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Habeas Data - Refere-se ao remédio constitucional do habeas data, informa sua

natureza jurídica, sua finalidade, seu cabimento, competência para processo e


julgamento do habeas data, dentre outros aspectos interessantes.

O instituto do habeas data tem sua origem apontada na legislação ordinária nos Estados
Unidos, por meio da Freedom of Information Act de 1974, alterado pelo Freedom
of Information Reform Act de 1978, visando possibilitar o acesso do particular às
informações constantes de registros públicos ou particulares permitidos ao público.

1.2. Previsão legal:

A Constituição Federal de 1988 prevê em seu art. 5º, LXXII, a possibilidade de impetrar
habeas data:

 para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,


constantes de registros ou banco de dados de entidades governamentais ou de
caráter público;

 para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso,
judicial ou administrativo.

1.3. Conceito:

Segundo José Afonso da Silva, o habeas data:

“É um remédio constitucional que tem por objeto proteger a esfera íntima dos
indivíduos contra:

 usos abusivos de registros de dados pessoais coletados por meios fraudulentos,


desleais ou ilícitos;

 introdução nesses registros de dados sensíveis (assim chamados os de origem


racial, opinião política, filosófica ou religiosa, filiação partidária e sindical,
orientação sexual, etc.);

 conservação de dados falsos ou com fins diversos dos autorizados em lei”.

Para o autor Firmín Morales Prats “o habeas data, ou conjunto de direitos que garante o
controle da identidade informática, implica o reconhecimento do direito de conhecer, do
direito de correção, de subtração ou anulação, e de agregação sobre os dados
depositados num fichário eletrônico. Esse elenco de faculdades, que derivam do
princípio de acesso ao banco de dados, contitui a denominada ‘liberdade informática’ ou
direito ao controle dos dados que respeitam ao próprio indivíduo (biológicos, sanitários,
acadêmicos, familiares, sexuais, políticos, sindicais...)”.

O mesmo autor emprega a expressão habeas data ao lado de habeas scriptum e habeas


mentem, sendo este último como expressão jurídica da intimidade e os dois primeiros
como sinônimos no sentido de direito ao controle da circulação de dados pessoais.
Vale lembrar que o direito de impetrar habeas data é personalíssimo do titular dos
dados, seja ele brasileiro ou estrangeiro, pessoa física ou jurídica. No entanto, uma
decisão do ainda Tribunal Federal de Recursos (agora, STJ) admitiu que os herdeiros
legítimos do morto ou seu cônjuge poderão pleitear este direito (HD n.001-DF, DJU,
2.5.89, Seção I, p. 6.774).

1.4. Natureza jurídica:

Segundo Hely Lopes Meirelles, “o habeas data é uma ação constitucional, de caráter
civil, conteúdo e rito sumário, que tem por objeto a proteção do direito líquido e certo
do impetrante em conhecer todas as informações e registros relativos à sua pessoa e
constantes de repartições públicas ou particulares acessíveis ao público, para eventual
retificação de seus dados pessoais”.

Trata-se, pois, de uma ação que deverá desenvolver-se em duas fases, a menos que o
impetrante já conheça o teor dos registros a serem retificados ou complementados,
quando, e então, pedirá à Justiça que os retifique, mediante as provas que exibir ou vier
a produzir, conforme afirma Hely Lopes Meirelles.

1.5. Finalidade:

Com o remédio constitucional habeas data  objetiva-se que todas as pessoas possam ter
acesso às informações que o Poder Público ou entidades de caráter público (Serviço de
Proteção ao Crédito, por exemplo) possuam a seu respeito.

Acentuando o caráter democrático Michel Temer relembra que o habeas data:

“é fruto de uma experiência constitucional anterior em que o governo arquivava, a seu


critério e sigilosamente, dados referentes a convicção filosófica, política, religiosa e de
conduta pessoal dos indivíduos”.

Canotilho e Vital Moreira ensinam que:

“no âmbito normativo do direito à identidade pessoal inclui-se o direito de acesso à


informação sobre a identificação civil a fim de o titular do direito tomar conhecimento
dos dados de identificação e poder exigir a sua retificação ou atualização – através de
informação escrita, certidão, fotocópia, microfilme, registro informático, consulta do
processo individual, acesso direto ao ficheiro central”.

José da Silva Pacheco ressalta que várias decisões judiciais pré-Constituição de 1988 já
admitiam a utilização do mandado de segurança, com a finalidade hoje estabelecida
para o habeas data.

