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Poder Judiciário

Justiça do Trabalho
Tribunal Superior do Trabalho

PROCESSO Nº TST-Ag-RR - 975-05.2022.5.12.0030

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1005A3D4751B62BAE8.
ACÓRDÃO
(5ª Turma)
GMBM/OVPA/GRL/ld

AGRAVO. RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO


PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº
13.467/2017. MEMBRO DA CIPA. GARANTIA
DE EMPREGO. RECUSA À REINTEGRAÇÃO.
TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA
NA DECISÃO AGRAVADA. Esta Corte tem
consolidado sua jurisprudência no sentido de
que a estabilidade provisória do cipeiro não
constitui vantagem pessoal, mas garantia para
as atividades dos membros da CIPA, admitindo
que o referido direito não é absoluto, conforme
inteligência da Súmula nº 339, II, do TST. Assim,
diante da recusa à oferta de reintegração
(premissa fática insuscetível de reexame à luz
da Súmula nº 126 desta Corte), não há falar
em direito à indenização, uma vez que houve,
em verdade, expressa renúncia ao mandato da
CIPA e, por consectário, à garantia de emprego
prevista no art. 10, II, “a”, do ADCT.
Precedentes. Agravo não provido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo em Recurso


de Revista n° TST-Ag-RR-975-05.2022.5.12.0030, em que é Agravante NERILDA TEREZA
MORAIS e é Agravada SAO MARCOS RADIOLOGIA LTDA..

Trata-se de agravo interposto contra decisão monocrática que


negou seguimento ao recurso de revista.
Na minuta de agravo, a parte defende a incorreção da r. decisão
agravada.
É o relatório.

VOTO
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1 - CONHECIMENTO

Preenchidos os pressupostos genéricos de admissibilidade,


conheço do agravo.

2 – MÉRITO

MEMBRO DA CIPA. GARANTIA DE EMPREGO. RECUSA À


REINTEGRAÇÃO. TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA NA DECISÃO
AGRAVADA

A decisão agravada foi proferida nos seguintes termos:

Trata-se de recurso de revista interposto contra acórdão proferido pelo


Tribunal Regional do Trabalho, no qual procura demonstrar a satisfação dos
pressupostos do artigo 896 da CLT, relativamente ao tema "Garantia de
emprego. Membro da CIPA".
Sem remessa dos autos ao Ministério Público do Trabalho.
Com esse breve relatório, decido.
Preenchidos os pressupostos genéricos de admissibilidade, prossigo no
exame dos específicos do recurso de revista.
EXAME PRÉVIO DA TRANSCENDÊNCIA
O recurso de revista foi interposto em face de acórdão publicado na
vigência da Lei nº 13.467/2017, que alterou o art. 896-A da CLT, havendo a
necessidade de se evidenciar a transcendência das matérias nele veiculadas,
na forma do referido dispositivo e dos arts. 246 e seguintes do RITST.
MEMBRO DA CIPA. GARANTIA DE EMPREGO. RECUSA À REINTEGRAÇÃO.
TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA
Nas razões de revista, nas quais cuidou de indicar o trecho da decisão
recorrida que consubstancia o prequestionamento da controvérsia objeto da
insurgência, atendendo ao disposto no art. 896, § 1º-A, I, da CLT, a parte
recorrente indica ofensa aos arts. 10, II, "a", do ADCT, e 165 da CLT. Transcreve
arestos.
Sustenta, em síntese, que é "incabível a negativa do pagamento da
indenização do período compreendido a partir da dispensa arbitraria (pela
empregadora, sem justa causa) até um ano após o fim do mandato da autora,
como membro da CIPA, em razão da recusa do retorno ao trabalho, vez que tal
fato não caracteriza renúncia à estabilidade".
Examina-se a transcendência da matéria.

