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Prática Jurídica

Civil e Empresarial I
Petição Inicial

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª M.ª Christiane Cavalcante Marcellos

Revisão Textual:
Prof.ª Dra. Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Petição Inicial

• Noções Gerais da Petição Inicial;


• Requisitos da Petição Inicial;
• Orientações Gerais para a Elaboração de uma Petição Inicial;
• Esqueleto da Peça.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Introduzir o aluno no estudo prático do Direito, de modo que possa elaborar uma petição
inicial adequada ao caso concreto, baseado na técnica desenvolvida em sala de aula e de
acordo com as exigências das provas e mercado de trabalho.
UNIDADE Petição Inicial

Noções Gerais da Petição Inicial


Chegou! Finalmente, chegou a hora de você aplicar na prática aquilo que aprendeu
na teoria. E como é bom vivenciar a prática, já se imaginando um profissional do Direito!

Figura 1 – Poder Judiciário


Fonte: Getty Images

Você sabe qual é a primeira peça de um processo? É a petição inicial. Redundante


dizer, mas como é a primeira peça recebe o nome de petição inicial, também é chamada
de exordial ou peça inaugural.

A petição inicial é a peça que inaugura o processo, estabelecendo uma relação jurídica
processual entre o autor e o juiz. Em outras palavras, é a peça processual por meio da
qual a parte, que é o autor, exerce seu direito de ação, invocando uma tutela jurisdicional.

Importante!
As petições visam influenciar na convicção do magistrado. O advogado se vale desse
poderoso instrumento para convencer o juiz de que seu cliente tem determinado direi-
to assegurado no ordenamento jurídico. Não se trata de mera narrativa de fatos e de
direitos, mas de texto articulado para atuar na inteligência do magistrado (BARROSO;
LETTIERE, 2019, p. 23).

O processo não se inicia sozinho, precisa provocar o órgão jurisdicional. Costumamos


dizer que nunca um juiz irá bater à sua porta e perguntar se você quer processar alguém.
Como ensina Chacon (2021, p. 5):
É preciso, portanto, tirar o juiz da inércia que lhe é inerente. Isso se faz por
meio de um complexo requerimento, qual seja a petição inicial, que fixará
os fatos, os fundamentos jurídicos, os pedidos e a causa de pedir, utiliza-
dos pelo ente jurisdicional para o julgamento da lide então instaurada, nos
moldes e limites da legislação.

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É sempre bom lembrar que não fazemos nada “do nosso jeito”, mas sim como manda
a lei. A Lei n. 13.105/2015, do Código de Processo Civil, traz um capítulo específico
(arts. 319 ao 321) sobre a da petição inicial. Porém, antes de tratarmos dos requisitos
legais, precisamos ter uma conversa séria sobre dois temas muito importantes: estudo
jurídico e estudo da língua portuguesa.

Sobre a questão jurídica, é importante que você tenha o hábito de estudar. Não estamos
nos referindo ao estudo de véspera de prova, mas sim ao estudo contínuo. Precisamos que
você estude com afinco o direito material e processual. Se não for assim, você terá dificul-
dade na disciplina de prática.

É realmente necessário que você se preocupe com seu nível de conhecimento e, caso se
sinta inseguro, basta estudar. Seja qual for o caminho escolhido, o profissional do Direito
não para nunca, está sempre estudando, pesquisando e atualizando seus conhecimentos.

Outro assunto sério e que todo estudante deve se preocupar, é a língua portuguesa.
Começamos perguntando: você tem uma boa gramática da língua portuguesa? Deseja-
mos que sim, pois você precisará estudar a língua portuguesa com o mesmo empenho
que estuda o direito. Entenda que os dois conhecimentos andam juntos, não adianta você
conhecer o direito, mas não saber se expressar adequadamente. Também não adianta
você conhecer muito bem a língua, mas não o direito.

Como dispõe o art. 192, “Em todos os atos e termos do processo é obrigatório o uso da
língua portuguesa”, então vamos caprichar, pois o jurista deve escrever de forma correta.

O aluno e o profissional do Direito não devem esquecer de que a boa


escrita, ao lado da organização das palavras, da lógica do texto e do bom
domínio da técnica forense, viabilizam a pretensão pretendida pela parte
por meio de seu advogado, pois certamente o convencimento será algo
mais evidente quando o pedido (leia-se a petição) estiver bem elaborado.
(CHACON, 2021, p. 5)

Mais uma coisa: a elaboração de uma boa petição inicial, além dos conhecimentos
jurídicos e da língua portuguesa, exige treino. Por isso, sempre que possível, faça as
provas da OAB e de outros concursos, seja protagonista de seus estudos, assim teremos
a certeza de que você vai longe.

Feitas essas considerações, acreditamos que você já está preparado(a) para estudar
os requisitos da petição inicial, então vamos lá.

Requisitos da Petição Inicial


Como dito antes, o profissional do Direito age conforme a lei; por se tratar de ma-
téria processual, a petição inicial está disciplinada pelo Código de Processo Civil,
Lei 13.105/2015, artigos 319 a 321.

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UNIDADE Petição Inicial

Figura 2 – Reunião de cliente e advogado


Fonte: Getty Images

Art. 319. A petição inicial indicará:


I – o juízo a que é dirigida;
II – os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável,
a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no
Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio
e a residência do autor e do réu;
III – o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;
IV – o pedido com as suas especificações;
V – o valor da causa;
VI – as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos
fatos alegados;
VII – a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação
ou de mediação.
§ 1º. Caso não disponha das informações previstas no inciso II, poderá o au-
tor, na petição inicial, requerer ao juiz diligências necessárias a sua obtenção.
§ 2º. A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta de infor-
mações a que se refere o inciso II, for possível a citação do réu.
§ 3º. A petição inicial não será indeferida pelo não atendimento ao dis-
posto no inciso II deste artigo se a obtenção de tais informações tornar
impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça.

Primeiramente, leia e releia o art. 319 infinitas vezes. Após, vamos juntos analisar
cada requisito. São eles:

I – O juízo a que é dirigida


Trata-se do endereçamento, ou seja, o foro que a ação será proposta (foro competente).
O Código de Processo Civil trata do assunto nos artigos 42 a 53, recomendamos a leitura.
Ensinam Barroso e Lettiere (2019, p. 99) que:
Quando da elaboração da inicial, o autor deverá indicar o órgão jurisdicio-
nal competente para a demanda (o juízo = órgão + foro), observando as
regras de competência funcional (como regra, previstas na Constituição da
República, Constituições dos Estados e nas leis de organização judiciária)
e as de competência territorial (estabelecidas nos arts. 46 a 53 do CPC).

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Regra Comum de Competência:
• Ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens imóveis (art. 46,
caput): domicílio do réu;
• Ações fundadas em direito real sobre imóveis (art. 47, caput): foro de situação
da coisa.

Cuidado, não deixe de estudar as situações em que a lei prevê foro privilegiado, em
especial, aquelas previstas no art. 53. Por exemplo, a ação de alimentos, sendo compe-
tente o foro do domicílio do alimentando (art. 53, II, do CPC).

Saiba que cada estado tem uma Lei de Organização Judiciária, assim você consegue
saber sobre a existência de varas especializadas ou foros regionais.

O endereçamento será indicado na parte superior da petição inicial, procure usar


letras maiúsculas e não faça abreviaturas. Não existe uma lei que estabelece como deve
ser feito o endereçamento, segue-se a praxe jurídica, conforme exemplos abaixo:

Justiça Estadual (mais de uma vara):


EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA___ª VARA CÍVEL DO
FORO DA COMARCA DE ____________ DO ESTADO DE ______.
Obs.: Pelo novo CPC, também estaria correto “ao juízo civil da comarca de ___”
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ª VARA CÍVEL DO
FORO CENTRAL DA COMARCA DA CAPITAL – SÃO PAULO.
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ª VARA DE FAMÍLIA
E SUCESSÕES DA COMARCA DE NITERÓI – RJ.
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DE UMA DAS VARAS CÍVEIS
DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA SAPITAL – SÃO PAULO.

Justiça Federal:
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE FEDERAL DA ___ª VARA CÍVEL DA
SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE ______.

Você sabe o motivo de mantermos um espaço em branco antes da Vara? Nos foros
com mais de uma vara, quando a petição inicial é distribuída, não sabemos a vara, por
isso deixamos em branco. Nas demais petições, no entanto, a vara é indicada.

Com o novo Código de Processo Civil, surgiu uma discussão. O atual CPC fala em
“juízo a que é dirigida (319, inciso A), o antigo falava em “juiz”. Por isso você pode ouvir
alguém falar que atualmente o endereçamento mudou, passou a ser apenas “Ao Juízo
Civil da Comarca de ___”. Na verdade, os dois estão corretos, como explicam Barroso e
Lettiere (2019, p. 99), “ao indicar VARA CÍVEL de tal lugar... o autor da peça processual
está indicando o Juízo, cumprindo de forma técnica a previsão legal”.

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Importante!
• Juiz Estadual: na petição inicial é chamado de Juiz de Direito (Comarca);
• Juiz Federal: na petição inicial é chamado de Juiz Federal (Seção ou Subseção
Judiciária).

II – Os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o


número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa
Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu
Trata-se da qualificação das partes, feita no preâmbulo da petição inicial. A quali-
ficação deve ser completa, com todas as informações contidas no inciso II. Detalhe, é
muito comum constar a cédula de identidade (RG) na petição inicial, mas saiba que não
é requisito obrigatório, pois não está inserido no inciso II.

Se o autor não souber alguma informação obrigatória, como o endereço do réu, segun-
do o § 1º do art. 319, “poderá o autor, na petição inicial, requerer ao juiz diligências neces-
sárias à sua obtenção.” Para a localização do réu, por exemplo, muito comum o pedido de
expedição de ofícios (ex. IIRG, DRF, Bacen).

A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta de informações a que se
refere o inciso II, for possível a citação do réu. (§ 2º do art. 319).

Exemplo:
Para pessoa física (autor e réu):
NOME DO AUTOR, nacionalidade, estado civil, profissão, portador da cédula de
identidade n._____, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas do Ministério da
Fazenda sob o n._____, endereço eletrônico ___, residente e domiciliado na
Rua ________, n.___, Bairro, Cidade, Estado, CEP_______.

Para pessoa jurídica (autor e réu):


NOME DO AUTOR, inscrita no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) sob o
n.____, com sede na Rua____, n.___, Bairro, Cidade, Estado, CEP_______,
endereço eletrônico___, por seu representante (qualificar igual à pessoa física).

Lembre-se de que, apesar de constar na qualificação a nacionalidade e o RG, não são


requisitos obrigatórios do art. 319.

Algumas situações merecem um cuidado maior, vamos mencionar duas. Os absoluta-


mente incapazes são representados ou assistidos, portanto, na qualificação, deve cons-
tar o nome do representante ou assistente (art.3º e 4º do Código Civil). Para o nascituro,
qualifica-se como: ”nascituro de ____ (nome da mãe)”.

Para concluir, gostaríamos que soubesse que, na petição inicial, escreve-se o nome
das partes na qualificação, mas, após, não é necessário repetir os nomes, basta indicar

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as partes como “autor” e “réu”, que é a regra geral. Lembrando que o autor é aquele que
promove a ação e o réu aquele contra quem se promove. Atente ao CPC, que apresenta
a terminologia correta das partes.

Exame de Ordem
Não se devem criar dados, somente utilizar aqueles trazidos pelo problema. Se o pro-
blema não trouxer, deixar de forma genérica, conforme exemplo acima. Qualquer
informação criada ou alterada corre um enorme risco de causar a anulação da prova,
pois se considera identificação do candidato, por exemplo, inventar sobrenome, nú-
mero de documento, endereço.
Observe um trecho da segunda fase da OAB, sendo a peça cabível uma petição ini-
cial, observe que o problema não traz maiores informações acerca da qualificação.
Aline é proprietária de uma pequena casa situada na cidade de São Paulo, residindo no
imóvel há cerca de 5 anos, em terreno constituído pela acessão e por um pequeno pomar.
Pouco antes de iniciar obras no imóvel, Aline precisou fazer uma viagem de emergência
para o interior de Minas Gerais, a fim de auxiliar sua mãe que se encontrava gravemente
doente, com previsão de retornar dois meses depois a São Paulo. Aline comentou a viagem
com vários vizinhos, dentre os quais, João Paulo, Nice, Marcos e Alexandre, pedindo que
“olhassem” o imóvel no período. (XXVI Exame de Ordem Unificado – 2018.2)

Ah, outra coisa importante. No preâmbulo, após a qualificação do autor, também


consta que o autor possui advogado (exemplo: “vem, por seu advogado”). Consta também
o nome da ação (conhecimento ou execução) e o procedimento (comum ou especial),
embora o CPC não trata disso expressamente. (vide modelo no item 4).

III – O fato e os fundamentos jurídicos do pedido


O autor deve indicar os fatos e os fundamentos do pedido que embasam o seu pedido,
ou seja, a causa de pedir (causa de pedir remota e causa de pedir próxima).

Para a descrição dos fatos, exige-se uma boa redação, com começo, meio e fim. Escre-
va somente o necessário, sempre com clareza e objetividade. Recomendamos iniciar os
fatos demonstrando a relação jurídica existente entre as partes (existência do contrato, por
exemplo) e a violação que deu causa à propositura da ação (não cumprimento do contrato,
por exemplo).

Os fatos “nada mais são que os eventos ou acontecimentos ocorridos no plano material que
originaram o conflito; os fatos costumam ser denominados como causa de pedir remota.
Como exemplo, imagine uma ação indenizatória decorrente de acidente de veículo auto-
motor. Os fatos vão indicar quando, onde e como se deu o acidente, assim como as conse-
quências que dele advieram (se houve ou não vítimas, se ocorreu alguma conversa entre os
envolvidos no acidente, quais foram os prejuízos, se houve algum tipo de pagamento etc.)”
(TARTUCE, 2020, p. 102).

Lembre-se de que o juiz não conhece os fatos, por isso seja bastante claro e objetivo.

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No Exame de Ordem, os fatos trazidos no problema devem ser respeitados, não crie
dados novos e nem altere os existentes.

Além de narrar os fatos (causa de pedir remota), o autor deve apresentar os funda-
mentos jurídicos (causa de pedir próxima). Não se trata apenas da citação ou transcrição
do artigo, o autor deve apresentar uma boa narrativa, que demonstre a aplicação da lei
ao caso concreto e que convença o juiz.
Fundamentos Jurídicos
[...] não se trata de dar a fundamentação legal, citando o número do
artigo da lei (fundamento legal é diferente de fundamento jurídico). A fun-
damentação legal seria apenas a indicação ou transcrição do artigo da
lei; enquanto o fundamento jurídico é mais, ao passo que representa o
raciocínio lógico de aplicação do direito ao fato, levando o magistrado ao
convencimento para acolher a pretensão. É na fundamentação jurídica
que o autor poderá apresentar jurisprudência, doutrina e, até mesmo, a
indicação do texto da lei. (BARROSO; LETTIERE, 2019, p. 108)

Como se vê, nos fundamentos jurídicos, você terá a oportunidade de demonstrar


seus conhecimentos técnicos, utilizando-se da lei, doutrina e jurisprudência.

IV – O pedido com as suas especificações


O pedido é fundamental, em geral, limita a atuação jurisdicional.
Para melhor entendimento, recomendamos leitura dos artigos 322 ao 329 do Código
de Processo Civil. Vale lembrar que o pedido pode ser imediato (providência jurisdicional)
e mediato (resultado prático que se pretende).
Segundo o CPC, o pedido deve ser certo (caput do art. 322) e determinado (caput do
art. 324). Mesmo que o autor não faça pedido expresso, compreendem-se no principal
os juros legais, a correção monetária e as verbas de sucumbência, inclusive os honorá-
rios advocatícios. (§1º do art. 322), vale dizer que a parte vencida arcará com tais verbas.
Por fim, o pedido deve ser interpretado conforme “o conjunto da postulação e observará
o princípio da boa-fé”. (§2º do art. 322).

A certeza do pedido diz respeito à providência jurisdicional pleiteada, ao verbo que será
utilizado na redação da petição: no pedido deve-se fazer menção a condenar, declarar
ou constituir.
A determinação do pedido diz respeito ao complemento do verbo, ao bem da vida: ao pedir a
condenação (certeza do pedido), deve-se indicar de quanto se quer a condenação (TARTUCE,
2020, p. 108).

Alguns pedidos dependem do caso concreto, como o pedido de concessão de Justiça


Gratuita, conforme arts. 98 e 99 do CPC e Lei n. 1060/50.

Não se esqueça de as comunicações e atos processuais devem ser feitos em nome


do advogado.

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Para finalizar, uma pergunta: é possível o autor acrescentar algo no pedido, após
a distribuição da petição inicial? Segundo o art. 329, inciso I, o autor poderá “até a
citação, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, independentemente de consenti-
mento do réu”. Por outro lado, o autor vai precisar do consentimento do réu, na hipótese
prevista no inciso II do precitado artigo. Assim, o autor poderá:
II – até o saneamento do processo, aditar ou alterar o pedido e a causa de
pedir, com consentimento do réu, assegurado o contraditório mediante a
possibilidade de manifestação deste no prazo mínimo de 15 (quinze) dias,
facultado o requerimento de prova suplementar.

V – O valor da causa
Outro requisito obrigatório é o valor da causa, toda causa tem um valor. Em regra, o
valor da causa corresponde ao benefício econômico reclamado pelo autor.
Conforme art. 291, “toda causa será atribuída valor certo, ainda que não tenha conteúdo
econômico imediatamente aferível”. As regras para atribuição do valor da causa estão nos
artigos 291 a 293 (recomendo leitura), além de legislação especial (ex. Lei do Inquilinato).
A atribuição do valor à causa estabelece:
• O cálculo da taxa judiciária;
• A competência (em alguns estados, existem foros regionais que têm sua competência
fixada pelo valor da causa);
• O procedimento (ex. juizados especiais);
• O valor das verbas de sucumbência (art. 85, parág. 2º, CPC: de 10 a 20% do valor
atualizado da causa).

Exemplo:
Dá à causa o valor de R$______ (valor por extenso).
Dá-se à causa o valor de R$ ____ (valor por extenso).

Veja algumas regras para atribuição do valor da causa, segundo o art. 292:
• Na ação de cobrança de dívida, será a soma monetariamente corrigida do principal,
dos juros de mora vencidos e de outras penalidades, se houver, até a data de pro-
positura da ação;
• Na ação de alimentos, será a soma de 12 (doze) prestações mensais pedidas pelo autor;
• Na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, será o valor pretendido;
• Na ação em que há cumulação de pedidos, será a quantia correspondente à soma
dos valores de todos eles.

VI – As provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados
Ao autor compete, na petição inicial, especificar as provas com que pretende de-
monstrar a veracidade dos fatos constitutivos de seu direito.
Segundo o art. 369 do CPC: “As partes têm o direito de empregar todos os meios le-
gais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para

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provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na
convicção do juiz”. Na prática, irá depender do caso concreto, sendo as mais comuns as
provas orais (depoimento pessoal e oitiva de testemunhas), documentais e periciais.

Exemplo:
Requer provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidas, em especial
pelo depoimento pessoal do autor, oitiva de testemunhas, juntadas de documentos e
outros que se fizerem necessários à demonstração da verdade dos fatos. “Protesta-se
provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, principalmente
juntada de novos documentos, prova oral e pericial, sem exceção de outras que pos-
sam ser indicadas no momento oportuno” (CHACON, 2021, p. 9).

Sobre a prova documental, aqueles indispensáveis à propositura da ação (procura-


ção, por ex.) devem ser juntados com a petição inicial (art. 320). No caso concreto, é
possível verificar a indispensabilidade do documento, por exemplo, na ação de divórcio,
deve-se juntar a certidão de casamento.

VII – A opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação


O autor deve indicar na Petição Inicial se tem interesse ou não na realização de audi-
ência de conciliação. Segundo o §4º do art. 334, a audiência não será realizada “I – se
ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição consensual;
II – quando não se admitir a autocomposição”.

Exemplo:
Nos termos do art. 334, § 5º do Código de Processo Civil, o autor desde já manifesta,
pela natureza do litígio, desinteresse em autocomposição.
Nos termos do art. 334 do Código de Processo Civil, requer que seja designada a
audiência de conciliação, pois o autor manifesta interesse em autocomposição.

Ausência dos Requisitos Legais


O que acontece quando a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320
ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito?

Segundo o art. 321, o juiz determinará que o autor a emende ou a complete no prazo
de 15 (quinze) dias, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado. E se
o autor não cumprir a diligência? Aí o juiz indeferirá a petição inicial (parágrafo único
do art. 321).

E por falar em petição inicial, tome muito cuidado, pois o artigo 330 diz que a pe-
tição inicial será indeferida quando: for inepta, a parte for manifestamente ilegítima,
o autor carecer de interesse processual ou quando não forem atendidas as prescrições
dos arts. 106 e 321.

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Quando a petição inicial é inepta? Vamos recordar o §1º do precitado art. 330: a
petição é inepta quando lhe faltar pedido ou causa de pedir, quando o pedido for inde-
terminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido genérico, quando
da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão e quando contiver pedidos
incompatíveis entre si.

Sinceramente, é muito desagradável ter uma petição considerada inepta, por isso há
importância em estudar.

Não se esqueça, por fim, de que sobre a decisão de indeferimento da petição inicial
cabe recurso de apelação, sendo facultado ao juiz, no prazo de 5 (cinco) dias, retratar-se
(art. 331, caput).

Orientações Gerais para a


Elaboração de uma Petição Inicial
Não se esqueça de que o objetivo da petição inicial é convencer o juiz sobre a verdade
dos fatos alegados. Desse modo, redija a petição de forma clara e objetiva, escreva so-
mente o necessário, tenha um bom conhecimento do direito material e processual, além
de uma boa escrita.

Figura 3 – Estudando o caso


Fonte: Getty Images

A primeira dúvida, que surge principalmente na segunda fase do Exame de Ordem, é


saber qual a peça processual cabível. No que se refere à prova de Civil, fique tranquilo, é
só ler com calma o problema e saber interpretar. Eis uma dica simples: quando o proble-
ma deixar claro que o autor foi lesado e não teve um processo iniciado, a peça cabível é
a petição inicial. Já quando o problema relata que houve sentença, costuma ser recurso
de apelação.

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Número de Páginas é Importante?


Não, o artigo 319 do CPC não traz o número de páginas como requisito. Porém, tenha
bom senso, seja claro e objetivo, não se alongue demais.
Sobre o assunto, a decisão proferida pelo Juiz Valdir Flavio Loco Maia, da Vara Única
da Comarca de Patu – RN, em 24/03/2004, foi bem interessante, leia na íntegra:
Segundo a Unesco, um texto de 49 páginas ou mais é um livro. Esta petição inicial é, pois,
um livro. O notório excesso de trabalho desta Vara não permite ler livros inteiros durante o
expediente. Ademais, tudo o que fora dito cabe num vigésimo ou menos das páginas que
o autor escreveu.
Não é possível assegurar a razoável duração do processo e a celeridade de sua tramitação
(art. 5º, LXXVIII CF) sem a indispensável colaboração dos advogados (CF, art. 133). O tempo
que o juiz gasta lendo páginas inúteis é roubado à tramitação de outros processos. Portan-
to, a prolixidade da inicial desrespeita entre outras coisas: a) a diretriz constitucional da
celeridade (CF art. 5º LXXVII e art. 125 do CPC); b) o princípio da lealdade (art. 14, II, do CPC),
porque prejudica desnecessariamente a produtividade do Poder Judiciário, e c) o dever de
não praticar atos desnecessários à defesa do direito (art. 14, IV, do CPC).
Ademais, forçar o adversário a ler dezenas, quiçá centenas, de páginas supérfluas é uma
estratégia desleal para encurtar o prazo de defesa. Há claro abuso do direito de petição por
parte do autor, ato ilícito (art. 187 do CC/02), que o juiz está obrigado a inibir (art. 125, I e
III, e art. 129 do CPC).
Enfim, a prolixidade do autor contradiz a alegação de necessidade de urgência da tutela, afi-
nal de contas, quem tem pressa não tem tempo de escrever dezenas de laudas numa petição,
cujo objeto poderia ser reduzido há pelo menos 20% do total escrito.
Isto posto, concedo à parte autora 10 dias para emendar a inicial, reduzindo-a a uma versão
objetiva com a extensão estritamente necessária, sob pena de indeferimento da inicial.

Conclusão, na exposição dos fatos, fundamentos e pedido, seja simples e direto (a),
lembre-se de que não é o número de páginas que irá definir a qualidade da sua peça e
que o importante é a compreensão do destinatário.

Barroso e Lettiere (2019, e-book, p. 23) explicam que a petição inicial deve ser redi-
gida com clareza, lógica e objetividade. Para melhor compreensão, eles dão importantes
orientações, preste atenção:
a) ordene os fatos na ordem cronológica;
b) separe a petição em “Dos fatos”, “Do direito” e “Do pedido”, espe-
cialmente quando o texto for longo, isso ajuda a estabelecer a lógica no
discurso jurídico;
c) para cada parágrafo use apenas uma ideia ou fato;
d) narre apenas os fatos relevantes para a solução do conflito ou inci-
dente processual;
e) os parágrafos devem estar atrelados ou conexos, por exemplo:
Caio e Tício celebraram contrato de compra e venda pelo qual este se
obrigou à entrega de 40 (quarenta) sacas de café... No entanto, Tício não
cumpriu a obrigação no prazo determinado, apresentando a alegação de
que a plantação não atingiu o resultado esperado.
f) ao redigir a tese (do direito) o raciocínio jurídico sempre se desenvolve
em um círculo vicioso (para cada tese autônoma):

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1º) Indicação do tema a ser tratado;
2º) Citação dos fundamentos jurídicos (legislação, jurisprudência e doutrina);
3º) Relação do direito (fundamento jurídicos) com o fato apresentado;
4º) Conclusão da ideia com a apresentação do objetivo da peça.

Na redação da peça, como vimos, deve ser utilizada uma linguagem correta e culta.
Não use gírias, linguagem chula, ditados populares, cuidado com os pleonasmos e evite
abreviaturas (exceto comuns ou oficiais, ex. REsp, INSS).

Documentos:
A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da
ação. (art. 320). Portanto, junte os documentos essenciais com a Petição Inicial.

Atenção sobre o pedido de citação! O pedido de citação do réu deixou de ser obri-
gatório pelo novo CPC, mas, para Chacon (2021, p. 20), “mesmo que dispensável, a
forma de elaboração do pedido de citação irá variar, portanto: em razão da forma como
se pretende seja realizada (correio, oficial, edital); e em razão do procedimento (citação
para quê?)”.

Esqueleto da Peça
Quadro 1 – Petição inicial: artigos importantes do CPC

• Art. 319, I;
• Arts. 42 a 43;
Endereçamento • Lei de Organização Judiciária do Estado;
• Regra: Distribuição livre;
• Exceção: distribuição por dependência.

• Qualificação das partes: art. 319, II;


• Juntada da procuração: art. 104, 287, ambos do CPC;
Preâmbulo • Nome da ação+ procedimento + fundamento legal;
• Tutela Provisória (se existente o pedido).

• Art. 319, III;


Fatos • Narrativa dos fatos.

• Art. 319, III;


Fundamentos jurídicos • Fundamentos jurídicos que justifiquem a pretensão do autor.

• Art. 319, IV;


Pedido • Art. 322 a 329.

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UNIDADE Petição Inicial

• Obrigatórios:
» Art. 319, VI, especificação de provas;
» Art. 319, VII, indicação de interesse ou não de conciliação.
Requerimentos • Facultativos (análise do caso concreto):
» Art. 98, Justiça Gratuita;
» Art. 1.048, Prioridade na tramitação;
» Art. 178, intimação do MP.

• Art. 319, V;
Valor da causa • Art. 291 e Art. 293.

Termos em que,
pede deferimento.
Encerramento Local e data.
Advogado.
OAB n.___

Figura 4 – Advogado redigindo uma petição inicial


Fonte: Getty Images

A ideia não é trazer uma peça pronta, mas sim o esqueleto (estrutura) da petição
inicial, bem simples, mas que prepare você para uma prova discursiva.

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ___ª VARA


CÍVEL DO FORO____ DA COMARCA DE ___.
OBS:

(Na petição inicial, não se aponta a vara, pois somente tomamos conhecimen-
to no momento da distribuição. Nas provas de concurso e exame de ordem,
a Vara e o Foro serão aqueles apontados na prova, não invente outro. Se o
problema for omisso, deixar em branco)

(espaço de aproximadamente 5 linhas)

NOME DO AUTOR, nacionalidade, estado civil, profissão, portador da cédula de


identidade n._____, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas do Ministério da
Fazenda sob o n._____, endereço eletrônico ___, residente e domiciliado na

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Rua ________, n.___, Bairro, Cidade, Estado, CEP_______, vem, por seu
advogado (instrumento de mandato, doc. __), propor a presente AÇÃO DE CONHE-
CIMENTO PELO PROCEDIMENTO COMUM, nos termos do art. 319 do Código de Pro-
cesso Civil, em face de NOME DA PARTE RÉ, nacionalidade, estado civil, profissão,
portador da cédula de identidade n._____, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas
do Ministério da Fazenda sob o n._____, endereço eletrônico ___, residente e
domiciliado na Rua ________, n.___, Bairro, Cidade, Estado, CEP_______,
pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos:

I – DOS FATOS
Narrar os fatos em ordem cronológica. Recomenda-se separar os parágrafos. Escreva
de forma clara e objetiva.
(OAB: cuidado, os fatos são exatamente aqueles trazidos pelo problema, não pode
inventar e nem alterar).

II – DO DIREITO
Apresentar o fundamento jurídico. Recomenda-se separar os parágrafos. Escreva de
forma clara e objetiva
OAB: “a peça deve abranger todos os fundamentos de Direito que possam ser utili-
zados para dar respaldo à pretensão. A simples menção ou transcrição do dispositivo
legal não confere pontuação” (exame XXVI).

III – DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS


Por todo o exposto, requer a Vossa Excelência
a) seja julgado procedente o pedido de ____, com a condenação do réu ao paga-
mento de ___.
b) condenação do réu ao pagamento de custas e honorários advocatícios, nos ter-
mos dos artigos 82, §2º e 85, ambos do Código de Processo Civil.
Requer que todas as intimações sejam feitas em nome do advogado(a) NOME DO
ADVOGADO(A), inscrito(a) na OAB n.__, endereço eletrônico, com escritório na ___.
Requer, ainda, provar o alegado por todos os meios de provas em direito admitido, em
especial pelo depoimento pessoal do réu, oitiva de testemunhas e demais de estilo.
Requer, por fim, nos termos do artigo 334 do Código de Processo Civil, a designação
de Audiência de Conciliação.
Dá-se a causa o valor de R$ ____ (___).
Termos em que,
Pede deferimento.
Local e data
Advogado (nome e assinatura)
OAB___

(OAB: Cuidado, não coloque o seu nome e nunca assine a peça)

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UNIDADE Petição Inicial

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Manual de Prática Forense Civil
Leitura do Capítulo IV – Como se preparar para a prova da 2ª fase da OAB, p. 92 a 94.
CHACON, L. F. R. Manual de prática forense civil. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2021. (e-book)

Vídeos
Saber Direito Aula – Procedimento comum no Novo CPC
O Professor João Augusto Castro trata sobre o procedimento comum, em especial a peti-
ção inicial no novo CPC. Com a aula, você irá reforçar os estudos sobre a petição inicial.
https://youtu.be/QIMFfXTBcag

Leitura
FGV Conhecimento – Exame de Ordem da OAB
No site da FGV, você terá todas as informações sobre o exame de ordem, com as provas e
gabaritos da primeira e segunda fase.
https://bit.ly/3l8CobU
Lei nº 13.105, de 16 de Março de 2015
Acesse o Código de Processo Civil, disponível no site do Planalto. Para leitura dos artigos
recomendados na presente unidade sobre competência, valor da causa, pedido etc.
https://bit.ly/3jRK2Ij

22
Referências
BARROSO, D.; LETTIERE, J. F. Prática no processo civil. 9. ed. São Paulo: Saraiva,
2019. (e-book)

CHACON, L. F. R. Manual de prática forense civil. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2021.
(e-book)

TARTUCE, F. D. L. Manual de prática civil. 16. ed. rev. atual. São Paulo: Método,
2021. (e-book)

THEODORO JUNIOR, H. Código de processo civil anotado. 23. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020. (e-book)

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Prática Jurídica
Civil e Empresarial
Petição Inicial no Processo de Conhecimento

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Christiane Cavalcante Marcellos

Revisão Textual:
Prof.ª Dra. Selma Aparecida Cesarin
Petição Inicial no Processo
de Conhecimento

• Introdução à Petição Inicial;


• Petição Inicial no Procedimento Comum;
• Petição Inicial nos Procedimentos Especiais.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Interpretação de Casos Concretos visando à adequada solução jurídica, com elaboração de
Peças Processuais.
UNIDADE Petição Inicial no Processo de Conhecimento

Introdução à Petição Inicial


O que você acha de já começar a peticionar?

Figura 1 – Elaboração de uma Petição Inicial


Fonte: Getty Images

Nesta Unidade, você irá aprender a redigir as principais petições iniciais exigidas em
provas, bem como na sua futura rotina profissional.

Iremos analisar a Petição Inicial no Procedimento Comum e no Procedimento Especial.

No Procedimento Comum, teremos uma Ação de Indenização, já no Procedimento


Especial teremos: Ação de Consignação em Pagamento, Ação de Reintegração de Posse,
Ação de Usucapião, Ação de Divórcio, Ação Renovatória (Locação) e Ação Monitória.

Mais uma vez, peço especial atenção no que se refere ao Direito Material e Proces-
sual, pois não posso entrar na TEORIA novamente, apenas destacar pontos principais
para a elaboração da Peça.

Para melhor compreensão, É MUITO IMPORTANTE que você revise a Matéria e


estude Língua Portuguesa.

Boa Notícia!
Se a Peça estudada já foi objeto da segunda fase da OAB, tenho uma ótima notícia para
você: o enunciado e o gabarito comentado, na íntegra, incluindo o link de acesso, estão
presentes nesta Unidade.
Sim, vai exigir um tempo maior de você, pois deixou essa Unidade mais longa, mas não se
preocupe: o importante é você aprender.

Reitero todas as instruções dadas na Unidade anterior, em especial sobre a estrutura


da Petição Inicial, aliás, o Artigo 319 do CPC jamais poderá ser esquecido.

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Reitero, por fim, que a ideia continua a mesma: NÃO trazer uma peça pronta. Entenda
que não quero engessar você.

Vamos lá!

Foco e dedicação!

Petição Inicial no Procedimento Comum


Primeiramente, é importante lembrar da estrutura de organização do atual Código de
Processo Civil, que se divide em PARTE GERAL e PARTE ESPECIAL.

É na Parte Especial que se encontra o Processo de Conhecimento: Procedimento


Comum (Art. 318 e seguintes) e os Procedimentos Especiais (Art. 539 e seguintes).

Ensina Theodoro Junior (2020, p. 430) que:

Procedimento Comum é o que se aplica às causas para as quais não seja


previsto algum Procedimento Especial. Apenas ele é regulado de maneira
completa e exaustiva pelo Código. Os especiais são abordados pelo legisla-
dor, no próprio Código ou em normas apartadas, apenas naqueles pontos
em que se afasta do Procedimento Comum, de sorte que este se aplica
subsidiariamente a todos os ritos, inclusive os do processo de execução.

Procedimento Comum – Cpc


Art. 318. Aplica-se a todas as causas o Procedimento Comum, salvo
disposição em contrário deste Código ou de lei.
Parágrafo único. O Procedimento Comum aplica-se subsidiariamente
aos demais procedimentos especiais e ao processo de execução.

Importante!
Toda a explicação da Unidade anterior refere-se ao Procedimento Comum. Para não ser
repetitiva, peço, por favor, que releia a Unidade.

Ação de Indenização
A Ação de Indenização é um exemplo clássico de aplicação do Procedimento Comum.

Quando se fala em indenização, temos de lembrar de um dos temas mais interessan-


tes do Direito Civil, que é a Responsabilidade Civil.

Para tanto, recomendo a leitura da:


• Parte Geral do Código Civil: Arts. 186 a 188 (regra geral da responsabilidade civil
extracontratual ou aquiliana e algumas excludentes;

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UNIDADE Petição Inicial no Processo de Conhecimento

• Parte especial: Art. 389 (regra básica da responsabilidade contratual) e dois Capí-
tulos Específicos – “Da obrigação de indenizar” (Arts. 927 a 943) e “Da indeniza-
ção” (Arts. 944 a 954).

O termo responsabilidade civil expressa obrigação imposta a uma pessoa no sentido de


reparar eventuais danos causados a outra em razão de atos ilícitos que tenha praticado
(fato próprio), ou por atos praticados por pessoas ou coisas que estejam legalmente sob sua
responsabilidade (Art. 932, CC). Com efeito, ao agente do ato ilícito é imposta a obrigação
de indenizar a vítima, ressarcindo todos os prejuízos por ela experimentados. As perdas e
danos abrangem não só o dano emergente como também o lucro cessante, isto é, tudo o
que a vítima efetivamente perdeu mais tudo o que ela deixou razoavelmente de ganhar
(ARAÚJO JUNIOR, 2020, p. 278).

Quando do caso concreto, importante analisar, inicialmente, se a responsabilidade


é contratual ou extracontratual, bem como se estão presentes os pressupostos da res-
ponsabilidade civil (ação ou omissão, culpa lato sensu, nexo de causalidade e dano),
lembrando-se de que a responsabilidade objetiva prescinde de culpa, enquanto na res-
ponsabilidade subjetiva a culpa deve ser provada.

No caso de homicídio, segundo o Art. 947 do CC:

Art. 947. A indenização consiste, sem excluir outras reparações: I – no


pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto
da família; II – na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os
devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima.

Em se tratando de lesão ou ofensa à saúde, “O ofensor indenizará o ofendido das


despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de
algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido” (Art. 949).

Se a lesão resultar em incapacidade laborativa, total ou parcial, “A indenização, além


das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pen-
são correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação
que ele sofreu” (Art. 950).

Importante destacar, ainda, o Código de Defesa do Consumidor, que trata da respon-


sabilidade pelo fato do produto e do serviço (Art. 12) e da responsabilidade por vício do
produto e do serviço (Art. 18).

Sobre o nome da ação, nos Procedimentos Especiais, a própria Lei nomeia (Ação
Monitória e Ação de Consignação em Pagamento, por exemplo). O problema está no
Procedimento Comum, que a Lei é omissa. São as chamadas Ações Inominadas.

Barroso e Lettiere (2019, p. 109) criticam os advogados que “criam nomes para as
ações” e, como exemplo, citam a “Ação de Indenização por Danos Morais, Cumulada
com Ação de Indenização por Danos Materiais de Lucros Cessantes, Dano Estético e
Pensão Vitalícia”.

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Para os autores, é importante constar no preâmbulo que se trata de ação de conhe-
cimento, pelo Procedimento Comum. Sendo assim, sugerem “AÇÃO DE CONHECI-
MENTO PELO PROCEDIMENTO COMUM”.
Já Chacon (2021, p. 12), quando explica os requisitos da Petição Inicial, claramente
nomeia a ação como “Ação de Indenização”.
Bem, não é possível bater o martelo. Só posso dizer que na Prática Forense e até mesmo
em provas, temos visto as ações pelo Procedimento Comum sendo realmente nominadas.

Vamos à Prova da OAB!


No Exame de Ordem Unificado 2010/3, a peça pedida na Prova de Civil foi “Ação
de Indenização” (nota-se que no gabarito consta o nome da Ação).
A seguir, o enunciado e o gabarito comentado.

