Você está na página 1de 19

UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

FACULDADE DE DIREITO CURSO DE

LICENCIATURA EM DIREITO

Relação entre Medicina legal e poder Judicial em Moçambique

Adriano Michaque Nhanombe Código 41190184

Maxixe, Maio, 2022


2

UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

FACULDADE DE DIREITO CURSO DE

LICENCIATURA EM DIREITO

Relação entre Medicina legal e poder Judicial em Moçambique

Trabalho de Pesquisa da cadeira de Medicina Legal, para ser Entregue ao

Coordenador do curso, para fins Avaliativo

Estudante Tutor/a

Adriano Michaque Código 41190184

__________________________ ( ______________________)

Maxixe, Junho, 2022


3

Conteúdo Pág.
Introdução..........................................................................................................................4

0.1.1.Geral.........................................................................................................................4

0.1.2.Específicos................................................................................................................4

CAPTULO I.....................................................................................................................5

1.História da Medicina Legal............................................................................................6

1.2. Campo de actuação da medicina legal......................................................................14

CAPITULO II................................................................................................................15

2.Relação da Medicina Legal com poder judicial...........................................................15

2.1.Importância da Medicina Legal.................................................................................16

2.Conclusão.....................................................................................................................18

3.REFERENCIA.............................................................................................................18
4

Introdução

Este trabalho tem como tema “Relação entre Medicina legal e poder Judicial”. A
Medicina Legal nasceu da necessidade de solucionar os problemas colocados pelo
Direito, teve de se ir adaptando em cada época aos quesitos científicos dos respectivos
momentos históricos, bem como às necessidades socio-antropológicas e ao ordenamento
jurídico vigente. A Medicina Legal é definida como sendo a aplicação dos
conhecimentos médicos e de outras ciências auxiliares na Investigação, Interpretação e
Desenvolvimento da Justiça Social. O diversificado leque de actividades que envolve
esta especialidade desde a Tanotologia Forense, Clínica Médico-Legal, Psiquiatria
Forense, Toxicologia Forense, etc., permite evidenciar que a Medicina Legal não é uma
especialidade exclusivamente dedicada ao estudo do cadáver, mas sim uma disciplina
bem viva e dinâmica, que existe em função dos vivos, para os vivos e onde estes
representam actualmente a maior parcela do âmbito e objecto, e não tem como fim a
cura dos doentes/vítimas.

0.1.Objectivos

0.1.1.Geral

 Conhecer a Medicina Legal e o poder Judicial em Moçambique

0.1.2.Específicos

 Contextualizar a Medicina Legal e o poder Judicial


 Descrever as suas características
 Relação entre Medicina legal e poder Judicia

0.2.Metodologias

Para a realização do presente trabalho recorremos a pesquisa bibliográfica que consistiu


na leitura e recolha de informações variadas, através da leitura e analise de diversos
livros, artigos, monografias, teses e boletins legislativos Moçambicanos , entre outros
documentos que debruçam sobre o tema em estudo para a melhor compreensão do
mesmo.
5

CAPTULO I

De acordo com Gomes (2001 p. 44 “É o conjunto de conhecimentos médicos destinados


a servir ao direito, cooperando na elaboração, auxiliando na interpretação e
colaborando na execução dos dispositivos legais, no seu campo de acção de medicina
aplicada”. A Medicina Legal é definida como sendo a aplicação dos conhecimentos
médicos e de outras ciências auxiliares na Investigação, Interpretação e
Desenvolvimento da Justiça Social.

Medicina Legal é o conjunto de conhecimentos médicos e paramédicos destinados a


servir ao Direito, cooperando na elaboração, auxiliando a interpretação e colaborando
na execução dos dispositivos legais atinentes ao seu campo de acção de medicina
aplicada (Ferreira, 2004).

Segundo Croce (1999, p. 22), conceitua a Medicina Legal como “ciência e arte
extrajurídica auxiliar alicerçada em um conjunto de conhecimentos médicos,
paramédicos e biológicos destinados a defender os direitos e os interesses dos homens e
da sociedade”. Genival (2001), afirma que “é a Medicina a serviço das ciências
jurídicas e sociais”. Outro grande conhecedor da disciplina,

Segundo Fernando (2017) :

Gomes, afirma que medicina legal “é o conjunto de


conhecimentos médicos e paramédicos, destinados a servir ao
Direito e cooperando na elaboração, auxiliando na interpretação e
colaborando na execução dos dispositivos legais no seu campo de
acção de medicina aplicada (p. 32).

