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PROCESSO Nº: 0800481-95.2014.4.05.

8201 - APELAÇÃO / REEXAME NECESSÁRIO


APELANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
APELADO: FRANCISCO MORENO DOS SANTOS
ADVOGADO: MARGARETE NUNES DE AGUIAR
RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL MANOEL DE OLIVEIRA ERHARDT - 1º
TURMA

RELATÓRIO

1. Trata-se remessa oficial e apelação contra sentença que julgou


PROCEDENTE o pedido inicial, apreciando a lide com resolução do mérito (art. 269, inciso I, do
CPC), reconhecendo o período de 01/06/1981 a 16/02/1982 e de 09/08/1985 a 30/06/2010 como
laborado em condições especiais, condenando o INSS à concessão do benefício previdenciário
de aposentadoria especial ao autor, desde a data do requerimento administrativo (18/11/2013).
Sobre o valor da condenação deverá incidir correção monetária e juros moratórios, desde quando
devida cada parcela, de acordo com os índices recomendados pelo Manual de Orientação de
Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal. Em face da sucumbência total do INSS,
condeno-o a pagar ao autor honorários advocatícios sucumbenciais arbitrados em R$ 1.000,00
(um mil reais), nos termos do art. 20, § 4.º, do CPC.

2. Alega o apelante, em preliminar, a prescrição quinquenal. No mérito,


afirma: a) relativamente ao período de 29.04.95 a 05.03.97, a necessidade de comprovação da
efetiva exposição as agentes nocivos através dos formulários oficiais SB-40 e DSS-8030, embora
inexigível, ainda laudo técnico; b) no que pertine ao período de 05.03.97 a 28.05.98, aduz a
necessidade de laudo; c) a impossibilidade de conversão de tempo especial para comum após
28.05.98; d) a utilização de EPI eficaz pelo apelado.

3. Não houve contrarrazões.

4. É o que havia de relevante para relatar.

PROCESSO Nº: 0800481-95.2014.4.05.8201 - APELAÇÃO / REEXAME NECESSÁRIO


APELANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
APELADO: FRANCISCO MORENO DOS SANTOS
ADVOGADO: MARGARETE NUNES DE AGUIAR
RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL MANOEL DE OLIVEIRA ERHARDT - 1º
TURMA
VOTO

1. A sentença apelada julgou PROCEDENTE o pedido inicial, apreciando a


lide com resolução do mérito (art. 269, inciso I, do CPC), reconhecendo o período de 01/06/1981
a 16/02/1982 e de 09/08/1985 a 30/06/2010 como laborado em condições especiais, condenando
o INSS à concessão do benefício previdenciário de aposentadoria especial ao autor, desde a data
do requerimento administrativo (18/11/2013). Sobre o valor da condenação deverá incidir
correção monetária e juros moratórios, desde quando devida cada parcela, de acordo com os
índices recomendados pelo Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça
Federal. Em face da sucumbência total do INSS, condeno-o a pagar ao autor honorários
advocatícios sucumbenciais arbitrados em R$ 1.000,00 (um mil reais), nos termos do art. 20, §
4.º, do CPC.

2. O provimento jurisdicional de Primeira Instância não merece reparos.


Trago, aqui, a fundamentação do mesmo como motivação deste voto[1], na medida em que o
MM. Juiz de Primeiro Grau demonstrou, com propriedade, as razões pelas quais não deve
prosperar a presente remessa obrigatória:

"II - FUNDAMENTAÇÃO

II.1) Da Prescrição

O INSS arguiu, em sua contestação, a prescrição das parcelas vencidas anteriores ao quinquênio
que precede o ajuizamento da ação. Ocorre que, entre a data do requerimento administrativo
(18.11.2013) e o ajuizamento desta ação (14.05.2014) não se passaram mais de 5 (cinco) anos,
razão pela qual deve ser afastada a prescrição quinquenal arguida pelo INSS.

II.2) Do mérito

A aposentadoria especial foi instituída pelo art. 31, da Lei 3.807/60, e pode ser conceituada como
sendo o benefício decorrente do trabalho realizado em condições prejudiciais à saúde ou à
integridade física do segurado, de acordo com a previsão da lei.

Por sua vez, o artigo 201, §1º, da Constituição Federal traz em seu texto o próprio fundamento
constitucional de existência e justificativa da aposentadoria especial, servindo, não como um
privilégio generalizado ou uma ofensa ao princípio da isonomia, mas, sim, à sua própria
aplicação.
Ao mesmo tempo em que encontra respaldo na própria definição da isonomia material, torna-a
concreta, conferindo a pessoas que, por laborarem em condições especiais prejudiciais à sua
saúde, necessitam de um enquadramento diferenciado.

Desse modo, tratando-se de uma situação de exceção, bem como de verdadeiro benefício
previdenciário a ser pago àqueles que, efetivamente, contribuam para o sistema, torna-se
imperioso determinar quem serão esses beneficiários e quais são os requisitos a serem
preenchidos.

A lei 8.213/91, em especial, dispõe, em seu artigo 57, que a aposentadoria especial será
concedida "(...) ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a
saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme
dispuser a lei".

O período de carência a ser respeitado é o previsto no artigo 142 da citada norma.

Por outro lado, o artigo 58, §1º, traz os requisitos específicos para a aferição das condições
especiais que prejudiquem a saúde e a integridade física dos segurados, sendo objeto de sérias
discussões doutrinárias, em razão de suas várias modificações desde a promulgação da lei.

Nesse diapasão, é importante, antes, fazer um histórico acerca dessas mudanças, a fim de que
se descubra qual(is) norma(s) deve(m) ser aplicadas no período de preenchimento dos requisitos
do benefício.

No período até 28/04/95, para o reconhecimento das condições de trabalho como especiais, era
suficiente que o segurado comprovasse o exercício de uma das atividades previstas no anexo do
Decreto nº. 53.831/64 ou nos anexos I e II do Decreto nº. 83.080/79, não sendo necessário fazer
prova efetiva da exposição às condições prejudiciais à saúde ou à integridade física.

A partir de 29/04/95, com a edição da Lei nº. 9.032/95, que alterou a Lei nº. 8.213/91, o
reconhecimento da insalubridade passou a exigir a efetiva exposição aos agentes agressivos
previstos no Anexo I do Decreto nº. 83.080/79 ou no código 1.0.0 do Anexo ao Decreto nº.
53.831/64, o que se comprovava através da apresentação do documento de informação sobre
exposição a agentes agressivos (conhecido como SB 40 ou DSS 8030).

Com o advento da Medida Provisória nº. 1.523/96, posteriormente convertida na Lei nº. 9.528/97,
a redação do art. 58 da Lei nº. 8.213/91 foi modificada, passando-se a exigir a elaboração de
laudo técnico assinado por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho.

No entanto, a jurisprudência do STJ firmou posicionamento no sentido de que essa exigência só é


possível a partir da edição daquele diploma legal de 1997 e não da data da Medida Provisória
mencionada.

Sucessivos atos do Poder Executivo regularam o enquadramento das atividades laborativas como
insalubres. Antes de 05.03.97, os agentes agressivos estavam previstos nos Decretos nº.
53.831/64 e 83.080/79; de 06.03.1997 a 06/05/99, no Decreto nº. 2.172/97; e, de 07/05/99 até os
dias atuais, no Decreto nº. 3.048/99.

Érelevante mencionar, no que se refere à contagem do tempo de serviço, que a lei a discipliná-la
é aquela vigente à época do serviço prestado (vide artigo 1º, § 1º, do Decreto nº. 4.827, de
3.9.2003). Destarte, se novas exigências são impostas ou novas proibições são criadas após o
período trabalhado, não poderão ser aplicadas ao tempo pretérito, em prejuízo do trabalhador.

Nesse sentido, elucidativo se mostra o julgado infra:

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PREVIDENCIÁRIO. AGENTE NOCIVO


ELETRICIDADE. LEI 9.528/97. LAUDO TÉCNICO PERICIAL. FORMULÁRIO.
PREENCHIMENTO. EXPOSIÇÃO ATÉ 28/05/1998. COMPROVAÇÃO.

I - O e. Superior Tribunal de Justiça sedimentou o entendimento segundo o qual o tempo de


serviço é regido pela legislação em vigor ao tempo em que efetivamente exercido o labor, que se
incorpora ao acervo jurídico do segurado. O direito adquirido, portanto, não pode sofrer prejuízo
em virtude de inovação legal.

II - A necessidade de comprovação do exercício de atividade insalubre por meio de laudo pericial


elaborado por médico ou engenheiro de segurança do trabalho foi exigência criada a partir do
advento da Lei 9.528, de 10/12/97, que alterou o § 1º, do art. 58, da Lei 8.213/91.

III - Para além do laudo pericial, no entanto, a comprovação da efetiva exposição do segurado
aos agentes nocivos também exige o preenchimento de formulário emitido pela empresa ou seu
preposto, fulcrado no referido laudo técnico das condições ambientais do trabalho. Precedentes.

IV - In casu, seguindo-se as linhas do entendimento consolidado neste c. Tribunal Superior, bem


como os elementos colacionados no v. acórdão a quo, restou devidamente certificado o trabalho
do segurado em condições especiais até 28/5/1998.

V - Agravo regimental desprovido.

(STJ. AgRg no REsp 1140885/RS, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em
29/04/2010, DJe 24/05/2010).

Feitas as considerações preliminares acerca da(s) norma(s) a ser(em) observada(s) no


julgamento da lide, passo a analisar o caso concreto.

O direito à contagem do tempo de serviço (contribuição) incorpora-se ao patrimônio (acervo dos


direitos exercitáveis pelo seu titular) do segurado numa base diária, ou seja, a cada dia de
atividade laboral é o direito ao respectivo cômputo dessa unidade de tempo de serviço
(contribuição) adquirido.

A legislação que rege o direito à contagem do tempo de serviço (contribuição) é, portanto, aquela
vigente ao momento da prática profissional do segurado, não podendo normas posteriores
alterarem, em prejuízo de seu titular, os critérios de aquisição desse direito já incorporado, sob
pena de violação da garantia constitucional do direito adquirido.

Conforme visto anteriormente, até o advento da Lei n. 9.032/95, em 29/04/1995, era possível o
reconhecimento do tempo de serviço especial, com base na categoria profissional do trabalhador,
bastando que a atividade estivesse enquadrada nas relações dos Decretos 53.831/64 ou
83.080/79, hipótese em que havia uma presunção legal de exercício da atividade em condições
ambientais agressivas ou perigosas. Nesses casos, o reconhecimento do tempo de serviço
especial não depende de comprovação da exposição efetiva aos agentes nocivos. Com a
promulgação da Lei nº /95, passou-se a exigir a comprovação 9.032 da efetiva exposição aos
agentes nocivos, para fins de reconhecimento do tempo de serviço especial, através dos
formulários SB-40 e DSS-8030, até a edição do Decreto 2.172, de 05/03/1997, que,
regulamentando a MP 1523/96 (convertida na Lei 9.528/97), passou a exigir o laudo técnico.

