Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
No presente trabalho almeja-se defender a aplicação da teoria do risco criado nos casos de
responsabilidade civil do empregador decorrente de acidentes do trabalho. Para tanto,
iniciaremos com um breve estudo sobre o conceito acidente do trabalho, suas espécies e
tipos de indenizações acidentárias concedidas pelo INSS e sua forma de custeio mediante o
Seguro de Acidentes do Trabalho. Em seguida, proceder-se-á à apreciação do instituto da
responsabilidade civil: sua evolução histórica, conceito, natureza jurídica e pressupostos,
bem como as diferenças entre responsabilidade contratual e extracontratual, subjetiva e
objetiva, dando especial atenção à responsabilidade objetiva, com destaque às mais
relevantes teorias do risco e a importância advinda do art. 927, parágrafo único, do Código
Civil em relação à instituição de uma cláusula geral de responsabilidade objetiva em nosso
ordenamento jurídico. Então, veremos por que a teoria do risco criado deve ser aplicada nos
casos de responsabilidade civil do empregador decorrente de acidente do trabalho, a
começar pela análise dos princípios que amparam sua aplicação, passando pelo conflito
aparente entre o art. 7°, XXVIII, da Constituição e art. 927, parágrafo único, do Código Civil
(e os motivos que levam à supremacia deste último dispositivo), culminando com uma
abordagem sobre o que é risco, quais atividades podem ser consideradas de risco criado e
a quem cabe assim considerá-las.
ABSTRACT
In this present work we aim to advocate the application of the theory of risk created in cases
of employer liability resulting from occupational accidents. For do so, we’ll start it with a brief
study of the occupational accident’s concept, its species and the types of reparations issued
by the Social Security and their way of funding through the Labor Accident Insurance. Then,
it will proceed to the appreciation of liability’s institute: its historical development, concept,
legal nature and premises, as well as differences between contractual and tort, subjective
and objective liability, with special attention to objective liability, salienting the most relevant
theories of risk, and the importance that comes from the art. 927, sole paragraph, of the
Brazilian Civil Code regarding the imposition of a general clause of objective liability in our
legal system. So, we will see why the theory of risk created must be applied in cases of
employer liability from occupational accident, beginning with the analysis of the principles
that sustain its implementation, through the apparent conflict between the art. 7, XXVIII,
Brazilian Constitution and art. 927, sole paragraph, of the Civil Code (and the reasons
leading to the supremacy of the latter device), culminating with a discussion of what is risk,
what activities can be considered at risk and who should consider them.
Key words: 1. Occupational accidents; 2. Liability; 3. Theory of risk created; 4. Risky activity.
1
Monografia apresentada como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito junto à
Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás – UFG, sob a orientação do Prof. Ms. Milton Inácio
Heinen (Goiânia, jun. 2011).
2
INTRODUÇÃO
1. ACIDENTE DO TRABALHO
2
Entendia-se por incapacidade temporária aquela de duração máxima inferior a um ano (cf. art. 5°, parágrafo
único). Ultrapassado esse prazo, a incapacidade era considerada permanente para fins de recebimento de
5
indenização.
3
Cf. SCHUBERT, Baldur Oscar. A segurança e a saúde do trabalhador no Brasil: o papel do seguro de acidentes
do trabalho – perspectiva 2002. In: SESI. Série SESI em saúde e segurança no trabalho para a indústria.
Brasília: SESI/DN, 2002. v. 2. p. 13.
4
MELO, Raimundo Simão de. Direito ambiental do trabalho e a saúde do trabalhador: responsabilidades
legais, dano material, dano moral, dano estético, indenização pela perda de uma chance, prescrição. 3. ed. São
Paulo: LTr, 2008. p. 240.
6
5
O FUNRURAL é uma contribuição previdenciária incidente sobre a receita bruta proveniente da
comercialização da produção rural. Foi instituído pela Lei Complementar n° 11/71, estando atualmente previsto
no art. 25 da Lei n° 8.212/91, com redação dada pela Lei n° 8.540/92. Registre-se que, em 03/02/2010, o pleno
7
do STF declarou em controle difuso a inconstitucionalidade do referido tributo (RE n° 363.852/MG, Rel.: Min.
Marco Aurélio, data da publicação: DJe 23/04/2010).
6
“Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do
trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação
funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o
trabalho”.
7
CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. 32. ed. atual. por Eduardo Carrion.
São Paulo: Saraiva, 2007. p. 167.
8
JÚNIOR, Antônio Lago. apud PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Responsabilidade civil nas relações de trabalho
e o novo Código Civil brasileiro. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 677, 13 mai. 2005. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6723>. Acesso em: 16 set. 2010.
8
9
Cf. BRANDÃO, Cláudio. Acidente do trabalho e responsabilidade civil do empregador. São Paulo: LTr, 2006.
p. 171.
10
BORGES, Rodrigo Trezza. Acidentes de trabalho. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 261, 25 mar. 2004.
Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/4990>. Acesso em: 17 fev. 2011.
9
11
TRF 1ª Região, 2ª Turma, Ap. Cív. n° 0001349-72.1998.4.01.4000/PI, Rel.: Des. Francisco de Assis Betti,
data do julgamento: 07/07/2010, data da publicação: DJF1 22/07/2010.
12
No mesmo sentido, PONTES DE MIRANDA. Tratado de direito privado. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1984. 60 v. t. 54, § 5.539, p. 83 e 93.
10
13
Fonte: BRASIL. Ministério da Previdência Social. Anuário Estatístico da Previdência Social - AEPS 2009.
Brasília: [s.n.], 2010. Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br>. Acesso em: 14. abr. 2011.
14
Ibid.
15
MONTEIRO, Antônio Lopes; BERTAGNI, Roberto Fleury de Souza. Acidentes do trabalho e doenças
ocupacionais: conceito, processos de conhecimento e de execução e suas questões polêmicas. 2. ed. rev. e atual.
São Paulo: Saraiva, 2000. p. 11
11
Cláudio Brandão, por sua vez, conclui que a principal diferença entre
doenças profissionais e do trabalho está na natureza do nexo causal:
16
MELO, Raimundo Simão de. op. cit., p. 281
17
MONTEIRO, Antônio Lopes; BERTAGNI, Roberto Fleury de Souza. op. cit., p. 12.
12
18
BRANDIMILLER, Primo A. Perícia judicial em acidentes e doenças do trabalho: prova pericial nas ações
acidentárias e trabalhistas, ações de indenização pelo seguro privado e por responsabilidade civil do empregador.
São Paulo: SENAC São Paulo, 1996. p. 153.
19
BRANDÃO, Cláudio. op. cit., p. 189.
20
De acordo com o Ministério da Previdência, durante o ano de 2009, as doenças do trabalho mais incidentes
foram as lesões no ombro (CID M75), sinovite e tenossinovite (M65) e dorsalgia (M54), correspondendo a 28%
(3.489 ocorrências), 24% (3.047) e 11% (1.347), do total de doenças registradas, respectivamente. Fonte:
BRASIL. Ministério da Previdência Social. Anuário Estatístico da Previdência Social - AEPS 2009. Brasília:
[s.n.], 2010. Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br>. Acesso em: 14. abr. 2011.
13
Todavia, note-se que a Lei de Benefícios, em seu art. 20, § 1°, não
considera como do trabalho as doenças degenerativas; as inerentes ao grupo etário
(osteoporose, esclerose, etc.); as não incapacitantes, ou seja, que não produzem
incapacitação funcional; e as endêmicas (salvo quando resultantes de exposição ou
contato direto consequente à natureza do trabalho)23.
21
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 4. ed. rev. e
ampl. São Paulo: LTr, 2008. p. 140-141. Para maiores esclarecimentos acerca do nexo de causalidade e de suas
vertentes teóricas, vide item 2.5.3., infra.
22
Cf. BRANDIMILLER, Primo A. op. cit., p. 150. O autor destaca ainda que, à exceção das demais doenças
ocupacionais, aquelas oriundas de contaminação por agentes biológicos têm por característica a instantaneidade.
23
Cf. BELTRAN, Ari Possidonio. Responsabilidade civil do empregador por acidentes do trabalho e moléstias
de origem ocupacional. In: SESI. Série SESI em saúde e segurança no trabalho para a indústria. Brasília:
SESI/DN, 2002. v. 2. p. 82.