Prova Oab – Ação de Indenização


(Prova Prático-Profissional, Direito e Processo Civil, Exame de Ordem Unificado
2010/3)
Enunciado
Manuel foi casado com Maria pelo regime da comunhão universal de bens por 50
(cinquenta) anos.
Acabaram construindo um patrimônio comum de R$ 2.400.000 (dois milhões e
quatrocentos mil reais). Da relação conjugal nasceram três filhos (José, Joaquim e
Julieta) que, ao atingirem a maioridade civil, passaram a trabalhar com os pais na
rede de padarias da família. Ocorre que Manuel faleceu, e foi necessária a abertura
do processo de inventário-partilha para que os bens deixados pelo de cujus fossem
inventariados e partilhados entre seus sucessores. José, Joaquim e Julieta, filhos
maiores, capazes e solteiros do casal, objetivando resguardar o futuro da família e a
velhice de sua mãe, procuraram o Dr. João, advogado conhecido e amigo de muitos
anos de seu falecido pai, para receberem orientações acerca da sucessão e ajuizar o
inventário. Contudo, o Dr. João sabia de um segredo e, em respeito à amizade que
existia entre ele e Manuel, nunca o havia revelado para que a família se mantivesse
unida e admirando o de cujus por ter sempre a ela dedicado sua vida. O segredo era
que Manuel possuía um filho (Pedro) fora do casamento. Ele havia acabado de com-
pletar 13 (treze) anos e morava com a mãe. Manuel não o havia registrado, apesar
de reconhecer a paternidade da criança para a mãe de Pedro e várias outras pessoas.
Havia provas em documentos particulares, em pronunciamentos nas festas de ani-
versário de Pedro, além do fato de contribuir para o seu sustento, apesar de omitir a
sua existência para a sua família legítima.
José, Joaquim e Julieta disseram ao Dr. João que, para que sua mãe tivesse uma
velhice tranquila e ficasse certa do amor, respeito e admiração que sentiam por ela
e seu falecido pai, bem como da enorme união entre os seus filhos, optavam por
renunciar à parte que cabia a cada um na herança, em favor de sua mãe.
Assim, a mãe continuaria com todas as padarias, já que somente as receberiam e
partilhariam entre eles após o falecimento dela. O Dr. João, considerando que to-
das as partes envolvidas na sucessão de Manuel eram maiores e capazes, ajuizou
um procedimento sucessório adotando o rito do Arrolamento Sumário e elaborou

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UNIDADE Petição Inicial no Processo de Conhecimento

termos de renúncia “em favor do monte” de José, Joaquim e Julieta, que foram reco-
nhecidos como válidos judicialmente. Questionado pelos três sobre o porquê de não
constar no documento, expressamente, que as partes deles estavam sendo doadas
para a sua mãe, foi esclarecido que não havia necessidade, já que, como os seus
avós não eram mais vivos, Maria acabaria por receber, além de sua meação, as cotas
dos renunciantes, na qualidade de herdeira, diante da ordem de vocação hereditá-
ria da sucessão legítima prevista no Artigo 1.829 do Código Civil, além de evitar o
pagamento do imposto de doação, que incidiria no caso de renúncia translativa. Tal
orientação foi dada acreditando que a mãe de Pedro manteria em segredo a pater-
nidade de seu filho, o que não ocorreu. Em virtude disso, Pedro acabou por receber
toda a herança avaliada no montante de R$ 1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil
reais), ficando Maria apenas com a sua meação de igual valor. José, Joaquim e Julieta
nada receberam, o que os abalou profundamente no âmbito emocional.
Considerando todos os fatos narrados acima, a ocorrência de danos sofridos por José,
Joaquim e Julieta em decorrência de orientação equivocada de seu então advogado
(Dr. João) e o reconhecimento judicial dos direitos de Pedro no procedimento suces-
sório de Manuel, você, na condição de novo advogado contratado pelos filhos legíti-
mos de Manuel para serem ressarcidos por todos os danos sofridos, elabore a peça
adequada para pleitear os direitos deles. Disponível em: https://bit.ly/3E5c5fK

Gabarito Comentado
A peça cabível será uma Petição Inicial direcionada para o Juízo Cível. Trata-se de uma
ação indenizatória proposta por José, Joaquim e Julieta em face do Dr. João, com base
na responsabilidade civil dos profissionais liberais, pleiteando danos materiais (cota-
-parte de cada um na herança de seu pai) e danos morais (decorrentes da dor, do so-
frimento, da angústia e da humilhação causadas pela orientação e atuação falhas do
Dr. João, ao efetuar uma renúncia abdicativa, e não translativa, mesmo sabendo da
existência de um outro herdeiro (Pedro – filho havido fora do casamento).

Fundamento da Responsabilidade Civil Subjetiva


Responsabilidade civil subjetiva do advogado: Artigo 32 da Lei 8.906/94 (Estatuto da
Advocacia) c/c 927, caput, do CC.

Argumentos a Serem Abordados para Confirmar a Atuação Falha do Advogado


1) São duas as espécies de renúncia, quais sejam: a renúncia abdicativa e a renún-
cia translativa.
A renúncia abdicativa é aquela em que o renunciante não indica uma pessoa cer-
ta para receber a herança, havendo, portanto, uma renúncia “em favor do monte”,
sendo as cotas partes dos renunciantes recebidas pelos demais herdeiros da mesma
classe e, em caso de inexistência de outros herdeiros da mesma classe, devolver-se-á
aos da subsequente (Artigos 1804, parágrafo único, c/c 1810, ambos do CC). Esta foi
a renúncia materializada pelo Dr. João no caso acima.
Já a renúncia translativa é uma renúncia “em favor de uma pessoa determinada”,
independentemente da ordem de vocação hereditária. Trata-se de ato complexo e
que corresponde a uma aceitação tácita da herança (Artigo 1805, 2ª parte, do CC)
seguida de uma doação (Artigo 538, do CC) para a pessoa determinada, já que o
herdeiro não poderia doar algo que não recebeu para alguém.

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2) O Dr. João não procedeu de forma correta, pois efetuou, ao elaborar um termo de
renúncia em favor do monte, uma renúncia abdicativa (em favor do monte) ao invés
de uma renúncia translativa (aceitação tácita seguida de doação para Maria), já que
até conseguiu evitar a configuração do imposto de doação, mas acabou prejudican-
do os filhos renunciantes de Manuel, pois, não havendo mais qualquer distinção
entre os filhos havidos no casamento e os filhos havidos fora do casamento, Pedro
poderá se habilitar no procedimento sucessório de seu pai, acabando por receber
toda a herança de seu pai, ante a renúncia abdicativa de seus irmãos, que são irrevo-
gáveis (Artigo 1812 do CC), não havendo falar em transferência para as classes sub-
sequentes diante da existência de filho não renunciante (Artigo 1810 do CC), ficando
Maria apenas com a sua meação diante do regime da comunhão universal de bens.
3) Danos Morais e Materiais Oriundos do Mesmo Fato: Falha na Prestação do
Serviço do Advogado: Danos materiais no valor de R$ 300.000,00 que cada um
deixou de receber da herança de seu pai, pois havendo 4 filhos e a herança sendo
avaliada em R$ 1.200.000,00, cada um faria jus a R$ 300.000,00; danos morais cau-
sados pela dor, sofrimento, angústia e humilhação decorrentes da atuação falha do
advogado, que ampliou a perda pelo ente querido com uma desestruturação fami-
liar e possibilidade de perda de toda a herança e não efetivação da doação para a sua
mãe em virtude da falha do advogado Dr. João.
Pedidos a Serem Formulados (282 do CPC)
1) Citação do réu;
2) Condenação no pagamento de danos materiais no valor de R$ 300.000,00 (tre-
zentos mil reais), para cada autor, pois havendo 4 filhos e a herança sendo avaliada
em R$ 1.200.000,00, cada um faria jus a R$ 300.000,00, e danos materiais a serem
arbitrados pelo Juiz para cada autor;
3) Protesto genérico de provas;
4) Valor da causa;
5) Condenação de honorários sucumbenciais;
6) Indicação da inserção de data e assinatura.
(...)
Igualmente seria possível compor uma ação indenizatória, por meio da qual o exa-
minando demonstrasse que o advogado deixou de ser proficiente no cumprimento
do mandato que lhe foi outorgado, devendo ser responsabilizado pelo insucesso da
orientação profissional.
Nesse caso, usou-se como base no critério de correção a demonstração da falta de
cuidado do Dr. João que importou na perda da chance de José, Joaquim e Julieta
obterem tutela jurisdicional que os satisfizesse na medida de seus objetivos, o que
era juridicamente possível.
A pontuação foi conferida de acordo com a coerência e fundamentação apresenta-
das pelos examinandos que identificaram a responsabilidade contratual dos pro-
fissionais liberais, correlacionando-a a dispositivos que tratassem de atos ilícitos e
obrigação de indenizar. Disponível em: https://bit.ly/3BY2PI9
Observação
A prova foi aplicada antes da vigência do novo CPC. Sendo assim: Art. 282, atual Art. 319.3

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UNIDADE Petição Inicial no Processo de Conhecimento

Petição Inicial nos Procedimentos Especiais


Os Procedimentos Especiais estão no Código de Processo Civil, bem como em Leis
Esparsas (Lei 9.099/95 – Juizados Especiais; Lei 8.245/91 – Lei do Inquilinato, por
exemplo). Assim, além dos requisitos do Arts. 319 e 320 do CPC, cada ação possui
suas peculiaridades.
Os procedimentos especiais podem ser de jurisdição contenciosa (Ação de Consigna-
ção em Pagamento, Ações Possessórias e Ação Monitória, por exemplo) ou de jurisdição
voluntária (divórcio e separação consensuais, por exemplo).
Como ensina Tartuce (2020, p. 25), “Não sendo o caso de adoção de procedimento
específico, a ação tramitará pelo Procedimento Comum.”
Como visto, quando da elaboração da peça processual, sempre que se tratar de pro-
cedimentos especiais, a nomenclatura (nome da Ação) deve seguir a Lei (Ação Monitória,
por exemplo).
Foram selecionadas as ações mais pedidas nas provas. São elas: Ação de Consignação
em Pagamento, Ação de Reintegração de Posse, Ação de Usucapião, Ação de Divórcio
Consensual, Ação Renovatória (locação) e Ação Monitória.
Reitero que a Petição Inicial nas ações de Procedimentos Especiais segue os requisi-
tos do Artigo 319, mais aqueles específicos de cada Ação, como estudaremos a partir
de agora.
Foco sempre!

Ação de Consignação em Pagamento


Segundo Barroso e Lettiere (2019, p. 227), a Ação de Consignação em Pagamento
“é direito do devedor de se livrar de dívida existente, através de depósito em juízo, desde
que por motivo justo que enseje o cabimento”.

A Consignação em Pagamento está disciplinada pelo Código Civil (Arts. 334 a 345
do CC), que disciplina os fatos que autorizam a consignação, bem como pelo Código
de Processo Civil (Arts. 539 a 549 do CPC), que disciplina o modo como ocorre ação.

A Ação de Consignação em Pagamento é cabível nas hipóteses previstas no Artigo


335 do Código Civil, sendo:

I – se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o paga-
mento, ou dar quitação na devida forma;
II – se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e
condição devidos;
III – se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado au-
sente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil;
IV – se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto
do pagamento;
V – se pender litígio sobre o objeto do pagamento.

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Sobre os requisitos da Petição Inicial, além dos requisitos do Art. 319, o autor reque-
rerá, conforme Art. 542:

I – o depósito da quantia ou da coisa devida, a ser efetivado no prazo de 5


(cinco) dias contados do deferimento, ressalvada a hipótese do Art. 539, § 3º;
II – a citação do réu para levantar o depósito ou oferecer contestação.

Cuidado, o depósito previsto no Inciso I é obrigatório, sob pena de extinção do pro-


cesso sem resolução do mérito (Art. 541).

Outra coisa: nessa ação, tem de fazer pedido de citação para levantar o depósito ou
oferecer contestação (Inc. I do Art. 542).

Importante salientar que, se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber
o pagamento, o autor requererá o depósito e a citação dos possíveis titulares do crédito
para provarem o seu direito (Art. 547).

Em se tratando de prestações sucessivas, “Consignada uma delas, pode o devedor


continuar a depositar, no mesmo processo e sem mais formalidades, as que se forem
vencendo, desde que o faça em até 5 (cinco) dias contados da data do respectivo venci-
mento” (Art. 541).

Se a obrigação for em dinheiro, nem precisa de Processo Judicial. O CPC permite


que o depósito seja feito em Estabelecimento Bancário (§ 1º do Art. 539).

Se ocorrer a recusa, “manifestada por escrito ao estabelecimento bancário, poderá


ser proposta, dentro de 1 (um) mês, a ação de consignação, instruindo-se a inicial com
a prova do depósito e da recusa” (§ 3º do Art. 539).

Se a Ação não for proposta no prazo referido, “ficará sem efeito o depósito, podendo
levantá-lo o depositante” (§4º do Art. 539).

Atenção ao Quadro a seguir, que certamente irá ajudar na elaboração da peça.

Quadro 1 – Petição Inicial: ação de consignação em pagamento

Cabimento Art. 335 do CC.

Foro de eleição, se houver. Não havendo, o foro competente é


Foro competente aquele do lugar do pagamento (Art. 540 do CC).

Legitimidade ativa Do devedor

Código Civil: Arts. 334 a 345.


Fundamento legal
Código de Processo Civil: Art. 539 a 549.

Procedimento Procedimento Especial: Arts. 539 a 549 do CPC.

Petição Inicial Art. 319, Art. 320.


(requisitos) Art. 541, Art. 542 e Art. 543.

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UNIDADE Petição Inicial no Processo de Conhecimento

“Na ação de consignação em pagamento, o valor da causa de-


pende do objeto do pagamento (Art. 292, II, CPC). Tratando-se
de consignação de um bem certo, o valor da causa será o valor do
bem, v. g., consignando-se uma máquina que vale R$ 10.000,00
(dez mil reais), o valor da causa será R$ 10.000,00 (dez mil reais).
Valor da causa Tratando-se de um valor único, por exemplo, uma dívida de R$
2.000,00 (dois mil reais), o valor da causa será R$ 2.000,00 (dois
mil reais). Tratando-se de consignação de dívida que vence em
parcelas, o valor da causa será o valor das parcelas vencidas e vin-
cendas até o limite de uma anuidade (Art. 292, §§ 1º e 2º, CPC)”
(ARAÚJO JÚNIOR, 2020, p. 120).

A Ação de Consignação em Pagamento foi pedida na segunda fase do XXX Exame


de Ordem Unificado, aplicado em 01/12/2019.

A seguir, o enunciado e o gabarito comentado, na íntegra.

Tenho certeza que você fará uma excelente Petição Inicial.

Exame OAB – Ação de Consignação em Pagamento


(XXX Exame de Ordem Unificado – Prova Prático-Profissional – Aplicada em
01/12/2019)
Enunciado
“Priscila comprou um carro de Wagner por R$ 28.000,00 (vinte e oito mil reais). Para
tanto Priscila pagou um sinal no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), tendo sido
o restante dividido em nove parcelas sucessivas de R$ 2.000,00 (dois mil reais), a
cada 30 dias. As parcelas foram pagas regularmente até a sétima, quando Priscila,
por ter sido dispensada de seu emprego, não conseguiu arcar com o valor das duas
prestações restantes.
Priscila entrou em contato com Wagner, diretamente, explicando a situação e infor-
mando que iria tentar conseguir o valor restante para quitar o débito, tendo Wagner
mencionado que a mesma não se preocupasse e que aguardaria o pagamento das
parcelas, até o vencimento da última. Tal instrução foi transmitida pelo vendedor à
compradora por mensagem de texto.
Apesar disso, cinco dias antes do vencimento da nona parcela, quando Priscila con-
seguiu um empréstimo com um amigo para quitar as parcelas, ela não conseguiu
encontrar Wagner nos endereços onde comumente dava-se a quitação das presta-
ções, a residência ou o local de trabalho de Wagner, ambos na cidade de São Paulo.
Priscila soube, no mesmo dia em que não encontrou Wagner, que estava impossibi-
litada de trabalhar em uma sociedade empresária, pois o credor incluíra seu nome
no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), em virtude da ausência de pagamento das
últimas parcelas.
Esperando ver-se livre da restrição, quitando seu débito, Priscila efetuou o depósito
de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) no dia do vencimento da última parcela, em uma
agência bancária de estabelecimento oficial na cidade de São Paulo. Cientificado do
depósito, Wagner, no quinto dia após a ciência, recusou-o, imotivadamente, me-
diante carta endereçada ao estabelecimento bancário.

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Como advogado(a) de Priscila, redija a medida processual mais adequada para
que a compradora obtenha a quitação do seu débito e tenha, de imediato,
retirado seu nome do cadastro do SPC. (Valor: 5,00)
Observação
A peça deve abranger todos os fundamentos de Direito que possam ser utilizados
para dar respaldo à pretensão. A simples menção ou transcrição do dispositivo legal
não confere pontuação.”
Gabarito Comentado
“Priscila deverá ajuizar uma ação de consignação em pagamento, conforme o Art. 539
e seguintes do CPC.
A Petição Inicial deverá obedecer aos requisitos gerais do Art. 319 do CPC, sendo di-
rigida a uma das Varas Cíveis da Comarca de São Paulo, de acordo com o Art. 540 do
CPC, indicando, no polo ativo, Priscila, e, no polo passivo, Wagner, com a qualificação
completa de ambas as partes.
Deve ser arguida a tempestividade da presente ação, proposta dentro do prazo de um
mês da recusa de recebimento do valor depositado, conforme Art. 539, § 3º, do CPC.
O examinando deve mencionar que a inviabilidade do pagamento das duas parcelas
decorreu da impossibilidade de localização do réu, no mesmo modus operandi que
foi utilizado para a realização de todos os pagamentos desde o início.
Em seguida, deve o examinando ressaltar o prazo de favor obtido por Prisicila, que efe-
tuou o pagamento integral das parcelas remanescentes na data acordada com Wagner.
Deve o examinando informar que a autora realizou o depósito bancário, em instituição
oficial, tendo o réu além de recusado o pagamento, inserido o nome da autora nos
cadastros restritivos de crédito, o que a impossibilitou de conseguir um novo emprego.
Deve ser requerida a antecipação dos efeitos da tutela para exclusão do nome de
Priscila dos cadastros restritivos de crédito, eis que o valor do débito já se encontra
depositado, bem como a negativação está impedindo que Priscila consiga um novo
emprego, estando presentes o fumus boni iuris e o periculum in mora.
Nos pedidos, deverá o examinando requerer a citação do réu para levantar o depósi-
to ou contestar, conforme Art. 542, Inciso II, do CPC, e a confirmação da quitação do
débito, uma vez que o valor já se encontra depositado, com a consequente extinção
da obrigação e a confirmação da tutela antecipada.
Deve ser mencionada a juntada dos seguintes documentos: contrato de compra e
venda, documento do veículo, comprovante do depósito e manifestação por escrito
da recusa de recebimento do valor depositado assinada por Wagner.
O valor da causa será de R$ 4.000,00, considerando que faltam duas prestações de
R$ 2.000,00 cada.
Por fim, o fechamento, com a indicação de local, data, assinatura e inscrição OAB.”
Disponível em: https://bit.ly/3E5J43q

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17
UNIDADE Petição Inicial no Processo de Conhecimento

Ação de Reintegração de Posse


A Ação de Reintegração de Posse constitui meio de defesa da posse em caso de esbulho
(privação da posse), ou seja, se o possuidor foi retirado da posse de forma violenta, clan-
destina ou precária, para reaver o bem, terá de propor Ação de Reintegração de Posse.

Figura 2 – Reintegração de Posse


Fonte: Getty Images

Ações Possessórias – Não Confunda!


“A reintegração de posse visa a recuperar a posse perdida, em caso de esbulho, ou
seja, quando, por meio do esbulho, o possuidor perdeu sua posse na totalidade.
A manutenção de posse se destina a proteger o possuidor dos atos de turbação. Os
atos de turbação atrapalham o exercício da posse, todavia não retiram o possuidor
de sua posse.
Já o interdito proibitório possui caráter preventivo, por meio dele se evita atentado à sua
posse. Nesse diapasão, o juiz deferirá ordem judicial proibitória, na qual haverá a comi-
nação de pena pecuniária para hipótese de violação” (BARROSO; LETTIERE, 2019, p. 236).

O Pedido Possessório é caracterizado pela fungibilidade, conforme Art. 554 do CPC:


“A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz co-
nheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos
estejam provados”.
O Pedido de Reintegração de Posse pode ser cumulado com o Pedido de Condena-
ção em Perdas e Danos e Indenização dos Frutos. Além de imposição de medida neces-
sária e adequada para evitar nova turbação ou esbulho e cumprir-se a tutela provisória
ou final (Art. 555, CPC).
Cabe ao autor provar a sua posse, o esbulho praticado pelo réu e a perda da posse
(Art. 561). Deferido ou não, o Mandado Liminar de Reintegração, o autor promoverá,
nos 5 (cinco) dias subsequentes, a citação do réu para, querendo, contestar a Ação no
prazo de 15 (quinze) dias (Art. 564).

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Quando for ordenada a justificação prévia, o prazo para contestar será contado da
intimação da decisão que deferir ou não a medida liminar (parágrafo único do Art. 564).

A seguir o Quadro para ajudar na elaboração da peça:

Quadro 2 – Petição Inicial: ação de reintegração de posse

Cabimento Esbulho, Art. 1210 do CC.

Bem imóvel: foro da situação do imóvel (§ 2º do Art. 47 do CPC)


Foro competente
Bem móvel: foro do domicílio do réu (Art. 46 do CPC)

Legitimidade ativa Do possuidor

Código Civil: Art. 1.210


Fundamento legal
Código de Processo Civil: Arts. 554 a 568

Procedimento Especial: Arts. 544 a 568 do CPC.


Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de reintegra-
ção de posse as normas da Seção II deste Capítulo quando a ação
Procedimento for proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afir-
mado na Petição Inicial.
Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum
o procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório.

Art. 292, Inciso VI, do CPC.


“O valor da causa em ação possessória é sempre estimativo, em
razão da inexistência de critério legal a estabelecer valor deter-
minado, e porque a posse compreende apenas um aspecto da
propriedade. Decisão reformada, para prevalecer o valor atribu-
ído pela autora na ação subjacente, revogada a liminar. Recurso
provido” (TJSP, A.I. n° 0212496-97.2011.8.26.0000, 18ª Câmara de
Direito Privado, Des. Rel. JURANDIR DE SOUZA OLIVEIRA, Data do
Julgamento: 01/02/2012).
Processo Civil. Recurso Especial. Ação de Reintegração de
Posse. Contrato de Comodato. Valor da Causa.
1. Por ausência de expressa disposição do CPC acerca da fixação
Valor da causa do valor da causa nas ações possessórias, a jurisprudência desta
Corte tem entendido que ele deve corresponder ao benefício pa-
trimonial pretendido pelo autor;
2. Embora o contrato de comodato não tenha conteúdo econô-
mico imediato, o benefício patrimonial pretendido na ação de
reintegração consubstancia-se no valor do aluguel que a autora
estaria deixando de receber enquanto o réu permanece na posse
do bem;
3. É razoável a aplicação analógica do disposto no Art. 58, III, da
Lei de Locações, para estabelecer o valor da causa na possessória
que busca a posse por rompimento do contrato de comodato.
4. Recurso especial parcialmente provido;
(STJ, REsp nº 1.230.839 - MG (2011/0006141-6), Relatora Ministra
Nancy Andrighi, j. 19/03/2013).

No XXVI Exame de Ordem Unificado, aplicado em 16/08/2016, na PROVA PRÁTI-


CO-PROFISSIONAL, a Peça pedida foi Ação de Reintegração de Posse.

A seguir, o enunciado e o gabarito comentado, reproduzidos na íntegra.

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UNIDADE Petição Inicial no Processo de Conhecimento

Já pode começar a fazer a peça.


Sei que você irá acertar.

Exame OAB – Ação de Reintegração de Posse


(XXVI Exame De Ordem Unificado – Prova Prático-Profissional – Aplicada em
16/09/2018)
Enunciado
“Aline é proprietária de uma pequena casa situada na cidade de São Paulo, resi-
dindo no imóvel há cerca de 5 anos, em terreno constituído pela acessão e por um
pequeno pomar. Pouco antes de iniciar obras no imóvel, Aline precisou fazer uma
viagem de emergência para o interior de Minas Gerais, a fim de auxiliar sua mãe
que se encontrava gravemente doente, com previsão de retornar dois meses depois
a São Paulo. Aline comentou a viagem com vários vizinhos, dentre os quais, João
Paulo, Nice, Marcos e Alexandre, pedindo que “olhassem” o imóvel no período.
Ao retornar da viagem, Aline encontrou o imóvel ocupado por João Paulo e Nice,
que nele ingressaram para fixar moradia, acreditando que Aline não retornaria a
São Paulo. No período, João Paulo e Nice danificaram o telhado da casa ao instalar
uma antena “pirata” de televisão a cabo, o que, devido às fortes chuvas que caíram
sobre a cidade, provocou graves infiltrações no imóvel, gerando um dano estimado
em R$ 6.000,00 (seis mil reais). Além disso, os ocupantes vêm colhendo e vendendo
boa parte da produção de laranjas do pomar, causando um prejuízo estimado em R$
19.000,00 (dezenove mil reais) até a data em que Aline, 15 dias após tomar ciência
do ocorrido, procura você, como advogado.
Na qualidade de advogado(a) de Aline, elabore a peça processual cabível voltada a per-
mitir a retomada do imóvel e a composição dos danos sofridos no bem (Valor: 5,00).
Obs.: a peça deve abranger todos os fundamentos de Direito que possam ser utiliza-
dos para dar respaldo à pretensão. A simples menção ou transcrição do dispositivo
legal não confere pontuação.”

Gabarito Comentado
“A peça processual cabível na espécie é uma Petição Inicial. Considerando que ocorreu
esbulho possessório, na forma do Art. 1.210 do CC, deve ser proposta Ação de Reintegra-
ção de Posse. Como o esbulho ocorreu há menos de ano e dia da propositura da demanda
(Art. 558 do CPC), pois Aline tomou conhecimento do esbulho dentro deste prazo, deve ser
requerida a adoção do procedimento previsto no Art. 560 e seguintes do CPC.
A peça deve ser endereçada a um dos juízos cíveis da Comarca de São Paulo, conside-
rando a competência absoluta do foro de situação do imóvel para a ação possessória
imobiliária (Art. 47, § 2º, do CPC).
No mérito, deve ser afirmada a existência de esbulho possessório, bem como a carac-
terização da posse de João Paulo e Nice como posse de má-fé, nos termos do Art. 1.201
do CC, considerando sua clandestinidade. Também deve ser demonstrada a exten-
são dos danos sofridos no imóvel.
Deve ser formulado requerimento de concessão de liminar em ação possessória, na
forma do Art. 562 do CPC, eis que preenchidos os requisitos do Art. 561 do CPC.
Deve ser requerida, além da reintegração de posse, a condenação dos réus ao pagamen-
to de indenização por perdas e danos e pelos frutos colhidos, na forma do Art. 1.216 e do

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Art. 1.218, ambos do CC, considerando a caracterização da posse como posse de má-fé.
Tal cumulação objetiva é possível com fulcro no Art. 555, caput, Incisos I e II, do CPC/15.
Quanto às provas, deve ser requerida a produção de prova testemunhal, a fim de de-
monstrar a clandestinidade da posse. Da mesma forma, deve ser requerida a produ-
ção de prova pericial, para comprovação da ocorrência dos danos sofridos no imóvel,
e em razão da coleta e alienação dos frutos naturais do imóvel.
O valor da causa deve corresponder a R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais), nos ter-
mos do Art. 292, Inciso VI, do CPC.
Por fim, o fechamento, com a indicação de local, data, assinatura e inscrição OAB”
Disponível em: https://bit.ly/3hjkhPw

Ação de Usucapião
Usucapião é o modo originário de aquisição da propriedade, pela posse prolongada
e qualificada pelos requisitos fixados em lei. Decorre “da somatória de dois elementos: a
inércia do titular do domínio e o tempo de posse” (BARROSO; LETTIERE 2019, p. 243).

Figura 3 – Julgamento
Fonte: Getty Images

Pelo atual CPC, a Ação de Usucapião, seja qual for a espécie, deixa de apresentar
um Procedimento Especial, aplicando-se as regras do Procedimento Comum (Art.
319 do CPC).
De qualquer forma, seguindo a doutrina, vamos analisar este Quadro com as demais
ações de Procedimentos Especiais.

Quadro 3 – O Código Civil trata das seguintes espécies

Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem
oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a proprieda-
de, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao
Usucapião juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para
Extraordinária o registro no Cartório de Registro de Imóveis.
Parágrafo único. O prazo estabelecido neste Artigo reduzir-se-á a dez
anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia ha-
bitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.

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UNIDADE Petição Inicial no Processo de Conhecimento

Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que,


contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o pos-
suir por dez anos.
Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste Artigo
Usucapião Ordinária
se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no re-
gistro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormen-
te, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua mo-
radia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico.

Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até du-
zentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos ininterrup-
tamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua
família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário
Usucapião Especial de outro imóvel urbano ou rural.
Urbana § 1º Andrei título de domínio e a concessão de uso serão conferi-
dos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do
estado civil.
§ 2º Andrei direito previsto no parágrafo antecedente não será
reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.

Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou


urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem opo-
Usucapião Rural sição, área de terra em zona rural não superior a cinquenta hec-
tares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família,
tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.

Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterrup-


tamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre
imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros qua-
Usucapião Especial drados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-compa-
Familiar nheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de
(também chamada de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja
Usucapião Pró-moradia) proprietário de outro imóvel urbano ou rural (Incluído pela Lei
nº 12.424, de 2011).
§ 1º A dívida direito previsto no caput não será reconhecido ao
mesmo possuidor mais de uma vez.

Apesar de a Petição Inicial seguir o Procedimento Comum do Art. 319 do CPC, alguns
pontos merecerem destaque, como a necessidade de Publicação de Editais (Art. 259), o
pedido de citação dos confinantes, “exceto quando tiver por objeto unidade autônoma de
prédio em condomínio, caso em que tal citação é dispensada” (§ 3º do Art. 246) e a pos-
sibilidade do Pedido de Reconhecimento Extrajudicial de Usucapião (Art. 1.071).

No Quadro a seguir, um resumo, sempre com a intenção de ajudar na elaboração


da peça:

Quadro 4 – Petição Inicial: ação de usucapião

Cabimento Art. 1238 a Art. 1.244 do CC.

Bem imóvel: § 2º do Art. 47 do CPC (foro da situação do imóvel).


Foro competente
Bem móvel: Art. 46 do CPC (domicílio do réu).

Legitimidade ativa Em regra, o atual possuidor.

Fundamento legal Código Civil: Art.1238 a 1244.

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Procedimento Procedimento Comum, Arts. 319 e 320 do CPC.

Petição Inicial
CPC: Art. 319, Art. 320, Art. 256.
(requisitos)

Cuidado, tema controvertido. Valor da causa = valor do bem usu-


Valor da causa capiendo (valor venal de referência)
Art. 259, IV do CPC.

No VIII Exame de ordem unificado, na PROVA PRÁTICO-PROFISSIONAL, aplicada


em 21/10/2012, a peça pedida foi “Ação de Usucapião Especial Urbano”. A seguir, o
enunciado e o gabarito comentado, na íntegra.
Leia com atenção e já comece a elaborar a sua peça.
Boa sorte!

Exame OAB – Ação De Usucapião Especial Urbano


(VIII Exame de Ordem Unificado – Prova Prático-Profissional – Aplicada em 21/10/2012)
Enunciado
“Norberto da Silva, pessoa desprovida de qualquer bem material, adquiriu de terceiro,
há nove anos e meio, posse de terreno medindo 240m² em área urbana, onde cons-
truiu moradia simples para sua família. O terreno está situado na Rua Cardoso Soares
nº 42, no bairro de Lírios, na cidade de Condonópolis, no estado de Tocantins. São seus
vizinhos do lado direito Carlos, do esquerdo Ezequiel e, dos fundos, Edgar. A posse é
exercida ininterruptamente, de forma mansa e pacífica, sem qualquer oposição.
No último ano o bairro passou por um acelerado processo de valorização devido à cons-
trução de suntuosos projetos imobiliários. Em razão disso, Norberto tem sido constante-
mente sondado a se retirar do local, recebendo ofertas de valor insignificante, já que as
construtoras alegam que o terreno sequer pertence a ele, pois está registrado em nome
de Cândido Gonçalves.
Norberto não tem qualquer interesse em aceitar tais ofertas; ao contrário, com setenta
e dois anos de idade, viúvo e acostumado com a vida na localidade, demonstra desejo
de lá permanecer com seus filhos.
Por não ter qualquer documentação oficial que lhe resguarde o direito de propriedade
do imóvel, Norberto procura um advogado a fim de que seja intentada medida judicial.
Elabore a peça processual cabível in caso, indicando os seus requisitos e fundamentos
nos termos da legislação vigente.”

Gabarito Ocomentado
“A medida judicial é AÇÃO DE USUCAPIÃO ESPECIAL URBANO, regido pela Lei n. 10.257/01
c/c Art. 1.240 do CC e Artigos 941 a 945 do CPC, pelo rito sumário (Art. 14 da Lei n. 10.257/01).
O examinando deverá dirigir a Petição Inicial ao juízo cível competente para conhecer e
julgar a medida, que é o da comarca de Condonópolis, à luz da competência territorial
absoluta em razão do disposto no Art. 95 do CPC.
No bojo da Petição Inicial deverá indicar corretamente os polos passivo (Cândido Gonçalves) e
ativo (Norberto da Silva), qualificando as partes, e o nome correto da ação, observando

23
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UNIDADE Petição Inicial no Processo de Conhecimento

que o procedimento a ser adotado é o sumário (Art. 14 da Lei n. 10.257/01 c/c Art. 275,
II, h, do CPC), e por isso deve indicar, desde logo, o rol de testemunhas.
O endereço profissional para onde deverão ser encaminhadas as intimações também
deve ser apresentado em atenção ao que dispõe o Art. 39, I, do CPC.
Por se tratar o autor de pessoa idosa e desprovida de recursos materiais, deve ser
apresentada fundamentação para a concessão da prioridade na tramitação do feito
(Art. 71 da Lei n. 10.74/01 – Estatuto do Idoso – ou Art. 1.211-A do CPC) e que justifique
a concessão dos benefícios da Justiça Gratuita (Lei n. 1.060/50), inclusive no âmbito do
cartório do registro de imóveis (§ 2º do Art. 12 da Lei n. 10.257/01).
Além da narrativa dos fatos com clareza, devem ser apresentados os fundamentos jurídi-
cos compreendendo, em razão da natureza da causa, a exposição do exercício prolongado
da posse, sem oposição, de maneira ininterrupta e para fins de moradia, além do aponte
da inexistência de outro bem de propriedade do autor, bem como a demonstração de que
o imóvel é inferior 250m² nos termos da planta do imóvel anexada (Art. 942 do CPC), tudo
nos moldes do Art. 183 da CRFB/88 OU 1.240 e seguintes do CC ou 9º da Lei n. 10.257/01.
No pedido, deverá ser requerida a concessão dos benefícios da gratuidade de justiça e
da prioridade na tramitação; a citação do réu, dos confinantes pessoalmente (Súmula
391 do STF) e dos interessados, por edital; intimação das Fazendas Públicas (Art. 943
do CPC) e do Ministério Público (Art. 944 do CPC) e a produção de provas. Ao final, a
procedência do pedido para declarar a propriedade do imóvel e a condenação em ho-
norários e custas processuais. Por fim, deverá indicar o valor da causa e apontar o rol de
testemunhas (Art. 14 da Lei n. 10.257/01 c/c Art. 276 do CPC)”
Disponível em: https://bit.ly/3hjkhPw
Observação
A prova foi aplicada antes da vigência do novo CPC, sendo assim:
• Art. 941 a 945 (Procedimento Especial para a Ação de Usucapião) – Sem corres-
pondente no CPC atual, que segue o Procedimento Comum;
• Art. 275 (Procedimento Sumário) – Sem correspondente no CPC atual, segue o
Procedimento Comum;
• Art. 39, I – atual Art. 106, I.

Ação de Divórcio
Como você já sabe, o divórcio põe fim ao casamento.

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Figura 4 – Fim do casamento
Fonte: Getty Images

Após a alteração ocorrida no § 6º do Art. 226 da CF, a única exigência para o pedido
de divórcio é estar casado, o que se prova pela certidão de casamento.

Quadro 5

Redação anterior § 6º. O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após pré-
via separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em
a EC 66/2010 lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos.

Redação posterior § 6º. O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio (Redação
a EC 66/2010 dada Pela Emenda Constitucional nº 66, de 2010).

Segundo o Art. 1.581 do CC, “O divórcio pode ser concedido sem que haja prévia
partilha de bens”.

Temos o Divórcio Litigioso (Judicial) e o Divórcio Consensual (Judicial e Extrajudicial).


Iremos tratar especificamente do Divórcio Consensual (Judicial).

Além dos requisitos do Art. 319 e 320 do CPC, a Petição Inicial do Divórcio Consensual,
segundo o Art. 731, deve indicar que as partes estão em comum acordo com relação:

I – as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns;


II – as disposições relativas à pensão alimentícia entre os cônjuges;
III – o acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e ao regime de visitas; e
IV – o valor da contribuição para criar e educar os filhos.

Uma excelente opção é o Divórcio Extrajudicial (Escritura Pública), que só é possível se


houver consenso entre o casal, a inexistência de nascituro ou filhos incapazes (Art. 733).

Após o Divórcio, não tem mais como restabelecer o casamento: só se casando


novamente.

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UNIDADE Petição Inicial no Processo de Conhecimento

Quadro 6 – Petição Inicial: ação de divórcio consensual

Cabimento Ambos estarem de acordo em relação a todas as cláusulas.

Art. 53. É competente o foro:


I – para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento e
reconhecimento ou dissolução de união estável:
a) de domicílio do guardião de filho incapaz;
Foro competente b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz;
c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo
domicílio do casal;
d) de domicílio da vítima de violência doméstica e familiar, nos ter-
mos da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha).

Legitimidade ativa Casal (Divórcio Consensual).

§ 6º do Art. 226 da CF.


Lei 5.515/77, Art. 40, § 2º.
Fundamento legal
Art. 731 ao Art. 733, ambos do CPC.
Art. 1571 do CC.

Procedimento Arts. 319, Art. 320, Art. 731, todos do CPC.

Petição Inicial
CPC: Art. 319, Art. 320, Art. 731.
(requisitos)

Com partilha de bens: a somatória dos valores dos referidos bens


Valor da causa (Art. 292).
Não havendo bens, aplica-se Art. 291 do CPC.

Após incessantes buscas, tive a triste constatação: desde a unificação, não caiu a
peça de Ação de Divórcio na Segunda Fase da Prova da OAB.

Por outro lado, não faltaram questões sobre o tema na Prova Objetiva e nas questões
da Segunda Fase.

Selecionei duas, especialmente para você.

Saiba Mais
(FGV – 2018 – OAB – Exame de Ordem Unificado – XXV – Primeira Fase)
“Aline e Alfredo, casados há 20 anos pelo regime da comunhão parcial de bens, possuem
um filho maior de idade e plenamente capaz. Não obstante, Aline encontra-se grávida
do segundo filho do casal, estando no sexto mês de gestação. Ocorre que, por divergên-
cias pessoais, o casal decide se divorciar e se dirige a um escritório de advocacia, onde
demonstram consenso quanto à partilha de bens comuns e ao pagamento de pensão
alimentícia, inexistindo quaisquer outras questões de cunho pessoal ou patrimonial.
Assinale a opção que apresenta a orientação jurídica correta a ser prestada ao casal:
A) Inexistindo conflito de interesses quanto à partilha de bens comuns, Aline e Alfredo
poderão ingressar com o pedido de divórcio pela via extrajudicial, desde que estejam
devidamente assistidos por advogado ou defensor público.

