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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DO JUIZADO ESPECIAL

PREVIDENCIÁRIO DE SANTA MARIA – RS

XXXXXXX, aposentado, já cadastrado eletronicamente,


vem, por meio de seus procuradores, perante Vossa
Excelência, propor

AÇÃO PREVIDENCIÁRIA DE REVISÃO DE


APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO
COM CONVERSÃO DE TEMPO DE SERVIÇO
ESPECIAL EM COMUM

em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO


SOCIAL (INSS), pelos seguintes fundamentos fáticos e
jurídicos que ora passa a expor:

I – DOS FATOS

O Autor requereu o benefício de aposentadoria por tempo de contribuição, que foi


deferido, conforme o processo administrativo anexo. Entretanto, o INSS não efetuou a
conversão do tempo de serviço especial em comum de parte do período sob o qual foram
desenvolvidas atividades consideradas nocivas conforme a legislação previdenciária. A
tabela a seguir analisa de forma objetiva todos os contratos de trabalho:

Admissão Rescisão Empregador Cargo Tempo de contribuição


Ministério do
15/01/1975 14/11/1975 Soldado 10 meses
Exército
Valdir Martins Auxiliar de
01/09/1976 31/10/1976 02 meses
Carvalho escritório
Casa Oreste –
01/01/1977 11/11/1978 Balconista 01 ano, 10 meses e 11 dias
Ferragens S.A.
S. C. União dos
Caixeiros Auxiliar de
13/11/1978 15/12/1981 03 anos, 01 mês e 03 dias
Viajantes escritório
R.G.S.
Banco Brasileiro
14/01/1982 12/07/1984 Escriturário 02 anos, 05 meses e 29 dias
de Descontos
Ferragem Santa
16/07/1984 14/10/1984 Balconista 02 meses e 29 dias
Maria
Hospital de Auxiliar de
22/01/1985 06/05/1985 03 meses e 15 dias
Caridade escritório
Empresa
Brasileira de
13/05/1985 21/06/1985 Carteiro 01 mês e 09 dias
Correios e
Telégrafos
01 ano, 09 meses e 03 dias, com
André Santos e acréscimo de 08 meses e 13 dias.
20/08/1985 22/05/1987 Vigilante
Cia. Ltda. Atividade perigosa reconhecida
administrativamente.
24 anos, 02 meses e 02 dias, com
acréscimo de 09 anos e 08
Prefeitura meses. Atividade perigosa
08/06/1987 09/08/2011 Municipal de Vigilante reconhecida administrativamente
Santa Maria até 28/04/1995 – enquadramento
por periculosidade conforme
precedentes judiciais.
03/10/2003 11/05/2003 SERVISC – Vigilante Período concomitante.
Segurança e
Vigilância Ltda.
CARÊNCIA 35 anos e 11 dias1
TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO 45 anos, 04 meses e 24 dias

Dados do benefício:

NB: XXXXXXXX
Tipo de benefício: aposentadoria por tempo de contribuição (42)
DER: 09/08/2011

II – DO DIREITO

A nova aposentadoria por tempo de contribuição, ainda não disciplinada em


legislação infraconstitucional, encontra-se estabelecida no art. 201, § 7 o, I, da Constituição
Federal e nos arts. 52 a 56 da Lei 8.213/91, exceto naquilo em que forem incompatíveis com
o novo regramento constitucional.

O fato gerador da aposentadoria em apreço é o tempo de contribuição, o qual, na


regra permanente da nova legislação, é de 35 anos para homens. Trata-se do período de
vínculo previdenciário, sendo também consideradas aquelas situações previstas no art. 55
da Lei 8.213/91. No caso em comento, verifica-se que o Autor possui um total de 45 anos,
04 meses e 24 dias de tempo de contribuição, tornando o requisito preenchido.

Quanto à carência, foram realizadas 360 contribuições, número superior aos 180
meses exigidos, conforme o art. 25, II, da lei 8.213/91.

DA CONVERSÃO DO TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL EM COMUM

Para aqueles trabalhadores que sucessivamente se submeteram a atividades sujeitas


ao regime de aposentadoria especial e comum, o § 1º do art. 201 da Constituição Federal
estabelece a contagem diferenciada do período de atividade especial.

