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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
Sumário
FISIOLOGIA CARDIOVASCULAR ...................................................................... 9
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 9
2. ANATOMIA E HISTOLOGIA CARDÍACAS ................................................ 11
3. ELETROFISIOLOGIA ................................................................................ 12
4. CICLO CARDÍACO ................................................................................... 15
5. MECANISMOS DE REGULAÇÃO ............................................................. 16
6. PRESSÃO ARTERIAL ............................................................................... 17
7. DINÂMICA CAPILAR............................................................................... 17
8. REFERÊNCIAS......................................................................................... 18
MEDICAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA ..................................................................... 19
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................ 19
2. TRANQUILIZANTES ................................................................................ 20
3. SEDATIVOS ............................................................................................ 21
4. OPIOIDES ............................................................................................... 23
5. BENZODIAZEPÍNICOS ............................................................................ 26
6. ANTICOLINÉRGICOS .............................................................................. 27
7. REFERÊNCIAS......................................................................................... 28
CHOQUE ...................................................................................................... 30
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................ 30
2. CHOQUE HIPOVOLÊMICO ..................................................................... 31
3. CHOQUE SÉPTICO ................................................................................. 34
4. REFERÊNCIAS......................................................................................... 38
APARELHOS E CIRCUITOS ANESTÉSICOS ....................................................... 39
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................ 39
2. INSTRUMENTOS PARA MANEJO DE VIAS AÉREAS ................................ 39
3. CIRCUITOS ANESTÉSICOS ...................................................................... 41
4. REFERÊNCIAS......................................................................................... 45
MONITORAMENTO DA PRESSÃO ARTERIAL.................................................. 46
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................ 46
2. PRESSÃO ARTERIAL INVASIVA (PAI) ...................................................... 47
3. PRESSÃO ARTERIAL NÃO INVASIVA (PANI) ........................................... 48
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7. REFERÊNCIAS....................................................................................... 163
ANESTESIA EM CADELAS E GATAS COM PIOMETRA .................................... 164
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................... 164
2. FISIOPATOGENIA ................................................................................. 164
3. ABORDAGEM INICIAL DO PACIENTE EM SEPSE/CHOQUE SÉPTICO.... 165
4. PROTOCOLOS ANESTÉSICOS ............................................................... 165
5. CONSIDERAÇÕES ................................................................................. 166
6. BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 167
ANESTESIA EM NEONATOS E GERIATRAS ................................................... 168
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................... 168
2. PARTICULARIDADES DOS NEONATOS ................................................. 168
3. PARTICULARIDADES DOS GERIATRAS ................................................. 170
4. REFERÊNCIAS....................................................................................... 172
BLOQUEADORES NEUROMUSCULARES ...................................................... 173
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................... 173
2. FISIOLOGIA DA JUNÇÃO NEUROMUSCULAR ...................................... 173
3. FÁRMACOS .......................................................................................... 174
4. MONITORAÇÃO E REVERSÃO DO BLOQUEIO ..................................... 175
5. REFERÊNCIAS....................................................................................... 176
FAMACOLOGIA BÁSICA .............................................................................. 177
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................... 177
2. FARMACOCINÉTICA............................................................................. 177
3. FARMACODINÂMICA .......................................................................... 182
4. REFERÊNCIAS....................................................................................... 184
EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE E HIDROELETROLÍTICO ........................................ 185
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................... 185
2. CONCEITOS.......................................................................................... 185
3. CONSIDERAÇÕES NO DIAGNÓSTICO DOS DISTÚRBIOS DO EAB ......... 187
4. RECONHECIMENTO DO DISTÚRBIO DO EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE ..... 188
5. REFERÊNCIAS....................................................................................... 194
SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO ............................................................... 195
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................... 195
2. ESTRUTURA E DIVISÃO DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO ............ 196
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FISIOLOGIA CARDIOVASCULAR
1. INTRODUÇÃO
O sistema cardiovascular tem como principal função promover a circulação do
sangue, ofertando, adequadamente, oxigênio e nutrientes ao organismo. Órgãos como
coração e cérebro dependem de um aporte contínuo de oxigênio, de forma que alguns
minutos de anóxia podem acarretar em consequências desfavoráveis à vida do paciente.
Resumidamente, há quatro principais estruturas que compõem o sistema:
Estrutura Principais Funções
Coração Bombear sangue.
Vasos Sanguíneos Carregar sangue até os tecidos.
Sangue Transportar oxigênio, nutrientes,
hormônios e metabólitos, regular pH,
temperatura e balanço hídrico e atuar
na coagulação e no sistema imune.
Linfa Retornar o plasma filtrado à
circulação e transportar líquidos e
gordura originados da absorção
intestinal.
Fonte: Adaptado de Grimm et al., 2015.
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3. ELETROFISIOLOGIA
A atividade elétrica do coração é um componente fundamental para
manutenção do débito cardíaco, uma vez que as células musculares dependem de
potenciais de ação para exercer sua função contrátil.
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Fonte: https://ecgnow.com.br/conteudo/arritmia-supraventricular-ou-ventricular
Fonte: http://www.fisfar.ufc.br/petmedicina/images/stories/ecg_normal.pdf
4. CICLO CARDÍACO
Os eventos situados entre duas sístoles podem ser chamados de ciclo cardíaco.
Ocorrem alterações em fluxo e pressão sanguíneos que podem ser subdivididas da
seguinte maneira:
Subfases Sistólicas:
o Contração Isovolumétrica: a contração ventricular torna a pressão
ventricular superior à pressão atrial, provocando o fechamento das válvulas
atrioventriculares. Entretanto neste momento a pressão ventricular é
inferior às pressões aórtica e pulmonar, logo não há alteração de volume;
o Ejeção Rápida: as pressões ventriculares superam as pressões dos vasos,
provocando a abertura das válvulas semilunares;
o Ejeção Lenta: a artéria aorta acomoda o grande volume de sangue recebido,
fazendo com que seu gradiente de pressão com o ventrículo esquerdo
diminua progressivamente;
o Protodiástole: momento virtual onde a pressão nos ventrículos se iguala à
pressão dos vasos, interrompendo a ejeção do sangue.
Subfases Diastólicas:
o Relaxamento Isovolumétrico: a pressão ventricular é inferior à pressão dos
vasos, mas superior à pressão atrial, o que resulta no fechamento das
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
5. MECANISMOS DE REGULAÇÃO
O sistema nervoso autônomo é fundamental na regulação da função
cardiovascular. Há receptores periféricos, como os barorreceptores, mecanorreceptores
e quimiorreceptores, que, perante alterações na pressão arterial, volemia e pressão
parcial de gases, respectivamente, enviam sinais ao sistema nervoso central, o qual
responde através da modulação da ação de fibras simpáticas e parassimpáticas.
A nível local, respostas de menor magnitude são dadas por mecanismos de
controle independentes do sistema nervoso, tais como a liberação tecidual de
prostaglandinas e fatores endoteliais, cujo representante essencial é o óxido nítrico,
potente vasodilatador.
A tabela a seguir resume a organização das fibras do sistema nervoso autônomo.
Simpático Parassimpático
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6. PRESSÃO ARTERIAL
A força que o sangue exerce na parede dos vasos é definida como pressão arterial
(PA). Este parâmetro vital, determinado pelo produto entre o débito cardíaco e a
resistência vascular, é um dos grandes determinantes da perfusão tecidual.
Sua mensuração pode ser realizada em várias etapas da circulação,
possibilitando a utilização dos seguintes termos:
PA Sistólica: PA máxima do ciclo cardíaco. Ocorre durante a sístole;
PA Diastólica: PA mínima do ciclo cardíaco. Ocorre durante a diástole;
Pressão de Pulso: diferença entre as pressões sistólica e diastólica;
PA Média: pressão média durante o ciclo cardíaco. É obtida através das seguintes
equações: (PAS + 2PAD)/3 ou PAD + PP/3
7. DINÂMICA CAPILAR
As forças de Starling são de suma importância no controle do movimento de
fluidos entre os compartimentos corpóreos e, portanto, na compreensão dos
mecanismos que causam o edema. A resultante destas forças, presentes nos
compartimentos intravascular e intersticial, determina a movimentação dos líquidos.
Pressão Hidrostática: exercida pelos líquidos, faz com que estes se movimentem
para fora do compartimento;
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
8. REFERÊNCIAS
DUKE-NOVAKOVSKI, T.; CARR, A. Perioperative Blood Pressure Control and
Management. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 45, n. 5, p.
965–981, 2015.
GRIMM, K.A. et al. Veterinary anesthesia and analgesia: the fifth edition of Lumb
and Jones. 5 ed. St. Louis: Willey-Blackwell, 2015. 1061 p.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
MEDICAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA
1. INTRODUÇÃO
A medicação pré-anestésica (MPA) consiste na utilização de um ou mais
fármacos antes da indução anestésica. A MPA tem como objetivos principais promover
tranquilização ou sedação e analgesia, condições que facilitam o trabalho do
anestesista. Além disso, os agentes utilizados promovem miorrelaxamento,
potencializam anestésicos gerais, podem permitir a realização de técnicas de anestesia
locorregional e reduzem efeitos adversos de outros fármacos, como salivação, vômito e
bradicardia. Seu uso está associado a indução e recuperação anestésica mais suaves.
Para a escolha adequada dos fármacos utilizados na MPA, deve-se considerar o
procedimento a ser realizado e as características do paciente, como raça, espécie, idade,
porte, temperamento e comorbidades.
O temperamento do animal e o ambiente de preparo anestésico têm grande
influência na qualidade da tranquilização ou da sedação. Pacientes mais agitados
necessitam de doses maiores de agentes para obtenção de efeitos tranquilizantes. O
mesmo acontece com pacientes de menor porte ou mais jovens, que geralmente tem
maior metabolismo. Já algumas raças, como braquicefálicos, tem maior tônus vagal e
estão mais propensas a efeitos colinérgicos, enquanto as raças de origem oriental têm
maior predisposição a efeitos paradoxais de alguns agentes.
As medicações pré-anestésicas podem ser aplicadas em diferentes vias de
acordo com o objetivo desejado e com as condições do paciente. As vias intramuscular
e subcutânea possuem maior latência que a via intravenosa, mas geralmente são
empregadas por possibilitar maior tempo de adaptação do organismo aos efeitos dos
fármacos. Além disso, muitas vezes os pacientes necessitam de tranquilização prévia
para canulação venosa. Os fármacos podem ser administrados também por outras vias
menos usuais, como intranasal, intraretal, oral ou no acuponto Yintang. Deve-se
considerar as características farmacocinéticas de cada via para a escolha da melhor
forma de administração.
As principais classes farmacológicas utilizadas na MPA são: Anticolinérgicos,
tranquilizantes, benzodiazepínicos, sedativos, opioides e dissociativos.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
2. TRANQUILIZANTES
Os tranquilizantes são fármacos capazes de reduzir a ansiedade dos pacientes
sem causar perda ou redução na consciência. Seus efeitos são subcorticais. Os principais
representantes são as butirofenonas e os fenotiazínicos.
3. SEDATIVOS
Diferentemente dos fenotiazínicos, os sedativos promovem depressão no nível
de consciência. São representados pelos agonistas α2 adrenérgicos, e os fármacos
comumente usados são a xilazina, a detomidina, a romifidina, a medetomidina e a
dexmedetomidina.
O mecanismo de ação dos agonistas α-2 adrenérgicos está relacionado à inibição
da síntese e liberação de noradrenalina pela ativação de receptores pré e pós sinápticos
a nível central e periférico, visto que os receptores estão distribuídos em diferentes
partes do organismo, o que também aumenta seu potencial de causar efeitos
indesejáveis. De maneira geral, os α-2 agonistas causam sedação, miorrelaxamento e
analgesia.
Efeitos no SNC: Inibem a liberação de norepinefrina por atuar em receptores pré-
sinápticos e pós-sinápticos localizados no tronco encefálico e no corno dorsal da medula,
promovendo sedação e analgesia.
Efeitos cardiovasculares: O estímulo pós-sináptico de receptores α-1 e α-2 na
musculatura lisa de vasos leva a vasoconstrição inicial, com consequente aumento na
pressão arterial. A elevação na pressão arterial ativa um reflexo vagal por estímulo de
barorreceptores, gerando bradicardia reflexa. Os efeitos vasoconstritores mediados por
ativação pós-sináptica de receptores α-2 e α-1 perduram por alguns minutos. Após essa
fase, os efeitos pré-sinápticos dos α-2 agonistas prevalecem, o que leva a menor
liberação de noradrenalina (menor tônus simpático), com tendência a redução na
pressão arterial e persistência de bradicardia. A bradicardia está muitas vezes associada
a outras bradiarritmias, especialmente bloqueios atrioventriculares de primeiro e
segundo grau. A utilização de antimuscarínicos, como atropina, para reverter a
bradicardia induzida por α-2 agonistas pode causar redução grave no débito cardíaco e
aumento do trabalho cardíaco em função da hipertensão inicial, mas pode ser
considerada caso ocorra hipotensão.
Outros efeitos: redução da secreção de vasopressina e aumento na diurese,
especialmente em grandes animais; inibição na produção de insulina (hipoinsulinemia
com possível hiperglicemia); redução na liberação de ACTH e cortisol; redução na
motilidade gastrointestinal; indução de vômito; aumento na salivação; podem causar
depressão respiratória; causam contração da musculatura lisa uterina (contraindicado
no terço final da gestação).
Particularidades nas diferentes espécies: Ruminantes são mais sensíveis,
podendo causar timpanismo em bovinos pela redução na motilidade do trato
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Xilazina 160
Clonidina 220
Detomidina 260
Medetomidina 1620
Dexmedetomidina 1620
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4. OPIOIDES
Existem três tipos principais de receptores opioides com diferentes localizações
e efeitos no organismo: mu (µ), sigma (σ) e kappa (κ) e delta (δ).
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5. BENZODIAZEPÍNICOS
Os benzodiazepínicos são capazes de promover efeitos sedativos, hipnóticos,
anticonvulsivantes, amnésicos e miorrelaxantes. Atuam deprimindo o sistema límbico e
aumentando o tônus GABAérgico central por aumento da afinidade do
neurotransmissor inibitório GABA ao seu receptor (GABAA), levando a hiperpolarização
de membranas pós sinápticas e maior condutância ao cloreto. Promovem depressão
cardiorrespiratória mínima, sendo usado com segurança em cardiopatas. Pode causar
efeito paradoxal em alguns cães, principalmente quando utilizados de forma isolada e
em pacientes hígidos. Tem alta ligação a proteínas plasmáticas (97-98%) e são
biotransformados pelo sistema microssomal hepático.
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6. ANTICOLINÉRGICOS
Não são rotineiramente empregados como medicação préanestésica, mas são
classicamente incluídos na categoria. Os anticolinérgicos são antagonistas competitivos
de receptores muscarínicos, sendo capaz de promover efeitos vagolíticos. Os receptores
muscarínicos podem ser encontrados em diferentes regiões do organismo:
• M1: presentes nos neurônios do SNC;
• M2: localizados no coração, nos nodos sinoatrial e atrioventricular;
• M3: presentes nas glândulas secretores, endotélio vascular e músculos lisos.
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Glicopirrolato: É quatro vezes mais potente que a atropina, mas tem início um
pouco mais lento e duração um pouco maior (1h). Não atravessa a barreira
hematoencefálica e placentária (sem efeitos centrais e no feto)
Dose em cães e gatos: 0,005 – 0,01 mg/kg (SC, IM ou IV)
7. REFERÊNCIAS
FANTONI, D.T.; CORTOPASSI, S.R.G. Anestesia em Cães e Gatos. São Paulo: Roca,
2002.
KUKANICH, Butch; WIESE, Ashley J. Opioides. In: GRIMM, Kurt A. Lumb
& Jones Anestesiologia e Analgesia veterinária. 5. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2017.
p. 611-675.
LECHE, Phillip. Anticolinérgicos. In: GRIMM, Kurt A. Lumb & Jones Anestesiologia
e Analgesia veterinária. 5. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2017. p. 525-537.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
CHOQUE
1. INTRODUÇÃO
O choque é uma síndrome caracterizada pela incapacidade de fornecimento de
oxigênio e nutrientes para as células e tecidos para suas necessidades metabólicas.
Caracteriza-se basicamente por um estado de desequilíbrio entre demanda e oferta de
oxigênio. Pode ser classificado de acordo com sua origem e fisiopatologia em três
principais tipos: hipovolêmico, distributivo e cardiogênico.
Para a melhor compreensão da fisiopatologia dos estados de choque, é
importante rever alguns conceitos:
Oferta de oxigênio (DO2): oxigênio disponibilizado para as células atenderem sua
demanda metabólica (VO2). É obtida a partir da relação direta entre o débito cardíaco
(DC) e o conteúdo arterial de oxigênio (CaO2). Portanto, quaisquer situações que alterem
DC ou CaO2 interferem diretamente na oferta de oxigênio às células. A DO2 pode ser
demonstrada pela fórmula:
𝐷𝐷𝐷𝐷2 = 𝐷𝐷𝐷𝐷 × 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶2 ,
onde:
𝐷𝐷𝐷𝐷 = 𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹ê𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛 𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐í𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎𝑎 × 𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠ó𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙
𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶2 = (ℎ𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒 × 𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆2 × 1,34) + (0,003 × 𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃2 )
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
2. CHOQUE HIPOVOLÊMICO
O choque hipovolêmico é uma condição causada primariamente pelo distúrbio
circulatório caracterizado por redução grave no volume intravascular. A principal causa
é a hipovolemia secundária a hemorragias por traumas ou sangramentos ocultos, sendo
denominado choque hemorrágico. Outras situações também podem causar choque
hipovolêmico, como perdas plasmáticas (queimaduras, sequestros de líquidos em
cavidades, peritonite etc), perdas de fluidos e eletrólitos (perdas gastrointestinais) e
diurese aumentada (diabetes ou iatrogênica por medicamentos diuréticos).
FISIOPATOLOGIA
Com o menor volume de intravascular, ocorre redução no retorno venoso ao
átrio direito. O volume sistólico fica comprometido nessa situação por redução da pré-
carga, o que resulta na diminuição subsequente do débito cardíaco e da pressão arterial.
Como resposta compensatória ao menor volume sistólico, a frequência cardíaca se eleva
na tentativa de manter o débito. Reflexos neuro-humorais levam a vasoconstrição na
resposta compensatória inicial para sustentar a pressão arterial e manter o suprimento
tecidual de oxigênio.
Há menor perfusão periférica e visceral na tentativa de manter a adequada
perfusão de órgãos vitais. Nessa situação, pode-se observar o aumento no tempo de
preenchimento capilar, redução na temperatura periférica, palidez de mucosas,
anúria/oligúria e hipóxia intestinal, que pode evoluir para sepse por translocação
bacteriana.
No choque hipovolêmico, ocorre um prejuízo generalizado à microcirculação. A
hipoperfusão tecidual faz com que as células entrem metabolismo anaeróbio, com
aumento consequente na produção de lactato e acidose metabólica.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
Perda de
10% - 15% 15% - 25% 25% - 35% 35% - 40%
Sangue
Normal ou Extremamente
Pressão Arterial Baixa Muito baixa
aumentada baixa
TRATAMENTO
O tratamento deve ser instituído de forma rápida para melhorar o prognóstico
do paciente. O restabelecimento do volume plasmático e a hemostasia são as
intervenções mais importantes no choque hemorrágico.
O tratamento deve ser baseado no grau de perda de volume. De maneira geral,
recomenda-se oxigenação e estabelecimento de um acesso venoso em veia de grande
calibre com cateter de tamanho adequado. A ressuscitação volêmica deve ser precoce
e baseada em metas de acordo com a apresentação clínica.
Em casos de hemorragia controlada, deve-se instituir desafios volêmicos com o
objetivo de restaurar a pré-carga e a pressão arterial para valores mais próximos do
fisiológico. A pressão arterial média deve ser mantida acima de 65mmHg para adequada
perfusão periférica e visceral.
Hemorragias ativas devem ser controladas de maneira mais precoce possível.
Nesses casos, é recomendada hipotensão permissiva até que a hemorragia seja
controlada, mantendo a pressão arterial média em torno de 50 mmHg.
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3. CHOQUE SÉPTICO
A sepse é definida como uma disfunção orgânica ameaçadora à vida, causada
por resposta exacerbada do hospedeiro frente à uma infecção. Os maiores desafios
relacionados à sepse é o diagnóstico precoce, o que melhora consideravelmente o
prognóstico do paciente e reduz os índices de mortalidade.
Com o novo consenso mundial sobre sepse e choque séptico, foi criado um score
de disfunção orgânica, denominado “Sequential Organ Failure Assessment Score”
(SOFA), a partir do qual é estabelecida uma pontuação acordo com os sintomas
apresentados pelo paciente. Há presença de disfunção orgânica quando ocorre
aumento de 2 ou mais pontos no SOFA diante de uma infecção.
