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ABRIL 2023 28ª EDIÇÃO

R E V I S T A
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Os mistérios que pairam


sobre o 8 de janeiro – e que
a CPMI pode responder

Flavio Quintela: o padre que Editorial: pressa no projeto


resgatou 14 mil crianças do das fake news é fatal para a
regime de Fidel Castro liberdade de expressão
Índice
Editorial: Pressa no projeto das fake news é
03
fatal para a liberdade de expressão

Flavio Quintela: Como um padre resgatou 14 mil


10
crianças do regime de Fidel Castro

Sergio Moro: Os filhos de Putin 21

Os mistérios que pairam sobre o 8 de janeiro – e


31
que a CPMI pode responder

A máfia nunca perdoou o juiz que inspirou a Lava


43
Jato. E não descansou até matá-lo

Maior população do planeta ainda em 2023 e PIB


55
crescendo o dobro da média mundial

Com Harrison Ford, “1923” conta o que acontece


63
antes de “Yellowstone”

💡 USUÁRIO DE ANDROID: PARA NAVEGAR UTILIZANDO OS


LINKS DE PÁGINA VOCÊ PRECISA DO APP ACROBAT READER
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Lei sobre fake news e responsabilização por conteúdos publicados em mídias


sociais e aplicativos de mensagens pode ter tramitação apressada na Câmara.|
Foto: Marcelo Andrade/Arquivo/Gazeta do Povo

| Editorial

Pressa no projeto das fake news


é fatal para a liberdade de
expressão
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur
Lira (PP-AL), afirmou que deseja ver aprovado
na Câmara ainda este mês o projeto de lei das
fake news, oficialmente conhecido como Lei
Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e

Gazeta do Povo Revista – Ed.28 Abril/2023


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Transparência na Internet. O texto já foi


aprovado no Senado ainda em 2020 e prevê
regras para remoção de conteúdos, responsa-
bilização de plataformas de mídia social e envio
de mensagens, e combate à difusão de mensa-
gens falsas e à utilização de ferramentas como
robôs no impulsionamento de conteúdos – tudo
isso com um arsenal renovado de punições para
os eventuais infratores. Lira quer pressa – mas
os motivos que ele alega para promover um
novo “tratoraço”, a exemplo do que fizera com
a Lei das Estatais, ano passado, são exatamente
os que justificariam toda a cautela possível na
tramitação do projeto.

Lira pretende repetir o que ocorreu no Senado,


onde o PL 2.630/2020 não passou por nenhuma
comissão, indo diretamente ao plenário. “A
intenção da presidência [da Câmara] é trazer
para a pauta entre os dias 26 e 27. Daqui para lá

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o deputado Orlando [Silva, relator do PL] está à


disposição – como coloquei para todos os líde-
res – das lideranças, dos deputados”, afirmou
Lira. Em outras palavras, o texto final que os
deputados votarão é uma incógnita completa,
pois ainda está sendo construído e pode mudar
de acordo com as negociações feitas entre o
relator e as lideranças partidárias. As versões
oficiais do PL 2.630 publicadas até o momento
pela Câmara, portanto, podem não valer
absolutamente nada, com a possibilidade de
troca de última hora por um novo substitutivo.

Ora, esse procedimento já seria condenável


ainda que estivéssemos diante de matéria
simples, de repercussão limitada no dia a dia do
cidadão. Mas o PL 2.630 nada tem de simples
nem de irrelevante, pelo contrário: está em jogo
o futuro da liberdade de expressão no Brasil, e
isso em nada combina com regimes de urgência

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ou votações diretamente em plenário de textos


que os parlamentares terão poucas horas para
analisar. Não faz o menor sentido apressar a
tramitação justamente daquilo que exige mais
atenção e reflexão; isso seria inverter a lógica
legislativa. O caminho correto para o PL 2.630
seria o do trâmite pelas comissões da Câmara,
especialmente a de Constituição e Justiça, mas
também a de Comunicação ou a de Ciência,
Tecnologia e Inovação. Assim, a sociedade
poderia acompanhar com atenção os debates e
votações, a apresentação de emendas e
substitutivos, e participar da construção de um
texto que realmente cumprisse o objetivo de
fazer da internet um ambiente mais saudável
com respeito pleno à liberdade de expressão.

Frear o PL 2.630 é especialmente importante


porque a liberdade de expressão tem sido
repetidamente violada no Brasil, em um

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“apagão” que começou nos tribunais superiores


e se espalhou por outras instâncias de poder,
pela opinião pública e pela sociedade civil orga-
nizada. “Se não legislarmos, se não coibirmos
os excessos, não impusermos os limites legisla-
tivos mínimos que sejam, nós vamos estar
sempre na mão ou de um abuso ou de uma
injustiça”, argumenta Lira. Mas todos os que
têm consciência da importância de promover
responsabilidade na internet e defender a
democracia e a liberdade de expressão haverão
de concordar que uma tramitação acelerada,
com pouco tempo para reflexão a respeito do
texto que efetivamente será levado a votação,
em vez de evitar que estejamos “sempre na mão
ou de um abuso ou de uma injustiça”, eleva
incomensuravelmente o risco de ter o efeito
oposto: estabelecer previsão legal para mais
abusos e injustiças.

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Se a Câmara errar a mão, causará um enorme


dano ao país, cristalizando na lei o apagão
conceitual que chama de fake news qualquer
afirmação que poderosos ou grupos de pressão
considerem desagradável. Expressões legítimas
como críticas e análises serão criminalizadas e a
censura se tornará tão frequente que logo
descambará para a autocensura, afastando
ainda mais o Brasil de um Estado Democrático
de Direito e aproximando-o ainda mais das
autocracias censoras. Nenhum autêntico
defensor da democracia pretende algo assim,
mas a chance de errar a mão é diretamente
proporcional à rapidez com que o projeto
tramita.

Em mais uma dessas ironias da política


brasileira, a dita Lei Brasileira de Liberdade,
Responsabilidade e Transparência na Internet
avança de forma opaca, irresponsável e

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potencialmente liberticida. Se o projeto quiser


fazer jus ao nome, é preciso que todos os
brasileiros saibam exatamente os termos do que
está para ser votado na Câmara; que a
tramitação ocorra como se faz com qualquer
projeto de lei dessas dimensões, com tempo
hábil para discussão criteriosa; e que esse
cuidado torne possível a eliminação de qualquer
dispositivo que contribua para a contínua
erosão da liberdade de expressão no Brasil. Esta
é a missão das lideranças partidárias nos
próximos dias: para que tenhamos a melhor lei
possível sobre fake news, é preciso desacelerar
para refletir.

