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Poder Judiciário

Justiça do Trabalho
Tribunal Superior do Trabalho

PROCESSO Nº TST-RR-10540-27.2017.5.03.0027

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ACÓRDÃO
(8ª Turma)
GMSPM/lcs

I – AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO


EM RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA
RECLAMADA – TURNO ININTERRUPTO DE
REVEZAMENTO. ELASTECIMENTO POR
NORMA COLETIVA. TEMA 1046 DA TABELA DE
REPERCUSSÃO GERAL DO STF. ARTIGO 7º,
XXVI, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA
RECONHECIDA. Constatada violação do inciso
XXVI do artigo 7º da Constituição da República,
impõe-se o provimento do agravo a fim de
prover o agravo de instrumento e determinar o
processamento do recurso de revista. Agravo
provido.

II – RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA


RECLAMADA – TURNO ININTERRUPTO DE
REVEZAMENTO. ELASTECIMENTO POR
NORMA COLETIVA. TEMA 1046 DA TABELA DE
REPERCUSSÃO GERAL DO STF. ART. 7º, XXVI,
DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA.
O Supremo Tribunal Federal, ao deliberar
sobre o Recurso Extraordinário com Agravo nº
1.121.633, de relatoria do Ministro Gilmar
Mendes (Tema 1.046 da Tabela de Repercussão
Geral), estabeleceu tese jurídica nos seguintes
termos: "São constitucionais os acordos e as
convenções coletivos que, ao considerarem a
adequação setorial negociada, pactuam
limitações ou afastamentos de direitos
trabalhistas, independentemente da explicitação
especificada de vantagens compensatórias, desde

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que respeitados os direitos absolutamente


indisponíveis". Assim, é válida a norma coletiva
que estabelece limitações ou supressões de
direitos trabalhistas, desde que esses direitos
não sejam absolutamente indisponíveis, o que
não é o caso dos autos, pois a própria
Constituição prevê, em seu artigo 7º, XIV, a
possibilidade de negociação coletiva sobre
jornada de trabalho em turnos ininterruptos de
revezamento. Ademais, o limite máximo de 2
horas no acréscimo da jornada, estabelecido
no caput do artigo 59 da CLT e utilizado na
construção jurisprudencial da Súmula 423 do
TST, não é um direito de indisponibilidade
absoluta, pois não tem previsão constitucional.
Dessa forma, pode ser objeto de negociação
coletiva entre as partes. Precedentes. Recurso
de revista conhecido e provido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Revista


n° TST-RR-10540-27.2017.5.03.0027, em que é Recorrente FCA - FIAT CHRYSLER
AUTOMÓVEIS BRASIL LTDA. e é Recorrido ELIOMAR JUNIO DO CARMO.

A reclamada interpõe agravo (fls. 578/592), contra a decisão


monocrática de fls. 571/576, mediante a qual foi negado seguimento ao seu agravo de
instrumento.
Não houve apresentação de contraminuta.
Os autos vieram a mim redistribuídos por sucessão.
É o relatório.

VOTO

I – AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE


REVISTA

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1 – CONHECIMENTO

Conheço do agravo por estarem presentes os pressupostos


legais de admissibilidade, entre os quais a representação processual (fls. 593) e a
tempestividade (ciência da decisão agravada em 20/9/2022 e interposição do agravo em
30/9/2022).

2 – MÉRITO

TURNO ININTERRUPTO DE REVEZAMENTO. ELASTECIMENTO


POR NORMA COLETIVA. TEMA 1046 DA TABELA DE REPERCUSSÃO GERAL DO STF

Por meio de decisão monocrática, foi negado seguimento ao


agravo de instrumento da reclamada sob a seguinte fundamentação:

"O Tribunal Regional denegou seguimento ao(s) recurso(s) de revista


com base nos seguintes fundamentos:
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRT 3ª Região
RO-0010540-27.2017.5.03.0027 - 5ª Turma
Recurso de Revista
Recorrente(s):FCA FIAT CHRYSLER AUTOMOVEIS BRASIL
LTDA
Advogado(a)(s):FRANCISCO JOSE FERREIRA DE SOUZA
ROCHA DA SILVA (SP - 182432)
JOSE EDUARDO DUARTE SAAD (SP - 36634)
Recorrido(a)(s):ELIOMAR JUNIOR DO CARMO
Advogado(a)(s):cristiano couto machado (MG - 77797)
PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS
O recurso é próprio, tempestivo (acórdão publicado em
18/05/2018; recurso de revista interposto em 30/05/2018),
devidamente preparado (depósito recursal - ID. 62ce3a7 ; custas
- ID. d31b965 ), sendo regular a representação processual.
PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO / Recurso /
Transcendência.
A arguição de possível inconstitucionalidade do requisito da
transcendência não é afeta ao recurso de revista, que, em seus

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estreitos limites, destina-se às hipóteses previstas no art. 896 da


