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A PRESCRIÇÃO DA REPARAÇÃO DO DANO ACIDENTÁRIO NO

BRASIL
SUMÁRIO: 1 Introdução; 2 Acidente de trabalho; 2.1 Acidente –tipo; 2.2
Acidente ocupacional; 2.3 Acidente de trajeto; 3 Prescrição da reparação
do dano acidentário; 3.1 Justiça competente; 3.2 Prescrição; 3.3 Marco inicial do prazo
prescricional; 3.4 Da divergência doutrinaria acerca dos prazos prescricionais – trabalhista ou
civil? 4 Conclusão; Referencias.

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho pretende demonstrar qual a prescrição mais sensata a ser aplicada nos
casos de acidente de trabalho depois da alteração de competência, que agora é da Justiça do
Trabalho. Para tanto, mister se faz tecer algumas considerações sobre a norma apontada.

A competência da Justiça do Trabalho antes da chegada da Emenda Constitucional n.°


45/2004, suscitava a cerca de tratar-se de competência em razão da pessoa, pois se referia a
figura do empregado e empregador ou trabalhador e empregador. Com essa nova emenda a
competência é fixada em razão da matéria, ou seja, pouco importa se a parte em litígio é o
empregado ou empregador, mas, sim se o litígio se origina de uma relação de trabalho, da qual
é espécie a relação de emprego.

A EC 45 trouxe uma expressiva ampliação significativa da competência específica da Justiça


do Trabalho, na medida em que rompeu com os padrões consolidados há anos no direito
constitucional brasileiro de atribuir competência a essa Justiça Especializada para dirimir
controvérsias decorrentes da relação de emprego, o que causou variadas discussões em
diversos aspectos, englobando a prescrição a ser aplicada nos casos decorrentes de acidente
de trabalho.

O presente estudo pretende investigar o seguinte problema proposto: qual o marco


prescricional aplicável a estas demandas judiciais e a partir de que momento deve se iniciar a
contagem do referido prazo?

Mas essa controvérsia está longe de ser solucionada. Tanto a doutrina quanto a jurisprudência
estão divididas, não existindo, sequer um posicionamento predominante, inclusive a posição
dentro do Tribunal Superior do Trabalho é bastante discordante.

Portanto, a nosso sentir, para o prazo prescricional do respectivo direito indenizatório, existem
várias correntes doutrinárias, porém a maior celeuma doutrinária e jurisprudencial gira em torno
de três delas.

A primeira defende que a prescrição é aquela fixada para os créditos trabalhistas, ou seja, de
cinco e de dois anos, conforme previsão da Constituição Federal, art. 7°, XXIX. A outra se
ampara no art. 206, § 3°, inciso V do C.C., na qual aplica-se o prazo prescricional de três anos,
para pretensão de reparação civil. A última corrente sustenta que os danos advindos de
acidente de trabalho não têm natureza de créditos trabalhistas e nem aquele elencado no art.
206, §3°, V do C.C., constituindo, portanto, pretensão que não há lei específica que trate do
aludido prazo, motivo pelo qual aplicar-se-ia aquele de dez anos previsto no art. 205 do C.C.

Para tanto, partindo do pressuposto que a Justiça do Trabalho é competente para julgar ações
em que se discute a reparação do dano material e moral, decorrente de infortúnios ocorridos na
relação de trabalho, em razão do entendimento utilizado pelo Supremo Tribunal Federal, e que,
mesmo sendo a Justiça do Trabalho competente, é de fundamental importância admitir que sua
prescrição tenha natureza de créditos trabalhistas, e não aquela indicada para a pretensão civil.

Desse modo, a melhor razão assiste a primeira corrente, posto que o direito ao ressarcimento
por um dano causado ao empregado pelo empregador, já esta previamente muito bem exposto
no bojo da Carta Magna, no seu art. 7°, XXIX. Vale ressaltar que, no Brasil, foi à primeira vez
que uma constituição inseriu no seu texto uma norma sobre a prescrição do direito de ação.

Outro empecilho encontrado para a pacificação da matéria é a determinação do exato instante


que começará a "correr" o prazo prescricional.

Neste ponto discute-se se iniciará na data da extinção do contrato de trabalho, do advento


acidentário, do aparecimento da doença, do afastamento do trabalhador para tratamento
médico ou da ciência inequívoca pela vítima da incapacidade laboral ou redução da mesma.

O mais pertinente para o início da contagem do prazo prescricional começa no momento em


que o empregado tenha ciência inequívoca da incapacidade laboral ou redução da mesma, o
que está de acordo com a Súmula 278 do STJ.

É necessário que se chegue a um consenso a cerca do assunto, para assim os operadores do


direito, mais precisamente os profissionais que militam na área trabalhista, bem como aos
magistrados, uma maior contribuição para que haja eqüidade e proporcionalidade nas decisões
oriundas da Justiça do Trabalho acerca da aplicação de qual seria o prazo prescricional a ser
utilizado para a reparação do dano acidentário e o inicio de sua contagem.

Irá-se-á definir o conceito de dano acidentário e as modificações apresentadas a partir da EC


45/04 no que diz respeito à competência da Justiça do Trabalho, para então entrar na análise
especificamente da prescrição em geral. Será fixada a distinção entre prescrição e decadência
para fins de objeto do presente estudo, seguindo-se a indicação dos prazos prescricionais
cíveis e trabalhistas, colacionando jurisprudência para evidenciar a controvérsia existente no
âmbito dos tribunais, e trazendo subsídios científicos para ao final buscar responder ao
questionamento acerca de qual o prazo aplicável às demandas por indenização em caso de
dano acidentário e início de sua contagem. Em considerações finais, buscar-se-á verificar a
confirmação das hipóteses de onde se partiu, a partir, da resposta aos problemas propostos.

É através de exposições claras, precisas e objetivas, o conhecimento acerca desse tema tão
controvertido na doutrina e na jurisprudência, contribuindo para a pacificação da polêmica
existente, por meio da explanação dos pontos positivos e negativos de cada vertente.

Tal questionamento é de total relevância, no sentido de proporcionar um consenso sobre o


tema em questão, ao qual traria uma maior segurança jurídica para os operadores do direito,
contribuindo para um tratamento isonômico garantido como postulado fundamental na Magna
Carta. Consequentemente será necessária à inserção de uma Súmula Vinculante como forma
de extinção dessa insegurança do direito a pretensão jurisdicional.

