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UNIVERSIDADE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS

Instituto Superior Politécnico da UJES

Curso: Enfermagem

Malária na gravidez

DOCENTE
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Marlene Gueve Dumba Amorim

Huambo, de 2024
Universidade José Eduardo dos Santos
Instituto Superior Politécnico da UJES

Trabalho em grupo de Psicologia

Turma: 301
Nível Académico: 3º Ano
Período: Regular
Grupo Nº 3

Feito por
João Freitas Hulilapi
Índice
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 4
1.1. A Malária em Angola ................................................................................................... 4
1.2. Objectivos ...................................................................................................................... 5
2. DESENVOLVIMENTO ....................................................................................................... 6
2.1. Ciclo De Vida Do Parasita............................................................................................ 6
2.2. Patogénese Malária Na Gravidez ................................................................................ 6
2.3. Manifestações Clínicas ................................................................................................. 7
2.4. Complicações ................................................................................................................. 8
2.5. Diagnóstico .................................................................................................................... 8
2.6. Componentes para o Controlo da Malária na Gravidez ........................................... 8
2.7. Tratamento .................................................................................................................... 9
2.7.1.Tratamento farmacológico ................................................................................. 10
2.8. Profilaxia...................................................................................................................... 10
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 11
4. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................ 12
INTRODUÇÃO
A malária é considerada uma das principais causas de morbilidade e de mortalidade em
Angola, afectando mais as crianças menores de 5 anos e as mulheres grávidas que têm
duas ou três vezes maior risco de contrair malária grave do que as não grávidas.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 3.2 biliões de pessoas (quase metade
da população mundial) está em risco de adquirir malária. O maior número de casos de
infeções de malária, cerca de 89% em 2015, ocorre na região da África subsaariana. Em
zonas não endémicas, como a Europa, os casos que ocorrem são geralmente importados
(imigrantes, viajantes em lazer, visitas a familiares e amigos). Mais de 80 milhões de
pessoas visitam anualmente zonas endémicas de malária.
Todos os anos, 50 milhões de mulheres que vivem em zonas endémicas de malária
engravidam. Estima-se que 10 mil mulheres e 200 mil crianças morram como resultado
da doença durante a gravidez.
Numa era em que se verifica cada vez mais um aumento global de migrantes entre os
vários continentes, é de extrema importância que os clínicos de toda a Europa estejam
aptos para lidar com esta doença.
A Malária em Angola
A caracterização epidemiológica da malária em Angola indica tratar-se de uma doença
infecciosa de transmissão perene com picos sazonais e com diferentes níveis de
endemicidade, que variam de acordo com as regiões. As províncias do sul do país (Huila,
Cunene, Cuando Cubango e Namibe), devido às suas características geomorfológicas e
climáticas são consideradas de risco epidémico, assim como a província de Luanda
(devido a elevada densidade demográfica periurbana e deficiente saneamento básico do
meio). As províncias do Norte são consideradas hiperendêmicas e as do Centro são
chamadas de mesoendêmicas estáveis.
Objectivos
O objectivo geral deste trabalho é reforçar o conhecimento dos profissionais e técnicos
de saúde, no sentido de contribuir para a redução da morbilidade e mortalidade em
mulheres grávidas.
Além disso, o trabalho foi concebido para:
 Oferecer aos profissionais e técnicos das unidades sanitárias conhecimentos
actualizados para a prevenção, diagnóstico e tratamento da malária na grávida.
 Reduzir os casos e mortes por malária na grávida através de informações sobre a
prevenção e controlo da malária utilizando mensagens adequadas às suas
necessidades e preocupações.
 Reduzir o impacto sócio-económico da malária na grávida, sua família e na
comunidade.
 Reduzir as consequências da malária na mãe, no feto e no recém-nascido.
 Envolver o companheiro, família e comunidade na adopção de práticas de saúde
positivas.
DESENVOLVIMENTO

