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Processo Civil I

A série Genéricos é uma série de instrumentos de acompanhamento ao estudo destinada a alunos de Direito que estejam no modo
“desespero” mais desesperado conhecido ao Homem. Não devem ser sinónimos de dispensa de consulta de outros materiais de estudo ou
de aulas, sejam estas teóricas ou práticas. Foram feitas com base em elementos de estudo, já de si, reduzidos e/ou esquemas de resolução,
por um aluno de média 12 (ainda por cima açoriano) que se declara, assim, abertamente, inimigo de “chupanços” e de prolongamento de
sebentas além do conteúdo estritamente necessário e útil. São 5 da manhã e tens recurso amanhã? Toma este genérico e ALHAMDULILLAH.

O Processo Civil existe porquê? E para quê? (e outras perguntas valiosas)

Existe um beef, em matéria relacionada com o Direito Civil – vamos supor um incumprimento da uma
obrigação num contrato de compra e venda de um carro, e não consegues resolver ao falar com o chavalo de Gaia
que te prometeu 3.000 paus por um carro que mal volante tem. Tens várias opções: podes falar com os teus tropas
(duvido que tenhas amigos tho) da Foz para irem lá fazer pressão; podes ir lá tu (também duvido porque és mais de
reclamar no Twitter); podes chorar aos papás para irem ver da situação (mais fácil levarem na boca também). Como
estas formas de ação privada não são eficazes, e por a autonomia privada te ter falhado (porque o chavalo utilizou
da sua autonomia privada para fanar-te), surge o Direito Processual Civil, para resolver litígios dentro da matéria que
é sua competência, geralmente matéria civil. Se precisarem de uma definição fofa para spammar na frequência, é
uma sequência de atos que, por violação de normas jurídicas ou dos direitos de outrem, pretendem a reintegração
do direito violado, por via do litígio, sendo esta avaliação feita por um órgão imparcial de autoridade – os Tribunais
(respeitando o direito fundamental do acesso a tutela jurisdicional efetiva [artigo 20º da Constituição da República
Portuguesa] e reforçado no artigo 2º do Código Processual Civil [CPC]).

O artigo 10º do CPC apresenta os tipos de ação que podem ser propostas no âmbito do Direito Processual
Civil, sendo que neste primeiro momento (e se não estudares e continuares a fazer cadeiras, durante mais um
tempinho) podemos ignorar as menções às ações executivas. Temos no artigo 10º/2 do CPC as diferentes formas de
ação executiva, com concretização no número seguinte, com o artigo 10º/3 do CPC a explicitar o objetivo de cada
tipo de ação declarativa.

Como já deu para perceber pelo que já foi falado, a função dos Tribunais, no Processo Civil, é intervir na
tutela do direito material, declarando a razão de um dos lados com base no pedido feito e na matéria de factos que
for apresentada.

Como é que é o processo em Processo (ou palavras caras – a tramitação processual)?

- Petição Inicial (PI)

Continuando com o exemplo de que levaste banhada de 3.000 paus e de um carro horrível, tu estás muito
chateado e nem o Twitter, nem os papás quiseram saber. Vais a um jurista de qualidade, tipo eu, tentar entender o
que podes fazer. Além de reiterar que os meus conselhos jurídicos, assim como os meus conselhos a nível de
investimentos em crypto, não são vinculativos, o conselho seria de apresentares um pedido, claro que com a devida
representação (vamos ver à frente), em Tribunal, devendo, para isso, fazê-lo através da apresentação da petição
inicial, porque o Tribunal não pode oficiosamente decidir que te vai ajudar do nada - a iniciativa processual deve ser
sempre do autor (artigo 3º/1 do CPC). É o início do processo, constituindo-se a instância, porque é o momento em
que pedes ajuda e o Tribunal mete o braço no teu ombro e diz que te vai tentar ajudar.

Ao apresentares a petição inicial, se este for bem feita como é óbvio, defines também o objeto do processo:
o teu pedido relativo ao que pretendes com aquela ação e a causa de pedir, o fundamento para a apresentação da
mesma.

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Genéricos, uma série de Gonçalo “Ribas” Ribeiro

O pedido tem duas vertentes: a tua pretensão processual - pedes ao Tribunal que condene o gajo em pagar
a obrigação devida pelo artigo 10º/3/b) do CPC; a tua pretensão material – é a vertente material daquilo que pedes,
ou seja, a existência do direito que alegas ter de te serem devidos 3.000 boletos em função daquele contrato.

Este pedido tem que cumprir vários requisitos para ser considerado válido: tem que ser inteligível – não vão
fazer um pedido todo louco sem fio por onde se pegue, ao ponto de não ser entendido por uma criança de 2 anos. A
ininteligibilidade (nem sei se é esta é a palavra, mas acrescentem um “in” antes e deve dar) da PI torna a mesma
inepta (artigo 186º/2/a) do CPC), resultando na nulidade de todo o processo (artigo 186º/1 do CPC); tem que ser
idóneo para ser resolvido pelo Tribunal – não podem só lançar pedido para declarar quem fuma mais IQOS no
Novíssimo. A falta de idoneidade constitui uma exceção dilatória inominada (artigo 577º do CPC), o que resulta na
absolvição do réu da instância (artigo 278º/1/e) do CPC); e, por último, tem que ser determinado – tens que meter
o valor que pretendes com a ação (os 3.000 dólares), porque os únicos casos em que são admitidos pedidos
genéricos nos termos do artigo 556º do CPC (não é o caso aqui).

Como já deu para perceber, as falhas no pedido podem render a PI como inepta e o processo como nulo,
porque não pode haver processo sem objeto, logo sem pedido ou sem pedido completo e inteligível (artigos 186º/1
e 186º/2/a) do CPC). Estas falhas devem ser logo resolvidas, num momento inicial, por convite à intervenção pelo
juiz, via despacho liminar (artigo 726º/2/b) do CPC), para aperfeiçoamento do pedido (artigo 590º/1 do CPC). Caso
se mantenha a exceção dilatória inominada (artigo 577º do CPC) não há outra resolução se não a absolvição do réu
da instância (artigo 278º/1/b) do CPC + artigos 577º/b) + 576º/2 do CPC).