Diante disso, dirimindo a controvérsia quanto ao prazo prescricional aplicável às demandas por
indenização em caso de acidente de trabalho, o sujeito pretensor, não terá mais dúvidas se
ainda existe direito ou não de pleitear em juízo seu direito violado.

1 ACIDENTE DE TRABALHO:

É alarmante o índice de acidentes de trabalho que ocorrem no Brasil. Grande parte dos
trabalhadores não apresenta preocupações com os riscos ocupacionais do trabalho, agindo
sem qualquer precaução em circunstâncias de risco acentuado. Mas vale destacar que
números considerados de acidentes são marcas da negligência do empregador, seja a respeito
nas condições em que o trabalho se exercita, na segurança e higiene, quanto aos defeitos das
instalações físicas, máquinas e equipamentos (no que se refere ao fornecimento de
equipamentos de proteção efetivo) etc.

O inciso XXVII do artigo 7° da Constituição Federal de 1988, garante aos operários o direito ao
benéfico do seguro contra acidentes de trabalho, sem afastar a indenização a que o
empregador está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa. (OLIVEIRA. 2007, p. 34).
As três espécies de acidente de trabalho mais importantes são: o acidente típico, as doenças
ocupacionais e o acidente no trajeto. (idem. p, 40)

1.1ACIDENTE-TIPO:

A nossa Lei Previdenciária n.° 8.213/91, define o acidente de trabalho em sentido restrito,
também denominado acidente típico ou acidente-tipo ou até mesmo de macrotrauma, depois,
no sentido amplo ou por extensão. (MONTEIRO E BERTAGNI. 2007, p. 14)

Até chegar ao atual conceito de acidente de trabalho típico, que cuida a citada lei no art. 19,
tivemos redações das mais variadas em cada uma das sete leis acidentarias brasileiras.

Acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, com o
segurado empregado, trabalhador avulso, médico residente, bem como com o segurado
especial, no exercício de suas atividades, provocando lesão corporal ou perturbação funcional
que cause a morte, a perda ou redução, temporária ou permanente, da capacidade para o
trabalho.

Nesta perspectiva Fernandes preceitua:

É o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, ou pelos segurados especiais,
do artigo 2°, VII da mesma Lei (produtores rurais). Provocando: a)lesão; b) perturbação
funcional da vitima. Determinando: a)morte; b)perda ou redução de capacidade laborativa. Em
caráter: b.(1) permanente; ou b.(2) temporário (artigo 19 a 22 dessa lei). (FERNANDES. 2003,
p. 27.)

Conceito que sintetiza muito bem o dispositivo legal mencionado é aquele que, Orlando
Gomes, elabora em uma de suas obras doutrinárias:

Acidente do trabalho todo aquele que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa,
provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, ou a perda, ou a
redução permanente ou temporária, de capacidade para trabalho.(GOMES. 2005, p. 520)

Antônio Lopez Monteiro, finaliza a definição dizendo assim:

Trata-se de um evento único, subitâneo, imprevisto, bem como configurado no espaço e no


tempo e de conseqüências geralmente imediatas. Não é de sua essência a violência.
Infortúnios laborais há que, sem provocarem alarde ou impacto, redundam em danos graves e
até fatais meses ou anos depois de sua ocorrência. O que exige é o nexo de causalidade e a
lesividade. (MONTEIRO E BERTAGNI.2007, p. 14)

Está agregado ao conceito de acidente de trabalho a redução da capacidade laborativa, o fato


lesivo à saúde física ou mental e o nexo causal entre laborioso e o trabalho.

Para caracterizá-lo é essencial que o fato seja ocorrido na execução do trabalho, a ocorrência
de acidente (dano na integridade física ou na saúde do empregado), a ocorrência de lesão
incapacitante para o trabalho ou morte, e o nexo causal entre eles. Em vista disso, é
necessário para a existência do acidente do trabalho se tenha um nexo entre o trabalho e o
efeito do acidente. Rodrigo Borges, em seu artigo publicado fala que esse nexo de causa-efeito
é tríplice, pois envolve o trabalho, o acidente, com a conseqüente lesão, e a incapacidade,
resultante da lesão. Deve possuir um nexo causal entre o acidente e o trabalho
desempenhado.

Como relata Gonçalves (1993, p. 116), Esse nexo, essa relação causa-efeito é, na verdade,
tríplice: a) trabalho – acidente; b) acidente – lesão; c) lesão – incapacidade.

Antônio Lopez Monteiro aborda sobre essa relação nexo de causa e efeito:
O nexo causal constitui a relação de causa e efeito entre o evento e o resultado. Tecnicamente
falando não se pode utilizar como sinônimos "nexo causal" e "nexo etiológico", como muitos
acreditam. Primeiro é mais abrangente, pois incluída a causalidade e os casos de
agravamento. Já o segundo é o que origina ou desencadeia o dano laboral, sendo, portanto
mais restrito. Por outro lado, em direito infortunístico, para se estabelecer a relação de
causalidade, não se exige a prova de certeza, bastando o juízo de admissibilidade. Também há
que se frisar que em infortunística não se repara a lesão ou a doença, mas a incapacidade para
o trabalho. (MONTEIRO E BERTAGNI. 2007, p. 14)

O acidente do trabalho pode produzir um dos seguintes resultados ao segurado, em relação a


sua capacidade laborativa: incapacidade temporária; incapacidade parcial e permanente;
necessidade de maior esforço para o exercício da própria ou qualquer profissão; morte.

1.2DOENÇAS OCUPACIONAIS:

Referente a doenças ocupacionais, elas se subdividem em doenças profissionais e doenças do


trabalho, estando previstas no artigo 20, I, II da Lei 8.213/91.

As primeiras, também conhecida como "ergopatia", "doença profissional típico" ou "tecnopatia",


são as produzidas ou desencadeadas pelo exercício profissional peculiar a determinada
atividade. Já as doenças do trabalho, também denominadas de "mesopatias", ou "moléstias
profissionais atípicas", são aquelas desencadeadas em função de condições especiais em que
o trabalho é realizado e com ele se relacionem diretamente. (MONTEIRO E BERTAGNI. 2007,
p. 15).

