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ABRIL 2023 27ª EDIÇÃO

R E V I S T A
Matt Gush/Getty Images/Canva Pro

Criminosos nas ruas: decisões


da Justiça comprometem a
segurança pública no Brasil

Como vai funcionar o Editorial: o legado de


acordo entre Brasil e China Lewandowski e o
que dispensa o dólar descrédito do STF
Índice
Editorial: Ricardo Lewandowski se despede do
03
STF

Luciano Trigo: Lições de Milton Friedman que o


10
governo vai ignorar

J.R. Guzzo: Como um presidente pode ajudar os


21
pobres comprando um sofá de 65 mil reais?

Decisões judiciais recentes devolvem criminosos


27
às ruas e comprometem a segurança

Oposição pressiona Lula com 7 pedidos de


40
impeachment e ações na PGR

Como vai funcionar o acordo entre Brasil e China


56
que dispensa o dólar nos negócios

Cinco filmes clássicos para celebrar os 100 anos


69
da Warner Bros.

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3

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski.| Foto:


Carlos Moura/SCO/STF

| Editorial

Ricardo Lewandowski se
despede do STF
O dia 11 de abril de 2023 marca a despedida de
Ricardo Lewandowski do Supremo Tribunal
Federal. O ministro, que completa 75 anos em 11
de maio, decidiu antecipar em um mês sua
aposentadoria. Indicado ao STF em 2006, no
primeiro mandato de Lula, Lewandowski faz

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parte daquela minoria de ministros que já tinha


carreira na magistratura antes de chegar à
suprema corte. Infelizmente, o legado que ele
deixa em sua passagem de 17 anos pelo STF
ajuda a compreender todo o processo de
descrédito pelo qual o Supremo vem passando
nos últimos anos.

Apesar disso, é preciso também ressaltar que,


ao menos quando estava em jogo a defesa da
vida e da família, ou outros temas importantes
de ordem moral, Lewandowski se destacou por
estar do lado correto. Em 2012, apenas ele e
Cezar Peluso foram contrários à liberação do
aborto de fetos anencéfalos. Mais recentemen-
te, em 2019, ele e Dias Toffoli foram os únicos
votos contra a equiparação da homofobia ao
racismo, e Lewandowski também votou contra
o reconhecimento de uniões estáveis simultâ-
neas, o que equivaleria a um reconhecimento da

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bigamia no Brasil. Mesmo quando aceitou o uso


de células-tronco embrionárias em pesquisas,
em 2008, reconheceu que o embrião tinha di-
reitos a serem tutelados e afirmou que embriões
viáveis não poderiam ser destruídos. Não seria
exagero presumir que, em um eventual julga-
mento da ADPF 442, que pretende descrimina-
lizar o aborto no Brasil, Lewandowski seria um
voto em favor da vida do nascituro.

Apesar de bons votos em temas como


a defesa da vida e da família,
Lewandowski se destacou também
pelo ativismo judicial e, especial-
mente, por seus votos sempre
favoráveis aos réus em escândalos
como o mensalão e o petrolão

Os elogios, entretanto, terminam aí, pois fora


destes temas Lewandowski acabou se revelando

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um péssimo intérprete da Constituição, isso


quando não resolveu ser seu redator.
Especialmente significativo foi o julgamento do
impeachment de Dilma Rousseff, em 2016,
quando Lewandowski, que presidia a sessão do
Senado, aceitou passivamente que os senadores
cassassem a presidente, mas mantivessem seus
direitos políticos, por mais que o artigo 52 da
Carta Magna fosse claro sobre o caráter auto-
mático da inabilitação. Já o Lewandowski
ativista judicial se revelou principalmente
quando estava em jogo o destino e a governança
de empresas estatais: em 2018, o ministro
proibiu que o governo vendesse estatais sem
autorização do Congresso, interpretando a
Constituição em desacordo com o constituinte,
para quem a presença direta do Estado na
economia era uma exceção, não a regra; mais
recentemente, liminar sua derrubou um trecho

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da Lei das Estatais devidamente aprovado pelo


Congresso e que nada tinha de inconstitucional,
em decisão que abriu novamente as portas a
indicações políticas. Embora não diga respeito a
votos ou decisões, também foi extremamente
lamentável o episódio ocorrido dentro de um
avião, quando o ministro ameaçou de prisão um
advogado que se dirigiu a ele fazendo críticas ao
Supremo.

No entanto, o que deve realmente se consolidar


como a marca de Lewandowski no STF é seu
papel nos casos de corrupção que teve de julgar.
Na ação penal do mensalão, atuando como
revisor, ele foi a nêmesis do relator Joaquim
Barbosa, sempre pleiteando a absolvição ou a
redução de penas dos responsáveis pelo que era,
até então, o maior esquema de corrupção da
história do país – se não pelos valores
movimentados, pela intenção clara de fraudar a

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democracia brasileira pela compra de apoio


parlamentar a Lula. E, quando o mensalão foi
substituído por um esquema ainda maior e mais
grave, o petrolão, Lewandowski continuou
sendo voto certo em favor dos réus, tanto no
plenário quanto na Segunda Turma. Das
anulações de julgamentos por puro formalismo
à surreal suspeição de Sergio Moro, o desmonte
completo da Lava Jato no STF não teria sido
possível sem Lewandowski. Por mais que o
ministro estivesse completamente convencido
de que fazia a coisa certa, objetivamente seus
votos ajudaram a enviar uma “mensagem de
leniência em favor da corrupção”, nas palavras
certeiras do então procurador e hoje deputado
Deltan Dallagnol.

Pelo conjunto da obra, portanto, Lewandowski


encerra sua passagem pelo Supremo sem deixar
muitas saudades. Ele só será lembrado com

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alguma nostalgia em termos comparativos, no


caso de Lula resolver substituí-lo por alguém
que seja igualmente “garantista” na hora de
julgar os casos de corrupção, mas que, ao
contrário de Lewandowski, também compre
todo o pacote militante-identitário que tem
caracterizado a esquerda nos últimos anos.
Dado o gosto de Lula por depredar instituições,
este infelizmente é um cenário bem possível, e
que só não se tornará realidade se o Senado
finalmente abandonar uma longa tradição de
“carimbador” de escolhas presidenciais e
cumprir seu papel de zelar para que as cadeiras
do Supremo sejam ocupadas por pessoas dignas
da tarefa de guardar a Constituição.

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Luciano Trigo

| Foto: Universidade de Chicago

Lições de Milton Friedman que


o governo vai ignorar
Prêmio Nobel de Economia em 1976, professor
da Universidade de Chicago por mais de 30
anos, conselheiro do governo Ronald Reagan e
autor de ensaios clássicos sobre teoria
monetária, análise do consumo e políticas de

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estabilização, o economista e escritor


americano Milton Friedman (1912-2006) foi
também um excelente frasista. Selecionei
algumas de suas declarações mais famosas, cuja
verdade profunda os governos brasileiros, com
raras exceções, teimam em ignorar.

1. “Uma sociedade que coloca a igualdade antes da


liberdade não terá nenhum dos dois. O uso da força para
alcançar a igualdade irá destruir a liberdade, e a força,
introduzida inicialmente para bons propósitos, acabará
nas mãos de pessoas que a usarão para promover seus
próprios interesses.”

