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EPIDEMIOLOGIA VETERINÁRIA

CONCEITOS, PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS

MASAIO MIZUNO ISHIZUKA


(Profa. Titular Senior de Epidemiologia da FMVZ-USP)

SÃO PAULO
2022

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CONTEÚDO

CAPÍTULO 1 – HISTÓRIA DA EPIDEMIOLOGIA – página 1

CAPITULO 2 – PRINCIPIOS, CONCEITOS E FUNDAMENTOS – página 13

CAPÍTULO 3 – EPIDEMIOLOGIA VETERINÁRIA – página 47

CAPÍTULO 4 - MECANISMOS DE TRANSMISSÃO DE DOENÇAS EM POPULAÇÕES


ANIMAIS – página 74

CAPÍTULO 5 – MEDIDAS GERAIS DE PROFILAXIA. INDICADORES DE SAÚDE –


página 107

CAPÍTULO 6 – MEDIDAS DE PROFILAXIA – página 117

CAPÍTULO 7 – INVESTIGAÇÃO. VIGILÂNCIA E MONITORAMENTO – página 140

CAPÍTULO 8 – ANÁLISE DE RISCO, RISCO E MEDIDA DE RISCO – página 162

CAPÍTULO 9 – IMUNIDADE, VACINAS E VACINAÇÃO – página 191

CAPÍTULO 10 – PLANEJAMENTO DE PROGRAMAS DE SAÚDE ANIMAL – página 217

CAPÍTULO 11 - PLANEJAMENTO DE PROGRAMAS DE BIOSSEGURIDADE – página


224

CAPITULO 12 – FUDAMENTOS DE BIOESTATÍSTICA DE IMPORTANCIA EM SAÚDE


ANIMAL – página 230

CAPÍTULO 13 - PRINCÍPIOS BÁSICOS SOBRE AMOSTRAGEM – página 288

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CAPÍTULO 1.
HISTÓRIA DA EPIDEMIOLOGIA

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
2. EVOLUÇÃO DA MEDICINA VETERINÁRIA, DA CLÍNICA MÉDICA PARA A PROFILAXIA DE DOENÇAS EM
POPULACOES ANIMAIS
1º PERÍODO: perdurou até o 1º século dC. Explicação das causas de ocorrência de doenças (teorias
metafísica, humoral e miasmática); primeiros estudos sobre malária e esquisostomose; formas
iniciais de tênia; tênias humanas e dos felinos, canídeos e hienas africanas; vírus da peste bovina
originário da mutação do vírus do sarampo; vírus da varíola humana originário da mutação do vírus
de animais; bactérias causadoras de tuberculose humana; parasitos intestinais.
2º PERÍODO: perdurou do século I aC até 1762. Surgimento da veterinária de especialistas em clínica
e cirurgia de equinos.
3º PERÍODO: perdurou de 1762 a 1884: Epidemia de peste bovina na Asia e Europa.
4º PERÍODO: desde 1884-1960: criação da 1ª Escola de MV no Brasil; disseminação de pragas nos
animais e conceito de etiologia única das doenças; campanhas em massa para o controle de
doenças; melhor entendimento das caracteristicas dos agentes infecciosos (bactérias e parasitos);
enfase no tratamento individual; doenças bacterianas, os maiores problemas; abordagem
insipiente da epidemiologia; controle e erradicação de algumas doenças (peste bovina,
pleuropneumonia, mormo e estrogiloidose equina)
5º PERÍODO: de 1960 até o presente momento. i) Conceito de causalidade; ii) a Medicina Veterinária
ao nível populacional; iii) ao nível individual de propriedade; iv) ao nível do serviço veterinário
oficial; v) ao nível de animais de companhia; vi) ao nível da Saúde Pública Veterinária (controle de
zoonoses; e qualidade alimentar.

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Esta apostila reúne conceitos básicos de forma compreensível para estudantes,


pesquisadores e médicos veterinários de campo para fins de gerenciamento da saúde de
populações animais bem como da clínica médica em se tratando de animais de estimação e
de laser mantidos em pequenas aglomerações como canis, gatis e haras. Obviamente, há a
necessidade de se focar em animais de companhia para desenvolver abordagens de controle
de doenças em aglomerados desses animais.
No setor de produção animal, cuja ênfase está direcionada aos agregados de animais, a
epidemiologia está muito mais integrada com o delineamento e implementacao de
programas de prevenção, control e erradicação de doenças, de vigilância epidemiologica para
manutençao dos resultados obtidos, preservação da saúde dos planteis (biosseguridade), de
prevenção de doenças erradicadas ou exóticas.
Espera-se que as abordagens e métodos descritos possam envolver, os interessados, com
programas formais de saúde animal seja individualmente seja de forma integrada com as
unidades de epidemiologia existentes nas Universidades e Instituições de pesquisas.
Não será abordada a epidemiologia analítica como uma ciência, porem são apresentados os
mais importantes conceitos para o manejo da saúde de populações animais (Saúde Animal)
bem como a medicina clinica voltada para um indivíduo ou pequeno grupo de animais
(Medicina Veterinária Preventiva). Ambos requerem, igualmente, delineamento de
programas de saúde animal.

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O conhecimento da história natural das doenças em populações de interesse é o maior foco
dos programas de Medicina Veterinária Preventiva e de Saúde Animal seja com vistas ao
animal individualmente, seja em aglomerados de animais como em empresas de produção
animal, seja em populações do país, região ou estado. Além disso, métodos estruturados para
resolver problemas e o delineamento e interpretação de ensaios clínicos, quando integrados
com os conceitos de sensibilidade, especificidade, valor preditivo de um resultado positivo e
de uma valor negativo e concordância acima dos níveis do acaso, habilita o profissional a
avaliar mais adequadamente e melhorar a eficácia em termos de estratégia diagnóstica
selecionando e interpretando testes diagnósticos e atividades de profilaxia e prognóstico
A resistência da Medicina Veterinária em mudar do conceito de etiologia para o de causalidade
(fator de risco ou fator predisponente) objetivando delineamento de medidas de profilaxia
perdurou até 1960 e esta evolução ocorreu em várias fases sucessivas (KUHN, 1970;
SCHWABE, 1982) estão descritas (Evolução da MV e da clínica médica para a profilaxia de
doenças em populacoes animais).
A moderna epidemiologia compartilha muitas áreas da biometria, mas minimizando a
utilização de técnicas estatísticas sofisticadas. Ficaremos restritos aos métodos de
amostragem, medidas da produtividade (teste de médias) e frequências de ocorrência de
doenças (teste de proporções); causalidade de doenças que são requisitos fundamentais para
a aplicação da epidemiologia no campo.
Importante é o domínio de procedimentos numéricos/quantitativos como métodos de
amostragem, cálculo e interpretação de indicadores de produtividade (índicadores
zootécnicos) e de saúde (indicadores de saúde como frequência de ocorrência de doença e
mortalidade em populações animais) e causalidade de doença que são conhecimentos de
epidemiologia imprescindíveis para o bom desempenho no campo.
Espero que as abordagens e métodos apresentados possam auxiliar os médicos veterinários
da iniciativa privada e dos serviços públicos de defesa sanitária animal mais envolvidos com
programas formais de gerenciamento o apoio de bioestatístico com conhecimento de saúde
de populações animais.
Um curso introdutório de estatística é sempre útil para o entendimento do conteúdo desta
apostila para além dos conhecimentos de epidemiologia descritiva (qualitativa). Caso não
tenham domínio de bioestatística, recorrer a especialistas em fenômenos biológicos, pois a
conclusão deve apresentar lógica epidemiológica.

2. EVOLUÇÃO DA MEDICINA VETERINÁRIA, DA CLÍNICA MÉDICA PARA A PROFILAXIA DE


DOENÇAS EM POPULACÕES ANIMAIS (THRUSFIELD et al 2018).

Importante ter em mente aspectos que serão relatatados a seguir para fins de avaliação de
procedimentos profissionais diante de doenças que merecem uma abordagem profilática em
populações animais.

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Mudanças de paradigmas foram úteis para redirecionar as pesquisas e os procedimentos de
campo em face da resistência dos pesquisadores do passado em permanecer em abordagens
restritas a anomalias ou patologias e, comumente não alcançaram os resultados propostos e
deixar o tempo passar favorecendo o aumento de casos de doença até atingir um momento
de pressão sobre velhos paradigmas resultando em crise.
O maior problema sanitário que precipitou a crise foi a ocorrência de grandes epidemias de
doenças infecciosas no período entre 500 aC e 1800’ que foram a peste bovina,
pleuropneumonia (em quase toda Europa, América do Norte e África), cinomose, antraz
(carbúnculo hemático), febre aftosa e influenza equina (KARASSZON, 1988).

1º PERÍODO: perdurou até o 1º século dC

À guisa de curiosidade, no início deste 1º período, para explicar a etiologia de uma doença,
surgiram ao longo do tempo, 3 (três) teorias:
Teoria metafísica: as causas eram consideradas ocultas e as tentativas de tratamento
não reduziam a mortalidade de animais de tração, importantes na época, e a crise se
agravou quando a urbanização aumentou a importância dos animais como fontes de
alimentos. Com o desenvolvimento da Medicina Veterinária para atendimento dos
animais criados em sistema extensivo passou a ser exercido por “veterinários
especialistas”, na verdade eram curandeiros egípcios que utilizavam procedimentos
védicos e que fundaram o 1º hospital veterinário.
Teoria humoral de Hipócrates: 400 Ac, apregoava “é melhor reconhecer o doente do
que conhecer a doença”.
Teoria miasmática: as causas da doença seriam os odores fétidos provenientes de
matéria orgânica em decomposição. As teorias miasmática e metafísica como etiologia
de doença passaram a ser mais importantes que a teoria humoral.
Qualquer que fosse a teoria de causalidade, o tratamento exigia cuidadoso
reconhecimento dos sinais clínicos de acordo com a tradição grega.
Nos últimos 10.000 anos, o homem distribuindo-se pelo planeta, empreenderia uma grande
revolução na alimentação com o advento da agricultura e domesticação dos animais. O
homem torna-se sedentário e deixa a vida nômade. Muitas doenças começam a afetar o
homem:
Malária e esquisostomose: áreas irrigadas e alagadas facilitaram a agricultura. Represas e
canais de irrigação surgiram nas proximidades e favoreceram meios sofisticados para a
proliferação de mosquitos transmissores da malária e de caramujos transmissores da
esquistossomose.
Aumento da incidência da malária acompanhou o aumento populacional decorrente da maior
oferta de alimento vinda da pecuária e da agricultura e persistiu no litoral do Mediterrâneo,
da África, do Oriente Médio e da Ásia. A esquistossomose acompanhou a trajetória humana
na África e na Ásia e suas marcas permanecem em múmias.

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Formas iniciais de tênia: estudo do material genético dos microrganismos revela que os
primeiros hominídeos não estavam sós (UJVARI, 2008). Os ancestrais humanos africanos, nos
primórdios da caças nas savanas africana, adquiriram parasitos dos herbívoros - formas iniciais
de tênias.
Tênias humanas e a dos felinos, canídeos e hienas africanas: eram geneticamente
semelhantes (HOBERG et al., 2001). Nesse caso, o homem não adquiriu tênias na
domesticação do suíno ou bovinos porque já haviam sido infectados em solo africano e
transmitiram, posteriormente, aos suínos e bovinos.
Vírus da peste bovina originário da mutação do vírus do sarampo: também decorrente da
domesticação dos animas na Ásia e, deste fato, pode-se entender a imunidade cruzada entre
ambos os vírus. O vírus da peste bovina, causadora de doença letal para os rebanhos
europeus, atormentou os criadores nos séculos XVII, XVIII e XIX. Disseminou-se para a África
dizimando antílopes, búfalos, zebras, girafas, gazelas e bovinos (DeSALLE, 1999). Somente
em 2010 foi erradicada no planeta.
Vírus da varíola humana originário da mutação do vírus de animais: o camelo é um dos
suspeitos por albergar um vírus geneticamente muito semelhante ao da varíola humana
(GUBSER & SMITH, 2002). Outro animal suspeito é o pequeno roedor asiático (gerbo/esquilo
da Mongólia) que se disseminava nas imediações das primeiras cidades asiáticas e que
também albergava um vírus semelhante ao da varíola. A domesticação dos animais pelo
homem aproximou-o dos animais sadios, portadores de agentes e de doentes e ao perigo que
representavam por serem fontes de alimento e de força de tração.
Bactérias causadoras de tuberculose humana: que acometia o Homo erectus como
descobertas na atual República de Djibouti, localizado ao Nordeste da África, revelaram sua
antiguidade genética e, provavelmente, sejam precursoras da atual Mycobacterium
tuberculosis (FABRE et al., 2004). Acreditava-se que a M. bovis presente nos bovinos tenha se
disseminado para o homem com a domesticação desses animais, mas foi o contrário. Com a
descoberta das bactérias de Djibouti, e com trabalhos que comparam a sequência genética
das micobactérias, colocam a M. bovis como uma das últimas a evoluir (BROSCH et al., 2002).
Parasitos intestinais: já circulavam nos primeiros Homo sapiens que surgiram e eram
adquiridos pela água e por alimentos contaminados.
Surge, na idade média, o conceito e aplicação da quarentena (segregação por um período de
tempo de animais sadios, mas que tenham sido expostos à doença) e o sacrifício que se
tornaram uma estratégia preventiva. Mas, esses procedimentos, até o século I aC, não foram
suficientes para a solução de problemas em equinos que eram importantes para os curadores
militares.
Em resumo, o manejo da saúde de animais era, principalmente, uma atividade voltada aos
animais individualmente para casos específicos recorrendo a métodos de tratamento através
de oração, exorcismo, sacrifício até atingirem a fase de reconhecimento e tratamento de
doenças, quarentena e sacrifício de doentes.

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2º PERÍODO: perdurou do Século I aC até 1762

Caracterizou-se pela veterinária de especialistas em clínica e cirurgia devido à importância dos


equinos (RICHARDS, 1954) e outras espécies animais também se tornaram objeto de algum
interesse.
Em 1469, Bake of Saint Albans escreveu sobre doenças de galinhas e outras aves com
destaque em falcões e, John Fitzherbert's Bake of Husbandrie incluiu doenças de bovinos e
ovinos (publicado em 1523). No entanto, sem superar a importância de equinos,
procedimentos que persistiram até o sec. XX, a clínica de equinos era considerada a ocupação
mais importante comparativamente às outras espécies animais.
Em resumo, foi um período que se caracterizou pela introdução de procedimentos de
diagnóstico clínico em razão da importância dos animais nas atividades militares.

3º PERÍODO: perdurou de 1762 a 1884.

Na Europa, a ênfase passa a ser em bovinos devido à introdução da peste bovina da Ásia
(SCOTT, 1996).
A crise seguinte envolveu doenças em animais de estimação como a cinomose. Mesmo
persistindo a teoria miasmática/metafísica, as doenças seriam causadas por sujidades geradas
pelo homem e não por causas naturais.
Este período foi caracterizado pela criação extensiva de animais em propriedades, o que
proporcionou a melhoria das condições de higiene dos animais; introdução de procedimentos
rudimentares de saneamento das propriedades; higiene no abate; e de controle de doenças
incluindo técnicas de tratamento.
A peste bovina:
Quando a peste bovina foi introduzia na Inglaterra, em 1714, a partir da Holanda, Thomas
Bates, cirurgião de George I, sugeriu fumigação das instalações, matadouros, cremação de
animais mortos e vazio sanitário das pastagens (BATES, 1717-1719). Proprietários de bovinos
foram indenizados.
No século XIX, desinfecção pelo emprego de acido carbólico e cresílico passaou a ser
rotineiramente praticada no controle de doenças.
Praticamente metade do rebanho bovino da França foi dizimada pela peste bovina entre 1710
e 1714, mas, a doença persistiu com ocorrência irregular até 1750 para, em seguida
recrudescer.
Os conhecimentos sobre a doença objetivando o seu combate eram escassos. O
desenvolvimento cientifico na veterinária é muito recente e coincide com a criação da 1ª
Faculdade de Veterinária em Lyon/França, em 1762, e seguida de muitas outras como a de
Alfort/França em 1766, de Vienna/Áustria em 1767, de Turin/Piedmont-Itália em 1769, de
Copenhagen/Dinamarca em 1773, de Hannover/Alemanha em 1778.

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A intensificação das importações de animais pela Inglaterra a partir de 1842 aumentou
significantemente a ocorrência da peste bovina, varíola ovina e a pleuropneumonia.
Contínuos surtos de peste bovina tornaram-se um sério problema de importância pública
(SCOTT, 1997) e foi a responsável pela criação, em 1847, do British State Veterinary Service.
Serviços similares foram criados em outros países. A legislatura começou a fortalecer os
Serviços de Veterinária através de Atos relativos ao controle de doenças dos animais.
Em resumo, de 1762 a 1884, o conceito de campanhas (atualmente programas) foi introduzido
pela utilização de testes em massa, diagnóstico laboratorial e controle de artrópodes

4º PERÍODO: desde 1884 – 1960

Criação da 1ª Escola de Medicina Vetarinária no Brasil: em 1910, foi decretada pelo Presidente
da República do Brasil, Nilo Peçanha, a criação das duas primeiras instituições de ensino de
Medicina Veterinária no Rio de Janeiro/Brasil. A primeira escola de Veterinária do Exército foi
inaugurada em 17 de junho de 1914, orientada para clínica de equinos por serem animais de
transporte, de tração e laser e a segunda escola foi a Escola Superior de Agricultura e
Veterinária, atual Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), orientada à produção
animal, principalmente dos bovinos em face da elevada ocorrência de babesiose e
anaplasmose em animais importados que exigiam um exaustivo trabalho de premunição.
Mais tarde, houve uma grande orientação para a clínica de pequenos animais e Saúde Pública
Veterinária, mas continuaram com foco em equinos como a campanha contra o mormo que
acometia cavalos e os soldados (OLIVEIRA, 2018).
Disseminação de pragas nos animais e conceito de etiologia única das doenças: a despeito
das campanhas sanitárias, a crise coincide com o advento e aceitaçao da teoria do
microrganismo (Postulado de Koch & Henle) que definia uma etiologia única e especifica de
uma doença infecciosa (agente etiologico) e, portanto, implicando na necessidade de uma
adequada estratégia de controle direcionada ao agente causal, ou seja, o tratamento.
Periodo de campanhas em massa para o controle de doenças: este periodo caracterizou-se
pela campanhas ou acões em massa iniciada por volta de 1880. O diagnóstico laboratorial
envolvia isolamento do agente e identificaçao das lesões (diagnóstico etiológico e
anátomopatológico) para instituir a terapia. Prevalecia, portanto a clinica baseada no
diagnostico etiologico e tratamento.
O controle de doenças e subsequente erradicação envolveu testes em massa dos animais e
vacinação.
A identificaçao de vetores (artrópodes) facilitou a prevençao de doenças transmitidas por
vetores biológicos através de medidas de controle da populacao desses invertebrados.
Melhor entendimento das caracteristicas dos agentes infecciosos (bactérias e parasitos): no
final do século XIX, este conhecimento possibilitou delinear a cadeia epidemiológica (de
trasmissao ou de disseminaçao) para sua interrupção atuando no meio ambiente como

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drenagem de água para controle da fasciolose e controle de artrópodes para o controle de
doenças transmitidas por vetores mecânicos ou biologicos.
Ênfase ao tratamento individual: no final do século XIX, a Medicina Veterinária enfatizava o
tratamento individual de animais acometidos de doenças claramente diagnosticadas ou as
anormalidades não infecciosas. Além da vacinação rotineira e tratamento medicamentoso de
parasitoses internas, era rudimentar a atenção à saúde de rebanhos e à medicina veterinária
preventiva.
Doenças bacterianas, os maiores problemas: no Século XX, as doenças bacterianas foram os
maiores problemas e o descobrimento e síntese de antibióticos alterou totalmente a
causalidade de doenças. A Medicina Veterinária também se beneficiou do desenvolvimento
do poder terapêutico dos antibióticos.
Abordagem insipiente da epidemiologia: início da abordagem, embora de forma incipiente e
insuficientes para controlar adequadamente doenças em populações animais. A Medicina
Veterinária continuava relacionada com doenças em indivíduos e o objetivo era identificar a
cura.
Controle e erradicação de algumas doenças: desde o final do Século XIX e meados do Século
XX, muitas doenças infecciosas foram controladas e até mesmo erradicadas nos países
desenvolvidos pela utilização de novas técnicas da revolução microbiana somadas às técnicas
antigas tais como quarentena, restrição às importações, sacrifício de animais doentes e
infectados (contatos) e higiene dos animais.
Erradicação da peste bovina, pleuropneumonia, mormo e estrogiloidose equina:
Na Inglaterra foram erradicadas, respectivamente peste bovina em 1877,
pleuropneumonia em 1898 e, mormo e estrongiloidose equina em 1929.
Nos EUA, pleuropneumonia é 1ª doença regionalmente erradicada em 1892 graças à
campanha que perdurou por 5 anos.
A despeito de todos os esforços, procedimentos tradicionais baseados na identificação de
animais através diagnóstico clinico e alterações patológicas não foram capazes de reduzir a
ocorrência de algumas doenças a níveis aceitáveis por serem considerados conhecimentos
insuficientes para fins de profilaxia. Este fato se deveu ao conhecimento do diagnóstico clinico
e laboratorial de doenças em populações animais como requisitos fundamentais para fins de
delineamento de medidas de profilaxia. Mudanças começam a ocorrer com o advento da era
da epidemiologia que introduz o estudo das causas de ocorrência de doenças e este
procedimento de diagnóstico é denominado investigação ou diagnóstico epidemiológico.
Portanto, a epidemiologia é uma ciência de investigação muito antiga que floresceu no século
XIX depois do estabelecimento da “teoria do germe” como etiologia de doenças (Postulado
de Henle & Koch). Assim, até a década de 1960, a epidemiologia ainda estava intimamente
ligada à microbiologia (bacteriologia) na luta contra doenças. A partir desta data, tornou-se
uma ciência mais holística graças à investigação de fatores determinantes e de seu papel
como potencial causa de doenças (SCHWABE 1982) e a profilaxia baseada na atuação sobre
as causas.

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5º PERÍODO: de 1960 até o presente momento

Os problemas de Saúde Animal e anomalias que surgiram no século XX estimularam mudanças


no raciocínio para o controle de doenças que ocorreu somente no início da década de 1960’,
direcionando a atitude profilática para a causalidade e respectivo controle, pois atém então
prevalecia o c0nceito de etiologia única infecciosa ou nao.
No ensino de Medicina Veterinária e na prática de campo, o objeto da atenção passou do
indivíduo para populações exigindo cada vez mais dos médicos veterinários habilidades em
métodos quantitativos (bioestatística)
Em resumo, o manejo de doenças dos animais também incorporou metodologia
epidemiológica principalmente como componente das atividades de vigilância e de ações
profiláticas seletivas como monitoramento.
i) CAUSALIDADE
Pela impossibilidade do Postulado de Koch ser critério para definir a causa de algumas
síndromes, surgem hipóteses de mais de um fator (causa) causando doenças. A teoria
multifatorial de doenças começou a se desenvolver tanto em doenças não infecciosas como
nas infecciosas para as quais é igualmente aplicável. O interesse por doenças humanas de
etiologia complexa e pouco conhecida inicia seu crescimento no século XX (LANE-CLAYPON,
1926) e foi responsável pelo desenvolvimento de novos métodos de análise de fatores de
risco, por exemplo, do cigarro em relação ao câncer de pulmão (DOLL, 1959) e aglomeração
na transmissão aerógena de doenças pulmonares em suínos (STARK, 2000).
Na causalidade de doenças, estão incluídos fatores sociais, geográficas, econômicos,
políticos, biológicos e físicos (HUESTON, 2001). Por exemplo, a BSE (Encefalopatia
espongiforme bovina) com origem na Inglaterra e tendo se disseminado por toda Europa e
outros paises da Ásia, foi resultado da alimentação de bovinos com farinha de osso e carne
obtida por reciclagem de pequenos ruminantes mortos. Igualmente, a tuberculose bovina
tornou-se problema em cervideos de cauda branca em Michigan devido à sua proliferaçao em
consequencia ao incentivo da caça que passou a substituir a producao de bovinos.
Assim, a epidemiologia determina a frequência de ocorrência de doenças baseada na
interação de um elevado número de diferentes fatores causais e o manejo desses fatores para
reduzir sua frequência de ocorrência na população animal. Os fatores causais devem ter
relação plausível, ou lógica epidemiológica, com a ocorrência da doença. A lógica é a própria
cadeia epidemiológica da doença em estudo. Ex. roedor é fator causal para salmoneloses;
roedor e moscas para doenças entéricas; aglomeração para doenças respiratórias.
Desde o início da década de 1970, os métodos quantitativos passaram a ser amplamente
utilizados em pesquisas epidemiológicas na Medicina Veterinária. Muitos profissionais ainda
consideram a epidemiologia como um mero conjunto de métodos, entretanto, o seu emprego
os conduzirá para um raciocínio mais holístico orientado para populações para raciocinar
sobre saúde na população que é totalmente diferente da visão da clínica médica que está
direcionada para um doente.

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Em muitas circunstâncias, o estudo epidemiológico está direcionado para um grupo ou
categorias ou unidades de indivíduos como granja, galpão, baia, lote, rebanho, apriscos de
uma região, estado ou país etc. A despeito desta diferença de unidade epidemiológica, a
epidemiologia requer a mesma atenção em termos de detalhes e habilidades de observação
como ocorre na clínica médica, patologia e demais ciências biológicas. A epidemiologia olha
para os animais sadios, doentes, mortos e o meio ambiente e é tal como olhar para uma
floresta constituída de árvores doentes, sadias e mortas considerando os diferentes
componentes do ecossistema. O olhar dos clínicos, patologistas e dos epidemiologistas são
diferentes e ilustrados na figura 1.
Figura 1. Ilustração comparando os diferentes procedimentos de diagnóstico

Na epidemiologia, os indivíduos são observados no rebanho e as conclusões são baseadas em


experiências na população. O hospital está para a clínica como o campo está para a
epidemiologia.
O meio ambiente (“floresta”) é constituído pelo solo, clima, vegetação, animais silvestres,
pragas (roedores, artrópodes, moluscos), criações informais, aves de vida livre incluindo
migratórias, rodovias, veículos, etc.
ii) A MEDICINA VETERINÁRIA AO NÍVEL POPULACIONAL: implica na
a. Anotação estruturada de informação sobre doenças;
b. Analise das ocorrências de doenças e populações animais.
Estes métodos envolvem 2 procedimentos complementares
a. Colheita continua de dados sobre ocorrência de doenças: vigilância e monitoramento;
b. Investigação intensa de certa doença em particular.

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iii) A MEDICINA VETERINÁRIA AO NÍVEL INDIVIDUAL DE PROPRIEDADE:
Mais frequentemente direcionada para,
a. Registro de dados de produtividade e de saúde de cada animal (grandes animais) e do
plantel (aves e suínos) e conveniente interpretação com o objetivo de melhorar as
condições de saúde para aumentar a produtividade.
b. Direcionamento para o controle e tratamento de animais individualmente beneficiado
pelo desenvolvimento de procedimentos laboratoriais moleculares (GOLDSPINK and
GERLACH, 1990) e novas oportunidade de produção de vacinas principalmente as
recombinantes.
c. Esclarecimento aos clientes sobre a importância da comunicação de ocorrência de
doenças ao Serviço Veterinário Oficial para fins de notificação ao nível nacional e
internacional.
d. Os Veterinários estão cada vez mais envolvidos em criação, manejo e nutrição e menos
envolvidos em “brigadas de apagar fogo” representadas pelo tratamento de animais
doentes.
Há que redirecionar o exercício profissional do médico veterinário da iniciativa privada para:
a. Introdução, em rebanhos de animais de produção, medidas mais eficazes de manejo
do meio ambiente ao invés de concentrar exclusiva atenção ao agente etiológico.
b. Introdução de sistemática de análise dos indicadores de saúde e de produtividade
devidamente interpretados baseado em conhecimentos de epidemiologia de doenças.
Por exemplo, leitegada com pequeno número de leitões nascidos vivos pode ser
reflexo da ocorrência de parvovírose. Enterobacterioses como salmoneloses e
colibaciloses decorrente da dificuldade de se controlar Alphitobuis diaperinus
(cascudinho) em frangos e galinhas criadas sobre cama e pouco conhecimento sobre
existência de inseticidas não tóxicos (inibidores de crescimento de larvas).
c. Desenvolvimento de habilidades para identificar as causas/fatores de risco que
contribuem para a ocorrência e persistência de doenças no rebanho. Redirecionar a
ênfase aos processos subclínicos em indivíduos para avaliação em termos de
resultados da saúde abaixo do esperado avaliados pela diminuição de desempenho
produtivo, por exemplo, intervalo entre partos maior que o esperado. Obviamente,
resultados laboratoriais são importantes no estabelecimento do raciocínio causal.
d. Incluir estudos sobre doença clínica, subclínica e baixa produtividade devem ser
monitoradas no contexto global da criação com o objetivo de antecipar-se à ocorrência
de um evento (DOHOO, 1993).
Entretanto, os produtores frequentemente consideram o veterinário somente como
tratadores de animais doentes (GOODGER & RUPPANNER, 1982) e buscam orientação
sobre reprodução, nutrição e manejo nos representantes de ração, especialistas em gado
de leite e nutricionistas.

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Obviamente, a extensão desses problemas varia de um país para outro, mas é um forte
indicativo de que os veterinários devem mudar sua atitude profissional bem como a relação
com os produtores
iv) A Medicina Veterinária ao nível do serviço veterinário oficial
Estão, também, cada vez mais interessados na investigação de doenças complexas especificas
dos animais como pneumonias, enterites, mastites e, assim, avançando para além dos limites
do exercício profissional tradicional para o controle de doenças infecciosas em populações
animais.
Na medida que doenças em populações animais são controladas como ocorre em países
desenvolvidos e em alguns em desenvolvimento, os veterinários são desafiados com doenças
de etiologia complexas.

v) A Medicina Veterinária ao nível de animas de companhia


Atenção está se direcionando para animais de companhia principalmente em países
desenvolvidos (HEATH, 1998) com reflexos na tendência profissional. As doenças também
tendem a ser complexas e seu completo entendimento das causas e controle tem sido
possível graças à contribuição da genética e analise dos fatores ambientais. Exemplo é o caso
de infecções do trato unitário em cadelas que ocorre quando de doenças concorrentes e
quimioterapias e a cólica equina relacionada à raça e idade
Problemas de interesse da veterinária ultrapassa os limites da condição clinica atingindo níveis
sociais como o caso de mordedura de cães em crianças (GERSHMAN et al., 1994) e bem-estar
animal.
vi) A MEDICINA VETERINÁRIA AO NÍVEL DE SAÚDE PÚBLICA VETERINÁRIA
Controle de zoonoses: o primeiro Centro de Controle de Zoonoses, criado em São Paulo em
1973, é pioneiro no avanço das fronteiras do exercício da Medicina Veterinária iniciando com
atividades de controle da raiva urbana. Avança para o controle de outras zoonoses
emergentes, proteção do meio ambiente e preservação do ecossistema (CHOMEl, 1998;
MARABELLI, 2003; PAPPAIOANOU, 2004).
Qualidade alimentar: área particularmente importante na Saúde Pública Veterinária e
reconhecida pelo público consumidor.
Durante as duas primeiras décadas do sec. XX, esta atividade desenvolveu-se rapidamente em
razão das toxinfecções causadas por alimentos de origem animal (COHEN, 2000).
Entretanto, nas duas últimas décadas do sec. XX, tem-se enfrentado surtos de salmoneloses
acometendo mais de 200.000 crianças nos EUA em 1994 e de colibacilose (Escherichia coli
0157:H7) afetando mais de 6.000 crianças em idade pré-escolar, no Japão, em 1996 (WHO,
1996).
Dentre outras zoonoses de origem alimentar tem-se Cryptosporidium sp, Campylabacter spp.
e Listeria monocytagenes (WHO, 1996).

11
O surgimento da BSE (Encefalopatia espongiforme bovina) com a suposta relação com a
doença humana, variante da doença de Creutzfeldt-Jakob, tem despertado o interesse do
público em relação à segurança alimentar. Este fato levou, muitos países do oeste a
instituírem Agencias de Padrões de Alimentos de avaliação externa da segurança alimentar.
Na atualidade, as funções dos veterinários se expandiram do nível de atuação nos
abatedouros para atuação do “campo à mesa” (SMULDERS & COLLINS, 2002, 2004). Implica
no estabelecimento de programas de garantia da qualidade nos estabelecimentos de
produção animal utilizando técnicas tais como as HACCP (Hazard Analysis Critical Control
Points) (NOORDHUIZEN, 2000) que altera o foco da saúde animal para o controle de
qualidade da cadeia. Esta abordagem é fortalecida pela avaliação quantitativa do risco de
transmissão de doenças.

12
CAPÍTULO 2
PRINCÍPIOS, CONCEITOS E FUNDAMENTOS DE EPIDEMIOLOGIA

1. CONSIDERAÇÕES GERAIS: definição de epidemiologia


2. CONSIDERAÇÕES ESPECIFICAS: a) definições; b) objetivos da epidemiologia.
3. CONCEITOS SOBRE POPULAÇÃO: população de certa área geográfica; b) população exposta ao rico; c)
população em estudo.
4. FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DE DOENÇA EM POPULAÇÕES ANIMAIS: a) doença clínica; b) doença
subclínica.
5. OBJETIVOS DA EPIDEMIOLOGIA: a) Determinar a origem de uma doença em uma população cuja
etiologia é conhecida; b) Investigar e controlar uma doença cuja etiologia é desconhecida ou pouco
conhecida; obter informações sobre ecologia e história natural da doença (mecanismos de
transmissão); b) Planejar, monitorar e avaliar programas de profilaxia (prevenção, erradicação ou
controle); c) Avaliar os efeitos econômicos e social quando indicado e analisar custo e benefício de
medidas alternativas de profilaxia
6. CAUSAS QUE FAVORECEM A OCORRÊNCIA E TRANSMISSÃO DE DOENÇAS EM UM ESTABELECIMENTO
DE PRODUÇÃO: causas internas à granja, causas externas à granja.
7. VIRTUDES DE UM MÉDICO VETERINÁRIO EPIDEMIOLOGISTA: Curiosidade natural, abordagem lógica,
interesse geral nos conhecimentos de Medicina Veterinária e capacidade de raciocínio lateral;
Capacidade em organizar dados em tabelas e analisar estatisticamente; Habilidade em atuar no mais
alto nível hierárquico das disciplinas da Medicina Veterinária
8. QUANTIFICAÇÃO MATEMÁTICA: a. consideraçoes preliminares (planejamento da pesquisa;
investigaçao; monitoramento ou do programa de saúde animal; definiçáo clara dos objetivos; tamanho
da amsotra e sua estratificação; cuidados na colheita, organizaçao e apresentação de dados; variavel
de natureza qualitativa e quantitativa; b. o pensamento matemático (os primeiros estudos
matemáticos refiram-se ao estudo probabilístico da mortalidade (período pós renascença).
Desenvolvimento do método da diferença de fenômenos biológicos incluindo a área médica.
9. DESAFIOS DA MEDICINA VETERINÁRIA CONTEMPORÂNEA: Epidemias em animais - calamidades em
países desenvolvidos, doenças infecciosas endêmicas, doenças infecciosas de etiologia complexa,
doenças subclínicas, doenças não infecciosas, doenças de etiologia desconhecida, e doenças
relacionadas com manejo e condições do meio ambiente.
10. PRINCÍPIOS BÁSICOS DE EPIDEMIOLOGIA: 1o princípio: a ocorrência de doença está relacionada com
o meio ambiente em que vive a espécie animal em estudo; 2º principio: quantificação, ou seja,
proceder à contagem da ocorrência do evento como nascimento, doença e morte/óbito. 3º
principio: realização de estudos observando a natureza da doença quando possível. Será
especificamente tratado no capítulo de Investigação. 4o princípio: realização de experimentos no
campo quando possível.
11. MODERNAS ESTRATÉGIAS DE CONTROLE DE DOENÇAS EM POPULAÇÕES ANIMAIS: a) registro
estruturado de informações; b) análise estatística e interpretação de dados de ocorrência de doença;
c) instrumentos de colheita e interpretação de dados de ocorrência de doenças, d) vigilância; e)
monitoramento.
12. TENDÊNCIA CONTEMPORÂNEA DA MEDICINA VETERINÁRIA: a) serviço veterinário privado (setor de
produção, de saúde dos animais de produção, e animais de estimação); b) serviço veterinário oficial
(serviços de saúde animal em nas epidemias e endemias; compartimentação; notificação de doenças;
saúde pública/controle de zoonoses e segurança alimentar; e economia)

1. CONSIDERAÇÕES GERAIS

A Epidemiologia é definida como ciência que estuda os mecanismos de propagação de


doenças em populações e dos meios para a sua profilaxia (prevenção, erradicação ou
controle). Portanto, assim como a clínica médica é instrumento de diagnóstico para

13
indivíduos, a epidemiologia é instrumento de diagnóstico para populações que considera o
agente etiológico (parasita), hospedeiro e meio ambiente.
Inclui, portanto, o estudo da distribuição espacial e temporal de doenças e as condições que
conduzem à ocorrência da doença na população, ou seja, dos fatores que influencia na sua
ocorrência; dos métodos de raciocínio sobre doenças baseado em inferências biológicas
decorrentes das observações do fenômeno doença em população e grupos de animais; e
estuda a frequência, distribuição e determinantes da saúde e doença em populações.

2. CONSIDERAÇÕES ESPECIFICAS

a. Definições
Epidemiologia: estudo da ocorrência de doenças em populações, dos fatores que
determinam sua ocorrência e das medidas para sua profilaxia.
Epidemiologia veterinária: inclui investigação e avaliação de outros eventos relacionados à
saúde notadamente à produtividade.
Por se tratar de uma ciência de investigação, envolve observar a população animal e realizar
inferência com base nos dados observados
b. Objetivos da epidemiologia
Estudar os mecanismos de propagação de doenças em populações animais, a frequência de
ocorrência de doenças em populações, sua distribuição (espacial e temporal) e os
determinantes ou causas ou fatores de risco da ocorrência de doenças. Assim como a
patogenia de doenças é importante para indivíduos, a epidemiologia é ciência fundamental
para a medicina de populações.
Mecanismos de propagação significa estudar o caminho que um agente etiológico de doença
percorre desde sua entrada em uma população até a sua saída para alcançar uma nova
população ou permanecer indefinidamente na população. Abaixo, ilustração comparativa da
patogenia e epidemiologia em aves e em suínos.
Estudar a frequência e distribuição de doenças em populações: identificar a pista inicial a
respeito da etiologia da doença que se consegue pelo estudo de sua distribuição como: quais
animais estão afetados, onde e quando a doença começou a ocorrer por serem informações
sugestivas das causas da doença.
Identificar formalmente as causas/determinantes da doença, ou seja, explicar porque a
doença ocorreu e controlar essas causas para que alcançar a redução da frequência de
ocorrência da doença e a severidade dos casos clínicos. Por exemplo, em um estudo, a
ocorrência da toxoplasmose em suínos de criação extensiva foi maior que a ocorrência da
toxoplasmose em suínos de criação intensiva; o fator causal pode ser os felídeos (livre
movimentação) e/ou presença de roedores.
Portanto, os determinantes somente poderão ser identificados ao comparar com unidades
epidemiológicas que apresentam e que não apresentam a doença ou apresentam a doença

14
em menor frequência (estudo de caso controle). Estudos de associação da relação causa e
efeito são os mais utilizados.
As doenças de etiologia única ou múltiplas apresentam várias causas envolvidas.
Abaixo, algumas ilustrações comparando a patogenia com a epidemiologia.
Figura 2. Ilustração de 3 modelos de transmissão de doenças em populações
a. Doença de transmissão oro-fecal

População animal de outra área geográfica

Entendimento: agentes de doenças entéricas apresentam alta resistência às condições do


meio ambiente e podem se disseminar a longas distâncias carreados por objetos e seres vivos.
Facilmente, podem ser introduzidos em uma população de certa área geográfica ou em uma
granja, no caso, um palmípede infectado, que elimina o agente de doença entérica pelas fezes.
Esses agentes entéricos contaminam água, alimentos, cama, moscas e roedores
principalmente. Uma galinha da população é infectada ao ingerir alimento contaminado.
Passado o período de incubação, a galinha elimina o agente pelas fezes e este ciclo se repete
sucessivamente nesta população tornando-se endêmica, até que, em determinado momento
uma ave carreia o agente para outra população de aves. Assim o ciclo vai se repetindo até que
a doença se torna endêmica em vasta área geográfica

15
b. Doença transmitida por via aerógena

Entendimento: agentes de doenças respiratórias apresentam baixa resistência às condições


do meio ambiente. O agente ingressa em uma população ou granja contido no organismo de
um animal infectado. Este agente é eliminado pela tosse ou espirro e a infecção de um
suscetível é favorecido pela aglomeração em ambientes fechados. Por este mecanismo o
agente irá se propagando para outros animais. Por via aerógena, agentes de doenças
respiratórias, não se disseminam para outros estabelecimentos, pois as partículas infecciosas
se dispersam no ar movimentadas pelo vento.
Obs. doenças respiratórias são transmitidas por aerossóis (núcleos de Wells/espirro ou
gotículas de Flügge/tosse) que se disseminam somente em ambientes fechados (galpões e
veículos) e com aglomeração de animais bem como entre galpões muito próximos.

3. CONCEITOS SOBRE POPULAÇÃO

População: utilizada, neste texto, com 3 sentidos:


a. População de certa área geográfica: é o número total se indivíduos de determinada
espécie de certa área geográfica objeto de estudo (levantamento, censo, programa, etc.).
Por ex. população de bovinos de corte do Brasil; população de galinhas de postura
comercial do estado do Espírito Santo; população de suínos reprodutoras do município
de Caçador de Santa Catarina. A população pode ser também estratificada de acordo com
a natureza da produção, sexo, grupo etário, raça, linhagem, etc.
b. População exposta ao risco: é o número total de indivíduos do grupo em estudo que
foram expostos ao risco de infecção, mas não estão doentes e desconhece-se se estão
infectados ou não. Ex. granja de postura comercial infectada com determinado agente e

16
compartilha equipamentos com granja não infectada. Esta última é granja exposta ao
risco.
c. População em estudo: refere-se ao grande número de indivíduos de determinada espécie
para a qual se pretende inferir para a população, os resultados de um estudo realizado
em uma amostra dela extraída. Ex. criatórios de suínos de subsistência do Município de
N.S. do Livramento/Mato Grosso.
4. FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DE DOENÇA EM POPULAÇÕES ANIMAIS

a. Doença clínica: representa o estado de disfunção do corpo detectado pelos sentidos de


um ou mais animais;
b. Doença subclínica: representa uma anormalidade funcional e/ou anatômica do corpo
detectável por procedimentos laboratoriais selecionados ou outra modalidade de apoio
diagnóstico. Embora considerada de menor gravidade comparada à doença clínica, em se
tratando de processo infeccioso, pode ser mais importante do ponto de vista da
epidemiologia por serem fontes de infecção na condição de portador são. Exemplo;
mastites subclínicas nas quais as vacas não manifestam sinais de comprometimento da
glândula mamária, mas a contagem de leucócitos está significantemente aumentada. A
latência, como ocorre na leucose bovina , nas herpesviroses de bovinos e equinos, pode
ser considerada como processo subclínico, mas, diferente do exemplo anterior em razão
da eliminação intermitente do agente etiológico que é modulada pela oscilação da
imunidade.
Em bovinos, as gastroenterites parasitárias (GEP) principalmente de bovinos causadas por
Ostertagia ostertagi; Haemonchus spp.; Trichostrongylus axei; Cooperia oncophora; Cooperia
spp. Trichostrongylus spp. Nematodirus spp; Oesophagostomum radiatum; Trichuris spp,
importantes pela caracterização clinica no passado que tinha como critério discriminador
a contagem de ovos/grama de fezes (OPG) tendo como ponto de corte o valor 500 OPG.
Atualmente, o critério classificador é o comprometimento da produtividade expresso em
redução do ganho de peso mesmo com OPG menor que 200 ovos/grama de fezes (FORBER,
2008).
De modo geral, independentemente da causa primária da doença, o número de casos
subclínicos pode ser significantemente maior que o número de casos clínicos e se torna
importante distinguir infecção de doença. Ocorre quando o agente etiológico apresenta
baixa patogenicidade e sempre se requer apoio laboratorial.
Assim sendo, sadios são os indivíduos que não estão acometidos por doença clínica e nem
por doença subclínica. A maioria das populações é constituída por doentes, infectados e
sadios em diferentes proporções que podem variar com o decorrer do tempo com ou sem
interferência de programas de controle.
A associação destes fatores com o status de saúde pode ser investigada de forma
semelhante aos estudos de impacto de doenças na produção utilizando técnicas
apresentadas neste texto.

17
5. OBJETIVOS DA EPIDEMIOLOGIA:

São 5 (cinco), os grandes objetivos da epidemiologia


a. Determinar a origem de uma doença em uma população cuja etiologia é conhecida;
b. Investigar e controlar doença cuja etiologia é desconhecida ou pouco conhecida;
c. Obter informações sobre ecologia e história natural da doença (mecanismos de
transmissão);
d. Planejar, monitorar e avaliar programas de profilaxia (prevenção, erradicação ou controle)
e. Avaliar os efeitos econômicos e social quando indicado e analisar custo e benefício de
medidas alternativas de profilaxia

a. DETERMINAR A ORIGEM DE UMA DOENÇA CUJA ETIOLOGIA É CONHECIDA

Doenças cujas causas são conhecidas podem ser diagnosticas com precisão baseado nos
sinais clínicos, nos resultados dos exames laboratoriais e outros procedimentos como
imagens em caso de animas de laser e de companhia.
Por exemplo, diagnóstico (fundamentação da suspeita) de febre aftosa está bastante
facilitada devido aos distintos sinais clínicos na maioria das espécies de biungulados exceto
em ovinos e rapidamente submetido a provas laboratoriais para fins de confirmação.
Diante de uma epidemia é fundamental determinar porque o surto ocorreu para limitar a
propagação e eventualmente erradicar. Por exemplo, quando da epidemia no Reino Unido
em 2001, o foco de febre aftosa teve início em um abatedouro de suínos a 100 km distante
ao norte (GIBBENS et al., 2001b), identificado pelo cuidadoso rastreamento dos animais que
foram expostos ao risco de infecção concluindo que as fontes de infecção foram ovinos que
estavam sendo comercializados (MANS LEY et al., 2003). Em muitas investigações, as
questões mais utilizadas foram “porque o surto ocorreu? “ e “porque o número de casos da
doença aumentou?”. A frequência de casos de Actinobacilose em bovinos pode estar
relacionada ao pastoreio em pasto baixo, pois pasto baixo ou cinza abrasiva que pode causar
abrasão da mucosa oral e favorecer a instalação da infecção (RADOSTITS et al., 1999) bem
como ingestão de alimentos espinhosos.
Aumento de defeitos ósseos em cãezinhos que recebem ração balanceada e recebem
suplementação vitamínica e passam a manifestar osteoesclerose por hipervitaminose (JUBB
et al., 1993).
pH elevado de carcaças de ovinos pode estar associado ao banho excessivo no pré abate.
Estas possíveis explicações são obtidas somente pela investigação.

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b. INVESTIGAR E CONTROLAR DOENÇA CUJA ETIOLOGIA É DESCONHECIDA OU POUCO
CONHECIDA

No Brasil, em 1921, a peste bovina introduzida pela importação de bovinos da Índia, é


erradicada pela simples observação das úlceras formadas após o rompimento das vesículas
que eram hemorrágicas, fato que não ocorria na febre aftosa. Todos os animais foram
sacrificados (doentes e contatos/comunicantes)
A clássica descrita observaçao de EDWARD JENER no séc XVIII (FISK, 1959) sobre a proteção
contra varíola humana, então de etiologia desconhecida, pela aplicação (escarificação) do
vírus da varíola bovina (cow pox).
Na pleuropneumonia contagiosa dos bovinos também foi erradicada nos EUA, mesmo antes
da identificação da etiologia, mas somente pela identificação das possíveis causa. O agente
etiológico (Mycoplasma mycoides) foi identificado mitos anos depois (SCHWABE, 1984).
Em 1988 foi descrita, pela primeira vez, no Reino Unido, a Encefalopatia Espongiforme Bovina
(BSE) em bovinos que tinham sido alimentados com ração contendo farinha de ossos e carne
de ovinos obtidos por reciclagem. Foi inicialmente incriminado o agente denominado scrapie-
like vírus (WILESMITH et al., 1988). A proibição baseada em legislação, de adicionar farinha de
carne e osso na ração de bovinos foi suficiente para controlar a BSE que ainda não tinha sua
etiologia conhecida.
Embora ainda não se conheça a verdadeira etiologia da equimose muscular em carcaças, a
associação obtida pela observação entre choque elétrico na cabeça substituindo por choque
elétrico por dardo cativo reduziu significantemente a patologia (BLACKMORE, 1983)
No caso do carcinoma de célula escamosa observada no olho de bovinos Hereford, estudos
epidemiológicos revelaram que este câncer era mais frequente em animais com reduzida
pigmentação da pálpebra (ANDERSON et al., 1957). Este conhecimento conduziu à seleção
genética de bovinos e o problema foi resolvido.
Urolitiase em felinos foi epidemiologicamente associada à baixa ingestão de água e a correção
nutricional reduziu sua ocorrência (WILLEBERG, 1981)
Cadelas primíparas com histórico de estro irregular associado à piometra (FIDLER et al., 1966;
NISKANEN & THRUSFIELD, 1998)
Finalmente, todos os animais incluindo o homem são possiveis objetos de estudos
epidemiologicos.
É muito recente o uso da epidemiologia por parte de veterinários em suas atividades diárias
que entenderam não se tratar de uma alternativa aos métodos clínicos que vinham utilizando,
mas um objetivo final de sua atividade profissional para atender a sociedade e principalmente
à indústria de produção animal de uma forma mais adequada para atender à demanda. O
diagnóstico clinico e laboratorial antecedem ao diagnóstico epidemiológico e esta é a
hierarquia diagnóstica que orienta a profilaxia de doenças em populações.

19
No setor de produção animal, que trabalha com agregados de animais, a epidemiologia está
frequentemente integrada ao delineamento e implementação de programas para a melhoria
da saúde de rebanhos animais objetivando o aumento da produtividade. Portanto, a saúde
precede à produção.
A epidemiologia veterinária, ciência que estuda doenças em populações, é essencial para o
sucesso de programas de controle de doenças dos animais e tem evoluído muito lentamente
nos últimos séculos. Não existe por si só, mas está intimamente ligada à epidemiologia
humana em razão da existência de zoonoses que são doenças comuns ao homem e animais
(ACHA & ZYFFRES, 2003)
A expectativa é que as abordagens e métodos aqui descritos possam auxiliar os veterinários
de campo a se envolverem cada vez mais em manejo de programas de saúde animal formal
seja individualmente seja com a colaboração de unidades epidemiológicas (conjunto de
estabelecimentos de produção que compartilham. Simultaneamente, é aconselhável focar
em animais de companhia para desenvolver um amplo programa de controle de doenças.
Métodos estruturados para solução de problemas e o delineamento e interpretação de
ensaios epidemiológicos associados aos conceitos de sensibilidade, especificidade,
concordância, valores preditivos ultrapassam os limites de possibilidades auxiliando nas
estratégias de diagnóstico selecionando e interpretando os resultados (MARTIN, 1977).
O início da medicina veterinária esteve mais diretamente associado aos aspectos econômicos
do que aos aspectos humanitários em razão da importância dos animais domésticos como
fontes de alimentos e força de trabalho e ainda, contemporaneamente, está relacionada aos
aspectos econômicos por razoes sanitárias, ou seja, pela persistência da ocorrência de
doenças em populações animais.
Nos países desenvolvidos, a importância de animais de tração diminuiu com o advento da
revolução industrial e invenção de maquinas movidas a combustão interna. Animais de
estimação como cães e gatos, embora sejam animais de companhia há muitos séculos, é
muito recente a sua importância como integrante da sociedade humana.
Atualmente, a natureza da prática da clínica médica também está mudando em quase todos
os países desenvolvidos. Os produtores estão sendo cada vez mais esclarecidos e o valor
individual de animais está em declínio exceção feita ao setor de genética de grandes animais.
Portanto, os profissionais contemporâneos incluindo aqueles que trabalham com grandes
animais devem manter a saúde dos rebanhos com base em programas delineados para
aumentar a produtividade através da prevenção de doenças ao invés de atender aos casos
clínicos. Em países desenvolvidos, doenças infecciosas causam perdas consideráveis
individuais e do rebanho
A clínica de animais de companhia está cada vez mais envolvida com doenças crônicas e
doenças refratárias cujas características podem ser melhor compreendidas com base em
investigações em populações.

20
Esta apostila tratará das mudanças nos procedimentos da medicina veterinária para o
rastreamento realizado com vistas ao controle de doenças em populações animas e outros
procedimentos que podem ser utilizados em ensaios epidemiológicos.

c. OBTER INFORMAÇÕES SOBRE ECOLOGIA E HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA


(MECANISMOS DE TRANSMISSÃO)
Hospedeiro: animal passivel de ser infectado por um agente etiologico.
Hospedeiro e agentes etiológicos existem em comunidades que incluem outros organismos
que vivem no mesmo meio ambiente.
História natural: é a comunidade, ou seja o agregado de todos os fatores relacionados com
animais e plantas.
Ecossistema: é a comunidade relacionada em seu meio ambiente.
Ecologia: é o estudo do ecossistema.
O correto entendimento da história natural de agentes etiológicos é possível somente quando
estudado no contexto de seu ecossistema
Semelhantemente, o melhor entendimento das doenças não infecciosas pode ser obtido pelo
estudo dos ecossistemas associando com as características físicas dos objetos aos quais os
animais estão expostos. Abaixo, alguns exemplos de influência de componentes do
ecossistema com relação direta com a ocorrência de doenças em animais:
Estrutura geológica de um ecossistema: por exemplo, pode afetar o conteúdo mineral da
vegetação e pode refletir na carência ou excesso de mineral dos animais.
Sobrevivência de agentes infecciosos: o ecossistema favorecendo ou prejudicando o
parasito.
Fasciola hepatica ocorre em regiões com deficiente sistema de drenagem de coleções
de água porque, para realização de seu ciclo biológico, requer obrigatoriamente de um
caramujo que habita locais úmidos
Leptospira interrogans reúne cerca de 20 sorovares (tipos antigênicos) e cada um
mantem relação hospedeiro parasita com um ou mais espécies de hospedeiro. Por
exemplo, o sorovar Copenhagen tem nos roedores seu principal reservatório
(BABUDIERI, 1958). Se este sorovar está intimamente relacionado com a leptospirose
animal e humana, então o programa de controle da doença deve incluir o estudo da
ecologia de roedores e seu controle.
O herpes vírus, agente etiológico da febre catarral maligna na África tem como
reservatório animais selvagens (PLOWRIGHT et al., 1960) que, em programas de
controle da doença em bovinos, deve ser investigado.
Clima: importante porque limita ou favorece a distribuição geográfica de doenças infecciosas.
Favorece nos casos em que doenças são transmitidas por vetores (biológicos ou
mecânicos).

21
A presença da mosca tsé-tsé, vetor biológico da doença do sono, está restrita à região
úmida da Africa Sub-Sahariana (FORD, 1971).
Anaplasmose e babesiose: a transmissão é via vetor biológico (Boophilus microplus)
cujo desenvolvimento é diretamente dependente das condições de chuvas
abundantes, pastos altos que produzem sombreamento e temperaturas elevadas
(NUNEZ et al., 1982).
Na Inglaterra, o texugo é fonte de infecção (reservatório para o homem) do
Mycobacterium tuberculosis na ausência de sinais clínicos (LITTLE et al., 1982;
WILESMITH et al., 1982) e na Nova Zelândia, o reservatório silvestre é o gambá
(THORNS & MORRIS, 1983).

d. ESTUDOS EPIDEMIOLOGICOS PARA COMPREENER A OCORRÊNCIA DE DOENÇAS

Importantes para auxiliar para desvendar as respectivas cadeias de transmissão (ciclo


biologico) e indicar os meios de controle mais adqequados.
Estudo epidemiologicos envolvem colheita rotineira de dados relativos à doencas na
população (monitoria ou vigilancia) para decidir se as estratégias estão sendo eficazes.
A vigilância é também útil para determinar se um novo fator estaria afetando a ocorrência de
uma doença.
Por exemplo, durante a execução do programa de erradicação da tuberculose bovina na Nova
Zelândia, foram identificados gambás infectados em determinadas áreas do país e o rumo do
programa teve que ser reavaliado para prevenir a infecção em rebanhos de bovinos (JULIAN,
1981).
A BSE identificada pela primeira vez no Reino Unido em 1988, estudos epidemiológicos
revelaram associação da doença com ingestão de raçoa adicionada de farinha de carne e osso
de origem ovina (WILESMITH et al., 1988; WILESMITH et al., 1992)
Muitas pesquisas epidemiológicas revelaram associação entre disseminação do vírus da febre
aftosa no Reino Unido em 1967 e 1968 relacionando as rotas dos ventos e a disseminação da
doença. O controle da febre aftosa foi decorrente do controle da movimentação dos animas.
BEER (1999) recomenda cautela em estudos epidemiológicos relativos à febre aftosa
partindo-se do conhecimento que o vírus é eliminado pelas secreções oro-nasais, urina e linfa
das vesículas que podem contaminar água e alimentos bem como objetos inanimados
(instalações, objetos etc) e as fezes e urina contaminar veículos transportadores de animais e
materiais como latões de leite disseminando o vírus a longas distancias. Recomenda cautela
em relacionar os ventos na disseminação do vírus da febre aftosa a longas distâncias.
Análise econômica no contexto do programa de saúde é fundamental. Na avaliação de custo-
benefício na avaliação de um programa de saúde, é indispensável considerar os custos
decorrentes com a aplicação de medidas de controle da doença em questão.
Embora seja economicamente viável reduzir a ocorrência de doenças em situações de alta
prevalência, mas poderá não ser economicamente viável quando a prevalência é muita baixa,

22
pois o custo para reduzir a prevalência poderá ser muito mais elevada do que o benefício
(lucro). Importante manter os níveis baixos de prevalecia com medida de profilaxia
pertinentes.
Por exemplo, diante de ocorrência de 15% de mastite, um programa de redução da prevalência
trará retorno financeiro, mas se a prevalência for reduzida para 1%, um programa para reduzir
a ocorrência pode não resultar em aumento da produtividade que justifique os gastos no
controle.

e. PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS DE PROFILAXIA (CONTROLE OU


ERRADICAÇÃO)

Devem ser baseados no conhecimento da frequência de animais doentes na população, dos


fatores causais associados com a ocorrência para facilitar a profilaxia e a eficiência do
programa (custo e benefício). Estas informações são importantes tanto ao nível de
propriedade como em programas a nível regional, estadual ou nacional.

6. CAUSAS QUE FAVORECEM A OCORRÊNCIA E TRANSMISSÃO DE DOENÇAS

CAUSA: fator responsável pela disseminação de doenças em populações animais e


representada pelos fatores do meio ambiente.
CAUSAS EXTERNAS AO ESTABELECIMENTO DE PRODUÇÃO: relacionadas aos riscos/perigos presentes nas
circunvizinhanças ao estabelecimento. São controladas pela biosseguridade conceitual.
CAUSAS INTERNAS AO ESTABELECIMENTO DE PRODUÇÃO: relacionados aos riscos representado pelas
estruturas físicas e às atividades operacionais. São controladas pela biosseguridade estrutural e
operacional

a. CAUSAS INTERNA AO ESTABELECIMENTO DE PRODUÇÃO

São as diretamente relacionadas com os riscos dentro da granja. Ex. presença de animais
estranhos incluindo roedores e artrópodes (moscas, mosquitos, ácaros, piolhos), sanitização
inadequada da instalação, objetos e ar contaminados, veículos e fômites; ausência de salas de
banhos, destinação inadequada de animais mortos durante a produção, etc.
b. CAUSAS EXTERNAS AO ESTABELECIMENTO DE PRODUÇÃO

São as diretamente relacionadas com os riscos externos à granja, região, estado ou pais.
Proximidade de animais silvestres, lixões, aterros sanitários, criações de subsistência,
matadouros/abatedouros, fábrica de ração, estradas, etc.

Para fins de exemplificação, considerando uma granja como unidade de atenção, as causas ou
fatores de risco externos dizem respeito aos perigos existentes na região onde a propriedade
se localiza tais como: presença de aves e outros animais de vida livre; existência de lixões e
aterros sanitários; estabelecimentos de produção de status sanitário inferior, criações

23
informais ou de fundo de quintal, presença de suídeos asselvajados (javalis) e aves de vida
livre de hábitos necrófagos.
A figura 3 abaixo ilustra os perigos externos para uma granja de suínos que devem estar
contemplados nas medidas de biosseguridade e que variam em função da localização da
granja
Figura 3. Ilustração sobre perigos externos à granja

As causas ou fatores de risco internos importantes são referidas como exposição ou fator de
risco (variável independente, preditivo ou explicativo) que é o suspeito de provocar o efeito
de interesse nos animas da granja (infecção ou doença). Exemplos de fatores de risco mais
importantes, mas não únicos:
Salmoneloses aviárias: presença de roedores, moscas, Alphytobius diaperinus
(cascudinho), composteira localizada na área de produção, presença de aves de vida
livre na granja, mistura de aves de diferentes procedências, compra de aves de
reposição de origem desconhecida, presença de aves de vida livre; ração contaminada
durante processamento, distribuição ou armazenagem na granja;
Enterobacterioses dos suínos (salmoneloses, colibacilose, campilobacteriose), peste
suína africana, Sêneca vírus: presença de roedores, moscas, composteira localizada na
área de produção, presença de aves de vida livre na granja, mistura de suínos de
diferentes procedências, presença de aves de vida livre; ração contaminada durante
processamento, distribuição ou armazenagem na granja;
Peste suína clássica e peste suína africana: roedores, moscas, alimentação de suínos
com resíduos de alimentação humana seja domiciliar, restaurantes, hotelaria ou de
aeronaves;
Leptospirose suína: roedores
Mastite bovina: mãos sujas de ordenhadores, objetos e ordenhadeira mecânica não
sanitizadas;
Febre aftosa: aglomeração, mistura de animais de diferentes procedências;

24
Anemia infecciosa equina: tabanídeos, mosca do estábulo e agulhas de injeção
contaminadas.
O efeito presumível, usualmente com comprometimento da saúde, é medido pela variável
dependente como produtividade ou ocorrência de doença (morbidade) ou desfecho
(mortalidade).

7. VIRTUDES DE UM MÉDICO VETERINÁRIO EPIDEMIOLOGISTA

a. Curiosidade natural, abordagem lógica, interesse geral nos conhecimentos de Medicina


Veterinária e capacidade de raciocínio lateral. A especialidade de algumas áreas pode ser
importante para algumas investigações como por ex. os conhecimentos de economia para
avaliar os efeitos econômicos de certa doença. A Epidemiologia está se tornando cada vez
mais quantitativa e conhecimentos de estatística é desejável e não há a necessidade de
métodos estatísticos muito complexos e caso não domine a estatística, reconhecer quando
procurar pela sua assessoria.
b. Capacidade em organizar dados em tabelas e analisar estatisticamente: identificar
procedimentos mais racionais como organizar dados e, quando necessário, aplicar
métodos sofisticados em contraposição aos métodos de veterinários do passado (de
atuação ad hoc e empíricos). A demanda por mais veterinários é para atender as
necessidades de trabalho com métodos modernos face às complexidades das populações
alvo. Contrapõe-se à clínica de rebanho que se esforça em observar os animais doentes no
próprio rebanho ou fazenda e realizando inferência (eco patologia).
c. Habilidade em atuar no mais alto nível hierárquico das disciplinas da Medicina Veterinária
detendo conhecimentos das disciplinas hierarquicamente “abaixo” para ter a capacidade
de ver tanto “a árvore como a madeira” ou “a árvore como a floresta” adotando uma
ampla visão em vez de uma visão especialista para evitar riscos descritos sob a ótica
“cínica” de LORENZ (1977) que disse ”o especialista tende a conhecer muito sobre pouco
até chegar a conhecer tudo sobre nada”.
Médicos Veterinários e Médicos são “lutadores” e seus esforços estão direcionados para a
conquista da doença e esta estratégia sugere um conflito de natureza militar. Em 1936, o
Veterinário Maurice C. Hall descreveu o processo doença e as possibilidades de combate em
termos de estratégia e táticas militares. Relata que, em trabalhos de laboratório são
dispensados conhecimentos de topografia, climatologia, condições de manejo, e outras
informações que seriam importantes para transformar resultados laboratoriais em medidas
de controle. A mesma dificuldade parece ocorrer ao nível de hospitais veterinários.
Mencione-se a importância dos treinamentos para o desenvolvimento de profissionais de
diferentes setores da saúde animal em genialidade militar para aplicar recursos já
desenvolvidas pelos gênios militares “avaliação/estimativa da situação e aplicação das
estratégias e táticas da ARTE DA GUERRA” para a solução de problemas de saúde animal
(defesa sanitária animal).

25
A força de serviço de um epidemiologista está na capacidade de:
d. Conduzir e interpretar programas de inteligência diagnóstica de Vigilância
Epidemiológica ou de acompanhamento intensivo e;
e. Utilizar estes instrumentos e conhecimentos para selecionar e manter estratégias
apropriadas de ações de profilaxia.
f. Habilidades em expressar doenças em termos numéricos (quantificação)
Segundo René Dubos, em meio aos conflitos e disputas entre profissionais e a despeito da
predisposição dos clínicos, patologistas e alguns em adotarem estratégias militares,
menciona que no atual panorama do processo evolutivo das infecções, há uma tendência para
uma relação de paz (comensalismo) haja vista a capacidade que muitos parasitos estão
apresentando em não causar doença em seus hospedeiros e estes, por seu turno,
desenvolvendo capacidade de prevenir a expressão da patogenicidade com maior frequência
do que a capacidade de provocar doença sem contudo ignorar a existência de certos parasitos
altamente patogênicos. O mesmo autor lembra que um agente usualmente pouco ou nada
patogênico pode vir a causar doença não em função dos fatores ligados ao agente
(patogenicidade e virulência), mas devido a fatores ligados ao hospedeiro (estado imunitário
e constituição para resistir ao estresse do meio ambiente) e esta abordagem é essencialmente
epidemiológica.

8. QUANTIFICACAO EM MEDICINA VETERINÁRIA

a. CONSIDERAÇOES PRELIMINARES

A ciencia não é um mero acúmulo de conhecimentos imutaveis, mas avança a cada dia à custa
de pesquisas que formam novos conhecimentos ou modificam as já existentes.
Também é realidade na atividades relacionadas à produção animal (pesquisa, investigação,
monitoramento, vigilância), quantificação de dados é fundamental para oferecer suporte ‘as
decisoes a serem tomadas.
A quantificaçao inicia com um bom planejamento definindo claramente os objetivos da
pesquisa, investigaçao, monitoramento ou programa de saude animal ou de saúde pública;
materiais (amostras) a serem obtidos atentando para o tamanho da amostra; estratificação e
tempo; cuidados na colheita, notação e organização dos dados colhidos (tabelas e gráficos),
análise estatística pertinente tomando o cuidados de selecionar a estatistica correta
principalnente quando for recorrer à programas computadorizados de estatística; e concluir
de forma a proprocionar o entendimento do feniomeno em estudo.
Recomenda-se não utilizar a mesma amostra para outras finalidades porque podem ser
inadequados o para o objetivo, tamanho e estratificaçao da amostra.
A escolha do procedimento estatistico é tambem fundamental, pois está diretamente
relacionada à natureza da variável que pode ser de natureza qualitativa ou quantitaiva.

26
Variável de natureza qualitativa: sexo, tipo de criação, doença, causa da doença ou
da mortalidade, gravidade da doença, resultado de prova laboratorial (positivo,
negativo e suspeito/inconclusivo), etc.
Variável de natureza quantitativa: idade, peso (ao nascer, ao desmame, na idade de
abate, da carcaça), altura, volume de leite, número de nascidos vivos, número de
nascidos mortos, número de natimortos, intervalo entre partos, etc.
Da evolução qualitativa para a quantitativa: a evolução puramente qualitativa sobre
causalidade de doença foi acompanhada pelo crescente interese em expressar a doença em
termos quantitativos.
A literatura consultada indica que GRAUNT (1662) foi pioneiro da publicação de observações
quantitativas avaliando os registros de frequência a igrejas e de custos da mortalidade.
Com a epidemia de peste bovina, na França no final do séc. XVIII, tem início a colheita de dados
estatísticos das epidemias nos animais e doenças respiratórias em humanos relacionados à
estação do ano (MATTHEWS, 1995).
b. O PENSAMENTO MATEMÁTICO

O pensamento pós-renascença e a revolução científica do Iluminismo tiveram início


durante o século XVI baseado no conceito da ordem física do universo que poderia ser
matematicamente explicado (DAMPIER, 1948).
Este pensamento matemático foi estendido para o mundo biológico considerando que “a
Lei da Mortalidade” deve existir. Assim, seguem-se os estudos de GRAUNT (1662) sobre
mortalidade incluindo tentativas de construção de tabelas vitais, de EDMUND HALLEY
(1656-1742) que construiu tabelas vitais para registro de sobreviventes para Breslau
(BENJAMIN, 1959) que aplicou as tabelas vitais na varíola e demonstrou que a inoculação
era eficaz pela estimulação de imunidade por toda a vida (SPEISER, 1982) fundou na
Inglaterra, a atuária, área do conhecimento que analisa os riscos e expectativas financeiros
e econômicos, principalmente na administração de seguros e pensões
Decorridos 100 anos, William Farr (HALLIDAY, 2000) construiu um modelo matemático
simples baseado no surto de peste bovina, no Reino Unido em 1865.

1. DESENVOLVIMENTO DO MÉTODO DA DIFERENÇA DE FENÔMENOS BIOLÓGICOS


INCLUINDO A ÁREA MÉDICA
Tem início no século XVIII quando, a era do iluminismo revelou um crescimento na literatura
relacionando a probabilidade e a necessidade por uma objetividade na ciência e na sociedade
(a Revolução Probabilística).
O fundamento matemático da probabilidade foi estabelecido pelo matemático JACOB
BERNOULLI na sua obra “Ars Conjectandi” publicado em 1713 quando desenvolveu a teoria da
“probabilidade inversa” estabelecendo que a frequência de ocorrência de um evento é

27
aproximadamente igual a sua probabilidade de ocorrência se o número de observações for
suficientemente elevado.
A teoria de Bernoulli foi refinada por SIMEON-DENIS POISSON que propôs a “lei dos números
grandes” estabelecendo que, se um evento for observado elevado número de vezes, poderia
assumir que a probabilidade de sua futura ocorrência poderia corresponder a esta frequência
observada. Por ex. Se a prevalência de uma determinada doença for calculada baseada em
um elevado número de observações (por ex. 5%), então, a probabilidade de um indivíduo da
população vir a adoecer por esta doença é igual a 5%.
A consequência lógica desta conclusão é que, se houver número suficiente de observações, a
prognóstico pode ser estabelecido.
Portanto, em relação à terapia, LAPLACE (1814) sugeriu que o método tradicionalmente
preferencial de tratamento “irá se manifestar por si só mais e mais na medida que o número
de observações aumentar. “A evolução para técnicas de estatística comparada ocorreu
quando Pierre-Charles-Alexander Louis desenvolveu seu “método numérico “(binomial) que
se fundamentou no armazenamento de dados obtidos sistematicamente para serem
submetidos à rigorosa análise de múltiplas causas (BONETT, 1997). Documentou a febre
tifoide em Paris demonstrando que a doença acometia predominantemente adultos jovens e
que, em média, os casos fatais eram superiores quando comparado com os sobreviventes da
doença sugerindo que os pacientes mais jovens apresentavam melhor prognóstico (LOUIS,
1936). Em seguida demonstrou que a transfusão de sangue não alterava os valores médios de
recuperação que permitiu adotar outros procedimentos de prognóstico precoce. Valores
médios foram também aplicados para permitir uma definição quantitativa de indivíduo
“normal” lembrando que tem relação com a distribuição Normal de probabilidades de Gauss
que normaliza probabilidades e não se refere ao que “é normal” ou “não é normal”.
Valores médios foram também aplicados para proporcionar uma definição quantitativa de um
indivíduo “normal” (QUETELET, 1835), por exemplo, relatou os limites das taxas “normal”
cardíacos de indivíduos cardíacos com problemas respiratórios.
A aplicação da teoria da probabilidade na medicina foi cautelosa e tendenciosamente aceita
pelos estatísticos médicos ingleses e franceses por estarem, até então, habituados mais com
a estatística descritiva dos temas mais importantes de saúde pública do que com a inferência
estatística.
Mesmo assim, durante o século XIX, forte ligação começou a se estabelecer entre
epidemiologistas, matemáticos e estatísticos pela influência comum de Pierre-Charles-
Alexander Louis (LILIENFELD, 1978) e métodos de inferência estatística (STIGLER, 1986) que
foram aplicadas na medicina e na agricultura. Esses métodos dependiam da observação do
evento em populações do que em indivíduos e foi o ponto central para o desenvolvimento da
epidemiologia quantitativa.
Atualmente, a formulação de eventos físicos e biológicos requer avaliação cuidadosa para não
transmitir uma ilusão de certeza ou segurança que não é uma garantia (GUPTA, 2001). Por
ex., sabe-se que câncer de pulmão tem relação com o habito de fumar e esta associação é

28
positiva. Se um pesquisador realizar um experimento cuja hipótese é demonstrar relação
entre habito de tomar café e câncer de pulmão, poderá detectar uma associação positiva,
porém falsa porque fumantes tem o hábito de tomar café e, o café, é fator de confusão. Para
ter validade biológica, o pesquisador deveria estudar relação entre hábito de tomar café entre
não fumantes e câncer de pulmão. Portanto, há que se ter em mente a importância da lógica
biológica ao formular hipóteses de trabalho. A formulação de eventos físicos e biológicos,
portanto, devem ser bem avaliados porque pode transmitir uma ilusão de certeza e garantia
(GUPTA, 2001). À semelhança da criminologia que deve estabelecer a prova de culpa acima de
qualquer dúvida lógica, a epidemiologia deve estabelecer a prova de culpa de um fator de
risco acima de qualquer dúvida biológica (conhecimento da cadeia epidemiologia da doença
em questão, ou seja da história natural da doença)
Convém alertar que, nem sempre é considerado um benefício social e nem substituto do rigor
embora muitas vezes seja onerosa a análise de dados de campo (The Economist, 2002).
Contrariamente, pode ocorrer uma tendência a ignorar dados numéricos disponíveis a
despeito de sua qualidade (GILL, 1993).
Dados devidamente armazenados e analisados pelo laboratório de epidemiologia é essencial
para a população tal como o laboratório de patologia clínica e laboratório de microbiologia
são para a medicina individual.

9. DESAFIOS DA MEDICINA VETERINÁRIA CONTEMPORÂNEA: PROBLEMAS


EMERGENTES

a. Epidemias em animais - calamidades em países desenvolvidos


 Febre aftosa, Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE) e Peste Suína Africana (PSA).
 Doenças veiculadas por artrópodes: tripanossomíase, anemia infecciosa equina,
babesiose e anaplasmose que não foram adequadamente controladas;
 Tuberculose e brucelose que persistem em muitos países desenvolvidos em baixos
níveis pela insistência nos métodos tradicionais de profilaxia, inadequados
procedimentos de Vigilância, testes de diagnóstico desprovido de especificidade
desejada (MARTIN, 1987) e eventualmente pela existência de reservatórios silvestres
como lebre (brucelose nos USA) e texugo (tuberculose em certos rebanhos da
Inglaterra)
 Influenza aviária pelos vírus de alta patogenicidade (H5 e H7)
 Sindrome respiratória reprodutiva dos suínos (PRRS)
 Sêneca vírus nos EUA e desde 2014 no Brasil

b. Doenças infecciosas endêmicas


Muitas doenças infecciosas foram notavelmente controladas e algumas continuam sendo
desafios em muitos paises desenvolvidos e em desenvolvimento, outras estão recrusdecendo
como é o caso da febre aftosa com surtos ocorridos no leste europeu com consequências
desastrosas, principlalmente no Reino Unido em 2001.

29
Conflitos militares foram responsáveis pela disseminação de doenças; por exemplo, ao final
da 2ª Grande Guerra, soldados japoneses retornaram ao seu país carreando vírus da peste
bovina ao deixarem Myanmar (Burma) localizada ao norte da Tailândia.
Doenças infecciosas são particularmente desastrosas em países em desenvolvimento nos
quais mais da metade da população animal representa mais de 80% em força e tração
(PRITCHARD, 1986) e, em comunidades pastoris, pelo menos 50% destinada à alimentação e
renda (SWIFT, 1988) onde, somente o leite, contabiliza cerca de 75% da energia humana
requerida (FIELD & SIMKIN, 1985).
Muitas doenças transmitidas por vetores (artrópodes) com ciclo de vida complexo incluindo
infecções por hemoprotozoários tais como tripanossomíase, não têm sido satisfatoriamente
controlados. Os procedimentos da revolução microbiológica não têm sido capazes de
identificar adequadamente esses agentes de doença. Entretanto, são necessários meios de
avaliação precisos da extensão e distribuição geográfica dessas doenças com o objetivo de
delinear programas de controle, como foi por exemplo, o “Pan-African Rinderpest
Campaign/IAEA,- 1991”
Em alguns casos, a história natural da doença (cadeia epidemiológica) pode ser mais
complexa do que a originalmente concebida como o caso do surto de tuberculose bovina na
Inglaterra (WILESMITH et al., 1982) que detectaram “bolsões” de texugos como reservatórios
da bactéria (LITTLE et al., 1982; KREBS, 1997) que resultou em litigio na estratégia de controle
de texugos (DONNELLY et al., 2003; DEFRA, 2004).
Mencione-se sucesso parcial da Campanha contra peste bovina na África (LEPISSIER &
MACFARLANE, 1966) embora a eficácia tenha sido negada (ROEDER & TAYLOR, 2002), só
recentemente foi eficazmente eliminada (FAO, 1966) e erradicação por volta de 2010.
Algumas doenças como brucelose e tuberculose, persistem em níveis baixos em países
desenvolvidos a despeito da aplicação de métodos tradicionais de controle que pode ser
decorrente de técnicas inadequadas de vigilância e métodos de diagnóstico de baixa
sensibilidade (MARTIN, 1977).
O eficaz controle da maioria das doenças infecciosas tem permitido o crescimento tanto da
população animal quanto da produtividade nos países desenvolvidos graças à mecanização e
informatização da produção. O crescimento populacional tem sido mais significante em
bovinocultura de leite, suinocultura e avicultura. A intensificação da indústria animal tem
acompanhado às alterações dos problemas de saúde.
No século XX e XXI têm ocorrido elevado número de epidemias de Influenza Aviária, Peste
Suina Africana, PRRS, PED, Seneca virus.
c. Doenças infecciosas de etiologia complexa
Em doenças dos animais causadas por um único agente, a etiologia predominante pode ser
identificada inequivocamente como agente único, mas ainda se constituem como problemas
em países desenvolvidos como as salmoneloses, leptospirose, babesiose e coccidiose.

30
Entretanto, têm sido identificadas doenças provocada simultaneamente por mais de um
agente etiológico (infecções mistas), e pela interação entre agentes infecciosos e fatores não
infecciosos e que são comuns em criações intensivas. Ex. rinite atrófica dos suínos
As doenças das superfícies internas do corpo (doenças respiratórias e entéricas) são as mais
comuns. Um agente isoladamente não explicaria a patogenia dessas doenças complexas
como o caso da rinite atrófica.
Ocorrência de síndromes entéricas e respiratórias coincide com o início da criação intensiva
de animais de produção, pois a transmissão é favorecida pela aglomeração, dificuldade de
manejo sanitário durante a ocupação e, frequentemente pela criação de animais de múltiplas
idades.
Obviamente, a criação intensiva proporcionou o controle eficaz de certas doenças cujos
agentes etiológicos dependem do solo como vias de transmissão como caso do complexo
teníase-cisticercose, toxoplasmose, verminoses gastrointestinais dos ruminantes entre
outras.
d. Doenças subclínicas
Alguns agentes etiológicos não produzem sinais clinico visíveis, mas as infecções são
acompanhas de lesões e que comprometem a produtividade e são denominadas doenças
subclínicas. Helmintoses em decorrência de resistência a drogas e/ou tratamento monitorado
apenas pela contagem de ovos e deficiências minerais marginais, por exemplo, diminuem a
taxa de conversão de peso. Adenomatose suína diminui o crescimento de leitões na ausência
de sinais clínicos (ROBERTS et al., 1979). Infecções de reprodutoras suínas com parvovírose
no início da gestação causa morte fetal e nascimento de leitegada de tamanho pequeno. São
doenças responsáveis por elevadas perdas da produtividade e são, somente identificadas pela
investigação e diagnóstico laboratorial.
e. Doenças não infecciosas
Doenças não infecciosas têm aumentado em importância na medida que se controlam
doenças infecciosas. Podem ser predominantemente de causa genética (displasia
coxofemoral canina), metabólica (cetose bovina) e neoplasias (câncer de glândula mamária
de felinos). Suas causas podem estar associadas a muitos fatores como na urolitíase felina que
está associada com a raça, sexo, idade e dieta (WILLEBERG, 1997).
Algumas condições como cetose, estão particularmente relacionadas com o aumento dos
níveis de produção, mais frequentemente observada em vacas leiteiras altamente produtivas
quando comparadas com vacas de baixa produção de leite.
Lesões de pés das galinhas podem estar diretamente associadas aos sistemas de produção
intensiva em gaiolas (PEARSON, 1983).
Em abril de 1985 é descrito o 1º caso, na Grã-Bretanha, uma doença neurológica em bovinos
adultos que seria posteriormente denominada BSE - Encefalopatia Espongiforme dos
Bovinos/doença da vaca louca - (WELLS et al, 1987) de etiologia inicialmente desconhecida.

31
Na fase inicial, epidemiologistas ao investigarem a doença na tentativa de entenderem a
doença, basearam-se nos estudos de WILESMITH et al (1988) e de WILESMITH et al (1992) que
haviam evidenciado o papel de farinha de carne e osso como a maior via de transmissão da
doença. Observaram uma associação positiva e de alta intensidade entre utilização de farinha
na alimentação e ocorrência de BSE considerando como unidade de observação a
propriedade. A suspensão da alimentação de bovinos com essas farinhas reduziu
drasticamente a incidência da BSE no Reino Unido (WELLS et al, 1987; DUCROT et al, 2008).
f. Doenças de etiologia desconhecida
As etiologias de algumas doenças não estão devidamente elucidadas a despeito das
investigações experimentais e no campo que vêm sendo realizadas há muito tempo. É o caso,
por exemplo, da disautonomia felina/degeneração de neurônios (EDNEY et al. 1988; NUNN et
al, 2004) e a doença de grass em equinos (HUNTER et al., 1999; McCARTHY et al, 2001;
WLASCHITZ, 2004).
Em alguns casos, agentes infecciosos têm sido identificados, porém, sem comprovação
inequivoca associada à doença. É o caso, por exemplo, da Mannheimia haemolytica
(denominação atual da Pasteurella haemolytica) associada à febre dos transportes (MARTIN
et al., 1982). Esta síndrome ocorre tão logo os animais, principalmente bovinos, são
desembarcados nas propriedades de produção. Exames pós morte dos casos fatais revelaram
pneumonia fibrinosa como causa da morte. Embora M. haemolytica seja frequentemente
isolada dos pulmões afetados, não está invariavelmente presente na pneumonia fibrinosa
(JERICHO, 1979). Tentativas de reproduzir experimentalmente tem enfrentado muitos
problemas (WHITELEY et al., 1992) e possivelmente outros fatores estejam envolvidos
(RADOSTITIS et al., 1999). Dentre esses fatores estariam envolvidos a mistura de animais de
diferentes origens, alimentação com silagem de milhos, descorna e paradoxalmente,
vacinação contra agentes causadores de pneumonia incluindo Mycoplasma haemolytica –
fator associado com estresse da adrenal. De todos esses casos foram submetidos a tentativas
de identificação do agente etiológico para atender ao Postulado de Koch e falharam.
Existem muitas situações em que o controle se baseia tão somente nas observações
epidemiológicas antes que o agente etiológico seja identificado.
1º exemplo: a pleuropneumonia contagiosa dos bovinos foi erradicada dos EUA pela
apreciação da sua natureza respiratória e contagiosa muito antes do isolamento do
Mycoplasma mycoides.
2º exemplo: no início do século passado, o controle da peste bovina iniciou, mesmo
desconhecendo a etiologia, com medidas de sacrifício de animais doentes. Em 1923, o Brasil
erradicou a peste bovina eliminando todos animais importados da Índia e
comunicantes/contatos e que deu ensejo à criação da OIE.
3º exemplo: Edward Jenner, no século XVIII, pela observação de que conteúdo das vesículas
da varíola bovina protegia o homem da varíola humana, foi o fundamento da erradicação
dessa doença no homem.
4º exemplo: em 1986 foram diagnosticados os primeiros casos de BSE no Reino Unido e uma
das hipóteses causais era alimentação de bovinos com farinha de carne e de ossos de

32
carneiros infectados com scrapie submetidos a um novo processo de industrialização que
teria reduzido a possibilidade de inativação do agente etiológico e atualmente tem-se
suficiente evidência de que BSE e scrapie são 2 patologias distintas de um mesmo grupo de
doenças (TSE). Ainda prevalece a hipótese de mudança de procedimento industrial na
fabricação de farinhas, pois todos os procedimentos de reciclagem animal em vigência não
destroem os agentes da TSE e a suspensão da alimentação de bovinos com essas farinhas
reduziu drasticamente a incidência da BSE. Em 1987, no Departamento de Epidemiologia de
Laboratório Veterinário Central ficou estabelecido que a disseminação da doença na
população de bovinos ocorria devido à incorporação, na alimentação de bovinos, de farinha
de carne e de ossos obtidos de animais infectados. Esta hipótese foi plenamente confirmada
pela observação da redução do número de novos casos pela adoção de medidas de profilaxia
que proibia o uso de farinha de carne e
5º exemplo: carcinoma de olho de gado Hereford foi epidemiologicamente relacionado com
a despigmentação de pelo ao redor dos olhos e foi controlada pela seleção genética.

g. Doenças relacionadas com manejo e condições do meio ambiente


O manejo e as condições ambientais indicam influência significante embora nem sempre bem
definida como no caso da pneumonia enzoótica e enterite de bezerros (ROY, 1980); doenças
entéricas em leitões lactentes, pneumonia suína, mastite bovina associada a Escherichia coli e
Streptococcus uberi (BLOWEY & EDMONDSON, 2000) e mastite em reprodutora suína criada
em regime intensivo (MUIRHEAD, 1976).
Em alguns casos, agentes ubiquos são isolados de doentes e de animais sadios, (ISAACSON
et al., 1978). São agentes infecciosos oportunistas que causam doença em situações em que
certos fatores predisponentes estão presentes. É o caso de mastite bovina causada por E. coli
também conhecida por mastite ambiental
No capítulo de Investigação, serão estudados postulado de RIVERS (1937), postulado de
HUBNER (1957), postulado de EVANS (1960 - 1967) e postulados de JOHNSON & GIBBS (1974)
para doenças que não atenderam ao Postulado de KOCH & HENLE.
Muitos estudos de epidemiologia são baseados em 4 princípios ou conceitos sobra saúde e
doença (MacMAHON & PUGH, 1970)

10. PRINCÍPIOS BÁSICOS DOS ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS

1o princípio: a ocorrência de doença está relacionada com o meio ambiente em que vive a
espécie animal em estudo;
2º principio: quantificação, ou seja, proceder à contagem da ocorrência do evento como
nascimento, doença e morte/óbito.
3º principio: realização de estudos observando a natureza da doença quando possível. Será
especificamente tratado no capítulo de Investigação.
4o princípio: realização de experimentos no campo quando possível.

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1o PRINCIPIO: a ocorrência de doença está relacionada com o meio ambiente em que vive a
espécie animal em estudo.

Parte do princípio que as doenças estão relacionadas com o ambiente incluindo às condições
físicas, biológicas e sociais (etológica) do meio em que os indivíduos vivem ou são mantidos.
Princípio atribuído aos escritos de Hipócrates (On Airs Waters and Places) embora a base
factual tenha sido disputada por ROTH (1976)
a. Condições climáticas
Clima quente:
É o maior componente do meio ambiente e seu papel como determinante de muitas doenças
parasitárias e transmitidas por artrópodes (vetores) estão bem documentadas. Por exemplo,
calor e alta umidade relativa do ar oferecem condições ótimas para a maioria dos helmintos
sobreviverem no ambiente, ou seja, fora do organismo animal. Usualmente, a baixa umidade
ambiental é prejudicial para sua sobrevivência, enquanto a maioria sobrevive melhor a
temperaturas mais amenas.
Para identificar as pistas de fatores ambientais específicos, epidemiologistas frequentemente
comparam meios ambiente onde a doença ocorre com ambiente em que não ocorre.
Clima seco:
Não favorecem a sua sobrevivência de helmintos e de vetores. Entretanto, efeitos menos
óbvios, tal como impacto do clima na morbidade e mortalidade, são menos documentados.
Em um estudo delineado para investigar a associação entre o clima e sobrevivência de
bezerros leiteiros na Califórnia revelou que a frequência diária de nascimentos, o risco de
mortalidade diária e a mortalidade diária eram influenciadas pelas condições climáticas
extremas (MARTIN et al. 1987).
O clima também afeta a saúde dos bezerros de forma indireta. Nas épocas quentes, as vacas
criadas a pasto, tendem e buscar locais sombreados para reduzir o estresse do calor.
Entretanto, no momento do parto, tendem a buscar locais mais quentes. Imediatamente após
o parto, a vaca revela comportamento como que dividida entre o instinto materno de lamber
e secar a cria e o “desejo” de retornar à área sombreada. A maioria das vacas escolhe a última
alternativa abandonando o bezerro no local sob sol ardente. Esta situação compromete
severamente o bezerro, pois os mecanismos de termo regulação são sensíveis às
temperaturas extremas causando perda de grande quantidade de fluidos corpóreo na
tentativa, do organismo, manter a temperatura corpórea dentro dos limites razoáveis. Esta
falha no instinto materno, priva o bezerro da ingestão de quantidade necessária de colostro
que, juntamente com o estresse do calor pode aumentar a suscetibilidade do bezerro a
inúmeros agentes infecciosos. Esta é a razão pela qual muito bezerros recém-nascidos
adoecem de enterites, septicemias, pneumonias reduzindo sobremaneira a sobrevivência no
período pós-parto.