No caso dos autos, considerando que o tempo de serviço é disciplinado pela lei vigente à época
em que efetivamente prestado, para se examinar se a atividade desenvolvida pelo autor no
período de 01/06/1981 a 10/10/2013, nas condições de cobrador, inspetor e supervisor de
produção, se enquadra ou não como atividade especial, impõe-se a cisão do lapso temporal
referido em três períodos: (a) de 01/06/1981 a 28/04/1995 (período anterior ao advento da Lei
9.032/95); (b) de 29/04/1995 a 05/03/1997 (período anterior ao advento da Lei 9.528/97); (c) e de
06/03/1997 a 10/10/2013.

Em relação ao período de 01/06/1981 a 28/04/1995, vale ressaltar que o demandante exerceu


três diferentes atividades: cobrador em transporte coletivo (conforme prova a cópia da carteira de
trabalho anexada à página 4 do Identificador 4058201.166451), inspetor e supervisor de produção
(conforme prova o PPP anexado sob o Identificador 4058201.166453).

No tocante à primeira atividade desempenhada, consta no Decreto 53.831/64 a profissão de


cobrador de ônibus como trabalho penoso, tornando, sob um primeiro exame, o segurado apto à
concessão do benefício de aposentadoria especial. Ocorre que o supracitado Decreto exige a
comprovação de temperatura acima de 28º (vinte e oito graus) no local de trabalho, o que não
resta provado através das documentações colacionadas ao presente processo. Destarte, ante
esta falta de comprovação, não há como se reconhecer tal período como sendo laborado em
condições especiais.

Já em relação às atividades de inspetor e supervisor de produção, as Informações sobre


atividades em condições especiais, anexadas sob o Identificador 4058201.166454 (Páginas 1 e
5), atestam a realização de tais atividades entre os períodos de 09/08/1985 a 31/10/1989 e de
01/11/1989 a 31/12/2003, destacando que o autor estava exposto ao agente físico nocivo ruído,
numa escala de 86 (oitenta e seis) a 89 (oitenta e nove) e 91 (noventa e um) decibéis
respectivamente, obedecendo ao que dispõe o Decreto 53.831/1964 que também exige, para a
configuração da condição especial de desempenho de tal labor, a comprovação de que os ruídos
são superiores a 80 (oitenta) decibéis.

Assim, entendo estar comprovada a realização de trabalho em condições especiais durante o


lapso temporal compreendido entre 09/08/1985 a 28/04/1995.

Quanto ao lapso temporal compreendido entre 29/04/1995 a 05/03/1997, conforme já exposto,


passou-se a exigir a comprovação da efetiva exposição aos agentes nocivos, para fins de
reconhecimento do tempo de serviço especial, através dos formulários SB-40 e DSS-8030.

Embora a parte autora não tenha anexado os formulários SB-40 e DSS-8030, no caso presente,
entendo que tanto o laudo técnico das condições ambientais de trabalho - LTCAT (Identificador
4058201.166454 - Páginas 6, 7, 8, 9, 10 e 11), bem como as próprias Informações sobre
atividades em condições especiais (Identificador 4058201.166454 - Páginas 1 e 5), em que se
constata a existência do fator de risco no labor, podem ser considerados provas mais
substanciais das situações especiais do trabalho, suprindo, inclusive, os formulários próprios.

Ademais, é cediço que a comprovação de efetiva exposição a agentes agressivos à saúde do


segurado ou à sua integridade física pode ser obtida pelo emprego de qualquer meio de prova em
direito admitido, antes da alteração de 1997. Esse posicionamento, inclusive, é objeto de súmula
(n.º 20) do Conselho de Recursos da Previdência Social, conforme se interpreta de sua leitura.

Portanto, da análise das provas constantes dos autos, verifica-se que, em tal lapso temporal (abril
de 1995 a março de 1997), igualmente houve realização de atividades em condições especiais,
haja vista que o Laudo Técnico Pericial igualmente atesta que

"6.3 RISCOS OCUPACIONAIS.

Riscos Físicos = Ruído 91 dB(A) dosimetria.

6.4 JORNADA DE TRABALHO E TEMPO DE EXPOSIÇÃO AO RISCO.


O segurado trabalhou na empresa de 01/11/1989 à 31/12/2003 com Jornada de 8 horas diárias,
com intervalo para refeição. O segurado, no exercício de suas atividades, trabalhava de modo
habitual e permanente em ambiente com presença dos agentes contemplados no item 6.3.".
(Identificador 4058201.158219, Página 7, grifos acrescidos)

Na mesma linha, as Informações sobre atividades em condições especiais (Identificador


4058201.166454 - Páginas 1 e 5) concluiu que:

"O agente ruído medido no posto de trabalho do segurado era superior ao limite de tolerância
previsto na Norma Regulamentadora Nº 15 e seus Anexos." (Identificador 4058201.166454,
Página 5, grifos acrescidos)

Logo, diante do contexto probatório, existindo extensa lista de documentos que comprovam a
especialidade da atividade, mesmo com a ausência dos formulários SB-40 e DSS-8030, deve ser
reconhecido o caráter especial do trabalhado realizado entre abril de 1995 e março de 1997. Em
sentido semelhante, destaco o seguinte julgado:

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL. CONTAGEM DO TEMPO DE SERVIÇO


PRESTADO EM CONDIÇÕES PREJUDICIAIS À SAÚDE. POSSIBILIDADE. ART. 57 DA LEI
8.213/91.

1. No caso, pretende o autor o reconhecimento, como especial, do tempo trabalhado como


minerador e mecânico minerador, em diversas empresas, bem como o reconhecimento do tempo
especial em que exerceu as funções de mecânico, técnico de mecânico e trainner operador
minerador nos períodos respectivos de 07/02/1984 a 08/09/2005, conforme consta nas anotações
da carteira de trabalho e previdência social - CTPS.

2. O tempo de serviço é regido sempre pela lei da época em que foi prestado. Dessa forma, em
respeito ao direito adquirido, se o Trabalhador laborou em condições adversas e a lei da época
permitia a contagem de forma mais vantajosa, o tempo de serviço assim deve ser contado e lhe
assegurado.

3. De acordo com a jurisprudência do STJ, o rol de atividades consideradas insalubres, perigosas


ou penosas previstas nos Decretos ns. 53.831/1964 e 83.080/79 é apenas exemplificativo; de tal
forma que a ausência do enquadramento do agente nocivo ou da atividade desempenhada não
inviabiliza a sua consideração para fins de concessão de aposentadoria, se devidamente
demonstradas as condições nocivas à saúde do trabalhador. (REsp 666.479/PB, Rel. Ministro
Hamilton Carvalhido, Sexta Turma, julgado em 18/11/2004, DJ 01/02/2005, p. 668).

4. Na hipótese, restou demonstrado através da vasta documentação acostada aos autos, ou seja,
Laudo de avaliação de insalubridade, fl. 47, Laudos Técnicos de fls. 52 a 69, Informações da
Previdência sobre Atividades com Exposição a que o autor trabalhava exposto Agentes
Agressivos fl. 70/71 e do Perfil Profissiográfico Previdenciário, fl 72, a nível de ruído acima dos
limites de tolerância e expostos a agentes agressivos de modo habitual e permanente, fazendo
jus, portanto, ao cômputo de serviço especial de forma majorada.

5. Remessa oficial e apelações improvidas. (AC 200785000014009, Desembargador Federal


Manoel Erhardt, TRF5 - Primeira Turma, DJE - Data: 03/04/2012 - Página: 171.)

Por fim, quanto ao período posterior a 05/03/1997, cumpre destacar novamente que se passou a
exigir a elaboração de laudo técnico assinado por médico do trabalho ou engenheiro de
segurança do trabalho. Tais laudos, no caso dos autos, encontram-se anexados sob o
Identificador 4058201.166454. Contudo, antes de analisá-los, cumpre-me destacar que, com a
entrada em vigor do Decreto 2.172/1997, a partir de 06 de março de 1997, para caracterização da
realização de atividade especial em decorrência do ruído, passou-se a exigir uma exposição
permanente a níveis de ruído acima de 90 (noventa) decibéis, e não mais de 80 (oitenta),
conforme previa o Decreto 53.831/1964. Tal exigência permaneceu até a entrada em vigor de um
novo Decreto, o 4.882, de 19 de novembro de 2003, que reduziu tal limite para 85 (oitenta e
cinco) decibéis.

Feitas tais considerações, e passando-se a analisar os laudos técnico-periciais, observa-se que,


de acordo com os laudos anexados, entre 06 de março de 1997 e 19 de novembro de 2003 o
ruído ao qual o demandante estava submetido equivale a 91 (noventa e um) dB(A), superior,
portanto, ao previsto no Decreto 2.172/1997 (Identificador 4058201.166454, Página 7). Por sua
vez, após novembro de 2003 até 2009, o limite de ruído ao qual estava o autor submetido
igualmente atende aos limites impostos, desta vez pelo Decreto 4.882/2003 (85 decibéis),
conforme se vê do supracitado laudo:

6.3 RISCOS OCUPACIONAIS.

Riscos Físicos = Ruído - Anos 2004 94,00 dB(A), 2005 89,05 dB(A), 2006 89,52 dB(A), 2007
89,51 dB(A), 2008 89,46 dB(A) E 2009 94,40 dB(A).

Já em relação ao período posterior a 2009, os Perfis Profissiográficos Previdenciários (PPPs)


atestam, igualmente, estar o promovente submetido a ruídos superiores a 85 decibéis, sendo 94,4
dB(A) entre 01/01/2009 e 30/06/2010 (Identificador 4058201.166453). No que concerne ao
período posterior a junho de 2010, não constam dos autos nenhum documento que comprove ter
sido o autor submetido, em seu ambiente de trabalho, a ruídos superiores a 85 decibéis, razão
pela qual não há como se reconhecer tal lapso temporal como laborado em condições especiais.

Destaque-se, enfim, que não prosperam os argumentos da autarquia previdenciária no sentido de


que o uso de EPIs, com a consequente neutralidade do agente físico nocivo, teria afastado a
natureza especial do labor. Nossos tribunais vêm se manifestando no sentido de que a utilização
de tais equipamentos, por si só, não é apta a desconfigurar a natureza especial do trabalho.
Neste sentido, destaco os seguintes julgados:
PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA. TEMPO DE SERVIÇO
ESPECIAL. EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL - EPI. COMPROVAÇÃO DE
NEUTRALIZAÇÃO DE INSALUBRIDADE. REEXAME DE FATOS E PROVAS. SÚMULA 7/STJ.

1. Este Tribunal Superior posiciona-se no sentido de que o simples fornecimento de EPI, ainda
que tal equipamento seja efetivamente utilizado, não afasta, por si só, a caracterização da
atividade especial. Também está assentado que, se a eficácia do Equipamento de Proteção
Individual implicar revolvimento da matéria fático-probatória, como é o presente caso, o
conhecimento do Recurso Especial esbarra no óbice da Súmula 7/STJ.