O “quick SOFA” (qSOFA) é outra forma de avaliação que pode ser utilizada com
o objetivo de identificar os casos de sepse de maneira mais rápida e quando há
impossibilidade de avaliar certos parâmetros para determinação do escore SOFA. O
qSOFA utiliza como variáveis a frequência respiratória, o status mental e a pressão
arterial sistólica. Em pacientes com suspeita de infecção e presença de alteração em
duas ou mais variáveis do qSOFA, deve-se investigar a presença de disfunção orgânica e
agilizar a realização do SOFA para identificação rápida da sepse.
O choque séptico é uma forma de choque distributivo que ocorre como
consequência da sepse. Pode ser definido como uma disfunção circulatória/metabólica
secundária a sepse, na qual há presença de hipotensão com necessidade de
vasopressores para manter a pressão arterial média maior que 65 mmHg e os valores de
lactato se mantêm maiores que 2 mmol/L após ressuscitação volêmica.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
TRATAMENTO
O tratamento da sepse deve ser iniciado no momento de identificação do
quadro. A identificação precoce torna-se fundamental na melhoria do prognóstico do
paciente.
É recomendado que nas primeiras 3 horas de admissão do paciente séptico seja
iniciada a antibioticoterapia intravenosa de amplo espectro, bem como coleta de
material para hemocultura para posterior direcionamento do tratamento. A
mensuração de lactato também é fundamental para direcionar o tratamento e para dar
parâmetros relativos à evolução do quadro e eficácia da intervenção. A otimização da
hemodinâmica através de reposição hídrica agressiva é obrigatória, especialmente nos
casos de hipotensão ou quando o lactato está aumentado (maior que 4 mmol/L).
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
4. REFERÊNCIAS
MONTEIRO, Eduardo Raposo; NETO, Francisco José Teixeira. Choque. In: LUNA,
Stelio P. L.; AGUIAR, Antônio J. A. NETO, F. J. T. Anestesiologia em pequenos animais.
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ – Unesp), Botucatu, 2016. p. 66-
81.
RABELO, Rodrigo. Sepse, sepse grave e choque séptico. In: RABELO,
Rodrigo. Emergências em pequenos animais: condutas clínicas e cirúrgicas no paciente
grave. Elsevier Brasil, 2012.
SINGER, Mervyn et al. The third international consensus definitions for sepsis and
septic shock (Sepsis-3). Jama, v. 315, n. 8, p. 801-810, 2016. Disponível em:
https://jamanetwork.com/journals/jama/article-abstract/2492881. Acesso em 09 de
julho de 2019.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
1. INTRODUÇÃO
A segurança do ato anestésico está parcialmente associada ao emprego da
tecnologia e de equipamentos modernos. Materiais para manejo de via aérea e
suplementação de oxigênio, circuitos anestésicos, ventiladores mecânicos e monitores
multiparamétricos fazem parte da rotina clínica, deste modo cabe ao anestesiologista
entender o seu funcionamento antes de utilizá-los nos pacientes.
A anestesia inalatória, cuja primeira utilização em um procedimento cirúrgico
ocorreu em 1846 por um dentista, é uma das principais técnicas de anestesia geral nos
dias de hoje. Esta modalidade, entretanto, necessita de aparelhos específicos para a
administração do agente hipnótico de forma precisa.
LARINGOSCÓPIO
Possibilita inspeção superficial da orofaringe, facilitando a intubação orotraqueal
(IOT) através da visualização direta das estruturas anatômicas. Embora alguns indivíduos
o considerem como instrumento opcional, devido à facilidade da IOT em cães e gatos,
este deve ser utilizado em todos os pacientes. Há casos em que as vias aéreas
apresentam-se alteradas, como em braquicefálicos ou em neoplasias na região da
faringe, tornando indispensável o uso do laringoscópio.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
SONDA ENDOTRAQUEAL
É o principal instrumento para manter as vias aéreas em pacientes anestesiados.
Quando colocada adequadamente possibilita as ventilações espontânea e mecânica,
protege os pulmões contra a aspiração de fluidos e diminui a contaminação do ambiente
com o gás anestésico.
A prática ideal é utilizar sondas estéreis de maior diâmetro interno possível,
desde que não haja trauma, a fim de diminuir a resistência respiratória, a chance de
obstrução por secreções e pressão necessária no cuff para selar a via aérea. A pressão
ideal é de 25 a 30 mmHg e valores excessivos podem causar lesões isquêmicas ou até
mesmo ruptura de traqueia.
Existem diversas formas para estimar o tamanho ideal de sonda para o paciente,
sendo uma delas através da palpação traqueal. Sua extremidade distal não deve
ultrapassar a entrada do tórax, enquanto a proximal não deve ficar muito distante dos
dentes incisivos (± 3 cm). Sondas demasiadamente compridas devem ser cortadas
porque aumentam a resistência respiratória, contribuem para o espaço morto artificial
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
e facilitam a intubação seletiva. Cateteres e sondas uretrais podem ser utilizados para
IOT em animais muito pequenos.
3. CIRCUITOS ANESTÉSICOS
Os sistemas e circuitos são essenciais para a prática da anestesia inalatória, logo
devemos compreender o funcionamento dos seus componentes para utilizá-los da
melhor forma possível.
GASES MEDICINAIS
O oxigênio puro é o gás medicinal mais empregado na medicina veterinária. Seu
armazenamento é feito, na maioria das vezes, em cilindros de alta pressão que devem
estar localizados na parte de fora do estabelecimento. Tubulações contendo oxigênio
são caracterizadas pela cor verde.
É muito importante verificar a presença de um cilindro reserva e a quantidade
de gás disponível antes do início de todo procedimento. Para esse cálculo podemos
utilizar a Lei de Boyle-Mariotte, a qual enuncia que gases armazenados em sistemas
fechados apresentam, em temperatura constante, pressão e volume inversamente
proporcionais. A pressão indicada na válvula dos cilindros é representada pela unidade
kgf/cm², equivalente a uma atmosfera (1 kgf/cm² = 1 atm).
A Lei de Boyle-Mariotte é representada pela equação Pi x Vi = Pf x Vf. A pressão
inicial (Pi) corresponde à pressão contida no cilindro e o volume inicial (Vi) corresponde
ao volume comportado pelo mesmo. A pressão final, por sua vez, é uma constante com
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
Pi x Vi = Pf x Vf
150 x 5 = 1 x Vf
Vf = 750 litros
Acoplada ao cilindro está a válvula redutora de pressão, cujas funções são tornar
a pressão do gás compatível com a rede e com o aparelho anestésico (± 3 a 5 kgf/cm²) e
indicar a pressão do gás contido no cilindro. Após a redução da pressão o gás é levado
ao aparelho através de chicotes e seu fluxo é determinado pelo fluxômetro (l/min) ou
pelo rotâmetro (ml/min).
A exposição a elevadas concentrações de oxigênio possui efeitos deletérios no
organismo como atelectasia por absorção e formação das espécies reativas do oxigênio,
causando lesão endotelial, destruição de alvéolos, aumento da permeabilidade capilar
e fibrose pulmonar. Portanto, é recomendado titular a FiO2 através da mistura de
oxigênio com ar comprimido, cujas tubulações são caracterizadas pela cor amarela,
visando utilizar o mínimo possível para manter os valores de SpO2 e PaO2. Deve-se
considerar que grande parte dos fármacos utilizados na rotina anestésica causam
depressão respiratória, tornando necessária a suplementação de oxigênio. Valores de
FiO2 em torno de 40% costumam ser o suficiente para pacientes hígidos.
Aparelhos modernos fazem a mistura de gases na proporção desejada ou
indicam a FiO2 resultante da configuração dos fluxômetros/rotâmetros de oxigênio e ar
comprido. Entretanto, a FiO2 pode ser calculada como no exemplo abaixo.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
VAPORIZADORES
Ao entrar no aparelho de anestesia o gás diluente passa pelo vaporizador, peça
responsável por converter o anestésico da forma líquida para a gasosa. Há três tipos
disponíveis no mercado:
• Vaporizador universal: versão mais simples e mais acessível, porém com
menor segurança para uso. Pode ser preenchido com qualquer agente volátil,
entretanto não possibilita saber a concentração vaporizada, podendo atingir até 30%, e
não possui compensação de fluxo, temperatura e pressão. São utilizados apenas na
América do Sul e na África.
• Vaporizador tipo “Kettle”: semelhante ao universal, mas permite, através de
uma escala física ou digital, estimar a concentração vaporizada.
• Vaporizador calibrado: versão mais sofisticada e segura. Devido à sua
calibração de acordo com as características físico-químicas de cada agente anestésico,
permite o conhecimento da concentração vaporizada de maneira precisa. Possui
compensação de fluxo, temperatura e pressão e deve ser preenchido apenas com o
agente para qual foi fabricado. Necessita de manutenção periódica pelo fabricante.
CIRCUITOS AVALVULARES
Indicados para pacientes de pequeno porte (< 5 kg) devido à baixa resistência à
respiração, são caracterizados pela ausência de válvulas unidirecionais e pela ausência
de uma substância que absorva o CO2 exalado. Estes circuitos, portanto, não promovem
reinalação dos gases expirados, dependendo de um alto fluxo de gás fresco (200 a 500
ml/kg/min) para tal.
O alto fluxo de gás fresco proporciona mudanças mais rápidas no plano
anestésico do paciente. Contudo há maior perda de calor e umidade, poluição ambiental
e consumo de gás fresco e do anestésico utilizado. Bain e Baraka, ilustrados
respectivamente abaixo, são exemplos de circuitos avalvulares.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
Fontes: https://www.everest-tecnovet.com/anestesia/circuitos-bolsas-de-reservorio/circuito-anestesico-bain
e https://www.medaxo.com.br/conjunto-neonatal-para-anestesia-balao-500-ml-baraka
CIRCUITOS VALVULARES
Indicados para pacientes acima de 5 kg devido à maior resistência à respiração,
são caracterizados pela presença de válvulas que impedem o fluxo bidirecional dos gases
e pela presença de uma substância que absorve o CO2 exalado. Estes circuitos, portanto,
promovem reinalação dos gases expirados.
De acordo com o posicionamento da válvula de alívio e com o fluxo de gás fresco
empregado podem ser classificados como fechados (3 a 14 ml/kg/min), com reinalação
total, ou semiabertos (50 a 100 ml/kg/min), com reinalação parcial. Suas vantagens são
maior conservação de calor e umidade, possibilidade de empregar a ventilação
mecânica, menor consumo de gás diluente e anestésico e diminuição da poluição
ambiental, principalmente quando conectados a um sistema antipoluente.
Sua composição é dada por uma válvula inspiratória (abre apenas na inspiração),
uma válvula expiratória (abre apenas na expiração), duas traqueias corrugadas e um
canister contendo cal sodada, responsável pela absorção do CO2 expirado. A cal é
composta por uma mistura de hidróxido de cálcio e hidróxido de sódio contendo violeta
de etila, corante biológico que assume a coloração violeta no momento em que a
capacidade máxima de absorção de CO2 da cal for alcançada.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
4. REFERÊNCIAS
GRIMM, K.A. et al. Veterinary anesthesia and analgesia: the fifth edition of Lumb
and Jones. 5 ed. St. Louis: Willey-Blackwell, 2015. 1061 p.
PRASSE, S.A. et al. Clinical evaluation of the v‐gel supraglottic airway device in
comparison with a classical laryngeal mask and endotracheal intubation in cats during
spontaneous and controlled mechanical ventilation. Veterinary Anaesthesia and
Analgesia, v.43, n. 1, p. 55-62, 2016.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
1. INTRODUÇÃO
Os fármacos empregados nas diversas técnicas anestésicas promovem, em sua
maioria, depressão cardiovascular. Existem diversos métodos de monitoração para este
sistema, porém nenhum parâmetro deve ser avaliado isoladamente. As intervenções
feitas pelo anestesiologista, quando baseadas na interpretação rápida dos dados
obtidos, podem melhorar o prognóstico do paciente, diminuindo, assim, a mortalidade.
A pressão arterial é um dos determinantes da perfusão dos órgãos, portanto sua
mensuração durante todos os procedimentos é indispensável. Ao aplicar a Lei de Hagen-
Poiseuille na circulação sistêmica podemos concluir que a PAM é a variável que melhor
reflete a perfusão.
Hipotensão, caracterizada em pequenos animais por PAS < 90 mmHg ou PAM <
60 mmHg, é uma das principais intercorrências da anestesia geral e a tolerância do
organismo a esta alteração irá depender da presença de comorbidades.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
Fontes: https://multisaude.com.br/artigos/pai-pressao-arterial-invasiva/ e
https://www.docsity.com/pt/pressao-arterial-anestesiologia-veterinaria/4739836/
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
que os valores são confiáveis. Entretanto, as seguintes alterações, que não produzem
mudanças significativas no valor de PAM, podem ocorrer:
Overdamping: sinal hiporessonante (nenhuma deflexão) que resultará na
subestimação da PAS e superestimação da PAD. Pode ser causado por bolhas de ar,
excesso de comprimento ou complacência da tubulação, afrouxamento das conexões,
refluxo de sangue, vazamentos ou coágulos.
Underdamping: sinal hiperressonante (três ou mais deflexões) que resultará na
superestimação da PAS e subestimação da PAD. Pode ser causado por um cateter
estreito ou dobrado ou pelo contato da ponta do cateter com a parede do vaso.
Fonte: https://www.sciencedirect.com/topics/medicine-and-dentistry/invasive-blood-pressure
MÉTODO OSCILOMÉTRICO
A aferição da PA é feita através das oscilações da pressão à medida que o
manguito é esvaziado. A oclusão do fluxo sanguíneo arterial é dada quando a pressão
do manguito excede a PAS. Durante seu esvaziamento, o momento em que se iniciam
as oscilações positivas corresponde à medida da PAS. A leitura da PAM é feita quando
há oscilação máxima dentro de um ciclo e a PAD é determinada quando estas
subitamente diminuem.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
DOPPLER ULTRASSÔNICO
O posicionamento do sensor sobre uma artéria periférica emitirá o som do fluxo
sanguíneo, permitindo avaliação subjetiva da perfusão. A insuflação do manguito irá
ocluir o fluxo e, por consequência, cessar o som. O manguito deve ser lentamente
esvaziado através do esfigmomanômetro e o valor de PAS é aquele no qual o som volta
a ser audível.
O doppler ultrassônico pode ser empregado em raças de diversos portes e é a
forma indireta mais adequada para monitoração contínua durante a anestesia. Este
método permite apenas a aferição da PAS e tende a subestimá-la conforme o valor de
PA aumenta, porém os valores permanecem fidedignos em situações de hipo e
normotensão. Em situações de hipotensão severa pode ocorrer falha na leitura devido
à dificuldade de localização do pulso periférico.
REFERÊNCIAS
GRIMM, K.A. et al. Veterinary anesthesia and analgesia: the fifth edition of Lumb
and Jones. 5 ed. St. Louis: Willey-Blackwell, 2015. 1061 p.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
ANESTESIA DISSOCIATIVA
1. INTRODUÇÃO
A anestesia dissociativa é caracterizada pela capacidade de dissociar os sistemas
talamocortical e límbico, causando principalmente alteração no estado de consciência e
analgesia.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
3. FÁRMACOS DISSOCIATIVOS
Os anestésicos dissociativos são derivados da fenciclidina. Os fármacos mais
utilizados em medicina veterinária são a cetamina e a tiletamina. De maneira geral, são
fármacos de curta latência quando administrados por via intravenosa ou intramuscular,
com pico de concentração plasmática de 1min por via intravenosa e 10min por via
intramuscular. São altamente lipossolúveis, o que lhes confere boa taxa de passagem
pela barreira hematoencefálica.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
4. INDICAÇÕES DE USO
Procedimentos cirúrgicos menos complexos associado à anestesia local (ex.
castração de equinos machos).
Contenção química e sedação de cães e gatos: geralmente em associação com
outros fármacos.
Uso em animais domésticos e selvagens.
Parte do protocolo de indução: a cetamina é frequentemente utilizada como
coindutor para promover analgesia, reduzir a necessidade de outros fármacos indutores
e para aumentar a concentração plasmática do fármaco para uso de infusão contínua.
Manutenção anestésica: a infusão contínua de cetamina contribui para analgesia
e redução na CAM de agentes inalatórios.
Anestesia balanceada.
Analgesia pós-operatória (doses subanestésicas)
Pode ser utilizada por via oral em pacientes irracíveis, mas tem menor
biodisponibilidade.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
5. ASSOCIAÇÕES COMUNS
A cetamina é comumente utilizada em associação para proporcionar
relaxamento muscular, aumento do tempo de imobilização e melhor qualidade de
indução e recuperação. Quando utilizada de maneira isolada pode levar a uma
recuperação acompanhada de alucinações, ataxia, aumento da atividade locomotora,
sensibilidade ao toque e hiperreflexia.
As tabelas a seguir mostram algumas associações comuns entre anestésicos
dissociativos e outras classes farmacológicas.
A cetamina é muito
utilizada na anestesia de
equinos a campo,
especialmente em
associações como o
“triple drip”, composto
por EGG + cetamina +
xilazina.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
6. REFERÊNCIAS
FANTONI, D.T.; CORTOPASSI, S.R.G. Anestesia em Cães e Gatos. São Paulo: Roca,
2002.
BERRY, Stephanie. Anestésicos injetáveis. In: GRIMM, Kurt A. Lumb & Jones
Anestesiologia e Analgesia veterinária. 5. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2017. p. 829-890.
ESCOBAR, André. Anestesia dissociativa. In: MARÚCIO, Rodrigo Luiz. PAV – Pós
Anestesia Veterinária: Apostila 2018. São Paulo, 2018. p. 23-28.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
ANESTÉSICOS INTRAVENOSOS
1. INTRODUÇÃO
Os anestésicos intravenosos são fármacos injetáveis capazes de promover
depressão dose-dependente e reversível do sistema nervoso central, resultando em
perda da consciência e da resposta motora a estímulos.
A anestesia geral é um estado composto por inconsciência, relaxamento
muscular, analgesia e proteção das funções neurovegetativas (em seres humanos
também há o componente “amnésia”), portanto a administração isolada deste grupo de
fármacos torna-se insuficiente para tal.
Todos os fármacos empregados na rotina possuem efeitos desejáveis e
indesejáveis em diversos sistemas orgânicos, desta maneira o conhecimento da
farmacocinética e farmacodinâmica, em conjunto à avaliação individual do paciente,
devem guiar o anestesiologista para a escolha mais adequada.
2. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
Manter o estado de anestesia geral no paciente exclusivamente através de
fármacos injetáveis é conhecido como anestesia total intravenosa ou, do inglês, TIVA
(total intravenous anesthesia). Como qualquer técnica, possui vantagens, desvantagens
e indicações:
Vantagens: menor depressão cardiovascular, ausência de sobrecarga pulmonar
e ausência de poluição ambiental;
Desvantagens: maior dificuldade no controle do plano anestésico,
impossibilidade de superficialização rápida, recuperação prolongada e necessidade de
integridade orgânica para eliminação dos fármacos;
Indicações: indução da anestesia geral, sedação ou manutenção de inconsciência
em pacientes de UTI, procedimentos diagnósticos e cirurgias específicas como
toracotomias e intervenções nos sistemas nervoso e cardiovascular.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
3. ANESTÉSICOS INTRAVENOSOS
TIOPENTAL
Pertencente à classe dos barbitúricos, o tiopental apresenta atividade hipnótica
e anticonvulsivante de duração ultracurta. Durante anos foi empregado como o
principal indutor anestésico na medicina veterinária, porém, hoje, seu uso é limitado a
situações específicas devido ao seu perfil farmacológico e ao desenvolvimento de novos
fármacos.
É um sal sódico comercializado como pó liofilizado, reconstituído com a adição
de água destilada ou NaCl 0,9% para formar soluções — estáveis por 7 dias em
temperatura ambiente — com concentrações de 5% (equinos), 2,5% (cães) ou 1,25%
(gatos). Devido à sua alcalinidade (pH = 10-11 e pKa = 7,6), a via intravenosa é
mandatória, uma vez que a administração extravascular pode resultar em necrose
tecidual.
Os barbitúricos, em geral, deprimem o sistema nervoso central através da
ativação de receptores GABAa, promovendo aumento da condutância de íons cloro e,
por consequência, hiperpolarização da membrana pós-sináptica. Além disso, estes
fármacos mantêm os canais de cloro abertos por mais tempo devido à diminuição da
taxa de dissociação do neurotransmissor GABA com seus receptores.
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ETOMIDATO
Composto imidazólico utilizado para indução da anestesia geral devido à sua
mínima depressão cardiorrespiratória. Sua apresentação comercial possui o
propilenoglicol como solvente, o que torna a solução hiperosmótica e pode provocar
hemólise, dor à injeção, flebite e reações de hipersensibilidade. Portanto recomenda-se
diluir o fármaco antes da administração.
