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EDWARD TONELLI

Professor Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).


Professor Titular e Livre-Docente do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina
da UFMG. Orientador do Curso de Pós-Graduação em Medicina -Área de Concentração
em Pediatria da UFMG. Membro Assessor do Serviço de Infectologia Pediátrica do Hospital
das Clínicas da UFMG. Membro do Núcleo Gerencial do Conselho Científico
do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Membro da Academia Mineira de Medicina e do Conselho Acadêmico
da Sociedade Brasileira de Pediatria. Consultor do CNPq

LINCOLN M. S. FREIRE
Presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria. Vice-Presidente da Associação Médica
Brasileira. Professor-Adjunto Mestre e Doutor do Departamento de Pediatria da Faculdade
de Medicina da UFMG. Professor do Curso de Pós-graduação em Medicina Tropical
e Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG. Membro do Comitê Técnico Assessor
do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde. Membro Assessor
do Programa de Erradicação do Sarampo e Controle da Rubéola do Ministério da Saúde.
Membro da Comissão Nacional de Revisão de Casos do Programa Nacional de Erradicação
da Poliomielite do Ministério da Saúde. Médico Pediatra do Hospital Governador
Israel Pinheiro -IPSEMG. Ex-Diretor do Centro Geral de Pediatra -
Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais.

2000

VOLUME I
DoençasInfecciosasna Infdncia e Adolescência-2& edição -2 volumes

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CAPíTULO 85

Malária
José Maria de Souza. Vania Suely Pachiano Calvosa .Ana Maria Revorêdo da Silva Ventura
Ana Yecê das Neves Pinto. Rita do Socorro Uchôa da Silva. Rosana Maria Feio Ubonati

Epidemiologia Gota espessa t'


Agente etiológico Esfregaço
Vetares QBC
Transmissão Parasight@ F
Ciclo evolutivo do plasmódio Inespecífico
Imunidade Quadro hematológico
Fatores naturais de resistência Bioquímica sérica
Imunidade naturalmente adquirida Diagnóstico diferencial
Anticorpos Tratamento
Participação celular Condutas gerais
Outras substâncias solúveis Malária por A vivax ou A ovale
Fisiopatogenia Malária por A falciparum
Mecanismo da febre Casos leves ou moderados
Fatores mais importantes na fisiopatogenia da Casos graves
malária Malária mista (A vivax associado ao A falciparum)
Principais complicações em crianças Malária por A malariae
Quadro clínico Resistência dos plasmódios aos medicamentos
Diagnóstico laboratorial antimaláricos
Específico Referências bibliográficas

EPIDEMIOLOGIA nomegalia e relacionando seu aparecimento


às estaçõesdo ano ou aos locais onde o
o termo malária surgiu na Itália no século pacientevivia.
XVII, onde a morte de pessoascom febre A malária estáamplamentedisseminadano
intermitente ou romana foi atribuída ao mau mundo, ocorrendo de forma natural em cerca
ar (mal'aria)das zonasdos pântanos e brejos. de 100 países,causandotodos os anos doença
Existem vários relatos na história sobre a clínica bem definida, freqüentemente severa,
ocorrência dessasfebres,como, por exemplo, em aproximadamente 100milhõesde pessoas,
referênciasem escritoschinesese hindus, evi- ocasionando 1 milhão de mortes. Estima-se
dênciasarqueológicas,descriçõesem papiros, que 40% da população mundial vivam em
assimcomo inscriçõesnas paredes dos tem- áreasonde a doença estápresente96.Torna~se
plos egípcios.Hipócrates, no séculoV a.C., foi dificil uma estimativa exata de casos,uma vez
o primeiro a descreveras manifestaçõesclíni- que a subnotificaçãoé alta, particularmente
casda malária, inclusive observando a esple- em áreasde eleva_da endemicidade(Fig. 85-1).

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1272 DOENÇAS CAUSADAS POR PARASITAS -PROTOZOÃRIOS

Flg. 85-1. Situação epidemiológica da malária em 1992.

Existe ainda um constanterisco de dissemi- cando baixo risco de contrnir a doença).


nação da malária em áreas onde nunca se Algumas áreas da Amazônia estão isentasde
registrou a transmissão,além da possibilidade casosautóctonese importadosda doença46.
de reativação de focos em áreas ou regiões A migração interna e externa na Região
onde o controle já se encontra estabelecido. Amazônicaapresenta-secomo um dos compo-
A Organização Mundial de Saúde (OMS) nentes de maior importância no processode
consideraa malária como um dos maiorespro- manutenção e disseminaçãoda malária no
blemasde saúdepública em muitos países,par- país,sendoos grandesprojetosagropecuários,
ticularmente naquelesdo Terceiro Mundo96. de colonizaçãoe, principalmente, de minera-
Em 1995, nas Regiõesdas Américas,havia ção instaladosna Hiléia os principais respon-
774 milhões de habitantes, dos quais 248 sáveispor isso. A despeito das açõesperma-
milhões (32%) viviam em zonasonde ascondi- nentes de combate e controle estabelecidas
çõespara transmissãoda doençaeram ideais61. pelos órgãosgovernamentais,a malária conti-
No caso particular do Brasil, a malária nua disseminando-sepela regiã045.
encontra-seconcentradana RegiãoAmazônica, Existemvários fatores que afetamsignifica-
que possui as característicasideais para trans- tivamente a distribuição da doença no tempo,
missãoda doença,produzindo a quasetotalida- no espaçoe na população afetada,entre eles,
de dos casosdo país (98-99%). A malária na aqueles que interferem com a transmissão
Amazônia não se apresentadistribuída unifor- natural, o meio ambientee o impacto sobreos
memente,uma vez que se observamáreascom vetores, característicasbiológicas do homem,
elevada transmissão(IPA. acima de 30, que situação socioeconômicae padrões de com-
indica alto risco de contrair malária) e outras portamento da população.
com baixa transmissão(IPA abaixode 10, indi- As áreasurbanas passarama sofrer grande
risco de reintrodução da malária devido ao
.IPA = Nu de casos novos registi-adosao ano/I.OOO
fenômeno que vem assolandoo país nos últi-
habitantes.
MALÁRIA 1273

mos anos, as invasões.Em 1993, o problema família Pla.smodiidae,gênero Pla.smodium.Os


