1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
Simulado ENAMA
DIREITO CONSTITUCIONAL
Professor Danniel Adriano
Questão 1
Alexandre, servidor público, toma notícia por terceiros
de que está existe um processo administrativo em seu
desfavor, já em vias de decisão administrativa final por
seu superior hierárquico. Ao procurar a repartição
competente, lhe é negado acesso aos autos, sob o
fundamento de que os processo administrativo já se
encontra concluso com a autoridade que tomará a
decisão.
Luis Roberto, advogado, é procurado por Alexandre para
tomar a medida judicial cabível. Luis, corretamente,
deverá:
a) Impetrar um habeas corpus preventivo, posto que
pode haver risco ao direito ambulatorial de Alexandre, já
que não se tem acesso ao conteúdo do processo
administrativo para saber qual o possível resultado.
b) Impetrar um habeas data, uma vez que é o remédio
constitucional hábil a assegurar o conhecimento de
informações relativas à pessoa do impetrante, no caso,
Alexandre.
c) Impetrar um mandado de segurança, já que o habeas
data não se revela meio idôneo para se obter vista de
processo administrativo.
d) Ajuizar uma reclamação constitucional perante o
Supremo Tribunal Federal, uma vez que, ao negar acesso
ao processo administrativo, a servidora e a autoridade
hierarquicamente superior agiram em inobservância a
entendimento cristalizado em Enunciado da Súmula
Vinculante.
e) Impetrar habeas data, uma vez que lhe foi negado
acesso a procedimento administrativo que poderá
impactar pessoalmente na vida de Alexandre. Poderá,
ainda, no mesmo processo, pleitear eventual correição
de informação que se faça necessária após a vista do
processo.
Comentários
Gabarito: C.
Letra A: Errado. Não há qualquer ameaça minimamente
concreta à liberdade de locomoção de Alexandre, razão
pela qual a via do HC não está aberta.
Letra B: Errado. O habeas data não é o meio idôneo para
a vista de processo administrativo, pois não há violação
à privacidade do indivíduo contra abuso na revelação de
dados pessoais constantes em banco público.
Nesse sentido:
AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS DATA. ART. 5º, LXXII, DA
CF. ART. 7º, III, DA LEI 9.507/97. PEDIDO DE VISTA DE
PROCESSO ADMINISTRATIVO. INIDONEIDADE DO MEIO.
RECURSO IMPROVIDO. 1. O habeas data, previsto no art.
5º, LXXII, da Constituição Federal, tem como finalidade
assegurar o conhecimento de informações constantes de
registros ou banco de dados e ensejar sua retificação, ou
de possibilitar a anotação de explicações nos
assentamentos do interessado (art. 7º, III, da Lei
9.507/97). 2. A ação de habeas data visa à proteção da
privacidade do indivíduo contra abuso no registro e/ou
revelação de dados pessoais falsos ou equivocados. 3. O
habeas data não se revela meio idôneo para se obter
vista de processo administrativo. 4. Recurso improvido.
(STF. HD 90/DF AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, julgado em
18/02/2010).
Letra C: Correto. O mandado de segurança é o
instrumento adequado para vista e obtenção de cópia de
processo administrativo. Ver: STJ, Primeira Seção, HD
282, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 12.12.2018.
Letra D: Errado. Inexiste entendimento de Súmula
Vinculante nesse sentido, não sendo possível.
Letra E: Errado. Vide justificativa da Letra B. Soma-se a
isso o fato de a doutrina majoritária entender que falta
interesse de agir ao impetrante do HD na cumulação dos
pedidos de acesso à informação e retificação, pois se não
se sabe qual é a informação, não há como apontar que
ela já se encontra equivocada de antemão.
Questão 2
Carmen, estudiosa do Direito, ficou maravilhada com as
técnicas específicas de interpretação do texto
constitucional. Reunindo-se em um grupo de estudos
com Edson e Gilmar, chegaram às seguintes conclusões:
I. À luz do princípio do efeito integrador, na solução dos
problemas jurídico-constitucionais, deve-se dar primazia
aos critérios ou pontos de vista que favoreçam a
integração política e social.
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II. O princípio da harmonização impõe ao intérprete, em
situações em que houver a colisão entre duas ou mais
normas constitucionais, deverá prevalecer aquela norma
que melhor se harmonize com o todo da constituição,
afastando-se aquela que apresente um risco sistemático
aos principais valores constitucionais, como as cláusulas
pétreas e os fundamentos da República Federativa do
Brasil.
III. O princípio da unidade da constituição estabelece que
os enunciados normativos da Constituição devem ser
interpretados tendo em vista o todo, já que a
constituição é um sistema único de regras e princípios,
razão pela qual os seus enunciados normativos devem
ser interpretados tendo em vista o todo.
IV. O princípio da justeza é também conhecido como
princípio da conformidade funcional, da exatidão
funcional ou da correção funcional. Segundo esse
princípio, o intérprete não pode chegar a um resultado
que subverta o esquema organizatório-funcional
estabelecido pela constituição. Em outras palavras, deve
o intérprete respeitar a repartição de funções delineada
pelo constituinte.
Dentre as conclusões alcançadas pelo grupo de estudos,
podemos afirmar que:
a) Todas as conclusões são verdadeiras.
b) As conclusões enunciadas nos itens II e IV são falsas.
c) As conclusões enunciadas nos itens I, III e IV são
verdadeiras.
d) Apenas a conclusão enunciada no item IV é falsa.
e) Apenas as conclusões enunciadas nos itens I e II são
verdadeiras.
Comentários
Gabarito: C.
Todas as alternativas descrevem, corretamente, as
definições dos princípios da interpretação
constitucional, exceto o item II.
Com efeito, o princípio da harmonização, também
conhecido como princípio da concordância prática,
impõe ao intérprete, em situações em que houver a
colisão entre duas ou mais normas constitucionais, o
dever de coordenar e combinar os bens jurídicos de
modo a preservá-los ao máximo e evitar o sacrifício total
de uns em relação aos outros. Embora comumente
aplicado em colisões entre direitos fundamentais, o
princípio da concordância prática deve ser observado em
qualquer colisão que envolva normas e valores
constitucionais.
Logo, são verdadeiras as afirmativas enunciadas nos
itens I, III e IV. Falsa a enunciada no item II.
Questão 3
No curso de uma demanda tributária, o Ministério
Público, que intervinha como fiscal da lei devido a
presença de um menor no polo ativo, alegou que a lei
que servia como fundamento para a cobrança do tributo
era inconstitucional. O juiz do caso, ao proferir a
sentença, não conheceu da alegação de
inconstitucionalidade, sob o fundamento de que
somente as partes da demanda é que teriam
legitimidade para argui-la. Houve a interposição de
apelação contra a referida decisão, recurso este
distribuído à 3ª Câmara de Direito Público do Tribunal de
Justiça respectivo. Houve a prolação de acórdão
reformando a sentença, oportunidade em que se
reconheceu incidentalmente inconstitucional a referida
lei.
Considerando a situação acima narrada, é correto
afirmar que:
a) O juiz agiu corretamente ao não conhecer da alegação
de inconstitucionalidade; os desembargadores, contudo,
podem conhecer de tal questão, como o fizeram, e
declarar inconstitucional incidentalmente a lei; e a
decisão de inconstitucionalidade tomada terá eficácia
inter partes.
b) O juiz agiu erroneamente ao não conhecer da
alegação de inconstitucionalidade; os desembargadores
contudo, podem conhecer de tal questão, como o
fizeram, e declarar inconstitucional incidentalmente a
lei; e a decisão de inconstitucionalidade tomada terá
eficácia erga omnes e vinculantes.
c) O juiz agiu corretamente ao não conhecer da alegação
de inconstitucionalidade; os desembargadores, não
poderiam ter conhecido da questão da forma como o
fizeram; e a decisão de inconstitucionalidade tomada
terá eficácia erga omnes e vinculantes.
d) O juiz agiu erroneamente ao não conhecer da
alegação de inconstitucionalidade; os desembargadores,
não poderiam ter conhecido da questão da forma como
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o fizeram; e a decisão de inconstitucionalidade tomada
terá eficácia inter partes.
e) O juiz agiu erroneamente ao não conhecer da alegação
de inconstitucionalidade; os desembargadores, não
poderiam ter conhecido da questão da forma como o
fizeram; e a decisão de inconstitucionalidade tomada
terá eficácia erga omnes e vinculantes.
Comentários
Gabarito: D.
O juiz de primeiro grau deveria ter analisado a questão
suscitada pelo Ministério Público, sendo certo que o
controle difuso de constitucionalidade pode ser exercido
a qualquer tempo, em qualquer procedimento e poderá
ser suscitado por quaisquer das partes do processo,
inclusive pelo Ministério Público quando atuar como
fiscal do ordenamento jurídico.
O órgão fracionário do Tribunal de Justiça, de outro lado,
não poderia ter declarado a inconstitucionalidade da lei,
de forma incidental, como disposto no enunciado. Isso
porque deveria ter sido observada a regra constante no
art. 97 da CF/88, que dispõe que somente pelo voto da
maioria absoluta de seus membros ou dos membros do
respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar
a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público. Logo, deveriam os desembargadores ter
submetido ao Pleno ou Órgão Especial – a depender do
disposto no regimento interno do Tribunal – a questão
constitucional.
Por fim, os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade realizada de forma incidental, no
controle difuso, são, em regra, inter partes. Não se olvida
que o Supremo Tribunal Federal, recentemente, passou
a adotar expressamente a teoria da abstrativização do
controle difuso, mas somente o fez para as decisões
tomadas pelo próprio Supremo, no âmbito da
repercussão geral.
DIREITO CONSTITUCIONAL DO TRABALHO
Professora Juliana Morais
Questão 4
O artigo 7º, parágrafo único, da Constituição Federal,
com a redação conferida pela EC 72/2013, assegura à
categoria dos domésticos um amplo catálogo de direitos,
além de outros devidos desde que atendidas as
condições estabelecidas em lei e observada a
simplificação do cumprimento das obrigações
tributárias, principais e acessórias. Assinale a alternativa
que não corresponde a um direito expressamente
assegurado aos trabalhadores domésticos pela
Constituição Federal:
(A) garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os
que percebem remuneração variável.
(B) adicional de remuneração para as atividades
penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;
(C) relação de emprego protegida contra despedida
arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei
complementar, que preverá indenização compensatória,
dentre outros direitos.
(D) salário-família pago em razão do dependente do
trabalhador de baixa renda nos termos da lei.
(E) reconhecimento das convenções e acordos coletivos
de trabalho; e proibição de qualquer discriminação no
tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador
portador de deficiência.
Comentários
O artigo 7º, parágrafo único, da Constituição Federal,
com a redação conferida pela EC 72/2013, dispõe, in
verbis:
CF, Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e
rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social:
[...]
Parágrafo único. São assegurados à categoria dos
trabalhadores domésticos os direitos previstos nos
incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI,
XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as
condições estabelecidas em lei e observada a
simplificação do cumprimento das obrigações
tributárias, principais e acessórias, decorrentes da
relação de trabalho e suas peculiaridades, os previstos
nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua
integração à previdência social. [...]
São assegurados, portanto, à categoria dos domésticos
os seguintes direitos:
IV. salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente
unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais
básicas e às de sua família com moradia, alimentação,
educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e
previdência social, com reajustes periódicos que lhe
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preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua
vinculação para qualquer fim;
VI. irredutibilidade do salário, salvo o disposto em
convenção ou acordo coletivo;
VII. garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os
que percebem remuneração variável;
VIII. décimo terceiro salário com base na remuneração
integral ou no valor da aposentadoria;
X. proteção do salário na forma da lei, constituindo crime
sua retenção dolosa;
XIII. duração do trabalho normal não superior a oito
horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a
compensação de horários e a redução da jornada,
mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;
XV. repouso semanal remunerado, preferencialmente
aos domingos;
XVI. remuneração do serviço extraordinário superior, no
mínimo, em cinqüenta por cento à do normal;
XVII. gozo de férias anuais remuneradas com, pelo
menos, um terço a mais do que o salário normal;
XVIII. licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do
salário, com a duração de cento e vinte dias;
XIX. licença-paternidade, nos termos fixados em lei;
XXI. aviso prévio proporcional ao tempo de serviço,
sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei;
XXII. redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio
de normas de saúde, higiene e segurança;
XXIV. aposentadoria;
XXVI. reconhecimento das convenções e acordos
coletivos de trabalho;
XXX. proibição de diferença de salários, de exercício de
funções e de critério de admissão por motivo de sexo,
idade, cor ou estado civil;
XXXI. proibição de qualquer discriminação no tocante a
salário e critérios de admissão do trabalhador portador
de deficiência;
XXXIII. proibição de trabalho noturno, perigoso ou
insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a
menores de dezesseis anos, salvo na condição de
aprendiz, a partir de quatorze anos.
Além desse amplo catálogo, o parágrafo único do artigo
7º da Constituição Federal prevê que, atendidas as
condições estabelecidas em lei e observada a
simplificação do cumprimento das obrigações
tributárias, principais e acessórias, os trabalhadores
domésticos fazem jus aos seguintes direitos, além de sua
integração à Previdência Social:
I. relação de emprego protegida contra despedida
arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei
complementar, que preverá indenização compensatória,
dentre outros direitos;
II. seguro-desemprego, em caso de desemprego
involuntário;
III. fundo de garantia do tempo de serviço;
IX. remuneração do trabalho noturno superior à do
diurno;
XII. salário-família pago em razão do dependente do
trabalhador de baixa renda nos termos da lei;
XXV. assistência gratuita aos filhos e dependentes desde
o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e
pré-escolas;
XXVIII. seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do
empregador, sem excluir a indenização a que este está
obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;
Dessa forma, os direitos previstos nas alternativas “a”,
“c”, “d” e “e” foram estendidos expressamente aos
trabalhadores domésticos pelo artigo 7º, parágrafo
único, da Constituição Federal em sua redação atual e
correspondem aos previstos no artigo 7º, I, VII, XII e XXVI.
Por outro lado, o direito contemplado na alternativa “b”
– “adicional de remuneração para as atividades penosas,
insalubres ou perigosas, na forma da lei” – não foi
expressamente inserido no elenco de direitos dos
trabalhadores domésticos pela Constituição Federal.
Assim, o gabarito do enunciado é a alternativa “B”.
Questão 5
Maria foi contratada por meio de um contrato
temporário com duração de 180 dias. Ao final desse
período, foi dispensada pela empresa. Quinze dias após
a dispensa, Maria descobriu que estava grávida, sendo
que a idade gestacional indicava que a concepção
ocorreu no curso do período contratual. Maria não
comunicou ao ex-empregador seu estado gravídico,
sendo que, somente após o nascimento da criança,
resolveu ajuizar Reclamação Trabalhista postulando a
indenização dos salários e demais vantagens do período
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estabilitário, compreendido entre a dispensa e 5 meses
após o parto. Considerando o caso concreto, bem como
o entendimento do TST e do STF acerca da matéria,
assinale a alternativa correta:
A – O desconhecimento do estado gravídico pelo
empregador afasta o direito ao pagamento da
indenização decorrente da estabilidade, conforme
entendimento pacificado do TST.
B – O ajuizamento da ação após decorrido o período
estabilitário configura abuso do direito, sendo indevida a
indenização desde a dispensa até a data do término do
período estabilitário.
C – A garantia de emprego à gestante autoriza a
reintegração independentemente de esta ocorrer
durante o período de estabilidade.
D – O TST fixou tese jurídica em Incidente de Assunção
de Competência no sentido de ser aplicável ao regime de
trabalho temporário, disciplinado pela Lei n.º 6.019/74,
a garantia de estabilidade provisória à empregada
gestante, prevista no art. 10, II, b, do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias.
E – Segundo tese firmada pelo STF pela sistemática da
repercussão geral, a incidência da estabilidade prevista
no art. 10, inc. II, do ADCT, somente exige a anterioridade
da gravidez à dispensa sem justa causa.
Comentários
A alternativa “A” está INCORRETA.
De acordo com a Súmula 244, I, do TST, o
desconhecimento do estado gravídico pelo empregador
não afasta o direito ao pagamento da indenização
decorrente da estabilidade
A alternativa “B” está INCORRETA.
Segundo a OJ 399 da SBDI-1/TST, o ajuizamento de ação
trabalhista após decorrido o período de garantia de
emprego não configura abuso do exercício do direito de
ação, pois este está submetido apenas ao prazo
prescricional inscrito no art. 7º, XXIX, da CF/1988, sendo
devida a indenização desde a dispensa até a data do
término do período estabilitário.
A alternativa “C” está INCORRETA.
De acordo com a OJ 244, II, da SBDI-I, a garantia de
emprego à gestante só autoriza a reintegração se esta se
der durante o período de estabilidade. Do contrário, a
garan-tia restringe-se aos salários e demais direitos
correspondentes ao período de estabilidade
A alternativa “D” está INCORRETA.
O TST, no IAC nº 2, submeteu a julgamento a questão
relativa à extensão da garantia provisória de emprego da
gestante admitida por meio de contrato temporário,
tendo fixado a seguinte tese jurídica:
"é inaplicável ao regime de trabalho temporário,
disciplinado pela Lei n.º 6.019/74, a garantia de
estabilidade provisória à empregada gestante, prevista
no art. 10, II, b, do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias"
A alternativa “E” está CORRETA.
De acordo com o Tema 497 da tabela de teses de
repercussão geral do STF, a incidência da estabilidade
prevista no art. 10, inc. II, do ADCT, somente exige a
anterioridade da gravidez à dispensa sem justa causa.
A resposta do enunciado é a alternativa “E”.
DIREITO CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL
Professor Leonardo Tavares
Questão 6
Assinale a alternativa correta em relação às normas
constitucionais e sua aplicação em relação ao direito
processual penal.
a) São princípios constitucionais processuais penais
explícitos e implícitos, respectivamente, o da não
culpabilidade (ou presunção de inocência) e duração
razoável do processo; e o da não autoacusação (ou nemo
tenetur se detegere) e paridade de armas.
b) São princípios constitucionais processuais penais
explícitos e implícitos, respectivamente, o da
intranscendência das penas e motivação das decisões; e
intervenção mínima (ou ultima ratio) e duplo grau de
jurisdição.
c) Impera no ordenamento pátrio o princípio da
publicidade restrita, que tem regramento pela legislação
infraconstitucional e não foi recepcionado pela
Constituição Federal, que normatiza a publicidade ampla
dos atos processuais como garantia absoluta do
indivíduo.
d) É assegurado ao advogado o acesso integral aos autos
de inquérito policial, em respeito ao princípio da ampla
defesa, exceto em caso de decretação de sigilo.
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e) A Constituição Federal consagra que o civilmente
identificado não será submetido, sob nenhuma hipótese,
à identificação criminal.
Comentários
Gabarito: A.
a) Certa. O princípio da não culpabilidade (ou presunção
de inocência) e o da duração razoável do processo estão
previstos na CF/88 (cf. art. 5º, inciso LVII e LXXVIII,
respectivamente). Em relação ao princípio da não
autoacusação e da paridade de armas, são considerados
princípios implícitos; o primeiro deriva do direito ao
silêncio; o segundo é uma especialização do
contraditório.
CF. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito
em julgado de sentença penal condenatória;
LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são
assegurados a razoável duração do processo e os meios
que garantam a celeridade de sua tramitação.
b) Errada. O princípio da intranscendência das penas está
previsto no artigo 5º, inciso XLV, da CF/88), mas é afeto
ao Direito Penal (material). O princípio da motivação das
decisões é processual e tem previsão na CF (art. 93,
inciso IX). O princípio do duplo grau de jurisdição é
objeto de controvérsia, mas há quem entenda que ele é
um princípio implícito na Constituição Federal, já que
não está expressamente previsto no texto
constitucional. O princípio da intervenção mínima (ou
ultima ratio) é considerado um princípio do Direito Penal
e não do Direito Processual Penal.
CF. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado,
podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação
do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas
aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do
valor do patrimônio.