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O e. TRT consignou, quanto ao tema:
(...)
Verifico que a matéria não foi suficientemente examinada no âmbito
desta Corte, que ainda não pacificou a questão em relação ao integrante da
CIPA, razão pela qual reconheço caracterizada a transcendência jurídica e,
preenchidos os pressupostos extrínsecos do recurso de revista, passo ao
exame dos demais intrínsecos da espécie recursal.
Pois bem.
Discute-se os efeitos da recusa à oferta de reintegração no emprego e
suas implicações sobre o direito do empregado detentor da garantia prevista
no art. 10, II, "a", do ADCT.
Esta Corte tem consolidado sua jurisprudência no sentido de que a
estabilidade provisória do cipeiro não constitui vantagem pessoal, mas
garantia para as atividades dos membros da CIPA, admitindo que o
referido direito não é absoluto, conforme inteligência da Súmula nº 339,
II, do TST.
Assim, diante da recusa à oferta de reintegração, não há falar em
direito à indenização, uma vez que houve, em verdade, expressa
renúncia ao mandato da CIPA e, por consectário, à garantia de emprego
prevista no art. 10, II, "a", do ADCT.
Nesse sentido, há precedentes desta Corte (destaques acrescidos):

"AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.


ACÓRDÃO PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017. ART.
896-A DA CLT. MEMBRO DA CIPA. RECUSA À REINTEGRAÇÃO.
TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA . Caracterizada a
existência de transcendência jurídica , além de potencial violação
do art. 10, II, "a", da ADCT, dá-se provimento ao agravo de
instrumento para determinar o prosseguimento do recurso de
revista. Agravo de instrumento provido. RECURSO DE REVISTA.
ACÓRDÃO PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017. ART.
896-A DA CLT. MEMBRO DA CIPA. RECUSA À REINTEGRAÇÃO.
TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA . A matéria ainda não
foi suficientemente examinada no âmbito desta Corte, que ainda
não pacificou a questão, razão pela qual se reconhece
caracterizada a transcendência jurídica . Discute-se os efeitos da
recusa à oferta de reintegração no emprego e suas implicações
sobre o direito do empregado detentor da garantia prevista no
art. 10, II, "a", do ADCT. Esta Corte tem firme jurisprudência no
sentido de que a estabilidade provisória do cipeiro não constitui
vantagem pessoal, mas garantia para as atividades dos membros
da CIPA, admitindo que o referido direito não é absoluto,
conforme inteligência da Súmula nº 339, II, do TST. Assim, diante
da recusa à oferta de reintegração, não há falar em direito à
indenização, uma vez que houve, em verdade, expressa renúncia
ao mandato da CIPA e, por consectário, à garantia de emprego

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prevista no art. 10, II, "a", do ADCT. Há precedentes. Recurso de
revista conhecido e provido" (RR-1104-09.2017.5.10.0105, 5ª
Turma, Relator Ministro Breno Medeiros, DEJT 19/12/2018).

RECURSO DE REVISTA. ESTABILIDADE PROVISÓRIA -


MEMBRO DA CIPA - RECUSA DE RETORNO AO EMPREGO -
RENÚNCIA AO MANDATO OUTORGADO PELOS PARES -
INDENIZAÇÃO INDEVIDA. Segundo o item II da Súmula/TST nº 339,
a estabilidade provisória prevista no artigo 10, II, 'a', do ADCT não
constitui vantagem pessoal, mas garantia para as atividades dos
membros da CIPA. Isso porque o que se procura proteger é a
isenção de conduta daquele empregado que, investido na função
de prevenção de acidentes e doenças do trabalho, pode se tornar
alvo de eventuais retaliações do empregador na hipótese de
enérgica fiscalização das normas de segurança do labor. Nesse
contexto, se o trabalhador cipeiro foi demitido equivocadamente,
mas se recusou à reintegração, apesar das reiteradas investidas
da empresa no sentido de que retornasse ao emprego, inclusive
com o adimplemento das verbas vencidas, e inexistindo notícia de
desgaste da relação com o empregador, não há que se falar em
conversão da reintegração em indenização, uma vez que o
reclamante renunciou ao mandato delegado por seus pares e, em
consequência, à estabilidade dele decorrente. Precedentes,
inclusive da 2ª Turma. Recurso de revista não conhecido.
(RR-1743-79.2012.5.22.0004, 2ª Turma, Relator Ministro Renato de
Lacerda Paiva, DEJT de 20/3/2015)

RECURSO DE REVISTA. ESTABILIDADE. MEMBRO DA CIPA.


