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2021
2021 by Editora Pasteur
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Editor Chefe:
Corpo Editorial:
CDD 610
...... CDU 614.4
1
PREFÁCIO
2
Capítulo 01 - ASPECTOS FISIOPATOLÓGICOS DA Naegleria fowleri ..... 01
3
Capítulo 14 - DERMATOPATIAS PARASITÁRIAS EM GATOS DOMÉS-
TICOS ............................................................................................................. 129
ASPECTOS
FISIOPATOLÓGICOS DA
Naegleria fowleri
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Capítulo 01
Parasitologia Humana e Veterinária
moléculas do sistema complemento; IgA mostrando uma preferência para esta região,
secretoras e IgM. Por isso, para atingir o SNC, muito provavelmente em razão da sua
ele precisa transpor o epitélio e evadir as proximidade anatômica com o bulbo olfatório
defesas inatas do hospedeiro. Para invadir o (BAIG, 2016; ONG et al., 2017). Nessa
epitélio, esses trofozoítos adentram a camada barreira hematoencefálica, os trofozoítos se
mucosa ao liberar adesinas, lecitinas, cisteína ligam novamente às células endoteliais e
proteases e enzimas mucinolíticas. Essas degradam as junções intercelulares. Essa
mucinases, principalmente as glicosidades, degradação das junções é ocasionada pela
atuam na degradação de mucinas específicas, danificação da claudina-5, ocludina, e
mais especificamente, a MUC5AC (MAR- proteínas da zônula ocludente. Ademais, a
TÍNEZ-CASTILLO et al., 2017; BETANZOS ligação às células endoteliais é facilitada
et al., 2019). porque os trofozoítos induzem a expressão de
Posteriormente, a ameba libera adesinas e moléculas pró-adesão, como a proteína de
proteases que degradam as junções adesão celular vascular 1 (VCAM-1) (PUGH
intercelulares do epitélio olfativo, lesionando- & LEVY, 2016).
o. Além disso, o parasito interage com o Em seguida, essas amebas geram dano
colágeno humano tipo I no epitélio, tecidual nesse local, por meio da produção de
apresentando uma elevada aderência, o que enzimas citopáticas, que atuam na danificação
favorece a invasão. Através desses e na lise de diversas células, como as
mecanismos fisiopatológicos, a barreira física endoteliais, as nervosas, os eritrócitos, dentre
do epitélio é rompida, propiciando a entrada de outras. Outro mecanismo que gera lesões
trofozoítos na lâmina basal, por meio de teciduais é a liberação, pelo patógeno, de
enzimas lipolíticas, naegleriaporos, proteína 1, proteínas formadoras de poros, de proteases e
miosina e Nfactina (actina da N. fowleri) de fosfolipases que, atuam na desmielinização
(BETANZOS et al., 2019). Após esse de neurônios, supostamente. Esse processo
processo, ela segue pelo bulbo olfatório, que desencadeia o recrutamento de células da
continua com o trato olfatório e invade a imunidade inata, resultando em uma reação
barreira hematoencefálica. Nesse contexto, é inflamatória e, por conseguinte, na produção
possível inferir que o patógeno, provavel- de interleucinas, citocinas, entre outras
mente, causa danos ao tecido olfatório apenas (BETANZOS et al., 2019; PUGH & LEVY,
para evadir a defesa do organismo e atingir o 2016).
SNC, em razão das lesões mais graves serem Logo, a N. fowleri origina destruição e
observadas nesse tecido. Isso pode se suceder necrose do cérebro, com consequente infil-
devido a existirem substâncias quimioatraentes trado inflamatório. A ameba tem ainda a
para esse parasito no tecido nervoso. Uma capacidade de destruir as suas células-alvo por
hipótese seria a presença da acetilcolina, que, trogocitose (digestão gradativa), causando a
por ser quimioatraente para algumas células do meningocefalite amebiana primária (MAP).
organismo e estar presente em elevada (BETANZOS et al., 2019; MONSEMAN,
quantidade no cérebro, poderia justificar o 2020).
tropismo para esse sítio. Ademais, a ameba O protozoário, por ser eucariota, difere dos
acomete com mais frequência o lobo frontal, patógenos bacterianos ou virais, e, por isso, a
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Capítulo 01
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 01
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 01
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 01
Parasitologia Humana e Veterinária
CAPÍTULO 02
ANÁLISE COPRO-
PARASITOLÓGICA DE
CHELONOIDIS
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Capítulo 02
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 02
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 02
Parasitologia Humana e Veterinária
total de amostras fecais positivas segundo as gues et al. (2016) de 76,84%. Entretanto no
análises. Observa-se a presença de um ácaro, estudo feito por Rataj et al. (2011), o valor foi
cuja relevância não pode ser tida como de 88,5%, divergindo consideravelmente do
significativa, pois não é efetivamente parasita resultado deste estudo.
dos animais pesquisados (Jabutis), estando Existem diversas técnicas para realizar
presente nas fezes possivelmente por ingestão exames coproparasitológicos com sucesso. O
durante a alimentação com gramíneas. método de Willis-Mollay mostrou-se eficaz,
Para a identificação dos parasitas, foi embora seja considerada uma técnica simples,
utilizada a observação das suas características, de fácil realização. No entanto autores como
onde os ovos de Trematoda tem a forma oval, Rodrigues et al (2008). e Silva et al. (2008),
operculados e com presença de um espiculo apesar de utilizarem este procedimento,
voltado para trás, na sua parte mais longa; relatam que a técnica de Ritchie é considerada
ovos de Strongylidae são ovos com membrana mais eficaz estatisticamente.
delgada e blastomerizados (Figura 2.1); ovos Os Oxiyuris apresentaram baixa prevalên-
de Ascarideo são redondos com parede espessa cia neste estudo, o que não corrobora com
e intensamente irregular; ovos de Oxyurideo achados de autores como Hallinger et al.
são elípticos, operculados e com a presença do (2018), Ruivo (2019) e Rataj et al. (2011) que
embrião; por fim, larva de Strongylideo é de relataram alta prevalência da família
extremidade anterior arredondada, intestino Oxyuridae. Os demais achados deste trabalho
com massa celular visível, extremidade como a família Strongylidae e os ascarídeos
posterior ou cauda longa, afilada gradual- também são comuns em quelônios e relatados
mente. por autores como Meireles et al. (2018) e
Vítor (2018).
Figura 2.1 Ovo de Strongylidae observado no De acordo com a literatura, já se esperava a
microscópio óptico prevalência de parasitas da família Oxyuridae,
pois são comumente encontrados no sistema
gastro intestinal dos lagartos e quelônios
(JACOBSON, 2007). Isso pode ser explicado
principalmente por sua baixa patogenicidade,
ciclo de vida monóxeno e comportamento e
ecologia de seus hospedeiros (BUŃKOWSKA
et al. 2011).
Os animais estudados aparentemente
estavam saudáveis apesar dos índices elevados
de parasitos, já previsto, pois os répteis criados
livres ou em cativeiro são infectados por uma
Em 61% dos quelônios foram encontrados variedade considerável de endoparasitos, sem
uma ou mais formas de parasitos manifestarem sinais clínicos. (SILVA, 2008).
gastrointestinais. O resultado apresenta uma Como os jabutis fazem coprofagia, é difícil o
aproximação ao valor encontrado por Rodri- controle dos endoparasitas, por sempre esta-
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Capítulo 02
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 02
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 02
Parasitologia Humana e Veterinária
CAPÍTULO 03
SÍNDROME DE
HIPERINFECÇÃO POR
ESTRONGILOIDÍASE
EM PACIENTES
IMUNOSSUPRIMIDOS
Andressa Nogueira Cardoso¹
Larissa Ciarlini Varandas Sales¹
Karinne Da Silva Assunção¹
Sued Magalhães Moita¹
Ingred Pimentel Guimarães¹
Késia Sindy Alves Ferreira Pereira¹
Lucas Da Silva Moreira¹
Raíssa Grangeiro de Oliveira¹
Davi Lopes Santos¹
Tatiana Paschoalette Rodrigues Bachur²
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Capítulo 03
Parasitologia Humana e Veterinária
Nos estudo analisados, os sintomas mais trato gastrointestinal (TGI). Outras sintomato-
comumente relatados em pacientes com SHE logias também são descritas, dentre as quais,
foram: dor abdominal (56,2%); processos destacam-se: a presença de colite nos cólons
febris (31,2%); diarreia e vômito (28,1%); ascendente, transverso, descendente e sigmoi-
hemoptise, eliminação de sangue do trato de, de espessamento da parede intestinal e de
respiratório pela tosse (25,0%); falta de ar ulcerações nos intestinos delgado e grosso.
(21,8%); pruridos ou erupções cutâneas Sintomas menos frequentemente observados
(12,5%); e cefaleia (3,12%). Essas manifes- foram: inflamação, edema, hemorragia e
tações clínicas são usualmente relacionadas a déficit de motilidade do TGI; além de
infecções crônicas causadas pelo S. linfonodomegalia mesentérica, náuseas, vômi-
stercoralis, podendo persistir por décadas sem tos, esteatose hepática, hemoptise e dilatação
que a estrongiloidíase seja diagnosticada. das alças intestinais (Tabela 3.1).
Entretanto, em indivíduos imunocompro- Na SHE, também sintomas pulmonares
metidos, o quadro clínico pode se agravar com exacerbados podem estar presentes
manifestações severas desta sintomatologia (GEETHABANU & ARTHI, 2020). Posto
(VALDLAMUDI et al., 2007; BUENO et al., isso, na estrongiloidíase pulmonar, devido à
2010). migração das larvas em direção ao trato
Dentre as causas da imunossupressão respiratório, há o aparecimento de sintomas
relatadas entre os pacientes dos estudos semelhantes ao da asma brônquica, como
selecionados, destacam-se o tratamento com sibilância e tosse leve (HASSANUDIN et al.,
quimioterápicos (34,3%), tratamento para 2017; GUERRERO-WOOLEY et al., 2021).
infecção por HIV (25,0%) e terapias imunos- Ademais, dentre as manifestações pulmonares
supressoras em processos de transplantes de mais prevalentes estão a hemorragia brônquica
órgãos (25,0%). De fato, o agravamento da e alveolar, a inflamação das vias aéreas e a
estrongiloidíase levando a SHE está, em geral, insuficiência respiratória (ALPERN et al.,
associado a episódios de imunossupressão, 2017; KURIAKOSE et al., 2017; MO-
seja por uso de quimioterápicos, imunodefi- HANNAD et al., 2017; TRAN et al., 2017;
ciência crônica ou período pós-transplante ou, SILVA et al., 2018; ZEITLER et al., 2018;
ainda, quando do tratamento com corticoides
SATO et al., 2019; SIQUEIRA et al., 2019;
(SHELHAMER et al., 1982; MORGAN et al.,
CLARKE et al., 2020; PASVANTIS et al.,
1986; CONCHA et al., 2005; SUDRÉ et al.,
2020; GUERRERO-WOOLEY et al., 2021).
2006; MILLER et al., 2014).
Os exames de imagem dos pacientes
acometidos pela SHE revelam a presença de
Repercussões fisiológicas da estrongiloi-
opacidade em vidro fosco, infiltrados lobares e
díase e da Síndrome de Hiperinfecção por
espessamento interlobular do septo (HA-
Estrongiloidíase
SSANUDIN et al., 2017; MOHANNAD et al.,
2017; TRAN et al., 2017; MAHDI et al.,
Os pacientes imunocomprometidos podem
2018; SATO et al., 2019; SIQUEIRA et al.,
desenvolver a Síndrome de Hiperinfecção por
Estrongiloidíase a partir do aumento da carga 2019; TOMORI et al., 2019; SAHU et al.,
de larvas, sendo a diarreia aquosa ou 2020; CLARKE et al., 2020; YASHWANTH
sanguinolenta sua principal manifestação no et al., 2020).
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Capítulo 03
Parasitologia Humana e Veterinária
Tabela 3.1 Manifestações no trato gastrointestinal em pacientes com SHE descritas nos estudos analisados
tolerância e eficácia que o albendazol e tem A SHE pode ter sua resolução total com o
sido considerada droga de primeira escolha uso de ivermectina isolada ou acompanhada
para o tratamento dessa enfermidade, enquanto por outros benzimidazólicos, como o
que o albendazol funciona como fármaco albendazol e o tiabendazol (YOSEPH et al.,
alternativo (MAHDI et al., 2018; SILVA et 2016; MCDONALD & MOORE, 2017;
al., 2018). SUKHWANI et al., 2017; SAHU et al., 2020).
O uso de ivermectina com aplicação Diante disso, apresentações comuns à
subcutânea para o tratamento da Síndrome de síndrome, como danos ao esôfago e à
Hiperinfecção por Strongyloides stercoralis foi arquitetura normal do intestino delgado,
bem-sucedido em pacientes imunossuprimidos diarreia persistente, uremia, hiperglicemia e
(SILVA et al., 2018; ZEITLER et al., 2018; anormalidades na motilidade intestinal são
YASHWANTH et al., 2020). Dessa forma, tal atenuadas (SHARIFDINI et al., 2018;
método pode funcionar como uma alternativa TOMORI et al., 2019; PASVANTIS et al.,
para indivíduos que não possuem uma 2020; SAHU et al., 2020).
absorção gastrointestinal eficiente do fármaco Com a resolução do quadro parasitário, as
(ZEITLER et al., 2018). larvas, bem como possíveis ovos do parasito,
Sobre o tratamento empírico para passam a não ser mais detectadas nos exames
Strongyloides stercoralis, estudo realizado nos parasitológicos de fezes, com a melhora geral
Estados Unidos da América, em 2017, sugeriu sendo confirmada durante acompanhamentos
que tal abordagem deve ser considerada antes ambulatoriais e realização de exames como
da imunossupressão, com o intuito de reduzir colonoscopia e endoscopia (LUCAR et al.,
casos de hiperinfecção (MCDONALD & 2018; ZEITLER et al., 2018; POLONI et al.,
MOORE, 2017). Nesse contexto, a aplicação 2019; NATRAJAN et al., 2020; PASVANTIS
do tratamento sem evidências diagnósticas foi et al., 2020; YASHWANTH et al., 2020).
relatada em estudo desenvolvido por Dahal et Entretanto, a SHE associada à condição de
al. (2017), contudo o desfecho não foi imunossupressão pode se agravar e resultar em
satisfatório, haja vista o consequente faleci- óbito do paciente (DAHAL et al., 2017;
mento do paciente. MOHAMED et al., 2017). Nos estudos
analisados, esse desfecho ocorre após intensifi-
Sequelas e desfechos cação de sintomas como distensão abdominal e
A literatura mostra que há um equilíbrio diarreia persistente, apresentação de parâme-
entre recuperação e óbito dos pacientes tros renais elevados, trombose extensa, insufi-
envolvidos. Entretanto, é preciso ressaltar que ciência respiratória e multiorgânica progressi-
três dos 32 artigos estudados, dois dos quais va, hemorragia pulmonar, síndrome do
apresentaram o maior número de indivíduos desconforto respiratório agudo, instabilidade
analisados, não possuíam informações acerca orgânica e insuficiência renal aguda (HA-
do desfecho diante da Síndrome de SSANUDIN et al., 2017; MOHAMED et al.,
Hiperinfecção por Strongyloides stercoralis, o 2017; SIQUEIRA et al., 2019; WATERS et
que pode comprometer a correta interpretação al., 2019; CLARKE et al., 2020; GEETHA-
dos resultados. BANU & ARTHI, 2020; GUERRERO-
WOOLEY et al., 2021).
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Capítulo 03
Parasitologia Humana e Veterinária
O quadro final fatal consiste em sepse verificou-se que as manifestações nos tratos
refratária, falência múltipla de órgãos, choque gastrointestinal e respiratório foram as mais
intratável não especificado, parada cardíaca e frequentes e agressivas. Desse modo, o diag-
choque séptico, mesmo em uso de antibióticos nóstico precoce, sobretudo em pacientes
de amplo espectro (TRAN et al., 2017; imunocomprometidos, mostra-se imprescin-
MAHDI et al., 2018; CROWE et al., 2019; dível no manejo dos sintomas causados pelo
DASGUPTA et al., 2019; SATO et al., 2019; Strongyloides stercoralis e no tratamento,
SIQUEIRA et al., 2019). possibilitando o controle da hiperinfecção,
bem como a redução de sequelas, de forma a
CONCLUSÃO contribuir para a recuperação do doente,
evitando desfechos desfavoráveis como a
Ao serem investigadas as consequências falência múltipla de órgãos e sepse
da Síndrome de Hiperinfecção por Estrongi- culminando em óbito.
loidíase em pacientes imunos-suprimidos,
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Capítulo 03
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 03
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 04
Parasitologia Humana e Veterinária
CAPÍTULO 04
ANCILOSTOMOSE:
UMA PERSPECTIVA
CONTEMPORÂNEA
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Capítulo 04
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 04
Parasitologia Humana e Veterinária
anualmente, incluindo-se como uma das 17 rísticas do solo, como temperatura e umidade,
doenças tropicais negligenciadas reconhecidas as quais são propícias para o desenvolvimento
pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A da larva fora do hospedeiro em áreas rurais, e
doença é predominantemente causada pelo as condições de saneamento inadequadas,
nematódeo parasitário Necator americanus, também marcantes nesses locais. (HOTEZ et
que apresenta maiores incidências na Ásia, na al., 2008). O declínio na prevalência de
África Subsaariana, na América Latina e no ancilostomose em países de renda interme-
Caribe, respectivamente (BOTTAZZI et al., diária, como a China, se deu primariamente
2015). Além do N. americanus, o Ancylostoma em função da recente urbani-zação, do rápido
duodenale e o A. ceylanicum também afligem desenvolvimento econômico e, em algumas
populações humanas, mais notadamente áreas, da distribuição de drogas anti-helmín-
aquelas situadas em áreas de pobreza e ticas. Esses fatores foram determinantes para o
desigualdades sociais, em contexto de privação declínio da prevalência dessa parasitose no sul
de saneamento básico apropriado e de dos Estados Unidos no início do século XX.
insatisfatória atenção em serviços de saúde (LOUKAS et al., 2016)
(NEVES, 2016). Além disso, crianças e mulheres grávidas
Quando comparadas as distribuições enfrentam maiores riscos com a doença.
geográficas, percebe-se que as endemias de N. (GHOIDEIF et al., 2021). Nesse contexto,
americanus são mais propícias em regiões de diferentemente de outras parasitoses, a preva-
clima tropical, comentadas anteriormente, lência da ancilostomose, que já é alta entre as
enquanto o A. duodenale predomina em crianças, aumenta até atingir um platô entre os
espaços mais restritos e de clima temperado a adultos. Estudos realizados na China demons-
frio, como em latitudes mais altas da China e traram um aumento da prevalência de N.
da Índia, Egito, nordeste da Austrália e americanus de, aproximadamente, 15% aos 10
algumas regiões da América Latina, incluindo anos para até, aproximadamente, 60% aos 70
Brasil, Argentina, Peru, Paraguai, El Salvador anos. (BETHONY et al. 2002). Além disso, é
e Honduras. Esse padrão ocorre devido a sua estimado que 44 milhões de gestações sofram
capacidade de dormência em tecidos do complicações relacionadas à ancilostomose
hospedeiro em períodos de seca ou frio. Já o anualmente, algumas das quais também marca-
A. ceylanicum, cuja transmissão envolve cães das pela malária. Na África, em especial, mais
e gatos, apresenta menor importância epide- de um quarto das gestantes são infectadas
miológica, restringindo-se à Ásia (NEVES, (LOUKAS et al., 2016).
2016). A morbidade da doença está relacionada
No mesmo sentido, quase todos os casos com a intensidade da infecção, geralmente
de ancilostomíase ocorrem em áreas rurais de expressa pelo número de ovos por grama de
extrema pobreza. Eles se distribuem fezes. Infecções mais severas são mais comuns
predominantemente em regiões agrícolas e em áreas de maior prevalência dos parasitas.
entre as 2,7 bilhões de pessoas que se estima Ademais, o A. duodenale demonstra desperdiçar
viverem com menos de 2 dólares por dia. Isso parte do sangue ingerido, não o digerindo por
porque os componentes ambientais chave para completo, o que culmina numa perda sanguí-
a disseminação dos parasitas são as caracte- nea para o paciente 10 vezes maior do que a
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Capítulo 04
Parasitologia Humana e Veterinária
Ancylostoma duodenale
O A. duodenale possui dois pares de dentes
ventrais na cápsula bucal (KUCIK et al., 2004)
(Figura 4.3), além de dentes triangulares
Legenda: Imagem obtida nos meses de abril e maio de subventrais no fundo dessa cápsula. Os
2021. Fonte: DPDx/CDC.
machos possuem de 8 a 11 mm de
comprimento por 400 µm de largura e
As larvas rabditóides não infectantes
apresentam um gubernáculo bem
desses dois Ancilostomídeos possuem o
desenvolvido. As fêmeas da espécie possuem
esôfago do tipo rabditóide, vestíbulo bucal
comprimento de 10 a 18 mm por 600 µm de
curto, intestino terminado em ânus, cauda
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Capítulo 04
Parasitologia Humana e Veterinária
largura, além de uma abertura genital no terço posterior do corpo (NEVES, 2003).
(TRAVASSOS et al., 1981; NEVES, 2003),
Figura 4.3 Parte anterior do Ancylostoma além de raios laterais, ventrais e dorsais, sendo
duodenale que os raios dorsais são tipicamente bifurcados
(CHANG et al., 2020) (Figura 4.5).
Necator americanus
O N. americanus possui uma cápsula bucal Figura 4.5 Parte posterior do macho da
relativamente estreita, provida de placas espécie Necator americanus, mostrando os
cortantes semilunares em sua parte dorsal e raios dorsais bifurcados
ventral, o que diferencia a espécie de outros
nematódeos. No fundo dessa cápsula há ainda
um dente dorsal (CHANG et al., 2020)
(Figura 4.4). Os machos da espécie medem de
5 a 9 mm de comprimento por 300 µm de
largura, enquanto as fêmeas, assim como as do
A. duodenale, são maiores e medem de 9 a 11
mm de comprimento por 350 µm de largura
com uma abertura genital que se encontra
próxima ao terço anterior do corpo (NEVES,
2003). A bolsa copuladora dos machos dessa Legenda: Imagem obtida nos meses de abril e maio de
espécie é bem desenvolvida e possui um lobo 2021. Fonte: CHANG et al., 2020.
dorsal que se opõe aos dois lobos laterais
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Capítulo 04
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 04
Parasitologia Humana e Veterinária
pulmonar nesse meio de contaminação para helmintos responsáveis pela doença. Por ser
essas espécies (HOTEZ et al., 1995). Nesse um teste barato e simples, é o mais
caso, as L3 deglutidas perdem a cutícula no amplamente utilizado, tendo como único ponto
estômago e migram para o intestino delgado negativo a dificuldade que o técnico de
(região do duodeno), onde penetram na laboratório pode encontrar em confirmar de
mucosa intestinal e mudam para L4 (NEVES, que espécie de helminto pertence o ovo. Isso
2016). Ancilostomídeos podem viver por anos porque os ovos eventualmente encontrados se
no intestino delgado (3 a 10 anos para N. assemelham muito morfologicamente com
americanus e 1 a 3 anos para A. duodenale e ovos de outras espécies parasitárias
A. ceylanicum) (NEVES, 2016). (DOULBERIS et al., 2018). Além disso, outro
É importante considerar que as larvas de A. fator complicador para a microscopia de fezes
duodenale nem sempre se desenvolvem é o pequeno intervalo de tempo existente entre
diretamente até a idade adulta, podendo passar a coleta do excremento até o preparo e
por um período de desenvolvimento visualização da lâmina de microscópio de
interrompido, de modo a evitar a liberação de forma que os ovos ainda sejam viáveis para
ovos em um ambiente árido e hostil. observação, já que os ovos desaparecem em
(HAWDON et al., 1996; CROMPTON et al., até uma hora depois da coleta e a coleta não
2000). Não se sabe ainda onde esses helmintos pode ser armazenada sem comprometer o
se instalam durante o tempo de dormência, resultado do exame (DOULBERIS et al.,
entretanto, já há evidências dessas larvas em 2018). Existem algumas técnicas para
fibras musculares animais e humanas (HOTEZ preparação da amostra a ser utilizada no
et al., 1995) microscópio que trazem informações
diferentes sobre a infecção do paciente.
