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Profa. Dra.

MASAIO MIZUNO ISHIZUKA

PROFESSORA TITULAR

EPIDEMIOLOGIA VETERINÁRIA. PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS


Pv 16:1 – Ao homem pertence os planos do coração, mas, dos lábios do Senhor procede a resposta

CASTRO – PARANÁ
2008

“Proibida reprodução total ou parcial sem autorização da autora”


EPIDEMIOLOGIA VETERINÁRIA

I- INTRODUÇÃO

DEFINIÇÃO: É a ciência que estuda a ocorrência de doenças em coletividades considerando os indivíduos


doentes e não doentes e dos meios para o seu controle e, portanto, é o estudo dos padrões de doença.
Observa populações de animais e realiza inferências. Objetiva estudar os seguintes fenômenos de massa:
mecanismos de propagação de doenças; sua distribuição geográfica e temporal, freqüência de ocorrência de
doenças causadas por agentes transmissíveis ou não, seleção dos meios de diagnóstico, adoção de medidas
de profilaxia pertinente a cada caso, avaliação de resultados, etc. A Epidemiologia mostra ao profissional a
atitude que deve tomar diante da ocorrência de uma doença em coletividade. São conceitos filosóficos, mas
que apresenta uma metodologia própria. O termo epidemiologia é originário do grego  (epi = acima) + 
(demo = povo) +  (logo = estudo). Literalmente significa o estudo de algo que está acima do povo, mas
modernamente é conceituado como sendo o estudo de doenças em populações. Muitos diferenciam
populações de humanos e de animais designando de Epidemiologia e Epizootiologia respectivamente e neste
texto será empregado o termo Epidemiologia.
Surgiu, inicialmente, como uma ciência que estudava epidemias e em seguida passou a estudar qualquer
doença transmissível ou não em pequeno ou grande número de indivíduos, mas sempre encarando o caráter
coletivo e nunca individual.

IMPORTÂNCIA DA EPIDEMIOLOGIA:
1. Sendo uma disciplina de investigação, permite elucidar muitos problemas contemporâneos de saúde em
populações animais porque a história natural de doenças somente é compreendida pela avaliação da
freqüência de ocorrência e distribuição de doenças em diferentes populações em um mesmo momento ou
em momentos diferentes de uma mesma população.
2. Permite avaliar a eficácia de programas de saúde animal e de medicina veterinária preventiva que
implicam em conhecer a importância da doença (econômica e/ou social) e a magnitude de ocorrência de
doença infecciosa ou não na população.
3. Auxilia na elucidação de etiologias complexas ou desconhecidas pelo estudo de sua ocorrência em
diferentes populações animais.
4. Permite estimar com precisão os efeitos de doenças na produtividade de rebanhos animais ou grupos de
animais e não em indivíduos.
5. Permite melhor avaliar os reflexos econômicos de doenças em populações animais e as abordagens de
profilaxia em grupos de animais e não em indivíduos.
Portanto, a investigação de doenças em populações é a base da epidemiologia.

OBJETIVOS DA EPIDEMIOLOGIA:
1. Determinação da origem de uma doença (rastreamento);
2. Investigação e controle de doenças de etiologia inicialmente desconhecida;
3. Obtenção de informações sobre a ecologia e história natural de doenças;
4. Planejamento e monitoração de programa de saúde animal e de medicina veterinária preventiva;
5. Avaliação econômica e análise de custo e benefícios de programas alternativos de saúde animal.

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1. Determinação da origem de uma doença: o diagnóstico individual é facilitado quando for possível
estudar, com precisão, os sinais clínicos complementados ou não pelo laboratório e/ou outras facilidades
diagnósticas como radiografia, imageologia etc. No diagnóstico de doenças em populações animais, a
Epidemiologia pode se tornar importante para determinar:
a. A origem da doença em certa população ou rebanho. Na salmonelose de bezerros, por ex., o diagnóstico é
fácil, pois os sinais clínicos são razoavelmente sugestivos, mas difícil é determinar as condições que
cercam a ocorrência do surto ou aplicar corretamente medidas de controle porque a introdução pode ter
sido diferentes vias como a compra de animais infectados (fontes de infecção) ou por alimentos
contaminados (vias de transmissão) e, neste caso, vários componentes devem ser estudados complicando
a investigação.
b. A etiologia pode ser conhecida e a Epidemiologia pode esclarecer, investigando e respondendo algumas
perguntas como: i) porque a doença ocorreu? ii) o que causou aumento significante do número de
casos? Por ex. toxoplasmose em suínos ocorrendo em criações informais e o aumento de ocorrência de
devido à constante ingestão de roedores mortos que albergam cistos de Toxoplasma gondii no tecido
muscular ou pela contínua ingestão de oocistos eliminados por gatos infectados pelo mesmo parasito.
Febre Aftosa no Rio Grande do Sul decorrente da aquisição de bovinos da Argentina e no Mato Grosso do
Sul pela possível aquisição de bovinos do Paraguai e o aumento em decorrência do retardo da notificação
que talvez tenha favorecido a movimentação de animais infectados. Influenza aviária em galinhas de áreas
habitadas por aves aquáticas voadoras e que são locais de invernada de aves migratórias e o aumento
devido à carente educação sanitária da população humana ou porque são refratários à introdução de
medidas modernas de controle.

2. Investigação e controle de doenças cuja etiologia é inicialmente desconhecida: Muitas vezes há a


necessidade de se introduzir medidas de controle de certas doenças antes mesmo do conhecimento de sua
etiologia. Pleuropneumonia contagiosa bovina (USA) e Peste Bovina (Brasil) foram erradicadas pela simples
apreciação, respectivamente, da natureza infecciosa e das lesões. Na varíola humana, Jenner (séc XVIII)
observou que o “material” da varíola bovina (cowpox) protegia contra varíola humana (small pox).
Ceratoconjuntivite e carcinoma em bovinos Hereford, controlados apenas pelo conhecimento das
associações entre pouca pigmentação ao redor dos olhos e a suscetibilidade. BSE controlada pela proibição
da alimentação de bovinos com farinhas de ossos ou de carne de ruminantes.

3. Obtenção de informações sobre a ecologia e história natural de doenças: a ecologia estuda o


ecossistema (conjunto de seres vivos e o meio ambiente), a história natural estuda o agregado de todos os
fatores relacionados com animais e plantas e a História Natural de uma doença estuda todos os fatores
relacionados ao hospedeiro, parasito e meio ambiente que favorecem a ocorrência de doenças. Doenças não
infecciosas podem ser estudadas relacionando os fatores físicos do ecossistema que podem estar afetando o
hospedeiro. Por ex. características geológicas de um ecossistema influenciando na composição mineral da
vegetação permitem estudar doenças carenciais. O estudo de doenças infecciosas é influenciado pelo meio
ambiente que pode interferir na resistência ou sobrevivência de agentes no meio ambiente bem como
interferindo na sobrevivência do hospedeiro. Schistosoma mansoni e Fasciola hepática, em regiões de
deficiente drenagem de coleções de água favorecendo o ciclo biológico. Larvas de Ancilostomídeos
sobrevivem em solos arenosos até encontrar um novo hospedeiro. Leptospira copenhagen pode ser

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controlada nas áreas endêmicas, incluindo nas possíveis medidas, o estudo e controle do reservatório
(roedor). Raiva dos herbívoros só será efetivamente controlada se for estudada e controlada a população de
morcegos hematófagos. Vírus da Febre Amarela e Dengue (Brasil) silvestre, persistem no ecossistema
habitado por macacos e pelo vetor biológico – Haemagogus sp, adaptam-se facilmente em ambiente urbano
habitado pelo homem e pelo Aedes aegypti e é controlado pela destruição deste vetor biológico. .

4. Planejando e Monitorando os Programas de Profilaxia (controle ou erradicação) de Doenças: O


planejamento de um programa depende do conhecimento da quantidade de doença na população alvo, dos
fatores associados com a ocorrência, da existência de armas profiláticas e do custo e benefício envolvido. A
Vigilância ao nível local pode fornecer informações sobre a influencia de novos fatores causais na história
natural da doença. Por ex. i) Febre Aftosa no Brasil, no passado, era influenciado pelas aglomerações e,
atualmente, está relacionada também com a intensa movimentação dos animais e a criação de circuitos
pecuários efetivou a erradicação; ii) Peste Suína Clássica (modalidade clássica) disseminava-se
principalmente através resíduos de alimentos e atualmente é por via transplacentária, a principal fonte de
infecção é a reprodutora portadora e a profilaxia, em áreas sem vacinação, consiste na identificação e
sacrifico de animais reagentes e dos comunicantes; iii) Doença de Newcastle no Brasil foi desafiada pela
importação de avestruzes infectadas pelo vírus da doença na ausência de sintomatologia (portador) e que
resultou no sacrifício de todas as aves dos lotes importados.

A responsabilidade do epidemiologista é de natureza social e as repercussões das medidas profiláticas


tendem a ser de longa duração senão permanentes. Segundo Bernard Shaw e outros, “os profissionais da
área da saúde devem ser mais bem julgados pelos indicadores de saúde (natalidade, mortalidade) do que
pelo número de animais tratados”.

5. Avaliação dos efeitos econômicos da doença e da profilaxia: confrontar o custo financeiro de um


programa com valores das perdas econômicas pela doença. Análise econômica é etapa essencial no
planejamento e auxilia na decisão pela erradicação ou controle desde que compatíveis com a produtividade.

6. ETAPAS DE UM ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO:


São três modalidades seqüenciais que inicia com a Epidemiologia descritiva (colheita, organização, análise
e interpretação de dados existentes e posterior formulação de hipóteses). Segue-se a Epidemiologia
experimental (realização de observações pessoais e, pelo raciocínio indutivo, sugerir associações entre
causa e efeito seguido de novas hipóteses) e termina com a Epidemiologia analítica (organização, análise
e interpretação de dados observacionais ou experimentais para aceitar ou rejeitar a hipótese de nulidade).
a. Epidemiologia descritiva: é a observação a campo para descrever uma doença ou os fatores envolvidos
para descrever parte ou todo o problema como: distribuição espacial (extensão do problema); distribuição
ou relação temporal; espécies hospedeiras envolvidas; população afetada ou exposta ao risco e suas
características relevantes; prevalência e incidência; agente(s) possivelmente envolvido(s); características
do meio ambiente; características do(s) hospedeiro(s) de importância epidemiológica que podem estar
interferindo na doença; e a cadeia epidemiológica (doenças transmissíveis). As perguntas envolvidas neste
estudo são: O QUE é o evento; QUAIS os animais envolvidos; QUANDO ocorreu; ONDE ocorreu; e
COMO e PORQUE ocorreu. Não é uma mera “dragagem de dados” movidos por objetivos não
epidemiológicos, mas um estudo planejado, sistematicamente realizado, com múltiplas facetas e

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dependentes de um Serviço de Vigilância Epidemiológica. Envolve a descrição quantitativa de freqüência
dos fenômenos em estudo sob a forma de tabelas, gráficos, mapas e indicadores (coeficientes/taxas e
índices) e eventualmente cálculo de medidas de tendência central (média aritmética, mediana e moda) e
de dispersão (desvio médio, desvio padrão, variância, coeficiente de variabilidade). Importante porque
permite testar hipóteses relativas a determinantes ou predisponentes de doenças pela formulação de
hipóteses epidemiológicas de trabalho.

b. EPIDEMIOLOGIA EXPERIMENTAL: envolve delineamento de experimento em população experimental


para testar uma determinada hipótese. Geralmente são estudos prospectivos como testes de vacinas e de
medicamentos. Ex testar a eficácia de uma droga vampiricida aplicada no dorso de animais e acompanhar
a redução da taxa de raiva dos herbívoros.
c. EPIDEMIOLOGIA ANALÍTICA: utiliza instrumentos matemáticos para interpretar resultados de estudos
epidemiológicos para revelar se há ou não significância estatística entre resultados observados (obra do
acaso ou não) como técnicas de amostragem, intensidade da associação (método de risco relativo),
importância da associação (método do risco atribuível) e estabelecer a significância estatística da
associação (teste de qui-quadrado - 2). Ex. estudo da relação entre ocorrência de peste suína clássica e
alimentação de suínos com restos de alimentos, útil para estudos de doenças multifatoriais para a
identificação e controle dos fatores causais.

A EPIDEMIOLOGIA COMO UMA CIÊNCIA DE INVESTIGAÇÃO (RASTREAMENTO) DE SURTOS OU DE


EPIDEMIAS E A INTERFACE COM OUTRAS ÁREAS: No início do séc. XX, epidemiologistas foram
treinados em bacteriologia por estarem envolvidos em surtos de doenças infecciosas. Serviços de Saúde
Animal empregavam clínicos e patologistas no exercício da epidemiologia que introduziram métodos de
investigação de comunicantes e surtos bem como metodologia de rastreamento. Ainda hoje é exercida por
profissionais vindos de disciplinas como a parasitologia (estudam o ciclo biológico e a dinâmica de infecções
causadas por helmintos, artrópodes e protozoários); genética (estudam defeitos hereditários em populações);
e nutrição (investigam deficiências ou toxicidade). Atualmente, estão afluindo participantes de outras
disciplinas para estudos epidemiológicos que envolvem análise estatística de dados obtidos de grupos de
animais, modelagem matemática de doenças, economistas avaliando custos de epidemias de doenças, e os
ecologistas estudando a história natural de doenças. Muitas técnicas empregadas na epidemiologia foram
desenvolvidas em outras áreas do conhecimento humano como por exemplo os testes estatísticos para
avaliar associações e os métodos de amostragem. A epidemiologia é tal qual a amálgama que une as
diferentes ciências para inferir a respeito da ocorrência de uma doença, avaliar a eficácia das medidas de
profilaxia, o custo e benefício de um programa. A investigação ou ação de detetive é uma busca de indícios
de fatores que envolvem a ocorrência de doenças para a realização das inferências necessárias.

No passado, rastreamento era metodologia coloquial, porém importante no controle ou na erradicação de


certas doenças como tuberculose e brucelose, ainda hoje é fator de subsistência de muitos veterinários de
campo e na maioria dos casos, a epidemiologia era e é aplicada de forma empírica. Não é raro encontrar
veterinários com vasta experiência de campo expressar a opinião de que nada é novo ou que nada é
diferente de tudo quanto conhecem ou fazem. Embora tenham sua parcela de razão, poucos são os
veterinários da iniciativa privada ou de serviços oficiais de saúde animal que realmente se valem dos
conhecimentos e metodologias epidemiológicas disponíveis.

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RASTREAMENTO:
1. Estuda surto, epidemia ou foco descrevendo a ocorrência e suas causas incluindo o rastreamento dos
primeiros casos estabelecendo sua origem ou as relações entre os animais doentes e outros rebanhos.
Muitas vezes é possível rastrear uma propriedade a partir de abatedouro ou pelo movimento de animais.
Objetiva a proteção dos animais remanescentes da área e é oposta à abordagem médica que diagnostica
doença ou surto em uma propriedade.
2. Estuda a possível introdução de doença exótica em um país tais como peste suína africana, influenza
aviária, peste bovina, peste eqüina ou um artrópode (vetor) africano etc.
3. Estuda problemas nos estágios finais de um programa de erradicação. Por ex. na peste suína clássica, a
erradicação pode estar sendo complicada por reservatórios (javalis, cateto, queixada) ou casos de bovinos
falso-positivos para tuberculose sensibilizados com micobactérias do solo.
4. Estudo de doenças complexas (multicausais) ao nível de propriedades vêm adquirindo importância por
exigirem medidas de controle não usuais para reduzir a mortalidade neonatal, ineficiência reprodutiva,
parasitismos múltiplos, mastites, enterite dos animais jovens, doenças metabólicas, deficiências minerais e
muitas síndromes com participação de agentes oportunistas. A observação sistemática (registro de
informações), permite formular hipóteses sobre as possíveis causas, conduzir apropriadamente estudos
retrospectivos e/ou delinear uma série de estudos prospectivos (no campo) para identificar determinantes
específicos e seus efeitos na ocorrência de doenças ou de resultados sorológicos positivos ou de outro
evento. Investigação de surtos ou focos ou outras investigações, depende quase sempre de entrevistas e
de questionários.

RELAÇÃO ENTRE A EPIDEMIOLOGIA E OUTRAS DISCIPLINAS DIAGNÓSTICAS: a hierarquia natural


nas ciências biológicas vai desde moléculas (que não se dividem), passando pelos ácidos nucléicos,
organelas, células, tecidos, órgãos, sistemas, indivíduos, grupos, comunidades até chegar ao ecossistema.
As diferentes disciplinas da medicina veterinária atuam nos diversos níveis desta hierarquia onde
histologistas e fisiologistas estudam a estrutura e a dinâmicas dos indivíduos; clínicos e patologistas
estudam a doença em um indivíduo com base nos sinais revelados pelo paciente (clínico) e o patologista
interpretam as lesões para obter o diagnóstico; Epidemiologistas investigam a população utilizando a
freqüência e a distribuição de doenças em populações animais para obter um diagnóstico. São
complementares e seqüenciais pela atuação em diferentes níveis de hierarquia para a solução de problemas
em populações de animais embora nem sempre as 3 sejam necessárias (Schwabe et al, 1977). A
epidemiologia, ocupa o nível mais alto nesta hierarquia e deve dominar os conhecimentos das outras, que em
conjunto possibilitam ao epidemiologista dispor de instrumentos para a descrição de doenças, investigar as
causas e habilitando para “ver tanto as árvores como a madeira” porque a abordagem é muito mais ampla do
que especializada, evitando o perigo da especialização como descrito por Konrad Lorenz (1977): “O
especialista tende a conhecer mais e mais a respeito de menos e menos, até finalmente conhecer tudo sobre
nada. Há um sério perigo do especialista, forçado a competir com os colegas, em adquirir mais e mais peças
de mais e mais conhecimentos especializados, que se tornará mais e mais ignorante sobre outras áreas do
conhecimento humano, até se tornar incapaz de formar qualquer juízo sobre o papel ou importância de sua
própria esfera dentro do contexto do conhecimento humano como um todo”.

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Virtudes exigidas de um Médico Veterinário Epidemiologista são a curiosidade natural, abordagem lógica,
interesse geral nos conhecimentos de MV e capacidade de raciocínio lateral. A especialidade de algumas
áreas da MV pode ser importante para algumas investigações como por ex. os conhecimentos de economia
para avaliar os efeitos econômicos de certa doença. A Epidemiologia está se tornando cada vez mais
quantitativa e conhecimentos de estatística é desejável e não há a necessidade de métodos estatísticos muito
complexos e caso não domine a estatística, reconhecer quando procurar pela sua assessoria.

Na tabela abaixo se tem a seqüência complementar das diferentes disciplinas da Medicina veterinária e da
Saúde Animal.

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Clínica Médica Patologia Epidemiologia
Unidade de População (doente + não doente + morto + meio
Indivíduo doente Indivíduo morto
interesse ambiente)
Hospital ou
Laboratório
clínica Campo/propriedade ou rebanho etc.
Cenário O animal é sempre removido do local Os animais são mantidos no local de ocorrência da
e circunstância da ocorrência da doença
doença
Objetivo Futuros animais
O animal doente Controlar a doença ou prevenir futuras ocorrências
principal doentes
Determinar a Determinar a
Determinar a freqüência e a história natural da
Procedimento doença com doença com base
doença
diagnóstico base sinais e na resposta do
(padrão de doença)
sintomas animal
O que é? (natureza e freqüência do evento na
população)
Quais os indivíduos acometidos? (freqüências
segundo as características dos hospedeiros)
O que é?
Perguntas Onde e quando ocorreu? (padrões de ocorrência)
O que é? Qual a patogenia?
envolvidas O que causou a doença? (fatores causais direta
Como tratar? O que causou a
ou indiretamente associados com a freqüência e
doença (etiologia)
padrões de ocorrência)
Porque ocorreu? (combinação de fatores
predisponentes)
Como é controlada ou prevenida a doença?

A despeito das diferenças mencionadas entre as 3 disciplinas, existem elos entre elas. A patologia clínica
e o diagnóstico clínico visam os sobreviventes da doença examinando animais mortos e doentes
generalizando experiências individuais, realizando inferências para a população e caminhando em direção
ao epidemiologista e muitos denominam este procedimento de Patologia Geográfica ou Ecopatologia.
A conhecida “clínica médica de rebanho ou medicina de campo” é o procedimento mais praticado pelos
veterinários e o mérito tem sido a capacidade de observação.

O diagnóstico clínico e laboratorial são mais reducionistas e o epidemiológico é mais holístico e refere-se à
identificação dos elos mais importantes de uma rede de interações de determinantes idretos e indiretos de
uma doença em particular e que pode ser ilustrado na figura abaixo.
Figura 1 – relações entre os métodos de diagnósticos seqüenciais na Medicina Veterinária

Diag. Clínico Diag. Laboratorial Diag. Epidemiol[ogico

Epidemiologistas modernos têm procurado por procedimentos mais racionais, ordenando dados e às vezes
aplicando métodos sofisticados conapondo aos métodos de veterinários do passado (de atuação ad hoc e
empíricos). A demanda por mais veterinários é para atender as necessidades de trabalho com métodos
modernos face às complexidades das populações alvo e a epidemiologia clínica esforça-se em observar os
animais doentes no próprio rebanho ou fazenda e realizando inferência epidemiológica.

A epidemiologia como instrumento de diagnóstico e de Vigilância tem 2 vertentes para a sua aplicação
inicial:

 Investigação: estudo detalhado e multifacetado dos fatores causais ou predisponentes envolvidos na


causalidade de uma doença, e é empregado para investigar surtos quando existem registros de
informações.

 Levantamento: contrariamente, é um processo de contagem ativa de informações e depende de um


serviço organizado de colheita, organização, apresentação, análise e interpretação de dados em
pequenas ou grandes populações e conhecido como “ação para informação”. Depende de fontes
fidedignas de informações (hospitais, laboratórios, criadores, veterinários particulares, serviços de
proteção de alimentos).

RELAÇÃO ENTRE 2 SERES VIVOS: no Parasitismo entre 2 microrganismos, apenas um deles se


beneficia com a relação vivendo às expensas do outro com prejuízo deste; na Simbiose ou mutualismo,
ambos se beneficiam; e no Comensalismo, categoria intermediária, apenas 1 deles se beneficia do outro
sem prejuízo deste, vivendo próximo ou na superfície do organismo deste. É uma relação de difícil
interpretação, porque ora pode ser simbiose ora parasitismo.

O mesmo raciocínio é verdadeiro entre um hospedeiro vertebrado e um microrganismo. No Parasitismo


tem-se prejuízo do hospedeiro vertebrado;na Simbiose/comensalismo, a microflora do rumem ou do ceco
de coelhos se beneficiam com fonte de alimento e proteção e, simultaneamente, supre o hospedeiro com
nutrientes derivados da celulose. Na Simbiose na espécie humana, a flora intestinal produz certas
vitaminas que devem ser suplementados naqueles indivíduos mal nutridos ou com beribéri ou em tratados
com antibióticos por via oral que destrói bactérias sintetizadores de Vit.B 1/tiamina.

Persistência de microrganismos na natureza como espécie por ser de importância vital, vale-se da
transmissão horizontal ou vertical de um hospedeiro a outro. Na horizontal, ocorre superposição das
superfícies dos organismos de 2 hospedeiros (infectado e não infectado) com ou sem interposição de
elementos do meio ambiente e a vertical ocorre dos pais para a sua prole (via sêmen, óvulo/ovo, placenta).

Agentes etiológicos da influenza ou Febre Aftosa podem ser facilmente transmitidos para grande número
de indivíduos em poucas horas em ambiente fechado ou com animais aglomerados, mas em doenças

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venéreas, esta escala de transmissão não ocorre porque depende de contacto íntimo entre 2 indivíduos. Na
monogamia, a ocorrência de 1 doença venérea dobra no período de vida média do hospedeiro e o agente
desaparece com a morte do hospedeiro, portanto, para sua persistência há a necessidade de sucessão de
contactos sexuais com mais de 1 suscetível (brucelose suína, campilobacteriose bovina, tricomonose
bovina etc). Quanto maior o grau de promiscuidade entre humanos ou mais freqüente o uso de um mesmo
reprodutor infectado, maiores serão as oportunidades de sucesso do agente etiológico em manter-se na
natureza como espécie.

Manifestação clínica da doença (patogenicidade): no homem e nos animais, apenas uma pequena
quantidade de espécies de microrganismos é capaz de causar doença. As demais, a despeito da invasão
tecidual, não causam dano, vivem na boca, intestino, nos dentes, na pele etc. Este é um aspecto esperado,
do ponto de vista evolucionário, porque microrganismos vencedores evitam sua extinção, persistem na
natureza, multiplicam-se, seus descendentes alcançam novos hospedeiros, perpetuam-se na natureza e
tendem a determinar pouco ou nenhum dano. Parasitas que determinam doença letal ou mutiladora
reduzem o potencial de novos hospedeiros e reduzem o potencial de microrganismos.

Desse modo, um reduzido no de microrganismos é capaz de provocar doença na maioria dos indivíduos
infectados e a maioria persiste sem causar doença ou acometendo pequena proporção de indivíduos. i) Cl
chauvoei ou E. coli enteropatogênica em suínos ou rotavírus em bovinos ou parvovírus em cães, multiplica-
se em células intestinais, é disseminado por via oro-fecal e causa, em condições usuais, infecção intestinal
sem manifestação clínica de doença. ii) Vírus da raiva é transmitido do cão para o homem no qual a doença
é sempre fatal. Não há evidências de alteração de sua virulência e a manutenção na natureza se faz pelo
parasitismo em morcegos e cangambás nos quais a patogenicidade e virulência são menos intensas e a
doença é de duração mais prolongada (maior período de transmissibilidade). Esses animais eliminam o
vírus pela saliva que é transmitido pelo contágio direto (mordedura) e assim, o vírus se perpetua na
população de hospedeiros naturais sem sérias conseqüências. A raiva transmitida a outros hospedeiros
“acidentais”, situação é desfavorável ao vírus; iii) Mixomatose em coelhos na Austrália é exemplo clássico
de equilíbrio da relação parasito-hospedeiro, cujo agente viral foi introduzido na população de coelhos (
1950) e cerca de 99% destes adoeceram e morreram e ocorreu uma seleção genética com aparecimento
de uma estirpe menos patogênica e menos virulenta e linhagem de coelhos mais resistentes. A doença
mudou sua característica, a evolução tornou-se mais longa, sinais menos severos e menor letalidade
(favorecendo a manutenção do tamanho da população de coelhos), aumentando o período de
transmissibilidade e favorecendo a persistência do vírus naquele ambiente. Por outro lado, a população de
coelhos também mudou com a sobrevivência daqueles menos susceptíveis ao vírus; iv) a febre amarela e a
dengue são causadas por vírus que infectam macacos, transmitido por vetor biológico do gênero
Haemagogus e persistem no meio silvestre causando reduzido número de doentes. Podem infectar
humanos e o vírus pode ser transmitido no meio urbano pela participação do Aedes aegypti.

