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ESCOLA SUPERIOR DE GESTÃO, CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS

Licenciatura em Ciências Jurídicas

ANÁLISE DA PARTILHA DE BENS EM CASO DE DISSOLUÇÃO DA UNIÃO DE


FACTO EM MOÇAMBIQUE

Dércia Octávio Chuma

Maputo, Março de 2018


ESCOLA SUPERIOR DE GESTÃO, CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS

Licenciatura em Ciências Jurídicas

ANÁLISE DA PARTILHA DE BENS EM CASO DE DISSOLUÇÃO DA UNIÃO DE


FACTO EM MOÇAMBIQUE

Monografia submetida à Universidade Politécnica,


como parte dos requisitos para a obtenção do título de
licenciada em Ciências Jurídicas.

Autora: Dércia Octávio Chuma

Orientador: Dr. Manuel de Jesus Chitute Didier Malunga

Maputo, Março de 2018


DECLARAÇÃO DE HONRA

Declaro que este trabalho é da minha autoria e resulta da minha investigação. Esta é a
primeira vez que o submeto para obter um grau académico numa instituição educacional.

Maputo, Março de 2018

_____________________________________

(Dércia Octávio Chuma)

i
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho primeiramente à Deus, pois sem ele eu não teria forças para essa longa
jornada, aos meus pais, aos meus professores e aos meus colegas que me ajudaram e
apoiaram na conclusão da monografia.

ii
AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Octávio António Chuma e Anchieta Mário Mujovo, pelo inquestionável
amor e carinho que me têm dedicado. Pela educação, formação humana, apoio moral e
material que me concedem.

Aos meus irmãos Joaquim Octávio Chuma, Octávio António Chuma Júnior, Ana Pondja,
Lídia Pondja e Ibraimo Pondja pelo amor, carinho e suporte ao longo das nossas vidas.

Ao Dr. Malunga pelo incentivo, pelo suporte, empenho e pelas orientações indispensáveis
para a elaboração deste trabalho.

À Universidade Politécnica, seu corpo docente e Direcção pela oportunidade de fazer o


curso.

À todos colegas de curso, em especial á Mary Macheze, Idolvina Mendes, Assunção Fumo,
Nkumande Marrime e Sheila Zainadine por terem feito parte da minha formação e que vão
continuar presentes em minha vida.

A todos, o meu Muito Obrigado!

iii
LISTA DE ABREVIATURAS

Art.(s) - Artigo

CC - Código Civil

CRM – Constituição da República de Moçambique

CPC – Código de Processo Civil

Ed. – Edição

LF – Lei da Família

N.º- Número

Vol. - Volume

iv
RESUMO

A união de facto representa uma forma de constituição de família, sendo susceptível de


dissolução por vontade unilateral ou por mútuo acordo produzindo efeitos jurídicos
patrimoniais. O presente trabalho se insere no contexto da sociedade moçambicana, o qual
se depara constantemente com situações de irregularidades relativas à partilha de bens dos
unidos de facto. Pretendeu-se com o mesmo analisar os factores que concorrem para a
inobservância das normas estabelecidas referentes ao instituto que é objecto de estudo. A
pesquisa abrangeu a província de Maputo e serviram de apoio procedimentos
metodológicos como a análise bibliográfica baseada em livros e artigos científicos,
consultas à legislação e estudo de campo, técnicas estas, que possibilitaram a observação de
factos e fenómenos reais relativos à união de facto. A análise e interpretação dos dados e
informações obtidas permitiu demonstrar que de facto, apesar de questões relativas ao
património dos unidos de facto serem legalmente acauteladas caso se verifique a dissolução
da união, factores sociais e económicos influenciam no desrespeito do regime aplicável.

Palavras-chave: união de facto, dissolução da união de facto, partilha de bens

v
ÍNDICE
DECLARAÇÃO DE HONRA ................................................................................................ i
DEDICATÓRIA ..................................................................................................................... ii
AGRADECIMENTOS .......................................................................................................... iii
LISTA DE ABREVIATURAS .............................................................................................. iv
RESUMO................................................................................................................................ v
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 3
1.1 Justificativa ................................................................................................................... 3
1.2 Problematização ............................................................................................................ 4
1.3 Objectivos da Investigação ........................................................................................... 4
1.3.1 Objectivo Geral .......................................................................................................... 4
1.3.2 Objectivos Específicos ............................................................................................... 4
1.4 Metodologia .................................................................................................................. 5
CAPITULO I .......................................................................................................................... 7
REVISÃO DA LITERATURA .............................................................................................. 7
2.1 Conceptualização da União de Facto ............................................................................ 7
2.2 Natureza da União de facto ........................................................................................... 7
2.3 Dissolução da União de Facto....................................................................................... 9
2.4 Partilha de Bens .......................................................................................................... 10
CAPITULO II ....................................................................................................................... 11
FAMÍLIA COMO CÉLULA BASE DA SOCIEDADE – A UNIÃO DE ACTO ............... 11
3.1 A União de Facto em Moçambique ............................................................................ 12
3.2 Institutos Afins da União de Facto.............................................................................. 12
3.2.1 Concubinato ............................................................................................................. 13
3.2.2 Relações Passageiras Ocasionais ............................................................................. 14
3.2.3 Regime de Economia Comum ................................................................................. 14
3.2.4 Casamento ................................................................................................................ 15
4. Elementos Caracterizadores da União de Facto ............................................................ 15
4.1 Diversidade de Sexos .................................................................................................. 15
4.2 Estabilidade ................................................................................................................. 16

1
4.3 Continuidade ............................................................................................................... 16
4.4 Publicidade.................................................................................................................. 17
4.5 Ânimo de Constituir Família ...................................................................................... 17
5. Reconhecimento da União de Facto ............................................................................. 18
5.1 Limites à Eficácia Jurídica da União de Facto ............................................................ 18
5.1.1 Impedimentos Dirimentes Absolutos ....................................................................... 18
5.1.2 Impedimentos Dirimentes Relativos ........................................................................ 19
5.1.3 Impedimentos Impedientes ...................................................................................... 19
6. Efeitos da União de Facto ............................................................................................. 20
6.1 Efeitos de Natureza Pessoal ........................................................................................ 20
6.2 Efeitos de Natureza Patrimonial ................................................................................. 21
CAPÍTULO III ..................................................................................................................... 22
A PARTILHA DE BENS EM CASO DE DISSOLUÇÃO DA UNIÃO DE FACTO EM
MOÇAMBIQUE .................................................................................................................. 22
7.1 Efeitos jurídicos do reconhecimento judicial da união de facto: Partilha de bens…...21
7.2 Factores fragilizadores do processo de partilha de bens na união de facto………..…22
7.2.1 Acesso à Justiça ....................................................................................................... 25
7.2.2 Prova da União de Facto .......................................................................................... 27
7.2.2.1 Importância da Prova ............................................................................................ 28
7.2.2.2 Modalidades e Hierarquia das Provas ................................................................... 28
7.2.2.3 A Fragilidade da Prova Testemunhal .................................................................... 29
CAPÍTULO V....................................................................................................................... 32
8. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ....................................................................... 32
9. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 34
10. RECOMENDAÇÕES ..................................................................................................... 35
11. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 36
Anexo 1- Instrumento de pesquisa .................................................................................... 39
Anexo 2 ............................................................................................................................. 41
Anexo 3 ............................................................................................................................. 42
Anexo 4 ............................................................................................................................. 43
Anexo 5 ............................................................................................................................. 44

2
1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho destina-se a obtenção do grau de licenciatura em Ciências jurídicas, o qual


debruça sobre a problemática da partilha de bens aquando da dissolução da união de facto em
Moçambique.
O estudo incidiu mais precisamente na província de Maputo, analisando casos ocorridos e
reportados no período compreendido entre 2004, ano em que entrou em vigor a lei de família que
reconhece o regime da união de facto, a 2014.

O trabalho propõe analisar os factores que levam os indivíduos a manterem-se em união de facto
por longos anos, os factores que os levam a desconsiderar os efeitos patrimoniais que o regime
acarreta. É uma questão pertinente visto que, suscita várias inquietações, e mesmo estando
prevista na lei, a sua regulação caracteriza-se por incompleta e irrealista quando comparada com
a sociedade moçambicana.

1.1 Justificativa

Grande parte da população moçambicana vive em união de facto. Reconhecendo este fenómeno,
a Lei da Família (Lei n.º 10/2004 de 25 de Agosto) fez menção a este instituto trazendo a
definição e o regime aplicável relativamente aos efeitos patrimoniais. No entanto, a lei
supracitada não se mostra eficaz em vários aspectos do Direito da Família, em virtude das
lacunas que a lei apresenta, que inevitavelmente se ressentem no quotidiano dos moçambicanos
principalmente no que diz respeito á partilha de bens dos unidos de facto.
Deste modo, torna-se necessário analisar os níveis de ineficácia da lei, identificar os seus factores
e considerando a realidade vivida na sociedade moçambicana traçar mecanismos para que
pessoas vivendo em união de facto não saiam prejudicadas da mesma caso haja dissolução, que
muita das vezes não segue formalidades especiais.

3
1.2 Problematização

A união de facto tem sido há muitos anos uma forma natural de constituição da família. Questões
culturais, económicas e tradicionais fazem com que a maioria da população viva neste regime ao
invés do casamento.