Diagnóstico Técnicas para contagem de ovos por sedimen-
O diagnóstico da ancilostomose começa já tação conseguem verificar a presença de ovos
no primeiro encontro com o paciente, em que de parasita até em infecções brandas. Outros
devem ser avaliados os sintomas que ele métodos, como o de Kato-Katz, possibilitam
apresenta assim como o histórico de lugares quantificar a intensidade da infecção por
que ele visitou recentemente, visto que essa estimar a quantidade de ovos por grama de
doença é muito mais comum em regiões fezes (BETHONY et al., 2006).
tropicais (DOULBERIS et al., 2018). Por se Existem outras formas de se alcançar o
tratar de uma verminose transmitida pelo solo, diagnóstico, mas que são menos utilizadas por
o diagnóstico laboratorial é essencial para serem mais recentes, com menor custo-
confirmação da suspeita de ancilostomose, benefício, ou menos específicas. Uma dessas
pois esses tipos de verminoses apresentam formas é pelo uso de PCR (polymerase chain
alguns sintomas comuns entre si, mas podem reaction) nas amostras de DNA coletadas dos
ser tratadas de maneiras diferentes. resíduos fecais do paciente. Esse tipo de
Dito isso, a principal forma de diagnóstico diagnóstico para helmintos causadores de
laboratorial para ancilostomose é feita através ancilostomose é bastante recente, mas
de microscopia de fezes, em que se procura promissor, porque é extremamente específico
verificar a presença de ovos de algum dos na descoberta da espécie invasora
31
Capítulo 04
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 04
Parasitologia Humana e Veterinária
peptídeos anticoagulantes que irão inibir o Cabe realçar que as larvas filariformes
fator X ativado e o complexo fator Vlla (fator podem se espalhar tanto por ingestão oral
tecidual) e inibem a ativação plaquetária. como via transmamária, onde as larvas
Deste modo, elas podem causar ulcerações, amadurecem diretamente no intestino delgado
anemia ferropriva e estarem associadas a ou permanecem dormentes na musculatura
problemas gastrointestinais (GUIMARÃES et esquelética humana. As larvas dormentes são
al., 2019; RÉ et al., 2011; MOCHAMAD et responsáveis pela transmissão vertical durante
al., 2021). a amamentação e são, provavelmente, a causa
A perda crônica de sangue, ferro e da infecção transplacentária (MOCHAMAD et
albumina causa anemia ferropriva, hipoal- al., 2021).
buminemia e, contribuem para uma nutrição
prejudicada, sobretudo nos pacientes com Sintomas
infecção grave. (GUIMARÃES et al., 2019). A sintomatologia é medida em anos de
O desenvolvimento de anemias depende da vida ajustados pela incapacidade, que incluem
carga parasitária e da quantidade absorvida de os anos que um hospedeiro humano viveu com
ferro na dieta (PEARSON, 2019). a infecção (anos perdidos devido à incapa-
Em caso de infecções naturalmente cidade) e os anos perdidos devido à morte
adquiridas, podem ocorrer náuseas, vômitos, precoce (anos de vida perdidos) (MURRAY et
diarreia, dor epigástrica e flatulência aumen- al., 2012). A prevalência global da infecção
tada e, no caso de infecções iniciais podem para ancilostomose em 2016 foi de cerca de
estar associadas com sintomas gastrointestinais 450.680 milhões (1.297 milhões em 1994)
com maior frequência do que infecções (CHAN et al., 1994).
subsequentes. Os indivíduos com infecções em Os sintomas primários associados à
regiões endêmicas, infecções por ancilóstomos infecção incluem anemia por deficiência de
podem ocorrer sangramento gastrointestinal ferro, causada pela perda de sangue intestinal
evidente (GUIMARÃES et al., 2019). no intestino delgado (LOUKAS et al., 2004;
Se a infecção for muito grave, elas podem BETHONY et al., 2006), o que afeta
causar úlceras hemorrágicas na mucosa particularmente mulheres grávidas (BROOKER
intestinal que, por sua vez, podem ser et al., 2008) e crianças (CROMPTON et al.,
invadidas por bactérias, provocando infecções 2000). Para ancilostomose, assim como para
secundárias muito graves e edema (RÉ et al., outros helmintos transmitidos através do solo,
2011). a carga da doença diminuiu significativamente
Assim, grávidas residentes em áreas nas últimas duas décadas (CHAN et al., 1994).
endêmicas apresentam um quadro de risco, Esta redução da carga parasitária pode ser
pois apresentam uma demanda superior de atribuída principalmente à administração de
ferro, fator de risco para o desenvolvimento de medicamentos em massa de forma profilática
anemia. O fato é considerado um agravante em populações em risco de infecção (ALBO-
para o desencadeamento da mortalidade NICO et al., 2008) e a programas de
materna, sobretudo no momento do parto intervenção integrada visando melhorar o
(BROOKER et al., 2004). acesso à água tratada, saneamento e higiene
(CLARKE et al., 2018; STRUNZ et al., 2014),
33
Capítulo 04
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 04
Parasitologia Humana e Veterinária
35
Capítulo 04
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 04
Parasitologia Humana e Veterinária
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37
Capítulo 04
Parasitologia Humana e Veterinária
CAPÍTULO 05
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ENTRE
FEBRE MACULOSA E DENGUE VISANDO
A REDUÇÃO DA LETALIDADE: UMA
REVISÃO DA LITERATURA
Bianca Rodrigues Tavares¹
Samuel Melo Ribeiro¹
Fernanda de Oliveira¹
Fernando Batista Nigri dos Santos¹
Mariana de Sousa Vilela Silva¹
Mauro Marques Lopes¹
Bruno Melo Ribeiro2
Júlia Bernardes de Freire Lopes2
Bruno Patrício dos Santos Oliveira3
Juliete Gomes da Silva4
Nathália Ferreira Carvalho5
Viviany Alves Ferreira da Mata6
Fabio Junior da Silva7
Haroldo Souza e Silva8
Thelma de Filipps9
39
Capítulo 05
Parasitologia Humana e Veterinária
A dengue teve seus primeiros casos no Os critérios de inclusão foram: artigos nos
século vinte e atualmente é considerada a idiomas inglês e português; publicados nos
doença viral e vetorial que mais se multiplica últimos 14 anos e que abordavam as temáticas
no mundo (HUNTINGTON, M. K. et al., propostas para esta pesquisa, estudos do tipo
2016). (revisão, meta-análise), disponibilizados na
Os sintomas variam desde um resfriado íntegra. Os critérios de exclusão foram: artigos
comum, a uma artralgia e mialgia grave, duplicados, disponibilizados na forma de
conhecida como quebra-ossos e pode evoluir resumo, que não abordavam diretamente a
para um quadro ainda mais grave, como a proposta estudada e que não atendiam aos
febre hemorrágica, cujo sinais aparecem após demais critérios de inclusão. Após os critérios
a doença febril inicial (HUNTINGTON, M. K. de seleção restaram 21 artigos que foram
et al., 2016). submetidos à leitura minuciosa para a coleta
O diagnóstico da dengue, muitas vezes, é de dados.
negligenciado. Segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS), a melhor forma de RESULTADOS E DISCUSSÃO
se identificar a presença do vírus é através de
um exame de sangue, mostrando o anticorpo A FM e a dengue são doenças infecciosas
IgM, caso a infecção esteja em fase aguda e presentes em países tropicais, assim como é o
IgG caso esteja em fase crônica (HUN- caso do Brasil e fazem parte de um grupo de
TINGTON, M. K. et al., 2016). O teste doenças endêmicas que possuem maior
frequentemente apresenta resultados falso- complexidade diagnóstica, por apresentarem
positivos devido à reação cruzada com o vírus sintomas de difícil diferenciação (LIMA
(HUNTINGTON, M. K. et al, 2016; STE- MONTEIRO & ROZENTAL, 2014).
PHEN et al., 2018). A FM é uma doença grave, de notificação
O objetivo deste estudo foi avaliar a obrigatória (DE OLIVEIRA et al., 2020). Os
importância da inclusão do diagnóstico sintomas da FM podem variar desde o ínicio
diferencial da FM na diferenciação clínica com até o fim do curso da doença, mas os
a dengue e o impacto na taxa de letalidade. principais são febre, cefaléia, mialgia intensa,
mal-estar, náuseas, vômitos, dor abdominal e
MÉTODO exantema (ESTEVES, et al., 2019; UNIVER-
SITIES, 2017), apresenta marcadores laborato-
Trata-se de uma revisão da literatura riais como trombocitopenia (DE OLIVEIRA et
realizada no período de janeiro a junho de al., 2020; SAVANI et al., 2019). O diferencial
2021, por meio de pesquisas nas bases de na clínica do paciente com FM são as erupções
dados: PubMed, Scielo e Medline. Foram cutâneas eritematosas e esbranquiçadas que se
utilizados os descritores: “spotted fever”; tornam petéquias com o tempo e o
“symptoms”; “etiological agente”, “dengue”, agravamento da trombocitopenia ao longo dos
“Brasil”. Desta busca foram encontrados 51 dias de infecção também é um indício
artigos, posteriormente submetidos aos crité- importante de FM.
rios de seleção.
40
Capítulo 05
Parasitologia Humana e Veterinária
41
Capítulo 05
Parasitologia Humana e Veterinária
Figura 5.3 (A) Hemorragia subconjuntival bilateral (B) Hemorragia subconjuntival intensa
42
Capítulo 05
Parasitologia Humana e Veterinária
diagnóstico, tratamento que não é feito de dos sintomas com outras doenças endêmicas
forma rápida, fatores que causam complica- como a dengue contribui para o atraso do
ções e agravamento da doença e principalmen- diagnóstico e este pode ser feito de maneira
te a não consideração do paciente sobre o incorreta ocasionando a alta taxa de mortali-
contato com áreas que predispõem a infecção dade. Contudo é importante alertar para a
pelo agente infeccioso da FM. Para que a FM inclusão do diagnóstico da FM em casos febris
tenha um bom curso a partir do aparecimento agudos, considerando sua alta taxa de
dos sintomas, deve-se iniciar o tratamento de letalidade.
forma preventiva. Além disso, a semelhança
43
Capítulo 05
Parasitologia Humana e Veterinária
44
Capítulo 05
Parasitologia Humana e Veterinária
CAPÍTULO 06
DESCRIÇÃO DE ACHADOS
ASSOCIADOS AO
Urbanorum spp.: REVISÃO E
RELATO DE EVIDÊNCIAS
NO NORTE DO PIAUÍ
Jhoana D’arc Lopes De Sousa¹
Ana Indygriani Rodrigues¹
Francisca Dayane Soares Da Silva²
Rodrigo Elísio de Sá²
Renata Pereira Nolêto³
Gabriella Linhares de Andrade²
Mayck Silva Barbosa4
Ana Clara Silva Sales5
Ayslan Batista Barros5
Thiago Nobre Gomes6
1Biomedica - Universidade Federal do Delta do Parnaíba, Parnaíba-PI.
2Discente – Mestrado em Biotecnologia, Universidade Federal do Delta do Parnaíba, Parnaíba-PI.
3Discente – Mestrado em Ciências Biomédicas, Universidade Federal do Delta do Parnaíba, Parnaíba-PI.
4Discente – Doutorado em Fisiopatologia Médica, Universidade Estadual de Campinas, Campinas-SP.
5Discente – Doutorado em Biotecnologia, Universidade Federal do Delta do Parnaíba, Parnaíba-PI.
6Discente – Doutorado em Patologia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza-CE.
46
Capítulo 06
Parasitologia Humana e Veterinária
de fato, o Urbanorum spp. pode ou não ser (pertencentes ao NCBI – National Center For
considerado um parasito? Biotechnology Information), SciELO (Scientific
Relatos de casos em congressos científicos Eletronic Library Online), Scopus
e galerias fotográficas apontando a ocorrência (pertencente a editora Elsevier) e LILACS
do possível parasito tornam-se cada vez mais (Literatura Latino-americana e do Caribe em
comuns na literatura atual. Porém, tais Ciências da Saúde, coordenada pela OMS –
informações disponíveis descrevem apenas as Organização Mundial da Saúde). Ademais, a
características microscópicas e morfológicas pesquisa também foi realizada no Google
associadas ao Urbanorum spp., carecendo Acadêmico. Para a busca foram utilizados
ainda de uma melhor fundamentação científica como descritores a combinação dos termos
que evidencie mais detalhadamente a “Parasitologia”, “Saúde Pública”, “Infecções
veracidade da sua condição biológica por Protozoários” e “Urbanorum spp.”, tanto
(especialmente quanto seu ciclo evolutivo, e em português quanto nas suas respectivas
sua caracterização molecular e taxonômica), versões em inglês.
sendo esta direta e indiretamente questionada Como critérios de inclusão, foram
em muitas das atuais publicações (SILVA- consideradas publicações originais, dispo-
DÍAZ, 2017; LEÃO et al., 2018; SILVA; níveis na íntegra para download, sem
OLIVEIRA, 2019). Deste modo, o presente restrições quanto à idiomas e recorte temporal,
estudo teve como objetivo analisar a literatura que abordassem de forma direta ou indireta
científica reunindo informações sobre o sobre o Urbanorum spp., incluindo estudos de
Urbanorum spp., baseadas em estudos clínico- pesquisa laboratorial, relatos de casos, revisões
epidemiológicos e relatos de casos disponíveis e editoriais. Como critérios de exclusão, foram
até o presente momento, assim como também, desconsiderados trabalhos de conclusão de
descrever os primeiros achados deste potencial curso, bem como publicações duplicadas, não
novo parasito no norte do estado do Piauí. disponíveis totalmente na íntegra, e aquelas
que não contemplassem as carências que
MÉTODO nortearam a realização deste trabalho.
Considerando a importância da temática,
Na edificação do trabalho, realizou-se de modo complementar realizou-se também
inicialmente um estudo retrospectivo com um estudo descritivo, exploratório e com
revisão de literatura norteada frente à carência abordagem quantitativa, a partir de registros de
de trabalhos que abordassem de forma resultados de exames parasitológicos de fezes
abrangente informações sobre características de pacientes atendidos em um laboratório
dos achados relacionados ao Urbanorum spp., privado da cidade de Parnaíba, norte do estado
como: morfologia, ciclo biológico, transmissão, do Piauí, no período de Abril à Novembro de
epidemiologia, patogenia, virulência, diagnóstico 2019. O intuito foi de apresentar informações
(clínico e/ou) laboratorial, e medidas de dos primeiros achados laboratoriais referentes
tratamento, prevenção e controle. a este provável novo parasito, a fim de melhor
A busca por publicações para a compreender sua relevância no quadro clínico
composição deste estudo foi realizada através dos pacientes acometidos.
de quatro bases de dados: PubMed/MEDLINE
47
Capítulo 06
Parasitologia Humana e Veterinária
48
Capítulo 06
Parasitologia Humana e Veterinária
Figura 6.1 Características morfológicas dos achados associados ao Urbanorum spp., corados com
lugol e observados por microscopia óptica de luz
Legenda: A) Objetiva de 10X; B) Objetiva de 40X. Fonte: Casarin; Sampaio; Duarte (2019).
49
Capítulo 06
Parasitologia Humana e Veterinária
2018; SIMES, PLATT, 2020); São José dos biológicos, de caracterização molecular e
Campos, São Paulo (PRADO et. al, 2018); São taxonômica sobre o Urbanorum spp. pode
José dos Pinhais – região metropolitana de justificar a descrença de alguns estudiosos
Curitiba, Paraná (WIGGERS et al., 2018; acerca do mesmo se tratar de fato de um
KRUGER, 2020); Imperatriz, Maranhão protozoário (SILVA-DÍAZ, 2017; LEÃO et
(CASARIN; DUARTE; SAMPAIO, 2019); e al., 2018).
na cidade de São Paulo (LEÃO et al., 2018). Tal dedução de que o mesmo pertencença a
Descrições mais aprofundadas sobre a este grupo de parasitos considerou seu
epidemiologia dos casos de infecções provável modo de transmissão por via fecal-
associadas ao Urbanorum spp. ainda são oral, seja por contágio direto (pelo contato
pouco difusas nos estudos disponíveis até com material fecal) ou indireto (pelo solo e
então, visto que a escassez e a falta de pela ingestão de água e alimentos
similaridade dos casos não trazem informações contaminados), a partir da ausência de
suficientes acerca do agente. Porém, conforme medidas de higiene pessoal e saneamento
observado até aqui, os países com casos básico (VILLAFUERTE; COLLADO; VELAR-
relatados do provável novo parasito, DE, 2016; AGUIAR; ALVES, 2018; FRAN-
correspondem à América Latina, os quais ÇA et al., 2018; CASARIN; DUARTE,
apresentam condições climáticas e SAMPAIO, 2019; KRUGER, 2020). Ademais,
socioeconômicas similares (VILLAFUERTE; Kruger (2020) aponta um possível fator de
COLLADO; VELARDE, 2016; SILVA- risco que carece de uma melhor investigação
DÍAZ, 2017; AGUIAR; ALVES, 2018). da relação de causa e efeito: a limpeza de
Kruger (2020) ressalta ainda que não há dados reservatórios de água, que pode ter ocasionado
mais abrangentes acerca da prevalência do contaminação pelo uso irregular de
Urbanorum spp. no Brasil. Conforme o que foi equipamentos de proteção individual (EPIs).
observado a partir destes estudos e também
ressaltado por Aguiar e Alves (2018) e Kruger Patogenicidade e virulência
(2020), este suposto parasito pode ser Conforme observado na literatura, há
encontrado em diferentes tipos de ambientes e concordância quanto à limitada informação
acometer variadas faixas etárias e ambos os disponível acerca da patogenicidade e
sexos, sendo as crianças os hospedeiros mais virulência dos achados associados ao
comuns para o desenvolvimento da infecção. Urbanorum spp. Contudo, com base nas
características clínicas dos pacientes acometi-
Ciclo biológico e transmissão dos pela infecção, considera-se que os achados
Ainda não existem estudos publicados na do provável parasito estão correlacionados
literatura com informações mais detalhadas com o quadro de síndrome diarreica
sobre o ciclo biológico do Urbanorum spp. (VILLAFUERTE; COLLADO; VELARDE,
Acredita-se que sua reprodução ocorra pelo 2016; FERREIRA et al., 2018; FRANÇA et
processo de divisão binária – assim como al., 2018). Especula-se que tanto o ciclo de
ocorre em outros protozoários intestinais vida no hospedeiro quanto as relações
(VILLAFUERTE; COLLADO; VELARDE, fisiopatológicas com o mesmo sejam
2016; AGUIAR; ALVES, 2018; CASARIN; semelhantes às infecções parasitárias causadas
DUARTE, SAMPAIO, 2019; KRUGER, por outros protozoários amebóides, e que
2020). Contudo, o déficit de estudos histologicamente, os indivíduos infectados
50
Capítulo 06
Parasitologia Humana e Veterinária
(LEITE, 2018; OLIVEIRA; BARBOSA, clínica para outras infecções por protozoários
2018). intestinais, como o Metronidazol e o Secnidazol
A realização de métodos laboratoriais com (AGUIAR; ALVES, 2018; FERREIRA et al.,
diferentes níveis de sensibilidade e especifi- 2018; LOPEZ; NUNES, 2018; WIGGERS et
cidade para o diagnóstico de enteroparasitos tem al., 2018). Conforme relatado até o presente
como finalidade aumentar sua eficiência, momento, o uso de tais antiparásitários tem
diminuindo a chance de resultados falso- apresentado um bom prognóstico nos
negativos. Pôde-se observar que, embora em pacientes com achados positivos para
parte dos trabalhos analisados para esta revisão Urbanorum spp. no EPF.
tenham sido utilizados diferentes métodos Segundo Lopez e Nunes (2018), após o
laboratoriais para iden-tificação de parasitos tratamento com Metronidazol, 250 mg 8/8 h
intestinais, em outras pesquisas foi empregado por 8 dias, a paciente apresentou alívio dos
o uso de somente uma única técnica. Isso sintomas, e após repetição do EPF, o resultado
poderia justificar o fato de que, em alguns não revelou presença do parasito. Aguiar e
trabalhos, não foi observada a ocorrência de Alves (2018) descreveram que após o
biparasitismo ou poliparasitismo entre o tratamento com este medicamento, 500-700
Urbanorum spp. e nenhum outro agente
mg 8/8 h por 14 dias, a paciente apresentou
(protozoário ou helminto) comumente
melhora do seu estado clínico. Wiggers et al.
identificado na rotina do EPF.
(2018) apontaram que, após o tratamento com
Dentre exemplos de métodos de
o referido fármaco, 80 mg 6/6 h por 10 dias, a
diagnóstico parasitológico que podem ser
paciente teve melhora clínica, apresentou
empregados, destaca-se: exame direto a fresco
curvas ascendentes de peso e estatura para sua
(que permite visualizar a motilidade de
idade, e o EPF foi negativo após análise de 2
trofozoítos dos protozoários em fezes
amostras. Já Ferreira et al. (2018) descreveram
diarreicas recém-emitidas); método de Faust e
que após a prescrição do Secnidazol por 14
colaboradores (fundamentado na centrífugo-
dias para tratamento do caso, houve a
flutuação em solução de sulfato de zinco, que
permite a identificação de cistos, oocistos, resolução do quadro da paciente, com
ovos leves e larvas); método de Ritchie resultados negativos no EPF a partir da análise
(fundamentado na centrífugo-sedimentação em de 3 amostras.
sistema formalina-éter ou formalina-acetato de Um fato curioso observado em estudos
etila, que permite a identificação de cistos, recentes é que o tratamento dos pacientes com
oocistos, ovos e larvas), além de os outros diagnóstico positivo para Urbanorum spp. no
como os de Graham, de Baermann-Moraes e EPF não foi realizado com nenhum dos 2
de Rugai, Mattos e Brisola (DE CARLI, medicamentos anteriormente mencionados.
2017). Kruger (2020) destacou que houve a
prescrição de Nitazoxanida 500 mg 12/12 h
Tratamento, prevenção e controle por 3 dias, empiricamente, sendo que após o
O tratamento dos casos de síndrome tratamento o paciente retornou com resultado
diarreica associada à infecção por Urbanorum negativo do EPF após análise de 3 três
spp. tem sido realizado a base de amostras de fezes, e melhora completa do
antiamebianos comumente adotados na prática quadro clínico. Por sua vez, Simes e Platt
(2020) ressaltaram que foi prescrito o uso de
52
Capítulo 06
Parasitologia Humana e Veterinária
parasito com base na descrição das amostras achados associados ao Urbanorum spp. em
fecais, das características morfológicas do agente, países subdesenvolvidos que negligenciam as
e da sintomatologia dos pacientes acometidos. parasitoses intestinais (incluindo do Brasil)
Porém, estudos mais aprofundados acerca do reforçam a necessidade da realização de
seu ciclo biológico e sua caracterização pesquisas mais abrangentes sobre este possível
molecular ainda não foram relatados na novo parasito, a fim de dimensionar sua
literatura. A ocorrência e relatos dos primeiros importância como problema de saúde pública.
Figura 6.2 Características morfológicas obtidas através dos achados associados ao Urbanorum
spp., em um laboratório particular no norte do estado do Piauí
Legenda: Setas amarelas: Cistos de Urbanorumspp.; Estrelas vermelhas: Pseudópodes, os quais se acreditam que
sejam emitidos pelos cistos.
