
a) as partes são tratadas com absoluta igualdade;
b) o demandado é citado para se defender;
c) em todas as fases do processo é garantida a estreita observância do
princípio do contraditório;
d) ambas as partes devem ser ouvidas, oralmente ou por escrito, antes de
ser proferida a decisão final.

ARTIGO 216
(Representação das partes)

As partes podem designar quem as represente ou assista em tribunal


arbitral.

ARTIGO 217
(Provas)

1. Pode ser produzida perante o tribunal arbitral qualquer prova admitida


pela presente Lei.
2. Quando a prova a produzir dependa da vontade de uma das partes ou de
terceiro e estes recusem a necessária colaboração, pode a parte
interessada requerer à jurisdição competente ou ao tribunal judicial
competente, segundo o elemento da prova a fornecer, que a prova seja
produzida perante ele, sendo os seus resultados remetidos ao tribunal
arbitral.
3. Quando a prova a produzir dependa da vontade de uma das partes, pode
o presidente do tribunal arbitral intimar as partes à produção de todos os
documentos que o tribunal arbitral julga de natureza a permitir a
verificação das alegações das partes em causa sob reserva dos
documentos cuja comunicação seria contrária a uma disposição legislativa.

SECÇÃO IV
A sentença arbitral

ARTIGO 218
(Prazo para a decisão)

1. Na convenção de arbitragem ou em escrito posterior, até à aceitação do


primeiro árbitro designado por uma das partes, podem estas fixar o prazo
para a decisão do tribunal arbitral ou o modo de estabelecimento desse
prazo.
2. É de seis meses o prazo para a decisão, se outra coisa não resultar do
acordo das partes, nos termos do número anterior.
3. O prazo a que se referem os n.ºs 1 e 2 conta-se a partir da data da
designação do último árbitro, salvo convenção em contrário.
4. Por decisão do presidente do tribunal arbitral, o prazo da decisão pode
ser prorrogado até metade da sua duração inicial.
5. Os árbitros que injustificadamente obstarem a que a decisão seja proferida
dentro do prazo fixado respondem pelos danos causados.

ARTIGO 219
(Deliberação)

1. A sentença é tomada por maioria de votos, em deliberação em que todos


os árbitros devem participar.
2. A conferência de deliberação é restrita aos árbitros.

ARTIGO 220
(Decisão sobre a própria competência)

1. O tribunal arbitral pode pronunciar-se sobre a sua própria competência,


mesmo que para esse fim seja necessário apreciar a existência, a validade ou
a eficácia da convenção de arbitragem ou do contrato em que ela se insira,
ou a aplicabilidade da referida convenção.
2. A nulidade do contrato em que se insira uma convenção de arbitragem
não acarreta a nulidade desta, salvo quando se mostre que ele não teria sido
concluído sem a referida convenção.
3. A incompetência do tribunal arbitral só pode ser arguida até à
apresentação da defesa quanto ao fundo da causa, ou juntamente com esta.
4. A decisão pela qual o tribunal arbitral se declara competente só pode ser
apreciada pela Primeira Secção do Tribunal Administrativo depois de
proferida a decisão sobre o fundo da causa e pelos meios especificados no
artigo 221 da presente Lei.

ARTIGO 221
(Elementos da sentença arbitral)

1. A decisão final do tribunal arbitral é reduzida a escrito e dela consta:


a) a identificação das partes;
b) a referência à convenção de arbitragem;
c) o objecto do litígio;
d) a identificação dos árbitros;
e) o lugar da arbitragem e o local e a data em que a decisão foi proferida;
f) a assinatura dos árbitros;
g) a indicação dos árbitros que não puderem assinar.
2. A decisão deve conter as assinaturas dos árbitros intervenientes na
tomada de decisão e inclui os votos de vencido, devidamente identificados.
3. A decisão deve ser fundamentada.
4. Da decisão consta a fixação e repartição pelas partes dos encargos
resultantes do processo.

ARTIGO 222
(Notificação e depósito da sentença)

1. O presidente do tribunal arbitral manda notificar a sentença a cada uma


das partes, mediante remessa de um exemplar dela, por carta registada.
2. O original da sentença arbitral fica depositado na Secretaria do Tribunal
Administrativo.

ARTIGO 223
(Extinção do poder dos árbitros)

1. O poder jurisdicional dos árbitros finda com a notificação da sentença que


põe termo ao litígio.
2. Todavia, os árbitros têm o poder de aclarar a sentença e de rectificar os
erros e omissões materiais que podem afectá-la.

ARTIGO 224
(Caso julgado e força executiva)

1. A sentença arbitral considera-se transitada em julgado logo que não seja


susceptível de recurso de anulação.
2. A sentença arbitral tem a mesma força executiva que a sentença da
jurisdição administrativa.
SECÇÃO V
Impugnação da sentença arbitral

ARTIGO 225
(Recurso de anulação)

1. Da sentença do tribunal arbitral cabe recurso de anulação.


2. A sentença arbitral só pode ser anulada pela Primeira Secção do Tribunal
Administrativo, por algum dos seguintes fundamentos:
a) não ser o litígio susceptível de resolução por via arbitral;
ter sido proferida por tribunal incompetente ou irregularmente constituído;
b) ter havido no processo violação dos princípios referidos no artigo 193,
com influência decisiva na resolução do litígio;
c) ter havido violação da alínea f) do n.º 1 do artigo 221 e dos n.ºs 2 e 3 do
presente artigo;
d) ter o tribunal conhecido de questões de que não podia tomar
conhecimento, ou ter deixado de pronunciar-se sobre questões que devia
apreciar.
3. O fundamento de anulação previsto na alínea b) do número anterior não
pode ser invocado pela parte que dele teve conhecimento no decurso da
arbitragem e que, podendo fazê-lo, não o alegou oportunamente.
4. Se da sentença arbitral couber recurso e ele for interposto, a anulabilidade
só pode ser apreciada no âmbito desse recurso.

ARTIGO 226
(Prazo para requerer a anulação)

1. O direito de requerer a anulação da decisão dos árbitros é irrenunciável.


2. A acção de anulação pode ser intentada no prazo de trinta dias, a contar
da notificação da sentença arbitral.
3. A acção de anulação é suspensiva dos efeitos da sentença recorrida.
4. Quando a Primeira Secção do Tribunal Administrativo anule a sentença
arbitral recorrida, ele estatui sobre o mérito da causa nos limites da missão
do tribunal arbitral.

CAPÍTULO XI
Disposições finais e transitórias

ARTIGO 227
(Custas)

Os pedidos de intimação, os meios processuais acessórios, as execuções das


decisões, as reclamações para a conferência, bem como as relativas a vícios
e reforma das decisões têm-se como incidentes para efeito de custas.
ARTIGO 228
(Aplicação da Lei)

O disposto da presente Lei aplica-se aos processos instaurados após a sua


entrada em vigor.

ARTIGO 229
(Disposições transitórias)

1. Enquanto não entrarem em funcionamento o Tribunal Administrativo da


Cidade de Maputo e outros tribunais administrativos, as suas competências
são exercidas pela Primeira Secção do Tribunal Administrativo.
2. No caso previsto no número anterior, em matéria de recursos
jurisdicionais, as competências de segunda instância são exercidas pelo
plenário do Tribunal Administrativo.

ARTIGO 230
(Regulamentação)

Compete ao Conselho de Ministros, no prazo de 180 dias, regulamentar o


disposto no artigo 31 da presente Lei.

ARTIGO 231
(Normas Revogadas)

Ficam revogadas:
a) a Lei n.º 9/2001, de 7 de Julho;
b) os artigos 106 e 107 da Lei n.º 2/97, de 18 de Fevereiro.

ARTIGO 232
(Entrada em vigor)

A presente Lei entra em vigor 60 dias após a data da sua publicação.


Aprovada pela Assembleia da República, aos 22 de Outubro de 2013.
A Presidente da Assembleia da República, Verónica Nataniel Macamo
Dlhovo.
Promulgada em 14 de Fevereiro de 2014.
Publica-se.
O Presidente da República, Armando Emílio Guebuza.
Havendo necessidade de regular a organização, composição e
funcionamento do Conselho Superior da Magistratura Judicial
Administrativa, ao abrigo do disposto no n.° 2 do artigo 232, conjugado com
o n.º 1 do artigo 179, ambos da Constituição, a Assembleia da República
determina:
CAPÍTULO I
Disposições gerais

SECÇÃO I
Natureza e composição

ARTIGO 1
(Natureza)

1. O Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa é o órgão de


gestão e disciplina dos juízes da jurisdição administrativa, fiscal e aduaneira.
2. O Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa exerce,
também, jurisdição sobre os funcionários de justiça nos termos constantes
da lei.

ARTIGO 2
(Composição)

1. O Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa tem a


seguinte composição:
a) o Presidente do Tribunal Administrativo, que o preside;
b) dois membros designados pelo Presidente da República, sendo um deles
magistrado judicial administrativo;
c) três membros eleitos pela Assembleia da República, segundo o critério de
representação proporcional;
d) dois juízes conselheiros do Tribunal Administrativo, eleitos pelos seus
pares;
e) três juízes eleitos pelos seus pares, de entre os juízes dos tribunais
administrativos, fiscais e aduaneiros.
2. Fazem também parte do Conselho Superior da Magistratura Judicial
Administrativa quatro oficiais de justiça, sendo um em representação do
Tribunal Administrativo e os restantes em representação dos tribunais
administrativos, fiscais e aduaneiros, todos eleitos pelos pares de cada
instituição a que pertençam.

ARTIGO 3
(Mandato)

1. À excepção do Presidente, cujo mandato é regulado nos termos da Lei


Orgânica da Jurisdição Administrativa, os membros do Conselho Superior da
Magistratura Judicial Administrativa exercem o respectivo mandato por um
período de cinco anos, sendo permitida a reeleição.
2. Findo o mandato, os membros cessantes mantêm-se em funções até à
tomada de posse dos novos membros.

ARTIGO 4
(Substituição do Presidente)

O Presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa


é substituído, nas suas faltas, ausências e impedimentos, pela ordem
seguinte:
a) pelo Juiz Conselheiro, membro do Conselho, mais antigo no exercício das
respectivas funções junto do Tribunal Administrativo;
b) pelo Juiz Conselheiro, membro do Conselho, de maior idade, se todos os
juízes conselheiros possuírem a mesma antiguidade.

ARTIGO 5
(Requisitos para a eleição)

Podem ser eleitos para o Conselho Superior da Magistratura Judicial


Administrativa, apenas os juízes e oficiais de justiça de nomeação definitiva
e em efectividade de funções.

SECÇÃO II
Processo eleitoral dos juízes e oficiais de justiça

ARTIGO 6
(Comissão eleitoral)

Para a eleição dos membros mencionados nas alíneas d) e e) do n.º 1 e no n.º


2 do artigo 2, funciona junto do Tribunal Administrativo uma Comissão
Eleitoral constituída pelos membros a seguir indicados, designados pelo
Presidente do Tribunal Administrativo:
a) um Juiz Conselheiro do Tribunal Administrativo;
b) um juiz de direito do Tribunal Administrativo Provincial;
c) um juiz profissional do Tribunal Fiscal;
d) um juiz profissional do Tribunal Aduaneiro;
e) um secretário judicial do Tribunal Administrativo.

ARTIGO 7
(Processo para a eleição)

A Comissão Eleitoral envia a cada eleitor um boletim de voto de onde consta


a lista completa dos magistrados de cada escalão e categorias de tribunais
e dos oficiais de justiça que reúnam os requisitos fixados no artigo 5, bem
como o prazo em que deve ter lugar a votação.
ARTIGO 8
(Forma de votação)

1. A votação é nominal e faz-se através da devolução do boletim de voto


devidamente preenchido, em carta fechada, à Comissão Eleitoral, no prazo
que tiver sido fixado, sob registo postal.
2. O voto deve estar contido num envelope separado e sem qualquer
indicação.

ARTIGO 9
(Contagem de votos)

Terminado o prazo referido nos artigos precedentes, a Comissão Eeleitoral


procede à abertura das cartas e à contagem dos votos.

ARTIGO 10
(Apuramento dos resultados)

1. Finda a contagem, são eleitos os magistrados e funcionários que obtiveram


o maior número de votos validamente expressos.
2. O cargo de membro do Conselho Superior da Magistratura Judicial
Administrativa não pode ser recusado, excepto em casos devidamente
fundamentados.

ARTIGO 11
(Fiscalização e homologação)

Cabe ao Presidente do Tribunal Administrativo assegurar a fiscalização do


acto eleitoral, decidir sobre as eventuais reclamações e homologar os
resultados da eleição.

CAPÍTULO II
Competência, organização e funcionamento

SECÇÃO I
Competência

ARTIGO 12
(Competência)

1. Compete ao Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa:


a) pronunciar-se, mediante solicitação do Presidente da República, sobre a
nomeação do Presidente do Tribunal Administrativo;
b) propor ao Presidente da República a nomeação dos juízes conselheiros
do Tribunal Administrativo;
c) apreciar o mérito profissional dos juízes da jurisdição administrativa, fiscal
e aduaneira e exercer a acção disciplinar relativamente a eles;
d) nomear, colocar, transferir, promover e exonerar os juízes da jurisdição
administrativa, fiscal e aduaneira e, em geral, praticar todos os actos de
idêntica natureza respeitantes aos magistrados;
e) conhecer dos recursos das decisões em matéria administrativa e
disciplinar dos presidentes e juízes dos tribunais da jurisdição
administrativa, fiscal e aduaneira;
f) apreciar o mérito profissional e exercer a acção disciplinar sobre os
funcionários de justiça, sem prejuízo da competência disciplinar atribuída
aos juízes;
g) ordenar inquéritos, inspecções e sindicâncias aos serviços do Tribunal
Administrativo, dos tribunais administrativos provinciais e da Cidade de
Maputo, dos tribunais Fiscal e Aduaneiro;
h) elaborar e aprovar o Regulamento Interno do Conselho Superior da
Magistratura Judicial Administrativa;
i) analisar o projecto de orçamento anual do Conselho Superior da
Magistratura Judicial Administrativa;
j) pronunciar-se sobre os pedidos de aposentação e jubilação de juízes do
Tribunal Administrativo, dos tribunais administrativos provinciais e da
Cidade de Maputo, dos tribunais Fiscal e Aduaneiro;
k) aprovar o traje profissional dos magistrados judiciais administrativos e
funcionários de justiça;
l) exercer as demais competências conferidas por lei.
2. O Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa pode delegar
no Presidente e em outros dos seus membros a competência para a prática
de actos de gestão corrente relativos a juízes.
3. Em caso de urgência, a Comissão Permanente pode praticar actos da
competência do Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa,
submetendo-os à ratificação deste na primeira sessão.
4. As deliberações sobre mérito e disciplina produzem, nos quadros de
origem dos juízes em comissão de serviço, efeitos iguais aos que teriam se
proferidos pelos competentes órgãos.

SECÇÃO II
Organização e funcionamento

ARTIGO 13
(Funcionamento e periodicidade das sessões)

a) o Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa funciona em


Plenário e em Comissão Permanente;
b) o Plenário reúne-se, ordinariamente, três vezes por ano e,
extraordinariamente, sempre que necessário, mediante convocação do
Presidente ou a requerimento de, pelo menos, dois terços dos seus
membros;
c) a Comissão Permanente reúne-se, ordinariamente, uma vez por mês e,
extraordinariamente, sempre que se mostre necessário, mediante
convocação do Presidente ou a requerimento de, pelo menos, dois terços
dos seus membros.
ARTIGO 14
(Composição da Comissão Permanente)

1. A Comissão Permanente do Conselho Superior da Magistratura Judicial


Administrativa é constituída por cinco membros, sendo:
a) Presidente do Tribunal Administrativo;
b) um dos designados pelo Presidente da República;
c) um dos eleitos pela Assembleia da República;
d) um Juiz Conselheiro do Tribunal Administrativo;
e
e) um juiz de entre os juízes dos Tribunais Administrativo Provincial, Fiscal
e Aduaneiro.
2. Os membros previstos nas alíneas b), c), d) e e) do n.º 1 do presente artigo
são eleitos na primeira sessão Plenária do Conselho Superior da Magistratura
Judicial Administrativa.
3. Cabe ao Presidente do Tribunal Administrativo presidir às sessões da
Comissão Permanente.

ARTIGO 15
(Competência da Comissão Permanente)

Compete à Comissão Permanente executar as deliberações do Plenário e


exercer as funções que lhe tenham sido atribuídas pelo Conselho Superior
da Magistratura Judicial Administrativa.

ARTIGO 16
(Deliberação)

1. Os órgãos do Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa


só podem funcionar validamente achando-se presentes, pelo menos, dois
terços dos seus membros.
2. As deliberações dos órgãos do Conselho Superior da Magistratura Judicial
Administrativa são tomadas por maioria simples dos votos.

ARTIGO 17
(Comparticipação dos membros do Conselho Superior da Magistratura
Judicial Administrativa)

Os membros do Conselho Superior de Magistratura Judicial Administrativa


têm direito a uma senha de presença, cujo montante é fixado pelo Governo.

ARTIGO 18
(Forma e publicação das deliberações)

As deliberações do Conselho Superior da Magistratura Judicial


Administrativa revestem a forma de Resolução e são publicadas no Boletim
da República, I Série.
ARTIGO 19
(Competências do Presidente)

1. Compete ao Presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial


Administrativa:
a) representar o Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa;
b) convocar e presidir às respectivas sessões;
c) superintender nos serviços administrativos do Conselho Superior da
Magistratura Judicial Administrativa;
d) exercer as funções que lhe forem delegadas pelo Conselho Superior da
Magistratura Judicial Administrativa;
e) dirigir e coordenar a inspecção judicial;
f) nomear o Secretário-Geral do Conselho Superior da Magistratura Judicial
Administrativa;
g) exercer as demais funções conferidas por lei.
2. O Presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial
Administrativa pode delegar no Secretário-Geral do Conselho a
competência para prática de determinados actos conexionados com os
serviços administrativos deste órgão.
3. As decisões do Presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial
Administrativa têm a forma de Despacho e são publicadas no Boletim da
República, I Série.

ARTIGO 20
(Secretaria)

1. O Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa dispõe de


Secretaria própria, dirigida por um Secretário-Geral.
2. Compete ao Secretário-Geral do Conselho Superior da Magistratura
Administrativa:
a) dirigir os serviços da Secretaria;
b) submeter ao Presidente os assuntos que careçam de decisão superior;
c) lavrar as actas das sessões do Conselho Superior da Magistratura Judicial
Administrativa;
d) executar e fazer executar as deliberações do Conselho Superi or da
Magistratura Administrativa e as decisões do Presidente;
e) preparar projectos dos orçamentos do Conselho Superior da Magistratura
Judicial Administrativa;
f) organizar e manter actualizados os processos individuais, cadastro e
registo biográfico dos juízes dos Tribunal Administrativo, dos tribunais
administrativos provinciais e da Cidade de Maputo e dos tribunais Fiscal e
Aduaneiro;
g) autorizar as despesas variáveis do orçamento dentro dos limites e
parâmetros a fixar pelo Presidente do Conselho;
h) exercer as demais funções conferidas por lei.
CAPÍTULO III
Inspecção Judicial Administrativa

SECÇÃO I
Objectivos

ARTIGO 21
(Objectivos)

A inspecção judicial administrativa prossegue, entre outros, os seguintes


objectivos:
a) fiscalizar o funcionamento dos Tribunal Administrativo, dos tribunais
administrativos provinciais e da Cidade de Maputo, dos tribunais Fiscal e
Aduaneiro e a actividade dos respectivos magistrados;
b) identificar as dificuldades e as necessidades dos órgãos judiciais
administrativos, fiscais e aduaneiros;
c) colher informações sobre o serviço e mérito dos magistrados judiciais
administrativos e dos oficiais de justiça;
d) verificar o grau de cumprimento dos programas e actividades dos
tribunais administrativos, fiscais e aduaneiros;
e) dispensar apoio aos magistrados judiciais administrativos com vista a
superarem as suas dificuldades técnico-profissionais.

SECÇÃO II
Estrutura e funcionamento

ARTIGO 22
(Estrutura e funcionamento)

A estrutura e funcionamento da inspecção judicial são definidos pelo


Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa.

ARTIGO 23
(Competências)

1. Compete aos serviços de inspecção judicial:


a) facultar ao Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa e à
direcção do aparelho judiciário administrativo, fiscal e aduaneiro a
informação do estado das necessidades e das deficiências dos serviços
judiciais administrativos, fiscais e aduaneiros a fim de os habilitar a tomar as
providências necessárias;
b) colher informações sobre o serviço dos magistrados judiciais
administrativos, fiscais e aduaneiros e dos funcionários de justiça;
c) fiscalizar a contabilidade e tesouraria do Tribunal Administrativo, dos
tribunais administrativos provinciais e da Cidade de Maputo e dos tribunais
Fiscal e Aduaneiro;
d) analisar os relatórios anuais e o desempenho mensal dos juízes e propor
ao Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa as respectivas
classificações.
2. A inspecção destinada a colher informações sobre o serviço e o mérito
dos magistrados judiciais administrativos, fiscais e aduaneiros não pode ser
feita por inspector de categoria ou antiguidade inferior às dos magistrados
inspeccionados.

ARTIGO 24
(Inspectores)

As inspecções aos juízes do Tribunal Administrativo, dos tribunais


administrativos provinciais e da Cidade de Maputo, dos tribunais Fiscal e
Aduaneiro são efectuadas por juízes da jurisdição administrativa, fiscal e
aduaneira, designados pelo Conselho Superior da Magistratura Judicial
Administrativa.
SECÇÃO III
Processo disciplinar

ARTIGO 25
(Instrução)

Os processos disciplinares, de inquérito e de sindicância são instruídos por


juízes do Tribunal Administrativo, dos tribunais administrativos provinciais e
da Cidade de Maputo, dos tribunais Fiscal e Aduaneiro, designados pelo
Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa.

SECÇÃO IV
Recursos

ARTIGO 26
(Recurso para o Conselho Superior da Magistratura Judicial
Administrativa)

1. Das decisões do Presidente e das deliberações da Comissão Permanente é


admissível recurso para o Plenário.
2. Em matérias relativas a funcionários de justiça, o recurso é restrito a
deliberações de natureza disciplinar que tenham aplicado pena de gravidade
igual ou superior à de transferência compulsiva.

ARTIGO 27
(Recurso para o Plenário do Tribunal Administrativo)

1. Das deliberações do Conselho Superior da Magistratura Judicial


Administrativa, é admissível recurso para o Plenário do Tribunal
Administrativo.
2. Na apreciação do recurso referido no número anterior não podem
participar os juízes do Tribunal Administrativo que intervieram na
deliberação recorrida.
ARTIGO 28
(Prazos)

1. O prazo para a interposição de recurso para o Conselho Superior da


Magistratura judicial Administrativa é de quinze dias, a contar da data da
notificação da deliberação.
2. Ao recurso para o Plenário do Tribunal Administrativo é aplicável o regime
do recurso contencioso.

ARTIGO 29
(Efeitos)

1. O recurso para o Conselho Superior da Magistratura Judicial


Administrativa tem efeito suspensivo.
2. O recurso para o Plenário do Tribunal Administrativo tem efeito
devolutivo, nos termos da lei que regula o processo administrativo
contencioso.

ARTIGO 30
(Interposição)

1. A interposição do recurso é feita mediante petição dirigida ao Conselho


Superior da Magistratura Judicial Administrativa ou ao Plenário do Tribunal
Administrativo, consoante se trate de decisão do Presidente ou da Comissão
Permanente ou de deliberação do Conselho Superior da Magistratura
Judicial Administrativa.
2. O recurso considera-se interposto na data da entrada da petição na
Secretaria do Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa ou
da entrada na Secretaria Geral do Tribunal Administrativo.

ARTIGO 31
(Requisitos da petição)

1. Da petição devem constar a deliberação recorrida, os fundamentos de


facto e de Direito e a formulação clara e precisa do pedido.
2. A petição deve ser instruída com documento comprovativo do acto
objecto de recurso e com todos os documentos probatórios.
3. No caso de, por motivo justificado, não tiver sido possível obter os
documentos no prazo legal, pode ser requerido prazo para a sua posterior
apresentação.

ARTIGO 32
(Tramitação dos recursos)

Aplicam-se aos recursos para o Conselho Superior da Magistratura Judicial


Administrativa e para o Plenário do Tribunal Administrativo os preceitos
relativos ao recurso gracioso e ao recurso contencioso, respectivamente.
ARTIGO 33
(Custas e demais encargos)

É aplicável ao recurso contencioso o regime das custas judiciais privativo do


Tribunal Administrativo.
CAPÍTULO IV
Disposições finais e transitórias

ARTIGO 34
(Disposição transitória)

1. Enquanto não for aprovado o Estatuto dos Magistrados Judiciais


Administrativos, os processos disciplinares, de inquérito e de sindicância são
regulados subsidiariamente pelo Estatuto dos Magistrados Judiciais.
2. O mandato previsto no artigo 3 da presente Lei não se aplica aos membros
do Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa em exercício.

ARTIGO 35
(Revogação)

É revogada a Lei n.º 9/2009, de 11 de Março.

ARTIGO 36
(Entrada em vigor)

A presente Lei entra em vigor na data da sua publicação.


Aprovada pela Assembleia da República, aos 7 de Agosto de 2013. — A
Presidente da Assembleia da República, Verónica Nataniel Macamo Dlhovo.
Promulgada aos 10 de Setembro de 2013.
Publique-se.
O Presidente da República, Armando Emílio Guebuza.
Havendo necessidade de clarificar o âmbito da jurisdição, da actuação
territorial e das competências do Tribunal Administrativo, dos Tribunais
Administrativos Provinciais e do Tribunal Administrativo da Cidade de
Maputo, ao abrigo do disposto no artigo 231 conjugado com o n.º 1 do artigo
179 ambos da Constituição, a Assembleia da República determina:

ARTIGO 1
(Alteração à Lei n.º 24/2013, de 1 de Novembro)

São alterados os artigos 1, 3, 4, 5, 13, 15, 19, 20, 23, 26, 28, 33, 34, 39, 40, 41,
43, 44, 45, 46, 47, 50, 51, 60, 62, 65, 66, 67, 69, 71, 72, 76 e 77 da Lei n.º
24/2013, de 1 de Novembro e passam a ter a seguinte redacção:

ARTIGO 1
(Âmbito de jurisdição)

1. O contencioso administrativo e a fiscalização prévia da legalidade das


receitas e das despesas públicas, através do visto, são exercidas pelo
Tribunal Administrativo, pelos Tribunais Administrativos Provinciais e pelo
Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo.
2. A fiscalização concomitante e sucessiva das receitas e despesas públicas
é exercida pelo Tribunal Administrativo.
3. …
4. O Tribunal Administrativo é o órgão superior da hierarquia dos Tribunais
Administrativos provinciais e da Cidade de Maputo, dos tribunais fiscais e
dos tribunais aduaneiros e outros de jurisdição administrativa definidos por
lei.

ARTIGO 3
(Órgãos de jurisdição)

1. …
2. Constituem o Tribunal Administrativo:
a) … ;
b) a Primeira Secção, em primeira e segunda instâncias, nos termos do artigo
17 da presente Lei;
c) a Segunda Secção, em primeira e segunda instâncias, nos termos do artigo
17 da presente Lei.
d) a Terceira Secção e subsecções referidas nos termos do artigo 17 da
presente Lei, que funciona em primeira instância no âmbito da fiscalização
concomitante e sucessiva e em segunda instância no âmbito da fiscalização
prévia.
3. Os tribunais administrativos provinciais e o Tribunal Administrativo da
Cidade de Maputo constituem órgãos de jurisdição de primeira instância no
âmbito do contencioso administrativo e fiscalização prévia.
4. … .
5. … .
6. … .
ARTIGO 4
(Função jurisdicional)

1. Compete ao Tribunal Administrativo:


a) julgar as acções e recursos que tenham por objecto litígios emergentes
das relações jurídico-administrativas;
b) … ;
c) … .
2. Compete aos tribunais administrativos provinciais e ao Tribunal
Administrativo da Cidade de Maputo:
a) julgar as acções e os recursos que tenham por objecto litígios emergentes
das relações jurídico-administrativas em primeira instância;
b) … ;
c) a fiscalização prévia, através do Visto, dos actos e contratos dos órgãos e
entidades sob a sua jurisdição;
d) a efectivação da responsabilidade por infracção financeira no âmbito da
sua actuação.

ARTIGO 5
(Limites da jurisdição)

Encontram-se excluídas da jurisdição do Tribunal Administrativo, dos


tribunais administrativos provinciais e do Tribunal Administrativo da Cidade
de Maputo, a apreciação e decisão relativas a:
a) … ;
b) … ;
c) … ;
d) … ;
e) … ;
f) … ;
g) … .

ARTIGO 13
(Declaração de ilegalidade de normas)

1. … .
2. … .
3. Sempre que motivos de equidade ou interesse público, de excepcional
relevo, assim o exijam, pode o Tribunal Administrativo, em decisão
especificamente fundamentada, atribuir os efeitos da declaração à data da
entrada em vigor da norma ou a momento posterior.
4. A retroactividade prevista no número anterior não afecta, os casos
julgados, excepto decisão em contrário do Tribunal Administrativo, sempre
que a norma respeitar a matéria sancionatória e for menos favorável ao
administrado.
5. Excluem-se do regime de declaração de ilegalidade determinado neste
preceito a inconstitucionalidade das leis e a ilegalidade dos actos
normativos dos órgãos do Estado.
ARTIGO 15
(Direito subsidiário)

São aplicáveis ao Tribunal Administrativo, aos tribunais administrativos


provinciais e ao Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo, quanto ao
que não se achar especialmente previsto, as disposições relativas aos
tribunais judiciais, com as devidas adaptações.

ARTIGO 19
(Preenchimento das secções)

1. … .
2. … .
3. … .
4. … .
5. … .
6. Revogado.

ARTIGO 20
(Nomeação, demissão, posse e exercício do cargo de presidente)

1. … .
2. … .
3. O Presidente do Tribunal Administrativo só pode ser demitido ou
suspenso do exercício das suas funções por incapacidade física ou psíquica
comprovada ou por grave motivo de ordem moral, disciplinar e criminal.
4. … .

ARTIGO 23
(Competências do presidente)

1. … .
a) … ;
b) … ;
c) … ;
d) … ;
e) … ;
f) … ;
g) … ;
h) … ;
i) … ;
j) conferir posse e demitir os juízes-presidentes dos tribunais administrativos
provinciais, do Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo, dos tribunais
fiscais e dos tribunais aduaneiros;
k) … ;
l) … ;
m) … ;
n) nomear, conferir posse, demitir e exonerar o Secretário-Geral do Tribunal
Administrativo;
o) … ;
p) fazer as nomeações, demissões e propostas que por lei lhe forem
conferidas;
q) emitir directivas e instruções de carácter genérico, dirigidas aos tribunais
administrativos provinciais, ao Tribunal Administrativo da Cidade de
Maputo, aos tribunais fiscais e aos tribunais aduaneiros com vista a uma
maior eficácia e qualidade da administração da justiça;
r) … .
2. … .
3. … .

ARTIGO 26
(Competência do Plenário)

1. Compete ao Plenário apreciar em matéria de facto e de direito:


a) … ;
b) … ;
c) … ;
d) … ;
e) os recursos dos acórdãos das secções que, em relação ao mesmo
fundamento de direito e na ausência de alteração substancial de
regulamentação jurídica, perfilhem solução oposta à de acórdãos das
mesmas secções;
f) … ;
g) … ;
h) … ;
i) … ;
j) … .;
k) outros recursos e pedidos conferidos por lei.
2. … .
SECÇÃO III
Contencioso Administrativo

ARTIGO 28
(Competência da Primeira Secção)

Compete à Secção do Contencioso Administrativo conhecer:


a) … ;
b) … ;
c) os recursos dos acórdãos dos tribunais administrativos provinciais e do
Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo;
d) … ;
e) … ;
f) … ;
g) … ;
h) outros recursos e pedidos que lhe forem confiados por lei.
SECÇÃO V
Secção de Contas Públicas

ARTIGO 33
(Competências da Subsecção de Fiscalização Prévia da Secção de Contas
Públicas)

1. Compete à Secção das Contas Públicas no âmbito da fiscalização prévia,


através do visto, verificar a conformidade com as leis em vigor e o cabimento
orçamental, dos seguintes actos praticados por órgãos de soberania ou seus
titulares, pelo Primeiro-Ministro e por membros do Conselho de Ministros:
a) … ;
b) … ;
c) … ;
d) … .
2. Compete ainda a esta Secção, conhecer dos recursos interpostos dos
tribunais administrativos provinciais e do Tribunal do Administrativo da
Cidade de Maputo, no âmbito da fiscalização prévia.

ARTIGO 34
(Competências da Subsecção de Fiscalização Concomitante e Sucessiva da
Secção de Contas Públicas)

Compete à Subsecção de Fiscalização Concomitante e Sucessiva da Secção


das Contas Públicas no âmbito das receitas e das despesas públicas:
a) … ;
b) … ;
c) … ;
d) conhecer e decidir sobre outras matérias atribuídas por lei.
e) revogada.

ARTIGO 39
(Funções)

Os tribunais administrativos provinciais e o Tribunal Administrativo da


Cidade de Maputo são órgãos de jurisdição administrativa, de primeira
instância, com competências em matéria de contencioso administrativo e da
fiscalização prévia, através do visto, nos termos da lei.

ARTIGO 40
(Recursos)

1. Das decisões dos tribunais administrativos provinciais e do Tribunal


Administrativo da Cidade de Maputo, no âmbito do contencioso
administrativo, cabe recurso para a Primeira Secção, tanto em matéria de
facto como em matéria de direito.
2. … .
3. Das decisões dos tribunais administrativos provinciais e do Tribunal
Administrativo da Cidade de Maputo, no âmbito da Fiscalização Prévia, cabe
recurso à Secção de Contas Públicas, que julga em segunda e última
instância.

ARTIGO 41
(Âmbito territorial)

1. … .
2. … .
3. O Tribunal Administrativo Provincial e o Tribunal Administrativo da Cidade
de Maputo podem organizar-se em secções, sempre que o volume, a
complexidade da actividade jurisdicional e outras circunstâncias relevantes
o justifiquem.

ARTIGO 43
(Constituição)

1. O Tribunal Administrativo Provincial e o Tribunal Administrativo da Cidade


de Maputo é composto por quatro juízes, sendo um deles o presidente do
tribunal.
2. … .
ARTIGO 44
(Período de mandato)

O mandato do juiz-presidente do Tribunal Administrativo Provincial e do


Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo é de cinco anos, podendo ser
renovado por uma só vez, por igual período.

ARTIGO 45
(Competências do juiz-presidente)

1. Compete aos juízes presidentes dos tribunais administrativos provinciais


e do Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo:
a) … ;
b) … ;
c) … ;
d) … ;
e) … ;
f) nomear, colocar, transferir, promover, exonerar e praticar, em geral, todos
os actos de idêntica natureza, referentes aos funcionários dos respectivos
tribunais, desde que não se trate de matérias da competência do Conselho
Superior da Magistratura Judicial Administrativa;
g) … ;
h) … .
2. … .
ARTIGO 46
(Funcionamento)
1. … .
2. … .
3. O Tribunal Administrativo Provincial e o Tribunal Administrativo da Cidade
de Maputo apenas podem deliberar validamente com pelo menos três
quartos do seu efectivo.
4. … .
5. … .
6. … .

ARTIGO 47
(Cartório e serviços de apoio)

1. Em cada Tribunal Administrativo Provincial e Tribunal Administrativo da


Cidade de Maputo há um cartório chefiado por um escrivão de direito.
2. … .
3. … .

ARTIGO 50
(Competências em razão da matéria)

1. No âmbito do contencioso administrativo, compete aos tribunais


administrativos Provinciais e ao Tribunal Administrativo da Cidade de
Maputo conhecer:
a) os recursos de actos administrativos ou em matéria administrativa
praticados por qualquer autoridade não compreendida nas alíneas a) e b),
do n.º 1 do artigo 26 e nas alíneas a) e b), do artigo 28 da presente Lei;
b) … ;
c) … ;
d) … ;
e) … ;
f) … ;
g) … ;
h) … ;
i) … ;
j) … ;
k) … ;
l) … ;
m) … ;
n) … ;
o) … ;
p) … .
2. No âmbito da fiscalização prévia, compete aos tribunais administrativos
provinciais e ao Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo verificar,
através do visto, a conformidade com as leis em vigor dos actos e contratos
constantes das alíneas a), b), c) e d) do artigo 33 da presente Lei, praticados
por autoridades que não sejam o Conselho de Ministros ou o seu titular, o
Primeiro-Ministro e membros do Conselho de Ministros.
3. Revogado.
4. Cabe, ainda, aos tribunais administrativos provinciais e ao Tribunal
Administrativo da Cidade de Maputo, conhecer de outras matérias
conferidas por lei.

ARTIGO 51
(Âmbito da competência territorial)

A jurisdição dos tribunais administrativos provinciais e do Tribunal


Administrativo da Cidade de Maputo exerce-se na área territorial
administrativa definida por lei.

ARTIGO 60
(Categoria dos juízes)

Os juízes dos tribunais administrativos provinciais e do Tribunal


Administrativo da Cidade de Maputo possuem categoria idêntica à de juízes
de direito dos tribunais fiscais e aduaneiros, bem como dos tribunais judiciais
provinciais.

ARTIGO 62
(Composição e funcionamento)

1. Para efeitos de direcção do aparelho judiciário administrativo, o Tribunal


Administrativo dispõe de um aparelho próprio, de carácter administrativo,
integrando o Secretário - Geral e os demais funcionários, subordinados ao
Presidente do Tribunal Administrativo.
2. … .
ARTIGO 65
(Composição e funcionamento)

1. O Conselho Judicial dos tribunais administrativos é constituído pelo


Presidente do Tribunal Administrativo, pelos presidentes das secções do
Tribunal Administrativo, pelos juízes - presidentes dos tribunais
administrativos provinciais, Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo,
pelos juízes-presidentes tribunais fiscais e tribunais aduaneiros e pelo
Secretário - Geral do Tribunal Administrativo.
2. … .
3. O Conselho Judicial dos tribunais administrativos reúne-se,
ordinariamente, uma vez ao ano e, extraordinariamente, sempre que tal se
justifique, mediante convocatória do Presidente do Tribunal Administrativo,
ou a requerimento de, pelo menos, um terço dos seus membros.
4. … .
5. … .
ARTIGO 66
(Competência do Conselho Judicial dos tribunais administrativos)

a) … ;
b) … ;
c) … ;
d) … ;
e) apreciar a proposta do orçamento anual dos Tribunais Administrativos
Provinciais, do Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo, dos Tribunais
Fiscais e Tribunais Aduaneiros;
f) … .

ARTIGO 67
(Competência)

Compete, ao Presidente do Tribunal Administrativo na direcção do aparelho


judiciário administrativo, designadamente:
a) … ;
b) presidir ao Conselho Judicial dos tribunais administrativos;
c) controlar a execução das decisões do Conselho Judicial dos tribunais
administrativos;
d) … ;
e) … .

ARTIGO 69
(Representação)

1. … .
2. … .
3. Nos tribunais administrativos provinciais e no Tribunal Administrativo da
Cidade de Maputo, o Ministério Público é representado por Procuradores da
República, de nível provincial.

ARTIGO 71
(Serviços)

O Tribunal Administrativo, os tribunais administrativos provinciais e o


Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo dispõem de secretarias,
cartórios e outros serviços de apoio, nos termos a definir por diploma
próprio.

ARTIGO 72
(Assessores)

Sempre que o volume ou a complexidade do serviço o justificar, são


nomeados no Tribunal Administrativo, nos Tribunais Administrativos
Provinciais, no Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo, nos Tribunais
Fiscais e nos Tribunais Aduaneiros, assessores técnicos para coadjuvarem os
juízes no exercício de funções.
ARTIGO 76
(Tribunais administrativos provinciais e Tribunal Administrativo da Cidade
de Maputo)

Enquanto não entrarem em funcionamento os tribunais administrativos


provinciais e o Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo, as suas
competências são exercidas pelo Tribunal Administrativo.

ARTIGO 77
(Jurisdição provisória)

Transitoriamente, enquanto não funcionarem todos os tribunais


administrativos provinciais e o tribunal Administrativo da Cidade de Maputo,
ou, a qualquer momento, verificando-se interesse ou interesses relevantes
por parte da Administração Pública, a jurisdição territorial de um tribunal
administrativo pode abranger mais do que uma província.” Artigo 2 (Entrada
em vigor) A presente Lei entra em vigor na data da sua publicação.

ARTIGO 2
(Entrada em vigor)

A presente Lei entra em vigor na data da sua publicação.

ARTIGO 3
(Republicação)

É republicada, em anexo à presente Lei, da qual faz parte integrante, a Lei


n.º 24/2013, de 1 de Novembro, com a redacção actual.
Aprovada pela Assembleia da República, aos 29 de Julho de 2015.
A Presidente da Assembleia da República , Verónica Nataniel Macamo
Ndlovo.
Promulgada, aos 1 de Setembro 2015.
Publique-se.
O Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi.
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA
_____

Havendo necessidade de regular a organização, composição e


funcionamento do Conselho Superior da Magistratura Judicial
Administrativa, ao abrigo do disposto no n.º 2 do artigo 232, conjugado com
o n.º 1 do artigo 179, ambos da Constituição, a Assembleia da Repúbli ca
determina:

CAPÍTULO I
Disposições gerais

SECÇÃO I
Natureza e composição

ARTIGO 1
(Natureza)

1. O Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa é o órgão de


gestão e disciplina dos juízes da jurisdição administrativa, fiscal e aduaneira.
2. O Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa exerce,
também, jurisdição sobre os funcionários de justiça nos termos constantes
da lei.

