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INTRODUÇÃO

As chamadas doenças parasitárias afetam hoje em dia uma grande parcela da


população mundial, provocando muitas mortes e exercendo uma grande influência
limitante na qualidade de vida e no desenvolvimento de muitos países. Entre estes, a
malária é uma das mais frequentes.1

Através de seu impacto direto sobre a saúde e seus efeitos indiretos em fatores como
desenvolvimento econômico, migração e conflitos militares, a malária tem sido um sério
problema na história da humanidade desde a antiguidade. Acredita-se que a malária
tenha sido a principal causa de morte entre os primatas precursores do Homo sapiens,
como os Australopithecus.9 Há várias referências na literatura antiga e das civilizações
modernas que relatam febres malignas intermitentes e calafrios consistentes com os
sintomas da malária. Em 2.700 a.C. o Cânon Chinês de medicina, o Nei Ching, já
discutia sintomas da malária e as relações entre febres e melancolias prolongadas. 2 Da
mesma forma, manuscritos do século VI a.C. escavados da biblioteca real de
Assurbanapoli em Nineve (hoje Iraque) mencionam febres mortais semelhantes à
malária que afligiam a população da antiga Mesopotâmia. 2

Atualmente a malária mantém-se um problema de saúde pública de ordem global, com


a Organização Mundial de Saúde (OMS) a estimar 228 milhões de casos em 2018, a
maioria destes (93%) em África. Das 405.000 mortes por malária reportadas nesse ano,
94% ocorreram na região africana, estimando-se que cerca de 85% da carga global de
a doença tenha origem em apenas 18 países da África subsaariana e na Índia. 1

No entanto, apesar do número ainda elevado de casos, tanto a incidência global, como
a sua mortalidade têm vindo a decrescer consistentemente na última década, graças
aos esforços globais no sentido da sua erradicação. Não obstante, a população
pediátrica permanece um dos grupos de maior risco, particularmente em regiões
endémicas, merecendo um enfoque especial. Crianças com idade inferior a 5 anos são
consideradas o grupo mais vulnerável, correspondendo a 67% da mortalidade em 2018
(272.000 crianças, em número absoluto) onde a anemia severa (52%), considera-se
uma das complicações e causa de morte em estas idades. 1,3

1
Em África entre 2019 e 2020, os casos estimados de malária aumentaram de 213
milhões para 228 milhões e as mortes de 534.000 para 602.000 na Região Africana da
OMS. Africa foi responsável por cerca de 95% dos casos e 96% das mortes em todo o
mundo; 80% de todas as mortes nesta região ocorrem entre crianças menores de 5
anos.4

Apesar do progresso obtido pela Organização Mundial de Saúde no combate à malária,


ela é um dos mais sérios problemas de saúde pública. Esta doença afeta de 300 a 500
milhões de pessoas em todo o mundo causando cerca de 2,5 milhões de mortes
anualmente, a maioria entre crianças. Hoje a ameaça é maior em nações na América
Latina, África, e grandes áreas da Ásia Meridional e Oceania,3 o que significa que
aproximadamente 40% da população mundial corre o risco de desenvolver malária. Ela
causa por ano muito mais mortes em valores absolutos que a AIDS. O maior número de
casos ocorre na África, onde crianças de até 5 anos de idade, cujo sistema imunológico
está ainda em formação, são o grupo de maior probabilidade de morte devido à
infecção.1,5

Em Angola, a malária é a primeira causa de morte, seguido dos acidentes de viação e


de acordo com as autoridades, representa cerca de 20% dos internamentos nas
unidades sanitárias e cerca de 35% da demanda de cuidados curativos, afectando todo
o territorio nacional e todas as faixas etárias, sendo ela endémica nas 18 províncias,
com um impacto negativo na saúde das populações, tornando-as mais pobres. 5

Em 2020, a taxa de incidência foi de 37,5%. Cerca de 80% total de casos de paludismo
fueron reportados em 72 municípios (dos 164 totais). Os níveis de endemicidade ou
estratos epidemiológicos da malária foi de 254 casos/1.000hab. a nível nacional. 4

Esta doença continua a ser o principal desafio para a saúde pública e para o
desenvolvimento sustentável em Huambo. Apesar dos esforços empreendidos pelo
governo provincial na luta contra Malária, além do impacto directo na saúde da
população, ainda exerce um peso socioeconómico enorme na população em geral,
perpetuando desta forma o ciclo vicioso de doença/pobreza sobretudo nas
comunidades mais desfavorecidas e vulneráveis.6

2
No Huambo constitue um problema de saúde sendo rgistrados 751 óbitos por malária
durante o primeiro trimestre deste ano na província, onde no mesmo período foram
diagnosticados 203 mil 793 casos representando um aumento significativo em relação
aos anos passados devido às constantes chuvas que se abatem sobre a província e a
concentração de grandes focos de lixos, sendo a população mais afectada as crianças
menores de 5 anos contribuindo para 40% dos casos. 5

As crianças apresentam maior risco de desenvolver a forma grave da doença e é alta a


mortalidade infantil . A aquisição de imunidade no hospedeiro humano é um importante
condicionante do evento clínico da malária, sendo influenciada pelo perfil de
transmissão e pela idade do indivíduo . Uma tradução clara da influência da idade nas
manifestações clínicas da malária é a diferença observada entre adultos e crianças com
malária grave. Diferente dos adultos, as crianças, apresentam complicações como
malária cerebral, anemia, hipoglicemia e convulsões, entre outros. 7