O etomidato, assim como grande parte dos anestésicos intravenosos, atua nos
receptores GABA e potencializa a ação deste neurotransmissor, o qual promove influxo
de íons cloro para hiperpolarizar a membrana pós-sináptica, resultando em depressão
do sistema nervoso central e hipnose.
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PROPOFOL
Representante da classe dos alquifenois, o propofol, hoje, é o anestésico
intravenoso mais popular na prática das medicinas humana e veterinária, empregado
na forma de bolus único (indução) ou infusão contínua (manutenção). Seu perfil
farmacológico permite, quando utilizado em uma anestesia balanceada, um rápido
despertar e suave com poucos efeitos residuais.
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4. REFERÊNCIAS
ABSALOM, A.R. et al. Target-controlled infusion: a mature technology.
Anesthesia and analgesia, v. 122, n. 1, p. 70-78, 2016.
GRIMM, K.A. et al. Veterinary anesthesia and analgesia: the fifth edition of Lumb
and Jones. 5 ed. St. Louis: Willey-Blackwell, 2015. 1061 p.
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DOR
1. INTRODUÇÃO
A dor pode ser definida, de acordo com a International Association for the Study
of Pain (IASP), como “uma sensação e uma experiência desagradáveis, associadas a
dano tecidual real ou potencial, ou descritas em termos de tal dano”. É uma experiência
individual e multifatorial que envolve a percepção de estímulos (nocicepção) e envolve
componentes subjetivos (emocionais) que causam algum grau de sofrimento. Deve ser
distinguida da nocicepção, um processo neuronal que inclui a codificação e o
processamento de estímulos nocivos a partir da ativação de receptores nociceptivos,
não necessitando de componente emocional. Portanto, ocorre mesmo se o paciente
estiver inconsciente ou incapaz de perceber o estímulo.
A dor pode ser considerada como um dos cinco sinais vitais, juntamente com a
pressão arterial, a frequência cardíaca, a temperatura e a respiração. Os três pilares da
dor são:
Sensorial-discriminativo, relacionado às propriedades mecânicas, térmicas e
espaciais, ou seja, a localização e qualificação da dor.
Cognitivo-avaliativo, relacionada às experiências prévias que podem modificar a
resposta ao estímulo doloroso.
Motivacional-efetivo, que envolve o sofrimento, medo, tensão e ansiedade que
relacionados à dor, as respostas neurovegetativas e alterações comportamentais.
CLASSIFICAÇÃO DA DOR
Quanto à localização
o Somática: dor expressa em tecidos superficiais e profundos, como
pele, ligamentos, ossos e musculatura.
o Visceral: dor originada em órgãos abdominais e torácicos.
Quanto à etiopatogenia
o Dor Nociceptiva: Oriunda da ativação de receptores nervosos de
dor (nociceptores) por estimulação química, mecânica ou térmica. Pode ter
origem somática ou visceral. A dor visceral geralmente não tem localização
anatômica bem definida. A dor inflamatória está associada à inflamação
ativa após o dano e pode ser classificada como dor nociceptiva. Tem início
rápido e sua intensidade está relacionada ao grau de lesão. Geralmente
termina com o a resolução (cicatrização) da lesão primária.
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2. FISIOLOGIA DA DOR
A transmissão da informação dolorosa pode ser descrita em quatro
etapas distintas: transdução, transmissão, transdução e percepção.
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3. DOR AGUDA
A dor aguda é a “dor fisiológica”. Em geral, está associada a dano tecidual real
ou potencial, resultante de lesão traumática, cirúrgica ou infecciosa. Surge de maneira
repentina e tem duração limitada. Ocorre em diferentes situações condições
patológicas, em cirurgias e traumatismos. Está presente em quase todos os indivíduos
após intervenções cirúrgicas. A dor aguda ocorre em diferentes intensidades e surge
como um mecanismo de defesa do organismo, capaz de alterar o comportamento do
animal para evitar danos ou otimizar a cura. Normalmente responde bem à terapia
analgésica.
OPIOIDES
Os opioides são agentes, naturais ou sintéticos, capazes de agir em sítios
específicos, denominados receptores opióides (µ, κ, σ e Δ). Os fármacos da classe são
conhecidos por seu potente efeito analgésico, mas também têm potencial sedativo e
causam diferentes efeitos no organismo de acordo com o tipo de receptor ativado,
localização e o tipo de relação estabelecida com esse receptor. Os opioides podem ser:
Agonistas totais: apresentam alta afinidade e atividade em seus receptores e,
portanto, máxima eficácia. São representados pela morfina, metadona, meperidina,
fentanila. Conferem analgesia potente, sem efeito teto, mas causam os clássicos efeitos
adversos de maneira dose-dependente.
Agonistas parciais: apresentam afinidade parcial por alguns receptores, e,
portanto, eficácia analgésica menor que os agonistas puros. Têm efeito-teto, o que
significa que a partir de determinada dose, a analgesia não aumenta. Os agonistas
parciais são representados principalmente pela buprenorfina.
Agonistas-antagonistas: antagonistas de receptores µ e agonista de receptores
κ. Apresentam menor eficácia analgésica e têm efeito-teto. Os principais representantes
da classe são o butorfanol e a nalbulfina.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
em analgesia visceral (utilizado para essa finalidade em equinos com cólica). Além disso,
têm efeito-teto e não pode ser utilizado concomitante a agonistas µ, pois minimiza seus
efeitos. Não é utilizado com frequência para controle de dor aguda.
Buprenorfina: agonista parcial de receptores µ. Causa poucos efeitos colaterais
e tem menor eficácia analgésica. É pouco utilizado na rotina veterinária, principalmente
no Brasil.
Fentanil: Fármaco extremamente potente e eficaz, com alta lipossolubilidade,
curto período de ação e latência. Tem perfil para infusão contínua, mas com efeito
acumulativo. É muito utilizado no período transanestésico sob infusão ou bolus para
resgate analgésico. Seus efeitos mais característicos são bradicardia pronunciada e
depressão respiratória dose-dependente. Sua ação curta e efeito acumulativo limitam
seu uso no controle de dor pós-operatória. Entretanto, podem ser utilizados adesivos
de liberação lenta com essa finalidade. Os adesivos têm início de ação lenta (até 24h em
cães e 12h em gatos), mas tem duração longa (72h em cães e 96h em gatos).
Sufentanil e alfentanil: têm características muito semelhantes ao fentanil, mas
com duração de ação mais curta. São mais utilizados em infusões contínuas no
transoperatório, devendo ser precedidos de bolus.
Remifentanil: agonista µ total de ação ultracurta (2-5min), sendo ideal para
administração em infusão contínua. Promove analgesia intensa no período
transoperatório e não tem efeito cumulativo. É metabolizado pelo fígado e por esterases
plasmáticas.
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ANESTÉSICOS LOCAIS
Os anestésicos locais (lidocaína, bupivacaína e ropivacaína) interrompem a
condução elétrica em nervos periféricos por bloqueio dos canais de sódio, prevenindo a
propagação do impulso para o corno dorsal da medula. Sua utilização a nível periférico,
através de bloqueios locorregionais, faz com que as fases de transdução e transmissão
sejam interrompidas. Seu uso é benéfico na promoção de analgesia transoperatória e se
prolonga até o período pós-operatório.
Além de bloquear as vias aferentes a nível periférico, os anestésicos locais
também atuam a nível central, principalmente quando utilizados em infusão contínua
ou por via epidural, prevenindo a sensibilização central. São capazes de reduzir a CAM
do isoflurano em 40-70% e potencializam a anestesia intravenosa, reduzindo as doses
de outros agentes. Os fármacos utilizados como anestésicos locais e suas características
específicas serão descritos com mais detalhes em seção sobre anestésicos locais.
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4. DOR CRÔNICA
Dor crônica é a dor que persiste por longos períodos, geralmente mais de 3
meses, ou que persiste após traumas agudos. Pode estar associada a doença
inflamatória não resolvida, condição degenerativa ou lesão a um nervo (dor
neuropática). A dor crônica não tem finalidade biológica e passa a ser a patologia
principal, sua ocorrência é sempre uma condição patológica. Algumas condições
normalmente evoluem para dor crônica, como neoplasias, osteoartrites, dor aguda
tratada de forma inadequada, cirurgias altamente invasivas e discopatias. Cães idosos
geralmente apresentam patologias vinculadas com a idade que cursam com dor crônica.
Pode ter origem em qualquer estrutura corporal. Em geral, resulta de lesão
direta de estruturas do sistema nervoso (dor neuropática) ou por lesões repetitivas. Não
existe relação causa-efeito, não há localização precisa ou sinais de inflamação. É
frequentemente de intensidade alta e acompanhada de alterações comportamentais
evidentes.
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OPIOIDES
São muito utilizados no controle de dor intensa de diferentes origens. Para
tratamento a longo prazo, os fármacos mais utilizados são o tramadol e a codeína. Os
demais opioides, como morfina, metadona, fentanil e remifentanil, podem ser utilizados
por diferentes vias em momentos de crise, pois seu uso prolongado pode causar efeitos
adversos e dependência.
FÁRMACOS ADJUVANTES
Antidepressivos tricíclicos: São os fármacos utilizados como primeira escolha no
tratamento de dor neuropática em humanos. Seu mecanismo de ação está relacionado
ao bloqueio da recaptação de serotonina e de catecolaminas. Também exercem efeitos
antagonistas em receptores NMDA, bloqueiam canais de sódio, aumentam a atividade
gabaérgica e têm efeitos antiinflamatórios.
Seus efeitos adversos estão relacionados ao antagonismo muscarínico, efeito
anti-histamínico e antagonismo de receptores alfa-1, e podem se manifestar como
sedação, hipotensão, visão turva, poliúria-polidipsia e retenção urinária. Pode causar
alterações na eletrofisiologia cardíaca, não sendo recomendados em pacientes com
histórico de arritmias. Sua associação com tramadol pode aumentar os riscos de
convulsão, já que os dois fármacos aumentam a concentração de serotonina na fenda
sináptica.
Assim como em humanos, são eficazes no tratamento dor crônica de origem
neuropática em pequenos animais, principalmente em associação com outros fármacos
analgésicos.
Amitriptilina
Cães: 1-4 mg/kg – VO – BID
Gatos: 1 – 12 mg/kg – VO – SID
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Neurolépticos: Não são medicamentos com efeito analgésico, mas são uteis na
tranquilização do paciente com consequente potencialização dos demais fármacos. As
fenotiazinas (acepromazina) são os fármacos mais utilizados.
Condroprotetores: as doenças articulares são uma das principais causas de dor
crônica em cães e gatos. Os condroprotetores reduzem a progressão da degeneração
articular e podem apresentar efeitos antiinflamatórios. São capazes de regular o
metabolismo de condrócitos e inibir citocinas degradantes. Os suplementos
glucosamina e sulfato de condroitina são os mais utilizados.
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ACUPUNTURA
A acupuntura é uma técnica proveniente da Medicina Tradicional Chinesa que se
baseia na utilização de agulhas para estimular pontos específicos (acupontos) com
diferentes finalidades clínicas. Os acupontos apresentam características histológicas
diferentes, sendo formados por uma rede vásculo-nervosa que se estende desde a
fáscia, onde emergem ramos superficiais de nervos periféricos.
O mecanismo pelo qual a acupuntura exerce seus efeitos ainda não está
completamente esclarecido, mas estudos em medicina veterinária comprovam seus
efeitos terapêuticos em diferentes enfermidades, inclusive no tratamento de dor aguda
e crônica. Estudos apontam que a acupuntura é capaz de inibir sinais ascendentes a nível
periférico e central. A analgesia promovida pela acupuntura é explicada por três teorias:
O estímulo aferente é enviado ao corno dorsal da medula, conde ocorre bloqueio
pré-sináptico por liberação de encefalinas e dinorfinas, bloqueando a transmissão a
nível supraespinhal e a percepção do estímulo doloroso.
A introdução da agulha estimula áreas encefálicas específicas e causa liberação
de neurotransmissores (norepinefrina e serotonina) na medula espinhal, impedindo que
o estímulo ascendente seja transmitido.
A introdução da agulha ativa um mecanismo neuro-humoral que estimula a
liberação de beta-endorfinas.
Sabe-se que a inserção da agulha leva a uma reação inflamatória local, ativa
mastócitos e causa liberação de mediadores químicos locais. Os estímulos gerados são
conduzidos ao sistema nervoso central e levam à liberação de substâncias neuro-
endócrinas e neurotransmissores. Evidências mostram que ocorre ativação de
receptores opioides e de vias serotoninérgicas, liberação de endorfinas, encefalinas,
acetilcolina, catecolaminas e GABA, bem como aumento na síntese de opioides
endógenos.
Os acupontos podem ser estimulados apenas por inserção da agulha, mas outros
métodos também podem ser aplicados, como eletroacupuntura, farmacopuntura,
implante de ouro, laserpuntura, moxabustão, massagem no acuponto etc. Abaixo estão
listados os principais acupontos utilizados na promoção de analgesia em medicina
veterinária.
IG4 (Hegu): É o ponto mestre da garganta, utilizado para redução da inflamação
de maneira geral. Utilizado para analgesia, principalmente de cabeça e pescoço,
promove contratilidade uterina e é anti-inflamatório.
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OUTRAS ESTRATÉGIAS
Outros métodos podem ser utilizados na terapia antálgica e devem ser
considerados, como fisioterapia, crioterapia, ozonioterapia, fototerapia, homeopatia
etc. Um dos fatores mais importantes no manejo da dor é a mudança de alguns hábitos
na rotina dos pacientes para promover maior conforto e reduzir estímulos
potencialmente dolorosos. Pode-se citar, por exemplo, a instalação de escadas para que
felinos subam em móveis, uso de coleiras e guias redutoras de impacto, mudança na
altura de comedouros e bebedouros, mudanças no piso do ambiente, manejo dietético
etc.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em resumo, a dor aguda é um fenômeno fisiológico com função protetiva, mas
deve ser prevenida e tratada para garantir conforto ao paciente e para evitar a
ocorrência de dor crônica, uma condição patológica grave. A ocorrência de dor crênica
é decorrente de alterações nos mecanismos nociceptivos por lesão direta a estruturas
nervosas (neuropatias) ou por alterações que cursam com sensibilização (estímulos
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
7. REFERÊNCIAS
CASSU, Renata Navarro; PESSOA, Dulce Mara Machado; LUNA, Stelio Pacca
Loureiro. Eletroacupuntura na anestesia com propofol em cães. Ciência Rural, v. 38, n.
6, 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cr/v38n6/a25v38n6.pdf. Acesso em 29
out. 2019.
CROSIGNANI, Nadia. Dor Crônica. In: MARÚCIO, Rodrigo Luiz. PAV – Pós
Anestesia Veterinária: Apostila 2018. São Paulo, 2018. p. 209-221.
EPSTEIN, Mark E. et al. 2015 AAHA/AAFP pain management guidelines for dogs
and cats. Journal of Feline Medicine and Surgery, v. 17, n. 3, 2015. Disponível em:
https://journals.sagepub.com/doi/full/10.1177/1098612X15572062. Acesso em 26
de out. 2019.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
ANTI-INFLAMATÓRIOS
1. INTRODUÇÃO
Os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) são amplamente utilizados na rotina
médico veterinária devido às suas propriedades analgésica, anti-inflamatória e
antipirética, o que os torna essenciais na estratégia de tratamento multimodal para a
dor aguda.
Estes fármacos, em sua maioria, são acessíveis, de baixo custo e práticos para
administração hospitalar e domiciliar por possuírem grande variedade de apresentações
orais e parenterais. Seu uso inadequado, entretanto, pode resultar em alterações graves
na homeostasia do paciente.
2. MECANISMO DE AÇÃO
Lesões teciduais promovem ruptura de membranas celulares com consequente
liberação de fosfolipídios, os quais, através da atividade da enzima fosfolipase A2, são
convertidos em ácido araquidônico. Grande parte deste metabólito retorna às células,
porém o restante sofre ação das lipoxigenases (LOX) e cicloxigenases (COX), formando,
respectivamente, leucotrienos e prostanoides.
Prostanoides são moléculas que serão futuramente metabolizadas em variadas
prostaglandinas (PGD2, PGF2α, PGE2, PGI2...) e tromboxano (TXA2), ambos presentes em
processos inflamatórios e homeostáticos. Os leucotrienos, por sua vez, também atuam
na inflamação e causam contração da musculatura lisa, mas possuem maior atividade
em doenças relacionadas às vias aéreas.
Os AINEs produzem seus efeitos desejáveis e indesejáveis devido à inibição, com
diferentes graus de seletividade, da expressão das cicloxigenases e da síntese de
prostanoides. Há três isoformas das COX descritas:
COX-1:
enzima
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Fonte: https://www.practicalpainmanagement.com/sites/default/files/imagecache/lightbox-
large/images/2015/09/10/t1.png
3. FARMACOCINÉTICA
Os AINEs são ácidos fracos e lipofílicos com alta taxa de ligação às proteínas
plasmáticas. Acumulam-se no exsudato inflamatório, possibilitando grandes intervalos
entre as administrações independente da meia-vida do fármaco. Há diversas vias de
administração, sendo muito frequente o uso da intravenosa (hospitalar) seguida da oral
(domiciliar), a qual apresenta, de maneira geral, latência de duas horas e elevadas
absorção e biodisponibilidade.
Sua biotransformação ocorre por glucoronidação hepática, fazendo com que os
felinos sejam mais suscetíveis aos efeitos adversos. O meloxicam, particularmente, é
biotransformado por vias oxidativas na espécie em questão. A excreção ocorre pelas
vias renal e biliar.
O momento da administração em pacientes cirúrgicos é um tópico muito
discutido. Em pacientes hígidos é seguro fazer uso do AINE previamente ao
procedimento, de forma preemptiva. Por outro lado, em pacientes submetidos a
procedimentos com grande risco de sangramento, hipotensão, hipovolemia e/ou
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
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ANESTÉSICOS LOCAIS
1. INTRODUÇÃO
São substâncias capazes de impedir, reversivelmente, a geração e a propagação
dos impulsos elétricos nas fibras nervosas, causando interrupção temporária das suas
funções sensitiva e/ou motora. Seu emprego no controle da dor é essencial pois esta é
a única classe de fármacos que pode bloquear por completo a nocicepção.
Desde sua descoberta no século XIX, os anestésicos locais têm seu uso expandido
através de estudos de novos agentes e técnicas de administração. Hoje, são
rotineiramente utilizados em bloqueios de nervos periféricos, anestesia do neuroeixo e
para analgesia sistêmica através de infusão intravenosa.
Diminuição do requerimento de anestésicos gerais e do consumo de opioides,
efeito antiinflamatório local, inibição da sensibilização central e analgesia residual são
algumas das vantagens obtidas ao administrar anestésicos locais ao paciente.
2. MECANISMO DE AÇÃO
Os anestésicos locais atravessam, em sua forma não-ionizada, o epineuro e a
membrana celular e, uma vez no axoplasma, são transformados na forma ionizada,
ligam-se à porção interna dos canais de sódio voltagem-dependentes e impedem a
entrada deste íon, impossibilitando geração e condução de potenciais de ação. Há,
também, ação em canais de potássio e cálcio, porém com menor afinidade.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
3. PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS
Os anestésicos locais são bases fracas — com pKa entre 7,5 e 8,5 — compostas
quimicamente por um anel benzênico, um grupamento amina e uma cadeia
intermediária contendo grupamentos éster ou amida. Os fármacos da família
aminoéster (benzocaína, procaína e tetracaína) são hidrolisados por colinesterases
plasmáticas enquanto os fármacos da família aminoamida (lidocaína, bupivacaína e
ropivacaína) são biotransformados no fígado. Todos possuem eliminação renal e biliar.
Outras características físico-químicas influenciam diretamente no efeito
anestésico e diferenciam os fármacos entre si:
Lipossolubilidade: diretamente proporcional à potência do anestésico devido à
sua maior difusão através da membrana celular. Fármacos altamente lipossolúveis
necessitam de doses menores;
Ligação às proteínas plasmáticas: diretamente proporcional à duração do efeito
anestésico, pois a afinidade às proteínas plasmáticas é equivalente à afinidade do
fármaco pelos canais de sódio. Fatores como a adição de vasoconstritores à solução, a
vascularização do tecido, a taxa de metabolismo, a dose administrada e a concentração
do fármaco também influenciam o tempo de ação;
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Fonte: Grimm et
al., 2015.