Intende se que a Medicina Legal é a arte de fazer relatórios em juízo, ao estudarmos os


grandes conhecedores da Medicina Legal, extraímos o conceito consolidado de que é
uma ciência a serviço da justiça, auxiliando de forma técnico-científica questões de
conflitos judiciais que envolvam áreas médicas.
6

1.História da Medicina Legal

Fernando (2017), afirma que a Medicina Legal teve ao longo da história várias
interpretações e modificações quer do ponto de vista concepcional e do ponto de vista
filosófico e académico. Evidentemente na prática, a Medicina Legal e Seguros é uma
especialidade com conteúdo amplamente evolutivo e revolucionário, segundo as
necessidades e as diferentes evoluções socioculturais, antropológicas e científicas que
em cada época foram colocados as Ordenações Jurídico-Sociais em relação à Medicina.
A Medicina Legal como Ciência só atinge uma certa maturidade na época do
Renascimento, apesar disso é possível distinguir vários períodos da sua evolução.

1.1.Factos isolados das primeiras culturas diferenciadas

Nas Culturas mais antigas já era possível encontrar alguns aspectos de relevância
médico-legal, que foram factos que comprovavam a participação dos médicos em
processos judiciais, apesar dos antigos não conhecerem a Medicina Legal no sentido
mais específico e mais moderno como Ciência. (Löwy,2000)

1.1.1.Mesopotâmia

Heck (2000), afirma que nas culturas mesopotâmicas, na Babilónia já existiam normas
sobre delitos ou lesões corporais; sobre aborto, violência carnal, etc., que para sua
resolução eram necessários conhecimentos médico legais. Esta relação entre o Direito e
Medicina é nos dada pelo Código Hammurabi (que é o mais velho documento
legislativo oficial do mundo), datado do século XVIII A.C., em que vem descrito temas
relacionado com o Direito Médico, destacando-se os relativos aos honorários médicos e
responsabilidade profissional. Este código fazia menção as indemnizações resultantes de
lesões corporais, facto que marcou profundamente vários textos legais de épocas
sucessivas, e também mencionava algumas enfermidades que impediam a compra e
venda dos escravos tal como a epilepsia.

1.1.2.Outras Civilizações

Os dados de maior relevância da civilização egípcia é nos dada pelas técnicas de


conservação dos cadáveres - embalsamentos, cujo finalidade era meramente religiosa e
não médica; o uso dessas técnicas de conservação dos cadáveres pré-supunha
conhecimentos tanatológicos.
7

Heck (2000), afirma que o património da cultura hebraica destacam-se aspectos


relacionados com a “descrição dos costumes e obrigações relacionados com a actividade
sexual”, das causas médicas da nulidade do matrimónio e do divórcio. Da civilização
chinesa o facto mais importante é nos dado pelo Texto tipicamente Médico Legal Si-
yuan-lu escrito em meados do século XIII por Song Ts’eu, em que vem referenciados
aspectos da Reparação ou Indemnizações das Injustiças.

Na civilização hindu existem escritos relacionados com a valorização das lesões, da


qual dependiam o castigo que iria sofrer o autor do delito; destacando-se as amputações
que faziam parte das penas previstas na legislação e permitia também identificar os
criminosos. (Sila, 2003).

1.2.Cultura clássica

Löwy (2000), diz que aa Cultura Grega destacam-se os aspectos Deontológicos e Éticos
no exercício da actividade médica, que ainda se mantêm até os dias de hoje, tal como o
Juramento de Hipocrates. Há também referências da toxicologia - dos venenos, escrita
por Nicandro de Colofón no século II A. C.; descrição dos primeiros sinais de morte
feitos por Hipócrates.