Nos ordenamentos jurídicos de alguns países a união de facto deve ser registada, o que não
ocorre no ordenamento jurídico moçambicano onde grosso modo dos vínculos são informais e
baseadas na oralidade. Este facto favorece o surgimento de alguns problemas devido a
complexidade do seu reconhecimento. Embora a LF acautele questões patrimoniais da união de
facto, a mesma apresenta lacunas visto que não traz mecanismos processuais.

Na sociedade moçambicana são comuns situações em que ocorrendo a dissolução por vontade
unilateral ou morte, uma das partes desrespeita os direitos conferidos á parte contrária por vários
motivos de carácter sociológico. Deste modo, torna-se necessário regulamentar de forma mais
completa e eficaz o regime da união de facto, para acautelar os direitos das partes em caso de
dissolução da união.

Partindo desse pressuposto, coloca-se a seguinte pergunta: Até que ponto os direitos das partes
têm protecção legal em caso de dissolução da união de facto?

1.3 Objectivos da Investigação

1.3.1 Objectivo Geral

● Analisar a problemática da partilha de bens em caso de dissolução da união de facto.

1.3.2 Objectivos Específicos

● Analisar o quadro sobre as formas de constituição de família em Moçambique.


● Avaliar o nível de eficácia da LF relativamente ao instituto da União de facto.
● Identificar possíveis soluções do problema apresentado.

4
No âmbito dos elementos acima expostos, o presente trabalho foi concebido tendo em conta os
aspectos mais relevantes começando por trazer uma breve abordagem sobre a família e conceitos
da união de facto sob a perspectiva da lei e da doutrina. Foi feita a menção das figuras afins da
união de facto de forma a elucidar da melhor forma as características deste instituto. Fez-se a
descrição dos elementos caracterizadores da união de facto e das questões relativas ao seu
reconhecimento à luz da doutrina e da lei de forma conjugada.
No capítulo referente á partilha de bens dos unidos de facto em Moçambique foi feita a análise
dos factores que concorrem para a inobservância das normas estabelecidas pelo legislador em
relação a união de facto. Ao longo do trabalho foram também descritos os efeitos da união de
facto de forma a demonstrar algumas fragilidades que o instituto acarreta comparativamente ao
casamento.
O trabalho encerra com as conclusões onde se descrevem as constatações observadas ao longo da
investigação e recomendações.

1.4 Metodologia

Tendo em conta que a pesquisa centrou-se na análise da questão da partilha de bens em caso de
dissolução da união de facto, a mesma foi desenvolvida com base no método hipotético dedutivo,
que segundo MARCONI e LAKATOS (2001, p. 106) “é o método que se inicia pela percepção
de uma lacuna nos conhecimentos acerca da qual se formulam hipóteses e, pelo processo de
interferência dedutiva, testa a perdição da ocorrência de fenómenos abrangidos pela hipótese”.

Quanto á forma de abordagem ao problema a técnica que foi adoptada é a qualitativa, visto que,
se buscou aprofundar questões subjectivas do fenómeno, os dados foram colectados por
observações, narrativas e documentos e tem carácter exploratório.

Do ponto de vista dos objectivos adoptou-se a pesquisa exploratória, foi feita uma pesquisa de
campo que permitiu analisar fenómenos e factos que ocorrem no meio natural, analisando e
interpretando os respectivos resultados da pesquisa de forma a elucidar o problema apresentado.

5
Consistiu também no método de observação directa extensiva. Serviram de base questionários
dirigidos a um grupo de pessoas que vivem e viveram sob o regime da união de facto da
província de Maputo, pois o objectivo era colher sentimentos, opiniões a vários níveis sobre a
união de facto.

Outro procedimento técnico usado para desenvolver o trabalho foi a pesquisa bibliográfica, de
forma a ter contacto directo com tudo o que foi escrito, dito sobre o tema em análise e obter
informações necessárias que constam de materiais já publicados, que compreendem livros,
artigos científicos, jornais, revistas, e outras fontes da internet1.

1
MARKONI, Maria de Andrade. LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa, 4ª ed., Editora Atlas S.A,
1999, pp 73-100

6
CAPITULO I

REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Conceptualização da União de Facto

Segundo Medina (2011, p. 347) “a união de facto consiste na convivência sexual comum entre
um homem e uma mulher como se de marido e mulher se tratasse, sem a existência de um
casamento formalizado.”

Chaves (2009, p.64) define união de facto como sendo “situação de vida real em que duas
pessoas vivem em condições análogas às do casamento sem haver entre elas qualquer vínculo
matrimonial.”

Nota-se que há na doutrina unanimidade no que toca a conceptualização da união de facto, facto
que se reflecte na Lei da Família que no número 1 do artigo 202 define a união de facto como
sendo “uma ligação singular existente entre um homem e uma mulher, com carácter estável e
duradouro, que sendo legalmente aptos para contrair casamento não o tenham celebrado”.

A vida em comum dos membros da união de facto cria aparência de


casamento, em que muitas pessoas podem confiar, sendo, assim,
diferente das simples relações sexuais passageiras e do próprio
concubinato por mais duradouro que seja, dado este simplesmente
pressupor comunhão do tecto (Abudo, 2010, p.311).

2.2 Natureza da União de facto

A união de facto não é considerada uma relação jurídica familiar, mas sim uma fonte de relações
jurídicas parafamiliares. Abudo (apud PINHEIRO, 2010, p. 312) refere que “a união de facto e a
convivência em economia comum não são relações jurídicas familiares, porque constituem-se e
extinguem-se livremente, sem qualquer intervenção estatal, dependendo, simplesmente da
vontade de uma das partes.”

7
No entanto, levantam-se para alguns autores questionamentos no que toca esta posição, visto
que, a união de facto na realidade moçambicana, ocupa um lugar similar ao do casamento,
enquanto os unidos de facto não o contraírem, materializando todos os objectivos da família.

Para Macie (2011, p. 4) “a família no seu sentido amplo não se resume a instituição casamento,
pode albergar o conjunto de pessoas ligadas pelas núpcias, ou não, sua prole, parentes colaterais
e afins, e ainda qualquer dos pais ou descendentes, adopção, tutela e guarda.”

O mesmo reforça que o reconhecimento da união de facto como entidade familiar não constitui
um estímulo ou formas de se evitar o casamento, mas sim, um fortalecimento a ele por haver
incentivo a sua conversão em casamento.

Segundo Medina (2011, p. 353), “os companheiros em união de facto podem, em qualquer
momento fazer cessar a vida em comum sem necessidade de recorrer a qualquer decisão judicial,
dado tratar-se de uma relação familiar consensual (…)”

Extrai-se desta ideia, que a autora defende que os unidos de facto representam uma entidade
familiar independente dos formalismos que possam não ter se verificado na união.

Se tomarmos em conta o contexto social que se vive em Moçambique em relação as formas de


constituição de família e o que está estabelecido no art.120º da CRM, onde se reconhece à
família o papel de orientar o crescimento harmonioso da criança e educar as novas gerações nos
valores morais, éticos e sociais, poderá considerar-se que o não reconhecimento da união de
facto como entidade familiar vai contra aquilo que é a realidade social moçambicana.
É importante considerar que o Direito deve corresponder às necessidades sociais e não o inverso.

Em termos legais, em Moçambique reconhece-se a união de facto como entidade familiar


somente para efeitos patrimoniais (n.º 2 do art.2 da Lei da Família). Dispõem ainda os n.ºs 1 e 2
do art.16 que o casamento é civil, religioso e tradicional. Aos dois últimos “é reconhecido valor e
eficácia igual á do casamento civil, quando tenham sido observados os requisitos que a lei
estabelece para o casamento civil.” É possível notar, que a LF deixa de fora a união de facto

8
como forma de constituição da família.2
Este é o posicionamento explicado por Coelho e De Oliveira (apud ABUDO 2010, p. 312) que
apresentam noções mais extensas e menos técnicas de família, válidas em certos domínios, ou
para determinados efeitos, isto é, a união de facto não se considera família para a generalidade
dos efeitos.
A observação do fenómeno na vida social mostra que numa situação de união de
facto são normalmente realizadas, por um ou por ambos, determinadas prestações
patrimoniais destinadas a prover ao sustento da vida em comum. Isso demonstra
que a união de facto apresenta uma eficácia patrimonial em tudo semelhante aos
deveres de cooperação e de assistência que incumbem aos cônjuges (MENDES
1996, p. 15).

Ademais, reforça que apesar disso, não se deve considerar que a união de facto é fonte de
relações familiares visto ela não cria nenhum estatuto pessoal, já que os sujeitos continuam
solteiros. Quando muito essa união será fonte de relações obrigacionais.

2.3 Dissolução da União de Facto

A dissolução da união pode ocorrer por morte, por vontade unilateral e com o casamento.
Falecendo um dos membros da união, cessa a união de facto. A data do falecimento é relevante
no que toca ao direito a alimentos visto que o mesmo caduca se não for exercido nos dois anos
subsequentes a essa data, nos termos do estabelecido no n.º 2 do art.424 da LF.

Refere ainda Chaves (2009, p. 253) que “uma vez que não existe, pelo menos em termos
jurídicos, um compromisso de vida comum, a união de facto pode extinguir-se por mútuo acordo
ou por vontade unilateral de qualquer de uma das partes.”

A dissolução da união de facto por vontade das partes basta-se com a manifestação dessa
intenção por um dos companheiros, não sendo assim, necessário qualquer formalismo especial
ou a intervenção de qualquer órgão estatal.