14
24
TST, 2ª Turma, AIRR n° 1168-2005-042-03-40-5, Rel.: Min. Renato de Lacerda Paiva, data da publicação: DJ
27/03/2009.
15
25
CAMPOAMOR, Marilia Marcondes. Estudo da ocorrência de acidentes entre trabalhadores de uma indústria
frigorífica do Estado de São Paulo. 2006. 97 f. Dissertação (Mestrado – Programa de Pós Graduação em
Enfermagem Fundamental) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão
Preto, 2006. p. 18-19.
16
26
O Anexo II, Lista B, Nota 1, do Dec. n° 3.048/99, com redação dada pelo Dec. n° 6.957/09 dispõe: “As
doenças e respectivos agentes etiológicos ou fatores de risco de natureza ocupacional listados são
exemplificativos e complementares”.
27
BRANDÃO, Cláudio. op. cit. p. 191.
28
JÚNIOR, Humberto Theodoro apud BELTRAN, Ari Possidonio. op. cit., p. 83-84.
17
29
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: 7. v.: responsabilidade civil. 19. ed. rev. e atual. de
acordo com o novo Código Civil (Lei.n.10.406, de 10-1-2002) e Projeto de Lei n. 6.960/2002. São Paulo:
Saraiva, 2005. p. 493.
18
Anexo V do Dec. n° 3.048/99 (com redação dada pelo Dec. n° 6.957/09). Por
exemplo: uma empresa que tem por atividade preponderante a extração de carvão
mineral (CNAE 0500-3/01) está sujeita a uma alíquota de 3%, sendo, portanto,
considerada de risco grave. Por outro lado, uma empresa de contabilidade (CNAE
6920-6/01) está obrigada a recolher apenas 1% para o SAT, sendo atividade de
risco leve.
30
Cf. IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. 10 ed. rev e atual. Niterói, RJ: Impetus, 2007.
p. 204.
31
KWITKO, Airton. FAP e NTEP: as novidades que vêm da previdência social. São Paulo: LTr, 2008. p. 14.
19
Fábio Zambitte Ibrahim observa que FAP nada mais é do que uma
aplicação do princípio da equidade na forma de participação no custeio da
seguridade social, expresso no art. 194, parágrafo único, V, da Constituição Federal,
verbis:
32
IBRAHIM, Fábio Zambitte. op. cit., p. 208.
33
A Resolução n° 1.316/10, do Conselho Nacional de Previdência Social, estabelece a metodologia para os
cálculos referentes aos índices do FAP, e a Portaria n° 451/10, do Ministério da Previdência Social, dispõe sobre
20
a publicação dos índices de freqüência, gravidade e custo, por atividade econômica (CNAE 2.0), com vigência a
21
partir de 2011.
22
34
DONADON, João. Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário e Fator Acidentário de Prevenção.
Disponível em: <www.sindimec.org.br/site/media/FAP.ppt>. Acesso em: 7 abr. 2011.
35
Cf. A NOVA SISTEMÁTICA DE CONCESSÃO DE BENEFÍCIOS ACIDENTÁRIOS. Disponível em:
<http://www.previdenciasocial.gov.br/conteudoDinamico.php?id=989>. Acesso em: 7 abr. 2011.
36
Disponível em: <www.anamatra.org.br/jornada/enunciados/enunciados_aprovados.cfm>. Acesso em: 11 abr.
2011.
23
37
Cf. IBRAHIM, Fábio Zambitte. op. cit., p. 210.
24
38
Cf. MONTEIRO, Antônio Lopes; BERTAGNI, Roberto Fleury de Souza. op. cit., p. 33.
39
Na redação original da Lei n° 8.213/91, o auxílio-acidente era de 30%, 40% e 60%, variando de acordo o grau
de limitação laboral. Posteriormente, a Lei n° 9.032/95 instituiu o percentual único de 50%.
25
2. RESPONSABILIDADE CIVIL
40
STJ, 5ª Turma, REsp n° 506881/SC, Rel.: Min. José Arnaldo da Fonseca, data do julgamento: 14/10/2003,
data da publicação: DJ 17/11/2003.
26
41
Disponível em: <www.cpihts.com/PDF/Código%20hamurabi.pdf>. Acesso em: 9 mar. 2011.
27
De acordo com os irmãos Mazeaud, a Lei das XII Tábuas (entre 451 e
449 a.C.) marca a transição da fase da composição voluntária para a composição
obrigatória. Em certos casos, a vítima era obrigada a aceitar a composição e
renunciar à vingança. Essa composição se dava na forma de uma pena (poena)
destinada aos cofres públicos cumulada com a reparação do prejuízo, de tal sorte
que ainda não havia distinção entre responsabilidade penal e civil 43.
Diz a Tábua VIII, Lei 2ª: si membrum rupsit ni eo pacit talio esto (se fere
um membro e não há acordo, que sofra a pena de talião)44. Verifica-se, pois, que
apesar de ainda estar presente o talião, a existência de acordo prévio a respeito
obrigava o ofendido a aceitar a compensação econômica.
42
PONTES DE MIRANDA. op. cit., t. 53, § 5.498, p. 16.
43
Cf. MAZEAUD, Henri, Léon et Jean; CHABAS, François; JUGLART, Michel de. Leçons de droit civil. 6. ed.
Paris: Montchrestien, 1978. t. 2, vol. 1, § 378, p. 348.
44
Cf. PONTES DE MIRANDA. op. cit., loc. cit.
45
Cf. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade civil. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. n° 204, p.
246.
28
Por volta da segunda metade do século III a.C., foi editada a Lex Aquilia
de Damno in Jura Dato, ou Lei Aquilia, com o objetivo de sancionar qualquer espécie
de dano causado ilicitamente, ou damnum injuria datum.
O brocardo “in lege Aquilia et levissima culpa venit” (a culpa, ainda que
levíssima, obriga a indenizar), que se tornaria o fundamento da responsabilidade
extracontratual ou aquiliana, só veio a ser formulado no século III d.C., através dos
estudos de Ulpiano.
John Gilissen nos alerta para o fato de que “a noção moderna [de
responsabilidade extracontratual] desenvolveu-se entre o século XVI e o início do
século XIX na base de uma interpretação extensiva dada à Lex Aquilia no direito
romano clássico e tardio”47.
46
Cf. GAIO apud ALVES, José Carlos Moreira. Direito romano. 13. ed. rev. Rio de Janeiro: Forense, 2000. t. 2,
§ 267, p. 234.
29
I-Toutes les pertes et tous les dommages qui peuvent arriver par le
fait de quelque personne, soit imprudence, légèreté qu’elles puissent
être, doivent être réparées par celui dont l’imprudence ou autre faute y
a donné lieu. Car c’est um tort qu’il a fait, quand même il n’aurait pas
eu l’intention de nuire; II-Le défaut de s’acquitter d’un engagement,
est aussi une faute qui peut donné occasion à les dommages et
intérêts dont on sera tenu. (Les Loix Civiles dans leur Ordre Naturel,
49
Paris, 1776, Livro II, Título VIII, Sect. IV, p. 153) .
A maior importância desse texto está no fato de ele ter servido de base
para a redação do art. 1.382 do Código Civil Francês (“Tout fait quelconque de
l'homme, qui cause à autrui un dommage, oblige celui par la faute duquel il est arrivé
à le réparer”)50, em vigor desde 1804.
47
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 4. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003. p. 750.
48
Ibid., p. 750-752.
49
Apud MAZEAUD, Henri et al. op. cit., § 378, p. 348-349. “I-Todas as perdas e todos os danos que podem
ocorrer pelo fato de qualquer pessoa, ou pela imprudência, por mais leve que esta possa ser, devem ser reparados
por aquele cuja imprudência ou culpa foi a origem. Isso porque foi ele quem fez o mal, mesmo quando não tenha
tido a intenção de prejudicar; II-A falha no cumprimento de um compromisso é também uma culpa que pode
ensejar danos aos interesses que seriam exigidos”. (Tradução livre)
50
“Todo fato oriundo daquele que provoca um dano a outrem obriga aquele que foi a causa do que ocorreu a
reparar este dano”. (Traduzido por GODOY, Cláudio Luiz Bueno de. Responsabilidade civil pelo risco da
atividade. São Paulo: Saraiva, 2009 (Col. Prof. Agostinho Alvim). p. 34)
30
51
Cf. PEREIRA, Caio Mário da Silva. op. cit., n° 6 p. 4.
