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Poder Judiciário

Justiça do Trabalho
Tribunal Superior do Trabalho

PROCESSO Nº TST-AIRR-1000631-75.2019.5.02.0002

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 10043F07FC084DB169.
Agravante: ROBERTO CARLOS SILVA
Advogado: Dr. Carlos Augusto Galan Kalybatas
Agravado: PRESSSEG - SERVIÇOS DE SEGURANÇA EIRELI
Advogado: Dr. Jackson Peargentile

GMDAR/ASL/

DECISÃO

I – CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente recurso está submetido à disciplina da Lei 13.467/2017,


especificamente em relação ao requisito da transcendência.
De acordo com o art. 896-A da CLT, com a redação dada pela MP
2226/2001, “O Tribunal Superior do Trabalho, no recurso de revista, examinará previamente
se a causa oferece transcendência com relação aos reflexos gerais de natureza econômica,
política, social ou jurídica.”.
Apesar de o art. 2º da MP 2226/2001 ter conferido a esta Corte a
competência para regulamentar, em seu regimento interno, o processamento da
transcendência do recurso de revista (assegurada a apreciação da transcendência em
sessão pública, com direito a sustentação oral e fundamentação da decisão), tal
regulamentação não foi editada.
Com o advento da Lei 13.467/2017, os parâmetros para o exame da
transcendência foram objetivamente definidos (§ 1º do art. 896-A da CLT), devendo ser
observados no âmbito desta Corte em relação aos recursos interpostos contra acórdãos
publicados após a vigência da Lei 13.467/2017 (art. 246 do RITST).
De acordo com § 1º do art. 896-A da CLT, são indicadores da
transcendência, entre outros critérios que podem ser delineados por esta Corte, a
partir do exame de cada caso concreto:

I - econômica, o elevado valor da causa;


II - política, o desrespeito da instância recorrida à jurisprudência
sumulada do Tribunal Superior do Trabalho ou do Supremo Tribunal Federal;
III - social, a postulação, por reclamante-recorrente, de direito social
constitucionalmente assegurado;
IV - jurídica, a existência de questão nova em torno da interpretação da
legislação trabalhista.

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O exame do art. 896-A, § 1º, da CLT revela que o próprio legislador deixou
aberta a possibilidade de detecção de outras hipóteses de transcendência, ao sugerir de
modo meramente exemplificativo os parâmetros delineados no § 1º do art. 896-A da
CLT.
Não se pode, portanto, no exercício desse juízo inicial de delibação, afastar
o papel precípuo do TST de guardião da unidade interpretativa do direito no âmbito da
Justiça do Trabalho.
Nesse sentido, deve se entender presente a transcendência política nas
hipóteses em que as decisões regionais, de forma direta e objetiva, contrariam a
jurisprudência pacífica e reiterada desta Corte, ainda que não inscrita em Súmula ou
Orientação Jurisprudencial.
Esse novo sistema busca realizar pelo menos três valores constitucionais
relevantes: isonomia, celeridade e segurança jurídica no tratamento aos
jurisdicionados. Por isso, também as decisões nesses incidentes, quando descumpridas,
devem ensejar o reconhecimento da transcendência política para o exame do recurso
de revista.
Em síntese, o pressuposto da transcendência política estará configurado
sempre que as decisões regionais desafiarem as teses jurídicas pacificadas pelo TST em
reiteradas decisões (§ 7º do art. 896 c/c a Súmula 333 do TST), em Súmulas, em
Orientações Jurisprudenciais ou em Incidentes de Resolução de Demandas Repetitivas e
de Assunção de Competência.

II – AGRAVO DE INSTRUMENTO

Trata-se de agravo de instrumento interposto em face da decisão do


Tribunal Regional do Trabalho, mediante a qual foi denegado seguimento ao recurso de
revista.
A parte procura demonstrar a satisfação dos pressupostos para o
processamento do recurso obstado.
Houve apresentação de contraminuta.
Dispensada a remessa dos autos ao Ministério Público do Trabalho, na
forma regimental.
Tramitação preferencial – Procedimento Sumaríssimo.
Assim resumida a espécie, profiro a seguinte decisão, com lastro no
art. 932 do CPC.
Observo que o recurso encontra-se tempestivo e regular.