CF. Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo
Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da
Magistratura, observados os seguintes princípios:
IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário
serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob
pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em
determinados atos, às próprias partes e a seus
advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a
preservação do direito à intimidade do interessado no
sigilo não prejudique o interesse público à informação;
c) Errada. Ao contrário do que afirma a assertiva, não
impera a publicidade restrita e a publicidade ampla não
é absoluta; a própria CF prevê a possibilidade de sua
restrição:
CF. Art. 5º, LX – a lei só poderá restringir a publicidade
dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou
o interesse social o exigirem
d) Errada. O advogado possui acesso a todos os
elementos informativos que já tiverem sido
documentados no inquérito policial, mesmo que o sigilo
seja decretado. O que não será permitido é o acesso a
diligências que ainda não foram realizadas ou as que
estão em andamento.
STF. Súmula Vinculante 14. É direito do defensor, no
interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, já documentados em
procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao
exercício do direito de defesa.
e) Errada. O art. 5º, LVIII da CF prevê a possibilidade,
excepcional, de o civilmente identificado ser submetido
à identificação criminal. O art. 3º da Lei nº 12.037/2009
esclarece em quais casos isso poderá ocorrer.
CF. Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
LVIII - o civilmente identificado não será submetido a
identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em
lei;
Lei nº 12.037/2009. Art. 3º. Embora apresentado
documento de identificação, poderá ocorrer
identificação criminal quando:
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I – o documento apresentar rasura ou tiver indício de
falsificação;
II – o documento apresentado for insuficiente para
identificar cabalmente o indiciado;
III – o indiciado portar documentos de identidade
distintos, com informações conflitantes entre si;
IV – a identificação criminal for essencial às investigações
policiais, segundo despacho da autoridade judiciária
competente, que decidirá de ofício ou mediante
representação da autoridade policial, do Ministério
Público ou da defesa;
V – constar de registros policiais o uso de outros nomes
ou diferentes qualificações;
VI – o estado de conservação ou a distância temporal ou
da localidade da expedição do documento apresentado
impossibilite a completa identificação dos caracteres
essenciais.
Parágrafo único. As cópias dos documentos
apresentados deverão ser juntadas aos autos do
inquérito, ou outra forma de investigação, ainda que
consideradas insuficientes para identificar o indiciado.
Questão 7
Analise as opções a seguir, que retratam situações
hipotéticas acerca da competência criminal, seguidas de
uma assertiva a ser julgada. Assinale a opção correta.
a) Em operação de fiscalização de trânsito realizada em
SP, Miguel foi flagrado dirigindo sem habilitação. Irritado
com a abordagem, o condutor do veículo desacatou os
funcionários públicos que trabalhavam na operação.
Nesse caso, competirá ao juiz da vara de crimes de
trânsito julgar as infrações cometidas.
b) Paulo importou do exterior, para venda, grande
quantidade de equipamentos eletrônicos. Ele não
declarou esses bens à aduana brasileira e nem recolheu
os tributos que seriam devidos. Antes de chegar ao RJ,
destino final, seu voo fez escalas em Belo Horizonte e São
Paulo. Nessa situação, havendo a apreensão da
mercadoria no Rio de Janeiro, competirá à Justiça
Federal do RJ processar e julgar a ação.
c) Pedro, juiz federal, foi acusado de praticar crime de
instigação ao suicídio. Nesse caso, a competência para
processar e julgar o acusado será do tribunal do júri da
comarca em que ele exerça a sua função.
d) Três amigos, de dezessete, dezenove e vinte anos de
idade, foram acusados de cometer crime doloso contra a
vida e crimes continentes com este em concurso de
pessoas. No caso, a competência para processar e julgar
a ação penal contra os acusados será do tribunal do júri.
e) Luiz, juiz estadual, e Joaquim, autônomo, foram
acusados de cometer o crime de roubo em concurso
formal. Nessa situação, a separação dos processos para
que sejam processados e julgados em juízos distintos
gerará nulidade, pois afrontará o princípio do juiz
natural.
Comentários
Gabarito: B.
a) Errada. A assertiva está incorreta porque, no caso, não
se verifica a ocorrência de um delito de trânsito, mas
somente infração administrativa, qual seja, dirigir sem a
habilitação. Deste modo, o único delito que está
presente é o de desacato, previsto no artigo 331 do CP,
cuja quantidade de pena atrai a competência do Juizado
Especial Criminal, através do procedimento
sumaríssimo.
CP. Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício
da função ou em razão dela:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
b) Certa. Nos termos da súmula 151 do STJ.
Súmula 151/STJ. A competência para o processo e
julgamento por crime de contrabando ou descaminho
define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da
apreensão dos bens.
c) Errada, tendo em vista que a alternativa traz como
sujeito ativo Pedro, juiz federal, que, detentor de foro
por prerrogativa de função, deve ser julgado pelo
Tribunal Regional Federal da área de sua jurisdição e não
pelo Tribunal do Júri.
Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais:
I - processar e julgar, originariamente:
a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos
os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, nos crimes
comuns e de responsabilidade, e os membros do
Ministério Público da União, ressalvada a competência
da Justiça Eleitoral;
d) Errada. Embora os crimes dolosos contra a vida sejam
de competência do Tribunal do Júri, no caso do agente
de dezessete anos, ele estará submetido à Vara da
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Infância e Juventude, em razão de sua inimputabilidade.
Deverá ser feito o desmembramento do processo, sendo
os dois maiores julgados pelo Tribunal do Júri e o
adolescente pelo “juízo de menores” (Vara da Infância e
Juventude).
Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade
de processo e julgamento, salvo:
II - no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de
menores.
e) Errada. Como regra geral, vinha prevalecendo o
entendimento de que a competência por prerrogativa de
função que um réu porventura detenha se estendia aos
demais coautores e partícipes, independentemente de
ocuparem cargo ou função que lhes assegure foro
especial.
Trata-se, inclusive, de matéria sumulada:
Súmula 704/STF. Não viola as garantias do juiz natural,
da ampla defesa e do devido processo legal a atração por
continência ou conexão do processo do corréu ao foro
por prerrogativa de função de um dos denunciados.
Todavia, mais recentemente, diante da tendência
jurisprudencial pela redução do alcance do foro por
prerrogativa de função, o mesmo STF vem entendendo
pela não aplicação do foro às hipóteses de conexão e
continência (contrariando o enunciado). Por essa
compreensão mais atual, o foro somente seria extensível
quando o fato típico fosse único e indivisível para todos
os agentes (AP 937 QO/RJ, 23/11/2017). Em outros
termos, a ideia que vem se consolidando, então, é pela
separação dos processos sempre que isso seja possível.
Assim, no caso de separação dos processos, não se
estaria diante de nulidade, diante do caso concreto
trazido na assertiva. Aliás, o próprio CPP traz essa
previsão de possibilidade de separação quando (dentre
outras razões), por algum motivo relevante, o juiz a
julgar conveniente.
Art. 80. Será facultativa a separação dos processos
quando as infrações tiverem sido praticadas em
circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou,
quando pelo excessivo número de acusados e para não
Ihes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo
relevante, o juiz reputar conveniente a separação.
DIREITO CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO
Professor Rogério Cunha
Questão 8
A tributação deve estar alinhada com os objetivos do
Estado de promover o bem-estar comum e agir com
ética, sem desconsiderar os direitos fundamentais do
cidadão. O poder de tributar do Estado legitima-se ao
respeitar os direitos à liberdade e os princípios
constitucionais ligados à segurança, justiça e igualdade.
Em busca de uma justiça tributária aprimorada, é
necessário considerar a capacidade contributiva, muitas
vezes utilizando benefícios fiscais para atenuar a carga
tributária. Nessas situações, pode-se presumir,
inicialmente, que isso ocorreu visando alcançar objetivos
superiores. A obrigação tributária não deve surgir
quando falta capacidade contributiva, sendo esta uma
exigência de personalização do imposto. A tributação
ética deve basear-se no respeito à capacidade
contributiva e ao mínimo existencial necessário para a
sobrevivência.
Considerando o tema em discussão e o Direito
Constitucional Tributário, assinale a opção correta.
a) Inexiste, na Constituição Federal de 1988, reserva de
iniciativa para leis de natureza tributária, inclusive para
as que concedem renúncia fiscal.
b) a contribuição de intervenção no domínio econômico
relativa às atividades de importação ou comercialização
de petróleo e seus derivados, gás natural e seus
derivados e álcool combustível poderá ter alíquotas
reduzidas e majoradas por ato do Poder Executivo.
c) o imposto de renda e proventos de qualquer natureza
sujeita-se à anterioridade de exercício e anterioridade
nonagesimal.
d) O imposto sobre propriedade territorial rural não
incidirá sobre pequenas glebas rurais, definidas em lei,
quando as explore o proprietário que não possua outro
imóvel rural.
e) No ICMS (imposto sobre operações relativas à
circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços
de transporte interestadual e intermunicipal e de
comunicação) é facultado ao Senado Federal estabelecer
alíquotas máximas nas operações internas, mediante
resolução de iniciativa de um terço e aprovada pela
maioria de seus membros;
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
Comentários
Gabarito: A
LETRA – A – CORRETA a alternativa reflete o decidido
pelo Supremo Tribunal Federal ao apreciar o Tema
Repercussão Geral 682: Inexiste, na Constituição Federal
de 1988, reserva de iniciativa para leis de natureza
tributária, inclusive para as que concedem renúncia
fiscal.
LETRA B – ERRADA – As alíquotas da Contribuição de
intervenção no domínio econômico (CIDE-
COMBUSTÍVEIS) poderão, na forma do art. 177§4º, I, “b”
da Constituição, ser reduzidas e restabelecida por ato do
poder executivo, não majoradas.
LETRA C ERRADA – Na forma do art. 150, §1º, segunda
parte, o imposto de renda e proventos de qualquer
natureza se submete à anterioridade de exercício (CF,
art. 150, III “b”) nas não se submete à anterioridade
nonagesimal.
LETRA D – ERRADA – Seguindo a previsão do art. Art. 153,
§4º, II da Constituição o imposto sobre propriedade
territorial rural não incidirá sobre pequenas glebas
rurais, definidas em lei, quando as explore o proprietário
que não possua outro imóvel , sendo irrelevante se
urbano ou rural.
E – ERRADA – Na forma do art. 155, §2º, V “a” da
Constituição n ICMS é facultado ao Senado Federal
estabelecer alíquotas mínimas nas operações internas,
mediante resolução de iniciativa de um terço e aprovada
pela maioria absoluta de seus membros, logo, de forma
diferente da alternativa o senado estabelece as alíquotas
mínimas e o faz por resolução aprovada por maioria
absoluta de seus membros.
DIREITO ADMINISTRATIVO
Professor Rodolfo Penna
Questão 9
Em novembro de 2023, o Ministério Público ajuizou ação
de improbidade administrativa em face do servidor
público João imputando-lhe a conduta de ter recebido
vantagem econômica para tolerar, no exercício da
função pública, a prática
de jogos de azar. Na exordial, houve pedido
indisponibilidade dos bens de João. Nos termos da Lei nº
8.429/92:
a) para que a indisponibilidade dos bens seja válida, João
deverá obrigatoriamente ser ouvido antes da decisão do
juiz sobre a medida.
b) o juiz pode determinar que a indisponibilidade incida
sobre os bens de João que sejam suficientes para
assegurar o ressarcimento do dano ao erário, o
pagamento de multa civil e o valor de acréscimo
patrimonial decorrente de atividade lícita.
c) a ordem de indisponibilidade de bens a ser proferida
pelo juiz competente deverá priorizar veículos de via
terrestre, bens imóveis, bens móveis em geral,
semoventes, navios e aeronaves, ações e quotas de
sociedades simples e empresárias, pedras e metais
preciosos e, apenas na inexistência desses, o bloqueio de
contas bancárias, até a quantia de 50 (cinquenta) salários
mínimos.
d) no pedido liminar de indisponibilidade dos bens de
João, o Ministério Público deve demonstrar o perigo de
dano irreparável ou de risco ao resultado útil do
processo, de modo que o juiz se convença da
probabilidade da ocorrência dos atos descritos na
petição inicial com fundamento nos elementos de
instrução apresentados.
e) o juiz poderá decretar a indisponibilidade sobre
qualquer espécie de bem de família.
Comentários
Solução rápida
A alternativa D está correta e corresponde ao gabarito
da questão. Segundo a Lei nº 8.429/92:
Art. 16. Na ação por improbidade administrativa poderá
ser formulado, em caráter antecedente ou incidente,
pedido de indisponibilidade de bens dos réus, a fim de
garantir a integral recomposição do erário ou do
acréscimo patrimonial resultante de enriquecimento
ilícito.
[...]
§ 3º O pedido de indisponibilidade de bens a que se
refere o caput deste artigo apenas será deferido
mediante a demonstração no caso concreto de perigo de
dano irreparável ou de risco ao resultado útil do
processo, desde que o juiz se convença da probabilidade
da ocorrência dos atos descritos na petição inicial com
fundamento nos respectivos elementos de instrução,
após a oitiva do réu em 5 (cinco) dias.
Solução completa
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
A alternativa D está correta e corresponde ao gabarito
da questão.
Segundo a Lei nº 8.429/92:
Art. 16. Na ação por improbidade administrativa poderá
ser formulado, em caráter antecedente ou incidente,
pedido de indisponibilidade de bens dos réus, a fim de
garantir a integral recomposição do erário ou do
acréscimo patrimonial resultante de enriquecimento
ilícito.
[...]
§ 3º O pedido de indisponibilidade de bens a que se
refere o caput deste artigo apenas será deferido
mediante a demonstração no caso concreto de perigo de
dano irreparável ou de risco ao resultado útil do
processo, desde que o juiz se convença da probabilidade
da ocorrência dos atos descritos na petição inicial com
fundamento nos respectivos elementos de instrução,
após a oitiva do réu em 5 (cinco) dias.
A alternativa A está incorreta. Em regra, a
indisponibilidade de bens só pode ser deferida com a
prévia oitiva do réu. No entanto, a própria LIA prevê
situação excepcional. Confira-se:
Art. 16. Na ação por improbidade administrativa poderá
ser formulado, em caráter antecedente ou incidente,
pedido de indisponibilidade de bens dos réus, a fim de
garantir a integral recomposição do erário ou do
acréscimo patrimonial resultante de enriquecimento
ilícito.
[...]
§ 3º O pedido de indisponibilidade de bens a que se
refere o caput deste artigo apenas será deferido
mediante a demonstração no caso concreto de perigo de
dano irreparável ou de risco ao resultado útil do
processo, desde que o juiz se convença da probabilidade
da ocorrência dos atos descritos na petição inicial com
fundamento nos respectivos elementos de instrução,
após a oitiva do réu em 5 (cinco) dias.
§ 4º A indisponibilidade de bens poderá ser decretada
sem a oitiva prévia do réu, sempre que o contraditório
prévio puder comprovadamente frustrar a efetividade
da medida ou houver outras circunstâncias que
recomendem a proteção liminar, não podendo a
urgência ser presumida.
A alternativa B está incorreta. Antes das alterações
promovidas pela Lei nº 14.230/2021 na Lei de
Improbidade Administrativa, o STJ permitia que a
indisponibilidade recaísse sobre bens que assegurassem
o ressarcimento do dano ao erário, o pagamento de
multa civil e o valor de acréscimo patrimonial. Contudo,
isso não é mais possível. É a atual redação da lei:
Art. 16. Na ação por improbidade administrativa poderá
ser formulado, em caráter antecedente ou incidente,
pedido de indisponibilidade de bens dos réus, a fim de
garantir a integral recomposição do erário ou do
acréscimo patrimonial resultante de enriquecimento
ilícito.
[...]
§ 10. A indisponibilidade recairá sobre bens que
assegurem exclusivamente o integral ressarcimento do
dano ao erário, sem incidir sobre os valores a serem
eventualmente aplicados a título de multa civil ou sobre
acréscimo patrimonial decorrente de atividade lícita.
A alternativa C está incorreta. É vedado o bloqueio de
contas bancárias em relação a quantia de até 40
(quarenta) salários mínimos e não de 50 (cinquenta),
como consta no enunciado. Vejamos:
Art. 16. Na ação por improbidade administrativa poderá
ser formulado, em caráter antecedente ou incidente,
pedido de indisponibilidade de bens dos réus, a fim de
garantir a integral recomposição do erário ou do
acréscimo patrimonial resultante de enriquecimento
ilícito.
[...]
§ 11. A ordem de indisponibilidade de bens deverá
priorizar veículos de via terrestre, bens imóveis, bens
móveis em geral, semoventes, navios e aeronaves, ações
e quotas de sociedades simples e empresárias, pedras e
metais preciosos e, apenas na inexistência desses, o
bloqueio de contas bancárias, de forma a garantir a
subsistência do acusado e a manutenção da atividade
empresária ao longo do processo.
[...]
§ 13. É vedada a decretação de indisponibilidade da
quantia de até 40 (quarenta) salários mínimos
depositados em caderneta de poupança, em outras
aplicações financeiras ou em conta-corrente.
A alternativa E está incorreta. É vedada a
indisponibilidade de bem de família, como regra geral. A
única exceção prevista pelo legislador é na hipótese de o
bem de família ser fruto da vantagem patrimonial
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
indevida gerada a partir da prática do ato ímprobo.
Vejamos:
Art. 16. Na ação por improbidade administrativa poderá
ser formulado, em caráter antecedente ou incidente,
pedido de indisponibilidade de bens dos réus, a fim de
garantir a integral recomposição do erário ou do
acréscimo patrimonial resultante de enriquecimento
ilícito.
[...]
§ 14. É vedada a decretação de indisponibilidade do bem
de família do réu, salvo se comprovado que o imóvel seja
fruto de vantagem patrimonial indevida, conforme
descrito no art. 9º desta Lei.
Questão 10
Bruno vende, em sua residência, fogos de artifício e
decidiu dar entrada em pedido de alvará junto ao
Município, a fim de regularizar a situação.
O Poder Público, ao analisar a situação, exigiu algumas
providências por parte de Bruno, dentre elas perícia da
Polícia Civil.
Ocorre que Bruno não deu continuidade ao processo
administrativo, que ficou paralisado. Porém, continuou
realizando suas vendas normalmente, mesmo sem
alvará ou qualquer outra espécie de autorização do
poder público.
Em razão de armazenamento indevido dos produtos,
houve uma explosão na residência de Bruno, que
ocasionou danos físicos e patrimoniais a Carlos, seu
vizinho.
Carlos, então, ajuizou ação de indenização única e
exclusivamente em face do Município, alegando falha do
poder público na fiscalização da atividade desenvolvida
por Bruno.
O juiz, à luz da jurisprudência mais atualizada do
Supremo Tribunal Federal, deve considerar que:
a) Carlos assiste razão em seu pleito concernente à
negligência do Poder Público em fiscalizar a atividade.
b) Carlos não assiste razão em seu pleito, pois houve
culpa exclusiva da vítima.
c) Carlos assiste razão em seu pleito, uma vez que o
Estado deve indenizar todo e qualquer dano, em virtude
da adoção da teoria do risco integral como regra em
nosso ordenamento jurídico.
d) Carlos assiste razão parcial em seu pleito, já que Bruno
e o Ente Público Municipal responderão solidariamente.
e) Carlos não assiste razão em seu pleito, uma vez que
não há que se falar em responsabilidade estatal, eis que
não houve violação de dever jurídico específico de agir
em relação ao comércio de fogos de artifício, mas
desenvolvimento de atividade comercial de forma
clandestina.
Comentários
Solução rápida
A alternativa E está correta e corresponde ao gabarito da
questão. No julgamento do RE 136861/SP, o Supremo
Tribunal Federal manifestou-se no seguinte sentido:
RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL
RECONHECIDA. DIREITO CONSTITUCIONAL E
ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO
ESTADO POR OMISSÃO. ART. 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. FISCALIZAÇÃO DO COMÉRCIO DE FOGOS DE
ARTIFÍCIO. TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. NECESSIDADE DE
VIOLAÇÃO DO DEVER JURÍDICO ESPECÍFICO DE AGIR.
1. A Constituição Federal, no art. 37, § 6º, consagra a
responsabilidade civil objetiva das pessoas jurídicas de
direito público e das pessoas de direito privado
prestadoras de serviços públicos. Aplicação da teoria do
risco administrativo. Precedentes da CORTE.
2. Para a caracterização da responsabilidade civil estatal,
há a necessidade da observância de requisitos mínimos
para aplicação da responsabilidade objetiva, quais
sejam: a) existência de um dano; b) ação ou omissão
administrativa; c) ocorrência de nexo causal entre o dano
e a ação ou omissão administrativa; e d) ausência de
causa excludente da responsabilidade estatal.