Todavia, § 1° do artigo 20 da Lei dos Benefícios, especificou claramente as doenças que não
são classificadas como do trabalho: doenças degenerativas, a inerente ao grupo etário, a que
não produza incapacidade laborativa, doenças edêmicas (adquirida em determinada região em
que ela se desenvolva).

Existe controvérsia no que se refere a essa exclusão do conceito de doença do trabalho.


Sebastião de Geraldo de Oliveira afirma que nas hipóteses mencionadas nesse parágrafo
acima supracitado:

Pode-se perceber que a doença não tem nexo causal com o trabalho: apareceu no trabalho,
mas não pelo trabalho.(...) Como exemplo podem ser citadas, a perda auditiva em razão da
idade, denominada presbiacusia, diferentes tipos de câncer, a osteoporose da coluna vertebral,
as doenças reumáticas etc. (OLIVEIRA. 2007, p 50)

Contudo, é válido ressaltar que a mencionada Lei, quando especifica as doenças que não
podem ser classificadas como do trabalho, deixa evidente nas suas entrelinhas, que aquelas
assim consideradas são as que tenham relação direta com o trabalho. Assim, por exemplo, se
restar comprovado que a perda auditiva fora decorrente do trabalho, deve ser considerada
como doença ocupacional, o mesmo não podendo ocorrer se a degeneração ocorrer pela
idade.

1.3ACIDENTE DE TRAJETO:

Outra espécie de acidente de trabalho é o chamado de acidente de trajeto ou acidente in itineri.


Está atualmente regulamentado nos termos do artigo 21, inciso IV, alínea "d" da Lei 8.213/91,
entendo-se por este acidente, aquele que sofrido pelo empregado, ainda que fora do local e do
horário de trabalho, no percurso da residência para o local da prestação de serviços ou vice-
versa e, que equiparado ao acidente do trabalho.

Sebastião Geraldo de Oliveira trata de uma forma clara os pontos relevantes que caracterizam
acidente de trajeto.
Surgem grandes controvérsias quanto ao entendimento do que seja "o percurso da residência
para o local de trabalho ou deste para aquela." O trabalhador com freqüência desvia-se desse
percurso por algum interesse particular, para uma atividade de lazer ou compras em um
supermercado ou farmácia, por exemplo. Como será necessário estabelecer o nexo causal do
acidente com trabalho, são aceitáveis pequenos desvios e toleradas algumas variações quanto
ao tempo de deslocamento, desde que compatíveis com o percurso do referido "trajeto",
porquanto a Previdência Social, na esfera administrativa, não considera acidente de trabalho
quando o segurado, por interesse pessoal, interrompe ou altera o percurso habitual.
(OLIVEIRA. 2007, p 55)

Portanto para finalizar essa explanação referente a acidente de trabalho, deve-se concluir que
para considerar acidente de trabalho é necessária a existência de um contrato de trabalho. Por
conseguinte, exista a disposição empregado ao empregador, em horário de trabalho, no
ambiente ou não da empresa, independente do local e dia.

2 PRESCRIÇÃO DA REPARAÇÃO DO DANO ACIDENTÁRIO.

2.1 JUSTIÇA COMPETENTE.

Competência é o poder limitado dos juizes para o exercício da função jurisdicional. É possível
afirmar que a competência é a limitação da jurisdição e tem como objetivo evitar a ocorrência
de conflitos entre os seus detentores.

Para Bezerra Leite (2006, p. 158), competência é a medida da jurisdição de cada órgão judicial.
É a competência que legitima o exercício do poder jurisdicional". Enquanto Rodrigues Pinto
(2005, p.152), afirma também que é a própria jurisdição organizada para alcançar a eficiência
de seu exercício.

Antes ao ano de 2004 a Justiça do Trabalho era competente apenas para dirimir conflitos
referentes às verbas trabalhistas decorrentes da relação de emprego.

Após a nova redação do artigo 114, Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar I- as
ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito publico; VI- as de
indenização por dano moral ou patrimonial, decorrente da relação de trabalho [...], a partir da
aprovação daEmenda Constitucional 45/2004 houve ampliações significativas nas atribuições
da referida justiça especializadas, que passou a ter competência para julgar qualquer ação cuja
matéria seja de relação de trabalho.

Em vista disso, passou a existir muitas controvérsias acerca de quem seria a competência para
julgar ações indenizatórias por acidente de trabalho ou doenças ocupacionais. A dúvida era se
a competência continuava sendo a da justiça comum ou passava a ser da justiça do trabalho,
mesmo diante da clareza redacional da emenda constitucional referenciada.

Diante de todo esse acontecimento o STF e o TST teve a grandeza de apaziguar de vez a
controvérsia, passando a decidir, portanto, os conflitos de competência, em favor da Justiça do
Trabalho.

Se a lesão é intentada contra a pessoa, enquanto pessoa natural, a competência é indiscutível,


da Justiça Comum. Se, de outra forma, o dano é praticado contra a pessoa que estiver dentro
de uma relação de trabalho, será a competência da Justiça laboral.

Na abalizada opinião de Jorge Pinheiro Castelo:

O direito civil e a Justiça Comum não têm condições de apreciar o dano moral trabalhista, visto
que inadequados a dar conta e compreender a estrutura da relação jurídica trabalhista, bem
como um dano moral que é agravado pelo estado de subordinação de uma das partes, já que
estruturados na concepção da igualdade das partes na relação jurídica. (CASTELO. 1996, p.
39)
Assim Sebastião Geraldo de Oliveira sabiamente afirmou:

A ação para a reparação dos danos provenientes dos acidentes do trabalho ou doenças
ocupacionais é tipicamente trabalhista, envolvendo o empregado e o empregador. A justiça do
Trabalho é o ramo do Poder Judiciário que se encontra mais próximo do dia-a-dia dos
trabalhadores, das relações do empregado com a empresa, das ocorrências habituais no
ambiente do trabalho. Conseqüentemente esta melhor habilitada para verificar o cumprimento
dos deveres do empregado e do empregador quanto às normas de segurança a saúde no local
de trabalho, conforme previsto nas Consolidações das Leis do Trabalho e nas normas
regulares. (OLIVEIRA. 2007, p 325)

Portanto, não resta dúvida de que cabe à Justiça do Trabalho processar e julgar todas as
ações acidentárias e ou de dano moral decorrentes de relação de trabalho.

2.2 PRESCRIÇÃO:

Prevê o artigo 189 do Código Civil: Violado o direito, nasce para o titular à pretensão, a qual se
extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os artigos 205 e 206.

