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DIRETORIA DE PRODUÇÃO EDUCACIONAL

PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIVERSOS

FICHA TÉCNICA DO MATERIAL


grancursosonline.com.br

CÓDIGO:
2382022213

TIPO DE MATERIAL:
E-book

NOME DO ÓRGÃO:
Tribunal Superior Eleitoral – TSE
Tribunal Regional Eleitoral – TRE

ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO:
3/2023
Sumário

Apresentação.....................................................................................................................4

1. Direito Eleitoral............................................................................................................5

2. Direitos Políticos: Previsão Constitucional..................................................................12

3. Princípios Eleitorais.....................................................................................................43

4. Justiça Eleitoral...........................................................................................................54

5. Ministério Público Eleitoral..........................................................................................105

6. Alistamento Eleitoral....................................................................................................112

7. Inelegibilidades...........................................................................................................153

8. Partidos Políticos........................................................................................................216

9. Sistemas Eleitorais......................................................................................................247

10. Eleições.....................................................................................................................259

11. Coligações.................................................................................................................263

12. Escolha em Convenção Partidária............................................................................267

13. Registro de Candidatura...........................................................................................272

14. Propaganda Eleitoral.................................................................................................283


RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Apresentação

Ainda ausente do currículo regular dos cursos de graduação em Direito como disci-
plina obrigatória, o Direito Eleitoral é de grande importância para se entender o complexo de
regras jurídicas que disciplinam o processo de votação e eleição daqueles que vão se cons-
tituir como representantes dos cidadãos em nosso país, mostrando-se, dessa maneira, como
instrumento essencial para o regular funcionamento do sistema democrático.
Este resumo, portanto, deve estar nos seus arquivos para o estudo do Direito Eleitoral e
tem a finalidade de lhe dar as ferramentas necessárias para ajudá-lo a enfrentar as questões
do concurso público unificado da Justiça Eleitoral.
O presente resumo, de leitura clara e fácil, desprovido de pretensões de profundidade
acadêmica, explica, uma a uma, as principais atividades eleitorais, a começar pela própria
conceituação do Direito Eleitoral; principais fontes; direitos políticos previstos em nossa Cons-
tituição; momento em que o cidadão procede o alistamento eleitoral, angariando a capacidade
eleitoral ativa e passiva, ou seja, de votar e ser votado; estrutura da Justiça Eleitoral; inelegi-
bilidades; funções democráticas das agremiações políticas; peculiaridades inerentes ao sis-
tema eleitoral brasileiro e todo o procedimento necessário à realização de eleições no país.
Além disso, quando necessário e com base em questões de concursos anteriores, tra-
taremos aqui das fases importantes para o processo eleitoral, destacando a teoria apenas
se relevante, além da sua vinculação com os julgados pela mais alta Corte competente para
essa seara especializada, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Inovações legislativas recentes, tais como a Lei n. 14.208/2021 e a Lei n. 14.211/2021,
de dezembro de 2013, que buscaram diminuir o custo das campanhas eleitorais também
estão contempladas nesta obra, que tem, na sua atualização e consonância com a mais
hodierna interpretação do TSE e do Supremo Tribunal Federal, um de seus diferenciais.
E aí? Quer se tornar um servidor da Justiça Eleitoral? Vamos juntos nessa jornada.
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Tenha uma boa leitura!

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

RESUMO DE DIREITO ELEITORAL


CONCURSO UNIFICADO TSE + TRES

WESLEI MACHADO

1. DIREITO ELEITORAL

Direito Eleitoral é o ramo do Direito que tem a finalidade de assegurar a identidade da


vontade soberana do povo e a formação da vontade política do Estado. Com efeito, o Direito
Eleitoral cuida do exercício da soberania popular, por meio da qual o povo exerce todo o
poder que lhe pertence, de forma direta ou indireta.
A título explicativo: a soberania popular é o poder dado ao povo (na verdade, todo
poder), o qual é exercido por meio do sufrágio universal, do voto direto, secreto e com valor
igual para todos, do plebiscito, do referendo, da iniciativa popular de leis, da ação popular e
por outros meios que viabilizem a manifestação da vontade do povo.
Logo, o Direito Eleitoral cuida do exercício do poder pelo povo e de todos os instrumen-
tos de manifestação de sua vontade. Atente-se: esse ramo do Direito não se limita a regular
as eleições, mas todos os meios de manifestação do poder popular.
O Direito Eleitoral pertence ao Direito Público. Isso porque trata da soberania popular,
fundamento da República Federativa do Brasil. Sua principal função, segundo Rodrigo López
Zilio (2009, p. 32),