agravou-seem Belém, que era a única capital plasmódios cal"acterizam-se por apresentar
da At11azônia com IPAde 0,2, gerandocercade dois tipos de reprodução: uma assexuada,
25CJc de casosautóctones.Este quadro piorou denominada esquizogonia, que ocorre no hos-
em 1994,quando registrou-se,na área metro- pedeiro vertebrado, e outra sexuada, chamada
politana(Belém,Ananindeuae Marituba), uma de esporogonia, que se passa no hospedeiro
freqüênciade autoctoniade 42,55%,um recor- invertebrado59.66.
de na história destaárea. Vale salientarque a Existem mais de 100 espécies de plasmó-
participaçãodas criançasnesseprocessoalcan- dios, incluindo 22 parasitas de primatas não-
çou um percentualde aproximadamente50%. humanos, 19 de roedores, morcegos e outros
Em Manaus,outra cidade afetadapelo pro- mamíferos, e em torno de 70 outras espécies
blema das invasões,a situaçãosocioeconômica em aves e répteisl3.
e a falta de saneamento básico constituem São quatro asespéciesreconhecidasde plasmó-
grandes problemas e geram conseqüências dios que inf&tam naturalmente o homem:
gravespara a saúdena área urbana74. Pla.mwdium(Plast1wdium) nlalariae(Laveran, 1881);
As demais regiões brasileiras sofrem Plastnodium(Pk~'11wdium) llivax (Grassi e Feletti,
influência direta da An1azôniaLegal, por meio 1890); Plast,wdium(Laverania)falcijxLrum (Weld1,
do fluxo de casos,tendo os maiores números 1897);e, finalmente, P!tLS»wdium (Plastlwdium)
ovak
sido observados em Goiás, seguindo-se
(Stephens,1922).
Paraná,SãoPaulo e Mato Grossodo Sul, esta- O P. maklriae, responsável pela febre quartã
dos que receberam a maior proporção de (acessosfebris a cada 72 horas), é encontrado
casosoriginários do Norte do país44. na África, Índia, Sudeste da Ásia, Nova Guiné,
Outro aspectoimportante a ser considera- e apresenta focos espalhados na América do
do está ligado à presençacada vez mais fre- Sul. O P.vivax, causador da terçã benigna (aces-
qüente de mulheres desenvolvendodiversas
sos febris a cada 48 horas), é importante nas
funções(lavadeiras,cozinheiras,comerciantes regiões subtropicais, inclusive no Brasil, onde
ou mesmo na exploração de minérios) em
se encontram cerca de 70% dos casos.O P.fal-
áreas de elevada transmissão,aumentando,
ciparum,agente da terçã maligna (acessosfebris
conseqi\entemente,o número de gestantes
a cada 48 horas), causa a forma mais grave da
com malária. As conseqüênciaspara o feto
doença e é mais comum nas regiões tropicais.
e/ou recém-nascidossão de extrema impor-
O P. ovale (acessosfebris a cada 48 horas) é o
tância,porém, no Brasil, pouco estudadas.
menos comum, sendo encontrado somente na
África, Nova Guiné e Filipinas, não existindo
relatos de sua presença no Brasil.
Agente Etiológico
As primeiras referências acerca do agente etioló-
gico da malária foram feitas por Meckel, em Vetares
1847, que observou grânulos de pigmentos no
sallglle e no figado de um paciente que morre- Os mosquitos transmissoresda malária per-
ra da doença, incrementando a partir daí os tencemao filo Artropoda,classelmecta,ordem
estudos sobre o agente etiológico. Coube a DiPtera,família Culicidae,gênero Anopheles.
Laveran, em 1880, a identificação de corpos cla- Para que uma espécie seja considerada
ros nos eritrócitos, para em seguida testemu- transmissorada malária humana, alguns fato-
nhar a fOrtl1ação de gametas machos e fêmeas66. res são necessários:ser suscetívelà infecção
Os plasmódios são parasitas intracelulares pelo plasmódio humano, ser antropofIlico
obrigatórios que infectam e destroem os (preferência por sanguehumano), serendofi-
eritrócitos durante seu ciclo assexuado no hos- lico (preferência por conviver nos interi,ores
pedeiro vertebrad059.66, das casas), ser endofágico (alimentar-se no
Os parasitos da malária estão alocados no intradomicílio), ter longevidadee altadensida-
li\() P1V(Ozoa,
classe Sporowea, ordem Eucoccidiida, de. Hoje, já se têm relatosde que alguns veto-
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res mudaram seus hábitos de endofilia e endo- Também pode ocorrer transmissãoneonatal,
fagia em virtude de os hábitos dos homens por transfusãosangüínea,pelo uso de agulhas
também terem mudado; por exemplo, eles e seringas contaminadas e por acidente de
começaram a trabalhar dentro das florestas e a laboratório.
permanecer no peridomicilio de forma mais
prolongada, além do fato de algumas casas
não serem completamente fechadas. CICLO EVOLUTIVO
Existem aproximadamente 400 espécies de
anofelinos, mas somente cerca de 60 são veto- Dois hospedeiros são necessários para o
res da malária em condições naturais, 30 das desenvolvimento completo do ciclo evolutivo:
quais têm maior importâncial3. Os principais um invertebrado (anofelino) e outro vertebra-
vetores, no Brasil, pertencem a dois subgêne- do (homem)66.
ros: Nyssorhincuse Kerteszia. A malária é transmitida de uma pessoa a
Assume maior importância o A. (N.) darlnl- outra por meio da picada da fêmea do mos-
gi, responsável pelos casosdo interior em uma quito Anopheles,que necessitade sangue como
grande área do território nacional. Seus cria- fonte de proteína para maturação de seus
douros têm como característica águas quentes ovos. No momento da picada o mosquito inje-
e limpas, de baixo fluxo e sombreadas. ta, juntamente com a saliva, as formas infec-
Distribuem-se da região Norte até o norte do tantes para o homem, os esporozoítos, que,
Paraná. O A. (N.) aqU45alis,predominante no após um certo período, desaparecem da circu-
litoral, desde o Amapá até o norte de São lação e vão ao parênquima hepático (hepatóci-
Paulo, prefere como criadouros águas salo- tos), onde iniciam a esquizogonia exoeritroci-
bras. Existem alguns de menor importância, tária, dando origem aos esquizontes teciduais
ditos vetores secundários, como o A. (N.) albi- primários. Estes amadurecem e liberam, nos
tarsis, observado tanto no interior quanto no capilares intra-hepáticos, os merozoítos que,
litoral. conforme a espécie de pJasmódio, são em
O A. (K.) cruzi e o A. (K.) bellatordistribuem- números diferentes (até 40.000 para P.falciPa-
se pelo litoral, dI) sul de São Paulo até o uorte mil/, 15.000 para P. ovale, 10.000 para P. vivax,
do Rio (;rande do Sul. Os anof'elinos do sub- e 2.000 para P. malariae). Após a liberação, os
gênero Kerle.~ziatêm preferência pelas águas merozoítos invadem os eriu'ócitos e, no seu
acumuladas nas f'olhas da bt"omélias,abundan- illterior, transformam-se em trofozoítos
tes na vegetação litorânea dessesestadosl9. jovens; estescrescem, dando origem aos esqui-
zontes hen1áticos que, por divisão nuclear e
posterior segmentação, originam um número
Transmissão variável de merozoítos. Há, então, o rompi-
mento dos eritrócitos infectados, liberando os
A transmissãoda malária baseia-sefundamen- merozoítos, que voltarão a parasitar outros
talmente na existênciade uma fonte de infec- glóbulos vermelhos, repetindo o ciclo. Depois
ção,de anofelinostransmissorese de hospedei- de determinado período, que pode variar de 3
ros humanos suscetíveisno ambienteecológico a 15 dias, alguns merozoítos diferenciam-se
dos vetores.Ainda que existam evidênciasde em gametócitos femininos (macromegatócitos)
que os primatas não-humanos,como os chim- e masculinos (micromegatócitos).
panzés na África e alguns macacos da O P.vivax e o P.ovaleapresentam formas que
Amazônia, possam ser reservatóriossilvestres permanecem quiescentes nos hepatócitos, ditas
da doença2o, o hospedeirohumano com micro- hipnozoítos, e que são as responsáveis pelas
e macromegatócitos se constitui, senão na recaídas que podem ocorrer nestas espécies.
única, pelo menos na principal fonte de infec- Na maláriafalciParum, embora não haja hipno-
ção para os transmissoresda doençahumana. zoítos, podem ocorrer novas crises (as recru-
A forma de transmissãomais importante é a descências) em virtude da persistência de for-
natural, pela picada da fêmea do anofelino. mas eritrocitárias em níveis sangüíneos muito
MALÁRIA 1275

baixos, a ponto de não serem detectáveis à mada imunidade naturalmente adquirida. O


microscopia óptica (parasitemia subpatente). efeit() pr()tet()r desta resposta 11emsempre é
Existe uma variação quanto ao período de ideal podendo, ao contrário, muitas vezescon-
iI1l:llbaç.-lo,no homem, das diferentes espécies tribllir par.l ex.lcerb.lç[lOdo qlla<!r()lisiopato-
de plasmódios humanos; assim, para o P.jéllci- gênico, a exemplo do que ocorre com a malá-
jJarlllll varia entre 8 e 12 dias; para o P.ovale,8 ria grave indllzida pelo P.jalciParllm.
e 10 dias; para o P. vivax, entre 10 e 18 dias, e, Algumas característicasfundamentais da
para o P. malariae,de 20 a 30 dias. respostaimune adquirida devem ser ressalta-
das: (I) suscetibilidade universal existente à
malária-infecção,ou seja,todos os indivíduos,
IMUNIDADE excluindo-seaquelesportadoresde resistência
inata, são suscetíveisà infecção malárica, a
Fatores Naturais de Resistência diferença básic\ residindo nos diferentes
graus de suscetibilidade à malária-doença
A habilidade em se defender contra a infecção (morbidade e/ou mortalidade); (2) a resposta
malárica é determinada não somente por do hospedeiroà malária é específicapara cada
mecanismos imunobiológicos, mas também espéciede plasmódio, e para cada estágiodo
por características inatas do hospedeiro. par.lsita durante seu ciclo no hospedeiro ver-
A resistência inata é geneticamente deter- tebrado; (3) a imunidade naturalmente adqui-
minada e existe sem exposição prévia ao para- rida é de lenta aquisiçãoe tem pouca duração,
sita; por isso, o hospedeiro pode ser completa- persistindo somenteenquanto existir o conta-
mente resistente ou apresentar sensibilidade to entre o hospedeiro e o parasita. Estacarac-
diminuída à gravidade dos sintomas. terística tem por basea análiseda situaçãode
As características geneticamente herdadas imunidade concorrente nas áreasditas endê-
interagem durante todo o curso da infecção, micas,onde a prevalênciade malária decresce
desde esporozoítos e outros estágiosexoeritrocí- à medida que aumentaa idade7.49.80.81.
ticos até as formas sexuadase assexuadaseritro- Assim, em áreas endêmicas, podem-se
óticas, e talvez influenciem os parasitasquanto à agrupar certas peculiaridades do comporta-
intensidade e às características da resposta mento imunitário em crianças,conforme cada
imune. Também é provável que afetem a habili- grupo etário. Da fasepré-natal até os 6 meses
dade do parasita em invadir os eritrócitos ou de idade, a criança apresentaalguma prote-
desenvolver-sedentro dele, após a penetraçã052. ção,proveniente, principalmente, da presença
Os fatores freqüentemente envolvidos na resis- de anticorpos maternos, recebidosatravésda
tência inata aos parasitas da malária são: (1 ) placenta, no caso de mãe semi-imune. Por
ausência do grupo sangüíneo Duify, fenótipo outro lado, o recém-nascidoou lactenteestará
encontrado em pessoasnegras (que são Duify- sob perigo de severo ataque da doença caso
negativas),cuja característicaprincipal é a refrata- seja filho de mãe não~imune.Nestasituação,a
liedade àsinfecçõespor P.vivax5°.51.77; (2) presen- criança poderá apresentar alguma proteção
ça de glicoforinas, consideradascomo receptores advinda da presença de hemoglobina fe-
eliu'ocitários para P. jalciparum50;(3) variações taI8U.85. A partir dos 6 mesesaté cerca de 2
hematológicas,como hemoglobina fetal, esferoci- anos,conforme a maioria dos autores,a crian~
tose, talassemia,deficiência de glicose-6-fosfato- ça vai perdendo gradativamenteessasdefesas
desidrogenase(G6PDt.53 e níveis reduzidos de iniciais, e os anticorpos obtidos na vida intra-
fosfato piridoxal e eletrólitos intra-eritrocíticos52, uterina encontram-se em franco declíniol5.
Dos2 aos5 anosa imunidade persisteou desa-
parece,de acordo com a continuidade e a fre-
Imunidade Naturalmente Adquirida qüência da exposição à infecção, e este é o
período de maior perigo para ataquesseveros, .
A infecçãopelo plasmódio leva a intensa res- da doença.Segundodadosda OMS, na Mrlca
posta do sistemaimune do hospedeiro, cha- Tropical (região holoendêmicade malária), 5
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em cada 20 crianças morrem de malária antes Os mecanismos efetores da luta antiparasi-