Nas palavras de Sérgio Martins (2006, p.290), consiste a prescrição na perda da pretensão ao
direito, em virtude da inércia de seu titular no decorrer de certo período. A prescrição nasce no
momento em que ocorre a violação do direito.Assim, Maurício Delgado (2004, p. 250) sinaliza
que é a perda do direito de propriedade em função de seu não uso por certo lapso de tempo,
permitindo que o possuidor e adquirente pacificamente o incorporasse.

Nos ensinamento de Francisco Amaral diz que:

Para configurar a prescrição é preciso que reúnam os seguintes elementos: a) um direito


subjetivo lesado, do que necessariamente nasce uma pretensão de ressarcimento; b) a não -
exigência do cumprimento do respectivo dever, ou do ressarcimento do dano; c) o decurso do
prazo que a lei prefixa. (AMARAL. 2003, p. 578)

Contudo, o nosso ordenamento jurídico assegura ao possuidor que teve seu direito violado,
propor ação para assegurar dos danos sofridos. Foi necessário, portanto, criar um prazo legal
com intuito de garantir uma segurança jurídica, certeza, harmonia, ordem e paz social, para por
limite a esse tempo de ação. Se a vitima deixa de exercer a pretensão nesse lapso de tempo,
consistirá a prescrição: perda da pretensão e não a perda da ação.

Vale ressaltar que, não extingue o direito de ação como afirmam alguns doutrinadores. Mesmo
ocorrendo à prescrição, a perda da pretensão, pode exercer o direito de ação, ao qual será
extinto com julgamento de mérito. Em vista disso, o acesso à justiça é um direito constitucional
fundamental, está expresso no artigo 5º, Inciso XXXV, garantindo a todos, indistintamente o
direito de ação.

Silvio Rodrigues aborda muito bem sobre a segurança jurídica:

O fundamento da prescrição repousa no anseio da sociedade em não permitir que demandas


fiquem indefinidamente em aberto; no interesse social em estabelecer um clima de segurança e
harmonia, pondo termo a situações litigiosas e evitando que, passados anos e anos, venham a
ser propostas ações, reclamando direitos cuja prova de constituição se perdeu no tempo.
(RODRIGUES.1995, p.312)

Ainda:

Não há duvida de que a prescrição agride direitos assegurados pela ordem jurídica: é o instituto
que, em nome da segurança jurídica das relações sociais, torna inexigível parcelas não
reivindicatórias ao longo de certo prazo legalmente estabelecido. (...) Se o justo não é
perseguido em certo tempo, fica a ordem jurídica como o status quo, com a segurança, em
favor da estabilização social. (DELGADO 2004, p. 256)

Francisco Amaral (2003, p. 578) trata da seguinte forma: Justifica-se a prescrição pela
necessidade de paz, ordem, segurança e certeza jurídica. Não houvesse tal instituto, a
qualquer momento poder-se-ia voltar a superadas pretensões e antigos litígios.

É indispensável demarcar a diferença entre os termos prescrição e decadência. Sendo que a


prescrição é a perda da pretensão em virtude da inercia do seu titular no prazo fixado em lei
(CC, artigo 189.). Enquanto que a decadencia é a perda o direito potestativo pela inercia do seu
titular no período determinado em lei. (Idem. 2003. p, 577/ 579)

Alice Monteiro de Barros também traz essa distinção que preceitua:

A função imediata da prescrição é a extinção da pretensão, vistanao como direito processual


de ação, pois este é atingido por ela indiretamente, mas como poder de exigir uma prestação
positiva (obrigação de dar oude fazer) ou negativa (obrigação de abster-se).Mesmo operando-
se a prescriçao, o devedor poderá cumprir a obrigação, e se demandando em juizo, não arguir
a prescrição, o juiz não poderá dela conhecer de ofício, apesar de revogado em fevereiro de
2006 o artigo 194 do Código Civil de 2002. Ocorre que o juíz não possui condições segura de
decretar a prescrição trabalhista, mormente no que tange á interrupção e suspensão do
contrato de trebalho, competindo ás partes demostra-las, sob pena de ser ofendido o direito
processual legal das partes. A prescrição é uma figuratípica do direito materialnão processual.
Envolve questão de fato. Daí se infere que sua função não é extinção da ação como se
entendeu no passado, mas a extinguir a pretensão. Já o objeto da decadência é o direito, e sua
função imediata, a respectiva extinção. Aqui nao se busca pretensão da outra parte, logo
inexiste a pretensão. (BARROS.2008. p, 1017)

A prescrição difere da decadência, porque enquanto a prescrição é a perda da pretensão, em


virtude da indolência de seu titular por certo decurso de tempo, a decadência é a extinção do
direito pela inércia de seu titular, quando sua eficácia foi, de origem, subordinada à condição de
seu exercício dentro de um prazo prefixado, e este se esgotou sem que esse exercício tivesse
se verificado.

2.3 MARCO INICIAL DO PRAZO PRESCRICIONAL.

Para que se inicie o prazo prescricional nos casos de ação de acidente de trabalho ou doença
ocupacional é imprescindível saber qual é marco inicial da fluência desse prazo, ou seja, em
que momento considera-se violado o direito.

Quando o artigo 189 do Código Civil diz que Violado o direito, nasce para o titular à pretensa,
assim, a fluência da prescrição terá como ponto de partida a violação do direito.

Desta feita, nas linhas dos ensinamentos do mestre Sebastião Geraldo de Oliveira (2007, p.
363/364) entende-se que a fluência do prazo prescricional só tem início quando a vítima fica
ciente do dano e pode aquilatar sua real extensão, ou seja, quando pode veicular com
segurança sua pretensão reparatória.

Este também é o entendimento da ANAMATRA, Associação dos Magistrados da Justiça do


Trabalho, que, ao editar o Enunciado nº 46 da 1ª Jornada de Direito Material e Processual na
Justiça do Trabalho, firmou o entendimento de que:

46. ACIDENTE DO TRABALHO. PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL. O termo inicial do prazo


prescricional da indenização por danos decorrentes de acidente do trabalho é a data em que o
trabalhador teve ciência inequívoca da incapacidade laboral ou do resultado gravoso para a
saúde física e/ou mental.

