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ESTABILIDADE PROVISÓRIA ACIDENTÁRIA: UM


ANÁLISE DA SÚMULA 378 DO C. TST A PARTIR DO
CONCEITO LEGAL DE INCAPACIDADE

Gisele de Castro e Silva

No presente artigo pretende-se uma específica a respeito do tema. Tal situação


breve análise a respeito do instituto jurídico da exige do operador do Direito uma análise
estabilidade provisória do empregado segurado atenta e abrangente para que, extraindo dos
urbano, visando mais especificamente, diversos diplomas legais pertinentes, forme um
compreender o conteúdo da Súmula 378 do c. cenário dotado de completude e que integre
TST e as suas consequências no plano fático e os diversos ramos do Direito que encontram,
jurídico. na matéria acidentária, um de seus pontos
Para tanto, aborda-se inicialmente o de intersecção. A complexidade é um fator
conceito de acidente do trabalho lato sensu inerente a esse tipo de relação merecendo a
com base na legislação brasileira e na doutrina atenção e o estudo dos operadores do Direito.
correspondente para, em seguida, dedicar-se à Um dos desafios iniciais neste esforço
ideia de incapacidade laboral e seu tratamento jurídico é a conceituação de acidente do
legal para, finalmente, chegar à abordagem trabalho. Sebastião Geraldo de Oliveira (2014:
específica da estabilidade acidentária contida 44), destacando a dificuldade conceitual,
na Lei 8.213/91 e à interpretação e aplicação com base no texto da Lei 8.213/91, expõe o
dadas pela Súmula 378 do c. TST. seguinte:
(...) a lei definiu apenas o acidente
de trabalho em sentido estrito,
1. Acidente do Trabalho lato sensu
também denominado acidente
típico ou acidente-tipo. No entanto,
A matéria relativa aos infortúnios acrescentou outras hipóteses que
laborais e suas consequências encontra-se se equiparam ao acidente típico
pulverizada no ordenamento jurídico pátrio, para os efeitos legais. Isso porque a
incapacidade também pode surgir por
não existindo, atualmente, uma legislação
fatores causais que não se encaixam

Gisele de Castro e Silva

Analista Judiciário do TRT da 9a Região. Bel em Direito pela Faculdade de Direito de Curitiba,
Especialista em Sociologia Política pela UFPR, em Teoria Geral do Direito pela UNIBRASIL e em
Capacitação para Assessoramento na Jurisdição Trabalhista pela UNIBRASIL. Mestranda em
Desenvolvimento Humano pela FLACSO - Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales - Argentina.

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Reforma Trabalhista II
IV
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diretamente no conceito estrito de reside no fato de que Direito Previdenciário


acidente do trabalho (...). e Direito do Trabalho, embora guardem
diversos temas comuns, fornecem a tais temas
O Ministro do c. TST Cláudio Mascarenhas enfoques distintos. Se de um lado, o Direito
Brandão destaca que a matéria relativa aos do Trabalho tem por foco a regulação das
infortúnios laborais encontra regramento, na relações entre capital e trabalho sempre com
maior parte de seus aspectos, fora do âmbito vistas à promoção da dignidade humana e
da CLT (2015: 128): procurando equilibrar-se dentro das propostas
principiológicas da Constituição da República
As regras de infortunística encontram-
de 1988, o Direito Previdenciário regula as
se disseminadas nos benefícios da
Previdência Social, o que contribui não relações entre os particulares e o Estado
apenas para dificultar a sua aplicação, enquanto provedor de Seguridade Social e
produzindo resultados negativos, objetivamente garantidor de saúde, assistência
como também para alterar o alvo da e previdência. Passada essa ressalva, conclui-se
proteção que deveria observar, em
que o operador do Direito do Trabalho no Brasil
primeiro lugar, a saúde do trabalhador
acidentado e o ressarcimento justo. deve, indubitavelmente, beber diretamente da
fonte do Direito Previdenciário para analisar
Diante de tais circunstâncias é que algumas das repercussões trabalhistas de tais
a doutrina e a jurisprudência trabalhistas ocorrências.
debruçam-se sobre o assunto. Passa-se, assim, De acordo com o supramencionado artigo
à análise dos dispositivos legais pertinentes. 19, acidente de trabalho é o evento que atinge
O art. 19 da Lei 8.213/91 prescreve que: o empregado quando este está a serviço do
empregador e que lhe causa “lesão corporal ou
Art. 19. Acidente do trabalho é o que perturbação funcional” que culmine com seu
ocorre pelo exercício do trabalho a falecimento ou com prejuízo da sua capacidade
serviço de empresa ou de empregador laborativa de forma total (perda) ou parcial
doméstico ou pelo exercício do trabalho
(redução) tanto de forma permanente quanto
dos segurados referidos no inciso VII
do art. 11 desta Lei, provocando lesão temporária. Ainda que o texto do artigo 19 da Lei
corporal ou perturbação funcional 8.213/91 não qualifique o acidente de trabalho
que cause a morte ou a perda ou ali conceituado como “evento único e súbito”,
redução, permanente ou temporária, é comum encontrar esta definição na doutrina
da capacidade para o trabalho
e na jurisprudência com o claro objetivo de
(...).
distinguir o conceito do artigo 19 daquele outro
contido no artigo seguinte e que especifica
Dessa forma, na ausência de dispositivos
quais são as doenças que a Previdência Social
a esse respeito na CLT, o operador do direito
considerará como males relacionados ao
no âmbito no Direito do Trabalho deve valer-se
trabalho. Referido artigo estabelece o seguinte:
das balizas fornecidas pela Lei previdenciária
Art. 20. Consideram-se acidente do
supracitada. A dificuldade de dita tarefa trabalho, nos termos do artigo anterior,

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as seguintes entidades mórbidas: doença do trabalho.


