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Universidade Federal Rural da Amazônia

Curso de Graduação em Medicina Veterinária


Disciplina de Epidemiologia Veterinária

APOSTILA I

Conteúdo

I. História da Epidemiologia
II. Conceitos em Epidemiologia
III. Princípios Básicos da Epidemiologia
IV. Usos da Epidemiologia
V. O que são Populações?
VI. História Natural da Doença

Apostila elaborada por compilação de autores


referendados, para a disciplina de Epidemiologia
Veterinária do curso de graduação em Medicina
Veterinária da Universidade Federal Rural da Amazônia,

Prof. Andréa Maria Góes Negrão, 2022.

Belém, Pará, 2022


I. História da Epidemiologia

Figura 1. Esquema extraído de Passos (2020).

Embora os temas abordados sejam antigos, a Epidemiologia como disciplina acadêmica é


relativamente nova. Há aproximadamente 2.400 anos, Hipócrates observou que a
enfermidade pode estar relacionada ao ambiente. Em sua obra “Dos ares, águas e lugares”,
ele faz referência a estações do ano, vento, calor, frio, posição geográfica, tipo de água,
arborização, modo de vida (excesso de comida e bebida, indolência ou exercício e trabalho)
etc. como sendo fatores que afetam a saúde das pessoas (MATHIAS, 2014).

Figura 2. Esquema extraído de Passos (2020).

Os termos “epidêmico” e “endêmico” derivaram das palavras gregas epidemeion e endemeion,


que Hipócrates utilizou para incorporar uma perspectiva comunitária à compreensão das
enfermidades. A finalidade desses termos era diferenciar as enfermidades que “visitam” a
comunidade - o verbo epidemeion significa “visitar” - das enfermidades que “residem” na
comunidade. Além de empregar as palavras “epidêmico” e “endêmico”, Hipócrates também se
referiu ao que hoje em dia constitui a base das investigações epidemiológicas: a distribuição
da enfermidade em termos de tempo, espaço e população afetada (MATHIAS, 2014).
.
Por um período aproximado de 2.000 anos, nada se acrescentou às observações de
Hipócrates. Entretanto ele usou a palavra considerar e não contar, quantificar. Foi John Graunt,
em 1662, quem introduziu os métodos quantitativos no estudo dos problemas de saúde nas
populações. Ele analisou o número de óbitos semanais e os registros de batizados em
Londres, notando maior número de óbitos entre os homens, elevadas taxas de mortalidade
entre os lactentes, variação estacional nas taxas de mortalidade e várias outras características.
John Graunt introduziu dois procedimentos básicos em Epidemiologia:
 Estimar a população
 Elaborar uma tabela de mortalidade
Outro achado significativo foi que ele demonstrou a possibilidade de prognosticar os
fenômenos biológicos considerados em massa. Pelo seu pioneirismo na utilização dos
coeficientes, Graunt é considerado o pai da demografia ou das estatísticas vitais (MATHIAS,
2014).

Durante os 200 anos seguintes, essas técnicas não foram consideradas. Em 1839, Willian Farr,
médico responsável pelas estatísticas médicas na Inglaterra e no País de Gales, estudou
diversos aspectos relacionados com a saúde da população, tais como: mortalidade em minas
e em outros ambientes de trabalho; mortalidade em prisões; diferença de mortalidade entre
solteiros e casados; variações nas taxas de matrimônio em função da situação econômica do
país; distribuição da cólera; taxas de analfabetismo; consequências da emigração etc.

Um exemplo de trabalho epidemiológico de Farr foi a tentativa de determinar o efeito do


encarceramento sobre a taxa de mortalidade. Ele comparou a taxa de mortalidade na prisão e
na população em geral, levando em conta a idade dos presidiários, a duração da sentença etc.,
e calculou o risco atribuível. Farr assinalou algumas das principais tarefas do epidemiologista:
 Considerar a população exposta ao risco;
 Necessidade de medir as diferenças nas características dos grupos estudados;
 Considerar as distorções produzidas pela seleção dos indivíduos;
 Determinar as formas de medir o risco.