Para Antônio Lopez Monteiro:


Em haja controvérsias, o STF editou de há muito a Súmula 230 segundo a qual "a prescrição
da ação de acidente do trabalho conta-se do exame pericial que comprovar a enfermidade ou
verificar a natureza da incapacidade". Por sua vez a Súmula n.º 278 do STJ consolidou o
entendimento de que o "o termo inicial do prazo prescricional, na ação de indenização, é a data
em que o segurado teve ciência inequívoca da incapacidade laboral". Em suma, nos casos de
doença ocupacional o termo inicial não está vinculado à data da extinção do contrato, ou do
aparecimento da doença, diagnóstico ou afastamento, mas sim da ciência inequívoca da
incapacidade laboral. (MONTEIRO E BERTAGNI. 2007, p. 223):

É certo que o marco inicial da prescrição em caso de doença ocupacional, não ocorre com a
extinção do contrato de trabalho, pois o adoecimento é um processo progressivo gradual
(período de latência) que pode levar vários anos até atingir o grau irreversível de incapacitação
total ou parcial para o trabalho. (OLIVEIRA. 2007, p. 363).

O referido entendimento encontra vulto e acolhimento na melhor jurisprudência, conforme


verifica-se a seguir:

Acidente no trabalho. Prescrição. Termo Inicial. Asbestose. Amianto. O termo inicial da


prescrição da pretensão indenizatória não flui da data do desligamento da empresa, mas de
quando o operário teve conhecimento da sua incapacidade, origem, natureza e extensão, que
no caso corresponde à data do Laudo. O fato do decurso de 34 anos da despedida do
empregado impressiona, mas deve ser examinada em conjunto com as características
da doença provocada pelo contato com o amianto (asbestose), que pode levar muitos
anos para se manifestar. Recurso conhecido e provido.(STJ. 4º Turma. REsp. n.
291.157/SP.: Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Ac. De 1º mar. 2001,Dj3 set. 2001).

Cabe, ainda, registrar o entendimento do TRT desta 5ª Região acerca do nascimento da


pretensão a partir da ciência do dano:

PRESCRIÇÃO - TEORIA DA ACTIO NATA. O prazo prescricional somente começa a fluir a


partir do instante no qual o titular do direito pode tentar exercê-lo. Enquanto isso não ocorre,
não há que se falar em prescrição, já que o direito de ação só surge quando o direito material é
violado. Processo 01204-2006-464-05-00-6 RO, ac. nº 006065/2008, Relator Juiz Convocado
PAULO CESAR TEMPORAL SOARES, 2ª. TURMA, DJ 04/04/2008.

A doença ocupacional o profissional, diferentemente do acidente, não acontece de


súbito, não decorre de um fato instantâneo, mas é insidiosa na sua instalação e se inicia
e desenvolve ao longo do tempo. Desse modo, no caso de doença equiparada a acidente
de trabalho, somente se houver um ato específico que a caracterize como decorrente do
trabalho é que se pode declarar a prescrição. Não havendo ato específico que faça
nascer a ação atual (teoria da actio nata), não há como incidir prescrição
absoluta.Processo 01322-2006-551-05-00-6 RO, ac. nº 024326/2007, Relator Desembargador
JEFERSON MURICY, 5ª. TURMA, DJ 29/08/2007.(grifos nossos)

INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS DECORRENTES DE ACIDENTE DE


TRABALHO. TERMO INICIAL PARA CONTAGEM DA PRESCRIÇÃO. A pretensão para
indenização por danos materiais e morais decorrentes de acidente de trabalho surge no
momento da alegada violação ao direito do empregado, no caso no momento em que o
empregado toma ciência de lesão à sua saúde, não havendo necessidade de concessão de
aposentadoria por invalidez para reconhecimento da actio nata. Processo 01029-2001-134-05-
00-6 RO, ac. nº 033871/2006, Relatora Desembargadora VÂNIA CHAVES, 1ª. TURMA, DJ
22/01/2007. (grifos nossos).

Um ponto importante a ser levado em conta ao qual Sebastião Geraldo de Oliveira (2007)
comenta é que há entendimento do TST no sentido que, se por acaso o reclamante estiver
afastado (suspenso) do emprego em decorrência de acidente ou doença, não flui o prazo
prescricional.
Posicionamento de ANAMATRA nesse sentido:

47. ACIDENTE DO TRABALHO. PRESCRIÇÃO. SUSPENSÃO DO CONTRATO DE


TRABALHO. Não corre prescrição nas ações indenizatórias nas hipóteses de suspensão e/ou
interrupção do contrato de trabalho decorrentes de acidentes do trabalho.

Assim não resta dúvida que mesmo que o empregado fique afastado devido ao dano por auxilio
acidente, por exemplo, não há que se falar em fluência do prazo prescricional, uma vez que, o
acidentado encontra-se em estado delicado e, além disso, é incabível exigir da vítima o
ajuizamento precoce da ação quando ainda persistam questionamentos sobre a doença, sua
extensão e grau de comprometimento, a possibilidade de recuperação (...). (OLIVEIRA. 2007,
p. 368).

Por conseqüência diante do exposto, pode-se pôr fim que o marco inicial da fluência da
contagem no prazo prescricional será no instante em que a obrigação se torna exigível ou a
lesão do direito se torna conhecida de forma clara, inequívoca e não a partir da rescisão do
contrato de trabalho.

2.4 DA DIVERGÊNCIA DOUTRINARIA ACERCA DOS PRAZOS PRESCRICIONAIS –


TRABALHISTA OU CIVIL?

A doutrina e jurisprudência possuem entendimentos diversos a respeito de qual seja a


prescrição aplicável nas ações de reparação por danos morais e materiais acidentários, agora,
de competência para julgar pela Justiça do Trabalho, por força da EC 45. Porêm a maior
discussão gira em torno de três delas. A primeira corrente, os prazos são de cinco e de dois
anos, previstos no inciso XXIX do artigo 7º, da Constituição Federal, para os créditos
trabalhistas. Já a segunda corrente, aplica-se o prazo prescricional de três anos, do artigo 206,
§ 3º, inciso V do Código Civil, para a pretensão de reparação civil e Finalmente, a terceira
corrente sustenta ser aplicável o prazo genérico de dez anos, previsto do artigo 205 do Código
Civil, para as pretensões sem prazo específico fixado na lei.