é proporcionar e assegurar que a conquista do poder pelos grupos sociais seja


efetuada dentro de parâmetros legais preestabelecidos, sem o uso da força ou
de quaisquer subterfúgios que interfiram na soberana manifestação da vonta-
de popular.

Pode‑se dizer, por consequência, que o Direito Eleitoral tem por objeto o alistamento
eleitoral, a aquisição, a perda e a suspensão dos direitos políticos, sistemas eleitorais, propa-
ganda eleitoral, garantias eleitorais, crimes e ilícitos eleitorais, eleições etc.
Joel José Cândido (2006, p. 23) conceitua o Direito Eleitoral como sendo

o ramo do Direito Público que trata de institutos relacionados com os direitos polí-
ticos e das eleições, em todas as suas fases, como forma de escolha dos titulares
de mandatos eletivos e das instituições de Estado.

Ainda, somente para frisar, cita‑se o conceito elaborado por José Jairo Gomes
(2012, p. 19):

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Professor: Weslei Machado

Direito Eleitoral é o ramo do Direito Público cujo objeto são os institutos, as normas
e os procedimentos regularizadores dos direitos políticos. Normatiza o exercício
do sufrágio com vistas à concretização da soberania popular.

Por fim, deve-se distinguir o Direito Eleitoral do Direito Partidário. Para tanto, recorre-se
à classificação constitucional dada aos Direitos Fundamentais. Esta é a referida classificação
dos Direitos Fundamentais adotadas pela CF/88:

• Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – art. 5º da CF/88;


• Direitos Sociais – arts. 6º a 11 da CF/88;
• Nacionalidade – arts. 12 e 13 da CF/88;
• Direitos Políticos – arts. 14 a 16 da CF/88;
• Partidos Políticos – art. 17 da CF/88.

O Direito Eleitoral contém, unicamente, regras e princípios sobre os direitos políticos


(arts. 14 a 16 da CF/88), pois são esses direitos que viabilizam o exercício da soberania
popular. Não há, no âmbito do Direito Eleitoral, o tratamento normativo dos partidos políticos,
pois, entre estes e os direitos políticos, existe uma distinção conceitual. Com efeito, o ramo
do Direito que trata dos partidos políticos é o Direito Partidário.

Fontes do Direito Eleitoral

A designação fonte expressa a procedência ou a origem de algo. No Direito, o termo


fonte caracteriza a origem das normas de um determinado ramo da Ciência Jurídica.
As fontes do Direito Eleitoral indicam os caminhos e limites em que o operador do
Direito deve percorrer para construir o edifício do Direito Eleitoral.
Existem várias classificações para as fontes do Direito Eleitoral. Explanar‑se‑á acerca
da principal classificação, visando a facilitação do estudo.
As fontes do Direito Eleitoral podem ser classificadas como materiais e formais.

Fontes Materiais

Fontes materiais são os diversos fatores sociais, éticos, políticos, econômicos, reli-
giosos que condicionam a formação e o surgimento das normas jurídicas. Para José Jairo
Gomes (2008, p. 18), “a lei não decorre da atividade impessoal, harmônica e coerente de um
legislador justo e onipresente”.
Como exemplos de fontes materiais, pode‑se citar a atuação dos grupos organizados
da sociedade, a atividade exercida pelos lobbys, as manifestações da sociedade e a pressão
de segmentos sociais e de sindicatos.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Fontes Formais

Por sua vez, as fontes formais são os meios pelos quais uma norma jurídica ingressa
na ordem jurídica e passa a regular os fatos. Segundo Miguel Reale (2001, p. 144), as fontes
formais são “os processos ou meios em virtude dos quais as regras jurídicas se positivam
com legítima força obrigatória, isto é, com vigência e eficácia no contexto de uma estrutura
normativa”.
São fontes formais do Direito Eleitoral:

• Constituição Federal – É a principal fonte. Os princípios básicos e as regras fun-


damentais do Direito Eleitoral estão inscritos na Constituição Federal. Todo o regra-
mento eleitoral deve estar de acordo com a Constituição. Caso haja incompatibilidade
entre uma norma eleitoral e a Constituição, afirma‑se que essa disposição normativa é
inconstitucional.