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Registro, ainda, que se trata de agravo de instrumento com o
objetivo de viabilizar o processamento de recurso de revista interposto em face de
decisão publicada na vigência das Leis 13.015/2014 e 13.467/2017.
O Tribunal Regional negou seguimento ao recurso de revista da
parte. Eis os termos da decisão:

(...)
Embargos declaratórios opostos pelo Reclamante sustentando haver
omissão no despacho que denegou o seu Recurso de Revista em relação aos
honorários advocatícios, em razão da não indicação do trecho da decisão
recorrida que consubstancia o prequestionamento da controvérsia objeto do
apelo. Afirma que houve a indicação do ponto criticado do v. acórdão.
Requer o pronunciamento acerca da matéria, visando a regularização
da prestação jurisdicional.
É o relatório.
DECIDO
Tempestivos os embargos (cfr. ids. 5273017 e 5774100) e regular a
representação (id. 016902f), CONHEÇO.
Examinando as razões dos embargos, em cotejo com o despacho de
admissibilidade de id. 5273017, constato que razão assiste ao embargante,
tendo em vista que o recurso de revista interposto cumpriu os requisitos
necessários a viabilizar a sua apreciação, visto que houve a transcrição do
trecho do v. Acórdão que consubstancia a controvérsia. Passo à análise da
matéria.
PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO / PARTES E
PROCURADORES / SUCUMBÊNCIA / HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
De início, é relevante destacar que, tratando-se de ação que tramita
pelo rito sumaríssimo, nos estreitos termos do art. 896, § 9°, da CLT, somente
será admitido Recurso de Revista por contrariedade a súmula de
jurisprudência uniforme do Tribunal Superior do Trabalho ou a súmula
vinculante do Supremo Tribunal Federal e por violação direta da Constituição
Federal.
Nesse contexto, afastam-se, de plano, as arguições de violação dos
artigos 4º da Lei nº 1.060/50, 98, § 1º e 883, IV, do CPC de 2015, 1707 do
Código Civil e 5º da Lei de Introdução às normas do direito brasileiro, bem
como de existência de dissenso pretoriano, como aptas a ensejar o
prosseguimento do apelo.
No tocante ao mérito do apelo, o Pleno do C. TST, diante das alterações
promovidas pela Lei nº 13.467/2017, editou a Instrução Normativa nº 41/2018,
cujo art. 6º assim dispõe:
"Art. 6º Na Justiça do Trabalho, a condenação em honorários
advocatícios sucumbenciais, prevista no art. 791-A, e parágrafos, da CLT, será
aplicável apenas às ações propostas após 11 de novembro de 2017 (Lei nº
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13.467/2017). Nas ações propostas anteriormente, subsistem as diretrizes do
art. 14 da Lei nº 5.584/1970 e das Súmulas nos 219 e 329 do TST."
Considerando que a presente reclamação trabalhista foi ajuizada na
vigência da referida lei, a condenação do autor ao pagamento de honorários
advocatícios, apesar de beneficiário da justiça gratuita, encontra respaldo no
art. 791-A, § 4º, da CLT, o qual não atenta contra as garantias constitucionais
da isonomia, do acesso à justiça e da assistência judiciária gratuita e integral
prestada pelo Estado, como vem decidindo a Corte Superior Trabalhista
(Precedentes: AIRR - 2054-06.2017.5.11.0003, Relator Ministro Alberto Luiz
Bresciani de Fontan Pereira, 3ª Turma, DEJT 31/05/2019; RR -
1000163-78.2018.5.02.0089, Relator Ministro Alexandre de Souza Agra
Belmonte, 3ª Turma, DEJT 27/09/2019; RR - 1000099-36.2018.5.02.0035,
Relator Ives Gandra Martins Filho, 4ª Turma, DEJT 30/08/2019;
RR-1001953-92.2018.5.02.0511, Relator Ministro Alexandre Luiz Ramos. 4ª
Turma DEJT 26/06/2020; AIRR - 10184-51.2018.5.03.0074, Relatora Ministra
Dora Maria da Costa, 8ª Turma, DEJT 22/03/2019).
Não se vislumbra, portanto, ofensa direta aos dispositivos
constitucionais indicados.
DENEGO seguimento.
CONCLUSÃO
DENEGO seguimento ao recurso de revista.
(...) (fls. 670/671)

A parte sustenta o desacerto da decisão de admissibilidade.