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Flavio Quintela

Um dos voos da Operação Pedro Pan, pela qual crianças cubanas foram enviadas
por seus pais para viver nos Estados Unidos e fugir do regime comunista de Fidel
Castro.| Foto: Reprodução

Como um padre resgatou 14 mil


crianças do regime de Fidel
Gus Fraga tem 70 anos e toca uma empresa do
setor financeiro na região metropolitana de
Orlando. Ele é um homem de sucesso, em todos
os sentidos. Casado com o amor de sua vida, e

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que também é sua sócia na empresa, ele tem o


prazer de ter seus filhos trabalhando consigo,
todos já muito bem casados e com seus
respectivos filhos.

Conheci Gus pouco tempo atrás, quando entrei


em sua empresa para pedir algumas informa-
ções. Não precisei de mais de cinco minutos de
conversa para perceber que ele era uma pessoa
extremamente incomodada com os caminhos
que a nação norte-americana tem tomado nas
décadas recentes. Gus é cubano, e sua vida
muito bem vivida nos Estados Unidos da
América se deve a um programa fantástico
desenvolvido pela Igreja Católica durante a
década de 1960, a Operação Pedro Pan.

Cerca de 14 mil crianças cubanas foram


transportadas de avião para Miami por ação do
Catholic Welfare Bureau durante a Operação

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Pedro Pan (referência à versão espanhola do


nome do famoso personagem de J.M. Barrie).
Essas crianças aprenderam inglês, tornaram-se
cidadãs americanas e realizaram grandes feitos
nos Estados Unidos. Gus tinha apenas 7 anos
quando foi trazido para os Estados Unidos. De
Miami, foi levado a uma família católica em
New Jersey. Meses depois, sua irmã também foi
resgatada e enviada para a mesma família, para
que pudessem ficar juntos à espera de seus pais.
Levaria quatro anos até que o senhor e a
senhora Fraga conseguissem fugir de Cuba e
finalmente reencontrar seus filhinhos amados.
Com quase 100 anos, a mãe de Gus ainda vive,
cercada de bisnetos.

Ao me contar sua história, Gus deixou


transparecer toda a emoção de décadas atrás.
Ele me disse: “Pesquise sobre a Operação Pedro
Pan e você verá o quão maravilhoso foi esse

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trabalho. Milhares de crianças foram salvas”. E


foi exatamente o que eu fiz. Dentre as 14 mil
crianças, algumas histórias são públicas e estão
disponíveis em blogs e reportagens na internet.

Mel Martinez tinha apenas 16 anos e falava


pouco inglês quando embarcou em um avião e
deixou para trás seus pais e sua terra natal,
Cuba, rumo aos Estados Unidos. Jose Azel, 11
anos, também fugiu da nação insular como
menor desacompanhado, com destino à Améri-
ca. Seu pai lhe disse que o estava mandando
embora para sua segurança. Seria a última vez
que os dois se veriam; alguns anos depois, o pai
de Azel, incapaz de migrar para a América,
morreu em Cuba.

As vidas de Gus, Martinez, Azel e milhares de


crianças cubanas mudaram para sempre porque
um padre, Brian Walsh, resolveu agir em vista

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dos rumores de que o regime totalitário de Fidel


Castro estava planejando tirar menores de suas
casas e enviá-los para campos de trabalho da
União Soviética. Ao ver que as escolas cubanas
estavam sendo fechadas pelo governo comunis-
ta de Castro, e temendo que as famílias fossem
separadas, o padre Walsh, então diretor do
Catholic Welfare Bureau, organizou uma grande
operação aérea que foi posteriormente chamada
de Operação Pedro Pan. Entre 1960 e 1962, a
operação transportou mais de 14 mil crianças de
Havana para os Estados Unidos.

Ainda que o Catholic Welfare Bureau fosse o


principal organizador da Operação Pedro Pan, o
Padre Walsh obteve apoio tanto do governo
federal quanto de empresas privadas. Tracy
Voorhees, que era representante pessoal do
presidente Eisenhower para os refugiados
cubanos, sugeriu que o governo fornecesse

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fundos para apoiar as crianças imigrantes uma


vez que chegassem a Miami. E o Departamento
de Estado afrouxou os requisitos para os
menores cubanos, anunciando em janeiro de
1962 que as crianças não precisariam mais de
vistos para emigrar para os Estados Unidos.

Antes da revolução, várias empresas


americanas faziam negócios em Cuba,
formando a Câmara Americana de Comércio em
Havana. Depois que o regime de Castro
expropriou as empresas, a Esso, a Freeport e
outras corporações forneceram financiamento
para a Operação Pedro Pan. Como Castro vigiava
de perto todas as principais transações
monetárias, os empresários desenvolveram um
método cauteloso de transferir fundos por meio
de doações ao Catholic Welfare Bureau e de
envios de cheques de pequeno valor para
cubano-americanos em Miami, que por sua vez

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enviavam cheques para uma agência de viagens


de Havana. Castro se recusou a permitir que
pesos cubanos fossem usados para comprar
passagens aéreas, e assim todas as despesas de
viagem tiveram de ser pagas em dólares
americanos.

Mais da metade dos refugiados que chegaram


não foram reunidos com familiares, tendo de
ser colocados em abrigos administrados pelo
Catholic Welfare Bureau. As crianças refugiadas
chegavam em Camp Matecumbe, o quartel
convertido da Marinha no Aeroporto Executivo
Opa-locka de Miami. Quando Camp Matecumbe
lotou, centenas de casas especiais foram abertas
em cidades de todo o país. Cidadãos
cubano-americanos ajudaram a administrá-las.

A Operação Pedro Pan terminou após a Crise dos


Mísseis de Cuba, em 1962, quando as viagens

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aéreas entre os dois países foram suspensas.


Nos três anos seguintes, os pais cubanos
tiveram de viajar para os Estados Unidos via
Espanha ou México a fim de se reunirem com
seus filhos. Em dezembro de 1965, os Estados
Unidos adotaram um programa chamado “Voos
da Liberdade” para permitir que os pais
cubanos viajassem diretamente para os EUA.

E o que aconteceu com essas crianças todas?

Mel Martinez foi alojado em duas instalações


juvenis, depois em dois lares adotivos. Depois
de se tornar cidadão americano, Martinez
entrou na política e foi eleito prefeito do
Condado de Orange, na Flórida Central.
Posteriormente, atuou como secretário de
Habitação e Desenvolvimento Urbano (HUD) e
depois foi eleito senador dos EUA pela Flórida.
Ele foi o primeiro latino a se tornar chefe do

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Comitê Nacional Republicano. Como secretário


do HUD, ele atuou como membro da Comissão
Consultiva do Presidente Bush sobre Excelência
Educacional para Hispano-Americanos.
Católico romano devoto, Martinez se opôs ao
aborto e foi um dos autores do Compromisso do
Domingo de Ramos, que permitiu ao governo
federal intervir no caso Terry Schiavo na
tentativa de evitar sua morte por desidratação.
Depois, Martinez voltou à iniciativa privada,
atuando como presidente do Chase Bank Florida
e suas operações no México, América Central e
Caribe.

