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Nestes Termos,
E. Deferimento.
São Paulo, 14 de July de 2023.
RAZÕES DE
RECURSO DE REVISTA
EGRÉGIO TRIBUNAL,
COLENDA TURMA,
PRELIMINAR
I.1. Do Cabimento do Recurso
I.2.2. Tempestividade
I.2.3. Preparo
O reclamante reitera o pedido de isenção do
pagamento das custas processuais que fora formulado pelo recorrente desde a prefacial e
reiterado dentro do prazo recursal, nos termos preconizados através da Orientação
Jurisprudencial nº 269, da SDI –1 do C. TST, e atende aos requisitos previstos nas Leis
nº 7.115/83 e nº 1.060/50, podendo o juiz a qualquer tempo deferi-lo, nos moldes do §
3º do artigo 790 da CLT, com a redação dada pela Lei nº 10.537/02, pelo que não há
razão que impeça o conhecimento. Ressalta-se que, a sentença deferiu ao reclamante os
benefícios da gratuidade.
DA TRANSCENDÊNCIA
...
Quanto aos intervalos intrajornadas, há parcial pré-assinalação nos controles de
ponto.
Nessa linha, por restar incontroverso no processo que o reclamante realizava trabalho
externo (motorista), a fruição do intervalo intrajornada ocorria longe da fiscalização
patronal.
Pugna o recorrente pela reforma da r. sentença para que seja reconhecido o dano
moral.
O perito do Juízo apresentou laudo, tendo destacado, no que tange ao nexo causal,
que:
É certo que o Juízo não está adstrito ao laudo pericial para a formação de sua
convicção, nos termos do artigo 479 do CPC. Nada obstante, não há elementos de
prova nos autos capazes de elidir as conclusões expostas pelo Sr. Vistor.
Nego provimento.
...
...
MÉRITO
Segue argumentando que a sigla "HEC" contida nos recibos salariais e fichas
financeiras do autor, ao contrário do alegado, não se refere à horas extras contratuais,
tanto que os valores ali contidos não são fixos. Pondera que as horas extras que foram
quitadas ao autor referem-se aos elastecimentos que ocorreram em sua jornada, seja
além da 8ª (até 03/2011) ou da 6ª (a partir de 01/04/2011), não podendo ser
considerados como hora extra contratual, sequer na forma alegada na prefacial. Alega
que o autor pretende beneficiar-se da sigla contida em seus recibos salariais e ficha
financeira para receber, novamente, o pagamento de horas extras, como se fossem,
horas extras contratuais. Ressalta que na Justiça do Trabalho impera o princípio da
primazia da realidade, não podendo ser considerado o pleito do autor posto que
totalmente absurdo. E mesmo que assim não se entenda, apenas a título de
argumentação, alega que mesmo se fosse consideradas como horas extras contratuais,
estas não ocorreram com a sua admissão, não sendo o caso de nulidade, nos termos do
inciso I da Súmula nº 199 do C. TST, o que por si só descaracteriza a sua pretensão.
Salienta, ainda, que o autor exercia funções exclusivamente externas, não sendo,
assim, devido qualquer pagamento de hora extra, posto que não esteve sujeito a
qualquer controle de horário, nos moldes do artigo 62, inciso I da CLT (requerendo a
sua aplicação).
Por outro lado, conforme se verifica nas folhas de ponto anexo , o reclamante anotava
corretamente a sua jornada diária de trabalho e se eventualmente extrapolasse, o
eventual elastecimento também restou devidamente anotado e quitado, no percentual
de 70% e 100%, e/ou compensado, conforme comunicados de ocorrências, anexos.
Salienta, ainda, que a partir de 09/2011, houve a implantação do Registro Eletrônico
de Ponto-REP, nos moldes da Portaria nº 1.510, de 21.08.2009 (frisa que a
obrigatoriedade de sua utilização, de fato, ocorreu a partir de 01.01.2012, conforme
Portaria nº 1.979, de 30.09.2011). Que ao anotar o seu horário (seja ele de entrada e/ou
saída), referido REP, imprime, no mesmo momento, comprovante de horário para o
trabalhador. Ressalta que o sistema anteriormente utilizado pela reclamada (Ponto
Eletrônico, mediante a utilização do crachá funcional) era impresso mensalmente e
ficava em poder da reclamada. Logo, referido registro digital (REP) possibilita ao
empregado, o controle diário de sua jornada de trabalho, a cada marcação de horário.
