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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DO JUIZADO ESPECIAL

PREVIDENCIÁRIO DE SANTA MARIA – RS

XXXXXXXXXX, aposentado, já cadastrado


eletronicamente, vem, por meio de seus procuradores,
perante Vossa Excelência, propor

AÇÃO PREVIDENCIÁRIA DE REVISÃO DE


APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO
COM CONVERSÃO DE TEMPO DE SERVIÇO
ESPECIAL EM COMUM

em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO


SOCIAL (INSS), pelos seguintes fundamentos fáticos e
jurídicos que ora passa a expor:

I – DOS FATOS

O Autor requereu o benefício de aposentadoria por tempo de contribuição, que foi


deferido, conforme o processo administrativo anexo. Entretanto, o INSS não efetuou a
conversão do tempo de serviço especial em comum do período sob o qual foram
desenvolvidas atividades consideradas nocivas conforme a legislação previdenciária. A
tabela a seguir analisa de forma objetiva todos os contratos de trabalho:
Admissão Saída Empregador Atividade Tempo de serviço
14/01/197 Exército Brasileiro
15/01/1976 ----- 02 anos
8
Sade Sul
05/07/198
03/04/1978 Americana de Ajudante 07 anos, 03 meses e 03 dias
5
Engenharia S/A.
25 anos, 08 meses e 28 dias,
com acréscimo de 09 anos, 11
meses e 27 dias. Conversão
Companhia Operador de
05/04/201 até 30/06/2010. Atividade
08/07/1985 Estadual de máquinas e
1 considerada perigosa conforme
Energia Elétrica quadros
o item 1.1.8 do Decreto nº
53.831/64 e precedentes
judicias.

TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO 45 anos

CARÊNCIA 35 anos e 01 dia1

Dados do benefício:

NB: XXXXXXXXXX
Tipo de benefício: aposentadoria por tempo de contribuição (42)
DER: 05/04/2011

II – DO DIREITO

A nova aposentadoria por tempo de contribuição, ainda não disciplinada em


legislação infraconstitucional, encontra-se estabelecida no art. 201, § 7 o, I, da Constituição
Federal e nos arts. 52 a 56 da Lei 8.213/91, exceto naquilo em que forem incompatíveis com
o novo regramento constitucional.

1
Correspondente a 422 recolhimentos.
O fato gerador da aposentadoria em apreço é o tempo de contribuição, o qual, na
regra permanente da nova legislação, é de 35 anos para homens. Trata-se do período de
vínculo previdenciário, sendo também consideradas aquelas situações previstas no art. 55
da Lei 8.213/91. No caso em comento, verifica-se que o Autor possui um total de 45 anos de
tempo de contribuição, tornando o requisito preenchido.

Quanto à carência, foram realizadas 422 contribuições, número superior aos 180
meses exigidos, conforme o art. 25, II, da lei 8.213/91.

DA CONVERSÃO DO TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL EM COMUM

Para aqueles trabalhadores que sucessivamente se submeteram a atividades sujeitas


ao regime de aposentadoria especial e comum, o § 1º do art. 201 da Constituição Federal
estabelece a contagem diferenciada do período de atividade especial.

A conversão do tempo de serviço especial em tempo de serviço comum é feita


utilizando-se um fator de conversão, pertinente à relação que existe entre o tempo de
serviço especial exigido para gozo de uma aposentadoria especial (15, 20 ou 25 anos) e o
tempo de serviço comum. O Decreto 3.048/99 traz a tabela com os multiplicadores:

MULTIPLICADORES
TEMPO A CONVERTER
MULHER (PARA 30) HOMEM (PARA 35)
DE 15 ANOS 2,00 2,33
DE 20 ANOS 1,50 1,75
DE 25 ANOS 1,20 1,40

É importante destacar que a comprovação da atividade especial até 28 de abril de


1995 era feita com o enquadramento por atividade profissional (situação em que havia
presunção de submissão a agentes nocivos) ou por agente nocivo, cuja comprovação
demandava preenchimento pela empresa de formulários SB40 ou DSS-8030. Entretanto,
para os agentes ruído e o calor, sempre foi necessária a comprovação através de laudo
pericial.

Todavia, com a nova redação do art. 57 da Lei 8.213/91, dada pela lei 9.032/95,
passou a ser necessária a comprovação real da exposição aos agentes nocivos, sendo
indispensável a apresentação de formulários, independentemente do tipo de agente
especial. Além disso, a partir do Decreto nº 2.172/97, que regulamentou as disposições
introduzidas no art. 58 da Lei de Benefícios pela Medida Provisória nº 1.523/96 (convertida
na Lei nº 9.528/97), passou-se a exigir a apresentação de formulário-padrão, embasado em
laudo técnico, ou por meio de perícia técnica. No entanto, aqueles segurados que
desempenharam atividade considerada especial podem comprovar tal aspecto
observando a legislação vigente à data do labor desenvolvido.