Heck (2000), afirma que aa Civilização Romana, no período compreendido entre os


séculos IX ao século XIV, várias escolas médicas, viram a necessidade da intervenção
do médico nos processos judiciais, em particular os Decretos de Inocenzo III (decreto
canónico de1209) inicia a actividade pericial dos profissionais de medicina que eram
convidados a visitar os feridos que estavam à disposição dos tribunais; e o do Gregorio
IX (1234) em Decretales, sob o título Peritorium indicio medicorum, em que era
indispensável a opinião do médico em casos de morte violenta; e sob o título De
probatione que criava condições para a nulidade de casamento se se provasse a não
consumação da conjunção carnal na mulher; e várias outras legislações referentes a
reparação dos danos tais como: Lex Cornelia de injuris; Lex Aquilia; e a que restringia
o uso de venenos Lex Cornelia de sicariis et veneficiis.

1.3.Época medieval

Na Idade Média surgem as primeiras intervenções médicas na Administração da Justiça,


e a influência dos conhecimentos médicos na redacção das Leis, que é manifesta por
exemplo no Código de Justiniano; El Digesto e Os Capitulares, que ditavam normas
8

positivas para determinação da vitalidade fetal exigindo a presença de três matronas que
comprovavam a gravidez; se ordenava a descrição dos ferimentos nos cadáveres.
Contudo a perícia médico-legal de um modo geral não estava previsto taxativamente.
(Löwy,2000)

Este período é caracterizado por interesses e/ou repercussões legais da Medicina,


particularmente na área do Direito. Destacam-se vários textos legais em diversos países
da Europa tais como Itália, França, Espanha, Inglaterra, Alemanha, etc; em que os temas
referenciados abordavam: Estudo das lesões, sobretudo as penas a serem aplicadas e
respectivo ressarcimento; mecanismos de produção de certas lesões traumáticas como
forma de punição por exemplo açoites e amputações; nalgumas havia referência das
taxas especificando todo o género de lesões. (Heck, 2000).

Aspectos da Sexologia/Obstetríca Forense, particularmente as Violações e Aborto;


penas ou castigos nos casos de alterações da conduta sexual. Psiquiatria Forense,
princípios de Imputabilidade. Critérios médicos em questões processuais: veracidade de
uma confissão “Juízo dos Deuses, Juízo da água quente”. Foi no final desta época em
que se autorizou o estudo do cadáver, que tinha na altura um interesse anatómico, e, não
o estudo minucioso das causas de morte.

1.4.Época do renascimento

Sila (2003), afirma que a epoca do Renascimento que corresponde para as Ciências e
Medicina o século XVI, encontramos nos Livros de Medicina uma intenção clara e
inequívoca da especialidade Médico Legal, sobretudo nas obras de Cirurgia, quando
faziam distinção das lesões mortais e não mortais nos casos de morte violenta; sendo na
altura o cirurgião chamado pelo Juiz para aclarar este tipo de lesões. Neste período entre
1453 à 1600, houve o primeiro contacto real entre a Medicina e as disposições legais,
surgindo deste modo a função Médico Forense, cujo primeiro

Heck (2000), afirma que o regulamento data de 1507 com a promulgação do Código de
Bamberg (obrigatoriedade da opinião médica nos casos de homicídio; responsabilidade
profissional; infanticídio e exames médico-legais dos cadáveres nos casos de suspeita de
morte violenta. Contudo a máxima transcendência corresponde ao Constitutio
Criminalis de Carolina primeiro marco histórico de Medicina Legal - votada em 1532
9

por Dieta de Ratisbone ao Rei Carlos V de Alemanha e I de Espanha que passou a


vigorar em quase toda Europa.

De acordo com Sila (2003), neste texto se fixava os elementos essenciais da


comprovação do delito, estabelecendo taxativamente a intervenção dos médicos,
cirurgiões e matronas dependendo dos casos nos processos por lesões corporais,
homicídios, suicídios, doenças mentais, partos provocados ou clandestinos, abortos,
infanticídio, envenenamento, erros profissionais dos médicos, etc.).

Nesta época se destacam Ambrósio Paré, que foi o impulsionador da cirurgia europeia,
as suas obras abordavam aspectos da Traumatologia, Sexologia Médico Legal e da área
de Tanatologia - Des rapports et des moyans d’embaumer les corps morts, Paris 1575; e
Juan Fragoso (espanhol), autor de um dos primeiros textos médico-legais - Tratado das
declarações que os cirurgiões devem fazer em relação as diversas enfermidades e
formas de morte violenta, 1581.

