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RESUMO
Introdução: Acidente vascular cerebral (AVC) é um problema de saúde pública
mundial e uma das maiores causas de incapacidade adquirida em todo o
mundo. Objetivo: Estudar o Peso socioeconômico do AVC em doentes e
familiares, seguidos em consulta externa de Neurologia do Hospital Américo
Boavida (HAB) e no Centro de Medicina Física e Reabilitação de Luanda
(CMFRL) de junho a agosto de 2013. Métodos: Realizou-se um estudo
observacional descritivo transversal, de 56 doentes após AVC, assistidos no
HAB e no CMFR/2013. A amostra foi não probabilística, do tipo conveniência.
Os dados foram recolhidos mediante um formulário bem como o Índice de
Barthel (IB) para aferir o grau de dependência funcional. Resultados: A média
das idades foi de 53 anos, sendo que a faixa etária modal foi de 50-59 anos, o
género masculino foi o mais frequente (53,6%), a maioria dos doentes eram
casados (69,6%), desempregados (25%), com o ensino primário feito (37,5%);
80,4% vai a consulta de transporte público, a maioria referiu ser cuidado pelo
cônjuge (67,9%), pelo que 100% dos desempregados foi devido a sua doença;
50% referiu ter agregados constituídos por 6-8 pessoas; a renda mensal mais
frequente foi de 2-5 salários mínimos (47%), sendo que gastou-se mais pelos
exames complementares de diagnóstico com uma média de 9 844,64 Kz/mês e
um total de gastos em média de 28510,71 Kz/mês e que 25% da amostra
gastou mais de 50% da renda mensal pela doença; 44,6% era dependente
moderado. Por último, constatou-se que a maior parte dos que tinham algum
grau de dependência ficou desempregada e gastava mais de 50% da renda
mensal do agregado familiar pela doença. Conclusão: O AVC acomete,
frequentemente as pessoas mais carenciadas e, ao mesmo tempo, contribui
ainda mais para a carência socioeconômica.
CONCEITO DE AVC
Define-se acidente vascular cerebral (AVC) como um conjunto de sinais e
sintomas que duram pelo menos 24h e resultam de lesões cerebrais
provocadas por alterações da irrigação sanguínea. (HARRISON et. al., 2008;
GOMES, 2003; ANTÓNIO, 2011; PIRES, 2004; RODGERS, 2004; PEREIRA, 2001;
NICOLETTI et. al., 2000)
EPIDEMIOLOGIA
O AVC é um problema de saúde pública mundial, uma das maiores causas de
incapacidade adquirida em todo o mundo (CORREIA, 2006; CABRAL et. al.,
2013) . A prevalência mundial na população geral é estimada em 0,5% a 0,7% e
considera-se a terceira maior causa de morte, após as doenças cardíacas e
cancerígenas (CABRAL et. al., 2013; CHAGAS e MONTEIRO, 2013). Em cada
ano, 15 milhões de pessoas sofrem de AVC. Delas 5 milhões morrem e 5
milhões ficam com incapacidade permanente, impondo-se um pesado fardo a
indivíduos, famílias e comunidade (LOGEN, 2003; ANTÓNIO, 2011). A
mortalidade varia consideravelmente em relação ao grau de desenvolvimento
socioeconômico, sendo que cerca de 85% ocorre em países subdesenvolvidos
ou em desenvolvimento e um terço dos casos atinge a parcela
economicamente ativa da população. (CORREIA, 2006) No continente
americano a taxa de mortalidade foi estimada em 59 mortes por 100.000
habitantes. Aproximadamente 730 mil americanos apresentam um novo AVC
ou recorrência a cada ano. Dados recentes sugerem um aumento na incidência.
