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GARANTIAS

FUNDAMENTAIS.
HABEAS DATA.
MANDADO DE
INJUNÇÃO
Prof. Noemia Porto
Habeas Data

i) O habeas data é uma ação constitucional, de caráter civil, conteúdo e rito


sumário, que tem por objeto a proteção do direito líquido e certo do impetrante
em conhecer todas as informações e registros relativos à sua pessoa e constantes
de repartições públicas ou particulares acessíveis ao público, para eventual
retificação de seus dados pessoais. ii) A ação constitucional é gratuita, em razão da
isenção das custas e das despesas judiciais. iii) O objeto da garantia constitucional
do habeas data é proteger a esfera íntima dos indivíduos: a) contra usos abusivos
de registros de dados pessoais coletados por meios fraudulentos, desleais ou
ilícitos; b) contra a introdução nesses registros de dados "sensíveis" (assim
chamados os de origem racial, opinião política, filosófica ou religiosa, filiação
partidária e sindical, orientação sexual, etc.; c) para retificação de dados falsos ou
com fins diversos dos autorizados em lei.
Habeas Data

iv) Embora possam ter pontos de contato, não se confundem o habeas data com o
direito à obtenção de certidões em repartições públicas. No primeiro caso, basta o
simples desejo de conhecer as informações relativas à pessoa, independentemente
da demonstração de que elas se prestarão à defesa de direitos. No segundo, há se
demonstrar a necessidade de defesa de direitos e/ou esclarecimentos de situações
de interesse pessoal. v) Em relação ao direito de retificação, a Constituição faculta
o impetrante o processo sigiloso, judicial ou administrativo.
Habeas Data

vi) O direito ao controle da circulação de dados pessoais de forma inédita pode ser
assegurado através de um remédio constitucional, em se considerando as
construções normativas do direito comparado. O direito americano conhece
instituto similar, mas não tão específico, em razão do Freedom of Information Act
de 1974 e do Freedom of Information Reform de 1978. O ineditismo da fórmula
brasileira inspirou outros textos constitucionais da América Latina (Colômbia,
Paraguai e Peru). vii) Antes da previsão específica pela Constituição de 1988 a
proteção do direito à informação poderia ser alcançado pelo mandado de
segurança, mas em regimes autoritários há prática disseminada de arquivos
governamentais sigilosos contendo dados referentes a convicção filosófica, política,
etc.
Habeas Data

viii) O direito é de caráter personalíssimo, sendo a garantia manejável pelo titular


dos dados, que pode ser tanto brasileiro como estrangeiro, sendo admissível que os
herdeiros legítimos do morto ou o cônjuge supérstite possam impetrar o writ. ix)
Não há direito ao conhecimento sobre dados de terceiros. x) É legitimada
ativamente para a garantia do habeas data também a pessoa jurídica. xi) Como
autoridades possíveis destinatárias da ordem tem-se: órgão da Administração
Pública direta ou indireta; instituições, entidades e pessoas jurídicas privadas que
prestem serviço para o público ou de interesse público, envolvendo não só as
concessionárias, permissionárias ou exercentes outras de atividades autorizadas,
mas também agentes de controle e proteção de situações sociais ou coletivas,
como as instituições de cadastramento de dados pessoais para controle ou
proteção do crédito ou divulgadoras profissionais de dados pessoais, como as
firmas de assessoria e de fornecimento de malas-direta.
Habeas Data

xii) A lei nº 9.507/97 determina que se considere de caráter público todo


registro ou banco de dados contendo informações que sejam ou que possam
ser transmitidas a terceiros ou que não sejam de uso privativo do órgão ou
entidade produtora ou depositária das informações. xiii) O rito processual do
habeas data pressupõe uma fase administrativa prévia, com requerimento
apresentado ao órgão ou entidade depositária do registro ou banco de
dados. xiv) Para que se configure o interesse de agir no âmbito da garantia, é
necessária a resistência da autoridade vislumbrada no procedimento
administrativo prévio. xv) Os processos de habeas data têm prioridade de
tramitação, excetuando-se, porquanto com precedência superior, o habeas corpus
e o mandado de segurança.
Habeas Data

xvi) Na legislação infraconstitucional regulamentadora do procedimento, não


há espaço para o duplo grau de jurisdição no caso de decisões concessivas,
motivo pelo qual o recurso deverá ser articulado de forma espontânea e
manifesta pela autoridade pública. xvii) O habeas data é cabível inclusive em
relação a dados e registros acobertados pelo sigilo da defesa nacional,
porque as informações sigilosas não podem ser assim consideradas em
relação ao próprio informado, especificamente considerando que o direito
ao conhecimento é corolário necessário do Estado Democrático de Direito.
xviii) O habeas data não se revela meio idôneo para se obter vista de
processo administrativo.
Mandado de Injunção