Löwy (2000), diz que existindo já a função pericial, começaram a surgir e a se


desenvolver textos da área Médico Legal, iniciando-se deste modo nesta época a
notabilização dos médico-legistas que com as suas obras davam corpo a está ciência.
Destacam-se Paolo Zacchia (1584-1659), que é autor do Texto mais famoso da história
da especialidade “Quaestiones medico-legales, in quibus omnes eae materiae medicae,
quae ad legales facultates videntur pertinere, proponuntur, pertractantur, resolvontur.
Opus ipsis jurisperitis apprime necessarium, medicis perutile, caeteris non injucudum -
Roma 16211635. P. Zacchia não representou um facto isolado na evolução da Medicina
Legal, outros autores tais como Rodrigo de Castro; Gaspar Bauhim; J.G. Zuller,
Gottfried Welsch, etc.

1.5. Reconhecimento da especialidade

Nos finais do século XVIII os temas da área médico forense era ensinado tanto aos
médicos como aos cirurgiões, que na altura eram duas profissões separadas, e um tanto
a quanto polémicas, surgindo desta forma a Medicina Legal e a Cirurgia Forense; que
tiveram evoluções diferentes, e se constituíram com temas concretos de ensino em
função das escolas. (Löwy,2000)

A primeira Cátreda Oficial segundo dados históricos ocorreu em Nápoles na Itália em


1789, sob responsabilidade de Ronchi Em França - Paris é estabelecido o primeiro
10

Curso de Medicina Legal em 1794. Nesta época se destacaram François Fodré, Mahon e
Royer Collard, mais tarde Mateo Orfila (1787-1853) grande impulsionador da
Toxicologia Forense, foi o decano da Faculdade de Paris durante 17 anos.
Outros autores tais como Pinel e Esquirol (estudaram as doenças mentais); na Grã
Bretanha destacou-se Robert Chrisison e James Marsh (1836) na área de Toxicologia
Forense; na Alemanha as obras de Mende, Göttingen, etc. Nesta época surgiram as
primeiras Revistas de Medicina Legal, na Alemanha em 1821 editada por Henke e
Professor Erlanen; a Revista Annales d’Hygiéne Publique et Médecine Légale em 1829
promovida por Orfila e Tardieu, etc. (Sila, 2003).

A influência de Orfila (decano da Faculdade de Paris) foi de relevante importância para


a afirmação da Medicina em geral e da Medicina Legal em particular, pelo impacto
social e cientifico que naquela época em Paris, pois era um dos Peritos mais solicitados.
Além dele, surgiram em Paris professores e autores de primeira linha, tais como
Alphonse.

Veloz (2008), afirma que na época actual distinguimos dentro da Medicina Legal e
Seguros duas partes bem distintas: Medicina Forense que utiliza os conhecimentos da
Ciência Médica e de outras Ciências Auxiliares para o Exame ou Estudo das
questões/quesitos de base médico-biológico que são colocadas pelas Autoridades
Competentes, isto é, a actividade pericial diária e a respectiva técnica.

(Löwy,2000), indica que Medicina Judiciária ou Conselho Superior de Medicina Legal,


é constituído por Professores das diferentes especialidades médicas, estudam os
problemas gerais do ponto de vista Ético e Deontológico relacionado com a prática de
medicina, elaboram o material médico-biológico dos últimos avanços científicos,
estudam e comparam com as leis em vigor,e através de pareceres técnico-científico,
criticam e aconselham as Autoridades ou Instituições Competentes o aperfeiçoamento e
criação de novas leis.

1.5.1.Documentos médico-legais

Documento é uma declaração escrita, oficialmente reconhecida, que serve de prova de


um estado, facto ou acontecimento, isto é, todo o instrumento que tem a faculdade de
reproduzir e representar uma manifestação de pensamento. Do ponto de vista médico-
11

legal representam manifestações públicas ou privadas, que tem um caracter


representativo de um facto a ser avaliado em juízo. (Löwy,2000).