A doença profissional, também chamada
I - doença profissional, assim
tecnopatia, nas palavras de Sebastião Geraldo
entendida a produzida ou
desencadeada pelo exercício do de Oliveira (2014: 51): “é aquela típica de
trabalho peculiar a determinada determinada profissão” e que, por isso,
atividade e constante da respectiva considera-se presumida a existência de nexo
relação elaborada pelo Ministério do causal com o trabalho. Em uma lide trabalhista
Trabalho e da Previdência Social;
que discuta a responsabilidade civil do
II - doença do trabalho, assim
entendida a adquirida ou desencadeada empregador a respeito de dita doença, essa
em função de condições especiais em presunção somente poderá ser afastada caso
que o trabalho é realizado e com ele o empregador comprove qual foi a condição
se relacione diretamente, constante da extralaboral a que o empregado ficou exposto e
relação mencionada no inciso I.
que foi efetivamente a causadora desta doença.
§ 1º Não são consideradas como
doença do trabalho: Comumente diz-se que em tais casos inverte- se
a) a doença degenerativa; o ônus probatório em Juízo.
b) a inerente a grupo etário; Neste particular torna-se de especial
c) a que não produza incapacidade interesse um pequeno parêntesis. Assim se
laborativa;
entende, ou seja, pela presunção relativa
d) a doença endêmica adquirida por
segurado habitante de região em que com respeito ao nexo de causalidade entre
ela se desenvolva, salvo comprovação trabalho e doença nas lides trabalhistas porque
de que é resultante de exposição a tecnopatia, ao contrário do que ocorre com
ou contato direto determinado pela a presunção adotada pelo INSS decorrente do
natureza do trabalho.
Nexo Técnico Epidemiológico (NTEP), decorre
§ 2º Em caso excepcional, constatando-
se que a doença não incluída na relação da atividade do empregado. Desse modo,
prevista nos incisos I e II deste artigo quando o art. 20, I, da Lei 8.213/91 refere-se ao
resultou das condições especiais em “exercício do trabalho”, indica especificamente
que o trabalho é executado e com ele as rotinas e as atividades que o empregado
se relaciona diretamente, a Previdência
realiza. Já o NTEP estabelece uma presunção
Social deve considerá-la acidente do
trabalho com base no cruzamento de dados estatísticos
entre o código da doença (CID-10) e o CNAE da
Nas condições estabelecidas no artigo 20 empresa, ignorando as tarefas efetivamente
da Lei 8.213/91 o segurado, e aqui neste estudo, desempenhadas pelo empregado que veio a
o segurado empregado urbano, padece de um adoecer. Feita tal distinção à parte, segue-se
estado patológico causado pelo trabalho, que com a dissecação do contido no artigo 20 da Lei
insidiosamente se instala e afeta seu estado de 8.213/91.
saúde. A doença do trabalho (ou mesopatia)
O texto legal supratranscrito revela duas é a doença que possui origem laboral,
expressões básicas relativamente a tais males mas cuja ocorrência verifica-se também
ou estados patológicos: doença profissional e em outras atividades. Conforme esclarece

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Sebastião Geraldo de Oliveira (2014: 52): imprescindível da incapacidade laborativa


“Seu aparecimento decorre da forma em como consequência para sua conformação e
que o trabalho é prestado ou das condições reconhecimento legais.
específicas do ambiente de trabalho”. Por essa Esta delimitação a respeito da incapacidade
razão, o nexo de causalidade com o trabalho laboral tem fundamento no § 1º do inciso II do
não é presumido e a respeito dele o empregado artigo 20 da Lei 8.213/91 que exclui do conceito
terá que produzir provas. de doença do trabalho aquela que não causa
Por fim, a expressão “doença ocupacional”, incapacidade laboral. Amplia-se para o gênero
segundo Sebastião Geraldo de Oliveira (2014: acidente de trabalho lato sensu dita baliza
52): “passou a ser adotada como o gênero conceitual tendo em vista que o artigo 19 da
mais próximo que abrange as modalidades mesma Lei já prevê que o acidente de trabalho é
das doenças relacionadas com o trabalho”, aquele que causa incapacidade total ou parcial
recordando que tal expressão consta do texto de modo permanente ou temporário. Assim,
da NR-7 do MTE numa acepção de gênero do ainda que não seja o artigo 19 a estabelecer
qual doença profissional e doença do trabalho qual é este período de tempo, não haveria, em
são as espécies1. princípio, justificativa para que o acidente típico
Com base nos artigos 19 e 20 da e a doença do trabalho recebessem tratamento
Lei 8.213/91 é possível traçar a distinção legal distinto neste particular, ficando a
entre acidente típico e doença ocupacional, doença ocupacional delimitada à produção de
denominando a ambos de acidente do trabalho incapacidade e os acidentes não. Necessário
lato sensu. Assim, define-se todo o tipo de aclarar, neste particular, a possibilidade de que
agravo à saúde e à integridade física ou mental ocorram acidentes do trabalho lato sensu que,
que cause incapacidade laborativa. Logo, esse em que pese mereçam da infortunística e das
gênero subdivide-se em 1) acidente de trabalho ciências da saúde a denominação “acidente do
típico ou stricto sensu: ao evento único e súbito trabalho”, para fins legais não o serão porque
relacionado ao trabalho; 2) doença ocupacional, não ocasionaram incapacidade laboral nos
que é a espécie de acidente de trabalho (lato termos da Lei. A título de exemplo mencione-
sensu) que se subdivide em doença profissional se o de um empregado que, em suas funções
e doença do trabalho. Para todos os acidentes venha a sofrer um corte pequeno e superficial
do trabalho lato sensu defende-se o requisito na lateral de um de seus dedos da mão, causado
pelo contato com uma resma de papéis recém
retirados da embalagem. Há, sem dúvida um
1 Diz o item 7.4.3.2 da NR 7, exemplificativamente evento único e súbito causador de uma lesão.
(grifos acrescidos): “no exame médico periódico, de acor- Dita lesão, por sua vez, não incapacita este
do com os intervalos mínimos de tempo abaixo discrimi-
nados: empregado, uma vez que continuará a exercer
a) para trabalhadores expostos a riscos ou a situações as suas atividades normalmente, muitas vezes
de trabalho que impliquem o desencadeamento ou sequer se dando conta do ocorrido ou vindo
agravamento de doença ocupacional, ou, ainda, para
a percebê-lo somente horas depois. Assim, se
aqueles que sejam portadores de doenças crônicas, os
a doença do trabalho é aquela que ocasiona
exames deverão ser repetidos (...)

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incapacidade laboral, também o acidente de sem provocar alarde ou impacto,