Este impacto deverá ampliar-se nas próximas décadas, pois espera-se um
aumento de 300‰ na população idosa em países em desenvolvimento nos
próximos 30 anos, especialmente na América Latina e na Ásia (SILVA e COSTA,
2012). O Brasil é o 6º país em número de acidente vascular cerebral, após
China, Índia, Rússia, Estados Unidos e Japão. Entre os países da América
Latina, é o país com maior mortalidade por acidente vascular cerebral tanto em
homens como em mulheres. (SÁ, 2013) E de acordo com Ministério da Saúde
brasileiro o AVC é a primeira causa de morte no Brasil (PADILHA, 2011)
Ocorrem grandes diferenças geográficas, étnicas, culturais e socioeconômicas,
relativamente a incidência do AVC, nos bairros da cidade de São Paulo e do
Salvador (LOGEN, 2003; GOMES, 2003). Na Europa estima-se que a taxa de
mortalidade por AVC é de 115 mortes por 100.000 habitantes (SILVA e COSTA,
2012). As estatísticas oficiais mostram que Portugal tem a mais elevada taxa
de mortalidade por AVC de entre os países da Europa Ocidental, onde constitui
a primeira causa de morte. É o segundo país com maior prevalência de entre
todos os países da Europa, variando de 1 a 2 casos por 1000 habitantes (ABE,
2010; PADILHA, 2011) . No qual pode-se dizer que, está calculado que, seis
pessoas, em cada hora, sofrem um AVC, e que duas a três morrem em
consequência desta doença, segundo a SPAVC (Sociedade Portuguesa do
Acidente Vascular Cerebral) (ABE, 2010; SILVA e COSTA, 2012) .
TIPOS DE AVC
AVC Isquêmico (oclusão de vaso) e hemorrágico (ruptura de vaso).
FATORES DE RISCO
Os fatores de risco podem ser modificáveis e não modificáveis. Encontramos
entre os modificáveis, Hipertensão arterial (HTA), diabetes, tabagismo,
cardiopatias, dislipidemia, obesidade, sedentarismo, alcoolismo, e os fatores
socioeconômicos. De entre os não modificáveis encontramos a idade, o
género, a raça, história familiar (ANTÓNIO, 2011; FERREIRA et. al., 2013;
CHAVES, 2013)
Quadro nº 3- Grau de dependência pelo índice de Barthel
OBJETIVOS
Geral:
LOCAL DO ESTUDO
O estudo foi realizado nas consultas externas do Hospital Américo Boavida
(H.A.B.) e no ginásio do Centro de Medicina Física e de Reabilitação (C.M.F.R.).
TIPO DE ESTUDO
Realizou-se um estudo observacional, descritivo transversal de todos os
doentes pós AVC assistidos, na consulta externa de Neurologia do Hospital
Américo Boavida (H.A.B.) e no Centro Medicina Física e Reabilitação (CMFR),
de Junho a Agosto de 2013.
UNIVERSO
A população de estudo foi constituída por todos os doentes após AVC
Seguidos em consulta externa HAB e CMFR de Junho a Agosto de 2013.
AMOSTRA
A amostra foi não probabilística, do tipo conveniência constituída por 56
doentes após AVC seguidos em consulta externa do H.A.B. e C.M.F.R., de
Junho a Agosto de 2013.
CRITÉRIOS DE INCLUSÃO
Foram incluídos no estudo todos os doentes, seguidos em consultas externas
do HAB e no CMFR que foram vítimas de AVC confirmado no processo com um
período de até 2 meses no mínimo, sem deficiência verbal e dispostos a
participar do estudo, cujos familiares também concordaram.
CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO
Foram excluídos, todos os doentes com patologia associada confirmada e
aqueles sem acompanhantes (prestadores informais de cuidados de saúde).
VARIÁVEIS
Identificação sócio demográfica (Idade, Género, estado civil, Ocupação, nível de
escolaridade e agregado familiar), formas de ir às consultas, grau de
parentesco com o prestador informal, ficar desempregado devido a doença,
renda mensal do agregado familiar, impacto económico do AVC (formas de
gasto e gastos totais) grau de dependência funcional.
ASPECTOS ÉTICOS
O estudo contou com a autorização da Direção da FMUAN bem como das
Direções Clínicas do HAB e do CMFR, mediante uma carta que foi enviada
previamente, bem o consentimento informado feito de forma tácita, havendo o
compromisso de manter o anonimato e confidência em relação aos dados dos
doentes.
DIFICULDADES
Tendo em linha as características sociodemográficas dos indivíduos que
compunham a amostra (incluindo o baixo grau de educação-instrução), a
maioria dos doentes não tinha uma renda fixa, não sabia precisar a renda
mensal do agregado familiar nem tinham a noção clara do total de gastos o
que exigiu tempo, cálculos e muita paciência para estimar a partir de dados
provenientes de perguntas básicas.
DEFINIÇÕES OPERACIONAIS
Renda mensal do agregado familiar: O somatório de todo o rendimento dos
indivíduos produtivos que compõe a família.
Salário mínimo: O mínimo que se pode pagar a um funcionário que no nosso
país, de acordo com a publicação mais recente (ano de 2012) no diário da
república de Angola são 15 mil Kwanzas.