Do outro lado do objeto processual temos a causa de pedir, que, para o professor Miguel Teixeira de Sousa
(boa definição para anotar e apresentar), é o conceito processual construído com base no direito substantivo. É
baseada numa regra jurídica, o que no nosso caso estaria relacionado com o incumprimento de uma obrigação, e
deve ser constituída e enriquecida por factos relevantes para avaliar a causa. É esta soma que nos vai delimitar os
limites do pedido, numa concretização do princípio do dispositivo refletida nos artigos 5º e 615º/d) do CPC, uma vez
que o Tribunal não pode ir além do que é fornecido no objeto, salvo algumas exceções. Existem algumas teorias
sobre o que deve constar, a nível de factos, na PI, das quais vou destacar 2 (não vale a pena saber mais):

- Teoria da Substanciação (era uma Lebre – Lebre de Freitas [LdF]): deve conter todos os factos que revelem
essenciais para a procedência da ação, devendo incluir assim factos essenciais e factos complementares.

- Teoria da Individualização Aperfeiçoada (MTS): a PI deve conter apenas os factos essenciais para
demonstrar a individualização do pedido do autor, de forma a provar que não há situação de litispendência (artigo
581º do CPC). Serve somente para garantir a admissibilidade da causa, com os restantes factos relevantes para a
ação a surgirem na fase adequada para a sua relevância.

Tal como o pedido, o autor tem que enunciar a causa de pedir na PI (artigo 552º/1/d) do CPC), porque é
uma das partes da definição do objeto, e, tal como vimos para o pedido, a sua falta constitui uma exceção dilatória
(artigo 577º/b do CPC) que, não sendo sanada no momento adequado (após pedido de aperfeiçoamento do pedido
feito pelo juiz ao autor com recurso ao despacho liminar – artigo 726º/2/b) do CPC + artigo 590º/1 do CPC), o
resultado seria a ineptidão da petição inicial, resultando na absolvição do réu da instância (artigos 278º/1/b) +
577º/b) + 576º/2 do CPC).

- Distribuição

É só o momento em que há a dita distribuição, em que a PI é atribuída a determinada secção e juiz.

- Despacho liminar (é uma figura rara e excecional)

Além do caso já descrito acima, relativamente a falhas no pedido expresso na PI, também pode acontecer
em casos de urgência, por exemplo (artigo 226º/4/f) do CPC).

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- Citação (diferente de notificação)

Começamos logo por distinguir citação de notificação: citação é para o réu e notificação é para terceiros que
estejam envolvidos no processo, por exemplo testemunhas que te viram a ser burro ao vender um carro a um
crackudo.

É com a citação que toca a música do réu, estilo WWE, e este entra na cena. Antes da mesma, apesar de a
instância já ter sido aberta, face a apresentação da PI, o réu ainda não figurava na posição que agora assume.
Podemos dizer, então, que a citação tem 3 funções principais: esta constituição do réu como parte do processo; é o
meio de comunicação utilizado para dar esse conhecimento ao réu; e é um convite a que este apresente uma defesa
(defesa esta que pode assumir formas diferentes, mas isso já vamos ver). Por outro lado, a partir da citação não
pode haver birra inversa, com o mesmo assunto, com o réu a fazer queixinhas do autor da PI, pois seria um caso de
litispendência (artigos 564º/c) + 580º/1 + 581º/1 + 582º do CPC).

Em termos de requisitos para o que deve conter, o artigo 227º do CPC é muito útil para o efeito (que
generoso, senhor artigo 227º do CPC): deve conter uma cópia da PI e dos documentos que a possam acompanhar,
assim como do local da porradaria geral do processo – Tribunal em que a ação decorre (artigo 227º/1 do CPC),
devendo também incluir prazo para a apresentação das desculpas esfarrapadas, a necessidade de pagar a um chulo
para as apresentar – o patrocínio judiciário – e as consequências de dar vista ao sistema judicial (artigo 227º/2 do
CPC).

E se he forgor de enviar a citação? A falta de citação acontece nas situações descritas no artigo 188º do CPC,
sendo que resulta na nulidade de todo o processo que tenha ocorrido até então, pelo disposto no artigo 187º do
CPC. Por outro lado, em casos em que haja a nulidade da citação, por falta de alguma das formalidades exigidas para
a validade da mesma, segue-se o regime do artigo 191º do CPC.

- Contestação (agora é que isto aquece e o beef começa a melhorar)

Tal como o amor, os litígios são melhores quando os dois dão tudo. É uma peça jurídica que, em termos de
forma, é semelhante à PI (artigo 552º vs artigo 572º do CPC), onde há a resposta do réu à PI. Esta contestação deve
respeitar o prazo de 30 dias após a citação para ser apresentada (artigo 569º do CPC). Às vezes, poucas e raras, o
Tribunal sabe que o autor está com um papinho muito suspeito e diz ao réu para chillar que aquilo é só pada e nem é
preciso apresentar defesa.

Caso o réu seja um desinteressado na arte da fofoca e entre em revelia, não apresente defesa, podemos
estar perante uma diversidade de razões para a culminação nesta figura: pode ser uma revelia absoluta (artigo 566º
do CPC), em que ele ignora completamente o processo e o direito que tem a apresentar defesa; ou pode ser uma
revelia relativa (artigo 567º do CPC), quando ele até constitui patrocínio judiciário, pagando a um chulo qualquer
para o representar de forma medíocre, mas no meio disso tudo não houve apresentação da defesa. Em qualquer um
destes casos, caso se verifique, mesmo depois das devidas diligências eventuais que possam ser tomadas para
garantir que ainda há espaço para defesa, a continuação da revelia, esta assume efeito probatório (artigo 567º/1 do
CPC) – o juiz diz “quem for contra algo deste processo diga algo agora ou cale-se para sempre” e o réu quer manter a
imagem de misterioso para as góticas do TikTok então fica calado e os factos alegados pelo autor na PI são
considerados como provados e irão basear a decisão do juiz.

Quando há mesmo defesa por parte do réu, esta pode ser feita por impugnação ou por exceção (artigo 571º
do CPC), conforme o ataque seja feito aos factos alegados pelo autor; ou ao processo e/ou atos processuais.

- a impugnação de factos, como o próprio nome indica, é quando o réu diz que aquele mambo não
aconteceu daquela forma, ou de todo, podendo ser direta ou indireta, caso acuse o autor de mentir em tudo ou só
em algumas coisinhas, dando as outras como verdade admitida.