Requer a improcedência do pleito.
Inicialmente, registre-se que o Art. 62, I da CLT não exclui da limitação da jornada
todos os empregados que prestam serviços externos, mas apenas e tão somente, os que
exercem atividades externas incompatíveis com a fixação de horário de trabalho e
desde que tal condição esteja anotada na CTPS do empregado.
Além de não ter a referida anotação na CTPS do autor, a própria ré juntou aos autos
controles de frequência e horário(manual e eletrônico), o que afasta o enquadramento
do autor na exceção prevista noart.62, I da CLT.
Quanto à alegação de horas extras pré contratadas, o autor não logrou êxito em
comprovar suas alegações, tampouco ofereceu qualquer impugnação à justificativa da
ré no que se refere à rubrica HEC constante nos contracheques (Id fb04875 - Pág. 2).
Dessa forma, não há nulidade a ser declarada e muito menos razão para o
deferimento do pagamento do adicional convencional de 70% sobre os valores pagos
sob a rubrica de horas extras contratuais.
Condeno, portanto, a reclamada a pagar ao autor horas extras que serão calculadas
com base nos seguintes parâmetros:
2) Deverá ser observada a variação salarial do autor, nos termos da Súmula 264 do
TST e o divisor 220 para o cálculo do salário hora.
3)As horas extras serão remuneradas com o adicional de 70%, conforme CCT (Id
422b0be - Pág. 5) 5)As horas extras refletem pelo valor devido mensalmente no RSR,
no termos do art. 7º, alínea 'a' da Lei 605/49 (na razão de 1/6), no FGTS e na
indenização compensatória de 40% do FGTS.
6)A média de horas extras reflete nas férias +1/3, 13º salário e aviso prévio,
observando-se a OJ 394 da SDI-1 do TST.
7) Não há dedução dos valores pagos aos mesmos títulos deferidos, uma vez que a
condenação se refere tão somente ao intervalo intrajornada, que nunca foi pago. Julgo
procedentes em parte os pedidos dos itens D, E e improcedentes os pedidos dos itens F,
G."
Decido.
Sem razão.
Sem razão.
A testemunha ouvida a rogo do autor foi categórica no sentido de que ela e o autor
não usufruíam do intervalo intrajornada em sua integralidade (ID. cd00741 - Pág. 2),
razão pela qual, assim como na sentença, entendo que restou comprovada a violação
ao artigo 71, caput da CLT, sendo devidas, portanto, horas extras a esse título.
RECURSO DO RECLAMANTE
ACÚMULO DE FUNÇÃO
...
DIVISOR 180
...
RECURSO DA RÉ
...
...
DISPOSITIVO
...
(https://pje.trt1.jus.br/consultaprocessual/detalhe-processo/0011477-41.2015.5.01.0034/2 -
id. 2cbbfcb)
EMENTA
DANOS MORAIS. Caso em que o conjunto probatório permite a conclusão de que os
fatores laborais contribuíram, ainda que em caráter temporário, para o agravamento
e/ou desencadeamento da moléstia diagnosticada (asma brônquica) fazendo jus o
autor tão-somente à indenização por danos morais. Não há limitação funcional e
incapacidade para o trabalho.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos.
ACORDAM os Magistrados integrantes da 3ª Turma do Tribunal Regional do
Trabalho da 4ª Região: por unanimidade, dar provimento parcial ao recurso
ordinário do reclamante para majorar a indenização por danos morais para R$
20.000,00, com atualização na forma da Súmula 439 do TST. Por unanimidade, negar
provimento ao recurso adesivo da reclamada. Valor da condenação arbitrado em R$
5.000,00, que se majora para R$ 20.000,00, com custas de R$ 400,00.
Intime-se.
Porto Alegre, 25 de setembro de 2019 (quarta-feira).
RELATÓRIO
Inconformadas com a decisão lançada no ID. fc6213b, as partes interpõem recursos.