ARTIGO 2
(Composição)

1. O Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa tem a


seguinte composição:
a) o Presidente do Tribunal Administrativo, que o preside;
b) dois membros designados pelo Presidente da República, sendo um deles
magistrado judicial administrativo;
c) três membros eleitos pela Assembleia da República, segundo o critério de
representação proporcional;
d) dois juízes conselheiros do Tribunal Administrativo, eleitos pelos seus
pares;
e) três juízes eleitos pelos seus pares, de entre os juízes dos tribunais
administrativos, fiscais e aduaneiros.
2. Fazem também parte do Conselho Superior da Magistratura Judicial
Administrativa quatro oficiais de justiça, sendo um em representação do
Tribunal Administrativo e os restantes em representação dos tribunais
administrativos, fiscais e aduaneiros, todos eleitos pelos pares de cada
instituição a que pertençam.
ARTIGO 3
(Mandato)

1. À excepção do Presidente, cujo mandato é regulado nos termos da Lei


Orgânica da Jurisdição Administrativa, os membros do Conselho Superior da
Magistratura Judicial Administrativa exercem o respectivo mandato por um
período de cinco anos, sendo permitida a reeleição.
2. Findo o mandato, os membros cessantes mantêm-se em funções até à
tomada de posse dos novos membros.

ARTIGO 4
(Substituição do Presidente)

O Presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa


é substituído, nas suas faltas, ausências e impedimentos, pela ordem
seguinte:
a) pelo Juiz Conselheiro, membro do Conselho, mais antigo no exercício das
respectivas funções junto do Tribunal Administrativo;
b) pelo Juiz Conselheiro, membro do Conselho, de maior idade, se todos os
juízes conselheiros possuírem a mesma antiguidade.

ARTIGO 5
(Requisitos para a eleição)

Podem ser eleitos para o Conselho Superior da Magistratura Judicial


Administrativa, apenas os juízes e oficiais de justiça de nomeação definitiva
e em efectividade de funções.

SECÇÃO II
Processo eleitoral dos juízes e oficiais de justiça

ARTIGO 6
(Comissão eleitoral)

Para a eleição dos membros mencionados nas alíneas d) e e) do n.º 1 e no n.º


2 do artigo 2, funciona junto do Tribunal Administrativo uma Comissão
Eleitoral constituída pelos membros a seguir indicados, designados pelo
Presidente do Tribunal Administrativo:
a) um Juiz Conselheiro do Tribunal Administrativo;
b) um juiz de direito do Tribunal Administrativo Provincial;
c) um juiz profissional do Tribunal Fiscal;
d) um juiz profissional do Tribunal Aduaneiro;
e) um secretário judicial do Tribunal Administrativo.
ARTIGO 7
(Processo para a eleição)

A Comissão Eleitoral envia a cada eleitor um boletim de voto de onde consta


a lista completa dos magistrados de cada escalão e categorias de tribunais
e dos oficiais de justiça que reúnam os requisitos fixados no artigo 5, bem
como o prazo em que deve ter lugar a votação.

ARTIGO 8
(Forma de votação)

1. A votação é nominal e faz-se através da devolução do boletim de voto


devidamente preenchido, em carta fechada, à Comissão Eleitoral, no prazo
que tiver sido fixado, sob registo postal.
2. O voto deve estar contido num envelope separado e sem qualquer
indicação.

ARTIGO 9
(Contagem de votos)

Terminado o prazo referido nos artigos precedentes, a Comissão Eleitoral


procede à abertura das cartas e à contagem dos votos.

Artigo 10
(Apuramento dos resultados)

1. Finda a contagem, são eleitos os magistrados e funcionários que obtiveram


o maior número de votos validamente expressos.
2. O cargo de membro do Conselho Superior da Magistratura Judicial
Administrativa não pode ser recusado, excepto em casos devidamente
fundamentados.

ARTIGO 11
(Fiscalização e homologação)

Cabe ao Presidente do Tribunal Administrativo assegurar a fiscalização do


acto eleitoral, decidir sobre as eventuais reclamações e homologar os
resultados da eleição.
CAPÍTULO II
Competência, organização e funcionamento

SECÇÃO I
Competência

ARTIGO 12
(Competência)

1. Compete ao Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa:


a) pronunciar-se, mediante solicitação do Presidente da República, sobre a
nomeação do Presidente do Tribunal Administrativo;
b) propor ao Presidente da República a nomeação dos juízes conselheiros
do Tribunal Administrativo;
c) apreciar o mérito profissional dos juízes da jurisdição administrativa, fiscal
e aduaneira e exercer a acção disciplinar relativamente a eles;
d) nomear, colocar, transferir, promover e exonerar os juízes da jurisdição
administrativa, fiscal e aduaneira e, em geral, praticar todos os actos de
idêntica natureza respeitantes aos magistrados;
e) conhecer dos recursos das decisões em matéria administrativa e
disciplinar dos presidentes e juízes dos tribunais da jurisdição
administrativa, fiscal e aduaneira;
f) apreciar o mérito profissional e exercer a acção disciplinar sobre os
funcionários de justiça, sem prejuízo da competência disciplinar atribuída
aos juízes;
g) ordenar inquéritos, inspecções e sindicâncias aos serviços do Tribunal
Administrativo, dos tribunais administrativos provinciais e da Cidade de
Maputo, dos tribunais Fiscal e Aduaneiro;
h) elaborar e aprovar o Regulamento Interno do Conselho Superior da
Magistratura Judicial Administrativa;
i) analisar o projecto de orçamento anual do Conselho Superior da
Magistratura Judicial Administrativa;
j) pronunciar-se sobre os pedidos de aposentação e jubilação de juízes do
Tribunal Administrativo, dos tribunais administrativos provinciais e da
Cidade de Maputo, dos tribunais Fiscal e Aduaneiro;
k) aprovar o traje profissional dos magistrados judiciais administrativos e
funcionários de justiça;
l) exercer as demais competências conferidas por lei.
2. O Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa pode delegar
no Presidente e em outros dos seus membros a competência para a prática
de actos de gestão corrente relativos a juízes.
3. Em caso de urgência, a Comissão Permanente pode praticar actos da
competência do Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa,
submetendo-os à ratificação deste na primeira sessão.
4. As deliberações sobre mérito e disciplina produzem, nos quadros de
origem dos juízes em comissão de serviço, efeitos iguais aos que teriam se
proferidos pelos competentes órgãos.
SECÇÃO II
Organização e funcionamento

ARTIGO 13
(Funcionamento e periodicidade das sessões)

1. O Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa funciona


em Plenário e em Comissão Permanente.
2. O Plenário reúne-se, ordinariamente, três vezes por ano e,
extraordinariamente, sempre que necessário, mediante convocação do
Presidente ou a requerimento de, pelo menos, dois terços dos seus
membros;
3. A Comissão Permanente reúne-se, ordinariamente, uma vez por mês e,
extraordinariamente, sempre que se mostre necessário, mediante
convocação do Presidente ou a requerimento de, pelo menos, dois terços
dos seus membros.

ARTIGO 14
(Composição da Comissão Permanente)

1. A Comissão Permanente do Conselho Superior da Magistratura Judicial


Administrativa é constituída por cinco membros, sendo:
a) Presidente do Tribunal Administrativo;
b) um dos designados pelo Presidente da República;
c) um dos eleitos pela Assembleia da República;
d) um Juiz Conselheiro do Tribunal Administrativo;
e
e) um juiz de entre os juízes dos Tribunais Administrativo Provincial, Fiscal
e Aduaneiro.
2. Os membros previstos nas alíneas b), c), d) e e) do n.º 1 do presente artigo
são eleitos na primeira sessão Plenária do Conselho Superior da Magistratura
Judicial Administrativa.
3. Cabe ao Presidente do Tribunal Administrativo presidir às sessões da
Comissão Permanente.

ARTIGO 15
(Competência da Comissão Permanente)

Compete à Comissão Permanente executar as deliberações do Plenário e


exercer as funções que lhe tenham sido atribuídas pelo Conselho Superior
da Magistratura Judicial Administrativa.
Artigo 16
(Deliberação)

1. Os órgãos do Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa


só podem funcionar validamente achando-se presentes, pelo menos, dois
terços dos seus membros.
2. As deliberações dos órgãos do Conselho Superior da Magistratura Judicial
Administrativa são tomadas por maioria simples dos votos.

ARTIGO 17
(Comparticipação dos membros do Conselho Superior da Magistratura
Judicial Administrativa)

Os membros do Conselho Superior de Magistratura Judicial Administrativa


têm direito a uma senha de presença, cujo montante é fixado pelo Governo.

ARTIGO 18
(Forma e publicação das deliberações)

As deliberações do Conselho Superior da Magistratura Judicial


Administrativa revestem a forma de Resolução e são publicadas no Boletim
da República, I Série.

ARTIGO 19
(Competências do Presidente)

1. Compete ao Presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial


Administrativa:
a) representar o Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa;
b) convocar e presidir às respectivas sessões;
c) superintender nos serviços administrativos do Conselho Superior da
Magistratura Judicial Administrativa;
d) exercer as funções que lhe forem delegadas pelo Conselho Superior da
Magistratura Judicial Administrativa;
e) dirigir e coordenar a inspecção judicial;
f) nomear o Secretário-Geral do Conselho Superior da Magistratura Judicial
Administrativa;
g) exercer as demais funções conferidas por lei.
2. O Presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial
Administrativa pode delegar no Secretário-Geral do Conselho a
competência para prática de determinados actos conexionados com os
serviços administrativos deste órgão.
3. As decisões do Presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial
Administrativa têm a forma de Despacho e são publicadas no Boletim da
República, I Série.
ARTIGO 20
(Secretaria)

1. O Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa dispõe de


Secretaria própria, dirigida por um Secretário-Geral.
2. Compete ao Secretário-Geral do Conselho Superior da Magistratura
Administrativa:

a) dirigir os serviços da Secretaria;


b) submeter ao Presidente os assuntos que careçam de decisão superior;
c) lavrar as actas das sessões do Conselho Superior da Magistratura Judicial
Administrativa;
d) executar e fazer executar as deliberações do Conselho Superior da
Magistratura Administrativa e as decisões do Presidente;
e) preparar projectos dos orçamentos do Conselho Superior da Magistratura
Judicial Administrativa;
f) organizar e manter actualizados os processos individuais, cadastro e
registo biográfico dos juízes dos Tribunal Administrativo, dos tribunais
administrativos provinciais e da Cidade de Maputo e dos tribunais Fiscal e
Aduaneiro;
g) autorizar as despesas variáveis do orçamento dentro dos limites e
parâmetros a fixar pelo Presidente do Conselho;
h) exercer as demais funções conferidas por lei.

CAPÍTULO III
Inspecção Judicial Administrativa

SECÇÃO I
Objectivos

ARTIGO 21
(Objectivos)

A inspecção judicial administrativa prossegue, entre outros, os seguintes


objectivos:
a) fiscalizar o funcionamento dos Tribunal Administrativo, dos tribunais
administrativos provinciais e da Cidade de Maputo, dos tribunais Fiscal e
Aduaneiro e a actividade dos respectivos magistrados;
b) identificar as dificuldades e as necessidades dos órgãos judiciais
administrativos, fiscais e aduaneiros;
c) colher informações sobre o serviço e mérito dos magistrados judiciais
administrativos e dos oficiais de justiça;
d) verificar o grau de cumprimento dos programas e actividades dos
tribunais administrativos, fiscais e aduaneiros;
e) dispensar apoio aos magistrados judiciais administrativos com vista a
superarem as suas dificuldades técnico-profissionais.
SECÇÃO II
Estrutura e funcionamento

ARTIGO 22
(Estrutura e funcionamento)

A estrutura e funcionamento da inspecção judicial são definidos pelo


Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa.

ARTIGO 23
(Competências)

1. Compete aos serviços de inspecção judicial:


a) facultar ao Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa e à
direcção do aparelho judiciário administrativo, fiscal e aduaneiro a
informação do estado das necessidades e das deficiências dos serviços
judiciais administrativos, fiscais e aduaneiros a fim de os habilitar a tomar as
providências necessárias;
b) colher informações sobre o serviço dos magistrados judiciais
administrativos, fiscais e aduaneiros e dos funcionários de justiça;
c) fiscalizar a contabilidade e tesouraria do Tribunal Administrativo, dos
tribunais administrativos provinciais e da Cidade de Maputo e dos tribunais
Fiscal e Aduaneiro;
d) analisar os relatórios anuais e o desempenho mensal dos juízes e propor
ao Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa as respectivas
classificações.
2. A inspecção destinada a colher informações sobre o serviço e o mérito
dos magistrados judiciais administrativos, fiscais e aduaneiros não pode ser
feita por inspector de categoria ou antiguidade inferior às dos magistrados
inspeccionados.

ARTIGO 24
(Inspectores)

As inspecções aos juízes do Tribunal Administrativo, dos tribunais


administrativos provinciais e da Cidade de Maputo, dos tribunais Fiscal e
Aduaneiro são efectuadas por juízes da jurisdição administrativa, fiscal e
aduaneira, designados pelo Conselho Superior da Magistratura Judicial
Administrativa.
SECÇÃO III
Processo disciplinar

ARTIGO 25
(Instrução)

Os processos disciplinares, de inquérito e de sindicância são instruídos por


juízes do Tribunal Administrativo, dos tribunais administrativos provinciais e
da Cidade de Maputo, dos tribunais Fiscal e Aduaneiro, designados pelo
Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa.

SECÇÃO IV
Recursos

ARTIGO 26
(Recurso para o Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa)

1. Das decisões do Presidente e das deliberações da Comissão Permanente é


admissível recurso para o Plenário.
2. Em matérias relativas a funcionários de justiça, o recurso é restrito a
deliberações de natureza disciplinar que tenham aplicado pena de gravidade
igual ou superior à de transferência compulsiva.

ARTIGO 27
(Recurso para o Plenário do Tribunal Administrativo)

1. Das deliberações do Conselho Superior da Magistratura Judicial


Administrativa, é admissível recurso para o Plenário do Tribunal
Administrativo.
2. Na apreciação do recurso referido no número anterior não podem
participar os juízes do Tribunal Administrativo que intervieram na
deliberação recorrida.

ARTIGO 28
(Prazos)

1. O prazo para a interposição de recurso para o Conselho Superior da


Magistratura judicial Administrativa é de quinze dias, a contar da data da
notificação da deliberação.
2. Ao recurso para o Plenário do Tribunal Administrativo é aplicável o regime
do recurso contencioso.

ARTIGO 29
(Efeitos)

1. O recurso para o Conselho Superior da Magistratura Judicial


Administrativa tem efeito suspensivo.
2. O recurso para o Plenário do Tribunal Administrativo tem efeito
devolutivo, nos termos da lei que regula o processo administrativo
contencioso.

ARTIGO 30
(Interposição)

1. A interposição do recurso é feita mediante petição dirigida ao Conselho


Superior da Magistratura Judicial Administrativa ou ao Plenário do Tribunal
Administrativo, consoante se trate de decisão do Presidente ou da Comissão
Permanente ou de deliberação do Conselho Superior da Magistratura
Judicial Administrativa.
2. O recurso considera-se interposto na data da entrada da petição na
Secretaria do Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa ou
da entrada na Secretaria Geral do Tribunal Administrativo.

ARTIGO 31
(Requisitos da petição)

1. Da petição devem constar a deliberação recorrida, os fundamentos de


facto e de Direito e a formulação clara e precisa do pedido.
2. A petição deve ser instruída com documento comprovativo do acto
objecto de recurso e com todos os documentos probatórios.
3. No caso de, por motivo justificado, não tiver sido possível obter os
documentos no prazo legal, pode ser requerido prazo para a sua posterior
apresentação.

ARTIGO 32
(Tramitação dos recursos)

Aplicam-se aos recursos para o Conselho Superior da Magistratura Judicial


Administrativa e para o Plenário do Tribunal Administrativo os preceitos
relativos ao recurso gracioso e ao recurso contencioso, respectivamente.

ARTIGO 33
(Custas e demais encargos)

É aplicável ao recurso contencioso o regime das custas judiciais privativo


do Tribunal Administrativo.
CAPÍTULO IV
Disposições finais e transitórias

ARTIGO 34
(Disposição transitória)

1. Enquanto não for aprovado o Estatuto dos Magistrados Judiciais


Administrativos, os processos disciplinares, de inquérito e de sindicância são
regulados subsidiariamente pelo Estatuto dos Magistrados Judiciais.
2. O mandato previsto no artigo 3 da presente Lei não se aplica aos membros
do Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa em exercício.

ARTIGO 35
(Revogação)

É revogada a Lei n.º 9/2009, de 11 de Março.

ARTIGO 36
(Entrada em vigor)

A presente Lei entra em vigor na data da sua publicação.

Aprovada pela Assembleia da República, aos 7 de Agosto de 2013. — A


Presidente da Assembleia da República, Verónica Nataniel Macamo Dlhovo.
Promulgada aos 10 de Setembro de 2013.
Publique-se.
O Presidente da República, ARMANDO EMÍLIO GUEBUZA.
Havendo necessidade de proceder à revisão da Lei n.º 2/2004, de 21 de
Janeiro, que aprova a organização, composição, funcionamento e
competências dos tribunais fiscais, ao abrigo do disposto no número 1, do
artigo 179, conjugado com o número 2, do artigo 223, ambos da Constituição
da República, a Assembleia da República determina:

CAPÍTULO I
Disposições Gerais

ARTIGO 1
(Definição)

Os tribunais fiscais são órgãos de soberania competentes para administrar a


justiça nos litígios decorrentes das relações jurídico-fiscais.

ARTIGO 2
(Função jurisdicional)

Cabe aos tribunais fiscais assegurar a defesa dos direitos e interesses


legalmente protegidos, reprimir a violação da legalidade e dirimir os
conflitos de interesse público e privado, no âmbito das relações jurídico-
fiscais.

ARTIGO 3
(Constitucionalidade)

Os tribunais fiscais não devem aplicar normas e princípios que contrariem a


Constituição da República.

ARTIGO 4
(Fixação da competência)

1. A competência dos tribunais fiscais fixa-se no momento da propositura da


causa, sendo irrelevantes as modificações de facto que ocorram
posteriormente.
2. São igualmente irrelevantes as modificações de direito, excepto se for
suprido o tribunal a que a causa estava afecta, se deixar de ser competente
em razão da matéria e da hierarquia, ou se lhe for atribuída competência de
que inicialmente carecesse para conhecimento da causa.

ARTIGO 5
(Limites de jurisdição)

Estão excluídos da jurisdição dos tribunais fiscais as acções e os recursos


que tenham por objecto:
a) os actos praticados no exercício da função política e da responsabilidade
pelos danos decorrentes do mesmo exercício;
b) os actos emergentes do exercício da função legislativa e da
responsabilidade pelos danos decorrentes do mesmo exercício;
c) os actos relativos à instrução criminal e ao exercício da acção penal que
não constituam infracções jurídico-fiscais, previstas em legislação especial e
demais legislação tributária;
d) a qualificação de bens como pertencendo ao domínio público e actos de
delimitação destes como bens de outra natureza;
e) as questões de direito privado, ainda que qualquer das partes seja pessoa
de direito público;
f) os actos cuja a competência é de outros tribunais.

ARTIGO 6
(Questões prejudiciais)

1. Sempre que o conhecimento da acção ou do objecto do recurso dependa


de decisão de uma questão da competência de outros tribunais, o juiz pode
sobrestar na decisão até que o tribunal competente se pronuncie.
2. A lei processual fixa os efeitos da inércia dos interessados quanto à
instauração e ao andamento do processo relativo à questão prejudicial.

ARTIGO 7
(Alçada)

Na jurisdição fiscal não há alçada.

ARTIGO 8
(Âmbito de cognição)

A jurisdição fiscal conhece da matéria de facto e de direito, em qualquer


instância.

ARTIGO 9
(Recursos)

1. Das decisões dos tribunais fiscais cabe recurso para a Segunda Secção do
Tribunal Administrativo, em matéria de facto e em matéria de direito.
2. Das decisões da Segunda Secção, proferidas nos termos do número 1, do
presente artigo, cabe recurso ao Plenário do Tribunal Administrativo em
matéria de direito.

ARTIGO 10
(Direito subsidiário)

São subsidiariamente aplicáveis aos tribunais fiscais:


a) as disposições relativas ao Tribunal Administrativo, aos tribunais
aduaneiros, aos tribunais administrativos provinciais e aos tribunais judiciais,
com as necessárias adaptações;
b) em matéria processual, as disposições legais do Código do Processo Civil
e do Contencioso Administrativo, com as necessárias adaptações.

ARTIGO 11
(Intervenção de técnicos)

A lei processual fixa os casos e a forma de intervenção de técnicos para


prestarem assistência aos juízes, aos represen-tantes do Ministério Público e
da Fazenda Nacional.

CAPÍTULO II
Organização, Composição, Funcionamento, Competências e Recrutamento

Secção I
Organização

ARTIGO 12
(Órgãos da jurisdição)

1. Constituem órgãos da jurisdição fiscal:


a) o Tribunal Administrativo, em Plenário, como última instância;
b) o Tribunal Administrativo, Segunda Secção, como segunda instância;
c) os tribunais fiscais, como primeira instância.
2. Exceptua-se do disposto na alínea a), do número 1, do presente arti go, os
recursos dos actos do Conselho de Ministros e do Primeiro-Ministro relativos
às questões fiscais, em que o Plenário funciona em instância única.

ARTIGO 13
(Tribunais fiscais)

1. São instituídos os tribunais fiscais em cada uma das províncias do País e


na Cidade de Maputo.
2. Cada tribunal fiscal pode organizar-se em secções, sempre que o volume,
a complexidade da actividade jurisdicional e outras circunstâncias o
justifiquem.

ARTIGO 14
(Sede jurisdicional)

1. O tribunal fiscal de Província tem a sua sede na respectiva capital


provincial.
2. O Tribunal Fiscal da Cidade de Maputo tem a sua sede na Cidade de
Maputo.
3. Excepcionalmente, sempre que o volume processual ou motivos
ponderosos o justifiquem, a sede do tribunal fiscal pode ser diversa da
capital provincial.
Secção II
Composição e funcionamento

ARTIGO 15
(Composição)

1. O tribunal fiscal é constituído por três juízes de direito, sendo um deles o


presidente do tribunal.
2. Se junto do tribunal fiscal funcionarem secções, aplica-se à sua
composição o disposto no número 1, do presente artigo, nomeando-se os
respectivos presidentes, cuja função respeita exclusivamente as actividades
de carácter jurisdicional da mesma.

ARTIGO 16
(Funcionamento)

1. O tribunal fiscal delibera validamente, estando devidamente constituído,


excepto nos casos previstos na presente lei ou em que o tribunal decide com
um juiz singular.
2. Quando o tribunal funcione em colectivo, todos os juízes intervêm na
análise e decisão sobre a matéria de facto e de direito.
3. Nos casos referidos no número 2, do presente artigo, as decisões são
tomadas por maioria simples de votos, tendo Juiz-Presidente do tribunal ou
da secção onde correm os autos voto de qualidade, em caso de empate.
4. O tribunal fiscal pode funcionar em turnos todos os dias, incluindo
sábados, domingos, feriados e período de férias judiciais para dirimir
questões urgentes.

ARTIGO 17
(Funcionamento do juiz singular)

1. O tribunal fiscal funciona com um juiz singular:


a) nos recursos e outras impugnações relativas à infracções tributárias
formais simples;
b) no julgamento de processos urgentes;
c) nos casos de caducidade do direito ao recurso;
d) em casos de desistência, falta do pagamento do preparo inicial e
inutilidade superveniente da lide;
e) nas acções para reconhecimento de direitos ou interesses legalmente
protegidos em matéria fiscal;
f) nos pedidos de providências cautelares, para garantia de créditos fiscais;
g) nos pedidos de produção antecipada de prova, formulados em processo
neles pendentes ou a instaurar em qual-quer tribunal fiscal.
2. Sem prejuízo do disposto no número 1, do presente artigo, o juiz da causa
pode submeter os processos à conferência, sempre que julgue necessário,
atento à complexidade das matérias a dirimir, caso em que o julgamento é
colegial.
ARTIGO 18
(Distribuição)

A distribuição de processos é feita em termos equitativos pelo Juiz-


Presidente do tribunal.

ARTIGO 19
(Audiências)

1. As audiências preliminares são feitas sob presidência do juiz relator a


quem for distribuído o processo.
2. As audiências de discussão e julgamento são feitas sob presidência do juiz
presidente do tribunal ou de secção ou seu substituto.

ARTIGO 20
(Cartório e serviços de apoio)

1. Em cada tribunal fiscal há um cartório chefiado por um escrivão de direito.


2. Em cada tribunal fiscal funciona um Serviço de Apoio Administrativo,
dirigido por um chefe, nomeado pelo Presidente do Tribunal Administrativo,
sob proposta do juiz-presidente do respectivo tribunal.
3. Sempre que o volume, a complexidade de trabalho ou outras
circunstâncias o justifiquem, pode ser criada uma secretaria geral chefiada
por um secretário judicial, nomeado pelo Presidente do Tribunal
Administrativo, sob proposta do Juiz - Presidente do respectivo tribunal.

Secção III
Competências

ARTIGO 21
(Competências em razão da matéria)

1. Compete aos tribunais fiscais conhecer:


a) dos processos relativos a infracções jurídico-fiscais de qualquer natureza,
incluindo os crimes tributários não aduaneiros;
b) dos recursos dos actos de liquidação de tributos, incluindo os parafiscais;
c) dos recursos dos actos de fixação de valores patrimoniais;
d) dos recursos dos actos de determinação da matéria colectável,
susceptíveis de impugnação judicial autónoma;
e) dos recursos dos actos preparatórios em matéria tributária, susceptíveis
de impugnação judicial autónoma;
f) dos recursos dos actos relativos à aplicação de multas e sanções
acessórias, pela prática de infracções tributárias formais;
g) dos recursos dos actos praticados pela entidade competente nos
processos de execução fiscal;
h) dos incidentes, embargo de terceiros, verificação e graduação de
créditos, anulação de venda, oposições e impugnações de actos lesivos, e
ainda quanto a todas as questões relativas à legitimidade dos responsáveis
subsidiários suscitadas;
i) dos pedidos de intimação de autoridade administrativa para facultar a
consulta de documentos ou processos e passar certidões, em matéria fiscal,
a fim de permitir aos requerentes o uso de meios admi nistrativos ou
contenciosos;
j) das acções para reconhecimento de direitos ou interesses legalmente
protegidos em matéria fiscal;
k) dos pedidos de providência cautelar para garantia de créditos fiscais;
l) da cobrança coerciva de custas e multas aplicadas pelos tribunais fiscais;
m) dos pedidos de produção antecipada de prova formulados em processo
neles pendentes ou a instaurar em qual-quer tribunal fiscal;
n) do pedido de execução das suas decisões;
o) das demais matérias que lhes forem confiadas por lei.
2. Compete ainda aos tribunais fiscais cumprir os mandados emitidos pela
Segunda Secção e pelo Plenário do Tribunal Administrativo e satisfazer as
diligências solicitadas por carta, ofício ou outros meios de comunicação
permitidos por lei, que lhes sejam dirigidos por outros tribunais fiscais.
3. Os recursos previstos no presente artigo não estão dependentes do
esgotamento das vias graciosas, salvo nos casos previstos na lei.
4. O disposto no número 1, do presente artigo, não abrange matérias
respeitantes ao contencioso aduaneiro.

ARTIGO 22
(Competência territorial)

1. Compete aos tribunais fiscais de Província e da Cidade de Maputo julgar


em primeira instância os actos praticados na área territorial da sua
jurisdição.
2. Compete ainda julgar os actos objecto de recurso referente à infracção
fiscal ou execuções fiscais nos termos da lei.

ARTIGO 23
(Competência internacional)

1. O pacto destinado a privar de jurisdição os tribunais fiscais moçambicanos,


quando a estes estiver cometida competência jurisdicional nos termos das
disposições sobre competência internacional dos tribunais da República de
Moçambique é nulo e de nenhum efeito.
2. É igualmente, aplicável o disposto no número 1, do presente artigo, nos
casos dos pactuantes serem estrangeiros e de tratar de obrigações que
devam ser cumpridas no território fiscal moçambicano, mesmo que
respeitem a bens situados, registados ou matriculados em país estrangeiro.

ARTIGO 24
(Competências do Juiz-Presidente)

1. Compete ao Juiz-Presidente:
a) representar o tribunal e assegurar as suas relações com os demais órgãos
de soberania e quaisquer autoridades públicas;
b) dirigir o tribunal, superintender os seus serviços e assegurar o seu
funcionamento normal;
c) presidir a sessão de distribuição de processos;
d) relatar e dirigir a tramitação dos processos adstritos à respectiva secção;
e) exercer a acção disciplinar sobre os funcionários do tribunal e aplicar as
respectivas sanções, nos termos da lei, excepto os oficiais de justiça e
assistentes dos oficiais de justiça;
f) conferir posse aos funcionários do tribunal;
g) nomear, colocar, transferir, promover, exonerar e praticar, em geral, todos
os actos de idêntica natureza, referentes aos funcionários do tribunal,
excepto os oficiais de justiça e assistentes dos oficiais de justiça;
h) elaborar relatórios anuais sobre o estado dos serviços, no modelo a
aprovar pelo Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa;
i) exercer as demais funções que lhe sejam atribuídas por lei.
2. O juiz-presidente pode delegar as suas competências para a prática de
determinados actos, não relacionados com a função jurisdicional a qualquer
dos juízes ou no secretário judicial, quando for o caso.

ARTIGO 25
(Competências do Juiz-Presidente de secção)

Compete ao Juiz-Presidente de secção:


a) relatar e dirigir a tramitação dos processos adstritos à sua secção;
b) supervisionar o trabalho do escrivão e dos funcionários afectos ao
cartório da secção;
c) prestar informação sobre a actividade jurisdicional realizada na secção;
d) exercer as demais funções que lhe sejam atribuídas por lei.

ARTIGO 26
(Competências do juiz singular)

Compete ao juiz singular:


a) decidir sobre os processos que lhe sejam distribuídos, relativos às
matérias previstas no ARTIGO 17, da presente Lei;
b) exercer as demais competências nos termos da lei.

Secção IV
Ingresso na Carreira de Juiz

ARTIGO 27
(Requisitos de ingresso)

1. Os juízes dos tribunais fiscais são recrutados mediante concurso público.


2. São requisitos para nomeação de juízes de tribunais fiscais:
a) ser cidadão moçambicano;
b) estar no pleno gozo dos direitos civis e políticos;
c) idade superior ou igual a vinte e cinco anos;
d) licenciatura em direito;
e) ter sido aprovado em curso específico de ingresso reconhecido pelo
Conselho Superior de Magistratura Judicial Administrativa;
f) satisfazer os demais requisitos estabelecidos na lei para a nomeação e o
exercício da função pública.
ARTIGO 28
(Nomeação)

1. Os juízes dos tribunais fiscais são nomeados pelo Conselho Superior da


Magistratura Judicial Administrativa, seleccionados de entre os melhores
classificados na última fase do concurso de ingresso, nos termos referido no
artigo 27, da presente lei.
2. Compete ao Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrati va, a
nomeação de Juiz-Presidente de tribunal fiscal e de Juiz-Presidente de
secção.

ARTIGO 29
(Posse)

O juiz presidente do tribunal fiscal toma posse perante o Presidente do


Tribunal Administrativo, cabendo àquele conferir posse aos restantes juízes
dos respectivos tribunais.

Secção V
Estatuto dos Juízes

ARTIGO 30
(Período do mandato)

O mandato do Juiz-Presidente do tribunal fiscal é de cinco anos, podendo


ser renovado por uma só vez, por igual período.

ARTIGO 31
(Classificação e avaliação dos juízes)

Os juízes dos tribunais fiscais são classificados e avaliados pelo Conselho


Superior de Magistratura Judicial Administrativa.

ARTIGO 32
(Substituição dos juízes)

Compete ao Conselho Superior de Magistratura Judicial Administrativa,


determinar a substituição de Juiz - Presidente do tribunal, de Juiz-Presidente
de secção e demais juízes nas suas faltas, ausências e impedimentos.
ARTIGO 33
(Afectação temporária de juízes)

1. Quando as necessidades de serviço de um tribunal fisca o impuserem,


podem ser afectos, temporariamente, um ou mais juízes para apoiarem os
existentes.
2. Compete ao Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa
proceder à afectação referida no número 1,do presente artigo, a pedido
expresso e fundamentado do Juiz- -Presidente do tribunal fiscal.

ARTIGO 34
(Direito subsidiário)

1. É aplicável aos juízes dos tribunais fiscais, com as devidas adaptações, o


Estatuto dos Magistrados Judiciais até que seja aprovado o regime privativo
da Magistratura Judicial Administrativa.
2. Os juízes fiscais gozam de protecção dos direitos e regalias adquiridos,
nos termos da lei.

CAPÍTULO III
Ministério Público e Fazenda Nacional

Secção I
Ministério Público

ARTIGO 35
(Funções)

1. Compete ao Ministério Público nos termos da lei:


a) representar o Estado;
b) zelar pela observância da legalidade e fiscalizar o cumprimento das leis e
demais normas legais;
c) dirigir a instrução preparatória;
d) exercer a acção penal;
e) representar os ausentes, incertos e incapazes, actuando sempre
oficiosamente;
f) participar nas audiências, colaborando no esclarecimento da verdade e
enquadramento legal dos factos, podendo para o efeito fazer directamente
perguntas e promover a realização de diligências que visem a descoberta da
verdade material;
g) recorrer das decisões do tribunal;
h) fiscalizar os actos processuais dos órgãos da Administração Tributária;
i) velar para que as decisões do tribunal sejam estritamente cumpridas;
j) exercer as demais funções previstas na lei.
2. O Ministério Público é sempre ouvido nos processos fiscais antes de ser
proferida decisão sobre qualquer questão controvertida, nos termos da lei
processual, a não ser que intervenha na posição de recorrente ou recorrido,
assuma a posição de uma das partes no processo ou seja evidente o
fundamento da decisão.
3. Sempre que, em determinado processo, houver incompatibilidades entre
as diversas funções atribuídas ao Ministério Público, estas são
desempenhadas por diferentes agentes, designados pelo Procurador-Geral
da República.
ARTIGO 36
(Representação do Ministério Público)

1. O Ministério Público é representado:


a) no Tribunal Administrativo, em Plenário, pelo Procurador-Geral da
República;
b) no Tribunal Administrativo, na Segunda Secção, pelos Procuradores-
Gerais Adjuntos, designados pelo Procurador-Geral da República;
c) nos tribunais fiscais por procuradores de nível provincial, designados pelo
Procurador-Geral da República.
2. Em caso de ausência ou impedimento do Procurador-Geral da República,
este é substituído pelo Vice-Procurador-Geral e este pelo Procurador-Geral
Adjunto.

Secção II
Fazenda Nacional

ARTIGO 37
(Funções)

1. A Fazenda Nacional defende os seus legítimos interesses na jurisdição


fiscal mediante representantes, licenciados em direito, que assumem a
posição processual de parte.
2. Compete ao representante da Fazenda Nacional, nos termos da lei:
a) representar a administração tributária e, nos termos da lei, quaisquer
outras entidades públicas nos recursos, acções, providências cautelares de
natureza judicial, meios acessórios de intimação, produção antecipada de
prova, anulação de venda e quanto à questões relativas à legitimidade dos
responsáveis subsidiários;
b) recorrer e intervir em patrocínio da administração tributária e, nos termos
da lei, de quaisquer outras entidades públicas na posição de recorrente ou
recorrida;
c) praticar quaisquer outros actos previstos na lei.
3. Quando a representação da administração tributária e outras entidades
públicas não for a do representante da Fazenda Nacional, as competências
deste são exercidas pelo mandatário judicial que for designado.

ARTIGO 38
(Representação da Fazenda Nacional)

1. A Fazenda Nacional como auxiliar do Ministério Público é representada:


a) no Plenário do Tribunal Administrativo, pelo Presidente da Autoridade
Tributária;
b) na Segunda Secção do Tribunal Administrativo,pelo Director Nacional da
Área Fiscal;
c) nos tribunais fiscais, pelo respectivo representante para a Área Fiscal.
2. Podem os titulares fazerem-se representar através dos sectores
institucionalmente encarregues de investigação da fraude fiscal ou
assistência jurídica da Autoridade Tributária, expressamente mandatados
para o efeito.
ARTIGO 39
(Poderes)

Os Representantes da Fazenda Nacional gozam de poderes e faculdades


consagradas na lei.

CAPÍTULO IV
Disposições Finais e Transitórias

ARTIGO 40
(Custas e encargos)

1. Os processos relativos à jurisdição fiscal estão sujeitos a custas e demais


encargos.
2. Enquanto não for aprovado o diploma relativo às custas, é aplicado com
as necessárias adaptações, a legislação relativa as custas do Tribunal
Administrativo.

ARTIGO 41
(Instalação de tribunais fiscais)

A entrada em funcionamento dos tribunais fiscais e a sua organização em


secções são determinadas pelo Presidente do Tribunal Administrativo, sob
proposta do Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa.

ARTIGO 42
(Jurisdição territorial transitória)

1. Enquanto não funcionarem todos os tribunais fiscais, a jurisdição territorial


de um tribunal pode abranger mais do que uma província.
2. O âmbito da jurisdição referida no número 1, do presente artigo, é fixado
por despacho do Presidente do Tribunal Administrativo.

ARTIGO 43
(Vogais)

É extinta a categoria de vogais nos tribunais fiscais.

ARTIGO 44
(Legislação supletiva)

O Diploma Legislativo n.º 783, de 18 de Abril de 1942 e o Código das


Execuções Fiscais, aprovado pelo Decreto n.º 38.088, de 12 de Dezembro de
1950, mantem-se em vigor enquanto não for aprovada uma legislação
especial.
ARTIGO 45
(Vogais em exercício de funções)

1. Os vogais nomeados e em exercício de funções nos tri-bunais fiscais


podem, querendo, ser submetidos a um concurso documental para a sua
nomeação como juízes profissionais fiscais, pelo Conselho Superior da
Magistratura Judicial Administrativa.
2. Os vogais que não quiserem ingressar para a carreira profissional de juízes
profissionais fiscais, continuam em exercício de funções, em outras
categorias e carreiras existentes no tribunal fiscal, respectivo.
3. A presente Lei salvaguarda a manutenção, nos tribunais fiscais, querendo,
dos vogais nomeados e em exercício de funções nos referidos tribunais à
data da entrada em vigor da presente Lei.
4. O Presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial
Administrativa nomeia uma comissão para efectivar o previsto no número 1,
do presente artigo, no prazo de 60 dias a contar da data da entrada em vigor
da presente Lei.

ARTIGO 46
(Norma revogatória)

É revogada a Lei n.º 2/2004, de 21 de Janeiro, que aprova a Organização,


Composição, Funcionamento e Competências dos Tribunais Fiscais e todas
as normas que contrariem a presente Lei.

ARTIGO 47
(Entrada em vigor)

A presente Lei entra em vigor 15 dias após a sua publicação.


Aprovada pela Assembleia da República, aos 4 de Abril de 2018.
A Presidente da Assembleia da República, Verónica Nataniel Macamo
Dlhovo.
Promulgada, aos 13 de Agosto de 2018.
Publique-se.
O Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi.
Havendo necessidade de proceder à revisão da Lei n.º 10/2001, de 7 de
Julho, que aprova a organização, composição, funcionamento e
competências dos tribunais aduaneiros, ao abrigo do disposto no número 1,
do artigo 179, conjugado com o número 2, do artigo 223, ambos da
Constituição da República, a Assembleia da República determina:

CAPÍTULO I
Disposições Gerais

ARTIGO 1
(Definição)

Os tribunais aduaneiros são órgãos de soberania especificamente investidos


na função de julgar as infracções tributárias aduaneiras e dirimir litígios
sobre matéria relativa à legislação aduaneira.

ARTIGO 2
(Âmbito territorial)

Os tribunais aduaneiros exercem a sua jurisdição na respectiva área


territorial.

ARTIGO 3
(Normas e princípios inconstitucionais)

Os tribunais aduaneiros não devem aplicar normas e princípios que ofendam


a Constituição da República.

ARTIGO 4
(Fixação da competência)

1. A competência dos tribunais aduaneiros fixa-se no momento da


propositura da causa, sendo irrelevantes as modificações de facto que
ocorram posteriormente.
2. São igualmente irrelevantes as modificações de direito, excepto se for
suprido o tribunal a que a causa está afecta, se deixar de ser competente em
razão da matéria e da hierarquia, ou se for atribuída competência de que
inicialmente carecesse para conhecimento da causa.

ARTIGO 5
(Limites de jurisdição)

Estão excluídos da jurisdição dos tribunais aduaneiros as acções e os


recursos que tenham por objecto:
a) os litígios que respeitem à administração aduaneira no âmbito do
contencioso administrativo, excepto os de natureza técnica e administrativa
aduaneiras;
b) os actos relativos à instrução criminal e ao exercício da acção penal que
não constituam infracções aduaneiras previstas em legislação especial e
demais legislação tributária;
c) a classificação e actos de delimitação de bens como pertencendo ao
domínio público, exceptuando os casos de confisco, perda e abandono
previstos na legislação aduaneira;
d) a questão de direito privado, ainda que qualquer das partes seja pessoa
de direito público;
e) os actos cuja apreciação pertença por lei à competência de outros
tribunais.

ARTIGO 6
(Questões prejudiciais)

1. Quando o conhecimento do objecto da acção ou do recurso depender da


decisão de uma questão para a qual sejam competentes outros tribunais ou
a autoridade alfandegária, o juiz pode sobrestar a sua decisão até que a
instância competente se pronuncie.
2. A lei processual fixa os efeitos da inércia dos interessados quanto à
instauração e ao andamento do processo relativo à questão prejudicial.

ARTIGO 7
(Alçada)

Na jurisdição aduaneira não há alçada.

ARTIGO 8
(Âmbito de cognição)

A jurisdição aduaneira conhece da matéria de facto e de direito, em qualquer


instância.

ARTIGO 9
(Recursos)

1. Das decisões dos tribunais aduaneiros cabe recurso para a Segunda Secção
do Tribunal Administrativo, tanto em matéria de facto, como de direito.
2. Das decisões da Segunda Secção, proferidas nos termos do número 1, do
presente artigo, cabe recurso para o Plenário do Tribunal Administrativo em
matéria de direito.

ARTIGO 10
(Direito subsidiário)

São subsidiariamente aplicáveis aos tribunais aduaneiros:


a) as disposições relativas ao Tribunal Administrativo, aos tribunais fiscais,
aos tribunais administrativos provinciais e aos tribunais judiciais, com as
necessárias adaptações.
b) em matéria processual, as disposições legais do Código do Processo Civil
e do Contencioso Administrativo.