Os documentos de interesse da Justiça são: notificações, os atestados, os relatórios e os


pareceres. Além desses, os esclarecimentos não escritos durante uma audiência nos
tribunais – depoimentos ou declarações orais.

Sila (2003), indica que as como documentos médicos legais, elas são comunicações
compulsórias feitas pelos médicos ou técnicos de saúde às autoridades competentes de
um facto profissional, por necessidade social, de saúde pública ou jurídico-legal, tais
como: acidentes de trabalho, doenças profissionais, doenças infectocontagiosas, uso
habitual ou não de substâncias psicotrópicas lícitas sob controle, se o médico ou técnico
de saúde tomou conhecimento de um crime público praticado ou com conivência do seu
paciente, não pretendendo que este se exponha a um procedimento criminal. Atestados:
documento assinado sob responsabilidade, pelo qual se certifica, se atesta alguma coisa.

É elaborado ou escrito pelo médico ou técnico de saúde, deve ter como fim provar um
estado mórbido real, presente ou anterior, para fins de licença, dispensa, justificativo e
um estado de saúde.

Os atestados são classificados em: Oficioso: serve como prova ou justificativo por
ausências no local de trabalho ou serviço, etc.. Por exemplo Atestado de Doença.
Administrativo: serve geralmente para Administração Pública, para efeitos de licença,
reforma ou justificativo de faltas. Judiciário: de interesse da Administração da Justiça,
requisitado pelo Juiz. (Veloz, 2008).

Relatórios: relatório médico-legal é a exposição escrita e minuciosa de uma perícia


médicobiológica a fim de responder à solicitação da autoridade policial ou judicial, de
uma entidade pública ou privada. Laudo é um relatório realizado pelo perito após
investigações, contando para isso com ajuda de outros recursos ou consultas a tratados
especializados, geralmente efectuado nas Instituições Médico Legais sem a presença das
autoridades competentes. Auto é um relatório ou exame realizado pelo perito quando
dita directamente a um escrivão diante das autoridades competentes que solicitaram a
perícia. (Ibid).
12

1.6.História da medicina legal em Moçambique

1.6.1.FACTOS HISTÓRICOS:

1- A Portaria n.o2385 do Ministério do Ultramar de 16 de Maio de 1968, tornou


extensivo às Províncias Ultramarinas de Angola e Moçambique o Decreto n.o 5023
criação do Conselho Médico Legal de 29 de Novembro de 1918, a Portaria n.o
23383 do Ministério do Ultramar de 15 de Maio de 1968 – criação da Policia
Cientifica. (Veloz, 2008).

2- O Serviço de Medicina Legal, que é o único no país com instalações próprias, está
localizado no recinto do Hospital Central de Maputo, de 1975 a 1989 era constituído
por pessoal médico e serventuário dependente do Serviço de Anatomia Patológica.

3- Em 1989, devido aos problemas da guerra civil, houve cisão destes dois Serviços, por
decisão unilateral do Serviço de Anatomia Patológica.
Deste então o Serviço de Medicina Legal passou a ter dupla subordinação, do Ministério
da Saúde que contratava os médicos legistas e peritos; e do Ministério do Interior que
administrava e controlava o Serviço por meio dos Agentes da Policia de Investigação
Criminal (P.I.C.) e contratava o pessoal serventuário (evisceradores).

4- Está situação criou sérios embaraços para o desenvolvimento da actividade Médico


Forense, eis que o despacho do Vice-Ministro da Saúde de 18/8/94 integra o Serviço de
Medicina Legal na Direcção Nacional de Saúde/Departamento de Higiene Ambiental.

O Serviço de Medicina Legal foi integrado na Direcção de Saúde da Cidade de


Maputo/Centro de Higiene Ambiental e Exames Médicos (C.H.A.E.M.).