dos 5 anos de idadeso,s5. tária no organismo do hospedeiro envolvem
Finalmente, ainda considerando-se as áreas anticorpos, células e outras substâncias solú-
endêmicas, nas crianças maiores a imunidade veiS.
assemelha-se àquela manifestada na idade
adulta. As defesas são incrementadas, e redu-
zem-se a severidade dos sintomas e a densida- Anticorpos
de parasitária no sangue periférico. Existe
uma grande proporção de indivíduos assinto- Anticorpos contra a proteína circunsporozoíti-
máticos, portadores de baixos níveis de parasi- ca (CSP),que recobre a supernciedo esporo-
temia. Assim, estabelece-sea chamada imuni- zoíto, têm demonstrado açãoprotetora. Estão
dade "antitóxica" ou imunidade "antidoença", presentesno soro de animais protegidos por
que protege contra a doença, mas não contra vacinaçãocom esporozoítosirradia,dose tam-
a infecção7.S5. bém em indivíduos de áreas hiperendêmi-
Ressalte-se que as situações apresentadas, cas47.58.86.Essesanticorpos podem inibir a
em sua maioria, resultam de estudos feitos em motilidade do parasita,facilitar suaeliminação
crianças africanas, podendo eventualmente por fagocitose,bloquear a invasãodo hepató-
não representar a realidade da doença no cito ou, ainda, dificultar o desenvolvimentodo
Brasil, cujos aspectos geográficos, epidemioló- esporozoítodentro da célula hepática57.
gicos, demo gráficos e socioeconômicos são Conforme observadoanteriormente, a imu-
completamente diferentes. nidade à malária é dissociadaem dois meca-
A resposta imune à malária é complexa e nismos distintos, existindo um mecanismo
estágio-específica, já tendo sido demonstrada, capazde diminuir a gravidade das manifesta-
somente nas formas eritrocitárias, a existência ções clínicas (iftlunidade contra a doença) e
de 100 diferentes componentes antigênicos de outro dirigido contra o plasmódio (imunidade
P. falciParum, daí a necessidade de conheci- antiparasitária). A respostaimune contra as
mento do ciclo biológico do parasita no hospe- formas assexuadassangüíneasdo P.falciParum
deiro humano81. tem sido sugerida por diversos trabalhos2.6,e
O início da infecção é marcado pela entra- desempenhapapel fundamental no indivíduo:'Sem
da do esporozoíto na circulação sangüínea. Os controlando a parasitemia e a
esporozoítos que conseguem escapar da ação intensidadedos sintomas,impedindo o estabe-
dos macrófagos alcançam o parênquima hepá- lecimento da malária-doença.
tico, onde se desenvolvem por meio de múlti- O envolvimentode anticorposcontra asfor-
plas divisões, chamadas de esquizogonias. mas eritrocitárias foi estabelecidoa partir de
Com a invasão da hemácia, inicia-se o estágio experimentos de imunidade passiva,demons-
eritrocítico do ciclo parasitário, onde o plas- trando que anticorpos protetores são capazes
módio se desenvolve seqüencialmente em for- de inibir o crescimentodo plasmódio tanto in
ma de trofozoítos jovens e maduros, pré- vitro quanto in ViVo81.
esquizontes e esquizontes, cada qual expres- Anticorpos contra as moléculasde aderên-
sando sua antigenicidade específicaI. Frente a cia e contra os antígenosassociadosaosknobs
esta diversidade de composições antigênicas, o (protrusões)inibem o seqüestrode eritrócitos
hospedeiro vertebrado é obrigado a utilizar parasitadosna microcirculação,bloqueando a
inúmeras estratégias de defesa, até hoje não sualigaçãoao endotélio vasculare impedindo,
muito bem entendidas. Estas estratégias são assim,o fenômeno de citoaderência, um dos
desenvolvidas contra os esporozoítos (estágio principais efeitos fisiopatogênicosda malária
infectante), impedindo o estabelecimento da por P. falciParum,demonstrando um papel
infecção; contra os estágios eritrocitários asse- protetor contra as formas graves da doen-
xuados, impedindo o desenvolvimento da ça7!).HI.
doença, e ainda contra os estágios sexuados do Além da ação contra as hemáciasparasita-
parasita57. das,os anticorposainda podem agir sinergica-
MALARIA 1277

mente com o sistemacomplemento ou com Outras Substâncias Solúveis


célulasefetorasde vários tipos, auxiliando suas
funçõesfagocitárias56, Várias moléculas já citadas podem apresentar
No papel auxiliar da fagocitose,os anticor- efeito antiplasmódio, como o interferon 'Y(suge-
pos que apresentamfunção efetora mais des- re um efeito direto sobre as formas hepáticas do
tacadasãoos anticorposcitofilicos,subclasses 1 parasita) e radicais de oxigênio e nitrogênio.
e 3 de imunoglobulina G, assimchamadospor Outras citocinas, como a interleucina-l, a inter-
possuírem alta afinidade para os leucócitos leucina-6 e o FNT -a, também inibem o cresci-
humanos. O verdadeiro papel dessassubclas- mento de formas exoeritrocitárias do parasita39.
sesna imunidade à malária não estátotalmen- O FNT -a pode concorrer para destruição
te elucidado. No entanto, acredita-seem uma do plasmódio, tanto por meio do incremento
função protetora potencial dessesanticorpos, da fagocitose, como pela indução de liberação
tanto em modelos animais31,como em huma- de outros mediadores solúveis. Alguns estudos
nos infectadospelo P.falciParum,com evidên- sugerem um efeito modulador para esta cito-
ciasde predominância dessesisotiposem indi- cina na malária, podendo sua ação ser benéfi-
víduos imunes11.24.32, ca ou maléfica para o hospedeiro38.55.

FISIOPATOGENIA
Participação Celular
Mecanismo da Febre
A imunidade celular em malária humana tem
sido muito estudada e também considerada Golgi, há mais de 100 anos, observou que a
fundamental. Os linfócitos T auxiliarespartici- febre na malária estavaintimamente ligada ao
pam como ajudantesna produção de anticor- ciclo de crescimentoassexuadodo parasitanas
pose indiretamente, na faseefetora da respos- hemácias.Atualmente, evidências confirmam
ta imune, aumentando os níveis de citocinas, o que disseGolgi pois, durante a ruptura do
como o interferon y e fator de necrosetumo- esquizontehemático,a liberaçãodo pigmento
ral (FNT) que, por sua vez, aumentaa função malárico e de outros antígenos. em especial
fagocitária dos macrófagos. Os linfócitos T uma toxina de estrutura glicolipídica, estimu-
citotóxicos desempenham importante papel la os monócitose macrófagosa liberarem pir6-
contra os estágioshepáticosdo parasita, pro- genos endógenos, que compreendem várias
vavelmente exercendo função efetora lítica citocinas. como a interleucina-l (IL-l) e o
direta sobre o hepatócito infectado com o fator de necrosetumoral (FNT), que é o mais
esporozoíto, ou indiretamente, por meio da importante. Essascitocinas atuam no centro
secreçãode interferon y e ativaçãode macró- termorregulador do hipotálamo, estimulando
a síntesede prostaglandinaE2' iniciando a res-
fagos69.82.83.
Outras células não-específicasparticipam postafisiológicada febre (calafrio,vasoconstri-
da defesa contra o plasmódio, tais como ção periférica e aumento da taxa metabólica).
monócitos/macrófagose neutrófilos, e têm A produção do FNT estimuladapela toxina
sido consideradascomo um dos fatores mais rnaláricapareceser importantena regulaçãodo
importantes,possivelmentepor meio da fago- crescimentodo parasita.Estacitocinae a febre
citosedaquelasformas livres do parasitaou de contribuem para a defesado hospedeiro.pois
ambasconcorremparaa morte do parasita,limi-
eritrócitos infectados,auxiliado pela presença
de anticorpos e outras substânciastóxicas ao tando,destemodo, a densidadeparasitária39.
parasita,ou por meio de citotoxicidadedepen-
dente de anticorpos57. Fatores mais Importantes na
As célulascitotóxicasnaturais (NK) podem Fisiopatogenia da Malária
exercer ação citotóxica, tanto para as formas
livres do parasita, quanto para os eritrócitos A fisiopatogeniada maláriadepende,principal-
infectados78. mente, da interaçãode três fatores:da espécie
1278 DOENÇAS CAUSADAS POR PARASITAS -PROTOZoARIOS

do parasitaenvolvido, da intensidadeda para- trócito infectado é recoberta por protrusões


sitemiae do estadoimunitário do hospedeiro. chamadas knobs,as quais aderem às células do
O P. falciparum é menos adaptado ao endotélio vascular por meio de moléculas nas
homem do que as outras espécies,e as infec- células endoteliais do hospedeiro que servem
ções por este plasm6dio costumam ser mais de ligantes, chamadas de CD36, CD54, molé-
graves.Isto otorre por ser ele a única espécie cula de adesão intercelular 1 (interceUularadhe-
que parasitao homem com a propriedade de sion molecule1 -lCAM-l), trombospondina,
infectar qualquer hemácia,citoaderir ao endo- molécula de adesão endotelial 1 (endothelial
télio celular da microcirculaçãoe formar rose- adhesionmolecule1 -ElAM -1) e molécula de
tas79. adesão vascular 1 (vascularadhesionmolecule1 -
As infecçõespor P.vivax,P.ovalee P.malariae VCAM-l). Os eritrócitos infectados podem
apresentamuma parasitemialimitada, porque aderir-se a eritrócitos não-infectados, levando
os dois primeiros infectam, preferencialmente, à formação de rosetas10.87.
hemáciasjovens e o último, hemáciasvelhas. A aderência dos eritrócitos infectados às
Nestasespécies,a fisiopatogeniadeve-sebasi- células do endotélio vascular leva à seqüestra-
camente à destruição das hemácias,causada ção do eritrócito nas arteríolas e vênulas com
pela multiplicação dos parasitas,e às modifica- comprometimento do fluxo arterial, sendo
çõesno sistemaimunol6gico, pela capacidade agravado pela formação das rosetas, que con-
que o parasita possui de subverter a resposta tribuem para maior obstrução vascular. Este
imune, levando à imunodepressã05.69. O P. fenômeno de seqüestração das hemácias tem
malariae,em especial,pode estimular a produ- papel ctucial na obstrução da microvasculatu-
ção de imunocomplexos, onde os principais ra na infecção por P. falciParum, levando a um
componentessãocomplexosantígeno-anticor- quadro de malária grave e complicada, devido
po-complemento, que se depositam nos glo- a alterações cerebrais (malária cerebral), pul-
mérulos, ocasionandoglomerulonefrite, mais monares e renais que podem culminar com o
freqüentemente em crianças.A doença tende óbito do paciente10.87.
a ter um curso crônico e, na maioria dos
pacientes, não responde ao tratamento com
drogas antimaláricas e drogas imunossupres-
soras. Esta síndrome manifesta-setrês a seis Citocinas
meses após a transmissão da malária em
pacientesnão-tratadosou não-curadose pare- Vários estudos têm demonstrado a existência
ce ser devida à estimulação antigênica conti- de uma correlaçãopositiva entre a gravidade
nuada com baixasparasitemias35. da malária por P.falciparume níveis de citoci-
A fisiopatogeniada malária por P.falciParum nas, em especialo fator de necrosetumoral-
deve-seprincipalmente a citoaderência, ação (FNT-a) e interleucina-l (IL-l a e ~)38.79.
de citocinase hiperparasitemia. Observou-seque monócitos/macrófagos são
estimuladosa produzir essascitocinasquando
ocorre a ruptura do esquizonte,liberando o
pigmento malárico e a toxina malárica, suge-
Citoaderência rindo seremestesos fatores estimuladoresna
produção dessascitocinas38.65.
As hemácias infectadas pelo P.falciParum têm a O FNT-a e a IL-l apresentamefeito sinér-
propriedade de aderir às células do endotélio gico, pois promovem respostano hospedeiro,
vascular da microcirculação. Esta citoaderên- incluindo febre, que pode suprimir o cresci-
cia é estimulada principalmente pelo contato mento do parasita, bem como induzem res-
da célula do endotélio vascular com o eritróci- posta inflamatória e metabólica, sendo que,
to infectado, em particular quando este conta- em quantidade excessiva,a resposta infla-
to começa no estágio em anel (trofozoíto) e matória pode levar a dano celular.Além disso,
continua com o desenvolvimento do parasita estimulama adesãodo eritrócito parasitadoàs
até a fase de esquizonte84. A superflcie do eri- células do endotélio vascular, agravando a
MALARIA 1279