ARTIGO 11
(Intervenção de técnicos)

A lei processual fixa os casos e a forma de intervenção de técnicos para


prestarem assistência aos juízes, aos representantes do Ministério Público e
da Fazenda Nacional.

CAPÍTULO II
Organização, Composição, Funcionamento, Competências e Recrutamento

Secção I
Organização

ARTIGO 12
(Órgãos de jurisdição)

1. Constituem órgãos da jurisdição aduaneira:


a) o Tribunal Administrativo, em Plenário, como última instância;
b) o Tribunal Administrativo, Segunda Secção, como segunda instância;
c) os tribunais aduaneiros, como primeira instância.
2. Exceptua-se do disposto na alínea a), do número 1, do presente artigo, os
recursos dos actos do Conselho de Ministros e do Primeiro-Ministro, relativos
às questões aduaneiras, em que o Plenário funciona em instância única.

ARTIGO 13
(Tribunais aduaneiros)

1. São instituídos os tribunais aduaneiros em cada uma das províncias do País


e na Cidade de Maputo.
2. Cada tribunal aduaneiro pode organizar-se em secções sempre que o
volume, a complexidade da actividade jurisdicional ou outras circunstâncias
o determinem.

ARTIGO 14
(Sede jurisdicional)

1. Cada tribunal aduaneiro tem a sua sede na respectiva capital provincial.


2. O Tribunal Aduaneiro da Cidade de Maputo tem a sua sede na Cidade de
Maputo.
3. Excepcionalmente, sempre que motivos ponderosos, designadamente o
volume processual e o funcionamento dos serviços alfandegários
justificarem, a sede do tribunal aduaneiro pode ser diversa da sede da
capital provincial.
Secção II
Composição e funcionamento

ARTIGO 15
(Composição)

1. O tribunal aduaneiro é constituído por três juízes de direito, sendo um


deles, o presidente do tribunal.
2. Se junto do tribunal aduaneiro funcionarem secções, aplica-se à sua
composição o disposto no número 1, do presente artigo, nomeando-se os
respectivos presidentes, cuja função respeita exclusivamente as
actividades de carácter jurisdicional da mesma.

ARTIGO 16
(Funcionamento)

1. O tribunal aduaneiro delibera validamente, estando devidamente


constituído, excepto nos casos previstos na lei ou em que o tribunal decide
com juiz singular.
2. Quando o tribunal funcione em colectivo, todos os juízes intervêm na
análise e decisão sobre a matéria de facto e de direito.
3. Nos casos referidos no número 2, do presente artigo, as decisões são
tomadas por maioria simples de votos, tendo o juiz-presidente do tribunal
ou de secção onde correm os autos, voto de qualidade, em caso de empate.
4. O tribunal aduaneiro pode funcionar em turnos todos os dias, incluindo
sábados, domingos, feriados e período de férias judiciais para dirimir
questões urgentes.

ARTIGO 17
(Funcionamento do juiz singular)

O tribunal aduaneiro funciona com juiz singular:


a) no julgamento de processos urgentes;
b) nas acções e recursos sobre os litígios de natureza técnica e
administrativa;
c) nos processos de transgressões;
d) nos processos com despachos de indiciação com efeito de sentença.

ARTIGO 18
(Cartório e serviços de apoio)

1. Em cada tribunal aduaneiro há um cartório chefiado por um escrivão de


direito.
2. Em cada tribunal aduaneiro funciona um Serviço de Apoio Administrativo,
dirigido por um Chefe, nomeado pelo Presidente do Tribunal Administrativo,
sob proposta do juiz-presidente do respectivo tribunal.
3. Sempre que o volume, a complexidade de trabalho ou outras
circunstâncias justificarem, pode ser criada uma secretaria-geral, chefiada
por um secretário judicial, nomeado pelo Presidente do Tribunal
Administrativo, sob proposta do juiz-presidente do respectivo tribunal.

Secção III
Competências

ARTIGO 19
(Competências em razão da matéria)

1. Compete aos tribunais aduaneiros conhecer e decidir sobre os processos


de infracções tributárias aduaneiras, litígios de natureza técnica e
administrativa aduaneira, e demais matérias que lhes forem confiadas por
lei.
2. Consideram-se litígios de carácter técnico aduaneiro, os respeitantes a
aplicação da legislação técnica aduaneira, especificamente, valorização das
mercadorias, classificação pautal dos bens e casos omissos na pauta
aduaneira.
3. Consideram-se litígios de natureza administrativa, os que respeitam à
actividade administrativa aduaneira, incluindo os resultantes da aplicação da
legislação relativa aos regimes aduaneiros suspensivos.
4. Compete ainda aos tribunais aduaneiros, cumprir os mandados emitidos
pela Segunda Secção e pelo Plenário do Tribunal Administrativo, bem como
satisfazer as diligências solicitadas por carta, ofício ou outros meios de
comunicação permitidos por lei, dirigidos por outros tribunais aduaneiros.

ARTIGO 20
(Competência territorial)

Os processos da competência dos tribunais aduaneiros são julgados em


primeira instância pelo tribunal cuja área provincial se consumou a infracção
aduaneira, ou onde deve instaurar-se ou foi instaurada a execução ou os
actos conexionados com esta.

ARTIGO 21
(Competências de instrução preparatória)

A instrução preparatória dos processos, no âmbito da jurisdição aduaneira é


dirigida pelo Ministério Público, sendo assistido pelo representante da
Fazenda Nacional para a área aduaneira, através dos sectores
institucionalmente encarregues de investigação da fraude aduaneira ou de
assistência jurídica às Alfândegas.

ARTIGO 22
(Competência internacional)

1. Em questões derivadas da legislação aduaneira não tem validade o pacto


destinado a privar de jurisdição os tribunais aduaneiros moçambicanos,
quando a estes estiver cometida competência internacional nos tribunais em
Moçambique.
2. O disposto no número 1, do presente artigo, aplica-se também no caso de
os pactuantes serem estrangeiros e de se tratar de obrigações que devam
ser cumpridas no território aduaneiro moçambicano, ainda que respeitem a
bens situados, registados ou matriculados em país estrangeiro.

ARTIGO 23
(Competências do juiz presidente)

1. Compete ao Juiz-Presidente do tribunal aduaneiro:


a) representar o tribunal e assegurar as suas relações com os demais órgãos
de soberania e autoridades públicas;
b) dirigir o tribunal, superintender os serviços e assegurar o seu
funcionamento;
c) presidir a sessão de distribuição de processos;
d) relatar e dirigir a tramitação dos processos adstritos à respectiva secção;
e) exercer acção disciplinar sobre os funcionários do tribunal e aplicar as
respectivas penas, nos termos da lei, excepto os oficiais de justiça e
assistentes dos oficiais de justiça;
f) nomear, conferir posse, transferir, promover, exonerar e praticar, em geral,
todos os actos de idêntica natureza, referentes aos funcionários do tribunal,
excepto dos oficiais de justiça e de assistentes dos oficiais de justiça;
g) determinar e apresentar as propostas que por lei lhe competem;
h) elaborar relatórios anuais sobre o estado dos serviços, de modelo a
aprovar pelo Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa;
i) exercer outras atribuições conferidas por lei.
2. O juiz-presidente pode delegar as suas competências para a prática de
determinados actos, não conexos com a função jurisdicional, a qualquer juiz
ou secretário judicial, quando for o caso.

ARTIGO 24
(Competências do juiz-presidente de secção)

Compete ao juiz-presidente de secção:


a) relatar e dirigir a tramitação dos processos adstritos à secção;
b) supervisionar o trabalho do escrivão e do oficial de diligências afecto à
secção;
c) prestar informação sobre a actividade jurisdicional realizada na sua
secção;
d) exercer outras atribuições conferidas por lei.

ARTIGO 25
(Competências do juiz singular)

Compete ao juiz singular:


a) decidir sobre os processos que lhe sejam distribuídos, relativos às
matérias previstas no artigo 17, da presente Lei;
b) exercer as demais atribuições conferidas por lei.
Secção IV Recrutamento e estatuto dos juízes
ARTIGO 26
(Requisitos para ingresso)

1. Os juízes dos tribunais aduaneiros são recrutados mediante concurso


público.
2. São requisitos para nomeação de juiz dos tribunais aduaneiros:
a) ser cidadão moçambicano;
b) estar no pleno gozo dos direitos civis e políticos;
c) ter mais de vinte e cinco anos de idade;
d) ser licenciado em direito;
e) ter sido aprovado em curso específico de ingresso reconhecido pelo
Conselho Superior de Magistratura Judicial Administrativa;
f) satisfazer os demais requisitos estabelecidos na lei para a nomeação e o
exercício da função pública.
3. O processo de concurso é organizado pelo Conselho Superior da
Magistratura Judicial Administrativa e é presidido por um Juiz-Conselheiro
do Tribunal Administrativo.

ARTIGO 27
(Nomeação)

1. Os juízes de direito dos tribunais aduaneiros são nomeados pelo Conselho


Superior da Magistratura Judicial Administrativa, seleccionados de entre os
melhores classificados na última fase do processo de concurso público,
referido no artigo 26, da presente Lei.
2. Os juízes-presidentes e os demais presidentes de secção dos tribunais
aduaneiros são nomeados pelo Conselho Superior da Magistratura Judicial
Administrativa.

ARTIGO 28
(Posse)

Os juízes-presidentes dos tribunais aduaneiros tomam posse perante o


Presidente do Tribunal Administrativo, cabendo àqueles conferir posse aos
juízes dos respectivos tribunais.

ARTIGO 29
(Duração do mandato)

O mandato do juiz-presidente do tribunal aduaneiro é de cinco anos,


podendo ser renovado por uma só vez, por igual período.

ARTIGO 30
(Classificação e avaliação dos juízes)

Os juízes dos tribunais aduaneiros são classificados e avaliados pelo


Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa.
ARTIGO 31
(Substituição dos juízes)

Compete ao Conselho Superior de Magistratura Judicial Administrativa,


determinar a substituição de juiz-presidente, do presidente de secção e
demais juízes nas suas faltas, ausências e impedimentos.

ARTIGO 32
(Afectação temporária de juízes)

1. Quando as necessidades de serviço de um tribunal aduaneiro se


impuserem, podem ser afectos, temporariamente, um ou mais juízes para
apoiarem os existentes.
2. Compete ao Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa
proceder à afectação referida no número 1, do presente artigo, a pedido
expresso e fundamentado do juiz-presidente do tribunal aduaneiro.

ARTIGO 33
(Estatuto dos juízes)

1. É aplicável aos juízes dos tribunais aduaneiros, com as devidas


adaptações, o Estatuto dos Magistrados Judiciais até que seja aprovado o
regime privativo da Magistratura Judicial Administrativa.
2. Os juízes aduaneiros gozam de protecção, direitos e regalias adquiridos,
nos termos da lei.

CAPÍTULO III
Ministério Público e Fazenda Nacional

Secção I
Ministério Público

ARTIGO 34
(Funções)

1. Ao Ministério Público, nos termos da lei processual, compete:


a) representar o Estado;
b) zelar pela observância da legalidade e fiscalizar o cumprimento das leis e
demais normas legais;
c) dirigir a instrução preparatória;
d) exercer a acção penal;
e) representar os ausentes, incertos e incapazes, actuando sempre
oficiosamente;
f) participar nas audiências, colaborando no esclarecimento da verdade e
enquadramento legal dos factos, podendo para o efeito, fazer directamente
perguntas e promover a realização de diligências que visem a descoberta da
verdade material;
g) recorrer das decisões do tribunal;
h) fiscalizar os actos processuais dos órgãos da Administração Tributária;
i) velar para que as decisões do tribunal sejam estritamente cumpridas;
j) exercer as demais funções previstas na lei.
2. O Ministério Público é sempre ouvido nos processos aduaneiros antes de
ser proferida a decisão sobre qualquer questão controvertida, nos termos da
lei processual, a não ser que intervenha na posição de recorrente ou
recorrido, assuma a posição de uma das partes no processo ou seja evidente
o fundamento da decisão.
3. Sempre que, em determinado processo, houver incompatibilidades entre
as diversas funções atribuídas ao Ministério Público, estas são
desempenhadas por diferentes agentes, designados pelo Procurador-Geral
da República.

ARTIGO 35
(Representação do Ministério Público)

1. O Ministério Público é representado nos tribunais aduaneiros por um


procurador de nível provincial.
2. No Tribunal Administrativo, é representado, em Plenário, pelo Procurador-
Geral da República.
3. O Ministério Público actua oficiosamente e goza de poderes e faculdades
estabelecidas nas leis processuais.

Secção II
Fazenda Nacional

ARTIGO 36
(Funções)

1. A Fazenda Nacional defende os seus legítimos interesses na jurisdição


aduaneira mediante representantes, licenciados em direito, que assumem a
posição processual de parte.
2. Compete aos representantes da Fazenda Nacional, nos termos da lei
processual:
a) representar a Administração Tributária e quaisquer outras entidades
públicas nos recursos, acções, providências cautelares de natureza judicial,
meios acessórios de intimação, produção antecipada de prova, anulação de
venda e quanto à questões relativas à legitimidade dos responsáveis
subsidiários;
b) recorrer e intervir em patrocínio da Administração Tributária de quaisquer
outras entidades públicas na posição de recorrente ou recorrida;
c) praticar quaisquer outros actos previstos na lei.
3. Quando a representação da Administração Tributária e quaisquer outras
entidades públicas não for a de representante da Fazenda Nacional, as
competências deste são exercidas pelo mandatário judicial que aqueles
designarem.
ARTIGO 37
(Representação da Fazenda Nacional)

1. A Fazenda Nacional como auxiliar do Ministério Público é representada:


a) no Plenário do Tribunal Administrativo, pelo Presidente da Autoridade
Tributária;
b) na Segunda Secção do Tribunal Administrativo, pelo Director-Geral das
Alfândegas;
c) nos tribunais aduaneiros, pelo respectivo representante para a área
aduaneira.
2. Podem os titulares fazerem-se representar através dos sectores
institucionalmente encarregues de investigação da fraude aduaneira ou
assistência jurídica da Autoridade Tributária, expressamente mandatados
para o efeito.

ARTIGO 38
(Poderes)

Os representantes da Fazenda Nacional gozam dos poderes e faculdades


consagradas na lei.

CAPÍTULO IV
Disposições Finais e Transitórias

ARTIGO 39
(Custas e encargos)

1. Os processos relativos à jurisdição aduaneira estão sujeitos a custas e


demais encargos.
2. Enquanto não for aprovado o diploma relativo as custas, é aplicado com
as necessárias adaptações, a legislação relativa as custas do Tribunal
Administrativo.

ARTIGO 40
(Instalação de tribunais aduaneiros)

A entrada em funcionamento dos tribunais aduaneiros e a sua organização


em secções são determinadas pelo Presidente do Tribunal Administrativo,
sob proposta do Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa.

ARTIGO 41
(Jurisdição)

1. Transitoriamente, enquanto não entram em funcionamento todos os


tribunais aduaneiros, a jurisdição territorial de um tribunal pode abranger
mais do que uma província.
2. A jurisdição referida no número 1, do presente artigo, é fixada por
despacho do Presidente do Tribunal Administrativo.

ARTIGO 42
(Vogais)

É extinta a categoria de vogais nos tribunais aduaneiros.

ARTIGO 43
(Legislação)

Mantém-se em vigor toda a legislação pertinente enquanto não for aprovada


nova legislação que revogue a do actual Contencioso Aduaneiro,
designadamente as disposições do Decreto n.º 33351, de 21 de Fevereiro de
1944.

Artigo 44
(Norma transitória)

1. Os vogais nomeados e em exercício de funções nos tribunais aduaneiros


podem, querendo, ser submetidos a um concurso documental para a sua
nomeação como juízes profissionais aduaneiros, pelo Conselho Superior da
Magistratura Judicial Administrativa.
2. Os vogais que não pretendem ingressar para a carreira de juízes
profissionais aduaneiros, continuam em exercício de funções, em outras
categorias e carreiras existentes no tribunal aduaneiro, respectivo.
3. A presente Lei salvaguarda a manutenção, querendo, nos tribunais
aduaneiros, dos vogais nomeados e em exercício de funções nos referidos
tribunais à data da entrada em vigor da presente Lei, nos termos previstos.
4. O Presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial
Administrativa nomeia uma comissão para efectivar o previsto no número 2,
do presente artigo, no prazo de 60 dias a contar da data da entrada em vigor
da presente Lei.

ARTIGO 45
(Norma revogatória)

É revogada a Lei n.° 10/2001, de 7 de Julho, que Define a Organização,


Composição, Funcionamento e Competências dos Tribunais Aduaneiros e
todas as normas que contrariem a presente Lei.

ARTIGO 46
(Entrada em vigor)

A presente Lei entra em vigor 15 dias após a sua publicação.


Aprovada pela Assembleia da República, aos 4 de Abril de 2018. — A
Presidente da Assembleia da República, Verónica Nataniel Macamo Dlhovo.
Promulgada, aos 22 de Junho de 2018.
Publique-se.
O Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi.
O controlo da receita e da despesa pública era regulado pelas Leis n.ºs 13/97,
de 10 de Julho, 14/97, de 10 de Julho, e 16/97, de 10 de Julho, sendo
necessário introduzir alterações na organização, funcionamento e ao
processo da Secção de fiscalização das Receitas e das Despesas Públicas
bem como do Visto do Tribunal Administrativo, nos termos do disposto no
n.º 1 do artigo 179 da Constituição, a Assembleia da República determina:

CAPÍTULO I
Disposições gerais

ARTIGO 1
(Âmbito)

A presente Lei aplica-se à organização, funcionamento e ao processo da


Secção de Fiscalização das Receitas e das Despesas Públicas bem como do
Visto do Tribunal Administrativo, tribunais administrativos provinciais e da
Cidade de Maputo.

ARTIGO 2
(Natureza e atribuições)

1. O Tribunal Administrativo de Moçambique tem jurisdição e controlo


financeiros no âmbito de toda a ordem jurídica da República de
Moçambique, tanto em território nacional como no estrangeiro, neste caso
incluindo os serviços, organismos e representações nacionais em
funcionamento no estrangeiro.
2. O Tribunal Administrativo é o órgão supremo e independente de controlo
externo da legalidade e eficiência das receitas e despesas públicas,
julgamento das contas que a lei mandar submeter à efectivação da
responsabilidade financeira por eventuais infracções financeiras.
3. A apreciação da legalidade financeira nos processos de julgamento de
contas ou fora deles, integra a análise da conformidade à lei, bem como da
regularidade e correcção da gestão segundo critérios de economia, eficácia
e eficiência.

ARTIGO 3
(Jurisdição e controlo financeiros)

Sem prejuízo do disposto em outras disposições legais, estão sujeitos à


jurisdição e controlo financeiro do Tribunal Administrativo, dos tribunais
administrativos provinciais e do Tribunal Administrativo da Cidade de
Maputo, todas as entidades a quem forem adjudicados, por qualquer forma,
fundos do Estado, nomeadamente:
a) o Estado e todos os seus serviços;
b) os serviços e organismos autónomos;
c) os órgãos locais representativos do Estado;
d) as autarquias locais, nos termos da lei;
e) as empresas públicas, as sociedades de capitais exclusiva ou
maioritariamente públicos;
f) os exactores, tesoureiros, recebedores, pagadores e mais responsáveis
pela guarda ou administração de dinheiros públicos;
g) os responsáveis por contas relativas a material ou equipamento e
quaisquer entidades que geram ou beneficiem de receitas ou financiamentos
provenientes de organismos internacionais ou das entidades referidas nas
alíneas anteriores, ou obtidos com a intervenção destas, consubstanciados,
nomeadamente em subsídios, empréstimos ou avales;
h) os conselhos administrativos ou comissões administrativas;
i) os administradores, gestores ou responsáveis por dinheiros públicos ou
outros activos do Estado, seja qual for a sua designação, bem como pelos
fundos provenientes do exterior, sob a forma de empréstimos, subsídios,
donativos ou outra;
j) outras entidades ou organismos determinados por lei.

ARTIGO 4
(Colaboração de outras entidades)

1. Todas as entidades públicas ou privadas são obrigadas a fornecer, com


toda a urgência e de preferência a qualquer outro serviço, as informações e
processos que lhes forem pedidos.
2. O Tribunal Administrativo, os tribunais administrativos provinciais e o
Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo podem determinar a
requisição de serviços de inspecção e auditoria aos órgãos de controlo
interno e, bem assim, a contratação de empresas especializadas, com esse
mesmo objectivo.
3. As entidades públicas devem comunicar ao Tribunal Administrativo, aos
Tribunais Administrativos Provinciais e Tribunal Administrativo da Cidade de
Maputo as irregularidades de que tomem conhecimento no exercício das
suas funções, sempre que a apreciação das mesmas caiba no âmbito das
respectivas atribuições e competências.

ARTIGO 5
(Princípio do contraditório)

O Tribunal Administrativo, os tribunais administrativos provinciais e o


Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo conferem o direito de audição
prévia e de defesa aos responsáveis pelas contas e aos eventuais suspeitos
de infracções financeiras, garantindo o contraditório e a ampla defesa.

ARTIGO 6
(Publicidade das decisões)

1. O Relatório e Parecer sobre a Conta Geral do Estado, as decisões do


Tribunal Administrativo com força obrigatória geral, nomeadamente as
instruções do Tribunal Administrativo e as decisões da Secção de Contas
Públicas são públicos.
2. São susceptíveis de publicação as decisões que a Secção de Contas
Públicas do Tribunal Administrativo determine.
3. As decisões a que se refere o número anterior devem ser publicadas no
Boletim da República e na página de Internet do Tribunal Administrativo.

CAPÍTULO II
Organização e funcionamento

SECÇÃO I
Composição

ARTIGO 7
(Estrutura, composição e quórum)

1. A Secção de Contas Públicas do Tribunal Administrativo integra a


Subsecção da Fiscalização Prévia e a Subsecção de Fiscalização
Concomitante e Sucessiva.
2. O julgamento dos processos de fiscalização prévia efectua-se,
diariamente, por um dos juízes da 1.ª Subsecção.
3. A Secção das Contas Públicas funciona em formações jurisdicionais,
integrada por três juízes para efeitos de julgamento de contas.
4. A Secção das Contas Públicas funciona em formações jurisdicionais,
integrada por três juízes, para decisão sobre o Visto, nos casos referidos no
artigo 37.

ARTIGO 8
(Periodicidade das sessões de julgamento)

1. As formações jurisdicionais reúnem-se pelo menos duas vezes por semana,


em sessão ordinária.
2. Extraordinariamente, reúnem-se sempre que convocadas pelo respectivo
Presidente.

ARTIGO 9
(Discussão e aprovação)

1. Os julgamentos em sessão iniciam-se com a apresentação do projecto de


acórdão, após o que se procede à respectiva discussão e aprovação.
2. Na discussão participam o representante do Ministério Público e os juízes.

ARTIGO 10
(Deliberações)

1. As deliberações são tomadas por maioria simples de votos.


2. Os juízes têm o direito de fazer declaração de voto.
ARTIGO 11
(Plenário)

O Plenário do Tribunal Administrativo é a última instância da Secção de


Contas Públicas e tem acomposição e competências definidas por lei.

ARTIGO 12
(Acta e Secretariado das sessões da Secção de Contas Públicas)

1. As sessões são secretariadas pelo Secretário Judicial da Secção de Contas


Públicas do Tribunal Administrativo, sem prejuízo das demais funções que
lhe estão legalmente cometidas.
2. De tudo o que ocorrer nas sessões é lavrada acta pelo Secretário Judicial
da Secção de Contas Públicas, a qual é submetida à aprovação na reunião
seguinte, se o não tiver sido na própria reunião a que se reporta.
3. Nas sessões da Secção de Contas Públicas podem intervir, para prestar
quaisquer informações que lhe sejam solicitadas pelos juízes ou pelo
Ministério Público, o Secretário ou outros funcionários do Tribunal
Administrativo que tenham participado no processo.

ARTIGO 13
(Aplicabilidade de normas aos tribunais administrativos provinciais e
Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo)

É aplicável aos tribunais administrativos provinciais e Tribunal


Administrativo da Cidade de Maputo, com as necessárias adaptações, o
regime estabelecido para a Secção das Contas Públicas do Tribunal
Administrativo.

ARTIGO 14
(Competências das Secções das Contas Públicas)

1. A Secção de Contas Públicas do Tribunal Administrativo é competente


para conhecer os actos sujeitos à jurisdição administrativa praticados por:
a) órgãos centrais do Estado;
b) órgãos regionais do Estado;
c) tribunais superiores de recurso;
d) institutos públicos, empresas públicas e sociedades de capitais exclusiva
ou maioritariamente públicas, de âmbito nacional.
2. Os tribunais administrativos provinciais e o Tribunal Administrativo da
Cidade de Maputo são competentes para conhecer os actos sujeitos à
jusrisdição administrativa praticados por:
a) órgãos locais do Estado;
b) autarquias locais;
c) empresas públicas e sociedades de capitais exclusiva ou maioritariamente
públicas de âmbito local ou autárquico.
SECÇÃO II
Competência

ARTIGO 15
(Competência)

1. Compete ao Tribunal Administrativo:


a) dar parecer sobre a Conta Geral do Estado;
b) fiscalizar, previamente, de modo sistemático, a legalidade e a cobertura
orçamental dos actos e contratos de que resulte receita ou despesa para
alguma das entidades expressamente reservadas por lei como sendo da
competência do Tribunal Administrativo;
c) fiscalizar, sucessiva ou concomitantemente, as entidades definidas por lei
e julgar as respectivas contas;
d) fiscalizar a aplicação dos recursos financeiros externos, nomeadamente
através de empréstimos, subsídios, avales e donativos;
e) aprovar relatórios da verificação externa de contas ou de auditorias;
f) ordenar reposições de recursos irregularmente utilizados;
g) aplicar multas aos responsáveis das quantias em falta;
h) efectivar, reduzir ou relevar a responsabilidade financeira decorrente de
infracções financeiras, contabilísticas e administrativas.
2. No parecer sobre a Conta Geral do Estado o Tribunal Administrativo
aprecia, designadamente:
a) a actividade financeira do Estado no ano a que a Conta se reporta, nos
domínios patrimonial, das receitas e despesas;
b) o cumprimento da Lei do Orçamento e legislação complementar;
c) o inventário do património do Estado;
d) as subvenções, subsídios, benefícios fiscais, créditos e outras formas de
apoio concedidos, directa ou indirectamente.

ARTIGO 16
(Competência complementar)

Compete, ainda, ao Tribunal Administrativo:


a) aprovar os regulamentos internos necessários ao seu funcionamento;
b) emitir e publicar, com carácter imperativo, as instruções indispensáveis
ao exercício da sua competência, nomeadamente no que se refere ao modo
como as contas e os processos devem ser submetidos à sua apreciação;
c) propor as medidas legislativas e administrativas que julgue necessárias e
intervir nos processos legislativos na sua área de actuação.
SECÇÃO III
Dever de colaboração

ARTIGO 17
(Prova, coadjuvação e execução)

1. O tribunal competente pode requisitar aos serviços quaisquer documentos


ou diligências e solicitar os esclarecimentos que entenda indispensáveis e
que são prestados até cinco dias, sob pena de multa ao responsável.
2. Informações e processos pedidos para o exercício da fiscalização prévia
devem ser prestados pelos serviços, funcionários e quaisquer entidades
públicas ou privadas com prioridade sobre qualquer outra actividade.
3. As entidades mencionadas no número anterior são obrigadas a dar
execução aos acórdãos, resoluções, instruções e despachos do Tribunal, sob
pena de desobediência qualificada.

ARTIGO 18
(Competência dos serviços de apoio à Secção de Contas Públicas)

1. Compete aos serviços de apoio à Secção de Contas Públicas, prestar todo


o apoio técnico-administrativo e, designadamente, informar oficiosamente
os actos, contratos e mais instrumentos sujeitos à fiscalização do Tribunal
Administrativo e organizar os respectivos processos.
2. Para os efeitos do número anterior, os serviços podem solicitar os
elementos indispensáveis.

SECÇÃO IV
Ministério Público

ARTIGO 19
(Representação)

1. O Ministério Público é representado junto do Tribunal Administrativo, nos


termos da lei.
2. O Ministério Público intervém em todas as sessões, podendo usar da
palavra e promover o que achar conveniente.
CAPÍTULO III
Do processo relativo à Secção de Contas Públicas e das Secções do Visto

SECÇÃO I
Disposições comuns

ARTIGO 20
(Legislação aplicável)

O processo relativo à Conta Geral do Estado, à fiscalização prévia, à


fiscalização concomitante, à fiscalização sucessiva, bem como às respectivas
responsabilidades financeiras rege-se pela presente Lei e, supletivamente,
pelo Código de Processo Civil, pelas normas relativas aos procedimentos
administrativos e pelo Código de Processo Penal, em matéria sancionatória,
observando--se as necessárias adaptações.

ARTIGO 21
(Distribuição e espécies)

Para efeitos de distribuição, os processos classificam-se em:


a) Conta Geral do Estado;
b) visto;
c) contas de gerência;
d) auditoria;
e) inspecção;
f) multa;
g) recurso;
h) outros processos.

ARTIGO 22
(Relatores)

1. A distribuição é o meio utilizado para designar o Relator do processo.


2. Para efeitos de distribuição e substituição de Relatores, a ordem dos juízes
é sorteada na primeira sessão anual.
3. A distribuição dos processos de visto a serem apreciados em sessão diária
de visto faz-se nos termos previstos no arti- go 34 da presente Lei.

ARTIGO 23
(Direcção processual)

1. Compete à Contadoria da área respectiva dirigir a fase instrutória do


processo.
2. Concluída a fase instrutória e havendo lugar a submissão a julgamento,
compete ao Juiz Relator a preparação para a fase de julgamento.
3. Das decisões proferidas na fase jurisdicional cabe reclamação, sem efeito
suspensivo.
ARTIGO 24
(Audiência dos responsáveis)

O Tribunal Administrativo procede sempre à audição dos responsáveis, salvo


relativamente ao processo de elaboração do relatório e parecer sobre a
Conta Geral do Estado.

ARTIGO 25
(Citação e notificação)

A citação e a notificação são feitas nos termos da Lei de Processo Civil,


podendo o Juiz Relator determinar que sejam efectuadas por agente da
autoridade administrativa ou policial.

ARTIGO 26
(Falta de remessa de elementos)

1. Verificando-se a falta injustificada de remessa de elementos com


relevância para a decisão do processo, o tribunal aprecia livremente essa
conduta, para efeitos probatórios, sem prejuízo de eventual instauração do
processo de multa ou outros e da comunicação às entidades competentes
para o apuramento de responsabilidades.
2. A multa a arbitrar pela falta referida anteriormente, conforme as
circunstâncias a ponderar pelo tribunal, não deve ser inferior a um sexto do
vencimento anual do responsável pelo seu pagamento, a identificar no
respectivo processo, pela primeira vez, e três sextos do vencimento anual,
pela segunda e ulteriores vezes.
3. Seja qual for a situação, o limite máximo da multa não pode ultrapassar o
vencimento total anual do infractor.

ARTIGO 27
(Provas)

Nos processos referidos no artigo 21 da presente Lei só são admitidas a


prova por inspecção, a prova documental e, quando o tribunal o considere
necessário, a prova pericial.

ARTIGO 28
(Audiência de técnicos)

1. Quando num processo se devam resolver questões que pressuponham


conhecimentos especializados, o tribunal pode determinar a intervenção de
técnicos que podem ser ouvidos na discussão.
2. Nas condições do número anterior, o representante do Ministério Público
pode, também, ser assistido por técnicos que são ouvidos na discussão,
quando o tribunal o considerar conveniente.
ARTIGO 29
(Constituição de advogado)

1. É permitida a constituição de advogado em qualquer grau de instância,


nos processos de visto, de julgamento de contas, de julgamento de
responsabilidades financeiras e de multa.
2. No Plenário do Tribunal Administrativo, a constituição de advogado é
obrigatória.

ARTIGO 30
(Contagem dos prazos)

Os prazos são contínuos e interrompem-se até à respectiva satisfação,


sempre que sejam solicitados elementos adicionais ou em falta,
considerados imprescindíveis, ou tendo em vista o suprimento de
deficiências.

ARTIGO 31
(Prazo supletivo)

Quando a lei não especifique, entende-se ser de cinco dias o prazo a


observar em qualquer diligência.

ARTIGO 32
(Execução de decisões condenatórias)

As decisões condenatórias devem ser executadas, quando for caso disso, no


prazo de trinta dias após a notificação do responsável, correndo trâmites
nos tribunais competentes para as execuções fiscais.

ARTIGO 33
(Trânsito em julgado)

As decisões condenatórias transitam em julgado no prazo de dez dias.


SECÇÃO II
Processo de visto

ARTIGO 34
(Distribuição dos processos de visto)

Os processos de visto entrados são distribuídos ao juiz de semana,


devidamente informados pela Contadoria, até ao primeiro dia útil da semana
seguinte ao registo de entrada na Secretaria do tribunal competente.

ARTIGO 35
(Sequência da instrução dos processos)

1. A instrução dos processos faz-se pela ordem de registo de entrada, salvo


nos casos de urgência.
2. Por iniciativa própria ou a requerimento de qualquer entidade, os juízes
podem declarar a urgência de qualquer processo, mediante despacho
fundamentado.
ARTIGO 36
(Prazos)

1. A concessão do visto deve ter lugar no prazo de trinta dias, salvo se forem
solicitados elementos ou informações complementares.
2. Os pedidos de elementos ou informações devem efectuar-se no mesmo
prazo.

ARTIGO 37
(Processo de visto em formação jurisdicional)

Sempre que o juiz a quem foi distribuído o processo entenda que deve ser
recusado o visto ou se suscitem dúvidas acerca da decisão a tomar, o
processo é levado à sessão, para apreciação em conferência, acompanhado
do projecto de acórdão.

ARTIGO 38
(Notificação das decisões em processo de visto)

1. As decisões de recusa de visto em actos e contratos relativos a pessoal


são enviadas, com os respectivos processos, aos serviços que os tiverem
remetido ao tribunal.
2. Todas as decisões são também notificadas aos respectivos interessados e
podem ser publicadas na página de internet do Tribunal.
ARTIGO 39
(Notificação ao Ministério Público)

Os acórdãos de recusa de visto são notificados ao representante do


Ministério Público, junto do tribunal competente, designadamente, para
eventual interposição de recurso, no prazo de cinco dias.
SECÇÃO III
Processos de contas

ARTIGO 40
(Fases processuais)

1. Os processos de contas integram as fases instrutória e de julgamento.


2. A fase instrutória inicia-se com a entrada na Secretaria do expediente
processual, distribuição e designação do Juiz Relator, seguindo-se a
tramitação nos serviços de apoio, a elaboração do relatório técnico final e
organização do processo.
3. A fase de julgamento, com vista à apreciação jurisdicional, inicia-se com a
entrega do processo ao Juiz Relator.

ARTIGO 41
(Apensação de processos)

1. São susceptíveis de apensação as contas de gerência em que se detectem


infracções financeiras continuadas, imputáveis aos mesmos agentes, ou em
que os elementos integrantes da gerência sejam os mesmos.
2. Também podem ser apensadas as contas correspondentes, se útil à
apreciação destas, quando não apurada transgressão à norma legal ou
regulamentar de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional ou
patrimonial.

ARTIGO 42
(Identificação dos responsáveis pelas infracções)

1. Quando detectadas irregularidade nas contas, o relator ou o tribunal deve


definir a responsabilidade individual ou solidária pelo acto de gestão
inquinado.
2. Se houver débito, ordena a citação do responsável para, no prazo
estabelecido no Regimento Interno, apresentar defesa ou cobrar a
importância devida.
3. Caso não haja débito, determina a audiência do responsável para, no prazo
estabelecido no Regimento Interno, apresentar razões justificativas.
4. As contas de gerência que enfermem de irregularidades financeiras que,
simultaneamente, constituam crimes previstos e punidos pela Lei Penal, em
cujo âmbito os autores estejam perfeitamente identificados por sentença
penal transitada em julgado, devem ser objecto de quitação, se os
responsáveis pela gerência forem estranhos aos factos e as contas não
padecerem de outras irregularidades que a isso obstem.
5. De igual modo, são susceptíveis de arquivamento as contas em cujo
âmbito a decisão penal conclua pelo arquivamento do processo-crime, por
impossibilidade de imputação dos factos criminosos ou de identificação dos
seus autores materiais, inexistindo, igualmente, culpa dos responsáveis pela
gerência.
6. Nas circunstâncias previstas no n.ºs 4 e 5 do presente artigo, deve abonar-
se aos responsáveis pela conta os dinheiros e outros valores em falta e
proceder ao ajustamento daquela, por forma a reflectir essa mesma
realidade.

ARTIGO 43
(Decisão em responsabilidade financeira ou juízo de censura)

1. Sempre que da instrução resultem factos que envolvam responsabilidade


financeira ou qualquer juízo de censura, o relator ordena a citação dos
responsáveis para, no prazo de trinta dias, contestarem e apresentarem os
documentos que entendam necessários.
2. Se se tratar de infracções puníveis apenas com multa, é instaurado o
respectivo processo autónomo.

ARTIGO 44
(Conteúdo das decisões)

As decisões desfavoráveis, ainda que consistam num mero juízo de censura,


devem mencionar expressamente a posição adoptada pelos visados, a
propósito dos actos ou omissões que lhes sejam imputados.
SECÇÃO IV
Processo de multa

ARTIGO 45
(Âmbito de aplicação)

As normas da presente secção são aplicáveis ao julgamento de todas as


infracções puníveis com multa, cujo conhecimento seja da competência do
Tribunal Administrativo ou dos tribunais administrativos provinciais e
Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo, para as quais não haja
processo próprio.

ARTIGO 46
(Instauração do processo)

1. O processo de multa é instaurado com base em despacho proferido em


processo adequado, informação da Secretaria ou denúncia.
2. A denúncia é obrigatória para os funcionários e agentes das entidades
sujeitas ao controlo do tribunal competente, quanto aos factos de que
tomarem conhecimento no exercício das suas funções ou por causa delas.
ARTIGO 47
(Intervenção do Ministério Público)

Distribuído e autuado o processo, é dada vista oficiosamente ao Ministério


Público, que pode requerer o que tiver por conveniente, no prazo de oito
dias, a contar da data do respectivo termo de vista.
ARTIGO 48
(Citação)

Logo que o processo contenha elementos para permitir apurar a existência


da infracção, qual o seu autor e em que qualidade, o relator manda citar para
contestar os factos que se lhe imputam, juntar documentos e requerer o que
tiver por conveniente, no prazo de trinta dias, a contar da data da citação.
ARTIGO 49
(Vista ao Ministério Público)

Apresentada a contestação ou decorrido o respectivo prazo sem que esta


tenha sido apresentada, vai o processo com vista ao Ministério Público para
emitir parecer.
ARTIGO 50
(Outros infractores)

Quando da sua instrução resulte que a infracção é susceptível de ser


imputada a outras pessoas, são estas também citadas seguindo-se os demais
termos dos artigos anteriores.

ARTIGO 51
(Pagamento voluntário)

1. O responsável pode pôr termo ao processo, pagando, voluntariamente, o


montante mínimo da multa legalmente fixado, dentro do prazo da
contestação.
2. O juiz julga extinto o procedimento logo que seja junta aos autos a guia
comprovativa do pagamento.

ARTIGO 52
(Suprimento da falta)

1. O pagamento da multa não isenta o infractor da obrigação de suprir a falta


que originou a infracção, se tal for possível.
2. Para o fim do disposto no número anterior, o juiz concede um prazo
razoável, não superior a trinta dias após a decisão.
ARTIGO 53
(Responsabilidade financeira cumulativa)

A condenação em processo de multa não isenta o infractor da


responsabilidade financeira eventualmente decorrente dos mesmos factos.

SECÇÃO V
Outros processos

SUBSECÇÃO
Disposições comuns

ARTIGO 54
(Regime aplicável)

As disposições relativas aos processos de contas ou de multa são aplicáveis,


com as necessárias adaptações, nomeadamente aos seguintes processos:
a) averiguações, inquéritos e auditorias;
b) declaração da impontualidade do julgamento;
c) fixação de débito aos responsáveis ou de declaração de impossibilidade
de julgamento;
d) reforma de processo;
e) embargos à execução de decisão;
f) extinção de fianças, cauções e mais garantias exigíveis aos responsáveis
por dinheiros públicos.
ARTIGO 55
(Inspecções e auditorias)

1. O Tribunal Administrativo, os tribunais administrativos provinciais e o


Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo podem, para além das
auditorias necessárias à verificação externa de contas, realizar, sempre que
o entender, por iniciativa sua ou a pedido da Assembleia da República, do
Governo, do Procurador-Geral da República ou do Provedor de Justiça,
inspecções e auditorias de qualquer tipo ou natureza a determinados actos,
procedimentos ou aspectos da gestão financeira das entidades submetidas
aos seus poderes de controlo externo 2. A fase instrutória das inspecções e
auditorias é concluída com a elaboração e aprovação do relatório final.

Artigo 56
(Conteúdo do relatório de inspecção ou de auditoria)

1. O relatório de inspecção ou de auditoria deve seguir o estabelecido nos


manuais de auditoria do Tribunal Administrativo e conter todos os
elementos que permitam o seu julgamento.
2. Do relatório de inspecção ou de auditoria devem constar, no mínimo, os
seguintes elementos:
a) a entidade que é objecto de inspecção ou auditoria e o período a que as
mesmas respeitam;
b) os métodos e técnicas de verificação utilizados e o universo das
operações seleccionadas;
c) a opinião dos responsáveis em sede do contraditório;
d) o juízo sobre a legalidade e regularidade das operações examinadas e
sobre a consistência, integralidade e fiabilidade das contas e respectivas
demonstrações financeiras, assim como sobre a impossibilidade da sua
verificação, se for o caso;
e) a concretização das situações de facto e de direito integradoras de
eventuais infracções financeiras e seus responsáveis;
f) a apreciação da economia, eficiência e eficácia da gestão financeira e seus
responsáveis;
g) as recomendações com vista a serem supridas as deficiências da
respectiva gestão e funcionamento dos serviços;
h) os emolumentos devidos e outros encargos da responsabilidade da
entidade auditada.