3. Na hipótese, o Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo concluiu, pautado na doutrina da teoria do risco
administrativo e com base na legislação local, que não
poderia ser atribuída ao Município de São Paulo a
responsabilidade civil pela explosão ocorrida em loja de
fogos de artifício. Entendeu-se que não houve omissão
estatal na fiscalização da atividade, uma vez que os
proprietários do comércio desenvolviam a atividade de
forma clandestina, pois ausente a autorização estatal
para comercialização de fogos de artifício.
4. Fixada a seguinte tese de Repercussão Geral: “Para
que fique caracterizada a responsabilidade civil do
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
Estado por danos decorrentes do comércio de fogos de
artifício, é necessário que exista a violação de um dever
jurídico específico de agir, que ocorrerá quando for
concedida a licença para funcionamento sem as cautelas
legais ou quando for de conhecimento do poder público
eventuais irregularidades praticadas pelo particular”.
5. Recurso extraordinário desprovido.
STF - RE: 136861 SP, Relator: EDSON FACHIN, Data de
Julgamento: 11/03/2020, Tribunal Pleno, Data de
Publicação: 13/08/2020.
Assim, havendo desenvolvimento de atividade comercial
relacionada a fogos de artifício de forma clandestina, isto
é, sem a respectiva autorização estatal, não há falha na
fiscalização pelo Poder Público e, consequentemente,
não há responsabilidade por parte do ente estatal por
eventual resultado danoso.
Assim, no caso em questão, é cabível o ajuizamento de
ação de indenização em face de Bruno, responsável pela
causação do ato ilícito, ao instalar clandestinamente
comércio de fogos de artifício e acondicionar os
produtos de forma indevida.
Solução completa
A alternativa E está correta e corresponde ao gabarito da
questão. No julgamento do RE 136861/SP, o Supremo
Tribunal Federal manifestou-se no seguinte sentido:
RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL
RECONHECIDA. DIREITO CONSTITUCIONAL E eventual resultado danoso.
ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO
ESTADO POR OMISSÃO. ART. 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. FISCALIZAÇÃO DO COMÉRCIO DE FOGOS DE
ARTIFÍCIO. TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. NECESSIDADE DE
VIOLAÇÃO DO DEVER JURÍDICO ESPECÍFICO DE AGIR.
1. A Constituição Federal, no art. 37, § 6º, consagra a
responsabilidade civil objetiva das pessoas jurídicas de
direito público e das pessoas de direito privado
prestadoras de serviços públicos. Aplicação da teoria do
risco administrativo. Precedentes da CORTE.
2. Para a caracterização da responsabilidade civil estatal,
há a necessidade da observância de requisitos mínimos
para aplicação da responsabilidade objetiva, quais
sejam: a) existência de um dano; b) ação ou omissão
administrativa; c) ocorrência de nexo causal entre o dano
e a ação ou omissão administrativa; e d) ausência de
causa excludente da responsabilidade estatal.
3. Na hipótese, o Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo concluiu, pautado na doutrina da teoria do risco
administrativo e com base na legislação local, que não
poderia ser atribuída ao Município de São Paulo a
responsabilidade civil pela explosão ocorrida em loja de
fogos de artifício. Entendeu-se que não houve omissão
estatal na fiscalização da atividade, uma vez que os
proprietários do comércio desenvolviam a atividade de
forma clandestina, pois ausente a autorização estatal
para comercialização de fogos de artifício.
4. Fixada a seguinte tese de Repercussão Geral: “Para
que fique caracterizada a responsabilidade civil do
Estado por danos decorrentes do comércio de fogos de
artifício, é necessário que exista a violação de um dever
jurídico específico de agir, que ocorrerá quando for
concedida a licença para funcionamento sem as cautelas
legais ou quando for de conhecimento do poder público
eventuais irregularidades praticadas pelo particular”.
5. Recurso extraordinário desprovido.
STF - RE: 136861 SP, Relator: EDSON FACHIN, Data de
Julgamento: 11/03/2020, Tribunal Pleno, Data de
Publicação: 13/08/2020.
Assim, havendo desenvolvimento de atividade comercial
relacionada a fogos de artifício de forma clandestina, isto
é, sem a respectiva autorização estatal, não há falha na
fiscalização pelo Poder Público e, consequentemente,
não há responsabilidade por parte do ente estatal por
Assim, no caso em questão, é cabível o ajuizamento de
ação de indenização em face de Bruno, responsável pela
causação do ato ilícito, ao instalar clandestinamente
comércio de fogos de artifício e acondicionar os
produtos de forma indevida.
A alternativa A está incorreta. Conforme dito acima, a
omissão específica (ou falha na fiscalização) no comércio
de fogos de artifício ocorrerá quando for concedida a
licença para funcionamento sem as cautelas legais ou
forem de conhecimento do poder público eventuais
irregularidades praticadas pelo particular.
O simples requerimento de licença e funcionamento
clandestino não são suficientes para caracterizar o dever
específico de agir do ente estatal, aptos a configurar a
responsabilidade civil.
A alternativa B está incorreta. No caso em comento, não
há contribuição da vítima para a conduta ilícita.
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
A alternativa C está incorreta. Adota-se, no Brasil, como
regra a teoria do risco administrativo e não a teoria do
risco integral, que só é aplicada em hipóteses específicas
defendidas pela doutrina e pela jurisprudência. O caso
em comento não se encontra dentre as hipóteses de
responsabilidade por risco integral.
A alternativa D está incorreta. Conforme acima
explicado, somente haverá responsabilidade por parte
de Bruno.
Questão 11
Observe as situações fáticas a seguir:
I – Bento comprou uma casa de João. Contudo, João
deixou um débito de três meses da conta de energia. A
concessionária do serviço de energia elétrica
responsável, após aviso prévio, suspendeu o
fornecimento de luz da residência, sob o argumento de
que Bento, por ter comprado a casa, é responsável pelo
pagamento dos referidos débitos.
II – Caio está sem o fornecimento de energia elétrica em
razão de um débito no valor de R$3,95 (três reais e
noventa e cinco centavos) junto à concessionária
ENERGIA LTDA.
III – Antônia é cobrada, pela Companhia de Águas e
Esgotos XYZ, por tarifa de esgotamento sanitário, mas
não recebe o serviço de tratamento de esgoto no bairro
onde mora.
Diante dos casos ora narrados, está correto o que se
verifica em:
a) Bento não tem obrigação de realizar o pagamento dos
débitos deixados por João, uma vez que a obrigação de
pagar por serviço de natureza essencial é do usuário que
efetivamente se utiliza do serviço, no caso João.
b) A suspensão do fornecimento de energia elétrica em
relação a Caio mostra-se legítima, tendo em vista que,
mesmo sendo um serviço essencial, em caso de
inadimplemento do consumidor, é possível o corte do
serviço.
c) Bento deverá realizar o pagamento dos débitos
deixados por João e Antônia deverá receber um
desconto proporcional na tarifa de esgotamento
sanitário.
d) Antônia deverá ser ressarcida pela Companhia de
Águas e Esgotos do Estado do Espírito Santo, visto que
não pode ser cobrada por um serviço que não faz uso.
e) Há flagrante abuso de direito no corte do
fornecimento de energia de Caio por débito irrisório,
mas a suspensão do serviço em relação a Bento é
legítima, tendo em vista o inadimplemento por três
meses, em valores consideráveis.
Comentários
Solução rápida
A alternativa A está correta e corresponde ao gabarito da
questão. É o entendimento do STJ:
O débito de energia elétrica/água é de natureza pessoal,
não se vinculando ao imóvel. Não se trata, portanto, de
obrigação propter rem.
Desse modo, o consumidor não pode ser
responsabilizado pelo pagamento de serviço de
fornecimento de energia elétrica utilizado por outra
pessoa.
A obrigação de pagar por serviço de natureza essencial,
tal como água e energia, não é propter rem, mas pessoal,
isto é, do usuário que efetivamente se utiliza do serviço.
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 45.073/MG, Rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 02/02/2017.
Logo, o responsável pelo pagamento dos débitos
atrasados é de João e não Bento. Além disso, a
suspensão do fornecimento do serviço de energia é
indevida.
Solução completa
A alternativa A está correta e corresponde ao gabarito da
questão.
Renatalisemos as situações em específico.
I – Bento comprou uma casa de João. Contudo, João
deixou um débito de três meses da conta de energia. A
concessionária do serviço de energia elétrica
responsável, após aviso prévio, suspendeu o
fornecimento de luz da residência, sob o argumento de
que Bento, por ter comprado a casa, é responsável pelo
pagamento dos referidos débitos.
É o entendimento do STJ:
O débito de energia elétrica/água é de natureza pessoal,
não se vinculando ao imóvel. Não se trata, portanto, de
obrigação propter rem.
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
Desse modo, o consumidor não pode ser
responsabilizado pelo pagamento de serviço de
fornecimento de energia elétrica utilizado por outra
pessoa.
A obrigação de pagar por serviço de natureza essencial,
tal como água e energia, não é propter rem, mas pessoal,
isto é, do usuário que efetivamente se utiliza do serviço.
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 45.073/MG, Rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 02/02/2017.
Logo, o responsável pelo pagamento dos débitos
atrasados é de João e não Bento. Além disso, a
suspensão do fornecimento do serviço de energia é
indevida.
Sob esse aspecto, as alternativas C estão incorretas.
Porém, a alternativa A está correta e corresponde ao
gabarito da questão.
II – Caio está sem o fornecimento de energia elétrica em
razão de um débito no valor de R$3,95 (três reais e
noventa e cinco centavos) junto à concessionária
ENERGIA LTDA.
O Superior Tribunal de Justiça entende que não é
razoável a suspensão do fornecimento de energia
amparada em débito de valor irrisório. Confira-se:
Comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-
lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu
fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos costumes
(art. 187 do Código Civil).
A concessionária, ao suspender o fornecimento de
energia elétrica em razão de um débito de R$ 0,85, não
agiu no exercício regular de direito, e sim com flagrante
abuso de direito. Aplicação dos princípios da
razoabilidade e proporcionalidade.
STJ. 1ª Turma. REsp 811.690/RR, Rel. Min. Denise Arruda,
julgado em 18/05/2006.
No caso de Caio, havia um débito no valor de R$3,95 (três
reais e noventa e cinco centavos). A suspensão do
serviço, nesse caso, é indevida.
Logo, a alternativa B está incorreta.
Em relação à alternativa E, temos que está incorreta em
virtude da suspensão do serviço relacionado a Bento,
que é ilegítima. Mas, no que tange à Caio, está em
consonância ao aludido entendimento do STJ.
III – Antônia é cobrada, pela Companhia de Águas e
Esgotos XYZ, por tarifa de esgotamento sanitário, mas
não recebe o serviço de tratamento de esgoto no bairro
onde mora.
Embora Antônia não receba o tratamento de
esgotamento sanitário integralmente, recebe-o pelos
menos parcialmente. Veja: o tratamento de esgoto
sanitário é um serviço complexo, que envolve coleta,
transporte, tratamento e disposição final dos dejetos no
meio ambiente.
O STJ já entendeu que é cabível a cobrança da tarifa do
serviço, por inteiro, sem possibilidade de desconto,
quando da prestação de qualquer uma dessas atividades
acima mencionadas.
(...) 2. À luz do disposto no art. 3º da Lei 11.445/2007 e
no art. 9º do Decreto regulamentador 7.217/2010,
justifica-se a cobrança da tarifa de esgoto quando a
concessionária realiza a coleta, transporte e escoamento
dos dejetos, ainda que não promova o respectivo
tratamento sanitário antes do deságue.
3. Tal cobrança não é afastada pelo fato de serem
utilizadas as galerias de águas pluviais para a prestação
do serviço, uma vez que a concessionária não só realiza
a manutenção e desobstrução das ligações de esgoto
que são conectadas no sistema público de esgotamento,
como também trata o lodo nele gerado.
4. O tratamento final de efluentes é uma etapa posterior
e complementar, de natureza socioambiental, travada
entre a concessionária e o Poder Público.
5. A legislação que rege a matéria dá suporte para a
cobrança da tarifa de esgoto mesmo ausente o
tratamento final dos dejetos, principalmente porque não
estabelece que o serviço público de esgotamento
sanitário somente existirá quando todas as etapas forem
efetivadas, tampouco proíbe a cobrança da tarifa pela
prestação de uma só ou de algumas dessas atividades.
(...)
6. Diante do reconhecimento da legalidade da cobrança,
não há o que se falar em devolução de valores pagos
indevidamente, restando, portanto, prejudicada a
questão atinente ao prazo prescricional aplicável as
ações de repetição de indébito de tarifas de água e
esgoto.
7. Recurso especial provido, para reconhecer a
legalidade da cobrança da tarifa de esgotamento
sanitário. Processo submetido ao regime do artigo 543-C
do CPC e da Resolução 8/STJ.
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
STJ. 1ª Seção. REsp 1.339.313/RJ, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, julgado em 12/6/2013 (Recurso Repetitivo –
Tema 565).
É possível a cobrança da tarifa de esgotamento sanitário
ainda que não haja o cumprimento de todas as etapas do
serviço.
STJ. 2ª Turma. Ag 1.308.764-RJ, Rel. Min. Francisco
Falcão, julgado em 16/8/2022 (Info Especial 8).
Logo, Antônia não tem direito de ser ressarcida pelos
valores que já pagou, nem mesmo de receber descontos
pelas cobranças futuras.
Assim, as alternativas C e D estão incorretas.
Questão 12
Renata e Paulo são servidores públicos. Renata recebeu
valores a título da gratificação X, em virtude de decisão
administrativa, depois revogada porque se constatou a
inadequada interpretação da lei por parte da
Administração Pública.
Paulo, por sua vez, recebeu valores a título de
gratificação Y por força de decisão judicial precária,
posteriormente reformada.
De acordo com a jurisprudência dos Tribunais
Superiores,
a) Renata e Paulo não têm obrigatoriedade de
restituírem os valores ao erário.
b) Somente Paulo terá que devolver os valores recebidos
a título de gratificação.
c) Renata terá que devolver 50% dos valores recebidos.
d) Renata terá que devolver os valores recebidos, mas
Paulo não.
e) ambos os servidores terão que devolver os valores
recebidos a título de gratificação.
Comentários
Solução rápida
A alternativa B está correta e corresponde ao gabarito da
questão. É a jurisprudência do STJ:
[...] É incabível a restituição ao erário dos valores
recebidos de boa-fé pelo servidor público em
decorrência de errônea ou inadequada interpretação da
lei por parte da Administração Pública.
STJ. 1ª Seção. REsp 1244182-PB, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, julgado em 10/10/2012 (Recurso Repetitivo -
Tema 531) (Info 506).
Valores recebidos por servidores públicos por força de
decisão judicial precária, posteriormente reformada,
devem ser restituídos ao erário.
STJ. 2ª Turma. AREsp 1.711.065-RJ, Rel. Min. Assusete
Magalhães, julgado em 03/05/2022 (Info 735).
Nesse sentido:
- Renata não precisará promover a devolução dos valores
(REsp 1244182-PB);
- Paulo terá que promover a devolução dos valores
(AREsp 1.711.065-RJ).
Solução completa
A alternativa B está correta e corresponde ao gabarito da
questão. É a jurisprudência do STJ:
[...] É incabível a restituição ao erário dos valores
recebidos de boa-fé pelo servidor público em
decorrência de errônea ou inadequada interpretação da
lei por parte da Administração Pública.
STJ. 1ª Seção. REsp 1244182-PB, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, julgado em 10/10/2012 (Recurso Repetitivo -
Tema 531) (Info 506).
Valores recebidos por servidores públicos por força de
decisão judicial precária, posteriormente reformada,
devem ser restituídos ao erário.
STJ. 2ª Turma. AREsp 1.711.065-RJ, Rel. Min. Assusete
Magalhães, julgado em 03/05/2022 (Info 735).
Nesse sentido:
- Renata não precisará promover a devolução dos valores
(REsp 1244182-PB);
- Paulo terá que promover a devolução dos valores
(AREsp 1.711.065-RJ).
A alternativa A está incorreta. A alternativa A está
incorreta. Somente Renata não tem obrigatoriedade de
restituir os valores ao erário, visto que recebeu valores
em virtude inadequada interpretação da lei por parte da
Administração Pública (REsp 1244182-PB). Pelo mesmo
motivo, a alternativa C está incorreta.
A alternativa D está incorreta. Somente Paulo terá que
devolver os valores recebidos a título de gratificação, eis
que os recebeu por decisão judicial precária,
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
posteriormente revogada (AREsp 1.711.065-RJ). Pelo
mesmo motivo, a alternativa E está incorreta.
Questão 13
No que se refere às fontes do direito administrativo,
assinale a opção correta.
a) Leis que são fonte do direito administrativo não
necessariamente têm aplicabilidade em todo o território
nacional.
b) A jurisprudência somente é fonte do direito
administrativo nos países que adotam o sistema de
contencioso administrativo.
c) Quando se cita a lei como fonte do direito
administrativo, faz-se referência às leis ordinárias
regularmente aprovadas pelo Congresso Nacional.
d) Atos administrativos normativos não constituem
fonte do direito administrativo.
e) A Lei de Sociedades Anônimas não se aplica às
autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades
de economia mista.
Comentários
Solução rápida
A alternativa A está correta e corresponde ao gabarito da
questão. As leis que são fonte do direito administrativo
não necessariamente têm aplicabilidade em todo o
território nacional. Existem leis estaduais, municipais e
distritais que são fontes de direito administrativo e
possuem aplicabilidade apenas em seus respectivos
territórios.
Solução completa
A questão trata do tema “Fontes de Direito
Administrativo”.
Uma das características mais relevantes do Direito
Administrativo no Brasil é a ausência de uma codificação
unitária, ou seja, os textos normativos administrativos
não estão reunidos em um só corpo de leis, ao contrário
do que acontece com o Direito Civil e o Direito Penal, por
exemplo.
A questão da classificação das fontes é matéria
controversa na doutrina. Existem diversas divisões
diferentes propostas por renomados doutrinadores.
Rafael Oliveira , por exemplo, propõe a seguinte divisão:
Fontes formais são aquelas que emanam do Estado e as
fontes materiais são as produzidas fora do ambiente
institucional (confunde-se com o conceito de fontes
estatais e não estatais apresentado acima).
Fontes imediatas ou diretas são aquelas que possuem
força suficiente para gerar normas jurídicas (ex: lei e
costume); fontes mediatas ou indiretas são as que
condicionam ou influenciam a produção de normas
jurídicas, mas não possuem força suficiente para a sua
produção (ex: doutrina e jurisprudência);
Fontes escritas (lei em sentido amplo) e fontes não
escritas (doutrina, costumes e princípios gerais do
Direito).
Perceba que, a depender da doutrina adotada, a
classificação varia, razão pela qual o aluno deve estar
muito atento nas provas. Entenda os conceitos para
“decifrar” as questões de prova e não errar.
Vamos à análise das alternativas.
A alternativa A está correta e corresponde ao gabarito da
questão. As leis que são fonte do direito administrativo
não necessariamente têm aplicabilidade em todo o
território nacional. Existem leis estaduais, municipais e
distritais que são fontes de direito administrativo e
possuem aplicabilidade apenas em seus respectivos
territórios.
A alternativa B está incorreta. O Brasil adota o Sistema
de Jurisdição Una jurisdição e a jurisprudência é fonte do
direito administrativo no Brasil.
A alternativa C está incorreta. Além das leis ordinárias,
são também fontes do direito administrativo as leis que
decorrem da Constituição da República, como as leis
complementares, medidas provisórias, ações normativas
infralegais, decretos regulamentares, portarias, etc.
A alternativa D está incorreta. A fonte primária é a lei. Já
como fonte secundária temos: doutrina, jurisprudência,
costume, atos administrativos, dentre outros.
Nesse sentido, nos ensina Rafael Oliveira:
As fontes do Direito podem ser classificadas de diversas
formas, conforme demonstrado a seguir:
a) fontes formais: são aquelas que emanam do Estado,
criadas por meio de processos formais estabelecidos pe-
la ordem jurídica (ex.: lei); e fontes materiais (ou reais):
são produzidas fora do ambiente institucional (ex.: cos-
tumes);5
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
b) fontes imediatas ou diretas: são aquelas que possuem
força suficiente para gerar normas jurídicas (ex.: lei e
costume); e fontes mediatas ou indiretas: não possuem
força suficiente para produção de normas jurídicas, mas
condicionam ou influenciam essa produção (ex.:
doutrina e jurisprudência);6
c) fontes escritas (ex.: lei em sentido amplo) e fontes não
escritas (jurisprudência, costumes e os princípios ge-rais
de direito).
