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Superior Tribunal de Justiça

AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.171.131 - SC (2009/0239587-1)

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE:

A hipótese é de agravo regimental desafiando decisão da lavra do então


Relator, o Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, a quem coube o exame inicial do
recurso especial, cuja fundamentação, no que interessa, se colhe (fls. 204/208):

5. Quanto ao mais, não merece prosperar a irresignação do INSS


quanto à impossibilidade de reconhecimento de tempo de serviço
especial anterior à vigência da Lei 3.807/60 (Lei Orgânica da
Previdência Social), uma vez que, embora a aposentadoria
especial tenha sido instituída por esse diploma legal, o seu art.
162 assegura aos atuais beneficiários, segurados e dependentes
das instituições de previdência social, todos os direitos
outorgados pelas respectivas legislações, salvo se mais
vantajosos os da presente lei.
6. Dessa forma, sendo mais favoráveis ao segurado as
disposições relativas à previsão de contagem majorada de tempo
de serviço prestado em condições sujeitas à exposição de
agentes físicos, químicos e biológicos (art. 31 da Lei 3.807/60),
impõe-se reconhecer a possibilidade de aplicação retroativa
desse preceito mais benéfico.
7. Nesse mesmo sentido, cite-se:
(...).
9. Ante o exposto, com base no art. 557, § 1o.-A do CPC, dá-se
parcial provimento ao Recurso Especial do INSS, para determinar
que a correção monetária das parcelas em atraso seja efetuada
pelo INPC após a entrada em vigor da Lei 11.430/2006.

Em suas razões, o agravante colaciona precedente desta Corte, no


sentido da irretroatividade da Lei nº 3.807/1960, sustentando que "a possibilidade de
reconhecimento de uma atividade como especial passou a existir no ordenamento
jurídico a contar da publicação da Lei Orgânica da Previdência Social - LOPS, em
26/8/1960, motivo pelo qual não é possível a sua aplicação para período anterior a sua
vigência, sob pena de ofensa ao artigo 5º, XXXVI da Constituição Federal" (fl. 217).

É o relatório.

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AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.171.131 - SC (2009/0239587-1)

VOTO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE (RELATOR):

Não há como acolher a irresignação.

O cerne da controvérsia diz respeito à impossibilidade de conversão de


tempo de serviço especial em comum, e vice-versa, anteriormente à Lei n.º
3.807/1960, uma vez que a conversão de tempo especial em comum, para a
concessão de aposentadoria por tempo de serviço de qualquer espécie, somente foi
admitida com o advento da referida Lei.

Com efeito, é bem verdade que a Lei nº 3.807/1960, denominada Lei


Orgânica da Previdência Social - LOPS, embora previsse a outorga de aposentadoria
especial após 15, 20 ou 25 anos de trabalho em atividades penosas, insalubres ou
periculosas, nada dispunha acerca da conversão de tempo de serviço especial em
comum ou comum em especial. Assim, a primeira normatização acerca da
possibilidade de conversão de tempo de serviço, para fins de obtenção de qualquer
benefício previdenciário somente passou a existir com a edição da Lei nº 6.887/1980,
vigente a contar de 1º/1/1981.

Nesse contexto, os fatores de conversão de tempo especial em comum


ou comum em especial somente passaram a fazer parte do ordenamento jurídico com
a edição do Decreto n. 87.374, publicado em 9/7/1982, que alterou o art. 60 do
Decreto nº 83.080/1979, para instituí-los de forma a viabilizar a obtenção de qualquer
benefício mediante a conversão de tempo de serviço especial ou comum. A partir de
então, todas as legislações posteriores passaram a prevê-los.

Nesse panorama, a Primeira Seção do STJ, no julgamento do REsp nº


1.310.034/PR, Relator o Ministro Herman Benjamin, sob o rito dos recursos repetitivos,
assentou compreensão no sentido de ser possível a conversão de tempo comum em
especial mesmo antes da vigência da Lei nº 6.887/1980, desde que, o regime jurídico

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vigente, ao qual estava submetido o segurado, contenha previsão quanto a essa
possibilidade e desde que preenchidos os requisitos para a aposentação.