trabalho típico requer para sua configuração, ocasionando, meses ou anos depois
de sua ocorrência, danos graves e até
a causação de incapacidade laboral, ainda que
fatais, exigindo-se, apenas, o nexo de
temporariamente. causalidade e a lesividade.
A questão relativa ao intervalo mínimo
de tempo necessário para configurar a Com o uso da expressão “acidente do
incapacidade laboral temporária com fulcro trabalho” como gênero que abrange o acidente
na legislação atual compõe o eixo principal típico e a doença ocupacional, explica Dallegrave
deste estudo e será devidamente analisado na Neto (2014: 332):
sequência.
Antes disso, porém, tem lugar alguns Quando se fala em acidente do trabalho,
apontamentos e excertos doutrinários ainda a está-se diante do gênero que abrange
respeito das noções de acidente típico stricto acidente-tipo; doença ocupacional;
acidente por concausa e acidente por
sensu e doenças ocupacionais.
equiparação legal; respectivamente,
Ao comentar a respeito das repercussões arts. 19, 20 e 21 da Lei n. 8.213/91.
do acidente de trabalho em sentido estrito Todas essas espécies de acidente, uma
observa Sebastião Geraldo de Oliveira (2014: vez tipificadas, produzem os mesmos
49 - destaques acrescidos): efeitos para fins de liberação de
benefícios previdenciários, aquisição
de estabilidade e até mesmo para fins
Quando ocorre um evento sem que
de crime contra a saúde do trabalhador.
haja lesão ou perturbação física ou
mental do trabalhador, não haverá,
tecnicamente, acidente do trabalho. 2. Incapacidade – tratamento legal
Tanto que há expressa menção legal
que não será considerado doença Questão de suma importância para
do trabalho a que não produza o aprofundamento de qualquer reflexão a
incapacidade laborativa. No entanto,
respeito dos acidentes do trabalho e suas
nem sempre a perturbação funcional
é percebida de imediato, podendo repercussões diz respeito ao conceito legal
haver manifestação tardia com real de incapacidade laborativa. Isso porque a Lei
demonstração do nexo etiológico com 8.213/91 fornece balizar precisas sobre o que
o acidente ocorrido. deve ser considerado incapacidade laboral,
estabelecendo assim condicionante para
O Sr. Ministro Cláudio Mascarenhas direitos que o empregado acidentado venha
Brandão acrescenta (2015: 129 - destaques a perseguir administrativa ou judicialmente,
acrescidos): dentre os quais, a estabilidade provisória,
objeto da presente análise.
Trata-se de um evento único, subitâneo,
A respeito da ocorrência de incapacidade
imprevisto, bem configurado no
espaço e no tempo e de consequências como requisito para configuração do acidente
geralmente imediatas, não sendo do trabalho (lato sensu), leciona Cláudia Salles
essencial a violência, podendo ocorrer Vilela Vianna (2015: 22):

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Existir uma incapacidade não significa importância para consolidar conhecimentos


que sempre será necessária a presença necessários ao avanço da análise. A respeito
de afastamento indicado por atestado
do tratamento legal dispensado aos acidentes
médico. É perfeitamente possível,
e cotidiana, inclusive, a situação de típicos e às doenças ocupacionais, reforçando
trabalhadores que sofrem pequenos o argumento anterior a respeito do tratamento
acidentes no local e/ou no exercício legal equivalente para acidentes típicos e
do trabalho e que permanecem doenças, arrematamos com a lição o Min.
trabalhando, mas com restrições
Cláudio Mascarenhas Brandão (2015: 124) ao
impostas pelo serviço médico que
prestou o primeiro socorro. Essa comentar o uso das expressões “acidente do
restrição varia conforme a lesão, mas via trabalho” e “doença ocupacional”:
de regra se limita a não subir escadas,
não carregar peso, não fazer esforço Também é imperioso destacar que a
físico ou algo do gênero, pelo restante distinção conceitual estabelecida é
do dia. Teríamos, nessas hipóteses, de interesse meramente doutrinário,
uma incapacidade temporária para uma vez que o legislador brasileiro
o trabalho sem necessidade de equiparou, para fins de proteção ao
afastamento, o que não afasta, repito, trabalhador, a doença ocupacional ao
a possibilidade de restar caracterizado acidente do trabalho.
o acidente de trabalho.

A aparente natureza repetitiva da ênfase


Observa-se, destarte, que no entender
neste argumenta, revelará sua importância
da mencionada doutrinadora, existe a
conforme se prossegue com a análise e, em
possibilidade de ocorrer incapacidade
temporária que não impeça o exercício de especial, quando se chega ao texto da Súmula
atividade laboral e, portanto, não gere direito 378 do c. TST.
ao benefício previdenciário correspondente Volta-se à questão relativa ao que
porque parcial e se revela em restrições que não se entende por incapacidade com base na
impedem o exercício das atividades. Acrescenta legislação pertinente.
a mencionada autora especificamente sobre a Por imposição do art. 60 da Lei 8.213/91
incapacidade temporária (2015: 97):
os empregados detentores de incapacidade
por período de até 15 dias não terão direito ao
Importa destacar que o benefício
não é pago em razão da doença benefício previdenciário (seja auxílio-doença
ou do acidente em si, mas sim da comum ou acidentário) (destaques acrescidos):
incapacidade que ela proporciona
por um determinado período. A prova Art. 60. O auxílio-doença será devido
médica, portanto, não deve se limitar ao segurado empregado a contar do
ao diagnóstico, mas abranger, também, décimo sexto dia do afastamento
quais as limitações que são impostas ao da atividade, e, no caso dos demais
trabalhador em face de sua existência. segurados, a contar da data do início
da incapacidade e enquanto ele
A conceituação e aclaramentos a respeito permanecer incapaz.
§ 1º Quando requerido por segurado
dos quais se discorreu até aqui são de suma

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afastado da atividade por mais de 30 abranger, também, quais as limitações


(trinta) dias, o auxílio-doença será que são impostas ao trabalhador em
devido a contar da data da entrada do face de sua existência.
requerimento.
§ 3o Durante os primeiros quinze A Instrução Normativa 31/2008 do INSS
dias consecutivos ao do afastamento
também destaca, em seu artigo 10, importância
da atividade por motivo de doença,
da constatação da incapacidade e seu caráter
incumbirá à empresa pagar ao segurado
empregado o seu salário integral. de pressuposto relativamente à concessão de
benefícios por acidente de trabalho, quando
§ 4º A empresa que dispuser de serviço diz:
médico, próprio ou em convênio, terá Art. 10. A existência de nexo de
a seu cargo o exame médico e o abono qualquer espécie entre o trabalho e o
das faltas correspondentes ao período agravo não implica o reconhecimento
referido no § 3º, somente devendo automático da incapacidade para o
encaminhar o segurado à perícia trabalho, que deverá ser definida pela
médica da Previdência Social quando perícia médica.
a incapacidade ultrapassar 15 (quinze) Parágrafo único. Reconhecida pela
dias. perícia médica do INSS a incapacidade
para o trabalho e estabelecido o
(...) nexo técnico entre o trabalho e o
agravo, serão devidas as prestações
A partir da transcrição legal feita acima acidentárias a que o beneficiário tenha
é que se conclui que, se a própria Lei 8.213/91 direito.
em seu artigo 20 estabelece que não serão
considerados acidentes de trabalho aqueles Claro está, portanto, que a incapacidade
que não produzirem incapacidade laboral e, inferior a 16 dias não é considerada acidente
em seu artigo 60 define que o benefício por do trabalho para fins previdenciários. Isso quer
incapacidade denominado auxílio-doença dizer que, um acidente que enseje incapacidade
somente será devido a partir do 16º dia de por período inferior ao legalmente estabelecido
incapacidade, o intervalo de tempo mínimo podem repercutir, por exemplo, na esfera da
para que se considere alguém incapaz responsabilidade civil, podem atrair a incidência
temporariamente a ponto de tal condição de direitos estabelecidos em norma coletiva,
receber reconhecimento legal é 16 dias. etc., mas no âmbito previdenciário não haverá
Nesse sentido leciona Cláudia Salles Vilela repercussão.
Vianna (Acidente do Trabalho p. 205):
3. Estabilidade Provisória
Importa destacar que o benefício não é
pago em razão da doença ou do acidente Sob tais premissas legais e doutrinárias
em si, mas sim da incapacidade que
passa-se à análise do tema relativo à estabilidade
ela proporciona por um determinado
provisória acidentária cuja previsão legal
momento. A prova médica, portanto,
não deve se limitar ao diagnóstico, mas encontra-se no art. 118 da Lei 8.213/91:

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Art. 118. O segurado que sofreu se a constatação ou não da incapacidade e,


acidente do trabalho tem garantida, por vezes, informações, dados e especificações
pelo prazo mínimo de doze meses,
relevantes para o enquadramento podem ficar
a manutenção do seu contrato de
trabalho na empresa, após a cessação de fora desta análise, o que não pode vir em
do auxílio-doença acidentário, prejuízo do empregado segurado quanto aos
independentemente de percepção de direitos trabalhistas que eventualmente possa
auxílio- acidente. vir a postular.
Nesse sentido colhem-se os seguintes
Doutrina e jurisprudência entendem, posicionamentos doutrinários (destaques
majoritariamente, que a falta de enquadramento acrescidos):
acidentário por parte do INSS, ou seja,
quando esta Autarquia não reconhece que a “o fundamento teleológico dessa
incapacidade advém do trabalho, nem sempre garantia de emprego não é o
se afastará o direito previsto no artigo 118 da recebimento simplesmente do auxílio-
doença acidentário; é o afastamento
Lei 8.213/91. Assim conclui-se, em primeiro
superior a 15 dias ocorrido por
lugar, porque o enquadramento realizado no causa do acidente. A lei não criou
âmbito do INSS possui viés específico podendo, a estabilidade provisória porque o
muitas vezes ocorrer por presunção estatística, empregado recebeu auxílio-doença
conforme ocorre com o NTEP, por exemplo. acidentário e sim porque houve
um afastamento por período mais
Em segundo lugar, porque o artigo 118 da Lei
prolongado, indicando um acidente de
8.213/91 precisa ser lido em consonância com maior gravidade” (Oliveira, 2002: 225).
o artigo 60 do mesmo diploma legal que tipifica “Assim, o artigo 118 da Lei n.
como espécie de benefício por incapacidade o 8.213/91, tem o escopo de dificultar
“auxílio-doença”, não existindo uma subespécie a possibilidade da dispensa do
obreiro, pois raramente o trabalhador
ou uma segunda espécie “gêmea” denominada
acidentado encontraria outro emprego
“auxílio-doença acidentário”. Evidentemente nessas condições. O que acaba
que acrescida a qualificadora acidentária ocorrendo na prática é a dispensa do
ao auxílio-doença, modifica-se o código de operário, preferindo a empresa pagar a
concessão do benefício de B-31 para B-91, indenização do período de estabilidade,
do que reintegrar o acidentado, não
alterando-se também a incidência do FAP e
atingindo-se, pois, o fim colimado pelo
abrindo-se a possibilidade de ajuizamento de
legislador” (Negrini, 2016: 35).
Ação Regressiva por parte do INSS, conforme
artigo 120 da Lei 8.213/91. O enquadramento
Igualmente, no âmbito do c. TST
feito pelo INSS, todavia, depende na maioria
solidificou-se o entendimento de que a
das vezes unicamente da análise feita pelo
concessão de auxílio-doença sob a qualificadora
médico perito no momento em que o segurado
de “acidentário” não é condição sine qua non
se apresenta para a perícia e não está
para que se reconheça o direito à estabilidade
assentado em uma abordagem trabalhista do
provisória do aludido artigo 118 da Lei 8.213/91
infortúnio porque naquele momento prioriza-
(grifos acrescidos):

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ESTABILIDADE PROVISÓRIA. Restou se alicerça no conceito de incapacidade e no


evidenciada a natureza ocupacional artigo 118 da Lei 8.213/91, é que se propõe
das lesões da reclamante, conforme já
uma leitura do texto da Súmula 378, I e II do c.
explicitado em tópico anterior. Ainda,
consta do acórdão recorrido que a TST cuja redação é a seguinte:
reclamante ficou afastada por mais
de 15 dias em razão das patologias, ESTABILIDADE PROVISÓRIA. ACIDENTE
recebendo benefício previdenciário. DO TRABALHO. ART. 118 DA LEI Nº
Embora a autarquia previdenciária 8.213/1991.
tenha concedido auxílio-doença
comum, sem estabelecer o nexo de I - É constitucional o artigo 118 da Lei
causalidade entre as doenças e o nº 8.213/1991 que assegura o direito à
trabalho, ficou comprovada a relação estabilidade provisória por período de
causal após a despedida, conforme 12 meses após a cessação do auxílio-
prova pericial. Assim, a decisão doença ao empregado acidentado.
recorrida está em conformidade II - São pressupostos para a concessão
com o disposto na Súmula nº 378 da estabilidade o afastamento superior
do TST. Óbice da Súmula nº 333/TST. a 15 dias e a conseqüente percepção
Agravo de instrumento conhecido do auxílio-doença acidentário, salvo
e não provido. 4. INDENIZAÇÃO se constatada, após a despedida,
POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. doença profissional que guarde relação
VALOR DA INDENIZAÇÃO. A Corte de de causalidade com a execução do
origem manteve o montante fixado contrato de emprego. (primeira parte
pela primeira instância, salientando - ex-OJ nº 230 da SBDI-1 - inserida em
a observância à extensão do dano, 20.06.2001)
às circunstâncias do caso, à situação
econômica da reclamada e à condição III – O empregado submetido a
da reclamante. Considerando os contrato de trabalho por tempo
parâmetros citados, e não se tratando determinado goza da garantia
de montante exorbitante ou irrisório, provisória de emprego decorrente de
descabe falar em violação dos artigos acidente de trabalho prevista no art.
884 e 944 do Código Civil. Não houve 118 da Lei nº 8.213/91.
manifestação do Tribunal Regional
quanto a danos materiais (pensão Na Súmula supratranscrita as expressões
mensal), razão pela qual incide o
“empregado acidentado” no inciso I e “acidente
disposto na Súmula nº 297 desta Corte.
Agravo de instrumento conhecido e de trabalho” no inciso III encontram-se em suas
não provido. Processo: AIRR - 1298- acepções genéricas, ou seja, fazem referência
96.2013.5.03.0152 Data de Julgamento: ao acidente do trabalho enquanto gênero, ou
27/09/2017, Relatora Ministra: Dora acidente do trabalho lato sensu.
Maria da Costa, 8ª Turma, Data de
Destaque-se, em adição, o uso da
Publicação: DEJT 29/09/2017.
expressão “doença profissional” no item II da
referida Súmula que evidentemente, refere-se
4. A Súmula 378 do c. TST
na verdade, à expressão “doença ocupacional”.
Assim se entende tendo em vista que a Súmula
E sob o enfoque até aqui exposto, que