52
“Art. 1º: As estradas de ferro serão responsaveis pela perda total ou parcial, furto ou avaria das
mercadorias que receberem para transportar. Será sempre presumida a culpa e contra esta presumpção só se
admittirá alguma das seguintes provas: 1ª, caso fortuito ou força maior; 2ª, que a perda ou avaria se deu por
vicio intrinseco da mercadoria ou causas inherentes á sua natureza; 3ª, tratando-se de animaes vivos, que a
morte ou avaria foi consequencia de risco que tal especie de transporte naturalmente correr; 4ª, que a perda ou
avaria foi devida ao máo acondicionamento da mercadoria ou a ter sido entregue para transportar sem estar
encaixotada, enfardada ou protegida por qualquer outra especie de envoltorio; 5ª, que foi devido a ter sido
transportada em vagões descobertos, em consequencia de ajuste ou expressa determinação do regulamento; 6ª,
que o carregamento e descarregamento foram feitos pelo remettente ou pelo destinatario ou pelos seus agentes e
disto proveiu a perda ou avaria; [...]
Art. 17. As estradas de ferro responderão pelos desastres que nas suas linhas succederem aos viajantes e de
que resulte a morte, ferimento ou lesão corporal. A culpa será sempre presumida, só se admittindo em
contrario alguma das seguintes provas: 1ª, caso fortuito ou força maior; 2ª, culpa do viajante, não concorrendo
culpa da estrada”. (grifamos)
31
53
Cf. MELO, Raimundo Simão de. op. cit., p. 140-141.
54
JOSSERAND, Louis apud DINIZ, Maria Helena. op. cit., p. 42. “[...] não é mais unicamente um problema de
consciência, e sim um problema de ordem econômica, pois já não é mais questão de punir, mas de reparar, de
indenizar, de restaurar o equilíbrio econômico perturbado pelo fato ilícito”. (Tradução livre)
32
Maria Helena Diniz optou por um conceito mais analítico, voltado para a
natureza do fato ensejador, podendo ser fato próprio, fato de terceiro ou fato de
coisa, incluído ainda a responsabilidade legis et de legis, qual seja, objetiva:
A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma
pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em
razão de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela
responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples
58
imposição legal .
55
BRANDÃO, Cláudio. op. cit., p. 236. No mesmo sentido: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil
brasileiro. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2009. 7v. vol.4, p. 1; e DINIZ, Maria Helena, op. cit., p. 39.
56
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 3. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros,
2002. p. 22.
57
MAZEAUD, Henri et al. op. cit. § 374, p. 343. “Uma pessoa é civilmente responsável quando é obrigada a
reparar um danos sofrido por outro”. (Tradução livre)
58
DINIZ, Maria Helena. op. cit., p. 40.
59
DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. 10. ed. rev. e aum. Rio de Janeiro: Forense, 1995. t. 1, §1°,
p. 2.
33
Com relação à sua natureza jurídica, Sérgio Cavalieri Filho aponta que,
em alguns casos, a responsabilidade pode ter a mesma natureza jurídica do dever
originário que foi descumprido. Por exemplo: nas obrigações de dar, ainda que haja
na apuração da responsabilidade decorrente de seu inadimplemento a fixação de
60
MARTON apud Ibid., §1°, p. 3.
61
BRINZ, Alois apud CAVALIERI FILHO, Sérgio. op. cit., p. 22-23.
62
Ibid., p. 21.
34
63
Ibid., p. 23.
64
GONÇALVES, Carlos Roberto. op. cit, p. 26.
35
955 a 963 e 1.056 a 1.064, e a extracontratual nos arts. 159, 160, 1.518 a 1.532 e
1.537 a 1.553. O atual diploma civil manteve idêntica divisão, dedicando os arts. 389
a 416 à responsabilidade contratual e os arts. 186 a 188 e 927 a 954 à
responsabilidade aquiliana.
§ 823 Schadensersatzpflicht
(1) Wer vorsätzlich oder fahrlässig das Leben, den Körper, die
Gesundheit, die Freiheit, das Eigentum oder ein sonstiges Recht
eines anderen widerrechtlich verletzt, ist dem anderen zum Ersatz des
daraus entstehenden Schadens verpflichtet.
(2) Die gleiche Verpflichtung trifft denjenigen, welcher gegen ein den
Schutz eines anderen bezweckendes Gesetz verstößt. Ist nach dem
Inhalt des Gesetzes ein Verstoß gegen dieses auch ohne
Verschulden möglich, so tritt die Ersatzpflicht nur im Falle des
65
Verschuldens ein .
65
“§ 823 Dever de indenizar (1) Aquele que, com dolo ou culpa, ilicitamente ferir a vida, o corpo, a saúde, a
liberdade, a propriedade ou algum outro direito de outrem, é obrigado a indenizar os danos causados. (2) A
mesma obrigação tem aquele que violar uma norma que tenha por objetivo conceder tutela a uma pessoa. Caso
36
seja possível a violação da lei independentemente de culpa, o dever de indenizar ocorrerá somente no caso de a
culpa se verificar”. (Traduzido por DINIZ, Souza. Código Civil Alemão. Rio de Janeiro: Record, 1960. In:
GODOY, Cláudio Luiz Bueno de. op. cit., p. 34.)
66
PONTES DE MIRANDA apud DIAS, José de Aguiar, op. cit., t. 1, §67, p. 121.
67
MAZEAUD, Henri et al. op. cit., § 376, p. 345. “A responsabilidade contratual é a que resulta da inexecução
de uma obrigação nascida de um contrato. Quando um contratante não executa mais a obrigação à qual se
encarregou pelo contrato, ele pode causar um prejuízo à seu cocontratante, credor da obrigação. [...] A
responsabilidade delitual e quase delitual [extracontratual] não nasce da inexecução de um contrato; ela nasce de
um delito ou de um quase-delito. O autor do dano é, em certas condições, obrigado à reparação”. (Tradução
livre)
68
STARCK, Boris. Droit civil: obligations. Paris: Techniques, 1972. p. 13. “As regras da responsabilidade
contratual são diferentes em muitos pontos (mas não em todos os pontos) das regras da responsabilidade delitual.
É por isso que nós fizemos seu estudo em separado, pois a responsabilidade contratual não pode ser entendida
após o estudo dos contratos”. (Tradução livre)
37
Caio Mário adota o mesmo posicionamento, afirmando que “[...] não tem
razão os que procuram encontrar distinção ontológica entre culpa contratual e culpa
aquiliana [...] Numa e noutra, há de estar presente a contravenção a uma norma”69.
69
PEREIRA, Caio Mário da Silva, op. cit., n° 204, p. 247.
38
70
GARCIA, Gustavo Felipe Barbosa. Meio ambiente do trabalho: direito, segurança e medicina do trabalho.
São Paulo: Método, 2006. p. 25.
71
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. op. cit., p. 167.
72
Registre-se o posicionamento contrário adotado pela Procuradora do Trabalho Izabel Christina Baptista
Queiróz Ramos, segundo a qual “[...] a responsabilidade civil no caso é contratual, eis que deriva do
descumprimento de obrigações assumidas pelo empregador na celebração do contrato de trabalho, e, ainda que
não estejam escritas em um termo contratual específico, estão dispostas constitucional e
infraconstitucionalmente, através de normas imperativas e de ordem pública”. (In: Responsabilidade civil do
empregador por acidente de trabalho: teoria do risco e a teoria subjetiva da CF/88. Revista do Ministério Público
do Trabalho do Rio Grande do Norte, Natal, n. 8, p. 105-121, nov. 2008. p. 116).
39
2.5. PRESSUPOSTOS
Maria Helena Diniz conceitua ação como todo “[...] ato humano, comissivo
ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e objetivamente imputável, do próprio agente
ou de terceiro, ou o fato de animal ou coisa inanimada, que cause dano a outrem,
gerando o dever de satisfazer os direitos do lesado”73.
73
DINIZ, Maria Helena, op. cit., p. 43-44.
