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NOVEMBRO 2022 7ª EDIÇÃO

R E V I S T A

Teto de gastos pode ser


aperfeiçoado, não burlado
ou abolido

TSE gasta milhões com Quais são as prioridades


regalias e paga R$ 80 mil da bancada da Lava Jato
no mês para servidor no Congresso
Índice
Editorial: O teto de gastos pode ser aperfeiçoado,
03
não burlado ou abolido

Francisco Razzo: O último passo da evolução


12
humana

Filipe Figueiredo: o Catar vai conseguir o que


19
deseja com a Copa do Mundo?

Fim do foro, combate ao PT: as prioridades da


30
bancada da Lava Jato no Congresso

TSE gasta milhões com regalias e pagar mais de


39
R$ 80 mil no mês para um servidor

Por que a esquerda não entende as demandas da


60
direita

Frases da Semana: “Perdeu, mané, não amola” 74

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Presidente eleito Lula decidiu começar a tramitação da PEC pelo Senado | Foto:
Pedro Gontijo/Senado Federal

| Editorial

Teto de gastos pode ser


aperfeiçoado, não burlado ou
abolido
Enquanto a equipe comandada pelo
vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin,
seguia trabalhando na PEC da Transição, a
emenda fura-teto que o presidente eleito Lula
quer ver aprovada ainda antes de sua posse

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para permitir o cumprimento da promessa de


um Bolsa Família de R$ 600, prosseguiam as
articulações políticas e as manifestações de
quem apoiou o petista e agora critica seu
populismo fiscal como se ele não fosse algo
totalmente previsível. Por mais que vários
atores políticos façam todo tipo de ressalva,
há o risco de que o teto de gastos acabe
definitivamente desmoralizado ou até mesmo
abolido sem nada de concreto no lugar,
abrindo de vez a porta para o retorno dos
tempos de gastança sem fim que levaram o
país à pior recessão da história, sob Dilma
Rousseff.

A julgar pelas declarações de Ciro Nogueira,


expoente do Centrão, senador licenciado e
ministro de Jair Bolsonaro, Lula terá o que
deseja ao menos em parte. A PEC “deve
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garantir somente os pontos comuns das duas


candidaturas: R$ 600 de auxílio e aumento
real do salário mínimo em 2023”, afirmou
Nogueira, referindo-se a dois itens que
também fizeram parte do programa da
candidatura de Bolsonaro à reeleição e
prometendo o apoio de seu partido, o PP, à
PEC da Transição. Do ponto de vista prático,
no entanto, é preciso lembrar que, se a base
de apoio do atual governo já entrega de
antemão essas dezenas de bilhões de reais
fora do teto, sem que Lula não precise nem
mesmo negociar por esse valor, o mais
provável é que a fatura final acabe ainda
maior, como demonstra o texto apresentado
ao Congresso na noite desta quarta-feira,
com quase R$ 200 bilhões fora do teto em

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2023, além de manter o Bolsa Família longe


da regra fiscal por tempo indeterminado.

Manobras que desmoralizam o


teto de gastos enfraquecem
também a posição do país diante
do investidor, que passa a
desconfiar da saúde fiscal
brasileira

E é aqui que volta à cena Henrique Meirelles,


que apoiou Lula ainda no primeiro turno
apesar de seu partido (o União Brasil) ter
lançado candidata própria ao Planalto, e que
agora faz alertas corretos, talvez na
esperança de que o país se esqueça do seu
papel de fiador da campanha do petista junto
a determinados setores do mercado e do
eleitorado. “Tem que se ter uma âncora, tem

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que ter um teto. O limite tem que ser claro


porque, caso contrário, o país pode e corre o
risco sério de voltar a um clima de recessão”,
disse o “pai” do teto de gastos, ex-presidente
do Banco Central (nos dois mandatos de Lula,
entre 2003 e 2010) e ex-ministro da Fazenda
de Michel Temer, durante evento em Nova
York na terça-feira, dia 15.

O teto de gastos, que limita o crescimento


real da despesa pública ao permitir apenas a
correção pela inflação, pode até não ter sido a
melhor escolha para a primeira grande
reforma macroeconômica do governo Temer
– discute-se, por exemplo, se não teria sido
melhor aprovar primeiro uma reforma da
Previdência antes do teto –, mas seus méritos
são inegáveis em um país que tem histórico
de irresponsabilidade fiscal. O teto corta as
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asas de governantes gastadores e permite que


eventuais receitas extraordinárias (por
exemplo, decorrentes de privatizações) sejam
usadas para abater a dívida pública, em vez de
elevar despesas, às vezes de forma
permanente. Faltou, no entanto, cumprir um
outro objetivo: uma vez que o teto impõe um
limite para a despesa total, políticos no
Executivo e no Legislativo teriam de aprender
a fazer boas escolhas, eliminando
desperdícios, gastos imorais ou ineficientes
para priorizar investimentos importantes e
necessários – o bilionário fundo eleitoral e as
emendas de relator estão aí para comprovar
que o senso de prioridade ainda é escasso em
Brasília.

O descumprimento do teto em situações de


grave emergência se justifica. Durante a
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pandemia, o Brasil teria sofrido uma


catástrofe econômica de proporções
inimagináveis sem o auxílio emergencial, o
crédito especial para micro e pequenas
empresas e o dinheiro governamental para
bancar parte do salário de trabalhadores com
redução de jornada ou contrato suspenso;
foram medidas que custaram centenas de
bilhões de reais acima do teto. Situações
muito diferentes, no entanto, têm sido as
repetidas medidas que contornam o teto,
criando “puxadinhos orçamentários” que
nada mais são que uma burla ao mecanismo
de responsabilidade fiscal. Foi assim, por
exemplo, com a PEC dos Precatórios e a PEC
dos Benefícios. Este é o tipo de manobra que
desmoraliza não apenas o teto, mas também
a posição do país diante do investidor, que

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passa a desconfiar da saúde fiscal brasileira,


por exemplo exigindo juros maiores para
emprestar ao Tesouro.

Isso não significa que o mecanismo seja


imutável; enquanto a responsabilidade fiscal
não for algo profundamente impregnado em
nossos governantes, a ponto de limites legais
se tornarem desnecessários, o teto pode e
deve ser aperfeiçoado. Técnicos do Tesouro
Nacional publicaram, no site do órgão, um
relatório sugerindo a possibilidade de
aumento real no gasto público desde que
cumpridos critérios relativos à dívida pública
– outro problema crônico brasileiro, já que o
país tem relação dívida/PIB de país
desenvolvido sem a confiabilidade das nações
ricas, que lhes permite rolar dívida a juros
baixos. Pela sugestão dos técnicos do
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Tesouro, o gasto público poderia subir até


dois pontos porcentuais acima da inflação,
mas apenas se a dívida estivesse abaixo de
45% do PIB (ela deve terminar o ano em
76,2% do PIB, segundo o próprio Tesouro) e
em trajetória descendente; se estiver acima
de 55% do PIB e em trajetória ascendente,
não poderia ocorrer aumento nenhum. É uma
ideia que merece ao menos discussão, desde
que não se permita mais nenhum tipo de
“puxadinho” ou exceção à regra.