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B) Aline e Alfredo deverão ingressar com ação judicial de divórcio, uma vez que a exis-
tência de nascituro impede a realização de divórcio consensual pela via extrajudicial, ou
seja, por escritura pública.
C) O divórcio consensual de Aline e Alfredo somente poderá ser homologado após a
partilha de bens do casal.
D)A partilha deverá ser feita mediante ação judicial, embora o divórcio possa ser reali-
zado extrajudicialmente.”
CORRETA: “B”
(VI Exame de Ordem Unificado – Direito Civil – Prova Prático-Profissional)
“Paulo, maior e capaz, e Eliane, maior e capaz, casaram-se pelo regime da comunhão
parcial de bens no ano de 2004. Nessa ocasião, Paulo já havia herdado, em virtude do
falecimento de seus pais, um lote de ações na Bolsa de Valores, cujo montante atualiza-
do corresponde a R$ 50.000,00, sendo certo que Eliane, à época, não possuía bens em
seu patrimônio. No ano de 2005, nasceu João, filho do casal. Em 2006, Paulo
vendeu as ações que havia recebido e, com o produto da venda, comprou um auto-
móvel de igual valor. Em 2007, Paulo foi contemplado com um prêmio de loteria no
valor atualizado de R$ 100.000,00, que se mantém depositado em conta bancária.
Agora, no ano de 2012, o casal, pretendendo se divorciar mediante a lavratura de
escritura pública, decide consultar um advogado.
Na condição de advogado(a) consultado(a) por Paulo e Eliane, responda aos itens a
seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal
pertinente ao caso.
a) Pode o casal divorciar-se por meio de lavratura de escritura pública? (Valor: 0,6)
b) A respeito da partilha de bens em caso de divórcio do casal, qual(is) bem(ns) deve(m)
integrar o patrimônio de Eliane e qual(is) bem(ns) deve(m) integrar o patrimônio de
Paulo? (Valor: 0,65)”
Gabarito Comentado
“a) Não, de acordo com o Artigo 1124-A, CPC. Isso porque os cônjuges possuem um
filho menor de idade, o que consiste em empecilho legal à utilização da via extraju-
dicial para a decretação do divórcio.
b) Caberá a Eliane perceber metade do prêmio de loteria a título de meação, na for-
ma do Artigo 1660, Inciso II, do CC/02. Paulo terá direito ao automóvel, por ter sido
adquirido com o produto da herança (Art. 1659, Inciso I, CC/02), e também a metade
do prêmio de loteria (Artigo 1660, II, CC/02)”.
Disponível em: https://bit.ly/3z0fVD0

Ação Renovatória (Locação)


O Contrato de Locação Empresarial (Locação Não Residencial) tem proteção garan-
tida pela Lei 8.245/91 (Lei do Inquilinato).

A finalidade da Ação Renovatória é assegurar a continuidade da locação e a proteção


ao Ponto Empresarial.

27
27
UNIDADE Petição Inicial no Processo de Conhecimento

Sabemos que não é fácil adquirir uma boa clientela, por isso, o ponto é valorizado
pelo Legislador, que permite, preenchidos os requisitos legais, a renovação do Contrato
de Locação independente da vontade do locador.

A Ação Renovatória, que independe da vontade do locador, segundo o § 5º do Art. 51


da Lei 8.245/91, deve ser proposta até seis meses antes da finalização do Contrato
(“Do direito a renovação decai aquele que não propuser a ação no interregno de um
ano, no máximo, até seis meses, no mínimo, anteriores à data da finalização do prazo
do contrato em vigor.”)

Segundo o Art. 51, o locatário terá direito à renovação do Contrato, por igual prazo,
desde que, cumulativamente:

I – o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo


determinado;
II – o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininter-
ruptos dos contratos escritos seja de cinco anos;
III – o locatário esteja explorando seu comércio, no mesmo ramo, pelo
prazo mínimo e ininterrupto de três anos.

Além do Artigo 319 e 320 do CPC, o Artigo 71 da Lei 8.245/91 apresenta outros
requisitos que devem ser observados na Petição Inicial, sendo:

I – prova do preenchimento dos requisitos dos Incisos I, II e III do Art. 51;


II – prova do exato cumprimento do contrato em curso;
III – prova da quitação dos impostos e taxas que incidiram sobre o imóvel
e cujo pagamento lhe incumbia;
IV – indicação clara e precisa das condições oferecidas para a renovação
da locação;
V – indicação do fiador quando houver no contrato a renovar e, quando
não for o mesmo, com indicação do nome ou denominação completa, nú-
mero de sua inscrição no Ministério da Fazenda, endereço e, tratando-se
de pessoa natural, a nacionalidade, o estado civil, a profissão e o número
da carteira de identidade, comprovando, desde logo, mesmo que não haja
alteração do fiador, a atual idoneidade financeira;
VI – prova de que o fiador do contrato ou o que o substituir na renovação
aceita os encargos da fiança, autorizado por seu cônjuge, se casado for;
VII – prova, quando for o caso, de ser cessionário ou sucessor, em virtude
de título oponível ao proprietário.

A seguir, um resumo para facilitar a elaboração da Petição Inicial.

Quadro 7 – Petição Inicial: ação renovatória

Cabimento Art. 51 da 8.245/91.

Art. 58, Inciso II, da Lei nº 8.245/91


Foro competente “II - é competente para conhecer e julgar tais ações o foro do lugar
da situação do imóvel, salvo se outro houver sido eleito no contrato”;

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• Locatário;
• Pelos “cessionários ou sucessores da locação; no caso de sublo-
Legitimidade ativa
cação total do imóvel, o direito a renovação somente poderá
ser exercido pelo sublocatário” (§ 1º do Art. 51).

Fundamento legal Art. 71 a 75 da Lei nº 8.245/91.

Art. 318 e seguintes do CPC.


Procedimento
Art. 58 da Lei 8.245/91.

Petição Inicial Art. 319 e Art. 320 do CPC.


(requisitos) Art. 71 da Lei 8.245/91.

Art. 58, III, da Lei nº 8.245/91


“III – o valor da causa corresponderá a doze meses de aluguel, ou,
Valor da causa
na hipótese do Inciso II do Art. 47, a três salários vigentes por oca-
sião do ajuizamento;”

No XX Exame de Ordem Unificado, PROVA PRÁTICO-PROFISSIONAL – Aplicada


em 18/09/2016, Direito Empresarial, a Peça pedida foi uma “Ação Renovatória”.
Recomendo que leia com atenção total. Em seguida, pode começar a peça.
Fique tranquilo(a).
Você tem total capacidade para fazer essa prova.

Exame OAB – Ação Renovatória De Locação Não Residencial


(XX Exame de Ordem Unificado – Prova Prático-Profissional – Aplicada em
18/09/2016)
Enunciado
“Distribuidora de Medicamentos Mundo Novo Ltda. foi dissolvida em razão do fale-
cimento do sócio Pedro Gomes, ocorrido em 2013, com fundamento no Art. 1.035 do
Código Civil. A sociedade foi constituída, em 1997, para atuar na comercialização de
medicamentos e sempre atuou nesta atividade.
Para manter a clientela do estabelecimento, mesmo após a dissolução da sociedade,
Iguatemi, única sócia de Pedro Gomes, requereu seu registro como empresária indi-
vidual, e, com o deferimento, prosseguiu, agora em nome próprio, a empresa antes
exercida pela sociedade.
O estabelecimento onde foi instalada a sociedade está situado na cidade de Chapa-
dão do Sul, Estado de Mato Grosso do Sul. O imóvel é alugado desde a constituição
da sociedade, sendo locadora a Imobiliária Três Lagoas Ltda. A vigência inicial do
contrato foi de 3 (três) anos, tendo sido celebrados contratos posteriores por igual
prazo, sucessiva e ininterruptamente. Durante a vigência do último contrato, que
expirou em setembro de 2015, a sociedade limitada foi dissolvida. Diante da con-
tinuidade da empresa posterior à dissolução da sociedade limitada, por Iguatemi,
como empresária individual, esta procurou o locador e lhe apresentou proposta de
novo aluguel, que foi rejeitada sem justificativa plausível.
Em abril de 2014, temendo o prejuízo ao estabelecimento empresarial já consoli-
dado, a perda considerável de clientela e os efeitos nefastos da transferência para

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UNIDADE Petição Inicial no Processo de Conhecimento

outra­localidade, Iguatemi procurou sua advogada para que esta propusesse a me-
dida judicial que assegurasse sua permanência no imóvel, informando que o valor
atual do aluguel mensal é de R$ 17.000,00 (dezessete mil reais) e que contratou
seguro de fiança locatícia.
Considerando que na Comarca de Chapadão do Sul/MS existem apenas duas varas
(1ª e 2ª), competindo ao Juiz da 1ª Vara o julgamento de ações cíveis, elabore a peça
adequada (Valor: 5,00).
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo
legal não confere pontuação”.

Gabarito Comentado
“A questão tem relação com o contrato de locação empresarial (locação não residen-
cial) e a ação apropriada para assegurar a continuidade da locação e a proteção ao
ponto empresarial, isto é, a permanência pelo empresário no local onde exerce sua
empresa e que é referencial para sua clientela.
Com base nos dados descritos no enunciado verifica-se que a peça adequada para
assegurar a permanência de Iguatemi no imóvel é a AÇÃO RENOVATÓRIA [de locação
não residencial], com fundamento no Art. 51, caput, e § 3º e no Art. 71, ambos da
Lei nº 8.245/91.
A Petição Inicial da ação renovatória deve ser instruída com os documentos arrola-
dos no Art. 71 da Lei nº 8.245/91, no que couber, em conformidade com as informa-
ções do enunciado.
A Petição Inicial deve ser endereçada ao juízo da 1ª Vara da Comarca de Chapadão
do Sul/MS, com fundamento no Art. 58, Inciso II, da Lei nº 8.245/91 (“é competente
para conhecer e julgar tais ações o foro do lugar da situação do imóvel”).
O examinando deverá qualificar as partes: a autora Iguatemi, empresária individual
(que não é não EIRELI nem pessoa jurídica de direito privado) e a ré Imobiliária Três
Lagoas Ltda.
Deverá ser explicitado que a autora não é a locatária originária, mas tem legitimida-
de ativa ad causam, pois é sub-rogatária do direito à renovação porque permaneceu
exercendo o mesmo ramo de atividade após a dissolução da sociedade empresária,
com fundamento no Art. 51, § 3º, da Lei nº 8.245/91.
Nos fundamentos jurídicos do pedido o examinando deve demonstrar que a auto-
ra cumpre todos os requisitos do Art. 51, Caput, da Lei nº 8.245/91, com expressa
menção a esse dispositivo legal, (citando-os de per si e relacionando-os aos dados
contidos no enunciado). Ademais, deve ser ressaltado que a ação foi proposta dentro
do prazo previsto no Art. 51, § 5º, da Lei nº 8.245/91 (no interregno de um ano a seis
meses anteriores à data da finalização do prazo do contrato em vigor).
Com base no Art. 71, Incisos IV e V, da Lei nº 8.245/91, na petição da ação renovatória
o autor deverá prestar informações complementares referentes a:
a) apresentação da proposta das condições oferecidas para a renovação da locação,
de “forma clara e precisa”. O examinando deverá cumprir este requisito na elabo-
ração da peça, apresentando uma proposta de sua autoria, considerando o valor
atual do aluguel como patamar mínimo OU informar que a proposta está anexada
à inicial.

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b) indicação do fiador em conformidade com a informação do enunciado (a au-
tora contratou seguro de fiança locatícia), portanto deverá ser apresentado o nome
empresarial da seguradora, CNPJ e endereço.
Nos pedidos deve ser requerida (i) a procedência do pedido para declarar o direito
da autora à renovação compulsória do contrato de locação pelo prazo de 5 anos nas
condições por ela propostas.
O examinando não deverá pedir a prorrogação do contrato pela soma dos pra-
zos dos contratos anteriores, ainda que não tenha havido interrupção entre eles.
A orientação na jurisprudência é a de que a renovação do contrato de locação não
residencial não excederá a 5 anos, mesmo que a soma dos contratos anteriores seja
superior a esse tempo, seja na vigência do Decreto nº 24.150/1934 (STF, Súmula nº
178: “Não excederá de cinco anos a renovação judicial de contrato de locação fun-
dada no Dec. 24.150, de 20.04.1934”; STJ, RESP 7653 e RESP 11640) seja na vigência
da Lei nº 8.245/91 (RESP 1323410/MG; RESP AR 4.220/MG; REsp. 693.729/MG; REsp.
267.129/RJ; REsp. 170.589/SP; REsp. 202.180/RJ; REsp. 195.971/MG).
Ademais, o examinando deve requerer (ii) a citação do réu (locador) e (iii) sua conde-
nação ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios.
Das provas: A Petição Inicial deverá ser instruída com as provas exigidas no Art. 71,
Incisos I, II, III e VI, da Lei nº 8.245/91). A simples transcrição do Art. 71 e seus Incisos
não pontua. Portanto, o examinando deverá fazer referência expressa que instrui a
inicial (ou que se encontram anexados) com os seguintes documentos:
a) contratos de locação firmados pela sociedade Distribuidora de Medicamentos Mun-
do Novo Ltda., para fins de cumprimento do Art. 51, Incisos I e II, da Lei nº 8.245/91;
b) prova(s) de que Iguatemi, como sub-rogatária do direito à renovação, deu con-
tinuidade ao mesmo ramo de negócio da sociedade empresária (distribuição de
medicamentos) perfazendo, sem interrupção, o prazo mínimo de três anos (Art. 51,
Inciso III, da Lei nº 8.245/91);
c) documentos que atestem o cumprimento do contrato em vigor;
d) comprovante (s) de quitação dos impostos e taxas sobre o imóvel e cujo paga-
mento incumbia a locatária;
e) apresentação de apólice de Seguro Fiança Locatícia contratada com a seguradora
e que o valor total da apólice abrange todos os custos da locação até seu encerra-
mento (a apólice substitui prova de anuência do fiador com os encargos da fiança de
que trata o Art. 71, Inciso VI, da Lei nº 8.245/91).
O valor da causa deve ser mencionado expressamente e corresponde a 12 meses do alu-
guel vigente por ocasião do ajuizamento da ação (Artigo 58, Inciso III, da Lei nº 8.245/91):
R$ 17.000,00 x 12 = R$ 204.000,00.
No fechamento da peça o examinando deverá proceder conforme o item 3.5.8 do
Edital, abstendo-se de inserir dado ou informação não contidos no enunciado:
Local ... ou Município (Chapadão do Sul/MS), Data..., Advogado... e OAB...”
Disponível em: https://bit.ly/3z1rTMP

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UNIDADE Petição Inicial no Processo de Conhecimento

Ação Monitória
Sobre a ação monitoria, ensinam Barroso e Lettiere (2019, p. 252):

É por meio do procedimento monitório que o credor – que não possui


título executivo, apenas prova escrita – provocará a formação do título e,
assim, procederá à execução forçada de sentença.
Um exemplo seria a Ação Monitória baseada em cheque prescrito há mais
de dois anos sem demonstrar origem da dívida. (Súmula 299 do STJ)

Pode ser objeto da Ação Monitória, segundo o Art. 700 do CPC,


I – o pagamento de quantia em dinheiro;
II – a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou imóvel;
III – o adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer.

Figura 5 – Cheque
Fonte: Getty Images

Em relação à Petição Inicial, além dos requisitos do Art. 319, a Inicial deve conter
requisitos específicos, contidos no § 2º do Art. 700 do CPC, são eles: a importância de-
vida, instruindo-a com memória de cálculo, o valor atual da coisa reclamada, o conteúdo
patrimonial em discussão ou o proveito econômico perseguido.

Súmulas do STJ
Súmula 247: Contrato de Abertura de Crédito – Ação Monitória. O contrato de abertura de
crédito em contracorrente, acompanhado do demonstrativo de débito, constitui documento
hábil para o ajuizamento da Ação Monitória.
Súmula nº 299: Ação Monitória Fundada em Cheque Prescrito. É admissível a Ação Monitória
fundada em cheque prescrito.

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Segue um resumo sobre a Ação Monitória:

Quadro 8 – Petição Inicial: ação monitória

Cabimento Art. 700 do CPC.

Foro competente Art. 46 do CPC (domicílio do réu).

Código Civil: Arts. 389 a 420 (inadimplemento das obrigações).


Fundamento legal
Código de Processo Civil: 700 a 702 do CPC.

Procedimento Procedimento Especial: Arts. 700 a 702 do CPC.

Petição Inicial Art. 319, Art. 320 do CPC.


(requisitos) Art. 700 do CPC.

Art. 700, § 3º, CPC.


• Valor total da dívida cobrada;
Valor da causa
• O conteúdo patrimonial em discussão ou o proveito econômico
perseguido.

No XXI Exame de Ordem Unificado, PROVA PRÁTICO-PROFISSIONAL, Direito


Empresarial, aplicada em 22/01/2017 foi pedida uma Ação Monitória.

Caso bem interessante, sendo reproduzido, na íntegra, enunciado e gabarito comentado.

Vamos fazer a Peça?

Prova OAB – Ação Monitória


(XXI Exame de Ordem Unificado – Prova Prático-Profissional – Aplicada em
22/01/2017)
Enunciado
“Em 31/10/2012, quarta-feira, Peçanha, domiciliado e residente na Rua X, casa Y, nº 1,
na cidade de São Lourenço/MG, adquiriu eletrodomésticos no valor de R$ 100.000,00
(cem mil reais), do Lojão Chalé Ltda., EPP, tendo sido emitida, na mesma data, uma nota
promissória em caráter pro solvendo no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), com
vencimento para o dia 25/01/2013, sexta-feira, dia útil no lugar do pagamento.
Em 05/01/2017, quinta-feira, o Sr. Fabriciano Murta, administrador e representante
legal da credora, procura você munido de toda a documentação pertinente ao negó-
cio jurídico mencionado. A cliente pretende a cobrança judicial do valor atualizado e
com consectários legais de R$ 280.000,00 (duzentos e oitenta mil reais) por não ter
sido adimplida a obrigação no vencimento pelo devedor e restadas infrutíferas as
tentativas de cobrança amigável.
Elabore a peça adequada, eficaz e pertinente para a defesa do interesse da cliente
e considere que a Comarca de São Lourenço/MG tem duas varas com competência
concorrente para julgamento de matérias cíveis. (Valor: 5,00)
Obs.: a peça deve abranger todos os fundamentos de Direito que possam ser utiliza-
dos para dar respaldo à pretensão. A simples menção ou transcrição do dispositivo
legal não confere pontuação.”

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UNIDADE Petição Inicial no Processo de Conhecimento

Gabarito Comentado
“O(A) examinando(a) deverá demonstrar conhecimento da disciplina relativa às no-
tas promissórias, especialmente o conhecimento do prazo prescricional trienal para
a ação de execução e sua necessária e umbilical relação com o cabimento da Ação
Monitória, caso esse prazo tenha expirado.
Dentre as ações cabíveis para a cobrança judicial da nota promissória (cambial ou
executiva, monitória e ordinária), aquela que se revela a mais adequada, eficaz e
pertinente para a defesa dos interesses da credora é a Ação Monitória, com base nas
informações contidas no enunciado, considerando-se que houve a prescrição da pre-
tensão à execução da nota promissória, a partir da análise das datas de vencimento
e da consulta feita ao advogado.
De acordo com o Art. 77 do Decreto nº 57.663/66 (Lei Uniforme de Genebra – LUG),
aplicam-se à nota promissória as disposições relativas à prescrição da letra de câm-
bio. Por sua vez, o Art. 70 do mesmo diploma estatui o prazo de 3 (três) anos para
a propositura da ação por falta de pagamento em face do aceitante, contados do
vencimento da cártula. A nota promissória não tem aceitante e sim subscritor, por-
tanto, é necessário o fundamento no Art. 78 da LUG, que equipara o subscritor da
nota promissória ao aceitante.
Pelas datas citadas no enunciado (25/01/2013 e 05/01/2017), verifica-se o decurso
de mais de 3 anos entre a data do vencimento e a data da solicitação de cobrança
judicial. Assim sendo, é patente a ocorrência da prescrição da pretensão à execução
da nota promissória. O examinando deverá reconhecer a prescrição e relacionar tal
fato ao cabimento da Ação Monitória.
Com base nessas considerações, a peça a ser elaborada pelo(a) examinando(a) é
uma Ação Monitória, com fundamento no Art. 700, Inciso I, do CPC/15, tendo em
vista que o título (prova escrita) perdeu sua eficácia executiva e a credora pretende
pagamento de quantia em dinheiro. Por esta razão, é indispensável que o exami-
nando mencione em sua resposta o Inciso I do Art. 700 do CPC/15, pois deverá pre-
cisar que o autor pretende o pagamento de quantia em dinheiro e não a entrega de
coisa ou de bem, ou ainda o cumprimento de obrigação de fazer ou de não fazer.
O Juízo competente será a 1ª OU a 2ª Vara Cível da Comarca de São Lourenço/MG, lu-
gar do pagamento e domicílio do subscritor da nota promissória (Art. 53, Inciso III, alí-
nea d, do CPC/15). A vara onde tramitará a ação não estará determinada no momento
da elaboração da petição. Assim, não cabe sua indicação prévia na Petição Inicial.
O(A) examinando(a) deve demonstrar a tempestividade no ajuizamento da ação,
com base no Art. 206, § 5º, Inciso I, do Código Civil (prazo quinquenal) OU na Súmu-
la 504 do STJ (“O prazo para ajuizamento de Ação Monitória em face do emitente
de nota promissória sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte ao
vencimento do título”, STJ, Segunda Seção, julgada em 11/12/2013, DJe 10/02/2014).
Considerando-se que o vencimento ocorreu em 25/01/2013, não decorreram ainda
5 (cinco) anos, portanto há tempestividade para a propositura da Ação Monitória.
Na Petição Inicial da Ação Monitória, o autor deve explicitar o conteúdo patrimonial
em discussão, de modo que devem constar no texto da resposta na parte referente
aos fundamentos jurídicos:
a) a origem do crédito: aquisição de eletrodomésticos pelo devedor, ora réu;
b) o crédito está representado em nota promissória emitida pelo réu;

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c) não houve novação na emissão da nota promissória em relação ao crédito por ter
sido emitida em caráter pro solvendo;
d) do dia seguinte ao do vencimento da nota promissória até a data da propositura
da ação, decorreram mais de 3 (três) anos, verificando-se a prescrição da pretensão à
execução, nos termos do Art. 77 c/c os Artigos 70 e 78, todos do Decreto nº 57.663/66;
e) com a perda da eficácia executiva do título ainda é cabível a cobrança por via de
Ação Monitória, nos termos do Art. 700, Inciso I, do CPC/15.
A razão jurídica para o cabimento da Ação Monitória está, necessariamente, relacio-
nada à prescrição em 3 anos da pretensão à execução da nota promissória. Por esta
razão, a pontuação do item “e” da Fundamentação Jurídica depende que o exami-
nando reconheça a prescrição em 3 anos em sua resposta, e, dessa forma, atinja o
conteúdo mínimo avaliado.

Nos pedidos, o(a) examinando(a) deve requerer:


a) a expedição de mandado de citação (admite-se a citação por qualquer dos meios
permitidos para o Procedimento Comum, Art. 700, § 7º, CPC/15) E de pagamento con-
tra o réu, a ser cumprido no prazo de 15 dias, nos termos do Art. 701, caput, do CPC/15;
b) o pagamento de honorários advocatícios de 5% (cinco por cento) do valor de R$
280.000,00 (duzentos e oitenta mil reais), correspondentes ao valor da causa, OU o
pagamento de honorários advocatícios no valor de R$ 14.000,00 (catorze mil reais),
correspondente a 5% do valor da causa (o simples pedido de honorários não pontua);
c) a condenação do réu ao pagamento de custas processuais em caso de descumpri-
mento do mandado monitório, em conformidade com o Art. 701, § 1º, do CPC/15 (o
simples pedido de condenação em custas não pontua);
d) a procedência do pedido para decretar a constituição, de pleno direito, de título
executivo judicial, independentemente de qualquer formalidade, se não realizado o
pagamento E não apresentados embargos pelo réu (Art. 701, § 2º, do CPC/15);
e) em obediência ao Art. 318, parágrafo único c/c o Art. 319, Inciso VII, ambos do
CPC/15, a indicação de ter interesse (ou não) pela realização de audiência de conci-
liação ou de mediação.
Das provas: a petição deverá estar necessariamente instruída com a prova escrita
sem eficácia de título executivo (nota promissória), nos termos do Art. 700, caput, do
CPC/15. Portanto, o examinando deverá fazer referência expressa a ela, bem como
à memória de cálculo que serviu de base para apuração da importância devida (Art.
700, § 2º, Inciso I, do CPC/15).
Valor da causa: Nos termos do Art. 700, § 3º, do CPC/15, o(a) examinando(a) deverá fa-
zer menção expressa ao valor da causa de R$ 280.000,00 (duzentos e oitenta mil reais),
que corresponde à importância devida prevista no Art. 700, § 2º, Inciso I, do CPC/15.
Fechamento da peça: o(a) examinando(a) deverá proceder conforme o item 3.5.9
do Edital (Local ... ou Município (São Lourenço/MG), Data..., Advogado(a)... e OAB...),
abstendo-se de inserir dado ou informação não contidos no enunciado (ex: dia, mês
e ano definidos) para não identificar sua peça.
Cabe lembrar que, em hipótese alguma, a peça deve ser datada, pois não há este
comando no enunciado da questão”.
Disponível em: https://bit.ly/2X9QCkN

35
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UNIDADE Petição Inicial no Processo de Conhecimento

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Manual de prática forense civil
CHACON, L. F. R. Manual de prática forense civil. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2020
Ler capítulo V – Resolução de Exames da OAB (peças e questões), p. 95 e ss. (e-book)

Vídeos
Saber Direito – Teoria e prática das Ações Possessórias – Aula 2
https://youtu.be/nQBe04DeXKU
Prova Final: Usucapião
https://youtu.be/a_hKhqOCT6Y

Leitura
Exame de Ordem da OAB
https://bit.ly/3laZhvA

36
Referências
ARAÚJO JÚNIOR, G. C. Prática no Processo Civil. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2020.
(e-book)

BARROSO, D.; LETTIERE, J. F. Prática no Processo Civil. 9. ed. São Paulo: Saraiva,
2019. (e-book)

THEODORO JÚNIOR, H. Código de Processo Civil Anotado. 23. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020. (e-book)

ARAUJO JÚNIOR, G. C. Prática de Contestação no Processo Civil: contestação,


reconvenção, exceções, impugnações. 6. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Atlas, 2020.
(e-book)

CHACON, L. F. R. Manual de Prática Forense Civil. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2020.
(e-book)

TARTUCE, F. D. L. Manual de Prática Civil. 16. ed. rev. atual. São Paulo: Método,
2021. (e-book)

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37
Prática Jurídica
Civil e Empresarial I
Respostas do Réu

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª M.ª Christiane Cavalcante Marcellos

Revisão Textual:
Prof.ª Dra. Selma Aparecida Cesarin
Respostas do Réu

• Introdução;
• Contestação;
• Reconvenção;
• Outras Petições Incidentais Importantes;
• Da Audiência de Conciliação e Mediação.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Atuação na defesa do jurisdicionado, utilizando toda a técnica necessária disponível no Direito;
• Redação jurídica pautada na ética, no conhecimento da Lei, da doutrina e da jurisprudência.
UNIDADE Respostas do Réu

Introdução
O momento agora é o da defesa!

Figura 1 – Advogada estudando o Processo


Fonte: Getty Images

Defender-se é exercer o Direito Fundamental ao Contraditório e Ampla Defesa, previsto


no Art. 5º, LV da Constituição Federal.

Seguindo o comando maior, o Código de Processo Civil dispõe que “O juiz não pode
decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se
tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre
a qual deva decidir de ofício” (Art. 10).

O tema “resposta do réu” encontra-se disciplinado no CPC, do Artigo 335 até o


343, que estabelece a Contestação e a Reconvenção como meios de resposta do réu no
Processo de Conhecimento.

Além da resposta do réu, nesta Unidade, iremos estudar outras Petições Incidentais
importantes, como a Réplica e o Rol de Testemunhas.

Para fechar com chave de ouro, falaremos sobre a Audiência de Conciliação e a


Mediação.

Boa aula!

Contestação
Para Barroso e Lettiere (2019, p. 123), a Contestação ”é o instrumento pelo qual o
réu se defende contra a pretensão do autor (pedido e causa de pedir), além de permitir
a defesa processual”.

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Figura 2 – Redigindo a Contestação
Fonte: Getty Images

Na Contestação, o réu deve se defender de forma ampla, ou seja, “Incumbe ao réu


alegar, na contestação, toda a matéria de defesa, expondo as razões de fato e de direito
com que impugna o pedido do autor e especificando as provas que pretende produzir”
(Art. 336).

A Contestação pode ser dividida em duas partes, defesa processual (também chamada
de preliminar) e defesa de mérito (direta e indireta).

Em rápidas palavras, na defesa de mérito direta, o réu ataca os fatos alegados pelo
autor e ou a fundamentação jurídica. Na defesa de mérito indireta, o réu não nega as
alegações do autor, mas apresenta fato novo (extintivo, modificativo ou impeditivo).

A Defesa Processual refere-se às questões processuais do Processo, deve ser alegada


antes de discutir o mérito, conforme Art. 337 do CPC.

São elas: I – inexistência ou nulidade da citação; II – incompetência absoluta e relativa;


III – incorreção do valor da causa; IV – inépcia da petição inicial; V – perempção; VI – li-
tispendência; VII – coisa julgada; VIII – conexão; IX – incapacidade da parte, defeito de
representação ou falta de autorização; X – convenção de arbitragem; XI – ausência de
legitimidade ou de interesse processual; XII – falta de caução ou de outra prestação que a
lei exige como preliminar; XIII – indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça.

Na Contestação, o advogado deve tomar muito cuidado para não esquecer de se


manifestar sobre todas as alegações de fato constantes da Petição Inicial, aquelas não
impugnadas presumem-se verdadeiras, salvo se: “I – não for admissível, a seu respeito,
a confissão; II – a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei con-
siderar da substância do ato; III – estiverem em contradição com a defesa, considerada
em seu conjunto”, lembrando-se de que “O ônus da impugnação especificada dos fatos
não se aplica ao defensor público, ao advogado dativo e ao curador especial” (Parágrafo
Único do Art. 341).

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UNIDADE Respostas do Réu

Mas o que significa dizer que o réu tem o dever de impugnar especificamente todos os
pontos da Inicial?
O ordenamento processual prevê que é ônus do réu impugnar os fatos narrados pelo autor,
sob pena de, ao deixar de se manifestar sobre algum deles, ocorrer a presunção de veracida-
de, salvo se o fato depender da prova por instrumento público e o autor deixou de exibir tal
documento na petição inicial. Trata-se de direito indisponível que não comporta confissão,
ou, ainda, quando a interpretação do conjunto da contestação permitir a conclusão de que
todos os fatos estão impugnados” (BARROSO; LETTIERE, 2019, p. 126).

O réu tem o prazo de 15 (quinze) dias para apresentar a Contestação. Se apresentar


no 5º dia, por exemplo, não pode mais apresentar até o vencimento, pois ocorreu a
chamada preclusão consumativa.
Depois da Contestação, segundo o Art. 342, “só é lícito ao réu deduzir novas alega-
ções quando: I – relativas a direito ou a fato superveniente; II – competir ao juiz conhecer
delas de ofício; III – por expressa autorização legal, puderem ser formuladas em qualquer
tempo e grau de jurisdição”.

Importante!
Não deixe de contestar!
“A ausência de contestação acarreta a revelia” (CPC/2015, Art. 344). Em regra, são graves os
efeitos da revelia: (1) presumem-se verdadeiras as alegações dos fatos formuladas pelo autor
na petição inicial (CPC/2015, Art. 344); (ii) se não houver advogado constituído nos autos, os
prazos correm independentemente de intimação, bastando que haja a publicação no diário
oficial (CPC/2015, Art. 346); (iii) é possível o julgamento antecipado do mérito (Art. 335, II) ou
o julgamento antecipado parcial do mérito (Art. 356, II) (TARTUCE, 2020, p. 208).

Chacon apresenta o que ele chama de “quadro facilitador” para a elaboração da


Contestação.
Achei o quadro bem interessante, e por isso o trouxe para você.
Veja a seguir:

Tabela 1
Endereçamento ao juiz da causa
Preâmbulo com qualificação resumida das partes
Resumo da petição inicial
Preliminares
Mérito da Contestação
Fatos e fundamentos jurídicos da Reconvenção
Pedido de improcedência da ação + preliminares + pedido
de procedência da Reconvenção e requerimentos
Protesto por provas
Fechamento
Fonte: Adaptada de CHACON, 2021, p. 68

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Como se vê, a Contestação tem forma simples e você não terá dificuldade, mas sugiro
alguns cuidados:
• Leia com atenção a Petição Inicial e os documentos juntados;
• Agende uma reunião com seu cliente;
• Estude a Lei, a doutrina e a jurisprudência sobre o caso.
Prazo de 15 Dias para Contestar
Art. 335. O réu poderá oferecer contestação, por petição, no prazo de
15 (quinze) dias, cujo termo inicial será a data:
I – da audiência de conciliação ou de Mediação, ou da última sessão de
conciliação, quando qualquer parte não comparecer ou, comparecendo,
não houver autocomposição;
II – do protocolo do pedido de cancelamento da audiência de conciliação
ou de Mediação apresentado pelo réu, quando ocorrer a hipótese do Art.
334, § 4º, inciso I;
III – prevista no Art. 231, de acordo com o modo como foi feita a citação,
nos demais casos.
Enunciado 122 da II Jornada de Direito Processual Civil (CJF)
“O prazo de contestação é contado a partir do primeiro dia útil seguinte à
realização da audiência de conciliação ou Mediação, ou da última sessão
de conciliação ou Mediação, na hipótese de incidência do Art. 335, inc. I,
do CPC”.

Na segunda fase do XVI Exame de Ordem Unificado, aplicada em 17/05/2015, a


Peça Processual pedida foi uma Contestação.

Para melhor compreensão do tema, peço que leia o enunciado e o gabarito comentado,
na íntegra, apresentados a seguir.

Depois disso, já pode começar a fazer!

Exame OAB – Contestação


(XVI Exame de Ordem Unificado – Prova Prático-Profissional – Aplicada em
17/05/2015)
Enunciado
João andava pela calçada da rua onde morava, no Rio de Janeiro, quando foi atingido
na cabeça por um pote de vidro lançado da janela do apartamento 601 do edifício do
Condomínio Bosque das Araras, cujo síndico é o Sr. Marcelo Rodrigues.
João desmaiou com o impacto, sendo socorrido por transeuntes que contataram o
Corpo de Bombeiros, que o transferiu, de imediato, via ambulância, para o Hospital
Municipal X. Lá chegando, João foi internado e submetido a exames e, em seguida,
a uma cirurgia para estagnar a hemorragia interna sofrida.
João, caminhoneiro autônomo que tem como principal fonte de renda a contrata-
ção de fretes, permaneceu internado por 30 dias, deixando de executar contratos já
negociados. A internação de João, nesse período, causou uma perda de R$ 20 mil.

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UNIDADE Respostas do Réu

Após sua alta, ele retomou sua função como caminhoneiro, realizando novos fre-
tes. Contudo, 20 dias após seu retorno às atividades laborais, João, sentindo-se mal,
voltou ao Hospital X. Foi constatada a necessidade de realização de nova cirurgia,
em decorrência de uma infecção no crânio causada por uma gaze cirúrgica deixada
no seu corpo por ocasião da primeira cirurgia. João ficou mais 30 dias internado,
deixando de realizar outros contratos. A internação de João, por este novo período,
causou uma perda de R$ 10 mil.
João ingressa com ação indenizatória perante a 2ª Vara Cível da Comarca da Capital
contra o Condomínio Bosque das Araras, requerendo a compensação dos danos sofri­
dos, alegando que a integralidade dos danos é consequência da queda do pote de
vidro do condomínio, no valor total de R$ 30 mil, a título de lucros cessantes, e 50
salários mínimos a título de danos morais, pela violação de sua integridade física.
Citado, o Condomínio Bosque das Araras, por meio de seu síndico, procura você para
que, na qualidade de advogado(a), busque a tutela adequada de seu direito.
Elabore a peça processual cabível no caso, indicando os seus requisitos e fundamentos,
nos termos da legislação vigente (Valor: 5,00).
Responda justificadamente, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a
fundamentação legal pertinente ao caso.

Gabarito Comentado
A peça a ser formulada é uma Contestação à ação indenizatória proposta por João.
O Condomínio deverá defender a sua ilegitimidade passiva pelo fato de, em relação à
queda do pote de vidro, ser identificado o condômino e, com relação ao erro médico,
ser responsabilidade do Hospital Municipal X.
O Condomínio deverá arguir improcedência do pedido de indenização em relação à
primeira cirurgia, tendo em vista que o pote de vidro foi lançado de apartamento in-
dividualizado – 601 –, isto é, de unidade autônoma reconhecida. De acordo com o
Art. 938 do Código Civil, “aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano
proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido”. Assim,
o habitante (proprietário, locatário, comodatário, usufrutuário ou mero possuidor) da
unidade autônoma é o responsável pela prática do ato danoso, e não o Condomínio.
Outrossim, deverá o Condomínio arguir que não há obrigação de indenizar de sua
parte em relação aos danos decorrentes da segunda cirurgia sofrida por João, na
medida em que o dano é resultado de erro médico cometido pela equipe cirúrgica
do Hospital Municipal X, não da queda do pote de vidro. Ainda que materialmente
relacionado ao evento, a queda do pote de vidro do edifício somente se pode atribuir
a consequências danosas do primeiro evento, de acordo com o Art. 403 do CC: ”Ainda
que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os preju-
ízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do
disposto na lei processual”.
Por fim, deverá defender a inexistência de danos morais a serem indenizados e, caso
seja diferente o entendimento do juízo, que o valor a ser fixado a título de indenização
seja inferior àquele pedido pelo autor.

Fonte: https://bit.ly/3zaUeQK

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Reconvenção
Segundo o Art. 343 do CPC, “Na contestação, é lícito ao réu propor reconvenção
para manifestar pretensão própria, conexa com a ação principal ou com o fundamento
da defesa”.

Figura 3 – Acidente de trânsito


Fonte: Getty Images

A Reconvenção nada mais é do que um contra-ataque, feito na própria Contestação


(mesma peça).

No CPC antigo, a Reconvenção era apresentada simultaneamente à Contestação, em


peça autônoma.

Para entender melhor a Contestação e a Reconvenção, Chacon (2021, p. 71) faz uma
comparação inteligente:
Imagine uma arena de luta romana. O soldado, gladiador, empunha uma
espada e um escudo. Quando ele é atacado por seu oponente, ficando
numa posição defensiva e levanta o escudo para se defender dos golpes
do adversário, está usando a ”Contestação” como método único de defe-
sa de mérito. Mas, quando ele percebe que pode contra-atacar e golpeia
o adversário com sua espada, usa a ”Reconvenção”, tudo na mesma luta.
Essas são as duas principais e mais comuns respostas do réu no processo
e devem ser feitas na mesma petição: a defesa propriamente dita e ao
contra-ataque (Reconvenção).

Proposta a Reconvenção, o autor será intimado, na pessoa de seu advogado, para


apresentar resposta no prazo de 15 (quinze) dias (§1º do Art. 343).

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UNIDADE Respostas do Réu

Podem ser partes contrárias na Reconvenção o autor e terceiro (§3º do Art. 343).
O réu pode propor Reconvenção independentemente de oferecer Contestação (§ 6º do
Art. 343).

Ademais, a desistência da ação ou a ocorrência de causa extintiva que impeça o exame


de seu mérito não obsta ao prosseguimento do processo quanto à Reconvenção (§ 2º do
Art. 343).

Na segunda fase do XXVIII Exame de Ordem Unificado, aplicada em 05/05/2019,


a Peça Processual pedida foi uma Contestação com Reconvenção.

Muito interessante o caso trazido pela OAB. Leia o enunciado e já pode fazer a peça.

Você irá acertar!

Exame OAB – Contestação Com Reconvenção


(XXVIII Exame de Ordem Unificado – Prova Prático-Profissional – Aplicada em
05/05/2019)
Enunciado
Julia dirigia seu veículo na Rua 001, na cidade do Rio de Janeiro, quando sofreu uma
batida, na qual também se envolveu o veículo de Marcos. O acidente lhe gerou danos
materiais estimados em R$ 40.000,00 (quarenta mil reais), equivalentes ao conserto
de seu automóvel. Marcos, por sua vez, também teve parte de seu carro destruído,
gastando R$ 30.000,00 (trinta mil reais) para o conserto.
Diante do ocorrido, Julia pagou as custas pertinentes e ajuizou ação condenatória
em face de Marcos, autuada sob o nº 11111111111 e distribuída para a 8ª Vara Cível
da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro, com o objetivo de obter indeni-
zação pelo valor equivalente ao conserto de seu automóvel, alegando que Marcos
teria sido responsável pelo acidente, por dirigir acima da velocidade permitida. Julia
informou, em sua petição inicial, que não tinha interesse na designação de audiência
de conciliação, inclusive porque já havia feito contato extrajudicial com Marcos, sem
obter êxito nas negociações. Julia deu à causa o valor de R$ 1.000,00 (hum mil reais).
Marcos recebeu a carta de citação do processo pelo correio, no qual fora dispensada
a audiência inicial de conciliação, e procurou um advogado para representar seus
interesses, dado que entende que a responsabilidade pelo acidente foi de Julia, que
estava dirigindo embriagada, como atestou o boletim de ocorrência, e que ultra-
passou o sinal vermelho. Entende que, no pior cenário, ambos concorreram para o
acidente, porque, apesar de estar 5% acima do limite de velocidade, Julia teve maior
responsabilidade, pelos motivos expostos.
Aproveitando a oportunidade, Marcos pretende obter de Julia indenização em valor
equivalente ao que dispendeu pelo conserto do veículo. Marcos não tem interesse
na realização de conciliação.
Na qualidade de advogado(a) de Marcos, elabore a peça processual cabível para de-
fender seus interesses, indicando seus requisitos e fundamentos, nos termos da legis-
lação vigente. Considere que o aviso de recebimento da carta de citação de Marcos foi
juntado aos autos no dia 04/02/2019 (segunda-feira), e que não há feriados no mês
de fevereiro (Valor: 5,00).