- a impugnação de direito é o ataque à própria regra jurídica que sustenta o objeto do processo.
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Genéricos, uma série de Gonçalo “Ribas” Ribeiro

Os factos que não forem disputados são considerados como admitidos.

- a defesa por exceção dilatória é o ataque direcionado à capacidade do Tribunal apreciar a ação em causa,
baseada, mas não se restringindo, no elenco de exceções dilatórias apresentado pelo artigo 577º do CPC. A regra é
que, mesmo não sendo alegada pelo réu, as exceções dilatórias são de conhecimento oficioso (artigo 578º do CPC),
devendo ser sanadas (artigo 6º/2 do CPC), sob pena de serem declaradas insanáveis e resultarem na absolvição do
réu da instância (artigos 278º/1 + 576º/2 do CPC), que aqui era o objetivo.

- a defesa por exceção perentória é a alegação de que aquela posição que é alegada pelo autor já não existe
(artigo 576º/3 do CPC), por exemplo o guna afinal mandou os 3.000 francos suíços por MBWay mas estavas no
Urban e apagaste a notificação sem querer, antes de começares a choradeira.

- O baile entre reconvenção e réplica (também não acontecem sempre)

Quando o réu leva ao extremo a vontade de estar aqui nesta novela, pode utilizar da reconvenção, um
mecanismo processual que permite a este apresentar, no mesmo processo, pedidos no sentido inverso, ou seja
contra o autor, ao ampliar o processo (artigo 266º/1 do CPC). Esta reconvenção tem que ter alguma conexão ao
processo em questão, de forma a que não tenha que ser deduzida numa ação totalmente separada, devendo existir
algum dos elementos presentes no artigo 266º/2 do CPC e fugindo da previsão do artigo 266º/3 do CPC, devendo
também cumprir os requisitos estabelecidos pelo artigo 583º do CPC.

Face a esta ampliação do processo, é concedido ao autor da PI inicial, que agora é reconvindo, o direito a
responder, através da réplica, um modelo semelhante à contestação com as devidas adaptações (artigo 584º do
CPC).

Com isto, terminamos a primeira fase do processo – A FASE DOS ARTICULADOS – e vamos começar a
segunda fase – A FASE DA CONDENSAÇÃO – em que, tendo em conta os articulados, o juiz assume o papel de
personagem principal porque vai confirmar a regularidade do processo até então, garantindo a conformidade legal
do mesmo, procurando colmatar as falhas que possam existir, através da intervenção das partes; definindo a matéria
de facto e de direito relevantes para a causa, metendo de parte o que é inútil (gosto deste propósito); e definindo
como vão decorrer as diligências probatórias nas temáticas que ainda não possam ser admitidas como provadas; isto
tudo enquanto também para que a causa corra dentro de um prazo razoável, atendendo ao seu conteúdo.

- Despacho pré-saneador

É o mecanismo processual através do qual o juiz procede a regularizar o processo e os articulados


apresentados anteriormente, estes últimos através de convite à intervenção das partes a fazê-lo. O despacho pré-
saneador tem 4 funções principais (figuradas no artigo 590º do CPC): sanação da falta de pressupostos processuais
(artigo 590º/2/a) do CPC, com remissão para o artigo 6º/2 do CPC) que possam ser sanáveis; correção dos
articulados e de irregularidades que nestes possam estar presentes (artigos 590º/2/b) e 590º/3 do CPC); é a altura e
que pode juntar ao processo o documento que permita a apreciação da exceção dilatória (artigo 590º/2/c) do CPC);
e, por último, servir de complemento aos articulados deficientes (artigos 590º/2/b) e 590º/4 do CPC).

- Audiência prévia

No período de tempo definido no artigo 591º/1 do CPC, mesmo que não exista despacho pré-saneador, é
convocada audiência prévia das partes, cujos objetivos estão delimitados nas alíneas do mesmo artigo: a ideia é de
saber se é mesmo para avançar no processo e se têm noção das suas posições e do que elas implicam.

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- Despacho saneador

É a concretização daqueles que apresentamos como os objetivos principais da fase da condensação, que
acabam também por ser os mesmos dos possíveis despachos pré-saneadores, nos casos em que estes existam. O juiz
verifica o preenchimento de todos os pressupostos processuais, devendo atuar no sentido de os sanar quando se
verificarem como não preenchidos; vê os factos essenciais alegados pelas partes para confirmar que o objeto está
preenchido como deve estar.

O juiz pode considerar que tem matéria factual suficiente para tomar uma posição e proferir sentença –
conhecimento imediato da causa - podendo fazê-lo já nesta fase, por motivos de economia processual. Não é a
realidade mais comum, mas não deixa de existir e de se deixar a nota quanto à mesma. Tirando esta possibilidade, o
despacho saneador tem outra função principal: a verificação da regularidade da instância, com base no artigo 278º
do CPC e nas razões para absolvição do réu da instância com base na existência de exceções à capacidade de o
Tribunal apreciar o mérito da causa, em modos que já vimos acima.

A FASE DA CONDENSAÇÃO termina aqui, independentemente do que resulte do despacho saneador,


podendo, ou não (aqui sim em consequência do que acontecer no despacho saneador), iniciar a FASE DA
INSTRUÇÃO, que eu acho que é matéria do segundo semestre (fiz Processo I e Processo II meio à papo-seco), mas
que corresponde à consolidação dos meios de prova para tirar as dúvidas quanto aos factos que ainda se figuram
como controvertidos (ainda há dúvidas sobre quem tem razão), que, geralmente, culmina com a audiência final.
Após este momento final, começa a FASE DO JULGAMENTO e a bola fica no campo do Tribunal que toma a decisão,
a sentença, que é a decisão final do juiz, com base no que resultar de todas as fases anteriores, e o fim daquela
instância (podendo existir recursos nos termos legais).

Pressupostos processuais (vamos conhecer as personagens)

Até agora ouvimos falar, em várias fases da tramitação processual, de pressupostos processuais e destes
estarem, ou não, verificados, mas ainda não tínhamos tido o prazer de conhecer estas tão queridas personagens. São
requisitos necessários para que seja possível apreciar a matéria da causa e garantir que a decisão tomada é a melhor
possível, por estarem todos verificados (tipo quando acordaram e do nada todos eram verificados no Twitter ou no
Instagram, mas diziam que não tinham pago por isso – sim, Antónia Maria, o Zuckerberg e o Elon Musk decidiram
mesmo verificar-te como personal blog quando tiras exatamente a mesma foto que todas as betas tiram em
Barcelona à frente do mural do beijo, poupa-me). Os pressupostos processuais são diversos, podem dizer respeito às
partes, à ação, ao Tribunal, todas as vertentes do processo e qualquer falha nestes implica uma exceção dilatória
que, como já sabemos, afeta a capacidade daquela instância avaliar a causa. Vamos agora entender cada um deles
melhor (a capacidade vai ter o seu próprio capítulo porque há tanto a abordar e vamos começar de leve).