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Francisco Razzo

Foto: Bigstock

O último passo da evolução


humana
O utilitarismo ético eleva sentimentos de
prazer e dor a parâmetros objetivos a fim de
fundamentar a moralidade. É o modelo ético
do tipo consequencialista mais conhecido e,
sem dúvida, mais influente. Por definição, a
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ética consequencialista defende o seguinte: o


que determina o valor moral das ações
humanas são as suas consequências e não,
por exemplo, a qualidade das intenções ou a
disposição do caráter de um agente moral.
Em contraste, consequencialistas disputam
com as éticas das virtudes e do dever.

Na ética consequencialista utilitarista,


valores humanos como o bem, a coragem e a
compaixão se reduzem às meras expressões
de sensação de dor ou prazer. “Bem”
define-se por “qualquer coisa que desperte a
máxima felicidade total”. A avaliação
quantitativa da “felicidade total” depende do
que compreendemos por sensações de prazer
e dor, pois tais parâmetros funcionam como
instrumentos objetivos disponíveis para
julgar o valor das nossas ações morais.
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Noutros termos: uma ação é moralmente


legítima quando produz o máximo de
bem-estar geral e moralmente reprovável
quando produz sofrimento. Não há qualquer
discussão bizantina acerca do Bem e do Mal.

Por ser uma avaliação quantificável e de


âmbito independente da qualidade da
intenção ou do caráter do agente, a ética
consequencialista tende a abrir o domínio da
investigação moral à ciência natural. Como se
mediante o método científico
encontrássemos fundamentos para julgar, se
uma ação deve ser considerada moral ou
imoral. As reflexões filosóficas acerca da
moralidade perdem o terreno para uma
suposta “ciência natural da eticidade”. E o
progresso estaria vinculado ao progresso
científico.
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A vantagem desse tipo de ética está na


flexibilidade de poder ser ampliada ao reino
dos animais não humanos. É um raciocínio
relativamente simples: animais sentem.
Logo, são portadores de moralidade. Desse
modo, entrou para o vocabulário dos
julgamentos morais a estranha noção de que
existe uma pessoa não humana merecedora
de dignidade e respeito moral. Por outro lado,
se embrião humano não sente, logo não
merece qualquer atenção moral especial.
Aborto, por exemplo, seria ato moralmente
neutro. Nem certo nem errado. Apenas uma
decisão de interromper a gravidez sem ônus
ou bônus moral.

No caso de um futuro hipotético, se a ciência


descobrisse que um pé de alface sente dor, o
simples ato de temperar uma salada deveria
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ser considerado ato moralmente abjeto. Em


tempos mais distantes, humanos evoluídos
se alimentarão de luz e os não tão evoluídos
ainda serão julgados apenas por saborear um
delicioso ensopado de pedras.

O utilitarismo coloca muitos desafios. O mais


complexo é a dificuldade com o significado da
experiência de felicidade sentida por um
sádico enquanto promove dor a uma
criancinha inocente. A perversidade, que
assinala no homem a disposição profunda
para praticar o mal por praticar, impõe
limites intransponíveis para o defensor desse
tipo de ética. O prazer de um sádico precisa de
limites normativos para além da própria
experiência de prazer ou dor. A noção de que é
moralmente condenável torturar inocentes
por prazer não pode ser fundamentada nas
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noções de prazer ou dor, mas em algum fato


moral universal.

O termo “ética” define a maneira de viver dos


seres humanos. A experiência humana de
tentar compreender o que nós somos já nos
diferencia de todos os outros animais. E não
faz o menor sentido falar em ética animal,
uma vez que a transferência de qualquer tipo
de valor moral aos animais não humanos
consiste numa capacidade estritamente
humana de atribuir valor ao mundo,
incluindo valor aos animais. Respeitamos os
animais não humanos porque nós, humanos,
somos capazes de estabelecer e reivindicar
respeito desse tipo.

Nenhum animal que não seja humano foi, é


ou será capaz de compreender isto: o que

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determina o grau de moralidade de uma ação


é a exigência exclusiva de seres racionais,
livres e conscientes de suas intenções, dos
meios e dos fins para os quais toda ação tende
a se realizar. E, até o presente momento, nada
no universo — a não ser os humanos —
demonstrou o exercício dessas capacidades
na hora de agir.

Autor: Francisco Razzo é professor de filosofia, autor dos livros


"Contra o Aborto" e "A Imaginação Totalitária", ambos pela editora
Record. Mestre em Filosofia pela PUC-SP e Graduado em Filosofia pela
Faculdade de São Bento-SP.

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Filipe Figueiredo

Estádio Al Bayt, na cidade de Al Khor, no Catar, uma das sedes da Copa de 2022|
Foto: Divulgação/Fifa

O Catar vai conseguir o que


deseja com a Copa do Mundo?

Neste domingo, dia 20, teremos a abertura da


Copa do Mundo de futebol de 2022, em Al
Khor, no Catar. Deixando de lado a convoca-
ção da seleção brasileira, as expectativas do

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torcedor e os possíveis bons jogos que


teremos nos próximos dias, juntos dos não
tão bons, é importante falarmos do que o
Catar pretende ao sediar a Copa do Mundo. No
dia 19 de dezembro, daqui um mês, após a
final do torneio, qual será a imagem que o
mundo terá do país peninsular árabe?

Oficialmente, o Catar possui uma


constituição aprovada via referendo em 2003.
Na prática, entretanto, o país é uma
monarquia absolutista, praticamente uma
propriedade privada da família al-Thani, que
governa a península desde 1868. Um exemplo
de como o país é governado absoluta pode ser
visto no parlamento do país, o Conselho
Consultivo. O nome já deixa claro, ele serve
apenas para aconselhar o governo, sem
poderes na prática. Em teoria, ele pode
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questionar as decisões do primeiro-ministro,


não as do emir, o soberano.

O primeiro-ministro é nomeado pelo emir,


que também nomeia um terço do Conselho.
Para que o órgão possa censurar o chefe dos
ministros, é necessária a concordância de
dois terços do Conselho. Ou seja, as
instituições políticas “independentes” são,
na prática, todas nomeadas e controladas
pelo monarca. Não há judiciário independen-
te, castigos corporais são penas legais e o
abandono do Islã e a homossexualidade são
crimes capitais, embora o país tenha uma
moratória na pena de morte.

A tentativa de converter alguém para outra


religião que não o Islã pode significar uma
pena de até dez anos de prisão. Importante

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lembrar que diversos países da região


possuem características muito similares,
alguns sem sequer considerar manterem
aparências de maior representatividade
política, como é o caso da Arábia Saudita,
também uma monarquia absolutista. Ao
contrário do país saudita, inclusive, no Catar
são autorizados templos de outras religiões,
como igrejas cristãs.

Integração econômica

No mundo pós-Guerra Fria, ocorreram dois


fenômenos simultâneos, começando na
década de 1990. Primeiro, uma maior
projeção dos países da península arábica no
cenário mundial. As antigas amarras da
Guerra Fria não mais existiam, o que se
somou às inovações tecnológicas que

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começaram nesse período. Maiores laços


econômicos, maior fluxo de investimentos e
mais turismo. A ideia de que o Irã seria o
maior antagonista dos EUA na região também
favorece essa maior aproximação, na
construção de alianças e parcerias.

