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APOSTILA I
Conteúdo
I. História da Epidemiologia
II. Conceitos em Epidemiologia
III. Princípios Básicos da Epidemiologia
IV. Usos da Epidemiologia
V. O que são Populações?
VI. História Natural da Doença
Durante os 200 anos seguintes, essas técnicas não foram consideradas. Em 1839, Willian Farr,
médico responsável pelas estatísticas médicas na Inglaterra e no País de Gales, estudou
diversos aspectos relacionados com a saúde da população, tais como: mortalidade em minas
e em outros ambientes de trabalho; mortalidade em prisões; diferença de mortalidade entre
solteiros e casados; variações nas taxas de matrimônio em função da situação econômica do
país; distribuição da cólera; taxas de analfabetismo; consequências da emigração etc.
Saúde:
- Segundo o conceito popular, saúde é a ausência de doença.
- Segundo a OMS, saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não
apenas a ausência de doença.
- Sob o ponto de vista ecológico, saúde é a perfeita e contínua adaptação de um organismo a
seu ambiente.
Medir a frequência de um
agravo (doença ou outro
evento) nas populações!!!
Por exemplo: Em uma localidade ou município está ocorrendo diarréia em bezerros. O médico
veterinário logo suspeita de Salmonelose ou Colibacilose, que são doenças infecciosas
causadoras de diarréia em filhotes. Para estas situações, a investigação epidemiológica é
bastante onerosa e requer tempo para colher material biológico (fezes) dos animais doentes e
encaminhar ao laboratório para concluir o diagnóstico laboratorial através do isolamento
bacteriano. Desta forma, numa investigação epidemiológica já temos conhecimentos sobre o
agente causal, os fatores e grupos de risco, como a transmissão ocorre e qual a faixa etária
mais suscetível, e como poderemos controlar e sanear a doença numa criação ou localidade.
Este objetivo é utilizado por órgãos governamentais de saúde humana e animal com o intuito
de controlar e/ou erradicar doenças infecciosas ou não, que sejam importantes na população
humana ou animal. As técnicas epidemiológicas empregadas incluem coleta rotineira de
dados sobre a doença na população. Destina-se a informar se a ocorrência da doença está
sendo afetada por novos fatores e se a incidência está aumentado ou diminuindo.
Exemplo 1: O Programa de Erradicação e Controle da Febre Aftosa (PNEFA) implantado no
Brasil, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), foi todo elaborado
através de colheita de dados epidemiológicos (regiões mais afetadas) por um período de
tempo. Sabe-se que a doença acomete animais biungulados e é altamente transmissível. Com
isso, estabeleceu-se calendários de vacinação regionalizado como medida estratégica no
programa.
Exemplo 2: O Programa de Imunizações em humanos implantado no Brasil, pelo Ministério da
Saúde, estabelece a vacinação contra a influenza em idosos como grupos prioritários, após a
observação da ocorrência da incidência sazonal com altas taxas de hospitalização e óbitos
nesta faixa-etária.
Ciências Biológicas
A Epidemiologia apoia-se em conhecimentos biológicos tais como Clínica, Patologia,
Microbiologia, Parasitologia e Imunologia. Essas e outras disciplinas afins contribuem para
que seja possível descrever as doenças, classificá-las mais adequadamente e, assim, atingir
maior grau de precisão na determinação da frequência com que estão ocorrendo na
população.
Ciências Sociais
As Ciências Sociais conferem uma dimensão mais ampla à Epidemiologia. Os fatores que
produzem a doença são biológicos e ambientais, com significados sociais complexos. A
sociedade, da forma como está organizada, embora ofereça proteção aos indivíduos, também
determina muitos dos riscos de adoecer, bem como o maior ou menor acesso das pessoas às
técnicas de prevenção das doenças e de promoção e recuperação da saúde. A busca de
melhor conhecimento da interação do social com o biológico, na produção da doença, passou
a ser fundamental na Epidemiologia atual.