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5. FARMACOCINÉTICA
Absorção: além das características físico-químicas do fármaco, a dose, o local de
injeção e a adição de vasoconstritores influenciam na absorção. Quanto maiores a dose
do fármaco e a vascularização do tecido, maior será a absorção sistêmica e,
consequentemente, a concentração plasmática. A adrenalina, vasoconstritor
encontrado nas formulações comerciais, atrasa a absorção e prolonga o efeito do
bloqueio;
* não se deve empregar soluções com vasoconstritor em extremidades pois há
risco de isquemia e necrose.
* ordem decrescente de vascularização: região intercostal – região caudal –
espaço peridural – plexo braquial – região dos nervos isquiático e femoral.
Distribuição: distribuem-se por todos os tecidos em função do tempo e da
vascularização dos mesmos. Os representantes da família aminoamida sofrem grande
extração em sua passagem pelos pulmões e são capazes de ultrapassar a barreira
placentária.
Fonte: Grimm
et al. 2015.
6. REFERÊNCIAS
BARLETTA, M.; REED, R. Local anesthetics: pharmacology and special
preparations. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 49, n. 6, p.
1109-1125, 2019.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
GRIMM, K.A. et al. Veterinary anesthesia and analgesia: the fifth edition of Lumb
and Jones. 5 ed. St. Louis: Willey-Blackwell, 2015. 1061 p.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
3. PRINCIPAIS ARRITMIAS
As arritmias podem ser classificadas de acordo com sua origem
(supraventriculares ou ventriculares), duração (sustentadas ou paroxísticas) e FC do
paciente (bradiarritmias ou taquiarritmias).
A avaliação sistemática do traçado eletrocardiográfico, na derivação D2, é
iniciada com três perguntas:
Qual é a origem do batimento?
É rítmico ou arrítmico?
Qual é a FC?
• Determinada pela onda R (despolarização ventricular);
• Prejudica o DC quando abaixo do limite inferior para a espécie;
• Prejudica o DC quando acima do limite superior para a espécie devido à redução
do tempo diastólico, com consequente diminuição do volume sistólico.
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A ORIGEM DO BATIMENTO
Fonte: Prof.ª Dr.ª Elizabeth Regina Carvalho
É RÍTMICO OU ARRÍTMICO?
Fonte: Prof.ª Dr.ª Elizabeth Regina Carvalho
Fonte: https://docplayer.com.br/docs-images/67/56633704/images/8-1.jpg
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
ARRITMIAS SUPRAVENTRICULARES
Complexos supraventriculares prematuros:
• definição: despolarizações precoces originadas de regiões supraventriculares. A
condução ventricular geralmente não está afetada;
• traçado: onda P diferente da normal, podendo ser positiva, negativa ou bifásica;
ausência de linha de base entre T e P; QRS normal ou discretamente alargado;
- o paciente pode entrar em taquicardia supraventricular (3 ou mais complexos
sequenciais) sustentada ou paroxística.
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Fonte: https://www.sanarmed.com/bradicardia-bradiarritmia-resumo-fluxograma-yellowbook
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
Fonte: http://sopronocoracao.com/bloqueio-av-de-segundo-grau-mobitz-2-ii/
Bloqueio atrioventricular de 3º grau:
o Definição: dissociação e independência das atividades atrial e ventricular;
o Traçado: intervalos P-R inconstantes; frequência atrial superior à
ventricular; complexos QRS aberrantes, alargados e não sincronizados com
as ondas P;
- associado a doenças cardíacas estruturais. Seu tratamento requer o
implante de marcapasso elétrico.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
Fonte: http://publicacoes.cardiol.br/portal/abc/portugues/2018/v11005/significancia-prognostica-da-
taquicardia-ventricular-nao-sustentada-depende-de-sua-frequencia-e-duracao.asp
Fibrilação ventricular:
o Definição: geração rápida e desorganizada de impulsos por todo o tecido
ventricular, resultando em reentradas e fasciculações musculares;
o Traçado: ausência de ritmo e de complexos PQRST; ondas de alta frequência,
irregulares e de tamanhos diferentes, cujas amplitudes tendem a diminuir
com o tempo;
- sinal de falência do miocárdio. Fisiologicamente se compara à assistolia, ou
seja, é fatal.
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Fonte: https://www.istockphoto.com/br/foto/fibrila%C3%A7%C3%A3o-ventricular-arritmia-fatal-
gm859452436-142116247
Escape ventricular:
o Definição: impulso gerado em focos ectópicos ventriculares em decorrência
da ausência de atividade elétrica supraventricular. É uma medida fisiológica
para prevenção de parada cardíaca;
o Traçado: complexo QRS aberrante e alargado após uma pausa evidente;
ausência de onda P; frequência baixa;
- pode evoluir para o ritmo de escape ventricular.
Fonte: https://www.aaha.org/aaha-guidelines/2020-aaha-anesthesia-and-monitoring-guidelines-for-dogs-
and-cats/troubleshooting-anesthetic-complications/arrythmias/
Fonte:
http://www.medicinanet.com.br/conteudos/casos/4795/ecg_com_bloqueio_de_ramo_alternante.htm
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ETTINGER, S.J. ECG recognition booklet for the veterinarian. 1 ed. Burdick Corp,
1980.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
GLOBAL FAST
1. INTRODUÇÃO
O Global FAST (Global Focused Assessment with Sonography for Trauma) é um
exame de triagem fundamental nos setores de emergência e nas unidades de terapia
intensiva. É constituído pelo FAST abdominal (A-FAST), FAST torácico (T-FAST) e
protocolo BLUE. É um exame de alta sensibilidade e especificidade realizado com auxílio
de ultrassonografia para a detecção de líquido livre e de pneumotórax, geralmente em
pacientes traumatizados.
O Global FAST permite a detecção precoce de problemas que ameaçam a vida
do paciente, podendo ser utilizado para orientar terapias ou modificá-las,
especialmente em casos de hemorragia oculta não detectada pelo exame físico e por
exames laboratoriais.
Apresenta como vantagens sua execução rápida (menos de 3 minutos), tem
baixo custo, não emite radiação, é portátil, não é invasivo e pode ser realizado por
qualquer veterinário, mesmo que não seja especializado em diagnóstico por imagem.
Uma das principais vantagens é a possibilidade de realizar outros procedimentos
enquanto o paciente está sendo examinado, como cateterização, oxigenação e outras
intervenções. Além disso, pode ser realizado de forma seriada para avaliar alterações no
score de líquido livre, o que permite monitorar a evolução do caso e guiar as condutas
terapêuticas.
Habilidade Facilidade e
Sensibilidade Segurança Repetibilidade
diagnóstica Velocidade
Lavagem Peritoneal
+++ + + ++ +
Diagnóstica
Tomografia
+++ +++ ++ ++ ++
Computadorizada
ULTRASSONOGRAFIA
A ultrassonografia é uma técnica que tem sido amplamente utilizada em
intensivismo e na anestesiologia veterinária com finalidades diagnósticas e para guiar
procedimentos, como bloqueios e punções.
Existem transdutores de ultrassonografia com diferentes frequências (2-20
MHz). Quanto maior a frequência do transdutor, menor é seu poder de penetração, mas
melhor será sua resolução. Os transdutores de alta frequência são utilizados para
avaliações em animais pequenos ou de estruturas superficiais, como vasos sanguíneos,
musculatura e articulações. Para avaliação de pacientes de maior porte ou de estruturas
mais profundas, os transdutores de frequência menor são os de escolha.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
Figura 2. Transdutor linear (A) e a seu uso na realização de bloqueio do plano abdominal transverso – TAP
(B).
Figura 3. Transdutor convexo (A) e a seu uso para avaliação do rim (B).
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
2. A-FAST
O A-FAST tem por objetivo identificar a presença de líquido na cavidade
abdominal, sendo indicado em pacientes com traumas contusos ou perfurantes. O
líquido livre é decorrente principalmente de hemorragias e ruptura de bexiga.
Para a realização da técnica, é padronizado o decúbito lateral direito e a
avaliação de quatro janelas específicas examinadas em sentido horário, nesta ordem:
hepato-diafragmática (DH), hepato-renal (HR), espleno-renal (SR) e cisto-cólica (CC).
Essa sequência inicia a varredura no ponto onde há mais positivos e termina no local
onde a gravidade é mais influente.
Figura 4. Janelas hepato-diafragmática (DH), hepato-renal (HR), espleno-renal (SR) e cisto-cólica (CC) para
realização do FAST abdominal. Fonte: Lisciandro, 2011.
Figura 5. Relação entre a localização do líquido livre e o escore AFS dos pacientes. (a) Escore 1; (b) escore 2;
(c) escore 3; (d) escore 4. Fonte: Lisciandro, 2011.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
3. T-FAST
O FAST torácico é recomendado em pacientes com trauma torácico contuso ou
penetrante, suspeita de tamponamento ou trauma cardíaco, hemotórax, efusão pleural
e pneumotórax. Seu objetivo é avaliar o espaço pleural e o espaço pericárdico para
identificar efusões ou pneumotórax.
Para a realização do T-FAST, o paciente pode ser posicionado em decúbito
esternal, que é menos estressante e mais seguro para pacientes que apresentam
comprometimento respiratório. Além disso, através desse decúbito é possível avaliar o
grau de pneumotórax por meio da identificação do lung point, descrito adiante.
Entretanto, o decúbito lateral é opção em pacientes emergenciais incapazes de se
sustentar em decúbito esternal. O decúbito dorsal não é recomendado pelo desconforto
respiratório.
No exame, são avaliadas 5 janelas: janelas do tubo torácico (Chest Tube Site –
CTS) direita e esquerda, janelas pericárdicas (Pericardial Site – PCS) direita e esquerda,
e janela hepatodiafragmática (Diaphagmatic-Hepatic – DH).
Figura 7. Posicionamento do paciente para realização do T-FAST e localização das janelas do tubo torácico
(CTS), pericárdica (PCS) e hepatodiafragmática (DH).
a. Paciente hígido
Em um paciente sem alterações de conteúdo de cavidade pleural, pode-se
identificar as costelas e suas respectivas sombras hipoecóicas. Entre as costelas, uma
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
Figura 8. Posicionamento da probe na janela CTS e imagens formadas no T-FAST de um paciente hígido. As
linhas em formato de seta representam o glide sign e as linhas horizontais hiperecogênicas correspondem às
linhas A. RS: Sombras das costelas. Fonte: Lisciandro, 2011.
Figura 9. Imagem semelhante a olhos de crocodilo, formando o “gator sign”. Fonte: Lisciandro, 2014.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
Figura 10. Posicionamento da probe na janela CTS e imagens formadas no T-FAST de um paciente com
pneumotórax. Ausência do glide sign e presença de linhas A (“A line”). RS – Sombras das costelas. Fonte:
Lisciandro, 2011.
Figura 11. Paciente normal (a), paciente com pneumotórax parcial (b) e paciente com pneumotórax grave
(c). No pneumotórax parcial, o lung point foi localizado quando a probe foi deslocada para a posição 2. No
pneumotórax grave, o lung point não foi identificado pois não há interface entre o pulmão e a parede
torácica em nenhuma região. Fonte: Lisciandro, 2011.
c. Linhas B
As linhas B, ou artefato de “cauda de cometa”, são identificadas no CTS como
linhas hiperecogênicas que partem da pleura em sentido vertical. Sua presença indica
presença de líquido no parênquima pulmonar (pneumonia, contusão ou edema
pulmonar). Quando as linhas B estão presentes, não são identificadas linhas A e é
descartado o pneumotórax.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
Figura 12. Posicionamento da probe na janela CTS e imagens formadas no T-FAST de um paciente com
presença de líquido no parênquima pulmonar. As linhas verticais hiperecogênicas correspondem às linhas B.
RS – Sombras das costelas. Fonte: Lisciandro, 2011.
d. Step sign
O step sign é o desvio da linha pleural, formando um “degrau” na imagem do
CTS. É indicativo de fraturas de costela ou outras condições que desloquem a interface
entre pulmão e pleura, como efusão pleural.
Figura 13. Step Sign. RS: Sombras das costelas. Fonte: Lisciandro, 2014.
e. Efusão pericáridica
O líquido pericárdico é identificado na janela pericárdica (PCS) como uma região
anecoica ou hipoecoica em torno do coração, no saco pericárdico. A ecogenicidade
depende da natureza do conteúdo.
Figura 14. (A) Imagem
da janela pericárdica
(PCS) do T-FAST de um
paciente com presença
de efusão pericárdica
(PCE). (B)
Posicionamento da
probe na janela PCS.
Fonte: Lisciandro, 2014.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
4. PROTOCOLO BLUE
O protocolo BLUE (bedside lung ultrasound exam), também chamado Vet BLUE,
é um exame ultrassonográfico dos pulmões muito sensível e específico na detecção de
algumas condições respiratórias. Assim como o T-FAST, pode ser utilizado na triagem do
atendimento emergencial, mas é muito útil no internamento de pacientes sob cuidados
intensivos, especialmente naqueles com estresse respiratório agudo.
O Vet BLUE permite avaliar os pulmões de maneira mais ampla que o T-FAST.
Pode ser considerado uma extensão da janela CTS do T-FAST aplicada em três pontos
adicionais que permitem avaliar todos lobos pulmonares.
POSICIONAMENTO E TÉCNICA
A técnica é realizada com o paciente em estação ou em decúbito esternal. A
imagem ultrassonográfica esperada em pacientes sem alterações pulmonares ou
pleurais é semelhante à do T-FAST, com a formação de gator sign, presença de glide sign
e linhas A.
A probe é posicionada na horizontal e movida por quatro pontos nos dois
pulmões, na seguinte ordem:
Região dorsocaudal (cdll): localizado no terço superior do tórax, entre o oitavo e
o nono espaço intercostal, assim como a janela CTS do T-FAST.
Região peri-hilar (phll): localizado no terço central do tórax, entre o sexto e o
sétimo espaço intercostal.
Região média (mdll): localizado na porção ventral do tórax, entre o quarto e o
quinto espaço intercostal, na região cardíaca.
Região cranial (crll): localizado na porção ventral do tórax, entre o segundo e o
terceiro espaço intercostal.
Figura 15. (A) Posicionamento do paciente e da probe para a realização do Vet BLUE. (B) Correlação entre as
janelas avaliadas no Vet BLUE em uma radiografia. Fonte: Lisciandro, 2014.
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o Tissue sign: representa uma consolidação mais severa dos pulmões, sem
presença de aeração e com hepatização pulmonar. Não ocorre artefato de
reverberação.
Figura 19. Resumo dos sinais encontrados na ultrassonografia torácica e diagnósticos diferenciais. Fonte:
Lisciandro, 2014.
5. REFERÊNCIAS
REANIMAÇÃO CÉREBRO-CARDIOPULMONAR
1. INTRODUÇÃO
A parada cardiorrespiratória (PCR) consiste na interrupção súbita da respiração
e/ou da circulação sanguínea, resultando em ausência da perfusão tecidual a nível
celular (hipóxia) e início de metabolismo anaeróbio. De maneira geral, há perda da
capacidade de fornecer oxigênio e nutrientes para as células e tecidos para suas
necessidades metabólicas (choque). O objetivo principal da reanimação é evitar o
choque e permitir o retorno das funções cardiovasculares, respiratórias e neurológicas
normais.
De acordo com os guidelines da Reassessment Campaignon on Veterinary
Resuscitation (RECOVER), reanimação cérebro-cardio-pulmonar (RCCP) pode ser
dividida em quatro partes principais: preparo e prevenção, suporte básico à vida,
suporte avançado à vida e cuidados pós-reanimação.
2. PREPARO E PREVENÇÃO
a. O ambiente deve estar sempre preparado e organizado: Ambientes de
urgências e emergência veterinários são locais críticos, onde
biossegurança e as boas práticas operacionais devem ser praticadas de
forma intensa para não expor a equipe e o paciente a riscos. Além disso,
a organização evita atrasos na tomada de decisões e no início das
intervenções nas emergências.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
Atividade elétrica sem pulso: Nesses casos, o impulso elétrico é formado, mas
não gera contração miocárdica. Ao ECG, o impulso pode parecer normal ou com
variações nos intervalos P-QRS, QRS largo e bizarro e FC diminuída. O traçado apenas
mostra que a atividade elétrica está normal, não mostra a função miocárdica
comprometida e o baixo débito cardíaco ou sua ausência.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
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Figura 1. Massagens cardíacas em pacientes de tórax estreito (A), tórax em barril (B) e de pequeno porte (C).
Fonte: FLETCHER, 2012 (adaptado).
5. SUPORTE AVANÇADO
O suporte avançado à vida deve ser iniciado o mais breve possível,
preferencialmente junto com o suporte básico à vida. Corresponde à terapia com
vasopressores, inotrópicos, anticolinérgicos, correção de distúrbios eletrolíticos e
déficits de volume, anemia severa e desfibrilação.
h. Vasopressores: São usados com o objetivo de aumentar a resistência
vascular periférica. Vasopressores aumentam a resistência periférica e
direcionam o volume intravascular para a circulação central, incrementando
o débito cardíaco. Vasopressores com efeitos inotrópicos e cronotrópicos
(catecolaminas) são menos cruciais e podem aumentar a demanda de
oxigênio pelo miocárdio, predispondo a arritmias.
Adrenalina: é a primeira escolha na PCR. Causa vasoconstrição, aumentando a
pré-carga e melhorando a perfusão. É iniciada em doses baixas (0,01 mg/kg IV a cada 3-
5min). Caso o paciente não responda a ciclos com dose baixa, deve ser feita dose alta
(0,1 mg/kg). A administração intracardíaca não é recomendada, pois causa
vasoconstrição e isquemia no miocárdio.
Vasopressina (0,8 UI/kg IV): Causa vasoconstrição periférica intensa e atua bem
em pacientes com acidemia. Pode ser usada em associação com adrenalina em ciclos
alternados. Uso benéfico na ressuscitação, com ou sem epinefrina. Não causa danos
adicionais quando comparada a epinefrina.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
6. MONITORAMENTO
É fundamental que o paciente seja monitorado durante toda a reanimação e
após o retorno da circulação espontânea. Deve-se monitorar a função cardiovascular
pelo pulso, frequência e ritmo cardíaco através de eletrocardiograma. A função
respiratória deve ser monitorada para evitar hiperventilação ou hipoventilação. O EtCO2
é um dos principais parâmetros para avaliar a eficácia da reanimação e definir o
prognóstico, pois tem correlação direta com o débito cardíaco. Há tendência de
aumento de EtCO2 quando há retorno da circulação espontânea, e sua queda para
valores menores que 20 mmHg durante a reanimação indica prognóstico desfavorável.
A análise de gases sanguíneos e eletrólitos auxilia na tomada de decisões durante
a PCR ou após a reanimação. Em casos onde a parada está relacionada a distúrbios
eletrolíticos, a mensuração de eletrólitos direciona a terapia de suporte à reanimação.
Hipocalcemia pode ocorrer em paradas prolongadas e pode ocorrer hipercalemia
durante a ressuscitação, o que indica prognóstico mais desfavorável.
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8. REFERÊNCIAS
HOPPER, Kate et al. RECOVER evidence and knowledge gap analysis on veterinary
CPR. Part 3: Basic life support. Journal of Veterinary Emergency and Critical Care, v. 22,
n. s1, p. S26-S43, 2012.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
ANESTESIA PERIDURAL
1. INTRODUÇÃO
Administrar anestésicos e analgésicos pela via epidural, peridural ou extradural
— todos sinônimos — é uma das técnicas de anestesia regional mais empregadas na
rotina clínica de pequenos animais. Não possui custos ou complexidade elevados e,
quando feita de maneira adequada, promove anestesia e/ou analgesia intensas e
duradouras, diminui o consumo de opioides no período perioperatório e reduz o
requerimento de anestésicos gerais.
2. ANATOMIA APLICADA
A coluna vertebral de cães e gatos é composta por 7 vértebras cervicais, 13
torácicas, 7 lombares, 3 sacrais (fusionadas, formando o osso sacro) e um número
variado de coccígeas. O canal vertebral estende-se do forame magno até,
aproximadamente, o forame vertebral da sexta vértebra coccígea e abriga o espaço
epidural, as meninges, o líquido cefalorraquidiano (LCR) e a medula espinhal.
A medula espinhal é coberta pelas meninges dura-máter, aracnoide e pia-máter
(da mais externa para a mais interna) e o LCR circula no espaço subaracnoide. Seu
comprimento varia entre os indivíduos, atingindo, em média, L5 (cães) ou L6-L7 (gatos).
Cada um de seus segmentos resulta, bilateralmente, em raízes dorsal (sensitiva) e
ventral (motora), que se unem a nível dos forames intervertebrais, formando os nervos
espinhais.
Poucos centímetros após o final da medula há uma extensão da dura-máter
chamada de saco dural, o qual envolve as raízes nervosas da cauda equina. Em seguida,
a cauda equina forma o filum terminale, também coberto pelo afunilamento desta
meninge.
