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Poder Judiciário

Justiça do Trabalho
Tribunal Superior do Trabalho

PROCESSO Nº TST-RR-1000231-60.2018.5.02.0046

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100303DFCBFD098227.
A C Ó R D Ã O
(4ª Turma)
IGM/ks/as
RECURSO DE REVISTA DO AUTOR – CONDENAÇÃO
DO BENEFICIÁRIO DA JUSTIÇA GRATUITA AO
PAGAMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
SUCUMBENCIAIS – COMPATIBILIDADE DO ART.
791-A, § 4º, DA CLT COM O ART. 5º, CAPUT,
XXXV e LXXIV, DA CF - TRANSCENDÊNCIA
JURÍDICA RECONHECIDA.
1. Nos termos do art. 896-A, § 1º, IV,
da CLT, constitui transcendência
jurídica da causa a existência de
questão nova em torno da interpretação
da legislação trabalhista.
2. In casu, o debate jurídico que emerge
do presente processo diz respeito à
compatibilidade do § 4º do art. 791-A da
CLT, introduzido pela Lei 13.467/17,
que determina o pagamento de honorários
advocatícios pelo beneficiário da
justiça gratuita, quando sucumbente e
tenha obtido em juízo, neste ou em outro
processo, créditos capazes de suportar
a despesa, frente aos princípios da
isonomia, do livre acesso ao Judiciário
e da assistência jurídica integral e
gratuita aos que comprovarem a
insuficiência de recursos, esculpidos
nos incisos XXXV e LXXIV do art. 5º da
Constituição Federal, questão que,
inclusive, encontra-se pendente de
análise pela Suprema Corte em sede de
controle concentrado de
constitucionalidade (ADI 5.766-DF,
Rel. Min. Roberto Barroso).
3. Conforme se extrai do acórdão
recorrido, o Autor, que litiga sob o
pálio da justiça gratuita, foi
condenado ao pagamento de honorários
advocatícios sucumbenciais em
benefício da Reclamada, no percentual
de 5% sobre o valor liquidado dos
pedidos julgados improcedentes na
presente reclamação trabalhista.
4. Como é cediço, a Reforma Trabalhista,
promovida pela Lei 13.467/17, ensejou
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diversas alterações no campo do Direito
Processual do Trabalho, a fim de tornar
o processo laboral mais racional,
simplificado, célere e, principalmente,
responsável, sendo essa última
característica marcante, visando
coibir as denominadas “aventuras
judiciais”, calcadas na facilidade de
se acionar a Justiça, sem nenhum ônus ou
responsabilização por postulações
carentes de embasamento fático.
5. Não se pode perder de vista o
crescente volume de processos ajuizados
nesta Justiça Especializada, muitos com
extenso rol de pedidos, apesar dos
esforços empreendidos pelo TST para
redução de estoque e do tempo de
tramitação dos processos.
6. Nesse contexto foram inseridos
os §§ 3º e 4º no art. 791-A da CLT pela
Lei 13.467/17, responsabilizando-se a
parte sucumbente, seja a autora ou a
demandada, pelo pagamento dos
honorários advocatícios, ainda que
beneficiária da justiça gratuita, o que
reflete a intenção do legislador de
desestimular lides temerárias,
conferindo tratamento isonômico aos
litigantes. Tanto é que o § 5º do art.
791-A da CLT expressamente dispôs
acerca do pagamento da verba honorária
na reconvenção. Isso porque, apenas se
tiver créditos judiciais a receber é que
terá de arcar com os honorários se fizer
jus à gratuidade da justiça, pois nesse
caso já não poderá escudar-se em
pretensa insuficiência econômica.
7. Percebe-se, portanto, que o art.
791-A, § 4º, da CLT não colide com o art.
5º, caput, XXXV e LXXIV, da CF, ao revés,
busca preservar a jurisdição em sua
essência, como instrumento responsável
e consciente de tutela de direitos
elementares do ser humano trabalhador,
indispensáveis à sua sobrevivência e à
da família.
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8. Ainda, convém ressaltar não ser
verdadeira a assertiva de que a
imposição de pagamento de honorários de
advogado àquele que se declara pobre na
forma da lei implica desvio de
finalidade da norma, onerando os que
necessitam de proteção legal, máxime
porque no próprio § 4º do art. 791-A da
CLT se visualiza a preocupação do
legislador com o estado de
hipossuficiência financeira da parte
vencida, ao exigir o pagamento da verba
honorária apenas no caso de existência
de crédito em juízo, em favor do
beneficiário da justiça gratuita, neste
ou em outro processo, capaz de suportar
a despesa que lhe está sendo imputada,
situação, prima facie, apta a modificar
a sua capacidade financeira, até então
de miserabilidade, que justificava a
concessão de gratuidade, prestigiando,
de um lado, o processo responsável, e
desestimulando, de outro, a litigância
descompromissada.
9. Por todo o exposto, não merece
reforma o acórdão regional que manteve
a imposição de pagamento de honorários
advocatícios ao Autor sucumbente,
restando incólumes os dispositivos
constitucionais apontados como
violados na revista, valendo o registro
que, à luz do art. 896, § 9º, da CLT e
da Súmula 442 do TST, a indicação de
afronta a dispositivo de lei nem sequer
daria ensejo ao apelo, por se tratar de
recurso submetido a procedimento
sumaríssimo.
Recurso de revista não conhecido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso


de Revista n° TST-RR-1000231-60.2018.5.02.0046, em que é Recorrente
MANOEL FELIX DA SILVA e Recorrida PRINCESINHA DO BELEM LTDA - ME.

R E L A T Ó R I O

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Contra o acórdão do 2º Regional que negou provimento
ao seu recurso ordinário (págs. 167-170), o Reclamante interpõe o
presente recurso de revista, pedindo o reexame da questão referente à
condenação do Beneficiário da justiça gratuita ao pagamento de honorários
advocatícios sucumbenciais (págs. 184-199).
Admitido o apelo (págs. 201-204), não foram
apresentadas contrarrazões à revista, dispensando-se a remessa dos autos
ao Ministério Público do Trabalho, nos termos do art. 95, § 2º, II, do
RITST.
É o relatório.

V O T O

I) CONHECIMENTO

A) PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS

O recurso atende aos pressupostos extrínsecos da


adequação, tempestividade e da regularidade de representação, de forma
que passo à análise da transcendência e dos pressupostos intrínsecos de
admissibilidade.

B) CRITÉRIO DA TRANSCENDÊNCIA

Tratando-se de recurso de revista interposto contra


acórdão regional publicado após a entrada em vigor da Lei 13.467/17 (pág.
305), tem-se que o apelo ao TST deve ser analisado à luz do critério da
transcendência previsto no art. 896-A da CLT, que dispõe:

“Art. 896-A - O Tribunal Superior do Trabalho, no recurso de revista,


examinará previamente se a causa oferece transcendência com relação
aos reflexos gerais de natureza econômica, política, social ou jurídica.
§ 1º São indicadores de transcendência, entre outros:
I - econômica, o elevado valor da causa;
II - política, o desrespeito da instância recorrida à jurisprudência sumulada
do Tribunal Superior do Trabalho ou do Supremo Tribunal Federal;

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III - social, a postulação, por reclamante-Recorrente, de direito social
constitucionalmente assegurado;
IV - jurídica, a existência de questão nova em torno da interpretação da
legislação trabalhista” (grifos nossos).

