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PRÁTICA EM

PETIÇÕES INICIAIS DE
AÇÕES CÍVEIS
Prof. Fellipe Domingues Unibra
INTRODUÇÃO
Por outro lado, analisando-se os dados do Blog Exame de Ordem , o ramo do Direito Civil é a
segunda matéria com maior aprovação na prova da ordem, somente perde para Direito
Constitucional com 29,6% de aprovação. Em contrapartida, o percentual de escolha pelos
acadêmicos é de apenas 15%, sendo a terceira matéria mais escolhida pelos acadêmicos.
Fazer a OAB em civil pode, a primeiro momento, parecer um enorme desafio, visto que existe uma
grande quantidade de variações de peças que poderão ser cobradas. Por outro lado, é
importante se compreender que entre os tipos mais cobrados, tem-se:
a) Petição Inicial – 18 vezes;
b) Contestação – 03 vezes;
c) Contestação com reconvenção – 01 vez;
d) Réplica – 01 vez;
e) Embargos de terceiros – 04 vezes;
f) Apelação – 06 vezes;
g) Agravo de instrumento – 03 vezes;
h) Recurso Especial – 03 vezes;
i) Ação rescisória – 01 vez;
j) Embargos à execução – 02 vezes;

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Cada uma dessas peças exige um formato específico e requerer um conjunto diferente de
habilidades e conhecimentos técnicos. Entretanto, é importante se observar que estas
seguem um modelo padrão de três características básicas:
- Petição Inicial;
- Contestação;
- Recurso;
Das iniciais, temos que a petição inicial em alimentos apareceu com maior frequência, visto
que apareceu no 2008.1 (Cespe/UNB), 2008.2 (Cespe/UNB), IV Exame de Ordem Unificado, no
IX Exame de Ordem, no XX Exame de Ordem e XXV Exame de Ordem (reaplicação em Porto
Alegre/RS). Por conta disso, essa será a primeira peça que veremos no nosso curso.
Por conseguinte, a segunda ação mais cobrada é a ação de petição inicial direcionada ao
juízo cível cumulada com pedido de antecipação de tutela, que caiu respectivamente no:
2010.3 (FGV), VI Exame de Ordem e XIII Exame de Ordem. Essa que também será vista na
nossa aula!
Por fim, a última ação mais cobrada do Exame de Ordem é aquela que versa sobre
possessórias, as quais caíram no XXVI Exame de Ordem, XI Exame de Ordem e VIII Exame de
Ordem.

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ERROS MAIS COMUNS

1) Escrever de forma ilegível

2) Escrever apenas os dispositivos legais sem conectá-los com a causa

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ERROS MAIS COMUNS

3) Não saber por onde começar e consequentemente perder tempo para achar os temas
acerca da questão

4) Perder tempo redigindo “os fatos” da peça em vez do restante dela (má administração
do tempo de prova)

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ERROS MAIS COMUNS

5) Não escrever de modo simples e direto.

6) Não dar a devida atenção a parte final dos pedidos e o fechamento da peça.

7) Preguiça.

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COMO IDENTIFICAR QUE SE TRATA DE
UMA INICIAL?

1) Em todo processo civil, questão discursiva, OAB, vida prática, haverá o chamado
conflito de interesses (lide).
2) Vejamos a seguinte tabela:

“O germe da discórdia é o conflito


de interesses. Quem tem fome tem
interesse em dispor do pão com que
Elementos Petição inicial Recurso Contestação se saciar; se são dois os que têm
fome e o pão não é suficiente mais
Tem processo? Não Sim Sim do que para um, surge o conflito
entre eles. A lide é , pois, um
Tem decisão Não Sim Em tese, não desacordo” (CARNELUTTI, Francesco.
Como se faz um processo, Ed. Dilex,
judicial? p. 26).
O réu já se Não Sim Não
pronunciou?

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QUAL A ESTRUTURA DA PETIÇÃO
INICIAL?

Por força do princípio da inércia e do princípio dispositivo, o indivíduo poderá dispor de


sua pretensão como bem a prouver, já que poderá desistir antes de ingressar com uma
demanda judicial, ou até abrir mão de seu direito. Mas pode também inaugurar o processo
com a petição inicial.
É de suma importância na elaboração da petição inicial. É um ato que exige clareza,
cuidado, precisão, concisão e perfeição lógica e jurídica no desenvolvimento das ideias e
no raciocínio lógico-jurídico.
Q – Na opinião de vocês, a Inicial é um instrumento de pergunta ou de afirmação?
Mas, sobretudo, a petição inicial contém um silogismo, com sua premissa maior, sua
premissa menor e a conclusão, nos seguintes termos:
Premissa Maior → Referência à lei ou ao artigo de lei que rege a questão em litígio.
Premissa Menor → Exposição do caso concreto.
Conclusão → O pedido e a consequente sentença que o acolhe, reconhecendo que ao ato
específico se aplica a regra geral invocada.

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Exemplo prático:
Pensemos em uma ação indenizatória em razão de um acidente veicular entre motorista “A”
e “B”, sendo que o “B” bateu na traseira do motorista “A”.
Premissa maior ou lei: Todo aquele que causa dano a outrem é obrigado à reparação (art.
186, CC/02).
Premissa menor: “B” colidiu na traseira do veículo conduzido pelo motorista “A” em nítida
falta do dever de cuidado (negligência) em razão de ter se distraído ao volante.
Conclusão ou sentença: “B” será obrigado a reparar o dano sofrido por “A”.
Os requisitos da petição inicial estão manifestados não só no art. 319 e 320 do CPC.
Isso porque a petição inicial deverá ser escrita em língua portuguesa, tal requisito consta do
art. 192 do CPC, assim como deverá também o autor providenciar ao pagamento das custas
iniciais, que está com fundamento no art. 82 do CPC. Por fim, o próprio art. 320 do CPC
indicará que existirão documentos indispensáveis à propositura da ação!