O espaço epidural está situado entre o ligamento amarelo/flavo e a dura-máter
e apresenta comunicação com o espaço paravertebral através dos forames laterais. Em
seu interior há, basicamente, tecido adiposo e um plexo venoso que drena o sangue
para as veias ázigo e cava. A medida que ocorre o afunilamento da medula há o
alargamento do espaço, principalmente a nível lombossacro.
127
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
4. INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES
A anestesia epidural clássica pode ser realizada em animais sedados ou sob
anestesia geral, com monitoração completa, para alívio da dor e/ou para a abordagem
cirúrgica de tecidos retroumbilicais. Proporciona diminuição do consumo de opioides e
do requerimento de hipnóticos, logo também está relacionada com diminuição da
morbimortalidade em pacientes cirúrgicos.
As anestesias do neuroeixo não são recomendadas em pacientes sépticos ou que
apresentem infecção dos tecidos na região da punção — risco de contaminação do
sistema nervoso central — e em casos de coagulopatias, devido ao risco de sangramento
intenso seguido pela formação de hematomas, que podem comprimir raízes nervosas
ou segmentos medulares.
129
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
5. TÉCNICA
A punção clássica pode ser feita nos espaços lombossacro (L7-S1) ou
sacrococcígeo (S3-Co1), sendo a segunda opção obrigatória em gatos devido à extensão
da medula espinhal. Em cães adultos o saco dural está localizado entre L6 e L7,
entretanto esta estrutura pode estar situada no espaço lombossacro em cães de
pequeno porte e gatos, resultando em um acesso subaracnoide inadvertido mesmo que
não haja retorno de LCR no canhão da agulha.
O equipamento necessário para a injeção epidural consiste em uma agulha de
Tuohy — projetada para essa finalidade, possui uma ponta romba e curva para diminuir
a incidência de lesões iatrogênicas e perfurações da dura-máter —, uma seringa de baixa
resistência (não é obrigatório, mas facilita a identificação do espaço), luvas estéreis,
máscara, panos de campo e materiais para antissepsia, monitoração e correção de
possíveis complicações.
Ao realizar ampla tricotomia e antissepsia da área, o paciente deve ser
posicionado em decúbito esternal ou lateral, com os membros pélvicos estendidos em
sentido cranial para aumentar a distância entre os processos espinhosos. Após a
colocação dos panos de campo, o espaço lombossacro é identificado através da
palpação, entre as cristas ilíacas, de L6 (processo espinhoso grande), L7 (processo
espinhoso intermediário) e S1 (processo espinhoso pequeno, após um espaço vazio
caudalmente a L7).
Em pacientes sedados o local da punção deve ser insensibilizado com uma
pequena quantidade de anestésico local, o que é dispensável em animais sob anestesia
geral. A agulha é angulada a 45-60º em relação à pele e introduzida, aproximadamente,
na metade do espaço entre L7 e S1. Pele, tecido subcutâneo e o ligamento
interespinhoso serão ultrapassados até ocorrer um súbito aumento na resistência à
progressão, caracterizado pelo contato com o ligamento amarelo. Sua perfuração leva
a ponta da agulha ao interior do espaço epidural.
O acesso sacrococcígeo proporciona uma menor incidência de punção
subaracnoide inadvertida e deve seguir a mesma técnica descrita anteriormente, mas
seu nível de dificuldade é um pouco maior em decorrência do tamanho das estruturas.
Após identificar o espaço lombossacro, o operador deve palpar o processo espinhoso de
S1 e percorrer duas vértebras em sentido caudal (S2 e S3). Movimentar a cauda do
paciente pode auxiliar na localização do espaço sacrococcígeo.
130
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
8. ANALGÉSICOS E ADJUVANTES
Fármacos hidrossolúveis apresentam longas latência (30 a 60 minutos) e
duração, tendendo à cranialização e à analgesia espinhal. Fármacos lipossolúveis, por
sua vez, apresentam latência e duração mais curtas, tendendo à analgesia segmentar —
com possíveis efeitos sistêmicos — e à redistribuição para o tecido adiposo.
132
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
9. REFERÊNCIAS
CAMPOY, L.; READ, MATT. Small animal regional anesthesia and analgesia. 1 ed.
Willey-Blackwell, 2013. 304 p.
GARCIA-PEREIRA, F. Epidural anesthesia and analgesia in small animal practice:
an update. The Veterinary Journal, v. 242, p. 24-32, 2018.
KLAUMANN, P.R.; OTERO, P.E. Anestesia locorregional em pequenos animais. 1
ed. Editora Roca, 2013. 268 p.
MARTIN-FLORES, M. Epidural and spinal anesthesia. Veterinary Clinics of North
America: Small Animal Practice, v. 49, n. 6, p. 1095-1108, 2019.
STEAGALL, P.V.M, et al. An update on drugs used for lumbosacral epidural
anesthesia and analgesia in dogs. Frontiers in Veterinary Science, v. 4, n. 68, 2017.
133
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
ANESTESIA EM CARDIOPATAS
1. CONSIDERAÇÕES GERAIS NA ANESTESIA DO CARDIOPATA
Não aumentar o risco do procedimento: Evitar o uso de técnicas ou fármacos que
não sejam habituais ao anestesista ou que prolonguem o tempo de anestesia;
Avaliação pré-anestésica: Fazer uma avaliação minuciosa do histórico do
paciente.
Pré-oxigenar: Reduz a possibilidade de hipoxemia após a indução.
Tripé antálgico: Priorizar uma boa analgesia com bloqueios locais,
antiinflamatórios e opioides, considerando as limitações do paciente.
Fluidoterapia: Deve ser cautelosa, evitar excesso de fluidos e de sódio.
Antever complicações: Estar preparado para emergências no perioperatório,
calculando de forma prévia os fármacos.
Monitoração: Deve ser intensiva e estendida ao pós-operatório.
134
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
PROTOCOLOS ANESTÉSICOS:
Medicação pré-anestésica:
o Opioides: seu uso de maneira isolada é uma das condutas mais seguras no
paciente cardiopata. Deve-se considerar que a metadona promove
bradicardia e vasoconstrição.
o Sedativos: fenotiazínicos podem ser utilizados em pacientes mais agitados.
A cloropromazina tem menor impacto hemodinâmico que a acepromazina
o Benzodiazepínicos: quando utilizados de forma isolada, podem causar
agitação. Associar a fenotiazínicos e opioides.
o Gabapentina: uso benéfico em pacientes agitados. Recomendar a
administração de 5-7,5 mg/kg antes de sair de casa.
Indução:
o Propofol: Não é primeira escolha no paciente cardiopata, pois pode causar
impacto hemodinâmico significativo, principalmente quando utilizado de
forma isolada.
o Fentanil + Midazolam: A associação desses fármacos tem pouco impacto
hemodinâmico e é considerada segura em pacientes cardiopatas. A indução
pode ser complementada com propofol nesses pacientes.
o Etomidato + Midazolam: O etomidato é um fármaco indutor com impacto
hemodinâmico insignificante, mas pode causar mioclonias quando utilizado
de forma isolada. Sua associação ao midazolam causa miorrelaxamento e
permite uma indução mais tranquila.
136
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
global baseado em uma região pontual mostrada pela imagem. Isso significa que
alterações em outras regiões podem não ser identificadas pelo corte da imagem.
A fração de encurtamento é influenciada pela pré-carga e pela pós-carga. Deve
ser avaliada em conjunto com o diâmetro interno do ventrículo esquerdo em diástole
(DIVEd) para relacionar o volume recebido pelo ventrículo à sua capacidade de
contração. Em um paciente com sobrecarga de volume, por exemplo, uma fração de
encurtamento normal indica disfunção sistólica, pois, de acordo com os princípios de
Frank-Starling, espera-se aumento na contratilidade.
o Valores de referência para cães: 35-45%.
o Valores de referência para gatos: 45-55%.
Movimentos anular de mitral (MAM ou MAPSE) e excursão sistólica do plano do
anel tricúspide (TAPSE): São funções que avaliam a função sistólica longitudinal dos
ventrículos esquerdo (MAPSE) e direito (TAPSE) a partir da imagem apical em modo M.
É uma variável mais precoce que a fração de encurtamento para avaliar a disfunção
cardíaca.
Fração de ejeção (%): é um índice volumétrico calculado automaticamente pelo
método de Teichholz, que simula o ventrículo esquerdo como um cubo perfeito e,
portanto, não apresenta boa confiabilidade. Pode ser calculada pelo método de
Simpson, mas não é utilizado na prática clínica.
Débito cardíaco: O padrão-ouro para avaliação do débito cardíaco consiste na
cateterização da artéria pulmonar com um cateter de Swan-Ganz. É um método invasivo
e sem aplicação na prática clínica. O ecodopplercardiograma pode ser utilizado para
estimar o débito cardíaco e é uma ferramenta útil na avaliação de tendências relativas
ao débito cardíaco durante a anestesia.
139
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
Estágio II (pseudonormal): E/A > 1. A congestão atrial faz com que o sangue passe
pela valva mitral de forma rápida, aumentando o enchimento passivo e a onda E. Só
pode ser diferenciado de um paciente normal com doppler tecidual.
Estágio III (padrão restritivo): E/A > 2. Ocorre congestão do ventrículo esquerdo
e a contratilidade atrial não é suficiente para bombear o sangue, reduzindo a onda A.
Requer estabilização imediata e não deve ser anestesiado.
4. REFERÊNCIAS
GRUBB, Tamara et al. 2020 AAHA Anesthesia and Monitoring Guidelines for Dogs
and Cats. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 56, n. 2, p. 59-82,
2020.
KEENE, Bruce W. et al. ACVIM consensus guidelines for the diagnosis and
treatment of myxomatous mitral valve disease in dogs. Journal of veterinary internal
medicine, v. 33, n. 3, p. 1127-1140, 2019.
140
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
ANESTESIA INALATÓRIA
1. INTRODUÇÃO
A administração de agentes voláteis para a manutenção – e algumas vezes para
a indução - da anestesia geral é uma técnica amplamente empregada na rotina
hospitalar, seja veterinária ou humana. Apesar de muito antiga, tal técnica voltou a
receber destaque na anestesiologia em decorrência do desenvolvimento de novos
fármacos.
Determinadas características farmacocinéticas permitem, na maioria dos casos,
um rápido ajuste do grau de hipnose e uma rápida recuperação da consciência,
contribuindo, desta forma, com a alta popularidade da anestesia inalatória.
Independente da técnica de manutenção escolhida, o ato da anestesia geral deve ser
composto por uma associação de fármacos que promovam inconsciência, analgesia,
relaxamento muscular, manutenção e proteção das funções orgânicas e amnésia.
De maneira ampla, suas principais vantagens envolvem uma mínima taxa de
biotransformação hepática, rápida mudança na profundidade anestésica, rápida
recuperação da consciência e absorção e eliminação dos fármacos pela via respiratória.
Por outro lado, a necessidade de aparelhagem específica, poluição ambiental e
depressão cardiovascular dose-dependente são algumas das desvantagens da anestesia
inalatória.
141
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
2. CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS
A estrutura química e as propriedades físicas das moléculas dos agentes
inalatórios refletem diretamente na sua interação com o organismo e, portanto, em
seus efeitos biológicos. O entendimento das características abaixo é de fundamental
importância para o emprego dos diversos fármacos disponíveis no mercado.
Coeficiente de solubilidade sangue/gás: afinidade do agente pelo sangue.
Determina a velocidade de indução e recuperação da anestesia geral, uma vez que um
fármaco altamente solúvel no sangue levará mais tempo para atingir uma concentração
adequada no sistema nervoso central (indução) ou para ser eliminado (recuperação);
Coeficiente de solubilidade óleo/gás: afinidade do agente por moléculas de
gordura. É diretamente proporcional à potência do anestésico e, logo, à concentração
alveolar mínima, visto que a barreira hematoencefálica e o tecido cerebral possuem um
grande componente lipídico;
Concentração alveolar mínima (CAM): concentração alveolar de anestésico — a
qual, após um tempo, será próxima das concentrações sanguínea e cerebral —
necessária para promover imobilidade em 50% dos indivíduos expostos a um estímulo
nociceptivo. O valor de 1,5 CAM é o necessário para atingir o mesmo efeito em
aproximadamente 95% da população. Tal unidade, utilizada como medida de potência
farmacológica, varia de acordo com as espécies e com o agente inalatório em questão.
o Fatores que elevam a CAM: hipertermia, fármacos estimulantes do SNC e,
particularmente em equinos, opioides;
o Fatores que diminuem a CAM: fármacos depressores do SNC, gestação,
idade avançada e quadros graves de hipotermia, hipotensão, hipoxemia,
hipercapnia e/ou hiponatremia;
o Fatores que não influenciam a CAM: normo ou hipertensão,
anticolinérgicos, duração da anestesia e sexo do paciente.
Fonte:
Adaptado de
Grimm et al.,
2015.
Tabela:
Valores
mínimos e
máximos de
CAM
encontrados
em pesquisas
envolvendo
cães, felinos e
equinos.
142
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
3. FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA
A farmacocinética dos anestésicos inalatórios é retratada, basicamente, pela
relação entre as concentrações do fármaco nos alvéolos, no sangue e no sistema
nervoso central. De maneira semelhante ao oxigênio e ao CO2, a movimentação destas
partículas acontece por um gradiente de pressão parcial (do compartimento mais
concentrado para o menos concentrado) até atingir o equilíbrio. Fatores como ↑
vaporização, ↑ fluxo de gás fresco, ↑ volume-minuto, ↓ espaço morto artificial e ↓
débito cardíaco resultam em maiores concentrações alveolares de anestésico.
A proporção da biotransformação dos agentes inalatórios varia de acordo com a
estrutura química de cada um. Entretanto, a maior parte dos fármacos mais modernos
é eliminada pelo sistema respiratório sem sofrer grandes processos metabólicos.
143
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
144
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
4. PLANOS ANESTÉSICOS
A monitoração da profundidade anestésica é fundamental para promover um
nível adequado de inconsciência ao paciente e, ao mesmo tempo, minimizar as
intercorrências secundárias à administração excessiva de anestésicos, sejam inalatórios
ou intravenosos. Tal profundidade é determinada pela concentração dos anestésicos
e/ou sedativos no cérebro, pela magnitude da estimulação cirúrgica e pela presença de
condições que também causam depressão do sistema nervoso central (hipotermia,
hipotensão, hipoxemia...).
Existem, hoje, algumas ferramentas que auxiliam nesta avaliação (índice
bispectral, analisador de gases, bombas alvo-controladas...), mas que não substituem a
análise “tradicional” dos sinais físicos e clínicos — classificados e explicados a seguir —
idealizada por Arthur Guedel. É importante ressaltar que estes sinais são válidos apenas
nos pacientes submetidos à anestesia geral e que pode haver variações entre diferentes
espécies animais e/ou diferentes associações farmacológicas.
145
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
FANTONI, D.T.; CORTOPASSI, S.R.G. Anestesia em cães e gatos. 2 ed. São Paulo:
Roca, 2009. 632 p.
GRIMM, K.A. et al. Veterinary anesthesia and analgesia: the fifth edition of Lumb
and Jones. 5 ed. St. Louis: Willey-Blackwell, 2015. 1061 p.
146
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
1. INTRODUÇÃO
A obstrução uretral em felinos é uma afecção comum na rotina de emergência
em Medicina Veterinária, e consiste na oclusão da uretra por urólitos ou plugs uretrais.
Os felinos machos são mais acometidos por razões anatômicas, e a predisposição é
maior em gatos submetidos a estresse, mudanças ambientais ou condições nutricionais
ruins.
147
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
4. ESTABILIZAÇÃO INICIAL
O alívio da desobstrução só se torna possível após a estabilização inicial do
paciente. A sedação ou anestesia geral de pacientes bradicárdicos, com hipercalemia
significativa e arritmias não é recomendada.
a. Fluidoterapia: importante para restabelecer a hidratação, a volemia, melhorar a
função renal e reduzir o grau de hipercalemia. Os fluidos de escolha são os
cristaloides, especialmente o Ringer com Lactato. O cloreto de sódio 0,9% tem
maior efeito alcalinizante e eletrólitos em composição mais distinta de
parâmetros fisiológicos. O Ringer com lactato, por sua vez, tem efeito
alcalinizante mais interessante no controle da acidose metabólica.
148
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
5. PROTOCOLOS ANESTÉSICOS
a. Sedação / Medicação pré-anestésica: a escolha do protocolo depende das
condições clínicas do paciente. Muitas vezes, esses animais se encontram em
condição semi-comatosa. Em geral, a condição clínica é ruim, e apenas um
opioide é suficiente para fornecer analgesia.
Fenotiazínicos + opioides: Fenotiazinicos melhoram a exposição peniana, mas
são contraindicados em casos de desidratação, hipotensão e anemia. Quando utilizados,
deve-se preferencialmente associar a opioides.
Opioides: associados ou não a outros fármacos
o Morfina: é um opioide potente e que apresenta boa estabilidade
cardiovascular, mas pode provocar êmese.
o Metadona: deve-se considerar que seu uso provoca taquipneia, o que pode
ser prejudicial em pacientes que apresentam alcalose respiratória.
o Butorfanol: apresenta estabilidade cardiovascular muito boa, promove
sedação e tem poucos efeitos colaterais, mas deve-se considerar que há
perda de resgate analgésico com outros opioides pelo efeito antagonista em
receptores opioides.
149
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
Figura 1. Posicionamento das agulhas para bloqueio do nervo pudendo. Fonte: Klaumann, 2012.
150
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
6. CUIDADOS PÓS-DESOBSTRUÇÃO
Monitorar frequencia cardíaca, eletrocardiograma, pressão arterial,
temperatura, hematócrito, proteínas plasmáticas, ureia, creatinina, potássio sérico e
hemogasometria.
Fluidoterapia: Os pacientes desobstruídos podem entrar em quadro de
hipocalemia após a desobstrução por restabelecimento da diurese. A administração de
cristaloides com adição de potássio pode ser necessária, em taxas de reposição de até
0,5 mEq/kg/h.
Monitorar diurese: O ideal é manter o débito urinário em cerca de 1 mL/kg/h, e
a azotemia normalmente se resolve em até 24h após a desobstrução.
Analgesia: a manipulação, inflamação uretral e sondagem são processos
dolorosos, e a manutenção de analgésicos geralmente é necessária após a
desobstrução. Podem ser utilizados opioides (butorfanol, metadona, morfina,
tramadol), dipirona e AINEs, desde que a função renal esteja preservada.
Verificar a patência do uretral após retirada da sonda durante 24-48h, podendo
ser necessária a administração de medicações para atonia vesical (betanecol 1-5 mg/kg)
e relaxamento uretral (diazepam 0,2 mg/kg).
Realizar cultura e antibiograma da urina
Prevenir reincidivas: manejo cat friendly, da nutrição e enriquecimento
ambiental são fundamentais na prevenção de reincidivas
7. REFERÊNCIAS
GALVÃO, André Luiz Baptista et al. Obstrução uretral em gatos machos–revisão
literária. Acta Veterinaria Brasilica, v. 4, n. 1, p. 1-6, 2010.
GRIMM, Kurt A. Lumb & Jones Anestesiologia e Analgesia veterinária. 5. ed. Rio
de Janeiro: Roca, 2017. p. 611-675.
KLAUMANN P. R., OTERO P. E. Anestesia locorregional em pequenos animais.
2012, São Paulo: Roca. 288p.
RABELO, Rodrigo. Emergências em pequenos animais: condutas clínicas e
cirúrgicas no paciente grave. Elsevier Brasil, 2012. P
151
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
1. INTRODUÇÃO
A síndrome da dilatação vólvulo gástrica é (DVG) uma condição de emergência
caracterizada pelo aumento exacerbado do estômago e mau-posicionamento na
cavidade abdominal (volvo), o que compromete o esvaziamento gástrico por
compressão do piloro e do cárdia. Quando o grau de rotação do estômago é inferior a
180º, caracteriza-se como torção. Quando superior a 180º (geralmente entre 270-360º),
caracteriza-se como volvo. Devido à presença do ligamento gastroesplênico, geralmente
há rotação do baço com lesão em vasos sanguíneos de grande calibre. A mortalidade
está diretamente relacionada ao intervalo entre o estabelecimento do quadro e o início
do tratamento, ao grau de comprometimento de órgãos e da circulação, presença de
necrose e arritmias.