Figura 3. Texto extraído de Bonita et al (2010).


Figura 4. Texto extraído de Bonita et al (2010).

Outra questão relacionada com a Epidemiologia é a etiologia das enfermidades, discussão


que perdurou até o século XIX e que influenciou o desenvolvimento histórico desta ciência. O
homem primitivo atribuía a ocorrência de doenças a poderes sobrenaturais. Sob essa ótica, a
enfermidade poderia ser provocada por bruxas, entidades sobre-humanas ou pelos espíritos
dos mortos. As doenças também já foram consideradas resultado do descontentamento divino,
ou seja, a doença seria uma punição, o que, aliás, encontra-se de forma explícita na
Bíblia .(MATHIAS, 2014).

Figura 5. Esquema extraído de Passos (2020).

II. Conceitos em Epidemiologia


Tradicionalmente: “Epidemiologia” = refere-se aos estudos em populações humanas
Modernamente: Qualquer estudo ou pesquisa relacionada com ocorrência de doença em
populações humanas ou de animais.
Outras definições:
epi "sobre" demos "povo" logos "estudo", ou a ciência das epidemias, propõe-se estudar
quantitativamente a distribuição dos fenômenos de saúde/doença, e seus fatores
condicionantes e determinantes, nas populações humanas (WIKIPEDIA, 2020a).

O estudo da distribuição e determinantes dos estados e eventos relacionados à saúde em


populações e a aplicação desse estudo no controle de problemas de saúde (JM LAST, 1993).
O estudo da distribuição de uma doença ou uma condição fisiológica em populações e dos
fatores que influenciam esta distribuição (SCHINEIDER,D.; LILIENFELD, 2015).

Outros Conceitos (MATHIAS, 2014)

Saúde:
- Segundo o conceito popular, saúde é a ausência de doença.
- Segundo a OMS, saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não
apenas a ausência de doença.
- Sob o ponto de vista ecológico, saúde é a perfeita e contínua adaptação de um organismo a
seu ambiente.

A ação recíproca do homem e seu meio é um processo contínuo de adaptação: o homem


adapta-se a seu meio e o acomoda a suas necessidades, ou melhor, a seus desejos. Se a
adaptação tem êxito, a consequência é a saúde; se fracassa, a enfermidade.

Saúde (animal) - é a otimização das funções produtivas


Medicina Preventiva: é a área da Medicina que engloba as atividades de prevenção de
ocorrência de doenças e promoção da saúde atuando no indivíduo ou na família.
Medicina Veterinária Preventiva: é a área da Medicina Veterinária que engloba as atividades
de prevenção da ocorrência de doenças e promoção da saúde do indivíduo ou do coletivo
(rebanho).
Saúde Pública: ciência que visa promover, proteger e recuperar a saúde humana por meio de
medidas de alcance coletivo.
Saúde Animal: ciência que visa promover, proteger e recuperar a saúde do animal por meio
de medidas de alcance coletivo.
Saúde Pública Veterinária: é a aplicação dos recursos da Medicina Veterinária na promoção
da saúde humana.
Outros conceitos usados em Saúde Animal (MATHIAS, 2014)
 Caso: é um indivíduo afetado por determinada enfermidade.
 Caso primário: é o primeiro caso de determinada enfermidade a ocorrer em determinada
área.
 Caso índice: é o primeiro caso de determinada enfermidade registrado em determinada área.
 Caso coprimário: é o caso que ocorre imediatamente após o caso primário, antes de
transcorrido o período mínimo de incubação da doença; significa que teve a mesma
exposição que o caso primário.
 Caso secundário: aparece após o período máximo de incubação da doença (em relação ao
aparecimento do caso primário); significa que se originou a partir do caso primário, e não da
mesma fonte de infecção que deu origem aos casos primário e co-primário; o número de
casos secundários caracteriza a difusibilidade da doença e reflete a infectividade do agente
etiológico.

