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FACULDADE EVANGÉLICA DE GOIANÉSIA

CURSO DE DIREITO

CONTROVÉRSIAS SOBRE O RUÍDO NO AMBIENTE DO TRABALHO COMO


FATOR DE INSALUBRIDADE NA CONFIGURAÇÃO DA APOSENTADORIA
ESPECIAL

KELLY FERNANDES DE SOUZA

Goianésia-GO
2022
CONTROVÉRSIAS SOBRE O RUÍDO NO AMBIENTE DO TRABALHO COMO
FATOR DE INSALUBRIDADE NA CONFIGURAÇÃO DA APOSENTADORIA
ESPECIAL

Kelly Fernandes de Souza


Orientação: Profa. Dra. Maisa França Teixeira

RESUMO

O ambiente de trabalho saudável é um direito fundamental consagrado


no art. 195, caput da CF/88. Onde o Estado deve garantir a integridade do
trabalhador, elaborando leis que promovam a eliminação ou redução das
condições nocivas, o trabalhador exposto ao ruído é protegido pelo art.192 da CLT.
Os trabalhadores em contato com a poluição sonora estão sujeitos a
dificuldades e obstáculos para obter uma aposentadoria justa. Apesar das críticas
à instituição da mercantilização da saúde do trabalhador, há uma compensação
financeira para o indivíduo exposto aos agentes nocivos. Soma-se a essa linha de
benefícios a aposentadoria diferenciada, que é o foco deste pequeno estudo.
A natureza jurídica da aposentadoria especial é um direito subjetivo,
uma vez cumpridos os seus requisitos legais. Nasceu, portanto, com a Lei
Orgânica da Previdência Social (LOPS) que tratou de questões de saúde,
segurança do trabalho e seguridade social, havia carência de 15 anos de
contribuição, e idade mínima de 50 anos para a aposentadoria especial.
A aposentadoria especial está prevista na Constituição Federal, com
destaque para as alterações trazidas pela EC 2098 e EC 4505. Com o passar do
tempo, esta matéria teve sua sistemática alterada por diversas leis que afastaram a
idade, estabeleceram a exposição efetiva a agentes nocivos e não mais pelo
enquadramento por categorias profissionais.
A aposentadoria especial está prevista legalmente nos artigos 25, II,
57 e 58 da Lei 8.213/91, já no art. 57, caput da LB dispõe que: A aposentadoria
especial será devida, uma vez cumprido o prazo de carência exigido nesta Lei. O
segurado com direito à aposentadoria especial seria o empregado, trabalhador
individual e contribuinte individual.
A ampliação se faz necessária tendo em vista a mudança do perfil do
mercado de trabalho, que demonstra um crescimento significativo das cooperativas
de trabalho e produção. Pode-se lembrar de outro fator favorável à concessão da
aposentadoria especial a esses segurados, que é o disposto no art. 57, § 6º da Lei
nº 8.213/91.
Um raríssimo empresário terá direito ao benefício. Pode obtê-los os
trabalhadores, incluindo trabalhadores temporários, funcionários públicos sem
regime próprio e algumas categorias de trabalhadores independentes.
É importante destacar a Súmula 62 da TNU de 03/07/2012, onde o
segurado contribuinte individual poderá obter o reconhecimento de atividade
especial para fins previdenciários.
O prazo de carência, definido no art. 24, caput, da Lei 8.213/91, é o
número de contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus
ao benefício. O problema do equilíbrio financeiro e do provimento dos recursos do
caixa previdenciário recorria à regra da contrapartida (art. 195, § 5º da CF/88).
Para fins de aposentadoria, com exceção da aposentadoria por
invalidez por sua própria imprevisibilidade intrínseca, todas as regidas pelo RGPS
exigem contribuições mensais de 180. Após a Lei n. 10.666/03, bastará ao
segurado cumprir a carência sem a exigência mínima de cinco anos.
Já a Lei 8.213/91 determina que o segurado no exercício de suas
atividades esteja exposto a agentes químicos, biológicos ou associação de agentes
nocivos à saúde ou à integridade física. Descreve dois aspectos que se destacam,
a exposição a agentes nocivos que podem ser medidos qualitativa e
