Você está na página 1de 9

É possível o acúmulo dos Adicionais de Insalubridade e Periculosidade pelo

empregado?

Autor: Eduarte Patrício Teixeira

Resumo

Relato visa extrapolar legislação trabalhista acerca da, possibilidade ou não, de


acúmulo dos adicionais de insalubridade e periculosidade de trabalhadores
sujeitos concomitantemente a condições nocivas(insalubridade) a saúde e/ou
de risco a vida e a integridade física(periculosidade), com base na legislação
trabalhista(CLT) e jurisprudência produzida em anos recentes de disputas
trabalhistas.

Introdução

A legislação que regulamenta os dispositivos de adicional de insalubridade e


adicional de periculosidade é a contida na CLT(Consolidação das Leis do
Trabalho) de 1943 na seção XIII tipificadas em seu artigo nº 189 à 196.
O artigo 192 em seu artigo 2° estabelece os percentuais percebidos por
cada um deles, 10%, 20% e 40% para adicionais de insalubridade e 30% para
adicionais de periculosidade.

Adicional de Insalubridade

O adicional de insalubridadetem por objetivo ser um “bônus” salarial,


como uma maneira de compensar uma condição de trabalho com maiores
agravantes à saúde.

As condições que caracterizam um ambiente insalubre não incorrem em


dano a saúde de forma imediata, mas oferece riscos a médio e longo prazo.

Normalmente entende-se que para fazer jus a percepção do adicional de


insalubridade deve-se, mas não de forma contínua, o trabalhador estar sujeito
à condições nocivas a saúda, mas a exposição intermitente(não continuada)
não impede a percepção do adicional de insalubridade.

Como o adicional tem caráter remuneratório, ele integrará todas as


verbas trabalhistas do trabalhador que a ele tiver direito. Como não há lei
específica determinando sua base de cálculo, este será calculado tendo como
base o salário mínimo vigente na ocasião.

Adicional de Periculosidade
A exemplo do que ocorre com a insalubridade o adicional de periculosidade
abrange todos os trabalhadores que, legalmente, se encontram dentro das
situações circunstanciais que o define.

Neste caso específico se aplicará o adicional de periculosidade como


compensação salarial pelo fato do trabalhador executar suas funções em um
ambiente em que arrisca a sua vida.

As atividades perigosas estão elencadas na Norma Regulamentadora


16(NR-16), e será devido adicional de periculosidade a qualquer trabalhador
cuja função e/ou funções esteja contida na Norma regulamentadora 16, que
seja executada de forma contínua e/ou intermitente, mas não de forma
eventual.

A definição de ambiente que acarreta riscos a vida do empregado será


julgada por meio de interpretação das Normas Regulamentadoras do
Ministério do Trabalho e Emprego mediante perícia realizada por médico ou
engenheiro do trabalho.

O adicional de periculosidade refletirá nas verbas salariais contratuais e


rescisórias. Mas uma vez que é uma verba salarial condicionada, isto é,
necessita de uma condição ou circunstância específicapara que ocorra o seu
pagamento, ela não integrará o salário do empregado uma vez que as
condições de trabalho que a originaram deixarem de existir.

Acerca da cumulação dos adicionais o artigo 193 em seu parágrafo 2° diz que o
empregado poderá optar por receber um ou outro, mas não os dois tipos de
adicionais, o que lhe for mais vantajoso.
Histório de Jurisprudências