- Capacidade e personalidade judiciária

Tal como existe a personalidade jurídica e a capacidade de exercer os seus próprios direitos que foram
estudadas em Teoria Geral do Direito Civil, também no Direito Processual Civil existe um requisito ligado à
capacidade para aptidão para adquirir e exercer direitos nesta matéria. A verdade é que a capacidade judiciária e a
personalidade judiciária, tal como as suas contrapartes no Direito Civil, estão, em parte, de mãos dadas.

A personalidade judiciária é a suscetibilidade de alguém ser parte num processo (artigo 11º/1 do CPC). Há
uma discussão (mega virgem, diga-se desde já) sobre o que é ser uma parte num processo, mas long story short
vamos ver uma parte como alguém que pode demandar em nome próprio, ou ser demandado num processo. Está
ligada à personalidade jurídica porque quem tem esta última tem personalidade judiciária (artigo 11º/2 do CPC +
artigo 66º do Código Civil [CC]), naquele que é o critério de coincidência.

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Genéricos, uma série de Gonçalo “Ribas” Ribeiro

Mas, tal como no Direito Civil, a capacidade judiciária não é adquirida com o início da personalidade jurídica
e, coincidentemente, com o da personalidade judiciária. O artigo 15º/1 do CPC define que a capacidade judiciária
consiste na capacidade de a pessoa ser parte em juízo, por si só, com o artigo 15º/2 do CPC a estabelecer
novamente o critério de coincidência com o artigo 67º do CC, relativo à capacidade jurídica. Este “por si” não
significa que não possa ser representada, sendo na maioria dos casos necessária e obrigatória a representação na
forma de patrocínio judiciário. Releva, portanto, para situações de incapacidade, em função de menoridade ou outro
tipo de incapacidade de a pessoa ser capaz de exercer na sua totalidade os seus direitos (serem adeptos do Braga ou
do Nacional, por exemplo). A partir destas duas situações de incapacidade, podemos partir para a avaliação de
possíveis casos de incapacidade judiciária de uma das partes, com resoluções semelhantes com as devidas
adaptações dos regimes legais aplicados face ao caso:

(VOU PEGAR NO EXEMPLO DOS MENORES, MAS O SUPRIMENTO DA CAPACIDADE É SÓ AJUSTAR AOS ARTIGOS
RELATIVOS A MAIORES ACOMPANHADOS, BEIJOS)

Em caso de incapacidade de uma das partes por força da sua menoridade (articulação com o regime civil,
nomeadamente os artigos 122º e 123º do CC, atendendo às liberdades concedidas de forma excecional do artigo
127º do CC), a incapacidade definida pelos artigos 15º/2 do CPC e 67º do CC deve ser suprimida pela representação
pelos seus pais ou representantes legais (AQUI É IGUAL PARA MENORES E MAIORES ACOMPANHADOS), segundo o
artigo 16º/1 do CPC, com especial atenção aos artigos 16º/2 + 16º/3 + 18º do CPC.

Se o menor continuar, por si, em juízo, mesmo sem ter capacidade judiciária, isto constitui uma exceção
dilatória (artigo 577/c) do CPC), sendo que é possível de ser sanada, sendo um dever do juiz no que diz respeito à
gestão processual (artigo 6º/2 do CPC), com recurso aos artigos 27º e 28º do CPC, sob pena de absolvição da
instância do réu, quando o menor for o autor, nos termos dos artigos 278º/1/c) e 576º/2 do CPC. Os artigos 27º e
28º do CPC definem um conjunto de possibilidades, com a variável do lado do processo em que o menor se
encontra, que basicamente se resumem na necessidade dos pais ou responsáveis pelo menor ratificarem os atos já
praticados para os confirmar ou, caso não aprovem dos mesmos, procederem com a elaboração do ato
correspondente, seja este PI ou Contestação, com as consequências que já fomos vendo sobre a ineptidão da PI e da
Contestação (absolvição do réu da instância e ineficácia da defesa, possivelmente por revelia eventual,
respetivamente).

- Interesse processual e legitimidade

O interesse processual como um pressuposto é meio controverso, com vários beefs doutrinários e posições
quanto a esta problemática, mas como aqui trabalhamos de forma inteligente (e tinha isto no CPC, pertinho dos
artigos da legitimidade), vamos seguir uma posição doutrinária (MTS) com concordância da jurisprudência (STJ),
assim temos que o STJ, a 15/3/2012 vem defender que “o interesse processual tem duas facetas: o interesse em
demandar e o interesse em contradizer. Aquele é aferido pelas vantagens na obtenção de tutela judicial para o
impetrante, sendo que o de contradizer é não concessão daquela tutela o que é avaliado pelas desvantagens
impostas ao réu quando o interesse da contraparte é defendido”. Se isto for confuso ou não quiserem copiar de
forma tão clara uma cena do STJ, a posição do MTS, que foi a que foi adotada acima, de que é um pressuposto
processual uma vez que há interesse da parte ativa de obter tutela judicial do seu direito subjetivo, utilizando para
obter esta tutela, os meios processuais, resultando esta necessidade de procurar tutela de uma ação contrária, por
parte do réu, tendo este o interesse de fazer a sua posição ser tida em conta, ao contradizer.

Prometo que a legitimidade como pressuposto processual, pelo menos na sua definição, é mais simples de
entender. A legitimidade é definida pelo autor, através da PI, com base na relação material controvertida que alega e
serve como uma identificação das partes, nomeadamente do réu, para procederem na ação como tal. A relação
criada é com a causa, a avaliação da relação material controvertida com o objeto da causa é apreciada no fim da
mesma (se vocês identificarem o primo do guna dos 3.000€ como o réu, este não deixa de ter legitimidade só
porque não foi ele a vos gamar, vai é ter uma defesa fácil quando houver uma avaliação da matéria de facto).