Estatística
A estatística é a ciência e arte de coletar, resumir e analisar dados sujeitos a variações. Tem
papel fundamental na Epidemiologia, pois fornece o instrumental a ser levado em conta na
investigação de questões complexas, como a aleatoriedade dos eventos e o controle de
variáveis que dificultam a interpretação dos resultados. Um exemplo da grande utilidade da
Estatística na Epidemiologia está na determinação do tamanho de uma amostra e na maneira
de selecioná-la. Outro exemplo é representado pela fase de análise de dados, particularmente
no estudo do significado das variações de frequências, quando se tenta verificar se as
diferenças são simplesmente devidas ao acaso ou se traduzem ocorrências sistemáticas. A
aproximação entre essas duas ciências fez que a Estatística ocupasse um lugar antes até
então não preenchido na área de saúde.
Em biologia, população é o conjunto de indivíduos de uma mesma espécie que habitam uma
determinada área, num espaço de tempo. Ou seja, cada grupo de organismos de uma mesma
espécie que vivem em uma determinada comunidade, constituem populações biológicas
(WIKIPEDIA, 2020b). Logo, não são consideradas populações quando focamos em número de
pessoas ou animais que estão momentaneamente aglomeradas ou juntas, como por exemplo,
pessoas atendidas em um hospital, crianças de uma creche, cães de uma clínica veterinária,
animais selvagens apreendidos por órgãos de fiscalização.
A comunidade é composta por mais de uma população, animal ou vegetal e várias
comunidades formam o ecossistema.
O entendimento dos níveis de organização na ecologia das doenças é muito importante, pois
nestas populações e comunidades podem existir indivíduos que se comportam como
hospedeiros e/ou fontes de infecção de agentes infecciosos, muitas vezes assintomáticos.
1. Conceito de saúde
O discurso sanitário com enfoque na saúde ainda é recente. A ideia de saúde como qualidade
de vida condicionada por vários fatores, tais como: paz, abrigo, alimentação, renda, educação,
recursos econômicos, ecossistema estável, recursos sustentáveis, equidade e justiça social
surgiram com a Conferência Internacional sobre a Promoção da Saúde, em Ottawa, em 1986
(REDE E-TEC, 2014).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a saúde como um completo bem-estar físico,
social e mental e não apenas ausência de doenças, conceito esse que evoluiu, pois saúde, em
sua concepção ampliada, é o resultado das condições de alimentação, moradia, educação,
meio ambiente, trabalho e renda, transporte, lazer, liberdade e, principalmente, acesso aos
serviços de saúde, conforme a VIII Conferência Nacional de Saúde, realizada no Brasil, em
1986. Conforme Berlinguer apud Bretãs e Gambá (2006), a saúde é silenciosa, geralmente
não a percebemos em sua plenitude. Na maior parte das vezes apenas a identificamos
quando adoecemos. É uma experiência de vida, vivenciada no âmago do corpo individual.
Ouvir o próprio corpo é uma boa estratégia para assegurar a saúde com qualidade, pois não
existe um limite preciso entre a saúde e a doença, mas uma relação de reciprocidade entre
ambas; entre a normalidade e a patologia, na qual os mesmos fatores que permitem ao
homem viver (alimento, água, ar, clima, habitação, trabalho, tecnologia, relações familiares e
sociais) podem causar doenças. Essa relação é demarcada pela forma de vida dos seres
humanos, pelos determinantes biológicos, psicológicos e sociais. Tal constatação nos remete
à reflexão de que o processo saúde-doença-adoecimento ocorre de maneira desigual entre os
indivíduos, as classes e os povos, recebendo influência direta do local que os seres ocupam
na sociedade (REDE E-TEC, 2014).