40
Portanto, o homem comum, diante de uma situação à qual não deu causa
e não tendo nenhum dever legal de agir, não pode ser punido, nem civil, nem
penalmente, se não tentou evitar a ocorrência do evento danoso, ou ao menos
minimizar seus efeitos.
2.5.2. DANO
74
“Art. 13: omissis. [...] § 2°: A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para
evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei a obrigação de cuidado, proteção ou
vigilância; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento
anterior, criou o risco da ocorrência do resultado”.
41
De acordo com o interesse jurídico sobre o qual ele recai, teremos três
espécies de dano: dano patrimonial, dano moral e dano estético.
75
TORRENTE, Andrea; SCHLESINGER, Piero. Manuale di dirito privato. 12. ed. Milano: Doot. A. Giuffre,
1985. § 388, p. 694. “Qualquer prejuízo que outro pode me causar com uma ação ou também com uma simples
omissão”. (Tradução livre)
76
Cf. PEREIRA, Caio Mário da Silva. op. cit., n° 35, p. 39.
77
No mesmo sentido, MAZEAUD, Henri et al. op. cit., § 412, p. 390; e PEREIRA, Caio Mário da Silva. op. cit.,
n° 35, p. 40.
42
78
DINIZ, Maria Helena. op. cit., p. 121.
79
Cf. TRABUCCHI, Alberto. Istituzioni di diritto civile. 36 ed. Padova: CEDAM, 1995. p. 213.
80
Ibid., p. 99.
43
especificados em lei, conforme art. 2059: “Il danno non patrimoniale deve essere
risarcito solo nei casi determinati dalla legge [...]”81. De igual modo prescreve o §
253, 1, do BGB: “Wegen eines Schadens, der nicht Vermögensschaden ist, kann
Entschädigung in Geld nur in den durch das Gesetz bestimmten Fällen gefordert
werden“82.
81
“O dano não patrimonial só deve ser ressarcido nos casos determinados pela lei”. (Tradução livre)
82
“Quanto ao dano, que não é dano patrimonial, indenidade em dinheiro somente pode ser devida nos casos
determinados pela lei” (Traduzido por PONTES DE MIRANDA. op. cit., t. 53, § 5509, p. 222.)
83
COSTA, Mário Júlio de Almeida. Direito das obrigações. 9. ed. rev. e aum. Coimbra: Almedina, 2001. p. 554.
84
DINIZ, Maria Helena. op. cit., p. 103-104.
44
Contudo, tal classificação não nos parece ser a mais exata, pois o dano
estético está mais afeito ao dano moral do que ao dano material. Primeiramente,
quando o dano estético resulta em incapacidade laborativa (v.g., amputação), temos
um dano patrimonial direto na modalidade lucros cessantes, cumulado com o dano
moral que é a dor, o sofrimento, o abalo psicológico provocado por esta lesão. Do
85
A Súmula n° 387 do STJ prescreve: “É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral”.
86
STJ, 4ª Turma, REsp n° 711720/SP, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, data do julgamento: 24/11/2009, data
da publicação: DJe 18/12/2009.
87
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. op.cit., p. 220.
88
DINIZ, Maria Helena. op. cit., p. 122.
89
Ibid., p. 123.
45
mesmo modo, quando o dano estético não acarreta nenhuma limitação laboral, não
se configura nenhuma perda patrimonial, apenas dano moral.
90
CAVALIERI FILHO, Sérgio. op. cit., p. 58.
91
DINIZ, Maria Helena. op. cit., p. 109.
46
Andréa Silva Rasga Ueda entende que esta teoria somente deve ser
aplicada no Direito Penal, pois na esfera cível essa “[...] ligação causal acaba sendo
levada ao infinito (regressus ad infinitum), responsabilizando todos os envolvidos na
cadeia de fatos, o que na prática é, no mínimo, injusto”95.
92
UEDA, Andréa Silva Rasga. Responsabilidade civil nas atividades de risco: um panorama atual a partir do
Código Civil de 2002. 2008. 177 f. Dissertação (Mestrado – Programa de Pós Graduação em Direito Civil) –
Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. p. 127.
93
Ibid., p. 127.
94
CAVALIERI FILHO, Sérgio. op. cit., p. 59.
95
UEDA, Andréa Silva Rasga. op. cit., p. 126.
47
De acordo com esta teoria, não basta que o fato tenha sido uma condição
sine qua non do prejuízo, mas deve consistir, em abstrato, em uma causa adequada
do dano, cuja interferência tenha sido decisiva para a ocorrência do resultado
danoso. Eliminam-se os atos até restar o que no curso normal das coisas é capaz de
provocar um dano dessa natureza.
96
PEREIRA, Caio Mário da Silva. op. cit., n° 69, p. 79.
97
CAVALIERI FILHO, Sérgio. op. cit., p. 60.
98
Cumpre enfatizar que, no tocante à verificação de nexo de causalidade no campo das indenizações de natureza
previdenciária, especialmente na apuração das doenças do trabalho, a teoria adotada é a da equivalência das
condições, conforme expusemos no item 1.2.2., supra.
99
“O ressarcimento do dano por inadimplemento ou pelo atraso deve compreender quer a perda sofrida pelo
credor, quer o lucro não auferido, enquanto sejam deles consequência imediata e direta. (1382, 1479, 2056 e
seguinte)”. (Tradução livre) (grifamos)
48
A distinção entre dolo e culpa strictu sensu adveio do direito romano, que
distinguia os delitos (violações intencionais das normas de conduta) dos quase-
delitos (ofensa ao interesse de outrem, tendo o agente procedido sem malícia, mas
com negligência não escusável em relação ao direito do lesado) 101. Interessante
observar que o direito francês ainda se utiliza dessas expressões (délit et quasi-
délits).
100
Segundo José Carlos Moreira Alves, no direito clássico havia somente culpa em sentido estrito, tendo se
originado no direito justinianeu os conceitos de culpa lata (dolo) e culpa levis (In: Direito romano. 13. ed. rev.
Rio de Janeiro: Forense, 2000. t. 2, §206, p. 39).
101
Cf. DIAS, José de Aguiar. op.cit., t. 1, §57, p. 109.
102
SAVATIER apud DIAS, José de Aguiar. op. cit., t. 1, §59, p. 110.
103
Ibid., loc. cit.
104
STOPPATO apud DIAS, José de Aguiar. op. cit., t. 1, §59, p.111.
49
105
TORRENTE, Andrea; SCHLESINGER, Piero. op. cit., § 389, p. 697. “quando não se deu intencionalmente,
mas se é devido ‘à negligência, ou imprudência ou imperícia, ou ao não cumprimento de leis, regulamentos,
ordens ou disciplinas’”. (Tradução livre)
106
PEREIRA, Caio Mário da Silva. op. cit., n° 56, p. 69.
50
107
Na Alemanha, os autores reconhecem duas espécies de negligência: negligência consciente (bewusste
Fahrlässigkeit), configurada no ato daquele que, conhecedor da possibilidade de conduzir a sua atitude a
resultado ilícito, ainda assim, levianamente, a assume, na ilusão de que essa possibilidade não se apresente no
caso ou de que, a apresentar-se, possa ele evitar o resultado, por sua habilidade pessoal; e a negligência
inconsciente (unbewusste Fahrlässigkeit), verificada no caso de não prever o agente as consequências que um
bom pai de família ou homem prudente poderia prever. (ENNECCERUS apud DIAS, José de Aguiar. op. cit., t.
1, §65, p. 121-122).
108
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. 20 ed. São Paulo: Saraiva, 1985. 6 v. vol. 5. p.
393.
51
Para Pontes de Miranda, nos casos em que o dano é causado por pessoa
incapaz ou por empregado, preposto ou alguém posto em serviço por terceiro, “[...] o
legislador tem diante de si três soluções técnicas: ou presume a culpa, provados o
dano e a relação; ou não presume a culpa, e cabe ao autor o ônus da prova, sem se
109
Ibid., p. 393-394.
52
110
PONTES DE MIRANDA. op. cit., t. 53, § 5504, p. 133.
111
GONÇALVES, Carlos Roberto. op. cit., p. 98.
53
112
MONTEIRO, Washington de Barros. op. cit., loc. cit.