Conforme disposto no art. 247 do RITST, tal critério,


sendo ínsito ao apelo, deve ser examinado de ofício, independentemente
de ter sido articulado pela Parte.
Se a transcendência consiste em juízo de delibação,
prévio à análise do recurso em seus demais pressupostos, e tais
pressupostos não podem ser afastados com base no reconhecimento da
transcendência do recurso, temos que eventual vício formal na veiculação
de agravo de instrumento ou recurso de revista retira ipso facto a
transcendência do apelo ao TST.
Com efeito, o critério de transcendência constitui
filtro seletor de matérias que mereçam pronunciamento do TST para firmar
teses jurídicas pacificadoras da jurisprudência trabalhista. Se o agravo
ou a revista nem sequer ultrapassam o seu próprio conhecimento, por vício
formal ostensivo, o apelo carece de transcendência para ser analisado,
já que não se poderá reabrir o mérito da discussão. Ou seja, eventual
transcendência de tópico de recurso de revista não supre o não
preenchimento dos pressupostos extrínsecos ou intrínsecos deste ou do
agravo de instrumento que visava a destrancá-lo.
Nesse sentido, em que pese não poderem as Presidências
dos TRTs adentrar o critério de transcendência para denegarem seguimento
aos recursos de revista que lhes são submetidos para juízo de
admissibilidade (CLT, art. 896-A, § 6º), prestam um grande serviço ao
TST, ao detectarem as deficiências de aparelhamento dos recursos de
revista, quanto aos seus pressupostos extrínsecos e intrínsecos de
admissibilidade, pois já sobem, quando interposto agravo de instrumento,
com sinalização implícita da falta de transcendência.
Como o § 1º do art. 896-A da CLT estabelece que são
indicadores da transcendência do recurso, “entre outros”, os elencados
nos seus quatro incisos, tais dispositivos ofertam rol exemplificativo
e não taxativo dos critérios de transcendência, podendo ser indicador
de intranscendência do recurso o seu aparelhamento deficiente. Ou seja,
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recurso de revista para ter o mérito apreciado pelo TST deve ser não apenas
transcendente, mas também aviado a tempo e modo. Do contrário, a discussão
da transcendência seria apenas perda de tempo, já que o recurso não
alcança conhecimento por intempestivo, deserto, irregular quanto à sua
representação ou não tendo trazido divergência válida e específica, nem
demonstrado violação literal e direta a dispositivo constitucional ou
legal.
Quanto aos indicadores de transcendência elencados no
§ 1º do art. 896-A da CLT, repita-se, não são eles taxativos. Assim, não
será apenas a jurisprudência sumulada do STF e TST que caracterizará a
transcendência política quando contrariada, mas também aquela oriunda
de precedentes firmados em repercussão geral ou em incidente de recursos
repetitivos, obviamente.
Do mesmo modo, a transcendência social não pode ser
considerada como via de mão única para o empregado, pois desde que estejam
em discussão os direitos sociais elencados nos arts. 6º a 11 da CF,
independentemente de quem os invoquem, patrão ou empregado, a questão
terá relevância social.
De igual sorte, a transcendência econômica pode ser
invocada tanto pelo empregado quanto pelo empregador, incluindo não
apenas o elevado valor dado à causa, mas especialmente o elevado valor
da condenação, além das causas que envolvam interesses difusos, coletivos
e individuais homogêneos, em ações civis públicas, ações civis coletivas,
reclamações em substituição processual ampla da categoria, nas quais se
discutem macro lesões ao ordenamento jurídico trabalhista.
O próprio conceito de transcendência jurídica é
passível de matização quanto à novidade da questão veiculada na revista,
porquanto não enfrentada ainda nas Turmas ou na SBDI-1 do TST, ou mesmo
ainda não pacificada por súmula ou orientação jurisprudencial desta
Corte.
In casu, o debate jurídico que emerge da presente causa
diz respeito à compatibilidade do § 4º do art. 791-A da CLT, introduzido
pela Lei 13.467/17, que determina o pagamento de honorários advocatícios
pelo beneficiário da justiça gratuita, quando sucumbente e tenha obtido
em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de suportar a
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despesa, frente aos princípios da isonomia, do livre acesso ao Judiciário
e da assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem a
insuficiência de recursos, esculpidos nos incisos XXXV, XXXVI e LXXIV
do art. 5º da Constituição Federal.
Tratando-se de inovação à CLT e de questão que ainda
não foi analisada pela SBDI-1 deste Tribunal em sede jurisdicional,
pendente de análise, inclusive, pela Suprema Corte em sede de controle
concentrado de constitucionalidade (ADI 5.766-DF, Rel. Min. Roberto
Barroso), reconheço a transcendência jurídica desse aspecto da causa,
nos termos do art. 896-A, § 1º, IV, da CLT e da decisão proferida por
esta Turma no RR-1000099-36.2018.5.02.0035, de minha Relatoria (DEJT de
30/08/19).
C) PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS

CONDENAÇÃO DO BENEFICIÁRIO DA JUSTIÇA GRATUITA AO


PAGAMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS – COMPATIBILIDADE DO
ART. 791-A, § 4º, DA CLT COM A CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Nas razões de recurso de revista, o Reclamante


sustenta que o beneficiário da justiça gratuita deve ser isento do
pagamento de honorários advocatícios sucumbenciais, sob pena de afronta
aos princípios do acesso à Justiça, das garantias processuais
constitucionais e da prestação da assistência judiciária gratuita pelo
Estado, a teor do art. 5º, caput, XXXV e LXXIV, da CF. Também ressalta
a natureza alimentar dos créditos trabalhistas, asseverando que “a
compensação de honorários sucumbências com verbas trabalhistas devidas
ao autor ofende o princípio da impenhorabilidade dos créditos
trabalhistas, insculpido em vários dispositivos de nosso ordenamento
jurídico, tais como no artigo 7º, X, da Constituição Federal, artigo 83,
I, da Lei 11.101/2005, artigo 186 da Lei 5.172/66, e artigo 833, IV do
CPC/2015” (págs. 197-198). Apresenta, ainda, pedido sucessivo para que
seja desconsiderada a sucumbência recíproca, ao fundamento de que foi
sucumbente em parte mínima do pedido, invocando os arts. 86 do CPC e 796
da CLT (págs. 190-199).

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Do capítulo do acórdão regional que tratou do tema
honorários advocatícios sucumbenciais, transcrito parcialmente nas
razões recursais, extrai-se, verbis:

“[...] Os honorários advocatícios ‘constituem direito do advogado e têm


natureza alimentar, com os mesmos privilégios dos créditos oriundos da
legislação do trabalho, sendo vedada a compensação em caso de
sucumbência parcial’ (art. 85, § 14, do CPC), ou seja, trata-se de verba
alimentar devida ao advogado pela atuação no processo, pelo que não
há que se falar em inconstitucionalidade da dedução de eventuais
créditos obtidos em juízo.
De ver-se que a norma em comento (art. 791-A da CLT) goza da
presunção de constitucionalidade, estando em consonância com o
ordenamento jurídico vigente. O direito à gratuidade de justiça pode ser
regulado de forma a desincentivar a litigância abusiva, inclusive por
meio da cobrança de honorários advocatícios.
[...]
É certo que foi ajuizada Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI/5766),
questionando a constitucionalidade do referido dispositivo legal, e tal fato,
de per si, não lhe suspende a eficácia. Não há ADIN sob nº 213.047, como
mencionado nas razões de recurso.
De qualquer sorte, na ADI/5766, ainda pendente de conclusão pelo Plenário
do E. STF, o Min. Luís Roberto Barroso, relator, entende que, in verbis:
‘(...)1. O direito à gratuidade de justiça pode ser regulado de forma a
desincentivar a litigância abusiva, inclusive por meio da cobrança de custas
e de honorários a seus beneficiários. 2. A cobrança de honorários
sucumbenciais do hipossuficiente poderá incidir: (i) sobre verbas não
alimentares, a exemplo de indenizações por danos morais, em sua
integralidade; e (ii) sobre o percentual de até 30% do valor que exceder ao
teto do Regime Geral de Previdência Social, mesmo quando pertinente a
verbas remuneratór ias. (...)’, ou seja, reconheceu a constitucionalidade da
norma do art. 791-A, caput, da CLT, fazendo apenas uma interpretação
conforme ao § 4º do mesmo dispositivo legal.
O fato é que o art. 791-A, § 4º, da CLT não padece da alegada
inconstitucionalidade, não tendo sido concluído o julgamento da ADI 5766.
Pelas razões acima expostas, também não prospera a alegação de ofensa ao
princípio da impenhorabilidade dos créditos trabalhistas.
Não há que se falar na aplicação do parágrafo único do artigo 86, do
CPC ao caso em exame, já que o pedido de horas extras foi julgado
improcedente e não se trata de ‘parte mínima do pedido’.
Nada a reparar” (págs. 191-194 – grifos nossos).