Confira-se, a propósito, a ementa do referido julgado:

RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC NÃO


CONFIGURADA. MATÉRIA REPETITIVA. ART. 543-C DO CPC
E RESOLUÇÃO STJ 8/2008. RECURSO REPRESENTATIVO DE
CONTROVÉRSIA. PREVIDENCIÁRIO. TEMPO ESPECIAL E
COMUM. CONVERSÃO. POSSIBILIDADE. ART. 9º, § 4º, DA LEI
5.890/1973, INTRODUZIDO PELA LEI 6.887/1980. CRITÉRIO.
LEI APLICÁVEL. LEGISLAÇÃO VIGENTE QUANDO
PREENCHIDOS OS REQUISITOS DA APOSENTADORIA.
1. Trata-se de Recurso Especial interposto pela autarquia
previdenciária com intuito de desconsiderar, para fins de
conversão entre tempo especial e comum, o período
trabalhado antes da Lei 6.887/1980, que introduziu o citado
instituto da conversão no cômputo do tempo de serviço.
2. Como pressupostos para a solução da matéria de fundo,
destaca-se que o STJ sedimentou o entendimento de que, em
regra; a) a configuração do tempo especial é de acordo com a lei
vigente no momento do labor, e b) a lei em vigor quando
preenchidas as exigências da aposentadoria é a que define o
fator de conversão entre as espécies de tempo de serviço. Nesse
sentido: REsp 1.151.363/MG, Rel. Ministro Jorge Mussi, Terceira
Seção, DJe 5.4.2011, julgado sob o rito do art. 543-C do CPC.
3. A lei vigente por ocasião da aposentadoria é a aplicável ao
direito à conversão entre tempos de serviço especial e
comum, independentemente do regime jurídico à época da
prestação do serviço. Na mesma linha: REsp 1.151.652/MG,
Rel. Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, DJe 9.11.2009; REsp
270.551/SP, Rel. Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, DJ
18.03.2002; Resp 28.876/SP, Rel. Ministro Assis Toledo, Quinta
Turma, DJ 11.09.1995; AgRg nos EDcl no Ag 1.354.799/PR, Rel.
Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe
5.10.2011.
4. No caso concreto, o benefício foi requerido em 24.1.2002,
quando vigente a redação original do art. 57, § 3º, da Lei
8.213/1991, que previa a possibilidade de conversão de tempo
comum em especial.
5. Recurso Especial não provido. Acórdão submetido ao regime
do art. 543-C do CPC e da Resolução 8/2008 do STJ.
(REsp nº 1.310.034/PR, relator o Ministro Herman Benjamin ,
DJe de 19/12/2012)

Assim, embora não houvesse àquela época, a previsão de conversão de


tempo especial para a obtenção da inativação por tempo de serviço/contribuição, já era

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previsto o direito ao cômputo diferenciado do tempo de serviço, após 15, 20 ou 25
anos de trabalho prestado em atividades penosas, insalubres ou periculosas, por força
das normas vigentes à época da referida atividade. Desta forma, é lícita a conversão
do tempo de serviço especial em comum, mesmo antes da vigência da Lei nº
6.887/1980, não podendo a conversão sofrer nenhuma restrição imposta pela
legislação posterior, em respeito ao princípio do direito adquirido.

No mesmo sentido, anotem-se as seguintes decisões monocráticas:


REsp nº 1.287.644/AL, Relatora a Ministra Laurita Vaz, DJe de 11/3/2013 e REsp nº
1.331.609/SE, Relator o Ministro Humberto Martins, DJe de 8/11/2012.

Verifica-se, assim, que o litígio deduzido em recurso especial foi objeto de


regular exame e solução pela decisão agravada, a qual deve ser mantida pelos seus
próprios e jurídicos fundamentos.

Do exposto, nego provimento ao agravo regimental.

É como voto.

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