seqüestraçãodestese contribuindo, também, ria, como a interleucina-2 (IL-2),-interleucina-


para a obstrução vascular.O FNT-a e a IL-l 6 (IL-6) e interferon 159.71.
O FNT-a e as IL-l,
estimulam neutrófilos e macrófagoscom sub- IL-2 e IL-6 estimulama produção de glicocor-
seqüenteliberaçãode radicaislivres de oxigê- ticóides via hipotálamo-hipófise-adrenal ou
nio e óxido nítrico, ocasionandolesão celu- por ação direta nas adrenais.Os glicocorticói-
larI8.72. des, por suavez, por intermédio de um efeito
O FNT-a pode causarhipoglicemia e esti- de retroalimentação negativa, bloqueiam a
mular a eritrofagocitose,agravando a anemia produção dessas citocinas, inibindo, deste
na malária. Outras açõesdo FNT-a são déficit modo, a respostainflamatória, ou seja, apre-
neurológico focal, afasiae fadiga severa18. sentamum efeito imunomodulador, ocorren-
do, portanto, uma interação entre os sistemas
imune e neuroendócrino36.
Dados preliminares de Libonati et al.41
Hiperparasitemia evidenciaram.-aumentodos níveis de cortisol
em pacientescom malária falciParumleve ou
É consideradahiperparasitemiaa existênciade moderada, com a queda destesníveisacompa-
valoresmaioresdo que 250.000formasassexua- nhando a negativaçãoda parasitemiaassexua-
das/mm3de sangue,em indivíduos semi-imu- da nessespacientes.Além disso,observou-sea
nes,e acimade 100.000formasassexuadas/mm3 associaçãoentre níveisde cortisol e intensida-
de sangue,em indivíduosprimoinfectados27. de dos sintomas, ocorrendo uma diferença
Existe uma correlaçãopositiva entre densi- estatisticamentesignificativa destes níveis no
dade parasitária e risco de morte, isto porque pré-tratamento, quando comparados com o
o comprometimento da microcirculação é oitavo dia de acompanhamento, quando os
mais extenso e os efeitos metabólicos, mais pacientesjá se encontravam assintomáticos.
intensos76.9O. Esteaumento dos níveisséricosde cortisol evi-
Hemácias contendo parasitas apresentam dencia a ativaçãodo sistemaneuroimunendó-
grande consumo de glicose, resultando na crino nessespacientes.Sabe-seque o cortisol,
produção de ácido láctico. A febre e a infecção além de inibir a respostainflamatória por ação
também aumentamestegastoe, como resulta- direta celular e via inibição de citocinas,apre-
do, há grande consumode glicose,que contri- sentaum efeito imunodepressor,ou seja,inibe
bui para a hipoglicemia, e grande produção a imunidade inata, assimcomo a função e dife-
de lactato, em particular no LCR, servindo renciaçãode macrófagos8.Em que nível o efei-
como indicador prognóstico na malária cere- to imunomodulador do cortisol supera seu
bral91.92. efeito imunodepressornestespacientesé algo
A hiperparasitemia também é responsável ainda a serestudado.
em grande parte pela anemia na malária por
P.falciParum.A peroxidação lipídica é outra
complicaçãoda hiperparasitemia que serviria
como um mecanismopatogênico na malária Principais Complicações em Crianças
severae complicada.O ferro livre derivado do
radicalheme do pigmento malãrico pode cata- Malária Cerebral
lisar a peroxidaçãolipídica, e radicaislivres ou
superóxidosliberados por estareação podem É uma complicaçãomuito comum, sendo que
produzir dano tecidual29. o nível do coma,a ocorrência de hipoglicemia,
os altosníveisde lactatono LCR, os altosníveis
de uréia e ascrisesconvulsivassãoindicadores
Outros Mecanismos Fisiopatogênicos de mau prognóstic088.91.
Possíveis A seqüestraçãodos eritrócitos parasitadosé
maior no cerebelo do que no cérebro. Logo,
Estudostêm demonstradoque outras citocinas cefaléiafrontal, náuseas,vômitos, movimento
sãoestimuladasdurante os episódiosde malá- desconjugadodos olhos, tremor intencional e
~280 DOENÇAS CAUSADAS POR PARASITAS -PROTOZOÁRIOS

disartria são mais comuns do que as manifes- papel do baço,onde há aumento da atividade
taçõescerebrais,como confusão,delírio, alte- reticuloendotelial e, portanto, aumento da
rações da personalidade, paresias, hemiple- fagocitosedas hemáciaspelosmacr6fagos64.
gias,afasiae cegueira transitória73. A gravidade dos sintomas e complicações
Segundoestudosrealizadosna Arrica, cerca depende do estadoimunitário do hospedeiro,
de 10%das criançasque sobrevivemà malária havendo uma correlação negativa entre o
cerebral têm seqüelasneurológicasque persis- número de episódiosmaláricose a gravidade
tem durante o período de convalescença.As do quadro clínico60.
principais são: hemiparesia, ataxia cerebelar, Pacientesprimoinfectados geralmente res-
cegueira cortical, hipotonia grave, retardo pondem com hiper-reatividade do sistema
mental, espasticidadegeneralizadae afasia27. imunitário, com liberaçãoexcessivade citoci-
nas e produção de imunocomplexos. Isto,
somado à capacidadede citoaderência do P.
falciParum,leva a ativaçãoe dano endotelial,
Hipoglicemia
culminando com os comprometimentoscere-
Crianças, após jejum prolongado, tornam-se bral, pulmonar e renal, e, por fim, coma malá-
hipoglicêmicas mais rapidamente do que os ria grave e complicada.
adultos; nelas,a necessidadede glicoseé duas
a quatro vezesmaior do que em adultos. Na
malária severa, as crianças diminuem sua
ingesta,o que leva a uma depleçãodo glicogê- QUADRO CLíNICO
nio hepático, contribuindo para hipoglice-
Na malária, o quadro clínico é variável de um
mia92.Ocorre, também, grande consumo de
indivíduo para outro na dependência de vários
glicose pelo parasita na circulação e, além
fatores, entre os quais a espécie do plasmódio e
disso,existe o efeito hipoglicêmico do FNT-a.
o grau de imunidade natural ou adquirida do
A hipoglicemia também pode ser causada
hospedeiro. Em geral, as infecções causadas
por drogas, como, por exemplo, o quinino,
pelo P. vivax, P. ovalee P.malarinesão benignas,
droga antimalárica de largo uso, que apresen-
e são raros os casos letais, diferente do que
ta efeito hiperinsulinêmicoOO.Estudo feito na pode ocorrer com as infecções pelo P.falciPa-
Nigéria mostrou que a hipoglicemia é mais rum que, na vigência de complicações, são res-
comum em crianças abaixo de 3 anos de ponsáveis por elevada mortalidade.
idade88. Após o período de incubação, variável para
cada espécie, podem surgir sintomas prodrô-
micos, como mal-estar, inquietação, sonolên-
Anemia cia, recusa alimentar, cefaléia e náuseas prece-
dendo o paroxismo febril, característico da
A fisiopatogeniada anemiaé complexa e mul- malária.
tifatorial, sendo os principais mecanismosa N o paroxismo febril ou acesso malárico,
destruição e a diminuição da produção de observam-se calafrio, febre e sudorese, os
hemácias. Ocorrem fagocitosee ruptura do quais possuem duração e intensidade variá-
eritrócito infectado devido ao crescimento veis, segundo a espécie do plasmódio causado-
intra-eritrocitário do plasmódio. Hemácias ra da infecção. Calafrios surgem de modo
não-infectadaspodem serfagocitadasdevido à súbito, podendo incomodar o paciente a tal
expressãode antígenos ou por alteraçõesfisi- ponto deste solicitar cobertores para proteger-
co-químicas da membrana. Ocorrem, tam- se. Simultaneamente, manifestações clínicas
bém, hipoplasia medular e deseritropoiese,ou tais como mal-estar, cefaléia, mialgias, artral-
seja,eritropoiese ineficaz64. gias, náuseas, vômitos e diarréia podem estar
O FNT-a contribui para a anemia, estimu- presentes. Entretanto, é no período seguinte,
lando a eritrofagocitosee levando a defeitosde período febril, que tais manifestações costu-
eritropoiese37.Não é de menor importância o mam ser mais intensas e, ao lado da febre (que
MALARIA 1281

em geral persiste por um período de tempo A febre é o sintoma inicial de maior impor-
prolongado), causam grande incômodo aopaciente: tância para o diagnósticoprecoce da doença.
O aparecimento de sudoresemarca Ela pode apresentar-seisolada,constituindo a
o término do acessofebril, e gradualmente o tríade malárica (febre, calafrio e cefaléia) ou
paciente vai sentindo-se melhor e reassume ainda associadaa outros sintomas. Contudo,
suas atividades habituais, até que surjam manifestaçõesinespecíficas,como astenia,ano-
novosataquesda doença.Contudo, nos indiví- rexia, cefaléia,tossee distúrbios gastrointesti-
duos com malária causadapelo P.falciParumé nais (náuseas, vômitos, dor abdominal),
comum que haja um certo grau de debilidade podem ser as primeiras quei.xasda doença.
entre as cl-ises. Em alguns casos,a cl;ança pode até mesmo
A periodicidade dos acessosfebris (48 horas ser assintomática,quando apresenta resposta
para o P.vivax,P.falciparum,P. ovalee 72 horas semi-imuneà infecção.O Quadro 85-1 mostra
para o P.malariae)só estarápresentese houver dados comparativos sobre a prevalência dos
sincronismo na maturação de uma ou mais sintomasinici~is em 237 criançascom malária
geraçõesde parasitas.Na primoinfecção pelo vivax,atendidasem BelémlPará(1994 a 1996),
P. falciParumé comum que a evolução febril e em 391 crianças com malária falciParum,
seja de caráter contínuo nas primeiras sema- atendidasem MarabálPará(1994e 1995).
nas da doença e de caráter intermitente nas Durante a evoluçãoclínica da doença, além
fasesposteriores. Na prática, a periodicidade de febre, calafrio e cefaléia, podem ser obser-
febril nem sempre estápresente,de modo que vados anorexia, astenia, artralgias, mialgias,
o profissional de saúde deve valorizar dados tontura, dispnéia, tosse,dor abdominal, náu-
epidemiológicos e clínicos para suspeitar de seas,vômitos e icterícia. Podem ocorrer con-
malária em indivíduos procedentes de área vulsõesfebris, especialmentena faixa etária de
endêmica da doença, independente do 6 mesesa 5 anos. Em geral, o figado aumenta
padrão febril apresentadopelo paciente. de tamanho, podendo ser palpável no fim da
Os quadros clínicos para todas as espécies primeira semanade doença,enquanto o baço
de plasmódio são superponíveis,excetuando- pode ser palpado na segunda semana da
se os casoscomplicadosde algumas infecções mesma!7.
pelo P.falciParum. Nas criançasmaiores,os sin- Nas crianças com paludismo, a anemia é
tomas de malária são semelhantes àqueles um achadocomum, e sua intensidade depen-
observadosem adultos. Em criançasmenores, de da espéciedo plasmódio envolvida -mais
lactentese pré-escolares,a expressãoclínicada intensa na malária causadapelo P.falciParum-
doençacostuma ser incaracterística,podendo e da presençade outros fatores, como desnu-
inexistir a tríade febre, calafrio e sudorese26. trição e parasitaseintestinal. Na malária causa-