III. Princípios Básicos da Epidemiologia


Um dos princípios básicos da Epidemiologia é o de que os agravos à saúde não ocorrem por
acaso em uma população. A partir desse princípio, pode-se afirmar que a distribuição desigual
dos agravos à saúde é produto da ação de fatores que se distribuem desigualmente na
população. Portanto, a elucidação desses fatores, responsáveis pela distribuição das doenças,
é uma das preocupações constantes da Epidemiologia. O conhecimento dos fatores
determinantes das doenças permite a aplicação de medidas preventivas com o propósito de
resolver o problema (PEREIRA, 1995).

Qual é a única ferramenta dos epidemiologistas?

Medir a frequência de um
agravo (doença ou outro
evento) nas populações!!!

Figura 6. Fonte: Google Imagens, 2020

Medir a frequência das doenças tem vários componentes:

 Classificar e caracterizar a doença;


 Encontrar uma fonte para busca de casos;
 Definir a população de risco da doença;
 Definir o período de tempo do risco da doença;
 Obter permissão para estudar o indivíduo;
 Fazer medidas das freqüências da doença;
 Relacionar casos à probabilidade na população e tempo.

IV. Usos da Epidemiologia (objetivos)

1. Determinação da origem da doença de causa conhecida


2. Investigação e controle de doença de causa desconhecida ou pouco compreendida
3. Aquisição de informações da ecologia e da história natural da doença
4. Planejamento e monitoramento de programas de controle da doença
5. Avaliação econômica dos efeitos da doença e dos custos x benefícios das campanhas

1. Determinação da origem da doença de causa conhecida

Nesse caso, a Epidemiologia deve responder a questões como:


 Por que ocorreu a enfermidade?
 Por que aumentou o número de casos?

Este objetivo é bastante utilizado na epidemiologia, pois configura já conhecermos a doença


assim como o agente causal e o diagnóstico adotado.

Por exemplo: Em uma localidade ou município está ocorrendo diarréia em bezerros. O médico
veterinário logo suspeita de Salmonelose ou Colibacilose, que são doenças infecciosas
causadoras de diarréia em filhotes. Para estas situações, a investigação epidemiológica é
bastante onerosa e requer tempo para colher material biológico (fezes) dos animais doentes e
encaminhar ao laboratório para concluir o diagnóstico laboratorial através do isolamento
bacteriano. Desta forma, numa investigação epidemiológica já temos conhecimentos sobre o
agente causal, os fatores e grupos de risco, como a transmissão ocorre e qual a faixa etária
mais suscetível, e como poderemos controlar e sanear a doença numa criação ou localidade.

2. Investigação e controle de doença de causa desconhecida ou pouco


compreendida

São conhecidas muitas histórias de controle de doenças com base em observações


epidemiológicas, e que não se conhecia a etiologia ou patologia da doença:
Exemplo 1: A observação de que o vírus da varíola bovina protegia contra a varíola humana,
feita por Edward Jenner, no século 18, antes que os vírus fossem conhecidos. Esta foi a base
da erradicação da varíola humana no mundo e início da vacinação em humanos.
Exemplo 2: A causa do carcinoma do olho em bovinos da raça Hereford é desconhecida.
Estudos epidemiológicos demonstraram que os animais com a pálpebra despigmentada são
muito mais suscetíveis ao desenvolvimento dessa condição do que os animais com pálpebra
pigmentada. Essa informação pode ser usada na seleção de animais menos suscetíveis.
Exemplo 3: A encefalite espongiforme bovina (BSE) ou vaca louca foi controlada em bovinos
no Reino Unido após surtos de uma doença letal que ainda não se sabia qual era o agente
causal (hoje sabe-se que é um príon infeccioso). O controle foi possível pela suspensão da
alimentação oferecida, após se observar que os animais eram infectados quando do consumo
de ração contendo farinha de carne e ossos contaminados.

