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PARASITOLOGIA

Andréia Lara Lopatko Kantoviscki


Parasitologia

Tópico 2 - Epidemiologia

2.1 Introdução à Epidemiologia

Epidemiologia é a ciência que estuda a distribuição de doenças ou enfermidades,


assim como a de seus determinantes na população humana. Estes determinantes são
conhecidos em epidemiologia como fatores de risco. Além de enfermidades, as
características fisiológicas (hipertensão arterial, nível sanguíneo de glicose, por
exemplo) e as doenças sociais (a violência urbana, os acidentes de trânsito, por
exemplo) são consideradas também como objeto de estudo da epidemiologia.
O objetivo principal da epidemiologia é a promoção da saúde através da
prevenção de doenças, em grupos populacionais. Estes grupos populacionais podem ser
os habitantes de uma área geográfica definida (município, estado, país), os indivíduos
de uma determinada faixa etária, os trabalhadores de uma determinada profissão, ou
seja, as pessoas que foram ou estão expostas a um ou mais fatores de risco específicos.
A epidemiologia estuda o estado de saúde de uma população (NEVES et al, 2016).

Figura 1: Imagem de um epidemiologista


Fonte: Freeepik

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As principais perguntas que a epidemiologia procura responder com relação a


distribuição de doenças em uma população são:
 Por que certas pessoas adoecem e outras não?
 Por que algumas doenças só ocorrem em determinadas áreas geográficas?
 Por que a ocorrência de determinada doença varia com o tempo?
Ao responder a estas perguntas, está implícito que a premissa básica e
fundamental em epidemiologia é a de que as doenças não se distribuem ao acaso ou de
uma forma aleatória na população, mas existem fatores de risco que determinam esta
distribuição.
Segundo Neves et al, (2016, para entender e explicar as diferenças observadas
no aparecimento e na manutenção de uma enfermidade na população humana, o
raciocínio epidemiológico se direciona primeiramente a descrever e a comparar a
distribuição das doenças com relação a pessoa, ao lugar e ao tempo.
Neves et al (2016), fez as seguintes considerações com relação aos três fatores
citados acima:
 Com relação a pessoa, a pergunta a ser formulada é: Quem adoece e por que
adoece? O objetivo é identificar quais, como e por que as características das
pessoas enfermas diferem das pessoas não-enfermas. As características
pessoais estudadas são as demográficas (sexo, idade, grupo étnico etc.), as
biológicas (níveis de anticorpos, hormônios, pressão sanguínea etc.), as
sociais e econômicas (nível socioecon6mico, escolaridade, ocupação etc.),
os pessoais (dieta, exercícios físicos, uso de álcool, uso de fumo, etc.) e as
genéticas (grupos sanguíneos, fator RH, tipo de hemoglobina etc.).
 No que se refere ao lugar, a pergunta a ser respondida é: Onde a doença
ocorre, e por que ocorre naquele lugar? O objetivo é determinar por que, em
uma área geográfica, uma enfermidade ou um grupo de enfermidades ocorre
com maior frequência quando comparada com outras áreas geográficas.
Com relação ao tempo, pergunta-se: Quando a doença ocorre e por que
apresenta variações em sua ocorrência?
 Com relação ao tempo, o interesse maior é determinar se ocorreram
mudanças (aumento ou decréscimo) na frequência de determinada doença
através do tempo, bem como compreender os mecanismos desta variação.
As informações obtidas em estudos epidemiológicos são utilizadas, juntamente

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com as informações obtidas de outras áreas do conhecimento, como medicina, biologia,
genética, sociologia, demografia e bioestatística, com os seguintes objetivos:
 Identificar a etiologia ou a causa das enfermidades - Procurar
compreender e explicar a patogênese das doenças, incluindo sua forma de
transmissão. A identificação dos fatores de risco ou causais de uma doença
permite o desenvolvimento de programas de prevenção.
 Estudar a história natural das enfermidades - Entender o curso ou
sequência das diversas etapas do desenvolvimento de uma doença através do
tempo.
 Descrever o estado de saúde das populações – Investigar a
extensão das doenças nas populações através de medidas de morbidade e
mortalidade. Estas medidas podem ser expressas em números absolutos, em
proporções ou taxas.
 Avaliar as intervenções ou programas de saúde. Investigar se
ocorreram mudanças nos indicadores de saúde da população em decorrência do
emprego de intervenções ou programas.
As doenças têm sido classicamente descritas como resultantes da tríade
epidemiológica conforme mostrado na Fig. 2, a seguir.