34
b. Manejo e alojamento em instalações:
São componentes não climáticos que também indicam exercer intenso efeito na saúde dos
bezerros bem como na ocorrência de doenças e na produtividade em geral. Entretanto, a
maioria dessas evidências é baseada em observações clinicas e existem poucos estudos.

c. Conceito sobre relação hospedeiro, agente etiológico e meio ambiente


Conceitualmente, alguns autores prefiram separar a tríade em agente-hospedeiro-meio
ambiente, é mais logico considerar o agente etiológico como componente do meio ambiente,
pois exceção feita ao contágio direto, agentes etiológicos permanecem maior ou menor
tempo no meio ambiente em função de sua resistência e avaliar sua importância na
perspectiva da importância relativa aos demias componentes do meio ambiente que
interferem no status de saúde dos animais. Muitas faculdades enfatizam a relação hospedeiro
e fatores causais (riscos presentes no meio ambiente) e possuem departamentos
especializados em estudos desses fatores causais, mas são raras e poucas são as faculdades
médicas que estudam o meio ambiente ou a relação entre meio ambiente e hospedeiro. Este
fato pode comprometer estudos dos efeitos dos múltiplos fatores ambientais na ocorrência
de doenças. Este fato poderá limitar o entendimento de causalidade de doenças e
consequentemente comprometer o entendimento sobre as medidas de profilaxia,
principalmente o controle (MARTIN, 1987).
Figura 4 e 5. Ilustração sobre relação hospedeiro-parasita
Figura 5. Agente etiológico como
Figura 4. Ciclo com fatores causais isolados
componente do meio ambiente

Hospedeiro
Hospedeiro Agente
Doença
Agente
Hospedeiro Agente + meio
Doença ambiente

Meio
ambiente
Meio
ambiente

É preciso partir do princípio que todo agente patogênico se encontra no meio ambiente
infectando ou parasitando hospedeiros invertebrados e/ou vertebrados e que os animais
criados em estabelecimentos de produção (comercial ou genética) são inicialmente livres de
patógeno e que o objetivo da exploração animal é, ou manter os animais livres de agentes de
doença ou com mínimo de doença ou infecção. A medida que a exploração animal evolui,

35
patógenos entram nas granjas carreados por animais vertebrados e invertebrado que
compartilham o mesmo ecossistema. É possível manter granjas livres de patógenos ou com
mínimo de infecção? Sim é possível! Talvez seja necessário rever o conceito de biosseguridade
em termos de rigor destas medidas! Existe uma visão difundida no sentido de se aceitar
medidas de biosseguridade suficientemente rígidas nos estabelecimentos de genéticas para
mantê-los livre de patógenos e diminuir a intensidade do rigor em estabelecimentos
comerciais (mínimo de rigor na biosseguridade).
Conhecimentos sobre o envolvimento de agentes infecciosos e/ou agentes tóxicos na
etiologia de doenças tem sido extremamente útil no seu controle. Entretanto, ao mesmo
tempo, observa-se uma tendência de se valorizar, como medidas de controle, o empego de
antimicrobianos e vacinas ao invés de atuar no meio ambiente através medidas de
saneamento e de biosseguridade.
WHITE (1974), enfatiza a necessidade de uma visão ecológica mais holística sobra saúde e
doença e a necessidade de se unificar a visão epidemiológica sendo a epidemiologia a
mediadora entre as ciências da saúde.

2º PRINCÍPIO: quantificação

A quantificação, de per si, talvez seja o aspecto mais óbvio da moderna epidemiologia e que
requer, dos veterinários, conhecimentos de demografia e de procedimentos estatísticos.
Consiste na contagem da ocorrência de eventos naturais como nascimento, doença
(morbidade) e morte (mortalidade e letalidade) e interpretar com base nos conhecimentos
dos mecanismos de propagação de doenças.
Utilizando esta abordagem, a despeito dos dados serem incompletos e imprecisos, foi
demonstrado em meados de 1600 que muitos fenômenos biológicos eram observados em
elevado número de casos são previsíveis. JOHN GRAUNT que acreditava nessas observações,
foi sempre considerado o pai da demógrafia e muito contribuiu para a estatística e
epidemiologia. “Pode ser de interesse saber que o pai da demografia não era um estatístico
treinado nem um epidemiologista treinado, mas apenas um pensador e observador cuidadoso
e original que arrazoava que se a doença era mais comum em uma área, em um sexo, em uma
população deve haver uma razão que requer exploração e, uma vez identificada e controlada
poderia conduzir à redução da quantidade de casos da doença”. Este é o objetivo da
epidemiologia (WYNDER 1975).
Um evento de massa previsível é implicitamente ou explicitamente utilizado pelo veterinário
e é a pedra angular dos estudos epidemiológico no campo. Clínicos, implicitamente utilizam
este procedimento auxiliar de diagnóstico, por exemplo, certas doenças como a febre do
leite, deslocamento do abomaso para o lado esquerdo e reticuloperitonite, ocorrem mais
frequentemente próximo ao parto ou durante o parto do que em qualquer outro momento
da vida de uma vaca.

36
Epidemiologistas, explicitamente utilizam este padrão, por exemplo, gatos castrados
alimentados com ração seca e mantidos exclusivamente no interior de residências são mais
propensos a desenvolverem síndrome urológico felino do que gatos não castrados e
alimentados com ração úmida e que saem para se exercitarem. Exemplo de bovinos recém
transportados que adoecem previsivelmente com maior frequência de febre dos transportes.
Implicitamente, este padrão estimula a mente a questionar as razoes pelas quais a doença
ocorre sob certas circunstancias e não ocorre em outras. Por exemplo, porque a raiva silvestre
ocorre mais frequentemente em zonas urbanizadas do que em áreas rurais mais isoladas?
Vale a pena notar que, no passado, a formação médica ou médico veterinária é essencial para
um profissional ser epidemiologista (WHITE, 1974). Certamente, tanto no passado como no
presente, muitas pessoas treinadas em área médica e não especificamente em epidemiologia
contribuíram fortemente no campo da prevenção e controle de doenças. Exigências em
educação e treinamento para se tornar epidemiologista apenas nominalmente no cartão de
visitas tem sido objeto de muitas discussões principalmente em resposta às faculdades para
certificar epidemiologistas (LILIENFELD 1980; STALLONES 1980). Veterinários, em
decorrência de excelente treinamento em biologia, tem contribuído para a prevenção e
controle da saúde. É verdade o dito popular que “todo veterinário é um epidemiologista”,
mas não está dispensado de ser treinado em epidemiologia.
3º PRINCÍPIO: investigação

Metodologia científica que objetiva identificar os fatores causais envolvidos na ocorrência de


determinada doença em certa área geográfica ou em estabelecimento de produção ou
conjunto de estabelecimentos de produção de determinada área. Trata-se de uma operação
em “tempos de paz” para fins de aprimoramento das medidas de profilaxia. Será tratado no
Capitulo 9
4º PRINCÍPIO: realização de experimentos de campo

Segundo MARTIN et al (1987), experimentos a campo são muito utilizados para avaliação de
eficácia de terapêuticos e procedimentos de profilaxia. Os conhecimentos obtidos são, na
atualidade, particularmente importantes. O conhecimento dos princípios de experimentos de
campo permite ao Médico Veterinário melhor interpretar a literatura cientifica.
Frequentemente Médicos Veterinários são convidados para colaborarem em experimentos
de campo com universidades, indústrias farmacêuticas ou agencias governamentais de
controle e avaliação de drogas.
É também comum profissional utilizarem experimentos de campo para fins de avaliação de
medidas de controle de doenças.
A essência do método experimental é a comparação planejada para avaliar os resultados no
grupo que recebeu o tratamento e no grupo que não recebeu o tratamento. Por exemplo
testado um grupo de animais vacinados com um grupo de animais não vacinados tendo como
indicador a avaliação da ocorrência de doentes ou avaliação da produtividade. Pode-se

37
entender o experimento ao nível de toda propriedade dividindo-a em 2 partes, ou seja, parte
vacinada ou tratada e outra parte não vacinada ou não tratada.
O tratamento pode ser qualquer variável que se deseja avaliar como vacina, medicamento,
inseticida, ração etc. importante é a definição das unidades experimentais e dos cuidados
durante o experimento.
Ao término do experimento, avaliar os resultados através testes estatísticos par avaliar a
probabilidade da interferência do acaso em produzir as diferenças entre resultados obtidas
entre os grupos experimentais.
Em experimentos conduzidos em ambiente de laboratório, o investigador pode bem
controlar o ambiente experimental, a distribuição das unidades experimentais pelos grupos
bem como a natureza e duração do tratamento. Entranhando, recomenda-se cuidado na
seleção das unidades experimentais para aumentar a probabilidade de acerto reduzindo a
probabilidade de interferência de fatores esternos
Por razoes de ética, o único experimento possível de se realizar são aqueles cujos resultados
têm alta probabilidade de prevenir ou tratar doenças.
Em decorrência de uma série de razoes, experimentos a campo não tem sido utilizado, ampla
e corretamente, em Medicina Veterinária pelo menos em avaliações de eficácia de vacinas
contra doenças respiratórias de bovinos (MARTIN 1983). Sir Austin Bradford Hill, pioneiro em
experimentos a campo na Medicina mencionava a importância na Medicina Veterinária (HILL
1952):
A terapêutica, atividade inerente da clínica medica que pela sua própria natureza, pode ser
experimental. Experimentação pode ser exemplificadas quando um médico veterinário está
diante de um paciente acometido por determinada doença, alterando sua qualidade de vida
seja por adequação de dieta ou mantê-lo hospitalizado ou administrando medicamentos ou
submetê-lo à cirurgia.
Se o profissional tem um raciocínio cientifico, poderá registrar os resultados de cada
procedimento, porém, antes de concluir a respeito do resultado satisfatório no paciente, é
preciso ter a certeza de que os resultados podem ser repetidos em um número significante
de pacientes, se os resultados são meramente decorrentes do acaso que, em outras palavras
pode ser decorrente do lapso de tempo ou se foi devido a outro fator que está
necessariamente associado à medida terapêutica utilizada.
Se, como resultado deste experimento aprendemos que as medidas terapêuticas produziram
melhora não significante, pode-se alterar a dose ou observar outro detalhe que poderá ser
aprimorado.
Este mesmo raciocínio é aplicável em animais de produção, por exemplo, comparando em
determinado tratamento (procedimento terapêutico ou medidas de controle) comparando 2
galpões ou 2 núcleos sendo um submetido ao tratamento e outro mantido como controle
(sem tratamento ou tratamento que vem sendo utilizado rotineiramente ou uma 2ª
alternativa de tratamento).

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11. MODERNAS ESTRATÉGIAS DE CONTROLE DE DOENÇAS EM POPULAÇÕES ANIMAIS

Duas grandes estratégias estão sendo adicionadas às já existentes (SCHWABE, 1980a,b):


a. Registro estruturado de informações sobre ocorrência de doenças em populações animais;
b. Análise estatística e interpretação da ocorrência de doenças em populações animais.
Estes 2 métodos envolvem abordagens complementares: o registro continuo de dados de
doença (vigilância e monitoramento) e a intensiva investigação de uma doença em particular.
Um procedimento posterior, utilizado ao nível de uma propriedade, é a colheita de
informações sobre saúde e produtividade de cada animal do rebanho como instrumento para
aprimorar a saúde do rebanho e que está vinculado ao delineamento e execução de
programas de saúde.
c. Importantes instrumentos de colheita e interpretação de dados de ocorrência de doenças:
i. Vigilância: visa demonstrar a ausência de infecção, determinar a presença ou
distribuição de infecção ou detectar o mais cedo possível doenças exóticas ou doenças
emergentes (OIE/Código de animais terrestres/Capitulo 1.4). É uma ferramenta para
monitorar tendências de doenças, facilitar o controle de infecções, fornecer dados para
uso na análise de riscos para fins de saúde animal ou pública, fundamentar a lógica das
medidas sanitárias e fornecer garantias aos parceiros comerciais. O tipo de
vigilância aplicada depende dos objetivos da vigilância, das fontes de dados disponíveis
e dos resultados necessários para apoiar a tomada de decisão.
ii. Monitoramento: procedimento utilizado para avaliar a eficácia das medidas de controle
de doenças endêmicas (OIE/Código terrestre/Capitulo 1.4).
Atualmente, tem-se valiosos recursos como planilha Excel e o Big Data que permitem
investigar, pela análise dos dados e conhecimentos da epidemiologia das possíveis doenças,
atuar precocemente no diagnóstico confirmatório e manter ou redirecionar as medidas de
controle.
A redução dos níveis de produção pode ser diagnosticada através os indicadores de saúde e
de produtividade (índices zootécnicos). Por exemplo, leitegada com alta prevalência de
leitões de baixo peso pode ser indicador de parvovírus suíno.
Métodos modernos de controle de doenças envolve prevenção, vigilância (diagnóstico
precoce) e controle que previnem comprometimento do desempenho dos animais
decorrentes de danos fisiológicos, nutricionais e doenças infecciosas e que recebe a
denominação de biosseguridade ou manejo de fatores de risco. Controle de doenças são
delineados para mitigar as consequências dos desafios de doenças limitando os
desafios/riscos (bioexclusão), aumentando a resistência dos animais (imunização) e
prevenindo a disseminação (isolamento, sacrifício ou tratamento). São medidas
implementadas rotineiramente para doenças endêmicas em unidades epidemiológicas e
esporadicamente quando ocorre um foco ou surto.
Desafios representados por doenças tem evoluido por etapas na producao amimal, em nivel
industrial e com os conhecimentos dos principios de biosseguridade tendem a aumentar, mas,

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não basta conhecer somente procedimentos – é necessário treinar os produtores atraves de
programas de Educacao Sanitária estruturados. O requsito para delinear medidas de
biosseguridade é o conhecimento da cadeia epidemiologica ou de transmisso de doenças
O manejo de doenças mudou do clássico procedimento de reconhecimento de doenças
agudas para o manejo de doenças clinicas e subclinicas. Morbidade e mortalidade nao sao
mais os primeiros indicadores monitorados, pois, a ênfase esta se voltando oara o
desempenho econômico em toda a cadeia produtiva, qualidade do produto, afirmacao do
marketing e o impacto das tomadas de decisao. O reconhecimento da funçao do manejo,
estress ambiental e ecologia populacional tem sido adicionadas nas disciplinas médicas
tradicionaos e a biosseguridade e manejo de risco tem se igalado, em importancia, às discilinas
de prática de dianóstico e tratamento como trabalho dos veterinários de campo.
A mudança de paradigma não é olhar para a doença, mas avaliar a produtividade em termos
de saúde e desempenho porque é inaceitável definir a doença como indicador de
desempenho da produção. Há, portanto, a necessidade de se identificar todos os fatores de
risco que contribuem para a ocorrência da doença (cadeia epidemiológica) e controlá-los.
Assim, selecionar os fatores mais adequado como “indicador de desempenho” (por ex.
Intervalo entre parto e cobertura; Nº de ovos produzidos/galinha/ano; média do ganho de
peso de frango) e definir alvos/objetivos para este indicador no rebanho sob regime particular
de criação. Assim, será possível identificar rebanhos que não atingem o objetivo proposto.
Este procedimento é denominado “desempenho-diagnóstico relacionado” (MORRIS, 1982)
que inclui não somente as medidas de indicadores óbvios como ganho de peso, mas também
estimativas de valores bioquímicos ocultos como nível sérico de metabólitos.
Assim, doenças clinicas, subclínicas e a produção requerem monitoramento no contexto de
níveis antecipados (“normal”) para um sistema de produção (THRUSFIELD et al, 2018).
Portanto, os veterinários estao se envolvendo na criaçao, manejo e nutriçao qando
compararado com o passado e, menos envolvidos na tradicional “brigada de fogo” de
tratamenro de doentes. Entretanto, os produtores ainda estao ligados ao conceito do
passado considerando os veterinários como profissionais responsávies pelo tratamento de
animais doentes (GOODGER & RUPPANNER, 1982), muitas vezes contanto com
representantes de ração, profissionais de laticínios e nutricionistas para orientá-los em
reprodução, nutrição e manejo. Obviamente, esta situação varia de um paíis para outro, mas
aponta para a necessidade dos veterinários envolvidos na produção mudem sus posição e
também influenciem os criadores a mudarem sus decisões.

12. TENDÊNCIA CONTEMPORÂNEA DA MEDICINA VETERINÁRIA

Muitas tendências têm surgido em relação aos Serviços Veterinários de atendimento aos
clientes para notificação de doenças ao nível nacional e internacional. Assim,

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a. Serviço veterinário privado
i. No setor de produção animal
A prática da Clínica Veterinária no setor de produção continua controlando e tratando
doenças em animais individualmente, sendo válidos para bovinos de leite e equinos, sem
perder de vista as doenças que são objetos de programas nacionais como febre aftosa,
brucelose, tuberculose, anemia infecciosa equina e mormo. O desenvolvimento da biologia
molecular vem aperfeiçoado os procedimentos laboratoriais (GOLDSPINK & GERLACH, 1990)
e oferecem novas oportunidades para a produção de vacinas.
Por outro lado, nos sistemas de produção intensiva, a natureza multifatorial de doenças exige
modificações do meio ambiente dos animais e das práticas de manejo ao invés de concentrar
atenção exclusiva no agente infeccioso. Surge, assim o conceito de biosseguridade.
ii. No setor de Saúde dos animais de produção: biosseguridade ao nível de estabelecimento
de produção animal:
Termo novo para conceitos antigos. Stritu sensu significa, em um estabelecimento de
produção, a adoção de um conjunto de medidas de prevenção dos fatores de risco externos
e internos (OWEN, 2011; MARTIN, 2011) e, atualmente, apresenta uma tendência para o
conceito mais amplo de mitigação da introdução de agentes de doenças em um
estabelecimento de produção (controle) que objetiva reduzir a disseminação em seu interior
(ANDERSON, 1998; TOMA et al., 1999). É necessário confrontar medidas de prevenção e
medidas de controle, porque, neste último caso, é difícil determinar o nível tolerável de
presença de uma doença ou de certo patógeno. Basta verificar o exemplo de salmonelas
paratíficas que, sendo controlado e não prevenido tem favorecido a introdução, na
propriedade, de sorotipos novos. Recomendável questionar a razão da diferença entre o nível
de biosseguridade, por exemplo, de matrizeiros (avicultura ou suinocultura) e a
biosseguridade dos estabelecimentos comerciais resultando em nítida maior ocorrência de
doenças em infecções nos comerciais em comparação aos matrizeiros. Lembro que, na
pirâmide de produção, o rigor das medidas de biosseguridade diminui dos estabelecimentos
de genética para os comerciais.
iii. Setor de animais de companhia
Muitos problemas em animais de companhia são também complexos, e o completo
entendimento de suas causas e controle são possíveis pela contribuição da genética e pela
observação dos fatores ambientais como doenças do trato urinários em cadelas que
requerem quimioterapia (FRESHMAN et al., 1989) e cólica em equinos que está relacionada a
idade e genética (MORRIS et al., 1989; REEVES et al., 1989).
Atualmente, o interesse da clínica veterinária tem se estendido da clínica para temas de
natureza social como, por exemplo, mordedura de crianças por cães (GERSHMAN et al., 1994)
e bem-estar animal.

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b. Serviço veterinário oficial
Veterinários dos serviços oficiais (governamentais) também estão se envolvendo, de forma
crescente, com investigações de doenças animais especificas de causas complexas
principalmente das doenças de notificação obrigatória que implicam em controles em
populações.
Com o controle em massa de doenças e a produção animais se tornando cada vez mais
intensiva, novas doenças vem se tornando importantes. Ocorre mais frequentemente em
países desenvolvidos.
Referem-se às atividades que dependem de amparo legal
i) Estabelecer as medidas de profilaxia durante uma epidemia:
Quando da ocorrência de uma epidemia, o plano de contingencia prevê a prevenção da
disseminação do patógenos além dos limites da zona de proteção através medidas de
biosseguridade nos estabelecimentos não acometidos (WANSBROUGH, 2004). No Brasil, tem-
se o Plano de Contingência para influenza aviária e doença de Newcastle; Plano de
contingencia para peste suína clássica, Plano de emergência para febre aftosa.
ii) Estabelecer as medidas de profilaxia de doenças endêmicas (controle ou erradicação)
ao nível nacional ou regional (OIE, 2019)
Conquistar e manter um status de livre de doença em todo o país deve ser a meta final para
os países membros da OIE. No entanto, dada a dificuldade de atingir esse objetivo, pode haver
benefícios para um País Membro ao estabelecer e manter uma subpopulação com um status
de saúde específico em seu território para fins de comércio internacional ou prevenção ou
controle de doenças. As subpopulações podem ser separadas por barreiras geográficas
naturais ou artificiais ou pela aplicação de um gerenciamento apropriado de biossegurança.
Exemplo: a Peste Suína Clássica está erradicada, no Brasil, nos estados abaixo do Acre,
Rondônia, Mato Grosso, Alagoas e Bahia. Acima desses estados, a região é considerada não
livre de PSC. Sensu stritu, trata-se de regionalização. Segundo a OIE, regionalização e
zoneamento têm o mesmo significado.

iii) Estabelecer as medidas de prevenção relativas à Compartimentação:

Em 2000, a OIE estabeleceu os conceitos de Zoneamento e de Compartimentação que são


procedimentos implantados pelos Países Membros, atendendo ao capítulo 4.3 do Código
Terrestre para fins de controle de doenças e/ou comércio internacional. Assim define:
Zoneamento: conceito aplicado a uma subpopulação animal primariamente definido
em base geográfica utilizando barreiras naturais, artificiais ou legais.
Compartimentação: aplicado a uma subpopulação animal primariamente definido com
base no manejo e práticas de criação relacionados à biosseguridade.
Na prática, as considerações espaciais (área geográfica dentro de um país) e de manejo
sanitário de bens (animais e produtos derivados) incluindo medidas de biosseguridade
são fundamentais na aplicação dos dois conceitos supramencionados. O conceito de

42
compartimentação se aplica a uma subpopulação animal definida principalmente por
práticas de manejo e criação relacionadas à biosseguridade de um estabelecimento ou
conjunto de estabelecimentos de produção localizado em uma zona não livre. Na
prática, considerações espaciais e gerenciamento apropriado, incluindo programas de
biossegurança, desempenham papéis importantes na aplicação de ambos os conceitos.
A regionalização pode incentivar o uso mais eficiente de recursos em certas partes de
um país. A compartimentalização pode permitir a separação funcional de
uma subpopulação de outros animais domésticos ou selvagens através da
biosseguridade, o que não seria alcançado através da separação geográfica. Em um país
onde uma doença é endêmica, o estabelecimento de zonas livre pode auxiliar no
controle e erradicação progressivos da doença.
Facilitar o controle de doenças e a continuação do comércio após um surto
de doença em um país ou zona anteriormente livre, a regionalização pode permitir que
um país-Membro limite a extensão da doença a uma área restrita definida, preservando
o status do território restante.
Pelas mesmas razões, o uso da compartimentação pode permitir que um país-membro
aproveite os vínculos epidemiológicos entre subpopulações ou práticas comuns
relacionadas à biosseguridade, apesar de diversas localizações geográficas.
Um país membro pode, portanto, ter mais de uma zona ou compartimento em seu
território.
Mas, medidas de biosseguridade podem ser estendidas para nível nacional com o
objetivo de excluir patógenos e pestes do país em questão (WANSBROUGH, 2004). Por
exemplo, o Brasil está caminhando para este objetivo relativamente à febre Aftosa.

iv) Notificação de ocorrência de doenças ao nível nacional e internacional.


Trata-se de um requisito para melhorar os sistemas de notificação de doenças ao nível
nacional e internacional para identificar problemas, definir prioridades para pesquisas e
controle e assistir na prevenção da disseminação de agentes infeciosos de um país para outro.
Além disso, resíduos requerem identificação e posterior eliminação (WHO, 1993). Inclui
contaminação de produtos cárneos com pesticidas (CORRIGAN & SENEVIRATNA, 1989) e
hormônios (McCAUGHEY, 1992) bem como o prolongado tema de resíduos de antibióticos
com o esperado problema relacionado à resistência ao antibiótico (HUGOSON & WALLEN,
2000; TEAL, 2002).
No Brasil, em decorrência do Programa de erradicação de febre aftosa com suspensão da
vacinação, notificação de doenças vesiculares em bovinos e suínos se faz necessária, caso de
estomatite vesicular (Rhabdoviridae), Sêneca vírus (Picornaviridae), doença vesicular dos
suínos (Picornaviridae), e exantema vesicular (Caliciviridae).

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v) Setor da Saúde Pública
i. Controle de zoonoses
A responsabilidade da Medicina Veterinária para com a Saúde Pública vem se ampliando
destacando a prevenção e controle de zoonoses (doenças naturalmente transmitidas entre o
homem e animais) emergentes, temas relacionados à resistência a antibióticos e proteção
ambiental e de ecossistemas (CHOMEL, 1998; MARABELLI, 2003; PAPPAIOANOU, 2004).
No Brasil, os Centros de Controle de Zoonoses têm apresentado papel fundamental no
controle de doenças como raiva canina e leishmaniose visceral nos grandes centros urbanos.
ii. Segurança alimentar
Trata-se de uma área particular da saúde pública veterinária. A preocupação sobre a qualidade
do que consumimos não é tema recente. Entretanto, nas 2 últimas décadas do séc. XX, as
preocupações aumentaram em razão dos elevados números de surtos de infecções
alimentares por produtos de origem animal (COHEN, 2000). Mencione-se os elevados
números de surtos de salmoneloses nos USA em 1994 (200.000 casos) e segundo WHO (1996)
e REILL (1996), infecções por Escherichia coli 0157:H7 no Japão em 1996 (6.000 crianças
afetadas) por Listeria monocytogenes, Cryptosporidium sp e Campylabacter spp.
O papel dos médicos veterinários vai além da garantia da qualidade do alimento pela atuação
em matadouros, mas direcionado para toda a cadeia de produção, ou seja, “do campo à
mesa” ou “do campo ao prato” (SMULDERS & COLLINS, 2002, 2004).
Estas atividades requerem o delineamento de programas de garantia da qualidade no
estabelecimento de produção pelo emprego de técnicas como HAACCP/APPCC (Hazard
Analysis of Critical Control Points/Análise de perigos e pontos críticos de controle
(NOORDHUIZEN, 2000) e de procedimentos de biosseguridade.

c. Bem-estar animal
Em humanos, defina-se bem-estar como “estado de completo bem-estar físico, mental e
espiritual” e na MV a produtividade é a medida substituta de saúde. Em população de animais
domésticos, o que importa não é o conhecimento da presença ou não de doença, mas
interessa a frequência com que ocorre e o seu consequente impacto na produtividade.
Portanto, neste contexto, importa conhecer o quanto a doença pode limitar a produtividade.
Obviamente, outros fatores decisórios tais como instalações e alimentação inadequadas
podem apresentar alto impacto na produtividade em muitas situações (WILLIAMSON, 1980).
Segundo a OIE, o bem-estar animal é um assunto complexo e multifacetado com dimensões
científicas, éticas, econômicas, culturais, sociais, religiosas e políticas. Está atraindo um
interesse crescente da sociedade civil e é uma das prioridades que a OIE solicita aos Países
Membros por ser o organismo internacional responsável por definir as normas sobre o
tema. A OIE define bem-estar animal como “o estado físico e mental de um animal em relação
às condições em que vive e morre”. A OMS (2003) ressalta que não se trata de mera ausência
de doenças. Esta definição não foi estabelecida para fins de fiscalização, mas ilustra que saúde
é muito mais que a simples ausência de doenças (NOACK, 1987).

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Os princípios orientadores sobre o bem-estar dos animais terrestres incluem as “Cinco
Liberdades”, desenvolvidos em 1965, e amplamente reconhecido, e descrevem as
expectativas da sociedade para as condições que os animais devem experimentar quando sob
controle humano, a saber: ausência de fome, desnutrição e sede; liberdade de medo e
angústia; ausência de estresse causado pelo calor ou desconforto físico; livre de dor, lesão e
doença; e liberdade para expressar padrões normais de comportamento.
A Estratégia Global de Bem-Estar Animal da OIE foi desenvolvido com base nas lições
aprendidas com as ações realizadas a nível nacional e regional e pretende ser uma fonte de
orientação contínua para suas atividades nesta área. Adotado em 2017 por todos os Países
Membros, foi desenvolvido com o objetivo de alcançar “um mundo onde o bem-estar dos
animais seja respeitado, promovido e avançado, de forma a complementar a busca pela saúde
animal, bem-estar humano, desenvolvimento socioeconômico e sustentabilidade ambiental ”
(OIE, 2017).
A estratégia se concentra no desenvolvimento de padrões internacionais sobre bem-estar
animal , consultados os Países Membros e as principais partes interessadas
internacionais, desenvolvendo a capacidade dos Serviços Veterinários, melhorando
a comunicação com os governos e aumentar a conscientização sobre o assunto e, por fim,
apoiar os Países Membros na implementação dessas normas (OIE, 2017) .
A atitude do público em relação aos animais, notadamente nos países desenvolvidos, reflete
uma preocupação contemporânea sobre bem-estar dos animais bem como o binômio saúde
e bem-estar no meio cientifico (EWBANK, 1986; WEBSTER, 2001)

Obviamente, certos aspectos de bem-estar animal são abusos físicos deliberados (injúrias não
acidentais) e negligência; tópicos contenciosos de mutilações cirúrgicas tais como
caudectomia em cães (MORTON, 1992), equinos (CREGIER, 1990) e suínos (DAY & WEBSTER,
1998) e remoção de pele de corças (POLLARD et al., 1992).

Bem-estar em animais de produção é sempre avaliado no contexto de 5 (cinco) liberdades


(SPEDDING, 2000): livre para saciar fome e sede; livre de desconforto; livre de dor, injúrias e
doenças; livre para expressa o comportamento natural; e livre de medo e angústia.
Em sistema de produção intensivo, por exemplo, há problema do canibalismo em galinhas
(GUNNARSSON et al., 1998), mas é um assunto menos evidente (EWBANK, 1986)
comparativamente às reprodutoras suínas mantidas em baias.
O movimento em direção às criações orgânicas principalmente nos países do Oeste é, em
parte, justificado para a melhorias das condições de bem-estar (SUNDRUM, 2001) e a visão
dos veterinários relativamente à inter-relação entre maior ocorrência de doenças,
comprometimento da produtividade e bem-estar em todas as modalidades de produção
(EWBANK, 1988).
d. Economia
Proprietários de animais de estimação (cães, gatos, outros pequenos animais, equinos de
laser) pagam qualquer preço (dentro de certos limites) pelo tratamento de seus animais.

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Entretanto, em animais de produção há que se considerar o custo do tratamento e das
medidas preventivas na relação custo e benefício e esta relação é verdadeira tanto ao nível de
rebanho como ao nível nacional como é o caso do recrudescimento da peste bovina na África
devido à suspensão da vacinação por razões econômicas e ocorrência de peste suína africana
na Europa e Ásia em razão da proliferação de javalis.

46
CAPÍTULO 3
EPIDEMIOLOGIA VETERINÁRIA

1. DEFINIÇÃO
2. CONCEITOS PRELIMINARES: a) importância da epidemiologia; b) objetivos da epidemiologia; c)
determinação da origem de uma dpença (investigação); d) obtenção de informações sobre ecologia e
história natural de doenças; e) planejamento e monitoramento de programas de profilaxia de
doenças.
3. ETAPAS DE UM ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO: a) epidemiologia descritiva; b)epidemiologia
experimental; e c)epidemiologia analítica.
4. A EPIDEMIOLOGIA COMO CIÊNCIA DE INVESTIGAÇÃO (RASTREAMENTO) DE SURTOS E EPIDEMIAS E
INTERFACE COM OUTRAS ÁREAS: a) histórico; b) epidemiologia com instrumento de diagnóstico e
vigilância (investigação, monitoramento e levantamento); c) relação entre epidemiologia e outras
disciplinas de diagnóstico.
5. ESTUDO DA RELAÇÃO ENTRE 2 SERES VIVOS: a) definições (parasitismo, simbiose ou mutualismo e
comensalismo); b) persistência de um microrganismo na natureza como espécie; c) manifestação
clinica de doença (patogenicidade); d) relação hospedeiro-parasita desarmônica; e) escapse de
doenças de seus ecossistemas.
6. DEFINIÇÕES IMPORTANTES: a) higiene; b) saneamento; c) sanitização; d) Medicina Veterinária
Preventiva; e) Saúde Animal e Saúde Pública Veterinária; f) zoonoses; f) controle; g) erradicação; g)
vigilância; h) vigilância epidemiológica; i) vigilância sanitária; j) investigação; k) investigação
epidemiológica.
7. FORMAS DE OCORRÊNCIA DE DOENÇAS EM POPULAÇÕES ANIMAIS: endemia, epidmia e pandemia.
8. O PROBLEMA EPIDEMIOLÓGICO: a) conhecer as razoes da ocorrência da doença em populações
animais; b) conhecer os mecanismos de propagação de doenças em populações animais; c) cálculo do
nível endêmico.
9. NÍVEIS DE PROFILAXIA: 1º nível de Profilaxia primária ou de atuação no período pré-patógeno
(prevenção); 2º nível de Profilaxia secundária ou de atuação no período patógeno (controle); 3º nível
de Profilaxia terciária ou de atuação no período patógeno, após a instalação dos defeitos
(restauração).

1. DEFINIÇÃO

Como já descrito na introdução, definida como ciência que estuda a ocorrência de doenças
em coletividades considerando os indivíduos doentes, não doentes e o meio ambiente e dos
meios para a sua profilaxia e, portanto, é o estudo dos padrões de doença. Observa
populações de animais e realiza inferências. Objetiva estudar os seguintes fenômenos de
massa: mecanismos de propagação de doenças; sua distribuição geográfica e temporal,
frequência de ocorrência de doenças causadas por agentes transmissíveis ou não, seleção dos
meios de diagnóstico, adoção de medidas de profilaxia pertinente a cada caso, avaliação de
resultados, etc.

2. CONCEITOS PRELIMINARES

a. Importância da epidemiologia
i) Por se tratar de uma disciplina de investigação, permite elucidar muitos problemas
contemporâneos de saúde em populações animais porque a história natural de doenças
somente é compreendida pela avaliação da frequência de ocorrência e distribuição de

47
doenças em diferentes populações em um mesmo momento ou em momentos
diferentes de uma mesma população.
ii) Permite avaliar a eficácia de programas de saúde animal e de medicina veterinária
preventiva que implicam em conhecer a importância da doença (econômica e/ou social)
e a magnitude de ocorrência de doença infecciosa ou não na população.
iii) Auxilia na elucidação de etiologias complexas ou desconhecidas pelo estudo de sua
ocorrência em diferentes populações animais.
iv) Permite estimar com precisão os efeitos de doenças na produtividade de rebanhos
animais ou grupos de animais e não em indivíduos.
v) Permite melhor avaliar os reflexos econômicos de doenças em populações animais e as
abordagens de profilaxia em grupos de animais e não em indivíduos.
Portanto, a investigação de doenças em populações é a base da epidemiologia.
b. Objetivos da epidemiologia
i) Determinação da origem de uma doença (investigação ou rastreamento);
ii) Investigação e controle de doenças de etiologia inicialmente desconhecida;
iii) Obtenção de informações sobre a ecologia e história natural de doenças;
iv) Planejamento e monitoração de programa de saúde animal e de medicina veterinária
preventiva;
v) Avaliação econômica e análise de custo e benefícios de programas alternativos de
saúde animal.
c. Determinação da origem de uma doença – investigação
O diagnóstico individual é facilitado quando for possível estudar, com precisão, os sinais
clínicos complementados ou não pelo laboratório e/ou outras facilidades diagnósticas como
radiografia, imageologia etc.
No diagnóstico de doenças em populações animais, a Epidemiologia pode se tornar
importante para determinar:
i) A origem da doença em certa população ou rebanho. Na salmonelose de bezerros, por
ex., o diagnóstico é fácil, pois os sinais clínicos são razoavelmente sugestivos, mas difícil
é determinar as condições que cercam a ocorrência do surto ou aplicar corretamente
medidas de controle porque a introdução pode ter sido diferentes vias como a compra
de animais infectados (fontes de infecção) ou por alimentos contaminados (vias de
transmissão) e, neste caso, vários componentes devem ser estudados complicando a
investigação.
ii) A etiologia pode ser conhecida, e a Epidemiologia pode esclarecer, investigando e
respondendo algumas perguntas como:
iii) Porque a doença ocorreu?

48
iv) O que causou aumento significante do número de casos? Por ex. aumento de ocorrência
de actinobacilose (“língua de pau”) em animais criados em pastos baixos com
vegetação fibrosa causando abrasão da mucosa bucal predispondo à infecção pelo
Actinobacillus lignieresi; aumento na ocorrência de carcaças de cordeiro com elevado pH
no final da linha de abate em decorrência de excesso de banho antes do abate. Scrapie
em carneiros importados da Europa ou Botulismo em bovinos que pastam em solos de
propriedades que não incineram ou não enterram cadáveres de animais. Febre Aftosa
no Rio Grande do Sul decorrente da aquisição de bovinos da Argentina. Salmonelose e
outras doenças entéricas e presença de roedores e moscas nos arredores da granja.
Doenças respiratórias e ventilação deficiente dos galpões.

d. Investigação e controle de doenças de etiologia inicialmente desconhecida


Muitas vezes há a necessidade de se introduzir medidas de controle de certas doenças antes
mesmo do conhecimento de sua etiologia. Pleuropneumonia contagiosa bovina (USA) e Peste
Bovina (Brasil/1921 em bovinos recém importados da Índia) foram erradicadas pela simples
apreciação, respectivamente, da natureza infectocontagiosa e das lesões sanguinolentas
após rompimento das vesículas (MOURA, 2012). Na varíola humana, Jenner (séc XVIII)
observou que o “material” da varíola bovina (cowpox) protegia contra varíola humana (small
pox). Ceratoconjuntivite e carcinoma em bovinos Hereford, controlados apenas pelo
conhecimento das associações entre pouca pigmentação ao redor dos olhos e a
suscetibilidade. BSE (Reino Unido/1987), controlada pela proibição de alimentar bovinos com
farinha de carne e osso de origem ovina, causa estabelecida por estudo epidemiológico
descritiva.

e. Obtenção de informações sobre a ecologia e história natural de doenças


A ecologia estuda o ecossistema representado pelo conjunto de seres vivos e o meio
ambiente; a história natural estuda o agregado de todos fatores relacionados com animais e
plantas e a História Natural de uma doença estuda todos os fatores relacionados ao
hospedeiro, parasito e meio ambiente que favorecem a ocorrência de doenças em populações
animais. O estudo de doenças infecciosas é influenciado pelo meio ambiente que pode
interferir na resistência ou sobrevivência de agentes no meio ambiente bem como
interferindo na sobrevivência do hospedeiro. Exemplos:
Schistosoma mansoni e Fasciola hepatica, em regiões de deficiente drenagem de
coleções de água favorecendo o ciclo biológico sendo as larvas resistentes ao meio
ambiente em coleções de água como lago e lagoas.
Larvas de Ancilostomídeos sobrevivem em solos arenosos até encontrar um novo
hospedeiro.
Leptospira sp persiste em áreas endêmicas infectando roedores, reservatório
primordial, e seu controle é a medida profilática mais recomendada.
Raiva dos herbívoros persiste em áreas endêmicas infectando morcegos hematófagos
e o controle deste reservatório é a medida mais eficaz.

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Vírus da Febre Amarela e Dengue silvestre, persistem no ecossistema silvestre
habitado por macacos e pelo vetor biológico – Haemagogus sp, e adapta-se facilmente
em ambiente urbano habitado pelo homem e pelo Aedes aegypti e é controlado pela
destruição deste vetor biológico.
Doenças não infecciosas podem ser estudadas relacionando os fatores físicos do ecossistema
(determinantes externos) que podem estar afetando o hospedeiro principalmente bovinos e
pequenos ruminantes. Por ex. características geológicas de um ecossistema influenciando na
composição mineral da vegetação permitem estudar doenças carenciais que poderão auxiliar
na indicação de suplementação mineral.

f. Planejando e monitorando os programas de profilaxia de doenças


O planejamento de um programa depende do conhecimento da quantidade de doença na
população alvo, dos fatores de risco externos e internos associados com a ocorrência, da
existência de armas profiláticas e do custo e benefício envolvido. Implica em:
i) Definição dos objetivos;
ii) Delineamento: reconhecimento das causas/riscos e efeito, indicadores de saúde,
condições socioeconômicas e identificação de recursos humanos, materiais e
financeiros;
iii) Execução: fases preparatória, de ataque, consolidação e manutenção;
iv) Avaliação e revisão: exequibilidade, efetividade, eficácia e eficiência.
A Vigilância ao nível local pode fornecer informações sobre a influência de novos fatores
causais na história natural da doença. Por ex.
i) Febre Aftosa no Brasil, no passado, era influenciado pelas aglomerações e,
atualmente, está relacionada também com a intensa movimentação dos animais e a
criação de circuitos pecuários efetivou a início da erradicação;
ii) Peste Suína Clássica (modalidade clássica) disseminava-se principalmente através
resíduos de alimentos e atualmente ocorre também por via transplacentária, sendo a
principal fonte de infecção a reprodutora portadora. A profilaxia, em áreas sem
vacinação, consiste na identificação e sacrifico de animais reagentes e dos
comunicantes (plano de contingência);
iii) Peste Suína Africana, primordialmente transmitia por carrapatos (Ornithodoros spp) e
hábitos de criação de suínos (informal e de fundo de quintal) tem como consequência
a transmissão do vírus pela alimentação dos animais com resíduos de alimentos de
consumo humano e presença de ratos e moscas que se locomovem livremente entre
granjas. Atualmente, existe um fator de risco adicional representado pelos suídeos
silvestres, principalmente javalis e porco do mato.
iv) Doença de Newcastle no Brasil foi desafiada pela importação de avestruzes infectadas
pelo vírus da doença na ausência de sintomatologia (portador) e que resultou no
sacrifício de todas as aves dos lotes importados da África.
v) PRRS, Sêneca vírus, PED (diarreia epidêmica dos suínos) podem ser introduzidos no
Brasil através da importação de suínos reprodutores.

50
A responsabilidade do epidemiologista é de natureza social e as repercussões das medidas
profiláticas tendem a ser de longa duração senão permanentes. Segundo Bernard Shaw e
outros, “os profissionais da área da saúde devem ser mais bem julgados pelos indicadores de
saúde (natalidade, mortalidade) do que pelo número de animais tratados”.
Avaliação dos efeitos econômicos da doença e da profilaxia
a. Significa confrontar o custo financeiro de um programa com valores das perdas
econômicas pela doença. Análise econômica é etapa essencial no planejamento e
auxilia na decisão pela erradicação ou controle desde que compatíveis com a
produtividade.

3. ETAPAS DE UM ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO

Existem três modalidades sequenciais:


A. Epidemiologia descritiva: colheita, organização, análise e interpretação de dados
existentes e posterior formulação de hipóteses. Informações reunidas na rotina de
produção ou nos Serviços Veterinários Oficiais (SVO) são importantes fontes de dados para
estudos desta natureza e uteis para corrigir rumos de programas ou interpretar andamento
de programas ou identificar fatores de risco;
B. Epidemiologia experimental: realização de observações pessoais e, pelo raciocínio
indutivo, sugerir associações entre causa e efeito seguido de novas hipóteses. Importante
para desenvolver experimentos para melhorar programas de saúde animal;
C. Epidemiologia analítica: é a etapa final e consiste na organização, análise e interpretação
de dados observacionais ou experimentais para aceitar ou rejeitar a hipótese de nulidade.
Laboratório de epidemiologia é o local para esta modalidade de estudo.
Obs. a epidemiologia é a única ciência que permite introduzir hipóteses a posteriori.

A. Epidemiologia descritiva
Consiste na observação a campo para descrever uma doença ou os fatores de risco envolvidos
para descrever parte ou todo o problema como: distribuição espacial (extensão do
problema); distribuição ou relação temporal (duração do problema); espécies hospedeiras
envolvidas; população afetada ou exposta ao risco e suas características relevantes;
prevalência e incidência; agente(s) possivelmente envolvido(s); características do meio
ambiente; características do(s) hospedeiro(s) de importância epidemiológica que podem
estar interferindo na doença; e a cadeia epidemiológica (doenças transmissíveis).
As perguntas envolvidas neste estudo são: O QUE é o evento; QUAIS os animais envolvidos;
ONDE ocorreu; QUANDO ocorreu; e COMO e PORQUE ocorreu.
Não se trata de uma mera “dragagem de dados” movidos por objetivos não epidemiológicos,
mas um estudo planejado, sistematicamente realizado, com múltiplas facetas e dependentes
de um Serviço de Vigilância

51
Epidemiológica. Informações do SVO, de um estabelecimento de genética ou produção e
outras modalidades de criação como zoológicos.
Envolve a descrição quantitativa de frequência dos fenômenos em estudo sob a forma de
tabelas, gráficos, mapas e indicadores (coeficientes/taxas e índices) e, quando necessário,
cálculo de porcentagem para variáveis de natureza qualitativa e das medidas de tendência
central (média aritmética, mediana e moda) e de dispersão ou de variabilidade (desvio médio,
desvio padrão, variância, coeficiente de variabilidade) para variáveis de natureza quantitativa.
Importante porque permite testar hipóteses relativas a determinantes de doenças pela
formulação de hipóteses epidemiológicas de trabalho.
Exemplos de estudos de epidemiologia descritiva:
Encefalopatia espongiforme dos bovinos (BSE): reconhecida pela 1a vez em 1986 e descrita
por WILESMITH et al (1988) na Inglaterra e considerada uma importante patologia de bovinos.
Foi incriminada a farinha de carne e/ou de ossos de ovinos utilizada na alimentação de bovinos
e a proibição de seu uso indicou redução na incidência da BSE, mesmo antes da identificação
do prion.
Febre aftosa: 1781, data em que foi oficialmente permitido produzir uma vacina contra a febre
aftosa sem conhecerem a etiologia viral, mas somente características como altas
transmissibilidade, alta patogenicidade e virulência. Na segunda metade do século XIX foi
considerada doença infecciosa causada por um agente específico e nessa mesma época foi
demonstrada matematicamente a capacidade de disseminação do agente. A vacina foi
pioneiramente utilizada em bovídeos existentes na República Democrática Alemã (1950 a
1958). Somente em 1922, Valléé e Carré identificaram os tipos O e A; em 1926, Waldmann e
Trautulein isolaram o tipo C; e esses três (O, A e C) foram considerados como tipo europeu.
Em 1954, Broskshy identificou os tipos SAT1, SAT2 e SAT3 de origem africana. Broskshy e
Rogers comprovaram a existência do tipo ASIA1 de origem asiática.
Hipóteses epidemiológicas de trabalho descritivo:
i) Hipótese: é a pergunta que se quer respondida e na epidemiologia implica em:
a. Especificar a população ou grupo populacional para a qual se deseja inferir os
resultados;
b. Definir os fatores de risco que se deseja estudar;
c. Definir a resposta esperada (doença ou saúde);
d. Definir o intervalo de tempo entre causa e efeito; e
e. Definir a relação dose-resposta para estabelecer a extensão da resposta.
ii) Métodos de formulação de hipóteses.
a. Método da diferença: se as frequências de ocorrências de uma doença diferem em 2
circunstâncias e algum fator é identificado (presença ou ausência), este fator pode ser
a causa da doença. Ex. alta prevalência de salmoneloses em granjas que praticam a
compostagem de animais mortos durante a produção comparativamente a granjas
que realizam compostagem na granja; ausência de arco de desinfecção e ocorrência
de diarreias em leitões desmamados quando comparado com granjas que possuem

52
arco de desinfecção; alta prevalência de salmonelose (S. Pullorum) em aves criadas em
granjas sem biossegurança e baixa prevalência em granjas com biossegurança.; alta
prevalência de anemia infecciosa equina em equinos criados em áreas com densa
população de tabanídeos e baixa prevalência em áreas sem tabanídeos.
Obs. uma pesquisa pode envolver uma ou mais hipóteses.
b. Método da concordância: se um certo fator estiver sistematicamente presente em
diferentes circunstâncias da doença, este fator pode ser determinante ou
predisponente. Ex. elevada taxa de isolamento de S. Enteritidis de fezes de pessoas de
diferentes regiões com hábito de consumir alimentos contendo ovos crus de criação
informal. Alta ocorrência de salmoneloses tíficas em aves de vida livre que vivem
próximas a granjas de produção de aves. Alta prevalência de pneumonia por M.
hyopneumoniae em suínos de granjas com alta densidade populacional. Alta
prevalência de mastite por E. coli em rebanhos com altas frequências de curso branco
em bezerros.
c. Método da variação concomitante: a ocorrência de doença pode aumentar ou
diminuir com o simultâneo aumento ou diminuição de certo fator. Ex. aumento da
ocorrência de diarreia em bezerros com aumento de chuvas. Aumento da ocorrência
de doenças respiratórias em épocas de frio (inverno). Aumento da população de ratos
e aumento de doenças diarreicas em suínos e em frangos. Aumento de samambaia e
aumento da incidência de hematúria enzoótica dos bovinos.
d. Método da analogia: as distribuições de 2 ou mais doenças podem ser estatisticamente
iguais sugerindo um fator causal comum. Ex. consumo de peixe (cru) infectado por
Diphyllobotrium latum e anemia perniciosa porque o helminto deprime Vit. B12. Aumento
da ocorrência de salmoneloses, campilobacteriose e colibacilose em aves ou suínos com
aumento da infestação por moscas e roedores.
 Epidemiologia experimental
Envolve delineamento de experimento em população experimental para testar uma
determinada hipótese. Geralmente são estudos prospectivos como testes de vacinas e de
medicamentos. Ex. testar a eficácia de uma droga vampiricida aplicada no dorso de animais e
acompanhar a redução da taxa de raiva dos herbívoros. Testar a eficácia de inseticidas
reguladores de crescimento de larvas de Alphitobius diaperinus (cascudinho)

 Epidemiologia analítica
Utiliza instrumentos matemáticos para interpretar resultados de estudos epidemiológicos
(descritivos e experimentais) para revelar se há ou não significância estatística entre
resultados observados (obra do acaso ou não) como técnicas de amostragem, intensidade da
associação (método de risco relativo), importância da associação (método do risco atribuível)
e estabelecer a significância estatística da associação (teste de Qui-quadrado - 2). Ex. estudo
da relação entre ocorrência de peste suína clássica e alimentação de suínos com restos de

53
alimentos, útil para estudos de doenças multifatoriais para a identificação e controle dos
fatores causais.

2. EPIDEMIOLOGIA COMO UMA CIÊNCIA DE INVESTIGAÇÃO (RASTREAMENTO) DE


SURTOS OU DE EPIDEMIAS E A INTERFACE COM OUTRAS ÁREAS

a. Histórico: No início do séc. XX, epidemiologistas foram treinados em bacteriologia por


estarem envolvidos em surtos de doenças infecciosas. Serviços de Saúde Animal
empregavam clínicos e patologistas no exercício da epidemiologia que introduziram
métodos de investigação de comunicantes e surtos bem como metodologia de
rastreamento.
Ainda hoje é exercida por profissionais vindos de disciplinas tais como:
Parasitologia (estudam o ciclo biológico e a dinâmica de infecções causadas por
helmintos, artrópodes e protozoários);
Genética (estudam defeitos hereditários em populações); e
Nutrição (investigam deficiências ou toxicidade).
Atualmente, estão afluindo participantes de outras disciplinas para estudos epidemiológicos
que envolvem análise estatística de dados obtidos em grupos de animais, modelagem
matemática de doenças, economistas avaliando custos de epidemias de doenças, e os
ecologistas estudando a história natural de agregados de animais.
Muitas técnicas empregadas na epidemiologia foram desenvolvidas em outras áreas do
conhecimento humano como por exemplo os testes estatísticos para avaliar associações e os
métodos de amostragem.
A epidemiologia é tal qual a amálgama que une as diferentes ciências para inferir a respeito
da ocorrência de uma doença, avaliar a eficácia das medidas de profilaxia, o custo e benefício
de um programa. A investigação ou ação de detetive é uma busca de indícios de fatores que
envolvem a ocorrência de doenças para a realização das inferências necessárias.
No passado, rastreamento era metodologia coloquial, porém importante no controle ou na
erradicação de certas doenças como tuberculose e brucelose, que ainda hoje é fator de
subsistência de muitos veterinários de campo e na maioria dos casos, a epidemiologia era e é
aplicada de forma empírica. Não é raro encontrar veterinários com vasta experiência de
campo expressar a opinião de que nada é novo ou que nada é diferente de tudo quanto
conhecem ou fazem. Embora tenham sua parcela de razão, poucos são os veterinários da
iniciativa privada ou de serviços oficiais de saúde animal que realmente se valem dos
conhecimentos e metodologias epidemiológicas disponíveis.

b. A epidemiologia como instrumento de diagnóstico e de Vigilância


As 3 vertentes para a sua aplicação inicial:
i) Investigação: estudo detalhado e multifacetado dos fatores causais ou predisponentes
envolvidos na causalidade de uma doença, e é empregado para investigar surtos. É uma
ação em “tempos de guerra”. Modalidades:

54
Estudo de surto, foco ou epidemia: descrevendo a ocorrência e suas causas incluindo o
rastreamento dos primeiros casos estabelecendo sua origem ou as relações entre os
animais doentes e outros rebanhos considerados suspeitos. Muitas vezes é possível
rastrear uma propriedade a partir de abatedouro ou pelo movimento de animais ou
introdução de animais de áreas endêmicas para determinada doença.
Objetiva a proteção dos animais remanescentes da área e é oposta à abordagem médica
que diagnostica doença ou surto em uma propriedade.
Estudo da possível introdução de doença exótica em um país: tais como peste suína
africana, influenza aviária, peste bovina, peste equina, Sêneca vírus (2015), influenza
suína (H1N1) em 2009, circovírus em suínos (2001) ou um artrópode (vetor) africano etc.
Estudo de problemas nos estágios finais de um programa de erradicação. Por ex. na
peste suína clássica, a erradicação pode estar sendo complicada por reservatórios
(javalis ou porco do mato) ou circulação de vírus de baixa patogenicidade de
transmissão transplacentária. Casos de bovinos falso-positivos para tuberculose
sensibilizados com micobactérias do solo.
Estudo de doenças complexas (multicausais) ao nível de propriedades: vêm adquirindo
importância por exigirem medidas de controle não usuais para reduzir a mortalidade
neonatal, ineficiência reprodutiva, parasitismos múltiplos, mastites, enterite dos
animais jovens, doenças metabólicas, deficiências minerais e muitas síndromes com
participação de agentes oportunistas. A observação sistemática (registro de
informações), permite formular hipóteses sobre as possíveis causas, conduzir
apropriadamente estudos retrospectivos e/ou delinear uma série de estudos
prospectivos (no campo) para identificar determinantes específicos e seus efeitos na
ocorrência de doenças ou de resultados sorológicos positivos ou de outro evento.
Investigação de surtos ou focos ou outras investigações, depende quase sempre de
entrevistas e de questionários.
ii) Monitoramento: estudo detalhado e multifacetado dos fatores causais ou
predisponentes envolvidos na causalidade de uma doença e é empregado para avaliar a
eficácia do programa.
iii) Levantamento: não confundir com vigilância. Trata-se de um processo de contagem
ativa de informações e depende de um serviço organizado de colheita, organização,
apresentação, análise e interpretação de dados em pequenas ou grandes populações e
conhecido como “ação para informação”. Depende de fontes fidedignas de
informações (hospitais, laboratórios, criadores, veterinários particulares, serviços de
proteção de alimentos).

c. Relação entre a epidemiologia e outras disciplinas diagnósticas: a hierarquia natural nas


ciências biológicas vai desde moléculas (que não se dividem), passando pelos ácidos
nucléicos, organelas, células, tecidos, órgãos, sistemas, indivíduos, grupos, comunidades
até chegar ao ecossistema.

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As diferentes disciplinas da medicina veterinária atuam nos diversos níveis desta
hierarquia onde:
Histologista e fisiologista estudam a estrutura e a dinâmicas dos indivíduos;
Clínica e patologia estudam a doença em um indivíduo com base nos sinais revelados pelo
doente (clínico) e o patologista interpretam as lesões para obter o diagnóstico;
Epidemiologia investiga a população utilizando a frequência e a distribuição de doenças
em populações animais para obter um diagnóstico.
Portanto, são complementares e sequenciais pela atuação em diferentes níveis de hierarquia
para a solução de problemas em populações de animais embora nem sempre as 3 sejam
necessárias (SCHWABE et al, 1977). A epidemiologia, ocupa o nível mais alto nesta hierarquia
e deve dominar os conhecimentos das outras, que em conjunto possibilitam ao
epidemiologista dispor de instrumentos para a descrição de doenças, investigar as causas e
habilitando para “ver tanto as árvores como a madeira” porque a abordagem é muito mais
ampla do que especializada, evitando o perigo da especialização como descrito por LORENZ
(1977): “O especialista tende a conhecer mais e mais a respeito de menos e menos, até
finalmente conhecer tudo sobre nada. Há um sério perigo do especialista, forçado a competir
com os colegas, em adquirir mais e mais conhecimentos especializados, que se tornará mais e
mais ignorante sobre outras áreas do conhecimento humano, até se tornar incapaz de formar
qualquer juízo sobre o papel ou importância de sua própria esfera dentro do contexto do
conhecimento humano como um todo”.
No Tabela 1 tem-se a sequência complementar das diferentes disciplinas da Medicina
Veterinária e da Saúde Animal (PFEIFFER, 2001).
Quadro 1. Sequência complementar das disciplinas diagnósticas em Medicina Veterinária.

Clínica Médica Patologia Epidemiologia


Unidade de População (doente + não doente + morto + meio
Indivíduo doente Indivíduo morto
interesse ambiente)
Hospital ou clínica Laboratório Campo/propriedade ou rebanho etc.
Cenário O animal é sempre removido do local e Os animais são mantidos no local de ocorrência da
circunstância da ocorrência da doença doença
Objetivo Futuros animais Controlar a doença ou prevenir futuras
O animal doente
principal doentes ocorrências
Determinar a
Determinar a Determinar a frequência e a história natural da
Procedimento doença com base
doença com base doença
diagnóstico na resposta do
sinais e sintomas (Padrão de doença)
animal
O que é? (Natureza e frequência do evento na
população)
Quais os indivíduos acometidos? (Frequências
segundo as características dos hospedeiros)
O que é?
Perguntas Onde e quando ocorreu? (Padrões de ocorrência)
O que é? Qual a patogenia?
envolvidas O que causou a doença? (Fatores causais direta ou
Como tratar? O que causou a
indiretamente associados com a frequência e
doença (etiologia)
padrões de ocorrência)
Porque ocorreu? (Combinação de fatores
predisponentes)
Como é controlada ou prevenida a doença?

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A despeito das diferenças mencionadas entre as 3 disciplinas, existem elos entre elas. A patologia
clínica e o diagnóstico clínico visam os sobreviventes da doença examinando animais mortos e
doentes generalizando experiências individuais, realizando inferências para a população e
caminhando em direção ao epidemiologista e muitos denominam este procedimento de Patologia
Geográfica ou Ecopatologia.
A conhecida “clínica médica de rebanho ou medicina de campo” é o procedimento mais praticado
pelos veterinários e o mérito tem sido a capacidade de observação.
Epidemiologistas modernos têm procurado por procedimentos mais racionais, ordenando dados e
às vezes aplicando métodos sofisticados contrapondo aos métodos de veterinários do passado (de
atuação ad hoc e empíricos). A demanda por mais veterinários é para atender as necessidades de
trabalho com métodos modernos face às complexidades das populações alvo e a epidemiologia
clínica esforça-se em observar os animais doentes no próprio rebanho ou fazenda e realizando
inferência epidemiológica.

3. ESTUDO DA RELAÇÃO ENTRE 2 SERES VIVOS

a. Definições
Parasitismo: relação entre 2 seres vivos na qual apenas um deles se beneficia com a relação
vivendo às expensas do outro com prejuízo deste;
Simbiose ou mutualismo: relação na qual ambos se beneficiam.
Comensalismo: categoria intermediária, apenas 1 deles se beneficia do outro sem prejuízo deste,
vivendo próximo ou na superfície do organismo deste. É uma relação de difícil interpretação,
porque ora pode ser simbiose ora parasitismo.
O mesmo raciocínio é verdadeiro entre um hospedeiro vertebrado e um microrganismo:
Parasitismo: tem-se o prejuízo do hospedeiro vertebrado;
Simbiose: hospedeiro e microrganismos se beneficiam, por exemplo, a microflora do rumem ou
do ceco de coelhos se beneficiam suprindo o hospedeiro com nutrientes derivados da celulose.
Simbiose na espécie humana: a flora intestinal produz certas vitaminas, como a Vit B1/tiamina,
suplemento para indivíduos malnutridos ou com beribéri ou em tratados com antibióticos por
via oral que destrói bactérias sintetizadoras desta vitamina.
b. Persistência de microrganismos na natureza como espécie por ser de importância vital, vale-se
da transmissão horizontal ou vertical de um hospedeiro a outro. Na horizontal, ocorre contato
das superfícies dos organismos de 2 hospedeiros (infectado e não infectado) com ou sem
interposição de elementos do meio ambiente e a vertical ocorre dos pais para a sua prole (via
sêmen, óvulo/ovo, placenta).
Agentes etiológicos da influenza ou Febre Aftosa podem ser facilmente transmitidos para
grande número de indivíduos em poucas horas em ambiente fechado ou em aglomeração de

57
animais, mas em doenças venéreas, esta escala de transmissão não ocorre porque depende de
contacto íntimo entre 2 indivíduos.
Na monogamia, a ocorrência de 1 doença venérea dobra no período de vida média do hospedeiro
e o agente desaparece com a morte do hospedeiro, portanto, para sua persistência há a
necessidade de sucessão de contactos sexuais com mais de 1 suscetível (brucelose suína,
campilobacteriose bovina, tricomonose bovina etc.). Quanto maior o grau de promiscuidade
entre animais ou mais frequente o uso de um mesmo reprodutor infectado, maiores serão as
oportunidades de sucesso do agente etiológico em manter-se na natureza como espécie.
c. Manifestação clínica da doença (patogenicidade): no homem e nos animais, apenas uma
pequena quantidade de espécies de microrganismos é capaz de causar doença. As demais, a
despeito da invasão tecidual, não causam danos e vivem na boca, intestino, nos dentes, na pele
etc. Este é um aspecto esperado, do ponto de vista evolucionário, porque microrganismos
vencedores evitam sua extinção, persistem na natureza, multiplicam-se, seus descendentes
alcançam novos hospedeiros, perpetuam-se na natureza e tendem a determinar pouco ou
nenhum dano. Parasitas que determinam doença letal ou mutiladora reduzem o potencial de
novos hospedeiros e reduzem o potencial de microrganismos na natureza.
Desse modo, um reduzido no de microrganismos é capaz de provocar doença na maioria dos
indivíduos infectados persistindo a natureza sem causar doença ou acometendo pequena
proporção de indivíduos. Por exemplo:
Cl. chauvoei ou E. coli enteropatogênica em suínos; rotavírus em bovinos; parvovírus em cães,
multiplicam-se em células intestinais, são disseminados por via oro-fecal e causa, em condições
usuais, infecção intestinal sem manifestação clínica de doença;
Vírus da raiva é transmitido do cão para o homem no qual a doença é sempre fatal. Não há
evidências de alteração de sua virulência ao longo do tempo e a sua persistência na natureza se
faz pelo parasitismo em morcegos e cangambás nos quais a patogenicidade e virulência são
menos intensas e a doença é de duração mais prolongada (maior período de transmissibilidade).
Esses animais eliminam o vírus pela saliva que é transmitido pelo contágio direto (mordedura) e
assim, o vírus se perpetua na população de hospedeiros naturais sem sérias consequências. A
raiva transmitida a outros hospedeiros “acidentais”, situação é desfavorável ao vírus que é
destruído com a morte do animal como ocorre com o homem, ruminantes, equinos;
Mixomatose (causada por um poxvírus, originário do Brasil) em coelhos na Austrália é exemplo
clássico de equilíbrio da relação parasito-hospedeiro, cujo agente viral foi introduzido na
população de coelhos (1950) e cerca de 99% destes adoeceram e morreram, porém ocorreu
uma seleção genética com aparecimento de uma estirpe menos patogênica e menos virulenta e
linhagem de coelhos mais resistentes. A doença mudou sua característica, a evolução tornou-se
mais longa, sinais menos severos e menor letalidade (favorecendo a manutenção do tamanho
da população de coelhos), aumentando o período de transmissibilidade e favorecendo a
persistência do vírus naquele ambiente. Por outro lado, a população de coelhos também mudou
com a sobrevivência daqueles menos susceptíveis ao vírus.
Coronavírus persistem no ecossistema silvestre sem causar doença em seus hospedeiros
naturais como morcegos, camelos, pangolin (semelhante ao tatu) e que habitam zonas tropicais

58
da Ásia e África. Esses animais podem transmitir corona vírus ao homem causando doença,
usualmente de natureza respiratória (MERS, SARS-Covid 1 e SARS-Covid 2).
Coronavírus em humanos:
 Coronavírus específicos da espécie humana (MYINT, 1994): HCoV-OC43; HCoV-229E; SARS-
CoV; HCoV-NL63; HCoV-HKU1; HCoV-EMC; HCoV-SARS (SARS-Covid 1); HCoV-MERS; e HCoV-
2/Betacoronavírus (SARS-Covid 2 ou SARS-Covid 19).

 Coronavírus transmitidas dos animais silvestres ao homem (zoonoses): Covid-MERS:


reservatório mais provável é o camelo (AZHAR et al, 2014). SARS-Covid 1: reservatório mais
provável é o morcego (LI et al, 2005). SARS-Covid 19: reservatório mais provável é o morcego
(WASSENAAR & ZOU, 2019; MALIK et al, 2020).
 Coronavírus dos animais:
Suínos: vírus da gastroenterite transmissível dos suínos (TGEv); vírus da doença respiratória
por Corona vírus/PRCV; vírus da encefalomielite hemaglutinante/HEV); e deltacoronavirose
dos suínos/DCoV) (ZHANG et al, 2019)
Aves: Sorotipo Massachusetts; Connecticut; Iowa-97; Iowa 609; Gray; Holte; Clark-333
(JACKWOOD, & DE WIT, 2020).
Camundongo: Sorotipos HJM; HVM-1; HVM (PRI); HVM-3; A-59 (McINTOSH, 1974)
Rato: somente 1 sorotipo coronavirus RCV contendo 1 subtipo (McINTOSH, 1974).
Cão: CCoV (DEZENGRINI et al, 2007). Suscetível à infecção experimental (SHI et al, 2020)
Gatos: FCoV (sorotipos 1 e 2) e Covid 19 se multiplica bem no organismo do gato que elimina
pelas secreções oro nasais ainda não comprovada transmissão ao homem (SHI et al, 2020)
Mesmo parasitos bem-sucedidos necessitam causar lesões tissulares de alguma intensidade
para sua efetiva multiplicação/replicação e eliminação para o meio ambiente. Na gripe, vírus é
eliminado pelo fluxo nasal/secreção e na diarreia é eliminado pelo conteúdo intestinal, sempre
antecedido de lesão tissular pela multiplicação do agente e são raros os agentes que causam
pouca ou nenhuma lesão tissular, baixa resposta inflamatória ou imune ou que não são
identificados pelo hospedeiro (. Diferentes parasitos revelam diferentes graus de relação com
hospedeiros (NASH et al, 2015).
d. Relação hospedeiro-parasita desarmônica: conveniente para o entendimento das doenças
infecciosas, mas muitos parasitos ainda não tiveram tempo suficiente, na evolução filogenética,
para alcançar uma situação ideal. Assim:
 Pode surgir, ocasionalmente, uma variante/estirpe/cepa mais agressiva causando doença
grave e letal que tende a desaparecer em razão da ocorrência doença em todos os
suscetíveis ou antes de reduzir a agressividade;
 Certos agentes de doenças emergentes como a PRRS (Síndrome Respiratória e
Reprodutiva dos Suínos), pode não ter tido tempo suficiente para equilibrar sua
agressividade com a capacidade de resistir do hospedeiro;
 Pode surgir em determinada parte do mundo, não tendo obtido sucesso na relação com o
hospedeiro nativo geneticamente susceptível, o parasito move-se em direção a uma
relação mais harmônica, disseminando-se, ao acaso, para novos continentes até encontrar

59
uma população animal geneticamente muito mais susceptível que a original. Por exemplo,
a tuberculose disseminou-se da Europa (mais resistentes à tuberculose) para a África e
América do Norte infectando, com sucesso, africanos e índios respectivamente. O vírus da
Febre Amarela disseminou-se a África para a Europa.
 Agentes de zoonoses como da psitacose/clamidiose, leptospirose, raiva, peste bubônica,
encefalomielites equinas infectam o homem (hospedeiro acidental) sem alterar
agressividade porque a perpetuação na natureza depende de outras espécies animais e,
em alguns casos se beneficiam pela participação de vetores biológicos (peste bubônica,
encefalomielites equinas).
Do ponto de vista de alguns parasitos, a patogenicidade para o homem é irrelevante como é o
caso da brucelose, febre Q, carbúnculo hemático, etc. Não dependem do homem para
persistirem na natureza.
O homem pode, a qualquer momento, deparar-se com um parasito de animais exóticos
adquirindo uma infecção “acidental” caracterizada por elevadas patogenicidade e virulência Ex.
febre de Lassa e doença de Marburg cujos hospedeiros definitivos são, respectivamente,
roedores e macacos.
Outros parasitos podem se adaptar a outra espécie animal que podem ser investigados com o
apoio de provas de sequenciamento de ácidos nucléicos.
O vírus do sarampo, que muito provavelmente não existia na era Paleolítica, talvez tenha se
originado de um vírus muito próximo (peste bovina) ou o inverso.
Novos vírus da Influenza humana continuam a se originar de aves e o vírus da AIDS
provavelmente tenha se originado de um vírus semelhante cujo hospedeiro natural seriam
macacos africanos. Ambos pertencem à família Paramyxoviridae.
Microrganismos multiplicam-se muito mais rapidamente que seu hospedeiro natural. Uma
geração de bactéria é de 1 hora ou menos, infinitamente menor quando comparada com a
geração de seu hospedeiro humano (da ordem de 20 anos).
Animais vertebrados, em todo seu processo de evolução (milhões de anos), ao serem
continuamente expostos a agentes de doenças, desenvolveram um sistema altamente eficiente
de reconhecimento (prevenção precoce) dos invasores estranhos, uma efetiva resposta
inflamatória e imune para limitar seu crescimento e disseminação e para elimina-los de seu
organismo. Diante de uma resposta efetiva do hospedeiro, haverá redução no no de parasitos e
a infecção é debelada rapidamente ou o parasito pode não encontrar condições para sobreviver
no hospedeiro por longo tempo.
Por seu turno, parasitos ao enfrentar as defesas do hospedeiro, desenvolvem recursos para iludir
ou sobrepujar essas defesas e a alta taxa de evolução do parasito garante que esteja sempre à
frente à capacidade defensiva do hospedeiro. Se existirem meios para estabelecer defesas
contra o parasito, este sempre encontrará um mecanismo de iludir ou fugir da resposta do
hospedeiro pela habilidade de adaptação e evolução explorando os pontos fracos das defesas
do hospedeiro. Por ex. vírus da Anemia Infecciosa Equina que apresenta mutação genética a
curtos intervalos de tempo (± 2 meses) não é reconhecido pelos anticorpos da mutação anterior.

60
Assim, a remissão dos sinais clínicos ocorre a cada mutação genética até à depauperação total
do equino.
A importância do trabalho do Médico Veterinário está no conhecimento das forças agressivas do
parasito que é capaz de lesar o hospedeiro causando doença (patogenicidade) e a gravidade da
manifestação clínica do hospedeiro (virulência) com ou sem desfecho fatal e nas forças
defensivas naturais dos hospedeiros (imunidade) e/ou beneficiar-se das armas criadas pelo
homem para colaborar com a manutenção da saúde dos animais (soros e vacinas). Se nenhum
microrganismo associado com os animais causar dano e se nenhum for realmente benéfico, seria
objeto de pouca ou nenhuma importância ou atenção.
Parasitos têm sido responsáveis por grandes pandemias da história ocorrendo a intervalos
determinados no decurso da história e assim continuam nos dias atuais a despeito do advento
de vacinas e antibióticos. Em decorrência da elevada taxa de evolução dos parasitos e as
constantes mudanças nas características de vida do homem e dos animais, os parasitas
continuarão causando grandes epidemias ou pandemias.
A Biologia Molecular e as modernas técnicas imunológicas auxiliam no combate a esses
problemas e são conhecimentos que estão se dirigindo para a patologia descritiva para um
melhor entendimento da interação hospedeiro-parasito ao nível celular, genético e bioquímico.
São facilmente identificados genes mutantes ou adquiridos ou agrupados, a incorporação ou
perda de genes podem ser facilmente relacionadas com os fenótipos emergentes, com o gene
isolado (clonado) ou sequenciado, predizer a correspondente sequência de aminoácidos e
pesquisar comparando com os bancos de genes e seus produtos previamente identificados.
Assim, existe a possibilidade de se acumular grande volume de informações a respeito dos
determinantes microbianos envolvidos na mediação de diferentes aspectos do complexo
processo de infecção.
As descobertas mais excitantes talvez estejam ainda por vir, pois a ciência está se movendo em
direção a áreas que no passado eram vislumbrados apenas teoricamente, como a expressão
simultânea de vários genes graças ao desenvolvimento de tecnologias de sequenciamento de
genomas e chip de DNA que estão disponíveis ou estarão em futuro próximo para muitas
bactérias patogênicas.

e. O escape de doenças de seus ecossistemas. Embora doenças sejam conhecidas desde a mais
remota antiguidade, o reconhecimento da maioria delas é muito recente. A origem das grandes
pragas humanas e dos animais domésticos são decorrentes da invasão, pelo homem, do
ecossistema silvestres e consequente transmissão entre seres humanos.
Nos primórdios da humanidade, o homem e animais viviam em ecossistemas distintos, ou seja,
no ecossistema urbano e ecossistema silvestre respectivamente. Em cada sistema, os habitantes
conviviam harmonicamente com microrganismos que lhes eram benéficos e, diga-se de
passagem, as amebas já existiam – segundo Darwin, somos originários da ameba. A partir de
determinado momento, em face das necessidades alimentares (carne e leite) e lã para cosedura
de roupas, o homem passou a domesticar os animais silvestres e, os mais antigos registros
arqueológicos datam de 9.000 anos aC.

61
Com a domesticação dos animais, os microrganismos benéficos dos animais silvestres infectaram
o homem e muitos deles provocaram ao aparecimento de doenças até então inexistentes tais
como as entéricas do complexo teníase-cisticercose adquiridas pela ingestão de carne suína ou
bovina malcozida, salmoneloses, colibacilose e doenças sistêmicas como brucelose e
toxoplasmose.
A domesticação rudimentar (criação extensiva) perdurou até o final do 1º século dC (THRUSFIELD
et al, 2018). Realmente, neste período, os porcos chafurdavam e as galinhas ciscavam não apenas
alimentos, mas também baratas, minhocas, fezes humanas e de animais como de roedores e
microrganismos patogênicos muitos deles transmitidos ao homem (zoonoses) via ingestão de
carne suína, avícola e bovina. O homem também tinha hábitos de vida e alimentar que não são
mais praticados nos dias atuais. A evolução é global e não setorizada. À guisa de ilustração,
viviam no campo e hoje habitam em apartamentos; alimentavam-se de carne fresca e hoje
ingerem produtos industrializados produzidos com base em processos tecnológicos altamente
sofisticados. Convém mencionar, que a Medicina Veterinária é a guardiã da saúde humana.
Atualmente, cerca de 60% das doenças infecciosas emergentes que afetam o homem, são de
origem animal - as zoonoses - sendo que mais de dois terços dessas se originam da vida silvestre
pela aproximação do homem aos ambientes silvestres movidos por diferentes razões como caça,
exploração de recursos silvestres, etc. a partir do homem, animais de lazer e de estimação
podem ser infectados.
Muitas doenças que estão ultrapassando seus limites geográficos e espectro de hospedeiros
naturais provocando o “escape”, podem ser pelas seguintes razoes:
 Introdução de novas espécies de hospedeiros no ecossistema natural pelas movimentações
de animais (importação, migração etc.);
 Introdução de fontes de infecção (portadores ou doentes ou reservatórios) em novos
ecossistemas;
 Alteração na dinâmica populacional da espécie suscetível natural;
 Aproximação de ecossistemas anteriormente afastados;
 Homem introduzindo ou alterando tecnologias;
 Mutação genética ou recombinação genética que podem ocorrer nos agentes de doenças;
 Comércio internacional de animais e de produtos de origem animal. Assim:
PSC descrita pela 1a vez em 1833, em suínos do Vale do Rio Ohio/EUA quando a suinocultura
estava iniciando o seu desenvolvimento, a forma de introdução ainda permanece não
esclarecida, embora muitas espécies de reservatórios tenham sido estudadas.
PSA estava confinada aos suídeos silvestres da África na ausência de sinais clínicos e manifestou-
se quando da introdução de suínos domésticos no Leste Africano, por volta de 1900. Na Europa,
continua devastando a suinocultura pela introdução de suídeos silvestres da África.
Língua Azul descrita pela 1a vez quando da introdução de carneiros da raça Merino na África do
Sul e os animais nativos desenvolveram uma “nova” doença e mais recentemente, o vírus foi
isolado de roedores africanos aparentemente normais.

62
A seguir são descritas, à guisa de exemplo, algumas doenças consideradas “recentes” e que
pode ser modelo de alerta para os países que necessitam aprimorar medidas de Vigilância
Epidemiológica no que respeita ao diagnóstico precoce e pronta atuação profilática:
1921 - 1985: Peste Suína Africana (PSA): descrita pela 1a vez no Quênia e depois em outros
países africanos (Angola, Zimbabwe, Sudão, África do Sul, Moçambique e São Tomé). Em
1967 é descrita fora do continente africano (Portugal, Espanha, França, Itália, Haiti, Cuba,
ilhas de Malta e Sardenha, Brasil/1978). No Brasil, em 1978, o vírus foi introduzido através
carne de origem suína (resíduos de alimento de aeronave) e erradicada às custas do sacrifício
de animais doentes e comunicantes e erradicada em 1984.
1921: Peste bovina: introduzida no Brasil pela importação de bovinos da Índia e
imediatamente debelada pelo sacrifício de todos os importados e comunicantes. Este
episódio foi um dos responsáveis pela criação do OIE.
1924: Peste (em humanos) nos USA: infecção de roedores do oeste americano e que
acomete várias espécies animais, descrita em 1924 em crianças da Reserva Navajo/Novo
México e responsável pela epidemia de 1965 no homem e cães do prado. Possível infecção
primária de roedores silvestres que teria infectado cães e estes, infectado humanos e
transmitida pela pulga do rato. Na Índia são descritos casos dessa doença em crianças que
adotaram cães do prado errantes.
1940’: Meningoencefalite eosinofílica (Angiostrongylus cantonensis): filaria (gênero Setaria),
comensal de cavidade serosa de bovinos, isolada no Japão durante a 2a grande guerra, em
amostras da medula espinal de equinos acometidos de encefalomielite, e desconhecem-se
as razoes da infecção interespécie. Em 1961, na Ilha de Society/Pacífico e no sudeste asiático
foram descritos casos humanos de meningoencefalite eosinofílica, parasito de ratos e
transmitido pela ingestão do hospedeiro intercalado (molusco gigante africano - Achatina
fulica) introduzido para fins culinária por ser apreciada e ingerida crua ou parcialmente
cozida pela população humana. Crustáceos podem albergar esse parasito que, de alguma
forma, escaparam de seu ecossistema natural.
1953: Mixomatose e febre botonosa: vírus do mixomatose foi introduzido
propositadamente para limitar a população de coelhos silvestres no sul da França.
Reservatório do vírus eram os ratos que transmitiam para coelhos e destes para o homem.
Com a redução da população de coelhos, houve redução da frequência de febre botonosa
em humanos.
1955: Doença da floresta de KYASANUR: doença foi descrita (1955) em humanos e macacos
da floresta de Mysore (Índia) que teriam adquirido de bovinos habitantes de áreas próximas
deste ecossistema da doença (vetor biológico). Recentemente esclarecida a etiologia viral
(grupo da encefalite russa).
1957: Piroplasmose/babaesiose: Babesia isolada de um fazendeiro iugoslavo (1957) e
posteriormente em outros 2 homens esplenectomizados. Entre 1969 e 1975 identificados 5
casos de babesiose humana em Massachusetts e as dúvidas que cercam a epidemiologia
permanecem. Este fato ocorreu em decorrência da aproximação da população humana ao
nicho da doença.

63
1957 e 1960: vírus da Peste Suína Africana/PSA (genótipo I) saiu do Oeste da África para
Portugal, provavelmente via resíduos de aeronave contendo carne contaminada com vírus
e que foram enviados para alimentação de suínos. A partir da Península Ibérica, o vírus
disseminou-se para outros países da Europa, América do Sul e Caribe e esses surtos foram
erradicados por volta de meados de 1990’, exceto da Sardenha onde permanece endêmica
até o presente momento.
1967: Doença de MARBURG: descrita pela 1a vez em 25 laboratoristas (7 óbitos) europeus
que manipularam órgãos de macacos importados da Uganda com quadro de febre
hemorrágica. Casos secundários no homem ocorreram por contacto venéreo. Em 1975 foi
descrito caso humano na África do Sul. É uma zoonose caracterizada por quadro de febre
hemorrágica, é causado por um vírus pertencente à família Filoviridae (ROUGERON et al,
2015). Vírus é transmitido ao homem pelos animais silvestres suspeitando-se mais
fortemente de morcegos pelo contato direto com fluidos corporais, como sangue, urina e
suor entre outros (MARTINA & OSTERHAUS, 2009).

2007: vírus da PSA (genótipo II) disseminou-se do leste da África para Geórgia na região do
Transcaucásio pela introdução de resíduos de alimento de navio com destino ao porto de
Poti no Mar Negro, contendo carne contaminada. Da Geórgia, o vírus se disseminou para
países circunvizinhos incluindo Federação Rússia, Leste Europeu e países da Comunidade
Europeia.
2015: é introduzido, no Brasil, o Sêneca vírus, cujos sinais clínicos são confundíveis com os da
febre aftosa, acompanhado de sinais de diarreia em leitões. Muito provavelmente
proveniente dos USA, pois até então estava confinado aos países da América do Norte.
2017: é reintroduzido, no Brasil, o Sêneca vírus de outro clade cujos sinais clínicos ocorrem
em adultos com manifestações vesiculares com mesmas localizações comuns na febre
aftosa.
2018: vírus da PSA (genótipo II) disseminou-se da Geórgia para Polônia, Bélgica, Rússia e
China.
2019: ocorreu 1o surto de PSA (genótipo II) na Mongólia e no Vietnam.
4. DEFINIÇÕES IMPORTANTES

a. Higiene: parte do conhecimento humano que tem por objetivo restaurar, proteger e promover
a saúde de populações (sensu latu) ou de indivíduos (sensu estrito) e representado por um
conjunto de medidas inespecíficas aplicadas nos seres vertebrados. Ex. Medidas visando garantir
uma alimentação sadia, introduzir hábitos salutares de vida (vestuário, higiene pessoal, asseio
corporal, exercício físico), hábitos de higiene de suínos (quando da colheita de sêmen, do parto),
de vacas leiteiras (higiene do úbere).
b. Saneamento: conjunto de medidas inespecíficas aplicadas aos diferentes componentes do meio
ambiente. Ex. disposição adequada de excretas para impedir a contaminação do solo; proteção
de mananciais de água ou de terrenos alagadiços para torná-los menos insalubre e eliminar
condições de proliferação de mosquitos que podem ser vetores de doenças.

64
c. Sanitização: conjunto de medidas inespecíficas aplicadas aos objetos inanimados. São medidas
representadas por limpeza, lavagem e desinfecção de objetos, f*omites, instalações,
equipamentos, veículos.
d. Medicina Veterinária Preventiva (MVP): conjunto de medidas de profilaxia aplicadas a um
indivíduo ou pequeno grupo de animais. Ex. aplicação de vacina antirrábica em um cão,
antitetânica em equinos, anti-IBR em vacas, tratamento anti-helmíntico, prevenção de mastite.
Somente os animais vacinados ou tratados são beneficiados.
e. Saúde Animal e Saúde Pública Veterinária (SA/SPV): ciência que visa restaurar, proteger e
promover a saúde de populações e é representada por um conjunto de medidas específicas e
inespecíficas. Distinto da MVP pelo fato de ser uma atuação governamental, exigir um esforço
organizado e sistemático (planejamento, articulação entre os diferentes setores, supervisão e
avaliação) e amparo legal.
f. Zoonoses: doenças naturalmente transmitidas entre o homem e os animais.
g. Controle: é a redução, à custa de um programa, de determinada infecção ou doença (morbidade
e mortalidade) a níveis compatíveis com a produtividade.
h. Erradicação: termo aplicado pela 1a vez (séc. XIX) e entendida como a eliminação de certa doença
de uma região. Ex. raiva na Europa. A definição evolui com o passar do tempo e atualmente
entendida como extinção do agente etiológico de certa doença na área geográfica considerada.
ex. Febre Aftosa nos USA; PSC nos estados do sul, centro-oeste e sudeste do Brasil. O custo das
medidas de erradicação é sempre mais elevado quando comparado cm controle (figura 6).

Figura 6. Ilustração do maior custo financeiro (em menor prazo de tempo) da Vigilância
Epidemiológica para erradicação comparativamente às medidas de controle

Rendimento
100%

80%

65
50% 100% Custo

O valor 80% exemplifica controle e 100% a erradicação.


i. Vigilância: atividade que objetiva detectar precocemente a ocorrência de doença exótica ou
erradicada. Em caso de detecção, que medidas emergenciais sejam adotadas.
j. Vigilância Epidemiológica (VE): conjunto de ações de profilaxia introduzido em substituição
àquelas medidas que levaram a atingir o objetivo proposto (controle ou erradicação) para
manter os resultados conquistados e impedir a reintrodução ou recrudescimento da doença e,
no caso venha a acontecer, realizar diagnóstico precoce para eliminar prontamente o episódio
no ponto de surgimento. Envolve também medidas contra introdução de doenças exóticas
(figura 7).

Figura 7. Ilustração do momento em que deve ser introduzida medida de Vigilância Epidemiológica
(transição entre 2 medidas como de erradicação e já erradicada)

Diferentemente das ações de controle ou de erradicação, a VE é uma ação contínua e


sistemática razão pela qual a decisão pela sua implantação implica em decisão político-sanitária
por ser muito mais dispendiosa que controle e exige um contingente maior de Veterinários
(com habilidades em Epidemiologia, Planejamento e Gerenciamento de Programas de Saúde
Animal, Bioestatística e Investigação Epidemiológica), ampla rede de apoio laboratorial,
intensificação da sistemática de vigilância dos rebanhos etc.
k. Vigilância sanitária: modalidade de quarentena quando não há segregação de animais
suspeitos em instalações especiais (quarentenário) em razão do conhecimento de particulares
da cadeia de transmissão. Por exemplo, na brucelose bovina, não se submete a quarentena
bezerras porque não eliminam a B. abortus de seu organismo porque ainda não produzem
eritritol.
l. Investigação: metodologia que objetiva identificar os fatores causais envolvidos durante a a
ocorrência de determinada doença. Trata-se de uma operação em “tempos de guerra” para
fins de atuação profilática para erradicar ou controlar a doença.
m. Investigação epidemiológica: metodologia que objetiva identificar os fatores causais
envolvidos na ocorrência de determinada doença. Trata-se de uma operação em “tempos de
paz” para fins de de aprimoramento das medidas de profilaxia.

66
7. FORMAS DE OCORRÊNCIA DE DOENÇAS EM POPULAÇÕES ANIMAIS

ENDEMIA: quando uma doença ocorre dentro dos limites usuais numa população de determinada
área geográfica. Para formar tal conceito, a doença precisa ser observada por vários anos
recorrendo-se à informação de ordem quantitativa como estatística demográfico-sanitária (figura
4)
Considerando-se o tamanho fixo da população para facilitar o raciocínio, trabalharemos com
valores absolutos de casos de doença e não proporção. Tem-se uma flutuação na ocorrência da
doença que se processa dentro de certos limites com oscilações dependendo de fatores casuais.
São os limites considerados usuais naquela área geográfica. Pode-se assim estabelecer os níveis de
ocorrência habitual através de tratamento estatístico pelo cálculo da média aritmética (x ) e desvio
padrão/dispersão (s). Estatisticamente, o conceito de nível endêmico depende do cálculo dos
limites de confiança da média aritmética e 2s (s = desvio padrão) considerado, obviamente, apenas
o limite superior que representa o limiar abaixo do qual a ocorrência da doença é usual. Quando a
ocorrência da doença estiver abaixo do nível endêmico, diz - se que a doença é de ocorrência
endêmica.
EPIDEMIA: Sempre que a doença ultrapassar os limites esperados de ocorrência usual (nível
endêmico), diz-se que se está diante de uma epidemia e este é um conceito puramente estatístico
e comparativo (acima do nível endêmico).
Existem certas doenças que apresentam ocorrência endêmica, outras epidêmica ou pandêmica. Por
ex. a Febre Aftosa no nosso meio era de ocorrência endêmica em bovinos e para tanto se contou
com uma história retrospectiva de vários anos.
Assim, considere-se na abscissa o tempo (meses do ano, por exemplo) e, na ordenada o número de
casos ou coeficiente de morbidade e têm-se assim os valores médios de ocorrência (figura 9).
Há uma representação poligonal reunindo a ocorrência média da doença nesta área. Baseado em
informações acerca de valores como a aritmética (x ) e da dispersão (s) pode-se estabelecer os
níveis de endemia ou de epidemia bem como o limite superior de confiança abaixo do qual a doença
é considerada endêmica. Se em determinado momento tivermos um valor abaixo do limite, então
a doença é endêmica neste mês e assim, para todos os meses do ano. Se em alguns meses
sucessivos, a magnitude de ocorrência estimada ultrapassa os limites usuais, a interpretação é uma
epidemia (Fig. 8).
Figura 8. Ilustração simplificada de epidemia, endemia e nível endêmico.

67
Figura 9. Ilustração detalhada de epidemia, endemia e nível endêmico.

PANDEMIA: quando a epidemia se estabelece numa extensa área geográfica. Ex.: Pandemia de
Peste Suína Africana, na Europa e Ásia, desde 2015; pandemia do Covid 19 desde início de 2020.