O reclamante, no ID. 7ba42ff, postula o reconhecimento de ter sido acometido por
doença ocupacional, com o deferimento de indenização por danos materiais, garantia
provisória do emprego, diferenças de parcelas rescisórias, emissão da CAT e
majoração da indenização por danos morais.
A reclamada apresenta contrarrazões e recurso adesivo (ID. 25e9f35 e 40d90e5),
arguindo cerceamento de defesa (indeferimento de perícia), prescrição, bem como
busca ver-se absolvida da condenação ao pagamento de indenização por danos morais
e honorários de sucumbência.
Com contrarrazões do reclamante, ID. 8dd68af, os autos são remetidos a este
Tribunal.
Processo não sujeito a parecer do Ministério Público do Trabalho.
É o relatório.
FUNDAMENTAÇÃO
PRELIMINARMENTE.
CONHECIMENTO.
Tempestivos os recursos (ID. 598ea1d, 7ba42ff, d7c10e2 e 40d90e5), regulares as
representações (ID. 1a2c4f8 e f941dc9), e realizado preparo (ID. b43502a e a3cebd2),
encontram-se preenchidos os pressupostos extrínsecos de admissibilidade recursal.
MÉRITO.
RECURSO DA RECLAMADA.
1. CERCEAMENTO DE DEFESA.
A demandada sustenta que foi cerceado seu direito de defesa, pois indeferida perícia
médica por especialista em asma e bronquite, já que o designado pelo juízo é médico
especializado em cardiopneumologia. Além disso, também foi indeferido "teste de
provocação" acerca da moléstia alegada pelo demandante, bem como a oitiva do
perito José Antônio de Barros Piantá, com o que discorda, sob o argumento de que
seriam imprescindíveis à elucidação da controvérsia estabelecida entre as partes.
Requer o retorno dos autos à origem, para que sejam atendidos os requerimentos
formulados.
Em que pese no ID. 3a67a09, a reclamada tenha lançado protesto antipreclusivo na
audiência de encerramento da instrução (ID. d37faba), ato seguinte, realizado com a
presença das partes e procuradores, inclusive sendo colhido o depoimento do
reclamante, o protesto não foi renovado, configurando a preclusão.
Ainda que assim não fosse, a segunda perícia foi realizada por médico especializado
sim, como se constata nos laudos apresentados, por exemplo no ID. ccb4047 - Pág. 1
(Dr RUBEM B. WAZLAWOVSKY CRM 9071 Inscrição no MTb 0513 Graduado em
Medicina, Residência em Medicina Interna e em Pneumologia, com Pós-Graduação em
MEDICINA do TRABALHO pela UFRGS Título de Especialista em PNEUMOLOGIA
pela SBPT, PERITO MÉDICO DO TRABALHO).
De outro norte, os profissionais que constam do rol dos peritos da Vara do Trabalho,
são de inteira confiança do juízo bem como demonstram, mediante currículo, que têm
conhecimento e preparação técnica para responder aos questionamentos efetuados,
incumbindo ao julgador fazer a análise/valoração dos subsídios consignados no laudo
em conjunto com as demais provas dos autos. Assim, verifica-se que o profissional
designado para a perícia, especializado em pneumologia, tem capacitação para tal,
não sendo hipótese de deferimento de nova inspeção por outro profissional. Também
desnecessário "teste de provocação" e oitiva do primeiro perito (Dr. Piantá),
porquanto os elementos probatórios existentes nos autos são suficientemente
elucidativos acerca da controvérsia instalada entre os litigantes.
Nego provimento.
2. HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA.
Ao argumento de que a publicação da sentença ocorreu em data posterior à da
vigência da Lei nº 13.467 /2017, a ré entende aplicável o art. 791-A da CLT. Requer,
portanto, o deferimento de honorários de sucumbência.
Inviável a pretensão, porquanto, independentemente de a sentença ter sido proferida
em 2019, tanto o contrato de trabalho, quanto o ajuizamento da ação são de datas
anteriores à entrada em vigência da Lei nº 13.467/17.
Nego provimento.
RECURSO DO RECLAMANTE.
