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O Impacto da Exploração Florestal no

Desenvolvimento das Comunidades Locais nas Áreas


de Exploração dos Recursos Faunísticos na Província
de Nampula
O Impacto da Exploração Florestal no
Desenvolvimento das Comunidades Locais nas
Áreas de Exploração dos Recursos Faunísticos na
Província de Nampula

Carlos Manuel Serra (coordenador)


António Cuna
Assane Amade
Félix Goia
Introdução
• Papel dos recursos naturais no
desenvolvimento local
• Advento de quadro legal de florestas e
benefícios para as comunidades
• Processo de descentralização em curso
• Falta de estudos que se debrucem sobre os
impactos reais na vida das comunidades locais
Objectivo geral
• Analisar os impactos das actividades de
exploração florestas no meio rural na
província de Nampula, especialmente no seio
das comunidades em cujas áreas tenham
decorrido exploração florestal, com alocação
dos benefícios decorrentes dos 20% das taxas
de exploração florestal prevista na legislação
florestal.
Objectivos específicos:
1. Identificar e analisar os impactos económicos, sociais e ambientais
das actividades de exploração florestal no meio rural,
especialmente no seio das comunidades beneficiárias dos 20% das
taxas de exploração florestal;
2. Estudar os processos de governação participativa, incluindo o
modelo e mecanismos de deliberação sobre a afectação de
recursos para desenvolvimento comunitário.
3. Identificar outras modalidades de beneficiação das comunidades,
especialmente no decurso das consultas comunitárias e
negociações com os operadores florestais;
4. Verificar o grau de aplicação da legislação florestal e a capacidade
de fiscalização do cumprimento desta mesma;
5. Estudar as dinâmicas sociais e de poder relacionados com a
afectação de recursos nas comunidades, incluindo o papel das
administrações distritais, postos administrativos e de localidade,
bem como as lideranças comunitárias e Comités de Gestão dos
Recursos Naturais (CGRN);
Hipótese principal:
• As comunidades locais têm-se beneficiado do
estipulado no quadro jurídico-legal sobre os
benefícios reservados às comunidades em
resultado da exploração de recursos florestais
nas áreas ocupadas pelas comunidades.
Técnicas e métodos de investigação
• Recolha e análise documental
• Estudo de caso
• Entrevistas semiestruturadas
• Reuniões participativas
• Observação no terreno
Província de Nampula
• Superfície de 78.197 km²
• População projetada para
2014 -- 4 887 839 de
pessoas
• 2 771.4 milhões de hectares
• 35% do território da
província
• 8.° lugar em termos de
cobertura florestal
• Potencial de florestas
produtivas 2.316.8 milhões
ha
• 454.6 milhões de hectares
de florestas não produtivas
Distritos estudados
Lalaua (interior) Mongincual (litoral)

Malema (interior) Memba (litoral)


Dificuldades
• Acesso à informação (dados governamentais)
• Estado das vias
• Chuvas intensas (Fevereiro)
• Comunicações na comunidade
Estrutura
• Capítulo I - Caracterização geral da província de Nampula e
distritos de Lalaua, Malema, Mongincual e Memba;
• Capítulo II - Exploração florestal na província de Nampula e
os benefícios para as comunidades locais – estudos de
caso;
• Capítulo III - Análise de impactos e das discrepâncias das
actividades de exploração florestal no meio rural, em
especial nas comunidades locais;
• Capítulo IV - Licenciamento das actividades de exploração
florestal e a fiscalização das operações florestais; e,
finalmente,
• Capítulo V - Conclusões e recomendações.
A exploração florestal e os benefícios
para as comunidades locais
• DOIS CANAIS/CAMINHOS ESTUDADOS:
1. Por via dos 20% das taxas de exploração
florestal e faunística
2. Por via das negociações entre operadores,
comunidades e Estado
A exploração florestal e os 20% para
as comunidades locais
• Lei de Florestas e Fauna Bravia - LFFB (Lei n.º
10/99, de 7 de Julho)
• Regulamento da Lei de Florestas e Fauna Bravia
(aprovado pelo Decreto n.º 12/2002, de 6 de
Junho)
• Diploma Ministerial n.º 93/05, de 4 de Maio
(Define os mecanismos de canalização e
utilização dos 20% do valor das taxas consignadas
a favor das comunidades locais, cobradas ao
abrigo da legislação de florestas e fauna)
Artigo 102 do Regulamento da Lei de
Florestas e Fauna Bravia
• “Vinte por cento de qualquer taxa de
exploração florestal ou faunística destina-se
ao benefício das comunidades locais da área
onde foram extraídos os recursos, nos termos
do n º 5 do artigo 35 da Lei n.º 10/99, de 7 de
Julho”.
2012 - 20% das taxas de exploração
florestal e faunística
Província Comunidades Comunidades Valor Valor
beneficiarias beneficiarias entregue em entregue
2005 – 2012 em 2012 2012 entre 2005 –
2012