A imunidade natural adquirida não é o único fator associado ao aparecimento de


complicações em crianças, deve-se considerar que o processo saúde-doença neste
caso pressupõe uma visão mais ampla dos fatores biológicos conhecidos, pois a maior
gravidade da doença depende de interações complexas entre sistema imune, carga
genética do hospedeiro, resistência aos antimaláricos, fatores operacionais como o
acesso a diagnóstico e tratamento precoces. Este quadro preocupante do paluismo nas
crianças exige uma resposta acelerada e sustentável a todos os níveis, sob pena de
continuarmos a assistir o aumento de casos e de mortes no país. 3,7

No Huambo não existem, publicações que abordem esta importante questão, apesar
de ser uma doença frequente no serviço pediátrico do nosso hospital o que nos motivou
a realizar este trabalho. Colocando o seguinte problema científico

Problema Científico
Quais são as principais características clínicas que apresentam os pacientes
pediatricos com diagnóstico de malária complicada com anemia internados no Hospital
de Cambiote de setembro a dezembro do 2021.

3
OBJECTIVOS

OBJECTIVO GERAL

Caracterizar clinica e epidemiologicamente a pacientes pediátricos com diagnóstico de


malária complicada com anemia internados no Hospital de Cambiote de setembro a
dezembro do 2021.
OBJECTIVOS ESPECÍFICOS

1. Identificar as características sociodemográficas dos pacientes pediátricos com


diagnóstico de malária complicada com anemia internados no Hospital de Cambiote de
setembro a dezembro do 2021.
2. Descrever as principais características clínicas dos pacientes pediátricos com
diagnóstico de malária complicada com anemia internados no Hospital de Cambiote de
setembro a dezembro do 2021.

4
MARCO TEORICO

MALÁRIA
Malaria ou paludismo é uma doença infeciosa,febril,parasitaria,aguda,ou cronica,
causada por um protozóario unicelular do genero plasmodium. 6
Cerca de 40% da população mundial vive em áreas com transmissão de malária,
distribuídas em 91 países da África, da Ásia, da Oceania e das Américas. Desses, 21
compõem a lista de países próximos de eliminar a malária, incluindo Cabo Verde e sete
países latino-americanos (Belize, Costa Rica, Equador, El Salvador, México, Paraguai e
Suriname). No outro extremo, mais de 80% da carga global da doença concentra-se em
15 países, dos quais 14 são africanos. Entre estes, encontram-se a Nigéria (com 27%
dos casos de malária registrados no mundo), a República Democrática do Congo
(10%), a Índia (6%) e Moçambique (4%). O Brasil, que contribui com 39% dos casos de
malária registrados no continente americano, tem suas principais áreas endêmicas na
Amazônia Legal. Registram-se no país quase 200.000 novos casos a cada ano. 3,4,5
Em Angola, a malária está distribuída por todo o país, sendo endémica nas 18
Províncias. Considera-se que as províncias do Norte são as mais afetadas (Cabinda,
Uíge, Zaire, Cuanza Norte, Cuanza Sul Malanje, Lundas Norte e Sul), devido às suas
características geográficas e climáticas, tornando-se na principal causa de morte por
doença.4

ETIOLOGIA

Seis espécies do gênero Plasmodium causam quase todas as infecções maláricas em


seres humanos, estas são:

1- P. falciparum

2- P. vivax,

3- P. ovale (curtisi e wallikeri),

4- P. malariae,

5- P. knowlesi 3
5
FISIOPATOLOGIA

A infecção humana começa quando um mosquito anofelino fêmea inocula esporozoítos


de plasmódios a partir de suas glândulas salivares durante uma refeição de sangue
(Figura 1). Essas formas microscópicas móveis do parasitada malária são carreadas
rapidamente pela corrente sanguínea ao fígado, onde elas invadem células do
parênquima hepático e começam um período de reprodução assexuada. Por esse
processo de amplificação (conhecido como esquizogônia intra-hepática ou pré-
eritrocítica), um só esporozoíto pode produzir de 10 mil a > 30 mil merozoítos-filho. A
célula hepática infectada tumefeita acaba se rompendo, descarregando merozoítos
móveis na corrente sanguínea. Esses merozoítos, então, invadem os eritrócitos para se
transformar em trofozoítos e se multiplicam 6 a 20 vezes a cada 48 horas (P. knowlesi,
24 horas; P. malariae, 72 horas). Quando os parasitas atingem densidades de
aproximadamente 50/μL de sangue (cerca de 100 milhões de parasitas no sangue de
um adulto), começa a fase sintomática da infecção. 8,9

