3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
Simulado ENAMA
DIREITO CONSTITUCIONAL
Professor Danniel Adriano
Questão 1
Maria procurou a creche municipal para matricular seu
filho, Paulo, de 5 (cinco) anos de idade. Ao conversar com
a servidor municipal que realizava as matrículas, foi-lhe
informado que não haveria mais vagas na localidade.
Inconformada, Maria procurou a Defensoria Pública, que
ajuizou uma ação pleiteando a condenação do Município
a matricular o filho de Maria na creche.
O pedido formulado será corretamente julgado:
a) Improcedente, uma vez que somente o acesso ao
ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
b) Procedente, posto que a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação confere concretude ao direito à educação
previsto no art. 205 da CF/88, permitindo que qualquer
do povo possa exigir a matrícula em creche com
fundamento diretamente na lei.
c) Improcedente, uma vez que não esgotadas as buscas
em outras localidades.
d) Procedente, uma vez que o direito à educação básica
– incluída a educação infantil – é direito fundamental
assegurado por normas constitucionais de eficácia plena
e aplicabilidade direta e imediata.
e) Procedente, uma vez que o direito à educação infantil
é norma constitucional de eficácia contida, sendo, assim,
aplicável diretamente ao caso.
Comentários
R: D.
No Tema 548 da RG do STF, fixou-se a seguinte tese: “1.
A educação básica em todas as suas fases - educação
infantil, ensino fundamental e ensino médio - constitui
direito fundamental de todas as crianças e jovens,
assegurado por normas constitucionais de eficácia plena
e aplicabilidade direta e imediata. 2. A educação infantil
compreende creche (de zero a 3 anos) e a pré-escola (de
4 a 5 anos). Sua oferta pelo Poder Público pode ser
exigida individualmente, como no caso examinado neste
processo. 3. O Poder Público tem o dever jurídico de dar
efetividade integral às normas constitucionais sobre
acesso à educação básica.”
Logo, Paulo terá direito subjetivo à matrícula em creche,
uma vez que as normas constitucionais que versem
sobre educação básica, incluída a educação infantil, são
normas de eficácia plena e aplicabilidade imediata.
Questão 2
O Jornal Terra da Manhã noticiou que Juarez, vereador
evangélico, encontrava-se todas as sextas-feiras com sua
amante, Amanda. A notícia teve grande impacto na base
eleitoral de Juarez, que o tinha como grande exemplo de
boa conduta social. Juarez, inconformado com a
veiculação de seu caso extraconjugal, ajuíza uma ação
pleiteando a retirada da reportagem e compensação por
danos morais. O pedido deverá ser julgado:
a) Procedente, uma vez que o direito à privacidade de
Juarez foi violado, sendo certo que deve haver respeito
à vida pessoal, mesmo de pessoas públicas.
b) Improcedente, pois Juarez é pessoa pública, a
informação é verdadeira, e há interesse público,
notadamente considerada a sua base de eleitores.
c) Procedente, pois a liberdade de expressão e
informação não é absoluta, devendo ceder sempre que
for veiculado discurso de ódio, como no caso.
d) Improcedente, pois a liberdade de imprensa é direito
absoluto, não podendo ser objeto de qualquer restrição.
e) Procedente, posto que há evidente discriminação
religiosa, sendo Juarez vítima de perseguição por
motivos religiosos.
Comentários
R: B.
O Superior Tribunal de Justiça em diversas
oportunidades já enfrentou a colisão entre os direitos à
liberdade de expressão e informação e à privacidade.
Nessa ponderação, têm-se adotado alguns critérios,
entre eles: a veracidade de informação; a notoriedade da
pessoa objeto da reportagem; a existência ou não de
interesse público; e o consentimento do noticiado. Nesse
sentido, ver: REsp 595600, REsp 58101, REsp 984803,
REsp 783139, REsp 818764, Apn 388, REsp 141638, REsp
883630, REsp 1025047, Resp 1053534.
No caso em comento, Juarez é pessoa pública
(vereador), a informação é verdadeira e há interesse
público no seu conhecimento, posto que os políticos
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estão sob constante escrutínio do povo, mesmo quanto
a questões pessoais.
Logo, a ação deverá ser julgada improcedente, com base
nesses fundamentos.
Questão 3
A Companhia de Telecomunicações Nacional – CTN foi
autuada por fiscal municipal por ter instalado uma torre
de transmissão de telecomunicações em localidade
proibida por lei municipal. A empresa, por meio de seu
corpo jurídico, ajuíza uma ação para anular o autor de
infração sob o fundamento de que a lei municipal é
inconstitucional. O juiz da causa corretamente decidiu:
a) declarar constitucional a lei municipal, já que meio
ambiente e urbanismo são matérias confiadas ao
Município.
b) extinguir o processo, sem resolução do mérito, em
razão da inadequação da via eleita, já que a lei municipal
deverá ser objeto de ação direta de
inconstitucionalidade perante o Supremo Tribunal
Federal.
c) declarar a lei materialmente inconstitucional por violar
o princípio da proporcionalidade, notadamente em seu
subprincípio proporcionalidade em sentido estrito, já
que haveria enorme prejuízo à população com a
impossibilidade de instalação das torres.
d) extinguir o processo, sem resolução do mérito, em
razão da inadequação da via eleita, já que a lei municipal
deverá ser objeto de arguição de descumprimento de
preceito fundamental perante o Supremo Tribunal
Federal.
e) declarar a lei municipal inconstitucional, na
fundamentação da decisão, por violação à competência
privativa da União Federal e, no mérito, julgar
procedente o pedido.
Comentários
R: E.
Primeiro, é preciso destacar que o juiz do caso poderá
realizar o controle de constitucionalidade pela via difusa,
analisando a questão constitucional como prejudicial.
Logo, a extinção do feito é medida equivocada.
Em relação à lei municipal vergastada, é certo que o
Supremo Tribunal Federal já decidiu ser inconstitucional
lei municipal que estabeleça limitações à instalação de
sistemas de transmissores de telecomunicações por
afronta à competência privativa da União para legislar
sobre telecomunicações, nos termos do art. 22, IV, da CF.
Ver: ADPF 732.
Questão 4
Suzy, nacionalmente famosa por crime ocorrido há mais
de 20 (vinte) anos, teve sua vida retratada em uma
biografia escrita e assinada por Jonas, jornalista e
escritor. Antes do lançamento do livro, Suzy ajuíza uma
ação pleiteando que Jonas e a editora se abstenham de
comercializar o livro e a busca e apreensão de todas as
cópias já produzidas. Suzy fundamenta seu pedido em
dois argumentos:
1) já houve condenação e cumprimento da pena, de
modo que não há mais interesse público em sua vida,
não se devendo eternizar o fato passado, sob pena de
violação aos seus direitos fundamentais; e
2) a publicação de biografias deve ser autorizada pelos
biografados.
O juiz do caso deverá julgar o pedido de Suzy:
a) Procedente, mas somente por causa do argumento 1.
b) Procedente, mas somente por causa do argumento 2.
c) Procedente, com base nos dois argumentos
formulados.
d) Improcedente, afastando ambos os argumentos.
e) Suspender o processo, uma vez que há repercussão
geral afetada sobre o tema no STF.
Comentários
R: D.
Ambos os argumentos de Suzy são contrários à
jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal
Federal.
Em relação ao direito ao esquecimento, evocado no
argumento 1, o STF não o tem reconhecido, conforme se
extrai do Tema 786: “É incompatível com a Constituição
a ideia de um direito ao esquecimento, assim entendido
como o poder de obstar, em razão da passagem do
tempo, a divulgação de fatos ou dados verídicos e
licitamente obtidos e publicados em meios de
comunicação social analógicos ou digitais. Eventuais
excessos ou abusos no exercício da liberdade de
expressão e de informação devem ser analisados caso a
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caso, a partir dos parâmetros constitucionais -
especialmente os relativos à proteção da honra, da
imagem, da privacidade e da personalidade em geral - e
as expressas e específicas previsões legais nos âmbitos
penal e cível.”.
Em relação à necessidade de prévia autorização do
biografado, o STF deu interpretação conforme aos
artigos 20 e 21 do CC para afirmar que a publicação de
biografia não depende de autorização prévia do
indivíduo biografado, as demais pessoas retratadas ou
de seus familiares. Ver: ADI 4815
Questão 5
Josias, desempregado, foi diagnosticado com rara
doença. O médico que lhe assiste receitou medicamento
que, embora já seja registrado nos órgãos de vigilância
sanitária e esteja em comercialização nos Estados Unidos
e em vários países da Europa, não possui ainda registro
no Brasil. No laudo, o médico fundamenta a escolha pelo
tratamento, afirmando não haver outra possibilidade de
cura para Josias. Josias, por não ter condições financeiras
de adquirir o medicamento e não o encontrar para
vender no Brasil, impetra um mandado de segurança
contra o Estado e o Município. O juiz da causa,
corretamente, deverá:
a) Conceder a ordem, em caso de mora irrazoável da
ANVISA em apreciar o pedido (prazo superior ao previsto
na Lei nº 13.411/2016), de registro do medicamento.
b) Denegar a ordem, posto que o Estado não pode ser
obrigado a fornecer medicamentos experimentais.
c) Conceder a ordem, posto que o direito à saúde é
fundamental, sendo dever do Estado fornecer qualquer
medicamento, ainda que experimental e sem registro na
Anvisa, caso solicitado pelo médico que acompanha o
paciente.
d) Extinguir o mandado de segurança, posto que ele
deveria ter sido ajuizado contra a União Federal e a
competência para processar e julgar a ação é da Justiça
Federal.
e) Denegar a ordem, com base na teoria da reserva do
possível.
Comentários
R: D.
No Tema 500 da RG, o STF decidiu que: “1. O Estado não
pode ser obrigado a fornecer medicamentos
experimentais. 2. A ausência de registro na ANVISA
impede, como regra geral, o fornecimento de
medicamento por decisão judicial. 3. É possível,
excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento
sem registro sanitário, em caso de mora irrazoável da
ANVISA em apreciar o pedido (prazo superior ao previsto
na Lei nº 13.411/2016), quando preenchidos três
requisitos: (i) a existência de pedido de registro do
medicamento no Brasil (salvo no caso de medicamentos
órfãos para doenças raras e ultrarraras);(ii) a existência
de registro do medicamento em renomadas agências de
regulação no exterior; e (iii) a inexistência de substituto
terapêutico com registro no Brasil. 4. As ações que
demandem fornecimento de medicamentos sem
registro na ANVISA deverão necessariamente ser
propostas em face da União.”
Como se vê, embora Josias tenha direito ao
medicamento, a ação deve ser ajuizada contra a União
Federal e será processada e julgada na Justiça Federal.
Ainda, a errônea indicação da autoridade coatora, no
MS, acarreta na sua extinção, nos termos do art. 6º, §3º,
da Lei n. 12.016/09.
Questão 6
Na cidade de Teodoro Sampaio/SP, foi editada uma lei
obrigando à biblioteca pública a manter um exemplar de
Bíblia em seu acervo. Tadeu, prefeito da cidade,
inconformado com a lei, deixa de adquirir um exemplar.
O Promotor de Justiça oficiante na cidade decide, então,
ajuizar uma ação civil pública, na qual pretende a
destituição de Tadeu do cargo e a sua condenação a
pagar danos morais coletivos.
O Juiz da causa acertadamente decidirá que:
a) São procedentes os dois pedidos, uma vez que Tadeu,
na qualidade de prefeito, está adstrito ao princípio da
legalidade.
b) É procedente somente o pedido de danos morais
coletivos, posto que há evidente ofensa à liberdade
religiosa na atuação do prefeito, o que atinge à
coletividade.
c) É procedente somente o pedido de destituição do
cargo, por violação ao princípio da legalidade.
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d) São improcedentes os pedidos, posto que a lei
municipal é inconstitucional.
e) A ação deverá ser deslocada para outra comarca,
devida a comoção causada pela controvérsia instalada
entre Câmara Municipal, Prefeitura e Ministério Público
da cidade.
Comentários
R: D.
Na ADI 5256, o Supremo Tribunal Federal decidiu que é
inconstitucional lei que imponha a obrigação de
bibliotecas públicas manterem um exemplar de Bíblia
em seus acervos, por violação à laicidade estatal (art. 19,
I, da CF).
Veja:
“Ementa Ação direta de inconstitucionalidade. Lei
2.902/2004 do Estado do Mato Grosso do Sul.
Manutenção obrigatória de exemplares da Bíblia
Sagrada nas unidades escolares da rede estadual de
ensino e nos acervos das bibliotecas públicas daquela
unidade da federação. Violação dos princípios da
isonomia, da liberdade religiosa e da laicidade estatal.
Configuração. Precedentes. Procedência do pedido. 1.
Nos termos da jurisprudência consolidada desta
Suprema Corte, existindo correlação lógico-jurídica entre
o fator de discrímen e os interesses constitucionais
perseguidos, não há falar em violação do princípio da
isonomia. Precedentes. 2. A laicidade estatal, longe de
impedir a relação do Estado com as religiões, impõe a
observância, pelo Estado, do postulado da
imparcialidade (ou neutralidade) frente à pluralidade de
crenças e orientações religiosas e não religiosas da
população brasileira. 3. Viola os princípios da isonomia,
da liberdade religiosa e da laicidade estatal dispositivos
legais que tornam obrigatória a manutenção de
exemplares da Bíblia Sagrada nas unidades escolares da
rede estadual de ensino e nos acervos das bibliotecas
públicas, às custas dos cofres públicos. Precedente: ADI
5.258/AM, Rel. Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno,
Sessão Virtual de 02.4.2021 a 12.4.2021, DJe 27.4.2021,
por unanimidade. 4. Ação direta de
inconstitucionalidade conhecida. Pedido julgado
procedente.”
Questão 7
Jocimar inscreveu-se em concurso público para o cargo
de policial militar. Após ter passado pelas primeiras fases
do certame, foi eliminado por conta de uma tatuagem
em seu antebraço esquerdo com os dizeres: “Bandido
bom é bandido morto!”. Jocimar impetrou mandado de
segurança, em que deverá:
a) Ser denegada a ordem, se houver previsão no edital,
posto que é possível limitar candidatos com tatuagens
cujo conteúdo viole valores constitucionais.
b) Ser concedida a ordem, ainda que haja previsão no
edital, uma vez que editais de concurso público não
podem estabelecer restrição a pessoas com tatuagem.
c) Ser denegada a ordem, ainda que não haja previsão no
edital, posto que é lícito à comissão com concurso excluir
candidatos com tatuagens cujo conteúdo viole valores
constitucionais.
d) Ser concedida a ordem, ainda que haja previsão no
edital, posto que a tatuagem de Jocimar é mera
manifestação de sua liberdade de expressão.
e) Ser denegada a ordem, se houver previsão no edital,
posto que o edital é a lei do concurso, podendo ali serem
estabelecidos restrições ao acesso à carreira que a
autoridade discricionariamente entender cabíveis.
Comentários
R: A.
No Tema 838, o STF analisou a constitucionalidade da
proibição, contida em edital de concurso público, de
ingresso em cargo, emprego ou função pública para
candidatos que tenham certos tipos de tatuagem em seu
corpo. Na oportunidade, foi fixado o seguinte
entendimento: “Editais de concurso público não podem
estabelecer restrição a pessoas com tatuagem, salvo
situações excepcionais em razão de conteúdo que viole
valores constitucionais.”
Logo, havendo previsão no edital, é válida a limitação
imposta, já que a tatuagem de Josias viola
manifestamente valores constitucionais.
Questão 8
Carlos, escritor, publicou o livro “O Povo Inferior”, no
qual argumenta que o povo judeu é inferior e causa de
todos os males sociais e econômicos na sociedade
contemporânea. O Ministério Público ajuíza uma ação
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penal, pleiteando a condenação de Carlos pelo crime de
racismo. Demonstrada a materialidade e a autoria, a
ação penal deverá:
a) Ser julgada improcedente, posto que Carlos estava
amparado pela liberdade de expressão.
b) Ser julgada procedente, já que a liberdade de
expressão deve ceder frente ao discurso de ódio.
c) Ser julgado improcedente se Carlos demonstrar que
sua tese é verdadeira e possui embasamento científico.
d) Ser julgada procedente, já que a livre circulação de
ideias não abriga a publicação de livros, mas somente os
discursos falados.
e) Ser julgada improcedente, já que o crime de racismo
não abarca a situação de discriminação religiosa.
Comentários
R: B.
O Supremo Tribunal Federal, no famoso Caso Ellwanger,
decidiu que o discurso de ódio não está protegido pela
liberdade de expressão (HC 82.424).
HABEAS-CORPUS. PUBLICAÇÃO DE LIVROS: ANTI-
SEMITISMO. RACISMO. CRIME IMPRESCRITÍVEL.
CONCEITUAÇÃO. ABRANGÊNCIA CONSTITUCIONAL.
LIBERDADE DE EXPRESSÃO. LIMITES. ORDEM
DENEGADA. 1. Escrever, editar, divulgar e comerciar
livros "fazendo apologia de idéias preconceituosas e
discriminatórias" contra a comunidade judaica (Lei
7716/89, artigo 20, na redação dada pela Lei 8081/90)
constitui crime de racismo sujeito às cláusulas de
inafiançabilidade e imprescritibilidade (CF, artigo 5º,
XLII). 2. Aplicação do princípio da prescritibilidade geral
dos crimes: se os judeus não são uma raça, segue-se que
contra eles não pode haver discriminação capaz de
ensejar a exceção constitucional de imprescritibilidade.
Inconsistência da premissa. 3. Raça humana. Subdivisão.
Inexistência. Com a definição e o mapeamento do
genoma humano, cientificamente não existem
distinções entre os homens, seja pela segmentação da
pele, formato dos olhos, altura, pêlos ou por quaisquer
outras características físicas, visto que todos se
qualificam como espécie humana. Não há diferenças
biológicas entre os seres humanos. Na essência são
todos iguais. 4. Raça e racismo. A divisão dos seres
humanos em raças resulta de um processo de conteúdo
meramente político-social. Desse pressuposto origina-se
o racismo que, por sua vez, gera a discriminação e o
preconceito segregacionista. 5. Fundamento do núcleo
do pensamento do nacional-socialismo de que os judeus
e os arianos formam raças distintas. Os primeiros seriam
raça inferior, nefasta e infecta, características suficientes
para justificar a segregação e o extermínio:
inconciabilidade com os padrões éticos e morais
definidos na Carta Política do Brasil e do mundo
contemporâneo, sob os quais se ergue e se harmoniza o
estado democrático. Estigmas que por si só evidenciam
crime de racismo. Concepção atentatória dos princípios
nos quais se erige e se organiza a sociedade humana,
baseada na respeitabilidade e dignidade do ser humano
e de sua pacífica convivência no meio social. Condutas e
evocações aéticas e imorais que implicam repulsiva ação
estatal por se revestirem de densa intolerabilidade, de
sorte a afrontar o ordenamento infraconstitucional e
constitucional do País. 6. Adesão do Brasil a tratados e
acordos multilaterais, que energicamente repudiam
quaisquer discriminações raciais, aí compreendidas as
distinções entre os homens por restrições ou
preferências oriundas de raça, cor, credo, descendência
ou origem nacional ou étnica, inspiradas na pretensa
superioridade de um povo sobre outro, de que são
exemplos a xenofobia, "negrofobia", "islamafobia" e o
anti-semitismo. 7. A Constituição Federal de 1988 impôs
aos agentes de delitos dessa natureza, pela gravidade e
repulsividade da ofensa, a cláusula de
imprescritibilidade, para que fique, ad perpetuam rei
memoriam, verberado o repúdio e a abjeção da
sociedade nacional à sua prática. 8. Racismo.
Abrangência. Compatibilização dos conceitos
etimológicos, etnológicos, sociológicos, antropológicos
ou biológicos, de modo a construir a definição jurídico-
constitucional do termo. Interpretação teleológica e
sistêmica da Constituição Federal, conjugando fatores e
circunstâncias históricas, políticas e sociais que regeram
sua formação e aplicação, a fim de obter-se o real
sentido e alcance da norma. 9. Direito comparado. A
exemplo do Brasil as legislações de países organizados
sob a égide do estado moderno de direito democrático
igualmente adotam em seu ordenamento legal punições
para delitos que estimulem e propaguem segregação
racial. Manifestações da Suprema Corte Norte-
Americana, da Câmara dos Lordes da Inglaterra e da
Corte de Apelação da Califórnia nos Estados Unidos que
consagraram entendimento que aplicam sanções
àqueles que transgridem as regras de boa convivência
social com grupos humanos que simbolizem a prática de
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racismo. 10. A edição e publicação de obras escritas
veiculando idéias anti-semitas, que buscam resgatar e
dar credibilidade à concepção racial definida pelo regime
nazista, negadoras e subversoras de fatos históricos
incontroversos como o holocausto, consubstanciadas na
pretensa inferioridade e desqualificação do povo judeu,
equivalem à incitação ao discrímen com acentuado
conteúdo racista, reforçadas pelas conseqüências
históricas dos atos em que se baseiam. 11. Explícita
conduta do agente responsável pelo agravo revelador de
manifesto dolo, baseada na equivocada premissa de que
os judeus não só são uma raça, mas, mais do que isso,
um segmento racial atávica e geneticamente menor e
pernicioso. 12. Discriminação que, no caso, se evidencia
como deliberada e dirigida especificamente aos judeus,
que configura ato ilícito de prática de racismo, com as
conseqüências gravosas que o acompanham. 13.
Liberdade de expressão. Garantia constitucional que não
se tem como absoluta. Limites morais e jurídicos. O
direito à livre expressão não pode abrigar, em sua
abrangência, manifestações de conteúdo imoral que
implicam ilicitude penal. 14. As liberdades públicas não
são incondicionais, por isso devem ser exercidas de
maneira harmônica, observados os limites definidos na
própria Constituição Federal (CF, artigo 5º, § 2º, primeira
parte). O preceito fundamental de liberdade de
expressão não consagra o "direito à incitação ao
racismo", dado que um direito individual não pode
constituir-se em salvaguarda de condutas ilícitas, como
sucede com os delitos contra a honra. Prevalência dos
princípios da dignidade da pessoa humana e da
igualdade jurídica. 15. "Existe um nexo estreito entre a
imprescritibilidade, este tempo jurídico que se escoa
sem encontrar termo, e a memória, apelo do passado à
disposição dos vivos, triunfo da lembrança sobre o
esquecimento". No estado de direito democrático
devem ser intransigentemente respeitados os princípios
que garantem a prevalência dos direitos humanos.
Jamais podem se apagar da memória dos povos que se
pretendam justos os atos repulsivos do passado que
permitiram e incentivaram o ódio entre iguais por
motivos raciais de torpeza inominável. 16. A ausência de
prescrição nos crimes de racismo justifica-se como alerta
grave para as gerações de hoje e de amanhã, para que se
impeça a reinstauração de velhos e ultrapassados
conceitos que a consciência jurídica e histórica não mais
admitem. Ordem denegada.
Questão 9
Lício e Jonatas, estudantes de Direito, estão debatendo
a eficácia da norma contida no art. 5º, XIII, da CF/88. Eles
chegarão corretamente a uma resposta se afirmarem
que a norma ali veiculada é:
a) uma norma não autoexecutável.
b) uma norma de eficácia contida.
c) uma norma de eficácia plena.
d) uma norma de eficácia limitada.
e) uma norma programática.
Comentários
Gabarito: B.
O art. 5º, XIII, da CF/88 veicula a liberdade profissional,
expressamente admitindo a lei imponha algumas
condições. Logo, se trata de norma de eficácia contida,
ou seja, aquela que possui eficácia direta e imediata,
independentemente de intermediação legislativa, mas
que poderá ser restringida por lei.
Questão 10
João, jovem trabalhador, foi confundido com perigoso
traficante e preso pela Polícia Militar. A mãe de João
procura a Defensoria, buscando garantir a liberdade de
seu filho. O juiz, analisando a petição inicial do remédio
constitucional impetrado, corretamente deu
prosseguimento ao feito.
O remédio constitucional ajuizado no caso acima foi:
a) Mandado de segurança individual.
b) Habeas data.
c) Habeas corpus.
d) Ação popular.
e) Mandado de injunção.
Comentários
R: C.
João teve a sua liberdade ambulatorial violada. Logo, o
remédio constitucional cabível é o habeas corpus, nos
termos do art. 5º LXVIII , da CF (conceder-se-á "habeas-
corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua
liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de
poder).
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DIREITO CONSTITUCIONAL DO TRABALHO
Professora Juliana Morais
Questão 11
João é um motorista profissional que trabalha para a
Empresa de Transporte Y há cinco anos. Por considerar
que a empregadora vem descumprindo preceitos legais
de proteção ao trabalho, João decidiu procurar um
advogado especializado, tendo narrado as seguintes
situações:
I – adoção da escala 12x36, o que, no entender de João,
não pode se aplicar aos motoristas profissionais, em
razão dos riscos inerentes à atividade exercida;
II – pagamento de remuneração variável pela distância
percorrida, o que, para João, enseja danos morais, por
estimular a sobrecarga de trabalho;
III – exclusão da jornada do tempo de espera, em caso de
carregamento/descarregamento de mercadorias, ou
ainda durante fiscalização em barreiras fiscais ou
alfandegárias;
IV – fracionamento do intervalo interjornadas, ocasiões
em que a reclamada assegura o mínimo de 8 horas
ininterruptas no primeiro período e o gozo do
remanescente dentro das 16 horas seguintes ao fim do
primeiro período.
Diante das situações narradas, e considerando o que foi
decidido pelo STF na ADI 5322, configuram
irregularidades as situações narradas em:
A – Todas as assertivas.
B –I, III e IV, apenas.
C –III e IV, apenas.
D –I, II e III.
E – II e IV.
Comentários
O STF, na ADI 5322, analisou a constitucionalidade de
diversos dispositivos aplicáveis aos motoristas
profissionais, à luz das alterações promovidas no
Ordenamento Jurídico pela Lei nº 13.103/2015.
Dentre outros aspectos tratados na referida ADI, o STF
entendeu ser constitucional a fixação do regime de
compensação 12x36, bem como o pagamento por meio
de remuneração variável para os motoristas
profissionais.
Por outro lado, concluiu pela inconstitucionalidade do
dispositivo legal que permite a redução e/ou o
fracionamento dos intervalos interjornadas e do
descanso semanal remunerado, por ofender normas
constitucionais de proteção da saúde do trabalhador
(art. 7º, XXII, da CF).
Quanto ao tempo de espera, o STF reputou
inconstitucional a exclusão do tempo de trabalho efetivo
do motorista profissional dos períodos em que está à
disposição do empregador durante o
carregamento/descarregamento de mercadorias, ou
ainda durante fiscalização em barreiras fiscais ou
alfandegárias.
Cabe transcrever a ementa:
Ementa: CONSTITUCIONAL E TRABALHISTA. CLT – LEI
13.103/2015. POSSIBILIDADE DE REGULAMENTAÇÃO DO
EXERCÍCIO DA PROFISSÃO DE MOTORISTA.
NECESSIDADE DE ABSOLUTO RESPEITO AOS DIREITOS
SOCIAIS E ÀS NORMAS DE PROTEÇÃO AO TRABALHADOR
PREVISTAS NO ARTIGO 7º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
RAZOABILIDADE NA PREVISÃO DE NORMAS DE
SEGURANÇA VIÁRIA. PARCIAL PROCEDÊNCIA DA AÇÃO.
1. Compete ao Congresso Nacional regulamentar,
especificamente, a profissão de motorista profissional de
cargas e de passageiros, respeitando os direitos sociais e
as normas de proteção ao trabalhador previstos na
Constituição Federal. 2. São legítimas e razoáveis as
restrições ao exercício da profissão de motorista em
previsões de normas visando à segurança viária em
defesa da vida e da sociedade, não violando o texto
constitucional a previsão em lei da exigência de exame
toxicológico. 3. Reconhecimento da autonomia das
negociações coletivas (art. 7º, XXVI, da CF).
Constitucionalidade da redução e/ou fracionamento do
intervalo intrajornada dos motoristas profissionais,
desde que ajustado em acordo ou convenção coletiva de
trabalho. 4. A Constituição Federal não determinou um
limite máximo de prestação em serviço extraordinário,
de modo que compete à negociação coletiva de trabalho
examinar a possibilidade de prorrogação da jornada da
categoria por até quatro horas, em sintonia com a
previsão constitucional disciplinada no art. 7º, XXVI, da
CF. 5. Constitucionalidade da norma que prevê a
possibilidade, excepcional e justificada, de o motorista
profissional prorrogar a jornada de trabalho pelo tempo
necessário até o veículo chegar a um local seguro ou ao
destino. 6. O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL fixou
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orientação no sentido da constitucionalidade da adoção
da jornada especial de 12 x 36, em regime de
compensação de horários (art. 7º, XIII, da CF). 7. Não há
inconstitucionalidade da norma que prevê o pagamento
do motorista profissional por meio de remuneração
variável, que, inclusive, possui assento constitucional,
conforme disposto no inciso VII do art. 7º da Constituição
Federal. 8. Compete ao Ministério do Trabalho e
Emprego a regulamentação das condições de segurança,
sanitárias e de conforto nos locais de espera, repouso e
descanso dos motoristas profissionais de cargas e
passageiros. 9. É inconstitucional o dispositivo legal que
permite a redução e/ou o fracionamento dos intervalos
interjornadas e do descanso semanal remunerado.
Normas constitucionais de proteção da saúde do
trabalhador (art. 7º, XXII, da CF). 10.
Inconstitucionalidade na exclusão do tempo de trabalho
efetivo do motorista profissional, quando está à
disposição do empregador durante
carregamento/descarregamento de mercadorias, ou
ainda durante fiscalização em barreiras fiscais ou
alfandegárias, conhecido como “tempo de espera”.
Impossibilidade de decote da jornada normal de
trabalho e nem da jornada extraordinária, sob pena de
desvirtuar a própria relação jurídica trabalhista
reconhecida. 11. Inconstitucionalidade de normas da Lei
13.103/2015 ao prever hipótese de descanso de
motorista com o veículo em movimento. Prejuízo ao
efetivo descanso do trabalhador. 12. PARCIAL
CONHECIMENTO DA AÇÃO DIRETA COM PARCIAL
PROCEDÊNCIA, DECLARANDO INCONSTITUCIONAIS: (a) a
expressão “sendo facultados o seu fracionamento e a
coincidência com os períodos de parada obrigatória na
condução do veículo estabelecida pela Lei nº 9.503, de
23 de setembro de 1997 - Código de Trânsito Brasileiro,
garantidos o mínimo de 8 (oito) horas ininterruptas no
primeiro período e o gozo do remanescente dentro das
16 (dezesseis) horas seguintes ao fim do primeiro
período”, prevista na parte final do § 3º do art. 235-C; (b)
a expressão “não sendo computadas como jornada de
trabalho e nem como horas extraordinárias”, prevista na
parte final do § 8º do art. 235-C; (c) a expressão “e o
tempo de espera”, disposta na parte final do § 1º do art.