Jose Azel é pesquisador sênior do Instituto para


Estudos Cubanos e Cobano-Americanos (CCAS)
da Universidade de Miami. Ele é autor do
aclamado livro Mañana in Cuba: The Legacy of
Castroism and Transitional Challenges for Cuba
(“Amanhã em Cuba: O Legado do Castrismo e

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dos Desafios Transicionais para Cuba”, em


tradução livre).

Outros notáveis que entraram nos Estados


Unidos durante a Operação Pedro Pan incluem:
Felipe de Jesus Estevez, que foi bispo católico de
St. Augustine, foi diretor espiritual do
Seminário St. Vincent de Paul em Boynton
Beach, e serviu como ministro do câmpus da
Universidade Estadual da Florida; Carlos Eire,
professor de História e Estudos Religiosos na
Universidade de Yale e autor de muitos livros,
incluindo Uma Breve História da Eternidade;
Eduardo Aguirre, nomeado pelo presidente
George W. Bush embaixador dos Estados Unidos
na Espanha e Andorra; Guillermo “Bill” Vidal,
prefeito de Denver em 2011; Miguel Bezos,
padrasto do fundador da Amazon, Jeff Bezos; e
Agustin de Rojas de la Portilla, inventor da lente
de contato de uso prolongado.

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O legado do padre Walsh está em cada uma


dessas histórias, e também nas de gente comum
como Gus, um “ilustre desconhecido”, como
diria meu falecido pai. Tivessem permanecido
em Cuba, essas crianças teriam provavelmente
passado por uma infância de miséria e morte.
Felizmente, foram resgatadas. Uma tremenda
história, uma inspiração.

Brian Walsh faleceu em 2001, depois de uma


vida de luta contra a opressão e a injustiça.
Morreu aos 71 anos, como monsenhor Brian O.
Walsh.

Autor: Flavio Quintela mora nos Estados Unidos, é tradutor e é autor de


"Mentiram (e muito) para mim" e "Mentiram para mim sobre o
desarmamento". Sua coluna é publicada todo domingo na Gazeta do
Povo.

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Sergio Moro

Presidente Lula fez várias críticas à Ucrânia, vítima da invasão russa, durante
viagem à China.| Foto: Ricardo Stuckert/Palácio do Planalto

Os filhos de Putin
Milhões de imigrantes vieram à América com
uma esperança de liberdade e prosperidade.
Muitos fugiram de perseguições religiosas ou
políticas, e de guerras no Velho Mundo.
Atualmente, uma sombra paira sobre a América

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Latina. Há três ditaduras no continente. Cuba é


uma ditadura desde 1959, com censura, partido
único e sem eleições livres. O país foi governado
por décadas pelos irmãos Castro e prossegue
sob o jugo do Partido Comunista, com Miguel
Díaz-Canel como presidente. A Venezuela,
desde a eleição de Hugo Chávez em 1999 e
atualmente com Nicolás Maduro, assistiu à
progressiva deterioração das instituições, com
supressão das liberdades e destruição da
economia. Na Nicarágua sandinista de Daniel
Ortega, dissidentes políticos são perseguidos e
até mesmo a liberdade religiosa foi suprimida.
As três ditaduras mantêm conexões e relações
próximas com a Rússia, governada pelo
autocrata Vladimir Putin, responsável pela
invasão e guerra na Ucrânia.

Infelizmente, vários países da América têm sido


coniventes com tais regimes fechados. Bolívia,

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Argentina e Colômbia, por exemplo, com


dirigentes atuais de esquerda, têm fechado os
olhos para as violações às liberdades e direitos
naqueles países. O Chile, apesar de dirigido por
um presidente de esquerda, tem sido a elogiável
exceção. Já países com dirigentes com perfil
ideológico de direita, como Uruguai e Paraguai,
têm mantido as críticas às violações de direitos
nos referidos países.

E o Brasil? Bem, o Brasil, desde o retorno do


governo do PT, retomou a política externa
marcada pelo infantil antiamericanismo. Apesar
da viagem de Lula aos Estados Unidos, as
declarações e as posições que o governo federal
tem adotado sinalizam perigoso afastamento do
bloco das democracias ocidentais.

É importante deixar claro: o Brasil não deve ser


subserviente a nenhum outro país e precisa

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manter boas relações comerciais com todos os


países, especialmente com os nossos grandes
parceiros comerciais, China, Estados Unidos e
União Europeia.

Entretanto, o que se tem visto, por motivos


ideológicos e megalomania presidencial, é uma
aproximação geopolítica do governo de Lula
com a China e a Rússia, ilustrado pelo apoio à
posição da Rússia na guerra com a Ucrânia.
Lula, na viagem à China, fez declarações graves
sobre uma falsa equivalência entre a Rússia e a
Ucrânia, sem fazer a distinção de que esta
última é alvo de uma invasão e que a sua
população tem sido vítima de uma guerra
movida por Vladimir Putin. Pior: chegou a
responsabilizar os Estados Unidos pelo conflito
e condenar o fornecimento de armas para a
Ucrânia, o que comprometeria a defesa deste
país contra o agressor. Destaco alguns trechos:

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“É preciso que os Estados Unidos parem de


incentivar a guerra e comecem a falar em paz”;
“É preciso que a União Europeia comece a falar
em paz para a gente convencer o Putin e o
Zelensky de que a paz interessa a todo mundo e
a guerra só está interessando por enquanto os
dois”; “é preciso convencer os países que estão
fornecendo armas e incentivando a guerra a
pararem”.

Ainda antes, Lula já havia feito uma declaração


desastrosa, sugerindo que a Ucrânia deveria
abdicar da Crimeia na negociação da paz com a
Rússia (“Zelensky não pode ter tudo o que ele
pensa que vai querer”, “talvez nem se discuta a
Crimeia”). Essas declarações foram vergonho-
sas e não refletem a tradição brasileira de
respeito à soberania de cada país e de repúdio a
guerra.

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Na América Latina, o governo de Lula


reaproximou-se da Venezuela, de Cuba e de
Ortega, todos sob a zona de influência política
da Rússia e contrários aos Estados Unidos. O PT
sempre apoiou essas ditaduras e tampouco Lula
esconde a sua posição. Ficou famosa, aliás,
entrevista por ele concedida à TV alemã, quando
equiparou grosseiramente a longevidade da
tirania de Ortega à longa duração do governo da
primeira-ministra Angela Merkel, esquecen-
do-se de que o primeiro se mantém no poder
pela força, enquanto a segunda se manteve em
um ambiente de eleições livres e democráticas.