Um evento importante desse processo é a


Guerra do Golfo, em 1991. Claro que esse é um
breve resumo. As relações entre sauditas e os
EUA, por exemplo, remetem à década de
1930, centradas no fornecimento de petróleo.
O que ocorre na década de 1990 é uma
ampliação e um aprofundamento de relações
já existentes. Alguns leitores talvez se
lembrem, por exemplo, da primeira vez que
ouviram falar de empresas aéreas de países
da região, ou que ouviram em Doha ou Abu
Dhabi como destinos turísticos.
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No caso do Catar, a década de 1990 é marcada


também pelo fato de que o papel do país na
economia mundial mudou radicalmente. A
exploração de petróleo no pequeno país
começou em 1949 e, embora o Catar tenha
uma notável indústria petrolífera, ela não
chega aos pés dos principais atores mundiais
do setor, como os vizinhos sauditas, os EUA
ou a Rússia. Em 1997, entretanto, o Catar,
pela primeira vez, exportou gás natural
liquefeito. É nesse setor que o Catar é um dos
atores mais peso-pesados do mundo.

O Catar possui a terceira maior reserva de gás


natural do mundo, com 14% de todo o gás
natural conhecido. É também o terceiro maior
exportador de gás natural, com uma carta
variada de compradores. Nos últimos meses,
o país foi destino de diversas visitas de líderes
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europeus, buscando diminuir a dependência


europeia do gás natural russo. Nesses últimos
25 anos, o dinheiro do gás tornou o Catar um
influente e importante ator regional, com
influência global em questões econômicas e
também na política de seus vizinhos.

Direitos Humanos

Outro fenômeno começou na década de 1990,


entretanto. Uma maior pressão internacional
em questões de Direitos Humanos. A pauta,
antes, ficava condicionada ao cenário da
Guerra Fria. O autoritarismo era “tolerável”
em nome de combater o outro lado. O
raciocínio que sustentou as ditaduras
militares latino-americanas, por exemplo. O
pós-Guerra Fria, os genocídios na
Bósnia-Herzegovina e em Ruanda, dentre

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outros eventos, deram impulso às cobranças


por respeito aos Direitos Humanos na
comunidade internacional.

Uma das expressões desse fenômeno é o fato


de governos serem muitas vezes cobrados
pela contradição de cobrarem e defenderem
pautas de Direitos Humanos enquanto
mantém fortes relações com essas monar-
quias da península arábica. Muitas vezes tais
cobranças foram inócuas em consequências
práticas, mas elas impactaram os governos
árabes citados. É o início de uma série de
políticas voltadas para tornar os países mais
“palatáveis” aos olhos estrangeiros.

Dá-lhe investimento pesado em


comunicação, em propaganda, em turismo,
construção de prédios luxuosos, tudo isso

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para mudar a imagem desses governos. E


uma das maneiras mais eficazes de se fazer
isso é com o uso do esporte como vitrine e
veículo de propaganda. Torneios
internacionais de futebol, clubes locais
contratando jogadores de renome, corridas
de automobilismo, dois dos maiores
jogadores de tênis da História jogando em
uma quadra nas alturas em Dubai, vale tudo.

Melhoria de imagem

Em inglês, isso é chamado de sportwashing,


lavar a imagem pelo esporte. No caso do
Catar, em 2010, o país “con- quistou” o
direito de sediar a Copa. As aspas se dão pelas
diversas suspeitas e denúncias sobre
eventuais atos de corrupção no processo de
escolha. No ano seguinte, via a empresa Qatar

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Sports Investments, parte do fundo soberano


do país, o governo al-Thani comprou o clube
francês Paris Saint-Germain. Neymar e Messi
são dos funcionários públicos mais bem
pagos do mundo.

Com os bilhões de dólares colocados no


torneio, a ideia dos al-Thani é que, ao final do
ano, a imagem global do país seja positiva. O
país não é o primeiro e nem será o último a
usar o esporte como uma ferramenta de
propaganda, mas é o que mais possui
potencial para ser um divisor de águas,
devido às características do país e do torneio.
Por exemplo, os fatos de que os estádios
comportam mais de 10% da diminuta
população nacional e que parte da comuni-
dade internacional está aceitando deixar de
lado as bandeiras de direitos humanos.
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Caso o Catar tenha sucesso em sua operação


de melhorar sua imagem, o recado estará
dado para outros países que possuam meios
de emular o que o Catar está fazendo nos
últimos quinze anos. Se, depois do torneio, as
“preocupações” com, por exemplo, as
condições dos trabalhadores no país simples-
mente sumirem, terá sido uma grande vitória
da dinastia al-Thani. Infelizmente, a História
recente não permite pensar que será algo
diferente disso. Resta torcer, e não só pelo
desempenho dentro do campo.

Autor: Filipe Figueiredo é graduado em história pela USP, professor de política


internacional, roteirista do canal Nerdologia e criador dos podcasts Xadrez Verbal e
Fronteiras Invisíveis do Futebol, sobre política internacional e história.

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Deltan Dallagnol em sessão na Câmara dos Deputados, em 2016.| Foto: Fabio


Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Fim do foro, combate ao PT: as


prioridades da bancada da Lava
Jato no Congresso
Por Olavo Soares

A eleição de candidatos com histórico de


participação na Lava Jato e no combate à
corrupção pode trazer o tema novamente aos
holofotes no Congresso Nacional a partir de
2023. O deputado federal eleito Deltan

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Dallagnol (Podemos-PR) e o senador eleito


Sergio Moro (União Brasil-PR), que se
consagraram como principais nomes da
operação responsável pela prisão do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT),
devem atuar de forma conjunta para a defesa
de pautas como o fim do foro privilegiado e a
detenção de condenados em segunda
instância judicial. A deputada federal eleita
Rosângela Moro (União Brasil-SP), esposa do
ex-juiz, também fará parte da "bancada da
Lava Jato".

Deltan avalia que a atuação do Congresso


pode abrir caminhos "para que surjam novas
Lava Jatos". Ele foi o candidato mais votado
para a Câmara no Paraná. Moro também teve
um triunfo eleitoral de peso, ao superar o
veterano Alvaro Dias (Podemos-PR), que
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buscava o quarto mandato consecutivo no


Senado. Já Rosângela obteve 217 mil votos em
São Paulo, número maior do que o de nomes
como o ex-presidente do PT Rui Falcão e o
deputado Capitão Augusto, vice-presidente
nacional do PL.

Ex-coordenador da Lava Jato no Ministério


Público Federal (MPF), Dallagnol diz que
pode apresentar "mais de 30 projetos de lei"
relacionados ao combate à corrupção e outras
áreas. "Tenho projetos na área de combate ao
crime e à corrupção, segurança jurídica,
reforma administrativa, reforma tributária,
reforma política e de cuidado com as pessoas,
incluindo uma política pública nacional para
o autismo." Ele afirma que vai "estudar qual a
melhor estratégia" para emplacar seus
projetos, o que pode incluir o endosso a
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propostas de outros parlamentares que já


estejam em tramitação.

Dallagnol avalia que o Brasil passou por


"retrocessos recentes impostos pelo Supremo
[Tribunal Federal] e pelo Congresso" no
combate à corrupção. Segundo ele, as Dez
Medidas Contra a Corrupção, conjunto de
propostas do Ministério Público apresentadas
em 2015, tiveram apreciação tímida por parte
do Congresso. Segundo o deputado eleito,
algumas dessas proposições são "essenciais".
Ele especifica como exemplos a
"criminalização adequada do caixa dois
eleitoral e do enriquecimento ilícito do
funcionário público".

A "bancada da Lava Jato" estuda se


aproximar de outros parlamentares

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envolvidos com a temática anticorrupção


para emplacar seus projetos. Segundo Deltan
Dallagnol, uma estratégia é "engrossar"
frentes parlamentares sobre o tema. Uma
delas é a Frente Parlamentar Mista Ética
Contra a Corrupção (FECC), encabeçada pela
deputada Adriana Ventura (Novo-SP),
reeleita em outubro.