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Genéricos, uma série de Gonçalo “Ribas” Ribeiro

A grande dor de cabeça (enxaqueca explosiva) da legitimidade processual diz respeito aos casos em que
existe uma pluralidade de sujeitos a configurar uma das partes: o litisconsórcio e a coligação, os seus regimes e
diferenças entre os dois. Estas situações de contrapartes em uma das posições da ação, seja esta a do autor ou do
réu, geralmente ocorre porque a relação jurídica do direito substantivo envolvia, de uma forma mais direta ou não,
outros sujeitos (no caso que temos vindo a ver, se a venda tivesse sido acordada com o tripeiro e o cunhado dele,
sendo que estariam num regime de compropriedade, em medida igual, do carro, por isso cada um devendo pagar
1.500 reais, existindo solidariedade entre as obrigações). Nestas situações, quer por exigências legais, quer por
interesse do autor, podem ser demandadas essas contrapartes para também figurar na posição atribuída na PI.

- Começando pelo litisconsórcio, o professor LdF (juro que era uma Lebre) apresenta a figura como o mesmo
pedido ser formulado por ou contra várias partes, dando lugar, respetivamente, ao litisconsórcio ativo ou passivo.
Este pode ser voluntário quando, embora existam várias partes envolvidas no plano substantivo, a natureza da
relação controvertida não exige a intervenção de todas no processo para este ser apreciado (artigo 32º do CPC). Por
outro lado, podem existir situações em que o litisconsórcio é necessário e exigido pela lei, devendo a pluralidade de
sujeitos no plano substantivo corresponder a uma pluralidade de sujeitos a nível processual, das quais temos os
exemplos do artigo 33º do CPC, que em si apresenta várias modalidades do litisconsórcio necessário,
nomeadamente o legal ou convencional (artigo 33º/1 do CPC); o natural (artigo 33º/2 do CPC); e quando existirem
outros interessados que não figuram como parte processual e em que estes ficam vinculados pela decisão do caso
julgado (artigo 33º/3 do CPC, com o exemplo do artigo 61º do Código das Sociedades Comerciais).

- A questão dos cônjuges, do artigo 34º do CPC, assume várias vertentes, com base no tipo de
questão que está em causa, o na posição assumida no processo. Quando estivermos a falar de legitimidade ativa,
como no artigo 34º/1 do CPC conjugado com o artigo 33º/1 do CPC, temos a possibilidade de escolha entre
litisconsórcio necessário ou a substituição processual de um deles, através da autorização da representação da sua
legitimidade pelo outro, para assumir a posição de autor. Do outro lado, do lado do réu, como no artigo 34º/3 do
CPC, temos a obrigatoriedade do litisconsórcio necessário. Convém fazer uma divisão, consoante o tipo de bens, das
ações que podem ser propostas a título próprio e as que dizem respeito a ambos:

- Enquanto autor, o cônjuge pode propor a título próprio ações relativas a bens próprios
(artigos 1678º/1 e 1682º/2 do CC, atendendo às exceções dos artigos 1682º/3/a), 1682º/3/b), 1682º-A/1/b) e
1682º-A/2 do CC), mas também bens comuns que só sejam administrados por si (artigo 1678º/2/b) a e) ) ou no
exercício da sua administração ordinária.

- Enquanto autores, os cônjuges têm que propor, de forma conjunta, qualquer ação que
incida sobre bens comuns cuja disposição, oneração e administração extraordinária seja da responsabilidade dos
dois.

- Enquanto réu, o cônjuge pode estar, de forma isolada, na ação no que diz respeito a bens
próprios (artigos 1678º/1 e 1682º/2 do CC) ou dívidas incomunicáveis, por serem responsabilidade exclusiva do
cônjuge devedor (artigo 1692º do CC).

- Enquanto réus, é obrigatória a ação contra ambos os cônjuges no que diz respeito a
dívidas comunicáveis (artigo 1691º do CC).

- Depois do litisconsórcio vir-nos chatear desta forma, a coligação vem mais tímida, até porque não é dada
de forma tão aprofundada e, em consequência, também porque não costuma sair de todo em avaliações. De
qualquer forma, é relevante, pelo menos, ter presente a distinção entre as duas figuras. Enquanto que no
litisconsórcio existe a pluralidade de partes na relação material controvertida, na coligação existe é uma pluralidade
de relações materiais controvertidas, que têm que se traduzir necessariamente numa pluralidade de pedidos. O
regime dos artigos 36º e ss. do CPC tem as regras que têm que ser observadas para ser admitida, mas não vale a
pena ir muito além disto e do regime legal, porque a importância é também mínima.

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Genéricos, uma série de Gonçalo “Ribas” Ribeiro

- Patrocínio judiciário

É a parte em que é obrigatório pagar a um chulo, seja este um advogado ou outra das figuras maléficas
conexas, para fingir que faz algo em vossa representação. Esta representação tende a ser obrigatória por força do
requisito do artigo 40º/1 do CPC, sendo poucas as causas que permitem a autorrepresentação em função deste
artigo.

A falta de constituição de patrocínio judiciário, quando este for obrigatório como foi explicado acima, deve
ser sanada num prazo concedido pelo juiz, sob pena de, caso se mantenha, absolvição do réu (caso seja por parte do
autor) ou ineficácia da defesa apresentada (caso seja por parte do réu), de acordo com o artigo 41º do CPC.

O bicho-papão que é a competência

O título é um pouco injusto para com a competência: não é assim tão difícil, é só um procedimento que tem
várias possibilidades de resolução, o que cria uma chance de erro maior, porque um pressuposto verificado de forma
disforme e a resolução é completamente diferente. Vamos começar pela competência interna, de forma a
molharmos primeiro os pés na matéria antes de mandarmos um mortal encarpado à retaguarda na internacional.

- Competência interna

É fazendo esta avaliação que vamos determinar o tribunal competente para apreciar determina causa, com
base numa série de critérios e âmbitos. A competência em si, como pressuposto processual objetivo, reflete a
capacidade e o poder do tribunal X conhecer do conflito que lhe foi submetido para apreciação, mas também para
apreciar a sua própria competência para esse efeito, face o caso com que é confrontado.