2. Agravo Regimental não provido. (AGRESP 201400906282, HERMAN BENJAMIN, STJ -


SEGUNDA TURMA, DJE DATA: 24/06/2014 grifos acrescidos)

PREVIDENCIÁRIO. AVERBAÇÃO DO TEMPO DE SERVIÇO PRESTADO EM CONDIÇÕES


PREJUDICIAIS À SAÚDE. CONTAGEM ESPECIAL. REQUISITOS PARA CONCESSÃO DE
APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO PREENCHIDOS. ART. 201, PARÁG. 7º,
DA CF/88. HONORÁRIOS. SÚMULA 111 DO STJ.

1. Versa a matéria dos presentes autos acerca da possibilidade (ou não) do reconhecimento do
tempo de serviço exercido em condições especiais pelo autor nas funções de cobrador de ônibus,
aprendiz de tecelagem, ajudante de cilindrista, serrador, ajudante de eletricista e eletricista, nos
períodos de 15.06.73 a 25.09.73, de 08.01.74 a 21.01.75, de 23.04.75 a 03.11.75, de 28.11.77 a
11.10.78, de 08.01.79 a 08.01.86, de 01.06.89 a 18.11.90, de 26.02.91 a 31.03.91, de 01.04.91 a
09.11.92, de 03.05.93 a 08.08.94, 08.11.94 a 05.06.96, de 08.09.97 a 28.11.97, de 08.01.02 a
30.07.03, de 01.08.03 a 02.11.05 e de 01.04.08 a 25.08.10, respectivamente, objetivando-se a
concessão de aposentadoria por tempo de contribuição, a partir do requerimento administrativo
(25.08.2010).

2. O douto juízo de primeiro grau apenas reconheceu como especial o período de contribuição
referente às atividades exercidas nos períodos de 23.04.1975 a 03.11.1975; 08.01.1979 a
08.01.1986; 01.06.1989 a 18.11.1990; 26.02.1991 a 31.03.1991; 01.04.1991 a 09.11.1992;
03.05.1993 a 08.08.1994; 08.11.1994 a 28.04.1995; e 01.04.08 a 25.08.10; concluiu que, após a
conversão do referido período em comum e somados os demais períodos trabalhados em
atividades comuns, o autor teria alcançado, na data do requerimento administrativo, 34 (trinta e
quatro) anos, 6 (seis) meses e 10(dez) dias, insuficientes para obtenção de aposentadoria que
exige do segurado homem trinta e cinco anos contribuição.

3. O tempo de serviço é regido sempre pela lei da época em que foi prestado. Dessa forma, em
respeito ao direito adquirido, se o Trabalhador laborou em condições adversas e a lei da época
permitia a contagem de forma mais vantajosa, o tempo de serviço assim deve ser contado e lhe
assegurado.

4. Na hipótese dos autos, restou demonstrado, através de cópia da CTPS (fls. 32/46), formulários
DSS-8030 (fls. 63, 64, 87, 91, 92, 93, 94), PERFIL PROSISSIOGRÁFICO PREVIDENCIÁRIO -
PPP (fls. 95), RELATÓRIO TÉCNICO DAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS DE TRABALHO (fls.
65/86) e PROGRAMA DE PREVENÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS (fls. 103/130), que o autor
efetivamente exerceu suas funções de aprendiz de tecelagem, ajudante de cilindrista, serrador,
ajudante de eletricista e eletricista, sujeito a condições especiais de modo habitual e permanente,
expondo-se aos agentes nocivos à saúde e à integridade física, fazendo jus, portanto, ao
cômputo de serviço especial de forma majorada.

5. O uso eficaz de EPI (equipamento de proteção individual), por parte do segurado, embora
reduza os efeitos do agente agressor à saúde e integridade física, não descaracteriza a
periculosidade e/ou insalubridade da atividade desenvolvida. Precedentes desta Corte.

6. A profissão de Cobrador de ônibus urbano era tida como insalubre no Decreto n.º 53.831/64;
dessa forma, impõe-se reconhecer como insalubre por presunção legal, o tempo de serviço
prestado pelo autor no período de 15.06.1973 a 25.09.1973 (CTPS fls. 33), na condição de
Cobrador, não se cogitando de necessidade de efetiva demonstração dos agentes nocivos, por se
cuidar de interstício anterior à Lei 9.032/95.

7. Aplicando-se o fator de conversão ao período trabalhado em condições especiais e somando-o


ao tempo de serviço em atividade comum, o apelado, até a data da entrada do requerimento
administrativo, já somava mais de 35 anos de contribuição, sendo, portanto, manifestamente
legítima a percepção do benefício de Aposentadoria por Tempo de Contribuição, a partir de
25.08.2010.

8. Apelação do INSS e Remessa Oficial improvidas e Apelação do Particular parcialmente


provida, reconhecendo que o autor tem direito ao enquadramento especial do seu labor também
nos períodos de 15.06.1973 a 25.09.1973; 08.01.1974 a 21.01.1975 e 28.11.1977 a 11.10.1978,
bem como à concessão de aposentadoria por tempo de contribuição integral, a partir do
requerimento administrativo.

9. Honorários advocatícios fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação imposta
ao INSS, observados os limites da Súmula 111 do STJ. (APELREEX 00062812320124058100,
Desembargador Federal Joaquim Lustosa Filho, TRF5 - Primeira Turma, DJE - Data: 05/06/2014 -
Página: 65. grifos acrescidos)

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. FALTA DE


INTERESSE DE AGIR. CONVERSÃO DE ATIVIDADE ESPECIAL EM COMUM.
COMPROVAÇÃO. AGENTE NOCIVO RUÍDO. EPI EFICAZ.

1. Em resguardo ao direito dos hipossuficientes, e do aspecto social que são revestidos os


benefícios previdenciários, não se deve prejudicar o segurado que não postulou especificamente
o seu direito ao reconhecimento da atividade especial junto ao INSS e apenas fez pedido judicial
sem prova constitutiva do seu direito, deixando antever pela anotação da CTPS que o cargo
desempenhado o submetia a agentes nocivos a saúde ou a integridade física, impondo-se a
extinção do feito sem resolução do mérito por falta de interesse de agir.

2. Uma vez exercida atividade enquadrável como especial, sob a égide da legislação que a
ampara, o segurado adquire o direito ao reconhecimento como tal.

3. A exposição habitual e permanente a níveis de ruído acima dos limites de tolerância


estabelecidos na legislação pertinente à matéria sempre caracteriza a atividade como especial,
independentemente da utilização ou não de EPI ou de menção, em laudo pericial, à neutralização
de seus efeitos nocivos.
4. Não preenchido o pedágio para usufruir a Aposentadoria por Tempo de Contribuição
Proporcional apesar de cumprido o tempo de serviço mínimo, somente cabe a averbação do
tempo de serviço especial, e a sua conversão pelo multiplicador 1,2. (APELREEX
50636971520114047100, EZIO TEIXEIRA, TRF4 - SEXTA TURMA, D.E. 11/11/2013. grifos
acrescidos)

PROCESSUAL CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO LEGAL (ART. 557, § 1º, DO CPC).


APOSENTADORIA ESPECIAL. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. AUSÊNCIA DE
ILEGALIDADE OU ABUSO DE PODER.

1. O agravo previsto no art. 557, § 1º, do Código de Processo Civil tem o propósito de submeter
ao órgão colegiado o controle da extensão dos poderes do relator, bem como a legalidade da
decisão monocrática proferida, não se prestando à rediscussão de matéria já decidida.

2. A disponibilidade ou utilização de equipamentos de proteção individual (EPI), por si só, não


afasta a natureza especial da atividade.

3. Inexiste ilegalidade ou abuso de poder na decisão questionada, sendo que os seus


fundamentos estão em consonância com a jurisprudência pertinente à matéria.

4. Agravos legais do INSS e da parte autora desprovidos. (AMS 00061423320124036126,


DESEMBARGADORA FEDERAL LUCIA URSAIA, TRF3 - DÉCIMA TURMA, e-DJF3 Judicial 1
DATA: 19/02/2014 grifos acrescidos)

PREVIDENCIÁRIO. APELAÇÃO CÍVEL. REMESSA NECESSÁRIA. RECURSO ADESIVO.


APOSENTADORIA ESPECIAL. ELETRICIDADE (TENSÕES ELÉTRICAS SUPERIORES A 250
VOLTS). EPI. LAUDO EXTEMPORÂNEO. HONORÁRIOS. MAJORAÇÃO. JUROS DE MORA.
APLICAÇÃO DA LEI 11.960/2009 A PARTIR DE SUA VIGÊNCIA. APELAÇÃO E RECURSO
ADEVISO DESPROVIDOS E REMESSA NECESSÁRIA PARCIALMENTE PROVIDA.

- O autor comprovou a efetiva exposição ao agente nocivo (tensões elétricas superiores a 250
volts, nos termos do Decreto 53.831/64, Código 1.1.8) de forma habitual e permanente, mediante
Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), emitido pela empresa, subscrito pela gerente de
segurança e medicina ocupacional, com base em laudo técnico de condições ambientais do
trabalho, expedido pelo engenheiro de segurança do trabalho, relativamente à empresa Light

- Serviços de Eletricidade S/A e ao período de 01/12/1987 a 05/03/1997.

- Embora a eletricidade não conste expressamente do rol de agentes nocivos previstos no


Decreto nº 2.172/97, sua condição especial permanece reconhecida pela Lei nº 7.369/85 e pelo
Decreto nº 93.412/86. Acrescente-se que este entendimento é corroborado pela jurisprudência no
sentido de que é admissível o reconhecimento da condição especial do labor exercido, ainda que
não inscrito em regulamento, uma vez comprovada essa condição mediante laudo pericial, a teor
da Súmula 198 do ex-TFR, segundo a qual é sempre possível o reconhecimento da especialidade
no caso concreto, por meio de perícia técnica (STJ, 6ª Turma, AgRg no REsp 1184322 / RS, Rel.
Min. OG FERNANDES, Dje de 22/10/2012).

- A circunstância de o laudo não ser contemporâneo à atividade avaliada não lhe retira
absolutamente a força probatória, em face de inexistência de previsão legal para tanto e desde
que não haja mudanças significativas no cenário laboral. Até porque, como as condições do
ambiente de trabalho tendem a aprimorar-se com a evolução tecnológica, supõe-se que em
tempos pretéritos a situação era pior ou quando menos igual à constatada na data da elaboração
(Precedentes TRF 2ª Região, 2ª Turma Especializada, APELREEX 201051018032270, Rel. Des.
Fed. LILIANE RORIZ, DJE de 06/12/2012 e 1ª Turma Especializada, APELRE 200951040021635,
Rel. Des. Fed. ABEL GOMES, DJE de 15/06/2012).

- "O uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI), ainda que elimine a insalubridade, no caso
de exposição a ruído, não descaracteriza o tempo de serviço especial prestado" (Enunciado 9 da
Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais).

- Reconhecida a natureza especial do período de 01/12/1987 a 05/03/1997, tem-se que o autor,


quando do requerimento administrativo, possuía mais do que 25 anos de tempo de serviço
especial, preenchendo os requisitos legais para obtenção da aposentadoria especial, na forma do
artigo 57 da Lei 8.213/91, devendo, portanto, ser mantida a sentença.