3. Aquisição de informações da ecologia e da história natural da doença

É o estudo da enfermidade dentro do ambiente em que vivem o agente e o hospedeiro. O


ambiente influi na sobrevivência do agente etiológico e de seus hospedeiros.

É necessário o conhecimento de comunidades inter-relacionadas e seus ambientes =


ecossistemas.

Exemplo 1: O controle da ocorrência da leptospirose em rebanhos bovinos envolve o


conhecimento da cadeia epidemiológica e da ecologia da doença na localidade, podendo ter a
presença de roedores, aglomerações de animais, presença de espécies de animais selvagens
que podem albergar o agente causal, e desta forma auxilia a tomada de decisões para
controlar a mesma.
Exemplo 2: A fasciolose é problema sério apenas em áreas alagáveis, porque o parasita passa
parte de seu ciclo no caracol, o qual requer ambiente úmido. O clima do ecossistema é
importante porque limita a distribuição geográfica de agentes etiológicos transmitidos por
artrópodes, uma vez que limita a distribuição dos artrópodes.

4. Planejamento e monitoramento de programas de controle da doença

Para o estabelecimento de programas de controle ou erradicação, deve-se:


 Conhecer a ocorrência da enfermidade (quantidade);
 Conhecer os fatores associados com essa ocorrência;
 Conhecer os recursos necessários para controlar a doença;
 Conhecer os custos e benefícios envolvidos.

Este objetivo é utilizado por órgãos governamentais de saúde humana e animal com o intuito
de controlar e/ou erradicar doenças infecciosas ou não, que sejam importantes na população
humana ou animal. As técnicas epidemiológicas empregadas incluem coleta rotineira de
dados sobre a doença na população. Destina-se a informar se a ocorrência da doença está
sendo afetada por novos fatores e se a incidência está aumentado ou diminuindo.
Exemplo 1: O Programa de Erradicação e Controle da Febre Aftosa (PNEFA) implantado no
Brasil, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), foi todo elaborado
através de colheita de dados epidemiológicos (regiões mais afetadas) por um período de
tempo. Sabe-se que a doença acomete animais biungulados e é altamente transmissível. Com
isso, estabeleceu-se calendários de vacinação regionalizado como medida estratégica no
programa.
Exemplo 2: O Programa de Imunizações em humanos implantado no Brasil, pelo Ministério da
Saúde, estabelece a vacinação contra a influenza em idosos como grupos prioritários, após a
observação da ocorrência da incidência sazonal com altas taxas de hospitalização e óbitos
nesta faixa-etária.

5. Avaliação econômica dos efeitos da doença e dos custos x benefícios das


campanhas

Avaliar o custo do controle e confronta com a perda econômica = análise econômica


Exemplo 1: Ainda exemplificando o Programa de Erradicação e Controle da Febre Aftosa
(PNEFA), foram considerados vários fatores para implantar o programa: perda econômica de
animais doentes, baixo índice de carne e couro, baixa produção de leite, e principalmente a
alta transmissibilidade e morbidade da doença. Com todas as perdas econômicas que o
produtor enfrenta, o uso da vacinação foi adotada em larga escala por ser de baixo custo e
protege os rebanhos.
Exemplo 2: Da mesma forma, o custo x benefício da vacinação contra influenza em humanos
no Brasil é extremamente compensatório, comparado aos gastos com hospitalizações.

Relação entre a Epidemiologia e outras áreas do conhecimento (MATHIAS, 2014)

O desenvolvimento da Epidemiologia fez que a disciplina se expandisse para outras áreas. Em


vista dessa expansão, a Epidemiologia moderna é uma disciplina complexa, que se vale dos
conhecimentos gerados em muitas outras áreas, que podem ser agrupadas basicamente em:
Ciências Biológicas, Ciências Sociais e Estatística. A boa compreensão e aplicação da
epidemiologia nos dias atuais requerem sólidos conhecimentos sobre essas áreas.

