Para que o juiz possa proferir uma decisão deve conhecer os
argumentos das partes e as provas apresentadas no curso do processo, sendo esta denominada fase de conhecimento ou cognição.
Cuidado se faz necessário, para auxiliar as próximas partes da presente
disciplina, que em alguns casos específicos não teremos necessidade dessa fase, já ingressando direto na fase de execução (exemplo: casos em que envolvam a cobrança de títulos executivos que, por si só, já demonstram a veracidade do alegado – Cheque, Nota Promissória, etc...).
Nesta parte da nossa matéria estudaremos o procedimento a ser
seguido, ou seja, a maneira pelo qual o processo irá se desenvolver. O procedimento comum é usado para todos os casos, como regra geral (salvo nos casos especiais regulados de forma específica, que serão estudados no próximo período no artigo 539 e seguintes do CPC).
5.1. Fases do Procedimento Comum.
Inicialmente, é importante ressaltar que as fases não são rígidas
podendo, em alguns casos, uma se prolongar para além dos limites da outra (Por exemplo, a fase probatória pode se estender até a fase recursal).
São consideradas, ordinariamente, cinco fases no procedimento comum:
postulatória, saneadora, probatória (instrutória), decisória e recursal.
a) Fase Postulatória: Ocorre com o ajuizamento da ação, com a
propositura da petição inicial, provocando a jurisdição e dando espaço para a audiência de conciliação.
b) Fase Saneadora (Artigo 347 a 357, CPC): Para Elpídio Donizette “é
a fase posterior a apresentação das partes”. É a verificação de possíveis nulidades que tenham escapado em momento anterior e a produção do contraditório na sua plenitude, obedecendo a ampla defesa. c) Fase Probatória ou Instrutória (Artigo 369 a 483, CPC): Seguida a fase saneadora, verifica-se a produção de provas pelas partes.
d) Fase Decisória: Em sequência da instrução do feito o magistrado irá
prolatar a sentença. Tal decisão pode ocorrer em audiência (artigo 366, CPC) ou após as provas realizadas.
e) Fase Recursal: Após a decisão, a parte inconformada poderá utilizar-
se de recursos para tentar modificar o mérito da decisão.
Na presente disciplina (Processo de Conhecimento Cível) estudaremos
as três primeiras fases, onde as duas últimas serão abordadas na próxima matéria do curso.
5.1.1. Fase Postulatória.
É a fase que acontece entre o ajuizamento da ação (petição inicial) e a
manifestação de defesa do réu (contestação ou reconvenção).
O magistrado verificando que a petição inicial está adequada irá deferir a
inicial (salvo em situações de vício, que se confere prazo de 15 dias para emenda – Artigo 321, CPC) para que o réu possa manifestar seu direito de defesa formando, assim, o contraditório.
5.1.1.1. Petição Inicial.
É o instrumento utilizado para provocar a jurisdição, sendo uma forma de
materializar a ação. São requisitos desta peça:
Art. 319. A petição inicial indicará:
I - o juízo a que é dirigida; II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu; III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido; IV - o pedido com as suas especificações; V - o valor da causa; VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação.
a) O juízo é estabelecido mediante o estudo da competência (Teoria
Geral do Processo, artigos 21 a 66, CPC). Exemplo: EXMO. SR. DR. OU AO JUÍZO DE DIREITO DA ____VARA (COMPETÊNCIA MATERIAL) DA COMARCA DA CAPITAL DO (COMPETÊNCIA TERRITORIAL).
Lembrando que, em regra geral, existe a distribuição (sorteio) da ação
com relação ao juízo (salvo em casos indicados em lei, exemplos: Juizado Especial Cível, Ações com Juízo de Prevenção e Conexão).
b) Cabe ressaltar que, no caso da qualificação da parte ré (inciso II),
caso não tenha todas as informações, não deverá ser indeferida de pleno, devendo ser aproveitada com os dados encontrados. Caso os dados sejam insuficientes, devem ser realizadas diligências para obtenção das informações necessárias.