CLT.
Esclareço, de toda sorte, que, nos termos do art. 896-A, § 6º,
da CLT, não compete aos Tribunais Regionais, mas
exclusivamente ao C. TST, examinar se a causa oferece
transcendência em relação aos reflexos gerais de natureza
econômica, política, social ou jurídica.
Duração do Trabalho / Turno Ininterrupto de Revezamento
/ Previsão de 8 Horas - Norma Coletiva.
Duração do Trabalho / Compensação de Horário / Acordo
Tácito / Expresso.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO /
Liquidação/Cumprimento/Execução / Valor da
Execução/Cálculo/Atualização / Correção Monetária.
Examinados os fundamentos do acórdão, constato que o
recurso, em seus temas e desdobramentos, não demonstra
divergência jurisprudencial válida e específica, nem contrariedade
com Súmula de jurisprudência uniforme do C. TST ou Súmula
Vinculante do E. STF, tampouco violação literal e direta de
qualquer dispositivo de lei federal e/ou da Constituição da
República, como exigem as alíneas ‘a’ e ‘c’ do art. 896 da CLT.
Com relação às horas extras decorrentes do desrespeito ao
regime de turnos ininterruptos de revezamento , a d. Turma
Julgadora decidiu em sintonia com a 360 da SBDI-I e a Súmula
423, todas do C. TST, de forma a sobrepujar os arestos válidos
que adotam tese diversa e afastar as violações apontadas.
Não ensejam recurso de revista decisões superadas por
iterativa, notória e atual jurisprudência do C. Tribunal Superior do
Trabalho (§ 7º do art. 896 da CLT e Súmula 333 do TST).
O entendimento de que é inválida a norma coletiva que
majorou a jornada normal dos turnos ininterruptos de
revezamento de seis para oito horas, no caso de prestação de
horas extras excedentes à oitava, adotado no acórdão recorrido e
consagrado no item I da novel Súmula 38 deste E. Regional, está
de acordo com a iterativa jurisprudência do C. TST, a exemplo dos
seguintes julgados, entre vários: AgR-E-ARR -
355-73.2010.5.04.0761 , Relator Ministro: Hugo Carlos
Scheuermann, SBDI-I, Data de Publicação: DEJT 24/04/2015;
AgR-E-ED-RR - 138200-33.2011.5.17.0121 , Relator Ministro:
Guilherme Augusto Caputo Bastos, SBDI-I, Data de Publicação:
DEJT 20/02/2015; E-ED-RR - 1154-20.2011.5.08.0002 , Relator
Ministro: Alexandre de Souza Agra Belmonte, SBDI-I, Data de
Publicação: DEJT 24/10/2014, o que atrai a aplicação do § 7º do
art. 896 da CLT e da Súmula 333 do C. TST.

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O acórdão recorrido está lastreado em provas. Incabível,


portanto, o recurso de revista para reexame de fatos e provas,
nos termos da Súmula 126 do C. TST.
A tese adotada pela Turma traduz, no seu entender, a
melhor aplicação que se pode dar aos dispositivos legais
pertinentes, o que torna inviável o processamento da revista,
além de impedir o seu seguimento por supostas lesões à
legislação ordinária.
Da mesma forma, não há ofensa ao art. 818 da CLT. A d.
Turma adentrou o cerne da prova, valorando-a de forma contrária
aos interesses da recorrente.
Nada a deferir acerca da aplicação da Lei 13.467/2017 aos
autos em exame, na medida em que o novel diploma não pode
ser utilizado como parâmetro para reger contrato de trabalho já
terminado, situação jurídica já consolidada à luz da legislação
pretérita, sem ofensa ao princípio da irretroatividade (art. 5º,
XXXVI, da CR/1988).
Não constato afronta à literalidade dos incisos XIII, XIV, XXII
e XXVI do art. 7º da CR, pois impossível atribuir validade à norma
coletiva que fixou turno ininterrupto de revezamento com jornada
superior a 8h diárias, assim como o habitual labor inviabiliza os
acordos de compensação.
Inexiste dissenso com a Súmula 444 do C. TST, uma vez que
a hipótese dos autos não trata de jornada em escala 12x36h.
Quanto ao índice de correção monetária, também não se
verifica contrariedade à OJ 300, da SBDI-1, do TST, já que o
referido verbete jurisprudencial não cria óbice à adoção do
IPCA-E, como fator de atualização monetária dos débitos
trabalhistas.
A arguição de inconstitucionalidade da Súmula 64 deste E.
Regional não é afeta ao recurso de revista, que, em seus estreitos
limites, destina-se às hipóteses previstas no art. 896 da CLT.
É imprópria a alegada afronta ao princípio da legalidade
(inciso II do art. 5º da CR) e não existem as demais ofensas
constitucionais apontadas, pois a análise da matéria suscitada no
recurso não se exaure na Constituição, exigindo que se interprete
o conteúdo da legislação infraconstitucional. Por isso, ainda que
se considerasse a possibilidade de ter havido violação ao texto
constitucional, esta seria meramente reflexa, o que não justifica o
manejo do recurso de revista, conforme reiteradas de-cisões da
SBDI-I do C. TST.
Não são aptos ao confronto de teses os arestos
colacionados carentes de indicação de fonte oficial ou repositório

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autorizado em que foram publicados (Súmula 337, I, do C. TST e §