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Inicialmente, convém ressaltar que não se discute no
presente processo a aplicabilidade do art. 791-A, § 4º, da CLT pela ótica
do direito intertemporal, até porque, à luz do art. 6º da Instrução
Normativa 41/18 do TST, a presente demanda foi ajuizada em março de 2018
(pág. 2), já na vigência da Lei 13.467/17.
Por outro lado, destaca-se que, por se tratar de
recurso submetido a procedimento sumaríssimo, o apelo nem sequer se
viabilizaria pela senda da violação de dispositivo de lei, nos termos
do art. 896, § 9º, da CLT e da Súmula 442 do TST.
Na hipótese dos autos, cinge-se a controvérsia à
compatibilidade do art. 791-A, § 4º, da CLT com os princípios fundamentais
previstos no art. 5º, XXXV e LXXIV, da CF.
Imprescindível, portanto, analisar o teor dos
dispositivos em debate.
Rezam os arts. 791-A, caput e §§ 3º, 4º e 5º, da CLT
e 5º, XXXV e LXXIV, da CF:

“Art. 791-A. Ao advogado, ainda que atue em causa própria, serão devidos
honorários de sucumbência, fixados entre o mínimo de 5% (cinco por cento)
e o máximo de 15% (quinze por cento) sobre o valor que resultar da
liquidação da sentença, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível
mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa.
[...]
§ 3º Na hipótese de procedência parcial, o juízo arbitrará honorários de
sucumbência recíproca, vedada a compensação entre os honorários.
§ 4º Vencido o beneficiário da justiça gratuita, desde que não tenha
obtido em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de
suportar a despesa, as obrigações decorrentes de sua sucumbência
ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser
executadas se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da
decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a
situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão de
gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações do
beneficiário.
§ 5º São devidos honorários de sucumbência na reconvenção” (grifos
nossos).

“Art. 5º.
[...]

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XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito;
[...]
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos
que comprovarem insuficiência de recursos” (grifos nossos).

No caso concreto, o Autor, beneficiário da justiça


gratuita (pág. 146), foi condenado pelo Julgador de origem ao pagamento
de honorários advocatícios sucumbenciais em benefício da Reclamada, no
percentual de 5% sobre o valor liquidado dos pedidos julgados
improcedentes na presente reclamação trabalhista.
Como é cediço, a Reforma Trabalhista, promovida pela
Lei 13.467, que entrou em vigor em 11 de novembro de 2017, ensejou diversas
alterações no campo do Direito Processual do Trabalho, a fim de tornar
o processo laboral mais racional, simplificado, célere e,
principalmente, responsável.
Essa última característica é marcante, na medida em
que a Reforma Trabalhista objetivou coibir as denominadas “aventuras
judiciais”, calcadas na facilidade de se acionar a Justiça, sem nenhuma
responsabilização ou ônus por postulações carentes de embasamento
fático.
Ora, é notório o excesso de processos tramitando na
Justiça do Trabalho, com a crescente quantidade de casos pendentes de
solução definitiva nos Tribunais brasileiros, consoante dados expostos
no Relatório Justiça em Números, elaborado anualmente pelo Conselho
Nacional de Justiça (CNJ).
Na Justiça Trabalhista, é certo que a crescente
quantidade de demandas laborais decorre, dentre outros fatores, do
descumprimento intencional da lei pelo empregador.
Todavia, não podemos desprezar que o grande volume de
processos ajuizados nesta Justiça Especializada também decorre da
existência de regras processuais, até então vigentes, que estimulavam
o ingresso de ações irresponsáveis, com rol extenso de pedidos, muitos
deles inverossímeis, apesar dos esforços empreendidos pelo TST para
redução de estoque e do tempo de tramitação dos processos.