ARTIGO 57
(Auditorias na fiscalização concomitante)

1. O Tribunal Administrativo, os tribunais administrativos provinciais e o


Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo podem realizar auditorias, no
âmbito da fiscalização concomitante, a qualquer momento, em especial nos
seguintes casos:
a) aos procedimentos e actos administrativos que impliquem despesas de
pessoal e aos contratos que não devam ser remetidos para fiscalização
prévia nos termos da lei e, ainda, quanto à execução de contratos visados;
b) à actividade financeira exercida antes do encerramento da respectiva
gerência.
2. Se, nos casos previstos no número precedente, se apurar a ilegalidade de
procedimento pendente ou de acto ou contrato ainda não executado, deve
a entidade competente para autorizar a despesa ser notificada para remeter
o mencionado acto ou contrato à fiscalização prévia e não lhe dar execução
antes do visto, sob pena de responsabilidade financeira.
3. Os relatórios de auditoria realizados nos termos dos números anteriores
podem ser instrumentos de processo de verificação da respectiva conta ou
servir de base a processo de efectivação de responsabilidade ou de multa.

ARTIGO 58
(Notificação ao Ministério Público)

1. O Ministério Público é notificado do relatório aprovado, podendo solicitar


a entrega de todos os documentos ou processos que entenda necessários.
2. O Ministério Público pode realizar as diligências complementares que
entender adequadas que se relacionem com os factos constantes dos
relatórios que lhe sejam remetidos, com a finalidade de serem
desencadeados eventuais procedimentos jurisdicionais.
CAPÍTULO IV
Fiscalização prévia

SECÇÃO I
Objecto, natureza e efeitos

ARTIGO 59
(Conteúdo)

A fiscalização prévia da legalidade das receitas e despesas públicas abrange


a concessão ou recusa do visto nos actos, contratos e mais instrumentos
emanados pelo Estado e demais entidades públicas, traduzindo-se na análise
da sua legalidade e cabimento financeiro e, relativamente aos contratos, na
indagação da observância das condições mais favoráveis para o Estado.

ARTIGO 60
(Âmbito subjectivo)

Estão sujeitos à fiscalização prévia da jurisdição administrativa:


a) o Estado e outras entidades públicas, designadamente os serviços e
organismos inseridos no âmbito da Administração Pública Central, Provincial
e Local, incluindo as dotadas de autonomia administrativa ou financeira e
personalidade jurídica;
b) os institutos públicos;
c) as autarquias locais;
d) outras entidades que a lei determinar.

ARTIGO 61
(Âmbito material)

1. Estão obrigatoriamente sujeitos à fiscalização prévia os seguintes actos,


contratos e mais instrumentos jurídicos geradores de despesa pública,
praticados ou celebrados pelas entidades referidas no artigo anterior:
a) os actos administrativos de provimento de pessoal civil ou militar,
designadamente os relativos às admissões de pessoal não vinculado à
função pública ou para categoria de ingresso, aposentações, reformas, bem
como de atribuição de pensões;
b) o acto de designação dos recebedores, tesoureiros, exactores e demais
responsáveis por dinheiros públicos;
c) os contratos de qualquer natureza ou montante relativos a pessoal, obras
públicas, empréstimos, concessão, fornecimento e prestação de serviços;
d) as minutas de contratos de valor igual ou superior ao valor fixado
anualmente na lei orçamental, sem prejuízo das de valor inferior ficarem
sujeitas à fiscalização sucessiva;
e) as minutas de contratos de qualquer valor que venham a celebrar-se por
escritura pública e cujos encargos tenham de ser satisfeitos no acto da sua
celebração;
f) outros actos que a lei determinar.
2. Os notários não podem lavrar qualquer escritura sem verificar e atestar a
conformidade do contrato com a minuta previamente visada.
3. Nos casos referidos no número precedente, os translados ou certidões são
remetidos ao Tribunal Administrativo, os tribunais administrativos
provinciais e ao Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo nos trinta dias
seguintes à celebração da escritura, acompanhados da respectiva minuta.
4. Incluem-se no âmbito das alíneas c), d) e e) do n.º 1 do presente artigo, os
contratos ou minutas que constituam meras adendas ou adicionais ou se
traduzam em trabalhos a mais, acessórios ou complementares.
5. Estão igualmente sujeitos à fiscalização prévia, para além dos contratos
formais, os documentos escritos avulsos que, conjugados entre si,
consubstanciem um acordo de vontades e um contrato, embora informal.

ARTIGO 62
(Natureza e efeitos do visto)

O visto constitui um acto jurisdicional condicionante da eficácia global dos


actos e mais instrumentos legalmente sujeitos à fiscalização prévia.

ARTIGO 63
(Forma de apreciação dos processos de visto)

Os processos de visto são susceptíveis de apreciação de natureza,


metodologia e complexidade crescentes e incluem:
a) visto;
b) visto tácito;
c) urgente conveniência de serviço;
d) anotação;
e) julgamento.

SECÇÃO II
Instrução dos processos

ARTIGO 64
(Instrução de processos de provimento)

1. O provimento dos lugares do quadro dos serviços é feito através de


diploma individual de provimento e de contrato.
2. Os processos de visto ou contratos, no âmbito do primeiro ou da admissão
de pessoal, devem ser instruídos e enviados ao tribunal competente com os
seguintes documentos, em duplicado:
a) os diplomas de provimento completos e correctamente preenchidos,
designadamente com a indicação da legislação geral e da legislação especial
que fundamentam o provimento e do despacho em que se funda o
provimento, sendo caso disso;
b) declaração do responsável máximo do serviço, no sentido de que foram
cumpridas as formalidades legalmente exigidas para o provimento e o
candidato reúne todos os requisitos legalmente exigidos para o efeito;
c) certidão de registo de nascimento;
d) certificado de habilitações literárias e das qualificações profissionais
legalmente exigidas;
e) certificado de registo criminal;
f) certificado médico comprovativo de possuir a robustez física e sanidade
mental necessárias para o exercício do cargo a prover;
g) documento militar comprovativo do cumprimento das obrigações
militares, quando legalmente sujeito a elas;
h) declaração de não inibição para o exercício de funções públicas,
mormente resultante de eventuais acumulações ou incompatibilidades e
demais restrições legais;
i) nota biográfica donde constem todos os cargos ou funções anteriormente
exercidos na Administração Pública;
j) informação de cabimento de verba pelos departamentos ou serviços
competentes;
k) aviso de abertura de concurso e comprovativo da competência para o
efeito, sendo caso disso.
3. Os provimentos relativos a indivíduos detentores de qualidade de
funcionários devem apenas ser instruídos com os documentos
especialmente exigidos para o efeito, face à natureza do acto.

ARTIGO 65
(Instrução de processos não relativos a pessoal)

1. Os contratos não relativos a pessoal devem ser instruídos com os


documentos seguintes, em duplicado, devidamente autenticados com o selo
branco em uso no respectivo serviço:
a) aviso de abertura do concurso público ou autorização de dispensa do
mesmo;
b) caderno de encargos, sendo caso disso;
c) acta da abertura das propostas;
d) prova do cumprimento das obrigações fiscais, designadamente do
pagamento do imposto de selo;
e) despachos de adjudicação e outros, devidamente autenticados pelos
serviços remetentes.
2. Os contratos definitivos são, ainda, acompanhados de documento donde
constem:
a) a identificação do ministério ou outra instituição onde se insere o serviço
ou organismo;
b) a data da sua celebração;
c) identificação dos outorgantes;
d) o prazo de validade;
e) o objecto e valor do contrato;
f) a informação de cabimento de verba.

ARTIGO 66
(Dispensa de documentos)

Os serviços podem ser dispensados, pontualmente, da apresentação dos


documentos que devem instruir os processos a submeter à fiscalização
prévia.
ARTIGO 67
(Informação de cabimento)

A informação de cabimento é exarada nos documentos sujeitos a visto e


consiste na declaração de que os encargos decorrentes do acto ou contrato
têm cobertura orçamental em verba legalmente aplicável, cativa para o
efeito.

ARTIGO 68
(Aferição de requisitos)

Sob pena de extemporaneidade, os documentos comprovativos dos


requisitos de habilitação a qualquer concurso devem ser entregues, até ao
último dia do prazo para a apresentação de candidaturas.

ARTIGO 69
(Documentos em língua estrangeira)

Os documentos emitidos em língua estrangeira, para serem válidos perante


a jurisdição administrativa, devem ser traduzidos para a língua oficial do País
e autenticados por autoridade nacional competente.

ARTIGO 70
(Autenticação de documentos e arquivo)

1. Os documentos sujeitos a visto da jurisdição administrativa devem ser


autenticados electronicamente ou com o selo branco ou carimbo do
responsável.
2. Os processos são sempre instruídos em duplicado, que deve ser mantido
em arquivo no tribunal competente.

ARTIGO 71
(Falsidade de documentos ou declarações)

No caso de falsidade de documentos ou de declarações, o tribunal


competente anula o visto do diploma por meio de acórdão, importando a
notificação deste a imediata suspensão do pagamento de quaisquer abonos
e a vacatura do cargo, sem prejuízo da responsabilidade disciplinar ou
criminal que no caso se verifique.

SECÇÃO III
Actos não sujeitos a visto, dispensas de fiscalização prévia, mecanismos de
urgência e de simplificação do visto
ARTIGO 72
(Anotação)

1. São submetidos à mera anotação os actos não sujeitos a visto que a lei
determinar.
2. Estão, igualmente, sujeitos à anotação outros actos modificativos da
relação jurídica de trabalho de que não resulte aumento de vencimento,
designadamente a exoneração, demissão, expulsão e os contratos cujas
minutas hajam sido previamente visadas.
3. A anotação não implica qualquer juízo relativamente à legalidade do acto,
efectuando-se sempre que o visto não seja exigido legalmente, tendo em
vista a actualização do cadastro dos funcionários e agentes em exercício de
funções, a qualquer título.

ARTIGO 73
(Excepções)

1. Não estão sujeitos à fiscalização prévia, sem prejuízo da sua eventual


fiscalização sucessiva:
a) os diplomas de nomeação emanados do Presidente da República;
b) os diplomas relativos aos cargos electivos;
c) os contratos celebrados ao abrigo de Acordos de Cooperação entre
Estados;
d) os actos administrativos sobre a concessão de vencimentos certos ou
eventuais resultantes do exercício de cargo por inerência legal expressa,
com excepção dos que concedem gratificação;
e) nomeações definitivas dos funcionários do Estado;
f) contratos de trabalho celebrados por representações diplomáticas e
consulares moçambicanas no exterior com trabalhadores estrangeiros;
g) os títulos definitivos de contratos cujas minutas hajam sido objecto de
visto;
h) os contratos de arrendamento celebrados no estrangeiro para instalação
de postos diplomáticos ou consulares ou outros serviços de representação
internacional, quando a urgência da sua realização impeça a suj eição
daqueles ao visto prévio da jurisdição administrativa;
i) os diplomas e despachos relativos a promoções, progressões,
reclassificações, substituições;
j) transferências;
k) outros actos ou contratos especialmente previstos por lei.
2. A lei que aprova o Orçamento do Estado estabelece, anualmente, um valor
abaixo do qual ficam isentos da fiscalização prévia contratos não relativos a
pessoal, quando celebrados com concorrentes inscritos no cadastro único
de empreiteiros de obras públicas, fornecedores de bens e de prestadores
de serviços elegíveis a participar nos concursos públicos, existente no
ministério que superintende a área das finanças.
3. Os serviços devem, no prazo de trinta dias, após a celebração dos
contratos a que se referem as alíneas c) a h) do n.º 1 e do n.º 2 anteriores,
remeter cópia dos mesmos à jurisdição administrativa.
4. O Tribunal Administrativo pode, anualmente, mediante deliberação do
Plenário, determinar que certos actos e contratos apenas sejam objecto de
fiscalização sucessiva ou apenas fiquem sujeitos a esta a partir de
determinado montante.
ARTIGO 74
(Urgente conveniência de serviço)

1. Excepcionalmente, a eficácia dos actos e contratos sujeitos à fiscalização


prévia da jurisdição administrativa pode reportar--se à data anterior ao visto,
desde que declarada por escrito pelo membro do Governo ou entidade
competente a urgente conveniência de serviço e digam respeito a:
a) nomeação de magistrados judiciais e do Ministério Público, secretários
permanentes dos Ministérios, directores nacionais, secretários permanentes
provinciais, administradores distritais, secretários permanentes distritais,
chefes de posto administrativo das autoridades civis, do pessoal técnico-
profissional de saúde de nível básico, médio e superior, professores de
qualquer nível ou categoria, pessoal técnico-profissional agrário de nível
básico, médio e superior, recebedores, tesoureiros, escrivães de direito,
ajudantes de escrivães, oficiais de justiça, pessoal das forças militarizadas,
pessoal afecto aos serviços prisionais, ao censo populacional e ao serviço de
eleições;
b) nomeações para o exercício de funções em regime especial de actividade,
nomeadamente comissão de serviço, destacamento, substituição e
acumulação de funções;
c) contratos não relativos a pessoal de que tenha sido prestada caução não
inferior a cinquenta por cento do seu valor global;
d) contratos que prorrogam outros anteriores permitidos por lei, desde que
as condições sejam as mesmas;
e) os contratos de obras públicas cujo valor seja superior a cinco milhões de
meticais;
f) contratos de qualquer natureza decorrentes de caso fortuito ou força
maior.
2. Os funcionários e agentes referidos no número anterior podem tomar
posse, entrar em exercício e receber vencimentos, antes do Visto e
publicação do diploma.
3. Os processos em que tenha sido declarada a urgente conveniência de
serviço devem ser enviados ao tribunal competente, nos trinta dias
subsequentes à data do despacho de autorização, sob pena de cessação dos
respectivos efeitos, salvo motivos ponderosos que o mesmo tribunal avalia.
4. A recusa do visto produz os efeitos referidos no artigo 79 da presente Lei.

ARTIGO 75
(Visto tácito)

1. Os actos, contratos e demais instrumentos jurídicos enviados à jurisdição


administrativa para fiscalização prévia consideram-se visados se não tiver
havido decisão de recusa de visto no prazo de quarenta e cinco dias, a contar
da data do seu registo de entrada.
2. Para os casos referidos no número anterior, não é necessária assinatura do
Juiz no processo.
3. Os serviços ou organismos podem iniciar a execução dos actos ou
contratos e demais instrumentos jurídicos, se decorridos oito dias sobre o
termo daquele prazo, não tiverem recebido a comunicação prevista no
número seguinte;
4. Devem ser comunicadas aos serviços ou organismos as datas do registo
mencionadas no n.º 1 e publicadas na página de Internet do tribunal
competente.
5. É aplicável à interrupção referida no número anterior o regime da Lei de
Processo.

ARTIGO 76
(Declaração de conformidade)

O Tribunal Administrativo, por deliberação do Plenário, pode determinar que


a fiscalização prévia assuma a forma de declaração de conformidade, a
efectuar no âmbito dos serviços de apoio técnico e administrativo,
relativamente aos actos, contratos e demais instrumentos sujeitos a visto,
que não suscitem dúvidas concernentes à sua legalidade jurídico-financeira.

ARTIGO 77
(Procedimentos na declaração de conformidade)

1. A Contadoria do Visto deve agrupar em lotes e elaborar uma relação diária


dos processos semelhantes e de reduzida complexidade que consider
passíveis de declaração de conformidade.
2. A relação referida no número anterior é assinada pelo Contador, que a
apresenta ao Juiz Relator para efeitos de homologação, sendo,
posteriormente, notificada ao Ministério Público.
3. De seguida, é aposta a chancela "Está Conforme" nos processos
constantes da relação definitiva sendo, posteriormente, feitas as devidas
comunicações.

SECÇÃO IV
Recusa do visto e efeitos

ARTIGO 78
(Fundamentos da recusa do visto)

Constituem fundamentos de recusa do visto, nomeadamente:


a) a desconformidade do acto ou contrato, traduzida em absoluta falta de
forma, impossibilidade do objecto ou vício determinante de inexistência ou
nulidade absoluta;
b) a falta de cabimento financeiro;
c) a intempestividade da submissão à fiscalização prévia, decorrente da
execução prévia ilegal;
d) a mera anulabilidade, legitimamente invocada pelo interessado;
e) a ofensa de caso julgado.

ARTIGO 79
(Efeitos da falta ou recusa do visto)

1. Os actos, contratos e mais instrumentos subtraídos à fiscalização prévia


ou objecto de recusa de visto não são exequíveis, sendo insusceptíveis de
quaisquer efeitos financeiros.
2. A recusa de visto determina a cessação de quaisquer abonos, a partir da
data em que, da respectiva decisão, for dado conhecimento aos serviços.
3. A execução de um acto ou contrato objecto de recusa de visto, ofende o
caso julgado e determina a nulidade dos actos de execução.
4. É aplicável à anulação do visto o regime prescrito nos números anteriores.
5. Apenas podem produzir efeitos, anteriormente à fiscalização prévia, os
actos ou contratos praticados com fundamento em urgente conveniência de
serviço e bem assim os contratos de seguro.
6. Quando o visto haja sido recusado por insuficiência de instrução, pode
haver lugar a nova apresentação de processo devidamente instruído.

ARTIGO 80
(Recurso por recusa de visto)

1. No caso de recusa de visto, pode a Administração, pelo membro do


Governo, ou entidade competente, interpor recurso, no prazo fixado na lei.
2. Os eventuais prejudicados pela recusa de visto podem intervir no
processo nos termos previstos nos n.ºs 2 e 3 do arti- go 123 da presente Lei.

CAPÍTULO V
Fiscalização sucessiva

SECÇÃO I
Âmbito e periodicidade

ARTIGO 81
(Âmbito)

Estão sujeitos à prestação de contas os recebedores, tesoureiros, exactores


e demais responsáveis pela cobrança, guarda ou administração de dinheiros
públicos, bem como os responsáveis, de direito ou de facto, pela gestão das
entidades sujeitas ao controlo financeiro da jurisdição administrativa,
qualquer que seja o grau da sua autonomia, ainda que as suas despesas
sejam, parcial ou totalmente cobertas por receitas próprias ou que, umas e
outras, não constem do Orçamento do Estado.

ARTIGO 82
(Periodicidade)

1. Salvo disposição legal em contrário, as contas são prestadas por anos


económicos ou no termo de cada gerência, no caso de substituição total dos
responsáveis.
2. O Tribunal Administrativo, os tribunais administrativos provinciais e o
Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo podem promover, a todo
tempo, inspecção ou auditoria com o objectivo de detectar irregularidades
e saná-las, evitando danos irreparáveis.
ARTIGO 83
(Conta Geral do Estado)

1. A Conta Geral do Estado deve ser apresentada pelo Governo à Assembleia


da República e ao Tribunal Administrativo, até 31 de Maio do ano seguinte
àquele a que respeite.
2. O relatório e o parecer do Tribunal Administrativo sobre a Conta Geral do
Estado devem ser enviados à Assembleia da República até 30 de Novembro
do ano seguinte àquele a que a mesma se refira.
3. O relatório e o parecer referidos no número anterior devem certificar a
exactidão, regularidade, legalidade e correcção económico-financeira das
contas e da respectiva gestão financeira anual, sendo objecto de publicação
em Boletim da República.
4. O relatório e o parecer do Tribunal Administrativo são acompanhados das
respostas dos serviços e organismos às questões que esse órgão lhes
formular.
5. A Assembleia da República aprecia e aprova a Conta Geral do Estado, na
sessão seguinte à entrega do relatório e parecer pelo Tribunal
Administrativo.

ARTIGO 84
(Prestação, certificação e julgamento de contas)

1. As contas das entidades sujeitas ao controlo da jurisdição administrativa


devem dar entrada nesta, no prazo de três meses, contados a partir da data
do termo da gerência.
2. A requerimento dos interessados que invoquem motivo justificado, o
Tribunal Administrativo, os tribunais administrativos provinciais e o Tribunal
Administrativo da Cidade de Maputo, podem fixar prazo diferente.
3. O Tribunal Administrativo, os tribunais administrativos provinciais e o
Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo podem, excepcionalmente,
relevar a falta de cumprimento dos prazos referidos nos números anteriores,
por despacho devidamente motivado do respectivo relator.
4. O Tribunal Administrativo, os tribunais administrativos provinciais e o
Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo devem apreciar as contas
recebidas, para fins de certificação prevista no artigo 96, até 31 de Dezembro
do ano em que forem entregues.
5. No caso das contas que forem submetidas a julgamento, o prazo é de um
ano, a contar da data da entrada do processo na Secretaria do Tribunal
Administrativo, dos tribunais administrativos provinciais e do Tribunal
Administrativo da Cidade de Maputo, salvaguardado o adiante estipulado no
n.º 3 do artigo 88.
6. O prazo referido no número anterior suspende-se pelo tempo que for
necessário para obter informações ou documentos ou para efectuar
investigações complementares.

ARTIGO 85
(Instruções de execução obrigatória)

1. O Tribunal Administrativo emite instruções de execução obrigatória sobre


a forma como devem ser prestadas as contas e os documentos que devem
instruí-las.
2. Os serviços e outros organismos podem ser dispensados pelo Tribunal
Administrativo da apresentação dos documentos de despesa, no todo ou em
parte.

ARTIGO 86
(Diligências probatórias e coadjuvação)

1. A prestação de contas pela forma que estiver determinada não prejudica


a faculdade de o Tribunal Administrativo, os tribunais administrativos
provinciais e o Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo exigirem de
quaisquer entidades os documentos e informações tidos ainda por
necessários, bem como de requisitar aos competentes serviços de controlo
interno as diligências e meios que julgar convenientes.
2. A solicitação de documentos e esclarecimentos deve ser atendidas no
prazo de cinco dias, após a recepção da notificação, sob pena de multa, a
arbitrar aquando da apreciação das contas.
3. Sob pena de desobediência qualificada, punível nos termos da Lei Penal,
os serviços, os funcionários em geral e quaisquer entidades públicas ou
privadas são obrigados a dar execução aos acórdãos, resoluções e
despachos que, sobre matéria das suas atribuições e competência
específica, a jurisdição administrativa profira em processos sujeitos à sua
apreciação e decisão.

ARTIGO 87
(Forma de apreciação das contas)

As contas são susceptíveis de apreciação de natureza, metodologia e


complexidade crescentes, quais sejam:
a) a verificação de 1.º grau ou preliminar;
b) a verificação de 2.º grau;
c) a inspecção;
d) a auditoria;
e) a certificação;
f) o julgamento.

ARTIGO 88
(Verificação do 1.º grau)

1. A verificação do 1.º grau consiste em certificar:


a) se as contas se fazem acompanhar dos documentos exigidos pelas
respectivas instruções;
b) se as contas estão escrituradas correctamente;
c) se, em exame sumário, as operações e registos que integram essas contas
respeitam a legalidade e a regularidade financeira e contabilística.
2. As contas que não enfermem de suspeitas de alcances ou desvios de
dinheiros públicos, pagamentos indevidos e outras irregularidades graves
podem, após verificação preliminar da Contadoria de Contas e Auditoria, ser
devolvidas aos serviços responsáveis e consideradas certificadas e regulares
sob condição resolutória de ulterior apreciação.
3. Passados cinco anos e não sendo objecto de nova auditoria, as contas são
consideradas definitivamente como certificadas e regulares.
4. Caso, dentro do quinquénio, seja detectada fraude ou qualquer outra
irregularidade, os responsáveis estão sujeitos às sanções devidas.
5. O eventual julgamento pode ter lugar por iniciativa do Tribunal
Administrativo, dos tribunais administrativos provinciais e do Tribunal
Administrativo da Cidade de Maputo, na pessoa do Contador Geral da
Contadoria de Contas e Auditorias, por promoção do Ministério Público ou
a pedido de particulares interessados que demonstrarem legi timidade para
tanto.

ARTIGO 89
(Verificação de 2.° grau)

1. A verificação de 2.º grau incide na:


a) análise dos documentos de despesa;
b) forma de instrução da conta, do ponto de vista formal e material, incluindo
a verificação da consistência dos documentos;
c) correcção contabilística;
d) legalidade e regularidade das operações e registos.
2. As contas que não enfermem de suspeitas de alcances ou desvios de
dinheiros públicos, pagamentos indevidos e outras irregularidades graves
podem ser devolvidas aos serviços responsáveis, após verificação pela
Contadoria de Contas e Auditoria e consideradas certificadas e regulares sob
condição resolutória de ulterior apreciação.
3. Passados cinco anos e não sendo esta conta objecto de nova auditoria, é
considerada definitivamente como certificadas e regulares.
4. Caso, dentro do quinquénio, seja detectada fraude ou qualquer outra
irregularidade, os responsáveis estão sujeitos às sanções devidas.
5. O eventual julgamento pode ter lugar por iniciativa do Tribunal
Administrativo, na pessoa do Contador Geral da Contadoria de Contas e
Auditorias, promoção do Ministério Público ou a pedido de particulares
interessados que demonstrarem legitimidade para tanto.

ARTIGO 90
(Inspecção)

1. A inspecção é o procedimento de fiscalização que visa suprir as omissões


e lacunas de informações, esclarecer dúvidas, ou apurar denúncias quanto à
legalidade e legitimidade de factos da Administração Pública e de actos
administrativos praticados por qualquer responsável sujeito à jurisdição do
Tribunal Administrativo, dos tribunais administrativos provinciais e do
Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo.
3. A inspecção é realizada independentemente de inclusão em plano de
auditoria, podendo ser determinada com base em proposta fundamentada
que demonstre os recursos humanos existentes na contadoria e daqueles a
serem mobilizados na sua execução.
ARTIGO 91
(Auditoria)

1. A Auditoria é um procedimento de fiscalização utilizado pelo Tribunal


Administrativo, pelos tribunais administrativos provinciais e pelo Tribunal
Administrativo da Cidade de Maputo para fundamentar a instrução, a
certificação e o julgamento das contas públicas ou a apreciação da
economia, eficácia e eficiência do uso de dinheiros públicos.
2. Por forma a determinar as entidades a incluir no Plano Anual de Auditorias,
o Tribunal Administrativo, os tribunais administrativos provinciais e o
Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo, devem proceder a uma
avaliação de riscos, obedecendo a critérios especificados em regulamento
interno.
3. Durante a fase instrutória, as auditorias do Tribunal Administrativo, dos
tribunais administrativos provinciais e do Tribunal Administrativo da Cidade
de Maputo são conduzidas por Auditores de Controlo Externo.
4. O recrutamento e a selecção dos Auditores de Controlo Externo tem em
conta a idoneidade, imparcialidade e conhecimentos técnicos específicos.
5. Na condução das auditorias, os Auditores de Controlo Externo observam
métodos e técnicas de padrão reconhecido.
6. Deve ser elaborada matriz de risco em cada auditoria contemplando, entre
outros:
a) o valor monetário dos recursos geridos por cada unidade sujeita ao
controlo externo;
b) a relevância;
c) o risco inerente, considerando como tal o risco decorrente da pró pria
operação, independente da avaliação dos controles existentes;
d) o risco de controlo que deve considerar a inexistência ou insuficiência de
controlos internos que previnam ou identifiquem tempestivamente erros ou
irregularidades;
e) a interdependência com outros órgãos ou entidades;
f) o desempenho, conforme resultados alcançados em relação ao previsto e
estipulado em planos, programas ou orçamento.

ARTIGO 92
(Tipos de auditoria)

1. As auditorias podem ser de regularidade e de desempenho.


2. A auditoria de regularidade tem como foco a verificação da conformidade
com determinadas regras, normas e objectivos.
3. Na auditoria de regularidade, o Tribunal Administrativo, os tribunais
administrativos provinciais e o Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo
analisam as contas, a situação financeira e orçamental, a legalidade e a
regularidade das operações de determinado órgão, programa ou entidade
pública.
4. A auditoria de desempenho tem como foco a avaliação da economia,
eficiência e eficácia.
5. Na auditoria de desempenho, o Tribunal Administrativo, os tribunais
administrativos provinciais e o Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo
avaliam programas, projectos, actividades e respectiva efectividade,
sistemas governamentais, órgãos ou entidades públicas.
6. Dentro da tipologia definida nos números anteriores, as auditorias incidem
sobre áreas de interesse a serem definidas pelo tribunal.
7. Na definição referida no número anterior, o tribunal considera,
nomeadamente as auditorias financeiras, as obras públicas, ambientais e a
sistemas informáticos com as respectivas especificidades.

ARTIGO 93
(Processo de auditoria de regularidade)

1. O Relatório Final de Auditoria pode dar lugar a certificação ou julgamento.


2. Os processos de auditoria são instruídos com toda documentação
necessária para apreciação dos juízes Conselheiros, dos juízes dos Tribunais
Administrativos Provinciais e do Tribunal Administrativo da Cidade de
Maputo.
3. No Relatório Final de Auditoria deve constar de forma clara, se for o caso,
o montante dos valores a serem devolvidos e os respectivos responsáveis.

ARTIGO 94
(Processo de auditoria de desempenho)

1. O Relatório Final de Auditoria de Desempenho dá lugar a um processo de


auditoria de desempenho, distribuído a um Juiz Relator da Secção de Contas
Públicas, dos juízes dos tribunais administrativos provinciais ou do Tribunal
Administrativo da Cidade de Maputo, que o analisa e prepara para ser
apreciado em sessão com os demais juízes.
2. Na apreciação do Processo de Auditoria de Desempenho, os juízes
conselheiros decidem sobre a aprovação do Relatório Final de Auditoria de
Desempenho e remessa ao respectivo auditado para adopção das
recomendações nele constantes.

ARTIGO 95
(Publicidade das decisões em processo de auditoria)

1. As decisões relativas à apreciação e julgamento das auditorias, de


qualquer tipo, devem ser publicadas no Boletim da República e na página da
internet do Tribunal Administrativo, dos tribunais administrativos provinciais
e do Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo.
2. Uma vez aprovado pelo Tribunal Administrativo, pelos tribunais
administrativos provinciais ou do Tribunal Administrativo da Cidade de
Maputo o Relatório Final da Auditoria de Desempenho deve ser enviado ao
auditado, ao Governo central ou provincial, e à Assembleia da República ou
provincial.

ARTIGO 96
(Certificação)

1. A Certificação consiste na apreciação positiva da legalidade e


regularidade das contas apresentadas, que tenham sido objecto de
verificação interna de 1.º Grau, Verificação Interna de 2.º Grau, Inspecção ou
Auditoria.
2. Podem ser certificadas as contas que não enfermem de suspeitas de
alcances ou desvios de dinheiros públicos, pagamentos indevidos ou outras
irregularidades graves.
3. A certificação é feita pelo Juiz Relator sob proposta da Contadoria de
Contas e Auditoria.
4. As contas certificadas e respectivo relatório devem ser devolvidos às
entidades responsáveis, para conhecimento e cumprimento das eventuais
recomendações.
5. Das contas certificadas é enviada cópia ao representante do Ministério
Público, acompanhada do respectivo relatório.
6. A relação das contas certificadas deve ser publicada no Boletim da
República e na página de Internet do Tribunal Administrativo, dos tribunais
administrativos provinciais ou do Tribunal Administrativo da Cidade de
Maputo.
7. O Juiz Relator prepara e submete a julgamento os processos das contas
não certificadas.

ARTIGO 97
(Julgamento)

O julgamento das contas traduz-se na apreciação da legalidade da


actividade das entidades sujeitas à prestação de contas, bem como da
respectiva gestão económico-financeira e patrimonial e no apuramento e
eventual efectivação da inerente responsabilidade financeira e
consubstancia-se em:
a) julgamento de quitação, quando os responsáveis pela sua prestação são
julgados livres de qualquer responsabilidade financeira e as contas havidas
como regulares;
b) efectivação de responsabilidade, quando aos mesmos é imputada
responsabilidade financeira traduzida no dever de repor ou de pagar uma
multa, podendo merecer ainda, simples juízo de censura ou recomendações.

ARTIGO 98
(Conceito de irregularidade grave)

Integram o conceito de irregularidade grave as infracções financeiras


consubstanciadas em alcance ou desvio de dinheiros públicos e outros
valores e em pagamentos indevidos, perpetrados com dolo, propósito de
fraude e prejuízo efectivo para o Estado.
CAPÍTULO VI
Infracções e responsabilidades financeiras

SECÇÃO I
Infracções financeiras

ARTIGO 99
(Infracções financeiras típicas)

1. Constitui infracção financeira punível com multa e determinante de


anulação, a todo o tempo, do visto concedido ao acto ou contrato, assim
como de suspensão de todo e qualquer pagamento futuro:
a) a apresentação de documentos ou declarações falsas;
b) execução do acto ou contrato, sem prévia sujeição a visto ou após
conhecimento da recusa de visto;
c) a desconformidade substancial entre a minuta e o contrato celebrado
mediante escritura notarial.
2. Constituem infracções financeiras típicas o alcance, o desvio de dinheiros
ou valores públicos e os pagamentos indevidos.
3. Constituem, também, infracções financeiras, nomeadamente:
a) a não liquidação, cobrança ou entrega nos cofres do Estado das receitas
devidas;
b) a violação das normas sobre a elaboração e execução dos orçamentos,
bem como da assunção, autorização ou pagamento de despesas públicas ou
compromissos;
c) a não efectivação ou retenção indevida dos descontos legalmente
obrigatórios a efectuar ao pessoal;
d) a falta injustificada de remessa de contas ao tribunal competente, a falta
injustificada da sua remessa tempestiva ou a sua apresentação com
deficiências tais que impossibilitem ou gravemente dificultem a sua
verificação;
e) o extravio de processos ou documentos e sonegação ou deficiente
prestação de informações ou documentos pedidos pelo tribunal competente
ou exigidos por lei;
f) a falta injustificada de comparência para a prestação de declarações ou
de colaboração devida ao tribunal;
g) a introdução nos processos de elementos que possam induzir o tribunal
em erro nas suas decisões ou relatórios, ou que dificultem substancialmente
ou de todo obstem o julgamento das contas;
h) a publicação, no Boletim da República, de actos ou contratos sujeitos ao
visto, sem a prévia concessão do mesmo;
i) a execução de actos ou contratos a que tenha sido recusado o visto ou de
actos ou contratos que não tenham sido submetidos à fiscalização prévia
quando a isso estavam legalmente sujeitos;
j) a violação de normas legais ou regulamentares respeitantes à gestão e
controlo orçamental, de tesouraria e de património;
k) o adiantamento por conta de pagamentos nos casos não expressamente
previstos na lei;
l) a utilização de empréstimos públicos em finalidades diversas das
legalmente previstas, bem como pela ultrapassagem dos fundos legais da
capacidade de endividamento;
m) a utilização indevida de fundos movimentados por operações de
tesouraria para financiar despesas públicas;
n) a utilização de dinheiros ou outros valores públicos em finalidades
diferentes das legalmente previstas.
4. A desobediência, a falsificação e quaisquer outros factos que configurem
ilícito criminal são, ainda, punidos nos termos da Lei Penal.
5. A desobediência referida no número anterior tem-se, sempre, como
desobediência qualificada.

ARTIGO 100
(Alcance)

Verifica-se o alcance quando, independentemente da acção do agente nesse


sentido, haja desaparecimento de dinheiros ou outros valores do Estado ou
de outras entidades públicas.

ARTIGO 101
(Desvio de dinheiros ou valores públicos)

Tem lugar o desvio de dinheiros ou valores públicos quando se verifique o


seu desaparecimento por acção voluntária de qualquer agente público que
a eles tenha acesso por causa do exercício das funções públicas que Ihes
estão cometidas.

ARTIGO 102
(Pagamentos indevidos)

Consideram-se pagamentos indevidos os pagamentos ilegais que causarem


dano para o Estado ou entidade pública, incluindo aqueles a que
corresponda contraprestação efectiva que não seja adequada ou
proporcional à prossecução das atribuições da entidade em causa ou aos
usos normais de determinada actividade.

SECÇÃO II
Responsabilidade financeira

ARTIGO 103
(Evidências de responsabilidade financeira)

1. Sempre que os relatórios das acções de controlo do Tribunal


Administrativo evidenciem factos constitutivos de responsabilidade
financeira, os processos respectivos são enviados ao Ministério Público para
os fins legais.
2. Se o Ministério Público declarar não requerer procedimento jurisdicional,
devolve o respectivo processo à entidade remetente.
3. O disposto no n.º 1 é aplicável às auditorias realizadas no âmbito da
preparação do relatório e parecer sobre a Conta Geral do Estado.
4. Nos casos previstos no presente artigo, o Tribunal Administrativo envia à
Assembleia da República, em capítulo próprio no Relatório sobre Conta
Geral do Estado do ano seguinte, uma informação sobre as medidas e
procedimentos adaptados para o apuramento da responsabilidade
financeira e respectivo ponto de situação, relativa à Conta Geral do Estado
do ano anterior.

ARTIGO 104
(Aplicação)

1. Sem prejuízo de eventual responsabilidade disciplinar, criminal ou civil, o


desrespeito das normas previstas na presente Lei acarreta responsabilidade
financeira das entidades ou funcionários cuja actuação seja lesiva do
património e dos interesses financeiros do Estado.
2. A instrução deficiente e repetida dos actos sujeitos à fiscalização
preventiva, por parte dos serviços, pode ser objecto de multa, a arbitrar pelo
tribunal competente.

ARTIGO 105
(Efectivação de responsabilidade)

A responsabilidade financeira é efectivada pelo Tribunal Administrativo,


pelos tribunais administrativos provinciais e do Tribunal Administrativo da
Cidade de Maputo.

ARTIGO 106
(Modalidades de responsabilidade financeira)

A responsabilidade financeira pode ser de tipo reintegratório ou meramente


sancionatório.

ARTIGO 107
(Características da responsabilidade financeira)

1. A responsabilidade financeira pressupõe a existência de culpa e é


independente do dano efectivamente causado.
2. O tribunal avalia o grau de culpa de acordo com as circunstâncias do caso,
tendo em consideração as competências do cargo ou a índole das principais
funções de cada responsável, o volume e fundos movimentados, o montante
material da lesão dos dinheiros ou valores públicos, o grau de acatamento
de eventuais recomendações do tribunal competente e os meios humanos e
materiais existentes no serviço, organismo ou entidade em causa.
3. A responsabilidade financeira é pessoal e incide sobre o agente ou
agentes da acção.
4. A responsabilidade financeira recai, também, nos gerentes, dirigentes ou
membros dos órgãos de gestão administrativa e financeira ou equiparados
e exactores dos serviços, organismos e outras entidades sujeitos à jurisdição
do Tribunal Administrativo e dos tribunais administrativos provinciais e
Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo, quando:
a) por ordem sua, a guarda e arrecadação dos dinheiros ou valores tiverem
sido entregues à pessoa que os alcançou ou praticou o desvio, sem ter
ocorrido a ausência ou impedimento daqueles a que, por lei, estejam
acometidas tais funções;
b) por indicação ou nomeação sua, pessoa já desprovida de idoneidade
moral e, como tal reconhecida, tenha sido designada para o cargo em cujo
exercício haja praticado o facto;
c) no desempenho das funções de fiscalização que lhe estiverem cometidas,
tiverem procedido com culpa grave, nomeadamente quando não tenham
acatado as instruções do Tribunal Administrativo, as regras de boa gestão
dos dinheiros públicos ou os pareceres técnicos.
5. A mesma responsabilidade pode recair, ainda, nos funcionários ou agentes
que, nas suas informações para os membros do Governo ou para os gerentes,
dirigentes ou outros administradores, não esclareçam os assuntos da sua
competência, de acordo com a lei.
6. O acórdão define, expressamente, quando for caso disso, o grau de
responsabilidade imputável, podendo, ainda, conter juízo de censura ou
recomendação à instituição e outras providências a adaptar rel ativamente
aos responsáveis, incluindo a sua demissão. Estas medidas podem, ainda, ser
tomadas visando a melhoria da gestão e garantia da legalidade no futuro.
7. A responsabilidade inclui os juros de mora legais sobre os respectivos
montantes, contados desde a data da infracção ou, não sendo possível
determiná-la, desde o último dia da respectiva gerência.

ARTIGO 108
(Redução ou relevação da responsabilidade financeira)

1. A responsabilidade financeira é susceptível de relevação ou redução,


apenas no que respeita às multas, consoante o grau de culpa e o prejuízo
efectivo para o Estado.
2. A responsabilidade financeira decorrente de infracções financeiras
perpetradas com mera culpa é passível de redução em função do grau de
culpa apurado, ou de relevação nos termos do artigo seguinte.
3. O Tribunal Administrativo, os tribunais administrativos provinciais e o
Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo devem fazer constar da
decisão as razões justificativas da redução ou da relevação.
4. Fica isento de responsabilidade aquele que houver manifestado, por
forma inequívoca, oposição aos actos que a originaram.

ARTIGO 109
(Requisitos da relevação)

O Tribunal Administrativo pode relevar a responsabilidade por infracção


financeira, quando seja apenas passível de multa, quando esta tiver sido
paga voluntariamente e:
a) se evidenciar, suficientemente, que a falta apenas pode ser imputada ao
seu autor por mera culpa;
b) não tiver havido, anteriormente, recomendação de tribunal ou de
qualquer órgão de controlo interno ao serviço auditado para correcção de
irregularidades do procedimento adoptado;
c) se tiver sido a primeira vez que um tribunal ou um órgão de controlo
interno tenham censurado o seu autor pela sua prática.
ARTIGO 110
(Responsabilidade solidária)

Sem prejuízo do disposto no n.º 2 do artigo 107 e no artigo 108, se forem


vários os responsáveis financeiros pelas acções, a sua responsabilidade,
tanto directa como subsidiária, nos termos dos n.ºs 3, 4 e 5 do artigo 107, é
solidária e o pagamento da totalidade da quantia a repor por qualquer deles
extingue o procedimento instaurado ou impede a sua propositura, sem
prejuízo do direito de regresso.

ARTIGO 111
(Reposição por não arrecadação de receitas)

Nos casos de prática, autorização ou sancionamento, com dolo ou culpa


grave, que impliquem a não liquidação, cobrança ou entrega de receitas com
violação das normas legais aplicáveis, pode o Tribunal Administrativo, os
tribunais administrativos provinciais e o Tribunal Administrativo da Cidade
de Maputo condenar o responsável na reposição das importâncias não
arrecadadas em prejuízo do Estado ou de entidades públicas.