Aduz, em síntese, que não pode ser condenada ao pagamento de
honorários advocatícios sucumbenciais, uma vez que foram concedidos os benefícios
da Justiça Gratuita.
Aponta ofensa aos artigos 5º, XXXV e LXXIV, da CR/88, 98 do CPC e 791-A, §
4º, da CLT.
Ao exame.
Inicialmente, ressalto que o Agravante, nas razões do recurso de revista,
atendeu às exigências processuais contidas no art. 896, § 1º-A, I, II e III, e § 8º, da CLT.
Afinal, a parte transcreveu o trecho da decisão regional que consubstancia
o prequestionamento da controvérsia (fls. 615/616); indicou ofensa à ordem jurídica; e
promoveu o devido cotejo analítico.
Ademais, por se tratar de ação que tramita pelo rito sumaríssimo,
conforme preceitua o art. 896, § 9°, da CLT, somente será admitido recurso de revista
por contrariedade à súmula do TST ou à súmula vinculante do STF e por violação direta
da Constituição Federal.
Desse modo, é inviável o exame da alegada violação aos dispositivos da

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CLT suscitada, porquanto não se enquadra nas hipóteses acima descritas.
No mais, o Tribunal Regional do Trabalho decidiu mediante os seguintes
fundamentos:

(...)
Honorários sucumbenciais
A reforma do julgado, com a procedência parcial da ação atrai a
aplicação do artigo 791-A, da CLT.
Esclareça-se que não há que se falar em inconstitucionalidade do artigo
791- A da CLT, o qual constitui objeto da ADI 5766. Em sede de apreciação
liminar, o STF já se manifestou pela ausência de ofensa aos princípios
constitucionais de amplo acesso à jurisdição e igualdade entre os litigantes.
A gratuidade da justiça não elide a responsabilidade pela verba
advocatícia, como expressamente previsto no parágrafo 4º, do art. 791-A, da
CLT.
Ante a reforma do julgado, com a procedência parcial da ação,
condena-se as partes ao pagamento de honorários sucumbenciais, no
percentual de 5% sobre os valores arbitrados aos pedidos rejeitados, em favor
do patrono da reclamada, e no mesmo percentual ao patrono do reclamante,
calculado sobre o valor que resultar da liquidação.
(...) (fl. 608)