- Os honorários advocatícios fixados em 5% (cinco por cento) sobre o valor da condenação estão
em consonância com o artigo 20, § 4º, do Código de Processo Civil. - Aplicabilidade da Lei nº
11.960/09.

- Apelação e recurso adesivo desprovidos e remessa necessária parcialmente provida. (AC


201251010295367, Desembargador Federal MESSOD AZULAY NETO, TRF2 - SEGUNDA
TURMA ESPECIALIZADA, E-DJF2R - Data: 15/07/2014. grifos acrescidos)

PROCESSUAL CIVIL. . MANDADO PREVIDENCIÁRIO DE SEGURANÇA. APOSENTADORIA


ESPECIAL. EXPOSIÇÃO A AGENTES INSALUBRES OU PERIGOSOS. RECONHECIMENTO
DE PERÍODO LABORADO EM CONDIÇÕES ESPECIAIS. JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA.

1. No caso, trata-se de sentença ilíquida, posto que desconhecido o conteúdo econômico do


pleito, inaplicável o § 2º do artigo 475 do Código de Processo Civil. Súmula nº 490 do STJ.
Igualmente não incide o § 3º desse artigo, tendo em vista que a sentença não se fundamentou
em jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal Federal ou em súmula deste Tribunal ou do
tribunal superior competente.

2. Esta Corte, na linha da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, pacificou o entendimento


de que "a ausência de prévio requerimento administrativo não constitui óbice para que o
segurado pleiteie, judicialmente, a revisão de seu benefício previdenciário" (AgRg no REsp
1179627/RS, Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, DJe 7.6.2010). Além disso, em respeito ao
que estabelece o art. 5º, XXXV da Constituição Federal, uma tal exigência não se compatibilizaria
com o direito fundamental de acesso à justiça [cf. AC 0005512-95.2010.4.01.9199/PI, Juiz
Federal Marcos Augusto de Sousa (convocado), Primeira Turma, e-DJF1 30.6.2011 p. 251], não
havendo, por essa mesma razão, que se falar em violação ao princípio da separação dos
Poderes (CF/88, art. 2º). Precedentes. Ressalva do ponto de vista em sentido contrário do
Relator.

3. Muito embora o art. 273, caput, do CPC, expressamente, disponha que os efeitos da tutela
pretendida na inicial poderão ser antecipados, a requerimento da parte, total ou parcialmente,
firmou-se nesta Primeira Turma a possibilidade de o órgão jurisdicional antecipá-la de ofício,
tendo em vista a natureza alimentar do benefício previdenciário e em razão da verossimilhança
do direito material alegado. Precedentes desta Corte.

4. A petição inicial foi instruída com os documentos indispensáveis ao julgamento do feito, não
havendo que se falar em necessidade de dilação probatória e, por conseguinte, em inadequação
da via eleita.

5. O cômputo do tempo de serviço deverá observar a legislação vigente à época da prestação


laboral. Lei nova que venha a estabelecer restrição ao cômputo do tempo de serviço não pode ser
aplicada retroativamente. Precedentes do STJ.

6. O tempo de serviço especial é aquele decorrente de serviços prestados sob condições


prejudiciais à saúde ou em atividades com riscos superiores aos normais para o segurado e,
cumpridos os requisitos legais, a parte impetrante tem direit à aposentadoria especial. As
atividades consideradas prejudiciais à saúde foram definidas pela legislação previdenciária,
especificamente, pelos Decretos 53.831/64 e 83.080/79 e 2.172/97.

7. Tratando-se de período anterior à vigência da Lei 9.032/95, que deu nova redação ao § 3º do
art. 57 da Lei 8.213/91, basta que a atividade exercida pelo segurado seja enquadrada nas
relações dos Decretos 53.831/64 ou 83.080/79, não sendo necessário laudo pericial, exceto a
atividade laborada com exposição a ruído superior ao previsto na legislação de regência.

8. Os formulários DIRBEN 8030 e DSS-8030 e os laudos técnicos fornecidos pela empresa têm
presunção de veracidade e constituem provas suficientes para comprovar o labor em atividade
especial. A exigência de laudo técnico-pericial de médico do trabalho ou engenheiro de
segurança do trabalho só se tornou efetiva a partir do Decreto 2.172/97, que regulamentou a Lei
9.528/97. Precedentes deste Tribunal e do STJ.

9. A jurisprudência é no sentido de que os EPIs não afastam integralmente os agentes nocivos,


portanto, não descaracterizam o trabalho especial.

10. É possível o reconhecimento do exercício de atividade nociva em período anterior à edição da


legislação que instituiu a aposentadoria especial e a especialidade de atividade laboral (AgRg no
REsp 1015694/RS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado
em 16/12/2010, DJe 01/02/2011), bem como continua válida a conversão de tempo de serviço
especial para comum mesmo após 1998 (Resp 1.151.363/MG- representativo de controvérsia).

11. Exercendo o segurado uma ou mais atividades sujeitas a condições prejudiciais à saúde sem
que tenha complementado o prazo mínimo para aposentadoria especial, ou quando tiver exercido
alternadamente essas atividades e atividades comuns, é permitida a conversão de tempo de
serviço prestado sob condições especiais em comum, para fins de concessão de aposentadoria.

12. A ausência de prévia fonte de custeio não impede o reconhecimento do tempo de serviço
especial laborado pelo segurado, nos termos dos artigos 30, I, c/c o § 4º do art. 43 da Lei
8.212/91, e § 6º do art. 57 da Lei 8.213/91. Não pode o trabalhador ser penalizado pela falta do
recolhimento ou por ele ter sido feito a menor, uma vez que a autarquia previdenciária possui
meios próprios para receber seus créditos.

13. No caso, tendo sido comprovado o exercício de atividade profissional considerada prejudicial
à saúde, por enquadramento profissional até a lei nº 9.032/1995, e/ou com a apresentação de
formulários e laudos periciais fornecidos pelas empresas empregadoras, o segurado tem direito
ao reconhecimento do tempo exercido em condições prejudiciais à saúde, bem como ao benefício
da aposentadoria especial.

14. Nas causas ajuizadas perante a Justiça Estadual, no exercício da jurisdição federal (CF, art.
109, § 3º), o INSS está isento das custas somente quando lei estadual específica prevê a
isenção, o que ocorre nos Estados de Minas Gerais, Goiás, Rondônia e Mato Grosso. Em se
tratando de causas ajuizadas perante a Justiça Federal, o INSS está isento de custas por força do
art. 4º, I, da Lei 9.289/1996.
15. Sem condenação em honorários advocatícios (Súmulas STF 512 e STJ 105).

16. A parte impetrante faz jus à aposentadoria especial, a partir do ajuizamento da ação, uma vez
que os efeitos da sentença no mandado de segurança retroagem à data de sua impetração e
nesses limites irradia efeitos patrimoniais.

17. O INSS não trouxe argumentos ou elementos, em suas razões de apelação, que pudessem
justificar a reforma da sentença recorrida, como restou bem fundamentado por ocasião da análise
do reexame necessário.

18. Implantação do benefício no prazo máximo de 30 dias (CPC, art. 273), com comunicação
imediata à autarquia previdenciária.

19. Apelação do INSS a que se nega provimento.

20. Remessa oficiala que se dá parcial provimento. (AC , DESEMBARGADOR FEDERAL


NÉVITON GUEDES, TRF1 - PRIMEIRA TURMA, e-DJF1 DATA: 09/07/2014 PAGINA: 69. grifos
acrescidos)

Logo, o autor contribuiu, em condições especiais, durante o período de 01/06/1981 a 16/02/1982


e de 09/08/1985 a 30/06/2010, o que totaliza, aproximadamente, tendo, consequentemente, o
demandante atingido 25 anos, 7 meses e 6 dias o tempo exigido em lei para concessão da
aposentadoria especial, qual seja, 25 anos, razão pela qual deve ser julgada procedente a
presente demanda no tocante à concessão do benefício previdenciário.

III - DISPOSITIVO

Ante o exposto, julgo PROCEDENTE o pedido inicial, apreciando a lide com resolução do mérito
(art. 269, inciso I, do CPC), reconhecendo o período de 01/06/1981 a 16/02/1982 e de 09/08/1985
a 30/06/2010 como laborado em condições especiais, condenando o INSS à concessão do
benefício previdenciário de aposentadoria especial ao autor, desde a data do requerimento
administrativo (18/11/2013).

Sobre o valor da condenação deverá incidir correção monetária e juros moratórios, desde quando
devida cada parcela, de acordo com os índices recomendados pelo Manual de Orientação de
Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal.

Em face da sucumbência total do INSS, condeno-o a pagar ao autor honorários advocatícios


sucumbenciais arbitrados em R$ 1.000,00 (um mil reais), nos termos do art. 20, § 4.º, do CPC.

Sem condenação em custas processuais, de acordo com o disposto nas Leis n. 1.060/50 e
9.289/96.
Sentença sujeita ao duplo grau de jurisdição obrigatório.

Com o trânsito em julgado, dê-se baixa e arquivem-se os autos.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Publique."

3. Diante do exposto, nego provimento à apelação e à remessa oficial,


mantendo a sentença recorrida pelos seus próprios e doutos fundamentos.

4. É como voto.

[1] Sobre a adoção da técnica, v. decisão do e. STF no julgamento do AI 852.520 (AgRedD).


Impende registrar, também, o posicionamento da doutrina, explicitando que a fundamentação "per
relationem" pode ser utilizada pelo julgador desde que: "a) não tenha havido suscitado de fato ao
argumento novo, b) a peça processual à qual se reporta a decisão esteja substancialmente
fundamentada, aplicando-se, aind

a tudo o que se disse até aqui sobre os fundamentos da própria decisão, c) a peça que contém a
fundamentação referida esteja nos autos e que a ela possam ter acesso as partes." (in Curso de
Processo Civil, vol. 02, Fredie Didier Junior e outros, p. 272).

VOTO

1. A sentença apelada julgou PROCEDENTE o pedido inicial, apreciando a


lide com resolução do mérito (art. 269, inciso I, do CPC), reconhecendo o período de 01/06/1981
a 16/02/1982 e de 09/08/1985 a 30/06/2010 como laborado em condições especiais, condenando
o INSS à concessão do benefício previdenciário de aposentadoria especial ao autor, desde a data
do requerimento administrativo (18/11/2013). Sobre o valor da condenação deverá incidir
correção monetária e juros moratórios, desde quando devida cada parcela, de acordo com os
índices recomendados pelo Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça
Federal. Em face da sucumbência total do INSS, condeno-o a pagar ao autor honorários
advocatícios sucumbenciais arbitrados em R$ 1.000,00 (um mil reais), nos termos do art. 20, §
4.º, do CPC.
2. O provimento jurisdicional de Primeira Instância não merece reparos.
Trago, aqui, a fundamentação do mesmo como motivação deste voto[1], na medida em que o
MM. Juiz de Primeiro Grau demonstrou, com propriedade, as razões pelas quais não deve
prosperar a presente remessa obrigatória:

"II - FUNDAMENTAÇÃO

II.1) Da Prescrição

O INSS arguiu, em sua contestação, a prescrição das parcelas vencidas anteriores ao quinquênio
que precede o ajuizamento da ação. Ocorre que, entre a data do requerimento administrativo
(18.11.2013) e o ajuizamento desta ação (14.05.2014) não se passaram mais de 5 (cinco) anos,
razão pela qual deve ser afastada a prescrição quinquenal arguida pelo INSS.