Encontram-se normas constitucionais relacionadas ao Direito Eleitoral nos seguintes


artigos da CF/1988:

1. Art. 1º, parágrafo único – consagração da soberania popular;


2. Arts. 14 a 16 – previsão dos direitos políticos.
3. Arts. 118 a 121 – organização da Justiça Eleitoral.

Esses dispositivos constitucionais tratam dos tipos de direitos políticos, do alistamento


eleitoral, da elegibilidade, das inelegibilidades, das hipóteses de perda e suspensão dos
direitos políticos, do princípio da anterioridade eleitoral e da estrutura e composição da Jus-
tiça Eleitoral.

• Código Eleitoral (Lei n. 4.737/1965) – Disciplina a competência da Justiça Eleitoral, o


exercício dos direitos políticos, fixa as regras de alistamento, dos sistemas eleitorais, de
registro de candidaturas, de atos preparatórios, da apuração, da diplomação dos elei-
tos, dos crimes eleitorais e do processo penal eleitoral.

Esse diploma legislativo foi editado antes da Constituição Federal de 1988. Desse
modo, algumas de suas disposições afrontam as novas normas constitucionais e, por essa
razão, foram revogadas. Exemplo dessa afirmativa é a vedação de exercício dos direitos
políticos aos analfabetos, inscrita no art. 5º do Código Eleitoral. Essa regra eleitoral viola o
texto constitucional que permite aos analfabetos, de forma facultativa, o exercício dos direitos
políticos ativos. Por essa razão, não foi recepcionada pela nova ordem constitucional instau-
rada pela CF/88.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Pois bem, é preciso analisar o modo pelo qual o Código Eleitoral foi recepcionado pela
CF/88. Pode-se afirmar que parte do Código Eleitoral foi recepcionada com status de lei
complementar. Isso porque a Constituição Federal, em seu art. 121, exige a edição de lei
complementar para tratar sobre organização e competências da Justiça Eleitoral. Todos os
artigos do Código Eleitoral que se refiram à organização e às competências da Justiça Elei-
toral têm status de lei complementar. Essa parte está presente principalmente entre os arts.
12 a 41 do CE.
O restante do Código Eleitoral foi recepcionado com status de lei ordinária, pois, para
tratar de Direito Eleitoral, em regra, basta a edição de uma lei ordinária. A esse respeito:

O Código Eleitoral possui natureza jurídica de lei ordinária, sendo recepcionado


com força de lei complementar apenas na matéria que disciplina a competência.
Como o constituinte determinou que ‘lei complementar disporá sobre organização
e competências dos Tribunais, dos Juízes de Direito e das Juntas Eleitorais’ (art.
121) e em face da ausência de edição de lei definidora de normas sobre organi-
zação e competência na esfera especializada, o entendimento doutrinário e juris-
prudencial é que apenas na parte relativa à competência ocorreu a recepção do
Código Eleitoral como lei complementar. (ZILIO, 2012, p. 24).

• Lei dos Partidos Políticos (Lei n. 9.096/1995) – Dispõe sobre os partidos políticos e
regulamenta os arts. 17 e 14, § 3º, da Constituição Federal.

Embora não seja uma lei especificamente sobre o Direito Eleitoral, tem um estreito rela-
cionamento com essa matéria, especialmente no que diz respeito à regulamentação da filia-
ção partidária, uma das condições impostas ao exercício do direito à elegibilidade.

• Lei das Inelegibilidades (Lei Complementar n. 64/1990) – Estabelece, de acordo com


o art. 14, § 9º, da Constituição Federal, casos de inelegibilidade e prazos de cessação.
• Lei das Eleições (Lei n. 9.504/1997) – Estabelece normas para as eleições.
• Resoluções do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – O TSE tem, nos termos do art. 23,
IX, do Código Eleitoral, poder regulamentar e, no exercício dessa competência, edita
resoluções.

