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BRASIL
SUMÁRIO: 1 Introdução; 2 Acidente de trabalho; 2.1 Acidente –tipo; 2.2
Acidente ocupacional; 2.3 Acidente de trajeto; 3 Prescrição da reparação
do dano acidentário; 3.1 Justiça competente; 3.2 Prescrição; 3.3 Marco inicial do prazo
prescricional; 3.4 Da divergência doutrinaria acerca dos prazos prescricionais – trabalhista ou
civil? 4 Conclusão; Referencias.
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho pretende demonstrar qual a prescrição mais sensata a ser aplicada nos
casos de acidente de trabalho depois da alteração de competência, que agora é da Justiça do
Trabalho. Para tanto, mister se faz tecer algumas considerações sobre a norma apontada.
Mas essa controvérsia está longe de ser solucionada. Tanto a doutrina quanto a jurisprudência
estão divididas, não existindo, sequer um posicionamento predominante, inclusive a posição
dentro do Tribunal Superior do Trabalho é bastante discordante.
Portanto, a nosso sentir, para o prazo prescricional do respectivo direito indenizatório, existem
várias correntes doutrinárias, porém a maior celeuma doutrinária e jurisprudencial gira em torno
de três delas.
A primeira defende que a prescrição é aquela fixada para os créditos trabalhistas, ou seja, de
cinco e de dois anos, conforme previsão da Constituição Federal, art. 7°, XXIX. A outra se
ampara no art. 206, § 3°, inciso V do C.C., na qual aplica-se o prazo prescricional de três anos,
para pretensão de reparação civil. A última corrente sustenta que os danos advindos de
acidente de trabalho não têm natureza de créditos trabalhistas e nem aquele elencado no art.
206, §3°, V do C.C., constituindo, portanto, pretensão que não há lei específica que trate do
aludido prazo, motivo pelo qual aplicar-se-ia aquele de dez anos previsto no art. 205 do C.C.
Para tanto, partindo do pressuposto que a Justiça do Trabalho é competente para julgar ações
em que se discute a reparação do dano material e moral, decorrente de infortúnios ocorridos na
relação de trabalho, em razão do entendimento utilizado pelo Supremo Tribunal Federal, e que,
mesmo sendo a Justiça do Trabalho competente, é de fundamental importância admitir que sua
prescrição tenha natureza de créditos trabalhistas, e não aquela indicada para a pretensão civil.
Desse modo, a melhor razão assiste a primeira corrente, posto que o direito ao ressarcimento
por um dano causado ao empregado pelo empregador, já esta previamente muito bem exposto
no bojo da Carta Magna, no seu art. 7°, XXIX. Vale ressaltar que, no Brasil, foi à primeira vez
que uma constituição inseriu no seu texto uma norma sobre a prescrição do direito de ação.
É através de exposições claras, precisas e objetivas, o conhecimento acerca desse tema tão
controvertido na doutrina e na jurisprudência, contribuindo para a pacificação da polêmica
existente, por meio da explanação dos pontos positivos e negativos de cada vertente.
Diante disso, dirimindo a controvérsia quanto ao prazo prescricional aplicável às demandas por
indenização em caso de acidente de trabalho, o sujeito pretensor, não terá mais dúvidas se
ainda existe direito ou não de pleitear em juízo seu direito violado.
1 ACIDENTE DE TRABALHO:
É alarmante o índice de acidentes de trabalho que ocorrem no Brasil. Grande parte dos
trabalhadores não apresenta preocupações com os riscos ocupacionais do trabalho, agindo
sem qualquer precaução em circunstâncias de risco acentuado. Mas vale destacar que
números considerados de acidentes são marcas da negligência do empregador, seja a respeito
nas condições em que o trabalho se exercita, na segurança e higiene, quanto aos defeitos das
instalações físicas, máquinas e equipamentos (no que se refere ao fornecimento de
equipamentos de proteção efetivo) etc.
O inciso XXVII do artigo 7° da Constituição Federal de 1988, garante aos operários o direito ao
benéfico do seguro contra acidentes de trabalho, sem afastar a indenização a que o
empregador está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa. (OLIVEIRA. 2007, p. 34).