1
Correspondente a 360 contribuições.
A conversão do tempo de serviço especial em tempo de serviço comum é feita
utilizando-se um fator de conversão, pertinente à relação que existe entre o tempo de
serviço especial exigido para gozo de uma aposentadoria especial (15, 20 ou 25 anos) e o
tempo de serviço comum. O Decreto 3.048/99 traz a tabela com os multiplicadores:

MULTIPLICADORES
TEMPO A CONVERTER
MULHER (PARA 30) HOMEM (PARA 35)
DE 15 ANOS 2,00 2,33
DE 20 ANOS 1,50 1,75
DE 25 ANOS 1,20 1,40

É importante destacar que a comprovação da atividade especial até 28 de abril de


1995 era feita com o enquadramento por atividade profissional (situação em que havia
presunção de submissão a agentes nocivos) ou por agente nocivo, cuja comprovação
demandava preenchimento pela empresa de formulários SB40 ou DSS-8030. Entretanto,
para os agentes ruído e o calor, sempre foi necessária a comprovação através de laudo
pericial.

Todavia, com a nova redação do art. 57 da Lei 8.213/91, dada pela lei 9.032/95,
passou a ser necessária a comprovação real da exposição aos agentes nocivos, sendo
indispensável a apresentação de formulários, independentemente do tipo de agente
especial. Além disso, a partir do Decreto nº 2.172/97, que regulamentou as disposições
introduzidas no art. 58 da Lei de Benefícios pela Medida Provisória nº 1.523/96 (convertida
na Lei nº 9.528/97), passou-se a exigir a apresentação de formulário-padrão, embasado em
laudo técnico, ou por meio de perícia técnica. No entanto, aqueles segurados que
desempenharam atividade considerada especial podem comprovar tal aspecto
observando a legislação vigente à data do labor desenvolvido.

No caso em tela, seguem anexos os formulários e / ou certidões de encerramento das


atividades das empresas, referentes a todos os períodos em que o Autor pleiteia o
reconhecimento das atividades especiais. Sendo assim, torna-se necessária a realização de
perícia técnica laboral, a fim de se obter uma avaliação detalhada acerca das atividades
desempenhadas. Nesse linha é a lição dada por Maria Helena Carreira Alvim Ribeiro2:

Ainda que o segurado não disponha de documentação comprovando a


prestação de serviços em condições insalubres, perigosas ou penosas,
2
RIBEIRO, Maria Helena Carreira Alvim. Aposentadoria especial: regime geral da previdência social.
Curitiba: Juruá, 2008 (p. 241).
poderá comprovar a atividade especial mediante ajuizamento de ação
ordinária previdenciária, requerendo a realização de perícia técnica.
(Sem grifos no original).

No que se refere à periculosidade, em que pese a inexistência de enquadramento nos


Decretos 2.172/97 e 3.048/99, não se pode olvidar que a Constituição Federal garante
tratamento diferenciado para aqueles que desempenham atividades “sob condições
especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física”, conforme o art. 201, § 1º. Tal
previsão também está disciplinada através do art. 57 da lei 8.213/91, que merece ser
transcrito:

Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a


carência exigida nesta Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a
condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade
física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme
dispuser a lei.
(Sem grifos na redação original).

Ora, claramente o objetivo do legislador é de garantir o direito à aposentadoria


especial aos trabalhadores que exercem as suas atividades sob condições perigosas. Caso
contrário, não haveria nestes dispositivos a expressão “integridade física”. Obviamente, “as
condições especiais que prejudiquem a saúde” englobam todas as atividades insalubres, de
forma que, o emprego da expressão “integridade física” seria totalmente desnecessário caso
não fosse diretamente relacionado à periculosidade.

De fato, a redação dos dispositivos é clara ao garantir o direito à aposentadoria


especial aos segurados que trabalharam em condições que prejudiquem a integridade
física. Ora, é óbvio que o vigilante está exposto a risco de morte ao defender o
patrimônio alheio, de forma que não há como restringir o reconhecimento das
atividades especiais apenas para os casos de insalubridade, sob pena da violação dos
preceitos constitucionais e infraconstitucionais.

Em recente decisão, a Turma Regional de Uniformização de Jurisprudência confirmou


a possibilidade do reconhecimento da periculosidade inclusive após a edição do Decreto nº
2.172/97. Vale conferir:

EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. TEMPO ESPECIAL. ABESTO/AMIANTO. FATOR DE