Poder Regulamentar do Tribunal Superior Eleitoral

O Tribunal Superior Eleitoral pode editar resoluções para a regulamentação do Código


Eleitoral. Isso porque o parágrafo único do art. 1º do Código Eleitoral prescreve que o TSE
expedirá instruções com a finalidade de buscar a fiel execução da legislação eleitoral. No
mesmo sentido, o art. 105 da Lei n. 9.504/1997 dispõe que:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Art. 105. Até o dia 5 de março do ano da eleição, o Tribunal Superior Eleitoral,
atendendo ao caráter regulamentar e sem restringir direitos ou estabelecer san-
ções distintas das previstas nesta Lei, poderá expedir todas as instruções neces-
sárias para sua fiel execução, ouvidos, previamente, em audiência pública, os
delegados ou representantes dos partidos políticos.

Ressalta‑se que, no exercício de sua competência regulamentar, o TSE não pode con-
trariar as disposições legislativas. A resolução eleitoral deve ser secundum ou praeter legem.
Essas resoluções têm função precípua de regulamentar a aplicabilidade das leis eleitorais.
No mesmo sentido, veja a seguinte lição dada pelo Ministro Eros Grau, no julgamento da
Consulta n. 1.587, no Tribunal Superior Eleitoral:

O Tribunal Superior Eleitoral não está autorizado, nem pela Constituição, nem por
lei nenhuma, a inovar o ordenamento jurídico, obrigando quem quer que seja a
fazer ou a deixar de fazer alguma coisa.

Caso a resolução afronte disposições legislativas, ter‑se‑á uma ilegalidade, que poderá
ser combatida por meio de mandado de segurança ou recurso. Não se pode combater
essa ilegalidade por meio de ação direta de inconstitucionalidade perante o Supremo Tribu-
nal Federal.
Entretanto, se a Resolução do TSE inovar no ordenamento jurídico, dispondo sobre
matéria ainda não tratada pelo Poder Legislativo, será possível que essa afronta ao princípio
da separação dos poderes seja corrigida por meio da Ação Direta de Inconstitucionalidade.
Deve-se atentar, ainda, que, de forma excepcional e transitória, o Supremo Tribunal
Federal reconheceu que o Tribunal Superior Eleitoral pode editar resoluções que inovem no
ordenamento jurídico, desde que:

1. a matéria seja relevante e urgente;


2. haja omissão do Congresso Nacional no exercício de sua função legislativa.

As resoluções do TSE expedidas diante dessa situação excepcional e transitória


somente produzirão efeitos até que o Poder Legislativo, titular da função legiferante, supra a
omissão. Essa foi a conclusão do Supremo Tribunal Federal ao julgar a ADI n. 3.999, a qual
tece o seu pedido julgado improcedente e, por consequência, declarou-se a constitucionali-
dade da Resolução do TSE n. 22.610/2007 (Resolução da Fidelidade Partidária)1.

1
Esta é a ementa da decisão exarada pelo STF, no julgamento da ADI n. 3.999, a qual reconheceu a constitucionalidade da Resolução do TSE n. 22.610/2007:
“3. O Supremo Tribunal Federal, por ocasião do julgamento dos Mandados de Segurança 26.602, 26.603 e 26.604 reconheceu a existência do dever cons-
titucional de observância do princípio da fidelidade partidária. Ressalva do entendimento então manifestado pelo ministro-relator. 4. Não faria sentido a
Corte reconhecer a existência de um direito constitucional sem prever um instrumento para assegurá-lo. 5. As resoluções impugnadas surgem em contexto
excepcional e transitório, tão somente como mecanismos para salvaguardar a observância da fidelidade partidária enquanto o Poder Legislativo, órgão
legitimado para resolver as tensões típicas da matéria, não se pronunciar. 6. São constitucionais as Resoluções 22.610/2007 e 22.733/2008 do Tribunal
Superior Eleitoral. Ação direta de inconstitucionalidade conhecida, mas julgada improcedente.” (ADI n. 3.999, DJe, de 17/04/2009)