5- O despacho do Ministro de Saúde de 27/2/98 transfere a Medicina Legal para o


Departamento de Assistência Médica, integrando o Serviço de Medicina Legal como
serviço autónomo no Hospital Central de Maputo; e cria as Unidades Médico Judiciárias
nos Hospitais

Entretanto, grandes mudanças se operaram no último século na nossa sociedade, vindo


alterar a abrangência da medicina legal e restantes ciências forenses, nomeadamente no
13

que se refere ao seu papel social e na realização da justiça. Entre estas mudanças
destacam-se:

 O aumento da violência voluntária (agressões, crimes sexuais, etc.) e


involuntária (acidentes) que está na origem de inúmeras situações
simultaneamente médicas e legais;
 O desenvolvimento da ciência médica, quer a nível dos cuidados de emergência
(o que permite, cada vez mais, a sobrevida de pessoas à custa de sequelas
graves), quer a nível tecnológico (o que obriga a repensar, em cada dia, a melhor
solução para a readaptação e reintegração dessas pessoas);
 A noção mais abrangente de saúde e do papel social do médico e da medicina,
registando-se alterações importantes no âmbito da reinserção social e dos
modelos de actuação;
 O posicionamento do direito e da lei face à tomada de consciência sobre os
direitos humanos;
 O alargamento dos cuidados de saúde a toda a população e a extensão desses
cuidados não só às acções assistenciais curativas ou paliativas mas, também, às
acções de prevenção da violência, surgindo a necessidade de desenvolver
programas de prevenção fundamentados em estudos, cientificamente
aprofundados, sobre este fenómeno. (Sila, 2003).

 Estes e outros factos têm levado a que os médicos, bem como outros profissionais,
sobretudo das ciências biológicas, sejam, cada vez mais, chamados a examinar e a
pronunciar-se sobre situações variadas e por vezes de grande complexidade,
relacionadas com questões de direito, seja do âmbito penal, civil, do trabalho,
administrativo ou da família e menores. Estas situações podem incluir, por exemplo, o
estudo de casos mortais ou não mortais de situações de violência (colheita de vestígios;
diagnóstico diferencial entre uma etiologia criminosa, acidental ou natural; definição
das incapacidades temporárias e permanentes para a vítima de um traumatismo), a
avaliação do estado de toxicodependência, a determinação do sexo, a identificação de
corpos ou restos cadavéricos, a determinação da imputabilidade, o estudo da filiação, a
pesquisa de drogas de abuso ou outros tóxicos em amostras biológicas, etc.
14

1.2. Campo de actuação da medicina legal

De acordo com Heck (2000), a Medicina Legal atua em diversas áreas do Direito, e não
somente nas ciências criminais; sua invocação é indispensável em diversos casos que
envolvam o Direito de Família, o Direito Trabalhista, Civil, Previdenciário, Direito
Desportivo, entre outros

É importante ressaltar que a Medicina Legal atua desde a fecundação até os últimos
vestígios cadavéricos, e, como já dito anteriormente, é aplicada em diversas áreas do
Direito, como, por exemplo:

Direito Civil: mais comumente aplicada nas acções de reconhecimento de paternidade,


contudo, diversos outros institutos do Direito Civil necessitam da interferência de
peritos médico-legais para resolução do conflito, como o fenómeno da ocorrência,
impedimentos matrimoniais entre outros. (Veloz, 2008).

Direito Penal: é bem verdade que no Direito Penal a perícia médico-legal é vastamente
utilizada, como nos casos de lesões corporais, crimes sexuais, homicídios, infanticídios,
embriaguez etc. Direito Processual: perícias, tratamento psicológico de testemunhas e
outros. Direito Penitenciário: psicologia do detento em diversos pontos como nos casos
do livramento condicional e da psicossexualidade das prisões; Direito do Trabalho:
insalubridade, doenças e prevenção de acidentes; Direito dos Desportos: “doping”,
análise de lesões ocorridas em disputas desportivas (culpa ou dolo).

Desse modo, evidencia-se que a Medicina Legal atua no esclarecimento de incontáveis


fatos de interesse jurídico e, para tanto, utiliza-se da Antropologia (estudo da forma),
Traumatologia (estudo do trauma), Asfixiologia (estudo das asfixias), Tanatologia
(estudo da morte), Sexologia (crimes sexuais), Toxicologia (tóxicos e venenos),
Infortunística (doenças profissionais e acidentes de trabalho), Psicologia Jurídica
(psiquismo), Psiquiatria Forense (distúrbios mentais), Genética médico-legal ou forense
(herança genética). (Sila, 2003).
15

CAPITULO II

2.Relação da Medicina Legal com poder judicial

Silva (2017), diz que a medicina Legal pode se relacionar com o Direito Civil nas
questões de paternidade, nulidade de casamento, testamento. Com o Direito Penal nas
questões relacionadas às lesões corporais, aborto (legal e criminoso), infanticídio,
crimes contra a liberdade sexual. Com o Direito Administrativo ao avaliar as condições
dos seus agentes, referente ao ingresso, afastamentos e aposentadorias.