As três espécies de acidente de trabalho mais importantes são: o acidente típico, as doenças
ocupacionais e o acidente no trajeto. (idem. p, 40)
1.1ACIDENTE-TIPO:
A nossa Lei Previdenciária n.° 8.213/91, define o acidente de trabalho em sentido restrito,
também denominado acidente típico ou acidente-tipo ou até mesmo de macrotrauma, depois,
no sentido amplo ou por extensão. (MONTEIRO E BERTAGNI. 2007, p. 14)
Até chegar ao atual conceito de acidente de trabalho típico, que cuida a citada lei no art. 19,
tivemos redações das mais variadas em cada uma das sete leis acidentarias brasileiras.
Acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, com o
segurado empregado, trabalhador avulso, médico residente, bem como com o segurado
especial, no exercício de suas atividades, provocando lesão corporal ou perturbação funcional
que cause a morte, a perda ou redução, temporária ou permanente, da capacidade para o
trabalho.
É o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, ou pelos segurados especiais,
do artigo 2°, VII da mesma Lei (produtores rurais). Provocando: a)lesão; b) perturbação
funcional da vitima. Determinando: a)morte; b)perda ou redução de capacidade laborativa. Em
caráter: b.(1) permanente; ou b.(2) temporário (artigo 19 a 22 dessa lei). (FERNANDES. 2003,
p. 27.)
Conceito que sintetiza muito bem o dispositivo legal mencionado é aquele que, Orlando
Gomes, elabora em uma de suas obras doutrinárias:
Acidente do trabalho todo aquele que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa,
provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, ou a perda, ou a
redução permanente ou temporária, de capacidade para trabalho.(GOMES. 2005, p. 520)
Para caracterizá-lo é essencial que o fato seja ocorrido na execução do trabalho, a ocorrência
de acidente (dano na integridade física ou na saúde do empregado), a ocorrência de lesão
incapacitante para o trabalho ou morte, e o nexo causal entre eles. Em vista disso, é
necessário para a existência do acidente do trabalho se tenha um nexo entre o trabalho e o
efeito do acidente. Rodrigo Borges, em seu artigo publicado fala que esse nexo de causa-efeito
é tríplice, pois envolve o trabalho, o acidente, com a conseqüente lesão, e a incapacidade,
resultante da lesão. Deve possuir um nexo causal entre o acidente e o trabalho
desempenhado.
Como relata Gonçalves (1993, p. 116), Esse nexo, essa relação causa-efeito é, na verdade,
tríplice: a) trabalho – acidente; b) acidente – lesão; c) lesão – incapacidade.
Antônio Lopez Monteiro aborda sobre essa relação nexo de causa e efeito:
O nexo causal constitui a relação de causa e efeito entre o evento e o resultado. Tecnicamente
falando não se pode utilizar como sinônimos "nexo causal" e "nexo etiológico", como muitos
acreditam. Primeiro é mais abrangente, pois incluída a causalidade e os casos de
agravamento. Já o segundo é o que origina ou desencadeia o dano laboral, sendo, portanto
mais restrito. Por outro lado, em direito infortunístico, para se estabelecer a relação de
causalidade, não se exige a prova de certeza, bastando o juízo de admissibilidade. Também há
que se frisar que em infortunística não se repara a lesão ou a doença, mas a incapacidade para
o trabalho. (MONTEIRO E BERTAGNI. 2007, p. 14)
1.2DOENÇAS OCUPACIONAIS:
Todavia, § 1° do artigo 20 da Lei dos Benefícios, especificou claramente as doenças que não
são classificadas como do trabalho: doenças degenerativas, a inerente ao grupo etário, a que
não produza incapacidade laborativa, doenças edêmicas (adquirida em determinada região em
que ela se desenvolva).