A parlamentar confirma que já estabeleceu


conversas com o ex-procurador da Lava Jato
e diz que conta com ele para reforçar o grupo.
Adriana Ventura avalia que discussões sobre o
combate à corrupção perderam força no
Legislativo, na comparação entre o biênio
2019/2020 e os dias atuais. "O combate à
corrupção em 2019 tinha um peso; e foi se
perdendo o interesse e o engajamento em
torno do assunto. Houve vários retrocessos, e
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a gente espera que na próxima legislatura


isso se reacenda", diz ela. Segundo a
parlamentar, nomes como Dallagnol, Moro e
Rosângela podem contribuir, com sua
reputação, para o fortalecimento do grupo.

Foco no PT: "não me surpreenderei se surgir


um novo megaescândalo"

O futuro deputado Deltan Dallagnol indica


que sua atuação como parlamentar deve
priorizar denúncias que envolvem o PT, e não
as relacionadas ao governo do presidente Jair
Bolsonaro (PL).

Ele minimiza a responsabilidade da gestão


Bolsonaro nas irregularidades que envolvem
o chamado "orçamento secreto", como
ficaram conhecidas as emendas de relator ao
Orçamento Federal, caracterizadas pela falta

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de transparência na sua distribuição e


execução. "Até agora não surgiram
evidências do envolvimento do governo
federal em desvios, mas sim de autoridades
locais de prefeituras que receberam os
recursos. E os casos vêm recebendo o devido
tratamento das autoridades típicas de
investigação", diz.

O ex-procurador também diz que as


denúncias de corrupção que envolvem o
Ministério da Educação (MEC) "já estão
sendo investigadas pela polícia e pelo
Ministério Público", e por isso não apoiaria,
em princípio, o estabelecimento de uma
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)
sobre o tema. As denúncias no MEC vieram à
tona durante a gestão do ex-ministro Milton
Ribeiro e envolviam pedidos de propina para
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a liberação de recursos da pauta. O esquema


supostamente seria conduzido por pastores
que, mesmo sem ter função pública
oficializada, falavam em nome do ministério
e negociavam verbas diretamente com
prefeitos e outros líderes políticos regionais.
Ribeiro deixou o MEC em março e chegou a
ser preso por causa das denúncias, mas
depois foi liberado.

Por outro lado, Dallagnol indica que a atuação


da "bancada da Lava Jato" será focada na
fiscalização do governo de Lula.
"Considerando o histórico do PT de mensalão
e petrolão, não me surpreenderei se surgir
um novo megaescândalo de corrupção no
novo governo."

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Desde que formalizou sua entrada na política,


Dallagnol sempre se posicionou contra o PT,
e declarou voto em Jair Bolsonaro no segundo
turno das eleições presidenciais. "Farei no
Congresso oposição qualificada ao projeto de
dominação e perpetuação no poder do PT.
Defenderei o cumprimento da lei, políticas
públicas com base em evidências e os valores
cristãos", publicou o deputado eleito em suas
redes sociais pouco após a vitória de Lula, no
último dia 31.

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Sessão plenária no Tribunal Superior Eleitoral (TSE)| Foto: Marcelo


Camargo/Agência Brasil

TSE gasta milhões com regalias


e chega a pagar mais de R$ 80
mil no mês para servidor
Por Bruna Komarchesqui

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), órgão


máximo da Justiça Eleitoral, vai gastar
milhões de reais com salários e regalias em
2022. Na contramão de países desenvolvidos,
onde não há privilégios e benefícios para

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juízes, o TSE tem quase R$ 5 milhões em


despesas com copeiragem para reuniões,
eventos e sessões plenárias em um ano.
Outros mais de R$ 4 milhões devem ser gas-
tos com motoristas, aquisição e manutenção
de veículos. O órgão também chega a pagar
mais de R$ 80 mil a apenas um servidor no
mês, entre “diárias”, “ajudas de custo e
indenizações”.

Entre os contratos em andamento, disponí-


veis no "Plano de Contratações Anual – PCA
2022, do Tribunal Superior Eleitoral”, está
um de prestação de “serviços de copeiragem
(copeira, garçom e encarregado de copeira-
gem) como apoio essencial às Sessões
Plenárias, reuniões, eventos institucionais e
outros correlatos às funções do Tribunal", no
valor de R$ 4.829.475,21. Já a compra de
Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022
41

água, açúcar, café, detergente e refil de


purificadores para funcionamento das copas
do TSE em 2022 custará R$ 50 mil ao bolso do
brasileiro. Além de todas as ajudas de custo e
benefícios, o Tribunal fornece almoço ou
jantar “aos Senhores Ministros nos dias em
que ocorrem sessões plenárias e
administrativas”, com acompanhamento de
bebida, o que custa R$ 43 mil no ano.

O TSE também contrata uma empresa que


fornece 36 motoristas terceirizados (de
acordo com uma lista de colaboradores
disponível no site), trabalhando em escala,
por R$ 3.141.377,80 ao ano, o que representa
um custo médio de R$ 7,2 mil mensais por
profissional. Para 2022, o Tribunal destinou
quase R$ 804 mil para a aquisição de veículos
blindados, com o objetivo de “oferecer o
Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022
42

correto equipamento para atender a


necessidade a proteção das autoridades,
tornando-a mais adequada ao aumento do
risco de ações agressivas”.

O serviço de limpeza dos automóveis oficiais


custa perto de R$ 165 mil e as manutenções
em torno de R$ 194 mil. A justificativa do
gasto é “manter o veículo oficial em perfeitas
condições de funciona- mento, considerando
o serviço a ser executa- do pela equipe de
Segurança Institucional junto aos Ministros
do TSE, ou seja, seguran- ça pessoal e
acompanhamento dos Ministros”.

Esse tipo de despesa é impensável em alguns


países da Europa, como na Suécia, onde se
acredita que “luxo pago com o dinheiro do
contribuinte é imoral e antiético”. É o que

Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022


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pensa Göran Lambertz, que foi juiz da


Suprema Corte sueca entre 2009 e 2017.
Entrevistado pela jornalista brasileira Claudia
Wallin, para o livro “Um País Sem
Excelências e Mordomias” [Geração
Editorial, 2014], ele conta que nenhum juiz
por lá, o que inclui o presidente do Supremo,
tem carro oficial com motorista.

Na época em que atuava na Corte, o próprio


Lambertz pedalava quinze minutos todos os
dias, de paletó e gravata, até a estação
ferroviária, onde amarrava sua bicicleta,
pegava um trem e viaja quarenta minutos
para o trabalho.

"Não almoço à custa do dinheiro do


contribuinte. Todos os juízes pagam por suas
próprias refeições. Nenhum de nós tem

Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022


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direito a carro com motorista ou planos de


saúde especiais. Temos direito apenas aos
serviços públicos de saúde, como qualquer
cidadão”, contou o juiz.

Na Alemanha, nada de carros particulares


para magistrados também. Os juízes do
Tribunal Constitucional são os que têm
direito a viajar de graça, mas usando trem. As
viagens privadas, no entanto, precisam ser
declaradas à Fazenda.