Ciências Biológicas
A Epidemiologia apoia-se em conhecimentos biológicos tais como Clínica, Patologia,
Microbiologia, Parasitologia e Imunologia. Essas e outras disciplinas afins contribuem para
que seja possível descrever as doenças, classificá-las mais adequadamente e, assim, atingir
maior grau de precisão na determinação da frequência com que estão ocorrendo na
população.
Ciências Sociais
As Ciências Sociais conferem uma dimensão mais ampla à Epidemiologia. Os fatores que
produzem a doença são biológicos e ambientais, com significados sociais complexos. A
sociedade, da forma como está organizada, embora ofereça proteção aos indivíduos, também
determina muitos dos riscos de adoecer, bem como o maior ou menor acesso das pessoas às
técnicas de prevenção das doenças e de promoção e recuperação da saúde. A busca de
melhor conhecimento da interação do social com o biológico, na produção da doença, passou
a ser fundamental na Epidemiologia atual.
Estatística
A estatística é a ciência e arte de coletar, resumir e analisar dados sujeitos a variações. Tem
papel fundamental na Epidemiologia, pois fornece o instrumental a ser levado em conta na
investigação de questões complexas, como a aleatoriedade dos eventos e o controle de
variáveis que dificultam a interpretação dos resultados. Um exemplo da grande utilidade da
Estatística na Epidemiologia está na determinação do tamanho de uma amostra e na maneira
de selecioná-la. Outro exemplo é representado pela fase de análise de dados, particularmente
no estudo do significado das variações de frequências, quando se tenta verificar se as
diferenças são simplesmente devidas ao acaso ou se traduzem ocorrências sistemáticas. A
aproximação entre essas duas ciências fez que a Estatística ocupasse um lugar antes até
então não preenchido na área de saúde.

V. O que são Populações?

Em biologia, população é o conjunto de indivíduos de uma mesma espécie que habitam uma
determinada área, num espaço de tempo. Ou seja, cada grupo de organismos de uma mesma
espécie que vivem em uma determinada comunidade, constituem populações biológicas
(WIKIPEDIA, 2020b). Logo, não são consideradas populações quando focamos em número de
pessoas ou animais que estão momentaneamente aglomeradas ou juntas, como por exemplo,
pessoas atendidas em um hospital, crianças de uma creche, cães de uma clínica veterinária,
animais selvagens apreendidos por órgãos de fiscalização.
A comunidade é composta por mais de uma população, animal ou vegetal e várias
comunidades formam o ecossistema.
O entendimento dos níveis de organização na ecologia das doenças é muito importante, pois
nestas populações e comunidades podem existir indivíduos que se comportam como
hospedeiros e/ou fontes de infecção de agentes infecciosos, muitas vezes assintomáticos.

Figura 7. Fonte: Wikipédia, 2020b.


VI. História Natural da Doença
O conhecimento da história natural da doença permite bloquear a
evolução da patologia, pois a prevenção exige uma providência precoce, uma ação antecipada,
que será desencadeada a partir do conhecimento das inúmeras causas relacionadas com as
características do hospedeiro, do ambiente e do meio ambiente, e da facilidade ou dificuldade
com que os fatores são anulados ou interrompidos (REDE E-TEC, 2014).

