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ILUSTRÍSSIMOS SENHORES CONSELHEIROS DA JUNTA DE RECURSOS DA

PREVIDÊNCIA SOCIAL.

Ref. Benefício n.º 42//194.704.584-6


Recorrente: LUIS FERNANDO HERCULANO DA SILVA

LUIS FERNANDO HERCULANO DA SILVA, já qualificado nos autos, por seu procurador
que esta subscreve, conforme procuração anexa ao processo, inconformado com a decisão fls.
do Órgão Competente do Instituto Nacional de Seguro Social, que negou o pedido de
aposentadoria no pedido de aposentadoria por tempo de contribuição, vem respeitosamente,
com amparo no artigo 305 e parágrafos, do Decreto 3.048/99, interpor RECURSO, expondo,
para tanto, as seguintes razões:

PRELIMINARMETE

Requer a possibilidade de reafirmação de DER, para quando o segurado


atingiu o tempo para a concessão da aposentadoria, nos termos da Instrução Normativa 77, que
dispõe sobre a administração de informações dos segurados e reconhecimento, a manutenção e
a revisão de direitos e beneficiários a Previdência Social e disciplina o processo administrativo
previdenciário no âmbito do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS:

“Art. 690. Se durante a análise do requerimento for verificado que o


segurado não satisfazia os requisitos para o reconhecimento do direito,
mas que os implementou em momento posterior, deverá o servidor
informar ao interessado sobre a possibilidade de reafirmação da DER,
exigindo-se para sua efetivação a expressa concordância por escrito.
Parágrafo único. O disposto no caput aplica-se a todas as situações que
resultem em benefício mais vantajoso ao interessado”
I - BREVE RESUMO DOS FATOS

O autor, apresentou formulou seu pedido de aposentadoria por tempo de


contribuição, na data de 11/11/2019, apresentou toda a documentação pertinente para a
concessão do benefício, como as Carteiras de Trabalho e os PPP das empresas em que laborou
em condições especiais, assim após análise o pedido fora indeferido por não possuir o tempo
mínimo necessário na data do requerimento, tendo sido apurado um tempo de 32 anos, e 07
meses e 03 dias até a DER.
Ocorre que há períodos que o INSS deveria ter efetuado enquadramento e não
o fez, deste modo, necessária tal procedimento, para reconhecimento das atividades não
convertidas como especiais.

II – DOS PERÍODOS NÃO ENQUADRADOS

Se observarmos a conclusão da análise médica concluída no processo


concessório, vimos que não foram enquadrados os seguintes períodos:

Para à Empresa PODBOI S.A INDÚSTRIA E COMÉRCIO, laborado no


período de 06/03/1997 à 24/10/1998 e de 14/06/1999 à 15/09/2000, o segurado esteve exposto
de forma habitual e permanente, ao agente nocivo ruído, de 90,00 dB(A), acima do limite de
tolerância permitido, conforme determina o art. 280 da IN 77/2015, ainda, esteve exposto a
vários agentes químicos, prejudiciais à saúde, como Acetato de Etila, Ciclohexanol, Metil Etil
Cetona, anilinas, álcool, formol, esmaltes, vernizes, solventes entre outros, e na conclusão do
laudo, item 7 “ De acordo com a Lei nº 6.514 de 22/12/1977 e Portaria nº 3.214 de
08/06/1978 NR 15 e seus anexos, as atividades acima descritas são consideradas
insalubres”, devendo para tanto, tais períodos serem enquadrados.

Para à Empresa ATACADÃO LAZER INDÚSTRIA E COMÉRCIO


LTDA-ME, laborado nos períodos de 01/11/2000 à 22/09/2005, na função de serviços gerais,
onde esteve exposto a diversos ruídos, sendo 3 deles, prejudiciais à saúde, e ainda de
03/11/2009 à 30/11/2016, na função de Empilhadeirista, o segurado esteve exposto de forma

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habitual e permanente, ao agente nocivo ruído, de 89,16 dB(A), acima do limite de tolerância
permitido, conforme determina o art. 280 da IN 77/2015, devendo para tanto ser
enquadrado.
Deste modo, o enquadramento, conforme dispõe a IN 77/2015 em seu
artigo 280, se dá da seguinte forma:

“Art. 280. A exposição ocupacional a ruído dará ensejo a caracterização de


atividade exercida em condições especiais quando os níveis de pressão sonora
estiverem acima de oitenta dB (A), noventa dB (A) ou 85 (oitenta e cinco) dB
(A), conforme o caso, observado o seguinte:

I - até 5 de março de 1997, véspera da publicação do Decreto nº 2.172, de 5


de março de 1997, será efetuado o enquadramento quando a exposição for
superior a oitenta dB (A), devendo ser informados os valores medidos;

II - de 6 de março de 1997, data da publicação do Decreto nº 2.172, de 5 de


março de 1997, até 10 de outubro de 2001, véspera da publicação da
Instrução Normativa INSS/DC nº 57, de 10 de outubro de 2001, será efetuado
o enquadramento quando a exposição for superior a noventa dB (A), devendo
ser informados os valores medidos;

III - de 11 de outubro de 2001, data da publicação da Instrução Normativa


INSS/DC nº 57, de 10 de outubro de 2001, véspera da publicação do Decreto
nº 4.882, de 18 de novembro de 2003, será efetuado o enquadramento quando
a exposição for superior a noventa dB (A), devendo ser anexado o histograma
ou memória de cálculos; e

IV - a partir de 01 de janeiro de 2004, será efetuado o enquadramento quando


o Nível de Exposição Normalizado - NEN se situar acima de 85 (oitenta e
cinco) dB (A) ou for ultrapassada a dose unitária, conforme NHO 1 da
FUNDACENTRO, sendo facultado à empresa a sua utilização a partir de 19
de novembro de 2003, data da publicação do Decreto nº 4.882, de 2003,
aplicando:

a) os limites de tolerância definidos no Quadro do Anexo I da NR-15 do


MTE; e

b) as metodologias e os procedimentos definidos nas NHO-01 da


FUNDACENTRO.”

Para o trabalho exercido até o advento da Lei nº 9.032/95 bastava o


enquadramento da atividade especial de acordo com a categoria profissional a que pertencia o
trabalhador, segundo os agentes nocivos constantes nos róis dos Decretos nº 53.831/64 e
83.080/79, cuja relação é considerada como meramente exemplificativa. Com a promulgação da
Lei nº 9.032, passou-se a ser exigida a efetiva comprovação de exposição do trabalhador aos
agentes nocivos através de laudo pericial. A conversão de tempo de serviço especial em comum
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também pode ser feita antes da entrada em vigor da Lei 6.887/80, pois já era prevista na Lei
Orgânica da Previdência Social (LOPS), Lei 3.807/60.
Ou seja, o tempo de serviço prestado sob condições especiais poderá ser
convertido em tempo de atividade comum, independente da época trabalhada (Decreto
3.048/99, art. 70, §§ 1º e 2º).
A respeito, oportuna a lição de Hermes Arrais Alencar:
“Para a comprovação da insalubridade dos trabalhos exercidos até a
data de 28.04.1995 (Lei nº 9.032, de 1995), basta a apresentação do
formulário SB-40(atualmente DSS-8030), especificando de forma
minuciosa as funções exercidas pelo trabalhador (atividade
profissional), e que o segurado encontrava-se exposto de modo habitual
e permanente a agentes nocivos constantes dos anexos vinculados aos
Decretos nº 53.831/64 e 83.080/79. A comprovação da insalubridade do
exercício laboral realizado após29.04.1995, ressalvados os benefícios
requeridos anteriormente à edição da Medida Provisória nº 1.523/96,
de 10.11.96, mister se faz a apresentação de laudo técnico-pericial,
comprovando a exposição do segurado aos agentes nocivos descritos
nos anexos dos Decretos nº 53.831/64e 83.080/79.E, posteriormente a
05.03.1997, a exposição habitual e permanente aos agentes nocivos
constantes do Anexo IV do Decreto 2.172/97, substituído pelo Decreto
nº 3.048/99, mediante a apresentação de laudo. O tempo de serviço é
regido sempre pela lei da época em que for prestado, em respeito ao
direito adquirido. Afinal, no âmbito Previdenciário, o direito adquirido
é conquistado dia-a-dia. Esse é o comando consignado no § 1º do
artigo 70 do Decreto nº 3.048.”(“Benefícios Previdenciários”, Editora
Universitária de Direito (EUD), 3ª Ed., 2007, p. 443).

Quanto aos meios de comprovação do exercício da atividade em condições


especiais, até 28/4/95, bastava a constatação de que o segurado exercia uma das atividades
constantes dos anexos dos Decretos nºs 53.831/64 e 83.080/79. O rol dos referidos anexos é
considerado meramente exemplificativo (Súmula nº 198 do extinto TFR).