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Tanto é que o pleito de dano moral chegou a ser o
segundo tema mais recorrido no âmbito desta Corte, atualmente
encontrando-se na quarta posição, com 26.439 processos em tramitação
nesta Casa versando sobre a matéria, consoante informa o periódico de
movimentação processual do Tribunal Superior do Trabalho de março de 2019
(disponível em: http://www.tst.jus.br/web/estatistica. Acesso em: 25 de
junho de 2019).
Vale mencionar as palavras do professor José Pastore
de que a legislação trabalhista “constitui um verdadeiro convite ao
litígio”, citadas pelo Relator, Deputado Rogério Marinho, da Comissão
Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei 6.787/16, que
deu origem à Reforma Trabalhista (disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor
=1544961&filename=Tramitacao-PL+6787/2016. Acesso em: 9 de maio de
2019).
Nesse contexto foram inseridos os §§ 3º e 4º no art.
791-A da CLT pela Lei 13.467/17, responsabilizando-se a parte sucumbente,
seja a autora ou a demandada, pelo pagamento dos honorários advocatícios,
ainda que beneficiária da justiça gratuita, o que reflete a intenção do
legislador de desestimular lides temerárias, doa a quem doer, conferindo
tratamento isonômico aos litigantes.
Tanto é que o § 5º do art. 791-A da CLT expressamente
dispôs acerca do pagamento da verba honorária na reconvenção.
Não se pode perder de vista que o direito à gratuidade
de justiça pode ser regulado de forma a desincentivar a litigância
abusiva, por meio da cobrança de honorários de advogado a seus
beneficiários, inclusive de custas processuais em casos de arquivamento
da reclamação por ausência injustificada do autor (art. 844 da CLT, §§ 2º e
3º, da CLT).
O espírito da norma foi justamente evitar a
movimentação do Poder Judiciário de forma irresponsável.
Nessa senda, não se cogita de violação do princípio
da isonomia ou do acesso à Justiça, assegurado no art. 5º, caput e XXXV,
da CF, tampouco de ofensa ao inciso LXXIV do citado dispositivo
constitucional.
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Justiça do Trabalho
Tribunal Superior do Trabalho fls.12

PROCESSO Nº TST-RR-1000231-60.2018.5.02.0046

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 100303DFCBFD098227.
A bem da verdade, no próprio art. 791-A da CLT o
legislador levou em consideração o estado de hipossuficiência financeira
da parte vencida, ao exigir, expressamente em seu § 4º, o pagamento da
verba honorária apenas em caso de existência de crédito em juízo, neste
ou em outro processo, em favor do beneficiário da justiça gratuita, capaz
de suportar a despesa, situação, prima facie, apta a modificar a sua
capacidade financeira, até então de miserabilidade, que justificou a
concessão de gratuidade, prestigiando, de um lado, o processo
responsável, e desestimulando, de outro, a litigância descompromissada.
Assim não se sucedendo, suspender-se-á, por dois anos,
a exigibilidade da referida obrigação, que se extinguirá passado esse
prazo.
Por todo o exposto, a imposição de pagamento de
honorários advocatícios sucumbenciais a qualquer um dos litigantes, seja
ele autor, seja ele reclamado, ainda que beneficiário da justiça
gratuita, além de assegurar o tratamento isonômico das partes
processuais, é providência imprescindível para tornar o processo
trabalhista mais racional, e, acima de tudo, responsável, coibindo as
denominadas “aventuras judiciais”, com a responsabilização pela
litigância descompromissada.
Trago à baila precedente da 3ª Turma desta Corte que,
em caso muito semelhante ao presente processo, rechaçou a alegação de
inconstitucionalidade do art. 791-A, § 4º, da CLT, reconhecida a
transcendência jurídica da questão, verbis:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO - RECURSO DE REVISTA


INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DAS LEIS N. 13.015/2014, 13.105/2015
E 13.467/2017 - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS
- AÇÃO AJUIZADA APÓS A VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017 -
CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 791-A, § 4º, DA CLT. 1. A
Reforma Trabalhista, implementada pela Lei nº 13.467/2017, sugere uma
alteração de paradigma no direito material e processual do trabalho. No
âmbito do processo do trabalho, a imposição pelo legislador de
honorários sucumbenciais ao reclamante reflete a intenção de
desestimular lides temerárias. É uma opção política. 2. Por certo, sua
imposição a beneficiários da Justiça gratuita requer ponderação quanto
à possibilidade de ser ou não tendente a suprimir o direito fundamental
de acesso ao Judiciário daquele que demonstrou ser pobre na forma da
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Lei. 3. Não obstante, a redação dada ao art. 791, § 4º, da CLT,
demonstrou essa preocupação por parte do legislador, uma vez que só
será exigido do beneficiário da Justiça gratuita o pagamento de
honorários advocatícios se ele obtiver créditos suficientes, neste ou em
outro processo, para retirá-lo da condição de miserabilidade. Caso
contrário, penderá, por dois anos, condição suspensiva de exigibilidade.
A constatação da superação do estado de miserabilidade, por óbvio, é
casuística e individualizada. 4. Assim, os condicionamentos impostos
restauram a situação de isonomia do atual beneficiário da Justiça
gratuita quanto aos demais postulantes. Destaque-se que o acesso ao
Judiciário é amplo, mas não incondicionado. Nesse contexto, a ação
contramajoritária do Judiciário, para a declaração de inconstitucionalidade
de norma, não pode ser exercida no caso, em que não se demonstra violação
do princípio constitucional de acesso à Justiça . Agravo de instrumento
conhecido e desprovido” (AIRR-2054-06.2017.5.11.0003, Rel. Min.
Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, 3ª Turma, DEJT de 30/05/19).