Maputo 41 28 1,074,120.70 2,148,241.70

Gaza 125 0 --- 159,000.00

Inhambane 55 --- 1,689,352.80 6,344,879.80

Sofala 45 39 8,812,380.22 29,542,042.22

Manica 75 17 1,020,267.80 8,309,953.80

Tete 69 23 2,314,066.05 18,191,181.05

Zambézia 127 57 8,764,538.00 36,852,590.00

Nampula 321 11 1,476,494.88 9,446,685.88

C. Delgado 72 19 2,030,830.00 19,349,975.00

Niassa 24 10 540,503.00 1,286,368.00

TOTAL 954 204 27,722,553.45 131,630,917.45


Artigo 35 do Regulamento da Lei de
Florestas e Fauna Bravia
1. A auscultação das comunidades locais será feita na
presença do próprio requerente ou seu representante,
pelos órgãos da Administração local do Estado, e por via
das diligências a serem efectuadas pelos Serviços de
Florestas e Fauna Bravia, suportando o requerente os
encargos inerentes ao processo.
2. Quando a área objecto do pedido de concessão florestal
ou de licença simples, estiver total ou parcialmente numa
zona onde as respectivas comunidades locais tenham
direito de uso e aproveitamento da terra, far-se-á a
respectiva negociação dos termos e condições de
exploração entre as comunidades locais, o requerente e o
Estado, através da respectiva Direcção Provincial de
Agricultura e Desenvolvimento Rural.
Impactos económicos e sociais
da exploração nas comunidades
ESTUDOS DE CASO
Estudos de caso
Comunidade e Valor alocado Aplicação Estado actual
distrito (20 %)
Mopa, Lalaua 14.505,00 500 para gastos Posto de socorro
diversos em avançado
1.500 para logística estado de
visita Administrador degradação
3.000 para posto
socorro
Nauauane, Lalaua 13.523,00 Pretender aplicar
na escola, mas o
valor é insuficiente
Namitoco, Malema 9.100,00 Iniciada construção Escola incompleta e
de 2 salas material sem mobiliário
local (tijolo)
Tui, Malema 1 vez – valor não 200 chapas para
divulgado melhorar 2 escolas
2 vez - 114 000,00 15.000 para abrir 6
fontenários
Estudos de caso
Comunidade e Valor alocado Aplicação Estado actual
distrito (20 %)
Namarepo, (2 vezes) Valor não Posto de socorro em Sinais de degradação
Mongincual divulgado material precário
Mesa e cadeiras de
plástico para CGRN
Namitanaire, 8 500,00 Sede do CGRN
Mongincual 7 cadeiras plástico
Entrada para
fontenário
Nacapaia, Mongincual 11 886,00 Posto de socorro em Degradação
material local acentuada antes de
ser usado
Morola, Memba Não revelado Casa do Regulo em
material local
Fontenário
Muazulia, Memba 4.800.00 Posto de socorro em Degradação
material local acentuada antes de
ser usado
Distrito de Lalaua
Distrito de Malema
Distrito de Malema
Distrito de Mongincual
Distrito de Mongincual
Distrito de Mongincual
Distrito de Memba
Distrito de Memba
Impactos ambientais da
exploração florestal
Dados colhidos nos estudos de caso e
em pesquisas
Impactos ambientais do corte ilegal
• Empobrecimento da floresta
• Desequilíbrio ecológico
• Fuga ou redução de espécies de fauna
• Erosão e assoreamento dos cursos de água
• Aumento da susceptibilidade às queimadas
• Alteração dos padrões de pluviosidade
Madeira ilegalmente cortada
Repovoamento
• Inexistente nos termos do disposto na
legislação de florestas e fauna bravia
(sobretaxa dos 15%)
• Confinado à iniciativa presidencial: “Um Líder.
Uma Floresta”, no meio de enormes
dificuldade dos Governos distritais
Analise das discrepâncias entre o
valor do recurso, das taxas de
licenciamento e do montante
alocado às comunidades
Taxas de licenciamento
Diploma Ministerial n.º Diploma Ministerial n.º
57/2003, de 28 de Maio 293/2012, de 7 de
Novembro
Classe Taxas aprovadas Taxas aprovadas
(MT/M3) (MT/M3)
Preciosas 1 000, 00 MT 3 000, 00 MT