Por último, se os membros se casam a união de facto também termina, pois a lei só dá efeitos às

2
DAN, Wei; JONA, Orquídea Massarongo. Contribuições Jurídicas sobre a União de Facto e Direitos sobre
a terra em Macau e Moçambique, Tipografia Macau HungHeng Limitada, 2011, p.11

9
uniões de facto de pessoas que não estejam ligadas por laços matrimoniais.

2.4 Partilha de Bens

Fora dos casos de separação judicial de pessoas e bens ou de separação judicial de bens, as
relações patrimoniais entre os cônjuges cessam pela dissolução, declaração de nulidade ou
anulação do casamento e, cessando as relações patrimoniais entre os cônjuges, estes recebem os
seus bens próprios e a sua meação no património comum. Tal como no casamento, na união de
facto torna-se inevitável que, durante a vivência em comum dos unidos de facto, estes adquiram
bens, contraiam dívidas em nome próprio ou em nome de ambos, o que produz, repercussões nos
respectivos patrimónios.

Em relação a este aspecto a Lei da Família estabelece no n.º 2 do art.203 que “para efeitos
patrimoniais, à união de facto aplica-se o regime da comunhão de adquiridos”.
Este regime vigora nos casos em que os nubentes o estipulam na sua convenção antenupcial ou,
no caso de caducidade, invalidade ou ineficácia da mesma e também na falta de convenção.

Regime de bens comporta “o conjunto de preceitos (normas ou cláusulas negociais) que regulam
as relações de carácter patrimonial (quer entre cônjuges, quer entre eles e terceiros) ligados á
vida familiar”3.
Na união de facto o regime de comunhão de adquiridos tem carácter imperativo, sendo que as
partes não têm o direito à livre escolha. Refere Campos (2005, p. 394) que “(…) a regra geral é a
de que são comuns todos os bens adquiridos a titulo oneroso na constância do casamento (…)”.
À luz do estabelecido no art.144 da Lei da Família são comuns, para além dos bens adquiridos na
constância da união que não sejam exceptuados por lei, o produto do trabalho dos unidos de
facto e os frutos produzidos por bens próprios.
Assim, em caso de dissolução, atribuir-se-á a cada uma dos membros a parte que lhe cabe.

3
VARELA, Antunes. Direito da Família, 1ᵒVolume, 5ᵃ Edição, Livraria Petrony, Lisboa, 1999, p.423

10
CAPITULO II

FAMÍLIA COMO CÉLULA BASE DA SOCIEDADE – A UNIÃO DE ACTO

A família é um núcleo composto por pessoas unidas por parentesco ou relações de afecto, tem a
sua origem no fenómeno natural da procriação e da propagação da espécie humana. Mas é
sobretudo um fenómeno social, pois através dos tempos se tem verificado que nela não intervêm
tão-somente factores biológicos. Nela intervêm outros factores de ordem social e económica.
Como tal, o conceito varia de acordo com a estrutura social e política.

No ordenamento jurídico moçambicano, a luz do n.º 1 do art.2 da LF define-se família como


sendo “a comunidade de membros ligados entre si pelo parentesco, casamento, afinidade e
adopção”. Com efeito o art.119 da CRM estabelece que “O Estado reconhece e protege, nos
termos da lei, o casamento como instituição que garante a prossecução dos objectivos da
família.” É considerada como elemento fundamental e base da sociedade responsável pela
educação de novas gerações nos valores morais, éticos e sociais.4

Visto que é um fenómeno humano e social, está sujeito a um processo de evolução e


transformação. Não se pode entender a família como um instituto uniforme, sendo que dentro do
mesmo Estado pode haver mais de um tipo de grupo familiar.

A família engloba várias questões de Direito, incluindo o Direito matrimonial que regula
relações jurídicas de natureza pessoal e patrimonial que se estabelecem entre os cônjuges. Dentro
deste âmbito surge ainda uma determinada situação de facto que, pela sua importância, os
legisladores não podem ignorar. É a questão da união livre entre um homem e uma mulher à
margem do casamento, denominada união de facto. No quadro legal moçambicano não se foge a
regra, o n.º 2 do art.202 da LF estabelece: “é reconhecida como entidade familiar, para efeitos
patrimoniais, a união singular, estável, livre e notória entre um homem e uma mulher”.

4
Art.119º e 120º da Constituição da República de Moçambique, 2004

11
3.1 A União de Facto em Moçambique

A união não formalizada foi desde os primórdios da humanidade a forma de constituição da


família natural. Os fundamentos da existência da mesma em Moçambique diferem
substancialmente dos fundamentos da sua existência nos países europeus e nos países
desenvolvidos. Segundo Medina (2011, p.350), “são apontadas questões de cultura, a
inexistência dos órgãos do registo civil necessários á legalização do casamento e ainda razões
económicas (nas zonas urbanas) ” como os principais motivos que fazem com que a maioria dos
casais vivam em união de facto. Atrelado a estes factores apontam-se também, o
desconhecimento da lei, a mera opção das partes e negligência jurídica.

Contextualizando a realidade moçambicana, as estatísticas demonstravam que a maioria das


famílias, não se constituía somente através do matrimónio, mas sim de outras formas, ainda que
não registadas ou legalmente reconhecidas, como o caso de união de facto.5
Houve assim necessidade de instituir a união de facto, porque antes a lei só reconhecia as
famílias unidas por casamento, pelo que ao terminar a relação, as mulheres não tinham garantia
da partilha dos bens do casal. Todas outras pessoas que não estivessem unidas por casamento,
não tinham nenhuma protecção legal.

O instituto da união de facto encontra sua disciplina legal nos arts.202 e 203ambos da lei
nº10/2004 de 25 de Agosto (LF). Nos termos daquelas disposições a união de facto, releva para
efeitos de filiação e patrimonial.

3.2 Institutos Afins da União de Facto.

Para melhor elucidar a definição de união de facto, importa extirpar da noção o que não é união
de facto.

5
Inquérito Demográfico e de Saúde. (INE). 2003. p. 103

12
3.2.1 Concubinato

A expressão "concubinato" serve para designar as relações não eventuais entre o homem e a
mulher impedidos de casar. Logo, o indivíduo casado, que conviva com sua mulher, não poderá
se beneficiar das disposições legais da união de facto em um relacionamento paralelo, porque ele
é impedido de se casar.

Considerando que a lei não tolera a vida conjugal dupla, este relacionamento com uma segunda
mulher, para os efeitos legais, será apenas um “concubinato”, portanto, à margem da legalidade.
Entretanto, se o indivíduo já estiver separado de facto, ainda que não tenha regularizado a sua
situação perante a justiça, mas tiver um relacionamento sólido, definitivo, com intenção de
constituir família com outra mulher, ele poderá sim se beneficiar do instituto jurídico da união de
facto e manter uma relação perfeitamente legal.

Portanto, enquanto o concubinato é uma relação não protegida e reprovável moralmente, a união
de facto é uma situação protegida pela Lei e socialmente correcta.6

Assunto cercado de controvérsias e polémicas diz respeito aos direitos da concubina. Tão logo
seja cogitada tal possibilidade, já surgem inúmeras afirmações, as quais por si só já resolveriam a
questão: “há impedimento de casamento, sendo assim é incontestável, não há direitos”; se a
pessoa sabia que a outra era casada, terá que se conformar com a ausência de direitos.

O fato é que, quem mantém uma convivência duradoura, pública e contínua com outrem, mesmo
que tal convivência não seja protegida pelo ordenamento jurídico, constitui uma família e precisa
ser identificado como integrante dessa realidade.

Assim, se o concubinato consistir numa convivência pública, duradoura e provida de


afectividade, pode ser entendido, sim, como entidade familiar?

Em Moçambique não existe nenhum preceito na legislação proibindo o concubinato.


6
Disponível em: https://nataliadireitodedonatti.jusbrasil.com.br/artigos/451413866/responsabilidade-civil-do-
concubinato

13
Segundo Macie (2011, p. 7) a “(…) união livre não é proibida muito menos condenada. A
censurabilidade do adultério não conduz ao locupletamento com esforço alheio, para aquele que
o pratique.”

Refere ainda que o concubinato tem como efeitos principais o reconhecimento dos filhos e dos
deveres e direitos decorrentes do poder parental nos termos da Lei da Família, e ainda, a
equiparação do concubinato a uma sociedade de facto, regendo deste então os concubinos pelo
Direito das Obrigações e Comercial, excluindo-se para todos os efeitos, do Direito da família.

As referidas sociedades de facto, são aquelas formadas do acordo entre as pessoas para
exploração de negócios de interesse comum, sem atender as formalidades legais, pois, tendo
presente o esforço comum para o aumento patrimonial, não reconhecendo nenhum efeito jurídico
seria dar ganho de causa ao enriquecimento ilícito ou sem causa a um dos concubinos.

Sobre este último efeito, Macie (2011, p. 8), sublinha que, “levanta-se um problema maior, o de
tratar a entidade familiar como se fosse uma simples sociedade comercial, o que atenta contra a
dignidade da pessoa humana”.

3.2.2 Relações Passageiras Ocasionais

A união de facto também se distingue das relações passageiras ou ocasionais, que não
configuram uma verdadeira união, porque, desde logo, são relações que carecem de estabilidade;
no mesmo sentido, a união de facto distingue-se ainda das relações estáveis em que cada um dos
membros mantém a sua própria casa, o denominado namoro.