Quadro 85-1. Sintomatologia inicial em crianças com malária vlvax (Belém/Pará -1994 a 1996) e malária 'a/-
clparum (Marabá/Pará -1994 a 1995)

SINTOMAS INICIAIS BELÉM MARABA


(A Vivax) (R Falciparum)
N'" ABSOLUTOS % NOi ABSOLUTOS %

Febre 175 73,9 269 68,8


Febre + calafrio
+ cefaléia 27 11,4 89 22,8
Outros* 23 9,7 15 3,8
Assintomático 1 0,4 5 1,3
Sem registro 11 4,6 13 3,3
Total 237 100,0 391 100,0

.Anorexia, cefaléia, mialgias, dor abdominal e vômitos.


Fonte: Programa de Malária do Instituto Evandro Chagas (Pará).
..1282 DOENÇAS CAUSADAS POR PARASITAS -PROTOZoARIOS

da pelo P. vivax, a palidez pode ser um sinal anemia grave sãoas complicaçõesmais obser-
proeminente no quadro clínico, se houver vadas3o.Há comprometimento do sistema
retardo no diagnóstico. nervoso central com intensidade variável,
A colúria é um outro sinalclínico observado desde quadros convulsivos (muitas vezes de
com muita freqüência no paludismo, gerando dificil distinção com as convulsõesproduzidas
a confusão diagnósticacom hepatite em áreas por outros processosfebris), prostraçãoe alte-
endêmicasde malária, embora as transamina- raçõesdo estado de consciência,até o coma.
ses encontrem-se normais ou apenas ligeira- Há casosem que ascriançasassumemposição
mente aumentadas. de opistótono no leito, induzindo confusão
No Quadro 85-2 encontra-seregistrado o diagnósticacom tétano ou meningite27.
percentual dos principais sinais e sintomas A suspeitadiagnósticade malária cerebral
observados em crianças com malária vivax deve ser levantada em toda criança que apre-
(BelémlPará, 1994e 1995)e com maláriafalci- sente manifestaçõesneurológicas,sendo resi-
parom(Marabá/Pará,1994e 1995). dente em área endêmica de paludismo ou
As recaídasque ocorrem nas infecçõespelo pelo menos com história de permanência
P.vivax e P. ovalepodem ser assintomáticasou recente em áreasmalarígenas.Nestascircuns-
sintomáticas,e o indivíduo apresentaum qua- tâncias,após colheitade sanguepara pesquisa
dro incaracterístico ou típico de malária, de plasmódio,deve-seiniciar terapêuticaanti-
.dependendodo grau de imunidade desenvol- malárica, mesmo antes da confirmação diag-
vido contra a doença e do intervalo de tempo nóstica,pois tal procedimento tem influência
decorrido para o diagnóstico. na morbidade e na mortalidade.
Nas áreasendêmicas,nos grupos de maior Na África, estudos realizados em crianças
risco, gestantes,adultos não-imunes e crian- com malária falciParumcomplicadaevidencia-
ças,não é incomum o achadode complicações ram seqüelas neurológicas temporárias (no
na maláriafalciparom.Entretanto, a sintomato- período de convalescença)ou permanentes
logia da malária grave costuma ser diferente em cercade 10%dos casosI6.27. No Brasil, não
em freqüência e intensidade nos adultos e no há registro de seqüelasem cr1ançasque sobre-
grupo pediátrico27, conforme observa-seno vivem à malária cerebral. Há provavelmente
Quadro 85-3. subnotificaçãono número de casosou segui-
Pesquisadores do Instituto Evandro mento pouco satisfatório destas crianças,
Chagas,estudando 391 crianças com malária sobretudo se considerarmosque os profissio-
falciparom,em Marabá, observaramcomplica- nais de saúde, inclusive os pediatras, muitas
ções, isoladas ou associadas,em 21 delas vezestêm pouco conhecimentodo que a malá-
(5,3%), as quais encontram-se registradas no ria representaem saúdepública.
Quadro 85-4. Nos casosde maláriafalciParum,asparasite-
Na malária falciParomde criançasafricanas, mias elevadassão sinaisde gravidade, princi-
o acometimentocerebral(malária cerebral)e a palmente em indivíduos não-imunes, contri-

Quadro 85-2. Freqüência percentual dos principais sinais e sintomas encontrados em crianças com malá-
ria vivax (Belém/Pará -1994 e 1995) e em crianças com malária fa/ciparum (Marabá/Pará -1994 e 1995)

MALARIA V/VAX MALARIA FALCIPARUM


SINAIS E SINTOMAS N = 237 N = 391

Febre 89,0 95,4


Calafrio 81,0 76,2
Cefaléia 74,2 69,8
Colúria 52,3 63,9
Vômitos 29,1 36,3
Diarréia 12,2 19,5

Fonte: Programa de Malária do Instituto Evandro Chagas (Belém/Pará).


MALA RIA 1283

Quadro 85-3. Diferenças entre a malária grave nos adultos e nas crianças*
SINAIS OU SINTOMAS ADULTOS CRIANÇAS

Tosse Incomum Comum


Convulsões Comum Muito comum
Duração da doença 5-7 dias 1-2 dias
Resolução do coma 2-4 dias 1-2 dias
Seqüelas neurológicas < 5% >10%
Icterícia Comum Incomum
Hipoglicemia pré-tratamento Incomum Comum
Edema agudo de pulmão Comum Raro
Insuficiência renal Comum Rara
Pressão inicial do LC Normal, em geral Variável, muitas vezes alta
Sangramento/alterações de coagu- Até 10% Raro
lação
Anormalidade dos reflexos depen- Rara Muito comum
dentes do tronco cerebral (oculo-
vestibular, oculocervical)

.Baseados em estudos feitos com adultos do Sudeste Asiático e com crianças africanas.
Fonte: Gilles, 1995.

Quadro 85-4. Freqüência percentual das complicações encontradas em um universo de 391 crianças com
malária fa/ciparum (Marabá/Pará -1994 e 1995)

COMPLlCAÇOES ENCONTRADAS EM 21 CRIANÇAS %

Alterações da consciência 1,79


Anemia grave 1,27
Insuficiência renal grave 1,03
Hiperparasitemia 1,03
Prostração 0,76
Coma 0,76
Convulsão 0,51
Outros. 1,79

.Choque, distúrbios hemorrágicos e vômitos incoerciveis.


Fonte: Programa de Malária do Instituto Evandro Chagas (Pará).

buindo para agravar a sintomatologia por desde que se faça reposição hidroeletrolítica
açãodeletéria direta do parasitae pela respos- adequada,prevenindo-sedos riscosde edema
ta imune do hospedeiro.Ademais,a presença agudo de pulmão de causaiatrogênica.
de esquizontesno sangueperiférico, tanto de Dispnéia e sinais de insuficiência cardíaca
pacientesprimoinfectadoscomo naquelescon- podem ser a exteriorizaçãoclínica de anemia
sideradossemi-imunes,também constitui um grave na maláriafalciparumcomplicada.
indicativo de formas graves da doença. A hipoglicemia é outra complicaçãomuito
Entretanto, em áreas de alta endemicidade, freqüente na malária grave. É necessárioestar
criançassemi-imunes podem apresentar altas atento para sua ocorrência, pois pode passar
parasitemias,sem necessariamenteapresenta- despercebida,uma vez que seussintomasasse-
rem sintomas. melham-se àqueles decorrentes de compro-
Oligúria e até mesmo anúria podem fazer metimento cerebral: deterioração do nível de
parte do quadro de malária complicada, em consciência, convulsões generalizadas, hipe-
geral como conseqüênciade hipovolemia e/ou rextensão dos membros, choque e coma63.
desidratação,sendo usualmente reversíveis, Crianças,em especialasde baixa idade (meno-
.1284 DOENÇAS CAUSADAS POR PARASITAS -PROTOZoARIOS

res de 3 anos), gestantese pacientestratados alémde pré-esquizontes e esquizontes,semque