Liberdade econômica gera prosperidade, que


beneficia a todos, mesmo às parcelas mais
pobres da população. Sem liberdade, a única
igualdade a que se pode aspirar é o nivelamento
da sociedade por baixo, na precariedade, e sem

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direito a reclamar. É o que acontece nas


ditaduras de esquerda latino-americanas, como
Cuba e Venezuela, que ainda hoje servem de
bússola e inspiração para muita gente. É
assustador.

2. “Um dos grandes erros é julgar políticas e


programas por suas intenções e não por seus resultados.”

É um grande erro, certamente, mas é também


uma estratégia. Apelando aos bons sentimentos
e à ingenuidade do cidadão comum, governos se
elegem e se perpetuam convencendo parte da
população de que são detentores do monopólio
das boas intenções e demonizando os
adversários como malvados sem coração.

Não importam os resultados, e sim estar do lado


“certo”. Isso funciona principalmente entre os
jovens "guerreiros da justiça social" que,

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doutrinados nas salas de aula das escolas com


partido, compram uma consciência limpinha
lacrando nas redes sociais, no conforto de seus
lares burgueses, e depois vão passear no
shopping com seu iphone de última geração.

3. “O poder concentrado não se torna inofensivo pelas


boas intenções daqueles que o criam.”

Mesmo que as intenções fossem boas – mas


todo mundo sabe que nem sempre elas são –
programas sociais e planos de estabilização
fiscal podem fracassar miseravelmente pela
simples razão de serem equivocados e, na
prática, gerar efeitos contrários aos anunciados,
planejados ou pretendidos: perpetuação da
pobreza, aumento do desemprego, queda nos
investimentos privados e, inevitavelmente,
inflação, que é o pior dos impostos. Está

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acontecendo na Argentina, onde a inflação já


bateu os 100% ao ano e a pobreza não para de
crescer. Já aconteceu aqui – e nada impede que
aconteça novamente.

4. “Nós, economistas, não sabemos muito, mas


sabemos como criar escassez. Se você quiser criar uma
escassez de tomates, por exemplo, basta aprovar uma lei
que os varejistas não podem vender tomates por mais de
dois centavos o quilo. Instantaneamente você terá uma
escassez de tomate. É o mesmo com petróleo ou gás. (...)
Você quer um excedente? O governo legisla um preço
mínimo acima do preço que, de outra forma,
prevaleceria. Você quer escassez? O governo legisla um
preço máximo, abaixo do preço que de outra forma
prevaleceria”.

As leis da economia não falham, e o mesmo


raciocínio se aplica a baixar na marra o teto de
juros cobrados pelos bancos nos empréstimos

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consignados para beneficiários do INSS, ou a


anunciada taxação das grandes varejistas
chinesas.

No primeiro caso, o negócio deixa de interessar


aos bancos, empurrando os aposentados e
pensionistas para créditos mais caros. No
segundo, os efeitos previsíveis serão preços
mais caros para o consumidor e vendas
menores – o que resultará em uma arrecadação
muito menor que a calculada.

Ora, as pessoas compram na Shein e na Shopee


porque é barato; se os preços subirem por causa
dos impostos, muitas deixarão de comprar:
simples assim. Como demonstrou o economista
Arthur Laffer, o aumento da carga tributária,
além de raramente beneficiar a economia, pode
acabar resultando na queda da arrecadação.

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5. “O problema da organização social é como


estabelecer um arranjo sob o qual a ganância cause o
menor dano; o capitalismo é esse tipo de sistema.”

Sendo a ganância um traço da natureza


humana, em um sistema social que estabeleça
freios e contrapesos à ação do governo, além de
promover a competição e a meritocracia, ela (a
ganância) causa potencialmente muito menos
danos que em um sistema onde uma elite
burocrática detém o controle sobre a economia
e o poder de decidir quem ganha e quem perde –
ou, o que é pior, o que é verdade e o que é
mentira.

A História também demonstra que, quanto mais


concentrado o poder, menor a eficiência da
economia e maiores são as oportunidades de
corrupção.

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6. “Se você colocar o governo federal no comando do


deserto do Saara, em cinco anos vai faltar areia.”

Pois é.

Outras citações de Milton Friedman nas quais o


governo deveria prestar atenção:

“O governo tem três funções principais. Deve


providenciar a defesa militar da nação. Deve fazer
cumprir contratos entre indivíduos. Deve proteger os
cidadãos de crimes contra eles próprios ou seus bens”;

“Quando o governo – em nome de boas intenções –


tenta reorganizar a economia, legislar a moralidade ou
proteger interesses especiais, o resultado é a ineficiência,
a falta de motivação e a perda de liberdade. O governo
deve ser um árbitro, não um jogador ativo”;

“Ninguém gasta o dinheiro de outra pessoa tão


cuidadosamente quanto gasta o seu. Então, se você quer

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eficiência e eficácia, se quiser que o conhecimento seja


utilizado corretamente, você deve fazê-lo por meio da
propriedade privada”;

“Fundamentalmente, existem apenas duas formas de


coordenar as atividades econômicas de milhões de
indivíduos. Uma é direção centralizada, envolvendo o uso
da coerção – a técnica da força e do estado totalitário
moderno. A outra é a cooperação voluntária dos
indivíduos – a técnica do mercado”;

“Como vivemos em uma sociedade em grande parte


livre, tendemos a esquecer o quão limitado é o período de
tempo e a parte do globo para o qual existe alguma coisa
como liberdade política: o estado típico da humanidade é
a tirania, a servidão e a miséria”;

“Reduzir os gastos e a intervenção do governo na


economia quase certamente implicará uma perda
imediata de curto prazo para poucos, e um ganho de
longo prazo para todos”;

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“Uma das razões pelas quais eu sou a favor de menos


governo é porque, quanto mais governo tivermos, mais
as grandes corporações irão assumi-lo. (...) A grande
virtude da livre iniciativa é obrigar as empresas
existentes a atenderem as demandas do mercado de
forma contínua, produzindo produtos que atendam aos
gostos dos consumidores com o menor custo possível, sob
o risco de serem eliminadas pelo mercado. É um sistema
de lucros e perdas. Naturalmente, as empresas existentes
geralmente preferirão vencer a concorrência de outras
maneiras. É por isso que a comunidade empresarial,
apesar de sua retórica, sempre foi uma grande inimiga
do verdadeiro livre mercado”;

“A liberdade política significa ausência de coerção de um


homem por seus semelhantes. A ameaça fundamental à
liberdade é o poder de coagir, seja nas mãos de um
monarca, um ditador, uma oligarquia ou uma maioria
momentânea. A preservação da liberdade exige a
eliminação de tal poder na maior extensão possível, além

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da dispersão e distribuição de todo poder que não possa


ser eliminado”;

“Para o homem livre, o país é a coleção de indivíduos que


o compõe, não algo além e acima deles. Ele se orgulha de
uma herança comum e é fiel às tradições comuns. Mas
ele considera o governo como um meio, uma ferramenta,
não uma entidade concedente de favores e presentes,
nem um senhor ou um deus a ser adorado e servido
cegamente.”

“A combinação do poder econômico e político nas


mesmas mãos é a receita certa para a tirania”.

Autor: Luciano Trigo é escritor, jornalista, tradutor e editor de livros.