ARTIGO 112
(Intransmissibilidade do dever de reposição)

A responsabilidade financeira reintegratória, nomeadamente, o dever de


reposição, não é transmissível aos herdeiros do infractor.

ARTIGO 113
(Enriquecimento sem causa)

O eventual enriquecimento sem causa da herança do infractor, determinado


por alcance ou desvio de dinheiros públicos, apenas é susceptível de
ressarcimento pelo Estado através dos tribunais comuns.
ARTIGO 114
(Desobediência qualificada)

1. Nas situações de falta de apresentação de processos de contas ou de


documentos, o acórdão fixa um prazo razoável para que o responsável
proceda à sua entrega ao tribunal.
2. O incumprimento da ordem mencionada no número anterior constitui
crime de desobediência qualificada, competindo ao Ministério Público a
instauração do respectivo procedimento no tribunal competente.
ARTIGO 115
(Reposição e multa)

1. A responsabilidade financeira traduz-se na sujeição às penas de reposição


e de multa as quais podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente.
2. São puníveis com a pena de reposição as infracções financeiras constantes
do n.º 2 do artigo 99 e do artigo 111.
3. As demais infracções financeiras e as meras irregularidades contabilísticas
ou administrativas com reflexos financeiros, tipificadas no n.º 3 do artigo 99
ou decorrentes da demais legislação financeira aplicável, são puníveis com
multa a definir no próprio processo ou em processo específico, sendo caso
disso.
4. O tribunal competente gradua as multas tendo em consideração a
gravidade dos factos e as suas consequências, o grau de culpa, o montante
material dos valores públicos lesados ou em risco, o nível hierárquico dos
responsáveis, a sua situação económica, a existência de antecedentes e o
grau de acatamento de eventuais recomendações do tribunal.
5. A multa a arbitrar, de acordo com as circunstâncias indicadas no número
anterior, não deve ser inferior a um sexto do vencimento ou remuneração
anual do infractor, pela primeira vez, e a três sextos do vencimento ou
remuneração anual. Pela segunda e sucessivas vezes.
6. De qualquer modo, o limite máximo da multa situa-se no valor máximo do
vencimento ou remuneração anual.
7. O pagamento da multa arbitrada é da respons
abilidade pessoal dos infractores referidos nos n.ºs 3, 4 e 5 do artigo 107,
conforme os casos.

ARTIGO 116
(Processos autónomos de multa)

As infracções constantes do n.º 3 do artigo 99 são objecto de processo


autónomo de multa, se não forem conhecidas nos processos de julgamento
de contas, de julgamento de responsabilidades financeiras e de fixação do
débito aos responsáveis ou de declaração de impossibilidade de jul gamento.

ARTIGO 117
(Causas de extinção de responsabilidades)

1. O procedimento por responsabilidade financeira reintegratória extingue-


se pelo pagamento da quantia a repor em qualquer momento e pela
prescrição.
2. O procedimento por responsabilidade sancionatória nos termos do n.º 3
do artigo 99, extingue-se pelo pagamento do montante em dívida, pela
morte do responsável, pela amnistia, pela prescrição, pela relevação da
responsabilidade nos termos do n.º 2 do artigo 108 e artigo 109 e pela
isenção de responsabilidade, segundo o n.º 4 do artigo 108.
ARTIGO 118
(Prazos de prescrição de procedimento)

1. A prescrição do procedimento por responsabilidades financeiras


reintegratórias é de quinze anos e a prescrição por responsabilidades
sancionatórias é de dez anos.
2. Os prazos referidos no número anterior contam-se a partir da data da
infracção ou, não sendo possível determiná-la, desde o último dia da
respectiva gerência.
3. O prazo da prescrição do procedimento suspende-se com a entrada do
processo de contas no tribunal competente ou com o início da auditoria e
até à audição do responsável, desde que não seja ultrapassado o período de
dois anos.

CAPÍTULO VII
Recurso

SECÇÃO I
Recursos ordinários

Artigo 119
(Decisões recorríveis)

1. As decisões condenatórias dos tribunais administrativos provinciais e


Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo que apurem
responsabilidades, determinem o dever de repor dinheiro e outros valores
públicos ou o pagamento de multa, recusem o visto ou fixem os
emolumentos, são susceptíveis de recurso para a Secção de Contas Públicas
do Tribunal Administrativo.
2. Das decisões condenatórias da Secção de Contas Públicas cabe recurso
para o Plenário do Tribunal Administrativo.

ARTIGO 120
(Forma e prazo de interposição)

1. Os recursos referidos nos n.ºs 1 e 2 do artigo anterior são interpostos


mediante requerimento devidamente articulado, dirigido aos presidentes
dos tribunais recorridos, no qual devem ser expostas as razões de facto e de
direito em que se fundamentam e formuladas conclusões, no prazo de dez
dias, contado da notificação da decisão recorrida, observando-se o regime
de dilação constante do Código de Processo Civil.
2. Os recursos são distribuídos por sorteio pelos juízes do Tribunal
Administrativo, não podendo ser relatado pelo Juiz Relator da decisão
recorrida.
3. Distribuído e autuado o recurso, é aberta conclusão ao relator para, em 48
horas, se pronunciar sobre a sua admissão ou rejeição liminar.
4. O recurso das decisões finais de recusa de visto ou de condenação por
responsabilidade sancionatória tem efeito suspensivo.
5. O recurso das decisões finais de condenação por responsabilidade
financeira reintegratória apenas tem efeito suspensivo, se for prestada
caução.

ARTIGO 121
(Reclamação de não admissão de recursos)

1. Do despacho que não admite o recurso, pode o recorrente reclamar para


a Secção de Contas Públicas do Tribunal Administrativo, ou para o Tribunal
Administrativo, conforme os casos, no prazo de dez dias, os quais reúnem
com todos os juízes, devendo ser expostas as razões que justificam a
admissão do recurso.
2. Os tribunais referidos no número anterior apreciam o recurso na primeira
sessão seguinte à distribuição, devendo decidir pela admissão do recurso ou
pela manutenção do despacho recorrido.
3. O relator pode reparar o despacho de indeferimento e fazer prosseguir o
recurso.
4. Se o relator sustentar o despacho liminar de rejeição do recurso, ordena a
apresentação da reclamação à instância competente.
5. Se o despacho de indeferimento for proferido pela Secção de Contas
Públicas do Tribunal Administrativo, o recurso é interposto para o Plenário.
6. Se o despacho de indeferimento for praticado por tribunal administrativo
provincial ou da Cidade de Maputo, o recurso é interposto para a Secção de
Contas Públicas do Tribunal Administrativo.

ARTIGO 122
(Outros recursos)

Os recursos de decisões não finais são interpostos no prazo de cinco dias,


contado da notificação da decisão recorrida, observando-se o regime das
dilações constantes do Código de Processo Civil, só podendo ser apreciados
na decisão final.

ARTIGO 123
(Legitimidade)

1. Têm legitimidade para recorrer:


a) o Ministério Público;
b) o membro do Governo ou a entidade de que depende o funcionário ou o
serviço;
c) a instituição interessada, através do seu titular;
d) os responsáveis dirigentes condenados ou objecto de juízo de censura;
e) os que forem condenados em processo de multa;
f) as entidades competentes para praticar o acto ou outorgar no contrato
objecto de visto.
2. O funcionário, agente interessado ou pretenso beneficiário do acto a que
tenha sido recusado o visto pode requerer a interposição de recurso à
entidade com competência para a prática do acto, no prazo de quinze dias,
a contar da data da sua notificação.
3. O funcionário, agente interessado ou pretenso beneficiário do acto a que
tenha sido recusado o visto não fica impedido de interposição directa do
recurso, se a entidade referida no número anterior não o fizer, no prazo de
quinze dias, a contar da data da entrega do seu pedido.

ARTIGO 124
(Preparos e custas)

1. Nos recursos há lugar a preparos e custas a fixar nos termos regulados para
o Contencioso Administrativo.
2. Nos recursos em que o tribunal competente considere ter havido má-fé,
as custas podem ser agravadas até ao dobro.

ARTIGO 125
(Termos subsequentes)

1. Admitido o recurso, o processo vai com vista, por quinze dias, ao Ministério
Público para emitir parecer, se não for o recorrente.
2. Se o recorrente for o Ministério Público, admitido o recurso, deve ser
notificada a entidade directamente afectada pela decisão recorrida para
responder, no prazo de quinze dias.
3. Se, no parecer, o Ministério Público suscitar novas questões, é notificado
o recorrente para se pronunciar no prazo de quinze dias.
4. É permitido ao recorrente e ao recorrido juntar com os articulados
produzidos a documentação tida por pertinente.
5. Emitido o parecer ou decorrido o prazo mencionado no n.º 3, os autos são
conclusos por três dias aos restantes juízes, se não tiver sido dispensada tal
conclusão.
6. Em qualquer altura do processo, o relator pode ordenar as diligências
indispensáveis à decisão do recurso.

ARTIGO 126
(Preparação para julgamento)

Elaborado o projecto de acórdão, o relator ordena que sejam remetidas


cópias aos demais juízes e ao Ministério Público, até três dias antes da sessão
em que tenha de ser apreciado, com expressa menção de que os autos se
encontram preparados para julgamento.

ARTIGO 127
(Julgamento)

1. O relator apresenta o processo à sessão com o projecto de acórdão,


procedendo-se à discussão e julgamento.
2. Nos processo de fiscalização prévia o tribunal competente pode conhecer
de questões relevantes para a concessão ou recusa do visto, ainda que não
apreciadas na decisão recorrida ou na alegação do recorrente, desde que
sejam suscitadas pelo Ministério Público no seu parecer, observando-se o
preceituado no n.º 3 do artigo 125.
ARTIGO 128
(Notificação de decisão final)

A decisão final é notificada ao recorrente e a todos os que tenham sido


notificados para os termos do processo.
SECÇÃO II
Recursos extraordinários

ARTIGO 129
(Recurso de revisão)

É admissível o recurso extraordinário de revisão, nos termos do Código de


Processo Civil, para o recurso de revisão, com as devidas adaptações.

ARTIGO 130
(Fundamentos da revisão)

As decisões transitadas em julgado podem ser objecto de revisão pelos


fundamentos admitidos no Código do Processo Civil e ainda quando,
supervenientemente, se revelem factos susceptíveis de originar
responsabilidade financeira que não tenham sido apreciados para o efeito.
ARTIGO 131
(Prazos de interposição do recurso de revisão)

A interposição do recurso de revisão da decisão que concedeu o visto


apenas é possível durante o prazo em que o acto ou contrato pode ser
impugnado no contencioso administrativo.

ARTIGO 132
(Competência)

É competente para conhecer do recurso extraordinário de revisão o Plenário


do Tribunal Administrativo.

ARTIGO 133
(Oposição de decisões)

1. Se, no domínio da mesma legislação, forem proferidas em processos


diferentes na Secção de Contas Públicas do Tribunal Administrativo duas
decisões, em matéria de concessão ou de recusa de visto e de
responsabilidade financeira que, relativamente à mesma questão
fundamental de direito, assentem sobre soluções opostas, pode ser
interposto recurso extraordinário da decisão proferida em último lugar para
fixação de jurisprudência.
2. No requerimento de recurso deve ser individualizada a decisão anterior
transitada em julgado que esteja em oposição e a decisão recorrida, sob
pena de o recurso não ser admitido.
3. A este recurso extraordinário aplica-se, com as devidas adaptações, o
regime de recurso ordinário, excepto o disposto nos preceitos seguintes.

ARTIGO 134
(Órgão competente)

É competente para apreciar e decidir o recurso extraordinário de oposição


de acórdãos o Plenário do Tribunal Administrativo.

ARTIGO 135
(Questão preliminar)

1. Distribuído e autuado o requerimento de recurso e apensado o processo


onde foi proferida a decisão transitada alegadamente em oposição, o
processo é concluído ao relator para, em cinco dias, proferir despacho de
admissão ou de indeferimento liminar.
2. Admitido liminarmente o recurso, é dada vista ao Ministério Público para
dar parecer sobre a oposição de julgados e o sentido da jurisprudência a
fixar.
3. Se o relator entender não existir oposição de decisões, ordena que o
processo seja concluso aos juízes do Plenário, após o que apresenta o
projecto de acórdão.
4. O recurso tem-se como findo se o Plenário deliberar pela não existência
de oposição de julgados.

ARTIGO 136
(Julgamento do recurso)

1. Verificada a existência de oposição de acórdãos, o processo é concluso


aos restantes juízes do Plenário por cinco dias, após o que o relator o
apresenta para julgamento na primeira sessão.
2. O acórdão da Secção de Contas Públicas que reconheceu a existência de
oposição das decisões não impede que o Plenário do Tribunal Administrativo
delibere em sentido contrário.
3. A doutrina do acórdão que fixa jurisprudência é obrigatória para a
jurisdição administrativa enquanto a lei não for modificada.

CAPÍTULO VIII
Serviços de apoio

SECÇÃO I
Organização e funcionamento

ARTIGO 137
(Apoio técnico e administrativo)

1. No âmbito das suas atribuições e competências, a Secção de Contas


Públicas do Tribunal Administrativo é apoiada, técnica e
administrativamente, por serviços, cuja estrutura orgânica, competência,
quadro de pessoal e funcionamento são objecto de diploma legal específico.
2. A fase instrutória dos processos de verificação de contas de 1.º e 2.º grau,
inspecção, auditoria e certificação de contas é conduzida por Auditores de
Controlo Externo.
3. O Regulamento e Carreira dos Auditores de Controlo Externo são
estabelecidos em diplomas específicos.
CAPÍTULO IX
Disposições finais e transitórias

ARTIGO 138
(Processos pendentes)

As contas de gerência, anteriores a 31 de Dezembro de 2007, qualquer que


seja a fase em que se encontrem, desde que não haja suspeitas de graves
irregularidades, são devolvidas aos respectivos serviços, sem prejuízo de
eventual julgamento ulterior, por iniciativa do Tribunal Administrativo ou
promoção do Ministério Público ou a pedido de qualquer interessado que
mostre legitimidade para o efeito, no prazo de cinco anos.

ARTIGO 139
(Norma revogatória)

É revogada a Lei n.º 26/2009, de 29 de Setembro.

ARTIGO 140
(Entrada em vigor)

A presente Lei entra em vigor 60 dias após a data da sua publicação.


Aprovada pela Assembleia da República, aos 23 de Outubro de 2013.
A Presidente da Assembleia da República. — Verónica Nataniel Macamo
Dlhovo.
Promulgada em 26 de Maio de 2014.
Publique-se.
O Presidente da República, Armando Emílio Guebuza.
Havendo necessidade de proceder a revisão da Lei n.º 14/2014, de 14 de
Agosto, visando adequá-la a realidade actual e ao processo de elaboração
do relatório e parecer sobre a Conta Geral do Estado, ao abrigo do disposto
no artigo 231, conjugado com o n.º 1, do artigo 179 da Constituição, a
Assembleia da República determina:

ARTIGO 1
(Alteração à Lei n.º 14/2014, de 14 de Agosto)

São alterados os artigos 1, 4, 5, 6, 7, 13, 14 a 138 da Lei n.º 14/2014, de 14 de


Agosto, e passam a ter a seguinte redacção:

“ARTIGO 1
(Objecto)

1. A presente Lei aplica-se à organização, funcionamento e processo da


Secção de Contas Públicas do Tribunal Administrativo.
2. A presente Lei aplica-se igualmente ao processo de fisca-lização prévia,
através do Visto, nos tribunais administrativos provinciais e no Tribunal
Administrativo da Cidade de Maputo.

ARTIGO 4
(Colaboração de outras entidades)
1. (… )
2. O Tribunal Administrativo pode determinar a requi-sição de serviços de
inspecção e auditoria aos órgãos de controlo interno.
2. A. Excepcionalmente, sempre que necessário, o Tribunal Administrativo
pode recorrer à contratação de empresas especializadas para realização de
inspecção e auditoria, quando estas não possam ser desempenhadas pelos
serviços de apoio do Tribunal.
3. As entidades públicas devem comunicar ao Tribunal Administrativo, aos
Tribunais Administrativos Provinciais e Tribunal Administrativo da Cidade de
Maputo, as irregularidades de que tomem conhecimento no exercício das
suas funções, sempre que a apreciação das mesmas caiba no âmbito das
respectivas atribuições e competências.

ARTIGO 5
(Princípio do contraditório)

O Tribunal Administrativo confere o direito de audição prévia e de defesa


aos responsáveis pelas contas e aos eventuais suspeitos de infracções
financeiras, garantindo o contraditório e a ampla defesa.
ARTIGO 6
(Publicidade das decisões)
1. (… )
2. (...)
3. As decisões a que se refere o número anterior são publicadas no Boletim
da República.
4. As decisões a que se refere o n.º 2, são também publicadas no sítio de
Internet do Tribunal Administrativo.

ARTIGO 7
(Estrutura, composição e quorum)

1. (...)
2. (… )
3. (… )
4. A Secção das Contas Públicas funciona em formações jurisdicionais,
integrada por três juízes, para decisão sobre o Visto, nos casos referidos no
artigo 36.

ARTIGO 13
(Aplicabilidade de normas aos tribunais administrativos provinciais e
Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo)

É aplicável aos tribunais administrativos provinciais e Tribunal


Administrativo da Cidade de Maputo, com as necessárias adaptações, o
regime dos n.ºs 2 e 4 do artigo 7 e dos artigos 8, 9 e 10.

ARTIGO 14
(Competência)

1. Compete ao Tribunal Administrativo:


a) dar parecer sobre a Conta Geral do Estado;
b) fiscalizar, previamente, de modo sistemático, a legalidade e a cobertura
orçamental dos actos e contratos de que resulte receita ou despesa para
alguma das entidades expressamente reservadas por lei como sendo da
competência do Tribunal Administrativo;
c) fiscalizar, sucessiva ou concomitantemente, as entidades definidas por lei
e julgar as respec-tivas contas;
d) fiscalizar a aplicação dos recursos financeiros externos, nomeadamente
através de empréstimos, subsídios, avales e donativos;
e) aprovar relatórios da verificação externa de contas e de auditorias;
f) ordenar reposições de recursos irregularmente utilizados;
g) aplicar multas aos responsáveis das quantias em falta;
h) efectivar, reduzir ou relevar a responsabilidade financeira decorrente de
infracções financeiras, contabilísticas e administrativas.
2. No parecer sobre a Conta Geral do Estado o Tribunal Administrativo
aprecia, designadamente:
a) a actividade financeira do Estado no ano a que a Conta se reporta, nos
domínios patrimonial, das receitas e despesas;
b) o cumprimento da Lei do Orçamento e legislação complementar;
c) o inventário do património do Estado;
d) as subvenções, subsídios, benefícios fiscais, créditos e outras formas de
apoio concedidos, directa ou indirectamente.

ARTIGO 15
(Competência complementar)

Compete, ainda, ao Tribunal Administrativo:


a) aprovar os regulamentos internos necessários ao seu funcionamento;
b) emitir e publicar, com carácter imperativo, as instruções indispensáveis
ao exercício da sua competência, nomeadamente no que se refere ao modo
como as contas e os processos devem ser submetidos à sua apreciação;
c) propor as medidas normativas e administrativas que julgue necessárias na
sua área de actuação.

ARTIGO 16
(Prova, coadjuvação e execução)

1. O tribunal competente pode requisitar quaisquer documentos ou


diligências e solicitar esclarecimentos que entenda indispensáveis e que são
prestados até cinco dias, sob pena de multa ao responsável.
2. As informações e processos pedidos para o exercício da fiscalização
prévia devem ser prestados pelos serviços, funcionários e quaisquer
entidades públicas ou privadas com prioridade sobre qualquer outra
actividade.
3. As entidades referidas no número anterior são obrigadas a dar execução
aos acórdãos, resoluções, instruções e despachos do Tribunal, sob pena de
desobediência qualificada.

ARTIGO 17
(Competência dos serviços de apoio à Secção de Contas Públicas)

1. Compete aos serviços de apoio à Secção de Contas Públicas, prestar todo


o apoio técnico-administrativo e, designadamente, informar oficiosamente
os actos, contratos e mais instrumentos sujeitos à fiscalização do Tribunal
Administrativo e organizar os respectivos processos.
2. Para os efeitos do disposto no número anterior, os serviços podem
solicitar os elementos indispensáveis.

ARTIGO 18
(Representação)

1. O Ministério Público é representado junto do Tribunal Administrativo, nos


termos da lei.
2. O Ministério Público intervém em todas as sessões, podendo usar da
palavra e promover o que achar conveniente.
ARTIGO 19
(Legislação aplicável)

O processo relativo à Conta Geral do Estado, à fiscalização prévia, à


fiscalização concomitante, à fiscalização sucessiva, bem como às respectivas
responsabilidades financeiras, rege-se pela presente Lei e, supletivamente,
pelo Código de Processo Civil, pelas normas relativas aos procedimentos
administrativos e pelo Código de Processo Penal, em matéria sancionatória,
observando-se as necessárias adaptações.

ARTIGO 20
(Distribuição e espécies)

Para efeitos de distribuição, os processos classificam-se em:


a) Conta Geral do Estado;
b) Visto;
c) Contas de gerência;
d) Auditoria;
e) Inspecção;
f) Multa;
g) Recurso;
h) outros processos.

ARTIGO 21
(Relatores)

1. A distribuição é o meio utilizado para designar o Relator do processo.


2. Para efeitos de distribuição e substituição de Relatores, a ordem dos juízes
é sorteada na primeira sessão anual.
3. A distribuição dos processos de Visto a serem apreciados em sessão diária
de Visto, faz-se nos termos previstos no artigo 33, da presente Lei.

ARTIGO 22
(Direcção processual)

1. Compete à Contadoria da área respectiva dirigir a fase instrutória do


processo.
2. Concluída a fase instrutória e havendo lugar a submissão a julgamento,
compete ao Juiz Relator a preparação para a fase de julgamento.
3. Das decisões proferidas na fase jurisdicional cabe reclamação, sem efeito
suspensivo.
ARTIGO 23
(Audiência dos responsáveis)

O Tribunal Administrativo procede sempre à audição dos responsáveis, salvo


relativamente ao processo de elaboração do relatório e parecer sobre a
Conta Geral do Estado.

ARTIGO 24
(Citação e notificação)

A citação e a notificação são feitas nos termos da Lei de Processo Civil,


podendo o Juiz Relator determinar que sejam efectuadas por agente da
autoridade administrativa ou policial.

ARTIGO 25
(Falta de remessa de elementos)

1. Verificando-se a falta injustificada de remessa de elementos com


relevância para a decisão do processo, o tribunal aprecia livremente essa
conduta, para efeitos probatórios, sem prejuízo de eventual instauração do
processo de multa ou outros e da comunicação às entidades competentes
para o apuramento de responsabilidades.
2. A multa a arbitrar pela falta referida anteriormente, conforme as
circunstâncias a ponderar pelo tribunal, não deve ser inferi or a um sexto do
vencimento anual do responsável pelo seu pagamento, a identificar no
respectivo processo, pela primeira vez, e três sextos do vencimento anual,
pela segunda e ulteriores vezes.
3. Seja qual for a situação, o limite máximo da multa não pode ultrapassar o
vencimento total anual do infractor.

ARTIGO 26
(Provas)

Nos processos referidos no artigo 20, da presente Lei só são admitidas a


prova por inspecção, a prova documental e, quando o tribunal o considere
necessário, a prova pericial.

ARTIGO 27
(Audiência de técnicos)

1. Quando num processo se devam resolver questões que pressuponham


conhecimentos especializados, o tribunal pode determinar a intervenção de
técnicos que podem ser ouvidos na discussão.
2. Nas condições do número anterior, o representante do Ministério Público
pode, também, ser assistido por técnicos que são ouvidos na discussão,
quando o tribunal o considerar conveniente.
ARTIGO 28
(Constituição de advogado)

1. É permitida a constituição de advogado em qualquer grau de instância,


nos processos de visto, de julgamento de contas, de julgamento de
responsabilidades financeiras e de multa.
2. No Plenário do Tribunal Administrativo, a constituição de advogado é
obrigatória.

ARTIGO 29
(Contagem dos prazos)

Os prazos são contínuos e interrompem-se até à respectiva satisfação,


sempre que sejam solicitados elementos adicionais ou em falta,
considerados imprescindíveis, ou tendo em vista o suprimento de
deficiências.

ARTIGO 30
(Prazo supletivo)

Quando a lei não especifique, entende-se ser de cinco dias o prazo a


observar em qualquer diligência.

ARTIGO 31
(Execução de decisões condenatórias)

As decisões condenatórias devem ser executadas, quando for caso disso, no


prazo de trinta dias após a notificação do responsável, correndo trâmites
nos tribunais competentes para as execuções fiscais.

ARTIGO 32
(Trânsito em julgado)

As decisões condenatórias transitam em julgado no prazo de dez dias.

ARTIGO 33
(Distribuição dos processos de Visto)

Os processos de Visto entrados são distribuídos ao juiz de semana,


devidamente informados pela Contadoria, até ao primeiro dia útil da semana
seguinte ao registo de entrada na Secretaria do tribunal competente.
ARTIGO 34
(Sequência da instrução dos processos)

1. A instrução dos processos faz-se pela ordem de registo de entrada, salvo


nos casos de urgência.
2. Por iniciativa própria ou a requerimento de qualquer entidade, os juízes
podem declarar a urgência de qualquer processo, mediante despacho
fundamentado.

ARTIGO 35
(Prazos)

1. A concessão do visto deve ter lugar no prazo de trinta dias, salvo se forem
solicitados elementos ou informações complementares.
2. Os pedidos de elementos ou informações devem efectuar-se no mesmo
prazo.

ARTIGO 36
(Processo de Visto em formação jurisdicional)

Sempre que o juiz a quem foi distribuído o processo entenda que deve ser
recusado o Visto ou se suscitem dúvidas acerca da decisão a tomar, o
processo é levado à sessão, para apreciação em conferência, acompanhado
do projecto de acórdão.

ARTIGO 37
(Notificação das decisões em processo de Visto)

1. As decisões de recusa de Visto em actos e contratos relativos a pessoal


são enviadas, com os respectivos processos, aos serviços que os tiverem
remetido ao tribunal.
2. Todas as decisões são notificadas aos respectivos interessados e podem
ser publicadas no sítio de internet do Tribunal.

ARTIGO 38
(Notificação ao Ministério Público)

Os acórdãos de recusa de visto são notificados ao repre-sentante do


Ministério Público, junto do tribunal competente, designadamente, para
eventual interposição de recurso, no prazo de cinco dias.

ARTIGO 39
(Fases processuais)

1. Os processos de contas integram as fases instrutória e de julgamento.


2. A fase instrutória inicia-se com a entrada na Secretaria do expediente
processual, distribuição e designação do Juiz Relator, seguindo-se a
tramitação nos serviços de apoio, a elaboração do relatório técnico final e
organização do processo.
3. A fase de julgamento, com vista à apreciação jurisdicional, inicia-se com a
entrega do processo ao Juiz Relator.

ARTIGO 40
(Apensação de processos)

1. São susceptíveis de apensação as contas de gerência em que se detectem


infracções financeiras continuadas, imputáveis aos mesmos agentes, ou em
que os elementos integrantes da gerência sejam os mesmos.
2. Também podem ser apensadas as contas correspondentes, se útil à
apreciação destas, quando não apurada transgressão à norma legal ou
regulamentar de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional ou
patrimonial.

ARTIGO 41
(Identificação dos responsáveis pelas infracções)

1. Quando detectadas irregularidade nas contas, o relator ou o tribunal deve


definir a responsabilidade individual ou solidária pelo acto de gestão
inquinado.
2. Se houver débito, ordena a citação do responsável para, no prazo
estabelecido no Regimento Interno, apresentar defesa ou cobrar a
importância devida.
3. Caso não haja débito, determina a audiência do responsável para, no prazo
estabelecido no Regimento Interno, apresentar razões justificativas.
4. As contas de gerência que enfermem de irregularidades financeiras que,
simultaneamente, constituam crimes previstos e punidos pela Lei Penal, em
cujo âmbito os autores estejam perfeitamente identificados por sentença
penal transitada em julgado, devem ser objecto de quitação, se os
responsáveis pela gerência forem estranhos aos factos e as contas não
padecerem de outras irregularidades que a isso obstem.
5. De igual modo, são susceptíveis de arquivamento as contas cujo âmbito
da decisão penal conclua pelo arquivamento do processo-crime, por
impossibilidade de imputação dos factos criminosos ou de identificação dos
seus autores materiais, inexistindo, igualmente, culpa dos responsáveis pela
gerência.
6. Nas circunstâncias previstas nos n.ºs 4 e 5 do presente artigo, deve
abonar-se aos responsáveis pela conta os dinheiros e outros valores em falta
e proceder ao ajustamento daquela, por forma a reflectir essa mesma
realidade.

ARTIGO 42
(Decisão em responsabilidade financeira ou juízo de censura)

1. Sempre que da instrução resultem factos que envolvam responsabilidade


financeira ou qualquer juízo de censura, o relator ordena a citação dos
responsáveis para, no prazo de trinta dias, contestarem e apresentarem os
documentos que entendam necessários.
2. Se se tratar de infracções puníveis apenas com multa, é instaurado o
respectivo processo autónomo.

ARTIGO 43
(Conteúdo das decisões)

As decisões desfavoráveis, ainda que consistam num mero juízo de censura,


devem mencionar expressamente a posição adoptada pelos visados, a
propósito dos actos ou omissões que lhes sejam imputados.

ARTIGO 44
(Âmbito de aplicação)

As normas da presente secção são aplicáveis ao julgamento de todas as


infracções puníveis com multa, cujo conhecimento seja da competência do
Tribunal Administrativo ou dos tribunais administrativos provinciais e
Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo, para as quais não haja
processo próprio.
ARTIGO 45
(Instauração do processo)

1. O processo de multa é instaurado com base em despacho proferido em


processo adequado, informação da Secretaria ou denúncia.
2. A denúncia é obrigatória para os funcionários e agentes das entidades
sujeitas ao controlo do tribunal competente, quanto aos factos de que
tomarem conhecimento no exercício das suas funções ou por causa delas.

ARTIGO 46
(Intervenção do Ministério Público)

Distribuído e autuado o processo, é dada vista oficiosamente ao Ministério


Público, que pode requerer o que tiver por conveniente, no prazo de oito
dias, a contar da data do respectivo termo de vista.

ARTIGO 47
(Citação)

Logo que o processo contenha elementos para permitir apurar a existência


da infracção, qual o seu autor e em que qualidade, o relator manda citar para
contestar os factos que se lhe imputam, juntar documentos e requerer o que
tiver por conveniente, no prazo de trinta dias, a contar da data da citação.
ARTIGO 48
(Vista ao Ministério Público)

Apresentada a contestação ou decorrido o respectivo prazo sem que esta


tenha sido apresentada, vai o processo com vista ao Ministério Público para
emitir parecer.
ARTIGO 49
(Outros infractores)

Quando da sua instrução resulte que a infracção é susceptível de ser


imputada a outras pessoas, são estas também citadas seguindo-se os demais
termos dos artigos anteriores.

ARTIGO 50
(Pagamento voluntário)

1. O responsável pode pôr termo ao processo, pagando, voluntariamente, o


montante mínimo da multa legalmente fixado, dentro do prazo da
contestação.
2. O juiz julga extinto o procedimento logo que seja junta aos autos a guia
comprovativa do pagamento.

ARTIGO 51
(Suprimento da falta)

1. O pagamento da multa não isenta o infractor da obrigação de suprir a falta


que originou a infracção, se tal for possível.
2. Para o fim do disposto no número anterior, o juiz concede um prazo
razoável, não superior a trinta dias após a decisão.

ARTIGO 52
(Responsabilidade financeira cumulativa)

A condenação em processo de multa não isenta o infractor da


responsabilidade financeira eventualmente decorrente dos mesmos factos.

ARTIGO 53
(Regime aplicável)

As disposições relativas aos processos de contas ou de multa são aplicáveis,


com as necessárias adaptações, nomeadamente aos seguintes processos:
a) averiguações, inquéritos e auditorias;
b) declaração da impontualidade do julgamento;
c) fixação de débito aos responsáveis ou de declaração de impossibilidade
de julgamento;
d) reforma de processo;
e) embargos à execução de decisão;
f) extinção de fianças, cauções e mais garantias exigíveis aos responsáveis
por dinheiros públicos.

ARTIGO 54
(Inspecções e auditorias)

1. O Tribunal Administrativo pode, para além das auditorias necessárias à


verificação externa de contas, realizar, sempre que o entender, por sua
iniciativa ou a pedido da Assembleia da República, do Governo, do
Procurador- -Geral da República ou do Provedor de Justiça, inspecções e
auditorias de qualquer tipo ou natureza a determinados actos,
procedimentos ou aspectos da gestão financeira das entidades submetidas
aos seus poderes de controlo externo.
2. A fase instrutória das inspecções e auditorias é concluída com a
elaboração e aprovação do relatório final.

ARTIGO 55
(Conteúdo do relatório de inspecção ou de auditoria)

1. O relatório de inspecção ou de auditoria deve seguir o estabelecido nos


manuais de auditoria do Tribunal Administrativo e conter todos os
elementos que permitam o seu julgamento.
2. Do relatório de inspecção ou de auditoria devem constar, no mínimo, os
seguintes elementos:
a) a entidade que é objecto de inspecção ou auditoria e o período a que as
mesmas respeitam;
b) os métodos e técnicas de verificação utilizados e o universo das
operações seleccionadas;
c) a opinião dos responsáveis em sede do contraditório;
d) o juízo sobre a legalidade e regularidade das operações examinadas e
sobre a consistência, integralidade e fiabilidade das contas e respectivas
demonstrações financeiras, assim como sobre a impossibilidade da sua
verificação, se for o caso;
e) a concretização das situações de facto e de direito integradoras de
eventuais infracções financeiras e seus responsáveis;
f) a apreciação da economia, eficiência e eficácia da gestão financeira e seus
responsáveis;
g) as recomendações com vista a serem supridas as deficiências da
respectiva gestão e funcio-namento dos serviços;
h) os emolumentos devidos e outros encargos da responsabilidade da
entidade auditada.

ARTIGO 56
(Auditorias na fiscalização concomitante)

1. O Tribunal Administrativo pode realizar auditorias, no âmbito da


fiscalização concomitante, a qualquer momento, em especial nos seguintes
casos:
a) aos procedimentos e actos administrativos que impliquem despesas de
pessoal e aos contratos que não devam ser remetidos para fiscalização
prévia nos termos da lei e, ainda, quanto à execução de contratos vi sados;
b) à actividade financeira exercida antes do encer-ramento da respectiva
gerência.
2. Se, nos casos previstos no número precedente, se apurar a ilegalidade de
procedimento pendente ou de acto ou contrato ainda não executado, deve
a entidade competente para autorizar a despesa ser notificada para remeter
o mencionado acto ou contrato à fiscalização prévia e não lhe dar execução
antes do visto, sob pena de responsabilidade financeira.
3. Os relatórios de auditoria realizados nos termos dos números anteriores
podem ser instrumentos de processo de verificação da respectiva conta ou
servir de base a processo de efectivação de responsabilidade ou de multa.

ARTIGO 57
(Notificação ao Ministério Público)

1. O Ministério Público é notificado do relatório aprovado, podendo solicitar


a entrega de todos os documentos ou processos que entenda necessários.
2. O Ministério Público pode realizar as diligências complementares que
entender adequadas que se relacionem com os factos constantes dos
relatórios que lhe sejam remetidos, com a finalidade de serem
desencadeados eventuais procedimentos jurisdicionais.

ARTIGO 58
(Conteúdo)

A fiscalização prévia da legalidade das receitas e despesas públicas abrange


a concessão ou recusa do visto nos actos, contratos e mais instrumentos
emanados pelo Estado e demais entidades públicas, traduzindo-se na análise
da sua legalidade e cabimento financeiro e, relativamente aos contratos, na
indagação da observância das condições mais favoráveis para o Estado.

ARTIGO 59
(Âmbito subjectivo)

Estão sujeitos à fiscalização prévia da jurisdição administrativa:


a) o Estado e outras entidades públicas, designadamente os serviços e
organismos inseridos no âmbito da Administração Pública Central, Provincial
e Local, incluindo as dotadas de autonomia administrativa ou financeira e
personalidade jurídica;
b) os institutos públicos;
c) as autarquias locais;
d) outras entidades que a lei determinar.

ARTIGO 60
(Âmbito material)

1. Estão obrigatoriamente sujeitos à fiscalização prévia os seguintes actos,


contratos e mais instrumentos jurídicos geradores de despesa pública,
praticados ou celebrados pelas entidades referidas no artigo anterior:
a) os actos administrativos de provimento de pessoal civil ou militar,
designadamente os relativos às admissões de pessoal não vinculado à
função pública ou para categoria de ingresso, aposen-tações, reformas, bem
como de atribuição de pensões;
b) o acto de designação dos recebedores, tesoureiros, exactores e demais
responsáveis por dinheiros públicos;
c) os contratos de qualquer natureza ou montante relativos a pessoal, obras
públicas, empréstimos, concessão, fornecimento e prestação de serviços;
d) as minutas de contratos de valor igual ou superior ao valor fixado
anualmente na lei orçamental, sem prejuízo das de valor inferior ficarem
sujeitas à fiscalização sucessiva;
e) as minutas de contratos de qualquer valor que venham a celebrar-se por
escritura pública e cujos encargos tenham de ser satisfeitos no acto da sua
celebração;
f) outros actos que a lei determinar.
2. Os notários não podem lavrar qualquer escritura sem verificar e atestar a
conformidade do contrato com a minuta previamente visada.
3. Nos casos referidos no número precedente, os translados ou certidões são
remetidos ao Tribunal Administrativo, aos tribunais administrativos
provinciais e ao Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo nos trinta dias
seguintes à celebração da escritura, acompanhados da respectiva minuta.
4. Incluem-se no âmbito das alíneas c), d) e e) do n.º 1 do presente artigo, os
contratos ou minutas que constituam meras adendas ou adicionais ou se
traduzam em trabalhos a mais, acessórios ou complementares.
5. Estão igualmente sujeitos à fiscalização prévia, para além dos contratos
formais, os documentos escritos avulsos que, conjugados entre si,
consubstanciem um acordo de vontades e um contrato, embora informal.

ARTIGO 61
(Natureza e efeitos do Visto)

O Visto constitui um acto jurisdicional condicionante da eficácia global dos


actos e mais instrumentos legalmente sujeitos à fiscalização prévia.

ARTIGO 62
(Forma de apreciação dos processos de Visto)

Os processos de Visto são susceptíveis de apreciação de natureza,


metodologia e complexidade crescentes e incluem:
a) Visto;
b) Visto tácito;
c) urgente conveniência de serviço;
d) anotação;
e) julgamento.

ARTIGO 63
(Instrução de processos de provimento)

1. O provimento dos lugares do quadro dos serviços é feito através de


diploma individual de provimento e de contrato.
2. Os processos de Visto ou contratos, no âmbito do primeiro ou da admissão
de pessoal, devem ser instruídos e enviados ao tribunal competente com os
seguintes documentos, em duplicado:
a) os diplomas de provimento completos e correc-tamente preenchidos,
designadamente com a indicação da legislação geral e da legislação especial
que fundamentam o provimento e do despacho em que se funda o
provimento, sendo caso disso;
b) declaração do responsável máximo do serviço, no sentido de que foram
cumpridas as formalidades legalmente exigidas para o provimento e o candi-
dato reúne todos os requisitos legalmente exigidos para o efeito;
c) certidão de registo de nascimento;
d) certificado de habilitações literárias e das quali-ficações profissionais
legalmente exigidas;
e) certificado de registo criminal;
f) certificado médico comprovativo de possuir a robustez física e sanidade
mental necessárias para o exercício do cargo a prover;
g) documento militar comprovativo do cumprimento das obrigações
militares, quando legalmente sujeito a elas;
h) declaração de não inibição para o exercício de funções públicas,
mormente resultante de eventuais acumulações ou incompatibilidades e
demais restrições legais;
i) nota biográfica donde constem todos os cargos ou funções anteriormente
exercidos na Admi-nistração Pública;
j) informação de cabimento de verba pelos departamentos ou serviços
competentes;
k) aviso de abertura de concurso e comprovativo da competência para o
efeito, sendo caso disso.
3. Os provimentos relativos a indivíduos detentores de qualidade de
funcionários devem apenas ser instruídos com os documentos
especialmente exigidos para o efeito, face à natureza do acto.

ARTIGO 64
(Instrução de processos não relativos a pessoal)

1. Os contratos não relativos a pessoal devem ser instruídos com os


documentos seguintes, em duplicado, devidamente autenticados com o selo
branco em uso no respectivo serviço:
a) aviso de abertura do concurso público ou autorização de dispensa do
mesmo;
b) caderno de encargos, sendo caso disso;
c) acta da abertura das propostas;
d) prova do cumprimento das obrigações fiscais, designadamente do
pagamento do imposto de selo;
e) despachos de adjudicação e outros, devidamente autenticados pelos
serviços remetentes.
2. Os contratos definitivos são, ainda, acompanhados de documento donde
constem:
a) a identificação do ministério ou outra instituição onde se insere o serviço
ou organismo;
b) a data da sua celebração;
c) identificação dos outorgantes;
d) o prazo de validade;
e) o objecto e valor do contrato;
f) a informação de cabimento de verba.
ARTIGO 65
(Dispensa de documentos)

Os serviços podem ser dispensados, pontualmente, da apresentação dos


documentos que devem instruir os processos a submeter à fiscalização
prévia.

ARTIGO 66
(Informação de cabimento)

A informação de cabimento é exarada nos documentos sujeitos a Visto e


consiste na declaração de que os encargos decorrentes do acto ou contrato
têm cobertura orçamental em verba legalmente aplicável, cativa para o
efeito.

ARTIGO 67
(Aferição de requisitos)

Sob pena de extemporaneidade, os documentos comprovativos dos


requisitos de habilitação a qualquer concurso devem ser entregues, até ao
último dia do prazo para a apresentação de candidaturas.

ARTIGO 68
(Documentos em língua estrangeira)

Os documentos emitidos em língua estrangeira, para serem válidos perante


a jurisdição administrativa, devem ser traduzidos para a língua oficial do País
e autenticados por autoridade nacional competente.