Mesmo parasitos bem sucedidos necessitam causar lesões tissulares de alguma intensidade para sua
efetiva eliminação para o meio ambiente. Na gripe é eliminado pelo fluxo nasal/secreção e na diarréia é
eliminado pelo conteúdo intestinal, sempre antecedido de lesão tissular pela multiplicação do agente e são
raros os agentes que causam pouca ou nenhuma lesão tissular, baixa resposta inflamatória ou imune ou
que não são identificados pelo hospedeiro. Diferentes parasitos revelam diferentes graus de relação com
hospedeiros.

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Relação harmônica hospedeiro-parasita: conveniente para o entendimento das doenças infecciosas,
mas muitos parasitos ainda não tiveram tempo suficiente, na evolução filogenética, para alcançar uma
situação ideal. Assim: i) pode surgir, ocasionalmente, uma variante mais agressiva causando doença grave
e letal que tende a desaparecer em razão da infecção de todos os suscetíveis, ou mesmo antes de reduzir
a agressividade como a influenza aviária em galinhas de criação industrial; ii) certos agentes de doenças
emergentes como a PRRS (síndrome respiratória e reprodutiva dos suínos), pode não ter tido tempo
suficiente para equilibrar sua agressividade com a capacidade de resistir do hospedeiro; iii) pode surgir em
determinada parte do mundo, não tendo obtido sucesso na relação com o hospedeiro nativo geneticamente
susceptível, move-se em direção de uma relação mais harmônica, disseminando-se para novos continentes
resultando na infecção de uma população animal geneticamente muito mais susceptível como a tuberculose
que se disseminou para africanos e índios da América do Norte a partir de europeus mais resistentes e a
Febre Amarela, da África disseminou-se para a Europa.

Agentes de zoonoses como da clamidiose (psitacose ou ornitose), leptospirose, raiva, peste,


encefalomielites eqüinas infectam o homem (hospedeiro acidental) sem alterar agressividade porque a
perpetuação na natureza depende de outras espécies animais e eventualmente se beneficiam da
participação de vetores biológicos. Do ponto de vista de alguns parasitos, a patogenicidade para o homem é
irrelevante como é o caso da brucelose, febre Q, carbúnculo hemático etc. O homem pode, a qualquer
momento, deparar-se com um parasito de animais exóticos adquirindo uma infecção “acidental”
caracterizada por elevadas patogenicidade e virulência Ex. febre de Lassa e doença de Marburg cujos
hospedeiros definitivos são, respectivamente, roedores e macacos.

Outros parasitos podem se adaptar a outra espécie animal que pode ser investigada com o apoio de provas
de seqüênciamento de ácidos nucléicos. O vírus do sarampo, que muito provavelmente não existia na era
Paleolítica, provavelmente tenha se originado de um vírus muito próximo, o da peste bovina. Novos vírus da
Influenza humana continuam a se originar de aves e o vírus da AIDS provavelmente tenha se originado de
um vírus semelhante cujo hospedeiro natural, provavelmente de macacos africanos.

Microrganismos multiplicam-se muito mais rapidamente que seu hospedeiro natural. Uma geração
de bactéria é de 1 hora ou menos, infinitamente menor quando comparada com a geração de seu
hospedeiro humano (ordem de 20 anos). Animais vertebrados, em todo seu processo de evolução (milhões
de anos) ao serem continuamente expostos aos agentes de doenças, desenvolveram um sistema altamente
eficiente de reconhecimento (prevenção precoce) dos invasores estranhos, uma efetiva resposta
inflamatória e imune para limitar seu crescimento e disseminação e para eliminá-los de seu organismo.
Diante de uma resposta efetiva do hospedeiro, haverá redução do n o de parasitos e a infecção é debelada
rapidamente ou o parasito pode não encontrar condições para sobreviver no hospedeiro por longo tempo.
Por seu turno, parasitos ao enfrentar as defesas do hospedeiro, desenvolvem recursos para iludir ou
sobrepujar essas defesas e a alta taxa de evolução do parasito garante que estejam sempre à frente da
capacidade defensiva do hospedeiro. Se existirem meios para estabelecer defesas contra o parasito, este
sempre encontrará um mecanismo de iludir ou fugir da resposta do hospedeiro pela habilidade de
adaptação e evolução explorando os pontos fracos das defesas do hospedeiro.

A importância do trabalho do Médico Veterinário está no conhecimento das forças agressivas do parasito
(patogenicidade e virulência) que é a capacidade de lesar ou matar o hospedeiro e nas forças defensivas
naturais dos hospedeiros e/ou nas armas criadas pelo homem para colaborar com a manutenção da saúde

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dos animais. Se nenhum microrganismo associado com os animais causar dano e se nenhum for realmente
benéfico, seria objeto de pouca ou nenhuma importância ou atenção.

Parasitos têm sido responsáveis por grandes pandemias da história que ocorrem a intervalos determinados
no decurso da história e assim continuam nos dias atuais a despeito do advento de vacinas e antibióticos.
Em decorrência da elevada taxa de evolução dos parasitos e as constantes mudanças nas características
de vida do homem e dos animais, os parasitas continuarão causando grandes epidemias ou pandemias.

A Biologia Molecular e as modernas técnicas imunológicas auxiliam no combate a esses problemas e estes
conhecimentos estão se dirigindo para a patologia descritiva para um melhor entendimento da interação
hospedeiro-parasito ao nível celular, genético e bioquímico. São facilmente identificados genes mutantes ou
adquiridos ou agrupados, a incorporação ou perda de genes poderá ser facilmente relacionada com os
fenótipos emergentes, com o gen isolado (i.é. clonado) ou seqüenciado, predizer a correspondente
seqüência de aminoácidos e pesquisar comparando com os bancos de genes e seus produtos previamente
identificados e existe a possibilidade de se acumular uma grande quantidade de informações a respeito dos
determinantes microbianos envolvidos na mediação de diferentes aspectos do complexo processo de
infecção.

As descobertas mais excitantes talvez estejam ainda por vir, pois a ciência está se movendo em direção a
áreas que no passado eram vislumbrados apenas teoricamente, como a expressão simultânea de vários
genes graças ao desenvolvimento de tecnologias de seqüênciamento de genomas e chip de DNA que estão
disponíveis ou estarão em futuro próximo para muitas bactérias patogênicas.

DEFINIÇÕES IMPORTANTES:
Higiene: parte do conhecimento humano que tem por objetivo restaurar, proteger e promover a saúde de
populações (sensu latu) ou de indivíduos (sensu stritu) e representado por um conjunto de medidas
inespecíficas aplicadas nos seres vertebrados. Ex. Medidas visando garantir uma alimentação sadia,
introduzir hábitos salutares de vida como: vestuário, higiene pessoal, asseio corporal, exercício físico.
Medicina Veterinária Preventiva (MVP): conjunto de medidas de profilaxia aplicadas a um indivíduo ou
pequeno grupo de animais. Ex. aplicação de vacina anti-rábica em um cão, antitetânica em eqüinos, tríplice
em crianças, anti - IBR em vacas, tratamento nti=helmíntico, prevenção de mastite.
Zoonoses: doenças naturalmente transmitidas entre o homem e os animais.
Saneamento: conjunto de medidas inespecíficas aplicadas aos diferentes componentes do meio ambiente.
Ex. disposição adequada de excretas para impedir a contaminação do solo; proteção de mananciais de
água ou de terrenos alagadiços para torná-los menos insalubre e eliminar condições de proliferação de
mosquitos que podem ser vetores de doenças.
Saúde Animal e Saúde Pública Veterinária (SA/SPV): ciência que visa restaurar, proteger e promover a
saúde de populações e é representada por um conjunto de medidas específicas e inespecíficas. Distinto da
MVP pelo fato de ser uma atuação governamental, exigir um esforço organizado e sistemático
(planejamento, articulação entre os diferentes setores, supervisão e avaliação) e amparo legal.
Controle: é a redução, à custa de um programa, da morbidade e mortalidade de determinada doença a
níveis compatíveis com a produtividade.
Erradicação: termo aplicado pela 1a vez (séc. XIX) e entendida como a eliminação de certa doença de uma
região. Ex. raiva na Europa. A definição evolui com o passar do tempo e atualmente entendida como

12
extinção do agente etiológico de certa doença na área geográfica considerada. ex. Febre Aftosa nos USA,
PSC nos estados do sul, centro-oeste e sudeste do Brasil.
Vigilância Epidemiológica (VÊ): conjunto de ações de profilaxia introduzido em substituição àquelas
medidas que levaram a atingir o objetivo proposto (controle ou erradicação) para manter os resultados
conquistados e impedir a reintrodução ou recrudesceimento da doença e, no caso de sua ocorrência,
realizar diagnóstico precoce para eliminar prontamente o episódio no ponto de surgimento. Envolve
também medidas contra introdução de doenças exóticas. Diferentemente das ações de controle ou de
erradicação, a VÊ é uma ação contínua e sistemática razão pela qual a decisão pela sua implantação
implica em decisão político-sanitária por ser muito mais dispendiosa que a anterior e exige um contingente
maior de Veterinários (com habilidades em Epidemiologia, Planejamento e Gerenciamento de Programas de
Saúde Animal, Bioestatística e Investigação Epidemiológica), ampla rede de apoio laboratorial,
intensificação da sistemática de monitoramento dos rebanhos etc. o custo maior pode ser ilustrado nas
figuras abaixo....

13
Figura 2 – Ilustração da localização da Vigilância Epidemiológica

freq. Controle

Vigilância Epidemiológica para manutenção do controle

Erradicação Vigilância Epidemiológica para manutenção da


erradicação

0
Tempo
Rendimento

Figura 3 – relação custo x benefício no controle (80%) e erradicação (100%).

100%

80%

50% 100%
Custo

Está ilustrado o maior custo financeiro (em menor prazo de tempo) da Vigilância Epidemiológica para
erradicação comparativamente às medidas de controle

O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA MEDICINA VETERINÁRIA E DA SAÚDE ANIMAL: Pode ser


resumidamente, segundo Radostitis & Blood e Trhusfield, dividido em 5 fases de atividades distintas:
Fase 1: domesticação primitiva de animais aproximou o homem dos animais com suas doenças explicadas por
teorias fundamentadas em forças estranhas, as medidas de profilaxia não eram capazes de reduzir a
mortalidade levando a crises de falta de alimento de origem animal que exigia especialistas em Medicina
Veterinária (sacerdotes egípcios e védicos) que fundaram o 1 o hospital veterinário. Desenvolveu-se a patologia
humoral e a teoria causal miasmática e o tratamento exigia cuidadoso reconhecimento dos sinais clínicos
seguindo a tradição grega. Surgem a quarentena e sacrifício como medidas preventivas. Estenderam até o
século I e não foram capazes de limitar a propagação de doenças.

Fase 2: estendeu-se até final século XIX (fase dos curadores militares). Os governos Federais e Estaduais
foram diretamente envolvidos no controle ou na erradicação como Brucelose e Tuberculose por serem
zoonoses. Alguns países as erradicaram, outros se esforçam com o mesmo objetivo e outros ainda estão
tentando erradicar doenças (Febre Aftosa, Peste Bovina e Tripanosomíase) para minimizar perdas econômicas
e aumentar a oferta de proteína de origem animal. O sucesso desses programas deveu-se à disponibilidade de
provas diagnósticas confiáveis, aplicação compulsória, regionalização dos programas e recursos financeiros
provenientes dos cofres públicos. Embora os órgãos oficiais estivessem empenhados nesses programas,
infelizmente, os Veterinários estavam mais inclinados para o exercício da clínica de eqüinos.

Fase 3: inicia por volta de 1940 com declínio da exploração de eqüinos como força motriz nas fazendas. Os
animais produtores de leite, carne e fibras (suínos, bovinos e ovinos) tornam-se valiosos como fontes de
rendimento. Entre 1945 e 1965, o extraordinário crescimento da clínica de animais de grande porte e aumento
acelerado do padrão de vida nos países desenvolvidos, criou-se uma demanda sem precedentes por carne e
leite e a lei da oferta e procura aumentou os preços desses produtos para o consumidor e conseqüentemente
os animais produtores tornaram-se valiosos. Era mais econômico tratar os animais de produção que adoeciam
e nascia a moderna educação Veterinária que graduavam MV com conhecimentos e habilidades para tratar
ampla variedade de doenças. Surgiram os antibióticos e quimioterápicos oferecendo aos profissionais maiores
oportunidades para o tratamento de maior nº de doenças. Aprenderam realizar cirurgias e cesarianas com
assepsia e a prática cirúrgica passou a ser rotineira. Aumentou a demanda de Veterinários e a prática
terapêutica prolongou-se por muito tempo e daí o termo “CLÍNICA DE EMERGÊNCIA”. Eventualmente, pela
escassez de tempo, os esforços na prevenção de doenças restringiam-se apenas na aplicação de provas
diagnósticas para a Brucelose e alguns programas apoiados exclusivamente na vacinação.

Fase 4: inicia por volta de 1965 quando veterinários e fazendeiros começaram a melhor avaliar os resultados
de uma efetiva ação para a manutenção de elevados níveis de saúde e da produtividade de seus animais,
inaugurando a era de EPIDEMIOLOGIA, inicialmente restrita à prevenção de doenças específicas como
Carbúnculo Sintomático, Febre Aftosa pelos órgãos governamentais. O aconselhamento de propriedades
propiciou a detecção de doenças de baixo limiar de reconhecimento clínico ou mesmo de infecções
(inaparentes) comprometedoras do desempenho dos rebanhos como as mastites subclínicas, enterites e
infertilidade. A palavra “SAÚDE” foi drasticamente expandida enfocando-se não apenas os casos clínicos e
subclínicos como também a ineficiência de manejo dando origem ao desenvolvimento de programas de saúde
dos rebanhos pela visita regular às propriedades (consultorias). Entre 1970 e 1980, o maior desenvolvimento
ocorreu em programas de saúde para rebanhos bovinos de leite e de corte e de suínos com reconhecimento
da importância de registros em propriedades para avaliar as condições de saúde e de produtividade como

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importante fator no desenvolvimento da exploração animal. Um passo em falso dado nessa fase foi a
inclinação para o preenchimento de todas as medidas profiláticas conhecidas independentemente da
ocorrência ou não de certas doenças na área geográfica considerada comprometendo sobremaneira a relação
custo - benefício.

Fase 5: Alguns países desenvolvidos estão vivenciando essa fase que iniciou nos anos 80’. A visita periódica
às fazendas tornou-se rotina para identificação de casos clínicos e subclínicos com criteriosa análise de
desempenho dos rebanhos e aconselhamento quanto à alimentação, nutrição, aconselhamento genético e
análise de custo. Reconheceu-se que as infecções e doenças subclínicas eram os maiores responsáveis pela
baixa produtividade e a necessidade de se aprimorar o uso eficiente dos conhecimentos e desenvolvimento de
novas tecnologias através de pesquisas básicas e aplicadas e não perpetuar o desempenho profissional pela
repetição de técnicas aprendidas. Tornou-se importante a investigação epidemiológica para o estabelecimento
da causalidade de doenças para o aprimoramento das medidas de profilaxia.

PROBLEMAS EMERGENTES:
Epidemias em animais: i) doenças de populações animais tornam-se verdadeiras calamidades em paises
desenvolvidos como peste bovina, febre aftosa, BSE ii) doenças veiculadas por artrópodes (tripanosomiase,
Anemia Infecciosa Eqüina, Babesiose, Anaplasmoses) não foram adequadamente controladas; iii) Tuberculose
e brucelose persistindo em muitos países desenvolvidos em baixos níveis por insistirem em métodos
tradicionais de profilaxia, inadequados procedimentos de Vigilância, testes de diagnóstico desprovido de
sensibilidade desejada (Martin, 1987) e eventualmente pela existência de reservatórios silvestres como lebre
(brucelose nos USA) e texugo (tuberculose em certos rebanhos da Inglaterra).

Doenças de etiologia complexa: doenças causadas por um único agente podem ser facilmente identificadas,
mas ainda são problemas em países desenvolvidos (salmoneloses, leptospiroes, babesioses e coccidioses).
As de etiologia complexa (infecções mistas) ou multifatoriais (interação de agente infeccioso com fatores não
infecciosos) são muito comuns em granjas de suínos (doenças entéricas e respiratórias), em vacas leiteiras
(mastites e verminoses).
Doenças subclínicas: processos sem sinais evidentes de doença afetam sobremaneira a produtividade, como
por ex. helmintoses e deficiências de minerais reduzindo o ganho de peso; adenovirose suína reduzindo o
ganho de peso de leitões; mastite interferindo na produtividade e qualidade do leite, doenças respiratórias
(pulmonares e rinite atrófica) em suínos reduzindo a produtividade.
Doenças não infecciosas: na medida em que doenças infecciosas são controladas, emergem as não
infecciosas como as predominantemente genéticas (displasia coxo-femural em cães), ou neoplasias (tumor de
mama de cães) ou metabólica (cetose bovina em animais de alta produção de leite) ou ligadas a múltiplos
fatores (urolitiase felina associada à dieta), lesão de casco (criações intensivas).
Doenças de causa desconhecida: existem doenças que, a despeito das investigações realizadas, não tem a
etiologia devidamente elucidada. Ex. doença de eqüinos da Inglaterra (Equine Grass sickness) e disautonomia
felina (antiga síndrome de Key-Gaskell), hematúria enzoótica em bovinos e síndrome da vaca caída (Brasil)
que são desafios para a Medicina Veterinária.

Doença em que o agente não pode ser inequivocamente estabelecido : Pasteurella haemolytica isolada de
casos de febre dos transportes de bovinos (shipping fever) que ocorre logo depois do desembarque e cujos

16
casos fatais revelam, ao exame anátomo-patológico, pneumonia fibrinosa, não está invariavelmente presente e
as tentativas de reproduzir a doença não resultaram em êxito (Jericho, 1979). Hoje se sabe que há a
necessidade de fatores predisponentes como mistura de animais de diferentes procedências, aglomeração,
alimentação com silagem de milho, descorna e, paradoxalmente, com vacinação contra P. multocida.
Doenças relacionadas com manejo e condições do meio ambiente: parecem desempenhar importante
papel e nem sempre comprovada a associação como ocorre, por ex., na pneumonia enzoótica e enterite dos
bezerros, enterite em leitões lactentes, pneumonia suína, mastite bovina por E. coli e Streptococcus uberis .
Doenças por microrganismos saprófitas: podem estar relacionados com doenças entéricas e são
considerados oportunistas que determinam doença em presença de fatores desencadeantes e que falham em
reproduzir o Postulado de Koch.

Economia: proprietários de animais de estimação (cães, gatos, outros pequenos animais, eqüinos de laser)
pagam qualquer preço (dentro de certos limites) pelo tratamento de seus animais. Entretanto, em animais de
produção há que se considerar o custo do tratamento e das medidas preventivas na relação custo e benefício
e esta relação é verdadeira tanto ao nível de rebanho como ao nível nacional como é o caso do
recrudescimento da peste bovina na África devido à suspensão da vacinação por razoes econômicas.

Causalidade e teoria multifatorial de doenças: nos casos em que é inaplicável o Postulado de Koch, há a
necessidade de se identificar o (s) fator (es) que interagem na ocorrência de doenças. Assim, desenvolveu-se
a teoria multifatorial na causa de doenças aplicável para doenças infecciosas e não infecciosas. Iniciou com o
interesse em estudar doenças humanas de etiologia pouco conhecida que emergiram durante a II Grande
Guerra (câncer de pulmão em decorrência do hábito de fumar) foi responsável pelo advento de uma nova
metodologia para a análise de fatores de risco (Doll, 1959). Em Medicina Veterinária, esta metodologia poderá
ser bastante útil para o aprimoramento das medidas de profilaxia como por ex. na febre aftosa (movimentação,
aglomeração, vacinação deficiente por falta de meios adequados de contenção).

Novas estratégias de controle: investigação de doenças em populações e sistemática de colheita,


organização, análise e interpretação de informações de campo estão sendo acrescidas às metodologias
convencionais (Schwabe, 1980) de controle e doenças. A colheita de informações sobre doenças data do séc
XVII quando John Graunt recolhia dados sobre mortalidade humana na Inglaterra. Metodologias modernas
incluem as abordagens de Vigilância Epidemiológica e Monitoramento e a investigação exaustiva de doenças
em particular. Ex. Programa PEC para monitoramento de doenças respiratórias de suínos em frigorífico.

Uma técnica mais moderna e aplicada ao nível de propriedade é a compilação de indicadores de saúde e de
produtividade como um instrumento de aumentar a produtividade pelo aumento da saúde do rebanho.

NÍVEIS DE PREVENÇÃO:
Segundo Perkins (1938), a filosofia da prevenção consiste em "interceptar uma causa que faz cessar o efeito".
Portanto, percebe-se que as ações preventivas podem ser exercidas em qualquer período da história natural
da doença, para evitar que se estabeleça o estímulo doença no organismo do indivíduo antes que a causa se
instale i.é. durante o período pré-patógeno, ou para interromper o curso dos eventos que caracterizam o
período patógeno. Este campo abrange também o tratamento para interromper o processo doença prevenindo
o grau e duração da incapacidade, impedir a instalação de defeitos ou prejuízos e em última instância a morte

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para reduzir o período de transmissibilidade. Diante da complexidade, as medidas preventivas são
classificadas, de acordo com Leavell & Clark (1965) em 3 fases ou níveis:
1º nível de Prevenção primária ou de atuação no período pré-patógeno;
2º nível de Prevenção secundária ou de atuação no período patógeno;
3º nível de Prevenção terciária ou de atuação no período patógeno, após a instalação dos defeitos
Prevenção a nível primário: Tem-se de um lado medidas que visam melhorar o grau de saúde aproximando-
o ao ótimo ideal descrito pela OMS sem considerar a prevenção de uma determinada doença ou de um grupo
de doenças em particular. Visa apenas a promoção da saúde através de medidas inespecificas que favorecem
uma doença ou conjunto de doenças e corresponde ao sentido estrito da prevenção. Sua importância vem
crescendo pela identificação ou descoberta de novos agentes de doença animado ou inanimado e dos meios
de controle aplicáveis antes da instalação de tais estímulos.
Prevenção a nível secundário: aplicado quando o 1º não surtiu efeito por não ter sido suficiente para proteger
os indivíduos e depende de diagnóstico precoce e um pronto atendimento.
Prevenção a nível terciário: inclui medidas aplicáveis quando a doença já atingiu níveis mais avançados,
visando a limitação da incapacidade.

Na fase de patologia precoce, os indivíduos não manifestam sintomas ou estes são de tal natureza que não
são considerados doentes. O diagnóstico já é possível e em alguns casos pelo uso de recursos propedêuticos
disponíveis. Em outros casos, o diagnóstico só é possível quando a doença já se encontra em fase avançada.

Com o diagnóstico e tratamento precoces objetiva-se: recuperar a saúde e, se possível, a cura completa;
impedir a evolução da doença impedindo-se a instalação de complicações ou defeitos; reduzir o grau e duração
da incapacidade; e evitar a propagação da doença a outros animais no caso de doença transmissível.

Os estágios mais avançados surgem, muitas vezes, por falta de conhecimento diagnóstico ou por não terem
sido utilizadas medidas profiláticas disponíveis e eficientes na fase primária ou secundária.

Leavell & Clark (1965), salientam que as perguntas que invariavelmente deveriam surgir na mente de
profissionais que tratam de tais casos avançados são: que circunstâncias levaram o indivíduo a alcançar tal
avançado estágio da doença?; O que poderia ter sido feito para interromper o avanço da doença em um
período mais precoce?. As respostas poderiam ser acusadoras, poderiam apontar faltas do profissional ou da
comunidade na aplicação dos conhecimentos existentes e disponíveis ou podem ser provocadoras,
estimulando o desejo de explorar alguns fatores desconhecidos da história natural das doenças de modo que
novas medidas preventivas possam ser adotadas para a interrupção mais precoce do processo doença.

Quando da ocorrência de mais doença numa população apresenta uma certa prevalência, segue-se um ciclo
vicioso. Em decorrência da doença há uma queda no potencial energético da população que não produz à
semelhança da população sadia e há, portanto uma baixa de produção de bens e serviços.

Por outro lado, em países subdesenvolvidos a Saúde está canalizada para o lado da Assistência Médica
(curativa) e fato pouco é revertido em prol da MP, redundando em mais doença, pois não há aplicação de
recursos em prevenção e dai a menor produção e produtividade. Isto faz com que diminua o poder aquisitivo
levando a uma situação de salário de fome e que conduz a uma série de conseqüências como: baixo nível de
alimentação, educação deficiente, problemas de habitação inadequada com inevitáveis favelas que são

18
condições que favorecem a instalação de doenças e portanto um ciclo vicioso com doença gerando mais
doença. Reflexos recíprocos ocorrem em populações animais. Pode-se fazer um relacionamento colateral
como decorrência da seqüência destes eventos como: pequena inversão para a produção animal e as
zoonoses levando a uma baixa de produção. Cabe ao Veterinário aumentar a produtividade dos rebanhos
melhorando todos os outros eventos do ciclo da doença. Assim, pode - se propor um novo ciclo, o CICLO
ECONÔMICO DA SAÚDE.

CICLO ECONÔMICO DA DOENÇA CICLO ECONÔMICO DA SAÚDE

Baixa Produção de Alta Produção de


bens e serviços bens e serviços

MAIS DOENÇA MENOS DOENÇA

Pequena inversão Salários baixos Grande inversão Salários altos


em MP e SP em MP e SP

Alimentação deficiente
Energia humana Grandes Inversões Educação deficiente Alimentação suficiente
deficiente em Assist. Médica Habitação inadequada Energia humana pequenas Inversões Educação eficiente
deficiente em Assist. Médica Habitação adequada

Baixa Natalidade DOENÇA


Altas Morbidade Pequena inversão de Alta Natalidade SAÚDE
Morrtalidade capital e de conhec. Baixas Morbidade de Grande inversão d
técnicos na pecuária Morrtalidade capital e de conhec.
técnicos na pecuária

ZOONOSES

Doença Animal Saúde Animal

Quando se fala em produtividade de rebanhos, é um problema considerado em longo prazo e é resultante da


aplicação de conhecimentos técnicos que pode ser ilustrado por uma assíntota (figura 4) a seguir.