2. Conceito de doença
De acordo com especialistas da área, doença é um conjunto de sinais e sintomas específicos
que afetam um ser vivo, alterando o seu estado normal de saúde. O vocábulo é de origem
latina, em que “dolentia” significa dor, padecimento. Em geral, a doença é caracterizada como
ausência de saúde, um estado que ao atingir um indivíduo provoca distúrbios das funções
físicas e mentais. Pode ser causada por fatores exógenos (externos, do ambiente) ou
endógenos (internos, do próprio organismo). A doença não pode ser compreendida apenas
por meio das medições fisiopatológicas, pois quem estabelece o estado da doença é o
sofrimento, a dor, o prazer, enfim os valores e sentimentos expressos pelo corpo subjetivo que
adoece (REDE E-TEC, 2014).
De acordo com LEAVEL e CLARK (1976) a História natural da doença é o modelo descritivo
elaborado através das informações capazes de explicar como e por que determinados eventos
acontecem e participam do processo de doença. Veja abaixo o modelo descritivo elaborado
por Leavel e Clark (1976) (Figura 8).
Figura 8. Modelo descritivo da história natural da doença elaborado por Leavel e Clark (1976). Google Imagens, 2020.
Outros esquemas também foram adaptados e adotados por profissionais de saúde para
melhor visualização do processo doença e conforme a necessidade de expressar as
informações e sequências da História Natural da Doença (Figuras 12, 13 e 14).
Figura 12. Modelo da História Natural das Doenças. Fonte: Google imagens, 2020.
Figura 13. Modelo da História Natural das Doenças. Fonte: Google imagens, 2020.
Figura 14. Modelo da História Natural das Doenças. Fonte: Google imagens, 2020.
Afinal, o que significa história natural da doença? Que ideia você tem quando pensa em
“história”? Algo que já aconteceu? Algo contado por alguém? E “natural”? Algo que
venha da natureza, certo? Pois bem, se você pensou nessas ideias, está no caminho.
Figura 15. Esquema extraído de Passos, 2020.
A história natural de uma doença é uma descrição, ou seja, algo que possui uma evolução, do
processo de adoecimento de um indivíduo até sua cura ou morte. Trata-se de um estudo que
acaba sendo um instrumento necessário, pois aponta quais métodos podem ser utilizados na
prevenção e no controle. Nessa tarefa, podemos dizer que a visão de unicausalidade
(somente uma causa) da doença é desconsiderada, pois para a história natural da doença
existem vários fatores na causa de uma doença, ou seja, sua origem e determinação é
multicausal (várias causas). A história natural da doença é todo tipo de interação entre três
elementos citados anteriormente:
O Período de latência é o tempo que transcorre desde a infecção até que o indivíduo se torne
infectado. O Período de Incubação então é o tempo que transcorre desde a infecção até a
apresentação dos sintomas. Ha´autores que citam que o período de incubação é o período
durante o qual ocorre a instalação, e eventual multiplicação dos agentes etiológicos no
hospedeiro, sem que seja verificada sintomatologia da doença. Este período é o início do
Período Patogênico.
Durante o curso da doença, ela pode ser sub-clínica ou clínica, ou ainda começar como
sub-clínica e avançar para fase clínica. Na fase sub-clínica, o indivíduo demonstra sinais
clínicos inespecíficos, geralmente manifestando hipertermia, que muitas vezes não são
percebidos. Já na fase clínica, o indivíduo demonstra sinais clínicos evidentes. Nesta fase, o
indivíduo pode apresentar doença precoce discernível e depois passar para doença avançada.
BONITA, R. et al. Epidemiologia Básica. Segunda edição. Grupo Editorial Nacional, 2010.
CASSENOTE, J.L. et al. Epidemiologia. Principais temas para prova de residência médica. Vol. 1.
Medcel. Acesso em 29/08/2020.
http://crm.cbbw.com.br/AnexoPdfLojaVirtual/Epidemio%20Vol.%201.pdf
PEREIRA, F.J. Princípios de Epidemiologia. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 1995. 596 p.