235-C, por arrastamento; (d) o § 9º do art. 235-C da CLT,
sem efeito repristinatório; (e) a expressão “as quais não
serão consideradas como parte da jornada de trabalho,
ficando garantido, porém, o gozo do descanso de 8 (oito)
horas ininterruptas aludido no § 3º do § 12 do art. 235-
C”; (f) a expressão “usufruído no retorno do motorista à
base (matriz ou filial) ou ao seu domicílio, salvo se a
empresa oferecer condições adequadas para o efetivo
gozo do referido repouso”, constante do caput do art.
235-D; (g) o § 1º do art. 235-D; (h) o § 2º do art. 235-D;
(i) o § 5º do art. 235-D; (j) o inciso III do art. 235-E, todos
da CLT, com a redação dada pelo art. 6º da Lei
13.103/2015; e (k) a expressão “que podem ser
fracionadas, usufruídas no veículo e coincidir com os
intervalos mencionados no § 1º, observadas no primeiro
período 8 (oito) horas ininterruptas de descanso”, na
forma como prevista no § 3º do art. 67-C do CTB, com
redação dada pelo art. 7º da Lei 13.103/2015. (ADI 5322,
Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno,
julgado em 03-07-2023, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-s/n
DIVULG 29-08-2023 PUBLIC 30-08-2023)
Diante disso, tendo o STF concluído pela
constitucionalidade do regime de compensação 12x36,
o bem como do estabelecimento de remuneração variável
aos motoristas profissionais, as condutas descritas nos
itens I e II não configuram irregularidades.
Por outro lado, conforme ementa supratranscrita, o STF
considerou inconstitucional a “exclusão do tempo de
trabalho efetivo do motorista profissional, quando está
à disposição do empregador durante o
carregamento/descarregamento de mercadorias, ou
ainda durante fiscalização em barreiras fiscais ou
alfandegárias, conhecido como “tempo de espera”, bem
como o dispositivo legal que permite a redução e/ou o
fracionamento dos intervalos interjornadas.
Assim, configuram irregularidades apenas as condutas
descritas nos itens III e IV (exclusão da jornada do tempo
de espera e fracionamento do intervalo interjornadas),
conforme descrito na alternativa “C”, que corresponde
ao gabarito do enunciado.
Questão 12
O Sindicato dos Servidores Públicos Celetistas do Estado
de Minas Gerais representa os funcionários celetistas
que atuam na Administração Pública Direta do Estado.
Após uma série de negociações frustradas com o Estado
de Minas Gerais em relação a condições de trabalho, os
servidores decidiram deflagrar uma greve por tempo
indeterminado.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
Diante dessa situação, aponte a alternativa CORRETA,
considerando o Ordenamento Jurídico e a Jurisprudência
dos Tribunais Superiores:
A – A competência material para julgar a abusividade de
greve dos servidores públicos celetistas do Estado de
Minas Gerais é da Justiça do Trabalho, por força do
disposto no artigo 114, II, da Constituição Federal.
B - Em face de pessoa jurídica de direito público que
mantenha empregados, cabe dissídio coletivo tanto para
apreciação de cláusulas de natureza social como
econômicas.
C – A administração pública deve proceder ao desconto
dos dias de paralisação decorrentes do exercício do
direito de greve pelos servidores públicos, em virtude da
suspensão do vínculo funcional que dela decorre, vedada
a compensação.
D – O desconto dos dias de paralisação decorrentes do
exercício do direito de greve pelos servidores públicos
será incabível se ficar demonstrado que a greve foi
provocada por conduta ilícita do Poder Público.
E – Segundo o STF, o exercício do direito de greve, sob
qualquer forma ou modalidade, é vedado aos policiais
civis e a todos os servidores públicos que atuem
diretamente na área de segurança pública, sendo
facultativa a participação do Poder Público em mediação
instaurada pelos órgãos classistas das carreiras de
segurança pública, nos termos do art. 165 do CPC, para
vocalização dos interesses da categoria.
Comentários
A alternativa “A” está INCORRETA.
O STF, ao apreciar o RE 846854, fixou a tese de
repercussão geral constante do tema 544 da tabela de
teses de repercussão geral:
Tema 544 de RG: A justiça comum, federal ou estadual,
é competente para julgar a abusividade de greve de
servidores públicos celetistas da Administração pública
direta, autarquias e fundações públicas.
Dessa forma, a competência material para julgar a
abusividade de greve de servidores públicos celetistas da
Administração pública direta, autarquias e fundações
públicas, é da justiça comum, federal ou estadual – e não
da Justiça do Trabalho.
A alternativa “B” está INCORRETA.
O TST, por meio da OJ 5 da SDC, entendeu caber dissídio
coletivo exclusivamente para apreciação de cláusulas de
natureza social em face de pessoa jurídica de direito
público que mantenha empregados.
OJ-SDC-5 DISSÍDIO COLETIVO. PESSOA JURÍDICA
DE DIREITO PÚBLICO. POSSIBILIDADE JURÍDICA.
CLÁUSULA DE NATUREZA SOCIAL (redação alterada na
sessão do Tribunal Pleno realizada em 14.09.2012) – Res.
186/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012
Em face de pessoa jurídica de direito público que
mantenha empregados, cabe dissídio coletivo
exclusivamente para apreciação de cláusulas de
natureza social. Inteligência da Convenção n.º 151 da
Organização Internacional do Trabalho, ratificada pelo
Decreto Legislativo n.º 206/2010.
A alternativa “C” está INCORRETA.
Tratando-se de hipótese de suspensão contratual, a
administração pública deve proceder ao desconto dos
dias de paralisação decorrentes do exercício do direito
de greve.
Todavia, diversamente do consignado, é permitida a
compensação de jornada em caso de acordo.
Vejamos o entendimento firmado pelo STF no tema de
repercussão geral 531:
Tema 531: A administração pública deve proceder ao
desconto dos dias de paralisação decorrentes do
exercício do direito de greve pelos servidores públicos,
em virtude da suspensão do vínculo funcional que dela
decorre, permitida a compensação em caso de acordo. O
desconto será, contudo, incabível se ficar demonstrado
que a greve foi provocada por conduta ilícita do Poder
Público.
A alternativa “D” está CORRETA.
Como visto, a administração pública deve proceder ao
desconto dos dias de paralisação decorrentes do
exercício do direito de greve pelos servidores públicos,
por se tratar de hipótese de suspensão contratual.
Todavia, tal desconto será incabível se ficar
demonstrado que a greve foi provocada por conduta
ilícita do Poder Público, conforme entendimento firmado
pelo STF no tema de repercussão geral 531:
Tema 531: A administração pública deve proceder ao
desconto dos dias de paralisação decorrentes do
exercício do direito de greve pelos servidores públicos,
em virtude da suspensão do vínculo funcional que dela
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
decorre, permitida a compensação em caso de acordo. O
desconto será, contudo, incabível se ficar demonstrado
que a greve foi provocada por conduta ilícita do Poder
Público.
A alternativa “E” está INCORRETA.
O STF, ao analisar o ARE 654432, em que se discutia o
exercício do direito de greve por policiais civis, fixou a
tese 541 da tabela de teses de repercussão geral do STF,
vejamos:
Tema 541 de RG: 1 - O exercício do direito de greve, sob
qualquer forma ou modalidade, é vedado aos policiais
civis e a todos os servidores públicos que atuem
diretamente na área de segurança pública. 2 - É
obrigatória a participação do Poder Público em
mediação instaurada pelos órgãos classistas das
carreiras de segurança pública, nos termos do art. 165 do
CPC, para vocalização dos interesses da categoria
A resposta do enunciado, portanto, é a alternativa “D”.
DIREITO CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL
Professor Leonardo Tavares
Questão 13
Suponha que um determinado sujeito tenha sido preso
em flagrante ‘esperado’. Levado à presença do juiz, sem
demora, como estabelece a Convenção Americana de
Direitos Humanos, realiza-se audiência de custódia. Em
relação a essa situação é correto afirmar:
a) Em se tratando de uma pronta apresentação, ‘sem
demora’, como estabelece a referida convenção, em fase
pré-processual, não há necessidade da presença de
advogado ou defensor, sujeitos cuja atuação é
indeclinável somente em fase de processo, que exige
capacidade postulatória.
b) A prisão, em se tratando de flagrante ‘esperado’, é
ilegal e deverá ser imediatamente relaxada pela
autoridade judiciária, nos termos do art. 5º, LXV da
Constituição Federal.
c) Considerando que se trata de flagrante delito,
representando a ‘certeza visual do crime’ e diante do
interesse público indisponível, o juiz não poderia
conceder liberdade provisória incondicionada. A
aplicação de alguma medida cautelar seria, de lei,
obrigatória.
d) O juiz poderia decretar a prisão preventiva de ofício,
na tutela dos direitos da vítima, tendo em conta a
inafastabilidade da prestação jurisdicional (art. 5º, inc.
XXXV da CF), ainda mais em situações de vulnerabilidade,
considerando a presença de muitas evidências de
materialidade e autoria do crime, inclusive com a
finalidade de antecipar o cumprimento da pena, com o
imediato início da investigação criminal.
e) A prisão preventiva é uma das possíveis alternativas a
serem adotadas na audiência de custódia; caracteriza-se
como uma medida cautelar, a mais residual de todas
(última ratio), que só tem espaço no caso de insuficiência
ou inadequação de medidas cautelares diversas,
exigindo empírica e individualizada fundamentação
judicial.
Comentários
Gabarito: E.
a) Errada. Há necessidade de defensor.
CPP. Art. 310. Após receber o auto de prisão em
flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro)
horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover
audiência de custódia com a presença do acusado, seu
advogado constituído ou membro da Defensoria Pública
e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o
juiz deverá, fundamentadamente:
Res. 213/15 – CNJ. Art. 4º A audiência de custódia será
realizada na presença do Ministério Público e da
Defensoria Pública, caso a pessoa detida não possua
defensor constituído no momento da lavratura do
flagrante.
b) Errada. O flagrante ‘esperado’ é legal, diferente do
‘preparado’, considerando que não há qualquer
intervenção de agente provocador. Portanto, não seria
caso de relaxamento por esse motivo. Jurisprudência em
teses, STJ, ed. 120: “3) No flagrante esperado, a polícia
tem notícias de que uma infração penal será cometida e
passa a monitorar a atividade do agente de forma a
aguardar o melhor momento para executar a prisão, não
havendo que se falar em ilegalidade do flagrante”.
c) Errada. A liberdade provisória pode ser
incondicionada. Medidas cautelares só devem ser
aplicadas se forem necessárias (art. 282, I do CPP) ou,
como diz o art. 321 do CPP, “se for o caso”. Não são
automáticas nem impostas de lei; ao contrário, são
exceção.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
CF. Art. 5º LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela
mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória,
com ou sem fiança;
CPP. Art. 282. As medidas cautelares previstas neste
Título deverão ser aplicadas observando-se a: I -
necessidade para aplicação da lei penal, para a
investigação ou a instrução criminal e, nos casos
expressamente previstos, para evitar a prática de
infrações penais;
Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a
decretação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder
liberdade provisória, impondo, se for o caso, as medidas
cautelares previstas no art. 319 deste Código e
observados os critérios constantes do art. 282 deste
Código.
d) Errada. Não cabe, na compreensão majoritária dos
tribunais superiores, prisão preventiva de ofício. Por
outro lado, não é automática e não pode decorrer
somente do ‘fumus comissi delicti’ ou mesmo com a
finalidade de penalizar antecipadamente.
CPP. Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial
ou do processo penal, caberá a prisão preventiva
decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério
Público, do querelante ou do assistente, ou por
representação da autoridade policial.
Art. 313. § 2º Não será admitida a decretação da prisão
preventiva com a finalidade de antecipação de
cumprimento de pena ou como decorrência imediata de
investigação criminal ou da apresentação ou
recebimento de denúncia.
e) Certa. Na interpretação conjunta, dentre outras, das
seguintes disposições:
CPP. Art. 310. Após receber o auto de prisão em
flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro)
horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover
audiência de custódia com a presença do acusado, seu
advogado constituído ou membro da Defensoria Pública
e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o
juiz deverá, fundamentadamente:
I - relaxar a prisão ilegal; ou
II - converter a prisão em flagrante em preventiva,
quando presentes os requisitos constantes do art. 312
deste Código, e se revelarem inadequadas ou
insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão;
ou [...]
Art. 282. § 6º A prisão preventiva somente será
determinada quando não for cabível a sua substituição
por outra medida cautelar, observado o art. 319 deste
Código, e o não cabimento da substituição por outra
medida cautelar deverá ser justificado de forma
fundamentada nos elementos presentes do caso
concreto, de forma individualizada.
Questão 14
No que diz respeito à ação penal, sua titularidade e
arquivamento do inquérito policial, assinale a alternativa
correta.
a) A maioria dos crimes, no Brasil, são processados
mediante ação penal privada; significa compreender,
nesses casos, que a vontade da vítima é determinante
para a existência do processo e que a denúncia só é
possível em caso de representação da vítima ou de seu
representante – condição de procedibilidade.
b) O procedimento judicialiforme, previsto no art. 26 do
CPP (a ação penal, nas contravenções, será iniciada com
o auto de prisão em flagrante ou por meio de portaria
expedida pela autoridade judiciária ou policial), é
admitido no sistema judicial brasileiro, permitindo,
então, que as ações penais, em infrações de menor
potencial ofensivo, sejam iniciadas pela própria
autoridade policial.
c) A atual sistemática de arquivamento do inquérito
policial, após a Lei 13.964/19 e considerando a decisão
do STF nas ADIs referentes ao Pacote Anticrime, não
permite que o juiz exerça o papel (anômalo) de fiscal da
obrigatoriedade da ação penal pública; ou seja, a
manifestação de arquivamento da investigação é
insindicável e não está sujeita a nenhum tipo de revisão,
nem mesmo a pedido da vítima, observada a estrutura
acusatória do processo penal brasileiro.
d) Nos casos de crimes que são apurados mediante ação
penal pública, por mais que o seu titular privativo seja o
Ministério Público (art. 129, I da CF), em casos
excepcionais, quando houver inércia do Ministério
Público, é admitida ação penal privada promovida pela
vítima.
e) Nos crimes de ação penal privada vige o princípio da
obrigatoriedade, ao passo que em relação aos crimes de
ação penal pública, o da oportunidade.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
Comentários
Gabarito: D.
a) Errada. A ampla maioria dos crimes, no Brasil, é de
ação penal pública. Representação, embora seja
condição de procedibilidade, é exigível nos casos de ação
penal pública condicionada, não de ação penal privada,
que se processa mediante queixa.
CP. Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei
expressamente a declara privativa do ofendido.
§ 1º - A ação pública é promovida pelo Ministério
Público, dependendo, quando a lei o exige, de
representação do ofendido ou de requisição do Ministro
da Justiça.
§ 2º - A ação de iniciativa privada é promovida mediante
queixa do ofendido ou de quem tenha qualidade para
representá-lo.
CPP. Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será
promovida por denúncia do Ministério Público, mas
dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do
Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido ou
de quem tiver qualidade para representá-lo.
b) Errada. Embora ainda previsto no CPP, o
procedimento judicialiforme não foi recepcionado pela
CF/88. As ações penais devem ser iniciadas por
promoção do seu titular; no caso das públicas, o
Ministério Público, enquanto seu titular privativo.
CF. Art. 129. São funções institucionais do Ministério
Público:
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na
forma da lei;
c) Errada. Pela decisão do STF o juiz continua com esse
papel e de acordo com a lei a vítima pode submeter o
arquivamento à revisão.
CPP. Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito
policial ou de quaisquer elementos informativos da
mesma natureza, o órgão do Ministério Público
comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade
policial e encaminhará os autos para a instância de
revisão ministerial para fins de homologação, na forma
da lei.
§ 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não
concordar com o arquivamento do inquérito policial,
poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da
comunicação, submeter a matéria à revisão da instância
competente do órgão ministerial, conforme dispuser a
respectiva lei orgânica.
STF/ADI 6.305: “(b) Por outro lado, ao excluir qualquer
possibilidade de controle judicial sobre o ato de
arquivamento da investigação, a nova redação violou o
princípio da inafastabilidade da jurisdição, nos termos do
artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição. [...] Para os fins
do §1º do artigo 28, deve-se permitir ao magistrado
suscitar a revisão pelo órgão ministerial, quando verificar
patente ilegalidade ou teratologia no ato de
arquivamento”.
d) Correta.
CF. Art. 5º LIX - será admitida ação privada nos crimes de
ação pública, se esta não for intentada no prazo legal;
CPP. Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de
ação pública, se esta não for intentada no prazo legal,
cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-
la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os
termos do processo, fornecer elementos de prova,
interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência
do querelante, retomar a ação como parte principal.
CP. Art. 100 § 3º - A ação de iniciativa privada pode
intentar-se nos crimes de ação pública, se o Ministério
Público não oferece denúncia no prazo legal.
e) Exatamente o contrário.
DIREITO CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO
Professor Rogério Cunha
Questão 15
João e Maria propuseram perante a Vara de Sucessões
da capital do Estado Alfa, inventário em relação aos bens
deixados por seu pai Jonas que era domiciliado no Estado
Beta e faleceu em 06 de janeiro de 2024. No rol de bens
foram indicados depósitos em conta corrente, no valor
de R$ 5.000,000,00 (cinco milhões de reais) e um imóvel
rural situado no Estado Gama. No momento processual
oportuno foi determinada a comprovação do pagamento
do Imposto de Transmissão causa mortis e doações –
ITCMD, que deve ser recolhido:
A) O imposto é devido integralmente ao Estado Alfa,
juízo do inventário
B) O imposto é devido integralmente ao Estado Beta,
onde o de cujus Jonas era residente.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
C) O imposto é devido ao Estado Alfa pelos bens móveis
e ao Estado Gama pelo imóvel rural.
D) O imposto é devido ao Estado Beta pelos bens móveis
e ao Estado Gama pelo imóvel rural.
E) O imposto é devido igualmente entre os Estados Alfa,
Beta e Gama.
Comentários
Gabarito: D
Letra A – ERRADA – Mesmo com a reforma tributária (EC
132/2023) a capacidade ativa do ITCMD para os bens
imóveis não pertence ao juízo do inventário, mas sim
para o local de situação dos bens (CF, art. 155, §1º, I).
Letra B – ERRADA – Após a reforma tributária (EC
132/2023) a capacidade tributária ativa do ITCMD sobre
os bens móveis, títulos e créditos, será do Estado onde
era domiciliado ode cujus (CF, art. 155, §1º, II), contudo,
essa regra não se aplica aos bens imóveis.
Letra C – ERRADA - Após a reforma tributária (EC
132/2023) o juízo do inventário não mais será delineador
da capacidade tributária ativa do ITCMD sobre os bens
móveis, títulos e créditos, mas sim o Estado onde era
domiciliado ode cujus (CF, art. 155, §1º, II), por isso
ERRADA a primeira parte da assertiva.
Letra D – CORRETA - - Após a reforma tributária (EC
132/2023) o juízo do inventário não mais será delineador
da capacidade tributária ativa do ITCMD sobre os bens
móveis, títulos e créditos, mas sim o Estado onde era
domiciliado o de cujus (CF, art. 155, §1º, II), por isso
correta a primeira parte da assertiva, em relação à
segunda parte também está correta, já que a
constituição prevê (CF, art. 155, §1º, I) que em se
tratando de bens imóveis o impostos será devido ao local
de situação dos bens.
Letra E – ERRADA. Não há previsão na Constituição para
a repartição proposta.
Questão 16
O Estado Alfa, buscando ampliar a sua base de
arrecadação tributária publica em 20 de dezembro de
2023 lei majorando a alíquota do IPVA – imposto sobre
propriedade de veículos automotores, ITCMD – imposto
sobre transmissão causa mortis e doação, de quaisquer
bens ou direitos e ICMS – imposto sobre operações
relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações
de serviços de transporte interestadual e intermunicipal
e de comunicação, ainda que as operações e as
prestações se iniciem no exterior. Juvenal, proprietário
da Empresa XWI Ltda, questiona Antônio seu advogado,
se essas alterações de alíquota poderão ser cobradas já
a partir de 1º de janeiro do ano de 2024, ao que Antônio
respondeu, corretamente, que
A) Poderão ser cobradas do ICMS – imposto sobre
operações relativas à circulação de mercadorias e sobre
prestações de serviços de transporte interestadual e
intermunicipal e de comunicação
B) Poderão ser cobradas de todos os impostos citados
por não precisarem respeitar a anterioridade
nonagesimal
C) Apenas em relação ao IPVA – imposto sobre
propriedade de veículos automotores
D) Poderão ser cobradas do ITCMD – imposto sobre
transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens
ou direitos, IPVA – imposto sobre propriedade de
veículos automotores
E) Não poderão ser cobradas de nenhum dos impostos
citados pela necessidade de respeitar a anterioridade
anual e nonagesimal
Comentários
Gabarito: E
Letra A – ERRADA O ICMS está sujeito tanto a
anterioridade de exercício quanto à nonagesimal (CF,
art. 150, II b“” e “c”.
Letra B ERRADA – A Constituição exige o respeito à
anterioridade comum e nonagesimal de todos os
tributos mencionados, já que em relação ao IPVA à
exceção ao princípio da anterioridade nonagesimal é
limitada à fixação da base de cálculo e não de suas
alíquotas (CF, art. 150, §1º).
Letra C – ERRADA - Em relação ao IPVA à exceção ao
princípio da anterioridade nonagesimal é limitada à
fixação da base de cálculo e não de suas alíquotas (CF,
art. 150, §1º).
Letra D - ERRADA – No caso narrado, todos os impostos
citados estão sujeitos à dupla anterioridade, já que em
relação ao IPVA à exceção ao princípio da anterioridade
nonagesimal é limitada à fixação da base de cálculo e não
de suas alíquotas (CF, art. 150, §1º).
Letra E – CORRETA – Vide letra D.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
DIREITO ADMINISTRATIVO
Professor Rodolfo Penna
Questão 17
Caio foi aprovado no concurso do Tribunal X, para o
cargo de técnico judiciário. Antes de tomar posse,
submeteu-se aos exames admissionais, no quais constou
que Caio teve câncer na garganta há 4 (anos) anos. Por
esse motivo, o resultado do exame foi de inaptidão para
o cargo.
Inconformado, Caio ingressou com ação judicial
alegando que esteve, de fato, acometido da doença, mas
que foi tratada, estando, atualmente, sem nenhum
sintoma ou restrição para o trabalho. Nesse sentido, a
ação proposta por Caio deve ser julgada,
a) improcedente, já que é, de fato, inapto para o cargo.
b) improcedente, pois só poderia ser considerado apto
para tomar posse na hipótese de ter tratado o câncer há
mais de cinco anos.
c) procedente, porque a exclusão de candidatos que não
apresentam qualquer restrição para o trabalho viola os
princípios do concurso público e da impessoalidade.
d) procedente, mas Caio deverá aguardar mais um ano
para tomar posse.
e) improcedente, pois há risco futuro e incerto de
recidiva, licenças de saúde e aposentadoria.
Comentários
Solução rápida
A alternativa C está correta e corresponde ao gabarito da
questão.
O STF, no RE 886.131/MG, decidiu que:
É inconstitucional a vedação à posse em cargo público de
candidato(a) que esteve acometido(a) de doença grave,
mas que não apresenta sintomas atuais de restrição para
o trabalho.
STF. Plenário. RE 886131/MG, Rel. Min. Luís Roberto
Barroso, julgado em 30/11/2023 (Repercussão Geral –
Tema 1015) (Info 1119).
Solução completa
A alternativa C está correta e corresponde ao gabarito da
questão.
O STF, no RE 886.131/MG, decidiu que:
É inconstitucional a vedação à posse em cargo público de
candidato(a) que esteve acometido(a) de doença grave,
mas que não apresenta sintomas atuais de restrição para
o trabalho.
STF. Plenário. RE 886131/MG, Rel. Min. Luís Roberto
Barroso, julgado em 30/11/2023 (Repercussão Geral –
Tema 1015) (Info 1119).
O próprio Supremo explicou que:
[...] Eventuais restrições de acesso a cargos públicos
devem ser excepcionais e baseadas em justificação
idônea calcada no princípio da legalidade e nas
especificidades da função a ser exercida. A exclusão de
candidatos que não apresentam qualquer restrição para
o trabalho viola os princípios do concurso público e da
impessoalidade, diante da determinação constitucional
de ampla acessibilidade aos cargos públicos e de
avaliação com base em critérios objetivos, e o princípio
da eficiência, porque reduz o espectro da seleção e faz a
Administração perder talentos [...]
A alternativa A está incorreta. Caio não é inapto para o
cargo, pois à época dos exames admissionais e posse no
concurso já estava curado da doença, havendo clara
discriminação em razão da saúde, segundo definiu o
próprio STF no RE 886131/MG (supra).
A alternativa B está incorreta. Caio não é inapto para o
cargo, pois à época dos exames admissionais e posse no
concurso já estava curado da doença, havendo clara
discriminação em razão da saúde, segundo definiu o
próprio STF no RE 886131/MG (supra).
A alternativa D está incorreta. Não há qualquer exigência
legal ou constitucional no sentido de que Caio deve
aguardar mais um ano para tomar posse.
A alternativa E está incorreta. De acordo com o STF (RE
886131/MG):
[...] o risco futuro e incerto de recidiva, licenças de saúde
e aposentadoria não pode impedir a fruição do direito ao
trabalho, que é indispensável para propiciar a
subsistência, a emancipação e o reconhecimento social.
Nesse contexto, a vedação à posse desrespeita também
a dignidade humana, pois representa um atestado de
incapacidade apto a minar a autoestima de qualquer um.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
Questão 18
Reginaldo é secretário de obras do Município Z. Ele,
pessoalmente, solicitou à empresa PINTURAS PERFEITAS
que realizasse a pintura do prédio no qual funcionam a
Secretaria de Obras e a Secretaria de Educação do
município. Reginaldo combinou com o proprietário da
empresa que o pagamento se daria ao final dos
trabalhos.
Esse serviço foi realizado durante 8 (oito) meses, sendo
que, nos três últimos meses, a PINTURAS PERFEITAS
transferiu parte do serviço para a empresa PINTURAS
FELIZES. Todos os custos foram arcados pela empresa
PINTURAS PERFEITAS.
Ocorre que, ao final dos trabalhos, Reginaldo não
cumpriu com o pagamento à empresa PINTURAS
PERFEITAS.
Diante disso, a referida empresa ajuizou ação de
cobrança contra o Município, pedindo o recebimento
dos valores depreendidos para a realização do serviço e
previamente ajustados com Reginaldo.
A ação foi distribuída para você, que, à luz da
jurisprudência firmada no STJ, deve considerar que:
a) o ato de contratação da empresa PINTURAS PERFEITAS
é nulo de pleno direito por ausência de licitação, sendo
integralmente indevido o pagamento pelos serviços
prestados.
b) o ato de contratação da empresa PINTURAS
PERFEITAS é nulo de pleno direito por ausência de
contrato escrito, sendo integralmente indevido o
pagamento pelos serviços prestados.
c) o ato de contratação da empresa PINTURAS PERFEITAS
é nulo de pleno direito por ausência de licitação e de
contrato escrito, sendo integralmente indevido o
pagamento pelos serviços prestados.
d) o ato de contratação da empresa PINTURAS
PERFEITAS é nulo de pleno direito por ausência de
autorização do Poder Público para a subcontratação da
empresa PINTURAS FELIZES, sendo indevido o
pagamento dos serviços prestados pela subcontratada.
e) é devida a indenização pelo custo básico dos serviços
prestados, sem margem de lucro, mesmo que a
contratação seja irregular, uma vez que se reverteram
em benefício da Administração.
Comentários
Solução rápida
A alternativa E está correta e corresponde ao gabarito da
questão. O STJ, no bojo do REsp 2.045.450-RS,
considerou que no caso de contrato verbal e sem
licitação, o ente público tem o dever de indenizar, desde
que provada a existência de subcontratação, a efetiva
prestação de serviços, ainda que por terceiros, e que tais
serviços se reverteram em benefício da Administração.
Solução completa
A alternativa E está correta e corresponde ao gabarito da
questão. O STJ, no bojo do REsp 2.045.450-RS,
considerou que no caso de contrato verbal e sem
licitação, o ente público tem o dever de indenizar, desde
que provada a existência de subcontratação, a efetiva
prestação de serviços, ainda que por terceiros, e que tais
serviços se reverteram em benefício da Administração.
Senão, vejamos:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. CONTRATO
VERBAL. SUBCONTRATAÇÃO SEM AUTORIZAÇÃO.
RECURSO ESPECIAL DE TODESCATO TERRAPLANAGEM
LTDA. OBRIGAÇÃO DE O ENTE PÚBLICO EFETUAR O
PAGAMENTO PELOS SERVIÇOS EFETIVAMENTE
PRESTADOS. VEDAÇÃO AO ENRIQUECIMENTO ILÍCITO.
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL DO MUNICÍPIO DE
BENTO GONÇALVES. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO DE
FUNDAMENTO AUTÔNOMO E DEFICIÊNCIA DE
FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. SÚMULAS 283/SF E
284/STF.
1. Trata-se, na origem, de ação de cobrança ajuizada
contra o Município de Bento Gonçalves visando
condenar o réu a indenizá-la pela prestação de serviços,
contratados verbalmente, no período de 24.3.2012 até
8.9.2012, de retroescavadeira, pá carregadeira,
caminhão toco e prancha para transporte de
equipamentos. Aduziu que o valor total dos serviços é de
R$ 102.570,20, mas que pende de pagamento a quantia
de R$ 85.068,70 válidos para fevereiro de 2017.
2. Em primeiro grau o pedido foi julgado parcialmente
procedente para condenar o réu a indenizar os serviços
prestados no período apontado que não foram objeto de
subcontratação, devendo o valor ser auferido em
liquidação.
3. A Apelação da parte autora não foi provida, e a do réu
foi provida na parte relativa aos índices de correção
monetária e juros de mora.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
4. O aresto recorrido entendeu devida a indenização
pelos serviços executados, a despeito da irregularidade
da contratação, por não se admitir o enriquecimento
ilícito da Administração. Todavia, entendeu descaber
pagamento dos serviços prestados ao município que
foram objeto de subcontratação, sob o fundamento de
que em desacordo com o art. 72 da Lei 8.666/93.
5. A jurisprudência do STJ é de que, mesmo que seja nulo
o contrato realizado com a Administração Pública, por
ausência de prévia licitação, é devido o pagamento pelos
serviços prestados, desde que comprovados, nos termos
do art. 59, parágrafo único, da Lei 8.666/1993, sob pena
de enriquecimento ilícito da Administração.
6. O STJ reconhece que, ainda que ausente a boa fé do
contratado e que tenha ele concorrido para nulidade, é
devida a indenização pelo custo básico do serviço, sem
qualquer margem de lucro.
7. A inexistência de autorização da Administração para
subcontratação é insuficiente para afastar o dever de
indenização, no caso dos autos, porque a própria
contratação foi irregular, haja vista que não houve
licitação e o contrato foi verbal. Assim, desde que
provada a existência de subcontratação e a efetiva
prestação de serviços, ainda que por terceiros, e que tais
serviços se reverteram em benefício da Administração,
será devida a indenização dos respectivos valores. Na
mesma linha: REsp n. 468.189/SP, Rel. Min. José
Delgado, Primeira Turma, julgado em 18/3/2003, DJ de
12/5/2003, p. 221.