1.6. Cabimento:

Segundo Alexandre Moraes, a jurisprudência do STJ (Súmula 2) firmou-se no sentido


da necessidade de negativa da via administrativa para justificar o ajuizamento
do habeas data, de maneira que inexistirá interesse de agir a essa ação constitucional se
não houver relutância do detentor das informações em fornece-las ao interessado. Tendo
o hábeas data natureza jurídica de ação constitucional, submetem-se às condições da
ação, entre as quais o interesse de agir, que nessa hipótese configura-se,
processualmente, pela resistência oferecida pela entidade governamental ou de caráter
público, detentora das informações pleiteadas (STJ – 3ª Seção; HD nº 0025-5-DF – Rel.
Min. Anselmo Santiago; j. 1º-12-1994; v. u; STJ – HD nº 02-DF, Rel. Min. Pedro
Acioli, RSTJ 3/901). Faltará, portanto, essa condição da ação se não houver solicitação
administrativa, e conseqüentemente negativa no referido fornecimento (STJ – Habeas
Data nº 4/DF – Rel. Min. Vicente Cernicchiaro, RSTJ 2/463; STF – Pleno - Recurso
em Habeas Data nº 22/DF – Rel. Min. Celso de Mello – RTJ 162/807).

Nesse mesmo sentido decidiu o Plenário do STF, entendendo que:

“o acesso ao habeas data pressupõe, dentre outras condições de admissibilidade a


existência do interesse de agir. Ausente o interesse legitimador da ação, torna-se
inviável o exercício desse remédio constitucional. A prova do anterior indeferimento do
pedido de informação de dados pessoais, ou da omissão em atendê-lo, constitui requisito
indispensável para que se concretize o interesse de agir no habeas data. Sem que se
configure situação prévia de pretensão resistida, há carência da ação constitucional
do habeas data”.

1.7. Competência:

Segundo Hely Lopes Meirelles “os juízos competentes para o processo e julgamento
do habeas data estão indicados da Constituição, assim distribuídos: compete ao STF
processar e julgar em recurso ordinário habeas data decidido em única instância pelos
Tribunais Superiores, se denegatória a decisão (CF, art. 102, II, “a”). Originariamente,
cabe ao STF processar e julgar o habeas data contra atos do Presidente da República,
das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da
União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal (CF,
art. 102, I, “d”); compete ao STJ julgar o habeas data contra atos de Ministro de Estado
ou do próprio Tribunal (CF, art. 105,I, “b”); compete aos TRFs processar e julgar
originariamente o habeas data contra ato do próprio Tribunal ou de juiz federal (CF, art.
108, I, “c”); compete aos juízes federais processar e julgar o habeas data contra ato de
autoridade federal, excetuados os casos de competência dos Tribunais Federais (CF, art.
109, VIII); compete ao TSE julgar, em recurso, em recurso ordinário, o habeas
data denegado pelos TREs (CF, art. 121, Parágrafo 4º, V).

Quanto à Justiça Estadual, caberá à Constituição do Estado estabelecer a competência


de seus tribunais e juízes, complementada pela lei de organização judiciária de cada
unidade da Federação (CF, art. 125, Parágrafo 1º).

As competências para julgamento de habeas data, originariamente ou em grau de


recurso, estão disciplinadas detalhadamente nos três incisos do art. 20 da Lei n.
9.507/97.

1.8. Legitimação e procedimento:


Segundo Hely Lopes Meirelles, “o legitimado para requerer habeas data é unicamente a
pessoa física ou jurídica diretamente interessada nos registros mencionados no inc.
LXXII, “a” e “b”, do art. 5º da CF.

O procedimento do habeas data não foi regulamentado imediatamente com a


promulgação da Constituição Federal. Assim, a doutrina e a jurisprudência passaram a
aplicar-lhe o mesmo procedimento do mandado de segurança. Somente em 12-11-1997
foi editada a Lei nº 9.507, que regulamenta o instituto do habeas data.

REFERÊNCIAS 

Meirelles, Hely Lopes. “Mandado de Segurança”. 27ª ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2004.

Silva, José Afonso da. “Curso de Direito Constitucional Positivo”. 19ª ed. São Paulo:
Malheiros Editores, 2001.

Moraes, Alexandre. “Direito Constitucional”. 15ª ed. Editora Atlas, 2006.

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