1. Conceito de saúde
O discurso sanitário com enfoque na saúde ainda é recente. A ideia de saúde como qualidade
de vida condicionada por vários fatores, tais como: paz, abrigo, alimentação, renda, educação,
recursos econômicos, ecossistema estável, recursos sustentáveis, equidade e justiça social
surgiram com a Conferência Internacional sobre a Promoção da Saúde, em Ottawa, em 1986
(REDE E-TEC, 2014).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a saúde como um completo bem-estar físico,
social e mental e não apenas ausência de doenças, conceito esse que evoluiu, pois saúde, em
sua concepção ampliada, é o resultado das condições de alimentação, moradia, educação,
meio ambiente, trabalho e renda, transporte, lazer, liberdade e, principalmente, acesso aos
serviços de saúde, conforme a VIII Conferência Nacional de Saúde, realizada no Brasil, em
1986. Conforme Berlinguer apud Bretãs e Gambá (2006), a saúde é silenciosa, geralmente
não a percebemos em sua plenitude. Na maior parte das vezes apenas a identificamos
quando adoecemos. É uma experiência de vida, vivenciada no âmago do corpo individual.
Ouvir o próprio corpo é uma boa estratégia para assegurar a saúde com qualidade, pois não
existe um limite preciso entre a saúde e a doença, mas uma relação de reciprocidade entre
ambas; entre a normalidade e a patologia, na qual os mesmos fatores que permitem ao
homem viver (alimento, água, ar, clima, habitação, trabalho, tecnologia, relações familiares e
sociais) podem causar doenças. Essa relação é demarcada pela forma de vida dos seres
humanos, pelos determinantes biológicos, psicológicos e sociais. Tal constatação nos remete
à reflexão de que o processo saúde-doença-adoecimento ocorre de maneira desigual entre os
indivíduos, as classes e os povos, recebendo influência direta do local que os seres ocupam
na sociedade (REDE E-TEC, 2014).

2. Conceito de doença
De acordo com especialistas da área, doença é um conjunto de sinais e sintomas específicos
que afetam um ser vivo, alterando o seu estado normal de saúde. O vocábulo é de origem
latina, em que “dolentia” significa dor, padecimento. Em geral, a doença é caracterizada como
ausência de saúde, um estado que ao atingir um indivíduo provoca distúrbios das funções
físicas e mentais. Pode ser causada por fatores exógenos (externos, do ambiente) ou
endógenos (internos, do próprio organismo). A doença não pode ser compreendida apenas
por meio das medições fisiopatológicas, pois quem estabelece o estado da doença é o
sofrimento, a dor, o prazer, enfim os valores e sentimentos expressos pelo corpo subjetivo que
adoece (REDE E-TEC, 2014).

3. História Natural da Doença


A base conceitual do movimento da medicina preventiva foi sistematizada no livro “Medicina
Preventiva”, de Leavell & Clark (1976), cuja primeira edição surge em 1958. A “tríade
ecológica”, que define o modelo de causalidade das doenças, surge a partir das relações entre
agente, hospedeiro e meio ambiente. A doença seria resultante de um desequilíbrio nas
autorregulações existentes no sistema (REDE E-TEC, 2014).

De acordo com LEAVEL e CLARK (1976) a História natural da doença é o modelo descritivo
elaborado através das informações capazes de explicar como e por que determinados eventos
acontecem e participam do processo de doença. Veja abaixo o modelo descritivo elaborado
por Leavel e Clark (1976) (Figura 8).
Figura 8. Modelo descritivo da história natural da doença elaborado por Leavel e Clark (1976). Google Imagens, 2020.

Com o advento da microbiologia e da ecologia das doenças, muitas discussões foram


debatidas e surgiu primeiramente a Era bacteriológica com a discussão da causalidade com a
Unicausalidade (Figuras 9 e 10) e posteriormente o modelo da explicação da Multicausalidade
(Figura 11).

Figura 9. Esquema extraído de Passos, 2020.

Figura 10. A Unicausalidade - Esquema extraído de Passos, 2020.


Figura 11 A Multicausalidade - Esquema extraído de Passos, 2020.

Outros esquemas também foram adaptados e adotados por profissionais de saúde para
melhor visualização do processo doença e conforme a necessidade de expressar as
informações e sequências da História Natural da Doença (Figuras 12, 13 e 14).

Figura 12. Modelo da História Natural das Doenças. Fonte: Google imagens, 2020.
Figura 13. Modelo da História Natural das Doenças. Fonte: Google imagens, 2020.