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Q – Posso aplicar o princípio da liberdade das formas (art. 188, CPC) para a petição inicial?
Art. 188 do CPC. Os atos e termos processuais independem de forma determinada, salvo
quando a lei expressamente a exigir, considerando-se válidos os que, realizados de outro
modo, lhe preencham a finalidade essencial.
Se houver alguma irregularidade na Petição Inicial, o juiz deverá, com base no princípio da
cooperação (art. 6 do CPC), intimar o autor para corrigir ou emendar no prazo de 15 dias,
indicando com precisão o que deve ser corrigido, conforme o art. 321 do CPC.
Vejamos uma tabela comparativa entre o CPC de 1973 e o de 2015:

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Houve três mudanças claras com o CPC/15:
A) A petição inicial requer que o autor declare o CPF, CNPJ e endereços eletrônicos. Se o
autor tiver dificuldades de obter os dados do réu, poderá requerer auxílio do Poder Judiciário
por meio dos sistemas do RENAJUD, INFOJUD e SISBAJUD, p. ex.
B) Da mesma forma que há exigência em se dizer que é casado, há agora também obrigação
de dizer que vive em união estável, pois o regime processual das pessoas casadas aplica-se
também à união estável documentada;
C) Eliminação da necessidade do requerimento de citação. Era um requisito absolutamente
sem sentido. Uma vez que não dependia da vontade do autor decidir se o réu será ou não
citado.
Vejamos os requisitos um a um do art. 319:
A) Endereçamento
Art. 319, I – o juízo a que é dirigida;

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Nesse momento, é o primeiro contato que o advogado ou subscritor tem com a petição
inicial, consequentemente, é importante que a ação seja direcionada ao juízo competente,
sob pena de escolha errada feita pelo autor ser impugnada pelo réu, retardando-se o
andamento do processo com a remessa ao juízo competente e aproveitamento dos atos
processuais (fenômeno da translatio iudicci).
No CPC/73, o prejuízo era maior do que se tornou com a mudança para o CPC/15, tendo em
vista que naquele, caso houvesse a remessa dos autos ao juízo competente, tornar-se-ia
nulos todos os atos praticados, inclusive, eventualmente, os decisórios. Entretanto, essa
regra mudou, tendo em vista que, independentemente da incompetência ser absoluta ou
relativa, o acolhimento da incompetência sendo uma preliminar DILATÓRIA gerará a
remessa e o aproveitamento dos atos praticados, salvo nova decisão do juízo competente.
A escolha do Juízo deverá observar CINCO ETAPAS importantes e previamente delimitadas
pela Constituição Federal e o Código de Processo Civil:
1ª Etapa) É o caso de jurisdição nacional ou de internacional? (Arts. 21 e 22 do CPC)
Ex: Compete ao Brasil julgar ação de alimentos, quando o credor for residente ou
domiciliado no país; o devedor mantiver vínculos no Brasil, tal como posse e propriedade de
bens (art. 22, I do CPC).

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Ex: Nas ações possessórias sobre imóveis, trata-se de uma competência nacional exclusiva,
ou seja, não pode haver uma ação que verse sobre imóveis no país situado no país em outro
Estado Nação (art. 23, I do CPC).
Ex: Nas ações de antecipação de tutela, provavelmente haverá a descrição de uma
obrigação que tenha que ser cumprida no Brasil (art. 22, II, CPC), ou um fato ou ato ocorrido
no país (art. 22, III do CPC), ou que o réu esteja domiciliado no país (art. 22, I do CPC), ou
que se trate de relações de consumo (art. 23, II do CPC) ou as partes estipularam uma
cláusula para se submeter a jurisdição nacional (art. 23, III do CPC).
2ª Etapa) Verificar se é o caso de competência dos Tribunais de Superposição (STF ou STJ)
ou de órgãos jurisdicionais atípicos (art. 52, I e II, CRFB/88)?
Obviamente, que os três tipos de ações, que indicamos e trabalharemos, não serão julgadas
por esses órgãos.
3ª Etapa) Verificar qual a Justiça Competente (Especializadas – Trabalho, Militar, Eleitoral
ou Comum – Federal/Estadual)?
Em razão da matéria e da pessoa, com a finalidade de saber a competência da justiça
especializada, deve-se fazer a leitura atenta dos dispositivos:

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Justiça do Trabalho – Arts. 111 e ss da Constituição Federal.
Justiça Militar Federal – Art. 122 da Constituição Federal.
Justiça Eleitoral – Arts. 118 a 121 da Constituição Federal.
A competência da justiça comum é subsidiária.
4ª Etapa) Competência originária do Tribunal ou do 1º Grau?
Há de se destacar que a competência dos tribunais está calcada na Constituição Estadual
do respectivo estado, conforme o art. 125, §1 da CRFB/88.
No Estado de Pernambuco, a Constituição Estadual dispõe que competirá ao TJPE julgar
originariamente crimes comuns cometidos por secretários, prefeitos, juízes estaduais,
membros do Ministério Público, comandantes gerais da PM, PC e Bombeiros militares e o
vice-governador. Além de MS, HD contra atos de secretários e comandantes gerais das PM,
PC e Bombeiros militares, por exemplo, na forma do art. 61.
Como se tratam de matérias de competência originária, as três que veremos na aula de hoje,
dificilmente, será da competência originária do TJ, mas sim da justiça estadual de 1º grau.