Na França, os salários dos juízes são


regulados como servidores públicos e não há
debates extensos sobre seus privilégios, uma
vez que o salário-base já inclui os benefícios.
Embora os magistrados estejam na classe de
servidores públicos com melhores salários,
há médicos e professores universitários no

Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022


45

país que os superam em vencimentos. Um dos


poucos auxílios por lá, destinado à compra da
primeira toga, cobre cerca de dois terços do
valor da vestimenta. A cada dez anos, eles
têm direito a um novo auxílio (de menos da
metade do valor inicial) para trocar a toga.
Por aqui, até mesmo as togas dos juízes são
lavadas e passadas com dinheiro público.

No quesito remunerações do Tribunal


Superior Eleitoral brasileiro, chamam a
atenção casos como o da juíza convocada
Clara da Mota Santos Pimenta Alves [auxiliar
do ministro Edson Fachin no Supremo
Tribunal Federal (STF)] que recebeu R$
82.493,93 líquidos do TSE em março de 2022,
sendo pouco mais de R$ 4 mil em “jetons e
diferenças de subsídios”, R$ 67.358,22 para
“ajuda de custo e indenizações” não
Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022
46

especificadas e R$ 11.114,81 em diárias. Como


a maioria do pagamento foi em benefícios,
ela teve um desconto de apenas R$ 346,55 de
imposto de renda. A juíza ainda recebeu mais
R$ 33.689,11 de remuneração do órgão de
origem. Em agosto deste ano, ela recebeu R$
70.826,63 líquidos do TSE (sendo R$
67.378,22 em “ajuda de custo e
indenizações”) e a mesma remuneração de
março do órgão de origem.

Sem especificação do motivo dos benefícios,


os gastos do TSE com pessoal ficam envoltos
em mistério. “Essa questão dos benefícios é a
parte mais difícil de fazer o acompanhamen-
to. Há resoluções do CNJ (Conselho Nacional
de Justiça) que determinam como as infor-
mações devem ser prestadas, são números.
Somente por meio deles, não se consegue
Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022
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entender se o benefício foi apropriado ou não,


apenas que houve um volume maior, mas não
especificamente o que foi feito”, pondera
Juliana Sakai, diretora executiva da
Transparência Brasil, organização sem fins
lucrativos que atua há mais de duas décadas
na luta por transparência, controle social e
integridade do poder público.

Diárias e viagens

Para saber o valor pago pelo TSE a juízes,


servidores ativos e inativos, como
pensionistas, é preciso fazer uma consulta
mês a mês na ferramenta de transparência do
órgão. Diárias e passagens aéreas também
podem ser consultadas mensalmente, por
meio de uma planilha. Em janeiro de 2022,
por exemplo, os maiores gastos com diárias

Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022


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foram destinados ao “Programa de


Acompanhamento para convidados
internacionais para as Eleições da Assembleia
da República de Portugal”.

Para este evento, José Gilberto Scandiucci


Filho recebeu R$ 38,6 mil em diárias, Leila
Correia Mascarenhas Barreto, R$ 25,6 mil, e
ao ministro Luís Roberto Barroso foram
pagos R$ 44,4 mil em diárias. Na aba de
passagens, no entanto, os voos de Leila
aparecem como cancelados e não há voos na
seção “internacional” marcados para
Barroso. Apenas José Gilberto aparece com o
status “voado”. A participação de Barroso no
acompanhamento das eleições portuguesas
foi registrada pela imprensa.

Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022


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“Você consegue acompanhar pela mídia que


ele efetivamente foi, porque é uma autorida-
de. Mas, para os outros, fica difícil saber. Se a
passagem foi cancelada, como se justifica o
restante dos gastos? Fica uma questão a ser
explicada”, aponta Juliana Sakai.

Embora todo cidadão tenha direito de pedir o


detalhamento dessas despesas via Lei de
Acesso à Informação, a especialista defende
que seria benéfico o Tribunal emitir
relatórios acerca de gastos maiores, que
chamam a atenção e preocupam o
contribuinte. “Se o servidor recebe um
montante para viagem ou o recálculo de
algum benefício, é importante disponibilizar
essas informações. Para fazer o pagamento,
eles têm esse cálculo, seria só publicar um
relatório mensal que explicasse cada um
Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022
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deles. Não estamos nem falando em


irregularidades, mas em como o orçamento
está sendo distribuído. Queremos que abram
os dados de remuneração e benefícios para
entender com o que o governo está
gastando”, detalha.

Sakai destaca que o “Judiciário tem um


histórico de criar uma série de benefícios para
não bater o teto constitucional”. “Provavel-
mente, esses pagamentos estão dentro da lei.
Mas é razoável a gente ter pago isso? Isso
incide dentro do teto? Provavelmente, não. E
se não, para que servia?”, questiona.

Contratos vão de limpeza a contribuições


internacionais

Segundo as informações da transparência, a


limpeza e conservação do TSE (entre pessoal

Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022


51

e material de serviço) custa anualmente R$


6.399.332,24. A mesma empresa que fornece
essa mão de obra tem um contrato com o
Tribunal para prestar apoio administrativo,
cuja justificativa é manter “os serviços nas
unidades orgânicas de forma a não
interromper ou impactar as atividades em
curso, deixando servidores e autoridades
livres para praticar as atividades fim de cada
unidade", no valor de R$ 6.536.024,08.

Aqui também o contraste com o exemplo


sueco é grande. Sem secretárias ou assisten-
tes particulares, os magistrados da Suécia
contam com uma equipe pequena de
assistentes, que trabalham em conjunto para
todos eles. Segundo mostra o livro de Claudia
Wallin, na Suprema Corte, por exemplo, os 16
magistrados contam com 30 profissionais da
Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022
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área do Direito para auxiliar em todos os


casos e mais 15 assistentes administrativos,
que se dividem para fazer o trabalho
necessário.

Outro gasto incluso nas contratações anuais


do TSE é uma “Contribuição Internacional
(IDEA)”, no valor de R$ 764.563,00, cujo
único detalhamento é: “Objeto constante da
planilha de contratos (1694976)”. Uma
matéria publicada no site do Tribunal em
abril de 2016 e atualizada em agosto de 2022
(“TSE celebra adesão do Brasil ao Instituto
Internacional para a Democracia e
Assistência Eleitoral") explica o objetivo da
parceria com o “IDEA”, sem citar questões
financeiras: “a experiência brasileira em
processos como do voto eletrônico tem
grande valia para diversos países e ganhará
Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022
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ainda maior alcance por meio da associação


que hoje se inicia. Ao mesmo tempo, o Brasil
se beneficiará sobremaneira do diálogo e da
cooperação com o Instituto”.

Já a garantia de que decisões, despachos,


relatórios, textos do site e outros documentos
estejam sempre escritos em português
impecável custa R$ 5.366.910,00 por ano aos
brasileiros, por meio de um contrato de
revisão de textos, que aloca 38 profissionais
no TSE (segundo a lista de colaboradores do
órgão disponível na transparência).

TSE custa mais de R$ 2 bi no ano

Somente em 2022, o TSE deve custar R$ 2,45


bilhões ao bolso dos cidadãos brasileiros.
Apenas para a gestão do pleito eleitoral deste
ano foi previsto o montante de R$ 1,33 bilhão.

Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022


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Os dados são da Lei Orçamentária Anual


(LOA). Para o ano passado, em que não houve
eleições, o orçamento destinado ao Tribunal
pela LOA se manteve na mesma média, com
um total de R$ 2,1 bilhões.