RECUSA DE RETORNO AO TRABALHO. RENÚNCIA À GARANTIA DE
EMPREGO. Na hipótese, não há ofensa ao artigo 10, II, -a-, do
ADCT, pois não se deixou de reconhecer o direito à garantia
provisória de emprego, mas apenas teria se operado a renúncia
da garantia em face da recusa do Reclamante em reassumir as
suas funções, o que foi oferecido pelo empregador. Recurso de
Revista não conhecido. Ressalva de entendimento do Relator
(RR-845-51.2011.5.02.0362, 5ª Turma, Relator Desembargador
Convocado Marcelo Lamego Pertence, DEJT 10/10/2014)

AGRAVO DE INSTRUMENTO - ESTABILIDADE PROVISÓRIA -


MEMBRO DA CIPA - RECUSA DE RETORNO AO EMPREGO -
INDENIZAÇÃO SUBSTITUTIVA INDEVIDA A recusa da Reclamante
em retornar ao trabalho, configura, renúncia ao mandato de
membro da CIPA e, consequentemente, à estabilidade decorrente
dessa função. Julgados. Agravo de Instrumento a que se nega
provimento. (AIRR - 138900-72.2011.5.16.0012, Relatora Ministra:

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Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, Data de Julgamento: 08/06/2016,
8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 10/06/2016)

Dessa forma, evidenciado que "em que pese na data da propositura


da ação, assim como da prolação da sentença, a demandante ainda
detivesse o direito ao período estabilitário, não retornou ao emprego
quando lhe foi ofertado, tampouco demonstrou qualquer situação de
impedimento para a possível reintegração", não há falar em indenização.
Ante o exposto, em que pese a transcendência jurídica da matéria, o
recurso não merece seguimento.
Ante o exposto, com fulcro no art. 118, X, do RITST, nego seguimento ao
recurso de revista.

Na minuta de agravo interno, sustenta, em síntese, que “a recusa


pelo empregado, membro da CIPA, dispensado sem justa causa, de retorno ao trabalho, não
caracteriza renúncia ao direito à estabilidade e tampouco ocasiona a perda desse direito ou
da indenização estabilitária”.
Acrescenta que “a estabilidade em tela é afastada apenas quando a
dispensa se dá por motivo disciplinar, técnico, econômico ou financeiro, desde que
comprovado pelo empregador”.
Examino.
O e. TRT consignou quanto ao tema:

GARANTIA DE EMPREGO. MEMBRO DA CIPA


Alega a autora, na inicial, ter sido dispensada sem justa causa enquanto
gozava de estabilidade provisória em razão de ser membro da CIPA. Por
conseguinte, vindica a reintegração no emprego ou indenização substitutiva.
Em contestação, a ré afirma que não foi comunicada que a autora era
membro eleito da CIPA, tendo a parte sido conivente com todos os trâmites
para a sua demissão.
O Juízo de origem indeferiu a pretensão sob o seguinte fundamento (fl.
204-5):

Em audiência de tentativa de conciliação a ré,


reconhecendo a condição da autora de membro da CIPA,
ofertou-lhe a reintegração ao emprego.
Não obstante a garantia de emprego CIPA ser relativa,
sobrevivendo tão somente enquanto houver a atividade
empresarial a que se refere seu encargo, a ré não comprovou a
extinção do cargo, na forma do art. 165, parágrafo único, da CLT,
agindo de forma diversa, ofertando a reintegração no emprego,