Autor de 'O viajante imóvel', sobre Machado de Assis, 'Engenho e
memória', sobre José Lins do Rego, e meia dúzia de outros livros, entre
eles infantis.

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J.R. Guzzo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).| Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/


Agência Brasil.

Como um presidente pode


ajudar os pobres comprando
um sofá de 65 mil reais?

O presidente Lula diz, pelo menos uma vez a


cada três dias, que não pensa em outra coisa
nesta vida que não seja ajudar os pobres do

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Brasil. Já disse, com cara de indignação, que


“este país” precisa de um “orçamento para os
pobres”; os cardumes de puxa-sacos que ficam
o tempo em todo à sua volta bateram palmas,
comovidos. Também afirmou, aparentemente
falando a sério, que o seu governo poderia
eliminar a pobreza e criar uma “classe média”
doando às pessoas dinheiro do Erário –
bastaria, para isso, aumentar a dívida pública.

O Brasil já não deve um caminhão de dinheiro


por gastar mais do que arrecada? Então: é só
ficar devendo mais e a miséria some, não é
mesmo? Já falou, ainda, que as reservas
internacionais do Brasil em dólares, que servem
para o país pagar até o último centavo de tudo o
que tem de comprar no exterior, poderiam ser
distribuídas para “o povo” – como se fossem
um dinheiro que sobrou e está parado numa

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gaveta. E no mundo das realidades práticas o


que Lula está fazendo?

A última notícia é que comprou, para uso


pessoal em sua residência no Palácio da
Alvorada e com dinheiro arrancado do pagador
de impostos, um sofá 65 mil reais. Sua mulher,
ao que parece, não estava gostando da
decoração da sala; foi por isso, aliás, que o casal
teve de morar numa suíte de luxo num hotel de
Brasília durante as primeiras semanas do
governo Lula-3. Há também uma cama nova,
essa de 42 mil reais. Os preços dizem tudo.
Trata-se de uma cena de deslumbramento
cafajeste, brega e explícito diante da chance de
gastar dinheiro público em benefício das
próprias fantasias. Tudo bem: digamos que a
vida de um pai do povo tenha de passar por
estas durezas. Mas sinceramente: como é
possível, por qualquer raciocínio que a mente

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humana seja capaz de produzir, um presidente


da República ajudar os pobres comprando um
sofá de 65 mil reais?

Os devotos de Lula, diante da impotência para


resolver uma charada sem solução como essa
história do novo sofá e da nova cama, vão dizer,
automaticamente: “Essa pergunta é
bolsonarista”. Com isso ficam menos agitados,
talvez, mas não se esclarece absolutamente
nada sobre a única questão concreta que tem de
ser respondida por Lula: num país de miseráveis
(são “120 milhões de pessoas passando fome”,
segundo a ministra do Ambiente), e no qual o
governo garante que não tem dinheiro para as
“políticas sociais”, não faz nenhum nexo o
presidente gastar 65 mil reais num sofá e 42 mil
numa cama para o seu desfrute pessoal. Lula
exige, o tempo todo, que o teto legal nas
despesas públicas seja desrespeitado, para que

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ele possa gastar com “os pobres”. E o sofá? Aí o


dinheiro aparece? Se não há verba para cuidar
da “fome”, como ele diz, por que há verba para
a decoração da sua casa? Um político que age
assim, em português claro, é um farsante.

Quantos brasileiros têm em suas residências


duas peças de mobília que valem mais de R$ 100
mil? Uns 0000000000,1% da população, talvez?
É esse o mundo onde vive o pai do povo. Qual o
ponto de contato que os brasileiros de carne e
osso têm hoje com o Lula que existe na vida
real? A resposta é: “Nenhum”. Desde que foi
tirado da prisão por decreto imperial do STF,
safando-se da pena que cumpria por ter sido
condenado na Justiça pelos crimes de corrupção
passiva e lavagem de dinheiro, Lula convenceu a
si mesmo que era Deus. Hoje, transformado em
presidente, acha que é Deus elevado ao cubo.

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Quando se fica desse jeito, a arrogância, a mania


de grandeza e o desprezo pela opinião alheia
vão se tornando cada vez mais inconscientes –
Lula, dia após dia, dá sinais de que deixou de
perceber a existência de qualquer relação entre
o que faz e o que seria a sua obrigação mínima
de fazer como homem público. A respeito disso,
a conclusão mais sensata a que um observador
neutro poderia chegar é a seguinte: “Pirou
geral”.

Autor: J.R.Guzzo é jornalista. Começou sua carreira como repórter em


1961, na Última Hora de São Paulo, passou cinco anos depois para o
Jornal da Tarde e foi um dos integrantes da equipe fundadora da revista
Veja, em 1968. Foi correspondente em Paris e Nova York, cobriu a guerra
do Vietnã e esteve na visita pioneira do presidente Richard Nixon à China,
em 1972. Foi diretor de redação de Veja durante quinze anos, a partir de
1976, período em que a circulação da revista passou de 175.000
exemplares semanais para mais de 900.000. Nos últimos anos trabalhou
como colunista em Veja e Exame.

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Cada vez mais comum no Judiciário brasileiro, “garantismo penal” corrói o


sistema de persecução criminal e compromete a segurança pública como um
todo| Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Decisões judiciais recentes


devolvem criminosos às ruas e
comprometem a segurança
Por Gabriel Sestrem

No dia 13 de março, o Tribunal de Justiça de São


Paulo (TJ-SP) decidiu reformar uma sentença
na qual um homem havia sido condenado por,
dentre outros crimes, desobediência à ordem de
autoridade policial por ter empreendido fuga da

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polícia durante 20 minutos em um carro


roubado em alta velocidade.

Durante esse tempo, o criminoso – que é


reincidente e já havia sido condenado anterior-
mente por roubo, extorsão e resistência –
colocou várias pessoas em risco e colidiu com
outros veículos. Até mesmo um helicóptero da
Polícia Militar foi acionado para a ocorrência.
Ao final, o rapaz tentou fugir a pé e chegou a
pegar uma criança desconhecida no colo na
tentativa de despistar os policiais.

Apesar das circunstâncias, três desembargado-


res do Judiciário paulista decidiram absolver o
réu do crime de desobediência sob a alegação de
que fuga de abordagem policial configurou um
“exercício da autodefesa”. Os magistrados
ainda destacaram que os 20 minutos despendi-
dos na fuga foram apenas um “reflexo

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instintivo de preservar a liberdade”, e não


propriamente “vontade de desobediência à
ordem legal”.

Em outra decisão proferida três dias depois, o


TJ-SP mandou soltar um homem preso sob a
acusação de acessar os sistemas da Polícia
Militar e do Detecta, programa de monitora-
mento e inteligência do Governo de São Paulo, a
fim de repassar informações privilegiadas para
o Primeiro Comando da Capital (PCC).

Na casa do rapaz, preso em outubro de 2022, a


polícia encontrou um computador logado na
intranet da Polícia Militar do estado. Segundo o
Ministério Público, que apresentou a denúncia,
o homem acessava o sistema havia quase dois
anos e vendia as informações sigilosas à facção
criminosa. “Em especial, a invasão dos sistemas
da Polícia Militar visava à prática de roubos,

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viabilizando fugas e acompanhamento da


localização de viaturas policiais”, menciona a
denúncia. Na época da prisão, a juíza
plantonista do TJSP informou que o rapaz
“confessou com detalhes a prática criminosa”
ao converter o flagrante em prisão preventiva.