Pode-se perceber que a doença não tem nexo causal com o trabalho: apareceu no trabalho,
mas não pelo trabalho.(...) Como exemplo podem ser citadas, a perda auditiva em razão da
idade, denominada presbiacusia, diferentes tipos de câncer, a osteoporose da coluna vertebral,
as doenças reumáticas etc. (OLIVEIRA. 2007, p 50)
Contudo, é válido ressaltar que a mencionada Lei, quando especifica as doenças que não
podem ser classificadas como do trabalho, deixa evidente nas suas entrelinhas, que aquelas
assim consideradas são as que tenham relação direta com o trabalho. Assim, por exemplo, se
restar comprovado que a perda auditiva fora decorrente do trabalho, deve ser considerada
como doença ocupacional, o mesmo não podendo ocorrer se a degeneração ocorrer pela
idade.
1.3ACIDENTE DE TRAJETO:
Sebastião Geraldo de Oliveira trata de uma forma clara os pontos relevantes que caracterizam
acidente de trajeto.
Surgem grandes controvérsias quanto ao entendimento do que seja "o percurso da residência
para o local de trabalho ou deste para aquela." O trabalhador com freqüência desvia-se desse
percurso por algum interesse particular, para uma atividade de lazer ou compras em um
supermercado ou farmácia, por exemplo. Como será necessário estabelecer o nexo causal do
acidente com trabalho, são aceitáveis pequenos desvios e toleradas algumas variações quanto
ao tempo de deslocamento, desde que compatíveis com o percurso do referido "trajeto",
porquanto a Previdência Social, na esfera administrativa, não considera acidente de trabalho
quando o segurado, por interesse pessoal, interrompe ou altera o percurso habitual.
(OLIVEIRA. 2007, p 55)
Portanto para finalizar essa explanação referente a acidente de trabalho, deve-se concluir que
para considerar acidente de trabalho é necessária a existência de um contrato de trabalho. Por
conseguinte, exista a disposição empregado ao empregador, em horário de trabalho, no
ambiente ou não da empresa, independente do local e dia.
Competência é o poder limitado dos juizes para o exercício da função jurisdicional. É possível
afirmar que a competência é a limitação da jurisdição e tem como objetivo evitar a ocorrência
de conflitos entre os seus detentores.
Para Bezerra Leite (2006, p. 158), competência é a medida da jurisdição de cada órgão judicial.
É a competência que legitima o exercício do poder jurisdicional". Enquanto Rodrigues Pinto
(2005, p.152), afirma também que é a própria jurisdição organizada para alcançar a eficiência
de seu exercício.
Antes ao ano de 2004 a Justiça do Trabalho era competente apenas para dirimir conflitos
referentes às verbas trabalhistas decorrentes da relação de emprego.
Após a nova redação do artigo 114, Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar I- as
ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito publico; VI- as de
indenização por dano moral ou patrimonial, decorrente da relação de trabalho [...], a partir da
aprovação daEmenda Constitucional 45/2004 houve ampliações significativas nas atribuições
da referida justiça especializadas, que passou a ter competência para julgar qualquer ação cuja
matéria seja de relação de trabalho.
Em vista disso, passou a existir muitas controvérsias acerca de quem seria a competência para
julgar ações indenizatórias por acidente de trabalho ou doenças ocupacionais. A dúvida era se
a competência continuava sendo a da justiça comum ou passava a ser da justiça do trabalho,
mesmo diante da clareza redacional da emenda constitucional referenciada.
Diante de todo esse acontecimento o STF e o TST teve a grandeza de apaziguar de vez a
controvérsia, passando a decidir, portanto, os conflitos de competência, em favor da Justiça do
Trabalho.
O direito civil e a Justiça Comum não têm condições de apreciar o dano moral trabalhista, visto
que inadequados a dar conta e compreender a estrutura da relação jurídica trabalhista, bem
como um dano moral que é agravado pelo estado de subordinação de uma das partes, já que
estruturados na concepção da igualdade das partes na relação jurídica. (CASTELO. 1996, p.
39)
Assim Sebastião Geraldo de Oliveira sabiamente afirmou:
A ação para a reparação dos danos provenientes dos acidentes do trabalho ou doenças
ocupacionais é tipicamente trabalhista, envolvendo o empregado e o empregador. A justiça do
Trabalho é o ramo do Poder Judiciário que se encontra mais próximo do dia-a-dia dos
trabalhadores, das relações do empregado com a empresa, das ocorrências habituais no
ambiente do trabalho. Conseqüentemente esta melhor habilitada para verificar o cumprimento
dos deveres do empregado e do empregador quanto às normas de segurança a saúde no local
de trabalho, conforme previsto nas Consolidações das Leis do Trabalho e nas normas
regulares. (OLIVEIRA. 2007, p 325)
Portanto, não resta dúvida de que cabe à Justiça do Trabalho processar e julgar todas as
ações acidentárias e ou de dano moral decorrentes de relação de trabalho.