ARTIGO 69
(Autenticação de documentos e arquivo)

1. Os documentos sujeitos a Visto da jurisdição administrativa devem ser


autenticados electronicamente ou com o selo branco ou carimbo do
responsável.
2. Os processos são sempre instruídos em duplicado, que deve ser mantido
em arquivo no tribunal competente.

ARTIGO 70
(Falsidade de documentos ou declarações)

No caso de falsidade de documentos ou de declarações, o tribunal


competente anula o visto do diploma por meio de acórdão, importando a
notificação deste a imediata suspensão do pagamento de quaisquer abonos
e a vacatura do cargo, sem prejuízo da responsabilidade disciplinar ou
criminal que no caso se verifique.
ARTIGO 71
(Anotação)

1. São submetidos à mera anotação os actos não sujeitos a Visto que a lei
determinar.
2. Estão, igualmente, sujeitos à anotação outros actos modificativos da
relação jurídica de trabalho de que não resulte aumento de vencimento,
designadamente a exoneração, demissão, expulsão e os contratos cujas
minutas hajam sido previamente visadas.
3. A anotação não implica qualquer juízo relativamente à legalidade do acto,
efectuando-se sempre que o Visto não seja exigido legalmente, tendo em
vista a actualização do cadastro dos funcionários e agentes em exercício de
funções, a qualquer título.

ARTIGO 72
(Excepções)

1. Não estão sujeitos à fiscalização prévia, sem prejuízo da sua eventual


fiscalização sucessiva:
a) os diplomas de nomeação emanados do Presidente da República;
b) os diplomas relativos aos cargos electivos;
c) os contratos celebrados ao abrigo de Acordos de Cooperação entre
Estados;
d) os actos administrativos sobre a concessão de vencimentos certos ou
eventuais resultantes do exercício de cargo por inerência legal expressa,
com excepção dos que concedem gratificação;
e) nomeações definitivas dos funcionários do Estado;
f) contratos de trabalho celebrados por representações diplomáticas e
consulares moçambicanas no exterior com trabalhadores estrangeiros;
g) os títulos definitivos de contratos cujas minutas hajam sido objecto de
Visto;
h) os contratos de arrendamento celebrados no estran-geiro para instalação
de postos diplomáticos ou consulares ou outros serviços de representação
internacional, quando a urgência da sua realização impeça a sujeição
daqueles ao Visto prévio da jurisdição administrativa;
i) os diplomas e despachos relativos a promoções, progressões,
reclassificações, substituições;
j) transferências;
k) outros actos ou contratos especialmente previstos por lei.
2. A lei que aprova o Orçamento do Estado estabelece, anualmente, um valor
abaixo do qual ficam isentos da fiscalização prévia contratos não relativos a
pessoal, quando celebrados com concorrentes inscritos no cadastro único
de empreiteiros de obras públicas, fornecedores de bens e de prestadores
de serviços elegíveis a participar nos concursos públicos, existente no
ministério que superintende a área das finanças.
3. Os serviços devem, no prazo de trinta dias, após a celebração dos
contratos a que se referem as alíneas c) a h) do n.º 1 e do n.º 2 anteriores,
remeter cópia dos mesmos à jurisdição administrativa.
4. O Tribunal Administrativo pode, anualmente, mediante deliberação do
Plenário, determinar que certos actos e contratos apenas sejam objecto de
fiscalização sucessiva ou apenas fiquem sujeitos a esta a partir de
determinado montante.
ARTIGO 73
(Urgente conveniência de serviço)

1. Excepcionalmente, a eficácia dos actos e contratos sujeitos à fiscalização


prévia da jurisdição administrativa pode reportar-se à data anterior ao Visto,
desde que declarada por escrito pelo membro do Governo ou entidade
competente a urgente conveniência de serviço e digam respeito a:
a) nomeação de magistrados judiciais e do Ministério Público, secretários
permanentes dos Ministérios, directores nacionais, secretários permanentes
provinciais, administradores distritais, secretários permanentes distritais,
chefes de posto administrativo das autoridades civis, do pessoal técnico-
profissional de saúde de nível básico, médio e superior, professores de
qualquer nível ou categoria, pessoal técnico-profissional agrário de nível
básico, médio e superior, recebedores, tesoureiros, escrivães de direito,
ajudantes de escrivães, oficiais de justiça, pessoal das forças militarizadas,
pessoal afecto aos serviços prisionais, ao censo populacional e ao serviço de
eleições;
b) nomeações para o exercício de funções em regime especial de actividade,
nomeadamente comissão de serviço, destacamento, substituição e
acumulação de funções;
c) contratos não relativos a pessoal de que tenha sido prestada caução não
inferior a cinquenta por cento do seu valor global;
d) contratos que prorrogam outros anteriores permitidos por lei, desde que
as condições sejam as mesmas;
e) os contratos de obras públicas cujo valor seja superior a cinco milhões de
meticais;
f) contratos de qualquer natureza decorrentes de caso fortuito ou força
maior.
2. Os funcionários e agentes referidos no número anterior podem tomar
posse, entrar em exercício e receber vencimentos, antes do Visto e
publicação do diploma.
3. Os processos em que tenha sido declarada a urgente conveniência de
serviço devem ser enviados ao tribunal competente, nos trinta dias
subsequentes à data do despacho de autorização, sob pena de cessação dos
respectivos efeitos, salvo motivos ponderosos que o mesmo tribunal avalia.
4. A recusa do Visto produz os efeitos referidos no artigo 78 da presente Lei.

ARTIGO 74
(Visto tácito)

1. Os actos, contratos e demais instrumentos jurídicos enviados à jurisdição


administrativa para fiscalização prévia consideram-se visados se não tiver
havido decisão de recusa de Visto no prazo de quarenta e cinco dias, a
contar da data do seu registo de entrada.
2. Para os casos referidos no número anterior, não é necessária assinatura do
Juiz no processo.
3. Os serviços ou organismos podem iniciar a execução dos actos ou
contratos e demais instrumentos jurídicos, se decorridos oito dias sobre o
termo daquele prazo, não tiverem recebido a comunicação prevista no núero
seguinte.
4. Devem ser comunicadas aos serviços ou organismos as datas do registo
mencionadas no n.º 1 e publicadas na página de Internet do tribunal
copetente.
5. É aplicável à interrupção referida no número anterior o regime da Lei de
Processo.

ARTIGO 75
(Declaração de conformidade)

O Tribunal Administrativo, por deliberação do Plenário, pode determinar que


a fiscalização prévia assuma a forma de declaração de conformidade, a
efectuar no âmbito dos serviços de apoio técnico e administrativo,
relativamente aos actos, contratos e demais instrumentos sujeitos a Visto,
que não suscitem dúvidas concernentes à sua legalidade urídico-financeira.

ARTIGO 76
(Procedimentos na declaração de conformidade)

1. A Contadoria do Visto deve agrupar em lotes e elaborar uma relação diária


dos processos semelhantes e de reduzida complexidade que considere
passíveis de declaração de conformidade.
2. A relação referida no número anterior é assinada pelo Contador, que a
apresenta ao Juiz Relator para efeitos de homologação, sendo,
posteriormente, notificada ao Ministério Público.
3. De seguida, é aposta a chancela "Está Conforme" nos processos
constantes da relação definitiva sendo, posteriormente, feitas as devidas
comunicações.

ARTIGO 77
(Fundamentos da recusa do Visto)

Constituem fundamentos de recusa do Visto, nomeadamente:


a) a desconformidade do acto ou contrato, traduzida em absoluta falta de
forma, impossibilidade do objecto ou vício determinante de inexistência ou
nulidade absoluta;
b) a falta de cabimento financeiro;
c) a intempestividade da submissão à fiscalização prévia, decorrente da
execução prévia ilegal;
d) a mera anulabilidade, legitimamente invocada pelo interessado;
e) a ofensa de caso julgado.

ARTIGO 78
(Efeitos da falta ou recusa do Visto)

1. Os actos, contratos e mais instrumentos subtraídos à fiscalização prévia


ou objecto de recusa de Visto não são exequíveis, sendo insusceptíveis de
quaisquer efeitos financeiros.
2. A recusa de Visto determina a cessação de quaisquer abonos, a partir da
data em que, da respectiva decisão, for dado conhecimento aos serviços.
3. A execução de um acto ou contrato objecto de recusa de Visto, ofende o
caso julgado e determina a nulidade dos actos de execução.
4. É aplicável à anulação do Visto o regime prescrito nos números anteriores.
5. Apenas podem produzir efeitos, anteriormente à fiscalização prévia, os
actos ou contratos praticados com fundamento em urgente conveniência de
serviço e bem assim os contratos de seguro.
6. Quando o Visto haja sido recusado por insuficiência de instrução, pode
haver lugar a nova apresentação de processo devidamente instruído.

ARTIGO 79
(Recurso por recusa de Visto)

1. No caso de recusa de Visto, pode a Administração, pelo membro do


Governo, ou entidade competente, interpor recurso, no prazo fixado na lei.
2. Os eventuais prejudicados pela recusa de Visto podem intervir no
processo nos termos previstos nos n.ºs 2 e 3 do artigo 122 da presente Lei.

ARTIGO 80
(Âmbito)

Estão sujeitos à prestação de contas os recebedores, tesoureiros, exactores


e demais responsáveis pela cobrança, guarda ou administração de dinheiros
públicos, bem como os responsáveis, de direito ou de facto, pela gestão das
entidades sujeitas ao controlo financeiro da jurisdição administrativa,
qualquer que seja o grau da sua autonomia, ainda que as suas despesas
sejam, parcial ou totalmente cobertas por receitas próprias ou que, umas e
outras, não constem do Orçamento do Estado.

ARTIGO 81
(Periodicidade)

1. Salvo disposição legal em contrário, as contas são prestadas por anos


económicos ou no termo de cada gerência, no caso de substituição total dos
responsáveis.
2. O Tribunal Administrativo pode promover, a todo tempo, inspecção ou
auditoria com o objectivo de detectar irregularidades e saná-las, evitando
danos irreparáveis.

ARTIGO 82
(Conta Geral do Estado)

1. A Conta Geral do Estado deve ser apresentada pelo Governo à Assembleia


da República e ao Tribunal Administrativo, até 31 de Maio do ano seguinte
àquele a que respeite.
2. O relatório e o parecer do Tribunal Administrativo sobre a Conta Geral do
Estado devem ser enviados à Assembleia da República até 30 de Novembro
do ano seguinte àquele a que a mesma se refira.
3. O relatório e o parecer referidos no número anterior devem certificar a
exactidão, regularidade, legalidade e correcção económico-financeira das
contas e da respectiva gestão financeira anual, sendo objecto de publicação
em Boletim da República.
4. O relatório e o parecer do Tribunal Administrativo são acompanhados das
respostas dos serviços e organismos às questões que esse órgão lhes
formular.
5. A Assembleia da República aprecia e aprova a Conta Geral do Estado, na
sessão seguinte à entrega do relatório e parecer pelo Tribunal
Administrativo.

ARTIGO 83
(Prestação, certificação e julgamento de contas)

1. As contas das entidades sujeitas ao controlo da juris-dição administrativa


devem dar entrada nesta, no prazo de três meses, contados a partir da data
do termo da gerência.
2. A requerimento dos interessados que invoquem motivo justificado, o
Tribunal Administrativo pode fixar prazo diferente.
3. O Tribunal Administrativo pode, excepcionalmente, relevar a falta de
cumprimento dos prazos referidos nos números anteriores, por despacho
devidamente motivado do respectivo relator.
4. O Tribunal Administrativo deve apreciar as contas recebidas, para fins de
certificação prevista no artigo 95, até 31 de Dezembro do ano em que forem
entregues.
5. No caso das contas que forem submetidas a julgamento, o prazo é de um
ano, a contar da data da entrada do processo na Secretaria do Tribunal
Administrativo, dos tribunais administrativos provinciais e do Tribunal
Administrativo da Cidade de Maputo, salvaguardado o adiante estipulado no
n.º 3 do artigo 87.
6. O prazo referido no número anterior suspende-se pelo tempo que for
necessário para obter informações ou documentos ou para efectuar
investigações complementares.

ARTIGO 84
(Instruções de execução obrigatória)

1. O Tribunal Administrativo emite instruções de exe-cução obrigatória sobre


a forma como devem ser prestadas as contas e os documentos que devem
instruí-las.
2. Os serviços e outros organismos podem ser dispensados pelo Tribunal
Administrativo da apresentação dos docu-mentos de despesa, no todo ou
em parte.

ARTIGO 85
(Diligências probatórias e coadjuvação)

1. A prestação de contas pela forma que estiver determinada não prejudica


a faculdade de o Tribunal Administrativo exigir de quaisquer entidades os
documentos e informações tidos ainda por necessários, bem como de
requisitar aos competentes serviços de controlo interno as diligências e
meios que julgar convenientes.
2. A solicitação de documentos e esclarecimentos deve ser atendidas no
prazo de cinco dias, após a recepção da notificação, sob pena de multa, a
arbitrar aquando da apreciação das contas.
3. Sob pena de desobediência qualificada, punível nos termos da Lei Penal,
os serviços, os funcionários em geral e quaisquer entidades públicas ou
privadas são obrigados a dar execução aos acórdãos, resoluções e
despachos que, sobre matéria das suas atribuições e competência
específica, a jurisdição administrativa profira em processos sujeitos à sua
apreciação e decisão.

ARTIGO 86
(Forma de apreciação das contas)

As contas são susceptíveis de apreciação de natureza, metodologia e


complexidade crescentes, quais sejam:
a) a verificação de 1.º grau ou preliminar;
b) a verificação de 2.º grau;
c) a inspecção;
d) a auditoria;
e) a certificação;
f) o julgamento.

ARTIGO 87
(Verificação do 1.º grau)

1. A verificação do 1.º grau consiste em certificar:


a) se as contas se fazem acompanhar dos documentos exigidos pelas
respectivas instruções;
b) se as contas estão escrituradas correctamente;
c) se, em exame sumário, as operações e registos que integram essas contas
respeitam a legalidade e a regularidade financeira e contabilística.
2. As contas que não enfermem de suspeitas de alcances ou desvios de
dinheiros públicos, pagamentos indevidos e outras irregularidades graves
podem, após verificação preliminar da Contadoria de Contas e Auditoria, ser
devolvidas aos serviços responsáveis e consideradas certificadas e regulares
sob condição resolutória de ulterior apreciação.
3. Passados cinco anos e não sendo objecto de nova auditoria, as contas são
consideradas definitivamente como certificadas e regulares.
4. Caso, dentro do quinquénio, seja detectada fraude ou qualquer outra
irregularidade, os responsáveis estão sujeitos às sanções devidas.
5. O eventual julgamento pode ter lugar por iniciativa do Tribunal
Administrativo na pessoa do Contador Geral da Contadoria de Contas e
Auditorias, por promoção do Ministério Público ou a pedido de particulares
interessados que demonstrarem legitimidade para tanto.

ARTIGO 88
(Verificação de 2.° grau)

1. A verificação de 2.º grau incide na:


a) análise dos documentos de despesa;
b) forma de instrução da conta, do ponto de vista formal e material, incluindo
a verificação da consistência dos documentos;
c) correcção contabilística;
d) legalidade e regularidade das operações e registos.
2. As contas que não enfermem de suspeitas de alcances ou desvios de
dinheiros públicos, pagamentos indevidos e outras irregularidades graves
podem ser devolvidas aos serviços responsáveis, após verificação pela
Contadoria de Contas e Auditoria e consideradas certificadas e regulares sob
condição resolutória de ulterior apreciação.
3. Passados cinco anos e não sendo esta conta objecto de nova auditoria, é
considerada definitivamente como certificada e regular.
4. Caso, dentro do quinquénio, seja detectada fraude ou qualquer outra
irregularidade, os responsáveis estão sujeitos às sanções devidas.
5. O eventual julgamento pode ter lugar por iniciativa do Tribunal
Administrativo na pessoa do Contador Geral da Contadoria de Contas e
Auditorias, promoção do Ministério Público ou a pedido de particulares
interessados que demonstrarem legitimidade para tanto.

ARTIGO 89
(Inspecção)

1. A inspecção é o procedimento de fiscalização que visa suprir as omissões


e lacunas de informações, esclarecer dúvidas, ou apurar denúncias quanto à
legalidade e legi-timidade de factos da Administração Pública e de actos
administrativos praticados por qualquer responsável sujeito à jurisdição do
Tribunal Administrativo.
2. A inspecção é realizada independentemente de inclusão em plano de
auditoria, podendo ser determinada com base em proposta fundamentada
que demonstre os recursos humanos existentes na contadoria e daqueles a
serem mobilizados na sua execução.

ARTIGO 90
(Auditoria)

1. A Auditoria é um procedimento de fiscalização utilizado pelo Tribunal


Administrativo para fundamentar a instrução, a certificação e o julgamento
das contas públicas ou a apreciação da economia, eficácia e eficiência do
uso de dinheiros públicos.
2. Por forma a determinar as entidades a incluir no Plano Anual de Auditorias,
o Tribunal Administrativo deve proceder a uma avaliação de riscos,
obedecendo a critérios especificados em regulamento interno.
3. Durante a fase instrutória, as auditorias do Tribunal Administrativo são
conduzidas por Auditores de Controlo Externo.
4. O recrutamento e a selecção dos Auditores de Controlo Externo tem em
conta a idoneidade, imparcialidade e conhecimentos técnicos específicos.
5. Na condução das auditorias, os Auditores de Controlo Externo observam
métodos e técnicas de padrão reconhecido.
6. Deve ser elaborada matriz de risco em cada auditoria contemplando, entre
outros:
a) o valor monetário dos recursos geridos por cada unidade sujeita ao
controlo externo;
b) a relevância;
c) o risco inerente, considerando como tal o risco decorrente da própria
operação, independente da avaliação dos controles existentes;
d) o risco de controlo que deve considerar a inexistência ou insuficiência de
controlos internos que previnam ou identifiquem tempestivamente erros ou
irregularidades;
e) a interdependência com outros órgãos ou entidades;
f) o desempenho, conforme resultados alcançados em relação ao previsto e
estipulado em planos, programas ou orçamento.

ARTIGO 91
(Tipos de auditoria)

1. As auditorias podem ser de regularidade e de desem-penho.


2. A auditoria de regularidade tem como foco a verificação da conformidade
com determinadas regras, normas e objectivos.
3. Na auditoria de regularidade, o Tribunal Administrativo analisa as contas,
a situação financeira e orçamental, a legalidade e a regularidade das
operações de determinado órgão, programa ou entidade pública.
4. A auditoria de desempenho tem como foco a avaliação da economia,
eficiência e eficácia.
5. Na auditoria de desempenho, o Tribunal Administrativo avalia programas,
projectos, actividades e respectiva efectividade, sistemas governamentais,
órgãos ou entidades públicas.
6. Dentro da tipologia definida nos números anteriores, as auditorias incidem
sobre áreas de interesse a serem definidas pelo tribunal.
7. Na definição referida no número anterior, o tribunal considera,
nomeadamente as auditorias financeiras, as obras públicas, ambientais e a
sistemas informáticos com as respectivas especificidades.

ARTIGO 92
(Processo de auditoria de regularidade)

1. O Relatório Final de Auditoria pode dar lugar a certificação ou julgamento.


2. Os processos de auditoria são instruídos com toda documentação
necessária para apreciação dos juízes, devendo ser devidamente
referenciados e numerados, de forma a possibilitar consulta rápida e ágil aos
documentos por parte dos juízes.
3. No Relatório Final de Auditoria deve constar de forma clara, se for o caso,
o montante dos valores a serem devolvidos e os respectivos responsáveis.

ARTIGO 93
(Processo de auditoria de desempenho)

1. O Relatório Final de Auditoria de Desempenho dá lugar a um processo de


auditoria de desempenho, distribuído a um Juiz - Relator da Secção de
Contas Públicas, que o analisa e prepara para ser apreciado em sessão com
os demais juízes.
2. Na apreciação do Processo de Auditoria de Desem-penho, os juízes
conselheiros decidem sobre a aprovação do Relatório Final de Auditoria de
Desempenho e remessa ao respectivo auditado para adopção das
recomendações nele constantes.
ARTIGO 94
(Publicidade das decisões em processo de auditoria)

1. As decisões relativas à apreciação e julgamento das auditorias, de


qualquer tipo, devem ser publicadas no Boletim da República e na página da
Internet do Tribunal Administrativo.
2. Uma vez aprovado, pelo Tribunal Administrativo, o Relatório Final da
Auditoria de Desempenho deve ser enviado ao auditado, ao Governo e à
Assembleia da República ou provincial.

ARTIGO 95
(Certificação)

1. A Certificação consiste na apreciação positiva da legalidade e


regularidade das contas apresentadas, que tenham sido objecto de
verificação interna de 1.º Grau, Verificação Interna de 2.º Grau, Inspecção ou
Auditoria.
2. Podem ser certificadas as contas que não enfermem de suspeitas de
alcances ou desvios de dinheiros públicos, pagamentos indevidos ou outras
irregularidades graves.
3. A certificação é feita pelo Juiz Relator sob proposta da Contadoria de
Contas e Auditoria.
4. As contas certificadas e respectivo relatório devem ser devolvidos às
entidades responsáveis, para conhecimento e cumprimento das eventuais
recomendações.
5. Das contas certificadas é enviada cópia ao representante do Ministério
Público, acompanhada do respectivo relatório.
6. A relação das contas certificadas deve ser publicada no Boletim da
República e no sítio de Internet do Tribunal Administrativo, dos tribunais
administrativos provinciais ou do Tribunal Administrativo da Cidade de
Maputo.
7. O Juiz Relator prepara e submete a julgamento os processos das contas
não certificadas.

ARTIGO 96
(Julgamento)

O julgamento das contas traduz-se na apreciação da legalidade da


actividade das entidades sujeitas à prestação de contas, bem como da
respectiva gestão económico-financeira e patrimonial, e no apuramento e
eventual efectivação da inerente responsabilidade financeira e
consubstancia-se em:
a) julgamento de quitação, quando os responsáveis pela sua prestação são
julgados livres de qualquer responsabilidade financeira e as contas havidas
como regulares;
b) efectivação de responsabilidade, quando aos mesmos é imputada
responsabilidade financeira traduzida no dever de repor ou de pagar uma
multa, podendo merecer ainda, simples juízo de censura ou recomendações.
ARTIGO 97
(Conceito de irregularidade grave)

Integram o conceito de irregularidade grave as infracções financeiras


consubstanciadas em alcance ou desvio de dinheiros públicos e outros
valores e em pagamentos indevidos, perpetrados com dolo, propósito de
fraude e prejuízo efectivo para o Estado.

ARTIGO 98
(Infracções financeiras típicas)

1. Constitui infracção financeira punível com multa e determinante de


anulação, a todo o tempo, do visto concedido ao acto ou contrato, assim
como de suspensão de todo e qualquer pagamento futuro:
a) a apresentação de documentos ou declarações falsas;
b) execução do acto ou contrato, sem prévia sujeição a Visto ou após
conhecimento da recusa de Visto;
c) a desconformidade substancial entre a minuta e o contrato celebrado
mediante escritura notarial.
2. Constituem infracções financeiras típicas o alcance, o desvio de dinheiros
ou valores públicos e os pagamentos indevidos.
3. Constituem, também, infracções financeiras, nomeadamente:
a) a não liquidação, cobrança ou entrega nos cofres do Estado das receitas
devidas;
b) a violação das normas sobre a elaboração e execução dos orçamentos,
bem como da assunção, autorização ou pagamento de despesas públicas ou
compromissos;
c) a não efectivação ou retenção indevida dos descontos legalmente
obrigatórios a efectuar ao pessoal;
d) a falta injustificada de remessa de contas ao tribunal competente, a falta
injustificada da sua remessa tempestiva ou a sua apresentação com
deficiências tais que impossibilitem ou gravemente dificultem a sua
verificação;
e) o extravio de processos ou documentos, e sone-gação ou deficiente
prestação de informações ou documentos pedidos pelo tribunal competente
ou exigidos por lei;
f) a falta injustificada de comparência para a prestação de declarações ou
de colaboração devida ao tribunal;
g) a introdução nos processos de elementos que possam induzir o tribunal
em erro nas suas decisões ou relatórios, ou que dificultem substancialmente
ou de todo obstem o julgamento das contas;
h) a publicação, no Boletim da República, de actos ou contratos sujeitos ao
Visto, sem a prévia concessão do mesmo;
i) a execução de actos ou contratos a que tenha sido recusado o Visto ou de
actos ou contratos que não tenham sido submetidos à fiscalização prévia
quando a isso estavam legalmente sujeitos;
j) a violação de normas legais ou regulamentares respeitantes à gestão e
controlo orçamental, de tesouraria e de património;
k) o adiantamento por conta de pagamentos nos casos não expressamente
previstos na lei;
l) a utilização de empréstimos públicos em finalidades diversas das
legalmente previstas, bem como pela ultrapassagem dos fundos legais da
capacidade de endividamento;
m) a utilização indevida de fundos movimentados por operações de
tesouraria para financiar despesas públicas;
n) a utilização de dinheiros ou outros valores públicos em finalidades
diferentes das legalmente previstas.
4. A desobediência, a falsificação e quaisquer outros factos que configurem
ilícito criminal são, ainda, punidos nos termos da Lei Penal.
5. A desobediência referida no número anterior tem-se, sempre, como
desobediência qualificada.

ARTIGO 99
(Alcance)

Verifica-se o alcance quando, independentemente da acção do agente nesse


sentido, haja desaparecimento de dinheiros ou outros valores do Estado ou
de outras entidades públicas.

ARTIGO 100
(Desvio de dinheiros ou valores públicos)

Tem lugar o desvio de dinheiros ou valores públicos quando se verifique o


seu desaparecimento por acção voluntária de qualquer agente público que
a eles tenha acesso por causa do exercício das funções públicas que lhes
estão acometidas.

ARTIGO 101
(Pagamentos indevidos)

Consideram-se pagamentos indevidos os pagamentos ilegais que causarem


dano para o Estado ou entidade pública, incluindo aqueles a que
corresponda contraprestação efectiva que não seja adequada ou
proporcional à prossecução das atribuições da entidade em causa ou aos
usos normais de determinada actividade.

ARTIGO 102
(Evidências de responsabilidade financeira)

1. Sempre que os relatórios das acções de controlo do Tribunal


Administrativo evidenciem factos constitutivos de responsabilidade
financeira, os processos respectivos são enviados ao Ministério Público para
os fins legais.
2. Se o Ministério Público declarar não requerer procedimento jurisdicional,
devolve o respectivo processo à entidade remetente.
3. O disposto no n.º 1 é aplicável às auditorias realizadas no âmbito da
preparação do relatório e parecer sobre a Conta Geral do Estado.
4. Nos casos previstos no presente artigo, o Tribunal Administrativo envia à
Assembleia da República, em capítulo próprio no Relatório sobre Conta
Geral do Estado do ano seguinte, uma informação sobre as medidas e
procedimentos adaptados para o apuramento da responsabilidade
financeira e respectivo ponto de situação, relativa à Conta Geral do Estado
do ano anterior.

ARTIGO 103
(Aplicação)

1. Sem prejuízo de eventual responsabilidade disciplinar, criminal ou civil, o


desrespeito das normas previstas na presente Lei, acarreta responsabilidade
financeira das entidades ou funcionários, cuja actuação seja lesiva ao
património e dos interesses financeiros do Estado.
2. A instrução deficiente e repetida dos actos sujeitos à fiscalização
preventiva, por parte dos serviços, pode ser objecto de multa, a arbitrar pelo
tribunal competente.

ARTIGO 104
(Efectivação de responsabilidade)

A responsabilidade financeira é efectivada pelo Tribunal Administrativo,


pelos tribunais administrativos provinciais e pelo Tribunal Administrativo da
Cidade de Maputo.

ARTIGO 105
(Modalidades de responsabilidade financeira)

A responsabilidade financeira pode ser de tipo reintegratório ou meramente


sancionatório.

ARTIGO 106
(Características da responsabilidade financeira)

1. A responsabilidade financeira pressupõe a existência de culpa e é


independente do dano efectivamente causado.
2. O tribunal avalia o grau de culpa de acordo com as circunstâncias do caso,
tendo em consideração as competências do cargo ou a índole das principais
funções de cada responsável, o volume e fundos movimentados, o montante
material da lesão dos dinheiros ou valores públicos, o grau de acatamento
de eventuais recomendações do tribunal competente e os meios humanos e
materiais existentes no serviço, organismo ou entidade em causa.
3. A responsabilidade financeira é pessoal e incide sobre o agente ou
agentes da acção.
4. A responsabilidade financeira recai, também, nos gerentes, dirigentes ou
membros dos órgãos de gestão administrativa e financeira ou equiparados
e exactores dos serviços, organismos e outras entidades sujeitos à jurisdição
do Tribunal Administrativo e dos tribunais administrativos provinciais e
Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo, quando:
a) por ordem sua, a guarda e arrecadação dos dinheiros ou valores tiverem
sido entregues à pessoa que os alcançou ou praticou o desvio, sem ter
ocorrido a ausência ou impedimento daqueles a que, por lei, estejam
acometidas tais funções;
b) por indicação ou nomeação sua, pessoa já desprovida de idoneidade
moral e, como tal reconhecida, tenha sido designada para o cargo cujo
exercício haja praticado o facto;
c) no desempenho das funções de fiscalização que lhe estiverem
acometidas, tiverem procedido com culpa grave, nomeadamente quando
não tenham acatado as instruções do Tribunal Administrativo, as regras de
boa gestão dos dinheiros públicos ou os pareceres técnicos.
5. A mesma responsabilidade pode recair, ainda, nos funcionários ou agentes
que, nas suas informações para os membros do Governo ou para os gerentes,
dirigentes ou outros administradores, não esclareçam os assuntos da sua
competência, de acordo com a lei.
6. O acórdão define, expressamente, quando for caso disso, o grau de
responsabilidade imputável, podendo, ainda, conter juízo de censura ou
recomendação à instituição e outras providências a adaptar relativamente
aos responsáveis, incluindo a sua demissão. Estas medidas podem, ainda, ser
tomadas visando a melhoria da gestão e garantia da legalidade no futuro.
7. A responsabilidade inclui os juros de mora legais sobre os respectivos
montantes, contados desde a data da infracção ou, não sendo possível
determiná-la, desde o último dia da respectiva gerência.

ARTIGO 107
(Redução ou relevação da responsabilidade financeira)

1. A responsabilidade financeira é susceptível de relevação ou redução,


apenas no que respeita às multas, consoante o grau de culpa e o prejuízo
efectivo para o Estado.
2. A responsabilidade financeira decorrente de infracções financeiras
perpetradas com mera culpa é passível de redução em função do grau de
culpa apurado, ou de relevação nos termos do artigo seguinte.
3. O Tribunal Administrativo, os tribunais administrativos provinciais e o
Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo devem fazer constar da
decisão as razões justificativas da redução ou da relevação.
4. Fica isento de responsabilidade aquele que houver manifestado, por
forma inequívoca, oposição aos actos que a originaram.

ARTIGO 108
(Requisitos da relevação)

O Tribunal Administrativo, os tribunais administrativos provinciais e o


Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo podem relevar a
responsabilidade por infracção financeira, quando seja apenas passível de
multa, quando esta tiver sido paga voluntariamente e:
a) se evidenciar, suficientemente, que a falta apenas pode ser imputada ao
seu autor por mera culpa;
b) não tiver havido, anteriormente, recomendação de tribunal ou de
qualquer órgão de controlo interno ao serviço auditado para correcção de
irregularidades do procedimento adoptado;
c) se tiver sido a primeira vez que um tribunal ou um órgão de controlo
interno tenham censurado o seu autor pela sua prática.
ARTIGO 109
(Responsabilidade solidária)

Sem prejuízo do disposto no n.º 2 do artigo 106 e no artigo 107, se forem


vários os responsáveis financeiros pelas acções, a sua responsabilidade,
tanto directa como subsidiária, nos termos dos n.ºs 3, 4 e 5 do artigo 106, é
solidária e o pagamento da totalidade da quantia a repor por qualquer deles
extingue o procedimento instaurado ou impede a sua propositura, sem
prejuízo do direito de regresso.

ARTIGO 110
(Reposição por não arrecadação de receitas)

Nos casos de prática, autorização ou sancionamento, com dolo ou culpa


grave, que impliquem a não liquidação, cobrança ou entrega de receitas com
violação das normas legais aplicáveis, pode o Tribunal Administrativo
condenar o responsável na reposição das importâncias não arrecadadas em
prejuízo do Estado ou de entidades públicas.

ARTIGO 111
(Intransmissibilidade do dever de reposição)

A responsabilidade financeira reintegratória, nomeadamente, o dever de


reposição, não é transmissível aos herdeiros do infractor.

ARTIGO 112
(Enriquecimento sem causa)

O eventual enriquecimento sem causa da herança do infractor, determinado


por alcance ou desvio de dinheiros públicos, apenas é susceptível de
ressarcimento pelo Estado através dos tribunais comuns.

ARTIGO 113
(Desobediência qualificada)

1. Nas situações de falta de apresentação de processos de contas ou de


documentos, o acórdão fixa um prazo razoável para que o responsável
proceda à sua entrega ao tribunal.
2. O incumprimento da ordem mencionada no número anterior constitui
crime de desobediência qualificada, competindo ao Ministério Público a
instauração do respectivo procedimento no tribunal competente.

ARTIGO 114
(Reposição e multa)

1. A responsabilidade financeira traduz-se na sujeição às penas de reposição


e de multa as quais podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente.
2. São puníveis com a pena de reposição as infracções financeiras constantes
do n.º 2 do artigo 98 e do artigo 110 da presente Lei.
3. As demais infracções financeiras e as meras irregularidades contabilísticas
ou administrativas com reflexos financeiros, tipificadas no n.º 3 do artigo 98
ou decorrentes da demais legislação financeira aplicável, são puníveis com
multa a definir no próprio processo ou em processo específico, sendo caso
disso.
4. O tribunal competente gradua as multas tendo em consi -deração a
gravidade dos factos e as suas consequências, o grau de culpa, o montante
material dos valores públicos lesados ou em risco, o nível hierárquico dos
responsáveis, a sua situação económica, a existência de antecedentes e o
grau de acatamento de eventuais recomendações do tribunal.
5. A multa a arbitrar, de acordo com as circunstâncias indicadas no número
anterior, não deve ser inferior a um sexto do vencimento ou remuneração
anual do infractor, pela primeira vez, e a três sextos do vencimento ou
remuneração anual, pela segunda e sucessivas vezes.
6. De qualquer modo, o limite máximo da multa situa-se no valor máximo do
vencimento ou remuneração anual.
7. O pagamento da multa arbitrada é da responsabilidade pessoal dos
infractores referidos nos n.ºs 3, 4 e 5 do arti- go 106, conforme os casos.

ARTIGO 115
(Processos autónomos de multa)

As infracções constantes do n.º 3 do artigo 98 são objecto de processo


autónomo de multa, se não forem conhecidas nos processos de julgamento
de contas, de julgamento de responsabilidades financeiras e de fixação do
débito aos responsáveis ou de declaração de impossibilidade de julgamento.

ARTIGO 116
(Causas de extinção de responsabilidades)

1. O procedimento por responsabilidade financeira reintegratória extingue-


se pelo pagamento da quantia a repor em qualquer momento e pela
prescrição.
2. O procedimento por responsabilidade sancionatória nos termos do n.º 3
do artigo 98, extingue-se pelo pagamento do montante em dívida, pela
morte do responsável, pela amnistia, pela prescrição, pela relevação da
responsabilidade nos termos do n.º 2 do artigo 107 e artigo 108 e pela
isenção de responsabilidade, segundo o n.º 4 do artigo 107 da presente Lei.

ARTIGO 117
(Prazos de prescrição de procedimento)

1. A prescrição do procedimento por responsabilidades financeiras


reintegratórias é de quinze anos e a prescrição por responsabilidades
sancionatórias é de dez anos.
2. Os prazos referidos no número anterior contam-se a partir da data da
infracção ou, não sendo possível determiná-la, desde o último dia da
respectiva gerência.
3. O prazo da prescrição do procedimento suspende-se com a entrada do
processo de contas no tribunal competente ou com o início da auditoria e
até à audição do responsável, desde que não seja ultrapassado o período de
dois anos.

ARTIGO 118
(Decisões recorríveis)

1. As decisões condenatórias dos tribunais administrativos provinciais e


Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo que apurem
responsabilidades, determinem o dever de repor dinheiro e outros valores
públicos ou o pagamento de multa, recusem o Visto ou fixem os
emolumentos, são susceptíveis de recurso para a Secção de Contas Públicas
do Tribunal Administrativo.
2. Das decisões condenatórias da Secção de Contas Públicas cabe recurso
para o Plenário do Tribunal Administrativo.

ARTIGO 119
(Forma e prazo de interposição)

1. Os recursos referidos nos n.ºs 1 e 2 do artigo anterior são interpostos


mediante requerimento devidamente articulado, dirigido aos presidentes
dos tribunais recorridos, no qual devem ser expostas as razões de facto e de
direito em que se fundamentam e formuladas conclusões, no prazo de dez
dias, contado da notificação da decisão recorrida, observando-se o regime
de dilação constante do Código de Processo Civil.
2. Os recursos são distribuídos por sorteio pelos juízes do Tribunal
Administrativo, não podendo ser relatado pelo Juiz Relator da decisão
recorrida.
3. Distribuído e autuado o recurso, é aberta conclusão ao relator para, em 48
horas, se pronunciar sobre a sua admissão ou rejeição liminar.
4. O recurso das decisões finais de recusa de Visto ou de condenação por
responsabilidade sancionatória tem efeito suspensivo.
5. O recurso das decisões finais de condenação por responsabilidade
financeira reintegratória apenas tem efeito suspensivo, se for prestada
caução.

ARTIGO 120
(Reclamação de não admissão de recursos)

1. Do despacho que não admite o recurso, pode o recorrente reclamar para


a Secção de Contas Públicas do Tribunal Administrativo, ou para o Tribunal
Administrativo, conforme os casos, no prazo de dez dias, os quais reúnem
com todos os juízes, devendo ser expostas as razões que justificam a
admissão do recurso.
2. Os tribunais referidos no número anterior apreciam o recurso na primeira
sessão seguinte à distribuição, devendo decidir pela admissão do recurso ou
pela manutenção do despacho recorrido.
3. O relator pode reparar o despacho de indeferimento e fazer prosseguir o
recurso.
4. Se o relator sustentar o despacho liminar de rejeição do recurso, ordena a
apresentação da reclamação à instância competente.
5. Se o despacho de indeferimento for proferido pela Secção de Contas
Públicas do Tribunal Administrativo, o recurso é interposto para o Plenário.
6. Se o despacho de indeferimento for praticado por tribunal administrativo
provincial ou da Cidade de Maputo, o recurso é interposto para a Secção de
Contas Públicas do Tribunal Administrativo.

ARTIGO 121
(Outros recursos)

Os recursos de decisões não finais são interpostos no prazo de cinco dias,


contados da notificação da decisão recorrida, observando-se o regime das
dilações constantes do Código de Processo Civil, só podendo ser apreciados
na decisão final.

ARTIGO 122
(Legitimidade)

1. Têm legitimidade para recorrer:


a) o Ministério Público;
b) o membro do Governo ou a entidade de que depende o funcionário ou o
serviço;
c) a instituição interessada, através do seu titular;
d) os responsáveis dirigentes condenados ou objecto de juízo de censura;
e) os que forem condenados em processo de multa;
f) as entidades competentes para praticar o acto ou outorgar no contrato
objecto de visto.
2. O funcionário, agente interessado ou pretenso beneficiário do acto a que
tenha sido recusado o Visto pode requerer a interposição de recurso à
entidade com competência para a prática do acto, no prazo de quinze dias,
a contar da data da sua notificação.
3. O funcionário, agente interessado ou pretenso beneficiário do acto a que
tenha sido recusado o Visto não fica impedido de interposição directa do
recurso, se a entidade referida no número anterior não o fizer, no prazo de
quinze dias, a contar da data da entrega do seu pedido.

ARTIGO 123
(Preparos e custas)

1. Nos recursos há lugar a preparos e custas a fixar nos termos regulados para
o Contencioso Administrativo.
2. Nos recursos em que o tribunal competente considere ter havido má-fé,
as custas podem ser agravadas até ao dobro.

ARTIGO 124
(Termos subsequentes)

1. Admitido o recurso, o processo vai com vista, por quinze dias, ao Ministério
Público para emitir parecer, se não for o recorrente.
2. Se o recorrente for o Ministério Público, admitido o recurso, deve ser
notificada a entidade directamente afectada pela decisão recorrida para
responder, no prazo de quinze dias.
3. Se, no parecer, o Ministério Público suscitar novas questões, é notificado
o recorrente para se pronunciar no prazo de quinze dias.
4. É permitido ao recorrente e ao recorrido juntar com os arti culados
produzidos a documentação tida por pertinente.
5. Emitido o parecer ou decorrido o prazo mencionado no n.º 3, os autos são
conclusos por três dias aos restantes juízes, se não tiver sido dispensada tal
conclusão.
6. Em qualquer altura do processo, o relator pode ordenar as diligências
indispensáveis à decisão do recurso.

ARTIGO 125
(Preparação para julgamento)

Elaborado o projecto de acórdão, o relator ordena que sejam remetidas


cópias aos demais juízes e ao Ministério Público, até três dias antes da sessão
em que tenha de ser apreciado, com expressa menção de que os autos se
encontram preparados para julgamento.

ARTIGO 126
(Julgamento)

1. O relator apresenta o processo à sessão com o projecto de acórdão,


procedendo-se à discussão e julgamento.
2. Nos processos de fiscalização prévia o tribunal competente pode
conhecer de questões relevantes para a concessão ou recusa do Visto, ainda
que não apreciadas na decisão recorrida ou na alegação do recorrente,
desde que sejam suscitadas pelo Ministério Público no seu parecer,
observando-se o preceituado no n.º 3 do artigo 124 da presente Lei.

ARTIGO 127
(Notificação de decisão final)

A decisão final é notificada ao recorrente e a todos os que tenham sido


notificados para os termos do processo.