A malária é uma doença infeciosa causada por um parasita e transmitida pela picada do
mosquito Anopheles. Os parasitas da malária pertencem ao género Plasmodium; no
humano a malária pode ser causada por 4 espécies de Plasmodium: P. falciparum, P.vivax,
P. ovale e P. malariae.
O plasmodium falciparum e o plasmodium vivax são os principais agentes responsáveis
pela malária no humano. O plasmodium falciparum é o principal responsável pela
mortalidade e morbilidade globais associadas à malária. O P. vivax é o segundo agente
mais importante de malária no humano, sendo responsável por 9% dos casos de malária
no mundo e é a espécie predominante fora de África, como na Ásia, América e Oceania.
O P. vivax está associado a parasitémias mais baixas e menor mortalidade mas está
associado a maior recorrência da infeção. Isto é corroborado pelo facto do P.vivax formar
hipnozoitos, uma forma “adormecida” do parasita no fígado que pode causar reinfeções,
semanas a anos após a infeção primária.
O Plasmodium falciparum possui a característica única de promover o sequestro dos
eritrócitos infetados no espaço intervilositário da placenta malária placentária, estando
assim associado a complicações mais severas para a mãe e para o feto aquando da infeção
na grávida.
Ciclo De Vida Do Parasita
A transmissão do parasita da malária para o ser humano faz-se através da picada por uma
fêmea do mosquito Anopheles infetada. A picada do mosquito transfere a forma infeciosa
do Plasmodium, o esporozoíto, das suas glândulas salivares para os vasos sanguíneos do
humano, causando parasitémia. Os esporozoítos percorrem os vasos sanguíneos até
atingirem e penetrarem nas células hepáticas (em cerca de 30 minutos). No fígado,
maturam e reproduzem-se libertando merozoítos. Os merozoítos posteriormente invadem
os eritrócitos onde se multiplicam e desenvolvem a sua forma reprodutiva, os
gametócitos. Esta libertação periódica de merozoítos origina as flutuações de febre
características da malária.
Patogénese Malária Na Gravidez
A malária na gravidez caracteriza-se pela sequestração do plasmodium na placenta
(através dos eritrócitos infetados). Estes eritrócitos infetados expressam uma variante do
antigénio de superfície.
Este antigénio é específico do género feminino e dependente da gravidez: verificou-se
que o género masculino e as mulheres não grávidas não desenvolvem anticorpos para este
antigénio específico. Pensa-se igualmente que estes antigénios (VSA) sejam apenas
característicos do Plasmodium falciparum. Os parasitas que originam a expressão deste
antigénio na superfície dos eritrócitos levam à adesão dos mesmos ao sinciciotrofoblasto.
A acumulação dos eritrócitos infetados na placenta origina mudanças histológicas da
mesma. Surge inflamação, deposição de fibrina ou células inflamatórias, nomeadamente
leucócitos, induzindo lesões no trofoblasto, das quais resulta um transporte deficiente de
nutrientes e oxigénio entre a mãe e o feto.
Pode haver malária placentária sem manifestações clinicas de doença; e pode igualmente
ocorrer malária placentária na ausência de parasitémia periférica na mãe. Por este motivo,
a anatomia patológica da placenta pode ser um critério de diagnóstico da doença.
Susceptibilidade Da Grávida
A mulher grávida tem uma maior vulnerabilidade para a infeção com malária
comparativamente com a mulher não grávida. Uma das grandes razões para este facto é
a depressão da imunidade que se verifica normalmente durante a gravidez.
Além disso, constatou-se que a mulher grávida tem maior predisposição para ser picada
pelo mosquito. Pensa-se que tal se deve ao facto de durante a gravidez a temperatura
corporal estar aumentada e ao facto de se assistir a um aumento da expiração de dióxido
de carbono; dois fatores que parecem contribuir para uma maior atração do mosquito pela
mulher grávida.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que cada grávida deve comparecer
pelo menos a quatro Consultas pré-natais
Manifestações Clínicas
A malária na gravidez poderá ter consequências para a grávida e/ou para o feto. A
gravidade da apresentação clínica da doença dependerá da endemicidade da região onde
a grávida habita.
Se estamos perante uma grávida de uma região endémica de malária, a infeção é
habitualmente assintomática ou de baixa gravidade; isto porque as mulheres adultas
destas regiões geralmente têm uma imunidade parcial ao Plasmodium falciparum,
adquirida durante os primeiros 10-15 anos de vida pelo contacto prévio com o parasita.
Se estamos perante uma grávida proveniente de uma região não endémica de malária,
portanto, em princípio, sem um nível significativo de imunidade, estas mulheres
habitualmente têm infeções mais graves, com sintomas mais severos e consequências
mais nefastas para o feto.
As manifestações clinicas da malária na grávida são inespecíficas e variáveis. O início
dos sintomas é agudo, 7 a 30 dias após a picada do mosquito, e são sintomas semelhantes
a uma vulgar “gripe”. De uma forma geral, ocorrem: febre (que pode ou não ser flutuante),
arrepios, mialgias, cefaleias, náuseas, dor abdominal, diarreia e vómitos.
A malária severa geralmente apresentase com um ou mais dos seguintes: coma (malária
cerebral), acidose metabólica, hipoglicémia, anemia severa, edema pulmonar agudo ou
lesão real aguda. Nas grávidas com malária grave a mortalidade chega aos 50%.
Complicações
A infeção pelo plasmodium durante a gravidez não só traz consequências para a grávida
como também para o feto e recém-nascido. As complicações que se podem verificar no
feto são: aborto, restrição do crescimento fetal e/ou infeção congénita. O recém-nascido