54
Uma vez vitimado, o empregado, para fazer valer o seu direito a uma
indenização justa e equitativa, necessitava provar que o patrão incorrera em culpa.
Entretanto, a condição de hipossuficiente do trabalhador e sua posição econômica e
socialmente inferior à do empregador, impossibilitava-o de obter meios de fazer
prova da culpa.
113
Cf. DIAS, José de Aguiar, op. cit., t. 1, § 22, p. 50.
114
CAVALIERI FILHO, Sérgio. op. cit., p. 165.
55
Saleilles foi um dos primeiros defensores da teoria que mais tarde viria a
ser denominada teoria do risco-proveito (item 3.3.3., infra). De acordo com esse
autor:
Josserand, por sua vez, adotando postura mais conciliadora que Saleilles,
admitia a coexistência de dois pólos de responsabilidade, a ordinária ou subjetiva, e
a extraordinária ou objetiva, advinda do risco produzido. Via também a necessidade
de mudança na teoria da responsabilidade civil com base na evolução social e na
maior proteção às vítimas118. Segundo o autor:
115
SALEILLES, Raymond apud PEREIRA, Caio Mário da Silva. op. cit., n° 15, p. 17.
116
DIAS, José de Aguiar, op. cit., t. 1, § 25, p. 56.
117
SALEILLES, Raymond apud DIAS, José de Aguiar, op. cit., t. 1, § 25, p. 59.
118
Cf. PEREIRA, Caio Mário da Silva. op. cit., n° 16, p. 18.
56
Aquele que executa uma ação qualquer deve sozinho suportar todas
as consequências, felizes ou nefastas; quando uma força é posta em
movimento deve ser suportada por aquele que a desencadeou e não
pelo terceiro que a sofreu: o caso fortuito, quer dizer, o evento
provocado licitamente pelo homem, não pode ser posto senão sob o
119
encargo daquilo que está na origem da causa ocasional .
119
JOSSERAND, Louis apud SANTOS, Marco Fridolin Sommer. Acidente do trabalho entre a seguridade
social e a responsabilidade civil. 2.ed. São Paulo: LTr, 2008. p. 40.
120
No direito pátrio, a Súmula n° 341 do STF pacificou esse entendimento no sentido de ser presumida a culpa
do empregador pelo ato culposo do empregado.
121
PEREIRA, Caio Mário da Silva. op. cit., n° 82, p. 96.
122
Cf. STARCK, Boris. op. cit., p. 23.
57
123
Cf. DIAS, José de Aguiar, op. cit., t. 1, § 25, p. 59; DINIZ, Maria Helena. op. cit., p. 60; CAVALIERI
FILHO, Sérgio. op. cit., p. 171.
58
caso a presunção de culpa seria absoluta, embora a diferença entre uma presunção
absoluta de culpa e sua dispensa para averiguação da responsabilidade é nenhuma.
124
UEDA, Andréa Silva Rasga. op. cit., p. 57.
125
BRANDÃO, Cláudio. op. cit., p. 268.
126
UEDA, Andréa Silva Rasga. op. cit., p. 60-61.
59
127
DIAS, José de Aguiar, op. cit., t. 1, § 13, p. 32.
128
Cf. TEPEDINO, Gustavo apud TARTUCE, Flávio. A responsabilidade civil subjetiva como regra geral do
novo código civil brasileiro. Disponível em: <http://www.flaviotartuce.adv.br/secoes/artigos/Tartuce_resp
civil.doc>. Acesso em: 16 set. 2010.
129
GONÇALVES, Carlos Roberto. op. cit., p. 12.
130
PAMPLONA FILHO, Rodolfo. op. cit., p. 9.
60
131
“Se o dano houver sido causado pelo risco ou pelo vício da coisa, só se eximirá total ou parcialmente de
responsabilidade creditando a culpa à vítima ou a terceiro por quem não deva responder”. (Tradução livre)
132
Cf. GODOY, Cláudio Luiz Bueno de. op. cit., p. 41.
133
“Quando uma pessoa faz uso de mecanismos, instrumentos, aparelhos ou substâncias perigosas por si
mesmas, pela velocidade que desenvolvem, por sua natureza explosiva ou inflamável, pela energia da corrente
elétrica que conduzem ou por outras causas análogas, está obrigada a responder pelo dano que causa, ainda que
não obre ilicitamente, a não ser que demonstre que esse dano se produziu por culpa ou negligência inescusável
da vítima”. (Tradução livre)
134
Cf. Ibid., p. 31.
61
135
“Aquele que ocasionar prejuízo a outrem no exercício de uma atividade perigosa pela sua natureza ou pela
natureza dos meios adotados, ficará obrigado a indenização se não provar ter adotado todas as medidas idôneas
para evitar o prejuízo”. (Traduzido por Ibid., p. 43-44)
136
A redação original do art. 927, parágrafo único, que constava no Projeto do Novo Código Civil, também
ressalvava a aplicação da responsabilidade objetiva “se comprovado o emprego de medidas preventivas
tecnicamente adequadas”. Mas este dispositivo foi objeto de emenda na Câmara dos Deputados durante a fase de
elaboração, resultando na supressão dessa ressalva, sob o argumento de não surtiria efeito acolher a teoria
objetiva e ao mesmo tempo deixar a ausência de culpa como motivo de exclusão da responsabilidade.
62
Por fim, temos o risco, o termo central desse dispositivo, que em virtude
de sua complexidade e importância para esta obra, será apreciado com maiores
detalhes em momento oportuno (item 4.4., infra).
137
Disponível em <http://daleth.cjf.jus.br/revista/enunciados/IJornada.pdf>. Acesso em: 8 mai. 2011.
138
UEDA, Andréa Silva Rasga. op. cit., p. 95.
139
Cf. MELO, Raimundo Simão de. op. cit., p. 209.
140
Ibid., loc. cit.
141
Cf. DINIZ, Maria Helena. op. cit., p. 56.
63
Por justiça social entende-se aquela que visa proteger os mais fracos
contra os mais fortes, ou seja, o interesse social – das vítimas – ante o interesse
individual – do autor do dano. Esse posicionamento é muito criticado por Henri, Leon
e Jean Mazeaud, que entendem que ele deveria estar restrito às questões referentes
aos acidentes do trabalho, pois a responsabilidade civil deve assegurar a livre
atividade dos indivíduos, e não paralisá-la, impondo a eles a ameaça de um dever
de reparação que lhes atinjam mesmo quando a conduta adotada é irrepreensível 144.
142
SAVATIER apud MAZEAUD, § 436, p. 420 “A responsabilidade fundada no risco [...] repousa
exclusivamente sobre um equilíbrio material, de acordo com uma ideia de equidade impessoal”. (Tradução livre)
143
MELO, Raimundo Simão de. op. cit., p. 198.
144
MAZEAUD, Henri et al. op. cit., § 429, p. 410.
145
Ibid., § 429, p. 411. “Estabelecer uma responsabilidade automática é livrar a responsabilidade de toda a moral
e de toda a justiça”. (Tradução livre)
64
146
Ibid., loc. cit. “Decidir que um ato não culposo enseje a responsabilidade de seu autor pode raramente ser
justificado em termos de utilidade social, jamais em termos de moral”. (Tradução livre)
147
CAVALIERI FILHO, Sérgio. op. cit., p. 168.
65
148
RAMOS, Izabel Christina Baptista Queiróz. op. cit., p. 111.
149
SALIM, Adib Pereira Netto. A teoria do risco criado e a responsabilidade objetiva do empregador em
acidentes de trabalho. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, Belo Horizonte, v. 41, n. 71, p.
97-110, jan./jun. 2005. p. 103. Disponível em: <http://www.mg.trt.gov.br/escola/download/revista/
rev_71/Adib_Salim.pdf> Acesso em: 16 set. 2010.
150
Cf. BRANDÃO, Cláudio. op. cit., p.258
66
Atualmente, essa teoria tem sido substituída pela do risco criado, por ser
esta mais abrangente que a primeira, e em razão da sua adoção pelo Novo Código
Civil. Para Andréa Ueda, no entanto, ambas as teorias se equivalem:
Enquanto o risco profissional está atrelado à prática de uma atividade
por aquele que a exerce na qualidade de trabalhador ou funcionário, o
risco criado advém da propriedade dos meios de produção
organizados para a consecução de determinada atividade-fim. Desse
modo, a nomenclatura variará a depender da ótica em que seja
analisada a ocorrência ou potencialidade de ocorrência do risco:
relacionada com o lesante (risco criado pela atividade) ou com o
lesado (risco pelo desempenho profissional de determinada atividade
152
controlada por outrem) .