2. FISIOPATOGENIA
Com a dilatação do estômago, há aumento da pressão intra-abdominal (PIA) e
compressão do diafragma. O aumento na PIA, reduz significativamente o fluxo
sanguíneo venoso na veia cava e no sistema portal, reduzindo o retorno venoso e,
consequentemente, o débito cardíaco (DC). Conforme a dilatação e o vôlvulo progridem,
o fluxo arterial gástrico pode ficar comprometido. A estase sanguínea e a hipóxia
tecidual resultam em sequestro de fluidos e acúmulo de endotoxinas nos órgãos
esplâncnicos. O baço e o estômago são os órgãos mais comprometidos com a menor
perfusão, sendo comum a ocorrência de isquemia e necrose
A oclusão da veia porta pode causar queda na capacidade hepática de eliminação
das endotoxinas provenientes de bactérias, absorvidas pela mucosa gástrica
desvitalizada. A endotoxemia produz hipotensão, queda mais acentuada no DC, e
aumento do sequestro renal. A hipotensão reduz o fluxo sanguíneo coronariano,
causando hipóxia de miocárdio. Assim, as formas de choque cardiogênico, hipovolêmico
e endotóxico contribuem para os desarranjos fisiológicos.
Em muitos cães ocorrem arritmias. Foi reconhecida a presença do fator
depressor do miocárdio em cães afetados. A lesão por reperfusão com o
reposicionamento dos órgãos causa boa parte dos danos teciduais que acarretam em
morte.
A disfunção respiratória está presente na maioria dos pacientes, e ocorre pela
menor complacência pulmonar e por restrição mecânica do movimento do diafragma.
A deficiência respiratória, aliada à queda no DC e ao desequilíbrio V/Q, resulta na queda
na pressão parcial de oxigênio arterial e hipóxia de tecidos.
152
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
3. AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA
Ao avaliar o paciente com histórico de distensão abdominal aguda ou diagnóstico
concluído de DTV, deve-se atentar para alguns achados clínicos importantes. No sistema
respiratório, normalmente é observada respiração ortopneica acelerada, com sinais de
hipoxemia (cianose). A presença de pulso fraco, taquicardia, aumento de TPC e mucosas
pálidas ou congestas também é comum nesses pacientes e informa o grau de
comprometimento hemodinâmico.
Em geral, esses pacientes podem se apresentar em decúbito, inquietos, com
vômito improdutivo, hipersalivação e hipotensão. Achados laboratoriais indicam
desidratação (hemoconcentração), leucopenia/leucocitose, tromobocitopenia,
aumento de enzimas hepáticas e renais, hiperbilirrubinemia, hipocalcemia, acidose
metabólica severa e aumento de lactato. O lactato é um marcador que apresenta valor
prognóstico, e a redução de mais de 40% do lactato após reposição volêmica melhora o
prognóstico.
4. ESTABILIZAÇÃO
O objetivo da estabilização é corrigir a maior parte dos danos antes de submeter
o paciente à cirurgia de correção da condição. A estabilização completa raramente será
alcançada, pois a correção cirúrgica é imprescindível ao retorno da hemodinâmica
normal do paciente.
153
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
5. PROTOCOLOS ANESTÉSICOS
a. Medicação pré-anestésica
A MPA de animais com dilatação vólvulo-gástrica é, muitas vezes, dispensável
em pacientes em condição mais crítica. Em geral, a condição clínica é ruim, e apenas um
opioide é suficiente para fornecer analgesia e tranquilizar esses pacientes.
Acepromazina: deve-se evitar pelo potencial de promover vasodilatação e piorar
a tendência a hipotensão.
Opioides: A morfina é um opioide potente e que apresenta boa estabilidade
cardiovascular, mas deve ser evitada por provocar êmese. A metadona é um opioide
potente, mas deve-se considerar que seu uso provoca taquipneia, o que pode ser
prejudicial em pacientes que apresentam alcalose respiratória.
Benzodiazepínicos: apresentam estabilidade cardiovascular, e podem ser
utilizados para tranquilizar animais ansiosos.
Alfa-2 agonistas: Não são recomendados pelo alto potencial de causar
instabilidade cardiovascular nesses pacientes.
b. Protocolos de indução
Opioide associados a benzodiazepínico: fentanil (2,5-5 µg/kg IV) + midazolam
(0,2-0,5 mg/kg IV) – promove boa estabilidade cardiovascular em pacientes críticos, e,
geralmente, é suficiente para a intubação em animais debilitados. Pode ser associado a
doses mais baixas de propofol, caso seja necessário.
154
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
6. COMPLICAÇÕES COMUNS
Lesão de reperfusão: ocorre em diversos órgãos, principalmente quando a
rotação do baço é corrigida antes de ligadura dos vasos.
155
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
7. REFERÊNCIAS
DIAS, Tiago Trindade et al. Abordagem cirúrgica da síndrome da dilatação volvo
gástrica em um cão: Relato de caso. PUBVET, v. 14, p. 148, 2020.
GRIMM, Kurt A. Lumb & Jones Anestesiologia e Analgesia veterinária. 5. ed. Rio
de Janeiro: Roca, 2017. p. 611-675.
LUNA, Stelio P. L.; AGUIAR, Antônio J. A. NETO, F. J. T. Anestesiologia em
pequenos animais. Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ – Unesp),
Botucatu, 2016. p. 140-153.
RABELO, Rodrigo. Emergências em pequenos animais: condutas clínicas e
cirúrgicas no paciente grave. Elsevier Brasil, 2012. p
156
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
1. INTRODUÇÃO
A ruptura diafragmática é uma condição caracterizada pela perda de
continuidade do diafragma, o que faz com que a barreira existente entre as cavidades
torácica e abdominal seja perdida. A ruptura do diafragma pode ser congênita ou
causada por traumas, e implica em perda da mecânica respiratória normal. Muitas
vezes, órgãos abdominais invadem a cavidade torácica através da ruptura, o que
caracteriza a hérnia diafragmática. Os principais órgãos presentes na hérnia
diafragmática são fígado (67%), intestinos (56%), estômago (49%) e baço (40%).
Deve-se considerar que outras alterações concomitantes podem estar presentes
em pacientes com hérnia diafragmática, principalmente em sua forma traumática. Esses
animais podem apresentar contusões pulmonares, estômago repleto com risco de
êmese e broncoaspiração, fraturas ósseas, traumatismo crânio-encefálico, traumas no
miocárdio, hemorragias etc.
2. FISIOPATOGENIA
A dispneia está presente em 72% dos casos de hérnia diafragmática, e resulta da
perda da função do diafragma na ventilação e da possível lesão pulmonar. Além disso,
ocorre compressão mecânica dos pulmões por invasão da cavidade torácica por órgãos
abdominais.
O choque é uma condição comum nesses pacientes, podendo ser de diversos
tipos. O choque hipovolêmico é decorrente de derrame pleural e outros focos de
hemorragia; o choque distributivo ocorre por comprometimento da circulação por
deslocamento de órgãos e compressão de grandes vasos; e o choque cardiogênico pode
ser causado por lesões no miocárdio ou acúmulo de conteúdo no pericárdio
(tamponamento).
A hipoxemia é um sinal muito comum em pacientes com hérnia diafragmática, e
é causada por uma ou mais das seguintes condições:
a. Hipoventilação: Alguns pacientes ventilam mal após o trauma, com menor
amplitude ou menor frequência respiratória. Ocorre hipoxemia por queda na
quantidade de oxigênio que está chegando ao alvéolo, e hipercapnia por
diminuição da eliminação de CO2. Dessa forma, ocorre elevação da PaCO2 com
queda da PaO2.
b. Desequilíbrios entre ventilação e perfusão (desesquilíbrio V/Q): Quando algum
processo fisiopatológico faz com que haja perfusão de unidades alveolares pouco
157
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
3. CONDUTAS
a. Estabilização do quadro: Fornecer oxigênio com fração inspirada de oxigênio
(FiO2) maior que 80% pode ser necessário para manter a meta de PaO2 maior
que 70mmHg. Em pacientes ansiosos, agitados ou agressivos, a incubadora é uma
boa opção para fornecer suplementação de oxigênio, mas deve-se considerar que
a causa da agitação pode ser dor. Portanto, sedação e analgesia também são
importantes nesses pacientes, e podem reduzir o grau de hipoxemia. A inclinação
da mesa também pode ser útil por reduzir a compressão de órgãos torácicos. Se
possível, realizar hemogasometria arterial para avaliar o grau de
comprometimento da função ventilatória e direcionar melhor o tratamento.
b. Avaliação pré-anestésica: Em geral, são quadros emergenciais que não permitem
anamneses e histórico completo, mas deve-se avaliar a condição clínica do
paciente e buscar por comorbidades para escolher o melhor protocolo
anestésico. O FAST abdominal e torácico é um exame que pode ser realizado a
beira-leito do atendimento emergencial e permite avaliação do grau de
comprometimento físico do paciente. Exames demorados ou com alta
complexidade devem ser evitados em situações emergenciais, e só devem ser
realizados em pacientes estáveis. São condições comumente encontradas em
pacientes com ruptura diafragmática:
o Trauma cranioencefálico: o aumento de pressão intracraniana pode resultar
em déficits neurológicos e convulsões. Nesses pacientes o ideal é não utilizar
acepram ou cetamina em doses altas, e deve-se evitar a hipercapnia. Para a
escolha da medicação pré-anestésica deve-se evitar também fármacos que
induzam a êmese.
o Contusão pulmonar, blebs ou bolhas: cursam com comprometimento da
ventilação e perda de sangue.
158
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
4. PROTOCOLOS ANESTÉSICOS
a. Medicação pré-anestésica
Anticolinérgicos: devem ser evitados pelo risco de lesão prévia no miocárdio e
pela alta predisposição a arritmias.
Opioides: utilizados na medicação pré-anestésica para promover indução e
tranquilização, ou durante a indução.
o Morfina: não é recomendada pro causar vômitos.
o Metadona: pode ser utilizada, considerando-se que pode causar taquipneia
e aumentar o desconforto respiratório.
o Meperidina: efeito analgésico insuficiente.
o Butorfanol: efeito analgésico moderado e com segurança em relação a
função cardiovascular, mas o uso de outros opioides para resgate analgésico
é comprometido.
o Tramadol: Baixo potencial analgésico, melhor utilizado no pós operatório
com outros fármacos.
b. Indução anestésica
Benzodiazepínicos e opioide: fentanil (2,5-5 µg/kg IV) + midazolam (-0,2-0,5
mg/kg IV) – promove estabilidade cardiovascular, mas pode ser necessário
complementar a indução com propofol.
Propofol + fentanil: o propofol promove menos estabilidade cardiovascular que
benzodiazepínicos, mas pode ser utilizado com o fentanil. Utilizar o propofol de forma
isolada não é ideal pela necessidade de altas doses para indução, mas pode ser utilizado.
159
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
6. PÓS-OPERATÓRIO
Os pacientes comumente apresentam pneumotórax no pós-operatório.
Recomenda-se o posicionamento de uma sonda interpleural para drenagem de ar e
fornecimento de analgesia por meio de anestésicos locais (lidocaína 2% na dose de 1,5
mg/kg a cada 1-2h ou bupivacaina 0,5% 1,5 mg/kg a cada 6-8h). A analgesia pós-
operatória também pode ser garantida com opioides e antiinflamatórios não
esteroidais. Monitorar sempre o grau de dor, a qualidade de ventilação e oxigenação
sanguínea, pressão arterial, qualidade de ausculta pulmonar e presença de arritmias.
Pode ser necessária suplementação de oxigênio no pos-operatório.
Complicação mais comum: O edema pulmonar se desenvolve quando
ventilações fortes durante a anestesia são usadas para expandir rapidamente pulmões
colabados, principalmente quando se encontram assim há mais de 12 horas. A liberação
de citocinas altera a permeabilidade capilar, contribuindo para o edema pulmonar. Para
prevenir o edema pulmonar, não realizar nenhum esforço específico para reexpandir os
pulmões rapidamente, pois a reexpansão é gradualmente restabelecida.
7. REFERÊNCIAS
GRIMM, Kurt A. Lumb & Jones Anestesiologia e Analgesia veterinária. 5. ed. Rio
de Janeiro: Roca, 2017. p. 611-675.
163
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
2. FISIOPATOGENIA
A piometra é uma doença polissistêmica, afetando diferentes órgãos em um
mesmo momento. São possíveis consequências da piometra.
Baixa perfusão renal e hepática por desidratação
Deposição de imunocomplexos na matriz mesangial e na parede capilar dos rins
Redução na produção de ADH, causando poliúria e polidipsia
Anemia por supressão da medula e sequestro de hemácias pelo útero inflamado
Hipovolemia por menor ingestão, inibição de ADH e vômitos
Distúrbios hidroeletroliticos e do EAB: acidose, alcalose, hipocalemia
Disfunção cardíaca
Sepse e choque séptico: A piometra comumente cursa ccom hipoperfusão,
anemia e redução da oferta de oxigênio. Inicialmente a paciente mostra sinais de SIRS,
com febre, taquicardia, taquipneia, leucocitose ou leucopenia com aumento de
bastonetes. Há evolução para sepse quando ocorre disfunção orgânica ameaçadora à
vida, com resposta desregulada a infecção (ver capítulo sobre choque séptico). No
choque séptico há hiperlactatemia, hipotensão e necessidade de vasopressores para
manutenção da pressão arterial. São sinais clínicos de choque séptico: consciência
diminuida, hipoperfusão (mucosas hipocoradas e hipotermia), oligúria (<0,5ml/kg/h),
hiperventilação, pulso fraco, taquicardia, hipotensão. No felino, não há resposta
simpática eficaz na compensação do choque, e a frequência cardíaca pode se manter
baixa.
Redução no débito cardíaco: menor pré-carga (hipovolemia relativa e absoluta)
e menor pós-carga (disfunção do endotélio).
164
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
Para mais detalhes sobre manejo de sepse e choque séptico, consultar capítulo
específico.
4. PROTOCOLOS ANESTÉSICOS
a. MPA
Fenotiazínicos: não devem ser empregados, pois podem causar vasodilatação e
sequestro esplênico. Se utilizados, deve-se optar por doses menores.
α2 agonistas: não são recomendados pela menor estabilidade cardiovascular. Se
utilizados, deve-se optar por doses menores.
Opioides: promovem analgesia preventiva. Dar preferência a agonistas µ totais
com alta potência, como morfina e metadona. Deve-se considerar os efeitos colaterais
e seu impacto no paciente: a morfina pode causar vômitos, e a metadona pode causar
bradicardia e taquipneia.
165
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
b. Indução
Propofol: preferencialmente associado a coindutores para reduzir a dose
necessária, pois pode causar depressão respiratória e hipotensão em doses altas e
administração veloz.
Etomidato: Maior estabilidade cardiovascular. Considerar que, mesmo em
pequenas doses, pode causar supressão adrenal. Associar a midazolam para melhorar o
grau de relaxamento muscular.
c. Manutenção
Halogenados isoladamente não são recomendados: Inalatórios podem causar
imunossupressão e não promovem analgesia
PIVA:
o Opioides: Agonistas µ totais podem suprimir a imunidade em doses mais
elevadas e causar bradicardia e depressão respiratória (fentanil e
remifentanil).
o Cetamina: reduz a CAM e promove analgesia, principalmente somática.
o Dexmedetomidina: em bolus causa muitos impactos hemodinâmicos, mas
promove redução no requerimento de inalatória quando utilizada em
infusão
• TIVA: pode-se utilizar infusão de propofol na manutenção da hipnose, mas a
associação de fármacos analgésicos é indispensável.
5. CONSIDERAÇÕES
Esses pacientes podem se beneficiar de ventilação mecânica, pois estão sujeitos
a hipóxia. Considerar que a ventilação mecânica pode reduzir o retorno venoso e piorar
o comprometimento hemodinâmico.
A analgesia transoperatória pode ser obtida com opioides nos períodos pré, pós
e transanestésicos, bem como com o uso de dipirona e AINEs em animais com função
renal preservada. A instilação de anestésicos locais no pedículo também é uma opção.
O uso de epidural ainda é controverso pelo risco de translocação bacteriana em
pacientes em sepse e pelo risco de vasodilatação.
O uso de inotrópicos e vasopressores é, muitas vezes, necessário. Sua escolha
deve se basear na causa da hipotensão, mas, geralmente, a norepinefrina é a primeira
escolha pelo choque séptico e a vasoplegia.
166
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
6. BIBLIOGRAFIA
MONTEIRO, Eduardo Raposo; NETO, Francisco José Teixeira. Choque. In: LUNA,
Stelio P. L.; AGUIAR, Antônio J. A. NETO, F. J. T. Anestesiologia em pequenos animais.
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ – Unesp), Botucatu, 2016. p. 66-
81.
RABELO, Rodrigo. Sepse, sepse grave e choque séptico. In: RABELO, Rodrigo.
Emergências em pequenos animais: condutas clínicas e cirúrgicas no paciente grave.
Elsevier Brasil, 2012.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
1. INTRODUÇÃO
Com o progresso científico da medicina veterinária, possibilitou-se um aumento
na expectativa de vida dos animais, assim como a intervenção cirúrgica em diversas
doenças congênitas. É cada vez mais frequente a admissão de neonatos ou geriatras em
hospitais, logo cabe ao anestesiologista conhecer as particularidades fisiológicas destes
grupos — além das possíveis comorbidades — para promover maior segurança e
conforto aos pacientes.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
PARTICULARIDADES FISIOLÓGICAS:
Cardiovasculares: ↓ volemia, ↓ atividade barorreceptora, ↑ tônus vagal, ↓
autorregulação do fluxo sanguíneo, fibrose do miocárdio, enrijecimento das paredes dos
vasos, espessamento da parede ventricular, ↓ DC e ↓ capacidade de aumentar a FC;
Respiratórias: ↓ complacência torácica, atrofia da musculatura intercostal, ↓
elasticidade alveolar, ↓ resposta quimiorreceptora e ↓ capacidade residual funcional;
Neurológicas: ↓ atividade sensorial e cognitiva, ↓ massa cerebral, ↓ atividade
do sistema nervoso autônomo, depleção de neurotransmissores e ↓ mielinização;
170
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
171
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
4. REFERÊNCIAS
BAETGE, C.L.; MATTHEWS, N.S. Anesthesia and analgesia for geriatric veterinary
patients. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 42, n. 4, p. 643-
653, 2012.
FANTONI, D.T.; CORTOPASSI, S.R.G. Anestesia em cães e gatos. 2 ed. São Paulo:
Roca, 2009. 632 p.
GRIMM, K.A. et al. Veterinary anesthesia and analgesia: the fifth edition of Lumb
and Jones. 5 ed. St. Louis: Willey-Blackwell, 2015. 1061 p.
172
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
BLOQUEADORES NEUROMUSCULARES
1. INTRODUÇÃO
Os bloqueadores neuromusculares (BNMs) compõem um grupo farmacológico
que atua como adjuvante na anestesia geral, composta por inconsciência, analgesia,
relaxamento muscular, proteção das funções orgânicas e amnésia. Estes podem ser
empregados em situações específicas como cirurgias oftalmológicas e ortopédicas e
períodos prolongados de ventilação mecânica, procedimentos que podem necessitar de
um grau superior de relaxamento da musculatura esquelética do que aquele promovido
por anestésicos e sedativos.
É importante enfatizar que os BNMs atuam nos neurotransmissores da placa
motora, portanto não causam depressão do sistema nervoso central ou analgesia.
3. FÁRMACOS
São moléculas polarizadas que não atravessam a barreira hematoencefálica,
portanto limitam-se à ação periférica. De forma dose-dependente, promovem
relaxamento progressivo dos grupos musculares, inviabilizando a monitoração clínica do
plano anestésico (posição do globo ocular, padrão respiratório, reflexos palpebrais...).
Os BNMs são classificados em dois grupos, de acordo com o mecanismo pelo
qual o bloqueio é instalado:
Agentes despolarizantes (succinilcolina): pouco utilizados em medicina
veterinária, ligam-se aos receptores nicotínicos e mimetizam a ação da ACh, provocando
despolarização contínua da célula muscular (fase 1) pela abertura dos canais de sódio.
Contudo, no momento em que estes canais se fecham e os íons cálcio retornam para o
interior do retículo sarcoplasmático (fase 2), ocorre insensibilização da membrana pós-
juncional — que permanece despolarizada — e paralisia flácida.
Agentes não-despolarizantes (atracúrio, rocurônio...): atuam como
antagonistas competitivos, ou seja, ligam-se aos receptores nicotínicos e não
desencadeiam atividade celular, mas impedem a ação da ACh.
174
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
recuperação da função muscular, por sua vez, acontece na ordem inversa (do centro
para a periferia).
Fonte: Fantoni & Cortopassi, 2009.
175
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
5. REFERÊNCIAS
FANTONI, D.T.; CORTOPASSI, S.R.G. Anestesia em cães e gatos. 2 ed. São Paulo:
Roca, 2009. 632 p.
GRIMM, K.A. et al. Veterinary anesthesia and analgesia: the fifth edition of Lumb
and Jones. 5 ed. St. Louis: Willey-Blackwell, 2015. 1061 p.