Constato que a questão jurídica objeto do recurso de revista,


“HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS. RECLAMANTE BENEFICIÁRIO DA
JUSTIÇA GRATUITA. ART. 791-A DA CLT”, representa “questão nova em torno da
interpretação da legislação trabalhista”, nos termos do art. 896-A, IV, da CLT, porquanto
trata-se de inovação legislativa oriunda das alterações promovidas pela Lei 13.467/2017,
sobre as quais ainda pende interpretações por esta Corte Trabalhista.
Considero, portanto, configurada a transcendência jurídica da matéria em
debate.
No caso presente, a matéria suscitada no presente recurso de revista
compõe o conjunto de mudanças introduzidas pela Lei 13.467/2017, responsável pela
denominada Reforma Trabalhista.
Para além dos elogios e críticas endereçados às novas disposições legais, é
fato que, no universo recente das relações de trabalho no Brasil, algumas características
eram marcantes e precisam ser relembradas: elevada taxa de desemprego, girando em
torno de 12% ao tempo da tramitação da proposição legislativa que resultou na Lei
13.467/2017; alto índice de informalidade (40%), com exclusão de expressivo
contingente de trabalhadores do sistema previdenciário; elevada taxa de rotatividade
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da mão de obra, embora com níveis diferenciados nos vários setores da economia;
baixo nível dos salários (pesquisa divulgada recentemente pelo IBGE, em
novembro/2017, revela que metade dos trabalhadores brasileiros, subordinados e
autônomos, possuem renda inferior a 15% do salário mínimo); expressivo e crescente
volume de ações trabalhistas; negociações coletivas que não pacificam conflitos, antes
os estimulam, geram instabilidade e comprometem a necessária previsibilidade,
alimentando o ciclo vicioso de transferência de custos ao conjunto da sociedade;
número explosivo de sindicatos em um sistema que consagra a unicidade, totalizando
mais de 17.300 sindicatos, dos quais mais da metade jamais celebrou qualquer ajuste
coletivo; baixos índices de representatividade dos sindicatos, financiados com a
intervenção do Estado.
Diante desse cenário -- resultado, entre tantos fatores, do onipresente
processo de globalização econômica, ainda não percebido em sua real extensão e
complexidade por muitos atores sociais --, alguns ajustes na legislação laboral
mostravam-se necessários, especialmente em relação ao modelo sindical e à
negociação coletiva, na perspectiva de criar condições para a construção de relações de
emprego mais colaborativas e democráticas, menos conflitivas ou adversariais.
Finalizado na arena parlamentar o debate a propósito do sistema ideal de
regulação das relações entre o capital e o trabalho, bem assim do conjunto de regras
processuais que deveriam orientar a gestão dos conflitos submetidos ao Poder
Judiciário, vários questionamentos foram apresentados ao STF pela via do controle
concentrado de constitucionalidade, envolvendo a conformidade de algumas das novas
regras inseridas pela Lei 13.467/2017 com as regras e princípios inscritos na Carta
Política de 1988.
Entre essas novas disposições questionadas perante o STF figuram as
normas dos artigos 790-B, caput e § 4º, 791-A, § 4º, e 844, § 2º, da CLT, as quais,
respectivamente: fixam o dever de pagamento de honorários periciais pela parte
sucumbente na pretensão objeto da perícia, ainda que beneficiária da justiça gratuita,
reservando-se à União esse ônus apenas quando o beneficiário da justiça gratuita não
tiver obtido em juízo créditos capazes de suportar a despesa referida, ainda que em
outro processo; impõem ao beneficiário da justiça gratuita a responsabilidade pelo
pagamento de honorários sucumbenciais, mediante retenção de crédito judicial que lhe
tenha sido eventualmente reconhecido, ou mediante suspensão de sua exigibilidade
por dois anos, prazo em que o credor poderá demonstrar a aquisição de capacidade
econômica, extinguindo-se, após esse prazo, a obrigação; determinam o pagamento das
custas processuais caso a reclamação seja arquivada por ausência injustificada à