i) A omissão legislativa inconstitucional é uma inércia na atividade normativa


concretizadora da Constituição, na contramão do prestígio que lhe é devido e com
rompimento da ordem constitucional rígida, e que deve receber, sem embargo,
adequada compreensão enquanto categoria jurídica, a fim de que se observem as
autênticas repercussões que são próprias da específica ação constitucional que lhe
serve de controle. ii) A ação direta de inconstitucionalidade por omissão não
encontra no Mandado de Injunção um "sucedâneo" ou "correspondente concreto".
iii) As omissões inconstitucionais que se inserem adequadamente no âmbito da
ação de controle concentrado são absolutas, as quais representam um plus em
relação às simples situações de omissão legislativa, e, não por outro motivo, o
controle que representa recebeu tratamento diferenciado, com procedimento
próprio, entregue, de forma exclusiva, aos cuidados do Supremo Tribunal Federal.
Mandado de Injunção

iv) O mandado de injunção deve garantir processualmente o exercício de direitos


constitucionais, inviabilizado por falta de norma regulamentadora, oportunidade
em que o órgão jurisdicional competente deverá, no caso concreto, aplicar a norma
constitucional definidora do direito correspectivo. Através do exercício da função
jurisdicional, e observando os contornos do caso concreto, restará estabelecido
como o direito deverá ser exercido. Nos termos do art. 2º da Lei nº 13.300/2016,
“conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta total ou parcial de norma
regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais
e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. O
parágrafo único prevê que se considera parcial a regulamentação quando forem
insuficientes as normas editadas pelo órgão legislador competente”.
Mandado de Injunção

v) São legitimados para o mandado de injunção as pessoas naturais ou jurídicas


que se afirmam titulares dos direitos, das liberdades ou das prerrogativas e, como
impetrado, o Poder, o órgão ou a autoridade com atribuição para editar a norma
regulamentadora (art. 3º). O impetrante deve indicar na petição inicial a pessoa
jurídica que ele integra ou aquela a que está vinculado (art. 4º). vi) Reconhecido o
estado de mora legislativa, será deferida a injunção para determinar prazo razoável
para que o impetrado promova a edição da norma regulamentadora; estabelecer
as condições em que se dará o exercício dos direitos ou, se for o caso, as condições
em que poderá o interessado promover ação própria visando a exercê-los, caso não
seja suprida a mora legislativa no prazo determinado (art. 8º). Será dispensada a
determinação pertinente à concessão de prazo razoável para a promoção da norma
regulamentadora quando comprovado que o impetrado deixou de atender, em
mandado de injunção anterior, ao prazo estabelecido para a edição da norma.
Mandado de Injunção

vii) Na esteira do que ocorre no controle difuso, a decisão proferida em sede de


mandado de injunção terá eficácia subjetiva limitada às partes e produzirá efeitos
até o advento da norma regulamentadora (art. 9º). No entanto, poderá ser
conferida eficácia ultra partes ou erga omnes à decisão, quando isso for inerente ou
indispensável ao exercício do direito, da liberdade ou da prerrogativa objeto da
impetração. viii) Transitada em julgado a decisão, seus efeitos poderão ser
estendidos aos casos análogos por decisão monocrática do relator. Em situação
semelhante à da ação popular, o indeferimento do pedido por insuficiência de
prova não impede a renovação da impetração fundada em outros elementos
probatórios. Sem prejuízo dos efeitos já produzidos, a decisão poderá ser revista, a
pedido de qualquer interessado, quando sobrevierem relevantes modificações das
circunstâncias de fato ou de direito (arts. 9º e 10).
Mandado de Injunção

ix) A norma regulamentadora superveniente produzirá efeitos ex nunc em relação


aos beneficiados por decisão transitada em julgado, salvo se a aplicação da norma
editada lhes for mais favorável (art. 11). x) São aplicáveis subsidiariamente ao
mandado de injunção as normas que disciplinam o mandado de segurança. xi) Se
lei anterior à Constituição foi por ela recepcionada, descabe a hipótese de MI. xii) O
mandado de injunção coletivo não induz litispendência em relação aos individuais,
mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante que não requerer a
desistência da demanda individual no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência
comprovada da impetração coletiva.
Mandado de Injunção

xiii) O mandado de injunção coletivo pode ser promovido pelo Ministério Público,
quando a tutela requerida for especialmente relevante para a defesa da ordem
jurídica, do regime democrático ou dos interesses sociais ou individuais
indisponíveis; por partido político com representação no Congresso Nacional, para
assegurar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas de seus integrantes ou
relacionados com a finalidade partidária; por organização sindical, entidade de
classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos 1
(um) ano, para assegurar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas em
favor da totalidade ou de parte de seus membros ou associados, na forma de seus
estatutos e desde que pertinentes a suas finalidades, dispensada, para tanto,
autorização especial; pela Defensoria Pública, quando a tutela requerida for
especialmente relevante para a promoção dos direitos humanos e a defesa dos
direitos individuais e coletivos dos necessitados (art. 12).

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