Na esteira da viagem desastrosa à China, o


governo Lula receberá nesta semana o
chanceler russo Sergei Lavrov, o que sinaliza
novamente simpatia à posição da Rússia na
invasão da Ucrânia. Significativamente, diz a
imprensa que o chanceler, após deixar o Brasil,

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visitará Venezuela, Nicarágua e Cuba. Estaria o


governo Lula a caminho da construção de uma
relação especial com o governo Putin?

É preciso que o Brasil se posicione de forma


clara no mundo e, em especial, que defenda a
democracia na América. Não precisa, evidente-
mente, entrar em conflito com nenhum país,
mas não pode adotar uma postura irresponsável
e subserviente ao arbítrio, como faz em relação
à invasão da Ucrânia e ao reaproximar-se de
ditadores como Ortega, Maduro e Díaz-Canel.

Precisamos de lideranças
comprometidas com os valores da
liberdade, da democracia e do
Estado de Direito. Chega de filhos de
Putin no continente americano

É necessário dar início a um movimento em


defesa da democracia na América Latina e

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contrário às ditaturas e ao populismo que


contaminaram o continente. Um contraponto ao
chamado Foro de São Paulo e ao Grupo de
Puebla, berços ideológicos do populismo e
autoritarismo de esquerda no continente.

Com esse objetivo, lideranças ibero-americanas


reuniram-se, recentemente, em Buenos Aires,
na ocasião do aniversário de 35 anos da
Fundación Libertad. Estive presente no evento,
com Maurício Macri, Sebastián Piñera, Felipe
Calderón e Jorge Quiroga, ex-presidentes de
Argentina, Chile, México e Bolívia
respectivamente, além de Gerardo Bongiovanni,
presidente da Fundación Libertad, e de outras
autoridades, como a deputada espanhola
Cayetana Álvarez de Toledo. A parlamentar
ibérica fez, aliás, um belíssimo discurso na
ocasião, com uma verdadeira mensagem de
esperança contra o populismo autoritário, mas

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com a advertência de que a luta pela liberdade


não se faz sem resistência. A Fundación
Libertad está vinculada à Fundación
Internacional para la Libertad (FIL) presidida
por Mário Vargas Llosa, um ícone para a
literatura e para a direita democrática no
continente latino-americano.

A luta pela liberdade e democracia na América


Latina deve ser feita dentro de cada um dos
países da região e as lideranças precisam se
apoiar mutuamente. A luta pela liberdade e
democracia na Venezuela, Cuba e Nicarágua
representa, de certa forma, a luta por esses
mesmos objetivos no Brasil, para que possamos
evitar o mesmo caminho do populismo
autoritário. No presente ano, as eleições na
Argentina e na própria Venezuela são
fundamentais. Com o respeito à soberania e
autonomia de cada país, é relevante pôr um

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freio no avanço do populismo autoritário em


toda a região. Precisamos de lideranças
comprometidas com os valores da liberdade, da
democracia e do Estado de Direito. Chega de
filhos de Putin no continente americano.

Autor: Sergio Moro é senador da República e professor universitário.


Atuou como juiz da Operação Lava Jato, a maior investigação contra a
corrupção já realizada e foi ministro da Justiça, quando combateu o crime
organizado e a criminalidade violenta. É autor do livro “Contra o sistema
da corrupção”.

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Adesão à CPMI para investigar atos de 8 de janeiro aumentou após vazamento


de imagens que mostram invasão ao Palácio do Planalto.| Foto: CNN
Brasil/reprodução

Os mistérios que pairam sobre o


8 de janeiro – e que a CPMI
pode responder
Por Sílvio Ribas

Após a revelação de cenas envolvendo o


ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucio-
nal (GSI), general Marco Gonçalves Dias, circu-
lando entre invasores do Palácio do Planalto, a
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito

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(CPMI) dos atos de vandalismo de 8 de janeiro


se tornou inevitável. E junto com sua instalação
na próxima semana, o governo terá de enfrentar
uma série de perguntas da oposição.

Para políticos e analistas ouvidos pela Gazeta do


Povo, o contexto aberto pela revelação das ima-
gens anulou de vez a estratégia de governistas
para impedir a CPMI com manobras protelató-
rias e tentativa de convencer parlamentares a
retirarem apoio. Além disso, eles citam questões
referentes a autoridades federais que até então
não tinham sido citadas publicamente na
investigação em curso da Polícia Federal e
presidida pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Até agora são muitas as questões suscitadas


pelas imagens no Palácio do Planalto:

● Por que o governo decretou sigilo sobre


vídeos?

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● Por que o chefe do GSI estava presente no


Palácio do Planalto durante a invasão?
● Lula já sabia que Gonçalves Dias
testemunhara a invasão? Se sim, por que
não o demitiu antes?
● Por que o Exército e a Guarda Nacional não
intervieram diante de alertas e de
testemunhos de autoridades in loco?
● Qual foi o papel desempenhado pelo
ministro da Justiça no desenrolar deste
episódio?
● Todas as imagens das câmeras do Palácio do
Planalto foram enviadas à Polícia Federal e
ao STF?

A base do governo também indicou que tentará


saber quem vazou as imagens da invasão para a
CNN Brasil e quem foram os financiadores dos
atos de vandalismo.

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Governo muda de estratégia sobre a CPMI

A reação imediata do governo foi, além de


afastar Gonçalves Dias do cargo, colocar os seus
líderes e articuladores no Congresso para
declarar apoio à CPMI, num esforço político
para não perder o controle da narrativa sobre a
depredação na Praça dos Três Poderes e de que
sempre cooperou com as investigações. Em
paralelo, a lista de apoios ao requerimento da
CPMI ganhou mais 25 deputados.

Segundo Eduardo Galvão, coordenador do MBA


de Relações Institucionais do Ibmec-DF,
qualquer investigação parlamentar sempre
provoca rancores entre políticos e, diante de um
quadro polarizado e tendo de levar adiante uma
série de pautas importantes no Congresso, os
governistas sabiam da necessidade de evitar os
riscos do processo investigatório.

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“Até oponentes precisavam ser poupados,


devido à necessidade de votos para aprovar
projetos como a reforma tributária, além de
blindar Lula de pedidos de impeachment”.

