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REVISÃO

Doi: 10.3395/2317-269x.00736

Repelentes de mosquitos, eficácia para prevenção de


doenças e segurança do uso na gravidez
Mosquito repellents, effectiveness in preventing diseases and safety
during pregnancy

RESUMO
Francisco José Roma Repelentes de insetos são tratamentos adjuvantes para prevenir doenças transmitidas por
PaumgarttenI,* artrópodos incluindo malária e arboviroses (por exemplo, febre amarela, dengue, chikungunya,
zika, encefalite do Nilo Ocidental e outras). Pelo menos duas dessas doenças transmitidas
Isabella Fernandes DelgadoII
por mosquitos (malária e febre zika) foram associadas com desfechos adversos da gravidez
como perdas gestacionais, baixo peso ao nascer e defeitos congênitos graves. Os sintomas e o
prognóstico da malária, em particular a causada pelo Plasmodium falciparum, costumam ser
muito piores em mulheres grávidas. A segurança e a eficácia de produtos repelentes disponíveis
são, portanto, de extraordinária importância para a saúde pública. Neste artigo de revisão,
os estudos sobre a eficácia e segurança de repelentes sintéticos (DEET, Picaridina, IR3535) e à
base de plantas (PMD: p-mentano 3,8-diol, um constituinte do óleo do eucalipto limão, o óleo
de citronela Cympopogon nardus e o óleo de andiroba, Carapa guianensis) são brevemente
analisados com ênfase na evidência experimental e clínica da segurança do uso durante a
gravidez. Os estudos relevantes foram identificados através de busca abrangente nas bases
MEDLINE e TOXLINE e na internet. Recomendações para um uso seguro de repelentes com
objetivo de prevenir infecções transmitidas por mosquitos Anopheles sp. (malária) e Aedes
sp. (arboviroses) durante a gravidez também são apresentadas.

Palavras-chave: Repelentes de insetos; toxicidade para o desenvolvimento; defeitos


congênitos; malária; arboviroses

ABSTRACT
Insect repellents are adjuvant treatment to prevent arthropod-borne diseases including
malaria and arboviruses (e.g., yellow fever, dengue, chikungunya, zika fever, West Nile
encephalitis and other diseases). At least two of these mosquito-transmitted infections
(malaria and zika fever) have been associated with adverse pregnancy outcomes
including gestation losses, low birthweight and an increased incidence of major birth
defects. Symptoms and prognosis of malaria infections, particularly the disease caused
by Plasmodium falciparum, are usually much worse in pregnant women. The safety and
I
Escola Nacional de Saúde Pública efficacy of the commercial mosquito repellent products, therefore, are of paramount
Sergio Arouca, Fundação Oswaldo public health importance. In this article efficacy and safety of synthetic (DEET, Picaridin,
Cruz (ENSP/Fiocruz), Rio de Janeiro, IR3535) and plant-based repellents (PMD: p-menthane 3,8-diol, a constituent of the oil
RJ, Brasil
of lemon eucalyptus, oil of citronella, Cympopogon nardus, and oil of andiroba, Carapa
II
Instituto Nacional de Controle de guianensis) were briefly reviewed with particular emphasis on the experimental and clinical
Qualidade em Saúde, Fundação evidence on their safety during pregnancy. Relevant studies were identified through a
Oswaldo Cruz (INCQS/Fiocruz), Rio
comprehensive search in MEDLINE and TOXLINE databases and the web. Recommendations
de Janeiro, RJ, Brasil
for a safe use of repellents to prevent Anopheles sp (malaria) and Aedes sp (arboviruses)
transmitted diseases during pregnancy are also made.
* E-mail: paum@ensp.fiocruz.br
Keywords: Insect repellents; developmental toxicity; birth defects; malaria; arboviruses

Recebido: 19 fev 2016


Aprovado: 13 abr 2016

http://www.visaemdebate.incqs.fiocruz.br/ Vigil. sanit. debate 2016;4(2):97-104 | 97


Paumgartten FJR & Delgado IF Eficácia e segurança de repelentes na gravidez

Introdução
Algumas doenças infecciosas como a gripe H1N1 O O
(influenza tipo A), a malária, principalmente a causada pelo
Plasmodium falciparum, a hepatite E e a infecção pelo vírus N O H3C N O CH3
herpes simplex podem apresentar uma evolução clínica mais
OH H3 C O
rápida e séria durante a gravidez1.Além disso, várias infecções,
mesmo as que geralmente causam apenas sintomas brandos e Picaridina IR3535
têm evolução clínica benigna, podem resultar em perdas ges-
tacionais, pré-maturidade, bebês pequenos para a idade ges-
tacional, mortes neonatais e anomalias congênitasa,2,3. As do- CH3
enças infecciosas mais frequentemente associadas a desfechos
adversos da gestação são conhecidas pelo acrônimo TORCH que O