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Obs.: a peça deve abranger todos os fundamentos de Direito que possam ser utiliza-
dos para dar respaldo à pretensão. A simples menção ou transcrição do dispositivo
legal não confere pontuação.
Gabarito Comentado
A peça processual cabível é uma Contestação (Art. 335 do CPC), com Reconvenção
(Art. 343 do CPC), apresentada no prazo de 15 dias úteis (Art. 219 do CPC) a partir da
juntada do AR relativo à carta de citação (Art. 335 e Art. 231, inciso I, ambos do CPC)
ou seja, até 25/02/2019.
O examinando deverá apresentar a Contestação dirigida ao processo nº 11111111111,
para a 8ª Vara Cível da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro.
Na Contestação, deverá alegar, em preliminar, incorreção do valor da causa, que deve
corresponder ao proveito econômico pretendido por Julia, nos termos do Art. 292,
inciso I, do CPC (ou seja, R$ 40.000,00), requerendo a correção e sua intimação para
recolher as custas complementares (Art. 292, § 3º, do CPC).
No mérito da Contestação, deverá indicar como os fatos ocorreram, defendendo a
ausência de responsabilidade pelo acidente, porque não praticou ilícito (Art. 927 e
Art. 186 do Código Civil), imputando à Julia a responsabilidade exclusiva pelo aci-
dente. Subsidiariamente, deve defender a responsabilidade concorrente de Julia
(Art. 945 do CC).
Na Reconvenção, deverá reiterar a responsabilidade de Julia, e demonstrar os pre-
juízos sofridos com o conserto de seu veículo, comprovando-o com notas fiscais e
comprovantes de pagamento dos R$ 30.000,00, para comprovar a extensão do dano
(Art. 944 do Código Civil).
Ao final, deve requerer a improcedência do pedido de Julia, ou subsidiariamente, o
reconhecimento de culpa concorrente, reduzindo-se o valor da indenização. Deve
requerer também a procedência do pedido reconvencional.

Fonte: https://bit.ly/3nyBKaA

Outras Petições Incidentais Importantes


Além de estudar a Petição Inicial, a Contestação e a Reconvenção, seria interessante
que você estudasse outras duas Petições: a Réplica e o Rol de Testemunhas.
A Réplica é a manifestação do autor sobre as alegações do réu.
Ensina Tartuce (2020, p. 264) que:
Se na Contestação o réu trouxe defesas processuais ou novos argumen-
tos quanto ao mérito, preveem os arts. 350 e 351 do CPC/2015, em
atenção à ampla defesa, a possibilidade de o autor se manifestar sobre
tais alegações.
A petição em que o autor poderá expor seus argumentos é denominada,
na praxe forense e na doutrina, “réplica”.

Se o réu alegar fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, este será
ouvido no prazo de 15 (quinze) dias, permitindo-lhe o juiz a produção de prova (Art. 350).

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UNIDADE Respostas do Réu

Da mesma forma, se o réu alegar qualquer defesa processual (Art. 337), o juiz de-
terminará a oitiva do autor no prazo de 15 (quinze) dias, permitindo-lhe a produção de
prova (Art. 351).

Já faz um tempinho que a réplica caiu no Exame de Ordem. Foi na Prova Prático-Pro-
fissional, Direito Civil, Exame de Ordem 2010/1, Cespe/UnB, aplicada em 25/07/2010.

Vamos fazer?

Pode começar!

Prova OAB – Réplica


Prova Prático-Profissional, Direito Civil, Exame de Ordem 2010/1, Cespe/UnB, apli-
cada em 25/07/2010
Enunciado
Júlia ajuizou ação sob o rito ordinário, distribuída à 34.ª Vara de Família de São
Paulo­– SP, com o objetivo de ver declarada a existência de união estável que alega
ter mantido, de 1989 a 2005, com Jonas, já falecido. Arrolou a autora, no polo passi-
vo da lide, o nome dos herdeiros de Jonas, que, devidamente citados, apresentaram
Contestação no prazo legal.
Preliminarmente, os réus alegaram que:
• O pedido seria juridicamente impossível, sob o argumento de que Jonas, apesar
de não viver mais com sua esposa havia vinte anos, ainda era casado com ela,
mãe dos réus, quando falecera, algo que inviabilizaria a declaração da união
estável, por ser inaceitável admiti-la com pessoa casada;
• A autora não teria interesse de agir, sob o argumento de que Jonas não deixará
pensão de qualquer origem, sendo inútil a ela a simples declaração;
• O pedido encontraria óbice na coisa julgada, sob o fundamento de que, em opor-
tunidade anterior, a autora ajuizara, contra os réus, ação possessória na qual,
alegando ter sido companheira do falecido, pretendia ser mantida na posse de
imóvel pertencente ao último, tendo sido o julgamento dessa ação desfavorável
a ela, sob a fundamentação de que não teria ocorrido a união estável;
• Haveria litispendência, sob o argumento de que já tramitava, na 1.ª Vara de Órfãos
e Sucessões de São Paulo – SP, ação de inventário dos bens deixados pelo falecido,
devendo necessariamente ser discutido naquela sede qualquer tema relativo a
interesse do espólio, visto que o juízo do inventário atrai os processos em que o
espólio é réu.
No mérito, os réus aduziram que Jonas era homem dado a vários relacionamentos
e, apesar de ter convivido com a autora sob o mesmo teto, tinha uma namorada em
cidade vizinha, com a qual se encontrava, regularmente, uma vez por semana, no
período da tarde.
Considerando as matérias suscitadas na defesa, o juiz conferiu à autora, mediante
intimação feita em 21/9/20XX (segunda-feira), prazo para manifestação.
Disponível em: https://bit.ly/3hxOJWj

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Gabarito Comentado
Deve-se redigir uma réplica, com argumentos jurídicos capazes de levar à rejeição
das alegações aduzidas pelos réus em Contestação.

A Peça
Réplica endereçada ao juiz da 34.ª Vara de Família de São Paulo – SP.
Data: 1.º de outubro de 20XX (CPC, Art. 327).
Relato da situação fática.

Preliminares
A separação de fato entre o falecido e sua esposa, ocorrida há mais de vinte anos,
não serve de óbice à possibilidade jurídica do pedido (Código Civil, Art. 1.723, § 1.º),
verificando-se a possibilidade jurídica do pedido quando este é admitido pelo orde-
namento jurídico, ou não é vedado.
Estabelece o Código Civil:
Art. 1.521. Não podem casar:
(...)
VI − as pessoas casadas;
(...)
Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mu-
lher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o obje-
tivo de constituição de família.
§ 1º. A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do Art. 1.521, não
se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato
ou judicialmente.
Existe interesse de agir mesmo na simples declaração da união estável sem que haja
pensão. A convivência duradoura entre duas pessoas é um fato, sendo a união estável
um conceito jurídico que poderá ou não definir tal relação. A lei prevê a possibilidade
de ser declarada a existência de relação jurídica (CPC, Art. 4.º, I). Ademais, conside-
rando-se que há ação de inventário em curso, o falecido deixou bens, podendo algum
deles ter sido adquirido na constância da união estável.
Não ocorre litispendência, pois os elementos das ações não são coincidentes. Para
que ocorra a litispendência, deverá ser repetida ação em curso. De fato, uma ação é
idêntica a outra quando ambas têm as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o
mesmo pedido (CPC, Art. 301, §§ 1.º e 2.º).
A atração exercida pelo inventário não se põe de tal modo a determinar que o pedido
de reconhecimento da união estável de quem não é herdeira precise necessariamente
ser processado nos autos do inventário. O reconhecimento de união estável é de com-
petência da vara de família. Foi respeitada a competência do foro, visto que a ação
declaratória foi proposta no foro do domicílio do autor da herança (CPC, Art. 96).
Não ocorre, na hipótese, coisa julgada, pois o pedido é diferente nas duas ações.
Ademais, os fundamentos de uma sentença não transitam em julgado de modo a
impedir novo pronunciamento judicial acerca da matéria já discutida em momento
anterior (CPC, Art. 301, §§ 1.º e 3.º).

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UNIDADE Respostas do Réu

Mérito
A existência de relacionamento não estável não serve de empecilho ao reconheci-
mento da união estável da autora com o falecido, visto que, conforme informação da
própria Contestação, o suposto relacionamento não tinha os atributos de união es-
tável nos termos da lei civil, de acordo com o que dispõe o Art. 1.723 do Código Civil:
“É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher,
configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o obje-
tivo de constituição de família”.

Requerimento Final
Deve ser requerida ao juiz a rejeição das preliminares alegadas, da causa de extinção
do processo, com a procedência do pedido inicial.

Observação para a correção


Atribuir pontuação integral às respostas em que esteja expresso o conteúdo do dis-
positivo legal, ainda que não seja citado, expressamente, o número do Artigo.
Disponível em: https://bit.ly/2XkpxLP

Observação
A prova foi aplicada antes da vigência do novo CPC. Sendo assim:
• Art. 327, atual Art. 351;
• Art. 4º, I, atual Art. 19, I;
• Art. 301, §1º e § 2º, atual Art. 337, § 1º e § 2º;
• Art. 96, atual Art. 48.

Figura 4 – Oitiva de testemunha


Fonte: Getty Images

Vamos falar um pouco da Prova Testemunhal.

Muito comum no Processo é a Prova Testemunhal, que sempre é possível, não dispondo
a Lei de modo diverso (Art. 442).

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O CPC (Art. 443) permite que o juiz indefira a Prova Testemunhal sobre fatos “I – já
provados por documento ou confissão da parte; II – que só por documento ou por exa-
me pericial puderem ser provados”.

Caso tenha sido determinada a produção de Prova Testemunhal, o juiz fixará prazo
comum não superior a 15 (quinze) dias para que as partes apresentem rol de testemu-
nhas (§ 4º do Art. 357).

O rol de testemunhas deve conter, sempre que possível, ”o nome, a profissão, o estado
civil, a idade, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas, o número de registro
de identidade e o endereço completo da residência e do local de trabalho” (Art. 450).

Uma vez apresentado o rol, não pode mais ser alterado, sendo permitido a substituição
das testemunhas quando a testemunha arrolada falecer, se estiver enferma, sem condi-
ções de depor ou, ainda, caso tenha mudado o endereço e não for encontrada (Art. 451).

Importante salientar que o “juiz indeferirá a inquirição de testemunhas sobre fatos:


I – já provados por documento ou confissão da parte; II – que só por documento ou por
exame pericial puderem ser provados” (Art. 443).

Trata-se de uma Petição simples, endereçada do Juiz da causa, devendo a parte infor-
mar a forma como a testemunha será intimada (Art. 455, § 4º, I) e os dados de cada
uma, individualmente, conforme Art. 450.

Da Audiência de Conciliação e Mediação


Ensina Tartuce (2020, p. 142):
Na audiência de Mediação ou conciliação, o terceiro facilitador buscará,
inicialmente, a restauração da comunicação entre as partes, fator que po-
derá contribuir para celebrar acordos (transações) proveitosos para elas,
caso estas assim o desejam.
Como se percebe, tal audiência representa importante momento proces-
sual; se bem que engendrada, poderá ensejar excelentes oportunidades
para os litigantes e seus advogados.

Segundo o Art. 334 do CPC:


Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso
de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de con-
ciliação ou de Mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias,
devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência.

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19
UNIDADE Respostas do Réu

Figura 5 – Audiência de Conciliação


Fonte: Getty Images

Lembre-se de que a intimação do autor para a audiência será feita na pessoa de seu
advogado (§ 3º do Art. 334).

A regra é pela audiência, que somente não será realizada: “I – se ambas as partes
manifestarem, expressamente, desinteresse na composição consensual; II – quando não
se admitir a autocomposição” (§ 4º do Art. 334).

O autor deve manifestar seu desinteresse na Petição Inicial, e o réu, por Petição,
apresentada com 10 (dez) dias de antecedência, contados da data da audiência (§ 5º. do
Art. 334).

Salienta-se, ainda, que:


[...] o não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência
de conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será
sancionado com multa de até dois por cento da vantagem econômica pre-
tendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou do Estado.
(§ 8º do Art. 334)

Lembrando-se, por fim, de que as partes devem estar acompanhadas por seus advo-
gados ou defensores públicos (§9º do Art. 334) e que a parte poderá constituir represen-
tante, por meio de procuração específica, com poderes para negociar e transigir (§ 10
do Art. 334).

Enunciado 121 da II Jornada de Direito Processual Civil: não cabe aplicar multa a quem, com-
parecendo à Audiência do Art. 334 do CPC, apenas manifesta desinteresse na realização de
Acordo, salvo se a sessão foi designada unicamente por requerimento seu e não houver
justificativa para a alteração de posição.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Prática no processo civil
ARAÚJO JÚNIOR, G. C. Prática no processo civil. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2020.
O autor apresenta diversos modelos de Peças Processuais, a obra irá ajudar você a se pre-
parar para redigir sua própria petição. (e-book)

Vídeos
Português Jurídico – Aula 1
Aula sobre “Português Jurídico”, ministrada pelo Professor Marcelo Paiva, Programa Saber
Jurídico, transmitido pela TV Justiça. A aula é dada de modo simples e com ótima didática,
o que permite ao aluno ampliar seus conhecimentos na Linguagem Jurídica.
https://youtu.be/fU5Kr-fzv1s
Saber Direito – Direito Processual Civil – Aula 1
Aula sobre Direito Processual Civil, ministrada pelo Professor Daniel Viana, Programa
Saber Direito, transmitido pela TV Justiça. A aula irá ajudar você a revisar os principais
temas sobre o procedimento comum.
https://youtu.be/VFNTyUGIRxg

Leitura
Recurso Especial n.º 1940016 – PR, (021/0102946-0)
Julgamento, na íntegra, proferido pelo Superior Tribunal de Justiça, sobre Contestação
e Reconvenção (REsp 1940016/PR, Resp 2021/0102946-0, Relator(a) Ministro Ricardo
Villas Bôas Cueva, 3ª Turma, Data do Julgamento 22/06/2021, DJe 30/06/2021).
https://bit.ly/397Xb9W

21
21
UNIDADE Respostas do Réu

Referências
ARAÚJO JÚNIOR, G. C. Prática de Contestação no processo civil: Contestação, Re-
convenção, Exceções, Impugnações. 6. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Atlas, 2020. (e-book)

________. Prática no processo civil. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2020. (e-book)

BARROSO, D.; LETTIERE, J. F. Prática no processo civil. 9. ed. São Paulo: Saraiva,
2019. (e-book)

CHACON, L. F. R. Manual de prática forense civil. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2020.
(e-book)

TARTUCE, F. D. L. Manual de prática civil. 16. ed. rev. atual. São Paulo: Método,
2021. (e-book)

THEODORO JÚNIOR, H. Código de Processo Civil Anotado. 23. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020. (e-book)

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Prática Jurídica
Penal I
Prática Jurídica Penal I

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª M.ª Rosa Maria Neves Abade

Revisão Textual:
Esp. Aline Gonçalves

Revisão Técnica:
Prof. Dr. Reinaldo Zychan
Prática Jurídica Penal I

• Introdução;
• Fases do Processo;
• Atividade do Advogado.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Compreender a forma como o processo se desenvolve e quais são os instrumentos processuais
utilizados pelas partes, com ênfase na atuação do advogado;
• Aprender a elaborar petições, bem como a técnica forense no desenvolvimento das peças.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas: Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveitee as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha ha o foco!
focco!
rair co
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
hidratado.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer
parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar
um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que


uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua inter-
pretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de dis-
cussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar
o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Prática Jurídica Penal I

Introdução
O advogado, embora exerça atividade liberal, atua, ao lado do Ministério Público, da
Advocacia Pública e da Defensoria Pública, como figura essencial ao exercício da Justiça.
A comunicação do advogado com o poder judiciário (Juiz ou Tribunal) ou mesmo
com as autoridades administrativas é realizada por meio de petições. Petição é a
peça processual em que se exprime um pedido, por escrito, ao juiz.
Para elaborar uma petição, o profissional do Direito deve seguir algumas formali-
dades coerentes, com correto endereçamento, clara exposição dos fatos, reivindica-
ção do direito, valendo-se da lei, bem como elaboração do pedido com coerência ao
direito invocado.
A petição deve ter boa redação forense, e isso dependerá do estilo pessoal de
cada profissional, bem como das exigências do caso concreto.
É, por exemplo, inviável que o advogado das partes, ou mesmo o promotor, deixe
de apontar o fundamento jurídico em que venha a embasar a sua pretensão.

É possível, traçar-se em linhas gerais um modelo, com a estrutura básica de uma


petição jurídica, que possa servir como norte àqueles que atuarão na área jurídica.

Tanto os advogados quanto os promotores devem cooperar com o julgador, pro-


curando esclarecer, com clareza e coerência, qual a tese jurídica que reclama.

O artigo 6º do Código de Processo Civil, que traz à tona o princípio da coopera-


ção, orienta o dever de esclarecimento das partes, pelo qual os respectivos advoga-
dos, como é adequado, têm a “obrigação” profissional de zelar pela boa interpreta-
ção das normas jurídicas aplicáveis à causa.
Código Processual Civil

Art. 6º. Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que
se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.

O mesmo ocorre com o Código de Processo Penal, em seu artigo 41, ao trazer a
orientação para a elaboração da denúncia, ou mesmo no artigo 44 da mesma legisla-
ção, ao trazer as regras para o oferecimento da queixa-crime na ação penal privada.
Código Processual Penal

Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso,


com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclare-
cimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e,
quando necessário, o rol das testemunhas.

[...]

Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais,
devendo constar do instrumento do mandato o nome do querelante e a
menção do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem
de diligências que devem ser previamente requeridas no juízo criminal.

8
Em qualquer área do Direito, uma boa petição deve demonstrar ao juiz, tanto quanto
possível, além do fundamento jurídico, quais decisões – jurisprudência, precedente ou
súmula – incidem no caso concreto. Enriquece a petição fazer relação entre os elemen-
tos fáticos da questão a ser julgada e uma anterior decisão que venha trazer a melhor
interpretação da regra de direito que embasa os argumentos deduzidos.

Uma petição, clara, de fácil entendimento, com correto embasamento jurídico,


enriquecida com jurisprudências, súmulas, ou mesmo apontando decisões anteriores
favoráveis ao caso, enriquece e traz maiores possibilidades de acolhimento pelo juiz.

Cumprindo essa relevante tarefa, com o devido afinco e cuidado, torna-se bem
mais coerente e produtiva a atuação desempenhada pelo profissional do Direito.

É, assim, imprescindível que se tenha esse mínimo de zelo, revestido de absoluta


fidelidade, precisão e ética profissional nas respectivas citações da doutrina e das de-
cisões judiciais, visando, desde logo, persuadir o julgador a favor da tese sustentada.

Fases do Processo
Processo judicial é o meio jurídico pelo qual uma parte apresenta seus argumentos
perante a Justiça, porque entende ter sido prejudicada em algum sentido, e espera que
o Estado, na figura do juiz, decida sobre aquela suposta violação de direitos. Processo
é um ordenado de vários atos.

A palavra “processo” vem do verbo procedere, que significa avançar, caminhar


em direção a um fim, por isso envolve a ideia de temporalidade, de um desenvolvi-
mento temporal desde um ponto inicial até alcançar-se o ponto desejado.

O processo possui, muitas vezes, a fase pré-processual (por exemplo: a cautelar na


área cível, trabalhista, administrativa, e o inquérito na área penal) e a fase processual.

A fase pré-processual não é obrigatória, mas ela prepara para a fase processual.
Portanto, se existirem elementos capazes de iniciar a fase processual, a fase pré-
-processual será dispensável.

Na área penal, a fase pré-processual é a de investigação, quando se instaura o


inquérito policial que é, em regra, promovido pela polícia judiciária; presidida pelo
delegado de polícia, tem natureza administrativa e é realizada anteriormente à pro-
vocação da jurisdição penal. É por isso que se fala em fase pré-processual.

O inquérito, como já dito, não é indispensável à propositura da ação penal, po-


dendo a acusação formar o seu convencimento a partir de outros elementos infor-
mativos sobre o caso.

Portanto, na área penal, se a acusação possui indícios da autoria e prova de


materialidade da infração penal, poderá dar início à fase processual, mesmo que o
inquérito não tenha sido instaurado.

9
9
UNIDADE Prática Jurídica Penal I

Quanto à fase processual, subdivide-se em processo de conhecimento e processo


de execução.

No processo de conhecimento as partes levam ao conhecimento do juiz os fatos


e fundamentos jurídicos, para que ele possa substituir por um ato seu a vontade de
uma das partes. A formação do processo de conhecimento ocorre pela propositura
da demanda em juízo e vai até a sentença.

O processo de execução se dá quando já se possui um título executivo judicial ou


extrajudicial que já tenha transitado em julgado. Execução é o meio pelo qual alguém
é levado a juízo para cumprir uma obrigação, que tenha sido imposta por lei ou por
uma decisão judicial.

Quadro 1

• A lide não se encontra resolvida;


Fase de Conhecimento • O juiz, ao prolatar a sentença, põe fim ao conflito.

• A lide encontra-se resolvida;


Fase de Execução • Aqui, o objetivo é realizar a cobrança da obrigação
(pagar, fazer, não fazer...).

Conhecimento e execução são duas fases essenciais para o andamento do pro-


cesso judicial.

Na fase de conhecimento, o juiz recebe os fatos e os fundamentos jurídicos dos


envolvidos na causa para reunir as informações necessárias para análise. Nessa fase,
as provas de ambos os lados são apresentadas, inclusive havendo, eventualmente,
na área cível e, obrigatoriamente, na área penal audiências para ouvir as partes e as
testemunhas. O objetivo é que, de posse de todos os elementos disponíveis, o magis-
trado possa proferir a sentença e decidir sobre o conflito.

A fase de execução é o passo seguinte, que se caracteriza pelo cumprimento da


decisão judicial, em que o juiz determina a uma das partes – pessoas, empresas ou
instituições – a reparação de prejuízos, a constituição de um direito, imposição de
uma sanção etc. Nessa etapa, é concretizado o direito reconhecido na sentença ou
no título extrajudicial.

Na execução penal serão impostas penas privativas de liberdade, restritivas ou multas.

Em processos da Justiça trabalhista, a execução pode se dar pela cobrança feita a


devedores para garantir direitos aos empregados ou a empregadores.

Já no processo civil poderá ser a exigência de pagamento para reparar danos,


constituição de um direito, a penhora de bens patrimoniais.

Etapas da Fase Processual de Conhecimento e de Execução


Para o processamento da fase processual de conhecimento e execução, há as
seguintes etapas:

10
• Postulatória: é a etapa da propositura da ação; o começo de tudo. É o ajuizamento
da petição inicial. A parte lesada apresenta o seu pedido, contendo a qualificação
dos envolvidos, narra os fatos e faz os pedidos. Na área penal não é diferente, já que
a acusação, na ação penal pública ou privada, representando o ofendido, apresenta
qual foi o direito lesado, narra os fatos e faz o pedido (artigo 41 do CPP);
• Saneatória: emenda da inicial, indeferimento, julgamento liminar do pedido,
citação do réu, audiência de conciliação e mediação, defesa, réplica, reconven-
ção. A defesa é feita por meio da peça de Contestação (cível, administrativo,
trabalhista) e Resposta escrita (na área penal). O réu apresenta seus argumentos
face às acusações sofridas; pode negar e combater as acusações sofridas, bem
como pode fornecer sua versão para os fatos imputados;
• Instrutória: é a produção de provas testemunhais, documentais e periciais; é
nesta fase que as partes apresentam suas provas, indicando testemunhas, docu-
mentos, fotografias, laudos periciais etc., conforme o caso. É realizada audiência
para colheita da prova testemunhal;
• Decisória: é a etapa em que o juiz prolata a sentença, após a análise de todas as
etapas anteriores, principalmente no que diz respeito às provas que foram pro-
duzidas durante o processo judicial. O juiz proferirá a sua sentença, embasando
a sua decisão acerca do que fora inicialmente pedido;
• Recursal: se uma das partes não se conformar com a decisão proferida, por
discordar do entendimento proferido ou eventuais afrontas com a legislação vi-
gente, poderá socorrer-se da segunda instância ou de instâncias superiores, por
meio de recursos. O tribunal competente julga o recurso mantendo, reformando
ou alterando parcialmente a decisão inicial;
• Executória: é a etapa que se inicia com a prolação da sentença condenatória,
seja esta total, seja parcial. É a satisfação do direito. É a fase do cumprimento da
sentença e normalmente é realizada após encerradas as oportunidades de recurso.
Na área penal, havendo prolatado sentença condenatória, é a etapa em que será
executada a pena imposta. Especificamente, o Direito de Execução Penal é o ramo
que cuida da execução da pena e da aplicabilidade do direito de punir do Estado.

Fases Essenciais do Processo Penal


No processo penal, é mais comum (não obrigatório, como dito) existir a fase pré-
-processual (fase inquisitiva), portanto, as fases são divididas em quatro essenciais:
• Aquisição da notícia do crime;
• Inquérito;
• Instrução;
• Julgamento;
• Aquisição da notícia do crime (pré-processual): o Ministério Público obtém
as notícias do crime por três meios essenciais:
» por conhecimento próprio;

11
11
UNIDADE Prática Jurídica Penal I

» notitia criminis feita aos órgãos de polícia judiciária (polícia civil);


» notitia criminis feita verbalmente (boletim de ocorrência) ou por escrito ao
Ministério Público tanto por cidadão quanto por funcionário público.

Figura 1 – Delegacia de polícia civil de São Paulo


Fonte: saopaulo.sp.gov.br

• Instauração de Inquérito Policial (pré-processual – inquisitiva): o inquérito


policial destina-se a investigar a prova material de um crime, determinar os seus
agentes e a responsabilidade deles, assim como descobrir e recolher as provas
para se chegar à decisão sobre uma eventual acusação pelo Ministério Público.
O delegado de polícia instaura e preside o inquérito policial e, ao final, após
efetuadas as investigações, é relatado e transmitido posteriormente ao Minis-
tério Público mediante auto de notícia-crime. Compete ao Ministério Público
fiscalizar o inquérito, podendo ordenar e dirigir os órgãos de polícia criminal
para proceder às investigações, bem como fiscalizar a legalidade delas. Com
o término do inquérito, o Ministério Público decide se oferece denúncia, opina
pelo arquivamento do inquérito ou se determina que sejam efetuadas novas
diligências, conforme a suficiência ou não das provas obtidas. Se o crime impu-
tado for de pena mínima inferior a 4 anos, será oferecido acordo legal (artigo
28-A do CPP). O inquérito pode ser reaberto por ordem do Ministério Público e
podem surgir elementos de prova que invalidem os fundamentos invocados no
despacho de arquivamento;

Exemplo de uma sala de audiência. No caso da ilustração, a figura traz a disposição de cada
pessoa na audiência do caso Isabella Nardoni, disponível em: https://bit.ly/3XeXaYw

• Instrução (fase instrutória): ao juiz da Instrução Criminal compete dirigir a


instrução que visa à comprovação judicial da decisão do Ministério Público sobre
uma acusação ou arquivamento do inquérito de modo a melhor proteger os
interesses das partes de um processo penal. A instrução é uma fase facultativa em
um processo penal, pois só existe se o acusado não for absolvido sumariamente
(artigo 397 do CPP);

12
• Julgamento (fase decisória): após a instrução criminal, com a colheita de pro-
vas, documentos e pericia (se for o caso), o juiz proferirá a sentença condenató-
ria (total ou parcial), absolutória ou mesmo com desclassificação do crime;

Figura 2 – Exemplo de julgamento: audiência do TJSP no caso Folha x Falha


Fonte: Wikimedia Commons

• Recursos (fase recursal): finda a audiência, o Tribunal procede à leitura da sen-


tença imediatamente ou no momento subsequente. Quem não se conforma com a
sentença, incluindo o Ministério Público, arguido, assistente, parte civil etc., pode
interpor recurso junto do Tribunal de hierarquia superior (Tribunal de Segunda ou
de Última Instância).

Quadro 2 – Fases do processo penal

Fase inquisitiva – • Instauração de inquérito – delegacia;


Fase pré-processual • Indícios de autoria e materialidade.

• Oferecimento da denúncia pelo Ministério Público ou queixa-


Fase Postulatória -crime pelo ofendido.

• O juiz recebe a denúncia ou queixa; citação do réu, defesa,


Fase Saneatória absolvição sumária.

Fase Instrutória • Colheita de provas;


ou Postulatória • Instrução/debates/julgamento.

Fase Decisória • Prolação da sentença.

• Execução da sentença condenatória;


Fase Executória
• Cumprimento da pena.

13
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UNIDADE Prática Jurídica Penal I

Atividade do Advogado
O advogado é o profissional que defende os interesses de seus clientes com base
nas leis vigentes no País. Ele pode representar tanto pessoas físicas quanto pessoas
jurídicas (empresas, organizações).

A Constituição Federal conferiu caráter de imprescindibilidade à profissão do ad-


vogado, consagrando importantíssimo preceito de no art. 133, in verbis:
Art. 133. o advogado é indispensável à administração da justiça, sendo
inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos
limites da lei.

O advogado é, como previsto em nossa lei maior, indispensável à administração


da justiça.

Além da Constituição Federal, há o Estatuto da OAB – Lei 8.906/1994, legislação


própria que prevê proteção da figura do advogado, apresentando seus direitos e deveres.

O artigo 2º da referida lei prevê, também, que o advogado é indispensável à ad-


ministração da justiça:
§ 1º. No seu ministério privado, o advogado presta serviço público e
exerce função social.
§ 2º. No processo judicial, o advogado contribui, na postulação de deci-
são favorável ao seu constituinte, ao convencimento do julgador, e seus
atos constituem múnus público.
§ 3º. No exercício da profissão, o advogado é inviolável por seus atos e
manifestações, nos limites desta lei.

O advogado, como disposto em referida lei, em seu ministério privado presta ser-
viço público e exerce função social.
No processo judicial, o advogado busca decisão favorável ao seu constituinte e
convencimento do julgador de sua tese.
O advogado possibilita a eficácia de um instrumento de efetividade da garantia do
contraditório e da plena defesa, que é um princípio fundamental da declaração cons-
titucional de direitos, consoante se depreende do inciso LV do art. 5º da Constituição
Federal, assim descrito:
Art. 5º. [...]
LV – Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusa-
dos em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes.

14
Figura 3
Fonte: Getty Images

É importante saber que o advogado faz parte dessa garantia, no efetivo exercício
da defesa, inclusive nos processos administrativos conduzidos pelos órgãos da Admi-
nistração Pública.

A lei prevê exceção que possibilita a não atuação do advogado, ou seja, na impe-
tração de habeas corpus em qualquer instância ou tribunal. O mesmo ocorre quanto
à revisão criminal prevista no artigo 621 do Código de Processo Penal.

A exclusão da exigência da atuação privativa de advogado na impetração do habeas


corpus e no ajuizamento da revisão criminal foi acolhida pelo nosso próprio Estatuto
da OAB (Lei 8.906/1994 ), em seu artigo 1º, § 1º.

O advogado não tem qualquer relação de subordinação ou dependência com o


juiz, conforme dispõe o artigo 6º da citada Lei:
Não há hierarquia nem subordinação entre advogados, magistrados e
membros do Ministério Público, devendo todos tratar-se com considera-
ção e respeito recíprocos

Parágrafo único. As autoridades, os servidores públicos e os serventuá-


rios da justiça devem dispensar ao advogado, no exercício da profissão,
tratamento compatível com a dignidade da advocacia e condições ade-
quadas a seu desempenho.

No processo judicial, o advogado contribui, na postulação de decisão favorável ao


seu constituinte, ao convencimento do julgador, e seus atos constituem múnus público.

São atividades privativas de advocacia a postulação a órgão do Poder Judiciário e


aos juizados especiais, bem como o exercício de atividades de consultoria, assessoria
e direção jurídicas.

No exercício da profissão, o advogado é inviolável por seus atos e manifestações,


nos limites da lei.

15
15
UNIDADE Prática Jurídica Penal I

São nulos os atos privativos de advogado praticados por pessoa não inscrita na
OAB, sem prejuízo das sanções civis, penais e administrativas. São também nulos os
atos praticados por advogado impedido no âmbito do impedimento suspenso, licen-
ciado ou que passar a exercer atividade incompatível com a advocacia.

O advogado postula, em juízo ou fora dele.

O advogado efetuará a defesa munido de procuração outorgada por seu consti-


tuinte. Pode atuar sem procuração, se afirmar urgência, obrigando-se a apresentá-la
no prazo de quinze dias, prorrogável por igual período. A procuração para o foro,
em geral, habilita o advogado a praticar todos os atos judiciais, em qualquer juízo ou
instância, salvo os que exijam poderes especiais.

É dever do advogado primar pelo devido processo legal, bem como pelo bom
andamento do processo de forma correta, primando pela lealdade.

É, inclusive, o que dispôs o art. 14 do Código de Processo Civil, ao orientar


ser dever das partes e dos procuradores, no exercício da atividade profissional da
advocacia: I – expor os fatos em juízo, conforme a verdade; II – proceder com leal-
dade e boa-fé; III – não formular pretensões, nem alegar defesa, cientes de que são
destituídas de fundamento; IV – não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou
desnecessários à declaração ou defesa do direito.

Conforme previsto no Estatuto dos Advogados, além de submeter-se à disciplina


legal dos deveres jurídicos no exercício da profissão, o advogado deve cumprir rigo-
rosamente os deveres dispostos no Código de Ética de Disciplina, que é sabidamente
muito exigente e prescreve “deveres do advogado para com a comunidade, o cliente, o
outro profissional e, ainda, a publicidade, a recusa de patrocínio, o dever de assistência
e os respectivos procedimentos disciplinares” (Estatuto, art. 33, parágrafo único).

Da mesma forma que o advogado possui deveres, ele possui direitos. No Estatuto
da OAB, especificamente em seu art. 7º, dispõe 21 itens (EOAB – Lei 8.906/1994),
que são direitos do advogado, tais como exercer com liberdade a profissão em todo o
território nacional.

Em sua atividade, dentre os direitos do advogado, está o de comunicar-se com seus


clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem procuração, quando estes se acharem
presos, detidos ou recolhidos em estabelecimentos civis ou militares, ainda que consi-
derados incomunicáveis.

Pode, também, ingressar livremente nas salas de sessões dos tribunais, mesmo além
dos cancelos que separam a parte reservada aos magistrados; ingressar nas salas e de-
pendências de audiências, secretarias, cartórios, ofícios de Justiça, serviços notariais
e de registro, e, no caso de delegacias e prisões, mesmo fora da hora de expediente e
independentemente da presença de seus titulares.

O advogado pode entrar em qualquer edifício ou recinto em que funcione repartição


judicial ou outro serviço público onde o advogado deva praticar ato ou colher prova ou

16
informação útil ao exercício da atividade profissional, dentro do expediente ou fora dele,
e ser atendido, desde que se ache presente qualquer servidor ou empregado.

É assegurado o direito de dirigir-se diretamente aos magistrados nas salas e gabine-


tes de trabalho, independentemente de horário previamente marcado ou outra condi-
ção, devendo observar a ordem de chegada.

O advogado pode sustentar oralmente as razões de qualquer recurso ou processo,


nas sessões de julgamento, pelo prazo estabelecido em lei.

Ele tem o direito de usar da palavra, pela ordem, em qualquer juízo ou tribunal, me-
diante intervenção sumária, para esclarecer equívoco ou dúvida surgida em relação a
fatos, documentos ou afirmações que influam no julgamento, bem como para replicar
acusação ou censura que lhe forem feitas; podendo reclamar, verbalmente ou por es-
crito, perante qualquer juízo, tribunal ou autoridade, contra a inobservância de preceito
de lei, regulamento ou regimento.

O advogado pode examinar, em qualquer órgão dos Poderes Judiciário e Legisla-


tivo, ou da Administração Pública em geral, autos de processos findos ou em anda-
mento, mesmo sem procuração, desde que não estejam sujeitos a sigilo, assegurada
a obtenção de cópias, podendo tomar apontamentos, sendo assegurado ainda o
direito de examinar também, em qualquer repartição policial, mesmo sem procura-
ção, autos de flagrante e de inquérito, findos ou em andamento, ainda que conclusos
à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos.

Tem direito de ter vista dos processos judiciais ou administrativos de qualquer


natureza, em cartório ou na repartição competente, ou retirá-los pelos prazos legais.

Atividade do Advogado por Área de Atuação


Para a correta atuação, o advogado deve identificar qual a área da advocacia em
que o caso de seu cliente se encaixa.
Em geral, os casos são divididos em diferentes áreas, quais sejam: Direito Penal,
Direito Civil, Ambiental, Eleitoral, Digital, Trabalhista, Previdenciário, Tributário,
Empresarial etc. Discrimina-se aqui algumas delas:

Direito Trabalhista
Um advogado trabalhista atua em processos entre empresas e empregados. Pode
representar tanto os interesses da empresa quanto os interesses do trabalhador. Atua
na análise de rescisões, cálculo de horas extras ou férias, não pagamento de comis-
sões ou desvio de função.

O advogado tem a função de analisar as questões apresentadas, identifica o que


cada um deseja e tenta fazer as partes entrarem em acordo, sem que haja a necessi-
dade de um processo jurídico.

Havendo necessidade do processo jurídico, o advogado atua na elaboração de


petição inicial, ou seja, reclamação trabalhista, apontando em favor do seu cliente os

17
17
UNIDADE Prática Jurídica Penal I

valores que não foram pagos pela empresa. Se o constituinte for a empresa, ou seja,
a reclamada, o advogado atua na elaboração da defesa, consultoria para empresas
em questões de contratação e demissão de trabalhadores.

É de responsabilidade do advogado acompanhar o processo, saber em quais ins-


tâncias ele está sendo analisado e informar seu cliente da evolução do processo.

Direito Civil
O advogado civil atua defendendo os direitos civis de seus clientes, por exemplo,
propriedade, família, sucessões etc. Quando o cliente se sente prejudicado de algu-
ma forma em alguma transação, precisa formular um contrato de locação ou lidar
com questões de herança, ele busca o auxílio de um advogado civil. O advogado civil
é responsável por cada etapa de processos jurídicos, negociações ou acordos.

São diversas as áreas em que esse advogado pode atuar, por exemplo: ações de
cobrança; ações de despejo; adoção e tutela; contratos de compra e venda; danos
morais; indenizações; recuperação de crédito; renegociação de contratos; divórcio;
inventários; pensão alimentícia etc.

Direito Tributário
O advogado tributário, por sua vez, atua com questões relacionadas ao pagamen-
to de impostos e tributos. Ele presta consultoria a empresas, realiza ações preventi-
vas, auxilia tais empresas a efetuar um planejamento tributário e garantir a melhor
forma de pagar os tributos fiscais. Além da prevenção, o advogado tributário atua no
contencioso, administrativo e judicial. Ele acompanha processos de execução fiscal
visando defender o patrimônio de seus clientes, ou efetua regularização de pendên-
cias para obtenção de certidões negativas de débitos.

Também atua na recuperação de créditos tributários, por exemplo: ressarcimento


de IPI, obtenção de correção monetária de ressarcimento, restituição de INSS, IRPJ
e outros tributos.

Direito Empresarial
O advogado empresarial atua para o bom funcionamento da empresa no que diz
respeito à segurança jurídica.

O advogado empresarial também atua nos processos de abertura de empresas,


elaborando o contrato social e inserindo cláusulas contratuais de acordo com as ne-
cessidades dos sócios e outros participantes do negócio.