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Aliás, com a finalidade de deixar mais clara a limitação ao exercício da função regula-
mentar pela Justiça Eleitoral, no ano de 2021, previu-se a impossibilidade de sua utilização
para tratar da organização de partidos políticos. A esse respeito, veja o teor do art. 23-A do
Código Eleitoral:

Art. 23-A. A competência normativa regulamentar prevista no parágrafo único do


art. 1º e no inciso IX do caput do art. 23 deste Código restringe-se a matérias espe-
cificamente autorizadas em lei, sendo vedado ao Tribunal Superior Eleitoral tratar
de matéria relativa à organização dos partidos políticos.

Competência Legislativa

As normas eleitorais, como visto, surgem a partir da elaboração das fontes formais pelo
órgão competente. Mas, qual órgão possui competência para legislar sobre Direito Eleitoral?
Essa pergunta é respondida pelo art. 22, I, da CF/88, nos seguintes termos:

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


I – direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáu-
tico, espacial e do trabalho;

Essa competência da União é exercida pelo Congresso Nacional, pois a este órgão
cabe, com a sanção do Presidente da República, dispor sobre as matérias do art. 22 da
CF/88 (art. 48, caput, da CF/88).
Por sua vez, os demais entes federativos, Estados-membro, Distrito Federal e municí-
pios não podem tratar de normas sobre Direito Eleitoral. Isso porque a competência foi atri-
buída de forma privativa para a União.
Uma vez delimitada a competência legiferante em matéria eleitoral, deve-se analisar
qual o instrumento legislativo será utilizado pelo Poder Legislativo da União para tratar das
normas eleitorais.
Pois bem! Em regra, a criação de normas eleitorais ocorrerá por meio da produção
de lei ordinária. Basta uma lei ordinária para tratar dos diversos temas eleitorais, como, por
exemplo, alistamento, eleição, propaganda eleitoral, financiamento de campanha e condi-
ções de elegibilidade.
Entretanto, em algumas situações, é exigível, em determinados temas eleitorais, a
edição de lei complementar. Esses casos estão previstos no art. 14, § 9º, e no art. 121, caput,
ambos da CF/88, nos seguintes moldes:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Art. 14. Omissis


§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos
de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para
exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade
e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do
exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. (Reda-
ção dada pela Emenda Constitucional de Revisão n. 4, de 1994)

Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribu-
nais, dos juízes de direito e das juntas eleitorais.

Dessa forma, é exigível a edição de lei complementar para tratar:

1. das inelegibilidades infraconstitucionais;


2. da organização e das competências da Justiça Eleitoral.

Por exclusão, os demais assuntos do Direito Eleitoral poderão ser estabelecidos por lei
ordinária.

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2. DIREITOS POLÍTICOS: PREVISÃO CONSTITUCIONAL

A Constituição Federal, em seu art. 1º, parágrafo único, prescreve que todo poder
emana do povo, que o exerce diretamente ou por meio de representantes eleitos. Esse poder
é denominado de soberania popular. Na verdade, segundo o Texto Constitucional, “todo”
poder pertence ao povo, e, para exercê-lo, existem duas maneiras: diretamente, por meio
dos instrumentos de exercício direto de democracia (voto, plebiscito, referendo etc.); indireta-
mente, por meio dos cidadãos eleitos para o exercício de mandatos representativos no Poder
Legislativo e no Poder Executivo.
Com efeito, a soberania popular pode ser exercida de forma direta ou indireta. O povo
exerce seu poder diretamente quando, sem intermediação, interfere na formação da vontade
política do Estado. Por sua vez, exercerá seu poder indiretamente por meio da escolha de
representantes populares. Esses representantes serão responsáveis pela elaboração de leis
e atos normativos em nome do povo.

Mas como se dá o exercício da soberania popular? Em outras palavras: como o


povo exerce o seu poder ou a soberania popular?

Nos termos do art. 14, caput, da CF, a soberania popular será exercida por meio do
sufrágio universal e pelo voto direto e secreto e, nos termos da lei, mediante:

• plebiscito;
• referendo;
• iniciativa popular de leis;
• ação popular, entre outros instrumentos de exercício direto de poder pelo povo.