No caso em tela, segue anexo o formulário PPP referente ao período em que o Autor
pleiteia o reconhecimento das atividades especiais. Não obstante, torna-se necessária a
realização de perícia técnica laboral, a fim de se obter uma avaliação detalhada acerca das
atividades desempenhadas. Nesse linha é a lição dada por Maria Helena Carreira Alvim
Ribeiro2:

Ainda que o segurado não disponha de documentação comprovando a


prestação de serviços em condições insalubres, perigosas ou penosas,
poderá comprovar a atividade especial mediante ajuizamento de ação
ordinária previdenciária, requerendo a realização de perícia técnica.
(Sem grifos no original).

No que se refere à previsão normativa do agente nocivo eletricidade, a Lei 7.369/85


instituiu salário adicional para os empregados do setor de energia elétrica, regulamentada
pelo Decreto 92.212/85, e posteriormente pelo Decreto 93.412/86, que estabeleceram as
atividades desenvolvidas em área de risco, conforme quadro anexo. Ressalta-se que
diversas dessas atividades foram realizadas pelo Autor, tais como: 1.5 manobras em
subestação; 3 – atividades de inspeção testes, ensaios, calibração, medição e reparos em
equipamentos e materiais elétricos, eletrônicos, eletromecânicos e de segurança individual e
coletiva em sistemas elétricos de potência de alta e baixa tensão; 4.1 montagem,
desmontagem, operação e conservação, de: medidores, relês, chaves, disjuntores e
religadores, caixas de controle, cabos de força, cabos de controle, barramentos, baterias e
carregadores, transformadores, sistema anti-incêndio e de resfriamento, bancos de
capacitores, reatores, reguladores, equipamentos eletrônicos, eletrônicos mecânicos e
eletromecânicos, painéis, para-raios, áreas de circulação, estruturas suporte e demais
instalações e equipamentos elétricos.

2
RIBEIRO, Maria Helena Carreira Alvim. Aposentadoria especial: regime geral da previdência social.
Curitiba: Juruá, 2008 (p. 241).
Nesse contexto, a jurisprudência do Tribunal Regional Federal da 4ª Região se
manifesta pela aplicação da Lei 7.369/85 e do Decreto 93.412/86 para os períodos
posteriores a edição do Decreto 2.172/97:

EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. ATIVIDADE ESPECIAL. CONVERSÃO


DO TEMPO COMUM EM ESPECIAL. CONCESSÃO DE
APOSENTADORIA ESPECIAL. TUTELA ESPECÍFICA. 1. Uma vez
exercida atividade enquadrável como especial, sob a égide da
legislação que a ampara, o segurado adquire o direito ao
reconhecimento como tal. 2. A exposição de forma intermitente à
tensão elétrica não descaracteriza o risco produzido pela Eletricidade.
3. Para fins de reconhecimento da especialidade, devem ser
aplicados de forma integrada o disposto no Decreto nº 53.831, de
1964 (Código 1.1.8) e na Lei nº 7.369, de 1985 (regulamentada pelo
Decreto nº 93.412, de 1986) até 05-03-1997, e essa norma e o seu
regulamento para o tempo laborado com comprovada sujeição à
eletricidade posterior a 06-03-1997. 4. Constando dos autos a prova
necessária a demonstrar o exercício de atividade sujeita a condições
especiais, conforme a legislação vigente na data da prestação do
trabalho, deve ser reconhecido o respectivo tempo de serviço. 5. O
tempo de serviço comum laborado após 10-12-1980 e anteriormente a
29-04-1995, data da vigência da Lei n.º 9.032/95, poderá ser convertido
em tempo de serviço especial. 6. Demonstrado o tempo de serviço
especial por 25 anos e a carência, é devida à parte autora a
Aposentadoria Especial, nos termos da Lei n.º 8.213/91, desde a data
do requerimento administrativo. 7. Determina-se o cumprimento
imediato do acórdão naquilo que se refere à obrigação de implementar
o benefício, por se tratar de decisão de eficácia mandamental que
deverá ser efetivada mediante as atividades de cumprimento da
sentença stricto sensu previstas no art. 461 do CPC, sem a
necessidade de um processo executivo autônomo (sine intervallo).
(TRF4, APELREEX 0002098-40.2009.404.7001, Sexta Turma, Relator
João Batista Pinto Silveira, D.E. 08/03/2010, sem grifos no original).