3.2.3 Regime de Economia Comum

A união de facto deve ainda distinguir-se da vida em economia comum, a situação de pessoas
que vivem em comunhão de mesa e habitação e tenham estabelecido uma vivência em comum de
entreajuda e de partilha de recursos. Na vida em economia comum não encontramos nem a
limitação ao número máximo de duas pessoas, nem a existência de um relacionamento sexual

14
como requisito para permitir os seus efeitos jurídicos, mas, tão-somente, a vivência na mesma
casa e a partilha de encargos. Refira-se que, se não é um requisito da vida em economia comum a
existência de um relacionamento sexual, a existência deste, não impede a qualificação do
relacionamento como vida em economia comum

3.2.4 Casamento

Para o fim, deixámos, a diferenciação entre União de Facto e Casamento. De um modo geral a
união de facto distingue-se do casamento, no plano da constituição, dos efeitos e da extinção. A
união de facto forma-se logo que os sujeitos vivam em coabitação, não sendo necessária uma
cerimónia ou qualquer outra forma especial. A lei não prevê direitos e deveres que vinculem
reciprocamente os membros da união de facto, nem estabelece regras próprias em matéria de
administração e disposição de bens ou de dívidas. É a ligação entre companheiros pela mera
vontade das partes, sem que se exija uma intervenção estatal.7

4. Elementos Caracterizadores da União de Facto

Alguns dos elementos caracterizadores da união de facto estão expressos no art.202 da LF,
conjugados com a doutrina apontam-se: a diversidade de sexo, a estabilidade, a publicidade e a
continuidade. Um outro elemento apontado é o ânimo de constituir família.

4.1 Diversidade de Sexos

No que diz respeito à diversidade dos sexos, como já foi referido o n.º 1 do art.202 da LF, exige-
se a diversidade de sexos para caracterização da união de facto.
Como no casamento, a união do homem e da mulher tem, entre outras finalidades, a geração de
prole, sua educação e assistência. Desse modo, afasta-se do plano qualquer ideia que permita
considerar a união de pessoas do mesmo sexo como união de facto nos termos da lei.
Explica o autor Sílvio Venosa que o relacionamento homossexual, por mais estável e duradouro

7
Disponível em:
http://www.lex.com.br/doutrina_25065023_a_questao_patrimonial_nas_relacoes_de_uniao_de_facto_ou_bre
ve_reflexao_sobre_a_lei_da_uniao_de

15
que seja, não receberá a protecção legal e, consequentemente, não se amolda aos direitos que
possam decorrer dessa união diversa do casamento e da união de facto, nunca terão cunho
familiar, situando-se no campo obrigacional, no âmbito de uma sociedade de fato8.

4.2 Estabilidade

Entende-se por estabilidade, o relacionamento prolongado com carácter estável. A durabilidade


da união não está associada a um lapso temporal mínimo de convivência, afastando as relações
revestidas de fugacidade.
Em relação a este aspecto Farias (2009, p. 395) refere que,

Confere-se, ao intérprete da lei, casuisticamente, a tarefa de verificar se a união


perdura por tempo suficiente para a estabilidade familiar. E perceba-se que o
traço caracterizador da estabilidade é a convivência prolongada no tempo,
durante bons e maus momentos, a repartição das alegrias e tristezas
experimentadas reciprocamente, a expectativa criada entre ambos de alcançar
projectos futuros comuns, tais situações, sem dúvida, servem para atribuir
carácter estável à convivência.

O legislador deseja proteger as uniões que se apresentam com os elementos norteadores do


casamento. Consequência dessa estabilidade é a característica de ser duradoura, como menciona
o legislador no n.º 1 do artigo supra citado. O decurso por um período mais ou menos longo é o
retrato dessa estabilidade na relação do casal.

4.3 Continuidade

A continuidade deriva da própria estabilidade e reflecte um relacionamento sem interrupções


constantes. Esse elemento, porém, dependerá muito da prova que apresenta o caso concreto.
Nem sempre uma interrupção no relacionamento afastará o conceito de união de facto, logo, a
mera interrupção não extingue a vida em comum, nem enfraquece o intuito de viver como se
casados fossem, somente o sério rompimento é capaz de destruir o vínculo.

8
Disponível em: www.direitonet.com.br/artigos/exibir/2358/Uniao-estavel-das-leis-especiais-a-edicao-do-
Novo-Codigo-Civil

16
4.4 Publicidade

Outro requisito caracterizador é a publicidade, ou seja, a relação deve ser pública, na medida em
que, aos olhos da sociedade os companheiros vivam como se casados fossem.
O termo público deve ser compreendido como notório, pois, o primeiro é mais amplo do que o
segundo. Nem tudo que é notório é público, mas tudo que é público é notório. A característica da
publicidade representa notoriedade do relacionamento no meio social em que vivem e
frequentam. (DIAS, 2009, p. 164)

4.5 Ânimo de Constituir Família

Levanta-se a questão do ânimo de constituir família devido ao impedimento legal das uniões
extra-matrimoniais, não observando-se o interesse do casal em formar uma família. Este
requisito fundamental consiste na intenção dos companheiros viverem como se casados fossem,
evitando a caracterização de outros tipos de relacionamentos semelhantes, como o namoro
prolongado ou o noivado.

No meio social, os conviventes são visualizados como marido e mulher, ligados pelo vínculo de
afectividade, formando um par e produzindo efeitos no sector jurídico.
O objectivo de constituição de família é corolário de todos os elementos legais antecedentes. Não
é necessário que o casal de facto tenha prole comum, o que se constituiria elemento mais
profundo para caracterizar a entidade familiar. Contudo, ainda que sem filhos comuns, a união
tutelada é aquela “intuitu familiae”, que se traduz em uma comunhão de vida e de interesses.
Sem o objectivo de constituir família a entidade de facto poderá ser um mero relacionamento
afectivo entre os amantes, gerando, no máximo, sociedade de fato em relação a bens adquiridos
por esforço efectivo de ambos9.

9
VENOSA, Sílvio de Salvo, Direito Civil: Direito de Família. São Paulo: Atlas, 2001, p.49

17
5. Reconhecimento da União de Facto

5.1 Limites à Eficácia Jurídica da União de Facto

A aparência externa do casamento que se liga á união de facto leva a que o legislador fixe
também situações impeditivas dos efeitos jurídicos que se atribui “… que sendo legalmente aptos
para contrair casamento não o tenham celebrado” Art.202, n.º1, in fine.
Daí que se deve entender que os preceitos legais referidos no artigo supracitado, referem-se aos
impedimentos previstos nos arts.30, 31, 32 e podem ser observados também os arts.56 e 64 da
LF.

Tipos de Impedimentos
Os impedimentos matrimoniais podem ser:
● Impedimentos dirimentes absolutos;
● Impedimentos dirimentes relativos;
● Impedimentos impedientes.

5.1.1 Impedimentos Dirimentes Absolutos

São aqueles que surgem por motivos moral e social, e que são os portadores de maior gravidade,
envolvem causas que se contrariam com a instituição de família e a estabilidade social, e a sua
verificação conduz a anulabilidade do casamento nos termos conjugados dos art.30 e 56 alínea a)
ambos da LF.

São eles:
● Idade inferior a dezoito anos;
● Demência notória, mesmo com intervalos lúcidos e a interdição ou inabilitação por
anomalia psíquica; e
● Casamento anterior não dissolvido, desde que seja convenientemente registado por
inscrição ou transcrição, conforme o caso.

18
5.1.2 Impedimentos Dirimentes Relativos

Impedimentos dirimentes relativos são aqueles que, apesar de estarem preenchidos outros
requisitos para a celebração do casamento, os nubentes não podem celebrar casamento entre si.

São relativos porque referem-se apenas aqueles nubentes entre si. Ambos têm capacidade
matrimonial, mas não o podem contrair pois existe um impedimento que se refere a eles. Quando
verificados, conduzem a anulabilidade do casamento nos termos do art.31, e alínea a) do art.56
da LF conjugados.

São eles:
● O parentesco na linha recta;
● O parentesco até ao terceiro grau na linha colateral;
● A afinidade na linha recta; e
● A condenação anterior de um dos nubentes, como autor ou cúmplice, por homicídio
doloso, ainda que não consumado, contra o cônjuge do outro.

5.1.3 Impedimentos Impedientes

Estes impedimentos proíbem a realização de casamento, mas não acarretam a sua anulação. O
casamento celebrado nessas circunstâncias não se considera inexistente, mas sim irregular.

São impedientes os seguintes impedimentos:


● O prazo internupcial;
● O parentesco até quarto grau da linha colateral;
● O vínculo de tutela, curatela ou administração legal de bens;
● O vínculo que liga o acolhido aos cônjuges da família do acolhimento;
● A pronúncia do nubente pelo crime de homicídio, ainda que não consumado, contra o
cônjuge do outro, enquanto não haver despronúncia ou absolvição por decisão passada
em julgado; e
● A oposição dos pais ou do tutor do nubente menor.

19
É importante referir que o casamento anterior não dissolvido constitui impedimento para a
celebração de outro, mas a união de facto já não consta da lista dos impedimentos ao casamento.
Por outras palavras, pode dizer-se que se um homem e uma mulher vivem em união de facto há
10 anos, nada impede que A contraia matrimónio com C, o que não poderá acontecer no caso de
A ser casado com B, pois o vínculo matrimonial vai constituir impedimento.10

Excluídas as situações supracitadas, a união de facto inicia-se a partir do momento que duas
pessoas passam a viver juntas, partilhando uma vida comum em condições análogas ás dos
cônjuges.

E, dado o carácter duradouro que é imanente a uma união de facto, para que ela produza efeitos
na ordem jurídica tem de existir há mais de um ano (n.º 2, do art.202 da LF).