se refere à toxoplasmose, outras infecções, rubéola, citomega-


N CH3
lovírus e herpes. Recentemente, a febre zikab, a que se atribui OH
a epidemia de casos de microcefalia e outros defeitos congê- CH3 H3C CH3
nitos no Brasil4, passou também a integrar o complexo TORCH.
CH3 OH
Entre as infecções que têm evolução clínica mais séria em mu-
lheres grávidas, ou estão incluídas no grupo TORCH, pode-se DEET PMD
citar pelo menos duas transmitidas por mosquitos: a maláriac
DEET: N,N-dietil-meta-toluamida; PMD: p-mentano 3,8-diol
e a febre zika4,5,6,7. Como os mosquitos transmissores da malá-
Figura. Estrutura dos principais repelentes de insetos com ação eficaz e
ria (no Brasil, Anopheles darlingi e A. aquasalis) têm hábitos duradoura contra mosquitos de importância médica (Anopheles sp, Aedes
noturnos e frequentam o ambiente intra- e peri-domiciliar, a sp e Culex sp). quando aplicado na pele ou roupas. Picaridina ou Icaridina
(1-piperidinacarboxilato 2-(2-hidroxietil)-1-metilpropilester), IR3535 ou
prevenção envolve o uso de redes (mosquiteiros) impregnadas “Insect Repellent 3535” (etil-3 [acetil(butil)amino]propanoato), DEET (N,N
com inseticidas (por exemplo, piretróides) e a aplicação de dietil-3-metil benzamida ou N,N-dietil-m-toluamida) e PMD (p-mentano-
3,8-diol ou 2-(1-Hidroxi-1-metiletil)-5-metilciclohexanol). O PMD é
repelentes após o anoitecer. No caso das grávidas que vivem
responsável pela duradoura ação repelente do óleo do eucalipto limão
em áreas endêmicas com elevado risco de transmissão, a OMS (Corymbia citriodora ou Eucalyptus citriodora).
(Organização Mundial da Saúde) recomenda também o uso pre-
ventivo intermitente de antimaláricos (por exemplo, sulfado-
xina-pirimetamina) durante a gravidez8,9. Em relação à febre segurança do uso na gravidez e as informações disponíveis sobre
zika, não há ainda tratamento curativo ou preventivo. Como o a eficácia dos repelentes de inseto mais comumente empregados
A. aegypti tem hábitos diurnos, o uso de telas nas residências (Figura) serão comentadas a seguir.
e locais de trabalho e a aplicação de repelentes durante o dia
são as medidas mais eficazes para a proteção individual de mu-
MÉTODOS
lheres grávidas ou com risco de engravidar que vivem em áreas
com alta infestação do mosquito. Este artigo é uma revisão crítica dos estudos sobre segurança do
uso dos repelentes de insetos durante a gravidez. Artigos e docu-
Embora os repelentes sejam importantes para prevenção de doen-
mentos sobre a toxicidade dos repelentes para reprodução e desen-
ças transmitidas por artrópodes, eles são regulados pela Anvisa como
volvimento pré-natal foram identificados através de levantamento
cosméticos, ou seja, produtos para os quais – em princípio – não é
abrangente nas bases de dados eletrônicas MEDLINE e TOXLINE, e
exigida comprovação de eficácia e segurança por ensaios clínicos
randomizados e controlados. A avaliação não clínica de segurança também com a utilização da ferramenta de busca Google Scholar.
também é menos abrangente e rigorosa para cosméticos do que O levantamento da literatura compreendeu o período entre a ins-
para medicamentos e vários outros produtos de interesse para a talação das referidas bases de dados e 18 de fevereiro de 2016.
saúde. Entretanto, em que pese a aparente inadequação da regu- Foram empregados os termos de busca: DEET, N,N–dietil-meta-tolu-
lação, os três principais ingredientes ativos de repelentes comer- amida, picaridina, icaridina, IR3535, etilbutilacetilaminopropiona-
cializados no país (DEET, picaridina e IC3535) foram submetidos a to, óleo de eucalipto, PMD, p-mentano 3,8-diol, óleo de citronela,
um conjunto de testes não clínicos de segurança, incluindo estudos óleo de andiroba, Carapa guianensis, e os termos correspondentes
de toxicidade para desenvolvimento intrauterino. As evidências da em língua inglesa. Para identificar eventuais artigos e documentos

a
As infecções mais comumente associadas a anormalidades do desenvolvimento pré-natal são conhecidas pelo acrônimo TORCH (isto é, Toxoplasmose,
Outras infecções tais como sífilis, clamídia, varicella-zoster, e parvovírus B19, Rubéola, Citomegolovirus, e Herpes simplex)2,3.

b
A febre zika é uma arbovirose (arthropod-borne-viruses), ou seja, é doença que pertence ao grupo de viroses transmitidas por artrópodes, em geral
mosquitos. No caso do vírus zika e de alguns outros flavivírus (por exemplo, dengue e febre amarela) e do alphavirus (Togoviridae) chikungunya, o
Aedes aegypti é o (ou um dos) transmissor (es).

c
A infecção na gravidez é conhecida também como malária placentária. Embora não seja habitualmente incluída no complexo TORCH, a malária (P. falciparum)
está associada não só à maior gravidade das manifestações clínicas na gestante, como também aos vários desfechos perinatais adversos (principalmente em
primíparas e secundíparas) tais como baixo peso, parto prematuro, retardo do crescimento pré-natal, anemia fetal, malária congênita e morte fetal5,6,7.