II.2) Do mérito

A aposentadoria especial foi instituída pelo art. 31, da Lei 3.807/60, e pode ser conceituada como
sendo o benefício decorrente do trabalho realizado em condições prejudiciais à saúde ou à
integridade física do segurado, de acordo com a previsão da lei.

Por sua vez, o artigo 201, §1º, da Constituição Federal traz em seu texto o próprio fundamento
constitucional de existência e justificativa da aposentadoria especial, servindo, não como um
privilégio generalizado ou uma ofensa ao princípio da isonomia, mas, sim, à sua própria
aplicação.

Ao mesmo tempo em que encontra respaldo na própria definição da isonomia material, torna-a
concreta, conferindo a pessoas que, por laborarem em condições especiais prejudiciais à sua
saúde, necessitam de um enquadramento diferenciado.

Desse modo, tratando-se de uma situação de exceção, bem como de verdadeiro benefício
previdenciário a ser pago àqueles que, efetivamente, contribuam para o sistema, torna-se
imperioso determinar quem serão esses beneficiários e quais são os requisitos a serem
preenchidos.

A lei 8.213/91, em especial, dispõe, em seu artigo 57, que a aposentadoria especial será
concedida "(...) ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a
saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme
dispuser a lei".
O período de carência a ser respeitado é o previsto no artigo 142 da citada norma.

Por outro lado, o artigo 58, §1º, traz os requisitos específicos para a aferição das condições
especiais que prejudiquem a saúde e a integridade física dos segurados, sendo objeto de sérias
discussões doutrinárias, em razão de suas várias modificações desde a promulgação da lei.

Nesse diapasão, é importante, antes, fazer um histórico acerca dessas mudanças, a fim de que
se descubra qual(is) norma(s) deve(m) ser aplicadas no período de preenchimento dos requisitos
do benefício.

No período até 28/04/95, para o reconhecimento das condições de trabalho como especiais, era
suficiente que o segurado comprovasse o exercício de uma das atividades previstas no anexo do
Decreto nº. 53.831/64 ou nos anexos I e II do Decreto nº. 83.080/79, não sendo necessário fazer
prova efetiva da exposição às condições prejudiciais à saúde ou à integridade física.

A partir de 29/04/95, com a edição da Lei nº. 9.032/95, que alterou a Lei nº. 8.213/91, o
reconhecimento da insalubridade passou a exigir a efetiva exposição aos agentes agressivos
previstos no Anexo I do Decreto nº. 83.080/79 ou no código 1.0.0 do Anexo ao Decreto nº.
53.831/64, o que se comprovava através da apresentação do documento de informação sobre
exposição a agentes agressivos (conhecido como SB 40 ou DSS 8030).

Com o advento da Medida Provisória nº. 1.523/96, posteriormente convertida na Lei nº. 9.528/97,
a redação do art. 58 da Lei nº. 8.213/91 foi modificada, passando-se a exigir a elaboração de
laudo técnico assinado por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho.

No entanto, a jurisprudência do STJ firmou posicionamento no sentido de que essa exigência só é


possível a partir da edição daquele diploma legal de 1997 e não da data da Medida Provisória
mencionada.

Sucessivos atos do Poder Executivo regularam o enquadramento das atividades laborativas como
insalubres. Antes de 05.03.97, os agentes agressivos estavam previstos nos Decretos nº.
53.831/64 e 83.080/79; de 06.03.1997 a 06/05/99, no Decreto nº. 2.172/97; e, de 07/05/99 até os
dias atuais, no Decreto nº. 3.048/99.

Érelevante mencionar, no que se refere à contagem do tempo de serviço, que a lei a discipliná-la
é aquela vigente à época do serviço prestado (vide artigo 1º, § 1º, do Decreto nº. 4.827, de
3.9.2003). Destarte, se novas exigências são impostas ou novas proibições são criadas após o
período trabalhado, não poderão ser aplicadas ao tempo pretérito, em prejuízo do trabalhador.

Nesse sentido, elucidativo se mostra o julgado infra:

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PREVIDENCIÁRIO. AGENTE NOCIVO


ELETRICIDADE. LEI 9.528/97. LAUDO TÉCNICO PERICIAL. FORMULÁRIO.
PREENCHIMENTO. EXPOSIÇÃO ATÉ 28/05/1998. COMPROVAÇÃO.

I - O e. Superior Tribunal de Justiça sedimentou o entendimento segundo o qual o tempo de


serviço é regido pela legislação em vigor ao tempo em que efetivamente exercido o labor, que se
incorpora ao acervo jurídico do segurado. O direito adquirido, portanto, não pode sofrer prejuízo
em virtude de inovação legal.

II - A necessidade de comprovação do exercício de atividade insalubre por meio de laudo pericial


elaborado por médico ou engenheiro de segurança do trabalho foi exigência criada a partir do
advento da Lei 9.528, de 10/12/97, que alterou o § 1º, do art. 58, da Lei 8.213/91.

III - Para além do laudo pericial, no entanto, a comprovação da efetiva exposição do segurado
aos agentes nocivos também exige o preenchimento de formulário emitido pela empresa ou seu
preposto, fulcrado no referido laudo técnico das condições ambientais do trabalho. Precedentes.

IV - In casu, seguindo-se as linhas do entendimento consolidado neste c. Tribunal Superior, bem


como os elementos colacionados no v. acórdão a quo, restou devidamente certificado o trabalho
do segurado em condições especiais até 28/5/1998.

V - Agravo regimental desprovido.

(STJ. AgRg no REsp 1140885/RS, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em
29/04/2010, DJe 24/05/2010).

Feitas as considerações preliminares acerca da(s) norma(s) a ser(em) observada(s) no


julgamento da lide, passo a analisar o caso concreto.

O direito à contagem do tempo de serviço (contribuição) incorpora-se ao patrimônio (acervo dos


direitos exercitáveis pelo seu titular) do segurado numa base diária, ou seja, a cada dia de
atividade laboral é o direito ao respectivo cômputo dessa unidade de tempo de serviço
(contribuição) adquirido.

A legislação que rege o direito à contagem do tempo de serviço (contribuição) é, portanto, aquela
vigente ao momento da prática profissional do segurado, não podendo normas posteriores
alterarem, em prejuízo de seu titular, os critérios de aquisição desse direito já incorporado, sob
pena de violação da garantia constitucional do direito adquirido.

Conforme visto anteriormente, até o advento da Lei n. 9.032/95, em 29/04/1995, era possível o
reconhecimento do tempo de serviço especial, com base na categoria profissional do trabalhador,
bastando que a atividade estivesse enquadrada nas relações dos Decretos 53.831/64 ou
83.080/79, hipótese em que havia uma presunção legal de exercício da atividade em condições
ambientais agressivas ou perigosas. Nesses casos, o reconhecimento do tempo de serviço
especial não depende de comprovação da exposição efetiva aos agentes nocivos. Com a
promulgação da Lei nº /95, passou-se a exigir a comprovação 9.032 da efetiva exposição aos
agentes nocivos, para fins de reconhecimento do tempo de serviço especial, através dos
formulários SB-40 e DSS-8030, até a edição do Decreto 2.172, de 05/03/1997, que,
regulamentando a MP 1523/96 (convertida na Lei 9.528/97), passou a exigir o laudo técnico.

No caso dos autos, considerando que o tempo de serviço é disciplinado pela lei vigente à época
em que efetivamente prestado, para se examinar se a atividade desenvolvida pelo autor no
período de 01/06/1981 a 10/10/2013, nas condições de cobrador, inspetor e supervisor de
produção, se enquadra ou não como atividade especial, impõe-se a cisão do lapso temporal
referido em três períodos: (a) de 01/06/1981 a 28/04/1995 (período anterior ao advento da Lei
9.032/95); (b) de 29/04/1995 a 05/03/1997 (período anterior ao advento da Lei 9.528/97); (c) e de
06/03/1997 a 10/10/2013.

Em relação ao período de 01/06/1981 a 28/04/1995, vale ressaltar que o demandante exerceu


três diferentes atividades: cobrador em transporte coletivo (conforme prova a cópia da carteira de
trabalho anexada à página 4 do Identificador 4058201.166451), inspetor e supervisor de produção
(conforme prova o PPP anexado sob o Identificador 4058201.166453).

No tocante à primeira atividade desempenhada, consta no Decreto 53.831/64 a profissão de


cobrador de ônibus como trabalho penoso, tornando, sob um primeiro exame, o segurado apto à
concessão do benefício de aposentadoria especial. Ocorre que o supracitado Decreto exige a
comprovação de temperatura acima de 28º (vinte e oito graus) no local de trabalho, o que não
resta provado através das documentações colacionadas ao presente processo. Destarte, ante
esta falta de comprovação, não há como se reconhecer tal período como sendo laborado em
condições especiais.

Já em relação às atividades de inspetor e supervisor de produção, as Informações sobre


atividades em condições especiais, anexadas sob o Identificador 4058201.166454 (Páginas 1 e
5), atestam a realização de tais atividades entre os períodos de 09/08/1985 a 31/10/1989 e de
01/11/1989 a 31/12/2003, destacando que o autor estava exposto ao agente físico nocivo ruído,
numa escala de 86 (oitenta e seis) a 89 (oitenta e nove) e 91 (noventa e um) decibéis
respectivamente, obedecendo ao que dispõe o Decreto 53.831/1964 que também exige, para a
configuração da condição especial de desempenho de tal labor, a comprovação de que os ruídos
são superiores a 80 (oitenta) decibéis.

Assim, entendo estar comprovada a realização de trabalho em condições especiais durante o


lapso temporal compreendido entre 09/08/1985 a 28/04/1995.
Quanto ao lapso temporal compreendido entre 29/04/1995 a 05/03/1997, conforme já exposto,
passou-se a exigir a comprovação da efetiva exposição aos agentes nocivos, para fins de
reconhecimento do tempo de serviço especial, através dos formulários SB-40 e DSS-8030.

Embora a parte autora não tenha anexado os formulários SB-40 e DSS-8030, no caso presente,
entendo que tanto o laudo técnico das condições ambientais de trabalho - LTCAT (Identificador
4058201.166454 - Páginas 6, 7, 8, 9, 10 e 11), bem como as próprias Informações sobre
atividades em condições especiais (Identificador 4058201.166454 - Páginas 1 e 5), em que se
constata a existência do fator de risco no labor, podem ser considerados provas mais
substanciais das situações especiais do trabalho, suprindo, inclusive, os formulários próprios.