54
Capítulo 06
Parasitologia Humana e Veterinária
55
Capítulo 06
Parasitologia Humana e Veterinária
CAPÍTULO 07
O PAPEL DAS
CISTEÍNO PROTEASES
NA PATOGENIA DA
GIARDÍASE
56
Capítulo 07
Parasitologia Humana e Veterinária
2011 e 2021, com destaque àqueles estudos proteases como alvos farmacológicos e artigos
concluídos no ano de 2018, tendo em vista que com foco em outras classes de proteases ou na
um terço dos artigos incluídos na pesquisa (3 interação gênica do processo patogênico da
dos 9 totais) foram publicados neste ano. Além giardíase. Sobre os tipos de estudo, foram
disso, os idiomas selecionados para a pesquisa selecionadas apenas pesquisas experimentais,
foram o inglês, o espanhol e o português. conforme representado pela Figura 7.1.
Como critérios de exclusão, foram descartados
artigos de revisão, artigos sobre cisteíno
Foram encontrados 31
artigos no total.
5 artigos de revisão de 13 artigos com foco em Esses artigos foram selecionados, pois possuem
literatura. outras proteases. capacidade para auxiliar a responder a pergunta
norteadora do trabalho: O que são cisteíno
proteases e qual(ais) seu(s) papel(eis) na
4 artigos sobre CPs como
patogenia da giardíase?
alvo farmacológico.
59
Capítulo 07
Parasitologia Humana e Veterinária
Tabela 7.1 Dados dos principais referenciais teóricos utilizados neste trabalho
60
Capítulo 07
Parasitologia Humana e Veterinária
(2019) intestinalis Cysteine usando substratos da técnica de previstas como potenciais alvos e se
Proteases: Degradation of phage display e substratos de mostraram clivadas por três CPs.
immunoglobulins and proteínas recombinantes.
defensins
Giardia co-infection Determinar os mecanismos A coinfecção de G. lamblia e E. coli
Manko et promotes the secretion of potenciais por meio dos quais a enteropatogênica aumentou a produção
al. (2017) antimicrobial peptides giárdia pode proteger um de PAMs em células epiteliais
beta-defensin 2 and trefoil hospedeiro durante uma co- intestinais humanas. Além disso, a
factor 3 and attenuates infecção e investigar se as CPs giárdia foi capaz de inibir diretamente
attaching and effacing estariam envolvidas na indução o crescimento de patógenos como
bacteria-induced intestinal da expressão de PAMs dentro EPEC, sendo ambos resultados
disease. de CEIs humanas. dependentes de CPs.
Giardipain-1, a protease Identificar e caracterizar a A Giardipain-1 desencadeia, nas
Ortega- secreted by Giardia Giardipain-1, uma protease com células epiteliais, a degradação dos
Pierres et duodenalis trophozoites, propriedades estruturais e componentes juncionais intercelulares,
al. (2018) causes junctional, barrier catalíticas correspondentes a leva ao aparecimento de regiões
and apoptotic damage in protease de cisteína papain-like. semelhantes a poros e de lacunas e o
epithelial cell monolayers dano apoptótico.
61
Capítulo 07
Parasitologia Humana e Veterinária
de vilina, conforme verificado por Western cultivadas. Uma vez que a confluência foi
blotting (BHARGAVA et al., 2015). estabelecida, trofozoítos de G. lamblia foram
Em outro momento, foi demonstrado que o adicionados à superfície apical das células e
pré-tratamento dos trofozoítos com o inibidor incubados. Após 24 horas de incubação, os
E-64, antes da incubação, resultou na trofozoítos foram lavados do experimento.
diminuição da detecção do produto de Após as devidas análises, os resultados
clivagem de vilina. Ainda, outros experimen- indicaram que as secreções de G. lamblia são
tos de acompanhamento foram realizados, suficientes para desativar a função normal em
sugerindo também que os produtos da G. células epiteliais entéricas, tornando-as menos
lamblia são capazes de clivar a vilina inclusive capazes de extrair fluidos do lúmen. Ademais,
dentro de CEIs lisadas. Sendo assim, diante especificamente quanto às CPs, foi proposto
dos resultados, foi possível concluir que as um mecanismo patogênico pelo qual as
CPs de G. lamblia estão envolvidas na catepsinas B participam da degradação da
clivagem da vilina citoesquelética em barreira mucosa protetora e do subsequente
monocamadas Caco-2, contribuindo para a rompimento das junções intercelulares do
compreensão dos mecanismos fisiopatológicos epitélio intestinal (DUBOURG et al., 2018).
envolvidos nas disrupções das microvi- Aprofundando as investigações a respeito
losidades intestinais ocasionadas pelo parasito da quebra da barreira epitelial por CPs de G.
(BHARGAVA et al., 2015). lamblia, Liu et al. (2018) utilizou técnicas de
Western Blotting e imunofluorescência para
Alterações na Barreira Epitelial examinar a degradação e a distribuição de
Intestinal proteínas juncionais após o tratamento de
A barreira epitelial intestinal (BEI) atua células Caco-2 com CPs recombinantes
seletivamente para separar o ambiente externo molecularmente idênticas às secretadas pelo
do lúmen intestinal dos tecidos subjacentes do parasito. No geral, os resultados demonstraram
hospedeiro, sendo formada por junções que as CPs são capazes de degradar as
oclusivas e aderentes conhecidas como complexo proteínas do CJA necessárias para a
juncional apical (CJA). Esse complexo é manutenção da integridade da BEI.
composto por proteínas transmembranas As imagens de imunofluorescência
(claudina, ocludina, caderina, moléculas de evidenciaram níveis reduzidos e realocação
adesão, etc.), proteínas da placa citosólica e das proteínas de zônulas de oclusão (ocludina
proteínas reguladoras citosólicas (SCHUMANN, e claudina), bem como de proteínas de zônulas
2017). de adesão (E-caderina e beta-catenina), após
O estudo de Dubourg et al. (2018), ao 24h de incubação com CPs recombinantes.
identificar os fatores de virulência mais Além disso, uma interrupção na integridade da
abundantes secretados pela G. lamblia (entre monocamada de células Caco-2 também pôde
eles, a CP catepsina B), propôs determinar ser observada, sendo que esses efeitos foram
seus efeitos sobre o epitélio intestinal, utilizan- reduzidos quando inibidores E-64 foram
do eletrodos conectados a um voltímetro para adicionados ao experimento (LIU et al., 2018).
medir a resistência elétrica transepitelial Em consonância com esses achados,
(TEER) em células epiteliais CaCo-2 Ortega-Pierres et al. (2018) acrescenta ainda
63
Capítulo 07
Parasitologia Humana e Veterinária
novas descobertas com relação às alterações Por fim, importante ressaltar que uma vez
promovidas por CPs sobre a barreira epitelial. violada a barreira intestinal pelas ações dos
Através do cultivo de células intestinais IEC-6, fatores de virulência secretados pela G.
os pesquisadores conseguiram identificar a CP lamblia, os locais de dano tornam-se
chamada Giardipain-1 (CP14019) e descrever propensos à infecção secundária por outros
a sua ação utilizando técnicas de eletroforese microrganismos oportunistas residentes no
em gel e imunofluorescência. A referida lúmen intestinal e sensíveis à irritação por
proteína foi caracterizada como uma protease alérgenos em alimentos que levam à
do tipo catepsina B (catB - protease lisosso- inflamação e aos sintomas característicos da
mal) por meio de análise proteômica, tendo doença. Porém, mais investigações são
sido constatado que sua atividade proteolítica necessárias para verificar esse mecanismo de
pôde ser inibida por E-64. patogênese da giardíase (ORTEGA-PIERRES
Diante do avanço, a fim de investigar et al., 2018).
possíveis alterações morfológicas que a
Giardipain-1 poderia causar em células Alterações na Resposta Imunológica
epiteliais, foram realizadas incubações em Quimiocias
laboratório. Após 90 minutos de exposição, foi Em resposta a uma variedade de estímulos
possível perceber que as proteínas Ocludina-1 pró-inflamatórios, as células epiteliais
e Claudina-1 das células IE-6 decaíram após o intestinais secretam diferentes classes de
contato com a protease, gerando o quimiocinas. Com o intuito de investigar se as
aparecimento de poros e de lacunas ao longo CPs de G. lamblia são capazes de clivar ou
de suas junções celulares. Posteriormente, degradar quimiocinas durante interações entre
após 120 minutos de exposição, as células o parasito e as CEIs, Liu et al. (2018) realizou
passaram a apresentar danos maiores como uma série de incubações, com diferentes
bolhas, conhecidas como corpos apoptóticos produtos, na presença ou ausência de E-64. As
(ORTEGA-PIERRES et al., 2018). misturas foram posteriormente analisadas
Nesse sentido, o estudo detectou que a através de eletroforese em gel de
Giardiapain-1 é capaz de induzir apoptose poliacrilamida (SDS-PAGE).
após duas horas de exposição às células Entre os resultados, verificou-se que todas
intestinais, sendo que, o silenciamento gênico as quimiocinas testadas (CXCL1, CXCL2,
da protease em trofozoítos (por doxiciclina ou CXCL3, IL-8, CCL2 e CCL20) foram
transfecção por plasmídeos pAC-giardipain-1 degradadas ou clivadas por pelo menos um
e pNLOP-aGiardipain sem doxiciclina) tipo de CP (CP14019, CP16160 e/ou
demonstrou que os danos às IEC-6 foram CP16779). Ademais, para todas as CPs
substancialmente menores. Sendo assim, todas testadas, o tratamento com E-64 aboliu as suas
as descobertas indicam que as CPs secretadas capacidades de degradarem as quimiocinas.
por G. lamblia podem desempenhar um Nesse sentido, foi possível observar que as
importante papel no comprometimento da CPs de G. lamblia apresentam seletividade e
integridade da barreira epitelial intestinal potencialidade distintas para degradar ou
(ORTEGA-PIERRES et al., 2018). clivar diferentes quimiocinas inflamatórias
(LIU et al., 2018).
64
Capítulo 07
Parasitologia Humana e Veterinária
Especificamente com relação à IL-8, outro Para investigar os efeitos de três CPs
trabalho, realizado por Cotton et al. 2014, produzidas pela G. lamblia (CP14019, CP16160
também observou que os trofozoítos de G. e CP16779) sobre as imunoglobulinas
lamblia são capazes de secretar fatores que envolvidas na defesa imunológica da mucosa
degradam a quimiocina. Nesse estudo, para durante infecções, Liu et al. 2019 utilizou
investigar se as CPs de catepsina estariam IgA1, IgA2 e IgG em misturas com diferentes
envolvidas na degradação, foram realizadas CPs. Após o período de incubação, os
incubações de trofozoítos na presença de resultados mostraram que os três tipos de CPs
monocamadas Caco-2 e CXCL8. foram capazes de degradar a cadeia pesada de
A análise através de ELISA determinou IgG humana de uma maneira dose dependente.
que os níveis restantes de CXCL8 detectados A degradação da cadeia leve de IgG também
nos experimentos foram significativamente pôde ser observada no experimento realizado
reduzidos em comparação com os do grupo com CP16779 (LIU et al., 2019).
controle. Posteriormente, experimentos Da mesma forma, todas as três CPs
adicionais foram realizados para averiguar se a mostraram padrões semelhantes na clivagem
atividade proteolítica seria afetada pela do IgA1 e IgA2. Particularmente, a degradação
utilização do inibidor de CPs de amplo da cadeia pesada de IgA1 foi mais
espectro E-64 ou pelo inibidor específico de pronunciada em comparação com o de IgG.
catB Ca-074Me. Nesse caso, os efeitos foram Uma ligeira degradação da cadeia leve de
revertidos na presença de ambos inibidores, IgA1 também pôde ser vista com todas as três
possibilitando concluir que as CPs que CPs. Sobre a IgA2, uma clivagem eficiente
degradam CXCL8 são cisteíno proteases também foi observada tanto na cadeia pesada
semelhantes à catB (COTTON et al., 2014). quanto na cadeia leve por todas as três CPs
Posto isso, é possível compreender que os (LIU et al., 2019).
resultados dos trabalhos convergiram no As descobertas sugerem, enfim, que as CPs
sentido de propor que as CPs de G. lamblia secretadas pela G. lamblia podem estar
podem exercer funções imunomoduladoras, envolvidas na regulação imunológica na
atenuando a resposta inflamatória do superfície da mucosa intestinal durante a
hospedeiro induzida por quimiocinas. Logo, os infecção do hospedeiro, através da clivagem
estudos elucidaram, em parte, a razão pela dos anticorpos presentes no local (LIU et al.,
qual é observado baixos níveis de inflamação 2019).
da mucosa intestinal em casos de giardíase.
Defensinas
Imunoglobulinas A produção de peptídeos antimicrobianos
Os anticorpos, também chamados de (PAMs) por CEIs e células de Paneth
imunoglobulinas, são importantes glicoproteínas desempenha um papel crítico na homeostase
que atuam na defesa do organismo contra agentes da mucosa intestinal e na imunidade contra
invasores de diferentes formas. Nas infecções enteropatógenos (BEVINS 2011). Em huma-
por G. lamblia, IgA e IgG já foram nos, já foram identificadas diversas classes de
identificados em secreções da mucosa de PAMs, sendo que, no trato gastrointestinal, as
humanos e camundongos (ECKMANN, 2003). defensinas estão entre as de maior
65
Capítulo 07
Parasitologia Humana e Veterinária
importância. Porém, o papel dos PAMs humanas poderiam ser potenciais substratos
durante as infecções por G. lamblia e os para as CPs secretadas. Dessa forma,
efeitos das CPs na modulação dos PAMs diferentes defensinas foram incubadas em
entéricos ainda permanecem parcialmente conjunto com várias concentrações de CPs e
incompreendidos (BEVINS, 2011). suas reações foram analisadas através de
O estudo de Manko et al. (2017) teve eletroforese em gel.
como objetivo, determinar os potenciais De acordo com o estudo, três tipos de CPs
mecanismos defensivos da G. lamblia durante (CP14019, CP16160 e/ou CP16779) foram
uma co-infecção. Além disso, buscou capazes de degradar a beta-defensina humana
investigar se as CPs de G. lamblia semelhantes 1 (HBD-1). Já a proteína α-HD6 foi degradada
à catepsina estariam envolvidas na indução da apenas por CP14019 e CP16779, de maneira
expressão de PAMs dentro de CEIs humanas. dependente da dose. Esses resultados mostram
Para tanto, células humanas Caco-2 foram que os três CPs secretados possuem especi-
co-incubadas com trofozoítos de G. lamblia e ficidade na clivagem de diferentes substratos,
Escherichia coli enteropatogênicas. Pelo e ainda, que a clivagem de defensinas é mais
experimento, notou-se que a expressão de um possível papel que pode ser atribuído às
mRNA da beta-defensina humana 2 (HBD-2) e CPs liberadas pela G. lamblia (LIU et al.,
do gene TFF3 (expresso em células 2019).
caliciformes e responsável pela síntese de
peptídeos constituintes do muco chamados CONCLUSÃO
fatores trefoils), envolvidos na proteção do
trato gastrointestinal, foram significativamente Os estudos aqui reunidos evidenciaram que
aumentadas em comparação com células as cisteíno proteases (CPs) são uma importante
infectadas apenas por E. coli, apenas por G. classe de proteases secretadas pela G. lamblia
lamblia ou em grupos controle não infectados e estão envolvidas em diversos papéis durante
(MANKO et al., 2017). a instalação da doença, podendo causar
Ademais, a inibição da CP semelhante à alterações (1) na mucosa intestinal (AMAT et
catepsina, feita pelo inibidor seletivo da al, 2017), (2) na microbiota intestinal
catepsina B (Ca-074Me) ou pelo inibidor de (BEATTY et al, 2016), (3) nas microvilo-
amplo espectro (E-64), aboliu completamente sidades intestinais (BHARGAVA et al, 2015),
o aumento da expressão, tanto do mRNA de (4) na barreira epitelial intestinal (inclusive por
HBD-2 quanto do gene TFF3 imunomarcado, meio de dano apoptótico) (ORTEGA et al,
nas células coinfectadas. Nesse sentido, foi 2018; LIU et al, 2018 e DUBOURG et al,
possível concluir que a coinfecção de G. 2018), e (5) na resposta imunológica do
lamblia e E. coli participa do aumento da hospedeiro, através de modulações em quimio-
produção de PAMs de forma dependente de cinas (COTTON et al, 2014 e LIU et al, 2018),
CPs em células epiteliais intestinais humanas imunoglobulinas (LIU et al, 2019) e
(MANKO et al., 2017). defensinas (MANKO et al, 2017 e LIU et al,
Por outro lado, com relação às PAMs 2019).
produzidas pelas células de Paneth, o estudo
de Liu et al. (2019) investigou se as defensinas
66
Capítulo 07
Parasitologia Humana e Veterinária
Juntos, tais resultados demonstram que as Ademais, foi possível notar que a atividade
CPs de G. lamblia são fundamentais para a das CPs pode ser controlada por inibidores
patogênese da doença, contribuindo para o específicos, tais como E-64 e Ca-074Me, que
aparecimento dos sintomas agudos e potencial- possuem evidente efeito antiparasitário in
mente para o desenvolvimento de complica- vitro. Porém, ainda não é possível afirmar
ções crônicas, como a síndrome do intestino sobre a eficácia e segurança desses inibidores
irritável (IBARRA et al., 2016). Sendo assim, in vivo. Para tanto, faz-se necessário que as
pesquisas que buscam identificar e caracterizar concentrações utilizadas in vitro sejam
as funções das CPs de giárdia se mostram testadas in vivo antes que uma declaração
relevantes, sobretudo ao considerar que tais definitiva possa ser feita sobre seus potenciais
proteases constituem potenciais alvos farmaco- antiparasitários. Posto isto, mais estudos são
lógicos, uma vez que sua inibição pode ajudar necessários para se confirmar a possibilidade
a reduzir a gravidade da doença e assim terapêutica, porém a perspectiva futura é
proporcionar avanços terapêuticos. promissora.
67
Capítulo 07
Parasitologia Humana e Veterinária
68
Capítulo 07
Parasitologia Humana e Veterinária
CAPÍTULO 08
TRICURÍASE:
UMA REVISÃO
BIBLIOGRÁFICA
1Discente de medicina pela União das faculdades dos Grandes lagos /UNILAGO
2Discente de medicina veterinária pelo Centro Universitário de Rio Preto/UNIRP
69
Capítulo 08
Parasitologia Humana e Veterinária
70
Capítulo 08
Parasitologia Humana e Veterinária
71
Capítulo 08
Parasitologia Humana e Veterinária
casca espessa e presença de massa embrionária Figura 8.3 Formas de infecção do Trichuris
única quando recém eliminado. Os ovos no organismo humano
também podem até ser disseminados por
mosca doméstica. Nas regiões onde a
tricuríase se mostra com alta prevalência se
constatou que a geofagia é uma das principais
causas de infecção, especialmente em algumas
regiões da África, Índia e América Latina
(NEVES et al., 2005).
Profilaxia
A prevenção deste parasita se dá através de
higiene pessoal, educação sanitária da
população, introdução de políticas de
saneamento ambiental, melhoria das condições
sanitárias e eliminação do uso de fezes como
adubo (ROCHA; FONSECA; MAIA, 2014;
ZANOTTO, 2015).
Fonte: LEVECKE et al., 2015
CONCLUSÃO
Tratamento
Atualmente, existem diversas opções de Perante os fatos supracitados, entende-se
fármacos para a eficácia do tratamento da que, a tricuríase é uma enfermidade em
tricurísase, como por exemplo, benzoilmidazóis emergência, causadora de inúmeros sintomas
como albendazol e mebendazol, os quais são os que podem se agravar em um prolapso retal.
mais frequentes a serem prescritos, no entanto Além disso os tratamentos devem ser seguidos
recentes estudos apontam a nitazoxanida com após a prescrição médica, sendo o mais
uma forte eficácia, além disso pacientes com indicado albendazol e mebendazol, ademais
infecções maciças o tratamento é ampliado de sua prevenção devem ser realizadas com
5 a 7 dias, contudo após 3 ou 4 semanas de medidas sanitárias e educativas. Os resultados
tratamento cabe ao médico solicitar novos obtidos nessa pesquisa podem fornecer base
exames parasitológicos de fezes para confir- para novas pesquisas.
mar a recuperação do paciente, caso ainda haja
ovos é aconselhado a reincidência do
tratamento (LEVECKE et al.,2015).
72
Capítulo 08
Parasitologia Humana e Veterinária
73
Capítulo 09
Parasitologia Humana e Veterinária
CAPÍTULO 09
DIVERSIDADE DE
FLEBOTOMÍNEOS
ASSOCIADOS À Leishmania
spp.: REVISÃO DE FATORES
NO NORDESTE BRASILEIRO
Raiza Raianne Luz Rodrigues¹
Vanessa Maria Rodrigues De Souza²
Janyere Alexandrino De Sousa³
Ana Clara Silva Sales¹
Jhoana D’arc Lopes De Sousa4
Vanessa Galeno De Sousa³
Ayslan Batista Barros¹
Loredana Nilkenes Gomes Da Costa5
Klinger Antonio Da Franca Rodrigues6
Thiago Nobre Gomes7
74
Palavras-chave: Leishmania; Flebotomíneos; Brasil.
Capítulo 09
Parasitologia Humana e Veterinária
76
Capítulo 09
Parasitologia Humana e Veterinária
sistema fagocítico mononuclear (SFM) dos Organização Mundial da Saúde (OMS) tratou
hospedeiros vertebrados, chegando a de considerá-las como agravos prioritários
manifestar-se de duas maneiras; através de dentre as doenças tropicais negligenciadas
lesões tegumentares ou cutâneas (LTA), e (GONTIJO; MELO, 2004).
como uma doença sistêmica, afetando diversos Ainda que não sejam patologias
órgãos como fígado, baço e medula óssea priorizadas pelos serviços público e privado de
(LVA) (NOBRES; SOUZA; RODRIGUES, saúde, as leishmanioses têm se propagado de
2013). maneira assustadora desde o seu surgimento
O primeiro caso de LVA a nível nacional nas Américas, categorizando-se como proble-
foi relatado na região Nordeste, com a ma de saúde pública mundial e brasileiro. As
primeira epidemia desta doença sendo formas amastigotas das Leishmanias são
observada no Estado do Piauí entre os anos de responsáveis pelos casos causados por esses
1981 e 1982, acarretando na sua disseminação protozoários, possuem tropismo por células do
para outras cidades da localidade. A sistema fagocítico mononuclear (SFM) dos
propagação dos casos de leishmanioses se dá hospedeiros vertebrados, chegando a
principalmente como consequência de interfe- manifestar-se de duas maneiras; através de
rências antropológicas nos ecossistemas, lesões tegumentares ou cutâneas (LTA), e
atingindo especialmente as áreas com como uma doença sistêmica, afetando diversos
desigualdades socioeconômicas, na qual está órgãos como fígado, baço e medula óssea
incluída a região Nordeste do Brasil. As (LVA) (NOBRES; SOUZA; RODRIGUES,
mudanças ecoepidemiológicas e a intensiva 2013).
corrente migratória associada a uma escassa Segundo dados da OMS, as leishmanioses
estrutura sanitária serviram de sítio para a são causadas por mais de 20 espécies de
urbanização do vetor e desenvolvimento destas agentes etiológicos pertencentes ao gênero
patologias (GONTIJO; MELO, 2004; Leishmania. Contudo, no território brasileiro,
MARTINS; LIMA, 2013). apenas sete espécies de Leishmania são
A literatura aponta que os casos de LTA e causadoras de LTA em seres humanos:
LVA em algumas áreas geográficas dependem Leishmania (Leishmania) amazonensis, L.
da suscetibilidade ao parasito, tanto por parte (Viannia) braziliensis, L. (Viannia) guyanensis, L.
dos hospedeiros intermediários (vetores (Viannia) naiffi, L. (Viannia) shawi, L. (Viannia)
flebotomíneos), assim como também por parte lainsonie L. (Viannia) lindenberg (CARVALHO
dos hospedeiros definitivos/reservatórios (animais et al., 2018). Já nos casos de LV, os parasitos do
vertebrados). Com o passar do tempo houve o complexo L. donovani são os responsáveis pela
crescimento da zona de abrangência destas disseminação da doença em humanos, sendo a
patologias, que anteriormente eram restritas às Leishmania (Leishmania) chagasi o principal
áreas rurais do Nordeste brasileiro, e que se agente etiológico a nível nacional (CAMPOS
estenderam para as regiões de periferia de et al., 2013).
gigantes centros urbanos. Com isso, a
77
Capítulo 09
Parasitologia Humana e Veterinária
Tabela 9.1 Diversidade de espécies de vetores flebotomíneos e espécies de Leishmania spp. presentes no Nordeste brasileiro, e sua relação com fatores socioambientais observados
Referências Estado Condições Climáticas Vegetação Espécies de vetores encontrados (fêmeas) Espécies de Leishmania spp. encontradas
Bichromomyia flaviscutellata; Evandromyia
evandroi; E. lenti; E. termitofila; Lutzomyia
longipalpis; Migonemyia migonei; Nyssomyia
FREITAS et al. Clima tropical, com estação Caatinga; intermedia; N. whitmani; Psathyromyia
AL Leishmania spp.