quantitativamente. O segundo aspecto é o tempo de exposição permanente
necessário.
A necessidade de comprovação do agente nocivo, bem como o tempo
de permanência do trabalhador a ele exposto, passou a ser exigida com o advento
da Lei 9.032/95. Aplica-se em matéria previdenciária o princípio do tempus regit
actum, essa contingência é exigida porque a aposentadoria especial tem por
objetivo afastar o segurado do ambiente insalubre com a diminuição do tempo de
serviço de 15, 20 ou 25 anos, contudo, deve o segurado comprovar o trabalho
permanente nestas condições deletérias à vida humana. A Súmula 49, da TNU
reitera a exigência de trabalho de forma permanente em contato com agentes
nocivos à saúde e à integridade física. Estas atividades como especiais ou comuns
devem ser as previstas na legislação vigente à época da prestação do serviço.
Apesar das críticas de que as profundas alterações trazidas pela Lei nº
9.032/95, teriam, por consequência, afetado essa súmula, ela continua sendo
utilizada na jurisprudência, a lista de agentes nocivos será definida pelo poder
executivo nos termos do art. 58 da Lei 8.213/91.
Já o conceito de trabalho permanente é compreendido no caput do art.
65 do Decreto 3.048/99, que considera tempo de trabalho permanente aquele
exercido de forma não ocasional ou intermitente, e em seu parágrafo único,
estende sua aplicação aos períodos de descanso previstos na legislação
trabalhista, como férias, entre outros.
O Perfil Profissional Previdenciário - PPP é um documento a ser
emitido pela empresa ou entidade equiparada. Deve conter o laudo técnico das
condições ambientais de trabalho e ser elaborado por médico do trabalho ou
engenheiro de segurança do trabalho, este documento considerado como histórico
laboral do trabalhador para fins de aposentadoria especial, está previsto no art. 68,
§ 2º, do Decreto 3.048/99.
O INSS tem entendido que a neutralização do agente agressor ou a
redução efetiva dos limites de tolerância, no caso de ruído, resultará na não
classificação da atividade como especial. Ressalta-se que o laudo técnico também
deve informar se a empresa fornece equipamentos de proteção coletiva ou
individual, EPC e EPI.
O gozo do benefício trabalhista legalmente não pressupõe o direito aos
benefícios previdenciários. Isso porque o direito trabalhista e o previdenciário são
pautados por princípios e pressupostos distintos. O STJ na EDcl no AgRg no REsp
1.005.028/RS corrobora esse mesmo entendimento.
A conversão do tempo de contribuição especial em comum é realizada
com a utilização de um fator de conversão a ser aplicado (multiplicador) ao longo
dos anos em que o segurado trabalhou em atividade especial. Reiteramos a
importância da introdução do fator de conversão para fins de concessão de bônus
no cálculo do tempo de contribuição para fins de aposentadoria.
O STF vai analisar a constitucionalidade da norma que prevê o
cancelamento automático da aposentadoria especial dos beneficiários que
retornarem voluntariamente às atividades laborais nocivas à saúde. O valor do
benefício será de 100% do SB, sem aplicação do fator previdenciário que incide na
aposentadoria por tempo de contribuição.
O ruído tornou-se um problema devido ao seu aspecto deletério ao ser
humano quando exposto a ele regularmente e na maioria das vezes em níveis
superiores aos considerados não nocivos.
O ambiente de trabalho intensamente ruidoso (exaustivo e com
vibração desagradável) passou a ser correlacionado com o crescente número de
trabalhadores com deficiência auditiva.
A legislação previdenciária sempre tratou de forma diferenciada o
ruído do agente nocivo, exigindo a comprovação pericial dos níveis de ruído. Com
a exigência de laudos técnicos, no caso de ruído, decorreu dos critérios
