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INTRODUÇÃO
Por outro lado, o direito de acesso ao Judiciário, assim como outros direitos, sofre os
efeitos da atividade legislativa ordinária destinada à sua conformação ou limitação,
máxime com vistas a evitar a eventual colisão com outros direitos ou valores
constitucionais (direito que não é absoluto, mas, ao revés, sofre conformações,
limitações ou restrições). E fruto desta atividade legislativa é a fixação das chamadas
condições da ação, que, segundo os artigos 3° e 267, VI, do Código de Processo
Civil[2], são a possibilidade jurídica do pedido, a legitimidade das partes e o interesse
processual.
2. Para a aposentadoria de rurícola, a lei exige idade mínima de 60 (sessenta) anos para
o homem e 55 (cinquenta e cinco) anos para a mulher, requisito que, in casu, está
comprovado nos autos.
4. Ressalte-se que a esposa que se divorcia ou separa do cônjuge, trabalhador rural, não
pode utilizar a sua certidão de casamento como início de prova material, a não ser que à
época do divórcio já tenha cumprido a maior parte do período de carência e comprove
que continuou a exercer atividade rural em regime de economia familiar.
O Tribunal Regional Federal da 2ª Região, por sua vez, entende que o prévio
requerimento administrativo do benefício previdenciário é necessário para a
configuração do interesse de agir e, portanto, é condição para o ajuizamento da ação,
pelo que sua ausência resulta na extinção do processo, sem resolução do mérito, nos
termos do art. 267, VI, do CPC. Eis alguns julgados a respeito:
I - Caso em que a apelante se insurge contra a sentença que extinguiu o processo, sem
resolução do mérito, por falta de interesse de agir, ante a ausência de requerimento
administrativo, em ação ajuizada com o fim de obter a revisão da RMI de seu benefício
previdenciário de pensão por morte, originária de benefício de incapacidade, para que
fossem considerados, no cálculo inicial, os 80% maiores salários-de-contribuição, nos
termos do art. 29, II, da Lei nº 8.213/91.
IV - Considerando, ademais, que quando a autora ingressou com a ação, como bem
destacou o i. magistrado na sentença, já havia sido restabelecido o entendimento que
vigorava antes da edição do Memorando nº 19, que suspendeu o processamento da
revisão em comento, verifica-se haver falta de interesse de agir da segurada na
presente demanda judicial, em 13/06/2011, quando ajuizado o feito, encontrava-se em
vigor o Memorando Conjunto nº 21/DIRBEN/INSS, de 15/04/2010, dispondo sobre a
revisão administrativa de acordo com o art. 29, II, da Lei nº 8.213/91, assim constando
no seu item 4.3: “as revisões para o recálculo dos benefícios serão realizadas mediante
requerimento do interessado ou automaticamente, quando processada revisão por
qualquer motivo”.
V - Precedente desta Corte, bem como Enunciado nº 103 das Turmas Recursais dos
Juizados Especiais Federais do Estado do Rio de Janeiro (“Considerando que o INSS
vem implantando administrativamente a revisão da RMI dos benefícios de auxílio-
doença, aposentadoria por invalidez, pensão por morte (concessão originária) e auxílio-
reclusão (concessão originária), na forma do art.29, II, da Lei nº 8.213/91, falece ao
segurado interesse de agir na ação judicial que postula tal revisão, ajuizada após a
publicação deste enunciado, sem prévio requerimento administrativo ou inércia da
Administração Pública por período superior a 45 dias, se requerido administrativamente.
Fundamentos: Atos Administrativos Memorandos-Circulares nº 21/DIRBEN/PFEINSS
e 28/INSS/DIRBEN”).
5. No caso em tela, não há nenhuma situação excepcional que autorizaria superar a regra
geral para os pedidos de concessão de benefício.
II - Agravo interposto pelo INSS improvido (art. 557, § 1º, do CPC).”[12] (sublinhei).
II. Conforme as palavras do Ilustre Ministro Edson Vidigal, "não seria justo impor ao
segurado a obrigação de dirigir-se ao estado-administrador, sabidamente pródigo no
indeferimento dos pedidos que lhes são encaminhados, apenas como uma exigência
formal para ver sua pretensão apreciada pelo Estado-Juiz".