Cita-se, inclusive, precedente desta Turma, de minha


Relatoria, que, reconhecendo a transcendência jurídica da questão
pertinente à condenação do beneficiário da justiça gratuita ao pagamento
de honorários sucumbenciais, reputou constitucional o art. 791-A, § 4º,
da CLT (RR-1000099-36.2018.5.02.0035, DEJT de 30/08/19).
Ainda, sobreleva notar que está pendente de análise
no Supremo Tribunal Federal a ADI 5.766-DF, de Relatoria do Min. Roberto
Barroso, na qual se discute, dentre outras questões, a
constitucionalidade da imposição da obrigação de pagamento de honorários
advocatícios sucumbenciais ao beneficiário da justiça gratuita, frente
aos princípios esculpidos nos incisos XXXV e LXXIV do art. 5º da CF, sendo
que, em 10/05/18, o julgamento foi suspenso em virtude do pedido de vista
do Min. Luiz Fux:

“Após o voto do Ministro Roberto Barroso (Relator), julgando


parcialmente procedente a ação direta de inconstitucionalidade, para
assentar interpretação conforme a Constituição, consubstanciada nas
seguintes teses: “1. O direito à gratuidade de justiça pode ser regulado de
forma a desincentivar a litigância abusiva, inclusive por meio da cobrança
de custas e de honorários a seus beneficiários. 2. A cobrança de honorários
sucumbenciais do hipossuficiente poderá incidir: (i) sobre verbas não
alimentares, a exemplo de indenizações por danos morais, em sua
integralidade; e (ii) sobre o percentual de até 30% do valor que exceder ao
teto do Regime Geral de Previdência Social, mesmo quando pertinente a
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verbas remuneratórias. 3. É legítima a cobrança de custas judiciais, em
razão da ausência do reclamante à audiência, mediante prévia intimação
pessoal para que tenha a oportunidade de justificar o não
comparecimento”, e após o voto do Ministro Edson Fachin, julgando
integralmente procedente a ação, pediu vista antecipada dos autos o
Ministro Luiz Fux. Ausentes o Ministro Dias Toffoli, neste julgamento, e o
Ministro Celso de Mello, justificadamente. Presidência da Ministra Cármen
Lúcia. Plenário, 10.5.2018”.

Dessarte, sobressai a convicção de que o art. 791-A,


§ 4º, da CLT não colide com o art. 5º, caput, XXXV e LXXIV, da CF, ao
revés, busca preservar a jurisdição em sua essência, como instrumento
responsável e consciente de tutela de direitos elementares do ser humano
trabalhador, indispensáveis à sua sobrevivência e à da família.
Registre-se, por fim, que, além de o pedido sucessivo
de aplicação do art. 86 do CPC (pág. 199) ter sido manifestado pelo Autor
pelo enfoque exclusivo de violação de dispositivos de lei, o que não é
admitido em causas sujeitas ao procedimento sumaríssimo, a teor do art.
896, § 9º da CLT e da Súmula 442 desta Corte, ficou registrado pelo TRT
que o pedido de horas extras, o qual foi julgado improcedente pelo
Julgador de piso, não se enquadra como parte mínima do pedido.
Assim, não merece reforma o acórdão regional que
manteve a imposição de pagamento de honorários advocatícios ao Autor
sucumbente, restando incólumes os dispositivos constitucionais
apontados como violados na revista.
Do exposto, NÃO CONHEÇO do recurso de revista.

ISTO POSTO
ACORDAM os Ministros da Quarta Turma do Tribunal
Superior do Trabalho, por unanimidade, reconhecendo a transcendência
jurídica da causa, não conhecer da revista obreira.
Brasília, 04 de dezembro de 2019.

Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)


IVES GANDRA DA SILVA MARTINS FILHO
Ministro Relator

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