Apesar disso, no dia 16 de março, a juíza do


processo entendeu que não havia provas
suficientes para enquadrá-lo por associação
criminosa e decidiu rejeitar a denúncia do
Ministério Público. A prisão foi revogada, e o
rapaz foi solto.

Decisões como essas, fundamentadas no


chamado “garantismo penal” – teoria que, ao
buscar controlar excessivamente o poder de
punir do Estado, cria um ambiente propício à
reincidência criminal –, têm sido uma realidade
cada vez mais comum no Judiciário brasileiro.

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Na prática, a fragilização do sistema de


persecução criminal em curso por atores do
poder Judiciário tem feito com que o ditado “a
polícia prende, a Justiça solta” faça cada vez
mais sentido. Segundo fontes ouvidas pela
reportagem, os resultados de decisões garantis-
tas aplicadas em série são a devolução massiva
de criminosos às ruas sob argumentos frágeis; o
aumento da reincidência criminal; e a desmoti-
vação de policiais, reduzindo a atuação proativa
das forças de segurança.

Em outras palavras, a criminalidade aumenta ao


passo que o combate ao crime enfraquece,
criando um cenário bastante desfavorável à
segurança pública. “Talvez o efeito mais
devastador dessas decisões seja a mensagem
que elas passam. É como se no Brasil a atividade
criminosa fosse um mal menor, uma atividade
que, apesar de ilegal, de certa forma se justifica

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pela fraca reação do Estado”, explica Luiz


Fernando Ramos Aguiar, especialista em
segurança pública e major da Polícia Militar do
Distrito Federal (PMDF).

“A consequência é que criminosos se tornam


cada vez mais ousados e violentos. Apostam que
mesmo que seus atos sejam extremamente
cruéis ou repulsivos, funcionam já que não
existe uma punição que seja suficiente para
inibir as vantagens decorrentes da atividade
ilegal”, destaca.

Bandeira do governo Lula, garantismo penal é


abraçado pela alta cúpula do Judiciário

Em maio de 2022, o Superior Tribunal de Justiça


(STJ) decidiu que a chamada busca pessoal a
suspeitos – prática popularmente conhecida
como “revista”, “enquadro”, “geral”, entre
outros – feita por agentes de segurança é ilegal

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caso seja realizada sob a justificativa de atitude


suspeita ou mesmo a partir de denúncias
anônimas. A alegação dos ministros foi de que a
medida combateria o "racismo estrutural".
Como mostrado pela Gazeta do Povo, especia-
listas em segurança pública apontam riscos
diversos como consequência da decisão do
tribunal.

Na decisão, os ministros anularam a


condenação de um homem detido pela polícia
com 72 porções de cocaína, 50 de maconha e
uma balança digital em sua mochila. O STJ
apontou que a abordagem foi irregular porque
os policiais não descreveram precisamente o
que havia motivado a suspeita.

Como resultado, a medida tem motivado a


anulação de diversas provas – e, consequente-
mente, de condenações – nos tribunais do país.

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Em fevereiro, o mesmo STJ concedeu liberdade


a um homem que mantinha 66 quilos de
maconha em sua residência. A alegação dos
ministros foi de que a prisão era ilegal, já que “a
entrada dos policiais no domicílio do homem
dependia de validação e regularidade em razões
justas e fundamentadas”.

A bandeira do garantismo penal também é


erguida pela maior parte dos ministros do
Supremo Tribunal Federal (STF), o que, na
prática, significa uma interpretação da
Constituição de forma mais favorável aos réus.
No fim de março, ao anunciar a antecipação de
sua aposentadoria, o ministro Ricardo
Lewandowski destacou que em seus 33 anos de
magistratura, incluindo o período como
desembargador, priorizou os direitos
fundamentais dos acusados. “A minha
judicatura, desde quando eu entrei no Tribunal

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de Alçada Criminal, em 1990, sempre se pautou


por essa visão, uma visão garantista, uma visão
que prestigia os direitos fundamentais",
declarou.

Uma das decisões da Corte que ganhou ampla


repercussão foi a soltura, em 2020, de um dos
principais líderes do PCC, conhecido como
“André do Rap” – condenado a 25 anos de
prisão – por meio de um habeas corpus
concedido pelo ex-ministro Marco Aurélio
Mello. Diante de uma forte onda de críticas à
Corte, a decisão foi revogada pelo ministro Luiz
Fux, na época presidente do STF, e referendada
pelo plenário. No entanto, a essa altura o
criminoso já havia sido solto. Passados dois
anos e meio da decisão do Supremo, o
criminoso segue foragido e é procurado até pela
Interpol.

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No poder Executivo, o presidente Lula (PT)


também é um ferrenho defensor do garantismo
e coleciona declarações polêmicas sobre o
combate à criminalidade que foram bastante
exploradas por adversários durante a campanha
eleitoral do ano passado.

Ao discursar no mês passado durante o lança-


mento do Programa Nacional de Segurança
Pública com Cidadania (Pronasci), Lula fez
declarações críticas às forças policiais e com
pedidos de maior tolerância da Justiça com
criminosos presos. Ao falar sobre o encarcera-
mento de jovens, o petista chegou a dizer que
infratores frequentemente são inocentes e
“vítimas de um delito”.

Para especialistas, garantismo exacerbado


multiplica violência e criminalidade

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Na avaliação de Eduardo Matos de Alencar,


doutor em sociologia e autor do livro “De quem
é o Comando? O desafio de governar uma prisão
no Brasil”, decisões judiciais excessivamente
garantistas afetam diretamente o dia a dia da
população, além de prejudicar a atividade
policial e a gestão de segurança pública como
um todo.

“São decisões que vão gerando uma ambiência


institucional de condescendência com o crime
que é tão precária para a segurança pública que
já passou do ponto do garantismo. Acho que já é
fruto de um ativismo judicial irresponsável por
parte de ministros e juízes que não estão com ‘a
pele em jogo’, que não vão pagar o preço de suas
decisões”, declara.

Para Alencar, o fato de uma eventual


responsabilização por decisões judiciais ser

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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muito rara permite que magistrados tenham


ampla liberdade para seguir com medidas
questionáveis. “No Brasil, se um gestor público
quiser ser garantista demais e amarrar a mão da
polícia, isso terá um impacto direto sobre a
quantidade de crimes e ele pagará isso eleito-
ralmente. Mas um juiz não. Então há um espaço
para que ele aplique as teorias acadêmicas mais
diversas numa realidade prática de segurança
pública que ele pouco conhece”, aponta.

Ramos Aguiar, por outro lado, enfatiza os


efeitos práticos do garantismo penal na forma
como criminosos encaram o sistema de
persecução penal, o que favorece a sensação de
impunidade e, consequentemente, a reincidên-
cia criminal. “Mesmo sendo preso em flagrante,
dificilmente um criminoso fica preso. O mais
comum é que esteja de volta às ruas poucas
horas depois em decorrência das audiências de

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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custódia. Mesmo se for condenado, ele passa


um período muito pequeno de sua pena
realmente preso. A consequência disso é que
gera um forte sentimento de impunidade, de
que o crime compensa, o que leva o criminoso à
reincidência”, explica.