(2007) úmida e seca Mata atlântica brasiliensis; Micropygomyia quinquefer;
Pintomyia fischeri; Psychodopygus ayrozai;
P. carreirai
Mata Atlântica;
PEREIRA; Caatinga;
BA Clima tropical e semiárido L. whitmani; L. intermedia Leishmania spp.
HOCH (1990) Cerrado
BRAZIL;
MORTON; Leishmania spp; L. brasiliensis; L.evandroi;
CE Clima tropical e semiárido Caatinga L. whitmani; L. longipalpis
WARD, 1991 L.migonei; L.lenti
ANDRADE
FILHO;
GALATI; PB * * N. intermedia; N.neivai Leishmania spp.
FALCÃO (2004)
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Capítulo 09
Parasitologia Humana e Veterinária
Tabela 9.1 (Continuação) Diversidade de espécies de vetores flebotomíneos e espécies de Leishmania spp. presentes no Nordeste brasileiro, e sua relação com fatores
socioambientais observados
Referências Estado Condições Climáticas Vegetação Espécies de vetores encontrados (fêmeas) Espécies de Leishmania spp. encontradas
Lutzomyia choti; L. lenti; L. longipalpis; L.
AGRA et al.
Clima tropical Caatinga; whitmani; L. sordellii; L. evandroi; L.
(2016); SILVA et PE Leishmaniaspp; L.infantum
(Semi-árido) Mata atlântica capixaba; L. migonei; L. sallesi; L.
al. (2017)
longispina; Lutzomyia spp.
SOARES et al.
(2010); COSTA;
PEREIRA; Clima tropical subúmido Caatinga,
ARAÚJO (1990); PI quente; Cerrado e Mata L. longipalpis; L. whitmani
Leishmania spp.; L. chagasi; L. infantum
DUTRA E Clima semi-árido Atlântica
SILVA et al.
(2007)
AMÓRA et al.
(2010); CORTEZ
Mata Atlântica;
et al. (2007);
Clima semi-árido quente, Cerrado; Floresta L.longipalpis; L. intermedia;
PINHEIRO et al. RN L. braziliensis; L.chagasi
Clima de savana tropical tropical; L. migonei; L. evandroi; L. lenti
(2016);
Caatinga
XIMENES et al.
(2000)
CAMPOS et al.
(2017); Floresta tropical;
SE Clima tropical Atlântico L.longipalpis;N.intermedia;E. lenti Leishmania spp; L. chagasi
JERALDO et al. Mata Atlântica
(2012)
79
Capítulo 09
Parasitologia Humana e Veterinária
Figura 9.1 Espécies de vetores fleboto-míneos 2010). Por exemplo, ocorre um demasiado
encontradas nos estados da região Nordeste do aumento de flebotomíneos nos meses de
Brasil fevereiro, outubro e dezembro, particularmente
em áreas florestais. Os meses considerados
com maior umidade e pluviosidade ajudam na
manutenção da vida dos flebotomíneos
(SILVA et al., 2008).
Somente as fêmeas destes vetores são
hematófagas e necessitam de uma dieta
sanguínea que auxilia na maturação ovariana,
sendo necessárias para conduzir à manutenção
do seu ciclo vital (PINHEIRO et al., 2013).
Porém, tanto os machos quanto às fêmeas têm
predileção por fontes de carboidratos para sua
alimentação, oriundas principalmente da
Figura 9.2 Espécies de Leishmania spp. vegetação nativa. Condições climáticas como
encontradas nos estados da região Nordeste do estações secas e temperaturas mais elevadas
Brasil acabam afetando a disponibilidade destes
recursos alimentares para ambos os insetos
adultos (SILVA et al., 2008).
Pelo fato destes açúcares serem fontes
nutricionais imprescindíveis para as atividades
biológicas dos flebotomíneos, a escassez de
certos tipos de plantas na vegetação da região
também intimida a sobrevivência e multipli-
cação de Leishmania spp. dentro do trato
digestivo das fêmeas dos insetos. Conside-
rando que os parasitos carecem de alguma
variedade de açúcar para continuar o seu
desenvolvimento no interior das mesmas, a
Os flebotomíneos se encontram presentes falta deste nutriente pode inviabilizar a
em todas as regiões do globo terrestre, sendo transmissão dos protozoários para hospedeiros
mais abundantes nas Regiões Neotropicais do suscetíveis (SILVA et al., 2008).
planeta. Todavia, conforme as áreas A diversidade da microbiota intestinal dos
geográficas, os aspectos característicos de cada flebotomíneos é um aspecto que causa uma
uma delas (como por exemplo, os tipos de provável influência na competência vetorial
solo, fatores topográficos e condições dos mesmos, por serem transmissores das
climáticas) influenciam diretamente na leishmanioses. Verificou-se que espécies
distribuição das espécies de vetores encontra- bacterianas provenientes da microbiota dos
das, e consequentemente, nas espécies de insetos podem gerar seletividade na relação
Leishmania veiculadas pelos mesmos e parasito-vetor. A microbiota de cada uma das
circulantes naquela região (SOARES et al., espécies de flebotomíneos possui microrga-
80
Capítulo 09
Parasitologia Humana e Veterinária
nismos específicos, que acarreta ou não na lise domésticos de forma acidental nos ambientes
dos protozoários do gênero Leishmania spp. urbanos. Conforme os relatos observados
(BASTOS, 2014). (NEVES et al., 2016), 147 espécies (56%)
Os fatores ambientais são aspectos foram classificadas como silvestres. Enquanto
relevantes na modulação da diversidade de isso, as espécies consideradas semi-domésticas
flebotomíneos, influenciando diretamente na (20%) não vivem no interior das áreas
extensão geográfica e transmissão das espécies residenciais, todavia agregam ao ambiente
de Leishmania envolvidas com os casos de para a realização do repasto sanguíneo. Já as
Leishmanioses no Brasil e no mundo. Mas espécies classificadas como domésticas (24%)
além disso, a associação com fatores acabam por realizar interações com o homem e
antropológicos (como por exemplo as alguns possíveis animais reservatórios para a
atividades de desmatamento dos ambientes doença.
florestais/silvestres) também contribui para a Segundo Campolina (2017), no estado de
migração destes insetos para as zonas urbanas Pernambuco foram encontradas dez espécies
ou periurbanas, acarretando em sua adaptação de flebótomos, na sua maioria em áreas
a estes novos ambientes. Por conta disso, peridomésticas, onde o Lutzomyia choti
espécies de vetores consideradas anteriormente correspondeu a 88,2% destas. No referido
silvestres (presentes apenas em regiões estudo, o mês com maior número de espécies
distantes do contato humano) acabaram se coletadas foi correspondente àquele com
adequando ao ambiente domiciliar e maiores valores de umidade relativa e
peridomiciliar (SILVA et al., 2008). precipitação pluviométrica. Esses fatores
Conforme os dados apresentados na favorecem o crescimento da vegetação e o
Tabela 9.1, os Estados de Alagoas e acúmulo de matéria orgânica no solo,
Pernambuco apresentaram a maior diversidade viabilizando a reprodução dos insetos vetores
de espécies de vetores flebotomíneos, quando no ambiente. No estado da Bahia, a espécie
comparados aos demais Estados da região Lutzomia whitmani correspondeu a 99% dos
Nordeste do Brasil. Possuindo uma zona rural flebótomos capturados nas proximidades
formada por fragmentos de floresta tropical, o residenciais, levando a acreditar que a
clima de Pernambuco acaba sendo quente e transmissão de Leishmania (Viannia)
úmido, com períodos chuvosos que variam do braziliensis seja prevalente nesta área, pelo
outono ao inverno (entre os meses de março a fato da mesma possuir tropismo por este vetor
setembro). Desta forma, pode-se considerar (PEREIRA; HOCH, 1990).
que as condições climáticas e de vegetação Por sua vez, Shimabukuro e Galati (2011)
podem ser mais propícias ao desenvolvimento pontuaram que as epidemias vetorianas
dos insetos. ocasionadas pelos flebotomíneos, como por
De acordo com a literatura, o exemplo as leishmanioses, encontram-se
deslocamento do hábitat do vetor é uma prontamente ligadas a atividades antrópicas
realidade e está acontecendo de maneira rápida relacionadas à expansão urbana. Muitas destas
e desenfreada com o passar dos anos. Espécies envolvem a introdução (acidental ou
que antigamente habitavam de forma exclusiva planejada) do homem em regiões onde os
somente áreas florestais começaram a se flebotomíneos normalmente habitam. Tais
associar aos seres humanos e animais atividades acarretam na expansão da
81
Capítulo 09
Parasitologia Humana e Veterinária
82
Capítulo 09
Parasitologia Humana e Veterinária
83
Capítulo 09
Parasitologia Humana e Veterinária
PEREIRA, I. R.; HOCH, A. Lutzomia intermedia as a SILVA, A. M.; et al. Diversidade, Distribuição e
suspected vector of Leishmania Viannia braziliensis in Abundância de Flebotomíneos (Diptera: Psychodidae)
Bahia state, Brazil. Revista da Sociedade Brasileira de no Paraná. Neotropical Entomology, v. 37, n. 2, p. 209-
Medicina Tropical, v. 23, n. 4, p. 235-235, 1990. 225, 2008.
PINHEIRO, M. P. G.; et al. Anthropophily of SILVA, V. G.; et al. Studies on the phlebotomine
Lutzomyia wellcomei (Diptera: Psychodidae) in an sandflies fauna (Diptera: Psychodidae: Phlebotominae)
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estado de São Paulo, Brasil, com comentários sobre sua Phlebotomine Sand Flies (Diptera: Psychodidae) in the
distribuição geográfica. Biota Neotroprica, v. 11, n. 1, p. State of Rio Grande do Norte, Brazil. Journal of
685-704, 2011. Medical Entomology, v. 37, n. 1, p. 162-169, 2000.
84
Capítulo 09
Parasitologia Humana e Veterinária
CAPÍTULO 10
LEISHMANIOSE CUTÂNEA
(LC): UMA ATUALIZAÇÃO
ACERCA DO TRATAMENTO
E PROGNÓSTICO DA
DOENÇA
teste diagnóstico padrão ouro (ARONSON & atendimento primário, secundário ou terciário
CHRISTIE, 2019). É importante ressaltar que (BRASIL, 2017). O objetivo da revisão foi
as espécies mais frequentes variam de acordo identificar as terapêuticas disponíveis para a
com as regiões, sendo necessário abordar na LC e o potencial prognóstico.
anamnese o histórco de viagens e local de
origem do paciente, o que possibilita um MÉTODO
melhor tratamento (ARONSON & CHRISTIE,
2019). Trata-se de uma revisão integrativa
Dessa forma, a decisão sobre o qual realizada no período de março e abril de 2021,
método de tratamento será usado deve por meio de pesquisas nas bases de dados
considerar: eficácia, toxicidade, custos e PubMed. A estratégia de seleção utilizada
esquema do tratamento (PINART et al., 2020); consistiu em buscar os descritores: leishma-
a espécie infectante e local de infecção; niasis cutaneous e therapeutics.
susceptilidade a drogas observadas regional- Os critérios de inclusão foram: artigos que
mente; estado imunológico do paciente, abordavam o tratamento de leishmaniose
presença de comorbidades e, se mulher, cutânea. Os critérios de exclusão foram:
gestação, desejo de engravidar e/ou amamentar artigos que abordavam apenas a cicatrização
(ARONSON & CHRISTIE, 2019). das lesões, relatos de caso, artigos publicados
O conhecimento da espécie infectante tem antes do ano de 2018 e artigos não encontrados
se demonstrado muito importante para o gratuitamente na íntegra. Foi feita a triagem
tratamento, pois permite uma melhor dos artigos, sendo selecionados 101 pelo título,
estimativa do risco de LV, de tempo para a 47 pela leitura do resumo e, por fim, 33 pela
cura e de resposta esperada para as leitura do artigo completo. Também foi incluí-
modalidades terapêuticas (ARONSON & do, manualmente, 1 manual do Ministério da
CHRISTIE, 2019). Geralmente, quando LCD Saúde de 2017, totalizando 34 referências.
ou LD, as lesões são graves, mutilantes e com
má resposta terapêutica (ULIANA et al.,
RESULTADOS E DISCUSSÃO
2018). Já a LCL frequentemente é auto-
curativa de cicatrização lenta (ULIANA et al.,
2018). Ainda assim, o tratamento deve ser Tipos de leishmaniose tegumentar e suas
considerado para a LCL, principalmente particularidades
quando: as lesões causam angústia para o No Brasil, a LC é causada, principalmente,
indivíduo; as lesões são complexas; e se há por três espécies principais: Leishmania
risco de LM (ARONSON & CHRISTIE, (Viannia) braziliensis, Leishmania (Viannia)
2019). guyanensis e Leishmania (Leishmania) amazo-
Em suma, para iniciar o tratamento da LC nensis (GONÇALVES & COSTA, 2018). A
deve-se ter o diagnóstico clínico-laboratorial e, primeira espécie citada é responsável pela
se indisponível, o clinico-epidemiológico maioria dos casos, dando origem a principal
(BRASIL, 2017). O tratamento deve envolver forma clínica da LC no Brasil: LC localizada
diversos profissionais da saúde, sendo avaliado (GONÇALVES & COSTA, 2018).
possíveis contraindicações e sendo realizada Tendo como base o Manual de Vigilância
monitorização de efeitos adversos, seja o da Leishmaniose Tegumentar do MS, os tipos
87
Capítulo 10
Parasitologia Humana e Veterinária
al., 2019). Evidências também apontam para VARGAS et al., 2019; MOKNI, 2019;
um possível aumento da atividade fagocítica DAVID, 2018). Ademais, a medicação é
de monócitos e neutrófilos, que constituem a contraindicada para idosos, pacientes com
primeira linha de defesa contra o parasita comorbidades, doenças crônicas graves, coin-
(CARVALHO et al., 2019). fecções diferentes de hiperssensibilidade ao
Assim, preconiza-se nacionalmente a medicamento e gestantes, pois a medicação
dosagem 10 a 20 mg/kg/dia, administrados de atravessa a barreira transplacentária podendo
forma intravenosa (IV) ou intramuscular (IM), ocasionar efeitos teratogênicos (GONÇALVES
durante 20 dias para o tratamento das formas & COSTA, 2018; CARVALHO et al., 2019;
cutâneas (GONÇALVES & COSTA, 2018; BRASIL, 2017; ULIANA et al., 2018).
CARVALHO et al., 2019; BRASIL, 2017; Além disso, a eficácia do tratamento
MACHADO et al., 2019; BERBERT et al., constitui um fator preocupante, tendo em vista
2018; FRANCESCONI et al., 2018; MOKNI, a variação da resposta à medicação dependente
2019; CHAKRAVARTY & SUNDAR, 2019; da região e do agente etiológico da doença
DAVID, 2018). Caso não haja cura completa (CHAKRAVARTY & SUNDAR, 2019).
três meses após o tratamento, deve-se repetir o Ademais, há diversos fatores que dificultam o
esquema por 30 dias e, se ainda assim não tratamento, como: toxicidade; necessidade de
houver resposta, deve-se usar um exames laboratoriais para monitoramento;
medicamento de segunda linha (GONÇAL- difícil administração; longo tempo de trata-
VES & COSTA, 2018; MOKNI, 2019). mento; baixa adesão; alto custo; eficácia
Contudo, mesmo representando o reduzida ao longo do tempo (GONÇALVES &
tratamento de primeira linha em muitos países, COSTA, 2018); e o surgimento de cepas
tais medicamentos apresentam diversos efeitos resistentes aos antimoniais (SURUR et al.,
colaterais, incluindo: artralgia, mialgia, 2020; SOMARATNE et al., 2019; ZABOLI-
anorexia, náusea, vômito, plenitude pós- NEJAD et al., 2020). Sendo assim, seu uso
prandial, epigastralgia, azia, dor abdominal, deve ser restrito àquelas situações em que o
prurido, febre, fraqueza, cefaleia, bem como tratamento sistêmico é estritamente necessário
tontura, insônia, palpitações e edema (GONÇALVES & COSTA, 2018). Todos
(GONÇALVES & COSTA, 2018; IRAN- esses fatores aumentam o impacto da doença,
POUR et al., 2019; CARVALHO et al., 2019; com importantes repercussões socioeconômi-
BRASIL, 2017; MACHADO et al., 2019; cas em uma população de baixa renda e
CHAKRAVARTY & SUNDAR, 2019; poucos recursos (MACHADO et al., 2019).
DAVID, 2018). Ademais, são efeitos mais
graves: hepatite; insuficiência renal (IR); Medicamentos de segunda escolha
pancreatite; alterações do eletrocardiograma A anfotericina B (AB), a miltefosina (MT),
dose-dependentes, como alteração da repolari- a pentamidina e o fluconazol têm sido usados
zação ventricular com inversão de ST, prolon- como drogas de segunda escolha, principal-
gamento do intervalo QT, alterações isquêmi- mente quando os antimoniais não estão
cas e bigeminia polimórfica ou polifocal disponíveis ou foram ineficazes (BERBET et
(GONÇALVES & COSTA, 2018; IRAN- al., 2018, PINART et al., 2020, 2009; SURUR
POUR et al., 2019; CARVALHO et al., 2019; et al.2020; GUERVENO et al., 2019; ARON-
BRASIL, 2017; MACHADO et al., 2019; SON & CHRISTIE, 2019). Entretanto, estes
89
Capítulo 10
Parasitologia Humana e Veterinária
mg/kg, dependendo da resposta clínica alternativa para crianças que não respondem
(BRASIL, 2017). Há indicação do uso para bem aos tratamentos convencionais, mas,
LCD em pacientes maiores de 50 anos, com infelizmente, possui alto custo (CARVALHO,
IR, insuficiência cardíaca (IC), insuficiência 2019). A dose recomendada pela OMS para
hepática (IH), transplantados renais, gestantes LC causada por L. mexicana, L. guyanensis e
e nos casos graves ou com mais de 20 lesões L. panamensis é de 2,5mg/kg/dia por 28 dias
(BRASIL, 2017). A dose recomendada é 2-3 (MOKNI, 2019, CHAKRAVARTY &
mg/kg/dia IV em dose única até atingir a dose SUNDAR, 2019; MACHADO, 2019;
total de 35 a 40 mg/kg (BRASIL, 2017). PIJPERS et al., 2019; SURUR et al., 2020),
Ademais, quando LC por L. guyanensis, L. sendo a eficácia variante de acordo com a
braziliensis, L. infantum ou L. aethiopica o espécie infectante e região geográfica
tratamento com AB lipossomal apresenta (MACHADO, 2019, SILVA et al, 2018).
menor toxicidade, duração de tratamento e A pentamidina pode ser usada em duas ou
maior taxa de cura (80-90%) (MACHADO et três injeções IM na dose de 4mg/kg por 4 a 6
al., 2019). dias (MOKNI, 2019; PINART et al., 2020) ou
A miltefosina foi feita para utilização por por via IV (BRASIL, 2017). As reações
via oral (VO), sendo a primeira medicação oral adversas mais frequentes quando uso IM são:
para leishmaniose (MOKNI, 2019, CHAKRA- dor, induração e abscessos estéreis, podendo
VARTY & SUNDAR, 2019; MACHADO, ocorrer náuseas, vômitos, tontura, adinamia,
2019; PIJPERS et al., 2019; SURUR et al., mialgias, cefaleia, hipotensão, lipotímias, síncope,
2020). Como efeitos colaterais frequentes hipoglicemia e hiperglicemia (BRASIL, 2017).
temos anorexia, náuseas, vômitos e diarreia e, Como reações adversas graves relacionadas a via
raramente, há efeitos graves que, se presentes, IM, temos: pancreatite, arritmias cardíacas,
demandam interrupção do tratamento, como: leucopenia, trombocitopenia, insuficiência
erupção cutânea, hepatite tóxica ou IR renal aguda, hipocalcemia e taquicardia
(MOKNI, 2019, CHAKRAVARTY & SUN- ventricular e choque anafilático (BRASIL,
DAR, 2019; MACHADO, 2019; PIJPERS et 2017).
al., 2019; SURUR et al., 2020). Portanto, por A eficácia e toxicidade da pentamidina são
ser potencialmente teratogênica ela é similares às dos antimoniais (BRASIL, 2017),
contraindicada para grávidas, sendo obrigatório o entretanto, ela é usada especialmente quando
controle de natalidade durante o tratamento e 3 infecção por L. guyanenesis e L. panamensis
meses após o fim dele (MOKNI, 2019, (MOKNI, 2019). Preferencialmente, os
CHAKRAVARTY & SUNDAR, 2019; MA- antimoniais são utilizados devido ao alto custo
CHADO, 2019; PIJPERS et al., 2019; SURUR (PINART et al., 2020) e frequentemente
et al., 2020). associação a rabdomiólise e diabetes transi-
A MT, indisponível no Brasil, tem tória da pentamidina (MOKNI, 2019).
demonstrado boa eficácia e segurança para LC Dessa forma, a pentamidina é contrain-
por L. braziliensis (75% de cura) e L. dicada para gestantes, lactantes, menores de 1
guyanensis (71% de cura), sendo essas as ano, intolerantes à glicose, pacientes com IR,
espécies com maior prevalência no país IH, doenças cardíacas ou hipersensibilidade
(MACHADO, 2019). Sendo assim, é uma aos componente dessa droga (BRASIL, 2017).
91
Capítulo 10
Parasitologia Humana e Veterinária
de estudos que utilizaram DP de prata para evidências que elucidam o uso do mel
tratar LC e aos vários fatores que podem (BERBERT et al., 2018). Além disso, há
influenciar sua eficácia (BERBERT et al., estudos que apontam que o mel pode retardar o
2018). tempo de cicatrização em alguns tipos de
Em relação a vacinação, a LEISH-F1 + feridas, como a LC (BERBERT et al., 2018).