Um tribunal para ser competente, da forma acima descrita, deve ser competente face a todos os critérios
apresentados pelos artigos 60º/2 do CPC, em conexão com o artigo 37º/1 da Lei da Organização do Sistema
Judiciário- LOSJ - (uma conexão vital para o entendimento completo dos critérios do artigo 60º/2 do CPC). São eles:

- razão de matéria: quando a competência não seja de outro ramo do Direito, como competência dos
Tribunais Administrativos (artigos 64º CPC + 40º LOSJ);

- valor da causa: consoante o valor da causa (acho que é 50K de dinheiros), o valor pedido pelo autor, a
competência pode variar entre o juízo local e o juízo central (artigos 66º CPC + 41º + 117º/1/a LOSJ);

- hierarquia: os tribunais de 1ª instância não deixam de ser competentes face a nenhum dos critérios; só
releva esta sequência para a existência ou não de decisões anteriores (artigos 67º e ss. CPC + 42º LOSJ);

- territorial: cada tribunal tem uma circunscrição (não é cortar a pele à volta da cabeça do pau) territorial,
que define a sua área de atuação, tendo que existir um elemento de conexão entre a causa e aquela circunscrição
(artigos 70º e ss. do CPC + 43º LOSJ);

Este é o processo (no pun intended) para determinação do Tribunal competente a nível interno. Caso sejam
os tribunais portugueses os tribunais competentes para a avaliação de uma causa que resulte de um conflito entre
ordenamentos jurídicos vários, estes tribunais também são competentes para avaliar litígios internacionais, por força
do artigo 59º e devidas remissões do CPC.

- Competência internacional

Como já tocamos brevemente no final do último tópico, surge uma questão de competência internacional
quando existem, no litígio, elementos de conexão com vários ordenamentos jurídicos, sendo necessário aferir que
tribunais são competentes, por força de regras estabelecidas para fazer essa averiguação.
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Genéricos, uma série de Gonçalo “Ribas” Ribeiro

As normas que, atualmente, regulam essa atribuição de competência no panorama europeu são as do
Regulamento da UE nº 1215/2012, vou chamar só de Regulamento porque não vou escrever isto tudo todas as
vezes. Não se esqueçam de mencionar o artigo 8º da CRP sempre que se tratar da aplicação de normas comunitárias
no plano interno, isto conta sempre algo.

Para sabermos se o Regulamento se aplica a um caso em concreto temos que fazer uma avaliação do mesmo
para ver se preenche os vários âmbitos da aplicação do Regulamento:

- âmbito material: vem expresso logo a abrir o Regulamento, no artigo 1º/1 com as exceções do artigo 1º/2,
e basicamente só se aplica o Regulamento em matéria civil e comercial.

- âmbito temporal: aplica-se a situações após o dia 10 de janeiro de 2015 (artigos 66º/1 e 81º do
Regulamento).

- âmbito territorial: critério geral (artigo 4º) do domicílio habitual do réu ser um Estado-Membro, sem
desconsiderar as exceções de artigos como o artigo 7º, em que existem competências alternativas, ou 24º e 25º, em
que o Regulamento, ou as partes, definem a competência exclusiva de Tribunais determinados.

A competência exclusiva, do artigo 24º, nas matérias elencadas no artigo é impossível de afastar por
qualquer outro mecanismo de atribuição de competência do Regulamento, incluindo o que seja convencionado
pelas partes, e dita a competência exclusiva dos tribunais do Estado-Membro em que se concretizam aquelas
situações.

A competência convencional, dos artigos 25º e 26º do Regulamento, embora não seja capaz de derrotar a
imensa força da competência exclusiva, quando feita de forma conforme o exigido nas normas que a regulam, é
capaz de atribuir, ou afastar, competência a tribunais dos Estados-Membros da EU para a resolução de um litígio que
surja com base naquele contrato. Pode ser feita de forma “tácita” com a proposição da ação num tribunal e com
posterior contestação do réu nesse mesmo tribunal, embora não seja o do seu domicílio, validando então a
competência atribuída.

Nos casos em que o réu não for residente num Estado-Membro (artigo 6º do Regulamento), retirando as
exceções elencadas, tipo guna afinal é angolano e vocês estão a ver a cena andar para trás, cada Estado-Membro é
competente para aplicar a sua lei.

Caso sejam concretizadas alguma das definições de competência, como o artigo 24º, por exemplo, aplica-se
o Regulamento, concluindo a partir dessa informação os Tribunais do Estado-Membro X como competentes para
apreciação da causa. Caso isso não aconteça, passamos para o direito interno para entender se existe algum
elemento de conexão ao direito português para ser este o aplicável, são estes critérios de conexão:

- critério da coincidência (artigo 62º/a) do CPC, com atenção especial ao critério territorial dos artigos 70º
e ss. do CPC e aos casos de competência exclusiva do artigo 63º do CPC);

- critério da causalidade (artigo 62º/b) do CPC);

- critério da necessidade (artigo 62º/c) do CPC);

- critério das vontades das partes (artigo 94º do CPC);

Não sendo possível observar nenhum destes elementos, e não sendo um caso de competência exclusiva dos
tribunais portugueses, estes não são competentes, o que se traduz numa exceção dilatória (artigos 96º + 99º + 576º
+ 577º/a) do CPC), o que resultaria, como já devias saber, na absolvição do réu da instância (artigo 278º/1/a) do
CPC).

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Genéricos, uma série de Gonçalo “Ribas” Ribeiro

A sentença deste documento (ainda há os anexos – esquemas de resposta – depois)

Umas breves notas relativas ao fim do processo. Quando se absolve o réu de uma instância não significa isto
que ele é inocente e que o caso transita em julgado: o que acontece é que é determinado que naquelas condições,
aquele tribunal e/ou aquelas peças apresentadas e/ou atos processuais decorridos, não permitem a apreciação da
causa da forma como esta se apresenta. Não há um julgamento da matéria da causa, o que poderia ditar a
absolvição da causa do réu, o que aí sim ditaria que este estaria ilibado, aquando do trânsito em julgado da decisão,
salvo apresentação de recurso, dentro dos casos possíveis.

Quanto à sentença em si, tenho visto várias vezes a ser pedido avaliar a sentença de um juiz. A sentença é a
decisão, fundamentada, do juiz, com base naquilo que foi apresentado ao longo do processo de absolver o réu, caso
considere que este não é culpado, ou condenar o réu, caso considere que é responsável, devendo esta absolvição ou
condenação ser feita sempre “no pedido”, observando o princípio do dispositivo (artigos 5º e 609º do CPC), uma vez
que os limites da condenação são logo definidos com a definição do objeto. Assim, uma sentença que não observa
os requisitos do artigo 609º do CPC deve ser considerada nula, nos termos do artigo 615º do CPC.