1. DOENÇA OCUPACIONAL. ASMA BRÔNQUICA. DANOS MATERIAIS.
O demandante não se conforma com o decidido na origem, que não reconheceu ter
sido acometido por doença ocupacional. Sustenta que a prova pericial foi-lhe
favorável, pois estabelecido nexo concausal entre as atividades laborativas e a moléstia
apresentada (crises de asma), e que houve redução de sua capacidade para o trabalho.
Acrescenta que houve recomendação de seu médico pneumologista para mudança de
setor, o que até ocorreu por um curto período, porém, logo após retornou para a
mesma função, na qual ficou por mais de dez anos. Requer, portanto, o deferimento
de indenização por danos materiais, conforme percentual reconhecido na prova
pericial, em parcela única, com redutor entre 15% e 20%.
Registra-se que a CTPS do autor, indica a existência de dois contratos com a ré: de
16.3.1998 a 10.9.2001, na função de serviços gerais, e de 10.6.2002 a 16.6.2016, como
operador de zincagem (ID. d90c396).
Com relação à alegada doença (asma brônquica), a prova pericial foi nos seguintes
termos (ID. f9cc0ae):
III - INFORMAÇÕES BÁSICAS DO PERICIADO:
Inicial: problemas pulmonares gravíssimos (cid 10 J44); (...)
Data de Nascimento: 25/04/1962;
Data de Admissão: 10/06/2002;
Data de Demissão: 16/06/2016;
Benefícios Previdenciários: Não consta;
CAT: Não foi emitida;
III - ANAMNESE (Histórico Laboral):
Iniciou suas atividades laborais com 14 anos de idade na agricultura, na qual
permaneceu até os 19 anos de idade. Após laborou em fábrica de vassouras por 4 anos e
meio. Depois em fábrica de armas por 16 meses. Em siderúrgica por 02 anos. Após
empresa de forja por 04 anos. Depois em usinagem por 03 anos e meio. Foi, então,
admitido na reclamada, Eletroforja, indústria mecânica, na qual exerceu atividades
laborais por 14 anos e 02 meses. Iniciou suas atividades laborais como operador de
zincagem em peças e componentes elétricos durante todo o seu contrato. Relatou que
haviam 03 tanques, dois de limpeza e preparação, um com ácido sulfúrico e outro com
cloreto de amônia e um terceiro só de água pura. Aquele que seria o 4º tanque era uma
panela com 2 metros de comprimento e 1 metro de largura, o qual continha zinco
líquido, que era mantido a uma temperatura de 634 graus centígrados para conservar
seu estado. Depois as peças banhadas eram secadas em cima de uma mesa com uma
chapa de aço aquecida por uma chama produzida, que depois seguiam para o banho de
zinco líquido. Voltavam para outro tanque, também com água, para resfriamento das
peças de onde seguiam para classificação, embalagem e expedição. As peças eram
aquecidas para a remoção dos resíduos de amônia e ácido sulfúrico simultaneamente ao
banho de zinco. A cuba de zinco estava situada em uma peça fechada, com ganchos de
aço onde as peças eram penduradas para a realização do banho de zinco. Havia bastante
poeira e fumaça nesse ambiente. Depois de um ano de atividades iniciou com falta de ar
e tosse seca. Nega ter tido problemas respiratórios anteriores. Nega tabagismo. Procurou
médico da US, que prescreveu nebulizações e medicação injetável. Depois de um mês
procurou pneumologista, que indicou afastamento do setor, o que ocorreu durante 45
dias, após os quais, por falta de funcionários, retornou aos banhos, nos quais
permaneceu até sua demissão. Usou broncodilatadores inaláveis orais, mas quando
tentava cessar o seu uso, notava que sua falta de ar e tosse seca reapareciam. Consultou,
então, com pneumologista do SUS que lhe prescreveu Miflasona e Salbutamol inaláveis.
Depois de sua demissão apresentou sintomas por não ter usado a medicação devido a
falta de condições pecuniárias. (...)
VI - ANÁLISE TÉCNICA:
O reclamante foi admitido na reclamada em 10/06/2002, com 40 anos de idade, na qual
exerceu atividades como operador de zincagem durante 14 anos até a sua demissão,
ocorrida em 16/06/2016. Não constam Benefícios Previdenciários. Não foi emitida CAT.