O conjunto de instrumentos de exercício da soberania popular é denominado de direitos


políticos. Isso quer dizer que os direitos políticos são os instrumentos de exercício do poder
pelo povo. Alexandre de Moraes conceitua os direitos políticos da seguinte forma:

É o conjunto de regras que disciplina as formas de atuação da soberania popular,


conforme preleciona o caput do art. 14 da Constituição Federal. São direitos públi-
cos subjetivos que investem o indivíduo no status activae civitatis, permitindo-lhe o
exercício concreto da liberdade de participação nos negócios políticos do Estado,
de maneira a conferir os atributos da cidadania.

Para José Jairo Gomes, esta é a definição de direitos políticos:

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Denominam-se direitos políticos ou cívicos as prerrogativas e os deveres ineren-


tes à cidadania. Englobam o direito de participar direta ou indiretamente do go-
verno, da organização e funcionamento do Estado. [...] É pelos direitos políticos
que as pessoas – individual ou coletivamente – intervêm e participam no governo.
Tais direitos não são conferidos indistintamente a todos os habitantes do território
estatal – isto é, a toda a população –, mas só aos nacionais que preencham deter-
minados requisitos expressos na Constituição – ou seja, ao povo.

De forma expressa, a Constituição Federal consagra os seguintes direitos políticos:

• sufrágio universal;
• voto direto e secreto;
• referendo;
• plebiscito;
• iniciativa popular de leis.

Ressalte-se, entretanto, que o rol de direitos políticos constantes no art. 14 da Consti-


tuição Federal não é taxativo, mas meramente exemplificativo. Isso quer dizer que existem
outros direitos políticos além daqueles expressamente consignados na Constituição Federal.
Assim, toda forma de manifestação que permita ao povo a intervenção na formação das polí-
ticas públicas, das leis, constituirá direito político. Exemplificando: as manifestações popu-
lares, a favor ou contra um determinado tema político-comunitário, constituem manifestação
de direito político; a atividade do lobista na defesa de direitos de uma determinada classe ou
setor social constitui exercício de direito político.

Direitos Políticos: Classificação

Os direitos políticos podem ser classificados em direitos políticos ativos ou direitos polí-
ticos passivos. Assim, os:

• direitos políticos ativos constituem o direito de votar. Trata-se da hipótese em que


o povo diretamente manifesta sua vontade. Somente pode exercer o direito ao voto o
cidadão previamente alistado perante a Justiça Eleitoral.

ATENÇÃO
Todo cidadão tem direito político ativo. Isso quer dizer que qualquer cidadão alistado peran-
te a Justiça Eleitoral será titular do direito de votar, independentemente de qualquer outra
circunstância.

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• direitos políticos passivos abrangem o direito de ser votado, ou seja, o direito de


concorrer a cargos públicos eletivos. Para o exercício dos direitos políticos passivos,
é necessário o preenchimento de um conjunto de requisitos fixados na Constituição
Federal ou em lei, que são denominados de condições de elegibilidade.

ATENÇÃO
Somente poderá exercer os direitos políticos passivos o cidadão que preencher todas as
condições de elegibilidade e não se encaixar em nenhuma situação de inelegibilidade.
Não são todos os cidadãos que podem exercer o direito de ser votado, diferentemente do
direito de votar.

A classificação anterior não é suficiente para encaixar uma série de direitos políticos.
Por essa razão, com a finalidade de classificar didaticamente todos os direitos políticos, a
doutrina construiu outra classificação, que divide os direitos políticos em positivos e negati-
vos. Desse modo, os:

• direitos políticos positivos constituem o conjunto de normas que conferem ao povo


a possibilidade de exercer a soberania popular. Toda norma que possibilitar ao povo
o direito de interferir na formação da vontade política do Estado será denominada de
direito político positivo.

Segundo Dirley da Cunha Júnior, “são prerrogativas que asseguram ao povo a facul-
dade de participar democraticamente do governo, quer por seus representantes, quer por si”.
A partir disso, podem ser classificados como direitos políticos positivos os seguintes
instrumentos de exercício da soberania popular:
– direito de votar;
– direito de ser votado;
– direito de participar em referendo;
– direito de participar em plebiscito;
– iniciativa popular de leis;
– ação popular.