As fontes do Direito Administrativo são: a lei
(juridicidade), a doutrina, a jurisprudência, os costumes
e os pre-cedentes administrativos.
A alternativa E está incorreta. As empresas públicas
podem ser constituídas sob qualquer forma societária
admitida pelo ordenamento jurídico (art. 3º, lei
13.303/2016), podendo ser uma sociedade anônima,
sociedade limitada, dentre outras. As sociedades de
economia mista somente podem ser constituídas sob a
forma de sociedade anônima (art. 4º, lei 13.303/2016).
Com isto, devem se submeter, naquilo que não colidir
com a lei 13.303/2016, à lei 6.404/76, que estabelece o
regime jurídico das sociedades anônimas.
Questão 14
Acerca do fornecimento pelo Poder Judiciário de
medicamentos não registrados na ANVISA, à luz da
jurisprudência do STF, julgue os itens:
I – Desde que atendidos aos requisitos estabelecidos
pelo Supremo Tribunal Federal, o Estado pode ser
obrigado a fornecer medicamentos experimentais.
II - A concessão judicial de medicamento sem registro
sanitário, em caso de mora irrazoável da ANVISA em
apreciar o pedido, depende da comprovação da
existência de pedido de registro do medicamento no
Brasil e da existência de registro do medicamento em
renomadas agências de regulação no exterior,
independentemente de existir ou não substituto
terapêutico com registro no Brasil.
III - As ações que demandem fornecimento de
medicamentos sem registro na ANVISA deverão
necessariamente ser propostas em face da União.
São corretos os itens:
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II.
e) II e III.
Comentários
Solução rápida
A alternativa C está correta e corresponde ao gabarito da
questão.
O item I está incorreto. Em nenhuma hipótese poderá o
Poder Judiciário determinar o fornecimento de
medicamentos experimentais, sem comprovação
científica de eficácia e segurança, ainda em fase de
pesquisas e testes (RE 657718).
O item II está incorreto. No caso dos medicamentos com
eficácia e segurança comprovadas e testes concluídos,
mas ainda sem registro na ANVISA, o fornecimento por
decisão judicial será hipótese absolutamente
excepcional, apenas quando houver mora irrazoável da
ANVISA em apreciar o pedido de registro, devendo o
interessado, ainda neste caso, comprovar os seguintes
requisitos cumulativos: a existência de pedido de
registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de
medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras);
a existência de registro do medicamento pleiteado em
renomadas agências de regulação no exterior (e.g., EUA,
União Europeia e Japão); e a inexistência de substituto
terapêutico registrado na ANVISA.
O item III está correto. No julgamento do RE 855178
ficou definido que as ações que demandem
fornecimento de medicamentos sem registro na ANVISA
deverão necessariamente ser propostas em face da
União.
Solução completa
A alternativa C está correta e corresponde ao gabarito da
questão.
I – Desde que atendidos aos requisitos estabelecidos
pelo Supremo Tribunal Federal, o Estado pode ser
obrigado a fornecer medicamentos experimentais.
O item I está incorreto. Em nenhuma hipótese poderá o
Poder Judiciário determinar o fornecimento de
medicamentos experimentais, sem comprovação
científica de eficácia e segurança, ainda em fase de
pesquisas e testes. Confira-se:
[...] 1. O Estado não pode ser obrigado a fornecer
medicamentos experimentais.
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
2. A ausência de registro na ANVISA impede, como regra
geral, o fornecimento de medicamento por decisão
judicial.
3. É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de
medicamento sem registro sanitário, em caso de mora
irrazoável da ANVISA em apreciar o pedido de registro
(prazo superior ao previsto na Lei nº 13.411/2016),
quando preenchidos três requisitos: (i) a existência de
pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no
caso de medicamentos órfãos para doenças raras e
ultrarraras); (ii) a existência de registro do medicamento
em renomadas agências de regulação no exterior; e (iii)
a inexistência de substituto terapêutico com registro no
Brasil.
4. As ações que demandem fornecimento de
medicamentos sem registro na Anvisa deverão
necessariamente ser propostas em face da União”.
RE 657718, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/
Acórdão: ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado
em 22/05/2019, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO
GERAL - MÉRITO DJe-267 DIVULG 06-11-2020 PUBLIC
09-11-2020.
II - A concessão judicial de medicamento sem registro
sanitário, em caso de mora irrazoável da ANVISA em
apreciar o pedido, depende da comprovação da
existência de pedido de registro do medicamento no
Brasil e da existência de registro do medicamento em
renomadas agências de regulação no exterior,
independentemente de existir ou não substituto
terapêutico com registro no Brasil.
O item II está incorreto. No caso dos medicamentos com
eficácia e segurança comprovadas e testes concluídos,
mas ainda sem registro na ANVISA, o fornecimento por
decisão judicial será hipótese absolutamente
excepcional, apenas quando houver mora irrazoável da
ANVISA em apreciar o pedido de registro, devendo o
interessado, ainda neste caso, comprovar os seguintes
requisitos cumulativos:
a) A existência de pedido de registro do medicamento no
Brasil (salvo no caso de medicamentos órfãos para
doenças raras e ultrarraras);
b) A existência de registro do medicamento pleiteado em
renomadas agências de regulação no exterior (e.g., EUA,
União Europeia e Japão); e
c) A inexistência de substituto terapêutico registrado na
ANVISA.
Assim,
[...] 1. O Estado não pode ser obrigado a fornecer
medicamentos experimentais.
2. A ausência de registro na ANVISA impede, como regra
geral, o fornecimento de medicamento por decisão
judicial.
3. É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de
medicamento sem registro sanitário, em caso de mora
irrazoável da ANVISA em apreciar o pedido de registro
(prazo superior ao previsto na Lei nº 13.411/2016),
quando preenchidos três requisitos: (i) a existência de
pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no
caso de medicamentos órfãos para doenças raras e
ultrarraras); (ii) a existência de registro do medicamento
em renomadas agências de regulação no exterior; e (iii)
a inexistência de substituto terapêutico com registro no
Brasil.
4. As ações que demandem fornecimento de
medicamentos sem registro na Anvisa deverão
necessariamente ser propostas em face da União”.
RE 657718, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/
Acórdão: ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado
em 22/05/2019, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO
GERAL - MÉRITO DJe-267 DIVULG 06-11-2020 PUBLIC
09-11-2020.
III - As ações que demandem fornecimento de
medicamentos sem registro na ANVISA deverão
necessariamente ser propostas em face da União.
O item III está correto. No julgamento do RE 855178
ficou definido que:
[...] 3. As ações que demandem fornecimento de
medicamentos sem registro na ANVISA deverão
necessariamente ser propostas em face da União.
Precedente específico: RE 657.718, Rel. Min. Alexandre
de Moraes. 4. Embargos de declaração desprovidos.
RE 855178 ED, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Relator(a) p/
Acórdão: Min. EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado
em 23/05/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-090
DIVULG 15-04-2020 PUBLIC 16-04-2020.
As alternativas A, B, D e E estão incorretas.
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
DIREITO CIVIL
Professor Paulo Sousa
Questão 15
Arquimedes sofreu um acidente vascular cerebral logo
após completar 22 anos. Como sequela do AVC,
Arquimedes perdeu o movimento do lado esquerdo do
corpo, além de ter ficado com sequelas que prejudicam
a sua visão e a sua fala. Em razão disso:
a) não poderá se casar;
b) será considerado absolutamente incapaz;
c) será considerado relativamente incapaz;
d) será considerado plenamente capaz para os atos da
vida civil;
e) poderá exercer os atos da vida civil, desde que por
meio de tomadas de decisão apoiada.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra D.
O EPD se destina a assegurar e a promover, em
condições de igualdade, o exercício dos direitos e das
liberdades fundamentais por pessoa com deficiência,
visando à sua inclusão social e cidadania. Sua aprovação
deriva de um longo processo no qual se pretende
promover efetiva igualdade entre as pessoas, tenham
elas deficiências ou não, a partir da premissa de que as
pessoas com deficiência devem ter condições
“desiguais” para compensar suas desigualdades, de
modo a torná-las não apenas formalmente, mas também
materialmente iguais.
Deficiente ou não, especialmente vulnerável ou não, as
pessoas não podem sofrer restrições à plena capacidade.
De maneira revolucionária, o art. 6º prevê que a
deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa
para numerosos atos da vida civil ligados, em linhas
gerais, aos direitos decorrentes das relações familiares:
• Casar-se e constituir união estável
• Exercer direitos sexuais e reprodutivos
• Exercer o direito de decidir sobre o número de filhos
• Ter acesso a informações adequadas sobre reprodução
e planejamento familiar
• Conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização
compulsória
• Exercer o direito à família e à convivência familiar e
comunitária
• Exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à
adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de
oportunidades com as demais pessoas
Comentário curto
A alternativa A está incorreta. Considerando a
esquizofrenia como uma deficiência, ela não afeta a
plena capacidade civil da pessoa, conforme o art. 6º da
Lei nº 13.146/2015, especialmente o seu inciso I: “Art. 6º
A deficiência não afeta a plena capacidade civil da
pessoa, inclusive para: I - casar-se e constituir união
estável;”
A alternativa B está incorreta, conforme o art. 6º da Lei
nº 13.146/2015.
A alternativa C está incorreta, conforme o art. 6º da Lei
nº 13.146/2015.
A alternativa D está correta, conforme o art. 6º da Lei nº
13.146/2015.
A alternativa E está incorreta, visto que esse não é um
requisito legal para aqueles que são considerados
capazes para os atos da vida civil.
Questão 16
A LC 95/1998 estabelece que a contagem do prazo para
entrada em vigor das leis que estabeleçam período de
vacância será feita com a inclusão da data da publicação
e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia
subsequente à sua consumação integral. Quanto à
vigência das leis, é correto afirmar que:
a) se a data indicada pela lei cair em feriado, sábado ou
domingo, a vigência terá início no dia útil subsequente;
b) na contagem dos prazos, não são computados
sábados, domingos e feriados;
c) há sincronia na vigência da lei brasileira no território
nacional e no exterior quando não houver prazo de
vigência expressamente estabelecido;
d) se a data de vigência cair em um domingo, a vigência
terá início nesse mesmo domingo;
e) durante a vacatio legis, a lei ainda não é válida.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra D.
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
A vigência da lei deve ser sempre indicada de forma
expressa e de modo a contemplar prazo razoável para
que dela se tenha amplo conhecimento. É para isso que
serve o prazo de vigência, para que as pessoas possam
se adequar à nova legislação.
É o que prevê a Lei Complementar 95/1998 – LC 95, que
dispõe sobre a elaboração, a redação, a alteração e a
consolidação das leis. Essa lei não apenas complementa
a LINDB, como a minudencia. Ela se originou do comando
do art. 59, parágrafo único da CF/1988, que determina
edição de Lei Complementar para dispor sobre a
elaboração, redação, alteração e consolidação das leis.
Assim, a vigência da norma respeita a vigência nela
mesma estabelecida. De maneira quase tautológica, a lei
vige quando diz que vige. Legislações mais complexas
têm vacatio legis maior, como o CPC/2015 ou o CC/2002
(um ano); se um pouco mais simples, prazo menor, como
o Estatuto da Pessoa com Deficiência – EPD (180 dias).
O art. 8º da LC 95, estabelece que a cláusula "entra em
vigor na data de sua publicação" é reservada apenas para
as leis de pequena repercussão, que alteram dispositivos
menores, fazem pequenas correções etc. Nesses casos,
não há vacatio legis propriamente dita.
Se a lei entra em vigor na data de sua publicação, não há
que se falar em vacatio legis, pelo que a norma vigora,
de fato, imediatamente. Não se fala em “contagem do
dia de início” ou “contagem do último dia” ou “dia
subsequente”; é imediatamente.
No entanto, a LINDB traz regra específica para o caso de
omissão. Dispõe o art. 1º que, salvo disposição em
contrário, a lei começa a vigorar em todo o país 45 dias
depois de oficialmente publicada. É a chamada cláusula
de vigência!
A LC 95/1998, em seu art. 8º, §1º, estabelece que a
contagem do prazo para entrada em vigor das leis que
estabeleçam período de vacância será feita com a
inclusão da data da publicação e do último dia do prazo,
entrando em vigor no dia subsequente à sua
consumação integral.
Esse prazo não se interrompe, nem se suspende ou se
protrai, de modo que se a data indicada pela lei cair em
feriado, sábado ou domingo, a vigência da norma se dá
naquele dia, independentemente de ser útil ou não,
conforme afiança Caio Mario da Silva Pereira.
Comentário curto
A alternativa A está incorreta. Se a data indicada pela lei
cair em feriado, sábado ou domingo, a vigência da norma
se dá naquele dia, independentemente de ser útil ou
não.
A alternativa B está incorreta. São considerados sábados,
domingos e feriados, indistintamente.
A alternativa C está incorreta. Não há sincronia na
vigência da lei brasileira no território nacional e no
exterior. Segundo o art. 1º, §1º, nos Estados
estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando
admitida, inicia-se somente três meses depois de
oficialmente publicada.
A alternativa D está correta. Conforme a alternativa A: o
prazo de vigência não se interrompe, nem se suspende
ou se protrai, de modo que se a data indicada pela lei cair
em feriado, sábado ou domingo, a vigência da norma se
dá naquele dia, independentemente de ser útil ou não.
A alternativa E está incorreta. A lei, aprovada conforme
os mandamentos legais, é válida. Estabelece-se que a Lei
só passará a viger em 45 dias. Entre sua publicação e
esses 45 dias, a Lei é válida, mas ainda não vige,
portanto.
Questão 17
Cláudio, natural de Porto Velho/RO, foi nomeado juiz
substituto na comarca do Rio de Janeiro/RJ. Porém, ao
longo de sua carreira, adquiriu uma casa na Praia
Grande/SP e em Balneário Camboriú/SC, onde passa os
finais de semana com sua família, esporadicamente.
Com base nestes fatos e de acordo com o Código Civil de
2002 é correto afirmar que:
a) Cláudio tem domicílio na cidade onde nasceu, Porto
Velho/RO, uma vez que foi onde estabeleceu residência
com ânimo definitivo durante a maior parte de sua vida.
b) Cláudio tem domicílio na cidade do Rio de Janeiro/RJ,
pois trata-se da cidade onde exerce sua função.
c) Cláudio tem domicílio na cidade de Praia Grande/SP e
Balneário Camboriú/SC, pois são os locais onde reside
com ânimo definitivo, conjuntamente com sua família.
d) Cláudio tem domicílio em Porto Velho/RO e no Rio de
Janeiro/RJ, pois são os locais onde exerce residência com
ânimo definitivo e sua profissão respectivamente.
e) Cláudio tem domicílio em todos os locais onde possui
residência com ânimo definitivo, ou seja, em Porto
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
Velho/RO, Rio de Janeiro/RJ, Paria Grande/SP e em
Balneário Camboriú/SC.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra B.
O domicílio fixa-se com a residência, em geral. A partir
do CC/2002 podemos estabelecer uma divisão do
domicílio em dois:
A. Domicílio voluntário: em regra, o domicílio é
voluntário, salvo as exceções legais. Nesse sentido,
permite ainda o CC/2002 o estabelecimento de domicílio
voluntário, por contrato. Segundo o art. 78, por contrato
escrito, podem os contratantes especificar domicílio
onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações
deles resultantes.
B. Domicílio necessário/legal: é a situação em que a Lei
determina um domicílio mesmo que a pessoa queira ter
outro. Quando isso acontece? Vejamos:
• 1. Pessoas itinerantes
• Art. 73: “Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que
não tenha residência habitual, o lugar onde for
encontrada”
• 2. Incapazes
• Art. 76: “Tem domicílio necessário o incapaz”, que é "o
do seu representante ou assistente"
• 3. Servidores públicos
• Art. 76: “Tem domicílio necessário o servidor público”,
que é "o lugar em que exercer permanentemente suas
funções"
• 4. Militares do Exército
• Art. 76: "Tem domicílio necessário o militar", que é
"onde servir"
• 5. Militares da Marinha e Aeronáutica
• Art. 76: "Tem domicílio necessário o militar", que é,
"sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do
comando a que se encontrar imediatamente
subordinado"
• 6. Marinha mercante
• Art. 76: “Têm domicílio necessário o marítimo”, que é
"onde o navio estiver matriculado"
• 7. Presos
• Art. 76: “Têm domicílio necessário o preso”, que é "o
lugar em que cumprir a sentença"
• Segundo Pontes de Miranda, somente com o trânsito
em julgado torna-se esse lugar o domicílio necessário do
preso; antes disso, continua ele com o domicílio
voluntário anteriormente fixado
• 8. Agentes diplomáticos
• Art. 77: “O agente diplomático do Brasil, que, citado no
estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem designar
onde tem, no país, o seu domicílio, poderá ser
demandado no Distrito Federal ou no último ponto do
território brasileiro onde o teve”.
Comentário curto
A alternativa B está correta, pois sendo Cláudio juiz
substituto, este tem domicílio necessário, nos termos do
art. 76 caput e parágrafo único, do CC/2002: “Art. 76.
Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o
militar, o marítimo e o preso. Parágrafo único. O
domicílio do incapaz é o do seu representante ou
assistente; o do servidor público, o lugar em que exercer
permanentemente suas funções; o do militar, onde
servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do
comando a que se encontrar imediatamente
subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver
matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a
sentença”.
Consequentemente estão incorretas as alternativas A, C,
D e E.
Questão 18
Segundo o Código Civil de 2002, o negócio jurídico é
anulável:
a) Por incapacidade do agente.
b) Quando resultante de vício de vontade e quando o
motivo determinante, comum a ambas as partes, for
ilícito.
c) Quando incapaz relativamente, o agente, e quando
presente vício social como a fraude contra credores, por
exemplo.
d) Quando incapaz relativamente, o agente, e quando
presente vício social como a simulação, por exemplo.
e) Quando tiver por objetivo fraudar lei imperativa e
quando presente vício de vontade, como a coação, por
exemplo.
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra C.
O núcleo das anulabilidades está no art. 171, mas ele é
incompleto, pois faltam as anulabilidades específicas,
que estão determinadas na lei e por ela espalhadas. Veja
que mesmo antes do rol de anulabilidades do art. 171, o
CC/2002 já trouxe outras hipóteses.
As ações anulatórias são de natureza desconstitutiva.
Por isso, sujeitam-se as anulabilidades a prazos
decadenciais, e não prescricionais.
É o caso do negócio jurídico que o representante, no seu
interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo
mesmo, reputado anulável pelo art. 117, salvo se o
permitir a lei ou o representado.
Igualmente, considera-se anulável o negócio concluído
pelo representante em conflito de interesses com o
representado, se tal fato era ou devia ser do
conhecimento de quem com aquele tratou (art. 119).
Nesse caso, é de 180 dias o prazo decadencial para se
pleitear a anulação do negócio, a contar da conclusão do
negócio ou da cessação da incapacidade.
De qualquer forma, analisarei detidamente apenas as
anulabilidades presentes nesse núcleo da Parte Geral,
sendo que as demais serão vistas a seu tempo, conforme
for exigido.
Ao contrário das nulidades, as anulabilidades podem ser
alegadas somente pelos interessados, segundo o art.
177. Por isso, segundo esse mesmo dispositivo, as
anulabilidades não podem ser pronunciadas de ofício
pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico.
Por isso, a anulabilidade tem eficácia ex nunc. Não
obstante, evidente que determinadas situações jurídicas
exigirão eficácia retroativa, como é o caso da anulação
do matrimônio, que retorna os agora ex-cônjuges ao
status de solteiros. Não se descura dessas possibilidades,
mas a regra continua válida; a eficácia da desconstituição
não retroage, ordinariamente.
Daí o negócio anulável poder ser confirmado pelas
partes, salvo direito de terceiros, segundo regra do art.
172. Essa confirmação, inclusive, nem precisa ser
expressa, quando o negócio já foi cumprido em parte
pelo devedor, ciente do vício que o inquinava, nos
termos do art. 174. Com a confirmação extinguem-se
todas as ações, ou exceções, de que contra ele
dispusesse o devedor, a rigor, pelo teor do art. 175 do
CC/2002.