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5ª Etapa) Qual a competência territorial ou do foro?
Essa é a área da competência, que causa mais problemas práticos; entretanto, o CPC é
muito mais técnico e lógico nessa área acerca da competência.
A regra de competência “geral” é a do foro do domicílio do réu (regra de ouro). Todavia, o
CPC possui regras de competência “especiais”, a exemplo do julgamento da ações relativas
a casamento ou união estável que seria do foro do domicílio do guardião de filho incapaz
(art. 53, I do CPC).
Para o caso da ação de alimentos, o foro competente é o do domicílio ou residência do
alimentando nos termos do inciso II do art. 53. O objetivo dessa norma, nitidamente, é
privilegiar os interesses do alimentando, na linha dos dispositivos da Lei de Alimentos (Lei nº
5.478/68), razão pela qual, embora o dispositivo faça referência às ações em que “se pedem
alimentos”, a regra de competência deve ser aplicada também para as ações de oferta de
alimentos, ações de revisão de alimentos e todas as demais que versam sobre o tema,
ainda que cumulando outros pedidos ou pretensões.
No que concerne as ações possessórias envolverão bens móveis ou imóveis; em sendo
imóveis, a competência ficará muito mais fácil, tendo em vista que será o foro de situação
da coisa (conforme regra contida no art. 47 do CPC). Esse juízo terá competência absoluta,
nos termos do art. 47, §2 do CPC.

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Se for a ação calcada em direitos pessoais ou direitos reais sobre bens móveis, então será
de acordo com a regra geral fundada no domicílio do réu (art. 46).
Q – E se o réu tiver mais de um domicílio?
Q – E se o réu tiver domicílio incerto?
Por fim, em se tratando de direito das obrigações, também o Código estipulou uma regra de
competência especial. Consoante na alínea d do art. 53, inciso III, é competente o foro do
lugar onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se lhe exigir o cumprimento.
Trata-se do chamado fórum obligationes.
No que concerne às tutelas, observa-se que poderão ser dois tipos urgência e de evidência.
Afora isso, as tutelas provisórias poderão ser cautelares ou antecipadas. Além disso, as
tutelas provisórias poderão ser antecedentes ou incidentais.
O próprio art. 299 do CPC cuida da questão da competência do juízo para o pedido de tutela
provisória. Eis a regra: quando se tratar de pedido de tutela provisória incidental, a
competência é do juiz da causa, ou seja, do juízo perante o qual tramita o processo no qual
foi formulado o pedido incidental de tutela provisória. Por sua vez, quando se tratar de
tutela antecedente, ou seja, quando não há processo em curso, a competência será do juiz
competente para conhecer o pedido principal.

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A parte deve endereçar a petição inicial ao órgão jurisdicional que apreciará a sua
demanda.
Em razão disso, alguns entendem que houve uma diferenciação entre o CPC/15 e o CPC/73.
Isso porque, neste, havia a previsão de que a petição inicial deverá ser endereçada ao Juiz
ou Tribunal.
Tal previsão não era mais correta tecnicamente, em razão da impessoalidade do Poder
Judiciário, já que não é o juiz que é competente para julgar a demanda.
A competência é do juízo da Vara Cível X, da Vara Criminal Y, etc. Por isso, deve-se dizer:
“Ao juízo Estadual da Comarca X”, “Ao juízo Federal da Seção Judiciária do Amazonas”.
Se for da justiça estadual em 1º grau:
EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DA COMARCA DE RECIFE – PERNAMBUCO
AO JUÍZO DA ___ VARA CÍVEL DA COMARCA DE RECIFE – PERNAMBUCO
EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA _____ VARA DE FAMÍLIA (E REGISTRO CIVIL) DA
COMARCA DE RECIFE – PE
AO JUÍZO DA ____ VARA DE FAMÍLIA (E REGISTRO CIVIL) DA COMARCA DE RECIFE – PE

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Se for da justiça federal em 1º grau:
EXMO. SR. DR. JUIZ FEDERAL DA ____ VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE RECIFE –
PE
AO JUÍZO DA ___ VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE RECIFE – PE
Se for da justiça estadual em 2º grau:
EXMO. SR. DR. DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DE _______.
AO JUÍZO DA PRESIDÊNCIA DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE ________.
Se for da justiça federal em 2º grau:
EXMO. SR. DR. DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA
________ REGIÃO.
AO JUÍZO DA PRESIDÊNCIA DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA ______ REGIÃO.

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Art. 319. II – Qualificação das partes
Quando ao polo ativo da demanda a ser apontado na peça inaugural, devemos nos
concentrar em responder à seguinte pergunta: Quem pode pedir? Normalmente, no exame
da OAB, haverá já um indicativo ao final da peça, por exemplo, “(...) Antônio Pedro procura,
então, você como advogado(a) para propor a ação cível”. Respondia, praticamente, está
quem será o autor da ação.
Quanto ao polo passivo, a pergunta define a legitimidade passiva da demanda, ou seja,
diante de quem ela pode ser proposta.
Observações de ordem prática, notadamente para a OAB, são necessárias.
1) Não é permitida qualquer identificação da prova, assim use os nomes indicados no
enunciado da questão, mas não preencha o restante com dados fictícios. Evite tornar sua
peça identificável;
2) Em certos casos é importante destacar alguns elementos, por exemplo, se for Ação
Popular, importante destacar o título de eleitor (visto que só pode ser manejada por
cidadão), se a parte for casada (indicar a certidão de casamento) e outros.
Vejamos alguns exemplos de como redigiremos:

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Em se tratando de autor incapaz, que será muito comum na ação de alimentos:
Fulano, menor impúbere, nacionalidade, estado civil, neste ato representado (se fosse
relativamente incapaz seria assistido) por sua genitora, Fulana, nacionalidade, estado civil,
profissão, inscrita no CPF sob nº, portadora do RG nº, residente e domiciliada à rua n.,
Cidade, Estado, por intermédio do seu bastante procurador signatário, conforme instrumento
de procuração anexo, com endereço profissional situado à Rua n., Cidade, Estado, onde
receberá intimações, vem,
Em se tratando de pessoa jurídica:
Empresa Beta Ltda., pessoa jurídica de direito privado, devidamente inscrita no CNPJ n., com
sede na Rua n., Cidade, Estado, neste ato representada pelo seu Diretor/Sócio, conforme
Estatuto Social anexo, por intermédio do seu procurador signatário, conforme instrumento de
procuração anexo, com endereço profissional situado à Rua n., Cidade, Estado, onde
receberá intimações, vem,
Em se tratando de réu com qualificação ignorada:
Fulano, qualificação ignorada, residente e domiciliado à rua n., Cidade, Estado, por
intermédio do seu bastante procurador signatário, conforme instrumento de procuração
anexo, com endereço profissional situado à Rua n., Cidade, Estado, onde receberá
intimações, vem,
Em se tratando de litisconsórcio ativo:

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Fulana, nacionalidade, estado civil, profissão, inscrita no CPF sob nº, portadora do RG nº, e
Beltrano, nacionalidade, estado civil, profissão, inscrito no CPF sob nº, portador do RG nº,
ambos residentes e domiciliados à rua n., Cidade, Estado, por intermédio do seu bastante
procurador signatário, conforme instrumento de procuração anexo, com endereço
profissional situado à Rua n., Cidade, Estado, onde receberá intimações, vem,
ATENÇÃO! No que concerne às ações de envolvendo direito imobiliário o cônjuge precisa do
consentimento do outro para propor esse tipo de ação, salvo se casado no regime da
separação obrigatória de bens (art. 73, CPC). Logo, se não houver a outorga deverá a ação
ser proposta pelos dois cônjuges em litisconsórcio ativo. Assim como sendo contra um deles
uma ação imobiliária deverão os dois também ser citados e constar em litisconsórcio
passivo (art. 73, §1, I do CPC).

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Art. 319. III – Causa de pedir
A teoria adotada pelo CPC foi a da substanciação, isto é, a causa de pedir é vinculada
pelos fundamentos de fato (causa de pedir remota) e jurídicos (causa de pedir próxima).
Obs: Há de se salientar que a causa de pedir próxima (fundamentos jurídicos) em nada
confundem-se com o dispositivo legal ou o artigo de lei.
Na parte dos fatos, há de se salientar, que embora indispensáveis para a petição inicial, no
exame de ordem, eles não pontuam! Assim, sempre aconselho-vos a redigirem os fatos de
maneira concisa, pois:
a) O advogado deve dizer apenas o necessário, nem mais e nem menos;
b) O advogado não deve escrever tanto, mas apenas o necessário;
c) O advogado não deve alargar-se em argumentos para que depois não os desfaça;
d) O advogado não deve se arriscar demais, pois logo após haverá a peça contestatória;
No exame de ordem, os fatos já serão entregues a vocês pelo examinador, logo bastará
repeti-los de modo conciso e objetivo, entretanto, na vida prático profissional, a situação
torna-se diferente.

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É prudente que quando estiver na descrição dos fatos cite os anexados à petição inicial, já
que se tratarão de documentos indispensáveis à propositura da ação nos termos do art. 320
do CPC. Vejamos um modelo de ação de indenização que haja descrição dos fatos nos
moldes preconizados:
“No dia XX/XX/XX, o Autor estacionou o seu veículo, marca XX, Placa XX, em local permitido,
próximo à esquina, em frente ao número XX da Rua XX, conforme descrição do Boletim de
Ocorrência trazido em anexo.
O autor foi avisado em sua residência, aproximadamente às XX, que o veículo do Réu, marca
XX, Placa XX, em alta velocidade, não conseguiu fazer a conversão para a esquerda e veio a
colidir com o veículo do autor.
A dianteira esquerda do veículo do Autor ficou toda amassada (fotos anexas).
O autor acionou um serviço de guincho, que rebocou o veículo até uma oficina especializada,
ao custo de R$500,00 reais. Obteve três orçamentos diferentes, todos anexados, sendo certo
que o de menor valor indicou o custo de R$7.000,00 reais, que foi efetivado pelo autor
conforme nota fiscal anexa”.
Os fatos jurídicos podem ser classificados como acontecimentos que produzem efeitos
regulados em normas jurídicas.

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Ocorre que nem sempre a petição inicial será composta de apenas fatos jurídicos, pois
existem os chamados fatos simples, que são aqueles que não produzem efeitos na órbita do
direito. Por exemplo: a chuva que cai, o que o autor e o réu comeram de manhã e outros.
Agora quando há “fato jurídico”, então o futuro advogado, vocês no caso, deverão
demonstrar que aquele fato é adequado a determinado direito e, portanto, o julgamento
deve ser de procedência.