8. PROBLEMA EPIDEMIOLÓGICO

a. Conhecer as razões da ocorrência de uma doença numa população. No caso específico de uma
doença transmissível, tem-se:
 Um hospedeiro que, do seu organismo, elimina o agente da doença;
 Que, por alguma porta de entrada, alcança um novo hospedeiro (suscetível) e neste
 Determina infecção ou doença.
a. Conhecer os mecanismos de propagação de doenças em populações animais:

 A natureza do agente etiológico, i.é. se bactéria, vírus, protozoário, requesta, helminto etc.
e sua resistência às condições do meio ambiente;
 Condição do hospedeiro que alberga e elimina o parasito (fonte de infecção)
 Quais são os hospedeiros que o parasito pode infectar (suscetíveis);
 Os meios que utiliza para ser eliminado do hospedeiro infectado ou doente (vias de
eliminação);
 Os recursos ou meios de que se vale para alcançar um novo hospedeiro (vias de
transmissão),
 De que forma, ou por qual via penetra no novo organismo (porta de entrada);
 Os resultados possíveis de uma infecção ou doença considerando as armas agressivas do
parasita e a resistência ou imunidade do novo hospedeiro
b. Cálculo do nível endêmico: tendo-se informações acerca de determinada doença por um período
de 10 anos e mês a mês (se for o caso), pode-se calcular a probabilidade de uma certa ocorrência
se distanciar dos valores acumulados de uma certa população. Calcula-se o valor de X (média
aritmética) e 1,96s (s = desvio padrão) onde [x + 1,96s] é o limite abaixo do qual estão 95% do
valor médio calculado de indivíduos e acima do qual estão 5% do valor médio calculado. Se o valor

68
encontrado se situar dentro dos 5%, dizemos com 5% de probabilidade de erro (95% de confiança),
que se está diante de uma epidemia (figura 10).

Figura 10. Representação estatística do nível endêmico onde “x “é a média aritmética do nº de
casos e “s” é o valor do desvio padrão.

9. NÍVEIS DE PROFILAXIA

Segundo PERKINS (1939), a filosofia da prevenção consiste em "interceptar uma causa que faz
cessar o efeito". Portanto, percebe-se que as ações preventivas podem ser exercidas em qualquer
período da história natural da doença para evitar que se estabeleça o estímulo doença no
organismo do indivíduo antes que a causa se instale, i.é. durante o período pré-patógeno, ou para
interromper o curso dos eventos que caracterizam o período patógeno. Este campo abrange
também o tratamento para interromper o processo doença prevenindo o grau e duração da
incapacidade, impedir a instalação de defeitos ou prejuízos e, em última instância, a morte para
reduzir o período de transmissibilidade.
Diante da complexidade, as medidas preventivas são classificadas, de acordo com LEAVELL &
CLARK (1965) em 3 fases ou níveis:
1º nível de Profilaxia primária ou de atuação no período pré-patógeno (prevenção);
2º nível de Profilaxia secundária ou de atuação no período patógeno (controle);
3º nível de Profilaxia terciária ou de atuação no período patógeno, após a instalação dos defeitos
(restauração)
Profilaxia ao nível primário – prevenção: tem-se de um lado medidas que visam melhorar o nível
de saúde aproximando-o do ideal descrito pela OMS (para o homem) sem considerar a prevenção
de uma determinada doença ou de um grupo de doenças em particular. Visa, assim, apenas a
promoção da saúde através de medidas específicas (imunização passiva e ativa) e inespecíficas
aplicadas ao meio ambiente relativas a uma doença ou conjunto de doenças e corresponde ao
sentido estrito da prevenção. Sua importância vem crescendo pela identificação ou descoberta de
novos agentes de doença animado ou inanimado e dos meios de controle aplicáveis antes da
instalação de tais estímulos. Ex. prevenção de salmonelas na avicultura e suinocultura baseadas em
medidas como prevenir reposição do plantel com animais infectados, impedir a entrada de

69
roedores, minimizar presença de moscas, higiene de trabalhadores e visitantes, limpeza e
desinfecção de veículos, equipamentos, fômites e instalações principalmente.
Profilaxia ao nível secundário: aplicado quando o 1º não surtiu efeito por não ter sido suficiente
para proteger os indivíduos e depende de diagnóstico precoce e pronto atendimento (controle ou
erradicação). Nesta fase de patologia precoce, muitos indivíduos não manifestam sinais clínicos ou
estes são de tal natureza que não são considerados doentes (casos subclínicos). O diagnóstico já é
possível e em alguns casos pelo uso de recursos propedêuticos disponíveis. Em outros casos, o
diagnóstico só é possível quando a doença já se encontra em fase avançada.
Com o diagnóstico e tratamento precoces objetiva-se: recuperar a saúde e, se possível, a cura
completa; impedir a evolução da doença impedindo-se a instalação de complicações ou defeitos;
reduzir o grau e duração da incapacidade (animais de estimação e de lazer); e evitar a propagação
da doença a outros animais no caso de doença transmissível.
Profilaxia ao nível terciário: inclui medidas aplicáveis quando a doença já atingiu níveis mais
avançados, visando a limitação da disseminação (controle ou erradicação) ou incapacidade em
casos de animais de estimação e de lazer.
Os estágios mais avançados surgem, muitas vezes, por falta de conhecimento de epidemiologia ou
por não terem sido utilizadas medidas diagnósticas e profiláticas disponíveis e eficazes na fase
primária ou secundária.
LEAVELL & CLARK (1965), salientam que as perguntas que invariavelmente deveriam surgir na
mente de profissionais que tratam de tais casos avançados são:
a. Que circunstâncias levaram o animal a alcançar tal avançado estágio da doença?;
b. O que poderia ter sido feito para interromper o avanço da doença em um período mais
precoce?
As respostas poderem ser acusadoras, poderiam apontar faltas do profissional ou da comunidade
na aplicação dos conhecimentos existentes e disponíveis ou podem ser provocadoras, estimulando
o desejo de explorar alguns fatores desconhecidos da história natural das doenças de modo que
novas medidas preventivas possam ser adotadas para a interrupção mais precoce do processo
doença.
Em resumo:
Profilaxia ao nível primário:
a. Medidas gerais de promoção da saúde: Educação em Saúde; localização e proteção dos
limites da propriedade; características da construção das instalações; seleção genética;
seleção da origem dos animais para reposição do plantel; origem e controle de insumos;
alimentação; registro e controle de indicadores de saúde e de produtividade.
b. Medidas inespecíficas de proteção da saúde: medidas de biosseguridade.
c. Medidas específicas de proteção da saúde: Imunização passiva (anticorpos presentes no
colostro, ovo); imunização ativa (vacinação); premunição/babesiose e anaplasmose).

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Profilaxia ao nível secundário
a. Diagnóstico precoce: vigilância passiva (notificação de suspeita) e ativa (inclui inquérito soro-
epidemiológico), monitoramento pela análise de Indicadores de Saúde e de Produtividade
e/ou monitoramento laboratorial; Inspeção Sanitária de Produtos de Origem Animal (ISPOA);
b. Pronto atendimento profilático: notificação imediata; pronto atendimento à notificação,
isolamento, tratamento ou sacrifício na dependência da doença; plano de contingência;
vacinação dos remanescentes ou de doentes quando indicado; vazio sanitário; etc.
Profilaxia ao nível terciário
a. Medidas drásticas: notificação; isolamento, tratamento ou sacrifício/depopulação; vazio
sanitário; vacinação dos remanescentes; outras medidas.
Obs. A extensão do problema é maior comparado à fase anterior!!
b. Defeitos instalados (animais de estimação e lazer): instalações adaptadas; fisioterapia;
ortopedia; odontologia; nutrição; etc.
Quando da ocorrência de mais doença numa população, a prevalência pode aumentar
progressivamente ou não, mas sempre seguido de um ciclo vicioso. Em decorrência da doença há
uma queda no potencial energético da população que não produz à semelhança da população sadia
e há, portanto, uma baixa de produção de bens e serviços.
Por outro lado, em populações humanas de países subdesenvolvidos a saúde está canalizada para
o lado da Assistência Médica (curativa) porque pouco recursos são revertidos em prol da Medicina
Preventiva ou da Saúde Pública, redundando em mais doença, pois não há aplicação de recursos
em prevenção e daí a menor produção e produtividade. Isto faz com que diminua o poder aquisitivo
levando a uma situação de salário de fome e que conduz a uma série de consequências como: baixo
nível de alimentação, educação deficiente, problemas de habitação inadequada com inevitáveis
favelas que são condições que favorecem a instalação de doenças e, portanto, um ciclo vicioso com
doença gerando mais doença.
Reflexos recíprocos ocorrem em populações animais. Pode-se fazer um relacionamento colateral
como decorrência da sequência destes eventos como: pequena inversão para a produção animal e
as doenças levando a uma baixa de produção. Cabe ao MV aumentar a produtividade dos rebanhos
melhorando todos os outros eventos do ciclo da doença. Assim, pode-se propor um novo ciclo, o
CICLO ECONÔMICO DA SAÚDE.

71
CICLO ECONÔMICO DA DOENÇA CICLO ECONÔMICO DA SAÚDE

Baixa Produção de Alta Produção de


bens e serviços bens e serviços

MAIS DOENÇA MENOS DOENÇA

Pequena inversão Salários baixos Grande inversão Salários altos


em MP e SP em MP e SP

Alimentação deficiente
Energia humana Grandes Inversões Educação deficiente Alimentação suficiente
deficiente em Assist. Médica Habitação inadequada Energia humana pequenas Inversões Educação eficiente
deficiente em Assist. Médica Habitação adequada

Baixa Natalidade DOENÇA


Altas Morbidade Pequena inversão de Alta Natalidade SAÚDE
Mortalidade capital e de conhec. Baixas Morbidade de Grande inversão d
técnicos na pecuária Mortalidade capital e de conhec.
técnicos na pecuária

ZOONOSES

Doença Animal Saúde Animal

Quando se fala em produtividade de rebanhos, é um problema a ser considerado em longo prazo e


é resultante da aplicação de conhecimentos técnicos que pode ser ilustrado por uma assíntota
(figura 11) a seguir.

Figura 11 - Relação entre a produtividade e o tempo

É preciso cuidado na escolha das orientações para aumentar a produtividade que pressupõe uma
fase de progresso mais ou menos rápido e que continua num progresso de menor intensidade. A
orientação para melhorar um rebanho depende:
a. Seleção genética dos reprodutores;
b. Orientação quanto à construção de instalações;
c. Bem-estar animal;
d. Alimentação;
e. Biosseguridade;
f. Aumento da natalidade;
g. Diminuição da morbidade e mortalidade;
Estes aspectos acarretam um rápido aumento da produtividade. Isto explica porque certo aspecto
ligado à produção animal (zootecnia) tem uma hierarquia posterior às medidas de Saúde Animal.

72
Só se pode planejar aprimoramento de rebanhos após o controle de natalidade, morbidade e
mortalidade para, em seguida, se obter linhagens melhores que acaba se colocando na parte
superior da curva assintótica.
Saúde é um estado de equilíbrio entre hospedeiro e doença.
Saúde + Doença = 1
Doença = 1 - Saúde
Se Doença = 0  Saúde = 1
Este estado de equilíbrio é representado, de um lado, pelo hospedeiro e por outro pelo agente
etiológico animado ou inanimado e o fulcro deste sistema é representado pelos diferentes
elementos do meio ambiente, i.é. dos componentes físicos (temperatura, umidade, movimentação
do ar, natureza e composição do solo, água..), componentes biológicos (vegetação, artrópodes,
moluscos, roedores, reservatórios...), e componentes socioeconômicos (desenvolvimento social,
ciclo econômico, circuito comercial de animais, migração, natureza da exploração animal, etc.). O
fulcro se desloca favorecendo um dos pratos da balança. Quando o fulcro se desloca favorecendo
o agente etiológico, há a instalação de doenças. O inverso ocorre quando o fulcro se desloca
favorecendo o hospedeiro.
Ex. Tuberculose = T. X
T = M. tuberculosis
X = (a + b + c + d ..... + n)
i.é. é um conjunto de diferentes fatores que desencadeiam a doença tais como: grupo étnico
(negros e amarelos são mais suscetíveis), alimentação deficiente, fatores genéticos, condições de
quebra de resistência. Não existe Tuberculose sem o agente, mas o agente sozinho não conduz à
doença.

73
CAPÍTULO 4
MECANISMOS DE TRANSMISSÃO DE DOENÇAS EM POPULAÇÕES
- CADEIA DE TRANSMISSÃO –

1. CONSIDERAÇÕES GERAIS
2. ELOS DA CADEIA EPIDEMIOLÓGICA: a) fonte de infecção; b) vias de eliminação; c) vias de transmissão; d) porta
de entrada. Comunicante
3. MODALIDADES DE FONTES DE INFECÇÃO: a) doente (típico, atípico e em fase prodrômica); b) portador (são,
em incubação e convalescente); c) reservatório
4. MODALIDADES DE VIAS DE ELIMINAÇÃO: a) secreções oro-nasais; b) fezes; c) sangue; d) urna; e) leite; e)
descarga purulentas; f) descamações cutâneas.
5. MODALIDADES DE VIAS DE TRANSMISSÃO: a) contagio direto; b) contágio indireto (fômites, via aerógena e
poeiras); c) vetores (mecânicos e biológicos); d) hospedeiro intercalado; e) alimentos; f) água; g) solo; h)
produtos biológicos; i) produtos de reprodução; j) transplacentária; k) ovo.
6. MODALIDADES DE PORTAS DE ENTRADA: a) mucosa do aparelho respiratório; b) mucosa do aparelho
digestivo; c) mucosa do aparelho reprodutor; d) pele; e) cicatriz umbilical; f) canal do teto; g) ferimentos; h)
mucosa conjuntival.

i) CONSIDERAÇÕES GERAIS

A ocorrência de uma doença transmissível numa população consiste em uma sucessão de eventos
que é denominada cadeia Epidemiológica. Isto implica em um certo grau de convencionalismo. Esta
cadeia pode ser assim representada pelos seguintes elos (Figura 12):
Figura 12. Ilustração esquemática de uma cadeia de transmissão

Fonte de
Comunicante
Infecção
Via de
Eliminação

Vias de
Transmissã
o
Porta
de
Suscetível Entrada

Outra forma de ilustração á a abaixo apresentada para aves (figura 13), para suínos (figura 14) e para
bovinos (figura 15) onde a 1ª flecha indica a via de eliminação e a 2ª flecha indica a porta de entrada:

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Figura 13. Ilustração genérica de uma cadeia de transmissão de uma doença em população de aves.

Figura 14. Ilustração genérica de uma cadeia de transmissão de uma doença em população de suínos.

Figura 15. Ilustração genérica de uma cadeia de transmissão de uma doença em população de bovinos.

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ii) ELOS DA CADEIA EPIDEMIOLÓGICA

a. Fonte de infecção (FI): é um hospedeiro vertebrado que alberga determinado agente etiológico
e pode eliminar tal agente de seu organismo.
a. Via de eliminação (VE): é o meio ou veículo de que se vale o agente etiológico para ganhar o
meio exterior. É o acesso do parasito para o meio exterior.
b. Via de transmissão (VT): é o meio ou veículo que o agente utiliza para ganhar um novo
hospedeiro.
c. Porta de entrada (PE): é o acesso do parasito no organismo de um novo hospedeiro. É a via de
penetração para garantir a propagação do agente na população.
d. Suscetível (S): novo organismo vertebrado passível de ser infectado.

COMUNICANTE OU CONTATO: não está intimamente relacionado à cadeia. É um hospedeiro


suscetível que esteve exposto ao risco de infecção, mas que na realidade não se sabe, de antemão,
se foi ou não infectado. Ex. vaca recém adquirida de um rebanho no qual esteve exposta ao risco
de infecção à Brucella abortus, mas não se pode assegurar se foi ou não infectada, mesmo diante
de um exame negativo de soro aglutinação porque poderia estar na fase de incubação. Cão mordido
por outro reconhecidamente raivoso. A vaca e o cão foram expostos ao risco de infecção, mas não
é consequência inevitável que se infecte.

MODALIDADES DE FONTE DE INFECÇÃO: doente portador e reservatório

i) DOENTE: indivíduo que apresenta sinais da doença. Pode ser:


Doente típico: manifesta alteração da saúde com sintomas característicos da própria doença
causada pelo agente etiológico. ex. Cão com raiva, bovino com Febre Aftosa, ave com
Micoplasmose (M. gallisepticum), doença de Aujeszky em bovinos etc.
Doente atípico: Quando os sintomas não são característicos pela excessiva malignidade ou de
benignidade da doença. ex. Encefalomielite com discreta sintomatologia sem paralisia.
Carbúnculo sintomático fulminante. Febre Aftosa em área endêmica onde se pratica a vacinação
sistemática da população. Peste Suína Clássica causada pelo vírus de baixas ou moderadas
patogenicidade e virulência.
Doente em fase pró-drômica: A doença encontra-se na fase inicial, percebe-se que o animal está
doente, mas os sintomas não são claros. ex. Hepatite infecciosa no homem, que na fase inicial,
observa-se apenas desconforto. Cão na fase inicial da raiva manifesta apenas alteração de
comportamento. Aves na fase inicial de qualquer doença se apresenta com asas caídas,
diminuição de apetite, aglomeradas.
Qualquer que seja a modalidade de doente, sempre se está diante de um indivíduo com a saúde
alterada e o gráfico seguinte é útil para fins de ilustração.

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Figura 16. Ilustração para entendimento de doentes e portadores

DOENTES

Limiar de reconhecimento clínico

Portador em Portador
incubação convalescente

Potencial de infecção: é a somatória de todos os indivíduos FI. Na dependência da doença pode


ser representado apenas por casos clínicos de diferentes graus ou apenas por infecções
inaparentes (M. sinoviae).
Casos fatais e graves: manifesta menor mobilidade e, consequentemente, apresentam menores
oportunidades de transmitir a doença. São facilmente detectados.
Casos moderados: manifestam maior mobilidade e, portanto, oferecem maiores oportunidades
de o agente etiológico atingir um novo suscetível. São também detectados embora, com menor
facilidade, que os anteriores.
Casos leves e abortivos: Nem sempre são detectados em um rebanho e, portanto, são
importantes na transmissão por passarem desapercebidos na maioria das oportunidades.
ii) PORTADOR: animal sem manifestação clínica da doença, mas que eliminam o agente etiológico.
Pode ser são, portador em incubação e convalescente.

Portador são: é um indivíduo que não teve a doença, não tem e não terá em decorrência de
imunidade instalada às custas de sucessivas infecções inaparentes no passado ou em
decorrência de uma resistência natural ou inata. Ex: Difteria em que os indivíduos
aparentemente sadios albergam a bactéria na orofaringe e podem eliminar para o meio
exterior. Ex. Touro no caso de Campilobacteriose e Tricomonose porque há uma diferença de
suscetibilidade relacionada ao sexo, helmintoses, etc.
Portador em Incubação: é um indivíduo que se infectou, não manifesta a doença, mas, que
manifestará uma vez superado o período de incubação da doença (período compreendido
entre o momento da infecção e o momento da manifestação dos primeiros sintomas). Este
período varia de doença para doença, mas no caso, a eliminação do agente etiológico se dá
antes do aparecimento dos sintomas. Ex: Raiva canina, há eliminação do vírus 24-48 h antes do
aparecimento dos primeiros sintomas, Anemia Infecciosa Equina, mastite...

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Portador Convalescente: É um indivíduo que teve a doença, não tem mais, mas elimina o
agente da doença. O animal recuperado pode permanecer como portador por muito tempo e
em alguns casos por toda a vida. Ex: Anaplasmose, Babesiose, Toxoplasmose, Leptospirose
canina, AIE.
Iii) REERVATÓRIO:
Definições:
b. Estrito sensu: é um outro organismo vertebrado que não pertence à espécie (animal)
considerada como principal na qual o parasito se instala e é eliminado permitindo a
perpetuação do mesmo na natureza. Pode-se ter um certo parasito sendo eliminado por
uma determinada população de hospedeiros, mas que pode persistir na natureza
parasitando uma outra espécie de hospedeiro. Pode sobreviver na natureza parasitando
mais de uma espécie de hospedeiro. Este conceito de reservatório apresenta repercussão
nas medidas profiláticas.
Morcego e raiva: o vírus da raiva é capaz de parasitar todos os animais homeotérmicos. No
meio urbano o vírus persiste na natureza parasitando cães que por sua vez atuam como
reservatórios para o homem. O morcego, em determinadas áreas geográficas, oferece
condições de persistência do vírus, mesmo na ausência de outras espécies animais. É
impossível pretender a erradicação da raiva silvestre ou rural pela impossibilidade de
eliminação de morcegos. Neste caso, o reservatório é representado por morcegos. Em
determinadas regiões do hemisfério norte, tem-se raposas e cangambás atuando como
reservatórios.
Bovinos, suínos e caprinos: reservatórios, respectivamente, da B. abortus, B. suis e B.
melitensis para o homem.
Aves silvestres: reservatórios do vírus da Doença de Newcastle, de Micoplasmas, de
Salmonelas, da Influenza aviária para aves domésticas.
Homem e roedores: reservatórios, respectivamente, da S. enteritidis e S. typhimuriun para
animais domésticos com destaque para galinhas e suínos.
Javali: reservatórios do vírus da Peste Suína Clássica, Peste Suína Africana, salmonelas,
leptospiras, cisticercose, E. coli, Toxoplasma gondii para o suíno doméstico, PRRS, Trichinella
sp.
Suínos: reservatórios do vírus da FA para o bovino, do Cysticercus cellulosae para o homem.
Primata silvestres: reservatório do vírus da dengue, febre amarela para o homem.
Homem, suínos, cães: reservatórios do Trypanosoma cruzi (doença de Chagas).
Roedores: principais espécies sinantrópicas são o Rattus rattus (rato do telhado ou rato do
navio), Mus musculus (camundongo cinzento, ratinho caseiro ou catita) e Rattus norvegicus
(rato do esgoto, ratazana) são reservatório de leptospiras, salmonelas,
b) Latu sensu: O conceito de reservatório pode ser abordado de forma mais ampla no qual se
considera todo e qualquer hospedeiro vertebrado ou não e, até mesmo o meio ambiente,
desde que ofereçam condições de sobrevivência ao agente etiológico. Os vetores, aqui
entendidos como reservatório, que carreiam agentes de doença no interior dos quais ocorre
transmissão transovariana, são condições propícias para a sobrevivência do agente na
natureza. Definição pouco utilizada em epidemiologia.

78
MODALIDADES DE VIAS DE ELIMINAÇÃO

a. SECREÇÕES ORO-NASAIS: Por esta via são eliminados agentes como os vírus da cinomose; das
Influenzas equina, aviária e suína; da Rinotraqueite Infeciosa dos bovinos e dos equinos; da
Doença de Newcastle; mycobacterias; micoplasmas (micoplasmose aviária por ex.);
Esta via pode ou não guardar relação com a localização do agente no organismo do animal FI.
Ex: Raiva; o vírus da raiva apresenta localização predominantemente no SNC e ganha o meio
ambiente através da saliva.
b. FEZES: por esta via são eliminados agentes de enterites como vírus, bactérias, protozoários,
helmintos. Ex. Salmonelas, ovos de helmintos, oocistos de protozoários, E. coli, vírus da
rotavírose, coronavírose suína, parvovírose, doença da bolsa (gumboro), oocistos de eimerías,
etc.
c. SANGUE: esta via apresentaria pequena ou nenhuma importância epidemiológica se não
existisse a interferência de artrópodes hematófagos que retiram os agentes de doença do
organismo da FI. Ex: agentes das encefalomielites equina leste e oeste, febre amarela, doença
de Chagas, babesiose, anaplasmose, anemia infecciosa equina, doença de Lyme etc.
d. URINA: por esta via são eliminados os agentes que preferencialmente se localizam em órgãos ou
partes do aparelho urinários ou agentes que durante a fase de septicemia ultrapassam a barreira
renal. Ex. leptospirose, estefanurose, tuberculose.
e. LEITE: Por esta via são eliminados agentes de localização no aparelho mamário ou que durante
a septicemia ganham o leite. Ex. agentes da tuberculose, Febre Aftosa, Brucelose, Mastites,
f. DESCARGAS PURULENTAS: de abscessos cutâneos, berne, garrotilho, piometra.
g. DESCAMAÇÕES CUTÂNEAS: por esta via são eliminados agentes de processos cutâneos como
micoses, dermatites ou em casos de descamações contendo agentes como da bouba aviária,
varíola dos camelos etc.

MODALIDADES DE VIAS DE TRANSMISSÃO

Após a eliminação do agente do organismo da FI por uma das vias de eliminação já mencionadas, o
agente irá ganhar o organismo do novo suscetível graças às vias de transmissão. Existem diferentes
modalidades de vias de transmissão: contágio direto; contágio Indireto (fômites e ar /poeiras,
gotículas e núcleos); vetores (biológicos e mecânicos); hospedeiro Intercalado; alimentos; água;
solo; produtos biológicos; transplacentária; transovariana; ovo de galinha.
 CONTAGIO DIRETO: é um mecanismo favorável a agentes pouco ou nada resistentes às
condições do meio ambiente. Neste caso, a superfície infectante da fonte de infecção se
justapõe a uma superfície infectável do suscetível. A via de transmissão é virtual. Á o caso de
transmissão pela mordedura (raiva), pelo coito (Campilobacteriose e Tricomonose), doença da
arranhadura do gato, beijo (candidiase, herpes).

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 CONTAGIO INDIRETO: favorece agentes pouco resistentes ao meio ambiente, porém há a
interposição de um veículo inanimado mantendo uma estreita relação no tempo e espaço entre
fonte de infecção e suscetível. Este contágio ocorre através de:
 Fômites: objeto inanimado que carreia agentes de doenças tais como escova, raspadeira,
cânula, agulhas de injeção, material cirúrgico, baldes, correias, esporas, camas, bebedouros,
comedouros, bandejas de ovos, incubadoras e as mãos (independe da infecção do homem).
 Ar: segundo MIMS at al (2001), as doenças respiratórias são transmitidas por via aerógena e a
eliminação dos microrganismos é depende da produção de partículas infecciosas constituída
por matéria orgânica dessecada contendo o agente etiológico (aerossóis).
A transmissão de doenças respiratórias é favorecida por situações em que há produção de
grande quantidade de descarga nasal, favorecida pelas aglomerações de animais em
instalações fechadas e, no caso da espécie humana, número sem precedentes de pessoas
suscetíveis aglomeradas e em contato próximo agravado pela imunidade nasal temporária
(ROHDE & CHHATWAL, 2013) que favorece ao aparecimento de mutações.
Estas partículas são produzidas, na maioria das vezes no laringe, boca e garganta durante
crises de espirro ou tosse transmitindo microrganismos quando pessoas ou animais se
encontram aglomerados em veículos ou recintos fechados e quando são transportados em
caminhões com transmissão entre animais muito próximos e que carreiam agentes de
doenças para os estabelecimentos de destino. O bacilo da tuberculose é carreado dos
pulmões para a garganta, uma parte é deglutida e outra parte eliminada para o meio exterior
pela tosse que o protege enquanto estiver no ar.
Quando a secreção nasal é abundante como ocorre no espirro (NATARO, 2005) com
eliminação de mais de 200.000 partículas, muitas delas contêm o agente infeccioso,
geralmente vírus (NICOLL et al. 2012).
Partículas menores são eliminadas pelo espirro e cada episódio de tosse elimina
aproximadamente 20.000 partículas como ocorre na gripe/influenza. Estas partículas
menores são denominadas núcleos de Wells e medem, em média, até 2 mm de diâmetro e são
dessecadas imediatamente depois da eliminação pelo espirro e dependendo das condições
favoráveis de temperatura, umidade e velocidade de movimentação do ar são dessecadas
(evaporação da secreção). Sedimenta-se a uma velocidade de 0,3-1,0 m/hora (0,5 – 15
mm/min), mas, na realidade permanece em suspensão no ar indefinidamente e não
permanecem parados. Partículas desse tamanho passam facilmente pela concha (turbinado)
nasal e atinge o trato respiratório inferior. O raio de ação dos núcleos de Wells é
substancialmente maior que das gotículas de Flügge. Ex. Meningococcus e vírus do sarampo
e da influenza e SARS.
Tem sido observado que o homem pode eliminar pelo espirro 1.940.000 núcleos de Wells
sendo 75% de diâmetro menor que 2 mm. Em suínos, esses núcleos são de tamanho menor e
a ação da gravidade apresenta pouco efeito e sssim, esses núcleos permanecem flutuando
durante muitas horas.
Partículas maiores são eliminadas pela tosse e expectoração que são lentamente dessecadas
pela ação da temperatura e umidade do ar formando gotículas de Wells cujo diâmetro > 2 mm.

80
Pela tosse são eliminados agentes que apresentam alta resistência como caso de bactérias
responsáveis por doenças respiratórias como Mycoplasma sp.
Muitos microrganismos, mesmo protegido por matéria orgânica dessecada podem ser
inativados pela ação da luz solar (fora das instalações).
Abaixo estão ilustrados Núcleos de Wells (Figura 17) e Gotículas de Flügge (figura 18)

Fig. 17. Núcleos de Wells Fig. 18. Gotículas de Flügge

 Poeiras: são as gotículas de Wells, microrganismos eliminados pelas fezes e urina que também
podem ser lentamente dessecadas podem ser colocados em ressuspensão no ar atmosférico
juntamente com as poeiras do meio ambiente. Ex. Bacilo da tuberculose, agente da Febre Q
(Coxiella burnetti), da psitacose, do garrotilho (Streptococcus equi) e das micoplasmoses
aviárias que resistem bem à dessecação persistindo por muito tempo nas instalações (piso,
estábulos, cocho, box, etc) e são colocadas em ressuspensão no ar pela varredura à seco,
ventos, movimentação dos animais.

Figura 19. Ilustração de núcleos de Wells e gotículas Flügge antes e depois da dessecação

81
Figura 20. Ilustração dos núcleos de Wells e gotículas Flügge sobre permanência no ar
Depois da dessecação.

De modo geral, o número de agentes etiológicos contidos em partículas respiratórias reduz para a
metade, por exemplo, a cada 10 minutos, ou seja, uma partícula contendo 100 patógenos, após 10
minutos a carga patógenos viáveis será igual a 50 depois de 10 minutos.
Fatores meteorológicos como umidade relativa, temperatura, radiação UV e o denominado “fator
do ar em ambiente aberto” afetam a sobrevivência de patógenos de transmissão aerógena. Por
exemplo, em suínos, a vida média desses sentes pode ser reduzida em 5 minutos e cerca de 25
partículas sobrevivem por mais 10 minutos (BILLIC et al, 2000).
Segundo THRUSFIELD & CRISTLEY (2021), transmissão aerógena é o mecanismo mais frequente de
disseminação de agentes de doenças respiratórias e menos frequente em casos de doenças não
respiratória como caso da raiva de morcegos e Salmonella typhymuriun. No caso da salmonela em
bezerros, pode ocorrer transmissão aerógena por poeira contendo a bactéria eliminada pelas fezes
e dessecada em condições de clima seco com umidade relativa baixa que são colocadas em
ressuspensão no ar por movimentos bruscos de ar ou varredura a seco das instalações (WATHES et
al., 1988).
Disseminação aerógena ocorre em circunstâncias em que a densidade populacional é elevada
(aglomeração) como por exemplo, na pneumonia enzoótica em suinocultura em confinamento.
Aglomeração favorece também transmissão de doenças por via aerógena não usual como, por
exemplo, transmissão do vírus da raiva por morcegos insetívoros em cavernas
A peste bubônica causada pela Yersinia pestis é uma zoonose que tem no roedor seu reservatório é
transmitida ao homem pela pulga do rato. Em situações de aglomeração de pessoas doentes e
suscetíveis, a bactéria pode ser transmitida por via aerógena e causar a peste pneumônica com
acentuado comprometimento pulmonar, porem doença mais suave que a peste bubônica
(THRUSFIELD et al, 2021).
 VETORES: São definidos como organismos invertebrados no interior do qual o parasito é
protegido, multiplicando-se ou se replicando ou realizando fase do seu ciclo de vida. São
usualmente representados por artrópodes. Podem ser vetor mecânico e vetor biológico.

82
Vetor Mecânico: O papel epidemiológico destes vetores é de simples carreador do parasito
não oferecendo nenhum microclima para o agente etiológico com o intuito de
protege-lo das condições do meio ambiente. Exemplos de vetor mecânico:
Musca domestica é o vetor mais difundido é a que tem uma relação meramente
acidental com agentes de doença. Participa na transmissão de agentes de doenças
entéricas principalmente salmonelas, E. coli, Campilobacter etc.
Stomoxys calcitrans (mosca do estábulo), díptero de baixa especificidade quanto a
hospedeiros para se alimentar sugando sangue de diversas espécies animais (equinos,
bovinos, caprinos, ovinos, suínos, cães, gatos e frangos), contamina a probócida e leva o
parasito a outro hospedeiro nos sucessivos repastos sanguíneo. Participam na
transmissão da Habronemose cutânea e o Mal de Cadeiras (Trypanosoma evansi), também
conhecido como Surra
Tabanídeos são vetores mecânicos do vírus da Anemia Infecciosa Equina.
Vetor Biológico: apresenta diferença quanto sua importância, pois, apresenta o mecanismo
de transmissão mais importante para ganhar um novo hospedeiro. São organismos
invertebrados capazes de, ativamente, retirar o agente etiológico do organismo da FI
e ativamente levar ao novo suscetível ao se alimentar ou quando da deposição de fezes
próximo ao local da lesão da pele determinada pelo próprio vetor durante o seu
repasto sanguíneo (doença de Chagas).
É uma situação favorável a agentes frágeis às condições do meio ambiente e além de
propiciar proteção, no interior do mesmo, o agente pode realizar fase de seu ciclo
biológico ou apenas ampliar a dose infectante pela multiplicação ou replicação.
Portanto, ativamente o vetor retira o agente do organismo da FI e ativamente leva-o
até um novo hospedeiro.
É quase sempre a principal via de transmissão, senão a única. Desde o momento da
infecção do vetor até o momento de se tornar infectante, decorre um certo período
de tempo, durante o qual ocorre um aumento de densidade do parasito suficiente para
infectar um novo hospedeiro. Este período de tempo é denominado PERÍODO
EXTRÍNSECO DE INCUBAÇÃO. Ex. Na Febre Amarela, este período é de 14-15 dias.
Estes aspectos são importantes quando se considera a possibilidade de transmissão
porque um vetor sugando uma certa quantidade de sangue que contém uma pequena
quantidade do parasito não é suficiente para produzir a infecção. Com a
multiplicação/replicação do parasito no organismo do vetor, ocorre um aumento na
sua concentração que será carreado para um novo hospedeiro. No caso em que o
parasito sofre transformação ou multiplicação no vetor, o período extrínseco de
incubação é influenciado pela temperatura e umidade e dentro de uma série de
combinações destes fatores, processa-se com uma certa velocidade. Quando há
redução da umidade ou da temperatura, pode haver interferência no período
extrínseco de incubação e o vetor pode ou não se transformar em infectante. O
período favorável é sempre um determinado período do ano.

83
Vetores biológicos e mecânicos apresentam, portanto, diferenças fundamentais no
mecanismo de transmissão, pois a eliminação ou controle de ambos não repercute
igualmente reduzindo a ocorrência da doença.
Doenças que dependem de vetores biológicos. Encefalomielites equinas, babesiose,
anaplasmose, nutaliose, febre Q, doença de Lyme, malária, febre amarela, dengue,
filariose canina. A destruição do vetor reduz consideravelmente a ocorrência da
doença.
FEBRE AMARELA: Considere este exemplo para enfatizar o entendimento do conceito
de reservatório e de vetor biológico. Existem as modalidades urbana e silvestre da
doença. Era uma doença rural (mantido infectando macacos e transmitido pelo
mosquito Haemagogus) e o homem penetrando nas matas, nicho ecológico primordial
da doença, retornou ao seu meio infectado de tal forma que o Aedes aegypty (vetor
urbano) encontrou condições favoráveis de propagação do vírus de homem para
homem.
 HOSPEDEIRO INTERCALADO: organismo invertebrado intercalado entre a fonte de infecção
e o suscetível que não procura ativamente o parasito (participação passiva) e também não o
leva ativamente a um novo suscetível. Por outro lado, este hospedeiro intercalado permite a
realização de uma fase do ciclo biológico do parasito no interior de seu organismo. Exemplos:

Esquistossomose (Schistosoma mansoni). Na sua transmissão há a participação de um


hospedeiro intercalado da seguinte forma: a fonte de infecção elimina ovos do parasito pelas
fezes e, no ambiente aquático (lagos, lagoas), encontrando condições favoráveis de umidade
e temperatura, os ovos eclodem liberando miracídeos que apresentam curto período de vida
e, ao encontrarem o hospedeiro intercalado, molusco de vida livre (PLANORBIDEO),
penetram ativamente em seu organismo, evoluindo até a fase de cercárias que deixam
ativamente o corpo do invertebrado. O molusco é, portanto, um elo necessário para que o
parasito realize fase de seu ciclo no meio exterior e o período de tempo que o parasito
permanece no organismo do hospedeiro intercalado é denominado período extrínseco de
incubação. Identicamente ao vetor biológico, o hospedeiro intercalado permite a
multiplicação ou realização de fase do ciclo biológico do agente etiológico no seu interior
oferecendo condições para a transmissão de um elevado nº de parasitas, mas difere do vetor
biológico por não procurar ativamente o agente etiológico e nem participar ativamente na
transmissão do mesmo.
Histomonas meleagridis; protozoário pouco resistente às condições do meio ambiente, vale-
se do ovo do helminto (Heterakis gallinae) que permitirá a sobrevivência do protozoário às
condições adversas do meio ambiente.
Influenza suína: o ovo de um helminto (Metastrongylus sp) irá localizar-se no interior de uma
minhoca. O helminto e a minhoca são hospedeiros intercalados.
 ALIMENTOS: Nesta modalidade de transmissão, é longa a trajetória do parasito desde a fonte
de infecção até atingir o suscetível. São muitos os mecanismos de contaminação dos
alimentos:

84
O alimento pode estar contaminado na sua origem: ocorre quando o alimento procede de
animais infectados. É o caso da cisticercose, salmonelose, tuberculose, peste suína clássica
que têm no alimento o mecanismo mais importante de transmissão. Há que se lembrar do
caso da febre aftosa, o vírus permanece viável no interior de ossos longos. Existe menção de
epidemia de febre aftosa na Grã-Bretanha às custas de carne de bovino contaminada
procedente da Argentina.
Proximidade entre animais pode propiciar, excepcionalmente, transmissão de doenças por
vias não usuais. Por exemplo, na peste suína africana, na qual a transmissão ocorre pela
participação de vetor biológico – carrapato (Ornithodoros spp) – pode ser disseminado entre
criatórios de suínos via alimento contaminado com o vírus (THRUSFIELD et al, 2018).
O alimento pode ser contaminar durante os processos de manipulação: ocorre
principalmente pelas mãos contaminadas dos manipuladores, instalações, fômites, água ou
pela presença de vetores mecânicos. Nestas condições, é preciso que o agente seja resistente
às condições do meio ambiente. Ex. S. enteritidis , Staphilococcus aureus, E. coli, Listeria
monocitogenes, etc. O alimento pode estar com pequena carga contaminante que pode se
amplificar durante a armazenagem ou durante a exposição do alimento. Ex. S. enteritidis.
 ÁGUA: Dentre os alimentos a água é que está mais sujeita à contaminação. As águas
encontradas na natureza provem das chuvas que ao cair formam as águas superficiais (rio,
lagos e reservatórios) e profundas (lençóis freático e cativo). Raramente é encontrada sob
forma pura (líquido incolor, inodoro, insípido e transparente) na natureza, pois sendo o
solvente universal, pode conter impurezas que varia de alguns mg/l (água de chuva) ou mais
do que 30 mil mg/l (água do mar) e dentre os 103 elementos químicos conhecidos, a maioria
é encontrada na água sob diferentes formas. A capacidade de dissolver substâncias aumenta
com o aumento da concentração de gás carbônico dissolvido (oriundo da atmosfera e de
matéria orgânica em decomposição). Assim, a água dissolve e incorpora substâncias que
dissolve durante a percolação do solo. As impurezas mais comuns podem ser aquelas
encontradas em:
Suspensão como algas e protozoários (conferem sabor, odor, cor e turbidez), areia,
sílica e argila (conferem turbidez) e resíduos industriais;
Em estado coloidal como bactérias e vírus (patogênicos ou não), substâncias de
origem vegetal (conferem odor, acidez e sabor);
Dissolvidas como os minerais (cálcio e magnésio), compostos orgânicos e gases.
Características físicas: são aquelas conferidas pela cor (verdadeira ou aparente), turbidez, pH,
sabor, odor, temperatura e condutividade elétrica. Pouca ou nenhuma importamcia
do ponto de vista sanitário.
Características químicas: apresentam maior importância sanitária e são as relacionadas com
alcalinidade (carbonatos e bicarbonatos de Na+ ou de K+), acidez (CO2 livre e ácidos
minerais fortes dissolvidos), dureza (carbonatos e bicarbonatos de Ca ++ e de Mg++),
sólidos totais (Ferro, Manganês, cloretos, sulfatos, nitratos), Oxigênio total e
demanda de O2 (matéria orgânica dissolvida), fenóis e detergentes, e substâncias
tóxicas (arsênio, cromo, cobre, chumbo selênio etc).

85
Características biológicas: são de natureza
Hidro biológica (algas, bactérias, protozoários e helmintos), e
Microbiológica (total de bactérias e NMP de coliformes fecais). Ao percolar o
solo dissolve tudo quanto encontra pelo caminho e as águas de lençol freático
são mais contaminadas que as de lençol cativo.
 SOLO: É particularmente importante nos casos em que o parasito cumpre, obrigatoriamente,
fase de seu ciclo biológico no meio exterior ou então, nos casos em que o agente apresenta
elevada resistência às condições do meio ambiente ou apresenta formas de resistência. Neste
caso, a penetração do agente no organismo do suscetível pode ser ativa ou passiva

PASSIVA: Quando o animal ingere alimentos contaminados ou os agentes etiológicos que


apresentam formas de resistência e são ingeridos com os alimentos ou pastagens
contaminadas. Ex: B. anthracis, C. tetani, Trichostrongylus sp., Ascaris lumbricoides,
Ascaridia galli, oocistos de Eimerias de galinhas, etc
ATIVA: O agente etiológico é capaz de, ativamente, penetrar no organismo do hospedeiro
principalmente pela pele íntegra. Ex: Ancilostomose. Leptospirose, gastroenterites
parasitárias. Taquizoitos de Toxoplasma gondii (particularmente importante em
magarefes).
 PRODUTOS BIOLÓGICOS: podem carrear agentes de doenças principalmente se forem
produzidos em animais acidentalmente infectados ou cultivos celulares acidentalmente
contaminados com agentes patogênicos. Ex. Vacinas contra determinada doença contaminada
com agentes de outra doença. Soros hiperimunes também podem estar contaminados com
agentes patogênicos presentes em animais utilizados com esta finalidade. Esta é a razão da
realização de testes em diferentes níveis para a liberação da vacina e soro.
 PRODUTOS DE REPRODUÇÃO: sêmen e embriões. O sêmen pode transmitir agentes da PSC,
IBR pela inseminação artificial. Embriões são importantes no caso de doenças de transmissão
vertical.
 TRANSMISSÃO TRANSPLACENTÁRIA OU INTRAUTERINA: vírus da peste suína clássica baixas
patogenicidade e virulência, toxoplasmose, ancilostomose, etc. O feto é capaz de proteger-se
contra infecções, mas é menos capaz que o adulto, porque embora não seja totalmente
indefeso, seu sistema imune não está com sua total capacidade de funcionamento e
consequentemente vários processos que são inaparentes ou brandos para a mãe podem ser
severos ou letais no feto. Exemplos:
Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR causada pelo Herpesvírus-1 bovino) e Diarreia Viral Bovina
(BVD) caracterizada por malformação fetal do sistema nervoso e ocular e geralmente associada
a defeitos do maxilar, atrofia e retardamento crescentes; rubéola dos humanos.
Toxoplasmose (infecção causada pelo protozoário Toxoplasma gondii). Como a 1a manifestação
no feto é uma hiperplasia linfóide com produção de altos níveis de imunoglobulinas, a sua
presença, em animais que não receberam ainda colostro, é indicativo de estimulação
imunogênica intrauterina.

86
Doença de Border de fetos de ovinos (causada por um pestivírus relacionado com vírus da BVD)
desenvolvem um velo peludo e comprometimento nervoso com redução da mielinizaçao,
sobrevivem à virose, não produzem Ac e tornam-se portadores sãos.
Diarreia viral bovina (BVD) causada pela estirpe/biótipo não citopático antes dos 100-120 dias
de gestação, ocorre uma infecção persistente, os bezerros serão imunotolerantes e portadores
do vírus eliminando por todas as secreções e excreções.
 TRANSMISSÃO PELO OVO: Leucose aviária, Micoplasmoses aviárias, Salmonelose (S. Pullorum
e S. Gallinarum)

MODALIDADES DE PORTAS DE ENTRADA

Por um dos meios de vias de transmissão já citados, o agente etiológico ganha um novo hospedeiro
através da porta de entrada. A via de eliminação é epidemiologicamente importante quando o
parasito encontra um veículo de transmissão adequado. Ex. O vírus da raiva que é eliminado pela
saliva, tem como porta de entrada a pele, mas se encontrar um fômite, não será capaz de ser
transmitido, portanto não apresenta importância epidemiológica.
Ovos de helmintos eliminados pelas fezes, encontram no solo a via de transmissão mais importante
e penetra no organismo do suscetível pela pele ou pela boca.
Agentes eliminados pelas secreções oro-nasais, são transmitidos pelo ar e a penetração ocorre pela
mucosa respiratória.
Há, portanto, uma estreita relação entre a via de transmissão e a porta de entrada. Assim, seguem
- se algumas das mais importantes portas de entrada:
 Mucosa do aparelho respiratório (nasal): para agentes de transmissão aerógena via n]ucleos
de Well (espirro) ou gotículas de Flügge (tosse).
 Mucosa do aparelho digestivo (oral): quando a via de transmissão é representada
principalmente por fômites, alimentos, e contágio direto (beijo ou lambedura como ocorre com
animais recém-nascidos).
 Mucosa do aparelho reprodutor: agentes de doenças venéreas
 Pele: quando a principal via de transmissão é representada por vetores biológicos ou agulhas
de injeção ou quando o agente é capaz de ultrapassar a barreira da pele por possuir enzimas
(taquizoitos de T. gondii).
 Cicatriz umbilical: ocorre a entrada de agentes durante fase inicial da vida do suscetível.
 Canal do teto: penetração por via ascendente de agentes de mastites como E. coli, S. aureus.
 Ferimentos: quando do contato com fômites, fezes ou solo.
 Mucosa conjuntival: acesso de agentes de conjuntivites

87
Quadro 2. Cadeia epidemiológica de algumas doenças de aves
ELOS DA CADEIA EPIDEMIOLÓGICA OU DE TRANSMISSÃO
Doença ou
agente Fonte de Via de Porta de
Via de transmissão Suscetíveis Suscetibilidade
etiológico infecção eliminação entrada
Transovariana e horizontal
Portador e (roedores, moscas, cascudinho,
S. Pullorum Ovo e fezes Mucosa oral Galináceos Jovens
doentes. fômites, veículos, homem, animais
mortos)
Transovariana e horizontal 9
Portador e Roedores, moscas, cascudinho,
S. Gallinarum Ovo e fezes Mucosa oral Galináceos Adultos
doentes. fômites, veículos, homem, animais
mortos)
Roedores, moscas, cascudinho,
Salmonelas Todos animais Todas as espécies de aves
Reservatórios Fezes fômites, veículos, homem, animais Mucosa oral
paratíficas terrestres e idades
mortos.
Doente, Galinhas, perus,
Secreção oro-
M. synoviae portador e Aerógena Mucosa nasal galinhas d’angola, Qualquer idade
nasal
reservatório patos, gansos, pombos,
Doente, Galinhas, perus,
Secreção oro-
M. gallisepticum portador e Aerógena e oro-fecal Mucosa nasal galinhas d’angola, Qualquer idade
nasal
reservatório patos, gansos, pombos,
Portador, Galinhas, perus, patos,
Secreção oro- Mucosas nasal e
D. Newcastle doente e Aerógena e oro-fecal gansos, faisão, Qualquer idade
nasal e fezes oral
reservatórios psitacídeos
Galinhas, perus, patos,
Reservatório Secreção oro- Mucosas nasal e
Influenza aviária Aerógena e oro-fecal aves silvestres, Qualquer idade
e doente nasal e fezes oral
aquáticas e migratórias
Laringotraqueite Portador e Secreção oro- Contato próximo, aerógena, água, Mucosa nasal e
Galináceos Qualquer idade
(LTI) doente nasal fômites e equipamentos ocular
Portador e Contagio indireto, moscas,
Doença da Bursa Fezes Mucosa oral Galináceos Qualquer idade
doente cascudinho e roedores
Fezes,
Anemia Doente e epitélio
Vertical e oro-fecal Mucosa oral Galináceos Qualquer idade
infecciosa portador folículo da
pena
Doente e Folículo da Percutânea e
Varíola/pox Vertical e aerógena Galináceos Qualquer idade
portador pena respiratória

88
Quadro 3. Cadeia epidemiológica de algumas doenças de suínos.

ELOS DA CADEIA EPIDEMIOLÓGICA OU DE TRANSMISSÃO


Doença ou
agente Via de Porta de
Fonte de infecção Via de transmissão Suscetíveis Suscetibilidade
etiológico eliminação entrada
Água, ração, roedores,
Suínos domésticos e
S. chollera suis Portador e doentes. Fezes moscas, fômites, Mucosa oral Todas as idades e raças
silvestres
veículos, equipamentos.
Portador (são,
incubação e Água, ração, roedores, Suínos domésticos e
E. coli (α e 
convalescentes), Fezes moscas, fômites, Mucosa oral silvestres, outras espécies Todas as idades e raças
hemolíticos)
doentes e veículos, equipamentos. animais e homem
reservatório
Doente, portador Água, ração, roedores,
Lawsonia
(são, incubação e Fezes moscas, fômites, Mucosa oral Suínos Todas as idades e raças
intracellularis
convalescentes). veículos, equipamentos.
Doentes, portadores
Micoplamsa Secreção oro- Suínos domésticos e
(são, incubação e Aerógena Mucosa nasal Todas as idades e raças
hyopneumoniae nasal silvestres
convalescentes).
Portador, doente e Secreção oro- Suínos domésticos e
APP Aerógena Mucosa nasal Todas as idades e raças
reservatórios nasal e fezes silvestres
Portador (são,
Haemophilus incubação e Secreção oro-
Aerógena Mucosa nasal Suínos Todas as idades e raças
parasuis convalescentes) e nasal
doente
Todas as idades e raças
Secreção oro- Suínos domésticos e
Aujeszky Doente e portador Aerógena Mucosa nasal incluindo os em idade
nasal silvestres
de procriar
Reservatório Alimentos e roedores Todas as espécies animais e
Toxoplasmose Fezes de gatos Mucosa oral Todas as idades e raças
(roedores e gatos) mortos (necrofagia) homem
Secreção oral e Contato próximo, agua,
Depende do genótipo:
Seneca vírus Doente linfa das alimentos, calcados, Mucosa oral Suinos domésticos
jovens ou adultos
vesículas roupas
Suínos domésticos e
Cisticercose Doente (homem) Fezes Solo Mucosa oral Todas as idades e raças
silvestres
Contagio direto (coito ou Mucosa Suínos domésticos e Animais de todas as
Brucella suis Doente Sêmen
IA) uterina silvestres idades

89
Quadro 4. Cadeia epidemiológica de algumas doenças de bovinos.

ELOS DA CADEIA EPIDEMIOLÓGICA OU DE TRANSMISSÃO


Doença ou
agente
Fonte de infecção Via de eliminação Via de transmissão Porta de entrada Suscetíveis Suscetibilidade
etiológico
Doente e Saliva, leite e linfa Água, alimentos e Mucosa oral e Bovinos, bubalinos, suínos Animais de todas as
Febre Aftosa reservatórios das vesículas leite nasal e pequenos ruminantes idades
Portador, doente e
Colibacilose Fezes Água e alimentos Mucosa oral Todas as espécies animais Animais jovens
reservatório
Portador, doente e
Salmonelose Fezes Água e alimentos Mucosa oral Todas as espécies animais Animais jovens
reservatório
Bovinos, bubalinos, suínos,
Secreção oro-nasal caprinos, ovinos, cães,
Doente e Aerógena, leite, Mucosa nasal e Animais de todas as
Tuberculose (tosse), fezes, leite e
reservatórios alimentos, água. oral gatos, animais silvestres e idades
urina
homem.

Restos placentário, Vacas em idade


Brucelose Doente Alimentos e água Mucosa oral Bovinos
leite e urina reprodutiva
Portador são
Campilbacterios Sêmen e secreções
(touro) e doente Coito, IA e cama Mucosa genital Bovinos Fêmeas
e vaginais
(fêmea)
Portador são
Sêmen e secreções
Tricomonose (touro) e doente Coito, IA e cama Mucosa genital Bovinos Fêmeas
vaginais
(fêmea)

Babesiose Portador e doente Sangue Vetor biológico Pele Bovinos e bubalinos Todas as idades

Anaplasmose Portador e doente Sangue Vetor biológico Pele Bovinos e bubalinos Todas as idades
Mão ordenhador,
Mastite Portador e doente Leite objetos de ordenha Canal do teto Bovinos Fêmeas
manual ou mecânica.

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Quadro 5. Cadeia epidemiológica de algumas doenças de equinos.

ELOS DA CADEIA EPIDEMIOLÓGICA OU DE TRANSMISSÃO


Doença ou
agente
Fonte de infecção Via de eliminação Via de transmissão Porta de entrada Suscetíveis Suscetibilidade
etiológico
Reservatórios (cão Animais de todas as
Raiva Saliva Contagio direto Pele Equídeos
ou morcego idades
Animais de todas as
Influenza Doente Secreção oro-nasal Núcleo de Wells Mucosa nasal Equídeos
idades
Vetor biológico Animais de todas as
Encefalomielite Portador e doente Sangue Pele Equídeos
viral Culex sp idades

Portadores em
Animais de todas as
Mormo incubação e Secreção nasal Alimentos e água Boca Equídeos
idades
doentes
Vetor biológico
Animais de todas as
AIE Portador e doente Sangue (Tabanídeos), agulhas, Pele Equídeos
idades
escovas
Vetor biológico, Animais de todas as
Nutaliose Portador e doente Sangue Pele Equídeos
agulhas idades
Reservatórios Animais de todas as
Salmonelose Fezes Ração Boca Equídeos
(roedores e aves) idades
Contagio direto
Durina Portador e doente Sêmen Mucosa genital Equídeos Adultos
(coito)

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ILUSTRAÇÃO DE CONTÁGIO INDIRETO

Figura 21. Relação entre a resistência de um agente etiológico e sua transmissão em suínos

Figura 22. Relação entre a resistência de um agente etiológico e sua transmissão em aves

92
CAPÍTULO 4
RELAÇÃO HOSPEDEIRO–PARASITA
1. INFECÇÃO E INFECÇÃO LATENTE (LATÊNCIA).
2. MODALIDADES DE RELAÇÃO HOSPEDEIRO-PARASITA: relação harmônica e desarmônica.
3. CARACTERÍSTICAS DO PARASITO DE IMPORTÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA: a) infectividade; b) patogenicidade;
c) virulência; d) resistência; e) imunogenicidade; f) persistência.
4. CARACTERÍSTIC VARIÁVEL DE NATUREZA AS DO HOSPEDEIRO DE IMPORTÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA: a)
resistência; b) imunogenicidade.
5. CONSIDERAÇÕES GERIAS SOBRE IMUNIDADE POPULACIONAL; entendendo como ocorre uma epidemia em
função da imunidade populacional.
6. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE PERSISTÊNCIA DE UM PARASITO NA NATUREZA.
7. RECURSOS QUE O PARASITO UTILIZA PARA GARANTIR SUA SOBREVIVÊNCIA COMO ESPÉCIE: a) polivalência
de hospedeiros; b) diminuição da imunogenicidade; c) mutação genética.
8. CARACTERÍSTICAS DO HOSPEDEIRO PARA GARANTIR A SOBREVIVÊNCIA DO PARASITO EM UMA
POPULAÇÃO: a) espécie animal; b) sexo; c) idade; d) condições socioeconômicas; e) hábitos sociais.
9. FATORES ECOLÓGICOS QUE MODIFICAM A OCORRÊNCIA DE DOENÇAS EM POPULAÇÕES: a) fatores
biológicos; b) fatores físico-químicos (clima, natureza do solo, componentes biológicos, fatores
socioeconômicos.
10. VARIAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE DOENÇAS EM POPULAÇÕES: a) definições (população e população exposta
ao risco; b) modalidades de variação (secular, cíclica e estacional/sazonal)

1. INFECÇÃO E INFECÇÃO LATENTE

INFECÇÃO: é um estado de simbiose ou prodrômico significando que o organismo de um


hospedeiro foi invadido por um micro-organismo, mas não desenvolveu doença. Se a relação
beneficia o hospedeiro tem-se o comensalismo (ambos se beneficiam) e a relação (infecção) é
denominada subclínica ou inaparente. Se a infecção não beneficia o hospedeiro, a relação é
denominada parasitismo resultando em doença infecciosa.
Harmonia ou desarmonia entre hospedeiro e parasito e entre população de parasitos e população
de hospedeiros é uma luta ou conflito, com ou sem trégua, entre 2 forças opostas entre a
agressividade do agente invasor e as defesas do hospedeiro.
Para muitos epidemiologistas parece lícito que toda relação harmônica (comensalismo) tem início
em uma relação desarmônica e de caráter epidêmico e que a seleção de população de parasitos
menos patogênicos e de população de hospedeiros mais resistentes resultaria em uma ocorrência
endêmica e desta tendendo para uma relação inaparente e desta para um comensalismo.
Infecções latentes ou latência: é uma condição inaparente consequente a fatores ligados ao
hospedeiro como uma resposta endócrina ao estresse e/ou ligada ao parasito (retrovírus –
latência no núcleo de células infectadas na forma de DNA, herpes vírus em células de filetes
nervosos). A relação é de equilíbrio entre o agente etiológico de infecçoe latente e hospedeiro.
Em outras palavras, é o estado de infecção não produtiva com expressão de um numero mínimo
de genes sem expressar os antígenos virais e, portanto, não são detectados pelo sistema imune.
Assim, podem permanecer por longo tempo (TYZARD, 2013)

93
2. MODALIDADES DE RELAÇÃO HOSPEDEIRO-PARASITA

1. Relação harmônica: O parasito pode entrar no hospedeiro, mas nenhuma luta perceptível é
observada. Isto ocorre nas infecções com benefício do hospedeiro pela imunidade que se
estabelece. Ex.: babesiose, anaplasmose, nutaliose, hepatite, toxoplasmose, difteria, mastite.
2. Relação desarmônica: Há o favorecimento do parasito ou do hospedeiro.
O parasito pode entrar no organismo do novo hospedeiro e pode ser destruído logo no início
em consequência a uma resistência natural ou a uma imunidade já adquirida com consequente
destruição do parasito. Isto denota que o hospedeiro não é suscetível ao parasito, por exemplo,
febre aftosa em equinos; infecção de bovino anteriormente vacinado. O hospedeiro poderá se
beneficiar ou não com a imunidade contra novos ataques diante de um mesmo parasito, por
exemplo bovino recuperado de febre aftosa.
Numa situação inversa, o parasito poderá provocar infecção ou doença e a morte do
hospedeiro. Ex: Raiva. O parasito destrói seu hospedeiro seja cão, homem, bovino, equino,
felino, etc.
Peste Suína Clássica pela cepa de baixa virulência: leitão nasce infectado podendo vir a adoecer,
mas não morre por beneficiar-se da imunidade instalada na fase embrionária.
Nas salmoneloses tíficas ocorre doença grave em pintinhos (SP) e em adultos (SG)
Nas salmoneloses paratíficas ocorre, mais frequentemente infecção em aves e suínos, sem
manifestação da doença.
A entrada do parasito no organismo do susceptível poderá levar à instalação de uma infecção
porque o parasito encontrou condições para se instalar, podendo se multiplicar/replicar e assim
causar danos/doença ao organismo do novo hospedeiro. As reações no organismo do
hospedeiro poderão ser em maior ou menor intensidade, mas a luta ou não apresenta uma
decisão em um curto período de tempo ou permanece longo tempo sem decisão. Neste caso,
o hospedeiro terá que hospedar o parasito por um longo período de tempo. Diante desta luta
sem trégua, o parasito poderá prejudicar continuamente o hospedeiro pela sua permanência
neste organismo ou o prejuízo poderá ser limitado com benefício posterior do hospedeiro. Ex.
Anemia infecciosa equina (mutação genética), brucelose bovina (eliminação da bactéria pelo
leite e restos placentários), tuberculose (doença de evolução crônica), babesiose (protozoário
presente no sangue na presença de imunidade), anaplasmose (riquétsia presente no sangue na
presença de imunidade). São doenças crônicas com prejuízo maior ou menor de acordo com a
relação hospedeiro-parasito instalada. Neste caso, o parasito mantém com o hospedeiro uma
luta sem trégua por longo período de tempo que se apresenta sem decisão com danos
contínuos para o hospedeiro.
3. CARACTERÍSTICAS DO PARASITO DE IMPORTÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA

Mais importante do ponto de vista da epidemiologia é o reflexo das consequências quando se


estabelece uma relação hospedeiro-parasito do ponto de vista populacional. Parasito e
hospedeiro possuem armas particulares.
O parasito com a Infectividade, Patogenicidade, Virulência, Resistência, Imunogenicidade e
Persistência.

94
a. Infectividade: capacidade que tem o agente de penetrar e se instalar no organismo do
hospedeiro. Pode ser medida e pode variar segundo o agente etiológico. Quando for suficiente
um pequeno nº de agente etiológico para determinar a infecção do hospedeiro, diz-se que este
apresenta alta infectividade. Outros agentes precisam penetrar em nº elevado para se alojar
no organismo do suscetível e neste caso diz-se que apresenta baixa infectividade. As doses
infectantes podem variar na dependência da natureza do próprio parasita incluindo suas
variações. De modo geral pode-se dizer que quanto menor for a dose infectante, maior será a
infectividade do agente e o inverso também é verdadeiro.
b. Patogenicidade: capacidade que tem o agente de produzir aparecimento de sinal clínico e é,
portanto, medida pela frequência de casos de doença. Para ilustrar: se tivermos 100 animais
infectados e um pequeno nº deles manifestarem sintomas ou sinais clínicos, diz-se que o
agente apresenta baixa patogenicidade. Ex. infecção pelo Corynebacterium diphteriae, vírus da
Poliomielite. Quando um elevado nº de indivíduos dentre os infectados adoecer, diz-se que o
agente apresenta alta patogenicidade. Ex. vírus da Febre Aftosa, vírus de alta patogenicidade
da Peste Suína Clássica, vírus da Peste Suína Africana genótipo tipo 2, vírus da Doença de
Newcastle.
c. Virulência: é a medida da intensidade da patogenicidade. Pode-se ter parasitos que
manifestam baixa patogenicidade e alta virulência como é o caso da Poliomielite, Difteria,
Toxoplasmose, pois uma vez instalada a doença, esta é severa. Existem casos em que o agente
apresenta altas patogenicidade e virulência como é o caso da febre aftosa, peste suína clássica.
d. Resistência: é a capacidade que um agente pode apresentar para sobreviver na natureza em
ausência de parasitismo. Ex.: o vírus da raiva não apresenta resistência ao meio ambiente.
Oocistos, ovos de helmintos, esporos de Clostridios são resistente às condições do meio
ambiente. Agentes de doenças respiratória apresentam baixa resistência às condições do meio
ambiente
e. Imunogenicidade: é a capacidade que o agente apresenta de estimular uma resposta imune.
Ex. o vírus da febre aftosa, da doença de Newcastle, Micoplasmas, Salmonelas (S. pullorum, S.
gallinarum) são altamente imunogênicos. Por outro lado, Corynebacteriun pyogenes,
Staphilococcus aureus apresentam baixa imunogenicidade.
f. Persistência: propriedade do agente, uma vez introduzido numa população, nela permanecer
por longo tempo senão indefinidamente. A maioria dos agentes de doenças dos animais
apresentam alta persistência.

4. CARACTERÍSTICAS DO HOSPEDEIRO DE IMPORTÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA

a. Resistência: é uma qualidade inata do próprio animal. Diz respeito a refratoriedade. Ex.: a
galinha é resistente ao antrax. Por exemplo, O bovino é resistente ao vírus da peste suína
clássica; o equino é resistente ao vírus da febre aftosa; suíno é resistente ao herpes bovino .
b. Imunidade: implica numa experiência prévia do hospedeiro com os princípios imunogênicos do
parasito ou é decorrente de anticorpos e/ou imunidade celular que são transferidos para o

95
hospedeiro de forma passiva (transplacentária, soro, colostro) ou adquirida de forma ativa
(infecção ou vacinação).

5. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE IMUNIDADE POPULACIONAL

Durante uma relação estabelecida entre hospedeiro e parasito, devemos observar as


consequências em uma população. Quando existe certa resistência do hospedeiro, significa que
não é o habitual. Se o parasito é capaz de provocar doença e estimular uma resposta imune, esta
apresenta uma importância na ocorrência da doença na população de hospedeiros porque a maior
ou menor proporção de animais imunes poderá determinar uma menor ou maior ocorrência da
doença nesta população.
a. Entendendo como ocorre uma epidemia em função da imunidade populacional
Inicialmente, em um raciocínio individual, temos a seguinte situação: seja um animal vacinado
no tempo t0 seguido do aumento gradativo da imunidade. Se este animal for exposto a uma
infecção no tempo t1 anterior ao momento de o nível de anticorpos atingir o limiar de proteção,
então este animal não estará protegido porque os níveis de anticorpos/imunidade não foram
suficientes para protegê-lo porque existe um nível de proteção acima do qual o animal estará
protegido diante de um risco usual de infecção e abaixo do qual não estará protegido.
A 23 ilustra essa situação para um indivíduo. Somente acima da linha do nível de proteção
individual, estaria protegido contra exposições a doses infectantes usuais. Antes de atingir o
nível de proteção, o hospedeiro não resistiria a doses infectantes adoecendo (Figura 23).
Figura 23. Proteção de um indivíduo contra doses infectantes usuais

Passemos a observar a Figura 24, que somente no tempo entre t1 e t2, o hospedeiro estaria
protegido contra exposições a doses infectantes usuais. Antes e depois, possivelmente o
hospedeiro poderia não ser capaz de resistir a doses infectantes.
Tal panorama individual poderia ser transferido para uma população. O espaço de tempo (t2 -
t1) é o intervalo de proteção da população contra uma epidemia e neste período é baixa a
porcentagem de fontes de infecção. Se o nº de animais presentes em um rebanho for igual a
100; o nº de fonte de infecção igual a 20; o nº de animais imunes é igual a 80. Então, a
probabilidade de a fonte de infecção atingir um suscetível é igual a 20% e, consequentemente,

96
as fontes de infecção podem transformar-se em animais imunes sem a possibilidade de
transferir a infecção para outros animais.

Figura 24. Proteção de um indivíduo contra doses infectantes usuais

Para uma população é válido o seguinte raciocínio: se tivermos uma população de suscetíveis,
i.é. sem imunidade de qualquer natureza, a doença pode se propagar com uma certa
velocidade. Se uma certa porcentagem de animais está imune, significa que a população possui
uma certa imunidade, porém, insuficientes para proteger toda a população. Se a proporção de
animais imunes aumentar, significa um aumento da imunidade populacional e quando esta
porcentagem é elevada, estes animais imunes são suficientes para proteger toda a população
diante de uma infecção. Esta situação é conseguida quando 70% da população estiver imune
porque a probabilidade de propagação da infecção torna-se muito baixa, pois estes 70% são
suficientes para proteger os restantes 30%. Este princípio pressupõe a utilização correta de
vacinas de eficácia elevada e comprovada. Depois de estabelecidos este conhecimento, pode-
se entender como ocorre uma epidemia que é sempre uma análise retrospectiva como
ilustrado na figura 25. Com o aumento de suscetíveis, aumenta proporcionalmente o No de
casos de doença.
Figura 25. Ocorrência de uma epidemia em função do No de suscetíveis na população.

A doença está ocorrendo em níveis endêmicos e de repente ocorre uma epidemia e assim
sucessivamente (linha vermelha). Diz-se que a doença está apresentando uma variação cíclica
na sua ocorrência. Como pode ser isto explicado? Se neste gráfico está representada a
proporção de suscetíveis por pontos interrompidos, num determinado momento a quantidade

97
dos mesmos estará aumentada porque a doença está ocorrendo sob forma epidêmica e há
baixa proporção de indivíduos imunes proporcionando condições para a ocorrência da doença
e consequentemente, a população de suscetíveis diminui resultando ao retorno do nível
endêmico. As oportunidades de infecção diminuem com o aumento da proporção de indivíduos
imunes (ver fugura 15). Isto explica porque a determinados intervalos de tempo a doença
aparece com características de epidemia que depende do grau de imunidade da população.
Entendimento de como ocorre uma epidemia em função da imunidade populacional (Figura
26):
Figura 26. Ilustração de como ocorre uma epidemia

Considere uma população de tamanho fixo na qual ingressou um certo agente que causou doença
sem causar mortes, mas estimulou imunidade. Com a transmissão da doença, o no de imunes
aumenta (linha pontilhada) e diminui o no de suscetíveis (linha cheia).
Com a reposição de suscetíveis por nascimentos, a imunidade populacional diminui e o no de
doentes aumenta causando uma epidemia e assim sucessivamente. A distância temporal ente 2
picos epidêmicos dependem da doença e tempo de vida dos animais. Em bovinos, considerando
o tempo de vida da ordem de 10 anos e pressupondo reposição da população a cada 10 anos, as
epidemias se sucedem a cada 10 anos, este é o perfil da febre aftosa, até mais ou menos a década
de 50’ quando não se tinha vacinas adequadas e nem programas bem delineados. Em suínos, por
exemplo, considerando ciclo de 120 dias, o perfil da doença se repete a cada 4 meses na ausência
de vacinas.
b. Entendendo como uma população é protegida em função da imunidade populacional
Considerando uma mesma espécie animal, a condição de imunidade apresenta grande
importância. A resistência de um indivíduo depende do seu nível de imunidade. A taxa de
anticorpos específicos contra um mesmo agente em uma mesma espécie animal pode apresentar
variação em função da própria experiência passada com a doença, influindo muito na persistência
da doença na população. Se considerarmos um indivíduo em um gráfico (figura 27) e uma paralela
abscissa indicando o nível de proteção contra doses usuais infectantes e se representássemos a
taxa de anticorpos de um indivíduo superior ao nível de proteção, este estaria protegido contra
doses usuais infectantes.

98
O nível de imunidade na população dependerá da proporção de indivíduos que apresentam
anticorpos em níveis suficientes para garantir a proteção contra doses usuais da infecção. Se numa
população é alto o percentual de indivíduos protegidos, a somatória irá conduzir à proteção da
população considerada como um todo. Uma doença não ocorrerá ou incidirá em níveis baixos. Tal
imunidade pode ser naturalmente ou artificialmente adquirida

Figura 27 - Ilustração do nível de proteção populacional contra doses infectantes usuais

6. CONSIDERAÇÕES SOBRE PERSISTÊNCIA DO PARASITO NA NATUREZA

Considere algumas situações: suponha um agente etiológico que é um parasito obrigatório, ou


seja, não é capaz de viver em ausência de parasitismo e seja capaz de parasitar apenas uma espécie
de hospedeiro (monovalente em relação ao parasitismo) e além disso apresenta pequena
resistência às condições do meio ambiente e que implica na sua destruição em breve prazo na
ausência de parasitismo. Pode-se prever para um agente com estas características certa
dificuldade para a sua persistência. O problema é agravado se o parasito determinar uma infecção
com curto período de transmissibilidade (período no qual o parasito é transferido do organismo
da fonte de infecção para o de suscetível) e mais ainda, quando de uma relação desarmônica com
o hospedeiro determinando sólida imunidade ou alta capacidade letal. Para um agente com estas
características, para persistir numa população é preciso uma cadeia contínua de casos. Ex.: vírus
do sarampo, cinomose, Sêneca vírus, doenças exóticas confinadas no continente africano, etc.
Nas Ilhas de Faroe, o sarampo, doença de alta transmissibilidade, incidia preferencialmente entre
crianças. Mas, num determinado ano, a doença percorreu a ilha acometendo todos os indivíduos
e se extinguiu e por mais ou menos 60 anos não se teve notícia de sarampo. Com o advento dos
meios de transporte mais rápidos, a doença foi reintroduzida na ilha, pois o período de
transmissibilidade tornou-se maior que o período de viagem do continente para a ilha e assim,
toda a população com menos de 60 anos de idade se infectou e adoeceu em consequência ao
sarampo.
Quanto maior for o tamanho da população, maior será também o estoque de suscetíveis e a
transmissão será facilitada pelos meios de transporte rápidos e grandes migrações ou
movimentações de animais dentro de um país.
Muitos parasitos com tais características já foram extintos de diferentes populações de
hospedeiros, mas devem possuir armas para persistir na natureza. Por ex.: o vírus da raiva é um
parasito obrigatório; possui nula resistência ao meio ambiente; o período de transmissibilidade é

99
curto; e a doença é altamente fatal. Portanto, o vírus procura recursos para sobreviver na natureza
como espécie e irá aumentar, nesse caso, o potencial de suscetíveis parasitando inúmeras
espécies animais (polivalente quanto às espécies capazes de parasitar) e apresentando tais
características seria previsível admitir que a natureza da relação hospedeiro-parasita não fosse
exatamente a mesma para cada hospedeiro, mas, com nuances como realmente ocorre.
Morcegos no hemisfério sul e raposas no hemisfério norte passam a atuar como reservatórios
(portadores sãos, doentes e convalescentes) com maior período de transmissibilidade
promovendo maior persistência do agente numa população.

7. RECURSOS QUE O PARASITO UTILIZA PARA GARANTIR A SUA SOBREVIVÊNCIA COMO


ESPÉCIE

a. Se apresentar alta capacidade letal, recorre a polivalência de hospedeiros. Ex. vírus da raiva;
b. Se a incompatibilidade é total com a morte do parasito, um dos recursos seria o do agente
diminuir o poder imunogênico. Ex. germes piogênicos.
c. Se o agente determina uma significante resposta imune, recorre à variação
antigênica/mutação genética e que conduz à reutilização do mesmo hospedeiro. Ex.: vírus
da febre aftosa, gripe/influenza aviária, anemia infecciosa equina, coronavírus (bronquite
das aves).
d. Latência como ocorre com os herpes vírus (laringotraqueite infecciosa das galinhas, doença
de Marek, rinotraqueite infecciosa bovina/IBR)

8. CARACTERÍSTICAS DO HOSPEDEIRO PARA GARANTIR PERSISTÊNCIA DO PARASITO EM


UMA POPULAÇÃO

a. Espécie Animal: algumas espécies animais são refratárias a determinados agentes, outras são
mais suscetíveis e tal suscetibilidade pode variar para mais ou para menos. A suscetibilidade e
refratoriedade dependem da adequacidade do meio interno do organismo do hospedeiro
facilitando ou não a instalação e multiplicação/replicação do agente etiológico, inclusive às
próprias condições ligadas à transmissão. Ex.: vírus da encefalomielite equina pode infectar
diversas espécies como aves, equinos, homem; as aves silvestres e equinos proporcionam
diferentes condições para a transmissão através artrópodes hematófagos, pois a viremia nas
aves silvestres é sempre de menor intensidade e de maior duração, enquanto que nos equinos
é de pequena intensidade e raramente conduz à infecção do próprio artrópode.
b. Sexo: determina uma diferença fisiológica com alta importância das fêmeas por estar vinculado
a prenhes e ao parto e até mesmo à manifestação da doença que depende da diferença
fisiológica. Ex.: na tricomonose e campilobacteriose, as manifestações clínicas são muito mais
severas entre as fêmeas e os machos são usualmente portadores sãos. Condições fisiológicas,
mesmo transitórias como o caso da prenhês, pode alterar ou modificar o comportamento do
hospedeiro frente a diferentes doenças. Mulheres grávidas são mais suscetíveis ao vírus da
poliomielite em decorrência das alterações hormonais. Mulheres na menopausa são mais
suscetíveis à hepatite Infecciosa.

100
c. Idade: determinadas doenças ocorrem preferencialmente em determinados grupos etários.
Ex.: colibacilose em bezerros, manqueira/carbúnculo sintomático ocorre mais frequentemente
em animais com aproximadamente 6 meses de idade e brucelose em animais sexualmente
maduros (Figura 28).
Assim, a brucelose bovina ocorre com maior frequência em animais com mais de 2 anos de
idade. O paratifo acomete recém-nascido. Como explicar tal comportamento preferencial em
função da idade dos indivíduos?
Colibacilose: tem-se uma maior vulnerabilidade, mais especificamente do trato
gastrintestinal por apresentarem nos 1º dias de vida receptores para a bactéria nas
vilosidades intestinais que desaparecem por volta dos 15 dias de idade.
Manqueira: está relacionado com o desaparecimento da imunidade colostral.
Brucelose; bovinos sexualmente imaturos são refratários à infecção e tornam-se
suscetíveis quando atingem a maturidade sexual.
A distribuição de determinadas doenças depende de uma série de fatores ligados à fenômenos
de imunidade, vulnerabilidade e fisiologia.

Figura 28. Ilustração da distribuição de doenças segunda a idade de maior suscetibilidade

Freq.

Colibacilose

Carbúnculo

0 1 2 3 4 idade (meses)

d. Condições socioeconômicas: representadas por alimentação; habitação, aglomeração,


movimentação.
a. Religião: influi nos hábitos alimentares como ingestão ou não de carne crua, carne suína,
etc.
b. Hábitos Sociais: apresenta notória importância na transmissão de doenças: Ex.:
Bovino e equinos: são suscetíveis ao vírus da raiva, mas, não transmitem
porque não apresentam o hábito de morder;
Cão: suscetível ao vírus da raiva e transmite pelo hábito de morder;
Gato: também é suscetível ao vírus da raiva, mas, dificilmente transmite o vírus porque seu
hábito é o de arranhar.
c. Fatores sociais: na espécie humana, os fatores sociais mais importantes são: poder
aquisitivo de bens alimentares, promiscuidade, ventilação inadequada das habitações.
d. Manejo: toxoplasmose em suínos apresenta nítida diferença na ocorrência quando
comparamos criações extensivas do passado com criação intensiva do presente (em
instalações fechadas e sobre estrados). Está antigamente relacionado ao ciclo biológico do
Toxoplasma gondii que deve realizar seu ciclo biológico, quando fora do hospedeiro

101
definitivo (felídeos) para o oocisto evoluir para a forma infectante. Obviamente, não se
pode ignorar o fato de gatos e ratos apresentarem hábitos que favorecem ao toxoplasma.

9. FATORES ECOLÓGICOS QUE MODIFICAM A OCORRÊNCIA DE DOENÇAS EM UMA POPULAÇÃO

A ocorrência de doenças, principalmente as infecciosas, depende de uma multiplicidade de


fatores. Não é necessário apenas a infecção de um hospedeiro, porque a doença apresenta uma
multiplicidade de fatores. Por ex.: na tuberculose, não basta a presença da bactéria, mas a
intercorrência de fatores para provocar doença. A maioria das pessoas alberga no interior de seu
organismo o bacilo da tuberculose, mas, se não houver condições para a instalação da doença (má
alimentação, cansaço, stress, etc.), a simples presença da bactéria não leva à instalação da
tuberculose. Por outro lado, se existirem os outros fatores acima considerados, mas não existir a
bactéria, também não haverá tuberculose.
Entre os fatores necessários, a maioria são componentes do meio ambiente influenciando na
relação hospedeiro-parasito. Esta relação tem lugar num determinado sistema ecológico sofrendo
influência do meio ambiente e este sistema ecológico funciona como fulcro de uma balança para
as interligações entre hospedeiro e parasito. Neste sistema, num dos pratos da balança temos o
parasito e do outro lado o hospedeiro. Se existir um equilíbrio entre o hospedeiro e o parasito,
não ocorre a doença. Este equilíbrio não é estático em função da existência dos componentes do
meio ambiente que poderá provocar um desequilíbrio favorecendo o agente ou o hospedeiro. Os
componentes do meio ambiente são: físico-químicos, biológico e sócio–econômico (riqueza,
pobreza), biosseguridade da propriedade como ilustrado na figura 29.

Figura 29. Equilíbrio da relação hospedeiro-parasita

Fatores biológicos: animais que atuam como reservatórios que rodeiam estabelecimentos de
produção e, devem ser considerados quando do delineamento de medidas de biosseguridade.
Ex. nas salmoneloses de aves e suínos, são fatores causais aves de vida livre, animais silvestres e
criatórios de fundo de quintal; lixões; aterros sanitários; margens de lagos, rios e riachos sao
favoráveis para ratos cavarem seus ninhos; moscas; animais e aves silvestres; trabalhadores de
granjas que criam suínos ou aves em suas casas etc. Vegetação favorecem a proliferação do
moscas e mosquitos, como por exemplo, admite-se que o vírus da estomatite vesicular é vírus de
planta.
Fatores físico-químicos: clima, natureza do solo, precipitação pluviométrica, ventos etc. O i)
inverno favorece transmissão de agentes de doenças respiratórias por favorecerem sobrevivência
de seus agentes etiológicos que usualmente são frágeis no ambiente; ii) verão que é usualmente

102
acompanhado de chuvas, favorecem o carreamento de agentes de doenças entéricas; iii) solos
arenosos favorecem à sobrevivência de larvas de helmintos. Os animais devem ser protegidos do
excesso de frio ou de calor.
a. Clima: observando a distribuição geográfica de doenças verifica-se que está largamente
influenciada pelo clima. Por exemplo, nas zonas polares não ocorre Encefalomielites e
toxoplasmose. O 1º caso é decorrente da inexistência de condições para a sobrevivência dos
artrópodes vetores que são indispensáveis na transmissão do vírus e o 2º caso pela ausência
de condições ambientais, solo principalmente, para a maturação dos oocistos. O clima é um
agregado de condições como temperatura e umidade, estando este último intimamente
relacionado aos exemplos que controlam ou limitam a população de artrópodes ou maturação
de oocistos. Inversamente, podem favorecer a sobrevivência e evolução de helmintos quando
fora do organismo do hospedeiro. Vírus da Influenza Aviária tem seu epicentro na China onde
a temperatura favorece a sua resistência e também é favorecida pela existência de aves
aquáticas voadoras, muitas delas migratórias
b. Natureza do solo: existem fundamentalmente 3 tipos de solo; ARGILOSO, ARENOSO e
CALCÁREO.
O solo argiloso é o mais plástico que os demais que sofrem fissuras com facilidade porque
solidifica sob ação do calor e permitem a contaminação de mananciais de água. A composição
química do solo influi sobremaneira no tipo de vegetação da região conduzindo à deficiência
de alguns minerais como cobalto (Co) e cobre (Cu) que influenciam na ocorrência de certos
tipos de parasitismo.
O solo arenoso é mais poroso, não se alteram com a ação do calor, retém água entre os poros
e favorece a sobrevivência de certos helmintos como Ancilostomas, cuja forma infestante é a
larva.
Solo calcário: é aquele rico em Ca++ e Mg++ e a água que percola este tipo de solo é água dura
que consome muito sabão para fazer espuma e pode causar diarreia.
Precipitação pluviométrica: leva ao carreamento de excretos animais conduzindo à
contaminação de mananciais de água e favorecendo a proliferação de artrópodes de
moluscos.
c. Componentes biológicos: envolve todos os seres vivos animais ou vegetais como criatórios de
fundo de quintal/subsistência, lixões, aterros sanitários, ris, riachos, lagos
d. Fatores socioeconômicos: ignorância, pobreza e doença condicionando a presença de
criações informais e de fundo de quintal (sem orientação técnica) (figura 30)
Portanto, este equilíbrio pode ser alterado para uma das extremidades pela modificação dos
agregados do meio ambiente na dependência da maior ou menor força do agente ou do
parasito.

103
Figura 30. Ilustração dos fatores socioeconômicos na perpetuação de doenças

Estes 3 elementos podem propiciar a perpetuação da doença numa população humana ou


animal. Ignorância e baixa condição de vida levam à doença. Baixa condição de vida (pobreza)
conduz à deficiência de higiene, disposição inadequada de excretas, ingestão de água sem
conveniente tratamento que apresenta grande importância no ciclo de doenças.
O tipo de exploração animal depende também do nível cultural do criador, condições
econômicas seja no caso de doenças próprias dos animais seja em caso de zoonoses.
Doenças transmitidas pelo solo ou pelo ar são facilitadas pela alta densidade animal.
O manejo também influi na ocorrência de doenças. Por ex. a tuberculose e brucelose são mais
frequentes entre animais confinados.

10. VARIAÇÃO DE OCORRÊNCIA DE DOENÇAS EM POPULAÇÕES

a. Definições:
População: conjunto de animais para o qual a ação veterinária é direcionada. Pode ser de uma
gaiola, galpão, rebanho, propriedade, conjunto de propriedades, município, estado ou pais.
Qualquer que seja a população, o seu tamanho deve ser conhecido, mas, em algumas
circunstâncias não é fundamental o conhecimento do tamanho da população, como a de
carrapatos ou morcegos ou outro animal de vida silvestre, porque a abordagem epidemiológica
não varia com o tamanho destas populações.
População exposta ao risco: conjunto de animais expostos ao risco de adquirirem a doença. São
aqueles expostos à fonte de infecção ou ao veículo de transmissão. A ocorrência de doenças em
populações não é uniforme porque está na dependência de condições do parasito, do
hospedeiro e do meio ambiente. Assim, tem-se diferente modalidade de variação:
b. Modalidades de variação
a. VARIAÇÃO SECULAR: É aquela apreciada durante longos intervalos de tempo e sempre
superior a 10 anos. Permite apreciar a tendência de uma doença, i.é., se está aumentando,
diminuindo ou estacionária. O cálculo da reta de regressão mostra uma tendência secular de
redução ou não. Exemplos: na figura 31

104
Figura 31. Ilustração das diferentes possibilidades de variações secular

Se considerarmos doenças não transmissíveis como câncer, doenças cardiovasculares etc. a


tendência é o aumento na frequência de ocorrência. O tratamento de água de abastecimento
público e pasteurização de leite tornou menos frequente a ocorrência de febre tifóide e
tuberculose. O sarampo, por outro lado, apresenta um perfil com tendência de ocorrência
uniforme. Esta variação permite observar a força de uma doença na natureza e o resultado das
medidas de profilaxia adotada.
b. VARIAÇÃO CÍCLICA: É aquela apreciada a intervalos menores que 10 anos. Tal oscilação
depende fundamentalmente da renovação do potencial de suscetíveis (Figura 32).

Figura 32. Ilustração de variação cíclica

Quando a população de suscetíveis é elevada, as possibilidades de uma fonte de infecção


encontrar os suscetíveis são grandes e, portanto, um alto percentual dos mesmos se
infecta aumentando o potencial de infectados e à medida que aumenta o nº de casos de
doentes/infectados, há uma diminuição da taxa de suscetíveis tornando pouco provável
que um novo suscetível seja encontrado pelo parasito. Com a renovação da taxa de
suscetíveis, ocorrerá novamente uma nova onda epidêmica. Este comportamento é
observado principalmente quando estão envolvidos como sarampo, Peste Suína Clássica
etc.

105
c. VARIAÇÃO ESTACIONAL ou SAZONAL: É aquela apreciada em um intervalo determinado
de 1 ano e que sofre influência das condições físico-químicas e biológicas do meio
ambiente. Depende, portanto, da influência não uniforme do meio ambiente (Figura 20).
Doenças respiratórias: são mais frequentes nos meses mais frios devido ao declínio da
temperatura que diminui a resistência das mucosas. A ventilação deficiente permite a
contaminação do ar e em seguida há a instalação de elevado nº de casos de doença
respiratória no rebanho.
Doenças transmitidas por artrópodes: há estações do ano com maior freqüência de certas
doenças, principalmente no verão, quando as condições de temperatura e umidade são
favoráveis à multiplicação de vetores (figura 33).

Figura 33. Ilustração de variação estacional

Nas zonas tropicais, chuvas são fatores principais na ocorrência estacional de doenças
favorecendo a transmissão de doenças entéricas pela contaminação de mananciais de água por
excretas carreadas pelas águas superficiais. Durante as épocas secas, há redução do pasto e o
risco de adquirir intoxicações aumenta. As infecções por Clostridios apresentam maior incidência
nas épocas secas porque os animais tendem a se alimentar junto a rios, lagos e em pastos baixos.
Outros fatores que interferem nas flutuações na ocorrência de doenças:
a. Potencial de fontes de infecção
b. Mobilidade das fontes de infecção que depende da intensidade da sintomatologia:
b1- Animais com sintomas alarmantes
b2- Animais com sintomas menos alarmantes
Animais com doença benigna e portadores são fontes de infecção em potencial porque apresenta
maior mobilidade.

106
CAPÍTULO 5
MEDIDAS GERAIS DE PROFILAXIA
INDICADORES DE SAÚDE

1. CONCEITOS GERAIS
2. AVALIAÇÃO QUANTITATIVA DE OCORRÊNCIA DE DOENÇAS: a) introdução; b) métodos de avaliação de
ocorrência de doenças em populações animais; c) modalidades de avaliação quantitativa de ocorrência de
doenças (levantamento periódico, levantamento continuo e levantamento ocasional).
Coeficientes: a) modalidades (geral e especifico); b) coeficientes mais importantes (de natalidade, de
mortalidade, de letalidade, de morbidade (morbidade prevalente; morbidade incidente).
Índices: a) índice vital de Pearl; b) índice de mortalidade proporcional; c) índice demográfico.
3. O MÉTODO PROFILÁTICO: a: escolha do método; b) aplicação do método; c) avaliação do método.