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não poderia restringir de modo tão rigoroso que o reclamante preencheu os


e abrupto a incidência do art. 118 da Lei pressupostos para o reconhecimento da
garantia provisória de emprego. Consta
8.213/91, limitando os pressupostos que o
do julgado que ficou “comprovado
próprio verbete elenca apenas aos empregados o acidente do trabalho típico (CAT a
vítimas de tecnopatias e criando tratamento f. 28), bem como o afastamento do
jurídico desigual injustificadamente. reclamante por prazo superior a quinze
Ainda com relação ao item II da Súmula, dias, considerando os três atestados
médicos juntados ao feito”. Destacou
com base nos diversos excertos doutrinários
a Corte de origem que a ausência de
e legais acima transcritos e, considerando a percepção do benefício previdenciário
ideia de incapacidade para fins previdenciários, não tem o condão de afastar o direito
entende-se que o empregado cuja doença à garantia provisória de emprego
teve a sua origem ocupacional confirmada apenas pelo fato de o reclamante não
ter requerido o benefício ao INSS,
somente após a demissão deve, assim como o
porquanto, apesar da ausência do
empregado cujo nexo entre doença e trabalho e requerimento, ele tinha o direito ao
verificado na constância do vínculo, comprovar a benefício, uma vez que ficou afastado
necessidade de afastamento de suas atividades de suas atividades por prazo superior
por período superior a 15 dias. a 15 dias. Assim, não cabe falar em
contrariedade à Súmula n° 378, item II,
Ainda que o empregado não comprove
do TST, pois esta Corte superior adota o
documentalmente o percebimento do entendimento de que é desnecessária
benefício previdenciário, o reconhecimento da a percepção do auxílio doença para
pretendida estabilidade provisória é possível o reconhecimento da estabilidade.
se houver prova de que durante ou após o Nesse contexto, qualquer rediscussão
acerca do tema, no sentido de que o
pacto laboral, em razão da doença debatida,
reclamante não ficou afastado por mais
houve incapacidade por mais de 15 dias. A esse de 15 dias como pretende o recorrente,
respeito, acrescente-se, é a parte autora quem para adoção de entendimento
detém a aptidão para a prova, trazendo aos contrário àquele sustentado pelo
autos atestado médico que indique afastamento Regional, implicaria, inevitavelmente,
o reexame da valoração dos elementos
superior a 15 dias ou a carta de concessão de
de prova produzidos feita pelas esferas
benefício do INSS. ordinárias, o que é vedado nesta fase
Nesse sentido a seguinte ementa (grifos recursal de natureza extraordinária,
acrescidos): nos termos do que preconiza a Súmula
nº 126 do TST (precedentes). Agravo de
AGRAVO DE INSTRUMENTO EM instrumento desprovido. (AIRR - 141-
RECURSO DE REVISTA. RECURSO DE 78.2012.5.15.0091, Relator Ministro:
REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA José Roberto Freire Pimenta, Data de
DA LEI Nº 13.015/2014. ACIDENTE DE Julgamento: 30/08/2017, 2ª Turma,
TRABALHO. GARANTIA DE EMPREGO. Data de Publicação: DEJT 08/09/2017)
AFASTAMENTO POR PRAZO SUPERIOR
A 15 DIAS. No caso, o Regional, A parte final do inciso II da Súmula 378
com base nas provas dos autos, concluiu do c. TST visa contemplar com o direito à

208
Reforma Trabalhista IV
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estabilidade o empregado que constata a é possível o enquadramento na segunda


doença após a demissão ou que já tinha ciência parte do item II da Súmula 378 do c. TST,
da doença, mas a incapacidade decorrente dela imaginando-se os casos de acidente típico que
manifestou-se e foi reconhecida pelo órgão cause repercussão na saúde da vítima após
previdenciário (ou contatada por documento a despedida, já que o acidente, apesar de
do médico assistente, excepcionalmente) após evento único e súbito, pode ocasionar sequelas
a demissão. As várias condições fáticas de cada reveladas apenas posteriormente ao evento.
Por outro lado, não se pode admitir que uma
caso concreto nunca dispensarão que da doença
doença ocupacional que nunca, em tempo
ou sequela debatida resulte incapacidade
algum, ocasionou incapacidade laboral por
por período superior a 15 dias, residindo
período superior a 15 dias venha a resultar na
aqui o cerne do posicionamento defendido
concessão, pela via judicial, da estabilidade
no presente artigo. Entendimento contrário
provisória do artigo 118, da Lei 8.213/91. Nestes
permite situações que contrariariam a letra do casos a doença pode ter sido ignorada pelo
art. 118 da Lei 8213/91 e criariam tratamento empregador, uma vez que atestados inferiores a
desigual injustificado entre os empregados 15 dias entregues ao empregador, via de regra,
acidentados. terão o condão somente de abonar faltas e a
Dessa forma, por entender que o doença pode ter passado despercebida durante
fundamento principal da estabilidade provisória o contrato e até mesmo no exame demissional,
acidentária é a incapacidade por período por exemplo.
superior a 15 dias decorrente de acidente De fato, o item II da Súmula em debate
do trabalho lato sensu é que se defende o prevê duas hipóteses em que se reconhece o
posicionamento de que não tem direito à direito à estabilidade provisória, todavia, para
estabilidade provisória o empregado acometido ambas é indispensável que a incapacidade
de mal cujo nexo de causa ou concausa com o tenha ocorrido por período superior a 15 dias,
trabalho foi constatado após o rompimento do com ou sem benefício do INSS. Dado o escopo
vínculo, mas que jamais percebeu benefício do do instituto da estabilidade provisória, que é
INSS e tampouco ficou incapacitado por período de evitar que o empregado acidentado que
superior a 15 dias. Veja-se que posicionamento atenda aos critérios legais de incapacidade
contrário, ou seja, que concede a estabilidade seja demitido justamente no momento de sua
sempre que houver doença ocupacional vida em que a perda do emprego representará
ou sequela de acidente verificados após a maiores prejuízos em sua esfera financeira e
despedida, uma dificuldade de estabelecer pessoal, é que se defende não a obrigatoriedade
parâmetros e de determinar com precisão de fruição do auxílio-doença, mas sim de
o direito que se concede já que não há “alta comprovação de incapacidade por período
médica” para que então se possa dizer qual é superior a 15 dias, seja por meio de documento
o período estabilitário a ser indenizado ou a emitido pelo médico particular ou pela perícia
partir de quando a reintegração é devida. médica realizada no bojo da ação trabalhista.
Note-se que, conforme as observações Nesta última situação, imperioso que o sr.
tecidas no início deste estudo a respeito do Perito esclareça, ao menos por estimativa, por
conceito de acidente típico e suas repercussões, quanto tempo durou a incapacidade, ainda que