Para os defensores da primeira da corrente encontra-se entre os direitos sociais na


Constituição Federal, ao qual defende a aplicação da prescrição prevista no artigo 7º, XXIX,
que regulamenta a matéria é o seguinte:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de
sua condição social: XXIX- ação, quanto a créditos resultantes das relações de trabalho, com o
prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, ate o limite de dois
anos após a extinção do contrato de trabalho.

No ensejo o artigo 11, I e II da CLT, também dispõe que: em cinco anos para os trabalhadores
urbanos ate o limite de dois anos após a extinção do contrato; II- em dois anos, após a extinção
do contrato de trabalho, para o trabalhador rural.

Neste sentido, o TRT vem aplicando a prescrição trabalhista, por entender que a ação para
indenização por danos provenientes dos acidentes de trabalho é feita na Justiça do Trabalho,
não há como se exigir aplicação de um outro prazo prescricional (Direito Civil), até porque além
do ordenamento jurídico trabalhista possui prazo próprio, são resultantes de créditos da relação
de trabalho. A ementa do acórdão está assim redigida:

DOENÇA OCUPACIONAL. INDENIZAÇÕES POR DANO MORAL E MATERIAL.


PRESCRIÇÃO APLICÁVEL. A indenização por danos decorrentes de acidente de trabalho ou
doença ocupacional a ele equiparada não deixa de ser um crédito que resulta do contrato de
trabalho. É, portanto, verba trabalhista, ainda que atípica, de modo que a prescrição a ser
observada é a trabalhista, prevista no art. 7º, inciso XXIX da CF/88, salvo aquelas hipóteses
em que a ação foi ajuizada na Justiça Comum, antes da vigência da EC 45/2004, passando por
uma regra de transição, o que não é o caso dos autos. Destarte, ainda que por fundamento
diverso, mantenho a prescrição pronunciada na origem. (TRT23. RO - 00149.2007.091.23.00-0.
Publicado em: 25/04/08. 2ª Turma. Relator: DESEMBARGADOR OSMAIR COUTO).

"A prescrição relativa ao dano moral é a prevista no inciso XXIX do artigo 7º da Constituição,
pois envolve a relação entre empregado e empregador. Tal inciso não faz distinção se a
matéria é prevista no Código Civil ou na CLT, mas apenas se é um crédito resultante da
relação de trabalho, como de fato é". TRT/SP –RO – Ac. 20050643589 – Proc. 01319-2003-
446-02-00-2 – 2ª T – Rel. Sergio Pinto Martins – DOE – 27-09-2005.

Almeida (1999. p, 45) diz que:

A Constituição trata do direito de ação quanto a créditos resultantes das relações de trabalho, e
o crédito nada mais é do que uma conseqüência da reparação do dano causado, seja pro ação
ou omissão do empregado, em virtude da violação da norma legal, ou contratual.

Todavia, será aplicada a prescrição prevista no artigo 7°, XXIX da Constituição Federal,
perante a Justiça do Trabalho, ação indenizatória por dano moral consubstanciado e acidente
de trabalho, pois o direito se originou da relação de trabalho, sobretudo porque o contrato de
trabalho firmado entre reclamante e reclamado é a parte mais importante da pretensão
manifesta, logo, sem ele, não teria ocorrido o dano moral, fundamentado na indenização
respectiva. Pouco importa se o direito está ou não topograficamente previsto no texto da
Consolidação das Leis do Trabalho, sendo apenas necessário que haja um nexo lógico entre o
contrato de trabalho e o acidente.

Esse também é o posicionamento dominante no TST, que vem se manifestando no sentido de


que, tratando-se de pedido de indenização por danos morais, decorrentes do contrato de
trabalho, aplica- se, em regra a prescrição trabalhista e não aquela prevista no Código Civil.

AÇÃO RESCISÓRIA. DANO MORAL. ACIDENTE DE TRABALHO. PRESCRIÇÃO. Tratando-


se de pretensão de indenização por danos morais e materiais deduzida perante a Justiça do
Trabalho, sob o fundamento de que a lesão decorreu da relação de trabalho, não há como se
entender aplicável o prazo prescricional de 20 anos previsto no Código Civil, porquanto o
ordenamento jurídico trabalhista possui previsão específica para a prescrição, cujo prazo, que é
unificado, é de dois anos do dano decorrente do acidente de trabalho, conforme estabelece o
artigo 7º, inciso XXIX, da Constituição Federal e o artigo 11 da Consolidação das Leis do
Trabalho. Recurso ordinário a que se nega provimento. (TST-ROAG-1426/2002-000-15-00.9,
DJ 26/8/2005, Relator Min. Gelson de Azevedo).

"RECURSO DE REVISTA. DANO MORAL ADVINDO DE RELAÇÃO DE EMPREGO.


PRESCRIÇÃO. Se a postulação da indenização por danos morais é feita na Justiça do
Trabalho, sob o fundamento de que a lesão decorreu da relação de trabalho, não há como se
pretender a aplicação do prazo prescricional de 20 anos, referente ao Direito Civil (CC, art.
177), quando o ordenamento jurídico-trabalhista possui prazo prescricional unificado de dois
anos, a contar da ocorrência da lesão (CF, art. 7º, XXIX; CLT, art. 11).Recurso de revista
conhecido e desprovido. (TST-RR-618/2002-001-19-00, DJ 04/6/04, Rel. Min. Ives Gandra
Martins Filho).

O direito material em questão não é civil, mas sim trabalhista, uma vez que as normas do
direito comum que regem a situação são, igualmente, normas integrantes do direito do
trabalho, por força do disposto no parágrafo único do artigo 8° da CLT. Assim, se o direito é
trabalhista, a prescrição a ele agregada também o é.

Nesse sentido, segue os seguintes:

PRESCRIÇÃO.DANO MORAL. RELAÇÃO DE EMPREGO ARTIGO 7º, XXIX, DA


CONSTITUIÇÃO FEDERAL APLICABILIDADE. O direito material, ou seja, a proteção jurídica à
intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas está prevista na Constituição
Federal e, igualmente, no Código Civil, sendo certo que a violação desses valores resulta no
dever de indenizar a parte ofendida (art. 5º, X, da Constituição Federal, c/c art. 186 do CCB).
Este contexto normativo, de natureza constitucional e legal, se refere ao direito material, que
não deve ser confundido com o direito de ação para pleiteá-los em Juízo, observada a sua
fonte geradora. Se o pedido de indenização por dano moral esta assentado em uma relação de
trabalho, portanto, decorrente de um contrato de trabalho, o exercício do direito de ação
subordina-se à observância da prescrição do art. 7º, XXIX, da Constituição Federal. Recurso de
embargos não conhecido. E-ED-RR-96752/2003-900-01-00, Rel. Min. Moura França, DJ
23/02/2007).