6
Figura 1 Ciclo de vida do Plasmodium.10

Depois de invadir um eritrócito, o parasita da malária em crescimento consome e


degrada progressivamente proteínas intracelulares, principalmente hemoglobina. O
heme potencialmente tóxico é destoxificado por cristalização mediada por lipídeo a uma
hemozoína biologicamente inerte (pigmento da malária). O parasita também altera a
membrana do eritrócito por modificação de suas propriedades de transporte, expondo
antígenos crípticos de superfície e inserindo novas proteínas derivadas do parasita. 11 O
eritrócito se torna mais irregular na forma, mais antigênico e menos deformável. Em
infecções por P. falciparum, protuberâncias da membrana aparecem na superfície do
eritrócito 12 a 15 horas depois da invasão da célula. Esses “botões” expelem uma
proteína adesiva da membrana eritrocítica (PfEMP1) de alto peso molecular,
antigenicamente variante, específica por cepa, que medeia a fixação a receptores no
endotélio venular e capilar – a citoaderência. Vários receptores vasculares têm sido
identificados, dos quais a molécula de adesão intercelular 1 provavelmente é a mais
importante no cérebro, o sulfato de condroitina B predomina na placenta e CD36 se liga
7
em eritrócitos parasitados na maioria dos outros órgãos. Os eritrócitos infectados
contendo parasitas mais maduros colamse dentro dos capilares e vênulas e, finalmente,
os bloqueiam. Esses eritrócitos infectados também podem aderir a eritrócitos não
infectados (para formar rosetas) e a outros eritrócitos parasitados (aglutinação). Os
processos de citoaderência, formação de rosetas e aglutinação são fundamentais na
patogénese da malária falciparum. Eles resultam no sequestro de eritrócitos infectados
em órgãos vitais (particularmente o cérebro), onde eles interferem no fluxo da
microcirculação e no metabolismo. Os parasitas sequestrados continuam a se
desenvolver fora do alcance do principal mecanismo de defesa do hospedeiro:
processamento e filtração esplênica. Em consequência, somente as formas em anel,
mais jovens, dos parasitas assexuados são vistas circulando no sangue periférico na
malária falciparum, e o nível de parasitemia periférica subestima o número real de
parasitas dentro do corpo. A malária grave também está associada à capacidade de
deformação reduzida dos eritrócitos não infectados, o que compromete sua passagem
através dos capilares e vênulas parcialmente obstruídos e encurta a sua sobrevida. 7,12

QUADRO CLINICO

A apresentação clássica da malária raramente é vista em outros doenças infecciosas e


consiste em paroxismos de febre alternando com períodos de bom estado geral,
excepto algum cansaço. Os paroxismos febris são caracterizados por febre alta,
sudorese e dor de cabeça, bem como como mialgia, dor nas costas, dor abdominal,
náuseas, vómitos, diarreia, palidez e icterícia. Os paroxismos coincidem com a ruptura
dos esquizontes, que ocorre a cada 48 horas com P. vivax e P. ovale, causando picos
febril em dias alternados. Com P. malariae, a ruptura dos esquizontes é ocorre a cada
72 horas, causando paroxismos febris a cada 3 ou 4 dias. A periodicidade é menos
aparente com P. falciparum e em infecções misto, e pode não ser muito aparente no
início da infecção, quando a separação dos esquizontes ainda não foi sincronizada. Os
pacientes com infecção primária, como viajantes de regiões não endêmicas, podem ter
episódios sintomáticos irregulares por 2-3 dias até que os paroxismos começam. 13

8
Em crianças com malária, muitas vezes perdem paroxismos típicos e sintomas
inespecíficos aparecem, incluindo desde febre baixa e dor de cabeça até temperaturas
acima de 40°C com cefaleias, sonolência, anorexia, náuseas, vómitos e diarreia. Entre
os sinais físicos podem ser esplenomegalia (comum), hepatomegalia e palidez da
anemia. Os achados laboratoriais típicos incluem anemia, trombocitopenia e contagem
normal ou baixa de glóbulos brancos, a velocidade de hemossedimentação é
frequentemente elevada.8

FORMAS CLÍNICA DE APRESENTAÇÃO DA MALARIA OU PALUDISMO:

 Malária não Complicada: síndrome febril agudo, não acompanhado de sinais ou


sintomas de doença grave.
 Malária Grave e / ou Complicada: Infecção parasitária multiorgânica de alto risco,
constituindo por isso uma emergência médica.

Desta forma requer uma avaliação clinica cuidadosa e tratamento,urgente,sempre que


possível feito numa unidade de cuidados intensivos. 6,14

COMPLICAÇÕES DA MALÁRIA

Malária cerebral(coma)
Disfunção cerebral
Anemia severa
Hiperparasitemia(maior de 100.000 p/mm3
Hipertermia
Disfunção hepatica
Acidose metabolica
Insuficiencia Renal
Hipoglicemia
A complicação mais grave e comum é a anemia severa, que também é está associada
a outras espécies de malária. As sérias complicações que aparecem apenas na malária
por P. falciparum incluem malária acidente vascular cerebral, insuficiência renal aguda,

9
dificuldade respiratória devido a acidose doença metabólica, malária álgida e diátese
hemorrágica.8,15
Tratamento da Malária
OBJECTIVOS DO TRATAMENTO DA MALÁRIA
 Reduzir a mortalidade
 Prevenir as complicações
 Reduzir a morbilidade
 Eliminar a parasitémia para minimizar a transmissão
 Limitar a emergência e a expansão de resistência medicamentosa 4

Embora a OMS tenha aprovado até ao momento cinco combinações terapêuticas


nomeadamente, em Angola apenas está orientado o uso de três formulações. 1
Em situações de intolerância comprovada aos ACTs usar:
 Quinino oral + Tetraciclina
 Quinino oral + Doxiciclina
 Quinino oral + Clindamicina
Obs: na criança menor de 8 anos não dar Tetraciclina ou Doxiciclina. 4
Tratamento Específico da Malária Complicada
O tratamento da Malária grave recomendado para crianças e adultos incluindo grávidas
em todos os trimestres e mulheres em amamentação é:
 Artesunato EV/ IM (tratamento de eleição).
 Arteméter IM (segunda opção)
 Quinino EV/IM (terceira opção)
Logo que clinicamente o doente fique melhor deve passar-se para a terapêutica oral
com um ACT e completar o tratamento por um período de 3 dias, independentemente
do número de dias que o doente tenha tido a terapêutica com o Artesunato EV,