Exemplo: NOME CIVIL OU EMPRESARIAL DA PARTE, nacionalidade,
estado civil, profissão, identidade n⁰..., expedido pelo ..., inscrito no CPF sob o n⁰ ..., domicílio ..., endereço eletrônico (é o e-mail), vem por seu advogado devidamente constituído (procuração anexa), pelo procedimento comum (salvo outras situações, exemplos: sumário, no caso do artigo 539, CPC e sumaríssimo em caso de Juizado), com base na lei (colocar a base Formal e material. Exemplo: código civil + código de processo civil) ao juízo propor ação (NOME DA AÇÃO) em face de (QUALIFICAÇÃO DO RÉU) com base nos fatos e fundamentos a seguir:
c) Os fatos e fundamentos jurídicos do pedido (inciso III)
compreendem a narrativa do fato ocorrido e como isso afeta o mundo jurídico. Assim, a causa de pedir é comumente divida em remota (são os fatos e fundamentos) e próxima (quais as consequências que esses fatos e fundamentos reverberam ao mundo jurídico).
Atenção: Aqui é essencial informar, além dos fatos e fundamentos,
situações que envolvam tutela provisória, gratuidade de justiça, prioridade de pessoa idosa ( entre outros aspectos já estudados.
d) No caso do pedido (inciso IV) temos a lista do que, amparado pelos
fatos e fundamentos, está sendo requerido pelo autor da ação. Temos como objeto imediato do pedido a providência jurisdicional solicitada (exemplo: em uma ação de cobrança, a condenação é o pedido imediato; ao passo que o recebimento do valor é o pedido mediato).
Entre os pedidos que não podem faltar temos, como exemplo:
gratuidade de justiça (quando cabível), deferimento da tutela provisória (quando cabível), condenação de custas e honorários, opção pela conciliação ou mediação, pedido principal e acessórios, quais provas pretende produzir (Protesta por todos os meios de prova admitidas em direito), valor da causa (Dar-se ao valor da causa R$ (valor numérico) + (extenso), etc.
Em regra geral, o pedido deve ser certo e determinado (Artigos 322 e
seguintes, CPC). Apenas, em determinadas situações, o pedido poderá ser de natureza genérica (Artigo 324, § 1º, CPC).
I - nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens
demandados; => Exemplo: Quando se discutir os direitos de uma herança, rebanho ou biblioteca;
II - quando não for possível determinar, desde logo, as
consequências do ato ou do fato => Exemplo: Quando se requerer perdas e danos sem determinar o valor certo.
III - quando a determinação do objeto ou do valor da condenação
depender de ato que deva ser praticado pelo réu => Exemplo: Quando o optar por uma indenização em razão do descumprimento de uma obrigação de fazer.
Os pedidos por ser de vários tipos distintos:
I – Pedido Alternativo (Artigo 325, CPC): Confere ao autor, a
possibilidade de permitir ao devedor, o cumprimento da obrigação demandada de mais de uma forma.
Em regra geral, a escolha dentre as opções caberá ao devedor
(Artigo. 252, CC).
Exemplo: Que V.Exma. acolha o pedido para condenar o autor a
entregar uma televisão de 60 polegadas, sendo ela da marca Sony Bravia 4k ou LG ThinQ AI. II – Pedido em Ordem Subsidiária (Artigo 326, CPC): É uma modalidade de pedido alternativo, porém com ordem de cumprimento pré- estabelecido. Assim, o autor formula mais de um pedido permitindo que o juiz conheça do posterior caso o anterior não puder ser acolhido.
Exemplo: No caso de o autor pedir a entrega do apartamento ou, caso o
magistrado não acolha, pede a devolução das quantias pagas.
III – Pedidos Cumulados (Artigo 327, CPC): Ocorre quando se realizar
mais de um pedido contra um mesmo réu, tendo eles conexão ou não.
Exemplo: A cobrança contra o mesmo réu de 3 empréstimos feitos em
causas distintas (cumulação simples, ou seja, quando os pedidos não são possuem conexão); O pedido de reconhecimento de paternidade cumulada com pedido de herança (cumulação sucessiva, ou seja, quando os pedidos possuem conexão); requerer a entrega de um carro e caso não seja possível entregar uma moto (cumulação eventual, ou seja, a realizada em pedidos subsidiários).