com quinino são os grupos mais suscetíveisa isto signifiquesinal de gravidade.Os garnetóci-
estetipo de cómplicação27. tos costumamaparecerprecocemente.
As complicaçõesna malária vívaxsãoraríssi-
mas.Nos baçosde grande volume, pode haver
ruptura, espontânea ou em conseqüênciade
trauma leve97. Esfregaço Sangürneo
Algumas crianças africanas com infecção
pelo P. malariae desenvolvem nefropatia de o diagnóstico parasitalógicoda malária pelo
caráter progressivo, conhecida como síndro- esfregaçosangüíneo tem a grande vantagem
me nefrótica quartã malárica. Estudos de de mostrar a relaçãodo parasitacom a hemá-
Allison e cols.4evidenciaramo papel de imu- cia, permitindo maior detalhamento da mor-
nocomplexos (antígenos do parasita, IgG, fologia dos plasmódios.A desvantagem,sobre-
IgM e complemento) na gêneseda lesãoglo- tudo em baixas parasitemias,é a redução da
merular. Esta síndrome possui alteraçõeshis- sensibilidade em cerca de 10 vezes,quando
tológicas características que possibilitam comparada com a gota espessa.
enquadrá-Iacomo um tipo de nefrosediferen-
te da usualmenteobservadana infância, sendo
poucos os casosque se beneficiam com o uso OBC (Quantitative Buffy Coat)
de corticoesteróidesou imunossupressores34.
o fundamento do método estáligado à afini-
dade do corante alaranjado de acridina pelo
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL material nuclear presente nas células, isto é,
ácido desoxirribonucléico (DNA) e ácido ribo-
Específico nucléico (RNA), formando um complexo que,
quando excitado pela luz ~ltravioleta, apre-
Gota Espessa sentaHuorescênciaintensa. À tonalidade com
que se apresentamascélulasé variável,permi-
É a técnica mais utilizada e continua sendo tindo, assim,um diagnósticoseguro23.
consideradao goldentesepara a confirmaçãodo
diagnósticoespecíficoda endemia, em facede
ser,na prática, 100%específica. ParaSITH@F
Após coletade sangue por meio de punção
digital e sua distribuição adequada em lâmina É um método ainda restrito ao P. falciParum,
de vidro, é realizada a coloração pela técnica capazde produzir a proteína HRP II (proteí-
de Walker, e em seguida é procedida leitura na rica em histidina), que funciona como um
para o estabelecimentodo diagnóstico especí- antígeno capazde formar um complexo com
fico, que deve ser detalhado e incluir a densi- um anticorpo monoclonal, sintetizado em
dade parasitária indispensávelpara a avaliação laboratório e colocado em uma tira de mate-
clínica e o controle de cura40. rial apropriado.
Nas infecçõespor P. falciparum,o microsco-
pista encontrará anéise eventualmentegame-
tócitos com forma típica de meia-lua. É possí- Outros Métodos
vel, ainda, encontrar esquizontes,o que indica
que o paciente merece cuidados especiaise, Podem ainda ser utilizados no diagnóstico
portanto, o médico deve ser informado desse atual ou pregressoda malária, a imunofluo-
achado, indicativo de gravidade. rescênciaindireta, o ELISA e a PCR, porém
Na malária mvax,além de anéissemelhantes carecem de maior importância na rotina,
aos de P. falciparum, podem ser encontrados embora tenham grandes aplicaçõesnos estu-
outros de maior tamanho e forma irregular, dos da doença.
MALARIA 1285

Inespecífico te em pacientesportadores de maláriafalciPa-


rum grave.
o laboratório pode ainda ser útil para a avalia- Na análise diferencial dos leucócitos,costu-
çãodo pacientemalárico,tanto no que diz res- ma-seencontrar com maisfreqüência uma lin-
peito ao conhecimentodos parâmetroshema- focitose. Esta linfocitose relativa pode ser
tológicoscomo no de substânciascontidas no acompanhadade uma monocitoserelativa.
soro e indicadorasdo metabolismodos hidra- Rotineiramente, a malária não leva à eosi-
tos de carbono,proteínase lipídios ou do esta- nofilia; entretanto, em regiões como a
do funcional dos órgãosda economia. Amazônia,é freqüente o aumento do número
de eosinófilos, possivelmente decorrente da
presençade parasitasesintestinais.
Os neutrófilos (mielócitos, metamielócitos,
Quadro Hematológico bastõese segmentados)estão, em geral, den-
tro dos padrões de normalidade. O apareci-
Rotineiramente, os pacientes portadores de
mento de célulasjovens, caracterizandodesvio
malária costumam apresentar um certo grau
para a esquerda, é encontrado apenas nos
de anemia, geralmente do tipo normocítica e
casosde infecçãoconcomitante.
normocrômica, pois não há déficit de hemo-
As plaquetas estão, em geral, diminuídas,
globina, e sim destruiçãodas hemácias.
.-\nemiasseveraspodem ocorrer em porta- sobretudo nos casosde maláriafalciparum,nos
dores de malária por P:fakiparunl, quando o quais é possível encont1-a1- trombocitopenias
número de formas assexuadaschega facil- inferiores a 20.000 plaquetas/mm3de sangue;
mente a 50.000 e mesmo a 100.000/mm3de entretanto, a recuperaçãodestascélulasé tão
rápida após o tratamento que, uma semana
sangue.
As infecçõespor P: vivax têm parasitemias após o início da terapêutica, o número de
usualmenteentre 1.000 e 5.000 formas asse- trombócitos estánormalizado.
xuadas/mm3de sangue,sendo raras parasite-
miasde 20.000a 40.000parasitas/mm3de san-
gue. Noscasosde infecçõespor P:malariae,que Bioquímica Sérica
são muito raras entre nós, as parasitemias,
geralmente,situam-seentre 100 e 500 para- o paciente malárico geralmente não necessita
sitas/mm3de sangue.Portanto, é natural que ser submetido a tantos exames bioquímicos,
as infecções por este dois últimos parasitas pois as alteraçõesnão são tão freqüentes na
produzam graus de anemia menos significati- maioria dos casosde malária, exceçãofeita aos
vos. portadores de maláriafalciParumgrave e com
Com a lisedashemácias,outros parâmetros tendência a complicações.
sãocomprometidos e, deste modo, encontra- Nestescasos,um dos principais parâmetros
remosnão s6 a diminuição do número de eri- a sofrer alteraçõesé a glicemia,que pode apre-
trócitos, sentar-sediminuída. Assimsendo, um pacien-
bina e docomo também
percentual deahematócrito.
da taxa de hemoglo-
. te sonolento ou mesmo comatosopode apre-
Freqüentementeos portadores de malária sentar-sehipoglicêmico e, portanto, a dosa-
apresentamleucopenia; entretanto, não rara- gem da glicemia é mandatória para eventual
mente é possívelencontrar o número de leu- correção.
cócitos dentro dos limites de normalidade. As transaminasesnão sofrem grandes alte-
Eventomaisraro, porém encontrável,é a leu- rações,mesmonos casosde maláriafalciparum
cocitose,que ocorre geralmente quando, pela grave sem complicações. As taxas oscilam
depressãoimunitária que acompanhaa malá- entre 40 e 100 UK ml para TGO e TGp, com
ria, o indivíduo acaba sendo vítima de uma recuperaçãorápida ainda dentro da primeira
infecçãoconcomitante, em geral por micror- semana.
ganismosgram-negativos,e que muitas vezes As bilirrubinas podem sofrer aumento,
evoluipara sepse.Estequadro é maisfreqüen- sobretudo a bilirrubina indireta, decorrente
..1286 DOENÇAS CAUSADAS POR PARASITAS -PROTOZoARIOS

de hemólise. Ocorre aumento acentuado nos trato urinário, septicemias,meningoencefali-


casosgravesde malária falciParum,com pouca tes,febre amarela, calazare dengue.
ou nenhuma álteração nos casosmoderados
de malária falciParum e em quase todos os
casosde malária vivax.
Em geral, a bilirrubinemia normaliza-se TRATAMENTO
dentro da primeira semana,embora a icterícia
instaladaainda permaneça por algum tempo. Para que o tratamento da malária possa ser
Vale lembrar que a icterícia não deve levar a realizado de forma adequada, é fundamental
o conhecimento do ciclo biológico do plasmó-
impressõesdiagnósticaserrôneas, como, por
exemplo, hepatite, pois a perda de tempo em dio no homem, pois há drogas que agem com
fechar o diagnóstico com o exame parasitascó- maior propriedade em determinadas espécies
deste protozoário e ainda com maior especifi-
pico pode custarcaro ao paciente,levando-oa
cidade em certas formas evolutivas do agente
complicaçõesou até mesmo ao Óbito.
causador da doença.
Uréia e creatinina estão, em geral, dentro
A tendência atual é usar multidrogaterapia,
dos limites de normalidade, exceto em casos
assegurando desta forma maior eficácia e
moderadosa gravesde maláriafalciParumcom diminuição dos níveis de resistência dos plas-
insuficiência pré-renal e mesmo insuficiência módios27.93.
renal franca; entretanto, na maioria dos casos As drogas antimaláricas podem ser classifi-
a recuperação é rápida e já está presente ao cadas de acordo com sua ação nos diferentes
final da primeira semanaapós o início do tra- estágios evolutivos do plasmódio no homem.
tamento. Há, portanto, medicamentos que agem elimi-
Nos casoscomplicados, quase sempre de nando as formas hepáticas latentes (hipnozoí-
malária por P.falciParum,os níveisde retenção tos) que podem estar presentes na malária
das escóriasnitrogenadas não devem ser indi- causada por P. vivax ou P. ovale,denominadas
cadores para procedimentos dialíticos apenas hipnozoiticidas ou esquizonticidas teciduais,
quando a creatinina atingir 8 mgidl e, portan- consideradas drogas anti-recidivantes, que
to, a diálise não deve ser retardada. impedem as recaídas.
Outros antimaláricos agem ao nível das for-
mas sangüíneas assexuadas do protozoário,
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL determinando o desaparecimento da sintoma-
tologia, sendo conhecidos como esquizontici-
Para que uma criança com paludismo não das sangüíneos, que podem ter maior ou
tenha seudiagnóstico confundido com outras menor ação, dependendo da espécie do para-
patologias com curso clínico semelhante, é sita em questão e da existência ou não de
necessáriopensar na hipótese diagnóstica de cepas farmacorresistentes do plasmódio.
Além destes, outro grupo de antimaláricos
malária, valorizando sua distribuição geográfi-
que podem ser usados inclui os gametocitoci-
ca nas diversas localidadesda Amazônia, via-
das, os quais eliminam os gametócitos que,
gens para regiões malarígenas, bem como apesar de não determinarem nenhum sinto-
casosda doença fora da área endêmica (malá- ma, infectam o vetor, continuando assim a
ria importada). A doença deve também ser cadeia de transmissão da doença.
lembrada naquelesindivíduos com história de É importante salientar que os gametócitos
transfusão de sangue ou uso de agulhas e de P.vivax, P.malariae e P.ovaleformam-se ime-
seringascontaminadas(malária induzida). diatamente a partir do surgimento das formas
Qualquer processoinfecciosoque tenha a assexuadas, enquanto os de P. falciParum
febre como um dos elementos clínicos para necessitam de aproximadamente duas sema-
nortear o diagnóstico se constitui em diagnós- nas a partir do início da parasitemia para que
tico diferencial com a malária, como, por possam ser detectados na corrente sangüí-
exemplo, hepatite, pneumonia, infecção do nea33. A administração precoce de esquizonti-
MALÁRIA 1287

(idas sangüíneos impedirá, portanto, a forma- rência de convulsõesfebris nas criançassusce-