Algumas empresas optam por estabelecer parcerias ou fusões e é o advogado em-


presarial que irá elaborar o contrato entre as duas companhias, considerando todos
os requisitos, de modo a proteger o capital social da empresa.

Atua em todas as possíveis alterações contratuais da organização, seja por mu-


dança de tipo da empresa, desligamento de sócios ou qualquer outra alteração que a
diretoria da empresa achar necessária.

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Direito Penal
O advogado que atua na área penal é chamado de advogado criminalista.

O criminalista atua na defesa daquele que cometeu o crime, mas também é cha-
mado algumas vezes para atuar em favor da vítima de um crime (assistente de acu-
sação). O advogado elabora a defesa de seu cliente nos inquéritos policiais ou em
ações penais.

Figura 4
Fonte: Freepik

Caso o cliente esteja preso, ele elabora um requerimento para revogação ou rela-
xamento de prisão, atua nas audiências de custódia, a fim de reivindicar a soltura do
seu cliente, para que este possa responder à acusação em liberdade.

O advogado criminalista realiza júri popular nos crimes dolosos contra a vida.
Pode também atuar com o Direito Penal Empresarial, Direito Penal Econômico,

Júri Popular e, ainda, na elaboração de defesas ou acusações nos casos de Cri-


mes contra o sistema financeiro, crimes de sonegação fiscal, crimes de lavagem de
dinheiro etc.

Peças Processuais Utilizadas


Em linhas gerais, a elaboração da peça processual representa a expressão do pro-
fissional do Direito em defesa dos interesses de seus mandantes que necessitam de
tutela jurisdicional.

Tanto a defesa quanto a acusação utilizam-se de várias peças processuais para o


exercício do Direito invocado. São elas: petição inicial, contestação, réplica, alega-
ções finais em forma de memoriais, recursos etc.

Na área penal, a petição inicial é a denúncia elaborada pelo Ministério Público na


descrição dos fatos para início da ação penal pública e a queixa-crime elaborada pelo
ofendido para início da ação penal privada.

Além de tais peças processuais iniciais penais, há peças processuais intermediárias.

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19
UNIDADE Prática Jurídica Penal I

Peças processuais intermediárias são aquelas elaboradas e juntadas no processo


após iniciado; não gera um novo processo. Mesmo porque a petição será e estará inse-
rida no caso judicial em andamento. São exemplos: contestação, resposta escrita, jun-
tada de procuração, juntada de documento, requerimentos de liberdade, recursos etc.

Tanto a petição inicial quanto as intermediárias devem ser efetuadas de forma clara,
com coerência ao descrever os fatos e ao reivindicar o direito. Saber fazer uma petição
é uma das atividades mais vitais para a vida profissional de um advogado, pois é a
partir dela que os processos se desenrolam e tomam seus rumos.

A petição inicial é o instrumento que começa uma disputa judicial, apresentando


ao juiz os problemas, as necessidades e os requerimentos da parte que entra com a
lide. Geralmente, é o advogado, representando seu cliente, que entra com a petição
inicial de um processo.

O artigo 319 do Código de Processo Civil orienta como devem ser elaboradas
suas petições, procurando ser objetivo na exposição dos fatos, claro e coerente na
fundamentação jurídica e preciso na formulação do pedido.

Já o artigo 840 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), na atuação do ad-


vogado na Justiça do Trabalho, orienta como elaborar a petição inicial trabalhista.

Na esfera penal, bem da verdade, não existe, a priori, qualquer norma positiva e
específica determinando o modo como devem ser elaboradas as petições judiciais,
exceto as petições que iniciam a ação penal, quais sejam, a denúncia na ação penal
pública e a queixa-crime na ação penal primava (art. 41 e 44 do CPP).

Na esfera penal, podemos destacar algumas peças processuais: “Notitia Criminis”;


Queixa-crime; Relaxamento de prisão ilegal; Revogação de Prisão Preventiva; Liber-
dade provisória, com ou sem pedido de arbitramento de fiança; Resposta à acusação
(rito ordinário e sumário); Resposta à acusação (rito do júri); Memoriais; Embargos
de Declaração; “Habeas Corpus”; Apelação etc.

“Notitia Criminis” – Requerimento de Instauração de Inquérito Policial


• Fundamento legal: Art. 5º, II, e §§ 3º e 5º, do CPP;
• Prazo: enquanto não incidir causa extintiva de punibilidade;
• Endereçamento: autoridade policial (Delegado de Polícia).

Caso a notícia do crime seja recebida pelo MP ou pela Autoridade Judiciária,


esses poderão requisitar a abertura de inquérito para a Autoridade Policial com atri-
buições para tanto. Deve noticiar o crime sofrido pela vítima.
• Legitimidade: a vítima ou quem tenha capacidade processual para representá-la;
• Pedido: que seja efetuada a abertura do inquérito para apuração de autoria e
materialidade. Medidas que a autoridade policial entender cabíveis.

Queixa-Crime (Ação Penal Privada)


• Fundamento legal: art. 30 do CPP e artigo 100, § 2º do CP;

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• Prazo: em regra, 6 (seis) meses, contados do dia em que a vítima vier a saber
quem foi o autor do crime – art. 103, CP, e art. 38, CPP;
• Endereçamento: deve ser endereçada a um Juízo Criminal. Orientação sobre a
Competência – artigos 70 ao 73; 75 ao 83, todos do CPP;
• Observação: Vide artigo 806 do CPP – há a obrigatoriedade para a Distribui-
ção da Inicial (Queixa-Crime) do recolhimento de custas;
• Legitimidade: o ofendido. Caso este seja menor de 18 anos, a queixa deverá
ser oferecida por seu representante legal (pais, tutores, curadores). Em caso de
morte do ofendido, deve ser adotado o disposto no art. 31 do CPP;
• Pedido: por se tratar de uma petição inicial, deverão ser requeridos: (a) o recebi-
mento da ação; (b) a citação do Querelado; (c) a condenação do Querelado nas pe-
nas de um ou mais artigos específicos; (d) a notificação das testemunhas arroladas.

Liberdade Provisória
• Fundamento legal: art. 5, LXVI, da CF;
• Cabimento: pressupõe-se uma prisão legal, mas que não deve ser mantida, pois
não subsistem mais os pressupostos que a autorizam. A liberdade provisória
pode ser concedida com ou sem fiança;
• Fundamento legal complementar: artigos 310, III; 321 ao 331, todos do CPP;
• Observação: não haverá concessão de nova fiança quando o réu houver, no
processo, quebrado a fiança (art. 341, CPP);
• Prazo: o pedido de liberdade provisória pode ser realizado em qualquer mo-
mento processual, até o trânsito em julgado (artigo 334, CPP);
• Endereçamento: Via de regra, é dirigido ao juiz criminal de 1ª instância. A au-
toridade policial poderá conceder a fiança apenas nos termos do art. 322, CPP;
• Legitimidade: a pessoa submetida à prisão;
• Pedido: caso seja hipótese de liberdade provisória sem fiança, deve-se requerer
a concessão da liberdade com a expedição do alvará de soltura. Já se for caso
de fiança, pede-se, também, o seu arbitramento.

Relaxamento de Prisão Ilegal


• Fundamento legal: a peça deve ser fundamentada nos artigos 310, I, do CPP,
e 5º, LXV, da CF. É necessário qualificar o requerente;

Ao receber o auto de prisão em flagrante, pode o juiz, de ofício, segundo o art.


310 do CPP: a) relaxar a prisão em flagrante ilegal; b) converter a prisão em
flagrante em preventiva; c) conceder liberdade provisória;
• Endereçamento: ao juiz de primeiro grau, salvo quando a ilegalidade partir dele;
• Prazo: enquanto não transitar em julgado a sentença;
• Cabimento: presente uma das hipóteses do art. 312, pode o juiz converter a pri-
são em flagrante em prisão preventiva, permanecendo o sujeito preso. Entretanto­,

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21
UNIDADE Prática Jurídica Penal I

a prisão preventiva será cabível quando inadequadas ou insuficientes as medidas


cautelares alternativas à prisão, previstas no art. 319 do CPP.

O art. 319 reforça a ideia de que a prisão deve ser medida excepcional, quando
nenhuma outra for suficiente para que se alcance o objetivo prático que se bus-
ca. Por fim, se a prisão em flagrante for ilegal, deve o juiz relaxá-la.

O relaxamento tem previsão constitucional no art. 5º, LXV, da CF. A ilegalidade


pode decorrer de uma série de motivos, não existindo um rol taxativo. Todavia,
a título de exemplo, vale mencionar algumas hipóteses: ter sido preso por fato
atípico, a ausência de comunicação da prisão ao juiz competente, o excesso de
prazo para a adoção de algum procedimento etc.; não ter ocorrido uma das hi-
póteses do art. 302 do CPP. Aliás, o art. 302 do CPP é a matriz para qualquer
pedido de relaxamento. Ainda que o relaxamento deva ocorrer de ofício, quan-
do o juiz estiver diante de uma ilegalidade na prisão, nada impede que o preso,
em defesa dos seus interesses, requeira judicialmente a sua concessão; o pedido
de relaxamento é um requerimento simples, em uma única peça;
• Legitimidade: a pessoa submetida à prisão;
• Pedido: é necessário requerer o reconhecimento da ilegalidade da prisão e a
expedição de alvará de soltura.

Resposta à Acusação (Rito Ordinário e Sumário)


• Fundamento legal: art. 396, 396-A do CPP;
• Cabimento: logo após a citação do(s) réu(s) ou ré(s);
• Prazo: 10 dias a contar da intimação, de acordo com o art. 396, CPP;
• Endereçamento: ao juiz que tiver recebido a denúncia ou a queixa;
• Legitimidade: réu(s) ou ré(s), por intermédio de defensor;
• Pedido: inocência, atipicidade, excludente de ilicitude, excludente de culpabili-
dade (exceto inimputabilidade) ou extinção da punibilidade. O pedido deve estar
respaldado com provas que autorizem o seu acatamento. Em todos os casos an-
teriores, deve ser requerida ao juiz a absolvição sumária do(s) réu(s) ou ré(s), com
fulcro no art. 397 do CPP, bem como é momento processual em que devem ser
arroladas as testemunhas de defesa.

Memoriais
• Fundamento legal: art. 403, § 3º, e 404, parágrafo único, todos do CPP;
• Prazo: 5 dias;
• Endereçamento: ao juiz da causa;
• Cabimento: após o encerramento da instrução processual, mas se for deferida
a diligência eventualmente solicitada, o momento para a apresentação dos
memoriais será após a realização da diligência. Os memoriais constituem
exceção porque podem substituir os debates orais quando houver conveniência

22
pela complexidade do feito e do número de réus ou quando, ao final da instrução
processual, houver necessidade de realização de diligências, determinadas pelo
juiz a requerimento da parte ou ex officio pelo juiz;
• Observação: não existe previsão de memoriais como substituição dos debates
orais no rito sumário nem no rito do júri. Entretanto, a doutrina tem se posicio-
nado a respeito dessa possibilidade, uma vez que o disposto para o rito comum
ordinário tem aplicação subsidiária nos demais ritos no que não for conflitante;
• Legitimidades: o Ministério Público ou o querelante; o assistente de acusação,
se houver; o acusado;
• Pedidos: Exemplos:
» Se for alegada nulidade processual, o pedido será a anulação do processo
desde o início ou a partir do ato viciado;
» Se for alegada a extinção da punibilidade, o pedido será a sua decretação;
» Se a defesa alegar falta de justa causa, o pedido deverá ser a absolvição do réu
com base em qualquer um dos incisos do art. 386 do CPP;
» Se for alegada a falta de justa causa relativa, o pedido deverá ser a desclassifi-
cação do crime ou a redução da pena.

Embargos de Declaração
• Fundamento legal: os embargos de declaração em face de acórdão têm pre-
visão legal no art. 619 do CPP, enquanto os embargos de declaração nas sen-
tenças encontram previsão no art. 382 do CPP. A Lei 9.099/95, que criou os
Juizados Especiais Criminais, prevê esse recurso no seu art. 83;
• Formalidade: os embargos são opostos em peça única;
• Cabimento: esse recurso é cabível para sanar ambiguidade, obscuridade, con-
tradição ou omissão na sentença ou no acórdão;
• Prazo: em regra, 2 dias. No rito sumaríssimo, o prazo é de 5 dias;
• Endereçamento: ao juiz da causa que proferiu a sentença ou o relato do acórdão;
• Legitimidade: a defesa e a acusação, inclusive o assistente de acusação,
se houver;
• Pedidos: deve-se pedir a declaração da sentença ou do acórdão, a fim de ser
sanada a obscuridade, ambiguidade, omissão ou contradição.

Habeas Corpus
• Fundamento legal: art. 5º, LXVIII, da Constituição Federal, e art. 647 e se-
guintes do CPP;
• Cabimento: sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer coa-
ção ou violência à liberdade de locomoção, em virtude de ilegalidade ou abuso
de poder. No art. 648 do CPP, estão relacionadas as hipóteses de cabimento;
• Prazo: não há;

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UNIDADE Prática Jurídica Penal I

• Endereçamento: à autoridade imediatamente superior à autoridade coatora. Se a


autoridade coatora for delegado de polícia, o HC deve ser encaminhado ao juiz de
1ª instância. Se a autoridade coatora for membro do Ministério Público que atua na
primeira instância, o HC é dirigido ao Tribunal (Estadual ou Federal, conforme o
caso). Se a autoridade coatora for juiz de 1ª instância, a competência para julgar o
HC é do Tribunal (Estadual ou Federal, conforme o caso). Se a autoridade coatora
for o Tribunal Estadual ou o Tribunal Regional Federal, o HC será encaminhado
ao STJ. Se o paciente for Governador de Estado ou Distrito Federal ou membro do
Tribunal de Justiça Estadual ou membro do Tribunal Regional Federal ou membro
do Tribunal Regional Eleitoral ou, ainda, membro do Ministério Público da União,
o HC deve ser impetrado no STJ. Se a autoridade coatora for o STJ (ou quando o
paciente for membro do STJ), a competência será do STF. Se a autoridade coatora
for particular, o HC será julgado pelo juiz de 1ª instância. Se a autoridade coatora
for a Turma Recursal, o HC será encaminhado ao TJ ou TRF (por entendimento do
STF, embora não esteja revogada expressamente a Súmula 690 do STF);
• Legitimidade: qualquer pessoa pode impetrar HC (mesmo sem advogado);
• Pedido: de modo geral, o pedido do HC deve ser a solicitação pelo juízo das in-
formações à autoridade coatora e a posterior concessão da ordem. Em qualquer
caso de HC, há possibilidade de pedido liminar sempre que houver a presença
do fumus boni iuris e o periculum.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Prática da Advocacia: Dicas de como Redigir Peças Processuais
https://youtu.be/EHoEQiEUCrY
OAB – Direitos do Advogado
https://youtu.be/XwCiNXo6vog
Prática Processual Penal: Queixa-crime
https://youtu.be/6p3Q7SR46Gk

Leitura
A Importância do Domínio da Língua Portuguesa para o Operador em Direito
http://bit.ly/3ljsaJR
CNJ Serviço: Entenda as Fases de Conhecimento e de Execução do Processo
http://bit.ly/3RMrx7x
Redação Forense
https://bit.ly/3bBro1R

25
25
UNIDADE Prática Jurídica Penal I

Referências
AVENA, N. Processo Penal. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. (e-book)

GIACOMOLLI, N. J. O devido processo penal: abordagem conforme a Cons-


tituição Federal e o Pacto de São José da Costa Rica. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2016. (e-book)

GLOECKNER, R. J. Nulidades no processo penal. 3. ed. São Paulo: Saraiva,


2017. (e-book)

LOPES JR., A. Direito Processual Penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.

________. Direito processual penal. 15. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. (e-book)

MARCÃO, R. Curso de processo penal. 4. ed. São Paulo: Saraiva Educação,


2018. (e-book)

NUCCI, G. de S. Curso de direito processual penal. 17. ed. Rio de Janeiro:


Forense, 2020. (e-book)

PACELLI, E. Curso de processo penal. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2018. (e-book)

RANGEL, P. Direito processual penal. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2019. (e-book)

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Prática Jurídica
Penal I
Prática Jurídica Penal

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª M.ª Rosa Maria Neves Abade

Revisão Técnico:
Prof. Dr. Reinaldo Zychan

Revisão Textual:
Esp. Aline Gonçalves
Prática Jurídica Penal

• Tipos de Petição;
• Partes da Petição;
• Técnica de Elaboração;
• Como Elaborar uma Petição;
• Preâmbulo.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Compreender as diversas formas de petição utilizadas no Direito Processual, suas partes
integrantes e a técnica para a sua elaboração em situações práticas.
UNIDADE Prática Jurídica Penal

Tipos de Petição
Como vimos, comunicamo-nos com o Poder Judiciário, e mesmo com as autori-
dades administrativas, por meio das petições.

Figura 1 – Petição é a forma como advogados comunicam


ao órgão competente o que o cliente pretende
Fonte: Fotolia

A petição é o instrumento utilizado pelo advogado para transmitir as pretensões


de seus clientes ao órgão competente para apreciação, narrando os fatos, os funda-
mentos legais e o pedido, ou seja, aquilo que se espera efetivamente.

Cada petição tem um propósito diferente, sendo necessário verificar se o funda-


mento legal utilizado corresponde às particularidades de seu caso específico.

No exercício da advocacia, independentemente do ramo de atuação, ou mesmo


no Ministério Público, podemos perceber que existem alguns tipos básicos de peti-
ção, quais sejam:

Petição Inicial
Como o nome sugere, essa petição é a peça inaugural de um processo judicial.
É o documento que irá instaurar o processo, levando ao Poder Judiciário, ou às auto-
ridades administrativas, os fatos que constituem o direito. Por exemplo, se ocorre um
crime, é preciso que as autoridades competentes sejam notificadas para dar início à
investigação contra seu autor ou autores. Para tanto, é preciso fazer a exposição do
fato criminoso à polícia ou ao Ministério Público, por meio de uma “notícia-crime”,
pelo próprio ofendido. Todavia, se for efetuada pelo advogado, por meio de petição,
dá-se o nome de Pedido de Instauração de Inquérito Policial.

Na ação penal privada, a petição inicial, para dar origem à ação penal privada,
perante o Poder Judiciário, mormente o juízo criminal, é chamada de queixa-crime,
elaborada por advogado, com o pedido para que o autor ou os autores do crime
sejam processados e condenados.

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Na ação penal pública, a petição inicial é a denúncia, promovida necessariamente
pelo Ministério Público, sem a necessidade de que o ofendido esteja acompanhado
de advogado ou defensor público.

Tanto na queixa-crime quanto na denúncia, é necessário que seja realizada a ex-


posição do fato criminoso – quais foram suas circunstâncias, qual o tipo de crime e
quais serão as provas, por exemplo: documentos e testemunhas (se houver). Estando
presentes os requisitos, a denúncia ou a queixa-crime é recebida. Do contrário, pode
ser rejeitada pelo juiz.

A petição inicial indicará: os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de


união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas
(CPF) ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), o endereço eletrônico, o
domicílio e a residência do autor e do réu.

Na peça inaugural, deve-se abordar tudo o que for pertinente à causa, tanto os
fatos relevantes quanto os dispositivos legais que fundamentam a pretensão do autor.

Intermediária

O que é petição intermediária?

A petição intermediária é interposta no decorrer do andamento de um processo


e não gera nova distribuição (novo número), como a apresentação de uma contes-
tação, liberdade provisória, juntada de documentos, razões ou contrarrazões etc. A
petição intermediária também é utilizada para tomar providências a alguma finalidade
determinada pelo juiz no decorrer do processo, isso porque o juiz, durante todo o
processo, faz diversas manifestações, e um dos meios de as partes atendê-las é por
meio de uma petição intermediária. As petições intermediárias são aquelas juntadas
no decorrer do processo.

A juntada de petição intermediária será feita no decorrer do processo, já que esse


é um tipo de petição feita justamente para os atos realizados no intermédio do pro-
cesso, ou seja, no andamento deste.

Regras para petição intermediária


As regras para petição intermediária são as mesmas utilizadas para uma petição
inicial comum. Dessa maneira, uma petição intermediária deverá conter:
• Endereçamento: o juízo a que a petição intermediária é dirigida;
• Identificação das partes: os dados mínimos sobre as partes são necessários.
Não precisa colocar a qualificação completa. Apenas colocar: “Nome do Clien-
te”, já qualificado, por meio de seu advogado que esta subscreve”;
• Identificação da ação: deve-se identificar a ação;
• Pedido: no conteúdo da petição intermediária deverá constar qual sua preten-
são final.

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UNIDADE Prática Jurídica Penal

Petição Recursal (Recurso)


Recurso é um instrumento para pedir a mudança de uma decisão da mesma ins-
tância ou em instância superior, sobre o mesmo processo. Existem vários tipos de re-
cursos: embargos, agravo, apelação, recurso especial, recurso extraordinário, dentre
outros. Uma petição para interpor um recurso, normalmente, possui partes: a folha
de interposição e outra para apresentação das razões. Na interposição também não
é necessário colocar a qualificação completa, mas apenas a apresentação do recurso.
Na segunda parte serão apresentadas as razões ou contrarrazões.

Rescisória
Na área penal, chamamos de revisão criminal. É uma ação autônoma, que tem
como objetivo desfazer os efeitos de sentença já transitada em julgado, ou seja, da
qual já não caiba mais qualquer recurso.

Como de praxe das petições iniciais, deve trazer a indicação das partes da de-
manda revisional, suas qualificações (nome completo, nacionalidade, estado civil,
profissão, endereço). É preciso descrever os fatos que pretende a revisão da sentença
transitada em julgado. Deve apresentar os fundamentos que servem de base para
sua pretensão.

Remédios Constitucionais
Também conhecidos como tutela constitucional das liberdades, são os meios, as
ações judiciais ou o direito de petição, postos à disposição dos indivíduos e cidadãos
para provocar a intervenção das autoridades competentes, visando sanar ilegalida-
des ou abuso de poder. Vale lembrar que a terminologia “remédios constitucionais”
é uma construção doutrinária e não legal, pois a legislação contempla cada remédio
com nome específico. Tais remédios são: habeas corpus; habeas data; mandado de
segurança; mandado de injunção, ação popular e ação civil pública.

Partes da Petição
Em um processo judicial, existem três partes envolvidas na demanda: juiz, autor
e réu.

Todavia em uma petição há partes envolvidas. Em qualquer área do Direito, ao


peticionar, temos aquele que reivindica o direito, ou seja, o autor, e aquele que infrin-
giu o direito, ou seja, o réu.

Como vimos, denúncia e queixa-crime são as peças iniciais da ação penal. O que
as diferencia é a titularidade (capacidade de levar o pedido ao Judiciário).

A denúncia é interposta para os crimes que devem ser processados por meio de
ação penal pública, cujo titular é o representante do Ministério Público.

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A queixa-crime é utilizada para os casos de ação penal privada e é apresentada
em juízo pelo próprio ofendido ou representante legal, mas sempre por meio de
um advogado.

Segundo o artigo 33 do CPP, se o ofendido for menor de 18 anos, ou mental-


mente enfermo, ou retardado mental, e não tiver representante legal, ou colidirem os
interesses deste com os daquele, o direito de queixa poderá ser exercido por curador
especial, nomeado, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, pelo juiz com-
petente para o processo penal.

O exercício da ação penal pressupõe, de um lado, a existência de autor (na ação


penal pública, o Ministério Público, que oferecerá a denúncia; e na ação penal pri-
vada, o ofendido, também chamado de querelante, que oferecerá a queixa-crime), e
do outro lado, o acusado (réu).

O autor é o polo ativo do processo judicial, é aquele que promove a ação civil,
administrativa ou criminal contra outra pessoa, que será considerada ré.

Assim, o autor é o polo ativo do processo, em contraposição, o réu é o polo pas-


sivo do processo.

O réu é a parte contra quem o processo é promovido. É contra ele que o pedido
do autor é apresentado. Ele é o acusado, é o que responde pela infração penal e, no
fim do processo, ser condenado ou absolvido.

Há outras nomenclaturas para o autor e réu:


• Autor: Requerente;
• Réu: Requerido.

O requerente é a parte que faz um requerimento, aquele que solicita algo a alguém.

O termo é utilizado, geralmente, quando se trata de um pedido destinado a algu-


ma autoridade administrativa ou mesmo judicial. Trata-se de termo genérico, sendo
que tanto o autor quanto o réu se tornam requerentes quando interpõem pedidos no
processo. O requerido, por sua vez, é a parte para a qual o requerimento é destinado.

Assim, requerente é o indivíduo que faz um requerimento, ou seja, solicita algo a


alguém. O requerido é a pessoa a quem o requerimento é destinado, sendo também
a qualidade daquilo que foi solicitado.

Tabela 1
Requerente Requerido Autor Réu
Indivíduo que faz uma Indivíduo que recebe uma Polo passivo de um processo É o polo passivo do
Definição solicitação por meio solicitação por meio de judicial, promovendo a ação processo judicial, responde
de requerimento. um requerimento. contra o réu. por uma infração penal.

De modo mais claro, veja-se que, se requerente é aquele que requer, tanto o autor
quanto o réu podem, em específica petição, ser o requerente da providência a que
visa o mencionado pedido.

11
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UNIDADE Prática Jurídica Penal

Já autor é aquele que promove uma ação judicial civil, administrativa, penal; e réu,
em contraposição, é aquele contra quem se promove ação judicial.

É claro que esse autor pode ser especificado de acordo com a modalidade da me-
dida judicial manejada: em execução é o exequente; em embargos é o embargante;
em recurso é o recorrente;
• Recurso:
» Recorrente;
» Recorrido.
• Inquérito:
» Requerente;
» Requerido.
• Ação Penal:
» Autor;
» Réu.
• Execução:
» Exequente;
» Executado.

Técnica de Elaboração
Para elaborar uma boa petição, é necessário redigir corretamente, com clareza,
com fundamento jurídico e cumprir os seguintes passos:

Apresentação da Petição: Estética


O primeiro item a ser observado, quando se redige qualquer texto, mas, princi-
palmente, uma petição, é a sua aparência. Isso porque o primeiro ponto que alguém
– nesse caso, um juiz – analisa ao ler um documento é a estética e o aspecto visual.

Estética é um dos elementos que devem ser levados em conta, já que o aspecto
visual acaba sendo o primeiro a ser avaliado pelo destinatário, qual seja o órgão
competente para apreciação do pedido.

Ao digitar uma petição, utilize uma fonte mais formal, usada para trabalhos aca-
dêmicos, por exemplo, Arial ou Times New Roman.

Atente-se à formatação dos parágrafos e do espaçamento entre linhas (1,5) para


a leitura não se tornar cansativa.

Também é importante deixar um espaço adequado entre o cabeçalho da petição


e o início do texto.

12
A primeira linha de cada parágrafo (com exceção do endereçamento) deve iniciar
levemente deslocada para a direita. Além disso, não ultrapasse o espaço entre as
margens da folha reservado à redação.

A maioria das Comarcas já adotou o processo eletrônico, de forma que, nos pa-
drões digitais, uma petição bem organizada facilitará a leitura.

Mesmo considerando os processos físicos existentes, é necessário também man-


ter um espaço adequado na petição para que, eventualmente, seja ali proferida de-
cisão ou despacho.

Evite escrever parágrafos longos.

Para o exame da OAB, a apresentação estética da peça tem sido item expresso da
avaliação da prova. Preste atenção às margens da folha; não escreva fora da pauta
e evite rasuras. Caso tenha cometido algum erro, a solução é passar um traço sobre
a palavra e prosseguir.

A petição para exame da OAB deve ser petição escrita em letra legível, pois a
letra ilegível exige mais atenção do examinador e revela atitude negligente e descui-
dada por parte do candidato.

Exemplo de petição. Disponível em: https://bit.ly/3HIUkVV

Requisitos Obrigatórios
Algumas petições exigem requisitos específicos, que devem ser seguidos cuida-
dosamente. Por exemplo, para elaborar uma petição inicial de causa cível, deverão
ser observados os requisitos do art. 319 do Novo Código de Processo Civil. Se for
um pedido de habeas corpus, deverão ser seguidos os preceitos estabelecidos no
art. 654, § 1º, do Código de Processo Penal. Uma queixa-crime deverá seguir as
formalidades contidas no artigo 41 do Código de Processo Penal.

De maneira geral, podemos dizer que a maioria das petições irá requerer:
• O nome do Juízo a que se destina aquela petição;
• O número do processo judicial, caso não se trate de uma petição inicial;
• O nome das partes e sua qualificação; a narrativa dos fatos; os fundamentos
jurídicos;
• O pedido final harmônico com a exposição dos fatos e os fundamentos.

Portanto, atente-se para esses requisitos, que podem mudar de uma petição para
outra, a depender do tipo, ou, ainda, a depender da área em que está se peticionan-
do (cível, penal, trabalhista etc.).

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UNIDADE Prática Jurídica Penal

Linguagem Adequada
Outro item básico e primordial na redação de qualquer documento é a observância
da linguagem. Utilizar-se de recursos gramaticais adequados é fundamental. Portanto
observe se você está utilizando o padrão culto da língua portuguesa, se está respei-
tando a concordância nas sentenças e se não está utilizando palavras coloquiais,
gírias ou abreviações.

Obviamente que a peça em questão é um documento técnico-jurídico. Portanto,


há uma linguagem formal a ser observada e respeitada. Isso não quer dizer que o ad-
vogado deverá encher sua peça de termos arcaicos e de difícil compreensão. Até por-
que isso iria de encontro ao que abordamos no item anterior, quanto a ser objetivo!

A citação de obras doutrinárias e de entendimentos jurisprudenciais deve ser feita


com parcimônia!

A petição é, como mencionamos, o meio de comunicação entre o advogado e o


juiz. Considerando que, se não todas, mas a maioria das petições é escrita, deve-se
dar total atenção à forma como se expõe as ideias no documento.

É por meio dela que o magistrado poderá deferir ou indeferir a solicitação feita
pelo advogado, portanto, ter noção do que e como pedir é fundamental para o êxito
do procedimento – ou até da ação!

Ademais, é por meio da petição (inicial, intermediária, se for o caso, ou recursal)


que se dará o impulso ao processo. Destarte, além de uma correta exposição dos
fatos e direitos do cliente, o advogado deverá considerar ainda os prazos e demais
requisitos para protocolar a petição!

Em relação à escrita, deve-se respeitar o padrão culto da língua portuguesa, observan-


do a ortografia correta das palavras, a concordância nas frases e evitando abreviaturas.

No mais, a petição deve ser redigida de forma técnica, mas isso não significa ape-
nas utilizar palavras rebuscadas e de difícil compreensão.

Deve-se evitar o excesso de termos em latim e em língua estrangeira. Eventual-


mente, termos clássicos podem e devem ser usados, mas sem excessos.

É comum o uso de vocábulos e expressões típicos do universo jurídico, pois trans-


mite à peça maior profissionalismo, mas se não tiver certeza de como escrever, não
escreva. Evite a repetição de palavras, utilizando-se de sinônimos. Além disso, escre-
ver bem compreende ser objetivo, transmitindo as ideias com clareza e optando por
orações diretas.

Também é necessário evitar parágrafos muito longos. O ideal é que cada ideia
esteja separada em um período diferente, para organização dos argumentos e facili-
tação na leitura e interpretação.

14
Como Elaborar uma Petição
Endereçamento
Em primeiro lugar, na petição deverá conter o Juízo ou mesmo Autoridade Ad-
ministrativa (conforme o caso), competente para apreciá-la, a que ela será dirigida.

Veja as regras de competência dos artigos 69 e seguintes do Código de Processo


Penal.

Você deverá endereçar a sua peça à pessoa ou ao órgão competente para apre-
ciar o pedido.

Para efetuar um endereçamento, você deve efetuar da seguinte forma:

Quando for dirigida ao delegado:

Se o delegado for estadual:


Excelentíssimo Senhor Doutor Delegado de Polícia Titular do ____ Distrito Policial
da _____ (cidade) – ___ (UF – unidade federal)
Se o delegado for federal:
Excelentíssimo Senhor Doutor Delegado Federal da ____ Delegacia de Polícia Fe-
deral de _______ (cidade) – ___ (UF – unidade federal)

Quando for dirigida ao juiz de primeira instância:

Se for ao juiz estadual:


Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara ____ Criminal da Comarca de
_______ (nome da cidade) – (UF)
Se for ao juiz federal:
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Federal da Vara Criminal Federal da ____ Seção
Judiciária da _________ – (UF)

Quando for dirigida ao juiz do tribunal do júri:

Crimes de competência do júri (crimes dolosos contra a vida)


Na primeira fase do júri:
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara do Júri da (e) ______ – (UF)
Na segunda fase:
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Presidente do ____ Tribunal do Júri da(e)
_____ – (UF)

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UNIDADE Prática Jurídica Penal

Quando for dirigida ao juiz do juizado especial criminal – Jecrim (crimes de menor
potencial ofensivo):

Se for estadual:
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito do Juizado Especial Criminal da
Comarca­de ________ (nome da comarca) – UF
Se for federal:
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Federal do Juizado Especial Criminal Federal da
Seção Judiciária de ________ (nome da comarca) – UF

Quando for dirigida ao juiz da vara de execuções criminais:

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz da Direito da Vara das Execuções Penais da

Importante!
No exame da OAB, é possível apresentar um problema sem fazer menção da cidade. Se
isso ocorrer no enunciado e não fizer menção à comarca, use um traço ou reticências.
Importante lembrar que o endereçamento não deverá ser abreviado.

Preâmbulo
Após o endereçamento, deverá pular, em média, 10 linhas, pois se o processo for
físico (em papel escrito), é nesse espaço que o juiz ou a autoridade dirigida irá proferir
um despacho: por exemplo: “junte-se”; “distribua-se”; “indefiro”; “defiro” etc. Se o
processo for eletrônico (digital), o despacho será em folha separada, assim, o espaço
será apenas para estética da petição. Na petição para o exame da OAB, pule ao
menos oito linhas para fins de estética.
Após isso, comece a peça com o nome do seu cliente. Não importa se for autor
ou réu. Se for para o exame da OAB, comece a peça com o nome da pessoa para
quem atuará.
Se a petição for inicial, deverá ser indicado o nome com a qualificação das partes,
com os seguintes dados: nome, nacionalidade, estado civil, profissão, RG, CPF e
endereço. Se a petição for civil, deverá colocar também o endereço eletrônico.
Exemplificando:

Nome, nacionalidade, estado civil, profissão, portador da Cédula de Identidade RG


nº__________ e inscrito no CPF sob o nº__________, residente e domici-
liado no _____________ (endereço completo), endereço eletrônico (e-mail),

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por intermédio do advogado que esta subscreve, vem respeitosamente, à presença
de Vossa Excelência, expor e requerer o que segue/propor ação (especificar).

Se o pedido é inicial, então apresente a qualificação completa (no caso, apenas a


queixa-crime, o habeas corpus e a revisão criminal). Se já consta, de alguma forma,
a qualificação no processo, diga apenas “já qualificado”.

As peças que exigem a qualificação completa são: pedido de instauração de inqué-


rito policial, representação criminal, queixa-crime, habeas corpus e revisão criminal.

No “habeas corpus” é o advogado (impetrante) que impetra a ordem pelo clien­


te (paciente).

Importante!
Quando for redigir a peça, tenha sempre em mente esses sete itens, tente manter sem-
pre essa sequência. Isso facilitará sua memorização.

Na sequência, a parte contrária também deverá ser igualmente qualificada, in-


dicando nacionalidade, profissão, estado civil, documentos, endereço eletrônico e
domicílio. O mesmo ocorre se a peça for de ação penal privada, tal como queixa-
-crime. Se a outra parte for, por exemplo, o Ministério Público, não precisa colocar
qualificação, apenas mencionar o órgão público.

A necessidade de qualificação completa não se aplica se o processo estiver em


andamento, sendo apenas necessário apontar o nome do peticionário e esclarecer
que este já se encontra qualificado nos autos.

Por exemplo:

Nome da parte, já qualificado, nos autos da ação penal, que lhe move o Ministério
Público, por seu advogado que esta subscreve, vem respeitosamente, à presença de
Vossa Excelência, expor e requerer o que segue:

Na prática da advocacia, deve-se grafar o nome completo.

Na petição solicitada no exame da OAB, não é permitido inventar dados, assim, o


examinando deverá colocar somente o nome que constar no problema selecionado.

Quanto à distância da margem para iniciar o parágrafo, não há medida certa,


todavia é aconselhável que se inicie a escrita mais ou menos no meio da página. Ape-
nas o início do parágrafo. Mas, atente-se, pois, a partir da segunda frase, o parágrafo
deverá voltar a obedecer à margem esquerda da folha.

Note-se, como mencionado anteriormente, que na petição é feita menção ao ad-


vogado, por exemplo: “por seu advogado que esta subscreve” ou “por seu advogado
que esta subscreve (conforme procuração anexa)”.

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UNIDADE Prática Jurídica Penal

Na petição também deve ser feita menção ao juiz (conforme exemplo no quadro),
por exemplo: “vem, mui respeitosamente, à presença de Vossa Excelência…”.

No preâmbulo deve ser mencionado o nome da peça jurídica que está sendo ela-
borada, ou seja, o nome da peça juntamente com o fundamento legal. O fundamento
legal é o artigo em que se encontra a peça. Ex.:
• oferecer Representação, conforme artigo 24 do CPP;
• oferecer Queixa-crime, com fundamento no artigo 30 do CPP;
• requerer a Revogação da Prisão Preventiva, consoante os artigos 282, §5º c/c
o 316 do CPP.

Após isso, escrever: “pelos fatos a seguir expostos”; “pelos fatos que passa a ex-
por”; “pelos motivos fáticos e de direito a seguir expostos”.

Dos Fatos
É a introdução, a narração dos fatos.

O tópico dos fatos é o de maior importância na petição, descrevendo com clareza


e objetividade tudo aquilo que ocorreu, de forma que esteja relacionado aos funda-
mentos jurídicos do pedido.

No exame da OAB será verificada a sua capacidade de interpretação do proble-


ma. Você deve expor os fatos trazidos pelo problema proposto.

Faça um resumo do enunciado da prova, narrando com as suas palavras os dados


fáticos mais importantes.

Mais uma vez, lembre-se de que não é permitido inventar qualquer dado que não
conste expressamente do enunciado.

Importante!
Na queixa-crime, por se tratar de petição inicial, é necessário fazer a descrição completa
da conduta do querelado!

Do Direito. Fundamento Jurídico


É o momento no qual você reivindicará o direito. É o motivo pelo qual você está
elaborando a peça. Esse é o ponto mais importante da sua peça, é nele que você terá
a oportunidade de demonstrar todo o seu conhecimento jurídico.

No direito, é o momento que se faz a argumentação. É o núcleo da atividade do


advogado e merece toda atenção.

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O objetivo da petição elaborada pelo profissional do Direito e estudantes é persu-
adir o julgador a conceder ou reconhecer determinado direito.

A petição, antes de tudo, é uma dissertação e exige do profissional o domínio da


ortografia, riqueza de vocabulário, lógica, coordenação de ideias, bem como certo
conhecimento dos conceitos jurídicos.

Toda petição é elaborada com introdução, desenvolvimento e encerra-se com


a conclusão do raciocínio, ou seja, a argumentação jurídica obedece a uma lógica
própria, uma técnica especial na elaboração e exposição do raciocínio jurídico por
meio do silogismo.

Silogismo judiciário é uma espécie de raciocínio dedutivo formado por três propo-
sições encadeadas, de tal modo que, das duas primeiras, infere-se a terceira.

Essa palavra, empregada por Aristóteles para indicar um tipo perfeito de raciocí-
nio dedutivo, está no âmago da lógica contemporânea (DEZEM et al., 2020).

Assim, para elaborar o fundamento jurídico, deve-se aplicar três proposições da


seguinte forma:

premissa maior (norma) + premissa menor (fatos) = conclusão (tese jurídica)

Nas petições, a premissa menor (os fatos) precede a premissa maior (o direito), na
ordem: fatos, direito e pedidos.

Além disso, a petição deve ser redigida com ideias concatenadas, isto é, articula-
das: disposição da matéria em artigos ou parágrafos, separados e correlacionados.

A primeira proposição é a chamada “premissa maior”, que é a regra geral.


A segunda proposição é chamada “premissa menor”, que é a regra particular.
A terceira proposição é chamada “conclusão”, que é a consequência das duas primeiras.