Os ministros da turma também passaram a citar o artigo 7º da Constituição


Federal, inciso XXIII, que garante o direito ao recebimento dos adicionais
deinsalubridade e periculosidade, sem nenhuma ressalva quanto à cumulação.
Para os ministros, o dispositivo da CLT não estaria recepcionada pela
Constituição.
Segundo a advogada Maria Carolina Seifriz Lima, sócia do escritório Andrade
Maia, apesar de haver algumas decisões que possibilitaram a cumulação dos
adicionais de insalubridade e periculosidade, a Corte Superior do TST não deve
mudar de entendimento tão cedo.
“É possível afirmar que a possibilidade de cumulação dos adicionais de
insalubridade e periculosidade vem ganhando cada vez mais adeptos entre
juízes de primeiro grau e desembargadores dos Tribunais Regionais do
Trabalho. De qualquer sorte, entendo que, no atual cenário, é prematuro
afirmar que há uma tendência de alteração de posicionamento na Corte
Superior, pelo menos enquanto mantida a atual composição dos órgãos do
TST”, afirmou.
Ricardo Calcini, assessor de desembargador e professor da Escola Judicial no
Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (SP), afirma que apesar de
juridicamente ser possível aceitar a tese da cumulatividade dos adicionais, a
decisão gera insegurança jurídica.
“A 3ª Turma do TST contrariou a unificação promovida pela SBDI-1 do TST.
Logo, em tempos em que há uma valorização dos precedentes judiciais, por
força do novo CPC, a decisão acaba por criar uma maior insegurança jurídica,
ainda mais fomentando a litigiosidade”, afirmou.
Insalubridade x penosidade
Em outra decisão recente, a 3ª Turma permitiu o acúmulo de adicionais de
insalubridade e penosidade. Segundo o relator do caso, ministro Alexandre de
Souza Agra, considerando a impossibilidade de se alcançar um ambiente
totalmente isento dos riscos à saúde, o pagamento dos adicionais visa
compensar o risco à saúde e à vida e a integridade do trabalhador.
“Os arts. 190 e 193 da CLT, que preveem o pagamento dos adicionais de
insalubridade e de periculosidade, embora sejam taxativos quanto à
caracterização das atividades insalubres e perigosas pelo Ministério do
Trabalho, não trazem nenhuma vedação para a sua cumulação, inclusive
porque visam remunerar situações distintas de gravame à saúde”, afirmou, no
acórdão.
O ministro afirmou ainda ser inválida a disposição de norma interna que
implica renúncia ao adicional de insalubridade para os empregados que optem
por receber o adicional de penosidade, uma vez que os artigos 7º, XXIII, da
Constituição Federal e 192, “caput”, da CLT, asseguram a percepção do
benefício para o trabalhador que exerce atividade insalubre.
No entanto, para o advogado Matheus Quintiliano, não há lei que permita o
adicional por penosidade, que é caracterizado por um trabalho desgastante e
que não há risco de morte.
“O TST não aceita uma norma interna em detrimento de uma lei, não se pode
renunciar um direito irrenunciável. No momento em que o trabalhador escolhe
um adicional previsto por uma norma interna e não um dispositivo de lei, ele
renuncia em detrimento de uma lei, ou seja, renuncia um direito
irrenunciável”, e continua:
“O tribunal não mudou o seu entendimento. Apesar da decisão no sentido da
cumulação dos dois adicionais, os tribunais inferiores só seguirão o
entendimento se houver uma OJ [orientação jurisprudencial] ou uma súmula
vinculante nesse sentido. Até então não há consenso sobre isso e o acúmulo
não é previsto em lei”, afirmou.
Decisões contraditórias
Em outubro de 2016, Subseção I da Seção de Dissídios Individuais (SDI-1)
decidiu que um trabalhador sujeito a fatores de periculosidade e de
insalubridade tem direito a receber apenas um dos dois adicionais em seu
salário. (RR – 1072-72.2011.5.02.0384)
O entendimento da SDI-1 levou em conta a interpretação tradicional da Corte
sobre parágrafo 2ª do artigo 193 da CLT, que diz: “o empregado poderá optar
pelo adicional de insalubridade que porventura lhe seja devido”.
No entanto, em abril do mesmo ano, a SDI-1 admitiu a cumulatividade dos dois
adicionais provocando forte debate entre advogados trabalhistas e temor nas
empresas por uma avalanche de processos – não apenas cobrando os
adicionais dali para a frente, mas também de trabalhadores sujeitos a dois
fatores de risco nos últimos cinco anos.

O parágrafo 2ºdo artigo 193 CLT desautoriza o acúmulo de adicionais


de insalubridade e periculosidade, uma vez sua redação é clara ao mencionar
que “O empregado poderá optar pelo adicional de insalubridade caso esse lhe
seja devido.

Com raciocínio semelhante a Portaria nº 3.214/1978 do TEM, na NR


16 com a redação dada no subitem 16.2.1 estabelece que “O empregado
poderá optar pela adicional de insalubridade que eventualmente lhe seja
devido.

Mas atentando-se a Carta Magna nacional, a Constituição Federal de


1988, elencado em seu artigo 7º, Inciso XXIII, não proíbe o acúmulo de
adicionais, pois estabeleceque estes adicionais são direitos fundamentais,
elencados no título II da Lei Maior, que cuida dos direitos e garantias
fundamentais.

O pagamento cumulativo de adicionais de insalubridade e periculosidade tem


base circunstancial, pois existe, a possibilidade de o trabalhador estar sujeito à
condições insalubres e perigosas.

No que se refere o adicional de insalubridade, a questão central é a


saúdo do trabalhador, como modo de compensar as condições nocivas a que
pode estar sujeito no ambiente de trabalho. E no adicional de periculosidade é
a vida do trabalhador que é levada em conta, pois como o próprio nome já
indica, as condições de trabalho podem oferecer riscos a sua vida.
Conclusão

Sendo este um debate polêmico não podemos concluir, ainda, que o acúmulo
no pagamento dos adicionais de insalubridade e periculosidade é uma
realidade jurídica, visto que o ordenamento da questão segue ainda sob os
auspícios do artigo 193 da Consolidação das Leis do Trabalho, que veda o seu
pagamento cumulativo.
Mas dado o histórico de jurisprudências favoráveis ao seu pagamento
cumulado, o ordenamento jurídico no que tange a legislação trabalhista
caminha, mesmo que lentamente, mas inexoravelmente para padronização do
entendimento da questão como fatos geradores distintos para adicionais
distintos.

Você também pode gostar