Figura 4 - Relação entre a produtividade e o tempo

É preciso cuidado na escolha das orientações para aumentar a produtividade que pressupõe uma fase de
progresso mais ou menos rápido que continua num progresso de menor intensidade. A orientação para
melhorar um rebanho depende: i) aumento da natalidade; ii) diminuição da morbidade e mortalidade; iii)
seleção genética dos reprodutores; iv) orientação quanto à construção de instalações; v) alimentação. Estes
aspectos acarretam um rápido aumento da produtividade. Isto explica porque certo aspecto ligado à produção

19
animal (zootecnia) tem uma hierarquia posterior às medidas de Saúde Animal. Só se pode pensar em
aprimoramento de rebanhos após o controle de natalidade, morbidade e mortalidade para, em seguida, se
obter linhagens melhores que acaba se colocando na parte superior da curva assintótica.
Saúde é um estado de equilíbrio entre hospedeiro e doença.
Saúde + Doença = 1
Doença = 1 - Saúde
Se Doença = 0  Saúde = 1

Este estado de equilíbrio é representado, de um lado, pelo hospedeiro e por outro pelo agente etiológico
animado ou inanimado e o fulcro deste sistema é representado pelos diferentes elementos do meio ambiente,
i.é. os componentes físicos (temperatura, umidade, movimentação do ar, natureza e composição do solo,
água..), componentes biológicos (vegetação, artrópodes, moluscos, roedores...), e componentes sócio-
econômicos (desenvolvimento social, ciclo econômico, circuito comercial de animais, migração, natureza da
exploração animal etc). O fulcro se desloca favorecendo um dos pratos da balança. Quando o fulcro se desloca
favorecendo o agente etiológico, há a instalação de doenças. O inverso ocorre quando o fulcro se desloca
favorecendo o hospedeiro.
Ex. Tuberculose = T . X
T = M. tuberculosis
X = ( a + b + c + d ..... + n)
i.é. é um conjunto de diferentes fatores que desencadeiam a doença tais como: grupo étnico (negros e
amarelos são mais suscetíveis), alimentação deficiente, fatores genéticos, condições de quebra de resistência.
Não existe Tuberculose sem o agente, mas o agente sozinho não conduz à doença.

FORMAS DE OCORRÊNCIA DE DOENÇAS EM POPULAÇÕES ANIMAIS:

ENDEMIA: quando uma doença ocorre dentro dos limites usuais numa população de determinada área
geográfica. Para formar tal conceito, a doença precisa ser observada por vários anos. Recorre-se à informação
de ordem quantitativa: estatística demográfico-sanitária. (figura 5)

Considerando-se o tamanho da população fixo para facilitar o raciocínio, tem-se uma flutuação na ocorrência
da doença que se processa dentro de certos limites com oscilações dependendo de fatores casuais. São os
limites considerados usuais dentro daquela área geográfica. Pode-se assim estabelecer os níveis de
ocorrência habitual através de tratamento estatístico. Estatisticamente, o conceito de nível endêmico depende
do cálculo dos limites de confiança e considerado, obviamente, apenas o limite superior que representa o limiar
abaixo do qual a ocorrência da doença é usual. Quando a ocorrência da doença estiver abaixo do nível
endêmico , diz - se que a doença é de ocorrência endêmica.

Figura 5. Ilustração de anos endêmicos e epidêmicos.

Nível
Endêmico

20
90 91 92 93 95 96 97 98 99 00

EPIDEMIA: Sempre que a doença ultrapassar os limites esperados de ocorrência usual, diz-se que se está
diante de uma epidemia e este é um conceito puramente estatístico e comparativo (acima do nível endêmico).
Existem certas doenças que apresentam ocorrência endêmica bem como epidêmica e pandêmica. Por ex. a
Febre Aftosa no nosso meio era de ocorrência endêmica e para tanto se contou com uma história
retrospectiva, de vários anos, entre os bovinos. Neste caso, consideramos na abscissa o tempo (meses do
ano, por exemplo) e na ordenada o número de casos ou coeficiente de morbidade e têm-se assim os valores
médios de ocorrência (figura 6).

Há uma representação poligonal reunindo a ocorrência média da doença nesta área. Baseado em informações
acerca de valores como a média (x) e da dispersão (s) pode-se estabelecer os níveis de endemia ou de
epidemia bem como os limite superior de confiança abaixo do qual a doença é considerada endêmica. Se em
Janeiro tivermos um outro valor abaixo do limite, então a doença é endêmica neste mês e assim, para todos os
meses do ano. Se em abril, setembro e outubro, a magnitude de ocorrência estimada ultrapassa os limites
usuais, a interpretação é uma Epidemia.

Figura 6 - Representação do nível endêmico e ocorrência de 2000

nível endêmico
freq.
ocorrência de 2000

| | | | | | | | | | | |
J F M A M J J A S O N D
Mês

PANDEMIA: quando a epidemia se estabelece numa extensa área geográfica. Ex.: Pandemia de Peste Suína
Africana na década de 70. Pandemia de Influenza Aviária em aves na Ásia.

O PROBLEMA EPIDEMIOLÓGICO: consiste em conhecer as razões da ocorrência de uma doença numa


população. No caso específico de uma doença transmissível, tem-se um hospedeiro que elimina do seu
organismo o agente da doença, de alguma forma alcança um novo hospedeiro e neste penetra determinando
infecção ou doença. Cabe ao epidemiologista saber a natureza do agente etiológico, i.é. se bactéria, vírus,
protozoário, riquétsia, helminto etc.; saber quais são os hospedeiros nos quais o parasito pode sobreviver ou

21
se multiplicar; os meios que utiliza para ser eliminado do hospedeiro; os recursos de que se vale para alcançar
um novo hospedeiro, de que forma penetra num novo organismo; os resultados possíveis de uma infecção
considerando as armas agressivas do parasita e a resistência ou imunidade do novo hospedeiro.

CALCULO DO NÍVEL ENDÊMICO: Tendo-se informações acerca de determinada doença por um período de
10 anos e mês a mês (se for o caso), pode-se calcular a probabilidade de uma certa ocorrência se distanciar
dos valores acumulados de uma certa população. Calcula-se o valor de X e 1,96s

x + 1,96 s = limite abaixo do qual estão 95% de probabilidade e acima do qual 5%. Se o valor encontrado se
situar dentro dos 5%, dizemos com 5% de probabilidade de erro, que estamos diante de uma epidemia (fig. 7).

Figura 7 - Representação estatística do nível endêmico

Freq.

5%
Nível endêmico

95%

CADEIA EPIDEMIOLÓGICA: A ocorrência de uma doença transmissível numa população consiste em uma
sucessão de eventos que é denominada cadeia Epidemiológica. Isto implica em certo grau de
convencionalismo. Esta cadeia pode ser assim representada pelos seguintes elos:

Figura 8 – ilustração dos elos de uma cadeia de transmissão

Fonte de
Infecção Vias de
Eliminação

Vias de
Transmissão

Portas de
Entrada
Susceptível

1- Fonte de infecção (FI): É um hospedeiro vertebrado que alberga um determinado agente etiológico e pode
eliminar tal agente de seu organismo. Funciona como FI para os demais indivíduos.
2- Via de eliminação (VE): é o meio ou veículo de que se vale o parasito para ganhar o meio exterior. É o
acesso do parasito para o meio exterior.
3- Via de transmissão (VT): é o meio ou veículo que o agente utiliza para ganhar um novo hospedeiro.

22
4- Porta de entrada (PE): é o acesso do parasito no organismo de um novo hospedeiro. É a via de penetração
para garantir a propagação do agente na população.
5- Suscetível (S): novo organismo vertebrado passível de ser infectado.

COMUNICANTE OU CONTATO: não está intimamente relacionado à cadeia. É um hospedeiro suscetível que
esteve exposto ao risco de infecção, mas que na realidade não se sabe, de antemão, se foi ou não infectado.
Ex. vaca recém adquirida de um rebanho no qual esteve exposto ao risco de infecção brucélica, mas não se
pode assegurar se está ou não infectado, mesmo diante de um exame negativo de soroaglutinação porque
poderia estar na fase de incubação. Cão mordido por outro reconhecidamente raivoso. O primeiro foi exposto
ao risco de infecção, mas não é conseqüência inevitável que se infecte.

1- MODALIDADES DE FONTE DE INFECÇÃO

a- DOENTE: indivíduo que apresenta sinais da doença. Pode ser típico, atípico e em fase pró-drômica.
a1- Doente Típico: manifesta alteração da saúde com sintomas característicos da própria doença

causada pelo agente etiológico. Ex.Cão com raiva; bovino com Febre Aftosa; Ave com Influenza
aviária; suíno com peste suína clássica (vírus de alta patogenicidade) ou com rinite atófica.
a2- Doente Atípico: Quando os sintomas não são característicos pela excessiva malignidade ou

benignidade da doença. ex. Encefalomielite com discreta sintomatologia sem paralisia. Carbúnculo
sintomático fulminante. Febre Aftosa em área endêmica onde se pratica a vacinação sistemática
da população. Peste Suína Clássica causada pelo vírus de baixas ou moderadas patogenicidade e
virulência. Pneumonias bacterianas em suínos
a3- Doente em Fase Pro-drômica: A doença encontra-se na fase inicial, percebe-se que o animal

está doente, mas os sintomas não são claros. ex. Hepatite infecciosa: na fase inicial há apenas
desconforto. Cão na fase inicial da raiva manifesta apenas alteração de hábitos. Ave na fase
inicial de qualquer doença apresenta-se com asas caídas, diminuição de apetite, aglomeradas.

Qualquer que seja a modalidade de doente, sempre se está diante de um indivíduo com a saúde alterada e o
gráfico seguinte é útil para fins de ilustração (figura 8)

Figura 9 – limiar de reconhecimento clínico de doentes

Doente

Portador em portador
Incubação convalescente

Potencial de infecção: É a somatória de todos os indivíduos FI. Na dependência da doença pode ser
representado apenas por casos clínicos de diferentes graus ou por infecções inaparentes.

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Casos fatais e graves: Manifesta menor mobilidade e dai apresentarem menores oportunidades de transmitir
a infecção ou a doença. São facilmente detectados.

Caso moderado: Manifestam maior mobilidade e portanto oferece maiores oportunidades de, a infecção,
atingir um novo suscetível. São também detectados embora, com menor facilidade, que os anteriores.

Casos leves e abortivos: Nem sempre são detectados em um rebanho e, portanto, são importantes na
transmissão por passarem despercebidos na maioria das oportunidades.

b- PORTADOR: animal sem manifestação clínica da doença. Pode ser o são, em incubação e convalescente.
b1- Portador são: É um indivíduo que não teve a doença, não tem e não terá em decorrência de

imunidade instalada às custas de sucessivas infecções inaparentes no passado ou em


decorrência de uma resistência natural ou inata. Ex: Difteria. Indivíduos aparentemente sadios
albergam a bactéria na orofaringe e pode eliminar para o meio exterior. Ex. Touro no caso de
Campilobacteriose e Tricomonose (há uma diferença de suscetibilidade relacionada ao sexo).
b2- Portador em Incubação: É um indivíduo que não teve a doença, não tem mas, que manifestará

uma vez superado o período de incubação da doença (período compreendido entre o momento da
infecção e o momento da manifestação dos primeiros sintomas).. Este período varia de doença
para doença, mas no caso, a eliminação do agente etiológico se dá antes do aparecimento dos
sintomas. Ex: Raiva canina: Há eliminação do vírus 24-48h antes do aparecimento dos 1º
sintomas.
b3- Portador Convalescente: É um indivíduo que teve a doença , não tem mais, mas elimina o agente

da doença. O animal recuperado pode permanecer como portador por muito tempo e em alguns
casos por toda a vida. Ex: Anaplasmose, Babesiose, Toxoplasmose, Leptospirose canina.

c- RESERVATÓRIO:

a- Definição Stritu sensu: É um outro organismo vertebrado que não pertence à espécie (animal) considerada
como principal na qual o parasito se instala e é eliminado permitindo a perpetuação do mesmo na natureza.
Pode-se ter um certo parasito sendo eliminado por uma determinada população de hospedeiros, mas que pode
persistir na natureza parasitando uma outra espécie de hospedeiro. Pode sobreviver na natureza parasitando
mais de uma espécie de hospedeiro. Este conceito de reservatório apresenta repercussão nas medidas
profiláticas.
MORCEGO E RAIVA: O vírus da raiva é capaz de parasitar todos os animais homeotérmicos. No meio urbano
o vírus persiste na natureza parasitando cães que por sua vez atuam como reservatórios para o homem. O
morcego, em determinadas áreas geográficas, oferece condições de persistência ao vírus, mesmo na ausência
de outras espécies animais. É impossível pretender a erradicação da Raiva silvestre ou rural, pois existem
outras espécies de animais que permitem a sobrevivência do vírus na natureza. Neste caso, o reservatório é
representado por morcegos Em determinadas regiões do globo, tem-se raposas e cangambás atuando como
reservatórios. Outros exemplos de reservatórios e respectivos agentes etiológicos.
Bovinos, suínos e caprinos: reservatórios da B. abortus, B. suis e B. melitensis para o homem.

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Aves silvestres: reservatórios do Vírus da Doença de Newcastle, Micoplasmas e Salmonelas para aves
domésticas.
Homem e roedores: reservatórios, respectivamente, da S. enteritidis e S. typhimuriun para o animais
domésticos com destaque para galinhas.
Javali, cateto e queixada: reservatórios do vírus da Peste Suína Clássica para o suíno doméstico.
Suínos e cervídeos: reservatórios do vírus da FA para o bovino.
DENGUE: O reservatório para o homem é representado por um primata silvestre.
o homem, suínos, cães etc.: reservatórios do Trypanosoma cruzi (doença de Chagas).
Roedores: as principais espécies como animais sinantrópicos são o Rattus rattus (rato do telhado ou rsto do
navio), Mus musculus (camundongo cinzento, ratinho casiro ou catita) e Rattus norvegicus (rato do esgoto)

b- Definição Latu sensu: O conceito de reservatório pode ser abordado de forma mais ampla no qual se
considera todo e qualquer hospedeiro vertebrado ou não e até mesmo o meio ambiente desde que ofereçam
condições de sobrevivência ao agente etiológico. Os vetores, aqui entendidos como reservatório, que carreiam
agentes de doença no interior dos quais ocorre transmissão transovariana, são condições propícias para a
sobrevivência do agente na natureza.

2- MODALIDADES DE VIAS DE ELIMINAÇÃO

a. Secreção oro - nasal: Por esta via são eliminados agentes como o vírus da Cinomose; Vírus das
Influenzas eqüina, aviária e suína; Vírus da Rinotraqueite Infeciosa dos bovinos e dos eqüinos; Vírus da
Febre Aftosa, agentes da Tuberculose; Vírus da Doença de Newcastle; Micoplasmas (micoplasmose
aviária por ex.);
Esta via pode ou não guardar relação com a localização do agente no organismo do animal FI. Ex: Raiva.
O vírus da raiva apresenta localização predominantemente no SNC e ganha o meio ambiente através da
saliva.

b. Fezes: Por esta excreção são eliminados agentes como vírus, bactérias, protozoários, helmintos que são
agentes de enterites. Ex. Salmonelas, ovos de helmintos, protozoários, E. coli, Rotavírus, Coronavírus,
Parvovírus, oocistos de Eimerídeos, Gumboro, etc

c. Sangue: Esta via apresentaria pequena ou nenhuma importância epidemiológica se não existisse a
interferência de artrópodes hematófagos que retiram os agentes de doença do organismo da FI. Ex:
Agentes das Encefalomielites eqüina leste e oeste em nosso meio, Febre Amarela, Doença de Chagas,
Babesiose, Anaplasmose, Anemia Infecciosa Eqüina, Doença de Lyme etc.

d. Urina: Por esta via são eliminados os agentes que preferencialmente se localizam em órgãos ou partes do
aparelho urinários ou agentes que durante a fase de septicemia ultrapassam o emunctório renal. Ex:
Leptospirose, Estefanurose, Tuberculose.

e. Leite: Por esta via são eliminados agentes de localização no aparelho mamário ou que durante a
septicemia ganham o leite.Ex: Agentes de: Tuberculose, Febre Aftosa, Brucelose , Mastites,

f. Descargas purulentas: de abcessos cutâneos, berne, garrotilho, piometra.

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g. Descamações cutâneas: Por esta via são eliminados agentes de processos cutâneos como micoses,
dermatites ou quando da ruptura de vesículas de Febre Aftosa, Estomatite Vesicular ou em casos de
descamações contendo agentes como da Bouba aviária, varíola dos camelos etc.

3- MODALIDADES DE VIAS DE TRANSMISSÃO

Após a eliminação do agente do organismo da FI por uma das vias de eliminação já expostas, este agente irá
ganhar o organismo do novo suscetível graças às vias de transmissão. Existem diferentes modalidades de vias
de transmissão: Contágio direto; Contágio Indireto: fômites e ar (poeiras, gotículas e núcleos); Vetores:
biológicos e mecânicos; Hospedeiro Intercalado; Alimentos; água; Solo; Produtos biológicos; Produtos de
Reprodução: transplacentária; transovariana
a. CONTAGIO DIRETO: É um mecanismo favorável a agentes pouco ou nada resistentes às condições do
meio ambiente. Neste caso, a superfície infectante da Fonte de Infecção se justapõe a uma superfície
infectável do suscetível. A via de transmissão é virtual. Á o caso de transmissão pela mordedura (raiva),
pelo coito (Campilobacteriose e Tricomonose), doença da arranhadura do gato, beijo (candidiase, herpes).
b. CONTAGIO INDIRETO: Favorece também agentes pouco resistentes ao meio ambiente, porém há a
interposição de um veículo inanimado mantendo uma estreita relação no tempo e espaço entre Fonte de
Infecção e Suscetível. Este contágio se processa por:
b1- Fômites: objeto inanimado que carreia agentes de doenças tais como escova, raspadeira, cânula,

agulhas de injeção, material cirúrgico, baldes, correias, esporas, camas, bebedouros, comedouros,
veículos, bandejas de ovos, incubadoras e as mãos (independe da infecção do homem).
b2- Ar: é uma transmissão à distância e a veiculação do agente ocorre por: Poeiras, Gotículas de Flügge e
Núcleos de Wells.
b2.1. POEIRAS: pressupõe a eliminação do agente para o meio exterior através de descargas mucosas
ou purulentas, secreções oronasais, fezes e urina e é favorável aos agentes resistentes à
dessecação lenta.O material sofre dessecação que pode ser colocado em suspensão no ar
atmosférico juntamente com as poeiras do meio ambiente. Ex: O Bacilo da Tuberculose resiste
bem à dessecação persistindo por muito tempo nas instalações (piso, estábulos, cocho, Box etc) e
são colocadas em ressuspensão no ar pela varredura à seco, ventos, movimentação dos animais.
O agente da Febre Q (Coxiella burnetti) também apresenta apreciável resistência às condições do
meio ambiente.
b2.2. GOTÍCULAS DE FLÜGGE E NÚCLEOS DE WELLS: A tosse, espirro e expectoração promovem
a eliminação, para o meio exterior, de agentes de doenças respiratórias contidos em matéria
orgânica (secreções e excreções). Dessecam-se sob ação da temperatura e umidade formando
partículas de tamanhos também diferentes. A diferenciação se faz pelas dimensões das
partículas formadas. As GOTÍCULAS DE FLÜGGE são formadas pela dessecação de secreções
ou excreções da orofaringe eliminadas pela tosse ou expectoração e medem 0,1 mm ou mais de
diâmetro. NÚCLEOS DE WELLS são formados pela dessecação de secreções e excreções da
orofaringe eliminadas pelo espirro e medem 0,1 mm ou menos de diâmetro. A importância do
tamanho das partículas na transmissão é que as menores sofrem uma dessecação mais rápida
que é menos deletéria para o agente e assim podem permanecer mais tempo suspensas no ar e
seu raio de ação é muito maior que o das partículas maiores. Agentes frágeis às condições do

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meio encontram maior facilidade de sobrevivência quando no interior de núcleos do que em
gotículas ou poeiras. Pressupõe a eliminação pelo espirro. Ex: Os vírus da Cinomose, da
Influenza, Doença de Newcastle são transmitidos dos por núcleos. Os agentes das Psitacose e
Micoplasmoses aviárias são transmitidos por gotículas e o S. equi pode ser transmitido tanto por
gotículas como por poeiras.

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Figura 10 – Ilustração de GotículAs de Flügge e Núcleos de Wells antes e depois da dessecação

Dessecação rápida

Dessecação rápida

SECREÇÃO do ESPIRRO NÚCLEO DE WEELS

Dessecação lenta

Dessecação lenta
SECREÇÃO da TOSSE GOTÍCULA DE FLUGGE

NÚCLEOS PERMANECEM EM SUSPENSÃO NO AR


PROFILAXIA: RENOVAÇÃO DO AR ou DESINFECÇÃO

GOTÍCULAS DE FLUGGE SEDIMENTAM NO PISO


PROFILAXIA: EVITAR MOVIMENTOS BRUSCOS E
VARREDURA A SECO

c. VETORES: São definidos como organismos invertebrados no interior do qual o parasito é protegido,
multiplicando - se ou replicando - se ou realizando fase do seu ciclo de vida. São usualmente
representados por artrópodes. Podem ser Mecânico e Biológico.
c1 - Vetor Mecânico: O papel epidemiológico destes vetores é de simples carreador do parasito não
oferecendo nenhum microclima para o agente etiológico com o intuito de protege-lo das condições do
meio ambiente. Exemplo de vetor mecânico mais difundido é a Musca domestica que tem uma
relação meramente acidental com agentes de doença. Outro exemplo é a Habronemose. O vetor pode
contaminar-se pousando sobre fezes de doentes e carrear agentes de doença no exterior de seu

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organismo e conduzir à propagação da doença a outros suscetíveis. Identicamente podem carrear
agentes contidos em expectorações ou em outro veículo de eliminação do parasito. O novo
hospedeiro infecta-se ingerindo o vetor mecânico ou quando este pousa na superfície do organismo
do mesmo, mas via de regra é uma contaminação acidental do vetor. Existe um caso particular de
vetor mecânico imprescindível à propagação de doença. É o caso dos Tabanideos responsáveis pela
transmissão da Anemia Infecciosa Eqüina que nas regiões pantanosas, nicho deste artrópode, é a
mais importante via de transmissão, senão a única.
c2 - Vetor Biológico: apresenta diferença quanto sua importância, pois, apresenta o mecanismo de

transmissão mais importante para ganhar um novo hospedeiro. São organismos invertebrados
capazes de , ativamente, retirar o agente etiológico do organismo da fonte de infecção e a o novo
suscetível é infectado através do vetor ao se alimentar ou quando da deposição de fezes próximo ao
local da lesão da pele determinada pelo próprio vetor durante o seu repasto sanguíneo. É uma
situação favorável a agentes frágeis às condições do meio ambiente e além de propiciar proteção, no
interior do mesmo, o agente pode realizar fase de seu ciclo biológico ou apenas ampliar a dose
infectante pela multiplicação ou replicação. Portanto, ativamente o vetor retira o agente do organismo
da FI e ativamente leva-o até um novo hospedeiro. É quase sempre a principal via de transmissão,
senão a única.Desde o momento da infecção do vetor até o momento de se tornar infectante, decorre
um certo período de tempo, durante o qual ocorre um aumento de densidade do parasito suficiente
para infectar um novo hospedeiro. Este período de tempo é denominado período extrínseco de
incubação. Ex: Na Febre Amarela, este período é de 14-15 dias. Estes aspectos são importantes
quando se considera a possibilidade de transmissão porque um vetor sugando uma certa quantidade
de sangue que contém uma pequena quantidade do parasito não é suficiente para produzir a infecção.
Com a multiplicação/replicação do parasito no organismo do vetor, ocorre um aumento na
concentração do parasito que será carreado para um novo hospedeiro. No caso em que o parasito
sofre transformação ou multiplicação no vetor, o período extrínseco de incubação sofre influência da
temperatura e umidade e dentro de uma série de combinações destes fatores, processa-se com uma
certa velocidade. Quando há redução da umidade ou da temperatura, pode haver interferência no
período extrínseco de incubação e o vetor pode ou não se transformar em infectante. O período
favorável é sempre um determinado período do ano.

Vetores biológicos e mecânicos apresentam portanto, diferenças fundamentais no mecanismo de


transmissão, pois a eliminação ou controle de ambos não repercute igualmente reduzindo a ocorrência
da doença.
Doenças que dependem de vetores biológicos. Encefalomielites eqüinas, Babesiose,
Anaplasmose, Nutaliose, Febre Q, Doença de Lyme, Malária, Febre Amarela, Dengue, Filariose
canina. A destruição do vetor reduz consideravelmente a ocorrência da doença.
Doenças que dependes de vetor mecânico: Salmonelose, colibacilose, AIE.

