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EXCELENTISSIMO SR. DR.

JUIZ DO TRABALHO DA 2ª VARA DO TRABALHO


DE GOIÂNIA-GO

Autos nº 000000321

LOTERIA SORTUDA LTDA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ


nº XXXX, com sede à (endereço: rua, número, bairro, cidade, estado, CEP), titular do
endereço eletrônico XXXX, por intermédio de sua Patrona qual subscreve (conforme
procuração em anexo) com endereço profissional (endereço: rua, número, bairro, cidade,
estado, CEP), vem respeitosamente a presença de Vossa Excelência, nos termos do art. 847
da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) ajuizar a presente
CONTESTAÇÃO
em face da Reclamação Trabalhista movida por SOFRENELSON, já devidamente
qualificado nos autos em epígrafe, o que faz de acordo com os fundamentos fáticos e
jurídicos a seguir expostos:

I- PRELIMINARMENTE
I.1- DA INEPCIA DO PEDIDO DE HORAS DE SOBREAVISO
O Reclamante requereu horas de sobreaviso, porém este exercia suas funções de
segunda-feira a sexta-feira das 7h às 14h e em momento algum relata ter cumprido horas por
sobreaviso, portanto nos termos do art. 330, inciso I do Código de Processo Civil (CPC) a
petição inicial deve ser indeferida por estar inepta, visto que como diz o § 1º, inciso I, do
mesmo artigo, tal inépcia se caracteriza pela ausência do pedido ou causa de pedir, como é o
caso da exordial constante nos presentes autos.

I.2- DA PRESCRIÇÃO
A presente Reclamação está dentro do prazo para oferecimento como previsto no art.
11 da CLT, que são dois anos após o término do contrato de trabalho, porém como também
consta no art. 7, inc. XXIX da Constituição Federal e na súmula 308 do Tribunal Superior do
Trabalho (TST), in verbis:
PRESCRIÇÃO QÜINQÜENAL.
I - Respeitado o biênio subseqüente à cessação
contratual, a prescrição da ação trabalhista concerne às
pretensões imediatamente anteriores a cinco anos,
contados da data do ajuizamento da reclamação e, não, às
anteriores ao qüinqüênio da data da extinção do contrato.
(ex-OJ nº 204 da SBDI-1 - inserida em 08.11.2000)
II - A norma constitucional que ampliou o prazo de
prescrição da ação trabalhista para 5 (cinco) anos é de
aplicação imediata e não atinge pretensões já alcançadas
pela prescrição bienal quando da promulgação da CF/1988.
(ex-Súmula nº 308 - Res. 6/1992, DJ 05.11.1992)
(incorporada a Orientação Jurisprudencial nº 204 da SBDI-
1)- Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005 (grifo nosso)
Os requerimentos referentes ao período anterior a cinco anos antes da data da
protocolação dos presentes autos, ou seja, anteriores a data de 30/07/2018, não merecem ser
assistidos dada a consolidada prescrição de tais pretensões anteriores.

II- DOS FATOS


Trata-se de Reclamação Trabalhista movida pelo Reclamante Sofrenelson, alegando
que trabalhou na empresa de 13 de março de 2016 até 25 de julho de 2023, quando foi
dispensado sem justa causa. Sofrenelson trabalhava de segunda a sexta-feira, das 7h às 14h,
com intervalo de uma hora para refeição. Sendo que na empresa o mesmo além de processar
os jogos feitos pelos clientes, também realizava atividade bancária referente a saques de até
cem reais e o pagamento de contas de serviços públicos (água, luz, gás e telefone), bem como
de boletos bancários de até duzentos reais e não trabalhava nos feriados e, portanto, recebia
vale-cultura do empregador no valor de trinta reais mensais.
O reclamante inscreveu-se numa chapa como candidato a presidente do sindicato dos
empregados em lotéricas, duas semanas após receber o aviso prévio. Dentre os clientes do
empregador, estava uma companhia de energia elétrica da cidade, daí porque, uma vez por
semana, o Reclamante tinha que ir até essa empresa para pegar, de uma só vez, as apostas de
todos os seus empregados, o que fidelizava esses clientes; contudo, nesse dia, ele permanecia
na subestação de energia por dez minutos.
O mesmo confirma que faltou algumas vezes ao serviço e que teve essas faltas
descontadas; no mais substituiu o gerente da loteria, quando este se afastou por auxílio-
doença, pelo período de três meses, mas que não teve qualquer alteração de salário. Ele
afirma que existe o benefício de ticket-alimentação, previsto em acordo coletivo assinado
pela sociedade empresária Azarada Ltda, mas jamais recebeu esse benefício durante todo o
contrato.
O empregado em questão informa que adquiriu empréstimo bancário, consignado em
folha de pagamento, e que por três meses, quando houve sensível diminuição do movimento
em razão da crise econômica, realizou serviço do seu próprio domicílio (home office),
conferindo as planilhas de jogos, porém não recebeu vale-transporte.
III- DO MÉRITO
III-.1- DA PERICULOSIDADE E DA CLASSIFICAÇÃO BANCÁRIA INDEVIDAS
O Reclamante requereu na exordial o adicional de periculosidade dado o fato de
comparecer a companhia de energia elétrica da cidade, porém ao comparecer permanecia por
apenas dez minutos na subestação e energia. A súmula 364 do TST diz que:
ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. EXPOSIÇÃO
EVENTUAL, PERMANENTE E INTERMITENTE.
I - Tem direito ao adicional de periculosidade o empregado
exposto permanentemente ou que, de forma intermitente,
sujeita-se a condições de risco. Indevido, apenas, quando o
contato dá-se de forma eventual, assim considerado o
fortuito, ou o que, sendo habitual, dá-se por tempo
extremamente reduzido. (ex-Ojs da SBDI-1 nºs 05 -
inserida em 14.03.1994 - e 280 - DJ 11.08.2003)
II - Não é válida a cláusula de acordo ou convenção coletiva
de trabalho fixando o adicional de periculosidade em
percentual inferior ao estabelecido em lei e proporcional ao
tempo de exposição ao risco, pois tal parcela constitui
medida de higiene, saúde e segurança do trabalho, garantida
por norma de ordem pública (arts. 7º, XXII e XXIII, da CF e
193, § 1º, da CLT). (inserido o item II) - Res. 209/2016,
DEJT divulgado em 01, 02 e 03.06.2016 (grifo nosso)
Portanto, tal alegação não merece ser assistida dado o tempo de permanência ínfimo
em que o Reclamante permanecia no local. Além disso, não se faz prova nos autos de que o
Autor da lide ficava em zona de risco dado o fato de haver zonas estáveis e livres para o
trânsito em tais locais, sendo que não se sabe se de fato tal exposição de fato apresentou
riscos à saúde do Reclamante.
No mais, ainda que o Reclamante realizasse atividades bancárias para os clientes da
Reclamada, não fora contratado para este fim, sendo que é apenas uma de suas atribuições.
Como prevê o art. 511 da CLT, o fato de exercer atividades similares ou conexas, a
associação para fins de estudo, defesa e coordenação dos seus interesses econômicos ou
profissionais, é ilícita. Portanto, os benefícios da norma coletiva dos bancários não merecem
ser aplicados neste caso, dado o fato de este não exercer o cargo de bancário.