2.2 PRESCRIÇÃO:
Prevê o artigo 189 do Código Civil: Violado o direito, nasce para o titular à pretensão, a qual se
extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os artigos 205 e 206.
Nas palavras de Sérgio Martins (2006, p.290), consiste a prescrição na perda da pretensão ao
direito, em virtude da inércia de seu titular no decorrer de certo período. A prescrição nasce no
momento em que ocorre a violação do direito.Assim, Maurício Delgado (2004, p. 250) sinaliza
que é a perda do direito de propriedade em função de seu não uso por certo lapso de tempo,
permitindo que o possuidor e adquirente pacificamente o incorporasse.
Contudo, o nosso ordenamento jurídico assegura ao possuidor que teve seu direito violado,
propor ação para assegurar dos danos sofridos. Foi necessário, portanto, criar um prazo legal
com intuito de garantir uma segurança jurídica, certeza, harmonia, ordem e paz social, para por
limite a esse tempo de ação. Se a vitima deixa de exercer a pretensão nesse lapso de tempo,
consistirá a prescrição: perda da pretensão e não a perda da ação.
Vale ressaltar que, não extingue o direito de ação como afirmam alguns doutrinadores. Mesmo
ocorrendo à prescrição, a perda da pretensão, pode exercer o direito de ação, ao qual será
extinto com julgamento de mérito. Em vista disso, o acesso à justiça é um direito constitucional
fundamental, está expresso no artigo 5º, Inciso XXXV, garantindo a todos, indistintamente o
direito de ação.
Ainda:
Não há duvida de que a prescrição agride direitos assegurados pela ordem jurídica: é o instituto
que, em nome da segurança jurídica das relações sociais, torna inexigível parcelas não
reivindicatórias ao longo de certo prazo legalmente estabelecido. (...) Se o justo não é
perseguido em certo tempo, fica a ordem jurídica como o status quo, com a segurança, em
favor da estabilização social. (DELGADO 2004, p. 256)
Francisco Amaral (2003, p. 578) trata da seguinte forma: Justifica-se a prescrição pela
necessidade de paz, ordem, segurança e certeza jurídica. Não houvesse tal instituto, a
qualquer momento poder-se-ia voltar a superadas pretensões e antigos litígios.
Para que se inicie o prazo prescricional nos casos de ação de acidente de trabalho ou doença
ocupacional é imprescindível saber qual é marco inicial da fluência desse prazo, ou seja, em
que momento considera-se violado o direito.
Quando o artigo 189 do Código Civil diz que Violado o direito, nasce para o titular à pretensa,
assim, a fluência da prescrição terá como ponto de partida a violação do direito.
Desta feita, nas linhas dos ensinamentos do mestre Sebastião Geraldo de Oliveira (2007, p.
363/364) entende-se que a fluência do prazo prescricional só tem início quando a vítima fica
ciente do dano e pode aquilatar sua real extensão, ou seja, quando pode veicular com
segurança sua pretensão reparatória.
É certo que o marco inicial da prescrição em caso de doença ocupacional, não ocorre com a
extinção do contrato de trabalho, pois o adoecimento é um processo progressivo gradual
(período de latência) que pode levar vários anos até atingir o grau irreversível de incapacitação
total ou parcial para o trabalho. (OLIVEIRA. 2007, p. 363).
Um ponto importante a ser levado em conta ao qual Sebastião Geraldo de Oliveira (2007)
comenta é que há entendimento do TST no sentido que, se por acaso o reclamante estiver
afastado (suspenso) do emprego em decorrência de acidente ou doença, não flui o prazo
prescricional.