6. Efeitos da União de Facto

Do estabelecimento da união de facto resultam efeitos de natureza pessoal e de natureza


patrimonial.

6.1 Efeitos de Natureza Pessoal

Dita o art.203 da LF que “a união de facto releva para efeitos de presunção de maternidade e
paternidade‟‟, nos termos do disposto na alínea c) do n.º 2 do art.225 e na alínea c) do n.º 2 do
art.277.
Portanto, abre-se espaço para a presunção da maternidade quando tenha existido uma união de
facto durante o período legal de concepção e a presunção da paternidade quando durante o
período legal de concepção tenha existido união familiar, independentemente das condições
exigidas pela lei, ou convivência notória entre a mãe e o pai.

A lei acautela também a questão da adopção. A alínea a) do n.º 1 do art.393 da lei da família

10
Elucidado em: Outras Vozes, nº 20, Ago. 2007

20
estabelece que os membros da união de facto podem adoptar assim que vivam há mais de três
anos e não estejam separados de facto, tenham mais de vinte e cinco anos e possuam condições
morais e materiais que possibilitem o desenvolvimento harmonioso do menor.

Nos termos dos n.º 3 e 4 do art.317 o poder parental relativamente ao filho nascido fora do
casamento pertence a ambos pais quando os mesmos estejam a viver em união de facto
independentemente do período da sua duração e da menoridade dos progenitores.

Um outro efeito pessoal da união de facto que se dá por virtude da lei é o que se pode extrair do
art.204 da LF.11 Os filhos da união de facto bem como os nascidos fora do casamento estarem
equiparados, quanto ao tratamento, aos nascidos dentro do casamento.12

6.2 Efeitos de Natureza Patrimonial

No que diz respeito aos efeitos patrimoniais da união de facto o n.º 2 do art.203 da LF estabelece
que aplica-se o regime de comunhão de adquiridos. Conforme explica Abudo (2005, p. 259)
“este regime permite ao lado dos bens próprios de cada uma dos cônjuges, haver ou poder haver
bens comuns, bens que aqueles fazem seus na vigência do casamento”, ou seja, os membros da
união de facto participam no património comum por metade do activo e do passivo nos termos
do n.º 1 do art.150 da LF.

Relativamente aos alimentos referentes ao art.407 da LF, estabelece-se na al. b) do n.º1 do


art.413 da mesma lei, que o que se encontra em união de facto é uma das pessoas vinculadas á
sua prestação.

Ainda em relação aos efeitos patrimoniais dita o art.424 da LF que, em caso de união de facto ou
de comunhão de vida por mais de 5 anos, sempre que se mostrar necessário para a subsistência, o
companheiro sobrevivo tem direito a ser alimentado pelo correspondente a um oitavo dos
rendimentos deixados pelo autor da sucessão.

11
Conjugado com os artigos 56 n/º 4 da Constituição da República de 1990 e 121º n.º 3 da Constituição da
República de 2004
12
Cfr: ABUDO, José Ibraimo, Direito da Família, Maputo: 2005, p. 258

21
CAPÍTULO III

A PARTILHA DE BENS EM CASO DE DISSOLUÇÃO DA UNIÃO DE FACTO EM


MOÇAMBIQUE

As estatísticas mostram que grande parte das famílias moçambicanas com ou sem instrução, nas
zonas urbanas ou rurais, não se constituí somente através do matrimónio, mas sim de outras
formas, ainda que não registadas ou legalmente reconhecidas.

Antes da aprovação da lei Nº 10/2004 de 25 de Agosto (LF em vigor), caso não houvesse
matrimónio, chegada a hora da dissolução da relação, não era possível fazer-se partilha de bens,
embora estes tivessem sido adquiridos por duas pessoas, o que por sua vez dificultava o exercício
de uma justiça equitativa e a favor do cidadão.

Analisando situações que ocorrem no dia-a-dia, verifica-se que é normal que, numa relação
fundada na união de facto os seus membros não reduzam a escrito (formalizem contratos entre
si) questões relacionadas com a economia doméstica, nem questões relacionadas com o
contributo na aquisição de bens. E tal acontece por se estar perante relações entre pessoas, onde a
confiança e o desinteresse material são as pedras basilares da relação. Naturalmente tais questões
são sempre envolvidas em grande delicadeza, evitando-se dessa forma repercussões indesejadas
na relação amorosa.

No entanto, é também perfeitamente normal que a relação acabe e aquilo que não foi feito
atempadamente, como por exemplo uma simples descrição da forma de comparticipação de cada
um por se ter privilegiado a relação afectiva, torne necessário equilibrar com “justiça” e “bom
senso” tudo o que diz respeito aos bens que os membros angariaram enquanto a união se
manteve. Por outras palavras, é em torno dos bens ou da sua eventual partilha ou divisão que se
situa a maior preocupação prática dos aplicadores do direito.

22
7.1 Efeitos jurídicos do reconhecimento judicial da união de facto: Partilha de bens.

Na constância da união, pode questionar-se a titularidade dos bens. Um dos sujeitos pode
pretender provar que é, tal como o outro, comproprietário de um determinado bem. Dissolvida a
união, um dos sujeitos pode reivindicar parte dos bens, alegando serem comuns. Pode igualmente
suceder que falecendo um dos sujeitos da união de facto, os seus herdeiros reivindiquem a
herança, quando, muitas vezes, não há prova de que se trata de bens comuns.
Em qualquer destes casos um dos sujeitos da união, os seus herdeiros ou mesmo terceiros com
interesse juridicamente relevante, podem pretender a divisão dos bens comuns, podendo, nesse
caso, recorrer ao tribunal.13
Como já foi referido, o regime que o legislador estabelece para questões patrimoniais dos unidos
de facto é o da Comunhão de Adquiridos. Para que os efeitos patrimoniais se produzam, torna-se
desde logo necessário que esta entidade seja reconhecida judicialmente através de uma acção
declarativa de simples apreciação positiva (art.4ᵒ, n.ᵒ 2 alínea a) do Código de Processo Civil)
que tem por fim obter a declaração de existência da união e só a partir daí se torna possível a
partilha de bens no mesmo (cumulação de pedidos)14 ou em processo diferente.

Tratando-se da cumulação de pedidos, conforme explica Timbane (2011), há duas soluções que
podem ser seguidas: a cumulação do reconhecimento da união de facto com o processo especial
de divisão de coisa comum nos termos do estabelecido nos arts.1052°, 1053°, 1054° e 1059° a
1062° do CPC e a cumulação com o processo especial de inventário para partilha de bens
previsto no art.1404° e seguintes do CPC.
A divisão de coisa comum e a partilha de bens seguem processo especial, enquanto que o
reconhecimento judicial da união de facto segue processo comum, o que impossibilita a principio
a cumulação de pedidos, mas a lei admite que mesmo sendo diferentes as formas de processo, os
pedidos possam ser cumulados se as formas de processo não seguirem uma tramitação
manifestamente incompatível (n.ᵒ 2 do art.31° do CPC). Considera-se que nos casos acima
citados, havendo união de facto, apesar de existir diversidade de formas de processo, há interesse
relevante para cumulação e a apreciação conjunta das pretensões é indispensável para a justa

13
Vide art.1037° e ss do CPC
14
Vide art.31°, n.ᵒ 2 do CPC

23
composição do litígio.

Um outro aspecto a considerar, é que, com base na sentença que reconheça a união poderá ainda
ser cancelado o registo feito unilateralmente, sendo necessário promoverem-se todos os actos
para o registo e eventual partilha de bens pelos beneficiários. Para tal o autor da acção deverá
para além de requerer o reconhecimento da união de facto e a divisão de bens comuns, requerer o
cancelamento do registo sob pena de comprometer o êxito da acção, ou haver necessidade de
instaurar uma nova acção para o cancelamento do registo dos bens visto que, conforme
estabelece o art.12° do Código de Registo Predial e 22° do Regulamento do Registo das
Entidades Legais “os factos comprovados pelo registo não podem ser impugnados em juízo sem
que simultaneamente seja pedido o seu cancelamento.”

7.2 Factores fragilizadores do processo de partilha de bens na união de facto

Tratando-se de uma dissolução por mútuo acordo não são suscitadas grandes dificuldades, o que
pode não verificar-se no caso de a dissolução ocorrer por vontade unilateral ou morte de uma das
partes.

A título de exemplo, reporta-se, não raras vezes no contexto social moçambicano que uma das
partes é obrigada a suportar as situações mais complicadas de violação dos seus direitos, pois,
em caso de separação, não se fala em divisão de bens e é obrigada a desfazer-se da união
desprovido de bens a que comparticipou. E especificamente em caso de morte do parceiro, há
uma forte tendência de fazer com que a viúva perca o direito sobre os bens, quando no quadro
jurídico vigente ela é meeira, ou seja, tem direito à metade do património. Assim que o homem
morre, a família apodera-se dos bens que o casal adquiriu porque considera que os mesmos
pertencem aos familiares do falecido em clara violação do que está previsto na lei.15

Estes factos, demonstram que as questões patrimoniais da união de facto mesmo legalmente
acauteladas, não são tomadas em consideração. Isto deve-se ao facto de existirem barreiras
relacionadas com o acesso á justiça e com os mecanismos de prova das uniões de facto, questões
15
MAHUMANE, Angelina. HERANÇA: Dilemas da viuvez, Jornal Domingo, 18 de Set. 2016. Disponível
em: http://jornaldomingo.co.mz/index.php/reportagem/8185-heranca-dilemas-da-viuvez

24
adiante desenvolvidas.