“Na experiência do trabalho nas ruas, notamos


que os crimes são cometidos de forma geral por
reincidentes, pessoas com diversas passagens
pela polícia e/ou condenações. Se essas pessoas
estivessem presas, esses crimes não seriam
cometidos”, reforça o major da PMDF.

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Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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48% acham que Lula fez menos do que esperavam em 100 dias, diz Ipec.| Foto:
Marcelo Camargo/Agência Brasil

Oposição pressiona Lula com 7


pedidos de impeachment e ações
na PGR
Por Rodolfo Costa

A oposição está tentando travar uma guerra


jurídica contra o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT). Desde o início do governo foram
oficializados sete pedidos de impeachment, 120

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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ações na Procuradoria-Geral da República (PGR) e


quase 20 pedidos de informações no Congresso.

Mas, a enxurrada de ações, requerimentos e


pedidos de impedimento por crime de
responsabilidade não necessariamente levarão a
um processo que resulte no afastamento do
presidente. Isso porque o impeachment é, acima de
tudo, um processo político, que, por vezes, pouco
depende dos argumentos jurídicos levantados.

Por enquanto, não há condições políticas para que


ele aconteça com cerca de 100 dias de governo,
avalia o cientista político e sociólogo André César,
analista da Hold Assessoria Legislativa. Os pedidos
contínuos de impeachment teriam o objetivo de
pressionar a gestão petista, em uma espécie de
guerrilha política, destinada a ir desgastando aos
poucos o governo.

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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Fora isso, os autores das medidas, por vezes


parlamentares de pouca relevância política, se
beneficiam dos holofotes da mídia quando as
protocolam.

As derrotas mais concretas impostas pela oposição


ao governo federal até agora foram aprovações de
convites de ministros para comparecimento à
Câmara dos Deputados. Mas, a situação do governo
pode piorar se a Comissão Parlamentar Mista de
Inquérito (CPMI) para apurar os atos de
vandalismo de 8 de janeiro foi instalada no
Congresso. A ideia dos opositores é tentar provar
que o governo teria sido omisso no episódio.

A instalação, porém, depende da leitura do pedido


de abertura da CPMI por parte do presidente do
Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), em uma
sessão conjunta do Congresso. A primeira do ano
deve ocorrer em 18 de abril, após a viagem à China,

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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da qual será integrante, assim como Lula,


ministros, outros parlamentares e empresários.

Das 120 representações contra Lula, 70 foram


arquivadas pela PGR e 50 estão sob análise da
procuradoria, informa o site Metrópoles. Outras
foram arquivadas por determinação do ministro
Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal
(STF), sem parecer da PGR, a exemplo das que
pediam a investigação de Lula por colocar em
dúvida a operação que descobriu um plano de
sequestro do senador Sergio Moro (União
Brasil-PR) pela facção criminosa PCC.

Quanto aos pedidos de impeachment, mais da


metade foi motivada por declarações públicas do
petista:

● Os últimos dois foram apresentados


recentemente após Lula ter tido que, enquanto
esteve preso, pensava em se vingar de Moro, e

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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também por ele colocar em dúvida a


credibilidade do trabalho da Polícia Federal
(PF) nas investigações sobre o plano contra o
ex-juiz e a família dele. Um deles foi proposto
pelo deputado Bibo Nunes (PL-RS) e o outro
leva as assinaturas de 33 deputados federais.
● Outros dois pedidos foram protocolados pelos
deputados Sanderson (PL-RS), presidente da
Comissão de Segurança e Combate ao Crime
Organizado da Câmara, e Evair Vieira de Melo
(PP-ES), e citam declaração polêmica de Lula
na Argentina. Em sua primeira viagem
internacional como presidente, o petista voltou
a dizer que o impeachment da ex-presidente
Dilma Rousseff (PT) foi um "golpe de Estado",
desprezando o processo legal ocorrido em 2016.

Os pedidos de Sanderson e Melo foram arquivados


com base no regimento interno da Câmara, pois
foram apresentados ao fim de janeiro de 2023,

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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antes do início da atual legislatura, que começou


em 1º de fevereiro.

Os outros três pedidos abordam:

● Um suposto processo de licitação para compra


de móveis de luxo;
● A responsabilização de Lula pelos atos de
vandalismo em 8 de janeiro;
● A tentativa do petista em impedir a instalação
da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
(CPMI) para investigar os ataques e a suposta
omissão do governo.

Além de Lula, o ministro da Justiça e Segurança


Pública, Flávio Dino (PSB), é um dos alvos dos
opositores na CPMI do 8 de janeiro. Ele é acusado
de ter sido informado antecipadamente sobre
riscos à segurança na data, segundo denúncia
apresentada pelo deputado federal Kim Kataguiri
(União Brasil-SP).

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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Constitucionalista avalia procedência nos recentes


pedidos de impeachment

A advogada constitucionalista Vera Chemin, mestre


em Administração Pública pela Fundação Getúlio
Vargas (FGV) e pesquisadora do Direito
Constitucional, avalia que há procedência no mais
recente pedido de impeachment contra Lula em
razão do que dizem a Constituição e a Lei 1.079/50
sobre crimes de responsabilidade.

Para a especialista, Lula pode ser enquadrado por


dois crimes de responsabilidade: contra o livre
exercício dos poderes constitucionais, "ao ter
usado de violência ou ameaça contra algum
representante da nação", no caso do senador
Sergio Moro; e contra a probidade na
administração, "pela procedência de modo
incompatível com a dignidade, a honra e o decoro

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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do cargo" por uma ofensa proferida contra o


parlamentar em uma entrevista.

As duas possibilidades de crime de


responsabilidade estão previstas nos incisos 2 e 5
do artigo 85 da Constituição, e nos incisos 6 e 7 do
artigo 9º da Lei 1.079. "As afirmações feitas em
público pelo atual presidente não deixam dúvidas
sobre a possibilidade real de ser enquadrado em
crime de responsabilidade", destaca Vera.
"Inquestionavelmente, as afirmações remetem a
uma ameaça a um membro do Poder Legislativo,
além de divulgar uma fake news, ao observar que o
perigo concreto representado pelo crime
organizado em face de Moro seria uma armação do
senador", complementa.

A constitucionalista entende que as falas de Lula


incitam publicamente o ódio contra Moro e
denotam uma "intenção escancarada" de

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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"vingança generalizada" ao senador. Ela também


reforça seu entendimento a outros trechos de alerta
do pedido de impeachment, como a tentativa de
destituição do presidente do Banco Central,
Roberto Campos Neto, e o que considera uma
tentativa de desvirtuar a Lei das Estatais com o
objetivo de promover nomeações políticas que não
poderiam ascender a cargos públicos em razão de
impedimentos legais.

"Os deputados também alertam para a


incapacidade governamental, de forma totalmente
imparcial, digo que há uma incapacidade de prever,
planejar, organizar e executar um projeto de curto,
médio e longo prazo para o país", comenta. Vera
destaca que sua análise é estritamente jurídica e
não toma por base o cenário político.

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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A especialista destaca ainda o seu entendimento de


que o governo comete crime de responsabilidade
contra a lei orçamentária, também previstos na
Constituição e na Lei 1.079. Ela atribui isso ao novo
arcabouço fiscal e ao excesso de gastos promovido
e sinalizado pelo governo. "Estão extrapolando
todos os limites", critica.