O professor ressalta que os índices de aprovação


popular do governo não estão em patamares
esperados para seu atual momento, tornando a
defesa de sua reputação ainda mais desafiadora.
“As imagens divulgadas pela CNN colocaram o
Planalto num beco sem saída, deixando claro
que colocar agora panos quentes provocaria
prejuízo político ainda maior. O apoio à CPMI
foi escolha difícil, mas prevaleceu o cálculo do
custo político sobre uma piora da percepção da
opinião pública, caso seguisse resistindo a ela”.

Divulgação das imagens fragiliza ainda mais


governabilidade de Lula, aponta analista

Os vídeos que exibem o ex-ministro Gonçalves

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Dias – general amigo de Lula por longa data e


chefe da segurança da Presidência – circulando
entre invasores, em vez de resistir a eles e até
abrindo portas e indicando rotas de saída no
andar do gabinete do presidente, trouxe mais
incômodos para uma ainda frágil governabili-
dade. Para especialistas, com 101 dias de atraso,
Lula foi forçado a reagir aos fatos, sob acusação
da oposição de que estaria escondendo-os.

“A provável instalação da CPMI para investigar


invasões de 8 de janeiro terá impacto negativo
para o governo. A divulgação das imagens do
ministro Dias renovou a força do discurso
oposicionista, que vai explorar a inefetividade
do aparato de segurança interna dos prédios e a
possibilidade de agentes da esquerda infiltrados
nas manifestações”, comentou Arthur
Wittenberg, professor de políticas públicas do
Ibmec-DF.

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Para ele, a instalação da CPMI também pode


causar atrasos significativos na tramitação de
proposições legislativas de interesse do gover-
no, incluindo a agenda econômica. “A comissão
deve ocupar boa parte da agenda nacional,
reduzindo espaço para o debate em outras
áreas, como saúde, educação e meio ambiente”,
sublinhou. “A energia do governo terá que ser
dividida entre articulação do dia a dia e conten-
ção de danos na CPMI”, acrescentou.

Analistas políticos do Senado afirmam que Lula


perdeu a chance de avalizar uma CPI conduzida
por seus apoiadores naquela Casa, preferindo
barrar a iniciativa – parlamentares do PT e a da
base do governo retiraram apoio à CPI proposta
pela senadora Soraya Thronicke (União-MS)
ainda em 8 de janeiro. Agora o governo corre
para procurar ocupar os postos em uma comis-
são proposta pelo deputado oposicionista André

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Fernandes (PL-CE), que é um dos investigados


pelo inquérito do STF sobre os episódios de 8 de
janeiro.

As respostas que os deputados da oposição


cobram do governo

Enquanto culpava autoridades do Distrito


Federal e militares alinhados ao ex-presidente
Jair Bolsonaro (PL) e infiltrados no Palácio do
Planalto pela facilidade de acesso aos prédios
invadidos, Lula não deu explicações sobre o
sigilo de cinco anos para as mais de 160 horas
de vídeos internos gravados naquele dia.
Segundo os parlamentares de oposição, as
imagens sugerem conivência com o que
ocorreu.

O deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS)


afirma que as imagens mostram que o general
Gonçalves Dias contribuiu para que a ação dos

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invasores fosse mais danosa ao patrimônio


público. Para ele, o conteúdo explica também a
negativa da Abin em atender à solicitação
formal de seu partido para acessar imagens.

“O Planalto sabia que os vídeos eram compro-


metedores. Mas agora eles reforçam o argu-
mento dos que querem investigação séria sobre
a depredação e a omissão, enquanto injustiças
devem ser corrigidas”, avaliou.

Ao pedir exoneração, Gonçalves Dias não fica


isento de dar explicações sobre sua conduta à
Polícia Federal e ao Congresso. A primeira oitiva
deverá ser na próxima quarta-feira (26), na
comissão de segurança da Câmara, para a qual
foi convocado, após não atender ao convite para
falar à sessão do mesmo colegiado na
quarta-feira (19). “Entrei no Palácio depois que
o Palácio foi invadido e estava retirando as

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pessoas do terceiro e quarto pisos, para que


houvesse a prisão no segundo, justificou
Gonçalves Dias à GloboNews.

“As condutas de agentes públicos do GSI


envolvidos estão sendo apuradas e, se condutas
irregulares forem comprovadas, os respectivos
autores serão responsabilizados”, afirmou
comunicado do GSI. As explicações, contudo,
são insuficientes, na visão de opositores.

O senador Sergio Moro (União Brasil-PR)


entende que as imagens reveladas pela CNN
agregam fatos a serem avaliados pela CPMI,
“antes e depois do 8 de janeiro”. Sua principal
indagação é por que o governo omitiu que
Gonçalves Dias estava presente e por que
escondeu a informação de que agentes do GSI
atuaram com passividade na invasão. O
parlamentar apresentou na Mesa do Senado um

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requerimento para convocar o ex-ministro do


GSI de Lula, para explicar fatos e desdobramen-
tos na comissão de segurança da Casa.

O líder do governo no Senado, Jaques Wagner


(PT-BA), afirmou não ver qualquer motivo para
o governo temer a abertura da CPMI. Mas
preferiu mostrar qual deve ser o foco persegui-
do pelos membros da base. “A pauta perdeu
força, pois os órgãos de Estado seguem atuando
e avançando nas devidas investigações deste
triste episódio. Não será difícil revelar quem
financiou a organização desses atos”, disse.

O cientista político José Amorim também avalia


que o “fato novo” dos vídeos diminuiu a
resistência para a CPMI, que vinha sendo
mantida pelo governo com ajuda do presidente
do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), por
meio de medidas protelatórias.

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“A urgência agora em se apurar tudo vai exigir


mais habilidade política do Planalto. Até então,
Lula já enfrentava dificuldades em convencer
parlamentares a desistir do apoio à comissão”,
sublinhou. Para ele, após a divulgação dos
vídeos no Palácio do Planalto, a tarefa passou a
ser preencher postos de destaque no colegiado e
defender sua imagem diante da especial
oportunidade para a oposição arranhá-la.

A questão central na avaliação de Amorim é


saber até que ponto o governo estava ciente dos
fatos e o que poderia ter evitado. “Se as imagens
estavam disponíveis para o STF, por que o
ministro Gonçalves Dias não foi sequer ouvido,
quando outros acusados foram até presos?”,
acrescentou.

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Pessoas visitam o local onde está sepultado o juiz Giovanni Falcone, na Igreja de San
Domenico, em Palermo, na Itália| Foto: EFE/ Álvaro Padilla

A máfia nunca perdoou o juiz que


inspirou a Lava Jato. E não
descansou até matá-lo
Por Tiago Cordeiro

Ao longo de mais de uma década, desde o início dos


anos 1980, o procurador italiano Giovanni Falcone
assumiu para si uma rotina marcada por restrições
severas. Evitava restaurantes, lojas, bares ou
situações sociais em que pudesse ser visto e

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fotografado ao lado de possíveis membros da


máfia. Cada movimentação sua era estudada junto
a uma equipe de segurança. Caminhar
despreocupadamente na rua era impossível, ou
mesmo tirar férias tranquilas.