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de forma que ficam afastadas as alegações da defesa quanto aos
motivos técnicos e financeiros da rescisão contratual.
Havendo consenso das partes quanto à condição da autora
de membro da CIPA e sua estabilidade provisória, foi
determinado pelo Juízo a reintegração da autora no emprego, a
partir de 05/12/2022 (folha 174), para exercício da mesma função
e nas mesmas condições contratuais anteriores, afastando
dissenso das partes quanto à data de reintegração.
Todavia, a autora não compareceu na empresa para a
reintegração, informando a obtenção de novo emprego e
alegando que o ambiente de trabalho não propiciava o seu
retorno ao emprego (folha 179).
No entendimento deste Juízo, não há justificativa para a
recusa da autora em retornar ao emprego. Entendo que,
diversamente do alegado pela parte, não ficou configurado
ambiente de trabalho hostil, ônus que incumbia à autora (art. 818,
I, da CLT).
Outrossim, após ter sido oferecido o retorno ao emprego, e
designada data para o retorno, a obreira não compareceu, o que
representa renúncia à garantia legal prevista no art. 165 da CLT e
art. 10, II, 'a' do ADCT, da CF, mormente diante da redação da
Súmula 339, II, do TST, em que a estabilidade provisória do cipeiro
não constitui vantagem pessoal, mas garantia para as atividades
dos membros da CIPA.
(...)
Diante do exposto, os pedidos da inicial. rejeito

Insurge-se a demandante. Argumenta que a ré apresentou proposta de


conciliação sem, contudo, estabelecer real valor a ser pago e sem garantir o
pagamento integral dos salários e demais direitos devidos, desde da sua
dispensa até a data da efetiva reintegração. Assim, afirma que, conforme
demonstrado em seu relato pessoal, a reintegração não restou possível
devido ao grau de incompatibilidade entre as partes. Sustenta, ainda, que na
data em que proferido o despacho, determinando a reintegração, já possuía
novo emprego no qual, em que pese auferir salário muito inferior ao que
recebia da reclamada, o trabalho lhe é mais saudável e se sente mais
valorizada. Assim, postula a condenação da ré ao pagamento da remuneração
do período compreendido a partir de 30-04-2022 até um ano após o fim de
seu mandato na CIPA, ou seja, até 23-11-2023. Sucessivamente requer o
pagamento da indenização em relação ao período compreendido entre a
dispensa e a audiência de conciliação.
Com efeito, o cipeiro, como estatuído no artigo 10, inciso II, alínea 'a', do
ADCT e no artigo 165 da CLT, está protegido de sofrer dispensa arbitrária,
como tal a que não estiver respaldada em motivo disciplinar, técnico,
econômico ou financeiro.

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No campo da jurisprudência, firmou-se, mediante a edição da Súmula
339 do TST, o seguinte direcionamento:

CIPA. SUPLENTE. GARANTIA DE EMPREGO. CF/1988


(incorporadas as Orientações Jurisprudenciais nºs 25 e 329 da
SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005
I - O suplente da CIPA goza da garantia de emprego prevista
no art. 10, II, "a", do ADCT a partir da promulgação da
Constituição Federal de 1988. (ex-Súmula nº 339 - Res. 39/1994, DJ
22.12.1994 - e ex-OJ nº 25 da SBDI-1 - inserida em 29.03.1996)
II - A estabilidade provisória do cipeiro não constitui
vantagem pessoal, mas garantia para as atividades dos membros
da CIPA, que somente tem razão de ser quando em atividade a
empresa. Extinto o estabelecimento, não se verifica a despedida
arbitrária, sendo impossível a reintegração e indevida a
indenização do período estabilitário. (ex-OJ nº 329 da SBDI-1 - DJ
09.12.2003)