Analista político não vê cenário político para a


abertura de impeachment

Apesar das condições jurídicas citadas, o cientista


político e sociólogo André César, analista da Hold
Assessoria Legislativa, avalia que não existem as
condições políticas para se avançar com um pedido
de impeachment de Lula na Câmara.

Embora o petista ainda não tenha montado sua


base na Câmara, é improvável um impeachment
avançar com cerca de 100 dias de governo. Em
início de mandato, é comum presidentes da

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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República contarem com índices minimamente


satisfatórios de aprovação junto à sociedade.

Apesar de Lula ter registrado o pior índice de


reprovação de seus três mandatos, seu governo é
aprovado por 38% da população no primeiro
trimestre deste ano, aponta o Datafolha. No mesmo
período da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro
(PL), o índice era de 32% e a oposição da esquerda a
ele havia protocolado dois pedidos de
impeachment.

Na prática política, portanto, é improvável a


possibilidade do presidente da Câmara, Arthur Lira
(PP-AL), acolher a abertura de impeachment
contra o petista no momento. "Hoje, não temos
instrumentos ou material para viabilizar, mas tem
o espaço para fazer barulho", destaca André César.

O analista político alerta, contudo, que a falta de


base de Lula e a desorganização do governo nos 100

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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primeiros dias alimentam ainda mais a oposição.


"Esses pedidos de impeachment são para
pressionar, é assim que funciona, e isso se acentua
em um governo que não tem maioria e lida com
uma oposição que não é pequena", diz.

O cientista político avalia que o novo arcabouço


fiscal pode ser a "tábua de salvação" de um
governo enfraquecido. "Ainda não é um
'desgoverno', mas o caminho não está bom e, nesse
jogo de pressionar o Lula, daqui a dois meses, esses
números de impeachment e ações podem ir para 10,
15, 20 ou 30 nos próximos dois meses se o cenário
não melhorar", destaca.

Oposição também avança com requerimentos


contra Lula no Congresso

Além de todos os instrumentos de pressão contra


Lula, a oposição na Câmara e no Senado também
protocolou 18 requerimentos de repúdio, sobre

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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falas de Lula em relação a Moro, e de informações


sobre gastos de viagens e uma suposta liberação de
recursos de emendas parlamentares não
impositivas — ou seja, de execução não obrigatória
no orçamento — que sucederam o orçamento
secreto.

Três requerimentos protocolados na Comissão de


Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado
pediam a moção de repúdio por falta de decoro à
fala de Lula em relação à operação que descobriu
um plano de sequestro do senador Sergio Moro. Um
deles foi aprovado e gerou a primeira nota de
repúdio aprovada na comissão.

Outro requerimento pede ao ministro-chefe da


Casa Civil, Rui Costa, esclarecimentos sobre
matérias veiculadas pela imprensa que apontam
uma suposta solicitação de R$ 331 milhões de

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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emendas de bancada estadual discricionária (RP2),


que substituíram o orçamento secreto.

A solicitação foi distribuída para a relatoria do 1º


vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira
(Republicanos-SP), que deu parecer favorável, e
aprovada por Arthur Lira na sexta-feira (31). Com
isso, o titular da Casa Civil deve responder o pedido
de informação no prazo de 30 dias, sob pena de
enquadramento em crime de responsabilidade. A
prestação de informações falsas também sujeita o
ministro ao enquadramento nesse crime.

O ministro-chefe da Casa Civil de qualquer governo


é alguém da mais alta confiança do presidente da
República e requerimentos direcionados a ele são
uma forma indireta que a oposição tem de
"enquadrar" o chefe do Executivo federal. Por essa
mesma lógica, a Câmara aprovou um requerimento
que convida Rui Costa a ir à Comissão de

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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Fiscalização Financeira e Controle da Câmara


esclarecer a ameaça de Lula a Moro, quando o
presidente falou em "foder" o senador.

Também há requerimentos de informações no


Senado e da Câmara para que o ministro das
Relações Exteriores, Mauro Vieira, esclareça os
gastos da viagem de Lula à China; pedidos de
esclarecimentos de Rui Costa sobre os gastos de
Lula com uma suíte presidencial, em janeiro,
quando já era presidente da República e poderia
usar uma das residências oficiais; pedido de
informação ao ministro da Secretaria de
Comunicação Social, Paulo Pimenta, a respeito do
encontro entre Lula e a primeira-dama, Rosângela
da Silva, com influenciadores digitais e
celebridades em 8 de fevereiro.

Também há requerimentos que demandam ao


Itamaraty informações sobre doações a título de

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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presentes do exterior a Lula e Dilma em todos os


mandatos exercidos. Um desses pedidos foi
encaminhado em 3 de abril pela 1ª Secretaria da
Câmara ao ministro das Relações Exteriores, Mauro
Vieira, que terá até 3 de maio para responder.

Os requerimentos contra Lula são de autoria dos


deputados Carlos Jordy (PL-RJ), líder da oposição,
Nikolas Ferreira (PL-MG), José Medeiros (PL-MT),
Kim Kataguiri (União Brasil-SP), Marcel van
Hattem (Novo-RS), Felipe Francischini (União
Brasil-PR), Diego Garcia (Republicanos-PR),
Gilvan da Federal (PL-ES), Tenente Coronel Zucco
(Republicanos-RS), Silvia Waiãpi (PL-AP), Evair
Vieira de Melo e do senador Cleitinho
(Republicanos-MG).

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Cédulas de yuan, a moeda chinesa: Lula tentará implementar acordo que não
conseguiu no seu segundo mandato| Foto: Pixabay

Como vai funcionar o acordo


entre Brasil e China que dispensa
o dólar nos negócios
Por Célio Yano

A “desdolarização” da economia global parece ter


se tornado a nova empreitada do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) no cenário internacional.
“Toda noite me pergunto por que todos os países
estão obrigados a fazer o seu comércio lastreado no

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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dólar. Por que não podemos fazer nosso comércio


lastreado na nossa moeda?”, questionou o petista
nesta quinta-feira (13).

No fim de março, o governo brasileiro já havia


anunciado um acordo entre Brasil e China para
transações comerciais sem o uso do dólar ameri-
cano como intermediário, em câmbio direto entre
real e renminbi.

Embora chamada internacionalmente de yuan,


renminbi é o nome oficial da moeda chinesa – yuan
é o termo utilizado como unidade de contabilização
monetária, em uma distinção terminológica que
inexiste na maior parte das demais divisas globais.

Em meio à visita de uma comitiva de empresários


brasileiros à China, a subsidiária brasileira do
Industrial and Commercial Bank of China (ICBC)
passou a ser autorizada, no último dia 29, a fazer a

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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compensação direta de renminbi para o real,


atuação conhecida como de “clearing house”.

Na quarta-feira (12), o ICBC informou ter concluído


a primeira transação no Brasil com a moeda chine-
sa. “Isso demonstrou vantagens significativas em
termos de eficiência de compensação, custos de
taxa de câmbio e a segurança dos fluxos de fundos e
de informação”, declarou a instituição, segundo o
jornal China Daily.

