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Controladoria-Geral da União
Ouvidoria-Geral da União
Referência: 37400.001233/2012-79
Assunto: Recurso do art. 23 do Decreto nº 7.724/2012, referente ao pedido de acesso à
informação feito ao INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
pelo Sr.
“A própria Lei 12.527/2011 fez distinção entre o tratamento a ser dado para
as informações sobre servidores púbicos e as informações de cidadãos sob
guarda do poder público.
Este entendimento tem fulcro na obrigatoriedade expressa de divulgação das
despesas do Governo (§1º do art. 8º) e, neste sentido, o gasto com pessoal se
enquadra no inciso III. Deste modo, há amparo legal, entendimento
corroborado pela regulação feita pelo inc. VI, art. 7º do Dec. 7.724/2011,
para a divulgação das remunerações dos servidores públicos.
Por outro lado, o art. 31 da mesma lei dispensa tratamento diferenciado às
informações pessoais sob guarda do poder público e, por consequência,
nosso entendimento é de que as informações sobre os beneficiários da
Previdência Social tem acesso restrito, independentemente de classificação
de sigilo. Isto porque, se entendesse diferente, o legislador teria
expressamente determinado a liberação das informações.
Assim, mantemos o indeferimento inicial, salientando que, caso seja de
interesse, o senhor poderá protocolar novo pedido para fornecimento de
quantidades - acompanhado de informações adicionais que não identifiquem
os titulares dos benefício - para análises estatísticas.”
12. É o relatório.
ANÁLISE
16. Já o INSS defende que as informações solicitadas são pessoais e, portanto, protegidas
pelo sigilo, nos termos da Constituição, no art. 5º, inciso X, e da Lei de Acesso a Informações,
em seu art. 31. Para o INSS, as informações solicitadas estão sob a sua guarda, mas
pertencem aos beneficiários, implicando que sua divulgação contrariaria as normas vigentes
que garantem a preservação da intimidade, vida privada, honra e imagem pessoal das pessoas.
Quanto ao censo previdenciário, o INSS argumenta que, neste caso específico, ocorre uma
exceção à exigência de sigilo, em favor do próprio beneficiário, que, com a divulgação das
informações censitárias, poderá tomar providências para regularização de sua situação e evitar
a descontinuidade do pagamento do benefício. Mitiga-se, pois, o exercício de um direito para
que outro possa ser exercido. Por fim, para corroborar o seu entendimento, o INSS usa como
exemplo a divulgação dos salários dos servidores, exigida pelo Decreto nº 7.724/2012,
argumentando que, se o acesso aos dados sobre os beneficiários da previdência social (com
nomes, valores etc.) fosse público, isso teria sido incluído como matéria de divulgação
obrigatória pela norma, o que não aconteceu.
Art. 31 (...)
§ 3o O consentimento referido no inciso II do § 1o não será exigido quando
as informações forem necessárias:
I - à prevenção e diagnóstico médico, quando a pessoa estiver física ou
legalmente incapaz, e para utilização única e exclusivamente para o
tratamento médico;
II - à realização de estatísticas e pesquisas científicas de evidente interesse
público ou geral, previstos em lei, sendo vedada a identificação da pessoa a
que as informações se referirem;
III - ao cumprimento de ordem judicial;
IV - à defesa de direitos humanos; ou
V - à proteção do interesse público e geral preponderante. (grifo não
constante do original).
19. À luz desses limites normativos, fica evidente que o enquadramento de determinadas
informações em categorias especificas torna-se complexo e difícil quando a fronteira entre
público e privado não é muito clara ou quando a mesma situação comporta razões de interesse
público e privado. Quando isso ocorre, a norma abstrata pode não ser capaz de resolver a
questão e a solução dependerá dos elementos e características presentes no caso concreto. O
afastamento do sigilo das informações pessoais não ocorre aprioristicamente, mas exige que
se verifique no caso concreto se existem elementos fáticos que se enquadrem nas hipóteses
previstas nos incisos I a V do parágrafo 3º do art. 31 da Lei de Acesso à Informação. Se
houver, por exemplo, interesse público e geral preponderante numa determinada situação, o
sigilo pessoal poderá ser afastado, mas é o caso concreto, específico, que ditará os rumos da
decisão, em função de todos os seus elementos, nuances e características.
22. Por seu turno, e a título de comparação, a Lei nº 10.836/2004, que instituiu o Programa
Bolsa Família, determinou expressamente a publicização de dados pessoais, excepcionando,
portanto, o sigilo nesse caso:
Art. 13. Será de acesso público a relação dos beneficiários e dos respectivos
benefícios do Programa a que se refere o caput do art. 1º.
Parágrafo único. A relação a que se refere o caput terá divulgação em meios
eletrônicos de acesso público e em outros meios previstos em regulamento.
24. No caso dos benefícios previdenciários, há que se considerar que o valor recebido pelo
beneficiário não provém exclusivamente de fonte pública – formada pelo recolhimento
genérico de tributos que depois são redistribuídos para as mais diversas finalidades -, mas se
origina também de contribuições pagas pelo próprio beneficiário.
CONCLUSÃO
Signatário(s):
MARCIO ALMEIDA DO AMARAL
ANALISTA DE FINANCAS E CONTROLE
Assinado Digitalmente em 07/11/2012
Relação de Despachos:
Registre-se a aprovação integral da Nota Técnica em questão, nos termos da qual o Exmo. Sr. Ministro
Chefe desta Controladoria-Geral da União, Dr. Jorge Hage Sobrinho, deu fundamento e motivação a sua
decisão.
Desta forma, considerando que o recorrente teve ci ência da mencionada decisão no prazo legal (sem
qualquer prejuízo das garantias fixadas na Lei nº 12.527/11), ficam convalidados todos os atos praticados no
curso deste procedimento cujas datas de registro eletrônico não correspondam às de sua real produção.
JOSE EDUARDO ELIAS ROMAO
Ouvidor-Geral da União
Este despacho foi expedido eletronicamente pelo SGI. O c ódigo para verificação da autenticidade deste
documento é: b9ddd2ee_8cf8b16fc66155a