No âmbito do raciocínio jurídico, a premissa maior é representada por uma pro-


posição geral, que pode ser a lei propriamente dita, ou, ainda, na falta dessa súmula,
determinado entendimento doutrinário ou jurisprudencial sobre uma questão contro-
versa. É o fundamento jurídico.

A premissa menor, é a adequação da lei mencionada com o caso em concreto.


Normalmente, começamos o parágrafo para apontar a premissa menor com as ex-
pressões: “No caso em tela”; “No presente caso”; “In casu” etc.

Por fim, a conclusão é a proposição que leva de forma imediata ao pedido que
será formulado.

É possível, ainda, efetuar citações de doutrina e de jurisprudência.

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UNIDADE Prática Jurídica Penal

Vamos imaginar o seguinte caso.

Situação-problema
Silmara é atacada a tiros desferidos por arma de fogo por Roberto, que não logra
acertar os dois primeiros tiros. Antes de desfechar o terceiro tiro, Silmara saca arma
que carrega em sua bolsa com autorização legal e vem a atingir Roberto, que veio
a óbito.

Aplicando o silogismo, argumentação jurídica a ser colocada na parte “Do Direito”


será efetuada da seguinte forma:
• Introdução: deverá primeiro fazer uma introdução. É a apresentação da tese
que será desenvolvida. Logo no primeiro parágrafo da parte do direito, deve-se
expor a tese que defenderá. Por exemplo:

“Com efeito, a acusada Silmara agiu em legítima defesa...”. (apresentação da tese)

• Premissa maior: é o seu ponto de partida, algo que não poderá ser refutado.
Na argumentação jurídica, a premissa maior é, geralmente, uma fonte do Direi-
to (artigo de lei. Na falta dela, súmula, princípios).
Dessa forma, quando for citar artigos de lei, utilize, por exemplo, as seguin-
tes passagens:
» “Segundo o comando previsto no artigo tal, …”;
» “Consoante a inteligência do artigo tal, …”;
» “Ex vi o disposto na literalidade do artigo tal, …”;
» “Conforme se depreende do alcance do artigo tal…”.

Segundo o artigo 25 do Código Penal, está em legítima defesa quem, usando mo-
deradamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a
direito seu ou de outrem.

Portanto é aqui que se apresenta o fundamento jurídico, ou seja, o artigo da lei


referente a sua tese.
• Premissa menor: é a situação concreta apresentada pelo problema. Deverá ser
demonstrado que aquela situação concreta relaciona-se perfeitamente ao direito
apresentado na premissa maior. É o comparativo que se apresenta ao juiz, na
forma particular. Por exemplo:
» “No caso em tela, há de se destacar…”.
» “No vertente caso, faz-se mister enaltecer…”.
» “No caso sub examine, urge mencionar…”.

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» “No caso em tela, esclareça-se que…”.
» “In casu, ocorre que…”.
No problema apresentado, será assim disposto:

No caso em tela, Roberto disparou tiros contra Silmara, e esta sacou arma que car-
regava em sua bolsa com autorização legal e reagiu à injusta agressão, levando
­Roberto a óbito.

Essa é a exposição dos fundamentos fáticos do pedido. Não se trata de mera


repetição dos fatos, mas apontamentos de que, no caso em concreto, está acon-
tecendo o que prevê a lei (fundamento jurídico).
Após a premissa menor, para embasar ainda mais o fundamento jurídico, pode
apresentar entendimento doutrinário ou mesmo jurisprudencial. Evidentemente,
não é obrigatório, serve apenas para enriquecer a tese defendida.
• Conclusão: é a constatação de que o direito exposto na introdução aplica-se à
situação concreta exposta. Portanto, é a finalização de sua argumentação.
• Depois de desenvolvidos os argumentos, chega-se à conclusão do silogismo,
que, retomando a tese exposta na introdução, fecha o raciocínio. Por exemplo:

Portanto, Silmara agiu em legítima defesa ao reagir à injusta agressão praticada


por Roberto.

Se houver mais de uma tese a ser deduzida, a regra é manter a estrutura lógica
interna de cada argumento (premissa maior/premissa menor/conclusão).

Pedido
O pedido, relacionado com o tópico dos fatos, também tem grande peso na apre-
ciação da petição, sendo necessário especificar o que se deseja com clareza, de for-
ma que decorra de uma verdadeira conclusão dos fatos narrados.

São utilizadas algumas expressões no “pedido”. Por exemplo:


• “Diante do exposto...”;
• “Por tudo quanto foi exposto...”;
• “Ante o exposto...”;
• “Por consequência de tudo quanto foi exposto...”.

Nele, devem constar todos os requerimentos próprios daquela petição.

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UNIDADE Prática Jurídica Penal

Conforme o problema apresentado:

Do Pedido:
Diante do exposto, requer seja julgada improcedente a presente ação, absolvendo-
-se a ré Silmara, com fulcro no artigo 386, VI do Código de Processo Penal.

Não é necessário colocar o título “Do pedido”, mas faz com que a petição fique
com a estética melhor e organizada.

Em regra, os pedidos são consequência lógica da argumentação. Se a tese é alguma


nulidade, por exemplo, pede-se a anulação. Os pedidos são pontuados individualmente.

Importante!
Na peça inicial de queixa-crime, é necessário colocar pedido de recebimento (ex.: requer
seja recebida), de designação de audiência preliminar ou de conciliação, de citação, de
oitiva de testemunhas (se houver), condenação e de fixação de indenização.

Parte Final
Por fim, importante lembrar do pedido final de deferimento, data, local e assina-
tura do advogado.

Após o pedido, deverá “pular” duas linhas e escrever:

“Nestes termos, pede deferimento”.

Ou:

“Termos em que pede deferimento”.

Após duas linhas, deve, ainda, colocar local de data, bem como assinar a peça
e apontar o número da OAB, ou, se for do Ministério Público, ou Procurador, deve
apontar a função pública. Ex.:

José de Tal
Promotor de Justiça.

Na prática da advocacia, deve-se sempre colocar o local e a data. Todavia, em


uma prova da OAB, a menção ao local pode ser uma forma de identificação (o que
não pode ocorrer em exames e, neste caso, deve transcrever exatamente a forma
transcrita (local e data) ou na forma pedida no enunciado).

Assim, somente colocará a expressão “local e data”, a não ser que no exame diga
para colocá-la. Exemplo: date no último dia de prazo).

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No caso do local, somente coloque a comarca se o problema trouxer essa informação.

A expressão “nestes termos, pede deferimento”, colocada na parte final da peça,


deverá ser colocada da seguinte forma, no canto direito da folha:

Nestes termos,
pede deferimento.
Local, data.

Lembre-se, ainda, de que a petição deve conter também a assinatura e o número


da OAB. Deve sempre conter a assinatura.

Todavia, em uma peça na prova para aprovação no exame da OAB, nunca se


identifique com seus dados pessoais, nem invente dados na petição.

Cuidado com a identificação da peça para exame da OAB. Nunca assine a peça
ou forneça quaisquer outros dados pessoais.

Assim, após o local e data, pular também duas linhas e, abaixo, conforme trans-
crito anteriormente, deverá colocar a expressão NOME DO ADVOGADO E OAB/
UF (unidade federal – o Estado em que realizará a prova).

Lembre-se de utilizar apenas a palavra “NOME DO ADVOGADO” e a menção


ao número da OAB, sem inventar numeração.

Nestes termos,
pede deferimento.

Local, data.

Nome do Advogado
OAB/ (UF) n.º

Desta forma, jamais assine ou coloque o seu nome na peça. Sua desclassificação
será automática.

Importante!
Atente-se, pois algumas peças têm prazo, ou seja, em alguns casos, a FGV costuma pedir
que a peça seja oferecida, por exemplo, no último dia de prazo.

Quando a peça for composta por duas petições (recursos em geral) e o enun-
ciado solicitar que seja indicado o dia do prazo, coloque a mesma data em ambas
as petições.

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UNIDADE Prática Jurídica Penal

Veja, a seguir, modelo simples de petição:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIRITO DA __________


VARA CRIMINAL DA COMARCA DE __________,
1. Endereçamento

2. Preâmbulo

“A”, “B”, “C” e “D”, já qualificados nos autos da


ação penal nº _____, que lhes move a justiça pública (c), por seu advogado que esta
subscreve, vêm, perante Vossa Excelência, dentro do prazo legal, apresentar

MEMORIAIS
com fulcro no artigo 403 §3º do Código de Processo Penal, pelas razões de fato e de direito
a seguir expostas:

I – DOS FATOS 3. Os Fatos


Os Acusados foram denunciados (...)

II – DO DIREITO 4. O Direito
Dos fatos supra narrados exsurge cristalina (...)

III – DO PEDIDO 5. O Pedido


Diante do exposto, (...)

Nesses termos, 6. Finalização


pede deferimento

(local, data)
___________________
ADVOGADO – OAB

Figura 2 – Modelo simples de petição

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Como identificar a peça – OAB – Prática Penal
https://youtu.be/4mIB4CSbzsQ
Como identificar as teses da sua peça – OAB 2ª Fase em Penal
https://youtu.be/8Fce8jzhUoQ

Leitura
Técnica de Redação Forense
https://bit.ly/3HLw0Tj
Manual sobre “como fazer” no Direito Penal
http://bit.ly/3DR0Qc4

25
25
UNIDADE Prática Jurídica Penal

Referências
AVENA, N. Processo Penal. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. (e-book)

DEZEM, G. M. et al. Prática jurídica penal. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2020.

GIACOMOLLI, N. J. O devido processo penal: abordagem conforme a Constituição


Federal e o Pacto de São José da Costa Rica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2016. (e-book)

GLOECKNER, R. J. Nulidades no processo penal. 3. ed. São Paulo: Saraiva,


2017. (e-book)

LOPES JR., A. Direito processual penal. 15. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2018. (e-book)

MARCÃO, R. Curso de processo penal. 4. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
(e-book)

NUCCI, G. de S. Curso de direito processual penal. 17. ed. Rio de Janeiro:


­Forense, 2020. (e-book)

PACELLI, E. Curso de processo penal. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2018. (e-book)

RANGEL, P. Direito processual penal. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2019. (e-book)

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Prática Jurídica
Penal I
Peças Pré-Processuais Penais

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª M.ª Rosa Maria Neves Abade

Revisão Técnica:
Prof. Dr. Reinaldo Zychan

Revisão Textual:
Esp. Aline Gonçalves
Peças Pré-Processuais Penais

• Requisição de Instauração de Inquérito Policial;


• Representação;
• Revogação de Prisão Preventiva.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Compreender as peças profissionais que o advogado pode elaborar para que seja realizada
a instauração de inquérito policial e para que seja revogada a prisão preventiva.
UNIDADE Peças Pré-Processuais Penais

Requisição de Instauração
de Inquérito Policial
Elencado do artigo 4º ao 23 do CPP, é um procedimento administrativo, inquisi-
tivo, discricionário, que visa, basicamente, à apuração primária de um fato delituoso
e sua autoria, colhendo provas testemunhais, periciais e documentais. Utilizado para
penas superiores a 2 anos, seguindo o princípio da formalidade.
Se for apuração de infração de menor potencial ofensivo, cuja pena máxima seja
igual ou inferior a 2 anos, e ainda todas as contravenções penais (art. 61 da Lei
9.099/95), não será instaurado inquérito policial, mas, sim, Termo Circunstanciado
(art. 69 da Lei 9.099/95).
• Polícia Judiciária: é a responsável pela apuração e investigação das infrações
penais. Divide-se em Federal e Civil: a atribuição da Polícia Federal são as
infrações penais praticadas contra bens e interesses/serviços da União, e
ainda nos casos de tráfico internacional de drogas. Enquanto a Polícia Civil se
incumbe de investigar os crimes que não serão apurados pela Polícia Federal
(por exclusão);
• Finalidade: o inquérito policial tem dupla finalidade: apurar a materialidade e a
autoria do crime.

Prazos do Inquérito
O inquérito policial deverá ser concluído no seguintes prazos:
Tabela 1 – Prazos para conclusão do inquérito policial
10 dias 30 dias
CPR – Regra Geral Improrrogáveis Prorrogáveis
15 dias 30 dias
Justiça Federal – PF Prorrogáveis por igual período Prorrogáveis
Lei de Entorpecentes 30 dias 90 dias
Lei 11.343/06 Duplicável Duplicável
20 dias 40 dias
Inquérito Militar Improrrogáveis Prorrogáveis por + 20 dias
Crimes contra a 10 dias 10 dias
Economia Popular Improrrogáveis Improrrogáveis

Conforme o quadro, o prazo para conclusão do inquérito será de 10 dias, quando


o indiciado estiver preso, ou de 30 dias, quando estiver solto (artigo 10 do Código
de Processo Penal).
• Prazo na Lei 11.343/06: prazo para a conclusão do inquérito policial: 30 (trinta)
dias, se o indiciado estiver preso, e 90 (noventa) dias, se estiver solto. Artigo 51.
O parágrafo único prevê a duplicação de tais prazos mediante justificado pedido
da autoridade de polícia judiciária. Prazo para o Ministério Público se manifestar:
10 (dez) dias. Artigo 54 da mesma lei;

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• Prazo no IP da Justiça Federal: Lei 5.010/66 – indiciado preso: 15 dias, pror-
rogáveis por igual período; solto: 30 dias.

O excesso de prazo enseja impetração de HC.

Notitia criminis: o conhecimento que a autoridade policial tem de um fato aparentemente


criminoso. Ex.: encontro de corpo de delito, flagrante, publicação da imprensa, informação
de qualquer do povo etc.

Início do Inquérito
• Na ação penal pública incondicionada:
» Por portaria da autoridade policial;
» Por ofício requisitório do Promotor de Justiça;
» Por ofício requisitório do Juiz de direito;
» Por requerimento da vítima ou de quem legalmente a represente;
» Por auto de prisão em flagrante.
• Na ação penal pública penal condicionada à representação ou requisição
do Ministro da Justiça:
» Por representação da vítima ou de quem legalmente a represente;
» Por ofício requisitório do Promotor ou Juiz, acompanhado da representação
(quando esta for feita àquelas autoridades);
» Por auto de prisão em flagrante (caso haja representação).
• Na ação penal privada:
» Por requerimento da vítima ou de quem legalmente a represente (queixa-crime);
» Por auto de prisão em flagrante (caso haja queixa-crime).

Com exceção do auto de prisão em flagrante, em todos os demais casos, normal-


mente, a autoridade policial elabora “portaria”.

Encerramento do Inquérito Policial


• Encerrado o inquérito é feito o relatório pela Autoridade Policial e os autos do
inquérito serão remetidos ao juiz competente (art. 10,§ 1º do CPP), e este, por
sua vez, remeterá ao Ministério Público;
• Relatório: é a peça elaborada pela autoridade policial que expõe os fatos (com
imparcialidade) e as provas colhidas durante o inquérito. Finaliza o inquérito
policial. Não pode ser emitido juízo de valor. Concluídas as investigações, o
delegado fará um relatório do que se apurou (art. 10, § 1º, CPP), sem, contudo,
manifestar sua opinião, julgamento ou qualquer juízo de valoração.

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UNIDADE Peças Pré-Processuais Penais

Nos casos de ação penal pública, o Ministério Público, ao receber o relatório com
o encerramento do inquérito policial, poderá:
» Oferecer denúncia;
» Requisitar novas diligências; ou
» Requerer o arquivamento.

Arquivamento do Inquérito Policial


• O Supremo Tribunal Fedral, por decisão monocrática proferida pelo Ministro
Relator Luiz Fux, veio a suspender liminarmente a vigência da nova redação do
art. 28 do CPP, conferida pela Lei n. 13.964/2019 ( Pacote Anticrime) , através
da ADI 6.305-DF, proposta pela Associação Nacional dos Membros do Minis-
tério Público (CONAMP). Desta forma, permanecem as mesmas determinações
relativas ao arquivamento, ou seja o juiz determina o arquivamento do inquérito
policial. A inovação de referida lei pretendia conferir ao Ministério Público a atri-
buição de determinar o arquivamento do inquérito policial, ao invés de solicitá-lo
ao juiz. Portanto, quem arquiva o inquérito ainda é o juiz, através de requerimen-
to do representante do Ministério Público;

Importante!
A autoridade policial não pode arquivar o inquérito policial (CPP, art. 17).

• O despacho do juiz que determina o arquivamento do inquérito não faz coisa


julgada e, após arquivado, o delegado pode proceder novas diligências, para
buscar novas provas;
• Desarquivamento: só com novas provas será desarquivado;
Súmula 524 do STF

Arquivado o IP por despacho do juiz, a requerimento do MP, não pode a


ação penal ser iniciada sem novas provas.

Novas provas, segundo o STF, são aquelas substancialmente inovadoras e não apenas for-
malmente novas, isto é, que alteram o conjunto probatório dentro do qual o promotor se
valeu para pedir o arquivamento.

Trancamento do IP
• O trancamento do inquérito policial é diferente do seu arquivamento. No tran-
camento do inquérito, também determinado pelo juiz ou pelo tribunal, há uma
finalização antecipada do procedimento, após as investigações são paralisadas,
onde quer que se encontrem.

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Normalmente, essa decisão é proferida através de Habeas Corpus, impetrado.

O Habeas Corpus é o remédio constitucional utilizado quando houver violação ou ameaça


ilegal à sua liberdade de locomoção, sendo assim, é necessário que esteja presente ao me-
nos uma potencial ameaça à liberdade.

Vícios Durante o IP
Não se trata de nulidade, mas mera irregularidade. Isso significa que se não foi
preenchida alguma formalidade durante o inquérito policial não acarretará nulidade,
mas será simplesmente sanada tal irregularidade.

Dispensabilidade do Inquérito Policial


O inquérito policial é dispensável para a propositura da ação penal, pois o pro-
motor pode se valer de quaisquer peças informativas. Pode haver ação penal sem
inquérito (art. 12; 27; 39, § 5º; 46, § 1º, do CPP).

Presidência do Inquérito Policial


Como regra geral, somente o delegado de polícia pode presidir o inquérito po-
licial, entretanto, o promotor de justiça poderá presidir, assumindo a direção do IP,
quando designado pelo Procurador-Geral, quando este avocar, excepcional e funda-
mentalmente, inquéritos em andamento, onde não houver delegado de carreira.

Os membros do MP têm atribuição de acompanhar atos investigatórios junto a


organismos policiais ou administrativos, quando considerarem convenientes à apu-
ração de infrações penais.

Requisição para Instauração de Inquérito


A “notitia criminis” é realizada na forma do artigo 5º do CPP.

O artigo 5º, II, do CPP prevê que o inquérito poderá iniciar por ofício ou mediante
requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do
ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.

O requerimento do ofendido, normalmente, é efetuado de forma oral, por meio do


boletim de ocorrência. Todavia esse requerimento pode ser efetuado por escrito, por
meio de advogado, em petição de “requisição de instauração de inquérito policial.

A requisição de instauração de inquérito policial é efetuada da seguinte forma:


• Endereçamento: a petição de requerimento é endereçada à autoridade policial,
conforme modelo de endereçamento:

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UNIDADE Peças Pré-Processuais Penais

Se o delegado for estadual:


Excelentíssimo Senhor Doutor Delegado de Polícia Titular do _____ Distrito Poli-
cial da_____(cidade) – _____ (UF – unidade federal)
Se o delegado for federal:
Excelentíssimo Senhor Doutor Delegado Federal da _____ Delegacia de Polícia
Federal de _____ (cidade) – _____ (UF – unidade federal)

Veja que o tratamento ao delegado é “Excelentíssimo”. É bom evitar abreviações.

Fundamento legal (o artigo para fundamentar a peça): artigo 5º, II, do CPP.

Como Elaborar o Requerimento de Inquérito Policial


a) Após o endereçamento, deve ser colocada a qualificação completa das
partes e o nome da peça, ou seja, o preâmbulo. Desta forma:

(NOME DO REQUERENTE), (Nacionalidade), (Profissão), (Estado Civil), portador da


Carteira de Identidade RG nº (__), inscrito no CPF sob o nº (__), residente e domici-
liado à Rua (__), nº (__), Bairro (__), Cidade (__), Cep. (__), no Estado de (__),
por seu advogado infra-assinado, vem respeitosamente à presença de Vossa Senho-
ria, com fundamento no art. 5º, inciso II, do Código de Processo Penal requerer a:
INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO POLICIAL
contra (REQUERIDO, quem será indiciado), (Nacionalidade), (Profissão), (Estado Ci-
vil), portador da Carteira de Identidade nº (__), inscrito no CPF sob o nº (__), resi-
dente e domiciliado à Rua (__), nº (__), Bairro (__), Cidade (__), Cep. (__), no
Estado de (__), pelos fatos e fundamentos a seguir:

O nome da peça deve ser destacado, conforme o modelo anterior.

Depois, deve descrever os fatos, expondo o fato criminoso em um tópico separa-


do e intitulado “DOS FATOS”, por exemplo:

I. DOS FATOS:
Narrar de forma circunstanciada o fato a ser investigado e os detalhes já conheci-
dos pelo requerente. Deve-se, também, apresentar a indicação do provável autor
do fato.
No dia ... de ... do corrente ano, o requerente foi acusado leviana-
mente pelo Sr. Beltrano de tal, brasileiro, casado, residente e domiciliado em ..., na
presença de diversos circunstantes, de ter cometido crime de furto ao adentrar a
residência de outro cidadão morador da cidade.

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• Tese: é a parte em que apresenta o direito. É aqui que se deve explicar a infra-
ção da qual seu cliente foi vítima. Por exemplo:

II – DO DIREITO
(descrever os tipos penais nos quais o investigado pode se enquadrar).
Tal fato, obviamente, não corresponde à verdade, portanto, o autor
do fato acima qualificado cometeu, em tese, crime de _____, nos termos do arti-
go_____, sendo necessária a apuração dos fatos para uma adequada obtenção do
suporte probatório necessário à propositura de ação penal.

• Pedido: após apontar os crimes sofridos pelo cliente, com o devido enquadra-
mento legal, ou seja o fundamento jurídico (artigo da tese), será efetuado pedi-
do. No pedido, deve-se requerer a instauração do inquérito policial para que o
requerido seja devidamente indiciado pelo crime cometido. Se houver testemu-
nhas, devem ser arroladas no final. O pedido deve ser efetuado desta forma:

III – DO PEDIDO:
Isso posto, requer, nos termos do art. 5º, II, do CPP, a instauração
do Inquérito Policial, para que seja apurada a autoria e materialidade da infração
cometida, para, posteriormente, ser oferecida a denúncia pelo Digno Representante
do Ministério Público.

• Aposição de local, data e assinatura: no final, deve-se colocar data e assina-


tura da peça, conforme demonstrado:

Nestes termos,
pede e espera deferimento.

Local, data.

Nome do Advogado
OAB/..... nº..............

Assinatura do requerente:
(que será dispensável, tendo a procuração poderes especiais)

Modelo de Pedido de Instauração de Inqúerito Policial

Excelentíssimo Senhor Doutor Delegado de Polícia Titular do _____ Distrito Poli-


cial de _____ – (UF)
(pule, em média, 10 linhas)
“(Nome do requerente, ou seja, da vítima)”, nacionalidade, estado
civil, profissão, portador do RG nº e inscrito no CPF sob o nº _____, residente e do-

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UNIDADE Peças Pré-Processuais Penais

miciliado na rua______nº__, nesta Capital, por seu advogado(a) e procurador(a),


infra assinado, conforme e procuração anexada (doc. 1) vem, com fulcro no artigo 5º,
II, do Código de Processo Penal, requerer a
INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL
contra “(Nome do requerido ou seja, do autor da infração)”, nacionalidade, estado
civil, profissão, portador do RG nº _____ e inscrito no CPF sob o nº _____, resi-
dente e domiciliado na rua_____nº__, bairro, _____, cidade _____, Estado
______, pelos motivos que passa a expor:
I – DOS FATOS:
(resumir, com suas palavras, o problema dado)
II – DO DIREITO:
(explicar a infração da qual seu cliente foi vítima)
III – DO PEDIDO
Diante de todo exposto, requer seja instaurado o competente Inqué-
rito Policial para que seja apurada a autoria e materialidade da infração cometida,
para, posteriormente, ser oferecida a denúncia pelo Digno Representante do Minis-
tério Público.
Requer, ainda, a notificação e oitiva das testemunhas a seguir arroladas:
(pular 2 linhas)
Termos em que,
pede deferimento.
(pular 2 linhas)
Local e data
Nome do Advogado(a)
OAB/SP. Nº
Rol de Testemunhas:
1) Nome, RG, e endereço
2) Nome, RG e endereço
3) Nome, RG e endereço

Representação
A representação é uma manifestação de vontade da vítima ou de seu represen-
tante legal no sentido de solicitar a instauração do inquérito e autorizar o Ministério
Público a ingressar com a ação penal contra os autores do delito. A representação
pode ser escrita ou oral, e pode ser ofertada pessoalmente ou por procurador com
poderes especiais (art. 39 do CPP).

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Para identificar se o crime é de ação pública condicionada à representação, de-
vemos verificar se no final do artigo ou no final do capítulo onde está o artigo está
escrito: “somente se procede mediante representação”.
• Prazo: nos termos do artigo 38 do CPP, o direito de representação deve ser
exercido no prazo de 6 (seis) meses, a contar do dia em que a vítima ou seu
representante legal tomaram conhecimento da autoria do crime;
• Crime Continuado: o prazo decadencial de seis meses é contado individualmente;
• Retratação: o art. 25 do Código de Processo Penal dispõe que a representação é
retratável até o oferecimento da denúncia. Assim, a vítima pode retirar a represen-
tação, de tal forma a retirar do Ministério Público a possibilidade de iniciar ação;
• Exceção: na Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06), em seu art. 16 – só será ad-
mitida a renúncia ao direito de representação perante o juiz, em audiência, antes
do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público;
• Titularidade da ação (Legitimidade para Representar): (Legitimidade para
Representar): o ofendido (a vítima de uma infração de ação penal pública con-
dicionada à representação).

Se a vítima for menor de 18 anos, apenas seu representante legal pode exercer
o direito.

C.A.D.I. – Em caso de morte do ofendido ou declaração de ausência, poderão


representar o cônjuge, ascendente, descendente ou irmão – art. 24 do CPP;
• Curador especial (art. 33 do CPP): Se a vítima menor não tiver representante
legal, ou tiver enfermidade mental, retardado mental ou quando colidirem os
interesses do representante com o ofendido, o juiz nomeará um curador espe-
cial para avaliar a conveniência do oferecimento da representação (art. 33 do
Código de Processo Penal).
No caso de ser pessoa jurídica – será a pessoa indicada no contrato social – art. 37
do CPP;
• Natureza Jurídica: é condição de procedibilidade, sem a qual o Ministério Pú-
blico não pode oferecer a denúncia;
• Endereçamento: nos termos do art. 39, caput, do Código de Processo Penal,
pode ser endereçada ao juiz, ao Ministério Público ou à Autoridade Policial. Para
o exame da OAB, dirija a peça ao Delegado, a não ser que no problema aponte
com quem está o inquérito.

Tabela 1 – Exemplo de endereçamento


Quando for dirigida ao delegado
Se o delegado for estadual:
Excelentíssimo Senhor Doutor Delegado de Polícia Titular do _____ Distrito Policial da _____
(cidade) – _____ (UF – unidade federal)
Se o delegado for federal:
Excelentíssimo Senhor Doutor Delegado Federal da _____ Delegacia de Polícia Federal de
_____ (cidade) – _____ (UF – unidade federal)

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UNIDADE Peças Pré-Processuais Penais

Quando for dirigida ao ministério público


Excelentíssimo Senhor Doutor Promotor de Justiça da cidade de ______ – (UF)
Se for federal:
Excelentíssimo Senhor Doutor Procurador da República da cidade de _____ – (UF)

Quando for dirigida ao juiz de primeira instância


Se for ao Juiz estadual:
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara _____ Criminal da Comarca de _____
(nome da cidade) – (UF)
Se for ao Juiz Federal:
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Federal da Vara Criminal Federal da _____ Seção Judiciária da
_____ – (UF)

Quando For Dirigida ao Juiz do Juizado Especial Criminal –


JECRIM – (crimes de menor potencial ofensivo)
Se for estadual:
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito do Juizado Especial Criminal da Comarca de _____
(nome da comarca – UF)
Se for federal:
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Federal do Juizado Especial Criminal Federal da Seção Judiciária
de _____ (nome da comarca – UF)

• Nomenclatura: na peça processual de representação, deve ser utilizado o seguinte:


» Representante: Vítima;
» Representado: O acusado, autor do fato.
• Competência: conforme disposto no artigo 39 do CPP, o direito de representa-
ção poderá ser exercido mediante declaração escrita ou oral;
• Tese: após o endereçamento, ocorre igualmente no pedido de instauração do
inquérito policial, serão descritos os fatos criminosos e no direito será apontado
o crime sofrido, de ação penal pública condicionada à representação;
• Formalidade: A representação é simples autorização e não exige nenhuma
formalidade, podendo, inclusive, ser efetuada oralmente perante o delegado, o
Promotor e o juiz, sendo, nesse caso, reduzida a termo.

O artigo 39, § 2º, do CPP, determina apenas que a representação conterá todas as in-
formações que possam servir à apuração do fato e da autoria. O ­representante deverá
demonstrar a ocorrência do crime de ação penal pública condicionada e, salvo se já
tiver elementos suficientes para comprovar a autoria, deverá requerer a instauração de
inquérito policial. Pode, ainda, requerer a oitiva das testemunhas e da vítima.

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Figura 1
Fonte: Getty Images

Modelo de Representação

Excelentíssimo Senhor Doutor Delegado de Polícia Titular do _____ Distrito Policial


de _____ – SP
(10 linhas)
(NOME DO REPRESENTANTE), nacionalidade, estado civil, profissão,
portador do RG nº _____, inscrito no CPF/MF sob o nº _____, residente na
rua_____ nº__, bairro _____, cidade _____ Estado _____, por seu ad-
vogado e procurador infra-assinado, conforme procuração com poderes especiais
anexada (doc. _____), vem, à presença de Vossa Senhoria, respeitosamente, com
fulcro nos artigos 24 e 39 do Código de Processo Penal, oferecer:
REPRESENTAÇÃO
Contra (NOME DO REPRESENTADO), nacionalidade, estado civil, profissão, por-
tador do RG nº..............., inscrito no CPF/MF sob o nº ........................, residente na
rua______, nº___, bairro ..........., cidade............., Estado..............., pelos motivos
que passa a expor:
I – DOS FATOS
(resumir o problema dado com suas palavras)
II – DO DIREITO
(explicar o crime de que seu cliente foi vítima, descrever os artigos)
III – DO PEDIDO
Diante de todo exposto, oferece a presente representação, a fim de que possa ser
instaurado o competente inquérito policial e posteriormente oferecida a denúncia
pelo Digno Representante do Ministério Público contra o ora representado.
Requer, ainda, a notificação e oitiva das testemunhas a seguir arroladas.
Rol de Testemunhas:
1) Nome, RG, CPF, endereço
2) Nome, RG, CPF, endereço
3) Nome, RG, CPF, endereço
Termos em que pede deferimento.
São Paulo, _____ de ________________ de 2___.
Nome do(a) Advogado(a)
OAB/SP. Nº_____

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UNIDADE Peças Pré-Processuais Penais

Revogação de Prisão Preventiva


Decretação da Prisão Preventiva
Conforme previsto no art. 311 do CPP, em qualquer fase da investigação policial
ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, a requerimento
do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da autori-
dade policial. (seguida de manifestação do parquet). Cabe tanto em ação penal pública
quanto em ação privada.

Legitimidade para decretá-la: somente o Juiz pode decretá-la.

Legitimidade para requere-la:


• Na fase de inquérito:
» a requerimento do Ministério Público ou do querelante;
» ou por representação da autoridade policial (nesse caso, é ouvido o MP).
• No curso da ação penal:
» a requerimento do Ministério Público ou;
» do querelante ou do assistente (na ação penal privada);
» ou por representação da autoridade policial (nesse caso, é ouvido o MP).

Vamos lembrar: o juiz não pode decretar prisão preventiva de ofício, nem na
fase de investigação nem na fase da ação penal.

Pressupostos Para a Prisão Preventiva


Conforme determina o artigo 282,§ 6º do CPP, somente será decretada prisão
cautelar quando as demais possibilidades de medida cautelar diversas da prisão não
forem suficientes.

Também deve ficar demonstrado na decisão a presença do “fumus comissi delicti”


e do “periculum libertatis”. Tais pressupostos são cumulativos, ou seja, ambos devem
estar presentes.

São pressupostos para a decretação:


• Fumus comissi delicti: Art 312, “in fine” do CPP.
» prova da existência do crime (prova da materialidade delitiva);
» indício suficiente da autoria.

Com efeito, esses pressupostos constituem o fumus boni iuris para a decretação
da custódia. O juiz somente poderá decretar a prisão preventiva se estiver demons-
trada a probabilidade de que o acusado tenha sido o autor de um fato típico.

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Observa-se que, nessa fase, não se exige prova plena, bastando meros indícios,
isto é, que se demonstre a probabilidade de o réu ou indiciado ter sido o autor do fato
delituoso. A dúvida, portanto, milita em favor da sociedade, e não do réu (princípio
do in dubio pro societate)
• “periculum libertatis”: Art. 312, “in fine”, do CPP:
» perigo gerado na liberdade do imputado. Deve estar configurado haver
perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.

Requisitos Legais
Além dos pressupostos, também deverão estar presentes um dos requisitos descri-
tos no caput do art. 312 do CPP.

Segundo o artigo 312 do CPP, a prisão preventiva poderá ser decretada como
garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução cri-
minal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência
do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade
do imputado.

Vamos analisar cada um deles:


• Garantia da ordem pública: a prisão cautelar é decretada com a finalidade de
preservar bem jurídico essencial à convivência social, como a proteção social
contra réu perigoso que poderá voltar a delinquir; a proteção das testemunhas
ameaçadas pelo acusado ou proteção da vítima, garantindo a credibilidade da
justiça, em crimes que provoquem grande clamor popular;
• Garantia da ordem econômica: o art. 86 da Lei 8.884, de 11 de junho de
1994 (Lei Antitruste), incluiu no art. 312 do CPP essa hipótese de prisão pre-
ventiva. Trata-se de uma repetição do requisito “garantia da ordem pública”;
• Conveniência da instrução criminal: visa impedir que o agente perturbe ou impeça
a produção de provas, ameaçando testemunhas, apagando vestígios do crime, des-
truindo documentos etc., situações que demonstram evidente o periculum in mora,
pois não se chegará à verdade real se o réu permanecer solto até o final do processo;
• Para assegurar a aplicação da lei penal: no caso de iminente fuga do agente
do distrito da culpa, inviabilizando a futura execução da pena. Se o acusado ou
indiciado não tem residência fixa, ocupação lícita, nada, enfim, que o radique
no distrito de culpa, há um sério risco para a eficácia da futura decisão se ele
permanecer solto até o final do processo, diante da sua provável evasão;
• Descumprimento da medida cautelar imposta: a prisão preventiva também
poderá ser decretada em caso de descumprimento de qualquer das obrigações
impostas por força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4º).

A decisão que decreta a prisão preventiva é irrecorrível, podendo, no entanto, ser


impetrado habeas corpus.

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UNIDADE Peças Pré-Processuais Penais

Figura 2
Fonte: Adaptado de Getty Images

Admissibilidade da Prisão Preventiva


Preenchidos os pressupostos e requisitos já estudados, também deverão estar
presentes uma das hipóteses descritas no art. 313 do CPP. Vejamos:
Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decreta-
ção da prisão preventiva:
I – nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima
superior a 4 (quatro) anos;
II – se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transi-
tada em julgado, ressalvado o lapso temporal de 5 anos entre o cumpri-
mento da pena e o cometimento do novo crime;
III – se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher,
criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para
garantir a execução das medidas protetivas de urgência.

Hipóteses de Admissibilidade
• Nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior
a 4 (quatro) anos (inciso I);
• Se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em
julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-lei n.
2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal (inciso II);
• Se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança,
adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execu-
ção das medidas protetivas de urgência (inciso III);
• Se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança,
adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execu-
ção das medidas protetivas de urgência (inciso IV);
• Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a iden-
tidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para
esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a
identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida (§ 1º).

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Importante!
Não cabe prisão preventiva em caso de crime culposo e aos crimes cuja pena máxima
seja inferior a quatro anos.

Não se Admite Prisão Preventiva


• Em crimes culposos;
• Não se decreta no caso de ter o réu agido acobertado por causa de exclu-
são da ilicitude.

Excludentes de Antijuridicidade: também não será decretada a prisão preventiva


quando se verificar que o réu agiu em excludente de antijuridicidade.

O art. 314 do CPP prevê que a prisão preventiva em nenhum caso será decretada
se o juiz verificar, pelas provas constantes dos autos, ter o agente praticado o fato nas
condições previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 23 do Decreto-Lei 2.848,
de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal.
• Não é possível a decretação de prisão preventiva no caso em que a impu-
tação ao agente é pela prática de contravenção penal.

Necessidade de Fundamentação
Em obediência ao princípio constitucional da motivação das decisões judiciais (ar-
tigo 93 da CF), o despacho que decretar ou denegar a prisão preventiva será sempre
fundamentado. Inteligência do art. 312,§ 2º e art. 315 do CPP.

Assim, a decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão preventiva será sem-
pre motivada, em respeito ao artigo 93, IX, da CF. O juiz, ao decretar a prisão, deve
fundamentar qual motivo o levou a decretá-la.

Na motivação da decretação da prisão preventiva ou de qualquer outra cautelar,


o juiz deverá indicar concretamente a existência de fatos novos ou contemporâneos
que justifiquem a aplicação da medida adotada.

O artigo 315, § 2º diz:

Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória,


sentença ou acórdão, que:
I – limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo,
sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida;
II – empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo
concreto de sua incidência no caso;
III – invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;

21
21
UNIDADE Peças Pré-Processuais Penais

IV – não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes


de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V – limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem iden-
tificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob
julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
VI – deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente
invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso
em julgamento ou a superação do entendimento.

Desta forma, o juiz deverá fundamentar a decisão que decreta a prisão preventiva.
A decisão não fundamentada, ou mesmo genérica será passível de nulidade.

Prazo de Duração da Prisão Preventiva


Não há prazo determinado para duração da prisão preventiva, enquanto subsis-
tirem os requisitos da preventiva, em regra, ela poderá ser mantida. Todavia deve
haver razoabilidade na mantença da prisão preventiva, por exemplo se o processo
demorar anos para terminar.

Inclusive, o Pacote Anticrime estabeleceu no art. 316, parágrafo único do CPP,


que a prisão preventiva decretada deverá ser revisada a cada 90 (noventa) dias.
A revisão e possível renovação deve se dar por meio de decisão fundamentada. Essa
revisão deverá ser feita de ofício pelo juiz, Caso o juiz não a revise no prazo estabe-
lecido a prisão será considerada ilegal e acarretará o seu relaxamento.

Prisão Temporária
A prisão temporária também é prisão cautelar e está disciplinada na Lei nº 7.960/89.

Somente pode ser decretada na fase de inquérito, e deve ser por meio de decisão
fundamentada pela autoridade judicial competente.

Prazo de duração: Art. 2º da lei 7960/89 prevê que a prisão temporária será de
cinco dias, podendo ser prorrogado por igual prazo em caso de extrema e compro-
vada necessidade.

Em caso de crimes hediondos e equiparados o prazo será de 30 dias, prorrogável


por mais 30 dias ( art. 2º, § 4º, da Lei n. 8.072/90).

Requisitos da Prisão Temporária


O art. 1º da lei estabelece os requisitos para a decretação da prisão temporária
cujo rol é taxativo.

O Art. 1º da Lei 7960/89 diz que caberá prisão temporária:


I – quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;

II – quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos


necessários ao esclarecimento de sua identidade.