ARTIGO 128
(Recurso de revisão)

É admissível o recurso extraordinário de revisão, nos termos do Código de


Processo Civil, para o recurso de revisão, com as devidas adaptações.
ARTIGO 129
(Fundamentos da revisão)

As decisões transitadas em julgado podem ser objecto de revisão pelos


fundamentos admitidos no Código do Processo Civil e ainda quando,
supervenientemente, se revelem factos susceptíveis de originar
responsabilidade financeira que não tenham sido apreciados para o efeito.

ARTIGO 130
(Prazos de interposição do recurso de revisão)

A interposição do recurso de revisão da decisão que concedeu o Visto


apenas é possível durante o prazo em que o acto ou contrato pode ser
impugnado no conten-cioso administrativo.

ARTIGO 131
(Competência)

É competente para conhecer do recurso extraordinário de revisão o Plenário


do Tribunal Administrativo.

ARTIGO 132
(Oposição de decisões)

1. Se, no domínio da mesma legislação, forem proferidas em processos


diferentes na Secção de Contas Públicas do Tribunal Administrativo duas
decisões, em matéria de concessão ou de recusa de Visto e de
responsabilidade financeira que, relativamente à mesma questão
fundamental de direito, assentem sobre soluções opostas, pode ser
interposto recurso extraordinário da decisão proferida em último lugar para
fixação de jurisprudência.
2. No requerimento de recurso deve ser individualizada a decisão anterior
transitada em julgado que esteja em oposição e a decisão recorrida, sob
pena de o recurso não ser admitido.
3. A este recurso extraordinário aplica-se, com as devidas adaptações, o
regime de recurso ordinário, excepto o disposto nos preceitos seguintes.

ARTIGO 133
(Órgão competente)

É competente para apreciar e decidir o recurso extraordinário de oposição


de acórdãos o Plenário do Tribunal Administrativo.
ARTIGO 134
(Questão preliminar)

1. Distribuído e autuado o requerimento de recurso e apensado o processo


onde foi proferida a decisão transitada alegadamente em oposição, o
processo é concluído ao relator para, em cinco dias, proferir despacho de
admissão ou de indeferimento liminar.
2. Admitido liminarmente o recurso, é dada vista ao Ministério Público para
dar parecer sobre a oposição de julgados e o sentido da jurisprudência a
fixar.
3. Se o relator entender não existir oposição de decisões, ordena que o
processo seja concluso aos juízes do Plenário, após o que apresenta o
projecto de acórdão.
4. O recurso tem-se como findo se o Plenário deliberar pela não existência
de oposição de julgados.

ARTIGO 135
(Julgamento do recurso)

1. Verificada a existência de oposição de acórdãos, o processo é concluso


aos restantes juízes do Plenário por cinco dias, após o que o relator o
apresenta para julgamento na primeira sessão.
2. O acórdão da Secção de Contas Públicas que reconheceu a existência de
oposição das decisões não impede que o Plenário do Tribunal Administrativo
delibere em sentido contrário.
3. A doutrina do acórdão que fixa jurisprudência é obrigatória para a
jurisdição administrativa enquanto a lei não for modificada.

ARTIGO 136
(Apoio técnico e administrativo)

1. No âmbito das suas atribuições e competências, a Secção de Contas


Públicas do Tribunal Administrativo é apoiada, técnica e
administrativamente, por serviços, cuja estrutura orgânica, competência,
quadro de pessoal e funcionamento são objecto de diploma legal específico.
2. A fase instrutória dos processos de verificação de contas de 1.º e 2.º grau,
inspecção, auditoria e certificação de contas é conduzida por Auditores de
Controlo Externo.
3. O Regulamento e Carreira dos Auditores de Controlo Externo são
estabelecidos em diplomas específicos.

ARTIGO 137
(Processos pendentes)

As contas de gerência, anteriores a 31 de Dezembro de 2007, qualquer que


seja a fase em que se encontrem, desde que não haja suspeitas de graves
irregularidades, são devolvidas aos respectivos serviços, sem prejuízo de
eventual julgamento ulterior, por iniciativa do Tribunal Administrativo ou
promoção do Ministério Público ou a pedido de qualquer interessado que
mostre legitimidade para o efeito, no prazo de cinco anos.
ARTIGO 2
(Entrada em vigor)

A presente Lei entra em vigor na data da sua publicação.

ARTIGO 3
(Republicação)

É republicada, em anexo à presente Lei, a qual faz parte integrante, a Lei n.º
14/2014, de 14 de Agosto, Lei da organização, Funcionamento e processo da
Secção de Contas Públicas do Tribunal Administrativo, com a redacção
actual.
Aprovada pela Assembleia da República, aos 29 de Julho 2015.
A Presidente da Assembleia da República, Verónica Nataniel Macamo
Dlhovo.
Promulgada em 1 de Setembro de 2015.
Publique-se.
O Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi.

Republicação da Lei n.º 14/2014, de 14 de Agosto

Havendo necessidade de proceder a alteração da lei n.º 14/2014, de 14 de


Agosto, visando adequá-la a realidade actual e ao processo de elaboração
do relatório e parecer sobre a Conta Geral do Estado, ao abrigo do disposto
no artigo 231, conjugado com a alínea r) do n.º 2 do artigo 179 da
Constituição, a Assembleia da República determina:

CAPÍTULO I
Disposições gerais

ARTIGO 1
(Objecto)

1. A presente Lei aplica-se à organização, funcionamento e processo da


Secção de Contas Públicas do Tribunal Administrativo.
2. A presente Lei aplica-se igualmente ao processo de fisca-lização prévia,
através do Visto, nos tribunais administrativos provinciais e no Tribunal
Administrativo da Cidade de Maputo.

ARTIGO 2
(Natureza e atribuições)

1. O Tribunal Administrativo de Moçambique tem jurisdição e controlo


financeiros no âmbito de toda a ordem jurídica da República de
Moçambique, como no estrangeiro, neste caso incluindo os serviços,
organismos e representações nacionais em funcionamento no estrangeiro.
2. O Tribunal Administrativo é o órgão supremo e independente de controlo
externo da legalidade e eficiência das receitas e despesas públicas,
julgamento das contas que a lei mandar submeter à efectivação da
responsabilidade financeira por eventuais infracções financeiras.
3. A apreciação da legalidade financeira nos processos de julgamento de
contas ou fora deles, integra a análise da conformidade à lei, bem como da
regularidade e correcção da gestão segundo critérios de economia, eficácia
e eficiência.

ARTIGO 3
(Jurisdição e controlo financeiros)

Sem prejuízo do disposto em outra legislação, estão sujeitos à jurisdição e


controlo financeiro do Tribunal Administrativo, dos tribunais administrativos
provinciais e do Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo, todas as
entidades a que forem adjudicadas, por qualquer forma, fundos públicos,
nomeadamente:
a) o Estado e todos os seus serviços;
b) os serviços e organismos autónomos;
c) os órgãos locais representativos do Estado;
d) as autarquias locais;
e) as empresas públicas, as sociedades de capitais exclusiva ou
maioritariamente públicos;
f) os exactores, tesoureiros, recebedores, pagadores e mais responsáveis
pela guarda ou administração de dinheiros públicos;
g) os responsáveis por contas relativas a material ou equipamento e
quaisquer entidades que geram ou beneficiem de receitas ou financiamentos
provenientes de organismos internacionais ou das entidades referidas nas
alíneas anteriores, ou obtidos com a intervenção destas, consubstanciados,
nomeadamente em subsídios, empréstimos ou avales;
h) os conselhos administrativos ou comissões adminis-trativas;
i) os administradores, gestores ou responsáveis por dinheiros públicos ou
outros activos do Estado, seja qual for a sua designação, bem como pelos
fundos provenientes do exterior, sob a forma de empréstimos, subsídios,
donativos ou outra;
j) outras entidades ou organismos determinados por lei.

ARTIGO 4
(Colaboração de outras entidades)

1. Todas as entidades públicas ou privadas são obrigadas a fornecer, com


toda a urgência e de preferência a qualquer outro serviço, as informações e
processos que lhes forem pedidos.
2. O Tribunal Administrativo pode determinar a requisição de serviços de
inspecção e auditoria aos órgãos de controlo interno.
3. Excepcionalmente, o Tribunal Administrativo pode recorrer à contratação
de empresas especializadas para realização de inspecção e auditoria,
quando estas não possam ser desempenhadas pelos serviços de apoio do
Tribunal.
4. As entidades públicas devem comunicar ao Tribunal Administrativo, aos
tribunais administrativos provinciais e Tribunal Administrativo da Cidade de
Maputo as irregularidades de que tomem conhecimento no exercício das
suas funções, sempre que a apreciação das mesmas caiba no âmbito das
respectivas atribuições e competências.

ARTIGO 5
(Princípio do contraditório)

O Tribunal Administrativo confere o direito de audição prévia e de defesa


aos responsáveis pelas contas e aos eventuais suspeitos de infracções
financeiras, garantindo o contraditório e a ampla defesa.

ARTIGO 6
(Publicidade das decisões)

1. O Relatório e Parecer sobre a Conta Geral do Estado, as decisões do


Tribunal Administrativo com força obrigatória geral, nomeadamente as
instruções do Tribunal Administrativo e as decisões da Secção de Contas
Públicas são públicos.
2. São susceptíveis de publicação as decisões que a Secção de Contas
Públicas do Tribunal Administrativo determine.
3. As decisões a que se refere o número anterior são publicadas no Boletim
da República e no sítio de Internet do Tribunal Administrativo.
4. As decisões a que se refere o n.º 2, são também publicadas no sítio da
Internet do Tribunal Administrativo.

CAPÍTULO II
Organização e funcionamento

SECÇÃO I
Composição

ARTIGO 7
(Estrutura, composição e quórum)

1. A Secção de Contas Públicas do Tribunal Administrativo integra a


Subsecção da Fiscalização Prévia e a Subsecção de Fiscalização
Concomitante e Sucessiva.
2. O julgamento dos processos de fiscalização prévia efectua--se,
diariamente, por um dos juízes da 1.ª Subsecção.
3. A Secção das Contas Públicas funciona em formações jurisdicionais,
integrada por três juízes para efeitos de julgamento de contas.
4. A Secção das Contas Públicas funciona em formações jurisdicionais,
integrada por três juízes, para decisão sobre o Visto, nos casos referidos no
artigo 36.
ARTIGO 8
(Periodicidade das sessões de julgamento)

1. As formações jurisdicionais reúnem-se pelo menos duas vezes por semana,


em sessão ordinária.
2. Extraordinariamente, reúnem-se sempre que convocadas pelo respectivo
Presidente.

ARTIGO 9
(Discussão e aprovação)

1. Os julgamentos em sessão iniciam-se com a apresentação do projecto de


acórdão, após o que se procede à respectiva discussão e aprovação.
2. Na discussão participam o representante do Ministério Público e os juízes.

ARTIGO 10
(Deliberações)

1. As deliberações são tomadas por maioria simples de votos.


2. Os juízes têm o direito de fazer declaração de voto.

ARTIGO 11
(Plenário)

O Plenário do Tribunal Administrativo é a última instância da Secção de


Contas Públicas e tem a composição e competências definidas por lei.

ARTIGO 12
(Acta e Secretariado das sessões da Secção de Contas Públicas)

1. As sessões são secretariadas pelo Secretário Judicial da Secção de Contas


Públicas do Tribunal Administrativo, sem prejuízo das demais funções que
lhe estão legalmente cometidas.
2. De tudo o que ocorrer nas sessões é lavrada acta pelo Secretário Judicial
da Secção de Contas Públicas, a qual é submetida à aprovação na reunião
seguinte, se o não tiver sido na própria reunião a que se reporta.
3. Nas sessões da Secção de Contas Públicas podem intervir, para prestar
quaisquer informações que lhe sejam solicitadas pelos juízes ou pelo
Ministério Público, o Secretário ou outros funcionários do Tribunal
Administrativo que tenham participado no processo.
ARTIGO 13
(Aplicabilidade de normas aos tribunais administrativos provinciais e
Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo)

É aplicável aos tribunais administrativos provinciais e Tribunal


Administrativo da Cidade de Maputo, com as necessárias adaptações, o
regime dos n.ºs 2 e 4 do artigo 7 e dos artigos 8, 9 e 10.

SECÇÃO II
Competência

ARTIGO 14
(Competência)

1. Compete ao Tribunal Administrativo:


a) dar parecer sobre a Conta Geral do Estado;
b) fiscalizar, previamente, de modo sistemático, a legalidade e a cobertura
orçamental dos actos e contratos de que resulte receita ou despesa para
alguma das entidades expressamente reservadas por lei como sendo da
competência do Tribunal Administrativo;
c) fiscalizar, sucessiva ou concomitantemente, as entidades definidas por lei
e julgar as respectivas contas;
d) fiscalizar a aplicação dos recursos financeiros externos, nomeadamente
através de empréstimos, subsídios, avales e donativos;
e) aprovar relatórios da verificação externa de contas e de auditori as;
f) ordenar reposições de recursos irregularmente utilizados;
g) aplicar multas aos responsáveis das quantias em falta;
h) efectivar, reduzir ou relevar a responsabilidade financeira decorrente de
infracções financeiras, contabilísticas e administrativas.
2. No parecer sobre a Conta Geral do Estado o Tribunal Administrativo
aprecia, designadamente:
a) a actividade financeira do Estado no ano a que a Conta se reporta, nos
domínios patrimonial, das receitas e despesas;
b) o cumprimento da Lei do Orçamento e legislação complementar;
c) o inventário do património do Estado;
d) as subvenções, subsídios, benefícios fiscais, créditos e outras formas de
apoio concedidos, directa ou indirectamente.

ARTIGO 15
(Competência complementar)

Compete, ainda, ao Tribunal Administrativo:


a) aprovar os regulamentos internos necessários ao seu funcionamento;
b) emitir e publicar, com carácter imperativo, as instruções indispensáveis
ao exercício da sua competência, nomeadamente no que se refere ao modo
como as contas e os processos devem ser submetidos à sua apreciação;
c) propor medidas normativas e administrativas que julgue necessárias na
sua área de actuação.
SECÇÃO III
Dever de colaboração

ARTIGO 16
(Prova, coadjuvação e execução)

1. O tribunal competente pode requisitar quaisquer documentos ou


diligências e solicitar os esclarecimentos que entenda indispensáveis e que
são prestados até cinco dias, sob pena de multa ao responsável.
2. As informações e processos pedidos para o exercício da fiscalização
prévia devem ser prestados pelos serviços, funcionários e quaisquer
entidades públicas ou privadas com prioridade sobre qualquer outra
actividade.
3. As entidades referidas no número anterior são obrigadas a dar execução
aos acórdãos, resoluções, instruções e despachos do Tribunal, sob pena de
desobediência qualificada.

ARTIGO 17
(Competência dos serviços de apoio à Secção de Contas Públicas)

1. Compete aos serviços de apoio à Secção de Contas Públicas, prestar todo


o apoio técnico-administrativo e, designadamente, informar oficiosamente
os actos, contratos e mais instrumentos sujeitos à fiscalização do Tribunal
Administrativo e organizar os respectivos processos.
2. Para efeitos do disposto no número anterior, os serviços podem solicitar
os elementos indispensáveis.

SECÇÃO IV
Ministério Público

ARTIGO 18
(Representação)

1. O Ministério Público é representado junto do Tribunal Administrativo, nos


termos da lei.
2. O Ministério Público intervém em todas as sessões, podendo usar da
palavra e promover o que achar conveniente.
CAPÍTULO III
Do processo relativo à Secção de Contas Públicas e das Secções do Visto

SECÇÃO I
Disposições comuns

ARTIGO 19
(Legislação aplicável)

O processo relativo à Conta Geral do Estado, à fiscalização prévia, à


fiscalização concomitante, à fiscalização sucessiva, bem como às respectivas
responsabilidades financeiras rege-se pela presente Lei e, supletivamente,
pelo Código de Processo Civil, pelas normas relativas aos procedimentos
administrativos e pelo Código de Processo Penal, em matéria sancionatória,
observando-se as necessárias adaptações.

ARTIGO 20
(Distribuição e espécies)

Para efeitos de distribuição, os processos classificam-se em:


a) Conta Geral do Estado;
b) Visto;
c) Contas de gerência;
d) Auditoria;
e) Inspecção;
f) Multa;
g) Recurso;
h) outros processos.

ARTIGO 21
(Relatores)

1. A distribuição é o meio utilizado para designar o Relator do processo.


2. Para efeitos de distribuição e substituição de Relatores, a ordem dos juízes
é sorteada na primeira sessão anual.
3. A distribuição dos processos de Visto a serem apreciados em sessão diária
de Visto faz-se nos termos previstos no artigo 33 da presente Lei.

ARTIGO 22
(Direcção processual)

1. Compete à Contadoria da área respectiva dirigir a fase instrutória do


processo.
2. Concluída a fase instrutória e havendo lugar a submissão a julgamento,
compete ao Juiz Relator a preparação para a fase de julgamento.
3. Das decisões proferidas na fase jurisdicional cabe reclamação, sem efeito
suspensivo.
ARTIGO 23
(Audiência dos responsáveis)

O Tribunal Administrativo procede sempre à audição dos responsáveis, salvo


relativamente ao processo de elaboração do relatório e parecer sobre a
Conta Geral do Estado.

ARTIGO 24
(Citação e notificação)

A citação e a notificação são feitas nos termos da Lei de Processo Civil,


podendo o Juiz Relator determinar que sejam efectuadas por agente da
autoridade administrativa ou policial.

ARTIGO 25
(Falta de remessa de elementos)

1. Verificando-se a falta injustificada de remessa de elementos com


relevância para a decisão do processo, o tribunal aprecia livremente essa
conduta, para efeitos probatórios, sem prejuízo de eventual instauração do
processo de multa ou outros e da comunicação às entidades competentes
para o apuramento de responsabilidades.
2. A multa a arbitrar pela falta referida anteriormente, conforme as
circunstâncias a ponderar pelo tribunal, não deve ser inferior a um sexto do
vencimento anual do responsável pelo seu pagamento, a identificar no
respectivo processo, pela primeira vez, e três sextos do vencimento anual,
pela segunda e ulteriores vezes.
3. Seja qual for a situação, o limite máximo da multa não pode ultrapassar o
vencimento total anual do infractor.

ARTIGO 26
(Provas)

Nos processos referidos no artigo 20 da presente Lei só são admitidas a


prova por inspecção, a prova documental e, quando o tribunal o considere
necessário, a prova pericial.

ARTIGO 27
(Audiência de técnicos)

1. Quando num processo se devam resolver questões que pressuponham


conhecimentos especializados, o tribunal pode determinar a intervenção de
técnicos que podem ser ouvidos na discussão.
2. Nas condições do número anterior, o representante do Ministério Público
pode, também, ser assistido por técnicos que são ouvidos na discussão,
quando o tribunal o considerar conveniente.
ARTIGO 28
(Constituição de advogado)

1. É permitida a constituição de advogado em qualquer grau de instância,


nos processos de visto, de julgamento de contas, de julgamento de
responsabilidades financeiras e de multa.
2. No Plenário do Tribunal Administrativo, a constituição de advogado é
obrigatória.

ARTIGO 29
(Contagem dos prazos)

Os prazos são contínuos e interrompem-se até à respectiva satisfação,


sempre que sejam solicitados elementos adicionais ou em falta,
considerados imprescindíveis, ou tendo em vista o suprimento de
deficiências.

ARTIGO 30
(Prazo supletivo)

Quando a lei não especifique, entende-se ser de cinco dias o prazo a


observar em qualquer diligência.

ARTIGO 31
(Execução de decisões condenatórias)

As decisões condenatórias devem ser executadas, quando for caso disso, no


prazo de trinta dias após a notificação do responsável, correndo trâmites
nos tribunais competentes para as execuções fiscais.

ARTIGO 32
(Trânsito em julgado)

As decisões condenatórias transitam em julgado no prazo de dez dias.

SECÇÃO II
Processo de Visto

ARTIGO 33
(Distribuição dos processos de Visto)

Os processos de Visto entrados são distribuídos ao juiz de semana,


devidamente informados pela Contadoria, até ao primeiro dia útil da semana
seguinte ao registo de entrada na Secretaria do tribunal competente.
ARTIGO 34
(Sequência da instrução dos processos)

1. A instrução dos processos faz-se pela ordem de registo de entrada, salvo


nos casos de urgência.
2. Por iniciativa própria ou a requerimento de qualquer entidade, os juízes
podem declarar a urgência de qualquer processo, mediante despacho
fundamentado.

ARTIGO 35
(Prazos)

1. A concessão do visto deve ter lugar no prazo de trinta dias, salvo se forem
solicitados elementos ou informações complementares.
2. Os pedidos de elementos ou informações devem efectuar-se no mesmo
prazo.

ARTIGO 36
(Processo de Visto em formação jurisdicional)

Sempre que o juiz a quem foi distribuído o processo entenda que deve ser
recusado o Visto ou se suscitem dúvidas acerca da decisão a tomar, o
processo é levado à sessão, para apreciação em conferência, acompanhado
do projecto de acórdão.

ARTIGO 37
(Notificação das decisões em processo de Visto)

1. As decisões de recusa de Visto em actos e contratos relativos a pessoal


são enviadas, com os respectivos processos, aos serviços que os tiverem
remetido ao tribunal.
2. Todas as decisões são notificadas aos respectivos interessados e
publicadas no sítio de internet do Tribunal.

ARTIGO 38
(Notificação ao Ministério Público)

Os acórdãos de recusa de visto são notificados ao representante do


Ministério Público, junto do tribunal competente, designadamente, para
eventual interposição de recurso, no prazo de cinco dias.
SECÇÃO III
Processos de contas

ARTIGO 39
(Fases processuais)

1. Os processos de contas integram as fases instrutória e de julgamento.


2. A fase instrutória inicia-se com a entrada na Secretaria do expediente
processual, distribuição e designação do Juiz Relator, seguindo-se a
tramitação nos serviços de apoio, a elaboração do relatório técnico final e
organização do processo.
3. A fase de julgamento, com vista à apreciação jurisdicional, inicia-se com a
entrega do processo ao Juiz Relator.

ARTIGO 40
(Apensação de processos)

1. São susceptíveis de apensação as contas de gerência em que se detectem


infracções financeiras continuadas, imputáveis aos mesmos agentes, ou em
que os elementos integrantes da gerência sejam os mesmos.
2. Também podem ser apensadas as contas correspondentes, se útil à
apreciação destas, quando não apurada transgressão à norma legal ou
regulamentar de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional ou
patrimonial.

ARTIGO 41
(Identificação dos responsáveis pelas infracções)

1. Quando detectadas qualquer irregularidade nas contas, o relator ou o


tribunal deve definir a responsabilidade individual ou solidária pelo acto de
gestão inquinado.
2. Se houver débito, ordena a citação do responsável para, no prazo
estabelecido no Regimento Interno, apresentar defesa ou cobrar a
importância devida.
3. Caso não haja débito, determina a audiência do responsável para, no prazo
estabelecido no Regimento Interno, apresentar razões justificativas.
4. As contas de gerência que enfermem de irregularidades financeiras que,
simultaneamente, constituam crimes previstos e punidos pela Lei Penal, em
cujo âmbito os autores estejam perfeitamente identificados por sentença
penal transitada em julgado, devem ser objecto de quitação, se os
responsáveis pela gerência forem estranhos aos factos e as contas não
padecerem de outras irregularidades que a isso obstem.
5. De igual modo, são susceptíveis de arquivamento as contas cujo âmbito
da decisão penal conclua pelo arquivamento do processo-crime, por
impossibilidade de imputação dos factos criminosos ou de identificação dos
seus autores materiais, inexistindo, igualmente, culpa dos responsáveis pela
gerência.
6. Nas circunstâncias previstas nos n.ºs 4 e 5 do presente artigo, deve
abonar-se aos responsáveis pela conta os dinheiros e outros valores em falta
e proceder ao ajustamento daquela, por forma a reflectir essa mesma
realidade.

ARTIGO 42
(Decisão em responsabilidade financeira ou juízo de censura)

1. Sempre que da instrução resultem factos que envolvam responsabilidade


financeira ou qualquer juízo de censura, o relator ordena a citação dos
responsáveis para, no prazo de trinta dias, contestarem e apresentarem os
documentos que entendam necessários.
2. Se se tratar de infracções puníveis apenas com multa, é instaurado o
respectivo processo autónomo.

ARTIGO 43
(Conteúdo das decisões)

As decisões desfavoráveis, ainda que consistam num mero juízo de censura,


devem mencionar expressamente a posição adoptada pelos visados, a
propósito dos actos ou omissões que lhes sejam imputados.

SECÇÃO IV
Processo de multa

ARTIGO 44
(Âmbito de aplicação)

As normas da presente secção são aplicáveis ao julgamento de todas as


infracções puníveis com multa, cujo conhecimento seja da competência do
Tribunal Administrativo ou dos tribunais administrativos provinciais e
Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo, para as quais não haja
processo próprio.

ARTIGO 45
(Instauração do processo)

1. O processo de multa é instaurado com base em despacho proferido em


processo adequado, informação da Secretaria ou denúncia.
2. A denúncia é obrigatória para os funcionários e agentes das entidades
sujeitas ao controlo do tribunal competente, quanto aos factos de que
tomarem conhecimento no exercício das suas funções ou por causa delas.

ARTIGO 46
(Intervenção do Ministério Público)

Distribuído e autuado o processo, é dada vista oficiosamente ao Ministério


Público, que pode requerer o que tiver por conveniente, no prazo de oito
dias, a contar da data do respectivo termo de vista.
ARTIGO 47
(Citação)

Logo que o processo contenha elementos que permitam apurar a existência


da infracção, o seu autor e em que qualidade, o relator manda citar para
contestar os factos que se lhe imputam, juntar documentos e requerer o que
tiver por conveniente, no prazo de trinta dias, a contar da data da citação.

ARTIGO 48
(Vista ao Ministério Público)

Apresentada a contestação ou decorrido o respectivo prazo sem que esta


tenha sido apresentada, vai o processo com vista ao Ministério Público para
emitir parecer.

ARTIGO 49
(Outros infractores)

Quando da sua instrução resulte que a infracção é susceptível de ser


imputada a outras pessoas, são estas também citadas seguindo-se os demais
termos dos artigos anteriores.

ARTIGO 50
(Pagamento voluntário)

1. O responsável pode pôr termo ao processo, pagando, voluntariamente, o


montante mínimo da multa legalmente fixado, dentro do prazo da
contestação.
2. O juiz julga extinto o procedimento logo que seja junta aos autos a guia
comprovativa do pagamento.

ARTIGO 51
(Suprimento da falta)

1. O pagamento da multa não isenta o infractor da obrigação de suprir a falta


que originou a infracção, se tal for possível.
2. Para o fim do disposto no número anterior, o juiz concede um prazo
razoável, não superior a trinta dias após a decisão.

ARTIGO 52
(Responsabilidade financeira cumulativa)

A condenação em processo de multa não isenta o infractor da


responsabilidade financeira eventualmente decorrente dos mesmos factos.

SECÇÃO V
Outros processos
SUBSECÇÃO
Disposições comuns

ARTIGO 53
(Regime aplicável)

As disposições relativas aos processos de contas ou de multa são aplicáveis,


com as necessárias adaptações, nomeadamente aos seguintes processos:
a) averiguações, inquéritos e auditorias;
b) declaração da impontualidade do julgamento;
c) fixação de débito aos responsáveis ou de declaração de impossibilidade
de julgamento;
d) reforma de processo;
e) embargos à execução de decisão;
f) extinção de fianças, cauções e mais garantias exigíveis aos responsáveis
por dinheiros públicos.

ARTIGO 54
(Inspecções e auditorias)

1. O Tribunal Administrativo pode, para além das auditorias necessárias à


verificação externa de contas, realizar, sempre que o entender, por sua
iniciativa ou a pedido da Assembleia da República, do Governo, do
Procurador-Geral da República ou do Provedor de Justiça, inspecções e
auditorias de qualquer tipo ou natureza a determinados actos,
procedimentos ou aspectos da gestão financeira das entidades submetidas
aos seus poderes de controlo externo.
2. A fase instrutória das inspecções e auditorias é concluída com a
elaboração e aprovação do relatório final.

ARTIGO 55
(Conteúdo do relatório de inspecção ou de auditoria)

1. O relatório de inspecção ou de auditoria deve seguir o estabelecido nos


manuais de auditoria do Tribunal Administrativo e conter todos os
elementos que permitam o seu julgamento.
2. Do relatório de inspecção ou de auditoria devem constar, no mínimo, os
seguintes elementos:
a) a entidade que é objecto de inspecção ou auditoria e o período a que as
mesmas respeitam;
b) os métodos e técnicas de verificação utilizados e o universo das
operações seleccionadas;
c) a opinião dos responsáveis em sede do contraditório;
d) o juízo sobre a legalidade e regularidade das operações examinadas e
sobre a consistência, integralidade e fiabilidade das contas e respectivas
demonstrações financeiras, assim como sobre a impossibilidade da sua
verificação, se for o caso;
e) a concretização das situações de facto e de direito integradoras de
eventuais infracções financeiras e seus responsáveis;
f) a apreciação da economia, eficiência e eficácia da gestão financeira e seus
responsáveis;
g) as recomendações com vista a serem supridas as deficiências da
respectiva gestão e funcionamento dos serviços;
h) os emolumentos devidos e outros encargos da responsabilidade da
entidade auditada.

ARTIGO 56
(Auditorias na fiscalização concomitante)

1. O Tribunal Administrativo pode realizar auditorias, no âmbito da


fiscalização concomitante, a qualquer momento, em especial nos seguintes
casos:
a) aos procedimentos e actos administrativos que impliquem despesas de
pessoal e aos contratos que não devam ser remetidos para fiscalização
prévia nos termos da lei e, ainda, quanto à execução de contratos visados;
b) à actividade financeira exercida antes do encerramento da respectiva
gerência.
2. Se, nos casos previstos no número precedente, se apurar a ilegalidade de
procedimento pendente ou de acto ou contrato ainda não executado, deve
a entidade competente para autorizar a despesa ser notificada para remeter
o mencionado acto ou contrato à fiscalização prévia e não lhe dar execução
antes do visto, sob pena de responsabilidade financeira.
3. Os relatórios de auditoria realizados nos termos dos números anteriores
podem ser instrumentos de processo de verificação da respectiva conta ou
servir de base a processo de efectivação de responsabilidade ou de multa.

ARTIGO 57
(Notificação ao Ministério Público)

1. O Ministério Público é notificado do relatório aprovado, podendo solicitar


a entrega de todos os documentos ou processos que entenda necessários.
2. O Ministério Público pode realizar as diligências complementares que
entender adequadas que se relacionem com os factos constantes dos
relatórios que lhe sejam remetidos, com a finalidade de serem
desencadeados eventuais procedimentos jurisdicionais.

CAPÍTULO IV
Fiscalização prévia

SECÇÃO I
Objecto, natureza e efeitos

ARTIGO 58
(Conteúdo)

A fiscalização prévia da legalidade das receitas e despesas públicas abrange


a concessão ou recusa do visto nos actos, contratos e mais instrumentos
emanados pelo Estado e demais entidades públicas, traduzindo-se na análise
da sua legalidade e cabimento financeiro e, relativamente aos contratos, na
indagação da observância das condições mais favoráveis para o Estado.

ARTIGO 59
(Âmbito subjectivo)

Estão sujeitos à fiscalização prévia da jurisdição administrativa:


a) o Estado e outras entidades públicas, designadamente os serviços e
organismos inseridos no âmbito da Administração Pública Central, Provincial
e Local, incluindo as dotadas de autonomia administrativa ou financeira e
personalidade jurídica;
b) os institutos públicos;
c) as autarquias locais;
d) outras entidades que a lei determinar.

ARTIGO 60
(Âmbito material)

1. Estão obrigatoriamente sujeitos à fiscalização prévia os seguintes actos,


contratos e mais instrumentos jurídicos geradores de despesa pública,
praticados ou celebrados pelas entidades referidas no artigo anterior:
a) os actos administrativos de provimento de pessoal civil ou militar,
designadamente os relativos às admissões de pessoal não vinculado à
função pública ou para categoria de ingresso, aposentações, reformas, bem
como de atribuição de pensões;
b) o acto de designação dos recebedores, tesoureiros, exactores e demais
responsáveis por dinheiros públicos;
c) os contratos de qualquer natureza ou montante relativos a pessoal, obras
públicas, empréstimos, concessão, fornecimento e prestação de serviços;
d) as minutas de contratos de valor igual ou superior ao valor fixado
anualmente na lei orçamental, sem prejuízo das de valor inferior ficarem
sujeitas à fiscalização sucessiva;
e) as minutas de contratos de qualquer valor que venham a celebrar-se por
escritura pública e cujos encargos tenham de ser satisfeitos no acto da sua
celebração;
f) outros actos que a lei determinar.
2. Os notários não podem lavrar qualquer escritura sem verificar e atestar a
conformidade do contrato com a minuta previamente visada.
3. Nos casos referidos no número precedente, os translados ou certidões são
remetidos ao Tribunal Administrativo, aos tribunais administrativos
provinciais e ao Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo nos trinta dias
seguintes à celebração da escritura, acompanhados da respectiva minuta.
4. Incluem-se no âmbito das alíneas c), d) e e) do n.º 1 do presente artigo, os
contratos ou minutas que constituam meras adendas ou adicionais ou se
traduzam em trabalhos a mais, acessórios ou complementares.
5. Estão igualmente sujeitos à fiscalização prévia, para além dos contratos
formais, os documentos escritos avulsos que, conjugados entre si,
consubstanciem um acordo de vontades e um contrato, embora informal.
ARTIGO 61
(Natureza e efeitos do Visto)

O Visto constitui um acto jurisdicional condicionante da eficácia global dos


actos e mais instrumentos legalmente sujeitos à fiscalização prévia.

ARTIGO 62
(Forma de apreciação dos processos de Visto)

Os processos de Visto são susceptíveis de apreciação de natureza,


metodologia e complexidade crescentes e incluem:
a) Visto;
b) Visto tácito;
c) Urgente conveniência de serviço;
d) Anotação;
e) Julgamento.

SECÇÃO II
Instrução dos processos

ARTIGO 63
(Instrução de processos de provimento)

1. O provimento dos lugares do quadro dos serviços é feito através de


diploma individual de provimento e de contrato.
2. Os processos de Visto ou contratos, no âmbito do primeiro ou da admissão
de pessoal, devem ser instruídos e enviados ao tribunal competente com os
seguintes documentos, em duplicado:
a) os diplomas de provimento completos e correctamente preenchidos,
designadamente com a indicação da legislação geral e da legislação especial
que fundamentam o provimento e do despacho em que se funda o
provimento, sendo caso disso;
b) declaração do responsável máximo do serviço, no sentido de que foram
cumpridas as formalidades legalmente exigidas para o provimento e o
candidato reúne todos os requisitos legalmente exigidos para o efeito;
c) certidão de registo de nascimento;
d) certificado de habilitações literárias e das qualificações profissionais
legalmente exigidas;
e) certificado de registo criminal;
f) certificado médico comprovativo de possuir a robustez física e sanidade
mental necessárias para o exercício do cargo a prover;
g) documento militar comprovativo do cumprimento das obrigações
militares, quando legalmente sujeito a elas;
h) declaração de não inibição para o exercício de funções públicas,
mormente resultante de eventuais acumulações ou incompatibilidades e
demais restrições legais;
i) nota biográfica donde constem todos os cargos ou funções anteriormente
exercidos na Administração Pública;
j) informação de cabimento de verba pelos departamentos ou serviços
competentes;
k) aviso de abertura de concurso e comprovativo da compe-tência para o
efeito, sendo caso disso.
3. Os provimentos relativos a indivíduos detentores de qualidade de
funcionários devem apenas ser instruídos com os documentos
especialmente exigidos para o efeito, face à natureza do acto.

ARTIGO 64
(Instrução de processos não relativos a pessoal)

1. Os contratos não relativos a pessoal devem ser instruídos com os


documentos seguintes, em duplicado, devidamente autenticados com o selo
branco em uso no respectivo serviço:
a) aviso de abertura do concurso público ou autorização de dispensa do
mesmo;
b) caderno de encargos, sendo caso disso;
c) acta da abertura das propostas;
d) prova do cumprimento das obrigações fiscais, designadamente do
pagamento do imposto de selo;
e) despachos de adjudicação e outros, devidamente autenticados pelos
serviços remetentes.
2. Os contratos definitivos são, ainda, acompanhados de documento donde
constem:
a) a identificação do ministério ou outra instituição onde se insere o serviço
ou organismo;
b) a data da sua celebração;
c) identificação dos outorgantes;
d) o prazo de validade;
e) o objecto e valor do contrato;
f) a informação de cabimento de verba.

ARTIGO 65
(Dispensa de documentos)

Os serviços podem ser dispensados, pontualmente, da apresen-tação dos


documentos que devem instruir os processos a submeter à fiscalização
prévia.

ARTIGO 66
(Informação de cabimento)

A informação de cabimento é exarada nos documentos sujeitos a Visto e


consiste na declaração de que os encargos decorrentes do acto ou contrato
têm cobertura orçamental em verba legalmente aplicável, cativa para o
efeito.
ARTIGO 67
(Aferição de requisitos)

Sob pena de extemporaneidade, os documentos comprovativos dos


requisitos de habilitação a qualquer concurso devem ser entregues, até ao
último dia do prazo para a apresentação de candidaturas.

ARTIGO 68
(Documentos em língua estrangeira)

Os documentos emitidos em língua estrangeira, para serem válidos perante


a jurisdição administrativa, devem ser traduzidos para a língua oficial do País
e autenticados por autoridade nacional competente.

ARTIGO 69
(Autenticação de documentos e arquivo)

1. Os documentos sujeitos a Visto da jurisdição administrativa devem ser


autenticados electronicamente ou com o selo branco ou carimbo do
responsável.
2. Os processos são sempre instruídos em duplicado, que deve ser mantido
em arquivo no tribunal competente.

ARTIGO 70
(Falsidade de documentos ou declarações)

No caso de falsidade de documentos ou de declarações, o tribunal


competente anula o Visto do diploma por meio de acórdão, importando a
notificação deste a imediata suspensão do pagamento de quaisquer abonos
e a vacatura do cargo, sem prejuízo da responsabilidade disciplinar ou
criminal que no caso se verifique.

SECÇÃO III
Actos não sujeitos a Visto, dispensas de fiscalização prévia, mecanismos de
urgência e de simplificação do Visto

ARTIGO 71
(Anotação)

1. São submetidos à mera anotação os actos não sujeitos a Visto que a lei
determinar.
2. Estão, igualmente, sujeitos à anotação outros actos modificativos da
relação jurídica de trabalho de que não resulte aumento de vencimento,
designadamente a exoneração, demissão, expulsão e os contratos cujas
minutas hajam sido previamente visadas.
3. A anotação não implica qualquer juízo relativamente à legalidade do acto,
efectuando-se sempre que o Visto não seja exigido legalmente, tendo em
vista a actualização do cadastro dos funcionários e agentes em exercício de
funções, a qualquer título.

ARTIGO 72
(Excepções)

1. Não estão sujeitos à fiscalização prévia, sem prejuízo da sua eventual


fiscalização sucessiva:
a) os diplomas de nomeação emanados do Presidente da República;
b) os diplomas relativos aos cargos electivos;
c) os contratos celebrados ao abrigo de Acordos de Cooperação entre
Estados;
d) os actos administrativos sobre a concessão de vencimentos certos ou
eventuais resultantes do exercício de cargo por inerência legal expressa,
com excepção dos que concedem gratificação;
e) nomeações definitivas dos funcionários do Estado;
f) contratos de trabalho celebrados por representações diplomáticas e
consulares moçambicanas no exterior com trabalhadores estrangeiros;
g) os títulos definitivos de contratos cujas minutas hajam sido objecto de
Visto;
h) os contratos de arrendamento celebrados no estrangeiro para instalação
de postos diplomáticos ou consulares ou outros serviços de representação
internacional, quando a urgência da sua realização impeça a sujeição
daqueles ao Visto prévio da jurisdição administrativa;
i) os diplomas e despachos relativos a promoções, progressões,
reclassificações, substituições;
j) transferências;
k) outros actos ou contratos especialmente previstos por lei.
2. A lei que aprova o Orçamento do Estado estabelece, anualmente, um valor
abaixo do qual ficam isentos da fiscalização prévia contratos não relativos a
pessoal, quando celebrados com concorrentes inscritos no cadastro único
de empreiteiros de obras públicas, fornecedores de bens e de prestadores
de serviços elegíveis a participar nos concursos públicos, existente no
ministério que superintende a área das finanças.
3. Os serviços devem, no prazo de trinta dias, após a celebração dos
contratos a que se referem as alíneas c) a h) do n.º 1 e do n.º 2 anteriores,
remeter cópia dos mesmos à jurisdição administrativa.
4. O Tribunal Administrativo pode, anualmente, mediante deliberação do
Plenário, determinar que certos actos e contratos apenas sejam objecto de
fiscalização sucessiva ou apenas fiquem sujeitos a esta a partir de
determinado montante.

ARTIGO 73
(Urgente conveniência de serviço)

1. Excepcionalmente, a eficácia dos actos e contratos sujeitos à fiscalização


prévia da jurisdição administrativa pode reportar-se à data anterior ao Visto,
desde que declarada por escrito pelo membro do Governo ou entidade
competente a urgente conveniência de serviço e digam respeito a:
a) nomeação de magistrados judiciais e do Ministério Público, secretários
permanentes dos Ministérios, directores nacionais, secretários permanentes
provinciais, administradores distritais, secretários permanentes distritais,
chefes de posto administrativo das autoridades civis, do pessoal técnico-
profissional de saúde de nível básico, médio e superior, professores de
qualquer nível ou categoria, pessoal técnico-profissional agrário de nível
básico, médio e superior, recebedores, tesoureiros, escrivães de direito,
ajudantes de escrivães, oficiais de justiça, pessoal das forças militarizadas,
pessoal afecto aos serviços prisionais, ao censo populacional e ao serviço de
eleições;
b) nomeações para o exercício de funções em regime especial de actividade,
nomeadamente comissão de serviço, destacamento, substituição e
acumulação de funções;
c) contratos não relativos a pessoal de que tenha sido prestada caução não
inferior a cinquenta por cento do seu valor global;
d) contratos que prorrogam outros anteriores permitidos por lei, desde que
as condições sejam as mesmas;
e) os contratos de obras públicas cujo valor seja superior a cinco milhões de
meticais;
f) contratos de qualquer natureza decorrentes de caso fortuito ou força
maior.
2. Os funcionários e agentes referidos no número anterior podem tomar
posse, entrar em exercício e receber vencimentos, antes do Visto e
publicação do diploma.
3. Os processos em que tenha sido declarada a urgente conveniência de
serviço devem ser enviados ao tribunal competente, nos trinta dias
subsequentes à data do despacho de autorização, sob pena de cessação dos
respectivos efeitos, salvo motivos ponderosos que o mesmo tribunal avalia.
4. A recusa do Visto produz os efeitos referidos no artigo 78 da presente Lei.