7.2.1 Acesso à Justiça

Em linhas gerais, o conceito (jurídico) de acesso à justiça vai muito além do sentido literal.
Significa também o direito a um devido processo, vale dizer, um processo carregado de garantias
processuais, um processo equitativo (justo), que termine num prazo mínimo razoável e produza
uma decisão eficaz.

A CRM salvaguarda este direito fundamental, dita o art.70º que “O cidadão tem direito de
recorrer aos tribunais contra os actos que violem os seus direitos e interesses reconhecidos pela
própria Constituição e pela lei”.

Primeiramente, importa referir que o problema do acesso à justiça começa no plano educacional.
Ora vejamos,

A educação é o ponto de partida, isto é, pode-se mesmo dizer que o acesso à


justiça começa a partir da possibilidade de conhecer os direitos e, quando
violados, os mecanismos para exercê-los, na medida em que o conhecimento dos
direitos, em larga medida, passa inicialmente pela informação. Esse é um
problema que varia a depender do nível educacional do povo de cada país. A
realidade é que um cidadão desprovido de educação normalmente ignora os
direitos que tem, não sabe se seus direitos foram violados e nem como buscar
tutelá-los em caso de violação CARNEIRO (2000, pp. 57-58)

Em Moçambique, embora exista um quadro legal que estabelece o acesso à justiça, e apesar de
estarem criadas instituições que visam assegurar a protecção dos direitos dos cidadãos, por
exemplo, o Ministério da Género, Criança e Acção Social, os Gabinetes de Atendimento à
Família e Menor Vítimas de Violência Doméstica, bem como a existência de organizações que
prestam assistência jurídica como o Instituto de Patrocínio e Assistência Jurídica (IPAJ), com a
missão de prestar assistência jurídica aos mais necessitados, MULEIDE, Liga dos Direitos
Humanos, AMMCJ, etc., o acesso à justiça enfrenta vários desafios, por causas diversas, estando
em evidência o desconhecimento, pois grande parte da população moçambicana é analfabeta e
apresenta baixos níveis de acesso à informação e educação.16

16
CHILUNDO, Berta, Violência do Género e Acesso á Justiça em Moçambique, Maio, 2013, Disponível em:
http://www.wlsa.org.mz/artigo/violencia-do-genero-e-acesso-a-justica-em-mocambique/

25
A par do desconhecimento, existe também descrença no judiciário.
O problema da demora excessiva do julgamento das causas é dos mais graves, na medida em que
está directamente relacionado com a ideia de efectividade, resultando muitas vezes, na prática,
em verdadeira negação do acesso à justiça o que, consequentemente, afecta os direitos
fundamentais do cidadão que está a precisar da tutela jurisdicional do Estado, como também
deixa em dúvidas a própria credibilidade das instituições estatais.

O complicado aparato judicial, seus prazos e formalidades e o número cada vez maior de
processos, que são incompatíveis com os recursos disponíveis para solução, e a demora cada vez
maior para a obtenção de uma decisão, acabam produzindo na população, em particular nas
mulheres, a ideia de que a justiça não é eficiente e que não alcança o desejado. Desta maneira se
abre mão de direitos e da via judicial para a solução de litígios.

Em relação á questão Alves de Souza explica que,


O julgamento além de um tempo razoável é extremamente prejudicial e
desgastante para todos: para o Estado, porque naqueles casos em que apresentou
um julgamento sem qualquer eficácia suas instituições, perdem credibilidade
perante a sociedade, na medida em que não alcançaram seus objectivos, além da
perda de todo o investimento com o custo de um processo que resultou em nada;
para as partes, em especial para a parte que tinha direito a ser reparado, porque,
além do desgaste financeiro com todo o custo do processo e com a perda de
tempo que teve que despender praticando actos processuais pessoais, como
comparecimento às audiências para prestar depoimento, desgaste causado pela
longa e constante angústia ante a dúvida do resultado de um julgamento, ainda
tem que suportar o desgaste de receber uma decisão favorável que terá pouco, ou
não terá, qualquer resultado prático; tudo isso também acarreta, sem dúvida, um
desgaste psicológico, porque se a espera do julgamento dentro de padrões de
17
normalidade.

Atrelada a estes dois factores, está a ideia mercantilista que se tem do judiciário. Embora exista o
IPAJ e outras ONG‟s que prestam assistência jurídica, o número de defensores à disposição é
bastante insuficiente para fazer face ao elevado número de clientes que não podem arcar com os
honorários.

Um outro aspecto está ligado à questões sócio-culturais que também constituem um grande
17
SOUZA, W. Alves, ACESSO À JUSTIÇA: CONCEITO, PROBLEMAS E A BUSCA DA SUA
SUPERAÇÃO. Disponível em:
http://www.evocati.com.br/evocati/interna.wsp?Tmp_page=interna&tmp_codigo=332&tmp_secao=15&tmp_
topico=direitoproccivil&wi.redirect=W7H2JTT120GL

26
obstáculo ao acesso à justiça às mulheres, tendo em conta a exclusão que vivenciam
quotidianamente, pois por causa das várias crenças, tendem a ter um tratamento desigual no que
se refere ao acesso à justiça, são mais afectadas e estão mais distantes do sistema de justiça e
consequentemente, afastadas de informações que lhes permitiriam compreender a amplitude da
problemática.

Portanto, as práticas culturais, a desigualdade de género, são também factores que limitam á
população o nível de conhecimento sobre os seus direitos, o que obstaculiza o acesso à justiça,
uma vez que, como já foi referido, não é possível pleitear algo que se desconhece.

7.2.2 Prova da União de Facto

Prova, é a demonstração efectiva da realidade de um facto, da veracidade da correspondente


afirmação, é todo elemento pelo qual se procura mostrar a existência e a veracidade de um facto.

Em Moçambique, na união de facto, o problema social reside nos planos de prova de existência
da união de facto e seus efeitos. Isto é, quanto à prova a situação actual é fragilizada pela falta de
um formalismo constitutivo, isto é, apesar de ser reconhecida por lei não existe um instrumento
fiável de prova e muitas vezes uma das partes da união tem dificuldades de provar perante
instituições que esteve a viver nesse regime por um determinado período de tempo.
Nada impede que as autoridades administrativas locais, conhecedoras da situação de facto entre
determinadas pessoas atestem a existência da união. No entanto, sucede não raras vezes, que este
tipo de autoridade emite um parecer sobre uma realidade distinta levantando o problema da sua
credibilidade perante o Tribunal. Certidões de nascimento dos filhos, declarações escolares sobre
o encarregado de educação e quaisquer outros em que tenham referido residência coincidente,
são apontados como possíveis meios de prova.18 Contudo, é possível constatar com pouca
análise, que, por exemplo, o facto de o casal ter filhos em comum não implica a existência de
uma união de facto, visto que, este regime acarreta a verificação de vários outros elementos para
que seja considerada efectivamente uma união de f acto.

18
TIMBANE, Tomás. [Fev. 2011]. Maputo: Seminário sobre o Direito da Família – Reconhecimento Judicial
da união de facto, p. 137

27
7.2.2.1 Importância da Prova

As provas desempenham um papel de importância vital. São com elas que os julgadores
examinam todas as possibilidades existentes e resolvem situações conflituosas com relevância
jurídica.

Assiste ao julgador, o direito de exigir a prova, para além de que o n.º 1 do art.342 do Código
Civil prevê “aquele que invocar um direito cabe fazer a prova dos factos constitutivos do direito
alegado” e, dita ainda o n.º2 que, “A prova dos factos impeditivos, modificativos ou extintivos
do direito invocado compete àquele contra quem a invocação é feita”

A prova assume uma importância inquestionável, porque só através dela, o julgador poderá
tomar decisão com base legal, resultante da prova que lhe foi oferecida, até o ponto de seu
convencimento.

7.2.2.2 Modalidades e Hierarquia das Provas

As leis processuais não criam uma ordenação jurídica dos meios de prova. Cada prova tem o seu
valor intrínseco, segundo seu modo de ser e segundo os resultados que em cada processo são
aptas a produzir.
A lei não estabelece uma hierarquia entre as provas, mas existem modalidades distintas de
provas.

No processo civil existem provas substancialmente hierárquicas conforme a doutrina. Entre os


vários meios de prova, alguns deles são mais eficazes do que outros, e essa distinta eficácia está
dada pelo contacto mais ou menos imediato que provoca entre o Juiz e os motivos da prova, isto
é, o Juiz aprecia livremente a prova, atendendo aos factos e circunstâncias constantes nos autos,
ainda que não alegados pelas partes, mas deverá indicar, na sentença, os motivos que lhe formam
o convencimento.

28
O Código Civil moçambicano, descreve cada modalidade sem contudo indicar a sua hierarquia
entre elas, é o caso das Presunções mencionada no art.362°, Prova por confissão prevista no
art.352º; Prova documental igualmente contida no artigo art.362º, Prova pericial art.388º, Prova
por inspecção do art.390º e a Prova testemunhal prevista no art.392º.