Sua função era controlar e operar o processo de zincagem nos tanques, um com ácido
sulfúrico, outro com cloreto de amônia e um outro tanque que continha zinco líquido,
mantido a uma temperatura de 634 graus centígrados onde eram banhadas as peças e os
componentes elétricos. Depois as peças banhadas eram secadas em cima de uma mesa
com uma chapa de aço aquecida antes de seguirem para o banho de zinco líquido, com
bastante poeira e fumaça nesse ambiente, segundo o que relatou o autor. Depois de um
ano de atividades iniciou com falta de ar e tosse seca. Negou ter tido problemas
respiratórios anteriores ou tabagismo. O exame físico do reclamante mostrou a presença
de estertores sibilantes em ambas as bases pulmonares, achado compatível com
obstrução brônquica, que deve ter sido causada, no presente caso, por asma brônquica
relacionada ao trabalho, já que ocorreu exposição a agentes inaláveis no ambiente
laboral, capazes de provocar obstrução crônica ao fluxo aéreo, a qual geralmente é
intermitente, com períodos de exacerbação alternados com fases assintomáticas ou com
alterações discretas. Não constam exames complementares de imagem ou outros nos
autos, O autor já foi periciado anteriormente, com o laudo médico anexado aos autos,
cujo perito médico concluiu pela ausência de nexo causal ou concausal entre a doença
pulmonar alegada e as atividades laborais do autor na reclamada. A partir de 2010 há o
registro de entrega de máscaras protetoras respiratórias, mas o uso de máscaras ou outro
método para reduzir a exposição não é efetivo para os pacientes com asma ocupacional
com período de latência, pois, estes indivíduos tendem a reagir frente a diminutas
quantidades do agente. (...)
VII - CONCLUSÃO:
Pelo exposto pode ser estabelecido nexo concausal entre a doença alegada, asma
relacionada ao trabalho, e as atividades laborais do Reclamante na Reclamada, já que a
exposição não necessita ser quantitativa e sim qualitativa, pois a simples presença,
mesmo em mínimas quantidades, pode desencadear ou agravar crises de asma. O autor
apresenta uma redução de sua capacidade laboral que pode ser considerada leve e
estimada em 25%, já que tem sua capacidade laboral reduzida, na medida em que, se for
exposto a agentes para os quais foi sensibilizado, poderá apresentar sintomas de asma, os
quais são intermitentes, com o período entre as crises variando em sua duração e
intensidade. Ressaltamos que o principal aspecto fisiológico da asma é a obstrução
episódica e reversível das vias aéreas, caracterizada pela limitação do volume de ar
expirado.
Em resposta a quesito complementar da ré, esclareceu o perito que (ID. 546a0b5):
1) Quesitos complementares:
1.1) se a atividade laboral executada na reclamada atuou como concausa para o
agravamento da moléstia do reclamante, explique o Sr. Perito de que forma o percentual
total de perda da capacidade laborativa experimentada pelo reclamante é atribuído a
reclamada? Como já foi relatado no Laudo Suplementar se houver prova de exposição a
agentes inaláveis, anteriormente ao período laboral na reclamada, suficientes para
provocar obstrução ao fluxo aéreo, destacando que a exposição não necessita
obrigatoriamente ser intensa ou frequente, já que ela necessita ser qualitativa,
poderíamos, então, imputar a outras empresas um percentual da redução considerada à
reclamada, no presente caso. Como o reclamante negou quaisquer sintomas
antecedentes e, como também não houve evidências que pudessem comprovar esses
sintomas antes do período laboral na reclamada, mantemos o percentual de 25%
imputado à reclamada.
Como bem consignado na origem,
a despeito de o Juízo não estar adstrito à prova pericial (pois pode formar a sua
convicção com base em outros elementos), não há dúvida de que somente ela, pelo
caráter técnico, científico e especializado, notadamente quando se trata de problemas de
saúde, com a devida explicitação dos métodos utilizados para sua confecção e conclusão
apresentada, é capaz de identificar a existência ou não do nexo de causalidade
/concausalidade entre a doença ocupacional e as atividades profissionais
desempenhadas, razão pela qual rejeito as constatações contidas no parecer do assistente
técnico da reclamada (id-a63f08a; id-3c0b1cb).
