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(Mat.05. Proc. Constitucional – 8º/9º Per. Dir. Turmas M/G – Prof. Léo Bifano – 2023)
5. HABEAS DATA
Lei a Lei: Lei nº 9.507/97.

O habeas data, cujo termo vem do latim e, em tradução livre, quer dizer “tenha os
dados”, é um remédio constitucional, previsto no artigo 5º, inciso LXXII, destinado a assegurar
que um cidadão tenha acesso a dados e informações pessoais que estejam sob posse do Esta-
do brasileiro, ou de entidades privadas que tenham informações de caráter público. Ou seja, é
o direito de saber o que o governo sabe (ou afirma saber) sobre você. Ele também pode ser
acionado para corrigir dados pessoais que estejam inexatos.

5.1. Histórico

As origens históricas do instituto remontam à década de 1970, na Europa. Os pri-


meiros diplomas que conferiram ao indivíduo o direito de acesso às informações de dados
foram a Lei francesa de proteção à intimidade, de 17/07/1970, e a Lei do Land de Hesse (Ale-
manha Ocidental), de 07/10/1970, seguidas posteriormente pela Datalag sueca, Data Protec-
tion Act inglês, lei italiana nº 98 de 1974 e leis portuguesas nº 2 e nº 3 de 1973.
A tendência chegou rapidamente aos Estados Unidos, que em 1974 editavam o seu
Freedom of Informations Act, mais tarde alterado pelo Freedom of Information Reform Act de
1978.
Entretanto, foi na Europa que se conferiu ao indivíduo, pela primeira vez em plano
constitucional, a possibilidade de conhecer as suas informações pessoais constantes de regis-
tros informáticos, com o advento da Constituição de Portugal de 1976 (art. 35) e da Constitui-
ção da Espanha de 1978 (art. 105, alínea ‘b’), muito embora nenhuma destas Cartas tenha cri-
ado remédio jurídico processual para que se fizesse valer esse direito reconhecido.
A França possui hoje normas bastante avançadas sobre o direito de conhecer e re-
tificar dados pessoais constantes de fichários e registros informáticos, prevendo inclusive
sanções penais rigorosas para os casos de violação deste direito (destaque para a Lei nº 78-
17, relativa à informática, aos fichários e às liberdades, de 06/01/1978).
A Alemanha conta também com uma Lei de proteção de dados (Bundesdatenschu-
tzgesetz), de 27/01/1977, com alterações posteriores. Após a reunificação do país, foi aprova-
da a chamada “Lei sobre os Documentos do Serviço Secreto da Ex-república Democrática
Alemã”. Por intermédio desta lei, que entrou em vigor no dia 29/12/1991, um enorme contin-
gente de pessoas pôde ter acesso aos arquivos da Stasi, a atuante e temida polícia secreta da
antiga Alemanha Oriental. De acordo com dados oficiais, “desde 1990, mais de 1,6 milhão de
pessoas encaminharam pedidos para conhecer o conteúdo de seus arquivos. Também já fo-
ram feitas 1,75 milhão de consultas para saber se um cidadão alemão trabalhou para a Stasi”.
Na América Latina, a proteção de dados pessoais passou a ganhar força sobretudo
a partir da década de 1980, com o processo de redemocratização e a abertura política de di-
versos países recém-saídos de regimes autoritários.
O habeas data surgiu no ordenamento jurídico brasileiro com a Constituição de
1988. Foi inspirado pelas legislações de Portugal, Espanha e Estados Unidos, que desde os
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anos 1970 passaram a incluir o direito de cidadãos acessarem dados pessoais em bancos de
entidades governamentais. Segundo Arnoldo Wald e Rodrigo Fonseca, a inclusão do habeas
data na Constituição foi motivada por um fator político: o Sistema Nacional de Informações
(SNI), banco de dados mantido pelo regime militar (1964-1985), reunia diversas informações
sobre os cidadãos brasileiros. O remédio facilitou o acesso aos dados do SNI.

5.2. Legislação pertinente

Sua previsão em sede constitucional repousa sobre o inciso LXXII do art. 5º. Já em
nível infraconstitucional, essa ação foi disciplinada na Lei nº 9.507/97.