Não tem relevância


jurídica e não produzem
Simples
efeitos regulador em
norma jurídica
Fatos
Têm relevância jurídica e
produzem efeitos
Jurídicos
regulados em norma
jurídica

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Ressalto que cada pedido deve o subscritor elaborar um parágrafo a título de
fundamentação jurídica ou, pelo menos, organizar o texto de forma a identificar
perfeitamente o domínio sobre a lógica necessária que interliga:
Fato A – Fundamento A – Pedido A;
Fato B – Fundamento B – Pedido B;
Por exemplo: Imaginem uma relação jurídica em que há um acidente veicular em que há uma
recusa em pagar por parte do causador do dano. Então, o fundamento jurídico é a
consequência lógica entre a relação jurídica (responsabilidade aquiliana) mais o fato
jurídico (causar um dano) e o pedido (condenação a pagar).
Fato A (casou um dano material/colisão) – Fundamento A (responsabilidade aquiliana –
prática de ato ilícito, existência de nexo causal e dano + culpa) – Pedido A (condenação a
pagar pelos prejuízos materiais).
Fato B (casou um dano estético) – Fundamento B (responsabilidade aquiliana – prática de
ato ilícito, existência de nexo causal e dano + culpa) – Pedido B (condenação a indenizar
pelo dano estético causado).

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O prof. Rizzatto Nunes destaca dicas relacionadas ao corpo do texto:
a) Evite transcrições literais e longas do artigo de lei, prefira utilizar: “conforme o art. XX,
de acordo com o art. XX e outras”;
b) A utilização da doutrina ou da jurisprudência é importante quando utilizada para casos
não corriqueiros;
c) Caso se trate de norma local, seja ela municipal, estadual, uma portaria, é preferível,
então que se cite a íntegra do dispositivo;
d) Caso se trate de norma local, seja ela municipal, estadual, uma portaria, é preferível,
que seja ela trazida em anexo;
Obs: Lembrem-se que a mera citação ao dispositivo de lei, por si só, é incapaz de pontuar
na prova da OAB!
Art. 319. IV – O pedido e suas especificações
O pedido e suas especificações são requisitos obrigatórios e, talvez, o tema que mais se
altera entre uma petição e outra.
Lembrem-se que o pedido tem dois aspectos: o imediato e o mediato.

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O pedido imediato é o tipo de providência jurisdicional pretendida, que, nos termos das
naturezas das sentenças de conhecimento, pode ser declaratória, constitutiva ou
condenatória.
a) Nas ações declaratórias, deve-se formular o pedido meramente declaratório, precisando
que o objeto é a simples declaração, já que esta basta para assegurar o bem da vida
pretendido pelo autor. Ex: “A procedência da ação para que se declare a naturalização de
João Martins”.
b) Nas ações condenatórias, deve-se formular o pedido de forma que não haja qualquer
dúvida: deseja-se uma prestação certa por parte do réu, seja de dar, de fazer, de não fazer,
devendo ser sempre certo e determinado o bem da vida. Ex: “A procedência da ação para
que condene o réu ao pagamento de 1 salário mínimo a título de alimentos”.
c) Nas ações constitutivas, deve-se formular o pedido de forma precisa: que visa ou
pretende a modificação, criação ou extinção de uma relação jurídica ou de um estado,
dizendo o bem da vida que se pretende alcançar. Ex: “A procedência da ação para anular o
contrato de compra e venda firmado entre as partes”.
Já o pedido mediato é o bem jurídico de direito material que se pretende que seja tutelado
pela sentença (ex: entrega da coisa, desocupação do imóvel, pagamento etc.).

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Cumulação de pedidos: Há cumulação sempre que, em um mesmo processo, mais de um
pedido for formulado.
Ela poderá ser das seguintes formas:

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Na cumulação própria: formulam-se vários pedidos para que todos sejam acolhidos. Tudo o
que se pede, o autor quer que sejam acolhidos ao mesmo tempo. É regida pela conjunção
“e” (art. 327, CPC).
A) Na cumulação própria simples: Não há entre os pedidos nenhuma dependência lógica,
podendo ser analisados de forma independente. Eles serão analisados de forma
independente. Ex: Requereu o autor danos morais + materiais.
B) Na cumulação própria sucessiva: Os pedidos relacionam-se entre si, mas com uma
relação de prejudicialidade. Uma vez que o acolhimento de um dos pedidos depende do
acolhimento do antecessor. Ex: Na ação de investigação de paternidade e alimentos, o
pedido de condenação aos alimentos depende da procedência do pedido de reconhecimento
da paternidade.
Nesses dos tipos de cumulação, o valor da causa será o da soma dos pedidos (art. 292, VI
do CPC).
Na cumulação imprópria: Vários pedidos são formulados, entretanto, apenas um único será
acolhido (art. 326 do CPC). É regido pela conjunção “ou”.

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A) Cumulação imprópria subsidiária ou eventual: Formulam-se vários pedidos, mas o autor
estabelece uma ordem de preferência entre os pedidos (hierarquia). Ex: Quero que o réu seja
condenado na obrigação de fazer de reconstrução do muro, mas se ele não for, então que me
indenize.
O valor da causa representará o do valor do pedido principal (art. 292, VIII do CPC).
B) Cumulação imprópria alternativa: O autor não estabelece uma hierarquia entre os
pedidos. Assim, tanto faz o que o juiz irá deferir ao autor.
O valor da causa representará o de maior valor do pedido (art. 292, VII, CPC).