[...]
STJ - REsp: 2045450 RS 2022/0399405-6, Relator:
HERMAN BENJAMIN, Data de Julgamento: 20/06/2023,
T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe
28/06/2023.
A alternativa A está incorreta. O STJ, no bojo do REsp
2.045.450-RS, considerou que no caso de contrato verbal
e sem licitação, o ente público tem o dever de indenizar,
desde que provada a existência de subcontratação, a
efetiva prestação de serviços, ainda que por terceiros, e
que tais serviços se reverteram em benefício da
Administração.
A alternativa B está incorreta. O STJ, no bojo do REsp
2.045.450-RS, considerou que no caso de contrato verbal
e sem licitação, o ente público tem o dever de indenizar,
desde que provada a existência de subcontratação, a
efetiva prestação de serviços, ainda que por terceiros, e
que tais serviços se reverteram em benefício da
Administração.
A alternativa C está incorreta. O STJ, no bojo do REsp
2.045.450-RS, considerou que no caso de contrato verbal
e sem licitação, o ente público tem o dever de indenizar,
desde que provada a existência de subcontratação, a
efetiva prestação de serviços, ainda que por terceiros, e
que tais serviços se reverteram em benefício da
Administração.
A alternativa D está incorreta. O STJ, no bojo do REsp
2.045.450-RS, considerou que no caso de contrato verbal
e sem licitação, o ente público tem o dever de indenizar,
desde que provada a existência de subcontratação, a
efetiva prestação de serviços, ainda que por terceiros, e
que tais serviços se reverteram em benefício da
Administração.
Questão 19
Gilberto recebeu como herança 50 (cinquenta) de lotes
de terra, dos quais começou a comercializar.
Na área onde se localizam os lotes, foi instituída, por
edição de plano diretor municipal, uma zona de proteção
ambiental, que restringiu o uso e a ocupação do solo.
Diante dessa situação, Gilberto ajuizou ação de
indenização contra o Município, pedindo a reparação
dos danos materiais causados pelas restrições incidentes
sobre os terrenos de sua propriedade.
Durante a instrução, foi realizada perícia que atestou
que, em razão das referidas restrições, os lotes perderam
substancialmente o valor econômico. Diante dessa
narrativa hipotética, temos que o pedido deve ser
julgado:
a) procedente, pois se trata de desapropriação, na qual
houve comprovação do efetivo prejuízo, devendo o
Município ser condenado a pagar indenização em favor
do Autor.
b) procedente, pois se trata de limitação administrativa,
na qual houve comprovação do efetivo prejuízo,
devendo o Município ser condenado a pagar indenização
em favor do Autor.
c) procedente, pois se trata de servidão administrativa,
na qual houve comprovação do efetivo prejuízo,
devendo o Município ser condenado a pagar indenização
em favor do Autor.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
d) improcedente, pois se trata de limitação
administrativa, que são imposições de natureza genérica
que não rendem ensejo a indenização em nenhuma
hipótese.
e) improcedente, pois se trata de servidão
administrativa, que são imposições de natureza genérica
que não rendem ensejo a indenização em nenhuma
hipótese.
Comentários
Solução rápida
A alternativa B está correta e corresponde ao gabarito da
questão.
A limitação administrativa impõe obrigações positivas ou
negativas a proprietários indeterminados, com a
finalidade de promover a função social das
propriedades. Trata-se de restrições de caráter geral,
não atingindo um único bem ou um grupo de bens
específicos, mas todos os proprietários que se
encontrem na hipótese descrita na norma.
As referidas limitações decorrem diretamente do
exercício do poder de polícia estatal e possuem efeitos
ex nunc, ou seja, efeitos proativos.
O objeto das limitações administrativas pode envolver
bens móveis ou imóveis ou serviços privados.
São exemplos a limitação de altura de prédios (gabarito)
estabelecida no Plano Diretor Municipal, obrigação de
instalar extintores, obrigação de permitir a entrada de
agentes de fiscalização, obrigação de manter recuo de
alguns metros das construções em terrenos urbanos etc.
Por se tratar de ato geral, de caráter normativo, em
regra, não há direito à indenização dos particulares
afetados. No entanto, em situações específicas, em que
se verificar danos anormais e desproporcionais, haverá
direito à reparação do particular, desde que demonstre
o dano sofrido.
Sobre esse instituto, já decidiu o STJ:
Tratando-se de limitação administrativa, em regra, é
indevido o pagamento de indenização aos proprietários
dos imóveis abrangidos em área delimitada por ato
administrativo, a não ser que comprovem efetivo
prejuízo, ou limitação além das já existentes.
STJ. 2ª Turma. AREsp 551.389-RN, Rel. Min. Assusete
Magalhães, julgado em 5/8/2023 (Info 786).
Nesse sentido, o pedido deve ser julgado procedente. O
caso trazido pelo examinador trata de limitação
administrativa e, em razão da comprovação do efetivo
prejuízo, o Município deve ser condenado a pagar
indenização em favor do Autor.
Solução completa
A alternativa B está correta e corresponde ao gabarito da
questão.
A limitação administrativa impõe obrigações positivas ou
negativas a proprietários indeterminados, com a
finalidade de promover a função social das
propriedades. Trata-se de restrições de caráter geral,
não atingindo um único bem ou um grupo de bens
específicos, mas todos os proprietários que se
encontrem na hipótese descrita na norma.
As referidas limitações decorrem diretamente do
exercício do poder de polícia estatal e possuem efeitos
ex nunc, ou seja, efeitos proativos.
O objeto das limitações administrativas pode envolver
bens móveis ou imóveis ou serviços privados.
São exemplos a limitação de altura de prédios (gabarito)
estabelecida no Plano Diretor Municipal, obrigação de
instalar extintores, obrigação de permitir a entrada de
agentes de fiscalização, obrigação de manter recuo de
alguns metros das construções em terrenos urbanos etc.
Por se tratar de ato geral, de caráter normativo, em
regra, não há direito à indenização dos particulares
afetados. No entanto, em situações específicas, em que
se verificar danos anormais e desproporcionais, haverá
direito à reparação do particular, desde que demonstre
o dano sofrido.
Sobre esse instituto, já decidiu o STJ:
Tratando-se de limitação administrativa, em regra, é
indevido o pagamento de indenização aos proprietários
dos imóveis abrangidos em área delimitada por ato
administrativo, a não ser que comprovem efetivo
prejuízo, ou limitação além das já existentes.
STJ. 2ª Turma. AREsp 551.389-RN, Rel. Min. Assusete
Magalhães, julgado em 5/8/2023 (Info 786).
Nesse sentido, o pedido deve ser julgado procedente. O
caso trazido pelo examinador trata de limitação
administrativa e, em razão da comprovação do efetivo
prejuízo, o Município deve ser condenado a pagar
indenização em favor do Autor.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
A alternativa A está incorreta. O pedido deve ser julgado
procedente. O caso trazido pelo examinador trata de
limitação administrativa e, em razão da comprovação do
efetivo prejuízo, o Município deve ser condenado a
pagar indenização em favor do Autor.
Não se trata de desapropriação. A desapropriação é a
intervenção drástica do Estado na propriedade alheia,
retirando um bem do patrimônio privado de forma
compulsória e o transferindo para o patrimônio estatal,
com base no interesse público, após o devido processo
legal e, em regra, mediante indenização que deve ser
justa. Trata-se de uma forma de aquisição originária da
propriedade, tendo em vista que independe da vontade
do titular anterior, pelo que o Ente Público recebe o bem
livre de eventuais ônus reais.
A alternativa C está incorreta. O pedido deve ser julgado
procedente. O caso trazido pelo examinador trata de
limitação administrativa e, em razão da comprovação do
efetivo prejuízo, o Município deve ser condenado a
pagar indenização em favor do Autor.
Não se trata de servidão administrativa. A servidão
administrativa, regida pelo art. 40 do Decreto-Lei
3.365/41, é um direito real público que permite a
utilização de propriedade imóvel privada pela
Administração Pública ou pelos delegatários de serviços
públicos para execução de obras ou serviços de interesse
coletivo.
A alternativa D está incorreta. O pedido deve ser julgado
procedente. O caso trazido pelo examinador trata de
limitação administrativa e, em razão da comprovação do
efetivo prejuízo, o Município deve ser condenado a
pagar indenização em favor do Autor.
A alternativa E está incorreta. O pedido deve ser julgado
procedente. O caso trazido pelo examinador trata de
limitação administrativa e, em razão da comprovação do
efetivo prejuízo, o Município deve ser condenado a
pagar indenização em favor do Autor.
Não se trata de servidão administrativa. A servidão
administrativa, regida pelo art. 40 do Decreto-Lei
3.365/41, é um direito real público que permite a
utilização de propriedade imóvel privada pela
Administração Pública ou pelos delegatários de serviços
públicos para execução de obras ou serviços de interesse
coletivo.
Questão 20
Durante o mês de dezembro de 2023, foram registrados
inúmeros assaltos no Metrô Novo Horizonte, localizado
na Cidade Jardins.
Ricardo, passageiro regular do metrô, aguardava o trem
dentro da Estação Vitória, no dia 30 de janeiro de 2024,
quando foi abordado por quatro indivíduos, todos
armados e com os rostos velados por toucas ninjas.
Sob ameaça, Ricardo foi forçado a entregar seus
documentos pessoais e sua carteira. Não havia nenhum
agente de segurança ou dispositivo de monitoramento
no local do assalto.
Após os fatos, Ricardo ingressou com ação de
indenização por danos materiais e morais em face da
concessionária responsável pelo Metrô Novo Horizonte,
alegando falha na prestação de segurança aos usuários.
Os autos foram distribuídos a você. Nessa situação
hipotética,
a) assiste razão ao Autor, devendo a concessionária ser
responsabilizada pelos danos sofridos por passageiro nas
dependências da estação do metrô, eis que evidenciada
a falha na prestação do serviço, em virtude da não
adoção de procedimentos mínimos de segurança.
b) assiste razão ao Autor, devendo a responsabilização
pelos danos ocorridos em razão de assalto à mão armada
ser solidária entre a concessionária e os agentes do
crime.
c) as alegações do Autor não merecem prosperar, pois o
STJ já definiu que não há responsabilidade da empresa
de transporte coletivo na hipótese de ocorrência de
prática de ilícito alheio à atividade fim, pois o ato doloso
de terceiro afasta a responsabilidade civil da
concessionária.
d) as alegações do Autor não merecem prosperar, eis
que a concessionária só deve ser responsabilizada
quando os fatos se derem contra seus usuários e Ricardo,
na ocasião, não era usuário do serviço, tendo em vista
que estava aguardando o transporte metroviário.
e) as alegações do Autor não merecem prosperar, eis que
a falha nos requisitos mínimos de segurança não é da
concessionária, mas do Poder Público, que não forneceu
equipes policiais para atuarem no local, função exclusiva
destes.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
Comentários
Solução rápida
A alternativa A está correta e corresponde ao gabarito da
questão.
O Superior Tribunal de Justiça, por ocasião do
julgamento do REsp 1.611.429-SP, decidiu:
RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL.
TRANSPORTE COLETIVO. DEPENDÊNCIAS DA ESTAÇÃO
METROVIÁRIA. ASSALTO À MÃO ARMADA. FALHA NA
PRESTAÇÃO DO SERVIÇO CONFIGURADA. NÃO ADOÇÃO
DE REQUISITOS MÍNIMOS DE SEGURANÇA. LEI 6.149/74.
AUSÊNCIA DE AGENTE DE SEGURANÇA OU DE
DISPOSITIVO DE MONITORAMENTO NO LOCAL.
1. A Segunda Seção do STJ, por ocasião do julgamento do
REsp n° 1.853.361/PB, firmou o entendimento de que
"não há responsabilidade da empresa de transporte
coletivo na hipótese de ocorrência de prática de ilícito
alheio à atividade fim, pois o ato doloso de terceiro
afasta a responsabilidade civil da concessionária por
estar situado fora do desenvolvimento normal do
contrato de transporte (fortuito externo), não tendo
com ele conexão" (REsp n. 1.853.361/PB, relatora
Ministra Nancy Andrighi, relator para acórdão Ministro
Marco Buzzi, Segunda Seção, DJe de 5/4/2021.)
2. Na hipótese em exame, contudo, a responsabilização
da empresa que presta o serviço de transporte
metroviário se justifica em virtude da não adoção de
procedimentos mínimos de segurança, nos termos do
disposto na Lei n° 6.149/74, inclusive para fins de
suporte à vítima após o fato, de modo que evidenciada
falha na prestação do serviço.
3. Recurso especial a que se nega provimento.
(REsp n. 1.611.429/SP, relatora Ministra Maria Isabel
Gallotti, Quarta Turma, julgado em 5/9/2023, DJe de
21/9/2023.)
Solução completa
A alternativa A está correta e corresponde ao gabarito da
questão.
O Superior Tribunal de Justiça, por ocasião do
julgamento do REsp 1.611.429-SP, decidiu:
RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL.
TRANSPORTE COLETIVO. DEPENDÊNCIAS DA ESTAÇÃO
METROVIÁRIA. ASSALTO À MÃO ARMADA. FALHA NA
PRESTAÇÃO DO SERVIÇO CONFIGURADA. NÃO ADOÇÃO
DE REQUISITOS MÍNIMOS DE SEGURANÇA. LEI 6.149/74.
AUSÊNCIA DE AGENTE DE SEGURANÇA OU DE
DISPOSITIVO DE MONITORAMENTO NO LOCAL.
1. A Segunda Seção do STJ, por ocasião do julgamento do
REsp n° 1.853.361/PB, firmou o entendimento de que
"não há responsabilidade da empresa de transporte
coletivo na hipótese de ocorrência de prática de ilícito
alheio à atividade fim, pois o ato doloso de terceiro
afasta a responsabilidade civil da concessionária por
estar situado fora do desenvolvimento normal do
contrato de transporte (fortuito externo), não tendo
com ele conexão" (REsp n. 1.853.361/PB, relatora
Ministra Nancy Andrighi, relator para acórdão Ministro
Marco Buzzi, Segunda Seção, DJe de 5/4/2021.)
2. Na hipótese em exame, contudo, a responsabilização
da empresa que presta o serviço de transporte
metroviário se justifica em virtude da não adoção de
procedimentos mínimos de segurança, nos termos do
disposto na Lei n° 6.149/74, inclusive para fins de
suporte à vítima após o fato, de modo que evidenciada
falha na prestação do serviço.
3. Recurso especial a que se nega provimento.
(REsp n. 1.611.429/SP, relatora Ministra Maria Isabel
Gallotti, Quarta Turma, julgado em 5/9/2023, DJe de
21/9/2023.)
Assim, embora o STJ adote como entendimento pacífico
a não responsabilização de concessionária de serviços
públicos de transporte coletivo por crimes praticados
por terceiros em suas dependências, havendo
comprovada falha na prestação do serviço, em virtude da
não adoção de procedimentos mínimos de segurança,
como no caso em comento, ela deve ser
responsabilizada pelos danos sofridos por seus usuários
(e também não usuários), no âmbito de suas
dependências.
A alternativa B está incorreta. Embora o STJ adote como
entendimento pacífico a não responsabilização de
concessionária de serviços públicos de transporte
coletivo por crimes praticados por terceiros em suas
dependências, havendo comprovada falha na prestação
do serviço, em virtude da não adoção de procedimentos
mínimos de segurança, como no caso em comento, ela
deve ser responsabilizada pelos danos sofridos por seus
usuários (e também não usuários), no âmbito de suas
dependências.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
A alternativa C está incorreta. Embora o STJ adote como
entendimento pacífico a não responsabilização de
concessionária de serviços públicos de transporte
coletivo por crimes praticados por terceiros em suas
dependências, havendo comprovada falha na prestação
do serviço, em virtude da não adoção de procedimentos
mínimos de segurança, como no caso em comento, ela
deve ser responsabilizada pelos danos sofridos por seus
usuários (e também não usuários), no âmbito de suas
dependências.
A alternativa D está incorreta. Embora o STJ adote como
entendimento pacífico a não responsabilização de
concessionária de serviços públicos de transporte
coletivo por crimes praticados por terceiros em suas
dependências, havendo comprovada falha na prestação
do serviço, em virtude da não adoção de procedimentos
mínimos de segurança, como no caso em comento, ela
deve ser responsabilizada pelos danos sofridos por seus
usuários (e também não usuários), no âmbito de suas
dependências.
CONSTITUCIONAL. RESPONSABILIDADE DO ESTADO.
ART. 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO. PESSOAS JURÍDICAS DE
DIREITO PRIVADO PRESTADORAS DE SERVIÇO PÚBLICO.
CONCESSIONÁRIO OU PERMISSIONÁRIO DO SERVIÇO DE
TRANSPORTE COLETIVO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA
EM RELAÇÃO A TERCEIROS NÃO-USUÁRIOS DO SERVIÇO.
RECURSO DESPROVIDO.
I - A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito
privado prestadoras de serviço público é objetiva
relativamente a terceiros usuários e não-usuários do
serviço, segundo decorre do art. 37, § 6º, da Constituição
Federal.
II - A inequívoca presença do nexo de causalidade entre
o ato administrativo e o dano causado ao terceiro não-
usuário do serviço público, é condição suficiente para
estabelecer a responsabilidade objetiva da pessoa
jurídica de direito privado.
III - Recurso extraordinário desprovido.
STF - RE: 591874 MS, Relator: RICARDO LEWANDOWSKI,
Data de Julgamento: 26/08/2009, Tribunal Pleno, Data
de Publicação: 18/12/2009.
A alternativa E está incorreta. À luz do disposto na Lei nº
6.149/74, que dispõe sobre a segurança do transporte
metroviário:
Art. 3º Para a segurança do transporte metroviário, a
pessoa jurídica que o execute deve manter corpo próprio
e especializado de agente de segurança com atuação nas
áreas do serviço, especialmente nas estações, linhas e
carros de transporte.
Logo, a responsabilidade pela segurança do metrô não é
exclusiva do Poder Público, mas da concessionária, que
deve manter corpo próprio e especializado de agente de
segurança.
Questão 21
A empresa Alfa aderiu ao Programa de Alimentação do
Trabalhador (PAT), programa governamental que tem
como objetivo melhorar as condições nutricionais dos
trabalhadores e foi criado pela Lei nº 6.321/76, que
prevê benefícios fiscais para as empresas participantes
do PAT.
Todos os anos, a empresa Alfa, aproveitando-se do
benefício fiscal, deduz no imposto de renda as despesas
realizadas com o programa, obtendo desconto em dobro
sobre o lucro tributável.
Ocorre que, em determinado ano, foi editado o Decreto
nº XXX, que restringiu a aplicação do benefício fiscal, de
modo a condicionar a dedução do Importo e Renda
decorrente do PAT ao valor máximo de um salário
mínimo por trabalhador e somente para funcionários
cuja remuneração fosse de até cinco salário mínimos.
À luz dos conhecimentos sobre Poder Regulamentar,
bem como da jurisprudência do STJ, pode-se afirmar que
o Decreto nº XXX é:
a) inconstitucional, pois viola preceito constitucional
sobre o Programa de Alimentação do Trabalhador,
expressamente constante no art. 7º da Constituição
Federal.
b) legal, pois o benefício instituído no âmbito do PAT
pode ser regulamentado via decreto.
c) legal, já que a própria a Lei nº 6.321/76 prevê uma
cláusula geral de regulamentação.
d) ilegal, visto que não há autorização legal específica
para que ato infralegal restrinja, amplie ou altere direitos
decorrentes de lei.
e) ilegal, uma vez que a matéria deveria ter sido tratada
por lei complementar.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
Comentários
Solução rápida
A alternativa D está correta e corresponde ao gabarito
da questão.
O Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) foi
criado pela Lei nº 6.321/76.
O programa foi instituído para incentivar as empresas a
fornecerem alimentação adequada aos seus
empregados. Desse modo, as pessoas jurídicas que
adotassem o PAT poderiam deduzir do lucro tributável,
para fins de apuração do imposto sobre a renda, o dobro
das despesas comprovadamente realizadas no período-
base envolvendo o programa, desde que previamente
aprovado pelo Ministério do Trabalho e Previdência.
Por expressa previsão da parte final do art. 1º da Lei nº
6.321/76, a concessão do benefício fiscal acima
explicado também deveria atender às exigências
previstas “no decreto que regulamenta esta Lei”.
Vejamos:
Art. 1º As pessoas jurídicas poderão deduzir do lucro
tributável, para fins de apuração do imposto sobre a
renda, o dobro das despesas comprovadamente
realizadas no período-base em programas de
alimentação do trabalhador previamente aprovados
pelo Ministério do Trabalho e Previdência, na forma e de
acordo com os limites dispostos no decreto que
regulamenta esta Lei.
Ainda no seu artigo 4º, há previsão de que:
Art 4º O Poder Executivo regulamentará a presente Lei
[...]
Trata-se do que denominados Poder Normativo ou
Regulamentar. É a prerrogativa da Administração Pública
para a edição de atos administrativos gerais e abstratos
com efeitos erga omnes, que são subordinados às leis,
não podendo contrariá-las, nem inovar criando direitos
e obrigações que a lei não dispôs a respeito. Seu
exercício deve ocorrer de acordo com o conteúdo da lei
(secundum legem).
A lei é ato normativo primário, pois extrai o seu
fundamento de validade diretamente da Constituição
Federal, enquanto os atos administrativos normativos
são secundários, pois extraem seu fundamento de
validade da lei e da Constituição.
No caso trazido pelo examinador, embora houvesse
autorização legislativa para edição de decreto
regulamentar do Lei nº 6.321/76, o Decreto nº XXX
inovou na ordem jurídica, criando exigência não prevista
na Lei nº 6.321/76, ao restringir o benefício fiscal por ela
concedido, a partir da determinação de que somente
seria aplicado o referido benefício fiscal no limite do
valor máximo de um salário mínimo por trabalhador e
somente para funcionários cuja remuneração fosse de
até cinco salário mínimos,
Essas limitações não poderiam ter sido estabelecidas via
decreto regulamentar.
O ato infralegal não pode restringir, ampliar ou alterar
direitos decorrentes de lei. A lei é que estabelece as
diretrizes para a atuação administrativa-normativa
regulamentar. Se o poder público identificou a
necessidade de realizar correções no programa há que
fazê-lo pelo caminho jurídico adequado e não improvisar
via comandos normativos de hierarquia inferior, conduta
já rechaçada em abundância pela jurisprudência.
Portanto, o Decreto nº XXX é ilegal. Nesse sentido, o STJ:
O art. 186, do Decreto nº 10.854, de 2021, ao restringir
a dedução do PAT a valores pagos a título de alimentação
para os trabalhadores que recebam até cinco salários-
mínimos, limitada a dedução ao valor de, no máximo, um
salário-mínimo, incorreu em ilegalidade.
STJ. 2ª Turma.REsp 2.086.417-RN, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, julgado em 7/11/2023 (Info 795).
Solução completa
A alternativa D está correta e corresponde ao gabarito
da questão.
O Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) foi
criado pela Lei nº 6.321/76.
O programa foi instituído para incentivar as empresas a
fornecerem alimentação adequada aos seus
empregados. Desse modo, as pessoas jurídicas que
adotassem o PAT poderiam deduzir do lucro tributável,
para fins de apuração do imposto sobre a renda, o dobro
das despesas comprovadamente realizadas no período-
base envolvendo o programa, desde que previamente
aprovado pelo Ministério do Trabalho e Previdência.
Por expressa previsão da parte final do art. 1º da Lei nº
6.321/76, a concessão do benefício fiscal acima
explicado também deveria atender às exigências
previstas “no decreto que regulamenta esta Lei”.
Vejamos:
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
Art. 1º As pessoas jurídicas poderão deduzir do lucro
tributável, para fins de apuração do imposto sobre a
renda, o dobro das despesas comprovadamente
realizadas no período-base em programas de
alimentação do trabalhador previamente aprovados
pelo Ministério do Trabalho e Previdência, na forma e de
acordo com os limites dispostos no decreto que
regulamenta esta Lei.
Ainda no seu artigo 4º, há previsão de que:
Art 4º O Poder Executivo regulamentará a presente Lei
[...]
Trata-se do que denominados Poder Normativo ou
Regulamentar. É a prerrogativa da Administração Pública
para a edição de atos administrativos gerais e abstratos
com efeitos erga omnes, que são subordinados às leis,
não podendo contrariá-las, nem inovar criando direitos
e obrigações que a lei não dispôs a respeito. Seu
exercício deve ocorrer de acordo com o conteúdo da lei
(secundum legem).
A lei é ato normativo primário, pois extrai o seu
fundamento de validade diretamente da Constituição
Federal, enquanto os atos administrativos normativos
são secundários, pois extraem seu fundamento de
validade da lei e da Constituição.
No caso trazido pelo examinador, embora houvesse
autorização legislativa para edição de decreto
regulamentar do Lei nº 6.321/76, o Decreto nº XXX
inovou na ordem jurídica, criando exigência não prevista
na Lei nº 6.321/76, ao restringir o benefício fiscal por ela
concedido, a partir da determinação de que somente
seria aplicado o referido benefício fiscal no limite do
valor máximo de um salário mínimo por trabalhador e
somente para funcionários cuja remuneração fosse de
até cinco salário mínimos,
Essas limitações não poderiam ter sido estabelecidas via
decreto regulamentar.
O ato infralegal não pode restringir, ampliar ou alterar
direitos decorrentes de lei. A lei é que estabelece as
diretrizes para a atuação administrativa-normativa
regulamentar. Se o poder público identificou a
necessidade de realizar correções no programa há que
fazê-lo pelo caminho jurídico adequado e não improvisar
via comandos normativos de hierarquia inferior, conduta
já rechaçada em abundância pela jurisprudência.
Portanto, o Decreto nº XXX é ilegal. Nesse sentido, o STJ:
O art. 186, do Decreto nº 10.854, de 2021, ao restringir
a dedução do PAT a valores pagos a título de alimentação
para os trabalhadores que recebam até cinco salários-
mínimos, limitada a dedução ao valor de, no máximo, um
salário-mínimo, incorreu em ilegalidade.
STJ. 2ª Turma.REsp 2.086.417-RN, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, julgado em 7/11/2023 (Info 795).
A alternativa A está incorreta. O Programa de
Alimentação do Trabalhador não está expressamente
previsto no art. 7º da Constituição Federal. Foi criado,
como dito alhures, pela Lei nº 6.321/76.
A alternativa B está incorreta. Embora o benefício
instituído no âmbito do PAT possa ser regulamentado via
decreto, o Decreto nº XXX é ilegal, pois inovou na ordem
jurídica, criando exigência não prevista na Lei nº
6.321/76.
A alternativa C está incorreta. Embora o benefício
instituído no âmbito do PAT possa ser regulamentado via
decreto, o Decreto nº XXX é ilegal, pois inovou na ordem
jurídica, criando exigência não prevista na Lei nº
6.321/76.
A alternativa E está incorreta. Não se trata de hipótese
de necessidade de lei complementar.
Questão 22
Maria é proprietária de um imóvel localizado na região
sudeste da Cidade Beta, região escolhida para a
construção de uma rodovia estadual. Tendo em vista a
realização das obras, o Poder Público desapropriou 2/3
do terreno de Maria. Após a conclusão das obras, e em
virtude dela, houve uma valorização econômica na
região que atingiu igualmente a todos os imóveis
lindeiros à via pública construída. Nesse caso, segundo o
STJ, em relação a parcela de 1/3 do terreno de Maria que
não foi desapropriada pelo Ente Público, é apropriado
(a):
a) a instituição de contribuição de melhoria.
b) a desapropriação extensiva.
c) o abatimento, no valor da indenização, da valorização
experimentada em razão da construção da rodovia.
d) a desapropriação confisco.
e) a desapropriação extraordinária urbanística.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
Comentários revenda futura dos imóveis ali abrangidos, socializar o
Solução rápida benefício a toda coletividade, evitando que apenas um
ou alguns proprietários venham a ser beneficiados com
A alternativa A está correta e corresponde ao gabarito da a extraordinária mais valia.
questão.
8. Por fim, tratando-se de valorização específica, e
Solução completa somente nessa hipótese, poderá o Estado abater, do
A alternativa A está correta e corresponde ao gabarito da valor a ser indenizado, a valorização experimentada pela
questão. De acordo com o STJ, área remanescente, não desapropriada, nos termos do
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. art. 27 do Decreto-Lei 3.365/41.
DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. CONSTRUÇÃO DE 9. No caso, a área remanescente não desapropriada
RODOVIA. VALORIZAÇÃO DA ÁREA REMANESCENTE. valorizou em decorrência da construção de rodovia
ABATIMENTO. ART. 27 DO DECRETO-LEI 3.365/41. estadual. A valorização experimentada pelo imóvel não
INTERPRETAÇÃO. é especial, mas genérica, atingindo em patamares
[...] semelhantes todos os imóveis lindeiros à via pública
construída. Assim, a mais valia deve ser cobrada por
3. Na desapropriação, direta ou indireta, quando há
meio do instrumento legal próprio, que é a contribuição
valorização da área remanescente não desapropriada
de melhoria, sendo indevido o abatimento proporcional
em decorrência de obra ou serviço público, dispõe o
do justo preço a ser pago pela desapropriação.
Estado de TRÊS INSTRUMENTOS LEGAIS para evitar que
a mais valia, decorrente da iniciativa estatal, locuplete [...]
sem justa causa o patrimônio de um ou de poucos: a STJ - REsp: 795580 SC 2005/0185609-9, Relator: Ministro
desapropriação por zona ou extensiva, a cobrança de CASTRO MEIRA, Data de Julgamento: 12/12/2006, T2 -
contribuição de melhoria e o abatimento proporcional, SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJ 01/02/2007 p.
na indenização a ser paga, da valorização trazida ao 448LEXSTJ vol. 211 p. 170.
imóvel.
A partir do julgado transcrito, entende-se:
4. A valorização imobiliária decorrente da obra ou TIPO DE DEFINIÇÃO CABIMENTO
serviço público pode ser geral, quando beneficia VALORIZAÇÃO
indistintamente um grupo considerável de VALORIZAÇÃO Valorização CONTRIBUIÇÃO DE
administrados, ou especial, que ocorre quando o GERAL ORDINÁRIA em MELHORIA
benefício se restringe a um ou alguns particulares proporção
identificados ou, pelo menos, identificáveis. semelhante à
todos os
5. A mais valia geral subdivide-se em ordinária e
imóveis
extraordinária. A primeira tem lugar quando todos os lindeiros à
imóveis lindeiros à obra pública se valorizam em obra pública
proporção semelhante. A segunda, diferentemente, VALORIZAÇÃO Valorização DESAPROPRIAÇÃO
toma parte quando algum ou alguns imóveis se GERAL de algum ou POR ZONA OU
valorizam mais que outros, atingidos pela mais valia EXTRAORDINÁRIA alguns EXTENSIVA
ordinária. imóveis mais
que outros,
6. Na hipótese de valorização geral ordinária, dispõe o
atingidos
Poder Público da CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA como pela mais
instrumento legal apto a "diluir", entre os proprietários valia
beneficiados com a obra, o custo de sua realização. ordinária
7. No caso de valorização geral extraordinária, pode o VALORIZAÇÃO Valorização ABATIMENTO, NO
Estado valer-se da desapropriação por zona ou ESPECÍFICA específica de VALOR DA
extensiva, prevista no art. 4º do Decreto-Lei 3.365/41. um imóvel. INDENIZAÇÃO, DA
VALORIZAÇÃO
Havendo valorização exorbitante de uma área, pode o
EXPERIMENTADA
Estado incluí-la no plano de desapropriação e, com a
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
No caso trazido pelo examinador, houve a valorização
em proporção semelhante a todos os imóveis lindeiros à
obra pública e não somente a parcela de 1/3 do imóvel
de Maria. Portanto, é apropriada a instituição de
contribuição de melhoria.
