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GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO

SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA E


TECNOLOGIA UNIVERSIDADE DO ESTADO
DE MATO GROSSO CURSO BACHAREL EM
DIREITO

HABEAS DATA

Discentes: AgnaldoAparecido de L. Junior;


Cristóvan Lucas Oliveira Rocha;
Kenia de Freitas Silva de Deus;
Leticia Rabelo Ramos.
Docente: Laudicéia Fagundes Teixeira

Pontes e Lacerda - MT
2021
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HABEAS DATA GE
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1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

O habeas data, instrumento judicial amplamente nomeado pela doutrina e jurisprudência


como “remédio constitucional”, por possuui natureza de ação constitucional, com previsão
expressa no art. 5.º, LXXII, da CF, e é regulamentado pela Lei 9.507/1997.
“Ex vi” do disposto na literalidade do incisos I, II e III do art.7º, da Lei 9.507/97, a
ação de habeas data pode ser impetrada em três hipóteses: para assegurar o conhecimento de
informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registro ou banco de dados de
entidades governamentais ou de caráter público; para a retificação de dados, quando não se
prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo; para a anotação nos
assentamentos do interessado, de contestação ou explicação sobre dado verdadeiro, mas
justificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável .
Frise-se que este instrumento judicial alcança apenas informações pessoais do
impetrante. Nesse sentido Syvio Motta .”( 2017, p. 391) preleciona :“Não basta, pois, que a
informação seja de interesse pessoal: é indispensável que, além de ser pessoal, a informação
refira-se à própria pessoa do impetrante.
Nesse contexto, urge trazer à baila a respeitável ementa da judiciosa decisão proferida
pelo Egrégio Supremo Tribunal Federal, cuja transcrição segue abaixo, in verbis:
EMENTA: HABEAS DATA. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE
RESISTÊNCIA AO FORNECIMENTO DAS INFORMAÇÕES: ART. 8º,
PARÁGRAFO ÚNICO, INCISO I, DA LEI N. 9.507/1997. AUSÊNCIA DE
INTERESSE DE AGIR. INFORMAÇÕES RELATIVAS A TERCEIROS. AGRAVO
REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. A ausência da comprovação da recusa ao
fornecimento das informações, nos termos do art. 8º, parágrafo único, inciso I, da Lei
n. 9.507/1997, caracteriza falta de interesse de agir na impetração. Precedente:
Recurso em Habeas Data n. 22, Relator o Ministro Celso de Mello, DJ 1º.9.1995. 2.
O habeas data não se presta para solicitar informações relativas a terceiros, pois,
nos termos do inciso LXXII do art. 5º da Constituição da República, sua
impetração deve ter por objetivo "assegurar o conhecimento de informações
relativas à pessoa do impetrante". Agravo regimental não provido.
(HD 87 AgR, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 25/11/2009,
DJe-022 DIVULG 04-02-2010 PUBLIC 05-02-2010 EMENT VOL-02388-01 PP-
00001 RTJ VOL-00213-01 PP-00017 RDDP n. 85, 2010, p. 144-146 LEXSTF v. 32,
n. 374, 2010, p. 169-173)
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Nesse diapasão, de forma exclarecedora, Pedro Lenza (2020) relembra que está é a sutil
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diferença entre o Habeas data e o Mandado de Segurança, in verbis:
Essa garantia não se confunde com o direito de obter certidões (art. 5.º, XXXIV, “b”),
ou informações de interesse particular, coletivo ou geral (art. 5.º, XXXIII). Havendo
recusa no fornecimento de certidões (para a defesa de direitos ou esclarecimento de
situações de interesse pessoal, próprio ou de terceiros), ou informações de terceiros, o
remédio próprio é o mandado de segurança, e não o habeas data. Se o pedido for para
assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, aí sim o
remédio será o habeas data. (LENZA, 2020, p. 1830)
Ademais, conforme endendimento proferido pelo Tribunal Pleno do STF, no Ag. Reg.
no Habeas data, julgado em 18/02/2010, a “ação de habeas data visa à proteção da privacidade
do indivíduo contra abuso no registro e/ou revelação de dados pessoais falsos ou equivocados”,
segue a literarilidade da ementa:
AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS DATA. ART. 5º, LXXII, DA CF. ART. 7º, III,
DA LEI 9.507/97. PEDIDO DE VISTA DE PROCESSO ADMINISTRATIVO.
INIDONEIDADE DO MEIO. RECURSO IMPROVIDO. 1. O habeas data, previsto
no art. 5º, LXXII, da Constituição Federal, tem como finalidade assegurar o
conhecimento de informações constantes de registros ou banco de dados e ensejar sua
retificação, ou de possibilitar a anotação de explicações nos assentamentos do
interessado (art. 7º, III, da Lei 9.507/97). 2. A ação de habeas data visa à proteção da
privacidade do indivíduo contra abuso no registro e/ou revelação de dados pessoais
falsos ou equivocados. 3. O habeas data não se revela meio idôneo para se obter vista
de processo administrativo. 4. Recurso improvido.
(HD 90 AgR, Relator(a): ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 18/02/2010,
DJe-050 DIVULG 18-03-2010 PUBLIC 19-03-2010 EMENT VOL-02394-01 PP-
00001 RDDP n. 86, 2010, p. 139-141 RB v. 22, n. 558, 2010, p. 38-39)
Feitas estas considerações iniciais passamos a analisar a legitimidade para ajuizar ação
constitucional de habeas data, o procedimento e a as regras sobre competência .