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relevantes que não tivessem sido localizados pelo levantamento nas Sprague-Dawley que receberam injeções subcutâneas diárias de
bases eletrônicas, esta foi complementada pelo exame das listas DEET não diluído, incluindo um estudo de teratologia em fêmeas
de referências dos artigos e documentos selecionados para leitura. tratadas (0 a 0,3 ml/kg/dia) entre os dias 6 e 15 de gravidez e um
estudo de toxicidade para reprodução (0, 0,3 e 0,73 ml/kg/dia).
Os autores não encontraram evidências de toxicidade para a re-
DEET ou m-DET (N,N-dietil-meta-toluamida)
produção ou para o desenvolvimento embrionário em nenhum
Entre 1942 e 1947, em um esforço para desenvolver produto efi- dos testes realizados, mas notaram sinais de neurotoxicidade em
caz e seguro que protegesse o indivíduo de picadas de insetos, os ratos adultos dos dois sexos tratados com DEET13. O potencial
militares e o departamento de agricultura dos EUA testaram cerca embriofetotóxico do DEET em ratos e coelhos foi avaliado tam-
de 7.000 compostos quanto à capacidade de repelir o mosquito bém por Schoenig et al.14. O DEET foi administrado por via oral
A. aegypti10. Esta triagem identificou a N,N-dietilbenzamida como a ratas (0, 125, 250 ou 750 mg/kg/dia), entre os dias 6 e 15 de
um dos compostos mais eficazes entre todos os testados, sendo gravidez, e a coelhas New Zealand (0, 30, 100 ou 325 mg/kg/dia)
capaz de repelir o Aedes por tempo superior a 3 horas quando entre os dias 6 e 18 de gravidez. Exceto por toxicidade materna
aplicado a pele, e por mais de 10 dias após aplicação nas roupas10. (mortes em ratos e perda de peso nas duas espécies) e dimi-
A N,N-dietilbenzamida, entretanto, mostrou-se muito irritante nuição do peso dos fetos (ratos) nas doses mais elevadas, não
quando aplicada diretamente na pele dos voluntários10. Testes houve outros indícios de toxicidade para o desenvolvimento em-
subsequentes com 33 derivados da N,N-dietilbenzamida revela- briofetal, tais como efeito teratogênico, perdas gestacionais ou
ram que o DEET, embora preservasse as propriedades repelentes retardo do crescimento intrauterino14. Este conjunto abrangente
do protótipo, era pouco irritante e aparentemente seguro em ter- de estudos não clínicos indica que a exposição sistêmica de ratos
mos de efeitos sistêmicosd,11. O DEET foi aprovado para uso pela e coelhos ao DEET, administrado por diferentes vias, não foi ca-
população em 195710, sendo re-registrado pela agência ambiental paz de afetar o desenvolvimento pré-natal até mesmo em doses
americana (US EPA) em 199812. Embora várias hipóteses tenham elevadas e claramente tóxicas para as mães.
sido propostas para o mecanismo de ação do DEET, estudos recen-
tes indicam que este repelente se liga a receptores olfatórios do Exposição humana ao DEET durante a gravidez
inseto (afastando o mosquito ainda em vôo), e também a quimior-
Em 1992, Schaefer e Peters15 descreveram o caso de uma crian-
receptores (ainda desconhecidos) que inibiriam o comportamento
ça de 4 anos de idade com retardo mental, comprometimen-
de picar após o contato do mosquito com a pele10.
to da coordenação sensorial e motora, e dismorfologias faciais
O efeito do DEET sobre a reprodução foi avaliado em estudo de (hipertelorismo ou aumento da distância entre os olhos, lábios
exposição continuada por duas gerações consecutivas realizado finos e ausência do philtrum) cuja mãe havia feito uso diário de
com ratos. Neste estudo o DEET (0, 500, 2.000 ou 5.000 ppm) foi DEET combinado com uso preventivo do antimalárico cloroquina
incorporado à ração e a dose mais elevada testada (5.000 ppm, durante toda a gravidez. Relatos de casos isolados, entretanto,
equivalente a 250 mg/kg/dia) foi considerada o nível máximo de não permitem estabelecer nexos causais entre as exposições re-
dose (NOEL) em que não ocorrem efeitos sobre a reprodução . 12 gistradas e as alterações descritas. Algumas dessas alterações
A toxicidade do DEET para o desenvolvimento pré-natal foi in- morfológicas faciais e retardo mental, por exemplo, aparecem
vestigada em ratos e em coelhos expostos no útero durante a nas síndromes fetais pelo álcool e pela hidantoína.
organogênese12. Ratas foram tratadas com DEET (0, 125, 250 ou
Um estudo epidemiológico transversal conduzido por Wickerham
750 mg/kg/dia, por entubação gástrica, N = 25/grupo) entre os
et al.16 na China, de abril a junho de 2009, detectou DEET no
dias 6 e 15 de gravidez (período principal de organogênese). Ex-
sangue do cordão umbilical em 73% das amostras analisadas. Os
ceto por pequeno aumento na proporção de perdas gestacionais
autores não encontraram associação entre presença de DEET no
pós-implantação e diminuição do peso fetal médio por ninhada,
sangue do cordão e baixo peso ao nascer, embora tenham evi-
constatados no grupo tratado com a dose mais elevada, não foram
denciado associação significativa de baixo peso com a presença
registrados efeitos relacionados ao tratamento com DEET. Baseado
do fungicida vinclozolin e do herbicida acetofor16. Em outro es-
nesses resultados, o NOEL (toxicidade para o desenvolvimento)
tudo observacional, Barret et al.17 determinaram os níveis de
foi fixado em 250 mg/kg/dia12 . Em outro experimento, coelhas
pesticidas e do DEET no sangue materno e do cordão umbilical de
New Zealand receberam DEET (0, 30, 100 ou 325 mg/kg/dia, por
integrantes de uma coorte de mulheres grávidas de New Jersey,
entubação gástrica, N=16/grupo) entre os dias 6 e 18 de gravidez.
US (N = 150). O DEET foi detectado no sangue de todas as mães
Não foram notados efeitos adversos sobre o organismo materno
e na totalidade das amostras de sangue do cordão (mediana e
ou sobre o desenvolvimento embrionário relacionados ao DEET. O
valores mínimos – máximos; mãe: 2,78 ng/g, 1,82-18,84 ng/g;
NOEL para embriotoxicidade em coelhos foi também a dose mais
cordão: 2,9 ng/g, 2,06-13,07 ng/g). Entretanto, os pesquisado-
elevada testada, isto é, 325 mg/kg/dia . 12