1. CONCEITOS GERAIS

A profilaxia visa romper a cadeia epidemiológica que conduz à doença. Para a aplicação de
medidas de prevenção é necessário conhecer todos os mecanismos envolvidos na transmissão e
todos os fatores de risco que tem influência na ocorrência de doenças. Lembrar que os
diagnósticos clinico e laboratorial objetivam definir o problema. A profilaxia visa romper a cadeia
de transmissão atuando nos fatores de risco externos e internos à propriedade, estado ou nação.
É preciso, portanto, conhecer o agente etiológico, mecanismos de transmissão, características do
hospedeiro que o agente é capaz de parasitar e os fatores do meio ambiente para que as escolhas
das medidas profiláticas possam ser úteis para limitar e eventualmente erradicar a ocorrência da
doença numa população.
Antes do advento de vacinas, a varíola, doença de transmissão aerógena, era controlada pela
variolação que objetivava provocar a doença por uma outra porta de entrada que não a usual, e
assim a doença se manifestava com menor severidade.
A aftização para controle da febre aftosa, consistia na colheita de material infectante como a saliva
depois do rompimento das vesículas para ser depositada e atritada na língua de animais sadios.
Estes conceitos eram importantes para fins de seleção de certas medidas profiláticas durante as
epidemias principalmente quando de doenças causadas por agentes de elevada patogenicidade e
que conferem sólida imunidade, pois o conhecimento que agentes que determinam a ocorrência
cíclica com possibilidades de estabelecer epidemias, permitia praticar a aftizacao antes da
ocorrência da próxima onda epidêmica.
Par a adoção de qualquer medida profilática que visa fundamentalmente interromper a cadeia de
eventos que conduz à transmissão da doença é necessário preliminarmente, realizar a avaliação
quantitativa de ocorrência de doenças para orientar na escolha de um programa de profilaxia. Ex.:
Seja a Brucelose ocorrendo em populações distintas. Em uma delas, a doença ocorre com 1% de
prevalência e em outra com 40% e, naturalmente, as medidas profiláticas em ambas as populações
serão diferentes. Uma das medidas seria a identificação dos animais reagentes e posterior
sacrifício, porém esta medida só é possível quando a prevalência é muito baixa como da ordem de
1% e que não é aplicável em populações com elevada prevalência como 40%. Esta ilustração mostra

107
o caminho da escolha de um plano de profilaxia bem como permitirá, posteriormente, avaliar os
resultados das medidas adotadas.
Por outro lado, tal avaliação quantitativa permite apreciar as diferentes medidas profiláticas
quando aplicadas em duas populações distintas. Quando a prevalência é elevada, antes de tudo,
não se pode cogitar em sacrificar os animais reagentes, mas que poderá ser cogitada em uma 2ª
etapa do plano quando a prevalência tiver sido reduzida a níveis compatíveis com o sacrifício. Se
o sacrifício tiver sido aplicado em uma 1ª etapa, a medida tornar-se-ia antieconômica para o país.

AVALIAÇÃO QUANTITATIVA DE OCORRÊNCIA DE DOENÇAS: INDICADORES DE SAÚDE

a. INTRODUÇÃO

O conhecimento da distribuição geográfica de doenças, particularmente as contagiosas, e a


determinação da frequência ou quantidade de ocorrência, são elementos imprescindíveis para
uma adequada orientação delineamento de um programa de saúde.
Do ponto de vista nacional, o conhecimento e a determinação da quantidade de doenças
permitem hierarquizar, em ordem de importância econômico-sanitária, conhecimento necessário
para a mais racional utilização dos recursos humanos e econômicos disponíveis. Esta é uma
consideração particularmente importante em países em desenvolvimento, onde a pulverização
dos recursos material e humano, já escassos, conduz frequentemente à ineficácia das ações de
saúde.
A medida do grau de endemia de uma doença em uma população animal de certa área geográfica
se impõe também para orientar a escolha de programas de profilaxia.
Na realidade, métodos drásticos de controle, aplicáveis em certas regiões de baixa endemicidade,
podem ser inexequíveis em outras onde se verificar uma elevação da prevalência, dada as
implicações socioeconômicas que acarretaria. Há que se considerar que sem um prévio
conhecimento da quantidade de doenças não se poderá avaliar posteriormente a eficácia das
medidas de profilaxia.
Internacionalmente, estes conhecimentos são de maior importância para estabelecer normas
sanitárias que regulem o comércio e o trânsito de animais e produtos e subprodutos de origem
animal. De modo geral, abstração feita a outros aspectos epidemiológicos, o risco de introdução
de uma doença em uma área geográfica, em consequência à importação de animais e produtos, é
tanto maior quanto maior for o potencial de fontes de infecção na população de origem. Convém
recordar que as normas sanitárias devem ser estabelecidas com critério, com base nas evidências
epidemiológicas, dada às notáveis repercussões que podem ter do ponto de vista político e
econômico. Exemplo é a Peste Suína Africana, Sêneca vírus e PRRS.

b. MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE DOENÇAS

A informação acerca da ocorrência de doenças tem sido proveniente, com maior frequência, de
estudos ocasionais de ocorrência, ou então de estatísticas recolhidas junto a organismos oficiais,
laboratórios e hospitais.

108
Os levantamentos epidemiológicos ocasionais indicam somente a frequência de ocorrência de
certa doença ou infecção, daquele momento, em uma coletividade. Estes estudos, realizados
frequentemente sem uma definição precisa da população exposta aos riscos e sem atenção a
cuidados elementares de planejamento, buscam, de maneira precária, suprir a inexistência de
processos contínuos e sistemáticos de notificação de doenças.
As estatísticas hospitalares e oriundas de laboratórios de diagnóstico baseiam-se em grupos de
indivíduos que não constituem uma amostra representativa da população. Apesar de serem úteis
ao ensino e à investigação, não se prestam para fins de inferência relativa à população total de
animais da área geográfica considerada.
O mesmo poderá ser dito em relação ao estudo de cohort que se prestam a estudos de um
fenômeno ao longo do tempo através de acompanhamento dos indivíduos integrantes de um
grupo definido, possibilitando o cálculo de morbidade incidente e de mortalidade já que os
numerador e denominador são conhecidos.
A avaliação quantitativa de ocorrência de doenças em populações animais de extensas áreas
geográficas depende de um esforço organizado e sistemático que depende, necessariamente, da
iniciativa das autoridades e da coordenação governamental. Infelizmente, os órgãos
governamentais, principalmente nos países em desenvolvimento, não têm dedicado suficiente
atenção para a obtenção de estatísticas acerca de problemas de saúde nas populações animais.
Em algumas regiões são inexistentes; em outras a informação é de tal ordem inexata que não
serve para outra finalidade senão para dar uma imagem totalmente distorcida da realidade.
A implantação de sistemas de notificação de doenças pode ser mais ou menos adequada e
consequentemente de maior ou menor validade e utilidade para a quantificação de fenômenos da
população que se pretende estudar.
Nas áreas economicamente mais desenvolvidas, já se nota uma preocupação maior no que se
refere à avaliação quantitativa de ocorrência de doenças em populações animais. Existem
processos de Vigilância contínua, pelo menos em relação a um pequeno número de doenças que
propiciam a notificação sistemática de sua ocorrência à autoridade sanitária competente.
No sistema de vigilância", os casos notificados não estão relacionados com a população exposta
ao risco, impossibilitando, assim, o cálculo de coeficientes e reduzindo a utilidade dos dados.
Entretanto, quando se pode admitir que não ocorrerão flutuações acentuadas no tamanho das
populações nos anos vindouros, as informações dadas por este processo permitem uma avaliação
satisfatória do comportamento de uma doença na população.
A dificuldade de estimar o tamanho das populações animais expostas ao risco, e principalmente
caracterizá-las segundo alguns atributos como sexo, idade, raça etc., tem restringido o emprego
de medidas mais desejáveis e úteis representadas, por ex., pelos coeficientes de mortalidade e
morbidade incidente. Recordemos, a propósito, que quanto mais específico for o coeficiente,
maior será sua utilidade, porém menos confiável será seu denominador.

109
c. MODALIDADES DE AVALIAÇÃO QUANTITATIVA DE OCORRÊNCIA DE DOENÇAS

Uma avaliação quantitativa implica num levantamento de dados da população. São conhecidos
diferentes tipos de levantamentos epidemiológicos:
i. Levantamento periódico: É aquele realizado a intervalos regulares. Por ex.
recenseamentos que são usualmente realizados a cada 10 anos.
ii. Levantamento contínuo: É aquele realizado à medida que o fenômeno está ocorrendo
e está sendo notificado e após um certo período de tempo os dados são analisados e
interpretados. Ex. dados sobre nascimentos, óbitos, casamento, doenças de
notificação obrigatória.
iii. Levantamento ocasional: É aquele realizado somente quando se está interessado num
levantamento de certo fenômeno que não é observado periódica ou continuamente.
Ex. estamos interessados em conhecer as condições socioeconômicas de uma certa
cidade rural; em conhecer a prevalência de brucelose bovina em certa área geográfica.
Para tais levantamentos, é necessário um sistema organizado para fins de coordenação de
informações que são observados em vários serviços de saúde. Quando se procede ao
levantamento de qualquer tipo, os valores obtidos devem ser convenientemente relatados
sob certas condições.
Ex.: sejam duas áreas geográficas distintas:
Área A: apresenta 50 animais reagentes diante da prova de tuberculina;
Área B: apresenta 150 reagentes.
Não se pode apreciar estes dois valores absolutos porque se desconhece o tamanho das 2
populações. Se na população A existirem 1.000 animais e na B existirem 3.000, as
prevalências serão, em ambos os casos, iguais a 5%.
A prevalência deve ser uma relação entre os valores absolutos e o tamanho da população
animal. Esta relação entre 2 valores é denominada COEFICIENTE ou ÍNDICE que permite
medir as condições de saúde de uma população. O coeficiente e índice medem 2 aspectos
distintos.
Avaliação: Suponha 2 modalidades de relação abaixo:
Nº de mortos pela doença
a = --------------------------------------------- (coeficiente)
Nº de casos de doença A

Nº de nascidos vivos
b = ----------------------------------------------- (índice)
Nº de mortos de uma certa região

A diferença entre ambos é a seguinte.


COEFICIENTE OU TAXA: mede sempre um risco, i.é. um risco de probabilidade. Mede o risco que
um indivíduo do denominador tem de apresentar o fenômeno expresso no numerador.
Os coeficientes são verdadeiros indicadores de saúde em populações animais que podem

110
estar relacionados com a capacidade reprodutiva bem como revela os reflexos de muitas
doenças que interferem nesta esfera, ou patogenicidade ou virulência do agente
etiológico. Ex.:
Nº de mortos por raiva
a = -------------------------------------------------
Nº de casos de raiva em 2019

Nº de doentes por Febre Aftosa


b = ----------------------------------------------------------------
População de bovino exposta ao risco

ÍNDICE: mede uma outra relação. É usado para conhecer o valor do numerador quando fazemos
do denominador a unidade. É o exemplo " b" abaixo citado. Quando esta relação é igual
a 1, a população está estacionária. Quando for maior que 1, a população está em
crescimento. Quando for menor que 1, a população está decrescendo.
Nº de nascidos vivos
b = ----------------------------------------------------
Nº de mortos de uma certa região

I. COEFICIENTES

a. MODALIDADES:
COEFICIENTES GERAIS: apresenta como única restrição a área e unidade de tempo.
COEFICIENTES ESPECÍFICOS: além destas limitações, existem outras tais como: idade, raça,
sexo, doença.

Nº de animais mortos por todas as causas, SP, 2020


GERAL: -------------------------------------------------------------------------------
População animal média em 2018

Nº de animais doentes por todas as causas, SP, 2020


GERAL: -------------------------------------------------------------------------------
População animal média em 2018

Mede a probabilidade de um animal da população morrer ou adoecer, em 2018, por qualquer


causa.
Nº de animais mortos com menos de 2 meses de idade, SP, 2019
ESPECIFICO: -------------------------------------------------------------------------------------------
População média de animais com menos de 2 anos de idade em 2019

Nº de animais doentes em idade de procriar, SP, 2019


ESPECÍFICO: -------------------------------------------------------------------------------------------------
População média de animais em idade de procriar em 2019

111
b. COEFICIENTES MAIS IMPORTANTES:

 COEFICIENTE DE NATALIDADE: mede a interferência de doenças na natalidade


Nº de nascidos vivos durante 2019, SP
GERAL = --------------------------------------------------------
População média de 2019

Nº de nascidos vivos durante 2011, SP


ESPECÍFICO = -------------------------------------------------------------------
Nº de fêmeas em idade de procriar em 2011

Este coeficiente especifico é denominado Coeficiente de Natalidade Monógeno Feminino.


Representa o risco que uma fêmea tem em apresentar o evento expresso no numerador ou
seja o risco que uma fêmea apresenta em dar origem a um filhote. É importante para medir o
crescimento do rebanho animal.
Às vezes pode haver a conveniência em se trabalhar com coeficientes específicos de
natalidade introduzindo como critério restritivo, além do tempo e espaço, a idade e portanto,
tem-se um coeficiente em função de grupo etário. Por ex.: fêmeas dos seguintes grupos
etários e com seguintes valores de coeficientes de natalidade:
3 |------- 4 anos 30%
4 |------- 5 anos 35%
5 |------- 6 anos 50%
6 |------- 7 anos 55%
7 |------- 8 anos 60%

Poderia tratar-se de um rebanho onde a brucelose é endêmica há muito tempo porque as


fêmeas mais jovens são mais suscetíveis e post
eriormente a suscetibilidade diminui tornando menor o coeficiente de abortamento e
consequentemente aumentado o de natalidade monógeno feminino.

 COEFICIENTE DE MORTALIDADE: mede proporção de mortos na população

Nº de suínos mortos por todas as causas. SP, 2014


GERAL = -----------------------------------------------------------------------------
População média de suínos em 2014

Verifica-se que as únicas restrições são o espaço e tempo. Mede a probabilidade de um


suíno morrer durante 2014, por qualquer causa e em outras palavras significa que mede a
probabilidade de um suíno do denominador tem de vir a sofrer o evento expresso no
numerador.

112
Nº de cães mortos por leptospirose, SP, 2014
ESPECIFICO = -- ----------------------------------------------------------
População canina média em 2014
Em se tratando de outras doenças como carbúnculo sintomático/manqueira, que acomete
preferencialmente animais jovens, o denominador de um coeficiente geral não revelaria o
grupo etário mais acometido. Será conveniente utilizar como denominador o grupo etário
que melhor traduza a doença embora a não restrição da idade confira os 2 exemplos que
seguem a característica de coeficientes específicos para concentrar a medida na população
mais afetada.
Nº de bovinos mortos por Carbúnculo. MG, 2017
----------------------------------------------------------------------------
População média de bovinos/2017

Nº de bovinos de 0 a 2 anos mortos por Carbúnculo. MG, 2017


---------------------------------------------------------------------------------
População média de bovinos de 0 a 2 anos/2017

 COEFICIENTE DE LETALIDADE: é um caso específico do coeficiente de mortalidade com a


distinção do denominador que se refere aos animais doentes pela doença em questão.
Mede a proporção de mortos entre doentes

Nº de animais mortos por diarreia, MT, 2016


---------------------------------------------------------------------
Nº de casos de diarreia

Nº de mortos por Raiva, SP. 2019


--------------------------------------------------------------
Nº de casos de Raiva
 COEFICIENTE DE MORBIDADE: mede o risco que um indivíduo da população do
denominador tem de adoecer.

Nº de doentes por todas as causas, MT, 2019


GERAL = ------------------------------------------------------------------
População média em 2013

Nº de doentes pela causa X, SP, 2019


ESPECIFICO = ---------------------------------------------------------------
População média em 2019

113
MODALIDADES DE COEFICIENTE DE MORBIDADE:
a. MORBIDADE PREVALENTE OU PREVALÊNCIA: em determinado momento pode-se estar
interessado em conhecer o nº ou frequência de animais reagentes ou doentes ou
infectados num determinado momento i.é. mede o nº de casos presentes.
Metaforicamente pode ser comparado a uma fotografia da situação de saúde do rebanho.
b. MORBIDADE INCIDENTE OU INCIDÊNCIA: mede o nº de casos novos que ocorreram num
determinado período de tempo numa população exposta ao risco. Metaforicamente pode
ser comparado a um filme. Ex.: Suponhamos um certo nº de intervalos de tempo e uma
população de bovinos e que o fenômeno interessado seja a Tuberculose e ilustrado na
tabela 6.
Tabela 6. Prevalência e Incidência de certa doença

Tempo
Morbidade
2017 2018 2019 2020
Total de reagentes
5 6 7 8
(Prevalência)
Total de novos casos
3 3 1 1
(incidência)

A incidência depende de um levantamento contínuo de informações, i. é., de um sistema de


registro de casos novos que vão surgindo numa população e é uma visão dinâmica. Mede a
intensidade de ocorrência de uma doença ao longo do tempo, ao resultado de uma medida
profilática adotada ou a força que o parasito apresenta em persistir na natureza, ou seja, de uma
doença.
A população especificada no denominador de um coeficiente de morbidade por não ter sido
igualmente exposta ao risco de infecção pode ser separada em grupos e assim estabelecer um
caso específico de coeficiente de morbidade que é denominado COEFICIENTE DE ATAQUE.
Difere de um coeficiente de morbidade pelo denominador que especifica a natureza do risco de
infecção. Abaixo, ilustração sobre prevalência e incidência (Figura 34)
Figura 34. Ilustração de prevalência e Incidência

2018 2019 2020 2021 2022

*
*
*
*
*
* *
*
*
*

114
* = início do processo ou momento do diagnóstico
= duração do processo

Se uma doença ou uma Fonte de Infecção for introduzida em uma certa área geográfica, pode-se
ter uma população ou parcela desta exposta ao risco de adoecer ao entrar em contato com esta
Fonte de Infeção. Uma outra população ou a outra parcela não infectada no 1º momento poderá
infectar-se adquirindo a infecção a partir dos primeiros casos de doença. Pode-se, portanto, definir
o coeficiente de ataque primário, coeficiente de ataque secundário e outros sucessivamente de
acordo com o interesse da investigação.
O 1º mede o risco que os indivíduos têm, naquelas condições, de adquirir a doença. O 2º mede o nº
de indivíduos que adquiriram a doença/infecção depois de ultrapassado o período de incubação
do anterior.
Ex.: Seja um cão raivoso que tenha mordido outro. O 2º coeficiente poderá medir a capacidade de
propagação da doença, i.é. a capacidade de os indivíduos mordidos virem a adoecer e leva em
conta a infectividade transmissibilidade da doença. Por outro lado, pode retratar também a
intolerância de um sistema de saúde principalmente quando se tratar de doença de notificação
obrigatória e de ação imediata dos órgãos responsáveis pelo controle como é o caso da Febre
Aftosa.

Nº casos de Febre Aftosa, local, 1993


ário
Coef. 1 de ataque = -----------------------------------------------------
População exposta ao risco

Nº casos após o aparecimento dos casos 1ários


Coef. 2ário de ataque = -------------------------------------------------------------------
População exposta ao risco

II. ÍNDICES

Como já foi mencionado acima, índice mede um aspecto diferente do coeficiente. É utilizado para
se conhecer o valor do numerador quando tornamos o denominador igual a 1 (um). Os índices
mais importantes são o índice Vital de Pearl, índice de Mortalidade Proporcional e índice
demográfico.

a. ÍNDICE VITAL DE PEARL: É ainda pouco utilizado em Medicina Veterinária. É entendido como:

Nº de nascidos vivos
-----------------------------------------------------
Nº de óbitos em determinada região

Este índice pode assumir diferentes valores tais como:


= 1 - Significa que a população está estacionária
> 1 - Significa que a população está em crescimento

115
< 1 - Significa que a população está em declínio

b. ÍNDICE DE MORTALIDADE PROPORCIONAL: Relaciona o nº de óbitos por uma determinada


causa e o nº total de óbitos numa dada população. Pode ser utilizada para orientar uma
atuação sanitária para estabelecer hierarquia de saúde numa coletividade.

Nº de óbitos por causa X


-----------------------------------------------------------------
Nº total de óbitos por todas as causas em uma área

c. ÍNDICE DEMOGRÁFICO: Relaciona o nº de indivíduos ou animais por unidade de área,


geralmente km2.
Nº de indivíduos
---------------------------------------------
Extensão da área geográfica

SISTEMÁTICA RELATIVA À COLHEITA DE INFORMAÇÕES: É O sistema mais deficiente seja em


populações humanas seja em populações animais. Implica na existência de um Serviço
coordenado de notificação, colheita e organização de dados para avaliação dos resultados de
medidas profiláticas e comunicação aos órgãos superiores encarregados dos programas e a
organismos Internacionais responsáveis pela colheita e divulgação da distribuição geográfica
mundial de doenças dos diferentes países.

III. O MÉTODO PROFILÁTICO

Tanto na Medicina Curativa como na Medicina Preventiva aplicada em uma população, é preciso
considerar 3 aspectos fundamentais:
i. Escolha do método
ii. Aplicação do método
iii. Avaliação do método

Se numa certa população de bovinos, 40% dos animais se encontra infectado pela tuberculose, é
impossível pretender-se o sacrifício dos reagentes. Isto explica a importância do conhecimento da
prevalência para a orientação da medida profilática. Serão abordadas as medidas profiláticas
relativas a cada elo da cadeia epidemiológica.
Em se tratando de aves e suínos, observar a doença e a legislação vigente. Por exemplo
Doença de Newcastle em criações comerciais, salmoneloses tíficas e paratíficas, peste suína
clássica, peste suína africana, PRRS: doença de notificação obrigatória e adoção de medidas
preconizadas no Brasil que é o sacrifício obrigatórios de todo rebanho e demais medidas de
saneamento ambiental.

116
CAPÍTULO 6
MEDIDAS DE PROFILAXIA

1. MEDIDAS GERAIS DE PROFILAXIA: educação em saúde.


2. MEDIDAS GERAIS RELATIVAS ÀS FONTES DE INFECÇÃO: A) possibilidades de diagnóstico (a.
diagnóstico clinico; b. diagnóstico laboratorial; c. aplicação dos testes imunológicos; d. características
dos métodos diagnósticos/sensibilidade. Especificidade, concordância, praticidade; e. diagnóstico
epidemiológico). B) 1. Sacrifício; 2. Tratamento; 3. Isolamento; 4. Comunicantes (roedores
sinantrópicos e roedores silvestres).
3. MEDIDAS DE PROFILAXIA RELATIVAS ÀS VIAS DE TRANSMISSÃO: i) contágio direto; ii) contagio
indireto (fômites; aerógena/núcleos de Wells e gotículas de Flϋgge); iii) vetores (medidas preventivas
e ofensivas); iv) hospedeiro intercalado (prevenção e controle); v) alimentos/ração; vi) água; vii) solo.
4. MEDIDAS DE PROFILAXIA RELATIVAS AOS SUSCETÍVEIS: A) vacinação (uso correto; resposta
imune; interferência da vacinação no diagnóstico; imunização do ponto de vista individual e
populacional)
5. MEDIDAS DE PROFILAXIA RELATIVA AOS COMUNICANTES: i) sacrifício; ii) quarentena; iii) vigilância
sanitária; iv) animais sentinelas; v) profilaxia medicamentosa/quimioprofilaxia; vi) imunização (ativa,
passiva e combinada)

1. MEDIDAS GERAIS DE PROFILAXIA: EDUCAÇÃO EM SAÚDE

São medidas que não se referem particularmente a nenhum elo da Cadeia Epidemiológica, porém,
apresentam grande importância pelo caráter geral.
Educação em saúde é a parte mais importante dentre as medidas gerais e que gradativamente
vem adquirindo enfase em Medicina Veterinária.
Atualmente, as medidas de biosseguridade são mandatórias na prática de saúde animal. Objetiva
informar, motivar, envolver e treinar produtores e/ou auxiliares da área de produção no que
respeita à execução de todas as medidas pertinentes. A inspeção e avaliação periódicas são
essenciais para corrigir rumos e repetir treinamentos indefinidamente. Essencial que existam
Manual de Biosseguridade, fichas de execução de cada atividade e posts ilustrando a execução
como tomar banho, lavar as mãos, usar pedilúvio etc.
Existem certos problemas em que estas medidas são necessárias e até impositivas pois, sem elas
os resultados da atuação profilática com relação aos elementos da cadeia epidemiológica seriam
insuficientes.
Exemplo:
No complexo teníase-cisticercose, a medida mais recomendada e eficiente é a educação sanitária
visando a disposição adequada de excretas humanas para impedir a contaminação do solo e
consequente infecção do suíno/bovino.
Não obstante a facilidade teórica da erradicação da doença, existem sérios entraves à aplicação
de medidas para dar destino aos excretas humanos mesmo quando da existência de apoio de
órgãos governamentais com construção de sistemas adequados de disposição de dejetos no meio
rural (fossas). Esta iniciativa muitas vezes não representa nada, pois as fossas poderão ser
utilizadas para qualquer finalidade menos para aquela primordial em decorrência dos hábitos que

117
os indivíduos possuem e é muito difícil conseguir a modificação desses hábitos e educar essas
populações do ponto de vista sanitário para o uso das fossas.
Na Toxoplasmose, a complexidade do ciclo biológico do protozoário, a epidemiologia com uma
cadeia de transmissão complexa e a profilaxia que ainda não dispões de medidas específicas, o
controle está baseado na aplicação de medidas inespecíficas que para a sua efetiva aplicação não
prescinde de um processo educativo tais como disposição correta de fezes de gatos, proteger
tanques de areia em pré-escolas quando não estiverem em uso.
O problema ocorre também nas Ancilostomíases, zoonose que tem no cão sua principal fonte de
infecção para o hem da larva migrans cutânea. A baixa Educação em Saúde concorre para manter
a endemicidade da doença. Este é um aspecto de relevância tanto em doenças humanas como
animais porque existe sempre o envolvimento do fator humano.
O problema das mastites é também característico de falha na Educação em Saúde do homem que
trabalha na ordenha e é o maior responsável pela ocorrência desta doença pelo baixo grau de
higiene, utilização de vasilhames contaminados, mãos contaminadas, vícios de ordenha, manejo
inadequado e uso de fômites contaminados.
Em qualquer atividade de profilaxia, há que se contar sempre com os indivíduos envolvidos direta
ou indiretamente nas atividades diárias de manejo dos animais. Diretamente quando o homem for
o responsável pelo atendimento primário à saúde dos animais e indiretamente quando se requer
a compreensão da população humana para determinadas atividades consideradas fundamentais
para a profilaxia. Exemplo deste último caso é a Raiva: uma das medidas fundamentais é a captura
de cães errantes e a população deve estar suficientemente esclarecida para o entendimento da
medida e não provocar tumulto ou reação impeditiva.
Quando da erradicação de Febre Aftosa no México, baseado no sacrifício dos animais doentes e
comunicantes, houve uma violenta reação por parte dos fazendeiros e este episódio pode ser
facilmente transferível para as nossas condições. Isto revela como é muito mais importante
conquistar a cooperação do que impor programas ou ações sem o cuidado da Educação em Saúde
das populações humanas envolvidas.
Problemas como a erradicação do Aedes aegypty com vistas à Febre Amarela, tiveram sérios
obstáculos devido à impossibilidade de aplicação de inseticidas nos domicílios onde o problema
aparentemente não era grave. Para se obter a colaboração da população é preciso, muitas vezes,
utilizar alguns atalhos como por ex. reduzir a densidade populacional de outros artrópodes.
Os pontos de risco passiveis de serem gerenciados Tabela 35.

Obs. antes de iniciar o estudo das medidas de profilaxia relativas a cada elo da cadeia
epidemiológica (de transmissão), ler atentamente as 2 tabelas abaixo apresentadas objetivando
o acompanhamento deste capítulo. Atentem que a cadeia é constituída por 5 elos (fontes de
infecção, vias de eliminação, vias de transmissão, portas de entrada e suscetíveis) com ênfase nos
comunicantes que não pertence á cadeia epidemiológica

118
Quadro 6. Identificação dos pontos de risco das medidas de biosseguridade para a avicultura
considerados alvos pra fins de educação em saúde.

ELOS DA CADEIA EPIDEMIOLÓGICA A SEREM INTERROMPIDOS


DOENÇA OU
AGENTE Fonte de
Via de transmissão/pontos de risco Suscetíveis
ETIOLÓGICO infecção
Matrizes; Cuidados nas incubadoras não misturando ovos de diferentes
portadores e origens; prevenir contaminação da ração, cama, água Sacrifício de
S. Pullorum galinhas de contaminadas; roedores; moscas; fômites; veículos; portadores
criações de equipamentos; e descartar aves mortas fora dos limites da Vacinação
subsistência. granja.

Matrizes; Cuidados nas incubadoras não misturando ovos de diferentes


portadores e origens; prevenir contaminação da ração, cama, água
S. Gallinarum galinhas de contaminadas; roedores; moscas; fômites; veículos; Vacinação
criações de equipamentos; e descartar aves mortas fora dos limites da
subsistência. granja.
Prevenir acesso de animais estranhos incluindo aves de vida
livre na granja, prevenir contaminação da ração, cama, água
Salmonelas Reservatórios, contaminadas; roedores; moscas; fômites; veículos;
paratificas portadores equipamentos; e descartar aves mortas fora dos limites da
granja.
Reservatórios
(perus), aves Desinfecção do ar durante ocupação, destinação adequada de
M. synoviae dejetos e cama
doentes e
portadoras
Prevenir ou
M. mitigar entrada Desinfecção do ar durante ocupação, destinação adequada de
dejetos e cama Vacinação
gallisepticum de reservatórios
na granja
Desinfecção do ar durante a ocupação; desinfecção da água;
Laringotraqu sanitização de fômites, equipamentos e instalações;
Aves portadoras destinação adequadas de aves mortas e de dejetos; controle Vacinação
eite
de pragas.

Aves de criações Prevenir entrada de aves estranhas, desinfecção do ar durante


D. Newcastle ocupação, destinação adequada de dejetos e cama. Vacinação
de subsistência
Influenza Prevenir entrada de aves estranhas principalmente aquáticas,
Aves aquáticas higiene pessoal dos funcionários e entrada de visitantes
aviária

119
Quadro 7. Identificação dos pontos de risco das medidas de biosseguridade para a suinocultura
considerados alvos pra fins de educação em saúde.

ELOS DA CADEIA EPIDEMIOLÓGICA A SEREM INTERROMPIDOS


Doença ou
agente Fonte de Via de transmissão/pontos de risco
Suscetíveis
etiológico infecção
Tratamento da agua; controle de roedores, moscas;
S. chollera suis Sacrifício sanitização fômites, veículos, equipamentos; controle Vacinação
fábrica de ração e na armazenagem.
Tratamento da agua; controle de roedores, moscas;
E. coli (α e  Nada se pode sanitização fômites, veículos, equipamentos e
hemolíticos) fazer instalações.
Tratamento da agua; controle de roedores, moscas;
Lawsonia Nada se pose sanitização fômites, veículos, equipamentos e
intracellularis fazer instalações
Micoplamsa Evitar superlotação, ventilação e desinfecção do ar
Tratamento?
hyopneumoniae
APP Tratamento? Evitar superlotação, ventilação e desinfecção do ar
Haemophilus Evitar superlotação, ventilação e desinfecção do ar
Tratamento?
parasuis
Vacinação
Doença de Controle de roedores quando
Sacrifício
Aujeszky permitida pelo
SVO
Evitar presença
Toxoplasmose de gatos da Controle de roedores
granja
Cuidado na
aquisição de
animais para Tratamento?
Sêneca vírus
reposição do
plantel.
Tratamento?

2. MEDIDAS DE PROFILAXIA RELATIVAS ÀS FONTES DE INFECÇÃO (FI)

Inicialmente é necessário detectar as FI, i.é. diagnosticar os animais doentes ou portadores e em


seguida notificar às autoridades sanitárias por parte dos profissionais competentes. A
identificação das FI se faz através dos métodos diagnósticos que apresentam algumas
características, mas 2 aspectos devem ser considerados em ternos individuais e em ternos de
coletividades.

 POSSIBILIDADES DE DIAGNOSTICO

a. DIAGNÓSTICO CLÍNICO

A importância dos sintomas clínicos de uma doença é baseada nas pesquisas dos mesmos. Nem
sempre tal comportamento é possível, pois, os sinais podem não ser patognomônicos e que

120
quando existem, são raros. A despeito desta limitação, o diagnóstico clínico não deve ter seu valor
rejeitado por representar um primeiro sinal de alarme para uma alteração da saúde dos animais.
b. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
i. PROVAS INESPECÍFICAS: exames de sangue, urina, fezes, radiologia. Pode-se recorrer a
provas como hemograma, determinação bioquímicas como de glicose, hemoglobina, exames
radiológicos, exames de fezes e de urina etc. Ex.: Antes do advento da prova de Imunodifusão
em gel de ágar para Leucose Bovina, o leucograma apresentava imprescindível instrumento
de diagnóstico. A prova de imunodifusão em gel de ágar para Anemia Infecciosa Equina foi
precedida por provas inespecíficas como hemograma, hematócrito, sideroleucócitos e perfil
de eletroforese em soros de animais suspeitos.
ii. PROVAS ESPECÍFICAS: tem-se as provas diretas e indiretas.
PROVAS DIRETAS: repousa na observação do próprio agente etiológico e identificação pelas
características morfológicas. Em esfregaços de sangue em laminas pode-se observar
babesias, anaplasmas, etc. Pelo exame de fezes pode-se observar a presença de ovos de
vermes com ou sem o recurso do enriquecimento. O enriquecimento pode ser realizado por:
centrifugação, em meios de cultura/ cultivo celular ou pela inoculação em animais de
laboratório.
PROVAS INDIRETAS: a pesquisa indireta de parasitos baseia-se nas propriedades
imunogênicas dos mesmos e para tanto se recorre às provas sorológicas como: Fixação de
Complemento, Soroaglutinação, Hemaglutinação, Hemadsorção, Neutralização,
Imunofluorescência, ELISA, ou por provas alérgicas que se baseia na introdução de produtos
de metabolismo do próprio agente como é o caso da Tuberculina.
De modo geral, não se utiliza uma única prova, mas recorre-se a um conjunto de provas
capazes de conduzir a um diagnóstico exato da enfermidade. Assim, em se tratando da
Brucelose temos os seguintes recursos:
Brucelose em bovinos:
Isolamento da Brucella: principalmente a partir da placenta, secreções vaginais após
abortamento, conteúdo estomacal de fetos abortados e nos períodos entre partos
pode-se tentar isolar a partir de leite (bovinos, caprinos e ovinos).
Sorologia: do ponto de vista populacional, as provas imunológicas são importantes
porque podem ser aplicadas em um grande nº de animais.
Teste presuntivo: teste Rosa Bengala, soro-aglutinação, ELISA (indireto ou de
competição), ou fluorescência de polarização como provas de triagem aplicadas em
amostras de soro sanguíneo.
Teste definitivo: cultura bacteriana
Outros testes podem ser utilizados para a avaliação indireta como Soroaglutinação rápida, soro
aglutinação lenta, Fixação de Complemento.

121
A soro aglutinação rápida é realizada em lâminas de vidro utilizando-se antígeno padronizado
e considera-se positivo o animal não vacinado que apresentar título  que 100.
Outros testes são baseados na detecção de macroglobulinas ou microglobulinas que
apresentam grande valia em fase final de programa de controle quando se deseja maior
especificidade. Numa fase inicial basta a soroaglutinação rápida que apresenta alta
sensibilidade (98%).
Ring-test: é uma prova importante e difundida, principalmente para fins de identificação de
rebanhos infectados. É um método utilizado e recomendado rotineiramente para triagem
inicial, pois, é realizado com material colhido em usinas de leite. Cada latão possui leite de
muitos animais, porém esta técnica permite a identificação de rebanhos infectados dada a
elevada sensibilidade que se manifesta positiva mesmo que a mistura do latão contenha leite
de apenas 1 vaca infectada. Obviamente não se pode identificar a porcentagem de animais
infectados presentes no rebanho e, além disso, restringe-se apenas àquelas vacas em lactação.
Brucelose em ovinos, caprinos e suínos
A soro aglutinação apresenta baixa sensibilidade, i.é. apenas um baixo percentual de animais
realmente infectado reage positivamente e dai uma interpretação especial que é realizada em
ternos de rebanho e não de indivíduo. Se um suíno for positivo à prova mencionada, todo o
rebanho é considerado infectado. Esta interpretação é justificada da seguinte forma:
 a propagação da doença é mais rápida entre suínos do que em bovinos pelo próprio
sistema de criação;
 a baixa sensibilidade da prova deve-se à heterogeneidade do agente contido no antígeno
o a espécie do agente causal da doença em suínos. Ressalte-se que nesta espécie, os
animais mais jovens são mais suscetíveis.

Em aves
 Laringotraqueíte infecciosa: provas diretas (Histopatologia, PCR-RT, isolamento viral para
detecção do antígeno ou do genoma do vírus GaHV-10) e prova indireta (imunodifusão em
gel de ágar)
 Doença de Newcastle: prova direta (provas moleculares especificas) e Provas indiretas
(sorologia – não distingue imunidade narural e vacinal)
 Bronquite Infecciosa (IBR): provas diretas (isolamento, identificação e tipificação viral) e
provas indiretas (sorologia para avaliação de níveis de anticorpos)
 Influenza aviária: provas diretas (detecção da proteína ou ácido nucleico vural, cultino
celular ou em ovo embrionado, isolamento e identificação)

c. APLICAÇÃO DOS TESTES IMUNOLÓGICOS


A presença de Ac específico em soro de 1 animal significa uma exposição prévia a um epítopo
presente naquele microrganismo e não significa que a infecção ou doença intercorrente esteja
presente no momento do teste. A infecção ou doença gera um antissoro que contém uma
coleção heterogênea de Ac. A maioria dos soros de equinos contém Ac contra Salmonella
typhimurium, mas não prova que os equinos sofram de salmonelose. Isto significa que uma

122
única prova para dosagem de Ac tem importância diagnóstica. Se 2 amostras de soro forem
colhidas com intervalo de 1-3 semanas de intervalo e a diferença de título for igual ou maior a 4
vezes, pode-se inferir que se está diante de uma infecção ativa ou doença. Um 2o ponto a ser
considerado, á a possibilidade de ocorrência de erros técnicos decorrentes do uso de controles
inapropriados no teste. Um 3o tipo de erro é aquele decorrente da ocorrência de resultados
falso-positivos e falso-negativos e são erros inevitáveis.

d. CARACTERÍSTICAS DOS MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO


Cada método diagnóstico apresenta certas peculiaridades que devem ser lembradas quando
utilizadas. Algumas vezes é necessário um diagnóstico de massa. Outras vezes necessita-se de
um diagnóstico individual. Quando se está estudando uma doença, dispõe-se de muitas
técnicas a serem escolhidas como: inoculação, sorologia, identificação do agente etc. Muitas
vezes recebe-se esta informação acerca de vários métodos e não raro desconhece-se as
diferenças entre eles.
Suponha um teste "D". Apresenta absoluta especificidade quando fornece um resultado
positivo a uma doença "D" e fornece resultado negativo quando se tratar de doença que não
a "D".
Assim, há que se considerar as características das provas laboratoriais quando a variável é de
natureza qualitativa e que são: sensibilidade, especificidade, concordância e praticidade.
i) SENSIBILIDADE: é a capacidade que apresenta o método diagnóstico de descobrir um caso
de infecção. Se tivermos 100 animais seguramente infectados por um agente etiológico e
"n" métodos para fins de diagnóstico (A; B; C):

A - Detecta 55 -------- 55% de sensibilidade


B - Detecta 65 -------- 65% de sensibilidade
C - Detecta 80 -------- 80% de sensibilidade

Se um método detecta um alto percentual de infectados, diz-se que apresenta elevada


sensibilidade. Detecta-se um pequeno nº de animais seguramente infectados, o método
apresenta baixa sensibilidade.

SA > SB > SC porque 80% > 65% > 55%

Testes de baixa sensibilidade resultam em elevado número de falso-negativos. Testes


altamente sensíveis tendem a ser relativamente inespecíficos (elevado número de falso-
positivo). É difícil ter um teste com alta sensibilidade e alta especificidade. Ex. de testes de
alta sensibilidade: PCR-RT, soro-aglutinação, CMT para mastite,

ii) ESPECIFICIDADE: é a capacidade que o método apresenta de detectar como positivo


quando se tratar de um animal infectado por um determinado agente etiológico. Só pode
ser medido se existirem animais não infectados que deverão ser necessariamente
negativos à prova em questão, pois caso contrário reduz a especificidade da prova
123
diagnostica. Seja por ex. um método "A" qualquer onde "b" é a frequência de falsos
negativos e "c" a dos falso- positivos (Quadro 8)

Quadro 8. Ilustração genérica sobre sensibilidade, especificidade e concordância

RESULTADO
CONDIÇÃO
Positivo Negativo Total
Infectado a b a+b
Não infectado c d c+d
Total a+c b+d a+b+c+d

a
S = ----------
a + b

d
E = -----------
c + d

Quanto menor for o valor de "b" (falso negativos), maior será a sensibilidade. Quanto menor
for o valor de "c" (falso positivo), maior será a especificidade. Quando o método é 100%
específico, c= 0 e "d" adquire valor máximo indicando não haver falsos positivos.
Testes de baixa especificidade resultam em elevado número de falso-positivos. Testes de
elevada especificidade tendem a apresentar baixa sensibilidade (elevado número de falso-
negativos). As exigências quanto às características desejáveis de um teste, dependem das
exigências do pesquisador, da natureza do Ag empregado, da praticidade e da sensibilidade e
especificidade. A seleção de um bom teste representa um compromisso entre a sensibilidade,
especificidade e praticidade i.é. número de etapas envolvidas, custo e natureza dos
equipamentos necessários. Muitas vezes é preferível um teste altamente sensível a um teste
altamente específico.
iii) CONCORDÂNCIA: É a soma da sensibilidade e especificidade ( S + E) e portanto, quando ambos
adquirem valor máximo, a concordância será igual a 1 ou 100% e representa em outras palavras
a % de resultados corretos.

a+d
C = -------------
N
iv) PRATICIDADE: É uma característica importante, principalmente em se tratando de trabalhos
epidemiológicos com um grande nº de animais e difere muito dos aspectos que envolvem
apenas um animal. Algumas técnicas podem ser menos perfeitas que outras, mas é utilizada
principalmente pela maior praticidade. Denota as possibilidades de utilização dada a fácil
aplicação.
124
Existem provas que apresentam baixa sensibilidade e alta especificidade tais como a
visualização de parasitas nas fezes, na urina, sangue etc.
Por outro lado, existem provas relativamente sensíveis, mas, apresentam baixa especificidade
em detectar certas espécies de parasitos que revelam reações cruzadas. Ex.: detecção de
Leptospiras.
Muitas vezes se pode ter provas altamente específicas, mas, sem a conveniente aplicação. Em
se tratando de Tuberculose, o método ideal e mais específico seria o isolamento da bactéria,
mas as dificuldades são em grande nº bem como tempo necessário pé muito grande. Por outro
lado, o método da tuberculinização é muito mais prático.
Quando se está interessado em testar a Sensibilidade de um novo método relativamente a
outro já padronizado, é suficiente examinar a concordância de ambos.
Se estivermos diante de um valor encontrado da prevalência é possível averiguar se este valor
encontrado está sub ou superestimando o verdadeiro valor da prevalência populacional devido
à existência de um certo nº de falsos positivos dada a especificidade do método. Assim,
podemos ter as seguintes situações para uma população cuja prevalência de uma determinada
doença é igual a 40%:
 Se a sensibilidade do método é igual a 60%, tem-se 24 realmente positivos detectados e os
restantes 14 são falso-negativos por não terem sido detectados pelo método. O valor 24
estará subestimando o verdadeiro valor da prevalência de 40% e pode-se introduzir uma
correção para a estimativa.
 Se a Especificidade for igual a 90%, nesta mesma população de 40% de prevalência, o método
não irá detectar os 40 realmente positivos, mas um nº maior de positivos e igual a 50. Os 10
encontrados além dos 40 verdadeiros positivos são falso-positivos. O valor 50% estará
superestimando o valor da prevalência.
Qualquer teste laboratorial pode ser avaliado relativamente à sensibilidade e especificidade
para fins de seleção de um método passível de ser utilizado. Um critério para a escolha de
uma prova capaz de detectar FI é o seguinte:
Método A - 60% de sensibilidade
Método B - 80% de sensibilidade
A praticidade do método A é 4 vezes superior ao do B e portanto, significa que num mesmo
período de tempo pede-se examinar 400 animais com o método A enquanto que com o B
é possível examinar-se 100. É possível demonstrar pela escolha do método A deduzindo-se
pelo cálculo da prevalência por intervalo de confiança para uma prevalência de 10%:
p.q p.q
LC (p - z <<p+ z ) = 1 -  (95% ou 99%)
n n
onde q = 1 - p e ( p + q ) = 1 ou 100%
Para LC = 95% z = 1,96
Para LC = 99% z = 2,545
125
Método A:

6.94 6.94
LC (6 - 1,96 <  < 6 + 1,96 = 95%
400 400
LC (3,7 <  < 8,3 ) = 95% , onde ( 8,3 - 3,7 ) = 4,6

Recebe a denominação de intervalo de confiança.

Método B:

8.92 8.92
LC (8 – 1,96 <  < 8 + 1,96 ) = 95%
100 100

LC (0,7 <  < 11,3 ) = 95%, onde ( 1,3 - 0,7 ) = 10,3

Quanto menor for o intervalo de confiança melhor será a estimativa e, portanto, o método A
estima com maior preciso à prevalência da doença/infecção na população contornando-se a sua
baixa sensibilidade aumentando-se o tamanho da amostra.
A identificação precoce das FI apresenta uma grande importância do ponto de vista da profilaxia.
Será mais difícil a identificação quanto maior for o nº de animais portadores e infecções
subclínicas. A propagação de uma doença é função da permanência de animais FI na população.
O potencial de FI depende do nº de fontes de infecção e da mobilidade das mesmas. Descoberta
a FI, segue-se medidas profiláticas de caráter geral.

e. DIAGNÓSTICO EPIDEMIOLÓGICO
Refere-se ao conjunto de informações sobre frequência de ocorrência em diferentes momentos e
em diferentes locais, sobre os animais e o meio ambiente.

 MEDIDAS DE PROFILAXIA APLICADAS ÀS FONTES DE INFECÇÃO

1. SACRIFICO: é uma medida aplicável na dependência de certos aspectos que serão considerados
isoladamente, mas lembrar sempre que implica na existência, no pais, de condições de suportar
uma queda na produção. Os aspectos a serem considerados são:
a. Prevalência da doença/infecção: Naturalmente o sacrifício é uma medida aplicável em
coletividade onde a prevalência é baixa. Se for elevada, as consequências do ponto de vista
social e econômico serão graves.
b. Natureza do agente e condições do meio ambiente: É preciso considerar se o agente é capaz
de resistir às condições do meio ambiente. Se realmente apresentar resistência, o sacrifício

126
de uma ou mais FI não será suficiente para o controle da doença porque o meio ambiente
encontra-se contaminado. Ex. Bacillus anthracis, Clostridios etc.
c. Reservatórios: A importância é maior quando reservatórios forem representados por
animais silvestres e a sua densidade populacional elevada. De nada adiantaria controlar a
doença em população de animais domésticos se não existirem medidas adequadas capazes
de atingir os reservatórios. Na Europa a raiva encontra-se em uma situação de baixa
endemicidade. A sua erradicação não foi possível devido a existência de canídeos silvestres
que estio se aproximando das áreas habitadas pelo homem. Existem, atualmente, recursos
de vacinação de raposas por via oral pelo oferecimento de vacinas colocadas no interior de
iscas alimentares.
d. Animais pré- munidos: A babesiose e anaplasmose encontram-se amplamente difundidos
no Brasil bem como em população de Ixodideos que são vetores biológicos e nos quais o
parasito é transmitido por via transovariana.

e. Viabilidade do sacrifício das FI como medida de prevenção:


Recomendado, principalmente quando a doença acarreta elevados prejuízos em rebanhos
animais de curto período de vida como é o caso de suínos, galinhas, ou quando o valor do
animal é baixo ou em se tratando de populações na qual a doença/infecção ocorre com baixa
prevalência. Há casos como o da Pulorose cuja medida mais recomendada é o sacrifício dos
mesmos mesmo em situações de elevada prevalência.
Mesmo considerando a extensão geográfica, há países que adotam o sacrifício como é o
caso dos EUA, que conseguiram erradicar a Febre Aftosa adotando medidas de sacrifício das
FI e dos Comunicantes.
No Brasil, à semelhança do que ocorre em outros países, adota o sacrifício em casos de
equinos positivos para anemia infecciosa equina, brucelose em suínos (sacrifício de FI e dos
comunicantes) e febre aftosa em regiões onde a política sanitária é a erradicação com ou
sem vacinação. Brucelose em Bovinos: em certos países, a medida mais adotada é a
identificação das FI e posterior sacrifício. No Brasil este método não foi viável quando a
prevalência era elevada, mas já é possível em criações de gado leiteiro. Portanto, o sacrifício
é medida recomendada quando: a prevalência é baixa; ou quando da reintrodução de
doenças já erradicadas; ou quando é fácil a renovação da população.
2. TRATAMENTO: Se muitas vezes o sacrifício é medida impraticável, deve-se recorrer à redução
da capacidade infectante, i.é., capacidade de eliminação do agente bem como o tempo de
eliminação. O tratamento é uma medida capaz de reduzir o período de transmissibilidade
promovendo a cura dos doentes e consequentemente limitando a transferência do parasito de
um hospedeiro a outro.
A aplicação desta medida pode ou não ter maior ou menor oportunidade de aplicação em uma
população. Não é aplicável na dependência do nº de FI e da natureza do agente etiológico. Ex.
Tratamento anti-helmíntico em bovinos pode propiciar a contaminação do solo.

127
Por outro lado, tem-se anti-helmínticos que administrados de forma contínua podem reduzir a
ovoposição bem como inibir a evolução de certos ovos de vermes. As consequências do uso
sistemático destas drogas servem para prevenir a infecção do suscetível porque nem sempre
reduz a infecção da FI, mas sim a contaminação do solo. Além da aplicação prática, existem as
implicações econômicas que envolvem o método bem como é preciso considerar a
conveniência ou não de eliminar o parasito.
Por ex.: não teríamos condições de erradicar a Anaplasmose, mas não seria uma medida
adequada, pois, não existe a possibilidade de eliminar com a população de carrapatos bem
como há a agravante de existirem animais silvestres que atuam como reservatórios da
enfermidade e num outro tempo poderiam reintroduzir a anaplasmose na população de
animais domésticos suscetíveis bem é preciso lembrar que os adultos são mais suscetíveis que
os jovens.
3. ISOLAMENTO: Em se tratando de doenças crônicas como a Brucelose bovina há a possibilidade
de segregação de animais reagentes dos não reagentes. Naturalmente existem as limitações
por implicar na existência de pastagens de extensão considerável para abrigar 2 populações e
é agravado pela resistência do agente às condições do meio ambiente. O isolamento implica,
portanto na existência de instalação especial, pessoal devidamente treinado, enfim duplicação
das atividades.
Em Medicina Veterinária, não temos ainda hospitais de isolamento, porém há possibilidade de
segregar pequenos animais nas próprias residências ou em hospitais particulares. Em se
tratando de equinos, pode ser uma medida excepcional.
O mais utilizado é o isolamento de grupos de animais infectados dos não infectados desde que
a transmissão não implique na participação de vetores biológicos. É o caso da Tuberculose,
Brucelose etc. Não esquecer também, que esta medida exige a duplicação de pastagens, mão
de obra, abastecimento de água e alimentos etc.
Outra alternativa seria a venda de animais reagentes a um criador de animais infectados. Esta
medida exige ética, responsabilidade e reconhecimento por parte dos órgãos governamentais
para que seja amparado pela legislação e apresente limitação no tempo por ser uma medida
temporária.
Enfim, o isolamento é uma medida recomendada após a aplicação de provas diagnosticas ou
de informações epidemiológicas conjugado e do conhecimento do período de transmissão do
agente etiológico.
Após todas estas considerações, deve-se ter em mente que todas estas medidas aplicáveis às
FI são fáceis quando há manifestação típica da doença e que o início do período de
transmissibilidade pode anteceder aos sintomas.
4. MEDIDAS RELATIVAS AOS RESERVATÓRIOS
a. ROEDORES SINANTRÓPICOS: é preciso diagnosticas a presença das diferentes espécies
através o conhecimento das:

128
 Características externas: tamanho, peso, pelagem, comprimento da cauda forma e cor
das fezes, fluorescência da urina.
 Características fisiológicas e hábitos de vida: locais de formação de ninhos, atividade
noturna ou diurna, dificuldade de visão, órgãos sensoriais (vibrissas), olfato, escavadores
ou escaladores, preferências alimentares, desconfiados, materiais preferenciais para
roer, locais onde deixam marcas de pelos e vibrissas.
Medidas defensivas ou preventivas: medidas de biosseguridade
Prevenir invasão em estabelecimentos de produção animal: construção de cercas
e portões apropriados e manter sistema continuo de inspeção e correção.
Áreas entre galpões: manter limpos e periodicamente inspecionados quanto à
presença de ninhos e rastros de roedores.
Instalações de criação e de suporte:
Externamente: ausência de aberturas e orifício que favoreçam a entrada de
roedores nos galpões, eliminar locais de formação de ninhos (remoção de entulhos)
e eliminar fontes de alimento (proteção de lixo, de armazéns de produtos
alimentícios pelo uso de estrados de apoio, colunas com defensas).
Internamente: eliminar locais que possam ser refúgios
Medidas ofensivas ou de controle: uso de meios físicos (ratoeiras, armadilhas) ou de meios
químicos (rodenticidas).
c. ROEDORES SILVESTRES: prevenir a entrada nos estabelecimentos de produção animal

3. MEDIDAS DE PROFILAXIA RELATIVAS ÀS VIAS DE TRANSMISSÃO

As possibilidades de atuação são maiores quando o parasito permanece longo tempo no meio
ambiente.
i) CONTAGIO DIRETO: há superposição entre o organismo da FI e do Suscetível e, portanto,
a VT é virtual. Por ex.: nada se pode fazer, em termos de VT, em casos de mordedura por
cães raivosos e em casos de doenças venéreas.
ii) CONTAGIO INDIRETO: a distância entre a FI e Suscetível é pequena porque as doenças
cujos respectivos agentes etiológicos apresentam baixa resistência às condições do meio
ambiente e a resistência depende de condições de sombreamento. Assim, no contágio
indireto, as possibilidades de atuação serão tanto maiores quanto menores forem as
relações, no tempo e no espaço, entre as FI e o Suscetível para favorecer a permanência
do agente etiológico no meio ambiente. As modalidades de VT são via fômites e
transmissão aerógena:
a) Fômites: deve-se dispensar especial atenção a este elemento procedendo-se à
limpeza e desinfecção que objetivam reduzir e até eliminar a contaminação. A
limpeza visa remover sujidades com auxílio de escovas, panos, esponjas, pás,
vassouras etc. A varredura deve ser preferencialmente realizada com solo/piso
umedecido para evitar que poeiras sejam levantadas e, portanto, prevenir a infecção
129
dos animais e do homem por via aerógena pela inalação de pó. A lavagem completa
a remoção de sujidades, o detergente dissolve as gorduras que são eliminadas pelo
enxágüe e em seguida desinfetar para a destruição dos micro-organismos
remanescentes.
Os desinfetantes usuais eliminam formas vegetativas de bactérias, vírus e larvas de
helmintos e alguns podem apresentar ação sobre oocistos de protozoários, ovos de
vermes e esporos de microrganismos anaeróbicos (consultar a especificidade do
desinfetante). Mesmo com o emprego de concentrações (diluições) corretas, a
desinfecção não elimina totalmente a contaminação que só seria alcançada pela
esterilização. Devem ter sido previamente aprovados pelo Órgão Oficial para o uso
destinado (No Brasil, é pelo Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária/
MAPA/Brasil) e seguir as recomendações de uso quanto à armazenagem, diluição,
tempo para ação, tempo para manter as instalações vazias, descarte de embalagens,
contacto com crianças, animais e pessoas que estão especificados no rótulo. Todo
bom desinfetante deve apresentar algumas características como ser incolor ou não
manchar objetos, inodoro ou com pouco odor ou rapidamente dissipado, alto poder
residual (manter poder de destruição dos agentes depois da aplicação para eliminar
eventual resíduo de contaminação), econômico, alto espectro de ação, estável à
temperatura do ambiente e de fácil aplicação. Os desinfetantes mais utilizados são
os derivados de halogênios (fenol, difenol, cloro, cresóis, iodo), derivados
quaternário da amônia, glutaraldeidos, formaldeidos, peróxidos, peracéticos,
clorexidina e suas misturas. O Processo de caiação (uso de cal, água de cal, cal
clorada) não é utilizada para fins de desinfecção, mas apenas como indicador visual
de limpeza e desinfecção realizados.
b) Aerógena: adquire importância, principalmente em se tratando de transmissão à
distância. Quanto menor for a distância entre a fonte de infecção e o Suscetível
aumentam as possibilidades de atuação profilática. Podemos recorrer a agentes
químicos ou físicos para a destruição do parasito. Ex.: Radiação Ultravioleta,
desinfecção do ar por nebulização de desinfetantes etc.
 NÚCLEOS DE WELLS: sua eliminação se faz por ventilação, nebulização de
substância germicidas, desinfecção por radiação UV etc. o raio de ação é maior que
2 metros.
 GOTÍCULAS DE FLüGGE: como sua eficácia como via de transmissão depende de um
contato próximo entre fontes de infecção e suscetíveis, as possibilidades de
atuação profiláticas são limitadas e têm um raio de ação variando entre 1-2m e
misturam-se com poeiras meteóricas. Prevenir a ressuspensão no ar evitando
varredura a seco e promovendo a limpeza, lavagem e desinfecção dos pisos,
paredes principalmente. Se o ar já se encontra contaminado, pode-se recorrer à
descontaminação do ar recorrendo à desinfecção por agentes químicos e físicos.

130
iii) VETORES:
 Medidas defensivas ou preventivas: visam evitar a entrada de vetores nas
habitações pelo uso de telas em janelas, portas, aberturas ou outras medidas de
caráter mais individual pelo uso de repelentes, mosquiteiros etc.
 Medidas ofensivas ou de controle: visa diminuir a população de vetores pela
aplicação de medidas efetivas de saneamento para limitar ou extinguir criadouros
de artrópodes pela drenagem de coleções de água, destinação adequada de
excretas para diminuir oportunidades de reprodução de insetos, reduzir a
presença de matéria orgânica sobre o solo para limitar oportunidades de
encontrar alimentos, utilização de inimigos naturais como peixes larvófagos para
a eliminação do artrópode ainda nas fases iniciais de seu ciclo evolutivo, uso de
drogas capazes de destruir formas larvares de artrópodes bem como de adultos
(larvicidas/inseticidas) em coleções de água, redução do grau de sombreamento e
iluminação das coleções de água. No passado, o combate a vetores era realizado
pelo emprego de larvicidas sobre criadouros de vetores. O combate aos adultos
era difícil dada a inexistência de inseticidas de elevado poder residual (clorados,
fosforados, piretróides). O advento de inseticidas de alto poder residual tornou
possível sanar problemas sanitários mais graves como a febre Amarela, Dengue
etc. Estes inseticidas permanecem longo tempo ativo quando aplicados em
superfícies de habitações. Tem sido utilizada a radiação de machos para a sua
esterilização e assim destruir uma população inteira de vetores biológicos. Este
recurso foi e ainda tem sido empregado no controle de artrópodes como
Coclyomia omnivorax na Ilha de Curaçao pela criação de larvas e posterior radiação
gama em laboratório e obtenção de machos estéreis sem afetar o vigor sexual e
sua dispersão era realizado com o auxílio de aviões e o suprimento constante com
estes insetos estéreis promoveu a competição com os machos férteis. Como
resultado, as fêmeas copulavam com machos estéreis que não geravam novas
gerações de moscas e foram dominando machos normais até o desaparecimento
da mosca da ilha. O uso de inseticidas é recomendado quando existe a
possibilidade de destruição da população de artrópodes como é o caso de pulgas
na dipilidiose e habronemose. A destruição ou limitação de população de vetores
biológicos reduz significativamente a ocorrência de doenças cuja transmissão é
diretamente dependente de vetor biológico e o mesmo não ocorre quando vetor
mecânico é via de transmissão porque sua participação é usualmente acidental
exceção feita na Anemia Infecciosa Equina em que tabanídeo, vetor mecânico, é
fundamental na transmissão.
No exemplo, na dipilidiose combater a pulga (malófaga); na Habronemose
combater a mosca doméstica.

131
iv) HOSPEDEIRO INTERCALADO:

Existem diferentes possibilidades de atuação sobre este elo da cadeia na dependência


de suas características e é esperado o mesmo resultado quando da atuação sobre
vetores biológicos. As possibilidades são:
1. Prevenção:
i. Aplicação de medidas para evitar a contaminação do solo que é o habitat do
hospedeiro intercalado;
ii. Aplicação de medidas de destruição do hospedeiro intercalado.
2. Controle: atuação sobre formas do parasito que penetram no hospedeiro
intercalado;

Em se tratando de Schistosomose e Faciolose, a profilaxia implica na:


- Destinação adequada de excretas para impedir a contaminação do hospedeiro
intercalado prevenindo a contaminação do solo ou mananciais de água;
- Proteção e se possível a descontaminação de pequenos mananciais de água; e
- Eliminação do hospedeiro intercalado utilizando medidas saneadoras como
molusquicida, inimigos naturais como peixes que se alimentam de moluscos,
modificação das condições ambientais como drenagem das coleções de água.
É preciso lembrar que quando se pretende destruir a população de moluscos pode-
se estar destruindo uma outra população importante representada por vegetações.
v) ALIMENTO/RAÇÃO:
Riscos de contaminação

Os alimentos, produtos de origem animal, devem ser, preferencialmente, obtidos de


animais não infectados (doentes ou não) e consequentemente, são fundamentais boas
práticas de manejo animal baseados em princípios de epidemiologia anteriormente
mencionados pela adoção de medidas de profilaxia aplicados aos suscetíveis, às vias
de transmissão e às fontes de infecção. Produtos de origem animal podem ser
submetidos ao tratamento térmico quando comercializados a longas distâncias e/ou
armazenados/comercializados por longos períodos de tempo.
O alimento pode estar contaminado na sua origem. Recorre-se à Inspeção Sanitária de
Produtos de Origem Animal (ISPOA) que permite excluir tais alimentos que se
encontram contaminados com agentes macroscópicos, da linha de processamento,
antes de serem enviados para consumo humano. Se os agentes forem microscópicos
como Salmonelas, a ISPOA é mais difícil e os procedimentos referem-se à certificação
de origem dos animais.
O alimento pode ser contaminado durante o processo de manipulação pelo contato
com ar, fômites (ganchos, facas, utensílios, vasilhames), vetores mecânicos, roedores
e o próprio homem que manipula os alimentos e que pode ser portador de processos
supurativos ou albergar no trato respiratório superior ou gastrintestinal agentes
causadores de toxinfecção alimentar. No caso de Salmonelas e Estafilococos, a
132
contaminação pode ocorrer durante a manipulação (contaminação cruzada). Estes
fatores contaminantes podem ser eliminados pela implantação de medidas que
objetivam a Higiene Pessoal dos trabalhadores, a Higiene Operacional executada
durante os processos de manipulação, um adequado saneamento do ambiente e da
água, e controle integrado de pragas.
Após a manipulação industrial, o alimento pode ser contaminado na casa do
consumidor, pelo manipulador (cozinheiras), vetores, roedores presentes nas
cozinhas durante os preparos dos alimentos ou durante armazenagem em condições
precárias.
Relativamente aos riscos oferecidos pelos alimentos, estes não são os mesmos na
dependência dos métodos de preparação. Por ex. os vegetais são normalmente ingeridos sem
serem submetido à cocção e a água também oferece maiores riscos de transmissão da
doença. A composição do alimento apresenta grande importância, pois aqueles com elevada
umidade e grande concentração de proteínas oferecem maiores riscos porque são excelentes
meios de cultura para microrganismos. A cocção poderá destruir microrganismos como
Salmonella e toxinas termolábeis (botulínica), mas não destrói as toxinas termoestáveis como
é o caso daquela produzida pelo Staphillococcus aureus.
Prevenir a contaminação de alimentos pela proteção dos mananciais de água de
abastecimento; cuidados durante a ordenha; higiene dos utensílios usados na ordenha; ISPOA
ao nível de distribuição e comercialização principalmente por vasilhas, vetores, instalações e
manipuladores; e Higiene dos equipamentos.
Possibilidades de descontaminação
Uma vez o alimento contaminado por qualquer dos mecanismos já mencionados é possível
realizar a sua descontaminação:
 Pasteurização: recurso largamente utilizado com a finalidade de descontaminação para
melhor aproveitamento do produto destruindo agentes patogênicos;
 Esterilização: visa destruir todos os microrganismos presentes nos alimentos. Ex. leite
esterilizado (UHT), alimentos enlatados submetidos às altas temperaturas (autoclave) ou
à radiação UV.
 Tratamento térmico: cozimento, defumação.

f. ÁGUA:
A profilaxia da água se faz desde sua captação, passando pela armazenagem geral, sistema
de distribuição e armazenagem no usuário.
Águas superficiais (rios, lagos e reservatórios) devem estar protegidas do acesso de
animais e homem para evitar a contaminação e poluição e também controlar a
incorporação de resíduos industriais e esgoto humano.
Águas subterrâneas superficiais podem ser obtidas através fontes de emergência (em
ponto, em área e encosta) que devem estar protegidas do acesso de animais e do homem
e a água colhida, quando possível, em reservatórios ou em cisternas (contendo pedra
133
britada, pedras e areia para promover filtração) com tampa e lavadas periodicamente. São
obtidas através de poços rasos (lençol freático) periodicamente desinfetados com produto
à base de cloro (hipoclorito de sadio) ou poços profundos (lençol cativo) com paredes
protegidas, providas de tampa e água obtida por bomba que pode dispensar desinfecção
se a água for livre de contaminação comprovada periodicamente por provas
microbiológicas.
Tratamentos da agua para abastecimento público soa usualmente realizados em estações
de tratamento de água ETA) baseados em floculação ou coagulação (sulfato de alumínio
 flocos de Al(OH)3) para retirada de cor e turbidez; sedimentação para remoção de
partículas pesadas; filtração em filtros de areia lento ou rápido; desinfecção com cloro e
correção de pH para evitar corrosão de tubulações.

ii. SOLO:
Apresenta maior importância como via de transmissão de parasitos que necessitam
cumprir fase de seu ciclo evolutivo no meio ambiente e para outros que apresentam formas
de resistência. O agente pode penetrar no organismo do suscetível passivamente uo
ativamente.
Passiva: ingestão de parasitos contidos ou não em alimentos ou presentes em fômites que
entram em contato com a mucosa bucal; através solução de continuidade da pele
como no caso do tétano. Neste caso, adquire importância não apenas medidas
preventivas saneadoras e descontaminação, mas, também a Educação em Saúde.
Ex.; ascaridíase, vibriose, toxoplasmose etc.
Ativa: o agente é capaz de entrar no organismo de um novo hospedeiro pelos recursos
próprios como é o caso dos ancilostomídeos.
Devem ser distinguidos os parasitos que persistem no solo daqueles que devem
obrigatoriamente passar fase do seu ciclo evolutivo no solo. Ex.: desinfeção de piso de
galinheiro, de estábulos, cocheiras, box. Rotação de pastagem (considerar o ciclo do parasito
em questão, tipo de vegetação que envolve a rotação etc.).
Uma vez o solo contaminado e principalmente em se tratando de grandes extensões, não é
prático recorrer à sua descontaminação, mas certas medidas são cogitadas como rotação de
pastagens e abstração feita aos interesses ligados ao aproveitamento dos pastos, há o
interesse sanitário porque o descanso de determinadas áreas permitirá a atuação das forças
naturais para a diminuição da contaminação.

4. MEDIDAS DE PROFILAXIA RELATIVA AOS SUSCETÍVEIS

A. VACINAÇÃO: medida profilática específica que objetiva proteger os animais através da


imunidade pelo uso de imunógenos (vacina) ou soros. É preciso conhecer alguns aspectos
relacionados com a imunidade, resposta imune, possibilidade de usar a vacinação e novas
tendências e tecnologias.

134
i. Requisitos para o correto uso de vacina:
a. Reconhecer que o sistema imune pode proteger o hospedeiro contra a doença. A
resposta imune protege contra certas doenças como Brucelose, Cinomose, Raiva etc. mas
existem doenças para as quais a resposta imune não protege contra a doença (anemia
infecciosa equina, leucose bovina, peste suína africana) ou a resposta imune é transitória
e pouco ou nada eficaz (febre aftosa em suínos).
b. Identificar inequivocamente o agente de doença. Vacina contra Pasteuralla multocida não
protege contra a febre dos transportes de bovinos porque o agente primário é um vírus
e a bactéria é responsável pela infecção secundária (severidade da doença). Vacinas
antigas contra rinite atrófica dos suínos continham agentes que não estavam diretamente
relacionados com a etiologia da doença.
c. Reconhecer que os riscos da vacinação superaram o risco de contrair a doença/infecção
com o uso inapropriado de vacinas contra doenças raras ou de baixa morbidade ou que
interfere no diagnóstico sorológico ou quando se ignora a importância da imunidade
populacional. Ex. vacina inativada contra Salmonella Enteritidis em galinhas.
d. Doenças de programa, no Brasil, apresenta algumas restrições. Febre aftosa: segundo o
Plano estratégico 2017-2026, o estado de Santa Catarina é reconhecido como livre da
doença sem vacinação, demais estados são reconhecidos como livres com vacinação.
Para doença de Aujeszky é permitida excepcionalmente a vacinação contra doença de
Aujeszky bem como contra doença de Newcastle em bisavozeiros, avozeiros e
matrizeiros. Em galinhas de postura é permitida vacinação contra Salmonella Enteritidis.
e. Risco de proteção não deve exceder o risco de adquirir doença. Vacina contra P. multocida
aumenta a severidade da lesão pulmonar, contra Laringotraqueíte Infecciosa das Aves
(cepas vivas atenuadas) podem provocar reações pós-vacinais como conjuntivite.
ii. Resposta imune: é o mecanismo pelo qual o organismo de um animal se livra de substâncias
estranhas. No século VI, os chineses observaram que indivíduos sobreviventes de um ataque
de varíola estavam protegidos de ataques posteriores e surge assim a 1a tentativa de
proteção dos suscetíveis através de infecção deliberada e controlada (escarificando material
de vesícula de indivíduos doentes com manifestação branda). Este procedimento espalhou-
se até a Europa e foi denominada de “variolação”. Em consequência desta prática, a
mortalidade decorrente da varíola diminuiu drasticamente. Em 1798, Jenner, médico inglês,
observou que a varíola acometia os bovinos e que pessoas em contacto com vacas doentes
manifestavam varíola branda e passou a utilizar líquido de vesícula de casos bovinos
reduzindo riscos decorrentes da variolação. Em 1879, Pasteur observou que galinhas
inoculadas com cepa envelhecida de P. multocida estavam protegidas quando inoculadas
com cepa patogênica. Semelhante procedimento foi praticado no controle da febre aftosa
no Brasil, nos primórdios do séc. XX pela escarificação de suspensão de mucosa lingual de
bovinos doentes em animais sadios e este procedimento logo banido foi então denominado
aftização

135
iii. Interferência da vacinação no diagnóstico indireto: algumas vezes a vacinação interfere no
diagnóstico de certas doenças. Animais vacinados contra a Brucelose elaboram anticorpos
específicos que poderão dificultar a interpretação dos resultados da prova de
soroaglutinação. Porém, existem certos critérios para a interpretação destes testes.
iv. Imunização do ponto de vista populacional: o conhecimento da distribuição etária de
doenças orienta a imunização passiva ou ativa do suscetível. A atuação profilática deve ser
orientada pelos conhecimentos disponíveis sobre as doenças que ocorrem em
determinada idade. Existem doenças que acometem animais na primeira fase da vida,
outras apresentam distribuição em fase mais avançada. Como exemplo do 1º caso tem-se a
colibacilose e paratifo e no 2º caso tem-se a manqueira, febre aftosa, Brucelose etc.
Os animais muito jovens, embora sejam imunologicamente competentes, não são capazes
de produzir anticorpos em quantidade ideal e no momento necessário. Nestes casos há a
necessidade de se imunizar as mães, num primeiro momento, com o objetivo de proteger
os recém-nascidos durante os primeiros dias de vida através o colostro.
Colibacilose (bovinos, suínos, aves): a prevalência é mais elevada nos primeiros dias;
Paratifo (bovinos e suínos): por volta dos 3 meses de idade;
Manqueira: aos 6 meses de idade aproximadamente;
Brucelose: quando da maturidade sexual.
Recomendável imunizar uma certa quantidade de animais de uma população quando se
pretende reduzir a doença em uma população e se utiliza vacina de elevada eficácia. Em se
tratando de vacinas de potência reduzida, a vacinação de todo o rebanho é fundamental.

5. MEDIDAS DE PROFILAXIA APLICÁVEIS AOS COMUNICANTES OU CONTATO


Comunicante é aquele organismo vertebrado que esteve exposto ao risco de adquirir a
infecção, mas não se sabe se se foi infectado ou não e se adoecerá ou não. No pertence à cadeia
epidemiológica.
Ex.: equino submetido a uma cirurgia. Um cão mordido por outro sabidamente raivoso que
permanece em observação. Ambos foram expostos a uma certa condição que caracteriza o
risco de ser infectado.
Em áreas onde a Malária é endêmica, uma pessoa que penetrar no nicho ecológico da doença
e for exposto ao Plasmodium e não se sabe se irá adoecer ou não.
Equinos introduzidos em uma área onde grassa a Encefalomielite ou a anemia infecciosa
equina.
Uma pessoa que tenha ingerido água ou alimento contaminado com Salmonela.
As medidas aplicáveis são:
i. Sacrifico: é a medida mais drástica e visa proteger os suscetíveis. Foi a medida empregada
nos EUA, México e Canadá para a Erradicação da Febre Aftosa e ainda hoje se emprega em
casos de epidemias ou focos da doença como influenza aviária, doença de Newcastle, peste
suina clássica, salmoneloses tíficas e paratíficas em aves.

136
Cão é mordido por outro sabidamente raivoso deve ser sacrificar se não existirem condições
de mantê-lo em quarentena objetivando a observação.
ii. Quarentena: O comunicante é isolado por um período de tempo equivalente ao período
máximo de incubação conhecido da doença. Se durante este período o animal manifestar
sinais clínicos da doença será uma fonte de infecção e consequentemente será submetido à
respectiva medida de profilaxia. Existem variações de quarentena:
iii. Vigilância sanitária: os animais são submetidos à observação sem segregação por um
período equivalente ao período máximo de incubação conhecido para a doença. Ex.: Em
casos de incorporação de animais ao rebanho sem quarentena, ficam sujeitos à Vigilância
Sanitária. A observação dos animais que estiveram expostos à infecção poderá ser por um
período equivalente ao período mediano de incubação no sentido de se apreciar a adoção
de medidas sanitárias ao aparecimento dos primeiros sintomas e impedir a sua propagação
em determinada área geográfica.
iv. Animais sentinelas: quando, após a ocorrência de uma certa doença em uma área geográfica
com a eliminação das fontes de infecção e doa comunicantes e se pretende repovoar a área,
não seria inteligente recompor toda a população que foi inicialmente eliminada. É usual
colocar alguns animais para permanecerem naquele meio e através dos quais se avaliaria a
eficácia da erradicação da doença na região onde se pretende extingui-la avaliada pelo
aparecimento da doença ou da infecção por provas laboratoriais. Estes animais são
denominados sentinelas que apresentam papel de método revelador da persistência do
agente etiológico na área considerada.
v. Profilaxia medicamentosa ou quimioprofilaxia: quando uma pessoa ou animal for ingressar
em uma área onde certa doença é endêmica, pode-se recorrer ao tratamento preventivo
ou proceder ao tratamento se já tiver ingressado sido exposto ao risco de infecção.
Exemplo do 1º caso e o tratamento de pessoas que pretender ingressar em uma área onde
a febre amarela é endêmica, e do 2º caso seria um equino exposto ao garrotilho e submetê-
lo ao tratamento com antibióticos ou sulfonamidas.
vi. Imunização (ativa, passiva ou combinada):
Sempre que se estiver diante de um comunicante ou de uma doença com período de
incubação da doença maior que o período negativo da vacina, há possibilidade de
imunização ativa.
Sempre que se estiver diante de um comunicante ou de uma doença com período de
incubação da doença menor que o período negativo da vacina, não há possibilidade de
imunização ativa, porém, pode-se recorrer à imunização passiva (soroterapia).
Portanto, é recurso de grande valia se for possível a vacinação precoce e desde que se
disponha de vacinas eficazes. Vejamos:
1ª situação: um indivíduo mordido por um cão suspeito de raiva.
É reconhecido o conhecimento acerca da variabilidade do período de incubação de
doenças que se reflete em termos de variabilidade da resposta do hospedeiro.
Assim, todos os indivíduos não apresentarão o mesmo período de incubação que
137
varia na dependência da maior ou menor suscetibilidade do hospedeiro, da dose
infectante, do local da mordedura como área de maior ou menor inervação como
cabeça, mãos, perna etc.
Se esta variabilidade se apresentar sob a forma de uma distribuição normal, os
indivíduos tratados se distribuiriam ao redor de um ponto médio. Os indivíduos que
se localizam do lado esquerdo da cauda da distribuição não estariam protegidos por
apresentarem curto período de incubação. Isto explicaria porque, não obstante a
vacinação preventiva, após o risco de infeção, um certo nº de indivíduos não estaria
protegido. Para suplantar esta dificuldade há a indicação da soroprofilaxia no
sentido de proteger o comunicante que, se tiverem sido realmente infectados,
apresentaria período de incubação anormalmente curto.
2ª situação: equino a ser submetido à cirurgia de emergencia
É aquela representada por um equino que antes de ser submetido a uma
intervenção cirúrgica e que poderá ser exposto ao risco de infecção tetânica, aplica-
se soro anti-tetânico (imunização passiva).
3ª situação:
Diferentemente:
 Em determinadas doenças é possível o benefício do interferon. Nestes casos
pode-se vacinar animais para a proteção ser alcançada em 3-5 dias decorridos da
vacinação. Esta substância produzida a partir de um estímulo antigênico
protegeria antecipadamente as células antes de serem atingidas pelo agente da
doença. Este fenômeno tem como exemplo clássico a cinomose (vacina
preparada em furão).
 Em determinadas situações na qual o comunicante apresenta uma imunidade de
base por ter tido experiência prévia com o agente da doença.
Se representarmos em um gráfico (Figura 35) o tempo e taxa de anticorpos, tem-se o seguinte
perfil genérico:

Figura 35. Ilustração do efeito da dose de Rapell relativamente ao limiar de proteção.

Nível de proteção

t1 t2
Tempo

138
Em uma situação individual: um animal que não possui imunidade de base (verde), ao ser
inoculado com um antígeno em t1 responde lentamente ao estímulo atingindo níveis de
imunidade/proteção capazes de protege-lo em t2. Se este animal, no momento t1 já apresentasse
uma imunidade de base (preto), mesmo que insuficiente para protegê-lo das doses infectantes
usuais, ao receber a vacina apresentar uma resposta imune muito mais precoce e intensa
comparativamente à situação anterior, pois o seu sistema imunitário já está organizado para uma
resposta rápida pelo fenômeno de memória imunológica.
Em uma população: quando de uma epidemia e a população já possui imunidade de base, a
reintrodução do antígeno proporcionará uma resposta mais pronta e mais intensa em decorrência
da existência da imunidade de base e a 2ª vacinação recebe a denominação de Dose de Rappell.

139
CAPÍTULO 7
INVESTIGAÇAO, VIGILÂNCIA E MONITORAMENTO

DEFINIÇÕES: investigação, vigilância e monitoramento


INVESTIGAÇÃO: conceituação; a) investigação de surtos epidêmicos; c) investigação de epidemia de
propagação;c) investigação de epidemia em ponto.
VIGILÂNCIA: definição; a) vigilância ao nível internaciinal; b) vigilância ao nível de pais (vigilância
sorológica; vigilância dirigida/vigilância passiva; vigilância exploratória/vigilância ativa..
MONITORAMENTO: conceituação; definição e objetivos; delineamento de onitoramento ap nível de
propriedade.

DEFINIÇÕES:
INVESTIGAÇÃO: estudo detalhado e multifacetado dos fatores causais ou predisponentes
envolvidos na causalidade de uma doença e é empregado para investigar surtos. É uma ação
em “tempos de guerra”. Envolve colheita de dados ou de informações e a hipótese causal pode
ser ou não testada.
VIGILANCIA: conjunto de procedimentos que visa demonstrar a ausência de infecção ou
determinar a presença ou distribuição de infecção ou detectar o mais precocemente possível
de doenças exóticas ou emergentes.
MONITORAMENTO: é a avaliação do progresso dos esforços na avaliação do status de saúde e
doenças na população de interesse.

1. INVESTIGAÇÃO

Conceituação: é o studo detalhado e multifacetado dos fatores causais ou predisponentes


envolvidos na causalidade de uma doença e é empregado para investigar surtos. É uma ação
em “tempos de guerra”. Envolve colheita de dados ou de informações e a hipótese causal pode
ser ou não testada.
Em animais domésticos, são frequentes síndromes multietiologicas e o maior desafio é
identificar os fatores causais envolvidos na transmissão dessas síndromes. Tais estudos são
facilitados quando os produtores ou responsáveis pela produção respondem corretamente as
questões do formuladas na investigação que facilitarão na identificação deficiências em áreas
especificas da produção para introduzir medidas de controle. Os fatores são usualmente ligados
ao animal (raça, idade) e ao meio ambiente (alimentação, manejo, clima etc.) ressaltando que a
influência do ambiente varia de criação para criação em uma mesma região. O papel do
extensionista é muito valioso juntamente como o médico veterinário responsável pelo estudo.
Estudos controlados a campo estão se tornando cada vez mais frequentemente realizados
A sensibilidade desses estudos está aumentada quando se utiliza computadores para análise
dos dados em razão da elevada quantidade de dados acumulados. Importante considerar a

140
necessidade de uma nomenclatura padronizada relativamente ao diagnóstico (MEEK et al.
1986).
Diante de elevada quantidade de fatores de risco, é recomendável avaliar pela regressão
múltipla e quando de pequeno número de fatores, pode-se recorre a testes estatísticos de
associação de Yule, 2 (teste do Qui quadrado), ODD ratio para extrair o fator etiológico de risco
(ver capítulo sobre investigação)
A investigação em saúde animal é uma atividade em constante evolução, pois saúde e avaliação
de fatores de risco e decisões de manejo de risco devem ser apoiados em evidências científicas
e metodologias disponíveis. Importante também é encorajar os profissionais a praticarem e
defenderam a análise descritiva dos dados de vigilância ou de monitoramento sempre que
possível. Por exemplo, suinocultores da Dinamarca foram estimulados com os resultados
obtidos no Programa de Sanidade dos Suínos da Dinamarca que avaliaram e divulgaram
programa de controle ou de prevenção de doenças com ênfase na pneumonia enzoótica
baseado no manejo e gerenciamento dos fatores ambientais utilizando procedimentos
estatísticos tradicionais como Odds Ratio, Coeficiente de Associação de Yule e teste do qui-
quadrado (2) aplicados em tabelas de associação 2x2 (WILLEBERG, 2012)

Quadro 9. Tabela genérica de associação entre causa e efeito


Exposição à Condição
Total
causa Doente Não doente
Sim a b (a + b)
Não c d (c + d)
Total (a + c) (b + d) (a + b + c + d)

a. Investigação de surtos epidêmicos

Por epidemia define-se a ocorrência de doença ou mortalidade em níveis superiores (2 desvios


padrão) ao esperado (MARTIN et al, 1978) que é usualmente detectado em programas de
monitoramento quando existir.
Em situações de emergência, recomenda-se rápida tomada de decisão em procedimentos de
diagnóstico das condições que cercam a doença. Iniciar reunindo informações gerais sobre:
i. Antecedentes como datas de ocorrência, tipo de criação, condições geográficas e
fatores ambientais;
ii. Diagnóstico clinico de alguns animais e exame pós mortem quando possível para
caracterizar o perfil da síndrome e avaliar se é compatível com o surto, pois, apontam
para a natureza da doença bem como para a fonte de infecção ou via de transmissão
(THOMSON & BARKER, 1979).
Na ausência de diagnóstico e/ou diante de mais de uma síndrome, embora raro, requer
diagnóstico diferencial. Qualquer que seja o cenário, recorrer aos exames laboratoriais (exames
direto, indireto, anatomopatológico) imediatos ou armazenar amostras para eventuais exames
complementares futuros de acordo com a evolução da investigação. Amostras devem ser
141
colhidas de animais doentes e de aparentemente normais presentes em áreas de alto risco ou
fora da área de risco (este caso é importante para situações em que o agente etiológico é de
difícil identificação). Convém ter em mente que, a não identificação do agente etiológico, não
invalida a adoção de medidas de controle, pois segundo princípios de epidemiologia, medidas
de profilaxia baseiam-se na atuação sobre os fatores causais ou fatores de risco. Mencione-se
alguns exemplos:
A peste bovina foi introduzida no Brasil em 1923, nada se conhecia sobre vírus, mas os
pesquisadores envolvidos na investigação apenas observaram que os animais haviam sido
importados da Índia (na época, endêmica para a doença) e que as vesículas eram diferentes das
observadas na febre aftosa porque a lesão era hemorrágica após o rompimento das vesículas.
Eliminaram todos os animais importados bem como os comunicantes/contatos. A doença foi
eliminada.
A BSE (encefalopatia espongiforme bovina) surgiu pela 1ª vez na Inglaterra em 1985. A 1ª
suspeita era doença causada por um lentivirus, hipótese imediatamente rejeitada. A
investigação revelou tão somente que os animais afetados haviam sido alimentados com ração
contendo farinha de carne e osso obtido pela reciclagem de ovinos mortos na produção. A
adição de farinha de carne e osso foi proibida e a incidência da BSE diminui gradativamente a
partir de 1991 e o príon foi caracterizado em 2006 BÉRINGUE et al, 2006), cerca de 2 décadas
depois do surgimento da doença demonstrando que a retirada da via de transmissão foi
suficiente para controlar a BSE.
Além da indicação da doença ou da fonte de infecção, se for possível confirmar o diagnóstico,
auxiliar ána identificação das vias de transmissão e a natureza do problema por apresentarem
forte associação, por exemplo, a salmonelose humana associada ao consumo de carne de
frango e leite em pó. Em muitas doenças, o período de incubação pode ser uma informação
importante para se definir o momento em que ocorreu a infecção, pois na salmonelose
(infecção) o período de incubação no homem tem duração média de 48 horas (1-72 horas) e na
estafilococose (intoxicação) é de 1-8 horas. Retrospectivamente é possível identificas o
momento da ingestão do alimento contaminado com a bactéria ou com a toxina e tentar obter
amostras dos alimentos consumidos para envio ao laboratório.
Neste ponto da investigação, o investigador já dispõe de informações suficientes para formular
uma teoria sobre as fontes de infecção ou dos fatores causais (vias de transmissão).
Assim, com base nas informações preliminares obtidas, são formuladas questões sobre o meio
ambiente, alimentação, água ou ar. Se a suspeita repousa no alimento/ração, realizar colheita
de uma amostra e submeter ao exame laboratorial de cada componente da ração. Se alguma
amostra de ração se revelou positiva ao exame laboratorial, comparar a ocorrência em animais
alimentados com a ração com animais alimentados com forrageira e avaliar as frequências.

142
TABELA 2. taxas de ataque na investigação de epidemia em ponto em ovinos segundo a
condição de doença e troca de ração. Dados hipotéticos
Condição
Alimentação Total
Doente Não doente
Ração 80 10 90
Forrageira 20 90 110
Total 100 100 200
Método da diferença
80 .
i. Taxa de ataque no lote alimentado com ração = 100 = 80,0 %a
100
20 .
ii. Taxa de ataque no lote alimentado com forrageira = 100 = 20,0 %b
100
iii. Significância estatística: a > b para erro α = 0,05
iv. Interpretação: a taxa de ataque entre bovinos que adoeceram e foram alimentados
com ração foi estatisticamente superior à taxa de ataque entre os que foram
alimentados com forrageira (grupo controle).
Em situações em que se suspeita de mais de uma fonte de infecção ou de vias de transmissão,
é recomendável colheita de amostras para serem submetidas a procedimentos laboratoriais
quando necessário ou poderão ser mantidos armazenados. Caso não tenha sido observada
associação com ar, água ou ração, recomeça novo ciclo de investigação selecionando questões
mais refinadas
Embora muitas investigações sejam realizadas em circunstancias sub ideais, é recomendável
que os dados sejam ordenados e completamente organizados em tabelas no formato de taxa
de ataque.
Na produção animal, esse raciocino é extrapolado quando se tratar do estudo dos níveis de
produção e não apenas quando da presença ou ausência de doença. Diz-se que se está diante
de uma epidemia de produção quando o nível de produção está diminuído em 2 desvios padrão
abaixo da medida de produção ou quando a produção é reduzida de tal maneira que atinge
níveis criativos sinalizando um problema em potencial que ode diferir de uma região para outra.
Naturalmente, pode-se ter uma epidemia de produção n ausência de epidemia de doença a
despeito de doenças serem frequentemente menos importante com fator limitante da
produção em propriedades isoladas
Veterinários estão frequentemente envolvidos na investigação de surtos/epidemias com o
objetivo de impedir a progressão da epidemia, determinar as causas que levaram à ocorrência
da epidemia, instituir medidas corretivas e recomendar riscos de futuros surtos.
Embora, as medidas selecionadas para alcançar esses objetivos variem de uma situação para
outra, existem 2 abordagens gerais sendo, cada uma delas definida pela taxa de disseminação
do problema (redução significante da produtividade, doença ou mortalidade)

143
Especificamente, surtos ou epidemias de doença e de produtividade podem ser classificados e
2 tipos: surto de disseminação/propagação lenta e surto de disseminação rápida que é a mais
frequentemente observada.
Assim a 1a etapa de uma investigação consiste em anotar o padrão temporal do surto, ou seja,
examinar a curva epidêmica, e verificar se ocorre um ponto (fonte de infecção comum) ou é
uma curva epidêmica de propagação. Embora a diferença entre estes 2 surtos seja, de alguma
forma, arbitrária, no surto epidêmico (ou em ponto) ocorre um aumento rápido do número de
casos sugerindo ocorrência de uma fonte de infecção ou via de transmissão comum (todos os
animais afetados foram expostos ao mesmo tempo) ou na epidemia/surto de disseminação
ocorre lento aumento do número de casos de doença. Verifique-se que o método de
investigação depende da distribuição temporal dos casos de doença. Para maiores detalhes,
consultar HANSON & HANSON (1983) e SCHWABE (1984)
Neste tratado pretende-se descrever métodos para elucidar a fonte de infecção ou via de
transmissão por apresentar ampla aplicação.
Exemplos de doenças que determinam epidemia em ponto: toxinfecções alimentares
(salmoneloses, estafilococose, botulismo), aflatoxicose, BSE, etc.
Exemplos de doenças que determinam epidemia de propagação: suínos (peste suína clássica,
peste suína africana, febre aftosa, enterites, PRRS, Sêneca vírus, TGE), aves (influenza aviária,
doença de Newcastle, micoplasmoses, salmoneloses, doenças respiratórias), bovinos
(brucelose, febre aftosa, tuberculose, enterites, tricomonose, vibriose), equinos (mormo,
anemia infecciosa equina, encefalomielites, salmoneloses)

b. Investigaçao de epidemia de propagação

Na epidemia de propagação, o agente etiológico se dissemina, na população, de um animal para


outro por contato animal-animal ou contagio indireto (via alimentos, água, objetos, ar, solo,
vetores) em um pequeno intervalo de tempo explicando a lenta disseminação em razão ano
apenas da unida fonte de infecção, mas também em função do período de incubação da doença
para que surjam os casos secundários e assim sucessivamente. O esquema básico da
investigação pode ser ilustrado na FIGURA 35.
Como a taxa de propagação é usualmente lenta, pode-se estabelecer o diagnóstico clinico e
laboratorial dos animais afetados (casos primários).
Este conhecimento pode simplificar o processo de investigação; entretanto, não é etapa
essencial e pode requerer tempo desnecessário para estabelecer, pelo menos, o diagnóstico
inicial. Caso o diagnóstico tenha sido alcançado ou não, deve-se procurar identificar os
primeiros animais que adoecerem e observar suas características (foram recentemente
adquiridos ou estiveram em contacto com animais de outros rebanhos ou com instalações
destes?