Esquemas de resposta (sim, porque não fica suficiente sem a papinha estar toda feita)

Vão ser meio tirados do furo, mas o objetivo é passar uma base a partir da qual podem desenvolver com
base no que disse acima. São os principais casos que saem em matéria de Processo I, mas também costumam sair
mambos teóricos relacionados com comentar uma frase qualquer que o regente escreveu ou assim e aí não faço
milagres (não sou Allah, o milagroso). Sque pego no caso fui utilizando – Super Dragão não vos paga os 3K de
kwanzas que vos deve do carro.

- Casos de objeto

- primeiro, identificam sempre o problema que se levanta, seja que caso for – neste caso seria de objeto.

- identificar o tipo de ação, sempre declarativa, dentro do elenco do artigo 10º/3 do CPC.

- o objeto é definido na PI (artigo 552º do CPC) e é constituído pelo pedido (o que se pede) e pela causa de
pedir (o que se pede e regra de direito substantivo) – concretização do princípio do dispositivo (artigo 5º do CPC).

- o pedido tem que ser inteligível – capaz de ser entendido, não venham com mambos em russo ou
todos marados – sob pena das consequências dos artigos 186º/2/a) + 186º/1 do CPC;

- o pedido tem que ser idóneo – capaz de ser avaliado pelo Tribunal, não pode ser tipo o guna ou eu,
quem é mais bonito, sob pena de ser exceção dilatória pelos artigos 577º + 278º/1/e) do CPC;

- o pedido tem que ser determinado – um valor ou direito específico (salvo as exceções dos pedidos
admitidos como genéricos do artigo 556º do CPC);

- estas falhas no pedido são possíveis de ser sanadas, devendo haver convite para o saneamento
pelo juiz através do despacho liminar (artigos 726º/2/b) + 590º/1 do CPC), sob pena de, se não forem sanadas,
darem lugar à absolvição do réu da instância (artigos 278º/1/b) + 577º/b) + 576º/2 do CPC);

- quanto à causa de pedir (artigo 552º/1/d) do CPC), o professor MTS identifica como conceito
processual que é construído no direito substantivo porque se baseia numa regra jurídica substantiva – o direito que
fundamenta a ação. É a causa de pedir que delimita os limites do pedido (princípio do dispositivo – artigos 5º +
615º/d) do CPC);

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Genéricos, uma série de Gonçalo “Ribas” Ribeiro

- existem várias teorias sobre o que deve conter a causa de pedir, das quais identificamos duas: a do
professor MTS, a teoria da individualização aperfeiçoada, que defende que na causa de pedir apenas têm que ser
identificados os factos essenciais para identificar a causa de forma a garantir que não ocorre litispendência; já o
professor LdF, e a teoria da substanciação, defende que além dos essenciais, devem também constar os factos
complementares da causa de pedir.

- a verdade é que a falha da causa de pedir traduz-se na ineptidão da PI e absolvição do réu da instância
(artigos 278º/1/b) + 577º/b) + 576º/2 do CPC).

- Casos de incapacidade (por menoridade ou incapacidade outra que necessite representação)

- identificar os pressupostos processuais, entre os quais temos a personalidade e capacidade judiciária.

- explicitar a diferença e o critério de coincidência com o regime civil entre os artigos 11º do CPC e 66º do CC
e os artigos 15º do CPC e 67º do CC, para a personalidade e capacidade, respetivamente.

- personalidade é a possibilidade de ser parte, em nome próprio, enquanto que capacidade é de


exercer, por si só – sem representação, desse direito;

- menores e incapazes são os casos de escola, como sabemos, de incapacidade típica no direito civil e
no direito processual é igual – adaptar o regime conforme o caso seja de menores ou maiores acompanhados;

- regime civil da menoridade (artigos 122º e 123º do CC) com atenção aos casos em que é considerado capaz
de exercer por si só os seus direitos (artigo 127º do CC), porque nestes casos há capacidade do menor também no
direito processual.

- caso seja um dos casos em que o menor é incapaz, por força do regime civil, este deve ser
representado pelos pais ou representantes legais (artigos 16º/1 e atenção a 16º/2, 16º/3 e 18º do CPC);

- se o menor não tiver sido representado, quando o devia ter sido feito, existe uma exceção dilatória
(artigo 577/c) do CPC) que deve o juiz, pelo seu dever de gestão processual (artigo 6º/2 do CPC), procurar sanar,
notificando os pais ou representantes legais para intervenção no processo, ratificando ou não, consoante concordem
com a PI ou contestação (depende da posição do menor no caso), o ato processual, validando ou não o mesmo. Caso
ocorra a última hipótese, devem proceder com a apresentação da PI ou contestação que considerem adequada
(atenção aos artigos 27º e 28º do CPC);

- caso o menor nunca seja representado da forma exigida, nem após notificação dos pais ou dos
representantes legais, mantém-se a exceção dilatória do artigo 577/c do CPC, o que se traduz ou na absolvição do
réu, caso o menor seja o autor (artigos 278º/1/c) e 576º/2 do CPC), ou na ineficácia da sua defesa, caso se configure
como o réu (semelhante à previsão da revelia, defesa sem valor traduz-se nos factos da PI serem admitidos como
descritos).

- Casos de (falta de) patrocínio judiciário

- identificar os pressupostos, aprofundando o patrocínio judiciário (artigo 40º do CPC).

- QUASE SEMPRE é preciso constituição de chulo, nos termos do artigo, por isso destacar o porquê de
acontecer, seja pela opção da alçada do tribunal ou por se tratar de caso passível de recurso, sei lá, é sempre preciso
a não ser que seja tipo 5 pau.

- artigo 41º do CPC: consequências de não constituir advogado, mesmo depois do juiz ter avisado e metido
um prazo para fazeres – absolvição do réu se fores autor, manda para o artigo 278º do CPC, ou ineficácia da defesa,
se fores o réu, vai na mesma onda de cima e da revelia quase, mas não sei se é remissão para o regime.