176
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
FAMACOLOGIA BÁSICA
1. INTRODUÇÃO
Como uma grande área do conhecimento, a farmacologia compõe uma das bases
da anestesiologia e, de maneira simplista, pode ser didaticamente dividida em
farmacocinética (movimento dos fármacos no organismo ou tudo aquilo que o
organismo faz com o fármaco) e farmacodinâmica (efeitos biológicos dos fármacos ou
tudo aquilo que o fármaco faz com o organismo), uma vez que os fenômenos estudados
acontecem simultaneamente.
Cabe ao anestesiologista compreender minuciosamente a interação entre o
organismo do paciente e os fármacos administrados para, assim, maximizar os efeitos
desejados, minimizar os riscos e diminuir a incidência de complicações perianestésicas.
2. FARMACOCINÉTICA
Após sua administração, o fármaco percorre caminhos através das membranas
biológicas para atingir sua biofase (sítio de ação) e, ao mesmo tempo, para ser
metabolizado e eliminado do organismo. Tais eventos farmacocinéticos podem ser
segmentados em quatro grandes processos: absorção, distribuição, biotransformação e
eliminação.
177
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
ABSORÇÃO
Absorção é o transporte do fármaco até o sangue. Ela varia de acordo com a via
de administração e afeta diretamente a biodisponibilidade (relação entre a quantidade
administrada e a concentração sanguínea). Fármacos administrados pelas vias
intravenosa ou intra-arterial não passam por este processo (são injetados diretamente
na corrente sanguínea) e há situações nas quais a absorção não é desejada, como ao
realizar bloqueios locorregionais com anestésicos locais.
Outro fenômeno que interfere diretamente na biodisponibilidade é o
metabolismo de primeira passagem, que ocorre quando um fármaco, administrado pela
via oral, é absorvido para a circulação portal e sofre metabolização hepática antes de
atingir a circulação sistêmica.
As principais vantagens e desvantagens das vias de administração mais comuns
estão descritas na tabela abaixo.
178
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
DISTRIBUIÇÃO
Refere-se ao transporte do fármaco da circulação até os diferentes tecidos. Os
principais fatores que afetam a distribuição são a afinidade do fármaco aos tecidos
(hidro ou lipossolubilidade), a perfusão tecidual (regiões muito perfundidas, como o
cérebro, apresentam distribuição mais rápida) e a taxa de ligação dos fármacos às
proteínas plasmáticas.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
Fonte: https://derangedphysiology.com/main/cicm-primary-exam/required-
reading/pharmacokinetics/Chapter%204.0.1/maintenance-dose-and-loading-dose.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
Fonte: https://derangedphysiology.com/main/cicm-primary-exam/required-
reading/pharmacokinetics/Chapter%204.0.1/maintenance-dose-and-loading-dose.
BIOTRANSFORMAÇÃO
Consiste em uma série de processos que alteram quimicamente as moléculas —
na maioria das vezes aumentando sua hidrossolubilidade — visando eliminá-las do
organismo. Ocorre primordialmente no fígado, mas também pode envolver outros
órgãos como rins, pulmões e intestinos.
Há fármacos, conhecidos como pró-fármacos, que são administrados em uma
forma inativa, necessitando passar pelo processo de biotransformação para atingir sua
forma. Um exemplo comum é a codeína que, após sua administração, é biotransformada
em morfina para gerar os efeitos desejados.
As reações químicas que acontecem na biotransformação podem ser
categorizadas em duas fases (porém nem todos os fármacos são submetidos a ambas):
181
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
ELIMINAÇÃO
O organismo excreta os fármacos administrados principalmente por meio da
urina. Entretanto, também existem outras vias de eliminação como bile, suor,
respiração, lágrimas, saliva e leite, no caso das fêmeas lactantes. Os metabólitos de um
mesmo fármaco podem ser excretados por diferentes vias e em forma ativa ou inativa.
Um importante exemplo é a cetamina, cuja excreção, na espécie felina, é feita 80% em
sua forma ativa.
Fármacos excretados pelas vias renal (através da filtração glomerular e secreção
tubular proximal) ou digestiva (através da bile) podem ser reabsorvidos nos túbulos
distais ou nos intestinos, respectivamente. Em ambas as situações, a duração dos efeitos
clínicos é prolongada.
Clearance (ou depuração plasmática) — definido como a capacidade de um
órgão retirar uma substância da circulação sistêmica — é o principal conceito
farmacocinético envolvido na fase de eliminação. Um clearance de 12 mL/min, por
exemplo, indica que, a cada minuto, 12 mL de água corpórea estão livres do fármaco em
questão.
3. FARMACODINÂMICA
Os fármacos causam os mais variados efeitos clínicos no organismo devido à
presença de receptores, que podem ser estruturalmente específicos ou não. Portanto,
não “criam” novas funções, mas modificam — de diversas formas — aquelas que já
existem. A morfina, por exemplo, é uma molécula exógena que se liga aos receptores
opioides e “imita” a ação de opioides endógenos, como a endorfina.
Receptores são proteínas, localizadas na superfície ou no interior das células, que
respondem à ligação química de diversas substâncias (fármacos, neurotransmissores,
hormônios...). Tal ligação gera uma resposta intracelular que, de maneira direta ou
indireta, resulta em um efeito clínico.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
4. REFERÊNCIAS
CURRIE, G.M. Pharmacology, part 1: introduction to pharmacology and
pharmacodynamics. Journal of Nuclear Medicine Technology, v. 46, n. 2, p. 81-86, 2018.
MONOBE, M.M. et al. Frequency of the MDR I mutant allele associated with
multidrug sensitivity in dogs from Brazil. Veterinary Medicine: Research and Reports, v.
6, p. 111-117, 2015.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
1. INTRODUÇÃO
A homeostase de um organismo é mantida através de inúmeras reações
químicas. Toda reação química, depende de uma temperatura e de um pH para
acontecer. Portanto o equilíbrio ácido-básico tem como objetivo manter o pH do
organismo dentro de valores fisiológicos para otimizar as atividades celulares. A
atividade metabólica produz diariamente uma grande quantidade de ácidos fixos (íons
H+) e ácidos voláteis (CO2) pelo catabolismo.
2. CONCEITOS
pH: logaritmo negativo da concentração de íons H+ livres em uma solução. É uma
relação exponencial inversa. Portanto, quando menor o valor de pH, maior será a
concentração de radicais hidrogênio.
185
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
o Sistema renal: eliminam pela urina ácidos fixos (H+) com reabsorção tubular
concomitante de bicarbonato. Mecanismos de regulação renal do EAB:
Reabsorção de bicarbonato nos túbulos renais (ocorre
concomitantemente com a reabsorção de sódio).
Excreção de acidez titulável: excreção de fosfato monossódico.
186
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
1. Acidose metabólica
A acidose metabólica pode ocorrer por adição de ácidos fortes (ex.: acidose
diabética, azotemia), ou por perda de bicarbonato. Ela pode ser normoclorêmica, em
que os valores de cloro estão normais, mas os do ânion gap aumentados. Esse quadro
indica que há excesso em algum dos ânions não mensuráveis. As principais causas deste
tipo de acidose são:
188
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
Em animais com acidose metabólica severa (pH > 7.2), cujo distúrbio primário
não pode ser resolvido rapidamente, pode ser necessária a administração de
bicarbonato. O déficit de bicarbonato é calculado através da seguinte fórmula:
Déficit de bicarbonato = peso (kg) x excesso de base x 0,3
Um terço do déficit calculado pode ser administrado via infusão intravenosa
lentamente durante 15 a 30 minutos e o status ácido-básico é reavaliado. O restante
pode ser adicionado ao fluido intravenoso do paciente e administrado durante horas, se
necessário. Importante manter um suporte ventilatório ao paciente, pois os valores de
PACO2 aumentam durante essa reposição de bicarbonato.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
2. Alcalose metabólica
A alcalose metabólica pode ocorrer por perda de ácido forte (ex.: vômitos), por
ganho de bicarbonato (ex.: infusão de bicarbonato de sódio) ou por aumento na
excreção renal de cloreto (ex.: diuréticos, hiperadrenocorticismo, compensação da
acidose respiratória). Nas três situações, a alcalose cursa com hipocloremia. O
tratamento da alcalose metabólica é bem mais difícil do que da acidose, e, como
normalmente cursam com valores baixos de cloreto e potássio, é feito com reposição
de cloretos e em alguns casos com acetazolamida. Nos casos de alcalose metabólica
ocorre um aumento compensatório da PCO2, para compensar o aumento do HCO3- e
queda no H+. A queda nos íons H+ diminui os estímulos aos quimiorreceptores centrais
e periféricos, diminuindo a ventilação alveolar.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
3. Acidose respiratória
A acidose respiratória é frequentemente uma urgência com risco de óbito
elevado. Pode ser aguda por comprometimento do SNC (intoxicações, traumas),
hipoventilação na anestesia, por comprometimento anatômico ou funcional da caixa
torácica ou vias respiratórias. Pode ser também crônica, geralmente por lesões
pulmonares. O mecanismo de compensação da acidose respiratória aguda é por ação
tamponante da hemoglobina. A compensação crônica ocorre por reabserção renal de
HCO3-, que leva cerca de 4 dias para se tornar efetiva.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
4. Alcalose respiratória
A alcalose respiratória raramente cursa com pH 7.55, logo não apresenta grandes
repercussões sistêmicas. Pode ser aguda devido a estimulação do centro respiratório
bulbar por encefalites, hipoxemia, febre, ou por estimulação de receptores torácicos
(atelectasia, pneumopatias agudas); ou crônica. Em alcalose crônica, os rins funcionam
plenamente, fazendo excreção de bicarbonato e retenção de cloreto. O tratamento é
basicamente focado em combater a hiperventilação.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
5. REFERÊNCIAS
DE MORAIS, Helio Autran. Metabolic acidosis: a quick reference. Veterinary
Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 38, n. 3, p. 439-442, 2008.
194
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
1. INTRODUÇÃO
O sistema nervoso controla as funções orgânicas do corpo, as emoções e a
interação do organismo com o ambiente, recebendo estímulos, interpretando-os e
elaborando respostas. É composto pelo sistema nervoso central (SNC) e pelo sistema
nervoso periférico (SNP). O SNC é constituído de encéfalo e medula espinhal e é
responsável por gerar, receber e integrar informações. O SNP é constituído por nervos,
gânglios e terminações nervosas, e tem a função de conduzir as informações pelo corpo.
Os neurônios são as células com maior importância funcional para o sistema
nervoso, compostas por um corpo celular, dendritos e axônios. São responsáveis por
gerar, receber e transportar informações. A transmissão de informações ocorre através
de alterações no potencial elétrico das membranas dos axônios, que propagam impulsos
elétricos em direção a outras células e geram sinapses. As sinapses são constituídas por
uma terminação axonal (membrana pré-sináptica) justaposta à membrana de outra
célula (membrana pós-sináptica), separadas por um pequeno espaço, denominado
fenda sináptica (Figura 1). De maneira geral, quando um impulso elétrico chega à
terminação axonal, ocorre a liberação de neurotransmissores na fenda sináptica, que
agem sobre receptores presentes na membrana pós-sináptica.
Figura 1. Representação esquemática de um neurônio e das sinapses. Fonte: adaptado de Cosenza, 2000.
195
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
SIMPÁTICO PARASSIMPÁTICO
pré-
Toracolombar Craniossacral
Localização ganglionares
dos Gânglios na
pós- Gânglios próximo
neurônios cadeia
ganglionares ao órgão-alvo
paravertebral
pré-
Curta Longa
Comprimento ganglionares
das fibras pós-
Longa Curta
ganglionares
Tabela 1. Resumo das principais diferenças anatômicas entre os sistemas simpático e parassimpático
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
Figura 3. Diferenças entre as transmissões simpática (A), parassimpática (B) e somática (C). Note que as
fibras pré-ganglionares do simpático são curtas e as pós-ganglionares são longas, e o oposto ocorre nas
sinapses parassimpáticas. Note também que as sinapses dos neurônios pré-ganglionares são sempre
mediadas por acetilcolina, que ativa um receptor nicotínico na membrana do neurônio pós-ganglionar. Já as
sinapses dos neurônios pós-ganglionares são distintas: mediadas por acetilcolina no sistema parassimpático
e por norepinefrina na maioria das sinapses simpáticas (exceto nas glândulas sudoríparas, onde atua a
acetilcolina). Fonte: Golan, 2009.
198
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
Figura 4. Representação de uma sinapse adrenérgica mediada por receptores alfa-adrenérgicos. A ativação
de receptores alfa-2 adrenérgicos por agonistas na membrana pré-sináptica causa menor liberação de
norepinefrina por efeito de feedback negativo, efeito causado por fármacos como xilazina, medetomidina e
dexmedetomidina.
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
e colina, mediada pela enzima colina acetiltransferase. Uma vez produzida, a acetilcolina
é armazenada em vesículas sinápticas. As vesículas repletas com o neurotransmissor se
fundem à membrana plasmática quando o potencial de ação chega à terminação
axônica, liberando a acetilcolina na fenda sináptica, onde ocorrerá a interação com o
receptor colinérgico. Na fenda sináptica, a acetilcolinesterase é a enzima responsável
por degradar a acetilcolina em acetil-CoA e colina, limitando a duração da sinapse
colinérgica.
200
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
201
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
5. REFERÊNCIAS
202
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
INOTRÓPICOS E VASOPRESSORES
1. INTRODUÇÃO
O emprego de
fármacos inotrópicos e
vasoativos é muitas vezes
necessário para
restabelecimento da
hemodinâmica dos pacientes.
A escolha do fármaco a ser
empregado depende da causa
do desequilíbrio e do objetivo
desejado considerando os
fatores que interferem na
pressão arterial, conforme
ilustrado no esquema ao lado.
203
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
2. CONCEITOS IMPORTANTES
Inotropismo: propriedade do músculo cardíaco que se refere à força de
contração do miocárdio. Fármacos inotrópicos positivos aumentam a contratilidade;
inotrópicos negativos causam redução na contratilidade.
Cronotropismo: propriedade do músculo cardíaco que se refere à frequência
cardíaca (FC). Fármacos cronotrópicos positivos aumentam a FC; cronotrópicos
negativos causam redução na FC.
204
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
c. Antagonistas alfa-adrenérgicos
Ioimbina: O bloqueio seletivo de receptores α2 resulta em liberação aumentada
de norepinefrina, com estimulação subseqüente dos receptores β1 cardíacos e
receptores α2 da vasculatura periférica.
205
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
c. Antagonistas β adrenérgicos:
Propanolol: não seletivo, antagoniza β1 e β2.
Esmolol: antagonista adrenérgicos β1-seletivos.
206
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
207
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
6. REFERENCIAS
TRANQUILLI, William J.; THURMON, John C.; GRIMM, Kurt A. (Ed.). Lumb and
Jones' veterinary anesthesia and analgesia. John Wiley & Sons, 2013.
208
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
ANESTESIA EM RÉPTEIS
1. INTRODUÇÃO
Os répteis são animais de baixo metabolismo, e dependem muito da
temperatura ambiental para manutenção da homeostase. Devido a isso, sinais clínicos
de patologias demoram muito a aparecer, sendo evidentes apenas quando as doenças
se encontram em estágios muito avançados. Os répteis são divididos em 4 grupos:
Lagartos: corpo alongado, presença de cauda, possuem 3 câmaras cardíacas (2
átrios que batem em tempos diferentes e 1 ventrículo)
Crocodilianos: corpo alongado, presença de cauda, possuem 4 câmaras cardíacas
e um hemidiafragma (os outros 3 possuem apenas cavidade celomática)
Serpentes: As serpentes possuem o coração localizado no fim da traqueia,
aproximadamente no fim do primeiro terço do comprimento do corpo. A vesícula biliar
é separada do fígado, e baço e pâncreas são praticamente unificados. A área pulmonar
de uma serpente é de quase 1/3 do corpo e possuem sacos aéreos.
Quelônios: pulmões são localizados no dorso da carapaça
Tuataras
2. FISIOLOGIA
De uma forma geral, a respiração é ativa nos répteis, dada pela movimentação
visceral e da musculatura dos membros anteriores e posteriores. Os pulmões são em
forma de saco para a retenção de ar. Animais que mergulham tendem a ter shunt
cardíaco maior para auxiliar na ventilação.
É importante salientar que uma das maiores dificuldades na medicina de répteis
é definir se o paciente está morto. Eles mantêm reserva energética nos órgãos, e,
mesmo após o óbito, continuam a manter contração muscular.
Para a anestesia de répteis alguns cuidados são fundamentais, especialmente em
relação à temperatura e umidade. A velocidade de metabolização dos fármacos e
especialmente a recuperação são afetados pela temperatura. A fonte de calor colocada
no recinto ou terrário não deve entrar em contato direto com o animal. Outra forma de
aquecimento seria aquecer o ambiente como um todo. O ideal é começar a aquecer os
animais antes do procedimento.
As serpentes se alimentam normalmente de 15 em 15 dias, podendo chegar a 30
a 30 dias durante o inverno, já lagartos e jabutis alimentam-se 3 vezes por semana
normalmente. Quando a serpente se alimenta, ela retém o volume de alimento de 24 a
72 horas e toda a energia é direcionada para a digestão do alimento. Na natureza esse
209
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
animal ficaria entocada ou escondido para a digestão. Após o terceiro dia, o alimento já
foi degradado e continua sendo absorvido. Após 8 ou 9 dias ocorre a defecação. O
manejo não deve ser realizado de forma alguma de 1 a 3 dias após a alimentação, pois
o animal pode ficar estressado e regurgitar o alimento, entrando em balanço energético
negativo. O manejo e anestesia devem ser realizados no mínimo 5 dias após a
alimentação. Não é necessário realizar jejum hídrico.
3. VIAS DE ADMINISTRAÇÃO
As vias de administração dependem da espécie, mas no geral, podem ser
utilizadas as vias intravenosa, intramuscular, intraóssea e subcutânea. Sobre a via
intramuscular, deve-se sempre preferir o terço anterior do corpo para aplicação (devido
a discussão sobre o sistema porta-renal). A via intravenosa também pode ser utilizada.
Em serpentes, o acesso pode ser realizado na veia caudal (ventral), ou na jugular. Em
jabutis, o acesso é feito normalmente na jugular, e em quelônios, na jugular ou no seio
subcarapacial. Crocodilianos tem a veia caudal de fácil acesso, ou o seio occiptal.
4. CONSIDERAÇÕES ANESTÉSICAS
As doses dos fármacos devem ser pesquisadas em literatura específica, em
função da grande diversidade de espécies. Ainda não estão bem estabelecidos os efeitos
de cada fármaco nesses animais. Sabe-se que os repteis apresentam receptores opioides
µ, Δ e ĸ, mas a prevalência de cada um dos receptores é variável entre as espécies. AINEs
pouco seletivos para COX-2 se mostraram mais eficientes em phitons e tartarugas
quando comparado a AINEs mais seletivos. Fármacos α-2 agonistas apresentam efeito
analgésico bom sem efeitos sedativos em algumas espécies.
A indução anestésica pode ser realizada por anestesia inalatória (isoflurano ou
sevoflurano) por meio de uma caixa. Porém, deve-se salientar que os répteis são capazes
de fazer apneia voluntária e a indução pode ser muito demorada. A intubação de répteis
é facilitada pela abertura da glote e de estruturas mais proximais, sendo esta também
uma possibilidade para indução. Durante a recuperação, deve-se extubar o paciente
somente na presença de retorno da respiração espontânea e de movimentos corporais.
5. DOR E ANALGESIA
O estabelecimento de doses de fármacos e seus efeitos ainda é necessário, e o
reconhecimento de sinais de dor é um desafio. Os opioides, em geral, são uma boa
escolha, e são obtidos bons resultados com a morfina. O uso de fármacos α-2 agonistas
e AINEs pouco seletivos é promissor.
Em quelônios, uma estratégia analgésica muito utilizada é a peridural. A punção
é realizada entre o segundo e o terceiro terço da cauda, podendo a abordagem ser
210
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
6. BIBLIOGRAFIA
CARPENTER, James W. Exotic Animal Formulary, 4e. St Louis, MO: Elsevier
Saunders, 2013.
CRACKNELL, Jonathan. Anaesthesia of exotic pets. The Veterinary Record, v. 162,
n. 26, p. 864, 2008.
WEST, Gary; HEARD, Darryl; CAULKETT, Nigel (Ed.). Zoo animal and wildlife
immobilization and anesthesia. John Wiley & Sons, 2014.
211
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
ANESTESIA EM AVES
1. INTRODUÇÃO
Existem atualmente cerca de 1800 espécies de aves descritas no Brasil. As aves
apresentam respostas fisiológicas diferentes dos mamíferos tanto aos fármacos quanto
aos estímulos, não sendo, portanto, adequado extrapolar os dados de uma classe para
outra. As aves possuem particularidades anatômica e fisiológicas que são de essencial
conhecimento para o anestesista.