144
Se a doença sob investigação é identificada e se os primeiros poucos animais a adoecer se
transformaram em fontes de infecção na epidemia, então, proceder ao isolamento, tratamento
ou remoção.
Rastreamento para identificar a origem do agente etiológico pode ser essencial se a doença for
grave, infeciosa e/ou se a doença é objeto de defesa sanitária animal (notificação obrigatória).
Em caso de não haver nenhuma pista, o próximo passo é examinar os primeiros animais que
adoeceram e se a doença apresentar características de doença de etiologia infecciosa,
importante investigar sobre as recentes aquisições aparentemente sadios, mas que podem ser
portadores. Novamente, se forem fontes de infecção, proceder ao isolamento, tratamento ou
remoção.
Se nenhum animal ou outra fonte lógica do problema tenha sido identificada, informações
devem ser colhidas e analisadas como possíveis fatores ambientais (vias de transmissão) e
repetir os mesmos procedimentos de investigação como no caso de exposição a uma fonte de
infecção comum (FIGURA 36).
Caso o problema esteja restrito a uma unidade de produção, investigar detalhes de manejo,
criação, troca de alimentação/ração e ventilação. Neste caso, investigar o fator comum a todos
os animais afetados (método da concordância) ou o fator difere entre animais doentes e não
doentes (método da diferença).
Exemplo, na tabela 3 abaixo:
TABELA 3. Taxas de ataque na investigação de epidemia de propagação em suínos
segundo a condição de doença e troca de ração. Dados hipotéticos
Condição
Ração Total
Doente Não doente
Trocada 80 10 90
Não trocada 20 90 110
Total 100 100 200

80 + 90
Método da Concordância = 100 + 100 . 100 = 85%

Interpretação: em 80% dos suínos observou-se doentes entre os que ocorreu troca de ração, e
90,0 % de não doentes entre os que não tiveram troca de ração. Em média, a concordância foi
de 85,0 %.
Método da diferença
80 .
a. Taxa de ataque no lote com troca de ração = 100 = 80,0 %a
100
20 .
b. Taxa de ataque no lote sem troca de ração = 100 = 20,0 %b
100

c. Significância estatística: a > b para erro α = 0,05

145
d. Interpretação: a taxa de ataque entre suínos que adoeceram e tiveram ração trocada foi
estatisticamente superior à taxa de ataque entre os que não tiveram ração trocada

FIGURA 35. ETAPAS DA INVESTIGAÇÃO DE EPIDEMIA DE PROPAGAÇÃO (MARTIN et al, 1978)

É UMA EPIDEMIA DE PROPAGAÇÃO? ----------------- NÃO -------- VER ESQUEMA DE EPIDEMIA POR
PONTO

SIM

EXAMINAR OS PRIMEIROS ANIMAIS QUE ADOECERAM


(Estes animais explicam a epidemia? São fontes de infecção/casos primários?)

CASO AS FONTES DE INFECÇÃO NÃO FOREM DETECTADAS

EXAMINAR ANIMAIS RECÉM INCORPORADOS AO REBANHO


(Estes animais explicam a epidemia? São fontes de infecção/casos primários?)

CASO AS FONTES DE INFECÇÃO NÃO FOREM DETECTADAS

OBSERVAR RECENTES MUDANÇAS DE MANEJO, ALOJAMENTO, ALIMENTAÇÃO, ETC.


(Utilizar método da concordância ou da diferença)

CASO A FONTE DAS RECENTES MUDANÇAS NÃO TENHA SIDO IDENTIFICADA

REALIZAR ESTUDOS MAIS DETALHADOS INCLUINDO EXAMES LABORATORIAIS COM


ADEQUADA AMOSTRAGEM

EM CASO DA FONTE DE INFECÇÃO OU A VIA DE TRANSMISSÃO TER SIDO IDENTIFICADA, JÁ É


POSSÍVEL PROCEDER AO RASTREAMENTO PARA IDENTIFICAR A ORIGEM DO PROBLEMA E
PREVENIR A DISSEMINAÇÃO DA DOENÇA

c. Investigação de epidemia em ponto

Em linhas gerais, a sequência recomendada para a investigação de epidemia em ponto está


ilustrada na FIGURA 2. Foi desenvolvido pelo Committee on Communicable Diseases Affecting
Man (1976, 1979).
Idealmente, os profissionais devem ser chamados para investigar epidemias em ponto antes de
atingir o pico, pois é frequente serem solicitados quando a epidemia já está em franca evolução.
Por se tratar de situação de emergência, os veterinários envolvidos na investigação devem

146
identificar rapidamente a fonte de infecção ou via de transmissão e rapidamente prevenir a
exposição de mais animais ao risco de infecção. Tanto na epidemia de propagação como na
epidemia em ponto a tarefa de investigação é a mesma e a variação depende de cada situação
e, portanto, importante entender que, no caso da epidemia por ponto, a rápida identificação
da via de transmissão (ar, alimento, agua) e seu pronto controle irá prevenir novos casos.
FIGURA 36. ETAPAS DA INVESTIGAÇÃO DE EPIDEMIA POR PONTO (MARTIN et al, 1978)

147
Tabela de taxa de ataque
Na construção de tabelas de ataque considerar:
i. Definição da unidade de investigação: animal ou grupo de animais (núcleo, galpão, baia,
etc.). Como regra, considerar grupo o conjunto de animais s submetidos ao mesmo
regime de alojamento, alimentação, suprimento de água.
ii. Ao iniciar a investigação, é suficiente considerar cada grupo de animais em afetados ou
não afetados, doentes ou não doentes, expostos ao risco de infecção ou não expostos.
Valores de morbidade e de mortalidade em cada grupo podem ser necessários para
estudos mais detalhados ou para fins de interpretação dos resultados finais.
iii. Consideração sobre dados de prevalência na população exposta ao risco: de estão
disponíveis ou se os dados são obtidos a partir de todos os casos ou a partir de alguns
casos da população não afetada. No 1o caso, a taxa de ataque pode ser determinada
para cada fator (TABELA 4).
iv. Consideração sobre o emprego ou não de análise estatística: para avaliar a significância
das diferenças das observações. Usualmente requeridas na fase final da investigação em
surtos de emergência ou não.

Uma vez os dados resumidos e tabulados, segue-se a determinação do fator de risco


responsável pela epidemia em ponto. Caso seja o fator de risco, é baixo o número de
doentes entre os não expostos; a maiores dos expostos adoeceram.
Exemplo: considere investigação de toxinfecção em um restaurante de certa indústria
metalúrgica tendo sido servidos os seguintes alimentos considerados de risco:
carpaccio, maionese e mousse de morango. Os primeiros casos de diarreia, hipotermia
e vomito ocorreram depois de 6 horas da ingestão. Os resultados estão reunidos nas
tabelas XXI, XXII E XXIII.
Existem 3 possibilidades de análise estatística:
a. Odds ratio ou razão de probabilidade (VIEIRA, 2010)
a .d
OR = b .c
Interpretação: indica somente a intensidade da associação entre doentes e
exposição ao risco (casela a). Havendo mais de 1 fator de risco, a interpretação de
causa e efeito é no sentido de maior associação quanto maior for o valor de Q
b. Coeficiente de associação de Yule (MARASCUILLO, 1971)
a.d−b.c
Q = a.d+b.c
Interpretação: a significância da associação expressa pelo coeficiente de associação
de Yule é calculado pelo 2
c. Qui quadrado (2) (THRUSFIELD & CHRISTLEY, 2018)
Interpretação: como a tabela de associação tem apenas 1 grau de Liberdade (GL), o
valor critic de 2 é igual a 3,84,
n (  a . d - b . c  - n/2)2
2 = ------------------------------------------
148
(a + b)(c + d)(a + c)(b + d)
Para cada tabela, foram aplicadas ODDS RATIO (OR), coeficiente de associação de
Yule/Q e estatística do 2 (Qui quadrado) que permitem avaliar a significância na relação
doentes e ingestão de alimento (carpacio, maionese e mousse).
Os respectivos valores de 2 e d Q encontras-se ao final de cada tabela. O valor critico de
2 para erro α igual a 0,05 é 3,84.

TABELA 4. Comensais do restaurante da metalúrgica X segundo a condição


de doença e consumo de carpaccio. Dados hipotéticos
Ingestão de Condição
Total
carpaccio Doente Não doente
Sim 8 32 40
Não 5 71 76
Total 13 103 116
 = 1,48
2

Q = 0,56
TABELA 5. Comensais do restaurante da metalúrgica X segundo a condição
de doença e consumo de maionese. Dados hipotéticos
Ingestão de Condição
Total
maionese Doente Não doente
Sim 8 32 40
Não 5 66 71
Total 13 98 111
 = 1,34
2

Q = 0,25
TABELA 6. Comensais do restaurante da metalúrgica X segundo a condição
de doença e consumo de mousse de morango. Dados hipotéticos
Ingestão de Condição
Total
mousse Doente Não doente
Sim 18 2 20
Não 15 56 71
Total 33 58 91
 = 13,5
2

Q= 0,94
Conclusão: o alimento responsável pela toxinfecção foi, muito provavelmente, a mousse. O
próximo passo é tentar obter amostras dos ingredientes e submeter ao exame laboratorial para
identificação da toxina.
Caso o leitor deseje analisar com base no odds ratio/risco atribuível (VIEIRA, 2010), tem-se a
seguinte fórmula

149
a .d
OD = b .c

Assim para os alimentos em investigação, tem-se os seguintes valores de OD:


Alimento A = 3,55
Alimento B = 3,30
Alimento C = 33,60
Os valores dos coeficientes de Associação de Yule foram:
Alimento A = 0,56
Alimento B = 0,25
Alimento C = 0,94
Os valores observados para o 2 foram:
Alimento A = 1,48
Alimento B = 1,34
Alimento C = 13,4 (significante para α = 0.05)

Tabela 7. Resumo das tabelas 4, 5 e 6


ODDS RATIO Associação de Yule Qui Quadrado
ALIMENTO
(OR) (Q) (2)
Carpaccio 3,55 0,56 1,48 (não significante)
Maionese 3,30 0,35 1,34 (não significante)
Mousse 33,60 0,94 13,4 (Significante)
Obs. verificar que somente o teste de  oferece maior certeza na identificação do fator
2

de risco (alimento) envolvido na transmissão da infecção


O alimento mais provável responsável pela toxinfecção alimentar é o C (mousse de morango)
Quando toda a população tiver sido afetada, recomenda-se refinar as questões sobre aqueles
itens que compõem a investigação. Considere os seguintes exemplos: i) todos os bovinos de
um rebanho receberam a mesma silagem, objeto de investigação, refinar considerando a
possibilidade de se investigar os diferentes lotes de silagem; ii) pode ocorrer de existir apenas
uma fonte de água para todos os animais e a distribuição da doença não sendo uniforme, não
é provável que a água seja a via de transmissão
Quando vários estabelecimentos estão envolvidos na epidemia por ponto, o raciocínio é o
mesmo. Se o padrão temporal sugere epidemia em ponto e indicação de apenas uma síndrome
envolvida (na ausência de confirmação diagnóstica), a investigação pode ser iniciada com a
suspeita de uma fonte de infecção ou uma via de transmissão e a unidade de análise é o
estabelecimento.
Embora a epidemia por ponto apresente características de epidemia de propagação, este caso
é comparativamente sempre mais complexo. Mesmo assim, examinar os primeiros
estabelecimentos a relatarem o problema e adicionar ao estudo características relativas aos
animais, ração, alteração de equipamentos, emprego de fertilizantes oi inseticidas, etc. que
poderá ser o 1º passo para observar o fator comum aos estabelecimentos afetados e comparar
150
com estabelecimentos próximos não afetados. A análise estatística permanece a mesma, ou
seja, cálculo do 2 (Qui quadrado) ou OD (odds ratio) ou Associação de Yule.
A confirmação do diagnóstico é fundamental para o direcionamento da investigação, mas
iniciar a colheita de dados apropriados enquanto aguarda a confirmação. A demora poderá
resultar em prejuízos porque, se a via de transmissão for a ração ou um inseticida, por exemplo,
os animais podem estar sendo alimentados bem como assegurar-se que as amostras foram
colhidas depois da exposição ao fator de risco
A certeza da investigação não poderá ser alcanças apenas com os resultados observacionais.

2. VIGILÂNCIA

Definição: segundo OIE (código de animais terrestres) vigilância é definida como conjunto de
procedimentos que visa demonstrar a ausência de infecção ou determinar a presença ou
distribuição de infecção ou detectar o mais precocemente possível doenças exóticas
ou emergentes. É um instrumento para avaliar a tendências de doenças, facilitar o controle
de infecções, fornecer dados para uso na análise de riscos em saúde animal ou pública,
fundamentar a lógica das medidas sanitárias e fornecer garantias aos parceiros comerciais. O
tipo de vigilância aplicada depende dos objetivos da vigilância, das fontes de dados disponíveis
e dos resultados necessários para apoiar a tomada de decisão. Trata-se, portanto, de um
sistema ativo de descrição de ocorrência de doenças acima dos níveis considerados usuais
desde que não esteja comprometendo a produtividade.
A vigilância é mais intensiva que o monitoramento, é parte integrante de um programa de
profilaxia e depende da habilidade dos profissionais em aplicar medidas de controle e
erradicação eficazes. Trata-se de estratégias conhecidas há longa data, desde a ocorrência da
peste bovina na Inglaterra no século XVIII quando surge a obrigatoriedade da notificação
compulsória de doenças (SPINAGE, 2003) e na França, no século XIX quando da epidemia de
febre aftosa.
Muitos autores não diferenciam monitoramento da vigilância (ACHESON et al., 1976), mas
existe um consenso contemporâneo, a despeito de serem interdependentes, são
procedimentos distintos em significado e objetivos (WEATHERALL & HASKEY, 1976).
A vigilância, forma de atividade mais intensiva em termos de obtenção e armazenamento de
dados, apresenta 3 elementos distintos:
i. Colheita, organização e análise de dados;
ii. Divulgação das informações às partes interessadas;
iii. Tomadas de medidas para o controle da doença caso seja identificada.
É tal como a comparação a uma célula nervosa com um ramo aferente que recebe as
informações que são analisadas pelas células do corpo e nervo eferente que executa as devidas
ações (THACKER & BIRKHEAD, 2002).

151
O objetivo geral da vigilância é a manutenção dos elevados níveis de saúde e bem-estar dos
animais e a proteção da saúde pública (controle de zoonoses e das doenças transmitidas por
alimentos).
Os objetivos específicos são:
i. Rápida detecção de surtos de doença;
ii. Identificação precoce dos problemas decorrentes da doença (endêmica ou não
endêmica);
iii. Definição das prioridades para o controle e prevenção da doença; detençao de novas
doenças emergentes;
iv. Avaliação dos programas de profilaxia dos programas;
v. Disponibilizar informações para o planejamento e execução de pesquisas;
vi. Confirmação da ausência da doença na população.

a. Vigilância ao nível internacional

Informações obtidas nas atividades de vigilância colaboram na redução do impacto das doenças
dos animais. A movimentação mundial de animais e seus produtos ao redor do mundo resulta
no aumento do risco de disseminação de doenças. É necessário e importante o intercâmbio de
informações entre países para que possam ser comparáveis em termos de incidência e que
depende de uma uniformização do entendimento de procedimentos de vigilância e de como os
sistemas de vigilância são delineados e implementados. Inicia com a padronização da definição
de vigilância porque tem reflexo direto na transparência e confiança (HOINVILLE et al, 2013).
b. Vigilância ao nível de pais

Modalidade de vigilancia: vigilância sorológica; vigilância passiva e ativa; vigilância pós morte
(THRUSFIELD & CHRISTLEY, 2018).
Vigilância sorológica: é a identificação do padrão de uma infecção atual ou passada realizada
com apoio de provas sorológicas. Por exemplo, após um surto de peste suína clássica e extinto
o foco, vigilância sorológica é aplicada em uma amostra estatisticamente significante para
avaliar ausência de circulação viral e liberar a zona de emergência instituída e retomar à
movimentação de animais. Este raio de vigilância pode ser aumentado na dependência dos
estudos epidemiológicos realizados.
Vigilância dirigida (antiga vigilância passiva) e exploratória (antiga vigilância ativa) (BLOOD &
STUDDERT, 2002; MEAH & LEWIS, 2000; SCUDAMORE, 2000).
Vigilância dirigida/vigilância passiva
i. São examinados apenas animais doentes acometidos por doença especifica com o
objetivo de detectar esses doentes;
ii. É a modalidade mais frequente em Medicina Veterinária e tem sido descrita como
monitoramento continuo de certa doença existente na população que se encontra sob

152
vigilância cujos dados são uteis para tomada de decisão pelo serviço veterinário oficial
(SCUDAMORE, 2000). Ex. Relatórios de diagnósticos laboratoriais, informações
rotineiras da inspeção de carne e notificação obrigatória de doenças listadas.
iii. Vantagens e desvantagens: os dados podem apresentar vieses como por exemplo,
amostra constituída por voluntários e, portanto, desconhece-se o valor do denominador
não permitindo estimar a ocorrência de doença na população ou poderá subestimar a
verdades ocorrência da doença. Apresenta a vantagem de ser a 1ª etapa para
identificação de uma doença exótica ou emergente ou re-emergente na qual a aplicação
da vigilância exploratória/ativa na população alvo nãos está ainda definida. Por exemplo,
pode ser uma situação em que alguns casos suspeitos de BSE ou de PRRS foram
identificados e materiais desses casos são enviados ao laboratório e resultados podem
ser obtidos em menos tempo. Por outro lado, a vigilância dirigida/passiva é menos
onerosa comparativamente à vigilância ativa. É vinculada ao sistema de monitoramento
do Serviço Veterinário Oficial Federal.
Vigilância exploratória/vigilância ativa
i) São examinados animais clinicamente normais incluindo exames pós morte
porque animais subclínicos são importantes em casos de doenças na qual sabe-
se que há predomínio de portadores. É útil para empreender pesquisas sobre a
doença especifica.
ii) Vantagem: no caso da vigilância exploratória/ativa, por se tratar de pesquisa bem
delineada, poderá produzir estimativas confiáveis. É vinculada ao sistema de
monitoramento do Serviço Veterinário Oficial Federal.

c. MONITORAMENTO

Conceitos básicos

O papel da epidemiologia e economia foram incorporados no início do século passado


(MARTIN, 1982) pelas disciplinas que proporcionam princípios e conceitos para maior
entendimento e de investigação para o diagnóstico dos fatores que interferem na
produtividade e sanidade graças à formação dos médicos veterinários em conhecimentos de
manejo da saúde de rebanhos. A contribuição dos programas de saúde animal tem início, nos
primórdios do século XX para o controle dq babesiose, anaplasmose e pleuropneumonia
contagiosa dos bovinos e da triquinelose e peste suína clássica em suínos e que evoluíram a
partir de meados deste mesmo século para o controle de doenças devastadoras como febre
aftosa, brucelose, tuberculose e continuando com a peste suína clássica (SCHWABE et al., 1977).
Todas as atividades mencionadas requerem a existência de um guarda-chuva (plano) para a
proteção da indústria intensiva de produção animal.

153
Métodos epidemiológicos são essenciais para as atividades de controle e monitoramento de
doenças em rebanhos e se constitui no cerne dos programas organizados de saúde animal seja
ao nível de programas oficiais ou da iniciativa privada.
No delineamento de programas de controle de doenças é importante conhecer os agentes
etiológicos das respectivas doenças como é o caso da raiva, febre aftosa, peste suína clássica,
doença de Aujeszky, salmoneloses das aves e suínos, micoplasmoses aviárias, doença de
Newcastle, anemia infecciosa equina, Burkholderia mallei (mormo), artrite encefalite dos
pequenos ruminantes, etc. Obviamente, os programas enfrentam dificuldades na execução e
avalição quando se defronta com doenças e etiologia múltipla (doenças causadas por vários
agentes etiológicos) ou apresenta vários fatores envolvidos na transmissão. Nessas síndromes
estão envolvidas doenças entéricas e respiratórias de bovinos, suínos e aves como mortalidade
neonatal e ineficiências reprodutivas e destacando-se doenças metabólicas e as mastites que
não podem ser devidamente estudadas em modelos controlados utilizando animais de
laboratório, requerendo, portanto, estudos controlados a campo. A epidemiologia, há muito
tempo, vem oferecendo conhecimentos para tais estudos incluindo procedimentos analíticos.
Certamente eram estudos mais qualitativos geralmente vinculados à microbiologia e apoio
clinico e, portanto, são recentes as técnicas epidemiológicas quantitativas para fins de
monitoramento e investigação de problemas em estabelecimentos de produção animal. A guisa
de ilustração, mencione a investigação conduzida, em 1968, para elucidação do deslocamento
do abomaso em vacas leiteiras (ROBERTSON 1968).
O monitoramento de doenças dos animais descreve o progresso dos esforços na avaliação do
status de saúde e doenças na população de interesse. Esta atividade depende da existência de
um sistema de colheita, processamento e apresentação dos dados através, por exemplo, de
tabelas e gráficos e da divulgação dos resultados seja por agencias ou individualmente.
Se de um lado o termo “vigilância de doença” é utilizada para descrever um sistema mais ativo
e implica na existência de ações diretas que indicam estar a doença ocorrênciao abaixo ou acima
de níveis de frequência esperada (ex. sistema de vigilancia da peste suína clássica). O principal
objetivo é a capacidade de detectar precocemente a ocorrência da doença e seu padrão
populacional e temporal e seus reflexos na produtividade.
Por outro lado, o monitoramento, por seu turno, também fornece dados, porém auxilia na
tomada de decisão sobre a eficácia de programas de saúde para manter ou redirecionar as
ações baseando-se em dados retrospectivos como por exemplo brucelose (KELLAR et al. 1976;
GRAY and MARTIN 1980) ou do programa de controle da doença de Newcastle (BURRIDGE et
al. 1975).
Sistemas regionais, nacionais e internacional enfatizam aquelas doenças que não podem ser
controladas pelos indivíduos por requererem esforços de agencias veterinárias governamentais
diretamente envolvidos na coordenação e/ou direção do sistema.

154
Definição e objetivos

Definição
Estudo detalhado e multifacetado dos fatores causais ou predisponentes envolvidos na
causalidade de uma doença e é empregado para avaliar a eficácia do programa.
Objetivos do monitoramento
O objetivo primário do monitoramento é, obviamente, beneficiar a população animal ou
detectar precocemente doenças que podem afetar o homem (SCHWABE et al. 1971). Pode ser
extrapolados ao nível regional, nacional ou internacional, pois sempre reúnem dados
referentes aos programas realizados ao nível de rebanho.
Monitoramento no serviço oficial: a atenção está voltada para doenças de notificação
obrigatória ou no serviço de saúde púbica veterinária cujo foco é o risco à saúde humana. Por
exemplo, monitoramento de salmoneloses aviárias, doença de Aujesky, anemia infecciosa
equina, brucelose bovina principalmente.
Monitoramento na iniciativa privada: tem-se o veterinário e o produtor focados em uma
determinada doença ou pequeno conjunto de problemas, por exemplo, i) salmonelose em
frangos se corte, na postura e em suínos de produção comercial; ii) doenças respiratórias
(transmissão aerógena) ou doenças entéricas (transmissão oro-fecal). Este conhecimento
oferece previsibilidade ao sistema de monitoria
Monitoramento de doenças dos animais descreve os esforços na medida que a doença está
ocorrendo objetivando avaliar o status de saúde e de doença na população alvo de estudo.
Trata-se, portanto, de procedimento de colheita de informações sobre a doença, produtividade
ou outra característica de interesse, mas sempre relacionado com a população. Por exemplo,
isolamento de salmonelas paratíficas em aves, do vírus da doença de Newcastle em galinhas de
subsistência localizadas ao redor de compartimentos, do vírus da peste suína clássica em
suídeos asselvajados de áreas endêmicas, da anemia infecciosa equina, etc.
Esta atividade requer a existência de um sistema de colheita, processamento e resumos dos
dados (apresentação dos dados em tabelas e gráficos) e informações sobre a disseminação da
doença com base no conhecimento da cadeia de transmissão da doença em estudo.
O monitoramento também fornece dados sistemáticos e auxilia na tomada de decisão
relativamente à eficácia dos programas de saúde animal em andamento bem como auxilia no
planejamento e delineamento de novas medidas de controle justificado pela análise
retrospectiva dos dados acumulados como por exemplo para brucelose bovina em razão de ter
alcançado os resultados propostas (KELLAR et al. 1976; GRAY & MARTIN 1980) e doença de
Newcastle (BURRIDGE et al. 1975). Explicando melhor: quando um programa de controle é
introduzido pela 1ª vez, o objetivo é pré-estabelecido, por exemplo, reduzir a incidência de 10,0%
para 1,0%. Quando o objetivo é alcançado, caso o programa defina como objetivo a manutenção
da incidência em 1,0%, há que se estabelecer um novo objetivo, i.é, manter o resultado de 1,0%,

155
assim sendo, torna-se necessário delinear um novo programa caso contrário a doença tende a
recrudescer.
Monitoramento pode ser conduzido para uma doença ou conjunto de doenças na dependência
da natureza das doenças e em diferentes níveis como em propriedade, pequena região
municipal, estadual, nacional ou continental. Poderão ser de natureza oficial ou privada como
associações, cooperativas etc.
Mais frequentemente, o sistema de monitoramento envolve:
i. Estimativa da frequência de ocorrência de doença objeto do monitoramento
(prevalência ou incidência). Informações adicionais são importantes, tais como, variação
estacional, cíclica ou secular;
ii. Certificar-se que a doença está ausente no estabelecimento de produção ou na região,
por exemplo, peste suína clássica na zona livre do Brasil, influenza aviária de alta
patogenicidade (H5 ou H7) que é exótica no Brasil, brucelose bovina, mormo, etc. A
ocorrência de uma dessas doenças pode dificultar a movimentação de animais de uma
área para outra;
iii. A detecção precoce de doenças exóticas ou emergenciais como peste suína africana no
Brasil ou doença de Nipah antes que a prevalência seja elevada;
iv. A tomada de decisão baseada nos itens acima mencionados dependerá de apoio
laboratorial, das industrias de biológicos e de instituições de pesquisas.
O criador pode ter seu sistema de monitoramento diferente dos demais, mas um grupo de
propriedades como uma integração pode utilizar um sistema diferente de outro grupo. Por
exemplo, criadores e seus veterinários podem enxergar o problema na propriedade de forma
diferente do olhar do veterinário do serviço veterinário oficial estadual cujo olhar está voltado
para doenças de notificação obrigatória (ex. salmonelose), da mesma forma que o veterinário
da saúde publica considera a saúde humana do ponto de vista do risco.
O criador pode ter seu sistema de monitoramento diferente dos demais, mas um grupo de
propriedades como uma integração pode utilizar um sistema diferente de outro grupo. Por
exemplo, criadores e seus veterinários podem enxergar o problema na propriedade de forma
diferente do olhar do veterinário do serviço veterinário oficial estadual cujo olhar está voltado
para doenças de notificação obrigatória (ex. salmonelose), da mesma forma que o veterinário
da saúde publica considera a saúde humana do ponto de vista do risco. Mais especificamente,
sendo os riscos externos à uma determinada propriedade imponderavelmente diferente ao de
outra propriedade como por exemplo riscos externos, tipo de instalação, manejo (galpão
fechado ou aberto, free range, etc) requerem medidas de biosseguridade diferenciados.
O objetivo da maioria dos sistemas de monitoramento e da vigilância reflete a natureza a
doença (s) e os requisitos para o seu controle. A vigilância ao nível de propriedade enfatiza
aquelas doenças que, pelo menos teoricamente, podem ser controladas pelo proprietário e,

156
este procedimento, frequentemente impacta na produtividade do rebanho, associado à
consideração humana, incentiva o controle da doença.
No caso da iniciativa privada tem-se o veterinário e o produtor focados em uma determinada
doença ou pequeno conjunto de problemas, por exemplo, salmonelose em frangos se corte ou
na postura e em suínos de produção comercial, doenças respiratórias (transmissão aerógena)
ou doenças entéricas (transmissão oro-fecal). Este conhecimento oferece previsibilidade ao
sistema de monitoria
Mais frequentemente, o sistema de monitoramento envolve:
i. Estimativa da frequência de ocorrência de doença objeto do monitoramento
(prevalência ou incidência). Informações adicionais são importantes, tais como, variação
estacional, cíclica ou secular;
ii. Certificar-se que a doença está ausente no estabelecimento de produção ou na região,
por exemplo, peste suína clássica na zona livre do Brasil, influenza aviária de alta
patogenicidade (H5 ou H7) que é exótica no Brasil, brucelose bovina, mormo, etc. A
ocorrência de uma dessas doenças pode dificultar a movimentação de animais de uma
área para outra;
iii. A detecção precoce de doenças exóticas ou emergenciais como peste suína africana no
Brasil ou doença de Nipah antes que a prevalência seja elevada;
iv. A tomada de decisão baseada nos itens acima mencionados dependerá de apoio
laboratorial, das industrias de biológicos e de instituições de pesquisas.
Registro de dados sobre doenças ao nível de propriedade
O estado de saúde de animais de produção é continuamente monitorado como parte do manejo
de saúde tendo em vista que, os incidentes de doença podem ser fortemente influenciados
dentro e entre as diferentes categorias.
Em sistemas de manejo de saúde tradicional, principalmente na bovinocultura e suinocultura,
os eventos são registrados, os eventos são anotados em fichas individuais. É preciso ter em
mente que, tal procedimento, objetiva a tomada de decisão relativa ao animal individualmente
e não permite o monitoramento da saúde do rebanho. Muitos veterinários e produtores não
são adeptos de um processo de registro organizado do plante em razão de ser atividade tediosa
(ERB & MARTIN 1980). Sendo atividade fundamental, existem disponíveis softwares de fácil
utilização. Convém lembrar que sistemas de notação em ficha, por não permitir análise
estatística, pode subestimar ou superestimar a doença no rebanho e não seria de se
surpreender que, frequentemente se observe predominância de problemas da esfera
reprodutiva (WILLIAMSON 1982). Erroneamente, muito profissionais que utilizam softwares
consideram o sistema auto profético e direcionam erradamente as medidas de controle, pois
problemas metabólicos podem ser mais importantes em comparação aos distúrbios
reprodutivos (HEIDER 1980). Mencione-se também que, o diagnóstico individual errado pode
limitar a especificidade do diagnóstico.

157
Nos modernos sistemas de produção animal industrial, nas unidades de produção são anotados
todos os eventos relativos à saúde e à produtividade que são fundamentais para o bom manejo
e para tomada de decisões com o intuído de se manter atualizado e devidamente analisados
todos os indicadores
Sistemas computadorizados para monitoramento da saúde e produção podem simplificar o
monitoramento incluindo episódios de doença dentre os eventos continuamente registrados
como parte do sistema de entrada de dados. Este processo torna possível a atualização dos
dados individuais bem como do status do rebanho em termos de saúde e produção (GOULD,
1988) permitindo ter-se uma visão global para monitoramento de incidência dentro e fora do
plantel.
Monitoramento de doenças dos animais descreve os esforços na medida que a doença está
ocorrendo objetivando avaliar o status de saúde e de doença na população alvo de estudo.
Trata-se, portanto, de procedimento de colheita sistemática de informações sobre a doença,
produtividade ou outra característica de interesse, mas sempre relacionado com a população.
Por exemplo, ao suspeitar-se de salmonela, proceder ao seu isolamento e caracterização ou do
vírus da doença de Newcastle em galinhas de subsistência localizadas ao redor de
compartimentos, do vírus da peste suína clássica em suídeos asselvajados de áreas endêmicas,
da anemia infecciosa equina, etc seguido da determinação da respectiva prevelencia. Segue-se
o delineamento das respectivas medidas de controle e proceder ao acompanhamento dos
resultados das medidas de controle introduzidas através avaliaçao e interpretação estatística
das sucessivas prevalências ou incidências para finalmente decidir se continua com a medidas
preconizadas ou se decide pela mudança de rumo. Recomenda-se que avaliação estatisitca seja
conduzida pelo teste da diferença de duas proporções sucessivas ao longo do tempo de
duração das medidas de controle.
Pode-se inferir que esta atividade requer a existência de um sistema de colheita,
processamento e resumos dos dados (apresentação dos dados em tabelas e gráficos) e
informações sobre a disseminação da doença com base no conhecimento da cadeia de
transmissão da doença em estudo.
Assim, o monitoramento fornece dados sistemáticos e auxilia na tomada de decisão
relativamente à eficácia dos programas de saúde animal em andamento bem como auxilia no
planejamento e delineamento de novas medidas de controle justificado pela análise
retrospectiva dos dados acumulados como por exemplo para brucelose bovina em razão de ter
alcançado os resultados propostas (KELLAR et al. 1976; GRAY & MARTIN 1980) e doença de
Newcastle (BURRIDGE et al. 1975).
Explicando melhor, quando um programa de controle é introduzido pela 1ª vez, o objetivo é
pré-estabelecido, por exemplo, reduzir a incidência de 10,0% para 1,0%. Quando o objetivo é
alcançado, caso o programa defina como objetivo a manutenção da incidência em 1,0%, há que
se estabelecer um novo objetivo, i.é, manter o resultado de 1,0%, assim sendo, torna-se
necessário delinear um novo programa caso contrário a doença tende a recrudescer.

158
Monitoramento pode ser conduzido para uma doença ou conjunto de doenças na dependência
da natureza das doenças e em diferentes níveis como em propriedade, pequena região
municipal, estadual, nacional ou continental. Poderão ser de natureza oficial ou privada como
associações, cooperativas etc. Por exemplo, doenças respiratórias e entéricas em galinhas
poedeiras, frangos de corte, suínos podem ser controladas em conjunto porque apresentam
mesmo mecanismos de transmissão. Doenças respiratórias por serem de transmissão aerogena
podem ser controladas pela atuação no ar interno dos galpões para redução da carga
contaminante do ambiente e reduzir as possibilidades de disseminação das doenças. Doenças
entéricas, por serem transmiticas pela cama, piso, água de bebida, artrópodes (moscas,
Alphitobius diaperinus/cascudinhos), roedores principalmente, o controle em conjunto atuando
sobres estas vias de transmissão condizirá à redução da prevalência.
Ao analisar os dados de monitoramento, o profissional se deparará com alteração de algum
indicador de saúde ou de produtividade, recomenda-se investigar a etiologia e as causas do
problema e seguir os passos da análise estatística que melhor permita realizar e entender para
fins de seleção de medidas corretivas.
Nos estabelecimentos de produção, monitoramento é atividade integrante de programas de
saúde (BOTTERELL, 1976; THRUSFIELD & CHRISTLEY, 2018) e requer conhecimentos de
diferentes áreas da medicina veterinária (microbiologia, virologia, micologia, patogenia,
diagnóstico, tratamento, ecologia), comportamento animal, manejo animal, manejo ambiental
bem como da epidemiologia, bioestatística e economia. São importantes os conteúdos de
sociologia e psicologia para o entendimento e comunicação com produtores/gerentes para o
sucesso dos programas de saúde animal. Obviamente, os programas devem ser delineados e
executados em populações de diferentes níveis desde pequenos grupos (rebanhos, canis, gatis,
haras) até grandes grupos (populações de estado, região ou país).
Assim, o estado de saúde de animais de produção é continuamente monitorado como parte do
manejo de saúde tendo em vista que, os incidentes de doença podem ser fortemente
influenciados dentro e entre as diferentes categorias.
Em sistemas de manejo de saúde tradicional, principalmente na bovinocultura, os eventos são
registrados em fichas individuais. É preciso ter em mente que, tal procedimento, objetiva a
tomada de decisão relativa ao animal individualmente e não permite o monitoramento da saúde
do rebanho. Muitos veterinários e produtores não são adeptos de um processo de registro
organizado do plante em razão de ser atividade tediosa (ERB & MARTIN 1980). Sendo atividade
fundamental, existem disponíveis softwares de fácil utilização. Convém lembrar que sistemas
de notação em ficha, por não permitir análise estatística, pode subestimar ou superestimar a
doença no rebanho e não seria de se surpreender que, frequentemente se observe
predominância de problemas da esfera reprodutiva (WILLIAMSON 1982). Erroneamente, muito
profissionais que utilizam softwares consideram o sistema auto profético e direcionam
erradamente as medidas de controle, pois problemas metabólicos podem ser mais importantes
em comparação aos distúrbios reprodutivos (HEIDER 1980). Mencione-se também que, o
diagnóstico individual errado pode limitar a especificidade do diagnóstico.

159
Nos modernos sistemas de produção industrial de animais, nas unidades de produção são
anotados, de forma organizada e sistemática, todos os eventos relativos à saúde e à
produtividade que são fundamentais para o bom manejo e para tomada de decisões com o
intuído de se manter atualizado e devidamente analisados todos os indicadores
Sistemas computadorizados para monitoramento da saúde e produção podem simplificar o
monitoramento incluindo episódios de doença dentre os eventos continuamente registrados
como parte do sistema de entrada de dados. Este processo torna possível a atualização dos
dados individuais bem como do status do rebanho em termos de saúde e produção (GOULD,
1988) permitindo ter-se uma visão global para monitoramento de incidência dentro e fora do
plantel.
Consiste na avaliação do progresso dos esforços na avaliação do status de saúde e doenças na
população de interesse.
Com a evolução dos conhecimentos e tecnologias diferentes, a forma de se realizar
monitoramento e vigilância evoluem. Porém, um fato é incontestável, o sistema de
monitoramento deve atender aos seus objetivos fundamentais e não ajustar-se aos modernos
recursos eletrônicos.
Caso as informações possam ser válidos para outros propósitos ou se deseja extrapolar os
resultados para uma população geral, há a necessidade de avaliar sistema por sistema. Algumas
situações em que ocorre esta tentativa de extrapolação:
i. tentativa de estimar a prevalência ou incidência de outra doença;
ii. para certificar-se que certa doença está ausente no rebanho ou região; e
iii. para detecção precoce de doenças exóticas ou de doença emergente como por
exemplo, detecção da peste suína africana no Brasil em 2021 em decorrência de surtos
na Europa, Ásia, na República Dominicana e no Haiti ou da Influenza aviária por estar
ocorrendo endemicamente em países do hemisfério norte.
Embora os dados possam parecer suficientemente precisos e completos para o objetivo
primário a que se propôs, pode ser errôneo utilizar para outros propósitos (RAY 1982). Cada
sistema de monitoramento deve ser delineado para o objetivo principal a que se propõe o
profissional que considera as condições politicas, sociais, econômica e cultural do local. Como
critério mínimo, os dados devem enumerar a frequência de ocorrência da doença em estudo e
especificar o tempo, local e as características do hospedeiro de importância epidemiológica dos
animais afetados e a população de risco. Quando possível, considerar informações auxiliares
como impacto biológico e/ou econômicos que possam ser importantes para o delineamento
das medidas de controle seja para a decisão política, administrativa, do serviço veterinário
oficial e do proprietário dos animais.
Ao especificar a doença, é importante definir o que se constitui em caso. Em algumas
circunstancias, somente são incluídos casos clínicos, ou somente subclínicos? O isolamento
agente etiológico da fonte de infecção, por exemplo Salmonella, pode ser suficiente? E se for
realizado isolamento de Salmonella do solo, de vetores, da ração? Animal soropositivo define
um caso? Tais premissas devem ser definidas a priori. Problemas podem surgir se, durante a
160
atividade de monitoramento for introduzido alguma alteração como novo teste laboratorial.
Introdução de categoria de animais não previsto na fase de planejamento. Isto significa que o
planejamento deve ser conduzido com rigor para evitar alterações durante o andamento do
monitoramento (HUGH-JONES 1975).
Recomendações ao delinear sistema de monitoramento:
a. Definir com precisão a população alvo de estudo;
b. Definir se o estudo é de prevalência ou de incidência.
c. Em algumas situações, é recomendável avaliar a incidência ao invés da prevalência
por indicar a evolução da doença (aumentando ou diminuindo);
d. Evitar inclusão de casos raros que poderão distorcer o valor da prevalência ou
incidência;
e. Padronização da nomenclatura contendo uma e apenas uma definição para cada
doença e caso;
f. Definir estatisticamente o tamanho da amostra a ser examinada;
g. Atenção na escolha do teste laboratorial quanto à sensibilidade ou especificidade
que poderão superestimar ou subestimar o verdadeiro valor da prevalência ou
incidência.
h. Quando a ocorrência de uma doença não tem relação com estações do ano, mas o
isolamento ocorre mais frequentemente no inverno, aventar a possibilidade de
influência do meio ambiente caso o denominador seja número de amostras do solo
submetidas ao cultivo celular. Sempre optar em examinar animais e não amostras do
ambiente.
i. Doenças em fase final de erradicação, é recomendável examinar animais no
matadouro ao invés de submeter ao monitoramento animais vivos suspeitos devido
à baixa incidência.
j. Quando vacas leiteiras são objeto de monitoramento, examinar amostras de leite
obtidas em plataformas de recepção de leite poderá facilitar a atividade. Exemplo,
brucelose bovina.
k. Recurso eletrônico permite trabalhar com várias variáveis como espécie animal, raça,
grupo etário, sexo, tipo de exploração etc. muitas informações podem ser obtidas
em matadouros, dados de censos;
l. Sendo o monitoramento expresso em taxa ou coeficiente, recomenda-se cuidado ao
definir a natureza do denominador.
Finalmente, monitoramento no serviço privado é diferente do monitoramento no serviço
oficial.
Em se tratando do monitoramento no serviço oficial, a atenção está voltada para doenças de
notificação obrigatória ou no serviço de saúde púbica veterinária cujo foco é o risco à saúde
humana.

161
CAPÍTULO 8
INVESTIGAÇÃO
ANÁLISE DE RISCO. RISCO E MEDIDA DE RISCO (RODADA URUGUAY)
1. DEFINIÇÃO;
2. CUIDADOS NA OBTENÇÃO DE DADOS: a) natureza dos dados; b) cooperação; c) rastreamento; d) viés ou
bias; e) custo da colheita de dados; f) problemas inerentes aos países em desenvolvimento.
3. FONTES DE DADOS EPIDEMIOLÓGICOS: a) órgãos oficiais de Veterinária; b) clinica e hospitais veterinários;
c) matadouros, abatedouros, frigoróficos; d) banco de soros; e) lojas de produtos veterinários; f) p\rques
zoológicos; g) organizações de Agricultura; h) integrações e cooperativas; i) órgãos governamentais que não
veterinário; j) Faculdades de Medicina Veterinária; k) Laboratórios de diagnóstico credenciados; Laboratórios
de pesquisas; outras fontes.
4. PRINCÍPIOS DA INVESTIGAÇÃO: a) relação entre 2 ou mais variáveis; b) estabelecimento de hipóteses; c)
aproximação indutiva no raciocínio causal (aproximação indutiva e dedutiva).
5. METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA: área piloto; a) estudo descritivo;b) estudo analítico;
estudo experimental ou dedutivo.
6. MODALIDADES DE ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS: a) estudo transversal ou de prevalência ou cross sectional
study; b) estudo retrospectivo ou case control study: c) estudo prospectivo ou de incidência ou cohort stydy
ou follow-up study; d) estudo experimental.
7. ETAPAS DE UM ESTUDO DESCRITIVO: a) identificação da população alvo ou suspetito de risco elevado; b)
definição de risco; c) estabelecer variáveis em estudo; d) sekação das fontes de informação; e) cálculo dos
indicadores de saúde; f) comparação entre as características da doença e os indicadores já conhecidos; g)
estimativa.
8. CRITÉRIOS ESTATÍSTICOS E BIOLÓGICOS DA INVESTIGAÇÃO.
9. CRITÉRIOS DE CAUSALIDADE.
10. FATORES DE ESTUOS COMBINADOS: a) consistência da associação; b) intensidade da associação e
gradientes; c) especificidade da associação; d) relação temporal; e) coerência e plausibilidade biológiva.
11. ANALOGIA ENTRE CRIMINOLOGIA E A EPIDEMIOLOGIA NA CAUSALIDADE DE DOENÇAS: postulaos de a) de
Henle e Evans; c) de River; c) de Hubner; d) de Evans; e) de Johnsos.
12. CAUSALIDADE E SAÚDE;
13. ESTUDO RETROSPECTIVO;
14. ESTUDO PROSPECTIVO;
15. CRITÉRIOS DE ESCOLHA ENTRE ESTUDO RETROSPECTIVO E PRSPECTIVO;
16. ANALISE DE RISCO E MEDIDA DE RISCO. a) Criação da OMC; b) Definições; c) exemplos de análise de risco
qualitativo e quantitativo; c) etapas de uma análise de risco (a) identificação do perigo; b) gerenciamento do
risco; c) comunicação do risco; d) exemplo de análide de risco quantitativo)

1. DEFINIÇÃO: a investigação é uma metodologia científica que objetiva identificar os fatores


causais envolvidos na ocorrência de determinada doença em certa área geográfica ou em
estabelecimento de produção ou conjunto de estabelecimentos de produção de determinada
área. Trata-se de uma operação em “tempos de paz” para fins de aprimoramento das medidas
de profilaxia.
2. CUIDADOS NA OBTENÇÃO DE DADOS
a. Natureza dos dados: dados de algumas fontes inconvenientes por não serem confiáveis ou
precisas. Podem ser também de natureza errada. Por exemplo, dados relativos à
claudicação podem ser importantes e úteis para uma estimativa geral de prevalência de
problemas de cascos, mas, seriam de pequena valia para estudos detalhados de diferentes
tipos de lesões de claudicação e suas respectivas causas.
b. Cooperação: a falta de cooperação poderá ser um grande entrave nas investigações
epidemiológicas. Existem muitas razões pelas quais as pessoas não desejam fornecer
162
dados. Os motivos para assumirem encargos de um estudo ou investigação podem não
estar claros e podem ser desencorajados. Isto significa que o (s) objetivo (s) da investigação
deve(em) estar suficientemente claros para todos os envolvidos. A cooperação torna-se
muito mais importante quando a investigação é parte de um programa de saúde animal do
que em relação a casos isolados. Alguns estudos, principalmente os prospectivos, poderão
demandar muitos anos para a sua conclusão e poderá causar desestímulo. A colheita de
informações pode ter o risco de comprometer a confiança como por ex.: quando são
examinadas planilhas de custo ou de financiamento da pesquisa. A cooperação poderá
estar comprometida quando a colheita de dados é laboriosa, consumindo muito tempo ou
quando questionários são complexos. O método de colheita de dados deve ser o mais
simples possível.
c. Rastreamento: dados sobre distribuição geográfica de doenças podem ser dificultadas em
razão da inabilidade em rastrear a origem dos animais. Poderá ser maior ainda em se
tratando de animais de abatedouros pois, as carcaças podem não ser claramente
identificadas. Rastreamento pode ser muito valioso. A identificação clara dos animais nem
sempre existe.
d. Viés ou bias: fontes de dados em veterinária podem apresentar viés.
e. Custo na colheita de dados: em muitos países a colheita de informações de doenças de
importância nacional é amparada financeiramente pelo próprio governo. Em outros países
existem fundos de financiamento de pesquisas em doenças de importância econômica.
Doenças de animais de estimação podem apresentar restrições no suporte financeiro a não
ser que esteja clara a importância em saúde pública. a falta de recursos poderá
comprometer a obtenção de informações sobre doenças em animais de companhia.
f. Problemas inerentes a países em desenvolvimento: a colheita de dados em países em
desenvolvimento pode deparar-se com dificuldades adicionais. Pode ser decorrente de
apoio laboratorial precário e insuficiente potencial humano. O terreno poderá ser muito
difícil. Nestes casos é aconselhável que se colha, em cada investigação, o maior nº possível
de espécimes (sangue, fezes, urina, etc.) possibilitando a pesquisa de várias doenças
simultaneamente evitando-se a necessidade de se repetir jornadas de trabalho em áreas de
difícil acesso. Prevalências podem ser estimadas pelo emprego da prova intradérmica ou da
tricomonose pelo exame de lavado prepucial.
3. FONTES DE DADOS EPIDEMIOLÓGICOS
A apresentação que se segue é uma lista de possíveis fontes de informação em epidemiologia
e as fontes disponíveis variam de país para país. Assim, em países desenvolvidos existe
infraestrutura veterinária que facilita a colheita de dados da maioria dessas fontes. Em países
em desenvolvimento valem-se de poucas fontes. Algumas organizações recolhem e
armazenam dados e podem ser referências para estudos epidemiológicos. O ideal que que um
serviço de veterinária pudesse dispor de dados epidemiológicos, laboratoriais, clínicos e
bibliográficos.

163
1. Órgãos oficiais de veterinária: muitos países têm um serviço de veterinária já organizado.
Esses serviços investigam doenças de importância nacional principalmente aquelas que são
de notificação obrigatória. Muitos serviços oficiais possuem laboratórios de apoio.
Relatórios são periodicamente preparados e divulgados. O relacionamento de um
veterinário com o laboratório pode ser uma atitude particular e quase sempre voluntária e
poderá refletir um interesse e motivação particular podendo representar bias. Relatos de
doenças de notificação obrigatória, de forma semelhante, dependerá da consciência do
observados. Publicação de dados coligidos de diferentes fontes (laboratórios, hospitais,
matadouro etc.) são de grande valia. Muitas vezes relatórios são preparados e mantidos
sob sigilo e, portanto, não prontamente acessíveis. Um boletim internacional de doenças
dos animais abrangendo a maioria dos países do globo é publicado pela OIE/Paris. Esse
boletim relata as prevalências de doenças na medida que são reconhecidas pelos países
membros algumas vezes pesquisas podem ser conduzidas pela reunião de dados de
diferentes fontes como por ex. a que foi realizada em 1954 e 1955 na Irlanda do Norte
incluindo dados demográficos e de doenças de uma vasta lista de doenças infecciosas e não
infecciosas dos bovinos, ovinos e suínos. Foram reunidas informações de cerca de 70% das
propriedades visitadas pelo órgão oficial incluindo matadouros.
2. Veterinários clínicos: em países onde o serviço veterinário privado tem contato com as
propriedades e animais de companhia (países desenvolvidos), a extensão do
relacionamento varia. Veterinários que assistem propriedades rurais têm muito mais
contato com bovinos e menos com suínos e gado de corte e menos ainda com ovinos.
Problemas em ruminantes tendem a ser estacionais (sazonais) e relacionados com o parto.
Proprietários de animais de companhia usualmente vale-se de veterinários privados.
Portanto esses profissionais são a maior fonte de informações de dados de cães e eqüinos.
Em se tratando de animais de companhia pode-se deparar com o fato de nem sempre os
animais serem levados ao veterinário pelo alto custo do tratamento ou da intervenção
cirúrgica e os dados podem subestimar a verdadeira prevalência das doenças. Em se
tratando de grandes animais, aquelas doenças pouco graves nem sempre são atendidas
pelo veterinário e podem igualmente subestimar a verdadeira prevalência. Muitos
proprietários tratam seus animais e que não são relatados devidamente. Muitos dados não
são confiáveis por erro de diagnóstico. Se o objetivo da pesquisa não estiver claro para o
veterinário de campo e se os resultados não retornarem a ele com certo benefício, pouco
participará da colheita de dados e principalmente se a pesquisa for de longa duração como
no caso de estudos prospectivos. Dados livremente disponíveis e que existem disponíveis
em diferentes locais acumulados de forma dispersa poderão dificultar a sua organização.
Questionários podem ser utilizados podendo ser facilitados, na sua apuração, pelo uso de
computadores. Poucos são os programas que fazem monitoramento contínuo de doenças
com base em dados existentes nos serviços privados de veterinária. Quando mais de um
veterinário ou mais de 1 órgão é envolvido, a padronização da nomenclatura é fundamental.
3. Matadouros: abatedouros que processam carne vermelha manipulam elevado nº de
animais para consumo humano e identificam algumas doenças durante a inspeção.
Somente animais clinicamente saudáveis são enviados para abate e, portanto, a maioria dos
164
diagnósticos é de processos sub-clínicos como por ex. verminoses e lesões internas como
hepatites. O objetivo da inspeção de carnes é salvaguardar a saúde humana.
Tradicionalmente é realizada para prevenir o comércio de carnes e vísceras que sejam
obviamente impróprias para consumo. Portanto, a maioria os processos é diagnóstico
macroscópico pós-morte e as experiências têm demonstrado que essa prática é adequada.
Investigação tem sido essencialmente de importância secundária para o serviço de inspeção
em abatedouros embora seja possível o exame de sangue, escarro, linfonodos e outros
tecidos específicos objeto de estudos epidemiológicos. Algumas vezes é possível recorrer-
se a exames microscópicos e microscopia eletrônica de determinados tecidos. É um
exemplo de refinamento de técnica. Animais enviados ao abatedouro são animais
provindos de diferentes origens após longas viagens. Rastreamento são muitas vezes
importantes e desejáveis se as doenças tem relação com a propriedade ou com a área
geográfica. É fácil naqueles países onde o sistema comercial é simples. Mesmo quando o
rastreamento é possível pode-se deparar com problemas de identificação de vísceras.
Carcaças podem ser identificadas por tatuagem ou etiquetas. E as carcaças com lesões
podem ser inadequadamente identificadas e dificultar relacionar com a carcaça.
4. Bancos de soros: coleções armazenadas de amostras de soros são denominadas banco de
soros ou soroteca. Tais amostras são aquelas colhidas rotineiramente durante programas
de controle ou de erradicação oficiais e nas investigações sorológicas específicas. Muitas
vezes as amostras não são utilizadas particularmente quando se utiliza pequena quantidade
face às características das provas laboratoriais modernas que necessitam de reduzidíssimos
volumes de soro. Amostras de soro podem ser importantes instrumentos de informação
epidemiológica sobre prioridade para vacinação, periodicidade das epidemias e origem de
doenças recém descobertas.
5. Lojas de produtos farmacêuticos e veterinários: dados de venda das indústrias
farmac6euticas são também fontes indiretas de informações para avaliação da frequ6encia
de doenças. Venda de antibióticos, por ex., é uma informação geral e “grosseira” da
prevalência de doenças bacterianas. Cuidado porque antibióticos podem ser
comercializados na ausência de isolamento bacteriano específico e até mesmo
desconhecendo-se a bactéria responsável no processo ou até mesmo na ausência total de
infecção bacteriana. O antibiótico poderá estar sendo usado para fins profiláticos e não
curativo. Em outras circunstâncias antibióticos com determinadas indicações poderão estar
sendo recomendados para outra como por ex. aplicação de antibiótico de uso intramamário
em otites externas.
6. Parques zoológicos: muitos zoológicos mantêm sistema de registro de ocorrência de
doenças. Existe o Registro Internacional de Animais de Zoológico em Genebra que recebe,
organiza e acumula dados de animais de zoológicos.
7. Organizações de agricultura: existem muitas organizações associadas às indústrias animal
que detém informações sobre produção animal tais como ganho de peso, conversão
alimentar e produção de leite. Embora os dados não estejam diretamente relacionados a

165
doenças, são importantes indicadores da composição e distribuição de populações animais
e úteis para fins de definição da população alvo a ser estudada.
8. Integrações e cooperativas: podem deter importantes informações que são geradas pelos
associados. Há o inconveniente de serem informações muitas vezes confidenciais. Tais
dados podem ser importantes em investigações sobre mortalidade de poedeiras, doenças
em coelhos, estudos econômicos em leitões lactentes, lesões causadas pela movimentação
de leitões desmamados etc.
9. Orgãos governamentais que não de Veterinária: unidades estatísticas e econômicas.
10. Instituições de registro de animais: principalmente aquelas que criam bovinos de leite e
suínos possuem sistema de registro de informações. O sistema de registro varia d
propriedade para propriedade em função da orientação recebida e portanto são
informações de difícil uniformização e comparação (diferentes categorias de informações
e diferentes graus de refinamento). Por ex. registro detalhado de lesão de casco e simples
registro de manqueira.
11. Faculdades de Veterinária: possuem clínicas e hospitais que registram dados de consultas
com ou sem apoio de recursos computacionais. Estudos com dados de faculdades têm
geralmente viéses.
12. Laboratórios de diagnóstico credenciados: os credenciados são importantes fontes de
dados notadamente no que respeita a doenças de controle oficial como doença de aves
(Newcastle e salmoneloses), suinos (PSC, doença de Aujeszky, brucelose), equinos (AIE,
mormo), bovinos (brucelose, tuberculose).
13. Laboratórios de pesquisas: podem deter valiosas informações sobre doenças em animais
silvestres utilizados em experimentos, embora sejam dados muito específicos e
relacionados e pequenos grupos de animais. Fábricas de rações podem, em algumas
circunstâncias, possuir informações demográficas. Sociedades ou associações de criadores
de animais de companhia nº de animais existentes e sua distribuição geográfica.
14. Outras fontes: organizações direcionadas para animais silvestres ou de conservação da
fauna, podem possuir informações quanto ao tamanho da população. Animais silvestres
podem ser importantes fontes de infecção para os animais domésticos e para o homem
como por ex. raiva (raposas, doninha, morcegos hematófagos etc.). O monitoramento
desses animais é bastante difícil e pode-se recorrer a alguns estudos locais.
4. PRINCÍPIOS DA INVESTIGAÇÃO
a. RELAÇÃO ENTRE 2 OU MAIS VARIÁVEIS: comumente, os resultados de um programa de
saúde são representados de forma descritiva sob forma de tabelas de distribuição simples de
dados. Estudos dessa natureza não permitem explicar a causa da doença ou da saúde em
populações animais, mas, são úteis na proposição de hipóteses sólidas acerca da origem ou
causalidade do fenômeno.

166
O princípio da investigação causal baseia-se em técnicas exatas que foram desenvolvidas nas
últimas décadas. É um procedimento de comparação de conjuntos de informações de uma
investigação ou entre várias investigações de interesse do estudo.
Partindo-se do princípio de origem multifatorial dos fenômenos de doença ou de saúde, o
estudo analítico por comparação múltipla será útil na identificação dos complexos etiológicos
e inferir a respeito da importância relativa ou absoluta dos diferentes fatores que envolvem o
objeto de estudo.
A investigação i.é. dos fatores causais de uma doença em populações animais, baseia-se na
comparação de diferentes grupos de indivíduos que se apresentam doentes e não doentes e
com a exposição e não exposição aos fatores em estudo. Por exemplo, seja uma determinada
área geográfica de relevo uniforme com raras áreas montanhosas ou serranas. Se um
pesquisador identificar, apoiado em estudo descritivo, que 40% da população de suínos
criados em área montanhosa apresenta distúrbios respiratórios, seria fácil concluir sobre a
importância da altitude na ocorrência da doença. Porem, se esse pesquisador detectar valor
semelhante de prevalência de doença pulmonar em criações localizadas em áreas não
montanhosas (grupo testemunha ou população geral), o raciocínio será, inevitavelmente,
diferente.
Assim, a metodologia e o planejamento da pesquisa serão definidos em função de uma
hipótese sobre o fator ou causalidade da doença. A análise dos dados de uma investigação
depende de apoio estatístico para a interpretação dos resultados. Uma relação estatística de
causa e efeito não é suficiente para estabelecer a relação entre 2 variáveis. O planejamento
de estudos dessa natureza deve estar apoiado em hipóteses plausíveis e no raciocínio lógico.
A conclusão, ou seja, o julgamento sobre a relação causa e efeito transcende à estatística que
representa apenas um instrumento para o estudo.
Para um melhor entendimento sobre a plausibilidade tememos um exemplo do nosso
cotidiano, a obesidade e que um investigador esteja estudando a relação ou associação de
sua crescente tendência com os diversos fatores do meio ambiente. A obesidade (variável
dependente) não apresentará, obviamente, relação estatística com as variações anuais da
temperatura ambiental (variável independente). Por outro lado, poderá apresentar uma
relação estatística com acidentes cardiovasculares, consumo de meias de nylon, produção e
venda de telefones celulares ou de veículos automotivos e acidentes de carro nas estradas.
Estariam aumentados o consumo de alimentos ricos em calorias, os fatores psicológicos
(conflitos inter e intrapessoais), intensificando a vida sedentária e diminuída a freqüência de
exercícios físicos.
Os acidentes de carro ou a venda de mais de nylon ou de telefone celular estariam
relacionados com a obesidade sem causa i.é. de modo acidental e muitas vezes de forma
perfeita. Por outro lado, a vida sedentária, venda de carros e os fatores psicológicos podem
estar associados etiologicamente por limitarem a perda de caloria. Todos esses fatores
poderão estar associados à obesidade de forma tão duradoura (associação indireta) que,
muitas vezes, uma causa mais relacionada não é identificada.
167
b. ESTABELECIMENTO DE HIPÓTESES: Hipótese é uma proposição do pesquisador com o
objetivo de explicar o fenômeno em estudo. Poderá, essa hipótese, ser aceita ou rejeitada.
Para a formulação de hipóteses, o pesquisador deverá basear-se na literatura, na sua
experiência pessoal ou de outros. Uma boa hipótese depende do conhecimento descritivo
claro da doença na população como: características do agente etiológico, do (s)
hospedeiro (s) envolvido (s) e do meio ambiente. Deve conhecer também valores da
avaliação quantitativa de ocorrência da doença e dos meios de profilaxia empregados. É
conveniente lembrar que as hipóteses mais adequadas nascem da observação cruzada de
diversas disciplinas (como clínica, microbiologia, farmacologia, imunologia, epidemiolgia
etc.) e do raciocínio paralelo. As hipóteses devem ser simples e nada além do necessário
para explicar o fenômeno. No século XIV, Willian D’Occan já recomendava que “ as
hipóteses que se tem em conta no estudo e na explicação dos acontecimentos não devem
ser múltiplos e nem além do necessário”.
Tomando-se o exemplo de abortamento em vacas vacinadas contra brucelose e
controladas quanto à Tricomonose e Campilobacteriose, pode-se levantar a hipótese de
ser devida à carência mineral mas, pode-se também aventar a possibilidade etiológica de
tal síndrome depender do relevo da região, predisposição genética, manejo inadequado
durante a ordenha, palpação retal mal conduzida, vacinação contra a febre aftosa na fase
final da gestação, etc. Quanto maior e mais complexo for o modelo, mais numerosos serão
os fatores a controlar e mais difícil torna - se o estudo para a sua realização e posterior
interpretação. Tornar o problema de forma clara e simples é uma das virtudes do
epidemiologista, porém, uma das mais difíceis.
Uma hipótese de caráter científico deve se apoiar na observação ou em estudos
experimentais. Deve ser suficientemente rica para abranger um grande nº de eventos.
Além dessas recomendações, uma hipótese nova deve satisfazer, segundo Buck (in
JENICEK & CLÉROUX, 1982), ao menos uma das seguintes exigências:
i. Permitir prognóstico o mais preciso possível;
ii. Explicar muitas observações anteriores;
iii. Fornecer detalhes sobre observações anteriores;
iv. Ser aplicável onde uma hipótese anterior fora rejeitada;
v. Sugerir novas aproximações que não foram admitidas em hipóteses anteriores;
vi. Relacionar fenômenos que não foram anteriormente considerados interligados.
c. APROXIMAÇÃO INDUTIVA E DEDUTIVA NO RACIOCÍNIO CAUSAL:
A hipótese de uma relação de causa e efeito pode ser abordada de dupla maneira.
i. APROXIMAÇÃO INDUTIVA: estabelece-se as hipóteses e o raciocínio a partir das
observações existentes e verificar a plausibilidade da hipótese no íntimo do próprio
material.

168
ii. APROXIMAÇÃO DEDUTIVA: as hipóteses são formuladas a partir de informações
obtidas em experimentos precedentes. Delineia-se, portanto, um novo estudo para
aceitar ou rejeitar a hipótese de causa e efeito estabelecida.
Por exemplo, por aproximação indutiva pode-se constatar que bovinos de leite adoecem mais
frequentemente entre 18 e 24 meses de idade no estado de São Paulo. Ao se realizar um estudo
profundo das informações existentes para aceitar ou rejeitar a hipótese de uma relação causal
entre ocorrência de brucelose e idade dos bovinos de leite está se procedendo à uma
aproximação indutiva. A partir dessa aproximação pode-se avançar a mesma hipótese pela
construção de um novo estudo, controlando todos os fatores possíveis que poderiam falsear
os resultados. Então, esse novo modelo - aproximação dedutiva - é “secionado sob medida “
para o modelo causal planejado.
Nos conceitos de indução e dedução no domínio da Filosofia, da Biometria e da Epidemiologia
estabelece o raciocínio como um conjunto de regras que, partindo-se premissas verdadeiras,
permite alcançar resultados também verdadeiros ou seja conclusão lógica (QUADRO 10).
QUADRO 10. Comparação do raciocínio causal entre as ciências

APROXIMAÇÃO
CIÊNCIA
INDUÇÃO DEDUÇÃO
É o raciocínio em que, partindo-se do É o raciocínio em que, partindo-se do
FILOSOFIA particular, conclui-se sobre o geral geral, conclui-se sobre o particular
Procedimento que permite aplicar, na É o procedimento que permite aplicar
BIOMETRIA população, os resultados obtidos por o resultado da população alvo em
amostragem unidades amostrais
Formulação de hipóteses de forma
EPIDEMIOLOGIA Introdução de hipóteses em material intuitiva ou não com base nos
já existente conhecimentos gerais para estudos
especiais.

No campo da experimentação, prevalece o raciocínio indutivo, i.é. a partir de uma observação


de um nº limitado de observações infere-se a respeito do fenômeno populacional. Obviamente,
este é um procedimento no qual não se pode depositar uma confiança de 100% e, portanto, é
vulnerável quando se aceita ou rejeita uma hipótese de trabalho. Buck adotou, no contexto da
Epidemiologia, a visão de Kail Popper que diz: as primeiras hipóteses são formuladas de forma
imaginativa seguido de um trabalho dedutivo e os prognósticos das circunstâncias que
conduzem à rejeição da hipótese em questão adotando o raciocínio de Sherlock Holmes: após
ter eliminado o impossível, resta, mesmo que pareça improvável, o que pode ser verdade.
Inicialmente o trabalho epidemiológico é uma observação que se baseia no raciocínio
puramente imaginativo. Os dados obtidos devem conduzir à rejeição da hipótese. Mesmo
diante da falta de um componente da relação causal e todos os outros estando em jogo, o
estudo epidemiológico deve ser conduzido. São instrumentos valiosos para o epidemiologista.
É preciso valorizar mais a investigação indutiva do trabalho epidemiológico. Muitas vezes é o
único recurso para o estabelecimento de uma relação de causa e efeito principalmente em
169
casos de uma epidemia. Outras situações poderão surgir na evolução da doença. Muitas vezes
é impossível a reprodução da doença pela simples satisfação de uma explicação por meio de
uma investigação dedutiva.
Em outras circunstâncias é possível o estudo dedutivo e verificar uma a uma as etapas
sucessivas e construir o mosaico de uma prova irrefutável de uma associação causal. Nem
sempre é possível realizar ou seguir todas as etapas previstas, mas, é preciso colher o máximo
de informações para se atingir as conclusões mais exatas. É o caso de poder selecionar, para
estudos observacionais, animais que ingerem e não ingerem pastagem contaminada com
restos animais para se observar a instalação ou não de intoxicação. Em estudos dessa natureza,
os indivíduos são distribuídos em grupos de expostos e não expostos por decisão do
pesquisador como se fosse decidir quem comerá ou não o alimento contaminado.
O raciocínio causal está se desenvolvendo progressivamente do domínio das doenças
infeciosas para as não transmissíveis e finalmente para as doenças não transmissíveis.
5 METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA
A vantagem de estudos de ocorrência de doenças em determinada população é a possibilidade
de se utilizar dados já existentes ou disponíveis em diferentes fontes de informações como
matadouros, frigoríficos, hospitais, registros de notificação, laboratórios de diagnóstico,
universidades etc. Naturalmente, as fontes mais ricas são aquelas oriundas de serviços que
atuam em programas de saúde onde a notificação ‘e obrigatória. Em outros setores do serviço
de veterinária, as informações são muito escassas e o diagnóstico precário. Raramente se têm
hospitais em que os animais são recebidos e mantidos em observação para um diagnóstico
conclusivo, confiável e, sobretudo de se ter uma estatística quanto ao serviço médico. No Brasil
são escassos os hospitais veterinários que possuem registros e estatísticas.
Em se tratando de matadouros, os dados referem-se à rejeição de peças pela observação de
lesões macroscópicas do que propriamente por técnicas anatomopatológicas. São fontes de
dados, que se conhecida a procedência dos animais, permitem o rastreamento no sentido de
verificar a ocorrência de determinadas doenças em certa área geográfica de onde provém os
animais.
Em certas fazendas organizadas, pode-se ter arquivos razoáveis indicando ou contendo certas
informações principalmente quanto aos esquemas de vacinações, reprodução e eventos de
fácil diagnóstico que prescindam de apoio laboratorial e que são instrumentos auxiliares em
estudos epidemiológicos. Atualmente, com o sistema de informatização poderemos contar
com fazendas cada vez mais controladas quanto aos eventos de importância para o controle
de doenças e aumento da produtividade.
Quase sempre se tem que realizar uma investigação para se obter informações que sejam de
interesse pois, em países em desenvolvimento as estatísticas ou inexistem ou são pouco
fidedignas. Para se conhecer a ocorrência de doenças em uma população para posteriormente
delinear estratégia de combate recomenda - se o emprego de áreas piloto.

170
ÁREA PILOTO: é uma área geograficamente limitada tanto quanto possível, representativa de
uma população maior que se tem em mente e para a qual se tem interesse em medir a
ocorrência da doença, as características da população e colocar em prática as medidas de
prevenção. Torna possível, de forma exaustiva, levantar as características da população e
condições de ocorrência da doença e colocar em prática, em escala piloto, programas de
prevenção e avaliar antes de se colocar em prática na população. É um PRÉ - TESTE. A área
piloto é um expediente importante principalmente em países onde não existem ou são
insuficientes as fontes de informações sobre estatística sanitária.
Quando se realiza um estudo epidemiológico seja em área piloto seja em amostra
representativa da população para a qual se pretende estender o resultado da observação,
existem algumas etapas a serem cumpridas:
Modalidades de investigação:
a. ESTUDO DESCRITIVO: realizar levantamento, na amostra ou na área piloto, todas as
informações sobre casos da doença em estudo e caracterizar os mecanismos de propagação
(como, quando, onde e em quem ocorre).
b. ESTUDO ANALÍTICO: reunir os dados, analisar e formular hipóteses quanto à
etiologia/causalidade, mecanismos de propagação etc. As hipóteses formuladas conduzem
à etapa seguinte que irá responder à pergunta: “porque ocorre”.
c. ESTUDO EXPERIMENTAL ou INDUTIVO: procurar testar todas as hipóteses aventadas por
ocasião da análise dos dados. Alguns autores falam em Epidemiologia descritiva,
Epidemiologia Analítica e Epidemiologia Indutiva quando, na realidade, tais sub-divisões
são artificiais porque são todas etapas lógicas de um estudo que observa, colhe
informações, analisa, raciocina sobre as informações, formula hipóteses e testa de forma
experimental. É uma sequência lógica de um estudo epidemiológico e não são
compartimentos estanques.
6. MODALIDADES DE ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS:
a. ESTUDO TRANSVERSAL (ESTUDO DE PREVALÊNCIA OU CROSS SECTIONAL STUDY):
O significado: é como se tivesse obtido uma fatia ou realizado um corte na população e
examinasse naquele momento o que está ocorrendo. Permite calcular a proporção de
indivíduos doentes ou de infectados.
b. ESTUDO RETROSPECTIVO (CASE CONTROL STUDY):
O significado: identifica-se um grupo de indivíduos doentes e outro (grupo testemunha)
de indivíduos não doentes ou com outra doença (mais frequente em medicina hospitalar).
Por ex. propriedades que apresentaram foco de Sêneca vírus x propriedades sem Sêneca
vírus.
Objetiva identificar retrospectivamente, no que diferem os indivíduos com cinomose ou as
propriedades que tiveram Sêneca virus daqueles controles para se obter alguma
informação relacionada ao componente causal que tenha conduzido ao aparecimento da
doença.
171
Esses estudos surgiram principalmente da constatação, durante a 2ª guerra mundial,
quando cirurgiões notaram elevada prevalência de câncer pulmonar em feridos de guerra
que fumavam muito e por longo tempo e nas observações de lesões vasculares
tromboembólicas em mulheres que tomavam anticoncepcionais por via oral. Para estudos
retrospectivos pode-se construir a seguinte tabela: suponhamos o exemplo da Sêneca
virose como condição e a ausência de arco de desinfecção na entrada da granja fator de
risco de exposição (Quadro 11).
QUADRO 11. Relação entre fator causal (causa) e doença (efeito)

CONDIÇÃO NÃO
FATOR DOENTE TOTAL
DOENTE
PRESENTE a b (a + b )
AUSENTE c d (c + d )
TOTAL (a + c) (b + d ) N=a+b+c+d

As caselas “a”, “b”, “c” e “d” são desconhecidas como também o são os valores de (a + b)
e (c + d). Entretanto são conhecidos os valores das caselas (a + c) e (b + d).
O objetivo do estudo retrospectivo é identificar se os indivíduos (a + c) e (b + d) estiveram
ou não expostos ao fator ou ao risco de infeção pela anamnese. Assim, preencher as caselas
“a”, “b”, “c” e “d” e procurar, de que forma caminhões contaminados que transitam por
granjas com e sem seneca virose podem ser fator de risco. Outros ex. são colheita de
amostras de sangue de equinos para exame laboratorial de mormo está associada à
transmissão da Anemia Infecciosa equina (AIE).

c. ESTUDO PROSPECTIVO (ESTUDO DE INCIDÊNCIA OU COHORT STUDY OU FOLLOW-UP STUDY):

O significado: identifica-se indivíduos que estiveram e não estiveram expostos ao fator ou


ao risco de infeção e acompanhada por tempo pré-determinado para avaliar a variável que
se deseja estudar.
Nesse estudo, comparativamente ao anterior, é o conhecimento dos indivíduos das caselas
(a + b) e (c + d) e que estão reunidos no quadro 12 que segue:

QUADRO 12. Relação entre fator causal (causa) e doença (efeito)

CONDIÇÃO NÃO
FATOR DOENTE DOENTE TOTAL
PRESENTE a b (a + b)
AUSENTE c d (c + d)
N=a+b+c+
TOTAL (a + c) (b + d)
d

COHORT é o conjunto de indivíduos que, identificados e caracterizados como expostos ou


não, são acompanhados pela observação sistemática i.é. não estão doentes, mas,

172
pertencem a 2 grupos distintos quanto à exposição ao fator em estudo. Ex. alimentar aves
com ração contaminada com Aflatoxina para identificar maior incidência de intoxicação.
Bovinos que se alimentam em pastagens baixas onde são deixados cadáveres de animais
mortos para identificar maior incidência de “morte súbita” ou animais com síndrome da
“vaca caída”. Constituir 2 grupos representados por animais que ingerem e não ingerem
ração contaminada ou pasto baixo com e sem deposição de restos de cadáveres de
animais. Acompanhar e verificar prospectivamente o aparecimento ou não da patologia
em estudo em ambos os grupos.
O caráter do estudo é predominantemente observacional porque não se está intervindo
no conjunto de indivíduos.

d. EXPERIMENTAL:
O significado: deixa de ser um estudo observacional porque são constituídos grupos,
tratamentos são definidos e tem-se controle sobre todas as variáveis controláveis e as “não
controláveis ” devem estar igualmente distribuídas nos grupos para se evitar “bias”/viés
(ocorrência de erro sistemático). A comparabilidade é um aspecto importante a se garantir
e frequentemente há a necessidade de se comparar o que ocorre em uma população e o que
ocorre em outra e que podem ser diferentes quanto à estrutura de sexo, idade, etc. e que
podem influir na própria interpretação dos resultados. Se estiver estudando a ocorrência de
mormo associada ao uso de seringas “comuns” em populações de estruturas diferentes
quanto a uma série de características como sexo, idade, raça, os resultados podem ser
mascarados quando da comparação dos grupos (confouding factors ou fatores de
confusão) porque as intensidades da exposição podem ser diferentes.
Para se preservar a comparabilidade há que se padronizar certos coeficientes para que se
possa comparar de forma mais adequada as 2 populações. Seja o exemplo de resultados
reunidos na tabela 8.

Tabela 8. Taxa de mortalidade em bovinos seguindo o grupo etário e população

POPULAÇÃO I POPULAÇÃO II
GRUPO ETÁRIO
(ANOS) Nº de Tamanho da Taxa de Nº de Tamanho da Taxa de
mortos População mortalidade mortos População mortalidade
0 |----- 2 5 100 0,05 20 500 0,04
2 |----- 4 5 100 0.05 24 400 0.06
4 |----- 6 20 200 0,10 20 200 0,10
6 |---- 8 75 500 0, 15 30 300 0,10
8 |---- 10 160 400 0,40 32 100 0,32
TOTAL 265 1.300 0,20 126 1500 0,08

173
Ao comparar, para cada faixa etária, as taxas de mortalidade, observa-se que pouco diferem
entre si, mas, a taxa total pode apresentar acentuada diferença como no caso da tabela
acima.
Para se proceder à comparação das populações, há que se introduzir uma correção para as
distorções no que respeita à idade. Introduz-se um artifício construindo uma outra
população pela reunião das 2 populações em questão. Com esse artifício anula - se as
diferenças entre as populações quanto a sua estrutura etária. Existem vários tipos de
padronização. Mencionaremos apenas a PADRONIZAÇÃO DIRETA (para quem desejar
conhecer outras modalidades de padronização recomenda-se JENICEK & CLÉROUX (1982).

PADRONIZAÇÃO DIRETA:

Construir uma população pela soma das 2 populações consideradas os grupos etários.
Aplicar para essa população construída as respectivas taxas de mortalidade e obter o nº de
mortos para cada população. Calcular, com base nesses novos dados, a taxa total de
mortalidade. A tabela 38 é uma tabela padronizada a partir da Tabela VIII.

Tabela 9. Tabela para o cálculo de padronização

IDADE POPULAÇÃO POPULAÇÃO I POPULAÇÃO II


(Anos) PADRÃO
Tamanho Taxa Nº de mortos Taxa Nº de mortos
0 |------ 2 100 + 500 = 600 0,05 600 x 0,05 = 30 0,04 600 x 0,04 = 24
2 |------ 4 100 + 400 = 500 0,05 500 x 0,05 = 25 0,06 500 x 0,06 = 30
4 |------ 6 200 + 200 = 400 0,10 400 x 0,10 = 40 0,10 400 x 0,10 = 40
6 |------ 8 500 + 300 = 800 0,15 800 x 0,15 = 120 0,10 800 x 0,10 = 80
8 |------ 10 400 + 100 = 500 0,40 500 x 0,40 = 200 0,32 500 x 0,32 = 160
TOTAL 2.800 0,15 415 0,12 334

415/2.800 = 0,15
334/2.800 – 0,12
600 x 0,05 = 30
500 x 0,05 = 25
400 x 0,10 = 40
800 x 0,15 = 120
500 x 0,40 = 200
Com este artifício, afasta-se a distorção idade na ocorrência do evento nas 2 populações. Não
se está comparando os valores 0,08 e 0,20, mas, chega-se a verificar que, com essa
padronização, os coeficientes totais se tornam mais coerentes.

174
ÍNDICE COMPARATIVO DE MORTALIDADE (ICM):

Se forem utilizados os coeficientes de mortalidade calculados com base na tabela 38, teria
20,0/8,0 = 250. A conclusão seria: a mortalidade na população I é 150% maior que na população
II.
O mesmo raciocínio aplicado nas taxas obtidas na tabela IX será: 15,0/12,0 = 125. A conclusão
seria: a mortalidade na população I é 25% maior que na outra população e existe uma maior
coerência quando se consideram os valores das taxas por cada grupo etário.
No caso de populações humanas, a OMS tem estabelecido populações de referência, i.é. uma
composição típica em termos de faixas de idade. A partir da população de referência, outras
populações são padronizadas para diferentes séries de dados. As taxas de referência podem
ser utilizadas a uma série de dados que se deseja padronizar.
Por exemplo, consideremos a brucelose bovina e o abortamento como um dos sintomas da
doença. Para uma população de vacas com brucelose pode-se aplicar as taxas da população de
referência representada por vacas que abortam na ausência de brucelose (população de
referência). O nº de casos assim obtido será comparado com os nº realmente observados e em
seguida calcular o ICM para cada população. A comparação de diferentes populações é
conduzida sem dificuldades.
Considere, portanto, 2 populações das quais uma é usada como referência. Nesse caso, as 2
populações podem ser iguais e facilmente comparadas e a população de vacas que abortam na
ausência de brucelose é usada como referência.
Na tabela 39, a idade, o nº de vacas, o nº de casos de aborto são os dados conhecidos. Calcula-
se, em seguida, as taxas de morbidade para cada grupo etário na população de referência para
depois calcular o nº de casos que seria observado, para cada grupo etário, se forem aplicados à
população com brucelose.
Tabela 10. Taxas padronizada e bruta para o cálculo do ICM

Nº de casos de
População de
População com aborto na pop.com
Referência
IDADE Brucelose brucelose aplicada a
(anos) taxa da popul. sem
brucelose
Nº vacas Nº aborto Taxa morb. Nº vacas Nº aborto
x 1.000
(1) (2) (3) (4) (5) (6)
2 |----- 3 6.500 15 2.308 150 6 0,346
3 |----- 4 5.000 20 4,000 300 10 1,200
4 |----- 5 4.500 30 6,667 500 12 3,334
5 |----- 6 2.000 18 9,000 400 8 3,600
> 6 1.000 10 10,000 80 2 0,800
1.430 38 9,280
TOTAL 19.000 93 4,895
(8) (9) ( 11 )
Taxa bruta de morbidade 4,895 26,573 6,490
x 1.000 (7) ( 10 )
175
( 3 ) = ( 2 ) / ( 1 ) . 1.000
( 6 ) = ( 3 ) . ( 4 ) . 1.000
( 7 ) = ( 9 ) / ( 8 ) . 1.000
( 10 ) = ( 11 ) / ( 8 ) . 1.000
Taxa bruta de brucelose
Portanto: ICM = ------------------------------------- x 100
Taxa padronizada
26.573
= -------------= 409,445
6.490

Interpretação: o abortamento ocorre, na população com brucelose, 4 vezes mais do que em


população sem brucelose.

7. ETAPAS DE UM ESTUDO DESCRITIVO EM EPIDEMIOLOGIA:


Para bem entender as importantes noções relativas aos estudos epidemiológicos descritivos é
conveniente memorizar o organograma geral desse estudo.

a. IDENTIFICAÇÃO DA POPULAÇÃO ALVO SUJEITO A RISCO ELEVADO: A população não é


examinada na sua totalidade porque é conceitualmente infinita e onerosa. Examinar uma
amostra, porém, identificar a população na qual se está interessada.
População sujeito a risco elevado. Quando se está interessado no estudo de uma certa
doença, na verdade deseja-se conhecer o comportamento da mesma em uma população
com risco elevado de apresentar a doença. Por ex. ao se pretender estudar a brucelose
bovina, não se irá estudar a doença em animais de todas as idades, mas, sim procurar
caracterizar a população em termos de real exposição ao risco de infeção como vacas com
mais de 18 meses de idade. Se for estudar a brucelose na população humana, não se irá
estudar entre metalúrgicos, mas, sim entre ordenhadores, veterinários etc.
b. DEFINIÇÃO DA DOENÇA: significa a doença objeto de estudo. Caracterizar adequadamente
critérios de normalidade sinais e testes laboratoriais.
c. ESTABELECER AS VARIÁVEIS EM ESTUDO: Taxa de anticorpos, níveis de hemoglobina,
grua de umidade da carne, presença de doença, presença de vírus da raiva etc.
 Natureza ou características das variáveis: qualitativa ou quantitativa
 Níveis de mensuração ou escala de classificação: nominal, ordinal, proporcional e
intervalar.
 Relação entre as diversas variáveis: variável dependente e independente.

d. SELEÇÃO DAS FONTES DE INFORMAÇÃO: arquivo da empresa, estatística de serviços de


saúde, dados de matadouro, hospitais, etc.

176
e. CÁLCULO DOS INDICADORES DE SAÚDE OU INDICADORES EPIDEMIOLÓGICOS: São as
taxas ou coeficientes que variam em função de:

e1. ESTABELECIMENTO DAS CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS DA DOENÇA


 Prevalência
 Incidência (caso, episódio ...)
 Duração
 Mortalidade
 Letalidade
 Severidade
 Importância relativa a outras doenças.
e2. ESTABELECIMENTO DE UM QUADRO DE OCORRÊNCIA DA DOENÇA (inclui
características em decorrência de estudos de zoonoses):
 Características dos indivíduos:
 Características demográficas: idade, sexo, raça, grupo etário, natureza da
exploração econômica, local de nascimento, nível sócio econômico,
ocupação, renda, etc.
 Características familiares: estado civil.
 Características endógenas e/ou hereditárias: constituição corpórea,
resistência individual, estado nutricional, doenças intercorrentes, tipo de
comportamento, tipo de temperamento, etc.
 Conhecimentos vividos: acontecimentos interessantes, leilões, etc.
 Características de produção/residência: comportamento alimentar, tipo de
alimentação, tipo de exploração, atividade física e de lazer, atividade
ocupacional, etc
 Características de tempo:
 Variação dos fenômenos de massa no tempo
 Tendência secular (evolução da doença no tempo).
 Características de lugar:
 Domicílio
 Zona de residência
 Cidade/campo
 Localização da propriedade, estradas mais próximas, vizinhos, etc.
 Características geográficas (ambiente biológico e social)

f. COMPARAÇÃO ENTRE AS CARACTERÍSTICAS DA DOENÇA E OS INDICADORES DE SAÚDE


JÁ CONHECIDOS (hipóteses sobre a etiologia).

g. ESTIMATIVA: quando de estudos epidemiológicos descritivos, o que se deseja é estimar o


valor da proporção () ou o valor da média aritmética () de determinado fenômeno na
população. Esta inferência é comumente realizada com base no resultado encontrado em
177
uma amostra extraída da população. A proporção obtida na amostra é expressa como “ p
“ e a média aritmética como “x “ e são denominados estimativa de  e de 
respectivamente. Quando se infere estabelecendo que p =  e x = , diz-se que a
estimativa é por ponto. Obviamente, nenhuma confiança pode ser associada a essa
inferência porque se outras amostras de mesmo tamanho e da mesma população fossem
extraídas e examinadas, os possíveis valores das proporções e das médias aritmética
seriam diferentes entre si. Como não é possível examinar toda a população e se deseja
estimar o verdadeiro valor populacional com base no resultado de uma única amostra de
tamanho “n “, recorre-se à estimativa por intervalo na qual pode-se associar uma
confiança. A confiança é definida pelo próprio pesquisador e é igual a (1 - ) sendo  nível
de rejeição da hipóteses de nulidade ou erro de 1ª espécie. Uma estimativa é sempre um
teste bicaudal e para uma distribuição normal e um nível de rejeição de 5%, o valor de “ z ”
é igual a 1,96 e para 1% igual a 2,575. Usualmente adota - se o valor de 5%, ou seja, confiança
de 95%.
No caso de uma proporção e de uma média, os respectivos desvios padrão são:

𝑝(1 − 𝑝) e “s”

𝑛

A estimativa por intervalo de uma proporção é expressa por:

𝑝(1 − 𝑝) 𝑝(1 − 𝑝)
LC (p - zα/2 √    p + zα/2 √ ) = 95%
𝑛 𝑛

A estimativa por intervalo de uma média é expressa por:

LC (x - z/2 s/√n    x + z/2 s/√n )

Exemplos:
a. Se em uma amostra de tamanho 100 for observado 10 doentes, tem-se para a estimativa
por ponto o valor igual a 0,10 ou 10%. O valor da estimativa por intervalo será LC (4,12% l--l
15,88%) = 95%. Significa que o verdadeiro valor poderá estar contido neste intervalo com
uma confiança de 95% e em outras palavras significa que a probabilidade desse verdadeiro
valor não estar contido neste intervalo é de 5%.
b. Se numa amostra de tamanho 36 for observado para a média aritmética valor igual a 5g e
com desvio padrão igual a 1,2g, o valor da estimativa por ponto será o próprio valor
observado de 5g e por intervalo será LC (4,608g |----| 5,392g ) = 95%.

178
8. CRITÉRIOS ESTATÍSTICO E BIOLÓGICO DA INVESTIGAÇÃO:
a. CRITÉRIO ESTATÍSTICO
Considere o seguinte exemplo: de um certo rebanho suíno onde está sendo descrita
ocorrência de doença vesicular em leitões desmamados oriundos de certa granja UPL
(Unidade Produtora de Leitões) e alojados em um núcleo da granja destino até então livre
de Sêneca vírus. Os veterinários do local admitem a possibilidade etiológica associada ao
Sêneca vírus.
Portanto, os leitões poderiam ter chegado ao destino no período de incubação da doença
causada pelo Sêneca vírus. Considere 108 leitões com lesões vesiculares. Foi selecionado
outro grupo de 108 lesões vesiculares de outro núcleo. Retrospectivamente foi possível
verificar quantos leitões de cada grupo pertenciam a à UPL sob suspeita. Portanto, (a +
c) = 108 e (b + d) = 108. Assim, pode-se construir a seguinte tabela 40
Tabela 11. Leitões segundo a condição de apresentar ou não lesoes vesiculares
(D e ND) e UPL de origem. Local, ano.