MPL-SE foi a primeira vacina candidata a Vários são os fatores relacionados ao mel que
entrar em ensaios clínicos, sendo composto devem ser levados em consideração, como o
pela proteína de fusão recombinante Leish- tipo e a composição do mel, bem como a
111F e um adjuvante em emulsão óleo-água melhor forma de aplicação, de forma que ele
(monofosforil lipídeo A-MPL) (BERBERT et merece ser melhor avaliado para ser
al., 2018). Foi demonstrado que a Leish-F1 + combinado com antimoniais pentavalentes no
MPL-SE era segura, imunogénica e eficaz em tratamento da LC (BERBERT et al., 2018).
induzir a produção de anticorpos IgG e outras
citoquinas em humanos e ratos (BERBERT et Outras terapias locais
al., 2018). Além disso, a vacina foi testada em A crioterapia envolve a aplicação de
combinação com antimoniais pentavalentes e nitrogênio líquido a cada 3 a 7 dias por uma a
foi visto que a associação pode ser útil para cinco sessões (MOKNI, 2019), sendo a
tratar LC, principalmente por ela aparentemente aplicação consistente em dois ciclos de 10-15
diminuir as recorrências da doença observadas segundos separados por um intervalo de 20
com antimônio pentavalente sozinho (BER- segundos (MOKNI, 2019). Com a aplicação
BERT et al., 2018). Os riscos relacionados ao do nitrogênio há formação de gelo intracelular,
seu uso são aceitáveis, portanto necessita ser causando à destruição das células e,
melhor explorado (BERBERT et al., 2018). consequentemente, necrose isquêmica locali-
O mel era usado, há muitos anos, para zada (VARGAS et al., 2019). Foi observado
tratar diversos tipos de lesões, mas não há que, na Bolívia, a crioterapia para lesão única
consenso sobre sua eficácia na cicatrização de por infecção por L. braziliensis teve uma taxa
lesões e há poucos dados sobre o uso deste na de cura de apenas 20% (VARGAS et al.,
LC (BERBERT et al., 2018). Está bem 2019) e associação a eritema, edema local,
estabelecido que o mel possui ação hipo ou hiperpigmentação e ardor e infecções
antimicrobiana, podendo atuar nos tecidos, secundárias (VARGAS et al., 2019).
contribuindo para a sua reparação, e no O laser ablativo fracionário de CO2,
sistema imunológico, devido à ação pró- também chamado de Laser de CO2, foi
inflamatória e anti-inflamatória (BERBERT et reconhecido como um tratamento eficaz para
al., 2018). O Food and Drug Administration cicatrizes antes de serem usados para lesões
(FDA) já aprovou alguns produtos à base de LC (ARTZI et al., 2019). O laser é
mel com diferentes indicações clínicas, mas considerado eficaz para cicatrizes atróficas
alguns autores permanecem cautelosos quanto cutâneas decorrentes da LC (ARTZI et al.,
ao seu uso clínico para a cicatrização de lesões 2019) e atua por termólise específica do tecido
(BERBERT et al., 2018). Foi relatado que o infectado, com efeitos colaterais menores no
mel parece ser benéfico para cicatrização de tecido normal (VARGAS et al., 2019). Os
feridas em alguns tipos de lesões, mas não há efeitos adversos mais comumente observados
95
Capítulo 10
Parasitologia Humana e Veterinária
98
Capítulo 10
Parasitologia Humana e Veterinária
99
Capítulo 10
Parasitologia Humana e Veterinária
leishmaniasis patients: a randomised trial. Tropical SOMARATNE, V.N. et al. Randomized, double-blind
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MOKNI, M. Leishmanioses cutanées. In: Annales de cutaneous leishmaniasis. Journal of Dermatological
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literature. Lasers in Medical Science, p. 1-7, 2020.
100
Capítulo 11
Parasitologia Humana e Veterinária
CAPÍTULO 11
USO DE FITOTERÁPICOS
NO TRATAMENTO DA
LEISHMANIOSE CUTÂNEA:
UMA REVISÃO
BIBLIOGRÁFICA
102
Capítulo 11
Parasitologia Humana e Veterinária
aumentos leves a moderados das enzimas buscas em livros didáticos nos últimos 20
pancreáticas e hepáticas (LYRA, 2013). anos. Foram utilizadas as bases de dados:
Assim, esses efeitos adversos, o custo e o Scientific Eletronic Library OnLine (SciELO),
surgimento de cepas resistentes, induz a BMC Complementary Medicine and Terapies,
descontinuidade de tratamento e a busca por Journal of Tropical Pathology, Internet
métodos alternativos de tratamento (HELL- Scientific Publications, Revista Cereus, Arca
MANN et al., 2018). Fio Cruz, Revista Unipar, Repositório
Diante deste cenário aumentou-se o institucional UNIFESP, entre outros. Estes
interesse por estudos de plantas medicinais, foram previamente consultados em português
visando a obtenção de novos compostos com por meio dos descritores “plantas medicinais”,
propriedades terapêuticas para o tratamento da leishmaniose, extrato de plantas, cutânea e
leishmaniose cutânea. Esses novos compostos seus correspondentes em inglês (Tabela 11.1).
podem ser achados na medicina popular, uma
vez que a fitoterapia é amplamente distribuída Tabela 11.1 Critérios de inclusão e exclusão adotados
e utilizada por muitos, como uma prática na revisão
103
Capítulo 11
Parasitologia Humana e Veterinária
Tabela 11.2 Espécies de plantas escolhidas que demonstram efetividade no tratamento da leishmaniose cutânea
Estimulação da
Folha-da-fortuna, produção de
Kalonchoe coirama, roda-da- Glicosídeo L. amazonenses NO pelo (MUZITANO
Folhas
pinnata fortuna, erva-da- quercetina (amastigota) macrófago, et al., 2006)
costa causando morte
do parasita
Inibição da
L. donovani enzima HMGR
Glycyrrhiza Ácido (DINESH et
Alcaçuz Folhas (amastigota e e depleção dos
glabra glicirrízido al., 2017)
promastigota) níveis de
ergosterol
L. amazonenses,
L. brasiliensis,
Casearia L. chagasi e L.
sylvestris Guaçatonga, erva-de- Extrato major (ANTINARELI
Folhas N.A.
bugre metanólico (promastigota); et al., 2015)
swartz L. amazonenses
(promastigota e
amastigota)
Babosa, Aloé, Aloé
candelabro, Aloé do
Aloe vera natal, Babosa de
Extrato L. donovani, L. (MANS et al.,
(L) Burm. arbusto, Caraguatá, Folhas N.A.
metanólico amazonenses 2016)
F. Caraguatá de jardim,
Erva babosa, Erva de
azebra
N.A.: não se aplica.
105
Capítulo 11
Parasitologia Humana e Veterinária
Figura 11.3 Folhas de Glycyrrhiza glabra Figura 11.4 Fórmula estrutural do ácido
glicirrízico
à lise e posteriormente a morte celular Figura 11.6. Fórmula estrutural dos principais
(MENEGUETTI et al., 2015). compostos da Casearia sylvestris swartz: 1- E-
Outrossim, verificou-se que o extrato dessa caryophyllene; 2- germacrene D; 3-
espécie proporcionou atividade contra as bicyclogermacrene; 4- δ-cadinene
formas promastigotas de Leishmania (L.
amazonenses, L. brasiliensis, L. chagasi e L.
major), nos seguintes valores de CI50: 5,4
μg/mL, 5,0 μg/mL, 8,5 μg/mL e 7,7 μg/mL.
Com isso, os pesquisadores afirmam que a
atividade leishmanicida do extrato metanólico
de C. sylvestris é mais eficaz do que o fármaco Fonte: (MOREIRA et al., 2019).
de referência miltefosina (SILVA, 2016).
Um estudo feito por Dutta et al. (2007)
Figura 11.5 Folhas da Casearia sylvestris demonstrou que concentrações de 93 µg / ml e
swartz 75 µg / ml de extrato metanólico de Aloe vera
foram capazes de matar 50% dos parasitas
Leishmania donovani cultivados em cultura,
em 48 e 96 horas respectivamente.
107
Capítulo 11
Parasitologia Humana e Veterinária
109
Capítulo 11
Parasitologia Humana e Veterinária
110
Capítulo 12
Parasitologia Humana e Veterinária
CAPÍTULO 12
POTENCIAL
TERAPEUTICO DOS
ÓLEOS ESSENCIAIS
CONTRA
LEISHMANIOSES
Sandra Alves De Araujo¹
Leonardo Costa Rocha2
Emilly De Souza Moraes2
Suelem Maria Araújo Pereira2
Wendel Fragoso De Freitas Moreira3
Ailésio Rocha Mendonça Filho3
Allana Freitas Barros4
112
Capítulo 12
Parasitologia Humana e Veterinária
clínica dos pacientes, eles não produzem a Propriedades leishmanicidas dos óleos
eliminação completa do parasito. Além disso, essenciais
após o uso contínuo desses medicamentos, O uso de produtos naturais tem
alguns problemas graves vêm surgindo, apresentado eficácia no tratamento de diversas
principalmente toxicidade, aparecimento de doenças (JOSHI et al., 2020). A fitoterapia é
efeitos colaterais diversos, diminuição da taxa uma prática medicinal com base no uso de
de eficácia e aumento da resistência aos plantas utilizada desde a antiguidade. No
parasitos (IQBAL et al., 2016; ALVAR & Brasil, anualmente, aproximadamente doze mil
ARANA, 2019). pessoas são beneficiadas com o uso de
O surgimento da fitoterapia tem sido medicamentos fitoterápicos (BRASIL, 2017).
apontada como alternativa terapêutica promis- Estes produtos são considerados seguros para a
sora no tratamento de inúmeras doenças. Neste saúde quando utilizados corretamente, além
sentido, este trabalho tem como objetivo reali- disso, possuem baixa toxicidade, facilmente
zar uma breve discussão sobre as propriedades aceitáveis pela sociedade no mundo todo e de
terapêuticas de produtos naturais, especial- baixo custo (SANTOS et al., 2011).
mente os óleos essenciais como alternativa Óleos essenciais (OE) são misturas
para o controle das leishmanioses. aromáticas complexas de caráter hidrofóbico
presentes em diversas partes dos vegetais e sua
MÉTODOS utilização concentra-se principalmente em
produtos alimentícios e cosméticos, no
Nesta revisão integrativa, as buscas dos entanto, o uso de OE na medicina tradicional
artigos foram utilizados os seguintes também já vem sendo relatada e os resultados
descritores: óleo essencial, fitoquímicos, leish- são extremamente satisfatórios contra diferen-
maniose e Leishmania spp. utilizando como tes espécies de Leishmania (Tabela 12.1). Os
base de dados o PubMed/Medline e Google compostos fitoquímicos, assim como os OE,
acadêmico, sendo incluídos todos os artigos também têm se mostrado promissores no
originais, In Vivo e In Vitro, escritos na língua tratamento das leishmanioses (FARIAS-
inglesa e publicados de 2011 a 2021. JUNIOR et al., 2012; DEMARCHI et al.,
2015).
O mecanismo de ação dos OE sobre o
RESULTADOS E DISCUSSÕES parasito causador da leishmaniose ainda não
está bem elucidado, entretanto, alguns estudos
Nesta busca foram encontrados um total já sugerem como esses produtos podem estar
39 artigos, que após a aplicação de critérios de atuando. Da-Silva et al. (2018) ao avaliar a
inclusão restaram 16 trabalhos originais para atividade antileishmanial do OE de Ocimum
análise. Com base nos resultados desta revisão, canum em L. amazonensis observou através de
foram identificadas algumas espécies vegetais microscopia eletrônica de transmissão altera-
produtoras de óleo essencial com atividade ções ultraestruturais tais como, autofagosso-
anti-Leishmania. mo, corpos lipídicos, descontinuidade da
membrana do núcleo e atividade exocítica pela
bolsa flagelar. Adicionalmente, Mondêgo et al.
113
Capítulo 12
Parasitologia Humana e Veterinária
(2021) verificou o efeito antileishmanial do cos, nesse sentido, o sinergismo entre esses
OE de Vernonia brasiliana em associação com compostos pode ocorrer. Sinergismo é quando
a miltefosina e de forma semelhante, os o efeito combinado entre compostos presentes
resultados mostraram alterações ultraestru- é maior ou igual à soma dos efeitos individuais
turais em L. infantum, além de diminuição do e esse efeito vem sendo apontado como
potencial de membrana mitocondrial, potencializador da ação leishmanicida (BURT,
produção de espécies reativas de oxigênio e 2004). Embora as pesquisas apontem a
morte celular por apoptose. Além disso, a atividade anti-Leishmania dos OE, ainda é
natureza hidrofílica e lipofílica dos OE e de crucial que novos estudos busquem esclarecer
seus componentes, permitem interação com a como esses compostos possam estar atuando
membrana celular de alguns organismos, de forma isolada ou em associação, a fim de
destruindo-a integralmente e provocando a otimizar os possíveis tratamentos para a
morte (ZHANG et al., 2016). leishmaniose.
Os OE são substâncias que possuem uma
grande complexidade de constituintes quími-
114
Capítulo 12
Parasitologia Humana e Veterinária
115
Capítulo 12
Parasitologia Humana e Veterinária
116
Capítulo 12
Parasitologia Humana e Veterinária
RONDON, F. C. et al. In vitro efficacy of Coriandrum SHEIKH, SS.; Amir AA., Amir BA, Amir AA.
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2016.
117
Capítulo 12
Parasitologia Humana e Veterinária
CAPÍTULO 13
A INCIDÊNCIA DE
LEISHMANIOSE EM
FELINOS DOMÉSTICOS:
UMA REVISÃO DE
LITERATURA
Andressa Alencar Coelho1
Andressa Maria de Araújo Silva1
Débora de Andrade Amorim1
Wanesca Natália Santos Maciel1
Filipa Maria Soares de Sampaio2
Metton Ribeiro Lopes e Silva3
Cláudio Gleidiston Lima da Silva4
Maria do Socorro Vieira Gadelha4
118
Palavras-chave: Leishmaniose; Felinos; Infecção.
Capítulo 13
Parasitologia Humana e Veterinária
120
Capítulo 13
Parasitologia Humana e Veterinária
122
Capítulo 13
Parasitologia Humana e Veterinária
relataram infecção felina por Leishmania spp. leishmaniose. De maneira semelhante acontece
em 20,3% dos gatos de um território, em em humanos desnutridos e imunossuprimidos,
Portugal, endêmico de leishmaniose canina e que também estão mais suscetíveis às formas
indicaram que gatos saudáveis sem graves da doença, sendo os mais atingidos
quaisquer doenças imunossupressoras são aqueles com a Síndrome da Imunodeficiência
suscetíveis ao contágio pelo protozoário adquirida. Ademais, nos gatos, a idade é um
(FATOLLAHZADEH et al., 2016). fator predisponente para a enfermidade, pois
A infecção por L. infantum em felinos tem gatos mais velhos que três anos possuem
sido cada vez mais relatada nas mesmas áreas maior probabilidade de serem contaminados
onde a leishmaniose canina é endêmica. por Leishmania spp. (CAMPRIGHER et al.,
Embora a proporção de gatos contaminados 2019; SILVEIRA et al., 2015).
seja sempre menor do que a registrada em cães
que vivem em uma região endêmica, estudos Apresentação clínica
epidemiológicos recentes têm sugerido que a Os gatos infectados para Leishmania spp.
quantidade de casos de leishmaniose felina podem ser assintomáticos ou apresentar sinais
pode ser maior do que se pensa atualmente. clínicos inespecíficos comuns a várias doenças.
Apesar do crescente interesse em LF, poucas Os sintomas clínicos gerais, que parecem estar
informações estão disponíveis sobre caracterís- relacionados à leishmaniose disseminada,
ticas clínicas, manejo e tratamento de gatos incluem febre, letargia, anorexia, vômito, diarreia,
infectados. No Brasil, a L. infantum apresenta perda de peso, emagrecimento, desidratação,
ampla distribuição e é relatada em todo o poliúria, polidipsia, mucosa pálida, linfadeno-
território do país, tomando como exemplo megalia local ou generalizada, hepatomegalia
Teresina, capital do Piauí, cidade onde a esplenomegalia, distúrbios respiratórios, gengivo-
doença é endêmica. Neste local, é registrado estomatite. As alterações clínico-patológicas
que três gatos domésticos foram infectados incluem hiperproteinemia com hipergamaglo-
com L. infantum de 83 animais examinados bulinemia e hipoalbu-minemia associada a
(BRIANTI et al., 2019; BATISTA et al., uma relação albumina/globulina reduzida e
2020). anormalidades bioquímicas por exemplo,
Atualmente, a contaminação dos gatos por aumento de azotemia e enzimas hepáticas. A
leishmaniose tem sido notificada em países forma sistêmica da doença mostra envolvi-
onde a doença é registrada com grande mento do fígado, baço, linfonodos e rins (NOÉ
frequência especialmente em cães. Tendo em et al., 2015; GODOI et al., 2016; BRIANTI et
vista os fatos analisados, é importante al., 2019)
evidenciar que, apesar da leishmaniose ser Em estudo feito por Otranto et al. (2017)
uma zoonose de grande efeito na saúde reportaram que 41% dos felinos positivados
pública, o papel dos gatos como reservatórios para L. infantum apresentaram alguma doença
ainda não foi esclarecido, mesmo a infecção de pele (podendo ser escamas, crostas e
do parasito contaminado para vetor sendo alopecia). De fato, apresentações dermato-
confirmada por xenodiagnóstico. Além disso, lógicas, geralmente, expressam-se a partir de
gatos infectados com a virose da lesões cutâneas, incluindo dermatite ulcerativa,
imunodeficiência felina, também denominada crostosa, nodular ou escamosa. Os achados
de FIV, são mais propensos a desenvolver histopatológicos das lesões cutâneas
123
Capítulo 13
Parasitologia Humana e Veterinária
apresentam dermatite granulomatosa difusa exames sorológicos mais frequentes são o IFA
com macrófagos contendo muitas formas (ensaio de imunofluorescência indireta), o
amastigotas, ou perifoliculite granulomatosa e ELISA (ensaio imunoenzimático) e o DAT
reação do tecido liquenoide/dermatite de (teste de aglutinação direta) (RIVAS et al.,
interface, com menor carga parasitária. Nesse 2018).
contexto, podem ocorrer lesões nodulares e O ensaio de imunofluorescência indireta
ulcerativas no nariz, lábios, orelhas e (IFI) é um teste que detecta anticorpos
pálpebras, lesões generalizadas de dermatite, utilizando como antígenos parasitas intactos e,
alopecia e descamação. Essas lesões são da mesma forma que o ELISA, a quantificação
encontradas menos frequentemente no tronco e usando a quantidade de anticorpos ou
nas pernas e a cabeça é o local mais acometido, densidade óptica permite classificar os níveis
com lesões localizadas principalmente na face, de anticorpos contra antígenos de L. infantum.
nariz, mucosa nasal, lábios, pálpebras e orelhas É importante ainda acrescentar que o ensaio de
(AKHTARDANESH et al., 2018; GODOI et imunofluorescência indireta é considerado a
al., 2016; BRIANTI et al., 2019; NOÉ et al., técnica de referência pela OIE (Organização
2015). Mundial de Saúde Animal). O DAT possui
Em estudos feitos por Madruga et al., limitações como o longo período de incubação
(2018), foram relatadas anormalidades e necessidade de antígenos de alta qualidade e,
oftálmicas secundárias à contaminação por além disso, Fatollahzadeh et al (2016)
leishmaniose em aproximadamente um terço afirmaram que o teste precisa ser padronizado
dos gatos estudados. A uveíte unilateral ou para a determinação da infecção da Leishmaniose
bilateral é o achado oftálmico mais comum felina (OLIVEIRA et al., 2015; PERSICHETTI
nesses casos e geralmente exibe um padrão et al., 2017).
pseudotumoral granulomatoso que pode É válido ressaltar que, de acordo
progredir para panoftalmite. No entanto, na Asafaram, Fakhar e Teshnizi (2019), a reação
maioria dos gatos infectados por leishmaniose, em cadeia da polimerase (PCR) é considerada
os sinais clínicos foram correlacionados com mais precisa em relação a outros testes
outras causas, incluindo infecção retroviral diagnósticos, principalmente quando as
(FIV e FeLV), tratamento imunossupressor e amostras clínicas contêm uma baixa carga
doenças concomitantes debilitantes, como neopla- parasitária. Além de a PCR ser considerada um
sia maligna, diabetes mellitus, toxoplasmose e bom método diagnóstico, Brianti et al (2017)
hemobartonelose (MADRUGA et al., 2018). afirmaram em suas pesquisas que os métodos
com esfregaços conjuntivais foram avaliados
Diagnóstico como uma técnica sensível não invasiva para o
Os testes laboratoriais comumente usados diagnóstico molecular da contaminação por
para a análise da Leishmaniose são testes Leishmania, exibindo bons valores preditivos
sorológicos (IFA, ELISA, DAT, Western em animais doentes ou que apresentavam
Blot), testes moleculares como a reação em infecção ativa, e uma concordância significa-
cadeia polimerase - PCR e exames parasito- tiva entre testes moleculares e sorológicos
lógicos que realizam a visualização direta do (AKHTARDANESH et al., 2018).
parasita no aspirado do tecido, impressão e Em um trabalho realizado com 330 gatos,
cultura. Segundo Oliveira et al (2015), os 85 gatos testaram positivo para L. infantum,
124
Capítulo 13
Parasitologia Humana e Veterinária
tendo a maioria, dentre eles, mais de dois anos tratamentos com medicamentos e protocolos /
(n = 48/85, 56,5%), dos quais 32 (66,6%) dosagens prescritas para cães. Em estudos,
apresentaram títulos RIFI de 1:40, seguidos administração oral de longo prazo de
por 16 gatos (33,3%) com títulos variando de alopurinol é o recurso terapêutico usado com
1:80 a 1: 640. Quatorze gatos (16,5%) mais frequência para tratar desses gatos
menores de um ano de idade apresentaram infectados, pois proporciona melhora clínica e
títulos RIFI de 1:40 (OTRANTO et al., 2017). geralmente é bem tolerado (NOÉ et al., 2015;
A doença causada por Leishmania spp é BRIANTI et al., 2019).
considerada rara entre felinos, mas o número O protocolo de tratamentos de cães que é
de pacientes infectados tem aumentado nos usado em gatos é ineficaz na promoção de uma
últimos anos (NOÉ et al., 2015) cura definitiva, apesar de ser bem tolerado.
De acordo com Costa-Val et al., (2020), a Além disso, segundo Brianti et al., (2019),
produção baixa de anticorpos por gatos e as efeitos colaterais podem surgir nos gatos
reações cruzadas que podem ocorrer com devido ao uso do alopurinol, e que os pacientes
outros microorganismos explicita a necessidade devem ser observados sistemicamente durante o
de combinar diferentes métodos diagnósticos período do tratamento. Ademais, o uso da
para a leishmaniose felina e, além disso, administração de glucantima subcutânea
clinicamente, lesões cutâneas associadas à também tem sido usada por alguns
leishmaniose felina podem se assemelhar a outras pesquisadores da área como quimioterapia em
doenças, como esporotricose, criptococose e gatos acometidos pela leishmaniose (NOÉ et
dermatofitose. Diante disso, é importante al., 2015; ASFARAM, FAKHAR e
afirmar que para um bom diagnóstico é TESHNIZI, 2019).
essencial a realização de exames citológicos
ou histopatológicos, além de uma confirma- Profilaxia
ção por imuno-histoquímica. Os exames Diante do exposto, é possível afirmar que
citológicos, devido a sua alta especificidade, os gatos, assim como os cães, podem
rapidez e baixo custo, podem ser adotados participar da manutenção do ciclo do parasita
como triagem inicial para leishmaniose, e é causador da Leishmaniose e da disseminação
válida ainda a realização de testes comple- da doença. A medida profilática utilizada em
mentares como as técnicas moleculares em cães é o uso de piretróides sintéticos em
casos de baixa sensibilidade, principalmente diferentes formulações (por exemplo, spot-on,
em animais que apresentam sintomas, mesmo coleira e spray) que possuem propriedades
testados negativos (ARENALES et al., 2018; repelentes prevenindo contra picadas de
METZDORF et al., 2016). mosquitos e reduzindo, assim, o risco de
infecção por L. infantum. Porém, grande parte
Terapêutica dos piretróides, com exceção da flumetrina,
Atualmente, pela carência de estudos são tóxicos para os gatos, o que dificulta a
específicos que indiquem uma terapia escolha de uma medida profilática efetiva para
farmacológica para a leishmaniose felina, esses animais, não havendo ainda no mercado
tratamentos não foram estabelecidos para o um produto testado específico para gatos com
controle e profilaxia da leishmaniose nos gatos ação contra o vetor (BRIANTI et al., 2019;
domésticos. Os animais são submetidos a GODOI et al., 2016).
125
Capítulo 13
Parasitologia Humana e Veterinária
126
Capítulo 13
Parasitologia Humana e Veterinária
127
Capítulo 13
Parasitologia Humana e Veterinária
detection of anti-Leishmania infantum antibodies in cats in the Brazilian semi-arid region. Rev. Bras. Parasitol.