res não evidenciaram qualquer relação entre as concentrações


Além desses ensaios, há pelo menos dois outros estudos sobre de DEET no sangue materno, ou no sangue do cordão e desfechos
a toxicidade reprodutiva e potencial embriotóxico do DEET13,14. adversos da gravidez tais como baixo peso ou circunferência ce-
Wright et al.13 realizaram um conjunto de estudos com ratos fálica menor ao nascer17.

d
Os estudos iniciais de segurança do DEET determinaram a DL50 de 2 g/kg de peso corpóreo em ratos, e não encontraram evidências de toxicidade sistêmica
após exposições frequentes por via dérmica e inalatória11.

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A segurança do DEET (1,7 g/dia) durante a gravidez aguda do IR3535 por via oral foi baixa (por exemplo, em ra-
(N = 897) – incluindo o primeiro e segundo trimestres – para pre- tos, DL50 > 5000 mg/kg) e estudos de administração repetida
venção da malária placentária foi investigada por um ensaio clíni- (subagudos e crônicos) em roedores, cães e coelhos por via oral
co randomizado e controlado (duplo cego) realizado na Tailândia18. não revelaram efeitos adversos sistêmicos importantes. Testes in
Os pesquisadores não observaram efeitos adversos neurológicos, vitro e in vivo indicaram que IR3535 não é genotóxico, não tendo
gastrointestinais ou dermatológicos nas mulheres, nem alteração sido este repelente avaliado em ensaios de carcinogenicidade no
da sobrevida, crescimento ou desenvolvimento dos seus filhos ao longo prazo23. Estudos em coelhos mostraram que o IR3535 não
nascimento ou após um ano de vida. O DEET foi encontrado em diluído causa irritação ocular e dérmica, mas testes realizados na
8% de amostras de sangue do cordão de um grupo (escolhido ao pele de voluntários não evidenciaram efeitos irritantes de formu-
acaso) de mulheres grávidas (N = 50) que haviam usado DEET. lações do repelente em que o ingrediente ativo foi diluído23.