3.3.3. RISCO-PROVEITO
Alvino Lima foi um dos defensores dessa teoria. Para ele, os autores dos
atos,
151
Apud CAMPOAMOR, Marilia Marcondes. op. cit., p. 21.
152
UEDA, Andréa Silva Rasga. op. cit., p. 114.
153
Cf. Ibid., p. 111.
67
154
LIMA, Alvino apud BRANDÃO, Cláudio. op. cit., p. 256.
155
MELO, Raimundo Simão de. op. cit., p. 198.
156
“Qualquer atividade que seja é uma fonte de proveitos, pelo menos moral. Devemos, por isso, declarar que o
homem deve reparar todos os danos que ele provoca? Isso paralisaria qualquer ação pelo medo de uma eventual
responsabilidade”. (Tradução livre)
157
CAVALIERI FILHO, Sérgio. op. cit., p. 167.
68
A teoria do risco criado é a mais recente, tendo sido acolhida pelo Código
Civil através de seu art. 927, parágrafo único. Ela surgiu como um aprimoramento da
teoria do risco-proveito, pois dispensa a necessidade de a atividade ser proveitosa,
ou seja, ela fugiu da polêmica em torno do que seria considerado como proveito. De
acordo com esta teoria, responde civilmente aquele que, por sua atividade ou
profissão, expõe alguém ao risco de sofrer um dano158.
158
Cf. Ibid., p. 168.
159
Ibid., p. 168.
160
RIPERT, George apud CALIXTO, Marcela Furtado. A Responsabilidade civil objetiva no Código Civil
Brasileiro: teoria do risco criado, prevista no parágrafo único do artigo 927. Disponível em:
<http://direito.newtonpaiva.br/revistadireito/docs/convidados/11_13.doc>. Acesso em: 14 set. 2010.
161
MELO, Raimundo Simão de. op. cit., p. 199.
69
162
PEREIRA, Caio Mário da Silva. op. cit., n° 218, p. 270.
163
TRT 9ª Região, 2ª Turma, RO n° 07516-2008-012-09-00-1, Rel.: Des. Márcio Dionísio Gapski, data da
publicação: DEJT 03/12/2010.
70
164
TRT 18ª Região, RO n° 00592-2006-001-18-00-1, Rel.: Des. Marcelo Nogueira Pedra, data do julgamento:
05/09/2006, data da publicação: DJe 29/09/2006.
71
Já o exercício regular do direito (qui jure suo utitur neminem laedit), diz
respeito ao princípio segundo o qual quem faz uso de um direito seu não causa dano
a ninguém. Mas a partir do momento em que o agente exceder o limite desse
exercício, ter-se-á a figura do abuso de direito, este sim passível de indenização168,
consoante Enunciado n° 37 da “I Jornada de Direito Civil”: “a responsabilidade civil
decorrente do abuso do direito independe de culpa e fundamenta-se somente no
critério objetivo-finalístico”169.
165
TRT 9ª Região, 2ª Turma, RO n° 93015-2005-325-09-00-8, Rel.: Des. Márcio Dionísio Gapski, data da
publicação: DEJT 15/06/2010.
166
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: (abrangendo os
Códigos Civis de 1916 e 2002). 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. 4 v. vol. 3. p. 104.
167
No mesmo sentido, GONÇALVES, Carlos Roberto. op. cit., p. 439-441.
168
Cf. PEREIRA, Caio Mário da Silva. op. cit., n° 240, p. 296-297.
169
Disponível em <http://daleth.cjf.jus.br/revista/enunciados/IJornada.pdf>. Acesso em: 8 mai. 2011.
72
Embora a culpa concorrente não exclua por completo o nexo causal entre
a conduta do autor e o dano, ela age como atenuante do dever de indenizar.
170
GONÇALVES, Carlos Roberto. op. cit., p. 453.
73
Quando o ato danoso é praticado por alguém que não seja nem a vítima,
nem o empregador ou seus prepostos, tem-se configurado o fato de terceiro. Neste
caso, “[...] foi a conduta de terceiro que interveio para negar a equação agente-
vítima, ou para afastar do nexo causal o indigitado autor”171. O causador direto do
dano atua apenas como um “instrumento” na relação causal, pois é a ação ou
omissão de terceiro a responsável direta pela ocorrência do prejuízo.
Por último, e não menos importante, estão o caso fortuito e a força maior.
Ainda existe grande confusão doutrinária acerca da diferença exata entre as duas
expressões, confusão meramente terminológica, pois ambas ensejam os mesmos
efeitos excludentes de responsabilidade. Tanto é assim que art. 393, parágrafo
único, do Código Civil, do mesmo modo que alguns autores, como Carlos Roberto
Gonçalves e Silvio Rodrigues, preferem se abster de traçar distinções entre os dois
institutos174.
171
PEREIRA, Caio Mário da Silva. op. cit., n° 243, p. 301.
172
TJRJ, 18ª Câmara Cível, Ap. Cív. n° 2004.001.11402, Rel.: Des. Jorge Luiz Habib, data do julgamento:
06/07/2004, data da publicação: 02/08/2004.
173
Cf. GONÇALVES, Carlos Roberto. op. cit., p. 444-447.
174
Cf. Ibid., p. 451; RODRIGUES, Silvio. Direito civil. 29. ed. atual. de acordo com o novo Código Civil (Lei n.
10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2003. 7 v. vol. 4. p. 288.
74
O art. 501 da CLT ainda define a força maior como sendo “todo
acontecimento inevitável, em relação à vontade do empregador, e para a realização
do qual este não concorreu, direta ou indiretamente”, o que a nosso ver trata-se de
uma definição genérica que também abrangeria o caso fortuito, dado o caráter
também inevitável deste.
175
Cf. CAVALIERI FILHO, Sérgio. op. cit., p. 91.
176
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. op. cit., p. 111.
177
Caio Mário adota posicionamento contrário, definindo caso fortuito como evento imprevisto derivado da
natureza, e força maior como acontecimento humano irresistível, imprevisível e exterior (Cf. PEREIRA, Caio
Mário da Silva. op. cit., n° 244, p. 302-305).
178
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. op. cit., p. 152.
75
179
TRT 5ª Região, 6ª Turma, RO n° 0118840-13.2005.5.05.0621, Rel.: Juiz Het Jones Rios, data do julgamento:
24/10/2006, data da publicação: DJe 01/11/2006.
76
180
TRT 10ª Região, 1ª Turma, RO n° 0124900-10.2004.5.10.0811, Rel. Desª. Maria Regina Machado
Guimarães, data do julgamento: 07/12/2005, data da publicação: DJ 16/12/2005
181
PLÁ RODRIGUEZ, Américo. Princípios de direito do trabalho. Tradução de Wagner D. Giglio. São Paulo:
LTr, 1994. p. 15.
77
como o princípio maior, que justifica o próprio surgimento desse ramo jurídico. De
acordo com Arnaldo Süssekind:
182
SÜSSEKIND, Arnaldo. Natureza jurídica e princípios do direito do trabalho. In: SÜSSEKIND, Arnaldo;
MARANHÃO, Délio; VIANNA, Segadas. Instituições de direito do trabalho. 12. ed. São Paulo: LTr, 1991. 2 v.
vol. 1. p. 128.
183
SILVA NETO, Manoel Jorge e. Curso de direito constitucional do trabalho. São Paulo: Malheiros, 1998. p.
117.
184
Cf. BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2006. p.
173.
78
185
Esse princípio não se aplica aos acordos e convenções coletivas e à senteça normativa, dado o caráter
temporário dessas fontes normativas, conforme entendimento constante na Súmula n°277 do TST: “As condições
de trabalho alcançadas por força de sentença normativa vigoram no prazo assinado, não integrando, de forma
definitiva, os contratos”.
186
PLÁ RODRIGUEZ, Américo. op. cit., p. 43.