1.ª Classe 250, 00 MT 1 000, 00 MT

2.ª Classe 150,00 MT 1 000,00 MT

3.ª Classe 100, 00 MT 500, 00 MT

4.ª Classe 50, 00 MT 300, 00 MT


Licenciamento e
fiscalização
Duas faces que não da mesma
moeda
Licenciamento e fiscalização
• Licenciamento desfasado da capacidade de
controlo do uso dos recursos
• Província de Nampula com apenas 58 fiscais do
Estado contra os 200 do cenário ideal para a DPA
(ver trabalho do Professor Adolfo Bila)
• 154 multas aplicadas em 2012 (7 782 553,00 MT)
• A comparticipação dos fiscais (50%) não esta a
ocorrer
• Falta de aplicação de parte significativa das
receitas das taxas de licenciamento na
fiscalização
Conclusões
Conclusões
• Poucos ou nulos impactos na melhoria da vida
das comunidades
• Desfasamento entre o valor da madeira no
mercado e os benefícios para as comunidades
• Aplicação dos valores em domínios da
responsabilidade do Estado
• Incumprimento das promessas nas consultas
negociações
• Fraqueza ou inexistência dos CGRN
Conclusões – Cont.
• Desconhecimento do valor do recurso por parte
das comunidades
• Benefícios ínfimos conduzem membros
conduzem membros das comunidades a cortar e
negociar com os furtivos
• Fortes evidencias de corte ilegal em larga escala
• Empobrecimento da floresta
• Desfasamento entre o licenciamento e a
fiscalização
Recomendações
Recomendações
1. Rever a legislação sobre os 20% de benefícios para as comunidades
decorrentes das taxas de exploração florestal e faunística, retirando
a indexação desta percentagem relativamente às taxas de
licenciamento, substituindo por um mecanismo que a aproxime do
valor da madeira no mercado;
2. Condicionar as actividades dos operadores florestais à celebração
de acordos redigidos por escrito;
3. Repensar e reforçar substancialmente os meios e métodos de
fiscalização das actividades florestais e reduzir/eliminar o corte e
comercialização ilegal de madeira;
4. Introduzir uma medida que determine a aplicação da madeira
apreendida no melhoramento das infraestruturas sociais das
comunidades, com especial enfoque nas escolas e unidades de
saúde;
5. Criar e/ou revitalizar os Comités de Gestão dos Recursos Naturais,
de modo a reforçar a sua actuação e intervenção na protecção e
conservação dos recursos naturais, incluindo a gestão dos 20%.
OBRIGADO!

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