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audiência.
Especificamente em relação a essas regras, o Procurador-Geral da
República propôs a ADI 5766, expressando, inicialmente, a clara visão de que a Reforma
Trabalhista promoveu a redução de direitos sociais trabalhistas, pois, entre tantas
medidas, facilita o uso do trabalho autônomo (CLT, art. 442-B), amplia a contratação
terceirizada de mão de obra (art. 2º), institui modalidades contratuais ultraflexíveis,
como o trabalho intermitente (CLT, art. 452-A), fomenta negociação coletiva com
finalidade redutora de direitos de fonte legal (CLT, arts. 611-A e 611-B), inclusive em
matérias relativas à saúde e segurança do trabalhador (CLT, art. 611-A, XII), flexibiliza a
composição salarial (CLT, art. 457, §§ 2º e 4º) e a jornada de trabalho (CLT, arts. 59, §§ 5º
e 6º, 59-A, 59-B, 611-A, I a III, e 611-B, parágrafo único), dificulta a equiparação salarial
(CLT, art. 461, §§ 1º e 5º).
Na petição inicial da referida ADI 5766, sustentou o Procurador-Geral da
República, em densa e erudita fundamentação, que as regras impugnadas ao preverem
o pagamento de despesas de sucumbência e custas processuais com seus créditos de
natureza alimentar, violam o direito fundamental dos trabalhadores pobres à
gratuidade da Justiça, também vulnerando o dever estatal de assegurar aos
necessitados a assistência judiciária integral e gratuita (CF, art. 5º, LXXXIV). Ainda na
visão do Chefe do Parquet, as novas regras contrariam os princípios constitucionais da
isonomia (art. 5º, caput), da ampla defesa (art. 5º, LV), do devido processo legal (art. 5º,
LIV) e da inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, XXXV), revelando-se também contrárias
aos princípios da proporcionalidade e da proibição do excesso, em autentico desvio de
finalidade legislativa.
Embora não concluído o debate perante a Suprema Corte, cabe examinar
as arguições de inconstitucionalidade deduzidas nestes autos, relativamente ao art. 5º,
XXXV e LXXIV, da CF.
Antes, porém, cabe refutar a violação do art. 791-A da CLT pela Corte
Regional, que se limitou a aplicar a exata dicção desse dispositivo.
Obviamente, a aplicação das regras em sua estrita literalidade ou
compreensão mais evidente não traduz transgressão a seus comandos.
No que concerne ao art. 5º, XXXV e LXXIV, da CF, da mesma forma, penso
que não há razão plausível para o processamento do recurso de revista.
Tais dispositivos rezam, respectivamente:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
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XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito;
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos;

Contudo, antes de examinar especificamente os vícios substanciais


sugeridos aos textos normativos, penso necessário revisitar aspectos de ordem
teórico-doutrinária relevantes para a compreensão da polêmica.
Como se sabe, os órgãos do Poder judiciário, no exercício de sua função
típica de composição de conflitos, não apenas estão autorizados como devem,
efetivamente, proceder ao exame da conformidade entre os textos normativos
relevantes para a composição dos conflitos com os princípios e regras fundamentais do
sistema normativo, sediados no Texto Constitucional.
No sistema brasileiro de controle de constitucionalidade convivem os
modelos difuso e concentrado, de tal modo que a atividade política de defesa da
supremacia da Constituição se desenvolve de forma concorrente tanto em exame
incidental no julgamento de casos concretos, com eficácia subjetiva limitada às partes
em disputa, quanto em via principal, abstrata e genérica, em ações de natureza objetiva,
de competência exclusiva da Suprema Corte (CF, art. 102, I, "a", § 2º, da CF).
No conjunto de princípios que informam essa importantíssima atividade
de defesa da supremacia da Constituição, que também é realizada de modo preventivo
no âmbito dos Poderes Legislativo e Executivo, sobressai o princípio da presunção de
constitucionalidade das leis e atos do Poder Público, que deriva da própria noção
central da separação e harmonia entre os Poderes (CF, art. 2º).
Por força desse princípio, a pesquisa em torno da conformidade das leis e
atos do Poder Público ao texto da Constituição há de se desenvolver com equilíbrio e
ponderação, não sendo lícito aos órgãos do Poder Judiciário, na ausência de manifesta,
evidente e inescusável transgressão às normas fundamentais do sistema, proclamar a
inconstitucionalidade, como pretexto para substituir ou invalidar o critério normativo
eleito pelos representantes diretos da soberania popular.
Nesse sentido, o vício maior da inconstitucionalidade há de ser
compreendido como exceção, apenas sendo possível afirma-lo quando não for
realmente possível interpretar a norma ou o ato submetido à sindicância constitucional
em estrita conformidade com as normas fundamentais do sistema. E aqui surge um
segundo princípio orientador do controle de constitucionalidade, qual seja, o princípio
da interpretação conforme à Constituição.
Ainda nesse relevante exercício de competência atípica, devem os órgãos
do Poder Judiciário compreender as normas eventualmente impugnadas sob a ótica de
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sua inconstitucionalidade à luz do próprio sistema em que se insere, ou seja, o sentido
e alcance últimos da norma devem ser construídos a partir de sua conjugação com as
demais normas inscritas no Texto Constitucional, por imposição do princípio da unidade
da Constituição.
Ainda é preciso considerar a norma jurídica questionada em sua interação
com as regras fundamentais do sistema, a partir de uma perspectiva dialógica e
interdisciplinar (LINDB, art. 20), de sorte tal que a cenário empírico objeto da regulação
questionada e os resultados propostos possam ser avaliados com base nas noções
essenciais da necessidade, da razoabilidade e da proporcionalidade. Significa dizer,
então, que o próprio postulado do devido processo legal, em sua dimensão substantiva,
há de representar importante parâmetro de aferição da conformidade vertical ente leis
e atos editados pelo Poder Público e as normas sediadas na Carta Política.
Postas essas questões antecedentes, ressalto que as inovações legais
questionadas, precisamente o art. 791-A da CLT, não implicam negativa de assistência
judiciária gratuita, ausência de tratamento isonômico ou exclusão do direito de ação,
pois expressamente ressalvada a possibilidade de suspensão da exigibilidade da
cobrança por dois anos, desde que o Reclamante, beneficiário da justiça gratuita, não
tenha obtido em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de suportar a
despesa.
Como se sabe, a ausência de filtros seletivos que indiquem riscos às
demandas temerárias seria uma das principais causas do excessivo volume de ações,
de sorte que a imposição de custos à parte sucumbente, ainda que beneficiária da
justiça gratuita, mediante retenção de parte de seus eventuais créditos judicialmente
reconhecidos, representaria um fator de retração dessas indesejáveis demandas
aventureiras, além de ensejar uma maior responsabilidade na movimentação do
aparato jurisdicional.
In casu, o Tribunal Regional condenou o Reclamante ao pagamento dos
honorários de sucumbência, por entender que as disposições trazidas na Lei
13.467/2017 são aplicáveis ao presente caso.
Conforme artigo 6º da Instrução Normativa 41/2018 elaborada por esta
Corte Superior, as alterações promovidas pela Lei 13.467/2017, referente aos
honorários advocatícios sucumbenciais, só se aplicam às ações propostas após 11 de
novembro de 2017, in verbis:

Art. 6º Na Justiça do Trabalho, a condenação em honorários advocatícios


sucumbenciais, prevista no art. 791-A, e parágrafos, da CLT, será aplicável
apenas às ações propostas após 11 de novembro de 2017 (Lei nº

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art. 14 da Lei nº 5.584/1970 e das Súmulas nos 219 e 329 do TST.

Na hipótese, a ação foi proposta em meados de maio de 2019, portanto,


após a vigência da Lei 13.467/2017 e, desse modo, o regramento relativo à condenação
de honorários advocatícios segue a diretriz da referida legislação.
A esse respeito o art. 791-A, caput e § 4º, da CLT assim dispõe:

Art. 791-A. Ao advogado, ainda que atue em causa própria, serão


devidos honorários de sucumbência, fixados entre o mínimo de 5% (cinco por
cento) e o máximo de 15% (quinze por cento) sobre o valor que resultar da
liquidação da sentença, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível
mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa.
(...)
§ 4º Vencido o beneficiário da justiça gratuita, desde que não tenha
obtido em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de
suportar a despesa, as obrigações decorrentes de sua sucumbência
ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser
executadas se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da
decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a
situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão de
gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações do
beneficiário.

Incide, portanto, o disposto no art. 791-A da CLT, de modo que a


condenação do Reclamante ao pagamento de honorários advocatícios não implica
violação dos dispositivos invocados.
Correta, também, a aplicação do § 4º do referido artigo.
Por essas razões, embora reconheça a transcendência jurídica da causa,
verifico que a decisão Regional foi proferida em sintonia com a legislação trabalhista e o
entendimento contido na Instrução Normativa do TST, não desafiando reforma.
Ante o exposto, e amparado no artigo 932 do CPC, NEGO PROVIMENTO ao
agravo de instrumento.
Publique-se.
Brasília, 10 de agosto de 2021.

Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)


DOUGLAS ALENCAR RODRIGUES
Ministro Relator
Firmado por assinatura digital em 10/08/2021 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que
instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

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