A alternativa B está incorreta. No caso trazido pelo
examinador, houve a valorização em proporção
semelhante a todos os imóveis lindeiros à obra pública e
não somente a parcela de 1/3 do imóvel de Maria.
Portanto, é apropriada a instituição de contribuição de
melhoria, segundo o STJ (REsp 795.580/SC).
A alternativa C está incorreta. No caso trazido pelo
examinador, houve a valorização em proporção
semelhante a todos os imóveis lindeiros à obra pública e
não somente a parcela de 1/3 do imóvel de Maria.
Portanto, é apropriada a instituição de contribuição de
melhoria, segundo o STJ (REsp 795.580/SC).
A alternativa D está incorreta. No caso trazido pelo
examinador, houve a valorização em proporção
semelhante a todos os imóveis lindeiros à obra pública e
não somente a parcela de 1/3 do imóvel de Maria.
Portanto, é apropriada a instituição de contribuição de
melhoria, segundo o STJ (REsp 795.580/SC).
A desapropriação confisco ou confiscatória é uma
hipótese específica prevista na Lei Maior em que não há
pagamento de indenização pelo expropriante. Consiste
em uma verdadeira sanção ao proprietário que pratica
os atos ilícitos previstos no dispositivo. Poderá ocorrer
em duas hipóteses, seja em propriedades urbanas ou
rurais em que:
a) Localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas;
b) Haja exploração de trabalho escravo na forma da lei.
A alternativa E está incorreta. No caso trazido pelo
examinador, houve a valorização em proporção
semelhante a todos os imóveis lindeiros à obra pública e
não somente a parcela de 1/3 do imóvel de Maria.
Portanto, é apropriada a instituição de contribuição de
melhoria, segundo o STJ (REsp 795.580/SC).
A desapropriação extraordinária urbanística é
modalidade de desapropriação decorrente do
inadequado aproveitamento do solo urbano (art. 182,
§4º, CF), regulamentada pelo Estatuto da Cidade (Lei
10.257/2001).
Questão 23
Marcos, enquanto Governador do Estado Y no período
de 2015 a 2018, com dolo, cometeu ato de improbidade
administrativa que atenta contra os princípios da
Administração Pública, na data de 01/06/2017. Embora
seu mandato tenha se encerrado em 2018, a ação de
improbidade administrativa só foi ajuizada em
01/02/2024. Diante desses fatos, é cabível
a) o reconhecimento da prescrição, eis houve transcurso
de lapso temporal maior do que cinco anos, após o
término do exercício do mandato eleitoral.
b) o reconhecimento da prescrição, eis houve transcurso
de lapso temporal maior do que cinco anos, após a
ocorrência do fato.
c) o reconhecimento da prescrição, eis houve transcurso
de lapso temporal maior do que oito anos, após a posse
eleitoral.
d) o transcurso ordinário da ação, não havendo que se
falar em ocorrência de prescrição, tendo em vista que o
prazo prescricional de oito anos só se inicia a partir da
data da ocorrência do fato.
e) o transcurso ordinário da ação, não havendo que se
falar em ocorrência de prescrição, tendo em vista que
prazo prescricional de oito anos só se inicia a partir do
término do exercício do mandato eleitoral.
Comentários
Solução rápida
A alternativa D está correta e corresponde ao gabarito
da questão.
A Lei de Improbidade Administrativa, a partir das
alterações promovidas pela Lei nº 14.230/2021, prevê:
Art. 23. A ação para a aplicação das sanções previstas
nesta Lei prescreve em 8 (oito) anos, contados a partir da
ocorrência do fato ou, no caso de infrações
permanentes, do dia em que cessou a permanência.
Logo, não houve prescrição no caso em comento, visto
que entre a data de ocorrência dos fatos (01/06/2017) e
o ajuizamento da ação de prescrição (01/02/2024) não
transcorreu lapso temporal maior do que oito anos, na
forma do art. 23 da LIA.
Solução completa
A alternativa D está correta e corresponde ao gabarito
da questão.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
A Lei de Improbidade Administrativa, a partir das
alterações promovidas pela Lei nº 14.230/2021, prevê:
Art. 23. A ação para a aplicação das sanções previstas
nesta Lei prescreve em 8 (oito) anos, contados a partir da
ocorrência do fato ou, no caso de infrações
permanentes, do dia em que cessou a permanência.
Logo, não houve prescrição no caso em comento, visto
que entre a data de ocorrência dos fatos (01/06/2017) e
o ajuizamento da ação de prescrição (01/02/2024) não
transcorreu lapso temporal maior do que oito anos, na
forma do art. 23 da LIA.
A alternativa A está incorreta. Logo, não houve
prescrição no caso em comento, visto que entre a data
de ocorrência dos fatos (01/06/2017) e o ajuizamento da
ação de prescrição (01/02/2024) não transcorreu lapso
temporal maior do que oito anos, na forma do art. 23 da
LIA.
A alternativa B está incorreta. Logo, não houve
prescrição no caso em comento, visto que entre a data
de ocorrência dos fatos (01/06/2017) e o ajuizamento da
ação de prescrição (01/02/2024) não transcorreu lapso
temporal maior do que oito anos, na forma do art. 23 da
LIA.
A alternativa C está incorreta. Logo, não houve
prescrição no caso em comento, visto que entre a data
de ocorrência dos fatos (01/06/2017) e o ajuizamento da
ação de prescrição (01/02/2024) não transcorreu lapso
temporal maior do que oito anos, na forma do art. 23 da
LIA.
A alternativa E está incorreta. Logo, não houve
prescrição no caso em comento, visto que entre a data
de ocorrência dos fatos (01/06/2017) e o ajuizamento da
ação de prescrição (01/02/2024) não transcorreu lapso
temporal maior do que oito anos, na forma do art. 23 da
LIA.
Questão 24
Lucas, Davi e Maria estavam estudando juntos para
concurso público e começaram a debater sobre as
hipóteses de vedação da delegação da competência
previstas na Lei nº 9.784/99.
Lucas explicou que os atos de caráter normativo não
podem ser objeto de delegação.
Já Davi afirmou que, além dos atos de caráter normativo,
as matérias de competência privativa dos órgãos ou
autoridades não podem ser delegadas.
Por fim, Maria afirmou que a decisão de recursos
administrativos não pode ser delegada.
A partir dessa narrativa, podemos afirmar que
a) apenas Lucas está correto em suas afirmações.
b) apenas Maria está correta em suas afirmações.
c) apenas Lucas e Maria estão corretos em suas
afirmações.
d) apenas Lucas e Davi estão corretos em suas
afirmações.
e) os três estão corretos em suas afirmações.
Comentários
Solução rápida
A alternativa C está correta e corresponde ao gabarito da
questão.
Segundo o art. 13 da Lei nº 9.784/99:
Art. 13. Não podem ser objeto de delegação:
I - a edição de atos de caráter normativo;
II - a decisão de recursos administrativos;
III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou
autoridade.
Assim, Lucas e Maria obtiveram êxito em suas
afirmações. Mas, Davi não. Isso porque veda-se a
delegação de “as matérias de competência exclusiva do
órgão ou autoridade” e não de “competência privativa”.
Solução completa
A alternativa C está correta e corresponde ao gabarito da
questão.
Segundo o art. 13 da Lei nº 9.784/99:
Art. 13. Não podem ser objeto de delegação:
I - a edição de atos de caráter normativo;
II - a decisão de recursos administrativos;
III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou
autoridade.
Assim, Lucas e Maria obtiveram êxito em suas
afirmações. Mas, Davi não. Isso porque veda-se a
delegação de “as matérias de competência exclusiva do
órgão ou autoridade” e não de “competência privativa”.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
A alternativa A está incorreta. Lucas e Maria obtiveram
êxito em suas afirmações. Mas, Davi não. Isso porque
veda-se a delegação de “as matérias de competência
exclusiva do órgão ou autoridade” e não de
“competência privativa”.
A alternativa B está incorreta. Lucas e Maria obtiveram
êxito em suas afirmações. Mas, Davi não. Isso porque
veda-se a delegação de “as matérias de competência
exclusiva do órgão ou autoridade” e não de
“competência privativa”.
A alternativa D está incorreta. Lucas e Maria obtiveram
êxito em suas afirmações. Mas, Davi não. Isso porque
veda-se a delegação de “as matérias de competência
exclusiva do órgão ou autoridade” e não de
“competência privativa”.
A alternativa E está incorreta. Lucas e Maria obtiveram
êxito em suas afirmações. Mas, Davi não. Isso porque
veda-se a delegação de “as matérias de competência
exclusiva do órgão ou autoridade” e não de
“competência privativa”.
Questão 25
Ao analisar as normas atinentes ao regime de concessão
e permissão da prestação de serviços públicos, Clariana
verificou que é possível a retomada do serviço pelo
poder concedente durante o prazo da concessão, por
motivo de interesse público, mediante lei autorizativa
específica e após prévio pagamento da indenização. Tal
situação é designada de:
a) caducidade.
b) encampação.
c) anulação.
d) rescisão.
e) reversão.
Comentários
Solução rápida
A alternativa B está correta e corresponde ao gabarito da
questão. A encampação é a extinção do contrato por
motivo de interesse público, e não por inadimplência.
Constatada a inadimplência, a extinção do contrato deve
ocorrer por meio da decretação de caducidade. Está
prevista no art. 37 da Lei nº8.987/95.
Art. 37. Considera-se encampação a retomada do serviço
pelo poder concedente durante o prazo da concessão,
por motivo de interesse público, mediante lei
autorizativa específica e após prévio pagamento da
indenização, na forma do artigo anterior.
Solução completa
A alternativa B está correta e corresponde ao gabarito da
questão. A encampação é a extinção do contrato por
motivo de interesse público, e não por inadimplência.
Constatada a inadimplência, a extinção do contrato deve
ocorrer por meio da decretação de caducidade. Está
prevista no art. 37 da Lei nº8.987/95.
Art. 37. Considera-se encampação a retomada do serviço
pelo poder concedente durante o prazo da concessão,
por motivo de interesse público, mediante lei
autorizativa específica e após prévio pagamento da
indenização, na forma do artigo anterior.
A alternativa A está incorreta. A caducidade é a forma de
extinção da concessão por inexecução total ou parcial do
contrato
A alternativa C está incorreta. A anulação ocorre quando
verificada ilegalidade na licitação ou no contrato de
concessão, podendo ser declarada diretamente pela
Administração Pública, no exercício do poder de
autotutela, por iniciativa própria ou provocação, ou pelo
Poder Judiciário, desde que provocado.
A alternativa D está incorreta. A rescisão é hipótese de
extinção do contrato por iniciativa da concessionária ou
permissionária. Ocorre por descumprimento das normas
contratuais pelo poder concedente e somente por ação
judicial intentada pelo contratado.
A alternativa E está incorreta. A reversão ocorre quando,
extinta a concessão, retornam ao poder concedente
todos os bens reversíveis, direitos e privilégios
transferidos à concessionária conforme previsto no
edital e estabelecido no contrato.
Questão 26
Henrique, de boa-fé, beneficiou-se de ato
administrativo sob o qual incidiu nulidade. Nesse caso,
o ato administrativo deve ser:
a) revogado, a qualquer tempo.
b) revogado, desde que observado o prazo legal de 5
(cinco) anos.
c) anulado, a qualquer tempo
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
d) anulado, desde que observado o prazo legal de 5
(cinco) anos.
e) ser convalidado pelo Poder Judiciário.
Comentários
Solução rápida
A alternativa D está correta e corresponde ao gabarito
da questão. O enunciado explicita que o ato
administrativo em questão está eivado de nulidade,
razão pela qual a solução jurídica cabível é a anulação,
que tem lugar quando verificado algum vício de
legalidade ou legitimidade (ou juridicidade) – a ofensa
ao ordenamento jurídico como um todo.
Além disso, em âmbito federal, a Lei nº 9.784/99, em
seu artigo 54, prevê o prazo decadencial de 5 (cinco)
anos para a anulação de atos dos quais resultem efeitos
favoráveis ao Administrado, salvo comprovada má-fé.
Solução completa
A alternativa D está correta e corresponde ao gabarito
da questão.
Em primeiro lugar, é necessário fazer uma diferenciação
entre revogação e anulação.
A revogação é a retirada de um ato administrativo
válido do mundo jurídico por critério de conveniência e
oportunidade do administrador. O ato não possui
qualquer irregularidade, está em perfeita harmonia
com o ordenamento jurídico, mas a administração
decide revogá-lo por entender ser a medida que melhor
atende ao interesse público. A revogação somente se
aplica aos atos discricionários.
Já a anulação tem lugar quando verificado algum vício
de legalidade ou legitimidade (ou juridicidade) – a
ofensa ao ordenamento jurídico como um todo. É
sempre um controle de legalidade. Por este motivo,
pode-se anular tanto um ato vinculado quanto um ato
discricionário, tendo em vista que todos eles devem
estar em harmonia com o ordenamento jurídico.
Sobre a temática, o STF explicitou:
Súmula 346-STF: A administração pública pode declarar
a nulidade dos seus próprios atos.
Súmula 473-STF: A administração pode anular os seus
próprios atos, quando eivados de vícios que os tornem
ilegais, porque deles não se originam direitos; ou
revogá-los, por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e
ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
O enunciado explicita que o ato administrativo em
questão está eivado de nulidade, razão pela qual a
solução jurídica cabível é a anulação.
Assim, estão incorretas as alternativas A, B e E.
Além disso, em âmbito federal, a Lei nº 9.784/99 prevê
o prazo decadencial de 5 (cinco) anos para a anulação
de atos dos quais resultem efeitos favoráveis ao
Administrado, salvo comprovada má-fé.
Nos termos da Lei nº 9.784/99:
Art. 54. O direito da Administração de anular os atos
administrativos de que decorram efeitos favoráveis
para os destinatários decai em cinco anos, contados da
data em que foram praticados, salvo comprovada má-
fé.
Assim, alternativa C está incorreta. l
DIREITO CIVIL
Professor Paulo Sousa
Questão 27
Joabes sofreu um acidente de carro ainda quando jovem
e, em razão de pancadas que recebeu na cabeça,
desenvolveu um quadro moderado de esquizofrenia. Em
razão disso, Joabes:
a) não poderá se casar;
b) será considerado absolutamente incapaz;
c) será considerado relativamente incapaz;
d) será considerado plenamente capaz para os atos da
vida civil.
e) deverá ser submetido a curatela.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra D.
O art. 5º, parágrafo único, do EPD estabelece que a
proteção à pessoa com deficiência deve, ainda, atentar
para aqueles que são considerados especialmente
vulneráveis. No CDC, são especialmente vulneráveis o
consumidor idoso e o consumidor deficiente, por
exemplo. São eles duplamente hipossuficientes,
portanto. No caso do EPD, tratam-se como pessoas
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
especialmente vulneráveis crianças, adolescentes,
mulheres e idosos, que têm deficiência.
Deficiente ou não, especialmente vulnerável ou não, as
pessoas não podem sofrer restrições à plena capacidade.
De maneira revolucionária, o art. 6º prevê que a
deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa
para numerosos atos da vida civil ligados, em linhas
gerais, aos direitos decorrentes das relações familiares:
Comentário curto
A alternativa A está incorreta. Considerando a
esquizofrenia como uma deficiência, ela não afeta a
plena capacidade civil da pessoa, conforme o art. 6º da
Lei nº 13.146/2015, especialmente o seu inciso I: “Art. 6º
A deficiência não afeta a plena capacidade civil da
pessoa, inclusive para: I - casar-se e constituir união
estável;”
A alternativa B está incorreta, conforme o art. 6º da Lei
nº 13.146/2015.
A alternativa C está incorreta, conforme o art. 6º da Lei
nº 13.146/2015.
A alternativa D está correta, conforme o art. 6º da Lei nº
13.146/2015.
A alternativa E está incorreta, pois a curatela é medida
excepcional.
Questão 28
Joana, exerceu por 25 anos o cargo de professora na rede
estadual. Quando contava com 57 anos, se aposentou.
Atualmente com 62 anos, optou por andar somente em
transporte coletivo, em razão dos assentos preferências
para idosos. Em determinado dia, Jonas, jovem de 16
anos, ocupava um dos assentos preferenciais e, ao ser
questionado, alegou não ser obrigado a ceder o lugar à
Joana, pois de acordo com a Lei 10.741/2003, ela não é
considerada idosa. Com base no exposto e de acordo
com o Estatuto do Idoso:
a) Jonas tem razão, pois é considerada pessoa idosa,
somente aquela que conta com mais de 65 anos de
idade.
b) Jonas tem razão, pois é considerada pessoa idosa,
somente aquela que conta com mais de 70 anos de
idade.
c) Jonas não tem razão, pois Joana passou a ser
considerada idosa ao se aposentar com 57 anos de idade.
d) Jonas não tem razão, pois Joana passou a ser
considerada idosa ao atingir 60 anos de idade.
e) Jonas não tem razão, porém, tampouco Joana pois,
não há na lei, qualquer determinação que obrigue as
transportadoras a reservarem assentos para idosos.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra D.
Ainda que não tenha dito, a Constituição disse que os
idosos são os maiores de 65 anos. Não obstante, essa
previsão indireta não encerrou as discussões, já que boa
parte da literatura jurídica continuava a insistir num
conceito qualitativo, e não meramente quantitativo, de
idoso. Em outras palavras, não seria suficiente indicar
uma idade para que se caracterizasse alguém como
idoso, mas era necessário levar-se em conta condições
biopsicossociológicas de cada um.
De maneira surpreendente – e eu diria até contraditória
com o claro indício dado pelo art. 230 da CF/1988 – a Lei
8.842/1994 estabeleceu, em seu art. 2º, que se
considera idoso, para os efeitos da lei, a pessoa maior de
60 anos de idade. Igual regra passou a constar na Lei
10.741/2003, o EI:
Art. 1º É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a
regular os direitos assegurados às pessoas com idade
igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
O EI, portanto, volta-se à proteção da pessoa que conta
com mais de 60 anos, independentemente de suas
condições biopsicossociológicas; se capaz ou incapaz, se
deficiente ou não, se aparente a idade ou não. Esses
elementos são irrelevantes para a aplicação do
microssistema especial.
Excepcionalmente, o EI leva em consideração esses
aspectos. A regra, portanto, é que idoso é aquele que
conta com mais de 60 anos, mas aspectos etários
diferenciados podem ser aplicáveis e critérios outros que
não o meramente etário também. Preste atenção nas
exceções, pois elas são frequentes nas provas!
Comentário curto
A alternativa D está correta, pois Joana passou a ser
considerada idosa ao atingir 60 anos de idade, conforme
dita o art. 1º da Lei 10.741/2003: “Art. 1º É instituído o
Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos
assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos”. Assim, ela tem direito aos bancos
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
reservados na forma da lei: “Art. 39. § 2o Nos veículos de
transporte coletivo de que trata este artigo, serão
reservados 10% (dez por cento) dos assentos para os
idosos, devidamente identificados com a placa de
reservado preferencialmente para idosos”.
Questão 29
João Lucas é um fã de revistas em quadrinhos sobre
super-heróis. Por essa razão, sempre comprou todos os
exemplares das revistas nas bancas, conseguindo juntar
mais de trezentas HQs. Devido à quantidade de revistas,
João Lucas resolveu organizar tudo em um quarto com
estantes, numerando e catalogando todas as revistas em
um nível de organização exemplar, como se biblioteca
particular fosse.
Em relação à biblioteca particular de João Lucas, é
correto afirmar:
a) as revistas devem ser consideradas como bens
singulares, visto que cada uma é única, não
possibilitando a reunião desses bens para quaisquer fins;
b) caracterizada na situação descrita a universalidade de
fato em relação às revistas;
c) caracterizada na situação descrita a universalidade de
direito em relação às revistas;
d) a análise da universalidade dos bens deve ocorrer
apenas entre aqueles de igual natureza, razão pela qual
as estantes não podem ser consideradas conjuntamente
com as revistas para quaisquer fins;
e) a universalidade dos bens somente pode ser
considerada conforme a previsão legal para
determinado caso.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra B.
A regra do art. 89 do CC/2002 estabelece que são
singulares, ou individuais, os bens que, embora reunidos,
se consideram de per si, independentemente dos
demais. Podem os bens singulares serem simples ou
compostos. Simples são os bens singulares cujos
elementos se ligam naturalmente, como ocorre com
uma árvore; compostos são os bens singulares cujos
elementos estão unidos pela vontade humana, como um
veículo.
Já os bens coletivos ou universais são os bens singulares
– iguais ou diferentes – reunidos em um todo
individualizado. Passa-se a considerar o todo, ainda que
não desapareça a peculiaridade individual de cada um. É
o caso de um pomar ou uma frota de veículos.
Os bens coletivos podem obter essa característica por
consequência fática ou jurídica. A universalidade de fato
constitui uma pluralidade de bens singulares que,
pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação
unitária, conforme o art. 90.
É o caso de uma biblioteca que, apesar de poder ser
compreendida através de cada um dos livros, constitui
uma destinação unitária, um todo maior. No mais, basta
pensar na língua portuguesa e seus substantivos
coletivos: biblioteca, frota, pomar, manada etc.
Já a universalidade de direito, como o nome diz, não
constitui uma totalidade na prática. Porém, para efeitos
jurídicos, um complexo de relações jurídicas de uma
pessoa, dotadas de valor econômico, constitui uma
unitariedade, segundo o art. 91. É o caso, por exemplo,
da herança ou do patrimônio. Ambos, ainda que na
prática constituam diversas singularidades, são tomados
como uma universalidade, juridicamente falando.
Entra aqui o conceito de patrimônio, que é uma
universalidade de direito, um complexo de relações
jurídicas dotadas de valor econômico, considerado em
sua unitariedade. É com essa perspectiva em mente que
o credor executa o “patrimônio” do devedor, a garantia
geral obrigacional apontada por Pontes de Miranda.
Comentário curto
A alternativa B está correta. Trata-se da universalidade
de fato, já que a destinação (unitária) dos bens (revistas,
estantes, adesivos da numeração e do catálogo, etc)
servem a um mesmo fim: a organização da biblioteca
pessoal. Nos termos do art. 90 do Código Civil: “Art. 90.
Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens
singulares que, pertinentes à mesma pessoa, tenham
destinação unitária.
Assim, alternativas A, C, D e E estão incorretas.
Primeiramente, os bens (ainda que de natureza
diferente) podem ser considerados conjuntamente para
determinados fins, como é o caso da universalidade de
fato. Ademais, não é caso de universalidade de direito
porque não é caso de um complexo de relações jurídicas
(art. 91, CC), mas sim de objetos com fim/destinação
comum (art. 90, CC).
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
Questão 30
André é colecionador de moedas raras e possui
certificado de perito em análise de itens colecionáveis.
Em razão de dificuldades financeiras, resolveu vender
algumas moedas cujo valor total somava R$15.000,00.
Adamastor, querendo tornar-se colecionador, buscou
por André para adquirir sua primeira coleção. Diante da
inexperiência de Adamastor, André lhe ofereceu a
coleção que estava à venda por R$ 50.000,00.
Acreditando ser o valor de mercado dos itens,
Adamastor os comprou. Diante do exposto e de acordo
com o Código Civil de 2002, assinale a alternativa
correta:
a) As moedas da coleção são consideradas bens fungíveis
e a prática de André caracteriza lesão.
b) As moedas da coleção são consideradas bens
consumíveis e a prática de André caracteriza coação.
c) As moedas da coleção são consideradas bens
singulares e a prática de André caracteriza lesão.
d) As moedas da coleção são consideradas bens coletivos
e a prática de André caracteriza coação.
e) As moedas da coleção são consideradas bens
infungíveis e a prática de André caracteriza lesão.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra E.
Na dicção do art. 85, são fungíveis os móveis que podem
substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e
quantidade. Infungíveis, portanto, serão aqueles que, ao
contrário, possuem peculiaridades próprias que os
tornam únicos, insubstituíveis.
Atente, pois essa classificação vale somente para os bens
móveis, dado que os bens imóveis são, essencialmente,
infungíveis, já que não permitem sua substituição por
outro de mesma espécie.
Vale mencionar que, a despeito de a infungibilidade ser,
de regra, natural (um quadro de Picasso é obviamente
infungível, ao passo que uma caneta esferográfica
comum BIC é igualmente de maneira óbvia fungível),
nada impede que as partes convencionem a
infungibilidade de um dado bem.
Por sua vez, a lesão, popularmente conhecida como
“galinha morta” ou “negócio da China”, já está presente
no ordenamento jurídico brasileiro há tempos. O art. 4º
da Lei 1.521/1951, que versa sobre a proteção da
economia popular, veda a criminosa conduta de cobrar
juros elevados quando da premente necessidade ou
inexperiência do mutuário (boa e velha agiotagem). No
CC/2002, a lesão está prevista no art. 157 e tem dois
pressupostos:
1. Prestação manifestamente desproporcional: valorada
pelo juiz (elemento objetivo). Por exemplo, vende a casa
de 1 milhão por 100 mil;
2. O negócio se deu por estado de necessidade ou
inexperiência (elemento subjetivo).
Veja que a apreciação da desproporção das prestações
se dá segundo os valores vigentes ao tempo em que foi
celebrado o negócio jurídico. Assim, se é verificada
desproporção de valores durante a execução do
contrato, por exemplo, não há que se falar em lesão,
como é comum se ver em ações revisionais que pululam
no Poder Judiciário. Pode haver onerosidade excessiva,
mas não lesão.
Comentário curto
A alternativa A está incorreta, pois são bens fungíveis, os
móveis que podem ser substituídos nos termos do art.
85 do CC/2002: “Art. 85. São fungíveis os móveis que
podem substituir-se por outros da mesma espécie,
qualidade e quantidade”. Porém, está caracterizada a
lesão, conforme o art. 157 do CC/2002: “Art. 157. Ocorre
a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade,
ou por inexperiência, se obriga a prestação
manifestamente desproporcional ao valor da prestação
oposta”.
A alternativa B está incorreta, pois bens consumíveis são
aqueles cujo uso importa sua destruição, nos termos do
art. 86 do CC/2002: “Art. 86. São consumíveis os bens
móveis cujo uso importa destruição imediata da própria
substância, sendo também considerados tais os
destinados à alienação”. Ademais, não está caraterizada
a coação, conforme se depreende do expresso pelo art.
151 do CC/2002: “Art. 151. A coação, para viciar a
declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao
paciente fundado temor de dano iminente e
considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus
bens”.
A alternativa C está incorreta, pois bens singulares são
aqueles que apesar da coletividade são considerados
independentemente, nos termos do art. 89 do CC/2002:
“Art. 89. São singulares os bens que, embora reunidos,
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
se consideram de per si, independentemente dos
demais”. Contudo como já analisado, está caracterizado
o vício da lesão.
A alternativa D está incorreta, pois, como já analisado, o
vício presente no negócio jurídico é o da lesão e não o da
coação.
A alternativa E está correta, pois as moedas, por serem
itens colecionáveis e raros, não podem ser substituídas
por outra, pois não haverá a mesma qualidade nem o
mesmo valor, conforme se deduz do expresso pelo art.
86 do CC/2002. Ademais, a prática de André caracteriza
o vício de lesão, nos termos do art. 157 do CC.
Questão 31
Em 13/07/2019, Marcos foi vítima de acidente
automobilístico em uma movimentava avenida da
cidade em que reside. Não possuindo seguro particular,
foi orientado por seu amigo advogado a ingressar, na
condição de beneficiário, com uma ação contra o seguro
que é pago conjuntamente com seu licenciamento para
dirigir.
Muito relaxado, Marcos apenas dá entrada com o pedido
judicial apenas em 13/08/2021. Sobre essa situação, é
correto afirmar que:
a) o direito de Marcos está prescrito, visto que no caso
de ações do beneficiário contra o seguro, o prazo
prescricional é de dois anos;
b) o direito de Marcos não está prescrito, visto que o
caso é de seguro de responsabilidade civil obrigatório,
que prescreve apenas em três anos;
c) o direito de Marcos está prescrito, visto que, no caso
de ações do beneficiário contra o seguro, o prazo
prescricional é de um ano;
d) o direito de Marcos está prescrito, visto que, no caso
de ações do beneficiário contra o seguro, o prazo
prescricional é de cinco anos;
e) o direito de Marcos está prescrito, visto que, sendo
caso de reparação civil, o prazo prescricional é de três
anos.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra B.
O Código Civil define a prescrição, em que pese o fazer
de maneira um tanto atécnica, no art. 189, primeira
parte:
Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a
pretensão, a qual se extingue, pela prescrição (...).
A literalidade do art. 189 aponta para a teoria da actio
nata em sua vertente puramente objetiva, ou seja, o
prazo correria do fato. Essa percepção se amolda à
perfeição à ponteana classificação da prescrição como
ato-fato jurídico caducificante. Isso porque, apesar de a
conduta humana ser relevante (no caso, a inação do
titular), a vontade humana é irrelevante.
A prescrição atinge as parcelas conforme forem se
vencendo, segundo a Súmula 85 do STJ, pela qual, nas
relações jurídicas de trato sucessivo em que a fazenda
pública figure como devedora, quando não tiver sido
negado o próprio direito reclamado, a prescrição atinge
apenas as prestações vencidas antes do quinquênio
anterior a propositura da ação.
Segundo o art. 206, Prescreve:
§ 3º Em três anos
I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou
rústicos;
II - a pretensão para receber prestações vencidas de
rendas temporárias ou vitalícias;
III - a pretensão para haver juros, dividendos ou
quaisquer prestações acessórias, pagáveis, em períodos
não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela;
IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento
sem causa;
V - a pretensão de reparação civil;
VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos
recebidos de má-fé, correndo o prazo da data em que foi
deliberada a distribuição;
VII - a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas
por violação da lei ou do estatuto, contado o prazo:
a) para os fundadores, da publicação dos atos
constitutivos da sociedade anônima;
b) para os administradores, ou fiscais, da apresentação,
aos sócios, do balanço referente ao exercício em que a
violação tenha sido praticada, ou da reunião ou
assembleia geral que dela deva tomar conhecimento;
c) para os liquidantes, da primeira assembleia semestral
posterior à violação;
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de
crédito, a contar do vencimento, ressalvadas as
disposições de lei especial;
IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a
do terceiro prejudicado, no caso de seguro de
responsabilidade civil obrigatório.