FEBRE AMARELA: Considere este exemplo para enfatizar o entendimento do conceito de


Reservatório. Existem as modalidades urbana e silvestre da doença. Era uma doença rural e o homem
penetrando nas matas, nicho ecológico primordial da doença, retornou ao seu meio com o vírus em
seu organismo qe descobriu que o Aedes aegypty permitia a propagação do vírus de homem para

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homem. Com o advento do inseticida BHC foi possível controlar a população do vetor e assim controlar
a doença no homem. A erradicação desta doença seria possível com o advento de inseticidas de largo
espectro e com elevado efeito residual para fins de erradicação do mosquito na residência pelo uso
sistemático, mas que não apresentou os resultados almejados face aos conhecimentos incompletos
acerca da Epidemiologia da doença. Existem outros animais vertebrados e outras espécies de
mosquitos (Haemagogus) que se apresentam em associação transmitindo a infecção de um indivíduo
para outro na população desta outra espécie animal e neste outro meio ecológico, é impossível a
aplicação de medidas profiláticas por tratar-se de meio silvestre. Portanto, apenas a Febre Amarela na
sua modalidade urbana foi erradicada.

d. HOSPEDEIRO INTERCALADO: organismo invertebrado intercalado entre a fonte de infecção e o


suscetível que não procura ativamente o parasito (participação passiva) e não leva também ativamente o
mesmo parasito a um novo suscetível. Por outro lado, este hospedeiro intercalado permite a realização de
uma fase do ciclo biológico do parasito no interior de seu organismo.
Ex. para um adequado entendimento, considere-se o exemplo da transmissão da Esquistossomose há a
participação de um hospedeiro intercalado da seguinte forma: a fonte de infecção elimina ovos do parasito
pelas fezes e, no solo, encontrando condições favoráveis de umidade e temperatura, os ovos eclodem
liberando miracídeos que apresentam curto período de vida e, ao encontrarem o hospedeiro intercalado,
molusco de vida livre (PLANORBIDEO), penetram ativamente em seu organismo, evoluem até cercárias
que deixam ativamente o corpo do invertebrado. O molusco é, portanto, um elo necessário para que o
parasito realize fase de seu ciclo no meio exterior e o período de tempo que o parasito permanece no
organismo do hospedeiro intercalado é denominado período extrínseco de incubação. Identicamente ao
vetor biológico, o hospedeiro intercalado permite a multiplicação ou realização de fase do ciclo biológico do
agente etiológico no seu interior oferecendo condições para a transmissão de um elevado nº de parasitas,
mas difere do vetor biológico por não procurar ativamente o agente etiológico e nem participar ativamente
na transmissão do mesmo. O protozoário Histomonas meleagridis, parasito pouco resistente às condições
do meio ambiente, vale-se do ovo do helminto (Heterakis gallinae) que permitirá a sobrevivência do
protozoário às condições adversas do meio ambiente. Na Habronemose, o hospedeiro intercalado é
representado pela larva da mosca. Na Influenza suína, é o ovo de um helminto (Metastrongylus) que irá
localizar-se no interior de uma minhoca. O helminto e a minhoca são hospedeiros intercalados.

a. ALIMENTOS: Nesta modalidade de transmissão é longa a trajetória do parasito desde a FI até atingir o
suscetível. São muitos os mecanismos de contaminação dos alimentos:
e1- O alimento pode estar contaminado na sua origem quando procede de animais infectados. Ex: animais
infectados com Cisticercos, Salmonelas, M. tuberculosis ou M. bovis, Peste Suína Clássica que têm no
alimento o mecanismo mais importante de transmissão. Há que se lembrar do caso da Febre Aftosa
onde o vírus permanece viável no interior de ossos longos. Existe menção de epidemia de Febre
Aftosa na Grã Bretanha devido à carne de bovino contaminada procedente da Argentina.
e2- Os alimentos podem se contaminar durante os processos de manipulação principalmente pelas mãos
contaminadas dos manipuladores, instalações, fômites, água ou pela presença de vetores mecânicos.
Nestas condições, é preciso que o agente seja resistente às condições do meio ambiente. Ex. S.
enteritidis, S. aureus, E. coli, L. monocitogenes, etc. O alimento pode estar com pequena carga

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contaminante que pode se amplificar durante a armazenagem ou durante a exposição do alimento em
prateleiras do varejo. Ex. S. enteritidis

b. ÁGUA: Dentre os alimentos é a água que está mais sujeita à contaminação. As águas encontradas na
natureza provem das chuvas que ao cair forma as águas superficiais (rio, lagos e reservatórios) e
profundas (lençóis freático e cativo). Raramente é encontrada sob forma pura (líquido incolor, inodoro,
insípido e transparente) na natureza, pois sendo o solvente universal, pode conter impurezas que varia de
alguns mg/l (água de chuva) ou mais do que 30 mil mg/l (água do mar) e dentre os 103 elementos
químicos conhecidos, a maioria é encontrada na água sob diferentes formas. A capacidade de dissolver
substâncias aumenta com o aumento da concentração de gás carbônico dissolvido (oriundo da atmosfera
e de matéria orgânica em decomposição). Assim, a água dissolve e incorpora substancias que dissolve
durante a percolação do solo. As impurezas mais comuns podem ser aquelas encontradas em: i)
suspensão como algas e protozoários (conferem sabor, odor, cor e turbidez), areia, silte e argila (conferem
turbidez) e resíduos industriais; ii) em estado coloidal como bactérias e vírus (patogênicos ou não),
substâncias de origem vegetal (conferem odor, acidez e sabor); iii) dissolvidas côo minerais (cálcio e
magnésio), compostos orgânicos e gases.
As características físicas (pouco importante do ponto de vista sanitário) são aquelas conferidas pela cor
(verdadeira ou aparente), turbidez, pH, sabor, odor, temperatura e condutividade elétrica. As
características químicas (maior importância sanitária) são as relacionadas com alcalinidade (carbonatos e
bicarbonatos de Na+ ou de K+), acidez (CO2 livre e ácidos minerais fortes dissolvidos), dureza (carbonatos
e bicarbonatos de Ca ++
e de Mg++), sólidos totais (Ferro, Manganês, cloretos, sulfatos, nitratos), Oxigênio
total e demanda de O 2 (matéria orgânica dissolvida), fenóis e detergentes, e substâncias tóxicas (Arsênico,
cromo, cobre, chumbo selênio etc). As características biológicas são i) hidrobiológica (algas, bactérias,
protozoários e helmintos), e ii) microbiológica (total de bactérias e NMP de coliformes fecais). Ao percolar
o solo dissolve tudo quanto encontra pelo caminho e as águas de lençol freático são mais contaminadas
que as de lençol cativo.

c. Solo: É particularmente importante nos casos em que o parasito cumpre, obrigatoriamente, fase de seu
ciclo biológico no meio exterior ou então, nos casos em que o agente apresenta elevada resistência às
condições do meio ambiente ou apresenta formas de resistência. Neste caso, a penetração do agente no
organismo do suscetível pode ser ativa ou passiva
Passiva: Quando o animal ingere alimentos contaminados ou os agentes etiológicos que apresentam
formas de resistência e são ingeridos com os alimentos ou pastagens contaminadas. Ex: B. anthracis. C.
tetani . Trichostrongylus sp. Ascaris lumbricoides, Ascaridia galli, oocistos de Eimerias de galinhas, etc
Ativa: O agente etiológico é capaz de , ativamente, penetrar no organismo do hospedeiro principalmente
pela pele íntegra. Ex: Ancilostomose. Leptospirose, Bunostomose. Taquizoitos de Toxoplasma gondii.

d. PRODUTOS BIOLÓGICOS: podem carrear agentes de doenças principalemnte se forem produzidos em


animais acidentalmente infectados ou cultivos celulares acidentalmente contaminados coma agentes
patogênicos. Ex. vacinas contra determinada doença contaminada com agentes de outra doença. Soros
hiperimunes contaminados com agentes patogênicos.

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e. PRODUTOS DE REPRODUÇÃO: sêmen e embriões. O sêmen pode transmitir agentes da PSC, IBR,
Brucelose etc pelo coito ou inseminação artificial. Embriões são importantes no caso de doenças de
transmissão vertical.

f. TRANSMISSÃO TRANSPLACENTÁRIA OU INTRAUTERINA: vírus (baixas patogenicidade e virulência)


da Peste Suína Clássica, Toxoplasmose, Ancilostomose, etc. O feto é capaz de proteger-se contra
infecções, mas é menos capaz que o adulto, porque embora não seja totalmente indefeso, seu sistema
imune não está com sua total capacidade de funcionamento e conseqüentemente vários processos que
são inaparentes ou brandos para a mãe podem ser severos ou letais no feto. São exemplos, a
Rinotraquite Infecciosa Bovina (IBR causada pelo Herpesvírus-1 bovino), Diarréia Viral Bovina (BVD)
caracterizada por má formação fetal do sistema nervoso e ocular e geralmente associada a defeitos do
maxilar, atrofia e retardamento crescentes, rubéola dos humanos, toxoplasmose (infecção causada pelo
protozoário Toxoplasma gondii). Como a 1a manifestação no feto é uma hiperplasia linfóide com produção
de altos níveis de imunoglobulinas, a sua presença, em animais que não receberam ainda colostro, é
indicativo de estimulação imunogênica intra-uterina, Doença de Border de fetos de ovinos (causada por
um pestivírus relacionado com vírus da BVD) desenvolvem um velo peludo e comprometimento nervoso
com redução da mielinizaçao, sobrevivem à virose, não produzem Ac e tornam-se portadores. Na BVD
causada pela estirpe/biótipo não citopático antes dos 100-120 dias de gestação, ocorre uma infecção
persistente, os bezerros serão imunotolerantes e portadores do vírus eliminando por todas as secreções e
excreções.

g. RRANSMISSÃO TRANSOVARIANA: Leucose aviária, Micoplasmoses aviárias, Salmonelose (S. pullorum)

4- MODALIDADES DE PORTAS DE ENTRADA:

Por um dos meios de vias de transmissão já citados, o agente etiológico ganha um novo hospedeiro através da
Porta de Entrada. A via de eliminação é epidemiologicamente importante quando o parasito encontra um
veículo de transmissão adequado. Ex: Se o vírus da raiva que é eliminado pela saliva encontra um fômite, este
não é capaz de permitir a transmissão e, portanto não apresenta importância epidemiológica. Quando ovos de
helmintos são eliminados pelas fezes, encontra no solo a via de transmissão mais importante e pode penetrar
no organismo do suscetível pela pele ou pela boca. Quando eliminados pelas secreções oro - nasais, são
transmitidos pelo ar e a penetração ocorre pela mucosa respiratória.

Há, portanto, uma estreita relação entre a via de transmissão e a porta de entrada. Assim, seguem - se
algumas das mais importantes portas de entrada:

a. Mucosa do aparelho respiratório (nasal). Para agentes de transmissão é aerógena;


b. Mucosa do aparelho digestivo (oral). Quando a via de transmissão é representada principalmente por
fômites, alimentos, e contágio direto (beijo, mordedura ou lambedura).
c. Pele. Quando a principal via de transmissão é representada por vetores biológicos ou quando o agente é
capaz de ultrapassar a barreira da pele por possuir enzimas.
d. Cicatriz umbilical. Ocorre a entrada de agentes durante uma fase da vida do suscetível .

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e. Canal do teto. Penetração de agentes de mastites.
f. Ferimentos. Quando do contato com fômites, fezes ou solo.
g. Mucosa conjuntival. Acesso para agentes de conjuntivites

RELAÇÃO HOSPEDEIRO–PARASITA:

Infecção e doença infecciosa: certamente o epidemiologista não está restrito às doenças infecciosas a
despeito dos Serviços Oficias de Defesa Animal não estarem se orientando para procedimentos de profilaxia
de doenças não infecciosas.
Infecção: é um estado de simbiose ou prodrômico significando que o organismo de um hospedeiro foi invadido
por um microorganismo. Se a relação beneficia o hospedeiro, a relação pode ser denominada de
comensalismo e a relação (infecção) é denominada subclínica ou inaparente. Se a infecção não beneficia o
hospedeiro, a relação é denominada parasitismo resultando em doença infecciosa.

Harmonia ou desarmonia entre hospedeiro e parasito e entre população de parasitos e população de


hospedeiros é uma luta ou conflito, com ou sem trégua, entre 2 forças opostas (do agente invasor e das
defesas do hospedeiro). Médicos Veterinários e Médicos são “lutadores” e seus esforços estão direcionados
para a conquista do da doença e esta estratégia sugere um conflito de natureza militar. Em 1936, o Veterinário
Maurice C. Hall descreveu o processo doença e as possibilidades de combate em termos de estratégia e
táticas militares. Relata que, em trabalhos de laboratório são dispensados conhecimentos de topografia,
climatologia, condições de manejo, e outras informações que são pertinentes para transformar resultados
laboratoriais em medidas de controle. A mesma dificuldade parece ocorrer ao nível de hospitais. Cita a
importância dos treinamentos para o desenvolvimento de profissionais de diferentes setores da saúde animal
em genialidade militar para aplicar recursos já desenvolvidas pelos gênios militares “estimativa da situação e
aplicação das estratégias e táticas da ARTE DA GUERRA” para a solução de problemas de saúde animal
(defesa sanitária animal).

A força de serviço de um epidemiologista está na capacidade de i) conduzir e interpretar programas de


inteligência diagnóstica de Vigilância Epidemiológica ou de acompanhamento intensivo e ii) usar estes
instrumentos e conhecimentos para selecionar e manter estratégias apropriadas de ações.

René Dubos, em meio aos conflitos e disputas entre profissionais e a despeito da predisposição dos clínicos,
patologistas e alguns em adotarem estratégias militares, menciona que no atual panorama do processo
evolutivo das infecções, há uma tendência para uma relação de paz (comensalismo) haja vista a capacidade
que muitos parasitos estão apresentando em não causar doença em seus hospedeiros e estes, por seu turno,
desenvolvendo capacidade de prevenir a expressão da patogenicidade com maior freqüência do que a
capacidade de provocar doença sem contudo ignorar certos parasitos altamente patogênicos. O mesmo autor
lembra que um agente usualmente pouco ou nada patogênico pode vir a causar doença não em função dos
fatores ligados ao agente (patogenicidade e virulência), mas devido a fatores ligados ao hospedeiro (estado
imunitário e constituição para resistir ao estresse do meio ambiente) e esta abordagem é essencialmente
epidemiológico.

Para muitos epidemiologistas parece lícito que toda relação harmônica (comensalismo) tem início em uma
relação desarmônica e de caráter epidêmico e que a seleção de população de parasitos menos patogênicos e

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de população de hospedeiros mais resistentes resultaria em uma ocorrência endêmica e desta tendendo para
uma relação inaparente e desta para um comensalismo.

Infecções latentes: é uma condição inaparente conseqüente a fatores ligados ao hospedeiro como uma
resposta endócrina ao estresse e/ou ligada ao parasito (retrovírus – latência no núcleo de células infectadas na
forma de DNA, herpesvírus em células de filetes nervosos)

Modalidades de relação hospedeiro-parasito:


Relação Desarmônica: Há o favorecimento do parasito ou do hospedeiro.
a. O parasito pode penetrar no organismo do novo hospedeiro e pode ser destruído logo no início em
conseqüência a uma resistência natural ou a uma imunidade adquirida e ocorre a destruição do parasito.
Isto denota que o hospedeiro não é suscetível ao parasito. O hospedeiro poderá se beneficiar ou não
com a imunidade contra novos ataques diante de um mesmo parasito.
b. Numa situação inversa, o parasito poderá provocar infecção ou doença e a morte do hospedeiro. Ex:
Raiva. O parasito destrói seu hospedeiro seja cão, homem ou bovino. Peste suína Clássica pela cepa de
baixa virulência. Um animal infectado pode infectar-se ou adoecer, mas não morre e pode beneficiar-se
da imunidade instalada.
c. A penetração do parasito no organismo do susceptível poderá levar à instalação de uma infecção porque
o parasito encontrou condições para se instalar, podendo se multiplicar/replicar e assim causar
danos/doença ao organismo do novo hospedeiro. As reações no organismo do hospedeiro poderão ser
em maior ou menor intensidade, mas a luta ou não apresenta uma decisão em um curto período de
tempo ou permanece longo tempo sem decisão. Neste caso, o hospedeiro terá que hospedar o parasito
por um longo período de tempo. Diante desta luta sem trégua, o parasito poderá prejudicar
continuamente o hospedeiro pela sua permanência neste organismo ou o prejuízo poderá ser limitado
com benefício posterior do hospedeiro. Ex: Anemia Infecciosa Eqüina, Brucelose, Tuberculose. São
doenças crônicas com prejuízo maior ou menor de acordo com a relação hospedeiro-parasito instalada.
Neste caso, o parasito mantém com o hospedeiro uma luta sem trégua por longo período de tempo que
se apresenta sem decisão com danos contínuos para o hospedeiro.

Relação Harmônica: O parasito pode penetrar no hospedeiro, mas nenhuma luta perceptível é observada.
Isto ocorre nas infecções e o hospedeiro poderá se beneficiar pela imunidade que se estabelece. Ex.:
Babesiose, Anaplasmose, Nutaliose, Hepatite, Toxoplasmose, Difteria, Mastite, Toxoplasmose. Mais
importante do ponto de vista da Epidemiologia é o reflexo da conseqüência quando se estabelece uma relação
hospedeiro-parasito do ponto de vista populacional. Parasito e hospedeiro possuem armas particulares. O
parasito com a Infectividade, Patogenicidade, Virulência, Resistência, Imunogenicidade e Persistência. O
hospedeiro com a Resistência e Imunidade.

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CARACTERÍSTICAS DO PARASITO DE IMPORTÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
1. Infectividade: Capacidade que tem o agente de penetrar e se instalar no organismo superior. Pode ser
medida e pode variar segundo o agente etiológico. Quando for suficiente um pequeno nº de agente
etiológico para determinar a infecção do hospedeiro, diz-se que este apresenta alta infectividade. Outros
agentes precisam penetrar em nº elevado para se alojar no organismo do suscetível e neste caso diz-se
que apresenta baixa infectividade. As doses infectantes podem variar na dependência da natureza do
próprio parasita. De modo geral pode - se dizer que quanto menor for a dose infectante, maior será a
infectividade do agente e o inverso também é verdadeiro.
2. Patogenicidade: Capacidade que tem o agente de produzir aparecimento de sinal clínico e é, portanto,
medida pela freqüência de casos de doença e é uma característica do agente. Para ilustrar: se tivermos
100 animais infectados e um pequeno nº deles manifestarem sintomas ou sinais clínicos, diz-se que o
agente apresenta baixa patogenicidade. Ex.: Infecção pelo Corynebacterium diphteriae, vírus da
Poliomielite. Quando um elevado nº de indivíduos, dentre os infectados, adoecer, diz - se que o agente
apresenta alta patogenicidade. Ex.. Vírus da Febre Aftosa, vírus da Peste Suína Clássica, vírus da Doença
de Newcastle.
3. Virulência: é a medida da intensidade da patogenicidade. Pode-se ter parasitos que manifestam baixa
patogenicidade e alta virulência como é o caso da Poliomielite, Difteria, Toxoplasmose, pois uma vez
instalada a doença esta é severa. Existem casos em que o agente apresenta altas patogenicidade e
virulência como é o caso da Febre Aftosa.
4. Resistência: é a capacidade que um agente pode apresentar para sobreviver na natureza em ausência de
parasitismo. Ex.: o vírus da raiva não apresenta resistência ao meio ambiente. Oocistos, ovos de
helmintos, esporos de Clostridios resistem às condições do meio ambiente.
5. Imunogenicidade: é a capacidade que o agente tem de estimular uma resposta imune. Ex.; O vírus
da Febre Aftosa, da Doença de Newcastle, Micoplasmas, Salmonelas (S. pullorum, S. gallinarum ) são
altamente imunogênico. O Corynebacteriun pyogenes apresenta baixa imunogenicidade.
6. Persistência: Propriedade do agente, uma vez introduzido numa população, nela permanecer por longo
tempo senão indefinidamente.

CARACTERÍSTICAS DO HOSPEDEIRO DE IMPORTÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA


1. Resistência: é uma qualidade inata do próprio animal. Diz respeito a refratoriedade. Ex.: a galinha é
resistente ao antrax. O bovino é resistente ao vírus da Peste Suína Clássica. O eqüino é resistente ao vírus da
Febre Aftosa.
2. Imunidade: implica numa experiência prévia do hospedeiro com os princípios imunogênicos do parasito ou
é decorrente de anticorpos que são transferidos para o hospedeiro de forma passiva ( transplacentária, soro,
colostro ) ou adquirida de forma ativa ( vacinação ).

CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE IMUNIDADE POPULACIONAL: Durante uma relação estabelecida


entre hospedeiro e parasito, devemos observar as conseqüências desta relação numa população. Quando
existe certa resistência significa que o hospedeiro não é o habitual. Se o parasito é capaz de provocar doença
e estimular uma resposta imunitária, esta apresenta uma importância na ocorrência da doença na população
de hospedeiros porque a maior ou menor proporção de animais imunes poderá determinar uma menor ou
maior ocorrência da doença nesta população.

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1. Entendimento de como ocorre uma epidemia em função da imunidade populacional: Inicialmente, em
um raciocínio individual, temos a seguinte situação: se um animal é vacinado em um tempo t 0, a taxa de
anticorpos irá aumentando gradativamente. Se este animal for exposto a uma infecção num tempo t 1 anterior
ao momento do nível de anticorpos atingir o limiar de proteção, então este animal não estará protegido. Os
níveis de anticorpos não foram suficientes para protegê-lo porque existe um nível de proteção acima do qual o
animal estará protegido diante de um risco usual de infecção e abaixo do qual não estará protegido. Para uma
população vale o seguinte raciocínio: se tivermos uma população de suscetíveis, i.é. sem imunidade de
qualquer espécie, a doença pode se propagar com certa velocidade. Se certa porcentagem de animais está
imune, significa que a população possui certa quantidade de anticorpos, porém, insuficientes para proteger
toda a população. Se aumentar a proporção de animais imunes, isto significa um aumento da imunidade
populacional e quando esta porcentagem é elevada, estes animais imunes são suficientes para proteger toda a
população diante de uma infecção. Esta situação é conseguida quando 70% da população estiver imune
porque a probabilidade de propagação da infecção torna-se muito baixa, pois estes 70% são suficientes para
proteger os restantes 30%. Este princípio pressupõe a utilização correta de vacinas de eficácia elevada e
comprovada. Depois de estabelecidos estes conhecimento, pode-se entender como ocorre uma epidemia que
é sempre uma análise retrospectiva como ilustrado na fig. 11.

Figura 11 - Ocorrência de epidemia em função ao nº de suscetíveis

suscetíveis
no. de casos

Nível Endêmico

Freq.

Tempo

A doença está ocorrendo em níveis endêmicos e de repente ocorre uma epidemia e assim sucessivamente.
Diz-se que a doença está apresentando uma variação cíclica na sua ocorrência. Como pode ser isto
explicado? Se neste gráfico está representada a proporção de suscetíveis por pontos interrompidos, num
determinado momento a quantidade dos mesmos estará aumentada porque a doença está ocorrendo
endemicamente e há diminuição da proporção de indivíduos imunes e há então condições para a instalação da
doença e com a ocorrência desses casos de doença, a população de suscetíveis diminui a doença retorna ao
nível endêmico. As oportunidades de infecção diminuem com o aumento da proporção de indivíduos imunes.
Isto explica porque a determinados intervalos de tempo a doença aparece com características de epidemia que
depende do grau de imunidade da população.

2. Entendimento de como uma população é protegido em função da imunidade populacional:


Considerando uma mesma espécie animal, a condição de imunidade apresenta grande importância. A
resistência de um indivíduo depende do seu nível de imunidade. A taxa de anticorpos específicos contra um
mesmo agente que uma mesma espécie animal pode apresentar em função da própria experiência passada
com a doença, influi muito na persistência da doença na população. Se considerarmos um indivíduo em um
gráfico (figura 11 e figura 12 ) e uma paralela abscissa indicando o nível de proteção contra doses usuais

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infectantes e se representássemos a taxa de anticorpos de um indivíduo superior ao nível de proteção, este
estaria protegido contra doses usuais infectantes.

Figura 12 - Ilustração do nível de proteção contra doses infectantes usuais

Nível
de Ac
Indivíduo Protegido

Nível de Proteção

Indivíduo não protegido

Tempo

O nível de imunidade na população dependerá da proporção de indivíduos que apresentam anticorpos em


níveis suficientes para garantir a proteção contra doses usuais da infecção. Se numa população é alto o
percentual de indivíduos protegidos, a somatória irá conduzir à proteção da população considerada como um
todo. Uma doença não ocorrerá ou incidirá em níveis baixos se um alto percentual destes indivíduos estiver
protegido. Tal imunidade pode ser naturalmente ou artificialmente adquirida.

IMUNIDADE: a maior ou menor imunidade diante de uma doença depende da imunidade contra o parasito.
Figura 13 – Proteção de um indivíduo contra doses infectantes usuais

Nível
de Ac

Nível de Ac Protetor

Tempo
A figura 13 ilustra essa situação para um indivíduo enquanto a figura 14 ilustra a situação para uma população.
Somente no tempo entre t 1 e t2, o hospedeiro estaria protegido contra exposições a doses infectantes usuais.

Antes e depois, possivelmente o hospedeiro poderia não ser capaz de resistir à doses infectantes. Tal
panorama individual poderia ser transferido para uma população. O espaço (t 2 - t1) é o intervalo de proteção

da população contra uma epidemia e neste período é pequena a porcentagem de fontes de infecção. Se o nº
de animais presentes em um rebanho for igual a 10; o nº de fonte de infecção igual a 2; e o nº de animais
imunes igual a 8. Então, a probabilidade da Fonte de Infecção atingir um suscetível é igual a 20%. As fontes de
infecção podem transformar-se em animais imunes sem a probabilidade de transferir a infecção para outros
animais.

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Figura 14 – Proteção de uma população contra doses infectantes usuais

%
%
hospedeiro
s imunes

Nível de proteção
contra epidemias

tempo

Somente no tempo entre t 1 e t2, o hospedeiro estaria protegido contra exposições a doses infectantes usuais.

Antes e depois, possivelmente o hospedeiro poderia não ser capaz de resistir à doses infectantes. Tal
panorama individual poderia ser transferido para uma população. O espaço (t 2 - t1) é o intervalo de proteção

da população contra uma epidemia e neste período é pequena a porcentagem de fontes de infecção. Se o nº
de animais presentes em um rebanho for igual a 10; o nº de fonte de infecção igual a 2; e o nº de animais
imunes igual a 8. Então, a probabilidade da Fonte de Infecção atingir um suscetível é igual a 20%. As fontes de
infecção podem transformar-se em animais imunes sem a probabilidade de transferir a infecção para outros
animais.

CONSIDERAÇÕES SOBRE PERSISTÊNCIA: Considere algumas situações: suponha um agente etiológico


que é um parasito obrigatório, ou seja, não é capaz de viver em ausência de parasitismo e seja capaz de
parasitar apenas uma espécie de hospedeiro (monovalente em relação ao parasitismo) e além disso apresenta
pequena resistência às condições do meio ambiente e que implica na sua destruição em breve prazo na
ausência de parasitismo. Pode-se prever para um agente com estas características certa dificuldade para a
sua persistência. O problema é agravado se o parasito determinar uma infecção com curto período de
transmissibilidade (período no qual o parasito é transferido do organismo da FI para o de suscetível) e mais
ainda, quando de uma relação desarmônica com o hospedeiro determinando sólida imunidade ou alta
capacidade letal. Para um agente com estas características, para persistir numa população é preciso uma
cadeia contínua de casos. Ex.: vírus do sarampo, cinomose, doenças exóticas confinadas no continente
africano, etc. Nas Ilhas de Faroe o sarampo, doença de alta transmissibilidade, incidia preferencialmente entre
crianças. Mas, num determinado ano, a doença percorreu a ilha acometendo todos os indivíduos e se extinguiu
e por mais ou menos 60 anos não se teve notícia de sarampo. Com o advento dos meios de transporte mais
rápidos, a doença foi reintroduzida na ilha, pois o período de transmissibilidade tornou-se maior que o período
de viagem e assim toda a população com menos de 60 anos de idade se infectou e adoeceu em conseqüência
ao sarampo.

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Quanto maior for o tamanho da população, maior será também o estoque de suscetíveis e a transmissão será
facilitada pelos meios de transporte rápidos e grandes migrações ou movimentações de animais no circuito
pecuário.