Certa vez, os seguranças que o acompanhavam


para todo lugar encontraram uma bolsa esportiva
contendo uma bomba na praia do vilarejo de
Addaura (na costa norte da Sicília), onde ele e a
esposa haviam alugado uma casa – apenas alguns
poucos policiais sabiam da tentativa de descanso, e
ainda assim a informação vazou. O dispositivo era
composto por dois mecanismos. Um deles seria
ativado se alguém tivesse movido a mala de lugar.

Enquanto finalizava o texto do famoso


maxi-julgamento, o processo de 8.607 páginas,
divididas em 40 volumes, apresentado à Justiça
italiana em novembro de 1985, Falcone chegou a

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viver por um mês e meio num apartamento


improvisado dentro da prisão da ilha de Asinara.
Seu colega, o magistrado Paolo Borsellino, o
acompanhou. Levou a esposa e as três crianças.
Falcone optara por não ter filhos. Dizia que não
sabia se continuaria vivo para criá-los. A filha mais
velha de Borsellino sofreu problemas psicológicos
sérios em função do medo que rondava sua vida.

Mas, em 23 de maio de 1992, Falcone cometeu um


pequeno gesto de liberdade: assumiu a direção de
seu Fiat Croma blindado. Ele e a esposa, Francesca
Morvillo, deixaram Roma em um avião do governo
às 4h40, pousaram no aeroporto de Punta Raisi, em
Palermo, pouco mais de uma hora depois, e pega-
ram a estrada a caminho de casa. O monitoramento
da estrada por helicóptero, comum até o final dos
anos 1980, não vinha mais sendo realizado. De
forma que ninguém percebeu a movimentação
estranha que acontecera na madrugada.

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“Uma equipe de ‘homens de honra’, vestidos como


operários da construção civil, havia finalizado os
últimos detalhes de um enorme estoque de
quinhentos quilos de explosivos plásticos,
instalados em um grande cano de drenagem de
metal que passava por debaixo da rodovia”, relata
Alexander Stille, na biografia Morte a vossa
excelência. “Um grupo de homens se aglomerava
em uma pequena cabana a cem metros da beira da
estrada, onde um detonador de controle remoto
estava escondido, examinando o movimento do
tráfego do aeroporto em direção à cidade.”

Francesca sentou-se no banco da frente, ao lado


dele, enquanto o motorista, Giuseppe Costanza, foi
para o banco de trás, prossegue o livro. “Quando a
caravana passou por Capaci, a estrada inteira foi
destruída por uma explosão gigantesca que parecia
o epicentro de um terremoto. Todos os três carros
foram engolidos, dobrados e torcidos pela explosão

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que criou uma cratera imensa, rasgando um quarto


de milha de estrada”. Sismógrafos da região
registraram o abalo.

Uma testemunha, que vinha logo atrás, viu Falcone


preso nas ferragens, ainda se movendo, o rosto
coberto por sangue. “Os três guarda-costas do
último carro escaparam com ferimentos relativa-
mente pequenos, enquanto Falcone, Francesca e
seu motorista ficaram gravemente feridos, mas
estavam vivos quando as ambulâncias chegaram. O
motorista, no banco de trás, sobreviveu; Falcone
foi declarado morto logo após chegar ao hospital.
Se Falcone não tivesse insistido em dirigir, ele
poderia ter sobrevivido”, relata o biógrafo. O
procurador, ou magistrado investigador, como se
denominava na Itália, faleceu aos 53 anos.
Francesca, que também era magistrada, tinha 46.
Não resistiu depois de duas cirurgias. Borsellino
também seria assassinado no ano seguinte. Era o

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fim de uma era. Apenas em 2021 a Itália realizaria


um novo grande julgamento contra a máfia. Ele
ainda não acabou. Até agora, mais de 300 suspeitos
depuseram e 70 foram condenados. O procurador
Nicola Gratteri, que lidera o novo esforço em conter
o crime organizado no país, sabe que tem a cabeça a
prêmio e vive uma rotina muito semelhante à
experimentada por Falcone, três décadas antes.

Revolução nas investigações

É compreensível que Falcone tenha incomodado


tanto. Seu trabalho transformou para sempre a
forma como as operações da máfia são investiga-
das, não apenas na Itália. Ao longo de viagens para
dezenas de países, de Suíça a Tailândia, o magis-
trado conseguiu conciliar esforços e agregar
informações que antes permaneciam dispersas.
Mais do que isso: ele criou um método para gerar

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evidências e provas que pudessem, de fato, levar os


criminosos à prisão.

“Falcone inaugurou uma revolução silenciosa nas


investigações de casos da máfia. Ele fez uso de sua
experiência nos tribunais de falências e aplicou-a
ao mundo financeiro da máfia”, relata o biógrafo.
Seguindo o caminho do dinheiro, ele começou a
encontrar conexões que antes não eram evidentes
para os investigadores, apesar de décadas de ten-
tativas de investigar as ações dos grupos crimino-
sos. O esforço foi recompensado no momento em
que ele conquistou a confiança de Tommaso
Buscetta, o mafioso que vivia em exílio no Brasil.

“As confissões de Buscetta revolucionaram os


processos contra a máfia nos dois lados do
Atlântico. Ele não apenas deu os nomes de centenas
de mafiosos operando na Sicília, nos EUA e na
América do Sul, como também possibilitou com-

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preender a Cosa Nostra como um todo, conectando


inúmeros crimes em um padrão inteligível”, des-
creve Stille, que cita um depoimento escrito do
próprio Falcone: “Antes dele, eu tinha, nós tínha-
mos, uma compreensão superficial do fenômeno da
máfia. Com ele, foi possível entrar na estrutura. Ele
explicou para nós inúmeros detalhes sobre a
estrutura, as técnicas de recruta- mento e as
funções da Cosa Nostra. Acima de tudo, ele nos deu
uma visão ampla e global do fenômeno. Ele nos deu
uma chave interpretativa, a linguagem e o código”.

Falcone e Borsellino pagaram com a vida, assim


como outras dezenas de agentes e investigadores.
Mas, em 1992, seu legado tinha prosseguimento,
em outra esfera, com a Operação Mãos Limpas, que
duraria quatro anos e exporia toda a corrupção
entre lideranças políticas e grandes corporações.