A toxicidade reprodutiva do IR3535 foi investigada em estudo de


Picaridina ou Icaridina administração (0, 100, 300 ou 1.000 mg/kg/dia, por entubação gás-
(1-piperidina carboxilato 2-(2-hidroxietil)-1- trica, 25 ratos por sexo por grupo) por duas gerações consecutivas
metilpropilester) realizado com ratos. O NOAEL determinado neste estudo de toxici-
dade reprodutiva foi 300 mg/kg/dia23. Estudo de toxicidade para o
A picaridina é repelente ativo contra mosquitos e outros artrópodos
desenvolvimento realizado com coelhos New Zealand (0, 100, 300
hematófagos desenvolvido pela empresa Bayer e registrado inicial-
ou 600 mg/kg/dia por via oral, 20 por grupo, dias 7-19 da gravidez)
mente (EUA) em 200119. Ensaios de genotoxicidade e de toxicidade
não evidenciou aumento de variações e malformações fetais rela-
crônica e carcinogenicidade em ratos expostos por via dérmica su-
cionado ao IR3535 e determinou o NOAEL de 300 mg/kg/dia para
gerem que a picaridina não é mutagênica ou carcinogência20.
toxicidade materna e 600 mg/kg/dia para embriofeto-toxicidade.
A toxicidade reprodutiva da picaridina (50, 100 ou 200 mg/kg Estudo (piloto) de toxicidade para o desenvolvimento conduzido
semanalmente) foi investigada em ratos expostos por via dér- com ratos (0, 1.800 mg/kg/dia, via oral, 20 por grupo, dias 6-15 de
mica por duas gerações consecutivas. O tratamento da geração gravidez) mostrou que mesmo tendo causado toxicidade materna,
parental (F0) teve início 10 semanas antes do cruzamento e con- a dose testada não produziu alterações nos fetos23.
tinuou até o desmame da prole, enquanto a geração F1 foi tra-
tada com o repelente do desmame até o cruzamento, gravidez, Exposição humana ao IR3535 durante a gravidez
parto e desmame da sua própria prole. Exceto por acantose e
Não há estudos em humanos sobre os efeitos da exposição ao
hiperqueratose no local de aplicação, não foram notados efeitos
IR3535 durante a gravidez.
adversos locais ou sistêmicos dignos de registro, nem evidências
de toxicidade para a reprodução. O NOEL para toxicidade repro-
dutiva foi fixado em 200 mg/kg21. A toxicidade da picaridina para Repelentes de insetos à base de plantas
o desenvolvimento foi avaliada em ratos e coelhos tratados por
Um dos mecanismos de defesa das plantas contra a herbivoria é a
aplicação dérmica durante a gestação22. Ratas (50, 100 ou 400
liberação de substâncias químicas voláteis, cuja produção é esti-
mg/kg) e coelhas (50, 100 ou 200 mg/kg) grávidas receberam
mulada quando as folhas são danificadas. Esses compostos voláteis
diariamente aplicações do repelente na pele. A descamação da
afastam e impedem a alimentação de insetos fitófagos, mas alguns
pele no local de aplicação foi notada nas duas espécies, enquan-
deles repelem também os hematófagos. Não surpreende, portanto,
to as ratas tratadas com a maior dose apresentaram aumento do
que plantas e seus óleos essenciais sejam tradicionalmente usados
peso do fígado. Não foram notados outros indícios de toxicidade
por diferentes populações como repelentes de mosquitos e outros
materna, nem perdas gestacionais, retardo do crescimento in-
artrópodos hematófagos27,28. Estudos de bioprospecção, conduzidos
trauterino ou malformações congênitas associadas ao tratamen-
em laboratório e no campo, têm identificado inúmeras plantas, óleos
to com picaridina22. Os dados indicaram o NOEL após aplicação
essenciais e constituintes destes que são eficazes em repelir mosqui-
dérmica de 400 mg/kg para ratos e > 200 mg/kg para coelhos22.
tos. Entretanto, a utilidade da maioria destas substâncias derivadas
Exposição humana a picaridina durante a gravidez. de plantas como repelente de uso tópico é em grande parte limitada
pela curta duração do efeito, após aplicação na pele ou nas roupas,
Não há dados a respeito dos efeitos da picaridina sobre o desen- em decorrência da alta volatilidade. Três repelentes derivados de
volvimento embrionário humano. plantas frequentemente usados são comentados a seguir.

IR3535 (Etilbutilacetilaminopropionato) Óleo do eucalipto limão (Corymbia


citriodora) – p-mentano 3,8-diol (PMD)
O IR3535 é um repelente de insetos para aplicação na pele e rou-
pas humanas desenvolvido pela empresa alemã Merck. Estudos de O óleo das folhas do eucalipto limão (C. citriodora, Myrtaceae),
laboratório e de campo comprovaram que o IR3535 é ativo con- constituído majoritariamente por citronelal (85%), é um dos mais
tra os mosquitos Aedes aegypti, Culex quinquefasciatus e contra eficazes entre os repelentes de origem botânica. Como vários ou-
espécies do gênero Anopheles, sendo algumas formulações deste tros componentes de óleos essenciais com atividade repelente, o
repelente eficazes por pelo menos 8 horas23,24,25,26. A toxicidade monoterpeno citronelal é altamente volátil, conferindo proteção