8º do art. 896 da CLT).
Os arestos provenientes de Turma do C. TST e do E. STF,
órgãos não mencionados na alínea ‘a’ do art. 896 da CLT, não se
prestam ao confronto de teses.
CONCLUSÃO
DENEGO seguimento ao recurso de revista.
Considerando que o acórdão do Tribunal Regional foi publicado na
vigência da Lei nº 13.467/2017, o(s) recurso(s) de revista submete(m)-se ao
crivo da transcendência, que deve ser analisada de ofício e previamente,
independentemente de alegação pela parte.
O art. 896-A da CLT, inserido pela Lei nº 13.467/2017, com vigência a
partir de 11/11/2017, estabelece em seu § 1º, como indicadores de
transcendência: I - econômica, o elevado valor da causa; II - política, o
desrespeito da instância recorrida à jurisprudência sumulada do Tribunal
Superior do Trabalho ou do Supremo Tribunal Federal; III - social, a
postulação, por reclamante-recorrente, de direito social constitucionalmente
assegurado; IV - jurídica, a existência de questão nova em torno da
interpretação da legislação trabalhista.
No tocante à transcendência política e jurídica, a decisão do Tribunal
Regional, além de estar em consonância com a jurisprudência desta Corte,
não trata de questão nova em torno da interpretação da legislação
trabalhista. Por outro lado, a reforma da decisão esbarraria no óbice das
Súmulas nº 126 ou 333 do c. TST.
Com relação à transcendência econômica, destaque-se que o valor
arbitrado à condenação deve se revelar desproporcional ao(s) pedido(s)
deferido(s) na instância ordinária, e é destinado à proteção da atividade
produtiva, não devendo ser aplicada isoladamente em favor do trabalhador.
Já quanto à transcendência social, observe-se que é pressuposto de
admissibilidade recursal a invocação expressa de violação a dispositivo da
Constituição Federal que contenha direito social assegurado, especialmente
aqueles elencados no Capítulo II do Título II da Carta de 1988 (Dos Direitos
Sociais). Por outro lado, a transcendência social não se aplica aos recursos
interpostos por empresa-reclamada.
Além disso, com o advento da Lei 13.015/2014, o § 1º-A do artigo 896 da
CLT passou a atribuir ao recorrente, sob pena de não conhecimento do
recurso, o ônus de: I - indicar o trecho da decisão recorrida que consubstancia
o prequestionamento da controvérsia objeto do recurso de revista; II - indicar,
de forma explícita e fundamentada, contrariedade a dispositivo de lei, súmula
ou orientação jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho que conflite
com a decisão regional; III - expor as razões do pedido de reforma,
impugnando todos os fundamentos jurídicos da decisão recorrida, inclusive
mediante demonstração analítica de cada dispositivo de lei, da Constituição
Federal, de súmula ou orientação jurisprudencial cuja contrariedade aponte.

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Assim, fundamentalmente, não se conhece de recurso de revista que


não transcreve o trecho que consubstancia o prequestionamento da
controvérsia; que apresente a transcrição dos trechos do acórdão regional no
início do recurso de revista, de forma preliminar e totalmente dissociada das
razões de reforma; que transcreve o inteiro teor do acórdão regional ou do
capítulo impugnado, sem destaque do trecho que efetivamente consubstancia
o prequestionamento da controvérsia; que apresente a transcrição apenas da
ementa ou do dispositivo da decisão recorrida; e que contenha transcrição de
trecho insuficiente, ou seja, de trecho da decisão que não contempla a
delimitação precisa dos fundamentos adotados pelo TRT.
De igual forma, o § 8º do artigo 896 da CLT impôs ao recorrente, na
hipótese de o recurso de revista fundar-se em dissenso de julgados, ‘...o ônus
de produzir prova da divergência jurisprudencial, mediante certidão, cópia ou
citação do repositório de jurisprudência, oficial ou credenciado, inclusive em mídia
eletrônica, em que houver sido publicada a decisão divergente, ou ainda pela
reprodução de julgado disponível na internet, com indicação da respectiva fonte,
mencionando, em qualquer caso, as circunstâncias que identifiquem ou
assemelhem os casos confrontados’, grifamos.
A alteração legislativa nesses aspectos constitui pressuposto de
adequação formal de admissibilidade do recurso de revista e se orienta no
sentido de propiciar, em todos os casos, a identificação precisa da
contrariedade à Lei ou à Jurisprudência, afastando-se os recursos de revista
que impugnam de forma genérica a decisão regional e conduzem sua
admissibilidade para um exercício exclusivamente subjetivo pelo julgador de
verificação e adequação formal do apelo.
No presente caso, diante da análise de ofício dos pressupostos de
adequação formal de admissibilidade, do exame prévio dos indicadores de
transcendência, além do cotejo do despacho denegatório com as razões de
agravo de instrumento, verifica-se que a(s) parte(s) não atendeu(ram) a todos
requisitos acima descritos, devendo ser mantida a denegação de seguimento
de seu(s) recurso(s) de revista.
Ressalte-se que, no presente caso, se torna despicienda a análise da
validade da cláusula de norma coletiva que fixou os turnos ininterruptos para
além das oito horas. Isso porque a jornada estabelecida em norma coletiva
não era respeitada pela ré, que fixou turnos ininterruptos de revezamento de
8h48min, de segunda a sexta-feira, para compensar o não trabalho aos
sábados; porém houve trabalho aos sábados por diversas ocasiões, como
registrado no acórdão regional.
Nesse contexto, a jurisprudência pacífica desta c. Corte é no sentido de
que o descumprimento da jornada especial fixada em norma coletiva atrai a
aplicação da jornada legal regular, que no presente caso é de seis horas, como
estabelecida constitucionalmente e corretamente fixada no v. acórdão
regional.

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Assim, com base no inciso LXXVIII do artigo 5º da Constituição Federal,


que preconiza o princípio da duração razoável do processo, não prospera(m)
o(s) presente(s) agravo(s) de instrumento.
Diante do exposto, com base nos artigos 489, § 1º, 932, III e IV, do CPC,
896-A, §§ 1º e 2º, da CLT, e 247, § 2º, do RITST, NEGO SEGUIMENTO ao(s)
agravo(s) de instrumento.“. (fls. 571/576)

A reclamada impugna a decisão mencionada, alegando que as


questões discutidas no processo estão diretamente relacionadas ao Tema 1.046 da
Tabela de Repercussão Geral do STF, pois envolvem a validade de norma coletiva que
estabelece um regime de compensação de horas para trabalhadores em turnos
ininterruptos de revezamento. Nas razões apresentadas, destaca que os turnos de
revezamento foram acordados por meio de instrumento coletivo com o sindicato, e,
portanto, são válidos. Renova suas alegações de violação dos artigos 5º, II, 7º, XIII, XIV,
XXVI, 8º, I, III e IV, 114, §§ 1º e 2º, todos da Constituição da República, e de contrariedade
à tese jurídica de observância obrigatória firmada no julgamento do Tema 1046 da
Tabela de Repercussão Geral do STF.
De plano, verifico que a causa oferece transcendência jurídica
hábil a viabilizar sua apreciação (inciso IV do § 1º do artigo 896 da CLT).
Na fração de interesse, o Regional consignou:

"O trabalho em turnos ininterruptos de revezamento foi reconhecido


pelo Juízo de origem em alguns períodos, em conformidade com os registros
de ponto, nos termos da OJ 360 da SBDI-1 do TST e do art. 7º, XIV, da
Constituição da República, matéria sobre a qual não foi interposto recurso
pela reclamada e, portanto, prevalece.
No que se refere à flexibilização do limite da jornada em tais
turnos, persiste o entendimento de que são inválidas as normas
coletivas que a fixem em tempo superior a 08 horas. Registro que não
são aplicáveis ao presente caso as disposições da Lei 13.467/17, que
incluíram o art. 611-A da CLT ao ordenamento jurídico, tendo em vista
tratar-se de situações ocorridas antes de sua entrada em vigor, em
respeito ao princípio da irretroatividade das leis, insculpido no art. 6º da
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
Portanto, ressalvado posicionamento anteriormente adotado, curvo-me
ao recentemente decidido em Incidente de Uniformização de Jurisprudência
deste Egrégio TRT, que deu ensejo à edição da Súmula n. 38, a seguir
transcrita:

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TURNOS ININTERRUPTOS DE REVEZAMENTO. NEGOCIAÇÃO


COLETIVA. JORNADA SUPERIOR A OITO HORAS. INVALIDADE.
HORAS EXTRAS A PARTIR DA SEXTA DIÁRIA.
I - É inválida a negociação coletiva que estabelece jornada
superior a oito horas em turnos ininterruptos de revezamento,
ainda que o excesso de trabalho objetive a compensação da
ausência de trabalho em qualquer outro dia, inclusive aos
sábados, sendo devido o pagamento das horas laboradas acima
da sexta diária, acrescidas do respectivo adicional, com adoção do
divisor 180.
II - É cabível a dedução dos valores correspondentes às
horas extras já quitadas, relativas ao labor ocorrido após a oitava
hora. (RA 106/2015, disponibilização: DEJT/TRT3/Cad.Jud.
21/05/2015, 22/05/2015 e 25/05/2015)
A despeito do caráter não vinculante das súmulas regionais, elas
expressam o entendimento da maioria absoluta dos integrantes do Tribunal e
foram elevadas a um especial nível de relevância a partir da Lei nº 10.015/14.
Consubstanciam a interpretação prevalente das normas expressas no
ordenamento jurídico e, portanto, não se sujeitam a controle de
constitucionalidade.
Além de possibilitar a nova sistemática de admissibilidade dos recursos
de revista, a uniformização da jurisprudência nos Tribunais tem o escopo de
garantir decisões iguais aos jurisdicionados com causas iguais, estabilizando
as relações sociais, com respeito à isonomia, garantindo-se, por outro viés, a
segurança jurídica.
Nesse contexto, não há de se falar em inconstitucionalidade ou
ilegalidade na Súmula n. 38 deste Regional, pois não se criou nova obrigação,
não violou a autonomia negocial coletiva e não é incompatível com os limites
em matéria de negociação de jornada para turnos ininterruptos de
revezamento.
Estão incólumes, portanto, o art. 59, § 2º, da CLT, art. 7º, XIII, XIV e XXVI,
da Constituição e Súmula Vinculante n. 10 do STF.
No caso dos autos, verifica-se que a jornada prevista nos acordos
coletivos supera o limite de 8 horas diárias de labor. Não se admite a
compensação com folgas noutros dias no sistema em análise, sendo
inválidas tais normas mesmo quando não extrapolada a carga horária
semanal legal de 44 horas.
É verdade que a ausência de trabalho aos sábados propícia maior
convívio social e familiar do empregado, porém, o discurso da reclamada
exaltando a negociação coletiva, que se teria dado em prol do descanso
nos dias de sábado, é contraditório neste caso, no qual se verifica que,
além de ser estendida a jornada para além de 8 horas diárias (8 horas e
48 minutos), houve trabalho em muitos dias de sábados, a exemplo dos
dias 08/10/2016 e 05/11/2016 (Id. a4e7b28- Pág. 86).

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Nesse contexto, o reclamante tem direito às horas extras excedentes da


6ª diária, pelo trabalho em turnos ininterruptos de revezamento, conforme se
apurar pelos registros de ponto, observada a prescrição, com reflexos em
RSR, 13º salário, férias mais 1/3, abonos pecuniários, FGTS mais 40% e aviso
prévio.
Não tem direito aos reflexos em horas extras e saldo de salário, por
absoluta falta de amparo legal. Indevidos, ainda, os reflexos em gratificações,
parcelas não quitadas ao longo do contrato de trabalho.
No cálculo da verba deve ser adotado o divisor 180; observados os
entendimentos das Súmulas 264 e 60, ambas do TST; redução ficta da hora
noturna; evolução salarial; dias efetivamente trabalhados; e dedução dos
valores quitados sob o mesmo título.". (fls. 360/362 – destaques acrescidos)

Inicialmente, cumpre ressaltar que o Supremo Tribunal Federal,


ao deliberar sobre o Recurso Extraordinário com Agravo nº 1.121.633, de relatoria do
Ministro Gilmar Mendes (Tema 1.046 da Tabela de Repercussão Geral), estabeleceu tese
jurídica nos seguintes termos: "São constitucionais os acordos e as convenções coletivos
que, ao considerarem a adequação setorial negociada, pactuam limitações ou afastamentos
de direitos trabalhistas, independentemente da explicitação especificada de vantagens
compensatórias, desde que respeitados os direitos absolutamente indisponíveis".
Assim, é válida a norma coletiva que estabelece limitações ou
supressões de direitos trabalhistas, desde que esses direitos não sejam absolutamente
indisponíveis, o que não é o caso dos autos, pois a própria Constituição prevê, em seu
artigo 7º, XIV, a possibilidade de negociação coletiva sobre jornada de trabalho em
turnos ininterruptos de revezamento.
Nesse sentido, transcrevo julgados envolvendo as mesmas
matéria e reclamada:

"AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. INTERPOSIÇÃO


NA VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.015/2014. TURNO ININTERRUPTO DE
REVEZAMENTO. ELASTECIMENTO DA JORNADA. NEGOCIAÇÃO COLETIVA.
LIMITAÇÃO OU AFASTAMENTO DE DIREITOS TRABALHISTAS. VALIDADE.
RESPEITO AOS DIREITOS ABSOLUTAMENTE INDISPONÍVEIS. APLICAÇÃO DA
TESE JURÍDICA VINCULANTE FIXADA NO TEMA 1.046 PELO STF. REPERCUSSÃO
GERAL. Visando adequar o decisum a tese vinculante fixada no tema 1.046 da
tabela de repercussão geral do STF, dá-se provimento ao Agravo de
Instrumento, determinando-se o regular trânsito do Recurso de Revista.
Agravo de Instrumento conhecido e provido. RECURSO DE REVISTA. TURNO
ININTERRUPTO DE REVEZAMENTO. ELASTECIMENTO DA JORNADA.

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PROCESSO Nº TST-RR-10540-27.2017.5.03.0027

NEGOCIAÇÃO COLETIVA. LIMITAÇÃO OU AFASTAMENTO DE DIREITOS


TRABALHISTAS. VALIDADE. RESPEITO AOS DIREITOS ABSOLUTAMENTE
INDISPONÍVEIS. APLICAÇÃO DA TESE JURÍDICA VINCULANTE FIXADA NO TEMA
1.046 PELO STF. REPERCUSSÃO GERAL. Hipótese na qual a Norma Coletiva,
com fundamento no artigo 7.º XXVI da CF, estabeleceu o elastecimento da
jornada de trabalho, em turnos ininterruptos de revezamento, para 8h48
diárias. Considerando que o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do
Recurso Extraordinário com Agravo (ARE) 1.121.633-GO, com repercussão
geral reconhecida (Tema 1.046) fixou a tese segundo a qual ‘ são
constitucionais os acordos e as convenções coletivos que, ao considerarem a
adequação setorial negociada, pactuam limitações ou afastamentos de direitos
trabalhistas, independentemente da explicitação especificada de vantagens
compensatórias, desde que respeitados os direitos absolutamente indisponíveis ‘
(trânsito em julgado 9/5/2023) imperioso se torna o provimento do Recurso
de Revista para adequar o acórdão regional a tese jurídica de efeito vinculante
e eficácia erga omnes. Recurso de Revista conhecido e provido"
(TST-RR-10641-15.2016.5.03.0087, 1ª Turma, Rel. Min. Luiz Jose Dezena da
Silva, DEJT de 15/9/2023).

"AGRAVO DO RECLAMANTE. RECURSO DE REVISTA COM AGRAVO.


MATÉRIA OBJETO DO RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA. DECISÃO
MONOCRÁTICA DE PROVIMENTO. FCA - FIAT CRHYSLER. TURNOS
ININTERRUPTOS DE REVEZAMENTO. NORMA COLETIVA. ELASTECIMENTO DA
JORNADA PARA ALÉM DE OITO HORAS. VALIDADE. 1. O Supremo Tribunal
Federal, ao exame do Tema 1046 de repercussão geral, decidiu que ‘ são
constitucionais os acordos e as convenções coletivos que, ao considerarem a
adequação setorial negociada, pactuam limitações ou afastamentos de direitos
trabalhistas, independentemente da explicitação especificada de vantagens
compensatórias, desde que respeitados os direitos absolutamente indisponíveis ‘.
2. À luz dessa tese jurídica fixada pelo Supremo Tribunal Federal,
prevaleceu no âmbito desta Primeira Turma entendimento no sentido de
validar a norma coletiva mediante a qual elastecida a jornada em turnos
ininterruptos de revezamento para além de oito horas. Agravo conhecido
e não provido" (TST-Ag-RRAg-10207-38.2018.5.03.0028, 1ª Turma, Rel. Min.
Hugo Carlos Scheuermann, DEJT de 4/9/2023 – destaques acrescidos).

Assim, deve ser reconhecida a validade da norma coletiva que


instituiu o labor em dois turnos de revezamento, com alternância entre os horários de
06:00 às 15:48 (8h48min) e de 15:48 às 01:09 (8h21m).
Ademais, o limite máximo de 2 horas no acréscimo da jornada,
estabelecido no caput do artigo 59 da CLT e utilizado na construção jurisprudencial da
Súmula 423 do TST, não é um direito de indisponibilidade absoluta, pois não tem
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PROCESSO Nº TST-RR-10540-27.2017.5.03.0027

previsão constitucional. Dessa forma, pode ser objeto de negociação coletiva entre as
partes, indicando que o mencionado verbete sumular está ultrapassado no que se
refere à limitação máxima do prolongamento do turno ininterrupto de revezamento a 8
horas diárias.
Nesse sentido, os seguintes julgados envolvendo turnos
ininterruptos de revezamento com jornada superior a 8h:

"RECURSO ORDINÁRIO EM AÇÃO RESCISÓRIA. JORNADA DE TRABALHO


4X4. PREVISÃO EM NORMA COLETIVA. TEMA 1.046 DA TABELA DE
REPERCUSSÃO GERAL DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PROVIMENTO. 1. O
excelso Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Tema 1.046 da
Repercussão Geral, fixou a seguinte tese: ‘São constitucionais os acordos e as
convenções coletivos que, ao considerarem a adequação setorial negociada,
pactuam limitações ou afastamentos de direitos trabalhistas, independentemente
da explicitação especificada de vantagens compensatórias, desde que respeitados
os direitos absolutamente indisponíveis’. 2. Havendo previsão constitucional –
art. 7°, VI, XIII e XIV – admitindo a redução de salários e de jornada mediante
negociação coletiva, os demais direitos daí decorrentes, que tenham a mesma
natureza, também permitem flexibilização. 3. As cláusulas do ACT que
estipulam jornada de trabalho de 12 horas, em escalas de 4x4, em turnos
ininterruptos de revezamento, ainda que extrapole a jornada diária e semanal
sem a correspondente compensação, atende aos parâmetros do precedente
vinculante do STF, fixados no ARE 1.121.633. Recurso ordinário conhecido e
provido " (TST-ROT-230-14.2021.5.17.0000, SbDI-2, Rel. Min. Amaury
Rodrigues Pinto Junior, DEJT de 16/6/2023)

"AGRAVO EM RECURSO DE REVISTA COM AGRAVO - AUSÊNCIA DE


DEMONSTRAÇÃO DO DESACERTO DO DESPACHO AGRAVADO -
DESPROVIMENTO - MULTA. 1. O recurso de revista obreiro, que versava sobre
validade da norma coletiva que estipula jornada de trabalho de 11 horas, em
escalas de 4x4, em turnos ininterruptos de revezamento, foi julgado
intranscendente, por não atender a nenhum dos parâmetros do § 1º do art.
896-A da CLT, pois o TRT decidiu em consonância com entendimento
vinculante do STF, proferido no ARE 1121633 (Tema 1.046 de repercussão
geral) e o valor da causa de R$ 40.000,00 não alcança o patamar mínimo de
transcendência econômica reconhecido por esta Turma. (...) Agravo
desprovido, com multa" (TST-Ag-ARR-206-20.2016.5.17.0013, 4ª Turma, Rel.
Min. Ives Gandra da Silva Martins Filho, DEJT 26/05/2023)

"RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELO RECLAMANTE SOB A ÉGIDE


DA LEI Nº 13.467/2017 - TURNOS ININTERRUPTOS DE REVEZAMENTO DE 12
HORAS - ELASTECIMENTO POR NORMA COLETIVA - VALIDADE - TEMA 1046 DE
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REPERCUSSÃO GERAL - TRANSCENDÊNCIA NÃO RECONHECIDA 1. De acordo


com a tese firmada pelo E. STF no Tema 1046 de repercussão geral, ‘ são
constitucionais os acordos e as convenções coletivos que, ao considerarem a
adequação setorial negociada, pactuam limitações ou afastamentos de direitos
trabalhistas, independentemente da explicitação especificada de vantagens
compensatórias, desde que respeitados os direitos absolutamente indisponíveis’. 2.
Na esteira do decidido pelo E. STF em repercussão geral, bem como do artigo
7º, XIV, da Constituição da República - que autoriza, mediante negociação
coletiva, o elastecimento da jornada de seis horas para o trabalho realizado
em turnos ininterruptos de revezamento -, é válida a norma coletiva que fixa
turnos ininterruptos de revezamento de 12 horas , em horários alternados ,
durante 14 dias consecutivos de trabalho , seguidos de 14 dias de folga.
Ressalte-se a ausência de registro de descumprimento dos limites fixados nos
instrumentos normativos. Recurso de Revista não conhecido"
(TST-RR-17658-54.2017.5.16.0007, 4ª Turma, Rel.ª Min.ª Maria Cristina Irigoyen
Peduzzi, DEJT de 10/2/2023)

"[...] III - RECURSO DE REVISTA. TURNOS ININTERRUPTOS DE


REVEZAMENTO. COMPENSAÇÃO DE JORNADA. PREVISÃO EM NORMA
COLETIVA. 1. A causa versa sobre a validade de norma coletiva que previu
jornada de trabalho superior a 8 horas diárias em turnos ininterruptos de
revezamento. 2 . É entendimento desta c. Corte Superior que o elastecimento
da jornada de trabalhador em turno ininterrupto de revezamento, por norma
coletiva, não pode ultrapassar o limite de oito horas diárias (Súmula nº 423 do
c. TST). 3 . Contudo, não há como ser aplicado esse entendimento quando o
Tribunal Regional evidencia a existência de norma coletiva prevendo o
trabalho, em turnos de revezamento, de 8h48min diários, tendo como
compensação a folga no sábado. 4. Isso porque o caso em análise não diz
respeito diretamente à restrição ou à redução de direito indisponível, aquele
que resulta em afronta a patamar civilizatório mínimo a ser assegurado ao
trabalhador, mas apenas à ‘compensação das horas extras deferidas com a
gratificação de função percebida’. 5. Também merece destaque o fato de que a
matéria não se encontra elencada no art. 611-B da CLT, introduzido pela Lei
13.467/2017, que menciona os direitos que constituem objeto ilícito de
negociação coletiva. 6. Impõe-se, assim, o dever de prestigiar a autonomia da
vontade coletiva, sob pena de se vulnerar o art. 7º, XXVI, da CLT e desrespeitar
a tese jurídica fixada pela Suprema Corte, nos autos do ARE 1121633 (Tema
1046 da Tabela de Repercussão Geral), de caráter vinculante: ‘São
constitucionais os acordos e convenções coletiva que, ao considerarem a
adequação setorial negociada, pactuam limitações ou afastamentos de direitos
trabalhistas, independentemente da explicitação especificada de vantagens
compensatórias, desde que respeitados os direitos absolutamente indisponíveis’. 7.
Reforma-se, assim, a decisão regional para afastar da condenação o
pagamento como horas extraordinárias daquelas trabalhadas até o limite de

