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CONSTITUCIONAL III
Introdução
O habeas data compõe o rol das chamadas ações constitucionais. É de
natureza mandamental e o seu rito processual é específico. Poderá ser
impetrado para solicitar judicialmente a exibição dos registros públicos
ou privados, nos quais estejam contidos os dados da pessoa do impe-
trante, a fim de que tomem conhecimento e, caso necessário, possam
ser corrigidos.
É pacífica a orientação jurisprudencial dos tribunais superiores de que
seja comprovado o esgotamento da via administrativa para que seja via-
bilizada a impetração do habeas data. Embora seja objeto de divergência
doutrinária, deve ser verificada a resistência do órgão administrativo em
oferecer as informações, tendo em vista que, caso contrário, não estará
comprovado o interesse de agir para impetrar o habeas data.
Neste capítulo, você vai ler sobre as definições de habeas data, as
suas hipóteses de cabimento e competência e os principais aspectos
processuais dessa ação constitucional.
Habeas data
O habeas data é uma das ações constitucionais, previsto no art. 5º, LXXII,
da Constituição Federal. Assim prevê o dispositivo legal:
2 Habeas data
Art. 5º [...]
LXXII — conceder-se-á habeas data:
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impe-
trante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais
ou de caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo
sigiloso, judicial ou administrativo (BRASIL, 1988, documento on-line).
O habeas data pode ser definido como o direito de todo o indivíduo de solicitar
judicialmente a exibição dos registros públicos ou privados, nos quais estejam contidos
seus dados pessoais, a fim de que tomem conhecimento e, caso necessário, sejam
corrigidos os dados inexatos ou obsoletos, que impliquem em danos.
O habeas data não pode ser confundido com o direito de obter certidões, previsto
no art. 5º, XXXIV, da Constituição Federal, ou informações de interesse particular,
coletivo ou geral, nos termos do inciso XXXIII do referido artigo. Se houver recusa no
fornecimento de certidões ou informações para a defesa de direitos ou esclarecimento
de situações de interesse pessoal ou de terceiros, o instrumento jurídico correto é o
mandado de segurança (BRASIL, 1988).
Assim prevê a Súmula nº. 2 do Supremo Tribunal Federal: “[...] não cabe
o habeas data (CF, art. 5º, LXXII, a) se não houve recusa de informações por
parte da autoridade administrativa”. Nesse sentido, observamos a decisão do
Recurso Especial nº. 1.304.736-RS, analisando o habeas data em situação que
envolve o direito do consumidor:
[...] o habeas data pode ser impetrado por pessoa física ou por pessoa jurídica,
seja nacional ou estrangeira, para tutela do direito à informação que lhe diga
respeito de forma direta. Não há qualquer restrição na legislação a respeito.
Falecendo o titular do direito à informação, admite-se a impetração de habeas
data pelos herdeiros ou sucessores da pessoa, inclusive cônjuge supérstite.
Art. 20 [...]
II — em grau de recurso:
a) ao Supremo Tribunal Federal, quando a decisão denegatória for proferida
em única instância pelos Tribunais Superiores;
b) ao Superior Tribunal de Justiça, quando a decisão for proferida em única
instância pelos Tribunais Regionais Federais;
c) aos Tribunais Regionais Federais, quando a decisão for proferida por juiz
federal;
d) aos Tribunais Estaduais e ao do Distrito Federal e Territórios, conforme
dispuserem a respectiva Constituição e a lei que organizar a Justiça do Dis-
trito Federal;
III — mediante recurso extraordinário ao Supremo Tribunal Federal, nos casos
previstos na Constituição (BRASIL, 1997, documento on-line).
Procedimento
O habeas data relaciona-se intimamente com outras duas ações constitucionais:
o habeas corpus e o mandado de injunção, de forma que todos são ações civis
de natureza mandamental, que segue rito processual específico. Para Sarlet,
Marinoni e Mitidiero (2013, p. 780), “[...] trata-se de procedimento documen-
tal, cuja viabilização da prestação da tutela jurisdicional está subordinada à
produção de prova pré-constituída”.
O art. 8º da Lei nº. 9.507/1997 estipula que a petição inicial deverá atender
aos requisitos indicados pelo Código de Processo Civil e deverá ser apresentada
em duas vias, sendo que os documentos originais devem ser apresentados na
primeira via. Ainda, o parágrafo único do art. 8º indica que a peça inicial
deverá ser instruída com prova de uma das situações ali indicadas:
Habeas data 7
Art. 8º [...]
Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova:
I — da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias
sem decisão;
II — da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze
dias, sem decisão; ou
III — da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2º do art. 4º u do de-
curso de mais de quinze dias sem decisão (BRASIL, 1997, documento on-line).
Se o juiz entender que a petição inicial deve ser indeferida, poderá fazer desde logo,
cabendo recurso de apelação contra tal decisão. Caso o juiz decida pelo prossegui-
mento da demanda, ele determinará a notificação do coator, acompanhada das cópias
dos documentos, para que preste informações no prazo de 10 dias. Findo o prazo,
o Ministério Público será ouvido no prazo de 5 dias, ficando os autos conclusos para
sentença também em 5 dias.