187
Cf. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito do
trabalho; relações individuais e coletivas do trabalho. 24. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 387.
188
“Art. 3°: A empresa responsável pelo contrato de trabalho do empregado transferido assegurar-lhe-á,
independentemente da observância da legislação do local da execução dos serviços: I - omissis; II - a aplicação
da legislação brasileira de proteção ao trabalho, naquilo que não for incompatível com o disposto nesta Lei,
quando mais favorável do que a legislação territorial, no conjunto de normas e em relação a cada matéria”. Cf.
BARROS, Alice Monteiro de. op. cit., p. 169.
79
189
PLÁ RODRIGUEZ, Américo. op. cit., p. 54.
80
190
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. op. cit., p. 525.
191
MORAES, Mônica Maria Lauzid de. O direito à saúde e segurança no meio ambiente do trabalho: proteção,
fiscalização e efetividade normativa. São Paulo: LTR, 2001. p. 25.
81
Conforme já dissemos nos itens 3.2. e 3.3.4., supra, o art. 927, parágrafo
único, do Novo Código Civil, inseriu em nosso ordenamento jurídico uma cláusula
geral de responsabilidade objetiva fundada na teoria do risco criado. Através dela,
quando um dano origina-se de atividade normalmente desenvolvida pelo autor, cuja
natureza cria risco para os direitos de outrem, não há mais a necessidade de
constatação de culpa do autor, que passa a responder objetivamente.
O art. 7°, XXVIII, da Constituição, por sua vez, assegura como direito dos
trabalhadores o recebimento de “seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do
empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer
em dolo ou culpa” (grifamos).
192
BARROS, Alice Monteiro de. op. cit., p. 1022.
193
Cf. SANTOS, Marco Fridolin Sommer. Acidente do trabalho entre a seguridade social e a responsabilidade
civil. 2.ed. São Paulo: LTr, 2008. p. 92-93.
82
194
Cf. BRANDÃO, Cláudio. op. cit., p. 317-318.
195
RUI STOCCO apud MELO, Raimundo Simão de. op. cit., p. 268.
196
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: (abrangendo os
Códigos Civis de 1916 e 2002). 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. 4 v. vol. 3. p. 273.
83
197
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Meio ambiente do trabalho: direito, segurança e medicina do trabalho.
São Paulo: Método, 2006. p. 48. No mesmo sentido: MARTINS, Adalberto. Manual didático de direito do
trabalho. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 301. GAGLIANO, Pablo Stolze. A responsabilidade
extracontratual no novo Código Civil e o surpreendente tratamento da atividade de risco. Repertório de
Jurisprudência. IOB. Caderno 3. Civil, Processual, Penal e Comercial, São Paulo, n. 19/2002, p. 530, 1ª
quinzena de outubro de 2002.
198
TRT 3ª Região, 6ª Turma, RO n° 00874-2007-147-03-00-7, Rel.: Des. Ricardo Antônio Mohallem, data do
julgamento: 11/02/2008, data da publicação: DJ 21/02/2008. (grifamos)
84
199
TST, 4ª Turma, RR 183200-64.2006.5.12.0026, Rel.: Min. Antônio José de Barros Levenhagen, data do
julgamento: 15/10/2008, data da publicação: DEJT 24/10/2008. (grifamos)
200
TST, 5ª Turma, RR 137640-16.2005.5.19.0002, Rel.: Min. João Batista Brito Pereira, data do julgamento:
24/09/2008, data da publicação: DEJT 10/10/2008.
85
201
MELO, Raimundo Simão de. op. cit., p. 273.
202
STF, Pleno, MC em ADI n° 639-8/DF, Rel.: Min. Moreira Alves, data do julgamento: 13/04/1992, data da
publicação: DJ 22/05/1992.
203
STF, 2ª Turma, AI n° 529.694-1-RS, Rel.: Min. Gilmar Mendes, data do julgamento: 15/02/2005, data da
publicação: DJ 11/03/2005.
204
MELO, Raimundo Simão de. op. cit., p. 258.
86
205
TST, 3ª Turma, RR n° 171800-44.2008.5.08.0107, Rel.: Min. Horácio Raymundo de Senna Pires, data do
julgamento: 23/03/2011, data da publicação: DEJT 01/04/2011.
206
TST, 6ª Turma, E-RR n° 9951600-44.2005.5.09.0093, Rel.: Min. Maria de Assis Calsing, data do julgamento:
4/11/2010, data da publicação: DJ 12/11/2010.
87
207
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Meio ambiente do trabalho hígido como direito fundamental e
responsabilidade civil do empregador. Revista do Ministério Público do Trabalho. Ano 20, n.39 (mar. 2010).
Brasília: LTr, 2010. p. 285-305. p. 301.
88
208
MELO, Raimundo Simão de. op. cit., p. 150-151.
209
TRT 12ª Região, 1ª Turma, RO n° 0000077-70.2010.5.12.0043, Rel.: Desª. Águeda Maria L. Pereira, data do
julgamento: 01/03/2011, data da publicação: 01/04/2011.
210
TRT 9ª Região, 2ª Turma, RO n° 78233-2006-670-09-00-2, Rel.: Des. Rosemarie Diedrichs Pimpão, data da
publicação: DEJT 30/07/2010.
89
211
TST, 1ª Turma, RR n° 42200-87.2004.5.05.0011, Rel.: Min. Lelio Bentes Corrêa, data do julgamento:
17/12/2008, data da publicação: DEJT 20/03/2009.
90
212
TST, 1ª Turma, RR n° 94600-70.2006.5.12.0025, Rel.: Min. Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, data do
julgamento: 17/12/2008, data da publicação: DEJT 20/02/2009. (grifamos)
213
Disponível em: <www.anamatra.org.br/jornada/enunciados/enunciados_aprovados.cfm>. Acesso em: 11 abr.
2011.
91
214
AREOSA, João. Riscos e acidentes de trabalho: inevitável fatalidade ou gestão negligente? Revista Sociedade
e Trabalho, Lisboa, n. 19-20, p. 31-44, jan./ago. 2003. Disponível em: <http://www.segurancaetrabalho.com.br/
download/acidentes-areosa.pdf>. Acesso em: 15 set. 2010. p. 34.
215
PEREIRA, Caio Mário da Silva. op. cit., n° 224 p. 279.
216
BENTO DE FARIA apud BRANDÃO, Cláudio. op. cit., p. 288.
217
AREOSA, João. op. cit., p. 35.
92
sendo, portanto, inerente ao trabalho, e sim à própria vida (por exemplo, escorregar
e cair, sofrer um corte, ser assaltado). Já o risco específico é aquele a que está
sujeito o obreiro em função da própria natureza do trabalho que lhe cabe fazer,
como no caso de um empregado que trabalha no interior de uma mina, submetido a
temperatura e umidade superiores aos níveis da superfície, o que pode resultar em
maior incidência de doenças respiratórias.
Por esse motivo, o risco gerado pela atividade do agente que enseja a
aplicação da responsabilidade objetiva por se enquadrar na teoria do risco criado,
“precisa ser diferenciado, especial, particular, destacado”219, pois se ele estiver
presente em igual intensidade em toda e qualquer atividade (risco genérico), não há
como invocar o art. 927, parágrafo único, CC, que estabelece que a atividade que
implica risco deve fazê-lo em razão de sua natureza. Afinal, se toda e qualquer
prática de atos produzir determinado risco em maior ou menor escala, haveria uma
banalização da responsabilidade objetiva e o fim do sistema de aferição da
culpabilidade.
218
MARTINEZ NETO apud BRANDÃO, Cláudio. op. cit., p. 292.
219
GODOY, Cláudio Luiz Bueno de. op. cit., p. 97.
93
riscos químicos (poeiras, gases, vapores, ácidos); riscos biológicos (vírus, bactérias,
protozoários, fungos); riscos ergonômicos (decorrentes de esforço físico, ritmos
elevados de trabalho, postura inadequada, trabalho noturno, jornadas prolongadas,
monotonia e repetitividade de funções); riscos resultantes do meio e dos
equipamentos utilizados (máquinas sem proteção, ferramentas defeituosas,
iluminação e ventilação insuficientes); e riscos advindos de fatores individuais de
propensão (cansaço físico e psicológico, distração, confiança excessiva no trabalho
executado, assédio moral, conflitos interpessoais nas relações de trabalho) 220.