A estabilidade provisória em foco tem por pressuposto a proteção do


emprego, a fim de obstar que a entidade patronal perpetre eventuais
perseguições ao obreiro que, atuando na CIPA, busca a satisfação de
providências necessárias à prevenção de acidentes, como forma de garantir
um meio ambiente do trabalho seguro. Qual seja, a garantia no emprego tem
por escopo proteger as condições de trabalho.
A autora era detentora da garantia de emprego prevista no art. 10,
II, "a", do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da
Constituição Federal, conforme já manifestado pela sentença.
Verifico, contudo, que na audiência de conciliação das fls. 160-1 a ré
propôs a reintegração da obreira ao trabalho e, após a apresentação de
manifestação dessa às fls. 166-7, o Magistrado a quo proferiu despacho nos
seguintes termos (fl. 174):

Da análise dos autos, deduz-se, de plano, que em relação à


questão da reintegração ao trabalho não há dúvida quanto ao
absoluto consenso entre as partes, razão pela qual, a esse
respeito, determino à ré que promova, a partir do dia 05.12.2022,
a reintegração da autora ao quadro de empregados da empresa,
para o exercício da mesma função, horário de trabalho e
condições contratuais que existiam até a data do desligamento
(30/04/2022), além do salário.
Quanto às verbas salariais decorrentes do lapso havido
entre o desligamento e sua reintegração (salários em atraso e
compensações pertinentes), porquanto se verifica a nítida
demonstração de interesse mutuo das partes em compor e
porque a conciliação efetivamente se mostra o meio processual
mais adequado para a justa e célere solução do litígio, defiro o

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requerimento da ré e determino a inclusão do feito em pauta
para realização de AUDIÊNCIA DE TENTATIVA DE CONCILIAÇÃO,
ressaltando-se, todavia, que nada obsta às partes apresentarem
proposta consensual mediante petição, em 15 dias.

A demandante, por sua vez, não retornou ao trabalho até a data


estabelecida pelo Juiz de primeiro grau e apresentou petição (fls. 179-80)
alegando, em suma, que a reintegração não restou possível devido ao
grau de incompatibilidade existente entre as partes.
Ocorre que, no presente caso, a reclamante não apresentou
nenhuma prova capaz de evidenciar a existência um ambiente de
trabalho hostil, ou mesmo, qualquer dificuldade no momento da sua
dispensa, ônus que lhe incumbia nos termos do art. 8181, I, da CLT.
Saliento, ainda, que o relato apresentado pela autora às fls. 181 nada
comprova, pois se trata de um documento unilateral, que contém
apenas a versão da obreira em relação aos fatos. Além disso, ao
contrário do aduzido pela parte em seu recurso, as condições de retorno
ao trabalho nas mesmas circunstâncias contratuais existentes até a data
da dispensa foram garantidas pelo juízo de primeiro grau, assim como o
a manutenção, nos presentes autos, da resolução quanto às verbas
salariais devidas entre o desligamento e o retorno.
Aponto, ainda, que a autora obteve novo emprego após a proposta
da ré de reintegração, que ocorreu em 19-10-2022 (fls. 160-1). E, mesmo
ciente da possibilidade de retornar a exercer suas atividades na
reclamada, preferiu estabelecer novo vínculo em 16-11-2022 (conforme
demonstra o contracheque juntado na fl. 221).
Consoante já exposto acima, o objetivo da norma é a proteção do
emprego, em decorrência da função exercida como membro da Comissão
Interna de prevenção de acidentes. Defendo que a inobservância do disposto
na norma mencionada gera direito ao trabalhador de pleitear a reintegração
ao seu posto de trabalho e, somente quando inviabilizada esta, surge o direito
à indenização substitutiva.
Assim, em que pese na data da propositura da ação, assim como da
prolação da sentença, a demandante ainda detivesse o direito ao período
estabilitário, não retornou ao emprego quando lhe foi ofertado,
tampouco demonstrou qualquer situação de impedimento para a
possível reintegração. Assim, corroboro os fundamentos da Magistrada
de origem, os quais transcrevo (fl. 205):

(...)após ter sido oferecido o retorno ao emprego, e


designada data para o retorno, a obreira não compareceu, o que
representa renúncia à garantia legal prevista no art. 165 da CLT e
art. 10, II, 'a' do ADCT, da CF, mormente diante da redação da
Súmula 339, II, do TST, em que a estabilidade provisória do cipeiro
não constitui vantagem pessoal, mas garantia para as atividades
dos membros da CIPA.