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Art. 319. V - o valor da causa;
É requisito imprescindível, pois deve ser fixado em valor certo e em moeda corrente
nacional. Isso porque o art. 291, já indica que é vedado ser estipulado com base em moeda
estrangeira.
Esse valor da causa é de extrema importância para algumas situações, por exemplo:
a) Servirá de base de cálculo dos honorários advocatícios, quando não houver condenação
para ser sobre o valor da condenação, tão pouco sobre o proveito econômico;
b) Servirá de base de cálculo das custas judiciais (Taxas);
c) Servirá para fins de limitação ou não da competência (Ex: 40 salários mínimos para fins
dos Juizados Especiais Cíveis)
O valor da causa poderá ser de dois tipos: LEGAL e ESTIMATIVO. Somente haverá o segundo,
se não houver adequação às hipóteses presentes no art. 292 do CPC.
No inciso I do art. 292 do CPC indica que na ação de cobrança de dívida, o valor da causa
corresponderá ao PRINCIPAL + JUROS vencidos e OUTRAS PENALIDADES até a data de
propositura da ação.

2023 Prática em petições iniciais cíveis 31


No inciso II do art. 292 do CPC indicará que na ação de existência, validade, modificação,
resolução de ato jurídico será o valor do ato ou de sua parte controvertida.
De tal sorte que se discutir a validade de um contrato, será o valor do contrato total ou
restrito a parte controvertida de uma cláusula apenas. No CPC/73, não havia previsão de ser
o valor controvertido apenas, deveria ser o valor total do ato, p. ex um contrato.
ATENÇÃO!! O inciso III do art. 292 do CPC traz uma importante regra que na ação de
alimentos deverá indicar como valor da causa a soma das 12 (doze) prestações mensais
pedidas pelo autor.
ATENÇÃO!!! O inciso IV do art. 292 do CPC índica que nas ações de divisão, demarcação,
reivindicação, possessórias (por analogia), será o valor da causa o da avaliação da área ou
do bem objeto do pedido.
No CPC/73, havia a indicação de que o valor da causa deveria ser o da estimativa oficial
para lançamento do imposto. Entretanto, o CPC/15 modificou o critério, buscando-se
aproximar de um valor mais real.
No inciso V do art. 292 do CPC indica-se que nas ações indenizatórias, inclusive as fundadas
por danos morais, o valor pretendido.

2023 Prática em petições iniciais cíveis 32


Por fim, não se enquadrando em nenhuma das situações do art. 292 do CPC, caberá ao autor
atribuir o valor da causa de modo estimado proporcionalmente e razoavelmente.
Art. 319. VI – As provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados
A praxe forense tem sido ocorrido no sentido de que após a réplica, o magistrado abra vista
às partes para especificarem as provas que pretendem produzir. Uma vez que antes do
ajuizamento da ação, ficará muito difícil para o autor, já precisar todas as provas de que
necessitará na ação vindoura.
Por isso é muito comum a utilização genérica da expressão: “O autor protesta pela produção
de todos os meios de prova em direito admitidos”.
Art. 319. VII – A opção do autor pela realização ou não da audiência de conciliação ou
mediação.
Essa é uma novidade no CPC, já que o réu não é mais citado para contestar, mas sim para
comparecer a uma audiência de conciliação ou mediação com antecedência mínima de 30
dias (art. 334, CPC).
Q – Quais seriam as duas hipóteses em que não haverá a audiência de mediação ou
conciliação?

2023 Prática em petições iniciais cíveis 33


AÇÃO ANULATÓRIA DE NEGÓCIO
JURÍDICO
É importante concluir que o “negócio jurídico” é uma declaração de vontade emitida em
obediência aos seus pressupostos de existência, validade e eficácia, cujo propósito deve
ser o de produzir efeitos lícitos.
Os requisitos do negócio jurídico estão presentes no art. 104 do CC/02: agente capaz,
objeto lícito, possível, determinado ou determinável e forma prescrita ou não defesa em
lei.
Atenção aos chamados defeitos dos negócios jurídicos que se referem a vícios de
consentimento ou vícios sociais, exs: erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude
contra credores, em todos eles é possível a anulação nos termos do art. 171, II do CC/02.
De forma suscinta, pode-se definir que o “erro” ocorre quando a declaração de vontade
não expressa a real vontade do emitente (falsa percepção da realidade). Já o “dolo”,
quando um terceiro age de forma a ludibriar outrem induzindo-o a erro. A “coação”
quando a manifestação de vontade do agente não é livre em decorrência de violência
moral praticada por outrem. O “estado de perigo”, quando alguém sob premente
necessidade de salvar-se ou salvar alguém de sua família de um grave dano, conhecido da
outra parte, assumir uma obrigação que lhe é excessivamente onerosa. Por fim, a
“simulação” é uma declaração falsa, enganosa, da vontade, visando aparentar negócio
diverso do efetivamente desejado.

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Caso concreto:

O sr. Jovino Luiz alega que na constância de seu casamento com Cleusa Maria,
em 18/07/2022, adquiriu dois lotes (nºs 3 e 18 do Registro 8903, Livro 2-B do
Loteamento Serra Negra), sendo ambos os lotes de pertencimento do casal,
porquanto se casaram sob o regime total da comunhão de bens. O sr. Jovino Luiz
é pessoa de pouca instrução, possui apenas o ensino fundamental incompleto,
além disso da relação com Cleusa advieram dois filhos Jamil Kauás e Francisca
Oliveira. O primeiro tem 22 anos de idade e a segunda com apenas 2 anos de
idade. Os pais em virtude de uma predileção especial pelo caçula resolveram
realizar um contrato de compra e venda dos lotes mencionados tendo como
comprador a caçula pagando o preço de R$1.000.000,00 (hum milhão de reais).
Jamil Kauás procura você enquanto advogado para apresentar a peça processual
competente para questionar o referido negócio jurídico, vez que tomou
conhecimento pelo site da OLX, que os lotes já foram colocados à venda.