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Infection by Leishmania infantum in domestic cats 71/image.ppat.v05.i08>
(Felis catus) in a municipality of moderate transmission
128
Capítulo 14
Parasitologia Humana e Veterinária
CAPÍTULO 14
DERMATOPATIAS
PARASITÁRIAS EM
GATOS DOMÉSTICOS
129
Capítulo 14
Parasitologia Humana e Veterinária
130
Capítulo 14
Parasitologia Humana e Veterinária
A análise foi utilizada usando os filtros pequenos animais, dessa forma, a identifi-
para título, resumo e assunto. Cada artigo foi cação, manejo, diagnóstico e tratamento das
lido na íntegra e suas informações foram enfermidades dermatológicas são essenciais na
dispostas em uma planilha, incluindo ano de rotina dos médicos veterinários (SILVA et al.,
publicação, autores, bases de dados e revista 2018).
ou jornal no qual foi publicado. Os dados Os ácaros são ectoparasitas comuns nas
foram compilados no programa computacional cidades e tem os gatos como um dos principais
Microsoft Office Word e as informações alvos para parasitar, causando enfermidades
analisadas correlacionando os parâmetros nos felinos e tendo características zoonóticas.
estudados. O processo de síntese dos dados foi As acarioses podem se manifestar tanto de
realizado por meio de uma análise descritiva e forma assintomática, como serem fatais,
quantitativa dos estudos selecionados, sendo o dependendo de fatores como a imunidade do
produto da análise apresentado de forma animal e a gravidade da infestação. Os ácaros
dissertativa. mais comuns nos gatos são Demodex cati,
Demodex gatoi, Otodectes cynotis, Notoedres
RESULTADOS E DISCUSSÃO cati, Cheyletiella blakei e Sarcoptes scabiei
(MOTA et al., 2017).
As doenças parasitárias cutâneas são De forma ampla, a principal forma de
afecções bastante comuns na rotina transmissão das acarioses em felinos é através
dermatológica de cães e gatos. Em felinos, a do contato direto e indireto entre os animais,
abordagem dessas doenças tem suma tendo potencial caráter zoonótico (AGUIAR et
importância, visto a crescente demanda por al., 2009), elas surgem através de pequenas
atendimento dessa espécie, e há diferenças aparições de micoses que podem durar no
importantes quando comparadas às dermato- máximo 2 semanas (RIVITTI; SAMPAIO,
patias parasitárias em cães. Além disso, podem 2000). Algumas dermatopatias são de fácil
ocasionar sinais clínicos diversos, e por isso o transmissão, o simples compartilhamento de
diagnóstico muitas vezes é desafiador mesmo ambiente ou de mesmo objeto pode
(MARTINS et al., 2016). Levando-se em espalhar a doença, por isso é de extrema
consideração a importância do aumento da importância o cuidado com o contato do
incidência desses parasitas, ainda há muito animal infectado com outros (HNILICA;
para se descobrir acerca da biologia dos PATTERSON, 2016).
ácaros, modos de transmissão, patogênese ou
opções de tratamento em dermatites felinas Sarna demodécica
(BEALE, 2012). É uma doença cutânea parasitária
Estima-se que em torno de 30% das inflamatória dos cães e gatos causada por
consultas em clínicas e hospitais veterinários proliferação anormal de ácaros do gênero
correspondem a casos cuja queixa principal do Demodex, que quando presentes em baixo
responsável envolve a pele do paciente. A número são considerados parte da fauna
literatura mostra a importância da dermato- normal da pele, sendo a doença clínica mais
logia dentro da medicina veterinária de reconhecida no cão do que no gato
(BIRCHARD; SHERDING, 2008).
131
Capítulo 14
Parasitologia Humana e Veterinária
Figura 14.1 Diferentes espécies de ácaros: (A) tratar de um ácaro folicular, a raspagem deve
Demodex cati; (B) Demodex gatoi; (C) Demodex canis ser profunda (VALANDRO et al., 2016). No
diagnóstico do Demodex gatoi pode ser
realizado os raspados cutâneos ou ainda
esfregaço por decalque em fita de acetato.
Uma nova técnica menos invasiva é o uso da
videodermoscopia com o auxílio do
videodermoscópio com a visualização do
ácaro Demodex e alguns pontos cinzas e outros
vermelhos. Os achados de pigmentação anular
folicular representavam as regiões epidérmicas
com demodicose (KARADAĞ; BORLU,
2019).
A B C
Fonte: https://slidetodoc.com/education-education-is-a-
progressive-discovery-of-our/. Acesso em: 26 Março
Sarna otodécica
2021. O Otodectes cynotis um dos parasitas mais
comuns em gatos na Europa, sendo um dos
Após a fecundação, a fêmea vai até a principais causadores de otite externa
glândula sebácea para depositar em torno de (BEUGNET et al., 2014), atingindo principal-
vinte a vinte e quatro ovos. Em seguida, com a mente gatos mais jovens e sendo de fácil
eclosão dos ovos, a larva vai até o canal transmissão entre os felinos (SOTIRAKI et al.,
seboso aonde se torna uma protoninfa de oito 2001). Geralmente, a manifestação da doença
patas. A protoninfa vai até a abertura do só é percebida pelo proprietário quando este
folículo capilar e se transforma em uma observa eritema e exsudato ceruminoso
tritoninfa que entra novamente no folículo e se marrom-escuro, sintomas deste tipo de sarna,
torna adulto (LACEY et al., 2009; TAYLOR no ouvido do animal (CURTIS, 2004). A sarna
et al., 2016). otodécica pode levar a uma infecção
Na clínica médica de felinos, no bacteriana secundária acarretada por pequenas
diagnóstico diferencial da demodicose deve-se lesões causadas pelo intenso prurido
levar em consideração todas as doenças que se (ARTHER et al., 2015).
manifestam sob a forma de prurido (GROSS et O ácaro Otodectes cynotis possui o ciclo
al., 2009). Os principais diagnósticos de vida com duração de 18 a 28 dias de ovo a
diferenciais são da dermatofitose, síndrome ovo antes da nova geração de larvas, ninfas e
foliculite-furunculose bacteriana, alopecia ácaros se desenvolver e ocorre no canal
psicogênica, dermatite atópica, alergia a auditivo do hospedeiro (MILLER et al., 2013;
alimentos, dermatite por contato, dermatite TAYLOR et al., 2016) (Figura 14.2). Em sua
alérgica a picada de pulga (DAPP), infestações fase adulta, o ácaro consegue sobreviver até
por Cheyletiella, Notoedres, Otodectes, dois meses, podendo cair para até dezessete
Sarcoptes e algumas espécies de piolho dias no máximo, caso ele se encontre fora do
(GUAGUÈRE; BENSIGNOR, 2005). hospedeiro. Os ácaros adultos possuem uma
No caso do Demodex cati o diagnóstico é coloração branca e oito patas que vão até o
feito através de raspados cutâneos. Por se
133
Capítulo 14
Parasitologia Humana e Veterinária
limite do corpo, exceto as fêmeas (MARTINS vítimas, podendo causar micoses (RIVITTI;
et al., 2016). SAMPAIO, 2000).
O ácaro Sarcoptes scabiei realiza a
Figura 14.2 Ácaro Otodectes cynotis fecundação em uma cavidade na pele. Após
esse período, o macho morre e a fêmea escava
outra cavidade para colocar os ovos, que
acontecem numa ordem de três ovos por dia
durante dois meses em média. O ovo eclode
após três ou quatro dias de posto, soltando a
larva. A larva vai até a superfície e após cerca
de quatro dias, começa a se alimentar dos
folículos capilares até se transformarem em
protoninfas. Alguns dias depois, ela se
transforma em uma tritoninfa e então toma a
forma adulta. No total, o ciclo de vida dura
Fonte:https://br.pinterest.com/pin/72824620222600402 entre dezessete e vinte e um dia (TAYLOR et
1/. Acesso em: 26 Março 2021.
al., 2016) (Figura 14.3).
por ser uma técnica que causa menos Figura 14.4 Ácaro Lynxacarus radovskyi
desconforto ao animal, facilitando a aplicação
do método, visto que os parasitas não perfuram
muito fundo na pele (KARADAG; BORLU,
2019).
Linxacariose
É uma doença incomum em gatos e tem
como agente etiológico o Lynxacarus
radovskyi, um ácaro sarcoptiforme, da família Fonte:http://doi.editoracubo.com.br/10.4322/rbcv.2014.
Listrophoridae (FAUSTINO et al., 2004; 315 Acesso em: 26 Março 2021.
PAYNE et al., 2005). A primeira descrição foi
em 1974, por Tenório, no Havaí, e há relatos Os sinais clínicos envolvem disquerati-
em poucos países, tais como Porto Rico, nização cutânea, alopecia, disqueratose
Austrália, Estados Unidos, Ilhas Fiji, Brasil e furfurácea ou laminar, pelagem com aspecto
Nova Zelândia (FIGUEIREDO et al., 2004; ressequido, perda de pelo, pelagem fosca
ROMEIRO et al., 2007). No Brasil, foi escoriações e, em casos mais severos, infecção
relatada nos estados do Rio de Janeiro, Pará bacteriana secundária. O prurido pode estar
(SERRA-FREIRE et al., 2002), Pernambuco, presente ou não (PAYNE et al., 2005).
Bahia, São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio Segundo ROMEIRO et al., (2007) e SERRA-
Grande do Norte e Alagoas (AGUIAR et al., FREIRE et al., (2002), a localização dos
2009). Algumas vezes, esta doença pode ser ácaros é mais frequente na região perianal, nos
observada associada a outras, causadas por membros posteriores e na cauda, e o
ectoparasitas e a mais comum delas é a parasitismo parece ser mais comum em
pediculose (ROMEIRO et al., 2007) (Figura machos.
14.4). O diagnóstico é baseado na visualização
A infecção geralmente ocorre por contato direta dos ácaros aderidos aos pêlos usando
direto, mas fômites podem ser importantes na uma lupa ou através da microscopia (PAYNE
transmissão (AGUIAR et al., 2009). Os et al., 2005; FIGUEIREDO et al., 2004),
animais parasitados parecem estar sujos, pois raspado de pele decalque (inprint) ou ainda
como o ácaro se adere aos pelos, apresentam por meio de avulsão do pelame. O exame de
um aspecto salpicado, de “sal e pimenta”, além microscopia óptica deve compreender a
de alopecia e prurido (MUELLER, 2005; colocação do material entre lâmina e lamínula,
PAYNE et al., 2005). adicionadas de 2 a 3 gotas de hidróxido de
Os pêlos expilam-se com facilidade, a potássio a 10% e observadas em objetiva de
derme apresenta-se normal, ou com erupções 10x. Os parasitos ou ovos podem ser também
papulares, característica de dermatite miliar. visualizados nas fezes, devido aos hábitos de
Quanto ao local de parasitismo, o dorso e a lambedura dos felinos (FAUSTINO et al.,
cauda demonstraram-se áreas de predileção, 2004; MUELLER ,2005).
seguindo-se a cabeça, corpo, região axilar e
região abdominal.
135
Capítulo 14
Parasitologia Humana e Veterinária
Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Notoedres_cati.
Acesso em: 26 Março 2021.
136
Capítulo 14
Parasitologia Humana e Veterinária
137
Capítulo 14
Parasitologia Humana e Veterinária
138
Capítulo 13
Parasitologia Humana e Veterinária
CAPÍTULO 15
ENDOPARASITOS QUE
ACOMETEM FELINOS E
SUA FARMACOLOGIA
ANTI-PARASITÁRIA:
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Bruna Carioca de Souza1
Gabriela Ribeiro1
Lara Lopes1
Raphaela Aparecida Lourenço1
Scarlet Fortunato1
Rafaela de Oliveira Cunha1
Elaine Santana Gonçalves2
Elizângela Guedes3
1Discentes – Curso de Medicina Veterinária, Centro Universitário do Sul de
Minas (UNIS), Varginha, Minas Gerais.
2Discente (doutorado) - Programa de Pós-graduação em Reprodução, Sanidade
e Bem-Estar Animal, Universidade José do Rosário Vellano (Unifenas),
Alfenas.
3 Docente – Curso de Medicina Veterinária, Centro Universitário do Sul de
Minas (UNIS), Varginha e Programa de Pós-graduação em Reprodução,
Sanidade e Bem-Estar Animal, Unifenas, Alfenas.
140
Capítulo 15
Parasitologia Humana e Veterinária
olhos. Em gatos idosos, pode ser observada alguns gêneros de Trematoda e Cestoda
doença crônica (SIMÕES et al., 2015). (MONTEIRO, 2017d; OLIVEIRA-JÚNIOR et
Na toxocaríase, além de sinais clínicos al., 2004; TÁPARO et al., 2006).
gastrointestinais, pode ocorrer ainda o Para diagnóstico de Toxocara sp. podem
desenvolvimento de pneumonia (SCHMIDT; ser utilizadas técnicas de flutuação, de
DE CEZARO, 2016). Já na ancilostomose, centrifugo-flutuação em sulfato de zinco, de
como consequência da infecção, o pode haver centrifugo-sedimentação em água-éter e
o desenvolvimento de dermatites localizadas, também por sedimentação simples. Ovos
e alterações pulmonares (MORO et al., 2008). subglobulares, com casca pontilhada e grossas
Em caso de infecção transmamária, pode podem ser observados nas fezes, assim como
ocorrer a morte do neonato (KITCHEN et al., adultos, que também podem ser encontrados
2019). Já a forma crônica, geralmente em amostras de vômitos (SCHMIDT; DE
assintomática, pode ocorrer prurido, descon- CEZARO, 2016; TAYLOR et al., 2017). Já
forto e lambedura anal excessiva em decorrên- para o diagnóstico de toxoplasmose pode ser
cia da saída de proglotes ativas (MONTEIRO, utilizado as técnicas de concentração de
2017c) . oocistos por flutuação de Willis e centrífugo-
Animais infectados por giárdia podem ser flutuação em sacarose (ETTINGER et al.,
assintomáticos ou desenvolver doença clínica 2019).
a depender da virulência da cepa envolvida, da Atualmente, estão disponíveis inúmeros
carga infectante, bem como da resposta métodos para avaliação de Giardia duodenalis
imunológica e idade do animal (ETTINGER et em gatos. Ao exame microscópico direto de
al., 2019). esfregaço de fezes pode ser observado a
presença de cistos e trofozoítos. Embora seja
Diagnóstico das principais endoparasitoses pouco sensível (< 20%), o exame de flutuação
felinas em sulfato de zinco permite observar
Para o correto diagnóstico é necessária a principalmente a presença de cistos. Para
realização de exames complementares. Nesse diagnóstico preciso há a necessidade de
contexto, os exames coproparasitológicos realizar o teste em pelo menos três amostras de
possuem grande importância, sendo métodos fezes do animal, numa mesma semana
de baixo custo e de fácil execução (ETTINGER et al., 2019).
(MONTEIRO, 2017d; TÁPARO et al., 2006). Outros métodos de diagnóstico das
Existem várias técnicas documentadas em endoparasitoses incluem biologia molecular
literatura. Entre elas, as técnicas de flutuação como Polymerase Chain Reaction (PCR),
que permitem avaliar a presença de ovos, histopatológicos e sorológicos, como Ensaio
cistos ou oocistos. Como exemplo temos a de imunoabsorção Enzimática (ELISA), pes-
Técnica de Willis-Mollay, onde podem ser quisa de anticorpos monoclonais e Imunofluo-
visualizados ovos de nematóides e cestóides, rescência (IFA) (SCHMIDT; DE CEZARO,
oocistos e cistos de protozoários. Já as técnicas 2016). Para giardíase, a técnica de PCR
de sedimentação são melhores empregadas permite realizar diferenciação do genótipo,
para pesquisa de ovos pesados que não possibilitando a identificação de espécies e
flutuam em soluções saturadas, como os de cepas (ETTINGER et al., 2019).
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Capítulo 15
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 15
Parasitologia Humana e Veterinária
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Parasitologia Humana e Veterinária
CAPÍTULO 16
DOENÇAS
RELACIONADAS AOS
CARRAPATOS
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Capítulo 16
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 16
Parasitologia Humana e Veterinária
cópula, além de também ser possível a animais com suficiente riquetsemia, o que se
transmissão horizontal, por meio da observa na Figura 16.1.
alimentação dos carrapatos não infectados em
E então, ao se infectar com a riquétsia, esse rickettsii, Febre Botonosa, Tularemia, Febre
carrapato torna-se um potencial transmissor da transmitida por carrapatos do Colorado, febre
doença para os humanos (WALKER & hemorrágica do Congo-Criméia, Vírus da
ISMAIL, 2008). doença da floresta de Kyasanur, Febre
O objetivo deste estudo foi elucidar de Hemorrágica de Omsk, Encefalite transmitida
forma sistemática aspectos históricos, por carrapatos, doenças transmitidas por
epidemiologia, profilaxia, transmissão, trata- carrapatos, epidemiologia, aspectos históricos,
mento e controle das principais doenças tratamento, prevenção e patogenia. Desta
transmitidas por carrapatos e demonstrar a sua busca foram encontrados 40 artigos, posterior-
crescente nas últimas décadas, com enfâse na mente submetidos aos critérios de seleção.
febre maculosa. Os critérios de inclusão foram artigos nos
idiomas inglês, português, espanhol, indoné-
MÉTODO sio; publicados no período de 2008 a 2021 e
que abordavam as temáticas propostas para
Trata-se de uma revisão sistemática esta pesquisa; estudos do tipo revisão, meta-
realizada no período de março a maio de 2021, análise e originais, disponibilizados na íntegra.
por meio de pesquisas nas bases de dados: Os critérios de exclusão foram artigos
PubMed, Scielo, Google Acadêmico, de anteriores a 2008, disponibilizados na forma
artigos nacionais e internacionais, Teses, Sites de resumo, que não abordavam diretamente a
e livros de parasitologia médica e veterinária. proposta e o tema estudado e que não atendiam
Foram utilizados os descritores: Febre Macu- aos demais critérios de inclusão.
losa, doença de Lyme, Babesiose, vírus Após os critérios de seleção restaram 10
Powassan, febre recorrente, rickettsia artigos que foram submetidos à leitura
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Capítulo 16
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 16
Parasitologia Humana e Veterinária
Figura 16.2 Número de óbitos e letalidade por febre maculosa, Brasil, 2003 a 2018
Legenda: Imagem obtida entre os meses de abril e maio de 2021. Fonte: Ministério da Saúde, 2019.
Gráfico 43.1 Casos confirmados de febre maculosa no Brasil, Grandes regiões e Unidades Federadas. 2000 a 2018
2000
1500
1000
500
0
Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro- Brasil
Oeste
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Capítulo 16
Parasitologia Humana e Veterinária
Gráfico 16.2 Óbitos de febre maculosa no Brasil, Grandes regiões e Unidades Federadas. 2000 a 2018
600
500
400
300
200
100
0
Região Norte Região Nordeste Região Sudeste Região Sul Região Centro- Brasil
Oeste
Dados epidemiológicos da Febre Macu- foi de 42 anos, mostrando que existem poucas
losa Brasileira (FMB) nos Estados de Minas condições assistenciais no diagnóstico da
Gerais e São Paulo doença, o que pode ter ocasionado um número
No estado de Minas Gerais (MG), os casos maior de óbitos na Região Metropolitana de
de febre maculosa se concentram Belo Horizonte (SOUZA et al, 2017).
principalmente nas regiões do vale do Rio No estado de São Paulo há o maior número
Doce, Jequitinhonha e Mucuri, localizados na de casos de febre maculosa no Brasil. De
Região Nordeste de Minas Gerais. Cabe acordo com os dados do Centro de Vigilância
destacar também a Região Metropolitana de Epidemiológica, no período de 2007 a 2018,
Belo Horizonte (RM-BH) que, em 2017 havia 768 casos da doença foram confirmados,
notificado casos e óbitos distribuídos, sendo a maior parte concentrada nas regiões de
principalmente na região da Lagoa da Piracicaba e Campinas, como mostra na
Pampulha. Tal fato está relacionado a presença Figura 16.3 (NASSER, 2014).
de um grande número de capivaras no local.
Em um estudo epidemiológico dos casos e Patogenia da Febre Maculosa
óbitos naquela região realizado por estudantes A febre maculosa é uma doença infecciosa
no ano de 2017, foi constatado uma letalidade aguda e grave, geralmente causada pela
nesta região de 66%. Do total de casos, 14 bactéria Rickettsia rickettsii e que normal-
eram do sexo masculino e a mediana da idade mente tem características endêmicas, dissemi-
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Capítulo 16
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 16
Parasitologia Humana e Veterinária
finais da doença. Se não for tratada, a taxa de muitas vezes colabora para o não
mortalidade desta doença pode chegar a 80% reconhecimento da FM, dificultando a
(SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM abordagem inicial e levando a ausência de
SAÚDE, 2010). diagnóstico e tratamento precoces, aumentando
o risco de um prognóstico desfavorável
Diagnóstico diferencial da Febre (ARAUJO et al., 2015).
Maculosa O diagnóstico diferencial da Febre
A febre maculosa é uma doença que Maculosa é feito principalmente através de
apresenta inicialmente manifestações clínicas dados clínicos e epidemiológicos adquiridos a
inespecíficas como febre, mialgias, cefaleia, partir da anamnese e exame físico associados
mal-estar generalizado, hiperemia das aos achados laboratoriais, favorecendo a
conjuntivas e em alguns casos sintomas suspeita diagnóstica e consequentemente uma
gastrointestinais como náuseas, vômitos, dor abordagem adequada, implicando diretamente
abdominal e diarreia. O sintoma mais no sucesso terapêutico (ARAUJO et al., 2015).
importante é o exantema maculopapular, que É importante ressaltar que o método
aparece geralmente entre o 3º e 5º dia da diagnóstico mais disponível e utilizado na
doença. Por se manifestar a princípio com uma rotina laboratorial da FM é o exame de
sintomatologia pouco específica, pode ser imunofluorescência indireta, que consiste na
confundido com inúmeras outras doenças pesquisa de anticorpos específicos para as
graves, tais como Leptospirose, Dengue, Zika, riquétsias por meio da sorologia, mas este só é
Hepatite viral, Salmonelose, Encefalite, possível de ser realizado após o fim da
Malária e Pneumonia, entre outras doenças. primeira semana de sintomas, tornando-se um
Ademais, após o aparecimento do exantema desafio diagnóstico. Entretanto, uma outra
maculopapular, a FM pode ainda fazer alternativa para o diagnóstico precoce da
diagnóstico diferencial com doenças como a doença é a utilização da análise molecular a
Sífilis, Meningococcemia, Enteroviroses, entre partir da Reação em Cadeia de Polimerase
outras (ARAUJO et al., 2015). (PCR), que detecta a presença de material
Diante disso, pelo risco de ser confundida genético da bactéria, mas que, no entanto,
com outras doenças que trazem sinais e ainda é pouco utilizado atualmente, sendo
sintomas muito parecidos ao da FM, o recomendado especialmente em casos graves e
diagnóstico e a terapêutica muitas vezes são óbitos, e devendo ser realizado na fase inicial
retardados, culminando em desfechos desfavo- da doença, enquanto os anticorpos anti-
ráveis que resultam em alta taxa de Rickettsias ainda não são detectados
mortalidade. A ausência de tratamento (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019).
adequado e precoce, por exemplo, favorece a
progressão do quadro clínico, podendo haver Tratamento, prevenção e controle da
comprometimento do sistema nervoso central, Febre Maculosa
que causa encefalites graves, confusão mental, O tratamento dessa patologia é realizado
convulsões, delírios e até mesmo ao coma. com administração de antibióticos de amplo
Ademais, a falta de conhecimento pelo espectro, como doxiciclina 100 mg, 12/12
profissional da saúde acerca dessa doença horas por via oral ou endovenosa durante 7
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Capítulo 16
Parasitologia Humana e Veterinária
dias ou até 2 dias após término de sintomas com duração de aproximadamente 2 a 9 dias,
febris ou eritromicina 500mg, quatro vezes ao sendo comum durante o primeiro episódio o
dia via oral. Ademais, a prevenção e o controle aparecimento de exantema em forma de
da FM podem ser feitos evitando áreas petéquias. A febre recorrente se não tratada
infestadas por carrapatos, uso de botas e pode levar o paciente a óbito e sua taxa de
roupas que impeçam o contato do artrópode letalidade oscila entre 2 e 10%. Existem duas
com a pele e uso de repelentes. O combate ao formas de transmissão dessa doença, a forma
vetor é uma importante ferramenta para a epidêmica, que acontece pela picada de
profilaxia da FM, para isso pode ser feita a piolhos, e a forma endêmica, que ocorre por
aplicação de inseticidas e carrapaticidas em meio de picada de carrapatos do gênero
animais que abrigam esse hospedeiro, como Ornithodoros. O diagnóstico laboratorial pode
gado, mamíferos de pequeno porte e também ser feito através de sorologia, exame
animais domésticos, principalmente cachorros histológico e imunoistoquímico, PCR e
(SANTOS, 2014; LÓPEZ, 2017). cultura. Seu tratamento consiste no uso de
antibióticos nos períodos afebris ou fase aguda
Outras doenças associadas aos carra- da doença, geralmente tetraciclina ou
patos eritromicina de 500 mg em dose única via oral
Febre Botonosa: também conhecida como ou 250 mg via intravenosa. O controle e a
febre maculosa do Mediterrâneo, é causada prevenção da febre recorrente são os mesmos
pela Rickettsia conorii da família Rickettsiae e das demais doenças transmitidas por
acomete principalmente o sul da Europa, a carrapatos e piolhos (REY, 2010).