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instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
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Ressalto, por fim, não ser possível acolher o pedido sucessivo da
recorrente, porquanto diferentemente do caso da estabilidade gestacional em
que o bem tutelado é a vida do nascituro, a garantia do membro da CIPA
decorre da segurança dos trabalhadores que representa e, portanto, das
atividades por ele executadas.
Diante do exposto, nego provimento ao recurso da autora.

Conforme consta na decisão agravada, verifico que a matéria não


foi suficientemente examinada no âmbito desta Corte, que ainda não pacificou a
questão em relação ao integrante da CIPA, razão pela qual reconheço caracterizada a
transcendência jurídica.
Pois bem.
Discute-se os efeitos da recusa à oferta de reintegração no
emprego e suas implicações sobre o direito do empregado detentor da garantia
prevista no art. 10, II, “a”, do ADCT.
Esta Corte tem consolidado sua jurisprudência no sentido de que
a estabilidade provisória do cipeiro não constitui vantagem pessoal, mas garantia para
as atividades dos membros da CIPA, admitindo que o referido direito não é absoluto,
conforme inteligência da Súmula nº 339, II, do TST.
Assim, diante da recusa à oferta de reintegração (premissa fática
insuscetível de reexame à luz da Súmula nº 126 desta Corte), não há falar em direito à
indenização, uma vez que houve, em verdade, expressa renúncia ao mandato da CIPA e,
por consectário, à garantia de emprego prevista no art. 10, II, “a”, do ADCT.
Nesse sentido, há precedentes desta Corte (destaques
acrescidos):

"AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO


PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017. ART. 896-A DA CLT.
MEMBRO DA CIPA. RECUSA À REINTEGRAÇÃO. TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA
RECONHECIDA . Caracterizada a existência de transcendência jurídica , além
de potencial violação do art. 10, II, "a", da ADCT, dá-se provimento ao agravo
de instrumento para determinar o prosseguimento do recurso de revista.
Agravo de instrumento provido. RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO PUBLICADO
NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017. ART. 896-A DA CLT. MEMBRO DA CIPA.
RECUSA À REINTEGRAÇÃO. TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA . A
matéria ainda não foi suficientemente examinada no âmbito desta Corte, que
ainda não pacificou a questão, razão pela qual se reconhece caracterizada a
transcendência jurídica . Discute-se os efeitos da recusa à oferta de
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reintegração no emprego e suas implicações sobre o direito do
empregado detentor da garantia prevista no art. 10, II, "a", do ADCT. Esta
Corte tem firme jurisprudência no sentido de que a estabilidade
provisória do cipeiro não constitui vantagem pessoal, mas garantia para
as atividades dos membros da CIPA, admitindo que o referido direito não
é absoluto, conforme inteligência da Súmula nº 339, II, do TST. Assim,
diante da recusa à oferta de reintegração, não há falar em direito à
indenização, uma vez que houve, em verdade, expressa renúncia ao
mandato da CIPA e, por consectário, à garantia de emprego prevista no
art. 10, II, "a", do ADCT. Há precedentes. Recurso de revista conhecido e
provido" (RR-1104-09.2017.5.10.0105, 5ª Turma, Relator Ministro Breno
Medeiros, DEJT 19/12/2018).