ção dos gametócitos de P.falciParum. tíveis.
() grupo químico e a ação específica sobre Sendo a cefaléiadecorrente de vasodilata-
as formas evolutivas dos plasmódios das prin- ção,o uso de bolsasde gelo traz um grande alí-
(ipais drogas antimaláricas usadas atualmente vio aospacientes.Ainda poderão seremprega-
110Brasil podem ser observados no Quadro dos analgésicose, quando houver náuseas
'-;5-5e no ciclo esquemático (Fig. 85-2). e/ou vômitos, os antieméticos.O tratamento
() Ministério da Saúde proíbe o uso de algu- de convulsõessegueo padrão convencional.
m.\Sdessasdrogas em crianças,o que sedeve, na Transfusãode concentradode hemácias,ou
m.uOliadas vezes,ao pouco conhecimento acer- mesmo sanguefresco (nos casosde distúrbios
(.l ciospossíveisefeitos colaterais em infantes. hemorrágicoscom choquehipovolêmico), está
Dependendo da espécie do plasmódio cau- indicada apenas nos casosde anemia grave
~ad()rda doença, da ocorrência de resistência (hematócrito abaixo de 20% e hemoglobina
lIa .írca Ollde o«)rreu a transmissão, da gravi- abaixode"5 g/100 ml). Observe-seque a possi-
d.tdc do quadro clínico e da idade da criança, bilidade de transmissão de outros agentes
lI:l drogas primariamente indicadas para cada infecciosos(H IV, vírus das hepatites B e C,
(a~o e, portanto, seu uso poderá variar em Tripanosoma cruzi, citomegalovírus),recomen-
t\ll1ção do conhecimento do profissional de da uma indicação transfusionalcriteriosa.
~altde e da disponibilidade dos medicamentos Quando houver hipoglicemia, pode-se
antimaláricos no local de atendimento. administrar injeção endovenosa"em bolo" de
50 ml de glicosea 50% (1 mVkg nas crianças)
e, a seguir, manter infusão endovenosade gli-
Condutas Gerais cosea 5 ou 10%.
Após reidratação adequada, não havendo
~a febre causadapela malária, métodos fisi- restabelecimentoda função renal nos pacien-
cosocomo o uso de compressasde água tépida tes que evoluíram de oligúria para anúria e
e \'entilação,são mais eficazesna diminuição sendo possívela realizaçãode diálise perito-
u.\ temperaturacorporal do que o uso de anti- neal ou hemodiálise,ainda que com níveis de
térmicos95, No entanto, os antitérmicos pode- uréia e creatinina não exageradamente au-
rão serusadosna tentativa de se e\1tara ocor- mentados,estadevel-áser indicada.

Quadro 85-5. Caracterlsticas qulmicas e ação especifica sobre as formas evolutivas dos plasmódios das
principais drogas antimaláricas usadas atualmente no Brasil

CATEGORIAQUIMICA DROGAS FASE HEPATICA FASE SANGÜ(NEA


ESQUIZONTICIDA
HIPNOZOITICIDA SANGÜiNEO GAMETOCITOCIDA

4-aminoquinoleínas Cloroquina e +++ +++*


amodiaquina
Ouinolinometanóis Quinino - +++ +++*
mefloquina +++ ++*
Lactonas sesquipertênicas Derivados da +++ ++*
artemisinina
Antibióticos Tetraciclina, doxi- +++ (lento)
ciclina e clinda-
micina
8-aminoquinoleína Primaquina +++ + (lento) +++
-sem ação
.Exceto no P. fa/ciparum.
Fonte: Adaptado do Manual de Terapêutica da Malária. FNS-MS, 1996.
1288 DOENÇAS CAUSADAS POR PARASITAS -PROTOZoARIOS

Flg. 85-2. Ciclo evolutivo dos plasmódios humanos e locais de ação dos antimaláricos utilizados rotineiramente.

Há contra-indicaçõesao uso de corticoste- mg): 10 mg/kg no primeiro dia e 7,5 mg/kg


róides89e outros agentes antiedematososno nos segundo e terceiro dias (Quadro 85-6),
coma malárico, assim como de heparina em administradosem doseúnica diária, preferen-
pacientesictéricos27. cialmente com alimentos, para que haja
melhor absorção.
Está contra-indicada a administração con-
Malária por P. vivax ou P. ovale comitante de cimetidina, que reduz significati-
vamente o metabolismo e a excreção, assim
A quase totalidade destes casos é tratável como de outros antiácidos,que interferem na
ambulatorialmente, com o uso concomitante absorçã062.
de duas drogas (cloroquina e primaquina). A toxicidade da cloroquina é mínima, quan-
A cloroquina é o esquizonticida sangüíneo do usadanas doseshabituais,e os efeitoscola-
de escolha,sendoindicada em todasasidades, terais em crianças são pouco freqüentes.
inclusive em recém-nascidos.Possuiaçãorápi- Prurido e sintomas gastrointestinaisocorrem
da e, na maioria dos casos,torna a criança afe- em alguns casos,desaparecendocom a sus-
bril até 48 horas após a administraçãoda pri- pensãoda droga.
meira dose. A via de administração preferen- A primaquina, usada como hipnozoiticida,
cial é a oral, pois o uso da via endovenosade é atualmente recomendada na dose de 0,25
modo rápido pode determinar vasodilatação, mg/kg/dia por sete dias (comprimidos de 5 e
seguidade queda abrupta da pressãoarterial, 15 mg). Nos casosde recaídasdeve-seutilizar
o que pode serfatal95. a mesma dosagemdiária, porém estendendo-
A dose total recomendada é de 25 mgikg, se o tratamento por 14 dias25.Está contra-
dividida em três dias (comprimidos com 150 indicada em criançascom menosde 6 meses25
MALA RIA 1289

Quadro 85-6. Esquemas terapêuticas usados no tratamento de malária por P. vivax e P. ova/e

DROGAS/DIAS 1"DIA 2" E 3" DIAS 4Q AO 7Q DIAS

Cloroquina* 10,0 mg/kg 7,5 mg/kg -


Primaquina 0,25 mg/kg 0,25 mg/kg 0,25 mg/kg

* Ou Amodiaquina.

Quadro 85-7. Esquemas terapêuticas usados em casos leves ou moderados de malária por P. fa/ciparum.

ANTIMALÁRICOS VIA DOSES E DURAÇÃO

Ouinino isolado vo 30 mg/kg/dia/7 ou 10 dias


Ouinino + tetraciclina vo Quinino -30 mg/kg/dia/3 dias
Tetraciclina -25 mg/kg/dia/5 ou 7 dias
Quinina + daxiciclina vo Quinino -30 mg/kg/dia/3 dias
Doxiciclina -3,5 mg/kg/dia/5 dias
Quinino + clindamicina vo Quinino -30 mg/kg/dia/3 dias
Clindamicina -20 mg/kg/dia/5 ou 7 dias
Artesunato oral vo 1,7 mg/kg/dia/6 dias
Mefloquina vo 16,5 mg/kg em dose única

devido à possibilidadede causarhemólise em droga; contudo, trabalho publicado recente-


razão da presença da hemoglobina fetal mente por Gomes e cols.28 mostrou que
(Adamsone Joelsson, 1966 apud MacLeod, pacientes com malária por P. vivax tratados
1988). Esta hemólise poderá ser ainda mais com amodiaquina em dose padrão não apre-
severaem pacientesque apresentemdeficiên- sentaram tal efeito adverso.
cia da enzima glicose-6-fosfato-desidrogenase O controle de cura dos pacientes deverá ser
(G6PD),nos 2uais a droga deverá ser usada feito no 812,302, 6012,9012,12012,15012e 18012
comcuidadoI .Entre nós, Silva75realizou um dias a partir do início da terapêutica específi-
estudo em 242 pacientes com malária e ca, pois a grande maioria das recaídas, em paí-
demonstrou que 7,4% destes apresentavam ses de clima quente como o Brasil, acontece
deficiênciadessaenzima. até o sexto mês após o tratamento12.
Nas doses habitualmente empregadas, a
primaquinapoderá determinar poucosefeitos
colaterais,como náuseas,vômitos, dor abdo- Malária por P. falciparum
minal, desconforto epigástrico e diarréia.
Pacientesmaláricostratados com depressores Os esquizonticidassangüíneosde açãorápida,
da medula ósseapoderão apresentar efeito tais como os quinolinometanóis (quinino e
sinérgicoem decorrênciado uso da primaqui- mefloquina) e os derivados da artemisinina
na,devendo-se,destaforma, evitar tal associa- (artemeter, artesunato oral e endovenoso),e
ção.Nos casosde malária por P.vivax adquiri- aqueles de ação lenta, como os antibióticos
da atravésde transfusãode sangue ou hemo- (tetraciclina, doxiciclina e clindamicina), sãoa
derivados,a administração de primaquina é melhor escolha no tratamento dessescasos.
desnecessária,pois não há ciclo hepático do
parasitae, conseqüentemente,não há forma- Casos Leves ou Moderados (Quadro 85-7)
çãode hipnozoítos.
Em substituiçãoà cloroquina, a amodiaqui- o quinino pode ser empregado isoladamente
na poderá serusadanasmesmasdosagens.Há ou em associaçãocom outras drogas. na dose
relatos de agranulocitose com o uso desta de 30 mg/kg/dia por sete dias (comprimido
1290 DOENÇAS CAUSADAS POR PARASITAS -PROTOZoARIOS