É importante salientar que, embora haja a livre apreciação da prova pelo Juiz conforme
mencionado os artigos 358°, 366°, 371°,376°, 389°, 391° e 396° do CC, esta prova não deve ser
obtida por qualquer meio, daí que a própria CRM prevê que “São nulas todas as provas obtidas
mediante tortura, coacção, ofensa da integridade física ou moral da pessoa, abusiva intromissão
na sua vida privada e familiar, no domicílio, na correspondência ou nas telecomunicações”

7.2.2.3 A Fragilidade da Prova Testemunhal

A prova testemunhal é a mais frágil dos meios, no entanto, possui relevância no cenário judicial,
sendo, na maioria das vezes, a única prova utilizada, em virtude da ausência de prova técnica a
ser apresentada. Sendo assim, utiliza-se a prova oral na busca de uma verdade aproximada para
formação do convencimento do julgador.
Diferentemente dos demais meios probatórios, o testemunho está sujeito ao nível intelectual, à
formação, conhecimentos prévios, expectativas, capacidade de memorização, emoção, forma
com que os factos são perguntados pelo magistrado e inúmeros outros factores.

A insegurança, decorrente do nervosismo natural da testemunha ao prestar seu depoimento, bem


como algumas diferenças entre o depoimento de uma e outra testemunha, bem como das partes,
são decorrentes da influência psicológica sofrida pela testemunha, motivo pelo qual não pode o
juiz dar menor credibilidade a prova testemunhal diante de tais circunstâncias.19

A prática jurídica tem revelado que as pessoas recorrem a todos meios de prova em direito
admissíveis. No entanto uma vez que a união de facto resulta de acordo verbal sem formalidades,
19
SALAZAR, Sabrina Gomes da Silva e Vitória. A PROVA TESTEMUNHAL E SUA VALORAÇÃO: A
INFLUÊNCIA PSICOLÓGICA DA TESTEMUNHA NO PROCESSO DO TRABALHO[1]. Revista Páginas
de Direito, Porto Alegre, ano 15, nº 1279, 06 de Outubro de 2015. Disponível em:
http://www.tex.pro.br/index.php/artigos/318-artigos-out-2015/7397-a-prova-testemunhal-e-sua-valoracao-a-
influencia-psicologica-da-testemunha-no-processo-do-trabalho-1

29
verificando-se conflitos aquando da dissolução da mesma torna-se necessário reconhecer
judicialmente esta união cujas provas são revestidas de precariedade e nem oferecem certeza
jurídica nas decisões judiciais.

Quando serve de base uma prova unicamente testemunhal, o processo torna-se complexo,
atendendo ao valor e posicionamento deste meio de prova no leque das demais provas legais e
doutrinalmente citadas.

Diante dos pontos mencionados convém questionar se não haverá necessidade de legislar
inequivocamente sobre um mecanismo de prova que dê maior segurança as partes que
ocasionalmente tenham de provar em juízo que viveram em união de facto.
A lacunas que a lei apresenta em relação á prova é apontada como uma situação propositada para
que a união de facto não seja equiparada ou confundida com o casamento. Poderíamos então
questionar, até que ponto os direitos das partes têm protecção legal? O mesmo legislador que
pretendeu proteger as questões patrimoniais e de filiação que resultam deste tipo de união não
concedeu elementos suficientes para efectivação desse propósito.
Com o registo os unidos de facto seria infalivelmente possível provar que a união de facto teria
uma duração superior a um ano ou que a relação se iniciara em determinado dia, o que permite
igualmente saber quais os bens fazem ou não parte da comunhão.

Alguns modelos podem ser inspiradores. Para o caso de Angola, pelo Código de Família de
1988, a união de facto tem que obedecer à singularidade e o decurso de três anos de coabitação.
A lei permite o reconhecimento da união de facto por mútuo acordo perante o conservador do
registo civil (alínea a) do art.114 e 115), e a pedido dos interessados (em caso de morte de um
deles ou de ruptura) por via judicial.
O Código de Família de Cabo Verde, na redacção dada pelo Decreto-Legislativo 123 – C/97,
não se diferencia do regime angolano, sendo de sublinhar o art.167 que permite a oposição à
união de facto pela pessoa com quem um dos requerentes vivia em condições análogas, enquanto
não se mostrarem liquidados os seus interesses patrimoniais e protegidos os interesses dos filhos
menores. Nestas condições, o processo transita para o tribunal.20

20
MALUNGA Didier, BUSCANDO LEIS – Registabilidade da união de facto e a dignidade do casamento, Jornal

30
Não basta apenas acautelar uma situação, a medida deve mostrar-se eficaz.
Considerando que a união não segue nenhum formalismo como poderá a parte desfavorecida no
litígio provar a união de facto de forma a fazer valer o seu direito sobre metade dos bens tendo
em conta que a prova por via testemunhal é facilmente corruptível, principalmente nos casos em
que uma das partes morre e a família do mesmo não aceita ceder parte do património á parte
contrária?
Tais factos demonstram que é pertinente criar uma regulamentação da união de facto mais
abrangente, que traga mecanismos de prova documental por forma a salvaguardar os direitos
patrimoniais das partes que a LF faz menção. É necessário ainda que se publicite a mesma e
sejam tomadas medidas de índole social para que as pessoas independentemente da classe social
conheçam os seus direitos e tenham facilidades de recorrer a instâncias que se mostrem
competentes para resolver as questões acima abordadas.

Notícias, 10 de Jul. 2015. Disponível em: http://ww.jornlnoticias.co.mz/index.php/pagina-da-mulher/395-


registabilidade-da-uniao-de-facto-e-adignidade-d0-casamento

31
CAPÍTULO V

8. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

O presente capitulo apresenta a descrição dos dados colectados a partir do questionário dirigido
ao total de 60 pessoas dos quais 30 homens e 30 mulheres que vivem ou viveram em união de
facto

Primeiramente, a falta da divulgação da Lei da Família mostrou que uma parte dos unidos de
facto não tem pleno conhecimento dos direitos consagrados nela.
Num universo de 30 homens, 19 afirmaram já ter ouvido falar da Lei da Família, e 11 mostraram
total desconhecimento da lei
Das 30 mulheres inquiridas, 12 mostraram que já ouviram falar da Lei da Família, e 18 não tem
conhecimento da mesma.

Em relação ao nível de conhecimento da união de facto, 6 homens responderam que conhecem o


instituto contra 10 que apresentaram uma posição contrária. 14 dos homens afirmaram já ter
ouvindo falar do instituto, embora não tenham conhecimentos profundos relativos ao assunto.
De igual modo a minoria das mulheres num total de 6 afirmaram ter informação sobre a união de
facto, a maioria num total de 15 não conhece o instituto e 9 afirmou já ter ouvido falar.

Dos 60 inquiridos 7 do sexo masculino vive em união de facto há menos de cinco anos, 12 há
mais de cinco anos e 11 há mais de 15 anos. De igual modo, 6 do sexo feminino confirmaram a
convivência com os seus parceiros há menos de cinco anos, 14 há mais de cinco anos e 10 há
mais de 10 anos.

Em relação a vontade de contrair matrimónio 13 dos 30 homens inquiridos mostrou interesse, 5


não manifestaram a mesma vontade e 12 abstiveram-se. Já, as mulheres na sua maioria num total
de 19, mostraram interesse em oficializar as suas relações contra 9 em posição contrária e 7 que
se abstiveram.

32
Sobre as implicações patrimoniais que o instituto em estudo acarreta, 15 dos homens inquiridos
responderam que estão cientes de que a união de facto tem implicações jurídicas no que diz
respeito ao património do casal contra 13 do grupo feminino, 13 homens e 17 mulheres
mostraram não ter nenhum conhecimento sobre o assunto, e os restantes 2 do grupo masculino
abstiveram-se.

Dos 30 homens inquiridos 6 mostraram concordância em relação ao regime de bens estipulado


pelo legislador e 13 das 30 mulheres mostraram estar na mesma posição. 11 Homens discordam
do regime aplicável e 13 se abstiveram. Em contrapartida, 9 mulheres concordam com a
participação na metade do património existente caso haja dissolução da união. Sobre a mesma
questão 8 mostraram abstenção.

12 dos 30 homens inquiridos defendem que há necessidade de registo da união de facto,


enquanto 9 sentem-se acomodados nas condições em que vivem, e 9 abstiveram-se.
Do grupo feminino 18 defenderam o reconhecimento da união de facto através de registo, 3
consideraram não ser uma medida necessária pelo facto de existir a possibilidade de contrair
matrimónio e 9 abstiveram-se.

Diante da possibilidade que existe de término da relação ou da união mostrou-se importante


perceber se os inquiridos vêm a necessidade de recorrer aos tribunais caso se verifiquem
conflitos neste processo. 11 homens responderam positivamente, 9 acha que não haveria
necessidade e 10 abstiveram-se. Dados idênticos foram colhidos em relação ao grupo das
mulheres, onde 11 acreditam que se deve sim recorrer às instâncias competentes, 7 opuseram-se,
e 12 mostraram abstenção.