De acordo com o Relatório de Gestão 2020 do


TSE, naquele ano eleitoral 54% dos recursos
do Tribunal foram destinados aos gastos com
as eleições municipais, 27% ao custeio de
despesas com pessoal e benefícios e 15,5% ao
custeio de projetos e atividades do órgão. Os
valores informados no documento, no
entanto, divergem dos que aparecem na LOA.

“Coube ao TSE o montante autorizado de


R$1,4 bilhão, equivalente a 14,4% dos R$9,4
bilhões da JE [Justiça Eleitoral], no exercício
de 2020. Desse total, R$379,8 milhões

Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022


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correspondem à dotação para custeio de


despesas com pessoal e benefícios, R$756,3
milhões, aos gastos com as eleições
municipais e R$215,9 milhões, ao custeio de
projetos e atividades do órgão”, afirma o
relatório. A Lei Orçamentária de 2020 aponta
uma previsão de R$ 2,12 bilhões para o TSE,
sendo R$ 1,28 bilhão destinado aos pleitos
eleitorais daquele ano.

“Essa disparidade de dados chama a atenção,


porque, se estamos olhando os gastos para
tentar entender o que o governo está fazendo,
e não conseguimos, já existe um problema de
comunicação. Se nem a gente [pesquisadores
da área e jornalistas] consegue, isso mostra
uma deficiência na transparência, na
comunicação, porque os dados não batem.
Assim, não temos como fazer um controle
Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022
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social efetivo e entender como os recursos


estão andando”, analisa Juliana Sakai. Ela
recorda que a própria estrutura diferente do
TSE, cujos juízes são cedidos de outros tribu-
nais, já torna mais difícil entender os gastos.

Penduricalhos para burlar o teto

Em setembro do ano passado, a


Transparência Brasil publicou um estudo
intitulado “Teto decorativo”, mostrando
como “graças a benefícios e penduricalhos,
remunerações de promotores e juízes da
Paraíba superam o teto constitucional”. O
documento explica que "os benefícios e os
penduricalhos, e não os salários, levam ao
descumprimento do limite remuneratório e à
oneração da folha de pessoal do sistema de
Justiça. Resultam, inclusive, em pagamentos

Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022


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retroativos de até seis dígitos que


eventualmente aparecem nas folhas e
repercutem negativamente na imprensa”.

No serviço público, os vencimentos


costumam ser compostos por uma espécie de
salário-base mensal mais benefícios
(gratificações permanentes por tempo de
serviço, por exercício de cargos de confiança;
acréscimos como bônus de Natal; e direitos
trabalhistas como férias e décimo terceiro).

“O teto constitucional vale para a soma


desses elementos: caso ela seja maior que os
atuais R$ 39,2 mil, aplica-se um abatimento
(desconto) para que o funcionário público
receba dentro do limite estabelecido
constitucionalmente. Não são afetados pelo

Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022


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corte direitos trabalhistas, verbas por


exercício de magistério e abono de
permanência em serviço. Além do salário e
dos benefícios, há ainda outra categoria de
recebimentos que se convencionou chamar de
'indenizações'. Pela acepção da palavra, são
reembolsos por gastos realizados pelos
membros e servidores no exercício da função,
como diárias para participar de eventos
externos. Esses recebimentos não são
submetidos ao teto remuneratório, o que
faria sentido caso de fato se limitassem a
ressarcir despesas relacionadas ao serviço",
detalha o estudo.

A falta de transparência sobre diárias pagas a


membros e servidores dificulta estabelecer
um panorama de seu impacto nas
remunerações e na violação do teto
Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022
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constitucional. “A título de comparação, os


gastos com remunerações de quatro órgãos
do sistema de Justiça na Paraíba equivalem a
2% do PIB estadual. Ou seja, a cada R$ 100
reais produzidos em todo o estado, R$ 2 são
usados no pagamento de salários, da longa
lista de benefícios e de penduricalhos a
membros e servidores do MP-PB, do TJ-PB,
do TRT-13 e do TRE-PB", exemplifica a
Transparência Brasil.

A Gazeta do Povo entrou em contato com a


assessoria de imprensa do TSE, para
comentar o assunto, mas não obteve retorno
até o fechamento desta reportagem.

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Guinada à direita na opinião pública ainda não foi assimilada pela esquerda.|
Foto: EFE/ Joédson Alvesa

Por que a esquerda não entende


as demandas da direita
Por Leonardo Desideri

Em 3 de outubro, um dia após o primeiro


turno das eleições de 2022, uma agência de
notícias com viés de esquerda publicou um
vídeo no YouTube intitulado “Brasil
subestimou a força da extrema-direita?”,
sobre o resultado do pleito que tornou a

Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022


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direita dominante no Senado e na Câmara. O


título é emblemático de como parte da elite
intelectual de esquerda ainda tende a
enxergar o despertar da direita no país: um
fenômeno alheio ao Brasil real, composto por
extremistas e radicais.

Há comprovação científica de que a direita


tende a ser melhor em compreender a
esquerda do que o contrário. A própria
esquerda brasileira reconhece, em alguma
medida, que seus representantes intelectuais
estão se distanciando da parcela do povo que
deu passos à direita: nos últimos anos,
especialmente depois das eleições de 2018,
são frequentes os artigos jornalísticos e os
trabalhos acadêmicos que insistem na
necessidade de “dialogar” com a nova
direita, para compreender sua ascensão.
Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022
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Camila Rocha, doutora em Ciência Política


pela USP, autoidentifica-se como de
esquerda, e escreveu sua tese de doutorado –
transformada no livro Menos Marx, Mais
Mises: o Liberalismo e a Nova Direita no
Brasil – com base sobretudo em conversas
com representantes da direita. No livro, ela
afirma que existe entre os esquerdistas uma
“percepção de que a militância de direita é
inautêntica, manipulada por elites políticas
mais importantes e experientes, ou formada
por pessoas histéricas e paranoicas”.

Camila explica que a dificuldade da esquerda


de entender a direita pode se dar pela criação
de uma bolha ideológica. “É comum que as
pessoas procurem se relacionar de forma
mais intensa, mais frequente, com pessoas
que pensam mais ou menos parecido. É uma
Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022
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dinâmica de grupo. Isso reforça o sentimento


de pertencimento, de identidade. Mas qual é o
problema disso? Quando você reforça esse
sentimento de identidade, você pode even-
tualmente se dessensibilizar para o outro,
para quem pensa diferente. O sentimento de
pertencimento a uma coletividade também é
muito construído por meio do antagonismo –
‘eu sou aquilo que o outro não é, ou eu penso
aquilo que o outro não pensa, o oposto do que
o outro pensa’. Isso pode criar uma barreira
para a empatia quando você se coloca diante
de alguém que pensa o oposto”, observa.

Guinada à direita na opinião pública ainda


não foi assimilada pela esquerda

Para Eduardo Matos de Alencar, doutor em


Sociologia pela Universidade Federal de

Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022


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Pernambuco (UFPE), a dificuldade da


esquerda brasileira de entender a direita se
deve, em parte, ao fato de que a elite
intelectual esquerdista ficou durante décadas
fechada dentro de seu próprio mundo, sem se
dar conta de que seu monopólio sobre a
opinião pública estava sendo rompido.