África e a Índia. O quadro clínico dessa Doença de Lyme: eritema crônico
doença é semelhante ao da febre maculosa, migratório, também conhecida como artrite de
porém sua manifestação é mais branda. Seus Lyme, é uma borreliose causada pela bactéria
sinais e sintomas se apresentam após 5 a 7 dias Borrelia burgdorferi e sua transmissão é
da picada por carrapato contaminado, entre através da picada do carrapato do gênero
eles há uma ulceração no local da picada Ixodes spp. popularmente conhecidos como
semelhante a um botão com aspecto de escara carrapato da perna preta, Ixodes scapularis.i. É
e o paciente tende a apresentar mal-estar, uma doença zoonótica, mais comum na
cefaleia, mialgias e febre. O diagnóstico pode América do Norte e na Europa chegando a
ser realizado por meio de biópsia e análise da relatos de até 300.000 casos anuais nos
erupção cutânea e também por PCR. O Estados Unidos. No Brasil, a taxa de letalidade
tratamento consiste em uso de antibióticos, em humanos variou entre os anos de 2011 e
geralmente doxiciclina por 5 dias. A profilaxia 2016, oscilando entre 6,8% e 20% do total de
e o controle são os mesmos da febre maculosa pessoas que manifestaram a doença. Os sinais
que consistem no combate ao vetor e no uso de e sintomas mais comuns são multissistêmicos,
roupas protetoras (PETRI, 2020). incluindo doenças cardíacas, reumatológicas e
Febre Recorrente: causada por bactérias neurológicas. Sua clínica é caracterizada por
do gênero Borrelia, é uma enzootia própria de três fases e o seu período de incubação pode
mamíferos e roedores silvestres. Seu quadro levar de 3 até 32 dias. A primeira fase é o
clínico é caracterizado por episódios febris eritema crônico migratório, na qual uma lesão
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Capítulo 16
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 16
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Capítulo 16
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Capítulo 17
Parasitologia Humana e Veterinária
CAPÍTULO 17
ASPECTOS CLÍNICOS,
EPIDEMIOLÓGICOS E
POTENCIAL ZOONÓTICO DA
DOENÇA DE LYME: REVISÃO
DE LITERATURA
Luana Cristina Correia Gonçalves1
Beatriz Filgueira Bezerra1
Talisson de Jesus Costa Conceição1
Vinícius Corrêa Oliveira1
Júlia Lemos Brito1
Nathália Lima Dörner1
Emilly de Souza Moraes1
Miguel Felix de Souza Neto2
Sayenne Ferreira Silva2
Pedro Agnel Dias Miranda Neto3
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Capítulo 17
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 17
Parasitologia Humana e Veterinária
Além da perda rápida dos fatores de virulência o agente causador da doença. Os antibióticos
das bactérias, em amostras cultivadas do grupo dos betalactâmicos e às tetraciclinas,
(TRABULSI; ALTERTHUM, 2008). segundo a literatura, tem sido eficiente na
Em razão da baixa carga bacteriana nas resolução dos sinais clínicos da doença em
amostras, os testes sorológicos representam os cães (LITTMAN et al., 2006; WAGNER, et
principais métodos utilizados durante a rotina al., 2015).
para diagnóstico da doença. Dentre estes Observou-se que a amoxicilina, azitromi-
testes, os mais utilizados são o RIFI e ELISA, cina, claritromicina, eritromicina, cefotaxima,
os quais detectam anticorpos contra Borrelia ceftriaxona e cefovecina são geralmente
sp. Consideram-se positivos, em ambos os utilizados na rotina. No entanto a doxiciclina
testes em caninos, títulos superiores a 64 ou minociclina são preferíveis para o
(MEGID et al., 2016). tratamento. Devido o comportamento biológi-
Com o teste rápido SNAP 4DXⓇ (IDEXX co do agente, é indicado a utilização por 28 a
Laboratories), utilizado para detecção de 30 dias. A doxiciclina ou minociclina é
anticorpos de Ehrlichia spp., Anaplasma spp., administrado uma ou duas vezes ao dia,
Borrelia burgdorferie antígenos de Dirofilaria durante 30 dias, por via oral ou intravenosa, na
immitis, é possível realizar o diagnóstico da dosagem de 10 mg/kg (KRUPKA;
DL. Para a reação de B. burgdorferi, o teste STRAUBINGER, 2010).
utiliza o peptídeo C6, que detecta anticorpos A amoxicilina mostrou-se como uma
de uma lipoproteína de superfície do agente alternativa para filhotes e até mesmo animais
com sensibilidade de 94,1% e especificidade sensíveis à doxiciclina. A amoxicilina deve ser
de 96,2% (IDEXX, 2016; HERRIN et al., administrada 3 vezes ao dia, durante 30 dias,
2017; EVASON et al., 2019). por via oral. A cefovecina seria a terceira
O teste Western Blot, considerado padrão opção dos antibióticos disponíveis, duas
ouro, é recomendado em casos inconclusivos aplicações subcutâneas com intervalo de duas
ou positivos. No entanto, este teste apresenta semanas é uma ótima opção para alérgicos às
limitações relacionadas ao custo, pois requer tetraciclinas. Estudos apontam que a eficácia é
equipamentos caros e antígenos específicos. similar ao uso de 4 semanas de doxiciclina ou
(MEGID et al., 2016). O teste molecular PCR amoxicilina (WAGNER, et al., 2015;
(reação em cadeia polimerase) é sensível e LITTMAN et al., 2018).
pode detectar até mesmo baixas quantidades O tratamento da DL subclínica, ou seja,
de microrganismos avaliando apenas a quando o animal não expressa sinais e não são
presença do material genético. Através deste encontrados parâmetros anormais dentro da
teste, pode-se evitar reações cruzadas com patologia clínica, é ainda controverso. Partes
outras espécies, pois este se trata de um exame não apoiam a antibioticoterapia em pacientes
espécie-específico (BORCHERS et al., 2015). que apresentam esse quadro pois alegam que
Estimativas, como o prognóstico, deve ser essa conduta apoia o movimento de uso
analisado cautelosamente de acordo com os indiscriminado de antibióticos, fortalecendo a
sinais clínicos do paciente. A terapêutica da resistência bacteriana. Por outro lado, os
doença se baseia, basicamente, na indivíduos que apoiam o tratamento, alegam
administração de antibióticos específicos para que essa postura minimiza ou até evita
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Capítulo 17
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Capítulo 17
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Capítulo 18
Parasitologia Humana e Veterinária
CAPÍTULO 18
PERCEPÇÃO DE TUTORES
NO CONTROLE DE
CARRAPATOS EM CÃES E
GATOS
Ana Karolinne de Alencar França¹
Yandra Thaís Rocha da Mota¹
Isadora Karoline de Melo¹
Marcus Vinicius Gomes Dantas2
Ellen Araújo Malveira2
Emily Katiane Souza Nascimento2
Vercleide Mara da Silva2
Carlos Walber Batista Henrique³
Laís Fernanda de Pontes Santos³
Antonio Domingos da Silva4
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Capítulo 18
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 18
Parasitologia Humana e Veterinária
Figura 18.1 Quantidade de tutores que possui gato e/ou cachorro em sua residência
17% 20%
Gato
Cachorro
63%
Figura 45.2 Questionamento acerca da frequência que os tutores costumam banhar seus animais
18% 17%
Uma vez por mês
Uma vez por semana
Duas vezes por semana
21% A cada quinze dias
Com pouca frequência
40%
4%
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Capítulo 18
Parasitologia Humana e Veterinária
18%
SIM
11% NÃO
71%
17%
Sim
Não
83%
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Capítulo 18
Parasitologia Humana e Veterinária
49% dos pesquisados desconhece patologias afirmaram que seu pet não apresentou
transmitidas por esses ectoparasitas, 51% tem nenhuma patologia.
conhecimento das doenças transmitidas por
esse vetor e citaram Anaplasmose, doença do CONCLUSÃO
carrapato e lyme. O R. sanguineus é vetor de
diversos agentes como Ehrlichia canis, Em algum estágio da vida do animal, ele
Babesia canis, Haemobartonella canis, pode ser acometido por ectoparasitos, por isso,
Hepatozoon canis, Coxiella burnetii, é importante que o tutor preste atenção para
Anaplasma platys (DANTAS-TORRES, 2008; que se evitem complicações futuras ao animal
ALMEIDA et al., 2012) e Babesia canis e, consequentemente ao dono. Por isso, o ideal
vogeli (DANTAS-TORRES, GIANELLI e é que estes trabalhadores tenham conheci-
OTRANTO, 2012). mento acerca dos ectoparasitos, bem como seu
Quanto ao uso de plantas medicinais para ciclo de vida, para que possam tomar medidas
tratamento dos ectoparasitas em seus animais preventivas para controle dos carrapatos. A
domésticos, 94% dos tutores responderam que utilização de medicamentos deve ser sempre
nunca fizeram o uso, mostrando que a prescrita e acompanhada por um médico
fitoterapia veterinária ainda é uma área pouco veterinário para evitar complicações no
explorada. Ao serem questionados a respeito animal, bem como diminuir as chances de
se o animal já teve doença transmitida por resistência parasitária.
carrapatos, mais da metade dos donos
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Capítulo 18
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 19
Parasitologia Humana e Veterinária
CAPÍTULO 19
AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA DE
COMPLEXO HOMEOPÁTICO
NO CONTROLE DE
CARRAPATOS EM BOVINOS
DE PRODUÇÃO DE LEITE
Lorena Jamila Alves Ferreira Guimarães1
Matheus Lopes Ribeiro1
Alicia Pires1
Suellen Sobrinho França Mattos2
Thays Figueiroa1
Juliana de Almeida Coelho1
Anna Carla Silva Cunha1
Ana Vitória de Morais Sanavria3
Erico José Sampaio Junior3
Tiago Marques dos Santos4
Celso Guimarães Barbosa5
Márcio Reis Pereira de Sousa4
Argemiro Sanavria4
178
Capítulo 19
Parasitologia Humana e Veterinária
179
Capítulo 19
Parasitologia Humana e Veterinária
Tabela 46.1 Contagem média de carrapatos em vacas leiteiras não tratadas e aquelas submetidas ao tratamento com
complexo homeopático (ECTROL - REAL H) no período de sete semanas
Legenda: GT – Grupo tratado com complexo Homeopático / GC- Grupo controle. Médias seguidas pela mesma letra
minúscula, na linha, e maiúscula, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (p =0,05).
180
Capítulo 19
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 20
Parasitologia Humana e Veterinária
CAPÍTULO 20
TOXOPLASMOSE FELINA
E SEU IMPACTO NA
SAÚDE PÚBLICA
Bárbara Nunes Lopes¹
Marina Vieira de Mello¹
Camila Marques dos Santos¹
Kamila Karla Andrade Freitas¹
Maria Luísa Valeriano Vasconcellos¹
Rayana Aleixo de Almeida2
Vitória Emmanuele Garcia de Almeida²
Luana Cristina Correia Gonçalves3
Helvécio Leal Santos Junior3
Adriana Moraes da Silva3
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Capítulo 20
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 20
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 20
Parasitologia Humana e Veterinária
(ÁVILA, 2009). Apesar de infecções agudas fecais (FIALHO et al., 2009; SCHNELL,
disseminadas muitas vezes cursarem para um 2011).
quadro fatal, na maior parte das vezes, o felino Na citologia observa-se comumente a
se recupera e adquire imunidade (NEGRI, presença de taquizoítos em diversos tecidos,
2008). fluidos peritoneais e torácicos, durante o curso
O diagnóstico definitivo da doença em agudo da doença, principalmente em que
felinos antes do óbito pode ser feito caso o manifestarem efusões torácicas por ascite
microrganismo seja demonstrado, todavia não (ÁVILA, 2009). Dificilmente são encontrados
é comum, principalmente em casos que a em sangue, lavados bronco alveolar e traqueal,
doença está no seu curso crônico (ÁVILA, aspirados por agulha fina e fluídos
2009). Não havendo alterações clinico-
cerebroespinhal. Todavia, há relatos da
patológicas ou radiográficas consideradas
presença do taquizoíto como microrganismo
patognomônicas (FILHO, 2017; SCHNELL,
extracelular em células epiteliais ou até mesmo
2011).
em macrófagos. Em radiografias são apenas
Em exames como hemograma e bioquí-
encontrados efusão pleural ou padrões
micos, há alterações em parâmetros de felinos
com a doença na forma sistêmica (ÁVILA, intersticiais ou alveolares difusas (ÁVILA,
2009). No hematológico tende a apresentar 2009).
alterações como anemia arrege-nerativa, linfoci- Através do exame sorológico em felinos
tose, leucocitose neutrofilia, neutropenia, pode-se demonstrar a exposição dos anticorpos
monocitose e eosinofilia (LAPPIN, 2010). Já da classe IgG no soro de acometimentos pelo
em relação aos bioquímicos em animais com a Toxoplasma gondii, e também exibir que a
fase aguda, observam-se hipoalbuminemia, infecção é ativa através do aumento
hipoproteinemia (BASTOS, 2012). Também quadruplicado ou de título (1:64) de IgG ou
relatam aumento da ALT (alanina aminotrans- IgM (ÁVILA, 2009). Observando-se que os
ferase) e AST (aspartate aminotransferase) para anticorpos IgM estão presentes desde a fase
pacientes com necrose muscular (SCHNELL, inicial da doença, e podem ser localizados até
2011). Para os animais que apresentam 3 meses (FILHO, 2017). Já os anticorpos IgG
quadros de lipidose hepática e colangio- aparecem em torno da quarta semana e se
hepatite se nota significativo aumento dos estendem por toda vida do animal (FIALHO et
níveis de bilirrubina (BASTOS, 2012). al., 2009). Diversos testes sorológicos são
Aumento de lipase e amilase, e diminuição no utilizados, como: teste de aglutinação em
nível total de cálcio com concentração de látex, teste de aglutinação modificado, ensaio
albumina normalmente são vistos em gatos
imunoenzimático (ELISA), hemaglutinação
com quadros de pancreatite (ÁVILA, 2009).
indireta (HAI) e reação de imunofluorescência
O exame parasitológico de fezes não se
indireta (RIFI) (LANGONI, 2001). Os autores
torna muito eficaz pelo fato de os gatos
SCHENELL (2011) e FILHO (2017) trazem
eliminarem os oocistos por uma ou duas
como tratamento de eleição em felinos
semanas após a primeira exposição, e não
consiste no uso do cloridrato de clindamicina.
apresentar quadros diarreicos durante a
Também há relatos que consideram a
eliminação dos oocistos, sendo assim
azitromicina como uma opção interessante
dificultada sua visualização em amostras
para terapêutica (FILHO, 2017). As doenças
187
Capítulo 20
Parasitologia Humana e Veterinária
oculares podem ser tratadas com a utilização (SANTOS et al., 2018) e preconiza-se que o
de corticosteroides para redução da inflamação homem não consuma leite não pasteurizado.
intraocular (INNES, 2010), de forma tópica Para a destruição dos cistos presentes na carne,
e/ou sistêmica (SCHENELL, 2011; FILHO, o cozimento em temperaturas de 67°C ou 60°C
2017), e estar associado a um medicamento durante 20 minutos e o congelamento entre 18
antiprotozoário, a atovaquona. Apesar das a 24 horas são eficazes na temperatura de -
opções disponíveis, é importante mencionar 12°C (FIALHO et al., 2009; SCHENELL,
que a terapêutica não traz a cura do indivíduo 2011; FILHO, 2017). Boas práticas de higiene
infectado e tem efeito limitado para o estágio como lavar as mãos antes de se alimentar, e
de cisto tecidual do parasita (INNES, 2010). após o contato com os felinos e carne crua
A utilização de glicocorticoides não é também são indispensáveis (FIALHO et al.,
indicada, pois podem acentuar a manifestação 2009)
da doença em relação ao comprometimento
sistêmico, todavia, quando lesionado o órgão CONCLUSÃO
da visão, seu uso tópico relacionado com o
cloridrato de clindamicina confere bom A toxoplasmose acomete grande parcela da
resultado (GALVÃO et al., 2014). população humana e felina e como uma
A profilaxia e controle são importantes importante zoonose é necessário o
para reduzir de incidência da toxoplasmose na conhecimento das características do protozoá-
população (FIALHO et al., 2009). Por isso, rio causador da doença, assim como, o papel
recomenda-se medidas como a limpeza diária do felino como hospedeiro definitivo no
da caixinha de areia dos gatos utilizando luvas cenário da transmissão.
para este manuseio e para atividades como Em humanos, os pacientes imunocom-
jardinagem (SANTOS et al., 2018), restringir prometidos e as gestantes são indivíduos que
o livre o acesso à rua dos animais podem sofrer os sinais severos, e durante a
domesticados, logo, evitando o contato com gestação realizam a transmissão para sua
bancos de areia. Além disso, não ofertar carne prole. Portanto, medidas para um bom
crua ou malcozida para os felídeos, realizar o diagnóstico e tratamento devem ser explora-
controle de roedores e de hospedeiros das, e também, a sociedade deve ser conscien-
paratênicos no ambiente contribuirão para tizada acerca das formas de controle e
diminuir a disseminação (BRESCIANI, 2008). profilaxia que são indicadas a fim de reduzir
Sabendo disso, as principais medidas de taxas de incidência da doença na população.
prevenção para evitar a transmissão do Tendo em vista que, apesar do gato realizar a
toxoplasma ao homem vão desde evitar contaminação no ambiente, a falta de higiene e
ingestão de alimentos de origem animal a ingestão de alimentos crus e contaminados
malcozidos ou crus e vegetais mal são os principais aspectos que normalmente
higienizados a estratégias de higiene sanitária levam ao contágio dos seres humanos.
188
Capítulo 20
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 20
Parasitologia Humana e Veterinária
190
Capítulo 21
Parasitologia Humana e Veterinária
CAPÍTULO 21
NEUROTOXOPLASMOSE
EM INDIVÍDUOS
IMUNOSSUPRIMIDOS:
UMA REVISÃO
INTEGRATIVA DA
LITERATURA
Anna Luiza Barbosa Ribeiros de Sales Silva¹
Carlos Henrique Barros de Souza¹
Isabella Eduarda Lopes Rocha¹
Lívia Nascimento de Souza¹
Michelle Paz de Araújo¹
Renata Amorim Fantoni Martins¹
Daniela Camargos Costa2
Giselle Eva Bruch2
Izabela Ferreira Gontijo de Amorim3
192
Capítulo 21
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 21
Parasitologia Humana e Veterinária
fase crônica da doença, ocorre o aumento de frequência chegando aos 100%, afetando a
IgG e de IFN-γ específicos para o parasito em memória, percepção e orientação espa-
questão. Nesses indivíduos, na maioria dos ço/temporal (AZOVTSEVA, 2020).
casos, não ocorre a manifestação de sintomas Para além disso, a neurotoxoplasmose
clínicos da doença. No entanto, no caso de geralmente apresenta manifestações como
pessoas imunocomprometidas, com particular lesões cerebrais de anel nos gânglios da base.
atenção para pacientes HIV positivos, os Contudo, ela pode apresentar-se como uma
sintomas da doença quase sempre se doença de rápida progressão, com encefalite
manifestam, fato causado pela reativação da difusa ou ventriculite fatal sem evidências
infecção latente conforme a imunidade do patológicas de lesões cerebrais focais ou ainda,
paciente vai diminuindo. Nesses casos, o T. apresentar-se de forma análoga a um quadro
gondii, na sua forma de bradizoíta, é capaz de de Acidente Vascular Cerebral (AVC)
se reverter para a forma de taquizoíta, levando (VIDAL, 2019; AZOVTSEVA, 2020).
a picos de reagudização da doença, com
manifestações clínicas potencialmente graves e Diagnóstico
irreverssíveis. Além disso, tais pacientes têm O diagnóstico clínico da toxoplasmose é de
maior probabilidade de serem infectados, visto difícil assertividade uma vez que grande parte
que os linfócitos TCD4 + e TCD8 + são dos casos cursam de forma assintomática.
citotóxicos para células infectadas pelo Nesse contexto, torna-se essencial o auxílio de
parasito (TEGEGNE et al, 2016; DUTTA et ferramentas laboratoriais para confirmação da
al, 2020; ZHAO et al, 2020). infecção, particularmente no imunossu-
É de extrema importância ressaltar, ainda, primido. Como ferramentas diagnósticas de
que uma das infecções oportunistas mais primeira escolha, estão os testes sorológicos.
comuns nos imunocomprometidos é a toxo- Porém, no que se refere a toxoplasmose
plasmose cerebral - conhecida também como cerebral em pacientes com AIDS, além do
neurotoxoplasmose -, visto que essas pessoas diagnóstico sorológico, inclui-se exames de
não têm a capacidade de controlar o parasito métodos de imagem, tais como tomografia
persistente e possuem, consequen-temente, computadorizada e ressonância magnética
uma falha na resposta de células T (VIDAL, 2019; AZOVTSEVA, 2020).
antiparasitárias. Ressalta-se que essa enfermi-
dade se manifesta de maneira subaguda, Exame de imagem
gerando, entre os principais sintomas, Face às inúmeras manifestações clínicas
hemiparesia, distúrbios da fala e sensoriais, apresentadas de forma combinada ou isolada
além de déficits motores focais (VIDAL, nos pacientes com toxoplasmose cerebral que
2019; MORO et al, 2020). podem assim induzir o profissional a um
diagnóstico equivocado, é fundamental a
Manifestações clínicas da neurotoxo- utilização dos exames de imagem sempre que
plasmose estes estiverem ao alcance, de forma a
A toxoplasmose cerebral envolve sintomas confirmar, ou não, as suspeitas acerca do
focais como afasia, ataxia, podendo inclusive diagnóstico. Na ausência de tais métodos, a
chegar a paralisa dos nervos cranianos, além progressão das anormalidades neurológicas
do comprometimento cognitivo com taxa de
194
Capítulo 21
Parasitologia Humana e Veterinária
196
Capítulo 21
Parasitologia Humana e Veterinária
cérebro de indivíduos com HIV comumente tratamento estatístico na escolha dos grupos a
está associado a reativação da forma latente serem analisados, bem como às respostas
(cistos) do parasito, devido a imunossupressão individuais de cada paciente ao vírus HIV.
característica desses pacientes (AYOADE et Todavia, é importante ressaltar que na maior
al, 2020; HOSSEINI-SAFA et al, 2020). parte dos casos analisados, há uma relação
De acordo com a Tabela 21.1, pode-se inversa entre essas duas variáveis
inferir que não há consenso entre os autores (REZANEZHAD et al, 2017 NGOBENI et al,
sobre a contagem de linfócitos T-CD4 e a 2017; AZOTSEVA et al, 2020; AYOADE et
contagem de IgG em pacientes HIV positivos. al, 2020).