Ademais, o médico pneumologista, Dr. Paulo Roberto Goldendum, que acompanhou o
autor no período de 27-07-2004 a 10-05-2013, quando foram realizadas oito consultas,
confirmou a existência de quadro de dispneia, sibilos e tosse após contato com produtos
químicos, pó, poeira e mudanças climáticas, a existência de tratamento com Clenil e
Aerolin spray e, também, a piora dos sintomas respiratórios no ambiente de trabalho em
razão do contrato com zinco (id-ef60b44).
Com efeito, acolho o laudo pericial por se tratar de prova legal elaborada por
profissional de confiança do Juízo, e que está em consonância com as provas constantes
nos autos. Conforme a conclusão pericial médica, trata-se de doença multifatorial, e as
atividades na reclamada atuaram como uma das concausa para o surgimento da
patologia que acometeu o autor, atraindo a aplicação do art. 21, caput e inciso I, da Lei
8.213/91:
"Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei:
(...)
I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja
contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua
capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua
recuperação."
O caso dos autos trata-se de situação em que a atividade laboral, em razão da exposição
permanente a poeira e fumaça gerada por produtos químicos (ácido sulfúrico, cloreto de
amônia e zinco, que, inclusive, são apontados como agentes de risco nos atestados de
saúde ocupacional - p. exemplo, id-d0a5ab9, Pág. 12), é concausa da doença adquirida,
ou seja, conjugada com outras causas (pó e poeira comuns, além de mudanças
climáticas), concorre para o resultado. É reforço do processo causal, o que por si só gera
o dever de indenizar, não se exigindo nexo causal exclusivo na atividade laboral para
que o empregador seja responsabilizado.
Como responsável pela condução dos negócios e pela assunção dos riscos do
empreendimento, cabe ao empregador respeitar as normas de segurança do trabalho,
não apenas implementando mecanismos de proteção do trabalhador, como também
zelando para que todas as precauções sejam tomadas no momento da realização dos
serviços, a fim de impedir situações que atuem como concausa ao surgimento de
doenças. É o que se deduz, claramente, do disposto no artigo 157, incisos I e II, da CLT.
Nessa linha, frente ao aparecimento da patologia durante o transcurso do contrato,
devese concluir que o sistema de exaustores das máquinas, relatado pelo autor em
depoimento (id-d37faba, Pág. 1), não foi suficiente para impedir o contato com a poeira
e fumaça. Não bastante, consoante esclarecimento feito pelo Sr. Perito médico
(idf9cc0ae, Pág. 5), registro que o fornecimento de máscaras protetoras (ocorrido
somente a partir de 2010) sequer foi eficaz, porquanto pacientes com asma ocupacional
com período de latência tendem a reagir frente a diminutas quantidades do agente
irritante.
Conquanto a moléstia apresentada pelo autor possa ter outras causas, tendo o trabalho
propiciado o aparecimento - note-se que inexiste prova de que o autor tenha apresentado
sintomas antes do contrato e, também, deve ser salientado que a menção contida no
laudo do perito médico Piantá quanto à existência de quadro típico de asma desde a
infância (id-6d32002, Pág. 23) foi expressamente rechaçada pela parte na primeira
oportunidade que teve para se manifestar nos autos (id-66273b7, Pág. 9), situação que
acabou gerando a produção de nova perícia médica (id-07ed176) depois de comprovado
documentalmente o comparecimento à consulta com médico especialista em
pneumologia no curso do contrato (intervalo do id-8c34e2a ao id-1a82495) -, ainda que
considerado em percentual moderado, caracterizando-se como concausa, a reclamada
não se exime do dever de indenizar o prejuízo sofrido, ponderada a relevância do fator
trabalho para o adoecimento, bem como o grau de responsabilidade da empregadora.
Entretanto, não é cabível a indenização pretendida a título de danos materiais,
porquanto, ainda que acometido o reclamante por crises de asma, a incapacidade
laborativa era parcial e intermitente, sem previsão de frequência ou intensidade, sem
restrição ao trabalho. Ou seja, o autor, diante de ter desenvolvido a doença (asma),
certamente terá restrições a certas atividades, mas não significa que esteja
incapacitado para o trabalho, pois inúmeras atividades profissionais não estão
diretamente relacionadas a ambiente que contenha produtos prejudiciais a alérgicos e
asmáticos.