RECURSO DE REVISTA. ESTABILIDADE PROVISÓRIA - MEMBRO DA CIPA -


RECUSA DE RETORNO AO EMPREGO - RENÚNCIA AO MANDATO OUTORGADO
PELOS PARES - INDENIZAÇÃO INDEVIDA. Segundo o item II da Súmula/TST nº
339, a estabilidade provisória prevista no artigo 10, II, 'a', do ADCT não
constitui vantagem pessoal, mas garantia para as atividades dos membros da
CIPA. Isso porque o que se procura proteger é a isenção de conduta daquele
empregado que, investido na função de prevenção de acidentes e doenças do
trabalho, pode se tornar alvo de eventuais retaliações do empregador na
hipótese de enérgica fiscalização das normas de segurança do labor. Nesse
contexto, se o trabalhador cipeiro foi demitido equivocadamente, mas se
recusou à reintegração, apesar das reiteradas investidas da empresa no
sentido de que retornasse ao emprego, inclusive com o adimplemento
das verbas vencidas, e inexistindo notícia de desgaste da relação com o
empregador, não há que se falar em conversão da reintegração em
indenização, uma vez que o reclamante renunciou ao mandato delegado
por seus pares e, em consequência, à estabilidade dele decorrente.
Precedentes, inclusive da 2ª Turma. Recurso de revista não conhecido.
(RR-1743-79.2012.5.22.0004, 2ª Turma, Relator Ministro Renato de Lacerda
Paiva, DEJT de 20/3/2015)

RECURSO DE REVISTA. ESTABILIDADE. MEMBRO DA CIPA. RECUSA DE


RETORNO AO TRABALHO. RENÚNCIA À GARANTIA DE EMPREGO. Na hipótese,
não há ofensa ao artigo 10, II, -a-, do ADCT, pois não se deixou de reconhecer
o direito à garantia provisória de emprego, mas apenas teria se operado a
renúncia da garantia em face da recusa do Reclamante em reassumir as suas
funções, o que foi oferecido pelo empregador. Recurso de Revista não
conhecido. Ressalva de entendimento do Relator (RR-845-51.2011.5.02.0362,
5ª Turma, Relator Desembargador Convocado Marcelo Lamego Pertence,
DEJT 10/10/2014)

AGRAVO DE INSTRUMENTO - ESTABILIDADE PROVISÓRIA - MEMBRO DA


CIPA - RECUSA DE RETORNO AO EMPREGO - INDENIZAÇÃO SUBSTITUTIVA

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Poder Judiciário fls.11
Justiça do Trabalho
Tribunal Superior do Trabalho

PROCESSO Nº TST-Ag-RR - 975-05.2022.5.12.0030

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INDEVIDA A recusa da Reclamante em retornar ao trabalho, configura,
renúncia ao mandato de membro da CIPA e, consequentemente, à
estabilidade decorrente dessa função. Julgados. Agravo de Instrumento a
que se nega provimento. (AIRR - 138900-72.2011.5.16.0012, Relatora Ministra:
Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, Data de Julgamento: 08/06/2016, 8ª Turma,
Data de Publicação: DEJT 10/06/2016)

Dessa forma, evidenciado que “em que pese na data da


propositura da ação, assim como da prolação da sentença, a demandante ainda detivesse o
direito ao período estabilitário, não retornou ao emprego quando lhe foi ofertado, tampouco
demonstrou qualquer situação de impedimento para a possível reintegração”, não há falar
em indenização.
Nesse contexto, não tendo sido apresentados argumentos
suficientes à reforma da r. decisão impugnada, deve ser desprovido o agravo.
Tendo em vista que a matéria não se encontra suficientemente
pacificada, o que ensejou o reconhecimento da transcendência jurídica do recurso de
revista, deixa-se de aplicar a multa prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC.
Ante o exposto, nego provimento ao agravo.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Quinta Turma do Tribunal Superior


do Trabalho, por unanimidade, conhecer do agravo e, no mérito, negar-lhe
provimento.
Brasília, 27 de março de 2024.

Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)

BRENO MEDEIROS
Ministro Relator

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