Comentário curto
A alternativa A está incorreta, pois a incapacidade
absoluta torna o negócio nulo, conforme dita o art. 166,
inc. I do CC/2002: “Art. 166. É nulo o negócio jurídico
quando: I - celebrado por pessoa absolutamente
incapaz”.
A alternativa B está incorreta, pois o motivo ilícito torna
o negócio jurídico nulo, conforme dita o art. 166, inc. III
do CC/2002: “Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:
III - o motivo determinante, comum a ambas as partes,
for ilícito”.
A alternativa C está correta, pois a incapacidade relativa
e a fraude contra credores torna o negócio jurídico
anulável, conforme o art. 171, incisos I e II, do CC/2002:
“Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na
lei, é anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade
relativa do agente; II - por vício resultante de erro, dolo,
coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra
credores”.
A alternativa D está incorreta, pois a simulação torna o
negócio jurídico nulo, conforme o art. 167 do CC/2002:
“Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas
subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância
e na forma”.
A alternativa E está incorreta, pois quando o negócio
tiver por objetivo fraudar lei imperativa, ele será nulo,
conforme o art. 166 inc. IV: “Art. 166. É nulo o negócio
jurídico quando: VI - tiver por objetivo fraudar lei
imperativa”.
Questão 19
Adilson, delegado de polícia, em razão de uma gravação
em suas redes sociais, foi acusado pela corregedoria de
expor uma operação secreta e obrigado a retratar-se
publicamente. Carlos, seu desafeto, se utilizou de tal
retratação para difamar Adilson. O delegado, então,
ingressou com uma ação de reparação civil em face de
Carlos, porém, logo após ser determinada a data da
audiência, Adilson faleceu em serviço. Diante de tais
fatos e segundo o entendimento do STJ:
a) Ainda que Adilson tenha herdeiros, a ação de
reparação será extinta, pois somente o detentor dos
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
direitos da personalidade podem requerer que cesse a
lesão ou ameaça aos mesmos.
b) Ainda que Adilson tenha filhos, a ação de reparação
será extinta, caso ele não tenha cônjuge, pois somente
este tem legitimidade para requerer que cesse a lesão ou
ameaça aos direitos da personalidade do falecido.
c) Ainda que Adilson tenha filhos e cônjuge, a ação de
reparação será extinta e, caso os herdeiros tenham
interesse em fazer que cesse a ameaça aos direitos da
personalidade do de cujos, deverão ingressar com nova
ação.
d) A ação de reparação não será extinta, desde que
qualquer interessado se manifeste em prosseguir com a
mesma.
e) A ação de reparação não será extinta, bastando
apenas os herdeiros de Adilson manifestarem interesse
em prossegui-la.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra E.
Estatui o art. 943 que o direito de exigir reparação e a
obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança.
Assim, mesmo que a vítima morra, seus herdeiros
podem exigir indenização; igualmente, se o ofensor
morrer, seus herdeiros continuam obrigados a prestar a
indenização, mas o herdeiro não responde por encargos
superiores às forças da herança, claro (art. 1.792).
O Enunciado 454 da V Jornada de Direito Civil evidencia
que esse direito abrange inclusive os danos morais, ainda
que a ação não tenha sido iniciada pela vítima. Aqui, a
tutela é da própria vítima, inconfundível com o eventual
dano moral por ricochete que tenha sofrido o herdeiro
da vítima.
Comentário curto
A alternativa A está incorreta, uma vez que o cônjuge
sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou
colateral até o quarto grau, pode requerer que cesse a
ameaça ou lesão aos direitos da personalidade do
falecido, conforme dita o parágrafo único, do art. 12 do
CC/2002: “Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou
a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e
danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá
legitimação para requerer a medida prevista neste artigo
o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha
reta, ou colateral até o quarto grau”.
A alternativa B está incorreta, conforme analisado na
alternativa A.
A alternativa C está correta, pois não há necessidade de
propositura de uma nova ação, conforme entendimento
do STJ na Súmula 642 do STJ: “O direito à indenização por
danos morais transmite-se com o falecimento do titular,
possuindo os herdeiros da vítima legitimidade ativa para
ajuizar ou prosseguir a ação indenizatória”
A alternativa D está incorreta, pois a manifestação se
restringe aos herdeiros do falecido e não a qualquer
interessado.
A alternativa E está correta, conforme a Súmula 642 do
STJ.
Questão 20
Marcelo, pai de dois filhos, resolveu comprar uma casa
de praia, visando o lazer da família, especialmente no
período das férias escolares das crianças.
Posteriormente, Marcelo foi rebaixado de cargo na
empresa em que trabalhava, passando a ganhar menos,
de forma que teve que reduzir seus gastos mensais,
incluindo a manutenção da casa de praia. Com isso, ele
resolveu instituir condomínio em multipropriedade da
casa, vendendo, em seguida, as frações de tempo do
imóvel à dois amigos. Diante dessa situação, assinale a
alternativa correta:
a) A multipropriedade será extinta automaticamente se
todas as frações de tempo pertencerem à Marcelo.
b) O período correspondente a cada fração de tempo
será de, no mínimo, 30 (trinta) dias, seguidos ou
intercalados.
c) Todos os multiproprietários terão direito a uma
mesma quantidade máxima de dias seguidos durante o
ano, podendo haver a aquisição de frações maiores que
a mínima, com o correspondente direito ao uso por
períodos também maiores.
d) O atendimento a eventual limite de frações de tempo
por titular estabelecido no instrumento de instituição
será obrigatório somente após a venda das frações por
Marcelo.
e) O instrumento de instituição da multipropriedade
promovida por Marcelo poderá estabelecer o limite
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
máximo de frações de tempo no mesmo imóvel, que não
poderão ser detidas pela mesma pessoa natural.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra D.
A Lei 13.777/2018 incluiu o condomínio em
multipropriedade no CC/2002. Assim, legislou-se a
respeito da quarta dimensão do direito de propriedade,
agora no tempo.
Não à toa, o art. 1.358-B prevê que a multipropriedade
se rege supletiva e subsidiariamente pelas demais
disposições do CC/2002 e pelas disposições da Lei
4.591/1964 – a Lei do Condomínio em Edificações – e da
Lei 8.078/1990 – o CDC. Mas, e o que é, em termos
legais, a multipropriedade?
De acordo com o art. 1.358-C, multipropriedade é o
regime de condomínio em que cada um dos
proprietários de um mesmo imóvel é titular de uma
fração de tempo, à qual corresponde a faculdade de uso
e gozo, com exclusividade, da totalidade do imóvel, a ser
exercida pelos proprietários de forma alternada. Em
outras palavras, é a propriedade no tempo, a quarta
dimensão do direito de propriedade.
Contrariamente ao condomínio no espaço, porém, o
parágrafo único prevê que a multipropriedade não se
extinguirá automaticamente se todas as frações de
tempo forem do mesmo multiproprietário. Essa é uma
exceção importante à regra de que a extinção da
pluralidade subjetiva extingue, consequentemente, o
estado de fracionamento da coisa, mas se alinha à
exceção já existente no condomínio edilício.
Assim, o condomínio se extingue no caso de reunião dos
poderes proprietários nas mãos de um único titular
apenas quando do condomínio geral. Não há extinção do
condomínio edilício (condomínio edilício espacial) nem
do condomínio em multipropriedade (condomínio
edilício temporal) no caso de reunião das frações
proprietárias nas mãos de um único proprietário.
Por isso, o art. 1.358-D, inc. I prevê que o imóvel objeto
da multipropriedade é indivisível, não se sujeitando a
ação de divisão ou de extinção de condomínio. De
maneira peculiaríssima, prevê o inc. II que a
multipropriedade imobiliária inclui as instalações, os
equipamentos e o mobiliário destinados a seu uso e
gozo.
Ou seja, o dispositivo cria uma espécie de “parte
integrante legal ou forçada”. Isso porque os bens móveis
que guarnecem um bem imóvel tradicionalmente são
vistos como pertenças, que não seguem a clássica regra
accessorium sequitur principale (o acessório segue a
sorte do principal). Na multipropriedade, os bens móveis
seguem, por força de lei, o bem imóvel, constituindo
certas “partes integrantes”.
O grande diferencial da multipropriedade é, certamente,
a cisão da propriedade no tempo. Essa divisão temporal,
contudo, não é de todo livre. O art. 1.358-E prevê que
cada fração de tempo é indivisível. Cada fração de ser de,
no mínimo, 7 dias, seguidos ou intercalados (§1º).
Ou seja, posso gozar da propriedade por 14 dias por ano,
sendo 3 dias num período e 11 dias no outro. Pode ser
também 7 dias por ano, corridos. O importante é lembrar
que a fruição intercalada pode se dar por menos de 7
dias, mas se exige que a fração de cada proprietário
nunca seja inferior a 7 dias, no total.
O período de tempo pode ser fixo e determinado, no
mesmo período de cada ano (inc. I). Assim, eu tenho
direito a me valer de minha propriedade entre os dias 1º
e 7 de março de cada ano, por exemplo.
Pode também ser a fração flutuante, caso em que a
determinação do período será realizada de forma
periódica, mediante procedimento objetivo que
respeite, em relação a todos os multiproprietários, o
princípio da isonomia, devendo ser previamente
divulgado (inc. II). Nesse caso, pode ser estabelecido um
rodízio anual ou um sorteio, por exemplo.
Pode também ser utilizado um sistema misto,
combinando os sistemas fixo e flutuante (inc. III). O
importante é que todos os multiproprietários devem ter
direito a uma mesma quantidade mínima de dias
seguidos durante o ano, evidencia o §2º do art. 1.358-E.
Isso não impede que seja feita a aquisição de frações
maiores que a mínima, com o correspondente direito ao
uso por períodos também maiores. Dessa forma, o
interessado em exercer sua propriedade por mais tempo
pode comprar frações maiores, se for possível, ou
mesmo mais frações de tempo. A aquisição de cotas é
livre?
Sim. Não. Explico. O art. 1.358-H, estabelece que o
instrumento de instituição da multipropriedade ou a
convenção de condomínio em multipropriedade pode
estabelecer o limite máximo de frações de tempo no
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
mesmo imóvel que poderão ser detidas pela mesma
pessoa natural ou jurídica.
Duas observações. Primeiro, pode ser limitada a
aquisição de cotas, não que isso seja obrigatório; ou seja,
a restrição é facultativa. Segundo, essa restrição pode ser
feita pelo instrumento de instituição da
multipropriedade ou pela a convenção de condomínio.
Comentário curto
A alternativa A está incorreta, de acordo com art. 1.358-
C, parágrafo único: “A multipropriedade não se
extinguirá automaticamente se todas as frações de
tempo forem do mesmo multiproprietário.”
A alternativa B está incorreta, conforme art. 1.358-E: “O
período correspondente a cada fração de tempo será de,
no mínimo, 7 (sete) dias, seguidos ou intercalados, e
poderá ser”
A alternativa C está incorreta, visto que contraria o art.
1.358-E, §2º: “Todos os multiproprietários terão direito
a uma mesma quantidade mínima de dias seguidos
durante o ano, podendo haver a aquisição de frações
maiores que a mínima, com o correspondente direito ao
uso por períodos também maiores.”
A alternativa D está correta, pois é o previsto no art.
1.358-H, parágrafo único: “Em caso de instituição da
multipropriedade para posterior venda das frações de
tempo a terceiros, o atendimento a eventual limite de
frações de tempo por titular estabelecido no
instrumento de instituição será obrigatório somente
após a venda das frações.”
A alternativa E está incorreta, segundo art. 1.358-H: “O
instrumento de instituição da multipropriedade ou a
convenção de condomínio em multipropriedade poderá
estabelecer o limite máximo de frações de tempo no
mesmo imóvel que poderão ser detidas pela mesma
pessoa natural ou jurídica.”
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Professor Rodrigo Vaslin
Questão 21
Recebendo uma petição inicial, cujo objeto é uma
questão exclusivamente de direito, no qual o tema já
está pacificado nos tribunais superiores no sentido
contrário ao pretendido pela parte autora, o juiz, não
obstante ser seu juízo incompetente para a causa,
julgou liminarmente improcedente o pedido.
Nesse cenário, o juiz agiu de forma:
a) correta, em razão do princípio da duração razoável
do processo e da primazia da decisão de mérito;
b) incorreta, uma vez que violou o princípio do juiz
natural;
c) correta, em respeito ao princípio do devido processo
legal;
d) incorreta, em violação ao princípio do contraditório;
e) incorreta, em desrespeito ao princípio da ampla
defesa.
Comentários
Gabarito: B
Letra b: correta. Como o juiz era incompetente, houve
violação expressa ao princípio do juiz natural: Art. 5º,
LIII, da CF/88: “LIII - ninguém será processado nem
sentenciado senão pela autoridade competente”.
Questão 22
Analise os itens a seguir:
I) O CPC, além de se preocupar com a garantia da
igualdade formal e material, também concretizou, em
alguns dispositivos, a vertente da igualdade como
reconhecimento.
II) Apesar de o CPC garantir às partes a obtenção, em
prazo razoável, da solução integral do mérito, esse
direito já existia no ordenamento jurídico brasileiro até
mesmo antes da Emenda Constitucional n.º 45/2004.
III) O art. 139, IV, CPC, passou a prever uma cláusula geral
executiva, poder que pode ser exercido de ofício ou a
requerimento, autorizando que o juiz(a) decrete a
suspensão da CNH, apreensão do passaporte, dentre
outras medidas, desde que respeitados os requisitos:
subsidiariedade; contraditório e fundamentação
escorreita, embasada na proporcionalidade.
IV) Na ausência de auxiliares da justiça, o juiz poderá
realizar a audiência inaugural do art. 334 do CPC,
especialmente se a hipótese for de conciliação.
Estão corretos os itens:
a) I, apenas
b) I e IV
c) II e III
d) I, II, III, IV
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
e) I e II
Comentários
Gabarito: D
Item I: correto. Como se sabe, um dos deveres do juiz é
assegurar às partes igualdade de tratamento (art. 139, I,
CPC). Além da igualdade formal e material, a igualdade
como reconhecimento também está presente no CPC.
Ex: previsão de intérprete para depoimentos das partes
e testemunhas com deficiência auditiva que se
comunique por meio da Libras (art. 162, III, CPC).
Item II: correto. A duração razoável do processo é
prevista no artigo 5º, LXXVIII, CRFB (incluído pela EC
45/04) e art. 4º, NCPC. E, antes de 2004, já era prevista
no artigo 8.1 CADH (Pacto de San Jose da Costa Rica),
pacto que no Brasil vigora desde 1992, com status
supralegal. Mesmo antes de 1992, porém, os autores
afirmam que esse princípio era corolário do devido
processo legal (art. 5º, LV, CRFB). Portanto, a duração
razoável do processo sempre teve de ser respeitada.
Item III: correto. O art. 139, IV, tem sido chamado de
cláusula geral executiva, cláusula que confere poderes
para o juiz efetivar todas as suas decisões. Esse poder
geral de efetivação permite a aplicação de medidas
típicas, previstas em lei, ou mesmo medidas atípicas.
Ainda, Enunciado 396, FPPC: As medidas do inciso IV do
art. 139 podem ser determinadas de ofício, observado o
art. 8º. Por fim, enunciado 12 do FPPC sobre os requisitos
e decisões do STJ.
Item IV: correto. Enunciado 23, CJF – Na ausência de
auxiliares da justiça, o juiz poderá realizar a audiência
inaugural do art. 334 do CPC, especialmente se a
hipótese for de conciliação.
Questão 23
Em 1943, o barco pesqueiro Changri-lá e sua tripulação
de dez pescadores desapareceram nas proximidades de
Cabo Frio, Rio de Janeiro. Após apuração, descobriu-se
que a embarcação havia sido afundada por um
submarino alemão. Parentes das vítimas buscaram no
Judiciário brasileiro reparação por danos morais e
materiais. Qual a solução para o caso:
a) Tendo em vista ter sido praticado um ato de império,
há imunidade de jurisdição da Alemanha.
b) Não há imunidade de jurisdição, mas as pretensões
estão prescritas.
c) Tendo em vista ter sido praticado um ato de gestão,
não há imunidade de jurisdição da Alemanha e as
pretensões não estão prescritas.
d) os atos ilícitos praticados por Estados estrangeiros em
violação a direitos humanos não gozam de imunidade de
jurisdição e as pretensões são imprescritíveis.
e) nenhuma das anteriores.
Comentários
Gabarito: D
Letra a: errada. Vide letra D.
Letra b: errada. Vide letra D.
Letra c: errada. Não foi ato de gestão, mas sim de
império.
Letra d: correto. o STF (ARE 954.858, d.j. 30/08/2021),
em repercussão geral (Tema 944), entendeu que os atos
ilícitos praticados por Estados estrangeiros em violação
a direitos humanos não gozam de imunidade de
jurisdição. Ainda, STJ, aplicando o entendimento do STF
para os casos de tortura no período militar, reconheceu,
no caso desse navio de pesca (Changri-lá), a
imprescritibilidade, inclusive para os sucessores, da
pretensão de reparação de grave ofensa à dignidade da
pessoa humana causada em virtude de conduta -
omissiva ou comissiva - praticada a mando ou no
interesse de detentores de poder estatal (STJ, 4ª T, RO
76-RJ, Rel. Min. Salomão, d.j. 07/06/22).
Letra e: errada, pois a letra D está correta.
Questão 24
Sobre a ação, assinale a alternativa correta, de acordo
com o Código de Processo Civil:
a) A restrição para se pleitear direito alheio em nome
próprio é absoluta e não possui exceções.
b) É cabível ação declaratória do modo de ser da
relação jurídica.
c) A ação declaratória de autenticidade de documento
não é admitida pelo ordenamento jurídico.
d) Se houver afirmação de violação de um direito, não
se admite a ação meramente declaratória.
e) Doutrina majoritária entende que as condições da
ação foram extintas pelo CPC/15.
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
Comentários
Gabarito: B
Letra a: errada. Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito
alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo
ordenamento jurídico
Letra b: correta. Art. 19. O interesse do autor pode
limitar-se à declaração: I - da existência, da inexistência
ou do modo de ser de uma relação jurídica;
Letra c: errada. Art. 19. O interesse do autor pode
limitar-se à declaração: II - da autenticidade ou da
falsidade de documento.
Letra d: errada. Art. 20. É admissível a ação meramente
declaratória, ainda que tenha ocorrido a violação do
direito.
Letra e: errada. Doutrina majoritária entende que as
condições da ação permanecem no CPC/15.
Questão 25
A capacidade processual
I) é causa de nulidade insanável, não podendo o juiz
assinar prazo para a sua regularização.
II) é a aptidão profissional para atuar em juízo, realizando
pleitos.
III) não é pressuposto de validade do processo.
IV) em regra, é inerente a toda pessoa maior e capaz,
com plena capacidade de exercício dos atos da vida civil.
Esta(ão) correto(s):
a) Item I e III
b) todos os itens
c) Item III
d) Item IV
e) Itens I, II e IV
Comentários
Gabarito: D
Item I: errado. Art. 76. Verificada a incapacidade
processual ou a irregularidade da representação da
parte, o juiz suspenderá o processo e designará prazo
razoável para que seja sanado o vício.
Item II: errado. A aptidão para atuar profissionalmente
em juízo diz respeito à capacidade postulatória e não à
capacidade processual.
Item III: errado. Trata-se sim de requisito (ou
“pressuposto”) de validade do processo.
Item IV: correto. Quem tem, no Direito Civil, capacidade
de fato ou de exercício, tem capacidade processual. Esta
é a regra. Uma pessoa maior e capaz tem capacidade de
exercício do Direito Civil e, portanto, detém capacidade
processual.
Questão 26
Em matéria de competência, marque a alternativa
correta:
a) Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos,
o Procurador-Geral da República, com a finalidade de
assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de
tratados internacionais de direitos humanos dos quais o
Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior
Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou
processo, incidente de deslocamento de competência
para a Justiça Federal.
b) A competência relativa pode ser suscitada até a
contestação e reconhecida de ofício pelo magistrado.
c) A Justiça Estadual tem competência para o julgamento
de demanda em que se discuta a existência de obstáculo
à obtenção de diploma após conclusão de curso de
ensino à distância em razão de problema no
credenciamento da instituição de ensino superior pelo
Ministério da Educação.
d) O juízo federal restituirá os autos ao juízo estadual,
depois de suscitar conflito de competência, se o ente
federal cuja presença ensejou a remessa for excluído do
processo.
e) O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o
competente para o inventário, a partilha, a arrecadação,
o cumprimento de disposições de última vontade, a
impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para
todas as ações em que o espólio for réu, exceto se o óbito
ocorrer no estrangeiro.