10
Artemeter ou Quinino. O uso da via parenteral deve ser SEMPRE administrado no
mínimo durante 24h.4,14,16
ANEMIA

Anemia é definida como a redução da concentração de hemoglobina do sangue abaixo


de 13,5 g/dl em homens adultos e 11,5 g/dl em mulheres adultas. Essa diminuição
geralmente é acompanhada por redução da contagem de eritrócitos e do hematócrito,
porém esses valores podem ser normais em alguns pacientes com níveis baixos de
hemoglobina.3

Raramente a anemia é a doença principal, na maioria das vezes é uma alteração


secundária de uma doença de base. Por isso é fundamental além de estabelecer o
diagnóstico da anemia, buscar suas possíveis causas. 5

VALORES NORMAIS DA HEMOGLOBINA

Os valores de referência do hemograma completo geralmente variam de acordo com o


sexo e idade do paciente, no entanto, também é possível observar diferenças nos
valores dependendo do laboratório onde foi feita a colheita. O hemograma é utilizado
para avaliar determinados aspectos sanguíneos como o número de glóbulos vermelhos,
leucócitos e plaquetas, sendo uma boa forma para identificar a presença de infecções,
excesso de ferro ou de anemia, por exemplo. 5
Geralmente há sinal de infecção quando há aumento dos leucócitos e há sinais de
alergia quando há aumento dos eosinófilos, mas é importante que a interpretação do
hemograma seja feita pelo médico que pediu o exame porque ele deve levar em
consideração os sintomas que o indivíduo apresenta. 15
Ainda para a mesma autora, os valores da hemoglobina das crianças podem ser
descritos segundo a tabela abaixo:

  Valores de Valores de Valores de

11
referência do referência do referência da
recém-nascido bebê até 1 ano criança

Eritrócitos 4.0 a 5.6 4.0 a 4.7 4.5 a 4.7


milhões/ µL milhões/ µL milhões/ µL

Hemoglobina  13.5 a 19.6 g/dL 11.0 a 13.0 g/Dl 11.5 a 14.8 g/Dl

Hematócrito 44 a 62% 36 a 44% 37 a 44%

VCM 77.0 a 101.0 fL 77.0 a 95.0 Fl

HCM 28.0 a 33.0 pg 30.0 a 33.0 pg

1.6.3- ANEMIA SEVERA

É uma condição clinica caracterizada pela diminuição da hemoglobina a baixo de


5g/dl.17

1.6.4- Patogênese da anemia na malária

A maioria das manifestações hematológicas da malária está relacionada à invasão de


eritrócitos pelo microorganismo. A capacidade de vários plasmódios de infectar
espécies específicas de mamíferos parece estar relacionada à sua ligação com locais
ou receptores específicos da membrana das hemácias. Das espécies que infectam o

12
homem, o Plasmodium vivax e Plasmodium ovale invadem apenas reticulócitos;
Plasmodium malariae invade células maduras e Plasmodium falciparum invade
eritrócitos de todas as idades.17

O processo de invasão dura apenas 20 segundos. Primeiramente, o merozoíto liga-se à


hemácia em qualquer ponto do microorganismo; depois, ele se reorienta de modo que
atinja o local da ligação na sua extremidade apical, formando-se então uma ligação
entre o parasita e o eritrócito. A hemácia torna-se totalmente deformada,
desenvolvendo-se uma invaginação no local da ligação à medida que o parasita
penetra na célula. A membrana então fecha-se na base da invaginação deixando o
organismo dentro de um vacúolo revestido pela membrana do eritrócito. 18

No interior do eritrócito, na fase intra-eritrocítica, os organismos maláricos dividem-se


assexuadamente para produzir um esquizonte. No processo, eles utilizam 25% a 75%
da hemoglobina da célula, sofrem lise e rompem-se, liberando os merozoítos que vão
invadir outras hemácias.4,18

A excessiva destruição das hemácias é o fator mais importante na patogênese da


anemia. A digestão e ruptura da célula pelo parasito são causas óbvias de hemólise,
além de que a parasitização parece alterar os lipídios da membrana do eritrócito,
levando ao aumento da permeabilidade. O baço desempenha um importante papel na
destruição do eritrócito, tanto pela remoção como pela destruição das células invadidas
e capturando o parasita do eritrócito com conseqüente lesão celular. Mesmo após
completa depuração dos parasitas, a hemólise pode persistir por 4 a 5 semanas. 18,19

As crianças, de modo geral, apresentam maior predisposição em fazer anemia por


malária, pois além da conhecida destruição dos eritrócitos pelo plasmódio, geralmente
apresentam quadros de desnutrição e parasitemia intestinal elevados. Na África, mais
de 1 milhão de crianças morrem todos os anos por malária, sendo a maioria destas
mortes associada ao alto grau de anemia, infecções oportunistas e desnutrição. 1,5,6

1.6.5-QUADRO CLÍNICO DA MALÁRIA COM ANEMIA


13
A anemia Caracteriza-se em quadro clinico de síndrome anémico e geral cujo as
manifestações clinicas incluem:

 Palidez cutâneo-mucosa
 Sintomas gerais tais como: astenia, dispnea, fadiga muscular
 Transtornos cárdio-circulatórios: palpitações, taquicardia, podendo levar a um
quadro de insuficiência cardíaca congestiva, insuficiência coronária.
 Transtornos neurológicos: cefaleia, zumbido no ouvido, debilidade, irritabilidade
parestesias estupor etc.5,17

DIAGNÓSTICO POSITIVO:

O diagnóstico para a anemia é confirmado pela realização dos seguintes exames:

1-Hemograma completo(hemoglobina,hematócrito,leucograma,e conteudo de


plaquetas.