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O mesmo artigo 1º da Lei 7960/89 prevê no inciso III que a prisão preventiva
somente poderá ser decretada quando houver fundadas razões, de acordo com qual-
quer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos
seguintes crimes:
• Homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2º);
• Sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus § § 1º e 2º);
• Roubo (art. 157, caput, e seus § § 1º, 2º e 3º);
• Extorsão (art. 158, caput, e seus § § 1º e 2º);
• Extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus § § 1º, 2º e 3º);
• Estupro (art. 213, caput);
• Atentado violento ao pudor (revogado);
• Rapto violento (art. 219, c/c o art. 223, caput e parágrafo único); ( revogado)
• Epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1º);
• Envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualifi-
cado pela morte (art. 270, caput, c/c o art. 285);
• Quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal; (atual associação criminosa);
• Genocídio (arts. 1º, 2º e 3º da Lei n. 2.889, de 1º-10-1956), em qualquer de suas
formas típicas;
• Tráfico de drogas;
• Crimes contra o sistema financeiro (Lei n. 7.492, de 16-6-1986);
• Crimes previstos na lei de terrorismo.

Assim, para a decretação da prisão temporária, além de ser necessário que o


agente tenha sido acusado ter cometido um dos crimes descrito no rol do inciso III
do artigo 1º, o legislador também indicou mais requisitos, elencados nos incisos I e II.

A doutrina diverge se os três incisos serão cumulativos ou alternativos.

O posicionamento majoritário é no sentido de que o inciso III sempre deverá estar


presente, no entanto, ele deve ser cumulado com um dos incisos: com o inciso I ou
com o inciso II.

Tabela 1 – Posicionamento da Doutrina Quanto a Presença dos Requisitos


Presente somente inciso I Não poderá decretar temporária
Presente somente inciso II Não poderá decretar temporária
Presente somente inciso III Não poderá decretar temporária
Presentes Incisos I e II Não poderá decretar temporária
Presentes Incisos I e III Poderá decretar temporária
Presentes Incisos II e III Poderá decretar temporária

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UNIDADE Peças Pré-Processuais Penais

Pedido de Revogação da Prisão Preventiva


Segundo o artigo 316 do CPP, o juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes,
revogar a prisão preventiva se, no correr da investigação ou do processo, verificar a
falta de motivo para que ela subsista, bem como novamente decretá-la, se sobrevie-
rem razões que a justifiquem.

Assim, sempre que for decretada a prisão preventiva, estando o acusado preso ou
solto, poderá ser requerida a revogação da prisão preventiva.

Sempre que você for trabalhar questão de revogação da prisão preventiva, fique
atento aos arts. 282, 312 e 313 do Código de Processo Penal.

O momento processual poderá ser em qualquer fase da persecução penal, seja


na fase de investigação preliminar, ou ainda, na fase da ação penal, afinal, a prisão
preventiva é possível nos dois momentos.
• Fundamento legal: Art. 282, § 5º, c/c 316 do CPP. Ao efetuar a peça jurídica
de revogação de prisão preventiva, deverá colocar como fundamento legal os
artigos 282,§ 5º c/c o 316 do CPP;
• Prazo do pedido de revogação: enquanto durar a prisão antes do trânsito
em julgado;
• Endereçamento: ao juízo que decretou a prisão preventiva, seja da Justiça Fe-
deral ou Estadual.

Tabela 2
Quando for dirigida ao juiz da vara criminal
Se for ao Juiz estadual:
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara _____ Criminal da Comarca de _____
(nome da cidade) – (UF)
Se for ao Juiz Federal:
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Federal da Vara Criminal Federal da _____ Seção Judiciária da
_____ – (UF)

Quando for dirigida ao juiz do tribunal do júri


Crimes de competência do Júri (crimes dolosos contra a vida)
Na primeira fase do júri:
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara do Júri da (e) _____ – (UF)
Na segunda fase:
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Presidente do _____ Tribunal do Júri da(e) _____ – (UF)

• Formato da peça: petição única, dirigida ao juiz da causa;


• Preâmbulo: normalmente, já haverá um processo ou inquérito em andamento.
Assim, após o endereçamento, pule 10 linhas, mas na sétima ou oitava linha,
no canto esquerdo, deve colocar número do processo ou inquérito, sem inventar
dados. Por exemplo: Processo nº_______; Inquérito nº___________.

Nesse tipo de petição, por já haver processo em andamento, não é necessário


colocar a qualificação completa.

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Também não é necessário qualificar a parte contrária. Normalmente, coloca-se: já
qualificado, nos autos da ação penal, que lhe move o Ministério Público (ou o nome
do ofendido na ação penal privada).

Assim:

Processo nº
“Nome do requerente” (ou réu, se estiver na fase de processo), já qualificado, nos
autos do (IP ou ação penal), que lhe move o Ministério Público Estadual (ou Federal),
vem, por meio de seu advogado infra assinado, à presença de Vossa Excelência, nos
termos do artigo 316 do CPP, a
REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA (ou TEMPORÁRIA)
pelos motivos a seguir expostos:

• Nomenclatura: utilizar o termo requerente ao invés de acusado na fase de in-


quérito. Se já houver ação penal utilizar o termo “réu”;
• Tese: O primeiro argumento que você deverá arguir é que a liberdade é a
regra, e, em contraposição, a prisão cautelar é a exceção , que deverá ser de-
cretada somente quando as demais medidas cautelares diversas da prisão não
forem suficientes para o caso, fundamente no art. 282, § 6º, do CPP.
Depois a tese a ser exposta no Direito é relativa ao motivo da prisão decretada. Diga
que o motivo pelo qual a prisão foi decretada e mostre que não mais subsistem tais
circunstâncias. Portanto não será mais necessária a manutenção do cárcere.
• Por exemplo: se o juiz decretou a prisão preventiva ou temporária para assegu-
rar a aplicação da lei penal, você deverá demonstrar que o acusado não causará
nenhum empecilho ao bom andamento do processo, por exemplo, que não irá
fugir etc.

Assim, é cabível a revogação quando os motivos que davam ensejo à decretação


da prisão, em um primeiro momento, não se mostram mais presentes.

Conforme já estudamos, se for decretada a prisão preventiva, deverá o juiz revisar


a necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão funda-
mentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal. Se isso não ocorrer, também
nascerá o direito ao pedido de revogação de prisão preventiva.
• Pedido: No final, depois de expor os motivos que a prisão preventiva ou tempo-
rária deve ser revogada você deve efetuar o pedido. Logicamente deverá reque-
rer que a prisão preventiva (ou temporária) seja revogada, nos termos do artigo
282,§ 5º do CPP. Pede-se que, após a oitiva do Ministério Público, seja revogada
a prisão preventiva ou temporária, com a consequente expedição do alvará de
soltura, caso já tenha havido o cumprimento do mandado. Se o mandado ainda
não foi cumprido, pede-se expedição do contramandado de prisão;
• Particularidades: se o pedido for indeferido, cabe impetração de habeas corpus,
com fundamento legal no artigo 648, IV, Código de Processo Penal;

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UNIDADE Peças Pré-Processuais Penais

• Recurso cabível: todavia, da decisão que revoga a prisão preventiva, cabe re-
curso em sentido estrito (CPP, art. 581, V).

Modelo de Pedido de Revogação de Prisão Preventiva

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _____ VARA CRIMINAL DA


_____ – _____
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO DEPARTAMENTO DE INQUÉRITOS POLI-
CIAIS DA CAPITAL – DIPO – SP
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA DO JÚRI DA _____ –
_____ (quando for crime doloso contra a vida).
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ___ VARA CRIMINAL FEDERAL DA SEÇÃO
JUDICIÁRIA DE _____ – _____
(10 linhas)
IP (ou Proc) nº _____
“NOME DO REQUERENTE”, já qualificado, nos autos do (IP ou ação
penal), que lhe move o Ministério Público Estadual (ou Federal), vem, por seu ad-
vogado infra assinado, à presença de Vossa Excelência, nos termos do artigo 316 do
CPP, a
REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA (TEMPORÁRIA), pelos motivos a seguir ex-
postos:
I – DOS FATOS:
(copiar o problema, com suas palavras, sem inventar dados que não constem no
problema)
II – DO DIREITO:
Deve conter “ introdução, desenvolvimento e conclusão.
Com a devida vênia, não foi ferida (ou não subsiste) nenhuma das hipóteses para decretação
da prisão preventiva.
Os requisitos da prisão preventiva estão previstos no art. 312 do CPP (atenção, deve combater o
motivo que fez decretar a prisão preventiva, conforme o caso apresentado).
Deste modo, conclui-se assim não estarem mais presentes os pressupostos da prisão cautelar,
possibilitanto a sua revogação, evitando assim uma prisão arbitrária.
III – DO PEDIDO
Diante de todo o exposto, vem requerer a revogação do despacho que decretou a
prisão preventiva (ou temporária), em desfavor do requerente (réu), nos termos do
artigo 282,§ 5º do CPP, a fim de que possa ser imediatamente solto, com a expedi-
ção do competente Alvará de Soltura (ou contramandado de prisão se ainda não
foi preso) em seu favor, junto à Digna Autoridade do _____ Distrito Policial, como
medida de JUSTIÇA.
Nestes Termos,
Pede Deferimento.
São Paulo, __ de ______ de 2____
Nome do Advogado (a)
OAB/SP nº

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Pacote Anticrime – Lei 13.964: Novo Arquivamento do Inquérito Policial
https://youtu.be/qtidlyiE4Gs
Arquivamento do Inquérito Policial – Antes e Depois do Pacote Anticrime – Direito Processual Penal
https://youtu.be/MgjPJW-rCH0
Denúncia, Queixa, Representação e Ação Penal
https://youtu.be/Qx2lcDH-Yxw
Excesso de Prazo: Relaxamento ou Revogação da Prisão Preventiva?
https://youtu.be/AGbBDUxsCqw

Leitura
As Regras Sobre a Decisão do Arquivamento do Inquérito Policial: O que Muda com a Lei 13.964/19?
http://bit.ly/3YeuobL
A Prisão em Flagrante não Pode ser Convertida, de Ofício, em Preventiva
http://bit.ly/3x5tRgD
O Prazo Razoável da Prisão Preventiva: Reflexos da Inovação do Pacote Anticrime
https://bit.ly/3ihG0Fq

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UNIDADE Peças Pré-Processuais Penais

Referências
AVENA, N. Processo Penal. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. (e-book)

GIACOMOLLI, N. J. O devido processo penal: abordagem conforme a Consti-


tuição Federal e o Pacto de São José da Costa Rica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2016.
(e-book)

GLOECKNER, R. J. Nulidades no processo penal. 3. ed. São Paulo: Saraiva,


2017. (e-book)

LOPES JR., A. Direito processual penal. 15. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2018. (e-book)

MARCÃO, R. Curso de processo penal. 4. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
(e-book)

NUCCI, G. de S. Curso de direito processual penal. 17. ed. Rio de Janeiro: Fo-
rense, 2020. (e-book)

PACELLI, E. Curso de processo penal. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2018. (e-book)

RANGEL, P. Direito processual penal. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2019. (e-book)

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Direito Tributário I
Noções Preliminares de Direito Tributário

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Ma. Marize Oliveira dos Reis

Revisão Textual:
Prof.ª Dra. Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Noções Preliminares
de Direito Tributário

• Introdução;
• Considerações Iniciais e Receita Pública;
• Conceito de Direito Tributário;
• Relação do Direito Tributário com os outros Ramos do Direito;
• Fontes do Direito Tributário.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Conhecer as diversas concepções da origem da sociedade;
• Desenvolver intimidade com a leitura e a interpretação de textos;
• Assumir interesse pelo conhecimento.
UNIDADE Noções Preliminares de Direito Tributário

Introdução
A disciplina Direito Tributário ocupa um lugar importante no mundo do direito, tendo
em vista a atuação do Estado como, cada vez mais, arrecadador de tributos, alcançando
todos os cidadãos que, direta ou indiretamente, são atingidos por seu poder impositivo
de tributação.

Figura 1 – Noções preliminares


Fonte: Getty Images

Assim, o estudo do Direito Tributário não deve ser exclusivo do estudante do Curso
de Direito, mas daqueles que atuam em outras tantas áreas, vez que não se aplica no
domínio do conhecimento puramente acadêmico jurídico, servindo como suporte para a
promoção do melhor desempenho em várias atividades, com viés econômico, financeiro
e contábil.

Os Estados modernos, cada vez mais intervencionistas e promotores de bem-estar


social, necessitam de regras constitucionais capazes de limitar o poder tributário, evi-
tando o desrespeito aos direitos individuais e a arbitrariedade dos governantes. Daí a
importância do conhecimento das regras normativas a respeito da tributação estatal.

Considerações Iniciais e Receita Pública


A atividade tributária por parte do Estado, que, nos primórdios, era utilizada como
forma de enriquecimento do governante, um soberano que, por muitas vezes, atuava
de forma arbitrária em busca de benefícios próprios, evolui com a ideia de Estado de
Direito, passando a ser aplicada como forma de financiamento das atividades do Estado,
como custeio das políticas públicas que se manifestam em diversos setores de promoção
de bem-estar, como educação, saúde, transporte, cultura, lazer, entre outros.

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O Estado, que pode ser conceituado como uma sociedade política e juridicamente
organizada, dotada de soberania, dentro de um território, sob um governo, para a reali-
zação do bem comum, necessita de uma grande soma de recursos econômicos capazes
de custear suas realizações e alcançar sua finalidade.

Bem comum: Consiste no conjunto de todas as condições de vida social


que constituam e favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade
humana. (Papa João XXIII)

Atualmente, o Estado justifica sua existência para atender às necessidades comuns


aos seus membros, aos indivíduos que o compõem, para tal necessitando de recursos fi-
nanceiros. Denominam-se Receitas Públicas, de forma genérica, os recursos que ingres-
sam nos cofres do Estado e que constituirão o patrimônio público destinado à promoção
do interesse coletivo, tendo a arrecadação tributária como sua principal fonte.

A Constituição Federal de 1988 determina, em seu artigo 3º, os objetivos


do Estado brasileiro, a saber:
Art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do
Brasil:
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II – garantir o desenvolvimento nacional;
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais;
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Figura 2 – Receita
Fonte: Getty Images

As Receitas Públicas podem ser divididas em duas categorias: Receitas Públicas Ori-
ginais e Receitas Públicas derivadas.

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UNIDADE Noções Preliminares de Direito Tributário

• Receita Original: a receita é original quando provida diretamente pelo patrimônio


do Estado, ou seja, surge dos recursos da própria Administração. Como exemplo,
podemos citar a receita proveniente da atividade econômica das empresas públicas;
• Receita Derivada: a receita é derivada quando provém diretamente do patrimônio
do particular. Trata-se de receita composta principalmente pela arrecadação dos
tributos, ou seja, dos impostos, das taxas e das contribuições possuindo grande
importância na constituição dos recursos financeiros do Estado. O Estado utiliza-
-se o seu poder de império, obrigando o indivíduo a ceder parte do seu patrimônio
aos cofres públicos, sob a justificativa de composição dos recursos necessários à
promoção do bem comum.

As Receitas Públicas Derivadas (os tributos) são obtidas por meio de relações jurídi-
cas constituídas entre o Estado e o particular. Diante de tal relação jurídica, o Estado é
nomeado como Fisco, atuando como sujeito ativo da obrigação tributária, enquanto o
particular, o indivíduo, é denominado como contribuinte, ocupando a posição de sujeito
passivo da obrigação tributária.

Um exemplo de uma relação jurídica constituída entre o Estado, Fisco, e o particular,


contribuinte é aquela decorrente da propriedade de veículo automotivo. Dessa forma,
hipoteticamente, se Gumercindo Alcebíades é proprietário de um veículo licenciado no
Estado de São Paulo, ocupa a posição de contribuinte, sujeito ativo, do IPVA (Imposto
sobre a Propriedade de Veículo Automotivo, sendo o Fisco estadual o sujeito ativo na
relação jurídica).

Figura 3 – IPVA
Fonte: Getty Images

Conceito de Direito Tributário


Entre as muitas numerosas atividades exercidas pelo Estado, encontra-se a atividade
financeira, reservada à obtenção de recursos financeiros capazes de suportar as despe-
sas necessárias à satisfação dos interesses públicos, atuando não somente na obtenção

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de receitas, mas também na gestão dos bens e recursos públicos e na realização de des-
pesas condizentes com a finalidade estatal.

Figura 4 – Direito Tributário


Fonte: Getty Images

Dessa forma, a atividade financeira do Estado é composta de função fiscal e de fun-


ção extrafiscal. A função fiscal é aquela desempenhada com fins à arrecadação, gestão
e aplicação de recursos. Por sua vez, a função extrafiscal, também chamada de regulató-
ria, volta-se à obtenção de proveitos econômicos, políticos e sociais. Diante da realização
dessas funções diversas, fiscal e extrafiscal, vislumbramos duas disciplinas jurídicas: o
Direito Financeiro e o Direito Tributário.

O Direito Financeiro concentra-se nas normas que regulam a relação entre o Estado e
o particular, objetivando gerir e aplicar os recursos financeiros de forma atender ao inte-
resse coletivo. O principal destinatário das normas de Direito Financeiro é o administra-
dor público, responsável pela condução da atividade financeira. O Direito Tributário con-
centra-se na atividade tributária do Estado, disciplinando sua principal fonte de receita, o
tributo, estabelecendo as normas especificamente destinadas à relação tributária existente
entre Estado e particular, consubstanciadas em princípios constitucionais tributários.

[...] a ênfase do Direito Tributário centra-se na relação jurídica e não na


atividade estatal de obtenção de receitas. Não é Direito do Estado, é re-
lação jurídica entre sujeitos de direito sob os auspícios da legalidade e da
igualdade. (COELHO, 2020, p. 31)

O Direito Tributário alcança todas as relações entre a Fazenda Pública e o contri-


buinte, atingindo as relações jurídicas existentes entre estes, tanto no que diz respeito
ao conjunto de leis que regulam a arrecadação dos tributos, bem como sua fiscalização,
encerrando sua atividade com o ingresso nos cofres públicos do dinheiro pago pelo
contribuinte. O Direito Financeiro, por sua vez, preocupa-se com a destinação da receita
arrecadada pelo Fisco.

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UNIDADE Noções Preliminares de Direito Tributário

[...] o Direito Tributário cuida especificamente das receitas derivadas do


patrimônio particular transferidas para o tesouro público mediante “obri-
gações tributárias” previstas em lei. (COELHO, 2020, p. 31)

A disciplina Direito Tributário apresenta um sistema normativo, é composta por regras


positivadas, indicando o caminho da atividade tributária de arrecadação, pautando-se por
valores condizentes com o atual Estado Democrático de Direito.

Importante!
O art. 1º da Constituição Federal do Brasil determina que nossa nação, a República Fe-
derativa do Brasil, constitui-se em um Estado Democrático de Direito, e tem como fun-
damentos a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do
trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político. Ainda, desta em seu parágrafo único
que todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos da Constituição.
Podemos sintetizar o entendimento do que seja um Estado Democrático de Direito,
como aquele modelo de Estado no qual o governante e os governados se submetem às
leis, que por sua vez, são criadas pelo povo para a promoção do interesse público, com
total respeito a dignidade da pessoa humana.
Ainda, no Brasil, aplicamos a democracia representativa, modelo em que os cidadãos esco-
lhem seus representantes políticos, para representação não somente nas decisões de gover-
no, mas também na elaboração das leis às quais se submetem, governantes e governados.

O estudo de qualquer disciplina do Direito leva o estudante à necessidade de com-


preensão da dicotomia, da dualidade, Direito Público versus Direito Privado. O enten-
dimento das características que determinam a localização de uma disciplina como de
Direito Público ou Privado nos conduz ao raciocínio preliminar à compreensão prática a
respeito dos efeitos das regras nas relações jurídicas.

No Direito Público, encontramos aquelas disciplinas que alcançam o interesse pú-


blico, o interesse da coletividade, tendo como sujeito na relação jurídica o Estado, a
Administração Pública, que se relaciona de forma impositiva, impondo obrigatoriedade,
atuando em uma posição de superioridade na relação jurídica, atuando com poderes e
restrições. Tal superioridade é justificada diante da situação da Administração Pública
como guardiã do interesse coletivo. São disciplinas de Direito Público: Direito Constitu-
cional, Direito Administrativo, Direito Tributário, Direito Financeiro, Direito Processual,
Direito Penal, Direito Eleitoral, entre outros.

No Direito Privado, encontramos aquelas disciplinas que estudam as regras de prote-


ção das relações privadas, perseguindo os interesses do indivíduo, do particular, priman-
do pela autonomia e liberdade, dispondo de normas dispositivas que regulam a livre ma-
nifestação de vontade das partes envolvidas em uma relação jurídica, que se encontram
em posição de igualdade. São disciplinas do ramo de Direito Privado o Direito Civil, o
Direito Comercial, o Direito do Trabalho.

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Concluímos, assim, que o Direito Tributário é classificado como ramo do Direito Público
por ter sempre o Estado como uma das partes na relação jurídica, sendo seu objeto a tu-
tela do interesse público, com a finalidade de disciplinar a captação de receitas tributárias,
possuindo normas de conteúdo imperativo, obrigando um comportamento específico.

Direito tributário pode ser conceituado como uma disciplina localizada no ramo do Di-
reito Público, composta por um conjunto de normas que disciplinam as condutas dos par-
ticulares para a composição do patrimônio público capaz de custear o interesse coletivo.

Ramo do Direito Público que se ocupa das relações entre o Fisco e as


pessoas sujeitas a imposições tributárias de qualquer espécie, limitando o
poder de tributar e protegendo o cidadão contra os abusos desse poder.
(MACHADO, 2019, p. 18)

Relação do Direito Tributário


com os outros Ramos do Direito
A disciplina Direito Tributário, muito embora sua relação estreita com o Direito Fi-
nanceiro, configura-se como um ramo autônomo do direito, regendo-se por princípios
e normas próprias.

Figura 5 – Relação com os outros ramos do Direito


Fonte: Getty Images

Como disciplina listada no grupo do Direito Público, relaciona-se de forma lógica


com as demais disciplinas ali listadas, em especial com o Direito Constitucional, de onde
retira as questões prévias, tais como aquelas relativas aos princípios constitucionais re-
ferentes ao exercício da competência tributária e à limitação ao poder de tributar e seus
limites. O desconhecimento a respeito do Direito Constitucional, sobretudo da matéria
referente ao Direito Tributário (artigos 146 a 162 e art. 195 da CF/88), dificulta o estudo
das relações tributárias.

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UNIDADE Noções Preliminares de Direito Tributário

O Direito Administrativo, outra disciplina do Direito Público, tem relação íntima com
o Direito Tributário, vez que dispõe sobre a atuação da administração pública quanto
à fiscalização e arrecadação dos tributos. Compete ao Direito Administrativo a deter-
minação das regras referentes ao procedimento de fiscalização, determinando diversos
deveres aos contribuintes, e de arrecadação do tributo, que correspondem ao exercício
da atividade administrativa praticada por funcionários e autoridades designadas pelas
leis e pelos regulamentos.

Ainda nas disciplinas de Direito Público, devemos indicar o Direito Penal e o Direito
Processual. No Direito Penal, encontramos conceitos e definições de crimes de ordem
tributária, os delitos fiscais, e previsão de penalidades a serem aplicadas àqueles que não
observam as normas tributárias. Um exemplo é o crime de sonegação fiscal.

Já entre as disciplinas do Direito Privado, o Direito Tributário encontra muitas rela-


ções com o Direito Civil, vez que a tributação incide sobre acontecimentos e relações ju-
rídicas econômicas de ordem privada, assuntos da competência do Direito Civil. Assim,
ao adquirir patrimônio, ao realizar uma doação, ao transferir uma propriedade, estamos
diante de situações tratadas pelo Direito Civil e alcançadas pelo Direito Tributário. En-
tretanto, a relação entre as disciplinas do Direito não se limita à consequência jurídica
tributária diante de fontes materiais, mas também na elaboração e adaptação de vários
conceitos elaborados na esfera jurídica civil e aplicados no mundo tributário, como o
conceito de obrigação, de credor, de devedor, de crédito, de débito, de capacidade, de
domicílio e muitos outros ligados às questões obrigacionais.

Fontes do Direito Tributário


Para que seja estabelecida a relação jurídica entre o Estado e o particular, determi-
nando a posição do Estado como parte a exigir a prestação tributária pelo particular, é
necessário que seja identificada a fundamentação jurídica para tal. Denomina-se Fonte
do Direito a motivação, a origem de uma manifestação jurídica, é o foco de criação de
uma norma jurídica.

No Direito Tributário, são observadas duas formas de fontes: as Fontes Materiais e as


Fontes Formais.
• Fontes Materiais: também chamadas de fontes reais, constituem todos os fatos da
realidade, sendo, geralmente, todos os acontecimentos de natureza econômica, que
ostentam uma capacidade econômica. Dessa forma, estaríamos perante uma fonte
real de Direito Tributário em situações em que o indivíduo, importa ou exporta uma
mercadoria, realiza prestação de serviço e recebe por tal, adquiri a propriedade de
um imóvel ou mesmo de um automóvel. Esses fatos, acontecimentos econômicos,
fontes reais, uma vez submetidos às fontes formais, recebem eficácia jurídica. Dessa
forma, meros fatos são transformados em fatos com relevância no mundo jurídico,
aptos a produzir efeitos jurídicos.
Exemplo: Adquirir a propriedade de um veículo é um fato da realidade, uma fonte
material, que indica capacidade econômica. Um determinado Estado, por meio de

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lei, fonte formal, institui o IPVA e determina que o proprietário de veículo automoti-
vo tem a obrigação de efetuar seu pagamento. Nesse caso, a fonte formal que é a lei
instituidora do IPVA imputa uma repercussão jurídica diante da existência da fonte
material, a propriedade do veículo, determinando a obrigação jurídica tributária: o
pagamento do tributo;
• Fontes Formais: são as regras jurídicas que decorrem de uma atividade legislativa,
uma criação normativa exercida pelo Estado, a ser aplicada a um determinado caso
concreto. Para o estudo do Direito Tributário, as Fontes Formais são divididas em
Fontes Formais Primárias e Fontes Formais Secundárias.

Figura 6 – Fontes do Direito Tributário


Fonte: Getty Images

Fontes Formais Primárias (Diretas):


São aquelas normas que inovam o ordenamento jurídico, que se originam de leis for-
mais, de normas oriundas de um processo legislativo formal. São Fontes Formais Primárias:
• Constituição Federal: é a lei mais importante do Estado e todas as demais leis
devem respeitar os preceitos traçados em seu texto. A Constituição Federal de
1988 aborda importantes temas de Direito Tributário em vários artigos. Assim, po-
demos ver, nos arts. 145 a 149-A da CF/88, a estrutura da tributação, as espécies
tributárias permitidas, a incidência tributária e os entes competentes para do poder
tributário, compreendendo os Princípios Gerais de Direito Tributário; nos arts. 150
a 152 da CF/88, são identificados os princípios que garantem os direitos do con-
tribuinte diante da atividade tributária estatal e as hipóteses de imunidades, são as

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UNIDADE Noções Preliminares de Direito Tributário

Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar; nos arts. 153 a 156 e também no


art. 195da CF/88, são distribuídas as competências tributárias aos entes compo-
nentes do Estado brasileiro (União, Estados membros, Distrito Federal e Municípios)
e nos arts. 157 a 162 são indicadas as parcelas de participação dos entes ao re-
sultado da arrecadação tributária, é a chamada Repartição de Receitas Tributárias;
• Emenda à Constituição: é a norma elaborada em processo complexo, capaz de
modificar as regras constitucionais tributárias, tanto inserindo novas determinações
ou excluindo regras existentes. Importante destacar que a Emenda à Constituição
não pode modificar regras que tratem a respeito dos princípios tributários e das
hipóteses de imunidades, pois estaria diante de um desrespeito à cláusula pétrea,
conforme art. 60, § 4º, IV, CF;

Você Sabia?
Cláusula Pétrea é nome dado aos direitos que não podem sofrer qualquer proposta de
emenda que pretenda restringi-los ou suprimi-los. As chamadas cláusulas pétreas estão
elencadas no art. 60, §4º, inciso IV, da Constituição Federal.

• Lei Complementar: é uma modalidade legislativa que necessita de um quórum


qualificado para sua aprovação e tem matéria expressamente prevista na Constitui-
ção. A Constituição Federal de 1988 determina que a lei complementar é a espécie
normativa aplicada à matéria tributária que aborda temas como: conflito de com-
petência entre a União, Estados, o Distrito Federal e os Municípios; as limitações
ao poder de tributar; o estabelecimento de normas gerais em matéria tributária e a
criação dos tributos, em situações expressamente determinadas pela Constituição.
Como exemplo, podemos indicar a determinação presente no art. 148 da CF/88
impondo a competência da União para instituir empréstimo compulsório, por meio
de Lei Complementar;

Importante!
O Código Tributário Nacional (Lei nº 5.172, de 25 de Outubro de 1966), CTN, foi edita-
da originalmente como Lei Ordinária, mas possui status de Lei Complementar, uma vez
que estabelece normas gerais em matéria tributária, as quais foram recepcionadas pela
Constituição de 1988.

• Lei Ordinária: é o procedimento legislativo mais simples e que pode abordar todas
as matérias tributárias, com exceção daquelas que devem tratadas através de Lei
Complementar, como indicado no item acima. É o meio normativo adequado à in-
trodução das normas de incidência de tributos no sistema jurídico tributário, descre-
vendo o tributo e as obrigações tributárias assessórias, como é o caso da emissão
de nota fiscal ou da declaração do Imposto de Renda anual. Os Poderes Legislativos
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios podem editar lei ordi-
nária tributária, conforme competência conferida pela Constituição Federal;

16
Normas de Incidência de Tributos são aquelas que criam os tributos in-
dicando quem deve pagar, porque deve pagar, onde deve pagar, quando
deve pagar e quanto deve pagar.

• Medida Provisória: trata-se da modalidade normativa editada pelo Presidente da


República, em caso de relevância, que é dotada de imediata força de lei, devendo
ser enviada ao Poder Legislativo que poderá concordar, e neste caso convertê-la em
lei ordinária, ou reprová-la, eliminando-a do ordenamento jurídico. O Presidente da
República pode utilizá-la para instituir ou aumentar tributos;
• Lei Delegada: é a modalidade em que o Presidente legisla sobre determinada
matéria, após a concessão, a delegação, pelo Congresso Nacional por meio de
uma Resolução. Diante da possibilidade de elaboração de Medida Provisória, a Lei
Delegada não é mais utilizada;
• Decreto Legislativo: é a modalidade legislativa elabora pelo Congresso Nacional, assu-
mindo um importante papel para o Direito Tributário, vez que se trata da forma de in-
trodução, no ordenamento pátrio, de normas de Tratados e Convenções Internacionais;

As regras determinadas em um Tratado Internacional apenas serão in-


troduzidas em nosso ordenamento jurídico, estando aptas à produção de
efeitos jurídicos, após a elaboração do Decreto Legislativo, fruto da mani-
festação do Poder Legislativo, não bastando a assinatura pelo Presidente
da República. A norma de tratado internacional que ingressa no sistema
normativo brasileiro através de Decreto Legislativo e não trata de direitos
humanos tem status, ocupa a posição normativa, de lei ordinária.

• Resolução: é a manifestação elaborada pelo Poder Legislativo, no caso o Senado


Federal, para determinar alíquotas mínimas e máximas de determinados tributos, ob-
jetivando evitar uma guerra fiscal entre os entes, diante da determinação de alíquotas
muito diferenciadas. Um exemplo é a fixação de alíquotas para o caso do IPVA.

Fontes Formais Secundárias (Indiretas):


São aquelas normas que não inovam o ordenamento jurídico, sendo subordinadas
às fontes formas primárias e podem ser consideradas como instrumentais por serem
complementares às primárias. São Fontes Formais Secundárias:
• Decreto e o Regulamento: modalidades editadas pelo Chefe do Poder Executivo
competente, com o objetivo de regulamentar uma lei já existente, garantindo que seja
efetivamente executada. A principal função dos decretos executivos em matéria tribu-
tária é limitar a discricionariedade do Fisco, que não possui competência para criar
deveres ou impor proibições aso particulares, vez que se trata de exclusividade da lei.

A Constituição Federal de 1988 atribuiu ao Poder Legislativo a compe-


tência para, dentro das determinações constitucionais, utilizar a modali-
dade Decreto para modificar alíquotas de determinados tributos, como é
o caso do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), do Imposto de
Importação (II), do Imposto de Exportação (IE), do Imposto sobre Ope-
rações Financeiras (IOF) e das Contribuições de Intervenção no Domínio
Econômico (CIDE).

17
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UNIDADE Noções Preliminares de Direito Tributário

• Circular: é uma modalidade de regra jurídica, elabora pelo Poder Executivo, que
tem por objetivo a ordenação uniforme do serviço administrativo, a padronização
de condutas e regras a serem exercidas pelos servidores públicos, neste caso, liga-
dos à atividade tributária;
• Portaria: é uma modalidade normativa elaborada por autoridades, chefes de
órgãos públicos, determinando regra geral ou individual a ser observada por
seus subalternos;
• Instrução Ministerial: é um ato normativo editado pelos Ministros de Estado, que
tem como objeto a execução de Leis, Decretos e Regulamentos referentes à res-
pectiva competência, estabelecendo diretrizes, procedimentos e métodos para a
orientação de dirigentes e servidores diante do exercício de suas atribuições;
• Ordem de Serviço: é o ato normativo que determina uma autorização concreta
para que servidores púbicos determinados realizem um tipo de serviço específico;
• Decisão Administrativa: é a decisão proferida pelo Poder Público diante de uma
questão submetida à sua apreciação, produzindo efeito normativo, conforme auto-
rização legal. A decisão administrativa pode ser proferida por um órgão singular
(uma só pessoa) ou coletivo (várias pessoas).
Diante do que vimos, podemos afirmar que a legislação tributária, a fonte formal do Di-
reito Tributário, é composta por fontes primárias e secundárias, sendo as primeiras aque-
las manifestadas, geralmente, pelo Poder Legislativo, no exercício de sua função típica,
legislar, enquanto as secundárias são editadas pelo Poder Executivo, no exercício de uma
função atípica, sempre submetido à regra determinada em uma fonte formal primária.
O Código Tributário Nacional, o CTN, determina em ser artigo 96 qual seria o alcan-
ce da expressão Legislação Tributária:

Art 96. A expressão “legislação tributária” compreende as leis, os trata-


dos e as convenções internacionais, os decretos e as normas complemen-
tares que versem, no todo ou em parte, sobre tributos e relações jurídicas
a eles pertinentes.

Assim, não restam dúvidas a respeito das fontes de Direito Tributário, a Legislação
Tributária, alcançando não somente às leis, fontes formais primárias, mas também todas
as espécies normativas que preencham os requisitos determinados na norma indicada.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Finanças Públicas
MATIAS-PEREIRA, J. Finanças Públicas. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2017. (e-book)

A evolução histórica da teoria da tributação: análise das estruturas


socioeconômicas na formação do sistema tributário
ZILVETI, F. A. A evolução histórica da teoria da tributação: análise das estruturas socio-
econômicas na formação do sistema tributário. São Paulo: Saraiva, 2017.

Vídeos
Saber Direito – Direito Tributário – Aula 1
https://youtu.be/Qoj9DNti7BI

Leitura
Execução da receita pública
https://bit.ly/2Yt133l

19
19
UNIDADE Noções Preliminares de Direito Tributário

Referências
ABRAHAM, M. Curso de direito tributário brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2020. (e-book)

AMARO, L. Direito tributário brasileiro. 24. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021.
(e-book)

BORBA, C. Direito tributário. 28. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. (e-book)

CARNEIRO, C. Curso de direito tributário e financeiro. 9. ed. São Paulo: Saraiva


Educação, 2020. (e-book)

CALIENDO, P. Curso de direito tributário. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. (e-book)

CASSONE, V. Direito tributário. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2018. (e-book)

COELHO, S. C. N. Curso de direito tributário brasileiro. 17. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2020. (e-book)

COSTA, R. H. Curso de direito tributário – Constituição e Código Tributário Nacional.


10. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. (e-book)

CREPALDI, S. A. CREPALDI, G. S. Direito tributário: teoria e prática. 3. ed. Rio de


Janeiro, 2011. (e-book)

HACK, É. Direito tributário Brasileiro. Curitiba: InterSaberes, 2015. (e-book)

KFOURI JUNIOR, A. Curso de direito tributário. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
(e-book)

HARADA, K. Direito financeiro e tributário. 29. ed. São Paulo: Atlas, 2020. (e-book)

MACHADO SEGUNDO, H. B. Manual de direito tributário. 11. ed. São Paulo: Atlas,
2019. (e-book)

MAZZA, A. Manual de direito tributário. 7. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021.
(e-book)

NOVAIS, R. Direito tributário facilitado. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2019. (e-book)

PAULSEN, L. Curso de direito tributário completo. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2021.
(e-book)

SABBAG, E. Direito tributário essencial. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. (e-book)

SCHOUERI, L. E. Direito tributário. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2021. (e-book)

20
Direito Tributário I
Sistema Tributário Nacional

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª M.ª Marize Oliveira dos Reis

Revisão Textual:
Prof.ª M.ª Sandra Regina Fonseca Moreira
Sistema Tributário Nacional

• Introdução;
• Competência Tributária;
• Conceito de Tributo;
• Os Tributos em Espécie.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Conhecer as noções de competência tributária e a noção de tributo;
• Compreender as espécies tributárias existentes no nosso ordenamento jurídico.
UNIDADE Sistema Tributário Nacional

Introdução
Denomina-se Sistema Tributário Nacional o conjunto de normas, sejam elas constitu-
cionais ou infraconstitucionais, que tratam do exercício da tributação. As normas cons-
tantes da Constituição Federal são aquelas que determinam a competência e os limites
ao poder tributante.

Figura 1 – Sistema Tributário Nacional


Fonte: Adaptada de Getty Images

A Constituição Federal de 1988 é a principal fonte de Direito Tributário, mas não é a


única. Possuímos diversas fontes, sejam elas formais ou materiais, primárias ou secundárias.
• Fontes Materiais: são os fatos da realidade, os acontecimentos, em regra, econô-
micos, que revelam uma capacidade econômica;
• Fontes Formais: são as normas criadas pelo Estado no exercício de uma função
legislativa para aplicação em um caso concreto e são divididas em:
» Fontes Primárias: são as normas oriundas da vontade do Poder Legislativo crian-
do uma inovação no sistema jurídico tributário. São fontes primárias: Constitui-
ção; Emendas à Constituição; Leis Complementares; Leis Ordinárias; Medidas
Provisórias; Leis Delegadas; Decretos Legislativos e Resoluções;
» Fontes Secundárias: são as normas que não inovam o sistema jurídico, subordi-
nando-se às fontes primárias, sendo-lhes complementares ou instrumentais. São
elaboradas pelo Poder Executivo. São fontes secundárias: Decreto; Regulamento;
Circular; Portaria; Instrução Ministerial; Ordem de Serviço.

As normas constantes da Constituição Federal são hierarquicamente superiores a


todas as demais normas existentes no nosso ordenamento jurídico, e, no que diz respeito
à esfera tributária, abordam conteúdos fundamentais:
• A previsão das principais regras de incidência;
• A classificação das espécies tributárias;
• A repartição de competências tributárias;
• As limitações ao poder de tributar.

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Cientes da importância das normas constitucionais e de seu papel de influenciar todo
o conjunto de fontes formais que compreendem nosso ordenamento tributário, damos
início ao estudo do Sistema Tributário Nacional.

Importante!
Sistema é “[...] reunião ordenada de várias partes que formam um todo, de tal sorte que
elas se sustentam mutuamente e as últimas explicam‐se pelas primeiras. As que dão ra-
zão às outras chamam‐se princípios, e o sistema é tanto mais perfeito quanto em menor
número existam” (CARRAZZA, 2008, p.47).

Competência Tributária
A Constituição Federal autoriza a criação dos tributos, determinando os critérios para
sua criação. Seu papel é o de estabelecer quem pode criar o tributo (competência tribu-
tária) e proteger os contribuintes de qualquer abuso por parte daqueles que exercem o
poder de tributar (limites ao exercício das competências tributárias).

Figura 2 – Competência Tributária


Fonte: Getty Images

Importante!
É importante entender que a Constituição Federal não cria tributo.

E quem cria o tributo? Para responder a tal pergunta é necessário que primeiramente
seja compreendido o conceito de competência.

Competência é a faculdade atribuída juridicamente a um ente político. A repartição


de competências é uma questão fundamental do federalismo, demonstrando o grau de
descentralização política de um Estado. Assim, em uma federação, a repartição das
competências é feita através da Constituição Federal, que determina as atribuições a
cada um dos entes federados.

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UNIDADE Sistema Tributário Nacional

O Brasil é uma federação, denominada República Federativa do Brasil, cuja organi-


zação político-administrativa compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e
os Municípios.