• direitos políticos negativos constituem um conjunto de normas que restringem o exer-


cício dos direitos políticos. Essas limitações devem ser interpretadas restritivamente.
Isso porque normas que restringem os direitos políticos, na verdade, restringirão um
direito fundamental, pois, segundo regras de hermenêutica, restrição a direitos funda-
mentais deve ser interpretada de forma restritiva.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Além disso, no que se refere à aplicação das restrições à cidadania, deve-se levar em
consideração o princípio da tipicidade eleitoral. A partir dessa norma, somente será admi-
tida a limitação de direitos políticos nas hipóteses expressamente previstas na Constituição
Federal ou em lei.
Aliás, a restrição de direitos políticos por meio dos institutos da perda e da suspensão
somente é admitida nos casos estabelecidos no art. 15 da Constituição Federal. Não se
admite a instituição de novas hipóteses de perda e suspensão de direitos políticos por meio
de legislação infraconstitucional.
Por sua vez, a restrição do direito político passivo por meio das inelegibilidades somente
cabe por meio de previsão contida em norma constitucional (art. 14, §§ 4º a 7º) ou disposição
de lei complementar. Isso porque o art. 14, § 9º, da Constituição Federal, prevê a possibili-
dade de criação de outras hipóteses de inelegibilidade, além daquelas estabelecidas no texto
constitucional, desde que haja a instituição de lei complementar.

Após essas considerações, podem ser classificadas como direitos políticos negativos:

• hipóteses de inelegibilidades;
• hipóteses de perda dos direitos políticos;
• hipóteses de suspensão dos direitos políticos.

Direito ao Sufrágio

Segundo Gilmar Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco, “os direitos políticos abran-
gem o direito ao sufrágio, que se materializa no direito de votar, de participar da organização
da vontade estatal e no direito de ser votado”.
Da mesma forma, Alexandre de Moraes reconhece que o direito ao sufrágio abrange o
direito de votar e de ser votado, sendo a essência dos direitos políticos. Desse modo, o direito
ao sufrágio abrange:

• a capacidade eleitoral ativa – direito de votar;


• a capacidade eleitoral passiva – direito de ser votado.

Contudo, não se pode confundir voto e sufrágio. Embora haja uma íntima ligação entre
esses dois institutos, eles não se confundem. De acordo com José Afonso da Silva:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

As palavras sufrágio e voto são empregadas comumente como sinônimos. A Cons-


tituição, no entanto, dá-lhes sentidos diferentes, especialmente, no seu artigo 14,
por onde se vê que o sufrágio é universal e o voto é direto e secreto e tem valor
igual. A palavra voto é empregada em outros dispositivos, exprimindo a vontade
num processo decisório. Escrutínio é outro termo com que se confundem as pala-
vras sufrágio e voto. É que os três se inserem no processo de participação do povo
no governo, expressando: um, o direito (sufrágio), outro, o seu exercício (o voto),
e o outro, o modo de exercício (escrutínio).

ATENÇÃO
A Constituição Federal dispõe que o sufrágio é universal. Em um primeiro momento, pode-
-se pensar que todas as pessoas são titulares de direitos políticos, dada a característica da
universalidade. Não obstante, somente são titulares do direito ao sufrágio as pessoas que
preencherem os requisitos constitucionais para a aquisição dos direitos políticos. Essas
pessoas são denominadas de cidadãos.

Deve-se distinguir o cidadão da pessoa:

• cidadão – titular de direitos políticos. Para a Constituição, só poderá ser considerado


cidadão a pessoa que for brasileira e maior de dezesseis anos, desde que alistado
perante a Justiça Eleitoral.
• pessoa – titular de direitos. Para o Código Civil, todos os que nascerem com vida são
pessoas e titulares de direitos e obrigações na ordem civil.