CONVERSÃO DE 1,75. VIGILANTE ARMADO. PERICULOSIDADE.
ENQUADRAMENTO SEM LIMITAÇÃO TEMPORAL DO DECRETO Nº 2.172/97.
PRECEDENTE DA TRU. 1. Com a edição do Decreto n.º 2.172/1997 e do Decreto n.º
3.048/1999, este com a redação dada pelo Decreto n.º 4.827/2003, o multiplicador
específico para as hipóteses de exposição a asbesto e amianto passou a equivaler a
1,75, conforme consta no artigo 70 do Decreto n.º 3.048/1999 e no código 1.0.2 do
Quadro Anexo IV do Decreto n.º 2.172/1997. 2. Ainda que a prejudicialidade do
agente nocivo asbesto tenha sido constatada posteriormente, através de estudos
científicos, e, tenha sido editada apenas em 1997, por força do Decreto n.º 2.172,
norma redefinindo o enquadramento da atividade pela exposição ao referido agente,
é certo que, independentemente da época da prestação laboral, a agressão ao
organismo era a mesma. 3. Portanto, devida a conversão dos períodos de labor
sujeitos aos agentes nocivos abesto/amianto pelo fator 1,75 anteriores a edição do
Decreto nº 2.172, de 05 de março de 1997. 3. É devido o reconhecimento da
natureza especial da atividade que expõe a risco a integridade física do
trabalhador em razão de periculosidade, mesmo após a edição do
Decreto 2.172/97. (IUJEF 0023137-64.2007.404.7195. Turma Regional de
Uniformização da 4ª Região. Relator p/ Acórdão Juiz Federal José Antônio Savaris.
D.E. 30/03/2011) 4. A atividade de vigilante armado caracteriza-se como periculosa e
não há limitação temporal para o reconhecimento da especialidade em face da
proteção constitucional à integridade física do trabalhador (art. 201, § 1º da CF). (,
IUJEF 0007420-56.2007.404.7051, Turma Regional de Uniformização da 4ª Região,
Relator p/ Acórdão João Batista Lazzari, D.E. 17/04/2012, sem grifos no original).

Por todo o exposto, o Autor possui direito à conversão do tempo de serviço especial
em comum do período em que trabalhou sujeito ao agente nocivo eletricidade.

DA REVISÃO DA RENDA MENSAL DO BENEFÍCIO

Com a análise do tempo de contribuição desenvolvido pela parte autora, percebe-se


que o INSS calculou de forma incorreta a renda mensal do benefício, eis que a falta de
conversão do período em que foram desenvolvidas atividades nocivas diminuiu
significativamente o tempo total de contribuição, o que acarretou na aplicação incorreta do
fator previdenciário.

Fator Previdenciário considerado: [0,8069]

Fator Previdenciário correto: [0,953878]

Sendo assim, considerando os prejuízos econômicos decorrentes do cálculo realizado


administrativamente, torna-se imperiosa a revisão do benefício de aposentadoria por tempo
de contribuição.

III – DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA


ENTENDE O AUTOR QUE A ANÁLISE DA MEDIDA ANTECIPATÓRIA PODERÁ
SER MELHOR APRECIADA EM SENTENÇA.

De acordo com a previsão do art. 43 da Lei 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais
Cíveis e Criminais), salvo situações excepcionais, deverá ser atribuído apenas o efeito
devolutivo aos recursos inominados. Tal disposição também possui aplicação aos Juizados
Especiais Federais, conforme disposto no art. 1º da Lei 10.259/01.

De qualquer forma, o Requerente necessita da revisão do benefício em tela para


custear a própria vida. Vale ressaltar que os requisitos exigidos para a concessão do
benefício se confundem com os necessários para o deferimento desta medida antecipatória,
motivo pelo qual, em sentença, se tornará imperiosa a sua concessão.

O caráter alimentar do benefício traduz um quadro de urgência que exige pronta


resposta do Judiciário, tendo em vista que nos benefícios previdenciários resta intuitivo o
risco de ineficácia do provimento jurisdicional final.

IV – DO PEDIDO

ISSO POSTO, requer:

a) O recebimento e o deferimento da presente peça inaugural;

b) A citação da Autarquia, por meio de seu representante legal, para que, querendo,
apresente defesa;

c) A produção de todos os meios de provas em direito admitidos, em especial o


documental e o pericial;

d) O deferimento da antecipação de tutela, com a apreciação do pedido de implantação do


benefício em sentença;

e) O julgamento da demanda com TOTAL PROCEDÊNCIA, condenando o INSS a:

1) Efetuar a conversão do tempo de serviço especial em comum do


seguinte período contributivo: 29/04/1995 a 09/08/2011;
2) Pagar as diferenças que se formarem em decorrência da revisão aqui
pleiteada, com o adimplemento das parcelas vencidas e vincendas,
desde a data de entrada do requerimento (09/08/2011), corrigidas
desde a época da competência de cada parcela até o efetivo
pagamento;

3) Requer seja determinada a incorporação ao benefício da parte autora


a vantagem decorrente da revisão postulada e seus reflexos nas
rendas mensais seguintes, devendo o valor revisado ser mantido até a
extinção do benefício.

Nesses Termos.
Pede Deferimento.

Dá à causa o valor3 de R$ 6.652,43.

Santa Maria, 29 de junho de 2012.

XXXXXXXXXXXXXXX

3
Valor da causa = 12 parcelas vincendas (R$ 3.614,04) + parcelas vencidas (R$ 3.038,39) = R$ 6.652,43.

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