fruto de uma gravidez com infeção por plasmodium falciparum, geralmente é prematuro
( <37 semanas) e/ou com baixo peso ao nascer ( <2500 kg). São crianças que apresentam
maior morbilidade e mortalidade.
A elevada incidência de parto pré-termo nas grávidas infetadas pelo plasmodium
falciparum, pode ser mediada por alteração na produção de citoquinas. Pensa-se que se
correlaciona com o aumento de TNF-α - a concentração de TNF-α é tanto maior quanto
maior a quantidade de eritrócitos infetados. A produção de TNF-α está implicada na
patogénese do parto pré-termo e do baixo peso à nascença.
Diagnóstico
O primeiro passo para o diagnóstico de malária na gravidez é a suspeição clínica. Nos
países endémicos a hipótese de malária deve ser considerada em todas as mulheres com
temperaturas ≥ 37.5ºC, sem outra causa aparente.
Nos países com baixa incidência de malária, a hipótese diagnóstica de malária deve ser
considerada em mulheres que possam ter estado expostas, por exemplo, que tenham
viajado, mesmo que por curtos períodos, para regiões endémicas; e que apresentem
história clínica de febre sem outra causa aparente. Em todos os casos suspeitos de malária
deve-se efetuar um teste parasitológico para confirmação do diagnóstico.
O gold standart para confirmação do diagnóstico é a microscopia, na qual podemos ter
acesso à densidade parasitária e à morfologia dos parasitas. Utiliza-se uma gota espessa
de sangue periférico para identificar baixos níveis de parasitas ou uma gota fina de sangue
para identificar parasitémias significativas.
Componentes para o Controlo da Malária na Gravidez
Para o controlo da malária na gravidez, as unidades sanitárias deverão estar preparadas
e equipadas para oferecer à grávida, na consulta pré-natal (CPN), o pacote essencial de
cuidados de saúde destacando-se o seguinte:
 Informação, Educação e Comunicação sobre a Malária (IEC)
 Tratamento Intermitente e Preventivo (TIP)
 Utilização de Mosquiteiros Tratados com Insecticida (MTI)
 Análises de laboratório básicas, incluindo teste de diagnóstico rápido (TDR) e
microscopia óptica (MO) para a pesquisa de plasmódio (PP)
 Tratamento de casos.
Tratamento
Para se iniciar o tratamento de uma grávida com malária, temos de considerar vários
aspetos: a gravidade da infeção tendo em conta o estado clinico da grávida malária não
complicada versus malária severa, o trimestre da gestação, a espécies de plasmodium
responsável pela infeção, o padrão de segurança dos fármacos na grávida com especial
atenção às suas contraindicações, e se a grávida fez quimioprofilaxia. Não se devem
descurar possíveis padrões de resistência aos antimaláricos de algumas regiões.
Se foi efetuada profilaxia com um antimalárico, o tratamento não deverá ser feito com o
mesmo fármaco.
Promoção de Saúde sobre a Malária na Mulher Grávida A gravidez é um acontecimento
de muito valor na vida da mulher, parceiro e familiares. É caracterizada por um período
de mudanças físicas e emocionais; determina o acompanhamento prénatal, que oferece
respostas e apoio aos sentimentos de medo, dúvidas, angústias, fantasias, ou
simplesmente a curiosidade de saber o que acontece com o seu corpo.
No período pré-natal deve-se fazer a preparação física e psicológica da grávida para o
parto institucional. Assim o profissional de saúde deve ter uma postura cordial que
possibilite estabelecer uma boa relação prestador/gestante, fortalecendo nela a confiança
necessária para que a sua gestação, parto e puerpério decorram de forma segura.
A mulher grávida e seu parceiro devem saber que:
 Malária e Paludismo são nomes de uma única doença.
 A malária é transmitida pela picada de mosquitos (Anopheles).
 As grávidas correm maiores riscos de contrair malária do que as outras mulheres
e muitas vezes não apresentam os sintomas da doença, sendo este um dos
fundamentos de se adoptar o TIP.
 Na mulher grávida, se a malária não for tratada pode provocar: Anemia grave,
Aborto, Hemorragia, Nados mortos, Baixo peso à nascença, Morte materna
 Nas mulheres grávidas, a malária pode ser prevenida através do Tratamento
Intermitente Preventivo (TIP) com Sulfadoxina-Pirimetamina (Fansidar).
 A grávida deve tomar os três comprimidos de Fansidar/dose única, com um
intervalo mínimo de trinta dias (4 semanas), sob observação directa do técnico de
saúde (DOT), podendo a grávida estar com o estômago cheio ou vazio. A última
dose de Fansidar pode-se tomar, inclusive, no mesmo dia do parto, sem nenhum
risco para a mãe ou seu bebé.
 Além de tomar o Fansidar, a grávida deve dormir sempre debaixo do mosquiteiro
tratado com inseticida.
 A mulher grávida tem direito de receber gratuitamente, durante a primeira
consulta pré-natal, um mosquiteiro tratado com inseticida.
 A malária sem complicações é facilmente tratada, mas quando existe a demora
em procurar os serviços de saúde, pode evoluir para a malária grave que requer
tratamento especializado e dispendioso.
 Toda a febre durante a gravidez deve merecer uma atenção particular.
Tratamento farmacológico
O medicamento de escolha é o Artesunato EV ou IM ou Arteméter IM ou Quinino EV.
Observação: quando se usa quinino na grávida não se faz dose de carga.
 Estabilizar a paciente (Prevenir, detectar e tratar rapidamente as complicações:
convulsões, hipertermia e hipoglicemia).
 Coordenar a evacuação rápida e precoce, para um nível mais diferenciado ou de
referência.
Observação: Se o tempo esperado entre a referência e o início definitivo do tratamento
for superior a 6 horas, dar um dos seguintes fármacos:
 Artesunato rectal -10mg/kg
 Artesunato i.m. - 2,4 mg/Kg
 Arteméter i.m. - 3,2mg/kg
 Quinino i.m - 20mg/kg (divididos em 10mg/kg em cada coxa).