Recentemente, a Turma Regional de Uniformização de Jurisprudência da 4ª Região


também reconheceu a possiblidade do enquadramento do agente nocivo eletricidade após a
edição do Decreto 2.172/97:

EMENTA: INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO. PREVIDENCIÁRIO. TEMPO


ESPECIAL. ELETRICIDADE. ATIVIDADE EXERCIDA APÓS 05.03.1997, DATA DE
EDIÇÃO DO DECRETO 2.172/97. POSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO.
PRECEDENTE DA TRU. 1. Esta Turma Regional de Uniformização firmou
entendimento no sentido de que a atividade na qual haja a efetiva
exposição ao agente nocivo eletricidade em tensões elevadas pode ser
reconhecida como especial mesmo após 05.03.1997, data da edição do
Decreto 2.172/97. 2. Precedentes da TRU desta 4ª Região. 3. Recurso conhecido e
provido. (, IUJEF 0000419-76.2010.404.7257, Relator Adel Americo Dias de Oliveira,
D.E. 09/11/2011, sem grifos no original).

Por todo o exposto, o Autor possui direito à conversão do tempo de serviço especial
em comum do período em que trabalhou sujeito ao agente nocivo eletricidade.

DA REVISÃO DA RENDA MENSAL DO BENEFÍCIO

Com a análise do tempo de contribuição desenvolvido pela parte autora, percebe-se


que o INSS calculou de forma incorreta a renda mensal do benefício, eis que a falta de
conversão do período em que foram desenvolvidas atividades nocivas diminuiu
significativamente o tempo total de contribuição, o que acarretou na aplicação incorreta do
fator previdenciário.

Fator Previdenciário considerado: [0,6722]

Fator Previdenciário correto: [0,8803]

Sendo assim, considerando os prejuízos econômicos decorrentes do cálculo realizado


administrativamente, torna-se imperiosa a revisão do benefício de aposentadoria por tempo
de contribuição.

III – DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

ENTENDE O AUTOR QUE A ANÁLISE DA MEDIDA ANTECIPATÓRIA PODERÁ


SER MELHOR APRECIADA EM SENTENÇA.

De acordo com a previsão do art. 43 da Lei 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais
Cíveis e Criminais), salvo situações excepcionais, deverá ser atribuído apenas o efeito
devolutivo aos recursos inominados. Tal disposição também possui aplicação aos Juizados
Especiais Federais, conforme disposto no art. 1º da Lei 10.259/01.

De qualquer forma, o Requerente necessita da concessão do benefício em tela para


custear a própria vida. Vale ressaltar que os requisitos exigidos para a concessão do
benefício se confundem com os necessários para o deferimento desta medida antecipatória,
motivo pelo qual, em sentença, se tornará imperiosa a sua concessão.
O caráter alimentar do benefício traduz um quadro de urgência que exige pronta
resposta do Judiciário, tendo em vista que nos benefícios previdenciários resta intuitivo o
risco de ineficácia do provimento jurisdicional final.

IV – DO PEDIDO

ISSO POSTO, requer:

a) O recebimento e o deferimento da presente peça inaugural;

b) A citação da Autarquia, por meio de seu representante legal, para que, querendo,
apresente defesa;

c) A produção de todos os meios de provas em direito admitidos, em especial o pericial;

d) O deferimento da antecipação de tutela, com a apreciação do pedido de implantação do


benefício em sentença;

e) O julgamento da demanda com TOTAL PROCEDÊNCIA, condenando o INSS a:

1) Efetuar a conversão do tempo de serviço especial em comum do


seguinte período contributivo: 08/07/1985 a 30/06/2010;

2) Pagar as diferenças que se formarem em decorrência da revisão aqui


pleiteada, com o adimplemento das parcelas vencidas e vincendas,
desde a data de entrada do requerimento (05/04/2011), corrigidas
desde a época da competência de cada parcela até o efetivo
pagamento;

3) Requer seja determinada a incorporação ao benefício da parte autora


a vantagem decorrente da revisão postulada e seus reflexos nas
rendas mensais seguintes, devendo o valor revisado ser mantido até a
extinção do benefício.
Nestes Termos.
Pede Deferimento.

Dá à causa o valor3 de R$ 16.276,89.

Santa Maria, 20 de março de 2012.

XXXXXXXXXXXXX

3
Valor da causa = 12 parcelas vincendas (R$ 8.610,60) + parcelas vencidas (R$ 7.666,29) = R$ 16.276,89.

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