À Gazeta do Povo, o professor de relações interna-


cionais do Instituto Brasileiro de Mercado de
Capitais (Ibmec) Carlo Cauti questionou a
viabilidade do acordo. Para ele, não haveria a
certeza da manutenção da estabilidade do câmbio
da moeda chinesa, “já que ela é manipulado há
décadas, desde sempre, pelo governo chinês”, o
que tornaria muito difícil convencer exportadores
brasileiros a aceitarem o pagamento em yuan.

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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Lula, no entanto, quer ir além do acordo com a


China. “Por que um banco como o [do] Brics não
pode ter uma moeda que pode financiar a relação
comercial entre Brasil e China, entre Brasil e outros
países do Brics?”, disse o presidente, em Xangai,
em referência ao grupo de países formado por
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Em janeiro, durante visita a Buenos Aires, ele já


havia sugerido a possibilidade de uma moeda
comum para países do Mercosul e mencionou
iniciativa semelhante para o Brics. À época,
discutia-se a criação de uma unidade de troca
comum para transações comerciais e financeiras
entre Brasil e Argentina.

“Por que não tentar criar uma moeda comum entre


os países do Mercosul? Por que não tentar criar
uma moeda comum entre os países do Brics? Eu
acho que com o tempo isso vai acontecer e eu acho

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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que é necessário que aconteça porque muitas vezes


tem países que têm dificuldade em adquirir o dólar,
e você pode fazer acordos, estabelecer um tipo de
moeda para o comércio que os bancos centrais”,
afirmou Lula na ocasião.

Questionado por jornalistas, o ministro da


Fazenda, Fernando Haddad, disse que a defesa da
dispensa do dólar em transações internacionais
não tem relação com qualquer alinhamento
geopolítico do Brasil e disse não acreditar em
descontentamento por parte dos Estados Unidos.
“Quando você abre uma porta, não está fechando a
outra”, disse. “As transações em dólar vão
continuar acontecendo; a maioria delas vai
acontecer em dólar”, afirmou.

Para ele, no entanto, em casos específicos em que


os parceiros comerciais são “muito fortes e
tradicionais”, pode-se pensar em mecanismos

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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“mais condizentes” com a situação. “Nosso


comércio com a China hoje é estrondoso e só
cresce, ano a ano.”

Desde 2009, a China é o maior parceiro comercial


do Brasil e uma das principais origens de investi-
mento no país. Segundo números da Agência
Brasileira de Promoção de Exportações e Investi-
mentos (ApexBrasil), em 2022, o volume de
transações foi recorde, atingindo US$ 150 bilhões,
sendo US$ 89,7 bilhões em exportações brasileiras
e US$ 60,7 bilhões em importações.

Acordo com China pode deixar Brasil menos


exposto a crises provocadas por conflitos
internacionais

Já Marcelo Cursino, gerente de estratégia comercial


do Braza Bank, vê a iniciativa como positiva. Ele
destaca que, embora o dólar seja a moeda mais
utilizada em transações internacionais, países que

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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não emitem a moeda estão expostos a diversos


problemas.

“Dentre elas, a falta de controle na política


monetária, que acaba guiada pelo emissor, inflação
indireta e até algumas sanções econômicas,
conforme política externa do emissor e a
rastreabilidade do fluxo financeiro entre bancos e
países por meio dos sistemas financeiros”,
exemplifica.

“Temos visto cada vez mais sanções dos Estados


Unidos junto a países com os quais possuem algum
atrito, seja econômico, militar ou social”, diz.
“Quando essas sanções ocorrem, os demais países
se veem pressionados e tendem a reduzir suas
negociações com os países sob sanção, visto o
receio de também sofrerem com restrições”.

No ano passado, uma das sanções impostas à


Rússia por países europeus e pelos Estados Unidos

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em razão da Guerra da Ucrânia foi desconectar os


bancos russos do sistema de pagamentos Swift,
uma plataforma de remessa de pagamentos que
conecta 11 mil instituições financeiras de mais de
200 países.

Uma das consequências foi o estreitamento das


relações entre Rússia e China, por meio da
utilização do Cross-Border Interbank Payment
System (Cips), sistema chinês alternativo ao Swift
do qual já fazem parte 25 países.

O Cips foi criado pela China em outubro de 2015


como uma forma de mitigar riscos financeiros e
econômicos associados à moeda norte-americana,
além de fortalecer o renminbi. O sistema permite
que as transações financeiras ocorram entre a
China e outros países por meio de suas moedas
próprias.

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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Operações pela plataforma de transações


financeiras chinesa deve começar no segundo
semestre

No último dia 29, ainda durante a visita da comitiva


brasileira à China, o sino-brasileiro Bank of
Communications BBM (Bocom BBM) tornou-se a
primeira instituição financeira da América Latina a
ser membro pleno do Cips.

O Bocom BBM é resultado da aquisição, pelo Bank


of Communications, um dos cinco maiores bancos
comerciais da China, do BBM, um dos mais antigos
grupos financeiros do Brasil, fundado em Salvador
em 1885.

“Assinamos o acordo para ser membro. O sistema


vai estar plenamente operacional na segunda
metade do ano. Nossa meta é que seja algo ao redor

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de julho”, disse à Reuters Alexandre Lowenkron,


presidente-executivo do Bocom BBM.

Para a instituição, o acordo permitirá uma redução


dos custos de transação direta entre renminbi e real
e uma maior oferta de operações de proteção
(hedge) de variação cambial entre as moedas.

A adesão do Brasil ao Cips teve início em 31 de


janeiro de 2023, com a assinatura de um
memorando de entendimentos entre os bancos
centrais brasileiro e chinês. Conforme o
documento, caberia à autoridade monetária do país
asiático a prerrogativa de eleger uma instituição
autorizada para atuar como “offshore clearing
bank” no Brasil.

Em nota divulgada no início do mês, o BC destacou,


entre os benefícios da entrada do Brasil no Cips,
“aumento da liquidez local de RMB; manutenção de
reservas cambiais em moeda forte no País; redução

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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de intermediários nos pagamentos internacionais;


e aproximação do sistema de pagamentos local ao
chinês, com aumento da eficiência operacional em
termos de redução de custo e tempo.”

Ainda segundo o órgão, as operações, dentro desse


novo modelo, estão asseguradas a subordinação à
nova lei cambial, às regulações infralegais
pertinentes, às normas jurídicas referentes à
autorização, à regulação, à supervisão e aos
sancionamentos de eventuais modelos de negócio a
serem desenvolvidos ou incrementados após a
celebração do memorando de entendimentos.

“Para o Brasil, vejo como positiva a criação desse


canal de pagamentos alternativo, visto que
favorece o estreitamento de relações econômicas
com um parceiro muito importante para a balança
comercial brasileira; reduz a dependência do dólar
e, consequentemente, dos movimentos

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correlacionados com a moeda, como inflação,


crises e outros, além de diminuir custos e tempo no
processamento de operações”, diz Cursino, do
Braza Bank.

Brasil já integra sistema de pagamentos em moeda


local com países do Mercosul

O Brasil já integra convênios para realização de


transações em moedas alternativas ao dólar. Um
deles é o Sistema de Pagamentos em Moeda Local
(SML), estabelecido entre os bancos centrais
brasileiro, argentino, uruguaio e paraguaio.