A competência de cada ente federado (União, Estados, Distrito Federal e Municípios)


é a indicação constitucional do alcance de poder de cada um dos entes, da esfera de
atribuição exercida com autonomia.

As competências podem ser classificadas em competências materiais ou competên-


cias legislativas:
• Competências materiais (também denominadas administrativas): são aquelas
que impõem o dever ou a possibilidade de atuação. Alcança a prática de atos de
gestão da coisa pública, da atividade administrativa;
• Competências legislativas: são aquelas conferidas a cada um dos entes para po-
der elaborar leis.

Assim, competência tributária é a atribuição concedida pela Constituição Federal


aos entes políticos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) para criar os tributos
através de lei, considerando suas próprias despesas e satisfazendo seus gastos.

A competência tributária é exercida pelo Poder Legislativo respectivo, ou seja:


• Se o tributo for de competência da União, será instituído pelo Poder Legislativo
Federal – o Congresso Nacional;
• Se o tributo for de competência dos Estados Membros, será instituído pelo Poder
Legislativo Estadual – a Assembleia Legislativa;
• Se o tributo for de competência do Distrito Federal, será instituído pelo Poder Legis-
lativo Distrital – Câmara Legislativa;
• Se o tributo for de competência dos Municípios, será instituído pelo Poder Legislativo
Municipal - Câmara Municipal.

Importante!
Quando a Constituição Federal atribui a competência tributária, não está o ente político
obrigado a criar o tributo. A competência tributária é uma faculdade, podendo o ente
federado exercê-la ou não. Exemplo: Compete aos municípios a instituição de imposto
sobre a propriedade predial e territorial urbana, o IPTU, mas alguns municípios optam
por não instituir tal tributo, diante de singularidades locais.

A modalidade legislativa apta à instituição de tributos é a lei ordinária, seja uma lei
federal, estadual, distrital ou municipal, cabendo ao Código Tributário Nacional – CTN,
estabelecer as regras gerais para a instituição tributária.

O Código Tributário Nacional - CTN, promulgado por meio da lei n. 5. 172, de 25


de outubro de 1966, é dividido em 2 grandes livros:

10
• O Livro Primeiro denomina-se “Sistema Tributário Nacional” (art. 1 a 95) e discipli-
na basicamente o regime dos tributos em espécie, contendo grande quantidade de
normas que repetem regras do Texto Constitucional de 1988.
• O Livro Segundo, muito importante àqueles que realizam provas e concursos públi-
cos, é intitulado “Normas Gerais de Direito Tributário” (art. 96 a 218), dividindo-se
em 5 partes:
» Título I: Legislação Tributária;
» Título II: Obrigação Tributária;
» Título III: Crédito Tributário;
» Título IV: Administração Tributária;
» Disposições Finais e Transitórias.

Figura 3 – Competência tributária


Fonte: Adaptada de Getty Images

Atributos da Competência Tributária


A competência tributária assume as seguintes características:
• Indelegabilidade: não pode transferir para outra pessoa;
• Privatividade: significa que a competência atribuída a determinada entidade fede-
rativa exclui seu exercício pelas demais pessoas políticas. Não é aplicável a todos os
tributos, somente aos impostos, empréstimos compulsórios e à maioria das contri-
buições especiais. Exclui as taxas e contribuições de melhoria;
• Facultatividade: não é obrigatório criar o tributo;
• Irrenunciabilidade: não é possível abrir mão definitivamente da competência para
criar um tributo;

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UNIDADE Sistema Tributário Nacional

• Incaducabilidade: não há prazo para o exercício da competência tributária. A falta de


uso não faz a competência tributária desaparecer nem ser transferida à outra entidade;
• Inampliabilidade: somente a Constituição define quem pode criar tributos, a lei
não pode regular essa matéria.

Distribuição da Competência Tributária


Conforme a distribuição de competências tributárias prevista na Constituição Federal
de 1988, apresentamos o Quadro 1, onde podemos identificar os entes e os tributos de
sua competência:

Quadro 1

• IE: Imposto de Exportação;


• II: Imposto de Importação;
• IGF: Imposto sobre Grandes Fortunas;
União • IOF: Imposto sobre Operações Financeiras:
(Art. 153 da CF/88) • IPI: Imposto sobre Produtos Industrializados;
• ITR: Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural;
• CIDE de Combustíveis: Contribuição de Intervenção no Domí-
nio Econômico.

• IPVA: Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores;


Estados e • ICMS: Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços;
Distrito Federal • ITCMD: Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doação;
(Art. 155 da CF/88) • ICMS de Combustíveis: Imposto sobre a Circulação de Merca-
dorias e Serviços.

• IPTU: Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana;


Municípios • ITBI: Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis;
(Art. 156 da CF/88) • ISS: Imposto sobre Serviços.

Conceito de Tributo
A noção de tributo foi sendo alterada conforme os movimentos civilizatórios foram
se desenvolvendo. A princípio, o tributo era uma ferramenta de dominação e comer-
cialização de liberdades, e foi extinto com o nascimento da ideia de Estado de Direito e
a proteção aos direitos individuais. Atualmente, o tributo é visto como uma maneira de
concretização de justiça social, manifestado na solidariedade e participação na promoção
do bem comum, à medida da capacidade contributiva dos indivíduos.
CTN
Art. 3º. Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo
valor nela se possa­exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituí-
da em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.

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Figura 4 – Tributo
Fonte: Getty Images

O Código Tributário Nacional, em seu artigo 3º, indica os principais componentes


que constituem o tributo, indispensáveis para o entendimento de seu conceito:
• É prestação pecuniária compulsória: o tributo é obrigatório porque decorre do
poder de império do Estado sobre o indivíduo, sendo seu pagamento realizado
exclusivamente em dinheiro. O artigo 3º do CTN descarta a possibilidade de paga-
mento através de prestação de serviço, in labore, e de entrega de bens, in natura.
Como exceção, encontramos a possibilidade de dação em pagamento, a entrega
de bem imóvel, como meio de extinção do crédito tributário, desde que exista uma
autorização mediante lei, diante de um bem imóvel e manifestação de interesse no
bem por parte do Fisco;
• Não constitui sanção de ato ilícito: o ato ilícito é aquele que contraria as normas jurí-
dicas e que deve ser punido pelo Estado. O Estado não pode utilizar o tributo como
punição ao contribuinte em consequência de alguma conduta contrária ao direito;
• Somente pode ser criado por lei;
• Cobrado mediante atividade administrativa plenamente vinculada: não cabe
ao agente de fiscalização a discricionariedade, a escolha se deve ou não cobrar o
tributo, tendo o dever de realizar a cobrança do tributo uma vez que configurado o
fato gerador.

Classificação dos Tributos


Para uma melhor compreensão dos tributos, que adiante serão estudados observando
suas espécies, a doutrina os classifica mediante critérios de unificação. Assim, podemos
observar as seguintes classificações:

Quanto à função
• Tributos fiscais: são aqueles cobrados com finalidade meramente arrecadatória,
para prover os cofres públicos de recursos aptos a custear o aparelho estatal.
Ex.: Imposto de Renda Retido na Fonte – IRRF;
• Tributos extrafiscais: são aqueles instituídos pelo Estado com objetivo predomi-
nantemente social ou político, e não com a simples finalidade de obter recursos
financeiros. Tais tributos atuam estimulando ou desestimulando comportamentos
do contribuinte.

13
13
UNIDADE Sistema Tributário Nacional

Ex.: Imposto Territorial Rural progressivo para desestimular propriedades impro-


dutivas – ITR;
• Tributos parafiscais: são aqueles arrecadados por pessoa diversa daquela que de-
tém a competência constitucional para sua criação.
Ex.: Contribuições sindicais e anuidades dos conselhos de classe.

Quanto à competência
• Vinculados: são aqueles cuja instituição depende de uma prestação estatal ao
contribuinte. Sua incidência se dará com a prática de uma determinada prestação
pelo Estado.
Ex.: Taxas e Contribuição de Melhoria;
• Não vinculados: são aqueles que independem de prestação a cargo do Estado.
Ex.: Os impostos em geral.

Quanto ao impacto financeiro


• Tributos diretos: são aqueles tributos pagos pela mesma pessoa que sofre o impac-
to financeiro do pagamento.
Ex.: Imposto de Renda - IR;
• Tributos indiretos: são aqueles tributos pagos por uma pessoa (contribuinte de
direito), mas seu valor é embutido no custo do produto de modo a repercutir finan-
ceiramente no patrimônio de um terceiro (contribuinte de fato).
Ex.: É o caso típico do ICMS que é pago pelo lojista (contribuinte de direito), mas
tem seu valor repassado ao consumidor final (contribuinte de fato).

Os Tributos em Espécie
É muito comum que os cidadãos utilizem a palavra imposto como sinônimo de tributo
quando se refere a toda a espécie de obrigação tributária imposta pelo Estado. Na reali-
dade, o imposto é uma das espécies do gênero tributo.

Figura 5 – Espécies tributárias


Fonte: Getty Images

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Denomina-se como espécies tributárias a divisão manifestada pela doutrina clássica
do Direito Tributário, com base na Constituição Federal, em que são identificadas cinco
modalidades tributárias, a saber: os impostos, as taxas, as contribuições de melhoria, o
empréstimo compulsório e as contribuições especiais.

Passaremos ao estudo de cada uma delas:

I – Impostos
Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios pode-
rão instituir os seguintes tributos:
I – impostos; (CF/88).
Art. 16. Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma
situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa
ao contribuinte. (CTN, LEI Nº 5.172, DE 25 DE OUTUBRO DE 1966)

Considerado a viga mestra da arrecadação tributária, o imposto é tributo que apresenta


a seguinte característica fundamental: não é vinculado, ou seja, o contribuinte, ao pagar
imposto, não recebe do Estado uma contraprestação imediata e específica em troca do
seu pagamento. Assim, quando uma pessoa paga imposto de renda, por exemplo, não
recebe do Estado benefício específico em seu favor. O dinheiro do imposto não se reverte
imediatamente em prol do contribuinte porque se destina, de modo geral, ao bem comum.
Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente
de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte.

A definição apresentada pelo Código destaca os 2 elementos básicos do imposto:


• é tributo cobrado de modo genérico (todas as pessoas);
• não obriga o Estado a uma contraprestação específica em favor do contribuinte.

II – Taxas
Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios pode-
rão instituir os seguintes tributos:
[...]
II – taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização,
efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, presta-
dos ao contribuinte ou postos a sua disposição; (CF/88)
Art. 77. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Fe-
deral ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm
como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização,
efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao
contribuinte ou posto à sua disposição.
Parágrafo único. A taxa não pode ter base de cálculo ou fato gerador
idênticos aos que correspondam a imposto nem ser calculada em função
do capital das empresas.
Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública
que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a

15
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UNIDADE Sistema Tributário Nacional

prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concer-


nente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da pro-
dução e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes
de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou
ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. (CTN,
LEI Nº 5.172, DE 25 DE OUTUBRO DE 1966)

A taxa se caracteriza por ser tributo vinculado a uma contraprestação direta do Estado
em benefício do contribuinte. Dessa maneira, o Estado só pode cobrar taxas com base
em serviço público específico ou em função do exercício regular do poder de polícia.
• Taxa de serviço: é também chamada de taxa de utilização e será cobrada em
razão da prestação (ou disponibilização) estatal de um serviço público específico e
divisível. Art. 77, II e III, CTN.
Serviço público é, por exemplo, o fornecimento de água, gás canalizado, telefonia
fixa, transporte coletivo, energia elétrica etc.
Específico é o serviço público singular, uti singuli, onde é possível identificar o su-
jeito passivo, ou seja, é possível saber quem é o usuário.
Divisível é o serviço público passível de individualização, aquele serviço que sua
pode ter averiguada a utilização individual pelo contribuinte.
• Taxa de polícia: é também chamada taxa de fiscalização e será exigida em virtu-
de de atos de polícia, realizados pela Administração Pública, pelos mais diversos
órgãos ou entidades fiscalizadoras. Ex. taxa para obtenção alvará, taxa de controle
e fiscalização ambiental, taxa para expedição de certidões e atestados, taxa para
renovação da licença de funcionamento do estabelecimento comercial.

Poder de polícia é o poder de promover o bem público limitando e regulamentando


o uso da liberdade e da propriedade.

III – Contribuições de Melhoria


Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios pode-
rão instituir os seguintes tributos:
[...]
III – contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas. (CF/88)
Art. 81. A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados,
pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas
atribuições, é instituída para fazer face ao custo de obras públicas de que
decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada
e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada
imóvel beneficiado. (CTN, LEI Nº 5.172, DE 25 DE OUTUBRO DE 1966)

As contribuições de melhoria são o tributo cobrado pelo Estado dos proprietários de


imóveis beneficiados por obras públicas. Assim, para fazer frente aos custos da obra,
é justo que o Estado cobre tributos dos proprietários que diretamente se beneficiaram
com ela.

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A contribuição de melhoria terá como limite total a despesa realizada na construção da
obra pública beneficiadora. Deve existir, portanto, uma vinculação entre a obra pública e
a valorização dos imóveis por ela atingidos.

Entretanto, nem sempre a obra pública traz benefícios e valorização aos imóveis por
ela tangenciados. Dependendo da sua natureza, poderá provocar uma depreciação dos
referidos imóveis. Ex. construção de presídios, viadutos etc.

Nesses casos, não terá ocorrido, evidentemente, o fato gerador da contribuição de


melhoria, porque não houve benefício algum aos proprietários.

IV – Contribuições Especiais
As contribuições especiais foram introduzidas em nosso ordenamento jurídico pelo
art. 149, CF, subdividindo-se em contribuições sociais, de intervenção no domínio econô-
mico e de interesse de categorias profissionais e econômicas, como instrumento de atu-
ação da União nas respectivas áreas:
• Contribuições sociais: são tributos federais instituídos para financiamento da Se-
guridade Social (Previdência, Assistência e Saúde - art. 195, CF). Ex.: PIS (contri-
buição para o programa de integração social – LC 7/70), Pasep (Contribuição para
o programa de formação do patrimônio do servidor público – LC 8/70);
• CIDE (Contribuições de intervenção no domínio econômico: a CIDE visa inter-
vir na economia para ajustá-la aos objetivos da política econômica. São tributos
federais utilizados pela União como ferramenta de regulação sobre setores estraté-
gicos da economia.
Ex.: A Lei nº 10.336/2001 criou a CIDE sobre combustíveis derivados de petróleo
para substituir os subsídios que eram dados pela Petrobras sobre esses produtos.
As CIDES não incidem sobre receitas decorrentes de exportação, mas incidem so-
bre a importação de produtos estrangeiros ou serviços;
• Contribuições de interesse de categorias profissionais ou econômicas: são
contribuições devidas pelos profissionais a seu órgão de registro e fiscalização.
Ex.: advogado-OAB; contador-CRC; engenheiro-CREA; médico-CRM.

V – Empréstimo Compulsório
Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir emprés-
timos compulsórios
I – para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade
pública, de guerra externa ou sua iminência;
II – no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante
interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, b.
Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo
compulsório será vinculada à despesa que fundamentou sua instituição.
(CF/88)

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UNIDADE Sistema Tributário Nacional

O empréstimo compulsório é um tributo que tem como objetivo suprir a despesas


extraordinárias, aquelas não previstas no orçamento público, tais como casos de calami-
dade pública, guerra externa ou sua iminência ou obra pública de caráter urgente e de
interesse nacional. A receita obtida com o empréstimo compulsório deve ser aplicada
para atender à causa que fundamentou sua instituição.

A competência para a instituição do empréstimo compulsório é concedida apenas à


União, que deverá fazê-lo exclusivamente através de Lei Complementar.

Embora o empréstimo compulsório tenha natureza tributária, conforme entendimento­


específico da doutrina e da jurisprudência, ele deve ser devolvido. A Constituição Federal
não fixou prazo para essa restituição. Dessa forma, cabe à lei complementar que o insti-
tuir, estabelecer o prazo de devolução do valor pago.

Figura 6 – Tributos em espécie


Fonte: Getty Images

O estudo desta unidade nos proporcionou conhecimentos a respeito do Sistema Nacio-


nal Tributário, a competência tributária constitucional, os tributos e suas espécies.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Impostos federais, estaduais e municipais
CARNEIRO, C. Impostos federais, estaduais e municipais. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2019.

Tributos em espécie
JARDIM, E. M. F. Tributos em espécie. São Paulo: Elsevier, 2010.

Vídeos
Saber Direito – Direito Tributário – Aula 4
https://youtu.be/skRmD20ud9o
Saber Direito – Direito Tributário – Aula 5
https://youtu.be/m8J1Ou2RvnQ

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19
UNIDADE Sistema Tributário Nacional

Referências
ABRAHAM, M. Curso de direito tributário brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2020. (e-book)
AMARO, L. Direito tributário brasileiro. 24. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021.
(e-book)
BORBA, C. Direito tributário. 28. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. (e-book)
CARNEIRO, C. Curso de direito tributário e financeiro. 9. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2020. (e-book)
CARRAZZA, R. A. Curso de direito constitucional tributário. 24. ed. São Paulo:
Malheiros, 2008.
________. Vigência e aplicação das leis tributárias. In: MARTINS, I. G. S. Curso de
direito tributário. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

CALIENDO, P. Curso de direito tributário. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. (e-book)

CASSONE, V. Direito tributário. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2018. (e-book)

COELHO, S. C. N. Curso de direito tributário brasileiro. 17. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2020. (e-book)

COSTA, R. H. Curso de direito tributário – Constituição e Código Tributário Nacional.


10. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. (e-book)

CREPALDI, S. A. CREPALDI, G. S. Direito tributário: teoria e prática. 3. ed. Rio de


Janeiro, 2011. (e-book)

HACK, É. Direito tributário Brasileiro. Curitiba: InterSaberes, 2015. (e-book)

KFOURI JUNIOR, A. Curso de direito tributário. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
(e-book)

HARADA, K. Direito financeiro e tributário. 29. ed. São Paulo: Atlas, 2020. (e-book)

MACHADO SEGUNDO, H. B. Manual de direito tributário. 11. ed. São Paulo: Atlas,
2019. (e-book)

MAZZA, A. Manual de direito tributário. 7. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021.
(e-book)

NOVAIS, R. Direito tributário facilitado. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2019. (e-book)

PAULSEN, L. Curso de direito tributário completo. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2021.
(e-book)

SABBAG, E. Direito tributário essencial. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. (e-book)

________. Manual de direito tributário. 5. ed. Rio de Janeiro: Saraiva, 2013.

SCHOUERI, L. E. Direito tributário. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2021. (e-book)

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Direito Tributário I
Princípios Constitucionais Tributários

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Ma. Marize Oliveira dos Reis

Revisão Textual:
Prof.ª Ma. Sandra Regina Fonseca Moreira
Princípios Constitucionais Tributários

• Introdução;
• Princípio da Legalidade;
• Princípio da Isonomia;
• Princípio da Capacidade Contributiva;
• Princípio da Irretroatividade;
• Princípio da Anterioridade;
• Princípio do não Confisco;
• Princípio da Liberdade de Tráfego.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Conhecer os princípios constitucionais tributários;
• Desenvolver a capacidade reflexiva;
• Compreender as exceções constitucionais.
UNIDADE Princípios Constitucionais Tributários

Introdução
Os princípios são normas especiais que, diante do seu grande valor no ordenamento
jurídico, orientam e conduzem a elaboração e a interpretação das normas jurídicas, ocu-
pando um lugar de destaque, condicionando a aplicação do direito.

Importante!
Ordenamento jurídico, também conhecido como sistema jurídico ou ordem jurídica, é
o conjunto de todas as normas legais de um determinado Estado, que se organizam
de uma forma hierárquica. As normas presentes na Constituição Federal ocupam uma
posição de superioridade diante das demais normas, que a ela se subordinam, formando
um todo harmônico.

Nosso ordenamento jurídico é composto por um grupo de normas organizadas de


forma hierárquica, formando o que é denominado como pirâmide das normas. As nor-
mas escritas em nossa Constituição ocupam o topo da pirâmide jurídica. Desta forma,
toda a norma jurídica existente deve adequar-se aos valores traçados na norma funda-
mental do Estado, na Constituição Federal, com o objetivo de manter a unidade e a
coerência com os valores fundamentais do país.

Na Constituição Federal, encontramos as normas que disciplinam o poder tributário


do Estado, indicando a competência para tributar por parte de cada um dos Entes estatais
(União, Estados, Municípios e Distrito Federal) e delimitando os limites de tal atribuição.

[...] um enunciado lógico, implícito ou explícito, que, por sua grande genera-
lidade, ocupa posição de preeminência nos vastos quadrantes do Direito e,
por isso mesmo, vincula, de modo inexorável, o entendimento e a aplicação
das normas jurídicas que com ele se conectam. (CARRAZZA, 2008, p. 31)

Assim, destacamos que são encontrados em nossa Constituição Federal princípios que
norteiam todo o ordenamento jurídico, sendo que alguns alcançam especialmente o mun-
do do Direito Tributário. Quando os princípios regulam todo o ordenamento jurídico, são
denominados princípios gerais do direito; quando os princípios atuam especialmente no
campo do Direito Tributário, são denominados de Princípios Constitucionais Tributários.

O conhecimento e o respeito aos princípios contidos na Constituição são de suma


importância, tanto para condicionar as atividades estatais, quanto para garantir os di-
reitos dos administrados. Toda atividade tributária, desde a elaboração de normas de
incidência, quanto a atividade de fiscalização e cobrança de tributos, deve estar condi-
cionada à estrita adequação aos ditames constitucionais.

A desobediência aos ditames constitucionais implica na ofensa a todo o ordenamento­


jurídico. Instrutiva é a analogia utilizada pelos professores Geraldo Ataliba e Celso
­Antônio Bandeira de Melo e informada pelo professor Carrazza, comparando o ordena-
mento jurídico a um prédio, um edifício onde os princípios correspondem aos alicerces
e vigas mestras, sustentado todo o conjunto de normas.

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Os estudiosos do Direito Tributário identificam os princípios constitucionais tributá-
rios, explícitos ou implícitos na Constituição Federal, que estudaremos a seguir:

Princípio da Legalidade
O princípio da Legalidade encontra previsão expressa na Constituição Federal, nos
art. 5.º, II e no art. 150, I, a saber:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer nature-
za, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão
em virtude de lei.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,
é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I – exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça.

Importante!
O tributo não é instituído pela Constituição Federal, mas por lei (em regra Lei Ordinária e, ex-
cepcionalmente, através de Lei Complementar quando exigido pela Constituição Federal).

Figura 1 – Legalidade
Fonte: Getty Images

O Princípio da Legalidade tem como objetivo a segurança jurídica, impedindo que


o governante, aquele responsável pela administração pública, decida arbitrariamente
quando, como e de quem deve cobrar tributos. É imprescindível que o Poder Legislativo
autorize a cobrança do tributo e defina todos os aspectos importantes para a determina-
ção da obrigação de pagar.

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UNIDADE Princípios Constitucionais Tributários

O Princípio da legalidade é multidisciplinar, com previsão inaugural na


Carta Magna Inglesa, de 1215, do Rei João Sem Terra. À época, a no-
breza e a plebe, reunindo esforços e se insurgindo contra o poder uni-
pessoal de tributar, impuseram ao príncipe João um estatuto, visando
inibir a atividade tributária esmagadora do governo. Em outras palavras,
objetivavam impor a necessidade de aprovação prévia dos súditos para
a cobrança dos tributos, do que irradiou a representação “no taxation
without representation”. (SABBAG, 2013, p. 63)

O legislador deve, ao criar o tributo, indicar os elementos indispensáveis ao exercício


tributário. Assim, deve ser descrita na lei a conduta abstrata capaz de ensejar uma tribu-
tação. Tal conduta é denominada de hipótese de incidência.

A hipótese de incidência deve ser completada com a presença de cinco elementos


fundamentais descritos pelo legislador e capazes de responder às seguintes perguntas:
• Quando o tributo deve ser pago?
• Onde o tributo deve ser pago?
• Por que o tributo deve ser pago?
• Quem é o credor e o devedor do tributo?
• Quem deve pagar o tributo?

O legislador, o membro do Poder Legislativo, deve elaborar a lei definindo taxati-


vamente e de forma completa as situações sujeitas à tributação, que farão nascer uma
obrigação tributária, e determinar os critérios utilizados para quantificar o tributo.

Diante da distribuição de competências aos entes componentes da República Fede-


rativa do Brasil, os tributos municipais são criados através das leis elaboradas pela Câ-
mara dos Vereadores; os tributos estaduais são criados através das leis elaboradas pela
Assembleia Legislativa; e os tributos federais são criados através da atividade legislativa
do Congresso Nacional, composto pelas casas legislativas Câmara dos Deputados e
Senado Federal.

Via de regra, os tributos são criados através de lei ordinária. Entretanto, a Constitui-
ção Federal determina que alguns tributos federais devem ser instituídos através de lei
complementar, como é o caso do Imposto sobre Grandes fortunas, previsto na CF/88,
no art. 153, VII e do Empréstimo Compulsório, previsto na CF/88, no art. 148.

Apesar da Constituição Federal determinar, através do Princípio da Legalidade, que a


instituição ou aumento de um tributo somente deve ser realizada através de lei, atividade
típica do Poder Legislativo, a própria norma constitucional indica situações em que o
princípio é relativizado, permitindo a atuação do Poder Executivo, de forma atípica, edi-
tando normas que majorem ou reduzam as alíquotas dos tributos. Assim, encontramos
exceções ao Princípio da Legalidade.
• Relativização do Princípio da Legalidade (exceções ao Princípio da Legalidade):
Alguns tributos fazem parte da chamada cadeia interventiva, de forma que o au-
mento ou a diminuição de suas alíquotas interfere diretamente na atividade eco-
nômica, estimulando ou desestimulando uma determinada conduta. Os tributos

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dotados de condição de extrafiscalidade possuem uma importância menor como
instrumento arrecadatório, diante da importância como elemento de regulação da
atividade comercial, da produção nacional ou da economia.
Desta forma, o Poder Executivo é autorizado, através de normas “infralegais” (de-
cretos), no exercício de uma função atípica, alterar as alíquotas de determinados
tributos, seja majorando-as, seja diminuindo-as.
São tributos sujeitos à exceção ao Princípio da Legalidade:
» Imposto de Importação – II;
» Imposto de Exportação – IE;
» Imposto sobre Operações Financeiras – IOF;
» Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI;
» CIDE/combustíveis – incide sobre atividades de petróleo, gás natural e álcool;
serve para a União intervir nessa seara e arrecadar recursos para fomento de
projetos ambientais e infraestrutura de transportes;
» ICMS/combustíveis (único tributo não federal pertencente ao rol de tributos sujei-
tos à exceção).

Exemplos:
O Decreto nº 10.302, de 01 de abril de 2020, que zerou temporaria-
mente as alíquotas de IPI de alguns produtos utilizados na prevenção e
tratamento do Covid.
O Decreto nº 10.504, de 02 de outubro de 2020, que prorroga por 90
dias a redução da alíquota do IOF incidente sobre operações de crédito.
O Decreto nº 10.765, de 11 de agosto de 2021, que reduz a alíquota do
IPI de consoles e máquinas de game, de 30% para 20%.

Princípio da Isonomia
O Princípio da Isonomia está previsto na Constituição Federal de 1988, no artigo 5.º,
caput e no art. 150, II.

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer nature-
za, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, [...]
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,
é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
[...]
II – instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em
situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação
profissional ou função por eles exercida, independentemente da denomi-
nação jurídica dos rendimentos, títulos ou direito.

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UNIDADE Princípios Constitucionais Tributários

Figura 2 – Isonomia
Fonte: Getty Images

A vontade do constituinte aqui expressa é no sentido de proibir um tratamento desi-


gual aos indivíduos que se encontrem, como contribuintes, em situação de equivalência,
de paridade.

O objetivo não é impor ao legislador o tratamento igualitário a todos os contribuintes,


mas um tratamento igualitário àqueles que se encontram em situação igual, de forma a
evitar o favoritismo, o privilégio tributário, e a perseguição, o excesso tributário.

Exemplo:
A lei não poderá conceder um benefício tributário somente àqueles que ocupam
cargo de juiz de direito, uma vez que todos devem pagar impostos, independente-
mente do cargo ou função exercida.
Entretanto, é correto cobrar uma alíquota maior de imposto daquele que tem maior
capacidade econômica, que recebe uma maior remuneração, independentemente do
cargo ou função, levando-se em consideração a medida da sua capacidade contributiva.

Princípio da Capacidade Contributiva


O Princípio da Capacidade Contributiva está previsto no artigo 145, § 1° da Consti-
tuição Federal de 1988.

Art. 145. [...]


§ 1º. Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão
graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à
administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses
objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei,
o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.

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Figura 3 – Capacidade Contributiva
Fonte: Adaptada de Getty Images

A previsão constitucional tem como objeto possibilitar a consecução do Princípio


da Isonomia, alcançando uma justiça fiscal, onde cada indivíduo deve ser tributado na
proporção de suas rendas e propriedades.

O legislador, ao instituir tributos, deve relacionar objetos e situações iguais de objetos


e situações desiguais, adotando critérios suficientes à identificação de possibilidade para
suportar o ônus tributário.

Podemos afirmar que o Princípio da Capacidade Contributiva impõe ao legislador a


criação de meios para identificar os cidadãos com maior poder aquisitivo, devendo estes
pagar uma carga tributária maior, proporcionando assim um ônus econômico corres-
pondente. Ao contrário, aqueles indivíduos em situação de menor condição econômica,
suportariam um ônus tributário menor.

O Princípio da Capacidade Contributiva é aplicado exclusivamente aos impostos, e


sua não aplicação diante de taxas e contribuição de melhoria, justifica-se por serem estes
tributos com caráter de retribuição de serviços e obras públicas, enquanto os impostos
não exigem contrapartida estatal.

Importante!
Taxas são espécies de tributos exigidos quando ocorre uma prestação por parte do Estado.
Contribuição de Melhoria é a espécie tributária exigida de proprietários de bens imóveis
valorizados através da realização de uma obra pública.

Princípio da Irretroatividade
A Constituição Federal de 1988 prevê, no artigo 5º, XXXVI e no artigo 150, III, a,
o Princípio da Irretroatividade:

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UNIDADE Princípios Constitucionais Tributários

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer nature-
za, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XXXVI – a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito
e a coisa julgada.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,
é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
[...]
III – cobrar tributos:
a. em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da
lei que os houver instituído ou aumentado.

Figura 4 – Irretroatividade
Fonte: Getty Images

O Princípio da Irretroatividade visa proibir que uma lei nova alcance fatos ocorri-
dos no passado, colocando o indivíduo em situação de insegurança. A lei que institui,
aumenta ou reduz tributos não pode ser aplicada, ou seja, retroagir, alcançando fatos
ocorridos antes de sua entrada em vigor.

Demais disso, a ação do Fisco deve ser previsível. Em nome dessa previ-
sibilidade, a lei que cria ou aumenta um tributo não pode alcançar fatos
ocorridos antes de sua entrada em vigor. Sem esse penhor de confiança,
toda a vida jurídica do contribuinte perigaria. (CARRAZZA, 2000, p. 104)

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Exemplos:
Um Estado cobra no ano de 2020 a alíquota de IPVA de 2,8% e uma alteração de lei
aumenta a alíquota para 3,4%. O Estado não poderá exigir o recolhimento comple-
mentar dos anos anteriores, devendo apenas exigir a alíquota de 3,4% diante de
fatos geradores ocorridos após o aumento legal.
Um município reduz a alíquota de um tributo de sua competência de 6% para 3%.
O contribuinte que efetuou o pagamento do valor maior, diante da vigência da
lei anterior, não terá direito a devolução de valores, pois a redução da alíquota
ocorreu posteriormente.

Princípio da Anterioridade
O Princípio da Anterioridade é previsto na Constituição Federal de 1988, no art. 150,
III, alíneas b e c.

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,


é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
III – cobrar tributos:
[...]
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os
instituiu ou aumentou;
c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a
lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b.

Trata-se de um importante direito fundamental do contribuinte, manifestado em uma


limitação ao poder tributário do Estado, impondo um período temporal que deve existir
entre a edição da norma que institui ou majora um tributo e a data de sua cobrança.

A previsão constitucional aborda duas anterioridades, a anterioridade anual e a an-


terioridade nonagesimal, sendo duas formas de confirmar a segurança jurídica nas rela-
ções entre o Estado, em sua atividade fiscal, e o contribuinte. O objetivo é evitar que o
contribuinte seja surpreendido, preparando-se para arcar com o ônus tributário.

Anual
A anterioridade prevista na alínea b do art. 150, III, da CF/88 exige que a lei que ins-
tituir ou majorar um tributo deve entrar em vigor no exercício financeiro anterior àquele
em que o tributo será cobrado.

A proibição de cobrança no ano da edição da norma instituidora ou majorante visa


impedir que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios criem ou aumentem
tributos e passem a exigi-los dentro do mesmo ano de publicação da respectiva lei.

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UNIDADE Princípios Constitucionais Tributários

Importante!
O exercício financeiro da administração pública coincide com o ano civil, iniciando-se no
dia 1º de janeiro e encerrando-se em 31 de dezembro do mesmo ano.

Respeitando-se o Princípio da Anterioridade, permite-se ao contribuinte um prazo


para adequação orçamentária, seja ela familiar ou empresarial, de forma a suportar o
encargo do novo tributo ou de um aumento de tributo já existente. Funciona como uma
espécie de alerta ao contribuinte, concedendo um prazo para um adequado planejamen-
to financeiro.

É importante destacar a existência da Medida Provisória como uma modalidade legis-


lativa aplicada na esfera tributária, explicando que, em Direito Tributário, quando uma
Medida Provisória instituir ou aumentar impostos, apenas produzirá efeitos no exercício
seguinte à sua conversão em lei.

A Medida Provisória é a espécie legislativa editada pelo Presidente da República, que entra em
vigor imediatamente, com um prazo de eficácia de 60 dias, quando deve ser aprovada pelo
Congresso Nacional e convertida em lei para continuar produzindo efeitos no mundo jurídico.

A regra da Anterioridade Anual comporta algumas exceções, sendo identificados


alguns impostos e situações em que a cobrança pelo Fisco produzirá efeitos no mesmo
exercício financeiro de sua edição. São exceções:
• Empréstimo compulsório para calamidade pública e guerra;
• Imposto de Importação – II;
• Imposto de Exportação – IE;
• Imposto sobre Operações Financeiras – IOF;
• Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI;
• Imposto Extraordinário de Guerra;
• Redução e reestabelecimento das alíquotas do ICMS-Combustíveis;
• CIDE – Combustível.

Nonagesimal
A Anterioridade prevista na alínea c do art. 150, III, da CF/88 determina que a lei que
institui ou majore um tributo, além de respeitar a anterioridade do exercício financeiro,
prevista na alínea b, também deve respeitar, antes de ser exigido, um decurso de prazo
de 90 dias após a sua publicação.

Desta forma, o Poder Público apenas poderá exigir uma nova carga tributária obser-
vando cumulativamente dois critérios:

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• No ano seguinte, exercício financeiro, à publicação da lei que criou ou majorou
o tributo;
• Após o decurso de 90 dias da publicação da lei instituidora ou majorante.

Justificada no interesse público, a CF/88 prevê exceções à aplicação da anteriori-


dade nonagesimal:
• Empréstimo compulsório para calamidade pública e guerra;
• Imposto de Importação – II;
• Imposto de Exportação – IE;
• Imposto de Renda – IR;
• Imposto sobre Operações Financeiras – IOF;
• Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI;
• Imposto Extraordinário de Guerra - IEG;
• Alterações na base de cálculo do IPTU e do IPVA.

Importante!
Apesar da grande semelhança na lista de exceções da anterioridade no exercício finan-
ceiro e na nonagesimal, elas não são iguais. Observe que o IR e as alterações da base
de cálculo do IPTU e do IPVA não obedecem aos 90 dias de prazo para cobrança, após
sua publicação, mas não estão afastadas da proibição de cobrança apenas no exercício
financeiro seguinte.
Por sua vez, IPI, a CIDE-combustível e o ICMS-Combustível não se sujeitam à anteriori-
dade prevista na alínea b do inciso III do art. 150 da CF, mas sujeitam-se à nonagesimal,
prevista na aliena c.

Princípio do não Confisco


A Proibição de Confisco, ou Princípio do Não Confisco, está prevista no artigo 150,
IV da Constituição Federal de 1988.

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,


é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
[...]
IV – utilizar tributo com efeito de confisco.

O tributo é considerado confiscatório em toda a situação em que se tornar desmedi-


damente oneroso, violando o direito de propriedade e o princípio da capacidade con-
tributiva, atuando de forma irrazoável, promovendo a retirada do patrimônio do contri-
buinte, que seria transferido ao Poder Público ou reduzido em razão da carga tributária
ou da exagerada cobrança.

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UNIDADE Princípios Constitucionais Tributários

O poder de tributação não pode ultrapassar ao coerente para a contribuição com as


receitas públicas, não sendo permitida a promoção de sacrifício pessoal ao contribuinte,
estando o Poder Público impedido de ameaçar o contribuinte à entrega da totalidade
de suas posses, ao contrário, atuando com proporcionalidade, conforme a capacidade
contributiva do indivíduo e o respeito aos direitos individuais.

Princípio da Liberdade de Tráfego


O Princípio da Liberdade de Tráfego, também denominado como Princípio da não
limitação ao tráfego de pessoas e bens, está previsto no inciso V do art. 150 da Consti-
tuição Federal de 1988.

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,


é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
[...]
V – estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de
tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedá-
gio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público.

Figura 5 – Liberdade de tráfego


Fonte: Getty Images

O princípio tem como objetivo assegurar o respeito à liberdade de locomoção prevista


no art. 5º, LXVIII, da CF/88, proibindo aos entes públicos a instituição de tributo que tenha
como fato gerador a transposição dos limites municipais ou estaduais. Não pode o Poder
Público, por meio de cobrança de tributos, limitar a livre circulação de pessoas ou bens.

O Princípio da Liberdade de Tráfego comporta duas exceções: o pedágio e o ICMS.


• O Pedágio é uma exceção prevista na parte final do inciso V, do art. 150 da
CF/88, tratando-se de um tributo exigido para a utilização de rodovias cuidadas
pelo Poder Público;

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• O ICMS é uma exceção prevista pela doutrina, não constante da Constituição
Federal, mas tem sua arrecadação exigida em rodovias, pelas autoridades fiscais
estaduais e do Distrito Federal. Observe que o objeto de tributação não é o tráfego
no território, mas sim a circulação da mercadoria, fato gerador do tributo.

A doutrina ainda indica outros princípios constitucionais, como o Princípio da Unifor-


midade Geográfica e o Princípio da Não Cumulatividade. Entretanto, são os princípios es-
tudados aqueles pacificados pela doutrina e jurisprudência, sendo a obediência aos seus
preceitos condição de harmonia ao ordenamento jurídico e zelo pela vontade constitucional.

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UNIDADE Princípios Constitucionais Tributários

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Princípios constitucionais tributários
LACOMBE, A. L. M. Princípios constitucionais tributários. 2. ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2000.

Teoria dos princípios constitucionais tributários


NOGUEIRA, A. Teoria dos princípios constitucionais tributários. São Paulo: Renovar,
2008.

Vídeos
Saber Direito – Princípios Constitucionais Tributários – Aula 1
https://youtu.be/M7LkxQxDBVI
Saber Direito – Princípios Constitucionais Tributários – Aula 2
https://youtu.be/1uMa359FtY4

20
Referências
ABRAHAM, M. Curso de direito tributário brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2020. (e-book)

AMARO, L. Direito tributário brasileiro. 24. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2021. (e-book)

BORBA, C. Direito tributário. 28. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. (e-book)

CARNEIRO, C. Curso de direito tributário e financeiro. 9. ed. São Paulo: Saraiva


Educação, 2020. (e-book)

CARRAZZA, R. A. Curso de direito constitucional tributário. 24. ed. São Paulo:


Malheiros, 2008.

________. Vigência e aplicação das leis tributárias. In: MARTINS, Ives G.S. Curso de
direito tributário. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

CALIENDO, P.. Curso de direito tributário. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. (e-book)

CASSONE, V. Direito tributário. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2018. (e-book)

COELHO, S. C. N. Curso de direito tributário brasileiro. 17. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2020. (e-book)

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