Art. 5º [...]
LXXII - conceder-se-á habeas data:
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do
impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades go-
vernamentais ou de caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo
sigiloso, judicial ou administrativo;
Lei nº 9.507/97:
Art. 7° Conceder-se-á habeas data:
I - para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do
impetrante, constantes de registro ou banco de dados de entidades gover-
namentais ou de caráter público;
II - para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo
sigiloso, judicial ou administrativo;
III - para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou
explicação sobre dado verdadeiro mas justificável e que esteja sob pen-
dência judicial ou amigável.

5.3. Cabimento

Segundo prescreve a própria Constituição Federal, será cabível a ação de habeas


data não só para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetran-
te, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter
público, bem como para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo
sigiloso, judicial ou administrativo.
Recebe-se, assim, que o texto constitucional consagra duas possibilidades de cabi-
mento, quais sejam: obtenção ou retificação de informações de caráter pessoal constantes
de bancos de dados junto ao governo ou entidades de caráter público.
Atenção: A rigor, para ser cabível ‘habeas data’, a informação tem que ser
de caráter pessoal.
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Primeira hipótese: visa assegurar ao impetrante o acesso a informações relativas à


sua pessoa.
Trata-se, portanto, de uma ação personalíssima. Nesse sentido, ordinariamente,
não se presta este remédio para tutelar o direito de informação de terceiro, salvo hipóteses
excepcionais, como por exemplo, aquelas referentes a familiares de presos políticos desapare-
cidos durante o regime militar.
Na trilha desse raciocínio, a título de ilustração, não poderia uma associação impe-
trar habeas data para pleitear informações de seus associados, mas apenas informações dela
própria.
Uma das peculiaridades desta ação não pode ser desmerecida pelo candidato aten-
to é a necessidade de prévia provocação da autoridade administrativa. Essa previsão consta,
inclusive, da súmula nº 2 do STJ.
Posição do STJ: Habeas data. Ausência de postulação administrativa. I -
Ante a ausência de pleito administrativo, suficiente a configurar relutância
da Administração a atender o pedido, sofre o habeas data de "ausência de
interesse de agir".

À luz desse enunciado, consagra a Corte Superior de Justiça que não cabe habeas
data se não houver recusa de informações por parte da autoridade administrativa.
No mesmo sentido, a Lei nº 9.507/97 também determina que a petição inicial seja
instruída com a prova de recusa, por parte da autoridade, em atender ao quanto solicitado
pelo impetrante.
Exemplo de Habeas Data: Vamos a um exemplo para entender melhor:
Imagine que alguém teve seu nome e CPF indevidamente inseridos em
uma lista de endividados do Serviço de Proteção ao Crédito.
Ao descobrir o equívoco, essa pessoa pode exigir que seus dados sejam re-
tirados dos registros. No entanto, de acordo com o Superior Tribunal de
Justiça (STJ), antes de fazer a solicitação da correção, é necessário pedir
acesso aos dados pessoais ao órgão público que tem a sua posse.

Se por algum motivo a entidade detentora negar o pedido, é executável entrar com
a solicitação de habeas data, com o suporte de um advogado.

5.4. Legitimidade

 ATIVA
Pode impetrar habeas data qualquer pessoa física ou jurídica, de direito público ou
de direito privado, nacional ou estrangeira, residente ao apenas em trânsito no território na-
cional.
Trata-se de legitimidade ordinária, ou seja, é caso de atuação em nome próprio
na defesa de direito ou interesse próprio.
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Nesse sentido, não há que se falar aqui de substituição processual ou legitimidade


extraordinária, já que a própria Constituição faz referência a informações de caráter pessoal,
vale dizer, relativas à pessoa do impetrante.
Atenção: Importante lembrar que, ao lado do ‘habeas corpus’ compõem as
duas únicas ações gratuitas conforme previsão expressa do texto constitu-
cional (CF, art. 5º, LXXVII).

 PASSIVA
Na condição de réu desta ação, ocupando o polo passivo da relação jurídica proces-
sual, é possível encontrar as entidades governamentais da Administração Pública direta e
indireta, bem como pessoas jurídicas de direito privado que sejam detentoras de registros
ou bancos de dados de caráter público.
Nessa última qualificação é possível encontrar os serviços de proteção ao crédito
(SPC, Serasa), bancos (instituições financeiras), provedores de internet, partidos políticos,
hospitais e universidades privadas etc.
Com o art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 9.507/97, considera-se de caráter público
todo registro ou banco de dados contendo informações que sejam ou que possam ser transmi-
tidas a terceiros ou que não sejam de uso privativo do órgão ou entidade produtora ou deposi-
tária das informações.
Por oportuno, vale mencionar que o próprio Código de Defesa do Consumidor, em
seu art. 43, § 4º, declara ser entidade de caráter público os bancos de dados e cadastros relati-
vos a consumidores, os serviços de proteção ao crédito e congêneres.