Segundo Manuela (2007), os primeiros sinais de uma relação íntima entre a Medicina e
o Direito remontam aos registros da Antiguidade. No seio dos povos antigos, o poder
era exercido pela força, mas também emanava de líderes que ostentavam poderes
especiais, fruto de seu alegado relacionamento com os deuses os sacerdotes. Sendo
considerados representantes divinos e agentes da sua vontade, ditavam normas que
deveriam ser obedecidas para que os bons fados acompanhassem o grupo.

Acrescenta Silva (2017), que tem relação com o poder judicial na medida em que o
jurista estuda a fim de que saiba a avaliar os laudos que recebe, suas limitações, como e
quando solicitá-los, além de estar capacitado a formular quesitos procedentes em
relação aos casos em estudo. É imprescindível que tenha noções sobre como ocorrem as
lesões corporais, as consequências delas decorrentes, as alterações relacionadas com a
morte e os fenómenos cadavéricos, conceitos diferenciais em embriaguez e uso de
drogas, as asfixias mecânicas e suas características, os crimes sexuais e sua análise
pericial etc.

De acordo com Estácio (2001), ela se preocupa apenas com o indivíduo enquanto vivo.
Alcança-o ainda quando ovo e pode vasculhá-lo na escuridão da sepultura. Sua
eficiência está bem caracterizada na sua definição; contribuir do ponto de vista médico
para a elaboração, interpretação e aplicação das leis. O estudo da Medicina Legal é de
real importância tanto para os operadores do direito quanto para os médicos.

Os primeiros devem ter conhecimento da matéria para principalmente, saberem pedir,


formular os quesitos duvidosos e, muito mais, saberem interpretar os laudos periciais,
isto é, aquilo que o médico respondeu. Para os médicos bastam conhecimentos mínimos
16

básicos, doutrinários, não necessitam saber técnicas e métodos complicados que só


interessam aos peritos, analistas, toxicólogos, sexologistas, etc.

Quanto a relação de medicina legal e o poder judicial Hércule (2014), afirma que a
Medicina Legal serve mais ao Direito, visando defender os interesses dos homens e da
sociedade, do que à Medicina. A designação legal emprestada a essa ciência indica que
ela se serve, no cumprimento de sua nobre missão, também das ciências jurídicas e
sociais, com as quais guarda, portanto, íntimas relações. É a Medicina e o Direito
complementando-se mutuamente.

Por outro lado Estácio (2001), indica que podemos encontrar a relação dentro do Direito
Civil, em que esta empresta sua colaboração no que concerne a questões relativas a
paternidade, impedimentos matrimoniais, erro essencial, limitadores e modificadores da
capacidade civil, prenhez, personalidade civil e direitos do nascituro, ocorrência etc. Ao
Direito Penal, no que diz respeito a lesões corporais, sexualidade criminosa, aborto
ilegal e ilícito, infanticídio, homicídio, emoção e paixão, embriaguez etc.

Serve ao Direito Constitucional quando informa sobre a


dissolubilidade do matrimónio, a protecção à infância e à
maternidade etc.; ao Direito Processual Civil e Penal quando
cuida da psicologia da testemunha, da confissão, da acareação do
acusado e da vítima (Ferreira, 2001, p. 44)

2.1.Importância da Medicina Legal

2.1.Natureza da sua actuação

A actividade Médico Forense transborda o interesse individual e particular da Medicina


Privada para se irradiar à Ordem Social. É na prática um ramo dos Serviços Públicos
que contribui com extraordinária eficácia no correcto funcionamento da Administração
da Justiça, além de colaborar na elaboração das Leis e Regulamentos, assumindo deste
modo a sua transcendência Social do Direito.
17

2.2. Responsabilidade da sua actuação:

2.2.1. Ordem Moral

Sila (2003), diz que a função Médico Legal pela sua repercussão, pode sugerir a
condenação ou absolvição de um arguido; a honra, a liberdade e fortuna dos cidadãos;
citando Mahon “A Medicina Legal decide muitas vezes em assuntos de que depende a
vida, a fortuna e a honra dos Cidadãos” . A Perícia Médico Legal é realizada por meio
de análises, comprovações e exames de vária índole, em que são exigidos
conhecimentos médico-biológicos actualizados.