ARTIGO 74
(Visto tácito)

1. Os actos, contratos e demais instrumentos jurídicos enviados à jurisdição


administrativa para fiscalização prévia consideram-se visados se não tiver
havido decisão de recusa de Visto no prazo de quarenta e cinco dias, a
contar da data do seu registo de entrada.
2. Para os casos referidos no número anterior, não é necessária assinatura do
Juiz no processo.
3. Os serviços ou organismos podem iniciar a execução dos actos ou
contratos e demais instrumentos jurídicos, se decorridos oito dias sobre o
termo daquele prazo, não tiverem recebido a comunicação prevista no
número seguinte.
4. Devem ser comunicadas aos serviços ou organismos as datas do registo
mencionadas no n.º 1 e publicadas na página de Internet do tribunal
competente.
5. É aplicável à interrupção referida no número anterior o regime da Lei de
Processo.
ARTIGO 75
(Declaração de conformidade)

O Tribunal Administrativo, por deliberação do Plenário, pode determinar que


a fiscalização prévia assuma a forma de declaração de conformidade, a
efectuar no âmbito dos serviços de apoio técnico e administrativo,
relativamente aos actos, contratos e demais instrumentos sujeitos a Visto,
que não suscitem dúvidas concernentes à sua legalidade jurídico-financeira.

ARTIGO 76
(Procedimentos na declaração de conformidade)

1. A Contadoria do Visto deve agrupar em lotes e elaborar uma relação diária


dos processos semelhantes e de reduzida complexidade que considere
passíveis de declaração de confor-midade.
2. A relação referida no número anterior é assinada pelo Contador, que a
apresenta ao Juiz Relator para efeitos de homologação, sendo,
posteriormente, notificada ao Ministério Público.
3. De seguida, é aposta a chancela "Está Conforme" nos processos
constantes da relação definitiva sendo, posteriormente, feitas as devidas
comunicações.

SECÇÃO IV
Recusa do Visto e efeitos

ARTIGO 77
(Fundamentos da recusa do Visto)

Constituem fundamentos de recusa do Visto, nomeadamente:


a) a desconformidade do acto ou contrato, traduzida em absoluta falta de
forma, impossibilidade do objecto ou vício determinante de inexistência ou
nulidade absoluta;
b) a falta de cabimento financeiro;
c) a intempestividade da submissão à fiscalização prévia, decorrente da
execução prévia ilegal;
d) a mera anulabilidade, legitimamente invocada pelo interessado;
e) a ofensa de caso julgado.

ARTIGO 78
(Efeitos da falta ou recusa do Visto)

1. Os actos, contratos e mais instrumentos subtraídos à fiscalização prévia


ou objecto de recusa de Visto não são exequíveis, sendo insusceptíveis de
quaisquer efeitos financeiros.
2. A recusa de Visto determina a cessação de quaisquer abonos, a partir da
data em que, da respectiva decisão, for dado conhecimento aos serviços.
3. A execução de um acto ou contrato objecto de recusa de Visto, ofende o
caso julgado e determina a nulidade dos actos de execução.
4. É aplicável à anulação do Visto o regime prescrito nos números anteriores.
5. Apenas podem produzir efeitos, anteriormente à fiscalização prévia, os
actos ou contratos praticados com fundamento em urgente conveniência de
serviço e bem assim os contratos de seguro.
6. Quando o Visto haja sido recusado por insuficiência de instrução, pode
haver lugar a nova apresentação de processo devidamente instruído.

ARTIGO 79
(Recurso por recusa de Visto)

1. No caso de recusa de Visto, pode a Administração, pelo membro do


Governo, ou entidade competente, interpor recurso, no prazo fixado na lei .
2. Os eventuais prejudicados pela recusa de Visto podem intervir no
processo nos termos previstos nos n.ºs 2 e 3 do artigo 122 da presente Lei.

CAPÍTULO V
Fiscalização sucessiva

SECÇÃO I
Âmbito e periodicidade

ARTIGO 80
(Âmbito)

Estão sujeitos à prestação de contas os recebedores, tesoureiros, exactores


e demais responsáveis pela cobrança, guarda ou administração de dinheiros
públicos, bem como os responsáveis, de direito ou de facto, pela gestão das
entidades sujeitas ao controlo financeiro da jurisdição administrativa,
qualquer que seja o grau da sua autonomia, ainda que as suas despesas
sejam, parcial ou totalmente cobertas por receitas próprias ou que, umas e
outras, não constem do Orçamento do Estado.

ARTIGO 81
(Periodicidade)

1. Salvo disposição legal em contrário, as contas são prestadas por anos


económicos ou no termo de cada gerência, no caso de substituição total dos
responsáveis.
2. O Tribunal Administrativo pode promover, a todo tempo, inspecção ou
auditoria com o objectivo de detectar irregularidades e saná-las, evitando
danos irreparáveis.

ARTIGO 82
(Conta Geral do Estado)

1. A Conta Geral do Estado deve ser apresentada pelo Governo à Assembleia


da República e ao Tribunal Administrativo, até 31 de Maio do ano seguinte
àquele a que respeite.
2. O relatório e o parecer do Tribunal Administrativo sobre a Conta Geral do
Estado devem ser enviados à Assembleia da República até 30 de Novembro
do ano seguinte àquele a que a mesma se refira.
3. O relatório e o parecer referidos no número anterior devem certificar a
exactidão, regularidade, legalidade e correcção económico-financeira das
contas e da respectiva gestão financeira anual, sendo objecto de publicação
em Boletim da República.
4. O relatório e o parecer do Tribunal Administrativo são acompanhados das
respostas dos serviços e organismos às questões que esse órgão lhes
formular.
5. A Assembleia da República aprecia e aprova a Conta Geral do Estado, na
sessão seguinte à entrega do relatório e parecer pelo Tribunal
Administrativo.

ARTIGO 83
(Prestação, certificação e julgamento de contas)

1. As contas das entidades sujeitas ao controlo da jurisdição administrativa


devem dar entrada nesta, no prazo de três meses, contados a partir da data
do termo da gerência.
2. A requerimento dos interessados que invoquem motivo justificado, o
Tribunal Administrativo pode fixar prazo diferente.
3. O Tribunal Administrativo pode, excepcionalmente, relevar a falta de
cumprimento dos prazos referidos nos números anteriores, por despacho
devidamente motivado do respectivo relator.
4. O Tribunal Administrativo deve apreciar as contas recebidas, para fins de
certificação prevista no artigo 95, até 31 de Dezembro do ano em que forem
entregues.
5. No caso das contas que forem submetidas a julgamento, o prazo é de um
ano, a contar da data da entrada do processo na Secretaria do Tribunal
Administrativo, dos tribunais adminis-trativos provinciais e do Tribunal
Administrativo da Cidade de Maputo, salvaguardado o adiante estipulado no
n.º 3 do artigo 87.
6. O prazo referido no número anterior suspende-se pelo tempo que for
necessário para obter informações ou documentos ou para efectuar
investigações complementares.

ARTIGO 84
(Instruções de execução obrigatória)

1. O Tribunal Administrativo emite instruções de execução obrigatória sobre


a forma como devem ser prestadas as contas e os documentos que devem
instruí-las.
2. Os serviços e outros organismos podem ser dispensados pelo Tribunal
Administrativo da apresentação dos documentos de despesa, no todo ou em
parte.

ARTIGO 85
(Diligências probatórias e coadjuvação)

1. A prestação de contas pela forma que estiver determinada não prejudica


a faculdade de o Tribunal Administrativo exigir de quaisquer entidades os
documentos e informações tidos ainda por necessários, bem como de
requisitar aos competentes serviços de controlo interno as diligências e
meios que julgar convenientes.
2. A solicitação de documentos e esclarecimentos deve ser atendidas no
prazo de cinco dias, após a recepção da notificação, sob pena de multa, a
arbitrar aquando da apreciação das contas.
3. Sob pena de desobediência qualificada, punível nos termos da Lei Penal,
os serviços, os funcionários em geral e quaisquer entidades públicas ou
privadas são obrigados a dar execução aos acórdãos, resoluções e
despachos que, sobre matéria das suas atribuições e competência
específica, a jurisdição administrativa profira em processos sujeitos à sua
apreciação e decisão.

ARTIGO 86
(Forma de apreciação das contas)

As contas são susceptíveis de apreciação de natureza, metodologia e


complexidade crescentes, quais sejam:
a) a verificação de 1.º grau ou preliminar;
b) a verificação de 2.º grau;
c) a inspecção;
d) a auditoria;
e) a certificação;
f) o julgamento.

ARTIGO 87
(Verificação do 1.º grau)

1. A verificação do 1.º grau consiste em certificar:


a) se as contas se fazem acompanhar dos documentos exigidos pelas
respectivas instruções;
b) se as contas estão escrituradas correctamente;
c) se, em exame sumário, as operações e registos que integram essas contas
respeitam a legalidade e a regularidade financeira e contabilística.
2. As contas que não enfermem de suspeitas de alcances ou desvios de
dinheiros públicos, pagamentos indevidos e outras irregularidades graves
podem, após verificação preliminar da Contadoria de Contas e Auditoria, ser
devolvidas aos serviços responsáveis e consideradas certificadas e regulares
sob condição resolutória de ulterior apreciação.
3. Passados cinco anos e não sendo objecto de nova auditoria, as contas são
consideradas definitivamente como certificadas e regulares.
4. Caso, dentro do quinquénio, seja detectada fraude ou qualquer outra
irregularidade, os responsáveis estão sujeitos às sanções devidas.
5. O eventual julgamento pode ter lugar por iniciativa do Tribunal
Administrativo na pessoa do Contador Geral da Contadoria de Contas e
Auditorias, por promoção do Ministério Público ou a pedido de particulares
interessados que demonstrarem legitimidade para tanto.
ARTIGO 88
(Verificação de 2.° grau)

1. A verificação de 2.º grau incide na:


a) análise dos documentos de despesa;
b) forma de instrução da conta, do ponto de vista formal e material, incluindo
a verificação da consistência dos documentos;
c) correcção contabilística;
d) legalidade e regularidade das operações e registos.
2. As contas que não enfermem de suspeitas de alcances ou desvios de
dinheiros públicos, pagamentos indevidos e outras irregularidades graves
podem ser devolvidas aos serviços responsáveis, após verificação pela
Contadoria de Contas e Auditoria e consideradas certificadas e regulares sob
condição resolutória de ulterior apreciação.
3. Passados cinco anos e não sendo esta conta objecto de nova auditoria, é
considerada definitivamente como certificada e regular.
4. Caso, dentro do quinquénio, seja detectada fraude ou qualquer outra
irregularidade, os responsáveis estão sujeitos às sanções devidas.
5. O eventual julgamento pode ter lugar por iniciativa do Tribunal
Administrativo na pessoa do Contador Geral da Contadoria de Contas e
Auditorias, promoção do Ministério Público ou a pedido de particulares
interessados que demonstrarem legitimidade para tanto.

ARTIGO 89
(Inspecção)

1. A inspecção é o procedimento de fiscalização que visa suprir as omissões


e lacunas de informações, esclarecer dúvidas, ou apurar denúncias quanto à
legalidade e legitimidade de factos da Administração Pública e de actos
administrativos praticados por qualquer responsável sujeito à jurisdição do
Tribunal Administrativo.
2. A inspecção é realizada independentemente de inclusão em plano de
auditoria, podendo ser determinada com base em proposta fundamentada
que demonstre os recursos humanos existentes na contadoria e daqueles a
serem mobilizados na sua execução.

ARTIGO 90
(Auditoria)

1. A Auditoria é um procedimento de fiscalização utilizado pelo Tribunal


Administrativo para fundamentar a instrução, a certificação e o julgamento
das contas públicas ou a apreciação da economia, eficácia e eficiência do
uso de dinheiros públicos.
2. Por forma a determinar as entidades a incluir no Plano Anual de Auditorias,
o Tribunal Administrativo deve proceder a uma avaliação de riscos,
obedecendo a critérios especificados em regulamento interno.
3. Durante a fase instrutória, as auditorias do Tribunal Administrativo são
conduzidas por Auditores de Controlo Externo.
4. O recrutamento e a selecção dos Auditores de Controlo Externo tem em
conta a idoneidade, imparcialidade e conhe-cimentos técnicos específicos.
5. Na condução das auditorias, os Auditores de Controlo Externo observam
métodos e técnicas de padrão reconhecido.
6. Deve ser elaborada matriz de risco em cada auditoria contemplando, entre
outros:
a) o valor monetário dos recursos geridos por cada unidade sujeita ao
controlo externo;
b) a relevância;
c) o risco inerente, considerando como tal o risco decorrente da própria
operação, independente da avaliação dos controles existentes;
d) o risco de controlo que deve considerar a inexistência ou insuficiência de
controlos internos que previnam ou identifiquem tempestivamente erros ou
irregu-laridades;
e) a interdependência com outros órgãos ou entidades;
f) o desempenho, conforme resultados alcançados em relação ao previsto e
estipulado em planos, programas ou orçamento.

ARTIGO 91
(Tipos de auditoria)

1. As auditorias podem ser de regularidade e de desempenho.


2. A auditoria de regularidade tem como foco a verificação da conformidade
com determinadas regras, normas e objectivos.
3. Na auditoria de regularidade, o Tribunal Administrativo analisa as contas,
a situação financeira e orçamental, a legalidade e a regularidade das
operações de determinado órgão, programa ou entidade pública.
4. A auditoria de desempenho tem como foco a avaliação da economia,
eficiência e eficácia.
5. Na auditoria de desempenho, o Tribunal Administrativo avalia programas,
projectos, actividades e respectiva efectividade, sistemas governamentais,
órgãos ou entidades públicas.
6. Dentro da tipologia definida nos números anteriores, as auditorias incidem
sobre áreas de interesse a serem definidas pelo tribunal.
7. Na definição referida no número anterior, o tribunal considera,
nomeadamente, as auditorias financeiras, as obras públicas, ambientais e os
sistemas informáticos com as respectivas especificidades.

ARTIGO 92
(Processo de auditoria de regularidade)

1. O Relatório Final de Auditoria pode dar lugar a certificação ou julgamento


2. Os processos de auditoria são instruídos com toda documentação
necessária para apreciação dos juízes, devendo ser devidamente
referenciados e numerados, de forma a possibilitar consulta rápida e ágil aos
documentos por parte dos juízes.
3. No Relatório Final de Auditoria deve constar de forma clara, se for o caso,
o montante dos valores a serem devolvidos e os respectivos responsáveis.

ARTIGO 93
(Processo de auditoria de desempenho)

1. O Relatório Final de Auditoria de Desempenho dá lugar a um processo de


auditoria de desempenho, distribuído a um Juiz-Relator da Secção de Contas
Públicas, que o analisa e prepara para ser apreciado em sessão com os
demais juízes.
2. Na apreciação do Processo de Auditoria de Desempenho, os juízes
conselheiros decidem sobre a aprovação do Relatório Final de Auditoria de
Desempenho e remessa ao respectivo auditado para adopção das
recomendações nele constantes.

ARTIGO 94
(Publicidade das decisões em processo de auditoria)

1. As decisões relativas à apreciação e julgamento das auditorias, de


qualquer tipo, devem ser publicadas no Boletim da República e na página da
Internet do Tribunal Administrativo.
2. Uma vez aprovado, pelo Tribunal Administrativo, o Relatório Final da
Auditoria de Desempenho deve ser enviado ao auditado, ao Governo e à
Assembleia da República ou provincial.

ARTIGO 95
(Certificação)

1. A Certificação consiste na apreciação positiva da legalidade e


regularidade das contas apresentadas, que tenham sido objecto de
verificação interna de 1.º Grau, Verificação Interna de 2.º Grau, Inspecção ou
Auditoria.
2. Podem ser certificadas as contas que não enfermem de suspeitas de
alcances ou desvios de dinheiros públicos, pagamentos indevidos ou outras
irregularidades graves.
3. A certificação é feita pelo Juiz Relator sob proposta da Contadoria de
Contas e Auditoria.
4. As contas certificadas e respectivo relatório devem ser devolvidos às
entidades responsáveis, para conhecimento e cumprimento das eventuais
recomendações.
5. Das contas certificadas é enviada cópia ao representante do Ministério
Público, acompanhada do respectivo relatório.
6. A relação das contas certificadas deve ser publicada no Boletim da
República e no sítio de Internet do Tribunal Administrativo, dos tribunais
administrativos provinciais ou do Tribunal Administrativo da Cidade de
Maputo.
7. O Juiz Relator prepara e submete a julgamento os processos das contas
não certificadas.

ARTIGO 96
(Julgamento)

O julgamento das contas traduz-se na apreciação da legalidade da


actividade das entidades sujeitas à prestação de contas, bem como da
respectiva gestão económico-financeira e patrimonial, e no apuramento e
eventual efectivação da inerente responsabilidade fi nanceira e
consubstancia-se em:
a) julgamento de quitação, quando os responsáveis pela sua prestação são
julgados livres de qualquer responsabilidade financeira e as contas havidas
como regulares;
b) efectivação de responsabilidade, quando aos mesmos é imputada
responsabilidade financeira traduzida no dever de repor ou de pagar uma
multa, podendo merecer ainda, simples juízo de censura ou recomendações.

ARTIGO 97
(Conceito de irregularidade grave)

Integram o conceito de irregularidade grave as infracções financeiras


consubstanciadas em alcance ou desvio de dinheiros públicos e outros
valores e em pagamentos indevidos, perpetrados com dolo, propósito de
fraude e prejuízo efectivo para o Estado.

CAPÍTULO VI
Infracções e responsabilidades financeiras

SECÇÃO I
Infracções financeiras

ARTIGO 98
(Infracções financeiras típicas)

1. Constitui infracção financeira punível com multa e determinante de


anulação, a todo o tempo, do visto concedido ao acto ou contrato, assim
como de suspensão de todo e qualquer pagamento futuro:
a) a apresentação de documentos ou declarações falsas;
b) execução do acto ou contrato, sem prévia sujeição a Visto ou após
conhecimento da recusa de Visto;
c) a desconformidade substancial entre a minuta e o contrato celebrado
mediante escritura notarial.
2. Constituem infracções financeiras típicas o alcance, o desvio de dinheiros
ou valores públicos e os pagamentos indevidos.
3. Constituem, também, infracções financeiras, nomeadamente:
a) a não liquidação, cobrança ou entrega nos cofres do Estado das receitas
devidas;
b) a violação das normas sobre a elaboração e execução dos orçamentos,
bem como da assunção, autorização ou pagamento de despesas públicas ou
compromissos;
c) a não efectivação ou retenção indevida dos descontos legalmente
obrigatórios a efectuar ao pessoal;
d) a falta injustificada de remessa de contas ao tribunal competente, a falta
injustificada da sua remessa tempestiva ou a sua apresentação com
deficiências tais que impossibilitem ou gravemente dificultem a sua
verificação;
e) o extravio de processos ou documentos, e a sonegação ou deficiente
prestação de informações ou documentos pedidos pelo tribunal competente
ou exigidos por lei;
f) a falta injustificada de comparência para a prestação de declarações ou
de colaboração devida ao tribunal;
g) a introdução nos processos de elementos que possam induzir o tribunal
em erro nas suas decisões ou relatórios, ou que dificultem substancialmente
ou de todo obstem o julgamento das contas;
h) a publicação, no Boletim da República, de actos ou contratos sujeitos ao
Visto, sem a prévia concessão do mesmo;
i) a execução de actos ou contratos a que tenha sido recusado o Visto ou de
actos ou contratos que não tenham sido submetidos à fiscalização prévia
quando a isso estavam legalmente sujeitos;
j) a violação de normas legais ou regulamentares respeitantes à gestão e
controlo orçamental, de tesouraria e de patri-mónio;
k) o adiantamento por conta de pagamentos nos casos não expressamente
previstos na lei;
l) a utilização de empréstimos públicos em finalidades diversas das
legalmente previstas, bem como pela ultrapassagem dos fundos legais da
capacidade de endividamento;
m) a utilização indevida de fundos movimentados por operações de
tesouraria para financiar despesas públicas;
n) a utilização de dinheiros ou outros valores públicos em finalidades
diferentes das legalmente previstas.
4. A desobediência, a falsificação e quaisquer outros factos que configurem
ilícito criminal são, ainda, punidos nos termos da Lei Penal.
5. A desobediência referida no número anterior tem-se, sempre, como
desobediência qualificada.

ARTIGO 99
(Alcance)

Verifica-se o alcance quando, independentemente da acção do agente nesse


sentido, haja desaparecimento de dinheiros ou outros valores do Estado ou
de outras entidades públicas.

ARTIGO 100
(Desvio de dinheiros ou valores públicos)

Tem lugar o desvio de dinheiros ou valores públicos quando se verifique o


seu desaparecimento por acção voluntária de qualquer agente público que
a eles tenha acesso por causa do exercício das funções públicas que lhes
estão acometidas.

ARTIGO 101
(Pagamentos indevidos)

Consideram-se pagamentos indevidos os pagamentos ilegais que causarem


dano para o Estado ou entidade pública, incluindo aqueles a que
corresponda contraprestação efectiva que não seja adequada ou
proporcional à prossecução das atribuições da entidade em causa ou aos
usos normais de determinada actividade.
SECÇÃO II
Responsabilidade financeira

ARTIGO 102
(Evidências de responsabilidade financeira)

1. Sempre que os relatórios das acções de controlo do Tribunal


Administrativo evidenciem factos constitutivos de responsabilidade
financeira, os processos respectivos são enviados ao Ministério Público para
os fins legais.
2. Se o Ministério Público declarar não requerer procedimento jurisdicional,
devolve o respectivo processo à entidade remetente.
3. O disposto no n.º 1 é aplicável às auditorias realizadas no âmbito da
preparação do relatório e parecer sobre a Conta Geral do Estado.
4. Nos casos previstos no presente artigo, o Tribunal Administrativo envia à
Assembleia da República, em capítulo próprio no Relatório sobre Conta
Geral do Estado do ano seguinte, uma informação sobre as medidas e
procedimentos adaptados para o apuramento da responsabilidade
financeira e respectivo ponto de situação, relativa à Conta Geral do Estado
do ano anterior.

ARTIGO 103
(Aplicação)

1. Sem prejuízo de eventual responsabilidade disciplinar, criminal ou civil, o


desrespeito das normas previstas na presente Lei, acarreta responsabilidade
financeira das entidades ou funcionários, cuja actuação seja lesiva ao
património e aos interesses financeiros do Estado.
2. A instrução deficiente e repetida dos actos sujeitos à fiscalização
preventiva, por parte dos serviços, pode ser objecto de multa, a arbitrar pelo
tribunal competente.

ARTIGO 104
(Efectivação de responsabilidade)

A responsabilidade financeira é efectivada pelo Tribunal Administrativo,


pelos tribunais administrativos provinciais e pelo Tribunal Administrativo da
Cidade de Maputo.

ARTIGO 105
(Modalidades de responsabilidade financeira)

A responsabilidade financeira pode ser de tipo reintegratório ou meramente


sancionatório.
ARTIGO 106
(Características da responsabilidade financeira)

1. A responsabilidade financeira pressupõe a existência de culpa e é


independente do dano efectivamente causado.
2. O tribunal avalia o grau de culpa de acordo com as circunstâncias do caso,
tendo em consideração as competências do cargo ou a índole das principais
funções de cada responsável, o volume e fundos movimentados, o montante
material da lesão dos dinheiros ou valores públicos, o grau de acatamento
de eventuais recomendações do tribunal competente e os meios humanos e
materiais existentes no serviço, organismo ou entidade em causa.
3. A responsabilidade financeira é pessoal e incide sobre o agente ou
agentes da acção.
4. A responsabilidade financeira recai, também, nos gerentes, dirigentes ou
membros dos órgãos de gestão administrativa e financeira ou equiparados
e exactores dos serviços, organismos e outras entidades sujeitos à jurisdição
do Tribunal Administrativo e dos tribunais administrativos provinciais e
Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo, quando:
a) por ordem sua, a guarda e arrecadação dos dinheiros ou valores tiverem
sido entregues à pessoa que os alcançou ou praticou o desvio, sem ter
ocorrido a ausência ou impedimento daqueles a que, por lei, estejam
acometidas tais funções;
b) por indicação ou nomeação sua, pessoa já desprovida de idoneidade
moral e, como tal reconhecida, tenha sido designada para o cargo cujo
exercício haja praticado o facto;
c) no desempenho das funções de fiscalização que lhe estiverem
acometidas, tiverem procedido com culpa grave, nomeadamente quando
não tenham acatado as instruções do Tribunal Administrativo, as regras de
boa gestão dos dinheiros públicos ou os pareceres técnicos.
5. A mesma responsabilidade pode recair, ainda, nos funcionários ou agentes
que, nas suas informações para os membros do Governo ou para os gerentes,
dirigentes ou outros administradores, não esclareçam os assuntos da sua
competência, de acordo com a lei.
6. O acórdão define, expressamente, quando for caso disso, o grau de
responsabilidade imputável, podendo, ainda, conter juízo de censura ou
recomendação à instituição e outras providências a adaptar relativamente
aos responsáveis, incluindo a sua demissão. Estas medidas podem, ainda, ser
tomadas visando a melhoria da gestão e garantia da legalidade no futuro.
7. A responsabilidade inclui os juros de mora legais sobre os respectivos
montantes, contados desde a data da infracção ou, não sendo possível
determiná-la, desde o último dia da respectiva gerência.

ARTIGO 107
(Redução ou relevação da responsabilidade financeira)

1. A responsabilidade financeira é susceptível de relevação ou redução,


apenas no que respeita às multas, consoante o grau de culpa e o prejuízo
efectivo para o Estado.
2. A responsabilidade financeira decorrente de infracções financeiras
perpetradas com mera culpa é passível de redução em função do grau de
culpa apurado, ou de relevação nos termos do artigo seguinte.
3. O Tribunal Administrativo, os tribunais administrativos provinciais e o
Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo devem fazer constar da
decisão as razões justificativas da redução ou da relevação.
4. Fica isento de responsabilidade aquele que houver manifestado, por
forma inequívoca, oposição aos actos que a originaram.

ARTIGO 108
(Requisitos da relevação)

O Tribunal Administrativo, os tribunais administrativos provinciais e o


Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo podem relevar a
responsabilidade por infracção financeira, quando seja apenas passível de
multa, quando esta tiver sido paga voluntariamente e:
a) se evidenciar, suficientemente, que a falta apenas pode ser imputada ao
seu autor por mera culpa;
b) não tiver havido, anteriormente, recomendação de tribunal ou de
qualquer órgão de controlo interno ao serviço auditado para correcção de
irregularidades do procedimento adoptado;
c) se tiver sido a primeira vez que um tribunal ou um órgão de controlo
interno tenham censurado o seu autor pela sua prática.

ARTIGO 109
(Responsabilidade solidária)

Sem prejuízo do disposto no n.º 2 do artigo 106 e no artigo 107, se forem


vários os responsáveis financeiros pelas acções, a sua responsabilidade,
tanto directa como subsidiária, nos termos dos n.ºs 3, 4 e 5 do artigo 106, é
solidária e o pagamento da totalidade da quantia a repor por qualquer deles
extingue o procedimento instaurado ou impede a sua propositura, sem
prejuízo do direito de regresso.

ARTIGO 110
(Reposição por não arrecadação de receitas)

Nos casos de prática, autorização ou sancionamento, com dolo ou culpa


grave, que impliquem a não liquidação, cobrança ou entrega de receitas com
violação das normas legais aplicáveis, pode o Tribunal Administrativo
condenar o responsável na reposição das importâncias não arrecadadas em
prejuízo do Estado ou de entidades públicas.

ARTIGO 111
(Intransmissibilidade do dever de reposição)

A responsabilidade financeira reintegratória, nomeadamente, o dever de


reposição, não é transmissível aos herdeiros do infractor.
ARTIGO 112
(Enriquecimento sem causa)

O eventual enriquecimento sem causa da herança do infractor, determinado


por alcance ou desvio de dinheiros públicos, apenas é susceptível de
ressarcimento pelo Estado através dos tribunais comuns.

ARTIGO 113
(Desobediência qualificada)

1. Nas situações de falta de apresentação de processos de contas ou de


documentos, o acórdão fixa um prazo razoável para que o responsável
proceda à sua entrega ao tribunal.
2. O incumprimento da ordem mencionada no número anterior constitui
crime de desobediência qualificada, competindo ao Ministério Público a
instauração do respectivo procedimento no tribunal competente.

ARTIGO 114
(Reposição e multa)

1. A responsabilidade financeira traduz-se na sujeição às penas de reposição


e de multa as quais podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente.
2. São puníveis com a pena de reposição as infracções financeiras constantes
do n.º 2 do artigo 98 e do artigo 110 da presente Lei.
3. As demais infracções financeiras e as meras irregularidades contabilísticas
ou administrativas com reflexos financeiros, tipificadas no n.º 3 do artigo 98
ou decorrentes da demais legislação financeira aplicável, são puníveis com
multa a definir no próprio processo ou em processo específico, sendo caso
disso.
4. O tribunal competente gradua as multas tendo em consi -deração a
gravidade dos factos e as suas consequências, o grau de culpa, o montante
material dos valores públicos lesados ou em risco, o nível hierárquico dos
responsáveis, a sua situação económica, a existência de antecedentes e o
grau de acatamento de eventuais recomendações do tribunal.
5. A multa a arbitrar, de acordo com as circunstâncias indicadas no número
anterior, não deve ser inferior a um sexto do vencimento ou remuneração
anual do infractor, pela primeira vez, e a três sextos do vencimento ou
remuneração anual, pela segunda e sucessivas vezes.
6. De qualquer modo, o limite máximo da multa situa-se no valor máximo do
vencimento ou remuneração anual.
7. O pagamento da multa arbitrada é da responsabilidade pessoal dos
infractores referidos nos n.ºs 3, 4 e 5 do artigo 106, conforme os casos.

ARTIGO 115
(Processos autónomos de multa)

As infracções constantes do n.º 3 do artigo 98 são objecto de processo


autónomo de multa, se não forem conhecidas nos processos de julgamento
de contas, de julgamento de responsabilidades financeiras e de fixação do
débito aos responsáveis ou de declaração de impossibilidade de julgamento.
ARTIGO 116
(Causas de extinção de responsabilidades)

1. O procedimento por responsabilidade financeira reintegratória extingue-


se pelo pagamento da quantia a repor em qualquer momento e pela
prescrição.
2. O procedimento por responsabilidade sancionatória nos termos do n.º 3
do artigo 98, extingue-se pelo pagamento do montante em dívida, pela
morte do responsável, pela amnistia, pela prescrição, pela relevação da
responsabilidade nos termos do n.º 2 do artigo 107 e artigo 108 e pela
isenção de responsabilidade, segundo o n.º 4 do artigo 107 da presente Lei.

ARTIGO 117
(Prazos de prescrição de procedimento)

1. A prescrição do procedimento por responsabilidades financeiras


reintegratórias é de quinze anos e a prescrição por responsabilidades
sancionatórias é de dez anos.
2. Os prazos referidos no número anterior contam-se a partir da data da
infracção ou, não sendo possível determiná-la, desde o último dia da
respectiva gerência.
3. O prazo da prescrição do procedimento suspende-se com a entrada do
processo de contas no tribunal competente ou com o início da auditoria e
até à audição do responsável, desde que não seja ultrapassado o período de
dois anos.

CAPÍTULO VII
Recurso

SECÇÃO I
Recursos ordinários

ARTIGO 118
(Decisões recorríveis)

1. As decisões condenatórias dos tribunais administrativos provinciais e


Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo que apurem
responsabilidades, determinem o dever de repor dinheiro e outros valores
públicos ou o pagamento de multa, recusem o Visto ou fixem os
emolumentos, são susceptíveis de recurso para a Secção de Contas Públicas
do Tribunal Administrativo.
2. Das decisões condenatórias da Secção de Contas Públicas cabe recurso
para o Plenário do Tribunal Administrativo.
ARTIGO 119
(Forma e prazo de interposição)

1. Os recursos referidos nos n.ºs 1 e 2 do artigo anterior são interpostos


mediante requerimento devidamente articulado, dirigido aos presidentes
dos tribunais recorridos, no qual devem ser expostas as razões de facto e de
direito em que se fundamentam e formuladas conclusões, no prazo de dez
dias, contado da notificação da decisão recorrida, observando-se o regime
de dilação constante do Código de Processo Civil.
2. Os recursos são distribuídos por sorteio pelos juízes do Tribunal
Administrativo, não podendo ser relatado pelo Juiz Relator da decisão
recorrida.
3. Distribuído e autuado o recurso, é aberta conclusão ao relator para, em 48
horas, se pronunciar sobre a sua admissão ou rejeição liminar.
4. O recurso das decisões finais de recusa de Visto ou de con-denação por
responsabilidade sancionatória tem efeito suspensivo.
5. O recurso das decisões finais de condenação por responsabilidade
financeira reintegratória apenas tem efeito suspensivo, se for prestada
caução.

ARTIGO 120
(Reclamação de não admissão de recursos)

1. Do despacho que não admite o recurso, pode o recorrente reclamar para


a Secção de Contas Públicas do Tribunal Administrativo, ou para o Tribunal
Administrativo, conforme os casos, no prazo de dez dias, os quais reúnem
com todos os juízes, devendo ser expostas as razões que justificam a
admissão do recurso.
2. Os tribunais referidos no número anterior apreciam o recurso na primeira
sessão seguinte à distribuição, devendo decidir pela admissão do recurso ou
pela manutenção do despacho recorrido.
3. O relator pode reparar o despacho de indeferimento e fazer prosseguir o
recurso.
4. Se o relator sustentar o despacho liminar de rejeição do recurso, ordena a
apresentação da reclamação à instância competente.
5. Se o despacho de indeferimento for proferido pela Secção de Contas
Públicas do Tribunal Administrativo, o recurso é interposto para o Plenário.
6. Se o despacho de indeferimento for praticado por tribunal administrativo
provincial ou da Cidade de Maputo, o recurso é interposto para a Secção de
Contas Públicas do Tribunal Administrativo.

ARTIGO 121
(Outros recursos)

Os recursos de decisões não finais são interpostos no prazo de cinco dias,


contados da notificação da decisão recorrida, observando-se o regime das
dilações constantes do Código de Processo Civil, só podendo ser apreciados
na decisão final.
ARTIGO 122
(Legitimidade)

1. Têm legitimidade para recorrer:


a) o Ministério Público;
b) o membro do Governo ou a entidade de que depende o funcionário ou o
serviço;
c) a instituição interessada, através do seu titular;
d) os responsáveis dirigentes condenados ou objecto de juízo de censura;
e) os que forem condenados em processo de multa;
f) as entidades competentes para praticar o acto ou outorgar no contrato
objecto de visto.
2. O funcionário, agente interessado ou pretenso beneficiário do acto a que
tenha sido recusado o Visto pode requerer a interposição de recurso à
entidade com competência para a prática do acto, no prazo de quinze dias,
a contar da data da sua notificação.
3. O funcionário, agente interessado ou pretenso beneficiário do acto a que
tenha sido recusado o Visto não fica impedido de interposição directa do
recurso, se a entidade referida no número anterior não o fizer, no prazo de
quinze dias, a contar da data da entrega do seu pedido.

ARTIGO 123
(Preparos e custas)

1. Nos recursos há lugar a preparos e custas a fixar nos termos regulados para
o Contencioso Administrativo.
2. Nos recursos em que o tribunal competente considere ter havido má-fé,
as custas podem ser agravadas até ao dobro.

ARTIGO 124
(Termos subsequentes)

1. Admitido o recurso, o processo vai com vista, por quinze dias, ao Ministério
Público para emitir parecer, se não for o recorrente.
2. Se o recorrente for o Ministério Público, admitido o recurso, deve ser
notificada a entidade directamente afectada pela decisão recorrida para
responder, no prazo de quinze dias.
3. Se, no parecer, o Ministério Público suscitar novas questões, é notificado
o recorrente para se pronunciar no prazo de quinze dias.
4. É permitido ao recorrente e ao recorrido juntar com os articulados
produzidos a documentação tida por pertinente.
5. Emitido o parecer ou decorrido o prazo mencionado no n.º 3, os autos são
conclusos por três dias aos restantes juízes, se não tiver sido dispensada tal
conclusão.
6. Em qualquer altura do processo, o relator pode ordenar as diligências
indispensáveis à decisão do recurso.
ARTIGO 125
(Preparação para julgamento)

Elaborado o projecto de acórdão, o relator ordena que sejam remetidas


cópias aos demais juízes e ao Ministério Público, até três dias antes da sessão
em que tenha de ser apreciado, com expressa menção de que os autos se
encontram preparados para julgamento.

ARTIGO 126
(Julgamento)

1. O relator apresenta o processo à sessão com o projecto de acórdão,


procedendo-se à discussão e julgamento.
2. Nos processos de fiscalização prévia o tribunal competente pode
conhecer de questões relevantes para a concessão ou recusa do Visto, ainda
que não apreciadas na decisão recorrida ou na alegação do recorrente,
desde que sejam suscitadas pelo Ministério Público no seu parecer,
observando-se o preceituado no n.º 3 do artigo 124 da presente Lei.

ARTIGO 127
(Notificação de decisão final)

A decisão final é notificada ao recorrente e a todos os que tenham sido


notificados para os termos do processo.

SECÇÃO II
Recursos extraordinários

ARTIGO 128
(Recurso de revisão)

É admissível o recurso extraordinário de revisão, nos termos do Código de


Processo Civil, para o recurso de revisão, com as devidas adaptações.

ARTIGO 129
(Fundamentos da revisão)

As decisões transitadas em julgado podem ser objecto de revisão pelos


fundamentos admitidos no Código do Processo Civil e ainda quando,
supervenientemente, se revelem factos susceptíveis de originar
responsabilidade financeira que não tenham sido apreciados para o efeito.
ARTIGO 130
(Prazos de interposição do recurso de revisão)

A interposição do recurso de revisão da decisão que concedeu o Visto


apenas é possível durante o prazo em que o acto ou contrato pode ser
impugnado no contencioso administrativo.

ARTIGO 131
(Competência)

É competente para conhecer do recurso extraordinário de revisão o Plenário


do Tribunal Administrativo.

ARTIGO 132
(Oposição de decisões)

1. Se, no domínio da mesma legislação, forem proferidas em processos


diferentes na Secção de Contas Públicas do Tribunal Administrativo duas
decisões, em matéria de concessão ou de recusa de Visto e de
responsabilidade financeira que, relativamente à mesma questão
fundamental de direito, assentem sobre soluções opostas, pode ser
interposto recurso extraordinário da decisão proferida em último lugar para
fixação de jurisprudência.
2. No requerimento de recurso deve ser individualizada a decisão anterior
transitada em julgado que esteja em oposição e a decisão recorrida, sob
pena de o recurso não ser admitido.
3. A este recurso extraordinário aplica-se, com as devidas adaptações, o
regime de recurso ordinário, excepto o disposto nos preceitos seguintes.

ARTIGO 133
(Órgão competente)

É competente para apreciar e decidir o recurso extraordinário de oposição


de acórdãos o Plenário do Tribunal Administrativo.

ARTIGO 134
(Questão preliminar)

1. Distribuído e autuado o requerimento de recurso e apensado o processo


onde foi proferida a decisão transitada alegadamente em oposição, o
processo é concluído ao relator para, em cinco dias, proferir despacho de
admissão ou de indeferimento liminar.
2. Admitido liminarmente o recurso, é dada vista ao Ministério Público para
dar parecer sobre a oposição de julgados e o sentido da jurisprudência a
fixar.
3. Se o relator entender não existir oposição de decisões, ordena que o
processo seja concluso aos juízes do Plenário, após o que apresenta o
projecto de acórdão.
4. O recurso tem-se como findo se o Plenário deliberar pela não existência
de oposição de julgados.

ARTIGO 135
(Julgamento do recurso)

1. Verificada a existência de oposição de acórdãos, o processo é concluso


aos restantes juízes do Plenário por cinco dias, após o que o relator o
apresenta para julgamento na primeira sessão.
2. O acórdão da Secção de Contas Públicas que reconheceu a existência de
oposição das decisões não impede que o Plenário do Tribunal Administrativo
delibere em sentido contrário.
3. A doutrina do acórdão que fixa jurisprudência é obrigatória para a
jurisdição administrativa enquanto a lei não for modificada.

CAPÍTULO VIII
Serviços de apoio

SECÇÃO I
Organização e funcionamento

ARTIGO 136
(Apoio técnico e administrativo)

1. No âmbito das suas atribuições e competências, a Secção de Contas


Públicas do Tribunal Administrativo é apoiada, técnica e
administrativamente, por serviços, cuja estrutura orgânica, competência,
quadro de pessoal e funcionamento são objecto de diploma legal específico.
2. A fase instrutória dos processos de verificação de contas de 1.º e 2.º grau,
inspecção, auditoria e certificação de contas é conduzida por Auditores de
Controlo Externo.
3. O Regulamento e Carreira dos Auditores de Controlo Externo são
estabelecidos em diplomas específicos.

CAPÍTULO IX
Disposições finais e transitórias

ARTIGO 137
(Processos pendentes)

As contas de gerência, anteriores a 31 de Dezembro de 2007, qualquer que


seja a fase em que se encontrem, desde que não haja suspeitas de graves
irregularidades, são devolvidas aos respectivos serviços, sem prejuízo de
eventual julgamento ulterior, por iniciativa do Tribunal Administrativo ou
promoção do Ministério Público ou a pedido de qualquer interessado que
mostre legitimidade para o efeito, no prazo de cinco anos.

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