5.5. Cabimento de tutela preventiva

A Lei 9.507/07 não traz nenhuma previsão expressa no sentido de admitir o cabi-
mento de tutela preventiva.
Ocorre que, a despeito do silêncio legislativo, a doutrina majoritária entende per-
feitamente cabível a concessão da medida liminar em sede de habeas data, por não haver ne-
nhum impedimento insuperável.

5.6. Procedimento

O procedimento da ação de habeas data está esquadrinhado na Lei 9.507/97, que


pôs fim a diversas divergências doutrinárias que existiam antes da sua edição.
A primeira questão que merece ênfase aqui é a necessidade de prévia provoca-
ção extrajudicial do órgão ou entidade gestor dos dados. Nesse sentido, a lei prevê o proce-
dimento administrativo prévio e, ao tratar da petição inicial, traz a expressa exigência de sua
instrução com prova da negativa ou inércia administrativa no fornecimento dos dados, ou da
sua retificação ou complementação.
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O que diz a lei: Art. 2° O requerimento será apresentado ao órgão ou enti-


dade depositária do registro ou banco de dados e será deferido ou indefe-
rido no prazo de quarenta e oito horas.
Parágrafo único. A decisão será comunicada ao requerente em vinte e qua-
tro horas.
Art. 3° Ao deferir o pedido, o depositário do registro ou do banco de dados
marcará dia e hora para que o requerente tome conhecimento das infor-
mações.
Art. 4° Constatada a inexatidão de qualquer dado a seu respeito, o interes-
sado, em petição acompanhada de documentos comprobatórios, poderá
requerer sua retificação.
§ 1° Feita a retificação em, no máximo, dez dias após a entrada do reque-
rimento, a entidade ou órgão depositário do registro ou da informação da-
rá ciência ao interessado.
§ 2° Ainda que não se constate a inexatidão do dado, se o interessado
apresentar explicação ou contestação sobre o mesmo, justificando possível
pendência sobre o fato objeto do dado, tal explicação será anotada no ca-
dastro do interessado.

Para o STJ, o fornecimento de informações insuficientes é sinônimo da não


prestação, autorizando o ajuizamento.
Como entende a jurisprudência: CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL.
HABEAS DATA. INCLUSÃO DOS DEMANDANTES NO SISTEMA CENTRAL DE
RISCO DE CRÉDITO DO BANCO CENTRAL DO BRASIL. RETIFICAÇÃO DE
EVENTUAIS INCORREÇÕES. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE PROVA
PRÉ-CONSTITUÍDA. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. INFORMAÇÕES
PRESTADAS QUE NÃO RESPONDEM ÀS INDAGAÇÕES DOS IMPETRANTES.
INSUFICIÊNCIA QUE LEGITIMA A PROPOSITURA DA AÇÃO. HABEAS DATA
DEFERIDO EM PARTE. 1. A Lei 9.507/97, ao regulamentar o art. 5º, LXXII,
da Constituição Federal, adotou procedimento semelhante ao do manda-
do de segurança, exigindo, para o cabimento do habeas data, prova pré-
constituída do direito do impetrante. Não cabe, portanto, dilação proba-
tória. 2. Em razão da necessidade de comprovação de plano do direito do
demandante, mostra-se inviável a pretensão de que, em um mesmo ha-
beas data, se assegure o conhecimento de informações e se determine a
sua retificação. É logicamente impossível que o impetrante tenha, no
momento da propositura da ação, demonstrado a incorreção desses da-
dos se nem ao menos sabia o seu teor. Por isso, não há como conhecer do
habeas data no tocante ao pedido de retificação de eventual incorreção
existente na base de dados do Banco Central do Brasil. 3. Ademais, ainda
que superado tal óbice, como bem demonstrado nas informações apre-
sentadas, "é incontestável a ilegitimidade do Presidente do Banco Central
para figurar no pólo passivo da presente demanda no que pertine à inclu-
são, exclusão ou alteração de dados constantes na Central de Risco de
Crédito" (fl. 97). Isso, porque, consoante se observa no art. 2º, II, da Reso-
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lução 2.724 do Conselho Monetário Nacional, as informações constantes