RESULTADOS
Em relação ao estado civil, vimos que 39 (69,6%) doentes eram casados e/ou
viviam em união de factos, seguindo os solteiros e viúvos com 7 (12,5%)
doentes. A minoria, 3 (5,4%) era divorciado(a). (gráfico 3).
Aferindo o grau de dependência funcional pelo índice de Barthel, vimos que dos
56 doentes, mais de 70% tinham um certo grau de dependência, sendo que, o
grau de dependência mais frequente foi a moderada com 25 (44,6%) doentes.
Apenas 9 doentes eram autônomos correspondendo 16,1% da amostra. (Ver
gráfico 12).
Neste estudo verificamos que a maior parte dos doentes tinha um agregado
familiar constituído por 6-8 pessoas com uma renda mensal modal de 2-5
salários mínimos, sendo que o salário mínimo foi de 7000 kw e o máximo foi de
260000 Kw com uma média de 52139 kwanzas. Esse resultado, no mesmo
sentido do que já foi discutido até aqui sobre a influência que o nível
socioeconômico tem relativamente a susceptibilidade à patologia em questão,
é consequência da cascata, com algum grau cíclico vicioso, em que o baixo
nível socioeconômico condiciona baixo grau de escolaridade com
consequentes ocupações pouco rentáveis. E ao mesmo tempo que isso
acontece o número de filhos tende a ser maior também alargando assim o
agregado familiar. Santana et. al. (1996) ao estudar as características
socioeconômicas de pacientes com acidente vascular cerebral, verificou que
82% dos pacientes eram analfabetos ou semianalfabetos, mais de metade da
sua amostra tinha um agregado de 2-4 pessoas e 60% viviam com renda
familiar de 1 a 2 salários mínimos (SANTANA et. al., 1996). As diferenças
encontradas neste estudo quanto ao agregado familiar, pensamos que, devem-
se a questões culturais, no nosso meio, em que quanto mais se é da camada
pobre mais se cumpre com a visão de ter os filhos como uma espécie de
investimento a longo prazo para o sustento na velhice e, paradoxalmente,
acabam sendo mais uma sobrecarga que uma ajuda, pela incapacidade que os
pais têm, dada as suas limitações, de conceder uma instrução e educação
suficiente para que a mudança de nível socioeconômico se efetive. Deus (2013)
no seu estudo sobre morte por AVC é maior na zona urbana da cidade do
Amazonas, verificou que o perfil mais comum dos acometidos pela doença era
de homens, pardos, sem estudo formal e com renda de um a dois salários
mínimos (DEUS, 2013). Ribeiro et. al. (2012) ao estudar o Perfil de Usuários
Acometidos por Acidente Vascular Cerebral Adscritos à Estratégia Saúde da
Família em uma Capital do Nordeste do Brasil, inferiu que a situação
socioeconômica também desempenha um papel determinante na saúde dos
indivíduos ao observar que a maioria dos entrevistados possuiu renda familiar
entre 1 a 2 salários mínimos (49,3%) para manutenção de toda família
(RIBEIRO et. al., 2012). Dias (2006), em sua pesquisa transversal, com 82
usuários, em 12 Unidades de Saúde da Família da cidade de Divinópolis- MG,
verificou uma prevalência de 622 reais como média da renda familiar
(RIBEIRO et. al., 2012). Pelo que a convergência, com a literatura, dos
resultados do presente estudo, relativamente a este indicador, é bastante
intensa.
25% (14 doentes) da amostra, gasta mais de 50% da renda mensal do agregado
familiar enquanto 10 (17,9%) dos doentes gasta mais de 100% da renda mensal
e somente 2 (3,6%) doentes gastam até 10% da renda, mensal pela sua doença.
Este resultado dá a noção clara do grande impacto socioeconômico do AVC na
família tendo em conta as outras necessidades básicas que carecem de
cobertura financeira. Por outro lado, vai de encontro a bibliografia que diz que o
custo do AVC é bastante grande para a família e sociedade em geral, quer pelo
aumento dos gastos, quer pela diminuição da capacidade de produção do
sujeito (no Brasil 40% de todas as aposentadorias precoces são decorrentes
dessa doença) (RIBEIRO, 2011). Da pesquisa feita, quase nenhum estudo teve
como foco gastos mensais por um doente com AVC, mas um estudo feito por
Ribeiro (2011) sobre o peso do AVC e da Fibrilhação Atrial inferiu que os custos
são bastante altos para o Estado. Chega a R$12 mil o gasto do Sistema Único
de Saúde (SUS) por cada vítima de AVC isquêmico fatal. Em 2009, o SUS
gastou R$150 milhões só em internamentos (RIBEIRO, 2011). Pieri revela que o
AVC leva a enormes custos com hospitalização, reinternamentos,
aposentadoria, auxílio-doença e reabilitação (RIBEIRO, 2011).