III. Deve ser mantida a r. decisão agravada, que determinou o retorno dos autos à Vara
de origem para que seja dado regular prosseguimento ao feito.
Contudo, de acordo com o Tribunal em apreço, tal regra é afastada quando se tratar de
benefício previdenciário postulado por trabalhador rural boia-fria, volante ou diarista,
em virtude da suposta notoriedade da negativa de concessão do INSS, hipótese em que a
aludida condição da ação é desconsiderada.
A Terceira Seção desta Corte firmou o entendimento de que, nas situações em que,
sistematicamente, o INSS se nega a apreciar ou indefere de pronto a pretensão da
parte, é possível a dispensa do prévio ingresso na esfera administrativa, pois a
recusa da Administração e o interesse processual, em casos tais, são evidentes.
Assim, excepcionalmente é de se afastar tal exigência, quando notória a negativa
da Administração, como se dá nos casos em que pretende o segurado a obtenção de
benefício previdenciário na qualidade de bóia-fria, volante ou diarista, sem
apresentação de prova documental substancial.”[15] (salientei).
Por seu turno, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região entende, outrossim, que a regra
é ser o prévio requerimento administrativo do benefício previdenciário condição para o
ajuizamento da respectiva ação, razão pela qual sua ausência acarreta a falta de interesse
de agir e a extinção do processo, sem resolução do mérito (CPC, art. 267, VI).
III - Não é possível atribuir efeito meramente protelatório a embargos de declaração que
restaram providos, mesmo que em parte, pelo magistrado a quo. Se providos foram, já
há a demonstração de que eram pertinentes e não foram utilizados apenas como
instrumento para conturbar o feito e a relação processual.
I. A Constituição Federal de 1998, em seu artigo 5º, não condiciona o acesso ao Poder
Judiciário ao indeferimento de requerimento na via administrativa, porquanto não é
requisito necessário à obtenção da prestação jurisdicional a prévia postulação naquela
instância.
VI. O termo inicial da obrigação deve ser considerado como a data do requerimento
administrativo do benefício ou, na sua ausência, a do ajuizamento da ação.
VII. A Lei nº 11.960/09, de 29/06/2009, deve ser aplicada para fins de correção
monetária e juros de mora a partir de sua publicação, havendo a incidência uma única
vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneração básica e juros
aplicados à caderneta de poupança. No que tange aos valores referentes a período
anterior à entrada em vigor da Lei nº 11.960/09, a correção monetária deve ser realizada
de acordo com os índices do Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos
na Justiça Federal.
O ENTENDIMENTO DA TNU
O ENTENDIMENTO DO STJ
Com relação ao Superior Tribunal de Justiça, este ostenta dois entendimentos distintos,
a depender do órgão prolator da decisão.
De um lado, a Terceira Seção e suas respectivas Turmas (Quinta e Sexta) [22] entendem
que o ajuizamento de ação objetivando a concessão de benefício previdenciário
independe de prévio requerimento administrativo junto ao INSS. Assim o seguinte
aresto:
1. O reconhecimento de repercussão geral pelo Excelso Pretório, com fulcro no art. 543-
B do CPC, não tem o condão de sobrestar o processo e julgamento dos recursos
especiais em tramitação nesta Corte.
Por outro lado, a Segunda Turma (integrante da Primeira Seção) entende que, via de
regra, o prévio requerimento administrativo do benefício previdenciário é condição para
o ajuizamento da respectiva ação. Entretanto, ele dispensável nos casos de recusa de seu
recebimento pelo INSS e nas situações em que houver a negativa de concessão do
benefício previdenciário pela notória resistência da Autarquia à tese jurídica esposada.
Vejamos o precedente que bem retrata este entendimento:
“PREVIDENCIÁRIO. AÇÃO CONCESSÓRIA DE BENEFÍCIO. PROCESSO
CIVIL. CONDIÇÕES DA AÇÃO. INTERESSE DE AGIR (ARTS. 3º E 267, VI,
DO CPC). PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. NECESSIDADE,
EM REGRA.