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8h48min por dia, nos termos da norma coletiva. Recurso de revista conhecido
por violação do art. 7º, XXVI, da Constituição Federal e provido"
(TST-RR-11879-58.2016.5.03.0026, 8ª Turma, Rel. Min. Alexandre de Souza
Agra Belmonte, DEJT de 23/9/2022)

No que concerne ao trabalho regular aos sábados, à luz do


entendimento delineado pelo STF ao estabelecer a tese no Tema 1.046, conclui-se que o
labor aos sábados, por si só, não é motivo suficiente para anular as disposições que
estabeleceram a jornada diária e a carga semanal para os empregados sujeitos aos
turnos de revezamento.
Nesse sentido, trago recente julgado envolvendo a mesma
reclamada:

“AGRAVO EM RECURSO DE REVISTA - DESPROVIMENTO - APLICAÇÃO DE


MULTA. 1. A decisão agravada deu parcial provimento ao recurso de revista da
Reclamada, no tocante à validade da norma coletiva que elastece a jornada
em turnos ininterruptos de revezamento para 8h48min diários, com a devida
compensação das 4 horas trabalhadas a mais durante a semana nos sábados,
que não seriam trabalhados, mantendo-se a condenação ao pagamento das
horas que ultrapassarem a máxima semanal, sempre que se constatar labor
aos sábados, em desacordo com a própria norma coletiva que prevê a
compensação, tudo conforme se apurar em liquidação de sentença. 2.
Inconformada, a Reclamada sustenta que não foram estabelecidos
parâmetros para a condenação das horas extras. 3. Contudo, não tendo a
Agravante demovido as razões da decisão monocrática, esta merece ser
mantida, com aplicação de multa, por ser o agravo manifestamente
improcedente (CPC, art. 1.021, § 4º). Agravo desprovido, com aplicação de
multa." (TST-Ag-RRAg-10730-67.2017.5.03.0163, 4ª Turma, Rel. Min. Ives
Gandra da Silva Martins Filho, DEJT de 10/3/2023)

Destaco, no entanto, que ao constatar que o limite semanal de


44 horas foi ultrapassado, seja devido ao trabalho aos sábados ou à jornada excedente
de 8 horas e 48 minutos de segunda a sexta-feira, é incontroverso que as horas extras
devem ser remuneradas com o adicional correspondente.
Por fim, cumpre ressaltar que, mesmo considerando que o
período contratual em questão precede as alterações trazidas pela reforma trabalhista,
a jurisprudência estabelecida pelo STF no âmbito do Tema 1.046 se aplica a essa fase
anterior:

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“[...] RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELO SINDICATO AUTOR


ANTERIORMENTE À VIGÊNCIA DAS LEIS Nº 13.015/2014 E N° 13.467/2017.
INTERVALO INTRAJORNADA. REDUÇÃO DA DURAÇÃO DO INTERVALO PARA 30
MINUTOS CONFORME NORMA COLETIVA QUE VIGEU ATÉ 18/06/2004.
VALIDADE. DIREITO TRABALHISTA NÃO ASSEGURADO
CONSTITUCIONALMENTE. APLICAÇÃO TESE VINCULANTE FIXADA PELO STF NO
TEMA 1.046 DA REPERCUSSÃO GERAL 1. A validade da negociação coletiva
tornou-se ainda mais inconteste diante da tese firmada pelo Supremo
Tribunal Federal, no julgamento do Tema 1.046: ‘são constitucionais os acordos
e as convenções coletivos que, ao considerarem a adequação setorial negociada,
pactuam limitações ou afastamentos de direitos trabalhistas, independentemente
da explicitação especificada de vantagens compensatórias, desde que respeitados
os direitos absolutamente indisponíveis ‘. 2. O entendimento do E. STF pauta-se
na importância que a Constituição da República de 1988 conferiu às
convenções e aos acordos coletivos como instrumentos aptos a viabilizar a
autocomposição dos conflitos trabalhistas, a autonomia privada da vontade
coletiva e a liberdade sindical. É o que se depreende dos artigos 7º, VI, XIII, XIV
e XXVI, e 8º, III e VI, da Carta Magna. 3. Mesmo no período contratual em
que não se aplica a Lei n.º 13.467/2017 (reforma trabalhista) é de se
reconhecer a incidência da decisão da Suprema Corte no Tema 1046, pois
o direito ao intervalo intrajornada não está garantido ou definido na
Constituição Federal. 4. Frise-se que a hipótese dos autos não é de
supressão do direito ao intervalo intrajornada, mas de redução da sua
duração de uma hora para trinta minutos, o que representa uma limitação
razoável, tanto assim que foi justamente o parâmetro adotado pelo legislador
por ocasião da entrada em vigor da Lei nº 13.467/2017, que introduziu o art.
611-A, III, na CLT. 5. Não se trata aqui de atribuir efeitos retroativos à nova
legislação, mas sim de atribuir plena efetividade à decisão proferida pelo
Supremo Tribunal Federal por ocasião do julgamento do Tema 1046, cuja
observância é obrigatória no âmbito desta Corte, alcançando situações
pretéritas, ante a ausência de modulação temporal dos efeitos da decisão. 6.
Em tal contexto, o Tribunal Regional, ao reputar válidas as normas
coletivas que reduziram a duração do intervalo intrajornada para trinta
minutos, limitando a condenação até 18/04/2004, momento em que
perdeu a vigência a cláusula coletiva que autorizava a redução, proferiu
decisão que se harmoniza com o entendimento firmado pela Suprema
Corte, o que inviabiliza o conhecimento do recurso de revista sob a
perspectiva de qualquer das hipóteses de cabimento. Recurso de revista
de que não se conhece" (TST-ARR-24700-91.2007.5.01.0341, 1ª Turma, Rel.
Min. Amaury Rodrigues Pinto Junior, DEJT de 17/2/2023 – destaques
acrescidos)

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"[...] III) RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA - VALIDADE DA CLÁUSULA