do referido banco de dados são de inteira responsabilidade das institui-
ções financeiras, inclusive no que se refere a inclusões, atualizações ou
exclusões do sistema. 4. Assiste razão aos impetrantes quanto à preten-
são no sentido de que lhes sejam prestadas as informações requeridas,
haja vista que os documentos expedidos pelo Banco Central do Brasil,
juntados às fls 54/59, não respondem suas indagações. Tratam-se de re-
gistros cadastrais de difícil compreensão para cidadãos que não tenham
conhecimento do sistema operacional do banco. Dos referidos documen-
tos não há como concluir se a inclusão dos demandantes no sistema ocor-
reu, ou não, em função de algum contrato realizado com o Banco do Bra-
sil S/A ou com a BB Financeira S/A. 5. O fornecimento de informações in-
suficientes ou incompletas é o mesmo que o seu não-fornecimento, legi-
timando a impetração da ação de habeas data. 6. Habeas data deferido
em parte (STJ - HD: 160 DF Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira Seção,
Data de Julgamento: 27/08/2008)

Assim como no MS, não há que se falar em dilação probatória no bojo da ação de
habeas data, que deverá vir instruída, desde a petição inicial, com prova pré-constituída
dos fatos alegados pelo impetrante.
O que diz a lei: Art. 8° A petição inicial, que deverá preencher os requisitos
dos arts. 282 a 285 do Código de Processo Civil, será apresentada em duas
vias, e os documentos que instruírem a primeira serão reproduzidos por
cópia na segunda.
Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova:
I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias
sem decisão;
II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze di-
as, sem decisão; ou
III - da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° ou do
decurso de mais de quinze dias sem decisão.

De resto, o procedimento legal menciona a informação da autoridade, a manifesta-


ção do Ministério Público e a decisão.
O que diz a lei: Art. 9° Ao despachar a inicial, o juiz ordenará que se notifi-
que o coator do conteúdo da petição, entregando-lhe a segunda via apre-
sentada pelo impetrante, com as cópias dos documentos, a fim de que, no
prazo de dez dias, preste as informações que julgar necessárias.
Art. 10. A inicial será desde logo indeferida, quando não for o caso
de habeas data, ou se lhe faltar algum dos requisitos previstos nesta Lei.
Parágrafo único. Do despacho de indeferimento caberá recurso previsto no
art. 15.
Art. 11. Feita a notificação, o serventuário em cujo cartório corra o feito,
juntará aos autos cópia autêntica do ofício endereçado ao coator, bem co-
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mo a prova da sua entrega a este ou da recusa, seja de recebê-lo, seja de


dar recibo.
Art. 12. Findo o prazo a que se refere o art. 9°, e ouvido o representante do
Ministério Público dentro de cinco dias, os autos serão conclusos ao juiz
para decisão a ser proferida em cinco dias.

A lei prevê a prioridade de tramitação para a ação, salvo em relação ao habeas


corpus e ao mandado de segurança. Também estão previstos prazos específicos – embora im-
próprios – para a distribuição e decisão.
O que diz a Lei: Art. 19. Os processos de habeas data terão prioridade so-
bre todos os atos judiciais, exceto habeas-corpus e mandado de segurança.
Na instância superior, deverão ser levados a julgamento na primeira sessão
que se seguir à data em que, feita a distribuição, forem conclusos ao rela-
tor.
Parágrafo único. O prazo para a conclusão não poderá exceder de vinte e
quatro horas, a contar da distribuição.

5.7. Decisão e coisa julgada

A decisão de concessão do habeas data independe de fase própria de execução,


significando ordem para que o coator apresente as informações ou prove que as retificou.
O que diz a lei: Art. 13. Na decisão, se julgar procedente o pedido, o juiz
marcará data e horário para que o coator:
I - apresente ao impetrante as informações a seu respeito, constantes de
registros ou bancos de dadas; ou
II - apresente em juízo a prova da retificação ou da anotação feita nos as-
sentamentos do impetrante.
Art. 14. A decisão será comunicada ao coator, por correio, com aviso de re-
cebimento, ou por telegrama, radiograma ou telefonema, conforme o re-
querer o impetrante.
Parágrafo único. Os originais, no caso de transmissão telegráfica, radiofôni-
ca ou telefônica deverão ser apresentados à agência expedidora, com a
firma do juiz devidamente reconhecida.

Se não apreciado o mérito, por inexistir coisa julgada, o pedido pode ser reno-
vado.
O que diz a lei: Art. 18. O pedido de habeas data poderá ser renovado se a
decisão denegatória não lhe houver apreciado o mérito.