Tal fato pode ocorrer devido à falta de
Tabela 21.1 Relação entre a contagem de T-CD4 e a contagem de IgG nos diferentes artigos analisados
Seroprevalence of T-CD4 ± 211,5 IgG > 1000 (UI/ml) Positividade para infecção
Toxoplasma gondii among pelo Toxoplasma gondii.
HIV Patients in Jahrom,
Southern Iran.
HIV-1 Associated TCD-4 < 100 Teste positivo para Diagnóstico presuntivo para
Toxoplasmosis presença de IgG neurotoxoplasmose.
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Capítulo 21
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 21
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Capítulo 21
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 22
Parasitologia Humana e Veterinária
CAPÍTULO 22
ASPECTOS GERAIS DA
HEPATOZOONOSE EM
CÃES NO BRASIL:
REVISÃO DE
LITERATURA
Emilly de Souza Moraes¹
Allana Freitas Barros²
Leonardo Costa Rocha¹
Suelem Maria Araújo Pereira¹
João Vitor Pereira Castro¹
Ana Letícia Marinho Figueirêdo¹
Clarissa Sousa Costa Ferreira¹
Wendel Fragoso de Freitas Moreira³
202
Capítulo 22
Parasitologia Humana e Veterinária
A hepatozoonose canina é provocada por duas aos seus hospedeiros definitivos. Sendo o
espécies distintas, o Hepatozoon canis e H. carrapato o principal vetor do H. canis
americanum, sendo protozoários que parasi- encontrado em regiões tropicais, subtropicais e
tam leucócitos e o parênquima de tecidos, temperadas do mundo todo, tornando potencial
transmitidos por carrapatos infectados durante a distribuição mundial deste protozoário
a sua ingestão acidental por cães. O H. (LASTA, 2008).
americanum foi descrito no sul dos Estados No Brasil, existem poucos relatos de
Unidos, enquanto H. canis é encontrado na infecção por Hepatozoon spp. em cães e
Europa, África, Ásia e na América do Sul pouco se sabe da epidemiologia. Apesar da
(BANETH et al., 2003). doença ter sido descrita nos Estados do Rio
Devido semelhanças dos gamontes das de Janeiro (O'DWYER et al., 2001), São
duas espécies, o H. canis até 1997, era consi- Paulo (GONDIM et al., 1998), Minas Gerais
derado o responsável por todos os casos de (MUNDIM et al., 1992), Distrito Federal
hepatozoonose canina (VINCENT-JOHNSON (PALUDO et al., 2003) e Rio Grande do Sul
et al., 1997). O uso das técnicas moleculares (MELLO et al., 2006), a espécie H. canis foi
permitiu em 2000 identificar uma variação de identificada e caracterizada (RUBINI et al.,
13,59% de homologia entre as duas espécies 2005) por meio de técnicas moleculares apenas
na região 18 S do gene para RNA ribossômico, no Rio de Janeiro (GARCIA DE SÁ et al.
comprovando a diferença entre as duas espé- 2007) e em Botucatu (DEMONER, 2016), São
cies e a capacidade de causar enfermidades Paulo.
distintas (LASTA et al., 2009). O que se sabe sobre a prevalência das
A espécie que ocorre no Brasil é H. canis, infecções, é que varia consideravelmente em
prevalente em várias regiões do país, diferentes regiões, como foi relatado nesses
apresentando baixa patogenicidade e associa- trabalhos já citados, os quais obtiveram a
ção com outras infecções (RUBINI et al., prevalência de 39% dos cães em zona rural do
2005). Entretanto, Forlano e colaboradores Rio de Janeiro (O’DWYER et al., 2001),
(2005) sugeriram que não se pode afirmar que enquanto em São Paulo mostrou apenas 8,3%
apenas a espécie H. canis ocorre no Brasil, e de cães infectados (GARCIA de SÁ, 2007).
que mais estudos são imprescindíveis para
confirmar a ocorrência ou ausência de outras Ciclo biológico
espécies do parasito. O carrapato marrom O ciclo biológico de Hepatozoon spp. tem
Rhipicephalus sanguineus foi descrito como como hospedeiros definitivos os carrapatos,
um vetor para H. canis, no entanto outras nos quais ocorre a esporogonia. Os cães e
espécies como Amblyomma ovale são conside- outros mamíferos são os hospedeiros interme-
radas transmissores potenciais (BANETH et diários, que se contaminam ao consumir
al., 2003; FORLANO et al., 2005). carrapatos que contém oocistos maduros de H.
canis e nestes ocorre a fase de reprodução
Epidemiologia assexuada (BANETH et al., 2007; O'DWYER,
Semelhantemente a todas as doenças que 2011).
têm artrópodes como vetores, a distribuição da O início do ciclo dá-se quando ninfas de
hepatozoonose está diretamente relacionada carrapatos se engorgitam com leucócitos infec-
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Capítulo 22
Parasitologia Humana e Veterinária
dogs from Cuiabá, Brazil. Revista Brasileira de Journal (London, England: 1997), v. 162, p. 66-72,
Parasitologia Veterinária, v. 20, p. 253-255, 2011. 2001.
SHAMIR, M. et al. Antibodies to selected canine SOUZA, C. et al. Relato inédito de Hepatozoon canis
pathogens and infestation with intestinal helminths in no município de Santa Maria no ano de 2001. Ciência
golden jackals (Canis aureus) in Israel. Veterinary Animal, v. 10, p. 195-195, 2001.
208
Capítulo 23
Parasitologia Humana e Veterinária
CAPÍTULO 23
ASPECTOS
EPIDEMIOLÓGICOS DA
TRISTEZA PARASITARIA
BOVINA (TPB)
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Capítulo 23
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 23
Parasitologia Humana e Veterinária
rebanhos leiteiros da regiäo de Londrina, Paraná. Arq. clusão de Curso (TCC) em Medicina Veterinária. São
Bras. Med. Vet. Zootec, p. 655-9, 1997. Paulo: Faculdades Metropolitanas Unidas, 2009.
KIKUGAWA, Manoela Mieko. Tristeza Parasitária
Bovina (Babesiose x Anaplasmose). Trabalho de Con-
215
Capítulo 24
Parasitologia Humana e Veterinária
CAPÍTULO 24
TRIPANOSSOMÍASE
BOVINA NO BRASIL
216
Capítulo 24
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 24
Parasitologia Humana e Veterinária
contribuirão para a manutenção do parasito no mais atuais, bem como, aqueles com ausência
rebanho. de dados relevantes ao tema proposto,
As drogas mais efetivas no tratamento da trabalhos publicados em anais de eventos,
tripanossomíase bovina incluem diaceturato de dissertações e teses.
diminazene e cloridrato de isometamidium
(GYSIN et al., 2018). Mesmo com algumas RESULTADOS E DISCUSSÃO
evidências de locais do mundo, com presença
de parasitos resistentes a essas drogas Etiologia
(NGUMBI & SILAYO et al., 2017; A tripanossomíase bovina é uma enfermidade
MEWAMBA et al., 2020; NETO et al., 2021), parasitária provocada por protozoários do
estudos apontam que no Brasil, esses fármacos gênero Trypanosoma spp. (ordem: Kineto-
ainda são eficazes (BASTOS et al., 2020). plastida, família Trypanosomatidae) da seção
Diante da importância da tripanossomíase Salivária, sendo as espécies T. vivax (subgênero
bovina para pecuária nacional, o objetivo deste Duttonella), T. congolense (subgênero
estudo foi descrever os principais aspectos da Nannomonas) e T. brucei brucei (subgênero
enfermidade no Brasil, a partir de uma revisão Tripanozoon) agentes etiológicos responsáveis
da literatura atual. pela doença (NAKAMURA et al., 2021). A
espécie T. congolense é considerada a mais
MÉTODO patogênica para bovinos, seguida da T. vivax,
mas também é capaz de causar infecções em
A metodologia empregada foi a pesquisa equinos, ovinos, caprinos, suínos e cães,
bibliográfica exploratória, a partir da busca de enquanto que T. brucei possui reduzida
artigos científicos publicados em revistas patogenicidade nos ungulados domésticos,
indexadas na base de dados do PubMed, sendo virulenta em cães, camelos e equinos
Periódicos da CAPES (Coordenação de (GIORDANI et al., 2016). Nos últimos anos, a
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível infecção por T. vivax em rebanhos bovinos
Superior) e Google Acadêmico. Para seleção vem emergindo na América do Sul, causando
dos artigos referenciados, adotaram-se como impactos econômicos relevantes para a cadeia
critério de inclusão os artigos que tivessem produtiva, especialmente no Brasil (MELO;
sido publicados nos últimos cinco anos e que OLIVEIRA; ABREU-SILVA, 2017).
apresentassem, ao menos, um dos termos Os tripanossomatídeos salivares
inseridos, como tripanossomíase bovina, assemelham-se morfologicamente devido ao
Trypanosoma vivax, cinetoplasto, transmissão formato fusiforme alongado e pela presença de
dos tripanossomas salivares, surtos de T. vivax um único flagelo, que emerge na extremidade
no Brasil, tratamento; diaceturato de posterior, a partir do cinetossoma ou corpo
diminazene; cloridrato de isometamidium; basal, e se estende formando uma membrana
resistência; sinais clínicos e diagnóstico. ondulante até a extremidade anterior, onde se
Adotaram-se como critérios de exclusão os torna livre, com exceção à espécie T.
artigos que apresentaram resultados repetidos, congolense (TAYLOR; COOP; WALL, 2017).
redundantes e inconclusivos, optando-se pelos Outra característica importante é a presença do
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Capítulo 24
Parasitologia Humana e Veterinária
cinetoplasto, estrutura que consiste no genoma Gerais (REIS et al., 2019), Maranhão
mitocondrial, formado por duas classes de (PEREIRA et al., 2018), Rio de Janeiro
DNA circular condensados, localizada (COSTA et al., 2020), Sergipe (VIEIRA et al.,
próxima ao flagelo (KAUFER; STARK; 2017) e Espírito Santo (SCHMITH et al.,
ELLIS, 2019). Os maxicírculos são 2020).
responsáveis pela codificação das proteínas A ocorrência de surtos de tripanossomíase
mitocondriais e do RNA ribossômico enquanto em rebanhos bovinos tem sido associada a
que os minicírculos codificam moléculas diversos fatores de risco, que apresentam
curtas de RNA guia, atuando na edição de relação às características dos animais, do
transcritos dos maxicírculos (GREIF et al., ambiente e manejo empregado. A criação de
2015). raças europeias em criações de bovinos
leiteiros, a proximidade às áreas florestais,
Epidemiologia onde há presença constante de animais
A transmissão da tripanossomíase bovina, silvestres, lagoas e áreas alagadas; infestações
conhecida popularmente no Brasil por por carrapatos e a presença de mosca-dos-
“secadeira”, ocorre majoritariamente de forma estábulos e mutucas, foram identificados como
vetorial, através da picada de insetos hemató- possíveis fatores para infecção por T. vivax
fagos e inoculação da forma infectante metací- (BATISTA et al., 2018). A prática diária de
clica tripomastigota durante o repasto sanguí- administrar ocitocina nas vacas com a mesma
neo nos animais susceptíveis. Na transmissão seringa, para induzir lactação, bem como a
cíclica, após a ingestão de sangue contaminado introdução de animais previamente infectados
por tripomastigotas, proveniente dos animais no rebanho, também foi preponderante para a
infectados, os parasitos multiplicam-se no ocorrência de surtos (BASTOS et al., 2017).
intestino anterior e probóscida e passam por
um ciclo de desenvolvimento, que culmina na Transmissão e patogenia
diferen-ciação da forma infectante, tornando- No Brasil, devido à ausência da mosca tsé-
se viável para infectar o próximo hospedeiro tsé, a transmissão dos tripanosomas ocorre de
mamífero (OOI et al., 2016). Neste tipo de forma mecânica, não cíclica, por dípteros
transmissão, o único vetor responsável é a hematófagos, como a mosca-dos-estábulos
mosca tsé-tsé (Glossina spp.), que tem (Stomoxys calcitrans) e espécies de tabanídeos
ocorrência no continente africano (MAK- (MELO; OLIVEIRA; ABREU-SILVA, 2017).
HULU et al., 2021). Nestes vetores, a transmissão cruzada ocorre
O primeiro relato da tripanossomíase devido à interrupção de sua alimentação,
bovina no Brasil ocorreu no estado do Pará, realizando a inoculação dos tripanosomas,
em 1944, a partir de um rebanho de bubalinos. presentes na probóscida contaminada, nos
Desde então, surtos epidêmicos vêm sendo animais susceptíveis (TAYLOR; COOP;
relatados em diversos rebanhos bovinos, WALL, 2017). Outra forma de transmissão
distribuídos em todo o território nacional. Nos mecânica é a iatrogênica, principalmente por
últimos anos, as ocorrências de surtos meio do compartilhamento de agulhas entre os
tornaram-se mais frequentes, havendo relatos animais (BASTOS et al., 2017).
em Goiás (BASTOS et al., 2017), Minas
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Capítulo 24
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 24
Parasitologia Humana e Veterinária
morte do animal, ou progredir para uma fase Problemas reprodutivos também são
subaguda a crônica, são relatadas taxas de frequentemente relacionados a quadros de T.
mortalidade de 6,5% em bovinos adultos e vivax. São observados abortos frequentes no
36% em bezerros (HURTADO et al., 2016; rebanho, associados a repetições de cio,
PEREIRA et al., 2018). A susceptibilidade do retenção de placenta, nascimentos de bezerros
animal está associada a diferentes fatores com fracos, redução do peso dos animais ao
destaque para a idade, infecções concomi- desmame, além de infertilidade dos touros,
tantes, estresse, gestação, lactação, estado decorrente de processo degenerativo em
nutricional e virulência da cepa de T. vivax testículo e epidídimo (HURTADO et al., 2016;
(FIDELIS JUNIOR et al., 2016; BASTOS et PEREIRA et al., 2018). Na bovinocultura
al., 2017). leiteira, são relatados diminuição na produti-
As manifestações clínicas associadas à vidade de leite, de acordo com Bastos et al.
tripanossomíase em bovinos são inespecíficas. (2020b), foi observada redução de 39,6% na
Na fase aguda da doença o sinal clínico produção média diária de leite. Fidelis Junior
comumente observado é a hipertermia, e et al. (2016), relatam que fatores como alta
quadros de anemia também são frequente- demanda energética dos bovinos leiteiros, seja
mente relatados, variando de discreta a severa na fase de gestação ou lactação pode aumentar
intensidade, decorrente da destruição dos os riscos de óbito na fase aguda da doença.
eritrócitos, sendo acompanhada por leucopenia Vale ressaltar que casos assintomáticos tam-
no estágio inicial da infecção e leucocitose na bém são relatados e sugere-se que os animais
fase crônica. Animais com anemia persistente que apresentam bom estado nutricional
podem progredir para um quadro de consigam controlar a parasitemia. A patogeni-
insuficiência cardíaca com evolução fatal. A cidade da cepa de T. vivax também está
letalidade da doença é frequentemente relacionada com a gravidade da doença
associada aos quadros de anemia severa (PEREIRA et al., 2018).
(DAGNACHEW & BEZIE, 2015; PEREIRA
et al., 2018). Diagnóstico
Outros sinais clínicos incluem apatia, Fatores como a ausência de sinais
anorexia, perda de peso progressiva, (VIEIRA patognomônicos, ocorrência de doenças
et al., 2017; BASTOS et al., 2020b), concomitantes, assim como, oscilações na
taquicardia e taquipneia, mucosas pálidas, parasitemia ao longo da infecção, dificultam o
lacrimejamento, edema submandibular e diagnóstico da enfermidade, contribuindo para
aumento dos linfonodos superficiais (FIDELIS sua manutenção no rebanho (PEREIRA et al.,
JUNIOR et al., 2016). O acometimento do 2018; FIDELIS JUNIOR et al., 2019).
sistema nervoso central pelo parasito pode Diferentes técnicas são utilizadas para o
desencadear sinais neurológicos como, disme- diagnóstico do hemoparasito, mas vale ressal-
tria, ataxia, incoordenação motora, fascicula- tar a importância do histórico clínico do
ções, tetanismo, fraqueza muscular especial- animal e exame clínico detalhado, bem como,
mente nos membros posteriores, prostação, das investigações epidemiológicas sobre a
opistótono e cegueira, podendo evoluir para incidência da doença. As técnicas utilizadas
óbito após uma ou duas semanas (VIEIRA et são baseadas em métodos parasitológicos,
al., 2017; PEREIRA et al., 2018).
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Parasitologia Humana e Veterinária
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Parasitologia Humana e Veterinária
CAPÍTULO 25
O USO DE Lippia grata COMO
UMA ALTERNATIVA NO
CONTROLE DE
ECTOPARASITOS DE
IMPORTÂNCIA VETERINÁRIA:
UMA REVISÃO
Ana Karolinne De Alencar França¹
Yandra Thaís Rocha Da Mota¹
Marcus Vinicius Gomes Dantas2
Kevyn Danuway Oliveira Alves2
Antônio Oliveira De Brito Júnior³
Ismael Vinícius De Oliveira4
João Inácio Lopes Batista5
Michele Dalvina Correia Da Silva6
Ana Carla Diógenes Suassuna Bezerra6
1Discente – Mestrado em Ambiente, Tecnologia e Sociedade da Universidade Federal Rural
do Semi-Árido
2Discente – Acadêmico em Ciências Biológicas da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte.
3Discente – Acadêmico em Biotecnologia da Universidade Federal Rural do Semi-Árido
4Discente – Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal Rural
do Semi-Árido.
5Técnico do Laboratório de Biotecnologia Aplicada a Doenças Infecto-parasitárias da
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
6Docente – Departamento de Biociências da Universidade Federal Rural do Semi-Árido.
228
229
Capítulo 25
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 25
Parasitologia Humana e Veterinária
espécies medicinais, destacando-se por seu et al., 2011). Possui caule quebradiço e
aspecto chamativo no período de floração e ramificado desde a base folhas simples com
seu aroma forte e característico (DE borda serrilhada e flores brancas, tubulares,
OLIVEIRA et al., 2020). Dentro do gênero reunidas em inflorescência do tipo espiga (DE
Lippia, encontra-se a espécie Lippia grata, SOUZA & KIILL, 2018). Os frutos são do tipo
antiga Lippia gracilis, conhecida popular- aquênio (seco), muito pequenos, e possuem
mente como alecrim-da-chapada, alecrim-de- sementes que raramente germinam (GOMES
tabuleiro, alecrim-do-mato, dentre outras et al., 2011).
denominações (PRADO et al., 2012).
Extrato de L. grata
Lippia grata Extratos naturais de plantas vêm sendo
Lippia grata é uma planta arbustiva considerados uma alternativa importante no
endêmica importante no Nordeste do Brasil. controle de doenças, principalmente em
Suas folhas (Figura 25.1) pequenas e relação ao uso de produtos sintéticos (DE
aromáticas são ricas em óleos essenciais, JESUS & PEREIRA, 2020). Pouco se sabe
contendo dentre vários compostos o timol, sobre a ação e composição dos extratos da L.
carvacrol, p-cimeno e γ-terpineno, os quais grata, pois a maioria dos estudos foram
conferem atividades biológicas eficientes realizados enfatizando o uso do óleo essencial
(PÉREZ ZAMORA et al., 2018; VIANA et da planta.
al., 2019). A planta possui grande resistência à Fernandes et al. (2015), avaliaram a
seca e às altas temperaturas, perdendo suas fungitoxicidade in vitro dos extratos vegetais
folhas somente após um longo período de etanólicos (foliar e radicular) e do óleo
estiagem (MARCELINO-JR et al., 2005). essencial de Lippia grata sobre o fungo
Monosporascus cannonballus, onde o óleo
Figura 25.1 Imagem das folhas e flores da L. grata essencial em todas as concentrações avaliadas
e os extratos foliar (7500 parte por milhão
[ppm]) e radicular (5000 e 7500 ppm) inibiram
100% do crescimento micelial do fungo.
233
Capítulo 25
Parasitologia Humana e Veterinária
234
Capítulo 25
Parasitologia Humana e Veterinária
235
Capítulo 25
Parasitologia Humana e Veterinária
TAYLOR, M. A.; COOP, R. L.; WALL, R. L. VIANA, M.G. et al. Antimicrobial and Antibiofilm
Parasitologia Veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Activity of Essential Oil of Lippia gracilis Schauer on
Koogan, 1052 p., 2017. Clostridium Bifermentans and Fungal-Containing
TSABOULA, A. et al. Environmental and human risk Biofilms. Austin Chemical Engineering, v.6, n.1, 2019.
hierarchy of pesticides: A prioritization method, based WOLF, R. W. et al. Novel Babesia and Hepatozoon
on monitoring, hazard assessment and environmental agents infecting non-volant small mammals in the
fate. Environment International, v.91, p.78–93, 2016. Brazilian Pantanal, with the first record of the tick
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236
Capítulo 26
Parasitologia Humana e Veterinária
CAPÍTULO 26
Croton blanchetianus COMO
ALTERNATIVA DE CONTROLE
DE ENDOPARASITAS: UMA
REVISÃO
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Capítulo 26
Parasitologia Humana e Veterinária
o ambiente e sociedade. Com isso, o presente atividade de grande importância nas regiões
estudo tem como objetivo realizar uma revisão áridas e semiáridas do Brasil (MAGALHÃES
bibliográfica sobre a utilização C. blan- et al., 2017; FERREIRA et al., 2019). Nos
chetianus como alternativa no controle de últimos anos a ovinocultura vem somando
endoparasitas gastrintestinais de ovinos. forças, devido a fatores como facilitação de
manejo deste rebanho, melhoramento genético
MÉTODO e carne ovina (ANUALPEC, 2018).
O crescimento da ovinocultura teve início
a partir do descobrimento dos pecuaristas de
O presente estudo trata-se de uma revisão
custo-benefício na produção de carne ovina em
integrativa realizada no período de seis meses,
relação à bovina, tornando-se uma atividade
com inicio em dezembro de 2020 e término em
mais lucrativa, devido ao custo de manutenção
maio de 2021. A pesquisa foi baseada por
ser menor (AQUINO et al.,2016; FONSECA
artigos científicos e livros publicados em bases
et al., 2019). Além disso, a carne ovina
de dados disponíveis e com relevância para o
apresenta um alto valor proteico e de
tema, nos idiomas inglês, português, como
colesterol, e baixos de gorduras (MUSHI et
Portal de Periódicos da Coordenação de
al., 2010; PESSOA et al., 2018).
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
Entretanto, o Brasil não consegue atender a
(CAPES), Scielo (Scientific Eletronic Library
demanda interna, fato que aumenta a
Online), Veterinary Parasitology, Brazilian
importação do produto (VIANA et al., 2015).
Journal of Development entre outros. Após as
O leite, lã, carne e pele são exemplos de
buscas dos artigos, posteriormente submetidos
produtos disponibilizados, contribuindo na
aos critérios de seleção.
geração de renda e bem estar da população,
Os critérios de inclusão foram: artigos
onde se tornaram fontes de proteínas
gratuitos que estivessem disponíveis nas bases
(BANDEIRA, et al., 2004; NAEEM, IQBAL,
de dados citadas acima e os mais recentes e
ROOHI, 2021).
que abordavam as temáticas propostas para
Entretanto, o desenvolvimento e criação
esta pesquisa. Os critérios de exclusão foram:
podem ser afetados por fatores como perdas
artigos duplicados, disponibilizados na forma
significativas no rebanho consequentes de
de resumo, dissertações, teses e os que não
enfermidades causadas por endoparasitos
abordavam diretamente a proposta estudada e
gastrintestinais, que pode levar a queda da
que não atendiam aos demais critérios de
produtividade, morte; causando um grande
inclusão.
impacto econômico e social (IDRIS et al.,
2012; CHAGAS et al., 2013; TOSCANO et
RESULTADOS E DISCUSSÃO al., 2018).
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Capítulo 26
Parasitologia Humana e Veterinária
CONCLUSÃO
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Capítulo 25
Parasitologia Humana e Veterinária
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Capítulo 25
Parasitologia Humana e Veterinária
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ÍNDICE REMISSIVO
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