Comentário curto
As alternativas A, C e D estão incorretas. Inicialmente,
atenta-se que o caso proposto no enunciado trata sobre
seguro de responsabilidade civil obrigatório, comumente
conhecido como DPVAT (veja que o enunciado destacou
“juntamente com o licenciamento para dirigir”). Assim, o
prazo será o de três anos (art. 206, §3º, inciso IX, do
Código Civil) e não o de um ano, previsto no mesmo
artigo, mas em seu §1º, inciso II.
A alternativa B está correta, conforme a explicação
acima: “Art. 206. Prescreve: § 3º Em três anos: IX - a
pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do
terceiro prejudicado, no caso de seguro de
responsabilidade civil obrigatório.”
A alternativa E está incorreta. Apesar da indicação
correta do prazo de três anos, a situação proposta no
enunciado não é de reparação civil, mas sim de reclamar
pelo benefício do seguro de responsabilidade civil
obrigatório.
Questão 32
Roberto contratou com Jonas a compra de um lote de
terras. Como pagamento, os contratantes combinaram
que Jonas escolheria entre um apartamento ou um
rancho, ambos com valor equivalente ao valor de
compra do lote. Ocorre, porém, que por razões naturais,
o rio que margeava o rancho, reduziu-o pela metade,
fazendo com que seu valor se reduzisse ao ponto de não
mais ser possível a quitação da dívida por meio de sua
entrega. Com base no exposto e de acordo com o Código
Civil de 2002 é correto afirmar que:
a) Tornando-se inexequível a quitação da dívida por meio
de uma das prestações, extingue-se a obrigação.
b) A obrigação não deverá ser extinta, porém, Roberto
deverá buscar outro objeto capaz de substituir o rancho
alagado e reestabelecer as alternativas.
c) Roberto poderá transferir o rancho a Jonas e quitar o
restante da dívida por meio de pagamento em dinheiro,
tendo em vista que a escolha, nas obrigações
alternativas cabe ao devedor.
d) A obrigação não deverá ser extinta, pois o débito
subsistirá com relação ao apartamento, restando a
Jonas, portanto, a aceitação dele.
e) A obrigação deverá ser extinta, pois a obrigação
alternativa não poderá ser substituída.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra D.
A obrigação alternativa, também chamada de disjuntiva,
determina-se no cumprimento, ou seja, a escolha de
uma obrigação exclui a outra, segundo estabelece o art.
252. Essa escolha pode ser feita a critério do credor, do
devedor ou de árbitro, ou caso o terceiro não aceitar a
incumbência, ficará a cargo do juiz, segundo o art. 252,
§4º.
O juiz também acaba decidindo em outros casos. Na
ausência de concordância, em havendo pluralidade de
optantes (mais de uma pessoa deve fazer a escolha),
terminado o prazo para a escolha (§3º do mesmo
dispositivo), recai a incumbência ao juiz.
Em regra, porém, se não houver estipulação alguma a
respeito do tema, a escolha cabe ao devedor, segundo
regra clássica prevista no art. 252. De novo, a “lógica” do
Direito das Obrigações ilumina esse raciocínio: a
satisfação dos interesses do credor, guiada pelo
adimplemento.
Quem faz a escolha deve escolher uma das alternativas
integralmente, não podendo escolher parte de uma ou
de outra, consoante estabelece o art. 252, §1º do
CC/2002. No entanto, no caso de prestações periódicas,
a opção pode ser exercida a cada período, e não apenas
no primeiro ato de escolha, pela previsão do §2º.
A obrigação alternativa tem por peculiaridade sua
manutenção, ainda que haja perecimento de um dos
objetos ou tenha ele se tornado inexequível (art. 253). Se
uma das obrigações se torna impossível, sem culpa de
quaisquer das partes, a obrigação se concentra na
restante, independentemente de a quem caiba a
escolha, na dicção do art. 253.
Comentário curto
A alternativa D está correta, conforme o art. 253 do
CC/2002: “Art. 253. Se uma das duas prestações não
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
puder ser objeto de obrigação ou se tornada inexeqüível,
subsistirá o débito quanto à outra”.
Consequentemente, estão incorretas as alternativas A,
B, C e E.
Questão 33
Clarindo, para visitar sua família, contrata semanalmente
com a empresa de transporte coletivo urbano Rota Certa
Ltda. Em uma dessas viagens, um grupo fortemente
armado invadiu o ônibus e roubou a bagagem de todos
os passageiros. Inconformado, Clarindo ajuizou ação de
indenização em face da Rota Certa, requerendo
indenização pela bagagem roubada. Diante dos fatos e
de acordo com o entendimento do STJ é correto afirmar
que:
a) É devida a indenização a Clarindo, uma vez que a
transportadora é legalmente responsável tanto pelo
passageiro como por sua bagagem.
b) Não é devida a indenização a Clarindo, uma vez que
não foi previamente estipulado em contrato o dever de
indenizar em caso de roubo.
c) É devida a indenização a Clarindo, apenas se
comprovado que na bagagem objeto do roubo, haviam
objetos de valor relevante.
d) Não é devida a indenização a Clarindo, pois o assalto
à mão armada é considerado caso fortuito, afastando a
responsabilidade da transportadora.
e) É devida a indenização a Clarindo, uma vez que não é
possível a alegação de caso fortuito.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra D.
O caso fortuito e a força maior são excludentes do nexo
de causalidade. O art. 393 estabelece que o devedor não
responde pelos prejuízos resultantes do caso fortuito ou
da força maior se não se houver responsabilizado
expressamente.
Há quem distinga o caso fortuito da força maior. Orlando
Gomes afiança que o caso fortuito é o evento
imprevisível, humano ou natural, ao passo que a força
maior seria o evento previsível, mas inevitável ou
irresistível. Não me parece necessário fazer a distinção
porque o CC/2002 não o faz; trata das duas hipóteses
como se fossem termos equívocos e mesmo unívocos.
Além disso, a noção de “previsível” tem sentido peculiar
no Direito. Basta assistir à previsão do tempo. Ora, a
chuva não é mais ou menos previsível, em vista dos
conhecimentos climáticos que hoje se tem? Ou é
imprevisível? O desabamento de um prédio condenado
pela Defesa Civil é previsível ou imprevisível? Como a
vida contemporânea se pauta cotidianamente por
cálculos matemáticos de previsibilidade, essa distinção
se mostra ultrapassada, a meu ver.
Adiante, trabalharei, no caso de “fato de terceiro”, outra
distinção existente entre o caso fortuito e a força maior,
que começou já há tempos, mas vem se consolidando
apenas mais recentemente. Essa sim me parece ser uma
distinção mais interessante e de aplicabilidade prática
relevante.
Superado o ponto, se verificará o caso fortuito ou a força
maior nas situações nas quais o evento danoso é
necessário, com efeitos inevitáveis. A chuva forte é
evento necessário, em dadas circunstâncias climáticas, e
seus efeitos não podem ser evitados; podem até ser
previstos, mas não evitados.
Inversamente, não se verifica caso fortuito ou força
maior nas situações nas quais o risco de dano é inerente
à atividade, ou se poderia falar que é inerente a um carro
explodir, já que ele traz numerosos compostos químicos
explosivos, pode explodir espontaneamente. Não há
lógica nesse raciocínio.
A regra de que o caso fortuito e a força maior afastam o
dever de indenizar é sujeita a exceções. Essas exceções,
no entanto, são esparsas, vistas especificamente em
cada situação que enseja o dever de indenizar.
Por exemplo, nos casos de mora do devedor, antes da
tradição da coisa incerta; ou no comodato, quando o
comodatário salva as coisas próprias primeiro. Mesmo
em havendo caso fortuito ou força maior, perdura o
dever de indenizar, por expressa previsão legal.
Segundo entendimento do STJ: “RECLAMAÇÃO.
RESOLUÇÃO STJ Nº 12/2009. DIVERGÊNCIA ENTRE
ACÓRDÃO DE TURMA RECURSAL ESTADUAL E A
JURISPRUDÊNCIA DO STJ. RESPONSABILIDADE CIVIL.
ASSALTO NO INTERIOR DE ÔNIBUS COLETIVO. CASO
FORTUITO EXTERNO. EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE
DA EMPRESA TRANSPORTADORA. MATÉRIA PACIFICADA
NA SEGUNDA SEÇÃO. (...) 3. A jurisprudência consolidada
neste Tribunal Superior, há tempos, é no sentido de que
o assalto à mão armada dentro de coletivo constitui
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
fortuito a afastar a responsabilidade da empresa
transportadora pelo evento danoso daí decorrente para
o passageiro. (RECLAMAÇÃO Nº 4.518 - RJ
(2010/0134714-4) ”.
Comentário curto
A alternativa D está correta, segundo entendimento do
STJ: “RECLAMAÇÃO. RESOLUÇÃO STJ Nº 12/2009.
DIVERGÊNCIA ENTRE ACÓRDÃO DE TURMA RECURSAL
ESTADUAL E A JURISPRUDÊNCIA DO STJ.
RESPONSABILIDADE CIVIL. ASSALTO NO INTERIOR DE
ÔNIBUS COLETIVO. CASO FORTUITO EXTERNO.
EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE DA EMPRESA
TRANSPORTADORA. MATÉRIA PACIFICADA NA SEGUNDA
SEÇÃO. (...) 3. A jurisprudência consolidada neste
Tribunal Superior, há tempos, é no sentido de que o
assalto à mão armada dentro de coletivo constitui
fortuito a afastar a responsabilidade da empresa
transportadora pelo evento danoso daí decorrente para
o passageiro. (RECLAMAÇÃO Nº 4.518 - RJ
(2010/0134714-4) ”.
Consequentemente está incorreta a alternativa A, B e C.
Questão 34
Sérgio, com 15 anos de idade, possui forte amizade com
sua vizinha, Cláudia, que conta com 18 anos de idade.
Determinado dia, Sérgio pediu, sem o conhecimento de
seus pais, R$ 2.000,00 reais emprestados a Cláudia, que,
devido à relação de amizade, não titubeou em
emprestar-lhe o numerário. Passada a data em que se
estipulou a quitação da dívida, Cláudia cobrou Sérgio,
que se negou a pagar. Com base no exposto e de acordo
com o Código Civil de 2002 é correto afirmar que:
a) Para reaver a quantia emprestada ao menor, Cláudia
deverá recorrer ao juízo, que obrigará Sérgio a quitar a
dívida e, caso este não o faça, serão executados os bens
de seus pais.
b) Cláudia somente poderá reaver seu dinheiro de volta
se os pais de Sérgio confirmarem o negócio jurídico
celebrado entre os contratantes.
c) Cláudia não poderá reaver a quantia emprestada ao
vizinho, uma vez que se trata de empréstimo realizado
sem a autorização dos pais do menor absolutamente
incapaz.
d) Cláudia somente poderá reaver a quantia emprestada
a Sérgio quando este alcançar, ao menos, a capacidade
relativa.
e) Cláudia somente poderá reaver a quantia emprestada
a Sérgio quando este alcançar a capacidade absoluta.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra C.
O art. 588 estabelece que o mútuo feito a menor, sem
prévia autorização de seu responsável, não pode ser
reavido nem do mutuário, nem de seus fiadores. Trata-
se de obrigação natural, destituída de pretensão
processual, ou seja, há obrigação (Schuld), mas não há
correspondente responsabilidade (Haftung).
Porém, excepcionalmente, o art. 589, em seus incisos,
torna repetível o pagamento, no caso de mútuo feito a
menor (absoluta ou relativamente incapaz, não
importa):
I - se a pessoa, de cuja autorização necessitava o
mutuário para contrair o empréstimo, o ratificar
posteriormente;
II - se o menor, estando ausente essa pessoa, se viu
obrigado a contrair o empréstimo para os seus alimentos
habituais;
III - se o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho.
Mas, em tal caso, a execução do credor não lhes poderá
ultrapassar as forças;
IV - se o empréstimo reverteu em benefício do menor;
V - se o menor obteve o empréstimo maliciosamente.
Comentário curto
A alternativa A está incorreta, pois Cláudia não poderá
reaver a quantia emprestada a Sérgio, conforme dita o
art. 588 do CC/2002: “Art. 588. O mútuo feito a pessoa
menor, sem prévia autorização daquele sob cuja guarda
estiver, não pode ser reavido nem do mutuário, nem de
seus fiadores”.
A alternativa B está incorreta, pois como o negócio
jurídico celebrado entre Cláudia e Sérgio é nulo, em
razão da incapacidade absoluta do menor, não é possível
sua confirmação, segundo o que dita o art. 169 do
CC/2002: “Art. 169. O negócio jurídico nulo não é
suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso
do tempo”.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
A alternativa C está correta, pois em se tratando de
contrato de mútuo realizado com menor absolutamente
incapaz, sem a autorização de seus pais, não será
possível que Cláudia receba a quantia emprestada,
conforme expresso pelo art. 588 do CC/2002.
A alternativa D está incorreta, pois como já analisado,
Cláudia não poderá reaver o dinheiro emprestado a
Sérgio.
A alternativa E está incorreta, conforme alternativa
anteriores.
Questão 35
O sítio de Dirce é separado do sítio de Leda por um rio
que, em um dia de muita chuva, deslocou violentamente
uma porção de terra da propriedade de Leda para a de
Dirce. Consequentemente, o sítio desta aumentou em
alguns metros, enquanto o da vizinha diminuiu
proporcionalmente. Diante da situação narrada e de
acordo com as disposições do Código Civil de 2002 é
correto afirmar que:
a) O que ocorreu foi o fenômeno da aluvião, por isso,
Dirce não deve qualquer indenização à sua vizinha.
b) Em decorrência do fenômeno da aluvião, Dirce ficará
obrigada a indenizar sua vizinha pela faixa de terra que
foi incorporada à sua propriedade.
c) O que ocorreu foi o fenômeno da avulsão. Em
decorrência disso, ficará Dirce obrigada a indenizar sua
vizinha. Caso Leda não reclame tal indenização no prazo
de cinco anos, Dirce fica isenta do pagamento da mesma.
d) O que ocorreu foi o fenômeno da avulsão, por isso,
Dirce não deve qualquer indenização à sua vizinha.
e) Em razão da avulsão, Dirce ficará obrigada a indenizar
sua vizinha pelas terras juntadas à sua propriedade. No
entanto, caso se negue a pagar a indenização, deverá
permitir, então, a remoção da parte acrescida ao seu
sítio.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra E.
A Avulsão ocorre quando por força violenta da natureza,
uma porção de terras desloca-se de uma propriedade
para outra, sem intervenção humana (art. 1.251).
Se em um ano o proprietário que perdeu terras não
contatar aquele que teve terras acrescidas, perde o
direito de propriedade sobre a área (prazo decadencial).
Do contrário, o proprietário que perdeu terras é
indenizado e o que ganhou as terras adquire sua
propriedade. Se não quiser indenizar, aquele que perder
as terras tem direito a reclamá-las de volta (art. 1.251,
parágrafo único).
Esse caso é emblemático a demonstrar como a teoria do
fato jurídico ponteana funciona de maneira bem mais
adequada que as demais, em termos de compreensão da
aplicação do direito. Comumente, a literatura jurídica
menos técnica e imprecisa faz conexão intrínseca da
responsabilidade civil com a conduta humana.
O art. 1.251 não deixa margem de dúvida. Aqui, inexiste
qualquer conduta humana a imputar responsabilidade.
Ainda assim, persiste o dever de indenizar daquele que
recebe terras. Não que ele não tenha culpa; ele sequer
agiu, não há conduta.
A responsabilidade civil baseada no critério culposo
(subjetiva), e mesmo a responsabilidade civil sem culpa
(objetiva) incorrem no mesmo erro, qual seja a
vinculação a um ato humano. Equivocado porque a
responsabilidade civil se baseia num critério de
imputação. Haverá dever de indenizar porque imputarei
a responsabilidade a alguém, independentemente de ter
sido o responsável o ofensor (responsabilidade por fato
de outrem), mesmo que o ato tenha se originado
exclusivamente por fato da natureza.
Comentário curto
A alternativa A está incorreta, pois trata-se da avulsão
que gera o dever de indenizar, conforme se depreende
do expresso pelo art. 1.251 do CC/2002: “Art. 1.251.
Quando, por força natural violenta, uma porção de terra
se destacar de um prédio e se juntar a outro, o dono
deste adquirirá a propriedade do acréscimo, se indenizar
o dono do primeiro ou, sem indenização, se, em um ano,
ninguém houver reclamado”.
A alternativa B está incorreta, pois como já analisado,
trata-se da avulsão e não da aluvião.
A alternativa C está incorreta, pois apesar de realmente
tratar-se de avulsão, Dirce se exime do dever de
indenizar, caso Leda não reclame a indenização dentro
do prazo de UM ano, conforme prevê o art. 1.251 do
CC/2002.
A alternativa D está incorreta, pois a avulsão gera o dever
de indenizar.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
A alternativa E está correta, como já analisado, Dirce
deverá indenizar sua vizinha. Caso se negue à prestar a
devida indenização, deverá permitir que a parte
acrescida ao seu terreno seja removida, conforme
determinação do parágrafo único, do art. 1.251, do
CC/2002: “Art. 1.251. Parágrafo único. Recusando-se ao
pagamento de indenização, o dono do prédio a que se
juntou a porção de terra deverá aquiescer a que se
remova a parte acrescida”.
Questão 36
Tadeu, sabendo que seu vizinho João se ausentara da
cidade para cuidar de seus pais que haviam adoecido,
ocupou a casa do vizinho com seu filho Josias. Com base
no disposto no Código Civil de 2002, é correto afirmar
que:
a) A posse de Tadeu pode ser considerada de boa-fé,
portanto, caso queira requerer a usucapião, terá que
exercer a posse do imóvel por dez anos.
b) Caso Tadeu faleça após ter ocupado o imóvel por
quinze anos, tendo-o utilizado como sua moradia, é
possível que seu filho Josias requeira a propriedade do
imóvel.
c) Em caso de ação reivindicatória por parte de João, este
deverá ressarcir Tadeu pelas benfeitorias úteis e
necessárias.
d) Em caso de ressarcimento, João deverá indenizar
Tadeu pelo valor atual das benfeitorias realizadas no
imóvel.
e) Caso João volte e se depare com Tadeu, poderá
utilizar-se indiscriminadamente da força para restituir-se
de seu imóvel.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra B.
Repetindo a regra do art. 1.203, o art. 1.206 estabelece
que a posse se transmite aos herdeiros e legatários com
os mesmos caracteres. Regra especial óbvia em face da
regra geral.
No entanto, no caso de sucessão mortis causa, o
CC/2002 estabelece uma peculiaridade. No primeiro
caso, de sucessão universal – herança –, a transmissão
da posse é obrigatória; no segundo, de sucessão singular
– legado –, a transmissão é facultativa.
Venosa estabelece que apesar de o art. 1.206 parecer
tratar apenas dos casos de sucessão mortis causa, vale
também para a transmissão inter vivos. Assim, adquirida
a casa, a título singular, pode-se optar por unir a posse
atual à anterior, ou não. No caso de “aquisição da PJ”
(compra “porteira fechada” do estabelecimento
comercial), a sucessão, a título universal, ensejaria a
união forçosa da posse.
A principal utilidade da transmissão das posses é na
usucapião, na qual a posse deve ser somada ao tempo –
ambas devem ser contínuas e pacíficas. Por isso, por
vezes, é melhor ao possuidor novo não unir sua posse
com a posse do anterior, já que os prazos para a
usucapião em não havendo boa-fé ou no caso de posse
injusta, por exemplo, são bem maiores.
Veja-se que, a teor do Enunciado 494 da V Jornada de
Direito Civil, a faculdade conferida ao sucessor singular
de somar ou não o tempo da posse de seu antecessor
não significa que, ao optar por nova contagem, estará
livre do vício objetivo que maculava a posse anterior.
Esse Enunciado vai ao encontro do que eu disse antes a
respeito da alteração dos caracteres da posse.
Comentário curto
A alternativa A está incorreta, pois a posse de Tadeu não
é de boa-fé conforme se depreende da dicção do art.
1.210 do CC/2002: “Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o
possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a
aquisição da coisa”. Assim, o prazo para requerer a
usucapião será de 15 (quinze) anos, conforme o art.
1.238 do CC/2002: “Art. 1.238. Aquele que, por quinze
anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu
um imóvel, adquire-lhe a propriedade,
independentemente de título e boa-fé; podendo
requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual
servirá de título para o registro no Cartório de Registro
de Imóveis”.
A alternativa B está correta, pois a posse transmite-se
aos herdeiros, de maneira que Josias herda a posse de
seu pai na forma em que está conforme dita o artigo
1.206 do CC/2002: “Art. 1.206. A posse transmite-se aos
herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos
caracteres”.
A alternativa C está incorreta, pois somente são devidas
as benfeitorias necessárias, conforme o art. 1.220 do
CC/2002: “Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão
ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
assiste o direito de retenção pela importância destas,
nem o de levantar as voluptuárias”.
A alternativa D está incorreta, pois João poderá optar por
indenizar Tadeu no valor atual ou em seu custo,
conforme o art. 1.222 do CC/2002: “Art. 1.222. O
reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao
possuidor de má-fé, tem o direito de optar entre o seu
valor atual e o seu custo; ao possuidor de boa-fé
indenizará pelo valor atual”.
A alternativa E está incorreta, pois o uso da força não
pode ser indiscriminado, conforme previsão do §1º, do
art. 1.210, do CC/2002: “§ 1º O possuidor turbado, ou
esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua
própria força, contanto que o faça logo; os atos de
defesa, ou de desforço, não podem ir além do
indispensável à manutenção, ou restituição da posse”.
Questão 37
Marcos e João estavam debatendo sobre o assunto de
posse e seus reflexos durante o intervalo das aulas da
faculdade, logo antes de iniciar a aula de Direito Civil.
Marcos utilizou como exemplo em sua explicação a
relação existente entre seu pai (empregador) e um
funcionário que realiza as entregas de mercadorias no
carro da empresa, enquanto João estava tratando de
posse relativa a bens imóveis. Em relação a esse debate,
estará correto quem afirmar que:
a) o locatário tem a posse direta do imóvel e o locador a
indireta;
b) o possuidor de boa-fé não responde pela perda da
coisa, ainda que tenha dado causa ao fato;
c) o possuidor direto não poderá defender a sua posse
contra o indireto, quando o último for o proprietário;
d) o empregado que realiza as entregas no carro da
empresa e o guarda diariamente em sua garagem, ainda
que por ordem do empregador, terá direito a usucapir o
referido bem;
e) o possuidor de má-fé tem direito aos frutos
percebidos durante a posse.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra A.
A. Posse direta
Aquele que detém o poder físico detém a posse direta.
Em geral, o proprietário é também possuidor direto. Mas
nem sempre.
O possuidor indireto pode defender autonomamente
sua posse, mesmo contra o possuidor direto, se for
turbado na posse (art. 1.197 do CC/2002). É o caso, por
exemplo, do locador que tenta um “despejo
extrajudicial”; o locatário pode exercer uma
reintegração de posse em face do locador, nesse caso.
B. Posse indireta
O proprietário, ainda que limitadamente, detém a posse
indireta da coisa, mesmo que não a detenha, não a tenha
consigo ou não a utilize.
É o caso do locador, que não detém a posse direta, mas,
por causa do direito de propriedade, detém posse
indireta.
Comentário curto
A alternativa A está correta. A posse direta é aquela
efetivamente exercida. Logo, o locatário, que está na
posse do imóvel, é o possuidor direto e o locador o
indireto.
A alternativa B está incorreta, conforme o art. 1.217 do
Código Civil: “Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não
responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não
der causa.”
A alternativa C está incorreta. Poderá defender, ainda
quando o outro for proprietário (possuidor indireto),
conforme o art. 1.197 do Código Civil: “Art. 1.197. A
posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder,
temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real,
não anula a indireta, de quem aquela foi havida,
podendo o possuidor direto defender a sua posse contra
o indireto.”
A alternativa D está incorreta. O empregado será mero
detentor do bem, não cabendo usucapião no caso,
conforme o art. 1.198 do Código Civil: “Art. 1.198.
Considera-se detentor aquele que, achando-se em
relação de dependência para com outro, conserva a
posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou
instruções suas.
A alternativa E está incorreta. Isso cabe ao possuidor de
boa-fé, conforme o art. 1.214 do Código Civil: “Art. 1.214.
O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar,
aos frutos percebidos.”.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
Questão 38
Clarissa e Otávio sempre sonharam em ter uma filha,
cujo nome seria Valentina. Quando Clarissa engravidou,
o casal combinou que finalmente realizariam tal sonho.
No entanto, após o nascimento de sua filha, Otávio, a fim
de homenagear sua mãe, registrou unilateralmente a
filha do casal como Cecília Valentina. Diante de tais fatos
e segundo o entendimento do STJ:
a) Clarissa poderá excluir o prenome “Cecília”, pois
conscientemente Otávio desrespeitou o consenso prévio
acerca do nome da filha, violando os deveres de lealdade
e de boa-fé, o que configura ato ilícito e exercício abusivo
do poder familiar.
b) Clarissa nada poderá fazer, pois a modificação do
nome civil se admite apenas em situações excepcionais
e previstas em lei.
c) Clarissa nada poderá fazer. Apenas a filha do casal é
que, ao atingir a maioridade, poderá decidir se manterá
o nome atribuído unilateralmente pelo pai ou não.
d) O nome da criança somente poderá ser alterado caso
o casal vá conjuntamente ao registro e requeira tal
modificação, uma vez que nomear a filha é típico ato de
exercício do poder familiar, que pressupõe
bilateralidade, salvo na falta ou impedimento de um dos
pais.
e) O nome da criança não poderá ser alterado em
hipótese alguma, pois a lei civil além de ser rígida com
relação ao tema, não considera como ato ilícito o registro
unilateral se feito por um dos genitores, quando o outro
estiver impossibilitado, como foi o caso de Clarissa, que
não se encontrava em condições de registrar a filha logo
após o parto.
Comentários
Comentário longo
A alternativa correta é a letra A.
Apesar da modificação do nome civil seja qualificada
como excepcional e as hipóteses em que se admite a
alteração sejam restritivas, o STJ tem reiteradamente
flexibilizado essas regras, permitindo-se a modificação se
não houver risco à segurança jurídica e a terceiros.
Assim, decidiu a Corte que o ato do pai que,
conscientemente, desrespeita o consenso prévio entre
os genitores sobre o nome a ser de dado ao filho,
acrescendo prenome de forma unilateral por ocasião do
registro civil, além de violar os deveres de lealdade e de
boa-fé, configura ato ilícito e exercício abusivo do poder
familiar, sendo motivação bastante para autorizar a
exclusão do prenome indevidamente atribuído à criança
(REsp 1.905.614-SP).
Comentário curto
A alternativa A está correta, pois apesar da modificação
do nome civil seja qualificada como excepcional e as
hipóteses em que se admite a alteração sejam restritivas,
o STJ tem reiteradamente flexibilizado essas regras,
permitindo-se a modificação se não houver risco à
segurança jurídica e a terceiros. Assim, decidiu a Corte
que o ato do pai que, conscientemente, desrespeita o
consenso prévio entre os genitores sobre o nome a ser
de dado ao filho, acrescendo prenome de forma
unilateral por ocasião do registro civil, além de violar os
deveres de lealdade e de boa-fé, configura ato ilícito e
exercício abusivo do poder familiar, sendo motivação
bastante para autorizar a exclusão do prenome
indevidamente atribuído à criança (REsp 1.905.614-SP).
Consequentemente estão incorretas as alternativas B, C,
D e E.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Professor Rodrigo Vaslin
Questão 39
Berenine promoveu ação com pedido condenatório em
face de Iago, que alegou, na sua contestação,
ilegitimidade passiva, além de afirmar não ter sido o
responsável pelos danos descritos na exordial.
Nos termos do Código de Processo Civil em vigor,
a) deverá o autor requerer a desistência da ação.
b) deverá o réu indicar o verdadeiro responsável pelos
danos, quando o souber.
c) poderá o autor requerer o ingresso do réu como
assistente.
d) poderá o réu chamar ao processo terceiro.
e) poderá o autor exigir a sucessão processual.
Comentários
Gabarito: B Letra B: correta. CPC, Art. 339: Quando
alegar sua ilegitimidade, incumbe ao réu indicar o sujeito
passivo da relação jurídica discutida sempre que tiver
conhecimento, sob pena de arcar com as despesas
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
processuais e de indenizar o autor pelos prejuízos
decorrentes da falta de indicação.
Questão 40
João, executado, interpôs embargos à execução,
tempestivamente, alegando a impossibilidade de pagar
a dívida porque irá realizar uma viagem.
Nessa situação hipotética, conforme determina o CPC, os
embargos à execução deverão ser
a) conhecidos, julgando-se imediatamente o mérito,
mesmo sem a intimação da parte exequente para que se
manifeste.
b)rejeitados liminarmente, por serem manifestamente
protelatórios.
c) rejeitados liminarmente, não se podendo aplicar
multa por conduta atentatória à dignidade da justiça.
d) conhecidos, aplicando-se o efeito suspensivo mesmo
sem a garantia do juízo.
e) rejeitados, embora com a aplicação do efeito
suspensivo.
Comentários
Gabarito: B
letra a: errada. Os embargos deverão ser rejeitados
liminarmente, por serem protelatórios.
Letra b: certa. Art. 918. O juiz rejeitará liminarmente os
embargos: I - quando intempestivos; II - nos casos de
indeferimento da petição inicial e de improcedência
liminar do pedido; III - manifestamente protelatórios.
Parágrafo único. Considera-se conduta atentatória à
dignidade da justiça o oferecimento de embargos
manifestamente protelatórios.
Letra c: errada. Os embargos deverão ser rejeitados
liminarmente, por serem protelatórios.
Letra d: errada. Os embargos deverão ser rejeitados
liminarmente, por serem protelatórios.
Letra e: errada, pois não será concedido efeito
suspensivo.
Questão 41
João e Maria, casados há mais de 10 anos, sob o regime
de comunhão parcial de bens, constituíram, ao longo do
casamento, significativo patrimônio.
Certo dia, por conta de uma compra e venda realizada 5
anos após o casamento, João é citado em uma ação que
versa sobre direito real imobiliário.
Sobre o assunto, é correto afirmar que:
a) Maria deve ser citada, pois existe litisconsórcio passivo
necessário entre os cônjuges em ação que verse sobre
direito real imobiliário, mesmo que casados sob o regime
de separação absoluta de bens.
b)Maria não deve ser citada, pois existe litisconsórcio
passivo facultativo entre os cônjuges em ação que verse
sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob
o regime de separação absoluta de bens.
c) Maria não deve ser citada, pois não existe
litisconsórcio passivo necessário entre os cônjuges em
ação que verse sobre direito real imobiliário.
d) Maria deve ser citada, pois existe litisconsórcio
passivo necessário entre os cônjuges em ação que verse
sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob
o regime de separação absoluta de bens.
e) Maria não deve ser citada, pois não se trata de
litisconsórcio.
Comentários
Gabarito: D
letra d: correta. Como estamos diante de hipótese de
litisconsórcio passivo necessário (casamento), a citação
é obrigatória para evitar nulidade, nos termos do art. 73,
§1, c/c art. 114, ambos do CPC/2015.