33
9. CONCLUSÃO

Atendendo a realidade social vivida em Moçambique foi aprovada em 2004 a Lei nº 10/2004 de
25 de Agosto. Esta lei garantiu o reconhecimento da união de facto fazendo menção da mesma
no art.202.
Com a pesquisa realizada conclui-se que, o instituto em estudo tem repercussões tanto no plano
jurídico e social, como económico da vida das pessoas. Ao reconhecer a união de facto como
uma unidade familiar, a lei dotou, a sociedade moçambicana de um instrumento de valorização
das práticas enraizadas na sua cultura ou seja afectividade entre um homem e uma mulher com o
propósito de constituir uma família. Para o caso concreto do nosso país, a união de facto é uma
ferramenta muito valiosa, tendo em conta que as pessoas não se casam por variadas motivações,
mas também merecem protecção, e daí uma cadeia de protecções necessárias.
O objectivo fundamental ao reconhecer a união de facto, era de facilitar que as pessoas que
histórica e culturalmente viviam e vivem sem formalizar a sua união se sentissem ou se sintam
protegidas. No entanto ainda persistem questões da união de facto que carecem de explicações,
sobretudo no que tange a casos de dissolução, quando há necessidade de partilhar os bens
adquiridos. A necessidade de conhecimento por parte da população sobre as questões legais desta
figura em grande medida passa despercebido, chegando mesmo a não se saber como se pôde
constatar, qual é o regime aplicável em relação aos bens que constituem o acervo patrimonial.
Assim, mostra-se inquestionável a necessidade de divulgação mais actuante da lei em apreço, de
forma a permitir que a maior parte das populações tenham a devida informação sobre os seus
direitos o que lhes permitirá ter maior capacidade na gestão dos conflitos emergentes pela
dinâmica e elasticidade da sociedade.
A pesquisa leva igualmente a concluir que, apesar de a união de facto ser reconhecida e produzir
efeitos jurídicos ainda carece de ser regulamentada de forma mais abrangente visto que, a união
de facto é informal, isto é, esta figura não encontra facilidades no seu reconhecimento legal, pois,
a legislação não faz menção de algum mecanismo para a oficialização da mesma, a lei não exige,
por exemplo, que a união de facto depois de consumada a partir do decurso do prazo, seja
registada ou homologada. Este facto propicia a ocorrência de casos em que havendo dissolução
por vontade unilateral ou morte de uma das partes, são desrespeitados os direitos patrimoniais da
contraparte.

34
10. RECOMENDAÇÕES

A Lei da Família em vigor procurou encontrar formas de dar protecção às uniões de facto
reconhecendo os seus efeitos patrimoniais, todavia, surge a necessidade de efectuar um trabalho
de consciencialização de toda a sociedade publicitando e divulgando as leis o que permitirá que
as pessoas entrem na união de facto com consciência dos riscos e direitos que resultam da
mesma.

Cabe também sugerir medidas legislativas que se mostrem adequadas e que tragam mecanismos
formais de prova, o que se resume na introdução do registo da união de facto funcionando como
prova mais segura em sede de tribunal.

Intensificação por parte de estruturas governamentais de acções de sensibilização com vista ao


abandono de práticas prejudiciais, como é o caso de situações em que a família do falecido faz
questão de despojar a viúva e filhos de todos os bens, promovendo deste modo uma mudança
social sempre a favor do diálogo e recurso á entidades competentes em situações de conflito.

Capacitação jurídica de líderes comunitários, que se refere a programas governamentais e não-


governamentais voltados para a preparação de integrantes das comunidades como mediadores na
solução dos conflitos locais.

35
11. BIBLIOGRAFIA

 ABUDO, José Ibraimo (2005). Direito da Família. Maputo

 ABUDO, José Ibraimo (2010). Direito da Família, Vol I 2.ª ed.

 CAMPOS, Diogo Leite de (2005). Lições de Direito da Família e das Sucessões,


Edições Almedina

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Maio, 2013.
Disponível em: http://www.wlsa.org.mz/artigo/violencia-do-genero-e-acesso-a-
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União de Facto e Direitos sobre a terra em Macau e Moçambique, Tipografia
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 DIAS, Maria Berenice (2009). Manual de Direito das Famílias. 5ª Ed., São Paulo,
Editora Revista dos Tribunais

 Juristas reflectem sobre reformulação da Lei da Família, @Verdade Mobile, 24 de


Fev. 2010.
Disponível em: http://pda.verdade.co.mz/nacional/9171-juristas-reflectem-sobre-
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 JORGE NETO, Francisco Ferreira; CAVALCANTE, Jouberto de Quadros Pessoa;


FRACAPPANI, Adrian;. Apontamentos doutrinários e jurisprudenciais sobre a
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 LANÇA, Hugo Cunha, A questão patrimonial nas relações de união de facto (ou
breve reflexão sobre a lei da União de Facto: dormir com alguém, acordar com o
Estado), Lex Magister.
Disponível em:
http://www.lex.com.br/doutrina_25065023_a_questao_patrimonial_nas_relacoes_d
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 MACIE, Albano (2011). A questão das uniões de facto, Oficina n.º


1/AR/CASGA/2011

36
 MALUNGA, Didier, BUSCANDO LEIS – registabilidade da união de facto e a
dignidade do casamento, Jornal Notícias, 10 de Jul. 2015.
Disponível em: http://www.jornalnoticias.co.mz/index.php/pagina-da-mulher/395-
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 MAHUMANE, Angelina. HERANÇA: Dilemas da viuvez, Jornal Domingo, 18 de


Set. 2016.
Disponível em: http://jornaldomingo.co.mz/index.php/reportagem/8185-heranca-
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 MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria (2001). Metodologia de


Trabalho Científico, 6ª ed. São Paulo: Atlas

 MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria (2009). Metodologia do


Trabalho Científico, 7ª ed. São Paulo: Atlas

 MEDINA, Marta do Carmo (2011). Direito de Família, 1ª ed. Escolar Editora


Angola

 SALAZAR, Sabrina Gomes da Silva e Vitória. A PROVA TESTEMUNHAL E SUA


VALORAÇÃO: A INFLUÊNCIA PSICOLÓGICA DA TESTEMUNHA NO
PROCESSO DO TRABALHO [1]. Revista Páginas de Direito, Porto Alegre, nº
1279, 06 de Outubro de 2015.
Disponível em: http://www.tex.pro.br/index.php/artigos/318-artigos-out-2015/7397-
a-prova-testemunhal-e-sua-valoracao-a-influencia-psicologica-da-testemunha-no-
processo-do-trabalho-1

 SANTOS, Eduardo dos (1985). Direito da Família, Livraria Almedina, Coimbra

 SOUZA, W. Alves, ACESSO À JUSTIÇA: CONCEITO, PROBLEMAS E A BUSCA


DA SUA SUPERAÇÃO. EVOCATI Revista nº 42, 30 de Junho de 2009.
Disponível em:
http://www.evocati.com.br/evocati/interna.wsp?Tmp_page=interna&tmp_codigo=3
32&tmp_secao=15&tmp_topico=direitoproccivil&wi.redirect=W7H2JTT120GL

Legislação

 Código Civil, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 47 344 de 25 de Novembro de 1966,


actualizado pelo Decreto-Lei n.º 3/2006 de 23 de Agosto.

 Código de Processo Civil, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 44 129 de 28 de Dezembro


de 1961, actualizado pelo Decreto-Lei Nº 1/2009 de 24 de Abril

37
 Código de Registo Predial, aprovado pelo Decreto-Lei Nº 47 611 de 28 de Março

 Constituição da República de Moçambique. (2004). Escolar Editora. Maputo


Moçambique.

 Moçambique, Lei Nº 10/2004 de 25 de Agosto, Aprova a lei da família e revoga o


livro IV do Código Civil, Imprensa Nacional

38
Anexo 1- Instrumento de pesquisa

INQUÉRITO

Este inquérito destina-se à avaliação dos níveis de conhecimento de questões relativas á


união de facto na província de Maputo, O mesmo „e um instrumento de recolha de dados
que faz parte do trabalho do fim de curso de Ciências Jurídicas.

Sexo ........Idade......... Profissão.....................

Residência.......................................................

1- Já ouviu falar da Lei da Família (Lei Nº 10/2004 de 25 de Junho)?

Sim Não

2- Sabe o que é a União de Facto?

Sim Não Já ouviu falar

3- A quanto tempo vive “maritalmente” (em união de facto)?

Menos de cinco anos

Mais de cinco anos

Mais de quinze anos

4- Pretende se casar?

Sim Nã Não

5- Tem consciência de que “viver maritalmente” (em união de facto) trás implicações

jurídicas patrimoniais ao casal?

Sim Não

39
6- A lei estabelece que, caso ocorra a dissolução da união (separação do casal) as

partes participam pela metade dos bens existente desde o início da união. Concorda?

Sim Não

7- Acha necessário o registo da união de facto de modo a facilitar provar formalmente

a existência da união?

Sim Não

8- Em caso de litígio no processo de dissolução da união, recorreu ou recorreria aos

tribunais?

Sim Não

40
Anexo 2

Gráfico 1: Conhecimento da Lei da


Família
0%

Sim
48.33%
Não
51.67%
Abstenção

Gráfico 2: Conhecimento do Instituto da


União de Facto
0%

20%
Sim
38.30%
Não
Já ouviu falar

41.70% Abstenção

41
Anexo 3

Gráfico 3: Período vivendo sob o regime


de União de Facto

21.70%
35.00% Menos de Cinco anos
Mais de Cinco Anos
Mais de Quinze Anos

43%

Gráfico 4:
Pretensão de contrair matrimónio

31.70% Sim
Não
53.30%
Abstenção

15%

42
Anexo 4

Gráfico 5: Conhecimento em relação aos


efeitos patrimoniais da União de Facto
3.30%

Sim
46.70%
Não
50% Abstenção

Gráfico 6:
Posicionamento em relação ao regime de
bens (Comunhão de Adquiridos)

35% 31.70% Concorda


Não Concorda
Abstenção
33.30%

43
Anexo 5

Gráfico 7: Necessidade de registo da união


de Facto

30%
Sin
50% Não
Abstenção

20%

Gráfico 8: Possiblidade de recorrer aos


tribunais em caso de litígio

36.70% 36.60% Sim


Não
Abstenção

26.70%

44

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