2. LEGITIMIDADE ATIVA E PASSIVA

Para a impetração de um habeas data, configura no polo ativo qualquer pessoa, seja ela
física ou jurídica, a fim de ter acesso às informações a seu respeito (Lenza, 2021, p. 1.831). Indo
mais afundo, também são legítimas as pessoas estrangeiras, ao qual necessitam obter
informações constantes no banco de dados governamental.
A Lei nº 9.507/97, parágrafo único, art. 1º, traz o conceito de banco de dados, como
sendo: “Considera-se de caráter público todo registro ou banco de dados contendo informações
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que sejam ou que possam ser transmitidas a terceiros ou que não sejam de uso privativo GE
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órgão ou entidade produtora ou depositária das informações”.
No entanto, incumbe ressaltar que o habeas data possui caráter personalíssimo, ou seja,
somente a informações de interesse pessoal à pessoa impetrante (Nome, ano, p. 395), pode
ajuizar ação requerendo a obtenção dos dados constantes em entidades governamentais.
Contudo há uma excepcionalidade onde afasta-se o caráter personalíssimo do habeas data,
quando parente do de cujus (ascendente, descendente, cônjuge ou irmão), requerem
informações para salvaguardar a memória do falecido constante no banco de dados
governamental.
A respeito do polo passivo dessa relação jurídica, compreende-se todas as entidades
governamentais, tanto da administração direta quanto indireta, ou seja, pessoa jurídica de direito
público. Todavia, cabe ressaltar que entidade de caráter privado também podem se enquadrar
nesse quesito e serem sujeitas passivas desta relação jurídica. É o caso das empresas privadas
de proteção ao crédito (SPC), que possuem informações constante no banco de dados
governamentais acerca, por exemplo, de devedores inadimplentes. É o que diz o art. 43, §4º, da
Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor): “os bancos de dados e cadastros relativos
a consumidores, os serviços de proteção ao crédito e congêneres são considerados entidades de
caráter público”.
Na contramão do referido dispositivo legal, o Supremo Tribunal Federal (STF), por
meio do RE 165.304/MG decidiu que o Banco do Brasil, embora seja empresa pública federal,
não enquadra-se no polo passivo de ação de habeas data, ao fato de que “não configura como
entidade governamental - mas sim como explorador de atividade econômica -, nem se enquadra
no conceito de registros de caráter público a que se refere o art. 5º LXXII, a, da CR”.

3. PROCEDIMENTO
Como anteriormente mencionado, o habeas data foi introduzido na vigente Constituição
Federal como instrumento a ser utilizado para frear o controle indevido do Estado sobre os
indivíduos. Salienta-se que via de regra, o direito garantido pelos habeas data somente poderá
ser exercido pelo próprio titular dos dados que se pretende conhecer e/ou corrigir. Incluindo
também nestes casos, pessoas jurídicas.
Conforme explorado no art. 8º da Lei nº 9.507/97, que dispõe sobre o rito processual do
habeas data, o mesmo possui como requisito indispensável a prova da recusa de
disponibilização de informações e/ou a recusa de se fazer a retifação de tais informações. Em
outras palavras, o legislador deixa explícito que para que o habeas data seja cabível, é
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imprescindivelmente necessário que o cidadão ao solicitar acesso a dados pessoais a um órgão
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público, tenha sua solicitação negada por este.
O pedido de acesso as informações desejadas, deve ser requerido inicialmente por via
administrativa e o órgão público, por sua vez, tem dois dias para analisar o mesmo. Em caso de
negativa injustificada ou esgotamento do prazo para disponibilização da informação, o
solicitante poderá ingressar com a ação cabível. Todo esse processo, bem como a ação de
habeas data e a retificação de dados ou anotações de justificação, como previsto no art. 21 da
lei regulamentadora (Lei nº 9.507/97), serão isentos das custas judiciais e do ônus da
sucumbência.
Outro ponto a ser ressaltado é que a negativa do Poder Público de fornecer certidões
referentes a dados pessoais não deve ser combatida por meio de habeas data, isto pois, apesar
dos mesmos estarem inter-relacionados, eles não se confundem. Michel Temer apud Sylvio
Motta (2018), esclarece que ao pleitear uma certidão, o solicitante deve demonstrar que o faz
para “defesa de direitos e esclarecimentos de situações de interesse pessoal (art. 5 o , XXXIV, b, da
CF/88) ”, enquanto que no habeas data, o simples desejo de se conhecer a informação relativas à sua
pessoa já o torna apto a obter tais informações apenas por via administrativa.
Por fim, esclarece-se que o habeas data, apesar de divergência doutrinária, pode ser
tanto de caráter individual, como de caráter coletivo. Este último, se caracteriza pela impetração
do remédio por meio de pessoa jurídica que tenha por finalidade a busca da retificação de
informações que sejam de interesse de toda a comunidade. Ainda convém lembrar que a lei
reguladora do rito processual do habeas data, não especificou prazo decadencial para
impetração da ação. Ademais, em caso de indeferimento da petição inicial caberá recurso de
apelação.