2-velocidade de eritrocedimentação (VSG)

3-conteúdo dos reticulocitos

4-Volume corpuscular Medio

5-Hemoglobina

6-concentração de hemoglobinica corpuscular media

O diagnóstico para a malária é realizado através dos seguintes exames:

Microbiológico: Pesquisa de plasmódio

Serológico: Teste de diagnostica rápido da malária 5, 18

TRATAMENTO:

Criterios para transfusão de sangue para correção da anemia 4

14
O concentrado de hemácias deve ser indicado na dose de 10 a 20 ml/kg peso. Malária
grave em situações especiais na presença de comorbilidade como:

 desnutrição;

 anemia falciforme;

 e cardiopatias;

Para indicação deve ser indicado dose de 10 ml /kg, evitando a sobrecarga hídrica e
consequente risco de complicações congestivas.3,4

15
DISENHO METODOLÓGICO

Se realizou um estudo descritivo restropectivo de corte transversal ,com o objectivo de


caracterizar clinica e epidemiologicamente a pacientes pediátricos com diagnóstico de
malária complicada com anemia internados no Hospital de Cambiote de setembro a
dezembro do 2021. O universo esteve constituído por 124 crianças menores de 14
anos, os quais constituíram a amostra estudada.

CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

Critérios de Inclusão:
Todos os pacientes menores de 14 anos com diagnóstico clinico e laboratorial (P.P e
TDR) de malária complicada com a hemoglobina de ambos os sexos, internados no
Hospital Municipal do Huambo, no período de Outubro a Dezembro de 2021.

Critérios de Exclusão:
-Todos pacientes menores de 14 anos internados com malária com outras
complicações que não seja anemia

OPERACIONALIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS

Variáveis Classificação Escala Descrição


Grupos de Idades Quantitativa Menor de 1 ano Segundo idades em
contínua 1-5 Anos anos cumpridos,
6-10 Anos estabelecendo linhas de
11-14 Anos grupos com intervalos
de frequência de 5 anos
Sexo Qualitativa nominal Masculino Segundo o sexo
dicotómica Feminino biológico
Procedência Qualitativa nominal -Cambiote Segundo o bairro onde
politónica - Sambo mora o paciente
16
-São José
- São Tarciso
-Cuando
-Correia
-Bomba baixa
- Bomba Alta
- Santo Amaro
Tipo de Qualitativa nominal - Urgente Segundo a gravidade
internamento dicotómica - Electivo do paciente ao ingreso
Sintomas e sinais Qualitativa nominal - Febre Segundo o sintomas
ao ingresso politónica - Dor de cabeça referidos pelo pacientes
- Dor abdominal e ou familiares e os
- Náuseas e sinais encontrados pelo
vómitos médico ao ingresso
- Diarreias
- Astenia
-convulsões
- Palidez cutâneo
mucoso
- Taquicardia
- Polipnea
Enfermidades Qualitativa nominal -broncopneumonia Segundo as
associada a politónica -febre tifóide enfermidades
malária com -parasitismo associadas a malária
anemia. intestinal com anemia
-desidratação diagnosticadas pelo
severa médico ao ingresso

Método de Quantitativa - Teste Realiza-se descrição de


diagnóstico nominal dicotómica diagnostica rápido acordo ao recolhiido na
utilizados da malária folha de registro no
17
- Pesquisa de banco de urgencia
Plasmodium
- Ambos
Tipo de anemia - Ligeira Realiza-se descrição de
Qualitativa nominal - Moderada acordo ao os valores da
politónica - Severa hemoglobina
- leve: 11-10g/dl
- moderada: 10- 8 g/dl
- severa: em baixo de
8g/dl
Tratamento da Qualitativa nominal - Ácido fólico Segundo o trtamiento
anemia politónica - Sais de ferro imposto para a anemia
- Hemotransfusão a os pacientes
-acido fólico+sais
de ferro
-acido fólico +
hemotransfusão
-acido fólico+ sais
de ferro+
hemotransfusão
Tratamento com Quanlitativa Artesunato Segundo o tratamento
anti-paludico nominal politomica -Arthemeter anti-paludico
-Quinino
-Artesunato e
arthemeter
Estadia Quantitativo - Menos de 5 dias Segundo o tempo de
contínua -5 a 9 dias internamento
-Mais de 10 dias

Estado de a saída Qualitativa nominal - Melhorado Segundo o estado de


politómica saúde do paciente de
18
- Alta a pedido acordo a alta
- Transferido
-Falecido

Métodos e técnicas de coleta de dados:

Realizou-se uma revisão bibliográfica da dita doença para poder determinar os factores
próprios de cada variável e analizar seu comportamento; avaliando tanto as
características próprias da enfermidade, sua patogenia e complicações mais comuns;
assim como seu comportamento a nível mundial mediante valores estatísticos que
permitiram reafirmar em alguns casos e determinar em outros, os factores a analizar,
tendo em conta, igualmente, as características da área populacional estudada.

Posteriormente para a obtenção da informação, revisaram-se as histórias clínicas,


através das quais obtivemos os dados que permitiram determinar algumas das
variáveis sócio-demográficas e clínicas.

Técnica de processamento e análise da informação. Análise estatística.

Com os dados obtidos criou-se uma base de dados no Microsoft Excel que permitiu
uma rápida e contínua actualização dos mesmos. Calcularam-se as frequências
absolutas e relativas percentuais (estatística descritiva).