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contra mosquitos por curto período após a aplicação na pele. En- Óleo de andiroba (Carapa guianensis)
tretanto, outro dos constituintes do óleo do eucalipto que exibe
potente atividade repelente, o PMD (p-mentano 3,8-diol), apre- O perfil toxicológico do óleo de andiroba permanece em grande
senta pressão de vapor mais baixa e evapora mais lentamente, o parte por ser investigado. Há, entretanto, alguns poucos estudos
que assegura proteção contra mosquitos mais duradoura (várias toxicológicos de curta duração (toxicidade aguda e subaguda)33,
horas). Ensaios randomizados duplo-cego realizados na Bolívia e um único estudo da toxicidade para o desenvolvimento34 em
demonstraram que o uso do PMD entre o entardecer e a hora de roedores. Em linhas gerais, o desenho desses estudos não adere
dormir foi tratamento eficaz para prevenção da malária29. ao que é recomendado por diretrizes da OECD e US EPA para ava-
liação não clínica da segurança de pesticidas. Costa-Silva et al.34
O PMD apresenta baixa toxicidade aguda por via oral (DL50 ratos >
administraram o óleo das sementes de Carapa guianensis (0, 375,
5000 mg/kg), inalatória (ratos) e dérmica (coelhos)30. Testes de irri-
750, 1.500 e 3.000g kg /dia, por entubação gástrica) a ratas (5-9
tação dérmica e ocular em coelhos evidenciaram fraco efeito irritan-
por grupo) do dia 7 ao dia 14 de gestação e realizaram a eutaná-
te na pele e séria irritação ocular. Ensaios de dermosensibilização em
sia no dia 20. Não foram encontradas diferenças entre os grupos
cobaias (teste de Buehler) indicaram que o PMD seria sensibilizante
controle e tratado com óleo quanto ao número reabsorções, fetos
dérmico. Um estudo de sensibilização cutânea em voluntários (repe-
vivos e mortos, peso das placentas e fetos. Em virtude das limita-
ated insult patch test), entretanto, foi negativo sugerindo que o PMD
ções de desenho (por exemplo, número reduzido de animais por
não é sensibilizante para a pele humana. Estudo subcrônico (90 dias)
de toxicidade dérmica com ratos indicou baixa toxicidade (NOAEL grupo, ausência de avaliações de anomalias viscerais e esqueléti-
de 1.000 mg/kg/dia) . Uma bateria de testes in vitro e in vivo não
30 cas) e outras falhas metodológicas este estudo é de pouco valor
evidenciou efeito genotóxico. Testes de toxicidade crônica e carcino- preditivo quanto à toxicidade do óleo de andiroba para o desen-
genicidade no longo prazo não foram realizados com o PMD . 30 volvimento pré-natal. Além disso, um estudo comparativo de re-
pelentes usados para proteger o indivíduo do mosquito Aedes sp.
Não foram realizados estudos de toxicidade reprodutiva envolvendo mostrou que o óleo de andiroba é menos eficaz do que o DEET35.
exposição por uma ou mais gerações. A toxicidade do PMD para o
desenvolvimento pré-natal foi avaliada em ratos tratados por via
dérmica com PMD (0, 1.000 e 3.000 mg/kg/dia) entre os dias 6 e 19
Síntese conclusiva
de gravidez. Não foram encontradas evidências de toxicidade ma-
O DEET é o repelente mais empregado para proteção contra mos-
terna (NOAEL > 3.000mg /kg/dia), nem de aumento relacionado ao
quitos transmissores de doenças, incluindo a malária (Anopheles
PMD na incidência de variações e malformações fetais ou qualquer
sp.) e arboviroses como febre amarela, dengue, febre zika, chikun-
outra indicação de embriotoxicidade (NOAEL > 3.000mg /kg/dia)30.
gunya, encefalite do Nilo Ocidental e outras (Aedes sp. e Culex sp.),
Não há estudos em mulheres expostas ao PMD durante a gravidez. e também contra outros artrópodos hematófagos de importância
médica (carrapatos). A eficácia e a duração da ação repelente após
aplicação na pele ou roupas – que dependem da concentração do
Óleo de citronela (Cymbopogon nardus)
DEET na formulação (Quadro 1) – tem sido comprovada por um gran-
Óleos essenciais de plantas do gênero Citronella (Cardiopterida- de número de estudos de laboratório e de campo. O DEET é tam-
ceae) e Cymbopogon (Poaceae) têm sido tradicionalmente em- bém o repelente avaliado de forma mais completa por um conjunto
pregados como repelentes de insetos, mas a eficácia desses pro- abrangente estudos não clínicos de segurança. A toxicidade repro-
dutos foi relativamente pouco estudada por ensaios controlados. dutiva do DEET foi investigada em estudo de duas gerações em ratos
O inconveniente destes repelentes à base de óleo de citronela é enquanto as toxicidades para o embrião e feto foram avaliadas de
a evaporação rápida com perda de eficácia. Alguns estudos suge- forma abrangente em roedores e coelhos, expostos por via oral,
rem que a mistura com moléculas maiores como a vanilina (5%) dérmica e parenteral (sc). Além disso, o DEET é o único repelente
poderia prolongar o tempo de proteção por retardar a liberação cuja segurança de uso na gravidez foi avaliada clinicamente em
dos constituintes ativos voláteis31. estudo randomizado e controlado. Apesar de ter sido constatado
que o DEET passa através da placenta para o sangue fetal (presença
A toxicidade aguda do óleo de citronela foi baixa em testes com
roedores tratados por diferentes vias de administração. Os resul-
tados de ensaios de mutagenicidade também foram negativos32. Quadro 1. Duração estimada - tempo de proteção completa - da ação
Não há na literatura, entretanto, estudos da toxicidade do óleo de repelente de várias concentrações de DEET36.
citronela para a reprodução e para o desenvolvimento pré-natal, DEET
média (mínima - máxima), horas
ou qualquer outra avaliação não clínica ou clínica da segurança do (% )