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AO JUÍZO DA _____ VARA CÍVEL DA COMARCA DE ________ DO ESTADO DE _______

JAMIL KAUÁS, nacionalidade, estado civil, profissão, portador do RG nº, inscrito no CPF/MF
sob nº, residente e domiciliado na rua, Bairro, Cidade, Estado, CEP, endereço eletrônico,
neste ato representado por seu procurador que junta instrumento procuratório em anexo,
vem respeitosamente perante à V. EXA., propor:

AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO JURÍDICO C/C PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA CAUTELAR em


desfavor de

FRANCISCA OLIVEIRA, menor impúbere, representada pelos seus genitores e estes também
demandados individualmente: JOVINO LUIZ, nacionalidade, estado civil, profissão, portador
do RG nº, inscrito no CPF/MF sob nº, residente e domiciliado na rua, Bairro, Cidade, Estado,
CEP, endereço eletrônico, e CLEUSA MARIA, nacionalidade, estado civil, profissão, portador
do RG nº, inscrito no CPF/MF sob nº, residente e domiciliada na rua, Bairro, Cidade, Estado,
CEP, endereço eletrônico, pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos:

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1. Preliminarmente
Inicialmente, a parte autora roga pela concessão da gratuidade da justiça, uma vez que, devido a
sua pouca condição financeira, deve ser considerada pobre na forma da lei e assim o sendo, faz jus,
nos termos do artigo 5º, inciso LXXIV, da Constituição Federal de 1988, bem como com fulcro no art.
98 e seguintes do CPC/15, a gratuidade da justiça, tudo conforme declaração de hipossuficiência
anexa.
2. Dos fatos
Os réus desta ação são genitores do autor, que realizaram um negócio jurídico simulado. Uma vez
que celebraram um contrato de compra e venda com a menor impúbere Francisca Oliveira. Esta
teria pago hum milhão de reais pelos lotes de terreno do Loteamento Serra Negra.
3. Do direito
Para o doutrinador Sílvio de Salvo Venosa, simular é:
"(...) fingir, mascarar, camuflar, esconder a realidade. Juridicamente, é a prática de ato ou negócio
que esconde a real intenção. A intenção dos simuladores é encoberta mediante disfarce, parecendo
externamente negócio que não é espelhado pela vontade dos contraentes. As partes não pretendem
originariamente o negócio que se mostra à vista de todos; objetivam tão só produzir aparência.
Trata-se de declaração enganosa de vontade”.

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Dirá o artigo 167, §1 do CC/02:
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for
na substância e na forma.
§ 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
Analisando o caso em tela, constata-se que o menor sequer poderia ter adquirido um
patrimônio tão vultoso, tendo em vista a sua terna idade e a ausência de patrimônio
suficiente para fazer frente a aquisição. Tratou-se na verdade de uma doação simulada de
compra e venda.
Assim dirá também o art. 1.647 do CC/02:
Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização
do outro, exceto no regime da separação absoluta: IV - fazer doação, não sendo
remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação.
Há a nítida existência de um contrato de doação – haja vista que os pais, ora réus,
transferiram do seu patrimônio bens ou vantagens para o menor (CC, art. 538), sem
qualquer contraprestação – o que necessitaria para a validade da anuência do irmão, ora
peticionário.

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4. Da antecipação dos efeitos da tutela – tutela de urgência
Estão presentes, na hipótese em tela, elementos que evidenciam a probabilidade do direito e o
perigo de dano insculpidos nos arts. 300 do CPC.
O primeiro requisito da probabilidade do direito está demonstrado no contrato de compra e venda
trazido na inicial, que mostra a suposta alienação do patrimônio dos requiridos ao filho menor.
Além disso, é de conhecimento comum, que menores, de 2 anos de idade apenas, não dispõem de
patrimônio suficiente para adquirir lotes de terrenos de grandiosa quantia.
O perigo de dano resta demonstrado, pois o autor colocou na inicial os prints do site de vendas
“OLX” em que o imóvel já está sendo anunciado, logo há nítido interesse dos réus e em conjunto
com o menor realizem a transferência do patrimônio para terceiros.
5. Dos pedidos
Diante de todo o acima exposto e com base nos direitos apresentados, respeitosamente requer-se à
Vossa Excelência:
a) A concessão dos benefícios da Justiça Gratuita ao Requerente;
b) A concessão da TUTELA DE URGÊNCIA, com fulcro nos artigos 497 e 300, ambos do CPC, para o
fim de que seja indisponibilizado os lotes de terreno objetos da lide, com a finalidade de que
não possam ser alienados, cedidos ou dispostos de alguma maneira, até o fim da lide.