estabelecidos para a configuração e reconhecimento da atividade especial, os
critérios que delimitavam os limites da tolerância e que ao longo do tempo foram
alterados por inúmeros decretos tais como:
• até 28/04/95, Quadro Anexo ao Decreto 53.831/64. Anexo I e II -
Decreto 83.080/79, Formulário; CP/CTPS; LTCAT só para ruídos;
• até 13/10/96, Código 1.0.0 - Decreto 53.831/64, Anexo I - Decreto
83.080/79; Formulário; LTCAT só para ruídos;
• até 05/03/97, enquadram-se todos os agentes do código 1.0.0 do
Decreto 53.831/64. Anexo I - Decreto 83.080/79. Formulário e LTCAT para todos
os agentes nocivos a partir desta data;
• até 06/05/99, enquadram-se todos os agentes agressivos constantes
do Anexo IV, do Decreto 2.172/99. Formulário; LTCAT para todos os agentes
nocivos a partir desta data;
• A partir de 01/01/2004, enquadram-se todas as atividades constantes
no Anexo IV - Decreto 3.048/99, desde que com PPP e contribuição do Adicional
SAT, confrontando informações relativas ao CNIS para homologação da contagem
do tempo especial, mantendo-se o direito à conversão até os dias atuais".
A partir de 1998, com a Ordem de Serviço nº 600, o INSS passou a
admitir que a eficácia do EPI por meio de demonstrações ambientais (PPP e NR-
6), implica que a atividade não seja enquadrada como especial. Já o entendimento
dos juizados especiais federais difere do previdenciário. A utilização de
equipamentos de proteção individual, ainda que elimine condições insalubres, no
caso de exposição ao ruído, não diminui a duração do serviço especial prestado.
A questão foi levada ao STF por meio do Recurso Extraordinário com
Recurso (ARE nº 664.335) interposto pelo INSS, no caso, foi aplicada a Súmula 9
do TNU, que implicou na concessão do benefício previdenciário, o INSS arguiu a
violação do princípio da preservação do equilíbrio financeiro e atuarial, uma vez
que não ocorreu a correspondente fonte de recursos.
Os limites de tolerância correspondem à intensidade ou concentração
máxima e mínima, respaldados por estudos científicos, servem de parâmetro para
estabelecer os níveis possíveis de serem suportados pelo trabalhador. A primeira
regulamentação veio com o Decreto 58.831/64, que instituiu atividade especial
estabelecendo a exposição ao ruído em valor acima de 80 dB.
Com a emissão do Decreto 53. 831/64, o que elevou o ruído acima de
90 dB. E a edição do Decreto nº 83.080/79. Os dois decretos eram válidos ao
mesmo tempo, a solução encontrada pela jurisprudência foi consolidar o
entendimento de aplicar o índice menor de 85 dB.
A Turma Nacional de Uniformização da Jurisprudência dos Juizados
Especiais Federais editou a Súmula nº 32, que foi semelhante ao entendimento do
STJ, que a jornada de trabalho trabalhada com exposição ao ruído é considerada
especial, para fins de conversão em comum, nos seguintes termos níveis: superior
a 80 decibéis, na vigência do Decreto 53.831/64, maior que 90 decibéis de
05/03/97. A Súmula foi cancelada por unanimidade pelo TNU na oitava sessão
ordinária de 09/11/13 (PET 9059STJ).
Nota-se que a faixa de 70 a 90 dB, é considerada o nível máximo de
sonoridade e havendo comprometimento e perda auditiva em níveis acima de 90
dB. Ha uma discutem entre Marcus Oliveira Gonçalves Correia e Joabe dos Santos
Souza, em que a possibilidade e situações abrangidas pela norma de concessão,
que não se enquadram na norma de presunção legal, traçando assim, alguns
aspectos importantes da complexidade das questões previdenciárias em relação
aos agentes nocivos ruídos. Verificou também a ocorrência de inúmeras alterações
da legislação previdenciária, percebendo que a manutenção atuarial e os
problemas de financiamento de curto e longo prazo permearam a elaboração da
legislação previdenciária.

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