Parasitos com tais características já foram extintos de diferentes populações de hospedeiros, mas deve
possuir armas para persistir na natureza. Por ex.: o vírus da raiva é um parasito obrigatório; possui pequena
resistência ao meio ambiente; o período de transmissibilidade é curto; e a infecção é altamente fatal. Portanto,
o vírus procura recursos para sobreviver na natureza como espécie e irá aumentar, nesse caso, o potencial de
suscetíveis parasitando inúmeras espécies animais (polivalente quanto às espécies capaz de parasitar) e
apresentando tais características seria previsível admitir que a natureza da relação hospedeiro - parasita não
fosse exatamente a mesma para cada hospedeiro mas, com nuances como realmente ocorre. Morcegos
passam a atuar como reservatórios (portadores sãos e convalescentes) com maior período de
transmissibilidade promovendo maior persistência do agente numa população.

RECURSOS QUE O PARASITO UTILIZA PARA GARANTIR A SUA SOBREVIVÊNCIA COMO ESPÉCIE:

1. Se apresentar alta capacidade letal, recorre a polivalência de hospedeiros. Ex. vírus da raiva;
2. Se a incompatibilidade é total com a morte do parasito, um dos recursos seria o do agente apresentar
baixo poder imunogênico como ocorre com germes piogênicos.
3. Se o agente determina uma significante resposta imunitária, recorre à variação antigênica e que conduz à
reutilização do mesmo hospedeiro. Ex.: vírus da Febre Aftosa, da gripe, da Anemia Infecciosa Eqüina.

CARACTERÍSTICAS DO HOSPEDEIRO QUE PODEM INFLUIR NA PERSISTÊNCIA DE UMA DOENÇA EM


UMA POPULAÇÃO:

1. Espécie Animal: Algumas espécies animais são refratárias a determinados agentes, outras são mais
suscetíveis e tal suscetibilidade pode variar sendo uma maior que outras. A suscetibilidade e refratoriedade
dependem da adequacidade do meio interno do organismo do hospedeiro facilitando ou não a implantação
e multiplicação/replicação do agente etiológico, inclusive às próprias condições ligadas à transmissão. Ex.:
Vírus da Encefalomielite eqüina pode infectar diversas espécies como aves, eqüinos, homem. Aves
silvestres e eqüinos: estes hospedeiros proporcionam diferentes condições para a transmissão através
artrópodes hematófagos. A viremia nas aves silvestres é sempre de maior intensidade e de maior
duração, enquanto que nos eqüinos é de pequena intensidade e raramente conduz à infecção do próprio
artrópode.

2. Sexo: determina uma diferença fisiológica com uma grande importância quando das fêmeas e vinculado ao
parto e à prenhes e até mesmo a manifestação da doença que depende da diferença fisiológica. Ex.:
Tricomonose e Campilobacteriose (as manifestações clínicas são muito mais severas entre as fêmeas).
Condições fisiológicas, mesmo transitórias como o caso da prenhês, pode alterar ou modificar o
comportamento do hospedeiro frente a diferentes doenças. Mulheres grávidas são mais suscetíveis ao

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vírus da poliomielite em decorrência das alterações hormonais. Mulheres na menopausa são mais
suscetíveis à hepatite Infecciosa.

3. Idade: determinadas doenças ocorrem preferencialmente em determinados grupos etários. Ex.:


Colibacilose dos bezerros, Manqueira ou Carbúnculo em animais com aproximadamente 6 meses de
idade e Brucelose em animais sexualmente maduros (Figura 15).

A Brucelose bovina ocorre com maior freqüência em animais com mais de 2 anos de idade. O paratifo
acomete recém-nascido. Como explicar tal comportamento preferencial em função da idade dos
indivíduos? No caso da Colibacilose tem-se um maior vulnerabilidade, mais especificamente do trato
gastrintestinal por apresentarem nos 1º dias de vida receptores para a bactéria nas vilosidades intestinais
que desaparecem por volta dos 15 dias de idade. No caso da manqueira está relacionado com o
desaparecimento da imunidade colostral. Na Brucelose, os bovinos sexualmente imaturos são refratários à
infecção e tornam-se suscetíveis quando atingem a maturidade sexual.

A distribuição de determinadas doenças depende de uma série de fatores ligados à fenômenos de


imunidade, vulnerabilidade e fisiologia.

Figura 15 – Ilustração da distribuição de doenças segunda a idade de maior suscetibilidade

Freq.
Ocorr.
Pulorose

Tifo aviário

0 1 2 3 4
Idade (meses)

4. Condições Sócio-Econômicas: representadas por alimentação; habitação, aglomeração, movimentação.

5. Religião: influi nos hábitos alimentares como ingestão ou não de carne crua, leite não pasteurizado, carne
bovina, etc.

6. Hábitos Sociais: apresenta notória importância na transmissão de doenças: Ex.: Bovino é suscetível ao
vírus da raiva mas, não transmite porque não apresentam o hábito de morder. Cão: suscetíveis ao vírus
da raiva e transmitem pelo hábito de morder. Gato: também é suscetível ao vírus da raiva mas, dificilmente
transmite o vírus porque seu hábito é arranhar. Na espécie humana os fatores sociais são mais
importantes: poder aquisitivo de bens alimentares, promiscuidade, ventilação inadequada das habitações.

FATORES ECOLÓGICOS QUE MODIFICAM A OCORRÊNCIA DE DOENÇAS:

A ocorrência de enfermidades principalmente as infecciosas dependem de uma multiplicidade de fatores. Não


é necessária apenas a infecção de um hospedeiro, porque a doença apresenta uma multiplicidade de
etiologia. Por ex.: Tuberculose = bactéria (a + b + c + d + e...)= doença. Todas as pessoas albergam no interior

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de seu organismo o bacilo da tuberculose, mas se não houver condições para a instalação da doença (má
alimentação, cansaço, stress,), a simples presença da bactéria não leva à instalação da tuberculose. Por outro
lado, se existirem os outros fatores acima considerados, mas não existir a bactéria, também não haverá
tuberculose. Entre os fatores necessários, existe muito que são componentes do meio ambiente influenciando
na relação hospedeiro-parasito. Esta relação tem lugar num determinado sistema ecológico sofrendo influência
do meio ambiente e este sistema ecológico funciona como fulcro para tais interligações entre hospedeiro e
parasito. Neste sistema,, num dos pratos da balança temos o parasito e do outro lado o hospedeiro. se existir
um equilíbrio entre o hospedeiro e o parasito, não ocorre a doença. Este equilíbrio não é estático e existem os
componentes do meio ambiente que poderá provocar um desequilíbrio favorecendo o agente ou o hospedeiro.
Os componentes do meio ambiente são: físico-químicos, biológico e sócio – econômico (figura 16)

Figura 16 – Ilustração do equilíbrio hospedeiro–parasito

HOSPEDEIRO PARASITA

Fatores Biológicos
Fatores Físico-químicos
Fatores Econômicos

Este equilíbrio pode ser alterado para uma das extremidades pela modificação dos agregados do meio
ambiente na dependência da maior ou menor força do agente ou do parasito.

1. Clima: observando a distribuição geográfica de doenças verifica-se que está largamente influenciada pelo
clima. Por exemplo, nas zonas polares não ocorre Encefalomielites e toxoplasmose. no 1º caso em
decorrência da inexistência de condições para a sobrevivência dos artrópodes vetores que são
indispensáveis na transmissão do vírus e no 2º caso pela ausência de condições ambientais para a
maturação dos oocistos. O clima é um agregado de condições como: temperatura e umidade, estando este
último intimamente relacionado ao anterior e que controlam ou limitam a população de artrópodes ou
maturação de oocistos ou criam condições favoráveis para a sobrevivência e evolução de helmintos
quando fora do organismo do hospedeiro.

2. Natureza do solo: Existem fundamentalmente 3 tipos de solo; ARENOSO, ARGILOSO e CALCÁRIO. O


argiloso é o mais plástico que os restantes que sofrem fissuras com facilidade e que permitem a
contaminação de mananciais de água. A composição química do solo influi sobremaneira no tipo de
vegetação da região conduzindo à deficiência de alguns minerais (Co, Cu) e influenciando na ocorrência de
certos tipos de parasitismo.

3. Precipitação pluviométrica: Leva ao carreamento de excretos animais conduzindo à contaminação de


mananciais de água e favorecendo a proliferação de artrópodes de moluscos.

4. Componentes biológicos: envolve todos os seres vivos animais ou vegetais.

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5. Componentes sócio-econômicos:

Figura 17 – ilustração da relação pobreza, ignorância e doença.

POBREZA

DOENÇA
IGNORÂNCIA

Estes 3 elementos podem propiciar a perpetuação da doença numa população (figura 17). Ignorância e baixa
condição de vida levam à doença. Baixa condição de vida (pobreza) conduz à ausência de higiene, disposição
inadequada de excretas, água sem conveniente tratamento que apresenta grande importância no ciclo de
doenças.

O tipo de exploração animal depende também do nível cultural, condições econômicas e particularmente
quando se consideram as zoonoses. Doenças transmitidas pelo solo ou pelo ar são facilitadas pela alta
densidade de animais. O manejo também influi na ocorrência de doenças. Por ex. a tuberculose e Brucelose
são mais freqüentes entre animais confinados.

VARIAÇÃO DE OCORRÊNCIA DE DOENÇAS EM POPULAÇÕES:


População: conjunto de animais para o qual a ação veterinária é direcionada. Pode ser uma gaiola, um
galpão, um rebanho, uma propriedade, conjunto de propriedades etc. qualquer que seja a população, o seu
tamanho deve ser conhecido, em algumas circunstâncias não é fundamental o conhecimento do tamanho da
população, como a de carrapatos ou morcegos ou outro animal de vida silvestre, porque a abordagem
epidemiológica não varia com o tamanho destas populações.
População exposta ao risco: conjunto de animais expostos ao risco de adquirirem a doença. São aqueles
expostos à fonte de infecção ou ao veículo de transmissão. A ocorrência de doenças em populações não é
uniforme porque está na dependência de condições do parasito, do hospedeiro e do meio ambiente. Assim ,
tem-se diferente modalidade de variação:
1. Variação Secular: É aquela apreciada durante longos intervalos de tempo e sempre superior a 10 anos.
Permite apreciar a tendência de uma doença i.é. se está aumentando, diminuindo ou se está estacionária.
O cálculo da reta de regressão mostra uma tendência secular de redução ou não. Exemplos:

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Exemplo A Exemplo B Exemplo C

Freq. Freq.
Freq.

Tempo Tempo Tempo

EXEMPLO A:
Suínos: doença de Aujeszky e Peste Suína Clássica no Brasil; tuberculose, brucelose, sarnas e
leptospiroes nas granjas GRSC.
Aves: Doença de Newcastle; micoplasmoses (Ms e Mg), salmoneloses (SP, SG, SE e ST) em galinhas
de estabelecimentos industriais certificados etc.
Bovinos: BSE, FA, tuberculose, brucelose
EXEMPLO B:
Suínos: parvovirose, rinite atrófica, complexo respiratório e digestivo em granjas altamente
tecnificadas etc.
Aves: doença de Marek, Gumboro, complexo respiratório e digestivo em granjas altamente
tecnificadas etc.
Bovinos: enterites e pneumonias em bezerros, mosca do chifre
EXEMPLO C:
Suínos: circovirose.
Aves: Influenza aviária na Ásia;
Eqüinos: mormo em algumas regiões do Brasil, AIE (?)
Bovinos: pseudovaríola em algumas regiões do Brasil.
Pequenos ruminantes: linfadenite caseosa, epididimite (B. ovis)

Se considerarmos doenças não transmissíveis como Câncer, doenças Cardiovasculares etc. a tendência é o
aumento na freqüência de ocorrência. O tratamento de água de abastecimento público e pasteurização de leite
tornaram menos freqüente a ocorrência de febre tifóide e tuberculose. O sarampo, por outro lado, apresenta
um perfil com tendência de ocorrência uniforme. Esta variação permite observar a força de uma doença na
natureza e o resultado das medidas de profilaxia adotada.

2. Variação Cíclica: É aquela apreciada a intervalos menores que 10 anos. Tal oscilação depende
fundamentalmente da renovação do potencial de suscetíveis (Figura 18).

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Figura 18 – Ilustração de variação cíclica

freq.

Nível endêmico

Tempo (ano)

Quando a população de suscetíveis é elevada, as possibilidades de uma Fonte de Infecção encontrar os


suscetíveis são grandes e, portanto, um alto percentual dos mesmos se infecta aumentando o potencial de
infectados e a medida que aumenta o nº de casos de doentes/infectados, há uma diminuição da taxa de
suscetíveis tornando pouco provável que um novo suscetível seja encontrado pelo parasito. Com a
renovação da taxa de suscetíveis, ocorrerá novamente uma nova onda epidêmica. Este comportamento é
observado principalmente quando estão envolvidos como sarampo, Peste Suína Clássica etc.

3. Variação Estacional: É aquela apreciada em um intervalo determinado de 1 ano e que sofre influência das
condições físico-químicas e biológicas do meio ambiente. Depende, portanto, da influência não uniforme do
meio ambiente (Figura 13).
DOENÇAS RESPIRATÓRIAS: são mais freqüentes nos meses mais frios devido ao declínio da
temperatura que diminui a resistência das mucosas. A ventilação deficiente permite a contaminação do ar
e em seguida há a instalação de elevado nº de casos de doença respiratória no rebanho.
DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ARTRÓPODES: há estações do ano com maior freqüência de certas
doenças, principalmente no verão, quando as condições de temperatura e umidade são favoráveis à
multiplicação de vetores.

Figura 19 – Ilustração de variação estacional

Freq.

Verão
Doenças Inverno
veiculadas por
artrópodes Doenças
Respiratórias

Tempo (mês)

Nas zonas tropicais, as chuvas são fatores principais na ocorrência estacional de doenças. As chuvas
favorecem a transmissão de doenças entéricas pela contaminação de mananciais de água por excretas
carreadas pelas águas superficiais. Durante as épocas secas, há redução do pasto e o risco de adquirir
intoxicações está aumentado. As infecções por Clostridios apresentam maior incidência nas épocas secas
porque os animais tendem a se alimentar junto a rios, lagos e em pastos baixos próximos ao solo.

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As flutuações dependem de diferentes causas além das características já mencionadas, tem-se outras:
a. Potencial de Fontes de Infecção
b. Mobilidade das Fontes de Infecção que depende da intensidade da sintomatologia:
b1- Animais com sintomas alarmantes

b2- Animais com sintomas menos alarmantes

Animais com doença benigna e portadores são fontes de infecção em potencial porque apresenta maior
mobilidade.

III - MEDIDAS GERAIS DE PROFILAXIA

CONCEITOS GERAIS: A profilaxia visa romper a cadeia epidemiológica que conduz à doença. Para a
aplicação de medidas de prevenção é necessário conhecer todos os mecanismos envolvidos na transmissão e
todos os fatores que tem influência na ocorrência de doenças. É preciso, portanto, conhecer tudo acerca do
agente etiológico, mecanismos de transmissão, características do hospedeiro que o agente é capaz de
parasitar e os fatores do meio ambiente para que as escolhas das medidas profiláticas possam ser úteis para
limitar e eventualmente erradicar a ocorrência da doença numa população.

A varíola é uma doença de transmissão aerógena. A variolação tinha como objetivo provocar a doença por
uma outra porta de entrada que não a usual, e assim a doença se manifestava com menor severidade. Este
era um processo utilizado antes do advento da vacina.

A aftização tinha como método a colheita de material infectante como a saliva que era posteriormente
depositado e atritado na língua de animais sadios.

Estes conceitos eram importantes para fins de seleção de certas medidas profiláticas durante as epidemias
principalmente quando de doenças causadas por agentes de elevada patogenicidade e que conferem sólida
imunidade e agentes com tais características determinam a ocorrência cíclica com possibilidades de
estabelecer epidemias.

A adoção de qualquer medida profilática que visa fundamentalmente interromper a cadeia de eventos que
conduz à transmissão da doença é preliminarmente, estabelecer a avaliação quantitativa de ocorrência de
doenças para orientar a escolha de um plano de profilaxia. Ex.: seja a Brucelose ocorrendo em populações
distintas. Em uma delas, a doença ocorre com 1% de prevalência e em outra com 40% e naturalmente as
medidas profiláticas em ambas as populações serão diferentes. Uma das medidas seria a identificação dos
animais reagentes e posterior sacrifício, porém esta medida só é possível quando a prevalência é muito baixa
como da ordem de 1% e que não é aplicável em populações com elevada prevalência como 40% Esta
ilustração mostra o caminho da escolha de um plano de profilaxia bem como permitirá, posteriormente, avaliar
os resultados das medidas adotadas.

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Por outro lado, tal avaliação quantitativa permite apreciar as diferentes medidas profiláticas quando aplicadas
em duas populações distintas. Quando a prevalência é elevada,, antes de tudo, não se pode cogitar em
sacrificar os animais reagentes, mas que poderá ser cogitada em uma 2ª etapa do plano quando a prevalência
tiver sido reduzida a níveis compatíveis com o sacrifício. Se o sacrifício tiver sido aplicado em uma 1ª etapa, a
medida tornar-se-ia antieconômica para o país.

AVALIAÇÃO QUANTITATIVA DE OCORRÊNCIA DE DOENÇAS - INDICADORES DE SAÚDE

Introdução: O conhecimento da distribuição geográfica de doenças, particularmente as contagiosas, e a


determinação da freqüência ou quantidade de ocorrência, são elementos imprescindíveis para uma adequada
orientação sanitária.

Do ponto de vista nacional, o conhecimento e a determinação da quantidade de doenças permitem


hierarquizar, em ordem de importância econômico-sanitária, conhecimento necessário para a mais racional
utilização dos recursos humanos e econômicos disponíveis. Esta é uma consideração particularmente
importante em países em desenvolvimento, onde a pulverização dos recursos material e humano, já escassa,
conduz freqüentemente à ineficácia das ações de saúde. A medida do grau de endemia de uma doença em
uma população animal de certa área geográfica se impõe também para orientar a eleição de programas de
profilaxia.

Na realidade, métodos drásticos de controle, aplicáveis em certas regiões de baixa endemicidade, podem ser
inexeqüíveis em outras onde se verifica uma elevada prevalência, dada as implicações sócio - econômica que
acarretaria. Há que se considerar que sem um prévio conhecimento da intensidade de ocorrência de doenças
não se poderá avaliar posteriormente a eficácia das medidas de profilaxia.

Internacionalmente estes conhecimentos são de maior importância para estabelecer normas sanitárias que
regulem o comércio e o trânsito de animais, produtos e subprodutos de origem animal. De modo geral,
abstração feita a outros aspectos epidemiológicos, o risco de introdução de uma doença em uma área
geográfica, em conseqüência à importação de animais e produtos, é tanto maior quanto maior for o potencial
de fontes de infecção na população de origem. Convém recordar que as normas sanitárias devem ser
estabelecidas com critério, com base nas evidências epidemiológicas, dada às notáveis repercussões que
podem ter do ponto de vista político e econômico.

1. Métodos de avaliação da ocorrência de doenças: A informação acerca da ocorrência de doenças tem


sido provenientes, com maior freqüência, de estudos ocasionais de ocorrência, ou então de estatísticas
recolhidas junto a organismos oficiais, laboratórios e hospitais.

Os levantamentos epidemiológicos ocasionais indicam somente a freqüência de ocorrência de certa doença ou


infecção, em dado momento, em uma coletividade. Estes estudos, realizados freqüentemente sem uma
definição precisa da população exposta a riscos e sem atenção a cuidados elementares de planejamento,

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buscam, de maneira precária, suprir a inexistência de processos contínuos e sistemáticos de notificação de
doenças.

As estatísticas hospitalares e oriundas de laboratórios de diagnóstico baseiam-se em grupos de indivíduos que


não constituem uma amostra representativa da população. Apesar de serem úteis ao ensino e à investigação,
não se prestam para fins de inferência relativa à população total de animais da área geográfica considerada. O
mesmo poderá ser dito em relação ao estudo de cohort que se prestam a estudos de um fenômeno ao longo
do tempo através de acompanhamento dos indivíduos integrantes de um grupo definido, possibilitando o
cálculo de morbidade incidente e de mortalidade já que os numerador e denominador são conhecidos.

A avaliação quantitativa de ocorrência de doenças em populações animais de extensas áreas geográficas


depende de um esforço organizado e sistemático que não pode prescindir da iniciativa das autoridades e da
coordenação governamental. Infelizmente, os órgãos governamentais, principalmente nos países em
desenvolvimento, não têm dedicado suficiente atenção para a obtenção de estatísticas acerca de problemas
de saúde nas populações animais. Em algumas regiões são inexistentes; em outras a informação é de tal
ordem inexata que não serve para outra finalidade senão para dar uma imagem totalmente distorcida da
realidade.

A implantação de sistemas de notificação de doenças pode ser mais ou menos adequada e conseqüentemente
de maior ou menor validade e utilidade para a quantificação de fenômenos da população que se pretende
estudar. Nas áreas economicamente mais desenvolvidas, já se nota uma preocupação maior no que se refere
à avaliação quantitativa de ocorrência de doenças em populações animais. Existem processos de Vigilância
contínua, pelo menos em relação a um pequeno número de doenças que propiciam a notificação sistemática
de sua ocorrência à autoridade sanitária competente. No sistema "Surveillance/Vigilância", os casos notificados
não estão relacionados com a população exposta ao risco, impossibilitando assim o cálculo de coeficientes e
reduzindo a utilidade dos dados. Entretanto, quando se pode admitir que não ocorrerão , nos anos vindouros,
flutuações acentuadas no tamanho das populações , as informações dadas por este processo permitem uma
avaliação satisfatória do comportamento de uma doença na população.

A dificuldade de estimar o tamanho das populações animais expostas ao risco, e principalmente caracterizá-las
segundo alguns atributos como sexo, idade, raça etc., tem restringido o emprego de medidas mais desejáveis
e úteis representadas, por ex., pelos coeficientes de mortalidade e morbidade incidente. Recordemos, a
propósito, que quanto mais específico for o coeficiente, maior será sua utilidade, porém menos confiável será
seu denominador.

2. Organização de sistema de estatística em saúde animal:

a. Definição da área geográfica e as populações expostas ao risco: A organização e operação de um


sistema de estatística em saúde animal pressupõem uma estrutura administrativa. Usualmente se definem
áreas administrativas e se estima o tamanho das populações animais que as habitam. É desejável que se
conheça da melhor forma possível a estrutura destas populações em função de distribuição por idade,
sexo etc., para o cálculo de coeficientes específicos mais úteis como indicadores de saúde.

47
b. Seleção do que deve ser notificado: sabe-se que a propagação de certas doenças infecciosas só pode
ser prevenida se as autoridades sanitárias forem informadas com antecedência da ocorrência de casos na
população. Por isso, a notificação compulsória de algumas doenças infecciosas específicas foi introduzida
que pressupõe o registro contínuo de eventos, quando, como e onde ocorreram. A relação de doenças
deve ser eleita com critério adequado à experiência de cada pais e levar em consideração o real interesse
sanitário e as possibilidades de notificação. A relação não deve ser muito extensa para que a organização
e análise dos dados não se tornem demasiadamente onerosa e complexa. Em alguns casos especiais, a
finalidade pode ser diversa, objetivando medir os resultados de uma medida profilática em diferentes tipos,
níveis de evolução e localização de lesões, para fins de posterior informação epidemiológica de interesse
(ex. câncer). É claro que o estabelecimento de critérios diagnósticos uniformes e de terminologia
padronizado é aspectos de máxima importância para assegurar a possibilidade de comparação de
informações originárias de diferentes áreas.

c. Responsabilidade pela notificação: geralmente é do Veterinário, fazendeiro e de qualquer outra pessoa


interessada. Este é sem dúvida, o ponto mais frágil de qualquer programa. As dificuldades de diagnóstico e
a falta de consciência sanitária conduzem respectivamente a erros de classificação e a subestimação dos
problemas médico-veterinários. O diagnóstico de casos de doença em população animais, apresenta graus
variados de dificuldade. Algumas doenças, dependendo da área geográfica que se considere, onde não
coexistam outras doenças com quadro clínico similar, pode oferecer possibilidades de diagnóstico, com
elevado grau de exatidão, baseado apenas na observação de sinais e sintomas. Entretanto, para a
adequada classificação das causas da mortalidade e da morbidade, será sempre desejável contar com o
auxílio do laboratório para fins de confirmação do diagnóstico clínico. As estatísticas recolhidas em
Frigoríficos, em especial quando se conhece a origem dos animais, devem também ser aproveitados.
Deve-se ter consciência que não obstante muitos sistemas de notificação não sejam nem completos nem
fiéis poderão proporcionar valiosas informações sobre a distribuição e intensidade das doenças em
populações animais. A notificação deverá ser realizada de preferência através de questionário/formulário
especial. Ao planejar o questionário, o responsável terá que se basear, pelo menos, nas seguintes
perguntas:
1. As instruções para observação e registro estão suficientemente claras e detalhadas?
2. Quais são as possíveis respostas a cada item do questionário?(as alternativas oferecidas devem
considerar todas as possibilidades e ser mutuamente exclusivas)
3. Quais são as possíveis interpretações de cada item? (pelas pessoas encarregadas de responder).
4. Quais são as várias interpretações possíveis de cada resposta?
5. A ordem das perguntas é adequada?
6. O questionário foi submetido a um teste satisfatório? (pré-teste)

É obvio que a fidelidade dos dados estatísticos depende da adequação do sistema de notificação. Os mais
elaborados modelos matemáticos não poderão superar as deficiências das informações básicas.

d. Canais de comunicação e processamento de dados: As notificações devem ser feitas à autoridade


sanitária local. Esta, por sua vez, informará semanalmente ou mensalmente a autoridade sanitária central -

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que deve possuir condições de processar as informações e estabelecer um sistema de "feedback" para os
órgãos executivos de cada área. Já foi dito que a estatística é como "lixo", pois, uma vez recolhida algo
deve ser feita com ela. Na realidade, de nada servirá notificar a ocorrência de doenças se não se dispõe
de um sistema capaz de processar e utilizar as informações recolhidas. A maior falta de estímulo aos
responsáveis pela notificação é a constatação que as informações que proporcionam são inúteis e estão
sendo apenas acumuladas sem qualquer utilidade prática. É necessário que a autoridade sanitária central
disponha de pessoal especializado e de equipamentos suficiente para trabalhar a massa de dados
resultantes da notificação e que possa publicar periodicamente, boletins que divulguem a ocorrência de
doenças em cada área administrativa. Desta forma, proporciona-se informações extremamente valiosas
para a orientação sanitária em cada distrito e conseqüentemente se estimulará a notificação. A notificação
de doenças se apóia quase totalmente na cooperação e boa vontade dos profissionais. A fim de assegurar
esta cooperação é necessário que os profissionais se convençam do real valor que dados estatísticos
fidedignos têm para eles e para a comunidade. Para interpretar convenientemente os dados é preciso
relacionar os fatos às correspondentes populações expostas ao risco. Os coeficientes assim calculados
são indispensáveis para descrever e comparar a ocorrência de doenças em populações.