Um outro ponto a ser levado em conta é que a Justiça do Trabalho possui prazo próprio e está
constitucionalmente regulamentado. Só será apreciada a prescrição do Código Civil caso a lei
seja omissa, aplicando assim, subsidiariamente.

Como diz Sebastião Geraldo de Oliveira (2007, p. 346), se a regulamentação especial tem
regra especifica a respeito da prescrição, não caba invocar o preceito geral do Código Civil cuja
aplicação só deve ocorrer subsidiariamente.

Justamente, no que tange a competência da Justiça do Trabalho dirimir conflito decorrente de


ação indenização por danos decorrentes de acidente de trabalho que é um crédito resultante
da relação de trabalho, é de fundamental importância admitir que sua prescrição tenha
natureza de créditos trabalhistas.

Em relação a segunda corrente defende que o prazo prescricional para ação decorrente de
acidente de trabalho é aquele previsto no artigo 206, § 3º, inciso V do Código Civil, cuja a
pretensão seja de natureza cível – 03 (três) anos.

O prazo prescricional previsto tanto no Código Civil como nas Consolidações das Leis
Trabalhistas, decorre da natureza de direito material, logo pode concluir que uma vez alterado
a competência jurisdicional em decorrência de acidente de trabalho, não será necessariamente
alterado a sua prescrição, continuando assim utilizando a prescrição civil.

Diante disso vem o questionamento, se a atribuição da competência a justiça do trabalho


impõe, automaticamente a observância da prescrição prevista no artigo 7°, inciso XXIX, da
Constituição Federal?

Logo, se antes da EC 45 o empregador tinha a seu favor a prescrição Civil, não há o porquê
em se falar na implementação da prescrição trabalhista mesmo que o objeto em vigor
(indenização por danos morais decorrentes de acidente te trabalho), tenha origem no contrato
de trabalho. Não houve nenhuma informação nova em decorrência da prescrição, apenas a
alteração da competência atribuindo a Justiça do Trabalho para processar e julgar as ações
indenizatórias acidentaria. Uma norma processual não pode interferir na norma material. A
prescrição é instituto de direito material, enquanto que a competência pertence ao direito
processual.

Além disso, os danos originários do acidente de trabalho a vítima estará postulando a


reparação dos danos pessoais sofridos e não de créditos trabalhistas propriamente ditos.
(OLIVEIRA. 2007, p. 343)

Sebastião de Geraldo de Oliveira cita na sua obra posicionamentos de dois doutrinadores que
trata muito bem sobre isso:

Afirma Martiz dal Col que os prazos prescricionais a serem observados serão os do Código
Civil, visto que, "os danos oriundos do acidente de trabalho não se inserem no conceito de
créditos resultantes das relações trabalho. Pelo contrario. Trata-se de gravames pessoais
sofridos em decorrência de fatores que desequilibram o desempenho normal do trabalho e
constituem anomalias em face das relações de trabalho". Complementa Jorge Souto Maior,
afirmando que "a constituição especifica o instituto em questão com indenização e por óbvio,
indenização não é crédito que decorra da relação de trabalho, não se lhe podendo, também por
este motivo, fazer incidir na regra da prescrição trabalhista, prevista na mesma Constituição.
(destaque nosso) (DAL COL. 2004 E SOUTO MAIOR. 2006, apud., OLIVERIRA. 2007, p, 343)

Neste posicionamento Antônio Lopez Monteiro diz que:

O acidente é um evento extraordinário e alheio à expectativa normal do empregado em relação


ao seu contrato de trabalho. Postula-se, pois, indenização dos danos sofridos e não créditos
trabalhistas. A constituição especifica o instituto em questão como indenização e, por óbvio,
indenização não crédito que decorra da relação de trabalho, não se lhe podendo, também por
esse motivo, fazer incidir na regra da prescrição trabalhista, prevista na mesma Constituição.
(MONTEIRO E BERTAGNI. 2007, p. 222)

Eles ainda sustentam que na Justiça do Trabalho existe situações em que não se aplicam os
prazos prescricionais trabalhistas, a exemplo, do não recolhimento do FGTS (Lei n°. 8.036/90,
art 23, § 5°).

Logo, o que se pode notar é que a prescrição trabalhista definida no texto constitucional não é
aplicada indistintamente a todos os dissídios movidos perante o Judiciário.

Por fim a terceira corrente defende que o prazo prescricional genérico de dez anos, ao qual
esta previsto no artigo 205 do Código Civil a prescrição ocorre em dez anos quando a lei não
lhe haja fixado prazo menor.

Era essa prescrição adotada antes da alteração da EC 45, ao qual a Justiça Comum era
competente para julgar ações decorrentes de dano acidentário.

As ações indenizatórias derivadas de acidente de trabalho são de direito de natureza civil e não
trabalhista, pois os danos causados são pessoais, com prejuízo a integridade física e ou
psíquica do trabalhador, direito constitucional – fundamental, ou seja, imprescritível. Mas
observando o principio da segurança jurídica e, considerando-se, ainda, que não há prazo
fixado em lei, logo, aplicar-se-á a lei civil como fonte subsidiária, prazo previsto no artigo 205,
de 10 anos.