Figura 2: Tríade Epidemiológica de Doenças


Fonte: Adaptado de NEVES et al (2016)

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Segundo Rocha (2013), a transmissão e a manutenção de uma doença na


população humana são resultantes do processo interativo entre o agente, o meio
ambiente e o hospedeiro humano. O agente é o fator cuja presença é essencial para
ocorrência da doença; o hospedeiro é o organismo capaz de ser infectado por um agente,
e o meio ambiente é o conjunto de fatores que interagem com o agente e o meio
ambiente. Os vetores de doenças, como os mosquitos, os carrapatos, entre outros, são
frequentemente envolvidos neste processo.
Para que a interação aconteça é necessário que o hospedeiro seja suscetível.
Fatores de suscetibilidade humana são determinados por uma variedade de fatores,
incluindo os biológicos, genéticos, nutricionais e imunológicos.
O meio ambiente, conjunto de fatores que mantêm relações interativas entre o
homem e o agente etiológico, pode ser classificado em biológico, social e físico. O meio
ambiente biológico inclui reservatórios de infecção, vetores que transmitem as doenças
(moscas, mosquitos, triatomíneos), plantas e animais. O meio ambiente social é definido
em termos da organização política e econômica e da inserção do indivíduo dentro da
sociedade. O meio ambiente físico inclui situação geográfica, recursos hídricos,
poluentes químicos, agentes físicos e ambientais, que são os seus componentes.
Temperatura, umidade e pluviosidade são variáveis climáticas que mais de perto se
relacionam com as doenças.
As interações observadas para doenças infecciosas também são observadas para
as doenças não-infecciosas. Embora algumas doenças sejam de origem genética, o
aparecimento destas doenças é também resultante da interação genética e dos fatores
ambientais.

2.2 Epidemiologia das Doenças Parasitárias

A epidemiologia das doenças parasitárias é definida como o conjunto de fatores


de importância no estudo dos determinantes e da frequência de uma doença parasitária,
a nível local, regional e mundial. São fatores de importância neste campo de estudo:
 A distribuição geográfica
 Os mecanismos de transmissão
 A presença ou não de reservatórios

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 O estudo do ciclo vital do parasita na região (doméstico e/ou peri-domiciliar


e/ou silvestre)
 As migrações das populações atingidas (internas e externas)
 Se existe caráter endêmico
 Se existem casos de epidemia
 A sua incidência e prevalência
 Se a capacidade de infecção influenciadas por faixa etária, sexo ou grupo
étnico
 Os hábitos culturais das populações alvo
 As profissões/atividades de maior risco para que ocorra transmissão
 A existência de diferenças significativas entre as cepas parasitárias.
A transmissão e dispersão de cada agente etiológico da parasitose dependem de
uma série de fatores, denominados em seu conjunto como ecossistema parasitário. Os
componentes do ecossistema parasitário variam com o parasita em questão, não
apresentando sempre todos os componentes. As infecções parasitárias se comportam
como qualquer ecossistema dinâmico, onde na decorrência de mudanças de seus
componentes, pode ocorrer uma redução ou aumento do número da população
parasitária (adaptado de FIGUEIREDO, 2015).
Os agentes etiológicos das doenças infecciosas e parasitárias pertencem a cinco
principais grupos de organismos: bactérias, fungos, protozoários, helmintos e vírus.