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Genéricos, uma série de Gonçalo “Ribas” Ribeiro

- Casos de tramitação

Sincero, pode ser ignorância minha, ou estupidez pura, mas não me lembro de um caso de tramitação puro,
no máximo há casos quanto à sentença ou perguntas simples de identificar quando devia ser sanado certo stress,
mas aí vocês conseguem chegar lá com a matéria de cima inshallah.

- Casos de sentença

- identificar o problema em causa: avaliar a validade da sentença do juiz.

- pode ser problema quanto ao punir por mais do que foi pedido.

- nulidade da sentença por violação do princípio do dispositivo e condenação superior (artigos 5º +


609º/1 + 615º/1/e) do CPC).

- pode ser problema da fundamentação.

- a sentença tem que ser devidamente fundamentada, com base nos factos ou fundamentos de
direito do caso (artigo 607º do CPC) sob pena de ser nula pelos artigos 615º/1/b) ou 615º/1/c) do CPC.

- pode ser problema de fase do processo.

- este vi há pouco tempo, e era um problema de saber se o juiz, com as informações que tinha após
os articulados, já podia tomar a decisão. Como vimos acima, por uma questão de economia processual e porque não
vale a pena prolongar o processo só para cumprimento de atos posteriores que se podem revelar inúteis, o juiz
pode, inclusive no despacho saneador, decidir quanto à causa – conhecimento imediato da causa.

- Casos de legitimidade

- identificar problema e os pressupostos.

- chutar definições de interesse, naquilo que está ligado à legitimidade.

- atender ao regime da legitimidade, nomeadamente o artigo 30º do CPC.

- ver se há legitimidade plural: se sim, distinguir coligação de litisconsórcio (99.9% de chance que é um caso
de litisconsórcio).

- sendo litisconsórcio, distinguir o voluntário do necessário (artigo 32º vs 33º do CPC) e distinguir as várias
modalidades do litisconsórcio necessário, com base no número do artigo, como fizemos acima.

- se for situação de cônjuges, atender ao regime do artigo 34º do CPC. Questões-chave no artigo: tipo de
bem que está em causa, ligação com o regime de bens do casamento, posição no processo (autores ou réus) e aos
regimes exigidos no artigo para todas estas particularidades, em que entrei em maior detalhe em cima, fazendo
sempre a ponte necessária com os artigos do CC, também identificados, de forma a justificar a conclusão chegada.

- como se reflete o litisconsórcio identificado na ação – artigo 35º do CPC.

- conclusão a chegar: por exemplo, necessidade de ser chamado também o cônjuge para preencher a
posição em que deve existir litisconsórcio necessário.

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Genéricos, uma série de Gonçalo “Ribas” Ribeiro

- (os tão esperados) Casos de competência

- Caso haja conexão com outras ordens jurídicas, através de elementos de conexão: artigo 8º da CRP, que
permite a aplicação do Regulamento da UE nº 1215/2012 (avaliar os âmbitos de aplicação do mesmo)

- material: matéria civil e comercial (artigo 1º/1 menos 1º/2 do Regulamento);

- temporal: depois de 10 de janeiro de 2015 (artigo 66º/1 e 81º do Regulamento);

- territorial: Estados-Membros da UE, através do domicílio;

- A regra geral do Regulamento é a competência dos Tribunais do Estado-Membro de residência habitual do


réu (artigo 4º do Regulamento), mas existem exceções que definem a competência, em alguns casos alternativa
(exemplo do artigo 7º ou possibilidade do artigo 25º do Regulamento) em outros exclusiva (artigos 24º, 25º e 26º
do Regulamento), de tribunais de outro Estado-Membro.

- Prestar atenção à matéria em causa pois pode caber na previsão dos artigos de cima,
principalmente na do artigo 24º do Regulamento, porque derroga qualquer outro critério;

- No caso da competência convencional, dos artigos 25º e 26º do Regulamento, atender à validade
do pacto de jurisdição que a define, assim como o cumprimento das restantes regras exigidas;

- Caso o réu não seja residente num EM da UE, artigo 6º do Regulamento: atribuição da
competência aos tribunais em que foi intentada a ação.

- Se voltar para a competência dos tribunais portugueses, definir a competência internacional dos mesmos
pelo artigo 59º do CPC. (aqui continua o caso ou começa, caso seja só de competência a nível interno) A nível
interno a avaliação da competência de um Tribunal determinado é avaliada por força dos critérios apresentados no
CPC e na Lei da Organização do Sistema Judiciário (LOSJ), entre os quais temos:

- matéria: artigos 64º do CPC + 40º da LOSJ;

- valor da causa: artigos 66º do CPC + 41º + 117º/1/a) da LOSJ;

- hierarquia: artigos 67º e ss. do CPC + 42º da LOSJ;

- territorial: artigos 70º e ss. do CPC + 43º da LOSJ;

- tem que haver um elemento de conexão entre a causa, entre os descritos nos artigos, e a
circunscrição territorial – área de ação – do tribunal (artigo 33º/2 da LOSJ + o anexo II da LOSJ);

- No fim desta avaliação é possível identificar o Tribunal competente para avaliar a causa, por exemplo Juízo
Central Cível de Lisboa.

- Se for o tribunal competente aquele que estiver no caso, bacano. Se não for, pode ser incompetente de
forma absoluta ou relativa (artigo 99º vs 102º do CPC), conforme a regra de competência que tenha sido violada.
Esta distinção também vai afetar as consequências da incompetência do tribunal:

- a incompetência absoluta (artigos 99º e ss. do CPC) implica a absolvição do réu da instância (artigo
99º/1 do CPC);

- a incompetência relativa (artigos 102º e ss. do CPC) é mais soft e o que acontece, basicamente, é o
juiz daquele tribunal afere qual o tribunal competente e manda para lá aquela instância, não havendo absolvição do
réu, mas sim uma “transferência” para o tribunal competente do processo.

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Genéricos, uma série de Gonçalo “Ribas” Ribeiro

Disclaimer final: novamente, não há uma responsabilização do autor pela confiança desmedida atribuída a este documento, fundada em
puro desespero. Utilizem de forma consciente e com noção do propósito da sua existência. Em caso de erros de formatação ou ortografia é
irreverência do artista. Em caso de erros de matéria: errei, fui mlk. Querem que diga o quê? Eu já tenho o curso feito, estudem mas é.

“As gaivotas seguem a traineira porque sabem que ao mar vão ser atirados peixes” – Eric Cantona, 1995

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