III.2- DOS BENEFÍCIOS REQUERIDOS


III.2.1- HORAS EXTRAS
O reclamante cumpria seu horário de segunda a sexta-feira, das 7h às 14h como dito
anteriormente, sendo que não declara qualquer ultrapassagem desse horário, nem mesmo sua
convocação para trabalhar em dia fora de seu contrato de trabalho. Porém ainda assim requer
horas extras, como previsto no art. 58 da CLT, a duração normal do trabalho, não excede
as 8h diárias, sendo que o reclamante trabalha apenas 7h por dia, e no art. 7, inc. XIII da
CF/88 é consolidado que a soma semanal de tais jornadas de trabalho é de 44h e a soma do
Reclamante corresponde a apenas 35h. Portanto tal indenização por parte da Reclamada é
totalmente descabida!

III.2.2- TICKET ALIMENTAÇÃO


Foi solicitado na exordial o valor do ticket alimentação previsto em norma coletiva,
porém, conforme visa o art. 611, § 1º, da CLT, o Sindicato pode realizar Acordos Coletivos
com uma ou mais empresas de categoria econômica correspondente, que estipulam
condições de trabalho aplicáveis no âmbito da empresa. No caso em tela, tal acordo fora
assinado por uma empresa alheia que não responde pela Reclamada, portanto não é de
sua responsabilidade arcar com os custos devedores da empresa, pelo que é
completamente terceira a relação e somente arca com as condições de trabalho estipuladas em
seu próprio interim.

III.2.3- VALE-TRANSPORTE
Como bem mencionado na exordial, o reclamante permaneceu em home office pelo
período de três meses por conta dos efeitos da crise econômica, momento em que não haveria
razão para a contribuição com os valores referentes ao vale transporte como requerido pelo
reclamante.
Pelo que expressa o art.1 da Lei 7418/85, o vale transporte é devido ao empregado
como antecipação do valor que será usado efetivamente em despesas de deslocamento
residência-trabalho e vice-versa a ser utilizado em transporte público mediante a cotação de
suas tarifas. Portanto, através da analogia, presume-se que ao não haver deslocamento para
o trabalho, uma vez que este é exercido em casa, não existe a obrigação do pagamento
do benefício por parte do empregador.

III.2.4- VALE-CULTURA
Apesar do Reclamante requerer a integração do vale-cultura no valor de R$30,00 ao
seu salário, tal solicitação é descabida porque como consta no art. 11, inc. I da Lei
12761/12, ainda que a parcela referente a tal benefício seja de ônus da empresa contratante,
não tem natureza salarial nem se incorpora a remuneração para todos os efeitos.
Portanto, a solicitação não deve ser considerada uma vez que até mesmo o art. 458, § 2º, inc.
VIII da CLT, também não o considera como salário, sendo que a consolidação de tal norma é
clara.
Portanto requer o recebimento e acolhimento da presente defesa, para que sejam
julgados totalmente improcedentes os pedidos ventilados na Reclamatória Trabalhista, razão
pela qual necessária a conclusão de que não faz jus aos pedidos dispostos pelo Reclamante.

IV-DOS PEDIDOS:
Diante de todo o exposto, em sede de CONTESTAÇÃO, requer:
A) O reconhecimento da inépcia quanto ao pedido de horas de sobreaviso, com base no
art. 330, inc. I do CPC;

B) O reconhecimento da prescrição referente aos pedidos anteriores a data de 30 de julho


do ano de 2018, conforme o art. 7, inc. XXIX da CF/88;

C) O ACOLHIMENTO NA ÍNTEGRA destas razões, para fins de julgar


TOTALMENTE IMPROCEDENTE a Reclamação Trabalhista proposta;

D) A produção de todas as provas admitidas em direito;

E) A condenação do reclamante ao pagamento de sucumbência e honorários


advocatícios, nos termos dos Arts 791-A e 790-B da CLT.
Termos em que, pede e espera deferimento.

Guarantã do Norte, 23 de agosto de 2023.

Sara Scopel da Silva


OAB/MT XXX

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