Recursos 5.8
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O recurso é um instrumento processual para impugnação ou revisão de decisões


judiciais. É um ato voluntário, ou seja, recorre se quiser. Para que possa ser analisado, deve
preencher os pressupostos exigidos pela legislação, chamados de requisitos de admissibilida-
de.

5.8.1. Meios de impugnação

Seguindo a regra geral, cabe apelação da sent4ença que decida o habeas data –
bem como da decisão de indeferimento liminar. No caso de concessão, o recurso, excepcio-
nalmente, não possuirá efeito suspensivo ex lege.
O que diz a lei: Art. 15. Da sentença que conceder ou negar o habeas da-
ta cabe apelação.
Parágrafo único. Quando a sentença conceder o habeas data, o recurso te-
rá efeito meramente devolutivo.

Se a decisão for de tribunal, porém, caberá:


 RE ou Resp, para o STF ou STJ, a depender da matéria;
 Recurso ordinário constitucional, para o STF, no caso de habeas data decidido em
única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão.
O que diz a Constituição: Art. 102 II - julgar, em recurso ordinário: a)
o habeas corpus , o mandado de segurança, o habeas data e o mandado de
injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se dene-
gatória a decisão.

No caso de decisão de suspensão da sentença, por presidente de tribunal, cabe


agravo interno.
O que diz a lei: Art. 16. Quando o habeas data for concedido e o Presiden-
te do Tribunal ao qual competir o conhecimento do recurso ordenar ao juiz
a suspensão da execução da sentença, desse seu ato caberá agravo para o
Tribunal a que presida.

5.8. Despesas processuais

Assim como ocorre no habeas corpus, o habeas data é uma ação constitucional
gratuita: seu manejo não depende do reconhecimento de despesas processuais.
O que diz a Constituição: Art. 5º LXXVII - são gratuitas as ações de "habeas-
corpus" e "habeas-data", e, na forma da lei, os atos necessários ao exercí-
cio da cidadania.

Essa gratuidade é incondicionada, pois independe da comprovação da situação


socioeconômica da parte autora.
Essa gratuidade se estende aos atos decorrentes da concessão.
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O que diz a lei: Art. 21. São gratuitos o procedimento administrativo para
acesso a informações e retificação de dados e para anotação de justifica-
ção, bem como a ação de habeas data.

ANEXO:

LEI Nº 9.507, DE 12 DE NOVEMBRO DE 1997.


Regula o direito de acesso a informa-
ções e disciplina o rito processual
do habeas data.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a