Questão 42
Paulo pretende ajuizar uma ação de cobrança em face
de Arnaldo José, tendo em vista um contrato de compra
e venda firmado entre ambos. As alegações de fato
propostas por Paulo podem ser comprovadas apenas
documentalmente, e existe uma tese firmada em
julgamento de casos repetitivos.
Nesse caso:
a)A tutela da evidência será concedida, caso seja
demonstrado o perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo, quando as alegações de fato puderem
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
ser comprovadas apenas documentalmente e houver
tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em
súmula vinculante.
b)A tutela da evidência será concedida,
independentemente da demonstração de perigo de
dano ou de risco ao resultado útil do processo, somente
quando ficar caracterizado o abuso do direito de defesa
ou o manifesto propósito protelatório da parte.
c) A tutela da evidência será concedida,
independentemente da demonstração de perigo de
dano ou de risco ao resultado útil do processo, quando
as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas
documentalmente e houver tese firmada em julgamento
de casos repetitivos ou em súmula vinculante.
d) A tutela da evidência será concedida,
independentemente da demonstração de perigo de
dano ou de risco ao resultado útil do processo, somente
quando a petição inicial for instruída com prova
documental suficiente dos fatos constitutivos do direito
do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar
dúvida razoável.
e) A tutela de evidência não será concedida, dada a
ausência dos requisitos legais para tanto.
Comentários
Gabarito: C
letra c: correta. CPC - Art. 311. A tutela da evidência será
concedida, independentemente da demonstração de
perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo,
quando: II - as alegações de fato puderem ser
comprovadas apenas documentalmente e houver tese
firmada em julgamento de casos repetitivos ou em
súmula vinculante;
Questão 43
Por conta de um abalroamento que lhe causou graves
repercussões, Marcela ajuizou ação de cobrança em face
de Gabriel, o condutor da Van, pleiteando danos
materiais, no importe de 58 mil reais, e danos morais, no
montante de 200 mil reais. Em relação aos danos
materiais, comprovou que gastou 10 mil nos
procedimentos médicos não autorizados pelo plano de
asúde, bem como que tinha rendimento mensal médio
de 4 mil reais e que ficou parada por 6 meses, totalizando
um prejuízo de 24 mil reais. E que pediu 58 mil de danos
materiais porquanto, naquele semestre, tinha
perspectiva de ganhar o dobro, pois havia criado um
perfil nas redes sociais, um mês antes do acidente, e
estava crescendo bastante, contando já com 1000
seguidores.
Uma vez citado, Gabriel apresentou contestação
tempestivamente, invocando uma questão preliminar de
falta de interesse processual. Instada a se manifestar em
réplica, Marcela alegou que teria cometido um erro
material na digitação da sua petição inicial, uma vez que
nela deveria ter constado, além dos pedidos de danos
materiais e morais, também o pedido de danos estéticos.
Ainda, juntou provas de lesões permanentes em seu
rosto.
Sem a oitiva de Gabriel, constatando não haver mais
provas a serem produzidas, o juiz proferiu sentença,
condenando o réu ao pagamento dos danos materiais
em 34 mil, danos morais em 80 mil reais e danos
estéticos em 40 mil reais.
Considerando o caso narrado, assinale a afirmativa
correta.
a) Por não se tratar de modificação, mas de simples
retificação de erro material, Marcela poderia ter
requerido a alteração do pedido a qualquer tempo,
sendo dispensável a manifestação de Gabriel.
b) Em se tratando de alteração do pedido posterior à
citação, Marcela não poderia tê-lo feito sem o
consentimento de Gabriel e sem que ele fosse ouvido.
c) Marcela poderia ter alterado o pedido,
independentemente do consentimento de Gabriel,
desde que ele fosse ouvido.
d) Por se tratar de alteração do pedido antes do
saneamento do processo, o consentimento de Gabriel
era desnecessário.
e) O magistrado deveria ter concedido os 58 mil de danos
materiais, uma vez que foram comprovados não apenas
os danos emergentes, mas também integralmente os
lucros cessantes.
Comentários
Gabarito: B
letra b: certa. Como a alteração do vencimento da
parcela repercute diretamente nos valores que serão
pedidos, houve alteração do pedido e não mero erro
material. Além disso, o art. 329, II, do CPC, dispõe que o
autor poderá até o saneamento do processo, aditar ou
alterar o pedido e a causa de pedir, com consentimento
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
do réu, assegurado o contraditório mediante a
possibilidade de manifestação deste no prazo mínimo de
15 (quinze) dias, facultado o requerimento de prova
suplementar.
Letra E: incorreta, tendo em vista que os lucros cessantes
(o que a autora deixou de ganhar) não foi comprovado
integralmente. Deveria ser considerado o rendimento
médio - 4 mil ao mês, mas não a dobra do rendimento
apenas por conta da rede social.
Questão 44
Vitor, residente em Belo Horizonte/MG, precisou se
mudar para São Paulo. Para realizar sua mudança,
propôs pagar uma quantia de R$ 10.000,00 (dez mil
reais) para Danilo e Juarez, além de arcar com todos os
custos da viagem.
Por não ter acompanhado o serviço, Vitor não sabe
quem efetivamente o fez. Após o término da mudança,
Vitor tentou quitar a dívida, mas não sabia a quem pagar,
pois ambos afirmaram ser titulares do crédito. Sendo
assim,
a)Vitor requererá o depósito e a citação de Danilo, e,
caso posteriormente se entenda não ser ele o titular,
fará a citação de Juarez.
b)Vitor não deve requerer o depósito, devendo no
primeiro momento requerer a citação de todos os
possíveis titulares do crédito, para que, após essa
decisão, discuta-se o crédito devido.
c)Vitor requererá o depósito e a citação dos possíveis
titulares do crédito para provarem o seu direito.
d)Vitor requererá o depósito e a citação de Juarez, e,
caso posteriormente se entenda não ser ele o titular,
fará o chamamento ao processo de Danilo.
e) Vitor requererá o depósito e a citação de Juarez, e,
caso posteriormente se entenda não ser ele o titular,
deverá ocorrer denunciação à lide de Danilo.
Comentários
Gabarito: C
letra c: correta. Art. 547. Se ocorrer dúvida sobre quem
deva legitimamente receber o pagamento, o autor
requererá o depósito e a citação dos possíveis titulares
do crédito para provarem o seu direito.
Questão 45
Ainda no início da fase de conhecimento de determinado
processo, as partes e o magistrado, de comum acordo,
resolvem fixar calendário para a prática de atos
processuais. Estipulado que a realização da audiência
ocorreria em determinada data, a parte ré não
comparece e alega que não foi devidamente intimada
para o ato, requerendo a designação de nova data. Nesse
sentido, é correto afirmar que:
a)o calendário não vincula o juiz, apenas as partes, as
quais só podem requerer a modificação de datas se
apresentada justa causa.
b)o calendário processual pode ser imposto pelo
magistrado em casos excepcionais, sem a necessidade
de prévio acordo com as partes, com fundamento na
importância do objeto dos autos.
c)com exceção da audiência, dispensa-se a intimação das
partes para a prática dos demais atos processuais cujas
datas tiverem sido designadas no calendário.
d) a ré não poderia deixar de comparecer à audiência,
pois a modificação do calendário pelo juiz ou pelas partes
somente é possível em casos excepcionais, devidamente
justificados.
e) a alteração das datas fixadas em calendário processual
gera o pagamento de multa pela parte que der causa à
modificação, dado que se trata de ato atentatório à
dignidade da justiça.
Comentários
Gabarito: D
letra a: errada. Art. 191, § 1º O calendário vincula as
partes e o juiz, e os prazos nele previstos somente serão
modificados em casos excepcionais, devidamente
justificados.
Letra b: errada. Art. 191. De comum acordo, o juiz e as
partes podem fixar calendário para a prática dos atos
processuais, quando for o caso.
Letra c: errada. Art. 191, 2º Dispensa-se a intimação das
partes para a prática de ato processual ou a realização de
audiência cujas datas tiverem sido designadas no
calendário.
Letra d: certa. § 1º O calendário vincula as partes e o juiz,
e os prazos nele previstos somente serão modificados
em casos excepcionais, devidamente justificados.
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Letra e: errada. § 1º O calendário vincula as partes e o
juiz, e os prazos nele previstos somente serão
modificados em casos excepcionais, devidamente
justificados.
Questão 46
Marina ajuizou ação ordinária em face de quatro réus. O
primeiro, assistido pela Defensoria Pública, apresentou
contestação tempestiva, impugnando especificamente
dois dos três fatos narrados pela autora em sua causa de
pedir e que diziam respeito a todos os réus, formulando
um pedido correlato a cada um dos fatos. A petição
inicial foi instruída com prova documental suficiente à
comprovação do direito alegado por Marina. Os demais
três réus apresentaram contestação intempestiva dois
dias após o final do prazo, não impugnando
especificamente nenhum dos fatos trazidos na peça
exordial.
Nesse caso:
a)A intempestividade da contestação de três dos quatro
réus produz a revelia destes, com produção de efeito
material, ou seja, haverá a presunção de veracidade das
alegações de fato formuladas pelo autor.
b)Alegando qualquer dos réus ser parte ilegítima, o autor
poderá alterar a petição inicial para substituição do réu,
no prazo de 5 (cinco) dias.
c)O desatendimento ao ônus da impugnação
especificada, por parte do primeiro réu, ocasiona a
presunção de veracidade das alegações de fato
formuladas na petição inicial.
d)Os réus revéis poderão requerer a produção de provas
que reputarem pertinentes à defesa de seus interesses,
desde que o façam oportunamente.
e)A controvérsia a respeito de dois dos três fatos
narrados pela autora em sua petição inicial impede o
julgamento de mérito do pedido incontroverso desde
logo, o qual deverá aguardar a sentença.
Comentários
Gabarito: D
letra a: errada. Art. 345. A revelia não produz o efeito
mencionado no se: I - havendo pluralidade de réus,
algum deles contestar a ação;
Letra b: errada. Art. 338. Alegando o réu, na contestação,
ser parte ilegítima ou não ser o responsável pelo prejuízo
invocado, o juiz facultará ao autor, em 15 (quinze) dias,
a alteração da petição inicial para substituição do réu.
Letra c: errada. Art. 341. Incumbe também ao réu
manifestar-se precisamente sobre as alegações de fato
constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras
as não impugnadas, salvo se: (...) Parágrafo único. O ônus
da impugnação especificada dos fatos não se aplica ao
defensor público, ao advogado dativo e ao curador
especial.
Letra d: certa. Art. 346 Parágrafo único. O revel poderá
intervir no processo em qualquer fase, recebendo-o no
estado em que se encontrar.
Letra e: errada. Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o
mérito quando um ou mais dos pedidos formulados ou
parcela deles: I - mostrar-se incontroverso;
Questão 47
O juiz de primeiro grau, no curso do cumprimento de
uma sentença condenatória transitada em julgado,
tomou conhecimento da propositura de uma ação
rescisória tendo por objeto o mesmo título judicial.
Antes mesmo que a petição inicial da ação impugnativa
autônoma fosse despachada, o magistrado de primeira
instância determinou a suspensão do processamento da
fase executiva.
Nesse cenário, é correto afirmar que a decisão de
suspensão é impugnável por
a)reclamação.
b)recurso especial.
c)agravo interno.
d)ação rescisória.
e)apelação.
Comentários
Gabarito: A
letra a: correta. Considerando que a competência
originária do TJ para apreciar a rescisória atrai, por
consequência, a competência para apreciar a tutela
suspensiva do cumprimento de sentença, verifica-se
caso de usurpação de competência pelo juiz de piso,
razão pela qual é cabível reclamação. Art. 988, CPC/15.
Caberá reclamação da parte interessada ou do
Ministério Público para: I - preservar a competência do
tribunal;
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
Questão 48
De acordo com o entendimento do Superior Tribunal de
Justiça e do Código de Processo Civil, sobre o
cumprimento de sentença, é correto afirmar que
a)é possível penhorar único imóvel residencial de pessoa
solteira, já que esta condição não se enquadra na
definição de bem de família da Lei nº 8.009/90.
b)para o reconhecimento da fraude à execução é
indispensável que seja apresentada a averbação da
penhora ou da execução pelo credor.
c)o termo inicial da prescrição intercorrente será
contado a partir da ciência da primeira tentativa
infrutífera de localização do devedor ou de bens
penhoráveis e será suspensa, por uma única vez, pelo
prazo máximo de um ano.
d)a suspensão do processo poderá ser determinada em
virtude da não localização do executado ou de bens
penhoráveis apenas no processo de execução de quantia
certa, por ser procedimento incompatível com o
cumprimento de sentença da mesma obrigação.
e)a decisão judicial que reconhece a exigibilidade de
obrigação de pagar submetida ao cumprimento
provisório, poderá ser levada a protesto depois de
transcorrido o prazo de quinze dias, diante da ausência
de pagamento voluntário.
Comentários
Gabarito: C
letra a: errada. Súmula 364: O conceito de
impenhorabilidade de bem de família abrange também
o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e
viúvas.
Letra b: errada. De acordo com a Súmula 375 do colendo
Superior Tribunal de Justiça, o reconhecimento da fraude
à execução depende do registro da penhora do bem
alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente.
Letra c: certo. Art. 921, §2º, CPC.
Letra d: errado. Art. 921, § 7º Aplica-se o disposto neste
artigo ao cumprimento de sentença de que trata o art.
523 deste Código (do cumprimento definitivo da
sentença que reconhece a exigibilidade de obrigação de
pagar quantia certa).
Letra e: errado. O protesto ficou reservado à decisão
judicial transitada em julgado, não se admitindo sua
realização com base nos títulos que permitem apenas a
execução provisória.
Questão 49
Considere o exame de gratuidade de justiça, pelo
magistrado em primeiro grau, em
I decisão de natureza interlocutória que indefere
requerimento de benefício da gratuidade de justiça.
II decisão interlocutória que acolhe requerimento de
benefício da gratuidade de justiça.
III decisão interlocutória que revoga o benefício da
gratuidade de justiça concedido anteriormente.
IV sentença que, além de examinar o mérito, trata
expressamente de revogação do benefício da gratuidade
de justiça.
Conforme previsão do CPC, cabe recurso de agravo de
instrumento nas hipóteses indicadas apenas nos itens
a)I e III.
b) I e IV.
c) II e IV.
d) II, III e IV.
e)I,IIeIII.
Comentários
Gabarito: A Item I: certo. Art. 1.015. Cabe agravo de
instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre: V - rejeição do pedido de gratuidade da
justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação;
Item II: errado. Art. 100. Deferido o pedido, a parte
contrária poderá oferecer impugnação na contestação,
na réplica, nas contrarrazões de recurso ou, nos casos de
pedido superveniente ou formulado por terceiro, por
meio de petição simples, a ser apresentada no prazo de
15 (quinze) dias, nos autos do próprio processo, sem
suspensão de seu curso.
Item III: certo. Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento
contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: V
- rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou
acolhimento do pedido de sua revogação;
Item IV: errado. Art. 1.009, § 3º O disposto no caput
deste artigo aplica-se mesmo quando as questões
mencionadas no art. 1.015 integrarem capítulo da
sentença.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
Questão 50
Acerca dos processos estruturais, assinale a opção
incorreta.
a) É característica do processo estrutural a existência de
decisões “em cascata”, estabelecimento de planos e
atenção a regimes de transição.
b) Processo estrutural é aquele que visa alterar uma
política pública ou uma situação de desconformidade,
pois decorre do modo como a estrutura burocrática,
usualmente pública, opera. Sua causa é o mau
funcionamento dessa organização ao longo do tempo, e
a estrutura pode ser uma instituição pública, uma
empresa privada, políticas públicas ou ações individuais.
c) O STJ, ao analisar caso de ação civil pública que tinha
por objeto a tutela da política pública de acolhimento
institucional de menores por período superior àquele
estipulado no Estatuto da Criança e do Adolescente,
reconheceu-o como processo estrutural e anulou os atos
processuais desde a citação, determinando que a causa
fosse regularmente instruída e rejulgada em
atendimento às especificidades do litígio estrutural.
d) Para a doutrina majoritária, os processos estruturais
surgiram com o julgamento do caso Brown versus Board
Education pela Suprema Corte Norte-Americana, que
entendeu ser inconstitucional a inadmissão de
estudantes em escolas públicas norte-americanas com
base em um sistema de segregação racial. Ao determinar
a aceitação da matrícula de estudantes negros em escola
pública até então dedicada à educação de pessoas
brancas, a Suprema Corte Norte-Americana deu início a
um processo amplo de mudança do sistema público de
educação nos Estados Unidos da América, fazendo surgir
o que se chamou de structural reform.
e) Os processos estruturais são sinônimos de processo
coletivo, por ambos tratarem de estrutura deficiente e
ineficaz, extensa temporalmente, afetados por
interesses socialmente relevantes e nos quais a violação
de direitos não possa ser retirada de cena sem que o
ente, a organização ou a instituição seja reconstruída.
Comentários
Gabarito: E
letra a: correta. Decisão estruturante, é aquela que
reconhece a situação de desconformidade e define o
estado de coisas a ser alcançado. É uma decisão que tem
natureza peculiar porque não estabelece uma regra
definida de conduta. Tem conteúdo principiológico, sem
necessariamente estabelecer como exatamente será
alcançado o estado ideal nela definido. Isso acarreta a
existência de uma série de decisões posteriores, para
definir o modo, tempo e grau da reestruturação,
normalmente em etapas ("decisões em cascata",
conforme Sérgio Arenhart).
Letra b: correta. De acordo com a doutrina, o processo
estrutural é aquele em que se veicula um litígio
estrutural, pautado num problema estrutural (situação
de ilicitude contínua e permanente ou uma situação de
desconformidade, ainda que não propriamente ilícita), e
em que se pretende alterar esse estado de
desconformidade, substituindo-o por um estado de
coisas ideal.
Letra c: correta. De acordo com o STJ, em se tratando de
ação civil pública que versa sobre acolhimento
institucional de menor por período acima daquele fixado
em lei: “[…] não é admissível o julgamento de
improcedência liminar ou o julgamento antecipado do
pedido, especialmente quando, a despeito da
repetitividade da matéria, não há tese jurídica fixada em
precedente vinculante”. (REsp nº 1.854.842/CE, Rel.
Min. NANCY ANDRIGHI, 3ª Turma, julgado em
02/06/2020 (Info 673).
Letra d: correta. O precedente histórico assentou que a
segregação racial nas escolas públicas dos EUA é
inconstitucional, em especial, sob a perspectiva da
“teoria interpretativa” de Ronald Dworkin (direito como
integridade).
Letra e: errada. Muito embora, normalmente, o processo
estrutural seja coletivo, é possível que um processo que
veicule demanda individual esteja pautado num
problema estrutural e tenha que, por isso, ser tratado
como processo estrutural. São as ações
“pseudoindividuais”, a exemplo do sujeito portador de
deficiência demande em juízo para que os prédios
públicos da cidade sejam reformados e adaptados para
garantir sua acessibilidade.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
DIREITO EMPRESARIAL
Professor Alessandro Sanchez
Questão 51
Fundado em 27 de novembro de 1995, o Instituto
Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC),
organização da sociedade civil, é referência nacional e
uma das principais no mundo em governança
corporativa. Seu objetivo é gerar e disseminar
conhecimento a respeito das melhores práticas em
governança corporativa e influenciar os mais diversos
agentes em sua adoção, contribuindo para o
desempenho sustentável das organizações e,
consequentemente, para uma sociedade melhor. A
principal publicação do IBGC é o Código das Melhores
Práticas de Governança Corporativa, lançado em 1999 e,
no ano de 2022, está em sua sexta edição. Verifica-se,
cada vez mais, uma quantidade crescente de empresas
caminhando na direção da implementação e
disseminação de práticas de governança corporativa
pelas mais variadas razões. Assinale a alternativa
correta.
A. A adoção de práticas de governança corporativa
contribui para uma postura “politicamente correta” por
parte de grandes corporações, logo, é importante adotá-
las
B. A adoção de práticas de governança corporativa
contribui para uma melhor avaliação de grandes
corporações, pelo público em geral, que não
necessariamente compreende o que são as práticas de
governança corporativa
C. A adoção de práticas de governança corporativa é
obrigatória para empresas com capital aberto e
instituições financeiras, por força de lei, sendo assim
uma questão de estar em compliance com a legislação
vigente
D. A adoção de práticas de governança corporativa
contribui para a longevidade das corporações e acesso
facilitado ao capital, devido à percepção de menores
riscos na condução da estratégia empresarial
E. A adoção de práticas de governança corporativa
contribui para que as empresas, em um contexto geral,
tenham maior facilidade na obtenção de empréstimos e
financiamentos bancários
Comentários
Alternativa “D”. Resposta: A implementação de boas
práticas de governança pode facilitar e contribuir em
melhorias nos processos de tomada de decisões
empresariais, além de reduzir a ocorrência de fraudes,
agregando valor à empresa e reduzindo seu custo de
capital. Finalmente, contribuindo para sua longevidade.
Questão 52
Analise as informações a seguir:
I. A recuperação judicial também poderá ser requerida
pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor,
inventariante ou sócio remanescente.
II. A recuperação judicial é vedada a quem é falido ou já
o foi, mesmo que estejam declaradas extintas, por
sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí
decorrentes.
III. Os credores do devedor em recuperação judicial
conservam seus direitos e privilégios contra os
coobrigados, fiadores e obrigados de regresso.
Marque a alternativa CORRETA:
Alternativas
A. Todas as afirmativas estão corretas.
B. Nenhuma afirmativa está correta.
C. Apenas uma afirmativa está correta.
D. Apenas duas afirmativas estão corretas.
E. Nenhuma das alternativas.
Comentários
Resposta: Alternativa “D”
A alternativa I está correta, conforme art. 97, Lei
11.101/05 na literalidade de sua disposição.
A alternativa II está incorreta, já que a extinção das
obrigações do falido possibilita o pedido recuperacional
na forma do art. 48, Lei 11.101.05
A alternativa III está correta, na forma do art. 49, §1º, Lei
11.101/05
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
Questão 53
As consolidações processual e substancial foram
inseridas formalmente na Lei de Recuperação de
Empresas e Falência (Lei 11.101/2005) através da Lei
14.112/2020. Em relação ao tema, é INCORRETO afirmar
que
A. os documentos exigidos no art. 51 da Lei 11.101/2005,
nos casos em que couber litisconsórcio processual,
devem ser apresentados individualmente por cada
devedor.
B. a consolidação substancial pode ser determinada pelo
magistrado, independentemente de concordância dos
credores submetidos ao procedimento.
C. a consolidação processual não impede que alguns
devedores obtenham a concessão da recuperação
judicial e que outros tenham a falência decretada.
D. a consolidação substancial importa em tratamento
unificado de ativos e passivos dos devedores submetidos
a este instituto.
E. a consolidação processual exige a ocorrência de
confusão patrimonial grave entre devedores submetidos
ao procedimento recuperatório para a sua incidência.
Comentários
Resposta: Alternativa “E”.
O artigo 69-G e seguintes, lei 11.101/05 dá previsão para
os institutos da consolidação processual e substancial na
recuperação de empresas, permitindo o ajuizamento da
recuperação empresarial por grupos empresariais.
A alternativa “A” está correta, já que o litisconsórcio
processual promove economia processual, mas trata os
sujeitos empresariais de forma independente, salvo se
houver consolidação substancial.
A alternativa “B” está correta, já que o magistrado é
quem determina a consolidação substancial. Nesse caso,
o juiz analisa os requisitos legais e percebe que as
empresas são dependentes umas das outras, já que se
harmonizam no mercado de forma conjunta, possuindo
dependência econômica e sócios em comum, a título de
exemplo.
A alternativa “C” está correta, já que a consolidação
processual tem o seu julgamento de forma
independente. As empresas apenas tem o mesmo
julgamento em caso de consolidação substancial.
A alternativa “D” está correta, já que a consolidação
substancial existe justamente para o tratamento
unificado dos sujeitos empresariais.
A alternativa “E” está incorreta, já que a confusão
patrimonial não é o requisito determinante, mas a
pluralidade entre outros requisitos como a presença de
sócios idênticos em seus quadros e harmonia na relação
mercadológica, a título de exemplo.
Questão 54
A Cédula de Crédito Bancário (CCB) é
A. um título de crédito judicial, dotado de liquidez,
certeza e exigibilidade.
B. emitida sem prazo mínimo de vencimento.
C. um título com garantia do Fundo Garantidor de
Crédito (FGC).
D. a Cédula de Crédito Bancário é título executivo
extrajudicial, representativo de operações de crédito de
qualquer natureza, circunstância que autoriza sua
emissão para documentar a abertura de crédito em
conta-corrente, nas modalidades de crédito rotativo ou
cheque especial.
E. emitida obrigatoriamente com garantia real.
Comentários
Alternativa “D”. A Cédula de Crédito Bancário é título
executivo extrajudicial, representativo de operações de
crédito de qualquer natureza, circunstância que autoriza
sua emissão para documentar a abertura de crédito em
conta-corrente, nas modalidades de crédito rotativo ou
cheque especial, na forma do art. 28, Lei 10931/04 e
tema 576 em recurso repetitivo.
Questão 55
Com base na Lei n.º 9.279/1996, que versa sobre direitos
e obrigações relativos à propriedade industrial, julgue os
itens a seguir.
I. Ao titular da marca é assegurado o direito de impedir
que comerciantes ou distribuidores utilizem sinais
distintivos que lhes são próprios, juntamente com a
marca do produto, para a sua promoção e
comercialização.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
II. O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI)
possui legitimidade ativa para promover ação judicial de
nulidade de patente de invenção.
III. Havendo viabilidade econômica na fabricação do
produto patenteado, a sua não exploração no território
brasileiro por falta de fabricação é situação legal a
ensejar licença compulsória.
Assinale a opção correta.
Alternativas
A. Apenas o item II está certo.
B. Apenas o item III está certo.
C. Apenas os itens I e II estão certos.
D Apenas os itens II e III estão certos.
E. Todos os itens estão certos.
Comentários
A alternativa I está incorreta, já que o titular da marca
não deve impedir os comerciantes ou distribuidores a
utilizar os seus sinais distintivos, juntamente com a
marca do produto, do contrário não poderiam promover
e comercializar os seus produtos como boa prática de
mercado, conforme art. 132, I, Lei 9.279/96.
A alternativa II está correta, na forma do art. 56, Lei
9.279/96.
A alternativa III está correta, na forma exata e literal do
art. 68, §1º, I, Lei 9.279/96
Questão 56
Analise as proposições abaixo e responda:
I. As sociedades em comum não possuem personalidade
jurídica própria e autonomia patrimonial.
II. A constituição da sociedade em conta de participação
não depende de qualquer formalidade e pode ser
provada por qualquer meio admissível em direito.
III. Na sociedade em conta de participação, a falência do
sócio ostensivo não acarreta a dissolução da sociedade.
IV. Nas sociedades em comum, os sócios, nas relações
entre si ou com terceiros, somente podem provar por
escrito a existência da sociedade.
A. Há apenas uma proposição verdadeira.
B. Há apenas duas proposições verdadeiras.
C. Há apenas três proposições verdadeiras.
D. Todas as proposições são verdadeiras.
E. Todas as proposições são falsas.
Comentários
Alternativa “C” está correta.
Alternativa I está correta, na forma do art. 986, CC.
Alternativa II está correta, na forma do art. 994, CC.
Alternativa III está errada, já que a conta de participação
figura em nome do sócio ostensivo.
Alternativa IV está correta, na forma do art. 987, CC.
DIREITO PENAL
Professora Michael Procópio
Questão 57
Aloísio foi nomeado para o cargo de assessor de
Desembargador do Tribunal de Justiça de seu Estado.
Aproveitando-se da nova posição, passou a negociar
influência em decisões judiciais mediante recebimento
de quantia em dinheiro de partes em processos nos quais
havia grande chance de derrota. Não havia efetiva
colaboração do Desembargador, de modo que ele
enganava as pessoas para obter dinheiro. Devido à
celeridade das investigações, não se comprovou o efeito
recebimento de dinheiro por Aloísio. Diante do exposto,
assinale a alternativa que tipifica a conduta de Aloísio.
A) Prevaricação, delito consumado.
B) Tráfico de influência, na modalidade consumada.
C) Exploração de prestígio, na modalidade consumada
D) Venditiofumi,namodalidadetentada
E) Estelionato, modalidade tentada.
Comentários
Resposta: a Alternativa C é a correta. Verifica-se que a
conduta se enquadra precisamente nos termos do Art.
357, do Código Penal, “Solicitar ou receber dinheiro ou
qualquer outra utilidade, a pretexto de influir em juiz,
jurado, órgão do Ministério Público, funcionário de
justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha. Pena
- reclusão, de um a cinco anos, e multa”. O delito de
tráfico de influência se parece com o de exploração de
prestígio, mas este último é especial, voltado contra a
Administração da Justiça.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
O delito pode ser chamado de ventidiofumi, mas se
consumou, em razão de exigir a solicitação do dinheiro
para tanto.
Cuida-se de modalidade especial em relação ao
estelionato, por ser praticado também em relação à
Administração Pública.
Questão 58
Bernardo é Guarda Civil Municipal e é sócio, não
administrador, de uma pessoa jurídica. Em razão de uma
grande dívida contraída por João, empresário, com a
pessoa jurídica, vai até a sua residência e intimida João
para que lhe pague. Nota-se que, segundo apurado,
Bernardo não realizou a cobrança fardado, mas
apresentou a arma, cujo porte lhe garante sua posição
na Guarda, em suas ameaças. Ademais, não houve
cobrança indevida, mas apenas de valores efetivamente
devidos. De acordo com o enunciado, assinale a
alternativa que tipifica a conduta de Bernardo:
A) Extorsão
B) Roubo
C) Estelionato
D) Fraude no comércio
E) Exercícioarbitrário das própriasrazões
Comentários
A Alternativa A está incorreta. A extorsão envolve
constranger alguém, mediante violência ou grave
ameaça, a fazer algo que não é obrigado a fazer ou deixar
de fazer algo a que tem o direito. No caso de Bernardo,
ele está realizando cobranças com violência e grave
ameaça, porém, não há enquadramento na extorsão,
uma vez que não há “indevida vantagem econômica”,
observada a existência de dívida.
A Alternativa B está incorreta. O roubo caracteriza-se
pela subtração de coisa alheia móvel para si ou para
outrem, mediante violência ou grave ameaça. No
entanto, a conduta de Bernardo não se enquadra como
roubo, pois ele não está subtraindo bens, mas praticando
atos de cobrança com violência e grave ameaça.
A Alternativa C está incorreta. O estelionato envolve
obter vantagem ilícita para si ou para outrem, induzindo
alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer
outro meio fraudulento. Não se aplica ao caso de
Bernardo, pois a conduta descrita envolve violência e
grave ameaça, não artifícios fraudulentos.
A Alternativa D está incorreta. A fraude no comércio
refere-se a práticas fraudulentas no mercado, como
adulteração de produtos, falsificação de marcas, entre
outros. Não se relaciona à conduta de Bernardo.