Comentários
Gabarito: A
Letra a: correta. CRFB, Art. 109, §5º Nas hipóteses de
grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral
da República, com a finalidade de assegurar o
cumprimento de obrigações decorrentes de tratados
internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal
de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo,
incidente de deslocamento de competência para a
Justiça Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº
45, de 2004)
Letra b: errada. Pode ser suscitada até a contestação,
mas não reconhecida de ofício (súmula 33 do STJ).
Letra c: errada. A Justiça Federal tem competência para
o julgamento de demanda em que se discuta a existência
de obstáculo à obtenção de diploma após conclusão de
curso de ensino à distância em razão de problema no
credenciamento da instituição de ensino superior pelo
Ministério da Educação. Vale ressaltar que, neste caso, a
demanda foi proposta contra a instituição e a União. STF.
2ª Turma. ARE 754174 AgR/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 2/9/2014 (Info 757).
Letra d: errada. CPC, Art. 45, § 3º O juízo federal
restituirá os autos ao juízo estadual sem suscitar conflito
se o ente federal cuja presença ensejou a remessa for
excluído do processo.
Letra e: errada. Art. 48. O foro de domicílio do autor da
herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a
partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições
de última vontade, a impugnação ou anulação de
partilha extrajudicial e para todas as ações em que o
espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no
estrangeiro.
DIREITO EMPRESARIAL
Professor Alessandro Sanchez
Questão 27
Em se tratando de desconsideração da personalidade
jurídica, a teoria adotada pelo Código Civil brasileiro é a:
a) teoria menor, na sua vertente objetiva.
b) teoria maior, na sua vertente subjetiva.
c) teoria menor, nas suas vertentes objetiva e subjetiva.
d) teoria maior, nas suas vertentes objetiva e subjetiva.
e) teoria menor, na sua vertente subjetiva
Comentários
Gabarito: D
A alternativa correta é a letra D, estabelecida no art. 50
do Código Civil. A teoria maior subdivide-se em subjetiva
e objetiva. Pela vertente subjetiva, a desconsideração
requer a fraude, enquanto, pela vertente objetiva, basta
que se demonstre a confusão patrimonial. Assim, na
teoria maior, o sócio responde quando preenchido dois
pressupostos: a) os bens da pessoa jurídica sejam
insuficientes para o pagamento da dívida, b) haja
comprovação de fraude ou abuso de direito,
caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão
patrimonial, CC/02.
Nesse sentido, a teoria maior subjetiva caracterizada
pela fraude , que se percebe no desvio de finalidade, com
o propósito de lesar credores e para a prática de atos
ilícitos de qualquer natureza, e a teoria maior objetiva,
caracteriza-se pela confusão patrimonial, que ocorre
pela ausência de separação de fato entre os patrimônios
definidos quando há i) cumprimento repetitivo pela
sociedade de obrigações do sócio ou do administrador
ou vice-versa, ii) transferência de ativos ou de passivos
sem efetivas contraprestações, exceto de valor
proporcionalmente insignificante e iii) outros ativos de
descumprimento da autonomia patrimonial.
Questão 28
Isabelle e Karla constituem uma sociedade com a
intenção de prestar os seus serviços intelectuais em
festas infantis, já que possuem formação intelectual em
teatro, entre mais. A sociedade leva o nome de KARLISA
ENTRETENIMENTO S/S. Ressalte-se que a sociedade fora
constituída para fins econômicos e exercício de atividade
profissional não organizada e teve a sua inscrição no
cartório de registro civil das pessoas jurídicas.
a) O órgão registral de opção para a inscrição está
adequado.
b) A inscrição haveria de ser realizada em um dos
cartórios de registro das juntas comerciais estaduais.
c) A inscrição haveria de ser feito em uma das juntas
estaduais vinculadas ao registro público de empresas
mercantis.
d) A inscrição haveria de ser feita um cartório de títulos
e documentos empresariais.
e) O registro é facultativo.
Comentários
Gabarito: A
A Alternativa “A” está correta, já que a sociedade não
possui o elemento “ORGANIZAÇÃO”. Desse modo, não
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
poderá ser considerada uma sociedade empresária e o
seu registro se dará no cartório de registro civil das
pessoas jurídicas. As demais estão incorretas, já que
apontam órgãos não condizentes com a atividade
desenvolvida por uma sociedade simples, conforme o
enquadramento presente no parágrafo único do artigo
966 do Código Civil e o artigo 998 do mesmo diploma.
Questão 29
Rogério e Michael uniram esforços para iniciar o
desenvolvimento de atividade empresarial através da
empresa CPC Acessórios, voltada para a venda de
acessórios para smartphones pela internet, mas voltados
apenas a revendedores.
O canal de vendas montado por ambos se tornou
nacionalmente conhecido, passando a vender seus
produtos para o Brasil inteiro e em quantidades
consideráveis.
Uma de suas maiores vendas foi para a empresa
Incomum acessórios Ltda, ao valor de R$ 200.000,00
(duzentos mil reais), com emissão de duplicata que não
foi adimplida na data de seu vencimento e, portanto,
devidamente protestada.
Diante do inadimplemento, a empresa CLLR acessórios
Ltda, teve pedido de falência ajuizado contra si.
Com base nas afirmações acima e considerando que a
empresa CPC Acessórios para Smartphones possui
contrato social ainda não levado a registro, responda. O
pedido de falências é possível
A) O pedido não é possível, já que é necessário a
comprovação da regularidade das atividades;
B) O pedido é possível, já que a falência é uma espécie
de sanção;
C) O pedido é possível, já que a legislação oferece a
hipótese para qualquer credor;
D) O pedido é possível, já que a empresa está em
formação;
E) O pedido é possível, desde que o pedido de inscrição
já tenha sido iniciado na junta comercial.
Comentários
Gabarito: A
Questão 30
Pamelisa constitui uma empresa na forma de
Microempreendedor individual já que pretende
desenvolver um negócio empresarial em que a receita
bruta anual é de 60.000,00 (sessenta mil reais) em
média. Em vista da escolha realizada, podemos afirmar:
a) Pamelisa poderá constituir o seu negócio em forma de
Sociedade Unipessoal Limitada.
b) Pamelisa poderá constituir a empresa em forma de
sociedade unipessoal limitada caso o valor da receita
fosse superior a 100 (cem salários-mínimos).
c) Pamelisa deve constituir a empresa na forma de
Empresário Individual.
d) Pamelisa poderá constituir a empresa, inclusive, na
forma de sociedade simples.
e) Não será possível constituir empresa.
Comentários
Gabarito: C
Pamelisa deverá constituir empresa na forma de
empresário individual, já que a figura do
microempreendedor individual exige tal modalidade,
tudo conforme a lei complementar 128/08 que a criou,
traçando alterações no estatuto das microempresas e
empresas de pequeno porte.
Questão 31
Assinale a alternativa correta.
(A) O conselho de administração é órgão obrigatório
apenas em companhias fechadas.
(B) Na sociedade por ações, a responsabilidade dos
acionistas será limitada ao valor de emissão das ações
subscritas, e responderão solidariamente pela
integralização do capital.
(C) Na sociedade limitada, a responsabilidade é
subsidiária para a integralização do capital.
(D) O voto não é direito essencial do acionista.
(E) O voto é direito essencial do acionista.
Comentários
Gabarito: D
A legislação não considera o voto direito essencial de
acordo com o art. 109, Lei 6404/76. Além disso, é critério
para a essencialidade que o direito seja comum a todos
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
os acionistas, o que não é o caso do voto, principalmente
levando em consideração as ações preferenciais sem
direito a voto garantido pelo legislador, dependendo
sempre de decisão estatutária.
Questão 32
Sobre a responsabilidade dos sócios assinale a
alternativa correta.
(A) Na sociedade em comandita simples a
responsabilidade dos sócios é ilimitada e solidária,
ressalvada a hipótese do sócio contratante.
(B) Na sociedade por ações, a responsabilidade dos
acionistas será limitada ao valor de emissão das ações
subscritas, e responderão solidariamente pela
integralização do capital.
(C) Na sociedade limitada, a responsabilidade é solidária
para a integralização do capital.
(D) Na sociedade em comum, a responsabilidade será
limitada, caso o contrato social esteja regular para com
as cláusulas essenciais.
(E) Nas sociedades cooperativas, a responsabilidade será
necessariamente limitada.
Comentários
Gabarito: C
Na sociedade limitada cada sócio é responsável apenas
por suas quotas, mas todos respondem solidariamente
pela integralização do capital, segundo o art. 1.052, CC.
DIREITO PENAL
Professora Michael Procópio
Questão 33
João é sócio-administrador de um pequeno
estabelecimento comercial, onde trabalha com a sua
esposa e apenas um funcionário. Em um dia em que
estavam apenas ele e o funcionário, aproveitando-se da
ausência da esposa, que é ciosa de suas obrigações
cívicas e sociais, ordenou que ele enviasse dados
incorretos à Receita Federal, de modo a incorrer em
sonegação fiscal.
Sobre a situação e a teoria do concurso de pessoas,
assinale a alternativa correta:
a) João atuou como mandante e, nos termos da teoria
subjetiva, atuou com animus socii, devendo ser
considerado partícipe.
b) Segundo prevalece na doutrina, a participação, no
Brasil, rege-se pelas regras da acessoriedade máxima,
exigindo a prática de fato típico, ilícito e culpável pelo
autor para que o partícipe possa ser punido.
c) Adotando-se a teoria do domínio do fato,
desenvolvida por Claus Roxin, João será considerado
partícipe do delito.
d) Para a teoria objetivo-formal, João deve ser
considerado autor, configurando-se a autoria mediata,
por ser mandante.
e) A responsabilidade penal do partícipe, no Brasil, é
autônoma, ocorrendo independentemente de o fato
principal atingir a fase da execução.
Comentários
Gabarito: alternativa C.
A alternativa A está incorreta. João atuou como
mandante e, para a teoria subjetiva, deve-se considerar
que atuou com animus auctoris, já que quis o fato para
si, como seu, razão pela qual deve ser considerado autor.
A Alternativa B está incorreta. Prevalece ter sido adotada
a acessoriedade limitada, de modo que basta a prática
de injusto penal, ou seja, de fato típico e ilícito, para que
o agente seja punido.
A alternativa C está correta. A teoria do domínio do fato
considera que, atuando de forma livre e consciente, sem
ter sua atuação direcionada por outrem, quem tem o
domínio da ação deve ser considerado o autor, o que, no
caso, corresponde à atuação do funcionário. O homem
de trás só se torna autor se houver domínio da vontade
por meio de coação, erro ou uso de aparatos organizados
de poder, o que não ocorreu no caso do enunciado.
A alternativa D está incorreta. João deve ser considerado
partícipe para a teoria objetivo-formal, já que não
realizou a conduta descrita no núcleo do tipo.
A alternativa E está incorreta. A responsabilidade do
partícipe, como acessória que é, exige que o fato
principal seja, ao menos, tentado, nos termos do artigo
31 do CP.
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
Questão 34
Rafael e Doni foram presos logo após saírem de um
supermercado com uma garrafa de espumante no valor
de R$ 500,00. O funcionário que cuida do
monitoramento por câmeras de vigilância percebeu a
movimentação, avisou à equipe que faz as rondas pelas
prateleiras, que conseguiu abordar a dupla a poucos
metros da saída do supermercado. Processados,
constatou-se que ambos são primários.
Analise como se deve realizar o enquadramento do caso,
assinalando a alternativa correta:
a) Deve ser reconhecida a atipicidade material,
considerando o valor da res furtiva.
b) Deve ser reconhecido o furto privilegiado, nos termos
do artigo 155, parágrafo segundo, do CP, além da
qualificadora do concurso de agentes.
c) Deve ser reconhecido o furto qualificado, em razão do
concurso de agentes, afastando-se o privilégio previsto
no artigo 155, parágrafo segundo, por
incompatibilidade.
d) Deve ser reconhecido o furto na modalidade tentada,
considerando não ter havido a efetiva inversão da posse,
conforme a teoria da amotio ou apprehensio.
e) Deve ser reconhecido o furto na modalidade simples,
mas consumado, considerando que o concurso de duas
pessoas é insuficiente para reconhecimento da
qualificadora.
Comentários
Gabarito: alternativa B.
A Alternativa A está incorreta, considerando que, em
primeiro lugar, o valor da coisa furtada ultrapassa o
parâmetro adotado pelo STJ para furto de bagatela, que
é de 10% do salário mínimo. Em segundo lugar, a
qualificadora, via de regra, afasta o reconhecimento da
insignificância.
A Alternativa B está correta. Conforme a Súmula 511 do
STJ, é possível o reconhecimento do privilégio na
hipótese de furto qualificado, desde que a qualificadora
seja de ordem objetiva. Incide a qualificadora prevista no
artigo 155, parágrafo quarto, inciso IV, do CP, no caso de
o crime ter sido praticado mediante concurso de duas ou
mais pessoas.
A Alternativa C está incorreta. O furto qualificado por
concurso de agente não é incompatível com o privilégio,
por ser de ordem objetiva a qualificadora. É o que ensina
a Súmula 511 do STJ. Ademais, o STJ tem considerado
como qualificadoras de ordem subjetiva apenas o furto
mediante fraude e o praticado com abuso de confiança.
A Alternativa D está incorreta. Com a saída da dupla do
estabelecimento comercial, o crime se consumou,
bastando a inversão da posse. Não se exige, nos termos
da jurisprudência dos Tribunais Superiores, que a posse
seja mansa ou pacífica.
A Alternativa E está incorreta. O artigo 155, parágrafo
quarto, inciso IV, do CP, prevê textualmente que o furto
será qualificado se praticado mediante o concurso de 2
ou mais pessoas.
Questão 35
Eustáquio é testemunha de Jeová e reside na zona rural
de uma pequena cidade no interior do Brasil. Seu filho
padece de uma enfermidade que exige transfusão de
sangue. Ao receber esse diagnóstico na cidade maior,
durante uma crise na saúde do seu filho, Eustáquio
retorna com a criança para a zona rural e começa uma
corrente de oração, sem levar o filho ao médico, em
virtude de sua crença de que a criança religiosa de que a
criança não deve receber sangue de outrem por ordem
expressa divina. Ainda que sofrendo com a situação, ele
não retorna ao hospital. Um vizinho narra a situação e o
Conselho Tutelar consegue encaminhar a criança ao
atendimento médico.
Feito o interrogatório, Eustáquio explica que ama muito
o seu filho, mas não poderia negar a sua fé para
obedecer a lei penal.
Diante do narrado, reflita sobre o caso e os institutos do
Direito Penal, assinalando a alternativa que é compatível
com a dogmática e com uma abordagem que respeite os
direitos fundamentais:
a) O caso coloca em paradoxo a relação entre direito
penal e direitos humanos, pois, ao mesmo tempo em que
se deve proteger a vítima, deve-se considerar as
circunstâncias em que o pai atuou. Deve-se, portanto,
considerar, no julgamento, se era ou não uma situação
de inexigibilidade de conduta diversa, ainda que não
prevista em lei, o que afastaria a culpabilidade.
b) Deve ser reconhecia a bagatela própria, ante a
desnecessidade da pena, considerando o salvamento da
criança.
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
c) O pai deve responder como garantidor, não havendo
discussão na doutrina que permita discutir sua ausência
de responsabilidade penal.
d) Do ponto de vista da teoria da imputação objetiva,
caso a perícia conclua que a transfusão provavelmente
não salvaria a criança, a teoria da evitabilidade preconiza
que o pai deve ser responsabilizado, por não ter ao
menos tentado evitar o resultado, já que era garantidor,
por dever legal.
e) Segundo a teoria da imputação objetiva, o princípio da
confiança de que o resultado não ocorreria, por crença
pessoal, deve afastar a faceta normativa do tipo penal,
ainda que o tipo objetivo e o tipo subjetivo estejam
presentes e aptos a ensejar a conclusão de existência de
crime.
Comentários
Gabarito: Alternativa A.
A Alternativa A está correta. A doutrina discute, como a
assertiva permite, se seria ou não possível reconhecer a
inexigibilidade de conduta diversa na conduta de quem
invoca a objeção de consciência. Cada caso deve ser
analisado com suas particularidades, mas ao menos
admitir essa possibilidade se compatibiliza com a
doutrina atual.
A Alternativa B está incorreta. A bagatela própria se
conecta à ideia de insignificância, ou seja, de ações que
não representam uma relevante lesão ou ameaça de
lesão a bem jurídico relevante. O caso narrado trata da
situação diversa, em que se pode discutir a bagatela
imprópria, e não a própria.
A Alternativa C está incorreta. Como visto acima, há
possibilidade de se discutir a existência ou não de
culpabilidade.
A Alternativa D está incorreta. A teoria da evitabilidade
preconiza que, se provavelmente a conduta alternativa
conforme o direito não teria evitado o resultado, não
deve o agente ser responsabilizado por ele.
A Alternativa E está incorreta. Essa conclusão não é
compatível com o princípio da confiança, que preconiza
que cada pessoa pode agir na legítima expectativa que
os demais também atuarão conforme a norma de
cuidado.
Questão 36
Rafaela criou uma carteira com ativos virtuais,
consistentes em NFTs (tokens não fungíveis) para
investimento de terceiros, alegando se tratar de tokens
de alto valor agregado, inclusive alguns reconhecidos
como obras de arte. Várias pessoas investiram em sua
carteira de criptoativos, mas acreditaram que se trata de
NFTs consolidados no mercado. Na verdade, cuidava-se
de NFTs criados por seu filho, adolescente, que forneceu
para sua mãe sem saber de suas intenções. Rafaela
lucrou, com sua influência nas redes sociais, cerca de um
milhão de reais e informou aos investidores que houve
um erro de cálculo e riscos altos do mercado digital.
Proposta ação penal e feita a instrução, os fatos foram
comprovados. Assinale a alternativa que traz o melhor
enquadramento típico do caso narrado:
a) Estelionato na modalidade de fraude eletrônica (art.
171, parágrafo 2º-A, do CP).
b) Pirâmide financeira, crime contra a economia popular
(Art. 2º, IX, da Lei n. 1521/1951).
c) Furto mediante fraude (art. 155, parágrafo 4º, inciso
II, do CP).
d) Fraude com ativos virtuais (art. 171-A do CP).
e) Extorsão indireta (art. 160 do CP).
Comentários
Gabarito: Alternativa D.
O caso narrado se amolda completamente ao novel tipo
penal, previsto no artigo 171-A, que criminaliza a fraude
com ativos virtuais. Antes do advento da Lei n.
14.478/2022, discutia-se sobre a configuração de crime
contra a economia popular, o que vinha prevalecendo, e
eventual aplicação da norma que criminaliza o
estelionato. Atualmente, há um tipo penal específico
para combater esse tipo de fraude.
Questão 37
Vladimir, morador de uma cidade do interior, tem seu
gado furtado. Nicolau, policial militar, chefiou uma
equipe para buscar o gado que havia sido subtraído e o
localizou nas redondezas. Vladimir, muito grato ofereceu
um carro novo a Nicolau como agradecimento pelos
excelentes serviços prestados à comunidade. Nicolau
aceitou o presente e levou o carro, utilizando-o para
levar seu filho para tratamento médico.
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
Considerando a intervenção mínima e a proteção da
moralidade pública, assinale a alternativa correta em
conformidade com a doutrina e a jurisprudência dos
Tribunais Superiores:
a) A conduta de ambos é atípica, considerando-se tratar
de uma gratificação e um uso posterior do veículo para
fins nobres.
b) Vladimir e Nicolau devem ser punidos por corrupção
ativa e passiva, respectivamente, por serem crimes
formais e não incidir o delito de bagatela.
c) Vladimir não tem sua conduta prevista em norma
penal incriminadora, por ausência de configuração
completa do tipo subjetivo. Nicolau, por sua vez,
cometeu o crime de corrupção passiva.
d) Nicolau não praticou crime, considerando a bagatela
imprópria. Vladimir, por sua vez, teve intento punido
pela lei, configurando-se a corrupção ativa, que não
exige elemento subjetivo especial do tipo.
e) Nicolau e Vladimir devem ser absolvidos por ausência
de potencial consciência da ilicitude.