com 500 mg), dividida em duas ou três toma- dias (cápsulascom 150 e 300 mg e frasco-
das diárias, por via oral. ampolascom 150,300 e 600 mg), por via oral
O quinino pode determinar a ocorrênciade ou parenteral. Quando administrada por via
uma síndrome chamadade cinchonismo(boca oral, deve-seevitar a associação
com antiácidos
amarga, zumbidos, tonturas, tremores e visão (diminuem a absorção da clindamicina). Os
turva). Apesar disso, as criançascomumente principais efeitos adversossão diarréia, náu-
toleram melhor do que os adultos o esquema seas,epigastralgia e, mais raramente, colite
terapêutico padrão desta drogal4. Podem pseudomembranosa,mais freqüente em ido-
ocorrer ainda sintomas gastrointestinais e sose em paísesde clima frio, não tendo sido
hipoglicemia, pela ação do quinino como registrada no Brasil em pessoasque fizeram
potente ativador da produção de insulina93. uso destadroga.
A associação do quinino com algunsantibió- Como alternativa nos casosmoderados de
ticos (tetraciclina, doxiciclina ou clindamicina) malária, o artesunato via oral (comprimidos
poderá ser usada com asvantagensde melho- com 50 mg) poderá ser usado,na dosede 1,7
ra da eficáciae diminuição dos efeitosadversos mg/kg/dia, administrada em duas tomadas
do quinino, que é usado em tempo menor por seisdias. Poucosefeitosadversostêm sido
(três dias), em concomitânciacom antibióticos registradoscom esseesquematerapêutico.
por cinco ou sete dias. É importante que os
A mefloquina (comprimidos com 250 mg) é
antibióticos não sejam usados isoladamente,
droga de última escolhana RegiãoAmazônica,
pois sua ação nas formas assexuadasdo P.fal-
ciparumé lenta. pois possui meia-vida de eliminação muito
A tetraciclina (cápsulascom 250 ou 500 mg) longa, podendo propiciar o aparecimentode
deve ser usada na dose de 25 mg/kg/dia, divi- cepasresistentesdo P.falciParum22; entretanto,
dida em três tomadas, por via oral. Evita-seo constitui-seem droga de primeira escolhafora
uso concomitante de antiácidos e drogas à destaárea, pois tem a vantagemde ser admi-
base de ferro, pois há formação de quelatos nistrada em dose única (16,5 mg/kg, via oral).
pouco absorvíveispelo trato gastrointestinal25. Os efeitos colateraismais freqüentessão náu-
A tetraciclina é contra-indicada em menores seas,vômitos, diarréia, dor abdominal, tontu-
de 8 anos, para que sejaevitado o comprome- ras e perda do equihôrio21e, em cerca de 1%
timento de ossose dentes em formação. dos indivíduos, distúrbios neurológicose psi-
Outro antibiótico usado em associaçãocom quiátricos. Poderá ainda ocasionarbradicar-
o quinino é a doxiciclina (drágease comprimi- dia, devendo ser administrada com extrema
dos solúveis com 100 mg), na dose de 3,5 cautela quando usada concomitantemente
mg/kg/dia, dividida em duas tomadas, por via com outras drogas bradicardizantes (p. ex.,
oral durante cinco dias. betabloqueadorese digitálicos). Está contra-
A clindamicina é outra opção para associa- indicada em menoresde 3 anos e em pacien-
ção com o quinino, na dose de 20 mg/kg/dia tes com graves distúrbios renais, hepáticos
(dividida em duas tomadas),por cinco ou sete e/ou cardíacos67.

Quadro 85-8. Esquemas terapêuticos usados nos casos graves de malária por P. fa/ciparum

ANTIMALARICOS VIA DOSES E DURAÇÃO

Artesunato endovenoso. EV 1 mg/kg/dose nas horas O,4, 24 e 48


Artemeter 1M 2,4 mg/kg no 1" dia e 1 ,2 mg/kg do 2"
ao 5" dia
Quinina isolado EV 30 mg/kg/dia/7 ou 10 dias
Quinina + clindamicina EV Quinino -30 mg/kg/dia/3 dias
Clindamicina -20 mg/kg/dia/5 ou 7 dias

* Para maior eficácia, deve ser associado a outros antimaláricos (quinino, tetraciclina, doxiciclina, clindamicina, artesunato via oral, meflo-
quina) nas doses referidas no Quadro 85-7.
MALARIA 1291

Casos Graves (Quadro 85-8) via endovenosa(20 mg/kg/dia em duas toma-


das por cinco ou setedias,diluídos em solução
As drogas de primeira escolha em crianças glicosadaa 5 ou a 10%, gota a gota, para ser
acima de 8 anos de idade são os derivados da administrada em uma hora)27,tendo-seo cui-
artemisinina27, já que o Ministério da Saúde dado de infundir os medicamentosem horá-
ainda contra-indica o uso dessas drogas em rios diferentes.
alanças menores. Finalmente, havendo total impossibilidade
Essesderivados determinam uma regressão de uso dos antimaláricos por via parenteral,
rápida da sintomatologia, assim como o desa- como medida heróica, devem-seusar drogas
parecimento da parasitemia assexuada, o que por via oral, inclusivea cloroquina (senecessá-
ocorre, em média, até 48 horas a partir da pri- rio, usarsondanasogástrica),tentando ganhar
meira dose da droga27. Inicialmente, a via tempo para encaminhar o paciente a outro
parenteral está indicada nos casosgraves mas, serviço que possua o antimalárico indicado
tão logo o doente esteja apto a utilizar a via para o caso.Varea pena ressaltarque estepro-
oral, estadeve ser preferida. cedimentojá salvoumuitas vidas.
Usa-se o artesunato endovenoso, 1 mg/kgi O tratamentode suporte na maláriafakipa-
dose, nas horas zero, quatro, 24 e 48. O arte- rumgraveé de extremaimportância;entretanto,
sunato liofilizado deverá ser obrigatoriamente a hidrataçãodeve ser feitacomextremacautela,
dissolvido com bicarbonato de sódio a 5% (1 devido ao riscode edemaagudo de pulmã027.
ml), que acompanha o produto, sendo esta Os exames laboratoriais, especialmentea
mistura adicionada à solução glicosada a 5% (1 hemoscopia e a glicemia, deverão ser feitos
mVkg até, no máximo, 50 ml) e administrada diariamente. As provas de função renal e
lentamente durante 5 a 10 minutos. Por via hepáticadevem serrealizadasa intervalosade-
intramuscular, em injeção única diária, usa-se
quadosa cadacaso.
o artemeter, 2,4 mg/kg no primeiro dia e 1,2
O controle de cura da malária por P.falcipa-
mg/kgidia do segundo ao quinto dia.
rum deverá ser feito no 8", 15", 22", 29" e 36"
Em decorrência da elevada freqüência de
dias a partir do início do tratamento para
recrudescência com o uso de artesunato endo-
todos os esquemasterapêuticos,exceto para a
venoso isolado, recomenda-se associá.lo a
outros antimaláricos (quinino, tetraciclina, mefloquina, quando deverá ser estendido até
o 64" dia25.
doxiciclina, clindamicina, artesunato via oral)
por mais quatro a cinco dias, com duração
total de sete dias de tratamento. A mefloquina,
em dose única, também pode ser usada. Malária Mista (P. vivax associado ao P.
Os derivados da artemisinina possuemefeitos fa/ciparum)
advel"SQs discretos e pouco freqüentes: naúseas,
vômitos, prurido e, mais raramente, pequenos Considerando-se que a malária por P.falciparum
distúrbios na repolarização ventricular, levando pode evoluir de forma grave, deve-se iniciar
a alteraçõesno eletrocardiograma27. imediatamente seu tratamento com um esqui-
Em casode impossibilidade de uso dos deri- zonticida sangüíneo de ação rápida, que tam-
vados da artemisinina, o quinino por via endo- bém servirá.para eliminação das formas sangüí-
venosaé uma segunda opção. Deve ser admi- neas de P. vivax. Subseqüentemente, deve-se
nistrado gota a gota, dissolvido em 5 a 10 administrar a primaquina nas dosagensempre-
mVkg (máximo de 500 ml) de solução glicosa- gadas na malária por P.vivax, objetivando a des-
da a 5%, ou caso não seja impossível o uso truição das formas latentes hepáticas.
desta, fazer a dissolução em solução salina27.
Na vigência de insuficiência renal, o quinino
deverá ter sua dose ajustada. Malária por P. ma/ariae
Como terceira opção utiliza-se o quinino
(30 mgikg por três dias) diluído em solução Administra-secloroquina ou amodiaquina nas
glicosada a 5% associado à clindamicina por mesmasdosagensusadasno tratamento do P.
,292 DOENÇAS CAUSADAS POR PARASITAS -PROTOZoARIOS

Quadro 85-9. Gradaçóes da resistência das formas sangüíneas assexuadas do P. fa/ciparum

RESPOSTA TERAP~UTICA S(MBOLO EVIDÊNCIA

Sensibilidade s Negativação da parasitemia


assexuada dentro de 7 dias a
partir do 1" dia de tratamento,
sem reaparecimento da
parasitemia assexuada durante
todo o controle de cura.
Resistência tipo I R Negativação da parasitemia
ou recrudescência assexuada como ocorre na
sensibilidade, porém seguida de
reaparecimento da parasitemia
assexuadadurante o controle de cura.
Reslstâncla tipo II RII Redução acentuada (~ 75%) da
parasitemia assexuada, porém
sem negativação.
Resistência tipo 111 R 111 Não apresenta redução acentuada
« 75%) da parasitemia
assexuada, ou até mostra
aumento da mesma.

Fonte: Adeptado do Manual de Terapêutica de Malária, FNS-MS. 1996.

vivax, sendo desnecessáriaa associaçãocom a embora haja registro na literatura médica de


primaquina, pois nestescasosnão há formação uma supostaresistência68. ,
de hipnozoítos9.O controle de cura é seme- Resistênciado P.falciParumà cloroquina, à
lhante ao do P.falciparum,embora não existam amodiaquina,ao quinino e à mefloquina23tem
referênciasde reaparecimentode parasitemia sido registrada no Brasil, em diferentes per-
na malária causadapor esteagente. centuais, daí a importância da realizaçãodo
controle de cura dos doentes.
A resistênciae a sensibilidadedo P.falciPa-
Resistência dos Plasmódios aos rum aos antitnaláricosnão são absolutas,pois
Antimaláricos entre uma e outra há gradações,que vão
desdea negativaçãoda parasitemia,com desa-
Define-se como resistência a capacidade de parecimento da sintomatologia e posterior
sobrevivênciaou multiplicaçãodos plasmódios aparecimento de formas sangüíneas,detectá-
veis por meio dos exames hemoscópicosde
de uma cepa, apesarda administraçãoe absor-
rotina, até uma resistênciatão acentuadaem
ção de uma droga em dosesiguais ou mesmo
que a droga parece não apresentar nenhum
maiores do que aquelasusualmenterecomen- efeito25.
dadase que estejamdentro dos limites de tole- Estagradação,aplicávelem respostaàsdro-
rância do paciente. A resistênciaestáparticu- gas antimaláricas,encontra-seno Quadro 85-
larmente relacionada aos esquizonticidassan- 9. A importância do conhecimento dos
güíneos. padrões de respostasàs drogas e, principal-
Das espéciescausadorasde malária huma- mente, a avaliaçãode cada caso tratado são
na, apenas o P. falciParummostra diferentes fundamentaispara que a vigilância epidemio-
graus de resistênciaaosantimaláricos.Não há lógica sejacapazde definir asáreasem que há
relatos de autores brasileiros a respeito de maior ou menor resistênciaaos antimaláricos
casos de P. vivax resistentes à cloroquina, rotineiramente usados.
MALARIA 1293

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