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c) A citação dos requisitos para comparecer à audiência de conciliação e/ou mediação obrigatória
do art 334 do CPC. Desde já o autor manifesta interesse pela realização da audiência conciliatória
(CPC, art. 319, VIII).
d) A TOTAL PROCEDÊNCIA da ação, para:
I. Confirmar a tutela cautelar de urgência requerida;
II. Anular a compra e venda simulada do lote de terreno (especificar o lote), e que esse seja
transferido para titularidade dos Requeridos.
e) Protesta provar o alegado através de todos os meios de provas admitidos em direito, em especial
depoimento pessoal do Requerente, fotos, vídeos, documentos e oitiva de testemunhas;
f) A condenação dos Requeridos ao pagamento das despesas, custas processuais e honorários
sucumbenciais na ordem de 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação;
Dá-se a causa o valor de R$ 1.000.000 (hum milhão de reais).
Nestes termos,
pede e espera deferimento.
Cidade, data.
Advogado
OAB/

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AÇÃO REDIBITÓRIA
A ação redibitória é uma ação para defesa dos chamados "vícios redibitórios". Uma vez
que o adquirente de um bem maculado por vício propõe tal ação na intenção de resolver o
contrato, devolver a coisa viciada e reclamar da importância paga. Assim, poderá pleitear
perdas e danos, se provar que o alienante conhecia o vício.
O chamado "vício redibitório" é aquele vício oculto em que a coisa foi recebida por via de
um contrato bilateral comutativo, ou em caso de doações onerosas. Saliente-se que o vício
tem que ser anterior a tradição.
O adquirente poderá neste tipo de ação rejeitar a coisa e requerer o valor pago, assim
como perdas e danos. Entretanto, poderá aceitar o bem e pedir o abatimento do preço
pago.
O prazo para reclamar de um vício redibitório é de 30 dias se a coisa for móvel ou de 1
(um) ano contado da efetiva entrega do bem.

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Caso Concreto:

Em meados do mês de abril de 2021, sra. Eva Wilma adquiriu de Jorge Bem Jo, um
automóvel de Marca WOLKSWAGEM, modelo AMAROK CD 4x4, cor preta, Placa JIO-9300.
Para a surpresa da compradora, alguns dias após a aquisição do referido veículo, este
começou a apresentar uma série de defeitos e problemas mecânicos que persistem até hoje.
O vendedor prometeu realizar o conserto, mas não o procedeu. Ressalte-se que existem
conversas de whatsapp comprovando a entabulação, assim como os valores pagos, que
eram de R$56.000,00 reais. Após diversas idas e tentativas para solucionar o problema, não
viu outra forma senão procurar uma delegacia em que prestou o Boletim de Ocorrência.
O veículo apresenta os seguintes defeitos: baixa de óleo, correias, motor sem ligar,
carburador queimado, ar-condicionado, que procurada a empresa CONSERTA TUDO LTDA
realizou um orçamento no preço de R$9.000,00 reais.
Em razão dos elevados prejuízos anteriores à aquisição do veículo, Eva procura você como
advogado para apresentar a ação competente.

2023 Prática em petições iniciais cíveis 42


EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ... VARA CÍVEL DA COMARCA ... DO ESTADO DE ....

EVA WILMA, nacionalidade, estado civil, profissão, portadora do RG nº, inscrita no CPF/MF
nº, endereço eletrônico, residente e domiciliada à rua/av ..., cidade, bairro, estado, CEP, vem
respeitosamente perante V. EXA., por meio de seu procurador subscritor, com procuração
anexada, apresentar:
AÇÃO REDIBITÓRIA C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS
Em face de JORGE BEM, nacionalidade, estado civil, profissão, portador do RG nº, inscrito no
CPF/MF nº, endereço eletrônico, residente e domiciliado à rua/av..., cidade, bairro, estado,
CEP, pelos motivos de fato e de direito a seguir designados:
I – DOS FATOS
Reprodução daqueles descritos na questão em no máximo 3 ou 4 linhas.

2023 Prática em petições iniciais cíveis 43


II – DO DIREITO
O promovido no caso em epígrafe transacionou uma mercadoria com uma série interminável de
vícios ocultos, consistindo tal comportamento em prática abusiva passível de reparação pelos
danos materiais e morais sofridos.
O art. 159, 186 e 927 do CC/02 estabelece que aquele que por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o
dano. Além disso, na Carta Magna, há um dispositivo que consagrou-se o dever de indenizar os
danos sofridos como a proteção dos direitos individuais (art. 5, V e X).
Esse dever de indenizar surgiu no caso concreto em virtude da má-fé do vendedor de alienar uma
mercadoria com defeitos indetermináveis causando um prejuízo material. Pela narrativa percebe-se
que o alienante tinha conhecimento do aludido vício antes de vender o veículo.
O art. 441 do CC conceitua o vício redibitório como sendo "a coisa recebida em virtude de contrato
comutativo pode ser enjeitada por vícios ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada,
ou lhe diminuam o valor".
Há de se salientar que o dano moral é evidente no caso concreto, pois a autora ficou destituída do
seu veículo causando-lhe prejuízo extrapatrimonail em situações de necessidade de utilização do
aludido veículo.
III. PEDIDOS
Diante do exposto, requer-se:

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A) A procedência do pedido de rescisão contratual com a restituição dos valores pagos pelo autor;
B) Alternativamente, requer o conserto do veículo conforme valor contido no orçamento trazido em anexo.
C) A condenação pelos prejuízos morais ocasionados diante do constrangimento de ficar vários dias sem
poder se utilizar do veículo.
D) A citação do réu para comparecer à audiência de conciliação e mediação na forma do art. 334 do CPC.
Uma vez que a autora anui com a realização da aludida audiência.
E) Seja o requerido condenado a arcar com o pagamento das custas processuais, honorários contratuais e
de sucumbência no importe de 20%.
F) Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos.

Dar-se o valor à causa como sendo XX


Termos em que,
Pede deferimento.

Local, data.
Advogado OAB

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