Uma vez organizado um sistema de estatística sanitária animal o processo obedece a seguinte
sistemática:
1. Notificação do evento: pressupõe uma nomenclatura padrão para indicar as diferentes causas de
morbidade e de mortalidade e critérios diagnósticos definidos para uma classificação adequada. Deve
ser preferencialmente realizada com o auxílio de um formulário especial, simples de responder e que
facilite a codificação posterior das informações.
2. Codificação das informações: quando não se dispõe de pessoal competente para responder ao
questionário de forma previamente codificada, esta é a fase que segue: A informação a ser usada em
sistemas de processamento de dados deve estar codificada e registrada em um meio recomendado. O
sistema de entrada lê os dados que podem estar registrados: i) Como perfurações em cartões ou fitas
de papel; ii) Como pontos em fitas magnéticas; iii) Como marcas opticamente identificáveis em folhas
de papel; e outros meios menos usuais.
Cada meio necessita de um código ou uma organização específica de símbolos para representar os
dados. Operações especiais de conversão de dados para transcrever as informações registradas de
um meio para outro podem ser realizadas em todos os sistemas de processamento de dados. Por
exemplo: as informações em cartões perfuradas podem ser automaticamente transcritas para uma fita
magnética. Esta operação pode ser realizada "on-line", pelo uso de computador, o "off-line", utilizando
os dispositivos de entrada e sadia independentemente.
3. Armazenamento: todos os dados devem ser armazenados antes do processamento pelo computador.
A informação é lida por uma unidade de entrada de dados e assim se torna disponível para o processo
interno. A série de instruções requeridas para o processamento é conhecida como um "programa" e é
sempre realizada pelo homem.Cada ponto de setor de armazenagem é numerado de modo que o
dado armazenado pode ser rapidamente localizado pelo computador, sempre que seja necessário. O
computador pode reorganizar os dados armazenados, selecionando ou combinando diferentes tipos de
informação recebida através de diferentes unidades de entrada de dados. O computador pode
também, tomar dados originais dos dispositivos de armazenagem, calcular novas informações e

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armazenar novamente os resultados. A armazenagem em discos magnéticos confere ao sistema de
processamento de dados a habilidade de registrar e recuperar os dados armazenados
seqüencialmente ou aleatoriamente. Permite também, acesso imediato a áreas específicas de
informação, sem necessidade de examinar seqüencialmente todos os dados registrados. As fitas
magnéticas não têm esta habilidade; a investigação em uma fita magnética deve começar no início do
carretel e continuar, seqüencialmente até localizar a área que contém a informação desejada.
4. Sistemas de recuperação: os dispositivos de saída registram ou inscrevem as informações ou os
resultados finais a partir da memória principal, em cartões, fitas magnéticas, fitas de papel ou
imprimem os dados de acordo com as especificações do programa. Divulgação: o órgão central
divulgará, mediante instrumento periódico como boletim, a ocorrência de doenças em cada divisão
administrativa.
5. Implantação de sistema de estatística de saúde: Em áreas onde ainda não existe um sistema
organizado de estatística de defesa sanitária animal, sua implantação poderá ser estimulada mediante
a cooperação entre Escolas de Medicina Veterinária e setores governamentais encarregados da
defesa sanitária de rebanhos. Esta cooperação poderá ser feita em termos de desenvolvimento de
projeto piloto restrito a uma ou duas áreas administrativas em que a atividade pecuária fosse
importante. Assim, seria possível concentrar esforços para motivar técnicos e pecuaristas, implantar,
desenvolver, avaliar e aperfeiçoar o sistema antes de torná-lo mais extenso. A participação de
estudantes nos parece importante não apenas para aumentar os recursos humanos para o objetivo
proposto, mas também do ponto de vista educativo. A notificação terá que se restringir, inicialmente,
às doenças de maior significado e possibilidades de diagnóstico.

A massa de dados, não sendo muito volumosa, poderá ser processada com o auxílio de
equipamentos relativamente simples e pouco oneroso, como por exemplo, microcomputadores e já
existem programas adequados para estudos epidemiológicos como EPI INFO, EPISCOPE, INSTAT
etc.

É inegável que um projeto piloto bem sucedido mostrará às autoridades e à sociedade a importância
da avaliação quantitativa de ocorrência de doenças em populações animais para definir seus
problemas, para determinar tanto quanto possível às relações de causa e efeito e para medir o
sucesso ou fracasso de medidas postas em prática para solucionar esses problemas.

e. FONTES DE INFORMAÇÕES/DADOS DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA: Investigações


epidemiológicas utilizam dados referentes a doenças e dos determinantes de doenças, desempenho e
tamanho da população. Tais dados podem ser colhidos de várias fontes incluindo serviços de veterinária ,
propriedades, laboratórios de diagnóstico, abatedouros e Universidades. Estas instituições podem fornecer
dados para suas investigações retrospectivas e podem cooperar na colheita de dados para investigações
prospectivas. A colheita de dados deve incluir, sempre que possível, o custo operacional tais como correio,
viagens para entrevistas e exames laboratoriais. O valor dos dados, portanto, devem ser julgados no
contexto do custo da colheita.

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f. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES GERAIS:
1. Natureza dos dados: dados de algumas fontes não são confiáveis ou precisas ou podem ser de
natureza errada. Por exemplo, dados relativos à claudicação podem ser importantes e úteis para uma
estimativa geral de prevalência de problemas de cascos mas, seriam de pequena valia para estudos
detalhados de diferentes tipos de lesões de claudicação e suas respectivas causas.
2. Cooperação: a falta de cooperação poderá ser um grande entrave nas investigações epidemiológicas.
Existem muitas razões pelas quais as pessoas não desejam fornecer dados. Os motivos para
assumirem encargos de um estudo ou investigação podem não estar claros e podem ser
desencorajados. Isto significa que o(s) objetivo(s) da investigação deve (em) estar suficientemente
claros para todos os envolvidos. A cooperação torna-se muito mais importante quando a investigação é
parte de um programa de saúde animal do que em relação a casos isolados. Alguns estudos,
principalmente os prospectivos, poderão demandar muitos anos para a sua conclusão e poderá causar
desestímulo. A colheita de informações pode ter o risco de comprometer a confiança como por ex.:
quando são examinadas planilhas de custo ou de financiamento da pesquisa. A cooperação poderá
estar comprometida quando a colheita de dados é laboriosa, consumindo muito tempo ou quando
questionários são complexos. O método de colheita de dados deve ser o mais simples possível.
3. Rastreamento: dados sobre distribuição geográfica de doenças podem ser dificultadas em razão da
inabilidade em rastrear a origem dos animais. Poderá ser maior ainda em se tratando de animais de
abatedouros, pois, as carcaças podem não ser claramente identificadas. Rastreamento pode ser muito
valioso. A identificação clara dos animais nem sempre existe.
 Viés ou vício ou “bias”: são desvio de fontes de dados em veterinária podem ser decorrentes de:
Custo na colheita de dados: em muitos países a colheita de informações de doenças de
importância nacional é amparada financeiramente pelo próprio governo. Em outros países existem
fundos de financiamento de pesquisas em doenças de importância econômica. Doenças de
animais de estimação podem apresentar restrições no suporte financeiro a não ser que esteja clara
a importância em saúde pública. a falta de recursos poderá comprometer a obtenção de
informações sobre doenças em animais de companhia.
 Problemas inerentes a países em desenvolvimento: a colheita de dados em países em
desenvolvimento pode deparar-se com dificuldades adicionais. Pode ser decorrente de apoio
laboratorial precário e insuficiente potencial humano. O terreno poderá ser muito difícil. Nestes
casos é aconselhável que se colha, em cada investigação, o maior nº possível de espécimes
(sangue, fezes, urina, etc.) possibilitando a pesquisa de várias doenças simultaneamente evitando-
se a necessidade de se repetir jornadas de trabalho em áreas de difícil acesso. Prevalências podem
ser estimadas pelo emprego da prova intradérmica ou da tricomonose pelo exame de lavado
prepucial.

g. FONTES DE DADOS EPIDEMIOLÓGICOS: a apresentação que se segue é uma lista de possíveis fontes
de informação em epidemiologia e as fontes disponíveis variam de país para país. Assim, em países
desenvolvidos existe infra-estrutura veterinária que facilita a colheita de dados da maioria dessas fontes.
Em países em desenvolvimento valem-se de poucas fontes. Algumas organizações recolhem e
armazenam dados e podem ser referências para estudos epidemiológicos. O ideal que que um serviço de
veterinária pudesse dispor de dados epidemiológicos, laboratoriais, clínicos e bibliográficos.

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1. Órgãos oficiais de veterinária: muitos países têm um serviço de veterinária já organizado. Esses
serviços investigam doenças de importância nacional principalmente aquelas que são de notificação
obrigatória. Muitos serviços oficiais possuem laboratórios de apoio. Relatórios são periodicamente
preparados e divulgados. O relacionamento de um veterinário com o laboratório pode ser uma atitude
particular e quase sempre voluntária e poderá refletir um interesse e motivação particular podendo
representar bias. Relatos de doenças de notificação obrigatória , de forma semelhante, dependerá da
consciência do observados. Publicação de dados coligidos de diferentes fontes (laboratórios, hospitais,
matadouro etc.) são de grande valia. Muitas vezes relatórios são preparados e mantidos sob sigilo e
portanto não prontamente acessíveis. Um boletim internacional de doenças dos animais abrangendo a
maioria dos países do globo é publicado pela OIE/Paris. Esse boletim relata as prevalências de
doenças na medida em que são reconhecidas pelos países membros. Algumas vezes pesquisas
podem ser conduzidas pela reunião de dados de diferentes fontes como por ex. a que foi realizada em
1954 e 1955 na Irlanda do Norte incluindo dados demográficos e de doenças de uma vasta lista de
doenças infecciosas e não infecciosas dos bovinos, ovinos e suínos. Foram reunidas informações de
cerca de 70% das propriedades visitadas pelo órgão oficial incluindo matadouros.
2. Veterinários clínicos: em países onde o serviço veterinário privado tem contato com as propriedades
e animais de companhia (países desenvolvidos) , a extensão do relacionamento varia. Veterinários que
assistem propriedades rurais têm muito mais contato com bovinos e menos com suínos e gado de
corte e menos ainda com ovinos. Problemas em ruminantes tendem a ser estacionais (sazonais) e
relacionados com o parto. Proprietários de animais de companhia usualmente valem-se de veterinários
privados. Portanto esses profissionais são fontes de informações de dados de cães e eqüinos. Em se
tratando de animais de companhia pode-se deparar com o fato de nem sempre os animais serem
levados ao veterinário pelo alto custo do tratamento ou da intervenção cirúrgica e os dados podem
subestimar a verdadeira prevalência das doenças. Em se tratando de grandes animais, aquelas
doenças pouco graves nem sempre são atendidas pelo veterinário e podem igualmente subestimar a
verdadeira prevalência. Muitos proprietários tratam seus animais e que não são relatados
devidamente. Muitos dados não são confiáveis por erro de diagnóstico. Se o objetivo da pesquisa não
estiver claro para o veterinário de campo e se os resultados não retornarem a ele com certo benefício,
pouco participará da colheita de dados e principalmente se a pesquisa for de longa duração como no
caso de estudos prospectivos. Dados livremente disponíveis e que existem disponíveis em diferentes
locais acumulados de forma dispersa poderão dificultar a sua organização. Questionários podem ser
utilizados podendo ser facilitados, na sua apuração, pelo uso de computadores. Poucos são os
programas que fazem monitoramento contínuo de doenças com base em dados existentes nos
serviços privados de veterinária. Quando mais de um veterinário ou mais de 1 órgão é envolvido, a
padronização da nomenclatura é fundamental.
3. Matadouros: abatedouros que processam carne vermelha manipulam elevado nº de animais para
consumo humano e identificam algumas doenças durante a inspeção. Somente animais clinicamente
saudáveis são enviados para abate e portanto a maioria dos diagnósticos é de processos sub-clínicos
como por ex. verminoses e lesões internas como hepatites. O objetivo da inspeção de carnes é
salvaguardar a saúde humana. Tradicionalmente é realizada para prevenir o comércio de carnes e
vísceras que sejam obviamente impróprias para consumo. Portanto, a maioria os processos é
diagnóstico macroscópico pós-morte e as experiências têm demonstrado que essa prática é adequada.

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Investigação epidemiológica tem sido essencialmente de importância secundária para o serviço de
inspeção em abatedouros embora sejam possíveis os exames de sangue, escarro, linfonodos e outros
tecidos específicos, objeto de estudos epidemiológicos. Algumas vezes é possível recorrer-se a
exames microscópicos e microscopia eletrônica de determinados tecidos. É um exemplo de
refinamento de técnica. Animais enviados ao abatedouro são animais provindos de diferentes origens
após longas viagens. Rastreamento são muitas vezes importantes e desejáveis se as doenças tem
relação com a propriedade ou com a área geográfica. É fácil naqueles países onde o sistema
comercial é simples. Mesmo quando o rastreamento é possível pode-se deparar com problemas de
identificação de vísceras. Carcaças podem ser identificadas por tatuagem ou etiquetas. E as carcaças
com lesões podem ser inadequadamente identificadas e dificultar relacionar com a carcaça.
4. Empresas de embalagem de frangos ou similar: em regiões onde o abate e embalagem de aves
são feitos separadamente, o processo de embalagem poderá ser um ponto de inspeção. Qualquer que
seja o local da inspeção, lembrar que apresenta sempre um viés porque são enviados para abate
animais adultos ou adultos jovens e excluídos os pintinhos e jovens. São também excluídas aves
doentes ou mortas antes da entrada no Abatedouro.
5. Bancos de soros: coleções armazenadas de amostras de soros são denominadas banco de soros ou
soroteca. Tais amostras são aquelas colhidas rotineiramente durante programas de controle ou de
erradicação oficiais e nas investigações sorológicas específicas. Muitas vezes as amostras não são
utilizadas particularmente quando se utiliza pequena quantidade face às características das provas
laboratoriais modernas que necessitam de reduzidíssimos volumes de soro. Amostras de soro podem
ser importantes instrumentos de informação epidemiológica sobre prioridade para vacinação,
periodicidade das epidemias e origem de doenças recém descobertas.
6. Lojas de produtos farmacêuticos e veterinários: dados de venda das indústrias farmacêuticas são
também fontes indiretas de informações para avaliação da freqüência de doenças. Venda de
antibióticos, por ex., é uma informação geral e “grosseira” da prevalência de doenças bacterianas.
Cuidado porque antibióticos podem ser comercializados na ausência de isolamento bacteriano
específico e até mesmo desconhecendo-se a bactéria responsável no processo ou até mesmo na
ausência total de infecção bacteriana. O antibiótico poderá estar sendo usado para fins profiláticos e
não curativo. Em outras circunstâncias, antibióticos com determinadas indicações poderão estar sendo
recomendados para outra como por ex. aplicação de antibiótico de uso intramamário em otites
externas.
7. Parques zoológicos: muitos zoológicos mantêm sistema de registro de ocorrência de doenças. Existe
o Registro Internacional de Animais de Zoológico em Genebra que recebe, organiza e acumula dados
de animais de zôo.
8. Organizações de agricultura: existem muitas organizações associadas às indústrias animal que
detém informações sobre produção animal tais como ganho de peso, conversão alimentar e produção
de leite. Embora os dados não estejam diretamente relacionados a doenças, são importantes
indicadores da composição e distribuição de populações animais e úteis para fins de definição da
população alvo a ser estudada.
9. Integrações e cooperativas: podem deter importantes informações que são geradas pelos
associados. Há o inconveniente de serem informações muitas vezes confidenciais. Tais dados podem

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ser importantes em investigações sobre mortalidade de poedeiras, doenças em coelhos, estudos
econômicos em leitões lactentes, lesões causadas pela movimentação de leitões desmamados etc.
10. Órgãos governamentais que não de Veterinária: unidades estatísticas e econômicas.
11. Entidades de Registro nas propriedades: principalmente aquelas que criam bovinos de leite e
suínos possuem sistema de registro de informações. O sistema de registro varia d propriedade para
propriedade em função da orientação recebida e, portanto são informações de difícil uniformização e
comparação (diferentes categorias de informações e diferentes graus de refinamento). Por ex. registro
detalhado de lesão de casco e simples registro de mangueira.
12. Escolas de Veterinária: possuem clínicas e hospitais que registram dados de consultas com ou sem
apoio de recursos computacionais. Estudos com dados de faculdades têm geralmente vieses.
13. Outras fontes: organizações direcionadas para animais silvestres ou de conservação da fauna,
podem possuir informações quanto ao tamanho da população. Animais silvestres podem ser
importantes fontes de infecção para os animais domésticos e para o homem como por ex. raiva
(raposas, doninha, morcegos hematófagos etc). o monitoramento desses animais é bastante difícil e
pode-se recorrer a alguns estudos locais. Laboratórios de pesquisas podem deter valiosas informações
sobre doenças em animais silvestres utilizados em experimentos, embora sejam dados muito
específicos e relacionados e pequenos grupos de animais. Fábricas de rações podem, em algumas
circunstâncias, possuir informações demográficas. Sociedades ou associações de criadores de
animais de companhia nº de animais existentes e sua distribuição geográfica.

AVALIAÇÃO QUANTITATIVA DE OCORRÊNCIA DE DOENÇAS EM POPULAÇÕES ANIMAIS:


1. Uma avaliação quantitativa implica num levantamento de dados da população. São conhecidos diferentes
tipos de levantamentos epidemiológicos:
a. Levantamento periódico: É aquele realizado a intervalos regulares. Por ex. recenseamentos que são
usualmente realizado a cada 10 anos.
b. Levantamento contínuo: É aquele realizado a medida que o fenômeno está ocorrendo e está sendo
notificado e após um certo período de tempo os dados são analisados e interpretados. Ex. dados sobre
nascimentos, óbitos, casamento, doenças de notificação obrigatória.
c. Levantamento ocasional: É aquele realizado somente quando se está interessado num levantamento
de certo fenômeno que não é observado periódica ou continuamente. Ex. estamos interessados em
conhecer as condições sócio-econômicas de certa cidade rural; em conhecer a prevalência de
brucelose bovina em certa área geográfica.
Para tais levantamentos, é necessário um sistema organizado para fins de coordenação de
informações que são observados em vários serviços de saúde. Quando se procede ao levantamento
de qualquer tipo, os valores obtidos devem ser convenientemente relatados sob certas condições.
Ex.: sejam duas áreas geográficas distintas:
Área A: apresenta 50 animais reagentes diante da prova de tuberculina;
Área B: apresenta 150 reagentes.

Não se podem apreciar estes dois valores absolutos porque se desconhece o tamanho das 2
populações. Se na população A existirem 1.000 animais e na B existirem 5.000, as prevalências serão
respectivamente iguais a 5% e 3%.

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A prevalência deve ser uma relação entre os valores absolutos e o tamanho da população animal. Esta
relação entre 2 valores é denominada COEFICIENTE ou ÍNDICE que permite medir as condições de
saúde de uma população. O coeficiente e índice medem 2 aspectos distintos.

2. Avaliação:
Suponha 2 modalidades de relação:
nº de mortos pela doença
a = ---------------------------------------------
nº de casos de doença A

nº de nascidos vivos
b = ---------------------------------------------------
nº de mortos de uma certa região

A diferença entre um coeficiente (ex.: a) e um índice (ex.: b) é a descrita a seguir.

COEFICIENTE: mede sempre um risco, i.é. um risco de probabilidade. Mede o risco que um indivíduo do
denominador tem de apresentar o fenômeno expresso no numerador. Os coeficientes são verdadeiros
indicadores de saúde em populações animais que podem estar relacionados com a capacidade reprodutiva
bem como revela os reflexos de muitas doenças que interferem nesta esfera.
Ex.:
nº de mortos por raiva
------------------------------------------------- = 1
nº de casos de raiva em 1991

nº de doentes por Febre Aftosa


b = ----------------------------------------------------------------
População de bovino exposta ao risco

ÍNDICE: mede uma outra relação. É usado para conhecer o valor do numerador quando fazemos do
denominador a unidade. É o exemplo " b" acima citado. Quando esta relação é igual a 1, a população está
estacionária. Quando for maior que 1, a população está em crescimento. Quando for menor que 1, a população
está decrescendo.

COEFICIENTES: Podem ser divididos em GERAIS e ESPECÍFICOS:

a. COEFICIENTES GERAIS: Apresenta como única restrição a área e unidade de tempo.


b. COEFICIENTES ESPECÍFICOS: Além destas limitações, existem outras tais como: idade, raça,
sexo, doença.

nº de animais mortos por todas as causas, SP, 1987


GERAL = -------------------------------------------------------------------------------
População animal média em 1987

Mede a probabilidade de um animal da população morrer, em 1987, por qualquer causa.

nº de animais mortos com menos de 2 meses, SP, 1992


ESPECIFICO = -----------------------------------------------------------------------
População animal média com 2 anos de idade

nº de mortos por raiva, SP, 1989


-----------------------------------------------------
População média em 1989

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COEFICIENTES MAIS IMPORTANTES:

1. Coeficiente de Natalidade: Importante para medir a interferência de doenças na natalidade

nº de nascidos vivos durante 1971, SP


GERAL = --------------------------------------------------------
População média de 1971

nº de nascidos vivos durante 1971, SP


ESPECÍFICO = -------------------------------------------------------------
nº de fêmeas em idade de procriar em 1971

É denominado Coeficiente de Natalidade Monógeno Feminino. Representa o risco que uma fêmea tem em
apresentar o evento expresso no numerador ou seja o risco que uma fêmea apresenta em dar origem a um
filhote. É importante para medir o crescimento do rebanho animal.

Às vezes pode haver a conveniência em se trabalhar com coeficientes específicos de natalidade introduzindo
como critério restritivo, além do tempo e espaço, a idade e portanto, tem-se um coeficiente em função de grupo
etário. Por ex.: fêmeas dos seguintes grupos etários e com seguintes valores de coeficientes de natalidade:
3 |------- 4 anos 30%
4 |------- 5 anos 35%
5 |------- 6 anos 50%
6 |------- 7 anos 55%
7 |------- 8 anos 60%
Poderia tratar-se de um rebanho onde a Brucelose é endêmica há muito tempo porque as fêmeas mais jovens
são mais suscetíveis e posteriormente a suscetibilidade diminui tornando menor o coeficiente de abortamento e
conseqüentemente aumentado o de natalidade monógeno feminino.

2. Coeficiente de Mortalidade:
nº de mortos por todas as causas em suínos. SP, 1994
GERAL = -----------------------------------------------------------------------------
População média de suínos em 1994
Verifica-se que as únicas restrições são espaço e tempo. Mede a probabilidade de um suíno morrer durante
1994, por qualquer causa e em outras palavras significa que mede a probabilidade de um suíno do
denominador tem de vir a sofrer o evento expresso no numerador.

nº de cães mortos por raiva, SP, 1989


ESPECIFICO = -- ----------------------------------------------------------
População canina média em 198

Neste caso a especificação refere-se à doença raiva. Convém lembrar que o coeficiente de mortalidade da
raiva humana ou canina é, atualmente, muito baixo.
Em se tratando de outras doenças como Carbúnculo sintomático/ manqueira, que acomete preferencialmente
animais jovens, o denominador de um coeficiente geral não revelaria o grupo etário mais acometido. Será
conveniente utilizar como denominador o grupo etário que melhor traduza a doença embora a não restrição da
idade confira os 2 exemplos que seguem a característica de coeficientes específicos para concentrar a medida
na população mais afetada.
nº de bovinos mortos por Carbúnculo. MG, 1990
----------------------------------------------------------------------------

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População média de bovinos/1990

nº de bovinos mortos por Carbúnculo.MG,1990


---------------------------------------------------------------------------------
População média de bovinos de 0 a 2 anos/1990

3. Coeficiente de Letalidade: É um caso específico do coeficiente de mortalidade com a distinção do


denominador que se refere aos animais doentes pela doença em questão.

nº de animais mortos por diarréia, MT, 1967


---------------------------------------------------------------------
nº de casos de diarréia

nº de mortos por por Raiva, SP. 1974


--------------------------------------------------------------
nº de casos de Raiva

4. Coeficiente de morbidade: Mede o risco que um indivíduo da população expressa no denominador tem
de adoecer. Será geral se as restrições forem quanto ao espaço e tempo. Será específico se outras
restrições forem introduzidas.

nº de doentes por todas as causas, MT, 1993


GERAL = ------------------------------------------------------------------
População média em 1993

nº de doentes pela causa X, SP, 1977


ESPECIFICO = -----------------------------------------------------
População média em 1977

Modalidades de coeficiente d emorbidade:


a. Morbidade Prevalente: Num determinado momento pode-se estar interessado em conhecer o nº ou
freqüência de animais reagentes ou doentes ou infectados num determinado momento i.é. mede o nº
de casos presentes. Metaforicamente pode ser comparado a uma fotografia da situação de saúde do
rebanho.
b. Morbidade Incidente ou Incidência: mede o nº de casos novos que ocorreram num determinado
período de tempo numa população exposta ao risco. Metaforicamente pode ser comparado a um filme.
Ex.: Suponhamos certo nº de intervalos de tempo e uma população de bovinos e que o fenômeno
interessado seja a Tuberculose e ilustrado na Figura 14.

A ilustração abaixo representa o que segue na tabela:

Tabela I – Prevalência e Incidência

Tempo
Morbidade 1989 1990 1991 1992 1993
Total de reagentes 5 6 7 8 6
Total de casos novos 3 3 1 1 0

A incidência depende de um levantamento contínuo de informações, i.é, de um sistema de registro de casos


novos que vão surgindo numa população e é uma visão dinâmica. Mede a intensidade de ocorrência de uma

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doença ao longo do tempo, ao resultado de uma medida profilática adotada ou a força que o parasito
apresenta em persistir na natureza, ou seja, de uma doença.

Figura 20 - Ilustração de prevalência e Incidência

1989 1990 1991 1992 1993

*
*

* *

*
*

* = início do processo ou momento do diagnóstico


= duração do processo

A população especificada no denominador de um coeficiente de morbidade por não ter sido igualmente exposta
ao risco de infecção pode ser separada em grupos e assim estabelecer um caso específico de coeficiente de
morbidade que é denominado COEFICIENTE DE ATAQUE.

Difere de um coeficiente de morbidade pelo denominador que especifica a natureza do risco de infecção.