A Alternativa E está correta. O exercício arbitrário das
próprias razões é caracterizado quando alguém, fora das
hipóteses legais, pratica atos de violência contra direito
alheio. No caso de Bernardo, ele está utilizando violência
e grave ameaça para realizar cobranças, configurando o
exercício arbitrário das próprias razões.
Questão 59
Elvira convence sua namorada Patrícia a experimentar
um baseado (cigarro de maconha) durante um passeio
pelo parque, quando ambas são abordadas por Policiais
Militares, os quais, ao encontrarem as duas com uma
pequena quantidade de droga, cada uma com dois
cigarros, lavram Termo Circunstanciado de Ocorrência.
É correto afirmar que, neste, deverá constar.
A) que Patrícia e Elvira praticaram apenas a conduta
descrita no Art. 28, da Lei nº 11.343/06.
B) que Patrícia praticou a conduta descrita no Art. 28, da
Lei nº 11.343/06, e Elvira, no Art. 33, caput, da mesma
Lei.
C) que Patrícia e Elvira praticaram a conduta descrita no
Art. 33, caput, da Lei nº 11.434/06.
D) que Patrícia praticou a conduta descrita no Art. 28, da
Lei nº 11.343/06, e Elvira, no Art. 33, § 3º, da mesma Lei
E) que Patrícia e Elvira praticaram a conduta descrita no
Art. 33, § 3º, da Lei nº 11.343/06.
Comentários
A Alternativa A está incorreta. O Art. 28 da Lei nº
11.343/06 trata do porte de drogas para consumo
pessoal. No entanto, a abordagem não menciona que
ambas estavam portando drogas, mas sim que estavam
experimentando.
A Alternativa B está incorreta. O Art. 33, caput, da Lei nº
11.343/06 trata do crime de tráfico de drogas, que não é
o caso mencionado na situação. Elas estavam
experimentando a droga, não praticando tráfico.
A Alternativa C está incorreta, pelos mesmos motivos
indicados no parágrafo anterior.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
A Alternativa D está correta. O Art. 28 da Lei nº
11.343/06 refere-se ao porte de drogas para consumo
pessoal, enquanto o Art. 33, § 3º, trata da conduta de
induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de
droga. Portanto, Patrícia estava sendo enquadrada no
Art.28, e Elvira, no Art.33, § 3º.
A Alternativa E está incorreta. A alternativa E indica que
ambas estavam sendo enquadradas no Art. 33, § 3º, o
que não é correto.Apenas Elvira está sendo enquadrada
nesse artigo, enquanto Patrícia está sendo enquadrada
no Art. 28.
Questão 60
Em uma viagem aos Estados Unidos da América, o
Presidente da República brasileiro, emmeio a uma
importante reunião diplomática, sofre grave atentado,
assim como outras autoridades igualmente relevantes
de países estrangeiros, bem como o próprio Presidente
do país anfitrião. Após o serviço de inteligência dos EUA
conseguir identificar os responsáveis, é correto afirmar,
no que tange à aplicação da lei penal:
A) Será aplicada a lei penal estadunidense, observado
que o atentado ocorreu em território dos EUA e o direito
brasileiro resguarda respeito à soberania dos demais
países, observado o princípio da territorialidade penal.
B) Será aplicada a lei penal estadunidense, uma vez que,
embora o Código Penal brasileiro contemple o princípio
da territorialidade temperada, o Presidente da República
estava em meio a outras autoridades, razão pela qual,
em meio ao conflito entre a aplicação das leis, prevalece
a do território da autoridade de igual status.
C) Seráaplicada a lei penal brasileira, tratando-se de
hipótese de extraterritorialidade incondicionada.
D) Será aplicada a lei penal brasileira, caso os
responsáveis ingressem em território brasileiro.
E) Serão aplicados tão somente Tratados Internacionais
ao caso, observada a relevância supranacional do
atentado.
Comentários
A questão envolve a aplicação da lei penal em um
contexto internacional, especificamente em relação a
um atentado ocorrido nos Estados Unidos da América
contra o Presidente da República brasileiro. Vamos
analisar cada alternativa:
A Alternativa A está incorreta. A aplicação da lei penal
dos Estados Unidos parece mais apropriada quando o
delito ocorre em seu território. No entanto, tratando-se
de atentado contra a vida do Presidente da República
brasileiro, aplica-se o Código Penal ao caso, observado o
Art.7º, I, “a”, da referida lei penal.
A Alternativa B está incorreta. O princípio da
territorialidade temperada mencionado não parece ser
uma fundamentação válida para aplicação da lei penal
dos Estados Unidos nesse contexto. Além disso, a
prevalência da lei do território da autoridade de igual
status não é um critério jurídico reconhecido.
A Alternativa C está correta. A extraterritorialidade
incondicionada é aplicada em casos específicos previstos
em lei, como no Art. 7º, do Código Penal brasileiro.Esta
situação é precisamente prevista no inciso I, alínea “a”.
A Alternativa D está incorreta.. A aplicação da lei penal
brasileira apenas quando os responsáveis ingressarem
em território brasileiro se enquadra na
extraterritorialidade condicionada, que exige uma
condição específica para que a lei nacional seja aplicada.
Não é o caso, observado que tratando-se de atentado
contra a vida do Presidente da República brasileiro,
aplica-se o Código Penal ao caso, observado o Art. 7º, I,
“a”, do Código Penal.
A Alternativa E está incorreta. Embora tratados
internacionais possam influenciar a cooperação e a
jurisdição em casos transnacionais, a questão em si não
fornece informações suficientes para afirmar que a
aplicação da lei penal será regida exclusivamente por
tratados internacionais.
Questão 61
Reiteradamente, Alessandra, estudante universitária,
sofre agressões verbais de sua professora, Marina,
emrazão de divergências políticas e ideológicas. Mesmo
quando a estudante não entra em confront direto com a
docente, é perceptível a perseguição por parte da
professora, seja em razão de comentários maliciosos,
seja por atribuir notas abaixo da media em provas
subjetivas, as quais sempre precisam ser revisadas pelo
coordenador de Marina, para que a discente alcance a
nota necessária para avançar de etapa na disciplina.
Diante do cenário narrado, assinale a alternativa que
contempla a conduta de Marina.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
A) Perseguição
B) Violência psicológica
C) Constrangimento ilegal
D) Intimidação sistemática
E) Ameaça
Comentários
A Alternativa D é a correta. Verifica-se que a conduta se
enquadra precisamente nos termos do Art. 146-A, do
Código Penal, “Intimidar sistematicamente,
individualmente ou em grupo, mediante violência física
ou psicológica, uma ou mais pessoas, de modo
intencional e repetitivo, sem motivação evidente, por
meio de atos de intimidação, de humilhação ou de
discriminação ou de ações verbais, morais, sexuais,
sociais, psicológicas, físicas, materiais ou virtuais: Pena -
multa, se a conduta não constituir crime mais grave”.
Questão 62
José, Caio e Pedro decidiram, em conjunto, atrapalhar a
vida de um imigrante novo em sua pequena cidade de
imigração italiana. François, haitiano, passou a sofrer
publicações em suas redes sociais e a receber mensagens
eletrônicas com termos pejorativos, vinculados à sua
etnia.
Ao serem interrogados pela autoridade policial, disseram
que estavam brincando com François, como ele também
fizera com eles, ao chamá-los de “comedores de
macarrão”. Sobre o tema, assinale a alternativa correta:
A) Não se configurou o crime de injúria, pois, como
ensina a doutrina, é exigido o animus injuriandi, de modo
que o animus jocandi não configure o crime.
B) Racismo, conforme previsão do artigo 2º-A da Lei n.
7176/1989, e associação criminosa.
C) Injúria qualificada, prevista no artigo 140, § 3º, do CP,
e associação criminosa.
D) Por ter sido cometido em redes sociais, o crime de
injúria, com elementos raciais, terá a sua pena triplicada.
E) Organização criminosa e crime do artigo 20, caput, da
Lei n. 7716/1989.
Comentários
A alternativa A está incorreta. Apesar de ser o que a
doutrina ensina sobre injúria, no caso da racial o racism
recretativo é uma modalidade mais grave, majorada, do
delito. Nos termos da Lei n. 7.716/1989, “Art. 20-A. Os
crimes previstos nesta Lei terão as penas aumentadas de
1/3 (um terço) até a metade, quando ocorrerem em
contexto ou com intuito de descontração, diversão ou
recreação. “.
A alternative B está correta. Configura-se a injúria,
prevista no artigo 2º-A da Lei n. 7.716/1989, modalidade
de racismo. Ainda, verifica-se que há que se falar em
associação criminosa, observada a reunião dos três com
a finalidade voltada ao cometimento do referido crime,
nos termos do Art. 288, do Código Penal.
A alternative C está incorreta. Com o advento da Lei n.
14.532/2023, passou a existir uma injúria específica na
Lei n. 7176/1989, não mais incidindo, se utilizados
elementos relacionados à raça, cor ou etnia, a injúria
qualificada do Código Penal.
A alternativa D está incorreta. Com o advento da Lei n.
14.532/2023, passou a existir uma injúria específica na
Lei n. 7176/1989. Nesta lei, não há previsão de aplicação
da pena triplicada em razão de prática nas redes sociais,
mas apenas no Código Penal, para a injúria lá
disciplinada.
A alternativa E está incorreta. Não há a estrutura exigida
pela Lei n. 12.850/2013, inclusive o mínimo de quarto
agentes. Ademais, o artigo 20 da Lei de Racismo é crime
que se configura quando o preconceito ou dicriminação
se volta contra a classe, e não contra a honra subjetiva
de pessoas determinadas ou de pessoas determinada.
Questão 63
Helena, mulher trans, cansada de
sofrerviolênciapsicológica de seuparceiro, Carlos,
procuraumadelegaciaespecializada, embusca de
acolhimento e com a finalidade de afastar o homem de
seuconvívio. Apósconcedida a medidaprotetiva pela
delegada de polícia, em município que não é sede da
comarca, Carlos é afastado de casa. Inconformado,
porém, o indivíduo retorna à casa de Helena e pede uma
chance para retornarem, dizendo estarar rependido. A
mulher, então, liga para a polícia, descrente nas palavras
do ex. Diante do exposto, é corretoafirmar:
A) Carlos não responderá pelo crime de descumprimento
de medida protetiva, em razão da atipicidade, pois a
jurisprudência se firmou no sentido de que a Lei n
11.340/2006 apenas se refere ao sexo feminino.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
B) Carlos responderá pelo crime de descumprimento de
medida protetiva.
C) Carlos responderá pelo crime de descumprimento de
medida protetiva e desobediência.
D) Carlos responderá pelo crime de descumprimento de
medida protetiva e intimidação sistemática.
E) Carlos praticou conduta atípica, podendo sofrer
medidas cíveis para cumprimento da decisão judicial.
Comentários
A situação descrita configura o crime de
descumprimento de medida protetiva, previsto na Lei
Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006). Vamos analisar as
opções:
A Alternativa A está incorreta. A jurisprudência se fixou
no sentido de que a proteção se estende à mulher trans.
A Alternativa B está correta. Carlos responderá pelo
crime de descumprimento de medida protetiva: Esta
opção parece adequada, pois o descumprimento de
medida protetiva é uma conduta criminosa, nos termos
do Art. 24-A, da Lei nº 11.340/2006.
A Alternativa C está incorreta. Não há que se falar na
dupla imputação da conduta nos crimes de
descumprimento de medida protetiva e de
desobediência, observado o princípio do “ne bis in
idem”. E, no caso, aplica-se o Art.24-A, da Lei nº
11.340/2006, pelo princípio da especialidade.
A Alternativa D está incorreta. Não há que se falar no
enquadramento da conduta no tipo penal da intimidação
sistemática, previsto no Art.146-A, do Código Penal.
A Alternativa E está incorreta. A legítima defesa da honra
não é uma justificativa válida para o descumprimento de
medida protetiva (ADPF 779, STF).
Questão 64
Sabrina colocou um sistema de proteção em seu
gramado que, quando ativado, libera descargas elétricas
naqueles que adentram seu jardim. Foi advertida pelo
profissional que instalou o equipamento de que isso
poderia atingir algum desavisado, ao que ela falou que
não se importava com isso. Assim, sem qualquer aviso
exposto, o responsável por medir o consumo de água na
casa, ao seguir em direção ao medidor do relógio, passa
pelo jardim, encantado com as plantas que a moradora
cultiva, sofrendo uma parada cardíaca em razão da
descarga. Minutos depois, é encontrado morto por
Sabrina, que chama a polícia. Diante do exposto, a
moradora:
A) Não responderá por crime algum, observado exercício
regular do direito de proteger sua casa.
B) Não responderá por crime algum, observado o
exercício de legítima defesa putativa.
C) Responderá por homicídio qualificado.
D) Responderá por homicídio privilegiado.
E) Responderá por homicídio culposo.
Comentários
A conduta de Sabrina caracteriza um excesso no
exercício do direito de proteger sua casa. Vamos analisar
cada opção:
A Alternativa A está incorreta. A conduta de Sabrina não
se enquadra no exercício regular do direito de proteger
a casa, pois o uso de um sistema de proteção que causa
danos físicos severos sem qualquer aviso não é
proporcional.
A Alternativa B está incorreta. A legítima defesa putativa
ocorre quando alguém, por erro, imagina estar em uma
situação de legítima defesa. Neste caso, não há evidência
de que Sabrina tenha agido com base em uma legítima
defesa putativa.
A Alternativa C está correta. A conduta de Sabrina pode
se enquadrar em homicídio qualificado, pois ela utilizou
um meio cruel (descargas elétricas) para proteger sua
propriedade, resultando na morte do responsável pelo
medidor. O dolo eventual está configurado por sua fala
de não se importar com o resultado, demonstrando
assunção do risco.
A Alternativa D está incorreta. O homicídio privilegiado
ocorre quando o agente comete o crime sob o domínio
de violenta emoção, logo após injusta provocação da
vítima. Não há indicação de provocação injusta por parte
da vítima neste caso.
A Alternativa E está incorreta. Homicídio culposo ocorre
quando há a morte de alguém devido a negligência,
imperícia ou imprudência. Neste caso, Sabrina não agiu
de forma negligente, imperita ou imprudente; ela
deliberadamente instalou um sistema de proteção
agressivo. Como narrado, ela disse não se importer,
agindo com dolo eventual.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
Questão 65
Fabrício realiza a formatação de computadores. Em
razão de exercer apenas este trabalho para o seu
sustento e de sua família, atende uma grande
quantidade de demanda diária. Um dia, recebeu agentes
da polícia federal em sua casa, quando descobriu que
estava sendo acusado de cometer o crime previsto no
Art. 241-B, do Estatuto da Criança e do Adolescente. Os
policiais apreenderam os computadores em sua posse,
de propriedade de clients, e descobriram que, de fato,
um deles armazenava CSAM (Child Sexual Abuse
Material). Ele argumentou, de pronto, não ter acessado
aquele computador, recebido de um cliente.
Diante do exposto, um argumento plausível para
absolver Fabrício, se comprovada sua versão, seria:
A) Erro de tipo essencial.
B) Princípio da insignificância.
C) Princípio da inadequação social.
D) Princípio da intranscendência.
E) Exclusão da culpabilidade em razão de ausência de
consciência da ilicitude.
Comentários
Diante da situação apresentada, um argumento plausível
para absolver Fabrício seria o do erro de tipo em razão
da ausência de dolo.
O erro de tipo ocorre quando o agente atua de forma
equivocada, desconhecendo elementos essenciais do
tipo penal. Se Fabrício não tinha conhecimento de que
um dos computadores armazenava material de abuso
sexual infantil (CSAM), poderia alegar a ausência de dolo,
argumentando que não tinha a intenção de cometer o
crime.
As demais opções não parecem ser aplicáveis à situação
descrita:
A Alternativa B está incorreta. O princípio da
insignificância geralmente é aplicado a casos em que a
conduta é considerada socialmente irrelevante. No
entanto, armazenar material de abuso sexual infantil não
se enquadra nesse princípio.
A Alternativa C está incorreta. Este princípio é
geralmente aplicado quando a conduta, embora típica, é
socialmente aceita. No caso de armazenamento de
CSAM, a conduta é considerada inaceitável socialmente.
A Alternativa D está incorreta. Este princípio refere-se à
impossibilidade de a responsabilidade penal transcender
à do agente. Não parece ser aplicável ao caso.
A Alternativa E está incorreta. Se Fabrício não tinha
conhecimento da presença do material ilegal em seu
computador, o argumento mais forte seria o erro de tipo,
e não a exclusão da culpabilidade. Há erro de proibição
quando o agente interpreta a norma de forma errônea.
Portanto, a Alternativa A está correta.
Questão 66
Elizabeth, embora formada em nutrição, trabalha como
terapeuta holística, receitando aos seus consulentes
doses diárias de pó de cacau combinado com ervas
legalizadas, mistura que ela mesma produz. Dentre os
benefícios que alega promover na saúde física e mental
de seus pacientes, Elizabeth destaca a “melhora da
depressão e ansiedade”. Anota-se que a conduta da
nutricionista terapeuta se enquadra:
A) Em nenhum tipo penal, tratando-se de mera
manifestação religiosa
B) Curandeirismo
C) Charlatanismo
D) Exercício ilegal da medicina
E) Estelionato
Comentários
A conduta de Elizabeth se enquadra no tipo penal do
curandeirismo, nos termos do Art. 284, I, Código Penal,
“Exercer o curandeirismo: I - prescrevendo, ministrando
ou aplicando, habitualmente, qualquer substância; (...)
Pena - detenção, de seis meses a dois anos”. Portanto, a
Alternativa B é a correta.
Questão 67
Aparício, contratado como estagiário na Justiça do
Trabalho, aceita promessa de vantagem para olhar autos
sigilosos e avisar a Astolfo, advogado de renome. Sua
função era apenas de realizar atendimento ao público,
mas, como o processo era antigo, havia autos físicos na
secretaria e aproveitou o descuido do servidor
responsável para acessá-los. Foi investigado pelo MPF e
denunciado. Sobre a sua atuação, é correto afirmar que:
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
a) Aparício é funcionário público por equiparação, nos
termos do artigo 327, § 1º, do CP.
b) Aparício deve responder pelo crime de corrupção
passiva privilegiada, sujeitando-se ao procedimento
especial previsto para os crimes cometidos por
funcionário público.
c) Aparício não pode responder por corrupção passiva,
dado que o ato pelo qual recebeu o dinhero não estava
no seu feixe de atribuições. É possível, de todo modo, a
sua responsabilização por improbidade administrativa.
d) Se o mesmo advogado, Astolfo, enviou uma caixa de
chocolates cara a outro estagiário, Enzo, ele responderá,
quanto a esse ato, por corrupção ativa, já que não se
exige elemento subjetivo especial do tipo para
configuração desse crime.
e) Aparício pode responder pelo delito de corrupção
passiva, haja vista que recebeu vantagem indevida para
acessar os autos. Se condenado, estará sujeito ao
confisco alargado de seus bens, se verificada
incompatibilidade entre o patrimônio de que dispõe e os
seus rendimentos lícitos.
Comentários
A alternativa A está incorreta, pois Aparício se enquadra
no artigo 327, caput, do CP. Segundo o artigo 327, § 1º,
equipara-se a funcionário público quem exerce cargo,
emprego ou função em entidade paraestatal, e quem
trabalha para empresa prestadora de serviço contratada
ou conveniada para a execução de atividade típica da
Administração Pública.
A alternativa B está incorreta. A corrupção privilegiada
ocorre quando o funcionário público cede a pedido ou
influência quanto à prática de ato de ofício.
A alternativa C está incorreta, pois o STJ já decidiu não
ser necessário que o ato para cuja prática o funcionário
recebeu vantagem indevida esteja no seu âmbito
funcional. Basta que tenha recebido em virtude das
funções.
A alternativa D está incorreta. O tipo de corrupção ativa
exige o elemento subjetivo especial do tipo consistente
em determinar o funcionário a praticar, omitir ou
retardar ato de ofício.
A alternativa E está correta. O tipo penal de corrupção
passiva está configurado, com o recebimento de
vantagem indevido devido à condição de funcionário
público, nos termos do artigo 327 do CP. Além disso,
cabe o confisco alargado em razão da pena prevista, em
abstrato, para esse delito.
Questão 68
Lauro foi arrolado como testemunha em processo
trabalhista. No corredor, o servidor da Justiça do
Trabalho ouve o advogado instuí-lo a mentir
obstinadamente para garantir ao seu ex-colega de
trabalho o recebimento de verbas trabalhistas indevidas,
em razão de supostamente não usufruir de intervalo
intrajornada. Ao adentrar a sala de audiências, Lauro
efetivamente mente, contrariando as folhas de ponto e
os relatos de todas as demais testemunhas, tanto as da
reclamada quanto as da reclamante. Neste caso, a juíza
do trabalho pode:
a) Decretar a prisão em flagrante de ambos, em razão de
autoria de falso testemunho de Lauro e participação do
advogado.
b) Decretar a prisão em flagrante de ambos, em razão de
coautoria em falso testemunho de Lauro e do advogado.
c) Decretar a prisão preventiva de ambos, em razão de
coautoria em falso testemunho de Lauro e do advogado,
por ato que atenta contra a justiça e atende, por si só, ao
pressuposto de garantia da ordem pública.
d) Chamar a polícia para firmar termo circunstanciado,
em razão de autoria de falso testemunho de Lauro e
participação do advogado, em razão de se tratar de
infração penal de menor potencial ofensivo.
e) Decretar a prisão, se entender o caso, apenas de
Lauro, por se tratar de crime de mão própria, que não
admite participação.
Comentários
A alternativa A está correta. Houve crime e há situação
de flagrância. Por ser crime de mão própria, a
testemunha pode responder como autora e o advogado,
como partícipe.
A alternativa B está correta. Não se admite coautoria em
crime de mão própria.
A alternativa C está correta. A prisão preventiva é
excepcional e deve ser decretada, fundamentadamente
e se presentes os pressupostos, pelo juízo criminal. A
justiça do trabalho, conforme decidiu o STF, não possui
competência criminal.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
A alternativa D está incorreta. Não se trata de infração
penal de menor potencial ofensivo, pois a pena é de
reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. As
infrações penais de menor potencial ofensivo são as
contravenções penais e aqueles crimes cuja pena
máxima prevista não ultrapasse a 02 (dois) anos.
DIREITOS HUMANOS
Professor Ricardo Torques
Questão 69
Em um cenário de violação aos direitos humanos, as
vítimas, alegando o descaso de autoridades públicas com
o caso, procuraram a Defensoria Pública e o Ministério
Público, ambos do estado X, a fim de que peticionassem
diretamente na Corte Interamericana de Direitos
Humanos para fins de ter a violação reconhecida e o
direito à reparação. As vítimas são um grupo de pessoas
que, muito embora possuam recursos financeiros, são
todas consideradas vulneráveis, por possuírem mais de
80 anos. No caso narrado, de acordo com a Convenção
Americana sobre Direitos Humanos, é correto afirmar
que:
a) A Defensoria Pública, o Ministério Público e as vítimas
podem, diretamente, submeter o caso à Corte
Interamericana de Direitos Humanos.
b) Apenas a Defensoria Pública e o Ministério Público
poderiam, diretamente, submeter o caso à Corte
Interamericana de Direitos Humanos.
c) Apenas a Defensoria Pública poderia, diretamente,
submeter o caso à Corte Interamericana de Direitos
Humanos.
d) Apenas as vítimas poderiam, diretamente, submeter o
caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos.
e) Nem a Defensoria Pública, nem o Ministério Público e
nem as vítimas poderiam, diretamente, submeter o caso
à Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Comentários
Gabarito: E
Para resolver a questão, era necessário conhecer o
seguinte dispositivo da Convenção Americana sobre
Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica):
Seção 2 - Competência e Funções. ARTIGO 61
1. Somente os Estados-Partes e a Comissão têm direito
de submeter caso à decisão da Corte.
2. Para que a Corte possa conhecer de qualquer caso, é
necessário que sejam esgotados os processos previstos
nos artigos 48 a 50.
Assim, nem a Defensoria Pública, nem o Ministério
Público e nem as vítimas poderiam, diretamente,
submeter o caso à Corte Interamericana de Direitos
Humanos
Nesse sentido as lições de André de Carvalho Ramos:
Somente Estados que tenham reconhecido a jurisdição
da Corte e a Comissão podem processar Estados perante
a Corte Interamericana no exercício da jurisdição
contenciosa. Assim, os indivíduos dependem da
Comissão ou de outro Estado (actio popularis) para que
seus reclamos cheguem à Corte IDH.
Já a legitimidade passiva é sempre do Estado: a Corte IDH
não é um Tribunal que julga pessoas, o que será debatido
mais abaixo.
Assim, correta a alternativa E.
Questão 70
Você, como magistrado recém-empossado, recebeu
concluso para julgamento um processo judicial que exige
conhecimento sobre os direitos das populações
indígenas. Dentre as alternativas abaixo, assinale a
conduta que não se coaduna com o disposto na
Convenção 169 da Organização Internacional do
Trabalho (OIT), que versa sobre Povos Indígenas e
Tribais:
a) Na aplicação da legislação nacional deve ser levado em
consideração o costume dos povos interessados.
b) Na aplicação da legislação nacional deve ser levado em
consideração o direito consuetudinário dos povos
interessados.
c) Os povos tradicionais deverão ter assegurado o direito
de conservar seus costumes e instituições próprias,
ainda que incompatíveis com os direitos humanos
internacionalmente reconhecidos.
d) Acaso se trate de processo criminal e seja reconhecida
a pretensão punitiva em desfavor de membro da
população indígena, dever-se-á dar preferência a tipos
de punição outros que o encarceramento.
e) Solicitado para se pronunciar sobre questões penais
deve-se levar em conta os costumes dos povos
mencionados.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
Comentários
Gabarito: C
Atente-se! A questão solicitava a que não se coadunava
com a Convenção 169.
As alternativas A e B se coadunam com o seguinte
dispositivo da Convenção 169 da OIT.
Convenção 169 da OIT. Artigo 8º. (...) I. Ao aplicar a
legislação nacional aos povos interessados deverão ser
levados na devida consideração seus costumes ou seu
direito consuetudinário.
A alternativa C não se coaduna com a convenção e
deveria ser a assinalada. Isso porque, segundo a
Convenção 169 da OIT, o direito de conservação dos
costumes e instituições próprias NÃO podem ser
incompatíveis com os direitos fundamentais definidos
pelo sistema jurídico nacional e nem com os direitos
humanos internacionalmente reconhecidos. Nesse
sentido:
Convenção 169 da OIT. Artigo 8º. (...) 2. Esses povos
deverão ter o direito de conservar seus costumes e
instituições próprias, desde que eles não sejam
incompatíveis com os direitos fundamentais definidos
pelo sistema jurídico nacional nem com os direitos
humanos internacionalmente reconhecidos. Sempre que
for necessário, deverão ser estabelecidos procedimentos
para se solucionar os conflitos que possam surgir na
aplicação deste principio.
A alternativa D se coaduna com o seguinte dispositivo da
Convenção 169 da OIT.
Convenção 169 da OIT. Artigo 10. (...). 2. Dever-se-á dar
preferência a tipos de punição outros que o
encarceramento.
A alternativa E se coaduna com o seguinte dispositivo da
Convenção 169 da OIT.
Convenção 169 da OIT. Artigo 9. (...). 2. As autoridades e
os tribunais solicitados para se pronunciarem sobre
questões penais deverão levar em conta os costumes dos
povos mencionados a respeito do assunto.
Questão 71
O encarceramento e a privação da liberdade é tema de
frequentes debates no âmbito dos tribunais superiores e
envolve, direta ou indiretamente a proteção aos direitos
humanos e a responsabilidade da administração pública.
Diante disso, na sua atuação como magistrado e em se
deparando com casos que abordem o tema, assinale a
alternativa que não esteja de acordo com o
entendimento dos tribunais superiores.
a) É lícito ao Judiciário impor à Administração Pública
obrigação de fazer, consistente na promoção de medidas
ou na execução de obras emergenciais em
estabelecimentos prisionais para dar efetividade ao
postulado da dignidade da pessoa humana e assegurar
aos detentos o respeito à sua integridade física e moral.
b) Há um estado de coisas inconstitucional no sistema
carcerário brasileiro, responsável pela violação massiva
de direitos fundamentais dos presos. Esse estado de
coisas demanda a atuação cooperativa das diversas
autoridades, instituições e comunidade para a
construção de uma solução satisfatória.
c) A omissão injustificada da Administração em
providenciar a disponibilização de banho quente nos
estabelecimentos prisionais, por si só, não fere a
dignidade de presos sob sua custódia.
d) A Administração Pública está obrigada ao pagamento
de pensão e indenização por danos morais no caso de
morte por suicídio de detento ocorrido dentro de
estabelecimento prisional mantido pelo Estado.
e) Não se caracteriza a responsabilidade civil objetiva do
Estado por danos decorrentes de crime praticado por
pessoa foragida do sistema prisional, quando não
demonstrado o nexo causal direto entre o momento da
fuga e a conduta praticada.
Comentários
Gabarito: C
Era necessário assinalar a alternativa ERRADA!
A alternativa A está CERTA. Trata-se do entendimento do
STF prolatado em sede de repercussão geral:
STF. Tese de repercussão geral (Tema 220). É lícito ao
Judiciário impor à Administração Pública obrigação de
fazer, consistente na promoção de medidas ou na
execução de obras emergenciais em estabelecimentos
prisionais para dar efetividade ao postulado da
dignidade da pessoa humana e assegurar aos detentos o
respeito à sua integridade física e moral, nos termos do
que preceitua o art. 5º, XLIX, da Constituição Federal,
não sendo oponível à decisão o argumento da reserva do
possível nem o princípio da separação dos poderes.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
A alternativa A está CERTA. Trata-se do entendimento do
STF prolatado na Arguição de Descumprimento de
Preceito Fundamental (ADPF) 347.
STF (ADPF 347). Tese
1. Há um estado de coisas inconstitucional no sistema
carcerário brasileiro, responsável pela violação massiva
de direitos fundamentais dos presos. Tal estado de
coisas demanda a atuação cooperativa das diversas
autoridades, instituições e comunidade para a
construção de uma solução satisfatória. 2. Diante disso,
União, Estados e Distrito Federal, em conjunto com o
Departamento de Monitoramento e Fiscalização do
Conselho Nacional de Justiça (DMF/CNJ), deverão
elaborar planos a serem submetidos à homologação do
Supremo Tribunal Federal, nos prazos e observadas as
diretrizes e finalidades expostas no presente voto,
especialmente voltados para o controle da superlotação
carcerária, da má qualidade das vagas existentes e da
entrada e saída dos presos. 3. O CNJ realizará estudo e
regulará a criação de número de varas de execução penal
proporcional ao número de varas criminais e ao
quantitativo de presos.