Nesse sentido, acolhemos a doutrina de Raimundo Simão de Melo, verbis:

A reparação por danos pessoais (moral, material ou estético) decorrentes de acidente de


trabalho constitui um direito humano fundamental de índole constitucional e não mero direito de
índole trabalhista ou civil. Desse modo, por inexistir norma expressa sobre o prazo de
prescrição das respectivas pretensões, aplicam-se subsidiariamente, os prazos previstos na lei
civil: vinte anos para ofensas ocorridas até 09.01.2003 (CC de 1916, art. 177) e 10 anos para
as ofensas ocorridas a partir de 10.01.2003. (MELO. 2004, apud., OLIVEIRA. 2007, P. 343)

O TST nesse aspecto diz:

"INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PRESCRIÇÃO. Observada a natureza civil do pedido


de reparação por danos morais, pode-se concluir que a indenização deferida a tal título em lide
cujo trâmite se deu na Justiça do Trabalho, não constitui crédito trabalhista, mas crédito de
natureza civil resultante de ato praticado no curso da relação de trabalho. Assim, ainda que
justificada a competência desta Especializada para processar a lide não resulta daí,
automaticamente, a incidência da prescrição trabalhista. A circunstância de o fato gerador do
crédito de natureza civil ter ocorrido na vigência do contrato de trabalho, e decorrer da prática
de ato calunioso ou desonroso praticado por empregador contra trabalhador não transmuda a
natureza do direito, uma vez que o dano moral se caracteriza pela projeção de um gravame na
esfera da honra e da imagem do indivíduo, transcendendo os limites da condição de
trabalhador do ofendido. Dessa forma, aplica-se, na hipótese, o prazo prescricional de 20 anos
previsto no artigo 177 do Código Civil, em observância ao art. 2028 do novo Código Civil
Brasileiro, e não o previsto no ordenamento jurídico-trabalhista, consagrado no artigo 7º, XXIX,
da Constituição Federal. Embargos conhecidos e providos" (PROC. TST-E-RR - 08871/2002-
900-02-00.4; SDI-I, Relator Ministro Lélio Bentes Corrêa, DJU de 05/03/2004).

Vale ressaltar que o Novo Código Civil reduziu os prazos gerais de 20 (vinte) para 10 (dez)
anos. Sendo que o artigo 2.028 diz que "serão os da lei anterior os prazos quando reduzidos
por este Código e, se, na data de sua entrada já houver transcorrido mais da metade do tempo
estabelecido na lei revogada".

Portanto não resta dúvida que não se aplica a prescrição inserta no art. 206 do C. C., tampouco
aquela prevista nas considerações da Constituição Federal.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Então, ao final de todos esses argumentos trazidos por essas correntes, qual o prazo
prescricional aplicável para as ações indenizatórias decorrentes de acidente de trabalho e que
momento deve-se iniciar a contagem do referido prazo?

A doutrina e a jurisprudência têm entendimentos divergentes a respeito de qual seja a


prescrição aplicável às ações de reparação por danos materiais e morais acidentários, agora
de competência para julgar pela Justiça do Trabalho, por força da EC 45.

Como se verifica, contudo, o prazo prescricional que mais se sobressaiu foi a primeira corrente,
ao qual defende a prescrição trabalhista que está prevista no artigo 7º, XXIX, da Constituição
Federal. Além disso, esse é o posicionamento da maioria dos doutrinadores, apesar de alguns
ainda seguirem as demais correntes.

É de extrema importância ressaltar que a Justiça do Trabalho possui prazo próprio e está
constitucionalmente regulamentado. Só será apreciada a prescrição do Código Civil caso a lei
seja omissa, aplicando assim, subsidiariamente.

Da análise do posicionamento do artigo 206, § 3º, inciso V, não se aplica uma vez que o direito
material tratado na prescrição é o trabalhista e não civil, pois decorre de uma relação de
trabalho. É válido ressaltar que, estendendo-se a competência da justiça do trabalho, não se
pode pretender alteração nas regras processuais que norteiam aquela Especializada e,
consequentemente das suas prescrições, inclusive, porque, prevista expressamente na Carta
Magna, e que somente poderia ser modificado mediante Emenda Constitucional.

Por outro lado, quando o artigo 205 menciona a palavra "lei", não está restringindo o campo do
direito civil, mas também está tratando de qualquer outra lei, podendo ser ela constitucional ou
até mesmo trabalhista. Para o caso tratado em questão, ação de indenização por dano moral
decorrente de acidente de trabalho, é a Constituição e a CLT que fixam o prazo menor.

Mas outro ponto a ser analisado é que após ciência inequívoca da capacidade labora (Súmula
278 STJ), onde se caracteriza o marco inicial da fluência do prazo prescricional, não é
justificável que o empregador fique 10 (dez) anos numa expectativa, de que venha a ser contra
ele proposta uma ação, que até mesmo as provas já se perderam em decorrência do tempo.

É necessária a existência dessa segurança jurídica, pois conforme Teodoro Junior, a busca
eterna da justiça, porem, longe de se realizar a plenitude da paz social, gera intranqüilidade e
incerteza, no tráfico jurídico urge a coibi.

Fica cada vez evidenciado que a corrente que deve predominar no âmbito em questão, é a
primeira, sendo suficiente o prazo prescricional de 02 (dois) anos. Tem-se que o acidente, que
decorrente da relação de trabalho, embora possa vir a ensejar em reparação civil, por ter única
e direta natureza trabalhista e, sendo também da sua competência processar e julgar ações
neste sentido, não há motivos para aplicar-se ao caso, prescrição diversa, senão aquela
aplicável aos demais temas abarcados por esta Especializada.
Com referência ao marco inicial, não restam dúvidas que o termo inicial do prazo prescricional
da indenização por danos decorrentes de acidente do trabalho é a data em que o trabalhador
teve ciência inequívoca da incapacidade laboral ou do resultado gravoso para a saúde física
e/ou mental. (ANAMATRA 46.)

Existe situação como já argüido, que não tem como aplicar a prescrição trabalhista, início da
prescrição com a extinção do contrato. É o caso de doença ocupacional, uma vez que, é uma
doença que se propaga ao longo dos anos e, além disso, pode-se levar tempo até que fique
configurado o real dano.

Para esses tipos de casos, o mais sensato fazer, é dar inicio a contagem prescricional quando
esse tiver a certeza de sua incapacitação, ao qual terá 02 (dois) anos para propor ação do
dano sofrido, o mesmo prazo que os demais acidentados vão ter ao sofrer o dano.

Assim, caso uma doença comprovada através de perícia prove a redução da capacidade
laborativa de forma permanente, a vítima terá prazo suficiente para pleitear perante o judiciário
a sua pretensão, após a extinção do seu contrato ou até mesmo depois dele quando tiver a
ciência.

Portanto, visando acabar com essa controvérsia é necessário à implementação de uma Súmula
vinculante, que ressalte que todo e qualquer dano decorrente de acidente de trabalho, seja ele
um dano imediato ou não, deva-se aplicar a prescrição trabalhista, contando-se o marco inicial
da ciência inequívoca do dano, o que trará aos doutrinadores, aos tribunais e aos operadores
do direito, maior Segurança Jurídica.

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