Os dados obtidos foram armazenados na base de dados que se confeccionou no


Microsoft Excel 2010 e processados no pacote estatístico SPSS versão 15.0. A análise
dos dados se apresenta em tabelas de dados de associação e gráficos de barra para
sua melhor compreensão. Para a apresentação do informe final utilizou-se o editor de
texto Microsoft Word 2010.

Utilizaram-se as medidas de resumo usadas no nível analítico: frequências absolutas,


frequências relativas percentuais (estatística descritiva). Os resultados compararam-se
19
com a bibliografia revisada e se chegou a conclusões que nos permitiram a elaboração
do informe final.

CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

Esta investigação foi realizada cumprindo com os princípios da ética médica para o qual
a faculdade de medicina humana do Huambo elaborou um documento que nos
permitira ter acesso aos dados dos processos (anexo 1), comprometendo-nos a garantir
a confidencialidade das informações fornecidas.

20
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADO

Na investigação, foram analisadas 124 crianças menores de 14 anos com malária


complicada com anemia; o maior número era do sexo masculino com 64 pacientes para
um 51,7% e o grupo de 6-10 anos predomino com 49 pacientes para um 39,5% (tabela
1), a maioria das crianças incluídas neste trabalho tinha uma idade
superior a 5 anos, o limiar definido pela Organização Mundial de Saúde como tendo o
maior risco para o desenvolvimento de malária grave em países de transmissão
endémica.

Como já referido, este grupo etário de maior risco é definido com base no
desenvolvimento de imunidade parcial à infeção por Plasmodium, que costuma ocorrer
após os 5 anos em crianças sistematicamente expostas ao parasita (sendo ainda
possível o desenvolvimento de doença grave, por não se tratar de imunidade total).
Neste sentido, é possível que esta imunidade se comece a desenvolver
tendencialmente mais tarde, com necessidade de expandir o grupo de risco.
Tabela nº 1- Distribuição dos pacientes segundo grupo de idade e sexo

Grupo de idades Sexo Total

Feminino Masculino

N° % N° % N° %

Menor de 1 ano 12 9.7 16 12.9 28 22.6

1-5 Anos 21 16.9 11 8.9 32 25.8

6-10 Anos 20 16.1 29 23.4 49 39.5

11-14 Anos 7 5.6 8 6.5 15 12.1

Total 60 48.3 64 51.7 124 100

Fonte: Processos dos pacientes internados no hospital do Cambiote.

21
Este resultado difere dos encontrados por Mateus Goncalves (2019), onde observou-se
150 indivíduos dos quais 63,3% (95) foram do sexo feminino. Ainda outro estudo
(Roberto Lecca, Brasilia 2009) teve como idade predominante a de 5 a 14 anos de
forma geral com 27.8%, este dado condiz com os nossos resultados, que difere de
Suzana Nery (Bengo, 2011) que teve como predomínio o grupo etário de 0 a 5 anos
com 18,4%, e do Programa nacional de controlo da malaria (Mocambique, 2007), onde
os grupos mais vulneráveis ou de maior risco, sobretudo porque para eles a doença
torna-se mais grave, são as crianças menores de 5 anos.

Na tabela 2 observa-se que a procedência predominante foi são José canjaia com 41
pacientes para um 23.1%.
Tabela nº 2- Distribuição dos pacientes segundo a procedência

Procedência N° %
São José canjaia 41 23.1
Cambiote 22 17.7
Sambo 13 10.5
São Tarciso 7 5.6
Cuando 8 6.5
Correa 10 8.1
Bomba alta 3 2.4
Bomba baixa 8 6.5
Cruzeiro 7 5.6
Santo amaro 5 4.0
Total 124 100
Fonte: Processos dos pacientes internados no hospital do Cambiote.

A população do Huambo e maioritariamente rural com 53,3% segundo o censo Angola


de 2014, e a prevalência da malária é muito maior nas zonas rurais (14 %) do que nas
zonas urbanas (1%) e também muito maior na região hiperendémica (16%) que em
Luanda (2%). A prevalência é de 15% e 20% nos dois quintiles de riqueza mais baixos,

22
comparado com 5% e 3% nos dois quintiles mais altos , o que coincide com nossa
pesquisa, uma vez que o maior número de pacientes se concentra na zona rural.

Na tabela 3 observar-se que de acordo ao critério de internamento predominante foi de


carácter urgente com 78 pacientes para um 63%.

Tabela nº 3- Distribuição dos Pacientes de Acordo o Critério de internamento

Critério Nº %

Urgente 78 63
Electivo 46 37.0
Total 124 100
Fonte: Processos dos pacientes internados no hospital do Cambiote.

A malária complicada com anemia é motivo de internamento de urgência dos doentes


para lhes poder dar um tratamento de acordo com o seu estado de saúde e que muitas
vezes não deve ser administrado na forma, segundo o protocolo de tratamento
angolano, a estes doentes. ao seu estado de saúde e outros fatores a serem avaliados,
eles devem ser internados em um hospital.

Na tabela 4 pode-se observar que o sinal predominante foi a palidez cutâneo-mucosa


com 120 pacientes para um 96.8%.enquanto que o sintoma predominante foi a febre
com 122 pacientes para um 98.4%.

Estes resultados divergem dos realizados por Claudia Vumbi (2016), que teve como
sintomas predominantes a cefaleia com 77,6% e a febre alta com 67,6%. De igual
modo, David Neves (parasitologia Humana, 2011) obteve como sintomas
predominantes a cefaleia com 42%, astenia com 27,2% e febre com 15,4%. Esta
divergência pode dever-se ao facto desse considerar pacientes tanto de consulta
quanto de rastreio, que em zonas hiperendemicas podem ser assintomáticos.