2.2.2. Ordem Material

Como todo profissional de Saúde, o Médico Legista que ignorar os seus deveres e
obrigações, que não segue os princípios Éticos e Deontológicos da sua profissão está
sujeito à penalização de acordo com a Lei. (Ibid)

2.3.Obrigatoriedade

Segundo Heck (2000), a função pericial Médico Legal sempre cheia de conflitos, de
situações desagradáveis e ingratas, pode ser imposta obrigatoriamente pelo Ministério
Público a todo Médico ou Técnico de Saúde em exercício, sem que seja
necessariamente Médico Legista. Qualquer que seja a natureza da actuação o Médico ou
Técnico de Saúde não pode recusar-se.

2.4.Contributo da Medicina Legal no campo Jurídico.

No terreno doutrinário, em que a Medicina Legal contribui de forma mais eloquente no


ajuste dos institutos do direito positivo, tudo ocorrerá a partir das solicitações mais
concretas que essas formas de direito venham a fazer e da evolução do próprio
pensamento médico-legal; assim, cada vez mais serão enfatizadas as questões ligadas à
Engenharia Genética, como as dos animais transgénicos, clones humanos e terapia
génica ou, nos casos mais delicados da reprodução humana, em que se focalizam
principalmente algumas indagações sobre a natureza jurídica e o destino dos embriões
congelados (Manuela, 2007)
18

III.Conclusão

Feito o trabalho chegamos a conclusão de o objectivo geral da medicina legal é


contribuir para auxiliar o direito na aplicação da justiça, através da prestação de
serviços. Além deste papel assistencial inclui, também, uma vertente ligada à
investigação e ao ensino e formação profissional, tendo em vista uma cada vez melhor
articulação transdisciplinar no melhor interesse das vítimas de violência, bem como a
prevenção da violência e promoção de estratégias de segurança. A Medicina Legal, em
Moçambique mesmo ciente da incorporação de novas técnicas, do avanço da ciência e
da contribuição multiprofissional, dispõe no campo pericial de um pequeno progresso,
mediante a actuação de alguns sectores públicos na criação, recuperação e
aparelhamento dos laboratórios, nas instituições especializadas, e na reciclagem do
pessoal técnico. Acredita-se que só com a total incorporação de tais recursos a
sociedade resistirá ao resultado perverso de uma violência medonha que cresce e
atormenta.

IV.REFERENCIA
19

Estácio, M. (2001). Desenvolvimento da Medicina Moderna. 7 Edição, Rio de Janeiro

Fernando, Celestino Taperero, (2017). A medicina Moderna e sua Relação com a


Justica Sartre hoje. Editora Fi: Porto Alegre:

Ferreira (2001). As Bases Modernas da Medicina Legal. 4 edição, São Paulo.

Ferreira, Marilena. (2004). Legalidade da Medicina São Paulo: Editora Moderna,

Gomes, Hélio. Medicina Legal, (2001). 33. ed., Rio de Janeiro/RJ: Freitas Bastos,

Heck, José N, (2000). Medicina e Poder Jurídico Editora UFG: Goiânia,

Hércules, Hygino de Carvalho, (2014). Medicina Legal. Texto e atlas, 2. ed., São Paulo:
Atheneu,

Löwy, M. (2000). Princípios da Medicina Legal. 14. ed. São Paulo: Cortez,

Manuela, Geneval Veloso, (2017) Medicina Legal. 9ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan,

Sila, P N, (2003). Fundamentos Legais da Medicina . Editora Movimento: Porto Alegre.

Silva, M. Genival Veloso, (2017). Medicina Legal. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan,

Veloz P. (2008). O percurso da Medicina . São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

Você também pode gostar