“Cuida-se de recurso especial enviado a este Superior Tribunal de Justiça como
representativo de controvérsia e interposto pelo Instituto Nacional do Seguro Social -
INSS, com fulcro no art. 105, inciso III, alínea "a", da Carta Federal, em que se discute
a necessidade de prévio requerimento administrativo como pressuposto para o
ajuizamento de ação judicial objetivando a concessão de benefício previdenciário.
2. Apelação provida. Sentença anulada. Retorno dos autos à origem para regular
processamento" (fl. 127).
Determino, nesse contexto, a adoção das seguintes providências nos termos e para
os fins previstos no § 2.º do art. 2.º da Resolução/STJ n. 8/2008:
(1) Comunique-se, enviando cópia, o teor da presente decisão aos Ministros deste STJ
que compõem a Primeira Seção e aos Presidentes dos Tribunais de Justiça e dos
Tribunais Regionais Federais;
(2) suspenda-se o julgamento dos demais recursos que versam sobre matéria do
presente apelo nobre; e
Publique-se. Intimem-se.
Relator”[25] (destaquei).
O ENTENDIMENTO DO STF
À Demasia, urge registrar que a discussão em apreço chegou novamente ao STF, que,
no Recurso Extraordinário n° 631.240/MG, consignou que “está caracterizada a
repercussão geral da controvérsia acerca da existência de prévia postulação perante a
administração para defesa de direito ligado à concessão ou revisão de benefício
previdenciário como condição para busca de tutela jurisdicional de idêntico direito”
(Tema de Repercussão Geral n° 350: “Prévio Requerimento Administrativo como
Condição para o Acesso ao Judiciário”). Desse modo, afetou tal recurso à sistemática
prevista no art. 543-B do CPC (recurso representativo de controvérsia), o qual ainda
está pendente de julgamento. Eis a decisão de reconhecimento da repercussão geral e de
afetação:
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
AFONSO DA SILVA, José. Curso de Direito Constitucional Positivo. 23ª ed. rev. e
atual. São Paulo: Malheiros Editores, 2004.
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Trad.: Virgilio Afonso da Silva. 2ª
Ed. São Paulo: Malheiros, 2011.
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 20ª ed. São Paulo: Saraiva,
1999.
LIEBMAN, Enrico Tullio. Manual de Direito Processual Civil. 2ª ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1986, v. I.
MIRANDA, Pontes de. Tratado das Ações. Tomo 1. Campinas: Bookseller, 1998.
MONTESQUIEU, Charles Luis de Secondat. Do Espírito das Leis. 9ª Ed. São Paulo:
Saraiva, 2008.
NERY JÚNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria Andrade. Código de Processo Civil
Comentado e Legislação Processual Extravagante em Vigor. 6ª ed. São Paulo: RT,
2007.
Notas
Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 3ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p.
494.
[2]
CPC: art. 3º: “Para propor ou contestar ação é necessário ter interesse e
legitimidade.”; art. 267, VI: “Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: (...)
quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a
legitimidade das partes e o interesse processual;”.
CF, art. 2°: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o
[3]
21/10/2011.
DOU de 08/06/2012.
TNU, PEDILEF 200638007243544, Rel. Juíza Federal Rosana Noya Alves Weibel
[21]
do STJ, a Terceira Seção e suas respectivas Turmas não mais ostentam competência
para o processamento e o julgamento dos feitos relativos a benefícios previdenciários,
inclusive os decorrentes de acidente do trabalho, porquanto a aludida competência foi
transferida para a Primeira Seção e suas respectivas Turmas (Primeira e Segunda).
STJ, AgRg no AREsp 41.465/PR, Sexta Turma, Rel. Min. Og Fernandes, in de DJe
[23]
26/09/2012.
STJ, REsp 1.310.042/PR, Segunda Turma, Rel. Min. Herman Benjamin, in DJe de
[24]
28/05/2012.
[25]
STJ, REsp 1.302.307/TO, in DJe de 26.06.2012.
STF, RE 549055 AgR/SP, Segunda Turma, Rel. Min. Ayres Britto, in DJe de
[26]
10.12.2010.