Posicionamento de ANAMATRA nesse sentido:
Assim não resta dúvida que mesmo que o empregado fique afastado devido ao dano por auxilio
acidente, por exemplo, não há que se falar em fluência do prazo prescricional, uma vez que, o
acidentado encontra-se em estado delicado e, além disso, é incabível exigir da vítima o
ajuizamento precoce da ação quando ainda persistam questionamentos sobre a doença, sua
extensão e grau de comprometimento, a possibilidade de recuperação (...). (OLIVEIRA. 2007,
p. 368).
Por conseqüência diante do exposto, pode-se pôr fim que o marco inicial da fluência da
contagem no prazo prescricional será no instante em que a obrigação se torna exigível ou a
lesão do direito se torna conhecida de forma clara, inequívoca e não a partir da rescisão do
contrato de trabalho.
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de
sua condição social: XXIX- ação, quanto a créditos resultantes das relações de trabalho, com o
prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, ate o limite de dois
anos após a extinção do contrato de trabalho.
No ensejo o artigo 11, I e II da CLT, também dispõe que: em cinco anos para os trabalhadores
urbanos ate o limite de dois anos após a extinção do contrato; II- em dois anos, após a extinção
do contrato de trabalho, para o trabalhador rural.
Neste sentido, o TRT vem aplicando a prescrição trabalhista, por entender que a ação para
indenização por danos provenientes dos acidentes de trabalho é feita na Justiça do Trabalho,
não há como se exigir aplicação de um outro prazo prescricional (Direito Civil), até porque além
do ordenamento jurídico trabalhista possui prazo próprio, são resultantes de créditos da relação
de trabalho. A ementa do acórdão está assim redigida:
"A prescrição relativa ao dano moral é a prevista no inciso XXIX do artigo 7º da Constituição,
pois envolve a relação entre empregado e empregador. Tal inciso não faz distinção se a
matéria é prevista no Código Civil ou na CLT, mas apenas se é um crédito resultante da
relação de trabalho, como de fato é". TRT/SP –RO – Ac. 20050643589 – Proc. 01319-2003-
446-02-00-2 – 2ª T – Rel. Sergio Pinto Martins – DOE – 27-09-2005.
A Constituição trata do direito de ação quanto a créditos resultantes das relações de trabalho, e
o crédito nada mais é do que uma conseqüência da reparação do dano causado, seja pro ação
ou omissão do empregado, em virtude da violação da norma legal, ou contratual.
Todavia, será aplicada a prescrição prevista no artigo 7°, XXIX da Constituição Federal,
perante a Justiça do Trabalho, ação indenizatória por dano moral consubstanciado e acidente
de trabalho, pois o direito se originou da relação de trabalho, sobretudo porque o contrato de
trabalho firmado entre reclamante e reclamado é a parte mais importante da pretensão
manifesta, logo, sem ele, não teria ocorrido o dano moral, fundamentado na indenização
respectiva. Pouco importa se o direito está ou não topograficamente previsto no texto da
Consolidação das Leis do Trabalho, sendo apenas necessário que haja um nexo lógico entre o
contrato de trabalho e o acidente.
O direito material em questão não é civil, mas sim trabalhista, uma vez que as normas do
direito comum que regem a situação são, igualmente, normas integrantes do direito do
trabalho, por força do disposto no parágrafo único do artigo 8° da CLT. Assim, se o direito é
trabalhista, a prescrição a ele agregada também o é.
Um outro ponto a ser levado em conta é que a Justiça do Trabalho possui prazo próprio e está
constitucionalmente regulamentado. Só será apreciada a prescrição do Código Civil caso a lei
seja omissa, aplicando assim, subsidiariamente.
Como diz Sebastião Geraldo de Oliveira (2007, p. 346), se a regulamentação especial tem
regra especifica a respeito da prescrição, não caba invocar o preceito geral do Código Civil cuja
aplicação só deve ocorrer subsidiariamente.
Em relação a segunda corrente defende que o prazo prescricional para ação decorrente de
acidente de trabalho é aquele previsto no artigo 206, § 3º, inciso V do Código Civil, cuja a
pretensão seja de natureza cível – 03 (três) anos.