Figura 14. Modelo da História Natural das Doenças. Fonte: Google imagens, 2020.
Afinal, o que significa história natural da doença? Que ideia você tem quando pensa em
“história”? Algo que já aconteceu? Algo contado por alguém? E “natural”? Algo que
venha da natureza, certo? Pois bem, se você pensou nessas ideias, está no caminho.
Figura 15. Esquema extraído de Passos, 2020.

A história natural de uma doença é uma descrição, ou seja, algo que possui uma evolução, do
processo de adoecimento de um indivíduo até sua cura ou morte. Trata-se de um estudo que
acaba sendo um instrumento necessário, pois aponta quais métodos podem ser utilizados na
prevenção e no controle. Nessa tarefa, podemos dizer que a visão de unicausalidade
(somente uma causa) da doença é desconsiderada, pois para a história natural da doença
existem vários fatores na causa de uma doença, ou seja, sua origem e determinação é
multicausal (várias causas). A história natural da doença é todo tipo de interação entre três
elementos citados anteriormente:

Agente x Hospedeiro x (às vezes com presença de vetor, quando a doença


é veiculada por vetores como carrapatos, mosquitos, etc)

A tríade ecológica é também chamada de Tríade Epidemiológica e está demonstrada nas


figuras abaixo.

Figura 16. Fonte: Google Imagens, 2020.


Figura 17. Fonte: Google Imagens, 2020.

Figura 18. Tríade Epidemiológica. Fonte: Google Imagens, 2020.

Esses elementos, que constituem a chamada tríade epidemiológica, podem coexistir em


determinado ecossistema, sem que ocorra a enfermidade. Entretanto, qualquer desequilíbrio
no estado de algum deles pode desencadear uma série de eventos que podem resultar em
doença.

A partir do momento em que o estímulo patológico é criado no meio ambiente ou em outro


lugar, ocorre a resposta do indivíduo esse estímulo, que resultará na sua recuperação,
cronicidade da doença, invalidez ou morte. A história natural de qualquer processo mórbido no
indivíduo (doença) compreende os períodos de pré-patogênese (ou período pré-patogênico ou
epidemiológico) e de patogênese (ou período patogênico ou patológico).

As doenças de interação entre hospedeiro (pessoa), agente (microrganismos) e o meio


ambiente (por exemplo, alimentos ou água contaminados) resultam de uma interação entre
fatores genéticos e ambientais, com o equilíbrio exato variando conforme as diferentes
doenças (embora algumas doenças sejam de origens amplamente genéticas). Muitos dos
princípios subjacentes que fundamentam a transmissão das doenças são mais claramente
demonstrados utilizando doenças transmissíveis como modelo. Contudo, os conceitos
discutidos podem ser extrapolados para doenças não infecciosas ou mesmo outros agravos à
saúde. De acordo com esse conceito, doença é um produto de interação de um hospedeiro
(humano ou animal), um agente infeccioso (ou de outro tipo) e um ambiente que promova a
exposição. Vetores, como mosquitos e carrapatos, são frequentemente envolvidos. Para tal
interação ocorrer, o hospedeiro deve estar suscetível. A suscetibilidade do indivíduo é
determinada por uma infinidade de fatores, incluindo antecedentes genéticos, fatores
nutricionais e imunológicos. O estado imunológico de um indivíduo é determinado por muitos
fatores, incluindo contato prévio com o agente, seja por infecção natural, seja por imunização
(CASSENOTE et al, 2020).

Figura 19. Esquema extraído de Passos, 2020.

Durante a fase pré-patogênica ou epidemiológica, conhecida também como pré-patológica, a


doença ocorre quando há uma ruptura no equilíbrio da saúde do hospedeiro, que acaba sendo
influenciada pelos determinantes que contribuem para que a doença aconteça, especialmente
quando o hospedeiro está exposto a certos riscos. Então, este é o período em que ocorre a
interação preliminar entre agentes potenciais, hospedeiros e fatores ambientes no processo
da doença.

Figura 20. Esquema extraído de Passos, 2020.