seguinte Lei:
Art. 1º (VETADO)
Parágrafo único. Considera-se de caráter público todo registro ou banco de dados contendo
informações que sejam ou que possam ser transmitidas a terceiros ou que não sejam de uso priva-
tivo do órgão ou entidade produtora ou depositária das informações.
Art. 2° O requerimento será apresentado ao órgão ou entidade depositária do registro ou
banco de dados e será deferido ou indeferido no prazo de quarenta e oito horas.
Parágrafo único. A decisão será comunicada ao requerente em vinte e quatro horas.
Art. 3° Ao deferir o pedido, o depositário do registro ou do banco de dados marcará dia e ho-
ra para que o requerente tome conhecimento das informações.
Parágrafo único. (VETADO)
Art. 4° Constatada a inexatidão de qualquer dado a seu respeito, o interessado, em petição
acompanhada de documentos comprobatórios, poderá requerer sua retificação.
§ 1° Feita a retificação em, no máximo, dez dias após a entrada do requerimento, a entidade
ou órgão depositário do registro ou da informação dará ciência ao interessado.
§ 2° Ainda que não se constate a inexatidão do dado, se o interessado apresentar explicação
ou contestação sobre o mesmo, justificando possível pendência sobre o fato objeto do dado, tal
explicação será anotada no cadastro do interessado.
Art. 5° (VETADO)
Art. 6° (VETADO)
Art. 7° Conceder-se-á habeas data:
I - para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constan-
tes de registro ou banco de dados de entidades governamentais ou de caráter público;
II - para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou
administrativo;
III - para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou explicação sobre
dado verdadeiro mas justificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável.
Art. 8° A petição inicial, que deverá preencher os requisitos dos arts. 282 a 285 do Código de
Processo Civil, será apresentada em duas vias, e os documentos que instruírem a primeira serão
reproduzidos por cópia na segunda.
Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova:
I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem decisão;
II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze dias, sem decisão; ou
III - da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° ou do decurso de mais
de quinze dias sem decisão.
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Art. 9° Ao despachar a inicial, o juiz ordenará que se notifique o coator do conteúdo da peti-
ção, entregando-lhe a segunda via apresentada pelo impetrante, com as cópias dos documentos, a
fim de que, no prazo de dez dias, preste as informações que julgar necessárias.
Art. 10. A inicial será desde logo indeferida, quando não for o caso de habeas data, ou se lhe
faltar algum dos requisitos previstos nesta Lei.
Parágrafo único. Do despacho de indeferimento caberá recurso previsto no art. 15.
Art. 11. Feita a notificação, o serventuário em cujo cartório corra o feito, juntará aos autos
cópia autêntica do ofício endereçado ao coator, bem como a prova da sua entrega a este ou da
recusa, seja de recebê-lo, seja de dar recibo.
Art. 12. Findo o prazo a que se refere o art. 9°, e ouvido o representante do Ministério Públi-
co dentro de cinco dias, os autos serão conclusos ao juiz para decisão a ser proferida em cinco
dias.
Art. 13. Na decisão, se julgar procedente o pedido, o juiz marcará data e horário para que o
coator:
I - apresente ao impetrante as informações a seu respeito, constantes de registros ou bancos
de dadas; ou
II - apresente em juízo a prova da retificação ou da anotação feita nos assentamentos do im-
petrante.
Art. 14. A decisão será comunicada ao coator, por correio, com aviso de recebimento, ou por
telegrama, radiograma ou telefonema, conforme o requerer o impetrante.
Parágrafo único. Os originais, no caso de transmissão telegráfica, radiofônica ou telefônica
deverão ser apresentados à agência expedidora, com a firma do juiz devidamente reconhecida.
Art. 15. Da sentença que conceder ou negar o habeas data cabe apelação.
Parágrafo único. Quando a sentença conceder o habeas data, o recurso terá efeito mera-
mente devolutivo.
Art. 16. Quando o habeas data for concedido e o Presidente do Tribunal ao qual competir o
conhecimento do recurso ordenar ao juiz a suspensão da execução da sentença, desse seu ato
caberá agravo para o Tribunal a que presida.
Art. 17. Nos casos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos demais Tribunais ca-
berá ao relator a instrução do processo.
Art. 18. O pedido de habeas data poderá ser renovado se a decisão denegatória não lhe hou-
ver apreciado o mérito.
Art. 19. Os processos de habeas data terão prioridade sobre todos os atos judiciais, exce-
to habeas-corpus e mandado de segurança. Na instância superior, deverão ser levados a julgamen-
to na primeira sessão que se seguir à data em que, feita a distribuição, forem conclusos ao relator.
Parágrafo único. O prazo para a conclusão não poderá exceder de vinte e quatro horas, a
contar da distribuição.
Art. 20. O julgamento do habeas data compete:
I - originariamente:
a) ao Supremo Tribunal Federal, contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câma-
ra dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da
República e do próprio Supremo Tribunal Federal;
b) ao Superior Tribunal de Justiça, contra atos de Ministro de Estado ou do próprio Tribunal;
c) aos Tribunais Regionais Federais contra atos do próprio Tribunal ou de juiz federal;
d) a juiz federal, contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos
tribunais federais;
e) a tribunais estaduais, segundo o disposto na Constituição do Estado;
f) a juiz estadual, nos demais casos;
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II - em grau de recurso:
a) ao Supremo Tribunal Federal, quando a decisão denegatória for proferida em única ins-
tância pelos Tribunais Superiores;
b) ao Superior Tribunal de Justiça, quando a decisão for proferida em única instância pelos
Tribunais Regionais Federais;
c) aos Tribunais Regionais Federais, quando a decisão for proferida por juiz federal;
d) aos Tribunais Estaduais e ao do Distrito Federal e Territórios, conforme dispuserem a res-
pectiva Constituição e a lei que organizar a Justiça do Distrito Federal;
III - mediante recurso extraordinário ao Supremo Tribunal Federal, nos casos previstos
na Constituição.
Art. 21. São gratuitos o procedimento administrativo para acesso a informações e retificação
de dados e para anotação de justificação, bem como a ação de habeas data.
Art. 22. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 23. Revogam-se as disposições em contrário.
Brasília, 12 de novembro de 1997; 176º da Independência e 109º da República.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Iris Rezende

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