O prazo prescricional previsto tanto no Código Civil como nas Consolidações das Leis
Trabalhistas, decorre da natureza de direito material, logo pode concluir que uma vez alterado
a competência jurisdicional em decorrência de acidente de trabalho, não será necessariamente
alterado a sua prescrição, continuando assim utilizando a prescrição civil.
Logo, se antes da EC 45 o empregador tinha a seu favor a prescrição Civil, não há o porquê
em se falar na implementação da prescrição trabalhista mesmo que o objeto em vigor
(indenização por danos morais decorrentes de acidente te trabalho), tenha origem no contrato
de trabalho. Não houve nenhuma informação nova em decorrência da prescrição, apenas a
alteração da competência atribuindo a Justiça do Trabalho para processar e julgar as ações
indenizatórias acidentaria. Uma norma processual não pode interferir na norma material. A
prescrição é instituto de direito material, enquanto que a competência pertence ao direito
processual.
Sebastião de Geraldo de Oliveira cita na sua obra posicionamentos de dois doutrinadores que
trata muito bem sobre isso:
Afirma Martiz dal Col que os prazos prescricionais a serem observados serão os do Código
Civil, visto que, "os danos oriundos do acidente de trabalho não se inserem no conceito de
créditos resultantes das relações trabalho. Pelo contrario. Trata-se de gravames pessoais
sofridos em decorrência de fatores que desequilibram o desempenho normal do trabalho e
constituem anomalias em face das relações de trabalho". Complementa Jorge Souto Maior,
afirmando que "a constituição especifica o instituto em questão com indenização e por óbvio,
indenização não é crédito que decorra da relação de trabalho, não se lhe podendo, também por
este motivo, fazer incidir na regra da prescrição trabalhista, prevista na mesma Constituição.
(destaque nosso) (DAL COL. 2004 E SOUTO MAIOR. 2006, apud., OLIVERIRA. 2007, p, 343)
Eles ainda sustentam que na Justiça do Trabalho existe situações em que não se aplicam os
prazos prescricionais trabalhistas, a exemplo, do não recolhimento do FGTS (Lei n°. 8.036/90,
art 23, § 5°).
Logo, o que se pode notar é que a prescrição trabalhista definida no texto constitucional não é
aplicada indistintamente a todos os dissídios movidos perante o Judiciário.
Por fim a terceira corrente defende que o prazo prescricional genérico de dez anos, ao qual
esta previsto no artigo 205 do Código Civil a prescrição ocorre em dez anos quando a lei não
lhe haja fixado prazo menor.
Era essa prescrição adotada antes da alteração da EC 45, ao qual a Justiça Comum era
competente para julgar ações decorrentes de dano acidentário.
As ações indenizatórias derivadas de acidente de trabalho são de direito de natureza civil e não
trabalhista, pois os danos causados são pessoais, com prejuízo a integridade física e ou
psíquica do trabalhador, direito constitucional – fundamental, ou seja, imprescritível. Mas
observando o principio da segurança jurídica e, considerando-se, ainda, que não há prazo
fixado em lei, logo, aplicar-se-á a lei civil como fonte subsidiária, prazo previsto no artigo 205,
de 10 anos.
Vale ressaltar que o Novo Código Civil reduziu os prazos gerais de 20 (vinte) para 10 (dez)
anos. Sendo que o artigo 2.028 diz que "serão os da lei anterior os prazos quando reduzidos
por este Código e, se, na data de sua entrada já houver transcorrido mais da metade do tempo
estabelecido na lei revogada".
Portanto não resta dúvida que não se aplica a prescrição inserta no art. 206 do C. C., tampouco
aquela prevista nas considerações da Constituição Federal.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Então, ao final de todos esses argumentos trazidos por essas correntes, qual o prazo
prescricional aplicável para as ações indenizatórias decorrentes de acidente de trabalho e que
momento deve-se iniciar a contagem do referido prazo?
Como se verifica, contudo, o prazo prescricional que mais se sobressaiu foi a primeira corrente,
ao qual defende a prescrição trabalhista que está prevista no artigo 7º, XXIX, da Constituição
Federal. Além disso, esse é o posicionamento da maioria dos doutrinadores, apesar de alguns
ainda seguirem as demais correntes.