209
Reforma Trabalhista IV
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no momento da avaliação pericial o segurado já sua atividade profissional por 16 dias ou mais.
se encontre capaz. Ou seja, o empregado comprova que, apesar
Admite-se que a prova pericial (realizada de não ter usufruído o benefício em comento,
na ação trabalhista na qual se busca o cumpria com todos os requisitos legais para
reconhecimento do direito à estabilidade) tanto, fugindo da competência da Justiça do
estampe a condição de incapaz do empregado Trabalho a perquirição das razões pelas quais o
e viabilize assim a concessão do direito empregado não obteve o benefício (e.g.: se já
perseguido. Destaque-se a insuficiência da era aposentado por tempo de contribuição, se
prova pericial que conclua unicamente pela houve erro do INSS, se houve perda de prazo
atuação do trabalho como causa ou concausa para recurso administrativo, etc.).
da doença x ou da sequela y. Faz-se mister, Ainda a respeito da desnecessidade de
nestes casos, que a prova pericial aprofunde prova de fruição do benefício previdenciário,
sua análise e especifique o quanto for possível recorde-se a situação do empregado
se houve ou não incapacidade nos termos do aposentado por tempo de contribuição, que
artigo 60, caput, da Lei 8.213/91, assim como tenha a sua incapacidade confirmada por
quando e por quanto tempo, já que não perderia seu médico particular e pelo médico perito
o direito o empregado que tenha ficado incapaz em ação trabalhista, mas que jamais terá
por mais de 15 dias e tenha se recuperado e direito ao auxílio-doença do INSS diante da
já se encontre capaz e apto no momento da impossibilidade de acumular os benefícios em
perícia. Considere-se, exemplificativamente, questão.
um processo alérgico causado pelo trabalho. Frise-se, em adição que, nos termos do art.
Caberia ao sr. Perito, ainda que se tenha em 15 da Lei 8.213/91, o benefício previdenciário
conta as dificuldades não apenas do plano por incapacidade pode também ser deferido
da ciência, mas também do plano jurídico- ao segurado que se encontre desempregado
processual, estabelecer não apenas o nexo de dentro do período de graça quando constatada
causalidade, mas também se tal doença é (foi) a incapacidade por 16 dias, no mínimo, pelo
ou não incapacitante e por quanto tempo. que, a dispensa do empregador, ainda que
Tal raciocínio culmina com a conclusão ilegal no caso de empregado incapaz, não obsta
de que a expressão “salvo” contida no item II a fruição do benefício.
da Súmula parece referir-se não a uma exceção Este consiste em um dos principais
ao requisito temporal da incapacidade (por motivos pelo qual o posicionamento do
mais de 15 dias), mas sim, ao recebimento de presente estudo é no sentido contrário aquele
auxílio-doença acidentário sob código B-91, que interpreta a expressão “salvo” contida na
ou seja, tem o escopo de conceder o direito
Súmula 378 do c. TST como um tratamento
à estabilidade provisória ao empregado cuja
excepcional ao empregado demitido que teria o
doença ou sequela que teve o nexo constatado
direito à estabilidade provisória sempre que se
após o rompimento do vínculo e não usufruiu
constate após a demissão a presença de doença
auxílio-doença acidentário, mas que, sempre e
ocupacional ou sequela de acidente típico.
imperiosamente, tenha comprovado o requisito
temporal. Por isso, a incapacidade deve ser De alguns dos julgados mais recentes do
entendida como impossibilidade do exercício de c. TST colhe-se as seguintes interpretações que

210
Reforma Trabalhista IV
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corroboram o posicionamento ora defendido do auxílio-doença acidentário é


(grifos acrescidos): prescindível quando constatada,
após a dispensa, a existência de
incapacidade laboral decorrente
(...) E S TA B I L I D A D E
do contrato de trabalho (Súmula
PROVISÓRIA. ACIDENTE DE
378, II, do TST), o Tribunal Regional,
TRABALHO. INDENIZAÇÃO
na hipótese em exame, registra
SUBSTITUTIVA. O Tribunal Regional
que nem mesmo com base nesse
reformou a sentença para excluir
entendimento é possível falar em
a condenação ao pagamento de
estabilidade provisória. Isso porque a
indenização substitutiva ao período
prova pericial produzida foi conclusiva
estabilitário por entender que a
no sentido de que a autora não é
aplicação do item II da Súmula 378 do
portadora de moléstia profissional
TST depende da demonstração de que
e não apresenta qualquer limitação
à época de sua demissão, o empregado
funcional. Também consigna que: “a
devesse estar afastado de suas funções
reclamante, seja durante o curso do
por doença, o que faria a despedida
contrato, seja após a sua extinção, não
ser fato obstativo do recebimento do
obteve qualquer afastamento junto ao
benefício previdenciário acidentário.
INSS, nem mesmo licença por auxílio-
Entretanto, a jurisprudência do TST é
doença comum, o que demonstra,
no sentido de que para a concessão
a toda evidência, que não houve
da estabilidade basta o afastamento
intenção deliberada do empregador
superior a 15 dias somado à
de impedi-la de obter os requisitos
constatação de que o empregado
exigidos na Lei 8.213/91.”. Ao final
sofreu acidente de trabalho, mesmo
explicita a concussão do laudo pericial
após a sua despedida. No caso, o
no seguinte sentido: “Após realizar o
Tribunal Regional estabeleceu o
Exame Médico Pericial na Requerente
nexo causal entre a doença laboral
concluo ser a mesma portadora de
da reclamante com o trabalho
higidez física mensal e social, sem
desenvolvido na reclamada. Portanto,
déficit laboral nem incapacidade
a decisão regional que não reconheceu
de qualquer tipo para exercer suas
o direito da reclamante à estabilidade
funções habituais. Portanto, não tem
provisória de 12 meses, constante do
a reclamante minusvalia ocupacional”.
art. 118 da Lei 8.213/1991, contrariou
Longe de violar os artigos 21 e 118
a jurisprudência pacífica do TST quanto
da lei 8.213/91, o TRT conferiu-lhes a
ao tema. Contrariedade ao item II da
correta interpretação. (AIRR - 176000-
Súmula 378 do TST. Recurso de revista
58.2005.5.02.0013 , Relatora Ministra:
conhecido e provido. (...) (RR - 60400-
Maria Helena Mallmann, Data de
64.2007.5.02.0030 , Relatora Ministra:
Julgamento: 30/08/2017, 2ª Turma,
Maria Helena Mallmann, Data de
Data de Publicação: DEJT 08/09/2017)
Julgamento: 05/12/2017, 2ª Turma,
Data de Publicação: DEJT 15/12/2017)
(...) REINTEGRAÇÃO. DOENÇA Em adição, colacionam-se alguns
PROFISSIONAL. NÃO VERIFICADAS AS julgados daquela Corte que são referidos como
HIPÓTESES antecedentes do verbete debatido (destaques
DA SÚMULA 378/TST. Embora
acrescidos):
reconhecendo que a percepção
ESTABILIDADE PROVISÓRIA - ARTIGO