4. COMPETÊNCIA
Os juizos competentes para o processo e julgamento do habeas data estão elencados na
Constituicao Federal. Compete ao STF processar e julgar em recurso ordinário o habeas data,
decidido em única instância pelos Tribunals Superiores, se denegatória a decisao (CF, art. 102,
II, "a"). Originariamente, cabe ao STF processar e julgar o habeas data contra atos do Presidente
da República, às Mesas da Camara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas
da Uniãoo, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal (CF, art.
102, I, "d"); compete ao STJ julgar o habeas data contra atos de Ministro de Estado ou do
próprio Tribunal (CF, art. 105, I, "b"); compete aos TRFs processar e julgar o habeas data
originariamente o habeas data contra ato do proprio Tribunal ou de juiz federal (CF, art. 108, I
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, "c"), compete aos juízes federais processar e julgar o habeas data contra ato de autoridade
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federal, exceto os casos de competência dos Tribunais Federais (CF, art. 109, VIII); compete
ao TSE julgar, em recurso ordinário, o habeas data denegado pelos TRES (CF, art. 121, § 4°,
V).
Quanto à Justica Estadual, caberá a Constituição do Estado estabelecer a competência
de seus tribunais e juízes, complementada pela lei de organização judiciária de cada unidade da
Federacao (CF, art. 125, § 1°).
Não obstante o rol estabelecido nesse artigo, a ausência dos orgãos das justiças
trabalhista, eleitoral e militar não significa que seja coibido o ajuizamento desse remédio
constitucional nessas justiças especializadas.
A redação do art. 114, IV da Constituição, dipõe competir a justiça do trabalho o
julgamento do habeas data quando questionado envolver matéria trabalhista.
O legitimado para requerer habeas data é unicamente a pessoa física ou jurídica
diretamente interessada nos registros mencionados no inciso LXXII, "a" e "b", do art. 5° da CF.
No habeas data há um primeiro julgamento com relação à pertinência da requisição das
informações, se o pedido for cabivel, as informações deverão então ser prestadas, e poderão ser
retificadas, em caso de incorreção comprovada.
Não há possibilidade de aplicação analógica do procedimento do mandado de
segurança ou do mandado de injuncão, pois buscam fins diversos, com ritos diferentes.
O doutrinador e ministro do STF Professor Gilmar Ferreira Mendes (MENDES, Gilmar
Ferreira. Curso de direito constitucional. Saraiva Educação SA, 2013), afirma que o processo
de habeas data pode desenvolver-se em duas fases. Na primeira, o Juiz, de plano, manda
notificar o impetrado para apresentar dados do impetrante, constantes de seu registro, no prazo
estipiulado, juntados os dados, o impetrante terá ciência deles, devendo manifestar-se em prazo
determinado. Se nada tiver a retificar, dirá se arquivara o processo. Se tiver retificação a fazer,
dirá quais são de forma fundamentada, mediante aditamento da inicial, e então o Juiz
determinará a citação do impetrado para contestação, se quiser, prosseguindo-se nos termos do
contraditório.
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REFERÊNCIAS

LENZA, Pedro. Direito Constitucional. 25 . ed. São Paulo: Saraiva, 2021.


MOTTA, Sylvio. Direito Constitucional: Teoria, Jurisprudência e Questões. 27 . ed. São
Paulo: Método, 2018.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília. DF: Senado
Federal.1988.
BRASIL. Lei nº 9.507, de 12 de novembro de 1997. Regula o direito de acesso a informações
e disciplina o rito processual do habeas data. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9507.htm. Acesso em 15 de setembro de 2021.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Tribunal Pleno. Agravo Regimental Habeas Data n. 90.
Recorrente:Exato Engenharia LTDA.Recorrido: Relator da Representação Nº Tc
001.359/2009-2 do Tribunal De Contas Da União. Relatora: Ministra Cármen Lúcia. .Brasília,
25 de novembro de 2009.Disponıvel em
https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search?base=acordaos&pesquisa_inteiro_teor=false&sin
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setembro de 2021. Acesso em 09 de setembro de 2021.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Tribunal Pleno. Habeas Data n. 87.
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09 de setembro de 2021
Mendes, L. S. F. (2018). Habeas data e autodeterminação informativa. Revista Brasileira de Direitos
Fundamentais & Justiça, 12(39), 185-216.
Moreira, J. C. B. (1998). O habeas data brasileiro e sua lei regulamentadora. Revista de Direito
Administrativo, 211, 47-63.
https://www.politize.com.br/habeas-data-o-que-e/
https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-facil/edicao-
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