É de extrema importância ressaltar que a Justiça do Trabalho possui prazo próprio e está
constitucionalmente regulamentado. Só será apreciada a prescrição do Código Civil caso a lei
seja omissa, aplicando assim, subsidiariamente.
Da análise do posicionamento do artigo 206, § 3º, inciso V, não se aplica uma vez que o direito
material tratado na prescrição é o trabalhista e não civil, pois decorre de uma relação de
trabalho. É válido ressaltar que, estendendo-se a competência da justiça do trabalho, não se
pode pretender alteração nas regras processuais que norteiam aquela Especializada e,
consequentemente das suas prescrições, inclusive, porque, prevista expressamente na Carta
Magna, e que somente poderia ser modificado mediante Emenda Constitucional.
Por outro lado, quando o artigo 205 menciona a palavra "lei", não está restringindo o campo do
direito civil, mas também está tratando de qualquer outra lei, podendo ser ela constitucional ou
até mesmo trabalhista. Para o caso tratado em questão, ação de indenização por dano moral
decorrente de acidente de trabalho, é a Constituição e a CLT que fixam o prazo menor.
Mas outro ponto a ser analisado é que após ciência inequívoca da capacidade labora (Súmula
278 STJ), onde se caracteriza o marco inicial da fluência do prazo prescricional, não é
justificável que o empregador fique 10 (dez) anos numa expectativa, de que venha a ser contra
ele proposta uma ação, que até mesmo as provas já se perderam em decorrência do tempo.
É necessária a existência dessa segurança jurídica, pois conforme Teodoro Junior, a busca
eterna da justiça, porem, longe de se realizar a plenitude da paz social, gera intranqüilidade e
incerteza, no tráfico jurídico urge a coibi.
Fica cada vez evidenciado que a corrente que deve predominar no âmbito em questão, é a
primeira, sendo suficiente o prazo prescricional de 02 (dois) anos. Tem-se que o acidente, que
decorrente da relação de trabalho, embora possa vir a ensejar em reparação civil, por ter única
e direta natureza trabalhista e, sendo também da sua competência processar e julgar ações
neste sentido, não há motivos para aplicar-se ao caso, prescrição diversa, senão aquela
aplicável aos demais temas abarcados por esta Especializada.
Com referência ao marco inicial, não restam dúvidas que o termo inicial do prazo prescricional
da indenização por danos decorrentes de acidente do trabalho é a data em que o trabalhador
teve ciência inequívoca da incapacidade laboral ou do resultado gravoso para a saúde física
e/ou mental. (ANAMATRA 46.)
Existe situação como já argüido, que não tem como aplicar a prescrição trabalhista, início da
prescrição com a extinção do contrato. É o caso de doença ocupacional, uma vez que, é uma
doença que se propaga ao longo dos anos e, além disso, pode-se levar tempo até que fique
configurado o real dano.
Para esses tipos de casos, o mais sensato fazer, é dar inicio a contagem prescricional quando
esse tiver a certeza de sua incapacitação, ao qual terá 02 (dois) anos para propor ação do
dano sofrido, o mesmo prazo que os demais acidentados vão ter ao sofrer o dano.
Assim, caso uma doença comprovada através de perícia prove a redução da capacidade
laborativa de forma permanente, a vítima terá prazo suficiente para pleitear perante o judiciário
a sua pretensão, após a extinção do seu contrato ou até mesmo depois dele quando tiver a
ciência.
Portanto, visando acabar com essa controvérsia é necessário à implementação de uma Súmula
vinculante, que ressalte que todo e qualquer dano decorrente de acidente de trabalho, seja ele
um dano imediato ou não, deva-se aplicar a prescrição trabalhista, contando-se o marco inicial
da ciência inequívoca do dano, o que trará aos doutrinadores, aos tribunais e aos operadores
do direito, maior Segurança Jurídica.
REFERÊNCIAS:
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DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 3ª ed. São Paulo: LTr, 2004.
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PINTO, Jose Augusto Rodrigues. Processo Trabalhista e Conhecimento. 7 ed. São Paulo:
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RODRIGUES, Silvio. Direito Civil – Parte Geral – vol. 1. 25ª ed. São Paulo: Saraiva, 1995.