211
Reforma Trabalhista IV
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118 DA LEI Nº 8.213/91 - PERCEPÇÃO percepção de auxílio-acidente, para o


DO caso de seqüela. Recurso de Embargos
AUXÍLIO-DOENÇA - Não tem direito provido. Vistos, relatados e discutidos
à estabilidade prevista no artigo 118 estes autos de Embargos em Recurso
da Lei 8213/91 o empregado que, de Revista nº TST-E-RR-174.536/95.2.
tendo sofrido acidente de trabalho, (Ac. SBDI1-2.087/97)
não se afastou de suas atividades ESTABILIDADE PROVISÓRIA. DOENÇA
habituais por mais de 15 dias e, OCUPACIONAL. ARTIGO 118, LEI Nº
conseqüentemente, não percebeu I.213 /91. REQUISITOS. 1.
o auxílio- doença acidentário. Constatado que a doença ocupacional
A percepção de auxílio-doença preexistia à despedida sem justa
acidentário é condição sine qua non causa, a circunstância de o empregado
para adquirir o direito à estabilidade. não obter auxílio-doença acidentário
Não basta a mera ocorrência do não lhe retira direito à estabilidade
acidente, pois este, sozinho, não gera provisória do artigo 118 da Lei nº
direito à estabilidade pretendida. 8.213/91. O essencial é que haja nexo
Recurso de Revista conhecido e não de causalidade entre a moléstia e a
provido. PUBLICAÇÃO: DJ - 09/02/2001 execução do contrato de emprego.
A C Ó R D Ã O (Ac. 5ª Turma) TST- Tal convicção ainda mais se robustece
RR-378.613/97.9. Ministro João Batista se o Tribunal Regional acentua que
Brito Pereira. RR 378613/1997 a empresa não emitiu a devida
ESTABILIDADE PROVISÓRIA - Comunicação de Acidente do Trabalho
ACIDENTADO - ART. 118 DA LEI Nº (CAT), inviabilizando a percepção, pelo
8.213/91 A Autor, do benefício previdenciário. 2.
seguridade social, como estabelecida Afronta ao artigo 896 da CLT e ao artigo
em nosso ordenamento jurídico, 118 da Lei nº 8.213/91 não reconhecida.
visa dar amparo ao trabalhador Embargos não conhecidos. E-RR-
acidentado, de forma a garantir a sua 722.187/01.5,. Rel. Min. João Oreste
sobrevivência durante o período em Dalazen.
que sua debilidade inviabilize suas
condições de trabalho, ainda que com ESTABILIDADE. ART. 118 DA LEI
rendimentos inferiores aos normais. 8.213/91. Segundo o Tribunal
Para proporcionar condições de plena Regional, o implemento da condição
recuperação e o restabelecimento do foi obstado pelo empregador, que,
“status quo” anteriormente existente embora ciente, deixou de comunicar
é que o plano de benefícios da o acidente à Previdência Social. Nessa
Previdência Social, instituído pela Lei hipótese, não se pode condicionar
nº 8.213/91, impôs ao empregador da o direito à estabilidade à percepção
vítima de acidente de trabalho, que tem do auxílio-doença, reputando-se,
responsabilidade social para com esse portanto, verificada a condição,
trabalhador, a vedação excepcional e consoante previsto no art. 129 do
temporária à sua demissão imotivada, atual Código Civil. Do contrário,
dando garantia ao segurado que sofrer estar-se-ia facultando ao empregador
acidente de trabalho da manutenção deixar de comunicar à Previdência
do seu contrato com a empresa, Social o acidente de trabalho, com a
após a cessação do auxílio-doença finalidade de obstar o recebimento
acidentário, independentemente de do auxílio-doença, bem como de

212
Reforma Trabalhista IV
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impedir que o empregado auferisse 721871 ANO: 2001 PUBLICAÇÃO: DJ -


a estabilidade respectiva. Recurso 09/07/2004
de Embargos de que não se conhece.
E-RR-541.463/1999.5,. Rel. Min João NULIDADE DA DISPENSA
Batista Brito Pereira. REINTEGRAÇÃO
ESTABILIDADE PROVISÓRIA. AUXÍLIO ESTABILIDADE ACIDENTÁRIA
DOENÇA. BENEFÍCIO PAGO APÓS VIOLAÇÃO DO ART. 896 DA CLT - A
RESCISÃO Reclamante era portadora de uma
CONTRATUAL. A necessidade de doença profissional, adquirida no
pagamento do auxílio-doença trabalho. Há referência de que a
acidentário no curso do contrato de obreira teve anteriormente outro
trabalho é exigência pretendida pela emprego sem vinculação com a doença
Recorrente, mas não está na lei. O que adquiriu. Segundo as decisões das
art. 118 da Lei nº 8.213/91 deve ter instâncias ordinárias, o Reclamado,
outra leitura, para que se mantenha não obstante tivesse plena ciência que
presente seu espírito de dar proteção a empregada sofria de uma doença
ao portador de doença profissional. profissional, obstou à empregada
Recurso de Embargos conhecido e conquistar o direito ao afastamento
não provido. E-RR-513656/1998.6. formal pelo INSS, pelo período de
Rel. Min. José Luciano de Castilho quinze dias, a que se refere o art. 118
Pereira. PROCESSO: E-RR NÚMERO: da Lei nº 8.213/91, pelo que a dispensa
513656 ANO: 1998 PUBLICAÇÃO: foi obstativa à estabilidade, prevista
DJ - 06/08/2004 PROC. Nº TST-E- legalmente. Se o empregador, como
RR-513656/1998.6 em outras circunstâncias análogas,
impossibilita o empregado de adquirir
RECURSO DE EMBARGOS INTERPOSTO o direito maliciosamente, não há como
PELA RECLAMADA. ESTABILIDADE se impor a ele, ou a qualquer que seja a
ACIDENTÁRIA. NÃO CONCESSÃO DE parte, as conseqüências que adviriam
AUXÍLO-DOENÇA. VIOLAÇÃO DO ART. da aplicação da norma cuja aplicação
896 DA CLT maliciosamente se obstou. Como há
NÃO CONFIGURADA. É corrente o doença profissional constatada, não
entendimento de que ao infrator há necessidade de prévio afastamento,
não é dado alegar em seu proveito a que não é condição indispensável, na
própria torpeza, nem é razoável que hipótese, para a aquisição do direito
o empregado veja obstaculizado o à estabilidade. Um vez constatada a
exercício de seu direito pela incúria enfermidade, a Reclamante deveria
patronal. Assim, fere o bom senso ter sido afastada para gozar do auxílio
a alegação da empresa de que doença, que corresponderia ao auxílio-
o empregado não preencheu os acidente, porque se trata de moléstia
requisitos estabelecidos pelo artigo profissional. Recurso de Embargos não
118 da Lei nº 8.213/91, quando o conhecido. TST-E-RR-734.945/2001.3.
descumprimento de tal requisito Rel. Min. Carlos Alberto Reis de Paula.
resultou da omissão da própria
argüente. Incólume, no caso, o ESTABILIDADE - ART. 118 DA LEI Nº
artigo 896 da CLT. Embargos não 8.213/91 - PERCEPÇÃO DE AUXÍLIO-
conhecidos. Rel. Min. Lelio Bentes DOENÇA
Corrêa. PROCESSO: E-RR NÚMERO: ACIDENTÁRIO - FATOR DETERMINANTE