O período patogênico vem a seguir, quando:


• já ocorreu a contaminação e a doença já se desenvolveu;
• os sintomas da doença começam a se manifestar;
• o corpo começa a sofrer com as perturbações causadas pelo hospedeiro.
Se não houver tratamento durante a fase do desenrolar fisiopatológico e clínico da doença, o
quadro da enfermidade pode evoluir para sequelas permanentes ou até a morte.
Figura 21. Esquema extraído de Passos, 2020.

Figura 22. Esquema extraído de OPAS, 2010.

O Período de latência é o tempo que transcorre desde a infecção até que o indivíduo se torne
infectado. O Período de Incubação então é o tempo que transcorre desde a infecção até a
apresentação dos sintomas. Ha´autores que citam que o período de incubação é o período
durante o qual ocorre a instalação, e eventual multiplicação dos agentes etiológicos no
hospedeiro, sem que seja verificada sintomatologia da doença. Este período é o início do
Período Patogênico.

No horizonte clínico, observado no período patogênico, se expressa o curso da doença e o


desfecho da doença.

Durante o curso da doença, ela pode ser sub-clínica ou clínica, ou ainda começar como
sub-clínica e avançar para fase clínica. Na fase sub-clínica, o indivíduo demonstra sinais
clínicos inespecíficos, geralmente manifestando hipertermia, que muitas vezes não são
percebidos. Já na fase clínica, o indivíduo demonstra sinais clínicos evidentes. Nesta fase, o
indivíduo pode apresentar doença precoce discernível e depois passar para doença avançada.

Quanto ao desfecho da doença, o indivíduo pode avançar para:


 Convalescência podendo chegar à cura clínica e/ou epidemiológica ou
 Cronicidade da doença e/ou estado de portador ou
 Óbito.

Figura 23. Esquema extraído de Passos, 2020.


REFERÊNCIAS COMPILADAS E/OU CONSULTADAS

BONITA, R. et al. Epidemiologia Básica. Segunda edição. Grupo Editorial Nacional, 2010.

CASSENOTE, J.L. et al. Epidemiologia. Principais temas para prova de residência médica. Vol. 1.
Medcel. Acesso em 29/08/2020.
http://crm.cbbw.com.br/AnexoPdfLojaVirtual/Epidemio%20Vol.%201.pdf

JM LAST - A Dictionary of Epidemiology. CMAJ: Canadian Medical Association Journal, 1993 -


ncbi.nlm.nih.gov.

GLOOGLE IMAGENS. Acessado em 21/08/2020.


https://www.google.com/search?q=ISTORIA+NATURAL+DAS+DOEN%C3%87AS.

MATHIAS, L.A. Apostila de Epidemiologia. Escola de Medicina Veterinária da Universidade Estadual de


Jaboticabal, 2014.

OPAS. Módulo de Princípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades. MOPECE. Módulo 2.


Saúde e Doença na população. 2010.

PASSOS, R. História Natural da Doença. Material Preparatório. Acessado em


www.romulopassos.com.br em 22/08/2020.

PEREIRA, F.J. Princípios de Epidemiologia. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 1995. 596 p.

REDE E-TEC BRASIL, Ministério da Educação. Acessado em 27/08/2020.


http://portal.mec.gov.br/rede-e-tec-brasil/rede-e-tec-brasil-publicacoes.

SCHINEIDER,D.; LILIENFELD.D.E. Foundations of Epidemiology. Quarta edição. University Press.


2015.

WIKIPEDIA. Acessado em 27/08/2020a.


https://pt.wikipedia.org/wiki/Epidemiologia#:~:text=epi%20%22sobre%22%20demos%20%22povo,deter
minantes%2C%20nas%20popula%C3%A7%C3%B5es%20humanas.

WIKIPEDIA. Acessado em 27/08/2020b.


https://pt.wikipedia.org/wiki/Popula%C3%A7%C3%A3o_(biologia)

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