23
Tabela nº 4- Distribuição Clínica dos Pacientes segundo os sinais e sintomas de
entrada

Motivo de Consulta Nº %

Febre 122 98.4


Cefaleia 31 25.0
Dor Abdominal 36 29.0
Convulsões 12 9.7
Astenia 97 78.2
Diarreia 15 12.1
Nauseas e vomitos 18 14.5
Palidez cutaneo-mucosa 120 96.8
Taquicardia 109 87.9
Polipnea 96 77.4
Fonte: Processos dos pacientes internados no hospital do Cambiote.

Em estudo realizado por Cunha Soares os sintomas reportados pelos doentes à


admissão os mais frecuentes foram febre, vómitos, astenia, palidez cutaneo-
mucosa,cefaleia, diarreia e dor abdominal coincidindo com o nosso estudo, bem como
Robert Kliegman que afirma que em crianças com malaria complicada com anemia os
principais signais e sintomas são a palidez, ictericia, paroxismos de febre alta que
alternam com períodos de bem-estar geral, fatiga, sudoração e cefaleia, assim como
mialgias, dor lombar, dor abdominal, náuseas, vómitos e diarreia.

Na tabela 5 os pacientes são distribuídos de acordo com comorbidades com malária


complicada por anemia predominando os que não apresentaban outra enfermedades
com 100 pacientes para um 80.6%.

24
Tabela nº 5- Distribuição dos Pacientes segundo as enfermidades associada a
malária com anemia.

ENFERMIDADES Nº %
Broncopneumonia 3 2.4
Febre tifoide 4 3.2
Parasitismo Intestinal 5 4.0
Desnutrição aguda severa 12 9.8
Nenhum 100 80.6
Total 124 100
Fonte: Processos dos pacientes internados no hospital do Cambiote.

Em estudo realizado no Brasil, em crianças menores de 12 anos, Silva verificou que as


parasitoses intestinais eram uma das comorbidades mais frequentes em crianças com
malária complicada por anemia, o que não concorda com os resultados obtidos em
nossa pesquisa.

Na tabela 6 pode-se observa que o método de diagnóstico para o diagnóstico que mais
insidio foi o teste de diagnóstico rápido e pesquisa de plasmódio com 70 pacientes
diagnosticados para um 56.5%.

Tabela nº 6- Distribuição dos Métodos diagnósticos utilizados para o diagnóstico


da malária

EXAMES Nº %
T.D.R 32 25.8
P.P 22 17.7
T.D.R & P.P 70 56.5
Total 124 100

Fonte: Processos dos pacientes internados no hospital do Cambiote.

25
A malária pode ser diagnosticada com a identificação de parasitas em exame
microscópico de amostras de sangue em esfregaços espessos ou finos. Identificam-se
as espécies infectantes (que determinam a terapia e o prognóstico) pelos aspectos
característicos nos esfregaços. De facto e sob o ponto de vista epidemiológico, os
casos devem ser passíveis de ser rastreados através de métodos que permitam uma
deteção ativa e frequente (T.D.R & P.P), aportando benefícios aos sistemas de saúde,
através de um tratamento precoce e consequente redução da morbilidade e
mortalidade, visando um utilização racional de medicamentos e reduzindo o progresso
de resistência às drogas antimaláricas.

Microscopia óptica e os testes diagnósticos rápidos são exames complementares, e


devem ser feitos quando disponíveis. Eles têm sensibilidade semelhante. Resultados
negativos nos dois testes não excluem malária de um paciente com baixa parasitemia.

Dos 124 crinças tratados com malária complicada por anemia, 54% desenvolveram a
forma grave de anemia(tabela nº 7) o que reflete a gravidade desses casos e o risco
que essas crianças têm de morrer.

Tabela nº 7- Distribuição dos Pacientes com Malária e o tipo de anemia

Tipo de anemia Nº %
Ligeira 18 14.5
Moderada 38 30.7
Severa 68 54.8
Total 124 100

Fonte: Processos dos pacientes internados no hospital do Cambiote.

Cunha Soares, num estudo que realizou em crianças com malária complicada, obteve
como resultado que entre as principais complicações que tinham estava a anemia, que
em todos os casos era grave, a anemia grave
parece ainda ter uma incidência estável entre zonas com diferentes graus de
transmissão, embora nestas crianças seja presumivelmente multifatorial em muitos
26
casos, pela elevada carga de desnutrição. o que coincide com nossos resultados,
contudo em Angola não existem investigações que aprofundem neste assunto.

Um estudo em Romdonia estabeleceu as relações baixa idade, a possibilidade da


malária ser um fator importante para explicar os baixos índices de hemoglobina, como é
encontrado nas áreas hiperendêmicas . Entretanto, outras possibilidades devem ser
consideradas como os fatores carencial e espoliativo, não avaliados nesse estudo.

Os dados apontam para a importância da anemia nas crianças menores de cinco anos
com malária fcomplicada, sugerem a necessidade da monitorização do nível
hemoglobina com o objetivo de diminuir a morbidade pela doença, além das
orientações já estabelecidas em relação à importância do acesso rápido ao tratamento
adequado na prevenção das formas graves da doença

A Tabela 8 mostra a distribuição dos pacientes de acordo com o tratamento antianêmico


utilizado, verificou-se que o mais utilizado foi o ácido fólico com hemotransfusão com
49,2%, o que se deve ao fato de que o maior número dessas crianças apresentava
anemia grave, ou seja, hemoglobina menor que 5g/dl, que é um dos critérios para
transfusão.