213
Reforma Trabalhista IV
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DO DIREITO. A exigência de afastamento REQUISITO. O


do empregado para percepção do afastamento do trabalho por prazo
auxílio-doença é fator determinante do superior a 15 dias e a percepção de
direito à estabilidade, conclusão que auxílio-doença acidentário constituem
emana de interpretação teleológica da pressuposto para o deferimento da
norma. Sua razão está no fato de que, garantia de emprego, ao teor do
se o empregado precisou afastar-se disposto no artigo 118 c/c artigo 59 da
do trabalho por período superior a Lei 8.213/91. A falta de comunicação,
15 dias, o acidente foi de gravidade pela empregadora, do acidente de
comprometedora de sua normal trabalho ou moléstia profissional ao
capacidade laborativa na empresa, órgão previdenciário, não constitui
daí fazer jus ao período de adaptação, obstáculo à percepção dos benefícios
com conseqüente restrição ao poder acidentários, frente ao disposto
potestativo de seu empregador de expressamente no artigo 22, § 2º, da
rescindir o contrato. Embargos não mencionada Lei 8.213/91, segundo
providos. E-RR-313.501/96.9. Rel. Min. o qual, “na falta de comunicação por
Milton de Moura França. parte da empresa, pode formalizá-la o
próprio acidentado, seus dependentes,
ESTABILIDADE PROVISÓRIA - ARTIGO a entidade sindical competente, o
118 DA LEI Nº 8.213/91 - O afastamento médico que o assistiu ou qualquer
do autoridade pública”. Revista provida.
trabalho por prazo superior a quinze PROCESSO: RR NÚMERO: 303552 ANO:
dias e a percepção do auxílio-doença 1996 PUBLICAÇÃO: DJ - 12/03/1999.
acidentário constituem pressupostos Rel. Min. Milton de
para o direito à estabilidade prevista Moura França.
no artigo 118 da Lei nº 8.213/91,
assegurada por período de doze meses
A respeito de tais julgados, os seguintes
após a cessação do auxílio-doença.
Ausente um dos requisitos, não faz jus a comentários:
Autora à garantia de emprego. Recurso
de Revista do Reclamado provido. 1) Ainda que não se admita a fruição
RR 650692/2000 PUBLICAÇÃO: DJ -
de auxílio-doença acidentário como condição
24/11/2000. Rel. Min. Wagner Pimenta.
indispensável para a aquisição do direito
Estabilidade Acidentária. O empregado à estabilidade, uma vez que tal pode ter
acidentado somente tem direito à decorrido de erro do INSS, perda de prazos ou
estabilidade provisória prevista pelo outros fatores alheios à vontade do empregado
art. 118 da Lei nº 8.213/91 se recebeu
é importante a lição contida em alguns dos
o auxílio- doença. Caso contrário, não
julgados no sentido de que a mera ocorrência
faz jus à estabilidade acidentária.
Revista conhecida e desprovida. de um acidente de trabalho lato sensu não gera,
PROCESSO: RR NÚMERO: 324972/1996 automaticamente, o direito à estabilidade.
PUBLICAÇÃO: DJ - 03/09/1999 Assim, se a finalidade da estabilidade provisória
Rel. Min. Ricardo M. Ghisi.
é obrigar o empregador a um exercício de
responsabilidade social, ficando proibido de
ESTABILIDADE PROVISÓRIA-
MOLÉSTIA PROFISSIONAL - demitir o empregado acidentado nos 12 meses

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Reforma Trabalhista IV
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seguintes à recuperação de sua capacidade devem estar amparadas nos estritos limites da
laborativa, evidentemente que esta recuperação Lei, sob pena de abarcar situações em que não
decorre de um acidente do trabalho revestido há incapacidade laboral como merecedoras
de uma gravidade mínima a ponto de, ao menos de estabilidade provisória de 12 meses ou de
em tese, suscitar a percepção de benefício por reintegração no emprego, criando um direito
incapacidade, ou seja, que tenha incapacitado efetivamente não previsto em Lei.
o empregado segurado por período superior a
15 dias. Referências
2) Com o devido respeito ao
entendimento em sentido contrário, a não BRANDÃO, Cláudio M.. Acidente do trabalho
emissão de CAT pelo empregador e mesmo e responsabilidade civil do empregador. 4. ed.
a constatação da doença ou sequela após a São Paulo: LTr, 2015.
despedida não obstam a fruição do benefício
previdenciário, nem o reconhecimento por DALLEGRAVE NETO, José Affonso.
meio do médico assistente, da incapacidade Responsabilidade civil no direito do trabalho.
5. ed. São Paulo: LTr, 2014.
por período superior a 15 dias. Em primeiro
lugar porque nos termos do § 2º do artigo 22
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações
da Lei 8.213/91 a CAT pode ser emitida pelo
por acidente do trabalho ou doença ocupacional.
próprio acidentado, seus dependentes, pelo
8. Ed. São Paulo: LTr, 2014.
sindicato, pelo médico que o assistiu ou por
qualquer autoridade pública, especificando o § .
3º que: “A comunicação a que se refere o § 2º Proteção jurídica à saúde do trabalhador. - 4.
não exime a empresa de responsabilidade pela ed. São Paulo: LTr, 2002.
falta do cumprimento do disposto neste artigo”.
Em segundo lugar, conforme já se observou, Negrini, Daniela Aparecida Flausino. Acidente
o artigo 15 da Lei 8.213/91 permite que o do trabalho e suas consequências sociais. São
desempregado guarde a qualidade de segurado Paulo: LTr, 2016.
e possa usufruir de auxílio-doença e também de
sua subespécie acidentária. Com fundamento VIANNA, Cláudia Salles Vilela. Acidente do
nestes dois artigos da Lei 8.213/91 cairia por trabalho: abordagem completa e atualizada.
terra a alegação da concessão da estabilidade São Paulo: LTr, 2015.
provisória sempre que constatada doença ou
sequela após a demissão sem a verificação da .
existência ou não de incapacidade para fins Previdência Social: custeio e benefícios. 3. ed.
previdenciários. São Paulo: LTr, 2013.
3) Ainda que a atitude do empregador
que sonega a emissão de CAT ou que ignora a
ocorrência de um acidente do trabalho mereça
a incidência das consequências cabíveis, estas

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Reforma Trabalhista IV

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