2. FISIOLOGIA
O sistema respiratório das aves é composto por laringe, traquéia, siringe (órgão
fonador), brônquios, 9 sacos aéreos, esqueleto torácico e músculos respiratórios. Os
anéis traqueais das aves são completos tornando a traqueia rígida, portanto o cuff do
tubo endotraqueal não deve ser inflado ou deve ser inflado minimamente para evitar
lesão por isquemia. Existe uma grande variação na anatomia da traqueia das aves,
principalmente das aquáticas, sendo muito importante conhecer previamente a
anatomia especifica da espécie a ser anestesiada para evitar a intubação seletiva não
intencional.
Os sacos aéreos são expansíveis e praticamente não realizam troca gasosa. Eles
são divididos em sacos aéreos cervicais (2), sacos aéreos torácicos craniais (2), saco
aéreo clavicular (1), sacos aéreos torácicos caudais (2) e sacos aéreos abdominais (2).
A ventilação nas aves tem dois ciclos. Inicialmente o ar inspirado vai diretamente
aos sacos aéreos abdominais. Durante a primeira expiração o ar sai dos sacos aéreos
abdominais e passa pelo pulmão. No segundo ciclo ventilatório o ar é inspirado dos
pulmões para os sacos aéreos craniais e finalmente expirado para o ambiente. Este
mecanismo permite rapidez e eficiência na troca gasosa.
O pulmão das aves é parabrônquico e é comparativamente menor que o dos
mamíferos, porém a área de troca gasosa é de 2 a 10 vezes maior que um pulmão
alveolar. Não existem alvéolos como observado nos mamíferos, mas nos parabrônquios
existem tubos extremamente finos contendo ar, onde ocorrem as trocas gasosas. A
troca gasosa ocorre por um sistema denominado contra-corrente, conforme ilustrado
na figura abaixo. Os parabrônquios possuem uma maior área de contato com os vasos
sanguíneos, aumentando a capacidade de troca.
213
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
5. REFERÊNCIAS
PAVEZ, J. C.; HAWKINS, M. G.; PASCOE, P. J.; KNYCH, H. K.; KASS, P. H. Effect of
fentanyl target-controlled infusions on isoflurane minimum anaesthetic concentration
and cardiovascular function in red-tailed hawks (Buteo jamaicensis). Veterinary
Anesthesia and Analgesia. 38(4):344- 51, 2011.
215
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
2. CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES
Esses animais apresentam algumas particularidades fisiológicas importantes que
devem ser consideradas durante a anestesia.
Os roedores e lagomorfos são animais com elevado metabolismo e baixa reserva
de glicogênio hepático, o que os torna susceptíveis a hipoglicemia.
O metabolismo elevado requer consumo elevado de oxigênio e menor tolerância
a hipóxia.
Pequenos roedores têm maior predisposição a hipotermia pela menor relação
entre o tamanho e a superfície corporal.
Grandes roedores têm maior predisposição a hipertermia em função da menor
quantidade de glândulas sudoríparas.
O volume sanguíneo é menor (60-78 mL/kg), e há menor tolerância a perdas.
A taxa de mortalidade desses animais é mais elevada, e varia de 1,38% a 3,8%.
3. CUIDADOS PRÉ-ANESTÉSICOS
Jejum: jejum prolongado pode levar a hipoglicemia.
o Algumas espécies acumulam alimentos na boca
o Tirar a maravalha, pois muitas vezes roem
o Coelhos comem conteúdo do ceco, é difícil abolir totalmente a alimentação.
o Para pacientes eletivos, nem sempre é necessário, pois a regurgitação é rara.
o Para cirurgia gastrointestinal, fazer jejum curto de 4 horas,
preferencialmente pela manhã.
216
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
4. VIAS DE ADMINISTRAÇÃO
As vias de administração em roedores e lagomorfos varia de acordo com o
tamanho e condição clínica de cada paciente. Em geral, a medicação pré-anestésica é
realizada por via intramuscular, o que promove sedação suficiente para a venopunção.
A venopunção é, muitas vezes, difícil de ser realizada pelo tamanho e frigidez dos vasos.
Em lagomorfos, o cateter venoso é posicionado na veia marginal da orelha na
maioria das vezes, mas podem ser utilizadas as veias safena lateral e cefálica. Deve-se
atentar para o correto posicionamento na veia, e não na artéria central da orelha. A
escolha do cateter depende do tamanho do paciente, mas, em geral, são necessários
cateteres 24G ou 26G para inserção na veia marginal da orelha.
Figura 1. Cateter posicionado na veia safena (A) e localização da veia marginal da orelha. Fonte: Cracknell,
2008.
217
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
mais de 72h e estar atento para a manipulação do local pelos pacientes, que podem se
mutilar por dor. O local de acesso é a fossa trocantérica do fêmur ou pela crista da tíbia,
e o cateter utilizado deve se estender por 1/3 a 1/2 do canal medular.
Um cuidado importante ao administrar fármacos nessas espécies é o volume de
fármaco administrado, que não deve ser elevado pelo tamanho dos pacientes.
5. PROTOCOLOS ANESTÉSICOS
a. Anestésicos injetáveis
Anticolinérgicos: A atropina tem duração de 30 min em ratos, e o glicopirrolato
tem duração de 240 min. Coelhos tem atropinase, e não respondem bem a atropina
o Reduzem a motilidade intestinal
o Reduzem as secreções, mas as tornam mais espessas
Acepromazina
o Tem bom uso para coleta de sangue pelo efeito vasodilatador
o Seu uso é limitado para os pacientes saudáveis
o Em coelhos reduz a produção de lágrima
218
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
b. Indução
A indução pode ser por via inalatória, injetável (dissociativa) ou intravenosa.
Deve-se pré-oxigenar sempre que possível antes de induzir
219
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
c. Intubação:
A intubação está diretamente relacionada à segurança do procedimento, pois
permite ventilação assistida/controlada, e consequente oferta mais efetiva de
anestésicos inalatórios. Porém, a intubação desses pacientes é dificultada pelo tamanho
e pela anatomia do trato respiratório superior. Apresentam cavidade oral longa, grandes
incisivos, epiglote reduzida e pouca abertura de boca.
Fazer limpeza da cavidade oral
Cuidado com fluxo elevado de oxigênio, que pode ressecar a via aérea e
aumentar a produção de secreção
Utilizar um fio guia pode ser útil
Possíveis técnicas: "às cegas", guiada por capnógrafo, endoscópio rígido,
retrógrada, otoscópio, laringoscópio, oclusão de esôfago.
Máscara laríngea: Dispositivo projetado para cobrir a entrada da laringe, sem
necessidade de inserção por dentro da traqueia. Pode estar associada a timpanismo e
refluxo gastroesofáfico.
c. Monitoração
Oximetria de pulso: Parâmetro confiável nesses animais. Pode ser posicionado
nas patas, orelha, mucosa, vulva, prepúcio, cauda e língua.
ECG: Alguns roedores têm FC muito elevada para os monitores comuns
Temperatura
Glicemia
220
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
Capnografia
Pressão arterial: em pacientes maiores pode ser possível monitorar por
oscilométrica ou pressão arterial invasiva.
d. Analgesia
Sempre que possível, a anestesia locorregional deve ser realizada. Podem ser
utilizadas lidocaína (4 mg/kg), que dura cerca de 20-30 min, ou bupivacaína (2 mg/kg),
que tem duração relatada de 20-30 min em ratos. Antiinflamatórios não esteroidais
podem ser empregados e tem boa efetividade:
Meloxicam:
o Coelhos: 0,1-0,3 mg/kg
o Ratos: 0,5 mg/kg SID
Carprofeno:
o Coelhos 1,5-5 mg/kg
o Ratos: 2-5 mg/kg SID
6. RECUPERAÇÃO
Durante a recuperação anestésica, é importante estar atento a monitoração dos
parâmetros fisiológicos, principalmente temperatura e glicemia. Após a extubação,
verificar se existe algum tipo de obstrução de vias aéreas. A motilidade intestinal
também deve ser monitorada, principalmente quando utilizados opioides.
7. BIBLIOGRAFIA
CARPENTER, James W. Exotic Animal Formulary, 4e. St Louis, MO: Elsevier
Saunders, 2013.
CRACKNELL, Jonathan. Anaesthesia of exotic pets. The Veterinary Record, v. 162,
n. 26, p. 864, 2008.
WEST, Gary; HEARD, Darryl; CAULKETT, Nigel (Ed.). Zoo animal and wildlife
immobilization and anesthesia. John Wiley & Sons, 2014.
221
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
ANESTESIA EM PEIXES
1. INTRODUÇÃO
A anestesia de peixes ainda não é uma prática comum em medicina veterinária,
mas pode ser necessária para cirurgias, manejo para implantes hormonais, coleta de
ovos ou sêmen, triagem (machos e fêmeas), marcação, transporte, pesquisa.
Considerações importantes:
96% das espécies são ósseas (teleósteos)
A maioria dos peixes tem respiração opercular
Alguns peixes apresentam "ram ventilation", e necessitam do movimento
constante da água através da boca para realizar trocas gasosas
Peixes são ectotérmicos: manter o ambiente o mais próximo possível do normal
para a espécie
Apresentam muco no tegumento, que deve ser mantido úmido
2. PERÍODO PRÉ-ANESTÉSICO
Em função da grande variedade de espécies e das diferentes particularidades
fisiológicas de cada uma delas, é preciso compreender o comportamento basal e tomar
como parâmetro para monitoração da saúde.
O jejum desses animais não é imprescindível, mas é necessária preparação dos
tanques em relação a temperatura, pH, oxigenação e condição da água, aproximando
ao máximo do ambiente natural ao paciente.
222
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
É comum que o paciente pare de mexer o opérculo, o que não significa apneia.
Isso ocorre porque nesse sistema não necessita do opérculo pelo movimento contínuo
da água pelas guelras.
4. ANESTESIA PARENTERAL
Utilizada em peixes maiores por via intramuscular, intravenosa ou
intracelomática. Manter o paciente sempre umedecido e manter fluxo de água nas
guelras durante a sedação.
5. MONITORAÇÃO
A profundidade anestésica é avaliada pela frequência cardíaca (aferida pelo
doppler) e pelo movimento de reflexo à pressão na base da cauda
ECG: ainda não é bem estabelecido em relação ao posicionamento dos eletrodos
Movimentos operculares indicam a frequência respiratória, e geralmente são
lentos e regulares.
O tônus de mandíbula também é indicador de profundidade anestésica, mas sua
perda completa indica plano profundo.
Monitorar a qualidade da água: pH e temperatura.
223
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
Figura 2. Posicionamento da probe do doppler para avaliar a frequência cardíaca. Fonte: Cracknell, 2008.
6. RECUPERAÇÃO
Manter o paciente em água limpa e condições adequadas
Avaliar o retorno do posicionamento de natação normal: virar e avaliar se
consegue retornar à posição normal
7. FÁRMACOS
Trisulfato de metacaína (MS-222): indução (100–200 mg/ml), manutenção (50–
100 mg/ml), sedação (15–50 mg/ml)
Benzocaína
Eugenol (óleo de cravo): anestesia geral (25–50 mg/ml)
Quinaldina: indução (50–100 mg/ml) e manutenção (15–60mg/ml)
Metomidato: sedação leve (0.5–5 mg/ml), anestesia geral (5–10 mg/ml)
Cetamina: intramuscular (doses variam de acordo com a espécie, 66–68 mg/kg
para teleósteos)
Tiletamina/Zolazepam
Propofol (3.5–7.5 mg/kg IV)
Xilazina
Lidocaína: anestésico local (não exceder 1-2 mg/kg totais)
224
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
8. BIBLIOGRAFIA
WEST, Gary; HEARD, Darryl; CAULKETT, Nigel (Ed.). Zoo animal and wildlife
immobilization and anesthesia. John Wiley & Sons, 2014.
225
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
ANESTESIA EM PRIMATAS
1. INTRODUÇÃO
Os primatas constituem uma classe de mamíferos composta diferentes gêneros
com dezenas de espécies. Dentre os primatas não humanos, os representantes mais
comuns são os macacos e os lêmures.
O manejo anestésico desses pacientes exige conhecimentos básicos em relação
ao comportamento e formas de manipulação. Muitas vezes, o exame físico é
impossibilitado pelo comportamento dos animais. A captura e contenção para
realização dos procedimentos deve ser feita de forma que se garanta a segurança do
paciente e da equipe. Para a captura, o animal deve ser isolado do grupo e devem ser
utilizados equipamentos específicos, como luvas, puçá, toalhas e caixas. Animais
condicionados com reforço positivo muitas vezes dispensam equipamentos ou
fármacos. Existem diferentes formas de contenção:
Contenção física: Animal consciente, feita com equipamentos e planejamento
específico. Realizada em pacientes com menos de 12 kg.
Contenção química: procura eliminar reações a partir da utilização de fármacos.
Não necessariamente promove analgesia.
Anestesia: Promove perda de consciência, amnésia, miorrelaxamento e
analgesia.
2. VIAS DE ADMINISTRAÇÃO
Subcutânea: maior período de absorção.
226
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
3. PROTOCOLOS ANESTÉSICOS
a. Contenção química:
Anestesia inalatória: a contenção química por meio de anestesia inalatória é
possível em primatas, especialmente em pequenos primatas, que podem ser contidos
manualmente para posicionamento de máscara facial ou colocados em caixas de
indução. Permite indução e recuperação rápidas.
Dissociação: Os protocolos de dissociação anestésica são utilizados
principalmente em animais maiores ou que não permitem manipulação de forma
segura. São protocolos baseados no uso doses mais elevadas de cetamina (que causa a
dissociação) associadas a outros fármacos que promovam miorrelaxamento e/ou
analgesia.
227
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
por exemplo, apresenta uma caixa acústica com fundo cego que pode ser intubada de
forma seletiva. Em alguns pacientes, o uso de otoscópios com luz pode facilitar a
identificação da laringe.
c. Protocolos:
Cracknell (2008): Midazolam (1mg/kg) + Cetamina (10mg/kg)
Protocolos de castração eletiva de macaco prego:
o Disarz (2019): Cetamina (10mg/kg) + Dexmedetomidina (10 ug/kg) +
Propofol titulado (10 mg/kg) + Isoflurano 1% + Fentanil (2 ug/kg)
o Da Silva (2020): Dexmedetomidina (7 ug/kg) + Cetamina (7 mg/kg) +
Isoflurano (indução e manutenção)
o Da Silva (2020): Dexmedetomidina (3ug/kg) + Cetamina (3mg/kg) +
Midazolam (0,5 mg/kg) + Morfina (0,1 mg/kg) + Isoflurano (indução e
manutenção).
4. REFERÊNCIAS
228
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
ANESTESIA EM SUÍNOS
1. INTRODUÇÃO
A família Suidae é composta por diferentes gêneros, sendo o gênero Sus o mais
comum na rotina veterinária, representado principalmente por porcos e javalis. Dentre
os porcos domésticos há grande variedade de raças. A escolha do protocolo anestésico
depende do tipo de procedimento, tempo de cirurgia, disponibilidade de fármacos,
recursos financeiros e anatomia e fisiologia da raça.
2. CUIDADOS PRÉ-ANESTÉSICOS
Jejum: São necessárias 6-12h de jejum, ou 12-24h para procedimentos
abdominais. A ausência de jejum pode causar timpanismo e regurgitação,
principalmente quando em decúbito dorsal. Deve-se atentar para a remoção da cama
da baia, pois esses animais podem ingerir. Não é necessária a realização de jejum
hídrico.
A contenção desses animais é difícil, mas pode ser realizada com cordas ou laço
atrás dos caninos. Deve-se evitar estresse por manipulação excessiva.
A administração dos fármacos pode ser por diferentes vias. A pele desses animais
é pouco elástica, e a administração de fármacos no subcutâneo resulta em latência
aumentada por deposição no tecido adiposo. A administração intramuscular é realizada
na musculatura lombar, caudal à orelha ou membros pélvicos. O acesso venoso pode
ser realizado de forma mais fácil na veia auricular. As veias cefálica, safena e jugular são
mais difíceis de puncionar.
3. PROTOCOLOS ANESTÉSICOS
a. Medicação pré-anestésica: A MPA pode ter por objetivo sedar ou dissociar o
paciente, a depender do comportamento do paciente.
Anticolinérgicos
o Inibem a salivação excessiva
o Aumentam o trabalho cardíaco e consumo de oxigênio pelo miocárdio.
o O glicopirrolato tende a diminuir a secreção do suco gástrico, promovendo
esvaziamento gástrico
o Contraindicação: febre, agitação intensa, animais já taquicardicos e com
hipertireoidismo.
229
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
Fenotiazínicos
o Não são muito efetivos como sedativo em suínos. São necessárias doses
elevadas, o que aumenta a chance de efeitos adversos (hipotensão).
Butirofenonas
o São fármacos recomendados. Em doses baixas promovem sedação e ataxia,
em doses altas promovem sedação intensa e decúbito.
o Pode causar hipotensão arterial
b. Associações anestésicas
Éter gliceril guaiacol + cetamina + Xilazina (Triple Drip)
230
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
c. Indução
Propofol: É seguro para suínos, não induz a hipertermia maligna. Reduzem em
25% a PAM, independentemente da dose. Tomar cuidado com a depressão respiratória,
pois apresentam via aérea difícil
o Infusão contínua: 4-10 mg/kg/h
Barbitúrico: A dose de anestesia cirúrgica muito próxima à dose que induz
apnéia. Recuperação lenta com doses elevadas ou infusão contínua.
o Tiopental: 3-6 mg/kg
d. Intubação
A intubação de suínos é desafiadora pela anatomia da laringe. Esses animais
possuem um fundo cego na entrada da laringe, e a traqueia apresenta diâmetro
proporcionalmente menor que a abertura da glote. Além disso, são susceptíveis a
laringoespasmo, o que torna necessária a instilação de lidocaína para anestesia
periglótica.
231
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
e. Manutenção
A manutenção por anestesia inalatória (isoflurano ou sevoflurano) é segura para
suínos, exceto para aqueles predispostos a hipertermia maligna, nos quais os cuidados
com a temperatura corporal devem ser redobrados. Os anestésicos inalatórios inibem o
mecanismo de vasoconstrição hipóxica.
232
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
e. Bloqueios locorregionais
Anestesia peridural: corrigir o peso pelo excesso de gordura
4. RECUPERAÇÃO
Optar por recuperar os animais em ambiente tranquilo, com temperatura
amena, separado de outros animais e sob monitoração pelo maior período de tempo
possível.
233
ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 2021
2. A COMUNICAÇÃO VETERINÁRIO/TUTOR
Agora que já conhecemos melhor nossa forma de comunicação, vamos lembrar
das diretrizes da comunicação entre o médico veterinário e o tutor.
• Um médico pode estabelecer contato com o tutor, mas todas as decisões são
uma somatória de um trabalho em equipe de internação.
• Dimensão diagnóstica: O diagnóstico direciona ações e relações com o objetivo
de preservar a vida. Deixar o tutor perfeitamente ciente do status do paciente é
importante.
• Dimensão afetiva: O momento do animal doente já é difícil, e não devemos
aumentar a tensão mais ainda. O médico deve ser o facilitador e respeitar o
vínculo emocional entre tutor e o animal;
• Dimensão ético-religiosa: quais os motivos da ação e da escolha da profissão?
Como eu posso ser útil para o paciente e para o tutor? O que o profissional quer
fazer é que o paciente precisa que seja feito? O desafio da comunicação é aliar o
afetivo ao efetivo.
• Tempo: É importante dar tempo (e condições) para as pessoas dizerem
“desculpe”, “obrigado” e “adeus”.
• Saber ouvir: Sempre que possível, atender as necessidades do tutor facilita o
processo. Além disso, o acolhimento passa também por esclarecer eventuais
dúvidas que ele possa ter.
• Orientar: a assertividade na comunicação de instruções de cuidado é importante.
Ter paciência, não supor que o tutor conhece todos os passos e corrigir eventuais
conceitos equivocados são boas dicas para garantir uma boa experiência.
3. REFERÊNCIAS
Castro, R. K. F. C., Silva, M. J. P. S. Influências do comportamento comunicativo
não-verbal do docente em sala de aula - visão dos docentes de enfermagem. Rev. esc.
enferm. USP vol.35 no.4 São Paulo. Dec. 2001
Araujo, M. M. T. Construção e avaliação de um programa de treinamento em
comunicação interpessoal para a equipe interdisciplinar de cuidados paliativos. São
Paulo, 2011
Puggina, A. C. G. Análise das respostas vitais, faciais e de tônus muscular frente
ao estímulo música ou mensagem em pacientes em coma, estado vegetativo ou sedado.
São Paulo, 2011
Guglielmi, Anna. A linguagem secreta do corpo. Rio de Janeiro, 2013.
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OBRIGADO!
CONTE SEMPRE CONOSCO!
PAV É PAV!