Ademais, é cediço que a comprovação de efetiva exposição a agentes agressivos à saúde do


segurado ou à sua integridade física pode ser obtida pelo emprego de qualquer meio de prova em
direito admitido, antes da alteração de 1997. Esse posicionamento, inclusive, é objeto de súmula
(n.º 20) do Conselho de Recursos da Previdência Social, conforme se interpreta de sua leitura.

Portanto, da análise das provas constantes dos autos, verifica-se que, em tal lapso temporal (abril
de 1995 a março de 1997), igualmente houve realização de atividades em condições especiais,
haja vista que o Laudo Técnico Pericial igualmente atesta que

"6.3 RISCOS OCUPACIONAIS.

Riscos Físicos = Ruído 91 dB(A) dosimetria.

6.4 JORNADA DE TRABALHO E TEMPO DE EXPOSIÇÃO AO RISCO.

O segurado trabalhou na empresa de 01/11/1989 à 31/12/2003 com Jornada de 8 horas diárias,


com intervalo para refeição. O segurado, no exercício de suas atividades, trabalhava de modo
habitual e permanente em ambiente com presença dos agentes contemplados no item 6.3.".
(Identificador 4058201.158219, Página 7, grifos acrescidos)

Na mesma linha, as Informações sobre atividades em condições especiais (Identificador


4058201.166454 - Páginas 1 e 5) concluiu que:

"O agente ruído medido no posto de trabalho do segurado era superior ao limite de tolerância
previsto na Norma Regulamentadora Nº 15 e seus Anexos." (Identificador 4058201.166454,
Página 5, grifos acrescidos)
Logo, diante do contexto probatório, existindo extensa lista de documentos que comprovam a
especialidade da atividade, mesmo com a ausência dos formulários SB-40 e DSS-8030, deve ser
reconhecido o caráter especial do trabalhado realizado entre abril de 1995 e março de 1997. Em
sentido semelhante, destaco o seguinte julgado:

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL. CONTAGEM DO TEMPO DE SERVIÇO


PRESTADO EM CONDIÇÕES PREJUDICIAIS À SAÚDE. POSSIBILIDADE. ART. 57 DA LEI
8.213/91.

1. No caso, pretende o autor o reconhecimento, como especial, do tempo trabalhado como


minerador e mecânico minerador, em diversas empresas, bem como o reconhecimento do tempo
especial em que exerceu as funções de mecânico, técnico de mecânico e trainner operador
minerador nos períodos respectivos de 07/02/1984 a 08/09/2005, conforme consta nas anotações
da carteira de trabalho e previdência social - CTPS.

2. O tempo de serviço é regido sempre pela lei da época em que foi prestado. Dessa forma, em
respeito ao direito adquirido, se o Trabalhador laborou em condições adversas e a lei da época
permitia a contagem de forma mais vantajosa, o tempo de serviço assim deve ser contado e lhe
assegurado.

3. De acordo com a jurisprudência do STJ, o rol de atividades consideradas insalubres, perigosas


ou penosas previstas nos Decretos ns. 53.831/1964 e 83.080/79 é apenas exemplificativo; de tal
forma que a ausência do enquadramento do agente nocivo ou da atividade desempenhada não
inviabiliza a sua consideração para fins de concessão de aposentadoria, se devidamente
demonstradas as condições nocivas à saúde do trabalhador. (REsp 666.479/PB, Rel. Ministro
Hamilton Carvalhido, Sexta Turma, julgado em 18/11/2004, DJ 01/02/2005, p. 668).

4. Na hipótese, restou demonstrado através da vasta documentação acostada aos autos, ou seja,
Laudo de avaliação de insalubridade, fl. 47, Laudos Técnicos de fls. 52 a 69, Informações da
Previdência sobre Atividades com Exposição a que o autor trabalhava exposto Agentes
Agressivos fl. 70/71 e do Perfil Profissiográfico Previdenciário, fl 72, a nível de ruído acima dos
limites de tolerância e expostos a agentes agressivos de modo habitual e permanente, fazendo
jus, portanto, ao cômputo de serviço especial de forma majorada.

5. Remessa oficial e apelações improvidas. (AC 200785000014009, Desembargador Federal


Manoel Erhardt, TRF5 - Primeira Turma, DJE - Data: 03/04/2012 - Página: 171.)

Por fim, quanto ao período posterior a 05/03/1997, cumpre destacar novamente que se passou a
exigir a elaboração de laudo técnico assinado por médico do trabalho ou engenheiro de
segurança do trabalho. Tais laudos, no caso dos autos, encontram-se anexados sob o
Identificador 4058201.166454. Contudo, antes de analisá-los, cumpre-me destacar que, com a
entrada em vigor do Decreto 2.172/1997, a partir de 06 de março de 1997, para caracterização da
realização de atividade especial em decorrência do ruído, passou-se a exigir uma exposição
permanente a níveis de ruído acima de 90 (noventa) decibéis, e não mais de 80 (oitenta),
conforme previa o Decreto 53.831/1964. Tal exigência permaneceu até a entrada em vigor de um
novo Decreto, o 4.882, de 19 de novembro de 2003, que reduziu tal limite para 85 (oitenta e
cinco) decibéis.
Feitas tais considerações, e passando-se a analisar os laudos técnico-periciais, observa-se que,
de acordo com os laudos anexados, entre 06 de março de 1997 e 19 de novembro de 2003 o
ruído ao qual o demandante estava submetido equivale a 91 (noventa e um) dB(A), superior,
portanto, ao previsto no Decreto 2.172/1997 (Identificador 4058201.166454, Página 7). Por sua
vez, após novembro de 2003 até 2009, o limite de ruído ao qual estava o autor submetido
igualmente atende aos limites impostos, desta vez pelo Decreto 4.882/2003 (85 decibéis),
conforme se vê do supracitado laudo:

6.3 RISCOS OCUPACIONAIS.

Riscos Físicos = Ruído - Anos 2004 94,00 dB(A), 2005 89,05 dB(A), 2006 89,52 dB(A), 2007
89,51 dB(A), 2008 89,46 dB(A) E 2009 94,40 dB(A).

Já em relação ao período posterior a 2009, os Perfis Profissiográficos Previdenciários (PPPs)


atestam, igualmente, estar o promovente submetido a ruídos superiores a 85 decibéis, sendo 94,4
dB(A) entre 01/01/2009 e 30/06/2010 (Identificador 4058201.166453). No que concerne ao
período posterior a junho de 2010, não constam dos autos nenhum documento que comprove ter
sido o autor submetido, em seu ambiente de trabalho, a ruídos superiores a 85 decibéis, razão
pela qual não há como se reconhecer tal lapso temporal como laborado em condições especiais.

Destaque-se, enfim, que não prosperam os argumentos da autarquia previdenciária no sentido de


que o uso de EPIs, com a consequente neutralidade do agente físico nocivo, teria afastado a
natureza especial do labor. Nossos tribunais vêm se manifestando no sentido de que a utilização
de tais equipamentos, por si só, não é apta a desconfigurar a natureza especial do trabalho.
Neste sentido, destaco os seguintes julgados:

PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA. TEMPO DE SERVIÇO


ESPECIAL. EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL - EPI. COMPROVAÇÃO DE
NEUTRALIZAÇÃO DE INSALUBRIDADE. REEXAME DE FATOS E PROVAS. SÚMULA 7/STJ.

1. Este Tribunal Superior posiciona-se no sentido de que o simples fornecimento de EPI, ainda
que tal equipamento seja efetivamente utilizado, não afasta, por si só, a caracterização da
atividade especial. Também está assentado que, se a eficácia do Equipamento de Proteção
Individual implicar revolvimento da matéria fático-probatória, como é o presente caso, o
conhecimento do Recurso Especial esbarra no óbice da Súmula 7/STJ.

2. Agravo Regimental não provido. (AGRESP 201400906282, HERMAN BENJAMIN, STJ -


SEGUNDA TURMA, DJE DATA: 24/06/2014 grifos acrescidos)

PREVIDENCIÁRIO. AVERBAÇÃO DO TEMPO DE SERVIÇO PRESTADO EM CONDIÇÕES


PREJUDICIAIS À SAÚDE. CONTAGEM ESPECIAL. REQUISITOS PARA CONCESSÃO DE
APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO PREENCHIDOS. ART. 201, PARÁG. 7º,
DA CF/88. HONORÁRIOS. SÚMULA 111 DO STJ.

1. Versa a matéria dos presentes autos acerca da possibilidade (ou não) do reconhecimento do
tempo de serviço exercido em condições especiais pelo autor nas funções de cobrador de ônibus,
aprendiz de tecelagem, ajudante de cilindrista, serrador, ajudante de eletricista e eletricista, nos
períodos de 15.06.73 a 25.09.73, de 08.01.74 a 21.01.75, de 23.04.75 a 03.11.75, de 28.11.77 a
11.10.78, de 08.01.79 a 08.01.86, de 01.06.89 a 18.11.90, de 26.02.91 a 31.03.91, de 01.04.91 a
09.11.92, de 03.05.93 a 08.08.94, 08.11.94 a 05.06.96, de 08.09.97 a 28.11.97, de 08.01.02 a
30.07.03, de 01.08.03 a 02.11.05 e de 01.04.08 a 25.08.10, respectivamente, objetivando-se a
concessão de aposentadoria por tempo de contribuição, a partir do requerimento administrativo
(25.08.2010).

2. O douto juízo de primeiro grau apenas reconheceu como especial o período de contribuição
referente às atividades exercidas nos períodos de 23.04.1975 a 03.11.1975; 08.01.1979 a
08.01.1986; 01.06.1989 a 18.11.1990; 26.02.1991 a 31.03.1991; 01.04.1991 a 09.11.1992;
03.05.1993 a 08.08.1994; 08.11.1994 a 28.04.1995; e 01.04.08 a 25.08.10; concluiu que, após a
conversão do referido período em comum e somados os demais períodos trabalhados em
atividades comuns, o autor teria alcançado, na data do requerimento administrativo, 34 (trinta e
quatro) anos, 6 (seis) meses e 10(dez) dias, insuficientes para obtenção de aposentadoria que
exige do segurado homem trinta e cinco anos contribuição.

3. O tempo de serviço é regido sempre pela lei da época em que foi prestado. Dessa forma, em
respeito ao direito adquirido, se o Trabalhador laborou em condições adversas e a lei da época
permitia a contagem de forma mais vantajosa, o tempo de serviço assim deve ser contado e lhe
assegurado.

4. Na hipótese dos autos, restou demonstrado, através de cópia da CTPS (fls. 32/46), formulários
DSS-8030 (fls. 63, 64, 87, 91, 92, 93, 94), PERFIL PROSISSIOGRÁFICO PREVIDENCIÁRIO -
PPP (fls. 95), RELATÓRIO TÉCNICO DAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS DE TRABALHO (fls.
65/86) e PROGRAMA DE PREVENÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS (fls. 103/130), que o autor
efetivamente exerceu suas funções de aprendiz de tecelagem, ajudante de cilindrista, serrador,
ajudante de eletricista e eletricista, sujeito a condições especiais de modo habitual e permanente,
expondo-se aos agentes nocivos à saúde e à integridade física, fazendo jus, portanto, ao
cômputo de serviço especial de forma majorada.