Condição
Doente Não doentes Total
UPL
Sim 25 4 19
Não 93 104 197
Total 108 108 216

Sabe-se que 2 variáveis estão associadas quando caminham juntas no mesmo sentido.
Sempre que existe uma associação, não se pode estabelecer uma relação de causa e efeito
porque em estudos de prováveis fatores etiológicos da doença, pode - se ter fenômenos que
podem estar associados do ponto de vista estatístico em maior ou menor grau. Pode - se
verificar qual a probabilidade, por acaso, como uma distribuição tabular se apresenta.
Existe associação entre 2 fenômenos? Se existe, qual seria a probabilidade de se obter, por
acaso, uma distribuição como a aqui encontrada? Pode calcular o Coeficiente de Associação
de Yule (Q ) considerada útil para estudos dessa natureza.

a.d - b.c 25. 104 - 4 . 93


Q = --------------------------  Q = --------------------------------- = 0,75
a.d + b.c 25. 104 + 4 . 93

A amplitude de variação de Q é de (-1 ------ 0 ------ +1)

Quando = +1, a associação e positiva e perfeita


Quando = -1, a associação e negativa e perfeita
Quando = 0, não há associação i.é. há independência entre as variáveis.

179
No caso de um valor como 0,75 diz-se que há uma associação positiva relativamente elevada.
Existe uma distribuição de probabilidade, de 2 (Qui Quadrado), que depende do nº de Graus
de Liberdade (GL).
No caso de uma tabela de associação, existe 1GL, porque “escolhendo-se” um determinado
valor de uma casela, os outros são obtidos por diferença. Para  = 0,05 o valor crítico (de
tabela de probabilidades) de 2 é igual a 3,84.
Fixado o nível de rejeição da hipótese de independência em 0,05 e para testar esta hipótese
pelo 2 usa - se a fórmula abaixo (corrigida de Yates).
N [ (|a . d| . |b . c |) - N / 2 ] 2
2 = --------------------------------------------------  2 = 5,77
(a + b)(c + d)(a + c)(b + d)

Sendo o valor calculado de 2 (5,77) superior ao valor crítico de 2 (3,84), a decisão é pela
rejeição da hipótese de nulidade ou hipótese de independência e, portanto, existe uma
associação positiva entre o aparecimento da “sindrome da vaca louca “ e a ingestão de pasto
contaminado. Obviamente, o valor calculado de Q difere muito de 0 (zero) mas, há um risco
de 5% de se estar rejeitando erradamente a hipótese de independência. É estatisticamente
correto porém, poderá não ser do ponto de vista biológico. Apenas resultados negativos são
conclusivos i. é. mais definitivos.
Em caso de existir uma relação positiva do ponto de vista estatística, há que se buscar
critérios adicionais de causalidade.
ASSOCIAÇÃO E CAUSALIDADE:

ausente
Q estatística conclusão: o fator sob suspeita não está implicado na
etiologia

presente

presente
“Vício” / bias conclusão: Associação espúria (artefato)

Ausente

não satisfeitos
Critérios de causalidade conclusão: Associação não causal

Satisfeitos

Associação Causal conclusão: Associação causal (de causa-efeito)

180
b. CRITÉRIO BIOLÓGICO: se os critérios do raciocínio causal são satisfeitos, há uma
associação causal e conclui-se pela existência de uma relação entre causa e efeito. Existe,
portanto, uma lógica explicada pela cadeia de transmissão da doença objeto de
investigação. Portanto, o raciocínio científico complementa (interpreta
convenientemente) o raciocínio estatístico. A ausência de uma associação estatística é
muito mais definitiva que a positiva porque já se define a ausência de relação de causa e
efeito.

9. CRITÉRIOS DE CAUSALIDADE / CAUSALIDADE DA DOENÇA: são adotados desde que não


existam “bias”. Quando os critérios não são satisfeitos significa que a associação é não causal
porque os fenômenos são independentes e que têm uma mesma distribuição temporal.

A causalidade é definida apenas em estudos experimentais onde existem 2 grupos: tratados e


não tratados comparáveis em todos os aspectos com exceção do tratamento. Os estudos
epidemiológicos fornecem fortes indícios para a causalidade bem como são fontes de
informações para o estabelecimento de hipóteses para pesquisas. Muitas vezes é o único
recurso científico diante da impossibilidade de se realizar observação experimental.
i. A prevalência da doença deve ser maior entre os indivíduos expostos do que entre os não
expostos;
ii. A exposição à suposta causa deve ocorrer mais comumente entre os doentes do que entre
os não doentes, quando retrospectivamente se procura a etiologia;
iii. A exposição à causa provável deve preceder a doença. Em algumas circunstâncias, a
doença leva à exposição a determinadas causas que não são causas da doença;
iv. Em estudos prospectivos, a incidência deve ser maior entre os expostos do que entre os
não expostos;
v. Deve existir um espectro mensurável de resposta do hospedeiro (duração ou intensidade
da exposição) na seguinte acepção: quanto maior o tempo de exposição ao fator, maior
deve ser a frequência e também em relação à intensidade de exposição. Ambiente poluído
com determinados compostos do Pb. Quanto maior for a concentração dessa substância
na atmosfera, maior deve ser a ocorrência de saturnismo. Uma doença em que se suspeita
que a poluição do ar com elementos químicos ou físicos seja a causa e se tem uma gradação
diferente de áreas mais ou menos distantes do ponto de origem da poluição, pode-se ter
uma gradação da resposta como doença a partir do ponto original.
vi. A eliminação da causa provável deve reduzir a incidência da doença. Ex. da poluição
ambiental: a implantação de um sistema de filtros na unidade poluidora do ar, deve reduzir
a incidência da doença;
vii. A prevenção ou modificação da resposta do hospedeiro deve reduzir a manifestação da
doença. Ex. a modificação dos hábitos de higiene pode levar à redução da incidência de
certas doenças como verminose, mastite, etc.

181
10. FATORES OU ESTUDOS COMBINADOS: os mais importantes quando se considera a causalidade
de doenças são:

a. CONSISTÊNCIA DA ASSOCIAÇÃO: a determinação da causa nem sempre é simples


quando não se podem realizar observações experimentais. Há que se considerar
diferentes estudos realizados em diferentes populações com diferentes tipos de
modelos de observação de diferentes estudos, de diferentes autores em diferentes
populações com diferentes tipos de modelos de observação. Existindo, entre os
diferentes estudos, uma consistência indicando uma associação entre a doença e as
causas, há uma indicação de causa.
b. INTENSIDADE DA ASSOCIAÇÃO E GRADIENTE (DURAÇÃO) da dose x resposta. Está
provado que casos de câncer pulmonar têm maior incidência quanto maior for o
consumo de fumo, mastite com o nº crescente de partos, etc.
c. ESPECIFICIDADE DA ASSOCIAÇÃO. Se um determinado fator está especificamente
ligado a uma patologia, é mais provável que seja a causa do que se um dado fator
estivesse ligado a várias patologias diferentes entre si. É, portanto, a medida da relação
entre exposição a uma determinada causa e a ocorrência de certa doença. Por ex. a
ingestão de café está relacionada com o câncer pulmonar, úlcera gástrica, insônia,
doenças cardiovasculares. O café é um fator de confusão no estudo do câncer
pulmonar. O cigarro é mais especificamente uma causa de câncer pulmonar do que o
café e o café está ligado a um leque maior de patologias.
d. RELAÇÃO TEMPORAL. A exposição a um dado fator deve preceder ao aparecimento
da doença.
e. COERÊNCIA E PLAUSIBILIDADE BIOLÓGICA: Diante dos conhecimentos científicos e
biológicos que dispomos e com base nos modelos animais, tem - se uma lógica
biológica.
O raciocínio causal, neste domínio, baseou - se no modelo simples do agente microbiano, do
hospedeiro suscetível e no desenvolvimento consecutivo da doença e segundo as
circunstâncias do meio ambiente. Assim, surgem os postulados de Koch, mas, após o
aparecimento e identificação de vírus, os casos assintomáticos, das infeções lentas e
autoimunes, o raciocínio foi sendo progressivamente refinado. Tem-se a seguir a sequência
cronológica do desenvolvimento de postulados:

182
ANALOGIAS ENTRE CRIMINOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA NA CAUSALIDADE DE DOENÇAS

CRIMINOLOGIA EPIDEMIOLOGIA
1 - Culpado presente na área do crime 1 - Agente presente nas lesões da doença
2 – Premeditação 2 - A exposição precede a doença
3 - Instrumentos usados 3 - Fatores ou multicausalidade envolvida
4 - Suscetibilidade e resposta do hospedeiro.
4 - Severidade da condição da vítima
Severidade
5 - Motivação. A ação deve beneficiar o
5 - Plausibilidade biológica
criminoso
6 - Nenhum outro suspeito poderia ter 6 - Nenhum outro agente poderia ter causado a
perpetrado o crime doença
7 - Prova de culpa deve ser estabelecida 7 - Prova de causalidade estabelecida acima de
acima de qualquer dúvida razoável qualquer dúvida científica (por acaso)

a. POSTULADO DE HENLE & KOCH.


 O agente deve estar presente em todos os casos de doença;
 O agente não deve estar presente em qualquer outra doença como agente fortuito ou não
patogênico;
 O agente deve ser isolado em cultura pura a partir de um caso de doença; e
 O agente deve manter sua patogenicidade após passagens sucessivas em cultura pura e
reproduzir a doença
Com o avanço científico-tecnológico quanto à observação do agente, lesões e métodos
diagnósticos, os critérios nem sempre podiam ser observados principalmente quando causado
por parasitos, fungos ou quando as formas isoladas não conduziam à ocorrência da doença. Foi
quando se descobriu a condição de portador e no início deste século, foram identificados os vírus
que dependiam de cultivo em células que abalaram os critérios do Postulado de Henle & Koch
que perderam a rigidez inicial.
Na verdade, começaram a surgir uma série de limitações a esses critérios pioneiros que podem
ser relacionados como segue:
 Descoberta da condição de portador (ex. difteria, febre tifóide).
 Doenças de etiologia viral (vírus é uma descoberta do século XX)
 Necessidade de mais de um agente para determinar uma doença.
 Diferentes agentes causando uma mesma doença
 Necessidade de células vivas em contraste aos meios de cultivo de bactérias
 Descoberta de vírus não cultiváveis em cultura pura e incapazes de reproduzir a doença
em animais de laboratório (vírus de Epstein-Barr e vírus e antígeno Australiano
relacionados respectivamente com a mononucleose e hepatite B.
 Vírus causando doença de longo período de incubação (Lentivírus): descoberto por
Gaydusek (prêmio Nobel de 1977) descobre vírus não cultiváveis em cultivo celular e que
não despertam resposta imune. São aqueles que causam Maedi-Visna, Scrapie, etc.
183
 Vírus oncogênicos e herpes vírus que necessitam de co-fatores. Determinados vírus
oncogênicos tem o herpes vírus associado como co-fator.
 Prova imunológica: anticorpos ausentes antes da doença se manifestar e regularmente
presente durante a doença.
 Não aplicáveis a fungos e parasitos.
 Não aplicáveis a doenças não transmissíveis. Os critérios devem ser estendidos das
doenças transmissíveis para as não transmissíveis.
 Não se harmoniza com doenças multicausais porque pode-se ter o agente que é
necessário, mas, não suficiente.
b. POSTULADO DE T. RIVERS (1937): adequado a situações como:
 Infecções virais
 Mais de um agente provocando doença
 Existência de portadores
c. POSTULADOS DE R. HUBNER (1957).
 Formação de anticorpos. Prova imunológica.
d. POSTULADO DE A. S. EVANS (1960 - 1967).
a) Introdução de vacinas (é um elemento de relação causal)
b) Diferentes agentes predominam em diferentes situações epidemiológicas.
c) Variação da resposta do hospedeiro segundo a situação epidemiológica
d) Evolução dos critérios de causalidade com o advento de novas tecnologias e
aparecimento de novas patologias.
e. POSTULADOS DE R. JOHNSON & C. GIBBS (1974). Infeções lentas.
 Constância na transmissão entre animais
 Transmissão por filtrados
 Resultados negativos a partir de tecidos normais
Os critérios de causalidade devem se alterar com o progresso das técnicas e aparecimento de
novas patologias. Assim, para o vírus de Epstein-Barr da mononucleose, o diagnóstico é
exclusivamente imunológico. Outro ex. é o caso de vírus lentos que além da impossibilidade de
isolamento, não estimulam resposta imune e são resistentes a muitos agentes físicos e químicos.
A simples presença do vírus não constitui uma causa suficiente. Os diferentes complexos
formados com outros fatores constituem as “causas suficientes”.
Nesse domínio, o raciocínio causal de abordagem especulativa é amplamente atingido pela
atitude comparativa que ocorre no campo das doenças infeciosas.

11. CAUSALIDADE E SAÚDE:


a. Fator de saúde deve estar consistentemente presente entre os indivíduos com boa saúde
ou livres de determinada doença. Ex. em locais onde se controla adequadamente a
população de roedores, a leptospirose deve estar ausente.
b. Fator deve ser isolável de forma pura, ou seja, pode ser identificado como causal. Ex.
vacinação de cães contra a raiva. A ocorrência da raiva diminuiu. A vacina é causa de saúde.

184
c. Deve existir um paralelismo entre fator de prevenção, boa saúde ou ausência de doença.
Suprimido o fator, comparar a população antes e depois.
d. A aplicação experimental de um fator de prevenção (vacina, dieta alimentar, hábitos
higiênicos, manejo) a um segmento da população deve melhorar significantemente as
condições de saúde em relação ao grupo testemunha.
e. A supressão do fator de saúde deve conduzir a um aumento da doença com ele associado.
f. Efeito do fator deve ser medido em termos de menor morbidade e mortalidade, aumento
da esperança de vida, aumento do tempo de produtividade dos animais e menos custo em
tratamento.
Obs. nem sempre a causa é a presença de um fator. Pode ser a sua ausência. Por ex. nas
doenças carenciais, a falta de determinados minerais, vitaminas, aminoácidos pode
representar fator de doença.

12. ESTUDO RETROSPECTIVO:


VANTAGENS:
a. Facilidade de execução. Sempre que se tem um conjunto de indivíduos ou animais doentes,
notadamente quando estão hospitalizados ou em propriedades interditadas e o
diagnóstico realizado, pode-se, retrospectivamente tomando-se um grupo testemunha,
avaliar a exposição ou não à causa.
b. Duração curta. Não há a necessidade de se expor os indivíduos a um determinado fator e
esperar o acontecimento da doença.
c. Passível de ser repetido tomando outros indivíduos e examinando retrospectivamente.
d. É econômico. Está relacionado com a duração e o diagnóstico já realizado.
e. Adequado para doenças de ocorrência rara.
f. Permite o emprego de resultados de exames caros e complexos, não onerando para o
pesquisador.
g. Permite a análise de vários fatores associados.

DESVANTAGENS:
a. Dificuldade em se constituir grupo testemunha aceitável (sadios) comparável ao grupo
doente quanto aos aspectos relevantes.
b. BIAS ou VIESES dificilmente mensuráveis.
c. Documentação frequentemente incompleta relativamente aos próprios doentes.
d. Os indivíduos, proprietários ou tratadores esquecem - se da exposição aos diferentes
fatores.
e. Desaconselhável quando o diagnóstico não é confiável
f. A incidência não pode ser determinada porque não existem os 2 grupos de expostos e não
expostos e a medida dos casos novos (COHORT).

185
13. ESTUDO PROSPECTIVO:
VANTAGENS:
a) Pode ser convenientemente planejado, definir bem os grupos, caracterizá-los e a partir de
um determinado momento iniciar o acompanhamento.
b) Medida adequada do risco relativo que decorre da medida do risco real do grupo exposto
e não exposto. A medida real do retrospectivo tem maior restrição porque não se pode
acompanhar a incidência nos 2 grupos.
c) Como há a possibilidade de se compor o grupo testemunha e de “a priori” poder
estabelecer as condições de exposição e não exposição, há um menor risco de conclusões
falsas decorrentes de “bias“.
d) Os indivíduos expostos são escolhidos “a priori” sem que se conheçam os resultados
(condição de doente e não doente), fato que reduz os riscos de “ bias “, o que não ocorre
em outros estudos principalmente em doenças severas e crônicas, pois, pela simples
observação sabe -se que é doente e não doente. Ao suspeitar de uma causa e sabendo que
o indivíduo é doente, fará uma investigação mais exaustiva para assegurar que esteve
exposto à causa em estudo. Verifica com mais profundidade, detalhamento e cuidado do
que o indivíduo sadio (o exame é mais superficial sabendo que não adoecem). Geralmente
se faz com que o aplicador do questionário vá sem conhecer a condição do animal para não
insistir mais com o doente e menos com o não doente. A verificação deve ser cega.
e) A incidência pode ser verificada.

DESVANTAGENS:
a) Dificuldade para ser repetido ou reproduzido porque consome tempo.
b) Custo elevado.
c) Dificuldade para manter a uniformidade de procedimento. Aplicar as técnicas de
observação e diagnósticas ao longo do tempo.
d) Duração prolongada.
e) A composição dos cohorts á suscetível de variação (abandono, recusa em continuar, o
proprietário não segue corretamente as instruções, animais são transferidos, vendidos,
etc.).
f) Dificuldade em se proceder ao acompanhamento de nº apreciável de indivíduos.

14. CRITÉRIOS PARA A ESCOLHA DE UM ESTUDO RETROSPECTIVO OU PROSPECTIVO:


a. Retrospectivo é particularmente importante para a verificação de uma hipótese de forma
preliminar, devendo ser seguido por um estudo prospectivo. Ex. suspeita - se que uma
determinada doença esteja relacionada com um fator e lança - se a hipótese de uma
associação consistente ou não. Em caso positivo, realizar um estudo prospectivo.
b. Se a doença é de ocorrência frequente, o prospectivo é mais adequado. Se rara, o
retrospectivo é mais recomendado.
c. Quanto menor for o intervalo entre a causa (agente) e o efeito (doença), melhor será o
prospectivo. Se o período de incubação for curto, usar o prospectivo. Caso contrário, o
retrospectivo.
d. Quanto mais completa e exata for a documentação dos casos, melhor será o retrospectivo.

186
e. Uma associação intensa entre a causa provável e a doença favorece o prospectivo. Por ex.
Bomba H /Hiroshima e consequente leucemia.
f. Se é antecipada uma flutuação grande dos cohorts, preferível o retrospectivo porque se
espera mudanças intensas sem possibilidade de seguimento.

15. ANÁLISE DE RISCO. RISCO E MEDIDA DE RISCO.


a. A CRIAÇÃO DA OMC (1975): após a Rodada Uruguai do GATT (promulgada pelo Decreto
1355/94), veio acompanhada de diversos acordos para temas específicos do comércio
Internacional. Um deles, expandiu o artigo XX do GATT-1947 para o atual Acordo sobre a
Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias-Acordo SPS, da sigla em inglês. Para
administrar esse Acordo institui-se o Comitê SPS da OMC.
BRASIL. Decreto Presidencial No 1.355 de 30/12/1994 promulgando a Ata Final que
incorpora os Resultados da Rodada Uruguai de negociações comerciais
multilaterais do GATT. Em vigor para a República Federativa do Brasil em 1º de
janeiro de 1995,
RODADA URUGUAI. Ata final que incorpora os resultados das negociações
comerciais multilaterais da da rodada Uruguai. Marraqueche, em 15 de abril de
1994
b. DEFINIÇÕES:
i. Identificação do perigo: agente biológico, químico ou físico capaz de causar dano
ii. Identificação do risco: é o dano causado pelo perigo.
iii. Gerenciamento do perigo: é o processo de identificação, seleção e implementação
de medidas de mitigação que podem ser utilizadas para reduzir o nível de risco e
mesmo diante da remota possibilidade da chegada ao pais ou região.
iv. Comunicação do risco: é a troca interativa de informações sobre perigos e risco
executada pelos avaliadores e gerenciadores de risco e demais partes interessadas
bem como os potencialmente afetados.

c. SEGUEM-SE 2 EXEMPLOS DE ANÁLISE DE RISCO QUALITATIVO E OUTRO QUANTITATIVO


Exemplo de análise de risco qualitativo: recomendado quando os conhecimentos científicos são
suficientes. Seja uma pergunta: o vírus da Influenza Aviária (vIA) de alta patogenicidade (H5 ou
H7) poderá chegar ao Brasil?
Avaliação do perigo (vIA de alta patogenicidade)
Premissas: conhecimento da resistência/sobrevivência do vIA no meio ambiente e sua
ecologia (hospedeiros e epicentro de perpetuação do vIA na natureza).
Resistência no meio ambiente: frio e umidade favorecem a sobrevivência do vírus fora do
organismo das aves. No inverno, permanecem viáveis em dejetos líquidos por 105 dias e em
fezes por 30-35 dias a 4º C, por 7 dias a 20º C e, por 4 dias entre 25-32º C na sombra (SWAYNE
et al, 2000). Temperatura, salinidade e pH apresentam forte interação favorecendo a
sobrevivência fora do organismo do hospedeiro.

187
Hospedeiros: reservatórios naturais da maioria dos vIA que infectam aves silvestres habitam
áreas úmidas e aquáticas e a maior frequência de isolamentos a partir daquelas aves voadoras
das ordens Anseriformes (patos e gansos) e Charadriiformes (aves marinhas, gaivotas,
andorinhas e arau/tordo mergulhador).
Importância da extensão da rota migratória na disseminação do vírus da IA:
Rotas migratórias de curta distância, rodovias, relevos elevados, taxa de ocupação por
vegetação, uso e cobertura da terra e mortalidade de aves jovens apresentaram associação
significante com a ocorrência de H5N1 (HPAI). Estas áreas encontram-se mais concentradas
na Europa Central, Leste do Mediterrâneo e leste e sudeste Asiático. Conglomerados de focos
estão relacionados com nível social, econômico e ecológico da região. Estas variáveis
relacionadas à localização devem ser priorizadas nos esforções de controle (SUN et al, 2018)
Aves que transportam vírus da IA: seriam as que estão no período de incubação e não as
recuperadas (VERHAGEN et al, 2014).
Aves migratórias infectadas com vírus da IA atrasam a partida para migração: ocorre atraso
na partida para migração reduz anualmente o número de casos de IA (GALSWORTHY et al,
2011).
Aves migratórias infectadas reduzem a taxa de dispersão de LPAI: ocorrem efeitos negativos
da infecção na fenologia (estudo da relação entre ciclos biológicos e clima) e na sobrevivência
do hospedeiro, pois a mortalidade durante a migração limitam a dispersão do patógeno em
sistemas migratórios (RISELY et al, 2018). A duração média máxima de eliminação do vIA é de
apenas 3,1 dias ( 0,1 dia) (LATORRE-MARGALEF et al, 2008).
Isolamento do vírus da IA em aves silvestres migratórias no Brasil, Argentina e Peru: H3, H6
e H13 e N2 e N9 (HURTADO; VANSTREELS, 2016).
Isolamento do vírus da IA em locais de invernada de aves migratórias do Brasil.
Norte do Brasil (invernada do Amazonas): H11N9 de aves migratórias (ARAUJO et al,
2014).
Nordeste do Brasil: nenhum caso de vírus de IA foi detectado (LUGARINI et al, 2017).
No Parque Nacional da Lagoa do Peixe/RS/2012: baixa probabilidade de infecção das aves
aves migratórias e aves de criatórios de subsistência (BRASI, 1994).
No Parque Nacional da Lagoa do Peixe/RS/2014: foi detectado 4,2% de galinhas
portadoras de anticorpos contra vírus da IA e nenhum caso de isolamento viral (MARKS,
2014).
No Parque Nacional da Lagoa do Peixe/RS/2018: isolados H2N2, H6Nx, H6N1, H9N2, H12N5
e H6 (ARAUJO et al, 2018).
Entorno de sítios de aves migratórias do Brasil: de aves migratórias na Bahia (Mangue
Seco e Cacha Pregos), Mato Grosso do Sul (Pantanal), Pará (Ilha do Marajó e Baia do
Marajó), Pernambuco (Coroa do Avião), Rio Grande do Sul (ESEC do Taim), Santa Catarina
(Foz do Rio Aaranguá e Foz do Rio Tijucas), São Paulo (Ilha do Cardoso e Ilha Comprida)
detectou anticorpos para H3, H4, H6, H8, H9, H10, H12, H13 e H16 do AIV (REISCHAK (2016)
Conclusão: persistindo este modelo epidemiológico, dificilmente o vIA chegará ao Brasil

188
d. ETAPAS DE UMA ANÁLISE DE RISCO
i. IDENTIFICAÇÃO DO RISCO
Risco: é o dano causado pelo perigo. Não havendo o perigo, não existe o risco.
ii. GERENCIAMENTO DO RISCO: é o processo de identificação, seleção e implementação
de medidas de mitigação que podem ser utilizadas para reduzir o nível de risco e
mesmo diante da remota possibilidade da chegada do vírus da IA no Brasil pela
introdução de medidas de prevenção/biosseguridade (IN 56 de 04/12/2006);
responsabilidade de todos os setores envolvidos ao nível estadual (IN 17 de
07/04/2016).
Obs. Segundo o Art. 5.7 do Acordo Sanitário e Fitossanitário (promulgada pelo Decreto
1355/94) só cabe Medidas de Precaução como medida em caráter provisório, quando
ainda não há evidências científicas suficientes a respeito de riscos à vida ou à saúde
humana, animal ou vegetal.
iii. COMUNICAÇÃO DO RISCO: é a troca interativa de informações sobre perigos e risco
executada pelos avaliadores e gerenciadores de risco e demais partes interessadas
bem como os potencialmente afetados.
e. EXEMPLO DE ANÁLISE DE RISCO QUANTITATIVO
Imagine uma situação para se considerar o problema do risco e de sua medida. Seja um estudo
prospectivo acompanhado por cohorts de aves de uma população durante um determinado
período de tempo relativamente à exposição e não exposição a certa ração. Iniciou-se a
observação, num vasto número de granjas, com 400.000 aves que receberam a ração suspeita
e 600.000 não expostas para em seguida verificar o aparecimento ou não da doença. Ao
término do período de observação foram verificados 320 casos entre os expostos e 120 entre
os não expostos. Os resultados estão reunidos na tabela 12

Tabela 12. Aves segundo a condição e exposição a uma ração oriunda de uma fábrica nova.

CONDIÇÃO
NÃO
DOENTES TOTAL
DOENTES
RAÇÃO
INGERIRAM 320 399.680 400.000

NÃO INGERIRAM 120 599.880 600.000

TOTAL 440 999.560 1.000.000

a) A medida de TAXA DE ATAQUE, ou seja, a medida do risco individual dos expostos


adoecer ou a probabilidade de um indivíduo, exposto adoecer é:

189
Nº doentes 320 80
Te = ----------------------------- = ------------ = ---------
Total de expostos 400.00 100.000

A medida da probabilidade de um indivíduo não exposto adoecer é igual a TAXA DE NÃO


EXPOSTOS (Tne):

Nº de doentes 120 20
Tne = --------------------------------- = --------------- = --------------
Total de não expostos 600.000 100.000

b) RISCO RELATIVO: significa quantas vezes mais os expostos correm o risco de adoecer
comparativamente aos não expostos.

Te 80
RR = ---------- = ---------- = 4
Tne 20
Portanto, os indivíduos expostos correm um risco 4 vezes maior que os não expostos de adquirir
a doença.

c) RISCO ATRIBUÍVEL: significa qual o risco que se pode atribuir ao fator em estudo. Neste
exemplo, 120 dentre os não expostos adoeceram e não se atribui a doença ao fator em
estudo. Não se pode imaginar quantos outros fatores ou causas agiram nos 120 doentes
e que também tenham atuado sobre os expostos. Portanto, parte dos 320 contraíram a
doença por força do fator em estudo, mas, também por força de outros fatores que
estão uniformemente distribuídos por todos os indivíduos. O RISCO ATRIBUÍVEL é a
fração de risco que se atribui ao fator sob investigação.
80 20 60
RA = Te - Tne = ------------ - ------------ = --------------
100.000 100.000 100.000

d) FATOR ETIOLÓGICO DE RISCO (FER): Significa em quanto se reduz a incidência da


doença na população se o fator for suprimido.

Te - Tne 80 - 20
FER = ------------------ 100 = -------------------- 100 = 75%
Te 80
Portanto, se suprimir a ação do fator na população, haverá uma redução de 75% na incidência da
doença.
iv. CONCLUSÃO:

a. Os expostos têm 4 vezes maior oportunidade de adoecer.


b. Como o fator é o único em causa, a diferença de 60/100.000 é o risco atribuível.
c. Proporcionalmente, a participação do fator na etiologia da doença e igual a 75%

190
CAPÍTULO 9
IMUNIDADE, VACINAS E VACINAÇÃO

Este capítulo tem por objetivo apresentar conceitos e fundamentos básicos de imunologia
importantes para a prática da epidemiologia

1. IMUNIDADE
f. Entendimento: Todos os animais têm a necessidade de detectar e eliminar micro-organismos
invasores o mais rápido e eficazmente quanto possível.
Esta imediata resposta de defesa é tarefa do sistema de imunidade inata. Muitos mecanismos
de imunidade inata têm evoluído ao longo do tempo e, todos eles, respondem rapidamente
para destruir os invasores para minimizarem os efeitos colaterais.
As respostas imunes inatas são ativadas quando células utilizam seu padrão de
reconhecimentos dos receptores para reconhecer tanto micro-organismos invasores como
também tecidos danificados. Por exemplo, células podem reconhecer a presença de micro-
organismos invasores pela detecção de suas características moleculares. É o denominado
padrão molecular associado ao patógeno (PAMPs). Estas células são também capazes de
identificar células danificadas pelas características das moléculas intracelulares liberadas pelas
células rompidas. Estas células são capazes de reconhecer tecidos danificados pelas
características das moléculas intracelulares por eles liberadas. Estas moléculas são
denominadas padrão molecular associado ao dano molecular (DAMPs).
O organismo animal utiliza células sentinelas cuja atribuição é detectar PAMPs e DAMPs e, uma
vez ativados, emitem sinais para atrais leucócitos que convergem ao redor dos invasores e os
destroem através um processo denominado inflamação. Adicionalmente, os animais produzem
inúmeras diferentes proteínas antimicrobianas tais com o complemento, defensinas e citocinas
que podem tanto destruir diretamente invasores mortos ou promover na destruição pelas
células de defesa
Algumas dessas moléculas antimicrobianas estão presentes em tecidos normais enquanto
outras são produzidas em resposta à presença de PAMPs ou DAMPS, por exemplo, danos
causados pela inoculação de vacinas.
No sistema imune inato não existe memória especifica e, como resultado, cada episódio de
infecção tende a ser tratado identicamente. A intensidade e duração da resposta inata, tal
como a inflamação, portanto, permanece inalterada independente da frequência da invasão de
um mesmo agente especifico.
Estas respostas têm um preço; a dor da inflamação ou os efeitos tóxicos ligeiros de vacinas
largamente utilizadas que resultam em processos de ativação da resposta imune inata.

191
Porém, o mais importante é o fato da resposta imune inata ser útil como um dos elementos
que aciona as células apresentadoras de antígeno para iniciar a imunidade adquirida e
eventualmente resultando em proteção de longa duração (Figura 42).
Figura 42. Evolução temporal da imunidade inata e adquira (Fonte: TYZARD, 2021).

Fig 42. Evolução temporal da imunidade inata (azul) e da imunidade adquirida (linha em
vernelho). Repetidas inoculações de antigeno externo resulta em resposta maciça da imunidade
adquirida. Como consequência, a imunidade inata diminui. A vacinação explora estes processos
para induzir uma forte e prolongada imunidade e gerar células de memória de longa duração

g. IMUNIDADE ADQUIRIDA
É a imunidade que se desenvolve quando um antígeno estranho se fixa ao receptor de antigeno
na célula B ou T iniciando uma forte resposta defensiva. Respostas imune adquirida são a base
do sucesso de uma vacinação.
Observa-se uma forte tendência dos imunologistas em classificar esta imunidade adquirida em
2 tipos.
Imunidade tipo 1 - é a imunidade mediada pelas células do tipo 1 – células helper (Th1).
Respostas do tipo 1 são responsáveis pela imunidade contra bactérias intracelulares
facultativas, vírus, protozoários e fungos. Geram certos anticorpos, forte resposta célula T
citotóxicas e ativam também macrófagos.
Imunidade tipo 2 - contrariamente, é mediada por células helper tipo 2 – células helper (Th
2). Estas células induzem à formação de anticorpos responsáveis pela destruição de
bactérias e vírus extracelulares, helmintos e artrópodes e, também pelas reações alérgicas.
Observe-se que os anticorpos e células T desempenham funções diferentes.
c. RESPOSTA IMUNE HUMORAL: anticorpos (Ac) são substâncias proteicas elaboradas pelos
plasmócitos em consequência à interação entre linfócitos B sensibilizados e o Ag específico.
São os responsáveis pela proteção específica, pois reagem com as partículas de Ag
principalmente bactérias. Estão presentes em todos os fluidos do corpo, mas em maior
quantidade na circulação sanguínea. Para a proteção, indivíduos devem ser expostos a
antígenos (Ag) ou produtos de metabolismo de agentes de doença para a produção de Ac
(imunidade ativa) ou receber Ac elaborados em outro organismo animal (imunidade

192
passiva). A resposta imune humoral é importante na proteção de animais contra bactérias
endotoxigênicas e exotoxigênicas.

d. CINÉTICA DA RESPOSTA IMUNE HUMORAL: quando um Ag é inoculado pela 1a vez no


organismo de um animal, Ac são produzidos lentamente e são detectáveis depois de 10
– 14 dias, alcançam nível não muito elevado e este intervalo de tempo de aparente
ausência de Ac é denominado lag ou período negativo da vacina. Quando de uma 2a
inoculação com o mesmo Ag, a resposta é mais precoce (lag menor) e os níveis de Ac
são mais elevados que no contacto anterior e esta 2a resposta é denominada imunidade
de reforço ou booster ou Rappel e conhecida como resposta secundária. Na eventual
presença de Ac quando da 2a inoculação, há a formação de ligações Ag-Ac e pode
ocorrer ligeiro declínio nos níveis de Ac. Inoculações sucessivas de Ag não conduzem à
elevação indefinida de Ac. As células que produzem Ac são os linfócitos B (Figura 43). As
células B respondem ao estímulo combinado de antígeno ligado a macrófago com
substâncias auxiliadoras produzidas por células T, diferenciando-se em células de
memória ou em plasmócitos produtores de anticorpos (TYZARD, 2013)

Figura 43. Resposta de células B e T.

e. MEMÓRIA IMUNOLÓGICA: é a capacidade que os linfócitos B (plasmócitos) apresentam em


“lembrar” da exposição passada a um mesmo Ag.

f. RESPOSTA IMUNE MEDIADA POR CÉLULAS: relacionada com a proteção de animais contra
invasões por micro-organismos intracelulares obrigatórios (vírus, príon, etc.), bactérias
intracelulares facultativas (Listeria monocytogenes, Salmonelas, Mycobacteriun, Ehrlichia) e
alguns protozoários como T. goondii. Nesta categoria de resposta, são produzidas, pelos
linfócitos T, substâncias denominadas linfocinas que destroem os microrganismos ou as
células infectadas. Células T sensíveis ao Ag respondem com uma intensa divisão celular e
passam a secretar várias proteínas com diferentes atividades biologicamente não
específicas e são denominadas linfocinas que por sua vez geram fatores não
imunoglobulínicos específicos para Ag com capacidade biológica potente (fatores de
transferência) que possuem atividade de toxicidade. Linfocinas liberadas pelos linfócitos T
conferem aos macrófagos a capacidade de destruir células infectadas. Provas sorológicas

193
não são capazes de medir a resposta celular e é geralmente conseguida por provas in vivo
(tuberculina) ou provas laboratoriais específicas (provas de migração de macrófagos).

g. CLASSE DE IMUNOGLOBULINAS/Ac (Ig):


IgG: presente em maior concentração no soro e desempenha papel principal nos
mecanismos de defesa dependentes de Ac. São bastante pequenos e conseguem
extravasar da corrente sanguínea para os espaços tissulares e mucosas. Tem capacidade
de opsonizar, precipitar e aglutinar Ag e fixar complemento em condições excepcionais.
Nos bovinos existem 2 subclasses, a IgG1 e IgG2 sendo a 1a de natureza secretora. Figuras
44 e 45.

Figura 45. Modelo molecular da IgG gerado por


Figura 44. Regiões homólogas em uma molécula de IgG computador

IgM: presente em 2a maior concentração no soro sanguíneo e constituído por 7


subunidades sendo cada 1 delas similar à estrutura básica de imunoglobulina (Ig) e
apresentam formato em Y. em 1 resposta primária, a concentração de IgM sobrepuja a da
IgG e o inverso ocorre em uma resposta secundária. Apresentam capacidade de opsonizar,
aglutinar, neutralizar vírus e fixar complemento. Devido ao tamanho, permanecem
confinadas na circulação sanguínea. Figura 46.

Figura 46. Estrutura de um IgM e eletromicrografia


desta imunoglobulina obtida de soro bovino.

IgA: é uma molécula que tende a formar polímeros sendo a mais importante o dímero (2
cadeias em Y). São elaborados pelo tecido linfóide da mucosa intestinal e uma parte
difunde-se diretamente por esta mucosa, outra parte (monômero) varia de acordo com a
espécie animal. Em animais não ruminantes atinge a circulação porta, alcançam os

194
hepatócitos onde adquire forma em dímero e é eliminada pela bile e nos ruminantes
alcançam o duto torácico e a circulação sanguínea e ganham o trato intestinal, respiratório,
urogenital e glândula mamária (proteção do recém-nascido pelo colostro). A administração
de Ag em animal prenhe resultará na eliminação de anticorpos pelo colostro. Embora seja
a 2a maior concentração de IgA no soro humano, é, geralmente de menor concentração no
soro de animais. Entretanto, é a mais importante nas secreções externas protegendo as
mucosas intestinal respiratória e urogenital bem como úbere e olhos. Não ativa o
complemento e nem opsoniza. Pode aglutinar Ag particulados e neutralizar vírus. Seu
principal mecanismo de ação é, entretanto, impedir a aderência de Ag nas superfícies do
organismo animal. Figura 47.

Figura 47. Estrutura das diferentes formas de IgA.

IgE: cadeia com 4 cadeias em forma de Y, encontrada em baixas concentrações no soro e


associada a muitas infecções por helmintos. Está relacionada com reações de
hipersensibilidade.

2. IMUNIDADE CONTRA BACTÉRIAS E ORGANISMOS RELACIONADOS:

Embora o homem e animais vivam em ambientes com presença de altas concentrações de


bactérias, nem todos adoecem porque muitas bactérias são importantes para proporcionar bem-
estar protegendo as superfícies corporais da invasão de agentes patogênicos e auxiliam na
digestão de alimentos (celulose por ex.). Alguns agentes como Cl. tetani e Cl. perfringens e a
Bordetella bronchiseptica (habitante normal, respectivamente, do trato intestinal dos animais e da
nasofaringe de suínos), podem se tornar patogênicos em condições excepcionais quando
associado a outros agentes como Pasteurella multocida. Esta observação permite concluir que a
simples presença de um agente etiológico no organismo de um animal não é condição suficiente
para desencadear uma doença. A doença depende da intercorrência de vários fatores (condição
necessária) para que, em conjunto com o agente etiológico, possa ser determinada.
Por “etiologia” entende-se o agente etiológico da doença e por “causas” ou “fatores causais”
entende-se os fatores predisponentes ou condicionantes da doença ou necessários e estão
relacionados com o hospedeiro e com o meio ambiente e que foram tratados no capítulo de
relação hospedeiro-parasita. A estas doenças são reconhecidas como sendo de multicausalidade
(agente etiológico + causas) ou multifatorial. A etiologia é objeto de estudo da microbiologia,
virologia ou parasitologia e os fatores condicionantes são objeto de estudo da Epidemiologia.

195
a. ESTRUTURA BACTERIANA E ANTÍGENOS: Bactérias são constituídas por citoplasma e membrana
celular e apresentam morfologia esférica ou ovóide. São recobertas por uma parede celular e em
algumas, esta parede é recoberta por uma cápsula. Flagelos e pelos podem estar presentes na
parede bacteriana e apresentam capacidade antigênica. No citoplasma estão presentes enzimas
e nucleoproteínas muitas das quais com propriedades potencialmente antigênicas, mas são
menos importantes que os Ag de superfícies em razão do confinamento no interior do corpo
bacteriano.
Antígenos de superfície são os da parede celular, da cápsula e dos flagelos.
Antígenos de parede celular (endotoxinas – Ag-O): nas bactérias Gram + são de natureza
proteica e nas Gram – são de natureza polissacárido-lipídeo-proteica e altamente tóxicas.
Antígeno de cápsula (Ag K): é de natureza proteica ou polissacarídica e com propriedades
hidrofílicas que confere à bactéria resistência à fagocitose (ex. Klebsiella e Streptococcus
pneumoniae são dificilmente retiradas da circulação sanguínea na ausência de Ac). Ac contra
cápsula são protetores e vacinas devem conter Ag K.
Antígeno de flagelos (Ag H): é de natureza proteica e são antigênicas.
Antígeno de citoplasma (exotoxinas): são produzidas ou derivadas do citoplasma de bactérias
Gram +, são responsáveis por algumas doenças, são altamente antigênicas e facilmente destruídas
por Ac antitoxinas (Cl. tetani, Cl. botulinum e Cl. perfringens).

3. INFECÇÕES CAUSADAS POR BACTÉRIAS


 Patogênese: bactérias agem por diferentes mecanismos tais como pela liberação de
toxinas ou pela multiplicação bacteriana determinando destruição das células do
hospedeiro. As toxinas podem ser elaboradas pelo citoplasma bacteriano (exotoxinas -
Clostrídios) ou oriundas da parede celular de Gram – (endotoxinas - salmonelas).
Exotoxinas são Ag potentes e endotoxinas são fracamente antigênicas.
 Imunidade antibacteriana: infecções bacterianas são controladas de 4 formas distintas:
Ac: neutralização de enzimas e de toxinas pelos Ac;
Ac + Complemento + Lisozina: destruição (bacteriólise e fagocitose) de Ag de superfície;
Opsonina: (opson/grego = preparação do alimento - ligação de partículas para facilitar
fagocitose) ligam bactérias aos Ac (e complemento) para serem fagocitadas e destruídas;
Macrófagos: fagocitam e destroem bactérias pela ativação de linfocina.

 INFECÇÕES CAUSADAS POR MICRORGANISMOS EXOTOXIGÊNICOS (Ag DE CITOPLASMA):


PATOGENESE: exotoxinas produzidas pelo citoplasma secretadas através parede celular
de bactérias vivas (toxinas extracelulates) ou liberadas após morte bacteriana (toxinas
protoplasmáticas - Cl. tetani). Cl. tetani: bactéria anaeróbia estrita, cresce em ambiente
com destruição celular, toxina denominada tetanospasmina, ativada por enzimas
proteolíticas, desloca-se do sítio de crescimento bacteriano pelo tronco nervoso até os
gânglios espinais, interfere na transmissão de estímulos nervosos pelas sinapses com

196
manifestação de espasmo de músculos voluntários e paralisia. Cl. botulinum: toxina
citoplasmática absorvida pela mucosa intestinal, determina bloqueio nervoso e morte por
paralisia respiratória. Cl. perfringens: exotoxina que provoca hemólise e necrose de tecidos.
Ac são suficientes para neutralizar exotoxinas.
IMUNIDADE: Ac eliminam Clostrídios e B. anthracis e neutralizam toxinas. A destruição é
dificultada se as bactérias estiverem protegidas por material necrosado enquanto que a
neutralização é bastante rápida e eficaz se a toxina estiver livre (Ac compete com
receptores celulares de toxina e dificilmente reverte toxina já combinada aos receptores
razão pela qual a dose de antitoxina necessária para provocar melhora clínica de doenças
como o tétano deve ser muito superior à dose necessária para prevenir a doença).

 INFECÇÕES CAUSADAS POR MICRORGANISMOS ENDOTOXIGÊNICOS (Ag K, Ag O e Ag H):


PATOGENESE: Endotoxinas (Ag O) possuem várias propriedades biológicas, na sua maioria
relacionadas com o componente polissacarídico do complexo polissacáride-lipídio. As
propriedades biológicas mais importantes, da cultura lisa de Gram – (patogênica e
virulenta) são as relacionadas com a capacidade de estimular macrófagos (eliminam
bactérias da circulação); estimular neutrófilos (liberação de pirogênicos); liberar
complemento (ativação da via alternativa, liberar anafilotoxina com hipertensão e choque,
e ativação de plaquetas para iniciar coagulação); coagular (ativação do fator Hageman);
ativar linfócitos (liberação de linfocinas pelas células B); produzir Ac (pelos plasmócitos);
produzir interferons (aparecem em 2-4 horas) e estimulação de glicólise. Cultura rugosa,
são isentas de trissacarídeos externos e parte dos oligossacarídeos, tendem a ser
apatogênicos e avirulentos e tem sido utilizada no preparo de vacinas (45/20 de B. abortus
e linhagem 51 de S. dublin).
IMUNIDADE: Ac dirigidos contra Ag de superfície são os responsáveis pela proteção (pouco
eficazes contra Ag de citoplasma – exotoxinas).
AC CONTRA AG K (CÁPSULA): neutraliza propriedade antifagocitária da cápsula, opsonisa
a bactéria que é fagocitada e destruída. Ex Ag de E. coli (K 88 e K 99) onde os Ac interferem
na expressão do Ag provavelmente por deleção de material genético (plasmideo) que
codifica esses Ag e a bactéria não consegue aderir-se à parede intestinal.
AC CONTRA AG O (PAREDE DE BACTÉRIAS CAPSULADAS OU NÃO): bactérias não
capsuladas são opsonisadas pelos Ac e destruídas pelos macrófagos. Bactérias capsuladas
e produtoras de exotoxinas como B. anthracis exigem Ac contra toxina para a proteção.
Nas infecções naturais por B. anthracis a produção de Ac antitoxina é muito lenta e
prolongada porque a bactéria capsulada não é fatocitada. Vacinas contendo B. antrhacis
não capsulado, produz toxina e consequentemente são elicitados Ac contra toxina. Vacinas
com B. anthracis capsulados germinam facilmente e são fagocitados antes que haja
produção de toxina e, portanto, não elicitam Ac atitoxina.
 INFECÇÕES CAUSADAS POR MICRORGANISMOS INVASORES (INTRACELULARES
FACULTATIVOS):

197
PATOGÊNESE: invasão bacteriana é seguida de lesão vascular (trombose e infarto),
liberação de enzimas bacterianas destrutivas e de necrose tissular. Algumas dessas
bactérias são produtores de hialuronidase (degrada ácido hialurônico do tecido conectivo
para facilitar a disseminação bacteriana pelos tecidos), outras produzem estreptoquinases
(destrói coágulos), outras produzem colagenases e elastases que rompem a estrutura do
tecido conjuntivo (destroem colágeno e fibras elásticas), outras produzem proteases que
digerem Ac e outras como Staphilococcus produzem coagulases. Bactérias invasoras
podem invadir tecidos intercelulares (enzimas proteolíticas) ou invadir células.
 BACTÉRIAS INVASORAS DE CÉLULAS: (B. abortus, Mycobacterium tuberculosis, Listeria
monocytogenes e Salmonellae): em uma primo infecção são rapidamente fagocitadas por
macrófagos, são resistentes à bacteriólise, multiplicam-se no interior dos macrófagos, se
distribuem pelo organismo do animal infectado e morte celular por mecanismo físico de
expansão celular)
 IMUNIDADE: nas primo infecções, os microrganismos correspondentes (B. abortus, M.
tuberculosis, L. monocitogenes, Corynebacteium ovis, salmonelas, Toxoplasma gondii etc)
são englobados pelos macrófagos, não são destruídos e se multiplicam no seu interior. A
proteção contra estes microrganismos é mediada por células e a imunidade humoral é
relativamente ineficaz. Em aproximadamente 10 dias decorridos da infecção, os
macrófagos adquirem a capacidade de destruir os microrganismos. Os macrófagos
modificam-se aumentando de tamanho, a sua capacidade metabólica e o no de lisozomas
que conferem ao macrófago capacidade bactericida.
4. INFECÇÕES CAUSADAS POR VÍRUS E ORGANISMOS RELACIONADOS:
 Vírus são parasitas intracelulares obrigatórios e encontram, previsivelmente, certa
dificuldade se a imunidade eliminar completamente o vírus do organismo de 1 animal ou
nos casos de elevada letalidade com destruição do hospedeiro. Como consequência de
uma relação desarmônica entre um hospedeiro e parasito, ocorre um processo de seleção
e de adaptação. A seleção viral é direcionada para a evasão da resposta imune e a seleção
do hospedeiro é dirigida para a aquisição de resistência aos vírus. Pode-se classificar os
vírus segundo a capacidade de evasão da resposta imune:
 Quando a relação vírus-hospedeiro é desarmônica, as doenças tendem a ser agudas e
severas e o vírus não é detectado nos sobreviventes. Ex. Panleucopenia felina,
Cinomose canina e formas agudas de Doença de Newcastle e a vacinação tende a ser
bem-sucedida
 Quando a relação vírus-hospedeiro é harmônica, as doenças podem ser agudas, mas a
letalidade pode não ser necessariamente elevada. Ocorre frequentemente mutação
genética (variabilidade antigênica) e a vacinação tende a ser um processo difícil porque
um animal recuperado pode ser suscetível à variante. Ex. Febre Aftosa e Influenza
 Quando a relação vírus-hospedeiro é totalmente harmônica, as infecções virais podem
ser persistentes e o sistema imunitário parece ser incapaz de eliminar ou limitar a
infecção. Ex. Anemia Infecciosa Equina, Peste Suína Africana, Leucose Bovina etc.

198
 ESTRUTURA E ANTÍGENOS VIRAIS: Partículas pequenas com 1 núcleo de ácido nucléico
(RNA ou DNA) envolto por 1 camada de subunidades proteicas (capsômeros) que se
repetem denominada cápside. A cápside pode ser ou não envolvida por um envelope
lipoprotéico (derivado, em parte, das células do hospedeiro). Alguns vírus são complexos
(ex. pox vírus) e outros extremamente simples (ex. febre aftosa). Proteínas localizadas no
interior e na superfície dos vírus são antigênicos e podem induzir a produção de Ac.
Nucleoproteínas estimulam produção de Ac que não são protetores, mas tem importância
apenas para fins de diagnóstico.
 PATOGÊNESE: em decorrência de invasão viral, ocorrem alterações nas células que
podem se ligeira (muitas vezes detectáveis apenas pelo desenvolvimento de novos Ag
na superfície da célula) ou severa (lise celular ou transformação tumoral). A severidade
de 1 caso de doença viral está relacionada com a magnitude das alterações celulares.
Vírus atuam por destruição de tecido linfóide (cinomose, DIB, DN, Panleucopenia felina,
PSA e BVD) ou estimulação da atividade linfóide (Visnas e Doença Aleutiana do vison)
ou causando neoplasia linfóide (Doença de Marek, Leucemia felina, Leucemia bovina,
Leucemia dos camundongos). Órgãos linfóides primários podem ser infectados como a
Bursa de Fabricius (DIB) causando necrose e há, consequentemente, reduzida produção
de Ac. Órgãos linfóides secundários podem se infectados. O vírus da cinomose canina
infecta indistintamente células linfóides, mas infectam também células epiteliais e do
tecido nervoso (após infecção, o vírus penetra inicialmente nas células da amídala e
linfonodos bronquiais e em seguida dissemina-se para o baço, linfonodos e medula
óssea onde se replica intensamente e destruição linfóide com consequente depleção
linfóide) e finalmente alcançam tecido epitelial e o cérebro. Na panleucopenia felina, na
leucemia felina e na PSA ocorre também depleção linfóide. Na BVD há destruição de
linfócitos de linfonodos, baço, timo e placas de Peyer.

 IMUNIDADE CONTRA DOENÇAS VIRAIS:


Destruição de vírus e células infectadas com vírus pelos Ac: A cápside (proteína) e
o envelope são antigênicos e estimulam a produção de Ac que podem destruir os
vírus ou impedir a infecção de células (recobrindo as células alvo impedindo a
adsorção viral ou pela fagocitose pelos macrófagos ou pela virólise mediada por
complemento ou agrupando vírus reduzindo o No de subunidades disponíveis ou
neutralizando o vírus nos locais onde Ac estão presentes) ou destruir células
infectadas por citólise ou mediada por células citotóxicas (DN, Raiva, BVD,
Bronquite Infecciosa Aviária e Leucemia felina). São capazes de neutralizar vírus a
IgG, IgA e IgM
Destruição de vírus e de células infectadas pela imunidade mediada por células; É
o caminho mais importante no controle de infecção viral a despeito da capacidade
dos Ac em neutralizar vírus. Aves com Bursa de Fabricius retirada não são capazes
de responder com produção de Ac, mas protege-se bem contra doenças virais. A
destruição pode ocorrer por 3 mecanismos: i) destruição de células infectadas com

199
vírus pelos linfócitos T. ii) destruição de células infectadas por células NK
(população mal definida de linfócitos encontrados em animais não imunizados e
ativados por interferons para reconhecer e destruir células infectadas). Iii)
imunidade celular adquirida por meio de macrófagos ativados por interferon
derivado de linfócito T e que passam a elaborar linfocinas capazes de destruir
células infectadas.

5. PROTEÇÃO DE SUPERFÍCIES DE REVESTIMENTO E DE ÓRGÃOS INTERNOS:


 IgA e IgE: são as 2 classes de imunoglobulinas encontradas em concentrações
relativamente altas na saliva, fluido intestinal, secreção nasal, secreção traqueal, lágrima,
leite, colostro, urina e secreção do trato urogenital. A IgA parece ter sido especialmente
desenvolvida para a proteção de superfícies do organismo de não ruminantes, é capaz de
neutralizar vírus e atua basicamente protegendo a mucosa da aderência bacteriana. No
caso da infecção por E. coli, a IgA formada é dirigida para o Ag K88 impedindo a aderência
nas vilosidades intestinais.
 IgG1: é a principal imunoglobulina secretora de ruminantes e é predominante no leite,
conteúdo intestinal e secreções nasais e também na bile.

g. MECANISMOS IMUNOLÓGICOS DE PROTEÇÃO DO TRATO GASTRINTESTINAL:


Maior sítio de estimulação imunogênica do organismo animal. As IgA necessárias para a
proteção desta mucosa são produzidas em tecidos linfóides difusos e plasmócitos isolados
encontrados na parede intestinal, glândulas salivares e na vesícula biliar. IgG alcançam a
mucosa intestinal depois da invasão bacteriana que provoca maior permeabilidade
vascular em decorrência da inflamação local e a IgG difunde-se para os locais da infecção.
h. MECANISMOS IMUNOLÓGICOS DE PROTEÇÃO DA GLÂNDULA MAMÁRIA
O leite contém IgA e IgG1 em baixas concentrações com predomino de IgA em não
ruminantes e de IgG1 nos ruminantes. A IgA é produzida pelo tecido linfóide da mucosa
intestinal e que alcança a glândula mamária via circulação porta. A IgG1 é produzida na
circulação sanguínea e transferida seletivamente para o leite. A resposta imune na glândula
mamária é ineficaz na prevenção de mastites. Este conhecimento tem relação direta com
a vacinação de fêmeas em gestação para proteger os recém-nascidos.
h. MECANISMOS IMUNOLÓGICOS DE PROTEÇÃO DA MUCOSA UROGENITAL: são
particularmente importantes as IgA na mucosa cérvico-vaginal que são capazes de
imobilizar bactérias como Campilobacter fetus. IgG também são encontrados nestas
secreções que chegam por transudação séria e que aumenta consideravelmente em caso
de inflamação.
i. MECANISMOS IMUNOLÓGICOS DE PROTEÇÃO DA MUCOSA RESPIRATÓRIA: o tecido
linfóide está distribuído desde as tonsilas, paredes dos brônquios, pulmões e paredes das
vias aéreas superiores que sintetizam IgA. As secreções dos bronquíolos e alvéolos contem
IgG1 que são produzidos no interior do corpo dos animais e são transferidos para as

200
secreções. As IgA atuam impedindo a aderência de microrganismos na parede das mucosas
e a IgG1 atua somente depois da instalação da inflamação com aumento de permeabilidade
vascular (mediada por IgE) e transudação de proteínas decorrente da infecção. Ambas
parecem atuar complementarmente porque, se partículas antigênicas conseguem vencer
a barreira das IgA, são capturados pelas IgG1. Nos tecidos linfóides do trato respiratório
ocorre a produção de imunidade mediada por células.
6. RESPOSTA IMUNITÁRIA NO FETO
Existe uma capacidade instalada bem antes do nascimento para responder a estímulos
antigênicos.
Bezerros (gestação de 280 dias): o sistema imunitário desenvolve-se muito cedo, assim, aos
75 dias de vida já são reconhecidos o timo, medula óssea, linfonodos e placas de Peyer
(tecido linfóide secundário), células carreadoras de IgM. Ac contra vírus podem ser
detectados aos 73 dias contra rotavirus e aos 93 contra parvovirus.
Cordeiros (gestação de 145 dias): aos 50 dias de idade do feto já são identificados o timo e
linfonodos, aos 90 dias estão presentes as placas de Peyer. Linfócitos sanguíneos são
detectados por volta de 35 dias com capacidade de produzir Ac e a imunidade celular
presente aos 77 dias de idade do feto. Anticorpos contra vírus aparecem depois de 100 dias.
Leitão (gestação de 115 dias): aos 40 dias o timo já est;a presente, aos 72 dias há produção
de Ac e imunidade celular. A principal imunoglobulina é a IgM.
Potro (gestação de 340 dias): aos 90 dias são observadas células linfóides no sangue
periférico, no timo, nos linfonodos mesentéricos e na lâmina própria do intestino e aos 175
dias no baço. Aos 200 dias de vida, o feto responde contra colifago e aos 230 dias contra
vírus da encefalomielite venezuelana.
Cão (gestação de 60 dias): aos 28 dias o timo está completo e aos 40 dias o cãozinho já
responde contra fago e aos 55 dias linfócitos estão presentes nos linfonodos periféricos e
no baço e a imunidade celular já está presente embora a tolerância possa ser observada.
Pintinhos (incubação de 21 dias): aos 5-7 dias de incubação são observadas, no saco vitelino,
células precursoras que migram para o timo e Bursa/bolsa de Fabricius onde sofrem
maturação até o 12o dia. IgM estão presentes no 12o dia, IgG aos 21 dias e a IgA aparecem 3-7
dias após nascimento.

7. RESPOSTA IMUNITÁRIA EM ANIMAIS RECÉM-NASCIDOS


Animais domésticos são totalmente capazes de desenvolver uma resposta imunitária ao
nascer, entretanto a resposta anmnéstica, sendo uma resposta primária, é sempre de longa
duração e os níveis de Ac são baixos. Nas infecções que se instala logo ao nascer, os animais
são totalmente susceptíveis porque os Ac não estão em concentrações capazes de impedir a
infecção. Há a necessidade de se conferir uma assistência imunológica pela transferência de Ac
passivamente pelo colostro. Imunidade passiva pode ser transferida pela placenta e/ou
colostro. O 1o caso é dependente da natureza da placenta que são dos seguintes tipos:

201
a. Placenta hemocorial: de humanos e primatas, o sangue materno encontra-se em íntimo
contacto com o trofoblasto com transferência de IgG para o feto (não há passagem de
IgM, IgA e IgE). A criança recebendo IgG da mãe via placenta apresentará níveis deste Ac
iguais ao da mãe. Esta IgG não é capaz de proteger a mucosa intestinal da criança razão
pela qual deve receber através do leite.
b. Placenta endoteliocorial: de cães e gatos, o epitélio do córion fetal encontra-se em
contacto com o endotélio dos capilares maternos com transferência de pequena
quantidade de IgG (5 – 10%). A maior quantidade de Ac é transferida via colostro.
c. Placenta sindesmocorial de ruminantes e epiteliocorial de equinos e suínos, o epitélio do
córion fetal está em contacto direto com o tecido uterino não ocorrendo transferência
de Ac maternos para o feto. A proteção passiva se faz exclusivamente pelo colostro.

8. SECREÇÃO E COMPOSIÇÃO DO COLOSTRO E DO LEITE:


COLOSTRO:
Colostro: secreção das últimas semanas de gestação acumulada da glândula mamária sob
ação de estrogênio e progesterona. Rico em IgG e IgA e pobre em IgM e IgE. No colostro de
todos os animais há predomínio de IgG (65 – 90%) e a IgA em menor quantidade, porém não
menos importante. À medida que progride a lactação, o colostro é substituído pelo leite que
apresenta diferenças entre espécies. Nos primatas e humanos, a IgA predomina tanto no
leite como no colostro. Nos suínos e equinos, a IgG predomina no colostro, a concentração
se reduz rapidamente e no leite há predomínio de IgA. Nos ruminantes, a IgG1 é a classe de
imunoglobulina predominante no colostro e no leite e todo IgG, maior parte da IgM e cerca
de metade da IgA co colostro são provenientes do soro sanguíneo enquanto que no leite
30% da IgG e 10% da IgA são derivadas do soro e o restante é produzido localmente no úbere.
Absorção do colostro: animais jovens beneficiam-se da ingestão de colostro nos primeiros
dias de vida. Bezerros lactentes normais ingerem, em média, 2L de colostro, podendo alguns
mamar até 6L. Em animais recém-nascidos, a atividade proteolítica não está instalada além
de o colostro possuir ação inibidora da tripsina e as proteínas colostrais não são degradadas
para serem utilizadas como fonte de alimento, chegando ao intestino delgado intactas. A
imunoglobulina colostral conjuga-se a um receptor Fc especializado nas células epiteliais do
intestino dos recém nascidos e denominada FcRn que é uma molécula do MHC
(Histocompatibilidade Maior) da classe Id que contém uma grande cadeia  e uma 2-
microglobulina. FcRn é encontrado provavelmente em todos os mamíferos e é muito
semelhante ao receptor Fc encontrado no saco vitelino de galinhas. As imunoglobulinas
ligadas ao FcRn são captadas, por pinocitose, pelas células epiteliais passando para o interior
dos capilares lácteas e possivelmente pelos capilares intestinais, atingindo, eventualmente,
a circulação sanguínea. Há, portanto, transferência maciça de Ac da mãe para o animal
recém-nascido.
Seletividade e duração da permeabilidade intestinal: varia muito mais com a espécie animal
do que com a natureza da imunoglobulina. Geralmente a permeabilidade é mais elevada logo
após o nascimento declina rapidamente provavelmente em decorrência da substituição das
células intestinais que absorvem imunoglobulinas por células mais maduras sem esta

202
capacidade de absorção. Como regra geral, a absorção ocorre nas 1as 24 horas de vida. Até
24 horas do nascimento, os níveis de Ac maternos e do jovem são iguais para então iniciar
um declínio nestes.
Equino e suíno: IgG e IgM são seletivamente são absorvidas e a IgA é deixada no
intestino porque recebem a peça secretora que a torna resistente à ação enzimática.
Suínos jovens e provavelmente outros animais possuem grande quantidade de
componente secretor livre no trato intestinal e a IgA e em menor proporção a IGM,
podem se ligar a esse componente secretor que inibem a absorção.
Ruminantes: o intestino não apresenta permeabilidade seletiva e todas as classes de
imunoglobulinas são absorvidas indistintamente com exceção da IgA que é
progressivamente re excretada.
O tempo em que persiste a permeabilidade varia com a espécie animal. Via de regra é
mais intensa nas 1as 6 horas (talvez em razão das células intestinais que absorvem Ig e
são substituídas pro células mais maduras). De forma geral o declínio na absorção
chegando ao máximo em 24 horas. Quanto mais cedo os animais recém-nascidos
recebem colostro, mais cedo se dá o fechamento e o retardo na ingestão de colostro
retarda ligeiramente o fechamento. A presença da mãe deve estar associada com o
aumento da absorção de imunoglobulina comparativamente aos bezerros que
recebem a a mesma quantidade de colostro na ausência da mãe.
Os animais que não mamaram normalmente possuem nível muito baixos de Ig no soro.
Picos de Ig no soro, naqueles que mamaram convenientemente, são próximos dos
picos encontrados nas mães (12 – 24 horas após nascimento) e iniciam declínio por
catabolismo. Simultaneamente à absorção de Ig verifica-se proteinúria porque as -
lactoglobulina absorvidas no intestino são excretadas porque seu tamanho é bastante
diminuto, além do que os glomérulos dos neonatos são permeáveis às macromoléculas
e a urina contém moléculas intactas de Ig. Essa proteinúria cessa espontaneamente
com o findar da absorção intestinal.
LEITE:
Em animais não ruminantes: predomínio de IgA.
Em animais ruminantes: predomínio de IgG1 tanto no colostro como no leite e IgA no leite.
30% da IgG e 10% da IgA são provenientes do soro sanguíneo.
Nos primeiros dias de vida, quando a digestão proteolítica é fraca, essas Ig podem ser
encontradas em toda a extensão do intestino e nas fezes e com o passar dos dias, apenas a
IgA secretora (SIgA) se mantém intacta. A quantidade de IgA no intestino pode ser bastante
alta, tanto é verdade que em leitãozinho de 3 semanas de idade pode receber 1,6g/dia de IgA
da mãe.
Enquanto não se instala a capacidade de digestão de proteínas, tanto a IgG como IgA são
encontradas na luz intestinal e nas fezes. À medida que se instala a capacidade proteolítica
são encontradas apenas IgA que possuem uma peça secretora que as torna resistente à ação

203
enzimática que é o elemento mais importante na proteção do jovem contra infecções
entéricas.
Importância da imunidade passiva através do colostro para o recém-nascido:
IgG são fundamentais na proteção do jovem contra septicemias.
IgA são fundamentais na proteção da mucosa intestinal contra agentes de doenças
entéricas.
A deficiência de qualquer um desses componentes torna o animal suscetível às
infecções sistêmicas e/ou intestinais.
Fracasso na proteção passiva: Ac presentes em níveis baixos no colostro e/ou leite pelas
seguintes razoes:
a. Falha na produção: nascimentos prematuros (porque não houve tempo hábil para
produção e acúmulo de imunoglobulinas na secreção mamária), lactação prematura e
gotejamento excessivo antes do parto, em cerca de 30% das éguas a produção de IgG é
deficiente.
b. Falha na ingestão: em decorrência de prole numerosa (ovinos e suínos) porque a produção
de colostro é constante para cada animal ou pelos maus cuidados maternos (primíparas)
ou pela debilidade dos animais recém-nascidos que estão incapacitados em mamar ou
defeitos de mandíbula ou tetos defeituosos ou lesados.
c. Falha na absorção: especialmente importante em equinos porque cerca de 25% dos potros
recém-nascidos não absorvem quantidade suficiente de IgG (mais informações sobre
potros (Tizard, 2013)
Transferência de imunidade mediada por células: como o leite de vacas é rico em linfócitos
T, estes podem sobreviver cerca de 36 horas no intestino do animal jovem (principalmente
bezerros) que podem atravessar a barreira intestinal e alcançar o fígado com transferência de
imunidade mediada por células. Por exemplo, vacas positivas para tuberculina transferem a
imunidade para os filhotes e estes passam a responder positivamente aa tuberculina. O perigo
é a transferência de certos vírus via linfócitos T.
9. DESENVOLVIMENTO DA RESPOSTA IMUNITÁRIA NOS RECÉM-NASCIDOS:
Resposta imune local: a capacidade de resposta aos Ag está totalmente desenvolvida quando o
colostro se converte em leite quando então se observa desenvolvimento dos tecidos linfóides do
intestino com capacidade instalada para responder aos estímulos de Ag ingeridos. Exemplos:
bezerros vacinados, por via oral, contra coronavírus por ocasião do nascimento manifestam
resistência entre 3-9 dias de vida. Leitões vacinados, por via oral, contra TGE estão protegidos aos
5-14 dias de vida. Este fenômeno é decorrente da transformação de IgM em IgA.
Resposta imune sistêmica: é parcialmente controlada pela retroalimentação negativa (Ac
específicos contra 1 Ag inibe a produção de mais Ac contra o mesmo Ag) e inibida pela imunidade
passiva adquirida da mãe possivelmente por razões ligadas à supressão central como
mascaramento e sequestro de Ag. Bezerros vacinados e que não receberam colostro apresentam
Ac com uma semana de vida e se receberam colostro iniciam produção de Ac às 4 semanas de
vida. Leitões sem imunidade passiva respondem ao vírus da Doença de Aujeszky em 2 dias depois

204
do nascimento e se tiverem recebido colostro, a resposta imune ocorrerá às 5-6 semas de vida.
Cordeiros sem imunidade passiva sintetizam IgG1 com 1 semana de vida e IgG2 com 3-4 semanas e
se tiverem recebido colostro, a IgG2 será sintetizada aos 5-6 semanas de vida. A imunidade passiva
via colostro inibe a síntese de Ac como também compromete o sucesso da vacinação de animais
jovens. É preciso considerar a concentração de Ac no colostro e cada agente de doença envolvido.
10. IMUNIDADE ATIVA
A imunidade é produzida pelo próprio animal em decorrência da aplicação de Ag ou de produtos
de metabolismo de agentes de doença (toxina). Devem ser inócuas (não provocar reação adversa)
e conferir proteção específica de elevada intensidade e de longa duração. A exposição ao agente
etiológico de campo/rua representa resposta imune secundária.
Requisito: não deve gerar reações adversas, altamente imunogênicos. Ser pouco dispendiosa,
estável, adaptável à vacinação em massa e preferencialmente produzir resposta imune capaz de
ser diferenciada da resposta contra doença/infecção.
Propriedades críticas que as vacinas devem apresentar:
1. Estimular as células apresentadoras de Ag
2. Estimular linfócitos T e B para geração de células de memória.
3. As células T helper (auxiliares) devem ser geradas contra 1 grande no de epítopos
4. Persistência nos locais de produção de Ac (tecido linfóide)

Vantagem: proteção duradoura pode ser reestimulada (dose de reforço ou de Rappel) e pode ser
transferida para o feto ou ovo.
Desvantagem: resposta imune protetora demora para se instalar e este período de tempo é
denominado período negativo da vacina.

Figura 48. Cinética da resposta imunitária a um antígeno de acordo


com a avaliação dos níveis de anticorpos no soro

205
Figura 49. Níveis de anticorpo sérico conferidos por
métodos ativos e passivos de imunização

11. TIPOS DE VACINAS


VIVAS E INATIVADAS: Requisitos de uma boa vacina: altamente imunogênica e ausência de efeitos
colaterais (características mutuamente exclusivas).
1. Vacinas vivas e vivas modifcadas: Agentes contidos em vacinas vivas infectam as células do
hospedeiro e se multiplicam ou se replicam desencadeando uma resposta por células
citotóxicas que podem causar doença ou infecção persistente em decorrência da virulência
residual. Estes Ag são denominados Ag endógenos.
Ex. a vacina B19 pode causar reações sistêmicas como vermelhidão no local de aplicação, febre
alta, anorexia, inquietação e diminuição na produção de leite. Podem causar abortamento
(vaca), orquite (touro) e febre ondulante (homem).
Vacina 45/20 de B. abortus, é uma cepa morta e a proteção é de curta duração (menos 1 ano
em bovinos)
Vacina RB51: surgiu em 1996, preparada a partir de uma mutante que falha em produzir AgO
lipopolisacarídeo, ligada à virulência. Produz uma forte resposta mediada por células e que
diferentemente da B19, não interfere na reação de aglutinação. A RB51 é menos patogênica
para bovinos e libera menos partículas antigênicas que a B19 e a SAR diferencia animal
infectado e vacinado. Causa doença no homem e dificulta o diagnóstico porque falha em
estimular resposta imune.
2. Vacinas mortas ou inativadas: Agentes contidos em vacinas mortas ou inativadas são
processados e estimulam resposta de competência de células T auxiliares, são denominados
Ag exógenos. Estas vacinas, e despeito de resposta imune de menor intensidade e duração,
são mais seguras.
Ex de desvantagens:
 PRRS – vírus vacinal transmitido a suínos não vacinados causando infecção persistente
ou doença
 Reticuloendoteliose de galinhas: contaminada com vírus de Marek (Japão e Austrália)
 Babesiose bovina: contaminada com vírus da leucose bovina

INATIVAÇÃO:
Objetivo: preservar a imunogenicidade e destruir a patogenicidade e virulência

206
Cuidado: métodos sensíveis e jamais bruscos (desnaturam proteínas e oxidam lipídeos).
Meios ou métodos utilizados: produtos químicos ou meios físicos.
 Formaldeido: agem nas proteínas e nos ácidos nucléicos formando ligações cruzadas
que conferem rigidez estrutural.
 Acetona ou álcool: desnaturação branda de proteínas
 Agentes alquilantes (óxido de etileno, etilenoimina, acetiletilenoimina, β-
propriolactona): formam ligações cruzadas na cadeia de ácidos nucléico matando
bactérias

ATENUAÇÃO:
Condição: Agentes vivos não podem ser utilizados na forma natural a não ser em condições
excepcionais (ovelhas “vacinadas” com vírus do ectima contagioso virulento por escarificaçao do
material de crostas virulento dessecado na parte interna da coxa). A patogenicidade (capacidade
de provocar doença) e virulência (severidade da manifestação clínica) devem ser reduzidas e esta
redução é denominada atenuação.
Métodos de atenuação:
a. Adaptação do crescimento de organismos em condições incomuns de sorte que perdem a
capacidade de adaptação em células do hospedeiro natural.
Ex. cepa BCG (bacilo Calmette-Guérin) do M. bovis tornou-se avirulenta depois de 13 anos
de cultivo em meio saturado de bile.
Cepa vacinal de B. antracis tornou-se avirulenta pelo crescimento a 50% em agar sérico rico
em CO2 perdendo a capacidade de formar cápsula.
B19 obtida pelo crescimento em meio escasso em nutrientes.
b. Manipulação genética: cepas de P. haemolytica e P. multocida estreptomicina (perderam 1
molécula) dependentes inoculadas em animais sob forma de vacina morrem no
hospedeiro, mas antes estimulam resposta imune.
c. Crescimento em cultivo celular ou espécie animal diversa da natural:
Vírus da peste Bovina: inicialmente adaptada em coelhos e posteriormente em cultivo
celular.
Vírus da Peste Equina Africana atenuada em camundongos
Vírus da cinomose atenuada em furão.
Vírus de mamíferos (raiva) atenuados em ovos embrionados
d. Cultivo tecidual prolongado: preferencialmente células da espécie animal a qual se destina
a vacina. Reduz a frequência de reações adversas. Por ex. como vírus da cinomose
apresenta tropismo por células linfóides, pode-se cultivar em células não preferenciais
como as renais.
e. Agentes imunogenicamente relacionados: vírus do sarampo utilizado para proteger
contra cinomose e o vírus da Diarreia Viral Bovina para proteger contra PSC.

207
Quadro 12. Vantagens e desvantagens de vacinas: vivas e mortas

Característica Vacina viva Vacina inativada


No de doses Poucas Várias
Armazenamento Frio Estável temperatura ambiente
Adjuvante Desnecessário Necessário
Hipersensibilidade Pouco provável Mais provável
Patogenicidade residual Pode reverter Não reverte
Produção de Interferon Induz Não induz
Preço Mais caro Mais barato
Tipo de imunidade induzida Mediada por célula Mediada por Ac
Organismos contaminantes Pode conter Improvável conter

VACINAS ANTIBACTERIANAS:
1. Toxóides: toxina inativada pelo calor e adicionada de adjuvante (hidróxido de alumínio). O
período negativo da vacina é de 10-14 dias. O conhecimento imunológico convencional não
recomenda inocular antitoxina antes do toxóide porque argumentam interferência na
produção de Ac e assim, deve ser evitado. Na prática este fenômeno não é observado. Ex
toxóide contra clostridioses e estafilococos toxigênicos.
2. Bacterina: são culturas inativadas/mortas (anacultura) de bactérias pela ação do formol e
incorporado com hidróxido de alumínio. A eficiência é limitada. A duração da imunidade é
inferior a 1 ano. Pode-se aumentar a eficácia das bacterinas adicionando Ag imunogênicos
purificados (adição de Ag K88 ou K99 à bacterina de E. coli). Ac assim produzidos são capazes
de inibir a aderência da E. coli na parede intestinal. Cuidar para que as estirpes de bactérias
sejam corretas (E. coli e C. foetus) ou contornar esta dificuldade com vacina autógena ou
polivalente. Indicadas para doenças bacterianas causadas por microrganismos
endotoxigênicos e exotoxigênicos.
VACINAS VIVAS ATENUADAS:
1. Vacina B19 e contra M. bovis: bactérias contidas na vacina são vivas e com patogenicidade e
virulência atenuada, porém preservada a infectividade. A duração da imunidade,
comparativamente à bacterina, é mais prolongada em razão da multiplicação bacteriana no
organismo do animal vacinado.
B. anthracis: atenuação de bactérias pelo cultivo à temperaturas mais elevadas (42 43o C para
reduzir patogenicidade e virulência) ou a partir de cepas mutantes sem cápsulas, mas
formadoras de esporos e com saponina como adjuvante.
E. rhusiopatiae: vacina atenuada que pode ser administrada por via oral adicionada ao
alimento.
S. dublin: cepa rugosa (linhagem 51) para proteção de bezerros que são vacinados às 2-4
semanas de vida e que confere imunidade cruzada com S. typhimurium.

208
VACINAS ANTIVIRAIS:
Riscos: Vacinas Vivas Modificadas (VVM) podem envolver certos riscos decorrentes da eventual
virulência residual. Assim vacinas contra:
Raiva (ERA) não pode ser aplicada em gatos.
Rinotraqueíte Infecciosa Bovina e Herpes virus equino podem causar aborto quando
aplicadas em animais prenhes.
Bluetongue pode causar doença em fetos se aplicada em ovelhas prenhes.
Rinotraqueite infecciosa (calicivírus) quando aplicada por via intraocular ou intranasal
pode causar uma transitória conjuntivite ou rinite.
Cinomose: pode causar trombocitopenia transitória.
Bronquite Infecciosa das Aves: tem-se 1 estirpe fracamente patogênica e altamente
imunogênica (Massachusetts) e outra apatogênica e pouco imunogênica
(Connecticut). Um esquema estratégico utiliza na 1a vacinação a linhagem
Connecticut e e reforço com linhagem Massachusetts.
Doença de Newcastle: linhagem LaSota apresenta alto poder imunogênico, mas com
patogenicidade residual (lesoe4s adversas brandas) e linhagem B1 com baixo poder
imunogênico e sem patogenicidade residual se administrada na água de bebida.
Doença Infecciosa da Bursa: disseminação de vírus atenuado em população de aves não
vacinadas.
VACINAS DE TECNOLOGIA MODERNAS:
Objetivo: aprimorar a eficácia e reduzir custos de fabricação. Segundo o USDA, classificadas em:

Categoria Descrição
Engenharia Genética. Vacinas de organismos recombinantes inativados ou Ag
I
purificados derivados de organismos recombinantes.
Atenuação Genética. Vacinas de organismos vivos que apresentam deleções gênicas
II
ou marcadores genéticos heterólogos.
Recombinante vivo. Vacinas com vetores de expressão vivos com genes heterólogos
III
para imunização de Ag ou outros estimulantes imunes.

ANTÍGENOS GERADOS POR TÉCNICAS DE ENGENHARIA GENÉTICA (CATEGORIA I)


1. Princípio: isolar o DNA que codifica 1 Ag de interesse e em seguida inserir em uma bactéria,
fungo ou outra célula onde o Ag recombinante é expresso. É uma clonagem gênica.
2. Exemplos:
a. Da 1a vacina recombinante - febre aftosa - o Ag VP1, epitopo reconhecidamente
imunogênico e codificado pelo genoma (RNA) é isolado e transcrito no DNA através da
transcriptase reversa. Este DNA é cuidadosamente cortado por endonucleases de restrição
para separar apenas o gene do VP1. Esse DNA é inserido em 1 plasmídeo de E. coli que é
colocada para crescimento. Depois do cultivo, a bactéria produz uma grande quantidade
de VP1 que é recolhida, purificada e incorporada a uma vacina (desuso).

209
b. Vacina recombinante disponível: vacina contra leucemia felina. A principal glicoproteína
de envelope e a gp70. O gene para gp70 mais uma porção pequena de 1 proteína de
envelope (p15e) é inserido em uma E. coli que passa a sintetizar, durante sua multiplicação,
uma grande quantidade de p70, que é purificada, adicionada de saponina e utilizada como
vacina. Vacina recombinante contra doença de Lyme: o gene Osp20 da lipoproteína da
superfície externa da Borrelia burgdoferi é clonada em E. coli. Carrapatos, ao se
alimentarem o hospedeiro vacinado, ingerem Ac que matam a bactéria no intestino do
vetor biológico.
ANTÍGENOS GENETICAMENTE MODIFICADOS (CATEGORIA II)
1. Princípio: mudança deliberada dos genes de forma a se obter atenuação irreversível do
microrganismo.
2. Exemplos:
Vacina contra Doença de Aujeszky: herpesvírus exigem timidinoquinase (TK) para replicar em
células que não se dividem como os neurônios. Vírus com TK removido são capazes de infectar
células nervosas, não se replicam e consequentemente, não produzem doença. Essas vacinas
conferem proteção, bloqueiam a invasão celular pelo vírus virulento e impedem a instalação
do estado de portador. Todas as estirpes do vírus da Doença de Aujeszky sintetizam 2
glicoproteínas importantes (gX e gI) que não são vitais para o crescimento e nem para a
virulência e, portanto, podem ser deletadas ou retiradas. Animais vacinados com vacinas
integrais elaboram Ac contra gX e gI. Animais vacinados com vacina com gX e gI deletadas não
produzem Ac correspondentes e como bloqueiam a invasão celular, impedem a instalação da
condição de portador. Testes sorológicos que utilizam Ag inteiros não reagem com soros de
animais vacinados com vacina deletada.

VACINAS DE ORGANISMOS RECOMBINANTES VIVOS (CATEGORIA III)


1. Princípio: genes responsáveis pela codificação de Ag proteicos podem ser clonados em uma
ampla variedade de microrganismos e podem ser usados como vacinas sem serem purificados.
O animal vacinado desenvolve imunidade contra o vírus hospedeiro e ao gene do virus nele
contido

210
Figura 50. Produção de uma vacina recombinante

Vírus de tamanho grande podem receber genes de outros vírus para a replicação destes. O vírus
da vaccinia (varíola bovina) pode receber o gene da glicopotreína do envelope do vírus da raiva
(proteína G) que forma as pontas características do vírus da raiva que é o único Ag capaz de
estimular a produção de Ac protetores. Tem sido usada com sucesso na imunização de raposas.
Vacina contra DN que utiliza como carreador o vírus da bouba e confere imunidade contra as 2
doenças.

Figura 51. Diagrama esquemático mostrando alguns dos diferentes meios nos quais os vírus e
seus antígenos podem ser tratados para produzir uma vacina

12. ADJUVANTES:
1. Objetivo: potencializar a resposta imune de hospedeiros vacinados com vacina morta ou
inativada.

211
2. Princípio: capturam Ag retendo-os no local de aplicação e favorecendo o afluxo de linfócitos
reativos e induzindo as células apresentadoras a expressarem moléculas coestimuladoras
(CD80)
3. Mecanismo de ação: o adjuvante forma um granuloma (rico em macrófagos) no ponto de
inoculação retardando a taxa de eliminação do Ag .
4. Tipos de adjuvante:
a. Derivados do Al: Al (OH)3, AlPO3, alume (sulfato potássico de alumíno) – liberaçao lenta
de Ag depositados.
b. Oleosos: adjuvante incompleto de Freund – liberação lenta de Ag depositados
c. Agentes ativos de superfície: saponina, lisolecitina, detergentes plurônicos – estimula
o processamento de Ag
d. Complexos de carboidratos: Acemanana, Glicanos, Sulfato de dextrano – estimulador
de macrófagos
e. Adjuvante misto: adjuvante completo de Freund – estimulador de macrófagos.

VACINAS MÚLTIPLAS: por conveniência, vários Ag são colocados em 1 única vacina.


Exemplos:
a. Para doenças respiratórias de bovinos: IBR, BVD, Parainfluenza 3 e P. multocida.
b. Para cães: cinomose, adenovirus 1, adenovirus 2, parainfluenza, Leptospira e raiva.
Vantagens: facilidade na aplicação e manuseio de animais.
Interferência: não há desde que a mistura tenha sido feita pelo produtor que contorna
possíveis interferências na resposta imune.

VACINAÇÃO:
VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DE VACINAS:
1. Recomendação: vacinas devem ser aplicadas na via e dose recomendadas pelo produtor.
Jamais devem ser fracionados segundo o tamanho do animal (o no de células sensíveis aos Ag
não difere muito com o tamanho dos animais).
2. Intramuscular ou Subcutânea: são mais fáceis e mais comumente utilizadas. Importante
quando se tem pequeno número de animais e a imunidade sistêmica é requerida. A aplicação
deve ser individual.
3. Sítio de invasão local/vacinação por via mucosa: é requerida para a proteção local contra
aderência de microrganismos.
Muitos agentes infecciosos invadem o organismo do animal através superfície da mucosa,
respectivamente, do trato respiratório e digestivo. Faz sentido que o antígeno vacinal seja
administrado pela mesma via, presumivelmente para mimetizar a porta de entrada natural
para estimulo da resposta imune nestas superfícies e, idealmente, bloquear a invasão do
patógeno.
Quando um antígeno é inoculado por via sistêmica, são estimuladas as células T efetora do
baço que é o órgão linfoide central não associado com qualquer superfície do corpo. Como

212
resultado, células T do baço apresenta um padrão de localização promíscuo disseminando-se
para diferentes sítios incluindo superfícies mucosas. Como a maioria das vacinas são aplicadas
por via parenteral, induz a uma forte resposta imune sistêmica e as células T e anticorpos
atingem facilmente as mucosas invadindo as áreas atingidas e lesadas pelo patógeno. Esta
proteção indireta pode imunizar diretamente via tecido linfoide de mucosa como esperado.
a. Intranasal: rinotraqueíte infecciosa bovina, rinotraqueite felina, calicivirose, DN (aerossol),
garrotilho, Bordetella bronchiseptica, parainfluenza canina. Aplicação individual ou pelo uso
de aplicadores.
Esta via de administração apresenta vantagens superiores quando comparada com a
vacinação por via oral, pois, não é significantemente diluído pelos fluidos nasais, não
exposto ao pH baixo ou às enzimas digestivas. É apropriado vacinar pela porta de entrada
do patógeno no organismo animal com a vantagem de se ter extenso tecido linfoide
associado a mucosa nasal. A coleção de tecido linfoide da orofaringe nasal (Anel de
Waldeyer) inclui tonsilas, linfonodos cervicais e células M e dendriticas intraepiteliais que
captura antígenos presentes na mucosa nasal.
Vacinas intranasais estão disponíveis para Rinotraqueite Infecciosa bovina, parainfluenza 3
e doença sincicial bovina; para Streptococcus equi; herpesvirus felino; Bordetella
bronchiseptica; coronavirus; calicivírus; parainfluenza canina e Bordetella.
b. Intraocular: Vacina intraocular é utilizada em aves com mecanismo similar com a
desvantagem de ter que manipular individualmente as aves e pode não ser eficiente,
principalmente quando é elevado o número de animais como no caso de vacinação contra
laringotraqueite infecciosa com vacina preparada em cultivo celular, contra cinomose,
doença de Newcastle e enterite do furão e contra ceratoconjuntivite infecciosa dos
bovinos.
c. Oral: colibacilose suína, erisipela suína, DN, Laringotraqueíte infecciosa das aves e
encefalomielite das aves. Vacinação de peixes e camarões.

VACINAÇÃO DE ANIMAIS JOVENS:


Ac maternos passivamente transferidos aos recém-nascidos inibem a síntese de Imunoglobulinas
(Ig) e comprometem o sucesso da vacinação. Esta inibição pode persistir por vários meses na
dependência da quantidade de Ac transferidos inicialmente e a meia-vida das Ig envolvidas. Seja o
exemplo de um cão jovem que mamou convenientemente e os níveis de Ac atingiram valores
máximos em 12-24 horas após nascimento e a partir de então inicia uma curva de declínio lento em
decorrência do catabolismo (taxa de catabolismo de proteínas é exponencial e, portanto,
expressa como meia-vida). A meia-vida dos Ac contra cinomose e hepatite é da ordem de 8,4 dias
e contra a panleucopenia é de 9,5 dias. Experimentos revelam que os níveis de Ac passivos em
cães são inexpressivos ou insignificantes em 10-12 semanas de vida embora em alguns já
desaparecessem em 6 semanas e em outros persistem até 15-16 semanas. Em uma população de
cãezinhos, a proporção de animais suscetíveis aumenta, gradualmente de muito pouco ou
nenhum no nascimento para quase todos com 10-12 semanas. Portanto, poucos ou nenhum

213
cãozinho recém-nascido pode ser vacinado com sucesso, mas com 10-12 semanas a quase
totalidade pode ser protegia e raramente tem entre 15-16 semanas antes de ser vacinado com
sucesso. Em áreas onde a cinomose é endêmica, como no Brasil, seria suficiente que se retardasse
a a vacinação até que todos os cãezinhos atingissem 12 semanas de idade, mas infelizmente, tal
atraso poderia significar um gradual aumento na proporção de suscetíveis à cinomose (sem
proteção) o que é inaceitável. Também não seria aceitável vacinar repetidas vezes os cãezinhos a
intervalos pequenos até atingirem 12 semanas de idade. O consenso é o cãozinho (cinomose,
adenovirus 1 e 2, parvovirus, leptospirose e parainfluenza) e o gatinho receberem a 1a vacina entre
6-9 semanas de vida desde que expostos ao risco usual de adquirir a infecção (em caso de risco
maior, mais cedo a 1a dose deve ser aplicada). A 2a dose deve ser aplicada 3 semanas da 1a dose (12-
15 semanas) e uma 3a dose 4 semanas depois da 2a (13-16 semanas de vida). A vacina contra a raiva
deve ser aplicada às 16 semanas de idade.
Gatinhos: o protocolo recomendado é vacinar contra rinotraqueíte viral, calicivírus e
panleucopenia entre 6-9 semanas, 9-12 e 12-14 semanas de idade; contra a leucemia felina aplicação
de 2 doses (9-12 e 12-14 semanas) e a antirrábica com 12 semanas.
Naturalmente, existem muitos diferentes protocolos da vacinação visando a menor proporção
possível de desprotegidos. Cãezinhos e gatinhos órfãos podem ser vacinados com 2 semanas de
vida.
Animais de produção: as considerações acima mencionadas são válidas lembrando a grande
variabilidade na persistência da imunidade passiva. Nos potros, a imunidade passiva contra tétano
e arterite podem perdurar 6 e 8 meses respectivamente porque a vida média destes Ac é de 32-39
meses e Ac passivos mesmo em títulos baixos inibem eficazmente a resposta imune . Em bezerros,
imunidade colostral contra BVD pode durar 9 meses. A recomendação é vacinar bezerros e potros
aos 3-4 meses de idade seguida de 1-2 revacinações com intervalo de 4 semanas. A precisão do
esquema dependerá do tipo de vacina e da espécie animal a ser vacinada de sorte que animais
vacinados antes dos 6 meses deveriam ser revacinados aos 6 meses.
Vacina contra sarampo em cães para proteger contra cinomose: é um recurso para contornar o
inconveniente da imunidade passiva. O vírus do sarampo compartilha o principal Ag (Ag F) com o
vírus da cinomose canina e ambos apresentam hemaglutininas distintas (Ag HA). Geralmente, a
presença de Ac dirigidos contra AgF e AgHA é necessária para a neutralização efetiva do vírus e a
completa proteção, mas Ac contra Ag heterómólogo confere proteção parcial. Dessa forma, Ac
materno HA anti cinomose não pode prevenir infecção do sarampo em células de cãezinhos; o
AgF do vírus do sarampo deve então sensibilizar o sistema imune do cãozinho resultando que a
vacina contra sarampo em cãozinho de 6 meses de idade pode proporcionar alguma proteção ao
cãozinho contra a cinomose pelo fato da presença de altos níveis de Ac anti HA anti cinomose.
Imunidade passiva no pintinho: exigem uma assistência imunológica temporária à semelhança
dos mamíferos porque emergem de um ambiente estéril para um contaminado. Ac são facilmente
transferidos do soro da galinha para a gema enquanto o ovo se encontra no ovário (A Ig se liga a
1 receptor de Fc semelhante ao FcRn dos mamíferos). Na fase fluída da gema, a IgG é, portanto,
é encontrada em títulos equivalentes ao do soro da galinha. Durante a decida pelo oviduto, as IgM
e IgA das secreções do oviduto são incorporadas juntamente com a albumina. A medida que o
embrião do pintinho se desenvolve, absorve parte da IgG da gema (que aparece na circulação), a

214
IgM e IgA provenientes da albumina se difundem no líquido amniótico e são deglutidas pelo
embrião de sorte que ao eclodirem, os pintinhos já possuem IgG no soro e IgM e IgA no intestino.
O pintinho recém eclodido não absorve todo Ac do saco vitelino até  24 horas decorridos da
eclosão. A vacinação para ter êxito deve ser realizada ao redor de 10-20 dias depois da eclosão.