A expressão sufrágio universal é utilizada em contraposição ao sufrágio restrito. De


forma simples, Vicente de Paulo e Marcelo Alexandrino fazem a seguinte distinção entre
sufrágio universal e restrito:

O sufrágio é universal quando assegurado o direito de votar a todos os nacionais,


independentemente da exigência de quaisquer requisitos, tais como condições
culturais ou econômicas etc.
O sufrágio será restrito quando o direito de votar for concedido tão somente àque-
les que cumprirem determinadas condições fixadas pelas leis do Estado. O sufrá-
gio restrito, por sua vez, poderá ser censitário ou capacitário.
O sufrágio censitário é aquele que somente outorga o direito de voto àqueles que
preencherem certas qualificações econômicas. Seria o caso, por exemplo, de não
se permitir o direito de voto àqueles que auferissem renda mensal inferior a um
salário-mínimo.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

O sufrágio capacitário é aquele que só outorga o direito de voto aos indivíduos


dotados de certas características especiais, notadamente de natureza intelectual.
Seria o caso, por exemplo, de se exigir para o direito ao voto a apresentação de
diploma de conclusão do curso fundamental, ou médio ou superior.

Direito ao Voto

Como visto, o direito ao voto é classificado como direito político ativo. Todo cidadão que
possuir a capacidade eleitoral ativa terá direito de exercitar o voto.
O direito ao voto pode ser conceituado, segundo José Jairo Gomes, como:

um dos mais importantes instrumentos democráticos, pois enseja o exercício da


soberania popular e do sufrágio. Cuida-se do ato pelo qual os cidadãos escolhem
os ocupantes de cargos político-eletivos. Por ele, concretiza-se o processo de
manifestação da vontade popular. Embora expresse um direito público subjetivo,
o voto é também um dever cívico e, por isso, obrigatório para os maiores de 18
anos e menores de 70 anos.

Quanto à sua natureza jurídica, Pinto Ferreira ensina que o voto:

é essencialmente um direito público subjetivo, é uma função da soberania popular


na democracia representativa e na democracia mista como um instrumento deste,
e tal função social justifica e legitima a sua imposição como um dever, posto que o
cidadão tem o dever de manifestar sua vontade na democracia.

Assim, vê-se que o voto é um direito público subjetivo de manifestação da vontade e


decorre da soberania popular. Para os maiores de 18 anos e menores de 70 anos, desde
que alfabetizados, o voto também é um dever cívico. Trata-se de um direito/dever em que os
cidadãos escolherão os ocupantes de cargos representativos.

Voto: Características

O direito ao voto possui algumas características como pessoalidade, obrigatoriedade,


liberdade, além de ser secreto, direto, periódico e igual. Essas características são correta-
mente definidas por Alexandre de Moraes, nos seguintes termos:

• pessoalidade – o voto só pode ser exercido pessoalmente. O eleitor não pode outorgar
procuração para que outrem exerça o voto em seu lugar. A pessoalidade é essencial
para a garantia da sinceridade e da autenticidade do voto.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

• obrigatoriedade de comparecimento – aos maiores de 18 anos e menores de 70


anos, desde que alfabetizados, é obrigatório o comparecimento às eleições. Aquele que
se encaixar nessa prescrição constitucional deverá necessariamente comparecer às
urnas sob pena de incidir em uma série de restrições legais e multa.
• liberdade – trata-se da possibilidade de o cidadão escolher com liberdade seus candi-
datos e partidos políticos. Além disso, a liberdade de voto inclui o direito de se votar em
branco ou em anular o voto. Portanto, “embora haja o dever de votar, todos são livres
para escolher ou não um candidato e até anular o voto”. (José Jairo Gomes)
• secreto – o voto é sigiloso e o seu conteúdo não pode ser revelado pelos órgãos da
Justiça Eleitoral. Essa característica tem a finalidade de garantir a lisura e a probidade
das eleições, evitando que o eleitor tenha sua vontade corrompida pelo abuso do poder
econômico ou político.
• direto – o eleitor, sem intermediários, escolhe seus governantes e representantes.
• periodicidade – os mandatos são temporários, e, de forma periódica, o eleitor é cha-
mado a escolher seus governantes e representantes por meio do voto. Aliás, a periodi-
cidade do voto é uma cláusula pétrea.
• igualdade – o voto de todos os cidadãos tem o mesmo valor para todos, indepen-
dentemente de qualquer circunstância. Nesse tema, aplica-se o princípio da igualdade
formal: one man, one vote.

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