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Casos semelhantes

Ao longo de quatro anos, investigadores italianos


desenrolaram um novelo, que começou a ser
puxado às 17 horas de 17 de fevereiro de 1992, com
a prisão em flagrante de Mario Chiesa por crime de
extorsão praticada por funcionário público.
Coordenada pelo procurador da República Antonio
Di Pietro e apoiada no modus operandi de Falcone,
assim como nas lições sobre a máfia aprendidas
com os depoimentos de Tommaso Buscetta, a
operação gerou números expressivos: mais de 6
mil investigados, quase 3 mil mandados de prisão
expedidos, 438 parlamentares acusados, incluindo
quatro ex-primeiros-ministros.

Os paralelos com o Brasil, e com a Operação Lava


Jato, são evidentes, como lembra Rodrigo Chemim,
procurador do Ministério Público do Paraná, no
livro Mãos Limpas e Lava Jato. “Não há como não

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notar as incríveis semelhanças entre Brasil e Itália


quando se trata de política, futebol, paixão popular,
preconceitos regionais, afrouxamento ético,
corrupção institucionalizada, descuido no trato
privado da coisa pública e também da legislação
penal e processual penal benevolente com a crimi-
nalidade do colarinho-branco”, ele descreve. Não
por acaso, o senador Sergio Moro já declarou, em
diferentes ocasiões, que atuou tendo em Falcone
um guia. O ex-juiz sabia que os paralelos poderiam
trazer lições importantes para o caso do Brasil.

Publicado pela primeira vez em 2017, o livro de


Rodrigo Chemim ganhou um posfácio em 2018, que
terminava com a seguinte frase: “Em paralelo, é
preciso acompanhar como se desdobrarão os
outros seis processos e três investigações a que
Lula responde. O tempo dirá se a Lava Jato terá

destino similar ao da Mãos Limpas”.

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Em entrevista à Gazeta do Povo, Chemim comentou


os acontecimentos dos últimos cinco anos. “O que
aconteceu no Brasil foi uma reação muito mais
forte do que a observada na Itália. Lá, a Operação
Mãos Limpas e seus desdobramentos acabaram
contidos pelo Poder Legislativo, que alterou uma
série de leis para favorecer a corrupção, facilitando,
principalmente, a prescrição dos casos, com base
na possiblidade de interpor uma série de recursos.
Aqui, a reação veio pelo Judiciário, pelo Executivo,
pelo Legislativo, pela imprensa. Vimos ministros
do STF mudar o discurso de forma radical, e até
mesmo ofender diversas vezes os investigadores,
como fez Gilmar Mendes”.

Chemim entende que há um momento claro para a


inflexão. “No início, havia um ambiente favorável
ao trabalho dos procuradores. Mas, a partir de
2016, já havia suspeitas sobre quase todos os
partidos e quase todos os presidentes do Brasil

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desde a redemocratização. Aconteceu da mesma


forma na Itália: o momento de contenção aconte-
ceu quando quase toda a classe política se viu a
perigo”.

Há alguma lição a aprender com a forma como a


Mãos Limpas e a Lava Jato foram contidas?
“Talvez, no futuro, seja mais produtivo evitar
grandes operações unificadas, distribuindo os
casos”, ele recomenda. “Mas, de toda forma
dificilmente vamos ver no Brasil uma investigação
do porte da Lava Jato por pelo menos 20 anos. Não
teremos outro procurador dando a cara a tapa da
forma como o Deltan Dallagnol deu. Nem veremos
mais punições severas para crimes de colarinho
branco.”

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O primeiro-ministro Narendra Modi quer que a Índia lidere os países em


desenvolvimento, mas fatores internos e externos podem atrapalhar essa pretensão|
Foto: EFE/André Coelho

Maior população do planeta ainda


em 2023 e PIB crescendo o dobro
da média mundial: a Índia é a
nova China?
Por Fábio Galão

Após décadas em que a China foi o grande ator


emergente do planeta, a ponto de se tornar a
segunda economia do mundo e rivalizar com os

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Estados Unidos, o próximo grande fenômeno de


crescimento mundial pode ser a Índia.

Com mais de 1,4 bilhão de habitantes, o país deve


ultrapassar a China este ano como o país mais
populoso do mundo, segundo projeções. Além
disso, se tornou no ano passado a quinta maior
economia do planeta.

Estimativas do Fundo Monetário Internacional


(FMI) divulgadas na semana passada apontaram
que o Produto Interno Bruto (PIB) indiano crescerá
5,9% em 2023 e 6,3% em 2024, mais que o dobro
da variação global, que deve ser de 2,8% este ano e
de 3% no ano que vem.

Esse cenário acontece ao mesmo tempo em que a


China parece entrar em decadência: no ano
passado, pela primeira vez desde 1961 houve queda
no número de habitantes no país, e o

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envelhecimento da população vem diminuindo a


produtividade chinesa.

Esses fatores, aliados aos efeitos dos lockdowns


severos da política Covid Zero (abolida a partir do
final de 2022) e ao aumento da interferência estatal
na economia desde a chegada de Xi Jinping ao
poder, há dez anos, fizeram com que a economia da
China crescesse somente 3% no ano passado,
segundo pior resultado desde 1976 – o
desempenho mais fraco foi o incremento de 2,2%
de 2020, primeiro ano da pandemia de Covid-19.

No final de 2022, quando assumiu a presidência do


G20, a Índia anunciou a intenção de liderar os
países em desenvolvimento. “A presidência do G20
da Índia trabalhará para promover um senso
universal de unidade. Daí o nosso tema, 'Uma
Terra, Uma Família, Um Futuro'”, declarou o
primeiro-ministro Narendra Modi.

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Estaria a Índia no caminho de se tornar um player


global, nos moldes do que a China se transformou
nas últimas décadas? Não necessariamente.

Apesar do crescimento recente, o país enfrenta


dificuldades para gerar empregos, principalmente
que ofereçam bons salários, o que acaba fazendo
com que muita gente (especialmente os mais
jovens) desista de procurar trabalho.

Dados de 2021 do Banco Mundial mostraram que a


taxa de participação da força de trabalho da Índia,
ou seja, o percentual de pessoas ocupadas ou
buscando emprego entre a população com mais de
15 anos de idade, era de apenas 46%, enquanto na
China e nos Estados Unidos os índices ficaram em
68% e 61%, respectivamente.

Chandrasekhar Sripada, professor da Indian School


of Business, afirmou em entrevista à CNN que a
Índia “está sentada em uma bomba-relógio”.

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“Haverá tensão social se não for possível criar


empregos suficientes em um período de tempo
relativamente curto”, alertou Sripada, que pontuou
que o alto desemprego na Índia é resultado da
educação de baixa qualidade.