Comentários
Gabarito: Alternativa B.
A Alternativa A está incorreta. A conduta do policial é
típica, pois, ainda que se considere as pequenas
gratificações admitidas por parte da doutrina, a
vantagem indevida recebida foi de alto valor. Ademais, a
Súmula 599 do STJ não admite a aplicação do princípio
da insignificância aos crimes cometidos contra a
Administração Pública.
A Alternativa B está incorreta. O particular somente
comete o crime de corrupção ativa se agir com o fim de
determinar o funcionário público a praticar, omitir ou
retardar ato de ofício, o que não ocorreu no caso.
A Alternativa C está correta. De fato, o particular não
cometeu delito, por ausência do elemento subjetivo
especial exigido no tipo penal. Por outro lado, o
funcionário público responde por corrupção ativa, crime
formal, que se configura com o recebimento da
vantagem ou da promessa de vantagem.
A Alternativa D está incorreta. A bagatela imprópria se
vincula à desnecessidade da pena, o que não está
presente no caso. De todo modo, o particular somente
comete o crime de corrupção ativa se agir com o fim de
determinar o funcionário público a praticar, omitir ou
retardar ato de ofício, o que não ocorreu no caso. Assim,
não houve crime por parte de Vladmitir.
A Alternativa E está incorreta. Não há indícios de erro de
proibição na conduta de ambos.
Questão 38
André foi preso ao subtrair uma peça de costela de um
restaurante com valores mais altos, que estava na
bandeja do garçom. O prato subtraído custava cerca de
R$ 300,00. Ele saiu mastigando a costela e foi preso a
duas quadras do local. Em seu interrogatório judicial,
disse que estava com muita fome quando fez isso e está
em situação de rua. O Ministério Público comprovou que
ele havia feito isso outras duas vezes nos meses
anteriores.
Assinale a alternativa correta, nos termos do
entendimento dos Tribunais Superiores, sobre a conduta
a ser seguida pelo juiz:
a) Deve condenar André, pois a habitualidade afasta o
reconhecimento da insignificância.
b) Deve absolver André, em decorrência do
reconhecimento do estado de necessidade, causa
excludente de ilicitude.
c) Deve reconhecer a inexigibilidade de conduta diversa.
d) Deve analisar o valor do alimento furtado para negar
o reconhecimento do furto famélico.
e) Deve entender que a teoria da imputação objetiva não
quebra o nexo causal, em razão da autocolocação em
perigo.
Comentários
Gabarito: Alternativa B.
A Alternativa A está incorreta. Ainda que a habitualidade
possa afastar o reconhecimento da bagatela, deve-se
reconhecer o estado de necessidade, e não condenar.
A Alternativa B está correta. O furto famélico, como o
descrito no enunciado, configura a causa excludente de
ilicitude do estado de necessidade.
A Alternativa C está incorreta. Se ausente a ilicitude, nem
sequer deve ser analisada a culpabilidade.
A Alternativa D está incorreta. O valor do alimento
furtado não deve ser óbice se era o alimento à vista e
capaz de aplacar a fome do indivíduo.
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
A Alternativa E está incorreta. A teoria da imputação
objetiva exige risco proibido que se concretize no
resultado para sua imputação ao agente. No caso
concreto, não há situação que afaste a imputação
objetiva do resultado, muito menos de autocolocação
em perigo.
DIREITOS HUMANOS
Professor Ricardo Torques
Questão 39
Diante de uma situação de grave violação de direitos
humanos que vinha sendo há anos apurada em sede de
inquérito policial, o Procurador-Geral da República,
visando assegurar o cumprimento de obrigações
decorrentes de tratados internacionais de direitos
humanos do qual o Brasil faz parte, suscitou, perante o
Superior Tribunal de Justiça, incidente de deslocamento
de competência para a Justiça Federal. Sobre o tema,
assinale a alternativa correta:
a) Segundo entendimento do Superior Tribunal de
Justiça, para o referido deslocamento da competência
basta a comprovação da incapacidade das instâncias e
autoridades locais em oferecer respostas efetivas.
b) Houve equívoco do Procurador-Geral da República,
uma vez que a competência para o julgamento do
incidente é do Supremo Tribunal Federal.
c) Para o deslocamento da competência exige-se que a
suscitação ocorra no âmbito de processo penal, não
sendo possível na fase de inquérito policial.
d) Embora o incidente de deslocamento de competência
não possa ter o caráter de prima ratio e seja deferido
somente em situações excepcionalíssimas, a ideia da
excepcionalidade não pode ser de grandeza tal a ponto
de criar requisitos por demais estritos que acabem por
inviabilizar a própria utilização do instituto.
e) Para além do Procurador-Geral da República, o
incidente poderia também ser suscitado pelo Presidente
da República, tendo em vista a sua natureza
eminentemente política.
Comentários
Gabarito: D
A alternativa A está incorreta. O entendimento do STJ
acerca do tema traz TRÊS pressupostos para o
deslocamento, tal qual decidido no âmbito do IDC2.
STJ: 1. A teor do § 5.º do art. 109 da Constituição Federal,
introduzido pela Emenda Constitucional n.º 45/2004, o
incidente de deslocamento de competência para a
Justiça Federal fundamenta-se, essencialmente, em três
pressupostos: a existência de grave violação a direitos
humanos; o risco de responsabilização internacional
decorrente do descumprimento de obrigações jurídicas
assumidas em tratados internacionais; e a incapacidade
das instâncias e autoridades locais em oferecer respostas
efetivas. (IDC n. 2/DF, relatora Ministra Laurita Vaz,
Terceira Seção, julgado em 27/10/2010, DJe de
22/11/2010.)
A alternativa B está incorreta. A competência, de fato, é
do Superior Tribunal de Justiça (STJ), de modo que não
houve equívoco quanto ao ponto.
Constituição Federal. Art. 109. § 5º Nas hipóteses de
grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral
da República, com a finalidade de assegurar o
cumprimento de obrigações decorrentes de tratados
internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil
seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal
de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo,
incidente de deslocamento de competência para a
Justiça Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 45, de 2004).
A alternativa C está incorreta. Consoante §5º do artigo
109 supracitado, admite-se a suscitação em qualquer
fase do inquérito ou processo.
A alternativa D está correta. Trata-se do que restou
decidido pelo STJ no IDC 5.
STJ: (...) 6. O incidente de deslocamento de competência
não pode ter o caráter de prima ratio, de primeira
providência a ser tomada em relação a um fato (por mais
grave que seja). Deve ser utilizado em situações
excepcionalíssimas, em que efetivamente demonstrada
a sua necessidade e a sua imprescindibilidade, ante
provas que revelem descaso, desinteresse, ausência de
vontade política, falta de condições pessoais e/ou
materiais das instituições - ou de uma ou outra delas -
responsáveis por investigar, processar e punir os
responsáveis pela grave violação a direito humano, em
levar a cabo a responsabilização dos envolvidos na
conduta criminosa, até para não se esvaziar a
competência da Justiça Estadual e inviabilizar o
funcionamento da Justiça Federal. 7. A ideia de
excepcionalidade do incidente não pode, contudo, ser de
de grandeza tal a ponto de criar requisitos por demais
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
estritos que acabem por inviabilizar a própria utilização
do instituto de deslocamento.
A alternativa E está incorreta. Não há que se falar em
natureza eminentemente política e, para além disso, a
legitimidade para suscitar o incidente é somente do PGR,
e não do Presidente da República.
Constituição Federal. Art. 109. § 5º Nas hipóteses de
grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral
da República, com a finalidade de assegurar o
cumprimento de obrigações decorrentes de tratados
internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil
seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal
de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo,
incidente de deslocamento de competência para a
Justiça Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº
45, de 2004).
Questão 40
Maria ajuizou ação de indenização por danos morais em
desfavor de Carlos, seu ex-cônjuge, em virtude da
divulgação de vídeo íntimo em redes sociais. Na
sentença, o juízo condenou Carlos ao pagamento da
indenização pleiteada na quantia de R$ 30.000,00 (trinta
mil reais). Em sua fundamentação, assim constou:
"Existem um conjunto de normas vinculantes anterior e
superior ao sistema de normas fixadas pelo Estado.
Dessa maneira, ainda que não existisse norma posta
acerca do tema, o caso é grave e a condenação seria
ainda assim a medida a ser imposta, uma vez que a
divulgação das cenas privadas - independentemente de
qualquer prova expressa de sofrimento - resultam em
danos psicológicos e ofensa aos direitos humanos que
não poderiam passar desapercebidos pelo poder
judiciário”. Assinale a alternativa que remonta à teoria
fundamentadora dos direitos humanos que corresponde
ao entendimento do magistrado:
a) Fundamento jusnaturalista.
b) Fundamento positivista.
c) Fundamento utilitarista.
d) Fundamento racional.
e) Fundamento psicológico.
Comentários
Gabarito: A
Em relação aos fundamentos dos direitos humanos,
podemos destacar quatro correntes principais:
Fundamento Jusnaturalista: Normas anteriores ou
divinas e superiores ao direito estatal posto, decorrente
de um conjunto de ideias, fruto da razão humana.
Fundamento Positivista: Normas extraíveis da razão
inerentes à condição humana
Fundamento Racional: São Direitos Humanos os valores
e os juízos condizentes com a dignidade positivados no
ordenamento.
Fundamento Moral: Os direitos humanos podem ser
considerados direitos morais que não aferem sua
validade por normas positivadas, mas diretamente de
valores morais da coletividade humana.
Assim, correta a alternativa A, vez que expressamente
mencionou a existência de um conjunto de normas
vinculantes anterior e superior ao sistema de normas
fixadas pelo Estado.
Questão 41
Lei de iniciativa popular veio a regular tema afeto aos
direitos humanos, visando a ampliação do acesso à
cargos públicos pela população quilombola. A
possibilidade de leis de iniciativa popular deriva,
segundo a Teoria de Jellinek, do status
a) subjectionis.
b) Libertatis.
c) Civitatis.
d) Activus.
e) subjectionis sui generis.
Comentários
Gabarito: D
A teoria de Jellinek relaciona o homem e o Estado. Para
ele os direitos humanos dependem, para sua efetividade
e concretização, de positivação em normas estatais que
criem mecanismos de garantia, ou seja, sua teoria afasta
o jusnaturalismo. A partir dessa relação é possível
alcançar quatro resultados: sujeição, defesa,
prestacional e participativo.
Em síntese, assim podemos conceituar os resultados:
status subjectionis relação na qual a pessoa encontra-se
em estado de sujeição em relação ao Estado.
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
status libertatis relação na qual o indivíduo detém tão
somente a prerrogativa de exigir uma abstenção do
Estado
status civitatis relação na qual o indivíduo tem a
possibilidade de exigir prestações do Estado
status activus relação na qual o indivíduo poderá
participar na formação da vontade do Estado.
A participação na formação da vontade do estado (lei de
iniciativa popular) deriva, de fato do status activus,
motivo pelo qual a alternativa D está correta.
Questão 42
Em determinado processo judicial abarcando a justiça de
transição, com pleito de indenização por atos praticados
durante a ditadura, levantou-se a tese de
inconstitucionalidade da Lei de Anistia brasileira (Lei n.º
6.683/1979), utilizada como fundamento da
contestação. O juízo, a se deparar com o tema, deve
levar em consideração que:
a) O Supremo Tribunal Federal declarou a
inconstitucionalidade da Lei de Anistia brasileira.
b) Tanto o Supremo Tribunal Federal quanto a Corte
Interamericana de Direitos Humanos, possuem
entendimento pela inconstitucionalidade da referida lei.
c) Tanto o Supremo Tribunal Federal quanto a Corte
Interamericana de Direitos Humanos, possuem
entendimento pela constitucionalidade da referida lei.
d) Diferentemente do Supremo Tribunal Federal, que
declarou a invalidade da referida lei, a Corte
Interamericana de Direitos Humanos afirma pela
viabilidade das denominadas leis de transição.
e) A Corte Interamericana de Direitos Humanos decidiu,
no caso "Gomes Lund", que a lei de anistia brasileira não
teria validade jurídica.
Comentários
Gabarito: E
Antes de avançarmos ao tema, importante termos em
mente um entendimento doutrinário acerca da justiça
de transição:
A chamada “justiça de transição” (transitional justice) é
aquela situada no contexto da passagem de um regime
autoritário para um regime democrático, buscando
confrontar um passado de abusos e violência com um
futuro de esperança e respeito aos direitos humanos.
Trata-se do conjunto de mecanismos (judiciais e não
judiciais) destinados a enfrentar o legado de violência em
massa cometida no passado, para o fim de
responsabilizar os culpados e exigir a efetividade dos
direitos à verdade, à memória, à justiça, à reparação
devida e às reformas institucionais. (MAZZUOLI, Valerio
de O. Curso de Direitos Humanos. Grupo GEN, 2021. E-
book. ISBN 9786559642328. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978
6559642328/. Acesso em: 10 dez. 2023).
No âmbito da justiça de transição, surgem as
denominadas leis de autoanistia que, segundo o
supracitado autor:
Se, por um lado, tais leis têm como fundamento a
“reconciliação nacional”, pela qual se pretendeu
preservar a segurança interna nos momentos críticos de
transição para a democracia, impedindo,
consequentemente, o julgamento e a condenação
daqueles que cometeram crimes em nome da ditadura
militar, por outro, no entanto, nenhuma delas sobrevive
ao exame de compatibilidade (controle de
convencionalidade) com os tratados contemporâneos
sobre direitos humanos, em especial (no nosso entorno
geográfico) com a Convenção Americana sobre Direitos
Humanos de 1969.
O Brasil editou a Lei n.º 6.683/1979, denominada “Lei de
anistia Brasileira”.
Há conflitos entre o entendimento do Supremo Tribunal
Federal (STF) e a Corte Interamericana de Direitos
Humanos (Corte IDH).
O STF, no âmbito da da ADPF 153 declarou a validade da
referida lei de anistia perante a Constituição Federal.
A Corte IDH, por sua vez, no caso Gomes Lund entendeu
que a Lei de Anistia não tem efeitos jurídicos e não pode
continuar sendo utilizada como obstáculo para a
investigação dos fatos relativos ao combate à Guerrilha
do Araguaia.
Percebe-se, portanto, a discrepância entre o
entendimento do STF e o da Corte IDH, sendo que a
alternativa E deveria ser assinalada.
A alternativa A está incorreta. O STF entendeu pela
validade da lei.
As alternativas B, C e D estão incorretas. Enquanto o STF
entendeu pela validade, a Corte IDH entendeu pela
invalidade.
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
Questão 43
A Constituição Brasileira estabelece expressamente que
não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável
pelo inadimplemento voluntário e inescusável de
obrigação alimentícia e a do depositário infiel (art. 5º,
LXVII da CRFB/88). Com base nesse dispositivo, o Juízo da
Vara X da comarca Y determinou a prisão de Cleiton, sob
o argumento de que ele teria ficado responsável pelo
depósito de determinado bem, e teria agido como
depositário infiel. A respeito do caso concreto, é correto
afirmar que:
a) A prisão foi válida, pois fundamentada em artigo da
Constituição Federal.
b) Agiu de forma incorreta o juiz, vez que, na visão do
Supremo Tribunal Federal, a prisão do depositário infiel
é inválida, qualquer que seja a modalidade do depósito,
ante o caráter supralegal da Convenção Americana sobre
Direitos Humanos.
c) Agiu de forma incorreta o juiz, vez que o Supremo
Tribunal Federal, com base no princípio da dignidade da
pessoa humana, reputou a referida norma originária
como inconstitucional.
d) Agiu de forma incorreta o juiz, vez que, na visão do
Supremo Tribunal Federal, a prisão do depositário infiel
é inválida, qualquer que seja a modalidade do depósito,
ante o caráter de emenda constitucional da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos.
e) Agiu de forma correta o juiz, vez que, na visão do
Supremo Tribunal Federal não se admite contrariedade
às normas originárias da Constituição Federal.
Comentários
Gabarito: B
A questão versou sobre os status dos tratados
internacionais de direitos humanos no âmbito do
ordenamento jurídico brasileiro.
A Constituição Federal, de fato, estabelece o que fora
citado no enunciado: prisão por inadimplemento
voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e do
depositário infiel. A norma, no entanto, seria de eficácia
limitada, dependendo de regulamentação legal.
A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (ou
Pacto de San José da Costa Rica), por sua vez, prescreve
a impossibilidade de prisão civil do depositário infiel.
Por se tratar de um documento internalizado com
quórum de norma infraconstitucional, o STF, seguindo
seu entendimento a respeito do assunto, afirmou que o
Pacto de San José da Costa Rica possui natureza de
norma supralegal.
Em decorrência disso, não é possível que lei ordinária
preveja, ou melhor, regulamente o dispositivo constante
do art. 5º, LXVII, da Constituição Federal que permite a
prisão do depositário infiel.
Como o dispositivo depende de lei infraconstitucional
para regulamentá-lo, mas o Pacto de San José da Costa
Rica veda tal regulamentação, torna-se impossível
juridicamente a instituição da prisão civil do depositário
infiel no âmbito do direito interno brasileiro.
Tanto é assim que se editou a Súmula Vinculante nº 25.
Súmula Vinculante nº 25. É ilícita a prisão civil de
depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do
depósito.
Assim, correta a alternativa B.
A alternativa A e E estão incorretas. Agiu de forma
incorreta o juiz, contrariando a súmula vinculante do
STF.
A alternativa C está incorreta. De fato, o juízo agiu
incorretamente. Apesar disso, não houve declaração de
inconstitucionalidade do artigo, mas tão somente
reconheceu-se a natureza supralegal da Convenção,
resultando na impossibilidade de regulamentação legal.
A alternativa D está incorreta. A referida convenção, no
âmbito do ordenamento jurídico brasileiro, possui status
supralegal.
Questão 44
Para além de magistrada, a Dra. Carla, juíza titular da
comarca X, é professora de direitos humanos na
universidade ali sediada. Em determinada aula, após
debates sobre as regras constitucionais acerca da
matéria, os alunos chegaram a algumas conclusões.
Dentre as conclusões abaixo, assinale aquela que esteja
incorreta:
a) O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal
Internacional a cuja criação manifestou adesão
b) A prevalência dos direitos humanos é um dos
princípios regentes da República Federativa do Brasil e
suas relações internacionais.
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
c) Os direitos e garantias expressos na constituição, em
virtude da superioridade hierárquica, não incluem os
tratados internacionais de direitos humanos, exceto se
aprovados pelo rito definido pela Emenda Constitucional
45/2004.
d) Os tratados e convenções internacionais sobre
direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa
do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos
dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes
às emendas constitucionais.
e) A dignidade da pessoa humana é fundamento da
República Federativa do Brasil.
Comentários
Gabarito: C
Fiquem atentos! A questão pedia a INCORRETA.
A alternativa A está correta. Trata-se do disposto na
Constituição Federal (CF)
CF. Art. 5º. (...) § 4º O Brasil se submete à jurisdição de
Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha
manifestado adesão. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
A alternativa B está correta. Trata-se do disposto na
Constituição Federal (CF)
CF. Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas
suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
II - prevalência dos direitos humanos.
A alternativa C está incorreta. Não haverá exclusão de
outros direitos.
CF. Art. 5º. (...) § 2º Os direitos e garantias expressos
nesta Constituição não excluem outros decorrentes do
regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil
seja parte.
A alternativa D está correta. Trata-se do disposto na
Constituição Federal (CF)
CF. Art. 5º. (...) § 3º Os tratados e convenções
internacionais sobre direitos humanos que forem
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em
dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais.
A alternativa E está correta. Trata-se do disposto na
Constituição Federal (CF)
CF. Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e
tem como fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana;
FORMAÇÃO HUMANÍSTICA
Professor Jean Vilbert
Questão 45
Em uma audiência, a testemunha demonstrou
nervosismo, gaguejou, e pareceu desviar das perguntas.
Assinale a alternativa que NÃO apresenta uma
justificativa para tal comportamento, segundo a
psicologia judiciária.
a) interesse na solução da causa.
b) medo de dizer algo errado.
c) afeto por uma das partes.
d) vaidade pessoal.
e) nível cultural e educacional.