Acrescenta-se, ademais, que "Vários fatores ambientais e genéticos podem gerar ou
agravar a asma. Entre os aspectos ambientais estão a exposição à poeira e barata, aos
ácaros e fungos, às variações climáticas e infecções virais (especialmente o vírus
sincicial respiratório e rinovírus, principais agentes causadores de pneumonia e
resfriado, respectivamente). Para os fatores genéticos - característicos da própria
pessoa -, destacam-se o histórico familiar de asma ou rinite e obesidade, tendo em
vista que pessoas com sobrepeso têm mais facilidade de desencadear processos
inflamatórios, como a asma" (http://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/asma).
Nessa linha, prevalece a conclusão de que não é devida a pensão vitalícia, pois não há
incapacidade laboral, e a perda funcional verificada tem apenas caráter temporário.
Ademais, sequer houve fruição de benefício previdenciário no curso do contrato, e não
há notícia de que após seu término tenha sido concedido tal benefício em razão da
doença. Então, não havendo limitação funcional objetiva para fins de DPVAT, rejeito a
pretensão de indenização por dano material (pensionamento) sob a forma de pensão em
parcela única (sentença - ID. fc6213b - Pág. 8).
Mantenho a decisão de primeiro grau, por seus próprios fundamentos.
Nego provimento.
2. GARANTIA PROVISÓRIA DO EMPREGO. EMISSÃO DA CAT.
O autor afirma que era detentor da garantia provisória do emprego, pois quando
despedido estava acometido por doença profissional ou equiparada. Invoca as
conclusões periciais que atestaram sua incapacidade laborativa quando da despedida.
Não procede a pretensão recursal, tendo em vista que, embora tenha apresentado
quadro de asma, moléstia que sem dúvida exigiu e vai exigir tratamento e cuidados
pessoais a fim de evitar e dirimir as consequências de quadro de crise, no decorrer do
pacto laboral, por mais de quatorze anos, não se afastou em benefício previdenciário,
por causa de tal doença, não estando presentes as hipóteses previstas no art. 118 da
Lei nº 8.213/91 e na Súmula 378 do TST.
A propósito do constante na parte final do item dois, da referida Súmula (salvo se
constatada, após a despedida, doença profissional que guarde relação de causalidade
com a execução do contrato de emprego), o quadro de asma foi constatado, segundo a
perícia, desde os primeiros anos de trabalho, como afirmou o demandante ao perito.
Logo, tal moléstia não foi constatada após a ruptura contratual, não sendo caso de
adoção do entendimento jurisprudencial antes indicado.
Por fim, observa-se que o reclamante não postulou eventual nulidade da despedida
com reintegração, mas tão-somente a indenização correspondente à garantia
provisória do emprego, o que também não se coaduna com o dispositivo legal acima
citado, que assegura a manutenção do contrato de trabalho e não, indistintamente,
parcela indenizatória a tal título.
Também não há falar em emissão de CAT, pois não houve acidente de trabalho.
Nesse contexto, levando em consideração as particularidades do caso em análise,
impõe-se indeferir a indenização postulada.
Nego provimento.
ANÁLISE CONJUNTA DOS RECURSOS.
DANOS MORAIS E MAJORAÇÃO DA INDENIZAÇÃO.
A ré busca o afastamento da condenação ao pagamento de indenização por danos
morais (R$5.000,00), sustentando que o primeiro laudo pericial, realizado pelo perito
José Antônio de Barros Piantá, foi conclusivo, no sentido que a moléstia apresentada
pelo autor não tem relação com as atividades laborativas. Enfatiza que a perícia foi
realizada por profissional designado pelo juízo, de sua confiança, havendo de ser
adotada, ainda que impugnada pela parte adversa.
O autor, a sua vez, requer majoração da indenização, pois entende desproporcional
aos danos sofridos.
Conforme exaustivamente analisado em item precedente, conclui-se provado que o
reclamante foi vítima de moléstia que, se não originada nas atividades laborativas, foi
agravada diante da realização de determinadas tarefas. Entretanto, repisa-se que tal
enfermidade tem caráter temporário, pois o quadro de eventuais crises de asma,
segundo a prova pericial, é dirimida e/ou afastada com cuidados pessoais e tratamento
medicamentoso.