Profilaxia
A prevenção da malária é um pontochave para a diminuição da infeção periférica e da
placenta, evitando consequências nefastas para a mãe e para o feto. Em primeiro lugar, as
grávidas devem ser desaconselhadas a viajar para zonas endémicas de malária até ao
período pós-parto. Se tal não for possível, devem adotar medidas para evitar a picada do
mosquito e devem efetuar quimioprofilaxia. Tendo em conta que a mulher grávida atrai
duas vezes mais os mosquitos do que a mulher não grávida, as medidas anti mosquito
constituem um importante fator na redução da infeção.
Existem medidas mecânicas e medidas químicas. As espécies do mosquito Anopheles
usualmente alimentam-se à noite e por isso a permanência em espaços exteriores deve ser
evitada desde o anoitecer até ao amanhecer.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A malária é ainda um grave problema de saúde pública em países subdesenvolvidos que
exige maior atenção quanto à sua profilaxia. O diagnóstico precoce é essencial para o
tratamento adequado com maiores chances de cura e assim, evitar a evolução para a
malária complicada que pode levar muitas vezes ao óbito do portador e do feto. A consulta
regular com profissionais de saúde é fundamental para garantir um manejo adequado e
proteger tanto a mãe quanto o feto durante essa condição delicada.
BIBLIOGRAFIA

Discurso de Sua Excelência Senhor Ministro da Saúde Dr. José Vieira Van-Dúnem no Fórum
sobre o reforço do SNS a nível do Município, de 19 à 20 de Agosto de 2010.

Ministério da Saúde, DNSP, Programa Nacional de Saúde Reprodutiva, PNCM. (2014). Normas
técnicas para o controlo da malária na gravidez. Luanda.

PNCM - Ministério da Saúde. (2005 - 2009). Bases da Política Nacional de Tratamento da Malária
em Angola. Luanda.

PNCM - Ministério da Saúde. (2006). Manual de procedimentos e protocolo de tratamento,


prevenção e controlo da malária durante a gravidez. Luanda.

PNCM - Ministério da Saúde. (2014). Directrizes e normas de conduta para o diagnóstico e


tratamento da malária. Luanda.

PNCM – Ministério da Saúde. (2014). Normas de Tratamento da Malária . Luanda.

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