5. O uso eficaz de EPI (equipamento de proteção individual), por parte do segurado, embora
reduza os efeitos do agente agressor à saúde e integridade física, não descaracteriza a
periculosidade e/ou insalubridade da atividade desenvolvida. Precedentes desta Corte.

6. A profissão de Cobrador de ônibus urbano era tida como insalubre no Decreto n.º 53.831/64;
dessa forma, impõe-se reconhecer como insalubre por presunção legal, o tempo de serviço
prestado pelo autor no período de 15.06.1973 a 25.09.1973 (CTPS fls. 33), na condição de
Cobrador, não se cogitando de necessidade de efetiva demonstração dos agentes nocivos, por se
cuidar de interstício anterior à Lei 9.032/95.

7. Aplicando-se o fator de conversão ao período trabalhado em condições especiais e somando-o


ao tempo de serviço em atividade comum, o apelado, até a data da entrada do requerimento
administrativo, já somava mais de 35 anos de contribuição, sendo, portanto, manifestamente
legítima a percepção do benefício de Aposentadoria por Tempo de Contribuição, a partir de
25.08.2010.

8. Apelação do INSS e Remessa Oficial improvidas e Apelação do Particular parcialmente


provida, reconhecendo que o autor tem direito ao enquadramento especial do seu labor também
nos períodos de 15.06.1973 a 25.09.1973; 08.01.1974 a 21.01.1975 e 28.11.1977 a 11.10.1978,
bem como à concessão de aposentadoria por tempo de contribuição integral, a partir do
requerimento administrativo.

9. Honorários advocatícios fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação imposta
ao INSS, observados os limites da Súmula 111 do STJ. (APELREEX 00062812320124058100,
Desembargador Federal Joaquim Lustosa Filho, TRF5 - Primeira Turma, DJE - Data: 05/06/2014 -
Página: 65. grifos acrescidos)

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. FALTA DE


INTERESSE DE AGIR. CONVERSÃO DE ATIVIDADE ESPECIAL EM COMUM.
COMPROVAÇÃO. AGENTE NOCIVO RUÍDO. EPI EFICAZ.

1. Em resguardo ao direito dos hipossuficientes, e do aspecto social que são revestidos os


benefícios previdenciários, não se deve prejudicar o segurado que não postulou especificamente
o seu direito ao reconhecimento da atividade especial junto ao INSS e apenas fez pedido judicial
sem prova constitutiva do seu direito, deixando antever pela anotação da CTPS que o cargo
desempenhado o submetia a agentes nocivos a saúde ou a integridade física, impondo-se a
extinção do feito sem resolução do mérito por falta de interesse de agir.

2. Uma vez exercida atividade enquadrável como especial, sob a égide da legislação que a
ampara, o segurado adquire o direito ao reconhecimento como tal.

3. A exposição habitual e permanente a níveis de ruído acima dos limites de tolerância


estabelecidos na legislação pertinente à matéria sempre caracteriza a atividade como especial,
independentemente da utilização ou não de EPI ou de menção, em laudo pericial, à neutralização
de seus efeitos nocivos.

4. Não preenchido o pedágio para usufruir a Aposentadoria por Tempo de Contribuição


Proporcional apesar de cumprido o tempo de serviço mínimo, somente cabe a averbação do
tempo de serviço especial, e a sua conversão pelo multiplicador 1,2. (APELREEX
50636971520114047100, EZIO TEIXEIRA, TRF4 - SEXTA TURMA, D.E. 11/11/2013. grifos
acrescidos)

PROCESSUAL CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO LEGAL (ART. 557, § 1º, DO CPC).


APOSENTADORIA ESPECIAL. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. AUSÊNCIA DE
ILEGALIDADE OU ABUSO DE PODER.

1. O agravo previsto no art. 557, § 1º, do Código de Processo Civil tem o propósito de submeter
ao órgão colegiado o controle da extensão dos poderes do relator, bem como a legalidade da
decisão monocrática proferida, não se prestando à rediscussão de matéria já decidida.

2. A disponibilidade ou utilização de equipamentos de proteção individual (EPI), por si só, não


afasta a natureza especial da atividade.
3. Inexiste ilegalidade ou abuso de poder na decisão questionada, sendo que os seus
fundamentos estão em consonância com a jurisprudência pertinente à matéria.

4. Agravos legais do INSS e da parte autora desprovidos. (AMS 00061423320124036126,


DESEMBARGADORA FEDERAL LUCIA URSAIA, TRF3 - DÉCIMA TURMA, e-DJF3 Judicial 1
DATA: 19/02/2014 grifos acrescidos)

PREVIDENCIÁRIO. APELAÇÃO CÍVEL. REMESSA NECESSÁRIA. RECURSO ADESIVO.


APOSENTADORIA ESPECIAL. ELETRICIDADE (TENSÕES ELÉTRICAS SUPERIORES A 250
VOLTS). EPI. LAUDO EXTEMPORÂNEO. HONORÁRIOS. MAJORAÇÃO. JUROS DE MORA.
APLICAÇÃO DA LEI 11.960/2009 A PARTIR DE SUA VIGÊNCIA. APELAÇÃO E RECURSO
ADEVISO DESPROVIDOS E REMESSA NECESSÁRIA PARCIALMENTE PROVIDA.

- O autor comprovou a efetiva exposição ao agente nocivo (tensões elétricas superiores a 250
volts, nos termos do Decreto 53.831/64, Código 1.1.8) de forma habitual e permanente, mediante
Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), emitido pela empresa, subscrito pela gerente de
segurança e medicina ocupacional, com base em laudo técnico de condições ambientais do
trabalho, expedido pelo engenheiro de segurança do trabalho, relativamente à empresa Light

- Serviços de Eletricidade S/A e ao período de 01/12/1987 a 05/03/1997.

- Embora a eletricidade não conste expressamente do rol de agentes nocivos previstos no


Decreto nº 2.172/97, sua condição especial permanece reconhecida pela Lei nº 7.369/85 e pelo
Decreto nº 93.412/86. Acrescente-se que este entendimento é corroborado pela jurisprudência no
sentido de que é admissível o reconhecimento da condição especial do labor exercido, ainda que
não inscrito em regulamento, uma vez comprovada essa condição mediante laudo pericial, a teor
da Súmula 198 do ex-TFR, segundo a qual é sempre possível o reconhecimento da especialidade
no caso concreto, por meio de perícia técnica (STJ, 6ª Turma, AgRg no REsp 1184322 / RS, Rel.
Min. OG FERNANDES, Dje de 22/10/2012).

- A circunstância de o laudo não ser contemporâneo à atividade avaliada não lhe retira
absolutamente a força probatória, em face de inexistência de previsão legal para tanto e desde
que não haja mudanças significativas no cenário laboral. Até porque, como as condições do
ambiente de trabalho tendem a aprimorar-se com a evolução tecnológica, supõe-se que em
tempos pretéritos a situação era pior ou quando menos igual à constatada na data da elaboração
(Precedentes TRF 2ª Região, 2ª Turma Especializada, APELREEX 201051018032270, Rel. Des.
Fed. LILIANE RORIZ, DJE de 06/12/2012 e 1ª Turma Especializada, APELRE 200951040021635,
Rel. Des. Fed. ABEL GOMES, DJE de 15/06/2012).

- "O uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI), ainda que elimine a insalubridade, no caso
de exposição a ruído, não descaracteriza o tempo de serviço especial prestado" (Enunciado 9 da
Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais).

- Reconhecida a natureza especial do período de 01/12/1987 a 05/03/1997, tem-se que o autor,


quando do requerimento administrativo, possuía mais do que 25 anos de tempo de serviço
especial, preenchendo os requisitos legais para obtenção da aposentadoria especial, na forma do
artigo 57 da Lei 8.213/91, devendo, portanto, ser mantida a sentença.

- Os honorários advocatícios fixados em 5% (cinco por cento) sobre o valor da condenação estão
em consonância com o artigo 20, § 4º, do Código de Processo Civil. - Aplicabilidade da Lei nº
11.960/09.
- Apelação e recurso adesivo desprovidos e remessa necessária parcialmente provida. (AC
201251010295367, Desembargador Federal MESSOD AZULAY NETO, TRF2 - SEGUNDA
TURMA ESPECIALIZADA, E-DJF2R - Data: 15/07/2014. grifos acrescidos)

PROCESSUAL CIVIL. . MANDADO PREVIDENCIÁRIO DE SEGURANÇA. APOSENTADORIA


ESPECIAL. EXPOSIÇÃO A AGENTES INSALUBRES OU PERIGOSOS. RECONHECIMENTO
DE PERÍODO LABORADO EM CONDIÇÕES ESPECIAIS. JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA.

1. No caso, trata-se de sentença ilíquida, posto que desconhecido o conteúdo econômico do


pleito, inaplicável o § 2º do artigo 475 do Código de Processo Civil. Súmula nº 490 do STJ.
Igualmente não incide o § 3º desse artigo, tendo em vista que a sentença não se fundamentou
em jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal Federal ou em súmula deste Tribunal ou do
tribunal superior competente.

2. Esta Corte, na linha da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, pacificou o entendimento


de que "a ausência de prévio requerimento administrativo não constitui óbice para que o
segurado pleiteie, judicialmente, a revisão de seu benefício previdenciário" (AgRg no REsp
1179627/RS, Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, DJe 7.6.2010). Além disso, em respeito ao
que estabelece o art. 5º, XXXV da Constituição Federal, uma tal exigência não se compatibilizaria
com o direito fundamental de acesso à justiça [cf. AC 0005512-95.2010.4.01.9199/PI, Juiz
Federal Marcos Augusto de Sousa (convocado), Primeira Turma, e-DJF1 30.6.2011 p. 251], não
havendo, por essa mesma razão, que se falar em violação ao princípio da separação dos
Poderes (CF/88, art. 2º). Precedentes. Ressalva do ponto de vista em sentido contrário do
Relator.

3. Muito embora o art. 273, caput, do CPC, expressamente, disponha que os efeitos da tutela
pretendida na inicial poderão ser antecipados, a requerimento da parte, total ou parcialmente,
firmou-se nesta Primeira Turma a possibilidade de o órgão jurisdicional antecipá-la de ofício,
tendo em vista a natureza alimentar do benefício previdenciário e em razão da verossimilhança
do direito material alegado. Precedentes desta Corte.

4. A petição inicial foi instruída com os documentos indispensáveis ao julgamento do feito, não
havendo que se falar em necessidade de dilação probatória e, por conseguinte, em inadequação
da via eleita.

5. O cômputo do tempo de serviço deverá observar a legislação vigente à época da prestação


laboral. Lei nova que venha a estabelecer restrição ao cômputo do tempo de serviço não pode ser
aplicada retroativamente. Precedentes do STJ.