VACINAÇÃO DE FÊMEAS PRENHES:


Algumas vacinas não devem ser aplicadas em animais prenhes principalmente se forem
atenuadas.
A vacina contra a Língua Azul não é patogênica para ovinos adultos normais, mas se for
administrada em ovelha prenhe, aos 50 - 70 dias de gestação, poderá causar severas lesões no
sistema nervoso do feto (hidranencefalia e displasia de retina) com possibilidade de isolamento
viral e se aplicada aos 100 dias de gestação, acarretará uma ligeira reação inflamatória sem
isolamento viral.
Em reprodutoras suínas vacinadas aos 55 dias de prenhes contra parvovirose pode-se observar
abortamento ou natimortalidade. Se vacinadas por volta de 72 dias de gestação, os leitões nascem
normalmente, porém com elevados títulos de Ac e se desenvolvem normalmente.
Vacas vacinadas contra BVD entre 90 – 120 dias de gestação, o feto desenvolverá anomalias
semelhantes à infecção intrauterina.

PROTOCOLO DE VACINAÇÃO
Não existe protocolo padrão, mas existem alguns princípios a serem observados.
a. Proteção de animais nos primeiros dias de vida: vacinação da mãe no final da gestação.
b. Primo vacinação de animais jovens: depois de superada a imunidade passiva e revacinar
depois de alguns dias, segundo a recomendação do fabricante porque não se conhece o
momento exato em que a imunidade passiva se extingue.
c. Intervalo entre vacinações: depende da potência de cada vacina. Vacinas do passado
requeriam revacinações a cada 6 meses (±). Vacinas mais modernas, principalmente as
destinadas a animais de companhia, requerem intervalos maiores (2-3 anos)
FALHAS NA VACINAÇÃO:
a. Via de inoculação errada;
b. Vacina viva vencida;
c. Vacinação durante imunidade passiva;
d. Animal infectado
e. Antígeno não protetor;
f. Animal imunossuprimido;
g. Antígeno da vacina não corresponde ao da doença

215
REAÇÕES ADVERSAS À VACINAÇÃO:
a. Erro fabricação: contaminação da partida por bactérias ou vírus, toxicidade anormal ou
virulência residual
b. Erro durante administração: contaminação
c. Reações individuais: febre, mal-estar, inflamação, dor.
d. Resposta inapropriada do animal: reação de hipersensibilidade do tipo I (local ou
anafilaxia), III ou IV (granuloma)
e. Reação neurológica: reação de hipersensibilidade do tipo IV, neurite ou encefalite.
f. Reações estranhas ao corpo: reação de hipersensibilidade do tipo IV ou fibrosarcoma.

216
CAPÍTULO 10
PLANEJAMENTO DE PROGRAMAS DE SAÚDE ANIMAL

i) INTRODUCAO
Segundo ROSEN (1972) “Sem a epidemiologia não há base cientifica para a prática da Saúde
Pública/Saúde Animal e, sem a prática da Saúde Pública/Saúde Animal, a Epidemiologia torna-
se uma ciência acadêmica e sem significado”.
Segundo MARTIN et al (1987) o objetivo da epidemiologia é pragmático, ou seja, fornecer
dados para fins de tomada de uma decisão racional para embasar a prevenção e/ou controle de
doenças em populações animais. Em animais domésticos envolve a otimização da saúde
(produtividade) e, não necessariamente, minimizar a ocorrência de doença. A grande
contribuição da epidemiologia é proporcionando informações descrevendo a frequência de
ocorrência e a distribuição da saúde e doenças/infecções, identificando os fatores que
influencia a ocorrência e a severidade da doença nas populações animais em questão (em
condições naturais) e quantificando as inter-relações entre saúde e doença.
Segundo HANSON & HANSON (1983), um programa de controle de doenças deve ser bem
delineado tanto do ponto de vista biológico como econômico. Deve ser também dinâmico para
que possa evoluir de acordo com as alterações da situação (frequência de ocorrência da
doença/infecção, econômica, política ou sócio climática que requeiram mudança de rumo do
programa)
ii) CONCEITUAÇÃO
Objetivo - obter maior eficiência nos programas de saúde animal. E uma atividade intrínseca na
gerencia de programas.
Princípio do planejamento - relativos ao tempo (trabalhar para o futuro), ao campo (considerar
todos os componentes de uma atividade) e espaço (local de aplicação do programa priorizando
a área de trabalho).
Justificativa do programa - definição sucinta do problema objeto de ação, como a descrição da
realidade dos aspectos epidemiológicos quando couber, aspectos operacionais e
organizacionais relatando as discrepâncias entre a realidade atual e a desejável, e indicação das
alternativas mais viáveis para atacar o problema.
Objetivo do programa - a saúde animal e o suporte para os suínos destinados a produção de
bens (commodities) e serviços, e a profilaxia de doenças tem a finalidade de aumentar os bens.
Em todo programa deve ser considerado 2 aspectos: o controle de doenças para aumentar os
bens e serviços e o custo e eficiência dos programas (serviço veterinário) para o controle dessas
doenças.
Plano - e o conjunto de programas que se integram, com a finalidade de alcançar objetivos
gerais comuns, por exemplo o Plano Nacional de Sanidade Suídea.

217
Programa - e uma linha de trabalho estabelecido por um plano (conjunto de atividades
programadas, articuladas entre diferentes setores e avaliadas para alcançar um objetivo
especifico ou um pequeno conjunto de objetivos intimamente relacionados entre si). Tem um
cronograma que ordena no tempo as atividades a serem desenvolvidas; envolve uma fase de
delineamento do processo de planejamento que se restringem as atividades, e que permitem
atingir as decisões; como componente de um plano, permite agrupar as decisões por áreas de
ações semelhantes sob o mesmo título ou linha de trabalho. A finalidade de um programa e o
próprio objetivo do plano.
Projeto - e a menor unidade de inversão de recursos e esforços de um programa e e, portanto,
o documento mais próximo da ação podendo constituir um simples roteiro de tarefas, e demais
dados referentes a efetivação da ação. Os objetivos do projeto são as próprias ações a serem
executadas, e sua finalidade e o próprio objetivo do programa a que pertence.
iii) PASSOS INICIAIS
a. Conhecimento dos problemas: é saber o que se passa nas populações animais (causas de
doenças) e em seguida descrever o que está acorrendo na área em que se está sendo
designado descrevendo a manifestação dos efeitos (problema) da doença naquela área
geográfica. Não é uma tarefa fácil em face da deficiência de informações quantitativas de
ocorrência de doenças em populações animais. Pode-se, porem construir alguns indicadores
com as informações que vierem a ser obtidas. Uma vez estabelecidas relações de causa e
efeito, pelo conhecimento epidemiológico e consideradas as características do agente,
hospedeiro e meio ambiente, tem-se o diagnóstico de situação.
b. Como reconhecer as causas e efeitos: reunir dados disponíveis sobre a ocorrência de efeitos
relativos às causas determinantes como: morbidade, mortalidade etc. São dados que devem
existir em órgãos oficiais, junto a pecuaristas, veterinários da região, associações de classe
etc. Caso não existam, há que se proceder ao reconhecimento pelo emprego de
instrumentos com o questionário. Os dados são de natureza epidemiológica e o sócio-
político-econômica.
b1. Marco epidemiológico:

 Dados ou Descrição da área e dos problemas.

Existência ou ausência de dados: conhecer as fontes de dados para obter informações


sobre as doenças que ocorrem nos animais da área. Caso não existam, proceder ao
diagnóstico com base em investigações retrospectivas (entrevistas, questionários,
levantamentos).
Dados de indicadores de saúde (bioestatística): Morbidade, Natalidade, Mortalidade:

 Diagnóstico de situação: Conhecer minuciosamente a área designada, as condições


epidemiológicas vigentes (doenças, hospedeiros, reservatórios, vetores) pela colheita
de informações ou pela busca ativa (questionário)
Análise da situação: compreensão do fenômeno.

218
Conhecimento epidemiológico de cada doença envolvida.
Causalidade do fenômeno:
Características do agente etiológico,
Características do hospedeiro,
Características dos deferentes tipos de exploração animal;
Características da região (principais vias de acesso, população susceptível,
densidade populacional susceptível, no e localização de frigoríficos,
laticínios, cooperativas de leite),
Política de saúde existente na região (controle de trânsito de animais e
produtos, sistema de vigilância, diagnósticos realizados etc.)
b2. Dados econômico-político-social: seleção de prioridades

 Disponibilidade de recursos: analisar a situação de saúde na área considerada e, como


decorrência, eleger prioridades porque, de um lado se tem recursos e de outro os
problemas e quando ambos são cotejados, os recursos são sempre escassos e não é
exeqüível e nem factível pretender atacar todos os problemas simultaneamente. Além
dos recursos financeiros, devem-se ter disponíveis recursos humanos, físicos,
laboratoriais, etc.
 Existência ou ausência de infraestrutura:
Recursos humanos: no de veterinários, auxiliares, pessoal administrativo etc.
Recursos de instalações: sede, laboratório de diagnóstico, comitês,
Equipamentos: veículos, microscópios, estufas, computadores etc.
Material de consumo: para colheita, acondicionamento e remessa de amostras.
 Condições socioeconômicas: verificar as estruturas existentes em termos de recursos
humanos, materiais e de elementos que poderiam representar potenciais para ações
futuras como associações de classe, fundo de indenização, etc.
 Critérios para o estabelecimento de prioridades (atender as necessidades
satisfazendo seu maior ou menor grau de urgência):
 Sistemática das condições de saúde objetivando o planejamento e execução dos
programas de saúde.
 Critérios: auxilia alcançar mais benefícios com menos recursos.
a. Magnitude do problema: morbidade + mortalidade + letalidade.
b. Impacto social: o que a doença representa em termos de preocupação social i.é
o que a população pensa a respeito da doença. Participação e sensibilidade dos
diferentes setores.
c. Possibilidades de solução: armas de combate disponível e vulnerabilidade das
causas frente a essas armas.

219
Estes 3 aspectos (magnitude, impacto e possibilidades de combate) são os de maior
destaque, embora se deva considerar outros como:
Prejuízos econômicos: muitas vezes a magnitude possa ser menor devido à menor
mortalidade, mas o prejuízo pode ser elevado devido à barreiras sanitárias por
exemplo.
Rendimento esperado (custo e benefício): o custo deve compensar o benefício.
Atitude da comunidade (decisões de gabinete x participação da comunidade): a
comunidade deve participar as decisões porque é o setor que se envolverá
diretamente com as ações de execução.
Valor educativo: diretamente relacionado com o envolvimento da comunidade.
Compromissos comerciais (internacional, nacional, local) com áreas ou países vizinhos e/ou
com quem mantêm relações comerciais.
Capacidade técnica, administrativa e financeira para continuidade.
P = F (magnitude x impacto x armas)

iv) DELINEAMENTO
Objetivo - definir os objetivos de um programa, e a sua conveniente definição, conduz a médio ou
longo prazo, o credito ou descredito do governo que pode comprometer ou não os futuros
programas. Assim o delineamento visa propor ações (o que, como, com o que, onde, quando e
quem), que desenvolvidas de forma organizada e sistemática possam conduzi a melhoria das
condições dos suínos.
Objetivos ou metas
5. Objetivo Inicial, operativo ou imediato. Exemplo: vacinação, introducao de medidas de
biosseguridade;
6. Objetivo intermediário, substantivo ou mediato. Exemplo: reduzir a morbidade e/ou
mortalidade;
7. Objetivo final ou proposito. Exemplo: melhorar as condições de saúde da população animal.

OA Objetivo Alcançado
-------- = -------------------------------- = 1 (ideal)
OP Objetivo Proposto

v) EXECUÇÃO
Fase preparatória
Conhecimento completo e minucioso da área geográfica - localização das propriedades
(GPS), estradas, vizinhos;

220
Educação sanitária - motivação e mobilização da comunidade: identificação de liderança
local, escolas, igrejas, clubes, associações;
Seleção e treinamento do pessoal - RT, proprietários, administradores, funcionários;
Reunir os recursos necessários - materiais (instalações, veículos, laboratórios,
equipamentos), humanos (profissionais, técnicos, operadores) e financeiro – todos
necessários a serem adquiridos;
Avaliação dos potenciais obstáculos - deficiências operacionais e respectivas causas,
classificar os obstáculos por categoria e estabelecer as medidas corretivas possíveis;
Identificar - alternativas estratégicas possíveis;
Fase de ataque - desenvolvimento de todas as ações sanitárias, previamente testadas e avaliadas
(projeto piloto), para alcançar o objetivo inicial, consoante ao cronograma estabelecido.
Fase de consolidação - manter ou melhorar a situação conquistada na fase anterior procurando
evitar a reintrodução ou recrudescimento da doença. Substituindo as medidas vigentes por
medidas de vigilância epidemiológica para consolidação.
Fase de manutenção - e a continuação da fase anterior com a integração das ações sanitárias a
estrutura de saúde existente (vigilância epidemiológica).
Atenção - Planejamento sem execução, não leva a nada.
vi) AVALIAÇÃO E REVISÃO
Importância - as decisões são, muitas vezes, interdependentes que exigem revisão periódica
tornando o planejamento em um processo continuo e os resultados que são os muitos
estados desejáveis deve evitar ações incorretas e minimizar a frequência de fracassos. Assim,
estabelecidos os padrões de qualidade e de quantidade, e preciso avaliar nos resultados,
periódico e sistematicamente e corrigir os eventuais desvios.
vii) REQUISITOS FUNDAMENTAIS DE UM PROGRAMA
Exequibilidade - diretamente relacionado com a capacidade operacional;
Efetividade - diretamente relacionado ao objetivo inicial. Exemplo: se o objetivo da monitoria e
a colheita de amostras a cada 3 meses em estabelecimentos suinícola para certa doença, e está
sendo trimestral, entao o programa foi efetivo;
Eficácia - diretamente relacionado com o objetivo intermediário/execução. Exemplo: as
amostras forem processadas e resultados liberados a cada 3 meses, o programa foi eficaz;
Eficiência - de um lado tem conotação com a eficácia e de outro lado com a relação custo-
benefício. Portanto, se não for eficaz, não será eficiente.

Resultado obtido
EFICIÊNCIA = --------------------------
Recursos gastos
Suponhamos que uma vacina ou lote de vacinas tenha perdido seu poder imunogênico e certa
porcentagem de vacinados não tenha sido protegido, portanto a vacina não foi eficaz embora

221
o programa tenha sido efetivo. Portanto, foram mobilizados recursos para vacinar 80% dos
animais e não obstante isso, apenas uma parte da população de vacinados foi protegida, não
se conseguiu reduzir a morbidade e o objetivo intermediário e final não foram alcançados. O
programa não foi eficiente.
A eficiência pode também ser considerada do ponto de vista comparativo: uma vacina
necessita de dose de reforço e a outra não e ambas são eficazes, mas o custo operacional
daquela que requer dose de reforço é muito maior. Pressupondo que ambas tenham a mesma
eficácia, as eficiências são diferentes. A eficiência maior será daquela que não requer 2ª dose
se for considerada, nesta comparação, a relação custo x benefício.
viii) ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DE UM PROGRAMA
Organização: é o acordo de cooperação entre pessoas para atingir um objetivo comum.
Implica no estabelecimento de uma “estrutura” caracterizada por padrões de
comportamento. Caracterizado pelos objetivos.
Estrutura e objetivos:
a. Possuir um conjunto de elementos humanos e materiais;
b. Definição de um objetivo a ser perseguido;
c. Distribuição de autoridades e responsabilidades;
d. Criação de um mecanismo divisório baseado na distribuição de autoridades e
responsabilidades para o gerenciamento de elementos humanos e materiais.
Gerenciamento: é o retrato da estrutura organizacional e é representado pelo organograma.
Organograma: é o diagrama que representa a organização formal configurada na estrutura
que foi configurada por Estatuto, Regimento ou Regulamento da Instituição.
Representa os diferentes órgãos da Instituição com indicação de posições e respectiva
interdependência, via hierárquica, loinha de autoridade, vinculações e subordinações.
Técnica de construção de um organograma:
1. Manter simplicidade;
2. Órgãos de linha devem ficar ligados por linhas verticais e os de apoio por horizontais;
3. Evitar cruzamento d elinhas;
4. Evitar linhas diagonais;
5. Indicar subordinações nas linhas horizontais;
6. Órgãos auxiliares devem ficar justapostos;
7. Diferentes tipos de autoridade devem ser representados por linhas diferentes;
8. No 1º nível devem ficar os órgãos deliberativos;
9. No 2º nível devem ficar os órgãos executivos
10. No 3º nível devem ficar os órgãos técnicos

222
11. No 4º nível devem ficar os órgãos operacionais;
12. Elaborar um quadro de convenções.
Necessidades:
Definição clara de competência dos chefes e subordinados.
Definição clara das atribuições de cada subordinado.
Administração: é a unificação dos espaços das várias entidades para atingir o objetivo
desde a entrada até a saída:

223
CAPÍTULO 11
PLANEJAMENTO DE PROGRAMAS DE BIOSSEGURIDADE
MEDICINA VETERINÁRIA PREVENTIVA

1. INTRODUÇÃO.

2. DEFINIÇÃO

Biosseguridade: termo relativamente novo para conceitos antigos. Sua aplicação na prática de
manejo de animais reduz as oportunidade doa agentes etiológico de doenças transmissiveis
tenham acesso ao estabelecimento de produção e consequentemente reduzir a disseminação
(ANDERSON, 1998; TOMA et al., 1999).
Biosseguridade pode ser estendido ao nivel nacional com o objetivo de eliminar patógenos e
pestes do pais (WANSBROUGH, 2004).
Durante a epidemia, a biosseguridade tem papel relevante para prevenir a disseminação de uma
propriedade para outra propriedade indene;
Biosseguridade implica em limpeza, lavagem, desinfecção e reduzir a exposiçao aos agentes de
doenças (manter cerca perimetral, testar animais antes da introdução no plantel, quarentena dos
recem dquiridos antes de incorporar ao rebanho, isolamento dos animais doentes e manejo de
resíduos), manejo de pessoal (limitar entrada de visitants, adequandro teinamento dos
trabalhadores) e garantia de rastreabilidade dos animais (ENGLAND, 2002).
Algumas infecções sao facilmente introduzidas em um estabelecimento e dai a importancia de
prévio diagnóstico (VAN SCHAIK et al. (2001).
Definição da estratégia. A biosseguridade será conduzida em 3 níveis a saber: biosseguridade
conceitual, biosseguridade estrutural e biosseguridade operacional.
Biosseguridade conceitual: são medidas de biosseguridade relacionadas à região e seus
componentes
Biosseguridade estrutural: são medidas de biosseguridade relacionadas às instalações e que são
essenciais para prevenir a entrada dos agentes de doenças na granja.
Biosseguridade operacional: são medidas de biosseguridade relacionadas às operações de
manejo e de rotina que afetam a transmissão de agentes de doenças infecciosas.
BIOSSEGURIDADE CONCEITUAL: são medidas de biosseguridade aplicadas à área geográfica onde
se localizam as operações de produção animal. Inclui a distribuição espacial das granjas para
orientar futuras construções para fins de preservação de distâncias para mitigar risco de
disseminação de doenças e infecções; conhecimento da densidade regional; localização de outras
granjas com alto valor intrínseco (por ex. matrizeiros, granjas GRSC) ou extrínseco (por ex. criação
alternativa, de subsistência/fundo de quintal, de aves ornamentais etc.); rotas de aves migratórias;
224
ventos prevalentes; compartilhamento de equipamentos e de pessoal terceirizados; movimento
de animais na região. Considerar os riscos externos (causa) ao estabelecimento de produção é o
primeiro passo no delineamento dos programas de biosseguridade sem a qual é impossível
alcançar os objetivos propostos.
BIOSSEGURIDADE ESTRUTURAL: refere-se aos elementos do estabelecimento de produção que
representam custos fixos na operação e que são essenciais para prevenir a entrada dos agentes de
doenças. Desenho e layout incluem cercas perimetrais, espaço ou instalações para banho e troca de roupa
dos funcionários, área para lavagem e desinfecção de veículos. No desenho da granja podem ser incluídos
o fluxo de trânsito dentro da granja, movimento de veículos externos para entrada e saída de animais e
coisas, sistema para descarte de animais mortas, ovos quebrados e esterco.

BIOSSEGURIDADE OPERACIONAL: abrange as operações de manejo e de rotina que afetam a


transmissão de agentes de doenças infecciosas. Contempla medidas de controle de entrada de
pessoas estranhas ao processo de produção (visitantes), fluxo de pessoas entre
instalações/galpões/núcleos, monitoramento de indicadores de saúde e/ou programas de
controle de doenças, implantação de medidas de controle de roedores e insetos, sanitização
(limpeza, lavagem e desinfecção) de equipamentos e instalações (galpões e anexos), manejo de
cama, ração e água. Inclui avaliação periódica da biosseguridade operacional para facilitar a
resposta imediata quando de mudanças de fatores de risco bem como para auxiliar na
implementação de procedimentos suplementares.

3. PASSOS INICIAIS: são estabelecidos antes de iniciar a execução propriamente dita do animais
(causas de doenças) da região e os desafios representado por doenças que se aproximam do
Brasil ou do estabelecimento de produção e problemas endêmicos e fatores de riscos que o
rodeiam.

c. Como reconhecer as causas e efeitos: morbidade, mortalidade, natimortalidade,


abortamento, queda na produção de ovos, etc.
d. Diagnóstico de situação: o conhecimento minucioso D o estabelecimento de produção, as
condições epidemiológicas vigentes (doenças, hospedeiros, reservatórios, vetores)
 Análise da situação: compreensão do fenômeno, ou seja, risco de introdução de
doença exótica e mitigação do risco de doenças endêmicas.
 Conhecimento epidemiológico de cada doença envolvida: patologia, clínica,
epidemiologia e profilaxia para ampararem o diagnóstico (clínico, laboratorial e
epidemiológico) e seleção das medidas de profilaxia (prevenção ou controle).
1. Causalidade do fenômeno:
 Características do agente etiológico para seleção dos meios de diagnóstico
laboratorial.
 Características do hospedeiro: aves (galinhas de postura, cria, recria, frango de
corte, etc.); suínos (reprodutores, leitões, terminação).

225
 Características da exploração econômica: genética, comercial (mencionar
modalidade)

4. DELINEAMENTO

a. Objetivo Geral: melhorar as condições de saúde dos planteis de animais de um


estabelecimento de produção animal para obter maior eficiência na produção. Para
algumas doenças dispõe-se de legislações federais.

b. Objetivo específico: introduzir medidas de biosseguridade para a prevenção de doenças que


não ocorrem no Brasil, porém, passíveis de serem introduzidas e o controle de doenças
endêmicas para melhorar as condições de saúde dos animais de produção, aumentar a
oferta de proteína animal no país e ampliar as exportações. A biosseguridade, de um lado
é o suporte para animais de produção maximizarem a produção e produtividade pela
redução da morbidade, mortalidade e perdas de ovos e de outro lado, tem a finalidade de
aumentar os bens dos produtores. Em todo programa devem ser considerados 2 aspectos:
o controle de doenças para aumentar os bens e serviços e o custo e eficiência dos
programas de saúde animal (serviço veterinário).
c. Princípio do planejamento: considera o tempo, campo e espaço.
1) Tempo: trabalhar para o futuro para prevenir a introdução de doenças exóticas
e mitigar a ocorrência de doenças endêmicas no estabelecimento;
2) Campo: considerar todos os componentes de uma atividade que são os pontos
de risco relacionados à biosseguridade conceitual/regional, estrutural e
operacional;
3) Espaço: é o local de aplicação do programa priorizando a área de trabalho
definido como o estabelecimento e adjacências onde se localizam os
estabelecimentos de produção.
d. Justificativa do programa de biosseguridade: sendo um conjunto de medidas de profilaxia
de natureza inespecífica (vigilância ambiental) e especifica (vacinação) quando disponível,
visa melhorar as condições de saúde dos animais visto que somente a vacinação não é
suficiente, pois, há que se reduzir os desafios (pressão de infecção) a que estão expostos
através de medidas profiláticas inespecíficas. Ressalte-se que, desde a introdução da
exploração intensiva, os desafios mais frequentes tem sido as doenças entéricas,
respiratórias e cutâneas.

Os aspectos operacionais referem-se à capacidade dos produtores e/ou funcionários em


conduzir o programa de biosseguridade executando, com eficácia, as ações propostas.
Os aspectos organizacionais estão baseados na decisão conjunta entre produtores,
funcionários e eventuais entidades (associações, sindicatos) de classe local que envolve
principalmente a biosseguridade conceitual/regional e, quando indicado em casos de granjas
muito próximas, a biosseguridade estrutural e operacional de forma organizada e
epidemiologicamente correta.
226
nas ações propostas acima descritas há que se definir “o que fazer”, “como fazer”, “com o
que fazer”, “onde fazer”, “quando fazer” e “quem faz”, que desenvolvidas de forma
organizada e sistemática possam conduzir à melhoria das condições de saúde do plantel.
Portanto, os objetivos ou metas são:
 Objetivo Inicial, operativo ou imediato: introduzir medidas de biosseguridade de forma
organizada.
 Objetivo intermediário, substantivo ou mediato: prevenção de doenças exóticas a
redução da morbidade por doenças endêmicas.
 Objetivo final ou propósito: melhorar as condições de saúde da população de animais
do estabelecimento.
Obs. Deve haver um encadeamento de objetivos até atingir o propósito e há que se
quantificar os objetivos para se reconhecer, em que medida, os objetivos estão sendo
alcançados.
5. EXECUÇÃO
Desenvolver por etapas ou fases e que implica no estabelecimento de metas.
a. Fase preparatória: envolve

 Conhecimento completo e minucioso do estabelecimento de produção: localização da


propriedade (GPS), estradas, vizinhos, pontos de risco (lixão, aterro sanitário, rios,
riachos, lagos, fábricas de ração, matadouro/abatedouro, etc.)
 Seleção e treinamento do pessoal: RT, funcionários, terceirizados, etc.
 Avaliação de obstáculos: determinar deficiências operacionais e principalmente suas
causas, classificar os obstáculos por categoria e estabelecer as medidas corretivas
possíveis.
 Estratégias alternativas: identificar estratégicas alternativas possíveis e estabelecer os
critérios que levaram a adotar determinada estratégia.
 Detalhamento das estratégias mais prováveis: procedimentos técnicos a serem
empregados, estimativa de equipamentos de suporte, origem dos recursos.
b. Fase de ataque: desenvolvimento de todas as ações de biosseguridade para alcançar o
objetivo operativo consoante cronograma estabelecido.
c. Fase de consolidação: manter ou melhorar a situação conquistada na fase anterior
procurando evitar a reintrodução ou recrudescimento da doença (monitoramento)
d. Fase de manutenção: é a continuação da fase anterior com a integração das ações
sanitárias à estrutura de saúde existente

Obs. Planejamento sem execução não leva a nada


6. AVALIAÇÃO E REVISÃO: as decisões são, muitas vezes, interdependentes e que exigem revisão
periódica tornando o planejamento em um processo contínuo e os resultados que são os
muitos estados desejáveis deve evitar ações incorretas e minimizar a frequência de fracassos.
227
Assim, estabelecidos os padrões de qualidade e de quantidade, é preciso avaliar nos resultados
periódica e sistematicamente e corrigir os eventuais desvios.
Os 4 elementos de um programa: ser exequível, efetivo, eficaz e eficiente.
EXEQUIBILIDADE: diretamente relacionado com a capacidade operacional.
EFETIVIDADE: diretamente relacionado ao OBJETIVO OPERATIVO. O objetivo é o
envolvimento da totalidade dos avicultores e se tiver atingido 100% dos mesmos, o programa
será efetivo.
EFICÁCIA: diretamente relacionado com o OBJETIVO SUBSTANTIVO (EXECUÇÃO). O
programa, alcançado 100% dos criadores, o programa será eficaz.
EFICIÊNCIA: de um lado tem conotação com a eficácia e de outro lado com a relação custo-
benefício. Portanto, se não for eficaz, não será eficiente.
Portanto, para ser eficaz precisa ser efetivo e para ser eficiente precisa ser eficaz.

Resultado obtido
EFICIÊNCIA = --------------------------
Recursos gastos

Obs. Executar sem avaliar pode ser pior ainda.

7. ELABORAÇÃO DE PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO (POPs)

a. Portão sanitário

b. Medidas relativas a pessoas

c. Medidas relativas aos veículos de transporte

d. Limpeza e desinfecção de galpão e núcleo

e. Medidas relativas à agua

f. Controle do ar

g. Procedimentos de sanitização (limpeza, lavagem e desinfecção)

h. Sanitização de materiais e equipamentos

i. Recolha de animais mortos e ovos quebrados

j. Disposição adequada de animais mortos

k. Prevenção e controle de pragas

l. Medidas relativas ao lixo e resíduos

m. Cuidados com a ração

228
n. Cuidado com ovos

o. Transferência de animais

p. Bem-estar animal

q. Vacinas e vacinação

r. Amostragem para Vigilância Ativa.

229
CAPÍTULO 12
FUNDAMENTOS DE BIOESTATÍSTICA DE IMPORTÂNCIA NA SAÚDE ANIMAL
1. CONCEITOS GERAIS BÁSICOS.
2. OBJETIVOS DA BIOESTATÍSTICA:
1º OBJETIVO: 1) Planejamento experimental: advertências, natureza da variável (qualitativa e
quantitativa); 2) nível de medida de uma variável qualitativa (nominal e ordinal); nível de medida de
uma variável quantitativa (continua e discreta: proporcional e intervalar).
2º OBJETIVO: Análise dos dados
3º OBJETIVO: inferência; raciocinio; população ou universo de resultados; população; amostra;
mensuração.
3. DELINEAMENTO EXPERIMENTAL: a) pontos a serem evitados: subjetividade, falta de quantificação e
tendenciosidade; b) variável
4. BIOESTATÍSTICA ANALÍTICA: a) regras de arredondamento; b) Organização de dados: construção de
tabelas: b1) recomendações preliminares; b2) título da tabela; b3) conceito da Notação de Peano; b4)
cálculo da média de classe; b5) construção de tabelas: quando as 2 variáveis são de natureza qualitativa
(tabela de associação e tabela de contingencia); quando as 2 variáveis são de naturez quantitativa
(tabela de correlação); tabela mista; b6) construção de gráfico quando a variável é de natureza
qualitativa: quando se tem 1 critério classificador (gráfico de ordenadas e gráfico de barras isoladas);
construção de gráfico quando a variável é de natureza quantativa (diagrama de ordenadas. Histograma
e polígono de frequências).
5. BIOESTATÍSTICA DESCRITIVA INDUTIVA: a) caracterização quantitativa de distribuição quando a
variável é de natureza qualitativa (porcentagem); caracterização quantitativa de distribuição quando a
variável é de natureza quantitativa (média aritmétoca, mediana), amplitude de variação; variância e
desvio padrão; coeficiente de variabilidade de Pearson; e assimetria.
6. RELAÇÃO ENTRE FENOMENOs DE NATUREZA QUALITATIVA: associação (coeficiente de associação de
Yule e Qui quadrado 2); contingencia (coeficiente de contingencia de Pearson e de Tschuprow).
7. INFERENCIA ESTATÍSTICA: conceito; hipóteses; distribuição de probabilidades mais utulizada (Normal
de Gauss); relação entre distribuições Normal e binomial; distribuição “t” de Studente; distribuição de
2; teoria da decisão (decisão estatística, hipóteses estatísticas, testes de hipóteses e significância, erros
do tipo I/α e tipo II/; testes de hipóteses para variável qualitativa (Distribuição N, estimativa de 1
proporção, por ponto e por intervalo); testes de hipóteses para variável quantitativa: teste de 1
média(distribuição N e “t” de Student) e teste da diferença ente 2 médias independentes e dependentes

1. CONCEITOS BÁSICOS

De um modo geral, têm uma ideia distorcida sobre os objetivos da estatística. Acreditam que a
preocupação da estatística seja a de amontoar dados e mais dados a respeito dos mais variados
assuntos, construir gráficos mais ou menos decorativos e, através da manipulação adequada,
alcançar as conclusões desejadas pelo autor.
A ciência não é um acúmulo de conhecimentos imutáveis. Ela avança dia a dia à custa de pesquisas
e investigações que geram novos conhecimentos ou modificam os já existentes. Em muitos ramos
da ciência, a pesquisa repousa fundamentalmente na experimentação que no seu sentido mais
amplo significa a colheita planejada de observações relativas a um ou mais fenômenos. Assim, por
exemplo, para se saber quantos leitões nascem por ano/porca, quantos são as bezerras que
nascem em determinada raça de bovino de leite, a atividade de determinado anti-helmíntico em
ovinos, o nº de ovos de determinado parasito/g de fezes, proporção de suínos reagentes à
230
tuberculose ou à brucelose, a proteção conferida por certa vacina, a frequência de suínos ou aves
de determinadas raças etc.
Este capítulo tem como objetivo descrever conceitos e princípios, organização de dados
experimentais, construção de tabelas e gráficos e inferência estatística para bem orientar os
profissionais que se valem de programas Excel e de estatísticas. Obviamente, pesquisadores,
acadêmicos e demais interessados em estatística habitualmente se valem de programas para
construção de tabelas e gráficos, aqui são descritos aqueles recomendados de acordo na natureza
da variável em estudo.
2. OBJETIVOS DA BIOESTATÍSTICA

1º OBJETIVO: PLANEJAMENTO EXPERIMENTAL


Indispensável para que se possa, posteriormente, interpretar os resultados das observações
evitando subjetividade, falta de quantificação e tendenciosidade. Em se tratando de pesquisa
científica, as hipóteses de trabalho devem ser estabelecidas a priori e em se tratando de
Investigação (estudo dos fatores causais ou predisponentes que interferem na ocorrência de
doenças em populações animais), o (s) objetivo (s) pode ser estabelecido a posteriori.
i. ALGUMAS ADVERTÊNCIAS:
i. Subjetividade: é um viés no qual o pesquisador, inconscientemente, deseja obter um
resultado positivo, cujo juízo favorável já está formado em sua mente antes de proceder
à experimentação. Seu critério para considerar curado ou não curado já está formado “a
priori”.
ii. Falta de quantificação: é quando a “sua experiência” nada mais senão um acúmulo de
informações que lembra e habitualmente o pesquisador lembra-se dos sucessos e
esquece-se dos insucessos.
iii. Tendenciosidade: é quando, inconscientemente, o pesquisador toma grupos de
animais/indivíduos que seguramente fornecerão resultados favoráveis. Exemplo clássico
é aquele pesquisador que acredita na eficácia de determinada droga no tratamento de
certa doença comparativamente a outra tradicionalmente em uso. Toma indivíduos com
sintomatologia leve para colocar no grupo tratado com seu medicamento e os mais
severos no grupo a ser tratado pelo medicamento tradicional.
ii. VARIÁVEL: é o resultado da observação de um fenômeno ou da característica observada.
Por ex. sexo, idade, peso, resultado da prova de tuberculina, nº de ovos de galinha, etc. A
variável pode ser de natureza qualitativa ou quantitativa.
i. FENÔMENO OU VARIÁVEL DE NATUREZA QUALITATIVA: A sua expressão quantitativa
consiste na enumeração ou contagem das observações correspondentes às modalidade
já existentes. Por ex. sexo é uma variável qualitativa cujas modalidades (feminino e
masculino) já existem anteriormente à observação. Ex. de algumas variáveis qualitativas:
Resultado de tuberculinização, brucelose, doença de Aujeszny, peste suína clássica:
expresso como positivo, negativo ou suspeito ou +, ++, +++.
Resultado de certo tratamento: curado e não curado.
231
RESULTADO DE CERTA VACINA: eficaz (protege) ou ineficaz (não protege)
Raça/genética: raças de suínos (Hampshire, Duroc, etc.); raça de bovinos (Jersey,
Holandês, Charolês, etc); matriz de galinhas (pesada, leve).
Aptidão de aves: postura, frangos de corte, reprodutoras (bisavós, avós, matrizes).
ii. NÍVEL DE MEDIDA OU DE MENSURAÇÃO DE UMA VARIÁVEL QUALITATIVA: pode ser
NOMINAL ou ORDINAL.
 NOMINAL: quando a ordem de apresentação dos resultados não tem importância.
Pode-se organizar citando: machos e fêmeas ou fêmeas e machos.
 ORDINAL: há uma hierarquia a ser preservada. Se os relutados são expressos em -
, +, ++, +++ e ++++, não se pode organizar em - , ++ , +++, + e ++++.
Exemplo cotidiano é a hierarquia funcional militar: cabo, soldado, sargento, capitão e
general e não capitão, soldado, cabo e general e sargento. No serviço privado tem-se:
presidente da instituição, diretor, gerente de área, supervisor e assim por diante.
iii. NIVEL DE MENDURAÇÃO DE UMA VARIÁVEL QUANTITATIVA: depende da existência de
instrumento de medida e o nível de mensuração pode ser:
 Discreta ou descontínua: é aquela quando são contadas unidades inteiras como por
ex. nº de ovos produzidos por de galinha/mês, nº de leitões nascidos vivos, nº de
bezerros desmamados, nº de suínos com circovirose, nº de perus com doença de
Newcastle.
 Contínua: concebe frações de unidade como por ex. a temperatura corpórea, peso
(ng), altura (cm), DO (densidade ótica).
Além do nível de mensuração, uma variável quantitativa pode ser medida em:
 Nível proporcional: variáveis que mantém o “0” (Zero) real na escala de medida
quando são alteradas as unidades de medida, o zero permanece. Assim, 0,0 cm (CGS)
= 0,0 m (MNS); 0,0 g (CGS) = 0,0 ng (MNS) = 0,0 ton (MTS)
 Nível intervalar: as diferentes escalas de medida não apresentam um mesmo 0 (zero)
real. Por exemplo, 0o C  0o F  0o R.

2º OBJETIVO: ANÁLISE DOS DADOS

A colheita de dados, seja de estudo experimental ou observacional, fornece um conjunto de


resultados, estes devem ser apurados pela apresentar de forma ordenada, clara e com a
determinação de grandezas, %, média aritmética, desvio padrão etc. que permitam exprimir, de
forma sintética, as características do conjunto pela descrição dos resultados. Isto é conseguido
pela organização em tabelas ou quadros e projeção em gráficos e, para tanto, determinar as
proporções ou %, médias e desvio padrão que mostram como variam os valores da variável etc.
Esses 2 objetivos são etapas para atingir o objetivo real da estatística, a INFERÊNCIA. É necessário
o correto entendimento dos objetivos da Estatística, pois frequentemente restringe-se às técnicas
da parte descritiva nem sempre escolhidas com discernimento e maior agravante é o fato dos

232
resultados não terem sido colhidos em obediência às regras de experimentação planejada. Os 2
objetivos descritos são passos fundamentais para se atingir o 3º objetivo.

3º OBJETIVO: INFERÊNCIA

Para melhor entendimento dos objetivos da estatística considere, por exemplo, que um
investigador tenha estabelecido objetivos como: determinar o volume de leite produzido por
vacas submetidas à determinada alimentação; temperatura de leitões recém-nascidos normais;
eficácia de determinado medicamento no tratamento de certa doença; eficácia da vacinação
antirrábica em bovinos, recorre-se a experimentos realizados em amostras. O pesquisador não
está interessado em saber os resultados nas vacas da amostra nem tampouco com a temperatura
corpórea nos leitões e eficácia do medicamento nos indivíduos. Está interessado em saber o que
ocorre em leitões, em vaca, em nos indivíduos tratados. Em resumo, deseja, a partir de resultados
de observações no particular (amostra), alcançar conclusões válidas para o geral (população).
Objetiva realizar a INFERÊNCIA INDUTIVA ou INDUÇÃO ESTATÍSTICA através do raciocínio
indutivo, ou seja, a forma de se alcançar inferências corretas a partir de premissas verdadeiras.
Raciocínio: é uma operação mental apoiado na lógica que é um conjunto de regras que se utiliza
para raciocinar de forma que, partindo de premissas verdadeiras, sejam alcançadas apenas
inferências corretas. No raciocínio dedutivo, parte-se do geral e conclui-se sobre o particular e
indutivo, parte-se do particular e conclui-se sobre o geral. Somente o dedutivo é infalível
População ou universo de resultados: é o conjunto de resultados que seriam obtidos se todos os
indivíduos da população alvo fossem examinados. Ex. se todos os ovos produzidos por todas as
galinhas de postura comercial de certa empresa ou região fossem contados, tem-se uma
população ou universo de resultados.
População: é o conjunto de indivíduos para a qual se deseja estender os resultados da observação
amostral e é conceitualmente infinita. É comum referir-se à população de resultados como sendo
a população de indivíduos. É uma forma legítima de descrição da população, mas é preciso ter em
mente que, nas mesmas galinhas outros conjuntos de resultados poderiam ser objeto de
observação como peso de ovos, idade do início de postura etc. Cada um desses conjuntos de
resultados constitui uma população de resultados distinta ainda que todos os resultados obtidos
sejam referentes a uma mesma população de galinhas.
Uma população para ter sentido, é preciso que seja perfeitamente definido, ou seja, quando se
tem um indivíduo (animal, pessoa ou resultado) pertence à população quando reunir os atributos
que definem a população. Ex. diante de uma população de equinos da raça Quarto de Milha e
sendo observado um equino Quarto de Milha, este pertence à população de equinos Quarto de
Milha. Ao invés de se restringir a raça, pode-se referir apenas a equinos. Este é um caso de
população que realmente existe.
Pode-se ter populações conceituais: resultados de medidas de pesagem de um corpo em uma
balança de 2 pratos, resultados de lançamento de uma moeda ou dado, altura de perus sorteados

233
d uma população de perus na idade de abate com reposição do indivíduo na população. Nas
populações conceituais, o nº de integrantes é infinito (∞)
Amostra: é a fração da população que apresenta as mesmas características da população, porém
em escala menor e, portanto, é representativa da população. Inferência indutiva é obtida sempre
a partir da observação em amostras que representa o particular. Na estatística é possível
determinar a grandeza de risco associado a uma inferência. A amostra é um recurso utilizado na
experimentação quando é impossível examinar-se toda a população conceitualmente de tamanho
infinito. A INFERÊNCIA INDUTIVA consiste em formar um juízo a respeito da população a partir
dos resultados obtidos na AMOSTRA. Este juízo pode não ser verdadeiro, pois existe
inevitavelmente um risco de erro e a INDUÇÃO ESTATÍSTICA permite que se determine a grandeza
do risco associado a uma inferência e risco este estabelecido a priori. Para que seja possível
realizar o experimento, é necessário que a amostra seja representativa da população e conceito
de AMOSTRAGEM será estudado em capítulo específico.
Toda ciência natural pode ser dividida em 3 partes: observação, organização dos resultados da
observação e inferência baseada nos dados organizados.
Mensuração: quando a variável é quantitativa contínua, têm-se sempre frações de medidas e
muitas vezes, uma variável contínua é registrada como variável discreta por razões impostas pelas
limitações dos instrumentos de medida.
Quando os instrumentos de media apresentam maior sensibilidade, valores fracionários podem
ser obtidos e que podem ser de 2 tipos: 1) a leitura do instrumento permite observar, com certeza,
1 ou mais valores fracionários e 2) um valor obtido por interpolação visual, além da certeza.
Recomenda-se sempre relatar o resultado com todos os algarismos lidos com certeza e apenas 1
obtido por interpolação visual (ex. reporte-se ao caso de uma régua ou bureta). Esta é uma regra
de mensuração. Desprezar um algarismo incerto (aquele obtido por interpolação visual pode
significar sonegação de informação). Todos os algarismos certos acrescido do algarismo incerto
são denominados, em conjunto, algarismos significativos. É sabido, que nas estimativas realizadas
em escalas por interpolação visual, o erro máximo cometido é da ordem de 1/5 de divisão.
Mesmo em casos de variável quantitativa discreta pode haver a necessidade de se utilizar o nº de
algarismos significativos. Assim, quando expressamos o nº de suínos dos estados de São Paulo em
2.500.000 animais, este valor pode estar correto apenas em nível de, por exemplo, centenas de
milhares. É aconselhável indicar o último algarismo significativo com um “traço “sobre este
algarismo  2500.000.

3. DELINEAMENTO EXPERIMENTAL

a. ALGUNS PONTOS PARA SEREM EVITADOS:

iv. Subjetividade: viés no qual o pesquisador, inconscientemente, deseja obter um resultado


positivo, cujo juízo favorável já está formado em sua mente antes de proceder à

234
experimentação. Seu critério para considerar curado ou não curado já está formado “a
priori”.
v. Falta de quantificação: quando a “sua experiência” nada mais senão um acúmulo de
informações que lembra e habitualmente o pesquisador se lembra dos sucessos e esquece-
se dos insucessos.
vi. Tendenciosidade: quando, inconscientemente, o pesquisador toma grupos de
animais/indivíduos que seguramente fornecerão resultados favoráveis. Exemplo clássico é
aquele pesquisador que acredita na eficácia de determinada droga no tratamento de certa
doença comparativamente a outra tradicionalmente em uso. Toma indivíduos com
sintomatologia leve para colocar no grupo tratado com seu medicamento e os mais severos
no grupo a ser tratado pelo medicamento tradicional.
b. VARIÁVEL
E o resultado da observação de um fenômeno ou da característica observada. Por ex. sexo,
idade, peso, resultado da prova de tuberculina, nº de ovos de galinha, pesos de bezerros ao
nasce, altura de cernelha de potros ao desmame, etc.
A variável pode ser de natureza qualitativa ou quantitativa.
i. VARIÁVEL DE NATUREZA QUALITATIVA: a expressão qualitativa consiste na enumeração ou
contagem das observações correspondentes às modalidades já existentes. Por ex. sexo é
uma variável qualitativa cujas modalidades (feminino e masculino) já existem anteriormente
à observação. Ex. de algumas variáveis qualitativas:
Resultado de tuberculinização, de brucelose, doença de Aujeszny, peste suína
clássica: expresso como positivo, negativo ou suspeito ou +, ++, +++.
Resultado de certo tratamento: curado e não curado.
Resultado de certa vacina: eficaz (protege) ou ineficaz (não protege)
Raça/genética: raças de suínos (Hampshire, Duroc, etc.); raça de bovinos (Jersey,
Holandês, Charolês, etc); matriz de galinhas (pesada, leve).
Aptidão de aves: postura, frangos de corte, reprodutoras (bisavós, avós, matrizes).
NATUREZA DE UMA VARIÁVEL DE NATUREZA QUALITATIVA: nominal e ordinal.
NOMINAL: quando a ordem de apresentação dos resultados não tem importância. Pode-
se organizar citando: machos e fêmeas ou fêmeas e machos.
ORDINAL: há uma hierarquia a ser preservada. Se os relutados são expressos em -, +, ++,
+++ e ++++, não se pode organizar em - , ++ , +++, + e ++++.
Exemplo cotidiano é a hierarquia funcional militar: cabo, soldado, sargento, capitão e
general e não capitão, soldado, cabo e general e sargento. No serviço privado tem-se:
presidente da instituição, diretor, gerente de área, supervisor e assim por diante.

b. VARIÁVEL DE NATUREZA QUANTITATIVA: depende da existência de instrumento de


medida e o nível de mensuração pode ser:

235
DISCRETA OU DESCONTÍNUA: é aquela quando são contadas unidades inteiras como por
ex. nº de ovos produzidos por de galinha/mês, nº de leitões nascidos vivos, nº de bezerros
desmamados, nº de suínos com circovirose, nº de perus com doença de Newcastle.
CONTÍNUA: concebe frações de unidade como por ex. a temperatura corpórea, peso (ng),
altura (cm), DO (densidade ótica).
Nível de medida ou de mensuração de uma variável quantitativa:
NÍVEL PROPORCIONAL: variáveis que mantém o “0” (Zero) real na escala de medida
quando são alteradas as unidades de medida, o zero permanece. Assim, 0,0 cm (CGS) =
0,0 m (MNS); 0,0 g (CGS) = 0,0 ng (MNS) = 0,0 ton (MTS)
NÍVEL INTERVALAR: as diferentes escalas de medida não apresentam um mesmo 0 (zero)
real. Por exemplo, 0o C  0o F  0o R.

4. BIOESTATÍSTICA ANALÍTICA

a. REGRAS DE ARREDONDAMENTO
 O algarismo a ser desprezado é  5 ou seu múltiplo ou submúltiplo: desprezar
simplesmente os algarismos não significativos. Ex. Arredondamento para 1ª decimal
de 1,61 e 45,735  1,6 e 45,7.
 O algarismo a ser desprezado é  5 ou seu múltiplo ou submúltiplo: o último algarismo
significativo é acrescido de uma unidade. Ex. arredondamento para 1ª decimal de 21,89
e 7,357 → 21,9 e 7,36.
 O algarismo a ser desprezado é igual a 5 e não é seguido por qualquer nº diferente de
0: observar o algarismo que precede o 5; se for maior que 5, acrescentar uma unidade;
e se menor que 5 assim permanece. Por ex. 39,35 e 6,85 arredondados para a 1ª
decimal → 39,4 e 6,8.

b. CONSTRUÇÃO DE TABELAS OU TABULAÇÃO: ORGANIZAÇÃO DOS DADOS:


b1. RECOMENDAÇÕES PRELIMINARES
Realizada a observação e registros dos resultados obtidos, a sua apresentação como foi registrada
apresentará inconvenientes como extensa lista de observações, dificuldade de compreensão por
parte do leitor a respeito do comportamento do fenômeno em estudo.
Supondo que tenham sido observadas 108 granjas avícolas comerciais no município de Rio das
Pedras/SP em 2021 e registrados quanto à aptidão (seja A = postura vermelha, B = postura branca,
C = matriz e D = frango de corte), encontrando-se os seguintes resultados da observação:
A, B, C, D, C, B, C, A, C, A, C, B, C, B, A, C, A, C, C, A, B, C, A, D, B, B, C, A, C, A, C, A, C, B, C, A, C, C, C,
B, C, A, B, C, A, C, D, A, A, B, C, B, A, C, B, C, A, C, D, C, A., C, C, B, C, A, C, A, B, C, A, A, C, A, C, C, C, D,
C, A, C, B, C, A, C, A, C, D, C, A, C, C, B, A, C, A, C, B. C, A, B, B, C, C, A, C, A.
Suponhamos, ainda, que tenham sido estudadas 108 suínos e tivesse sido avaliado peso de leitões
na transferência para a terminação (kg). Os valores obtidos foram os seguintes:
236
38,3 - 56,9 - 64,1 - 55,9 - 46,6 - 78,9 - 59,3 - 60,1 - 49,6 - 59,8 - 59,7 - 51,0 - 61,2 - 73,9 - 65,0 - 71,1 - 60,7
- 59,0 - 60,8 - 63,0 - 52,9 - 53,2 - 49,2 - 56,9 - 74,2 - 68,6 - 62,9 - 46,4 - 65,9 - 61,8 - 63,8 - 67,4 - 66,6 -
47,6 - 44,6 - 57,1 - 64,5 - 60,1 - 65,7 - 77,3 - 63,2 - 81,4 - 55,4 - 48,4 - 44,9 - 58,6 - 71,2 - 61,1 - 44,2 - 77,7
- 55,0 - 72,2 - 55,4 - 59,4 - 64,6 - 61,7 - 68,4 - 56,3 - 56,2 - 55,5 - 59,1 - 50,3 - 60,8 - 75,2 - 64,8 - 58,7 -
50,2 - 63,1 - 46,3 - 86,8 - 55,7 - 67,6 - 46,4 - 74,6 - 55,2 - 69,5 - 88,9 - 55,6 - 64,8 - 39,7 - 68,0 - 50,2 -
60,4 - 50,3 - 61,5 - 72,7 - 58,7 - 64,6 - 71,3 - 60,4 - 52,9 - 58,7 - 63,1 - 63,8 - 64,7 - 76,7 - 83,5 - 52,2 - 62,6
- 66,9 - 52,1 - 68,6 - 74,0 - 48,8 - 61,5 - 74,1 - 51,7 - 76,0.
A simples observação dos resultados como aqui apresentados, pouco esclarecimento oferece ao
observador em relação aos fenômenos estudados. É necessário organizar os dados objetivando
apresentação de forma inteligível. A apuração dos dados poderá ser manual, mecanizado ou
computadorizado para calcular as frequências de cada classe de observação. Qualquer que seja o
recurso utilizado, as frequências observadas, apresentar sob forma de tabela ou quadro (aqui
usado com o mesmo significado, mas tabela é apresentação de números calculados como a de
logaritmos e quadro o conjunto de números observados).
b2. TÍTULO DA TABELA
Toda tabela inclui obrigatoriamente um título que deve ser claro e conciso que permita conhecer
o conteúdo da tabela sem recorrer ao texto. Em 1º lugar mencionar A QUE ou A QUEM se referem
as frequências ou seja a natureza dos componentes da amostra; em 2º lugar mencionar a natureza
do critério classificador ou seja COMO foram classificados os indivíduos da amostra; em 3º lugar o
LOCAL e DATA da obtenção dos dados. Cada linha e cada coluna devem também, possuir títulos
claros e concisos e especificar claramente as unidades de medida. No caso estudado pode - se
construir a tabela 1.
Tabela 13. Granjas avícolas comerciais, segundo a aptidão. Local e data

Aptidão Freq.
Postura vermelha 49
Postura branca 32
Matriz 21
Frango de corte 06
TOTAL 108

Procedimento idêntico pode ser adotado no caso do peso de leitões (kg) na transferência para a
terminação, mas poder-se-ia ter 108 classes diferentes se todas as medidas fossem diferentes ou
menos classes em caso de repetição. Cada valor da observação corresponde a uma modalidade
da variável e o nº de modalidades ou classes não é pré-determinado como no 1º exemplo, pois pela
própria natureza da variável, não há limite previsível para o nº de classes possíveis. Esse nº depende
do nº de observações e do grau de aproximação da mensuração. A tabela 14 poderia ser a seguinte:

237
Tabela 14. Leitões na idade de transferência para terminação segundo peso (kg). Local e data
(dados hipotéticos)
Peso (kg) Freq. Peso (kg) Freq. Peso (kg) Freq.
38,4 1 56,9 2 65,0 1
39,7 1 57,1 1 65,7 1
44,2 1 58,6 1 65,9 1
44,6 1 58,7 3 66,6 1
44,9 1 59,0 1 66,9 1
46,3 1 59,1 1 67,4 1
46,4 1 59,3 1 67,6 1
46,6 1 59,4 1 68,0 1
47,6 1 59,7 1 68,4 1
48,4 1 59,8 1 68,6 1
48,8 1 60,1 2 69,5 1
49,2 1 60,4 2 71,1 1
49,6 1 60,7 1 71,2 1
50,2 2 60,8 2 71,5 1
50,3 2 61,1 1 72,2 1
51,0 1 61,2 1 72,7 1
51,7 1 61,5 2 73,9 1
52,1 1 61,7 1 74,0 1
52,2 1 61,8 1 74,1 1
52,9 2 62,2 1 74,2 1
53,2 1 62,9 1 74,6 1
55,0 1 63,0 1 75,2 1
55,2 1 63,1 2 76,0 1
55,4 1 63,2 1 76,7 1
55,5 1 63,8 2 77,3 1
55,6 1 64,1 1 77,7 1
55,7 1 64,5 1 78,9 1
55,9 1 64,6 2 81,8 1
56,2 1 64,7 1 86,8 1
56,3 1 64,8 1 89,9 1
TOTAL 108

Observar que foram registrados apenas os valores encontrados na amostra. Outras classes eram
possíveis de terem sido observadas se o tamanho da amostra fosse maior ou se tivesse sido
tomada outra amostra de igual tamanho.
Obter tabelas com maior clareza: qualquer que seja a razão pode-se deparar com o fato desta
tabela 2 se afastar muito da clareza da anterior porque o nº de classes é muito elevado. Contorna-
se essa dificuldade, não apenas para maior clareza da tabela, mas para que o respectivo gráfico se
torne mais expressivo. O recurso é utilizar agrupamentos em classes reunindo as classes primitivas
ou observadas. Obviamente existem dificuldades decorrentes do agrupamento porque os
indivíduos perdem a sua característica primordial e passam a ser representados pelo ponto médio
de cada classe agrupada que é a média aritmética dos limites de cada classe construída.
É preciso que se tenha em mente que o nº de agrupamentos não deverá ser nem excessivamente
elevado nem reduzido em demasia. Não existe uma regra fixa para decidir o nº de classes a
selecionar, mas um número compreendido entre 10 e 30 classes é considerado satisfatório.
238
O nº mais adequado é obtido tentativamente pela observação do andamento das frequências
totais de cada classe para que no seu conjunto apresente uma distribuição breve e clara. Por ex. a
tabela 3 pode ser construída reunindo-se os valores em 15 classes (poderia ser menos de 15 ou
mais de 15).
O intervalo de classe (diferença entre limite superior e inferior) é obtido dividindo-se a amplitude
de variação (diferença entre o maior e o menor valor observados) pelo nº se classes que se deseja.
No caso tem-se (89,9 - 38,4)/15 = 3,366  3,4 e que poderá ser aproximado para 3,5 de acordo com
o interesse ou objetivo do pesquisador.
b3. CONCEITO DE NOTAÇÃO DE PEANO
Antes da apresentação tabular convém comentar alguns pontos relevantes para contornar
dúvidas que possam surgir a respeito de como alocar determinado valor em uma ou outra classe.
Na Notação de Peano, os limites dos valores de cada classe são separados por um traço horizontal
com uma ou duas barras verticais (em ambos os lados ou somente do lado esquerdo ou lado
direito). A barra indica que o valor extremo está incluído e a ausência indica que está excluído.
Exemplos:
1º exemplo de formatação de classes: 27,5 l— 32,5 e 32,5 l— 37,5 significam que o valor 27,5 está
incluído na 1ª classe e o valor 32,5 excluído da 1ª porem, incluído na 2ª classe.
2º exemplo de formação de classes: pode-se ter formação de classe como 27,5 —l 32,5 e 32,5 —l
37,5. Neste caso o valor 32,5 está incluído na 1ª classe e 37,5 na 2ª classe.
Quando a variável quantitativa é contínua, não se pode utilizar notação como 27,5 l—l 32,5 e 32,5
l—l 37,5 porque não há como decidir a posição do valor 32,5 e sabe-se que 1 mesmo valor não
poderá ser alocado em 2 classes sendo possível seu uso apenas em caso de variável discreta.
Da mesma forma não se pode utilizar a notação 27,5 — 32,5 e 32,5 — 37,5 porque o valor 32,5 não
poderia ser alocado em nenhuma das 2 classes e nem 27,5 l—l 32,5 e 32,6 l—l 37,5 porque não se
teria como incluir valores intermediários entre 32,5 e 32,6.
Em se tratando de variável quantitativa discreta pode-se recorrer às seguintes notações: 50 l— 60
e 60 l̶ 70 ou 50 —l 60 e 60 —l 70, porém, o ideal seria 50 l—l 60 e 61 l—l 70.
Recomenda-se, em todos os casos, que todas as classes tenham o mesmo intervalo de classe para
não inviabilizar posteriores cálculos.
b4. CÁLCULO DO PONTO MÉDIO DE CLASSE
Em uma tabela, os limites de classe já são calculados prevendo-se os arredondamentos, pois os
valores das tabelas originais são frequentemente construídos com valores já arredondados e para
determinar os verdadeiros valores dos limites, procede-se ao “caminho de volta”.
Por ex. limites como 27,5 l̶ 32,5 resultaram de arredondamento de valores compreendidos entre
27,45 e 27,55 (limite inferior) e 32,45 e 32,55 (limite superior). A notação de Peano indica que o
limite inferior está incluído sendo os verdadeiros limites da classe 27,45 e 32,45. Se a classe for 27,5
—l 32,5, os verdadeiros limites serão 27,55 e 32,55. É preciso ter em mente que existe certo grau
de convencionalismo.
O cálculo do ponto médio de classe prevê a observação da notação de Peano. Assim, para:

239
a. Para 25,5 l— 32,5 o ponto médio é a média aritmética dos limites reais da classe → (25,45 +
32,45)/2 = 28,95.
b. Para 25,5 —l 32,5 o ponto médio é igual a (25,55 + 32,55) /2 = 29,05.
c. Para 20 l—l 30 o ponto médio é (20 + 30) /2 = 25
d. Para 20 l— 30 ou 20 —l 30 os pontos médios são respectivamente 24,5 e 25,5.
Recomendação: iniciar o raciocínio com o limite fechado com a linha vertical.
Quando a variável é discreta, não existe arredondamento e os limites são os verdadeiros valores
dos limites.

Tabela 15 – Leitões na idade de transferência para terminação segundo peso (ng). Local e data.
Peso (g) Frequência
38,0 l— 41,4 2
41,4 l— 44,8 2
Observar que esta tabela permite uma melhor
44,8 l— 48,2 6
48,2 l— 51,6 9 apreciação do andamento das frequências pelos valores
51,6 l— 55,0 6 da variável comparativamente à tabela 2 (original).
55,0 l— 58,4 13
58,4 l— 61,8 22
61,8 l— 65,2 17
65,2 l— 68,6 8
68,6 l— 72,0 6
72,0 l— 75,4 8
75,4 l— 78,8 4
78,8 l— 82,2 2
82,2 l— 85,6 1
85,6 l— 89,0 2
TOTAL 108

b5. CONSTRUÇÃO DE TABELAS.


Quando uma tabela é construída segundo um único critério classificador, ou seja, apresentação
de apenas uma variável, a tabela denomina-se DISTRIBUIÇÃO DE FREQUÊNCIAS (ex.: tabelas 1, 2
e 3).
Existem experimentos em que cada indivíduo é classificado segundos mais de 2 critérios de
classificação que podem ser ambos qualitativos ou quantitativos ou um ser qualitativo e outro
quantitativo.
 AS 2 VARIÁVEIS SÃO DE NATUREZA QUALITATIVA
TABELA DE ASSOCIAÇÃO: cada variável apresenta 2 modalidades ou classes ou para seja
sexo (macho e fêmea) e para ingestão (sim e não) Ex. Tabela 4.
TABELA DE CONTINGÊNCIA: uma ou ambas as variáveis apresentam mais de 2
modalidades. Ex. Tabelas 5 e 6.

Exemplo de tabelas de associação

240
Tabela 16 – Bezerros recém-nascidos segundo o resultado de ingestão de colostro e natureza
da exploração. (Dados hipotéticos)

Natureza da Ingestão de colostro


exploração Sim Não Total
Leite 58 12 70
Corte 28 10 38
Total 86 22 108

Exemplos de tabelas de contingência

Tabela 17 – Frangos de corte segundo resultados de PCR para E. coli e tipo de criação. Local e
data.

Tipo de criação
Resultado Total
Sobre cama Sobre piso
Positivo 210 200 410
Negativo 20 10 30
Suspeito 30 30 60
Total 260 240 500

Tabela 18 – Galinhas segundo resultado para S. Gallinarum e tipo de criação. Local e data.

Resultado S. Gallinarum
Tipo de Criação TOTAL
Neg. Pos. Susp.
Reprodutoras 180 10 17 207
Galinhas de postura vermelha 150 18 35 203
Galinhas de postura branca 80 2 8 90
TOTAL 410 30 60 500

 AS 2 VARIÁVEIS SÃO DE NATUREZA QUANTITATIVA: TABELA DE CORRELAÇÃO

Exemplos de tabelas de correlação: tabelas 19 e 20


Tabela 19 – Reprodutoras suínas segundo a idade (anos) e no de leitões nascidos vivos/parto.
Local e data (dados hipotéticos)

Idade da reprodutora Nº leitões nascidos vivos


suína (anos) 7 8 9 10 Total
1 20 12 10 8 50
2 18 11 8 13 50
3 15 13 12 10 50
4 14 14 10 12 50
5 8 10 12 20 50
Total 75 60 52 63 250
241
Tabela 20 - Leite de reprodutoras suína segundo concentração de IgA (mg%) e tempo de lactação
(dias) (dados hipotéticos). Local e data.

Tempo Concentração de IgA (mg %)


lactação
(dias) 300 l---- 400 400 l---- 500 500 l---- 600 600 l---- 700 TOTAL
01 l—— 06 50 20 18 12 100
06 l—— 12 40 20 15 25 100
12 l—— 18 35 15 20 30 100
18 l—— 24 20 15 25 40 100
TOTAL 145 70 78 107 400

 TABELA MISTA: uma das variáveis é qualitativa e a outra quantitativa (tabela 21).

Tabela 21. Cães segundo o porte e taxa de ureia. Local e data (dados hipotéticos)
TAXA UREIA
Porte
10,0 —l 15,5 15,5 —l 21,0 21,0 —l 26,5 26,5 —l 32,0 32,0 —l 37,5 Total
Mini 1 3 3 3 2 12
Pequeno 1 7 12 5 3 28
Médio 1 5 25 14 2 47
Grande 0 4 9 4 1 18
Gigante 0 1 1 3 0 5
Total 3 20 50 29 8 110

Pode-se ter circunstâncias em que a classificação é realizada segundos mais de 2 critérios que
podem ser qualitativos ou quantitativos ou de uma e outra natureza. A organização de tabelas
com vários critérios exige muita experiência para que os resultados possam ser apresentados de
forma coerente e clara. Usa - se as notações r , s , t , u .... para a indicação do nº de modalidades de
cada variável. Veja o ex. da tabela 22.

Tabela 22. Equinos segundo peso (kg) ao nascer, raça e sexo (dados hipotéticos). MS, 2015

RAÇA
PESO PSI ÁRABE ANDALUZ SUB-TOTAL
Fem. Masc. Fem. Masc. Fem. Masc. Fem. Masc.
10,0 l---- 15,0 5 2 4 2 4 3 13 7
15,0 l---- 20,0 8 4 5 5 4 6 17 15
20,0 l---- 25,0 10 7 11 8 20 14 41 29
25,0 l---- 30,0 4 10 12 13 7 20 23 43
+ 30,0 3 2 3 2 5 7 11 11

Observação: a presença ou ausência de moldura e linhas de grades dependem das regras


estabelecidas pela Revista na qual se deseja publicar. Nesta apostila as linhas e colunas estão
delineadas para facilitar o acompanhamento.

242
b6. CONSTRUÇÃO DE GRÁFICOS
Importância: gráficos são uteis para uma visualização rápida e sintética de como se comportam
as frequências nas diferentes classes de forma mais fácil do que seria possível pela inspeção de
uma tabela. Os gráficos não se destinam a substituir as tabelas, os dados originais ou para se tirar
alguma conclusão acerca do comportamento do fenômeno porque podem ser influenciadas pela
grandeza das escalas empregadas.
Tão importante como conhecer as diferentes modalidades de gráficos, é importante conhecer os
princípios gerais que norteiam a construção dos mesmos.
 Como nas tabelas, gráficos também devem ser suficientemente compreensíveis sem ter
que recorrer ao texto;
 Para a construção de um gráfico, usar o quadrante superior direito de um sistema de
coordenadas ortogonais. No caso de variável quantitativa são empregados os 2 eixos
sendo a ordenada destinada para indicar as frequências e a abscissa para indicar a variável.
Em se tratando de uma variável qualitativa, apenas o eixo das ordenadas é usado para
indicar as frequências e o outro eixo é substituído por uma simples reta de sustentação.
 O valor zero das frequências deve coincidir sempre com o ponto de cruzamento dos 2
eixos ou do cruzamento entre o eixo das ordenadas e a linha de sustentação.
 Se o truncamento for um recurso necessário para o encurtamento das colunas, este deve
abranger todas as frequências.
 Não há necessidade de se fazer coincidir o zero da variável (1ª barra ou 1ª linha) de
ordenada com o ponto de cruzamento acima mencionado.
 É possível representar, em um mesmo gráfico, frequências de mais de 1 variável.
 Um gráfico também deve possuir um título que é construído como indicado no caso de
títulos para tabelas.
 Um gráfico não substitui uma tabela, mas quando construído, deve ser antecedido pela
correspondente tabela.
 Para se evitar distorções visuais, recomenda-se que o gráfico tenha uma estética que,
visualmente, possa ser enquadrado em um quadrado.
 É adequado que o título esteja colocado na parte superior do gráfico como na sua
correspondente tabela.
 Evitar artifícios como colorir, achuriar, preenchimento com pontos, linhas etc. que criam
ilusões de ótica (utilizado em marketing).

1. CONSTRUÇÃO DE GRÁFICOS QUANDO A VARIÁVEL É DE NATUREZA QUALITATIVA

i. Quando se tem apenas um critério classificador:


a. DIAGRAMA DE ORDENADAS: As frequências são representadas por linhas ou ordenadas
cujas alturas devem ser proporcionais às frequências. Em se tratando de variável
qualitativa medida em nível nominal, é adequado dispor as linhas em ordem crescente ou

243
decrescente dos valores das frequência s. Não é necessário que a 1ª linha coincida com o
ponto de cruzamento do eixo e reta e, aliás, recomenda-se que não coincida. O critério
decrescente é sempre mais aconselhado, pois o lado direito do gráfico poderá ser
destinado à escala ou legenda. Já no caso de nível ordinal, há a necessidade de se
obedecer a ordem crescente ou decrescente da variável, ou seja, a hierarquia da variável.
b. DIAGRAMA DE BARRAS ISOLADAS: É o gráfico construído substituindo - se as linhas ou
ordenadas do caso anterior por retângulos cujas alturas devem ser proporcionais às
frequências que Representam as distâncias entre barras devem ser iguais e a 1ª barra pode
ser construída em um ponto qualquer da reta de sustentação, desde que não distorça a
apresentação gráfica.
Assim, para ilustração considere as tabelas abaixo e os respectivos gráficos possíveis de serem
construídos a partir dela. Gráfico 1 e 3 são de ordenadas e gráfico 2 e 4 são de barras isoladas
Obs. Neste texto, os gráficos estão desenhados com o objetivo de auxiliar o leitor quando da
escolha de um estilo, através de programas de estatística ou pelo Excel

Tabela 22 - Frequência de leitões da Gráfico 1 - Frequência de leitões da Gráfico 2 - Frequência de leitões da creche da
creche da Granja A segundo o sexo. creche da Granja A segundo o sexo. Granja A segundo o sexo. SP, 2005
SP, 2005 SP, 2005

Freq. 300
Sexo Freq.
250 - 250
Feminino 150
200
frequencia

200 -
Masculino 250 150
1 50 -
Total 400 100

100 - 50

50 - 0
0 feminino masculino
Masc, Fem. Sexo
Sexo

Tabela 23 - Suínos segundo o Gráfico 3 - Suínos segundo o Gráfico 4 - Suínos segundo o


desempenho reprodutivo. SC, desempenho reprodutivo. SC, 2009 desempenho reprodutivo. SC, 2009
2009 O = ótimo
Freq. O = ótimo
R = regular Freq. R = regular
B = bom B = bom
Desempenho 120 -
Freq. P = péssimo P = péssimo
produtivo 120 - Freq.
Ótimo 120 90 -

Regular 100
90 -
Bom 80 60 -
Péssimo 100
60 -
Total 400
30 -
30-
0
0
O R B P
Desempenho O R B P
Desempenho
244
ii. Quando se tem mais de um critério classificador: é sempre recomendável o gráfico de
barras isoladas.
Tabela 24 - Bovinos com febre aftosa segundo o tipo de vírus isolado e natureza da
exploração animal. Local e data.
EXPLORAÇÃO
VÍRUS
CORTE LEITE TOTAL
“A“ 20 30 50
“C“ 15 15 30
“O” 120 80 200
TOTAL 155 125 280

Gráfico 5 – Frequência de bovinos com Febre Aftosa segundo o tipo de vírus e natureza
da exploração econômica. Brasil, 1994-1998.

Freq.

120 -

100 -

80 -

60 -

40 -

20 -

O A C O A C Tipo de Vírus
CORTE LEITE Exploração

Gráfico 6 – Frequência de bovinos com Febre Aftosa segundo a natureza da exploração


econômica e o tipo de vírus e. Brasil, 1994-1998.

120 -

100 -

80 -

60 -

40 -

20 -
CORTE

LEITE
CORTE

CORTE
LEITE

LEITE

Exploração

Tipo de Vírus
o A C
245
A distinção entre os 2 gráficos é o grupamento de classes segundo o critério mais importante. No
caso da tabela V o critério considerado mais importante foi o sexo e na tabela VI foi a raça. Mesmo
que a impressão seja um gráfico de barras justapostas, são gráficos de barras isoladas. A
“justaposição” é apenas para facilitar a construção pois, não se deve recorrer a espaçamentos de
grandezas diferentes.
2. CONSTRUÇÃO DE GRÁFICOS QUANDO A VARIÁVEL É DE NATUREZA QUANTITATIVA
Existem vários tipos de gráficos, porém esta apresentação irá se restringir apenas àqueles
considerados mais usuais em Epidemiologia.
1) Diagrama de ordenadas: para distribuição de frequência s e a variável é de natureza
discreta. É o exemplo do gráfico 5 para os dados da Tabela 14
2) Histograma ou diagrama de barras justapostas: para distribuição de frequência s e para
variável discreta e contínua (previsto agrupamento em classe).
3) Polígono de frequência: para ilustrar 2 distribuições ou mais em um mesmo gráfico

EXEMPLOS DE DIAGRAMA DE ORDENADAS (figura 7) E DE DIAGRAMA DE BARRAS


JUSTAPOSTAS (figura 8)
Tabela 25 - Bovinos segundo o nº de embriões viáveis. PR, 1995 (dados hipotéticos).

Nº embriões viáveis Freq.


8 25
10 10
12 15
14 12
TOTAL 62

Gráfico 7 - Bovinos segundo o nº de Gráfico 8 - Bovinos segundo o nº de


embriões viáveis. PR, 2005 (dados embriões viáveis. PR, 2005 (dados
hipotéticos) hipotéticos)

25 -
25 -
20 --
Freq.

20 –
15 -
Freq.

15 -
10 -

5- 10 -

5-
0
8 10 12 14 nº embriões
0

8 10 12 14 nº embriões

246
Tabela 26. Galinhas poedeiras segundo o nº de ovos produzidos/galinha/ano. Local e data.

Nº de ovos Frequência
101 l-----l 120 50
121 l-----l 140 60
141 l-----l 160 80
161 l-----l 180 100
181 l-----l 200 110
201 l-----l 220 150
221 l-----l 240 200
241 l-----l 260 120
261 l-----l 280 90
281 l-----l 300 40
TOTAL 1.000

Gráfico 9 - Galinhas de postura segundo o nº de ovos produzidos/galinha/ano. Bastos, 2010.

250

200
Frequência

150

100

50

0
Nº de ovos
101 |---|120

121 |---| 140

141 |---|160

221 |---| 240

241 |---| 260


161 |---|180

181 |---|200

201 |---| 220

261 |---| 280

281 |---| 300

POLÍGONO DE FREQUÊNCIA (gráficos 10 e 11):


Gráfico muito utilizado e recomendado quando se deseja ilustrar mais de uma distribuição de
frequências em um mesmo gráfico. Proceder como se todos os valores contidos em uma classe
247
fossem iguais ao seu valor médio (vértice é representado no gráfico). Tem-se assim, uma série
de pontos definidos por pares de coordenadas, ou seja, uma abscissa (X) representada pelo valor
médio de classe e uma ordenada (Y) representada pela frequência dessa classe. Os pontos
projetados são unidos por segmento de reta seguindo a sequência das classes. Para formar um
polígono com o eixo das abscissas, representamos também 2 classes, sendo 1 antecedendo a 1ª
classe e outra sucedendo a última classe e que correspondem a classes cujas frequência são
iguais a zero. Objetiva obter uma curva fechada

Seja a Tabela 27 de uma variável qualitativa representada pelo Gráfico 8. Na ordenada representa-
se a frequência relativa ou a % ao invés da frequência absoluta e a % é a alternativa mais utilizada.

Tabela 27. Leitões segundo a raça e peso corpóreo na entrada da terminação. Local e data.
RAÇA
Peso na entrada
da terminação Duroc Hampshire Total
(kg) Freq. Freq., Freq. Freq. Freq. Freq.
Absoluta Relativa (%) Absoluta Relativa (%) Absoluta Relativa (%)
50,0 l—— 60,0 8 5,7 12 15,8 20 9,2
60,0 l—— 70,0 30 21,4 26 25,9 56 25,9
70,0 l—— 80,0 60 42,9 34 44,7 94 43,5
80,0 l—— 90,0 34 24,3 2 2,6 36 16,7
90,0 l—— 100,0 8 5,7 2 2,6 10 4,6
TOTAL 140 100,0 76 100,0 216 100,0

Gráfico 10 - Leitões segundo a raça e peso corpóreo na idade de abate. Local e data.

70 Duroc

60 Hampshire

50

40
Frequência

30

20

10

0
40,0 I--- 50,0

50,0 I— 60,0

60,0 I— 70,0

70,0 I— 80,0

80,0 I— 90,0

90,0 I— 100,0

110,0 I— 120,0

Peso (kg)

Ou (observar a abscissa)

248
Gráfico 11 - Leitões segundo a raça e peso corpóreo na idade de abate. MS, 2009
Frequência

45,0 55,0 65,0 70,0 75,0 80,0 85,0 90,0 95,0 105,0 peso (ng)

Outros tipos de gráficos tornam-se de fácil compreensão e de construção desde que o


investigador tenha se familiarizado com os mais usuais. Devem-se evitar formas de apresentação
recorrendo a gráficos não geométricos evocativos de fatos apresentados como, por exemplo,
Gráficos de animais, sacos empilhados, árvores, tijolos, etc. porque as áreas desses gráficos
geralmente não são proporcionais às frequências ou grandezas que se deseja representar e, além
disso, a impressão pode ser enganadora. Esses gráficos não apresentam caráter científico sendo
admitido em propaganda ou em relatos de caráter popular.

5. BIOESTATÍSTICA DESCRITIVA INDUTIVA – INDUÇÃO

E a parte da estatística que trata das condições sob as quais as inferências são válidas. Indução é
definida como raciocínio em que, a partir dos resultados de uma amostra representativa da
população, conclui-se a respeito da população da qual a amostra foi obtida. Requisito para a
indução é a caracterização quantitativa das frequências amostrais obtidas que é diferente para
variável qualitativa e quantitativa. Assim,
a. CARACTERIZAÇÃO QUANTITATIVA DE DISTRIBUIÇÕES DE FREQUÊNCIAS AMOSTRAIS
PARA FENÔMENOS DE NATUREZA QUALITATIVA

Define os aspectos característicos e encontra meios para conferir uma expressão quantitativa ou
numérica. Permite não apenas uma descrição sucinta do conjunto de dados como também
estabelecem comparações entre 2 ou mais distribuições.
Trata-se de uma descrição simples e se recorre, usualmente, ao cálculo de frequência relativa
multiplicada por 100 ou por 1.000 ou por 10.000 e mais usualmente se multiplica por 100 (%).
249
Tabela 28. Bovinos de leite segundo resultado da prova de tuberculina simples. Local e data.
REAÇÃO Freq. %
Positiva 86 79,6
Negativa 22 20,4
TOTAL 108 100,0

Em se tratando de apenas 2 classes (positiva e negativa) pode-se mencionar apenas uma das
percentagens (referente ao fenômeno que interessa ao pesquisador, investigador) e a frequência
total ou mencionar simplesmente que a proporção de reação positiva foi igual a 0,796 em 108
animais ou melhor, houve 79,6% de reações positivas em 108 indivíduos ou que de negativos foi
igual a 20,4% os seja 22 negativos em 108 examinados.

Diante de casos em que se têm mais de 2 modalidades e portanto mais de 2 frequências, a tabela
com as percentagens permite uma melhor visualização e comparação dos resultados das 2
distribuições.

Tabela 29. Carcaças de suínos segundo a raça e classificação em abatedouro. Local e data.

Classificação LANDRACE HAMPSHIRE


(Categoria) Freq. % Freq. %
A 14 6,8 41 15,8
B 35 16,9 100 38,5
C 69 33,3 60 23,1
D 89 43,0 59 22,6
TOTAL 207 100,0 260 100,0

b. CARACTERIZAÇÃO QUANTITATIVA DE DISTRIBUIÇÕES DE FREQUÊNCIAS AMOSTRAIS PARA


FENÔMENOS DE NATUREZA QUANTITATIVA

A caracterização quantitativa é realizada pelos cálculos das medidas de posição ou de tendência


central (média aritmética, mediana e moda) e de variabilidade (variância, desvio padrão e
coeficiente de variabilidade de Pearson).

i) MEDIDAS DE POSIÇÃO OU DE TENDÊNCIA CENTRAL

Seja o seguinte exemplo na tabela 30.

250
Tabela 30 - Peso (kg) de carcaças de perus segundo o medicamento testado para
tratamento da doença X. Local e data (dados hipotéticos).
Peso de carcaças de TRATAMENTO
TRATAMENTO A
perus (ng) B
10,0 l— 11,0 - 5
11,0 l— 12,0 - 15
12,0 l— 13,0 5 25
13,0 l— 14,0 15 15
14,0 l— 15,0 25 5
15,0 l— 16,0 15 -
16,0 l— 17,0 5 -
TOTAL 65 65

Pela simples visualização da tabela observa-se que as 2 distribuições apresentam o mesmo


andamento referindo-se porém, a diferentes valores da variável. Se projetarmos em 1 gráfico os
valores das 2 variáveis, tem-se uma nítida visualização das diferenças entre as 2 distribuições. São
2 polígonos iguais em posições diferentes ao longo do eixo da abscissa (Gráfico 12).
Gráfico 12 - Peso (kg) de carcaças de perus segundo o medicamento testado para tratamento
da doença X (dados hipotéticos).

30

25

20
Frequência

A
15
B
10

0
10.45

11.45

12.45

13.45

14.45

15.45

16.45

17.45
09.45

Peso de carcaça (ng)

Portanto, uma das características de distribuições de frequências é a posição dessas frequências


em relação ao eixo das abscissas, ou seja, em relação aos valores da variável. A posição do conjunto
de valores da distribuição pode ser expressa, de forma sumária, pela posição do que se chama o
seu centro que é determinada calculando-se o valor centra ou média (média aritmética, mediana e
moda).
a1. MÉDIA ARITMÉTICA (x ) é o valor que a variável teria se todas as frequências fossem iguais.
A noção intuitiva que se tem da média é aquela obtida pelo cociente da divisão da soma de todos
os valores da variável pelo nº de observações.
251
Seja x1 a 1ª observação; x2 a 2ª observação; x3 a 3ª observação; e assim por diante. Se tivermos N
observações, os valores serão: x1 , x2 , x3 , x4 , .................xN-1 , xN
O subscrito de x varia de 1 até N e se for representado por “ i ” qualquer dos nº inteiros e positivos
desde 1 até N, o símbolo xi representará “i iésimo” valor da variável, conforme o valor atribuído a
“i”. O símbolo geralmente atribuído à média aritmética é x com um traço sobreposto (x ) e se lê
“x traço”
 xj . fj
ex. x = ---------------
N
Onde xj = ponto médio de cada classe e fj = frequência de cada classe
Em se tratando de distribuição de frequências em intervalos de classe, atentar para os pontos
médios de cada classe (xi)
9,5 + 14,5
10,0 l---- 15,0  xj = -------------------- = 12,0
2

10,5 + 15,5
10,0 ----l 15,0  xj = ---------------------- = 13,0
2

10 + 15
10 l----l 15  xj = -------------------- = 12,5
2

a2. MEDIANA (Mi): é o valor central da variável quando esta é disposta em ordem crescente
ou decrescente de magnitude de forma que valores maiores e menores que ela ocorre
com a mesma frequência. Calcula-se pela média dos postos ocupados pelos valores da
variável.
1º caso (nº par de observações): 4 5 6 7 8 8  14 dias  Mi = 7
7+8
2º caso (nº ímpar de observações): 4 5 6 7 8 9 9  14 dias  Mi = = 7,5
2

3º ex. Tabela 31 – caso de uma distribuição de frequências sem classes.

Xj ( mm) Freq. fac


10 7 7
12 10 17
14 40 57 *
16 30 87
18 20 107
20 3 110
Total 110

* 110/2 = 55º indivíduo  Mi = 14 mm e fac = frequência acumulada.

252
4º caso - Tabela 32 - caso de uma distribuição de frequências em classes.
Obs. calcular os pontos médios de cada classe (os intervalos de classe devem ser iguais);
multiplicar pela respectiva frequência e finalmente calcular a frequência acumulada.

Tabela 32. Ilustração de distribuição de frequências em classes.

x (g) xj fj Xj . fj fac
10,0 l—— 12,0 10,95 2 21,90 2
12,0 l—— 14,0 12,95 4 51,80 6
14,0 l—— 16,0 14,95 10 149,50 16
16,0 l—— 18,0 16,95 6 101,70 22
18,0 l—— 20,0 18,95 4 75,80 26
TOTAL 26 400,70

 xj . fj 400,70
x = ------------------ = -------------- = 15,4 g
N 26

Mi = 13º elemento contido na classe 14,0 ---- 16,0 porque a metade da frequência total (26:2
= 13)
Para determinar o verdadeiro valor da Mi aplica-se a seguinte fórmula:

n
( 2 - f1) . c
Mi = V + -----------------------
f2
Onde
V = limite inferior real da classe que contém a mediana = 13,95
n/2 = 26/2 = 13
f1 = frequência da classe onde se encontra a Mi = 10
f2 = frequência acumulada até a classe anterior à classe que contém a Mi = 6
c = amplitude de classe = 2,0
Assim,

(13 – 10). 2
Mi = 13,95 + -------------------- = 13,95 + 1 = 14,95 g
6

a3. MODA: é o valor mais frequente da variável (cm). Ex. 2; 4; 5; 5; 6; 6; 6; 7; 8; 8; 9; 10  Mo


= 6 cm

253
ii) MEDIDAS DE VARIABILIDADE

Considere as 2 distribuições abaixo que apresentam iguais valores de média aritmética e mediana;
Tabela 33. Pesos de leitões ao serem enviados para terminação e raças (A e B)
Obs. ilustrado no Gráfico 13

Peso (kg) A B
60 2 -
61 5 -
62 6 3
63 7 12
64 20 30
65 7 12
66 6 3
67 5 -
68 2 -
TOTAL 60 60

(60 . 2) + (61 . 5) + (62 . 6) + (63 . 7) + (64 . 20) + (65 . 7) + (66 . 6) + (67 . 5) + (68 . 2)
xA = --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- = 64,0 kg
60

MiA = 64,0 kg

(62 . 3) + (63 . 12) + (64 , 30) + (65 . 12) + (66 . 3)


xB = ------------------------------------------------------------------------- = 64,0 ng
60
MiB = 64 kg

Calculando-se as médias aritméticas e medianas, encontra-se para ambas as distribuições (A e B)


o valor 64 ng, porém observa-se uma diferença de comportamento das distribuições em torno da
média aritmética Igráfico 13).
No caso da raça B, a variação dos resultados é muito menor do que o verificado com a raça A.
sendo encontrados, neste, valores muito mais afastados do valor central

254
Gráfico 13. Ilustração da Mediana (Mi)

Freq.

30 -

25 - x = Mi = 64
20 -

15 -

10 -

5-

0
59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 peso (ng)

MODALIDADES DE MEDIDAS DE VARIABILIDADE: os mais usuais são a amplitude, desvio padrão,


variância e coeficiente de variabilidade de Pearson.
 Amplitude de variação: á a mais simples das expressões quantitativas da variabilidade. É a
diferença entre o valor máximo e o mínimo das observações.
Raça A = 68 – 60 = 8 kg e Raça B = 67 – 62 = 5 kg
 Variância e Desvio Padrão: é a média aritmética das somas dos quadrados dos desvios em
relação à média aritmética. Significa quanto, em média, cada valor se afasta da média.

 ( xi - x ) 2  ( xi - x ) 2 . fj
i=1 i =1
Variância = s = ------------------------ = ----------------------------- e ∴ Desvio padrão = s √s 2
2

N N

Tabela 34. Sequência de cálculos de desvio padrão para Raça A

Peso (kg) Raça A (xj - x ) (xj - x )2 (xj - x )2 . fj


60 2 -4 16 32
61 5 -3 9 45
62 6 -2 4 24
63 7 -1 1 7
64 20 0 0 0
65 7 1 1 7
66 6 2 4 24
67 5 3 9 45
68 2 4 16 32
TOTAL 60 0 216
216
x = 64 kg e s2 = = 3,6 kg onde s = √s 2 = 1,89 kg
60

255
 Coeficiente de variabilidade de Pearson (CV): é percentagem da média que o desvio
padrão representa. Sendo uma relação entre 2 variáveis de mesma grandeza, é um nº puro.