Se uma doença ou uma Fonte de Infecção for introduzida em certa área geográfica, pode-se ter uma
população ou parcela desta exposta ao risco de adoecer ao entrar em contato com esta Fonte de Infecção.
Uma outra população ou a outra parcela não infectada no 1º momento poderá infectar-se adquirindo a infecção
a partir dos primeiros casos de doença. Pode-se, portanto, definir o coeficiente de ataque primário, coeficiente
de ataque secundário e outros sucessivamente de acordo com o interesse da investigação.

O 1º mede o risco que os indivíduos têm, naquelas condições, de adquirir a doença. O 2º mede o nº de
indivíduos que adquiriram a doença/infecção depois de ultrapassado o período de incubação do anterior.

Ex.: Seja um cão raivoso que tenha mordido outro. O 2º coeficiente poderá medir a capacidade de propagação
da doença, i.é. a capacidade dos indivíduos mordidos virem a adoecer e leva em conta a infectividade
transmissibilidade da doença. Por outro lado pode retratar também a intolerância de um sistema de saúde
principalmente quando se tratar de doença de notificação obrigatória e de ação imediata dos órgãos
responsáveis pelo controle como é o caso da Febre Aftosa.

nº casos de Febre Aftosa, SP, 1993


Coef. 1ário de ataque = -----------------------------------------------------

58
População exposta ao risco

nº casos após o aparecimento dos casos 1ários


Coef. 2ário de ataque = -------------------------------------------------------------------
População exposta ao risco

ÍNDICES: Como já foi mencionado acima, índice mede um aspecto diferente do coeficiente. É utilizado para se
conhecer o valor do numerador quando tornamos o denominador igual a 1.Os índices mais importantes são o
índice Vital de Pearl, índice de Mortalidade Proporcional e índice demográfico.

a. Índice vital de Pearl: É ainda pouco utilizado em Medicina Veterinária. É entendido como:

nº de nascidos vivos
-----------------------------------------------------
nº de óbitos em determinada região

Este índice pode assumir diferentes valores tais como:


= 1 - Significa que a população está estacionária
> 1 - Significa que a população está em crescimento
< 1 - Significa que a população está em declínio

b. Índice de Mortalidade Proporcional: Relaciona o nº de óbitos por uma determinada causa e o nº total de
óbitos numa dada população. Pode ser utilizada para orientar uma atuação sanitária para estabelecer
hierarquia de saúde numa coletividade.

nº de óbitos por causa X


-----------------------------------------------------------------
nº total de óbitos por todas as causas em uma área

c - Índice Demográfico: Relaciona o nº de indivíduos ou animais por unidade de área, geralmente km 2.

nº de indivíduos
---------------------------------------------
Extensão da área geográfica

Sistemática relativa à colheita de informações: É sistema mais deficiente seja em populações humanas
seja em populações animais. Implica na existência de um Serviço coordenado de notificação, colheita e
organização de dados para avaliação dos resultados de medidas profiláticas e comunicação aos órgãos
superiores encarregados dos programas e a organismos Internacionais responsáveis pela colheita e divulgação
da distribuição geográfica mundial de doenças dos diferentes países.

O método profilático: Tanto na Medicina Curativa como na Medicina Preventiva aplicada em uma população,
é preciso considerar 3 aspectos fundamentais:
1- escolha do método
2- aplicação do método
3- avaliação do método

Se numa certa população de bovinos, 40% dos animais se encontra infectado pela tuberculose, é impossível
pretender-se o sacrifício dos reagentes. isto explica a importância do conhecimento da prevalência para a

59
orientação da medida profilática. Serão abordadas as medidas profiláticas relativas a cada elo da cadeia
epidemiológica.

Medidas de profilaxia relativas às fontes de infecção: Inicialmente é necessário detectar as FI, i.é.
diagnosticar os animais doentes ou portadores e em seguida notificar às autoridades sanitárias por parte dos
profissionais competentes. A identificação das FI se faz através dos métodos diagnósticos que apresentam
algumas características, mas 2 aspectos devem ser considerados em ternos individuais e em ternos de
coletividades.

POSSIBILIDADES DE DIAGNOSTICO

1. Diagnostico Clinico: A importância dos sintomas clínicos de uma doença é baseada nas pesquisas dos
mesmos. Nem sempre tal comportamento é possível, pois, os sinais podem não ser patognomônicos e que
quando existem, são raros. A despeito desta limitação, o diagnóstico clínico não deve ter seu valor
rejeitado por representar um primeiro sinal de alarme para uma alteração da saúde dos animais.

2. Diagnostico Laboratorial:

a. Provas inespecíficas (sangue, urina, fezes, radiologia): Pode-se recorrer a provas como hemograma,
determinação bioquímicas como de glicose, hemoglobina, exames radiológicos, exames de fezes e de
urina etc. Ex.: Antes do advento da prova de Imunodifusão em gel de ágar para Leucose Bovina, o
Leucograma apresentava imprescindível instrumento de diagnóstico. A prova de imunodifusão em gel de
ágar para Anemia Infecciosa Eqüina foi precedida por provas inespecíficas como hemograma, hematócrito,
sideroleucócitos e perfil eletroforético de soros de animais suspeitos.

b. Provas específicas: Têm-se as provas diretas e indiretas.


Direta: repousa na observação do próprio agente etiológico e identificação pelas características
morfológicas. Em esfregaços de sangue em laminas pode-se observar Babesias, Anaplasmas, etc. Pelo
exame de fezes pode-se observar a presença de ovos de vermes com ou sem o recurso do
enriquecimento. O enriquecimento pode ser realizado por: centrifugação, em meios de cultura/ cultivo
celular ou pela inoculação em animais de laboratório.
Indireta: a pesquisa indireta de parasitos baseia-se nas propriedades imunogênicas dos mesmos e para
tanto se recorre às provas sorológicas como: Fixação de Complemento, Soroaglutinação, Hemaglutinação,
Hemadsorção, Neutralização, Imunofluorescência, ELISA, ou por provas alérgicas que se baseia na
introdução de produtos de metabolismo do próprio agente como é o caso da Tuberculina.
De modo geral, não se utiliza uma única prova, mas recorre-se a um conjunto de provas capazes de
conduzir a um diagnóstico exato da enfermidade. Assim, em se tratando da Brucelose temos os seguintes
recursos:
1- Isolamento da Brucella: principalmente a partir da placenta, secreções vaginais após abortamento,
conteúdo estomacal de fetos abortados e nos períodos entre partos pode-se tentar isolar a partir de leite
(bovinos, caprinos e ovinos).

60
2- Sorologia: do ponto de vista populacional, as provas imunológicas são importantes porque podem ser
aplicadas em um grande nº de animais. Dentre estas se pode mencionar, para o mesmo caso da Brucella,
algumas que apresentam elevada praticidade:
RING-TEST: é uma prova importante e difundida, principalmente para fins de identificação de rebanhos
infectados. É um método utilizado e recomendado rotineiramente para triagem inicial, pois, é realizado com
material colhido em usinas de leite. Cada latão possui leite de muitos animais, porém esta técnica permite
a identificação de rebanhos infectados dada a elevada sensibilidade que se manifesta positiva mesmo que
a mistura do latão contenha leite de apenas 1 vaca infectada. Obviamente não se pode identificar a
porcentagem de animais infectados presentes no rebanho e, além disso, restringe-se apenas àquelas
vacas em lactação.

Outros testes podem ser utilizados para a avaliação de reagentes como Soroaglutinação rápida,
soroaglutinação lenta, Fixação de Complemento. A soroaglutinação rápida é realizada em lâminas de vidro
utilizando-se antígeno padronizado e considera-se positivo o animal não vacinado que apresentar título =
ou maior que 100. Outros testes são baseados na detecção de macroglobulinas ou microglobulinas que
apresentam grande valia em fase final de programa de controle quando se deseja maior especificidade.
Numa fase inicial basta a soroaglutinação rápida que apresenta alta sensibilidade (98%).

Em ovinos, caprinos e suínos, a soroaglutinação apresenta baixa sensibilidade, i.é. apenas um baixo
percentual de animais realmente infectado reage positivamente e dai uma interpretação especial que é
realizada em ternos de rebanho e não de indivíduo. Se um suíno for positivo à prova mencionada, todo o
rebanho é considerado infectado. Esta interpretação é justificada da seguinte forma:
1- a propagação da doença é mais rápida entre suínos do que em bovinos pelo próprio sistema de criação;
2- a baixa sensibilidade da prova deve-se à heterogeneidade do agente contido no antígeno o a espécie do
agente causal da doença em suínos. Ressalte-se que nesta espécie, os animais mais jovens são mais
suscetíveis.
(comentários mais detalhados sobre métodos laboratoriais de diagnóstico no ANEXO 2)

Aplicação diagnóstica dos testes imunológicos: a presença de Ac específico em soro de 1 animal significa
uma exposição prévia a um epítopo presente naquele microrganismo e não significa que a infecção ou doença
intercorrente esteja presente no momento do teste. A infecção ou doença gera um anti-soro que contém uma
coleção heterogênea de Ac. A maioria dos soros de eqüinos contém Ac contra Salmonella typhimurium, mas
não prova que os eqüinos sofram de salmonelose. Isto significa que uma única prova para dosagem de Ac tem
importância diagnóstica. Se 2 amostras de soro forem colhidas com intervalo de 1-3 semanas de intervalo e a
diferença de título for igual ou maior a 4 vezes, pode-se inferir que se está diante de uma infecção ativa ou
doença. Um 2o ponto a ser considerado, á a possibilidade de ocorrência de erros técnicos decorrentes do uso
de controles inapropriados no teste. Um 3 o tipo de erro é aquele decorrente da ocorrência de resultados falso-
positivos e falso-negativos e são erros inevitáveis.
Características das técnicas de diagnostico: Cada método diagnóstico apresenta certas peculiaridades que
devem ser lembradas quando utilizadas. Algumas vezes é necessário um diagnóstico de massa. Outras vezes
necessita-se de um diagnóstico individual. Quando se está estudando uma doença, dispõe-se de muitas

61
técnicas a serem escolhidas como: inoculação, sorologia, identificação do agente etc. Muitas vezes recebe-se
esta informação acerca de vários métodos e não raro desconhece-se as diferenças entre eles.

Suponha um teste "D". Apresenta absoluta especificidade quando fornece um resultado positivo a uma doença
"D" e fornece resultado negativo quando se tratar de doença que não a "D".

Assim, há que considerar as características das provas laboratoriais quando a variável é de natureza
qualitativa e que são: SENSIBILIDADE, ESPECIFICIDADE, CONCORDÂNCIA e PRATICIDADE.

1. Sensibilidade: É a capacidade que apresenta o método diagnóstico de descobrir um caso de infecção. Se


tivermos 100 animais seguramente infectados por um agente etiológico e "n" métodos para fins de
diagnóstico ( A; B; C ):
A - detecta 55 -------- 55% de sensibilidade
B - detecta 65 -------- 65% de sensibilidade
C - detecta 80 -------- 80% de sensibilidade

Se um método detecta um alto percentual de infectados, diz-se que apresenta elevada sensibilidade. Detecta-
se um pequeno nº de animais seguramente infectados, o método apresenta baixa sensibilidade.

SA > SB > SC ( porque 80% > 65% > 55%)

Testes de baixa sensibilidade resultam em elevado número de falso-negativos. Testes altamente sensíveis
tendem a ser relativamente inespecíficos (elevado número de falso-positivo). É difícil ter um teste com alta
sensibilidade e alta especificidade.

2. Especificidade: É a capacidade que o método apresenta de detectar como positivo quando se tratar de um
animal infectado por um determinado agente etiológico. Só pode ser medido se existirem animais não
infectados que deverão ser necessariamente negativos à prova em questão, pois caso contrário reduz a
especificidade da prova diagnostica. Seja por ex. um método "A" qualquer onde "b" é a freqüência de falsos
negativos e "c" a dos falsos positivos.

Resultado
Condição
Positivo Negativo Total a
S = ----------
INFECTADO A b a+b a + b

NÃO INFECTADO C d c+d d


E = -----------
TOTAL a+c b+d a+b+c+d c + d

Quanto menor for o valor de "b" (falso negativos), maior será a sensibilidade. Quanto menor for o valor de
"c" ( falso positivo ), maior será a especificidade. Quando o método é 100% específico, c= 0 e "d" adquire
valor máximo indicando não haver falsos positivos.

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Testes de baixa especificidade resultam em elevado número de falso-positivos. Testes de elevada
especificidade tendem a apresentar baixa sensibilidade (elevado número de falso-negativos). As exigências
quanto às características desejáveis de um teste, dependem das exigências do pesquisador, da natureza
do Ag empregado, da praticidade e da sensibilidade e especificidade. A seleção de um bom teste
representa um compromisso entre a sensibilidade, especificidade e praticidade i.é. número de etapas
envolvidas, custo e natureza dos equipamentos necessários. Muitas vezes é preferível um teste altamente
sensível a um teste altamente específico.

3. Concordância: É a soma da sensibilidade e especificidade ( S+E) e portanto, quando ambos adquirem


valor máximo, a concordância será igual a 1 ou 100% e representa em outras palavras a % de resultados
corretos.
a+d
C = -------------
N

4. Praticidade: É uma característica importante, principalmente em se tratando de trabalhos epidemiológicos


com um grande nº de animais e difere muito dos aspectos que envolvem apenas um animal. Algumas
técnicas podem ser menos perfeitas que outras, mas é utilizada principalmente pela maior praticidade.
Denota as possibilidades de utilização dada a fácil aplicação.

Existem provas que apresentam baixa sensibilidade e alta especificidade tais como a visualização de parasitas
nas fezes, na urina, sangue etc.

Por outro lado, existem provas relativamente sensíveis mas, apresentam baixa especificidade em detectar
certas espécies de parasitos que revelam reações cruzadas. Ex.: detecção de Leptospiras.

Muitas vezes se pode ter provas altamente específicas mas, sem a conveniente aplicação. Em se tratando de
Tuberculose, o método ideal e mais específico seria o isolamento da bactéria, mas as dificuldades são em
grande nº bem como tempo necessário é muito grande. Por outro lado, o método da tuberculinização é muito
mais prático..

Quando se está interessado em testar a Sensibilidade de um novo método relativamente a outro já


padronizado, é suficiente examinar a concordância de ambos.

Se estivermos diante de um valor encontrado da prevalência é possível averiguar se este valor encontrado
está sub ou super estimando o verdadeiro valor da prevalência populacional devido à existência de um certo nº
de falsos positivos dada a especificidade do método. Assim, podemos ter as seguintes situações para uma
população cuja prevalência de uma determinada doença é igual a 40%:

a- Se a sensibilidade do método é 60%, tem-se 24 realmente positivos detectados e os restantes 14 são falso
negativos por não terem sido detectados pelo método. O valor 24 estará subestimando o verdadeiro valor da
prevalência de 40% e pode-se introduzir uma correção para a estimativa.

63
b- Se a Especificidade for baixa e igual a 90%, nesta mesma população de 40% de prevalência, o método não
irá detectar os 40 realmente positivos., mas um nº maior de positivos e igual a 50. Os 10 encontrados além dos
40 verdadeiros positivos são falso positivos. O valor 50% estará superestimando o valor da prevalência.

Qualquer teste laboratorial pode ser avaliado relativamente à sensibilidade e especificidade para fins de
seleção de um método passível de ser utilizado. Um critério para a escolha de uma prova capaz de detectar FI
é o seguinte:
Método A - 60% de sensibilidade
Método B - 80% de sensibilidade

A praticidade do método A é 4 vezes superior ao do B e portanto, significa que num mesmo período de tempo
pede-se examinar 400 animais com o método A enquanto que com o B é possível examinar-se 100. É possível
demonstrar pela escolha do método A deduzindo-se pelo cálculo da prevalência por intervalo de confiança para
uma prevalência de 10%:

LC ( p - z <<p+ z ) = 1 -  (95% ou 99%)

Onde: q = 1 - p e ( p + q ) = 1 ou 100%
Para LC = 95% z = 1,96
Para LC = 99% z = 2,545

Método A :

LC ( 6 - 1,96 <  < 6 + 1,96 = 95%

LC ( 3,7 <  < 8,3 ) = 95% , onde ( 8,3 - 3,7 ) = 4,6

e que recebe a denominação de intervalo de confiança.

Método B:

LC ( 8 – 1,96 <  < 8 + 1,96 ) = 95%

LC ( 0,7 <  < 11,3 ) = 95%, onde ( 1,3 - 0,7 ) = 10,3

Quanto menor for o intervalo de confiança melhor será a estimativa e, portanto, o método A estima com maior
preciso à prevalência da doença/infecção na população contornando-se a sua baixa sensibilidade aumentando-
se o tamanho da amostra.

64
A identificação precoce das FI apresenta uma grande importância do ponto de vista da profilaxia. Será mais
difícil a identificação quanto maior for o nº de animais portadores e
infecções sub-clínicas. A propagação de uma doença é função da permanência de animais FI na população.

O potencial de FI depende do nº de fontes de infecção e da mobilidade das mesmas. Descoberta a FI, segue-
se medidas profiláticas de caráter geral.

Diagnóstico epidemiológico: é o conjunto de informações sobre freqüência de ocorrência em diferentes


momentos e em diferentes locais, sobre os animais e meio ambiente.

MEDIDAS PROFILÁTICAS DE CARÁTER GERAL APLICADA ÀS FI:

1. Sacrifico: É uma medida aplicável na dependência de certos aspectos que serão considerados
isoladamente, mas lembrar sempre que implica na existência, no pais, de condições de suportar uma
queda na produção. Os aspectos que merecem consideração são:

a. Prevalência da doença/infecção: Naturalmente o sacrifício é uma medida aplicável em coletividade


onde a prevalência é baixa. Se for elevada, as conseqüências do ponto de vista social e econômico
serão graves.

b. Natureza do agente e condições do meio ambiente:. É preciso considerar se o agente é capaz de


resistir às condições do meio ambiente. Se realmente apresentar resistência, o sacrifício de uma ou
mais FI não será suficiente para o controle da doença porque o meio ambiente encontra-se
contaminado. Ex. Bacillus anthracis, Clostridios etc.

c. Reservatórios: A importância é maior quando reservatórios forem representados por animais


silvestres e a sua densidade populacional elevada. De nada adiantaria controlar a doença em
população de animais domésticos se não existirem medidas adequadas capazes de atingir os
reservatórios. Na Europa a raiva encontra-se em uma situação de baixa endemicidade. A sua
erradicação não foi possível devido a existência de canídeos silvestres que estio se aproximando das
áreas habitadas pelo homem. Existem, atualmente, recursos de vacinação de raposas por via oral pelo
oferecimento de vacinas colocadas no interior de iscas alimentares.

d. Animais pré- munidos: A babesiose e anaplasmose encontram-se amplamente difundidos no Brasil


bem como em população de Ixodideos que são vetores biológicos e nos quais o parasito é transmitido
por via transovariana.

Viabilidade do sacrifício das FI como medida de prevenção: recomendado, principalmente quando a


doença acarreta elevados prejuízos em rebanhos animais de curto período de vida como é o caso de suínos,
galinhas, ou quando o valor do animal é baixo ou em se tratando d populações na qual a doença/infecção
ocorre com baixa prevalência. Há casos como o da Pulorose cuja medida mais recomendada é o sacrifício dos
mesmos mesmo em situações de elevada prevalência. Mesmo considerando a extensão geográfica, há países

65
que adotam o sacrifício como é o caso dos EEUU, que conseguiram erradicar a Febre Aftosa adotando
medidas de sacrifício das FI e dos Comunicantes. No Brasil, à semelhança do que ocorre em outros países,
adota o sacrifício em casos de eqüinos positivos para Anemia Infecciosa Eqüina, Brucelose em suínos
(sacrifício de FI e dos comunicantes) e febre aftosa em regiões onde a política sanitária é a erradicação com
ou sem vacinação. Brucelose em Bovinos: em certos países, a medida mais adotada é a identificação das FI e
posterior sacrifício. No Brasil este método não foi viável quando a prevalência era elevada, mas já é possível
em criações de gado leiteiro. Portanto, o sacrifício é medida recomendada quando: a prevalência é baixa; ou
quando da reintrodução de doenças já erradicadas; ou quando é fácil a renovação da população.

2. Tratamento: Se muitas vezes o sacrifício é medida impraticável, deve-se recorrer à redução da


capacidade infectante, i.é. capacidade de eliminação do agente bem como o tempo de eliminação. O
tratamento é uma medida capaz de reduzir o período de transmissibilidade promovendo a cura dos
doentes e conseqüentemente limitando a transferência do parasito de um hospedeiro a outro.

A aplicação desta medida pode ou não ter maior ou menor oportunidade de aplicação em uma população. Não
é aplicável na dependência do nº de FI e da natureza do agente etiológico. Ex. Tratamento anti-helmíntico em
bovinos pode propiciar a contaminação do solo.

Por outro lado, tem-se anti-helmínticos que administrados de forma contínua podem reduzir a ovoposição bem
como inibir a evolução de certos ovos de vermes. As conseqüências do uso sistemático destas drogas servem
para prevenir a infecção do suscetível porque nem sempre reduz a infecção da FI, mas sim a contaminação do
solo. Além da aplicação prática, existem as implicações econômicas que envolvem o método bem como é
preciso considerar a conveniência ou não de eliminar o parasito.

Por ex.: não teríamos condições de erradicar a Anaplasmose e nem seria uma medida adequada, pois, não
existe a possibilidade de eliminar com a população de carrapatos bem como há a agravante de existirem
animais silvestres que atuam como reservatórios da enfermidade e num outro tempo poderiam reintroduzir a
anaplasmose na população de animais domésticos suscetíveis bem é preciso lembrar que os adultos são mais
suscetíveis que os jovens..

3. Isolamento: Em se tratando de doenças crônicas como a Brucelose bovina há a possibilidade de


segregação de animais reagentes dos não reagentes. Naturalmente existem as limitações por implicar na
existência de pastagens de extensão considerável para abrigar 2 populações e é agravado pela resistência
do agente às condições do meio ambiente. O isolamento implica, portanto na existência de instalação
especial, pessoal devidamente treinado, enfim duplicação das atividades.

Em Medicina Veterinária, não temos ainda hospitais de isolamento, porém há possibilidade de segregar
pequenos animais nas próprias residências ou em hospitais particulares. Em se tratando de eqüinos, pode ser
uma medida excepcional.

O mais utilizado é o isolamento de grupos de animais infectados dos não infectados desde que a transmissão
não implique na participação de vetores biológicos. Ex. Tuberculose, Brucelose etc. Não esquecer também,

66
que esta medida exige a duplicação de pastagens, mão de obra, abastecimento de água e alimentos etc.

Outra alternativa seria a venda de animais reagentes a um criador de animais infectados. Esta medida exige
ética, responsabilidade e reconhecimento por parte dos órgãos governamentais para que seja amparado pela
legislação e apresente limitação no tempo por ser uma medida temporária.

Enfim, o isolamento é uma medida recomendada após a aplicação de provas diagnosticas ou de informações
epidemiológicas conjugadas e do conhecimento do período de transmissão do agente etiológico.

Após todas estas considerações, deve-se ter em mente que todas estas medidas aplicáveis às FI são fáceis
quando há manifestação típica da doença e que o início do período de transmissibilidade pode anteceder aos
sintomas.

4. Medidas relativas aos ROEDORES. é preciso diagnosticas a presença das diferentes espécies através o
conhecimento de:
a. Características externas: tamanho, peso, pelagem, comprimento da cauda forma e cor das fezes,
fluorescência da urina.
b. Características fisiológicas e hábitos de vida: locais de formação de ninhos, atividade noturna ou
diurna, dificuldade de visão, órgãos sensoriais (vibrissas), olfato, escavadores ou escaladores,
preferências alimentares, desconfiados, materiais preferenciais para roer, locais onde deixam marcas
de pelos e vibrissas.
Medidas defensivas ou preventivas: reabilitação de prédios para impedir entrada de roedores (cercas,
proteção em portas, fechamento de aberturas), eliminar locais de formação de ninhos (remoção de
entulhos) e eliminar fontes de alimento (proteção de lixo, de armazéns de produtos alimentícios pelo uso de
estrados de apoio, colunas com defensas).
Medidas ofensivas ou de controle: uso de meios físicos (ratoeiras, armadilhas) ou de meios químicos
(rodenticidas)

MEDIDAS DE PROFILAXIA RELATIVAS ÀS VIAS DE TRANSMISSÃO: As possibilidades de atuação são


maiores quando o parasito permanece longo tempo no meio ambiente.
Contagio direto: Em se tratando de contágio direto, a VT é virtual. Por ex.: nada se pode fazer, em termos de
VT, em casos de mordedura por cães raivosos e em casos de doenças venéreas.

Contagio indireto: Quando o contágio é indireto, as possibilidades de atuação serão tanto maiores quanto
maiores forem as relações, no tempo e no espaço, entre as FI e o Suscetível, i.é. quanto mais tempo o agente
permanecer no meio ambiente
1. Fômites: deve-se dispensar especial atenção a este elemento procedendo-se à limpeza e desinfecção
que objetivam reduzir e até eliminar a contaminação. A limpeza visa remover sujidades com auxílio de
escovas, panos, esponjas, pás, vassouras etc. A varredura deve ser preferencialmente realizada com
solo/piso umedecido para evitar que poeiras sejam levantadas e, portanto, prevenir a infecção dos animais e
do homem por via aerógena pela inalação de pó. A lavagem completa a remoção de sujidades, o

67
detergente dissolve as gorduras que são eliminadas pelo enxágüe e em seguida desinfetar para a
destruição dos microorganismos remanescentes.
Os desinfetantes usuais eliminam formas vegetativas de bactérias, vírus e larvas de helmintos e alguns
podem apresentar ação sobre oocistos de protozoários, ovos de vermes e esporos de microrganismos
anaeróbicos (consultar a especificidade do desinfetante). Mesmo com o emprego de concentrações
(diluições) corretas, a desinfecção não elimina totalmente a contaminação que só seria alcançada pela
esterilização. Devem ter sido previamente aprovados pelo Órgão Oficial para o uso destinado (No Brasil, é
pelo Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária/ MAPA/Brasil) e seguir as recomendações de uso
quanto à armazenagem, diluição, tempo para ação, tempo para manter as instalações vazias, descarte de
embalagens, contacto com crianças, animais e pessoas que estão especificados no rótulo. Todo bom
desinfetante deve apresentar algumas características como ser incolor ou não manchar objetos, inodoro ou
com pouco odor ou rapidamente dissipado, alto poder residual (manter poder de destruição dos agentes
depois da aplicação para eliminar eventual resíduo de contaminação), econômico, alto espectro de ação,
estável à temperatura ao. ambiente e de fácil aplicação. Os desinfetantes mais utilizados são os derivados
de halogênios (fenol, difenol, cloro, cresóis, iodo), derivados quaternário da amônia, glutaraldeidos,
formaldeidos, peróxidos, peracéticos, clorexidina e suas misturas. O Processo de caiação (uso de cal, água
de cal, cal clorada) não é utilizada para fins de desinfecção, mas apenas como indicador visual de limpeza e
desinfecção realizados.
2. Aerógena: adquire importância, principalmente em se tratando de transmissão à distância. Quanto maior for
a distancia entre a FI e o Suscetível aumentam as possibilidades de atuação profilática. Podemos recorrer a
agentes químicos e físicos para a destruição do parasito. Ex.: Radiação Ultravioleta, desinfecção do ar por
nebulização de desinfetantes etc.
 NÚCLEOS DE WELLS: sua eliminação se faz por ventilação, nebulização de substância germicidas,
desinfecção por radiação UV etc.
 GOTÍCULAS DE FLüGGE: como sua eficácia como via de transmissão depende de um contato próximo
entre fontes de infecção e suscetíveis, as possibilidades de atuação profiláticas são limitadas e têm um
raio de ação variando entre 1-2m e misturam-se com poeiras meteóricas. Prevenir a ressuspensão no ar
evitando varredura a seco e promovendo a limpeza, lavagem e desinfecção dos pisos, paredes
principalmente. Se o ar já se encontra contaminado, pode-se recorrer à descontaminação do ar
recorrendo à desinfecção por agentes químicos e físicos.

