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Princípios de Processo Penal (parte 1)

Prof. Me. Moisés de O. Matusiak


Direito Processual Penal: Parte geral
CESUCA – 2022/2
Consideração inicial
"O princípio jurídico significa um postulado que se irradia por todo o sistema
de normas, fornecendo um padrão de interpretação, integração,
conhecimento e aplicação do direito positivo, estabelecendo uma meta
maior a seguir. Cada ramo do Direito possui princípios próprios, informando
todo o sistema, com previsão explícita no ordenamento ou constando de
modo implícito; nesse caso, resulta da conjugação de vários dispositivos
legais, de acordo com a cultura jurídica formada com o passar dos anos de
estudo de determinada matéria. O processo penal não foge à regra,
erguendo-se em torno de princípios, que, por vezes, suplantam a própria
literalidade da lei. Na Constituição Federal, encontra-se a maioria desses
princípios diretivos do processo penal brasileiro, alguns explícitos, outros
implícitos." (NUCCI, 2020) (Grifei)
Princípios processuais penais na Constituição
Federal

A Constituição Federal de 1988 consagra diversos princípios processuais


penais, alguns concernentes ao indivíduo (presunção e inocência,
ampla defesa etc.), outros concernentes à relação processual e à
atuação do Estado (contraditório, juiz natural etc.). 
Princípio da Presunção de Inocência
"Conhecido, igualmente, como princípio do estado de inocência (ou da
não culpabilidade), significa que todo acusado é presumido inocente,
até que seja declarado culpado por sentença condenatória, com
trânsito em julgado. Encontra-se previsto no art. 5.º, LVII, da
Constituição. Tem por objetivo garantir, primordialmente, que o ônus
da prova cabe à acusação e não à defesa. As pessoas nascem inocentes,
sendo esse o seu estado natural, razão pela qual, para quebrar tal
regra, torna-se indispensável ao Estado-acusação evidenciar, com
provas suficientes, ao Estado-juiz, a culpa do réu." (NUCCI, 2020)
(Grifei)
"Art. 5º [...]
[...];
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória;
[...]" (Constituição Federal) (Grifei)
"Por outro lado, confirma a excepcionalidade e a necessariedade das
medidas cautelares de prisão, já que indivíduos inocentes somente podem
ser levados ao cárcere quando realmente for útil à instrução e à ordem
pública. A partir disso, deve-se evitar a vulgarização das prisões provisórias,
pois muitas delas terminam por representar uma nítida – e indevida –
antecipação de pena, lesando a presunção de inocência. No mesmo prisma,
evidencia que outras medidas constritivas aos direitos individuais devem ser
excepcionais e indispensáveis, como ocorre com a quebra dos sigilos fiscal,
bancário e telefônico (direito constitucional de proteção à intimidade), bem
como com a violação de domicílio em virtude de mandado de busca (direito
constitucional à inviolabilidade de domicílio)." (NUCCI, 2020)
"Integra-se ao princípio da prevalência do interesse do réu (in dubio
pro reo), garantindo que, em caso de dúvida, deve sempre prevalecer
o estado de inocência, absolvendo-se o acusado. Tem por finalidade
servir de obstáculo à autoacusação, consagrando o direito ao silêncio.
Afinal, se o estado natural é de inocência, ninguém pode ser obrigado
a produzir prova contra si mesmo." (NUCCI, 2020) (Grifei e sublinhei)
"Art. 386.  O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte
dispositiva, desde que reconheça:
[...];
VII – não existir prova suficiente para a condenação." (Código de
Processo Penal) (Grifei)
"Art. 5º [...].
[...];
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de
permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de
advogado;
[...]" (Constituição Federal) (Grifei)
"Art. 186. Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro
teor da acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar
o interrogatório, do seu direito de permanecer calado e de não
responder perguntas que lhe forem formuladas. 
Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão, não
poderá ser interpretado em prejuízo da defesa." (Código de Processo
Penal) (Grifei e sublinhei) 
ARTIGO 8 [...].
[...].
 2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua
inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa. Durante o
processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes
garantias mínimas:
[...];
g) direito de não ser obrigado a depor contra si mesma, nem a declarar-
se culpada; [...]." (Pacto de São José da Costa Rica – Decreto 678/1992)
(Grifei)
"A imunidade à autoacusação significa que ninguém está obrigado a
produzir prova contra si mesmo (nemo tenetur se detegere). Trata-se de
decorrência natural da conjugação dos princípios constitucionais da
presunção de inocência (art. 5.º, LVII) e da ampla defesa (art. 5.º, LV)
com o direito humano fundamental de poder o réu manter-se calado
diante de qualquer acusação (art. 5.º, LXIII). Se o indivíduo é inocente,
até que seja provada sua culpa, possuindo o direito de produzir
amplamente prova em seu favor, bem como se pode permanecer em
silêncio sem qualquer tipo de prejuízo à sua situação processual, é mais
do que óbvio não estar obrigado, em hipótese alguma, a produzir
prova contra si mesmo." (NUCCI, 2020) (Grifei e sublinhei)
Princípio da Ampla Defesa
"Ao réu é concedido o direito de se valer de amplos e extensos métodos para se
defender da imputação feita pela acusação. Encontra fundamento constitucional
no art. 5.º, LV. Considerado, no processo, parte hipossuficiente por natureza, uma
vez que o Estado é sempre mais forte, agindo por órgãos constituídos e
preparados, valendo-se de informações e dados de todas as fontes às quais tem
acesso, merece o réu um tratamento diferenciado e justo, razão pela qual a ampla
possibilidade de defesa se lhe afigura a compensação devida pela força estatal. A
ampla defesa gera inúmeros direitos exclusivos do réu, como é o caso de
ajuizamento de revisão criminal – instrumento vedado à acusação –, bem como a
oportunidade de ser verificada a eficiência da defesa pelo magistrado, que pode
desconstituir o advogado escolhido pelo réu, fazendo-o eleger outro ou
nomeando-lhe um dativo, entre outros." (NUCCI, 2020) (Grifei e sublinhei)
"Implica o dever de o Estado proporcionar a todo acusado a mais completa
defesa, seja pessoal (autodefesa), seja técnica (efetuada por defensor) (CF,
art. 5º, LV), e o de prestar assistência jurídica integral e gratuita aos
necessitados (CF, art. 5º, LXXIV). Desse princípio também decorre a
obrigatoriedade de se observar a ordem natural do processo, de modo que
a defesa se manifeste sempre em último lugar. Assim, qualquer que seja a
situação que dê ensejo a que, no processo penal, o Ministério Público se
manifeste depois da defesa (salvo, é óbvio, nas hipóteses de contrarrazões de
recurso, de sustentação oral ou de manifestação dos procuradores de justiça,
em segunda instância), obriga, sempre, seja aberta vista dos autos à
defensoria do acusado, para que possa exercer seu direito de defesa na
amplitude que a lei consagra." (CAPEZ, 2020) (Grifei)
"Art. 5º [...].
[...];
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa,
com os meios e recursos a ela inerentes;
[...]." (Constituição Federal) (Grifei)
 "Art. 263.  Se o acusado não o tiver, ser-lhe-á nomeado
defensor pelo juiz, ressalvado o seu direito de, a todo tempo,
nomear outro de sua confiança, ou a si mesmo defender-se,
caso tenha habilitação.
  Parágrafo único.  O acusado, que não for pobre, será obrigado
a pagar os honorários do defensor dativo, arbitrados pelo juiz."
(Código de Processo Penal) (Grifei e sublinhei)
"Art. 396-A.  Na resposta, o acusado poderá argüir preliminares e
alegar tudo o que interesse à sua defesa, oferecer documentos e
justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas,
qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário. 
[...]
§ 2o  Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado,
citado, não constituir defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-
la, concedendo-lhe vista dos autos por 10 (dez) dias." (Código de
Processo Penal) (Sublinhei e grifei)
"Art. 400.  Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no
prazo máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de
declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela
acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222
deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às
acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se,
em seguida, o acusado." (Código de Processo Penal) (Grifei)        
Atenção para a orientação do Supremo Tribunal Federal-STF nessa
hipótese de divergência entre autodefesa e defesa técnica:

Súmula 705 do STF: "A renúncia do réu ao direito de apelação,


manifestada sem a assistência do defensor, não impede o
conhecimento da apelação por este interposta."
E o STF entende também que a ampla defesa deve ser observada
efetivamente mesmo antes do início da relação processual:

Súmula 707 do STF: "Constitui nulidade a falta de intimação do


denunciado para oferecer contra-razões ao recurso interposto da
rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo."
Princípio da Plenitude da Defesa

"Art. 5º [...].
[...];
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe
der a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;
[...]." (Constituição Federal) (Grifei)
"No Tribunal do Júri, busca-se garantir ao réu não somente uma defesa
ampla, mas plena, completa, a mais próxima possível da perfeição
profissional (art. 5.º, XXXVIII, a, CF). [...]. Vale ressaltar que o texto
constitucional mencionou, além da plenitude de defesa, o princípio da ampla
defesa, voltado aos acusados em geral (art. 5.º, LV, CF), razão pela qual é
preciso evidenciar a natural diversidade existente entre ambos. A lei, de um
modo geral, não contém palavras inúteis, muito menos a Constituição
Federal. Portanto, inexiste superfetação na dupla previsão dos referidos
princípios, destinando-se cada qual a uma finalidade específica. Enquanto aos
réus em processos criminais comuns assegura-se a ampla defesa, aos
acusados e julgados pelo Tribunal do Júri garante-se a plenitude de defesa."
(NUCCI, 2020) (Grifei e sublinhei)
"Os vocábulos são diversos e também o seu sentido. Amplo quer dizer vasto, largo, muito
grande, rico, abundante, copioso; pleno significa repleto, completo, absoluto, cabal,
perfeito. O segundo é, evidentemente, mais forte que o primeiro. Assim, no processo
criminal, perante o juiz togado, tem o acusado assegurada a ampla defesa, isto é, vasta
possibilidade de se defender, propondo provas, questionando dados, contestando
alegações, enfim, oferecendo os dados técnicos suficientes para que o magistrado possa
considerar equilibrada a demanda, estando de um lado o órgão acusador e de outro uma
defesa eficiente. Por outro lado, no Tribunal do Júri, onde as decisões são tomadas pela
íntima convicção dos jurados, sem qualquer fundamentação, onde prevalece a oralidade
dos atos e a concentração da produção de provas, bem como a identidade física do juiz,
torna-se indispensável que a defesa atue de modo completo e perfeito – logicamente
dentro das limitações impostas pela natureza humana. A intenção do constituinte foi aplicar
ao Tribunal Popular um método que privilegie a defesa, em caso de confronto inafastável
com a acusação, homenageando a sua plenitude." (NUCCI, 2020) (Grifei)
“Art. 497.  São atribuições do juiz presidente do Tribunal do Júri, além
de outras expressamente referidas neste Código: 
[...];
V – nomear defensor ao acusado, quando considerá-lo indefeso,
podendo, neste caso, dissolver o Conselho e designar novo dia para o
julgamento, com a nomeação ou a constituição de novo defensor; 
[...].” (Código de Processo Penal) (Grifei e sublinhei)
Referências

CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. Editora Saraiva, 2020.


[Minha Biblioteca].
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal. Grupo GEN,
2020. [Minha Biblioteca].

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