A alternativa C está ERRADA. O STJ decidiu que há, na
hipótese, violação
STJ: A omissão injustificada da Administração em
providenciar a disponibilização de banho quente nos
estabelecimentos prisionais fere a dignidade de presos
sob sua custódia. REsp 1.537.530-SP, Rel. Min. Herman
Benjamin, Segunda Turma, por unanimidade, julgado em
27/04/2017, DJe 27/02/2020 (informativo 666)
A alternativa D está CERTA. Trata-se do entendimento do
STJ a respeito do tema:
STJ: A Administração Pública está obrigada ao
pagamento de pensão e indenização por danos morais
no caso de morte por suicídio de detento ocorrido
dentro de estabelecimento prisional mantido pelo
Estado. Nessas hipóteses, não é necessário perquirir
eventual culpa da Administração Pública. Na verdade, a
responsabilidade civil estatal pela integridade dos
presidiários é objetiva em face dos riscos inerentes ao
meio no qual foram inseridos pelo próprio Estado. Assim,
devem ser reconhecidos os referidos direitos em
consideração ao disposto nos arts. 927, parágrafo único,
e 948, II, do CC. AgRg no REsp 1.305.259-SC, Rel. Min.
Mauro Campbell Marques, julgado em 2/4/2013.
Sobre o tema, vejamos ainda julgado com repercussão
geral prolatado pelo STF:
Tema 592: Responsabilidade civil objetiva do Estado por
morte de detento. Descrição: Recurso extraordinário
com agravo em que se discute, à luz do § 6º do art. 37 da
Constituição Federal, a responsabilidade civil objetiva do
Estado por morte de detento.
Tese: Em caso de inobservância do seu dever específico
de proteção previsto no art. 5º, inciso XLIX, da
Constituição Federal, o Estado é responsável pela morte
de detento.
A alternativa E está CERTA. Trata-se do entendimento do
STF prolatado em sede de repercussão geral:
STF. Tese de repercussão geral (Tema 362). Tese: “Nos
termos do artigo 37 §6º da Constituição Federal, não se
caracteriza a responsabilidade civil objetiva do Estado
por danos decorrentes de crime praticado por pessoa
foragida do sistema prisional, quando não demonstrado
o nexo causal direto entre o momento da fuga e a
conduta praticada”.
Questão 72
Na seara trabalhista, é comum a desigualdade entre
empregador e empregado. Há, então, uma desigualdade
fática e uma relação de subordinação entre as figuras
supracitadas. Diversos são os mecanismos jurídicos para
frear essa desigualdade, equacionando a relação. A
aplicação dos direitos fundamentais e dos direitos
humanos pelos magistrados na referida relação de
desigualdade denota a denominada eficácia:
a) Diagonal dos direitos humanos.
b) Vertical dos direitos humanos.
c) Horizontal direta dos direitos humanos.
d) Ineficácia horizontal
e) Eficácia horizontal indireta.
Comentários
Gabarito: A
Para resolver a questão, era necessário conhecer os
seguintes conceitos especificados na doutrina de
OLIVEIRA e LAZARI (2018):
“Teoria de eficácia Vertical: Tradicionalmente, sempre
tiveram os direitos humanos irradiação centrífuga, isto é,
com emanação do poder de comando, atingindo os
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
comandados, verticalmente, bem como limitando a
atuação deste poder de comando”.
“Teoria da ineficácia horizontal: Os direitos humanos não
podem ser aplicados às relações entre particulares, de
forma que não existe uma eficácia horizontal de direitos
humanos. Por tal teoria, a única e histórica razão para a
existência dos direitos humanos/fundamentais é a
proteção contra os arbítrios estatais, de modo que, entre
particulares, já bastam as regras implícitas de convívio
social comumente norteadas pela autonomia privada”.
“Teoria da eficácia horizontal indireta: A produção de
efeitos entre particulares das normas de direitos
fundamentais não pode se fundar exclusivamente na
constituição, precisando ser modulada pelas normas e
parâmetros do direito privado”
“Teoria da eficácia horizontal direta: Essa doutrina
reconhece a aplicação direta, sem quaisquer
mecanismos intermediários dos direitos humanos entre
particulares”.
“Teoria da Eficácia Diagonal: Aplicada às relações entre
particulares em que haja subordinação entre estes,
notadamente nas relações de trabalho
(empregador/empresa e empregado).”
Assim, a aplicação dos direitos humanos oriunda das
relações entre particulares em que haja subordinação
(típica da relação empregatícia), fala-se em eficácia
DIAGONAL dos direitos humanos, motivo pelo qual a
Alternativa A está CERTA.
Questão 73
Em determinado processo judicial está em análise a
relação jurídica entre a República Federativa do Brasil e
alguns outros países. A Constituição Federal, para o caso,
estabelece alguns princípios que regem as relações
internacionais da República Federativa do Brasil. Dentre
as alternativas abaixo, assinale aquela que apresenta um
desses princípios.
a) Construção de uma sociedade livre, justa e solidária;
b) Garantia do desenvolvimento nacional;
c) Erradicação da pobreza e da marginalização
d) Promoção do bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação.
e) Autodeterminação dos povos.
Comentários
Gabarito: E
Embora seja tema também afeto ao direito
constitucional, “os princípios que regem as relações
internacionais do Brasil” vieram expressamente no edital
como ponto da disciplina de direitos humanos.
Dentre as alternativas citadas, apenas a alternativa E
corresponde a um princípio que rege as relações
internacionais da República Federativa do Brasil:
CRFB/88. Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se
nas suas relações internacionais pelos seguintes
princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da
humanidade;
X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil
buscará a integração econômica, política, social e
cultural dos povos da América Latina, visando à
formação de uma comunidade latino-americana de
nações.
Os demais correspondem a objetivos da República
Federativa do Brasil e não princípios que regem as suas
relações internacionais.
Questão 74
A Mesa do Senado Federal ajuizou Ação Direta de
Inconstitucionalidade contra lei federal de iniciativa do
Presidente da República que, a pretexto de reduzir os
custos da máquina pública, suprimiu direitos ambientais
anteriormente garantidos. Segundo narrado na petição
inicial, a referida importou em decréscimo da proteção
ambiental, o que seria vedado pelo nosso ordenamento
jurídico. O fundamento utilizado na ADI corresponde
à(o) denominada(o):
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
a) Teoria da margem da apreciação.
b) Efeito Cliquet
c) Eficácia Diagonal dos direitos humanos.
d) Vedação ao Non liquet.
e) Gramática dos direitos humanos
Comentários
Gabarito: B
Trata-se do denominado efeito cliquet, também
conhecido como vedação ao retrocesso. Vejamos as
lições da doutrina:
“Os direitos humanos devem sempre (e cada vez mais)
agregar algo de novo e melhor ao ser humano, não
podendo o Estado proteger menos do que já protegia
anteriormente. Ou seja, os Estados estão proibidos de
retroceder em matéria de proteção dos direitos
humanos. Assim, se uma norma posterior revoga ou
nulifica uma norma anterior mais benéfica, essa norma
posterior é inválida por violar o princípio internacional da
vedação do retrocesso (igualmente conhecido como
princípio da “proibição de regresso”, do “não retorno”
ou “efeito cliquet”).”. (Mazzuoli, Valerio de Oliveira
Curso de direitos humanos / Valerio de Oliveira Mazzuoli.
– 9. ed. – Rio de Janeiro: Forense; MÉTODO, 2022)
Assim, correta a alternativa B.
Vejamos as demais alternativas.
Teoria da Margem da apreciação (Alternativa A):
“A teoria da margem de apreciação é baseada na
subsidiariedade da jurisdição internacional e ponderada
pelo princípio da proporcionalidade. Por tal,
determinadas controvérsias correlatas a restrições
estatais devem ser debatidas e solucionadas pelas
comunidades nacionais, impedindo que o juiz
internacional interfira e as aprecie, notadamente porque
fatores culturais internos devem receber o merecido
destaque” (OLIVEIRA; LAZARI, 2018, p. 101)¹
“Teoria da Eficácia Diagonal” (Alternativa C): Aplicada às
relações entre particulares em que haja subordinação
entre estes, notadamente nas relações de trabalho
(empregador/empresa e empregado).”
“Vedação ao Non Liquet” (Alternativa D): Trata-se da
proibição de que os juízes deixem de decidir
determinado caso sob a justificativa de inexistência de
norma a ele aplicável.
“Gramática dos direitos humanos”: “gramática dos
direitos humanos” conota o estudo dos elementos que
compõem o núcleo normativo dos direitos humanos e
suas combinações recíprocas, orientando a sua correta
aplicação. Em outras palavras, compreende o estudo de
todo o mosaico normativo (convencional ou não) de
proteção internacional desses direitos, para o fim de
guiar o aplicador do direito à solução adequada,
sobretudo no plano interno” (Mazzuoli, Valerio de
Oliveira Curso de direitos humanos / Valerio de Oliveira
Mazzuoli. – 9. ed. – Rio de Janeiro: Forense; MÉTODO,
2022).
FORMAÇÃO HUMANÍSTICA
Professor Jean Vilbert
Questão 75
Segundo a tragédia grega narrada por Sófacles, os filhos
de Édipo, Eteócles e Polinices, haviam compartilhado o
poder conjuntamente até se desentenderem. Eteócles
expulsou seu irmão — os dois irmãos haviam
concordado em alternar o poder a cada ano, mas ao final
de um dos seus mandatos, Eteócles decidiu não retornar
o poder a seu irmão. Polinices reuniu um exército e
atacou a cidade. Ambos os irmãos acabaram mortos na
batalha. O rei Creonte, que ascendeu ao trono após a
morte dos irmãos, decreta que Polinices não deve ser
enterrado, sob pena de morte por apedrejamento.
Antígona, irmã de Polinices, desafia a ordem do rei.
Levada ao rei, Antígona admite que sabia da lei proibindo
o luto por Polinices, mas voluntariamente resolveu
quebrá-la.
O comportamento e tese defensiva de Antígona pode ser
enquadrada em qual movimento jusfilosófico:
a) Positivismo clássico, uma vez que Antígona admite
conhecer a lei, tê-la descumprido voluntariamente, e
está preparada para sofrer as consequências da ação
ilegal.
b) Pós-positivismo, porque, na visão de Antígona,
existem preceitos que, em alguns casos específicos,
devem levar à flexibilidade da lei em atendimento a
outros preceitos do próprio ornamento.
c) Positivismo integrativo, que flexibiliza o rigor do
legalismo e autoriza o descumprimento da lei em casos
de injustiça sob os auspícios da lei.
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
d) Realismo jurídico, que trata da prevalência dos fatos
em detrimento, em casos específicos, da norma abstrata.
e) Jusnaturalismo, em que há um escalamento
hierárquico de órbitas com normatividade jurídica
impositiva.
Comentários
Comentário Longo:
A protagonista da tragédia se recusa a cumprir o decreto
do Rei que a impedia de enterrar o irmão. Em sua
admissão Antígona desafia: a lei dos homens pode ser
INJUSTA? Se a resposta é sim, então existe um direito
superior ao direito dos homens.
Quanto às opções:
a) O positivismo clássico equaliza justiça e lei — cabe ao
cidadão cumprir a lei e não a discutir. Nas palavras de
Kelsen: para o Direito, só há justiça sob a lei, isto é,
cumprimento escrupuloso e impessoal da lei. Embora
Antígona estivesse ciente da ilegalidade do seu ato e
pronta para encarar as consequências disso, essa não é a
lição aqui, mas sim que ela acreditava de que há uma
ordem superior às leis humanas.
b) O pós-positivismo realmente trás a possibilidade de
questionar a lei em caso de injustiça extrema (vide
Radrbuch, Alexy, Dworkin). Contudo, isso não aponta
necessariamente para a ideia que Antígona está
transmitindo: a lei dos homens não é toda poderosa; há
leis acima dessas leis — no caso, especificamente, as leis
dos deuses (enterro e luto) devem prevalecer. Mas
Antígona jamais fez menção a qualquer preceito do
próprio ordenamento. Na verdade, ela estava seguindo
a lei divina, não terrena...
c) O positivismo flex é uma transição entre o positivismo
clássico e o pós-positivismo, mas ele não vai admitir (de
jeito nenhum) o cidadão escolher quando cumprir a lei.
d) O realismo jurídico é a corrente que defende o império
do julgamento sob a lei. Ou seja, o que vale é a decisão
do juiz, não a lei escrita. Veja que o conceito trazido na
opção desveritua esse pensamento...
e) Finalmente! Essa é opção correta: o justnaturalismo
caracteriza-se por propor uma dualidade entre lei
superior (divina aqui) e inferior (humana).
Comentário Curto:
A existência de uma dualidade (direito inferior-superior)
aponta para a lógica jusnaturalista.
Gabarito: E
Questão 76
“Perigoso é o definir." Nada mais cediço. Nada mais
verdadeiro, sobretudo em se tratando de Estado,
entidade de aspectos tão desconcertantes. A
advertência, contudo, não tem mostrado
suficientemente intimidativa. Espíritos de escol não se
livraram da tentação, e o Estado tem sido largamente
definido. [...] Definir é, pois, dar de algo a explicação de
sua natureza. É enunciar-lhe os caracteres fundamentais,
de modo a distingui-lo, além disto, de outros objetos do
conhecimento. Corresponde a um anseio do espírito.
Traduz muitas vezes a coroação de um intenso labor
científico. Propicia o imediato entendimento do que se
define e facilita-lhe a classificação na árvore da ciência.”
(ASSUMPÇÃO, Antonio. O Estado contemporâneo:
aspectos formais. Revista de Direito Público. São Paulo,
v. 14, p. 155-164, out./dez., 1970, p. 155).
Quanto ao termo estado, e sua utilização dentro da
ciência política e popularmente para indicar a unidade
que liga a sociedade ao poder político, pode-se afirmar
que:
a) A denominação estado é utilizada ao menos desde a
Grécia Antiga para definir a estrutura de governo da
sociedade.
b) Pela sua importância política prática, o termo estado
tem acepção quase constante no decorrer dos tempos.
c) O termo estado deriva do latim status e significa estar
firme.
d) O uso do vocábulo estado está historicamente
conectado àquilo que é público.
e) Modernamente, a palavra estado tem sua utilização
associada à obra de Montesquieu, “O Espírito das Leis”.
Comentários
Comentário Longo:
A continuação do trecho de Assumpção, constante do
enunciado, é: “Mas nem sempre é fácil definir, e a
dificuldade avulta quando o que se pretende conceituar
é o Estado, objeto de difícil compreensão” (ASSUMPÇÃO,
Antonio. O Estado contemporâneo: aspectos formais.
Revista de Direito Público. São Paulo, v. 14, p. 155-164,
out./dez., 1970, p. 155). Yeap. Vejamos!
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
a) Negativo! Com a profusão atual, até parece que o
termo é utilizado desde sempre. Mas não é assim não. Se
você for ler Platão ou Aristóteles, encontrará o uso do
termo polis, às vezes traduzido como CIDADE! O uso da
palavra estado com a compreensão atual é muitooo mais
recente...
b) Nem a pau! Na Antiguidade Clássica o Estado é a
expressão do povo, a polis grega ou a civitas romana. Na
Idade Média, durante a sociedade feudal, passa a
representar o território, que se integra ao governo. Com
a Renascença, e a formação de grandes Estados dirigidos
por governos autocráticos, confunde-se com o soberano,
que lhe encarna as próprias vestes. Nos tempos
modernos, ante o Renascimento e as ideias
democráticas, torna-se biunivocamente relacionado à
nação. O Estado é um camaleão que se adapta como
ninguém aos matizes de cada época.
c) Isso mesmo! O termo ESTADO deriva do latim status e
significa “estar firme” (mais do que palanque em
banhado, prego em polenta...), no sentido de situação
permanente, estável.
d) Essa era difícil, mas NADA disso! Na Europa, até o
século XVIII, o termo se aplicava também para
denominar grandes propriedades rurais particulares, nas
quais os proprietários exerciam poder jurisdicional.
e) A palavra Estado (no sentido de sociedade política de
vocação permanente e dotada de poder) aparece pela
primeira vez na obra de Maquiavel (“O Príncipe”), escrito
em 1513 e publicado em postumamente em 1532. Nada
de Montesquieu, portanto. Antes disso, outros eram os
vocábulos utilizados para identificar a figura que hoje
ligados ao Estado. Como vimos acima, para os gregos, a
expressão era polis; para os romanos civitas; na Idade
Média principados ou reinos.
Comentário Curto:
O termo estado deriva do latim status e significa estar
firme, ser permanente ou estável.
Gabarito: C
Questão 77
No capítulo “Mérito e Justiça” (Merit and Justice), o
filosofo e economista Amartya Sen descreve as possíveis
interpretações do mérito dentro de um modelo
meritocrata. Ele ainda expande a relação da ideia de
mérito com o conceito de justiça. Acerca de tais
definições, pode-se afirmar:
a) O mérito como sistema de recompensa social envolve
pelo menos duas facetas: de um lado tem-se a noção de
incentivos e de outro a questão da propriedade da ação
em si.
b) A noção qualitativa de mérito como julgamento de
ações apropriadas as toma como instrumento social para
a consecução de fins socialmente desejáveis.
c) Uma vantagem do modelo meritocrata é que ele
permite a implementação de uma regra neutra de
agregação de benefícios sociais.
d) A ideia de mérito como incentivo volta-se à
deontologia, ou seja, à qualidade dos atos sob o plano da
ética normativa.
e) Uma crítica à meritocracia é que o mérito é distribuído
pela qualidade das ações e não por aquilo que se liga ao
sujeito, o ser-humano que realiza a ação.
Comentários
Comentário Longo:
a) CORRETO! Em tradução livre das ideias de Sen:
Incentivos: Ações podem ser recompensadas pelo bem
que fazem, e um sistema de recompensa das atividades
que geram boas consequências seria, presume-se,
tendente a produzir uma sociedade melhor. A lógica das
estruturas de incentivo pode ser mais complexa do que
esta simples afirmação sugere, mas a ideia dos méritos
nesta perspectiva instrumental relaciona-se com a
motivação de produzir melhores resultados. Nesta visão,
as ações são meritórias de uma forma derivativa e
contingente, dependendo do bem que fazem, e mais
particularmente do bem que pode ser provocado ao
recompensá-las. Propriedade da Ação: As ações podem
ser julgadas pela sua propriedade - não pelos seus
resultados - e podem ser recompensadas de acordo com
a qualidade dessas ações, julgadas de uma maneira
independente dos resultados. Muito uso tem sido feito
desta abordagem ao mérito, e partes da ética
deontológica separam a conduta correta - para elogio e
emulação - independente da bondade das
consequências geradas.
b) Nah! A noção de mérito como julgamento de ações
apropriadas é deontológica. A ideia instrumental se liga
ao mérito como incentivo. Na ação apropriada busca-se
recompensar ações que são boas por sua natureza: um
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
julgamento daquilo que é bom segundo um certo
parâmetro, independentemente dos resultados
alcançados. Aquilo que é bom POR SI MESMO leva um
prêmio – como falar a verdade, por exemplo, mesmo que
isso gera algum inconveniente.
c) Nops. Segundo Sen, a regra de agregação da
meritocracia é enviesada, muitas vezes implicitamente,
para os mais favorecidos (os “talentosos” e “bem-
sucedidos”), deixando a deriva os grupos
desafortunados. Para o filósofo, essa regra não é neutra,
mas construída socialmente em benefício de certos
grupos historicamente privilegiados.
d) Errouuu! A de mérito como incentivo é instrumental.
As ações são recompensadas porque elas produzem um
melhor resultado social. Assim, a sociedade incentiva os
indivíduos a praticaram ações que são boas do ponto de
vista coletivo.
e) Ao contrário: a grande reclamação é que em vez de
premiar boas ações, premia-se algo inato ao sujeito: o
mais rápido, o mais bonito, a mais inteligente, a mais
talentosa, etc., questões que são distribuídas mais por
acidente do nascimento do que qualquer outra coisa... É
essa personificação que é atacada por filósofos como
Amartya Sen e Michael Sandel.
Comentário Curto:
A meritocracia é uma extensão de um sistema geral de
recompensa pelo mérito. Amartya Sen argumenta que
existem, pelo menos, duas maneiras diferentes de ver o
mérito e os sistemas para recompensá-lo: incentivos e
propriedade das ações.
Gabarito: A
Questão 78
A lógica utilitarista, especialmente a Benthamiana,
alinha-se mais ao princípio:
a) do meio termo, com a correção ou comutação de
eventuais desvios.
b) do imperativo categórico, de maneira que a
universalização se encarregue de estender
universalmente os benefícios sociais.
c) da maximização do bem-estar, com o maior benefício
para o maior número.
d) da equidade, com a flexibilização da lei positiva
quando ela afeta negativamente o bem-estar social.
e) da superioridade de uma justiça transcendental
imposta à lei humana como standard de correção.
Comentários
Comentário Longo:
Essa era fácil, não?! O utilitarismo pode ser classificado
como uma doutrina filosófica, jurídica, ética, política e
econômica que se opõe notadamente às teorias
contratualistas (de Hobbes, Locke, Rousseau), traçando
ao menos três críticas: (1) a existência histórica de um
contrato social é questionável e de difícil prova; (2) ainda
que se provasse a existência de tal contrato, há pouca ou
nenhuma razão para o cumprimento dos compromissos
assumidos; (3) os direitos individuais extraídos do
contrato conduzem ao individualismo e ao egoísmo.
Segundo ele, as pessoas possuem dois senhores: o prazer
e a dor. Buscamos evitar a dor e ter prazer. Fazer justiça,
então, é maximizar o bem-estar!
Estabelece-se, assim, o critério ou princípio da utilidade,
que busca dar a problemas de justiça uma solução capaz
de trazer um resultado positivo para o maior número de
pessoas possível (maximização do bem-estar), raciocínio
que pode (e deve) ser utilizado tanto em decisões
individuais quanto sociais – base para as escolhas que
norteiam o ordenamento jurídico e orientam a
autoridade estatal na implementação de políticas
públicas (sempre voltadas à maximização da felicidade
coletiva).
Agora vamos para cima das alternativas:
a) Noção Aristotélica de justiça corretiva: o meio termo
tira as vantagens excessivas de um e dá ao desprovido,
como se equilibrasse uma balança ou gangorra.
b) Isso é Kant! As coisas são certas ou errada por elas
mesmas, e para descobrir nós universalizamos a
conduta. Aquilo que pode ser universalizado sem ferir o
direito dos outros é viável. É imperativo porque são
condutas que se impõem e de forma categórica – sem
contingenciamento.
c) BINGO! O maior bem para o maior número (de
pessoas).
d) Flexibilizaria a justiça da lei pela justiça do “bom
senso” (o que ser isso?). Mas de toda forma, não é o caso
aqui. Utilitarismo tem a ver com utilidade!
e) Isso seria Aquino ou Agostinho: Deus é o legislador
universal e está correto aquilo que está previsto na lei
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
universal ou eterna (divina). A lei humana deve seguir
esse standard...
Comentário Curto:
Para o utilitarismo, é bom (correto e justo) aquilo que
produzir em suas consequências a maximização do bem-
estar (para o maior número possível de pessoas) e ruim
(errado e injusto) aquilo que piorar o bem-estar da
maioria.
Gabarito: C
Questão 79
Em sua obra, A República, o filósofo grego Platão propõe
que a sociedade só poderá prosperar se os governantes
forem filósofos.
Tomando a visão platônica sob uma perspectiva
idealista, tais governantes hão de ser:
a) Idealmente, ninguém, eis que se todos os cidadãos
forem educados para se tornarem filósofos, não há
necessidade de hierarquia governamental, todos
saberão como se comportar.
b) Cidadãos comuns do povo educados à filosofia e
eleitos entre os pares, de modo que uma verdadeira
República representativa possa surgir.
c) Oligarcas versados em filosofia, os quais não
representam seus próprios interesses, mas os da
população em geral, utilizando suas capacidades para
coletivamente determinar o que é mais benéfico à
sociedade e guiá-la para o bem-comum.
d) Reis-filósofos, que deveriam ser educados para fazer
o bem à polis, dando norte à busca da eudamonia.
e) Leis, não os homens. O governo das leis é o único
capaz de evitar a tirania, de modo que os cabe aos
filósofos bem interpretar as disposições normativas.
Comentários
Comentário Longo:
O objetivo das pessoas deveria ser ter uma vida digna, o
que significa não prazer, dinheiro, fama, mas VIRTUDE:
sabedoria, piedade e, principalmente, justiça.
Para guiar o povo, os filósofos devem GOVERNAR.
Para explicar suas ideias, Platão usava a metáfora do
navio. O dono do navio é o povo (não sabe navegar); os
marinheiros são os políticos (competem entre si pelos
favores do dono do navio); o capitão (navegador) é o
filósofo, o único que, além de não estar envolvido nas
disputas de poder, sabe para onde ir (o rumo a tomar).
Platão tinha consciência de que seria difícil para os
filósofos se tornarem reis, propunha que se educasse os
reis para que se tornassem filósofos. Ele chegou a
arquitetar que uma classe governamental fosse criada.
Para tanto, as crianças com potencial intelectual (para
governar) deveriam ser retiradas de suas famílias
(sequestradas) e levadas para comunas especiais. Já
pensou??? Dito isso, bora para as opções:
a) Idea deliciosa, mas não factível — e nem parte do
ideário de Platão. Confira o comentário para a opção (b),
Platão não tinha muita fé na capacidade de as pessoas
(não todas elas) aprenderem filosofia. Logo, esse mundo
simplesmente non-ecxiste!
b) Platão acreditava que cada pessoa tinha uma função
na sociedade: essa seria a cidade perfeita descrita na
República de Platão. Nesse modelo, e segundo a crença
do filósofo grego, a maioria da população, ao menos uma
parcela considerável dela, não estava preparada para
aprender altas ideias filosóficas e, por isso, não deveria
(jamaixxx) governar. Nessa linha de pensamento, tentar
educar a todos é perda de tempo, e o povo governando
é anarquia!
c) Até podia ser, que uma elite haveria de governar — os
guardiões, os melhores e mais intelectualmente capazes.
Mas essa não era uma exigência do pensamento
platônico, nem uma realidade ao tempo que o ele estava
escrevendo. Logo, o imperativo “deve” no enunciado
deve chamar sua atenção. Eu recomendaria conferir as
outras opções e ver se há uma melhor do que esta (e eu
já adianto: Há!).
d) EXATAMENTE! Platão era, sejamos sinceros, elitista.
Ele acredita que os melhores deveriam ajudar a
sociedade a alcançar a boa vida, a vida virtuosa
(eudamonia). Logo, os melhores deverão governar. O
ideal seria que os filósofos pudessem governar. Na falta,
que se tornem os reis (eles em geral são espertos e
capazes de aprender) em filósofos! Daí rei-filósofos!
e) Outra ideia interessante, mas que seria proposta (mais
ou menos) por Montesquieu no futuro — governo das
leis para evitar tirania. Platão, por outro lado, era muito
cético quanto às leis, as mesmas leis que levaram seu
mestre (Sócrates) à condenação capital.
Comentário Curto:
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
Segundo Platão, sociedade só poderá prosperar se os
filósofos forem reis ou (ao menos) se os reis forem
filósofos. Logo, precisaríamos de “Reis-filósofos”.
Gabarito: D
Questão 80
“Um certo número de homens deve dividir um bolo:
supondo que a divisão justa seja uma divisão equitativa,
qual será o procedimento, se é que existe um, que trará
esse resultado? Questões técnicas à parte, a solução
óbvia é fazer com que um homem divida o bolo e receba
o último pedaço, sendo aos outros permitido que
peguem os seus pedaços antes dele. Ele dividirá o bolo
em partes iguais, já que desse modo pode assegurar para
si próprio a maior parte possível.” (John Rawls, Uma
Teoria da Justiça).
O filósofo americano John Rawls trata em sua obra de
três tipos de justiça procedimental. Analisando o
processo penal brasileiro à luz desses tipos de justiça:
a) Perfaz caso de justiça procedimental pura, em que o
justo se liga de maneira inseparável do procedimento,
não se delineando o justo de maneira independente do
mecanismo.
b) É exemplo de justiça procedimental imperfeita, em
que é possível delinear o justo de modo independente
do procedimento, mas não há um mecanismo
determinístico de tal resultado.
c) Classifica-se como justiça procedimental mista, a meio
termo entre a justiça perfeita e imperfeita, considerando
a inquisitoriedade do inquérito policial e a
acusatoriedade da fase juidicial.
d) Enquadra-se na justiça procedimental perfeita, em
que é possível delinear o justo de maneira independente
do procedimento, o qual determina tal resultado.
e) Não se enquadra nos conceitos de justiça
procedimental, os quais era voltados a modelos
idealizados de justiça, não se aplicando a aspectos
específicos de processos judiciais.
Comentários
Comentário Longo:
John Rawls distinguiu três tipos de justiça procedimental:
a justiça procedimental pura, a justiça procedimental
perfeita e a justiça procedimental imperfeita. Vamos
avaliar cada um deles por meio das opções:
a) Na justiça procedimental pura, consideramos justo um
resultado porque derivado do procedimento eleito: não
dispomos neste caso de nenhum critério independente
para julgar o justo — tudo depende do procedimento. O
resultado de um jogo de azar, por exemplo, é justo se
foram seguidas as regras que definem o procedimento
da jogatina; não há um critério independente da própria
regra procedimental para valorar a justiça do resultado.
Se ninguém trapaceou e as regras foram observadas,
está valendo... Mas enquanto não resolvermos
processos na base do cara (condena) ou coroa (absolve),
nosso sistema procedimental não é puro!
b) Aí SIM!!! No caso da justiça procedimental imperfeita,
dispomos de um critério independente para identificar o
justo, MAS não é possível delinear um procedimento que
assegure tal resultado em todos os casos. Rawls ilustra
esta situação com o processo penal. O resultado
desejado é que o acusado seja declarado culpado se e
somente se, cometeu o delito pelo qual é julgado.
Desafortunadamente, nem sempre os culpados são
condenados e os inocentes absolvidos. Por isso o caso é
de justiça imperfeita.
c) Bela embromada! O fato de o processo penal brasileiro
ter essa divisão em nada altera a sua classificação nos
modelos de justiça procedimental, afinal, estamos a falar
de regra de decisão e valoração. O procedimento
importa, claro, mas o procedimento enquanto valoração
e caminho para o resultado. Ademais, Rawls nada disse
sobre critério misto.
d) Na justiça procedimental perfeita há um critério
antecedente e independente para estabelecer o que é
justo, e o procedimento assegura que se alcance tal
resultado. Rawls dá o exemplo da divisão de um bolo
(como no enunciado). Se aceitamos que o resultado
justo seja o de que cada pessoa receba uma fatia igual,
podemos estabelecer que o procedimento para alcançar
tal resultado seja o de que aquele que corta o bolo
recebe o último pedaço. Como podemos ver, o processo
penal não determina, em todos os casos, a justiça da
decisão, pelo que esta opção não nos favorece.
e) Com base no que vimos acima, essa opção é do tipo:
para distrair candidato desatento! A ideia de Rawls
tratava de modelos em geral de justiça, inclusive aposta
(exemplo que ele mesmo usa). Logo, obviamente,
processos judicias estariam envolvidos nesses meandros.
Em suma, aplica-se, sim, ao processo penal brasileiro.
Comentário Curto:
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024
O processo penal é caso de justiça imperfeita, em que o
justo é valorado de maneira independente, mas o
procedimento nem sempre alcançará tal resultado.
Gabarito: B
 3º Simulado ENAMA – 17/02/2024

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