6. O tempo de serviço especial é aquele decorrente de serviços prestados sob condições


prejudiciais à saúde ou em atividades com riscos superiores aos normais para o segurado e,
cumpridos os requisitos legais, a parte impetrante tem direit à aposentadoria especial. As
atividades consideradas prejudiciais à saúde foram definidas pela legislação previdenciária,
especificamente, pelos Decretos 53.831/64 e 83.080/79 e 2.172/97.

7. Tratando-se de período anterior à vigência da Lei 9.032/95, que deu nova redação ao § 3º do
art. 57 da Lei 8.213/91, basta que a atividade exercida pelo segurado seja enquadrada nas
relações dos Decretos 53.831/64 ou 83.080/79, não sendo necessário laudo pericial, exceto a
atividade laborada com exposição a ruído superior ao previsto na legislação de regência.

8. Os formulários DIRBEN 8030 e DSS-8030 e os laudos técnicos fornecidos pela empresa têm
presunção de veracidade e constituem provas suficientes para comprovar o labor em atividade
especial. A exigência de laudo técnico-pericial de médico do trabalho ou engenheiro de
segurança do trabalho só se tornou efetiva a partir do Decreto 2.172/97, que regulamentou a Lei
9.528/97. Precedentes deste Tribunal e do STJ.

9. A jurisprudência é no sentido de que os EPIs não afastam integralmente os agentes nocivos,


portanto, não descaracterizam o trabalho especial.

10. É possível o reconhecimento do exercício de atividade nociva em período anterior à edição da


legislação que instituiu a aposentadoria especial e a especialidade de atividade laboral (AgRg no
REsp 1015694/RS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado
em 16/12/2010, DJe 01/02/2011), bem como continua válida a conversão de tempo de serviço
especial para comum mesmo após 1998 (Resp 1.151.363/MG- representativo de controvérsia).

11. Exercendo o segurado uma ou mais atividades sujeitas a condições prejudiciais à saúde sem
que tenha complementado o prazo mínimo para aposentadoria especial, ou quando tiver exercido
alternadamente essas atividades e atividades comuns, é permitida a conversão de tempo de
serviço prestado sob condições especiais em comum, para fins de concessão de aposentadoria.

12. A ausência de prévia fonte de custeio não impede o reconhecimento do tempo de serviço
especial laborado pelo segurado, nos termos dos artigos 30, I, c/c o § 4º do art. 43 da Lei
8.212/91, e § 6º do art. 57 da Lei 8.213/91. Não pode o trabalhador ser penalizado pela falta do
recolhimento ou por ele ter sido feito a menor, uma vez que a autarquia previdenciária possui
meios próprios para receber seus créditos.

13. No caso, tendo sido comprovado o exercício de atividade profissional considerada prejudicial
à saúde, por enquadramento profissional até a lei nº 9.032/1995, e/ou com a apresentação de
formulários e laudos periciais fornecidos pelas empresas empregadoras, o segurado tem direito
ao reconhecimento do tempo exercido em condições prejudiciais à saúde, bem como ao benefício
da aposentadoria especial.

14. Nas causas ajuizadas perante a Justiça Estadual, no exercício da jurisdição federal (CF, art.
109, § 3º), o INSS está isento das custas somente quando lei estadual específica prevê a
isenção, o que ocorre nos Estados de Minas Gerais, Goiás, Rondônia e Mato Grosso. Em se
tratando de causas ajuizadas perante a Justiça Federal, o INSS está isento de custas por força do
art. 4º, I, da Lei 9.289/1996.

15. Sem condenação em honorários advocatícios (Súmulas STF 512 e STJ 105).

16. A parte impetrante faz jus à aposentadoria especial, a partir do ajuizamento da ação, uma vez
que os efeitos da sentença no mandado de segurança retroagem à data de sua impetração e
nesses limites irradia efeitos patrimoniais.

17. O INSS não trouxe argumentos ou elementos, em suas razões de apelação, que pudessem
justificar a reforma da sentença recorrida, como restou bem fundamentado por ocasião da análise
do reexame necessário.

18. Implantação do benefício no prazo máximo de 30 dias (CPC, art. 273), com comunicação
imediata à autarquia previdenciária.

19. Apelação do INSS a que se nega provimento.

20. Remessa oficiala que se dá parcial provimento. (AC , DESEMBARGADOR FEDERAL


NÉVITON GUEDES, TRF1 - PRIMEIRA TURMA, e-DJF1 DATA: 09/07/2014 PAGINA: 69. grifos
acrescidos)
Logo, o autor contribuiu, em condições especiais, durante o período de 01/06/1981 a 16/02/1982
e de 09/08/1985 a 30/06/2010, o que totaliza, aproximadamente, tendo, consequentemente, o
demandante atingido 25 anos, 7 meses e 6 dias o tempo exigido em lei para concessão da
aposentadoria especial, qual seja, 25 anos, razão pela qual deve ser julgada procedente a
presente demanda no tocante à concessão do benefício previdenciário.

III - DISPOSITIVO

Ante o exposto, julgo PROCEDENTE o pedido inicial, apreciando a lide com resolução do mérito
(art. 269, inciso I, do CPC), reconhecendo o período de 01/06/1981 a 16/02/1982 e de 09/08/1985
a 30/06/2010 como laborado em condições especiais, condenando o INSS à concessão do
benefício previdenciário de aposentadoria especial ao autor, desde a data do requerimento
administrativo (18/11/2013).

Sobre o valor da condenação deverá incidir correção monetária e juros moratórios, desde quando
devida cada parcela, de acordo com os índices recomendados pelo Manual de Orientação de
Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal.

Em face da sucumbência total do INSS, condeno-o a pagar ao autor honorários advocatícios


sucumbenciais arbitrados em R$ 1.000,00 (um mil reais), nos termos do art. 20, § 4.º, do CPC.

Sem condenação em custas processuais, de acordo com o disposto nas Leis n. 1.060/50 e
9.289/96.

Sentença sujeita ao duplo grau de jurisdição obrigatório.

Com o trânsito em julgado, dê-se baixa e arquivem-se os autos.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Publique."

3. Diante do exposto, nego provimento à apelação e à remessa oficial,


mantendo a sentença recorrida pelos seus próprios e doutos fundamentos.

4. É como voto.

[1] Sobre a adoção da técnica, v. decisão do e. STF no julgamento do AI 852.520 (AgRedD).


Impende registrar, também, o posicionamento da doutrina, explicitando que a fundamentação "per
relationem" pode ser utilizada pelo julgador desde que: "a) não tenha havido suscitado de fato ao
argumento novo, b) a peça processual à qual se reporta a decisão esteja substancialmente
fundamentada, aplicando-se, aind

a tudo o que se disse até aqui sobre os fundamentos da própria decisão, c) a peça que contém a
fundamentação referida esteja nos autos e que a ela possam ter acesso as partes." (in Curso de
Processo Civil, vol. 02, Fredie Didier Junior e outros, p. 272).

PROCESSO Nº: 0800481-95.2014.4.05.8201 - APELAÇÃO / REEXAME NECESSÁRIO


APELANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
APELADO: FRANCISCO MORENO DOS SANTOS
ADVOGADO: MARGARETE NUNES DE AGUIAR
RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL MANOEL DE OLIVEIRA ERHARDT - 1º
TURMA

EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. CONCESSÃO DE BENEFÍCIO. APOSENTADORIA ESPECIAL. CONTAGEM


DO TEMPO DE SERVIÇO PRESTADO EM CONDIÇÕES PREJUDICIAIS À SAÚDE.
FUNDAMENTAÇÃO PER RELATIONEM. REMESSA OFICIAL E APELAÇÃO IMPROVIDAS.

1. A sentença apelada julgou PROCEDENTE o pedido inicial, apreciando a


lide com resolução do mérito (art. 269, inciso I, do CPC), reconhecendo o período de 01/06/1981
a 16/02/1982 e de 09/08/1985 a 30/06/2010 como laborado em condições especiais, condenando
o INSS à concessão do benefício previdenciário de aposentadoria especial ao autor, desde a data
do requerimento administrativo (18/11/2013). Sobre o valor da condenação deverá incidir
correção monetária e juros moratórios, desde quando devida cada parcela, de acordo com os
índices recomendados pelo Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça
Federal. Em face da sucumbência total do INSS, condeno-o a pagar ao autor honorários
advocatícios sucumbenciais arbitrados em R$ 1.000,00 (um mil reais), nos termos do art. 20, §
4.º, do CPC.

2. "Passando-se a analisar os laudos técnico-periciais, observa-se que, de acordo com os


laudos anexados, entre 06 de março de 1997 e 19 de novembro de 2003 o ruído ao qual o
demandante estava submetido equivale a 91 (noventa e um) dB(A), superior, portanto, ao previsto
no Decreto 2.172/1997 (Identificador 4058201.166454, Página 7). Por sua vez, após novembro de
2003 até 2009, o limite de ruído ao qual estava o autor submetido igualmente atende aos limites
impostos, desta vez pelo Decreto 4.882/2003 (85 decibéis), conforme se vê do supracitado laudo:
6.3 RISCOS OCUPACIONAIS. Riscos Físicos = Ruído - Anos 2004 94,00 dB(A), 2005 89,05
dB(A), 2006 89,52 dB(A), 2007 89,51 dB(A), 2008 89,46 dB(A) E 2009 94,40 dB(A)."

3. "Já em relação ao período posterior a 2009, os Perfis Profissiográficos Previdenciários


(PPPs) atestam, igualmente, estar o promovente submetido a ruídos superiores a 85 decibéis,
sendo 94,4 dB(A) entre 01/01/2009 e 30/06/2010 (Identificador 4058201.166453). No que
concerne ao período posterior a junho de 2010, não constam dos autos nenhum documento que
comprove ter sido o autor submetido, em seu ambiente de trabalho, a ruídos superiores a 85
decibéis, razão pela qual não há como se reconhecer tal lapso temporal como laborado em
condições especiais."

4. "Destaque-se, enfim, que não prosperam os argumentos da autarquia previdenciária no


sentido de que o uso de EPIs, com a consequente neutralidade do agente físico nocivo, teria
afastado a natureza especial do labor. Nossos tribunais vêm se manifestando no sentido de que a
utilização de tais equipamentos, por si só, não é apta a desconfigurar a natureza especial do
trabalho."

5. "A autor contribuiu, em condições especiais, durante o período de 01/06/1981 a


16/02/1982 e de 09/08/1985 a 30/06/2010, o que totaliza, aproximadamente, tendo,
consequentemente, o demandante atingido 25 anos, 7 meses e 6 dias o tempo exigido em lei
para concessão da aposentadoria especial, qual seja, 25 anos, razão pela qual deve ser julgada
procedente a presente demanda no tocante à concessão do benefício previdenciário."

6. Apelação e Remessa oficial improvidas.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos no. 0800481-95.2014.4.05.8201,


em que são partes as acima mencionadas, ACORDAM os Desembargadores Federais da
Primeira Turma do TRF da 5a. Região, por unanimidade, em negar provimento à apelação e à
remessa oficial, nos termos do relatório, voto e notas taquigráficas constantes dos autos, que
ficam fazendo parte do presente julgado.

LNC

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