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Figura 3: Agentes infeciosos – Ácaros


http://www.biologia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=1062&evento=4

O agente infeccioso é um ser vivo capaz de reconhecer seu hospedeiro, nele


penetrar, desenvolver-se, multiplicar-se e, mais tarde, sair para alcançar novos
hospedeiros. Os agentes infecciosos são também conhecidos pela designação de
micróbios ou germes, como as bactérias, protozoários, vírus, ácaros e alguns fungos.
Existem, também, os helmintos e alguns artrópodes, que são parasitos maiores e
facilmente identificados sem a ajuda de microscópios (adaptado de CARLI, 2010).
Entre os parasitos existe a classificação em:
 Endoparasitos: são aqueles que penetram no corpo do hospedeiro e aí
passam a viver.
 Ectoparasitos: que não penetram no hospedeiro, mas vivem externamente,
na superfície do seu corpo, como os artrópodes, entre os quais se destacam
as pulgas, piolhos e carrapatos.
Uma das especificidades biológicas mais interessantes e estudadas dos parasitas
é a sua capacidade de se adaptar a determinado número de hospedeiros, o que
geralmente acarreta sua maior ou menor dispersão geográfica.
Quando são encontradas muitas espécies de hospedeiros parasitadas de forma
natural, denominamos o parasita de eurixeno, como por exemplo o protozoário
Toxoplasma gondii, causador da toxoplasmose e que apresenta felinos como hospedeiro
definitivo e o homem, além de alguns outros animais vertebrados, como hospedeiros
intermediários. Se existe um pequeno número de espécies tendendo a somente uma,

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denominamos de estenoxeno, como por exemplo o Wuchereria bancrofti.

Figura 4: Toxoplasma gondii, causador da toxoplasmose


Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/doencas/toxoplasmose.htm

Os sinais e os sintomas apresentados pelos hospedeiros humanos infectados por


parasitas normalmente não fornecem, como ocorre na maioria das afecções de outra
natureza, condições para um diagnóstico definitivo. A confirmação da hipótese
diagnóstica deve ser feita através de testes laboratoriais ou mais raramente por outras
formas de exames complementares.

2.3 Profilaxia das Doenças Parasitárias

Após estudo cuidadoso da epidemiologia de uma doença parasitária em nível


local, determina-se em função destes conhecimentos, medidas visando à prevenção,
controle ou mais raramente a erradicação dela, na dependência dos recursos disponíveis
e das peculiaridades epidemiológicas, sendo este conjunto de medidas denominado de
profilaxia.
Devem ser analisados, por exemplo, a viabilidade de implantação de medidas
que podem ter caráter mais genérico, tais como a melhoria das condições sanitárias
gerais e que podem reduzir como um todo, por exemplo, a transmissão das parasitoses
determinadas pela contaminação fecal do meio ambiente, ou ter um caráter mais
individual como no caso do uso de calçados que possibilitariam a proteção em grande
parte da transmissão de parasitoses em que a forma infectante se constituem em larvas

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de nematóides, representadas por ancilostomídeos e o Strongyloides stercoralis (este
nematóide habita o intestino delgado do homem).

Figura 4: Strongyloides stercoralis


Fonte: https://parasitologiaclinica.ufsc.br/index.php/info/conteudo/fotografias/larvas-sstercoralis/

Em países como o Brasil, que ainda apresenta uma condição socioeconômica em


desenvolvimento e que as condições sanitárias de umagrande parte da população ainda
são precárias, fica evidente que em várias regiões menos desenvolvidas as medidas
profiláticas podem apresentar peculiaridades. A estratégia geral mais relevante é sempre
a busca de um real esforço integrado da comunidade local com a equipe de saúde no
sentido de propiciar uma educação sanitária adequada para as doenças infecciosas como
um todo.

REFERÊNCIAS

NEVES, D. P.; MELO, A. L.; LINARDI, P. M.; VITOR, R. W. A. Parasitologia


Humana – 13º Edição. São Paulo, Editora Atheneu, 2016.

CARLI, G. A.; Parasitologia Clínica – 2º Edição. São Paulo. Editora Atheneu, 2010.

FIGUEIREDO, B. B. Parasitologia. 1º Edição. São Paulo. Editora Pearson, 2015.

ROCHA, A. Parasitologia. Editora Rideel, São Paulo, 2013.

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SANTOS, V. S. "Toxoplasmose". Brasil Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/doencas/toxoplasmose.htm. Acesso em 09 de agosto de
2020.

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