IV – Pedido de Prestação Indivisível (Artigo 328, CPC): É aquele que
acontecerá quando o objeto da prestação é indivisível em obrigação com multiplicidade de credores (Artigo 258, CC). Assim, qualquer um dos credores terá o interesse em cumprir a obrigação por inteiro, visto que não é sucessível de divisão (não há a necessidade de ser formar litisconsórcio, bastando apenas um dos interessados ingressar com a demanda).
Exemplo: Em uma ação em que um dos herdeiros ingressará pedindo a
devolução de uma propriedade imóvel, que está em inventário, os demais herdeiros também serão beneficiados, em caso de sucesso da demanda.
Observação Final: Até a citação do réu o autor poderá alterar o pedido
sem a necessidade de anuência do réu. Em caso de citação realizada dependerá da anuência do réu, podendo a alteração ser feita até a fase de saneamento.
e) O valor da causa (inciso V) deve ser atribuído de acordo com as
regras do artigo 292, CPC (já estudados esse semestre), podendo ser corrigido pelo juiz, por arbitramento, se observar erro ou inadequação. Observação final: Além dos requisitos acima mencionados devem ser anexados a peça inicial os documentos obrigatórios para postular uma ação (documento de identidade, CPF, procuração com endereço eletrônico e não eletrônico do advogado), comprovante de residência do autor e as provas que se pretende demonstrar).
f) Audiência de Conciliação ou Mediação (Artigo 334, CPC): Sendo
preenchidos os requisitos da inicial será designada a audiência de conciliação com antecedência mínima de 30 dias, devendo o réu ser citado com pelo menos 20 dias de antecedência.
Caso o réu não tenha interesse na conciliação, deve peticionar com
antecedência mínima de 10 dias, contados da data de audiência. Caso uma das partes não compareça poderá ser arbitrada multa de até 2% do valor da causa ou da vantagem pretendida.
A audiência de conciliação não acontecerá apenas se ambas as
partes assim não quiserem ou se no caso não for admitida a realização (direito indisponíveis).
5.1.1.2. Análise da Petição Inicial Pelo Juiz (Artigo 330 a 334, CPC).
Como visto, o magistrado poderá designar audiência de conciliação ou
mediação casos os requisitos da Petição Inicial sejam cumpridos adequadamente. Porém, outras medidas podem ser realizadas pelo magistrado ao receber a ação, são elas:
a) Declaração de Impedimento ou Suspeição: Já estudadas
anteriormente, o magistrado deverá remeter os autos ao substituto legal caso ocorra uma das hipóteses dos artigos 144 e 145, CPC.
b) Emenda da Petição Inicial: Caso não preencha os requisitos dos
artigos 319 e 320, CPC, determinará que o autor emende a Petição Inicial no prazo de 15 dias, de acordo com o artigo 321, CPC.
c) Indeferimento da Petição Inicial: Verificada quando: não cumprido o
prazo de emenda da inicial, de acordo com o prazo do item anterior; for inepta a petição, em casos de prescrição ou decadência manifestas e a parte for ilegítima. Art. 330. A petição inicial será indeferida quando: I - for inepta; II - a parte for manifestamente ilegítima; III - o autor carecer de interesse processual; IV - não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321.
d) Quando for Inepta a Petição Inicial: Quando alcançar alguma das
hipóteses dos artigos 330, § 1º, CPC.
§ 1º Considera-se inepta a petição inicial quando:
I - lhe faltar pedido ou causa de pedir; II - o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido genérico; III - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; IV - contiver pedidos incompatíveis entre si.
e) Julgar Improcedente o Pedido em Caráter Liminar (Artigo 332,
CPC): Com o objetivo de uniformizar as decisões e compatibilizar a razoável decisão do processo, serão consideradas liminarmente improcedentes, os pedidos
Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz,
independentemente da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar: I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça; II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local. § 1º O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição.
Exemplo: Um pai que paga alimentos aos seus filhos, calculada em
termos de percentual sobre seus ganhos, postula em juízo a declaração de que a prestação alimentícia não deve ser calculada sobre o décimo terceiro salário e a gratificação de férias. Ocorre que tal pretensão contraria entendimento firmado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento de casos repetitivos (Resp. 1.106.654/RJ, j. em 25.11.2009, rel. Min. Paulo Furtado), o que deve levar à improcedência liminar do pedido (Artigo 332, II, CPC).