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Com a edição da Lei nº 9.032/95, a partir de 29/4/95 passou-se a exigir por
meio de formulário específico a comprovação da efetiva exposição ao agente nocivo
perante o Instituto Nacional do Seguro Social.
A Medida Provisória nº 1.523 de 11/10/96, a qual foi convertida na Lei nº
9.528 de 10/12/97, ao incluir o § 1º ao art. 58 da Lei nº 8.213/91, dispôs sobre a necessidade da
comprovação da efetiva sujeição do segurado a agentes nocivos à saúde do segurado por meio
de laudo técnico, motivo pelo qual considerava necessária a apresentação de tal documento a
partir de 11/10/96. No entanto, a fim de não dificultar ainda mais o oferecimento da
prestação jurisdicional, passei a adotar o posicionamento no sentido de exigir a
apresentação de laudo técnico somente a partir 6/3/97, data da publicação do Decreto nº
2.172, de 5/3/97, que aprovou o Regulamento dos Benefícios da Previdência Social.
Nesse sentido, quadra mencionar os precedentes do C. Superior Tribunal de
Justiça: Incidente de Uniformização de Jurisprudência, Petição nº 9.194/PR, Relator Ministro
Arnaldo Esteves Lima, 1ª Seção, j. em 28/5/14, v.u., DJe 2/6/14; AgRg no AREsp. nº 228.590,
Relator Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, 1ª Turma, j. em 18/3/14, v.u., DJe 1º/4/14; bem
como o acórdão proferido pela Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais
Federais no julgamento do Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei Federal nº
0024288-60.2004.4.03.6302, Relator para Acórdão Juiz Federal Gláucio Ferreira Maciel
Gonçalves, j. 14/2/14, DOU 14/2/14.
Por fim, observo que o art. 58 da Lei nº 8.213/91, com a redação dada pela
Medida Provisória nº 1.523 de 11/10/96, a qual foi convertida na Lei nº 9.528 de 10/12/97, em
seu § 4º, instituiu o Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), sendo que, com a edição do
Decreto nº 4.032/01, o qual alterou a redação dos §§ 2º e 6º e inseriu o § 8º ao art. 68 do
Decreto nº 3048/99, passou-se a admitir o referido PPP para a comprovação da efetiva
exposição do segurado aos agentes nocivos. Ademais, verifico que, com o advento do Decreto
nº 8.123/13, o referido artigo assim dispôs:
"Art. 68.
(...)
§ 3º A comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos
será feita mediante formulário emitido pela empresa ou seu preposto, com base em laudo
técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro
de segurança do trabalho.
(...)

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§ 8º A empresa deverá elaborar e manter atualizado o perfil profissiográfico
do trabalhador, contemplando as atividades desenvolvidas durante o período laboral,
documento que a ele deverá ser fornecido, por cópia autêntica, no prazo de trinta dias da
rescisão do seu contrato de trabalho, sob pena de sujeição às sanções previstas na legislação
aplicável.
§ 9º Considera-se perfil profissiográfico, para os efeitos do § 8º, o documento
com o histórico laboral do trabalhador, segundo modelo instituído pelo INSS, que, entre outras
informações, deve conter o resultado das avaliações ambientais, o nome dos responsáveis pela
monitoração biológica e das avaliações ambientais, os resultados de monitoração biológica e
os dados administrativos correspondentes.
(...)"
Devo salientar também que o laudo (ou PPP) não contemporâneo ao
exercício das atividades não impede a comprovação de sua natureza especial, desde que
não tenha havido alteração expressiva no ambiente de trabalho.
Ademais, se em data posterior ao trabalho realizado foi constatada a
presença de agentes nocivos, é de bom senso imaginar que a sujeição dos trabalhadores à
insalubridade não era menor à época do labor, haja vista os avanços tecnológicos e a
evolução da segurança do trabalho que certamente sobrevieram com o passar do tempo.
Quadra ressaltar, por oportuno, que o PPP é o formulário padronizado,
redigido e fornecido pela própria autarquia, sendo que no referido documento não consta campo
específico indagando sobre a habitualidade e permanência da exposição do trabalhador ao
agente nocivo, diferentemente do que ocorria nos anteriores formulários SB-40, DIRBEN 8030
ou DSS 8030, nos quais tal questionamento encontrava-se de forma expressa e com campo
próprio para aposição da informação. Dessa forma, não me parece razoável que a deficiência
contida no PPP possa prejudicar o segurado e deixar de reconhecer a especialidade da atividade
à míngua de informação expressa com relação à habitualidade e permanência.
Vale ressaltar que o uso de equipamentos de proteção individual - EPI
não é suficiente para descaracterizar a especialidade da atividade, a não ser que
comprovada a real efetividade do aparelho na neutralização do agente nocivo, sendo que,
em se tratando, especificamente, do agente ruído, não há, no momento, equipamento capaz de
neutralizar a nocividade gerada pelo referido agente agressivo, conforme o julgamento
realizado, em sessão de 4/12/14, pelo Plenário do C. Supremo Tribunal Federal, na Repercussão