Assim, em que pesem tais circunstâncias, a existência do dano é inequívoca, em face
do comprometimento da saúde do autor e a evidente perda de sua qualidade de vida,
incidindo à hipótese o artigo 927 do CC, o qual fixa a regra geral da responsabilidade
civil de indenizar: Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.
O dano moral, ordinariamente, dispensa prova sendo inerente à própria doença
constatada e ao seu agravamento e o pagamento de indenização é fundamental como
meio de amenizar o sofrimento moral.
Destaca-se que o dano moral é indenizável, não só por ofensa a direitos
personalíssimos, mas por violação a outros direitos de ordem pessoal, como é o caso da
integridade física, em face do comprometimento da saúde da parte demandante.
Outrossim, o dano moral - nos casos envolvendo doença ocupacional - configura-se
como in re ipsa, ou seja, é desnecessária a sua comprovação, sendo o sofrimento
presumido, em virtude da própria natureza do dano.
Portanto, não há como excluir a responsabilidade da empregadora, tendo em vista que
a existência do dano é inequívoca.
No que respeita à quantificação, é certo que o dano moral é de árdua mensuração,
exigindo do julgador uma atividade intelectiva de caráter subjetivo e a consideração
de uma série de circunstâncias que possa ser extraída da relação jurídica das partes.
A indenização, entretanto, deve ser fixada em termos que se mostrem razoáveis e
compatíveis com a realidade que cercou a relação das partes. Não há critério objetivo
positivado para quantificar a compensação do abalo moral, como pondera, por
exemplo, a professora Alice Monteiro de Barros (in Assédio Moral, Juris Síntese nº 52
- MAR/ABR de 2005).
Dessa forma, o valor da indenização deve levar em consideração a gravidade do dano,
o caráter pedagógico da medida, a capacidade econômica da empresa, bem como o
período de duração do pacto laboral (cerca de quinze anos).
Nesse contexto, atenta a critérios de razoabilidade e considerando as peculiaridades
do caso concreto, entendo em majorar a indenização arbitrada na origem para R$
20.000,00, a título de danos morais, com atualização na forma da Súmula 439 do TST.
PREQUESTIONAMENTO.
Apenas para que não se tenha a presente decisão por omissa, cumpre referir que a
matéria contida nas disposições legais e constitucionais invocadas foi devidamente
apreciada na elaboração deste julgado. Sendo assim, tem-se por prequestionados os
dispositivos legais e entendimentos jurisprudenciais mencionados, na forma da
Súmula nº 297 do TST.
MARIA MADALENA TELESCA
Relator
VOTOS
PARTICIPARAM DO JULGAMENTO:
DESEMBARGADORA MARIA MADALENA TELESCA (RELATORA)
JUIZ CONVOCADO LUIS CARLOS PINTO GASTAL
DESEMBARGADOR ALEXANDRE CORRÊA DA CRUZ
(https://pje.trt4.jus.br/consultaprocessual/detalhe-processo/0020898-62.2016.5.04.0252/2)
DO MÉRITO
EMENTA
RELATÓRIO
Da r. sentença de fls. 597/620, que julgou PARCIALMENTE PROCEDENTE a
reclamatória trabalhista, recorrem as partes
O reclamante pugnando pela reforma com relação à expedição de ofício ao Ministério
Público, acúmulo de funções, horas extras e intervalo e dano moral.
Por sua vez, a primeira reclamada requer a reforma quanto à formação de grupo
econômico, horas extras e intervalo.
Contrarrazões apresentadas nas fls. 687/703 e 704/725.
Preparo nas fls. 680/683.
Ação distribuída em 04/12/2020.
É o relatório.
FUNDAMENTAÇÃO
1. Admissibilidade. Atendidos os pressupostos processuais de admissibilidade, conheço
dos recursos.
2. RECURSO DO RECLAMANTE
3 RECURSO DA RECLAMADA
Votação: unânime.
Presidiu a sessão a Exma. Desembargadora Lilian Gonçalves.
DA MATÉRIA
Da Doença do Reclamante
Nesse sentido:
Nestes termos.
E. deferimento.
São Paulo, 14 de July de 2023.