Comentários
Comentário Longo
É sabido que obter a absoluta verdade de quem fala em
juízo não é fácil. Há momentos em que a verdade parece
ser inatingível. De toda forma, deixando de lado o
pessimismo niilista e relativista, a habilidade dos atores
processuais (sensibilidade + conhecimento) acaba sendo
decisiva para seja extraído (ao menos) o máximo de
verdade possível.
A ideia é relegar a mentira (dissociação consciente do
relato em relação à realidade conhecida) ou a inverdade
(contraste involuntário entre a narrativa e a realidade
vivida) à condição de exceção, tornando a prova oral
robusta, reveladora dos fatos, o que permite, sem sobra
de dúvidas, um julgamento mais justo, com a correta
aplicação do direito, dando a cada um o que é seu.
Tudo isso é assunto para a Psicologia do Testemunho,
que foi a área responsável por introduzir a Psicologia no
campo jurídico.
a) o interesse na solução da causa em favor de uma das
partes pode sim explicar o comportamento errático da
testemunha, por exemplo temerosa em prejudicar
aquele a quem pretende ajudar.
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
b) medo de dizer algo errado se alia ao discutido na
alternativa A. Especialmente testemunhas mais
humildes (vide assertiva E) podem se deparar com
comportamento retraído em audiência.
c) mais um complemento das assertivas A e B,
qualificando a razão de uma testemunha empacar por
medo de dizer algo fora da faixa.
d) A vaidade sem dúvida pode explicar o porquê de uma
testemunha mentir em juízo, mas a descrição do
comportamento não é o que prevê a psicologia
judiciária! Testemunhas vaidosas são caracterizadas por
fala solta e elevado senso de si mesmo. Ou seja, longe de
se retrair, o vaidoso se exibe, ou ao menos tenta se
mostrar superior. Como o perfil não encaixa a descrição,
essa era a OPÇÃO PARA SER MARCADA!
e) pessoas que não tem ligação com a área jurídica,
especialmente sem níveis avançados de estudo podem
demonstrar nervosismo a se verem nas engrenagens da
justiça, mesmo como testemunhas. A sala de audiência
pode ser ambiente pouco acolhedor...
Comentário curto
Das opções A,B,C, e E são complementos. O perfil que
destoa é o de vaidade, que em geral indica
comportamento bastante diverso do descrito.
Gabarito: D
Questão 46
Em processo penal, a defesa apresentou a tese de que o
réu era inimputável diante de transtorno mental que
temporariamente lhe retirou a capacidade de
compreender o caráter ilícito do ato ou se determinar
conforme aquele entendimento. O réu teria atuado em
um rompante de raiva, durante uma crise qualificada
como Amok.
Com relação à tese da defesa, avaliada à luz das
psicopatologias jurídicas:
a) A Amok é espécie de psicopatia, devendo levar ao
reconhecimento da inimputabilidade.
b) Como a Amok não é descrita como doença pela
Organização Mundial da Saúde, não pode gerar efeitos
no plano jurídico.
c) Dentro das psicopatologias, a Amok pode ser mesmo
considerada uma síndrome de escapada.
d) Do ponto de vista psicológico, o sujeito Amok age de
maneira motivada, com intenção de se desgarrar do
mundo e como tal deve ser visto pelo sistema de justiça.
e) O fato de a maioria dos ataques de Amok ocorrer em
escolas, igrejas, universidades é explicado pelo fato de
esses locais serem desprovidos de sentido para o
atacante.
Comentários
Comentário Longo
Amok (meng-âmok) é uma palavra de origem malaia que
significa engajar-se furiosamente em uma batalha –
atacar e matar com ira cega. O termo hoje descreve uma
síndrome em que a pessoa explode em uma raiva
selvagem, que a leva a atacar de maneira descontrolada,
matando quem quer que apareça na sua frente,
indiscriminadamente, e, ao final, ser abatido (o que era
esperado) ou tirar a própria vida (caminho sem volta).
a) e b) A Amok NÃO é espécie de psicopatia. E mesmo
que fosse isso não necessariamente levaria ao
reconhecimento de inimputabilidade — senão todos
esses ataques em massa ficariam sem resposta penal. A
Organização Mundial da Saúde (OMS) categorizou a
síndrome, identificando-a como um episódio aleatório,
aparentemente sem motivo, de um comportamento
homicida, destrutivo dos outros (seguido de amnésia ou
exaustão) e de si próprio, podendo levar ao suicídio.
c) EXATO! Além dos lamentáveis casos dos ataques em
massa nas escolas, igrejas, universidades, o filme “Um
dia de fúria” (1993), com Michael Douglas, pode ser um
bom exemplo de Amok. William Foster acabou de se
divorciar e sua ex-mulher conseguiu uma ordem de
restrição (medida protetiva) para mantê-lo longe de sua
filha. De quebra, ele foi demitido do emprego. Preso no
tráfego ele simplesmente resolve sair do carro e
caminhar... E as aí tudo sai do controle!
d) Ao contrário: Do ponto de vista psicológico, o sujeito
Amok age de maneira imotivada. Subjetivamente,
porém, sua motivação é uma solidão peculiar: de quem
não acha lugar no mundo (falta de pertencimento). A
solidão se torna defesa e a violência, em algum
momento, o ataque (maneira de reagir à exclusão) –
destruir para ser INCLUÍDO.
e) O fato de a maioria dos ataques de Amok ocorrer em
escolas, igrejas, universidades... não é mera
coincidência. Esses espaços de ensino são locais
privilegiados de relação com os outros, justamente onde
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
está a maior falha do Amok. A escola também é
ATRIBUTIVA de sentidos (onde o conhecimento é
transmitido). Quando há alguma falha nessas relações e
a violência é a resposta, já se pode esperar onde ela se
concentrará. Há, portanto, uma representação simbólica
na localização dos ataques.
Comentário curto
A Amok costuma ser mesmo considerada uma síndrome
de “escapada” (escape de impulsos agressivos e
violentos), em que ocorre a ruptura da bolha que
mantém o sujeito na linha (dentro da lei e das
convenções sociais). O agente explode com seu
comportamento violento, de maneira súbita e
imprevisível, passa pelo transe e finda na exaustão e
amnésia (se sobreviver).
Gabarito: C
Questão 47
Está em discussão no STF (ADPF nº 442) a permissão ao
aborto até a 12ª semana de gestação.
A Filosofia Jurídica oferece elementos teóricos para a
solução de casos práticos, como a discussão sobre o
aborto. Sob o prisma dos filósofos e jusfilósofos, a
questão do aborto pode ser considerada:
a) âmbito da imposição de vontades pelo poder,
conforme asseveram os sofistas.
b) coberta pelo consenso sobreposto, no conceito de
John Rawls.
c) aberta ao debate, que construíra a verdade social,
como propõe Sócrates.
d) matéria a ser fixada sob o prisma dos direitos
fundamentais, na visão utilitarista de Jeremy Bentham.
e) reflexo de um modelo ideal a ser capturado na vida
prática, dentro do modelo ideonômico proposto por
Aristóteles.
Comentários
Comentário Longo
A questão traz um passeio sobre a visão de diversos
autores para a solução de um caso prático. Vejamos:
a) Exatamente! Protágoras (490-420 a.C.), o mais famoso
e importante dos sofistas, propõe que a verdade
depende da perspectiva de quem a olha e, portanto, é
relativa. Sua frase mais famosa é “o homem é a medida
de todas as coisas”, o que significa que o homem (seus
pontos de vista e opiniões) é que dá a medida do valor
das coisas. Logo, não há certo ou errado, senão em
relação ao julgamento de uma pessoa ou sociedade.
Nesse sentido, “a justiça humana é apenas uma
vantagem para quem domina e uma desvantagem para
quem é dominado”. Os sofistas não acreditavam na
possibilidade de o homem, por meio da razão, chegar a
uma verdade universal (é impossível se alcançar a
verdade ontológica) – a “verdade” é construída no
discurso (convencimento e oratória).
b) Nem falar! Para John Rawls, CONSENSO SOBREPOSTO
é o campo das doutrinas abrangentes (aquelas que
englobam os vários níveis da existência humana e,
portanto, julgam-se aplicáveis a todos os aspectos da
vida social) que convivem na sociedade e se tornam o
ponto de convergência das diferenças existentes entre
elas. O aborto certamente NÃO é o campo consensual de
harmonização guiado pela reciprocidade e pelo
consenso sobreposto; ao contrário, é o campo do
embate, da alta divergência!
c) Pecou no detalhe! Para Sócrates, o certo e o errado
(ao contrário do que acreditavam os Sofistas) não são
conceitos relativos (socialmente ditados), mas
ABSOLUTOS (imutáveis e aplicáveis a qualquer lugar, em
qualquer tempo). Essa coisa (moda hoje em dia) de que
cada um tem sua opinião (a qual é uma verdade
individual, quase inquestionável) não colava com
Sócrates. Por exemplo: ou Deus existe ou não existe (não
pode, ontologicamente, existir para uns e não para
outros). Mesmo que não consigamos chegar à resposta
(por ser algo realmente difícil, ou mesmo impossível, de
responder), temos de colocá-la em debate e tentar
descobrir (revelar) onde está o erro e a razão. Para
chegar ao saber, Sócrates desenvolveu a maiêutica, série
de perguntas, assumindo-se a posição de quem nada
sabe (está entre uma de suas frases mais famosas: “só
sei que nada sei”, indicando sua postura de humildade
perante o conhecimento e também seu método de
extração da verdade) o que permite revelar as
contradições na argumentação do interlocutor.
Conclusão: Sócrates gostava demais do debate, mas para
revelar a verdade, não para construí-la.
d) Errado! Jeremy Bentham defendeu o princípio da
utilidade como fundamento para a Moral e para o
Direito. O pensamento utilitarista pauta-se nas
consequências práticas da legislação: se lei aumenta a
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
felicidade social ou não — maximização do bem-estar
para o maior número possível de pessoas. Bentham
deixou flanco aberto a duas grandes críticas ao princípio
da utilidade: (a) ele não dá bola para a dignidade humana
e para os direitos individuais, o que permite que minorias
sejam esmagadas...; (b) ele reduz todas as questões
morais a operações matemáticas de dor e prazer.
Portanto, tem nada disso de Bentham pautar seu
discurso em direitos fundamentais...
e) Misturou geral! Platão é quem defendia o mundo das
ideias: cada coisa no mundo possui uma forma perfeita,
à qual deve buscar se aproximar. Aristóteles, discípulo de
Platão, entra: de sola NÃO há um mundo das ideias! As
coisas são, na natureza, tão boas quanto podem ser (as
ideias perfeitas ficam por conta de nossa imaginação).
Comentário curto
Para os sofistas, a questão se o aborto é certo ou errado,
deve ser permitido ou proibido, é resolvida na força (da
retórica e da posição de fala)!
Gabarito: A
Questão 48
“Temos pois definido o justo e o injusto. Após distingui-
los assim um do outro, é evidente que a ação justa é
intermediária entre o agir injustamente e o ser vítima da
injustiça; pois um deles é ter demais e o outro é ter
demasiado pouco.”
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Coleção Os Pensadores.
São Paulo: Abril Cultural, 1973.
No que tange ao conceito de justiça, assinale a opção
correta:
a) Sentimento de justiça e ideia de justiça são noções
sinônimas.
b) Na justiça social, busca-se o bem da coletividade com
base na igualdade formal.
c) No conceito amplíssimo de justiça, a justiça consiste
em dar a cada um o que lhe é devido.
d) A justiça comutativa é aquela em que a sociedade
organizada aplica os recursos da coletividade para a
melhoria da vida dos desfavorecidos.
e) O intuicionismo nega a viabilidade de existir um
princípio geral de justiça.
Comentários
Comentário Longo
Justiça. Ahhhh justiça! Não há como discutir direito (e
acesso ao poder judiciário) sem discutir justiça! Como os
comentários das opções são longosss, vamos a eles!
a) A ideia de justiça NÃO se confunde com o sentimento
do justo. O sentimento é intuitivo, cultivado desde os
primeiros anos de vida e ampliado pelos valores
culturais, sociais, religiosos adquiridos com o passar do
tempo. Já a ideia é fruto de profunda reflexão, em um
raciocínio que conjuga a experiência com a razão.
b) Na JUSTIÇA SOCIAL, busca-se o bem da coletividade,
observado o critério de igualdade material. O indivíduo
deverá colaborar para o bem da coletividade
(solidariedade), mediante a colocação das virtudes
pessoais em prol da realização do bem comum.
c) Ao abordarmos o tema justiça podemos tomá-la em
três sentidos (nem a justiça escapa de classificações): (a)
amplíssimo (mais que amplo) = a justiça está associada à
ideia de santidade, de a reunião de todas as virtudes. É
uma concepção intangível, pois sequer é possível
delimitar todos os atos justos; (b) amplo (lato) = a justiça
se liga com as virtudes necessárias para o convívio social
(preocupada com a situação dos mais membros da
sociedade); (c) estrito = a justiça consiste em dar a cada
um o que lhe é devido, segundo um critério de igualdade.
d) Nada! Essa seria a JUSTIÇA DISTRIBUTIVA! Na justiça
social, temos o indivíduo dedicado à construção do bem
comum (em prol da coletividade); na justiça distributiva
o caminho é inverso: a sociedade organizada deve aplicar
os recursos da coletividade para a melhoria da vida dos
desfavorecidos. É o que o Estado tenta fazer por suas
políticas públicas.
e) Bingo! O intuicionismo nega a viabilidade de existir um
princípio geral de justiça, acreditando ser impossível
estabelecer um critério norteador que possa valer para
todos os casos
Comentário curto
O intuicionismo propõe que a ideia de justiça não pode
ser abstrata e deveria ser tomada em cada caso
concreto, de acordo com as contingências (algo pode ser
justo em uma hipótese e injusto em outra).
Gabarito: E
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
Questão 49
Na obra “Retórica e o Estado de Direito”, Neil
MacCormick defende que um certo tipo de raciocínio
consequencialista deve guiar a justificação das decisões
jurídicas. Todavia, ele reconhece que os juízes enfrentam
dificuldades na adoção dessa postura consequencialista,
especialmente com relação às questões políticas,
morais, econômicas e sociais.
Na visão de MacCormick, a dificuldade para se adotar
esse tipo de consequencialismo está na:
a) característica do direito romano-germânico, que não
se adequa a análises consequencialistas subjetivas, mais
amenas ao direito consuetudinário anglo-saxão.
b) extensão das consequências que os juízes devem
considerar e nas bases sobre as quais eles devem avaliá-
las.
c) cosmovisão dos juízes, que se projetam nas decisões
uma vez que as consequências do julgado são sopesadas,
impedindo uma análise isenta.
d) neutralidade dos textos legais, cujas normas objetivas
e determinísticas bloqueiam uma análise
consequencialista.
e) necessidade de que as decisões jurídicas sejam
impessoais e indeterminadas, ao passo que o
consequencialismo é casuístico, o que torna difícil sua
adoção como padrão decisório.
Comentários
Comentário Longo
O consequencialismo é um modelo de pensamento que
conglomera diversas teorias que ressaltam que quando
uma decisão é tomada, a consequências dela
decorrentes são importantes na análise do seu sucesso
ou correção — nas palavras de MacCormick (Retórica e
o Estado de Direito. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008, p. 58):
“o critério máximo para a avaliação de um curso de ação
ou de uma instituição o valor de suas consequências
globais – os benefícios menos os custos, para todos os
afetados”.
Para Neil MacCormick, o problema é que os juízes NÃO
estão bem-posicionados para fazer julgamentos
consequencialistas de natureza não jurídica (como as
repercussões econômicas ou a sociais) — os juízes
simplesmente não têm informação e capacidade técnica
para tal. Ainda assim, é possível, na visão do autor, é
possível construir um consequencialismo
essencialmente jurídico, não ligado a prognósticos, mas
sim às consequências que as decisões trazem para o
próprio direito.
Por exemplo: ao decidir, o juiz deve ter em mente que
sua decisão deve ser justificável não apenas para as
partes, mas em termos de uma proposição legal
aceitável que cubra o caso em análise e seja passível de
aplicação em outros casos parecidos ou semelhantes
(universalização e coerência).
MacCormick aponta dois extremos: em um polo temos
as decisões justificadas exclusivamente em termos de
consequências (custo-benefício); no outro extremo, a
decisão que ignora qualquer consequência mesmo que
próxima. MacCormick propõe uma postura
intermediária: razões sobre consequências jurídicas são
críticas para justificar decisões. Mas, em qualquer caso,
lida-se com problemas jurídicos, não com questões
morais ou políticas. Portanto, a decisão deve derivar da
interpretação de normas legais (incluindo princípios) ou
de precedentes.
a) Hoje em dia é discutível se direito romano-germânico
é mais ou menos objetivo do que o direito
consuetudinário anglo-saxão. De toda forma, ambos os
sistemas viabilizam análise das consequências das
decisões judiciais como modelo de fundamentação dos
julgados. Nesse aspecto, não há uma diferença
considerável.
b) Exatamente! Estender a análise das consequências
políticas, morais, sociais, econômicas de decisões
judiciais é difícil (se não impossível) em essência. O
magistrado deve estar interessado em sopesar essas
questões jurídicas do decido — além da coerência e
consistência. Por exemplo: minha decisão encaixa
dentro do sistema? Estou eu seguindo a jurisprudência?
Essa decisão não vai repercutir de forma detrimentosas
em procedimentos necessários? E por aí vai...
c) Realmente, a cosmovisão dos juízes pode levar a
julgamentos mais ideológicos, o que alguns consideração
menos isentos. De toda forma, sabemos que não existe
neutralidade toda — todos estamos mergulhados em um
caldo cultural. Mas não é essa a grande dificuldade do
consequencialismo, nem o consequencialismo agrava
esse quadro em demasiado, certo?
d) Sim, os textos são (muitas vezes) objetivos e
determinam certas decisões. Mas há amplo espaço de
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023
conformação e discricionaridade para o prêmios e as recompensas; o controle negativo atua de
consequencialismo... outra maneira, levando os indivíduos a se afastarem de
e) Decisões judiciais não precisam ser indeterminadas: determinadas formas de comportamento consideradas
elas fazem lei no CASO CONCRETO. antissociais: baseia-se em mecanismos como a
proibição, os tabus, as repreensões e as punições”
Comentário curto (Lakatos e Marconi).
Juízes e juristas são muito mal aparelhados para fazer Vamos às opções:
avaliação consequencialista política, moral, econômica e
social. Então, eles devem limitar-se a ponderar as a) Pecou no positivo, porque aqui não há reforço
consequências jurídicas das decisões judiciais como positivo, prêmio a determinar o comportamento dos
fundamento decisório. envolvidos.
Gabarito: B b) Iça!!!! O Estado age por seus agentes (judiciário e
polícia) como força externa a solucionar a questão de
maneira a impor uma condição negativa em defesa do
Questão 50 direito de propriedade.
Aporta na mesa da juíza uma ação de reintegração de c) Denominações que não são abarcadas pela teoria
posse. Trata-se de área de invasão, em que centenas de sociológica para explicar o evento. Em suma: pura
famílias de baixa renda estão atualmente alojadas. Antes invenção do examinador.
da ocupação, o espaço era um terreno abandonado de d) e e) Pecou no interno. Trata-se de controle
propriedade da massa falida de uma empresa em débito heterônomo!
com a fazenda pública.
Comentário curto
Diante dessa situação hipotética e de ideias relacionadas
à sociologia do direito, a remoção das famílias com o A qualificação da ação da polícia no controle social
emprego da força policial tipificaria controle social enseja controle externo e negativo, por meio do
classificado como: mecanismo repressor exógeno que impõe uma restrição
social.
a) Externo e positivo.
Gabarito: B
b) Externo e negativo.
c) Externo e neutro.
d) Interno e negativo.
e) Interno e positivo.
Comentários
Comentário Longo
Na sociologia, o controle social se classifica em positivo
e negativo; formal e informal; e institucional e grupal
(segundo Fichter). Desta última classificação, Ana Lucia
Sabadell fala em controle social externo e interno. O
controle externo é imposto institucionalmente, de forma
heterônoma; o interno é imposto pelo próprio indivíduo
ou por seu grupo social íntimo e informal, como a família.
Com relação ao polo ou mecanismo, “o controle positivo
é empregado para orientar o comportamento do
indivíduo, levando-o a proceder de acordo com as
normas e valores imperantes na sociedade: a
conformidade é induzida através de mecanismos como a
instrução, a sugestão, a persuasão, o exemplo, os
 1º Simulado ENAMA – 16/12/2023

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