COLETIVA QUE AUTORIZA A REDUÇÃO DO INTERVALO INTRAJORNADA PARA
30 MINUTOS - TEMA 1.046 DA TABELA DE REPERCUSSÃO GERAL DO STF -
VIOLAÇÃO DO ART. 7º, XIV, DA CF - TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA RECONHECIDA
- PROVIMENTO. 1. Em 02/06/22, o Supremo Tribunal Federal pacificou a
questão da autonomia negocial coletiva, fixando tese jurídica para o Tema 1 .
046 de sua tabela de repercussão geral, nos seguintes termos: ‘São
constitucionais os acordos e as convenções coletivas que, ao considerarem a
adequação setorial negociada, pactuam limitações ou afastamentos de direitos
trabalhistas, independentemente da explicitação especificada de vantagens
compensatórias, desde que respeitados os direitos absolutamente indisponíveis’ .
Nesse sentido, consagrou a tese da prevalência do negociado sobre o
legislado e da flexibilização das normas legais trabalhistas. Ademais, ao não
exigir a especificação das vantagens compensatórias e adjetivar de
‘absolutamente’ indisponíveis os direitos infensos à negociação coletiva,
também sacramentou a teoria do conglobamento e a ampla autonomia
negocial coletiva, sob tutela sindical, na esfera laboral. 2. Com efeito, se os
incisos VI, XIII e XIV do art.7º da CF admitem a redução de salário e jornada
mediante negociação coletiva, que são as duas matérias básicas do contrato
de trabalho, todos os demais direitos que tenham a mesma natureza salarial
ou temporal são passíveis de flexibilização. 3. Na esteira da Carta Magna, a
reforma trabalhista de 2017 (Lei 13.467) veio a parametrizar a negociação
coletiva, elencando quais os direitos que seriam (CLT, art. 611-A - rol
exemplificativo de 15 direitos) ou não (CLT, art. 611-B - rol taxativo de 30
direitos) negociáveis coletivamente. Ainda que, no presente caso, parte do
período contratual seja anterior à reforma trabalhista, o entendimento
do STF fixado no julgamento do Tema 1.046 aplica-se a esse período
anterior, enquanto que a norma legal acima citada aplicar-se-ia a
períodos posteriores. 4. No caso dos autos, o objeto da cláusula da norma
coletiva refere-se à redução do intervalo intrajornada para 30 minutos, o que
atende aos parâmetros do precedente vinculante do STF, fixados no ARE
1121633, de relatoria do Min. Gilmar Mendes, além dos constitucionais e
legais suprarreferidos, pois se está legitimamente flexibilizando norma legal
atinente a jornada de trabalho. 5. Nesses termos, reconhecida a
transcendência política da causa por contrariedade ao entendimento
vinculante do STF no Tema 1.046 da Tabela de Repercussão Geral e a violação
do art. 7º, XIV, da CF, impõe-se o provimento do recurso de revista para,
reconhecendo a validade da cláusula coletiva, para redução do intervalo
intrajornada para 30 minutos . Recurso de revista conhecido e provido "
(TST-RR-1000137-96.2022.5.02.0491, 4ª Turma, Rel. Min. Ives Gandra da Silva
Martins Filho, DEJT de 25/8/2023 – destaques acrescidos).

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Destaca-se que as teses de repercussão geral estabelecidas pelo


Supremo Tribunal Federal devem ser aplicadas obrigatoriamente a todos os processos
que versem sobre idêntica questão de direito.
Dessa forma, constatada possível violação do inciso XXVI do
artigo 7º da Constituição da República, dou provimento ao presente agravo a fim de
prover o agravo de instrumento para determinar o processamento do recurso de
revista interposto pela reclamada.

II – RECURSO DE REVISTA

1 – CONHECIMENTO

TURNO ININTERRUPTO DE REVEZAMENTO. ELASTECIMENTO


POR NORMA COLETIVA. TEMA 1046 DA TABELA DE REPERCUSSÃO GERAL DO STF

Constatada a transcendência jurídica da causa, como


consignado no provimento do agravo (inciso IV do artigo 896-A da CLT).
Satisfeitos, ainda, os pressupostos extrínsecos de
admissibilidade, conheço do recurso de revista por violação do inciso XXVI do artigo 7º
da Constituição da República, com fulcro na alínea “c” artigo 896 da CLT, nos termos da
fundamentação supra.

2 – MÉRITO

TURNO ININTERRUPTO DE REVEZAMENTO. ELASTECIMENTO


POR NORMA COLETIVA. TEMA 1046 DA TABELA DE REPERCUSSÃO GERAL DO STF

Consequência lógica do conhecimento do recurso de revista por


violação do inciso XXVI do artigo 7º da Constituição da República, seu provimento é
medida que se impõe para, reformando o acórdão regional, reconhecer a validade do
instrumento coletivo e afastar a condenação da reclamada ao pagamento de horas
extraordinárias a partir da 6ª hora diária e 36ª semanal e a incidência do divisor 180.

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Custas pelo reclamante, das quais fica isento por ser beneficiário
da justiça gratuita.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Oitava Turma do Tribunal Superior do


Trabalho, por unanimidade: I) dar provimento ao agravo e ao agravo de instrumento
para mandar processar o recurso de revista; II) por maioria, conhecer do recurso de
revista por violação do inciso XXVI do artigo 7º da Constituição da República e, no
mérito, dar-lhe provimento para reconhecer a validade da norma coletiva e afastar a
condenação da reclamada ao pagamento de horas extraordinárias a partir da 6ª hora
diária e 36ª semanal e a incidência do divisor 180. Custas pelo reclamante, das quais fica
isento por ser beneficiário da justiça gratuita.
Brasília, 3 de abril de 2024.

Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)


SERGIO PINTO MARTINS
Ministro Relator

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