“O que se gerou foi uma espécie de alienação


em que o establishment da mídia, da acade-
mia, dos intelectuais estava vivendo em uma
segunda realidade, que não correspondia, de
fato, aos interesses que estavam borbulhando
na sociedade, que era facilmente mensurável
pelas redes sociais. A esquerda ficou
ensimesmada, em um mundo fechado, e esse
mundo fechado se blindou contra as críticas e
contra a possibilidade de diálogo. Mas a
realidade sempre fala mais alto”, diz.
Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022
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O teólogo e cientista da religião Guilherme de


Carvalho, colunista da Gazeta do Povo, diz
que “a esquerda nacional estava acostumada
com uma direita mais domesticada, que vinha
se adaptando há muito tempo à hegemonia de
esquerda na produção cultural, na
universidade e no próprio jornalismo”.

“O que a gente tinha até pouco tempo atrás


era uma esquerda mais radical fazendo
oposição a uma esquerda mais moderada, que
fazia as vezes da direita, pelo menos no plano
do pensamento e da ação ideológica”,
explica.“Agora a esquerda precisa lidar com
uma direita efetiva, de verdade, e ela não está
acostumada a lidar com isso. Ela estava
acostumada a lidar com o centro e a
centro-esquerda. Isso era a ‘direita’ da nossa
intelectualidade. Eu acho que existe um
Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022
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choque, e vai demorar um tempo para o


pessoal se acomodar a este fato de que agora
há uma direita explícita e principiológica. Se
ela está fazendo bem esse trabalho é outra
história, mas agora ela existe efetivamente.”

Esquerda limitou a diversidade intelectual e


deixou de compreender a tradição e o
conservadorismo

É um fato conhecido o fascínio de grande


parte do meio acadêmico e intelectual de
esquerda brasileiro por teorias modernizan-
tes da filosofia, da ética, da antropologia e da
pedagogia, que tendem a prevalecer, muitas
vezes, em detrimento de autores e obras
clássicas. Uma consequência comum disso é a
falta de contato de grande parte da esquerda
com o arcabouço cultural e a tradição

Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022


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filosófica que fundamentam a nossa


civilização.

Para o professor e escritor Francisco


Escorsim, colunista da Gazeta do Povo, a
esquerda limitou as visões de mundo permi-
tidas no universo acadêmico e intelectual, e a
sua incapacidade atual de compreender a
direita provém em grande medida disso. “Eu
acho que é muito fruto dessa falta de diversi-
dade, pluralidade real dentro das universida-
des, principalmente aquelas dedicadas à área
de humanas, da política, da sociedade, e
também da grande imprensa”, afirma.

Eduardo Matos de Alencar diz que os


esquerdistas “não conhecem as bases daquilo
contra o que estão se insurgindo” e tratam os
adversários “como se fossem idiotas”. “Todo

Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022


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cristão é um imbecil, um coitado, um senti-


mental, um ignorante. Por isso todo aquele
esforço do tipo: ‘Como é que a gente vai
conversar com os evangélicos? Como a gente
vai conversar com os católicos?’ É como se
fossem superiores o suficiente para abranger
o outro. Quando a gente sabe que, por
exemplo, qualquer professor universitário
brasileiro médio – para não dizer um jorna-
lista – choraria lágrimas de sangue se tivesse
que tentar interpretar algum artigo da Suma
Teológica de São Tomás de Aquino, para citar
um exemplo. E que se dirá de qualquer outro
grande autor cristão do século XIX ou do
século XX, até mesmo alguns mais palatáveis,
como Chesterton, Maritain…”, observa.

Nos últimos anos, aliás, uma das grandes


preocupações da elite intelectual esquerdista
Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022
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sobre a ascensão da nova direita tem sido o


papel do mundo cristão – especialmente o
dos evangélicos – nesse fenômeno. Não são
poucos os esforços para trazer o público
evangélico para perto da esquerda.

Para Alencar, as críticas dos esquerdistas a


cristãos de direita “só atingem a espuma”.
“Eles arrumam lá uns poucos evangélicos
minoritários que dizem: ‘sou evangélico e sou
do PSOL’, ‘sou evangélico e sou esquerdista’,
ou qualquer coisa assim, e aquilo só tem
repercussão lá dentro do âmbito deles. Não é
assim que a coisa funciona. Quem está no
campo da direita e olha aquilo percebe que
aquilo é uma caricatura”, critica.

Recentemente, uma analista política de um


site com viés de esquerda ressaltou a

Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022


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urgência de lançar um novo olhar “sobre as


práticas, comportamentos e demandas dos
diferentes grupos e correntes evangélicas”.
“É importante conhecer para dialogar, é
importante compreender medos e anseios
mútuos e dissidentes para que possamos
construir pontes. É importante escutar para
se comunicar. Enquanto esse Brasil for ‘outro
Brasil’, não compreenderemos as urnas.”

Para Carvalho, uma das concepções equivo-


cadas em meio a este empenho da esquerda
em entender “o outro Brasil” é a crença na
possibilidade de compaginar alguns valores
cristãos com pautas como o identitarismo.

“O contorcionismo que a esquerda, com a


assessoria de uma ala mais radical, quer fazer
é impossível. Teria que mudar a imaginação

Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022


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religiosa evangélica, para começar por aí. Não


é impossível você ter evangélicos mais à
esquerda do ponto de vista, por exemplo, de
questões macroeconômicas, do tamanho do
Estado, até na concepção de justiça social.
Essas coisas, no ambiente evangelical,
existem. A questão é essa mutação mais
recente da esquerda brasileira, que fundiu
alguns temas revolucionários clássicos com o
identitarismo. Essa combinação é muito
incompatível com o espírito da religião
evangélica e com a leitura bíblica típica que
você vai encontrar nas igrejas”, comenta
Carvalho.

Para o teólogo, outra grande dificuldade de


esquerdistas é compreender que há uma vida
intelectual pujante nos ambientes cristãos.
“Existe uma ignorância brutal no ambiente
Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022
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da esquerda hoje sobre a vida intelectual


evangélica. O evangélico típico vai para a
universidade e é exposto aos argumentos da
esquerda. Ele é obrigado a achar meios de
reconstruir suas ideias, construir uma
oposição. As tentativas de manter evangélicos
dentro do aprisco do criacionismo científico,
da Terra plana e tal… isso é terrível. A
produção intelectual de cristãos, tanto
evangélicos quanto católicos, sobre esses
temas é gigantesca e muito consistente
intelectualmente. O que acontece é que a
esquerda não está acostumada a usar, por
exemplo, a linguagem teológica, porque
assume que isso não importa, tem uma visão
secularista sobre as coisas. Mas há um setor
inteiro da população que tem aprendido a
raciocinar em termos teológicos e a combinar

Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022


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argumentos teológicos com discussões


éticas, políticas e de ciência”, comenta.

A vida intelectual dos cristãos é


“absolutamente misteriosa para a esquerda”,
diz Carvalho, o que explica o esforço de parte
da esquerda “tentando cooptar teólogos mais
liberais e modernizantes no sentido
teológico, para tentar construir uma ponte”.
“Só que o movimento evangélico,
atualmente, no Brasil, é muito vacinado
contra essas atualizações forçadas da
teologia. É difícil isso decolar.”

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Barroso, ministro do STF, mostra a “liturgia do cargo” ao responder a cidadão


brasileiro nas ruas de Nova York.| Foto: EFE/Joédson Alves/

Frases da Semana:
Conteúdo editado por Jones Rossi, Eli VIeira e Paulo Polzonoff Jr.

“Quem é o Mercado? O que é o Mercado?


Que ‘sujeito’ ou ‘entidade’ é essa cheia de
maus humores? Alguém me apresenta?
Alguém me aponta? Há um totem para ele
onde se dessangra pobres como
sacrifício? Por favor! Está na hora de a
gente colocar esse ‘deus’ em seu devido
lugar, né?”