No exemplo acima temos x = 64 e s = 1,89


s
CV = -------- x 100 = 1,89 / 64.100 = 2,95%
x

Tabela 35. Sequência de cálculos de desvio padrão para Raça B


Peso (ng) Raça B (xj - x ) (xj - x )2 (xj - x )2 . fj
60 - - - -
61 - - - -
62 3 -2 4 12
63 12 -1 1 12
64 30 0 0 0
65 12 1 1 12
66 3 2 4 12
67 - - - -
68 - - - -
TOTAL 60 0 48

48
x = 64 kg e s2 = ---------- = 0,8 kg onde s = 0,89 kg
60

No exemplo acima temos x = 64 e s = 1,89


s
CV = -------- x 100 = 0,89/64.100 = 1,39%
x

Gráfico 14 - Pesos de leitões ao serem enviados para terminação e raças (A e B)

256
35

30

25

20
Raça A
Frequência

15 Raça B

10

0
591 602 613 624 635 64 6 65 7 66 8 67 9 68 1069 11

x a mesma média aritmética (x = 64 ng) e mesma


Conclusão: as distribuições A e B apresentam
Mediana (Mi = 64), porém diferem no que se refere na forma como cada valor se dispõe em torno
da média e daí o fato de se calcular o Coeficiente de Variabilidade de Pearson (CV). Quando as
médias de 2 distribuições são iguais e os desvios padrão são diferentes, basta que se comparem
esses desvios. Quando as médias aritméticas são deferentes e os desvios padrão são iguais, é
necessário comparar os CV, pois não basta comparar médias ou desvios padrão. Exemplos de 2
distribuições com médias aritmética diferentes e desvios padrão iguais:

Tabela 36. Peso (kg) de perus do estabelecimento A. Dados hipotéticos.

Peso (kg) fj xj (xj – ͞x)2 (xj – ͞x) 2fj


14,0 ⊢ 15,0 0 14,45 0 0
15,0 ⊢ 16,0 0 15,45 0 0
24
16,0 ⊢ 17,0 2 16,45 4 8 x = 18,45 kg e s2 = = 0,80
30
17,0 ⊢ 18,0 4 17,45 1 4 s = 0,89
18,0 ⊢ 19,0 18 18,45 0 0
19,0 ⊢ 20,0 4 19,45 1 4
20,0 ⊢ 21,0 2 20,45 4 8
Total 30 24

Tabela 37. Peso (ng) de perus do estabelecimento B. Dados hipotéticos.

Peso (kg) fj xj (xj – ͞x)2 (xj – ͞x) 2fj


14,0 ⊢ 15,0 2 14,45 4 8
24
15,0 ⊢ 16,0 4 15,45 1 4 x = 16,45 ng e s2 = = 0,80
30
16,0 ⊢ 17,0 18 16,45 0 0
s = 0,89
257
17,0 ⊢ 18,0 4 17,45 1 4
18,0 ⊢ 19,0 2 18,45 4 8
19,0 ⊢ 20,0 0 19,45 0 0
20,0 ⊢ 21,0 0 20,45 0 0
Total 30 24

Nestes 2 exemplos não se pode calcular a variabilidade em termos absolutos (s ou s2), mas sim em
relação à magnitude da variável e um dos recursos é o Coeficiente de variabilidade de Pearson
(CV). Assim,

0,89
CVA = 18,45 X 100 = 4,82%

0,89
CVB = 16,45 X 100 = 5,41%

 MEDIDAS DE ASSIMETRIA: para a caracterização de muitas distribuições, as medidas de


posição e de variabilidade nem sempre são suficientes para a descrição de todos os
aspectos. Para melhor entendimento, considerem 3 conjuntos de valores que, para facilitar
a compreensão, estão representados por pontos ao longo de um segmento de reta.

A l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------
2 5 6 8 10 11 14

B l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------
0 6 8 9 10 11 12

C l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------l---------
4 5 6 7 8 10 16
Os valores das respectivas médias aritméticas (x) e desvios padrão (s) são:
A x = 8; s = 4,04 B x = 8; s = 4,04 C x = 8; s = 4,04
Verifica-se que as 3 distribuições não diferem quanto à posição e variabilidade, mas a simples
observação permite verificar que no exemplo A os valores estão simetricamente distribuídos ao
redor da média aritmética e que para cada desvio com sinal positivo (para direita) corresponde
um outro desvio de igual magnitude e de com sinal negativo. Tal fato não é observado na
distribuição B e nem na C e inclusive, nem há igual número de observações acima e abaixo da
média mostrando diversidade na dispersão simétrica ou assimétrica em torno da média aritmética
havendo, assim, a necessidade de outra característica a ser considerada e avaliada.
Medida da assimetria: existem várias formas de caracterizar a assimetria; uma delas é a simples
contagem dos números de desvios maiores e dos desvios menores que a média sendo a assimetria
tanto mais intensa quanto maior for a diferença observada entre os 2 números obtidos; e é uma
forma que simplesmente aponta de forma grosseira a existência de uma assimetria. Uma segunda
forma de caracterizar a assimetria é relacionando a média aritmética e a mediana. As distribuições
reunidas na tabela 22 são simétricas e observa-se que nesses casos a média aritmética ( ͞x) e a
258
mediana (Mi) são iguais e, portanto, a fórmula abaixo é bastante utilizada para fins de calcular a
intensidade da assimetria e “A” é denominado Coeficiente de Assimetria de Pearson.
3 (x – Mi)
A = ---------------------
s
Assim, os valores de “A” para as distribuições em estudo são:
3 (8 – 8) 3 (8 – 9) 3 (8 – 7)
AA = ---------------- = 0 AB = --------------- = - 0,74 AC = ----------------- = + 0,74
4,04 4,04 4,04

O valor de “A” é um número abstrato e, portanto, não possui unidade para sua expressão
facilitando a comparação de assimetrias de conjunto de valores de magnitudes diferentes ou
expressas em unidades diferentes. Quando da ausência de assimetria, o valor de “A” é igual a
zero; quando a assimetria é para a direita, seu valor é positivo; e quando tende para a esquerda, o
seu valor é negativo. Não existe um valor máximo previsível para o coeficiente, mas usualmente é
inferior a 1 (um).
Uma terceira forma de expressar a assimetria é pela somatória dos desvios elevados à 3ª potência:

 (xi - x)3
A = -------------------------
N.s3
Interpretação: não há um valor (absoluto) máximo previsível, mas os superiores a 0,5 são
indicativos de elevada assimetria. Usualmente os fenômenos de natureza biológica apresentam
distribuição simétrica sendo conhecidas assimetrias na espécie humana como pesos de adultos e
número de filhos/casais e na Medicina Veterinária é bastante conhecida a intensidade de infecção
por helmintos.

a. RELAÇÃO ENTRE FENÔMENOS DE NATUREZA QUALITATIVA

As relações entre 2 fenômenos de natureza qualitativa são estudadas pelo coeficiente de


associação e coeficiente de contingencia
a. ASSOCIAÇÃO

Suponha um estudo de ocorrência de presença de anticorpos contra vírus da doença de Newcastle


em galinhas de fundo de quintal.
Tabela 38. Frequência de galinhas de fundo de quintal segundo a condição de infecção pelo vírus
da Doença de Newcastle velogênica (dados hipotéticos).

Condição Freq. %
Infectadas 120 60,0
Não infectadas 80 40,0
TOTAL 200 100,0
259
Suponha, ainda, que as mesmas 200 galinhas tivessem sido estudadas segundo outro aspecto, a
natureza do manejo sanitário (confinadas e livres) cujos resultados estão na tabela 28.

Tabela 39. Galinhas de fundo de quintal segundo a natureza do manejo sanitário (dados
hipotéticos)

Manejo sanitário Freq. %


Criação confinada 60 30,0
Criação livre 140 70,0
TOTAL 200 100,0

As 2 informações apresentadas separadamente (tabelas 38 e 39) podem ter interesse maior ou


menor e o mais importante ao pesquisador poderá ser o estudo da relação entre a natureza do
manejo sanitário e a ocorrência de galinhas com anticorpos contra doença de Newcastle. Podem-
se organizar os dados de forma que cada galinha é classificado segundo 2 critérios/variável. Neste
caso cada variável possui apenas 2 modalidades de classificação e pode-se construir a tabela 40.

Tabela 40. Galinhas de fundo de quintal segundo a condição de infecção por S. Pullorum e
natureza do manejo sanitário (dados hipotéticos)

Manejo sanitário
Condição
Criação livre Criação confinada Total
Infectadas 78 42 120
Não infectadas 62 18 80
Total 140 60 200

a1. COEFICIENTE DE ASSOCIAÇÃO DE YULE (Q): a forma mais simples de se medir a intensidade da
relação ente 2 variáveis de natureza qualitativa em uma tabela de associação é através o cálculo
do “Q”. Considere a tabela 30 genérica de associação abaixo:
Tabela 41. Tabela de associação genérica.

Resultado
Condição Total
Positivo Negativo
Doente a b a+b
Não doente c d c+d
Total a+c b+d a+b+c+d=N

a = frequência de indivíduos doentes e com resultado positivo (VERDADEIROS POSITIVOS)


b = frequência de indivíduos doentes e com resultado negativo (FALSOS NEGATIVOS)
c = frequência de indivíduos não doentes e com resultado positivo (FALSOS POSITIVOS)
d = frequência de indivíduos não doentes e com resultado negativo (VERDADEIROS
NEGATIVOS)
N = a + b + c + d = total de indivíduos.

260
A intensidade da relação é obtida pelo cálculo do Coeficiente de Associação de Yule que é um
número puro e cujos valores máximos possíveis de serem obtidos são (– 1) e (+ 1):

(a . d) - (b . c)
Q = -------------------------
(a. d) + (b . c)

Q = - 1 Indica uma associação negativa entre os atributos da casela “a”, ou seja, quando há
aumento da frequência de doentes, diminui a frequência de resultados positivos.

Q = + 1 Indica uma associação positiva, ou seja, quando há aumento da frequência de doentes,


aumenta a frequência de resultados positivos.
Convém lembrar que o resultado de Q refere-se à casela “a” e as conclusões para as demais
casela são complementares de sorte que “a” e “d” variam no mesmo sentido como também
“b” e “c” com a ressalva de que, com o aumento da relação em “a” diminui a da casela “b”.
A associação é um instrumento estatístico valioso para avaliar a importância de fatores
predisponentes ou causais de doenças.
Na febre aftosa sabe-se da importância do conhecimento da origem dos animais adquiridos;
importância da incorporação ou não ao plantel de animais recém adquiridos; retorno à
propriedade de origem animais enviados a leilões etc.
Na Influenza aviária tem-se: a importância da entrada de aves aquáticas ou aves de vida livre
em granjas avícolas localizadas próximas a áreas de invernada de aves migratórias; entrada de
visitantes estrangeiros provenientes de países endêmicos, etc.
Na doença de Newcastle: importância de se criar aves em galpões telados; impedir entrada de
aves de vida livre em aviários; adquirir pintinhos de origem conhecida para reposição de plantel
etc.
Na salmoneloses paratíficas de aves: roedores e aves de vida livre que têm acesso aos aviários;
aquisição de matrizes de granjas endêmicas; entrada de equipamentos, calçados e veículos não
desinfetados etc.
Na peste suína clássica e doença de Aujeszky: proximidade de criações informais; sorologia com
periodicidade irregular que retarda identificação de animais fontes de infecção principalmente
de portadores; fiscalização de fronteiras; etc.
Na anemia infecciosa equina: sorologia de animais somente para trânsito; uso de agulhas
hipodérmicas em vários animais; presença de tabanídeos, etc.
Aplicação do Q é recomendada quando se deseja comparar 2 ou mais tabelas de associação.
Por ex. determinadas granjas de suínos adquirem habitualmente Sulfato Ferroso (FeSO4) de
diferentes procedências (X, Y eZ) e periodicamente enfrenta problemas de anemia. O
investigador pode estar interessado em avaliar a ocorrência de anemia e a medicação com as
diferentes procedências de FeSO4 para identificar aquela (s) relacionada com anemia. Pode-se

261
construir inúmeras tabelas relativas a cada uma das rações utilizadas e relacionar com a
condição de doentes e não doentes.
Por exemplo: ração Z contém apenas produtos de origem vegetal; ração Y contém farinha de
carne e ossos de origem bovina; e ração Z contém farinha de carne e de ossos de ovinos.

Ingestão
Condição Sim Não Total
Anêmico 25 45 70 Q = - 0,80
Para FeSO4
Não anêmico 25 5 30
X
TOTAL 50 50 100

Ingestão
Condição Sim Não Total
Anêmico 40 20 70 Q = + 0,33
Para FeSO4
Y Não anêmico 20 20 30
Total 60 40 100

Ingestão
Condição Total
Sim Não
Para FeSO4 Q = + 0,85
Z Anêmico 60 10 70
Não anêmico 10 20 30
Total 70 30 100

Conclusão: FeSO4 de procedência A é considerada não envolvida com a anemia. A de B está


menos relacionada que C e, portanto, a C é a procedência mais provavelmente relacionada com
a doença.

a2. QUI QUADRADO (2): Para averiguar se ao alimento (s) está relacionado com a BSE (relação
estatística) recorre-se ao teste de 2 que possui a correspondente distribuição de probabilidade
(distribuição de 2), consultada para se decidir a respeito de associação ou não. Mede a
intensidade da diferença entre os valores observados dos valores que seriam obtidos se não
houvesse relação entre os fenômenos em estudo que podem ser teoricamente calculados por
uma simples regra de 3 (frequência s esperadas se houvesse independência entre os
fenômenos). Para tabelas de associação pode-se usar a seguinte fórmula:
n (  a . d - b . c  - n/2)2
2 = ------------------------------------------
(a + b)(c + d)(a + c)(b + d)

Aplicando os dados das tabelas 1,2 e 3 na fórmula tem-se: 2 = 17,19 (ração A); 2,43 (ração B); e 25,0
(ração C). Comparando-se com o valor crítico de 2 (3,84) obtido na tabela anexa, pode-se concluir
262
que o teste é significante para um nível de rejeição de 5% e para 1 grau de liberdade (GL), pois
somente o valor de 2 correspondente à tabela 3 se localiza na Zona de rejeição de H0.
Obs. No caso da ração A, a interpretação do 2 depende do valor de Q que indica relação
inversa, ou seja, a doença não depende do consumo da ração A.
Figura 15. Figura da distribuição teórica da distribuição de probabilidades de 2

Erro de 5,0% (ZR de H0)

3,84

Alternativamente, pode-se utilizar a fórmula abaixo que aplicável para tabelas de associação ou
contingência:
Ni =1-n O – E)2
2 =  -----------------
E
Entendimento: a letra “O” indica a frequência observada no experimento. No caso da Ração A são
os valores das caselas: a = 25; b = 45; c = 25; e d = 5. A letra “E” indica a frequência esperada, ou
seja, aquela frequência que se obteria se não houver relação entre os fenômenos e corresponde
à frequência teórica que é obtida por regra de 3 considerando apenas as caselas marginais (total).

Tabela de frequências observadas Tabela de frequências esperadas


(independência)

Ingestão Ingestão
Condição Condição Total
Sim Não Total Sim Não
Doente 25 45 70 Doente 35 35 70
Não doente 25 5 30 Não doente 15 15 30
TOTAL 50 50 100 TOTAL 50 50 100

Como calcular as frequências esperadas:


100 -------- 70 50 . 70
onde  a = ------------ = 35
50 -------- a
100
Obs. Em se tratando de tabela de associação, basta calcular o valor da frequência esperada de
uma casela e as demais são obtidas por diferença. Em decorrência deste fato, uma tabela de
associação possui 1 grau de liberdade (1 GL). Esta forma de cálculo pode ser utilizada para qualquer
tipo de tabela. Assim,

263
(25 – 35)2 (45 – 35)2 (25 – 15)2 (5 – 15)2
 = ---------------- + ---------------- + ---------------- + ------------------ = 2,86 + 2,86 + 6,67 + 6,67 = 19,06
2

35 35 15 15

Interpretação: existe uma relação inversa e positiva, pois é maior o número de doentes entre os
que não consumiram a ração A
Existem alguns casos particulares de associação como ilustrados nas tabelas 42 e 43.

Tabela 42. Matrizes de galinhas de corte segundo a condição de vacinação contra


S. Enteritidis e isolamento da bactéria em suabes de cloaca (dados hipotéticos).
Isolamento de S. Enteritidis Total
Condição
Sim Não
Vacinada 20 80 100

Não vacinada 100 0 100

Total 120 80 200

Tabela 43. Galinhas poedeiras comerciais vacinadas contra laringotraqueíte infecciosa e redução
de ocorrência de doenças respiratórias (dados hipotéticos)

Redução doença respiratória Total


Condição
Não Sim
Vacinada 0 100 100
Não vacinada 100 0 100
Total 100 100 200

Os valores de “Q” obtidos com os dados das tabelas 29 e 30 são iguais a – 1, mas existem profundas
diferenças. Na tabela 29 têm-se algumas galinhas dentre as vacinadas que eliminavam S.
Enteritidis e na tabela 30 tem-se que as vacinadas não apresentaram doença respiratória. Aqui a
associação é completa
Na tabela 32, têm-se galinhas vacinadas sem doenças respiratórias e dentre as não vacinadas não
houve redução. Segundo o Coeficiente de Yule a Associação é completa entre os atributos e é
referida como equivalência. O Coeficiente de Associação de Yule não permite diferencias
associação completa e equivalência, mas é possível pelo cálculo do Coeficiente de Associação de
Zeissler cuja fórmula é a seguinte:

(ad – bc) (ad – bc)


C = 50 -------------- + -----------------
(ad + bc) (a + b) (c + d)

Para a tabela 29 tem-se C = - 90 e para a tabela 30 tem-se C = 100.


264
Interpretação: na ausência de associação (independência) o coeficiente de associação de Yule é
igual a zero; na equivalência o coeficiente de Zeissler atinge valor máximo igual a +/- 100 e nas
associações completas varia de > 0 a < 100.

2. CONTINGÊNCIA

Quando um ou ambos os atributos apresentam mais de 2 modalidades, é possível aplicar o


Coeficientes de Contingência Pearson e de Tschuprow. Na tabela 44 tem-se:

Tabela 44. Suínos segundo a genética e resposta ao tratamento de pneumonia.

Resposta ao Genética
Total
tratamento A B C
Sim 90 40 20 150
Não 30 70 50 150
Total 120 110 70 300

Uma primeira alternativa de se estudar a relação entre os atributos “ocorrência de carcinoma” e


“cor de pelagem” seria reduzindo esta tabela em tabelas de associação pela fusão do atributo
genética em “A e não A”; “B e não B”; e “C e não C”. Para cada tabela pode-se calcular o valor de
“Q”. Quanto maior for o número de atributos ou modalidades para cada variável, mais complexa
se tornará o estudo em decorrência dos desdobramentos. O recurso é calcular a relação entre
atributos de forma global através de vários coeficientes sendo os mais utilizados os coeficientes
de Pearson e de Tschuprow. Em ambos os casos, há que calcular as frequências esperadas ou de
independência equivalendo ao caso de não haver relação entre os atributos.
2
Coeficiente de Contingência de Pearson: C= √𝑁+ 2

2
Coeficiente de Contingência de Tschuprow: T = √
𝑁 √(𝑠−1)(𝑡−1)

Onde: “s” é o número de modalidades de uma variável e “t” a da outra variável. Na tabela 31, “s”
é igual a 2 e “t” igual a 3.

6. INFERÊNCIA ESTATÍSTICA

1. CONCEITO
É o principal objetivo da Estatística porque em uma experimentação planejada não nos
importamos com o que se passa com os integrantes de 1 amostra, mas, sim com o que se pode
inferir com base nos resultados da amostra a respeito da população da qual ela foi obtida.

265
Vamos introduzir o conceito de parâmetro ou valor populacional. Considere a seguinte situação:
suponha-se que a partir da observação de alguns milhares de casos foi possível estimar a
mortalidade entre suínos recém-nascidos por determinada fosse da ordem de 40% ou 0,4. Um
valor obtido com base na observação de grande nº de observações permite considerá-lo como
populacional e chamemos por .
Considere que um Veterinário resolve introduzir uma alteração no manejo sanitário que supões
seja o fator responsável pela elevada mortalidade. Se a alteração for introduzida, irá observar, na
amostra, a mortalidade igual a “p”.
Então, pode-se formular 2 hipóteses:
1ª hipótese: o manejo não foi eficaz e, portanto =  - t = 0. Esta hipótese da não diferença é
denominada hipótese de nulidade cuja sigla é H0. Observe-se que nas hipóteses constam apenas
valores populacionais (letra grega)

2ª hipótese: é a hipótese que se refere à situação suposta pelo pesquisador, ou seja, que t   e
é denominada hipótese alternativa cuja sigla é H1. Assim,

Ho ---- πt – π = 0

H1 ---- πt ≤ π

n – 10
p = 10%
É preciso tomar uma decisão a respeito destas 2 hipóteses. Para tanto, o pesquisador resolve
experimentar sua nova estratégia de manejo (tratamento) em 10 leitões recém nascidos da
população onde  = 40%. Observou mortalidade igual a 10%. O pesquisador terá, naturalmente,
receio de demonstrar a eficácia do manejo, pois um resultado como esse poderia ser observado
entre 10 suínos que não foram submetidos ao manejo, pois sabe que o resultado, poderia ter sido
por obra do acaso mesmo que o resultado observado tivesse sido igual a 0%. Portanto, é
impossível alcançar uma certeza absoluta a respeito da eficácia do método. Dispõe-se então a
formar um juízo que encerre certo risco de estar errado, risco este representado pela
probabilidade de que o resultado obtido seja devido, não ao manejo, mas sim ao acaso.
Naturalmente, se tomasse n amostras de tamanho n, obteriam resultados que variariam de 0 a 10
mortes ou seja de 0% a 100%. Este risco de estar errado é uma probabilidade e é denominado erro
de 1ª espécie ou . O pesquisador deverá decidir entre as 2 hipóteses frente ao valor de  fixado
a priori pelo pesquisador (erro disposto a correr quando rejeitar H0). Suponhamos que tenha
observado 2 mortes de leitão. Se observar a distribuição binomial de probabilidades abaixo
apresentada (eventos por obra do acaso) concluirá pela aceitação da H0. A seguir é apresentada 1
distribuição para  = 0,40 e n = 10 onde r = nº de sucessos. O pesquisador pode fixar em 5% (0,05)
o valor de 

266
Se o pesquisador tiver fixado o valor igual a 5% ou seja, 0,05, o pesquisador está autorizado a inferir
que o tratamento não foi eficaz e está incorrendo em um erro de 5% ao aceitar a H0. Com uma
amostra de tamanho 10 só poderá decidir favoravelmente ao seu tratamento se obtiver 0 ou 1
morte. Uma vez fixado valor de  só se pode rejeitar H0 se a probabilidade de ocorrência casual
de 1 resultado como o verificado na amostra ou ainda melhor que ele for menor ou igual a .
Vejamos as principais distribuições de probabilidades

2. DISTRIBUIÇÃO DE PROBABILIDADES MAIS UTILIZADAS


Conceitos básicos sobre probabilidades: a ideia de probabilidade é um fato familiar a muitas
pessoas. Afirmações frequentes como: “você tomou a decisão correta em trazer a capa de chuva,
pois parece que vai chover”; “é curioso que o time de futebol A tenha vencido o B por 5x1”; “é
impossível dirigir do Morumbi a Perdizes em 20 minutos”; “é provável que o diretor não venha
trabalhar hoje”; “é quase certo que a próxima convenção desta empresa seja no Caribe”. Embora
essas expressões façam parte de nosso cotidiano, é preciso salientar que existe elevada
imprecisão envolvida. A opinião de que o time A vencerá o B por 5x1 poderá deparar-se com
grande quantidade de torcedores que não concordam e opinas diferentes combinações de gols
favorecendo ou não o time A. é tal como o seguinte cenário: a família está por decidir onde passar
o final de semana e a esposa poderá pensar em ir à casa de seus pais, mas o marido pode não estar
pensando o mesmo!
Este tipo de indecisão é intolerável na matemática. Parte desta imprecisão deve-se ao fato de se
estar discutindo, nos exemplos acima mencionados, apenas um evento como ganhar ou não
ganhar; ir ou não ir; e parte da imprecisão deve-se ao fato de existirem mais de um ponto de vista.
Estas dificuldades podem ser evitadas se restringirmos a discussão à probabilidade ao fenômeno
em estudo e que pode ser repetido e, assim, estaremos lidando com situações idealizadas.
Algumas situações ideais mais convenientes são fornecidas pelos jogos de chances (ou de azar) e
esta é a razão que quase sempre falamos em jogos de cartas, lançamentos de moedas ou retiradas
de bolas numeradas colocadas em roletas ou urnas e não porque os estatísticos sejam viciados em
jogos.
Após essas observações sobre situações ideais, iremos transferir tais conhecimentos para
problemas e experimentos reais que possam ser utilizados em qualquer parte do mundo quando
os conhecimentos, conceitos e fundamentos possam ser de valor prático.
Se considerarmos a carta de baralhos com 52 cartas e retirarmos ao acaso 5 cartas, pode-se obter
2.598.960 conjuntos de 5 diferentes cartas. Se limitarmos a pergunta para 3 ases e 2 não ases,
obter-se-ia 4512 conjuntos em 2.598.960.
Como trabalhamos com a probabilidade de um evento em nossas atividades profissionais, a
distribuição Binomial de probabilidades é a que melhor permite correto entendimento. Assim,
qualquer que seja o nº de eventos, é preciso saber que existem 2 situações:
 Quando a ocorrência de 1 resultado é dependente do outro (probabilidade condicionada).
Por ex. jogando uma moeda 1 vez, qual a probabilidade de obter a face cara na 1ª jogada?
R: (Ca e Co) = (½ x ½) = ¼ = 0,25 = 25%
267
Este raciocínio deriva do Teorema da Soma Lógica: o resultado da ocorrência de 2 eventos
independentes é igual à soma das probabilidades de cada evento.
 Quando a ocorrência de um resultado é independente do resultado da outra. Por ex.
jogando-se uma moeda uma vez, qual a probabilidade de obter cara?
R: (Ca e Co) ou (Co e Ca) = (½ x ½) + (½ x ½) = ¼ + ¼ = 2/4 = ½ = 0,5 = 50%
Este raciocínio deriva do Teorema do Produto Lógico: o resultado da ocorrência de 1 evento
dependente de outro é igual ao produto das probabilidades de cada evento.
Em atividades de epidemiologia, as amostras usualmente são maiores que 30 e, assim sendo,
trabalha-se com a distribuição Normal de probabilidades
As distribuições teóricas de probabilidade mais utilizadas são a Normal de Gauss; “t” de Student
e 2 (Qui Quadrado)

a. DISTRIBUIÇÃO NORMAL DE GAUSS

A História da Curva Normal: A curva normal, também conhecida como a curva em forma de sino, tem uma
história bastante longa e está ligada à história da descoberta das probabilidades em matemática, no século
XVII, que surgiram para resolver inicialmente questões de apostas de jogos de azar. O responsável mais
direto da curva normal foi Abraham de Moivre, matemático francês exilado na Inglaterra, que a definiu em
1730, dando sequência aos trabalhos de Jacob Bernoulli (teorema ou lei dos grandes números) e de seu
sobrinho Nicolaus Bernoulli, matemáticos suíços. Moivre publicou seus trabalhos em 1733 na obra The
doctrine of the chances. O sucesso da descoberta foi rápido e grandes nomes passaram a trabalhar sobre a
curva normal, tais como Laplace, que em 1783 a utilizou para descrever a distribuição dos erros, e Gauss,
que em 1809 a empregou para analisar dados astronômicos. Inclusive, a curva normal é chamada de
distribuição de Gauss. Hoje em dia, a curva normal é um ganho fundamental em ciência, porque a
normalidade ocorre naturalmente em muitas, senão todas as medidas de situações físicas, biológicas e
sociais, e é fundamental para a inferência estatística. Segundo a lei dos grandes números de Bernoulli, em
uma situação de eventos casuais, em que as chances de ocorrência são independentes, obter coroa em
lances de uma moeda de cara e coroa, tem a probabilidade matemática exata de 50% (porque são somente
dois eventos possíveis: cara ou coroa), mas na prática esta probabilidade de 50% é apenas aproximada.
Quanto maior o número de tentativas, mais exata será a aproximação desse valor. Isso quer dizer que os
erros (desvios) serão menores na medida em que aumenta o número de lances. Desvios grandes são raros
e desvios pequenos frequentes. Portanto, aumentando as tentativas, aumenta o número de desvios
pequenos, prevalecendo cada vez mais sobre os desvios grandes, de tal forma que, no limite, haverá quase
somente desvios pequenos, sendo o desvio 0 (zero) o menor deles e, por consequência, o mais frequente.
Dessa forma, os erros se distribuem simetricamente em torno da média, formando uma curva simétrica
com o pico na média e caindo suavemente à esquerda (erros que subestimam a média) e à direita (erros
que superestimam a média). Além disso, essa curva simétrica permitiu a Moivre calcular uma medida de
dispersão das observações em torno da média, medida chamada posteriormente como desvio-padrão. O
nome curva normal, atribuído por Moivre, existe porque a média representa a norma, isto é, todo valor
diferente da média é considerado desvio, sendo que todos os valores deveriam ser iguais à média.

Possui como parâmetros os valores da média () e desvio padrão (). É uma distribuição de
probabilidade para variáveis contínuas que implica em mensuração da variável, apresenta a forma
de um sino, não cruza a linha da abscissa, a probabilidade total abaixo da curva é igual a 100%,
aproximadamente 68% de uma distribuição Normal está dentro de 1 desvio padrão da média e
cerca de 95% de uma distribuição está dentro de 2 desvios padrão da média. É uma das
distribuições contínuas mais importantes da Estatística.

268
Muitos fenômenos biológicos têm uma
distribuição Normal e daí a sua importância. A
distribuição Normal não se aplica, embora usada
quando as amostras são suficientemente grandes,
em experimentos de contagens de carrapatos em
animais e em casos de variável qualitativa ordinal
com pequeno nº de classes.
No gráfico, abaixo desta curva Normal reduzida
estão indicadas as áreas incluídas entre z = -1 e
+1; z =2 e -2; z = -3 e +3; iguais a,
respectivamente, 68,27%; 94,45%; e 99,73% do
total da área que é igual a 1 (100%).
É definida pela equação abaixo

Onde:
 = média da distribuição N;  = desvio padrão;  = 3,14159....; e = 2,71828....
Uma curva desta natureza é obtida quando se realiza uma série de medidas com erros acidentais
(ao acaso) de mensuração determinando a frequência com que ocorrem erros de magnitudes
crescentes com sinais + e. O valor “0” ocorre com maior frequência e a partir deste valor, as
frequências diminuem sucessivamente, simetricamente na medida em se relacionam os valores
de erros (+ e -). Os erros de menor valor ocorrem mais vezes que os de grande magnitude. Em
razão desta característica, esta curva é conhecida como CURVA NORMAL DE ERROS indicando
que ela estabelece a NORMA de ocorrência de ERROS ACIDENTAIS. Usualmente, pensa-se
erradamente que a curva representa algo que é “normal” em contraposição a algo que seria
“anormal”, no sentido habitual da palavra.
Este tipo de curva é também conhecido com o nome de CURVA DE GAUSS ou CURVA DE GAUSS-
LAPLACE
Fala-se em curva, pois como se pode depreender pela respectiva equação, trata-se de uma família
de curvas que possuem características em comum e cuja forma varia em função do desvio padrão
. O valor da abscissa que corresponde à frequência máxima é descrita pela média populacional
() e a distância entre os 2 pontos de inflexão (mudança de direção da curva) é igual a 2 e que
são equidistantes devido à simetria da curva. Em outras palavras, a distância de cada ponto
equidistante de inflexão em relação a  é igual a 1 desvio padrão ()

Quanto menor for o valor de , menor a variabilidade e a curva


apresenta formato “em pico”.

269
Variações apenas na média () causariam somente deslocamento da curva ao longo do eixo da
abscissa, mas as variações do desvio padrão provocam alterações na forma da curva tornando-a
mais achatada ou mais pontiaguda.
Sua importância não reside apenas no fato de traduzir matematicamente a distribuição casual de
erros acidentais, mas pela verificação de que numerosas características biológicas quantitativas
variam entre os indivíduos segundo uma distribuição que corresponde à curvas normais associada
ao conhecimento de que os parâmetros da curva Normal são  e .
A área total limitada pela curva e pelo eixo da abscissa (X) é igual a 1 (100%). Portanto, a área sob
a curva e compreendida entre as 2 ordenadas (a < x < b) em que (a < b), representa a probabilidade
de “x” estar situado entre “a” e “b” e é representada por “P {a < x < b}”

E “x” pode ser expressa pela equação reduzida:

(x - )
z = ---------------

a x b

E diz que “z” é normalmente distribuída com  = 0 e  = 1 e a área entre os pontos “a” e “b”
corresponde à frequência no intervalo citado e expressa como frequência relativa, ou seja, a
proporção da frequência total correspondente aos valores de “x” contidos no intervalo entre “a”
e “b”
Sendo a curva Normal assintótica (permanece paralela à abscissa até o ), a área total sob a curva
vai de -  e + . Seria muito penoso determinar uma área para cada par de valores ( e ) de
interesse do pesquisador. Esta dificuldade é superada com a utilização da CURVA NORMAL
REDUZIDA que se baseia:
a. Em utilizar desvios contados a partir de  (x - ) ao invés de se trabalhar com valores da
variável (x);
b. Em utilizar valores abstratos (x/) por apresentarem mesma unidade ao invés de se
trabalhar com valores da variável (x).
Os valores assim obtidos são usualmente simbolizados por “z” e expresso pela fórmula:
x-
z = -----------

“z” exprime quantas vezes um desvio a partir da média contém um desvio padrão e em outras
palavras significa ”reduzir” a escala das abscissas a unidades  de forma que, para uma média
populacional (), o valor de “z” é “0” (zero), ou seja, as medidas dos diferentes valores de “x” é
sempre iguais a zero. Ao se trabalhar com desvio padrão igual a 1, é possível reduzir qualquer
distribuição para a uma distribuição Normal com  = 0 e  = 1 e é simbolizada pó z:N (0,1).

270
Por exemplo, seja uma distribuição de probabilidades com  = 100 e  = 20. Na figura abaixo, temos
a abscissa ilustrada com 2 escalas:

Uma distribuição N de probabilidades


(Tabela A – 4) tem como parâmetros o
valor de “z” e de  para teste
 monocaudal ou monolateral.

40 60 80 100 120 140 160

-3 -2 -1 0 +1 +2 +3

RELAÇÃO ENTRE A DISTRIBUIÇÃO BINOMIAL E NORMAL

Se o tamanho da população (N) for elevado e “p” e “q” estiverem distantes de zero, a distribuição
Binomial se aproxima muito da distribuição Normal e a fórmula para uma proporção passa a ser:
(p - )
z = --------------
𝑝. 𝑞

𝑁
A aproximação melhora com o aumento do tamanho de “N” e no caso limite, há coincidência entre
ambas as distribuições. O cálculo dos diferentes termos de uma distribuição Binomial torna-se
excessivamente trabalhoso mesmo que “n” seja de moderada magnitude. Felizmente, tais valores
já se encontram tabulados para “n” até 1.000, mas as tabelas usuais chegam até n = 30 e a partir
deste valor, os cálculos dos termos de uma equação binomial se tornam impraticáveis. Para
entendermos a relação entre as 2 distribuições, considerar-se-á alguns aspectos da distribuição
binomial com auxílio de representação gráfica. Para n = 10 e p = 0,5; n = 20 e p = 0,5; n= 40 e p =
05; e n =  e p = 0,5. Na figura abaixo está ilustrado o último caso

271
c. DISTRIBUIÇÃO “t” DE STUDENT
Existem muitas situações em que se desconhece o valor do desvio padrão populacional () e que
deve ser estimado através da observação amostral.
É utilizada nos casos em que o tamanho da amostra (n) é menor que 30 embora muitas
calculadoras e programas computadorizados de estatística utilizem a distribuição “t” pata
amostras de qualquer tamanho. Os resultados não são comprometedores, pois na medida em que
se aumenta o tamanho da amostra, o valor “n” se aproxima de (n – 1).
Os parâmetros de uma distribuição “t” são número de graus de liberdade (GL) que é igual a (n-1)
para teste de 1 média e (n– 2) para testes de 2 médias e o valor de  para testes bicaudais (soma
das 2 ZR) como na Tabela A – 6.

d. DISTRIBUIÇÃO DE 2

TEORIA DA DECISÃO ESTATÍSTICA (ERROS  E ) E PODER DO TESTE

ii. CONCEITOS FUNDAMENTAIS

DECISÃO ESTATÍSTICA: trata-se de decidir acerca de uma população com base em dados
amostrais. Por exemplo, deseja-se testar a eficácia de determinado medicamento na cura de certa
doença; se um processo educacional é melhor que outro; se certa moeda é viciada ou não; ou se
determinada doença está ocorrendo acima dos níveis considerados usuais.
HIPÓTESES ESTATÍSTICAS: ao tentar tomar decisões, é sempre conveniente a formulação de
hipóteses (suposições) acerca das populações interessadas. Tais hipóteses ou suposições poderão
não ser verdadeiras e são denominadas hipóteses estatísticas e referem-se sempre a populações.
Muitas vezes hipóteses são formuladas com o propósito de rejeitá-las ou invalidá-las.

272
Por exemplo, ao pretender decidir se uma moeda é viciada, formula-se a hipótese de que não é
viciada, ou seja, que  = 0,5 (probabilidade de obter cara); ao se pretender decidir se um
determinado medicamento é melhor que outro, formula-se a hipótese de que são iguais ou que
não há diferença entre eles, i.é, qualquer diferença ocorreria meramente por obra do acaso, ou
seja, entre amostras provenientes de uma mesma população. Esta hipótese é pré-fixada e é
denominada HIPÓTESE DE NULIDADE (Ho). Qualquer hipótese que difira de uma hipótese pré-
fixada é denominada HIPÓTESE ALTERNATIVA (Ha ou H1).
TESTES DE HIPÓTESE E SIGNIFICÂNCIA: admitida uma hipótese particular como verdadeira, se
verificar que os resultados observados em uma amostra aleatória diferem acentuadamente dos
resultados esperados para aquela hipótese, poder-se-ia concluir que as diferenças observadas são
significativas e ficar inclinado a rejeitar a hipótese de nulidade (ou pelo menos não aceitá-la com
base nas provas obtidas). Se por exemplo, em 20 lances de uma moeda resultar em 16 caras, pode-
se ficar inclinado a rejeitar a hipótese de eu se trata de uma moeda é honesta embora seja
concebível que se esteja incorrendo em um erro.
Os processos que habilitam a decidir se aceita ou se rejeita a Ho ou os processos para se
determinar se a amostra observada difere de modo significativo dos resultados esperados, são
denominados TESTES DE HIPÓTESE ou REGRAS DE DECISÃO.
ERROS DO TIPO I () E II (): se uma hipótese é rejeitada quando deveria ser aceita, diz-se que foi
cometido um erro do tipo I (). Se, por outro lado, é aceita uma hipótese que deveria ser rejeitada,
diz-se que foi cometido um erro do ripo II (). O erro  é sempre pré-fixado e permite determinar
a magnitude da ZR.

iii. TESTES DE HIPÓTESES

Tipos de teste: monocaudal (à direita ou à esquerda) e bicaudal.


1. Teste monocaudal ou unilateral à esquerda e os tamanho e localização da cauda (zona de
rejeição de H0/ZR de H0)

a. Utilizando Distribuição Normal

0, 05

0,1517 0,5000

273
b. Utilizando Distribuição Normal

0,05000 1,96 0.0228 = α/2

c. Utilizando Distribuição Normal


ZR = 0,025 =
 𝟐
ZR = 0,025 =
𝟐

- 1,96 + 1,96

 ESTIMATIVA DE UMA PROPORÇÃO

É o raciocínio (indutivo) em que se estende o valor de um parâmetro determinado em uma


amostra para a população da qual foi extraída. É uma situação diversa aos testes de hipótese a ser
estudado no item a seguir, pois se refere ao interesse em se ter um juízo a respeito de um
parâmetro populacional por parte de um pesquisador como: taxa de cura diante de certo
medicamento, conhecer a prevalência de uma determinada doença (brucelose, leucose, AIE,
doença de Newcastle, Gumboro, Cinomose, etc) ou a frequência de animais portadores do vírus
(Febre Aftosa ou da PSC) para avaliação de persistência da atividade viral ou a letalidade (em
decorrência da leucose felina, diarreia de bezerros, ileíte suína etc.) ou o peso de um animal ao
nascer ou a produção de leite (Ng) ou o número de ovos colocados ou peso de carcaça em
abatedouro etc. Um 1º recurso seria examinar um elevado número de animais e calcular o valor do
parâmetro populacional. Como é quase sempre muito difícil examinar a população toda
(populações muito grande, antieconômico e demorado), pode-se recorrer ao exame de uma
amostra significativa, medir o valor da variável em estudo e estender este valor amostral para a
população alvo.
274
Suponhamos que se esteja interessado em se determinar a morbidade ou mortalidade ou a
circulação do agente etiológico (da Febre Aftosa ou da PSC ou da Doença de Aujeszny ou da
Doença de Newcastle ou da AIE) em uma população de suscetíveis de certa área geográfica pelo
exame de um número limitado de animais (n) submetido a uma ou mais prova laboratorial e se
detecta certo número de animais positivos (r). Ao findar a realização dos exames laboratoriais
calcula-se o cociente p (r/n) que representa o número de positivos na amostra. A investigação não
termina neste momento porque o interesse não é determinar o valor do cociente na amostra, mas
conhecer o valor do parâmetro populacional () através a estimativa.
É preciso ter em conta que qualquer valor encontrado na amostra poderia ter sido diferente se
outra amostra tivesse sido examinada em decorrência de flutuações por obra do acaso segundo
o seguinte raciocínio: se em uma amostra de 400 bovinos forem detectados 40 animais
comprovadamente infectados com vírus da Febre Aftosa, tem-se o valor 10% para “p”, mas o
investigador sabe que se tivesse examinado outra amostra de mesmo tamanho (n), poderia ter
obtido um maior menos que 10% ou maior que 10% (excluídos 0% e 100%) e estando disposto a
concluir com base neste resultado amostral, terá que realizar uma estimativa reconhecendo que
o verdadeiro valor populacional poderá ser maior ou menor e a atribuição a , de um único valor
de p, denomina-se estimativa.
Estimativa: o raciocínio indutivo pode ser realizado por PONTO ou por INTERVALO.
1. Estimativa por ponto: é o raciocínio através do qual se atribui ao  o valor de “p” obtido pela
observação de uma amostra. Neste caso, nenhuma confiança pode ser associada a este
raciocínio porque o verdadeiro valor pode ser diferente de 10% para mais ou para menos. Como
estabelecer um critério que possa, com base no exame de 1 amostra, estimar o parâmetro
populacional?
2. Estimativa por Intervalo: o inconveniente da estimativa por ponto é sobrepujado por esta
modalidade de raciocínio. Partindo-se da fórmula de Z (+ z e – z) para o teste de 1 proporção
bicaudal e deduzindo-se a fórmula para extrair a incógnita () tem-se:

(p - )
𝑝(1−𝑝) 𝑝(1−𝑝)
Z = -------------------  LC ( p - z/2 √    p + z/2 √ ) = (1 - ) %
𝑛 𝑛
𝑝(1−𝑝)

𝑛

Onde:
p = proporção de sucessos obtida na amostra; q = (1 – p); z = valor obtido na Tabela Normal e  =
parâmetro populacional
O intervalo de confiança é sempre um raciocínio bicaudal ou bilateral, pois nas extremidades estão
localizadas as ocorrências mais raras ou menos frequentes. Graficamente é a ilustração abaixo:

275
- z/2 0 - z/2

No exemplo apresentado obteve-se 10% de positivos na amostra e a estimativa por intervalo


fornece para os limites (inferior e superior) o seguinte: 10  2,94 (z = 1,96)  7,06 % e 12,94 %. Pode-
se afirmar, com 95% de confiança, que o verdadeiro valor do parâmetro populacional está entre
7,06 % e 12,94 %.
10.90) 10.90)
Ou seja, LC ( 10 – 1,96 √    10 + 1,96 √ ) = (1 - ) %
400 400

Aplicação: quando se pretende conhecer a prevalência de uma doença em certa população ou


quando se pretende introduzir um produto na prevenção ou tratamento de uma doença e existe
a possibilidade de avaliar a prevalência da mesma antes do tratamento, pode-se, a seguir,
introduzir o tratamento proposto e em ambos os casos calcular os respectivos intervalos de
confiança para um  pré-estabelecido. Ao final da observação, compara-se os 2 intervalos de
confiança e pode-se assumir a respeito da eficácia do produto se os intervalos não apresentarem
área de superposição.

 TESTES DE HIPÓTESES MAIS IMPORTANTES PARA VARIÁVEIS QUALITATIVAS

TESTE DE 1 PROPORÇÃO UTILIZANDO A DISTRIBUIÇÃO NORMAL

Suponha que um pesquisador deseje saber ou verificar que a proporção de nascimentos de


machos e fêmeas de determinada espécie animal seja igual a 50% (ou 0,50) dos nascimentos como
seria previsível segundo os mecanismos de determinação genética dos sexos. Trata-se de uma
hipótese a ser posta em prova experimental. O pesquisador pode, para constituir a amostra,
recorrer os arquivos já existentes ou passar a observar o sexo dos animais ao nascer durante um
tempo determinado para poder reunir os dados necessários.
Ho   = 0,50
H1    0,50
 = 0,01
Não estando disposto a rejeitar Ho senão com pequeno risco de estar errado, fixa o valor de  em
0,01 e é razoável que assim proceda porque, dada a solidez dos conhecimentos relativos aos
mecanismos de determinação genética de sexo, a rejeição de Ho implica na necessidade de
encontrar explicação para o fato de nascerem mais machos do que fêmeas, estando aquele
mecanismo em ação.

276
Suponhamos que tenham sido examinados, dentre 10.000 nascimentos, 50.800 machos, ou seja,
50,8%, sendo “p” a proporção amostral de nascimento de machos. Aplicam-se os dados na fórmula
seguinte:
 p -  - 1/2𝑛  0,508 - 0,500- 0
z= z= = 1,6
𝑝 (1 − 𝑝) 0,508 (0,492)
√ √
𝑛 10.000

O termo 1/2n é a correção para descontinuidade que caracteriza a distribuição binomial e quando
o valor de “n” é muito elevado. Deixa de ter efeito no resultado final que ode ser entendido
quando uma distribuição binomial tende para uma Normal.
Conclusão: para um teste bicaudal, o valor crítico de “z” é igual a 2,57 e sendo o valor calculado
menor que este, o teste é “não significante” e, portanto não há diferença estatisticamente
significante entre a proporção de nascimentos de machos e fêmeas.
Inconveniente: implica no conhecimento do valor do parâmetro populacional () e o pesquisador
deve assegurar que a única diferença entre o material de observação que deu origem ao
parâmetro e o material que utiliza em seu experimento seja o tratamento em estudo. Pode haver
um viés ou tendenciosidade. Experimentos desta natureza exigem muita cautela e deve ser
utilizado quando não existirem outros recursos de planejamento.
Frequentemente o valor de  a ser posto em prova seja um valor empírico considerado com base
no acúmulo de elevado número de observações como visto no item “intervalo de confiança”, no
qual este intervalo é tão estreito que tende para um ponto pode ser utilizado para como
parâmetro populacional.
A observação de elevado número de observações revelou que a probabilidade de doentes em uma
população foi igual a 40% (). Deseja-se colocar em prova a hipótese de que este fosse o valor da
probabilidade t de doentes em animais tratados com certo medicamento, seria o mesmo que
dizer que  = t e, assim, o medicamento não alteraria a probabilidade de adoecer. A H1 seria
expressa por  > t interessando a rejeição de Ho, ou seja, se a probabilidade de doentes entre
tratados fosse maior que entre não tratados:

Ho   = t
H1   > t
n = 70
r = 41
 = 0,05
Seja um experimento no qual tenham sido observados 41 doentes entre os tratados. O valor de
“z” foi igual a - 3,05; este cálculo é dispensável, pois a proporção de doentes entre tratados (0,586)
foi maior que a proporção de doentes na população (0,400).

277
A simples comparação destes 2 valores de proporções é suficiente para aceitar a hipótese Ho e
concluir sobre a não eficácia do medicamento. No planejamento de testes de uma proporção
raramente estão isentos de sérias objeções. De um lado há que se disponha do valor de 
(proporção populacional) e o material utilizado no experimento (tratamento utilizado). Pode
suceder que os animais das observações pregressas apresentassem formas mais graves da doença
comparativamente ao do experimento em pauta; pode ser que as condições de criação e manejo
não seja as mesmas; pode suceder que a partilha segundo o sexo não sejam equivalentes etc.
esses desvios são denominados de viés ou “bias” ou tendenciosidade. Assim sendo, experimentos
que implicam em comparações com experimentos do passado exigem especial cautela quanto à
comparabilidade dos grupos (do estudo pregresso e do atual). Experimentos desta natureza são
recomendados somente quando não existirem outros recursos como o teste que será abordado
a seguir, ou seja teste da diferença entre 2 proporções.
Aplicação: quando se pretende introduzir um determinado produto que se conhece a prevalência,
preferencialmente na região, pode-se testar determinado produto comparando a % de sucessos
com o medicamento frente à prevalência conhecida. Cuidados devem ser adotados para não
cometer erros de admitir como valor da prevalência valores desatualizados ou de outras regiões
ou outras características que possam interferir no experimento.

TESTE DA DIFERENÇA ENTRE 2 PROPORÇÕES (DISTRIBUIÇÃO NORMAL)

Para contornar os inconvenientes apontados, o pesquisador pode planejar um experimento


procurando comparar o que sucede com animais tratados e não tratados ao manejo e submetidos
às mesmas condições relativamente aos demais aspectos. O ideal seria que os animais fossem
exatamente iguais entre si, diferindo apenas nos fatos de estarem sendo submetidos a diferentes
tipos de manejo sanitário. Naturalmente é uma situação atípica pois, não existem indivíduos
exatamente iguais. Muitas vezes alocam-se no grupo no grupo não tratado indivíduos mais
gravemente cometidos e o tratamento ter sido eficaz. Nestes casos, o resultado medido pela
percentagem de sucesso estaria largamente influenciado pelo fator que no caso recebe o nome
de bias ou viés ou tendenciosidade favorecendo ou não ao tratamento proposto. Alocar
indivíduos mais gravemente acometidos no grupo testemunha poderia estar favorecendo o
tratamento. Experimentos podem ser influenciados por outros fatores como sexo, idade, tipo de
manejo, estado fisiológico. Estes conhecimentos devem orientar o pesquisador na constituição
dos grupos experimentais segundo os tratamentos que são denominados grupo tratado e grupo
controle ou testemunha. A destinação deverá ser aleatória por qualquer mecanismo que
independa da vontade dos participantes ou da tendenciosidade do pesquisador – sorteio. Diante
do exposto, verifica-se que o pesquisador se defronta com 2 populações. Uma constituída de
tratados e outra de não tratados. Amostras obtidas das 2 populações são submetidas ao
experimento. Por ex, deseja-se testar 1 medicamento contra determinada doença para reduzir a
ocorrência de morte.

Se as probabilidades de morte nos grupos experimentais forem iguais


H0   t = c
a pt e pc, o pesquisador deverá conduzir um experimento indutivo para
278
medir a diferença (  t - c) com base na informação fornecida pelo
experimento ou seja ( pt - pc ).
H1   t  c
 = 0,01

pt - p c pt + pc
Z = ------------------------------- Onde, p =
2
1 1
√p . q ( + )
nt nc

Exemplo: seja um experimento em que se deseja testar a eficácia de determinado antibiótico e se


espera que seja capaz de reduzir a morbidade em leitões de terminação de criações tenrificadas
devido ao M. hyopenumoniae. Foram selecionados 80 leitões doentes destinados a 2 grupos
experimentais comparáveis quanto ao peso, sexo, gravidade da manifestação clínica, manejo
alimentar, manejo sanitário e condições de bem-estar. A conduta estatística está abaixo descrita:

Bases do teste Cálculo estatístico Interpretação

H0  t = c
H1  t < c 20 - 820
z = ------------------------------ =
 = 0,05
1 1
nt = 40 √50 . 50 ( + )
40 40
rt = 8
nc = 40 -2,54
= - 5,36
rc = 24 Conclusão: rejeita-se H0 e, portanto, tese
significante ao nível de rejeição adotado de
5%

Aplicação: quando se desconhece o valor da prevalência na região ou população na qual se quer


utilizar determinado produto, pode-se estabelecer 2 grupos de animais comparáveis quanto as
suas constituições (raça, sexo, idade, peso, manejo etc.), e comparar estatisticamente os
resultados.

 ESTIMATIVA DE UMA MÉDIA

Em outras circunstancias, a média aritmética populacional é totalmente desconhecida e para


conhecê-la recorre-se à sua estimativa através da média aritmética amostral. Semelhantemente à
estimativa de uma proporção, pode ser por PONTO e por INTERVALO.
10a. ESTIMATIVA POR PONTO: se for basear no valor observado em uma amostra sabendo que a
média pode flutuar de amostra para amostra, seria muito audacioso pretender atribuir à média
populacional () o valor observado em uma amostra. Entretanto, no campo da experiência não se
obteria um valor que possa ser considerado como melhor estimativa de . O procedimento de se
atribuir a  um único valor, o de x, constitui ao que se denomina estimativa por ponto. É muito
claro ao pesquisador que o verdadeiro valor de  pode ser diferente do valor encontrado e
pensará e determinar os possíveis valores para .
279
10b. ESTIMATIVA POR INTERVALO: a conduta de se obter os possíveis valores para  é o mais
adequado e mais aconselhado, pois pode-se depositar uma confiança a esta estimativa (medida
em probabilidade) que este intervalo contenha, entre os seus limites, o verdadeiro valor
populacional que se pretende estimar. Portanto, a fórmula do intervalo é deduzida a partir de
s s
 = x – z ------  = x  z --------
x - 
z = ---------- √𝒏
-------- √𝒏
s
--------
√𝒏

Em se tratando de intervalo, tem-se 2 valores para “z”, ou seja, um positivo (+ z) e um negativo (-


z) que são iguais em valor absoluto, obtido a partir do valor de  sendo a confiança sempre igual
a (1 - ).

Assim, para n ≥ 30 e  desconhecido, tem-se Para n < 30 e  desconhecido, tem-se

s s s s
C (x - z/2 ----- ≤  ≤ x + z/2 --------) = 1 -  C (x - t/2 -------- ≤  ≤ x + t/2 --------) = 1 - 
𝒏 √𝒏 √𝒏 − 𝟏 √𝒏 − 𝟏

Aplicação: quando se pretende conhecer a média de determinado parâmetro (quantitativo) em


certa população ou quando se pretende introduzir um produto na prevenção ou tratamento de
uma doença avaliada quantitativamente e existe a possibilidade de avaliar a média antes do
tratamento, pode-se, a seguir, introduzir o tratamento proposto e em ambos os casos calcular os
respectivos intervalos de confiança para um  pré-estabelecido. Ao final da observação, compara-
se os 2 intervalos de confiança e pode-se assumir a respeito da eficácia do produto se os intervalos
não apresentarem área de superposição.

 TESTES DE HIPÓTESES MAIS IMPORTANTES PARA VARIÁVEIS QUANTITATIVAS

TESTE DE UMA MÉDIA UTILIZANDO DISTRIBUIÇÃO NORMAL

Conceituação: suponha uma variável “x” de natureza quantitativa e que apresenta distribuição
Normal N (;). Em se tratando de inferência estatística, o objetivo é a tomada de uma amostra
da população alvo e estender os resultados da amostra para a população originária e em outras
palavras, concluir se a amostra pertence ou não pertence à população. Se o teste é significante
(rejeitou-se a H0, então a amostra não pertence à população).
Se a distribuição é Normal, é óbvio que o 1º raciocínio é recorrer à fórmula de “z” integralmente
apenas transformando “x” em x, mas este raciocínio não pode ser realizado porque se está
examinando somente uma amostra de tamanho “n” e não toda a população.
Para melhor entendimento de tal conceito, tomemos infinitas amostras de tamanho “n” e
calculemos as respectivas x e consequentemente teremos um número infinito de x que
280
constituirão uma nova população (de médias) com média aritmética  que é igual ao 
populacional (da população originária), porém com desvio padrão igual a /√𝑛. Para melhor
entendimento, considere 2 situações:
1. Uma POPULAÇÃO FINITA constituída por 3 números (1; 2; e 3)
 = (1 + 2 + 3)/3 = 2
2 =  (x - x)2/n  [(1 – 2)2 + (2 – 2)2 + (3 – 2)2]/3 = 0,66   = 0,81
2. Uma POPULAÇÃO INFINITA constituída por infinitas amostras de tamanho 2 obtidas a partir
dos 3 números do caso anterior (1; 2; e 3)

x x (x - x) (x - x)2 x = 18/9 = 2


1,00
1e1 1,0 - 1,0 2/x = 3,0/9 = 0,33
1e2 1,5 - 0,5 0,25
 = 0,57

1e3 2,0 0,0 0,00

2e1 1,5 - 1,5 2,25

2e2 2,0 0,0 0,00

2e3 2,5 0,5 0,25

3e1 2,0 0,0 0,00

3e2 2,5 0,5 0,25

3e3 3,0 1,0 1,00

Total 18,0 3,00

Comparando-se as 2 variâncias das 2 populações (finita e infinita), verifica-se que:

2 0,66 
 = ---------- = ---------- = 0,33
2
x = -------
x n 2 √𝒏

Conclusão: a distribuição de médias é também uma distribuição Normal com média () e desvio
padrão (/√n) que é√𝑛
denominado ERRO PADRÃO DA MÉDIA. Genericamente,
x : N (; /√n)

Significado: permite avaliar quanto se erra, em média, ao estimar a média populacional através da
média amostral.

Exemplo. Suponha a seguinte situação em que se realizou um elevado número de observações


relativamente à taxa de glicose sanguínea em vaca leiteira e que o valor da média () seja 55
mg/100 mL e  = 6 mg/100 mL. Suponha, agora, que tenha sido identificado um rebanho leiteiro

281
qualquer onde se observou certo número de vacas leiteiras com manifestação de acidose. Se
forem normais, deveriam apresentar os valores de  e  acima mencionados. Selecionou-se certo
número de vacas leiteiras com sinais de acidose para determinar o teor de glicose em cada uma
dela e que se tenha calculado o valor de x que pode, então, ser comparado com o valor
populacional para decidir se a amostra pertence ou não à população de vacas cuja  = 55 mg/100
mL e  = 6 mg/100 mL. Sabe-se que, para uma variável X cuja distribuição é N (; ), transformada
em médias amostrais, a distribuição de médias passa a ser  N (; /√n). Logo,
x - 
z = -------------
/√n

Consequentemente, as bases do teste passam a ser:

 = 0,05
Ho   = 55 mg/100 mL n=9
H1   < 55 mg/100 mL x = 40 mg/100 mL

Interessa-nos saber se esta amostra comx = 40 mg/100 mL pertence ou não pertence à população
de vacas normais. Para tanto, calcula-se o valor de z 
x -  40 - 55
z = -------------- = -------------- = - 7,5
 6
---------- -------
√𝒏 3

Decisão: delimitam-se as ZR e ZA da Ho

Conclusão: compara-se o valor amostral (- 7,5) com o valor crítico de z5% ou


seja, com aquele valor que delimita a ZR e ZA de Ho. Assim, se o valor
ZR de H0
calculado de z (- 7,5) estiver localizado na ZR de Ho, se está autorizado a
dizer que a amostra não pertence à população de vacas normais e o TESTE
É SIGNIFICANTE. Por outro lado, se o valor de “z” estivesse contido na ZA
de Ho, aceita-se Ho e o TESTE É NÃO SIGNIFICANTE e a amostra pertence à
- 7,5 - 1,645 0 população de vacas normais.

Observação: o valor do desvio padrão populacional () é conhecido

Limitação: teste de uma média ou de uma proporção apresenta limitação que é a dificuldade ou
impossibilidade de se considerar semelhanças entre populações e amostras a fim de se
estabelecer as bases do teste. Esta dificuldade é contornada pelos testes de diferença entre 2
proporções e entre 2 médias.
Aplicação: quando se pretende introduzir um determinado produto que se conhece o valor da
média aritmética populacional, considerada a região, população, raça etc. pode-se testar

282
determinado produto comparando a média na amostra tratada com o medicamento frente à
média conhecida na população. Cuidados devem ser adotados para não cometer erros de admitir
como valor da média populacional valores desatualizados ou de outras regiões ou outras
características que possam interferir no experimento.
11b. TESTE DE UMA MÉDIA UTILIZANDO DISTRIBUIÇÃO “t” DE STUDENT

Conceituação: muitas vezes desconhece-se o valor de  e nesses casos, é necessário estimá-lo


através do valor amostral. Tem-se 2 situações:

a. Quando o tamanho da amostra n ≥ 30 e b. Quando o tamanho da amostra n < 30 e 


 é desconhecido: utiliza-se a fórmula: é desconhecido: utiliza-se a fórmula:

x -  x - 
z = ---------------- t = ----------------
s s
------------ ------------
√𝒏 √𝒏 − 𝟏

Exemplo: considere-se bovinos criados em regiões de baixas altitudes e que tenham uma taxa de
Hb igual a 12,5 mg%. Suponha-se que esses animais sejam destinados a regiões de altitudes mais
elevadas (< a taxa de O2, > o teor de Hb) e pela observação de 10 bovinos obtiveram-se os
seguintes resultados: x = 13,2 mg$ e s = 1,2 mg%. Pergunta-se: bovinos mantidos em altitudes mais
elevadas podem ser considerados como pertencentes à população com x igual a 12,5%?

Bases do teste Cálculo estatístico Interpretação


H0   = 12,5 mg% Conclusão: rejeita-se H0, portanto, o
teste é significante ao nível de
H1   < 12,5 mg% x -  13,2 – 12,5
t = ------------ = ------------------ = 1,75 rejeição de 5,0% (t = 1,83).
 = 0,05 s 1,2
n = 10 ----------- ---------
√𝑛 − 1 √9
s = 1,2
x = 13,2 mg%
- 1,83

Aplicação: quando se pretende introduzir um determinado produto que se conhece o valor da


média aritmética populacional, considerada a região, população, raça etc. pode-se testar
determinado produto comparando a média na amostra tratada com o medicamento frente à
média conhecida na população. Cuidados devem ser adotados para não cometer erros de admitir
como valor da média populacional valores desatualizados ou de outras regiões ou outras
283
características que possam interferir no experimento. A diferença entre o uso da distribuição
Normal e “t” já foi mencionada
Aplicação: quando não se pretende comparar a média amostral com o parâmetro (quantitativo)
em certa população ou quando se pretende introduzir um produto na prevenção ou tratamento
de uma doença avaliada quantitativamente e existe a possibilidade de avaliar a média antes do
tratamento, pode-se, a seguir, introduzir o tratamento proposto e em ambos os casos calcular os
respectivos intervalos de confiança para um  pré-estabelecido. Ao final da observação, compara-
se os 2 intervalos de confiança e pode-se assumir a respeito da eficácia do produto se os intervalos
não apresentarem área de superposição.

3. TESTE DA DIFERENÇA ENTRE DUAS MÉDIAS INDEPENDENTES

O teste de uma média apresenta alguns inconvenientes como: manter a comparabilidade entre
populações e a comparabilidade entre amostras principalmente. Á semelhança do procedimento
recomendado para teste de 2 proporções, um das amostras é mantida como controle (grupo
controle ou grupo testemunha) e o tratamento introduzido na outra amostra (grupo tratado).

Alguns princípios a serem considerados:


1. Já foi mencionado anteriormente, que, se uma população apresenta uma média () e se
desta população se extrai inúmeras amostras (infinitas amostras), para cada amostras pode-
se calcular o valor da média aritmética (x ). Com essas médias pode-se constituir uma
distribuição de médias amostrais que permitirá calcular a média das médias amostras e que
será igual a , ou seja, igual à média populacional.
2. Se forem constituídas pares de amostras sucessivamente, as diferenças entre as médias dos
pares de amostras terão sinal + ou – e a média desses valores será igual a zero. Portanto, a
média da diferença de médias tomadas infinitas vezes será igual a zero.
Em se tratando de teste da diferença entre 2 médias, existem 2 médias e a diferença entre elas
poderá ser +; - ou 0. Compete ao pesquisador decidir se a diferença entre as médias está
ocorrendo por acaso ou é decorrente da introdução do tratamento.

284
PARA TESTE DE UMA MÉDIA: PARA TESTE DA DIFERENÇA ENTRE 2 MÉDIAS:

x -  x1 - x2
z = ------------ z = ---------------------



𝑛

x -  x1 - x2
t = ---------------- t = ------------------------
𝑠

𝑛−1

Exercícios:

1. O peso médio e desvio padrão de leitões ao nascer são iguais a 850 g e 120 g. Um pesquisador
deseja testar um aditivo alimentar que supõe seja capaz de aumentar o peso ao nascer. Para
tanto selecionou 50 reprodutoras suínas que produziram 600 leitões que nasceram com peso
médio igual a 920 g. avaliar estatisticamente se o pesquisador alcançou sua esperança.
2. O peso médio de leitões ao nascer é igual a 850 g. Um pesquisador deseja testar um aditivo
alimentar que supõe seja capaz de aumentar o peso ao nascer. Para tanto selecionou 50
reprodutoras suínas que produziram 600 leitões que nasceram com peso médio e desvio
padrão foram iguais a 920 g e 120 g. avaliar estatisticamente se o pesquisador alcançou sua
esperança.

TESTE DA DIFERENÇA ENTRE DUAS MÉDIAS DEPENDENTES

Conceito: no estudo de certos problemas, podem-se ter animais que estão contidos em uma
amostra participando também de outra amostra e essas amostras são denominadas dependentes.
De certa forma, os resultados obtidos em uma das amostras são dependentes dos resultados
obtidos na outra amostra.

Vantagem: há uma diminuição das variabilidades do experimento resultantes de fatores


incontroláveis porque os mesmos indivíduos participam do experimento antes e depois da
introdução de certo tratamento. O mesmo não ocorre quando as amostras são independentes,
pois os animais de uma amostra são distintos daqueles da outra amostra.
285
Suponha que se queira testar certo medicamento capaz de aumentar o ganho de peso em granjas
com ocorrência endêmica de eimeriose em frangos corte um dos responsáveis pelo baixo ganho
de peso e a contagem de oocistos é superior a 5.000 oocistos/grama. A sua aplicação é testada
quando da iminência de ocorrência dessa doença.
Existem 2 possibilidades:
1. Selecionar um lote ou um grupo de frangos de corte na iminência de ocorrência de eimeriose
e dividir em 2 grupos submetendo um deles ao tratamento preventivo e medir o peso na
idade de abate de ambos os grupos, por exemplo. O resultado é dependente de pelo menos
2 fatores: do próprio tratamento e da variabilidade individual.
2. Tomar os mesmos frangos, realizar a contagem de oocistos/grama de fezes na iminência de
ocorrência de eimeriose, instituir tratamento preventivo e realizar novamente a contagem de
oocistos/grama de fezes na ausência de sinais clínicos de eimeriose.
Neste caso tem-se um par de valores de contagem denominado “AMOSTRAS PAREADAS”. O
que se poderia esperar se o tratamento fosse eficaz na prevenção da eimeriose? Certamente
os mesmos valores nas contagens de oocistos antes e depois do tratamento. Obviamente, o
próprio método traz consigo um erro casual () que condiciona à obtenção de resultados
ligeiramente diferentes. Assim, se o tratamento for eficaz, a soma das diferenças das médias
seria igual a zero.
Neste tipo de experimento, a variabilidade é reduzida que seriam os vários fatores extrínsecos
desconhecidos que poderiam interferir nos resultados. Na realidade, está se testando apenas
um grupo de animais e estabelecemos uma nova variável que é representada pela diferença
dos valores de antes de depois. É como se transformássemos um teste de 2 médias em um
teste de 1 média testando contra o valor 0 (zero).
Exemplo: sejam 15 frangos de corte de uma granja que usualmente manifestam sinais de eimeriose
entre 12 e 15 dias de idade e o tratamento é instituído antes deste momento, adotando como
critério de eficácia a contagem de oocistos/grama de fezes. Hipoteticamente, vamos admitir, sem
considerações sobre a espécie do protozoário, que a média de oocistos/g de fezes em frangos
infectados e sem manifestação clínica seja igual a 200 oocistos/g e que, quando do surgimento da
doença ocorra uma acentuada elevação na quantidade eliminada. Certo pesquisador está
interessado em testar uma droga que supõe seja capaz de prevenir a manifestação da doença e
consequentemente, não há aumento na quantidade de oocistos eliminados. Fixou em 0,05 o valor
da probabilidade de rejeitar erradamente H0 (). Portanto,

d  (d− d)2 d d
d = depois – antes s=√
d = --------- 𝒌 t = -------- ou z = --------
n s s
------ -------
√𝒏 − 𝟏 √𝒏

Tabela 43. Frangos segundo nº de oocistos antes e depois de certo tratamento.

286
Nº de ordem Nº oocistos Nº oocistos
d d - d (d - d)2
do frango antes depois
1 120 115 5 2 4
2 110 110 0 -3 9
3 110 110 0 -3 9
4 105 100 5 2 4
5 100 95 5 2 4
6 130 130 0 -3 9
7 140 120 20 17 289
8 125 130 -5 -2 4
9 135 140 -5 -2 4
10 100 110 - 10 -8 64
11 120 110 10 7 49
12 115 100 5 2 4
13 110 115 -5 -8 64
14 130 125 5 2 4
15 140 125 15 12 144
Total 665

45
665
d = ---------- = 3 oocisto/g s=√ = 6,66
15
15

As bases do teste e a fórmula são:

H0  antes = depois ou H0  d = 0 3
H1  anteS < depois ou H1  d < 0 t = ------------ = 1,782
6,66
 = 0,05
------------
n = 15
√15 − 1

- 1,68

Conclusão: teste não significante ao nível de 5% e, portanto, a droga inibe multiplicação de


oocistos no intestino dos frangos

287
CAPÍTULO 13
PRINCÍPIOS BÁSICOS SOBRE AMOSTRAGEM

PRINCIPIOS BÁSICOS SOBRE AMOSTRAGEM.


CONCEITO E APLICAÇÃO NA EPIDEMIOLOGIA.
PRICIPAIS ETAPAS DE UMA AMOSTRAGEM.
TIPOS DE AMOSTRA.
DETERMINAÇÃO DO TAMANHO DE AMOSTRA: para variável qualitaita (porporção) e quantitativa
(média).
DETEMINAR TAMANHO DA AMOSTRA PARA DETECTAR PRESENÇA DE UMA DOENÇA

i. CONCEITO E APLICAÇÃO NA EPIDEMIOLOGIA

É objetivo da vigilância e de outros estudos observacionais definir o estado da natureza como ela
existe a fim de se entender o significado das explicações. A amostragem é representativa de uma
população e é sempre uma necessidade em Vigilância por razões de custo ou de tempo ou por
outras razões. Uma amostra é sempre menor que o nº de doentes, não doentes, às amostras
submetidas à necropsia ou laboratorialmente examinados existentes na população. [e um
componente da estatística que, num efetivo sistema de Vigilância envolve, no mínimo, o emprego
de 3 categorias de conceitos estatísticos e de métodos conhecidos como:
a. Amostragem de não doentes, doentes e mortos (permite a obter explicações, planejar
ações ou inferir para a população da qual proveio a amostra);
b. Definição e comparação de probabilidades como taxas de risco, morbidade e mortalidade
em uma população animal ou de propriedades de testes diagnósticos;
c. Teste de hipóteses de associações sejam entre níveis ou padrões de ocorrência de doenças
e dos fatores ligados ao hospedeiro, (ao agente e ao meio ambiente ou de fatores de manejo
que podem contribuir direta ou indiretamente com causas). Verifica-se frequentemente
entre os Veterinários uma carência de conhecimento da teoria da amostragem para se obter
ou utilizar dados bem como um entendimento escasso sobre as propriedades dos testes de
hipóteses.
Estudos observacionais incluindo a Vigilância diferem dos estudos experimentais a campo (por ex.
experimentos sobre avaliação de eficácia de vacinas e de drogas, e projetos piloto) em muitos
aspectos. A validade interna de estudos experimentais pode ser usualmente aperfeiçoada pelo
controle rigoroso de fatores os experimentos. Entretanto, os experimentos controlados podem
tender a serem artificiais e por esse motivo diminui a probabilidade de que os resultados obtidos
possam ser generalizados para a realidade, para uma realidade menos controlada. Por esta razão
é tendência identificar, por meio de procedimentos experimentais convencionais, as causas de
doenças insidiosas complexas como diarreia neonatal ou ineficiências reprodutivas. Estudos
observacionais, por outro lado, podem oferecer resultados que podem ser imediatamente
generalizados para a população, mas, seu delineamento pode ser tão sem controle que inúmeras
interpretações alternativas dos resultados podem existir.
288
Portanto, o estudo de certo fenômeno em uma população conceitualmente numerosa ou por
questões de natureza prática (material e econômica), é realizado utilizando-se amostras. A
amostra permite formar um juízo sobre a população.
É importante definir a população alvo e selecionar uma amostra para ser examinada ou medir o
atributo e inferir para a população a partir desta amostra.
A representatividade da amostra é muito importante porque poderá haver vícios de estimativa i.é.
há o risco de a amostra conter um atributo em estudo que se afasta de muito do atributo
populacional. Cuidado com algumas amostras que não representam estatisticamente a
população. São os casos de amostras de conveniência e amostras de concordância. A amostragem
de conveniência é utilizada, por ex., quando se examinam os primeiros animais (primeiros bovinos
que entram em uma seringa de contenção de animais, primeiras aves mortas disponíveis em um
galpão etc.) não se pode extrapolar os resultados da observação para a população. O mesmo viés
é encontrado quando se examinam amostras de voluntários (colher amostras de propriedades em
que os proprietários se apresentam como voluntários).
É preciso definir a variável, os instrumentos de medida e a precisão da estimativa. Desde que sejam
tomados os cuidados de representatividade, a amostra irá representa uma microfotografia da
população.
VARIÁVEL é entendida como o resultado de uma observação de um fenômeno ou a característica
observada (veja introdução à Bioestatística).
Uma variável pode ser de 2 naturezas: qualitativa (enumerável) ou quantitativa (mensurável).
Qualquer que seja a natureza da variável, existem critérios para sua classificação. Os limites das
distribuições de duas classes de mensuração permitem distingui-las de forma inequívoca.

PARÂMETRO é aquele valor conhecido da população: média aritmética () ou proporção ou % ().
Estimativa do parâmetro é o valor obtido na amostra e também denominado parâmetro
estatístico.
A amostra apresenta algumas vantagens e desvantagens:

289
Vantagens:
1. Custo: é sempre menor do que examinar toda a população
2. Tempo: como será examinado um nº menor de indivíduos ou propriedades ou grupos, o
tempo gasto será sempre menor.
3. Qualidade dos dados: ao examinar uma amostra é possível uma supervisão, controle,
treinamento e calibragem dos instrumentos de medida. A qualidade dos dados obtidos
melhora na razão direta do aumento destas variáveis. Quanto menor for o nº de
indivíduos envolvidos na mensuração, melhor será a qualidade da pesquisa pois, a
calibragem será conduzida com menor nº de pessoas envolvidas. O controle será tanto
melhor quanto menor o nº de pessoas envolvidas e quanto menor for o tamanho da
amostra.
Desvantagens:
1. Os eventos raros poderão não ser medidos.
2. Por mais perfeita que seja uma amostra podem ocorrer variações de uma amostra para
outra.
3. As amostras estão sempre sujeitas a flutuações estatísticas contornáveis através
correções estatísticas.

FLUTUAÇÃO ESTATÍSTICA: é a variação entre o valor do parâmetro populacional e a média das


médias das várias amostras. Ex. conhecendo-se todos os bovinos do Brasil quanto a estatura e
calculando-se a média pela observação de uma amostra, tem-se o valor de um parâmetro ().
Tomando-se várias amostras (n1 , n2 , n3 ,....... nn) e calculando-se a média das médias, tem-se uma
estimativa do parâmetro  e caso não haja coincidência entre o parâmetro e a estimativa, diz-se
que há um vício.
Uma amostra será não viciada se as médias das médias coincidir com o valor do parâmetro que é
a média real da população (figura 36).

Figura 36. Desvio ou flutuação entre os valores populacional e média das média de
amostras

290
Uma amostra será não viciada quando a média das médias (x ) coincidir com o parâmetro (  )
que é a média real da população. O mesmo raciocínio vale para o caso do parâmetro populacional
ser uma proporção (  ) e da estimativa de uma proporção ( p ).
Note-se que de uma população é possível construir várias amostras e calcular a média ou a
proporção de cada amostra. Na realidade sorteia-se uma amostra de toda a população desde que
seja representativa.

ii. PRINCIPAIS ETAPAS DE UMA AMOSTRAGEM

a) Definição precisa do objetivo da pesquisa: deve estar escrito e depois de definido deve
permanecer inalterado até o final da pesquisa i.é. prosseguir até o final em função deste
objetivo. O objetivo da pesquisa será mais amplo no sentido da qualidade e não se deve
interferir com base na amostra. Tendo em mãos uma amostra de tamanho pequeno, pode-se
dispensar mais atenção a cada indivíduo.
b) Definição precisa da população a ser estudada. Definida em função de suas características
como idade, sexo, manejo etc. que devem delimitar corretamente a população. Uma vez
definida a população, esta não deve ser mudada no meio do caminho. Por ex. se a população
definida é de gado leiteiro, não alterar para gado de corte ou de exploração mista.
c) Definição precisa das variáveis: a variável será sempre um dado relevante e apenas dados
relevantes serão examinados. Quanto mais variáveis o trabalho apresentar, mais dificuldades
o pesquisador irá encontrar. Definir, portanto, dentro da pesquisa que está sendo realizada,
as variáveis consideradas relevantes, importantes e procurar não se estender muito. Por ex.
para uma pesquisa do perfil zootécnico de uma população de certa espécie animal pode-se
considerar variáveis relevantes o sexo, idade, raça. Eventos raros poderão ser considerados
na pesquisa mas, não será um dado relevante com a oportunidade de ser estudada. Dados
relevantes são definidos por expertos no assunto da pesquisa em questão. Quanto menor o
nº de variáveis, mais fácil se torna a pesquisa e, portanto, mais facilmente realizada.
d) Precisão desejada: deve ser previamente definida os quantos estão dispostos e estar errado.
O ideal seria que a média das médias coincidisse com o parâmetro. O vício, que permite o
cálculo do desvio padrão, tem como seu inverso a precisão (é o inverso do desvio padrão de
várias amostras).
e) Definição do método de mensuração: em uma pesquisa pode-se elaborar um questionário.
Cuidados devem ser tomados quanto ao método de mensuração para que o resultado seja o
mais fidedigno possível.
f) Escolha da unidade amostral: é o menor tamanho que o pesquisador divide a população.
Variará de um pesquisador para outro. Recomenda-se que uma população contenha, no
mínimo, 7 unidades amostrais. Por ex. Município de X para o estudo de uma certa doença em
uma região: a unidade amostral poderia ser um município; esta unidade amostral poderá ser
desprezada e constituir uma nova unidade amostral como zona; que poderá ser desprezada e
constituir uma nova unidade amostral como distrito; que poderá ser desprezada e constituir-
291
se uma nova unidade como granja; dentro da granja pode-se ter 1 ou mais núcleos, dentro do
núcleo pode-se tomar uma unidade amostral representada por 1 galpao e até 1 animal. Sorteia-
se o município ou zona ou distrito ou uma granja ou núcleo ou galpão para constituir a
amaostra. Um ex. na Veterinária/suinocultura pode ser: município, região, granja, um conjunto
de galpões, 1 galpão, 1 baia, uma reprodutora com seus leitões, uma matriz ou os leitões, 1
leitão.
g) Seleção da amostra: uma amostra é selecionada e nunca escolhida esta seleção poderá ser
conduzida de diferentes formas. A forma de seleção é denominada amostragem.

iii. TIPOS DE AMOSTRA

3a. Amostra Probabilística: todas as unidades da população têm a mesma probabilidade,


conhecida e diferente de zero, de pertencer à amostra. Por probabilidade entende-se a chance
que tem de sair, mas que não sabemos qual vai sair. Somente no caso de amostra probabilística
é que se pode estimar o possível erro (vício). As modalidades são:
a. Amostra casual simples: todos os indivíduos ou unidades da população tem igual
oportunidade de participar da amostra (equiprovável). ex. sorteio lotérico com o uso de uma
urna com n papéis ou fichas numeradas e em quantidade igual ao tamanho da população.
Suponhamos que sejam 100 unidades amostrais (N) e se queira obter uma amostra de
tamanho 10 (k =10); k/N é a fração da amostra e é a probabilidade de cada indivíduo da
amostra de pertencer à amostra (k/N = 10/100 = 0,1 = 10%). Calcula-se sempre o menor
tamanho possível da amostra e quanto maior for o tamanho da amostra, melhor será o
resultado obtido. A amostra casual simples pode ser com reposição e sem reposição:
b. Amostra casual simples com reposição: sorteia-se um nº e o papel ou ficha é recolocada na
urna. É recomendada quando a população é de pequeno tamanho.
c. Amostra casual simples sem reposição: uma vez sorteado o indivíduo, é excluído do sorteio
seguinte. É a modalidade mais usada. Uma boa estimativa é aquela que usa amostra sem
reposição pois, não há o risco de se selecionar ou sortear 2 vezes o mesmo indivíduo.
d. Amostra casual sistemática: é também equiprovável porque, antes do sorteio, todas as
unidades da população têm a mesma chance de sair na amostra. É também uma amostra
casual simples sem reposição. Por ex. seja uma população de tamanho 40 (N) e uma amostra
de tamanho 5 (k). Neste caso há a necessidade de se calcular o intervalo da amostragem
obtido pela divisão do tamanho da população pelo tamanho da amostra. Portanto, 40/5 = 8.
Sorteia-se apenas o 1º indivíduo, por ex. 3 e os demais apresentam intervalo igual a 8 i.é. 11 ;
19; 27 e 35. Com esta modalidade de amostragem tem-se a certeza de contemplar toda
população distribuída por toda área. O inconveniente desta amostragem é quando a
listagem da população apresenta um caráter cíclico. Por ex. um fichário organizado de tal
forma que se coloca 1 macho e 9 fêmeas. Se por acaso o intervalo amostral for igual a 10
pode-se selecionar apenas machos ou apenas fêmeas.

292
e. Amostra estratificada com partilha proporcional: indicado quando uma população
apresenta certa estrutura como por exemplo estratos de diferentes idades: 30% de animais
entre 0 e 18 meses; 40 % entre 18 e 48 meses e 30% maiores que 48 meses. A amostra deverá
conter 30%, 40% e 30% de animais de cada grupo etário. Outro exemplo: certo município com
N animais é constituído por 3 estratos populacionais (A, B e O) que são homogêneas entre
si (dentro do estrato) e muito heterogêneas em relação à outra (entre estratos). As
proporções existentes na população são, por ex. 20% de A; 50% de B e 30% de O. As
proporções existentes na população devem estar representadas na amostra.
f. Amostra conglomerada: é utilizada quando se pode identificar agrupamentos da população
que são muito semelhantes entre si. Ex.
b. Em uma granja avícola existem 10 galpões com aves de mesma característica formando
um núcleo. Basta sortear 1 galpão;
c. Em um galpão de recria de uma suinocultura podem existem 12 baias com 20 leitões em
cada uma. São animais uniformes quanto às características essenciais. Pode-se
selecionar 1 ou mais baias e examinar todos os animais das baias selecionadas.
3b. Amostra não probabilística: nem todas as unidades da população têm probabilidade conhecida
e algumas podem ter probabilidade igual a zero.
b. Amostra de voluntários: é mais frequentemente usada com humanos. Seja por ex. uma
escola que está sendo visitada por um inspetor dentista para verificação da saúde dos
dentes das crianças e estabelece que serão supervisionadas 10 crianças. Se optar pela
amostragem de voluntários, poderão se apresentar voluntariamente crianças que nunca
ou pouco sofreram em cadeira de dentista ou que tem poucas cáries. As crianças que
sofreram em cadeira de dentista ou que apresentam muitas cáries poderão ou por medo
ou por inibição não se apresentar como voluntárias (probabilidade zero de se
apresentarem) e desta forma a amostra ser constituída por crianças que não representam
a população que o inspetor deseja avaliar.
c. Amostra intencional: por alguma razão o pesquisador coloca sua intenção na amostragem.
Ex.
f. Há casos, no campo, em que casas ou propriedades se localizam no topo de morro e
ao pé do morro. O pesquisador poderá eliminar algumas ao cume do morro por alguma
razão como chuva, cansaço etc. e essas casas ou propriedades deixam de pertencer à
amostra. Há sempre uma intenção e, portanto, não é probabilística;
g. Existem 10 gaiolas de ratos e retirar uma amostra de 10 ratos. Retirar manualmente 2
ratos/gaiola e não 10 ratos de 1 gaiola porque não têm a mesma probabilidade de serem
retirados. Os localizados nos cantos têm probabilidade zero de participarem da
amostra. Seria probabilística se os 100 ratos tivessem sido numerados e sorteados.
d. Amostra prontamente acessível: seja o caso de se pretender obter uma amostra de 15
bovinos de corte que são passados na seringa. O pesquisador poderá escolher os primeiros
15 animais que passam pela seringa.

293
i. DETERMINAÇÃO DO TAMANHO DA AMOSTRA (n)
Uma constante questão em qualquer pesquisa ou investigação é saber o tamanho da amostra, i.é.
quantos animais devem ser examinados. A pergunta só poderá ser respondida se forem
considerados o objetivo e as circunstâncias do experimento. Basicamente são 3 os objetivo:
determinação da prevalência de uma doença na população (), determinar o valor de uma variável
de natureza quantitativa () e detectar a presença da doença na população de onde se imagina
esteja ausente.
1. VARIÁVEL DE NATUREZA QUALITATIVA
ii. Para o estudo de prevalência: o critério mais frequentemente empregado é o da precisão
da binomial na qual o desvio padrão não deve ultrapassar um certo valor igual “d” ( - p).
Tomando-se a fórmula (1) do teste de uma proporção com aproximação Normal
d.
p-
z = --------------------- onde (1 – p) = q (1)
p.(1  p)
n

z2 . p . (1 - p ) z2 . p. q
portanto, n = -------------------------- = --------------------------
d2 d2
Porém, “p“ tem valor desconhecido e é o valor que se deseja determinar na amostra. Seu valor
deve ser identificado com base em informações pregressas, de literatura ou de um experimento
piloto. Quando não se conhece por nenhum desses meios, pode-se usar o valor 50% ou 0,5.
Esta fórmula é utilizada quando o tamanho da população é conceitualmente infinito. Quando o
tamanho é finito e, portanto, conhecido, é preciso determinar o tamanho de “n0“ para essa
população finita pela fórmula:
n
no = --------------------
n-1
1 + ----------
N
onde:
n = tamanho da amostra para população infinita
no = tamanho da amostra para população finita
N = tamanho da população finita
Exemplo: seja um estudo em que se pretende avaliar a prevalência da leptospirose em suinos em
um estabelecimento de criaçao comercial.
Os parâmetros estabelecidos são:
1. A bibliografia indica que, no Brasil, a prevalência varia entre 20,0 e 40%. Será admitido 30,0%
como sendo o valor populacional ().

294
2. Será estabelecido como desvio, o valor igual a 10,0% (d) e para o erro de se rejeitar erradamente
a hipótese de nulidade (H0) o valor 5% (α) e, portanto, z = 1,96 (vide distribuição Normal de
probabilidade)
3. Para α igual a 30%, o valor de “z” na distribuição Normal de probabilidade é igual a 1,96.
4. Assim sendo, o úmero de suínos (n) a ser examinado será:

z 2. p . q 1,962. 30 . 70
n = -------------- = ---------------------- = 84
d2 102

Concluindo: será necessário obter uma amostra de tamanho mínimo igual a 84 para população de
tamanho infinito.
Caso a população tenha tamanho conhecido (população finita), aplicar a fórmula para o exemplo
qe população igual a 2.000 animais.
n 84
no = -------------------- = ----------------- = 81
n–1 83
1 + ---------- 1 + ---------
N 2.000

Obs. compete ao pesquisador estabelecer os critérios de amostragem

ii. Para se detectar a presença de doença: Quando se pretende determinar se uma determinada
doença está presente ou não em certa população de onde se imagina tenha sido eliminada,
pode - se usar a seguinte fórmula (CANNON & ROE, 1982):

n = { 1 -  1/d } . { N - d / 2 } + 1
onde:
n = tamanho da amostra
d = nº esperado de doentes ou de infectados
 = erro de 1ª espécie. Usualmente escolhe-se valor igual a 0,05 ou seja 5% e portanto, a
confiança = 95%
N = tamanho da população
Ex. Para uma prevalência esperada de 25%, confiança de 95% e uma população de 120 animais,
o tamanho mínimo da amostra será:
n = { 1 - 0,05 1 / 30 } . { 120 - 30 / 2 } + 1 = 10

Quando uma amostra de tamanho calculado é examinada e nenhum animal positivo, doente
ou infectado é encontrado, não significa que a patologia esteja ausente. Deve - se calcular qual
seria o nº máximo de animais positivos presentes na população para um resultado igual a 0
(zero).
295
d = { 1 -  1/n } . { N - n / 2 } + 1
Aplicado ao exemplo acima descrito, o nº de animais possivelmente presentes na população, mas,
que uma amostra de tamanho 10 não foi capaz de detectar nenhum positivo e igual a
aproximadamente 30.

 Para estimar a média


Parte-se da fórmula do teste de uma média, onde a “x “ é a média aritmética amostral,  a
média aritmética opulaciona, “s” o desvio padrão estabelecuido pelo pesquisador e “d” é o
desvio (x - ) que o pesquisador está diposto a incorrer.
x -  d
Z = ---------------------- = -----------------
s s
------ ------
n n

z2 . s2
Onde n = -------------
d2
Exemplo: pretende-se estimar o peso médio de leitões aos 21 dias de idade. A literatura indica que
o peso vaia de 1.100g a 1.600g e o desvio padrão (s) é da ordem de 200g. Quantos leitões são
necessários pesar para estimar o peso médio de determinado sistema de criação admitindo um
desvio (d) igual a 100g.

z2 . s2 1,962. 2002
n = ------------- = ------------------- = 160
d2 1002
Conclusão: selecionar e pesar 160 leitões.

296
TABELA DE DISTRIBUIÇÃO NORMAL DE GAUSS (A-2)

297
TABELA DE DISTRIBUIÇÃO “t” de STUDENT (A-3)

TABELA A-3

DISTRIBUIÇÃO DE 2 (A-4)

298
TABELA DE DISTRIBUIÇÃO DE  (QUI-QUADRADO) (A – 4)
2

TABELA A-4

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