VETORES:

1. Medidas defensivas ou preventivas: visam evitar a entrada de vetores nas habitações onde vivem as FI
ou os susceptíveis pelo uso de telas em janelas, portas, aberturas ou outras medidas de caráter mais
individual pelo uso de repelentes, mosquiteiros etc.

2. Medidas ofensivas ou de controle: visa diminuir a população de vetores pela aplicação de medidas
efetivas de Saneamento para limitar ou extinguir criadouros de artrópodes pela drenagem de coleções de
água, destinação adequada de excretas para diminuir oportunidades de reprodução de insetos, reduzir a
presença de matéria orgânica sobre o solo para limitar oportunidades de encontrar alimentos, utilização de
inimigos naturais como peixes larvófagos para a eliminação do artrópode ainda nas fases iniciais de seu
ciclo evolutivo, uso de drogas capazes de destruir formas larvares de artrópodes bem como de adultos

68
(larvicidas/inseticidas) em coleções de água, redução do grau de sombreamento e iluminação das coleções
de água. No passado, o combate a vetores era realizado pelo emprego de larvicidas sobre criadouros de
vetores. O combate aos adultos era difícil dada a inexistência de inseticidas de elevado poder residual
(clorados, fosforados, piretróides). O advento de inseticidas de alto poder residual tornou possível sanar
problemas sanitários mais graves como a febre Amarela, Dengue etc. Estes inseticidas permanecem longo
tempo ativo quando aplicados em superfícies de habitações.Tem sido utilizada a radiação de machos para
a sua esterilização e assim destruir uma população inteira de vetores biológicos. Este recurso foi e ainda
tem sido empregado no controle de artrópodes como Coclyomia omnivorax na Ilha de Curaçao pela
criação de larvas e posterior radiação gama em laboratório e obtenção de machos estéreis sem afetar o
vigor sexual e sua dispersão era realizado com o auxílio de aviões e o suprimento constante com estes
insetos estéreis promoveu a competição com os machos férteis. Como resultado, as fêmeas copulavam
com machos estéreis que não geravam novas gerações de moscas e foram dominando machos normais
até o desaparecimento da mosca da ilha. O uso de inseticidas é recomendado quando existe a
possibilidade de destruição da população de artrópodes como é o caso de pulgas na dipilidiose e
habronemose. A destruição ou limitação de população de vetores biológicos reduz significativamente a
ocorrência de doenças cuja transmissão é diretamente dependente de vetor biológico e o mesmo não
ocorre quando vetor mecânico é via de transmissão porque sua participação é usualmente acidental
exceção feita na Anemia Infecciosa Eqüina em que tabanídeo, vetor mecânico, é fundamental na
transmissão.

HOSPEDEIRO INTERCALADO:

Existem diferentes possibilidades de atuação sobre este elo da cadeia na dependência de suas características
e é esperado o mesmo resultado quando da atuação sobre vetores biológicos. As possibilidades são: i)
aplicação de medidas para evitar a contaminação do solo que é o habitat do hospedeiro intercalado; ii)
atuação sobre aquelas formas do parasito que penetram no hospedeiro intercalado; iii) e/ou atuando sobre o
próprio hospedeiro intercalado destruindo-o.

Por ex.: em se tratando de Schistosomose, Faciolose, a sua profilaxia implica: destinação adequada de
excretas para impedir a contaminação do hospedeiro intercalado prevenindo a contaminação do solo ou
mananciais de água; descontaminação de mananciais de água; e eliminação do hospedeiro intercalado
utilizando medidas saneadoras pelo uso molusquicida, inimigos naturais como peixes que se alimentam de
moluscos, modificação das condições ambientais como drenagem das coleções de água. É preciso lembrar
que quando se pretende destruir a população de moluscos pode-se estar destruindo uma outra população
importante representada por vegetações. No exemplo da Dipilidiose: destruição da pulga (malófaga) ; Na
Habronemose, combater a mosca doméstica.

ALIMENTO:

1. O alimento pode estar contaminado na sua origem. Recorre-se à Inspeção Sanitária de Produtos de
Origem Animal (ISPOA) que permite excluir tais alimentos antes de serem enviados para consumo
humano e que se encontram contaminados com agentes macroscópicos. Se os agentes forem

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microscópicos como Salmonelas, a ISPOA é mais difícil e os procedimentos referem-se à certificação de
origem dos animais.

2. O alimento pode ser contaminado durante o processo de manipulação pelo contato com ar, fômites
(ganchos, facas, utensílios, vasilhames), vetores mecânicos, roedores e o próprio homem que manipula os
alimentos e que pode ser portador de processos supurativos ou albergar no trato respiratório superior ou
gastrintestinal os agentes causadores de toxinfeção alimentar. É o caso de Salmonelas e Estafilococos. A
contaminação que ocorre durante a manipulação tem sido denominada de contaminação cruzada. Estes
fatores contaminantes estarão eliminados pela implantação de medidas que objetivam a Higiene Pessoal
dos trabalhadores, a Higiene Operacional executada durante os processos de manipulação, por um bom
saneamento do ambiente e da água e controle integrado de pragas.

Após a manipulação industrial, o alimento pode ser contaminado na casa do consumidor, pelo manipulador
(cozinheiras), vetores, roedores durante os preparos dos alimentos ou durante armazenagem precária.
Relativamente aos riscos oferecidos pelos alimentos, estes não são os mesmos na dependência dos
métodos de preparação. Por ex. os vegetais são normalmente ingeridos sem serem submetido à cocção e
a água também oferece maiores riscos de transmissão da doença. A composição do alimento apresenta
grande importância, pois aqueles com elevada umidade e grande concentração de proteínas oferecem
maiores riscos porque são excelentes meios de cultura para microrganismos. A cocção poderá destruir
microrganismos como Salmonella e toxinas termolábeis (botulínica), mas não destrói as toxinas
termoestáveis como é o caso daquela produzida pelo Staphillococcus aureus.

Evitar a contaminação de alimentos pela proteção dos mananciais de água de abastecimento; cuidados
durante a ordenha, higiene dos utensílios usados na ordenha; ISPOA ao nível de distribuição e
comercialização principalmente por vasilhas, vetores, instalações e manipuladores; e Higiene dos
equipamentos.

Uma vez o alimento contaminado por qualquer dos mecanismos já mencionados é possível realizar a sua
descontaminação: i) Pasteurização, recurso largamente utilizado com a finalidade de descontaminação
para melhor aproveitamento do produto destruindo agentes patogênicos; ii) esterilização: visa destruir
todos os microrganismos presentes nos alimentos. Ex, leite esterilizado (UHT), alimentos enlatados
submetidos à altas temperaturas (autoclave) ou à radiação UV.

ÁGUA:

A profilaxia da água se faz desde sua captação até a armazenagem. Águas superficiais (rios, lagos e
reservatórios) devem estar protegidos do acesso de animais e homem para evitar a contaminação e poluição e
também controlar a incorporação de resíduos industriais e esgoto humano. Águas subterrâneas superficiais
podem ser obtidas através fontes de emergência (em ponto, em área e encosta) que devem estar protegidas
do acesso de animais e do homem e a água colhida, quando possível, em cisternas (contendo pedra britada,
pedras e areia para promover filtração) com tampa e lavadas periodicamente. Águas subterrâneas podem ser
obtidas através de poços rasos (lençol freático) periodicamente desinfetados com produto à base de cloro
(hipoclorito de sadio) ou profundo (lençol cativo) com paredes protegidas, providas de tampa e água obtida por

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bomba que pode dispensar desinfecção se a água for livre de contaminação comprovada periodicamente por
provas microbiológicas. Tratamentos são usualmente realizados em estações de tratamento de água que
procedem à floculação ou coagulação (sulfato de alumínio  flocos de Al(OH)3) para retirada de cor e turbidez;
sedimentação; filtração em filtros de areia lento ou rápido; desinfecção com Cloro e correção de pH para evitar
corrosão de tubulações.

SOLO:

Sabe-se que apresenta maior importância para os parasitos que necessitam cumprir fase de seu ciclo evolutivo
no meio ambiente ou para outros que apresentam formas de resistência. O agente pode penetrar no organismo
do suscetível passivamente ou ativamente.
Passiva: ingestão de parasitos contidos ou não em alimentos ou presentes em fômites que entram em
contato com a mucosa bucal; através solução de continuidade da pele como no caso do tétano. Neste
caso adquire importância não apenas medidas preventivas saneadoras e descontaminação, mas,
também a Educação em Saúde. Ex.; Ascaridíase, Vibriose, Toxoplasmose etc.

Ativa: o agente é capaz de ganhar o organismo de um novo hospedeiro pelos recursos próprios como
é o caso dos Ancilostomídeos.
Devem ser distinguidos os parasitos que persistem no solo daqueles que devem obrigatoriamente passar fase
do seu ciclo evolutivo no solo. Ex.: desinfeção de piso de galinheiro, de estábulos, cocheiras, box. Rotação de
pastagem (considerar o ciclo do parasito em questão, tipo de vegetação que envolve a rotação etc.).

Uma vez o solo contaminado e principalmente em se tratando de grandes extensões, não é prático recorrer à
sua descontaminação, mas certas medidas são cogitadas como rotação de pastagens e abstração feita aos
interesses ligados ao aproveitamento dos pastos, há o interesse sanitário porque o descanso de determinadas
áreas permitirá a atuação das forças naturais para a diminuição da contaminação.

MEDIDAS DE PROFILAXIA RELATIVA AOS SUSCETÍVEIS:

Vacinação: medida profilática específica que objetiva proteger os animais através da imunidade pelo uso de
imunógenos (vacina) ou soros. É preciso conhecer alguns aspectos relacionados com a imunidade, resposta
imune, possibilidade de usar a vacinação e novas tendências e tecnologias.

Requisitos para o correto uso de vacina:


1. A vacina deve ser recomendável para controlar determinada doença. No Brasil não é permitida vacinação
contra PRRS (Síndrome Respiratória e Reprodutiva dos Suínos), PSC, Febre Aftosa em alguns estados
(Rio Grande do Sul e Santa Catarina desde 1998), Doença de Aujeszky (excepcionalmente com a
solicitação e aprovação pelo Ministério da Agricultura), Doença de Newcastle em Bisavozeiros, Avozeiros e
Matrizeiros. Alguns países baniram a vacinação contra Febre Aftosa.
2. Reconhecer que a resposta imune do animal pode proteger o hospedeiro contra a doença. É o caso de
doenças como Brucelose, Cinomose, Raiva etc., mas existem doenças para as quais a resposta imune não

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protege contra a doença (AIE, Leucose Bovina, PSA) ou a resposta imune é transitória e pouco ou nada
eficaz (FA em suínos).
3. Reconhecer que os riscos da vacinação superaram o risco de contrair a doença/infecção. É o caso do uso
inapropriado de vacinas contra doenças raras ou de baixa morbidade ou que interfere no diagnóstico
sorológico ou quando se ignora a importância da imunidade populacional. Ex. vacina contra Salmonella
enteritidis em galinhas.
4. Identificar inequivocamente do agente de doença. Vacina contra Pasteuralla multocida não protege contra
a febre dos transportes de bovinos como realizado no passado porque o agente primário é um vírus e a
bactéria é responsável pela infecção secundária (severidade da doença). Vacinas antigas contra rinite
atrófica dos suínos continham agentes que não estavam diretamente relacionados com a etiologia da
doença.
5. Risco de proteção não deve exceder o risco de adquirir doença. Vacina contra P. multocida aumenta a
severidade da lesão pulmonar, contra Laringotraqueíte Infecciosa das Aves (cepas vivas atenuadas) podem
provocar reações pós-vacinais como conjuntivite.

Resposta imune: é o mecanismo pelo qual o organismo de um animal se livra de substâncias estranhas. No
século VI, os chineses observaram que indivíduos sobreviventes de um ataque de varíola estavam protegidos
de ataques posteriores e surge assim a 1 a tentativa de proteção dos suscetíveis através de infecção
deliberada e controlada (escarificando material de vesícula de indivíduos doentes com manifestação branda).
Este procedimento espalhou-se até a Europa e foi denominada de “variolação”. Em conseqüência desta
prática, a mortalidade decorrente da varíola diminuiu drasticamente. Em 1798, Jenner, médico inglês, observou
que a varíola acometia os bovinos e que pessoas em contacto com vacas doentes manifestavam varíola
branda e passou a utilizar líquido de vesícula de casos bovinos reduzindo riscos decorrentes da variolação. Em
1879, Pasteur observou que galinhas inoculadas com cepa envelhecida de P. multocida estavam protegidas
quando inoculadas com cepa patogênica. Semelhante procedimento foi praticado no controle da febre aftosa
no Brasil, nos primórdios do séc. XX pela escarificação de suspensão de mucosa lingual de bovinos doentes
em animais sadios e este procedimento logo banido foi então denominado aftização.

Interferência da vacinação no diagnóstico indireto: Algumas vezes a vacinação interfere no diagnóstico de


certas doenças. Animais vacinados contra a Brucelose elaboram anticorpos específicos que poderão dificultar
a interpretação dos resultados da prova de soroaglutinação. Porém, existem certos critérios para a
interpretação destes testes. Quando um rebanho ou uma população toda é vacinada, é preciso considerar
certos aspectos como:
 Quando existem muitos animais doentes ou infectados e a sua transmissão é muito rápida, esta será tanto
mais veloz quanto maior for o tamanho da população de suscetíveis e complementarmente, terá menores
probabilidades de ocorrer quanto maior for o tamanho da população de vacinados.
 Deve-se sempre imunizar uma certa quantidade de animais de uma população quando se pretende reduzir
a doença em uma população e se utiliza vacina de elevada eficácia. Em se tratando de vacinas de potência
reduzida, a vacinação de todo o rebanho é fundamental.

Exemplos: Raiva e Febre Aftosa respectivamente do 1º e 2º casos. Em se tratando de Raiva, é suficiente a


vacinação de 70% da população que a sua totalidade estará protegida. Esta atitude implica no conhecimento

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do tamanho da população a ser protegida.

Imunização do ponto de vista populacional: O conhecimento da distribuição etária de doenças orienta a


imunização passiva ou ativa do suscetível. A atuação profilática deve ser orientada pelos conhecimentos
disponíveis sobre as doenças que ocorrem em determinada idade. Existem doenças que acometem animais na
primeira fase da vida, outras apresentam distribuição em fase mais avançada. Como exemplo do 1º caso tem-
se a colibacilose e paratifo e no 2º caso tem-se a manqueira, febre aftosa, Brucelose etc.

Os animais muito jovens, embora sejam imunologicamente competentes, não são capazes de produzir
anticorpos em quantidade ideal e no momento necessário. Nestes casos há a necessidade de se imunizar as
mães, num primeiro momento, com o objetivo de proteger os recém-nascidos durante os primeiros dias de vida
através o colostro.

Colibacilose: a prevalência é mais elevada nos primeiros dias;


Paratifo: Por volta dos 3 meses de idade;
Manqueira: Aos 6 meses de idade aproximadamente;
Brucelose: Quando da maturidade sexual.

Com base nestes conhecimentos acerca da distribuição geográfica e etária é possível orientar a adoção de
medidas profiláticas.

D- MEDIDAS DE PROFILAXIA APLICÁVEIS AOS COMUNICANTES OU CONTATO

Comunicante nada mais é senão um organismo vertebrado que esteve exposto ao risco de adquirir a infecção,
mas não sabemos se é ou não uma FI e se adoecerá ou não. No pertence à cadeia epidemiológica. Ex.:
Cavalo que recebe soro antitetânico antes de ser submetido a uma cirurgia. Um cão mordido por outro
sabidamente raivoso que permanece em observação. Ambos foram expostos a uma certa condição que
caracteriza o risco de ser infectado.

Em áreas onde a Malária é endêmica: uma pessoa que penetrar no nicho ecológico da doença terá se exposto
ao Plasmodium, mas não se sabe se irá adoecer ou não.

Eqüinos introduzidos em uma área onde grassa a Encefalomielite ou a Anemia infecciosa Eqüina.

Uma pessoa que tenha ingerido água contaminada com Salmonela.

As medidas aplicáveis são:

1- Sacrifico: é a medida mais drástica e visa proteger os suscetíveis. Foi a medida empregada nos EEUU,
México e Canadá para a Erradicação da Febre Aftosa e ainda hoje se emprega em casos de epidemias ou
focos da doença. Quando um cão é mordido por outro sabidamente raivoso, deve-se sacrificar este contato se
não existirem condições para isolá-lo objetivando a observação. O isolamento é recomendável se existir
história de vacinação passada do cão mordido.

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2- Quarentena: O comunicante é isolado por um período de tempo equivalente ao período máximo de
incubação conhecido da doença ou o tempo necessário para a realização de 2 provas laboratoriais
consecutivas com intervalo de 14 dias para observar eventual soro conversão.. Se durante este período o
animal manifestar sintomatologia da doença ou houver soro conversão, será uma FI e conseqüentemente
submetido às medidas relativas às FI considerando-se que já se encontram isoladas. A quarentena pode ser
aplicada a produtos de origem animal. Existem variações de Quarentena:
a- VIGILÂNCIA SANITÁRIA: observação dos animais que estiveram expostos à infecção, incorporado
ao rebanho de destino, poderá ser por um período equivalente ao período mediano de incubação no
sentido de se apreciar a adoção de medidas sanitárias ao aparecimento dos primeiros sintomas ou de
anticorpos e impedir a sua propagação em determinada área geográfica e realizada em estações de
quarentena sob supervisão do serviço oficial. É o caso de incorporação de animais ao rebanho sem
quarentena, ficam sujeitos à Vigilância Sanitária. Ex. vacas recém adquiridas, incorporadas ao rebanho
e observadas com a realização de provas sorológicas para brucelose.
c- ANIMAIS SENTINELAS: Quando após a ocorrência de uma certa doença em uma área geográfica
as FI e comunicantes tiverem sido eliminados e se pretende repovoar a área, não seria inteligente
recompor toda a população que foi inicialmente eliminada. É usual levar alguns animais que
permaneceriam naquele meio e através dos quais se avaliaria a eficácia da erradicação da doença na
região onde se pretende extingui-la. Estes animais São denominados sentinelas. Esses animais têm
papel de método revelador da persistência do agente etiológico na área considerada.

3 - Profilaxia medicamentosa ou quimioprofilaxia: O tratamento é medida preconizada por um período


equivalente ao período de exposição ao risco de infecção ou se já esteve exposto, tratá-lo para protegê-lo
deste risco de infecção ou para abortá-la. Exemplo do 1º caso e o tratamento de pessoas que pretender
ingressar em uma área onde a Malária é endêmica, e do 2º caso seria um eqüino exposto ao Garrotilho e
submetê-lo ao tratamento com antibióticos ou sulfonamidas.
a. Imunização: Poderá ser ativa, passiva ou combinada. Todas as vezes que se está diante de um
comunicante ou de uma doença com período de incubação da doença menor que o período negativo da
vacina, não há possibilidade de imunização ativa e conseqüentemente é preciso recorrer à imunização
passiva. Quando o período de incubação é maior que o período negativo da vacina é possível recorrer-se à
vacinação para estimular a imunidade e há que se vacinar todos os comunicantes. Portanto, é recurso de
grande valia se for possível a vacinação precoce e desde que se disponha de vacinas eficazes. Vejamos a

É reconhecido o conhecimento acerca da variabilidade do período de incubação de doenças que se reflete


em termos de variabilidade da resposta do hospedeiro. Assim, todos os indivíduos não apresentarão o
mesmo período de incubação que varia na dependência da maior ou menor suscetibilidade do hospedeiro,
da dose infectante, do local da mordedura como área de maior ou menor inervação como cabeça, mãos,
perna etc.

Se esta variabilidade apresentar-se sob a forma de uma distribuição normal, os indivíduos tratados se
distribuiriam ao redor de um ponto médio. Os indivíduos que se localizam do lado esquerdo da cauda da
distribuição não estariam protegidos por apresentarem curto período de incubação. Isto explicaria porque,
não obstante a vacino - terapia, após o risco de infeção, um certo nº de indivíduos não estariam protegidos.

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Para suplantar esta dificuldade há a indicação da soroprofilaxia no sentido de proteger o comunicante que,
se tiverem sido realmente infectados, apresentaria período de incubação anormalmente curto.

Outro exemplo é aquele representado por um eqüino que antes de ser submetido a uma intervenção
cirúrgica e que poderá ser exposto ao risco de infecção tetânica, aplica-se soro anti - tetânico.

A situação não é a mesma em determinadas doenças em que é possível o benefício do Interferon. Nestes
casos podem-se vacinar animais que a proteção será alcançada em 3-5 dias decorridos da vacinação.
Esta substância produzida a partir de um estímulo antigênico protegeria antecipadamente as células antes
de serem atingidas pelo agente da doença. Este fenômeno tem como exemplo clássico de doença a
Cinomose.

A situação é também, diversa quando o comunicante apresenta uma imunidade de base por ter tido
experiência prévia com o agente da doença.

Se representarmos em um gráfico (Figura 21) o tempo e taxa de anticorpos, tem-se o seguinte perfil
genérico:

Figura 21- Ilustração do efeito da dose de Rapell relativamente ao limiar de proteção.


Nível de Ac

Limiar de proteção

1ª dose 2ª dose

Tempo

Um animal que não possui imunidade de base, ao ser inoculado com um antígeno em t 1 responde lentamente

ao estímulo atingindo níveis de imunidade capazes de protege-lo em t 2. Se Este animal, no momento t 1 já

apresentasse uma imunidade de base, mesmo que insuficiente para protegê-lo das doses infectantes usuais,
ao receber a vacina apresentar uma resposta imune muito mais precoce e intensa comparativamente à

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situação anterior, pois o seu sistema imunitário já está organizado para uma resposta rápida pelo fenômeno de
memória imunológica.

Quando de uma epidemia e a população já possui imunidade de base, a reintrodução do antígeno


proporcionará uma resposta mais pronta e mais intensa em decorrência da existência da imunidade de base e
a 2ª vacinação recebe a denominação de Dose de Rappell.

MEDIDAS GERAIS DE PROFILAXIA: EDUCAÇÃO EM SAÚDE

São medidas que não se referem particularmente a nenhum elo da Cadeia Epidemiológica, porém, apresentam
grande importância pelo caráter geral.

Educação em Saúde é a parte mais importante dentre as medidas gerais e que gradativamente vem adquirindo
valor em Medicina Veterinária.

Existem certos problemas em que estas medidas são necessárias e até impositivas, pois, sem elas os
resultados da atuação profilática com relação aos elementos da cadeia epidemiológica seriam insuficientes.

No caso da Cisticercose, a medida mais recomendada e eficiente é a disposição adequada de excretas


humanas para impedir a contaminação do solo e assim, a infecção do suíno/bovino. Na Toxoplasmose, a
complexidade do ciclo biológico do protozoário, a epidemiologia com uma cadeia de transmissão complexa e a
profilaxia que ainda não dispões de medidas específicas, o controle está baseado na aplicação de medidas
inespecíficas que para a sua efetiva aplicação não prescinde de um processo educativo.

Não obstante a facilidade teórica da erradicação da doença, há sérios entraves à aplicação de medidas para
dar destino aos excretas humanos mesmo quando da existência de apoio de órgãos governamentais com
construção de sistemas adequados de disposição de dejetos no meio rural (fossas). Esta iniciativa muitas
vezes não representa nada, pois as fossas poderão ser utilizadas para qualquer finalidade menos para aquela
primordial em decorrência dos hábitos que os indivíduos possuem e é muito difícil conseguir a modificação
desses hábitos e educar essas populações do ponto de vista sanitário para o uso das fossas.

O problema ocorre também nas Ancilostomíases. A baixa Educação em Saúde concorre para manter a
endemicidade da doença. Este é um aspecto de relevância tanto em doenças humanas como animais porque
existe sempre o envolvimento do fator humano.

O problema das mamites é também característico de Educação em Saúde do homem que trabalha na ordenha
e é o maior responsável pela ocorrência desta doença pelo baixo grau de higiene, utilização de vasilhames
contaminados, mãos contaminados, vícios de ordenha, manejo inadequado e uso de fomites contaminados.

Em qualquer atividade de profilaxia, há que se contar sempre com os indivíduos envolvidos direta ou
indiretamente na profilaxia. Diretamente quando o homem for o responsável pelo atendimento primário á saúde
dos animais e indiretamente quando se requer a compreensão da população humana para determinadas
atividades consideradas fundamentais para a profilaxia. Exemplo deste último caso é a Raiva: uma das

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medidas fundamentais é a captura de cães errantes e a população deve estar suficientemente esclarecida para
o entendimento da medida e não provocar tumulto ou reação impeditiva.

Quando da erradicação de Febre Aftosa no México, baseado no sacrifício dos animais doentes e
comunicantes, houve uma violenta reação por parte dos fazendeiros e este episódio pode ser facilmente
transferível para as nossas condições. Isto revela como é muito mais importante conquistar a cooperação do
que impor determinado plano sem o cuidado da Educação em Saúde das populações humanas envolvidas.

Problemas com a erradicação do Aedes aegypty com vistas à Febre Amarela, tiveram sérios obstáculos devido
à impossibilidade de aplicação de inseticidas nos domicílios onde o problema aparentemente não era grave.
Para se obter a colaboração da população é preciso, muitas vezes, utilizar alguns atalhos como por ex. reduzir
a densidade populacional de outro artrópode.

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