uso na gravidez. Em virtude da atual condição GRAS (Generally 5 2,0 (1,5 – 2,0)
Recognized As Safe) conferida ao óleo de citronela, da ausência 10 3,5 (2,5 – 4,5)
de relatos de hipersensibilidade, baixa toxicidade aguda e resulta- 15 5,0 (3,5 – 5,5)
dos negativos para ensaios de mutagenicidade, a agência ambien- 20 5,5 (4,0 – 6,5)
tal americana (US EPA) dispensou a apresentação de estudos de 25 6,0 (4,5 – 8,0)
imunotoxicidade, toxicidade para o desenvolvimento e toxicidade 30 6,5 (5,0 – 8,0)
dérmica e inalatória para o óleo de citronela32. DEET: N,N-dietil-meta-toluamida

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Quadro 2. Evidências não-clínicas e clínicas da segurança do uso de repelentes de insetos durante a gravidez.
Repelentes Ensaios não-clínicos Ensaios clínicos Observações
(testes do potencial embriotóxico) randomizados e controlados
Rato Coelho
Via NOEL/NOAEL Via NOEL/NOAEL
DEET oral 250 mg/kg/dia12 oral 325 mg/kg/dia12 Aplicado na pele (1,7 g/dia) Há também outros estudos do
durante primeiro e segundo potencial embriofeto-tóxico em que
trimestres de gravidez. o DEET foi administrado a ratos e
(N=897): ausência de efeitos coelhos pela vias oral14 e subcutânea13.
sobre a mãe e filhos até o Nenhum desses estudos evidenciou
primeiro ano de vida efeito teratogênico
Picaridina dérmica 400mg/kg/dia22 dérmica >200 mg/kg/dia22 Não realizado Nos testes realizados, não foram
notados indícios de teratogenicidade
IR3535 oral >1.800 mg/kg/dia oral 300 mg/kg/dia23 Não realizado Nos testes realizados não foram
(feto) 23 d (mãe) notados indícios de teratogenicidade
600 mg/kg/dia23
(feto)
PMDa dérmica >3.000 mg/kg/ Não realizado Não realizado Nos testes realizados não foram
dia23 notados indícios de teratogenicidade
Óleo de Não realizado Não realizado Não realizado Estudos não clínicos não foram exigidos
citronelab pela agencia ambiental americana
(US EPA) em virtude do estado GRAS
conferido ao óleo de citronela para uso
como aditivo alimentar
Óleo de Não realizado Não realizado Não realizado Há 01 estudo do potencial
andirobac embriotóxico do óleo de andiroba
em ratos. Este estudo, entretanto,
apresenta limitações e falhas
metodológicas importantes
PMD: p-mentano 3,8-diol encontrado no óleo de eucalipto limão (Corymbia citriodora). bCympopogon nardus, cCarapa guianensis; GRAS (“Generally Recognized
a

As Safe” : geralmente reconhecido como seguro). dEstudo piloto com uma única dose. IR3535 (Insect Repellent 3535): etilbutilacetilaminopropionato.