O professor elogiou mudanças recentes em políti-


cas públicas na educação indiana, que estão
colocando “ênfase razoável no desenvolvimento de
habilidades agora”, mas que tais medidas levarão
anos para gerar impactos significativos no mercado
de trabalho.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Igor Macedo de


Lucena, economista, doutorando em relações
internacionais na Universidade de Lisboa e
membro da Chatham House – The Royal Institute
of International Affairs e da Associação Portuguesa
de Ciência Política, destacou que a Índia vem
passando por um crescimento “robusto”, mas

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aquém do que a China conseguiu antes da chegada


de Xi ao poder.

Apesar de provavelmente ser ultrapassada em


termos populacionais, a China deve fechar 2023
com um PIB de US$ 19,3 trilhões, muito superior ao
indiano, que deve ser de US$ 3,7 trilhões.

Lucena citou que outros fatores podem impedir a


Índia de se tornar um player global – entre eles, o
próprio perfil da sua política externa.

“A Índia tem conflitos internos mais acirrados que


a China, um problema geopolítico com o Paquistão
e também tem muito essa visão do Brasil de não se
intrometer na questão específica de conflitos [entre
outros países]. Então, alguns pontos da Índia a
tornam muito mais uma potência regional do que
de fato uma superpotência, como Estados Unidos
ou China”, explicou o especialista.

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“Não há uma grande agenda indiana de um plano


internacional, como a Nova Rota da Seda chinesa
[programa de investimentos em infraestrutura em
outros países] e iniciativas americanas. A economia
da Índia é muito focada nos serviços e estes são
atrelados a empresas, indústrias e bancos
internacionais”, explicou o economista, que citou o
grande número de produtos voltados para o
mercado interno indiano, que não conseguem ir
além das fronteiras do país, enquanto o foco chinês
recaiu fortemente sobre as exportações.

Amizade russa

Outra questão que pode atrapalhar a Índia é que


suas relações externas questionáveis e seus
problemas internos de direitos humanos já estão
sendo observados pela comunidade internacional.

Embora não apoie a Rússia na guerra contra a


Ucrânia, o país não condenou Moscou e segue

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mantendo laços estreitos com o país de Putin.

A Rússia é o maior fornecedor de armas da Índia e


as importações indianas de petróleo bruto russo
cresceram desde a invasão à Ucrânia, a ponto de
agora representarem mais que a soma das compras
do produto vindo do Iraque e da Arábia Saudita.

Na questão de direitos humanos, a Índia é conde-


nada internacionalmente pela violência contra as
mulheres e a perseguição contra muçulmanos e
cristãos: a organização Portas Abertas colocou o
país em 11º lugar na sua lista mais recente da
opressão a adeptos do cristianismo no mundo.

“Esses problemas diminuem as ambições da Índia


de longo prazo”, apontou Lucena.

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Harrison Ford e Helen Mirren são as duas grandes estrelas de “1923”| Foto:
Paramount Pictures/Divulgação

Com Harrison Ford, “1923” conta o


que acontece antes de
“Yellowstone”
Por Erich Thomas Mafra

Pouco antes do lançamento de Falando a Real, a


primeira série gravada por Harrison Ford em sua
carreira, o astro de filmes como Indiana Jones e
Blade Runner chegou às televisões com 1923.
Disponível na Paramount+, a produção é uma

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prequela (ou seja, uma história que se passa antes


da original) para Yellowstone. A premissa é
basicamente a mesma, mas se passa cerca de
setenta anos antes, apresentando os desafios da
família Dutton para proteger o seu rancho, o maior
dos Estados Unidos, dos problemas que aparecem
conforme o país vai crescendo e se tornando cada
vez mais corrupto.

No caso deste ótimo spin-off, o patriarca Jacob


Dutton, encarnado por Ford, e a matriarca Cara
Dutton, vivida por Helen Mirren, enfrentam
dificuldades características do início do século XX
nos EUA, como a Lei Seca e o início da Grande
Depressão, que já afetava a região de Montana,
onde a série está ambientada, antes do crash da
Bolsa de Valores de Nova Iorque. 1923 também
retrata problemas como a invasão da propriedade e
a cobrança de impostos – ainda hoje, que dono de
grandes áreas não passa por isso?

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Justamente por criticar esse tipo de ocorrências e


mostrar suas perversidades, a série com Ford é
acusada nos EUA de ser extremamente
“conservadora”. Mas isso não parece ser um
problema para sua produtora. Segundo a
Paramount, a noite de lançamento de 1923 trouxe
7,4 milhões de espectadores para sua plataforma de
streaming, o que tornou essa a maior estreia de
uma produção própria.

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Não por acaso, uma segunda temporada já está


garantida. O investimento foi de cerca de 22
milhões de dólares para a produção de cada
episódio já lançado – ou seja, cerca de 880 milhões
de reais só para a gravação da primeira parte da
série.

Convite com vinho

O criador, Taylor Sheridan, fez um movimento


arriscado ao convidar Ford para o papel principal.
Sabendo que o ator já entraria no mundo da
televisão após aceitar seu papel em Falando a Real,
ele concluiu que o veterano seria perfeito para o
universo de Yellowstone, porém fez a abordagem
sem um roteiro pronto. “Preciso saber para quem
estou escrevendo. Cansei de imaginar um ator e
depois descobrir que ele não estava livre por causa
de uma porcaria de programa da Netflix”,
desabafou Sheridan, em entrevista ao Deadline.

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Sua ideia então foi convidar o eterno Han Solo para


tomar algumas taças de vinho em seu rancho – e,
como de praxe, o ator octogenário fez a viagem até
o local com o seu próprio avião. O truque funcionou
com Ford e foi replicado com a também veterana
Helen Mirren, que para sempre será lembrada pelo
trabalho em A Rainha.

Mas o vinho não foi o único fator que fez Ford


aceitar o convite. “Tive fé de que o criador do
projeto entregaria um ótimo roteiro”, pontuou em
entrevista ao The Hollywood Reporter. “Não tinha
ideia do tanto de trabalho que seria fazer 1923, mas
acho que valeu muito à pena. Estou animado para
rodar outra temporada.”

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PARA SE APROFUNDAR

● Decisão do STF sobre FGTS põe em jogo ganhos


do trabalhador e pode custar R$ 300 bi à União

● Com brecha na Lei das Estatais, Lula amplia


indicados políticos em empresas públicas

● Relatório do CNJ quer mais restrições a operações


policiais e abertura de dados a ongs

● O passado e o futuro do direitismo brasileiro

● Ministros e altos oficiais do governo usam


aplicativos chineses que roubam dados dos
usuários

● “Rolezinho” em Chicago: adolescentes


aterrorizam cidade que já sofre com crime em
alta

● Filme cristão da produtora de “The Chosen”


arrasa nas bilheterias americanas

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