Nesse sistema, importadores dos países signatários


contratam instituições financeiras para transferir
em moeda local o valor equivalente ao preço do
produto que desejam importar na moeda do
exportador.

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A instituição contratada, por sua vez, transfere ao


banco central de seu país o equivalente em moeda
nacional para o pagamento da operação na moeda
do exportador, a uma taxa de câmbio fixada entre
as duas moedas.

“As transações em moeda local já aconteciam. Mas


o Mercosul se desestruturou, em parte por falta de
liderança do Brasil nos últimos anos, em parte pela
dificuldade de economias importantes, como é o
caso da economia argentina”, disse Haddad nesta
quinta. “Com a dinamização dos bancos
multilaterais dos Brics, isso pode ser facilitado.”

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Estrelado por Jack Nicholson, “Um Estranho no Ninho” é um dos clássicos produzidos
pela Warner| Foto: Warner Bros./Divulgação

Cinco filmes clássicos para celebrar


os 100 anos da Warner Bros.
Por Erich Thomas Mafra

Neste mês de abril, a Warner Brothers, uma das


maiores produtoras de filmes e séries do mundo,
comemora 100 anos de existência. Fundado em
1923 pelos irmãos Harry, Albert, Sam e Jack
Warner, o estúdio inicialmente trabalhava com a
distribuição de longas-metragens em poucas

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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regiões dos Estados Unidos. Com o passar das


décadas, a Warner Bros. foi se transformando
numa máquina internacional dentro de uma
indústria poderosa – só em 2022, a empresa
faturou 33,8 bilhões de dólares com seus produtos.

“O nome Warner Bros. é sinônimo de


entretenimento e estamos muito honrados de
celebrar o centenário do icônico estúdio”, disse
David Zaslav, CEO da empresa, em uma nota sobre
a data. “Ao longo dos últimos 100 anos, a
companhia criou alguns dos mais amados e
reconhecidos filmes e personagens, além de ser
uma das principais responsáveis por conceber
histórias impactantes que definem e refletem a
nossa cultura.”

Para celebrar o marco histórico, o estúdio colocou


em sua agenda deste ano uma série de
lançamentos. Boxes de DVDs com clássicos,

Gazeta do Povo Revista – Ed.27 Abril/2023


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eventos ao vivo e até um documentário que conta a


trajetória da empresa em três partes fazem parte
deste planejamento. Enquanto nada disso chega ao
público, uma boa maneira de dimensionar a
história da Warner Bros. é assistir a alguns de seus
filmes mais importantes. Confira cinco deles logo
abaixo:

Doutor Jivago (1965)

Nos dias atuais, é praticamente impossível


imaginar um grande estúdio de filmes produzindo
um longa que critique diretamente o socialismo e a
Revolução Russa, mas esse não foi um problema
para a Warner Bros. na década de 1960. Baseado em
um livro de Boris Pasternak, Doutor Jivago é um
clássico absoluto. A história acompanha um médico
e poeta que conta a história de seu passado,
retratando um triangulo amoroso que viveu em
meio ao cenário caótico criado pelo ditador

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Vladimir Lênin. No ano seguinte ao seu


lançamento, o filme recebeu prêmios Oscar de
Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia e
Melhor Trilha Sonora Original.

Onde assistir: HBO Max

2001: Uma Odisseia no Espaço (1968)

Recentemente satirizado no teaser de Barbie, um


dos filmes mais aguardados de 2023, a ficção
científica 2001: Uma Odisseia no Espaço, dirigida
por Stanley Kubrick, é uma das produções mais
revolucionárias do cinema. Apenas três anos após
Doutor Jivago e depois de tantos outros filmes que
priorizavam uma história romântica e realista, o
longa quebrou paradigmas ao adaptar um livro de
Arthur C. Clarke e trazer às telonas questões da
evolução humana, existencialismo e vida no
espaço. Fica até difícil citar obras que usaram 2001

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como referência. Nesse caldeirão entram desde


paródias em desenhos animados, como em Os
Simpsons, até capas de disco, caso de Who’s Next,
do The Who.

Onde assistir: HBO Max

Um Estranho no Ninho (1975)

A história de um vagabundo que se finge de louco


para se dar bem é atemporal, mas provavelmente
nunca será contada tão magistralmente quanto em
Um Estranho no Ninho. O filme foi o segundo da
história a conquistar todos os cinco principais
prêmios do Oscar (Melhor Diretor, Melhor Roteiro,
Melhor Filme, Melhor Ator e Melhor Atriz).
Baseado em um livro de Ken Kesey, a história do
prisioneiro que finge ter uma doença mental para
ser transferido para a vida “fácil” de um hospital
psiquiátrico ganha muitos tons com a incrível

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atuação de Jack Nicholson, que parou de atuar em


2010 (se tivesse parado em 1975, já teria entrado
para a história do cinema).

Onde assistir: disponível para locação via Apple


TV+ e YouTube

Os Bons Companheiros (1990)

Uma lista de clássicos não poderia estar completa


sem uma citação a Martin Scorsese, a mente por
trás de longas como Taxi Driver, O Lobo de Wall
Street e Os Infiltrados. Depois de O Poderoso
Chefão, de Francis Ford Coppola, parecia que mais
nenhum cineasta seria capaz de fazer um grande
filme de máfia, mas, com Os Bons Companheiros,
Scorsese conseguiu mudar isso. Adaptando a
história do livro Wiseguy, escrito pelo jornalista
investigativo Nicholas Pileggi, o longa traça uma
trajetória da máfia nos Estados Unidos por meio da

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ascensão de Henry Hill, interpretado por Ray


Liotta, entre 1955 e 1980. Além de retratar com
fidelidade a relação entre membros da organização
criminosa e a subcultura ítalo-americana, a
película virou obra referencial graças ao estilo
bastante particular de Scorsese.

Onde assistir: HBO Max

Matrix (1999)

Muito couro, óculos escuros e tons esverdeados são


algumas das marcas estéticas de Matrix, lançado
quando a geração clubber, dos frequentadores das
festas de música eletrônica, dominava o mundo.
Apesar da moda ter passado, o filme se fortaleceu e
até hoje rende muito assunto. Não por seus
aspectos visuais – claro, o uso de câmera lenta e
lutas inspiradas em filmes de arte marciais são
notáveis –, mas por seu conteúdo filosófico. O

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longa parte de pressupostos de Platão e Descartes


para debater o que é real ou não no mundo, um
tema cada vez mais comum em meio ao avanço da
tecnologia de inteligência artificial em tarefas
rotineiras. Concordando ou não com as visões de
Matrix, é inegável que o longa marcou época.

Onde assistir: HBO Max

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PARA SE APROFUNDAR

● Inventado na crise por argentinos, token paga até


cafezinho no Brasil com grãos de soja

● Produtores de aves pedem atualização do


protocolo de contingência da gripe aviária

● Relatório de ONG a favor do aborto contradiz


argumento pró-legalização

● Projetos de Lula terão de atravessar “campo


minado” no Congresso

● Centro e direita acenam com mudanças no


projeto de arcabouço fiscal do governo

● Cultura: aposta no otimismo faz série “Ted


Lasso” se diferenciar das demais

● Cultura: Com Harrison Ford, “1923” conta o que


acontece antes de “Yellowstone”

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