Quadro 3. Algumas recomendações para uso seguro de repelentes (DEET, picaridina, IR3535 ou PMD / óleo de eucalipto limão) durante a gravidez e
outras medidas para prevenção de doenças transmitidas por mosquitos dos gêneros Anopheles sp (malária) ou Aedes sp (zika, dengue, chikungunya).
Proteção contra Anopheles sp. (Malária)
1) Aplicação do repelente na pele (apenas partes expostas do corpo) entre o anoitecer e a hora de dormir.
2) Dormir em leito protegido com tela (mosquiteiro) impregnada com piretróide (e.g. permetrina) que tem atividade repelente e inseticida.
Não aplicar piretróides diretamente na pele. A residência deve ser protegida por telas nas janelas e portas.
3) Mulheres grávidas residentes em áreas endêmicas com elevado risco de transmissão devem fazer uso preventivo de antimaláricos segundo as
recomendações da OMS.7,8,9
Proteção contra Aedes sp. (zika, dengue, chikungunya)
1) Aplicar o repelente na pele (apenas partes expostas do corpo) entre o amanhecer e o anoitecer.
2) Proteger o ambiente em que permanece durante o dia com telas e combater criadouros do mosquito.
3) Caso use protetor solar e repelente, aplique o protetor antes e o repelente depois. Note que a duração de ação do protetor solar é mais
curta e, portanto, pode requerer aplicações mais frequentes do que o repelente. Há produtos (loções) que contém ambos, neste caso pode
ser necessário reaplicar apenas o protetor solar. A reaplicação muito frequente da combinação protetor+repelente pode resultar em efeitos
tóxicos (irritação) associados ao repelente.
Em todos os casos
1) Note que a duração do efeito depende do repelente e da concentração do ingrediente ativo na formulação.
2) Reaplicar o repelente na pele de acordo com os intervalos recomendados nas instruções do produto. Não aplique em excesso nem reaplique
em intervalos mais curtos do que os recomendados nas instruções de uso do produto.
3) Não aplique repelente na pele abaixo de área coberta por roupa.
4) Use vestimentas e meias que mantenham a maior área corporal coberta.
5) Aplicar o repelente somente em áreas com a pele íntegra. Não usar em áreas com lesões ou inflamadas, o que pode aumentar a absorção e
o risco de efeitos adversos.
6) Evitar contato com os olhos e a boca e aplicar com cautela em local próximo aos ouvidos.
7) Evite inalar ou usar o spray próximo a alimentos.
8) Quando usar spray não direcione para a face; aplique primeiro nas mãos e depois use as mãos para aplicar na face.
9) O repelente pode também ser aplicado nas roupas. Caso aplique nas roupas, estas devem ser lavadas antes de serem re-utilizadas.
10) Em caso de irritação local suspender o produto, lavar a área afetada com água e sabão, e eventualmente usar outro repelente.
11) O DEET pode danificar fibras sintéticas e plásticos.
12) Mantenha os repelentes fora do alcance de crianças.
DEET: N,N-dietil-meta-toluamida; PMD: p-mentano 3,8-diol; OMS: Organização Mundial de Saúde

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no sangue do cordão umbilical), não foram evidenciados efeitos O PMD não foi submetido a estudos (uma ou mais gerações) de
adversos sobre o desenvolvimento embriofetal humano (Quadro 2). toxicidade reprodutiva e a toxicidade para o desenvolvimento foi
avaliada por apenas um estudo em ratos tratados por via dérmica.
Estudos adequadamente planejados e conduzidos também demons-
traram que os repelentes picaridina, IR3535 e PMD (óleo de eucalipto A eficácia do óleo de citronela e do óleo de andiroba foi menos
limão) são eficazes e conferem proteção duradoura contra os mos- estudada e ambos parecem ser menos eficazes que o DEET. Além
quitos de importância médica. A picaridina também foi submetida disso, a duração do efeito repelente dos óleos de citronela e de
a uma abrangente avaliação toxicológica embora esta tenha sido andiroba é curta, exigindo aplicações mais frequentes.
menos completa do que a foi realizada com o DEET. A avaliação não
clínica de toxicidade para a reprodução e desenvolvimento incluiu Em síntese, o conjunto de estudos analisados nesta revisão não
estudos de duas gerações em ratos e de embriotoxicidade em ratos encontrou indícios de que o uso de repelentes de insetos du-
e coelhos, expostos apenas por via dérmica. Os estudos realizados rante a gravidez implique em riscos para o desenvolvimento do
não evidenciaram riscos para a mãe ou para o concepto (Quadro 2). embrião/feto. É importante destacar, entretanto, que alguns
dos repelentes analisados (PMD, óleo de citronela e óleo de
O IR3535 foi submetido a um conjunto mais limitado de estudos não andiroba) não foram adequadamente estudados quanto a segu-
clínicos de segurança. A toxicidade reprodutiva (duas gerações) foi rança do uso na gravidez.
investigada em ratos tratados por via oral. O estudo completo da to-
xicidade do IR3535 para o desenvolvimento foi realizado apenas com Algumas recomendações para prevenção de doenças transmiti-
uma espécie (coelhos) exposta por via dérmica. Nesse único estudo, das por mosquitos e uso seguro de repelentes são apresentadas
o IR3535 não afetou o desenvolvimento embrionário (Quadro 2). no (Quadro 3).

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