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Geral reconhecida no Recurso Extraordinário com Agravo nº 664.335/SC, de Relatoria do E.
Ministro Luiz Fux.
Ainda, que a informação registrada pelo empregador no Perfil
Profissiográfico Previdenciário (PPP) sobre a eficácia do EPI não tem o condão de
descaracterizar a sujeição do segurado aos agentes nocivos. Conforme tratado na decisão
proferida pelo C. STF na Repercussão Geral acima mencionada, a legislação previdenciária
criou, com relação à aposentadoria especial, uma sistemática na qual é colocado a cargo do
empregador o dever de elaborar laudo técnico voltado a determinar os fatores de risco
existentes no ambiente de trabalho, ficando o Ministério da Previdência Social responsável por
fiscalizar a regularidade do referido laudo. Ao mesmo tempo, autoriza-se que o empregador
obtenha benefício tributário caso apresente simples declaração no sentido de que existiu o
fornecimento de EPI eficaz ao empregado.
Notório que o sistema criado pela legislação é falho e incapaz de promover a
real comprovação de que o empregado esteve, de fato, absolutamente protegido contra o fator
de risco. A respeito, é precisa a observação do E. Ministro Luís Roberto Barroso, ao sustentar
que "considerar que a declaração, por parte do empregador, acerca do fornecimento de EPI
eficaz consiste em condição suficiente para afastar a aposentadoria especial, e, como será
desenvolvido adiante, para obter relevante isenção tributária, cria incentivos econômicos
contrários ao cumprimento dessas normas" (Normas Regulamentadoras relacionadas à
Segurança do Trabalho).
Exata, ainda, a manifestação do E. Ministro Marco Aurélio, ao invocar o
princípio da primazia da realidade, segundo o qual uma verdade formal não pode se sobrepor
aos fatos que realmente ocorrem - sobretudo em hipótese na qual a declaração formal é prestada
com objetivos econômicos.
Logo, se a legislação previdenciária cria situação que resulta, na prática, na
inexistência de dados confiáveis sobre a eficácia ou não do EPI, não se pode impor ao segurado
- que não concorre para a elaboração do laudo, nem para sua fiscalização - o dever de fazer
prova da ineficácia do equipamento de proteção que lhe foi fornecido. Caberá, portanto, ao
INSS o ônus de provar que o trabalhador foi totalmente protegido contra a situação de
risco, pois não se pode impor ao empregado - que labora em condições nocivas à sua saúde
- a obrigação de suportar individualmente os riscos inerentes à atividade produtiva
perigosa, cujos benefícios são compartilhados por toda a sociedade.

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III – DOS PEDIDOS

Deste modo, requer que seja dado provimento ao presente recurso, acolhendo
os pedidos feitos pela parte autora, com o devido reconhecimento dos períodos laborados em
condições especiais, na empresa:
PODBOI S.A INDÚSTRIA E COMÉRCIO, laborado no período de
06/03/1997 à 24/10/1998 e de 14/06/1999 à 15/09/2000;
ATACADÃO LAZER INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA-ME, laborado
nos períodos de 01/11/2000 à 22/09/2005 e de 03/11/2009 à 30/11/2016;

Ainda, por se tratar de direitos e garantias do próprio recorrente, em


conformidade com a lei vigente a época, subsidiariamente, se necessária a reafirmação da DER,
tendo em vista o segurado continuar vertendo contribuições à previdência, ensejando direito a
concessão do benefício de aposentadoria por tempo de contribuição.

Termos em que
Pede Deferimento

Leme (SP), 26 de agosto de 2020.

MATHEUS FIGUEIREDO DE SOUZA


CPF/MF: 429.010.778-89

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