Aferindo o grau de dependência funcional pelo índice de Barthel, vimos que dos
56 doentes, mais de 70% tinham um certo grau de dependência, sendo que, o
grau de dependência mais frequente foi a moderada com 25 (44,6%) doentes.
Apenas 9 doentes eram autônomos correspondendo 16,1% da amostra. Este
resultado prende-se muito com o fato de o AVC ser a principal causa de
deficiência e incapacidade funcional. No estudo efetuado por Matos et.
al., (2003), publicado na Revista da Faculdade de Medicina de Lisboa, com o
objetivo de avaliar o grau de dependência em doentes que sofreram AVC, numa
lista de utentes dum médico de família, revelou que 19,2% dos utentes são
independentes; 57,7% apresenta uma dependência ligeira a moderada; 11,6%
apresentam uma dependência grave e 11,5% estão totalmente dependentes. A
pontuação global apresentou um valor mínimo de 0 (totalmente dependente) e
um valor máximo de 20 (independente), sendo a mediana observada em 90
(dependência ligeira a moderada). Estudos da Direção Geral da Saúde,
publicados nas recomendações das Unidades de AVC, em 2001/Portugal,
revelam que três meses após o AVC, 24% dos doentes são dependentes graves,
18% ficam com dependência leve e 30% são independentes. A convergência
existente com o presente estudo sustenta o consenso existente na literatura de
que atualmente, o IB continua a ser amplamente utilizado, essencialmente em
contexto hospitalar, unidades de convalescença e centros de reabilitação e
vários autores consideram-no o instrumento mais adequado para avaliar a
incapacidade para a realização das atividades da vida diária. E que as
diferenças que podem existir entre as percentagens de leves, moderados e
graves podem ser entendidas como o tempo de ocorrência da doença em que
os doentes tendem a ser mais dependentes no início e com o passar do tempo
tendo em conta reabilitação começam a reaver as funções passando de
pontuações baixas (muito dependente) para altas (autonomia).
Relacionando a dependência funcional aferido pelo IB e o total de gastos, vimos
que entre os doentes que eram autónomos (44,4%) e dependentes leve (41,4%)
gastavam menos que 50% da renda mensal pela doença enquanto os doentes
com dependência moderada (48%), dependência grave (50%) e dependência
total (100%) gastavam mais de 50% da renda mensal pela doença. Estes
resultados devem ao fato de que a autonomia é um sinal claro de cura e
recuperação completa da entidade nosológica e das suas sequelas, um
indicador da redução de atividades que são motivos de dispêndio de dinheiro e
o aumento da capacidade de produção do indivíduo. O doente com autonomia
vai sozinho ao hospital (o que implica pouco gasto com o transporte), diminui
ou cessa com as cessões de reabilitação, o número de exames a solicitar, o
gasto com os medicamentos e outras.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERENCIAS
ABE, I. L. M. Prevalência de acidente vascular cerebral em área de exclusão
social na cidade de São Paulo, Brasil: Utilizando questionário validado para
sintomas. Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo para obtenção do título de Doutor em ciências. 2010, disponível em
http://www.google.com/#sclient=psy- Acesso em 28/06/2013, pelas 18:38.
AHLISIO B., et. al. Disablement and quality of life after stroke. Stroke 1984; 15:
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PETER R. A Long-term Follow-up of Stroke Patients. Stroke 1997; 28: 507- 512.
RODGERS H. Risk factors for first-ever stroke in older people in the North East
of England: a population- based study. Stroke 2004; 35:7-11. 3.
STRATEN A, HAAN R. A Stroke Adapted 30 Item Version of the Sickness Impact
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VAN DES BOS GAM. The burden of chronic diseases in terms of disability, use
of health care and health life expectancies. Eur J. Publ. Hlth 1995; 5:29-34.
de Campinas.
[2]
Orientador. MD, Neurologista, Phd.
2.5/5 - (2 votes)
HENRIQUES TCHINJENGUE CAPINGANA
Médico, Neurologista, Mestrando da Faculdade de Medicina da Universidade de
Campinas.
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