220
Cf. AREOSA, João. op. cit., p. 40.
221
Cf. Ibid., p. 39-40.
222
TRT 18ª Região, 1ª Turma, RO n° 03759-2009-171-18-00-8, Rel.: Des. Júlio César Cardoso de Brito, data do
julgamento: 30/06/2010, data da publicação: DJe 07/07/2010.
94
223
Cf. MELO, Raimundo Simão de. op. cit., p. 209.
224
PAMPLONA FILHO, Rodolfo. op. cit., p. 15.
95
225
A Lei n° 7369/85 estendeu aos eletricitários o direito ao percebimento do adicional de periculosidade.
226
RAMOS, Izabel Christina Baptista Queiróz. Responsabilidade civil do empregador por acidente de trabalho:
teoria do risco e a teoria subjetiva da CF/88. Revista do Ministério Público do Trabalho do Rio Grande do Norte,
Natal, n. 8, p. 105-121, nov. 2008. p. 118.
227
MELO, Raimundo Simão de. op. cit., p. 183
228
Cf. BRANDÃO, Cláudio. op. cit., p. 359-361; MELO, Raimundo Simão de. op. cit., p. 209; SALIM, Adib
Pereira Netto. op. cit., p. 11.
96
229
CAMPOAMOR, Marilia Marcondes. op. cit., p. 25
97
na teoria do risco criado. Do mesmo modo como ela já tem admitido em alguns
casos a presença de agentes insalubres e perigosos reconhecidos pela perícia, a
despeito de não estarem incluídos nas NRs nos 15 e 16 do MTE231, a necessidade de
previsão estritamente legal para que uma atividade seja considerada de risco tem
sido aos poucos mitigada.
230
Disponível em: <www.anamatra.org.br/jornada/enunciados/enunciados_aprovados.cfm>. Acesso em: 11 abr.
2011.
231
“ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. ATIVIDADE NÃO ENQUADRADA COMO SENDO DE
PERICULOSIDADE. POSSIBILIDADE DO RECONHECIMENTO DO TRABALHO EM CONDIÇÕES DE
PERICULOSIDADE MESMO ASSIM. Não será pela simples ausência de enquadramento de determinada
atividade, por parte da autoridade responsável, como sendo de periculosidade, que não se poderá reconhecer a
existência de trabalho em condições de periculosidade, deferindo-se ao obreiro o respeitante adicional, tendo
por fundamento o quanto disposto nos artigos 3°, III e IV, e 7º, XXII, da CF/88. Tal como certos catequistas, que
não se separam jamais dos textos sagrados e de seus ensinamentos, deve o aplicador da lei ter sempre em mente
– e sob as vistas, e sob as mãos – o texto constitucional” (TRT 15ª Região, 3ª Turma, RO n° 0031900-
93.2004.5.15.0009, Rel.: Des. Francisco Alberto da Motta Peixoto Giordani, data do julgamento: 25/04/2006,
data da publicação: DJ 05/05/2006).
232
BRANDÃO, Cláudio. op. cit., p. 276.
98
este arcar com os riscos por ela produzidos, a teor do que dispõe o
233
art. 2º da CLT .
Por isso, a lei é importante apenas para traçar as normas gerais acerca
do conceito de risco e de quais formas ele se manifesta, mas é o julgador, a nosso
ver, quem tem maior capacidade de aferir com precisão, tendo em vista sua sintonia
com a atualidade e as necessidades sociais, se determinada atividade enseja a
aplicação da teoria do risco criado.
4.6. PERSPECTIVAS
233
TRT 5ª Região, 4ª Turma, RO n° 0070000-90.2007.5.05.0462, Rel.: Desª. Nélia Neves, data do julgamento:
17/06/2010, data da publicação: DJ 22/07/2010.
234
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: atualizada de acordo com o Código Civil de 2002: estudo
comparado com o Código Civil de 1916. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. 7 v. vol. 4. p. 15.
235
MELO, Raimundo Simão de. Dignidade humana e meio ambiente do trabalho. Boletim Científico: Escola
Superior do Ministério Público da União. Ano 4, n.14 (jan./mar., 2005). Brasília: ESMPU, 2005. p. 87-108. p.
95.
99
236
UEDA, Andréa Silva Rasga. op. cit., p. 18.
237
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. op. cit., p. 122.
100
CONCLUSÃO
Entretanto, vimos que o Novo Código Civil, através de seu art. 927,
parágrafo único, instituiu em nosso sistema jurídico uma cláusula geral de
responsabilidade civil, fundada na teoria do risco criado, que estabelece que quem
desenvolve uma atividade por sua natureza produtora de um risco aos direitos de
outrem, tem o dever de indenizar independentemente da configuração de culpa.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, José Carlos Moreira. Direito romano. 13. ed. rev. Rio de Janeiro: Forense,
2000. 2 v. vol. 2.
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. 2. ed. rev. e ampl. São
Paulo: LTr, 2006. 1351 p.
CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. 32. ed. atual.
por Eduardo Carrion. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 177-178.
104
________.________. 35. ed. atual. por Eduardo Carrion. São Paulo: Saraiva, 2010.
p. 194-223.
COSTA, Hertz Jacinto. Manual de acidente do trabalho. 4. ed. rev. e atual. São
Paulo: Juruá, 2009. 400 p.
COSTA, Mário Júlio de Almeida. Direito das obrigações. 9. ed. rev. e aum. Coimbra:
Almedina, 2001. 1070 p.
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 6. ed. São Paulo, LTr,
2007. 1478 p.
DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. 10. ed. rev. e aum. Rio de Janeiro:
Forense, 1995. 2 v.
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil:
(abrangendo os Códigos Civis de 1916 e 2002). 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. 4
v. vol. 3. 382 p.
GODOY, Cláudio Luiz Bueno de. Responsabilidade civil pelo risco da atividade. São
Paulo: Saraiva, 2009. 178 p. (Col. Prof. Agostinho Alvim).
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 4. ed. rev. e atual. São Paulo:
Saraiva, 2009. 7 v. vol. 4, 537 p.
________. Responsabilidade civil. 6. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 1995.
686 p.
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. 10. ed. rev e atual. Niteroi,
RJ: Impetus, 2007. 762 p.
KWITKO, Airton. FAP e NTEP: as novidades que vêm da previdência social. São
Paulo: LTr, 2008. 93 p.
LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. 3. ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. 5 v. vol. 2.
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário. São Paulo: LTr, 1998.
t. 2. 797 p.
MAZEAUD, Henri, Leon et Jean; CHABAS, François; JUGLART, Michel de. Leçons
de droit civil. 6. ed. Paris: Montchrestien, 1978, t. 2, vol. 1, 1294 p.
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. 35. ed. atual. São Paulo:
Saraiva, 1997. 6 v. vol. 3.
MORAES, Mônica Maria Lauzid de. O direito à saúde e segurança no meio ambiente
do trabalho: proteção, fiscalização e efetividade normativa. São Paulo: LTR, 2001.
190 p.
MUKAI, Toshio. Responsabilidade civil objetiva por dano ambiental com base no
risco criado. Disponível em: <http://www.oab.org.br/comissoes/coda/files/artigos/
%7B2A131C28-7CA1-4DF1-8A5D-5FD2A6E457B0%7D_Responsabilidade%20civil
%20objetiva%20por%20dano%20ambiental%20com%20base%20no%20risco%20cr
iado.pdf>. Acesso em: 16 set. 2010.
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 17. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2002. 6 v. vols. 1 e 4.
RODRIGUES, Silvio. Direito civil. 29. ed. atual. de acordo com o novo Código Civil
(Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2003. 7 v. vol. 4.
SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das leis do trabalho: comentada. 40. ed. São
Paulo: LTr, 2007. 1352 p. p. 208-282.
SANTOS, Nivaldo dos. Monografia jurídica. Goiânia: AB, 2000. 121 p. (Col. Curso de
Direito).
TRABUCCHI, Alberto. Istituzioni di diritto civile. 36. ed. Padova: CEDAM, 1995. 918
p.
109
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: atualizada de acordo com o Código Civil de
2002: estudo comparado com o Código Civil de 1916. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
7 v. vol. 4.