Jean Wyllys, ex-deputado autoexilado e bolsista do


Soros, que como bom socialista não sabe qual é a

Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022


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entidade a ser parasitada em sua ideologia política


para engordar o Estado. Quem é o Mercado? O
primeiro nome dele é Walter. Ligue djá.

“Tenho a seguinte sugestão: consolidado


o governo Lula, crie-se um Tribunal Penal
sobre os crimes cometidos sob a
pandemia, especialmente, acusando
Bolsonaro por vários crimes, Pozuelo [sic]
e outros ministros, semelhante ao
Tribunal de Nürembeg [sic], no qual
foram julgados criminosos nazistas.”
Leonardo Boff, teólogo petista, para quem
lockdown, violação de integridade corporal forçando
vacinas independentemente de infecção prévia e
violação de liberdades forçando máscaras ineficazes
não são crimes, nem espirituais, nem seculares.

“Cuidado para não torcer contra o Brasil


só por ter birra com o Lula.”
Joel Pinheiro, filósofo e palpiteiro político. Como se
Lula e seu partido não tivessem feito mais que o
suficiente para a “birra” com eles ser
automaticamente algo a favor do Brasil

“Mudei meu nome para Rainnfall Heat


Wave Extreme Winter Wilson. Não é
piada.”
Rainn Wilson, ator que fez o personagem nerd
esquisito Dwight Schrute na série The Office. O novo
nome, gerado num site de alarmismo climático, é
algo como “Toró Onda de Calor Inverno Extremo
Wilson”.

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“Me apavora o machismo incrustado na


cabeça de mulheres ditas esclarecidas,
onde estereótipo dos papéis delegados a
nós é o importante. Desprezível fala de
Eliane Cantanhede sobre a Janja [esposa
do Lula]. Ter opinião e participação
política é direito de todas nós mulheres!
Sem essa de primeira-dama.”
Gleisi Hoffmann, presidente do PT, que não se
apavora com o nepotismo incrustado na equipe de
transição de governo, usando cortina de fumaça
identitária.

“Alguém falar de ‘machismo incrustado’


comigo não é só injusto, é ridículo. Meu
feminismo está no DNA e numa vida
inteira. Elogiei Janja, apenas separei
relação pessoal com função pública.”
Eliane Catanhêde, jornalista, em resposta à Gleisi. O
que é pior: elogiar Janja ou dizer que tem feminismo
no DNA?

“Gente com libido e transante incomoda,


sobretudo uma mulher.”
Paola Lins de Oliveira, antropóloga, sobre Janja.
Como libido e sexo são instintos animais e não
envolvem produção de coisa nenhuma, gabar-se
deles é como se gabar por ter uma temperatura
corporal de 37°C. Deve ser falta de realizações.

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77

“Resolvi solicitar meu afastamento da


equipe de transição.”
Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda de Lula,
finalmente dando alguma contribuição à economia
brasileira.

“Isso foi um enorme ganho.”


Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, sobre a
saída de Mantega.

“Acho errado o Lula, em quem votei,


pegar carona no jatinho do empresário.”
Mika Lins, atriz e diretora. Em pleno 2022 tem gente
que ainda se espanta com o caráter de Lula...

“Estava tudo relativamente tranquilo até


Lula entrar em cena.”
Dora Kramer, jornalista, comentando a reação do
mercado às falas do presidente eleito.

“Tudo o que discutimos foi vazado para os


jornais, não é apropriado. E não foi assim
que a conversa foi conduzida.”
Xi Jinping, ditador da China, dando uma bronca
pública em Justin Trudeau, primeiro-ministro do
Canadá, que respondeu com papo robótico de
relações públicas e saiu de fininho.

“Pelo menos metade do país torcendo


para que Bolsonaro, na sua imensa
derrota e medo da prisão, encarne o
Getúlio.”

Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022


78

Lola Aronovich, professora da Universidade Federal


do Ceará e blogueira feminista, desejando que o
presidente cometa suicídio. Meses atrás, ela disse
que a facada de 2018 foi encenada. Ativistas de
“direitos humanos” ficam bem desumanos quando
se discorda deles.

“O Brasil está de volta.”


Lula, ex-presidiário recém-eleito, na cúpula de
narcisismo do clima no Egito. De volta ao atraso.

“Vai aumentar o dólar, cair a bolsa?


Paciência.”
Lula, represidenciado. Para quem promete um
governo verde, esse papo está muito Maduro.

“Tinha esquecido como é boa a vida


civilizada. Ouvir discurso altivo, sensível,
soberano. Não brigar com os fatos, negar
a ciência. Aos poucos deixamos o
bolsoverso e descobrimos que ainda há
vida inteligente na Terra. Aleluia!”
Amanda Klein, jornalista emocionada, sobre o
discurso do Lula. É aquela vida inteligente que
chama metade do eleitorado de “Cuscuz Klan”.

“Jatinho, casa na praia, tríplex e sítio:


relembre conflitos éticos de Lula com
empresários.”
Folha de S. Paulo, jornal, redefinindo corrupção.

“Eram pobres a serviço de uma potência


estrangeira.”

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79

Elias Jabbour, professor de economia da UERJ,


comunista, defendendo a pena de morte nos regimes
socialistas para dissidentes políticos. É por causa de
gente assim que o comunismo produziu mais de 100
milhões de mortes no século XX.

Cantinho do Supremo

“Criou-se uma lenda no Brasil difundida


nas redes sociais de que o Supremo
Tribunal Federal é contra o presidente. O
Supremo é a favor da Constituição e das
leis. Nós não temos lado político, nosso
lado é o lado da democracia.”
Luís Roberto Barroso, ministro do STF. Só resta
saber de qual constituição e de quais leis Barroso
está falando.

“A outra lenda que precisa ser desfeita é


que o Supremo Tribunal Federal é ativista.
Ativismo judicial? São raríssimos os
casos. As pessoas chamam de ativismo
judicial as decisões que não gostam.”
Luís Roberto Barroso, ministro do STF. Sim, claro,
deve ser por isso que o Brasil é o 75º colocado entre
139 países no ranking que mede o desempenho da
Justiça, que avalia coisas como rapidez na resolução
de processos, corrupção e acesso da população à
assessoria jurídica.

“Perdeu, mané, não amola.”

Gazeta do Povo Revista – Ed. 7 Novembro/2022


80

Luís Roberto Barroso, ministro do STF,


respondendo a manifestante em Nova York. Ao dizer
que o manifestante perdeu, Barroso dá a entender
que está no lado vencedor, o que, convenhamos, não
combina muito com as duas frases anteriores.

“Dica do dia: chega no amigo que foi pra


frente do quartel cantar pra pneu e fala
bem baixinho ‘perdeu, mané, não
amola’.”
Randolfe Rodrigues, senador e carrapicho do STF, se
sentindo empoderado com a fala do ministro
Barroso.

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PARA SE APROFUNDAR

● Editorial: a decepção dos aliados e o populismo


de Lula

● Quais serão os ministérios “econômicos” do


governo Lula e quem está cotado para eles

● Quem são os cotados para o Ministério da


Educação no governo Lula

● Veneno quase zero: brasileiros lideram empresas


especializadas em enganar pragas

● Por que o “Mercado”, tão criticado por Lula, é


essencial para melhorar a vida dos mais pobres

● Rússia começa a perder a guerra pelo sul – onde


sua agressão à Ucrânia começou, há nove anos

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82

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