Tabela nº 8- Distribuição dos Pacientes de acordo o tratamento da anemia

Anemia corrigida com: Nº %


Acido folico 32 25.8
Sais de ferro 5 4.0
Hemotranfusao 7 5.6
Acido folico+ sais de ferro 8 6.5
Acido folico +hemotransfusao 61 49.2
Acido folico+ sais de
11 8.9
ferro+hemotranfusao
Total 124 100
Fonte: Processos dos pacientes internados no hospital do Cambiote.

27
A anemia como complicação comum da malária é habitualmente secundária à hemólise
dos eritrócitos parasitados e não parasitados através de mecanismos autoimunes. A
sua intensidade nem sempre está associada à parasitémia, podendo ser devido a uma
infecção bacteriana secundária.

A tabela 9 observa-se que o tratamento anti-paludico que predominou foi por meio de
artesanato com 56 pacientes para 45.2%, cumprimento do protocolo de tratamento para
malária grave indicado em Angola

Tabela nº 9- Distribuição dos pacientes internados segundo o tratamento anti-


paludico

Tratamento anti- Nº %
paludico
Artesunato 56 45.2
Arthemeter 31 25.0
Quinino 3 2.4
Artesunato e arthemeter 34 27.4
Total 124 100
Fonte: Processos dos pacientes internados no hospital do Cambiote.

Mornand et al. em um dos estudos feitos em Francia maioria das crianças que analiso,
realizarom terapêutica endovenosa com quinino, enquanto uma minoria recebeu
artesunato endovenoso ou apenas terapêutica oral. Entretanto no estudo de maiores
dimensões, realizado em Kingdom , apenas 26,6% dos doentes realizaram quinino EV,
com os restantes a receber halofantrina ou mefloquina PO.

Atualmente o fármaco antimalárico recomendado pela OMS em casos de malária grave


é o artesunato endovenoso ou intramuscular, no seguimento da evidência obtida a
partir de um ensaio clínico de grandes dimensões que comparou a sua utilização à de
quinino endovenoso em crianças africanas, mostrando a superioridade do artesunato a
reduzir a mortalidade.

28
Na tabela 10 pode-se observar que Acordo ao tempo de Estadia Hospitalar dos
pacientes internados predominou tempo menor de 5 dias com 58 pacientes para um
46.8 %.

Tabela nº 10- Distribuição dos Pacientes de Acordo a Estadia Hospitalar

Critério Nº %

Menos 5 Dias 58 46.8

5 a 9 dias 48 38.7

10 dias ou mais 18 14.5

Total 124 100

Fonte: Processos dos pacientes internados no hospital do Cambiote.

Este resultado aproxima-se do realizado por Sandra Garcia (Paludismo grave y


complicado en niños. Hospital regional de Bata. Guinea Ecuatorial.) que teve
predomínio de 91% para os pacientes que permaneceram no hospital menos de 5 dias,
dado que a estadía superior aos cinco d5as foram menos frequentes pois a melhoria
era rápida quando se iniciava o tratamento oportunamente.
O estado de saída ao sair do ambiente hospitalar que predominou foi por alta por
melhoria com 93 pacientes para 75.0 % e 8 casos falecidos, o que indica que a
letalidade nestes casos deve ser levada em consideração e tomar medidas para buscar
possíveis causas, além disso, ainda persistem crenças na população de administrar
medicamentos tradicionais a crianças, o que é evidenciado na gravidade com que
chegam aos serviços de emergência e a resistência dos pais em admitir os pacientes
nos hospitais, que é acompanhada pela fuga deles dos servicios( em este estudo 11
pacientes para um 8.9%) e pela não adesão ao tratamento imposto, torna-se um círculo
de maior gravidade e complicações para a criança

29
Tabela nº 11- Distribuição dos pacientes de acordo ao estado de saída ao sair do
ambiente hospitalar

Estado de saída Nº %

Melhorado 93 75.0
Alta a pedido 7 5.6
Transferido 5 4.0
Falecido 8 6.5
Fuga 11 8.9
Total 124 100
Fonte: Processos dos pacientes internados no hospital do Cambiote.

30
Conclusão

Depois de ma investigação realizada chegamos as seguintes conclusões:


 O grupo de idade predominante foi de 6-10 anos de idade enquanto o sexo
predominante foi o sexo masculino.
 -Que o sinal predominante foi a palidez cutâneo-mucosa enquanto o sintoma
predominante foi a febre.
 O maior número de pacientes procedia do bairro são José canjaia, e que para
corrigir oi necessário hemotransfusão, porem o método de diagnóstico para o
diagnóstico que mais insidio foi o teste de diagnóstico rápido e pesquisa de
plasmódio. Pacientes de acordo o estado de saída que predominou foi por alta
por melhoria o que demonstra ma eficácia no tratamento da malária complicada
com anemia no hospital do cambiote.
 Os principais métodos de tratamento da anemia que predominou foram por meio
de hemotrasnfusão mais ácido fólico.
 O estado de saída ao sair do ambiente hospitalar que predominou foi por alta
por melhoria seguido da fuga e os falecidos

31
RECOMENDAÇÕES

Recomendamos apresentar esses resultados ao departamento de saúde da província


para realizar futuros trabalhos intervencionistas em nossas áreas rurais para melhorar o
atendimento, tratamento e prevenção da malária complicada por anemia em crianças,
pois reduziria a morbidade e mortalidade em nossa província.

32
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